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APLICAÇÃO DE MODELO ADAPTADO
PARA ANÁLISE DE MODO DE FALHAS
EM UMA CONSTRUTORA NORTE-RIO-
GRANDENSE
Daniel de Oliveira Souza (UFERSA )
As grandes transformações políticas, sociais e econômicas, e cada vez
mais aceleradas, constituem o grande desafio a ser vencido pelas
organizações atuais e representam sérias ameaças à sua
sobrevivência, exigindo, assim, constantes adaptaçções por parte
destas. Paladini (2010) afirma que a busca pela melhoria do que se é
fornecido pelas empresas, e a Gestão da Qualidade em si, no Brasil, há
pouco tempo era um exercício restritamente teórico e a prática
limitava-se a descrever experiências conhecidas de outros países, que
refletiam outras realidades e espelhavam outros momentos históricos.
Nesse contexto, o presente artigo trata-se de uma adaptação de um
relatório de estágio em uma empresa de pequeno porte norte rio-
grandense de construção civil, cujo objetivo geral seria identificar as
principais falhas, possíveis causas e propor soluções, ocorridas em
apartamentos edificados por esta, após a entrega das chaves aos
proprietários, baseando-se nos registros de solicitação de assistência
técnica da construtora em estudo e através da execução de um modelo
híbrido de análise de falha adaptado ao caso, na tentativa de tornar o
sistema de qualidade da empresa mais robusto e eficaz. A implantação
do modelo possibilitou acuidade às medidas tomadas pelo corpo
gerencial da organização e incrementou ao Sistema de Gestão da
Qualidade uma ferramenta eficaz de controle do processo: a planilha
de Análise dos Modos de Falhas, Efeitos e Criticidade (FMECA).
Palavras-chaves: Qualidade, Manutenção, Modos de Falha
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
1.1. Contextualização
As grandes transformações políticas, sociais e econômicas, e cada vez mais aceleradas,
constituem o grande desafio a ser vencido pelas organizações atuais e representam sérias
ameaças à sua sobrevivência, exigindo, assim, constantes adaptações por parte destas.
Atrelados a essas mudanças, seguem os fatos da concorrência mais acirrada e o crescimento
da competitividade entre as empresas, visando o atendimento das necessidades dos clientes
que se tornam cada vez mais exigentes quanto à qualidade dos produtos e serviços que lhes
são fornecidos.
Paladini (2010) afirma que essa busca pela melhoria do que se é fornecido pelas empresas, e a
Gestão da Qualidade em si, no Brasil, há pouco tempo era um exercício restritamente teórico
e a prática limitava-se a descrever experiências conhecidas de outros países, que refletiam
outras realidades e espelhavam outros momentos históricos. Sabia-se o porquê de se fazer
com qualidade, e não como, mas que com o tempo, os conceitos adaptaram-se e foram
construindo um pensamento mais gerenciador desta característica, impulsionado, sobretudo,
por essas mudanças de comportamento de todo o mercado, e, consequentemente, dos gestores
que nelas viram uma oportunidade de também mudar seus métodos gerenciais.
Integrado ao pensamento da melhoria contínua, um dos pilares do programa de
Gerenciamento da Qualidade Total (GQT), atrelado às pressões de redução de custos, perdas e
prazos de entrega, este cenário, em que se inserem as construtoras e demais participantes da
cadeia produtiva da construção civil, estimulou o lançamento do Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) pelo Governo Federal, cujo principal
objetivo é o de estabelecer um ambiente de competitividade que propicie soluções mais
baratas e de melhor qualidade na área de habitação.
Nesse contexto, o presente artigo trata-se de uma adaptação de um relatório de estágio em
uma empresa de pequeno porte norte rio-grandense de construção civil, cujo objetivo geral
seria identificar as principais falhas, possíveis causas e propor soluções, ocorridas em
apartamentos edificados por esta, após a entrega das chaves aos proprietários, baseando-se
nos registros de solicitação de assistência técnica da construtora em estudo e através da
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execução de um modelo híbrido de análise de falha adaptado ao caso. Como objetivo mais
amplo, o estudo busca fornecer informações ao sistema de qualidade da empresa que foi
recentemente implantado, na tentativa de promover a melhoria contínua de seus processos e
produtos fornecidos.
1.2. Justificativa
Segundo Cavalcante (2009) as empresas certificadas no PBQP-H desfrutaram de maior
aprovação em financiamentos, ganhos de competitividade e garantia de serviços e produtos de
maior qualidade para o consumidor final. Em decorrência disto, a criação do manual da
qualidade torna-se um ponto importante na implantação de um Sistema de Gestão da
Qualidade na empresa.
Segundo o Manual da Qualidade da Capital Negócios Imobiliários LTDA (2012), que acabara
de ser iniciada a implantação, seu objetivo é especificado como um documento normativo de
requisitos e ações que evidenciam a busca, por parte da empresa, pelo (a):
a) Demonstração de sua capacidade de fornecimento, de forma consistente, de
produtos que atendam aos requisitos dos clientes e requisitos regulamentares
aplicáveis, e;
b) Aumento da satisfação do cliente por meio da efetiva aplicação do sistema,
incluindo processos para melhoria contínua do sistema e a garantia da
conformidade com requisitos do cliente e requisitos regulamentares aplicáveis e
legais.
É nítida a visão de melhoria contínua que o sistema objetiva alcançar com sua
implantação, e é nesta questão em que o Objetivo Geral deste trabalho se baseia, assim
como todas as atividades que foram realizadas durante o estágio supervisionado, a
identificação de falhas nos produtos acabados e a busca por suas soluções servem de
geradores de conhecimento na tentativa de evitar, ou ao menos, amenizar problemas
semelhantes e futuros nos apartamentos que ainda serão construídos e entregues.
A relevância da continuidade de melhorias em um sistema de gestão da qualidade,
conquistada através, principalmente, de um sistema de manutenção, detecção e
amenização de falhas válido, é, portanto, notória, ainda mais se tratando de uma pequena
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empresa de construção civil em busca de conquistar um mercado carente de qualidade e,
sobretudo, competitivo.
2. Referencial Teórico
2.1. PBQP-H
Lançado pelo Governo Federal em 1990, o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade
foi concebido em virtude de um levantamento realizado pelo mesmo a cerca da situação
habitacional brasileira. Demonstrando deficiência no setor, a pesquisa apresentou resultados
que denunciavam a necessidade da elaboração de medidas que objetivassem a melhoria das
práticas e métodos do mesmo. Com finalidade de englobar, além da construção habitacional,
áreas de saneamento, infraestrutura e transporte urbano, o escopo do programa foi ampliado
em julho de 2000, passando de “Habitação” para “Habitat”.
Com o principal objetivo de estimular a modernidade e promover a qualidade e produtividade,
Rodrigues (2009) define que o programa busca o crescimento da competitividade dos bens e
serviços produzidos pelo setor da construção.
A qualificação do programa é considerada de caráter evolutivo, uma vez que se divide em
quatro níveis de certificação (D, C, B, A) que apresentam exigências diferenciadas para
obtenção da certificação e que cada nível regulamenta uma parcela de processos a serem
controlados.
2.2. Modos de Falhas Potenciais
Cerqueira (S/D) sugere que um produto seja qualquer resultado ou saída de uma atividade,
dando ensejo à observação de que toda atividade gera produtos intencionais, mas também
gera outros resultados não pretendidos que acabam impactando outras partes. Estas outras
partes impactadas por produtos não pretendidos podem, portanto, ser considerados como
clientes, pois acabam recebendo algo que provém do processo, apesar de não o desejarem.
Este é o caso, por exemplo, dos rejeitos e resíduos de toda sorte que saem dos processos
produtivos e que impactam o meio ambiente e, por conseguinte, causam problemas nas
comunidades internas e externas à organização. Este também é o caso dos problemas com a
segurança que podem afetar a saúde dos trabalhadores envolvidos com as atividades da
organização. Por consequência, o mesmo autor afirma que todo produto não pretendido
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gerado representa perda de energia e, portanto, corresponde a um desperdício, a uma falha ou
a um resultado indesejável. Estes ainda podem ser agrupados nas seguintes categorias
(CERQUEIRA, S/D):
a) Falhas que comprometem à qualidade do que se faz, isto é, o atendimento aos
requisitos do cliente e aos requisitos regulamentares relativos ao produto;
b) Falhas que impactam adversamente o meio ambiente ou que não atendem aos
requisitos legais e outros requisitos das partes interessadas;
c) Falhas de segurança que comprometem a saúde das pessoas envolvidas direta ou
indiretamente no processo.
A Figura 1 ilustra esta categorização abordada pelo autor.
Figura
1. Categorização dos modos de falha potenciais. Fonte: Adaptado de Cerqueira (S/D).
Essas falhas representam ao processo produtivo, portanto, um fator negativo que compromete
seu balanço de transformação de insumos em produtos acabados, ou seja, sua eficiência e
eficácia, e que estão presentes nas diversas etapas do ciclo de vida do que é oferecido, do
atendimento dos pedidos dos clientes, passando pela concepção e desenvolvimento, durante o
uso dos produtos e até o pós-uso.
O manual de referência da Chrysler, Ford e General Motors (1997), e que trata dos requisitos
de certificação QS-9000 para fornecedores destas três montadoras, define o Modo de Falha
Potencial como a maneira pela qual um componente, subsistema ou sistema potencialmente
falharia ao cumprir o objetivo de um projeto. O modo de falha potencial pode ser também a
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causa de uma falha potencial em um sistema ou subsistema de um nível superior, ou ser o
efeito de um componente em um nível inferior.
2.2.1. FMEA (Análise dos Modos e Efeitos de Falhas)
Sakurada (2001) define o FMEA como um método qualitativo que estuda os possíveis modos
de falha dos componentes, sistemas, projetos e processos e os respectivos efeitos gerados por
esses modos de falha. Este, por ser um registro, pode evitar que problemas passados venham a
ocorrer novamente buscando a melhoria contínua, sendo um documento vivo, atualizado e
representa as últimas mudanças realizadas do produto.
O conhecimento dos modos de falha dos itens, em qualquer fase do ciclo de vida do produto,
permite tomar as providências aos técnicos, na fase do ciclo de vida que se está analisando,
para evitar a manifestação daquele modo de falha. Assim, portanto auxilia nos aspectos da
mantenabilidade e da confiabilidade. O material gerado pode também servir em programas de
capacitação, proporcionando um melhor entendimento dos componentes e do sistema
(SAKURADA, 2001).
2.2.2. FMECA (Análise dos Modos de Falhas, Efeitos e Criticidade)
Mohr (1994 apud Sakurada, 2001) tratou de esclarecer a diferença deste método com o
FMEA quando se agregou o conceito de criticalidade às falhas, que envolve diretamente os
índices de ocorrência e severidade nas chances (probabilidade de ocorrência) e impactos dos
efeitos das falhas, respectivamente.
Segundo Sakurada (2001), é no FMECA em que o Número de Prioridade de Risco (NPR) é
calculado, o qual relaciona os índices de ocorrência, severidade e detecção, que é um valor
que mostra a eficiência dos controles de detecção da falha, através da Equação 1.
(Eq. 1)
Os índices são determinados após atribuição de uma classificação para cada um deles. Silva,
Fonseca e Brito (2006), por exemplo, indicam que normalmente é usada uma escala de 1 a 10
para a taxa de severidade ao efeito de falha, ou seja, a gravidade, em que a classificação de 1
corresponde a uma gravidade nula ou imperceptível e a classificação de 10 reflete a pior
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possibilidade ao nível de consequências, em que a segurança do consumidor ou utilizador
pode estar em risco.
Ainda segundo os autores, a escala de gravidade deve ser gerada de acordo com a indústria e
as necessidades da empresa, e, seguindo esta informação, o Quadro 1 foi elaborado, em
adaptação ao modelo de Bem-Daya e Raouf (1996 apud Sakurada, 2001), para representação
da escala a ser utilizada no trabalho, a qual atuaria de forma genérica na tentativa de abranger
os modos de falhas detectados nos apartamentos assistidos durante o período do estágio,
relacionando, também, a satisfação do cliente.
Quadro 1. Severidade dos efeitos.
Fonte: Adaptado de Bem-Daya e Raouf (1996) apud Sakurada (2001).
A variável ocorrência designa a frequência ou probabilidade de aparecimento de cada modo
de falha. Para sua determinação é necessário o levantamento quantitativo e o estudo
probabilístico da amostragem de análise, que no caso do estudo em questão, trata-se de toda a
população de apartamentos que apresentaram algum tipo de problema desde a implantação do
sistema de Solicitação de Assistência Técnica (ANEXO 1) com relação ao total de
apartamentos existentes. O Quadro 2 mostra a distribuição da escala adotada.
Quadro 2. Probabilidade de ocorrência.
Fonte: Adaptado de Bem-Daya e Raouf (1996) apud Sakurada (2001).
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Para o índice de detecção de falhas que, segundo Silva, Fonseca e Brito (2006), é a medida da
probabilidade do procedimento de controle não detectar o modo de falha, antes de chegar ao
cliente, foi utilizada a distribuição apresentada no Quadro 3. Notifica-se que este número está
classificado de ordem inversa aos demais índices, ou seja, quanto mais elevado é o número de
detecção, menos provável é a detecção.
Quadro 3. Índice de detecção de falhas.
Fonte: Adaptado de Bem-Daya e Raouf (1996) apud Sakurada (2001).
Complementando, o autor afirma que a opção de se aplicar um FMECA ao invés de FMEA está
centrada em controlar a severidade e a probabilidade de ocorrência. Esta necessidade está mais
fortemente presente nos itens reparáveis e em sistemas de produção contínua ou que envolvam
riscos de acidentes. Em itens não reparáveis, nos casos em que é desejável e suficiente ter a
confiabilidade e a mantenabilidade como referências, o FMEA é recomendável.
2.2.3. FTA (Análise da Árvore de Falhas)
O FTA, tratado como ferramenta de auxílio na análise, permite mostrar o encadeamento de
diferentes eventos associados a uma determinada falha ou “evento de topo”, o qual, segundo
Helman e Andery (1995 apud Lima, Franz e Amaral, 2006), consiste em um estado do
sistema considerado anormal. Este é desdobrado em uma arvore lógica, mostrando as causas
de eventos subsequentes através do uso de portas lógicas e “ramificações”, resultando na
árvore de falhas.
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Scapin (1999) apud Lima, Franz e Amaral (2006) afirma que algumas dessas causas e eventos
somente conseguem ser identificadas através do FTA. Com a análise da árvore é possível
identificar os itens que necessitam ter um alto nível de confiabilidade e as causas possíveis de
falhas antes mesmo que elas ocorram, conseguindo assim atuar de forma preventiva. No
Quadro 4, Helman e Andery (1995 apud Lima, Franz e Amaral, 2006) relacionam os três
conceitos quanto às características de execução.
Quadro 4. Comparativo entre os métodos.
Fonte: Helman e Andery (1995 apud Lima, Franz e Amaral, 2006).
3. Metodologia
O artigo foi desenvolvido respaldado pela análise in loco das práticas da empresa e descrição
dos resultados alcançados através das intervenções, baseadas em conhecimento científico,
realizadas no ambiente organizacional, tendo, assim características de uma investigação de
cunho particular, que objetiva descobrir as peculiaridades da situação estudada.
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Segundo Fontana & Paviani (2007), do ponto de vista textual-discursivo, enquanto gênero
textual, o relatório de estágio inscreve-se na categoria relato e situa-se dentro da esfera do
relatório técnico-científico, podendo ser considerado uma subdivisão deste.
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, então, o artigo apresenta uma pesquisa-ação,
que, de acordo com Thiollent (1997 apud KRAFTA, 2007, p. 43) é um tipo de pesquisa social
com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com
a resolução de um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo.
O trabalho obedeceu aos seguintes passos cronológicos de execução:
- Apresentação do diagnóstico da empresa e descrição da atividade-chave executada no
estágio em questão;
- Levantamento histórico das falhas ocorridas em apartamentos já entregues aos
proprietários através das solicitações de assistência técnica encaminhadas à equipe de
engenharia da construtora;
- Contabilização e estratificação dos tipos de falhas encontradas nos registros de
assistência técnica a fim de calcular os índices de gravidade, ocorrência e
probabilidade de detecção para cada um;
- Determinação do Número de Risco de Prioridade (NRP) para cada um dos modos de
falha potenciais no sentido de indicar a prioridade de estudo e tomadas de decisões
com relação ao nível de criticidade de cada tipo de falha;
- Elaboração da Árvore de Falhas para o modo de falha selecionado baseando-se nas
premissas de causas e efeitos relacionados ao mesmo.
4. Resultados e Discussão
4.1. Informações sobre a Empresa
A empresa em estudo trata-se de uma construtora, mais especificamente a Capital Negócios
Imobiliários Ltda., filial situada na cidade de Mossoró – RN. A empresa é considerada como
sendo de médio porte, contando, atualmente, com um corpo de 55 colaboradores, no qual 40
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fazem parte do operacional (profissionais e serventes) e 15 compõem o corpo técnico e
administrativo.
O tipo de construção em que o estudo foi realizado, e que ainda encontra-se em andamento, é
um condomínio de edifícios residenciais, nomeado Portal da Resistência e com 176 (cento e
setenta e seis) apartamentos, dispostos em 11 (onze) blocos de 04 (quatro) pavimentos cada.
4.2. Atividade de Atendimento às Solicitações de Assistência Técnica
Item de extrema importância para a manutenção do sistema de gestão da qualidade da
empresa, a assistência técnica se desenvolvia sob orientação do encarregado da obra e
execução por parte da equipe de estagiários, técnicos e sub-equipes especialistas (elétrica,
hidráulica, estrutural, etc) que se revezava em turnos. O fluxograma a seguir explica sua
realização.
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Figura 2. Fluxograma da atividade de assistência técnica. Fonte: Autor (2013).
A Figura 2 ilustra o passo a passo da atividade que era iniciada a partir do momento em que o
cliente solicitava a assistência técnica ao preencher um formulário disponível no escritório da
empresa. Neste, o morador se identificaria e descreveria o problema ocorrido com o máximo
de detalhes, informando, também, a disponibilidade para realização da visita de procedência
da falha por parte da equipe, que nos casos positivos, realizaria o reparo. Caso não
procedesse, o encarregado da obra explicaria o ocorrido ao proprietário. O formulário era
então preenchido completamente pelo responsável pela verificação, o qual descreveria as
observações e procedimentos realizados no reparo. Esse, por fim, solicitaria que o cliente
avaliasse todo o serviço prestado através do formulário de avaliação de serviços de assistência
técnica (ANEXO 2).
4.3. Execução de Modelo Híbrido de Análise de Falhas
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Baseando-se no histórico de 50 (cinquenta) solicitações de assistência técnica desde a
implantação do formulário de solicitação, o trabalho teve princípio na quantificação e
classificação das falhas descritas nos reparos realizados em quatro categorias: elétrica,
hidráulica, estrutural e de gás.
A partir disto, um formulário para o método FMECA de análise de falhas pôde ser elaborado,
no qual seriam registrados os modos potenciais de falhas, frequência de cada um, locais de
ocorrência, efeitos potenciais das falhas, causas potenciais e os controles já realizados por
parte da empresa com relação a cada modo. Simultaneamente, as escalas e índices de
severidade, ocorrência e detecção referentes às falhas foram determinados de forma
colaborativa entre todos os membros da equipe de assistência técnica.
Realizados os cálculos, os Números de Prioridade de Risco (NRP’s) foram determinados e,
assim, encontrados os modos de falhas com níveis de criticidade mais altos, que no caso,
foram os vazamentos nos canos de descargas, ralos e de água fria nos BWC’s sociais e das
suítes. A Figura 3 ilustra um detalhe da planilha criada que representa o formulário FMECA e
os valores encontrados a partir deste.
Encontrado o modo de falha mais crítico de todos os ocorridos nos apartamentos, foi possível
a utilização da ferramenta da árvore de falhas (FTA) para desmembramento das causas gerais
e de níveis relacionadas ao evento de topo (vazamentos nos canos de descargas, ralos e de
água). Com visão crítica e compartilhada, a Figura 4 foi montada pelos membros da equipe e
nela foram destacadas as principais prováveis causas do modo de falha em questão.
Figura 3. Detalhe do formulário FMECA com NRP criado. Fonte: Autor (2013)
Figura 4. Árvore de falha elaborada. Fonte: Autor (2013).
A literatura sugere que as Causas Gerais baseiem-se nos chamados “6 M’s”, os quais
relacionam meio ambiente, máquina, matéria-prima, mão de obra, medição e método. Os
quatro últimos itens foram classificados como de maior influência no problema em questão,
dos quais se podiam desdobrar causas secundárias, mais detalhadas, e que foram chamadas de
Causas Nivel 1.
Destacam-se amareladas três causas consideradas evidentes: armazenagem de matéria-prima,
que se desdobrou em uma Causa de Nível 2 quando não havia um controle do material
estocado no canteiro de obras; a inspeção dos processos (ou a falta deste), a qual não provia
de um registro desta atividade durante a execução dos apartamentos em análise; a falta de
informação com relação aos métodos praticados, que foi enaltecido a partir do momento em
que não havia uma boa utilização, por parte do cliente, e uma boa divulgação, por parte da
empresa, do manual de uso e manutenção dos apartamentos que auxiliaria na prevenção das
quebras dos canos em instalações no apartamento.
Em vermelho, distingue-se a causa considerada crítica ao modo de falha em estudo. O aspecto
Instrução, decorrente da causa geral Método, é relacionado com a falta de treinamentos
ministrados aos colaboradores da empresa. As contratações de operários na composição do
corpo de funcionários da construtora seguem o sistema de análise de currículo e indicação de
trabalhos anteriores, porém o oferecimento de capacitações, externas ou não, e de
treinamentos aos procedimentos operacionais padrões estabelecidos pelo manual da qualidade
recentemente implantado, não eram, ou pouco eram, realizados aos novos contratados,
colaborando assim, na defasagem dos métodos de instalação por parte das sub-equipes
especializadas.
5. Considerações Finais
A implantação de um sistema para análise de falhas na empresa, mesmo considerado uma
ferramenta simples, mostrou-se um meio eficaz para tomada de decisão quanto aos passos
iniciais a serem seguidos pelos gestores, na busca pela eliminação dos defeitos em seus
produtos e uma alternativa viável para nortear e transformar o seu sistema de manutenção,
inicialmente, de características apenas corretivas, para uma gestão mais preventiva e que se
antecipe aos erros.
Com a utilização do modelo híbrido entre os métodos de análise de modos de falhas, efeitos e
criticidade (FMECA) e o de análise de árvore de falhas (FTA), pode-se constatar que o tipo de
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problema mais crítico encontrado nos apartamentos é o hidráulico, o qual apresentou o maior
valor médio dos NRP’s dentre os modos de falha registrados no histórico de assistência
técnica da empresa. Essa detecção possibilitou à equipe gerencial da construtora tomar
decisões mais centradas e objetivas sobre o modo de falha prioritário e sua eliminação.
Com a árvore de falhas, ações pontuais puderam ser executadas com base, principalmente, nas
Causas de Nível 2. As planilhas de controle de material estocado no almoxarifado foram
atualizadas, assim como os formulários de inspeção de processos passaram a ser fielmente
preenchidos. Por motivo de sigilo empresarial, estes dois documentos não puderam ser
divulgados no trabalho. Foram definidas medidas intensificadoras para a divulgação do
manual do uso e manutenção dos apartamentos aos clientes. E com relação ao não
fornecimento de instruções específicas aos Procedimentos Operacionais Padrões (POP’s),
novos ciclos de treinamentos foram agendados aos colaboradores, sejam experientes ou novos
na empresa.
Finalizando, a implantação de um modelo mixado de métodos analíticos para falhas
possibilitou acuidade às medidas tomadas pelo corpo gerencial da organização e incrementou
ao Sistema de Gestão da Qualidade uma ferramenta eficaz de controle do processo, a planilha
FMECA de NRP’s para os modos de falha detectados, a qual se transformou em um
documento vivo na organização, ou seja, necessitado de atualizações programadas e
constantes para que se mantenha eficiente naquilo que se predispõe a resolver: auxiliar na
redução de falhas.
REFERÊCIAS
CAVALCANTE, Bruna G. S. O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no
Habitat (PBQP-H): Um Estudo de Caso na Empresa Asas Construções Serviços de
Manutenção e Incorporações LTDA de Gurupi - TO. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Administração) – Universidade Regional de Gurupi, Gurupi, 2009.
CERQUEIRA, J. P. Modos de falha de um processo produtivo. Rio de Janeiro: José
Cerqueira Consultores Associados Ltda., S/D. Disponível em:
<http://www.jcca.com/pdf/modosdefalha.pdf>. Acesso: 24 mar. 2013.
CHRYSLER CORPORATION, FORD MOTOR COMPANY E GENERAL MOTORS
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Referência. 1 ed. Brasileira. 1997.
18
18
FONTANA, N. M.; PAVIANI, N. M. S. Os múltiplos desdobramentos genéricos do
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TEXTUAIS, 4., 2007. Tubarão. Anais... Tubarão: Ed. Da Unisul – Universidade do Sul de
Santa Catarina, 2007.
CAPITAL NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA. Manual da Qualidade da Capital
Negócios Imobiliários Ltda. Mossoró, 2012.
KRAFTA, Lina. Gestão da Informação como Base da Ação Comercial de uma Pequena
Empresa de TI. Dissertação (Mestrado) - Pós-Graduação em Administração – UFRGS, Porto
Alegre, 2007.
LIMA, P. F. A.; FRANZ, L. A. S.; AMARAL, F. G. Proposta de utilização do FTA como
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Engenharia de Produção. Bauru, 2006.
PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da qualidade: teoria e prática. 2ed. São Paulo: Atlas,
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RODRIGUES, Alexandre A. Qualidade na Contratação e Gerenciamento de Obras
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Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
SAKURADA, Eduardo Yuji. As técnicas de Análise dos Modos de Falhas e seus Efeitos e
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SILVA, S. R. C.; FONSECA, M.; BRITO, J. Metodologia FMEA e sua aplicação à
construção de edifícios. Lisboa, 2006.
19
19
ANEXOS
Anexo 1. Formulário de solicitação de assistência técnica.
20
20
Anexo 2. Avaliação dos serviços de assistência técnica.