11
“O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE SONG OF URUTAU: LOOKING FOR DISTANT LANDS” Luise Weiss / UNICAMP RESUMO O artigo trata do relato de uma vivência artística desenvolvida em Hannover, julho de 2017, perfazendo 14 dias de trabalho intenso. Antes da viagem, foram separadas algumas fotografias de autoria própria: plantas, pedras, pássaros e sementes brasileiras, que tinha planejado justapor a elementos recolhidos na Alemanha. Porém, o tempo de trabalho intensivo, o confronto com fragmentos de materiais artísticos, como cópias xerox e fotografias fragmentadas, trouxe novas visualidades. PALAVRAS-CHAVE: desenhos; fotografias; narrativas visuais; cartografias; percursos de criação. ABSTRACT The article deals with the story of an artistic experience developed in Hanover, July 2017; 14 days of intense work. Before the trip, it was separated some self-authorship photographs: Brazilian plants, stones, birds and seeds, which it had planned to juxtapose with the elements of Germany. However, labor intensive time, confrontation with fragments of artistic materials, such as xerox copies and fragmented photographs, brought new visualities. KEYWORDS: Drawings; photos; visual narratives; cartographies; paths of creation.

“O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

“O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES”

“THE SONG OF URUTAU: LOOKING FOR DISTANT LANDS”

Luise Weiss / UNICAMP RESUMO O artigo trata do relato de uma vivência artística desenvolvida em Hannover, julho de 2017, perfazendo 14 dias de trabalho intenso. Antes da viagem, foram separadas algumas fotografias de autoria própria: plantas, pedras, pássaros e sementes brasileiras, que tinha planejado justapor a elementos recolhidos na Alemanha. Porém, o tempo de trabalho intensivo, o confronto com fragmentos de materiais artísticos, como cópias xerox e fotografias fragmentadas, trouxe novas visualidades. PALAVRAS-CHAVE: desenhos; fotografias; narrativas visuais; cartografias; percursos de criação. ABSTRACT The article deals with the story of an artistic experience developed in Hanover, July 2017; 14 days of intense work. Before the trip, it was separated some self-authorship photographs: Brazilian plants, stones, birds and seeds, which it had planned to juxtapose with the elements of Germany. However, labor intensive time, confrontation with fragments of artistic materials, such as xerox copies and fragmented photographs, brought new visualities. KEYWORDS: Drawings; photos; visual narratives; cartographies; paths of creation.

Page 2: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

899 899

O Fazedor – Epílogo

“Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que este paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto.” (Buenos Aires, 31 de outubro de 1960). Jorge Luis Borges. Obras Completas II.

Viagem nunca feita

“Foi por um crepúsculo de vago outono que eu parti para essa viagem que nunca fiz.” Fernando Pessoa. O Livro do Desassossego.

Quando surgiu a proposta da viagem/workshop para Hannover, pensei como projeto

inicial um livro de desenho, no qual algumas formas orgânicas e animais brasileiros

seriam levados para a viagem, fotografias de autoria própria: plantas, sementes,

algumas fotografias de aves brasileiras. E uma vez na Alemanha, pretendia realizar

registros de aves, plantas oriundas das paisagens locais.

As caminhadas pela Unicamp, pelos arredores de casa, por alguns parques ou sítios

de amigos, possibilitaram fazer registro de árvores, pedras, pássaros, sementes e

plantas em geral. Assim surgiram as fotografias do pássaro urutau, desconhecido

por mim até aquele momento. O urutau (“Nyctibius Griseus”), também denominado

Ave Fantasma ou Mãe de Lua, trata-se de uma ave noturna; durante o dia,

permanece camuflada entre os troncos de árvores.

A escolha de pequenos objetos a serem desenhados, do nosso cotidiano, remete,

quem sabe, a pequenas naturezas-mortas: o que observo, o que recolho, o que os

colegas contribuem, deixando na mesa de desenho. Um olhar seletivo, onde há

acasos, porém direcionados. Olhar paisagens, talvez ocasionado por hábitos

pessoais, não leva o meu olhar para a linha do horizonte, porém aos meus pés.

Onde piso, onde meus pés tocam o chão: ali começa a paisagem.

Page 3: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

900 900

Figura 1: Rio de Janeiro.Cartão Postal. Acervo Pessoal.

Figura 2: Fraustadt (hoje Polônia). Acervo Pessoal.

Page 4: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

901 901

Figura 3: Fotografia. Acervo Pessoal

“A imagem no espaço é uma viagem no tempo, e o ponto de chegada, o ponto fixo ansiado, não existe, deixando-nos à deriva... o deslocamento no espaço produz a ilusão da mudança, mas é no tempo que tudo muda.”

Olgária Matos. A Melancolia de Ulisses:A dialética do iluminismo e o canto da sereia.

Trajetórias do fazer: percursos Num primeiro instante, as fotografias levadas para Hannover tornaram-se pontos de

partida para o trabalho. A intenção foi retomar os desenhos dos objetos fotografados, não

com o intuito apenas da cópia, mas como uma espécie de lembrança das aves,

sementes, objetos recolhidos, pedras, ou seja, destes pequenos tesouros. Na medida em

que os desenhos foram realizados, recortei as cópias xerox que eu tinha levado comigo.

Dois trabalhos se originaram destes recortes: as formas vazadas, que tinham

permanecido na cópia xerografada, colocadas umas sobre outras, deixando transparecer,

nas áreas vazadas, elementos do recorte abaixo, criando visualidades inusitadas, sem

controle premeditado; porém, em alguns momentos, as formas conversavam, ou

deixavam transparecer estranhas reuniões.

Page 5: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

902 902

Por outro lado, as formas, que tinham sido recortadas, foram transformadas num caderno

de folhas pretas, no qual prevalecia uma narrativa visual, que eu denominei

“O canto do Urutau”.

Ainda nos últimos dias do workshop em Hannover, durante uma pesquisa iconográfica no

Mercado de Pulgas da cidade, consegui diversos cartões postais antigos. Resolvi

desenhar estes retratos anônimos, em pequenos formatos, e recortar os rostos e algum

detalhe da roupa. Enquanto isto, eu recolhia, da lixeira de papéis, materiais que os outros

artistas utilizaram e dispensaram: retalhos de papéis marmorizados, papéis de seda

tingidos, e outros fragmentos. Colocando por baixo estes papéis coloridos, as áreas

vazadas ficaram preenchidas com texturas variadas, alusão à vegetação crescente, em

estranhas texturas, transformando os rostos retratados. O reaproveitamento surgiu, logo

de início, com as fotografias e as cópias xerografadas.

Na realidade, devido ao tempo curto (apenas 14 dias), o projeto teve adaptações, ou seja,

o que tinha planejado, inicialmente pelo desenho, transformou-se em recortes vazados,

em caderno com sequências de recortes. Um grupo de imagens levou a outros, como se

tudo estivesse programado. John Dewey comenta bem: “Na contínua transformação, uma

coisa passa a ser outra. Olhando para o processo em uma perspectiva ampla, que tipo de

movimento está sendo estabelecido? Do que são feitas as tendências desse momento? ”

Aqui, estou enfatizando um percurso, uma trajetória artística, na qual não havia um

projeto fechado, porém, ao ser realizado, foi criando um corpo próprio. O percurso como

arte; arte como percurso.

Percurso a) O início do projeto: a organização de desenhos realizados a partir de fotografias de

autoria própria: pássaros, sementes, insetos, folhas, frutas brasileiras.

Page 6: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

903 903

Figura 4: Título: Urutau. Dimensão: A3. Lapis de cor e grafites, 2017.

Figura 5: Título: Rabo de Palha. Dimensão: A3. Lápis de cor e grafites, 2017.

Page 7: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

904 904

b) As formas recortadas deixavam criar novas visibilidades entre as áreas recortadas:

formas novas surgindo nos entre–espaços vazados.

Figura 6: Sem título. Recortes de papéis. Dimensão A3. Acervo Pessoal, 2017.

c) A partir de recortes, surgiu, uma nova possibilidade de criar uma sequência narrativa com os

elementos recortados: um livro que denominei “O Canto do Urutau”.

Page 8: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

905 905

Figura 7: Colagens. Dimensão A3. Acervo pessoal, 2017.

d) A partir de fotografias antigas, obtidas no Mercado de Pulgas em Hannover, desenhei

os retratos a partir da observação, e recortei o rosto, mãos, detalhes das roupas. Em

seguida, comecei a retirar, do lixo coletivo, retalhos de papéis estampados, sobras dos

trabalhos dos outros artistas. Estes papéis estampados preencheram os espaços vazados,

e assim surgiu uma série desses retratos “vazados / preenchidos”, repletos de matéria

gráfica. As fotografias, formatos pequenos, representavam pessoas anônimas, sendo

casais, mulheres com filhos, soldados posando e outros; o rosto já não importava, não era

possível reconhecer as pessoas retratadas. As fotografias, em preto e branco, nos

recortes, ganharam cores e texturas. Aparecem, assim, novas visualidades.

Page 9: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

906 906

Figura 8: Sem título. Desenho, colagem e recorte. Dimensão A4. Acervo Pessoal, 2017.

Figura 9: Sem título. Desenho, colagem e recorte. Dimensão A4. Acervo Pessoal, 2017.

Page 10: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

907 907

Considerando-se os anseios iniciais, os diálogos, entre desenhos feitos de objetos e

formas alemãs e/ou brasileiras, fundiram-se. Afinal, que paisagem carrego comigo? Dois

cartões postais adquiridos em museus acompanharam a trajetória. Deixei os dois cartões

postais na minha mesa de trabalho, contemplando-os, longamente. O primeiro, “Depois

da festa”, mosaico de chão, datado do século II d.C., hoje no Museu Gregoriano do

Museu Vaticano, e um outro cartão postal: um desenho de Pieter Bruegel, de circa

(1525/1569), que hoje está no Gabinete de Gravura em Berlim.

A continuidade do fazer nos 14 dias em Hannover, dissipou o projeto inicial. Não se

tratava mais de cartografias, de paisagens e lugares específicos a serem descobertos ou

revistos. A sensação de não-pertencimento a um lugar específico manifestou-se, mas,

afinal, o que importava? Porém, de início, isto não estava tão claro. O reaproveitamento

de matéria-prima acompanhava a trajetória da escolha de colher folhas, sementes, etc.,

até o ato de vasculhar a lixeira de papéis. Observar o xerox, os recortes e desenhos, o

que trouxe novas visualidades, novas questões. Gostaria de citar ainda um trecho de

Walter Benjamin: “A língua tem indicado inequivocamente que a memória não é um instrumento para a exploração do passado; é, antes, o meio. É o meio onde se deu a vivência, assim como o solo é o meio no qual as antigas cidades estão soterradas. Quem pretende se aproximar do próprio passado soterrado deve agir como um homem que escava. Antes de tudo, não deve temer voltar sempre ao mesmo fato, espalhá-lo como se espalha a terra, revolvê-lo como se revolve o solo. Pois, “fatos” nada são além de camadas que apenas à exploração mais cuidadosa entrega aquilo que recompensa a escavação. Ou seja, as imagens que, desprendidas de todas as conexões mais primitivas, ficam como preciosidades nos sóbrios aposentos de nosso entendimento tardio, igual a torsos na galeria do colecionador.”

Trata-se de uma trajetória de pesquisa artística, na qual o pensamento inicial, um ponto

de partida, se transforma, na medida em que a prática é construída. Na medida em que

tratamos da criação como processo, percursos, caminhadas, observação atenta, aromas,

constituem as aproximações daquele espaço em Hannover. Longe de São Paulo, os

lugares, em alguns momentos, estavam próximos. Percepções estranhas, nas quais,

percebi que ocorria uma fusão: lugares conhecidos e desconhecidos, repletos de

memórias e recordações dúbias. Conhecia ou não este lugar?

As recordações, porém, estavam localizadas, exatamente, no folhear livros, ver

fotografias, ver ilustrações de livros, nos relatos de viagens... impossível traçar uma linha

nítida, dividir lembranças e territórios, impossível delinear um território preciso, antes, em

Page 11: “O CANTO DO URUTAU: EM BUSCA DE TERRAS DISTANTES” “THE ...anpap.org.br/anais/2018/content/PDF/27encontro... · WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes,

WEISS, Luise. O canto do urutau: em busca de terras distantes, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27o, 2018, São Paulo. Anais do 27o Encontro da Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.898-908.

908 908

lugares com espaços recortados, vazados...narrativas que as colagens evocavam,

retratos em fisionomias. O canto melancólico do Urutau unia-se ao grito forte e agudo dos

corvos em Hannover. No percurso artístico de Hannover, no espaço condensado de 14

dias, foram estes pontos de reflexão que acompanharam o percurso. Assim, o fascínio, a

admiração pelas formas da natureza, no prazo curto de 14 dias de trabalho, talvez tenha

lançado novas sementes, novos percursos. Não pude preencher as questões na sua

totalidade, porém, haverá continuidade, novas inquietações. Eduardo Subirats, no livro

Paisagens da Solidão, comenta: “Diz-se que a vida é uma viagem, mas não um caminho.

É preciso fazê-lo, e assim como se faz, logo se desfaz. Sempre se começa novamente, e

sempre é diferente.” (p.70).

Referências ASSMANN, Aleida. Espaços da Recordação. Formas e Transformações da Memória Cultural. Campinas: Editora da Unicamp, 2016. BARTALINI, Wladimir (apresentação e organização). Paisagem/Textos. Textos traduzidos. São Paulo: Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, s/d. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas II. Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 1987. DEWEY, John. Arte como Experiência. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007. FONSECA, Tânia Maria Galli, KIRST, Patrícia Gomes (organizadoras). Cartografias e Devires. A Construção do Presente. Porto Alegre: Ufrgs, 2003. HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela Memória. Arquitetura, Monumentos, Mídia. Rio de Janeiro: Editora Aeroplano, 2000. LOPES, Denilson. A Delicadeza estética, experiência e paisagens. Brasília: Editora da UnB, Brasília, 2007. PESSOA, Fernando. O livro do Desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. Revista Imaginário – USP, 2: 47 – 62, 1994. Revista Manuscrítica – Revista de Crítica Genética, São Paulo, nº 4 – 1993 APML – Associação de Pesquisadores do Manuscrito Literário. RYKWERT, Joseph. A Casa de Adão no Paraíso. São Paulo: Perspectiva, 2003. SALLES, Cecília Almeida. Gestos Inacabados. Processos de Criação Artística. São Paulo: Anna Blume, 1998. ______. Redes de Criação. Construção da Obra de Arte. Vinhedo: Horizonte, 2006. SCHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. SUBIRATS, Eduardo. Paisagem da Solidão. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1986. WALDMAN, Berta. Entre Passos e Rastros. São Paulo: Perspectiva e FAPESP, 2003. YI-FU TUAN. Espaço e Lugar. A perspectiva da experiência. Londrina: EDUEL, 2013. Luise Weiss Graduada em Artes Plásticas pela Universidade de São Paulo (1977), mestrado em Comunicação e Artes pela Universidade de São Paulo (1992) e doutorado em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo (1998). Atualmente é Professora Titular da Universidade Estadual de Campinas no Instituto de Artes, na área de Gravura. Realiza exposições nacionais e internacionais e produz ilustrações e projetos gráficos, além de livros-objetos e livros-de-artista. Reside e trabalha em São Paulo.