Ação de alimentos - Falecimento do réu no curso ...bd.tjmg.jus.br/jspui/bitstream/tjmg/7204/1/0207-TJ-JC-072.pdf · Apresentada contestação ... possa ser ajuizada ação de alimentos

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  • 202 | Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 64, n 207, p. 41-248, out./dez. 2013

    Em razes apresentadas s f. 263/270, o apelante alega que: a) o art. 1.700 do Cdigo Civil estabelece a transmissibilidade da obrigao de prestar alimentos, havendo respaldo para o prosseguimento da ao em face dos herdeiros, mormente porque a medida liminar fora deferida em seu benefcio; b) o requerimento admi-nistrativo de penso junto ao rgo pagador do falecido, devido em situaes de que a verba alimentar plei-teada posterior ao bito, o que inocorreu na situao avenada (sic); c) a prestao de alimentos deve, conti-nuamente, ser ajustada situao ftica dos envolvidos, observando-se sempre o binmio necessidade-possibili-dade.

    Contrarrazes s f. 273/297 e 304/309, nas quais as recorridas L.L.S.O. e M.L.G.R.F. pleiteiam o recebi-mento do recurso apelatrio apenas em seu efeito devo-lutivo, para se revogar, in totum, a deciso que fixou alimentos provisrios em favor do recorrente.

    Remetidos os autos Procuradoria-Geral de Justia, manifestou-se o douto Procurador, Dr. Joo Batista da Silva, pelo desprovimento do recurso (f. 315/319).

    Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheo do recurso.

    Observo, de incio, que o pedido de recebi-mento da apelao apenas em seu efeito devolutivo se mostra desnecessrio para a providncia pleiteada pelas apeladas, no sentido de que seja revogada a deciso que fixou alimentos provisrios em favor do recorrente.

    Cedio que a concesso de providncias liminares se baseia em juzo de mera verossimilhana, no exau-rindo a tutela jurisdicional, tendo por finalidade apenas ajustar, em carter temporrio, a situao das partes envolvidas na lide at a prolao da sentena.

    O decisum que concede a tutela antecipada tem o condo de gerar efeitos meramente endoprocessuais, ou seja, no curso do procedimento jurisdicional. Assim, extinto o processo, a deciso concessiva da medida de urgncia deixa automaticamente de produzir quais-quer efeitos.

    O recebimento do apelo em seu duplo efeito (art. 520, caput, do CPC), lado outro, no restaura a medida liminar anteriormente concedida (REsp 145676/SP, Rel. Ministro Barros Monteiro, Quarta Turma, julgado em 21.06.2005, DJ de 19.09.2005, p. 327), mostrando-se prescindvel, portanto, para que a deciso que fixou os alimentos provisrios deixe de produzir efeitos, a concesso apenas do efeito devolutivo a este recurso.

    Pois bem.A presente ao de alimentos foi ajuizada pelo

    ora recorrente em face de seu genitor, W.F.O.F., em 23.10.2007 (f. 02/08), vindo o pedido de fixao de alimentos provisrios a ser deferido em 31.10.2007, no valor de 150% do salrio mnimo (f. 27). Contra o decisum, o alimentante interps agravo retido (f. 34/36).

    Apresentada contestao (f. 55/60), designou-se audincia de instruo e julgamento para o dia

    Ao de alimentos - Falecimento do ru no curso do processo - Prosseguimento do feito em face dos herdeiros - Impossibilidade - Ausncia de obrigao alimentar efetivada anteriormente

    ao bito do requerido - Art. 1.700 do CC/2002 - Inaplicabilidade - Ilegitimidade passiva do esplio -

    Superveniente falta de interesse de agir

    Ementa: Apelao cvel. Ao de alimentos. Falecimento do ru. Extino do processo sem julgamento do mrito. Prosseguimento do feito em face dos herdeiros. Impossibilidade. Ausncia de obrigao alimentar cons-tituda antes da morte do requerido. Inaplicabilidade do art. 1.700 do CC/02. Superveniente falta de interesse de agir configurada.

    - Ante o carter personalssimo dos alimentos, o art. 1.700 do CC/02 s aplicvel aos casos em que a obrigao alimentar tenha sido determinada por acordo ou sentena judicial proferida antes da morte do alimen-tante. Precedentes do STJ.

    - Falecimento do ru no curso do processo, antes da prolao de sentena. Inexistncia de obrigao pr-cons-tituda a justificar a continuidade da ao de alimentos em face dos herdeiros.

    Recurso no provido.

    APELAO CVEL N 1.0396.07.033206-1/001 - Comarca de Mantena - Apelante: R.M.G.F., representa-do pela me - Apelados: L.L.S.O. e outro, herdeiros de W.F.O.F., Esplio de W.F.O.F., representado pelo inventa-riante, M.L.G.R.F., R.A.F., L.B.A.F., B.B.P. - Relatora: DES. UREA BRASIL

    Acrdo

    Vistos etc., acorda, em Turma, a 5 Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

    Belo Horizonte, 31 de outubro de 2013. - urea Brasil - Relatora.

    Notas taquigrficas

    DES. UREA BRASIL - Trata-se de recurso de apelao interposto por R.M.G.F., representado por sua genitora, em face da r. sentena de f. 260/261, profe-rida pelo MM. Juiz de Direito Tlio Mrcio Lemos Mota Naves, da 1 Vara Cvel, Criminal e de Execues Penais da Comarca de Mantena, que, nos autos da ao de alimentos, extinguiu o feito sem julgamento de mrito, nos termos do art. 267, inciso VI, do CPC, ante o faleci-mento do ru.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 64, n 207, p. 41-248, out./dez. 2013 | 203

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    Nesse sentido, pondera Milton Paulo de Carvalho Filho:

    Muito embora a lei no tenha feito nenhuma ressalva, o artigo s poder ser invocado se o dever de prestar alimentos j foi determinado por acordo ou sentena judicial, antes da morte do devedor (cf. VELOSO, Zeno. Cdigo Civil comen-tado - direito de famlia. So Paulo: Atlas, 2003. v. XVIII) [...]. (Cdigo Civil comentado: doutrina e jurisprudncia. Coordenador Cezar Peluso. 5 ed. Barueri, So Paulo: Manole, 2011, p. 1.990).

    O STJ, por sua vez, tambm tem entendido que o disposto no art. 1.700 do CC/02 somente pode ser apli-cado quando h obrigao alimentar pr-constituda, j que, diante do carter personalssimo da obrigao alimentar, no seria possvel sua transmisso em abstrato. A propsito:

    Ao de alimentos. Recurso especial. Exame de matria cons-titucional. Inviabilidade. Omisso. Inexistncia. Ao de alimentos proposta por menor, em face do esplio de seu genitor. Inexistncia de acordo ou sentena fixando alimentos por ocasio do falecimento do autor da herana. Ilegitimidade passiva do esplio. 1. Embora seja dever de todo magistrado velar pela Constituio Federal, para que se evite supresso de competncia do egrgio STF, no se admite apreciao, em sede de recurso especial, de matria constitucional. 2. Os alimentos ostentam carter personalssimo, por isso, no que tange obrigao alimentar, no h falar em transmisso do dever jurdico (em abstrato) de prest-los. 3. Assim, embora a jurisprudncia desta Corte Superior admita, nos termos do art. 23 da Lei do Divrcio e 1.700 do Cdigo Civil, que, caso exista obrigao alimentar preestabelecida por acordo ou sentena - por ocasio do falecimento do autor da herana -, possa ser ajuizada ao de alimentos em face do esplio, de modo que o alimentando no fique merc do encerramento do inventrio para que perceba as verbas alimentares, no h cogitar em transmisso do dever jurdico de prestar alimentos, em razo do seu carter personalssimo e, portanto, intrans-missvel. Precedentes. 4. De todo modo, em sendo o autor da herana servidor pblico ou militar, no que tange verba alimentar superveniente ao bito, o procedimento adequado para o recebimento, por seu dependente, consiste no reque-rimento administrativo de penso ao rgo pagador do de cujus. 5. Recurso especial no provido (REsp 1130742/DF - Rel. Ministro Luis Felipe Salomo - Quarta Turma - julgado em 04.12.2012 - DJe de 17.12.2012).

    Direito civil. Ao de alimentos. Esplio. Transmisso do dever jurdico de alimentar. Impossibilidade. 1. Inexistindo condenao prvia do autor da herana, no h por que falar em transmisso do dever jurdico de prestar alimentos, em razo do seu carter personalssimo e, portanto, intrans-missvel. 2. Recurso especial provido (REsp 775.180/MT - Rel. Ministro Joo Otvio de Noronha - Quarta Turma - julgado em 15.12.2009 - DJe de 02.02.2010).

    Outrossim, importante destacar que a transmisso do dever de prestar alimentos se limita s foras da herana. Nesse sentido, Cahali esclarece que:

    [...] a obrigao de pagamento da penso alimentcia devida aos parentes ou cnjuge do falecido no se dimensiona na proporo das necessidades do reclamante e dos recursos

    14.01.2009 (f. 130), a qual no chegou a se realizar, diante do falecimento do pai do menor (f. 138/140).

    O apelante pugnou, ento, pela substituio do polo passivo da demanda, com a citao da inventariante (f. 146 e 149).

    Embora inicialmente tenha sido ordenado o pros-seguimento do feito, citando-se os herdeiros de W.F.O.F. (f. 189, 209 e 252), o Julgador de origem houve por bem extinguir o feito, sem resoluo de mrito, acatando a tese defendida pelos herdeiros e pelo Ministrio Pblico (f. 190/203, 214/215, 236/239 e 257/259), da super-veniente falta de interesse de agir do requerente, em razo do falecimento do ru - contra o que o apelante se insurge.

    A controvrsia cinge-se, portanto, a definir se a obrigao alimentar, na espcie, seria transmissvel aos herdeiros, na forma do art. 1.700 do CC/02 - o que patentearia o interesse de agir do recorrente, e, conse-quentemente, a continuidade da ao.

    Os alimentos apresentam como propriedade fundamental o seu carter personalssimo, o que, segundo Cahali,

    visando preservar a vida do indivduo, considera-se direito pessoal no sentido de que a sua titularidade no passa a outrem, seja por negcio jurdico, seja por fato jurdico (Dos alimentos. 5. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, p. 49-50).

    Associando tal caracterstica ao que dispunha o art. 402 do CC/16 (a obrigao de prestar alimentos no se transmite aos herdeiros do devedor), tradicional-mente elencava-se como outra qualidade da obrigao alimentar a sua intransmissibilidade absoluta, ou seja, com a morte do alimentante, o dever de prestar alimentos se extinguia automaticamente.

    A regra da intransmissibilidade, contudo, sofreu mitigaes com a edio da Lei 6.515/77 (Lei do Divrcio), a qual prev, em seu art. 23, que a obrigao alimentar se transmite aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.796 do antigo Cdigo Civil.

    Tal regramento foi praticamente reproduzido no art. 1.700 do Cdigo Civil de 2002, ao dispor que a obrigao de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694. O art. 1.694 do CC/02, por sua vez, estabelece que

    podem os parentes, os cnjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatvel com a sua condio social, inclusive para atender s necessidades de sua educao.

    Conquanto a truncada redao do art. 1.700 do CC/02 suscite questionamentos acerca do alcance da transmissibilidade dos alimentos, certo que o referido dispositivo deve ser interpretado com mxima cautela e restrio, em consonncia com o regime das obrigaes alimentares e do direito sucessrio.

  • 204 | Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 64, n 207, p. 41-248, out./dez. 2013

    presente ao de alimentos, deve a petio inicial ser inde-ferida e o processo extinto, a teor do inciso I do art. 267 e inciso II do art. 295 do Cdigo de Processo Civil. 3. De ofcio, reconhecer a ilegitimidade passiva (Apelao Cvel 1.0024.08.177468-9/002 - Relatora: Des. Teresa Cristina da Cunha Peixoto - 8 Cmara Cvel - julgamento em 08.03.2012 - publicao da smula em 16.03.2012).

    Ante todo o exposto, nego provimento ao apelo, mantendo a r. sentena.

    Custas recursais, na forma da lei.

    Votaram de acordo com a Relatora os DESEM-BARGADORES LUS CARLOS GAMBOGI e BARROS LEVENHAGEN.

    Smula - NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

    . . .

    da pessoa obrigada (art. 1.694, 1, a que faz remisso o art. 1.700), mas encontra seu limite natural na fora da herana e do quinho hereditrio que coube aos sucessores (op. cit., p. 80).

    Denota-se, a partir de tais consideraes, que a inteno do legislador ao estabelecer a transmissibilidade da obrigao alimentar foi, principalmente, oferecer um suporte ao alimentado, que poder receber do esplio ou dos herdeiros o montante necessrio sua subsistncia, at o encerramento do inventrio.

    In casu, o genitor do autor veio a falecer no curso do processo, sem que houvesse sido prolatada sentena constitutiva do dever prestar alimentos. Desse modo, embora deferido o pensionamento provisrio, no h uma obrigao pr-constituda a justificar a continuidade da ao de alimentos em face dos herdeiros.

    Observa-se, ademais, que o recorrente no est desamparado financeiramente. Em razo do cargo pblico federal ocupado pelo ru, o autor vem recebendo penso por morte, de cerca de R$ 350,00 (f. 298).

    Por fim, cumpre ressaltar que no h bice para que, nos termos do art. 1.694 do CC/02, o recorrente pleiteie, por direito prprio e mediante demanda aut-noma, o recebimento de alimentos aos herdeiros de seu genitor que forem seus parentes.

    Patente, por conseguinte, no caso sub examine, a intransmissibilidade aos herdeiros da obrigao de prestar alimentos ao apelante.

    As condies da ao so requisitos necessrios resoluo do mrito da lide e, havendo superveniente ausncia de qualquer delas, deve o magistrado proferir deciso terminativa.

    Alm disso, incumbe ao julgador tomar em conside-rao os fatos supervenientes no momento da prolao da deciso, nos termos do art. 462 do CPC:

    Art. 462. Se, depois da propositura da ao, algum fato cons-titutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julga-mento da lide, caber ao juiz tom-lo em considerao, de ofcio ou a requerimento da parte, no momento de proferir a sentena.

    Correto, portanto, o reconhecimento da ausncia superveniente do interesse de agir, com fulcro no art. 267, VI, do Cdigo de Processo Civil.

    Mutatis mutandis, cito julgado deste TJMG:

    Apelao cvel. Ao de alimentos. Falecimento do alimen-tante. Obrigao personalssima. Ilegitimidade passiva do esplio. Extino do processo sem a apreciao do mrito. 1. A obrigao de prestar alimentos, em razo de seu carter personalssimo, transmissvel ao esplio apenas no caso do reconhecimento da dvida at a data do bito do de cujus, e nos limites do valor da herana, sendo que, desaparecendo direitos e obrigaes com a morte do sujeito, eventual direito aos alimentos deve ser pleiteado em face dos herdeiros, em razo de nova relao e vnculo familiar, desde que demons-trados os requisitos legais para a obrigao alimentcia. 2. Sendo manifesta a ilegitimidade passiva do esplio na

    Indenizao - Transporte gratuito - Culpa grave ou dolo - Litigncia de m-f

    Ementa: Apelao. Ao de indenizao. Acidente auto-mobilstico. Transporte gratuito. Responsabilidade civil. Culpa grave ou dolo. Ausncia de comprovao. Dever de indenizar afastado. Litigncia de m-f. Inocorrncia.

    - No transporte de simples cortesia, realizado desinte-ressadamente pelo transportador, este responde apenas por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave, restando descaracterizado o contrato tpico de transporte. Incidncia da Smula n 145 do STJ.

    - Compete parte autora o nus de provar os fatos cons-titutivos de seu direito, luz do que preceitua a regra do art. 333, I, do CPC. No tendo o autor se desincumbido de seu nus de demonstrar dolo ou culpa grave do ru, o pedido h de ser julgado improcedente.

    - No restando demonstrado que a parte atuou com deslealdade processual, de modo a incorrer nas condutas elencadas no art. 17, CPC, injustificvel a sua conde-nao por litigncia de m-f.

    APELAO CVEL N 1.0699.04.033552-2/002 - Co-marca de Ub - Apelante: Jos Carlos Jorge de Car-valho - Apelado: Viao Salutaris Turismo S.A., Cia. de Seguros Minas Brasil S.A. - Relator: DES. VALDEZ LEITE MACHADO

    Acrdo

    Vistos etc., acorda, em Turma, a 14 Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.