Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
APLICAÇÕES DE FIBRAS VEGETAIS NA SECAGEM DE CONCRETOS REFRATÁRIOS
Rafael Salomão, Cláudia S. Isaac, Victor C. Pandolfelli Departamento de Engenharia de Materiais – Universidade Federal de São Carlos
Via Washington Luiz, km 235 – São Carlos – SP [email protected] ou [email protected]
RESUMO
A secagem de concretos refratários é uma etapa crítica em seu processamento devido aos riscos de explosão durante a saída de água contida em sua estrutura. Para minimizar esses problemas e aumentar a velocidade de secagem, fibras poliméricas têm sido adicionadas às formulações de concreto. Uma variável importante a ser considerada no desempenho desse aditivo é o tipo de fibra utilizado. Trabalhos anteriores dos autores indicam que fibras vegetais apresentam bom desempenho na geração de canais permeáveis. Esse fato, aliado à sua grande disponibilidade e baixo custo, sugere que fibras vegetais possam ser uma alternativa interessante às fibras sintéticas utilizadas atualmente. Neste trabalho, comparou-se o desempenho de fibras de juta e polipropileno como aditivo de secagem. Foram realizadas medidas de permeabilidade utilizando a Equação de Forchheimer, ensaios de permeametria em altas temperaturas e análise termogravimétrica do concreto. As fibras foram caracterizadas por calorimetria diferencial exploratória e termogravimetria. Palavras-chave: concretos refratários, secagem, fibras vegetais.
INTRODUÇÃO
A secagem é uma etapa crítica do processamento de concretos refratários
devido aos riscos de explosão durante a saída de água contida em sua estrutura. A
baixa permeabilidade desses materiais dificulta a saída do vapor para a superfície,
podendo gerar trincas e explosões. Assim, a utilização de programas de secagem
agressivos pode prejudicar a qualidade final do produto. Por outro lado, um
programa de secagem muito lento pode não ser economicamente viável(1).
Entre as soluções atualmente utilizadas, a adição de fibras poliméricas às
formulações de concretos refratários tem mostrado bons resultados(2,3). Após sua
fusão e degradação formam-se canais que aumentam a permeabilidade do concreto,
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
1
facilitando a saída do vapor de água(4-6). Embora, as fibras de polipropileno (PP)
sejam tradicionalmente utilizadas nessa aplicação desde os anos 80, trabalhos
recentes do Grupo de Pesquisa dos autores demonstraram que fibras vegetais (juta)
podem apresentar um desempenho equivalente ao das fibras de polipropileno na
geração de aumento de permeabilidade(5,6). Esse fato, aliado à sua grande
disponibilidade e baixo custo, sugere que as fibras de juta possam ser uma
alternativa interessante como aditivo de secagem.
Juta é o nome comum dado à fibra extraída do caule de uma planta cuja
denominação científica é Corchorus capsularis, pertencente à família das Tiláceas(7).
Estas fibras são muito longas e rígidas, e deterioram-se facilmente quando expostas
à umidade(7). Em cada planta, os feixes de células formam uma malha tubular que
reveste o caule do início ao fim. Cada célula (ou fibrila) tem a forma poligonal, com
um canal central contendo cerca de 10 % da área transversal da célula(8). Um
esquema dessa estrutura é mostrado na Figura 1.
Fibrilas
Canais permeáveis(10 % da área dasecção transversal
30-50 µm
Fibrilas
Canais permeáveis(10 % da área dasecção transversal
30-50 µm
Figura 1: Esquema da estrutura da fibra de juta(8).
Neste trabalho, os desempenhos de fibras sintéticas (polipropileno, PP) e
vegetais (juta) como aditivo de secagem foram comparados. Técnicas de medida e
avaliação de permeabilidade foram utilizadas para verificar o mecanismo de atuação
de cada tipo de fibra. O comportamento de secagem de concretos refratários
contendo estas fibras foi comparado com aquele sem fibras por meio de
termogravimetria.
MATERIAIS E MÉTODOS
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
2
Foi utilizada uma formulação de concreto auto-escoante desenvolvida através
do modelo de distribuição de partículas de Andreasen (com coeficiente q = 0,21),
calculada por meio do programa Particle Size Distribution Designer, desenvolvido
pelo Grupo de Pesquisa dos autores(9). Composta por uma mistura de matriz fina
(24% em peso, dp < 100 µm) e grãos de agregados (76% em peso, dpmax = 4,5
mm), contém 98 % em peso de alumina e 2 % em peso de cimento de aluminato de
cálcio (CA 14, Alcoa EUA). O teor de água utilizado foi de 4,12 % em peso (15 % em
vol), sendo adicionado gradativamente em duas partes: a primeira com 76,91 % em
peso e a segunda com 23,09 % em peso do total, ambas em uma taxa de 8 g/s.
Fibras de juta e de polipropileno com 6 mm de comprimento (0,36 % em
volume) foram adicionadas à formulação de concreto refratário (Tabela I).
Tabela I: Características típicas das fibras de polipropileno (PP) e juta.
Fibra Densidade(g/cm3)
Diâmetro (µm) Aplicações
PP* 0,91 15
Reforço estrutural em concretos convencionais
Juta** 1,45 30-50
Sacaria, tapetes, revestimentos
* Fitesa S.A., Brasil; ** Companhia Têxtil de Castanhal, Brasil.
Depois de processadas em um misturador, as composições foram moldadas
na forma de cilindros com 70 mm de diâmetro e 22 mm de espessura, para medidas
de permeabilidade, e com 40 mm de diâmetro e 40 mm de espessura, para os
ensaios de secagem.
Amostras para medidas de permeabilidade foram curadas a 50ºC com umidade
relativa de ≈ 100 % por 72 horas. A seguir, parte delas foi colocada em uma câmara
climatizada (Vötsch 2002) a 50ºC com umidade relativa de ≈ 20 %, para serem
utilizadas em ensaios de medida de permeabilidade a verde e após tratamento
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
3
térmico a 900ºC por 6 horas. A outra parte foi mantida úmida para ensaios de
permeametria de ar quente. Amostras para ensaio de secagem foram curadas a 8ºC
com umidade relativa de ≈ 100 % por 72 horas e então ensaiadas.
A caracterização das fibras de juta e polipropileno foi feita por meio de
calorimetria exploratória diferencial (CED, Netzsch DSC 204) e termogravimetria
(TG, Netzsch TG 209), na faixa de temperatura entre 20ºC e 600ºC, à uma taxa de
5ºC/min, em atmosfera oxidante (ar sintético).
As constantes de permeabilidade (k1 e k2) foram obtidas por meio da equação
de Fochheimer (Equação A) para escoamento de fluidos compressíveis(10):
2s
2s
10
20
2i v
kv
kLP2PP ρ
+µ
=−
(A)
onde, Pi e P0 são as pressões absoluta do ar na entrada e na saída da amostra,
respectivamente; L é a espessura da amostra; vs, µ e ρ são, respectivamente, a
velocidade, a viscosidade e a densidade do fluido.
A técnica de permeametria de ar quente (PAT)(11) permite que mudanças
estruturais do concreto sejam observadas na temperatura em que ocorrem, sem
necessidade de tratamento térmico. Quando uma pressão constante é imposta para
que o ar escoe através do meio poroso, a permeabilidade pode ser influenciada por
diferentes fenômenos durante o processo de aquecimento. Se o experimento for
realizado utilizando um gradiente de pressão elevado, o escoamento de ar através
de poros permeáveis se torna muito sensível a rearranjos físicos e variações de
permeabilidade podem ser observadas(11). Amostras úmidas foram utilizadas neste
experimento, com aquecimento de 20ºC até 50ºC, em uma taxa de 5ºC/min,
permanecendo nessa faixa de temperatura por 10 horas. Nesse primeiro estágio de
aquecimento é possível avaliar como a retirada de boa parte da água não
combinada das amostras afeta a permeabilidade do concreto. A seguir, temperatura
é reduzida até 25ºC e em seguida elevada até 600ºC, na mesma taxa. Evidenciam-
se, assim, mudanças de permeabilidade causadas por reações térmicas nas fibras e
hidratos presentes(11).
Os ensaios de secagem e explosão foram realizados em um aparato
desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa que permite registrar simultaneamente
variações de massa e os perfis de temperatura desenvolvidos entre a superfície e o
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
4
centro das amostras durante o aquecimento(12). Foi utilizada um taxa de
aquecimento igual a 10ºC/min, de 25ºC a 800ºC. As variações de massa foram
acompanhadas por meio da derivada parâmetro W em relação ao tempo, que avalia
a fração cumulativa de massa perdida durante o aquecimento, em relação ao teor
inicial de água na amostra (Equações B e C)(12):
f0
0MMMM
100(%)W--
×= (B) 1-
- -
-
i1i
1i1ii tt
WW)
dtdW
(+
+= (C)
onde: M é a massa instantânea registrada no tempo ti, durante o aquecimento, M0 é
a massa inicial e Mf a massa final da amostra.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados das medidas de permeabilidade em baixa temperatura (k2) são
mostrados na Figura 2.
Nota-se que as amostras verdes e secas do concreto de referência (sem fibras)
e daquele com fibras de polipropileno apresentaram valores similares de
permeabilidade. Para a amostra contendo fibras de juta, no entanto, os valores de
permeabilidade obtidos foram significativamente superiores as demais amostras (≈
10 vezes maior, para k2). Após a queima, as amostras contendo fibras apresentaram
um aumento de permeabilidade significativamente maior em relação ao verificado
para a amostra sem fibras (≈70 vezes maior para polipropileno e 20 vezes maior
para a Juta, considerando k2).
10
100
1000
10000
Sem fibras PP Juta
k2 (1
0-15 m
)
Verdes900ºC
Figura 2: Medidas de permeabilidade (k2) de amostras verdes e tratadas
termicamente a 900ºC.
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
5
A Figura 3 apresenta os resultados de permeametria de ar quente para o
primeiro estágio de aquecimento (temperatura das amostras constante de ≈ 55ºC,
durante 10 horas) para amostras de concretos com fibras de polipropileno e juta e
para a amostra de referência.
0
10
20
30
40
50
0 2 4 6 8 1020
30
40
50
60
70
Tempo (h)
Vaz
ão (m
l/min
)
Sem fibrasPP (0,36 vol%)Juta (0,36 vol%)Temperatura daamostra (ºC)
Tem
pera
tura
da
amos
tra (º
C)
0
10
20
30
40
50
0 2 4 6 8 1020
30
40
50
60
70
Tempo (h)
Vaz
ão (m
l/min
)
Sem fibrasPP (0,36 vol%)
Temperatura daamostra (ºC)
Tem
pera
tura
da
amos
tra (º
C)
Juta (0,36 vol%)
Figura 3: Resultados de permeametria de ar quente (primeiro estágio: 10 horas
a 50ºC) para amostras de concreto contendo fibras de polipropileno e juta e para a amostra de referência.
Durante a secagem, até ≈50ºC, as amostras sem fibras e com fibras de PP
apresentaram perfis de vazão similares, partindo de vazão nula e atingindo valores
próximos a 12 ml/min. Para a amostra contendo fibras de juta, o aumento de vazão
foi mais rápido e significativamente maior (≈ 4 vezes, em relação ao nível atingido
pelo concreto de referência). Esse comportamento está de acordo com os resultados
da Figura 3, onde se nota a maior permeabilidade da amostra verde com fibras de
juta após a secagem a 55ºC, e seu mecanismo de atuação é demonstrado na Figura
4.
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
6
Durante a misturaFibra secas
30-50 µm
Fibrilas
Canaispermeáveis
Secagem (T < Tdegradação da fibra)
Regiões de elevada permeabilidade geradas
após contração desecagem das fibrilas
Redução de diâmetrodurante a secagem
Concreto
Aumento do diâmetro dasfibrilas e da
distânciainterfibrilar
Absorção deágua / matriz
Durante a misturaFibra secas
30-50 µm
Fibrilas
Canaispermeáveis
Fibra secas
30-50 µm
Fibrilas
Canaispermeáveis
Secagem (T < Tdegradação da fibra)
Regiões de elevada permeabilidade geradas
após contração desecagem das fibrilas
Redução de diâmetrodurante a secagem
Secagem (T < Tdegradação da fibra)
Regiões de elevada permeabilidade geradas
após contração desecagem das fibrilas
Redução de diâmetrodurante a secagem
Concreto
Aumento do diâmetro dasfibrilas e da
distânciainterfibrilar
Absorção deágua / matriz
Durante a misturaConcreto
Aumento do diâmetro dasfibrilas e da
distânciainterfibrilar
Absorção deágua / matriz
Figura 4: Mecanismo de aumento permeabilidade de concretos com fibras de juta
em baixa temperatura (50ºC).
A fibra de juta seca após o corte da planta apresenta uma considerável
diminuição na secção transversal (redução por volta de 25 % no diâmetro), devido à
contração das paredes da fibra(8,13). Uma vez adicionadas a um meio aquoso (como
o concreto), essas fibras absorvem água e incham, recuperando seu diâmetro
original(8,13). Se esse processo ocorrer durante a cura do concreto, sua solidificação
preservará os canais gerados ao redor das fibras com diâmetro aumentado. Na
secagem a 55ºC, as fibras encolhem novamente, diminuindo sua secção transversal.
Este processo permite que novos canais permeáveis possam ser formados em
faixas de temperatura próximas à ambiente(13).
As Figuras 5 e 6 mostram os resultados de: a) permeametria de ar quente
(segundo estágio de aquecimento: 25 a 600ºC, a 5ºC/min), b) caracterização térmica
das fibras e c) comportamento de secagem a 10ºC/min para amostras de concretos
com fibras de polipropileno e juta, respectivamente.
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
7
0
25
50
75
100
0 100 200 300 400 500 600
0
2
4
6
8
0 100 200 300 400 500 600
Temperatura (ºC)
Vaz
ão (m
l/min
)dW
/dt (
%/m
in)
c)
b)
a)
400 %
Polipropileno (0,36 vol%)Sem fibras
EstabilidadeFusãoDegradação
0
25
50
75
100
0 100 200 300 400 500 600
0
2
4
6
8
0 100 200 300 400 500 600
0
25
50
75
100
0 100 200 300 400 500 600
0
2
4
6
8
0 100 200 300 400 500 600
Temperatura (ºC)
Vaz
ão (m
l/min
)dW
/dt (
%/m
in)
c)
b)
a)
400 %
Polipropileno (0,36 vol%)Sem fibras
EstabilidadeFusãoDegradação
Polipropileno (0,36 vol%)Sem fibras
EstabilidadeFusãoDegradação
Figura 5: a) Permeametria de ar quente (segundo estágio de aquecimento: 50 a
600ºC), b) Caracterização térmica das fibras e c) Comportamento de secagem a 10ºC/min para amostras de concretos com fibras de polipropileno.
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
8
0
25
50
75
100
0 100 200 300 400 500 600
0
2
4
6
8
0 100 200 300 400 500 600
Temperatura (ºC)
Vaz
ão (m
l/min
)dW
/dt(
%/m
in)
c)
b)
a)
400 %
Juta (0,36 vol%)
Degradação
Sem fibras
Estabilidade
0
25
50
75
100
0 100 200 300 400 500 600
0
2
4
6
8
0 100 200 300 400 500 600
Temperatura (ºC)
Vaz
ão (m
l/min
)dW
/dt(
%/m
in)
c)
b)
a)
400 %
Juta (0,36 vol%)
Degradação
Sem fibras
Estabilidade
Juta (0,36 vol%)
Degradação
Sem fibras
Estabilidade
Figura 6: a) Permeametria de ar quente (segundo estágio de aquecimento: 50 a
600ºC), b) Caracterização térmica das fibras e c) Comportamento de secagem a 10ºC/min para amostras de concretos com fibras de juta.
Os resultados de permeametria de ar quente (Figuras 5a e 6a) mostram que os
níveis de vazão das amostras sem fibras, com fibras de polipropileno e de juta (esta
com nível inicial de vazão significativamente superior) se mantiveram estáveis entre
25ºC e 120-175ºC. Nessa mesma faixa de temperatura não são observadas reações
térmicas nas fibras (Figuras 5b e 6b) nem diferenças no comportamento de secagem
(Figuras 5c e 6c).
Entre 175 e 220ºC, a vazão das amostras sem fibras e contendo fibras de Juta
manteve-se estável, embora em níveis distintos. A amostra com fibras de PP, no
entanto, apresentou um expressivo e localizado aumento de vazão (≈ 4 vezes em
relação à mesma temperatura na amostra sem fibras). Esse fato está relacionado
com o aumento de permeabilidade gerado pela fusão e degradação desse polímero.
Esse mecanismo já foi descrito com maiores detalhes em trabalhos anteriores do
Grupo de Pesquisa dos autores(5,6,11). A partir de 220-250ºC e até 350ºC, o nível de
vazão da amostra com juta começa a aumentar e atinge valor equivalente ao
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
9
daquela contendo fibras de polipropileno. Para a amostra de referência o nível de
vazão permanece similar ao inicial.
Por volta de 120ºC, o comportamento de secagem da amostra com fibras de
juta começa a se distanciar daquele correspondente à amostra com fibras de
polipropileno e a de referência (Figuras 5c e 6c). O concreto contendo juta
apresentou um segundo pico (correspondente à saída de água na forma de vapor
pressurizado) mais intenso e em menor temperatura que as outras amostras,
indicando que a elevada permeabilidade induzida pela secagem da juta faz com que
a taxa de saída de água seja ≈ 20 % maior e ocorra em um intervalo de tempo e
temperatura inferior. As curvas das amostras sem fibras e com fibras de
polipropileno só se diferenciam depois de ≈ 150ºC. Nesse ponto, a fusão do
polímero aumenta a permeabilidade do concreto, levando a taxas de secagem ≈ 8 %
superiores ao concreto de referência(14).
A relação entre os diversos resultados indica que o aumento de
permeabilidade gerado, tanto pelas fibras sintéticas quanto vegetais, leva a uma
modificação no comportamento de secagem dos concretos refratários. No
entanto, o fato das fibras vegetais possibilitarem que este aumento de
permeabilidade ocorra em menores temperaturas (antes da degradação das
fibras e próximo à temperatura de ebulição da água), favorece o aumento da taxa
de secagem. Além disso, é razoável supor que a presença de fibras vegetais
também reduza consideravelmente os riscos de explosão durante a secagem.
CONCLUSÕES
Os resultados apresentados mostraram que tanto fibras de polipropileno como
as de juta podem apresentar um bom desempenho como aditivos de secagem.
Ambos os tipos de fibras modificaram o comportamento de secagem dos concretos
refratários por meio da geração de aumentos de permeabilidade. Para o concreto
com fibras de polipropileno, esse aumento ocorreu após a fusão e degradação das
fibras (150-220ºC). Para aquele contendo fibras de juta, o aumento de
permeabilidade se deu em duas etapas: a primeira ocorre em baixas temperaturas
(abaixo de 100ºC), devido à contração diametral das fibras por secagem. A segunda
etapa acontece em altas temperaturas, durante a degradação das fibras (217-
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
10
408ºC). Essa diferença na temperatura de início de aumento de permeabilidade
permite que o concreto com fibras de juta apresente taxa de secagem superior e um
tempo necessário para secagem menor que aquele sem fibras e/ou com fibras de
polipropileno. Considerando, ainda, seu baixo custo e a grande disponibilidade, as
fibras de juta podem se tornar uma interessante alternativa às de polipropileno
atualmente utilizadas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a FAPESP, ALCOA e Magnesita S.A. pelo suporte
fornecido para a realização deste trabalho; ao CNPq (PIBIC) pela bolsa concedida e
a Companhia Têxtil de Castanhal e Fitesa S.A. pelas amostras de fibras gentilmente
cedidas.
REFERÊNCIAS
[1] Moore, R.E.; SMITH, J.D.; Headrick Jr, W.L.; Sandler, T.P., Monolithic Dewatering Theory Testing and Practice: New Challenges, Proceedings of the 32th Annual Symposium on Refractories, St. Louis Section of the Am.Ceram.Soc, St. Louis, EUA, 26 (1996). [2] Havranek, P.H., Recent Developments in Abrasion-and Explosion- Resistant Castables, Am.Ceram.Soc.Bull., 62[2], 234-243 (1983). [3] Kleeb, T.R. and Caprio, J.A., Properties and Service Experience of Organic, Fiber Containing Monoliths, Advances in Ceramics, 13, edited by Robert Fisher, Am.Ceram.Soc., 149-161 (1985). [4] Canon, J.M.; Sandler, T.P.; Smith, J.D. and Moore, R.E., Effect of Organic Fiber Additions on Permeability of Refractory Concrete, Proceedings of The Unified International Technical Conference on Refractories – UNITECR’ 97, New Orleans, EUA., 583-592 (1997). [5] Innocentini, M.D.M.; Salomão, R.; Ribeiro, C.; Cardoso, F.A.; Bittencourt, L. R. M.; Rettore, R. P.; Pandolfelli, V.C., Permeability of Fiber-Containing Refractory Castables (Part I), Am.Ceram.Soc.Bull., 81[6], 34-37 (2002). [6] Innocentini, M.D.M., Salomão, R.; Ribeiro, C.; Cardoso, F.A.; Bittencourt, L. R. M.; Rettore, R. P.; Pandolfelli, V.C., Permeability of Fiber-Containing Refractory Castables (Part II), Am.Ceram.Soc.Bull., 81[7], 65-68 (2002). [7] Khan, F.; Ahmad S.R., Chemical Modification and Spectrocopy Analysis of Jute Fiber, Pol.Degr.And Stab., 52, 335-340 (1996). [8] Rowell, R.M.; Stout, H.P. “Jute And Kenaf, In: Handbook Of Fiber Chemistry”. LEWIN, M.; PEARCE, E.M. (Editores), Marcel Dekker, Inc., New York, 465-470 (1998). [9] Studart, A.R.; Pileggi, R.G.; Gallo, J.; Pandolfelli, V.C., High-Alumina Multifunctional Refractory Castables, Am.Ceram.Soc.Bull., 80[11] (2001).
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
11
[10] Innocentini, M.D.M.; Pardo, A.R.F.; Pandolfelli, V.C., Permeability of High-Alumina Refractory Castables Based on Various Hydraulic Binders, J.Am.Ceram.Soc., 85[6], 1517-1521 (2002). [11] Innocentini, M.D.M; Ribeiro, C.; Salomão, R.; Bittencourt, L.; Pandolfelli, V.C., J.Am.Ceram.Soc., Assesment of Mass Loss and Permeability Changes During The Dewatering Process of Refractory Castables Containing Polypropylene Fibers, 85[8] 2110-2112 (2002). [12] Innocentini, M.D.M.; Cardoso, F.A.; Akyioshi, M.M.; Pandolfelli, V.C. Drying Stages During The Heat-Up of High Alumina, Ultra-Low Cemente Refractory Castables. J.Am.Ceram.Soc., 86[7] 1146-48 (2003). [13] Yue, Y.; Li, G.Z.; Xu, X.S.; Zhao, Z.J., Properties and Microstructure of Plant-Fiber Reinforced Cement-Based Composites, Cem. And Conc. Research, 30, 1983-1986 (2000). [14] Salomão, R.; Innocentini, M.D.M.; Pandolfelli, V.C., Drying Behavior of Polymeric-Fiber Containing Refractory Castables, aceito para publicação em Taikabutso Overseas (jul/2004).
APLICATION OF NATURAL FIBERS FOR THE DRYING STEP OF REFRACTORY CASTABLES
ABSTRACT
The drying of refractory castables is a critical step in their installation process due the spalling risks. In order to decrease these problems and improve the drying rate, polymeric fibers have been added to the castables formulation. The type of the fiber is an important variable to be studied. Authors´ previous works indicate that vegetable fibers can show good potentialities. This fact, associated to its great availability and low cost, suggests that these fibers can be an interesting substitute to synthetics fibers. In this work, jute and polypropylene fibers had their performance as drying additive evaluated. The results of permeability measurements and hot air permeametry were related with the thermogravimety of the fiber-containing castables. The fibers were characterized by differential scanning calorimetry (DSC) and thermogravimetry (TGA). Key words: refractory castables, drying, permeability, vegetable fibers.
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
12