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70 Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento infantil realizada por pedagogos em creche: um estudo a partir do teste Denver II Leticia Massa Thomé de Souza Maria Aparecida Ribeiro Chagas Marcia Regina Moscato Amoroso Graduanda em Pedagogia no Centro Universitário Teresa D'Ávila [email protected] Graduanda em Pedagogia no Centro Universitário Teresa D'Ávila [email protected] Mestre em Fonoaudiologia – Docente do Centro Universitário Teresa D'Ávila [email protected] Resumo A atuação do pedagogo não está mais restrita ao simples ato de conduzir uma sala de aula, pois o conhecimento deste profissional permite um leque de atividades a serem praticadas. Dentre elas, a aplicação de protocolos de avaliação do desenvolvimento é algo a ser tomado como instrumento de trabalho pelos pedagogos, com o intuito de identificar possíveis atrasos em diversos aspectos do desenvolvimento infantil, de modo que os resultados obtidos poderão contribuir tanto para a criança, quanto para o pedagogo, o qual será capaz de desenvolver atividades mais coerentes com a necessidade e o nível de desenvolvimento em que cada criança se encontra. Dessa forma, buscamos responder as seguintes questões: A aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento infantil, realizada por pedagogos, possibilita a compreensão da fase evolutiva que a criança se encontra, ampliando desta forma a atuação pedagógica dentro da creche? Quais as dificuldades que o pedagogo pode encontrar na aplicação do teste? O objetivo geral deste estudo é avaliar o nível de desenvolvimento neuropsicomotor de crianças em idade pré-escolar, matriculadas em uma creche pública situada no município de Lorena, São Paulo, Brasil, por meio da aplicação do teste Denver II. O objetivo específico, por sua vez, é identificar os principais fatores que podem auxiliar na melhoria do

Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

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Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento infantil realizada por pedagogos em creche: um estudo a partir do teste Denver II

Leticia Massa Thomé de Souza

Maria Aparecida Ribeiro Chagas

Marcia Regina Moscato Amoroso

Graduanda em Pedagogia no Centro Universitário Teresa D'Á[email protected]

Graduanda em Pedagogia no Centro Universitário Teresa D'Á[email protected]

Mestre em Fonoaudiologia – Docente do Centro Universitário Teresa D'Á[email protected]

ResumoA atuação do pedagogo não está mais restrita ao simples ato de conduzir uma sala de aula, pois o conhecimento deste profissional permite um leque de atividades a serem praticadas. Dentre elas, a aplicação de protocolos de avaliação do desenvolvimento é algo a ser tomado como instrumento de trabalho pelos pedagogos, com o intuito de identificar possíveis atrasos em diversos aspectos do desenvolvimento infantil, de modo que os resultados obtidos poderão contribuir tanto para a criança, quanto para o pedagogo, o qual será capaz de desenvolver atividades mais coerentes com a necessidade e o nível de desenvolvimento em que cada criança se encontra. Dessa forma, buscamos responder as seguintes questões: A aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento infantil, realizada por pedagogos, possibilita a compreensão da fase evolutiva que a criança se encontra, ampliando desta forma a atuação pedagógica dentro da creche? Quais as dificuldades que o pedagogo pode encontrar na aplicação do teste? O objetivo geral deste estudo é avaliar o nível de desenvolvimento neuropsicomotor de crianças em idade pré-escolar, matriculadas em uma creche pública situada no município de Lorena, São Paulo, Brasil, por meio da aplicação do teste Denver II. O objetivo específico, por sua vez, é identificar os principais fatores que podem auxiliar na melhoria do

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processo pedagógico, a partir dos resultados obtidos com a aplicação do teste. A pesquisa atua de modo a auxiliar os educadores na avaliação do desenvolvimento dos alunos e, consequentemente, no planejamento das atividades a serem aplicadas, de modo que estas sejam mais específicas, de acordo com a necessidade de cada criança e o nível do desenvolvimento infantil apresentado para cada uma delas. Trata-se de uma pesquisa de campo, cujos dados foram analisados de forma qualitativa. Como instrumento de pesquisa, utilizou-se o teste Denver II, o qual foi aplicado por duas graduandas do curso de Pedagogia, com o auxílio da professora responsável pelas crianças matriculadas na creche. A partir dos resultados obtidos com a aplicação do referido teste, pôde-se constatar que as quatro crianças avaliadas apresentaram resultados não normais em três dos quatro aspectos analisados: pessoal-social, motor fino-adaptativo e linguagem; no aspecto motor-grosseiro, por sua vez, o resultado foi normal em todos os casos. Conclui-se que a aplicação do teste Denver II garante resultados concretos no que diz respeito ao desenvolvimento infantil e, uma vez adotado, é capaz de ampliar a concepção que os educadores têm de seus alunos, garantindo assim instrumentos capazes de engrandecer seu trabalho como profissional da educação e ampliando as possibilidades dentro de sua atuação como corresponsável pelo desenvolvimento da criança.

Palavras-chave: Teste Denver II; Desenvolvimento Infantil; Pré-Escolar; Creche; Educadores.

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INTRODUÇÃO

A partir da publicação da Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional, nº. 9.394/96,

as creches passaram, oficialmente, a integrar

o sistema de ensino. Estabeleceu-se então

que a Educação Infantil tem como objetivo

supervisionar e promover o desenvolvimento

global da criança do nascimento até os seis anos

de idade, complementando ações da família e da

comunidade.

Sendo a infância uma fase da vida que requer

maior atenção nos aspectos físico, emocional,

cognitivo, pedagógico e de saúde, faz-se

necessário que instrumentos eficazes para a

avaliação do desenvolvimento infantil sejam

empregados desde a vivência na creche, uma

vez que tais resultados serão tidos como base

durante todo o período escolar da criança. Vale

ressaltar que ao apresentar um desenvolvimento

adequado e saudável nos primeiros anos de vida,

a criança terá maiores chances de progressão no

futuro.

Ao atuar em uma creche, o pedagogo se

depara com crianças em idade pré-escolar,

período do desenvolvimento compreendido entre

o terceiro e o final do quinto ano de vida, fase que

a criança conquista importantes habilidades,

principalmente em relação à linguagem e à

socialização, o que contribui para que se torne

mais independente e com capacidade de afirmar

sua personalidade de forma única e peculiar.

O desenvolvimento infantil engloba aspectos

físicos, emocionais, sociais e cognitivos, e

refere-se ao período compreendido entre zero

a seis anos de idade. Os fatores biológicos

de uma criança podem influenciar no seu

desenvolvimento a curto e longo prazo, uma vez

que interferem na formação e maturação dos

diversos sistemas desde a fase pré-natal. Por

outro lado, intervenções realizadas no ambiente

familiar e escolar em cada fase do ciclo de vida da

criança poderão influenciar na qualidade de seu

desenvolvimento durante toda sua vida. Desse

modo, é fundamental que uma atenção especial

seja dada no que diz respeito ao desenvolvimento

de cada criança, mas será que a aplicação de

protocolo de avaliação do desenvolvimento

infantil, realizada por pedagogos, possibilita a

compreensão da fase evolutiva que a criança

se encontra, ampliando desta forma a atuação

pedagógica dentro da creche? E quais as

dificuldades que o pedagogo pode encontrar

durante a aplicação do teste?

Inúmeros são os métodos empregados para

avaliação do desenvolvimento infantil; escalas e

testes são utilizados mundialmente, na tentativa

de quantificar e qualificar o desenvolvimento da

criança. O Denver II é o teste de rastreamento de

risco de desenvolvimento infantil mais utilizado

no Brasil, sendo empregado também em diversos

países. Este instrumento inclui avaliação de

comportamento social e pessoal, linguagem

e habilidades motoras preconizadas como

típicas do desenvolvimento. O desenvolvimento

cognitivo da criança é avaliado pela capacidade

de compreensão de instruções, conceituação

de palavras, nomeação de figuras e habilidades

pessoal-social.

A padronização do teste de Denver na

população brasileira foi realizada por Drachler,

Marshall e Carvalho-Leite (2007) em um estudo

realizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Os autores avaliaram 3.389 crianças com idades

abaixo dos cinco anos, permitindo, então, o

ajuste do teste de desenvolvimento de Denver

II ao contexto cultural brasileiro. Segundo Brito

et al. (2011) vale ressaltar que o desenvolvimento

infantil é acompanhado por organizações

nacionais e internacionais e indica o índice de

Page 4: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

73 EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

desenvolvimento de um país, bem como o nível

de atenção à saúde, a educação e as condições

sanitárias.

A creche foi o local escolhido pelos

pesquisadores para desenvolver o presente

estudo, por se tratar de um ambiente que agrega

crianças em fase inicial de seu desenvolvimento, e

envolve o pedagogo de modo que seja necessário

um conhecimento básico mediante o nível de

desenvolvimento de cada criança, de acordo com

a faixa etária em que a mesma se encontra.

O objetivo geral deste estudo é avaliar o

nível de desenvolvimento neuropsicomotor das

crianças em idade pré-escolar, matriculadas em

uma creche pertencente à rede pública de ensino,

situada no município de Lorena, São Paulo,

Brasil, através da aplicação do teste Denver II.

O objetivo específico, por sua vez, é identificar

os principais fatores que podem auxiliar na

melhoria do processo pedagógico, a partir dos

resultados obtidos com a aplicação do teste.

Nota-se a importância deste trabalho para a

atuação dos pedagogos, no que diz respeito em

obter resultados mais precisos referentes ao

desenvolvimento neuropsicomotor dos alunos.

Desta forma, poderão ser pré-estabelecidas

atividades mais coerentes com a necessidade

de cada criança, de acordo com o nível do

desenvolvimento infantil em que a mesma se

encontra. Além disso, os resultados obtidos após

a aplicação do teste Denver II, irão beneficiar a

própria criança em seu desenvolvimento motor/

intelectual/social, pois caso seja diagnosticado

algum tipo de déficit em alguma destas áreas,

com o auxílio dos pais ou responsáveis e dos

educadores, ela poderá desenvolver atividades

que influenciem positivamente no seu

desenvolvimento.

REFERENCIAIS TEÓRICOS

Erikson (1998) afirma que durante a fase do

desenvolvimento infantil compreendida entre

zero e seis anos de idade, a criança parece

dotada de uma energia interminável, que é

extravasada principalmente através do brincar

e de atividades motoras (correr, pular, subir,

descer, entre outras). A criança está aprendendo

também como funciona o mundo social e como

ela funciona dentro dele.

Em seu trabalho, Barbosa (2004) diz que

os primeiros anos de vida da criança são

fundamentais para seu desenvolvimento, pois

envolvem de forma significativa os aspectos

físico, emocional, cognitivo e espiritual, os quais

servirão como alicerces para sua aprendizagem

e interação com o mundo físico e social. Porém,

deve ser considerado não apenas a possibilidade

de a criança se tornar bem sucedida no futuro,

mas, principalmente, o fato de proporcionar à

criança espaços onde ela possa se desenvolver de

maneira plena e viver sua vida hoje.

Segundo Souza (2008), as concepções

de educadoras de creche, referentes ao

desenvolvimento de crianças em fase pré-escolar,

têm ênfase no ambiente e na prática profissional,

isto é, as educadoras acompanham e avaliam o

desenvolvimento infantil através da observação

diária, estabelecendo comparações entre as

próprias crianças e destas com parâmetros pré-

estabelecidos referentes ao comportamento

esperado para crianças de faixa etária equivalente.

Diante das dificuldades infantis, inclusive

relacionadas a bebês com necessidades especiais,

as educadoras tomam iniciativas próprias e em

sua rotina de trabalho não há tempo nem espaço

dedicados exclusivamente para realização de

um planejamento; dessa forma suas ações são

baseadas na resolução imediata dos problemas,

Page 5: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

74EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

o que provoca nestas profissionais uma sensação

de sobrecarga e exaustão no final de cada

expediente.

Em um estudo realizado por Silva (2003), as

educadoras entrevistadas afirmaram que a creche

é vista pela sociedade como um ambiente criado

com uma única finalidade: a permanência de

crianças que se encontram na ausência dos pais

enquanto estes trabalham. Nesta circunstância,

vale-se destacar a grande influência que o

educador tem sobre o desenvolvimento infantil,

uma vez que este profissional interage durante

horas com as crianças, acompanhando-as em

diferentes aspectos de seu desenvolvimento.

Tais ideias se relacionam com o estudo de Eltink

(1999), no qual o educador é apontado como peça

fundamental para o bom atendimento dentro

da creche, sendo este o principal responsável

pela observação constante, pela pesquisa, pelo

diálogo e pelo planejamento, de modo que esta

interação com as crianças e com a comunidade

lhe propicie certa autonomia na hora de analisar

a realidade em que está inserido e na busca por

soluções viáveis. Dessa forma, é possível afirmar

que muito além do cuidado diário, o educador

pode e deve desenvolver atividades voltadas

para a promoção do desenvolvimento infantil,

organizadas mediante um planejamento, no

qual se faz necessário uma reflexão prévia das

atitudes a serem tomadas, ao invés das decisões

imediatistas que permeiam a realidade das

creches.

Por outro lado, será que os próprios educadores

reconhecem tamanha responsabilidade e

influência que possuem sobre o desenvolvimento

dos alunos? Ou ainda, utilizam métodos e

instrumentos adequados para acompanhar

o desenvolvimento das crianças? A falta de

recursos que proporcionem ao educador maior

credibilidade e segurança no desenvolver de seu

trabalho faz com que este profissional, muitas

vezes, não seja capaz de realizar uma análise

mais precisa e detalhada, no que diz respeito ao

desenvolvimento infantil.

Tal problema é abordado por Melchiori e

Alves (2001) em uma pesquisa realizada com

educadoras de creches, na qual elas subestimam

sua influência perante o desenvolvimento dos

bebês que ficam sob seus cuidados, sendo esta

considerada menor do que as mães exercem. Isso

ocorre apesar de as mesmas estarem cientes do

tempo que passam com as crianças, o qual varia

entre quatro e dez horas por dia.

Souza (2008) afirma que o educador deveria

estar ciente quanto à importância de sua função

educativa junto à criança pequena e quanto à

importância da creche como espaço de promoção

do desenvolvimento e de prevenção de seus

distúrbios. Se além do educador, a comunidade na

qual a creche está inserida também fosse capaz

de compreender este fator, talvez se verificasse

maior empenho em tornar o atendimento à

criança pequena algo mais elaborado e, portanto,

mais adequado.

Dessa forma, verifica-se a necessidade

real para solução deste problema, ou seja, por

meio da aplicação de protocolos de avaliação

do desenvolvimento infantil, no caso, do teste

Denver II. O Teste de Denver é uma escala

de triagem utilizada para verificar o atraso

no desenvolvimento infantil; o mesmo foi

desenvolvido por Willian K. Frankenburg em

1967, na universidade de Colorado, Denver. Sua

aplicação se dá em crianças desde os quinze dias

até os seis anos de idade. Segundo o próprio

nome indica, este é um teste para triagem

e não para diagnóstico de anormalidades

de desenvolvimento, e tem como objetivo a

Page 6: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

75 EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

identificação precoce de algum possível desvio

e acompanha o desenvolvimento de todas as

crianças, sejam elas de risco ou não.

De acordo com os critérios de avaliação

previstos no manual do teste, sua interpretação

global é feita como — normal, não normal,

questionável e não testável. É importante

ressaltar que por se tratar de um teste de triagem,

um resultado não normal alerta para um risco

potencial que deve ser confirmado mediante

testes diagnósticos. Além disso, a avaliação do

desenvolvimento em um único momento não

permite que se determine de forma definitiva

um atraso no desenvolvimento da criança.

Através desta identificação precoce pode ser

possível o estabelecimento de programas de

intervenção que visem à prevenção de distúrbios

no desenvolvimento (HALPERN et al., 1996).

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa de campo, cujos

dados foram analisados de forma qualitativa.

Como instrumento de pesquisa utilizou-se o

teste Denver II, o qual foi aplicado por duas

graduandas do curso de Pedagogia, com o

auxílio da professora responsável pelas crianças

matriculadas no Maternal I, em uma creche

pública situada no município de Lorena, São

Paulo, Brasil.

O teste Denver II consiste em 125 itens que

são divididos em quatro grupos: a) Pessoal-

Social: aspectos da socialização da criança

dentro e fora do ambiente familiar; b) Motor

adaptativo: coordenação olho-mão, manipulação

de pequenos objetos; c) Linguagem: produção de

som, capacidade de reconhecer, entender e usar

linguagem e d) Motor Grosso: controle motor

corporal, sentar, caminhar, pular e todos os

demais movimentos realizados pela musculatura

ampla. Estes itens são administrados diretamente

à criança e em alguns deles é solicitado que a mãe

informe se a criança realiza ou não determinada

tarefa (HALPERN et al, 1996).

Os itens avaliados são apresentados em forma

de gráfico, e em cada marco do desenvolvimento,

é possível observar os respectivos limites mínimo

e máximo da idade de aparecimento. Os itens são

codificados individualmente em passa, falha, ou

recusa (não testável), de acordo com a habilidade

da criança em realizar determinado item.

A amostra de crianças avaliadas pertence a

faixa etária que varia entre 2 anos e 3 anos e 1

mês de idade. Trinta é a totalidade de crianças

desta turma. Estabeleceu-se que quatro

crianças seriam os sujeitos da pesquisa: duas

crianças deveriam apresentar, aparentemente,

desenvolvimento típico e as outras duas

deveriam apresentar, aparentemente, algum

tipo de alteração em seu desenvolvimento. A

professora da sala selecionou, a partir desse

critério, as quatro crianças. As duas crianças

com desenvolvimento aparentemente típico

pertencem ao sexo masculino e ao sexo feminino

respectivamente, o mesmo equivale para as

crianças que aparentemente apresentam alguma

alteração em seu desenvolvimento. As crianças

foram observadas individualmente, seguindo a

tabela de aplicação do teste Denver II segundo

Beteli (2006), de modo que, para cada criança

houve uma tabela equivalente.

Após a assinatura do TCLE e autorização da

instituição com parecer substanciado pelo CEP,

CAAE nº. 50387915.5.0000.5431, as crianças

foram avaliadas por meio do instrumento teste

de triagem Denver II (Figura 1). As respostas

foram anotadas e avaliadas, seguindo os

procedimentos pré-estabelecidos para aplicação

do referido teste.

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76EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

DISCUSSÕES E RESULTADOS

Os resultados encontrados na aplicação do teste foram avaliados

individualmente. As crianças foram nomeadas, para efeito de análise, como

A, B, C e D. Vale ressaltar que A e B eram consideradas pela professora,

aparentemente, com alguma alteração em seu desenvolvimento e, C e D

eram consideradas com desenvolvimento aparentemente típico.

Figura 1 - Teste de Triagem Denver IIFonte: BETELI, V. C. Acompanhamento do desenvolvimento infantil em creches.

Dissertação de Mestrado em

Enfermagem – Universidade de São Paulo, 2006.

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77 EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

Criança A: Com 2 anos e 11 meses, pertencente ao sexo feminino, A

mostrou-se, no momento da aplicação do teste, alegre, sociável com as

outras crianças, e discretamente retraída com os adultos. Apresentou-se

calma e um pouco desatenta, mas logo se interessou e, aparentemente,

gostou de realizar o teste. Seu histórico familiar é aparentemente adequado:

os pais são casados e pareceram ser atenciosos e carinhosos. A apresentou

resultados não normais em três dos quatro aspectos analisados: pessoal-

social, motor fino-adaptativo e linguagem. No aspecto motor-grosseiro o

resultado foi normal.

Page 9: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

78EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

Criança B: Com 2 anos e 10 meses, pertencente ao sexo masculino,

B mostrou ser uma criança alegre, que se socializa bem com as outras

crianças e com os adultos; segundo a professora, B. é bagunceiro e meio

desatento, um pouco agitado e prestativo. Quanto ao histórico familiar,

os pais são separados; B. mora com sua mãe, e com irmãos adolescentes

de outro casamento. No momento da aplicação do teste mostrou-se

desatento e com pouco interesse nas atividades propostas. B. apresentou

resultados não normais em três dos quatro aspectos analisados: pessoal-

social, motor fino-adaptativo e linguagem. No aspecto motor-grosseiro o

resultado foi normal.

Page 10: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

79 EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

Criança C: Com 2 anos e 6 meses, pertencente ao sexo feminino, C mostrou

ser uma criança muito alegre, e sociável com crianças e adultos. Segundo a

professora, C. é uma criança calma, esperta e não aprecia dividir os brinquedos.

Seu histórico familiar é de uma família aparentemente adequada: os pais são

casados e parecem ser atenciosos e carinhosos. No momento da aplicação do teste

se comportou bem, se distraiu muito pouco na hora de responder as perguntas e

demonstrou interesse constantemente; fez perguntas sobre os objetos utilizados

durante o teste e, aparentemente, gostou de realizá-lo. C. apresentou resultados

não normais em três dos quatro aspectos analisados: pessoal-social, motor fino-

adaptativo e linguagem. No aspecto motor-grosseiro o resultado foi normal.

Page 11: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

80EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

Criança D: Com 2 anos e 6 meses, pertencente ao sexo masculino, D mostrou

ser uma criança muito alegre, que se socializa bem com as outras crianças e com

os adultos. Segundo a professora, é uma criança calma e muito esperta, com todos

os comportamentos típicos de sua idade. Seu histórico familiar revela mãe usuária

de drogas ilícitas e ausência de registro de quem seja seu pai. D é criado por sua tia

sendo que ambos moram na mesma casa de sua mãe. No momento da aplicação do

teste se comportou muito bem, mantendo-se concentrado na hora de responder as

perguntas e realizar os testes; demonstrou interesse e gostou de fazê-los. D apresentou

resultados não normais em três dos quatro aspectos analisados: pessoal-social, motor

fino-adaptativo e linguagem. No aspecto motor-grosseiro o resultado foi normal.

Page 12: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

81 EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

Diante de tais resultados, evidencia-se a

semelhança nas respostas das quatro crianças

analisadas. Por estarem todos os dias, durante

muitas horas numa mesma classe, dentro

da creche, as crianças apresentam níveis de

dificuldades semelhantes na realização das

atividades. Isso mostra que as atividades que

promovem o desenvolvimento da coordenação

motora grossa das crianças estão sendo

aplicadas constantemente, entretanto,

atividades responsáveis por desenvolver a

linguagem das crianças devem ser exercitadas

com maior frequência, como por exemplo,

contar histórias oralmente ou através de teatro

de fantoches, dentre outras.

Também foi possível perceber que todas

as crianças apresentaram resultados abaixo

do esperado no fator pessoal-social, mais

especificamente em atividades relacionadas

à autonomia. Dessa forma, os resultados

comprovam a necessidade das educadoras

permitirem que as crianças desenvolvam suas

autonomias por meio de atividades simples

como escovar os dentes ou se vestir, mas de

forma individual, isto é, sem o auxílio de um

adulto.

Por fim, no aspecto motor fino-adaptativo

as crianças também apresentaram algumas

dificuldades na realização das atividades,

porém, em níveis diferentes. Dessa forma,

nota-se a necessidade de explorar de forma

constante atividades que auxiliem neste

aspecto, como por exemplo, desenhar, pintar

utilizando os dedos ou pincéis, montar

blocos, manusear peças pequenas ou realizar

atividades utilizando massinha de modelar.

Sugere-se que os aspectos que apresentaram

resultados abaixo do esperado devem ser

repensados no momento do planejamento das

atividades, de modo a serem trabalhados com

mais frequência em prol do desenvolvimento

integral das crianças.

No que diz respeito à aplicação do

protocolo de avaliação, por se tratar de um

teste desenvolvido para população americana

e caracterizado pela cultura deles, apenas

traduzido para o português, foram encontradas

dificuldades na compreensão de algumas

questões, como por exemplo, “Coloca bloco na

caneta”, devido ao fato de não apresentar uma

explicação pertinente nas Instruções do Teste

de Desenvolvimento Denver II. Apesar disso,

o teste tido como instrumento de pesquisa se

mostrou bem simples e objetivo na hora de

sua aplicação, depois de recebidas as devidas

orientações.

Klausing et al (2004) em seu estudo, discute

as principais dificuldades encontradas durante

a aplicação do teste Denver II, agrupando-as

em três categorias, a saber: as relacionadas

ao Teste de Denver II em si, a habilidade em

lidar com as crianças e as dificuldades em

relação à estrutura da creche. Quanto às

“dificuldades relacionadas ao teste em si”, está

a clareza dos itens da tabela, que se dá devido

ao fato de a tabela ser uma tradução do inglês,

podendo apresentar possíveis dificuldades no

entendimento de alguns de seus itens. Porém,

tal dificuldade poderia ser amenizada através

da leitura sistemática do manual que explica

detalhadamente todos os itens assim como o

acesso a ele durante a aplicação.

Na questão “habilidade em lidar com as

crianças”, a dispersão das mesmas se mostrou

frequente, também observado em um dos casos

apresentado no presente trabalho. Tal fator

pode estar relacionado com a inexperiência

do aplicador com o teste, já que a condução

deste protocolo requer certa habilidade do

Page 13: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

82EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

aplicador para direcionar a atenção da criança

ao item testado; porém, é algo que pode

ser aperfeiçoado caso o teste seja aplicado

constantemente pelos pedagogos nas creches.

A categoria “dificuldades em relação à

estrutura da creche” está relacionada ao fato de

as creches, em alguns casos, não disporem de

um local apropriado para a realização do teste

e devido à falta de tempo, o que pode ocorrer

pela dinâmica de horários destinados ao sono,

alimentação, chegada e saída de cada creche,

o que acaba reduzindo o tempo de contato

do aplicador com as crianças. Percebemos

também esta dificuldade na aplicação do teste,

o que caracteriza a falta de um planejamento

que priorize a aplicação de protocolos de

avaliação do desenvolvimento infantil. Tais

fatores vão de acordo com o estudo realizado

por Souza (2008), o qual destaca a atuação

do pedagogo dada por meio de alternativas

e decisões imediatas, isto é, uma rotina de

trabalho caracterizada pela realização das

atividades cotidianas de modo automático.

CONCLUSÃO

Foram avaliados os níveis de

desenvolvimento neuropsicomotor das

crianças em idade pré-escolar, matriculadas

no maternal I em uma creche pública no

município de Lorena, São Paulo, Brasil.

A aplicação do teste utilizado como

instrumento de pesquisa possibilitou a

identificação de alguns fatores que podem

auxiliar na melhoria do processo pedagógico,

dentre eles cabe citar os resultados obtidos

com precisão em relação às quatro áreas do

desenvolvimento infantil, sendo elas: pessoal-

social, motor adaptativo, linguagem e motor

grosso, o que possibilitou a equipe escolar uma

representação visual de aspectos relacionados

ao desenvolvimento infantil, notados

anteriormente, devido ao convívio com as

crianças. Dessa forma, vale ressaltar que o teste

auxilia toda equipe pedagógica na elaboração

do planejamento das aulas, de modo a promover

uma reflexão mediante as atividades a serem

aplicadas em prol do desenvolvimento integral

das crianças, considerando as áreas onde elas

apresentam maior dificuldade.

Mediante tais fatores, a concepção que as

educadoras da creche têm sobre as crianças se

torna mais ampla e precisa, de modo que seja

possível detectar as áreas onde os alunos se

apresentam abaixo do esperado de acordo com

a idade em que se encontram.

No que diz respeito à questão do pedagogo

se apropriar de instrumentos de avaliação

mais eficazes e devidamente validados, e

estar ciente de sua responsabilidade sobre o

desenvolvimento das crianças pequenas, vale

destacar que, de fato, a aplicação de protocolos

beneficia o seu trabalho, de modo a garantir

a concretização daquilo que se observa

diariamente, em relação ao desenvolvimento

das crianças, em seus diferentes âmbitos.

O teste Denver II, apesar de apresentar

algumas dificuldades no momento de sua

aplicação, pode ser definido como um protocolo

simples e completo, capaz de garantir uma

visão global de cada aluno, possibilitando a

rápida visualização das áreas onde a criança se

encontra abaixo do esperado, as quais devem

ser mais bem trabalhadas a fim de promover a

evolução constante da criança.

Vale ressaltar que a reaplicação do teste

é fundamental para o acompanhamento

contínuo, possibilitando, assim, melhores

resultados no desenvolvimento das crianças.

Portanto, todos educadores são capazes de se

Page 14: Aplicação de protocolo de avaliação do desenvolvimento

83 EIE - nº 02 | vol 01 | 2018

apropriarem de protocolos de avaliação como

este, o que carece apenas é a conscientização

do profissional da educação responsável

pelos anos iniciais sobre sua influência neste

processo e, consequentemente, a busca

constante por novos conhecimentos, o que lhe

possibilitaria maior sucesso em seu trabalho.

REFERÊNCIAS

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