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ANTÁRTICA

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"ANTÁRTICA"

POR

Cel VALTER BISCHOFF, BRASIL

Trabalho de Pesquisa apresentado ao Colégio Interamericano de Defesa como requisito para a obtenção do Diploma de aprovação no Curso Superior de Defesa Continental.

WASHINGTON, D.C., Maio de 1996.

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Certifico que revisei este Trabalho de Pesquisa, encontrando-o ajustado à Normativa e Metodologia do CID.

___________________________________ Assessor Coordenador

_______________________________ Data

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NOTA ACLARATÓRIA

As opiniões emitidas no presente trabalho, são da exclusiva responsabilidade do autor e não apresentam a posição do CID.

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AUTORIZAÇÃO

Autorizo o Colégio Interamericano de Defesa a publicar este trabalho como artigo para Leitura Selecionada ou na Revista do Colégio. Assinatura do pesquisador: ______________________________ Cel Valter Bischoff Data:_____/_____/______

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

CAPÍTULO

I GENERALIDADES

1. Caracterização da Área .............................................................. 3 2. Importância da Antártica ........................................................... 5 3. Antecedentes Históricos ............................................................. 8

II PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TRATADO DA ANTÁRTICA................................................................................... 11 III DIMENSÃO GEOPOLÍTICA DA ANTÁRTICA 1. Geopolítica Marítima .................................................................. 15 2. Geopolítica Aeroespacial ............................................................ 15 3. Geopolítica de Recursos ............................................................. 16 IV TESES DOS PAÍSES SIGNATÁRIOS X TESE DA “RES COMUNIS” .................................................................................... 17 V O PROTOCOLO AO TRATADO DA ANTÁRTICA SOBRE

A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE ( PROTOCOLO DE MADRID - 1991 ) ........................................................................ 20

CONCLUSÃO ................................................................................................. 22

ANEXOS

1 FISIOGRAFIA DA ANTÁRTICA ................................................... 24 2 REIVINDICAÇÕES TERRITORIAIS ............................................. 25 3 TEORIA DA DEFRONTAÇÃO ...................................................... 26 4 RECLAMOS TERRITORIAIS E BASES ....................................... 27

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 28

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A. INTRODUÇÃO

Em 1867, o secretário de Estado dos EUA WILLIAM SEWARD propôs a compra do desconhecido Alasca à Rússia. Embora tivesse enfrentando enorme oposição e severas críticas, conseguiu fazer prevalecer sua idéia e a compra foi consumada.

Por 7.200.000 dólares os EUA adquiriram a “geladeira de SEWARD” ou “loucura de SEWARD” como foi apelidada na época.

Hoje, decorridos quase 130 anos, a “loucura” possui um valor estratégico e um potencial econômico que não podem ser medidos em dólares.

Não existem mais “Alascas” à venda no mundo de hoje. A busca de melhores posições estratégicas e de novas fontes de recursos econômicos escassos, levou diversos países a se empenharem numa verdadeira “corrida” à última região ainda “livre” de nosso planeta: a Antártica. Nesta disputa, a bandeira é a do conhecimento científico, e os contendores numa ação conjunta através de tratados e manobras políticas, procuram dificultar que outros países dela participem.

As referências à Antártica envolvem, comumente, menções que procuram traduzir as peculiaridades ímpares da região, as quais, se ao primeiro contato podem parecer exageradas, à medida que se amplia o conhecimento relativo ao conjunto de características do continente, torna-se fácil compreender e acolher como adequados os adjetivos atribuídos.

Tais aspectos, certamente, na época oportuna, muito contribuíram para atrair a atenção dos exploradores, que aventuraram-se rumo ao desconhecido e construíram uma história que representou verdadeira saga de heroísmo, vivenciada por alguns nomes que conquistaram admiração e fama mundial.

Mais do que isso, o desbravamento inicial ocorrido, principalmente no século passado, cedeu lugar, mais recentemente, às iniciativas internacionais de cunho científico e ao aparecimento de reclamos e reivindicações territoriais, o que lançou a Antártica no fulcro de um sério contencioso potencial.

Conforme será verificado, o continente antártico constitui a fonte de regulação climática em todo o mundo, além de encerrar recursos minerais significativos, o que acentua sua importância estratégica e pode explicar a cobiça internacional sobre o seu território.

A assinatura do Tratado da Antártica e, mais adiante, do Protocolo de Madri, permitiu acomodar o conflito latente, pelo menos, por algum tempo.

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Mas para compreender a sua abrangência e o seu significado impõe-se conhecer

o ordenamento jurídico que vigora na região e o jogo de forças das correntes políticas internacionais predominantes.

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CAPÍTULO I

GENERALIDADES 1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

Antártica, cuja palavra significa “oposto ao Ártico” é a denominação dada à região - mares e terras - que circunda o Polo Sul até o paralelo de 60 ° S. ( Anexo 1 )

Possui uma superfície aproximada de 14 milhões de km², equivalente a uma vez e meia a área do Brasil, a soma das áreas da Europa e EUA, o dobro da Austrália e a metade do continete africano. Tal extensão tornou-a conhecida como o sexto continente. Sua forma quase circular é interrompida pela firme curvatura da península Antártica, e dois profundos golfos - os mares de Weddell e Ross. Seu maior diâmetro mede cerca de 5.500 km.

É rodeada pelo oceano Austral ou Antártico, constituído pelas partes confluentes dos Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Profundidades abissais superiores a 3.000 m tornam-na totalmente ilhada, sem vinculação alguma a outras terras, nem mesmo através de plataformas continentais.

Dista do Cabo da Boa Esperança (na África) cerca de 6.000 km, aproxima-se um pouco mais da Oceania, pois se encontra a 5.000 km da Tasmânia e se projeta em direção ao continente sul-americano, do qual dista apenas 4.000 km.

Sob o ponto de vista geográfico, para melhor clareza didática, podemos dividir o continente antártico em três setores: o africano, localizado entre os meridianos de 0° e 120° leste, o autraliano entre os meridianos de 120° leste e oeste e o americano entre 120° e 0° oeste.

A Antártica Africana se estende por uma série de territórios com diferentes denominações entre as quais se destacam a Terra da Rainha Maud, a Terra de Enderby, a Terra de Guilherme II e a Terra de Wilkes. Incluem-se neste setor as ilhas de Kerguelen, Crozet, Nova Amsterdam, S. Paulo, Marion, Príncipe Eduardo, Mac Donald e Heard. Encontram-se na Antártica Africana os setores reivindicados pela Noruega e Austrália, sendo também o setor onde predominam as bases científicas russas.

A Antártica Australiana é composta pelas Terras de Adélia, Vitória, Eduardo VII e parte da Terra de Mary Byrd. A oeste da Terra de Vitória, tendo ao norte a Terra de Eduardo VII e no leste a Terra de Mary Byrd, estende-se a reentrância formada pelo mar de Ross. Integram a Antártica Australiana várias ilhas vulcânicas e rochosas. O setor contém territórios reivindicados pela Austrália, França e Nova Zelândia.

A Antártica Americana é a que mais avança para o norte, num prolongamento entre a península Antártica e o continente sul-americano, com escalonamento numa série de

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arquipélagos que desenham para o oeste um arco formado pelas ilhas dos Estados, Malvinas, Geórgias do Sul, Sanduíche do Sul, Orcadas do Sul e Shetlands do Sul. É formada pelas Terra de Mary Byrd. A semelhança com o setor australiano, possui uma profunda cunha formando o mar de Weddell.

É na Antártica Americana que se embaralham os setores reivindicados pela

Inglaterra, Argentina e Chile, parte do pleiteado pela Noruega, como também o território pretendido pelos Estados Unidos, mas ainda não revindicado oficialmente. Neste setor, o TIAR ( Tratado Inter-Americano de Assistência Recíproca ) reconhece a existência de uma Antártica Americana, entre os meridianos de 30° e 90° de longitude oeste.

Tendo em vista o seu valor altamente estratégico, em se tratando de controlar os estreitos de Magalhães e Drake, concentra-se na Antártica Americana o maior número de bases científicas que começaram a proliferar durante o Ano Geofísico Internacional (AGI) de 1957-58.

Geologicamente, podemos dividir o continente em duas regiões distintas: a Antártica Oriental e a Antártica Ocidental. Uma linha que une os mares de Weddell ao de Ross materializa as duas regiões, possuidoras de características próprias e específicas.

A Antártica é o mais elevado de todos os continentes com uma altitude média de 2.000 m acima do nível do mar, tendo como ponto culminante o Monte Vinson com 5.140 m de altitude no setor Americano.

A Antártica é uma massa de terra centrada no polo sul recoberta por uma calota de gelo de forma e espessura variáveis. Essa capa de gelo cobre aproximadamente 98% da massa de terra antártica, contendo 89% dos gelos aderentes; tem sete vezes mais a extensão da calota existente na Groenlândia, que em volume e massa vem em seguida, na classificação mundial, com apenas 9% dos gelos aderentes, restando apenas 1% para os demais glaciares.

A Antártica é o continente mais frio do mundo, com média anual em torno de - 25° C, embora a temperatura não seja uniforme em toda a região.

A vida da flora é sumamente limitada ao curto verão, tendo ainda que contar nesse período com a ação interrompida do sol sobre o horizonte. Nessas condições, a flora polar é pobre, pequena e deprimida, predominando as espécies constituídas pelos musgos, líquens e algas.

A vegetação da região é fator condicionante da fauna antártica, impedindo o aparecimento de animais terrestres e concentrando-a na orla marítima. Caracteriza-se a fauna terrestre pela escassez de espécies, embora, cada uma delas possua um grande número de indivíduos.

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2. IMPORTÂNCIA DA ANTÁRTICA

a. Recursos Renováveis

O estudo histórico da Antártica revela que o homem aproximou-se daquela região movido tanto pelo interesse científico quanto pelo econômico. As viagens promovidas por grandes sociedades comerciais no século XIX deram origem às primeiras revindicações de terras feitas pela Noruega com o intuito de oferecer proteção à sua indústria baleeira contra as imposições inglesas e as proibições francesas.

Até hoje as atividades baleeiras se desenvolvem nas águas antárticas, sendo responsáveis por 80% da produção mundial de óleo de baleia. Os restantes provêm do Ártico e de outras regiões.

Nas baleias tudo se aproveita, embora sua caça intensiva até meados do século XIX tenha se prendido mais à obtenção do óleo empregado no aquecimento e iluminação.

Embora a carne fresca da baleia se apresente como alimento importante pelos

90% de proteínas que contém, não conseguiu ainda se integrar à mesa dos ocidentais; seu aproveitamento, neste sentido, é feito pelos noruegueses e japoneses, os dois povos que mais consomem carne de baleia.

Atraída por essa riqueza, a Inglaterra em 1905 inicia a efetiva administração nas ilhas Falkland (Malvinas) regulando a pesca da baleia, enquanto que os japoneses, principais competidores dos dinamarqueses e noruegueses, passaram a desviar seus barcos para os mares austrais, onde já se encontravam os russos.

Sua pesca, decorrente da destruição indiscriminada e perigo de extinção, foi regulamentada pela Convenção Internacional, assinada em Washington a 2 de dezembro de 1946, complementada pelo decreto de 15 de setembro de 1958.

O cachalote embora não sendo aproveitado integralmente, como a baleia, possui importância econômica na fabricação de perfumes, velas e lubrificantes.

Uma nova e ainda inestimada fonte de alimentação começou a ser explorada nos últimos anos: o “krill”, uma minúscula espécie de camarão de altíssimo valor proteíco, que serve de alimento às baleias. De acordo com avaliações de pescadores poloneses, russos e japoneses que já atuam na região, o volume de “krill” é tão grande que, mesmo que se pescassem 100 milhões de toneladas dele, isto significaria quase nada diante da quantidade do crustáceo existente na Antártica.

As algas são representadas por diversas espécies particularmente as do gênero Macrocystis e Durvillea. Nas zonas litorâneas dos arquipélagos e na costa do continente existem verdadeiras pradarias, cobrindo áreas superiores a 200 km² , nas proximidades das ilhas

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Derguelen e Malvinas. Nestas regiões, a produção em média é de 3 a 10 kg/m² da Macrocystis e de 10 a 20 kg/m² da Durvillea. O Chile e a Tasmânia já as exploram comercialmente no campo das indústrias químicas, farmacêuticas e alimentícias.

Sua participação no equilíbrio ecológico é fundamental, por se constituir no habitat de certa fauna produtora de substâncias orgânicas e inorgânicas.

A caça de focas na região austral só começou na segunda metade do século XVIII quando os chineses inventaram, em 1750, o processo que permite a extirpação dos pelos longos da capa externa, sem prejudicar a suave capa interna de pelos curtos e densos.

Embora não haja uma exploração econômica, já se abate a foca de Weddell, que vive na costa, para consumo de sua carne, pelos cientistas, por conter propriedades que evitam o escorbuto. As aves antárticas, exceto o petrel gigante, oferecem carne comestível. A mais atacada pelo homem foi o pingüim para obtenção de sua pele. Cerca de 1 milhão de pingüins eram exterminados durante o período de incubação. Visando a preservação da espécie, a partir de 1933, sua caça foi regulamentada e a ilha Macquarie foi considerada reserva de pingüins. b. Recursos Não-Renováveis

A possibilidade de pesquisar e explorar os recurso naturais não-renováveis na Antártica, é um problema de ordem técnica, e indubitavelmente, também econômico estando relacionado, neste caso, com o direito internacional e com decisões de caráter político.

Sem dúvida num continente de aproximadamente 14.000.000 km² é lícito admitir-se a presença de qualquer tipo de recurso mineral, particularmente aqueles existentes nas áreas defrontantes.

A respeito dos hidrocarburetos é importante considerar os estudos levados a

cabo, às expensas da National Science Foundation, na plataforma continental do Mar de Ross em 1972.

Mas o fator econômico mais importante em termos atuais ainda está latente. É o que se refere à elevada probabilidade da existência de determinadas riquezas minerais e à comprovada ocorrência de outras. Já foi constatada a existência de mais de 200 tipos de minerais, alguns de elevado valor econômico e estratégico, dos quais ressaltamos

· comprovada localização de jazidas de urânio de alto teor, próximas da base japonesa de Showa, na costa do Príncipe Olav; · pesquisas realizadas pelo navio Eltanin no setor que se defronta com o litoral brasileiro, constataram a existência de enormes jazidas de manganês. Nódulos e concreções formam verdadeiro tapete desse metal no fundo do mar; · pesquisas geológicas recentes confirmam a elevada probabilidade da exis-tência de petróleo na península Antártica e na Antártica Ocidental;

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· nas montanhas Horlick, ao sul da base americana de Byrd, foram localizados extensos depósitos de carvão, estimados por importantes geólogos como dos maiores do mundo, logo abaixo dos depósitos dos EUA; · do pouco que foi dado a conhecer até agora sobre as intensas atividades russa na Antártica, destaca-se a existência de extensos depósitos de minério de ferro e de mica.

A teoria do Gondwana (Wegener) diz que, há cerca de 135 milhões de anos, a

costa antártica que compreende o mar de Weddell era ligado ao litoral sudoeste da África, que abrange a costa desde Moçambique até Port Elizabeth e portanto, por analogia da estrutura geológica, tem grandes probabilidades de conter petróleo, cromo, ferro, tungstênio e xisto betuminoso. Estaria também a Antártica ligada à América do Sul ( prolongamento dos Andes), à Austrália e à Índia, o que implicaria em ter condições geológicas semelhantes às daquelas regiões nas áreas correspondentes.

O interesse pela exploração comercial na região Antártica, considerando-se as dificuldades da área, está condicionado fundamentalmente por dois fatores:

- a necessidade a nível mundial do elemento em questão;

- que sua exploração apresente um rendimento aceitável.

Além destas perspectivas econômicas existem inúmeras outras, propostas por nomes famosos como o almirante Lepotier, sugerindo o armazenamento de alimentos excedentes por tempo indefinido, tendo em vista as baixas temperaturas e o ar isento de bactérias, ou como três cientistas americanos, que propuseram a revisão do Tratado da Antártica, para se utilizar do continente como depósito dos resíduos radioativos dos reatores nucleares, ou ainda como Pierre Carpentier sugerindo a irrigação das regiões desertas da Austrália por icebergs desviados da suas rotas para as costas daquele continente, obtendo-se água doce a um preço muitas vezes inferior ao da dessalinização da água do mar.

Rotas aéreas transantárticas, outro fator de interesse econômico, poderão vir a ser utilizadas no futuro. Na viagem da Cidade do Cabo ( África do Sul) até a Nova Zelândia, por exemplo, são percorridas 9.500 milhas pela atual rota comercial, enquanto que pelo Polo Sul, a distância seria reduzida para 5.900 milhas. Da mesma forma de Buenos Aires até a Nova Zelândia, a viagem se reduziria de 11.300 milhas para 5.300 milhas. Em seu acordo sobre aviação comercial (1957), os EUA e a Austrália incluiram uma rota polar.

Uma atividade comercial que vem sendo desenvolvida é o turismo. Os EUA e o Chile promovem excursões à região, onde os turistas podem ver pingüins e postos abandonados de onde partiam expedições de caça à baleia. A Argentina também demonstra interesse nesta atividade. No verão, única época em que é possível navegar pelas imediações do continente, desembarcam quase 10.000 turistas na península antártica e ilhas das imediações, locais de mais fácil acesso. Os cruzeiros partem geralmente de Punta Arenas, cidade mais austral do Chile, ou de Ushuaia, no extremo sul da Argentina. Navios russos, que serviam de apoio às antigas bases soviéticas na região, foram adaptados e também prestam este serviço.

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3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

O interesse pela região sul do globo existiu desde a Antiguidade. Em 500 A.C., Pitágoras já aventava a hipótese da terra ser redonda. Ptolomeu de Alexandria, em 150 D.C., em seu livro “A Geografia” afirmava que, para a Terra ser redonda, deveria conter em sua base um continente ( “Terra Austrális Incógnita”).

Em 1486, apareceu, na Alemanha, um mapa onde a “Terra Austrális Incógnita” era unida à África.

Após a viagem de circunavegação de Fernando de Magalhães, em 1520, a atenção da Europa foi despertada para a região antártica. Prevalecia, então, a idéia de que a “Terra Austrális” constituía um vasto continente que, centrado no pólo, prolongava-se até a altura do extremo norte da Austrália, projetando-se, também, até as proximidades da África e da América do Sul.

Em 1570, outro mapa apareceu em Antuérpia, onde o Continente era ligado à América do Sul; após a viagem de Drake, em 1577, ela passou a ser representada unida à Austrália.

Em 1620, holandeses navegaram ao sul da Austrália e, a partir de então, ficou provado que ela não estava ligada a nenhum continente conhecido.

Várias viagens foram feitas com aproximação cada vez maior da região antártica dentre elas a do Comandante James Cook (Reino Unido) em 1772, sendo que, em 1819, um inglês, William Smith, avistou as ilhas Shetland do Sul (onde hoje existem muitas bases antárticas) e relatou sobre a quantidade de focas e baleias encontradas, o que atraiu uma infinidade de aventureiros para auferir lucros com a gordura animal.

Foi um caçador de baleias e focas, o americano, Nathaniel Palmer, quem conseguiu avistar, ainda em 1820, o continente antártico pela primeira vez. Nesse mesmo ano, expedições de Bellingshausen (Russia) e Bransfield (Reino Unido) também viram o continente.

Pelo fato dos caçadores de focas e baleias continuarem avistando terras, aumentou-se a suspeita de que se havia, finalmente, descoberto o continente antártico, o que foi confirmado com as expedições que ingleses, americanos e franceses enviaram com o propósito de realizar investigações científicas e penetrar, o mais possível, para o sul; expedições essas que, juntamente com russas, belgas e norueguesas, continuaram por todo o século XIX.

E o que se observava na Europa, ao final daquele século, era um acentuado interesse científico por ambas as regiões polares, o que viria dar origem à criação da Comissão Polar Internacional que, reunida na Alemanha, em 1879, decidiu promover o “Primeiro Ano Polar” (1882-1883) com a participação de doze países, com a manifestada intenção de

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empreender pesquisas. Iniciava-se, dessa forma, a prática da cooperação científica nas extremidades geladas da Terra.

No século XX, intensificou-se ainda mais essa penetração até que, em 14 de dezembro de 1911, Roald Amundsen fincou a bandeira norueguesa no Polo Sul. Grã-Bretanha, França, Bélgica, Escócia, Austrália, Japão, Noruega e Alemanha estavam entre as nações que manifestavam maior interesse na região participando ativamente de pesquisas científicas. A esse movimento procuraram associar-se a Argentina e o Chile estabelecendo respectivamente em 1904 e 1906, suas estações de pesquisas na periferia do continente antártico.

Terminada a fase heroíca da conquista da Antártica, não cessaram as investigações científicas no continente e, mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha enviou, em 1943, uma expedição para instalação de estações meteorológicas na península antártica (Graham).

Em 1942, os alemães se serviram das ilhas Kerguelen como posto de

reabastecimento de um navio corsário, o Pingüim, que já havia tomado mais de 136 toneladas de cargas aliadas quando foi afundado. E, entre 1939 e 1941, os Estados Unidos começaram a ocupar, permanentemente suas bases, usadas anteriormente por expedições americanas com um caráter científico-estratégico.

Em dezembro de 1946, os Estados Unidos organizaram a maior expedição já enviada à Antártica ( Operação “HIGHJUMP”) . Era chefiada pelo Almirante Byrd, que havia sobrevoado o Polo Sul em vôo pioneiro em 1928, e composta por 4700 homens, dos quais 1600 tomaram parte nas investigações científicas, em 9 navios, 1 quebra-gelo, 1 submarino, helicópteros e aviões e conseguiram realizar descobertas científicas bastante importantes e deram, também, a maior demonstração de força na região.

Em 1947, o Chile estabeleceu sua primeira base na ilha Greenwich, nas Shetland

do Sul.

Produto de intensa movimentação da comunidade científica mundial foi celebrada em 1955, a chamada “Conferência de Paris”, organizada para tratar, exclusivamente, de assuntos relacionados com o continente antártico.

O advento do Ano Geofísico Internacional (1957 - 1958), levou o continente Antártico a transformar-se em um vasto laboratório, onde 12 países instalaram 60 estações de pesquisas e, independentemente de suas posições com referência à Antártica ou ideologias-políticas, trabalharam ombreados.

Como resultado da cooperação científica, levantou-se a hipótese de se continuarem as explorações e pesquisas nos mesmos moldes, e as tratativas sobre o assunto, iniciadas em 1959, conduziram à assinatura do Tratado da Antártica, que é o Capítulo seguinte deste trabalho.

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CAPÍTULO II

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TRATADO DA ANTÁRTICA

Após o Ano Geofísico Internacional, face aos êxitos obtidos nas explorações efetuadas no continente, os seguintes países participaram em Washington, em 1959, de uma Conferência sobre o assunto: Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, República Francesa, Japão, Nova Zelândia, Noruega, União da África do Sul, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e Estados Unidos da América, todos com instalações e bases na Antártica. Firmado a 1° de dezembro de 1959 e ratificado pelos 12 signatários citados, em meados de 1961, o Tratado da Antártica, resultante da Conferência de Washington, não atingiu o seu principal objetivo que era o da resolução do problema político. Não foi aprovada a proposição de internacionalização da Antártica defendida pelos Estados Unidos e Rússia, congelando-se novas reivindicações durante 30 anos de vigência do Tratado.

Após um preâmbulo, cujo texto alerta para a importância da Antártica continuar a ser utilizada, exclusivamente, para fins pacíficos e para evitar a sua conversão em cenário ou objeto de discórdias internacionais, o Tratado adota as seguintes linhas mestras reguladoras das atividades na região, capituladas ao longo de quatorze artigos:

· assegura a liberdade de pesquisa, cujos resultados devem ser permutados e tornados livremente utilizáveis, estando prevista a presença de observadores das Partes Contratantes com acesso irrestrito a qualquer tempo e em qualquer lugar, aí incluídas todas as estações, instalações e equipamentos existentes na Antártica;

· permite que equipamento ou pessoal militar possa ser introduzido na região, desde que para pesquisa científica ou para qualquer outro propósito pacífico;

· exorta as Partes Contratantes a empregarem esforços apropriados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas, para que ninguém exerça, na Antártica, qualquer atividade contrária aos princípios do Tratado;

· admite a modificação ou emenda do Tratado a qualquer tempo, por acordo unânime das Partes, ou após decorridos trinta anos de vigência, por solicitação de qualquer uma das Partes Contratantes;

· elege o governo dos Estados Unidos como depositário dos instrumentos de ratificação do Tratado e concede a possibilidade de adesão a qualquer Estado que seja membro das Nações Unidas;

· define a área de jurisdição do Tratado como aquela situada ao sul de sessenta graus de latitude sul, incluindo as plataformas de gelo, ressalvando, contudo, a preservação do direito internacional aplicável ao alto-mar;

· estabelece que nenhuma nova reivindicação, ou ampliação de reivindicação existente, relativa à soberania territorial na Antártica, será apresentada enquanto o presente Tratado estiver em vigor; e

· proibe a realização de explosões nucleares e o depósito de resíduos radioativos (primeiro acordo nuclear internacional).

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O Tratado previa, também, reuniões ordinárias periódicas, denominadas

“Reuniões Consultivas” (RC), com todas as chamadas Partes Consultivas ou Aderentes devidamente representadas em plenário, cuja sede observaria critério de rodízio.

É importante ressaltar que as reivindicações territoriais tornam-se literalmente congeladas, uma vez que aquelas ora existentes não podem ser alteradas, e quaisquer outras, novas, não serão aceitas. Merece destacar que o Tratado, firmado pelos doze signatários iniciais, permanece aberto a adesões que, quando aceitas, evidentemente, estarão submetendo os novos aderentes à anuência aos termos do Acordo. Portanto, não poderão ser postulados novos reclamos.

Fica, também, assinalado vínculo implícito com a ONU, quando é mencionada a carta daquela Organização, com a finalidade de preservar os princípios do Tratado.

Fundamentalmente, os Membros Aderentes ao Tratado da Antártica podem ser divididos em Partes Consultivas e Partes Não-Consultivas.

Os primeiros, em número de vinte e seis, entre os quais encontram-se os sete territorialistas, podem ser subdivididos em Consultivos Originais ( os doze signatários iniciais do Tratado), e em Consultivos Adicionais, cuja adesão e efetivo envolvimento com as atividades antárticas ocorreu posteriormente.

Ao ascender à posição de Parte Consultiva, o Estado passa a exercer o direito de

voto e, dessa forma, a participar de forma plena de todas as Reuniões Consultivas do Sistema do Tratado da Antártica ( STA) e, portanto, passa a deter a prerrogativa de sentar-se à mesa de negociações dos assuntos relativos ao continente.

Complementando a relação dos Membros Aderentes existem dezesseis Partes Não-Consultivas, correspondendo aos Estados que manifestam interesse na região mas, até este momento, devido a ausência de participação efetiva nas atividades, restringem-se à condição de observadores, sem direito a voto.

Com o passar do tempo, a possibilidade de revisão aliada à ausência de regras específicas disciplinadoras do aproveitamento dos recursos minerais antárticos, revelou-se como o ponto mais sensível e vulnerável do Tratado.

Até que completasse trinta anos em vigor ( junho de 1991), a revisão somente poderia ocorrer em caso de iniciativa unânime. Por conseguinte, a discordância de apenas uma das Partes seria suficiente para obstruir o eventual desejo de todos os demais, reduzindo muito, portanto, a probabilidade de qualquer alteração. A situação se inverteria, porém, a partir de junho de 1991, pois, dali em diante, a iniciativa de qualquer uma das Partes Consultivas seria suficiente para provocar a revisão.

Na medida em que se aproximava o trigésimo aniversário do Tratado, duas preocupações consensuais prevaleciam durante as RC: a primeira, decorria do convencimento

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geral que identificava a necessidade de introduzir dispositivo que tratasse da exploração dos recurso minerais; e, a outra, de que a situação vigente não deveria sofrer alterações significativas, de moda a preservar, de forma geral, o nível de entendimento predominante.

O nó da questão, portanto, permanecia atado. O ano de 1991 estava próximo e urgia encontrar solução conciliatória que conquistasse consenso e, desta maneira, o apoio geral para a manutenção da integridade do Tratado que, até então, vinha sendo aplicado com muito sucesso.

A resposta foi dada em Madri, em 1991, com a aprovação unânime do Protocolo ao Tratado da Antártica sobre Proteção do Meio Ambiente, que passou a ser conhecido como “Protocolo de Madri” (PM).

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CLASSIFICAÇÃO DOS MEMBROS DO SISTEMA DO TRATADO ANTÁRTICO

1. PARTES CONSULTIVAS ORIGINAIS (12) - (Tem voz e voto) TERRITORIALISTAS (7) : NÃO-TERRITORIALISTAS (5):

ARGENTINA ÁFRICA DO SUL AUSTRÁLIA BÉLGICA CHILE ESTADOS UNIDOS FRANÇA JAPÃO NOVA ZELÂNDIA RÚSSIA NORUEGA REINO UNIDO

2. PARTES CONSULTIVAS ADICIONAIS (14) - (Tem voz e voto)

TODOS NÃO-TERRITORIALISTAS: POLÔNIA (1977) ALEMANHA (1981/87) BRASIL (1983) INDIA (1983) CHINA (1985) URUGUAI (1985) ITÁLIA (1987) ESPANHA (1988) SUÉCIA (1988) FINLÂNDIA (1989) PERU (1989) CORÉIA (1989) HOLANDA (1990) EQUADOR (1990)

3. PARTES NÃO-CONSULTIVAS (16) - (Apenas voz)

REPÚBLICA CHECA (1962); SLOVÁKIA ( 1962); DINAMARCA (1965); ROMÊNIA (1971); BULGÁRIA (1978); PAPUA NOVA GUINÉ (1981); HUNGRIA (1984); CUBA (1984); GRÉCIA (1987); REP.DEM.CORÉIA (1987); ÁUSTRIA (1987); CANADÁ (1988); COLÔMBIA (1989); SUÍÇA (1990); GUATEMALA (1991) e UCRANIA (1992).

CAPÍTULO III

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DIMENSÃO GEOPOLÍTICA DA ANTÁRTICA 1. GEOPOLÍTICA MARÍTIMA

A Península Antártica e as ilhas da região permitem que seja exercido o controle das vias marítimas entre os oceanos Pacífico-Atlântico-Índico, por países possuidores dos necessários meios logísticos, militares e tecnológicos.

A vulnerabilidade dos Canais de Suez e Panamá, a utilização de supernavios em face da economia de frete e a crescente necessidade de materiais estratégicos para a indústria do mundo ocidental, tornaram vitais as rotas do Cabo, pelo sul da África, e a dos estreitos de Drake e Magalhães, pelo sul da América do Sul.

A proximidade do continente antártico dessas rotas, com perspectivas de utilização de bases nessa região, para controle ou interferência com o tráfego marítimo, faz ressaltar a capital importância estratégica da região antártica.

Em paralelo com o possível emprego da região para controlar as rotas marítimas acima citadas, aparece a preocupação com a garantia do uso e controle das águas antárticas e das rotas de acesso ao Continente Polar. Do exposto, observamos que as nações do primeiro mundo têm desenvolvido significativos esforços para assegurar este controle.

Além das posições já ocupadas pela Comunidade dos Estados Independentes, não é demais associar-se ao valor estratégico da Antártica a firmeza britânica em relação às Malvinas e os esforços norte-americanos em manter o alinhamento da África do Sul, uma vez que Malvinas e África do Sul ocupam posições que facilitam a garantia do acesso à Antártica. 2. GEOPOLÍTICA AEROESPACIAL

As rotas aéreas polares representam significativa economia para viajantes que vão, por exemplo, da América do Sul para Austrália e Oceania. No caso da ligação entre Buenos Aires e Auckland (Nova Zelândia) houve uma redução na distância de 17.400 para 6.000 milhas, e o percurso foi realizado em nove horas. Entre os países sulamericanos que têm mostrado interesse no desenvolvimento de tais rotas aéreas, citamos a Argentina e o Chile.

Um outro aspecto importante diz respeito a influência da região antártica no clima do continente sulamericano. Em função disto e considerando o progresso tecnológico, além do crescente interesse científico, tornaram aquela região polar laboratório cobiçado para estudos meteorológicos, oceanográficos, ionosféricos, cósmicos, magnéticos, etc.

Se no futuro houverem meios científicos de controle dos climas, é evidente que o Polo Sul, onde se formam as massas de ar que se deslocam dessas áreas de baixa pressão, será a Antártica de suma importância, sobretudo para os países que se situam na zona austral.

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Os vultosos gastos já dispendidos por países signatários do Tratado, em pesquisas, estações e explorações científicas, evidenciam a importância ímpar da região e refletem a possibilidade de um promissor investimento.

3. GEOPOLÍTICA DOS RECURSOS

As pesquisas conduzidas na Antártica revelaram a ocorrência de cento e setenta e seis minerais, entre os quais urânio, ouro, prata, ferro, petróleo e carvão. Há resultados que permitem confirmar a existência de grandes reservas de ferro e carvão.

A demanda mundial de energia valoriza o potencial econômico-estratégico da Antártica como fonte de combustíveis fósseis e físseis. As pesquisas geofísicas na região costeira e na plataforma continental indicam a existência de apreciáveis lençois de gás natural e petróleo.

Sob enfoque tecnológico e econômico, a explotação dos recursos minerais antárticos tem dificuldades e desvantagens, que são quase que exclusivamente conjunturais. A aceleração natural da evolução tecnológica tende a criar condições para que motivações econômicas e soluções políticas viabilizem a explotação dos recursos minerais da Antártica.

É evidente que a excentricidade da Antártica em relação aos centros de consumo será, ainda por considerável tempo um fator inibidor da exploração de seu potencial, paralelamente aos conflitos de interesse político.

Cabe observar, que os recursos protéicos dos mares antárticos já vêm sendo explorados com tecnologia atual, e de forma lucrativa, em que pesem as dificuldades existententes. O krill é, principalmente explorado pela Rússia, Japão, Polônia e Chile.

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CAPÍTULO IV

TESES DOS PAÍSES SIGNATÁRIOS X TESE DA “RES COMUNIS”

Os progressos alcançados no âmbito do Sistema do Tratado da Antártica, já transcorridos cerca de 35 anos desde sua entrada em vigor, não eliminam definitivamente todas as disputas em torno das várias questões em jogo, havendo especial preocupação com as reivindicações de caráter territorial. Vejamos alguns conflitos latentes.

Não existe no Continente Antártico, estado reconhecido internacionalmente. Porém 85% da região foi reivindicada por sete nações: Argentina, Austrália, Chile, França, Nova Zelandia, Noruega, e Reino Unido. ( Anexo 2)

Estes reclamos fundamentam-se em diferentes motivos: descobrimento, ocupações, exercício de jurisdição, direitos históricos, contiguidade e continuidade geofísica.

A simples constatação de que há superposição entre os setores reclamados por diferentes nações, sugere o potencial de crises que a Antártica encerra.

Embora as relações internacionais na Antártica estejam submetidas a um regime jurídico consolidado e, nos dias de hoje, fielmente observado pela comunidade das nações, tal fato não inibe a existência de posições políticas diversas, e algumas vezes antagônicas, entre os países que, de alguma forma, manifestam interesse sobre a região.

Assim, a compreensão do significado de cada uma dessas posições torna-se essencial para o perfeito entendimento do jogo de forças e de poder que se desenvolve em relação ao continente antártico.

Atualmente, o cenário internacional abriga quatro principais correntes políticas - a internacionalista, a territorialista, a ambientalista e, finalmente, a internacionalista restrita - cujas características passaremos a apreciar.

Podemos dividir os países que possuem algum tipo de interesse na Antártica, de uma maneira geral, em duas vertentes fundamentais: a primeira, diz respeito àqueles que, por razões diversas, ainda não desenvolveram qualquer tipo de esforço direto relacionado com a Antártica, a despeito do interesse latente; no segundo grupo, ao contrário, estariam incluídas as nações que, com maior ou menor antecedência ao longo do tempo, trataram de marcar presença no continente gelado.

a) Os Internacionalistas A expressão jurídica “res communis” que, literalmente, quer dizer “coisa comum”,

tem sido empregada como bandeira para defender o ponto de vista dos países que entendem ser a Antártica patrimônio de toda a humanidade.

Esta posição, conhecida como internacionalista, tem sido sustentada, geralmente, por nações em desenvolvimento que consideram a Antártica como uma herança mundial, cujas riquezas devem ser equilibradamente distribuídas entre todos os povos.

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Evidentemente, os países que defendem tais argumentos são aqueles que, por

terem omitido suas participações diretas na Antártica e, via de conseqüência, por deixarem de fazer parte do âmbito dos países aderentes ao Tratado Antártico, buscam, dessa maneira, neutralizar a sensação de alijamento daquele que é o principal fórum decisório sobre os destinos do continente.

b) Os Territorialistas

Em confronto direto à tese internacionalista aparece a posição territorialista esposada pela Argentina, Austrália, Chile, França, Grã-Bretanha, Noruega e Nova-Zelândia.

A exemplo do direito assegurado ao indivíduo, de apropriar-se de tudo quanto não tenha dono, o Estado pode estender sua ordem jurídica a todo e qualquer território que não tenha senhor, isto é, que se caracterize como “res nullius”1. Nessa ordem de idéias, os chamados países territorialistas procuram formular argumentos específicos, de modo a respaldar a reivindicação sobre a respectiva parcela de território reclamado.

Baseiam-se, nas teorias tradicionais do Direito Internacional que conferem ao Estado que ocupa um território suscetível de apropriação, isto é, que não pertença a um Senhor, o direito de sobre ele estender sua soberania. No passado, o processo colonial foi amparado, fundamentalmente,nesse entendimento.

Entretanto, é justamente a figura do Direito representada pela ocupação que tem estimulado o debate de renomados juristas sobre a validade e a aplicação do conceito às zonas polares que, em especial na Antártica, onde é exercida de forma descontínua, teve de sofrer algumas adaptações, entre as quais se destacam a teoria da contigüidade e a teoria dos setores, em cuja versão austral passou a ser conhecida por teoria da defrontação. (Anexo 3)

c) O Internacionalismo Restrito

1

Tal conceito é aplicável ao território antártico, que segundo o Tratado, em seu artigo IV, estabelece a proibição de novas reivindicações territoriais durante sua vigência (assim cria-se a cláusula que converte o território em algo que não pode ser propriedade de ninguém). Isto significa, que ainda que o Tratado não mencione a caráter de "Res nullius" do território antártico, este se deduz do espírito do Tratado e não é discutível nem negociável, enquanto o mesmo esteja em vigor na sua forma atual. A colonização do território antártico está, portanto, proibida pelo Direito Internacional. I sso não significa que um dia o Tratado não possa ser emendado e mude tal situação.

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Já o pressuposto de um esforço comum por parte dos países interessados, de alguma forma, no continente austral, corresponde à aplicação da idéia de um condomínio ou, em essência, do Internacionalismo Restrito. Evidentemente, nesse tipo de condomínio o ônus estaria representado pela participação efetiva nas atividades científicas relacionadas com a Antártica, enquanto que o bônus poderia vir sob a forma da possibilidade de partilhar todos os benefícios decorrentes.

E é exatamente essa a postura política adotada pela maioria dos países aderentes ao Tratado. Embora o “condomínio” não corresponda a um sistema fechado, ele é exclusivo, na medida em que dele tomam parte apenas os Estados que, concretamente, empenham-se em aplicar recursos e esforços no continente antártico.

d) Os Ambientalistas

Finalmente, completando o rol das correntes políticas internacionais relativas à Antártica, podem ser apontados os ambientalistas, também conhecidos como conservacionistas, cujo comportamento pauta-se pela defesa da preservação da região como uma reserva natural, um “santuário ecológico”, que não deve ser tocado pelo homem.

É interessante assinalar que a tese ambientalista convive com outras posturas, uma vez que não são excludentes. É o caso, por exemplo, da França e da Austrália que, mesmo defendendo a posição territorialista, têm condicionado suas iniciativas mais recentes às preocupações relacionadas com o controle do ambiente antártico.

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CAPÍTULO V O PROTOCOLO AO TRATADO DA ANTÁRTICA SOBRE A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE (PROTOCOLO DE MADRID - 1991)

A preocupação com a proteção do meio ambiente antártico se havia desenvolvido

no Sistema através de numerosas Recomendações e Convênios, mas com um enfoque globalista, sistemático e científico necessitava-se já de um acordo concreto único, mais detalhado, coerente, claro e diretamente vinculante.

Além disto as normas até agora vigentes não eram cumpridas pelas Partes de maneira precisa, ocorrendo ainda a pressão interna e internacional sobre aquelas Partes de grupos ecologistas que chamavam a atenção para a eventual depredação do meio ambiente antártico, frente às crescentes atividades humanas desenvolvidas na região.

Atualmente atingiu-se definitivamete o consenso de um regime global e unitário, no texto do Protocolo ao Tratado e quatro de seus Anexos, sobre a “Avaliação do Impacto Ambiental”, “Conservação de Fauna e Flora Antárticas”, “Eliminação e Tratamento de Resíduos” e “Prevenção da Poluição Marinha”.

Enquanto a “Convenção para a Regulamentação das Atividades de Recursos

Minerais na Antártica” ( CRAMRA ) abordava, de forma específica, a regulamentação da extração de recursos minerais, verifica-se que o PM possui uma abrangência muito superior, uma vez que está amplamente voltado para a avaliação, a adoção de medidas preventivas e o controle ecológico.

Após um texto inicial que enfatiza a necessidade de assegurar a proteção do meio ambiente e dos ecossistemas dependentes e associados à região antártica, o Protocolo, adicional ao Tratado, desdobra-se ao longo de vinte e sete artigos e cinco anexos.

O documento cuida de deixar claro que deve ser interpretado como um complemento ao “Tratado da Antártica” e que, sem emendá-lo ou modificá-lo, visa a garantir que a região não venha a se converter em cenário ou objeto de discórdia internacional, designando a Antártica como reserva natural, consagrada à paz e à ciência.

Não deve restar dúvida que tais preocupações encontravam efetiva acolhida entre todas as Partes Consultivas. Além disso, convém ter em mente que o ano de 1991 culminava marcado por um conjunto de incertezas políticas, que permitia admitir tanto a possibilidade de revisão do Tratado, como, igualmente, a adoção de iniciativas relativas à exploração de recursos minerais que, muito provavelmente, poderiam catalisar os contenciosos latentes.

Assim, o artigo sete do Protocolo veio estabelecer, de forma simples e contundente, a “proibição de qualquer atividade relacionada com recursos minerais, exceto a pesquisa científica”.

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Embora o conjunto dos dispositivos estabeleçam princípios e normas para as diversas atividades na região, sempre balizadas pela preocupação com o impacto ambiental, chegando a criar um Comitê específico para cuidar do assunto, certamente o contido no artigo sete representou, ao menos pelos reflexos políticos que encerra, o ponto mais importante de todo o Protocolo.

À semelhança de dispositivo existente no Tratado da Antártica, se, ao término de um período de cinqüenta anos a contar da data de entrada em vigor do Protocolo, qualquer das Partes Consultivas o solicitar, será realizada um conferência para rever a aplicação do PM. Antes desse período, eventual revisão só poderá ser feita por iniciativa unânime de todas as Partes.

Além dessa proibição, o Protocolo de Madrid estabeleceu diversos procedimentos em relação à execução de pesquisas, ao apoio logístico às bases, à elaboração de relatórios de impacto ambiental e troca de informações ambientais.

São necessárias vinte e seis ratificações para que o Protocolo entre em vigor e, até a data de elaboração deste trabalho, dezessete países já o tinham feito.

Apesar de ainda não estar em vigor, as Partes Consultivas do Tratado da Antártica acordaram em acatar e executar, voluntariamente, os termos do Protocolo de Madrid.

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CONCLUSÃO

A Antártica representa uma região ainda não completamente conhecida, inóspita, com recursos minerais e renováveis ainda não definitivamente delineados mas acima de tudo, com um conjunto de características que, indiscutivelmente, consegue atrair a atenção e, mesmo, a cobiça internacional.

Vimos pela história da Antártica, que de uma preocupação científica inicial, a ela juntou-se o aspecto econômico, reunindo-se àqueles por fim o estratégico, formando três interesses distintos que se completam e entrelaçam, responsável pela preocupação de vários países em estabelecer-se na região. Portanto, a Antártica representa o cenário do maior projeto científico internacional da história da humanidade.

A vida humana ainda extremamente difícil, dadas às inóspitas condições da região, torna-se cada vez mais presente, graças aos recursos tecnológicos que permitem superar a natureza.

Sob este aspecto ressalta a importância do conhecimento do clima na Antártica e sua profunda influência nas condições meteorológicas do hemisfério austral, influência que extrapola o campo científico, produzindo efeitos no campo econômico e, se futuramente com o advento da guerra meteorológica, no campo militar.

Nesse campo sobressai a posição geo-estratégica da Antártica, dominando três oceanos e projetando-se sobre três continentes, constituindo-se em invejável ponto de apoio para o controle das importantes rotas marítimas dos mares austrais, notadamente das que se utilizam das passagens entre África e Antártica e América do Sul e Antártica, além de excelente base para centro de comunicações e controle de rotas aéreas.

O ordenamento jurídico que prevalece na região tem acomodado contenciosos, neutralizado reivindicações e sustentado uma situação de equilíbrio que, com toda certeza, não será eterna, mesmo que duradoura.

Com a recente aprovação do Protocolo de Madri, ora em processo de ratificação, foi conferida ênfase ao controle do meio ambiente, o que dificultará a consecução de qualquer atividade ou iniciativa passível de agredir o frágil ecossistema antártico.

Embora possível, é pouco provável que deixe de ser cumprida a moratória estabelecida para a extração de recursos minerais. Isto, entretanto, não deverá inibir o processo de pesquisas relativas ao levantamento das riquezas potenciais e nem, tampouco, significa que deixará de haver, no futuro, efetivo aproveitamento de recursos não renováveis no continente antártico.

A superposição entre os setores reclamados por diferentes nações sugere o potencial de crises que a Antártica encerra. Verificamos que tais áreas, a Península Antártica e suas ilhas adjacentes, são a peça central das reivindicações de três países. Essa região é na

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verdade a de clima mais ameno do continente antártico, a mais populosa, tendo sido aí instaladas várias estações pertencentes a diversos países ( cinco estações argentinas, três chilenas, duas inglesas, uma russa, uma russa cedida à Polônia, uma dos EUA e uma brasileira). ( Anexo 4 )

A manutenção e o apoio às bases antárticas requerem portos e campos de pouso, inclusive como alternativa para enfrentar as difíceis condições climáticas da região. Estes campos de pouso e portos também estão situados naqueles setores.

O fim da Guerra Fria teve como consequências a diminuição do número de bases russas de oito para três em funcionamento e as demais desocupadas. Juridicamente desaparece a União Soviética como signatária do Tratado e é substituída pela Rússia como parte consultiva. A Ucrânia torna-se membro aderente, não é país consultivo. Eliminou-se um elemento de tensão, embora na área sempre tenha prevalecido um clima de cooperação, mesmo entre bases de países que não tinham relações diplomáticas. O inimigo comum era o frio, ou melhor o gelo...

E para encerrarmos este trabalho, gostaríamos de transcrever um pensamento deixado por um viajante no livro de visitas da Base Artigas (Uruguai):

"Talvez a novidade que os ventos antárticos levarão ao mundo não seja o fruto das nossas pesquisas, senão a de nossa vida em harmonia com a natureza e a convivência fraterna entre os povos. Cremos que as gerações futuras, com espírito mais sereno, valorizarão a riqueza do descobrimento da paz."

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BIBLIOGRAFIA

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