90
Universidade Federal do Rio de Janeiro APLICAÇÃO DE PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE PISOS EM UNIDADE HABITACIONAL MULTIFAMILIAR COM BASE NA NBR 15.575:2013 Fernanda Mendes Graça Couto 2014

aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

i

Universidade Federal do Rio de Janeiro

APLICAÇÃO DE PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE PISOS EM UNIDADE

HABITACIONAL MULTIFAMILIAR COM BASE NA NBR 15.575:2013

Fernanda Mendes Graça Couto

2014

Page 2: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

APLICAÇÃO DE PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE PISOS EM UNIDADE

HABITACIONAL MULTIFAMILIAR COM BASE NA NBR 15.575:2013

Fernanda Mendes Graça Couto

Projeto de Graduação apresentado ao

curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientadora: Elaine Garrido Vazquez

Rio de Janeiro

AGOSTO DE 2014

Page 3: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

ii

APLICAÇÃO DE PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DO DESEMPENHO

ACÚSTICO DE PISOS EM UNIDADE HABITACIONAL MULTIFAMILIAR COM

BASE NA NBR 15.575:2013

Fernanda Mendes Graça Couto

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

__________________________________________ Elaine Garrido Vazquez

Profª. Adjunta, D.SC, POLI/UFRJ (orientadora)

__________________________________________

Ana Catarina Jorge Evangelista Profª. Associado, D.SC, POLI/UFRJ

__________________________________________ Assed Naked Haddad

Prof. Associado, D.SC, POLI/UFRJ

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

AGOSTO DE 2014

Page 4: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

iii

Couto, Fernanda Mendes Graça

Aplicação de Procedimento para Análise do

Desempenho Acústico de Pisos em Unidade Habitacional

Multifamiliar com Base na NBR 15.575:2013/ Fernanda

Mendes Graça Couto – Rio de Janeiro: UFRJ/ ESCOLA

POLITÉCNICA, 2014.

XII, 77 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Elaine Garrido Vazquez

Projeto de Graduação - UFRJ/ POLI/ Engenharia

Civil, 2014.

Referencias Bibliográficas: p. 58 - 62.

1. Desempenho Acústico, 2. Ruído de Impacto, 3. Norma de

Desempenho. I. Vazquez, Elaine Garrido. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia

Civil. III. Título.

Page 5: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

iv

Dedicado ao meu avô

(in memoriam).

Page 6: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

v

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Claudia e Renato, por todo amor, carinho e apoio, sempre

acreditando no meu potencial. À minha irmã, Patricia, por todo o companheirismo e

futura colega de profissão. À minha avó, Neuza, por ser minha segunda mãe e

exemplo de superação. Aos meus avós, Renato (in memoriam) e Giza, que sempre

torceram por mim. Aos meus tios e primos, por todos os risos e conselhos. Sem

vocês nada disso teria sido possível.

Ao meu namorado, André, por todo amor, carinho, paciência, compreensão,

não medindo esforços para estar sempre do meu lado. Agradeço por todo o apoio

dado na realização desse projeto, me incentivando e não me deixando desistir.

À professora e amiga Elaine, pela orientação, confiança, respeito, incentivo e

compreensão que possibilitou a realização deste trabalho. Um exemplo de

professora, amiga, atleta, mãe.

Ao professor Ericksson, por toda a ajuda dada a mim e aos meus colegas do

Ciclo Básico. Agradeço também pelo conselho de cursar a Politécnica, independente

da engenharia que eu escolhesse. Com certeza a melhor decisão da minha vida.

Ao Laboratório de Acústica e Vibrações (LAVI) da UFRJ pela infraestrutura

fornecida e, em especial, ao Fernando Castro Pinto e Guilherme Pedroto de Almeida

Magalhães, pela disponibilidade de tempo para a realização dos ensaios de campo.

À equipe da obra Transolímpica, pela paciência, conhecimento e amizade,

ajudando a me tornar uma melhor professional.

Aos amigos da faculdade Amannda Dacache, Natalia Guerra, Caroline Slikta,

Camila Metello, Arthur Curi, pela amizade, compreensão e apoio nos momentos

difíceis, em especial à Bruna Basile, Mariana Rios, Anália Torres, Eduarda Bacellar,

por representarem grande parte dessa vitória.

Aos amigos do colégio, por contribuírem em grande parte da minha formação

e terem me ajudado a passar no vestibular. Que a nossa amizade se estenda por

toda a vida.

Ao professor Silvan, não só por ter me ajudado por 13 anos na ginástica

olímpica, mas por ter sido um exemplo de dedicação e responsabilidade.

À todos que, de alguma forma, participaram da elaboração deste trabalho,

meu sincero muito obrigada.

Page 7: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

APLICAÇÃO DE PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DO DESEMPENHO

ACÚSTICO DE PISOS EM UNIDADE HABITACIONAL MULTIFAMILIAR COM

BASE NA NBR 15.575:2013

Fernanda Mendes Graça Couto

AGOSTO/2014

Orientadora: Elaine Garrido Vazquez

Curso: Engenharia Civil

A publicação da norma de desempenho NBR 15575 - "Edificações

habitacionais - Desempenho" incentivou o mercado da construção civil pela busca

do desempenho da edificações. Nesse contexto, foi firmada uma parceria entre uma

empresa desse ramo e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, criando um grupo

de alunos e professores voltados ao estudo de desempenho acústico.

A fim de verificar se as edificações da empresa estão em conformidade com

a norma, foi elaborado um procedimento experimental para análise do desempenho

acústico de pisos, abordando os equipamentos e método para medição do ruído de

impacto, além de apresentar os requisitos requeridos pela norma.

Posteriormente, fez-se a aplicação deste procedimento a partir de uma

medição in loco, apresentada no estudo de caso deste trabalho. A medição foi

realizada em uma unidade habitacional de médio/alto padrão com o intuito de se

verificar o desempenho acústico da mesma.

O resultado obtido foi comparado com o requisito da norma de desempenho

para constatar se a unidade está conforme ou não com a norma. Espera-se que este

trabalho facilite a aplicação da norma de desempenho, auxiliando na melhoria da

qualidade das construções.

Palavras-chave: desempenho acústico, ruído de impacto, norma de desempenho

Page 8: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI / UFRJ as a partial fulfilment of

the requirements for the degree of Civil Engineer.

APPLICATION OF PROCEDURE TO ANALYSE ACOUSTIC PERFORMANCE OF

FLOORS AT A MULTIFAMILY HOUSING UNIT BASED ON NBR 15.575:2013

Fernanda Mendes Graça Couto

AUGUST/2014

Advisor: Elaine Garrido Vazquez

Course: Civil Engineering

The publication of the standard NBR 15575 - "Residential Buildings -

Performance" stimulated the construction market in the search of building

performance. In this context, a partnership was signed between a construction

company and the Federal University of Rio de Janeiro, creating a group of students

and professors focused in the study of acoustic performance.

In order to verify that the buildings of the company are in compliance with the

standard, an experimental procedure to analyze the acoustic performance of floors

was created, presenting the equipment and method for impact noise measurement,

also showing the parameters required by the standard.

Subsequently, the procedure was applied from an in loco measurement

presented in the case study of this work. The measurement was performed in a

housing unit of medium / high standard in order to verify the acoustic performance of

that building.

The result achieved was compared with the parameter required on the

performance standard in order to verify if the unit is in compliance with the standard

or not. Hopefully this work will facilitate the application of the performance standard,

improving the quality of buildings.

Keywords: acoustic performance, impact noise, performance standard

Page 9: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

viii

SUMÁRIO

1   Introdução  .....................................................................................................................  1  

1.1   Contextualização  ..............................................................................................................  1  1.2   Objetivo  ...............................................................................................................................  5  1.3   Justificativa  ........................................................................................................................  5  1.4   Metodologia  .......................................................................................................................  6  1.5   Descrição  dos  capítulos  .................................................................................................  7  

2   Referências  Bibliográficas  .......................................................................................  8  2.1   Introdução  ao  conforto  acústico  .................................................................................  8  2.2   Conceitos  fundamentais  sobre  acústica  ...................................................................  8  2.2.1   A  natureza  do  som  ....................................................................................................................  8  2.2.2   A  recepção  do  som  pelo  ouvido  humano  ........................................................................  9  2.2.3   Som  x  ruído  ................................................................................................................................  10  

2.3   Onda  sonora  e  seus  elementos  ..................................................................................  10  2.3.1   Velocidade  do  som  .................................................................................................................  11  2.3.2   Frequência,  comprimento  de  onda  e  fase  ....................................................................  12  2.3.3   Amplitude  e  intensidade  da  onda  sonora  .....................................................................  12  

2.4   Escala  Decibel  ..................................................................................................................  13  2.5   Fenômenos  relativos  a  propagação  do  som  ..........................................................  16  2.5.1   Fenômeno  de  Reflexão  .........................................................................................................  16  2.5.1.1   Fenômeno  do  Eco  ...........................................................................................................................  17  2.5.1.2   Fenômeno  de  Reverberação  ......................................................................................................  18  

2.5.2   Fenômeno  da  Refração  .........................................................................................................  19  2.5.3   Fenômeno  de  Absorção  ........................................................................................................  20  2.5.4   Fenômeno  de  Transmissão  .................................................................................................  21  2.5.5   Fenômeno  de  Difração  ..........................................................................................................  22  

2.6   Desempenho  Acústico  ..................................................................................................  22  2.6.1   Isolamento  acústico  ...............................................................................................................  23  2.6.1.1   Isolamento  de  ruídos  aéreos  .....................................................................................................  25  2.6.1.2   Isolamento  de  ruídos  de  impacto  ............................................................................................  26  

2.7   Norma  de  desempenho  ................................................................................................  28  2.7.1   Desempenho  acústico  de  pisos  .........................................................................................  31  2.7.1.1   Requisitos  referentes  ao  isolamento  de  ruídos  de  impacto  .........................................  32  2.7.1.2   Requisitos  referentes  ao  isolamento  de  ruídos  aéreos  ..................................................  33  

2.7.2   Requisitos  de  isolamento  acústico  de  pisos  em  outros  países  ............................  34  

Page 10: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

ix

3   Elaboração  do  procedimento  experimental  para  medição  do  isolamento  

acústico  em  sistemas  de  pisos  ....................................................................................  35  

3.1   Definições  das  variáveis  utilizadas  ..........................................................................  36  3.1.1   Nível  médio  de  pressão  sonora  em  um  ambiente  (L)  .............................................  36  3.1.2   Nível  de  pressão  sonora  de  impacto  (Li)  ......................................................................  36  3.1.3   Nível  de  pressão  sonora  de  impacto  normalizado  (L'n)  .........................................  37  3.1.4   Nível  de  pressão  sonora  de  impacto  padronizado  (L'nT)  .......................................  37  3.1.5   Redução  do  nível  de  pressão  sonora  de  impacto  (∆L')  ..........................................  37  

3.2   Equipamentos  .................................................................................................................  38  3.2.1   Tapping  machine  ......................................................................................................................  38  3.2.2   Equipamento  de  medição  do  nível  sonoro  ..................................................................  39  3.2.3   Filtros  ...........................................................................................................................................  39  3.2.4   Equipamento  de  medição  do  tempo  de  reverberação  ............................................  39  

3.3   Geração  do  som  ..............................................................................................................  40  3.4   Medição  do  nível  de  pressão  sonora  de  impacto  ................................................  40  3.5   Faixa  de  frequência  das  medições  ...........................................................................  41  3.6   Medição  do  tempo  de  reverberação  e  avaliação  da  área  de  absorção  

sonora  equivalente  ..................................................................................................................  41  3.7   Correção  do  ruído  de  fundo  ........................................................................................  42  3.8   Apresentação  dos  resultados  .....................................................................................  43  3.9   Requisitos  acústicos  desejáveis  ................................................................................  44  

4   Estudo  de  Caso  ..........................................................................................................  45  

4.1   Etapas  do  processo  de  medição  in  loco  ...................................................................  47  4.2   Medição  do  RT60  ...........................................................................................................  49  4.3   Medição  do  nível  de  pressão  sonora  de  impacto  padronizado  (L'nT)  ...........  50  4.4   Procedimento  X  Medição  ............................................................................................  51  4.5   Tratamento  de  dados  ...................................................................................................  53  4.6   Resultados  ........................................................................................................................  53  

5   Considerações  finais  ...............................................................................................  55  

REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS  ................................................................................  58  

REFERÊNCIAS  ELETRÔNICAS  ......................................................................................  61  

ANEXOS  ..............................................................................................................................  63  

APÊNDICES  ........................................................................................................................  72  

Page 11: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

x

Lista de tabelas

Tabela 1: Dados gerais da construção em 2007 a 2011 ............................................. 2  Tabela 2: Velocidade do som em meios variados ..................................................... 11  Tabela 3: Atenuação sonora de pisos revestidos ...................................................... 27  Tabela 4: Critério e nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado,

L’nT,w .................................................................................................................... 32  Tabela 5: Critérios de diferença padronizada de nível ponderada, DnT,w ................... 33  Tabela 6: Diferença padronizada de nível ponderada, DnT,w e nível de pressão

sonora de impacto padronizado ponderado, L’nT,w , em outros países ............... 34  Tabela 7: Distâncias mínimas de separação dos microfones .................................... 40  Tabela 8: Critério e nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado,

L’nT,w .................................................................................................................... 44  Tabela 9: Ficha técnica do Empreendimento A ......................................................... 46  Tabela 10: Resultado da medição entre unidades .................................................... 54  

Page 12: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

xi

Lista de quadros Quadro 1: Tipos de ruído e como se originam ........................................................... 10  Quadro 2: Absorção X Transmissão .......................................................................... 23  Quadro 3: Divisões da NBR 15575 ............................................................................ 29  Quadro 4: Estrutura da NBR 15575 ........................................................................... 30  Quadro 5: Requisitos e critérios – Ruído de Impacto ................................................ 32  Quadro 6: Requisitos e critérios – Isolamento de Ruído Aéreo dos Pisos Entre

Unidades Habitacionais ...................................................................................... 33  Quadro 7: Indicações do relatório .............................................................................. 43  Quadro 8: Equipamentos utilizados na medição ....................................................... 51  Quadro 9: Medição do nível médio de pressão sonora ............................................. 52  Quadro 10: Faixa de frequência das medições ......................................................... 52  

Page 13: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

xii

Lista de figuras Figura 1: Subdivisões do ouvido humano .................................................................... 9  Figura 2: Faixa média do nível de som para os humanos ......................................... 14  Figura 3: Níveis sonoros em µPa e seus valores correspondentes em dB ............... 15  Figura 4: Condições de transmissão sonora ............................................................. 16  Figura 5: Tempo de reverberação do som ................................................................. 18  Figura 6: Refração do som ......................................................................................... 19  Figura 7: Dissipação de energia pela absorção sonora ............................................. 20  Figura 8: Esquema de piso com forração .................................................................. 26  Figura 9: Esquema de piso flutuante ......................................................................... 27  Figura 10: Curvas típicas de isolamento de ruído de impacto ................................... 28  Figura 11: Tapping machine padronizada de acordo com a ISO 140-7:1998 ........... 38  Figura 12: Medidor de nível sonoro de classe 1 ........................................................ 39  Figura 13: Fachada do Empreendimento A ............................................................... 46  Figura 14: Macrolocalização do Empreendimento A ................................................. 47  Figura 15: Tapping machine ...................................................................................... 48  Figura 16: Microfones MPA416 Sensitivity Calibration .............................................. 48  Figura 17: Conversor Hi-Speed USB Carrier ............................................................. 48  Figura 18: Software LabVIEW Signal Express .......................................................... 49  Figura 19: Disposição da tapping machine no apartamento 401 nas 5 posições

medidas .............................................................................................................. 50  Figura 20: Disposição do receptor no apartamento 301 ............................................ 51

Page 14: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

1

1 Introdução

1.1 Contextualização

Segundo Barbosa, 2010, as empresas brasileiras vêm buscando a

excelência no seu desempenho de acordo com a tendência mundial e com o

objetivo de aumentar a sua competitividade. Verifica-se que nas empresas do setor

da construção civil, em especial no subsetor de edificações, a primeira iniciativa para

o alcance da melhoria do desempenho foi a gestão da qualidade, que aos poucos

vem se constituindo numa realidade. Nessa perspectiva, muitas empresas construtoras estão buscando os

sistemas de gestão da qualidade com o intuito de superar problemas que surgem

nos seus processos produtivos, entre eles a baixa produtividade e o elevado

desperdício. Além disso, a satisfação dos clientes com os produtos e serviços

oferecidos é outra meta perseguida pelas empresas no processo de implantação

dos sistemas de gestão da qualidade (BARBOSA, 2010). Esse cenário de preocupação em torno do desempenho das edificações

surgiu com a expansão que a construção civil teve nos últimos anos. De acordo com

o IBGE (2011), em 2011, as 92,7 mil empresas do setor empregaram cerca de 2,7

milhão de pessoas e pagaram em salários, retiradas e outras remunerações o

equivalente a 49,9 bilhões de reais, o que significou uma média mensal de 2,6

salários mínimos mensais, resultado igual ao de 2010 e ligeiramente superior aos

2,5 salários mínimos de 2007.

As empresas do setor realizaram incorporações, obras e serviços da

construção no valor de R$ 286,6 bilhões, dos quais R$ 104,9 bilhões são obras

contratadas por entidades públicas. Em comparação com os anos anteriores, as

construções executadas assinalam um aumento real de 4,5% em relação a 2010 e

de 63,1% no confronto com 2007 (IBGE, 2011). A Tabela 1 apresenta uma

compilação destes dados.

Page 15: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

2

Tabela 1: Dados gerais da construção em 2007 a 2011

Fonte: IBGE, 2011

Ao longo de 2011, a indústria da construção foi influenciada positivamente

por um conjunto de fatores relacionados diretamente à dinâmica do setor, tais como:

maior oferta de crédito imobiliário, aumento nos desembolsos destinados a obras de

infraestrutura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),

crescimento do emprego e da renda familiar, incremento no consumo das famílias e

a manutenção da desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI de

diversos insumos da construção. Este cenário favorável para a construção,

juntamente com programas de investimento como o Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa Minha Vida, contribuiu para que

fossem realizados investimentos em obras de infraestrutura e na construção de

edificações residenciais, cujos investimentos são feitos considerando prazos de

longa maturação (IBGE, 2011). O déficit habitacional brasileiro nas edificações está concentrado quase em

sua totalidade nas classes de renda baixa. Assim, as construtoras estão se

preparando para produzir habitações populares em grande escala já que este será o

mercado a ser atendido nos próximos anos. Nesse contexto, é preciso considerar o

desempenho mínimo das construções e quais devem ser os padrões mínimos

técnicos que devem ser atendidos pelas construtoras (BORGES, 2008).

O desempenho das edificações é uma preocupação internacional desde

1984, com a publicação da ISO 6241:1984, “Performance Standards in building”

(Avaliação de desempenho em edifícios). A partir dessa norma foi possível mensurar

o desempenho das edificações. Outro indicador da busca pela qualidade foi a

publicação da ISO 9001 em 1987, uma das normas da série de sistemas de gestão

da qualidade. A ISO 9001 trouxe a certificação de sistemas da qualidade e a busca

pela satisfação dos clientes e pela melhoria contínua.

_________________________________________________________Pesquisa Anual da Indústria da Construção, v.21, 2011

As empresas do setor da construção empregaram cerca de 2,7 milhões de pes-soas, número superior aos 2,5 milhões de pessoas ocupadas em 2010 e ao 1,6 milhão de ocupados em 2007, e tiveram gastos com pessoal ocupado de R$ 74,7 bilhões, que representaram 31,1% do total dos custos e despesas da construção em 2011 (R$ 240,3 bilhões). Os gastos com salários, retiradas e outras remunerações atingiram R$ 49,9 bilhões, o que significou um salário médio mensal de R$ 1 437, assinalando um au-mento real6 de 3,8% em relação à média salarial de 2010 (R$ 1 305) e de 21,5% no confronto com 2007 (R$ 945). Em termos de salários mínimos7, o valor médio pago em 2011 foi de 2,6 salários mínimos mensais, resultado igual ao de 2010 e ligeiramen-te superior aos 2,5 salários mínimos de 20078.

Em 2011, a economia brasileira foi impactada por uma conjuntura internacional caracterizada pela crise fiscal na Europa e pelo baixo crescimento dos países desenvol-vidos. Com isso o Produto Interno Bruto - PIB brasileiro, após avançar 7,5%9 em 2010, registrou um crescimento de 2,7%10 em 2011. Com o objetivo de manter a inflação dentro da meta, o Banco Central promoveu aumentos da Taxa seliC, que passou de 10,75% no início do ano para 12,50% em julho. A seguir, considerando a redução dos riscos inflacionários por conta da deterioração da economia internacional e da redução do nível de utilização da capacidade instalada, o Comitê de Política Monetária - CoPom realizou três cortes consecutivos, fixando a Taxa seliC em 11,0% no fechamento do ano. A variação do IPCA, em 2011, foi de 6,5%, situando-se dentro da meta de inflação do Conselho Monetário Nacional. Apesar da conjuntura adversa, o mercado interno, im-pulsionado pela demanda doméstica e pela maior oferta de crédito seguiu contribuindo para o crescimento da economia brasileira e da atividade da construção no PIB, que cresceu 3,6%, atingindo 5,8% de participação no PIB.

6 Cálculo considerando a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, que teve variação de 6,1% em 2011 e de 25,2% entre 2007 e 2011.7 Cálculo com base nos salários mínimos médios de 2007 (R$ 373,08), 2010 (R$ 510,00) e de 2011 (R$ 544,23). 8 Cabe mencionar que o salário mínimo vem apresentando aumento superior ao IPCA. Em 2011, o salário mínimo cresceu 6,7% contra 6,5% do IPCA; e no período de 2007 a 2011, o salário mínimo avançou 45,9%, enquanto o IPCA teve acrés-cimo de 24,6%.9 Conforme o Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, do IBGE (INDICADORES IBGE, 2011).10 Conforme o Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, do IBGE (INDICADORES IBGE, 2011).

Númerode

empresas ativas

Pessoal ocupado

Salários,retiradase outrasremune-rações

Gastos com

pessoal

Total doscustos edespesas

Valor dasincorpo-rações,obras eserviços

Valor dasobras e/ouserviços

Constru-ções paraentidades públicas

Receitaopera-cional

líquida

2007 53 1 576 19 359 28 979 101 472 130 093 123 797 50 968 124 455

2008 57 1 806 25 718 38 725 132 830 163 109 158 693 68 607 154 597

2009 64 2 053 31 928 48 390 156 992 197 702 191 693 82 943 187 066

2010 79 2 479 42 058 63 355 213 217 257 310 249 202 103 401 244 248

2011 93 2 669 49 861 74 715 240 252 286 570 274 175 104 902 268 518

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Anual da Indústria da Construção 2007-2011.

Tabela 1 - Dados gerais da indústria da construção - Brasil - 2007-2011

Ano

Dados gerais da indústria da construção

1 000 1 000 000 R$

Page 16: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

3

Em contrapartida, os conceitos de qualidade e gestão nas empresas

brasileiras começaram a surgir em 1991 com a criação do Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade (PBQP). Em 1999, o Programa Brasileiro da Qualidade e

Produtividade do Habitat (PBQP-H) estruturou o SiAC - Sistema de Avaliação da

Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil que se

constituiu em um programa nacional de sistema da qualidade adaptado para o setor

da construção civil. Entretanto, muitas construtoras desenvolveram sistemas

inadequados preocupadas em obter o certificado do SiAC, pouco contribuindo para

a melhoria do desempenho das edificações (BARBOSA, 2010, CORDOVIL, 2013). Em maio de 2008 foi publicada a primeira versão da Norma de Desempenho

NBR 15575 mas, as vésperas de entrar em vigor em 2010, o mercado se debruçou

mais detidamente sobre a norma, o que provocou o adiamento da sua exigibilidade

e revisão. Com isso, a norma foi debatida e revisada entre 2010 e 2012 pela

Comissão de Estudos, composta por membros de toda a cadeia produtiva da

construção.

Assim, em 19 fevereiro de 2013, foi publicada pela ABNT - Associação

Brasileira de Normas Técnicas a NBR 15575 - "Edificações habitacionais -

Desempenho", entrando em vigor a partir de 19 de julho de 2013, 150 dias após a

data de sua publicação. A norma estabelece parâmetros técnicos para vários

requisitos importantes de uma edificação, como desempenho acústico, desempenho

térmico, durabilidade, garantia e vida útil, e determina um nível mínimo obrigatório

para cada um deles.

Segundo Mitidieri, 2011 apud Martins, 2014, a maior dificuldade de

adaptação será nos parâmetros referentes ao desempenho acústico, pois várias

partes da norma exigem parâmetros mínimos de tal desempenho. A publicação da

NBR 15575 trouxe o tema para a discussão, mas existem outros fatores que

contribuíram para que a percepção auditiva da população aumentasse com o tempo.

A partir de meados de 1970 se iniciou um movimento pela racionalização da

construção civil. Em nome do desenvolvimento tecnológico, as estruturas foram

ficando mais leves, as paredes menos espessas, as janelas e portas, mais finas. Ou

seja, houve um processo de redução do peso das construções, com o intuito de

economizar. Dessa maneira, o conforto acústico foi um dos itens que mais sofreu,

pois o isolamento acústico é regido, a grosso modo, pela lei das massas: quanto

mais densa e pesada é uma laje, uma parede, uma porta ou uma janela, menos

ruídos são transmitidos através delas (AKKERMAN, 2012).

A década de 90 foi marcada pela laje zero: chegou-se a um limite que a laje

de concreto possuía uma espessura de apenas 7 cm, sem contrapiso. Com isso os

Page 17: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

4

apartamentos se converteram em caixas de ressonância, comprometendo o

desempenho acústico das edificações e o sossego dos moradores.

Paralelamente, a população mundial cresceu consideravelmente nos últimos

20 anos, aumentando a quantidade de automóveis nas ruas e de atividades

humanas que geram ruídos como construções e casas noturnas. Dessa forma

estamos cada vez mais expostos a poluição sonora.

A poluição sonora é um tipo de aspecto ambiental no qual é muito difícil o

seu controle, devido às características propagativas das ondas sonoras. Esse tipo

de poluição não gera resíduos e seus efeitos não são percebidos claramente no

ambiente. Os danos que podem ser causados na saúde humana pelo excesso de

ruídos tangem aspectos fisiológicos, como a perda da audição ou mesmo de cunho

psicológico, como pode-se cita a irritabilidade exagerada, alterações no sono,

estresse nervoso e dificuldades de concentração (HUNGRIA, 1995).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo e qualquer ruído que

ultrapasse a casa dos 55 decibéis já pode ser considerado prejudicial à saúde. A

entidade estima que 800 milhões de pessoas sofram com perda auditiva, quantidade

que deverá aumentar para 1,1 bilhão até 2015, representando aproximadamente

16% da população.

A tendência de redução de custos da construção civil levou a um aumento da

insatisfação dos usuários, de modo que a maior parte das reclamações dos usuários

de imóveis é o desconforto causado por ruídos externos, ruídos transmitidos entre

apartamentos e ruídos até mesmo dentro da própria unidade habitacional. O

desempenho acústico depende das soluções de engenharia adotadas no projeto e

na construção, deixando cada vez mais clara a responsabilidade dos incorporadores

e construtores nesse assunto.

O mercado ainda não está preparado para atender às exigências de acústica

por uma razão mais básica do que a disponibilidade de produtos: o

desconhecimento sobre como atingir o requisito, sobre como especificar, e sobre o

comportamento dos sistemas que utilizamos atualmente. Dessa forma, é necessária

a elaboração de procedimentos de medição para se atingir os requisitos da NBR

15575 e a realização de ensaios para se conhecer com mais representatividade os

diversos fatores que influenciam, ou não, o desempenho acústico dos sistemas

utilizados.

Page 18: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

5

1.2 Objetivo

O presente trabalho teve como motivação a obrigatoriedade eminente da

aplicação da norma de desempenho das edificações - NBR 15575, representando a

necessidade de adequação das empresas aos requisitos da norma.

O objetivo desta pesquisa é a elaboração de um procedimento experimental

para medir o isolamento acústico em sistemas de pisos entre unidades autônomas

através da realização de uma medição in loco. O procedimento foi baseado na ISO

140-7:1998 - Acoustics - Measurement of sound insulation in buildings and of

building elements: Field measurements of impact sound insulation of floors e na NBR

15575-3:2013 - Edificações habitacionais – Desempenho: Requisitos para os

sistemas de pisos internos.

O procedimento será aplicado em um estudo de caso a ser realizado em

uma unidade habitacional multifamiliar de médio/alto padrão, localizada em um

condomínio em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro.

1.3 Justificativa

O aumento da densidade demográfica gerou um problema de falta de

espaços para construção em muitas cidades, exigindo uma redistribuição do espaço

urbano com a verticalização das moradias. Paralelamente a este fato, existe a

tendência mundial em sempre reduzir custos, causando a redução da qualidade dos

sistemas que compõem um edifício. Com isso, é inevitável que o desempenho

acústico das edificações diminua, gerando desconfortos para os moradores.

A inexistência de parâmetros aceitáveis de níveis de transmissão de ruído de

impacto nas normas brasileiras desobriga os projetistas da preocupação com o

problema do desconforto de tal maneira que seus trabalhos, de um modo geral não

contemplam soluções para o isolamento ao ruído de impacto (PEDROSO, 2007). É

nesse cenário que torna-se importante o estudo do desempenho acústico de pisos

por ruídos de impacto.

A NBR 15575-3 foi a primeira norma brasileira a trazer esse assunto para

discussão. Apesar de seu caráter não obrigatório, a adequação a norma

representará um passo a frente para as construtoras que a adotarem, pois as

mesmas poderão utilizar seus resultados positivos em qualidade e desempenho

como estratégias de marketing a fim de conquistar o consumidor.

Page 19: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

6

O desempenho acústico das edificações ainda é um tema muito novo e,

portanto, a maioria das construtoras não se preocupam com esse requisito. Assim,

esse trabalho visa a aplicação da parte 3 da norma NBR 15575 - Desempenho:

Requisitos para os sistemas de pisos internos - a partir da elaboração de um

procedimento, facilitando a análise e a aplicação dos parâmetros por parte das

empreiteiras. Com isso será possível fornecer ao consumidor uma melhor qualidade

de vida, com mais conforto e serenidade.

1.4 Metodologia

O Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade

Federal do Rio de Janeiro firmou uma parceria com a Empresa X, originando em um

Programa de Iniciação Científica (PIC). Esta empresa está a 50 anos no mercado da

construção civil e é composta por mais de 10.000 colaboradores, atuando em 16

estados brasileiros.

O Programa de Iniciação Científica recrutou alunos do curso de Engenharia

Civil e os dividiu em 3 grupos de pesquisa. Um desses grupos foi voltado para o

estudo do desempenho acústico de edificações, analisando normas e artigos

nacionais e internacionais para se aprofundar no tema em questão.

O primeiro ano do programa gerou um estudo sobre a parte 4 da norma -

Sistemas de vedações verticais internas e externas - que trata de desempenho

acústico e a partir disso foi elaborado um procedimento de medição para analisar o

desempenho acústico de vedações verticais internas. Posteriormente aplicou-se o

procedimento com a realização de medições in loco em unidades habitacionais da

Empresa X, verificando o atendimento a norma. Com a renovação dos integrantes

do grupo, surgiu uma outra preocupação da empresa: o atendimento aos requisitos

de piso. A partir disso, focou-se o estudo no desempenho acústico de pisos,

presente na parte 3 da norma de desempenho NBR 15575, a fim de elaborar um

procedimento de medição.

A norma apresenta dois métodos de medições acústicas: de engenharia, que

pode ser a respeito do isolamento de ruído de impacto padronizado em sistema de

pisos ou do isolamento de ruído aéreo de sistema de pisos, ou do método

simplificado. Para a elaboração do procedimento optou-se pelo método de

engenharia para isolamento de ruído de impacto padronizado, estabelecendo-se

critérios de avaliação para uma medição in loco. O procedimento foi elaborado

Page 20: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

7

baseando-se na norma ISO 140-7:1998 e os requisitos desejáveis para o

desempenho acústico foram retirados na NBR 15575-3:2013.

Após concluída a elaboração do procedimento, foi realizada uma medição in

loco em unidades habitacionais multifamiliares de médio/alto padrão da Empresa X,

verificando se as mesmas estão dentro dos padrões propostos pela norma a partir

do tratamento e análise dos dados encontrados.

1.5 Descrição dos capítulos

Esta dissertação está estruturada em cinco capítulos, descritos a seguir: O Capítulo I aborda a contextualização do trabalho, justificando o tema

escolhido e expondo os objetivos e a metodologia adotada para o desenvolvimento

do estudo.

O Capítulo II apresenta a revisão da literatura, embasando conceitos

teóricos pertinentes ao assunto desta dissertação e apresentando a Norma de

Desempenho.

O Capítulo III é dedicado à elaboração do procedimento experimental,

descrevendo o método e os equipamentos a serem utilizados nas medições e

apresentando os requisitos para atendimento à norma.

O Capítulo IV apresenta a descrição e análise dos resultados de uma

medição de isolamento de ruído de impacto em uma unidade multifamiliar.

O Capítulo V é composto pelas considerações finais do trabalho.

Por último são apresentadas as referências bibliográficas, eletrônicas e os

anexos deste trabalho.

Page 21: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

8

2 Referências Bibliográficas

2.1 Introdução ao conforto acústico

A acústica estuda os fenômenos do som e sua interação com os sentidos,

buscando reduzir os ruídos que possam comprometer a audição e controlando os

sons de forma a evitar interferências como, por exemplo, o eco.

Conforto acústico pode ser entendido como uma sensação de bem estar.

Essa definição de conforto mostra a grande quantidade de variáveis que interferem

no seu julgamento, portanto conforto acústico nada mais é que uma sensação de

bem estar relacionada a níveis sonoros (ROSA, 2007). Ele pode depender de um

eficiente isolamento acústico, de uma boa absorção sonora ou de ambos

simultaneamente.

O conforto acústico é de extrema importância no desenvolvimento das

atividades cotidianas e quando se mostra eficiente, pode minimizar ou até mesmo

evitar o aparecimento distúrbios fisiológicos e psicológicos, como a fadiga e o

estresse, pois ambientes tranquilos e menos ruidosos favorecem a concentração e

produtividade (NERBAS, 2009).

2.2 Conceitos fundamentais sobre acústica

2.2.1 A natureza do som

O som é a propagação de uma frente de compressão mecânica ou onda

longitudinal que se propaga de forma circuncêntrica, apenas em meios materiais,

como os sólidos, líquidos ou gasosos, ou seja, não se propaga no vácuo.

O som depende de quatro fatores: a fonte, que causa a excitação mecânica

e assim inicia a perturbação; a superfície que produz vibrações quando é excitada; o

meio de propagação que pode ser sólido, líquido ou gasoso e o receptor que, no

caso da acústica, o mais importante é o homem. A percepção do som se da através da sensação auditiva, ocasionada pela

vibração de partículas de ar transmitida ao aparelho auditivo humano.

Page 22: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

9

2.2.2 A recepção do som pelo ouvido humano

Segundo Bistafa (2006), o ouvido humano codifica as informações contidas

no som para serem interpretadas pelo cérebro. O ouvido ou orelha humana normal

pode distinguir cerca de 400.000 sons diferentes, desde o som de um mosquito num

momento de silencio até um avião a jato.

O ouvido humano pode ser separado em três grandes partes, de acordo com

a função desempenhada e a localização: ouvido externo, ouvido médio e ouvido

interno. O ouvido externo é composto pelo pavilhão (“concha acústica”

cartilaginosa), que coleta os sons e os direciona pelo canal auditivo até o tímpano.

O ouvido médio é composto pelo tímpano, que vibra e transmite a energia

para os ossículos martelo, bigorna e estribo, nesta ordem, reduzindo a amplitude da

onda e intensificando a energia para o ouvido interno.

O ouvido interno é responsável pela transformação das ondas de

compressão em impulsos nervosos, através da cóclea, um canal em forma de

caracol. Esses impulsos são enviados ao cérebro para serem interpretados.

A Figura 1, a ilustra o sistema auditivo humano discriminando as suas 3

subdivisões.

Figura 1: Subdivisões do ouvido humano

Fonte: http://www.brasilescola.com, 2014

Page 23: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

10

2.2.3 Som x ruído

O som é definido pela frequência, medida em hertz, e pelo volume, medido

em decibéis. O som passa a ser denominado ruído quando excessivo ou indesejado,

podendo afetar o corpo, a mente e as atividades humanas. A diferença entre som e

ruído é subjetiva pois depende da maneira como é percebido. Um som que é

agradável a algumas pessoas pode incomodar outras.

O nível de ruído elevado pode ocasionar problemas para o ser humano,

como irritação, aumento da pressão arterial e da atividade cardíaca; comportamento

agressivo, distúrbios do sono e alterações do humor, além de causar a perda da

capacidade auditiva, queda de desempenho, falta de concentração e problemas de

aprendizado.

Em um edifício, o ruído é transmitido pela sua estrutura e pelo ar antes de

chegar ao ouvido humano. Dentre eles distinguem-se três tipos de ruídos, conforme

o Quadro 1. Quadro 1: Tipos de ruído e como se originam

TIPO DE RUÍDO ORIGEM DO RUÍDO Ruídos aéreos

externos

São os ruídos provenientes do meio exterior, da rua, o tráfego

urbano, uma fábrica, um aeroporto, as pessoas na rua

Ruídos aéreos

internos e ruídos

de impacto

São constituídos principalmente da conversação, dos

aparelhos de TV, dos aparelhos de som, eletrodomésticos em

geral. Os ruídos de impacto são os ruídos de passos, de

quedas de objetos

Ruídos de

equipamentos

São provenientes dos equipamentos de uso coletivo da

edificação como bombas de recalque, ventilação mecânica,

equipamentos de aquecimento de água, elevadores,

tubulações em geral, porta de garagens de entrada dos

edifícios

Fonte: Autor, 2014

2.3 Onda sonora e seus elementos

O entendimento das características físicas do som como onda é de suma

importância para os estudos de projetos acústicos (AMORIM & LICARIÃO, 2005).

Seus elementos como velocidade, frequência e amplitude devem ser analisados.

Page 24: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

11

2.3.1 Velocidade do som

A velocidade de qualquer onda mecânica, transversal ou longitudinal,

depende das propriedades inerciais do meio (para armazenar energia cinética) e,

também, das suas propriedades elásticas (para armazenar energia potencial)

(HALLIDAY et al., 1996).

Através da análise de quanto um elemento do gás modifica o seu volume e

sua densidade, é possível determinar a velocidade da onda sonora naquele meio:

𝑣   =   !!

eq.[1]

Onde:

Β é o módulo da elasticidade volumar

𝜌 é a densidade do meio

A velocidade de transmissão do som é diretamente proporcional à distância

entre as moléculas constituintes do meio: quanto mais próximas entre si, mais rápida

será a propagação do som. Assim, a velocidade de propagação é maior no sólidos

que nos gases e na ausência de ar (vácuo), o som não se propaga. A Tabela 2

apresenta a velocidade do som em vários meios.

Tabela 2: Velocidade do som em meios variados

MEIO VELOCIDADE (m/s) Gases

Ar (0ºC) 331 Ar (20ºC) 343

Hélio 965 Hidrogênio 1.284

Líquidos Água (0ºC) 1.402

Água (20ºC) 1.482 Água do mar 1.522

Sólidos Alumínio 6.420

Aço 5.941 Granito 6.000

Fonte: Halliday et al., 1996

Page 25: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

12

2.3.2 Frequência, comprimento de onda e fase

Frequência é o que caracteriza o número de vibrações por unidade de

tempo. A unidade de frequência é o Hertz (Hz) que, por definição, é igual a um ciclo

por segundo (PINTO, 2009). O som mais grave que o ouvido humano consegue

detectar é de aproximadamente 20 Hz, e mais agudo está na faixa de 20.000 Hz. De

um modo geral, a frequência é igual a:

𝑓   =  !!

eq.[2]

Onde:

T é o período, ou seja, o tempo necessário para que, num dado ponto, o fenômeno

se repita em amplitude e fase.

O comprimento de onda é a distância entre valores repetidos sucessivos num

padrão de onda. O comprimento de onda λ tem uma relação inversa com a frequência

de forma que quanto menor a frequência, maior o λ e quanto maior a frequência,

menor o λ. Essa relação é demonstrada na seguinte equação:

𝑐   =  𝜆𝑓 eq.[3]

Onde:

λ = comprimento de onda de uma onda sonora ou onda eletromagnética

c = velocidade da luz no vácuo ~ 300.000.000 m/s

f = frequência da onda 1/s = Hz.

Outra característica da propagação de ondas é a fase, que é a medida de

quão distante a onda está do início do ciclo ou período.

2.3.3 Amplitude e intensidade da onda sonora

A amplitude é a altura da onda, ou seja, é a diferença entre os valores

máximo e médio de pressão ao longo do tempo em um determinado ponto do

espaço ou, alternativamente, ao longo do espaço na direção de propagação da

onda, em um determinado instante de tempo. Quanto maior for a amplitude, maior

será a quantidade de energia transportada.

Page 26: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

13

Quando a pressão varia do seu valor máximo ao mínimo retornando

novamente ao máximo, diz-se que ela efetuou uma oscilação completa ou um ciclo.

Amplitude e intensidade (ou pressão sonora) são diretamente proporcionais

(aumentam ou decaem na mesma proporção). A intensidade I de uma onda sonora é definida como a taxa média de

transmissão de energia, por unidade de área, para esta onda (HALLIDAY et al.,

1996). A unidade de medida é Watt/m2. Em uma onda sonora, a intensidade I está

relacionada à amplitude sm por:

𝐼   =  !!   𝜌  𝜐  𝜔!  𝑠!! eq.[4]

Onde:

𝜌 = densidade volumétrica do ar

𝜐 = velocidade de uma onda sonora

𝜔 = frequência angular

𝑠! = amplitude da onda

O conceito de intensidade é importante, pois está ligada à percepção do

ouvido, que necessita uma quantidade mínima de energia para ser excitado. Para

um ouvido normal, essa energia é da ordem de 10-12 W/m2. Existe ainda uma

energia a partir da qual a sensação é de dor. Ela é da ordem de 10 W/m2 (PINTO,

2009).

2.4 Escala Decibel

A faixa muito ampla de intensidades e o fato de incrementos iguais de

sensação sonora necessitarem de excitação exponencial forçaram a simplificação

dos cálculos e manipulações dos dados sonoros. Assim, adotou-se uma função

logarítmica definindo a intensidade da sensação auditiva, resultando no nível sonoro

de intensidade ou no nível sonoro de pressão, medidos em decibel (dB) (AMORIM &

LICARIÃO, 2005). A escala decibel começa em 0 dB, que corresponde ao limite mais baixo da

audibilidade humana, com uma frequência de 3000 Hz. A escala decibel varia entre

0 e 160 dB, de forma que a 160 dB ocorre a perfuração instantânea da membrana

do tímpano.

Page 27: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

14

O valor de 130 dB corresponde ao limite superior da audição humana por ser

o nível sonoro máximo a partir do qual, um som com a frequência de 20000 Hz,

pode causar danos à saúde, sendo assim o limiar da dor. Cabe destacar que o valor

do limiar da dor varia com a frequência, sendo igual a 120 dB para frequências

entre 500 e 1.000 Hz.

O limite máximo e o limite mínimo de audibilidade variam de pessoa para

pessoa. A Figura 2 ilustra os sons que o ouvido humano consegue captar:

Figura 2: Faixa média do nível de som para os humanos

Fonte: http://www.yduka.com, 2014

Caso fosse necessário medir uma magnitude P entre o seu valor inferior, 20

µPa (micro Pascal) ao seu valor superior 20.000.000 µPa, o resultado seria uma

escala com valores intratáveis. Por isso recorre-se a fórmula a seguir para comparar

o valor a medir P com o limite de audição (20 µPa):

𝑁𝑃𝑆  (𝑁í𝑣𝑒𝑙  𝑑𝑒  𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜  𝑆𝑜𝑛𝑜𝑟𝑎)  =  20  𝑙𝑜𝑔   !!"   [𝑑𝐵] eq.[5]

Substituindo P por 20 µPa, encontra-se o valor mínimo do limite da audição:

𝑁𝑃𝑆 =  20  𝑙𝑜𝑔   !"!"   =  20  𝑙𝑜𝑔  1   =  0  𝑑𝐵 eq.[6]

Substituindo P por 20 x 106 µPa, encontra-se o limiar da dor:

𝑁𝑃𝑆 =  20  𝑙𝑜𝑔   !"  !  !"!

!"   = 20  𝑥  6   =  120  𝑑𝐵 eq.[7]

Page 28: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

15

A escala em dB aproxima-se muito mais à percepção humana do som, já que

o ouvido reage melhor a proporção de mudança de nível que aos incrementos de

mudança, pressões em P ou potências em W.

A escala da esquerda da Figura 3 mostra os valores de pressão em Pa

(Pascal) entre os limites de audição e de dor e os seus correspondentes em dB. Os

desenhos ilustram diversos exemplos de situações que produzem um ruído

aproximado ao da escala.

Figura 3: Níveis sonoros em µPa e seus valores correspondentes em dB

Fonte: http://www.solerpalau.pt, 2014

Page 29: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

16

2.5 Fenômenos relativos a propagação do som

Quando as ondas sonoras encontram a superfície de separação de dois

meios, podem ocorrer vários fenômenos, dentre eles a reflexão do som, a absorção

do som no material de que é feita a superfície de separação, a refração e a

transmissão do som de um meio para outro, como visto na Figura 4:

Figura 4: Condições de transmissão sonora

Fonte: http://www.yduka.com, 2014

2.5.1 Fenômeno de Reflexão

As ondas sonoras incidentes numa parede, se esta for perfeita, ou seja,

pesada, indeformável, plana e lisa, sofrem reflexão. Este fenômeno se caracteriza

pela permanência da energia sonora no ambiente (bate e volta) (GREVEN et al.,

2006).

A reflexão do som acontece com inversão de fase, mas mantém a mesma

velocidade de propagação, mesma frequência e o mesmo comprimento de onda do

som incidente.

Quando uma pessoa emite um som em direção a um obstáculo, este som é

ouvido no momento da emissão (som direto) e no momento em que o som

refletido pelo obstáculo retorna a ele. Souza et al. (2003) descreve que o

comportamento do som sobre uma superfície assemelha-se ao da luz, desde que

considerado que os comprimentos de ondas sonoras são, relativamente, menores

Page 30: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

17

que os da luz. Assim, na maioria das vezes, o som que nosso ouvido percebe é a

composição do som direto e as subsequentes reflexões sofridas pela onda sonora

em um ambiente. Dessa maneira, as diversas reflexões reforçam o som direto.

Para efeito de representação, se substituídas as ondas sonoras por raios

sonoros, do mesmo modo que para a luz, o raio sonoro refletido tem seu ângulo em

relação à superfície igual ao de incidência, como se sua origem fosse sua imagem

em um espelho. Para que a reflexão sonora ocorra, é necessário que o espelho

acústico tenha sua superfície maior que o comprimento de onda do som emitido

(SOUZA et al., 2003).

Os sons de alta frequência tendem a sofrer reflexões mais comumente de

que os de baixa frequência pois possuem comprimentos de onda menores, se

comparados às superfícies arquitetônicas. Dessa forma, um som de alta frequência

é facilmente refletido por pequenos objetos, provocando sombras acústicas nas

regiões imediatamente posteriores a esses objetos.

A reflexão do som pode dar origem à reverberação e eco, dependendo do

intervalo de tempo entre a percepção do som direto e do refletido. O ouvido humano

só consegue distinguir dois sons que chegam a ele com um intervalo de tempo

superior a um décimo de segundo (0,1 s).

2.5.1.1 Fenômeno  do  Eco  

O eco caracteriza-se quando o som refletido chega ao ouvido após 0,1s, logo

pode-se perceber distintamente o som emitido e o som refletido. Normalmente pode-

se perceber o eco em locais onde há algum objeto muito grande e maciço, como

uma parede, uma montanha ou uma caverna.

No intervalo de tempo de 0,1 s, a distância total que o som percorre no ar é

de 34 m, assumindo que a velocidade do som é igual a 340 m/s. Como as ondas

sonoras efetuam duas vezes o mesmo percurso, a distância entre a superfície de

reflexão do som e a fonte sonora é de apenas 17 m. Então, a distância mínima à

qual a superfície de reflexão do som deve se situar para que ocorra eco é de 17

metros.

O eco tem diversas aplicações tecnológicas, como no exame de ultrassom

utilizado para estudar estruturas internas de organismo humano. Ele também é

usado para medir a que distância se está de uma montanha, por exemplo: mede-se

o tempo de ida e volta de um som e multiplica-se esse tempo pela velocidade do

som no ar. A distância é a metade desse valor, pois o som precisa ir e retornar.

Page 31: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

18

2.5.1.2 Fenômeno  de  Reverberação  

Quando o som refletido chega ao ouvido em um intervalo de tempo menor

que 0,1 s, ele retorna antes da extinção do som original, ocorrendo o reforço do som

emitido. Esse fenômeno é chamado de reverberação pois o intervalo de tempo não

é suficiente para se distinguir o som refletido do original.

As igrejas antigas, construídas com pedras, são um exemplo da

reverberação do som pois o som reflete várias vezes entre as paredes, fazendo com

que o som original seja acompanhado de uma sequência de ecos que vão se

atenuando à medida que o som é absorvido pelas paredes. Muitos concertos

musicais são feitos dentro de igrejas em razão dessas características acústicas.

Existe uma unidade comparativa para medir a reverberação, definida como o

tempo necessário para um som diminuir sua intensidade à milionésima parte a partir

do momento em que cessa a fonte sonora. Esse decréscimo corresponde a uma

redução de 60 dB, como pode ser visto na Figura 5.

Figura 5: Tempo de reverberação do som

Fonte: Greven et al., 2006

Segundo Greven et al., 2006, a reverberação incide de três modos na

distribuição do som no ambiente: o espectro do som reverberante não coincide com

o espectro do som direto em virtude da absorção nos diferentes materiais de

construção ser seletiva com relação à frequência; a distribuição espacial do som não

é homogênea uma vez que os materiais absorventes não estão distribuídos

homogeneamente no ambiente (por exemplo, concentrados nas paredes) e o som

reverberante persiste um certo tempo no local, depois da supressão da fonte sonora.

17

2 . R U Í D O S A É R E O S N O S A M B I E N T E S C O N S T R U Í D O S

As fontes de ruído são classificadas como “exteriores” e “interiores”. As fontesde ruído exteriores mais intensas no nosso dia-a-dia são principalmente asprovenientes de turbinas de aviões, tráfego ferroviário, máquinas usadas naconstrução civil e indústrias quando não confinadas em zonas específicas. Asfontes de ruídos interiores que maior influência têm em prédios de utilizaçãocoletiva são provenientes de aparelhos sonoros, máquinas e equipamentosespecíficos de uso doméstico e impactos contra pisos.

2 . 1 R E F L E X Ã O D O S O MAs ondas sonoras incidentes numa parede, se esta for perfeita, ou seja,pesada, indeformável, plana e lisa, sofrem reflexão. Este fenômeno secaracteriza pela permanência da energia sonora no ambiente (bate e volta).

2 . 2 R E V E R B E R A Ç Ã O D O S O MA existência de paredes de fechamento de um ambiente construído dáorigem a sons refletidos que caracterizam o fenômeno chamado dereverberação. Existe uma unidade comparativa para medir a reverberação,definida como o tempo necessário para um som diminuir sua intensidadeà milionésima parte a partir do momento em que cessa a fonte sonora. Essedecréscimo corresponde a uma redução de 60 dB.

FIGURA 7 - Tempo de reverberação

Nível sonoro (dB)

Tempo de reverberaçãoTempo (s)

60 d

B

Tr

Page 32: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

19

A terceira característica é a mais significativa para o tratamento acústico do

espaço arquitetônico. A percepção do som é perturbada caso a reverberação

persista por muito tempo após a supressão do som direto. O ajuste do tempo de

reverberação de uma sala dentro do intervalo de valores, para cada frequência, é

condição indispensável para se conseguir uma boa acústica da mesma.

Caso o som desapareça imediatamente após a supressão da fonte acústica,

a audição em pontos afastados da fonte será dificultada, além de prejudicar a

percepção de alguns tipos especiais de fontes sonoras. Por exemplo, grandes

orquestras precisam de um certo tempo de reverberação para que ocorra a fusão

dos sons dos vários instrumentos.

2.5.2 Fenômeno da Refração

A refração do som também obedece às leis da refração ondulatória. A

refração ocorre quando o som passa de um meio material para outro com índice de

refração diferente, causando a variação da velocidade de propagação e a variação

do comprimento de onda, mas nunca a variação da frequência, pois se trata de uma

característica da fonte que está emitindo a onda. A refração está ilustrada na

Figura 6.

Figura 6: Refração do som

Fonte: http://www.yduka.com, 2014

Page 33: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

20

A amplitude da onda sonora varia com a refração, podendo-se verificar a

atenuação ou amplificação da onda sonora. A refração também pode ser verificada

quando a temperatura do meio varia no espaço.

Por exemplo, nos dias quentes, a temperatura do ar diminui à medida que se

afasta do solo. A refração do som, através das sucessivas camadas de ar, tende a

desviá-lo para cima. Assim, diminui a sua audição em zonas distantes da fonte ao

nível do solo. Em dias frios, ou ao entardecer, o som refrata-se para baixo, o

que facilita a audição em locais mais afastados da fonte ao nível do solo.

2.5.3 Fenômeno de Absorção

Nenhuma parede é perfeitamente refletora das ondas sonoras e, portanto,

uma parcela da energia incidente é absorvida pelo material constituinte da parede.

Esta propriedade designa-se por absorção do som, que reduz a reflexão das ondas

sonoras em um mesmo ambiente, ou seja, reduz e/ou elimina o tempo de

reverberação nesse ambiente.

A absorção é responsável pelo decaimento da energia sonora. A energia

absorvida pode ser transformada em outros tipos de energia (principalmente

térmica), produzir nova fonte sonora no material incidente, ou refratar o som para o

terceiro (energia transmitida).

A absorção sonora pode ser detectada no dia a dia, através da atenuação

acústica. Nesse processo ocorre dissipação de energia da onda incidente, conforme

Figura 7.

Figura 7: Dissipação de energia pela absorção sonora

Fonte: http://www.yduka.com, 2014

Page 34: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

21

A absorção sonora dos materiais é nitidamente percebida quando, por

exemplo, distribui-se móveis em um ambiente. Enquanto com o ambiente vazio

pode-se notar reflexões excessivas, tornando o som confuso, com o ambiente

ocupado por móveis essas reflexões passam a ser absorvidas por eles, facilitando a

inteligibilidade sonora (SOUZA et al., 2003).

A reflexão do som não é total, ou seja, sempre há uma parte do som que é

absorvida ou transmitida. Isso depende das características acústicas dos materiais

constituintes das superfícies de separação dos meios. Alguns materiais como a lã de

vidro, a cortiça e a espuma acústica são excelentes materiais para absorver o som,

sendo muito utilizados como isolantes acústicos na construção civil.

Os materiais de construção são seletivos quanto às frequências de sons que

absorvem. É possível otimizar e/ou corrigir os tempos de reverberação de ambientes

construídos ao se conhecer as características de emissão e absorção da fonte

sonora e dos materiais de construção.

2.5.4 Fenômeno de Transmissão

A transmissão do som é possível porque a maioria deles nos alcança em

razão da influência do ar, ou seja, o ar age como agente transmissor do som. Na

prática, nenhuma parede se comporta como obstáculo perfeito. Sob a ação de

ondas sonoras que atingem uma parede, esta põe-se a vibrar. Evidentemente, essa

vibração é invisível. A própria parede em vibração produz ondas sonoras nos

ambientes que separa, ou seja, parte da energia incidente pela vibração da parede é

transmitida ao ambiente contíguo ou adjacente.

Os sons não se propagam no vácuo pelo fato de exigirem um meio material

afim de que sua propagação aconteça. A transmissão do som é melhor nos sólidos

que nos líquidos, e nos líquidos é melhor que nos gases.

Cabe observar que, quando se substitui o revestimento de uma parede por

um material cujo coeficiente de absorção é mais elevado que o do revestimento

anterior, a parcela refletida do conjunto parede + revestimento é diminuída, mas a

parcela transmitida não se altera. Isso nem sempre é fácil de admitir, mas são

cometidos muitos erros quando se pretende, com um material absorvente acústico,

diminuir a parcela de energia transmitida através de uma parede (GREVEN et al.,

2006).

Page 35: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

22

2.5.5 Fenômeno de Difração

Um outro fenômeno relativo às mudanças que ocorrem nas ondas é

a difração, que é a propriedade que as ondas têm de contornar obstáculos e que

depende do comprimento da onda que está se propagando. Quanto maior o

comprimento da onda, mais fácil será sua difração, já que em alguns casos de

ondas muito pequenas elas provavelmente não conseguirão se difratar.

Através da razão entre o comprimento de onda e a largura do obstáculo

pode-se calcular o grau de difração r de uma onda específica:

𝑟   =  𝜆 𝑑 eq.[8]

Onde:

𝜆 é o comprimento de onda

d é a largura do obstáculo

Quanto maior for a razão, maior será a extensão da curva de difração. Um

exemplo desse fenômeno é o fato de se ouvir atrás da porta quando uma pessoa

fala do outro lado dela. Além disso é aplicado nas montagens de sistemas de alto-

falantes.

2.6 Desempenho Acústico

Souza et al., 2003, descreve que a acústica só se torna um dado de projeto a

partir do momento em que se entende o que é o fenômeno chamado som e como

ele se propaga, pois este é um conhecimento elementar para promover a qualidade

acústica do ambiente.

No Procel Edifica, 2011, o desempenho acústico das edificações depende,

basicamente, de dois fenômenos acústicos, independentes e que devem ser

estudados separadamente: a absorção e a transmissão sonora.

A absorção sonora é determinante da qualidade acústica interna do local

analisado, onde a fonte e receptor encontram-se no mesmo ambiente. Já a

transmissão sonora é determinante do nível de ruído que se transmite através de

esquadrias, paredes, lajes e forros, onde a fonte e receptor encontram-se em

ambientes distintos (PROCEL EDIFICA, 2011).

Page 36: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

23

A diferença entre esses fenômenos é apresentado no Quadro 2.

Quadro 2: Absorção X Transmissão

ACÚSTICA DE EDIFICAÇÕES

FENÔMENOS ABSORÇÃO TRANSMISSÃO

FONTE E RECEPTOR Mesmo ambiente Ambiente diferente

FORMA DE ATUAR Condicionamento

Acústico

Isolamento Acústico:

- ruído aéreo

- ruído estrutural

PARÂMETROS

Tempo de

reverberação

Inteligibilidade

Nível de Pressão Sonora

NPS (dB ou dBA)

CONTROLE

Materiais de

Revestimento e

Geometria

Lei de Massa

Lei de Massa-Mola-Massa

Fonte: Procel Edifica, 2011

As principais causas de desconforto acústico em uma edificação são os

ruídos externos e os ruídos internos. Para solucionar esse problema é necessário o

uso de sistemas e materiais destinados a isolação acústica, minimizando assim a

propagação desses ruídos.

A exigência de desempenho acústico varia de acordo com o tipo de

edificação (residencial, comercial ou industrial), o local (urbano, rural, com e sem

tráfego intenso de veículos e caminhões ou próximos a aeroportos) e a necessidade

e sensibilidade ao controle de ruídos das pessoas que convivem dentro e ao redor

da edificação considerada. Nesse sentido, cada projeto deve ser elaborado em

função da qualidade acústica requerida, buscando, ao mesmo tempo, satisfazer da

melhor forma possível as necessidades estéticas, decorativas e funcionais de

arquitetura (LUCA, 2011).

2.6.1 Isolamento acústico Quando uma onda sonora transmitida pelo ar incide sobre uma parede, parte

do som é refletida e parte é transmitida à parede. A energia incidente faz com que a

parede entre em vibração, fazendo com que uma parte da energia seja dissipada

Page 37: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

24

como calor, e outra parte seja transmitida como som ao outro lado da parede,

propagando-se pelo ar do outro ambiente (PROCEL EDIFICA, 2011).

O isolamento acústico/sonoro se refere à capacidade de certos materiais

formarem uma barreira, impedindo que a onda sonora passe de um ambiente a

outro. Nestes casos se deseja impedir que o som (ruído) alcance o homem

(GREVEN et al., 2006).

Segundo Souza et al., 2003, os ruídos existentes em um ambiente são

decorrentes das atividades internas e externas à edificação. As fontes de ruído

determinam conjuntamente um nível sonoro mínimo nos ambientes internos e

externos, denominado ruído de fundo.

Além de o ruído ser transmitido pelas paredes e tetos, também é transmitido

por pequenas frestas em esquadrias, divisórias e instalações. A transmissão pelos

flancos é difícil de equacionar e deve ser considerada. Dutos de ar condicionado ou

ventilação, pisos elevados e forros rebaixados são canais de transmissão de ruídos

que requerem cuidados especiais (PROCEL EDIFICA, 2011).

Para fazer um isolamento acústico de um ambiente, deve-se ter em mente

um princípio básico do isolamento acústico, a Lei da Massa, onde quanto mais

pesado, mais denso o material, melhor o isolamento. Essa lei pode ser expressa

matematicamente como:

𝑅!  ≅  10  𝑙𝑜𝑔  (𝑓 ∗𝑚)! eq.[9]

Onde:

Rw = índice de redução sonora

f = frequência

m = massa.

De forma objetiva ela nos diz que para uma frequência constante o

isolamento aumenta 6 decibéis (dB) quando se duplica a massa de uma partição.

Analogamente, para uma massa fixa, o isolamento cresce 6 dB ao duplicar a

frequência do som. Na prática observa-se que o isolamento é um pouco inferior por

levar em conta as imperfeições das construções e outros mecanismos de

transmissão existentes em situações reais. Dessa forma, recomenda-se considerar

4 dB de redução (AMORIM & LICARIÃO, 2005). Isto deixa bem evidente que paredes leves não são recomendadas para

impedir a transmissão do som, pois ao vibrar elas se tornam fontes secundárias de

Page 38: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

25

som. As paredes devem ser suficientemente pesadas, pois quanto maior for a

massa, mais dificilmente entrarão em vibração (GREVEN et al., 2006).

Para evitar a reverberação excessiva, deve-se fazer uso de materiais

absorventes, porosos e elásticos, que impeçam a reflexão sonora; mas, para evitar a

transmissão, é necessário que se faça uso de materiais com elevada massa, que

dissipem a energia, sem vibrar com ela (PROCEL EDIFICA, 2011).

Segundo Amorim e Licarião, 2005, um projeto de isolamento ou controle de

som/ruído inicia-se no planejamento, considerando a localização e classificação do

som; os níveis sonoros adequados às diferentes situações, horários e locais e o

custo com opções técnicas para reduzir a utilização de materiais isolantes.

Em locais onde não é possível isolar o ruído, por exemplo, máquinas nos

ambientes industriais, cabines de pedágio em estradas, pessoal de pista em

aeroportos e operários da construção civil que operam máquinas barulhentas, a

utilização de Equipamentos de Proteção Individual é fundamental para a

conservação auditiva. O uso de protetores auriculares está regulamentado pelo

Ministério do Trabalho, podendo ser interno de espuma, interno de silicone, ou

externo tipo concha (PROCEL EDIFICA, 2011).

2.6.1.1 Isolamento  de  ruídos  aéreos  

O isolamento aéreo trata-se da propagação dos ruídos no ar, como por

exemplo conversas e o som da TV. Por isso, devem-se usar materiais pesados e

densos, de forma que a necessidade de isolamento depende da frequência do som

incidente e das características do sistema construtivo.

O isolamento acústico dos ruídos aéreos urbanos é alcançado tanto por meio

do distanciamento entre fonte e receptor, promovendo-se, assim, a queda da

intensidade por causa da distância, como por meio do tratamento acústico da fonte,

do meio ou do receptor, para que a queda seja promovida por meio de barreiras

acústicas (SOUZA et al., 2003).

A lei de massa indica que, se é preciso um grande isolamento, é necessário

aumentar consideravelmente o peso do fechamento. Obviamente, isto tem limites,

fazendo-se necessário procurar outros sistemas. O mais usual é a chamada parede

dupla. O isolamento produzido por estas é entre 5 e 10 dB superior ao produzido por

uma parede simples do mesmo peso.

Alguns materiais são bons isoladores sonoros, sendo bastante utilizados na

construção civil como a lã de vidro, cortiça, espuma acústica, borracha, fibra Kenaf e

Page 39: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

26

o cimento acústico. Atualmente tem aumentado a utilização de painéis isolantes

naturais, feitos de tecidos reciclados, de poliéster, lã de madeira ou fibras naturais. A

aplicação desses materiais depende da natureza da construção e do nível de

isolamento acústico protendido.

2.6.1.2 Isolamento  de  ruídos  de  impacto  

O isolamento de impacto trata-se dos ruídos que se propagam nos sólidos e

utilizam-se materiais elásticos e duráveis. O peso das máquinas deve ser

considerado para que não compacte o material isolante, ocorrendo a perda das

características isolantes. Em uma edificação, os elementos mais suscetíveis à ação de uma força de

impacto ou vibração são as lajes entre pavimentos. A sonoridade que tais impactos

ocasionam no local contíguo dependerá da construção do piso e, especialmente, de

sua superfície.

Uma forma de se reduzir os efeitos do ruído de impacto é aumentando a

espessura da laje, porém este método se torna inviável visto que o ganho de

isolamento é de apenas 1 dB a cada aumento de 1 cm na espessura da laje. Assim,

se torna necessário a aplicação de métodos alternativos de isolamento.

A utilização de forrações com materiais macios como tapetes espessos e

carpetes em cima da laje atenuam os ruídos de impacto, porém tem o inconveniente

de depender do gosto particular do morador e por vezes impossibilitar o controle do

ruído. A Figura 8 ilustra um esquema de piso com forração.

Figura 8: Esquema de piso com forração

Fonte: Litwinczik, 2012

Page 40: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

27

A Tabela 3 apresenta quantos decibéis cada tipo de forração pode atenuar:

Tabela 3: Atenuação sonora de pisos revestidos

REVESTIMENTO DE PISO ATENUAÇÃO SONORA

Borracha 2 a 13 dB

Laminado sintético 1 a 3 dB

Carpete 7 a 27 dB

Carpete com base isolante 33 a 39 dB

* Dados obtidos para uso em laje de concreto armado com 12 cm de espessura

Fonte: Litwinczik, 2012

Como tais acabamentos não são sempre possíveis ou suficientes, às vezes é

necessário tratar a própria construção do piso: uma separação estrita e hermética

entre as superfícies do piso e do teto imediatamente inferior, através de estruturas

independentes ou, o que é mais comum, com o chamado piso flutuante.

A utilização de forro falso no ambiente de recepção do ruído funciona como

um método eficiente para barreira ao ruído aéreo, porém é ineficaz quanto ao ruído

estrutural, pois não impede a transmissão indireta pelas paredes verticais

(LITWINCZIK, 2012).

O piso flutuante é o método mais eficiente, pois controla o ruído na fonte do

ruído, independente do uso ou não de tapetes e carpetes além de barrar a

transmissão indireta do ruído estrutural pelas paredes. Ele consiste em uma laje de

concreto (ou um piso de tábuas de madeira) apoiada numa capa de material flexível

como lã de vidro, isopor ou borracha, que por sua vez se apoia na laje estrutural. A

Figura 9 ilustra o esquema de um piso flutuante.

Figura 9: Esquema de piso flutuante

Fonte: Hax, 2002 apud Pedroso, 2007

Page 41: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

28

A Figura 10 compara as curvas típicas de isolamento ao ruído de impacto.

Figura 10: Curvas típicas de isolamento de ruído de impacto

Fonte: Sanches & Senchermes, 1982 apud Pedroso, 2007

2.7 Norma de desempenho

Depois de décadas de baixo investimento em infraestrutura e em habitação,

o país reencontrou sua rota de progresso na construção civil. Com a evolução

tecnológica e a busca incessante por redução de custos, todos os setores industriais

brasileiros tiveram que se adequar a essa realidade, e na construção civil não foi

diferente. Para tanto, o desafio é promover condições de viabilidade para

investimentos em máquinas, processos produtivos e qualificação de mão de obra;

com vista à sustentabilidade da indústria da construção civil (CBIC, 2013).

Nesse quadro de mudanças foram desenvolvidos os textos da normalização

brasileira de desempenho de habitações. Previsto para entrar em vigor em março de

2010, o texto original apresentava algumas exigências aquém das expectativas da

sociedade, e outras com certa dissonância em relação à atual capacidade

econômica do país.

Assim, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC solicitou à

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT a revisão da norma, que ficou

sob debate entre 2010 e 2012. Em 19 de julho de 2013 a NBR 15575 - "Edificações

habitacionais - Desempenho" entrou em oficialmente em vigor, se tornando um

marco para a modernização da construção brasileira e para a melhoria da qualidade

das edificações.

Page 42: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

29

A norma NBR 15575 foi redigida segundo modelos internacionais de

normalização de desempenho. Assim, são apresentados os requisitos e critérios de

desempenho e seus respectivos métodos de avaliação para cada necessidade do

usuário e condição de exposição. A norma é divida em seis partes, conforme

Quadro 3.

Quadro 3: Divisões da NBR 15575

Parte 1 Requisitos gerais

Parte 2 Requisitos para os sistemas estruturais

Parte 3 Requisitos para os sistemas de pisos

Parte 4 Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas

e externas

Parte 5 Requisitos para os sistemas de coberturas

Parte 6 Requisitos para os sistemas hidrossanitários

Fonte: Autor, 2014

A norma é estruturada e subdividida por elementos da construção,

apresentando uma série de exigências para avaliação de desempenho de uma

edificação. Para isso, têm-se as seguintes categorias, apresentadas pelo Quadro 4.

Page 43: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

30

Quadro 4: Estrutura da NBR 15575

CATEGORIA REQUISITO

Desempenho Estrutural Controle estrutural; problemas de fissuração e outras falhas.

Segurança contra incêndio

Dificultar o princípio de incêndio; facilitar a fuga, caso ocorra o incêndio; dificultar a

inflamação generalizada; dificultar a inflamação generalizada; dificultar a

propagação; segurança estrutural; sistema de extinção e sinalização de incêndio.

Segurança no uso e na operação Segurança na utilização do imóvel; segurança das instalações.

Estanqueidade Estanqueidade a fontes de umidade externas

à edificação; estanqueidade a fontes de umidade internas à edificação.

Desempenho térmico

Medições conforme o método de ensaio preferencialmente normatizado específico para

o material. Além disso, destaca-se que critérios de desempenho foram estabelecidos

com base em condições naturais de insolação, ventilação e outras.

Desempenho acústico Isolamento acústico de vedações externas; isolamento acústico entre ambientes; ruídos

por impactos e ruídos de equipamentos. Desempenho lumínico Iluminação natural; iluminação artificial.

Durabilidade e manutenibilidade Durabilidade do edifício e dos sistemas que o compõem; manutenibilidade do edifício e de

seus sistemas.

Saúde, higiene e qualidade do ar Proliferação de microrganismos; Poluentes na atmosfera interna à habitação.

Funcionalidade e acessibilidade Dimensões mínimas e organização funcional dos espaços; adequação para portadores de

deficiências.

Conforto tátil e antropodinâmico

As partes da edificação não devem apresentar irregularidades que possam prejudicar o

caminhar, apoiar, limpar, brincar e demais atividades. Quanto ao dispositivo de manobra,

como portas, janelas, torneiras, a força necessária para o seu acionamento não

deverá exceder 10N e seu torque não deverá exceder 20Nm.

Adequação ambiental

Os empreendimentos devem ser projetados e construídos visando o mínimo de interferência no meio. Deve-se privilegiar o uso de materiais

que causem menor impacto ambiental, madeiras certificadas, implementar sistema de

gestão de resíduos, possibilitar o reuso da água, minimizar o consumo de energia, entre

outros. Fonte: Moramay, 2011 apud Martins, 2014

Page 44: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

31

A NBR 15575 estipula critérios para a atenuação acústica dos ruídos de

impactos aplicados às lajes de piso e para a isolação ao som aéreo dos pisos e do

envelope da construção (fachadas e coberturas). Considera ainda a necessidade de

isolação acústica de paredes de geminação entre unidades autônomas e de paredes

divisórias entre áreas privativas e áreas comuns nas edificações multifamiliares. Na

presente versão da norma, não são estabelecidos limites para a isolação acústica

entre cômodos de uma mesma unidade (CBIC, 2013).

Como o presente trabalho é voltado para o isolamento acústico do sistema

de pisos, os itens a seguir se limitarão a esse tema.

2.7.1 Desempenho acústico de pisos

A parte 3 da NBR 15575 - Requisitos para os sistemas de pisos internos -

apresenta os requisitos e critérios para a verificação do isolamento acústico do

sistema de piso entre unidades autônomas. Para o sistema de pisos são

considerados o isolamento de ruído de impacto no sistema de piso e o isolamento

de ruído aéreo, de forma que os valores normativos são obtidos por meio de ensaios

realizados em campo para o sistema construtivo.

A critério de avaliação, utiliza-se o método de engenharia ou o método

simplificado. O método de engenharia avalia dois tipos de ruídos sonoros:

isolamento de ruído de impacto e de ruído aéreo.

Segundo a NBR 15575, 2013, o isolamento de ruído de impacto padronizado

em sistema de pisos determina, em campo, de forma rigorosa, o nível de pressão

sonora de impacto padronizado em sistema de piso entre unidades autônomas,

caracterizando de forma direta o comportamento acústico do sistema. O método é

descrito na ISO 140-7. O isolamento de ruído aéreo de sistema de pisos determina, em campo, de

forma rigorosa, o isolamento sonoro de ruído aéreo entre unidades autônomas e

entre uma unidade e áreas comuns, caracterizando de forma direta o

comportamento acústico do sistema. O método é descrito na ISO 140-4 (NBR

15575, 2013). Já o método simplificado permite obter uma estimativa do isolamento sonoro

de ruído aéreo e o nível de pressão sonora de impacto padronizado em sistema de

piso, em situações onde não se dispõe de instrumentação necessária para medir o

tempo de reverberação, ou quando as condições de ruído ambiente não permitem

obter este parâmetro. O método simplificado é descrito na ISO 10052 (NBR 15575,

2013).

Page 45: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

32

A norma estabelece os níveis mínimos (M) de desempenho, para cada

requisito, que devem ser atendidos. Porém, há também níveis de desempenho

intermediários (I) e superiores (S) citados na norma que não são obrigatórios mas,

caso atendidos, podem significar uma melhor qualidade da edificação.

2.7.1.1 Requisitos  referentes  ao  isolamento  de  ruídos  de  impacto  

O Quadro 5 apresenta os requisitos e critérios referentes ao ruído de

impacto. Quadro 5: Requisitos e critérios – Ruído de Impacto

ISOLAMENTO DE RUÍDO DE IMPACTO

Requisito Atenuar a passagem de som resultante de ruídos de impacto (caminhamento, queda de objetos e outros) entre unidades habitacionais.

Critério Nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado, L’nT,w, proporcionado pelo entrepiso conforme indicado na Tabela 4

Fonte: NBR 15575, 2013

A Tabela 4 apresenta os critérios e níveis de pressão sonora de impacto

padronizado ponderado, de acordo com o nível de desempenho.

Tabela 4: Critério e nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado, L’nT,w

ELEMENTO L’nT,w NÍVEL DE

DESEMPENHO dB

Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas posicionadas em pavimentos distintos

66 a 80 M 55 a 65 I ≤ 55 S

Sistema de piso de áreas de uso coletivo (atividades de lazer e esportivas, tais como home theater, salas de ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas) sobre unidades habitacionais autônomas

51 a 55 M

46 a 50 I

≤ 45 S

Fonte: NBR 15575, 2013

Para o ruído de impacto, quanto menor o valor apresentado como índice de

isolamento, melhor o desempenho. O resultado apresentado indica o nível de

pressão sonora que está sendo ouvido no ambiente, ou seja, o valor é referente ao

ruído dentro do espaço construído devido às propagações diretas e indiretas.

Page 46: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

33

2.7.1.2 Requisitos  referentes  ao  isolamento  de  ruídos  aéreos    

O Quadro 6 apresenta os requisitos e critérios referentes ao isolamento de

ruído aéreo dos pisos entre unidades habitacionais.

Quadro 6: Requisitos e critérios – Isolamento de Ruído Aéreo dos Pisos Entre Unidades Habitacionais

ISOLAMENTO DE RUÍDO AÉREO

Requisito Atenuar a passagem de som aéreo de ruídos de uso normal (fala, TV, conversas, música) e uso eventual (áreas comuns, áreas de uso coletivo)

Critério Diferença padronizada de nível ponderada entre ambientes (DnT,w) conforme indicado na Tabela 5

Fonte: NBR 15575, 2013

A Tabela 5 apresenta os critérios de diferença padronizada de nível

ponderada, de acordo com o nível de desempenho.

Tabela 5: Critérios de diferença padronizada de nível ponderada, DnT,w

ELEMENTO DnT'w NÍVEL DE

DESEMPENHO dB Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas em que um dos recintos seja dormitório

45 a 49 M 50 a 54 I ≥ 55 S

Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas comuns de trânsito eventual, tais como corredores e escadaria nos pavimentos, bem como em pavimentos distintos

40 a 44 M

45 a 49 I

≥ 50 S

Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas comuns de uso coletivo, para atividades de lazer e esportivas, tais como home theater, salas de ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas

45 a 49 M

50 a 54 I

≥ 55 S

Fonte: NBR 15575, 2013

De uma forma simples diz-se que, para o isolamento de ruído aéreo, quanto

maior o índice de isolamento apresentado pelo material melhor o resultado obtido

em termos de isolamento acústico. Neste caso mede-se o quanto a partição é capaz

de isolar, ou seja, o valor apresentado é relativo ao sistema.

Page 47: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

34

2.7.2 Requisitos de isolamento acústico de pisos em outros países

Apesar dos requisitos para desempenho acústico em pisos serem recentes

no Brasil, vários países europeus já adotam critérios para o isolamento acústico de

ruídos de impacto e aéreos, conforme Tabela 6.

Tabela 6: Diferença padronizada de nível ponderada, DnT,w e nível de pressão sonora de impacto

padronizado ponderado, L’nT,w , em outros países

PAÍS AÉREO IMPACTO

DnT'w L’nT,w

Alemanha 54 53

Áustria 54 50

Bélgica 54 60

Espanha CTE 50 65

Espanha NBE 45 80

Finlândia 56 53

França 53 60

Grécia 50 64

Holanda 56 61

Itália 51 63

Polônia 52 58

Portugal 51 60

Reino Unido 51 62

Fonte: Rodriguez, 2013

Comparando os requisitos europeus com os brasileiros, é possível verificar

que a NBR 15575 é menos rígida que as normas dos outros países. Enquanto o

requisito para ruídos aéreos segundo a norma deve ser maior ou igual a 45 dB, a

maioria dos países europeus exigem DnT,w acima de 50 dB. Já para o ruído de

impacto, a norma brasileira exige L’nT,w menor que 80 dB enquanto as europeias

exigem, na sua maioria, índices menores que 65dB.

Page 48: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

35

3 Elaboração do procedimento experimental para medição do isolamento acústico em sistemas de pisos

O procedimento experimental foi elaborado por um grupo de alunos da

Universidade Federal do Rio de Janeiro em um Projeto de Iniciação Científica (PIC).

Esse projeto contou com o apoio da Empresa X e do Laboratório de Acústica e

Vibrações (LAVI) da UFRJ.

O projeto iniciou-se com o desenvolvimento do tema a partir da leitura de

documentos, normas, artigos e livros. Como a NBR 15575 estava sendo revisada

para posterior publicação, o grupo focou o estudo no capítulo 12 que fala sobre

Desempenho Acústico. O desempenho acústico é relevante para os sistemas de

vedações verticais internas e externas, pisos, coberturas e hidrossanitários.

Como os requisitos e procedimentos de medição de cada sistema são

diferentes, é necessário estudar cada sistema separadamente. Assim, optou-se por

estudar a parte 4 da norma - Sistemas de vedações verticais internas e externas - e

posteriormente foi elaborado um procedimento de medição para analisar o

desempenho acústico de vedações verticais internas. Com o objetivo de aplicar o

procedimento, foram realizadas medições in loco em unidades habitacionais da

Empresa X, possibilitando análise ao atendimento a norma.

Após um ano a parte 3 da norma entrou em discussão: Requisitos para os

sistemas de pisos internos. Assim como feito para a parte 4 da norma, foi elaborado

um procedimento experimental de isolamento acústico de sistemas de pisos entre

unidades autônomas e foram realizadas medições in loco em unidades habitacionais

da Empresa X.

O procedimento foi elaborado baseando-se na ISO 140-7:1998 - Acoustics -

Measurement of sound insulation in buildings and of building elements e na NBR

15575-3:2013 - Edificações habitacionais – Desempenho: Requisitos para os

sistemas de pisos internos. A NBR 15575 sugere os métodos de cálculo, indicando

as normas que descrevem o método escolhido, no caso desse procedimento, a ISO

140-7. Além disso, a NBR 15575 apresenta os requisitos e critérios para a

verificação do isolamento acústico do sistema de piso entre unidades autônomas. Este procedimento especifica o método para medir o isolamento acústico por

impacto em pisos utilizando-se a tapping machine, sendo os ruídos sonoros medidos

em bandas de 1/3 de oitava. O método é aplicável para pisos com ou sem

Page 49: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

36

revestimento. Nele será apresentado os equipamentos necessários para realizar a

medição e a calibração dos mesmos; a forma de geração e captura do som; a

posição dos microfones utilizados para capturar o som gerado; a faixa de frequência

das medições; o método de medição do tempo de reverberação; a correção do ruído

de fundo e a forma de expressão dos resultados.

São também apresentados os requisitos acústicos desejáveis para os

sistemas de pisos de acordo com a NBR 15575-3:2013, permitindo assim uma

análise do desempenho acústico dos pisos em questão.

O procedimento experimental de isolamento acústico do sistema de pisos

que foi enviado à empresa X segue no Anexo 1 no final deste trabalho.

3.1 Definições das variáveis utilizadas

A fim de um maior entendimento sobre a parte técnica da acústica, serão

definidas as variáveis utilizadas na medição.

3.1.1 Nível médio de pressão sonora em um ambiente (L)

É uma medida logarítmica da pressão sonora efetiva de um som em relação

ao valor de referência medido em um ambiente. Ele é medido em decibéis (dB)

acima de um nível de referência padrão.

𝐿   =  10  𝑙𝑜𝑔   !!

10!!

!"!!  !  !  𝑑𝐵 eq.[10]

Onde:

Lj = nível de pressão sonora medido

n = quantidade de posições do aparelho de medição na sala

3.1.2 Nível de pressão sonora de impacto (Li)

É o nível médio de pressão sonora medido em bandas de 1/3 de oitava no

cômodo receptor do ruído gerado pela fonte de impacto sonoro, sendo expressado

em decibéis.

Page 50: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

37

3.1.3 Nível de pressão sonora de impacto normalizado (L'n)

É a média do nível de pressão sonora de impacto medida em campo, sendo

ponderado para uma área de absorção igual a 10 m2. É encontrado pela fórmula a

seguir:

𝐿′!  =  𝐿!  +  10  𝑙𝑜𝑔  !!!  𝑑𝐵 eq.[11]

Onde:

Li = nível de pressão sonora de impacto

A = área de absorção equivalente do cômodo receptor

A0 = área de absorção de referência = 10 m²

3.1.4 Nível de pressão sonora de impacto padronizado (L'nT)

É o nível de pressão sonora de impacto padronizado para um tempo de

reverberação igual a 0,50 segundos.

𝐿′!"  =  𝐿!  −  10  𝑙𝑜𝑔  !!!  𝑑𝐵 eq.[12]

Onde:

Li = nível de pressão sonora de impacto

T = reverberação medida

T0 = reverberação de referência = 0,5s

3.1.5 Redução do nível de pressão sonora de impacto (∆L')

É a diferença entre os níveis médios de pressão sonora no cômodo receptor

antes e depois da instalação de, por exemplo, um revestimento de piso.

Page 51: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

38

3.2 Equipamentos

Para realizar a medição são necessários microfones e filtros para aferir o

nível de pressão sonora. Já a geração do som será realizada com a tapping

machine. Esses equipamentos devem ser calibrados de acordo com as normas de

referência.

3.2.1 Tapping machine

A tapping machine padronizada deverá ter cinco martelos colocados em uma

linha. A distância entre os eixos de martelos vizinhos deverá ser (100 ± 3) mm.

Todos os ajustes e verificações na máquina relativas ao cumprimento dos requisitos

devem ser realizados sobre uma superfície plana e dura e a tapping machine deve

ser utilizada nessa condição em qualquer superfície de teste.

A velocidade dos martelos, diâmetro e curvatura da cabeça dos martelos,

direção de queda dos martelos e o tempo entre impactos devem ser verificados

regularmente. A incerteza das medições deve ser no máximo de 20% dos valores

das tolerâncias.

A tapping machine possui ainda outros requisitos que estão descritos no

Apêndice 1 desse trabalho. A Figura 11 demonstra um exemplo de tapping machine

padronizada de acordo com a ISO 140-7.

Figura 11: Tapping machine padronizada de acordo com a ISO 140-7:1998

Fonte: http://www.hellopro.co.uk, 2014

Page 52: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

39

3.2.2 Equipamento de medição do nível sonoro

A precisão do equipamento de medição do nível sonoro deve cumprir os

requisitos de precisão classe 0 ou 1 definidos na IEC 60651 e IEC 60804. Caso o

fabricante não informe a precisão, o sistema de medição completo, incluindo o

microfone, deverá ser ajustado após cada medição com o uso de um calibrador que

atenda aos requisitos de precisão classe 1 contidos na norma IEC 60942 -

Electroacoustics - Sound calibrators. A Figura 12 ilustra um exemplo de

equipamento de medição do nível sonoro de precisão classe 1.

Figura 12: Medidor de nível sonoro de classe 1

Fonte: http://www.cesva.com, 2014

3.2.3 Filtros

Os filtros dos equipamentos de medição devem seguir a norma IEC 61260 -

Electroacoustics - Octave-band and fractional-octave-band filters.

3.2.4 Equipamento de medição do tempo de reverberação

O equipamento para medir o tempo de reverberação deve atender aos

requisitos da ISO 354 - Acoustics - Measurement of sound absorption in a

reverberation room. O medidor de nível sonoro de classe 1 ilustrado na Figura 12

pode ser utilizado para medir o tempo de reverberação.

Page 53: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

40

3.3 Geração do som

O som deve ser gerado pela tapping machine. Ela deve ser colocada em, ao

menos, 4 posições diferentes, distribuídas aleatoriamente sobre o chão a ser

testado. A distância entre a tapping machine e as bordas do piso deve ser de no

mínimo 0,5 m. Serão necessárias mais posições de medição caso o piso possua

métodos construtivos anisotrópicos, como por exemplo a presença de vigas.

Os níveis de pressão sonora de impacto podem revelar uma dependência do

tempo após o início da operação da tapping machine. Dessa forma, as medições

dos níveis de pressão sonora não devem começar até que o ruído gerado torne-se

constante. Além disso, os períodos de medição devem ser relatados.

3.4 Medição do nível de pressão sonora de impacto

A medição do nível de pressão sonora pode ser realizada por um único

microfone mudando-o de posição, por um conjunto de microfones fixos, por um

microfone em movimento oscilatório ou por um microfone em constante movimento.

As distâncias mínimas de separação dos microfones se encontram na

Tabela 7. Tabela 7: Distâncias mínimas de separação dos microfones

DISTÂNCIA SITUAÇÃO 0,7 m entre as posições dos microfones

0,5 m entre qualquer posição do microfone e os limites da sala

1,0 m

entre qualquer posição do microfone e o piso superior

que está sendo submetido aos impactos da tapping

machine

Fonte: ISO 140-7, 1998.

As distâncias variam dependendo se o microfone é fixo ou móvel. Caso o

microfone seja fixo, um mínimo de 4 posições fixas do microfone devem ser

utilizadas, distribuídas de maneira uniforme pelo espaço permitido para medição

no cômodo. Se for móvel, deve-se varrer um raio de no mínimo 0,7m. O plano de

medição deve ser inclinado de forma a cobrir grande parte da área a ser medida,

não podendo manter uma inclinação de 10º com nenhum plano do cômodo

(paredes, teto e piso). O período de medição não pode ser menor que 15s.

Page 54: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

41

A respeito da quantidade mínima de medições, deve-se realizar no mínimo 6

medições com combinações de ao menos 4 posições do microfone e 4 posições da

tapping machine para as medições com microfone fixo. No caso das medições com

microfone móvel, devem ser feitas no mínimo 4 medições (1 para cada posição da

máquina). Se forem utilizadas 6 ou 8 posições da tapping machine, as medições

podem ser realizadas utilizando uma ou duas posições do microfone em movimento.

Para cada uma das posições do microfone, o tempo médio deve ser de

pelo menos 6s para cada faixa de frequência com frequências centrais abaixo de

400 Hz. Para o caso de bandas de frequências centrais maiores, pode-se diminuir

o tempo para não menos que 4s. Para microfones móveis, o tempo médio das

medições deve ser no mínimo 30s.

3.5 Faixa de frequência das medições

O nível de pressão sonora deve ser medido utilizando filtros de 1/3 de banda

de oitava com pelo menos as seguintes frequências centrais (Hz): 100/ 125/ 160/

200/ 250/ 315/ 400/ 500/ 630/ 800/ 1000/ 1250/ 1600/ 2000/ 2500/ 3150. Para se

obter informações adicionais e resultados comparáveis aos encontrados em

medições de laboratório de acordo com a ISO 140-6, é recomendado ampliar a faixa

de frequência com as seguintes frequências centrais (Hz): 4000/ 5000.

3.6 Medição do tempo de reverberação e avaliação da área de absorção sonora equivalente

O tempo de reverberação é definido como o tempo necessário, em

segundos, para que o nível de pressão sonora se reduza em 60dB depois da fonte

sonora ter se extinto. Este tempo deverá ser conhecido para o cálculo da área de

absorção sonora equivalente que, de acordo com a ISO 354, deve ser calculado de

acordo com a fórmula de Sabine:

𝐴   =   !,!"  !!

eq.[13]

Page 55: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

42

Onde:

A = área de absorção sonora equivalente (m²)

V = volume da sala (m³)

T = tempo de reverberação(s)

De acordo com a ISO 354, deve-se iniciar a análise do tempo de

reverberação pela curva de decaimento, aproximadamente 0,1 s após a fonte

sonora ter sido desligada, ou a partir de um nível de pressão sonora um pouco

menor que no início do decaimento.

O número mínimo de medições de decaimento necessárias para cada faixa

de frequência é seis. Deve ser utilizada pelo menos uma posição do alto-falante e

três posições de microfone com duas leituras em cada caso.

3.7 Correção do ruído de fundo

A correção do ruído de fundo deve ser feita para assegurar que as medições

não sejam afetadas por um ruído externo como, por exemplo, ruídos fora da sala

sob teste ou ruídos elétricos dos sistemas utilizados.

O nível de ruído de fundo deve ser pelo menos 6 dB (e preferencialmente

mais que 10 dB) abaixo do nível do sinal e ruído de fundo combinados. Caso a

diferença dos níveis seja menor que 10 dB mas maior que 6 dB, ajusta-se o nível de

sinal de acordo com a equação a seguir:

𝐿   =  10  𝑙𝑜𝑔  (10!!"

!"  −  10!!

!")  𝑑𝐵 eq.[14]

Onde:

L = nível de sinal ajustado

Lsb = nível de som e ruído de fundo combinados (dB)

Lb = é o nível de ruído de fundo (dB)

Se a diferença entre os níveis for inferior ou igual a 6 dB, em qualquer uma

das faixas de frequência, o nível de sinal ajustado será igual a 1,3 dB, que

corresponde a uma diferença de 6 dB.

Page 56: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

43

3.8 Apresentação dos resultados

Os valores do nível de pressão sonora de impacto normalizado L'n ou

padronizado L'nT, devem ser dados em todas as frequências de medição com

uma casa decimal em forma de tabela e na forma de curva. Os gráficos no

relatório de ensaio devem mostrar o nível em decibéis contra a frequência em

uma escala logarítmica, sendo 5mm para uma banda de 1/3 de oitava e 20mm

para 10dB.

Para calcular os valores de L'n ou L'nT em bandas de oitava, a partir dos

valores em bandas de um terço de oitava, devem ser utilizadas as seguintes

equações:

𝐿′!,!"#  =  10  𝑙𝑜𝑔   10!!!,! !!"#,!

!"!!  !  !  𝑑𝐵 eq.[15]

𝐿′!",!"#  =  10  𝑙𝑜𝑔   10!!!",! !!"#,!

!"!!  !  !  𝑑𝐵 eq.[16]

Se o procedimento for repetido, deve-se calcular uma média aritmética dos

resultados encontrados em cada faixa de frequência.

O Quadro 7 exemplifica todos os tópicos que deverão constar no relatório:

Quadro 7: Indicações do relatório

RELATÓRIO Referência a ISO 140-7

Nome da organização que realizou as medições

Nome e endereço da organização/cliente/empresa que requisitou a medição

Data da medição

Descrição e identificação da edificação onde foi feita a medição

Volume do cômodo receptor

L'n ou L'nT em função da frequência

Breve descrição do procedimento e equipamentos

Indicação dos resultados que são tomados como limites da medição (L'n ou L'nT)

A transmissão de flanking (se medida) na mesma forma do L'n

Fonte: ISO 140-7, 1998

Page 57: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

44

3.9 Requisitos acústicos desejáveis

Após o tratamento dos dados, deve-se comparar os resultados encontrados

com os requisitos acústicos desejáveis da NBR 15575-3 para os sistemas de piso .

É importante lembrar que as medições devem ser executadas com portas e janelas

fechadas e deve-se considerar o sistema de piso para posterior avaliação dos

resultados.

A unidade habitacional deve apresentar os níveis de pressão sonora de

impacto padronizado ponderado, L’nT'w, segundo a Tabela 8.

Tabela 8: Critério e nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado, L’nT,w

ELEMENTO L’nT,w NÍVEL DE

DESEMPENHO dB

Sistema de piso separando unidades habitacionais

autônomas posicionadas em pavimentos distintos

66 a 80 M 55 a 65 I ≤ 55 S

Sistema de piso de áreas de uso coletivo

(atividades de lazer e esportivas, tais como home

theater, salas de ginástica, salão de festas, salão

de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas

e lavanderias coletivas) sobre unidades

habitacionais autônomas

51 a 55 M

46 a 50 I

≤ 45 S

Fonte: NBR 15575, 2013

Page 58: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

45

4 Estudo de Caso

A medição in loco foi realizada após a elaboração do procedimento

experimental, sendo possível devido ao apoio da Empresa X, que disponibilizou as

unidades habitacionais, e ao Laboratório de Acústica e Vibrações (LAVI) da UFRJ,

que forneceu os equipamentos para a medição.

A equipe da medição foi formada por dois professores do Departamento de

Construção Civil (DCC) da UFRJ responsáveis pela fiscalização do Programa de

Iniciação Científica, Elaine Garrido Vazquez e Luis Otávio Cocito de Araújo, e pelos

alunos da graduação de Engenharia Civil Fernanda Graça Couto, Anália Torres

Martins, Marcela Potting e Bruna Moreira Serra de Sousa.

Além disso participaram da equipe o aluno de mestrado da COPPE/UFRJ do

curso de Engenharia Mecânica, Guilherme Pedroto de Almeida Magalhães, e do

professor Fernando Castro Pinto, representando o apoio do LAVI. O LAVI foi criado

na década de 1970 e, desde então, está associado à formação de profissionais nas

áreas de Acústica, Vibrações e Dinâmica. As atividades são desenvolvidas em

níveis de graduação, mestrado e doutorado, além de cursos de extensão,

assessoria técnica e metrológica.

É importante lembrar que o LAVI possui uma infraestrutura para aquisição e

análise de sinais acústicos e vibração, possuindo equipamentos clássicos para

acústica e vibrações como microfones, medidores de nível de som, acelerômetros,

analisadores de espectro, osciloscópios digitais, medidores de intensidade,

amplificadores de potência, entre outros. O laboratório forneceu todos os

equipamentos necessários para a realização da medição de acordo com a norma

ISO 140-7:1998.

O ensaio foi realizado em duas unidades autônomas do Empreendimento A,

que pertencem a Empresa X, no dia 7 de Julho de 2012. Esses apartamentos estão

situados em pavimentos consecutivos mas na mesma coluna, sendo as unidades

301 e 401. Dessa forma, a tapping machine foi posicionada na suíte do apartamento

401 e os microfones foram posicionados na suíte do apartamento 301.

O Empreendimento A é um edifício residencial localizado em Jacarepaguá,

dentro de um condomínio de médio/ alto padrão. A ficha técnica do Empreendimento

A está contida na Tabela 9.

Page 59: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

46

Tabela 9: Ficha técnica do Empreendimento A

FICHA TÉCNICA Tipo Residencial

Tipologia 2, 3 e 4 quartos

Área privativa (m²) 87 a 110

Unidades 238

Unidades por andar 14

Bairro Jacarepaguá

Vagas 1

Número de pavimentos 17

Estilo da fachada Contemporânea

Área do terreno (m²) 36561,14

Fonte: Portal da Empresa X, 2014

A fachada e a macrolocalização do Empreendimento A estão apresentadas

nas Figuras 13 e 14, respectivamente:

Figura 13: Fachada do Empreendimento A

Fonte: Portal da Empresa X, 2014

Page 60: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

47

Figura 14: Macrolocalização do Empreendimento A

Fonte: Google Earth, 2014

4.1 Etapas do processo de medição in loco

A primeira etapa foi a elaboração de um procedimento de medição para

medir o isolamento acústico em sistemas de pisos entre unidades autônomas,

baseado na ISO 140-7:1998 - Acoustics - Measurement of sound insulation in

buildings and of building elements e na NBR 15575-3:2013 - Edificações

habitacionais – Desempenho: Requisitos para os sistemas de pisos internos. Este

procedimento foi utilizado para a realização da medição in loco nas unidades

habitacionais fornecidas pela Empresa X.

Com o apoio do LAVI, definiu-se os equipamentos que seriam utilizados na

medição: microfones, conversor de sinais, tapping machine e software para registro

de dados. O software de registro de dados utilizado foi o LabVIEW Signal Express,

que adquire rapidamente a análise e apresentação de dados de centenas de

dispositivos e instrumentos de aquisição de dados, sem exigir programação.

As Figuras 15, 16, 17 e 18 ilustram, respectivamente, a Tapping machine, os

microfones, o conversor e o software LabVIEW Signal Express, sendo esses os

equipamentos utilizados na medição:

EMPREENDIMENTO A

Page 61: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

48

Figura 15: Tapping machine

Fonte: Acervo pessoal, 2012

Figura 16: Microfones MPA416 Sensitivity Calibration

Fonte: Acervo pessoal, 2012

Figura 17: Conversor Hi-Speed USB Carrier

Fonte: Acervo pessoal, 2012

Page 62: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

49

Figura 18: Software LabVIEW Signal Express

Fonte: Acervo pessoal, 2012

Com todos os equipamentos definidos, o próximo passo foi a ida ao

Empreendimento A para a realização da medição.

O som foi gerado pela tapping machine no apartamento 401. Ela foi colocada

em 5 posições diferentes, distribuídas aleatoriamente sobre o chão a ser testado,

respeitando a distância de 0,5m das bordas do piso. Os microfones se situaram no

apartamento 301 para captar o som gerado pela tapping machine. As medições dos

níveis de pressão sonora começaram após 1 minuto, quando o ruído gerado tornou-

se constante. Além disso, os períodos de medição foram de 45 segundos.

As unidades habitacionais foram avaliadas para a obtenção dos valores em

decibel (dB) do nível de pressão sonora por impacto padronizado (L’nT) que é

quando o nível de pressão sonora sofre uma redução em decibéis entre pisos de

dois apartamentos. Para tal, foi preciso calcular o tempo de reverberação (RT60) do

som nos ambientes e tratar os dados obtidos para compará-los com os parâmetros

estabelecidos pela norma.

4.2 Medição do RT60

O parâmetro RT60 consiste no tempo de decaimento de 60 dB do som

gerado em um determinado ambiente. Para isso, o RT60 foi medido através do

estouro de uma bexiga de gás, onde no ambiente o único ruído gerado foi o do

estouro da bexiga. Os níveis de pressão sonora são medidos durante todo o

experimento, dessa maneira, o decaimento fica bem claro.

Page 63: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

50

4.3 Medição do nível de pressão sonora de impacto padronizado (L'nT)

Foram realizadas 5 medições em diferentes posições em piso cerâmico no

apartamento 401, conforme pode ser visto na Figura 19.

Figura 19: Disposição da tapping machine no apartamento 401 nas 5 posições medidas

Fonte: Vazquez, Torres, Potting, Serra, Couto, 2012

As medições do nível de pressão sonora por impacto foram feitas com dois

microfones em constante movimento, na suíte do apartamento 301, seguindo as

considerações da norma ISO 140-7. A planta do apartamento e a posição do

aparelho receptor são apresentadas na Figura 20:

Page 64: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

51

Figura 20: Disposição do receptor no apartamento 301

Fonte: Vazquez, Torres, Potting, Serra, Couto, 2012

4.4 Procedimento X Medição

A seguir, são apresentados quadros com as informações que foram

divergentes entre as descritas no procedimento experimental, com base na NBR

15575 e a norma ISO 140-7, confrontadas com a prática utilizada na medição.

Houve divergência entre os equipamentos utilizados e os descritos na norma

que se justifica por uma modernização dos mesmos. Cabe ressaltar que não houve

prejuízo em relação a esta modificação nas medições realizadas. Estas informações

estão apresentadas no Quadro 8.

Quadro 8: Equipamentos utilizados na medição

ISO 140-7 MEDIÇÃO Microfone: IEC 60942 Microfones: BSWAMPA4N6

Filtros: IEC 61260 Embutido no software utilizado

(LabVIEWSignal Express)

Equipamento de medição do

tempo de reverberação: ISO 354

Embutido no software utilizado

(LabVIEWSignal Express)

Fonte: Vazquez, Torres, Potting, Serra, Couto, 2012

Page 65: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

52

Nos Quadros 9 e 10, apresentados a seguir, a geração de sinal foi obtida a

partir da informação em banda larga, obtida através da Transformada de Fourier.

Portanto, não foi necessária a mudança de posição da fonte, foi efetuada apenas

uma medição com o tempo de 45 segundos. Além disso, não foi necessária a

utilização de filtros de 1/3 de oitava de banda para diversas faixas de frequência e a

medição do tempo de reverberação pode ser efetuada de forma direta.

Quadro 9: Medição do nível médio de pressão sonora

ISO 140-7 MEDIÇÃO

Distâncias mínimas de separação entre os

microfones: 0,7m entre as posições do

microfone; 0,5m entre qualquer posição do

microfone e os limites da sala; 1,0m entre o

microfone e o piso superior que está sendo

submetido aos impactos da tapping machine

Conforme ISO 140-7

Medição com microfone móvel: devem ser feitas

no mínimo 4 medições 5 medições

Microfone em movimento com o tempo mínimo

de 15s. Tempo 45s

Fonte: Vazquez, Torres, Potting, Serra, Couto, 2012

Quadro 10: Faixa de frequência das medições

ISO 140-7 MEDIÇÃO

O nível de pressão sonora deve ser

medido utilizando filtros de banda de

1/3 de oitava com pelo menos as

seguintes frequências centrais (Hz):

100/ 125/ 160/ 200/ 250/ 315/ 400/ 500/

630/ 800/1000/ 1250/ 1600/ 2000/

2500/ 3150. Para ampliar a faixa

devemos utilizar as seguintes

frequências (Hz): 4000/ 5000

Obtenção da informação em

banda larga (de 100Hz até

3150Hz)

Fonte: Vazquez, Torres, Potting, Serra, Couto, 2012

Page 66: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

53

4.5 Tratamento de dados

A NBR 15575 propõe o método de engenharia como o mais indicado para

ser utilizado nas medições do desempenho acústico da edificação. Este método é

descrito na ISO 140-7, bem como as equações utilizadas para a determinação do

nível de pressão sonora por impacto padronizado em cada frequência especificada:

𝐿′!"  =  𝐿!  −  10  𝑙𝑜𝑔  !!!  𝑑𝐵 eq.[17]

Onde:

Li é o nível de pressão sonora na sala utilizada quando o piso sob teste esta

excitado pela tapping machine

T é o tempo de decaimento (RT60) medido com o estouro de uma bexiga de gás.

T0 é o tempo de reverberação de referência (0,5 s).

Após obtidos os L’nT para cada frequência especificada na norma, é

necessário transformá-los em um número único de acordo com a ISO 717-2: 2006 –

Acoustics – Rating of sound insulation in buildings and of building elements – Part 2:

Impact sound insulation. Para isso, a curva de L’nT obtida na medição de campo

deve ser ajustada à curva de valores de referência para ruído de impacto em bandas

de 1/3 de oitava encontrada na ISO 717-2.

Através deste ajuste, os desvios desfavoráveis são utilizados para a

obtenção do número único. A soma dos desvios desfavoráveis deve ser menor que

32 dB. O ajuste que mais se aproximar deste somatório será utilizado para a

obtenção do número único, que no caso é referente à frequência de 500 Hz.

O procedimento utilizado para a obtenção do número único, assim como os

dados obtidos na medição, encontram-se no Apêndice 2.

4.6 Resultados

A tapping machine foi posicionada na suíte do apartamento 401 e os

microfones e o computador, no apartamento 301. A laje entre as unidades medidas

possui espessura de aproximadamente 17 cm e o revestimento do piso do

apartamento 401 é cerâmico.

Page 67: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

54

Após o tratamento de dados, encontrou-se um valor em decibéis, permitindo

uma comparação entre o valor medido in loco e o valor estabelecido como mínimo,

conforme a Tabela 10.

Tabela 10: Resultado da medição entre unidades

ELEMENTO MEDIÇÃO NORMA NÍVEL DE

DESEMPENHO dB dB

Suíte (401) – Suíte (301) 61 66 a 80 M 55 a 65 I ≤ 55 S

Fonte: Vazquez, Torres, Potting, Serra, Couto, 2012

Pela norma NBR 15575:2013, é importante ressaltar que os valores do nível

de pressão sonora por impacto padronizado (L'nt) acima do máximo valor sugerido

são desconfortáveis para o usuário. Assim, observa-se que o resultado obtido pela

medição está conforme os parâmetros da Norma 15575-3:2013, sendo confortável

para o usuário.

Apesar disso, o resultado apresenta um nível de desempenho intermediário,

o que indica que há a possibilidade de melhorar a qualidade desta edificação.

Page 68: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

55

5 Considerações finais

A década de 70 foi marcada pela racionalização da construção civil,

momento em houve a redução do peso das construções a fim de se economizar e

diminuir a duração das obras. Isso gerou uma queda de qualidade do produto final

entregue ao consumidor, comprometendo principalmente o conforto acústico pois,

segundo a Lei da Massa, quanto mais denso o material, melhor o isolamento. Esse

quadro se perdurou ao longo dos anos, gerando insatisfação dos consumidores, que

reclamavam principalmente do desconforto causado por ruídos transmitidos a

unidade habitacional.

A publicação da Norma de Desempenho NBR 15575 em Julho de 2013

representa uma mudança de paradigma na construção civil, obrigando o setor a

passar por uma conscientização geral e obrigatória já que as normas técnicas

brasileiras tem valor de lei. Assim, os consumidores de imóveis poderão exigir das

construtoras que os sistemas que compõem os edifícios atendam a requisitos

mínimos de desempenho ao longo de uma determinada vida útil.

Caso os requisitos não sejam atendidos, os consumidores poderão ser

amparados pela Lei de Defesa do Consumidor para exigir desempenho dos imóveis

cujos projetos foram protocolados a partir de Novembro de 2013. Dessa forma, as

empresas que insistirem em imóveis não conformes poderão passar por situações

desgastantes e custosas.

A norma trouxe novos conceitos na normatização brasileira, como o conceito

de comportamento em uso dos componentes e sistemas das edificações, de forma

que a unidade habitacional deve atender e cumprir as exigências ao longo dos anos.

Com isso, haverá uma melhoria na relação de consumo no mercado imobiliário já

que todos os participantes da produção habitacional, ou seja, projetistas,

fornecedores, construtores, incorporadores e usuários, serão incumbidos de suas

responsabilidades.

Uma mudança cultural na engenharia habitacional é aguardada, pois será

necessária uma nova metodologia de projeto que exigirá um nível de conhecimento

e informações maiores que as atuais, além de uma visão de longo prazo. Os

processos de criação, edificação e manutenção terão de ser mais criteriosos da

concepção até o plano de qualidade do empreendimento para assim alcançar uma

produção mais qualificada e com melhor desempenho.

Os níveis de desempenho mínimo requeridos pela norma poderão ser

ferramentas de marketing. A tendência é que as empresas em conformidade com a

Page 69: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

56

norma irão evidenciar seu atendimento, divulgando em sites, propagandas e

memoriais descritivos de venda. Assim, o não atendimento a norma poderá significar

uma perda de competividade. Além disso, a norma estabelece um patamar mínimo

de qualidade abaixo do qual se considera a empresa executora inabilitada à obra,

criando barreiras técnicas para construtoras desqualificadas. Dessa forma, os

clientes serão induzidos a comparar produtos e não comprar apenas por preços

mais baixos, o que já acontece em quase todos os setores da economia.

A Norma de Desempenho deve gerar uma pequena alta nos custos da

construção. Os empreendimentos de padrão econômico poderão ser mais

impactados já que terão de ser revistos muitos dos materiais e procedimentos

utilizados nesse tipo de obra. Isso pode acontecer até mesmo entre os

empreendimentos de alto padrão que, em geral, já cumprem requisitos mínimos de

qualidade em diversos em função do público consumidor que é mais exigente.

Pesquisas de satisfação pós ocupação realizadas por incorporadoras e

construtoras mostram claramente que a maior reclamação por parte dos usuários é

o desconforto causado pela geração de ruídos externos ao edifício, dos vizinhos e

até mesmo entre unidades habitacionais. Esta situação ensejou a realização do

presente trabalho.

O foco deste trabalho foi o desempenho acústico de pisos em função de

ruídos de impacto. Sugere-se para futuros trabalhos a avaliação acústica dos outros

sistemas construtivos contidos na norma, a apresentação de possíveis soluções

para melhoria do desempenho acústico desses sistemas e uma análise do

comportamento do mercado após a publicação da norma.

O resultado encontrado na medição realizada está em conformidade com a

norma pois atende ao parâmetro mínimo exigido, que é um nível de pressão sonora

por impacto padronizado (L'nt) menor ou igual a 80 dB. Porém, a norma apresenta

níveis de desempenho intermediários (M) e superiores (S) que não são obrigatórios,

de forma que o resultado obtido possui um nível de desempenho intermediário.

Assim, as unidades habitacionais medidas poderiam atingir um melhor nível de

desempenho acústico, que representaria uma melhora na qualidade da edificação.

Os níveis de desempenho impostos pela norma estão aquém dos praticados

nos países desenvolvidos, já que não houve exageros no níveis de exigência dos

requisitos em função da realidade social, econômica e técnica brasileira. Esse fato

pode ser verificado ao se comparar os requisitos europeus com os brasileiros no

quesito desempenho acústico de pisos.

Conforme apresentado no presente trabalho, os requisitos europeus são

mais rígidos que os brasileiros. Entretanto, a norma de desempenho representa uma

Page 70: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

57

primeira tentativa de gradualmente se adquirir o hábito de construir com mais

qualidade. Além disso, é importante implantar a cultura do desempenho acústico

com requisitos menos rígidos para que as construtoras se adequem aos poucos a

norma e talvez, futuramente, serem exigidos melhores níveis de isolamento

acústico.

Um outro ponto que merece destaque é a dificuldade de utilização dos

métodos de cálculo sugeridos pela NBR 15575. Os métodos de engenharia e

simplificado de campo são somente descritos nas normas internacionais ISO 140 e

ISO 10052, respectivamente. Este fato representa uma barreira para a utilização dos

métodos, já que essas normas devem ser compradas e apresentam preço elevado.

Assim, uma empresa que deseja atingir desempenho acústico de pisos em

suas edificações não necessita somente da NBR 15575, tornando o objetivo de se

estar em conformidade com a norma de desempenho uma tarefa bastante custosa e

não tão simples quanto parece.

Os conceitos de desempenho precisam ser amplamente divulgados a todos

os participantes do processo construtivo para que haja um desenvolvimento do setor

da construção. A busca pelo atendimento a norma acarretará no estudo de novas

tecnologias que apresentem melhor desempenho e menos custo.

A NBR 15575 é muito importante para a construção civil pois impõe uma

cultura voltada para o desempenho da edificação, para o foco na pesquisa, na

utilização de novas tecnologias e por consequência, na elaboração de um bom

projeto. Assim será possível obter a construção correta e responsável de um

empreendimento.

Page 71: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AKKERMAN, D. Conforto Acústico - Norma de Desempenho para unidades

habitacionais. Disponível em

<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.060/4499>. Acesso em 02 de

agosto de 2014. Publicado em Setembro de 2012.

AMORIM, A., LICARIÃO, C. Conforto Acústico - Introdução ao Conforto

Ambiental. Virtual Book, FEC/Unicamp, 2005. Disponível em

<ttp://pt.slideshare.net/leandrounip/conforto-acstico>. Acesso em 25 de Junho de

2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉNICAS. NBR 15575-1: Edificações

Habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.

83 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉNICAS. NBR 15575-3: Edificações

Habitacionais – Desempenho – Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos. Rio

de Janeiro, 2013. 55p.

BARBOSA, A. S. Uso de indicadores de desempenho nas empresas

construtoras brasileiras - Diagnóstico e orientações para utilização. Tese de

D.Sc., Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.

BISTAFA, S. R. Acústica Aplicada ao Controle do Ruído. 1 ed. São Paulo,

Edgard Blücher. 2006.

BORGES, C. A. M. O conceito de desempenho de uma edificação e a sua

importância para o setor da construção civil no Brasil. Tese de M.Sc.,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Desempenho de

edificações habitacionais - Guia orientativo para atendimento a norma ABNT

NBR 15575/2013. Brasília, 2013. 311p.

Page 72: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

59

CORDOVIL, L. A. B. L. Estudo da ABNT NBR 15575 – “Edificações habitacionais

– Desempenho” e possíveis impactos no setor da construção civil na cidade

do Rio de Janeiro. Dissertação (Graduação), Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

GREVEN, H. A., FAGUNDES, H. A. V., EINSFELDT, A. A. ABC do Conforto

Acústico. 2 ed. Publicado na revista da Knauf Drywall, 2006.

HALLIDAY, D., RESNICK, R., WALKER, J. Fundamentos de Física: gravitação,

ondas e termodinâmica (em Português). 4 ed. LTC, vol. 2, 1996.

HUNGRIA, H. Otorrinolaringologia. 7 ed. Guanabara, 1973.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Anual da

Indústria da Construção 2011. Rio de Janeiro, 2011. 97p, vol. 21.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 140-7:

Acoustics – Measurement of sound insulation in buildings and of building

elements – Part 7: Field measurements of impact sound insulation of floors.

London, 1998. 15p.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 354: Acoustics

– Measurement of sound absorption in a reverberation room. London, 2003.

21p.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 717-2:

Acoustics – Rating of sound insulation in buildings and of building elements –

Part 2: Impact sound insulation. London, 2006. 12p.

LITWINCZIK, V. Acústica das Edificações. Virtual Book, 2012. Disponível em

<http://pt.slideshare.net/robsonqsmsrs/ebook-02-

animaacusticadesempenhodepisos>. Acesso em 01 de Julho de 2014.

LUCA, C. R. de. Desempenho acústico em sistemas de drywall. Brasil, 2011.

23p.

Page 73: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

60

MARTINS, A. T. Elaboração e aplicação de procedimento para análise do

desempenho acústico nas vedações verticais em unidade habitacional

multifamiliar com base na NBR 15575:2013. Dissertação (Graduação),

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

NERBAS, P. F. Estudo Arquitetônico para Gestores Imobiliários. Curitiba,

IESDE, 2009.

PEDROSO, M. A. T. Estudo comparativo entre as modernas composições de

pisos flutuantes quanto ao desempenho no isolamento ao ruído de impacto.

Tese de M.Sc., Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.

PINTO, J. T. Avaliação da poluição sonora no centro comercial do município de

São Carlos. Dissertação (Graduação), Universidade de São Paulo, São Carlos,

2009.

PROCEL EDIFICA - EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES. Acústica

Arquitetônica. Rio de Janeiro, 2011. 117p.

RODRIGUEZ, C. B. Suelo Flotante - Sostenibilidad y aislamiento acústico en la

construcción. Dissertação (Graduação), Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro, 2013.

ROSA, R. S. Ruído urbano: estudo de caso da cidade de Sapucaia do Sul.

Dissertação (Graduação), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio

Grande do Sul, Ijuí, 2007.

SOUZA, L. C. L de, ALMEIDA, M. G. de, BRAGANÇA, L. Bê-a-bá da acústica

arquitetônica: ouvindo a arquitetura. 1.ed. Bauru, 2003. 150p.

Page 74: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

61

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS

ARQUITETURA E URBANISMO UFSC – Noções de isolamento acústico e absorção

sonora. Disponível em <http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2002-

2/acustica/isolamento.htm#topo>. Acesso em 04 de agosto de 2014.

BRASIL ESCOLA – Conceitos de eco, reflexão, reverberação, refração e audição

humana. Disponível em <http://www.brasilescola.com/fisica>. Acesso em 23 de julho

de 2014.

CESVA – Sound Level Meter and Spectral Analyser. Disponível em

<http://www.cesva.com/en/products/sound-level-meters/sc310l>. Acesso em 21 de

julho de 2014.

CONSTRUÇÃO SUSTENTAVEL – Conceitos de conforto acústico. Disponível em

<http://www.construcaosustentavel.pt/index.php?/O-Livro-%7C%7C-Construcao-

Sustentavel/Conceitos/Valorizacao-Ambiental/Conforto-Acustico>. Acesso em 21 de

julho de 2014.

FONÉTICA & FONOLOGIA – Conceitos de amplitude, comprimento de onda,

período e frequência. Disponível em

<http://www.fonologia.org/acustica_osom_2.php>. Acesso em 28 de julho de 2014.

GOOGLE EARTH – Localização do empreendimento da Empresa X. Disponível em

<https://www.google.com/earth>. Acesso em 02 de julho de 2014.

HELLOPRO – Standardised Tapping Machine MI005. Disponível em

<http://www.hellopro.co.uk/CESVA-1166-noprofil-1000679-7690-0-1-1-fr-

societe.html>. Acesso em 21 de julho de 2014.

KNAUF AMF – Conceitos técnicos de conforto acústico. Disponível em

<http://www.knaufamf.com.br/consumidor-final/conceitos-tecnicos/conforto-

acustico>. Acesso em 05 de julho de 2014.

LABORATÓRIO DE ACÚSTICA E VIBRAÇÕES – LAVI. Disponível em

<http://www.lavi.coppe.ufrj.br >. Acesso em 03 de julho de 2014.

Page 75: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

62

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – Menção aos limites de ruídos toleráveis.

Disponível em <http://revistavivasaude.uol.com.br/clinica-geral/o-que-a-poluicao-

sonora-pode-causar/1973/>. Acesso em 22 de Julho de 2014

PROACÚSTICA. Especificação de desempenho acústico nas edificações.

Disponível em <http://www.proacustica.org.br/publicacoes/artigos-sobre-

ac%C3%BAstica-e-temas-relacionados/setor-da-construcao-tera-de-aprender-a-

especificar-desempenho-acustico-nas-edificacoes.html>. Acesso em 04 de agosto

de 2014.

SOFISICA – Reflexão do som. Disponível em

<http://www.sofisica.com.br/conteudos/Ondulatoria/Acustica/reflexao.php>. Acesso

em 02 de agosto de 2014.

SOLER & PALAU – Conceitos de acústica. Disponível em

<http://www.solerpalau.pt/formacion_01_23.html#3>. Acessado em 31 de julho de

2014.

WIKIPEDIA – Conceitos do som. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Som>.

Acesso em 25 de julho de 2014.

YDUKA.COM – O ouvido humano e propriedades do som. Disponível em

<http://www.yduka.com/sumarios-e-licoes-8>. Acesso em 02 de agosto de 2014.

Page 76: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

63

ANEXOS

ANEXO 1 – Descrição do método de medição do isolamento acústico – relação

obtida em PIC – UFRJ & Empresa X. Junho 2012. Anexo 1, p. 64 - 71.

Page 77: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

64

ANEXO 1

PROGRAMA: PIC – UFRJ & Empresa X

NOME ARQUIVO: MC-02-001_0.docx

GRUPO: G2 – Norma de Desempenho

COLABORADORES: Elaine Vazquez, Anália Torres, Bruna de Sousa, Fernanda

Graça Couto e Marcela Potting

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE MEDIÇÃO DO ISOLAMENTO ACÚSTICO

1. Elementos construtivos a serem avaliados:

• Piso • Coberturas acessíveis de uso coletivo

2. Método de avaliação:

Método de engenharia, conforme ISO 140-7 “Medição do isolamento acústico em edifícios e seus elementos” Os procedimentos descritos podem ser utilizados para pavimentos com ou sem revestimentos.

3. Requisitos:

3.1. Requisito – Níveis de ruído admitidos na habitação

Atenuar a passagem de som resultante de ruídos de impacto (caminhamento, queda

de objetos e outros) entre unidades habitacionais.

a. Critério – Ruído de impacto em sistemas de piso

A unidade habitacional deve apresentar o nível de pressão sonora de impacto

padronizado ponderado, L’nT,w, proporcionado pelo entrepiso conforme indicado na

tabela 1:

Page 78: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

65

Elemento L’nT,w

dB

Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas posicionadas em pavimentos distintos ≤80

Sistema de piso de áreas de uso coletivo (atividades de lazer e esportivas, como home theater, salas de ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas) sobre unidades habitacionais autônomas

≤55

Tabela 6 – Critério e nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado, L’nT,w, para ensaios

de campo

3.2. Requisito – Isolamento de ruído aéreo dos PISOS entre unidades habitacionais

Atenuar a passagem de som aéreo resultante de ruídos de uso normal (fala, TV,

conversas, música, impactos, caminhamento, queda de objetos e outros).

Elemento DnT,w dB

Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas em que um dos recintos seja dormitório ≥45

Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas comuns de trânsito eventual, como corredores e escadaria nos pavimentos, bem como em pavimentos distintos

≥40

Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas comuns de uso coletivo, para atividades de lazer e esportivas, como home theater, salas de ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas

≥45

Tabela 7 – Critérios de diferença padronizada de nível ponderada, DnT,w para ensaios de campo

3.3. Requisito – Isolação acústica da COBERTURA devida sons aéreos (fontes de emissão externas)

Proporcionar condições de isolamento acústico para: repouso noturno nos

dormitórios; para atividades intelectuais nas salas de estar; e descanso e lazer

doméstico nas salas de estar.

a. Critério – Isolação acústica da cobertura devida sons aéreos para casas térreas pelo ensaio de campo

Page 79: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

66

Tabela 4 – Diferença padronizada de nível ponderada da vedação externa (D2m,nT,w)

b. Critério – Índice de redução sonora ponderado da cobertura pelo ensaio de

laboratório

Tabela 5 – Índice de redução sonora ponderado da cobertura (Rw)

3.4. Requisito – Isolação de ruído de impacto para as COBERTURAS acessíveis de uso coletivo

Apresentar nível de isolamento acústico, frente aos ruídos transmitidos por

impactos, naqueles edifícios que facultam acesso coletivo à cobertura.

a. Critério – Isolação de ruídos de impactos em coberturas acessíveis de uso coletivo

Tabela 6 – Nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado, L’nT,w, para ensaios de

campo

4. Equipamentos:

Os equipamentos usados nas medições devem ser ajustados segundo as normas

de referência:

1. Microfone: IEC 60942 2. Filtros: IEC 61260 3. Medição do tempo de reverberação está definida na ISO 354

Page 80: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

67

4. Definições:

• Nível médio de pressão sonora em um ambiente (L):

Onde:

Lj = nível de pressão medido

n = diferentes posições do aparelho de medição n sala

• Nível de pressão sonora (Li): é medido quando o som é estimulado no andar de cima de onde está sendo feita a medição, também é expressado em decibéis.

• Impacto normalizado de pressão sonora (L´n):

Onde:

Li = nível de pressão sonora

A = área de absorção equivalente

Ao = área de absorção de referência = 10 m²

• Impacto de nível de pressão sonora padronizados (L´nt): o nível de pressão sonora sofre uma redução em decibéis.

Onde:

T = reverberação medida

To = reverberação de referência = 0,5s

• Redução do impacto do nível de pressão sonora (ΔL´): é a diferença da pressão sonora na sala de recepção antes e depois da instalação de, por exemplo, um revestimento no chão.

Page 81: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

68

5. Procedimento de teste e avaliação:

As medições em campo do isolamento acústico por impacto deve ser feita usando

bandas de 1/3 de oitava, a menos que o oitavo de banda tenha sido acordado

previamente.

OBS: Definição de 1/3 de oitava:

1. Refere-se a duas frequências que estão 1/3 de oitava de distância entre si. 1/3

de oitava representa uma frequência 1,26 vezes acima ou 0,794 vezes abaixo da

referência. Por exemplo, uma frequência que está 1/3 de oitava acima de 1 kHz

vale 1,26 kHz (valor este arredondado para 1,25 kHz nos equalizadores). E uma

frequência 1/3 de oitava abaixo de 1 kHz vale 794 Hz (arredondado para 800 Hz).

2. Termo usado para expressar a largura de banda de equalizadores e outros

filtros cujos pontos de -3dB (metade da potência) estão 1/3 de oitava distantes

entre si. Equalizadores com tais filtros costumam ter entre 29 e 31 bandas.

3. Aproximadamente a menor faixa de frequências em que o ser humano detecta

auditivamente alguma alteração com segurança (embora algumas pesquisas

recentes indiquem que essa faixa possa ser mais corretamente definida como 1/6

de oitava nas frequências acima de 500 Hz e com uma largura de 100 Hz abaixo

desse ponto). O ouvido humano analisa o som por meio de uma série de estreitos

filtros passa-banda parcialmente sobrepostos.

5.1 Geração do som (campo sonoro): o som deve ser gerado pela “tapping machine”. Ela deve ser colocada em 4 posições diferentes, distribuídas aleatoriamente sobre o chão a ser testado, respeitando a distância de 0,5m das bordas do piso (caso o chão tenha vigas, mais posições devem ser acrescentadas de maneiras aleatória). As medições dos níveis de pressão sonora não devem começar até que o ruído gerado torne-se constante; além disso, os períodos de medição devem ser comunicados.

5.2 Medição do nível de pressão sonora de impacto: pode ser feita por um único microfone, mudando-o de posição; por uma matriz de microfones fixos; por um microfone oscilante ou por um microfone em constante movimento.

Considerações:

• Distâncias mínimas de separação entre os microfones:

Page 82: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

69

0,7m entre as posições do microfone; 0,5m entre qualquer posição do microfone

e os limites da sala; 1,0m entre o microfone e o piso superior que está sendo

submetido aos impactos da “tapping machine”.

Microfone fixo: um mínimo de 4 posições fixas para o microfone devem ser

utilizadas, distribuídos de maneira uniforme;

Microfone móvel: varrer um raio de no mínimo 0,7m com um plano inclinado de

forma a cobrir grande parte da área a ser medida e o período de medição não

pode ser menor do que 15s.

• Quantidade mínima de medições:

Medição com microfone fixo: devem ser feitas no mínimo 6 medições com

combinações de ao menos 4 posições do microfone e 4 posições da “tapping

machine”;

Medição com microfone móvel: devem ser feitas no mínimo 4 medições (1 para

cada posição da máquina), se usarmos 6 ou 8 máquinas podemos medir usando

1 ou 2 posições do microfone em movimento.

• Tempo médio:

Para cada uma das posições do microfone, o tempo médio deve ser de pelo

menos 6s para cada faixa de frequência com frequências centrais abaixo de 400

Hz. Para o caso de bandas com frequências centrais maiores, podemos diminuir

o tempo para não menos que 4s. Com microfone em movimento temos o tempo

mínimo de 30s.

5.3 Faixa de frequência das medições: o nível de pressão sonora deve ser medido utilizando filtros de 1/3 de oitava de banda com pelo menos as seguintes frequências centrais (Hz): 100/ 125/ 160/ 200/ 250/ 315/ 400/ 500/ 630/ 800/1000/ 1250/ 1600/ 2000/ 2500/ 3150. Para ampliar a faixa devemos utilizar as seguintes frequências (Hz): 4000/ 5000.

5.4 Medição do tempo de reverberação e avaliação da área de absorção sonora equivalente: devemos usar pelo menos 6 medições para cada faixa de frequência, pelo menos uma posição de alto-falante e três posições de microfone com duas leituras devem ser usadas em cada caso. O tempo de reverberação de acordo com a ISO 354 deve ser calculado de acordo com a fórmula de Sabine:

Page 83: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

70

Onde:

A = área de absorção sonora equivalente (m²)

V = volume da sala (m³)

T = tempo de reverberação(s)

5.5 Correção do ruído de fundo: é feita para assegurar que as medições não sejam

afetadas por um ruído externo como ruídos fora da sala de teste ou ruídos elétricos dos sistemas utilizados. O nível de ruído de fundo deve ser de pelo menos 6 dB abaixo do nível de ruído de fundo e sinal combinados (e preferencialmente mais que 10 dB):

Onde:

L = nível de sinal ajustado

Lsb = nível de som e ruído de fundo combinados (dB)

Lb = é o nível de ruído de fundo (dB)

Se a diferença nos níveis é menor ou igual a 6dB em qualquer uma das faixas de

frequência, usamos L= 1,3dB.

6. PRECISÃO

Deve ser verificada ao longo do tempo, principalmente quando é feita uma

alteração no procedimento ou nos instrumentos. Seu valor depende do método

utilizado, que consta na norma ISO 140-2.

7. EXPRESSANSO OS RESULTADOS:

L´nt ou L´n devem ser dados em todas as frequências com 1 casa decimal e

também graficamente na seguinte escala logarítmica: 5mm para uma banda de

1/3 de oitava e 20mm para 10dB. Para o cálculo:

Page 84: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

71

Se o procedimento é repetido, devemos calcular uma média dos resultados

encontrados.

O relatório deve indicar:

• Referência a ISO 140-7; • Nome da organização que realizou as medições; • Nome e endereço da organização/cliente/empresa que ordenou o teste; • Data do teste; • Descrição e identificação da edificação onde foi feito o teste; • Volume da sala de recepção; • L'n ou L'nT; • Breve descrição do procedimento e equipamentos; • Indicação dos resultados que são tomados como limites da medida (L'n e L'nT); • Acompanhamento da transmissão (se medidas).

Page 85: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

72

APÊNDICES

APÊNDICE 1 – Requisitos de uma tapping machine padronizada – relação obtida da

ISO 140-7:1998 – Acoustics - Measurement of sound insulation in buildings and of

building elements. Apêndice 1, p. 73 - 74.

APÊNDICE 2 – Tratamento de dados da medição in loco – relação obtida em PIC –

UFRJ & Empresa X e da ISO 717-2: 2006 – Acoustics – Rating of sound insulation in

buildings and of building elements. Apêndice 2, p. 75 - 77.

Page 86: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

73

APÊNDICE 1

REQUISITOS DE UMA TAPPING MACHINE PADRONIZADA

A tapping machine precisa atender a alguns requisitos para que seja utilizada

na medição do nível de pressão sonora de impacto. Alguns desses requisitos já

foram citados no item 3.2.1 desse trabalho. Outros requisitos também importantes

estão descritos ao longo desse anexo.

A distância entre o centro dos apoios da tapping machine e os eixos dos

martelos vizinhos deve ser de pelo menos 100mm. Os suportes devem estar

equipados com amortecedores de isolamento vibratório.

O momento de cada martelo que atinge o chão deve ser a de uma massa

efetiva de 500 g que cai livremente de uma altura de 40 mm, com ± 5% de limite de

tolerância para o momento. Como o atrito da orientação martelo tem de ser

considerada, deve assegurar-se que não só a massa do martelo e a altura de

queda, mas também a velocidade do martelo no impacto se encontre dentro dos

seguintes limites: a massa de cada martelo deve ser 500 ± 12 g; a velocidade de

impacto deve ser igual a 0,033 m/s caso se assegure que a massa do martelo

encontra-se dentro dos limites reduzidos iguais a 500 ± 6 g.

A direção de queda dos martelos deve ser perpendicular à superfície de teste

com uma precisão de ± 0,5 °. A parte do martelo que corresponde a superfície de

impacto deve ser cilíndrica com um diâmetro de 30 ± 0,2 mm. A superfície de

impacto deve ser de aço endurecido e deve ser esférica com um raio de curvatura

de 500 ± 100 mm. O cumprimento deste requisito pode ser realizada nas seguintes

formas:

a) A curvatura da superfície de impacto é considerada em conformidade com as

especificações se os resultados das medições estão dentro das tolerâncias

indicadas na Figura 1, que é quando um medidor é movido sobre a superfície em

pelo menos duas linhas através do ponto central, sendo as linhas perpendiculares

entre si.

b) A curvatura das cabeças dos martelos pode ser testada usando um spheremeter

com três antenas, deitado sobre um círculo com um diâmetro de 20mm.

Page 87: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

74

Figura 1: Limites de tolerância para a curvatura das cabeças dos martelos

Fonte: ISO 140-7, 1998

A tapping machine deve ser automática. O tempo médio entre impactos

devem ser 100 ± 5ms. O tempo entre os impactos sucessivos deve ser 100 ± 20ms.

O tempo entre o impacto e a elevação do martelo deve ser inferior a 80ms.

Para tapping machines usadas em testes de isolamento do impacto sonoro

de pavimentos com revestimentos macios ou superfícies irregulares, deve-se

assegurar que os martelos caiam pelo menos 4 mm abaixo do plano em que se

encontram os apoios da tapping machine.

Se a superfície de teste for coberta com um revestimento extremamente

macio ou se a superfície for muito irregular, de modo que os martelos não sejam

capazes de atender o requisito de 40 milímetros para a superfície sobre a qual os

suportes se apoiam, pastilhas deverão ser usadas sob os suportes para assegurar a

correta altura de queda de 40 mm.

O cumprimento deste requisito deve ser verificado em intervalos regulares

sob condições padrões de laboratório. O ensaio deve ser realizado em uma

superfície de teste que seja plana com precisão de ± 0,1 mm e horizontal com

precisão de ± 0,1 °.

Alguns dos parâmetros só precisam ser medidos uma vez, a não ser que a

tapping machine tenha sido modificada, como por exemplo, a distância entre

martelos, apoios da tapping machine, diâmetro dos martelos, a massa dos martelos

e elevador e altura de queda máxima possível dos martelos.

Page 88: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

75

APÊNDICE 2

TRATAMENTO DE DADOS DA MEDIÇÃO IN LOCO

1. Dados obtidos na medição

Os resultados da medição in loco foram obtidos a partir do software

LabVIEWSignal Express e corrigidos através da fórmula abaixo.

𝐿   =  10  𝑙𝑜𝑔  (10!!"

!"  −  10!!

!")  𝑑𝐵

Onde:

L = nível de sinal ajustado

Lsb = nível de som e ruído de fundo combinados (dB)

Lb = é o nível de ruído de fundo (dB)

A Tabela 1 apresenta os dados já corrigidos.

Tabela 1: Dados da medição tratados

Frequência (Hz) Atenuação (dB)

100 57,7

125 57,4

160 61,9

200 64,1

250 63

315 65

400 66,5

500 64,7

630 65,3

800 63,9

1000 61,8

1250 57,6

1600 51,7

2000 43,1

2500 35,7

3150 31,5

Fonte: Autor, 2014

Page 89: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

76

2. Obtenção de um valor único em dB

A NBR 15575-3 fornece um único valor, tornando-se necessário transformar

os L’nT obtidos para cada frequência especificada na norma em um número único,

de acordo com a ISO 717-2.

2.1 Descrição do cálculo do L’nT,w explícito na ISO 717-2

A fim de se avaliar os resultados de uma medição de L'nT em 1/3 de bandas

de oitava, os dados da medição deverão ser dados com uma casa decimal. A curva

de L’nT obtida na medição de campo deve ser ajustada à curva de valores de

referência até que a soma dos desvios desfavoráveis seja tão grande quanto

possível, mas não maior que 32 dB.

O ajuste que mais se aproximar deste somatório será utilizado para a

obtenção do número único, L'nT,w , que no caso é referente à frequência de 500 Hz.

Os valores de referência encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2: Valores de referência para ruído de impacto

Frequência (Hz)

Valores de referência (dB)

1/3 de bandas de oitava

Bandas de oitava

100 62 125 62 67 160 62 200 62 250 62 67 315 62 400 61 500 60 65 630 59 800 58

1000 57 62 1250 54 1600 51 2000 48 49 2500 45 3150 42

Fonte: ISO 717, 2006

Page 90: aplicação de procedimento para análise do desempenho acústico

77

2.2 Cálculo do L’nT,w

Subtraiu-se os valores da atenuação, estes com uma casa decimal, dos

valores de referência, considerando-se apenas os resultados positivos. Essas

diferenças foram somadas, obtendo-se um somatório maior que 32 dB, não

satisfazendo a ISO 717-2. Assim, foi-se necessário somar 1 dB ao valor de

referência. Repetiu-se o processo e desta vez obteve-se o somatório de 27,9 dB,

que se encontra dentro do exigido em norma.

O valor único procurado é o referente à frequência de 500Hz, sendo assim o

nível de pressão sonora de impacto padronizado a ser considerado é de 61 dB,

conforme Tabela 3.

Tabela 3: Tabela de obtenção do número único em dB

Frequência

(Hz)

Atenuação

(dB)

Valor de

referência +1 Diferença

100 57,7 63

125 57,4 63

160 61,9 63

200 64,1 63 1,1

250 63,0 63 0,0

315 65,0 63 2,0

400 66,5 62 4,5

500 64,7 61 3,7

630 65,3 60 5,3

800 63,9 59 4,9

1000 61,8 58 3,8

1250 57,6 55 2,6

1600 51,7 52

2000 43,1 49

2500 35,7 46

3150 31,5 43

Σ da diferença = 27,9 dB

Fonte: Autor, 2014