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Antropologia Teológica Impressa

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Antropologia Teológica Gerson Pires

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INTA - Instituto Superior de Teologia AplicadaPRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica

Transposição DidáticaCristiane Melo NobreEvaneide Dourado MartinsFátima Virgínia Mendes de SousaLicilange Gomes AlvesLuis Carlos de Souza LimaSonia Maria Henrique Pereira da Fonseca

Produção e Desenvolvimento TecnológicoAnderson Barbosa RodriguesAndré Alves BezerraCícero Romário Lima RodriguesLucas Teixeira da PonteLuís Neylor da Silva OliveiraWilliam de Paiva Mendes RibeiroRhomélio Anderson Sousa Albuquerque

Diretor GeralOscar Rodrigues Júnior

Pró-Diretor de Inovação PedagógicaJoão José Saraiva da Fonseca

Diretora Pedagógica e de Avaliação.Sonia Maria Henrique Pereira da Fonseca

Diretor Administrativo Eder Jacques Porfírio Farias

Supervisão de Produção de Material DidáticoRoxane Monteiro Plácido

Equipe Tecnologia MultimídiaFrancisco Sidney Souza de AlmeidaJoão Carlos da Silva GaldinoJosé Antônio Castro BragaJosé Damião Pereira BatistaJuliardy Rodrigues de SousaLee Aguiar Frota AraújoLudimilla Silva SalesLívia Maria Oliveira BrittoMárcio Alessandro FurlaniNatanael William de Queiroz Sousa

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Palavra do Professor-autor

O estudo de Antropologia Teológica propicia ao estudante uma cosmovisão teológica bíblica. Fundamentado no conceito de ser humano na Revelação Divina, tem como hipótese informações abstraídas da própria Revelação, além de outras visões teológicas sobre a essência da natureza humana, promovendo o diálogo entre Teologia e Educação.

O estudo analisa o conceito de ser humano também a partir de outras visões antropológicas (cultural, científica, filosófica) bem como a origem do ser humano, apresentando fatos que demonstram de como surgiu e quais os privilégios disponibilizados pela Revelação.

Portanto, o objetivo do estudo é atualizar o conceito de ser humano dando oportunidade de ampliar seus conhecimentos acerca das diferentes visões que se tem de homem na sociedade contemporânea.

Gerson PiresProfessor-Autor

Gerson Pires de Araújo é pastor e professor, exercendo suas atividades como educador por mais de meio século, especialmente nas áreas de Filosofia e Psicologia. Destaca-se também em outras atividades como tradutor, palestrante, maestro e conselheiro matrimonial.

Bacharel em Teologia e Letras, licenciado em Letras e Pedagogia, Mestre em Educação pela Andrews University, USA, e pela Universidade de São Paulo (USP). É doutorando em Liderança pela Andrews University, tendo trabalhado no UNASP ( Centro Universitário Adventistas de São Paulo) por 37 anos. Atua na área de educação de jovens, procurando proporcionar-lhes uma cosmovisão de acordo com a realidade presente e preparando-os para um futuro mais promissor. Membro fundador da Sociedade Criacionista Brasileira, também se dedica a apresentar o criacionismo como a alternativa mais lógica e coerente para explicar a origem da vida humana e do mundo.

Atualmente exerce suas atividades como capelão e professor nas Faculdades INTA, em Sobral, Ceará.

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Sumário

Unidade 1 11. Conceitos básicos

13. Conceitos de Antropologia.

14. Delimitações dos campos.

15. Elementos ou fatores relacionados ao estudo do homem e da Teologia.

16. Princípio da Racionalidade.

18. Revelação.

20. Conteúdo da Revelação-Conhecimento.

20. Revelação Geral.

20. Revelação Especial – Palavra Escrita.

21. Revelação Pessoal – Jesus Cristo.

21. Cosmovisão.

Unidade 2 23. O Homem

25. Origem.

25. Constituição do homem – Sua natureza.

26. Condições de continuidade.

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27. A queda

27. A transgressão da lei.

28. Consequências.

30. Problemas para Deus.

30. Solução ao problema do pecado – Redenção do homem.

30. Apresentação do Plano ao Homem: O Evangelho em figura.

31. Apresentação do Plano ao Homem.

Unidade 335. Deus, homem e a história

37. Papel do homem: informação, reconhecimento e aceitação.

39. Intervenção Divina na História.

40. O homem de hoje.

43. Revisando.

47. Bibliografia.

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Conhecimento

Conhecer o conceito de Antropologia Teológica para desenvolver a compreensão da disciplina.

Habilidade

Identificar mudanças de comportamentos a partir da valorização da vida e compreensão do homem como “ser no mundo”.

Atitude

Ser um cidadão ético na relação social.

1CONCEITOS BÁSICOS

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Conceito de Antropologia

Antes de iniciarmos um estudo sobre o assunto é necessário esclarecer as palavras e explicar o tema. Comecemos pela palavra antropologia, cuja origem parte de dois vocábulos gregos: anthropos (homem) - e logia (estudo) = estudo do homem.

Mas não é qualquer estudo do homem, há várias ciências ou campos de conhecimento que estudam o homem. Se examinarmos o homem como um ser vivo, sujeito às leis da vida, teremos a biologia humana, na qual ele é analisado em relação a sua estrutura, suas partes físicas, constituindo a anatomia humana. Se considerarmos o funcionamento do corpo humano e seus processos, teremos a fisiologia.

Quando estudamos ainda o homem em suas relações com outros seres humanos, temos a ciência da sociologia e se considerarmos este mesmo homem em seu comportamento e o que o influencia nisso, estamos no campo da psicologia.

Você agora deve estar se perguntando: o que então é estudado sobre o homem pela Antropologia? E de que maneiras ou enfoques podemos estudá-lo?

Quando estudamos o homem em sua formação, quais são seus elementos constituintes e como ele age, quais são suas ações, o que ele tem produzido durante sua existência, quais são seus diferentes modos de viver, os hábitos, costumes, enfim, sua cultura, temos a Antropologia.

Por tanto, podemos defini-la como a parte do conhecimento que estuda o homem enquanto indivíduo e tudo o que ele produz, ou produziu, e implantou para si, como ideias, crenças, modos de vida, inventos, teorias, culturas, etc. Através de uma cosmovisão podemos integrar todos esses diferentes enfoques do conhecimento.

A segunda questão se refere ao enfoque pelo qual estudaremos o homem. Se estudarmos o homem de acordo com a maneira de pensar de alguns filósofos, teremos uma antropologia filosófica.

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Quando consideramos o homem de acordo com fatos explicados pela relação causa-efeito, ou por uma observação sistematizada, ou mesmo por experimentação, temos a antropologia científica. Se estudarmos o homem por aquilo que ele produziu ao longo da História como seus hábitos, costumes, modos de vida, linguagem, crenças, superstições, acrescido de seus inventos e obras criativas, teremos a antropologia cultural. Ao examinarmos o homem observando sua constituição e ação segundo um olhar fundamentado nas premissas dos ensinos ou na revelação de obras consideradas sobrenaturais que embasam as grandes religiões do mundo, teremos a antropologia teológica.

A palavra Teologia também é de origem grega: Theos (Deus) e logia (estudo) = estudo sobre Deus, suas manifestações, seus atributos, maneiras pelas quais Ele se revela ao ser humano e como age na humanidade. Se procurarmos obter algum conhecimento sobre Deus usando nossas capacidades naturais de observação, raciocínio, intuição, imaginação, entre outras, temos o campo da Teodiceia, isto é, o estudo de Deus, Seus atributos e ações no universo através da filosofia.

Ao satisfazer as condições necessárias expressas pela própria revelação, é possível conhecer muito de Deus e manter um relacionamento com Ele. Isso possibilita ao homem uma visão que abranja todo o universo e este passa a ter um modo de vida integrado à realidade universal e coerente com a visão cósmica.

Se observarmos a realidade atual do mundo, notaremos que este se encontra num estado de entropia e desagregação, cheio de dicotomias e contradições, tornando difícil para o homem a sua sobrevivência. De fato, temos observado entre os estudiosos do sistema mundial uma crescente preocupação sobre o destino desse mundo. Tanto física, material, como moralmente, encontramo-nos numa derrocada que poderá conduzir nosso mundo à autodestruição, a menos que se tome uma atitude drástica urgente quanto a mudança de estilo de vida.

Delimitações dos camposNa teodiceia, o estudo e conhecimento de Deus se restringem ao que o

homem pensa e consegue descobrir, usando somente os meios naturais para a aquisição de conhecimentos como intuição, sentidos, percepção e processos racionais.

A mente humana, estruturada de acordo com o meio que entra em contato, é capaz de, usando da imaginação, formular uma ideia sobre Deus, de Sua existência, Seus atributos e ações, bem como Sua relação com o universo por Ele criado. Ou também pode negar Sua existência, dependendo do que ela aceita como pressuposto para construir seu pensamento.

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Devemos esclarecer aqui que todo sistema de pensamento e conhecimento está fundamentado em pressuposições que o homem aceita como válidas para construir seu pensamento e conhecimento.

Ao estabelecermos os pressupostos, também propormos limites ao nosso pensamento e delimitamos nosso campo de conhecimento. É bem verdade que frequentemente o ser humano ultrapassa esses limites para ampliar ou adquirir mais conhecimentos sem perceber que saiu de seus limites propostos. Desse modo, ele invade outro campo de conhecimento, fazendo surgir questionamentos, debates e discussões.

A Teologia tem seus pressupostos e condições a serem satisfeitos com o objetivo de que se construa uma visão de Deus, Sua existência, Seus atributos, ação e relação com o universo. O teólogo pode aceitar como fundamento somente a revelação divina, ou a revelação e a tradição recebidas dos antepassados, ou ainda acrescentar os processos de raciocínio da mente ou juízo natural.

Cada teólogo tem sua própria maneira de interpretar a revelação. Daí resultam muitas diferenças entre um teólogo e outro e entre as doutrinas de diferentes igrejas ou credos. Se usar somente a revelação, o conceito de Deus vai diferir daquele de outro teólogo que aceita ainda a tradição ou a lógica natural como fundamento de seu pensamento.

Assim, construímos uma visão do homem fundamentada na Revelação Divina, firmando como pressupostos elementos abstraídos da própria Revelação. Seguimos os passos nela prescritos e buscamos uma cosmovisão, prossibilitando coerência entre os princípios da racionalidade humana e a realidade universal.

Elementos ou fatores relacionados ao estudo do homem e da Teologia.

Para você compreender melhor o assunto em questão, é importante saber que a Antropologia, além de elaborar uma definição do homem, analisa elementos relacionados à existência humana, sua natureza e fatos que ocorrem com ele. Sendo assim, refletiremos acerca do homem, seus elementos constituintes e sobre qual viés examinaremos esses aspectos.

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Princípios da RacionalidadeQuando Aristóteles dizia que o homem é um animal racional, a que se

referia?

Bem, os animais em geral são seres vivos como o homem. A palavra animal, no latim anima (vida). Nesse sentido, o homem não tem nenhuma vantagem ou superioridade em relação aos bichos. Todos têm vida e se decompõem voltando ao pó quando morrem.

A diferença está na racionalidade. Enquanto os animais agem por instinto, os homens são dotados de outra capacidade que os torna diferentes de outros seres vivos. Eles são racionais, pensam de acordo com certos princípios que os colocam num nível superior aos outros seres vivos.

Você compreende o que queremos dizer quando afirmamos que o homem é um ser racional? Examinemos em que consiste a racionalidade: quais são os princípios que constituem o fundamento do que é racional?

Em primeiro lugar, compreendemos que tudo o que existe é constituído de algo, de alguma substância, de alguma essência. Mesmo as ideias formadas em nossa mente são constituídas de elementos que as formam. Por exemplo, a árvore é constituída de componentes materiais como raízes, tronco, galhos, folhas, flores e frutos, os quais são constituídos de tecidos, moléculas e células. Podemos chamar isso de princípio de essencialidade. Tudo é constituído de uma essência, uma substância, um conjunto de elementos que dão existência a esta, quer seja abstrato ou concreto. Não existe alguma coisa formada de nada. Mesmo as ideias ou objetos abstratos são formados de outros elementos abstratos.

Em segundo lugar, observamos que os objetos são diferentes uns dos outros em categorias variadas, com elementos e componentes diferentes. Uma mesa é diferente de uma cadeira, que é diferente de um automóvel. Cada um tem seus elementos distintos, percebidos pela mente como objetos diferentes, tendo cada um sua identidade própria. Outro exemplo é um animal: um cão é diferente de um gato. É o princípio da Identidade. “Ser ou não ser”, já dizia Shakespeare.

Podemos introduzir a ideia de que algumas coisas podem parecer, mas não ser. Olhamos um objeto que pode parecer madeira, mas não é, pode ser uma pedra. É um caso de aparência, não de essência. Também podemos chamar esse princípio de princípio de negação. Cada coisa é idêntica a si mesma, distinta, individual.

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Consideramos que nada tem sua existência própria, provocada por si mesma. Tudo tem sua origem em outro ser. Podemos nos reportar a Aristóteles, para o qual tudo tem uma causa adequada, exceto a causa primeira.

Como não se pode raciocinar retrocedendo, a mente humana chega à seguinte conclusão: deve haver um ser que deu origem à galinha e dotou-a da capacidade de produzir o ovo. Essa foi à conclusão aristotélica e é a conclusão de milhares de homens que se dedicam a pensar sobre os processos do universo, tudo que existe teve um começo, é o princípio da causalidade. Nada surge ou existe por casualidade. Tudo tem uma causa. Existe apenas uma causa primeira que tem sua existência eterna.

A esse Ser que deu origem a tudo o que existe denominou-se Theos (no grego), Deus (em latim) e Deus (em português). De acordo com a Revelação, esse Ser é o Absoluto, o Eterno, o Onipotente, o Onipresente e o Onisciente. Trata-se do Ser em Quem se concentram todas as perfeições.

Outro princípio que a mente humana procura encontrar ao usar a capacidade de raciocínio, é saber qual o propósito do que existe ou acontece no universo. As coisas existem para um propósito. Se considerarmos um objeto qualquer, uma caneta, esta somente cumprirá sua função se for usada para escrever, para deixar registrado o pensamento de alguém. É o princípio da finalidade, também chamado desígnio.

Quando a mente humana busca compreender um fenômeno que explique os processos, está procurando uma resposta que estabeleça relação constante entre a causa e a consequência do fenômeno. O que provoca essa regularidade recebe o nome de lei. Por toda parte se observa a ação da lei sobre tudo que compõe o universo; ela permite a previsibilidade de fatos e fenômenos, tanto no mundo físico quanto no psíquico e social. Sem a existência e ação da lei não seria possível o campo da ciência que permite as generalizações na área dos fatos e fenômenos do mundo natural. A mente humana é regida por leis naturais e é por isso que o pensamento pode compreender os fatos e fenômenos que ocorrem na natureza.

Quando se observa uma mudança na sequência ou na regularidade dos fenômenos, a mente humana procura saber o que provocou a mudança ou a irregularidade; o mesmo acontece no caso da constituição de um objeto. O princípio da transformação explica o que houve na constituição ou na provocação dos fenômenos que produziram a mudança observada. Enquanto não encontra uma explicação para a mudança, a mente a considera anormal, sobrenatural ou milagre.

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Descobrir o que houve na alteração da constituição das coisas e na sequência dos fenômenos faz parte do conhecimento comum ou do científico. Este conhecimento permite ao ser humano a aplicação em experiências que este provoca para em favor de seu interesse, podendo trazer para si vantagens ou desvantagens. Dependendo da aplicação, promove o seu desenvolvimento ou sua decadência.

Se o homem nega ou desobedece algum desses princípios em seu processo de pensar, consideramo-lo um irracional, ou até um transtornado mental. Alguns desses princípios mencionados constituem os fundamentos do que denominamos de racionalidade humana. Ser racional é pensar e agir de acordo com esses princípios fundamentais.

Para o ser humano ser conduzido ao conhecimento da realidade, ele deve seguir as regras que regem o pensamento e as pressuposições que lhe servem de alicerce. As pressuposições que constituem o fundamento do raciocínio humano são aceitas pela fé do indivíduo. Se há evidências para essa aceitação, é porque a própria pessoa aceita através fé que seus sentidos não estão lhe enganando. Se for obtida pela revelação, a pessoa terá que aceitar isso pela fé.

RevelaçãoQuando alguém adquire conhecimento, pode transmiti-lo a outros, seja

ele uma ideia, um processo ou conclusão de algum raciocínio. A expressão desse conhecimento que é transmitido a outros recebe o nome de Revelação. Esse termo, no entanto, reveste-se de um significado especial quando se refere à divindade. Deus, após criar o homem e dotá-lo de conhecimento, toma a iniciativa de revelar-se a ele, comunicando-lhe Sua existência.

Revelação Divina consiste na expressão do pensamento, da vontade, da afeição, da ação e da natureza divina que seja compreensível ao homem. Nessa expressão Deus usou de várias maneiras:

• Pode-se conhecer uma pessoa por meio do que ela faz, de suas obras e de seu trabalho, se tiver criatividade, cuidado nos detalhes, poder de realização, competência e assim por diante. Desse modo, o homem pode adquirir conhecimento sobre Deus através das obras da natureza, da diversidade, da propriedade, unidade e globalidade da criação. Trata-se do que poderíamos chamar de Revelação Geral – toda a criação.

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• Outro recurso que se pode usar para conhecer alguém é através da linguagem. Por meio dela é possível conhecer o caráter moral de uma pessoa, suas características éticas, bem como elementos estéticos, incluindo a descrição do conjunto de relações que essa pessoa estabelece e mantém com outros seres humanos e com o ambiente em que vive.

Isso também ocorre quando falamos de Deus como Criador do homem, que tomou a iniciativa de revelar-se através da Palavra Escrita, a Bíblia, usando de linguagem humana para transmitir à Sua criatura o que Ele deseja que se conheça sobre Ele mesmo.

Finalmente, podemos conhecer uma pessoa relacionando-se com ela, estabelecendo comunicação através da linguagem articulada ou ideológica. Desse modo, é possível saber como a pessoa é, seu caráter e a maneira pela qual ela age.

O mesmo pode ocorrer com Deus. Embora hoje não se possa ver a Deus ou conhecê-lo pessoalmente, pelos sentidos é a maneira mais comum do ser humano se relacionar com outros. Houve um tempo histórico em que isso aconteceu: trata-se do processo da encarnação pelo qual Deus assumiu forma e natureza humanas e viveu entre os homens na pessoa de Jesus Cristo. Durante o período de sua vida, revelou-se como uma pessoa humano-divina e deu nova direção ao homem no mundo, mostrando uma maneira diferente de ser, ensinando a humanidade o que esta deveria fazer e como alcançar este propósito. Trata-se da revelação de Deus na pessoa de Jesus Cristo, o fundador do Cristianismo.

Poderíamos visualizar o que foi dito até agora sobre as formas de revelação da seguinte maneira:

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Conteúdo da Revelação – Conhecimento

Revelação GeralComo já dissemos, Deus se revela ao homem mediante Suas obras.

Podemos ter uma ideia do Criador e de Seus atributos por meio da criação. Percebemos que esta revela ordem, planejamento e organização bem como um desígnio, um propósito para as coisas criadas. Neste quesito, cabe mencionar, por exemplo, a estruturação da matéria, a organização dos seres vivos e o perfeito funcionamento tanto nos processos físico-químicos como biológicos (com adaptabilidade dos órgãos para as funções que exercem).

Podemos mencionar ainda o funcionamento do cérebro humano como sede da mente em seus processos de apreensão, juízo e raciocínio em suas diversas formas: indução, analogia, memória, imaginação, entre outros, cujas leis têm sido profunda e extensamente estudadas pela Psicologia.

Quando o ser humano se dedica à aquisição e construção de seu conhecimento no estudo da natureza procurando descobrir sua essência e compreender os fenômenos regidos pelas leis naturais, temos as ciências naturais particularizadas na Física, Química, Biologia e suas ramificações, Astronomia, Ecologia, Geologia, entre outras.

Contudo, mesmo esse conhecimento sendo adquirido pela mente humana, não deixa de ser uma revelação de Deus ao homem. Este, simplesmente, está descobrindo o que o Criador planejou, executou e continua mantendo por meio das leis naturais.

Todo o funcionamento do universo, sua constituição e organização é revelação de Deus.

Revelação Especial – Palavra EscritaO homem pode, através do processo de aprendizagem, obter conteúdo no

estudo da Revelação Escrita. Informações sobre sua origem, fatos ocorridos antes do começo da história e do mundo, sua natureza primitiva e as condições do ambiente no qual o homem estava inserido, são fornecidos mediante o estudo das Sagradas Escrituras.

As Escrituras Sagradas ainda nos relatam o fato que ocorreu com o mundo colocando-o em uma situação que seria desesperadora se não fosse a intervenção divina sobrenatural. Esta veio trazer ao homem a possibilidade de reverter o processo de desordem que se instalou no mundo por ocasião da decisão errada feita pela raça humana.

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Nesse estudo, podemos ter uma noção da interferência divina na História em que as Sagradas Escrituras relatam o modo como Deus age nos bastidores dos acontecimentos do presente e como agiu no passado.

As Escrituras também nos permitem ter uma visão da presente situação do mundo como consequência do pecado cometido pelo homem. É o que se denomina na Teologia de Hamartiologia¹.

Para completar, o estudo das Escrituras nos possibilita uma visão mais ampla e clara dos futuros acontecimentos da História. Essas ocorrências que, aguardadas com esperança, expectativa e ansiedade pelo ser humano, marcarão o fim da História em seu âmbito temporal, constituem parte da Escatologia². Ainda pertence a esta o estudo das profecias que foram feitas pelos profetas e evidenciam a proximidade do supremo acontecimento da História: a manifestação pessoal de Deus ao homem por meio de Sua presença.

Esse estudo das Escrituras conduz o homem a manter um relacionamento com seu Criador pela fé que abre as portas para outro grande campo de conhecimento, a religião.

Revelação Pessoal – Jesus CristoO objetivo do conhecimento do plano divino é deter o avanço da

desordem e degradação humana, que corresponde ao conteúdo do plano da redenção mediante um processo de transformação da natureza humana. Essa transformação a Escritura Sagrada denomina de Novo Nascimento ou Conversão. É uma experiência pessoal da criatura com o Criador que vai aperfeiçoando o homem. Este aceita o plano divino e recebe uma nova natureza, passando a ter um relacionamento diário com o Criador.

Esse conhecimento é experimental e pode ser evidenciado no modo de viver das pessoas que se dedicam à sua busca de acordo com sua visão de mundo. O estudo desse plano de salvação de Deus é realizado pela Soteriologia.

CosmovisãoO estudo cuidadoso e aprofundado das Escrituras Sagradas permite a

abstração de elementos essenciais para formular uma cosmovisão que seja abrangente, global e coerente com a realidade universal.

1. Hamartiologia é a ciência que estuda o pecado, suas origens e consequências

2. Escatologia é a vertente teológica e filosofica que estuda o destino final do gênero humano, denominado como fim do mundo.

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De acordo com as colocações de Leo Apostel, filósofo belga, uma cosmovisão deve ter em seus elementos constituintes o seguinte: Ontologia, Epistemologia, Cosmologia, Axiologia, Praxiologia ou Metodologia, Etiologia e Futurologia.

A epistemologia dessa visão do universo está baseada na Revelação que fornece os elementos fundamentais necessários à aquisição de conhecimento, bem como a organização deste a partir de uma teoria centralizada em Deus.

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Conhecimento

Compreender o estudo sobre o homem em seus diversos aspectos da vida e desenvolvimento no plano de revelação.

Habilidade

Diferenciar o entendimento de homem no plano de Deus.

Atitude

Ter um comportamento ético e coerente ao plano de Deus.

2 O HOMEM

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Origem

A origem do homem narrada pelo escritor de Gênesis revela que Deus criou o homem do pó da terra a partir dos elementos nela existentes, num corpo físico com seus sistemas, órgãos, tecidos, células, moléculas e átomos.

Deus, que se revela como fonte de vida, insuflou no corpo o “fôlego de vida” e o homem passou a ser uma “alma vivente” ou “ser vivente” (Gênesis, 2:7). O homem passa então a existir como pessoa viva com todas as suas capacidades e funções. Esse “fôlego de vida” refere-se ao princípio que torna o homem um ser vivo à semelhança dos outros animais que compõem a escala biológica.

Constituição do Homem – Sua naturezaOs termos imagem e semelhança significam uma representação de Deus

no que o homem difere essencialmente dos irracionais. Alguns dos aspectos pelos quais o homem é semelhante a Deus são: vontade própria, pensamento, linguagem, afetividade, criatividade, procriação de outros seres semelhantes a si e a Deus e exercício de domínio.

O ser humano é uma unidade: age, reage e proage como um todo. O homem é uno e indivisível, não pode ser decomposto em partes sem deixar de existir. Na teologia bíblica não há lugar para a dualidade ou dicotomia do ser humano.

O homem é um indivíduo (do latim indivisus - não divisível). Todas as funções orgânicas e psicológicas cessam por ocasião da morte; esta não é nada mais do que o corte do fôlego de vida que o homem recebe e se mantém enquanto é um ser vivente (Eclesiastes 9:5.6.10, 12:7; 3:19-21; Salmos 146:4; Jó 4:21).

Quando estudamos o homem do ponto de vista da Teologia Bíblica, temos que considerá-lo em relação ao todo da criação. Após criar um ambiente apropriado para a compreensão do tipo de ser vivente que Deus iria colocar como um ser à Sua imagem e semelhança, devemos examinar o propósito para essa criatura.

O propósito referido acima seria: Deus criou o homem a fim de que este, por meio de suas decisões e ações, glorificasse seu Criador em praticar boas obras (Mateus 5:16; Efésios 2:10).

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Ao existir e viver de acordo com a vontade do Criador, o homem estaria honrando e glorificando-o, cumprindo assim com o propósito para o qual fora criado. Dessa forma, o Criador poderia manter comunicação e comunhão com o homem procurando assim desenvolver seu caráter. Contudo, esse propósito, de imediato, foi frustrado pela presença do pecado (Gênesis 3:8) e Deus procurou reatá-lo mediante seu plano e ação.

No final, quando em Gênesis diz que tudo se havia feito conforme as ordens divinas, encontramos a seguinte declaração: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gênesis 1:31). Então atribuiu ao homem o papel da procriação e continuação da sua obra.

Condições de Continuidade. Deus estabeleceu uma ordem mediante a qual o homem demonstraria

sua lealdade ao Criador. Enquanto a criatura obedecesse aos ditames divinos, gozaria de vida plena partilhada pelo autor da vida.

A fim de que o homem desenvolvesse um caráter moral, fortalecendo sua vontade e demonstrando fidelidade ao governo do Criador, o homem recebeu a capacidade do livre arbítrio. Isto não significa que ele possa fazer tudo; suas ações precisarão estar em sintonia com a natureza e a Revelação Divina.

Em caso de escolha contrária a Deus, o homem demonstraria sua rebelião ao governo de Jeová. A desobediência colocaria o homem em oposição à ação de Deus, o que lhe acarretaria funestas consequências e afinal, a morte.

A atividade que foi determinada ao homem deveria servir como meio de desenvolver suas capacidades físicas e mentais e mantê-lo ocupado, tendo contato direto com a ação de Deus por meio da natureza. Enquanto o homem se mantivesse obedecendo às leis divinas, maravilhosos seriam os resultados.

Tendo em vista que os humanos são limitados, é muito difícil para a mente humana compreender o desenvolvimento constante de todas as capacidades de modo ilimitado, embora o homem tenha crescido e amadurecido em conhecimento.

Entretanto, sabemos que essa não é a realidade. O que teria acontecido a essa visão que se apresenta como uma verdadeira utopia? Por que nosso mundo está repleto de miséria, pobreza, doença, dor, sofrimento, limitações e, por fim, a morte? É o que estudaremos a seguir.

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A QuedaA que nos referimos quando usamos o termo queda? De acordo com a

Escritura Sagrada, quando Deus criou o homem e lhe explicou as condições necessárias a fim de que este continuasse a gozar e usufruir da vida perfeita que recebera, concedeu-lhe o privilégio do livre arbítrio para ser uma criatura íntegra, responsável por suas decisões e ações.

Portanto, quando o ser humano, por sua livre e espontânea vontade, resolveu transgredir a ordem divina, sua natureza tornou-se falha, degradante e perdeu seu direito de continuar a viver no paraíso acarretando a decadência de toda a raça humana. Separou-se da fonte de vida e passou a ser mortal.

O livro de Gênesis explica o acontecimento que transformou a natureza do homem diante da proibição alertada por Deus de que Adão e Eva não comessem do fruto da árvore, pois morreriam (Genesis 3:1-6). Para compreender a linguagem simbólica sobre a desobediência do ser humano, é necessário utilizar a hermenêutica, que estuda o significado e o significante das Escrituras Sagradas.

Entre as diferentes escolas de interpretação das Escrituras, adotamos o método gramático histórico em que os princípios de interpretação são abstraídos da própria Bíblia buscando-se o cumprimento nos fatos da História.

A Transgressão da lei Posto isso, estamos prontos a analisar o texto tirando algumas conclusões

para nossa compreensão.

Segundo o relato encontrado em Gênesis, uma serpente entra em comunicação com a mulher num diálogo procurando seduzi-la e induzindo-a a uma ação que fora proibida pelo Criador. Fala justamente da árvore que Deus proibira de tocar e comer do seu fruto, pois era a árvore do conhecimento (ciência) do bem e do mal. Comer da árvore consistiria em desobediência clara e frontal à ordem divina: “[...] dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. (Gênesis 2:17)

Perguntamos agora: Por que o mundo não se encontra numa situação ideal, de acordo com o Plano de Deus?

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Obedecendo à ordem, o homem estaria reconhecendo a soberania de Deus sobre sua vida de livre escolha e ética. Se desobedecesse, estaria se submetendo a outro poder, contrário e antagônico ao governo divino.

Como a serpente não tem o dom da fala por ser um animal irracional, resta-nos saber explicar este fenômeno. Buscando em outra parte das Escrituras, encontramos a explicação para o fato quando o apóstolo João escreve no Apocalipse: “E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra e com ele, os seus anjos” (Apocalipse12: 9).

É relatada aqui a existência de um ser que se opõe ao governo de Deus, originador do mal e da mentira e que usou a serpente como meio para induzir o ser humano à desobediência, causando a queda de toda a humanidade, representada por Adão e Eva. Diz-nos o relato que Eva, descrendo da palavra de Deus e confiando em seus sentidos e na palavra do adversário de Deus, ‘tomou do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu’. Ambos desobedeceram à ordem divina, transgrediram o mandamento de Jeová.

Imediatamente perceberam as consequências de seu ato. A consciência moral passou a condená-los; verificaram que estavam nus e no intuito de esconder suas vergonhas fizeram uma vestimenta de folhas. A seguir, esconderam-se da presença do Deus Santo, que viera manter comunhão com o homem através do diálogo diário. Deus procura o homem chamando-o: “Adão, onde estás? Neste momento o homem toma consciência da sua responsabilidade sobre os seus atos assumindo o seu livre arbítrio.

ConsequênciasDo diálogo estabelecido entre Deus e o homem podemos perceber que,

de imediato, iniciaram-se as consequências de sua desobediência, de seu pecado.

A primeira, como já vimos, foi a perda da inocência. O conhecimento do mal, além do bem que já possuía, veio colocar o homem numa posição de dicotomia. Conhecer o bem e o mal misturado tornou difícil ao homem saber exatamente o que é o bem e o que é mal. A seguir veio o medo, (Gênesis 3:10) o receio de se encontrar com Deus, uma vez que o pecado separa o homem do Criador (Isaías 59:2).

Ao escolher a desobediência, o homem passa a ser mau em sua natureza, colocando-se contra o governo de Deus e da justiça; passa a fugir de Deus e da religião que significa a sua ligação com o Criador.

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Inicia-se então um processo de entropia física e moral em que o homem cai em decadência, gerando a violência, o crime, o pecado, enfim, estende seu domínio a todos os homens (Romanos 5:12), passando todos a serem escravos do pecado (Romanos 6:16, 17; João 8:34).

A decadência se faz sentir não apenas fisicamente, mas também intelectual, social e espiritualmente. Sua vitalidade, vigor e capacidade sofrem um processo de degradação a ponto de se tornar semelhante ao animal irracional.

Outro resultado negativo é que a terra foi amaldiçoada por causa da transgressão de Adão (Gênesis 3:17). O ambiente começou a sofrer um processo de entropia ou degradação ambiental que seria agressiva ao homem. Espinhos, pragas e doenças nos vegetais e no gado começaram a surgir, tornando mais difícil ao homem tirar da terra o seu sustento (Gênesis 3:17,18). A maldição atingiria todas as atividades e produção do homem (Deuteronômio 28:15-67), incluindo seu próprio organismo e sua família.

Com a transgressão do homem à lei divina, também suas funções orgânicas e mentais sofreram alteração. Se a lei natural é ação de Deus sobre as criaturas, torna-se claro que, desobedecendo às leis, provocaria uma reação no organismo do homem, pois Deus continuaria a agir sobre ele. A essa reação orgânica em que a natureza procura conduzir o organismo para suas funções normais, chamamos de doença. Surgiu então a dor e o sofrimento (Gênesis 3:16).

A consequência final da transgressão do homem seria a morte. Isso aconteceu não apenas com Adão (Gênesis 5:5), mas com todos os seres humanos. Isso tem ocorrido com todos, exceto alguns que Deus resolveu dar-lhes vida eterna antes de executar finalmente seu plano de salvação do homem (Gênesis 5:24; II Reis 2:11), pois todos os homens devem morrer (Hebreus 9:27; Romanos 5:12) .

Dentro desse contexto, você poderia fazer a seguinte indagação: e em que consiste mesmo a morte? Diríamos que a morte é exatamente o processo contrário à vida. Se Deus insuflou no homem o fôlego de vida e este se tornou uma alma vivente, concluímos que o corte desse fôlego de vida no homem causa-lhe a morte. O perspicaz Salomão coloca este fato da seguinte maneira: “[...] e o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes 12:7). Ocorre exatamente como Deus havia dito logo no início: “[...] até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gênesis 3:19).

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Problema para DeusTal seria a sorte eterna do homem se não fosse a providência de Deus em

elaborar um plano para resgatar e redimi-lo, em virtude do amor que Deus tem por Suas criaturas (Jeremias 31:3).

Como solucionar o problema? A resposta não se encontra com o homem em virtude de sua completa incapacidade para solucioná-lo. A resposta se encontra com Deus, através de seu plano de redenção ou salvação da humanidade.

De um lado, a justiça divina, de outro, seus atributos de amor e misericórdia para com seus criados compeliam-no a resolver o problema, abrindo ao homem a possibilidade de uma nova oportunidade pela qual ele voltasse a ser resgatado ao Plano de Deus.

O pensamento humano sobre a vida e o universo está fora daquilo que Deus pensa e quer do homem. Através do plano de salvação de Deus, que inclui todo processo de revelação geral, escrita e pessoal, a mente do homem deve ser reestruturada para que este veja as coisas como Deus as vê e as entenda do ponto de vista divino: global, completo e coerente (I Coríntios, 2:12-16). Desse modo, o homem é conduzido a um estilo de vida de acordo com a vontade divina (Salmos, 40:8). O homem deve então buscar da revelação o conhecimento sobre o que precisa fazer para descobrir o que Deus quer dele e como alcançá-lo.

Solução ao problema do pecado - Redenção do homem

Ao estudar a Revelação Escrita, a Bíblia, o homem toma conhecimento e se conscientiza de sua real situação e natureza e da possibilidade de solução de seu problema mediante a intervenção divina.

Apresentação do Plano ao Homem: O Evangelho em figura

Deus decidiu resolver este problema da presença do pecado e a consequente condenação do homem à morte eterna por meio da mediação de Seu Filho, satisfazendo por intermédio Dele, a justiça Divina. Para isso, Ele sofreu a punição do pecado e demonstrou amor e misericórdia ao sofrer pelo homem a sanção da lei, isto é, passar pela morte e atribuir ao homem sua justiça mediante a fé por parte deste.

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Isso seria alcançado em virtude de uma vida sem pecado, de obediência absoluta aos reclames da perfeita lei de Deus; Ele poderia ser tanto juiz como redentor. Tal fato provoca entre Deus e seu inimigo, Satanás, uma guerra tentando reconquistar o lugar de domínio no coração do homem simplesmente com o constrangimento do amor e autoentrega pelo ser humano.

Um plano fora já preparado antes da própria criação do homem e executado para restaurar tudo o que foi perdido através do pecado. Chamamos de Soteriologia o estudo do plano pelo qual Deus procura salvar o homem de sua condenação, isto é, das consequências do pecado, da maldade.

Toda a divindade se entregou à execução deste plano que estava de acordo tanto com a sua natureza, quanto com a revelação que ele fizera de Si mesmo a todo o universo.

A solução era coerente com Sua natureza e dir-se-ia ter assumido a responsabilidade diante de Si mesmo e do universo de ter criado seres morais livres.

O plano consistia em Deus assumir a natureza humana mediante o processo de encarnação (João 1:14), viver neste planeta sob o domínio do inimigo, sofrer por parte deste toda sorte de tentações (Hebreus 4:15; Mateus 4:1-10; João 8:46;14:30 ), mas sem se submeter ao domínio do Diabo, vencendo-o em tudo. Para vencer o inimigo não poderia pecar, embora estivesse em sua possibilidade fazê-lo, e assim, tendo uma vida de perfeita obediência aos reclames divinos, retomaria por direito o domínio deste mundo das mãos do usurpador que, por meio de engano e mentira, o tomara de Adão.

Acrescentou-se a isso assumir a penalidade do pecado do homem morrendo em seu lugar e sofrendo a morte na cruz. Isto lhe daria o direito de perdoar o pecado do homem e atribuir-lhe Sua justiça perfeita dependendo apenas da aceitação deste e tornando Deus o centro de sua vida. Deus seria seu supremo Senhor e o homem viveria regradamente os princípios divinos pelo poder comunicado por Deus mediante entrega total do ser ao Seu domínio.

Apresentação do Plano ao homemO Plano de Deus apresenta ensinamentos para a Salvação do ser humano

e explica a sua aceitação pela fé. O pecador, arrependido de seu pecado, sacrificaria um animal e mediante a aspersão do sangue diante de um altar, teria seu pecado perdoado. Demonstraria assim, fé no sacrifício do Filho de Deus que viria morrer em lugar do homem condenado à morte (Levítico 16:16, 30; João 1:29; 36; Isaías 53:7; Romanos 6:23; I Timóteo 1:15; I Pedro 1:18,19).

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Desse modo, o homem aprenderia a lição da necessidade de um sacrifício vicário, por meio de uma cerimônia simbólica de um verdadeiro Cordeiro que viria na pessoa de Deus, o Filho (João 1:29).

Durante milênios, desde quando Adão foi expulso do paraíso, as boas novas do plano de salvação foram apresentadas ao homem através desta instituição de figuras, cerimônias e símbolos. Finalmente a realidade se cumpriu na vida de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Deus-Homem, que veio tirar o pecado do mundo.

Por séculos, o conhecimento desse plano foi transmitido de pai para filho por meio de comunicação oral, mas após cerca de dois mil anos, Deus chamou Abraão com o intuito de fazer dele uma nação e torná-lo depositário de Sua verdade para transmiti-la ao mundo.

Desse modo, através de uma nação organizada, Ele esperava demonstrar a verdade de que, seguindo Seus princípios, o ser humano viveria feliz e num nível muito superior ao de outras nações que adorassem deuses falsos e vivessem de modo contrário aos ditames divinos.

Deus fez-lhes promessas de que, se vivessem de acordo com Suas leis, eles seriam a cabeça e não a cauda das nações, demonstrando a superioridade de vida de um povo que seguisse os princípios divinos em contraste às nações que apenas desobedeciam aos estatutos divinos (Deuteronômio 11, 28).

Isso tornaria muito mais simples o fato de outras nações aceitarem esse plano de salvação de Deus pela evidência da superioridade dessa nação teocrática em saúde, longevidade, fertilidade, ordem, obediência, padrão de vida, inteligência e assim por diante.

• Execução do Plano

Tão logo Adão, o pai da raça, pecou, Deus colocou em execução o plano que “desde os tempos eternos, estava oculto” (I Pedro 1:20; Romanos 16:25,26). Logo após a queda, Adão sacrificou um cordeiro de cuja pele Deus fez vestimenta para o casal e mediante uma declaração simbólica, fez a primeira promessa de um Salvador que esmagaria a cabeça da serpente trazendo salvação ao pecador. Diz o relato:

“E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:15.....).

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• Compromisso Divino

Deus assume o compromisso com o homem de colocar em execução seu plano. Durante séculos se manifestou aos patriarcas e a seu povo escolhido para ser o depositário das verdades divinas para que disseminassem ao mundo o conhecimento desse Plano (Isaías 43:9-12).

Quando Deus resolveu constituir uma nação que fosse sua representante nesse mundo escolhendo os descendentes de Abraão para formar deles a nação de Israel e fez Seu povo escolhido objetivando, através deles, comunicar seu plano de salvação ao mundo, continuou a usar de cerimônias e figuras para o conhecimento desse Plano.

Por cerca de quinze séculos (1447 a.C. a 31 a.C.), os judeus continuaram a oferecer sacrifícios de animais para que seus pecados fossem expiados até que o verdadeiro Cordeiro de Deus viesse cumprir com o propósito divino. Este consistia em sofrer a penalidade do pecado morrendo pelo homem (I Coríntios 15:3) e abrindo oportunidade para que todo indivíduo pecador que se arrependesse e aceitasse pela fé esse plano de salvação, tivesse como promessa vida eterna que se concretizaria quando o plano fosse consumado por ocasião da redenção final de nosso planeta (João 3:16; 14:1-3).

Através das mensagens enviadas pelos profetas e das providências demonstradas durante o tempo da história do povo hebreu, Deus procurou evidenciar sua ação nesse Plano tentando despertar e esclarecer o povo de Sua direção.

Como o povo, mesmo gozando das bênçãos divinas no cumprimento das promessas que Deus fizera, não seguiu os princípios divinos, Jeová providencia uma maneira para conscientizar o povo de Israel e convidá-los a retomar os caminhos da justiça e do bem (Isaías 1:17, 18; Jeremias 3:14).

Deus permite e entrega Seu povo ao domínio de outras nações que o levaram para, anos mais tarde, tornar a trazê-los para a Palestina. (II Crônicas 36:15-21; Jeremias 25:11,12). Novamente, Deus faz promessas de que, se o povo cumprisse com Seu propósito obedecendo às leis e andando nos Seus caminhos, seria ainda Seu povo escolhido e através Dele alcançaria Seu propósito de que todas as nações conheceriam a Deus e Seu Plano de salvação do homem (Jeremias 31:31- 40; 32:36-42; Isaías 51:4; 56:6-8; Gênesis 12:1-3; Zacarias 8:23).

• Execução no Tempo

Durante os primeiros quinze séculos da história humana, a decadência da sociedade foi tão grande que Deus resolveu dar cabo da raça humana conservando em vida apenas a família de um justo com o qual foi repovoado o mundo.

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O dilúvio mundial foi a execução da população do planeta em que somente Noé e sua família foram salvos mediante a construção de uma arca que resistiu aos embates das águas.

Cumprindo as profecias feitas durante vários séculos ao povo hebreu através dos profetas enviados por Deus, Jesus Cristo viveu entre os homens, ministrou-lhes as necessidades ensinando, pregando, curando as moléstias e convidando as pessoas a segui-lo nesse estilo de vida que professava (Mateus 4:23). Depois de haver executado sua tarefa no mundo que havia recebido de Seu Pai (João 17:4), Jesus Cristo passa pelo sacrifício supremo de morrer por toda a humanidade satisfazendo, dessa maneira, a justiça divina que requeria a morte do pecador e por sua vida sem pecado retoma por direito o domínio deste mundo. Constituindo Sua igreja com uma comunidade de crentes, ordena que as boas novas de salvação do homem devem ser anunciadas a todas as pessoas do mundo (II Pedro 3:9).

• Revelação ao homem: pela Natureza, pela Palavra e pelo Filho.

Deus revela ao homem Seu Plano de reconstrução e renovação do planeta simbolicamente através da sucessão de estações, pela sequência de morrer, renascer, crescer, florescer, frutificar e o morrer novamente das plantas, animais e pela sucessão de gerações da humanidade.

Pela Palavra Escrita, a Bíblia, o homem recebe de Deus as mensagens que lhe permitem tomar conhecimento do que ocorreu antes da criação deste mundo.

Tais mensagens estão relacionadas ao modo como ele mesmo foi formado, sua verdadeira natureza, qual o propósito de sua existência no planeta, o que Deus se propõe a fazer com ele e como ele pode experimentar a realidade desse Plano, dando-lhe evidências dessa nova realidade que Deus se propõe a executar e trazendo-lhe esperança, paz e tranquilidade.

Por fim, Deus se revela pessoalmente ao homem através do agente que Jesus Cristo deixou neste mundo quando o homem admite pela fé esse Plano de Salvação, aceitando a Jesus Cristo como seu salvador pessoal e se comprometendo com esse sistema de salvação proposto pelo Filho de Deus. Esse agente é a terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo que, pela aceitação do homem a esse plano (João 14:16,17) e, por meio da consciência, dirige o homem em sua vida ensinando-o naquilo que Jesus Cristo ensinou (João 14:26) e transformando-o até atingir a perfeição de caráter (Efésios 3:17-19; 4:12,13). Trata-se de um conhecimento experimental do Plano da Salvação proposto ao homem.

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Conhecimento

Aprofundar o conhecimento sobre a articulação da intervenção do homem e de Deus na história.

Habilidade

Identificar a transformação interior que desencadeará numa prática consciente mais humanizada e espiritualizada.

Atitude

Ser capaz de agir e organizar conscientemente os processos de mudança e dos limites impostos na história do homem.

3DEUS, HOMEM E A HISTÓRIA

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Papel do homem: Informação, reconhecimento e aceitação

Informação – O homem deve ser informado do conteúdo dessa revelação que Deus faz de Si mesmo, do relato da criação do homem bem como do propósito para o qual ele foi criado, de sua natureza inicial e da história de sua queda, das consequências e também da possibilidade de restauração mediante o plano de salvação de Deus.

Reconhecimento – A seguir ele precisa ainda reconhecer sua real situação diante do universo, conscientizar-se do plano e do valor que o Criador lhe atribui e decidir que atitude e escolha vai fazer diante da incapacidade de resolver seu problema e da possibilidade de restauração de sua natureza inicial.

Aceitação – Ao reconhecer-se como um pecador diante de Deus, o homem arrepende-se de seus atos de revolta contra o governo universal do Criador e aceita o plano de salvação. Ele deverá passar por uma série de processos a fim de que se cumpra nele o propósito de sua criação.

A seguir, mencionaremos as fases que constituem a jornada do ser humano dentro desse Plano de Salvação divino.

Novo Nascimento: consiste em implantar no íntimo do homem uma nova natureza, a natureza espiritual, pela morte do próprio eu, descentralizando-o de seu íntimo, permitindo a centralização de Deus em sua vida. Acima de tudo na vida do homem, Deus vai viver no seu íntimo. Cumpre-se a promessa feita por Jesus Cristo: “se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (João 14:23 ).

Desse modo, pela presença e ação do Espírito Santo, uma das pessoas da Trindade, o homem passa por um processo de soerguimento em sua natureza moral depravada pela presença do pecado e decadência por ele provocada e segue uma direção ascendente em seu desenvolvimento ético e moral. Esse processo de desenvolvimento da natureza espiritual é chamado de Santificação (I Tessalonicenses 4:3; 5:23,24; Hebreus 12:14).

Crescimento e Desenvolvimento (Santificação): uma verdadeira batalha no íntimo do homem entre a natureza carnal, tendente a rebaixar a moral, a vida física e a natureza espiritual, influenciada por Deus através da ação do Espírito Santo na mente do homem. Essa luta é descrita pelo apóstolo São Paulo em Romanos 7:7-25, em que o homem chega quase ao desespero (Romanos 7:24), mas encontra sua solução no poder que recebe de Jesus Cristo (verso 25 e Romanos 8:37). Se o cristão permanece ligado a Cristo obterá a vitória sobre a natureza carnal (João 15:4). Paulo, o apóstolo, já escrevera: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13).

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Os fatores mencionados acima fazem parte do processo de crescimento em que o indivíduo, alimentando-se da Palavra de Deus, vai crescendo à semelhança de uma criança que, pela alimentação do leite materno, vai se fortalecendo e se desenvolvendo (I Coríntios 3:2; Hebreus 5:12-14; I Pedro 2:2). O cristão é convidado a crescer em conhecimento e em graça (II Pedro 3:18; Efésios 4:15) até atingir a maturidade (Efésios 4:12-14).

Virtudes Cristãs: revelam-se na vida do crente através do amor, alegria, paz, ânimo, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gálatas 5:22,23), paciência (Tiago 5:7,8), zelo, perseverança, piedade, fraternidade (II Pedro 1:5-7), fé (Hebreus 11:6), hospitalidade (Hebreus 13:2).

Como instrumento de contínuo desenvolvimento, o homem tem à disposição as Escrituras Sagradas que orientam sua vida (II Timóteo 3:14-17). Caso sejam obedecidas, irão conduzi-lo a uma vida de relativa perfeição e no final, à vida eterna (Marcos 10:30; Lucas 18:30; Mateus 19:29; João 3:16). Assim, as coisas espirituais estarão em primeiro lugar, o que trará em sua sequência todas as outras necessárias para uma vida abundante (Mateus 6:33; João 10:10).

O homem, agindo dessa forma, estabelece uma escala de valores diferentes daquela que se observa hoje na sociedade do consumo. O cristão não repete o erro do homem da parábola ensinada por Jesus Cristo em que o indivíduo que coloca as coisas materiais em primeiro lugar terá suas posses perdidas porque não poderá sequer usufruir delas (Lucas 12:12-20).

Tempo: Período para Santificação - No Plano de Deus é concedido ao homem um período durante a sua vida em que ele tem a oportunidade de ser informado da salvação. A partir desse momento, usando do seu livre arbítrio, poderá arrepender-se de sua vida pregressa e aceitar a transformação de sua natureza pecaminosa em uma natureza espiritual (Hebreus 3:7, 8, 12-15; Apocalipse 2:21; II Coríntios 6:2; Atos 17:30). Após a morte, o homem não tem mais oportunidade de se arrepender seguindo-se o juízo em que será julgado pelos seus atos e oportunidades rejeitadas durante a vida (Hebreus 9:27; II Coríntios 5:10; Romanos 14:10-12; Mateus 25:31-46).

Fim do tempo de graça – Glorificação - transformação total da natureza: Quando se completar o tempo determinado por Deus em que todos os indivíduos receberam o conhecimento do evangelho e tiveram tempo para se adaptar à nova vida, Jesus Cristo levantará suas mãos para os céus e dirá: Está feito! (Apocalipse 16:17). Terminará assim o período em que muitos estavam trabalhando a sua santificação e se adaptando para a nova ordem de coisas que existirão no céu (lugar para onde Deus levará os remidos). Os justos receberão a vida eterna e uma nova natureza será glorificada, voltando-se à perfeição inicial do Éden.

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Assim a nova vida trará a alegria eterna e marcará a vida dos redimidos de Deus; estes gozarão da presença do Criador, do Redentor, tendo a oportunidade de adoração e louvor pelos séculos dos séculos. (Apocalipse 21 e 22).

Intervenção Divina na História• No passado

A primeira grande intervenção na História universal mencionada nas Escrituras foi o Dilúvio Universal em que Deus, em virtude do aumento da maldade, resolveu destruir todo ser humano sobre a terra, salvando apenas uma família de oito pessoas que repovoou a terra. Este relato encontra-se nas Escrituras Sagradas e há evidências deste fato: fósseis de plantas e animais soterrados e diferentes tipos de solo indicam que nosso planeta já tenha sido coberto por água.

Houve várias ocasiões em que a intervenção divina foi observada como no surgimento da variedade de línguas, estabelecimento do povo hebreu como povo escolhido por Deus e a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra.

De acordo com as profecias de Daniel, Deus controla as nações em seu levantar e decair (Daniel 2:21,22; 4:32,35; 5:21); prevê o que acontecerá no futuro (Daniel 2:28-45; 7:1-8:25; Isaías 41:22-24; 46:10; 48:3). De acordo com as profecias no livro de Daniel, a partir de Nabucodonosor, haveria quatro reinos universais dividindo-se o quarto em vários reinos e permaneceriam como reinos ou nações divididas, embora ocorressem tentativas de se estabelecer governos mundiais com Carlos Magno, Napoleão e Hitler. Essas profecias se cumpriram com marcante precisão e ainda estão se cumprindo, uma vez que até hoje não houve mais um reino ou nação que tivesse o domínio do planeta.

• No presente

Embora existissem tentativas humanas de conduzir os interesses e governos das nações em suas lutas de conquistas, não houve mais nenhuma nação que detivesse o controle da situação mundial em que pese a influência de poderosas nações como os Estados Unidos, Inglaterra, França e outros em suas conquistas e colonizações.

Certos acontecimentos históricos são inexplicáveis do ponto de vista lógico e humano em que “coincidências casuais” ocorreram que mudaram a direção da própria História. Há cumprimento de profecias das Escrituras que foram dadas por Deus aos profetas que evidenciam o controle de um poder superior sobre o planeta em sua história (Mateus 24:4-14, 29-39; Marcos 13:5-9, 24,25; Lucas 21:7-12, 25-28; Isaías 24:3-6,19,20; II Timóteo 3:1-5,13; Tiago 5:1-6; Apocalipse 13:1-18).

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O fracasso dos planos e tentativas humanas em solucionar o problema do homem, tanto individualmente como coletivamente, demonstram que as teorias e práticas elaboradas pela inteligência humana (teorias econômicas, educacionais, políticas, sociais, psicológicas, etc.) não resolvem o problema do homem, pois este continua em sua natureza degradante.

De acordo com o teocentrismo cristão, somente a intervenção divina nos interesses humanos trará solução permanente e perfeita ao problema da restauração da situação primitiva do homem logo após sua criação.

• No futuro

Mencionaremos as profecias que estão ocorrendo em nossos dias e que através da intervenção divina podemos ter fé que os acontecimentos da História mudarão o cenário.

a) Predições Proféticas - Se considerarmos essas profecias que estão se cumprindo através de fomes, doenças, pestes, terremotos, catástrofes, decadência moral e da ordem, comoção entre as nações, instabilidade econômica e luta entre o capital e o trabalho, poluição ambiental e desequilíbrio ecológico, confusão e incerteza de religiões, angústia e ansiedade pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo, podemos ter fé e confiança de que os restantes dos acontecimentos previstos nas profecias bíblicas vão de fato ocorrer e que a intervenção de Deus mudará para sempre o presente estado de decadência e o processo de entropia conforme sua promessa (II Pedro 3:13).

b) Segunda Vinda - Segundo as profecias das Escrituras, será feita uma intervenção por Jesus Cristo e seus profetas na terra. Toda maldade e suas consequências deixarão de existir, havendo somente paz, harmonia e felicidade eterna com a certeza de que “não se levantará por duas vezes a angústia” (Naum 1:8). Aquela ordem perfeita de vida eterna entre todos os justos que estão prontos e dispostos a uma vida de obediência aos princípios divinos continuará para sempre (Apocalipse 21 e 22; Isaías 65:17; 66:22,23).

O homem hoje

• Continuidade da entropia no mundo físico, na mentalidade do homem e decadência moral. Evidências.

A situação do homem atual como membro da aldeia global está caminhando para a instabilidade, o que agrava o problema do crescimento populacional, pois compomos aproximadamente sete bilhões de seres humanos que precisam de todos os requisitos necessários à sobrevivência.

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A atmosfera, segundo o estudo dos cientistas, tem aumentado a poluição nos últimos tempos no planeta. Outro problema que o homem está provocando é a contaminação da água; no caso do Brasil, 45% da população tem acesso a água tratada para o consumo.

O desenvolvimento da tecnologia tem procurado minimizar as catástrofes que ocorrem em várias partes do mundo e com o aumento populacional, o consumo de energia tem aumentado e as reservas de petróleo já foram consumidas em mais de 50%, levando o homem a procurar novas fontes alternativas.

O problema dos hábitos alimentares tem trazido ao mundo uma dificuldade em aperfeiçoar a produção de alimentos vegetais. Segundo os técnicos e cientistas, para a produção de um quilo de carne é necessário uma área onde poderiam ser produzidos sete quilos de cereais.

Ainda há a acrescentar a destruição da camada de ozônio, impedindo a filtragem dos raios cósmicos que provocam alteração no bom funcionamento do organismo, trazendo em seu rastro doenças que vêm agravar a situação de saúde do homem.

Os problemas sociais compreendem outro fator no desequilíbrio das classes em que os pobres se tornam mais pobres e os ricos mais ricos, gerando conflitos sociais e corrupções dos governos.

Outro aspecto refere-se às doenças que se multiplicam e quando é descoberta a cura, surgem outras; a consequência disso tem sido a superlotação das clínicas e hospitais, insuficientes para todos. Agrava-se o problema quando a indústria farmacêutica e a indústria de alimentos promovem uma verdadeira lavagem cerebral cultivando a dependência e hábitos errôneos de alimentação para explorar a população, criando um estado mórbido de doenças a fim de explorar economicamente os habitantes do planeta.

• Cultura: tendências e consequências - Antropologia Teológica e Cultura

Existe um aspecto da vida do homem no mundo que merece consideração no estudo da Antropologia e pode ser analisado e avaliado do ponto de vista da Teologia. Trata-se daquilo que o homem tem desenvolvido no tempo e espaço e transmitido às gerações seguintes: a cultura humana.

O conceito de cultura do ponto de vista da Antropologia é o seguinte: o homem depende de um aprendizado e uma socialização; a cultura é um meio que possibilita sua adaptação em ambientes diferentes. Alguns elementos constituintes de parte da cultura indicam aspectos positivos da personalidade

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humana que enobrecem e contribuem para o engrandecimento do homem e outros aspectos que rebaixam o ser humano reduzindo-o a níveis piores do que os dos animais irracionais. Seguem alguns aspectos culturais que demonstram essa afirmativa:

• Previsão de Colapso

Estudiosos do sistema mundial como cientistas, líderes civis, religiosos e governamentais, políticos, homens pensantes, estão perplexos com o rumo que a situação do mundo vem tomando. Mediante encontros, debates, congressos, fóruns, conferências, comissões, procuram encontrar uma saída, mas o futuro se torna sombrio, turbulento e incerto. Qual a solução?

Os estudiosos estão prevendo para o futuro um colapso que não sabem exatamente em que consistirá. Até hoje apenas dois estudos acerca do sistema mundial foram efetuados para verificar quanto tempo o nosso planeta suportará esse processo de decadência: Limites do Crescimento e Year 2000 Revisited.

• Dilema do homem – O que faremos?

Diante dessa situação, cada um vai se deparar com o seguinte dilema: irei eu aceitar essa solução que poderá ser proposta se a mesma for contrária aos preceitos que tenho como princípio para minhas decisões na vida?

A Teologia fundamentada nas Escrituras Sagradas prevê em suas profecias que haverá uma tentativa de colocar toda raça humana debaixo da direção de um único poder e a solução a ser apresentada será contrária aos ditames divinos. Todo indivíduo que fizer das Escrituras Sagradas a base para sua fé e prática se defrontará com o dilema de aceitar a solução ou enfrentar a situação e suas consequências para permanecer fiel aos princípios divinos.

Se o homem aceitar os mandamentos de Deus sofrerá a perseguição dos poderes humanos e terá que suportar as consequências de seus atos. Se rejeitar os mandamentos divinos, poderá continuar a ter sua vida. Deus intervirá nos interesses humanos e os que aceitarem Seu plano de salvação e obedecerem a todos os mandamentos serão salvos.

O que faremos? Eis a pergunta. A resposta já foi dada há cerca de dois mil anos pelo fundador do cristianismo: “se, porém, não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis” (Lucas 13:3), e “quem Nele crer, terá vida eterna, mas quem não crer, já está condenado” (João 3:16-20). Essa questão é esclarecida mais pela palavra de Pedro quando lhe perguntaram: que faremos irmãos? A resposta: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em

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nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo”(Atos 2:37,38).

A responsabilidade será individual; cada um será livre para fazer sua escolha como ser inteligente. Esta é a visão cósmica do Teocentrismo Cristão Bíblico.

RevisandoDurante o estudo da primeira unidade, vimos o conceito de Antropologia

como ciência filosófica sobre a humanidade e a cultura, tendo como foco o estudo do homem enquanto centro de suas preocupações. O estudo antropológico se firma nas questões ligadas ao homem, buscando questionar sua origem, o corpo humano, as etnias, raça, religião, comportamento e desenvolvimento, com o intuito de chegar à compreensão da existência humana.

Após a leitura da primeira unidade, estudamos o homem usando diferentes enfoques, isto é, através da filosofia, da ciência e da religião e também da cultura de cada sociedade. Tratam-se de inúmeras maneiras de encarar o estudo acerca do homem e por meio destas análises ele é considerado do ponto de vista da Bíblia.

Discutimos os conceitos de Antropologia, Teologia, Teodiceia, Revelação, Racionalidade e Cosmovisão. Vimos que a Antropologia tem dimensões biológicas, socioculturais e filosóficas. Como ciência social, estuda o conhecimento sobre o homem enquanto elemento integrado a grupos organizados. Como ciência humana, estuda especificamente o homem como um todo: sua história, crenças, costumes, linguagens, etc.

Partindo do princípio que a natureza humana é a própria essência do homem, para diferenciação das coisas do universo, dizemos que esta natureza se apresenta nos seguintes aspectos: nos fatores ambientais que exercem influência no desenvolvimento da personalidade (padrões culturais do seu ambiente) e nos seres humanos (sujeitos à mudanças comportamentais).

Já o conceito de Teologia traduz uma doutrina sobre Deus, Sua revelação, Seus pensamentos e modo de agir. É a ciência que estuda Deus e seu relacionamento com o Universo. A Teologia bíblica investiga a verdade de Deus bem como Seu universo dentro do desenvolvimento histórico, conforme os diversos livros da Bíblia.

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A Antropologia Teológica, nome da nossa disciplina, retrata o estudo sobre a doutrina do homem e sua relação com Deus. Teve sua mudança em duas transições: a do cosmo para Deus, quando o Humanismo suplantou a visão grega da realidade, e a outra foi de Deus para o homem, o que ocorreu na época moderna em consequência da secularização e do ateísmo. Repentinamente Deus desaparece de cena e cede lugar ao homem, dando surgimento ao Antropocentrismo.

O presente estudo discorreu também sobre ideias relacionadas à origem do homem, sua criação, natureza inicial, o que ocorreu em sua trajetória, bem como os motivos pelos quais está sofrendo até hoje em virtude de transgredir as leis naturais e morais estabelecidas pela divindade.

O homem tem a liberdade de escolher entre duas posições diametralmente opostas: o Plano proposto por Deus ou continuar dirigindo seus próprios caminhos sem levar em conta a proposta divina, assumindo assim a responsabilidade pelos próprios atos como ser inteligente e livre.

Analisamos o homem em seu papel: na informação, reconhecimento e aceitação. Deus concedeu ao homem a sua capacidade da vontade. Também concedeu a capacidade intelectual e a autoconsciência, capacidade de perceber-se.

Após ter conhecimento da sua própria natureza, de sua separação de Deus e do Plano divino da redenção do homem, cabe ao homem reconhecer essa situação e compreender que dele depende sua salvação ou perdição.

Existiram fatos sobrenaturais que ocorreram com o povo escolhido por Deus ou em casos individuais. Ao aceitar o plano de salvação e se comprometer com a fé, o cristão tem a presença e ajuda da terceira pessoa da Trindade através da consciência moral. É convidado a viver uma vida pura abandonando as paixões carnais. A busca da virtude por meio da vida dedicada a Deus deve ocupar lugar de importância na vida do homem. O cristão tem uma vida em progresso buscando alcançar o alvo supremo, não significando que a pessoa não peque jamais.

As Escrituras Sagradas esclarecem o que ocorre quando o homem despreza o conhecimento de Deus. Segundo o livro de Matheus, na Escritura divina, os salvos serão os que obedecerem aos mandamentos de Deus. Os que aceitam a salvação de Deus passam por processos (novo nascimento ou nova natureza, santificação) e através das virtudes cristãs começam a se relacionar com Deus e são chamados frutos do Espírito.

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O período de Santificação, representado pelo plano de salvação de Deus e do arrependimento da vida pregressa do homem, provoca nele uma mudança de sua natureza pecaminosa em natureza espiritual.

No período final do tempo de graça ocorre o que é chamado de Glorificação representando a transformação total da natureza.

Outro ponto visto nessa unidade de estudo diz respeito à intervenção divina na história, marcada, inicialmente, pelo Dilúvio Universal em virtude do aumento da maldade, ocorrido quando Deus resolveu destruir todo ser humano salvando apenas a família de oito pessoas com a qual se repovoou a terra.

No futuro, as predições proféticas que estão se cumprindo aos nossos olhos em vários aspectos da vida nos conduzirão ao supremo acontecimento da história: a volta de Jesus Cristo a este planeta em glória e majestade.

Quanto ao homem de hoje, falamos da continuidade da entropia no mundo físico, na mentalidade do homem e decadência moral. Relacionamos a questão da cultura e suas tendências e consequências na história da humanidade. Existem aspectos da cultura onde o homem tem contribuído para a decadência da mesma.

Apresentamos ainda a previsão do colapso diante da insolubilidade humana, destacando o que a Bíblia apresenta e colocamos diversas indagações sobre o futuro da humanidade.

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