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APLICAÇÃO DA MODELAGEM ECONÔMICA NA SUBSTITUIÇÃO DE AUTOMÓVEL POPULAR Bruno Cesar Linhares (UFRN ) [email protected] Mariama Saskya Araujo da Silva (UFRN ) [email protected] Gilberto Alves Maia Neto (UFRN ) [email protected] Raissa Targino Dantas Barbosa (UFRN ) [email protected] Sabrina Karla Rodrigues de Oliveira (UFRN ) [email protected] Este artigo tem como objetivo identificar o melhor momento de substituição de um automóvel popular, levando em consideração o menor custo uniforme anual durante o tempo de serviço do bem. O estudo foi realizado por meio da utilização de téccnicas da Engenharia Econômica para a análise de substituição, tendo como objeto o veículo de modelo Gol (versão G4 1.0 flex, 8V, 2 portas - básico) da fabricante Volkswagen, escolhido por sua popularidade, liderança em vendas e permanência no mercado por tempo prolongado. As informações foram obtidas através de entrevista com vendedor de concessionária, coleta de dados mercadológicos em sites, pesquisa documental e pesquisa bibliográfica a fim de respaldar as análises realizadas. A pesquisa, de natureza descritiva, utilizou como método de procedimento o estudo de caso. Os resultados assinalaram que o melhor tempo para a troca do veículo é de aproximadamente 5 anos de vida de serviço. Adicionalmente, foram aplicadas técnicas de análise de incerteza e risco as quais demonstraram que o perfil dos fluxos de caixa representativos do problema é volátil. Palavras-chaves: Engenharia Econômica. Substituição. Automóvel XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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APLICAÇÃO DA MODELAGEM

ECONÔMICA NA SUBSTITUIÇÃO DE

AUTOMÓVEL POPULAR

Bruno Cesar Linhares (UFRN )

[email protected]

Mariama Saskya Araujo da Silva (UFRN )

[email protected]

Gilberto Alves Maia Neto (UFRN )

[email protected]

Raissa Targino Dantas Barbosa (UFRN )

[email protected]

Sabrina Karla Rodrigues de Oliveira (UFRN )

[email protected]

Este artigo tem como objetivo identificar o melhor momento de

substituição de um automóvel popular, levando em consideração o menor

custo uniforme anual durante o tempo de serviço do bem. O estudo foi

realizado por meio da utilização de téccnicas da Engenharia Econômica

para a análise de substituição, tendo como objeto o veículo de modelo Gol

(versão G4 1.0 flex, 8V, 2 portas - básico) da fabricante Volkswagen,

escolhido por sua popularidade, liderança em vendas e permanência no

mercado por tempo prolongado. As informações foram obtidas através de

entrevista com vendedor de concessionária, coleta de dados

mercadológicos em sites, pesquisa documental e pesquisa bibliográfica a

fim de respaldar as análises realizadas. A pesquisa, de natureza

descritiva, utilizou como método de procedimento o estudo de caso. Os

resultados assinalaram que o melhor tempo para a troca do veículo é de

aproximadamente 5 anos de vida de serviço. Adicionalmente, foram

aplicadas técnicas de análise de incerteza e risco as quais demonstraram

que o perfil dos fluxos de caixa representativos do problema é volátil.

Palavras-chaves: Engenharia Econômica. Substituição. Automóvel

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

A indústria brasileira de automóveis tem se expandido nos últimos anos e a conjuntura econômica

favorável que o Brasil vivencia internamente tem ampliando a possibilidade de acesso a veículos

automotores para uma parcela maior da população e empresas que fazem uso de veículos em suas

atividades. Diante da maior facilidade de aquisição de carros, a troca de veículos usados por

novos em um intervalo de tempo menor comparado à sua depreciação passa a ser uma prática

mais comum no mercado.

Buscando responder à seguinte problemática: “Após quanto tempo de uso de um automóvel

popular é interessante realizar a sua troca de modo que tenha um retorno mais economicamente

viável?”, a pesquisa apresentada neste artigo tem como objetivo avaliar o melhor tempo em que

um automóvel popular deve ser substituído, levando em consideração o período em que os custos

ligados à sua manutenção ultrapassam o seu custo de propriedade.

A constatação do melhor período para a substituição de veículos com base nas questões

econômicas que envolvem tal decisão geralmente não é alvo da atenção da grande maioria dos

consumidores das indústrias de automóvel, os quais normalmente realizam a troca de seus

veículos em momentos de sua preferência, sem ter como referência o espaço temporal cuja troca

resultará no menor custo. Demonstra-se, nesse contexto, a relevância deste estudo, da

metodologia e das técnicas da Engenharia Econômica apresentadas no processo de tomada de

decisão, inclusive nas decisões cotidianas dos indivíduos.

O desenvolvimento do artigo segue com a apresentação da metodologia utilizada na pesquisa e

posterior referencial teórico que a fundamenta com a caracterização de alguns métodos utilizados

na Engenharia Econômica que foram incorporados à pesquisa para auxiliar à tomada de decisão:

Valor Presente Líquido (VPL) e Custo Presente Liquido (CPL), Valor uniforme Liquido (VUL) e

Custo Uniforme Líquido (CUL), e o conteúdos referente à temática da Análise de Substituição no

contexto da Engenharia Econômica. A discussão dos dados e o resultado do estudo são exibidos

ao final, seguindo as considerações finais referentes ao trabalho.

2. Metodologia

Tendo em vista o objetivo que foi apresentado na seção anterior, esta pesquisa está delineada

como do tipo descritiva. Segundo Gil (2009, p.42), essa tipologia tem como propósito básico “a

descrição de características de determinada população ou fenômeno [...]” e sua principal

particularidade é o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados.

Para isso, utilizou-se do estudo de caso como procedimento para coleta de dados por consistir “no

estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e

detalhado conhecimento” (GIL, 2009, p. 54). Assim, delimitou-se, como objeto de descrição, o

automóvel popular de modelo Gol (versão G4 1.0 flex, 8V, 2 portas - básico) da fabricante

Volkswagen, no âmbito do mercado da cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte. A

escolha desse modelo de automóvel se deu em virtude de sua popularidade, liderança em vendas e

permanência no mercado por vários anos no Brasil, fator relevante para a coleta de informações

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no decorrer da pesquisa e melhor manipulação de dados a partir de históricos, tendo em vista a

determinação de dados futuros. A análise quanto ao melhor período para a realização da

substituição do referido veículo teve como referência a aplicação dos seguinte métodos de

Engenharia Econômica: Valor Presente Líquido, Custo Uniforme Líquido, Análise de

Substituição e Análise de Sensibilidade e risco através do software CrystalBall®.

Conforme Lakatos e Marconi (2004, p. 274), o estudo de caso “reúne o maior número de

informações detalhadas, valendo-se de diferentes técnicas de pesquisa, visando apreender uma

determinada situação e descrever a complexidade de um fato”. Sendo assim, para garantir a

qualidade dos resultados no desenvolvimento desta pesquisa, obteve-se de múltiplas fontes de

dados as informações necessárias à sua realização.

Para o estudo de caso, utilizou-se de entrevista com consultor de venda de automóveis, de coleta

de dados mercadológicos disponíveis em portais virtuais de organizações do setor, de pesquisa

documental em concessionária de automóveis e de pesquisa bibliográfica acerca dos métodos

econômicos de análise necessários ao alcance dos objetivos. De acordo com Gil (2009), trata-se

de uma forma de estudo exploratório e que proporciona familiaridade com a área proposta de

análise.

3. Métodos de Engenharia Econômica

A Engenharia Econômica consiste em um ramo de conhecimento voltado ao uso de técnicas

destinadas a escolhas de alternativas a fim de que se alcance aquela mais viável economicamente.

A consideração das mudanças dos valores monetários no decorrer do tempo por meio da

aplicação de uma taxa de juros adequada, de modo que se obtenham fluxos de dinheiro

justamente comparáveis para o estudo, mostra-se como aspecto de grande importância nas

diversas análises econômicas realizadas na área.

Dentre os vários métodos utilizados pela Engenharia Econômica para a tomada de decisões, tem-

se: Valor Presente Líquido (VPL) e Custo Presente Líquido (CPL), Valor Uniforme Liquido

(VUL) e Custo Uniforme Líquido (CUL), Análise de Substituição, Análise de Sensibilidade e de

Risco, os quais serão brevemente descritos a seguir.

3.1 Valor Presente Líquido (VPL) e Custo Presente Líquido (CPL)

Um dos principais métodos usados para a realização de uma análise econômico-financeira de um

investimento é o calculo do Valor Presente Liquido (VPL), também conhecido por Valor Atual

Liquido. O método consiste em converter os fluxos de caixa futuros no valor atual equivalente. A

taxa usada para realizar este desconto é chamada de taxa de desconto ou custo de oportunidade.

Hirschefeld (2000) afirma que o método do Valor Presente Liquido tem como finalidade

determinar um valor no instante considerado inicial, a partir de um fluxo de caixa formado de

uma série de receitas e dispêndios.

Esse método pode ser considerado de fácil aplicação em função de que todas as análises podem

ser feitas com a visualização do valor do investimento na data atual, fornecendo ao investidor a

possibilidade de analisar o cenário futuro do investimento. Logo, se o valor encontrado for

positivo, o investimento apresenta viabilidade financeira. Caso o valor encontrado seja negativo,

o investimento é considerado economicamente inviável. Quando o valor encontrado para o VPL

for zero, o investimento é indiferente. Para casos em que o VPL é negativo, este número pode ser

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chamado de Custo Presente Liquido (CPL), uma vez que o sinal negativo indica que os custos do

investimento são maiores que as receitas.

Quando várias alternativas de investimentos forem comparadas, é necessário que todas possuam

ciclos de vidas iguais. Caso isto não ocorra, deve ser adotada uma duração final comum das

alternativas analisadas, podendo esta equivalência ser realizada através do uso do mínimo

múltiplo comum do tempo de análise para cada proposta de investimento. Dessa forma, a

alternativa que possuir o maior VPL será a mais economicamente viável.

3.2 Valor Uniforme Líquido (VUL) e Custo Uniforme Líquido (CUL)

A aplicação do método do Valor Uniforme Líquido consiste em somar todos os fluxos existentes

no horizonte de avaliação e distribuí-los em valores uniformes por fração do período de tempo

(ano, mês, semestre, bimestre...). Esse método também pode ser denominado de Valor Anual

Equivalente (VAE). Da mesma forma que ocorre com a nomenclatura do VPL, em casos que o

VUL é negativo, indicando predominância de custos no fluxo de caixa, este pode ser chamado de

Custo Uniforme Líquido (CUL).

Uma das vantagens obtidas com o uso do VUL, segundo Blank (2008), é o fato de o VUL

precisar ser calculado apenas para um ciclo de vida, dispensando o uso de um período de tempo

comum por meio do cálculo do mínimo múltiplo comum ao comparar projetos com ciclos de

vidas diferentes (como ocorre em análises pelo VPL), tornando a análise mais rápida.

É possível observar que, ao comparar dois projetos, os métodos VPL e VUL aconselharão a

escolha da mesma alternativa, desde que sejam executados de maneira correta.

3.3 Análise de Substituição

Uma das questões mais frequentes nas empresas está relacionada com a decisão de substituição

dos equipamentos em uso. Segundo Blank (2008) a pergunta que deve ser feita é O equipamento

deve ser substituído agora ou mais tarde? O que deve ser analisado é quando ocorrerá a

substituição do equipamento, visto que, se o equipamento é útil no presente da empresa, este será

necessário também no futuro, logo a empresa em algum momento deve realizar a troca deste.

Diversos são os fatores que podem desenvolver na empresa a necessidade de substituição do

equipamento. Dentre esses fatores, estão o desempenho reduzido, a obsolescência e alteração de

suas exigências.

A fim de realizar uma análise de substituição de equipamentos é necessária a construção do fluxo

de caixa para ambas as possibilidades. Esse fluxo de caixa deve conter todas as receitas e os

custos decorrentes para cada alternativa a partir do tempo zero (valor residual do equipamento

atual, valor de aquisição do equipamento novo, custos de manutenção, dentre outros elementos).

Com esses dados é possível realizar a comparação entre as possibilidades de decisão pelos

métodos mencionados anteriormente (VPL e VUL), escolhendo a opção que fornecer o maior

valor para o método usado.

4. Estudo de Caso - Construção do Modelo de Engenharia Econômica para a Análise de

Substituição do Automóvel

Nesta seção, inicia-se o estudo de caso definindo os aspectos necessários à modelagem do

comportamento econômico do automóvel Gol G4 1.0 Flex 8V de 2 portas, básico, da marca

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Volkswagen, a fim de atingir os objetivos deste estudo quanto à análise de sua substituição.

Assim, faz-se necessário considerar diversos gastos, tais como os custos de aquisição

(emplacamento, licenciamento, seguro obrigatório, entre outros que serão analisados e avaliados)

e os custos operacionais reais (como gastos com combustível e manutenção).

4.1 O Valor de Aquisição e a Taxa Mínima de Atratividade (TMA)

Como forma de aproximar esta análise à realidade mais comum de aquisição de automóveis na

atualidade, a maneira escolhida de compra do veículo foi a financiada. As condições de

financiamento, para uma modalidade sem entrada, são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Condições de financiamento

Á VISTA R$ 23.990,00

PARCELAS R$832,59

PRAZO 60

TAXA DE JUROS (a.m) 2,81%

TAXA DE JUROS (a.a) 39,45%

Fonte: Elaboração própria

A partir disso, deve-se entender que a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) é a mesma taxa de

juros do financiamento, ou seja, 39,45% a.a., tendo em vista que representa a taxa de custo de

capital para o cliente que está comprando o bem.

4.2 Depreciação

Ao longo do período de uso do veículo, há o valor de sua depreciação, que representa o custo

decorrente do desgaste ou da obsolescência, uma perda de valor que irá determinar o seu valor de

mercado (valor residual) nas análises que serão feitas.

Conforme dados de Preço Médio de Veículos, fornecidos pela Fundação Instituto de Pesquisa

Econômica (FIPE), foi possível a verificação de valor de mercado do automóvel objeto deste

estudo desde o seu lançamento em 2005, a fim de se projetar uma taxa média de depreciação nos

próximos anos e assim determinar valores residuais para o automóvel.

Como os preços divulgados pela FIPE (2011) estão inflacionados com os valores da época de

obtenção, para prosseguimento da previsão de depreciação foi necessário atualizar os dados

encontrados para o ano de lançamento (2005) segundo taxas de inflação acumulada, através do

Índice de Preços ao Consumidor Geral (IPC-Geral), fornecidas pela própria FIPE e que estão

representadas na Tabela 2.

Com esses dados, trabalhando a preços constantes, obteve-se a curva média representada no

Gráfico 1. O gráfico mostra que, no primeiro ano, o bem perde um alto valor e ao longo do tempo

essa perda é mais constante. Diante disso, foi possível a definição de uma taxa em torno de

21,0% de depreciação no primeiro ano e, no restante do período, o seu percentual ficou por volta

dos 7,0%, como mostrado na Tabela 3.

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Tabela 2 – Taxas de inflação acumulada

Ano Inflação acumulada

(IPC - geral)

2005-2006 2,34%

2005-2007 6,41%

2005-2008 12,17%

2005-2009 17,90%

2005-2010 23,71%

2005-2011 31,74%

Fonte: Adaptado de FIPE (2011).

Figura 1 – Depreciação média do automóvel lançado em 2005

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 3 – Depreciação média

Depreciação Taxa Média

1ª Depreciação 21% a.a

Depreciações

posteriores

7% a.a

Fonte: Elaboração própria.

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Na Tabela 4, observam-se os valores de mercado do veículo ao longo do tempo, os quais

serão utilizados nos métodos de análise para solucionar o problema de tempo de substituição do

automóvel.

Tabela 4 – Valores de mercado

ANUAL 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

VALOR DE

MERCADO 23,990.00 18,952.10 17,625.45 16,391.67 15,244.25 14,177.16 13,184.76 12,261.82 11,403.50 10,605.25 9,862.88

Fonte: Elaboração própria.

4.3 Custos Operacionais, Impostos e Manutenção

Dentro dos custos operacionais, deve-se incluir os gastos com manutenção, que está associada às

revisões que precisam ocorrer dentro do período de um semestre ou se o carro tiver percorrido em

torno de 10.000 quilômetros dentro da mesma época, conforme é recomendado pela

concessionária e no manual do veículo analisado. Como esta pesquisa tem a anuidade como

horizonte temporal, converteram-se os gastos semestrais de manutenção (fornecidos pela

concessionária da marca) para gastos anuais, através da TMA que está sendo utilizada (2,81% ao

mês). Transformando-se esta taxa para semestre, obtém-se a taxa equivalente de 18,09% a.s, que

será a taxa utilizada para se atualizar o valor equivalente de dois semestres para o de um ano,

permitindo assim um custo de manutenção adequado para a análise.

Para o modelo de análise ficar ainda mais completo, foi adicionado o consumo urbano de

combustível do automóvel analisado. Segundo dados da pesquisa de Eficiência Energética de

Veículos Leves do INMETRO (2011), o índice de consumo do Gol G4 1.0 Flex 8V de 2 portas é

de 10,5 quilômetros com 1 litro de gasolina. Desse modo, associando-se o valor da gasolina em

uma média de R$ 2,67 por litro, segundo dados do PROCON NATAL (2011), e considerando que

o veículo andará os 10.000 quilômetros por semestre da quilometragem recomendada para

manutenção do fabricante (ou seja, 20.000 quilômetros por ano), calcula-se uma média de

consumo em torno de R$ 5.085,71. Esses dados estão expostos na Tabela 7.

Ainda, ao efetuar-se a compra do carro, é importante considerar a necessidade de realização de

pagamentos de taxas e impostos ao Departamento de Trânsito - DETRAN. Neste artigo, serão

utilizados os dados do DETRAN do estado do Rio Grande do Norte. Existe o valor do

licenciamento e do seguro obrigatório do veículo, o DPVAT, pagos ao longo de todo o período

de utilização do carro, além de outros valores pagos somente na confirmação da compra, ou seja,

no período zero (taxa de registro do veículo e emplacamento). Estes dois últimos são adicionados

ao custo inicial, ou seja, de propriedade.

O valor do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) é a taxa que é paga ao

longo de 10 anos do tempo de vida útil do veículo, custando 2,5% do valor de mercado do carro.

Desse modo, como a base de cálculo já foi dimensionada na determinação da depreciação, é

possível projetar os valores de IPVA.

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Por fim, as Tabelas 5 e 6 resumem todos os elementos aqui apresentados e adaptados para a

análise anual que a seguir será descrita.

Tabela 5 – Resumo dos custos para a análise de substituição

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 6 – Valores residuais projetados

Fonte: Elaboração própria.

4.4 Análise de Substituição

A partir da referência teórica sob a qual esta pesquisa se alicerça e dos dados coletados e já

padronizados na sessão anterior para o modelo de análise econômica que se pretende desenvolver,

expõem-se a seguir a aplicação dos métodos para determinação do momento ideal de substituição,

sob o ponto de vista econômico, do automóvel que está sendo avaliado.

Para encontrar esse momento ideal de substituição, faz-se necessário encontrar o menor CUL da

vida útil do automóvel avaliado, o momento em que o custo total de possuir o automóvel é

mínimo. Ou seja, esse momento é caracterizado pela soma do custo de operação do automóvel

com o custo de propriedade do automóvel ser a menor em sua vida útil.

Assim, construiu-se uma tabela de custos uniformes considerando diferentes políticas de trocas do

automóvel. O menor CUL foi encontrado para a política de troca com 5 anos de vida de serviço,

quando a diferença entre o valor residual e o custo de aquisição, ambos uniformizados

ANUAL 0 1 2 3 4 5 6

LICENCIAMENTO -60.00 -60.00 -60.00 -60.00 -60.00 -60.00 -60.00

TAXA DE

REGISTRO -115.00

DPVAT -98.00 - 98.00 - 98.00 - 98.00 - 98.00 - 98.00 -98.00

PLACA - 112.00

IPVA - 599.75 -473.80 - 440.64 -409.79 -381.11 - 354.43 -329.62

COMBUSTÍVEL -

5.085.71 - 5.085.71 - 5.085.71 -5.085.71 - 5.085.71 - 5.085.71

MANUTENÇÃO

ANUAL -392.56 -751.18 - 795.54 - 680.03 - 1.054.83 -795.54

INVESTIMENTO - 23.990.00

CUSTOS TOTAIS - 24.974.75 -

6.110.08 - 6.435.53 - 6.449.04 -6.304.85 - 6.652.97 -6.368.88

ANUAL 0 1 2 3 4 5

VALOR DE

MERCADO 23,990.00 18,952.10 17,625.45 16,391.67 15,244.25 14,177.16

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anualmente, atingem o ponto máximo. A partir desse momento, o custo de propriedade, que antes

diminuía, começa a crescer e aquela diferença já decresce.

Essa análise e o resultado são apresentados na Tabela 7 e na Figura 2.

Tabelas 7 – Estimativas de Custo Uniforme Líquido Total

Fonte: Elaboração própria.

Figura 2 – CUL para Análise de Substituição

Fonte: Elaboração própria.

4.5 Análise de Risco e Sensibilidade

Em virtude de tratar-se de um estudo ex-ante, alguns dos dados coletados e utilizados na

formulação do modelo de análise econômica proposto dependem de contextos de mercado e de

uso, os quais não se podem prever sob um ponto de vista determinístico.

a) Gastos com combustível dependem da quilometragem percorrida e do rendimento do

carro ao longo do tempo;

b) Custos de manutenção dependem do tempo de uso do veículo;

CUL 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Custo

operacional 6,110.08 6,245.99 6,292.79 6,294.50 6,327.59 6,330.15 6,325.90 6,324.53 6,329.17 6,311.05

(1) Valor de

aquisição 34,827.75 20,282.97 15,608.61 13,394.97 12,158.46 11,403.59 10,917.52 10,593.72 10,373.11 10,220.48

(2) Valor

residual

-

18,952.10

-

17,625.45

-

16,391.67

-

15,244.25

-

14,177.16

-

13,184.76

-

12,261.82

-

11,403.50

-

10,605.25

-

9,862.88

(1) + (2)

Custo de

Propriedade

15,875.65 2,657.52 -783.06 -1,849.28 -2,018.70 -1,781.17 -1,344.30 -809.77 -232.14 357.60

TOTAL 21,985.73 8,903.51 5,509.73 4,445.21 4,308.89 4,548.99 4,981.60 5,514.76 6,097.02 6,668.64

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c) Valores residuais dependem da depreciação de mercado.

Logo, existe certo nível de incerteza sobre o resultado obtido e que será classificado e mensurado

para que se tenha noção dos impactos e do nível dessas incertezas sob o que se quer analisar,

tendo, assim, maiores subsídios para aquele que tomará a decisão.

Através do uso de um software de simulações financeiras, o Crystal Ball®, e considerando a

distribuição normal das probabilidades de ocorrência das variáveis, obtiveram-se as tabelas e

gráficos abaixo. Esses representam uma análise de sensibilidade classificando as variáveis de

incerteza quanto ao impacto sobre os resultados. Assim, procurou-se responder a seguinte

pergunta: “Quais parâmetros provocam maiores variações no Custo Uniforme Líquido Mínimo

(CUL) inicialmente encontrado?” As figuras já demonstram essa classificação em ordem

decrescente de impacto.

A Figura 3 mostra o impacto de diferentes mudanças percentuais de cada parâmetro definido. Na

figura, quanto mais horizontal for a curva de um parâmetro, menos impacto tem sobre o CUL

mínimo encontrado. Já a figura 4, apesar de fazer a mesma análise de impacto, mostra o quanto se

variou cada parâmetro, relacionando com o quanto essa variação modificou o resultado.

Figura 3 – Mudança percentual de cada variável

Fonte: Elaboração própria.

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Figura 4 – Tornado comparativo

Fonte: Elaboração própria.

Por fim, após verificar e classificar quais parâmetros sensibilizaram mais o resultado encontrado,

foi realizada a análise global do risco, ou seja, mensurou-se o quanto é incerto o valor do menor

CUL encontrado. Através do referido software, obteve-se que existe uma probabilidade de

aproximadamente 35,71% de o resultado ser menor ao encontrado. Ou seja, trata-se de um

resultado de risco, já que existe uma alta probabilidade do valor encontrado ser maior, ou seja, de

ele deixar de ser o mínimo CUL, o momento ideal de substituição do automóvel. A Figura 5

ilustra isso, sendo a parte representada em azul a probabilidade de o valor encontrado ser menor e

em vermelho de ser maior.

Figura 5 – Análise de Risco

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Fonte: Elaboração própria.

5 Considerações finais

Diante da variedade de aplicações da Engenharia Econômica, este artigo mostra como pode ser

tratado um problema econômico relacionado à tomada de decisões de substituição,

particularmente de automóveis populares, tendo em vista os melhores resultados financeiros

adequados às necessidades apresentadas.

Apesar de o estudo não ter sido realizado especificamente em uma determinada empresa, seu

desenvolvimento permitiu a aplicação das análises em tomadas de decisões nas mais diversas

organizações cuja atuação envolva o uso ou a comercialização de automóveis populares. A

aplicabilidade do trabalho é ampliada para o cotidiano dos indivíduos com a notável utilização

crescente desses automóveis, demonstrando a possibilidade de uso de análises de substituição,

teoricamente fundamentadas, em escolhas de troca de carro presentes no dia-a-dia das pessoas.

A utilização da análise de risco, por permitir conhecer as probabilidades de mudanças no

resultado encontrado em uma análise de investimentos, mostrou-se de extrema importância no

presente estudo. Isso porque o melhor momento de substituição do automóvel revelou-se muito

condicionado às mudanças que podem incorrer nas variáveis do modelo e, consequentemente,

trata-se de uma decisão de risco. No entanto, não é uma deliberação acerca do momento de

substituição do automóvel, cuja competência ainda é do investidor diante de seu perfil e suas

necessidades. Ainda, é válido esclarecer que o nível de risco alcançado é referente a esta

modelagem econômica e pode mudar a depender das rotinas de uso do automóvel, modelo e

condições de mercado.

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A constatação de que o resultado obtido na análise (o qual indica que o melhor período de

substituição do automóvel é de aproximadamente 5 anos de tempo de serviço) se distingue da

média de substituição desses carros verificada no mercado (de aproximadamente 3 anos) aponta

para a necessidade de estudos acerca dos fatores que influenciam essa troca de carro em um

intervalo temporal menor do que o verificado na teoria, ou até mesmo de pesquisas mais

aprofundadas referente às questões probabilísticas que podem estar alterando o resultado.

Torna-se importante ressaltar também que o artigo ilustra uma forma de avaliação de substituição

de automóveis populares, não descartando a possibilidade de melhorias no referido estudo nem a

existência de outras formas de análise.

Referências

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http://www.natal.rn.gov.br/procon/modulos/pesquisa_preco/arq4dd3f4b00201f.xls. Acesso em 6

de junho de 2011.