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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA MURILO ALVES SILVA DE OLIVEIRA APLICABILIDADE DO MÉTODO GEOFÍSICO DE ELETRORRESISTIVIDADE NA PESQUISA DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM ROCHAS CRISTALINAS NA REGIÃO DE CONCEIÇÃO DO COITÉ-BA Salvador 2011

APLICABILIDADE DO MÉTODO GEOFÍSICO DE … · A Região Nordeste do Brasil com aproximadamente 1.600.000 km2 de área possui cerca de 937.000 km2 inseridas no denominado „„polígono

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

MURILO ALVES SILVA DE OLIVEIRA

APLICABILIDADE DO MÉTODO GEOFÍSICO DE ELETRORRESISTIVIDADE NA PESQUISA DE ÁGUA

SUBTERRÂNEA EM ROCHAS CRISTALINAS NA REGIÃO DE CONCEIÇÃO DO COITÉ-BA

Salvador

2011

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MURILO ALVES SILVA DE OLIVEIRA

APLICABILIDADE DO MÉTODO GEOFÍSICO DE ELETRORRESISTIVIDADE NA PESQUISA DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM ROCHAS CRISTALINAS NA REGIÃO

DE CONCEIÇÃO DO COITÉ-BA Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia.

Orientadora: Profa. Dra. Susana Silva Cavalcanti.

Co-Orientador: Geólogo João José Santos Costa.

Salvador

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

MURILO ALVES SILVA DE OLIVEIRA

APLICABILIDADE DO MÉTODO GEOFÍSICO DE ELETRORRESISTIVIDADE NA PESQUISA DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM ROCHAS CRISTALINAS NA REGIÃO

DE CONCEIÇÃO DO COITÉ-BA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel

em Geologia Universidade Federal da Bahia

_________________________________________________________

Profa. Dra. Susana Silva Cavalcanti ‐IGEO/ UFBA –Orientadora

_________________________________________________________

Prof. Dr. Cristovaldo Bispo dos Santos ‐IGEO/UFBA

_________________________________________________________

Dr. Godofredo Correia Lima Júnior ‐CERB

Salvador, 07 de Julho de 2011

4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por me guiar e ser razão de todas as

minhas conquistas.

A minha mãe, Ednalva Alves da Silva, por ser a minha fonte de inspiração,

aprendizado e por todo o seu amor proporcionado.

À orientadora, Profa. Dra. Susana Silva Cavalcanti, pelo apoio e orientação

na elaboração do trabalho, pelos ensinamentos passados e tempo disponibilizado

para tirar as dúvidas e acrescentar sugestões.

Ao co-orientador, Geólogo João José Santos Costa, por ter aceitado me

orientar, pelos ensinamentos e votos de confiança, meu muito obrigado.

À GEOKLOCK, meus sinceros agradecimentos e em especial a Geóloga

Denise Scarpa pelo voto de confiança.

À PETROBRAS, empresa que me ofereceu durante o estágio todo o apoio.

Aos professores do Instituto de Geociências da UFBa, pelos

conhecimentos repassados em especial a Tânia Araújo, Ângela Beatriz, Amalvina

Barbosa, Maria José, Flávio Sampaio e Haroldo Sá.

Aos funcionários da biblioteca de Geociências, em especial a Bibliotecária

Aldacy, por todo apoio durante o curso, muito obrigado.

Aos amigos Dário (Arroz), Lucas Nery e Henrique Assunção por terem

colaborado na elaboração dos mapas e perfis.

Aos amigos de rocha, Naldão, Paulo Ricardo (Negão), Pedro (Smeagol),

Valter (Cílio), Danilo (Bigode), Ricardo, Rodolfo, Eula, Silvandira, André, Nelize,

Gleice, Gleide, Thiago (Peitinho), Fabiane, Verônica, Caio, Asafe, AJ, Paulo (Xike-

Xike), Pedroca, Acácio, Gontijo, Guthiers, Anderson, Carla, Antonia.

Enfim a todos que direta ou indiretamente contribuíram para minha

formação.

5

‘’ Se tiveres fé, cumpre saberes que

tudo é possível àquele que a tem. ’’

6

OLIVEIRA, M.A.S. Aplicabilidade do Método Geofísico de Eletrorresistividade na Pesquisa de Água Subterrânea em Rochas Cristalinas na Região de Conceição do Coité- BA. Monografia de final de curso (Graduação em Geologia) - Universidade Federal da Bahia. Instituto de Geociências. Orientadora: Profa. Dra. Susana Silva Cavalcanti. 2011. 67p.

RESUMO

A área de estudo está situada no município de Conceição do Coité, Região Nordeste

do Estado da Bahia, inserida no polígono das secas. Geologicamente compreende

duas unidades de rochas metamórficas pertencentes ao embasamento do Cráton do

São Francisco. O domínio hidrogeológico é representado pelo aquífero fissural com

a ocorrência de água subterrânea condicionada a uma porosidade secundária,

originando a formação de reservatórios de pequena extensão. Neste trabalho,

buscou-se caracterizar a subsuperfície e mapear as fraturas e o solo de alteração.

Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica cuidadosa sobre a geologia da

região, em seguida foram interpretados dados geofísicos de eletrorresistividade e

realizada uma visita a área de estudo. Os dados de 37 sondagens elétricas verticais

(SEV), com arranjo Schlumberger de eletrodos (AB/2 variando de 1,6 a 130m),

foram processados e interpretados. As SEVs foram executadas ao longo de dois

perfis com direção perpendicular a uma zona de falha. Os resultados dos

levantamentos geofísicos permitiram identificar e separar as rochas fraturadas do

embasamento cristalino, áreas mais propícias para a locação de poços, porém com

potenciais hídricos pequenos e a cobertura sedimentar.

Palavras-chave: Aquíferos; Eletrorresistividade; Conceição do Coité.

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ABSTRACT

The study area is situated in the city of Conceição do Coité, Northeast Region of the

State of Bahia, inserted in the drought polygon. Geologically it comprises two units of

metamorphic rocks that pertaining the basement of the São Francisco Craton. The

hydrogeological domain is represented by the fissure aquifer with the occurrence of

ground water is condicional a secondary porosity, originating the formation of

reservoirs of small extension. In this work, one searched to characterize the

subsurface and to detect the breakings and the ground of alteration. Initially a careful

bibliographical research on the geology of the region was carried through, after that

they had been interpreted data of electrical resistivity and carried through a visit in

the study area. The data of 37 vertical electric soundings (VES), with Schlumberger

arrayt of electrodes (AB/2 varying of 1.6 130m), were processed and interpreted. The

SEVs had been executed throughout two profiles with perpendicular direction to an

imperfection zone. The results of the geophysical surveys had allowed to identify and

to separate two distinct hidrogeologics domain, the broken rocks of the crystalline

basement and the covering sedimentary, more propitious areas for the location of

wells, however with small hídrycs potentials.

Keywords: Aquifers; Electrical Resistivity; Conceição do Coité.

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INDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de localização e vias de acesso............................................................. 13

Figura 2 – Localização da Bacia do Rio Itapicuru, incluindo a área de estudo. .......... 20

Figura 3 - Mapa geológico do Cráton do São Francisco (Modificado de Alkmim et al, 1993). Círculo verde: a área de estudo. ............................................................................. 22

Figura 4 - Mapa geológico regional. Círculos verde e amarelo: a área de estudo. Modificado de CPRM. ........................................................................................................... 23

Figura 5 - Mapa geológico simplificado do Bloco Serrinha, mostrando os Complexos Santa Luz e Uauá. Fonte: Kosin et, 2003. ......................................................................... 24

Figura 6 - Mapa Geológico do Greenstone Belt do Rio Itapicuru. Fonte Silva et al., 2001. ........................................................................................................................................ 25

Figura 7 - Mapa Geológico da Área de Estudo................................................................. 29

Figura 8 - Mapa de lineamentos da área de estudo. ....................................................... 31

Figura 9 - Tipos de aquífero. A) Aquífero poroso (Arenito); B) Aquífero cárstico (Calcário); C) Aquífero fissural (Granito). Fonte: Vallejo et al, 2002. ............................ 32

Figura 10 - Bloco diagrama exibindo os elementos que influem nas características hidrodinâmicas de um aquífero fissural. Fonte: Pinéo, 2005. ........................................ 33

Figura 11 - Modelo riacho fenda. As fraturas coincidem com a rede de drenagem Fonte: Coriolano, 2002. ........................................................................................................ 35

Figura 12 - Riacho fenda. Apresentando feição retilínea e „„cotovelos‟‟. Fonte: Costa & Silva, 1997........................................................................................................................... 35

Figura 13 - Representação das técnicas referentes ao método da Eletrorresistividade. Braga, 2005. ....................................................................................... 37

Figura 14 - Esquema do arranjo Schlumberger. ............................................................... 38

Figura 15 - Equipamento elétrico utilizado para obtenção dos dados experimentais (IRIS INSTRUMENTS). ......................................................................................................... 38

Figura 16 - Mapa com os pontos visitados. ....................................................................... 39

Figura 17 - Representação dos dados de resistividades aparentes obtidos no campo (+), da curva calculada e ajustada no software Resist1.0 (__) e do modelo final geoelétrico (...). ...................................................................................................................... 41

Figura 18 - Perfis litológicos para calibrações das SEVs 29 e13. ................................. 43

Figura 19 - Perfil geoelétrico A-A‟. ...................................................................................... 44

Figura 20 - Perfil geoelétrico B-B‟. ...................................................................................... 44

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INDICE DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Porção centro-norte da área pesquisada caracterizada por um relevo relativamente plano. Ao fundo, o Açude Boa Vista, localizado no Distrito de Boa Vista. Coordenadas UTM 24L: 470.456km E/ 8.730.498km N. ................................ 18 Fotografia 2 - Vista geral da porção centro-sul da área. Coordenadas UTM 24L: 469.078km E / 8.726.630km N. ................................................................................ 18 Fotografia 3 - A) Vegetação tipo caatinga, característica desta região. Coordenadas: 470.456km E / 8.730.498km N; B) Área antropizada por pastagem. Coordenadas UTM 24L: 469.581km E/ 8.726.692km N. ................................................................ 19 Fotografia 4 - Detalhe contato solo / embasamento (alterado/fraturado). Coordenadas UTM 24L: 468.481km E / 8.726.390km N. ......................................... 19 Fotografia 5 - Rocha cisalhada exibindo foliação N-S. Ponto 3, coordenadas UTM 24L: 470.391km E/8.730.510km N. .......................................................................... 27 Fotografia 6 - Rocha deformada com veio de quartzo. Ponto 5, coordenadas UTM 24L: 469.886km E / 8730344km N. .......................................................................... 28 Fotografia 7 - Rocha dobrada e fraturada. Ponto 10, coordenadas UTM 24L: 468.481 km E/8.726.390km N. ............................................................................................... 28 Fotografia 8 e 9 - Rocha com enclave máfico e rocha com k-feldspato. Ponto 9, coordenadas UTM 24L: 469.069km E / 8.726.632km N. .......................................... 28 Fotografia 10 - Poço 1640. Ponto 4, coordenadas UTM 24L: 470.093km E / 8.730.422km N. ........................................................................................................ 40 Fotografia 11- Poço 2574. Ponto 11, coordenadas UTM 24L: 468.602km E / 8.726.736km N. ........................................................................................................ 40

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INDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Valores interpretados da profundidade do topo do embasamento ......... 455

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SUMÁRIO 1. INTRODUCAO.......................................................................................................12

1.1 LOCALIZACAO E VIAS DEACESSOS...............................................................13

2 OBJETIVOS..........................................................................................................................14

2.1 GERAL...................................................................................................................14

2.2 ESPECIFICOS........................................................................................................14

3 JUSTIFICATIVA...................................................................................................................14

4 METODOLOGIA..................................................................................................................15

5 CARACTERISTICAS DA AREA DE ESTUDO.................................................................16

5.1 CLIMA....................................................................................................................16

5.2 RELEVO................................................................................................................16

5.3 VEGETACAO........................................................................................................17

5.4 PEDOLOGIA..........................................................................................................18

5.5 HIDROLOGIA.......................................................................................................19

6 GEOLOGIA REGIONAL......................................................................................................21

6.1 CRATON DO SÃO FRANCISCO.........................................................................21

6.2 BLOCO SERRINHA..............................................................................................23

6.3 GREENSTONE BELT DO RIO ITAPICURU.......................................................25

7 GEOLOGIA LOCAL.............................................................................................................27

8 GEOLOGIA ESTRUTURAL................................................................................................30

9 HIDROGEOLOGIA..............................................................................................................32

10 GEOFISICA........................................................................................................................36

10.1 O METODO DA ELETRORRESISTIVIDADE.................................................36

10.2 A SONDAGEM ELETRICA VERTICAL..........................................................37

10.3 EQUIPAMENTO UTILIZADO...........................................................................38

11 OBAERVACOES DE CAMPO..........................................................................................39

12 INTERPRETACAO DOS DADOS DE RESISTIVIDADE ELETRICA...........................41

13 CONCLUSOES...................................................................................................................46

14 REFERENCIAS..................................................................................................................47

15 ANEXOS.............................................................................................................................51

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1 INTRODUÇÃO

A água é o mais precioso bem mineral, indispensável para existência da vida.

Sua busca é cada vez mais intensa e o abastecimento através de rios e

reservatórios de superfície torna-se cada vez mais difícil, devido à poluição e ao

aumento do consumo.

A Região Nordeste do Brasil com aproximadamente 1.600.000 km2 de área

possui cerca de 937.000 km2 inseridas no denominado „„polígono das secas‟‟. No

Estado da Bahia, mais de 50% do território está inserido no “polígono das secas”,

que é caracterizado por um clima semi-árido, com chuvas mal distribuídas e quase

ausência de rios perenes e de grandes vazões. O subsolo, no Estado, é constituído

por aproximadamente 60% de terrenos cristalinos pré-cambrianos do Cráton do São

Francisco, que também não favorecem a formação de grandes aquíferos. A busca

por zonas fraturadas na rocha sã constitui-se o desafio constante e a esperança de

abastecimento de água para a população.

Além das limitações impostas pela escassez do recurso hídrico superficial na

região estudada, o uso da água subterrânea apresenta vantagens sobre as águas

superficiais, que vão desde um menor custo de captação/distribuição, pois

dispensam a construção de obras de barramento e de adutoras de recalque, até o

aspecto da qualidade, uma vez que estas águas geralmente podem ser utilizadas

sem tratamento. Outro benefício da utilização da água subterrânea consiste na

independência estratégica, pois os poços podem ser construídos à medida que

cresce a demanda por água (Gama, 2007).

Os métodos geofísicos, como técnicas não invasivas de investigação indireta

da subsuperfície, constituem numa ferramenta importante nas pesquisas de água

subterrânea. Em terrenos cristalinos, a geofísica tem demonstrado eficiência na

locação de poços, ainda que existam limitações nos métodos. Dentre os métodos

geofísicos mais utilizados na exploração de água subterrânea destacam-se os

elétricos e eletromagnéticos devido a correlação existente entre a resistividade

elétrica das rochas e a presença de fluidos nos poros ou fraturas.

A partir de uma pesquisa bibliográfica sobre a geologia e hidrogeologia local

bem como por meio do processamento e da interpretação de dados de sondagens

elétricas verticais (SEVs) realizadas na área, buscou-se identificar zonas com

características potencialmente fornecedoras de água subterrânea, em uma pequena

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área no município de Conceição do Coité. Além disso, foi possível indicar locais

favoráveis para locação de poços, visando o melhor manejo do recurso hídrico.

1.1 LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO

A área de estudo situa-se a no município de Conceição do Coité, localizado

na parte centro-norte-oriental do Estado da Bahia, Região Nordeste do Brasil (Figura

1). A área está incluída na bacia hidrográfica do Rio Itapicuru.

O acesso da capital do Estado, Salvador, ao município de Conceição do

Coité, pode ser feito pela BR-324 até Feira de Santana. A partir desta cidade, utiliza-

se a BR-116 até a cidade de Serrinha e daí segue-se para a sede do município

Conceição do Coité pela BA-409. O percurso de Salvador até Conceição do Coité

perfaz um total de 210 km.

Da cidade de Conceição do Coité até a área de estudo, onde foram

executadas as SEVs, faz-se um percurso por uma estrada não pavimentada até o

povoado de Boa Vista. Daí segue-se para a área do Perfil A-A‟ (Perfil 1) através de

estrada carroçável até o Açude Boa Vista de coordenadas UTM 24L: 470.456km E/

8.730.498 km N . A área do Perfil B-B‟ (Perfil 2), próxima a Escola Agrícola, tem seu

acesso partindo da mesma estrada que leva ao povoado de Boa Vista, daí segue-se

através de outra estrada carroçável de coordenadas UTM 24L: 468.524km E/

8.726.778km N.

Figura 1 - Mapa de localização e vias de acesso.

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2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Descrever os principais aspectos geológicos da área estudada a partir da

pesquisa bibliográfica e da interpretação de dados de sondagens elétricas verticais

da área, identificando zonas favoráveis à ocorrência aquíferos fissurais no terreno

cristalino e à locação de poços.

2.2 ESPECÍFICOS

Realização de pesquisa bibliográfica sobre a geologia e hidrogeologia

da área.

Interpretação de sondagens elétricas verticais da área de estudo.

Identificação das zonas fraturadas na rocha, possíveis reservatórios

aquíferos.

Disponibilização das informações aos interessados.

3. JUSTIFICATIVAS

A aplicação dos métodos geofísicos integrada ao conhecimento geológico e

hidrogeológico da área é importante para o crescimento do índice de acertos na

locação de poços, especialmente em terrenos cristalinos.

O método da eletrorresistividade tem-se mostrado eficiente na detecção e

delimitação de zonas de falhas, fendas e fissuras, que constituem-se os potenciais

aquíferos, neste caso.

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4. METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em três etapas: preliminar, campo e escritório,

com atividades sequenciais e/ou simultâneas, onde se desenvolveu uma

metodologia interdisciplinar, associando dados geológicos, hidrogeológicos e

geofísicos da área de estudo.

A etapa preliminar consistiu em pesquisa bibliográfica sobre o tema, visando

à fundamentação teórica. Dentre os assuntos estudados tem-se a geologia regional

e da área de estudo, a hidrogeologia dos aquíferos fissurais, a prospecção de água

subterrânea em terrenos cristalinos e o método geofísico da eletrorresistividade,

incluindo o tratamento e interpretação dos dados de SEVs. O levantamento

bibliográfico estendeu-se durante as etapas subsequentes.

Ainda nesta etapa, realizou-se a coleta de dados dos poços 1640 e 2574

da área estudada no Serviço Geológico do Brasil - CPRM. Foram utilizadas,

também, cartas topográficas na escala de 1:100.000 (SUDENE), para localizar os

poços e as sondagens

A etapa campo consistiu em uma visita de um dia à área de estudo, com

registros fotográficos, realização de algumas medidas de atitude das fraturas e

foliações em afloramentos próximos aos locais do levantamento geofísico. Durante a

visita foi feita a verificação da localização dos centros das SEVs e dos poços e a

consistência das coordenadas obtidas com o GPS (Global Positioning System)

sendo adotado o DATUM SAD-69.

A etapa escritório consistiu na inversão e interpretação dos dados

geofísicos, na construção dos perfis geofísicos-geológicos e na elaboração do texto

escrito. Os dados das SEVs foram invertidos iterativamente com o software Resist -

Versão 1.0, de autoria de Vander Velpen (1988), permitindo a geração de duas

seções geoelétricas e a interpretação destas.

16

5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Segundo Costa e Silva (1997), fatores exógenos tais como o clima, o

relevo, o solo, a hidrografia e a vegetação correspondem aos agentes que atuam na

superfície da Terra, influenciando no processo de infiltração, percolação e

armazenamento de água subterrânea, contribuindo tanto na qualidade quanto na

qualidade deste bem mineral. Os fatores endógenos também influenciam neste

processo e correspondem aos agentes que atuaram e ainda atuam no interior do

globo terrestre e são responsáveis pela composição mineralógica dos litotipos, bem

como pelos elementos estruturais.

5.1 CLIMA

O clima é um fator muito importante, tanto na quantidade quanto na

qualidade das águas explotadas dos aquíferos fraturados. As maiores pluviosidades

influem diretamente nas vazões, por fornecer água em abundância para infiltração e

por proporcionar solos residuais espessos, que acabam funcionando como um

aquífero poroso e/ou servindo como zona de recarga para fraturas.

No clima semi-árido em que a pluviosidade é baixa e a evaporação muito

elevada, os sais vão se concentrando nas fraturas das rochas, resultando em

elevados índices de salinidade das águas subterrâneas (Costa e Silva, 1997).

De acordo com o PDRH (1995), a região em estudo apresenta clima do tipo

semi-árido, caracterizado pela desigualdade na distribuição pluviométrica,

irregularidade das chuvas, com média de 600 a 700mm e elevada taxa de

evaporação. O período de chuva inicia-se em Novembro e termina em Abril e

apresenta altas taxas de evaporação. A temperatura média anual é de 23,4 ºC, com

máxima de 28,3 ºC e mínima de 19,4 ºC.

5.2 RELEVO

O relevo exerce papel importante na hidrologia, influenciando na

quantidade de água num aquífero fissural, além de servir como divisor de água e

modelador das superfícies hidrostáticas.

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A configuração do relevo é de grande importância para determinar o

volume de água acumulado nas fraturas em terrenos cristalinos. Segundo Costa e

Silva (1997), dados estatísticos mostram que a pior situação morfológica para

locação de um poço é no topo de uma elevação seguido de flancos ou vertentes. Ao

contrário, a melhor situação topográfica corresponde às depressões de bacias,

seguida por áreas de planície (Fotografia 1e Fotografia 2).

A área de estudo está inserida no domínio morfológico denominado de

pediplano sertanejo. Este vasto pediplano, estruturado em granitóides e rochas

metamórficas dominantes de alto grau, apresentam topografia ondulada, fracamente

dissecadas e rampeadas, com cotas variando entre 200 e 600 metros de altitude,

(PDRH,1995).

A rede de drenagem apresenta direções preferenciais norte-sul e sudoeste-

nordeste, por vezes apresentando trechos retilinizados (PDRH, 1995). A área como

um todo apresenta-se recoberta por formações superficiais de natureza areno-

argilosas tendendo a arenosa nos planos mais baixos, que indicam o

remanejamento do material.

5.3 VEGETAÇÃO

Segundo Costa e Silva (1997), a atuação da vegetação para propiciar o

armazenamento de água em aquíferos ocorre de maneira indireta, pois à medida

que dificulta o escoamento superficial, propicia condições de maior infiltração.

A cobertura vegetal da região do semi-árido baiano é caracterizada pelo

predomínio de caatinga, representada por formações arbustivas e herbáceas com

cactos e remanescentes arbóreos. Os arbustos, de modo geral, são formados por

múltiplos galhos, espinhosos e de folhas pequenas. Dentre a vegetação destacam-

se: aroeira (Myracrodruon urundeuva), pereiro (Tabernaemontana laevis V.), favela

(Cnidosculus phyllacanthus M.), umbuzeiro (Spondia tuberosa), caatingueira

(Caesalpinia bracteosa) e jurema preta (Mimosa tenuiflora) e jurema branca (Mimosa

ophthalmocentra). Como representante xerófita, temos: mandacaru (Cereus sp.),

xique-xique (Opuntia bahiensis) , coroa de frade (Melocactus sp.) e facheiro (Cereus

jamaracu DC.). Parte da área foi antropizada para culturas e pastagens como

podemos observar na área de estudo (Fotografia 3).

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5.4 PEDOLOGIA

Na região do semi-árido, onde está inserida a área de estudo, o tipo

pedológico é geralmente pouco espesso, principalmente quando o substrato é de

natureza ígnea ou metamórfica, o que proporciona uma pequena contribuição ao

volume de água subterrânea.

De acordo com o PDRH (1995), a área apresenta solo do tipo: Planossolo

Solódico. O Planossolo Solódico são solos com horizonte B textural, saturação com

sódio trocável entre 6 e 15%, limitando o desenvolvimento das culturas. Apesar do

horizonte A apresentar textura média a arenosa, o horizonte B por apresentar baixa

permeabilidade, gera problemas de encharcamento durante o período chuvoso. Este

solo é utilizado na região na agricultura e aproveitamento com pastagens (Fotografia

4).

Fotografia 1 - Porção centro-norte da área pesquisada caracterizada por um relevo relativamente plano. Ao fundo, Açude Boa Vista, localizado no Distrito de Boa Vista.

Coordenadas UTM 24L: 470.456 km E/ 8.730.498 km N.

Fotografia 2 - Vista geral da porção centro-sul da área. Coordenadas UTM 24L: 469.078 km E

/ 8.726.630 km N.

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Fotografia 3 - A) Vegetação tipo caatinga, característica desta região. Coordenadas: 8.730.498

/ 470.456; B) Área antropizada por pastagem. Coordenadas UTM 24L: 469.581 km E/ 8.726.692 km N.

Fotografia 4 - Detalhe contato solo / embasamento (alterado/fraturado). Coordenadas UTM

24L: 468.481 km E/8.726.390 km N.

5.5 HIDROGRAFIA

As águas superficiais podem conectar-se com as águas subterrâneas

independentemente do tipo de rocha por onde percolam as águas. Na área

estudada, ocorre o modelo de riacho-fenda, representado pelo riacho Tingui, o qual

co-participa da bacia hidrográfica do rio Itapicuru, como mostra a Figura 2.

A bacia do rio Itapicuru abrange cerca de 6,4% da área do Estado, drenando

os territórios de 55 municípios. Apresenta potencialidades hídricas baixas, sua vazão

específica é da ordem de 0,761 l/s.km2, resultando numa vazão média na foz de

cerca de 27,57 m3/s, sendo que as descargas de base são da ordem de 3,96 m3/s

(PDRH, 1995). Na parte média da bacia, predominam as formações cristalinas e

encontram-se implantados diversos reservatórios dentre os quais o açude Boa Vista,

formado pelo barramento das águas do Riacho Tingui. (CEI,1985).

Os rios que compõem esta bacia hidrográfica tem regimes caracterizados

por cheias torrenciais na estação chuvosas e interrupções nos cursos na estação

seca.

20

Figura 2 – Localização da Bacia do Rio Itapicuru, incluindo a área de estudo.

21

6 GEOLOGIA REGIONAL

A área de estudo encontra-se inserida nos domínios do Bloco Serrinha, na

porção nordeste do Cráton do São Francisco (Figura 3).

6.1 CRÁTON DO SÃO FRANCISCO

Segundo Almeida (1977), a área de estudo está contida no Cráton do São

Francisco, entidade geotectônica do ciclo Brasiliano, onde se distinguem, além das

coberturas meso-cenozóicas não-dobradas, três conjuntos de rochas pré-

cambrianas: os supergrupos São Francisco e Espinhaço, que representam

coberturas plataformais dobradas do Proterozóico Médio e a associação Pré-

Espinhaço, de idade arqueano-eoproterozóica, que identifica o embasamento do

cráton.

O Cráton do São Francisco fica delimitado pelas faixas neoproterozóicas

Brasília, a sul e oeste, Rio Preto a noroeste, Riacho do Pontal e Sergipana a norte e

Araçuaí a sudeste (Almeida, 1977; 1981). Estende-se além do Estado da Bahia,

pelos Estados de Sergipe, Pernambuco, Goiás e Minas Gerais (Almeida, 1977).

No Estado da Bahia, os domínios geológicos do CSF são separados pelas

seguintes litologias: Terrenos graníticos-gnáissicos-migmatíticos arqueanos de

médio a alto grau metamórfico; sequências vulcanossedimentares do tipo

greenstone belts, formadas durante o Arqueano (Contendas-Mirante, Umburanas,

Mundo Novo e Riacho de Santana) e o Paleoproterozóico (Rio Itapicuru e o Rio

Capim) (Bastos Leal et al., 1998); Cinturões Móveis Paleoproterozóicos

denominados de Itabuna-Salvador-Curaçá (Barbosa & Domingues, 1996; Barbosa &

Sabaté, 2004); Coberturas Plataformais do Mesoproterozóico e do Neoproterozóico;

Faixas de dobramentos neoproterozóicas e coberturas Fanerozóicas ( Leal, 1998;

Barbosa & Sabaté, 2004).

22

Figura 3 - Mapa geológico do Cráton do São Francisco (Modificado de Alkmim et al, 1993). Círculo

verde: a área de estudo.

O Cráton do São Francisco abriga os terrenos gnáissicos-migmatíticos do

Bloco Serrinha, parte integrante do embasamento do greenstone belt do Rio

Itapicuru (Figura 4).

23

Figura 4 - Mapa geológico regional. Círculos verde e amarelo: a área de estudo. Modificado de CPRM.

6.2 BLOCO SERRINHA

O Bloco Serrinha (BS) ocorre na porção nordeste do cráton do São

Francisco em contato com a Faixa de dobramentos Sergipana e com a bacia do

Tucano a leste, e a oeste com o Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Barbosa &

Sabaté, 2004).

Corresponde a um segmento de crosta Arqueana granito-greenstone,

constituído pelos Complexos Uauá e Santa Luz, que serviram de embasamento aos

Greenstone Belts paleoproterozóicos do Rio Itapicuru e do Rio Capim, ambas de

idade paleoproterozóicas.

24

Ocorrem também associados a estas rochas intrusões de granitóides

sintectônicos, elípticos e com bordas gnaissificadas, relacionadas ao Greenstone

Belt do Rio Itapicuru, e vários corpos de granitóides tardi a pós-tectônicos em rochas

do Complexo Santa Luz (Figura 5).

O BS é de idade arqueana, datado em rochas gnáissico-migmatíticas pelo

método Pb-Pb, obtendo idade de 3,15 Ga e por rochas graníticas datadas através do

método U-Pb em monocristais de zircão, obtendo idade de 3,1 a 2,8 Ga (Rios,

2002).

O Complexo Uauá aflora na porção NNE do Bloco Serrinha, e constitui um

dos vários remanescentes arqueanos expostos no CSF (Kosin et al., 2003). É

constituído por gnaisses bandados de composição quartzo-feldspática, ortognaisses

intermediários a félsicos, migmatitos, anfibolitos, rochas ultramáficas, sequências

supracrustais, metamorfisadas na fácies anfibolito. Segundo Oliveira et al (1999), o

Complexo Uauá representa a unidade mais antiga do Bloco Serrinha com idades U-

Pb em zircões com intervalo variando de 2,93 a 3,13 Ga.

O Complexo Santa Luz compreende um conjunto gnáissico-granítico-

migmatítico e é a unidade mais extensa do Bloco Serrinha. Segundo Kosin et al.,

(2003) apresenta quatro grupamentos litológicos: (i) gnaisses e migmatitos com

anfibolitos associados; (ii) rochas granitóides de composição granítico-granodiorítica;

(iii) ortognaisses bandados, gnaisses a granada e silimanita e (iv) rochas

calcissilicáticas, metamorfizadas nas fácies anfibolito e granulito.

Figura 5 - Mapa geológico simplificado do Bloco Serrinha, mostrando os Complexos Santa Luz e

Uauá. Fonte: Kosin et, 2003.

25

6.3 GREENSTONE BELT DO RIO ITAPICURU

O Greenstone Belt do Rio Itapicuru (GBRI) é uma sequência vulcano-

sedimentar paleoproterozóica, localizada no Núcleo Serrinha, porção NE do Cráton

do São Francisco e possui a forma de uma calha sinclinorial com eixo próximo a N-S

e vergência para leste. A sequência vulcano-sedimentar do GBRI é dividida da base

para o topo em três unidades litoestratigráficas (Kishida, 1979); (i) unidade vulcânica

máfica, (ii) unidade vulcânica félsica e (iii) unidade sedimentar vulcano-clástica

(Figura 6).

Figura 6 - Mapa Geológico do Greenstone Belt do Rio Itapicuru. Fonte Silva et al., 2001.

26

Do ponto de vista estrutural, o GBRI apresenta orientação preferencial N-S

nas porções setentrional e central, e E-W na porção meridional. Segundo Alves da

Silva (1994), a deformação no GBRI é resultado de dois principais eventos

estruturais (D1 e D2), ambos ocorrendo sob condições metamórficas de facies xisto-

verde/anfibolito. O evento D1 está preservado na porção sul do GBRI e é

caracterizado por foliação de baixo ângulo com vergência para NW. O evento D2 é

mais intensamente marcado na região, e é de natureza transcorrente, caracterizado

por cisalhamento dúctil sinistral ao longo de zonas de cisalhamento verticais de

direção aproximadamente N-S (Alves da Silva, 1994; Chauvet et al., 1997).

Para Silva (1992), os basaltos do Greenstone belt do Rio Itapicuru, com

idade de 2.209 + 60 Ma (isócrona Pb-Pb em rocha total, Silva et al. 2001),

originaram-se em bacias semelhantes àquelas de retro-arco modernas, enquanto

Alves da Silva (1994) defende um contexto de rifte continental. Oliveira et al. (2007)

relatam que os basaltos do Greenstone belt do Rio Itapicuru apresentam assinatura

de elementos traço semelhante a basaltos de transição continente-oceano e

segundo Oliveira et al. (2007) os basaltos evoluíram a partir de um rifte continental

do tipo pobre em magmatismo. Oliveira et al. (2007) interpretam o terreno granito

greenstone do Rio itapicuru como provavelmente o resultado final da acresção de

basaltos oceânicos e de um arco insular a um microcontinente durante a colisão

entre blocos continentais em torno de 2100 Ma.

27

7 GEOLOGIA LOCAL

A área de estudo é geologicamente representada por duas sequências de

rochas metamórficas do embasamento cristalino de idade Arqueana, pertencente ao

Complexo Santa Luz (Figura 7). Os afloramentos ocorrem ao longo de cortes ou

pisos de estradas.

Neste domínio ocorrem duas unidades: Unidades Granodioritos e Gnaisses

Bandados. A unidade que está em contato com uma das unidades geológicas

representativa é: o Complexo Ipirá.

A unidade dos Granodioritos Santa Luz, mais representativa da área de

estudo, apresenta afloramentos sob forma de pisos de estradas. Ela é composta de

granodioritos milonitizados. Quando sã apresenta coloração verde escura e verde

clara quando alterada. Os enclaves anfibolíticos ocorrem como lentes que integram

o bandamento composicional, em níveis centimétricos. Uma foliação milonítica

paralela ao bandamento foi constatada nesta rocha (Fotografia 5). Nesta unidade os

afloramentos se alternam em coloração, em tons claros e escuros, produzindo um

solo areno argiloso acastanhado graduando para acinzentado. Observa-se rocha

milonitizada com veios de quartzo (Fotografia 6).

Fotografia 5 - Rocha cisalhada exibindo foliação N-S. Ponto 3, coordenadas UTM 24L: 470.391 km

E/8.730.510 km N.

28

A Unidade Gnaisses Bandados, está em contato com a unidade dos

Granodioritos, apresenta afloramentos ao longo de cortes e pisos de estradas. É

constituída predominantemente de gnaisses, apresentando-se por vezes dobrado e

fraturado, com cor amarelo claro a acinzentado (Fotografia 7). Observa-se também

rocha com enclave máfico (Fotografia 8) e com grande quantidade de k-feldspato

(Fotografia 9). O solo é arenoso, castanho claro a amarelado.

Fotografia 8 e 9 - Rocha com enclave máfico e rocha com k-feldspato. Ponto 9, coordenadas UTM 24L: 4690698 km E/ 726.632 km N.

Fotografia 6 - Rocha deformada com veio de quartzo. Ponto 5, coordenadas UTM 24L: 469.886 km

E/8730344 km N.

Fotografia 7 - Rocha dobrada e fraturada. Ponto 10, coordenadas UTM 24L: 468.481 km E/8.726.390km N.

29

Figura 7 - Mapa Geológico da Área de Estudo.

30

8 GEOLOGIA ESTRUTURAL

Ocorrem dois domínios geotectônicos distintos na região: Capela do Alto

Alegre-Riachão do Jacuípe e o de Serrinha.

O domínio Serrinha, onde está inserida a área de estudo, é caracterizado

por um o gradiente metamórfico que se instalou constituiu paragênese da fácies

anfibolito médio a xisto-verde; a associação litológica constituí-se de ortognaisses

TTG, com dominância dos termos mais diferenciados granodioríticos, denominados

granodioritos Santa Luz, e de biotita gnaisses e hornblenda-gnaisses com níveis

calcosilicáticas e anfibolitos finos (talvez representantes de uma sequência

supracrustal sedimentar/vulcanossedimentar interdigitada tectonicamente com

ortognaisses granodioríticos) denominados gnaisses bandados Santa Luz, e da

sequência supracrustal do greenstone belt do rio Itapicuru (complexo Serrinha).

Esse domínio tem como característica estrutural, o fato de representar parte do ramo

leste da flor positiva sinistral, com os cavalgamentos das escamas de empurrão

dirigidos de SSW para NNE.

As fases tangenciais relacionam-se com os eventos iniciais da colisão entre

os protocontinentes cujos remanescentes são os blocos Serrinha e Mairí. As fases

transcorrentes desenvolveram-se como resolução espacial das tensões que

provocaram a colisão oblíqua, isto é, um movimento transformante entre os

segmentos continentais justapostos. A intensidade da deformação transcorrente

modificou a orientação dos eventos tangenciais.

A figura 8 foi elaborada com a utilização do software SPRING sendo

gerado um mapa estrutural onde foram observadas duas direções preferenciais,

NW-SE e NE-SW.

31

Figura 8 - Mapa de lineamentos da área de estudo.

N

32

9 HIDROGEOLOGIA

Quase toda a água subterrânea existente no planeta Terra está relacionada

ao ciclo hidrológico, processo pelo qual a natureza propicia a circulação da águas

superficiais (rios, lagos, oceanos) para a atmosfera e daí para os continentes por

meio de precipitações, de onde retorna superficial e subterraneamente aos oceanos,

rios e lagos (Manoel Filho, 1997).

Segundo Vallejo et al, 2002, aquíferos são formações geológicas

permeáveis, susceptíveis de armazenar e transmitir água. Podem ser classificados

em três tipos principais (Figura 09):

Aquíferos Porosos – São formações geológicas constituídas por rochas

sedimentares clásticas consolidadas ou não, sendo que a água fica

retida nos espaços intergranulares.

Aquíferos Cársticos – Correspondem às rochas sedimentares e

metamórficas carbonáticas, onde a atuação dos processos de

dissolução gera feições propícias ao armazenamento de grandes

quantidades de água (cavernas, dolinas).

Aquíferos Fissurais – Característicos do embasamento cristalino

(rochas magmáticas e metamórficas) onde a água se localiza em

meio às descontinuidades pertinentes (fraturas, juntas, falhas,

vesículas, aberturas de dissolução).

Figura 9 - Tipos de aquífero. A) Aquífero poroso (Arenito); B) Aquífero cárstico (Calcário); C) Aquífero fissural (Granito). Fonte: Vallejo et al, 2002.

A área de estudo está no domínio hidrogeológico das rochas cristalinas, as

quais constituem os aquíferos fissurais. Estes reservatórios apresentam como

característica uma porosidade primária insignificante, sendo que a ocorrência de

água subterrânea está condicionada à existência de fraturas e fendas que geram a

33

porosidade secundária, resultando na formação de reservatórios de pequena

extensão.

O potencial hidrogeológico destas rochas para acumularem e produzirem

água depende da abertura e intercomunicação destas fraturas e fendas. No

município de Conceição do Coité, a água subterrânea apresenta-se salinizada na

maior parte das vezes. Isto se deve a falta de circulação da água subterrânea bem

como o tipo de rocha e o clima semi-árido (Lima Júnior, 2007).

Segundo Costa & Braz da Silva (1997) os fatores que influem nas

características hidrodinâmicas do aquífero fissural são (Figura 10):

• Amplitude das fissuras (L);

• Abertura das fissuras (a);

• Forma e rugosidade das paredes das fissuras (R);

• Frequência ou espalhamento das fissuras (F1, F2);

• Número de famílias ou sistemas de fissuras (n);

• Orientação e posição das fissuras;

• Porosidade e permeabilidade da matriz rochosa;

•Propriedades do material que preenche as fissuras;

•Distribuição da amplitude da fissura no sistema, que determina a

heterogeneidade e anisotropia.

Figura 10 - Bloco diagrama exibindo os elementos que influem nas características hidrodinâmicas

de um aquífero fissural. Fonte: Pinéo, 2005.

O aquífero fissural não apresenta parâmetros hidrodinâmicos constantes,

por suas descontinuidades, bem como precária homogeneidade e forte anisotropia.

A rocha cristalina não alterada e não fraturada tem menos de 1% de

porosidade e a permeabilidade é tão pequena que pode ser considerada desprezível

34

(Davis e Turk, 1964). A porosidade da rocha sã geralmente varia entre 0,1% e 1%,

enquanto a rocha alterada pode ter até 45% de porosidade. A condutividade

hidráulica apresenta valores de 10-6 a 10-3 ms-1, variando em virtude da intensidade

do intemperismo e do grau de fraturamento, que por sua vez dependem da

profundidade e causam variações na distribuição da capacidade específica

A permeabilidade é determinada pela abertura das fraturas, que por sua vez,

é governada pelas propriedades geomecânicas da rocha (Banks e Robins, 2002).

A hidrogeologia dos aquíferos fissurais tem a sua principal aplicação no

domínio das rochas ígneas e metamórficas, designadas como cristalinas. O aquífero

fissural na região apresenta uma produtividade média de 3,54 m3/h nos poços

perfurados na área de estudo (poços 1640, 1590, 2136, 2409, 2582, 2581, 2584,

2132, 2133), no qual foi observada uma grande variação na vazão entre 0,18 m3/h

(poço 2582) e 6,04 m3/h (poço 2133). A alimentação deste sistema é feita por

precipitações pluviométricas com infiltração através dos fendilhamentos, com uma

taxa muito baixa, pois grande parte desta água é perdida pela evapotranspiração

potencial e pelo escoamento superficial. Tem-se ainda a alimentação por meio dos

“riachos-fendas” nos regimes das cheias.

A locação de poços no cristalino é feita levando-se em consideração a

drenagem superficial. Assim, um conceito muito utilizado na locação de poços nesse

tipo de terreno é o „„riacho-fenda‟‟, surgido na década de 60 (Siqueira, 1963).

O riacho-fenda corresponde à situação onde ocorre a coincidência da

drenagem superficial com zonas densamente fraturadas do cristalino, que

proporcionaram condição favorável a infiltração e armazenamento de água (Figura

11). O riacho-fenda é facilmente reconhecido em fotografia aérea e no campo devido

a sua morfologia apresentar em trechos do rio ou riacho feição retilínea e

„„cotovelos‟‟ (Figura 12), segundo direções preferenciais e com condições favoráveis

de armazenamento na subsuperfície proporcionadas pelos fraturamentos.

Siqueira (1967), em sua análise das fraturas em rochas cristalinas enfatizou

sua classificação em termos das relações angulares com a orientação estrutural

dominante (geralmente, a direção da foliação das rochas) no local, denominando-as

de longitudinais, oblíquas e transversais, sendo então relacionadas ao sistema de

tensões responsável pela estruturação do terreno. Foi então proposto, que as

fraturas transversais seriam juntas de extensão, neste caso implicando em fraturas

abertas, favorecendo a percolação e acumulação de água.

35

Na locação tradicional, onde as ferramentas de trabalho são as fotografias

aéreas e a geologia de superfície, o conceito de riacho-fenda é utilizado em

associação com a classificação das fraturas. Segundo Medeiros (1987), os

resultados das locações obtidas pelo método tradicional apresentaram em torno de

30% de insucessos, nos poços perfurados no cristalino do Estado da Bahia.

Figura 11 - Modelo riacho fenda. As fraturas coincidem com a rede de drenagem Fonte: Coriolano, 2002.

Figura 12 - Riacho fenda. Apresentando feição retilínea e „„cotovelos‟‟. Fonte: Costa & Silva, 1997.

36

10 GEOFÍSICA

A aplicação da geofísica tem como alvo a investigação de feições da

subsuperfície, a partir da observação de seus efeitos nos campos físicos e na

propagação de ondas (Luiz e Silva, 1995).

Neste capítulo, serão inicialmente apresentadas informações referentes à

teoria do método geofísico aplicado (elétrico) e, em seguida, serão discutidos a

aquisição dos dados e os resultados obtidos a partir desta técnica. Os dados de

resistividade aparente, utilizados são oriundos de um levantamento de

eletrorresistividade por meio de sondagens elétricas verticais, com o uso do arranjo

Schlumberger de eletrodos.

10.1 O MÉTODO DA ELETRORRESISTIVIDADE

O método da eletrorresistividade consiste em medidas de impedância com

subsequente interpretação, em termos da resistividade elétrica das estruturas

geológicas em subsuperfície, baseado na resposta de cada material ao fluxo de uma

corrente elétrica (Ward, 1990). O método consiste na observação de potencial

elétrico criado pela injeção de uma corrente elétrica contínua ou alternada

introduzida no solo através de dois eletrodos (A-B) usando equipamento

característico (eletrorresistivímetro), e na medida de uma diferença de potencial pelo

equipamento através de um segundo par de eletrodos (M-N). O valor medido desta

diferença de potencial e da corrente associada é função da resistividade aparente do

solo e do arranjo geométrico dos eletrodos, sendo a profundidade alcançada

diretamente proporcional ao espaçamento entre os eletrodos (Orellana, 1972).

A resistividade elétrica é a propriedade física presente nos materiais

geológicos que mede a dificuldade que um determinado material impõe a passagem

de uma corrente elétrica, correspondendo ao inverso da condutividade. A

resistividade é designada por (ρ) dada em Ω.m e a condutividade (σ) é dada em

S/m, sendo a relação entre elas descrita na equação (1).

1 (Eq.1)

Em levantamentos de resistividade aparente do subsolo, uma das três

técnicas podem ser empregadas com um dos diversos arranjos propostos para o

37

método da eletrorresistividade (Braga, 2005). Estas técnicas descritas a seguir estão

representadas na Figura 13.

A Sondagem Elétrica Vertical (SEV), caracteriza-se pela investigação

vertical pontual das variações do parâmetro físico com a profundidade; em

hidrogeologia é utilizada para definir zonas horizontais em estratos porosos.

O Caminhamento Elétrico (CE), que corresponde à investigação lateral

das variações do parâmetro físico a uma ou várias profundidades determinadas

A Perfilagem Elétrica (PERF) é utilizada para determinar variações

verticais de resistividade em poços.

Os arranjos correspondem à disposição dos eletrodos na superfície do

terreno sendo mais usados: Schlumberger, Wenner, Dipolo-Dipolo, dentre outros.

Figura 13 - Representação das técnicas referentes ao método da Eletrorresistividade. Braga, 2005.

10.2 A SONDAGEM ELÉTRICA VERTICAL

A técnica utilizada no levantamento foi a sondagem elétrica vertical. Foram

obtidos valores de resistividade aparente, a partir de medidas efetuadas na

superfície do terreno, investigando, de forma unidimensional, sua variação em

profundidade. O arranjo de eletrodos usado foi o Schlumberger.

No arranjo Schlumberger, a distância AB entre os eletrodos de corrente

aumenta em relação ao centro de sondagem. Os eletrodos de potencial M e N são

fixados em torno do centro. Para valores muito grandes de AB, eleva-se a distância

MN para permitir uma leitura mensurável, sendo feitas leituras de recobrimento

usando-se duas distâncias consecutivas de MN para a mesma distância AB.

A figura 14 mostra esquematicamente o arranjo Schlumberger. A resistividade

aparente (ρa) é calculada através da equação (2)

KI

Va

(Eq.2)

38

A constante K é denominada fator geométrico do arranjo, no caso do

Schlumberger, pode ser calculada pela seguinte equação

4

2 b

b

aK (Eq.3)

Figura 14 - Esquema do arranjo Schlumberger.

10.3 EQUIPAMENTO UTILIZADO

O equipamento utilizado para a aquisição dos dados no campo foi o SYSCAL-

R2, totalmente digital, fabricado pela IRIS INSTRUMENTS (Figura 15). Este sistema

possui: uma unidade transmissora alimentada por uma bateria de 12 volts conectada

a um conversor de 250 W e permite o ajuste da voltagem de saída entre 100 e

800volts; uma unidade receptora que possui uma memória interna que armazena até

1022 registros, o que possibilita a conexão com um computador pessoal. Esse

equipamento permite adquirir os dados de eletrorresistividade e polarização induzida

simultaneamente. Como eletrodos, foram usadas barras metálicas de aço revestidas

com cobre enterradas no solo, e ligadas ao sistema por cabos condutores bem

isolados e de baixa resistência específica.

Figura 15 - Equipamento elétrico utilizado para obtenção dos dados experimentais (IRIS

INSTRUMENTS).

39

11 OBSERVAÇÕES DE CAMPO

Durante a visita de campo, buscou-se reconhecer e caracterizar as

estruturas dúcteis e principalmente as rúpteis pertinentes aos litotipos aflorantes na

área de estudo. Também foi realizada uma checagem do mapa geológico base a

partir da análise dos afloramentos vistos (Figura 16).

Figura 16 - Mapa com os pontos visitados.

Foi realizada uma análise de imagens de satélite de modo a compreender

a orientação geral dos lineamentos e em seguida checar esta informação com base

em medidas feitas em campo (Figura 8).

Foram visitados 12 pontos na área, sendo 06 afloramentos e foram obtidas

09 medidas de atitude de fraturas e foliações. No entanto as medidas não foram

suficientes para a elaboração de um mapa estrutural.

Quanto às feições estruturais de natureza dúctil, verificou-se na porção

centro-sul, foliações com direções aproximadas norte-sul e N010, com mergulhos

sub-verticais. No ponto 10 o afloramento apresentou estruturas dobradas, foram

identificadas lineações de direção leste-oeste, porém sem concordância com a

40

direção do lineamento da região. Foram observadas, também, estruturas rúpteis e

fraturas, com direções preferenciais N230 e N215 e mergulhos subverticais.

Na porção centro-norte, as foliações apresentaram direções norte-sul e

N020, com mergulho subvertical para oeste e direção N035, com mergulho

subvertical para noroeste. Tal padrão está de acordo com a evolução geotectônica

para a região de Conceição do Coité. No ponto 3 foi identificada rocha cisalhada, o

que confirma a presença da zona de cisalhamento transcorrente dextral

representada na figura 7.

A fotografia 10, localizada no povoado de Boa Vista, mostra o poço 1640, com

52m de profundidade, perfurado a cerca de 29 anos, que foi utilizado para calibração

da SEV-13. A vazão registrada para este poço era de 4.78m3/h, atualmente

encontra-se obstruído (CPRM, 2010).

Fotografia 9 - Poço 1640. Ponto 4, UTM 24L: 470093 km E/ 8.730.422 km N.

A fotografia 11, localizada nas proximidades da Escola Agrícola, mostra o poço

2574, com 70m de profundidade, que foi utilizado para calibração da SEV-29.

Fotografia 10- Poço 2574. Ponto 11, coordenadas UTM 24L: 468602 km E / 8.726.736 km N.

41

12 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DE RESISTIVIDADE

ELÉTRICA

A curva obtida no campo relaciona a resistividade elétrica aparente em função

das profundidades que é representada na forma de gráficos bilogarítmicos com

valores de ρa e AB/2. A utilização da escala logarítmica tem a finalidade de realçar

as estruturas geoelétricas. Essas curvas foram suavizadas usando critérios

qualitativos, descartando pontos anômalos isolados e ajustando os pontos repetidos

na mudança da abertura dos eletrodos de potencial (MN/2).

As aberturas de eletrodos utilizadas nas SEVs foram (AB/2= 1.6m, 2.0m,

2.5m, 3.2m, 4.0m, 5.0m, 6.5m, 8.0m, 10.0m, 13.0m, 16.0m, 20.0m, 25.0m, 32.0m,

40.0m, 50.0m, 65.0m, 80.0m, 100.0m, 130.0m) com mudança na distância fixa dos

eletrodos de potencial (MN= 0.5 e 5.0), a fim de observar a heterogeneidade na

subsuperfície e variações da resistividade do embasamento, provocada pelas

fraturas.

Após o tratamento dos dados de campo, foi realizada a interpretação

quantitativa das curvas de eletrorresistividade utilizando modelamento direto e a

inversão numérica interativa. A partir da análise das curvas das SEVs é proposto um

modelo inicial que foi usado posteriormente no programa RESIST1.0, desenvolvido

por Vander Velpen (1993) que computa a curva teórica do modelo que melhor ajusta

os dados resultando no modelo final (Figura 17). Ele computa valores teóricos de ρa

por meio da técnica da filtragem linear digital (Gosh, 1971).

Figura 17 - Representação dos dados de resistividades aparentes obtidos no campo (+), da curva calculada e ajustada no software Resist1.0 (__) e do modelo final geoelétrico (...).

42

Os dados geofísicos de resistividade foram interpretados ajustando para o

modelos unidimensionais de Terra com camadas horizontais e paralelas e

procedimentos de ajuste não linear por mínimos quadrados (Vozoff, 1958; Koefoed,

1979). Considerou-se, neste trabalho, modelos finais que apresentaram erros

médios quadráticos inferiores a 3,7% entre os dados de campo suavizados e os

valores teóricos ajustados.

Na interpretação de uma SEV é gerada uma coluna geoelétrica, onde cada

camada obtida com valores de resistividade e espessura constitui uma camada

geoelétrica, a qual associada a geologia resulta em estratos geoeletricos. O

resultado da interpretação de várias SEVs ao longo de uma linha resulta em um

perfil geoelétrico.

A interpretação das 37 SEVs resultou em modelos com 3, 4 e 5 camadas

geoelétricas, predominando as de 4 camadas. Uma analise visual das sondagens

indica a presença de um substrato de alta resistividade que representa o

embasamento cristalino da região. O resultado das interpretações das SEVs estão

no anexo III.

Informações geológicas de dois poços existentes na área, obtidos do

SIAGAS-CPRM, foram utilizadas para calibrar o modelo inicial das sondagens

próximas aos mesmos (Figuras 18). Depois de definidas as resistividades elétricas e

as espessuras de cada estrato geoelétrico foram confeccionados dois perfis com

1.400m e 1.300m de extensão, denominados Perfil A-A‟ e Perfil B-B‟

respectivamente (Figuras 19 e 20).

43

Figura 18 - Perfis litológicos para calibrações das SEVs 29 e13.

44

Figura 19 - Perfil geoelétrico A-A‟.

Figura 20 - Perfil geoelétrico B-B‟.

Foram identificadas quatro zonas diferentes com assinaturas elétricas

definidas. A primeira zona, com valores de resistividades bastante variáveis e

profundidades entre 0,5m e 5,0m, corresponde ao solo superficial, de composição

areno-argilosa e seco. Os eletrodos de potenciais foram afetados pelos materiais

desta zona, gerando dados aleatórios, devido as interferências da resistência de

contato.

Em seguida, ocorre um pacote relativamente condutor, com grande

continuidade lateral, que corresponde ao perfil de alteração do embasamento

(saprólito). Apresenta valores de resistividade elétrica entre 2 Ω.m e 56 Ω.m. Esta

zona pode ser subdividida em quatro subzonas, em função do teor de argila

presente. A resistividade variando 2-8 Ω.m correspondem à fácies mais argilosas. As

subzonas com resistividades entre 11-17 Ω.m e 18-25 Ω.m sugerem pacotes com

teores de argilas intermediários. E os valores de resistividade 32-56 Ω.m

representam um material com um menor teor de argila.

Abaixo da zona alterada ocorre a rocha cristalina sã, localmente cortada por

zonas fraturadas. Esta zona apresenta resistividade entre 62 Ω.m a 278 Ω.m. Essas

variações foram correlacionadas ao grau de fraturamento e a presença de água.

Estes dois fatores provocam uma diminuição nos valores de resistividade elétrica.

45

A zona com valores altos de resistividade, cerca de 3.000 Ω.m, representa o

embasamento cristalino, estruturado, mapeado com profundidade variando de 14,8 a

98,0 metros, no perfil A-A‟, e de 4,7 a 103,7 metros no perfil B-B‟. A tabela 1

apresenta os valores interpretados para as profundidades do topo do embasamento

inalterado em cada SEV.

Tabela 1 - Valores interpretados da profundidade do topo do embasamento

SEV Profundidade SEV Profundidade

01 3.8 20 42.0

02 25.9 21 98.0

03 58.8 22 24.1

04 45.8 23 33.7

05 35.3 24 23.1

06 25.7 25 25.9

07 29.5 26 29.0

08 4.9 27 18.0

09 4.7 28 36.5

10 12.9 29 35.4

11 17.9 30 5.4

12 103.7 31 6.6

13 52.5 32 30.9

14 24.8 33 78.8

15 32.9 34 31.7

16 79.7 35 44.8

17 23.5 36 14.8

18 28.9 37 21.1

19 27.1

A interpretação dos perfis geoelétricos evidencia a presença do aquífero

fissural na área apresentando valores de resistividades elétricas elevados, indicando

zonas de rochas fraturadas saturadas com água.

. Na parte superior que compreende o saprolito, relativamente extenso, mas

de pequena espessura (inferior a 40 metros), com resistividades elétricas baixas. A

zona de alteração não foi considerada um aquífero devido ao baixo valor de

resistividade elétrica obtidas com as inversões das SEVs. Esta zona é representada

por um material areno-argiloso resultante da alteração da rocha cristalina, com

potencial hídrico bastante limitado. As espessuras do regolito observados dos perfis

A-A‟ e B-B‟ foram obtidas a partir da inversão das SEVs. Segundo informação verbal

do geólogo Godofredo Lima Júnior, esses valores estariam superestimados.

Posteriormente com a obtenção de novos dados geofísicos na área de estudo,

técnica de caminhamento elétrico, esta interpretação poderá ser revista.

46

13 CONCLUSÕES

A análise dos resultados geofísicos obtidos pelo método de sondagem

elétrica vertical permitiu separar as zonas geológicas distintas, o regolito, o

embasamento fraturado e o embasamento inalterado.

A aplicação da técnica da SEV na área investigada permitiu limitar e

identificar o aquífero fissural que compreende as zonas fraturadas das rochas

cristalinas. Foi possível definir a continuidade lateral e as variações de argilosidade e

profundidade das zonas de cobertura alterada.

Os locais mais propícios para a locação de poços foram identificados como

sendo as regiões entre as SEVs 03 e 04, no perfil A-A‟ e entre as SEVs 29-28 e 35,

no perfil B-B‟. Neste locais, ocorrem as zonas mais densamente fraturadas e/ou o

regolito apresenta-se menos espesso.

O uso de várias SEVs equiespaçadas ao longo de um perfil forneceu um

imageamento geoelétrico bidimensional e foi muito útil na delimitação das zonas de

alteração e das zonas fraturadas. Constitui-se, assim, a melhor técnica para

identificar a zona de alteração.

As variações de espessura da zona de alteração não estão associadas as

variações das feições topográficas, portanto não é possível caracterizá-la a partir de

observações de imagens ou mapeamento convencional, sendo a técnica da SEV

eficiente para isto.

A técnica utilizada não foi eficaz para identificação do nível estático da área.

Baseado apenas nestes dados é possível sugerir uma profundidade máxima de

perfuração de até 110 metros nas zonas fraturadas, aumentando-se a chance de se

cortar o maior numero de entradas de água.

Os resultados permitem concluir que a aplicação da técnica da SEV na

pesquisa de recursos hídricos armazenados em rochas cristalinas fraturadas é

adequada. Entretanto, devido a complexidade estrutural e a heterogeneidade desse

meio geológico, a associação da técnica de SEV ao caminhamento elétrico, a dados

hidrogeológicos e de sensoriamento remoto forneceria informações mais claras e

precisas sobre as áreas mais favoráveis a locação de poços.

47

14 REFERÊNCIAS

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49

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51

15 ANEXOS

ANEXO I - FICHAS DOS POÇOS 52

ANEXO II - TABELA DE CÁLCULOS DE SEV´S 57

ANEXO III - GRÁFICOS DE SEV´S 62

52

ANEXO I - FICHAS DOS POÇOS

53

54

55

56

57

ANEXO II - TABELA DE CÁLCULOS DE SEV´S

58

SEV 01

SEV 02

SEV 03

SEV 04

SEV 05

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 1.4

1.6 7.9

1.6 111.1

1.6 45.5

1.6 324.5

2.0 1.6

2.0 8.4

2.0 86.1

2.0 42.5

2.0 208.8

2.5 1.7

2.5 8.6

2.5 74.4

2.5 40.2

2.5 161.8

3.2 1.9

3.2 10.5

3.2 61.5

3.2 33.0

3.2 118.2

4.0 2.2

4.0 12.5

4.0 50.2

4.0 31.6

4.0 94.8

5.0 2.6

5.0 15.1

5.0 48.2

5.0 28.0

5.0 84.8

6.5 3.1

6.5 18.8

6.5 42.1

6.5 26.5

6.5 82.2

8.0 3.8

8.0 22.2

8.0 36.0

8.0 27.3

8.0 75.0

10.0 4.8

10.0 22.3

10.0 35.0

10.0 29.7

10.0 76.4

13.0 6.3

13.0 24.6

13.0 39.0

13.0 34.3

13.0 58.0

13.0 5.7

13.0 21.5

13.0 36.8

13.0 38.7

13.0 72.2

16.0 7.7

16.0 25.3

16.0 44.1

16.0 38.7

16.0 65.9

20.0 9.4

20.0 25.5

20.0 54.2

16.0 41.7

20.0 63.3

16.0 7.0

16.0 22.7

16.0 41.6

20.0 44.3

16.0 51.4

20.0 8.8

20.0 23.3

20.0 51.5

20.0 47.9

20.0 54.0

25.0 10.5

25.0 22.7

25.0 60.4

32.0 97.5

25.0 61.7

32.0 14.1

32.0 25.0

32.0 74.8

25.0 58.6

32.0 75.9

40.0 18.5

40.0 26.6

40.0 90.6

32.0 72.1

40.0 92.9

50.0 24.3

50.0 30.4

50.0 104.1

40.0 91.0

50.0 114.6

65.0 31.3

65.0 36.3

65.0 113.7

50.0 112.5

80.0 38.1

80.0 44.6

80.0 108.7

100.0 53.7

100.0 53.9

100.0 136.5

130.0 75.7

130.0 167.4

SEV 06

SEV 07

SEV 08

SEV 09

SEV 10

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 3.1

1.6 37.6

1.6 1.7

1.6 1.9

1.6 103.4

2.0 3.0

2.0 26.5

2.0 1.8

2.0 2.1

2.0 92.6

2.5 3.1

2.5 17.3

2.5 2.0

2.5 2.2

2.5 81.4

3.2 3.8

3.2 15.8

3.2 2.3

3.2 2.5

3.2 69.1

4.0 4.6

4.0 16.8

4.0 2.6

4.0 3.0

4.0 60.7

5.0 5.7

5.0 19.1

5.0 3.1

5.0 3.4

5.0 60.9

6.5 7.4

6.5 22.5

6.5 3.7

6.5 4.3

6.5 49.7

8.0 9.0

8.0 25.3

8.0 4.4

8.0 5.3

8.0 45.4

10.0 10.3

10.0 28.7

10.0 5.4

10.0 6.5

10.0 37.2

13.0 10.3

13.0 32.1

13.0 6.5

13.0 8.5

13.0 35.5

13.0 9.2

16.0 39.5

13.0 7.1

13.0 7.1

13.0 30.0

16.0 12.6

20.0 45.3

16.0 8.6

16.0 10.3

16.0 36.5

20.0 16.0

16.0 35.4

20.0 11.1

20.0 13.3

20.0 45.8

16.0 11.6

20.0 41.4

16.0 7.9

16.0 9.0

16.0 30.0

20.0 15.3

25.0 49.1

20.0 10.1

20.0 12.0

20.0 38.4

25.0 19.2

32.0 58.7

25.0 12.6

25.0 15.7

25.0 47.2

32.0 19.7

40.0 71.3

32.0 15.9

32.0 19.3

32.0 63.7

40.0 23.2

50.0 86.6

40.0 19.9

40.0 22.7

40.0 80.8

50.0 29.1

50.0 25.3

50.0 106.3

65.0 38.2

80.0 47.1

100.0 60.2

59

SEV 11

SEV 12

SEV 13

SEV 14

SEV 15

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 7.4

1.6 23.6

1.6 24.7

1.6 16.2

1.6 38.4

2.0 6.1

2.0 19.7

2.0 23.2

2.0 14.2

2.0 37.4

2.5 6.3

2.5 17.8

2.5 23.2

2.5 14.1

2.5 29.8

3.2 6.2

3.2 15.4

3.2 22.9

3.2 14.4

3.2 26.6

4.0 6.0

4.0 13.3

4.0 20.7

4.0 13.9

4.0 25.4

5.0 6.4

5.0 12.1

5.0 20.3

5.0 14.4

5.0 23.1

6.5 7.2

6.5 10.4

6.5 18.3

6.5 14.8

6.5 22.1

8.0 8.6

8.0 10.1

8.0 17.3

8.0 13.9

8.0 20.2

10.0 10.2

10.0 11.0

10.0 16.9

10.0 13.3

10.0 19.5

13.0 12.9

13.0 12.4

13.0 17.4

13.0 13.2

13.0 18.0

13.0 10.3

13.0 11.1

13.0 16.0

13.0 14.0

13.0 25.3

16.0 14.5

16.0 12.8

16.0 16.7

16.0 11.8

16.0 16.6

20.0 17.0

20.0 14.2

20.0 16.9

20.0 12.4

20.0 16.2

16.0 11.7

16.0 11.8

16.0 15.4

16.0 12.9

16.0 21.0

20.0 14.0

20.0 13.3

20.0 15.4

20.0 13.6

20.0 18.9

25.0 17.1

25.0 14.5

25.0 15.8

25.0 15.0

25.0 20.3

32.0 22.4

32.0 15.2

32.0 17.5

32.0 17.3

32.0 22.5

40.0 27.8

40.0 15.5

40.0 20.1

40.0 19.9

40.0 25.4

50.0 16.0

50.0 23.4

50.0 24.9

50.0 31.0

65.0 18.4

65.0 27.8

65.0 31.3

65.0 38.6

80.0 21.3

80.0 31.2

100.0 25.3

100.0 33.9

130.0 30.1

130.0 40.2

SEV 16

SEV 17

SEV 18

SEV 19

SEV 20

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 10.1

1.6 11.6

1.6 56.3

1.6 30.9

1.6 51.3

2.0 9.4

2.0 8.4

2.0 34.9

2.0 15.3

2.0 40.0

2.5 8.5

2.5 7.1

2.5 18.3

2.5 9.4

2.5 35.4

3.2 8.9

3.2 6.7

3.2 8.6

3.2 8.4

3.2 29.0

4.0 9.4

4.0 6.7

4.0 6.0

4.0 8.5

4.0 25.5

5.0 10.3

5.0 7.0

5.0 5.4

5.0 9.3

5.0 18.3

6.5 11.7

6.5 7.0

6.5 5.7

6.5 10.1

6.5 13.3

8.0 13.2

8.0 7.1

8.0 6.2

8.0 11.3

8.0 13.0

10.0 13.9

10.0 7.6

10.0 7.1

10.0 13.3

10.0 14.2

13.0 14.6

13.0 8.3

13.0 9.1

13.0 15.9

13.0 17.2

13.0 12.5

13.0 8.1

13.0 9.0

13.0 12.9

13.0 14.5

16.0 16.7

20.0 10.6

16.0 10.1

16.0 16.4

16.0 17.3

20.0 20.6

16.0 8.5

20.0 11.2

20.0 19.6

20.0 18.7

16.0 14.6

16.0 8.8

16.0 9.8

16.0 13.2

16.0 14.3

20.0 18.3

20.0 10.6

20.0 11.2

20.0 15.9

20.0 15.3

25.0 23.1

25.0 13.3

25.0 12.2

25.0 19.0

25.0 16.9

32.0 26.9

32.0 17.2

32.0 13.7

32.0 22.2

32.0 20.6

40.0 31.9

40.0 21.3

40.0 16.8

40.0 24.1

40.0 22.7

50.0 36.0

50.0 27.3

50.0 22.0

50.0 27.7

50.0 23.5

65.0 40.8

65.0 35.2

65.0 27.3

65.0 28.8

65.0 27.0

80.0 47.6

80.0 29.3

80.0 32.1

100.0 56.9

100.0 27.5

100.0 35.1

60

SEV 21

SEV 22

SEV 23

SEV 24

SEV 25

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 81.1

1.6 52.6

1.6 33.2

1.6 230.4

1.6 53.1

2.0 43.7

2.0 38.9

2.0 32.1

2.0 121.4

2.0 50.5

2.5 31.0

2.5 31.8

2.5 27.0

2.5 60.4

2.5 51.6

3.2 25.3

3.2 26.9

3.2 21.5

3.2 45.2

3.2 51.4

4.0 21.9

4.0 22.4

4.0 19.5

4.0 39.2

4.0 51.8

5.0 22.4

5.0 20.9

5.0 19.8

5.0 36.5

5.0 58.8

6.5 21.5

6.5 20.2

6.5 18.9

6.5 34.6

6.5 50.1

8.0 20.0

8.0 20.2

8.0 20.3

8.0 33.8

8.0 56.7

10.0 15.6

10.0 21.0

10.0 20.9

10.0 33.2

10.0 63.1

13.0 16.6

13.0 23.1

13.0 17.9

13.0 35.0

13.0 76.9

13.0 15.0

13.0 17.7

13.0 24.3

13.0 39.8

13.0 51.0

16.0 18.8

16.0 24.8

16.0 15.5

16.0 35.5

16.0 76.1

20.0 21.2

20.0 27.4

20.0 16.6

20.0 39.3

20.0 73.1

16.0 17.3

16.0 24.8

16.0 19.6

16.0 40.1

16.0 49.7

20.0 20.0

20.0 27.4

20.0 20.5

20.0 44.4

20.0 48.2

25.0 22.6

25.0 23.6

25.0 19.7

25.0 48.6

25.0 54.4

32.0 27.8

32.0 28.0

32.0 23.0

32.0 54.6

32.0 62.1

40.0 31.8

40.0 32.9

40.0 26.1

40.0 62.5

40.0 72.7

50.0 35.2

50.0 39.0

50.0 31.4

50.0 74.8

50.0 86.4

65.0 39.5

65.0 51.5

65.0 39.0

65.0 91.3

65.0 101.2

80.0 42.2

80.0 66.8

80.0 44.9

80.0 113.7

100.0 51.7

130.0 66.7

SEV 26

SEV 27

SEV 28

SEV 29

SEV 30

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 115.9

1.6 66.5

1.6 41.8

1.6 57.1

1.6 2.1

2.0 64.7

2.0 57.7

2.0 40.1

2.0 54.8

2.0 2.3

2.5 47.4

2.5 51.7

2.5 44.2

2.5 52.3

2.5 2.4

3.2 35.4

3.2 48.1

3.2 47.3

3.2 47.0

3.2 2.7

4.0 34.0

4.0 43.6

4.0 49.2

4.0 39.4

4.0 3.0

5.0 35.4

5.0 42.4

5.0 48.3

5.0 41.2

5.0 3.5

6.5 38.1

6.5 41.5

6.5 54.9

6.5 44.6

6.5 4.1

8.0 38.0

8.0 39.8

8.0 59.9

8.0 52.9

8.0 4.8

10.0 39.3

10.0 38.3

10.0 62.2

10.0 65.9

10.0 5.8

13.0 43.3

13.0 35.8

13.0 68.3

13.0 87.1

13.0 7.2

13.0 41.3

13.0 41.2

13.0 81.0

13.0 73.5

13.0 6.0

16.0 45.9

16.0 32.5

16.0 65.1

16.0 105.7

16.0 8.3

20.0 51.1

20.0 36.2

20.0 67.6

20.0 120.4

20.0 10.6

16.0 44.1

16.0 37.2

16.0 77.7

16.0 90.2

20.0 9.6

20.0 49.6

20.0 41.0

20.0 81.9

20.0 104.9

16.0 7.5

25.0 54.7

25.0 49.5

25.0 97.4

25.0 117.9

25.0 12.2

32.0 66.0

32.0 62.1

32.0 109.4

32.0 138.2

32.0 16.0

40.0 74.6

40.0 70.8

40.0 132.0

40.0 163.3

40.0 20.9

50.0 83.8

50.0 86.5

50.0 154.9

50.0 204.8

50.0 27.7

65.0 99.0

65.0 244.0

65.0 39.0

80.0 114.9

80.0 240.0

100.0 139.3

100.0 236.7

130.0 177.7

130.0 298.4

61

SEV 31

SEV 32

SEV 33

SEV 34

SEV 35

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 2.6

1.6 14.4

1.6 23.8

1.6 27.0

1.6 206.6

2.0 2.6

2.0 12.7

2.0 25.6

2.0 26.4

2.0 106.3

2.5 2.8

2.5 12.4

2.5 26.9

2.5 22.5

2.5 64.4

3.2 3.2

3.2 12.2

3.2 25.2

3.2 20.1

3.2 46.1

4.0 3.6

4.0 12.0

4.0 23.9

4.0 17.5

4.0 34.5

5.0 4.3

5.0 12.6

5.0 21.8

5.0 16.3

5.0 40.3

6.5 5.3

6.5 12.9

6.5 16.9

6.5 14.2

6.5 40.1

8.0 6.1

8.0 12.5

8.0 14.8

8.0 12.4

8.0 45.8

10.0 7.2

10.0 13.3

10.0 13.4

10.0 11.2

10.0 49.3

13.0 9.3

13.0 15.1

13.0 12.9

13.0 11.3

13.0 54.6

13.0 7.5

13.0 16.1

13.0 13.4

13.0 12.4

13.0 41.2

16.0 10.6

16.0 15.7

16.0 12.5

16.0 11.2

16.0 60.2

20.0 13.5

20.0 17.0

20.0 13.6

20.0 12.1

20.0 71.3

16.0 9.0

16.0 17.3

16.0 12.2

16.0 11.6

16.0 46.4

20.0 11.5

20.0 19.1

20.0 13.0

20.0 12.1

20.0 56.4

25.0 14.5

25.0 21.6

25.0 13.6

25.0 13.7

25.0 68.3

32.0 19.1

32.0 24.2

32.0 15.0

32.0 15.8

32.0 82.4

40.0 24.6

40.0 27.6

40.0 15.6

40.0 17.7

40.0 88.8

50.0 32.6

50.0 33.6

50.0 17.1

50.0 20.0

50.0 100.1

65.0 42.9

65.0 18.8

65.0 23.8

65.0 125.0

80.0 51.2

80.0 19.8

80.0 27.7

80.0 137.0

100.0 20.4

100.0 32.5

100.0 166.8

130.0 24.1

130.0 210.0

SEV 36

SEV 37

AB/2 ρa(Ω.m)

AB/2 ρa(Ω.m)

1.6 25.3

1.6 105.4

2.0 23.7

2.0 85.0

2.5 21.7

2.5 75.2

3.2 20.4

3.2 64.6

4.0 18.1

4.0 59.8

5.0 19.4

5.0 50.8

6.5 19.6

6.5 47.3

8.0 20.0

8.0 46.4

10.0 22.4

10.0 49.9

13.0 26.1

13.0 55.3

13.0 35.1

13.0 60.7

16.0 28.6

16.0 58.1

16.0 38.7

16.0 63.4

20.0 32.4

20.0 62.0

20.0 45.6

20.0 66.3

25.0 55.5

25.0 70.8

32.0 65.8

32.0 83.3

40.0 75.5

40.0 95.0

50.0 91.7

50.0 110.9

65.0 132.7

62

ANEXO III - GRÁFICOS DE SEV´S

63

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65

66

67