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FAMÍLIA ASPIRANTES 1970 - PMMG

Ano 2.017 – Jubileu de Ouro“Amigos para Sempre”

Por Marcílio Fernandes Catarino(*)

“O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas, não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio.”

(Gibran Khalil Gibran – Filósofo e poeta libanês)

UM BREVE REGISTRO HISTÓRICO

1. PREFÁCIO

1º de março de 1.967, manhã de uma quarta feira, abre-se o vetusto portal do então Departamento de Instrução (DI), da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, a 82 (oitenta e dois) jovens sonhadores, classificados, após disputadíssimo vestibular, para início do Curso de Formação de Oficiais (CFO) daquele ano.

Fora dado, naquela memorável data, o passo inicial de uma longa jornada no seio dessa tradicional e respeitável corporação militar estadual, cujos brilhantes feitos ao longo do tempo a tornaram merecedora do honroso título de Patrimônio do Povo Mineiro. Episódios gloriosos que se identificam e se confundem com as próprias histórias do Estado e do País.

Grupo de jovens muito heterogêneo, como não poderia deixar de ser, composto por mineiros de todos os rincões, alguns já servindo na corporação na condição de praças, e civis -esses a maioria- complementado por candidatos selecionados pelas Polícia Militar do Estado do Amazonas (PMAM), Polícia Militar do Estado do Espírito Santo (PMES), Polícia Militar do Estado do Maranhão (PMMA) e Polícia Militar do Estado do Mato Grosso (PMMT).

A formação de oficiais de outras polícias militares do país, que ainda não possuíam seus cursos estruturados, pela Corporação Mineira, fazia parte de um intercâmbio

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celebrado entre as instituições. Hoje o intercâmbio existe apenas para os cursos de pós-graduação, considerando, particularmente, que para o ingresso nas fileiras da Força Pública Mineira é exigido o 3º grau completo, sendo que para o CFO deve o candidato ser bacharel em direito.

Destacavam-se no grupo, com clareza insofismável, as diferenças de formação intelectual e cultural, de costumes e formas de expressão. Não obstante tais diferenças igualavam-se nos ideais de bem e fielmente servir ao povo de seus estados, “mesmo com o sacrifício da própria vida”, conforme viriam a se manifestar, quando da formatura , em juramento solene.

2. A DÉCADA DE 1960 – PANORAMA GLOBAL

Para melhor estimularmos a memória dos Aspirantes 1970 e oferecermos aos leitores amigos maior condição de criar na mente um quadro daquele período, considerado por alguns brasileiros como “Os Anos Dourados” e, por outros, “Anos Rebeldes”, oportuno e pertinente fazermos o registro sucinto de alguns fatos relevantes, internos e externos, que marcaram a época, obviamente sem pretendermos esgotar o assunto.

2.1 Campo Político

Em 21 de abril de 1960, numa iniciativa do mais popular presidente do Brasil e um dos mais ilustres integrantes da Força Pública Mineira, no quadro de oficiais médicos, o diamantinense Juscelino Kubitschek de Oliveira, Brasília era coroada como a nova capital do país, antes sediada na cidade do Rio de Janeiro.

Em 03 de outubro de 1960, numa expressiva votação, o mato-grossense Jânio da Silva Quadros era eleito como o vigésimo segundo presidente do Brasil, cuja campanha, que apresentava como símbolo uma vassoura, se desenvolvera sob a promessa de moralização político-administrativa do país. Seu governo durou menos de um ano quando, em 25 de agosto de 1961, apresentava sua renúncia, através de carta pouco elucidativa, alegando pressões de “forças terríveis” que jamais revelou, dando início a uma grave crise política no País.

Avancemos para 1963, quando em 22 de novembro daquele ano, o mundo assistia estarrecido, pelas redes de TV, o anúncio do assassinato, na cidade de Dallas/Texas, do presidente da maior potência econômica e militar do planeta – os Estados Unidos da América- John Fitzgerald Kennedy. Apesar de ter uma das mais eficientes polícias do mundo, as conclusões do inquérito apresentadas pelas autoridades jamais convenceram a opinião pública mundial e do próprio país.

Em 31 de março de 1964, eclode no Brasil o Movimento Revolucionário, através do qual o então presidente João Goulart é afastado do poder pelo Exército Brasileiro, iniciando-se, a partir de então, os governos militares, sobre os quais abordaremos com mais detalhes adiante.

O ano de 1966 marca o início da Grande Revolução Cultural Proletária da China, comumente conhecida como Revolução Cultural Chinesa, promovida pelo líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tse-tung.

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Em 04 de abril de 1968, é assassinado na cidade de Memphis/EUA o famoso pastor protestante e ativista político norte-americano Martin Luther King, imortalizado pela abnegada luta pelos direitos civis no seu país.

2.2 Guerras e Conflitos

Em 03 de janeiro de 1961, os Estados Unidos anunciavam o rompimento das relações diplomáticas com Cuba, então governada pelo seu maior líder, o revolucionário Fidel Alejandro Castro Ruz, ou simplesmente Fidel Castro, episódio que veio dar um impulso preocupante ao que se denominou de “Guerra Fria”, em que se confrontavam as duas maiores potências militares da época: EUA e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

O mês de agosto de 1961 marca a construção, pela República Democrática da Alemanha (Alemanha Oriental, de ideologia socialista e apoiada pelo governo soviético) do Muro de Berlim, uma barreira física que promoveu a divisão do país e da própria cidade de Berlim, em dois polos ideológicos distintos, sendo o segundo a República Federal da Alemanha/RFA, de ideologia capitalista, que contava com o apoio de países liderados pelos Estados Unidos da América. Ressalte-se, por oportuno, que a construção do aludido muro dividiu, não apenas territórios, mas, sobretudo, famílias, criando dramas dolorosos que duraram até 03 de outubro de 1990, data em que foi celebrada formalmente a reunificação da Alemanha. Há quem considere esse momento como o marco do fim da Guerra Fria.

Em meio a comemorações festivas dos alemães e aplausos de todo o mundo, o Muro de Berlim, causa de um controverso número de mortos, feridos e presos, que tentaram transpô-lo em atos de desesperada fuga, foi inteiramente destruído, dele restando apenas pequenos pedaços, como lembrança histórica de uma tragédia que a nação alemã não pode deixar mais acontecer.

Em 05 de junho de 1967, tem início um grave conflito armado no instável Oriente Médio, em que Israel ataca a Síria, Egito e Jordânia, que contavam ainda com o apoio do Iraque, episódio que ficou registrado na história como a “Guerra dos Seis Dias”. Este confronto foi uma derrota marcante e extremamente rápida para os Estados Árabes, que perderam mais da metade de seu aparato militar, sendo a Força Aérea jordaniana completamente destruída. Consta que os países árabes sofreram 18.000 baixas, contra apenas 766 israelenses.

O final da década de 1960 registra o aumento e fortalecimento dos movimentos pacifistas, particularmente os protestos nos Estados Unidos e no mundo contra a Guerra do Vietnã, que provocou a morte de milhões de vietnamitas e milhares de americanos. Apesar do seu poderio militar, infinitamente superior ao dos vietnamitas, os norte-americanos não conseguiram vencer a guerra, iniciada em 1959 e terminada em 1975, quando as tropas americanas deixaram aquele país asiático.

2.3 Ciência,Tecnologia e Comunicações

Em abril de 1960, os Estados Unidos lançam o primeiro satélite meteorológico e o primeiro computador eletrônico com disco rígido (RAMAC 305 –IBM). Na União

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Soviética, o cosmonauta Yuri Gagarin torna-se o primeiro homem a viajar pelo espaço cósmico.

Em 01 de maio de 1963 os brasileiros assistem, pela primeira vez, transmissão a cores pela TV Tupi. E, em 1965, é transmitido pela televisão o 1º Festival de Música Popular Brasileira (MPB).

No campo da medicina, ocorre em 03 de dezembro 1967, na África do Sul, o primeiro transplante de coração no mundo, realizado pelo cirurgião sul-africano Christiaan Barnard, cujo paciente sobreviveu somente 18 dias, morrendo de infecção.

No ano seguinte, em 26 de maio, equipe liderada pelo cirurgião brasileiro Euryclides de Jesus Zerbini entra para a história da medicina mundial, realizando o primeiro transplante de coração no Brasil, no hospital das Clínicas de São Paulo (USP). O paciente desse grande feito, considerado o 5º do mundo e pioneiro na América Latina, também não sobreviveu por muito tempo, falecendo 28 dias após.

Ainda em 1967, é realizada a primeira transmissão de televisão via satélite e, em abril de 1969, é anunciada a criação da ArpaNet, o embrião da Internet.

No dia 20 de julho de 1969 o mundo assistia pela televisão, em tempo real, a chegada do homem à lua através da missão Apollo 11, integrada pelos astronautas Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins. Nessa jornada, ficou imortalizada a frase “É um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”, proferida pelo astronauta Neil Armstrong, primeiro homem a pisar o solo lunar.

 2.4 Esportes e Música Em 1960 a cidade de Roma, na Itália, sedia os Jogos Olímpicos e, em 1962, é realizada a Copa do Mundo de Futebol no Chile, com o Brasil tornando-se bicampeão mundial. No segundo jogo da primeira fase, contra a ótima equipe da Tchecoslováquia, o Brasil perderia sua maior estrela. Pelé sofreu uma distensão no músculo da virilha e estava fora do restante da Copa. Foi a partir daí que brilhou, mais uma vez, a estrela do inesquecível Mané Garrincha, “a alegria do povo”, tornando-se o grande destaque da conquista do bi.

Em 1966 é a vez da Inglaterra sediar a Copa do Mundo de Futebol, sagrando-se a grande campeã. O esporte fecha a década em outubro de 1968 com a realização das Olimpíadas, na cidade do México.

No reino da música, The Beatles e The Rolling Stones surgem como os dois maiores ícones dos anos 1960, enquanto o cantor Bob Dylan se torna o grande destaque da época, sendo considerado pela renomada revista Rolling Stone como o 7º maior artista da música de todos os tempos, influenciando diretamente grandes nomes do rock americano e britânico da época. Um dos seus maiores sucessos foi a canção “Like a Rolling Stone”. Em 2012, Bob Dylan foi condecorado pelo Presidente dos EUA, Barack Obama, com a Medalha Presidencial da Liberdade.

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Foi, de fato, um período de ouro do rock americano, em que brilharam várias outras bandas, dentre as quais mencionamos os The Monkees, Pink Floyd, The Who, The Doors, The Byrds, além do solista Jimi Hendrix. E, no final da década, desponta a cantora Janis Joplin, símbolo do movimento conhecido como Contracultura, que teria sua manifestação maior no famoso Woodistock Music & Art Fair, ou simplesmente Festival de Woodstock, no estado de Nova York, que reuniu cerca de 400.000 expectadores.

O Brasil não poderia escapar à influência desses movimentos revolucionários que transformou, não apenas a música, mas também a cultura e costumes mundo afora. Como consequência, vê explodir a MPB nas vozes de Elis Regina, Vinicius de Morais e Edu Lobo, com a consolidação dos Festivais de Música Popular, promovidos pela TV Record.

Foram nesses festivais que a juventude brasileira vibrou com canções como “A Banda”, de Chico Buarque e interpretação da cantora Nara Leão, “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso e “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Morais, na voz de Elis Regina.

Em paralelo, surge na época o movimento denominado Tropicália, encabeçado pelos cantores Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Torquato Neto e o conjunto Os Mutantes. O Tropicalismo foi considerado um importante movimento cultural brasileiro.

Acrescente-se a tudo isso outro movimento que viria a se tornar o mais popular no Brasil, por todos conhecido como “A Jovem Guarda” que, na verdade, originara-se de um programa criado pela TV Record em 1965, com o mesmo nome. Neles despontaram ícones como os cantores Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Ronnie Von, Wanderley Cardoso, Wanderléa, e tantos outros.

Finalmente, destacamos que a década de 1960 foi também o período de ouro da música romântica italiana. Quem não se recorda das canções de Sérgio Endrigo, Nico Fidenco, Pepino de Capri, Bob Solo, Eduardo Vianelo e da campeoníssima Rita Pavone?

2.5 O Movimento Feminista no Brasil O Feminismo eclodido na Europa e Estados Unidos na década de 1960, alicerçado pelo incremento da política e da cultura nesses continentes que colocava em xeque os valores conservadores das sociedades, desponta com força no Brasil. O movimento promove o nascimento do Conselho Nacional de Mulheres do Brasil que, dentre outros aspectos, luta pelo princípio da igualdade entre marido e mulher no casamento e a introdução do divórcio na legislação brasileira.

O advento da pílula anticoncepcional, permitindo a libertação dos comportamentos sexuais, antes restritos à monogamia e às relações matrimoniais, exerce papel preponderante nesse processo de “libertação” das mulheres.

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3. A DÉCADA DE 1960 NO BRASIL – AMBIENTE SOCIOPOLÍTICO

1967 registrava o quarto ano dos governos militares, instalados no Brasil a partir do Movimento Revolucionário de 31 de março de 1964, em que o Exército Brasileiro, com o apoio de expressivas lideranças civis do país, de grande parte da mídia nacional e, em particular, do povo brasileiro, punha fim às pretensões de integrantes da extrema esquerda política de instalar em nossa terra o regime comunista, inspirado nos ideais stalinistas, maoistas e fidelistas.

Período conturbado da história brasileira, pontilhado de ações guerrilheiras armadas patrocinadas por diversos grupos da esquerda radical, rechaçados, no mesmo nível, pelas forças governamentais.

Indiscutivelmente, seguiu-se um período de exceção, em que foram impostas determinadas restrições às liberdades individuais e coletivas, através das quais os governos militares procuravam restabelecer a ordem no país, notadamente com a entrada em vigor do Ato Institucional número 5 (AI 5).

Emitido em dezembro de 1968, o referido ato dava plenos poderes ao Presidente da República e suspendia várias garantias constitucionais, visando a contenção da escalada da violência e das atividades subversivas, além do combate à luta armada dos grupos da esquerda radical. Ficou preservada, no entanto, a liberdade de ir e vir dos cidadãos brasileiros.

Esse momento da história do país, por muitos denominado de “Ditadura Militar” e/ou “Anos de Chumbo” e que cassou os direitos políticos de diversos cidadãos, não suspendeu totalmente a participação política, que era exercida por dois partidos: o ARENA (Aliança Renovadora Nacional), que constituía a base de apoio do governo, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que representava a oposição. O sistema eleitoral, embora por via indireta, através do qual os governantes eram escolhidos pelo Congresso, também fora mantido.

Esse foi o contexto sociopolítico em que a turma de aspirantes 1970 iniciou a sua jornada histórica, num período que vem merecendo de alguns segmentos da sociedade brasileira as mais severas críticas, em sua grande maioria sustentada por argumentos emocionais e/ou ideológicos contraditórios, senão inverídicos, que não encontram suporte na realidade fática. Argumentos que se fragilizam ante o legado por ele deixado ao povo brasileiro e que, no futuro, receberá o justo julgamento pela mãe de todas as verdades: a História.

4. INFORMAÇÕES CONTEXTUAIS IMPORTANTES

4.1 O Departamento de Instrução da PMMG – DI

Criado em 03 de março de 1934, teve as suas aulas iniciadas em 16 de abril do mesmo ano, no mesmo endereço em que ainda se encontra e onde já funcionava o então denominado Corpo Escola da PMMG.

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Templo do saber e do conhecimento, o seu nome despertava em todos os que aspiravam avançar na carreira temor e sofrimento, sobretudo em razão do rigor extremado da disciplina, da fiel observância dos demais preceitos regulamentares, da extensão das grades curriculares dos diversos cursos e do nível de exigência dos instrutores e professores. Não poderíamos deixar de mencionar as constantes inspeções de uniforme, da apresentação pessoal, dos armamentos e equipamentos, dos alojamentos, dos constantes “ranca-rabo” e das inevitáveis detenções nos finais de semana, com ou sem motivos, conforme a imaginação e caprichos de alguns alunos veteranos.

Em sua crônica intitulada “1970 – Lições da Aurora”, que integra a obra Memória Viva: Crônicas, publicada pela Editora O Lutador, no ano de 1991, o então Maj PM Lúcio Emílio do Espírito Santo, um dos mais ilustres Asp1970, de privilegiada inteligência, descreve de forma brilhante um retrato do DI dos anos 1967.

Inspirada narrativa da aurora de nossas vidas nos rigores das lidas na caserna, naqueles tempos em que “uma guerra surda se travava entre as forças remanescentes do período pré-revolução e as forças emergentes a partir de 64”. Sem se deixar perder, no entanto, as reminiscências das brincadeiras e momentos hilários, que emolduram a nossa história.

Relembremos um breve trecho:

“...Depois de um ano de convivência, vivenciando juntos momentos de sofrimento e angústia, a turma primava pela união, coleguismo e a tão importante comunhão de sentimentos. Sem ofensa à amizade, as brincadeiras ajudavam a reduzir as tensões e o tédio de dias e dias sem sair do quartel, em face do regime permanente de prontidão. O Ninho de Ganso, o sangue da dentadura, a manteiga da Bélgica, o bichinho atleticano, as fases da “Lua”, o desespero do “Noivo”, os pulos do “Sapão”, a “Carta Questão”, e tantas outras figuras e historietas cômicas iam sedimentando e fortalecendo os vínculos de amizade”.

A sua competência e saber o habilitaram a ocupar, por vários anos, uma cadeira de instrutor da APM/DI.

Naqueles tempos, no DI concentravam-se os diversos cursos de formação e extensão da Corporação, tais como os de formação de oficiais (CFO), de sargentos (CFS), de oficiais de administração (CFOA), de aperfeiçoamento de oficiais e de sargentos (CAO e CAS), além do Curso Superior de Polícia (CSP) e outros que foram surgindo ao longo dos anos. Exceção apenas para o curso de formação de soldados (CFSd), cuja incumbência ficava à cargo do Batalhão Escola (BEs).

Em face da destinação constitucional da Força Pública Mineira, os diversos cursos de formação, em todos os níveis hierárquicos, tinham seus currículos compostos, na sua maior parte, de disciplinas militares, cujo foco principal era a preparação do homem

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para a Defesa Nacional, em apoio às Forças Armadas. Complementavam os currículos matérias fundamentais (matemática, português, história do Brasil/Geral, geografia, etc), além de uma considerável grade dos diversos ramos do Direito e, finalmente, informações básicas de policiamento ostensivo fardado.

Uma grande novidade, no entanto, foi introduzida no currículo de matérias do CFO daquele ano, demonstrando a preocupação da Corporação Mineira em melhor preparar o homem para uma nova realidade que se anunciava para o Brasil, em futuro breve: a disciplina Relações Humanas.

Hoje, embora transformado em Academia de Polícia Militar (APM), orientada por novos conceitos que norteiam o relacionamento interpessoal, não é mais causa de temor para ninguém, embora mantendo elevado o nível de exigência em todos os seus cursos.

Dotada de uma estrutura física moderna e confortável, a Unidade de Ensino preservou, como memória viva daqueles tempos e como patrimônio inalienável, o seu imponente portal de entrada, conservando intactas suas antigas características, verdadeiro símbolo da respeitabilidade e nobreza dessa importante instituição acadêmica.

Mais do que isso, seus vetustos umbrais se transformaram em distinção honorífica, cuja miniatura, idealizada e esculpida em bronze por um sargento pertencente aos quadros da unidade, é entregue, em solenidades oficiais, a proeminentes autoridades, militares e cidadãos homenageados pela Academia.

4.2 O Emprego Operacional da Polícia Militar à Época

Conforme ressaltado anteriormente, o ano de 1967 registrava a sequência de fatos a que os órgãos governamentais denominaram de “ações subversivas”, caracterizadas pelo uso de armamento de guerra e pela violência, patrocinadas por integrantes dos partidos de esquerda, simpatizantes dos regimes comunistas.

Assaltos a bancos e outras instituições, assassinatos de militares, execuções de supostos delatores, sequestros de autoridades, foram algumas das ações criminosas perpetradas pelos diversos grupos subversivos organizados, que a História registra.

Neste breve relato, não se pretende aprofundar na organização e estruturação da Força Pública Mineira, assim como nas condições gerais de emprego. Importante ressaltar apenas que as Polícias Militares Estaduais eram consideradas, por preceito constitucional, forças auxiliares reservas do Exército, organizadas e estruturadas com base na hierarquia e disciplina.

A polícia ostensiva, ainda incipiente, se manifestava na capital mineira, nas cidades polos de batalhões e nos demais municípios mineiros, através dos seguintes processos:

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a) Policiamento a pé em duplas, lançado ordinariamente nos logradouros públicos e eventos festivos de menor expressão (bailes, ruas de lazer, festejos religiosos, entre outros), tendo como foco primordial a prevenção de delitos e que se tornaram lendárias na história da corporação e na memória da comunidade mineira sob a designação de duplas “Cosme & Damião”.

b) Esquadrão Motorizado, também lançado ordinariamente e constituído de viaturas Chevrolet C14, ocupadas por guarnições integradas por um graduado comandante (Sargento ou Cabo), um soldado patrulheiro e um motorista que, às vezes, era o próprio comandante;

c) Como tropa especializada, eram mantidas na capital e em um batalhão do interior do Estado frações destinadas ao emprego e controle de situações que, à época, eram denominadas Distúrbios Civis, que fugiam à normalidade pública e nos quais se destacavam os movimentos grevistas e as manifestações estudantis, estas últimas muito comuns e intensas naqueles tempos. A essas tropas eram dadas as denominações de Companhias de Polícia de Choque (Cia PChq).

Essas frações, consideradas especialistas, em períodos de normalidade eram empregadas em policiamento de grandes eventos (shows musicais de grandes astros, carnaval, feiras e exposições agropecuárias, jogos de futebol, entre outros).

d) No interior do Estado, em todos os seus municípios, a polícia ostensiva se manifestava através do emprego de frações (pelotões e grupos de polícia) denominados Destacamentos de Polícia Militar (DstPM) que, através da presença física de seus efetivos, patrulhavam a pé os logradouros públicos das cidades e garantiam a segurança de todos os eventos.

Em princípio, os pelotões eram comandados por Tenentes sendo, na sua falta, supridos por Subtenentes e/ou Sargentos. As frações grupos tinham como comandantes Sargentos ou Cabos.

Em algumas cidades do interior, mais populosas e melhor estruturadas, complementava-se o policiamento ostensivo com o lançamento de radiopatrulhas, tendo como base as orientações das guarnições da capital.

Esse era, em linhas gerais, o emprego operacional da PM até o ano de 1969.

4.3 Reorganização das PM e Corpos de Bombeiros Militares - O Dec. Lei 667, de 02Jul1969

O Decreto Lei acima mencionado, juntamente com outras normas legais dele originadas, promoveram radicais mudanças nos paradigmas de emprego das PM brasileiras, atribuindo a elas a “responsabilidade da manutenção da ordem pública e segurança interna nos Estados, com a competência de executar com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo

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fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos”.

Mudanças transcendentais, para as quais as PM brasileiras não estavam devidamente organizadas.

Arcabouço doutrinário incipiente, carência de recursos materiais (viaturas, armamentos, petrechos policiais diversos), sistema de comunicação extremamente limitado, uniformes operacionais inadequados, entre outros, constituíam um grande desafio a ser superado em tempo recorde.

Na sua essência, o decreto lei sinalizava um novo foco da ação policial militar: a proteção e o socorro ao cidadão ordeiro.

Embora a ação policial militar sempre estivesse revestida do aspecto preventivo, visando inibir a conduta delituosa, a perseguição e prisão dos infratores se destacavam como foco principal, garantindo, dessa forma, a proteção ao cidadão de bem.

Iniciava-se, a partir de então, um novo ciclo na trajetória evolutiva da Força Pública Mineira, em que se exigia, cada vez mais, a sua presença junto às comunidades das Minas Gerais, tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo. Período de transição em que a Corporação se viu na contingência de se modernizar e se adequar à nova realidade e dar as respostas ansiadas pela comunidade mineira.

Foi nesse exato momento em que os Aspirantes 1970 iniciaram a sua longa jornada, a partir do final do mês de dezembro do mencionado ano, mês da formatura. Grande parte dos ensinamentos militares, embora extremamente úteis para a nossa formação pessoal e profissional, bem como para o enfrentamento dos grandes embates e desafios da nova realidade, não encontravam mais aplicação prática imediata.

4.4 A Nova Realidade

No dia 11 de dezembro de 1970 as cerimônias de formatura da turma coroavam os sonhos de todos, tendo como apoteose o baile de gala realizado no Clube dos Oficiais e com o registro de uma grande novidade: pela vez primeira na história do DI, uma emissora de televisão fazia a cobertura do baile.

Após breves dias de dispensa prêmio cada aspirante se apresentava nas unidades designadas, com um misto de alívio e ansiedade -mas plenamente confiantes- conscientes de que estavam inteira e devidamente preparados para o cumprimento das missões, quaisquer que fossem suas naturezas.

Não obstante, ninguém duvidava de que o novo contexto em que fora lançada a Corporação, reflexo da nova realidade sociopolítica reinante no País, iria nos impor a necessidade de ampliar e aprimorar a nossa capacidade de “fazer polícia”, na prática.

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Exigência impostergável, “como consertar um veículo em movimento”, que certamente exigiria esforços extremos, criatividade fértil e dedicação exclusiva.

Um exemplo que merece ser mencionado foi a participação do Asp1970 Luiz Vitor Soares, no ano de 1972, à época como 2º Tenente, na instalação do Batalhão de Radiopatrulha (BRP), na capital mineira, que se transformou num baluarte, não apenas no combate ao crime e à violência, mas, sobretudo, no amparo, proteção e socorro à comunidade belorizontina.

O BRP teve seus feitos imortalizados através dos tempos, o que o tornou temido pelos delinquentes e lendário na Corporação e no meio social. A expressão “Sempre BRP”, continua viva na memória daqueles que nele serviram e “impressa” nas paredes do então 16º Batalhão de Polícia Militar (16º BPM), designação que passou a ter após a sua desativação em 1979, quando da implantação do novo Plano de Articulação Operacional da Corporação, sobre o qual faremos breves abordagens adiante.

Ressalte-se, por oportuno, que o Asp1970 Luiz Vitor foi o autor do hino do novo batalhão, composto anos após, sendo a música de sua autoria exclusiva e letra em parceria com seu irmão, o Asp1967 João Soares, o “João Martelo” para os amigos.

Tempos depois, mais precisamente em 20 de maio de 2010, em cerimônia realizada no pátio da APM, o hino do BRP foi oficialmente adotado pela Academia para identificar o “Batalhão Acadêmico Fernão Capelo”, criado na instituição para estágio prático dos cadetes/alunos no serviço de radiopatrulhamento. Para tanto, com autorização dos compositores e para melhor adequação à realidade acadêmica, foram inseridas breves adaptações no 2º verso da 2ª estrofe. Na oportunidade, foi o Asp1970 Luiz Vitor homenageado pelo comando da unidade, perante todo o corpo de alunos, sendo agraciado com a miniatura do seu portal.

A partir de então, nos instantes que antecedem o lançamento do Batalhão Acadêmico Fernão Capelo, o hino é entoado por todos como motivação para o início de cada jornada.

Conforme ressaltado, os anos 1970 registraram um movimento de profundas transformações, em todos os setores da vida institucional. Como sempre ocorreu no decorrer de sua história, a Força Pública Mineira se superou em face dos novos desafios, em que destacaríamos duas grandes vertentes:

1ª) Estruturou um robusto modelo doutrinário, nascido da inteligência de inúmeros oficiais e praças, ampliou e modernizou seu suporte logístico, redirecionou seu serviço de inteligência para aplicação nas diversas ações e operações no campo da Segurança Pública, adequou os currículos dos seus cursos de formação e extensão, racionalizou e enxugou seus quadros administrativos, aumentando o efetivo operacional, entre outras medidas de caráter interno.

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2ª) Estabeleceu orientações para o relacionamento com a comunidade que, na verdade, àquela época, exigiu muito mais do esforço e criatividade individuais de cada PM envolvido, dinamizando a “Polícia Comunitária” que a Corporação Mineira já desenvolvia, de forma tímida, através dos seus destacamentos e postos de policiamento ostensivo (PPO) espalhados pelas cidades.

4.5 Os Pilares básicos da Polícia Comunitária

Já naqueles tempos, a Polícia Comunitária se destacava como modelo de atuação que viria a ter sua expressão maior na implantação, em 1989, da primeira base de policiamento comunitário, na cidade de Uberlândia, pelo comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar (17º BPM), lá sediado, o então Tem Cel PM Alcino Lagares Cortes Costa, hoje coronel reformado e Acadêmico Efetivo-Curricular, Presidente do Conselho Superior da Academia de Letras João Guimarães Rosa (ALJGR), da PMMG. Essa brilhante e inovadora iniciativa da Corporação Mineira, que se revelou como grande sucesso e de resultados extremamente significativos, contou com a parceria do Rotary Uberlândia Sul e da Prefeitura daquela cidade.

4.6 A Virada 1970/1980 - Um Salto Quântico

O período de transição a que nos referimos anteriormente se estendeu até ao final da década de 1970, quando a vida sociopolítica do país foi sacudida, mais uma vez, pela eclosão de movimentos grevistas, dentre os quais se destacavam os dos empregados da construção civil e os estudantis.

Tais episódios contribuíram, sobremaneira, para a intensificação do movimento de modernização da Força Pública Mineira quando, em 1979, foi implantado o novo Plano de Articulação da Corporação, com a criação de Comandos Regionais e novos Batalhões, com a consequente redistribuição de áreas de responsabilidade.

Destaca-se, nesse momento histórico, a criação do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), em Belo Horizonte, no início do mês de janeiro de 1980. Tropa especializada, com a missão precípua de conter a convulsão social que eclodira país afora, marcada pela violência dos movimentos grevistas das diversas categorias de trabalhadores, após a extinção do Ato Institucional 5 (AI 5), em outubro de 1978.

A criação desse batalhão teve como grande arquiteto o então Ten Cel PM Klinger Sobreira de Almeida, hoje coronel reformado Presidente da Academia de Letras João Guimarães Rosa, já mencionada anteriormente. Foi ele um dos mais respeitáveis comandantes de todos os tempos e, sob a sua inspirada e competente direção, desenvolveu-se, nos anos que se seguiram, uma intensa produção de doutrina de emprego, dando um impulso evolutivo, até então inédito, às ações e operações policiais militares. Arcabouço doutrinário inovador que veio, em futuro breve, a servir de paradigma para diversas coirmãs brasileiras.

Nesse brilhante e profícuo esforço, o Ten Cel Klinger contou com uma admirável plêiade de oficiais, dentre os quais não poderíamos deixar de mencionar o então

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Major PM Amauri Meireles, seu subcomandante e oficial de rara inteligência. Hoje, mesmo integrando o corpo de oficiais reformados, o agora Coronel Amauri continua a engrandecer o nome da Força Pública Mineira com suas produções literárias, revelando-se como uma das maiores autoridades do Estado no campo da Defesa Social.

Foi durante o comando do Ten Cel Klinger que o BPChq criou e implantou, em fevereiro de 1981, as duas companhias das Rondas Táticas Metropolitanas (ROTAM) -os famosos “Boinas Marrons- guarnições compostas por PM selecionados dentre os melhores, “uma simbiose de velhos patrulheiros e soldados novos, criteriosamente treinados para o combate à criminalidade da pesada”, cuja 2ª Companhia tivemos a honra de comandar.

Ainda atuantes nas ruas da Capital Mineira, as ROTAM, hoje integradas por hábeis motociclistas, constituem importantes forças no combate ao crime organizado, na redução dos índices de criminalidade violenta na região metropolitana de BH e na prisão de criminosos perigosos.

Outro avanço marcante nesse momento histórico, que contou com a participação fundamental dos mencionados oficiais e que destaca a trajetória evolucionária da corporação, foi a implantação do Centro de Operações Policiais Militares (COPOM), em substituição à antiga Central de Operações, um moderno órgão de coordenação e controle das operações policiais militares e que foi o primeiro sistema de despacho automatizado de patrulhas da América Latina.

Estruturado com a mais moderna tecnologia de comunicações da época, o novo centro otimizou e agilizou, consideravelmente, o sistema de despacho de patrulhas. Sua inauguração se deu em janeiro de 1983, com a presença do Governador do Estado Francelino Pereira e de Secretários de Estado, significando avanço extraordinário que transformou o novo COPOM em modelo que seria copiado pelas polícias militares e civis dos principais Estados do País.

Nós, Aspirantes1970, participamos desse momento, verdadeiro salto quântico da Força Pública Mineira, que exigiu de todos esforços ingentes e sacrifícios anônimos. Somos, a uma só vez, PM de dois tempos distintos, atores que contribuíram, não apenas para com a Corporação que foi em um tempo passado, mas, sobretudo, artífices do que, hoje, ela é. Nem melhor, nem pior, importante ressaltar!

Em cada época, a Força Pública Mineira sempre foi atuante e proativa, compromissada com os ideais de bem e fielmente servir, dando à comunidade mineira as respostas de qualidade que ela sempre esperou. Por isso e pelos seus próprios méritos, recebeu o honroso título a que nos referimos no prefácio deste breve histórico.

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5. A CONTURBADA DÉCADA DE 1970

o contrário do que os integrantes da esquerda radical do país hoje procuram, a todo custo, convencer o povo brasileiro de que os militares implantaram um regime de terror, promovendo a perseguição de cidadãos inocentes, tolhendo as liberdades individuais e disseminando a tortura, nunca o povo brasileiro vivenciou igual período de paz e segurança, de ordem e progresso, sem qualquer restrição à sua liberdade de ir e vir. Nunca mais o país experimentou, até os dias atuais, um impulso desenvolvimentista como o que ocorreu durante os governos militares, em todos os setores da vida nacional, cujas conquistas estão registradas nos anais da sua história.

De igual forma, não encontram respaldo nos fatos as declarações de que eles –os radicais da esquerda- foram os verdadeiros heróis, que se lançaram à luta armada em defesa da liberdade e da democracia. Tais versões são flagrantemente desmentidas por eles mesmos, diversos “ex-integrantes” da extrema esquerda que, desiludidos com os rumos e sentido das suas atividades, abandonaram a luta armada.

Em depoimentos públicos, hoje revelam que realmente pegaram em armas contra a “Ditadura Militar”, não em defesa da liberdade e da democracia, mas para implantar a sua própria, inspirada no regime comunista em que acreditavam: a Ditadura do Proletariado. Em nome desse propósito praticaram, dentre outros crimes, roubos a bancos e de cargas, sequestraram autoridades, assassinaram militares, policiais e executaram pretensos “traidores”, conforme ressaltamos anteriormente.

Obviamente, sofreram perseguição implacável pelos serviços de inteligência e forças governamentais encarregadas dessas missões, em que diversos confrontos armados ocorreram, com mortes e feridos em ambos os lados e prisão de vários cidadãos envolvidos, os quais eram submetidos aos mais severos “interrogatórios”.

Como consequência, inúmeros desses presos tiveram seus direitos políticos cassados e foram submetidos ao exílio para outros países, os quais retornaram ao território pátrio com o a promulgação da Lei da Anistia Política, no ano de 1979, no último governo militar sob a presidência do General João Baptista Figueiredo.

Referida lei garantia, entre outros direitos, o retorno dos exilados ao País, o restabelecimento dos direitos políticos e a volta ao serviço de militares e funcionários da administração pública, excluídos de suas funções durante os governos militares.

O Regime Militar teve o seu término em janeiro de 1985, com a eleição de Tancredo Neves à presidência do País, marcando o início do retorno do Brasil ao regime democrático.

Em 2002, uma nova lei foi promulgada, ampliando os direitos dos anistiados e estendendo seus efeitos para pessoas que, no período de 18 de setembro de 1946 até 05 de outubro de 1988, foram punidas e impedidas de exercerem atividades políticas no País.

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6. EPÍLOGO

Hoje, ao completarmos 20 anos de afastamento do serviço ativo da corporação e 50 de sincera amizade, somos 72 (setenta e dois) oficiais vivos, orgulhosos da carreira que abraçamos e da história que escrevemos. “Saímos da PM, mas a PM jamais sairá de nós”!

Com os corações tomados de ternas saudades –mas, sem tristezas- reverenciamos profundamente agradecidos, aos integrantes da turma que voaram em direção à Pátria Espiritual, pela inesquecível e inestimável contribuição que deram à Força Pública Mineira e à nossa história, a qual jamais será completa sem o belo capítulo que cada um deles escreveu.

De modo especial, registramos e destacamos a brilhante participação do Asp 1970 Nelson Fernando Cordeiro que, no período de 05Jan1995 a 14Fev1997, exerceu o honroso cargo de Comandante Geral da nossa gloriosa PMMG, mas que, nos dizeres inspirados do escritor e poeta mineiro João Guimarães Rosa, prematuramente “ficou encantado”.

Nesses tempos tumultuados, em que presenciamos verdadeiro caos sociopolítico e econômico, com a derrocada dos valores éticos e morais, a proliferação da violência e do tráfico de drogas, da corrupção desenfreada e a deterioração da Família, ficamos apreensivos quanto aos desígnios da nossa Força Pública.

Aumentam a cada dia, em quantidade e complexidade, os desafios que lhe surgem no caminho, ao mesmo tempo em que, entristecidos, a vemos ser atacada por grande parte da mídia nacional, numa verdadeira e incompreensível campanha difamatória.

Embora preocupados com os desafios e ameaças que o futuro lhe reserva, os ataques e armadilhas arquitetados nos bastidores pelos “oportunistas de plantão”, não perdemos a fé de que o caminhar evolucionário desta prestante instituição jamais será interrompido. Que ela continuará a ostentar, com orgulho e altivez, o honroso título de “Patrimônio e Reserva Moral do Povo Mineiro”.

Ao finalizar este breve histórico, oportuno registrarmos aqui o emocionante momento em que, no dia 09 de novembro de 2010, os Aspirantes 1970, inclusive os de outros Estados, retornavam à APM para comemorar seus 40 anos de formatura, oportunidade em que foi divulgado um Manifesto da turma, intitulado “Conclamação à União”, dirigido a toda a Força Pública Mineira, do qual extraímos o excerto que, a seguir, destacamos:

“Somos, ao mesmo tempo, precursores e testemunhas presenciais das profundas transformações por que passou a Milícia de Tiradentes, que tiveram como momento marcante a década de 1970, quando a Corporação dava os primeiros passos no exercício, com exclusividade, da Polícia Ostensiva. Extraordinária novidade e não podia ser de outro modo! Afinal,

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essa é a dinâmica do Cosmos, submetida às eternas e sábias Leis Universais. Tudo passa; tudo se transforma!

Assim como toda a geração 70, estivemos firmemente engajados no aprimoramento da estrutura organizacional de nossa Corporação, de forma a mantê-la sempre atualizada e compatível com as necessidades do contexto social de cada época. Nesse esforço, compreendemos mais que a sistematização e aperfeiçoamento da doutrina operacional era o caminho ideal para a elevação do padrão de qualidade de seus serviços.

Continuamos a acreditar na ciência como forma de alcançar a eficiência operacional e, assim, garantir nossa sobrevivência como instituição de defesa social, digna do respeito e confiança do povo mineiro. Acreditamos no “triângulo da excelência”: a ciência leva à eficiência e a eficiência garante a sobrevivência. Acreditamos, enfim, na força das ideias, mas convictos de que “são IDEIAS e não FORÇA que transformam o mundo para melhor”.

Maio/2017.

* Coronel Reformado PMMG – Asp1970

COLABORAÇÃO:

Coronel PM Luiz Vitor Soares/Asp1970

REFERÊNCIAS:

1. Histórico dos Boinas Marrons – Coronel PM Klinger Sobreira de Almeida

2. 1970 – Lições da Aurora / Crônica – Coronel PM Lúcio Emílio do Espírito Santo/Asp1970

3. Palestra proferida na 2ª Sessão Plenária da Academia de Letras João Guimarães Rosa/PMMG – 08Abr2017 - “Do 1º Destacamento Policial de Governador Valadares à instalação da 1ª Base de Polícia Comunitária em Uberlândia – Trajetória Progressiva da Força Pública Mineira da Década de 40 aos Anos 90” - Coronel PM Alcino Lagares Cortes Costa