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© EDITORA CULTURA CRISTÃ. O MUNDO, A CARNE E O DIABO A luta pela santificação REVISTA PALAVRA VIVA O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 1 REGENERAÇÃO O cristão é nascido de novo Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. (João 3.3) Regeneração é um conceito do Novo Testamento que se desenvolveu, ao que parece, a partir da frase alegórica usada por Jesus para mostrar a Nicodemos a interioridade e profundidade da mudança a que mesmo os religiosos judeus deveriam submeter-se, se quisessem ver o reino de Deus e entrar nele, e, assim, alcançar a vida eterna (Jo 3.3-15). Jesus alegorizou a mudança como sendo “novo nascimento”. O conceito é Deus renovando o coração, o âmago do ser humano, implantando nele um novo princípio de desejo, propósito e ação, uma propensão dinâmica que encontra expressão na resposta positiva ao Evangelho e a seu Cristo. A frase de Jesus, nascido da água e do Espírito (Jo 3.5), volta ao tema de Ezequiel 36.25-27, onde Deus é representado como limpando simbolicamente as pessoas da poluição do pecado (por água) e dando-lhes um “novo coração” ao colocar o Espírito dentro deles. Por ser isso tão explícito, Jesus censurou Nicodemos, “mestre de Israel”, por não entender como o novo nascimento ocorre (Jo 3.9, 10). A posição de Jesus desde o começo é que não há prática de fé em sua pessoa como o Salvador sobrenatural, nem arrependimento, nem verdadeiro discipulado fora desse novo nascimento. Em outra parte, João ensina que a crença na encarnação e na expiação, com fé e amor, santidade e justiça, é o fruto prova quem é nascido de Deus (1Jo 2.29; 3.9; 4.7; 5.1, 4). Consequentemente, parece que, como não há conversão sem novo nascimento, assim também não há novo nascimento sem conversão. Embora a regeneração infantil possa ser uma realidade quando Deus assim o pretende (Lc 1.15, 41-44), o contexto usual do novo nascimento é o da vocação eficaz - isto é, confrontação com o Evangelho e iluminação quanto à sua verdade e significação como mensagem de Deus para a pessoa. A regeneração é sempre o elemento decisivo na vocação eficaz. A regeneração é monergista, isto é, obra inteiramente de Deus Espírito Santo. Ela suscita o eleito dentre os mortos espiritualmente para uma nova vida em Cristo (Ef 2.1-10). É uma transição da morte espiritual para a vida espiritual, sendo a fé consciente, intencional e ativa em Cristo seu fruto imediato, não sua causa imediata. A regeneração é a obra do que Agostinho chamou graça “preveniente”, a graça que precede nossos impulsos de coração em direção a Deus. Teologia Concisa, J.I. Packer, Editora Cultura Cristã

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A luta pela santificação

REVISTA PALAVRA VIVA – O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 1

REGENERAÇÃO

O cristão é nascido de novo

Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não

pode ver o reino de Deus. (João 3.3)

Regeneração é um conceito do Novo Testamento que se desenvolveu, ao que

parece, a partir da frase alegórica usada por Jesus para mostrar a Nicodemos a

interioridade e profundidade da mudança a que mesmo os religiosos judeus deveriam

submeter-se, se quisessem ver o reino de Deus e entrar nele, e, assim, alcançar a vida

eterna (Jo 3.3-15). Jesus alegorizou a mudança como sendo “novo nascimento”.

O conceito é Deus renovando o coração, o âmago do ser humano, implantando

nele um novo princípio de desejo, propósito e ação, uma propensão dinâmica que

encontra expressão na resposta positiva ao Evangelho e a seu Cristo. A frase de Jesus,

nascido da água e do Espírito (Jo 3.5), volta ao tema de Ezequiel 36.25-27, onde Deus

é representado como limpando simbolicamente as pessoas da poluição do pecado (por

água) e dando-lhes um “novo coração” ao colocar o Espírito dentro deles. Por ser isso

tão explícito, Jesus censurou Nicodemos, “mestre de Israel”, por não entender como o

novo nascimento ocorre (Jo 3.9, 10). A posição de Jesus desde o começo é que não há

prática de fé em sua pessoa como o Salvador sobrenatural, nem arrependimento, nem

verdadeiro discipulado fora desse novo nascimento.

Em outra parte, João ensina que a crença na encarnação e na expiação, com fé e

amor, santidade e justiça, é o fruto prova quem é nascido de Deus (1Jo 2.29; 3.9; 4.7;

5.1, 4). Consequentemente, parece que, como não há conversão sem novo nascimento,

assim também não há novo nascimento sem conversão.

Embora a regeneração infantil possa ser uma realidade quando Deus assim o

pretende (Lc 1.15, 41-44), o contexto usual do novo nascimento é o da vocação eficaz -

isto é, confrontação com o Evangelho e iluminação quanto à sua verdade e significação

como mensagem de Deus para a pessoa. A regeneração é sempre o elemento decisivo na

vocação eficaz.

A regeneração é monergista, isto é, obra inteiramente de Deus Espírito Santo.

Ela suscita o eleito dentre os mortos espiritualmente para uma nova vida em Cristo (Ef

2.1-10). É uma transição da morte espiritual para a vida espiritual, sendo a fé

consciente, intencional e ativa em Cristo seu fruto imediato, não sua causa imediata. A

regeneração é a obra do que Agostinho chamou graça “preveniente”, a graça que

precede nossos impulsos de coração em direção a Deus.

Teologia Concisa, J.I. Packer, Editora Cultura Cristã

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REVISTA PALAVRA VIVA – O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 3

OS FARISEUS

O mais conhecido dos grupos religiosos da época de Jesus era o dos fariseus.

Embora fosse um grupo relativamente pequeno (provavelmente uns seis mil), tinham

muitíssima influência. Seu ponto de vista em muitas questões podia ser considerado

típico de uma maioria de judeus naquela época. O nome “fariseu” se origina

provavelmente de uma palavra em aramaico que quer dizer “separado”; de onde se

conclui que os fariseus eram “os separados”. Eles passaram a existir em algum

momento antes da era do Novo Testamento. De acordo com Josefo, ficaram famosos

durante os reinados de João Hircano I (135/134–104 a.C.) e Alexandra (76–67 a.C.).

Na época de Jesus, havia duas escolas de pensamento farisaico diferentes – os

seguidores de HILLEL e os seguidores de ShAMAI. Hillel tinha revolucionado o

pensamento rabínico com um novo método de exegese que permitia uma interpretação

mais liberal da lei. GAMALIEL I (filho de Hillel e professor do apóstolo Paulo; At

22.3) foi o líder dos fariseus de 25 a 40 d.C. Depois da destruição de Jerusalém, em 70

d.C., Johanan bem Zakkai se encarregou de reformular o farisaísmo em JAMNIA em 90

d.C.; estabeleceu-se base para a corrente principal do Judaísmo que chega até os nossos

dias.

Teologicamente, os fariseus desenvolveram um conjunto de ideias baseado no

Antigo Testamento e em suas próprias tradições orais, ambos considerados por eles

igualmente oficiais. Eles “passavam às pessoas muitas observações por tradição que não

estavam escritas na lei de Moisés”, diz Josefo (Ant. 13.10.6). Acreditavam em Deus

(quase que de uma forma deística), em anjos e espíritos, na providência, na oração, na

necessidade da fé e das boas obras, no julgamento final, em um Messias que viria e na

imortalidade da alma. Muitas das coisas em que os fariseus acreditavam também eram

crenças dos cristãos primitivos; Jesus disse a respeito deles: “fazei e guardai, pois, tudo

quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não

fazem” (Mt 23.3). Paulo pôde dizer no Sinédrio: “Meus irmãos, eu sou um fariseu, filho

de um fariseu. Estou sob julgamento por causa da minha esperança na ressurreição dos

mortos” (At 23.6). Embora não negassem inteiramente a graça de Deus, os fariseus

eram extremamente legalistas, tanto que Jesus os acusou de negligenciar os

mandamentos de Deus por se apegarem às tradições dos homens (Mc 7.8). Essas

tradições foram reunidas no começo do século 3 d.C., pelo RABINO JUDÁ, O

PATRIARCA em um livro chamado o Mishnah, que, por sua vez, fazia parte do

Talmude.

Os fariseus eram hostis a Jesus porque sentiam que ele era muito liberal com

relação às suas leis, aceitava demais os pecadores e era aberto ao contato com gentios.

Acreditavam também que Jesus blasfemava quando se referia a si mesmo e à sua

relação com Deus. De sua parte, Jesus se opunha a eles por causa de seu legalismo, de

sua hipocrisia e de sua falta de vontade de aceitar o reino de Deus representado nele

mesmo.

Descobrindo o Novo Testamento, Walter A. Elwell & Robert W. Yarbrough, Editora Cultura Cristã

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REVISTA PALAVRA VIVA – O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 5

DOMÍNIO PRÓPRIO

“Como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio

próprio.” (Provérbios 25.28)

Antigamente, os muros de uma cidade era sua defesa principal; sem eles, a

cidade era presa fácil para seus inimigos. Para o piedoso Neemias, um cativo judeu na

distante cidade de Susa, a noticia de que o muro de Jerusalém foi derrubado significou a

ultima destruição da sua cidade amada. Quando soube disso, se sentou e chorou.

Domínio próprio e o muro de defesa do cristão contra o desejo pecaminoso que

trava guerra contra sua alma. Charles Bridges observou que alguém sem domínio

próprio e presa fácil para o invasor:

Ele se rende ao primeiro ataque das suas paixões desgovernadas, não oferecendo

nenhuma resistência... Não tendo nenhuma disciplina sobre si mesmo, a tentação

torna-se a ocasião do pecado e o impele em um espaço de tempo que não havia

considerado... Ira tende a assassinato. O descuido com a luxuria perde-se em

adultério.1

Domínio próprio e o controle não apenas dessas paixões, mas também de si

mesmo. Provavelmente, e mais bem definido como o domínio dos desejos. D. G. Kehl o

descreve como “a habilidade para evitar excessos e ficar dentro de limites razoáveis”.2

Bethune chama-o de “o regulamento sadio de nossos desejos e paixões, prevenindo o

excesso deles”.3 Ambas as descrições insinuam o que todos sabem ser verdade: temos

uma tendência a passar do limite em nossas varias paixões e, consequentemente,

precisamos contê-las.

No entanto o domínio próprio envolve uma vigilância muito mais ampla que

somente controle de nossas paixões e de nossos desejos corporais. Também temos de

exercitar o domínio próprio sobre pensamentos, emoções e fala. Ha uma forma de

domínio próprio que diz sim ao que devemos fazer, como também diz não ao que não

devemos fazer. Por exemplo, raramente quero estudar a Bíblia quando começo um

estudo. Ha muitas outras coisas que são mentalmente muito mais fáceis de fazer, como

ler um jornal, uma revista ou um bom livro cristão. Uma expressão necessária de

domínio próprio, então, e sentar-se a mesa da sala de jantar com a Bíblia e o caderno na

mão e dizer para mim mesmo: “Faca isso!”. Pode não parecer muito espiritual, mas

também não parece a exclamação de Paulo: “Esmurro o meu corpo e o reduzo a

escravidão” (1Co 9.27).

Domínio próprio e necessário porque estamos em guerra com nossos próprios

desejos pecaminosos. Tiago descreve esses desejos como algo que nos arrasta e nos

atrai para o pecado (veja 1.14). Pedro diz que eles fazem guerra contra nossa alma (2Pe

2.11). Paulo fala deles como enganosos (veja Ef 4.22). Esses desejos pecaminosos são

tão perigosos porque moram dentro do nosso próprio coração. Tentações externas não

1 Charles Bridges, An Exposition of Proverbs (Evansville, IN: Sovereign Grace BookClub, 1846, 1959), pág. 483. 2 D. G. Kehl, Control Yourself! (Grand Rapids, M I: Zondervan, 1982), pag. 25. Este e um livro excelente para aqueles que querem

estudar mais o domínio próprio. 3 George W. Bethune, The Fruit of the Spirit (Swengel, PA: Reiner, 1839), pág. 179.

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seriam tão perigosas se não fosse pelo fato de acharem esse aliado do desejo bem dentro

de nosso próprio peito.

Domínio próprio e um traço essencial do caráter da pessoa piedosa que permite

obediência as palavras do Senhor Jesus: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se

negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). E impossível seguir a Jesus sem

dar a atenção necessária a graça do domínio próprio em nossa vida.

Os tradutores da Nova Versão Internacional da Bíblia (em inglês) usaram a

expressão domínio próprio para traduzir duas palavras do idioma original. A primeira,

usada por Paulo na sua lista chamada de o fruto do Espirito, refere-se principalmente a

moderação ou temperança na satisfação de nossos desejos e paixões. Um amigo meu,

ex-professor de grego, diz que tem o significado literal de “forca interna” e refere-se

aquela forca de caráter que permite a uma pessoa controlar suas paixões e seus desejos.

A segunda palavra traduzida como domínio próprio pelos tradutores da Nova

Versão Internacional e uma palavra que significa consciência ou clareza no julgamento.

E traduzida como sóbrio ou sensato por outras traduções. Essa palavra transmite a ideia

de possibilitar um bom discernimento para controlar nossos desejos, paixões,

pensamentos, emoções e ações.

Podemos prontamente ver que essas duas ideias complementam uma a outra no

significado bíblico de domínio próprio. Discernimento permite-nos determinar o que

devemos fazer e como devemos responder; a forca interna prove a vontade para fazer

isso. Tanto o discernimento como a forca interna são necessários para o domínio

próprio dirigido pelo Espirito.

O discernimento e essencial ao exercício do domínio próprio. Permite a pessoa

piedosa não apenas distinguir o bem do mal, mas também separar o bom e o melhor. O

discernimento permite-nos determinar os limites de moderação em nossas paixões,

desejos e hábitos. Ele ajuda-nos a regular nossos pensamentos e mantem nossas

emoções sob controle.

Mas só o discernimento não basta para nos capacitar a praticar o domínio

próprio. A forca interna também e fundamental. Frequentemente, sabemos muito bem o

que fazer, mas não fazemos. Permitimos que sentimentos ou desejos predominem em

nosso julgamento. Em ultima analise, domínio próprio é o exercício da força interna

sob a direção do discernimento, que nos permite fazer, pensar e dizer coisas que

agradam a Deus.

Visto que a graça do domínio próprio afeta tantos aspectos de nossa vida, e útil

focalizar nosso estudo dessa questão em três áreas principais: corpo, pensamentos e

emoções.

A Vida Frutífera, Jerry Bridges, Editora Cultura Cristã

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REVISTA PALAVRA VIVA – O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 6

SATANÁS: É CULPA DO DIABO?

Quando cremos em Deus e na sua Palavra, também somos levados a crer que

Satanás é real. Como o restante dos anjos caídos, seu líder, Satanás, aparece claramente

apenas no Novo Testamento. Seu nome hebraico significa “adversário” (oponente de

Deus e do seu povo) com o sentido de um acusador legal no tribunal celestial, e é nessa

condição que o Antigo Testamento o apresenta (1Cr 21.1; Jó 1—2; Zc 3.1-2). Convém

observar, porém, que Satanás não cumpre um papel legítimo no tribunal celestial — ele

é um intruso que faz acusações falsas. Em Jó, Satanás entra no tribunal celestial para

“apresentar-se” (Jó 2.1; cf. 1.6), e não para servir; em Zc 3.2, o Senhor repreende

Satanás por suas acusações falsas; em 1Cr 21.1, Satanás se opõe ao povo escolhido de

Deus e incita o seu rei a pecar.

O Novo Testamento usa títulos reveladores para Satanás: diabo (diabolos)

significa “alguém que faz acusações falsas” ou “adversário” (isto é, do povo de Deus;

Ap 12.9-10); Apoliom (Ap 9.11) significa “destruidor”; tentador (Mt 4.3; 1Ts 3.5) e

maligno (1Jo 5.18-19) são designações óbvias; e “príncipe deste mundo” e “deus deste

século” mostram Satanás presidindo sobre os estilos de vida pecaminosos da

humanidade (Jo 12.31; 14.30; 16.11 — “príncipe deste / do mundo”; 2Co 4.4 — “deus

deste século”; cf. Ef 2.2 — “príncipe da potestade do ar”). Jesus afirmou que Satanás

sempre foi um assassino e que ele é o pai da mentira — Satanás foi o primeiro

mentiroso e, desde então é o fomentador de toda falsidade e engano no mundo (Jo 8.44).

Por fim, ele é identificado como a serpente que enganou Eva no Éden (Ap 12.9; 20.2). É

descrito como um ser repleto de malícia, fúria e crueldade inimagináveis dirigidas

contra Deus, contra a verdade de Deus e contra aqueles aos quais Deus estendeu o seu

amor salvador.

A descrição detalhada da rebelião de Satanás no céu e sua queda conhecida pela

maioria dos cristãos de hoje é resultante mais do imaginário literário do que das

Escrituras. Paulo indica que Satanás caiu em decorrência do seu orgulho (1Tm 3.6), mas

não desenvolve essa ideia. A “estrela da alva”, expressão por vezes traduzida como

“Lúcifer” (cf. 2Pe 1.19) em Is 14.12, é identificada explicitamente com “o rei da

Babilônia” (Is 14.4, veja a sua nota; cf. a descrição semelhante do rei de Tiro em Ez 28).

Embora seja concebível que Is 14.12 considere Satanás o “príncipe” doimpério

babilônico (veja as notas sobre Dn 10.13,20) ou se refira a uma tradição mais antiga

sobre a queda primeva de Satanás, estas são apenas ideias especulativas que não são

corroboradas pela Bíblia nem confirmadas por fontes externas. Em última análise, a

Palavra de Deus revela poucos detalhes sobre as origens de Satanás.

Apesar de não sabermos muito sobre Satanás, as Escrituras nos dizem que

devemos levar a sua oposição a sério, ficar atentos para suas estratégias e lembrar que

estamos lutando contra ele (2Co 2.11; Ef 6.16). Sabemos que Satanás é dissimulado e

astuto, podendo transformar-se num anjo de luz e fazer o mal parecer o bem (2Co

11.14). Sua ferocidade destruidora pode ser vista nos textos que o descrevem como um

leão que ruge (1Pe 5.8) e como um grande dragão (Ap 12.9). Assim como se mostrou

inimigo declarado de Cristo (Mt 4.1-11; 16.23; Lc 4.13; Jo 14.30; cf. Lc 22.3,53),

continua sendo adversário do cristão, sempre procurando fraquezas, distorcendo

virtudes e solapando a fé, a esperança e o caráter (Lc 22.31,32; 2Co 2.11; 11.3-15; Ef

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6.16). Ele deve ser levado a sério, pois a sua malícia e astúcia o tornam um inimigo

terrível.

No entanto, os cristãos não precisam ter medo de Satanás. Ainda que, por ora,

seja uma criatura superior aos seres humanos, ele não é divino; possui grande

conhecimento e poder, mas não é onisciente, onipotente, nem onipresente. Pode ser

vencido — aliás, Cristo já o derrotou definitivamente. Ao iniciar o reino de Deus no seu

ministério terreno, Jesus confrontou Satanás diretamente. Não apenas resistiu às

tentações de Satanás (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13), como também deu aos seus discípulos o

poder de expulsar demônios (Lc 9.1; veja o artigo teológico “Demônios”, em 1Co 10), e

afirmou ter visto “Satanás caindo do céu como um relâmpago” (Lc 10.18). Com a vida,

morte e ressurreição de Jesus Satanás, o “valente”, foi amarrado (Mt 12.25-29) e se

tornou relativamente impotente (Hb 2.14). Em outros tempos, reinou sobre as nações

gentias (Mt 4.8-9), mas não tem mais poder de “[enganar] as nações” (Ap 20.1-3). Em

decorrência disso, à medida que o reino de Deus prossegue na história da igreja, o

evangelho avança pelo mundo com grande sucesso. Os cristãos também podem triunfar

sobre Satanás em sua vida pessoal se resistirem a ele com os recursos que Cristo oferece

(Ef 6.10-18; Tg 4.7; 1Pe 5.8-10): “maior é aquele que está em vós do que aquele que

está no mundo” (1Jo 4.4). No entanto, quando Jesus voltar, trará consigo a consumação

do reino e, nessa ocasião, Satanás e o seu exército serão lançados para sempre no lago

de fogo (Ap 20.10). Sua condenação é certa.

Bíblia de Estudo de Genebra

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REVISTA PALAVRA VIVA – O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 8

CRISTO MORREU PARA NOS LIBERTAR DA ESCRAVIDÃO DO PECADO

Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o

seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! (Apocalipse 1.5-6)

Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. (Hebreus 13.12)

Nosso pecado nos estraga de duas formas. Ele nos torna culpados diante de Deus

de forma que ficamos sob sua justa condenação; ele torna nosso comportamento feio, de

modo a desfigurar a imagem de Deus que deveríamos refletir. Ele nos condena com a

culpa, e nos escraviza com falta de amor.

O sangue de Jesus nos liberta de ambas as desgraças. Satisfaz a justiça de Deus,

fazendo com que nossos pecados sejam perdoados com justiça. Vence o poder do

pecado de nos tornar escravos da falta de amor. Vimos como Cristo absorve a ira de

Deus e retira nossa culpa. Mas agora, como o sangue de Cristo nos liberta da escravidão

do pecado?

A resposta não é que ele seja poderoso exemplo que nos inspire a nos libertar do

egoísmo. Ah, sim, Jesus é um exemplo para nós. E muito poderoso. Ele deseja

claramente que o imitemos: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros;

assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34). Mas o

chamado para imitá-lo não é o poder da libertação. Existe algo mais profundo.

O pecado é uma influência tão poderosa em nossa vida que precisamos ser

libertos pelo poder de Deus, não por nossa força de vontade. Como somos pecadores,

temos de perguntar, “Será que o poder de Deus é dirigido para a nossa libertação ou

para nossa condenação?” É aí que entra o sofrimento de Cristo. Quando Cristo morreu

para remover nossa condenação, ele como que abriu a válvula da misericórdia poderosa

do céu para que fluísse em prol da nossa libertação do poder do pecado.

Noutras palavras, a libertação da culpa do pecado e da ira de Deus teve de

anteceder a libertação do poder do pecado pela misericórdia de Deus. As palavras

bíblicas cruciais para dizer isso são: a justificação precede e garante a santificação. São

diferentes. Uma é uma declaração instantânea (não culpado!), a outra é uma

transformação contínua.

Ora, para aqueles que confiam em Cristo, o poder de Deus não está a serviço de

sua ira condenatória, mas sua misericórdia libertadora. Deus nos dá esse poder para a

transformação mediante a pessoa de seu Espírito Santo. É por essa razão que a beleza de

.... amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,

domínio próprio. são chamados de “fruto do Espírito” (Gl 5.22-23). É por esta razão que

a Bíblia faz a surpreendente promessa: “o pecado não terá domínio sobre vós; pois não

estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14). Estar sob a graça assegura o poder

onipotente de Deus de destruir nossa falta de amor (não de repente, mas de maneira

progressiva). Não somos passivos ao vencer nosso egoísmo, mas também não vem de

nós o poder decisivo para tanto. É graça de Deus. Assim, o grande apóstolo Paulo podia

dizer: “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus

comigo” (1Co 15.10). Que o Deus de toda graça, pela fé em Cristo, nos liberte da culpa

e da escravidão do pecado. A paixão de Cristo, John Piper, Editora Cultura Cristã

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A luta pela santificação

REVISTA PALAVRA VIVA – O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 9

DISPOSIÇÃO PARA PERDOAR Mateus 6.12,14,15

O perdão concedido por Deus é um imperativo à concessão de perdão ao nosso

próximo. Aquele que foi perdoado é conduzido invariavelmente à disposição de perdoar

o seu próximo; e quando perdoamos estamos nos abrindo ao perdão de Deus. “o perdão

de Deus, quando é recebido, faz ao perdoado capaz de perdoar.”4 A nossa disposição em

perdoar é um atestado de nossa gratidão a Deus pelo seu perdão.

Um fidalgo medieval que permanecia no impasse entre orar o “Pai Nosso” e se

vingar de seu inimigo, teve a sábia orientação do Capelão: “.... É preciso ou que vós

largueis esta oração, ou que renuncieis ao vosso projeto de vingança, porque pedir a

Deus que vos perdoe, assim como vós perdoais aos outros, é pedir que ele vos tome

vingança, por todos vossos pecados. Ide agora, senhor, ao encontro de vossa vítima.

Deus se encontrará convosco no grande dia do juízo.”5

Jesus diz: “E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém,

perdoai, para que o vosso Pai celeste vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.25).

“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-

lhe. Se por sete vezes no dia pecar contra ti, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Estou

arrependido, perdoa-lhe” (Lc 17.3-4). Este assunto será alvo especial de nossa

meditação no futuro.

A base do nosso perdão é o perdão concedido por Deus. Ele não somente nos

perdoa, como também nos capacita a perdoar; Deus faz o nosso perdão possível. “É

Deus quem semeia em nossos corações a semente da fé e o ânimo perdoador.”6 Paulo

escreve aos Colossenses e aos Efésios respectivamente: “Suportai-vos uns aos outros,

perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim

como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós” (Cl 3.13). “Antes sede uns

para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como

também Deus em Cristo vos perdoou” (Ef 4.32).

A vingança pertence a Deus, não a nós. Manter os olhos fixos nas promessas de

Deus e aguardá-la com paciência é um estímulo à perseverança na fé e à prática da

Palavra. o perdão é resultante da confiança no Deus justo e perdoador.

O Pai Nosso, Hermisten Maia Pereira da Costa, Editora Cultura Cristã

4 Karl Barth, la Oración, p. 78-79. 5 Perdoa-nos assim como nós perdoamos: In: Imprensa Evangélica, 01/07/1865, p. 6-7. 6G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Mateo, p. 350.

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A luta pela santificação

REVISTA PALAVRA VIVA – O MUNDO, A CARNE E O DIABO Apoio didático – Lição 10

COM O MAL AO MEU LADO

Deus me fortalece para que eu possa me manter; O maior peso de todos carregar, O inalienável

peso da preocupação.

Christina Rossetti

Eu também me sinto do mesmo modo

Tudo que eu queria era surpreender minha mulher. Desde que tínhamos nos

mudado para a nossa nova casa, há quase um ano, o puxador da porta da geladeira

estava do lado errado. Eu havia protelado a substituição por ser desajeitado com coisas

mecânicas. Mas nessa tarde de quinta-feira, enquanto minha mulher estava no trabalho,

eu decidido me redimir e acertar o que estivesse errado.

Eu estava na metade do trabalho. Tinha levado a geladeira e o freezer para fora e

queria levá-los de volta logo para que nada se estragasse. Estava no passo importante de

mudar as dobradiças do lado direito da geladeira para o lado esquerdo, quando me dei

conta de que cada dobradiça era apertada por dois parafusos estriados. Dois simples

parafusos estriados. Existe apenas uma ferramenta no universo que pode (com

segurança) soltar um parafuso estriado: uma chave estriada.

Eu não tinha uma chave estriada.

Nessa altura, meus três meninos decidiram pôr em andamento o espetáculo

itinerante de rivalidade fraterna no meio do meu problema. Eu perdi a razão. E

descontei neles, ainda que não o merecessem. Eles arregalaram os olhos como se eu

fosse um monstro da Alfa Centauro, enquanto eu delirava numa língua desconhecida.

No meio de um ataque de cólera tive uma experiência extracorpórea. Vi minha

face distorcida e vermelha gritando para os meus encantadores meninos e soube

imediatamente

que eu estava fazendo alguma coisa horrível. Então parei e pedi desculpas a eles, certo?

Errado. Algo estava me controlando – como se algum estranho tivesse invadido meu

corpo e me forçasse a fazer a vontade dele. Foi bem depois de eles terem fugido da

minha raiva que recobrei a minha sanidade e a minha consciência e me humilhei perante

eles com pedidos de desculpas.

Em seguida passei diversos dias me sentindo como um cachorrinho que tivesse

apanhado. Seria eu na realidade aquele perverso? Como pude ferir meus filhos daquela

maneira? O mal que eu havia feito seria irreparável? Eles me perdoariam? Deus me

perdoaria?

Alguma coisa assim já aconteceu com você?

Quando leio Romanos 7, eu me sinto consolado porque Paulo se sentiu do

mesmo modo.7 Ele me ajuda a entender minha loucura e me dá alguns termos teológicos

substanciais para isso: “lei do pecado” (Rm 7.23), “esse corpo da morte” (v. 24), “minha

natureza pecadora” (“minha carne” em muitas traduções, v. 18), “o pecado que habita

7 Romanos 7 tem sido interpretado de várias maneiras; mas em uma inspeção mais minuciosa, claramente descreve a experiência de

um crente, mais do que a de um não-crente. Para uma breve, mas clara discussão sobre isso, veja J.I.Packer, Keep in step with the

Spirit (Old Tappan, N.J.: Revell, 1984), 263-70. Ver também John R. W. Stott, Men made New: An Exposition of Romans 5–8 (1966; edição norteamericana: Grand Rapids: Baker, 1984), 71-75.

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em mim” (v. 17), simplesmente “pecado” (v. 11) e “a lei do pecado e da morte” (8.2).

Os teólogos gostam de chamar isso de “o pecado que habita em nós”. De qualquer

modo que o chamemos, ele é um inimigo de Deus e da nossa alma.8 A razão para este

livro é que o primeiro passo para combater esse inimigo é conhecê-lo – e conhecê-lo

bem.

O fundamento do nosso conhecimento do poder do pecado que habita na vida do

crente está assentado na própria experiência de Paulo. Ele abriu caminho com luta até,

por vezes, ser quase derrotado nas cordas, clamando à beira da derrota (Rm 7.23,24).

Ainda assim, quando soava o gongo, ele levantava-se com seus pés no pescoço do seu

inimigo e erguia a mão para receber a coroa da justiça (2Tm 4.7,8).

Quatro verdades-chave

Se quisermos compartilhar da vitória sobre a carne sangrenta, teremos de seguir

Paulo até dentro da luta. E quando o fizermos, descobriremos as mesmas quatro

verdades que o humilharam na batalha, todas expressas num versículo:

Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim (Rm 7.

21).

1. O fato de o pecado habitar em nós é uma “lei”. A “lei” a que Paulo se refere

é a mesma coisa que ele chama de “pecado que habita em mim” nos versículos 20 e 23.

É sobre esse pecado residente que nós estamos falando. Por que chamá-lo de lei?

Paulo usa “lei” como uma metáfora. Ele precisa de um modo para expressar o

poder, a autoridade, a limitação e o controle que o pecado exerce na nossa vida, e toma

“lei” com um toque de ironia. Antes, no início do capítulo, ele havia escrito sobre a lei

de Deus, que deveria governar a nossa vida, ainda que a lei do pecado pareça vencer

muitas batalhas no corpo a corpo. Poderia ele ter escolhido um contraste mais

maravilhoso para desmascarar as forças mortais do pecado?

Medite sobre a metáfora da lei por um minuto. Nós podemos pensar sobre ela de

um lado como uma regra moral que nos orienta e nos manda fazer o que ela requer

(“Honra teu pai e tua mãe”) ou não fazer o que ela proíbe (“Não matarás”). Mais do que

isso, uma lei que nos leva a obedecer com ofertas de recompensa (“para que se

prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”). E nos compele à

submissão por meio de ameaças de punição pela desobediência (multa de R$ 1.250,00

por transgressão).

Por outro lado, também podemos pensar na lei, do mesmo modo como falamos

da “lei da natureza”. A gravidade, por exemplo, é uma lei que obriga as coisas a

tomarem uma direção. Ela nos molda perfeitamente aos seus “comandos”. A gravidade

não é uma lei como uma ideia ou um preceito externo, mas uma força que pode fazer os

objetos “obedecerem” à sua “vontade”. Nesse sentido, toda necessidade e inclinação em

nós é uma lei. A fome é uma lei, a sede, a atração sexual, o medo – cada uma nos

impele a cumprir suas exigências, e cada uma tem uma força para nos levar a nos

inclinar em submissão.

O mal que habita em nós funciona dessa maneira – atraindo, ameaçando e até

mesmo maltratando. De modo que Paulo a chama de uma lei para que possamos ver que

8 Existem dois outros inimigos: o mundo e o Diabo. Eu não vou tratar deles explicitamente. Mas uma vez que ambos fazem o seu

trabalho sujo apelando para a nossa carne (o pecado que habita em nós), qualquer vitória sobre a carne concorrerá também para enfraquecê-los.

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A luta pela santificação

ela é poderosa, mesmo na vida dos crentes, e que está constantemente agindo para nos

moldar de acordo com seu caráter pecaminoso.

Isso leva à pergunta: “Em que sentido Cristo derrotou o pecado no crente?”. A

resposta é que ele derrubou o seu domínio, enfraqueceu o seu poder e matou até as suas

raízes, de maneira que não possa dar o fruto da morte eterna no crente. Entretanto – e

isso é espantoso, mas verdadeiro – o pecado é pecado; sua natureza e seu propósito

permanecem inalterados; sua força e seu sucesso ainda nos agarram pela garganta.9

2. Encontramos essa lei dentro de nós. Paulo tinha ouvido histórias de horror

sobre o pecado ao longo de toda a sua vida. Ele tinha visto incontáveis dedos em riste

apontados para o seu rosto prevenindo-o quanto ao poder do pecado. Mas em Romanos

7.21 ele saiu da confortável teoria para a experiência turbulenta: ele encontrou essa lei.

Uma coisa é a pessoa se juntar a um grupo e analisar criticamente dissertações sobre o

pecado original; outra muito diferente é se encontrar submetido pela sua força e loucura.

Uma coisa é assistir a uma conferência sobre AIDS – como se espalha, o que faz ao

corpo, o quanto é invencível, e outra coisa é ouvir o seu médico dizer para você: “HIV

positivo – sinto muito”.

Poucas pessoas têm chegado a um acordo com a lei do pecado. Se isso tivesse

acontecido com mais pessoas, ouviríamos mais queixas contra ela nas orações, veríamos

mais lutas contra ela e encontraríamos menos de seus frutos pelo mundo. Quando

encontramos essa lei em nós o “Quem me livrará?” de Paulo ecoa pelos nossos ossos.

Os crentes são as únicas pessoas que encontram a lei do pecado operando dentro

deles. Os descrentes não têm como sentir isso. A lei do pecado é um rio furioso, que os

leva consigo; eles não podem medir a força da correnteza, porque eles se renderam a

ela, e por ela foram levados embora. Um crente, por outro lado, nada contra a correnteza

– ele encara o pecado de cabeça erguida e esforça-se debaixo de sua força.

3. Encontramos essa lei quando estamos nas melhores condições. Embora essa

lei do pecado seja muito poderosa, ela não governa o coração do crente. Paulo a

encontrava operando nele mesmo quando ele queria fazer o bem. Ele não tropeçou nela

em ocasiões em que estava pecando grandemente, ou quando ele estava indiferente

quanto às coisas de Deus. Ele estava consciente dela mesmo quando mais queria servir a

Deus, quando se decidiu obedecer seu Salvador e Rei, quando Cristo dirigia o seu

coração.

A despeito do fato de que a lei do pecado opera a partir de dentro e ataca os

crentes quando estão dando o melhor de si, ela não é o seu ditador. Os crentes marcham

num compasso diferente: “Eu quero fazer o bem”, Paulo diz (Rm 7.21) – Eu quero

agradar a Deus, dar-lhe glória, servir seu povo, honrar seu nome. Pela graça de Deus o

desejo de obedecê-lo normalmente prevalece em nós, mesmo contra seu insidioso

inimigo interior.10

9 Pense na sua santificação, em termos da vinda de Cristo ao mundo. Na sua primeira vinda ele estabeleceu o seu reino no mundo: ele já está governando e reinando, ele derrotou o deus desta era, está sentado no seu trono à mão direita do Pai; no entanto, a

oposição ainda permanece, e a batalha continua. Na sua segunda vinda ele consumará o seu reinado, tirando dele todo inimigo. Ser nascido de novo é a primeira vinda de Cristo para a sua alma: ele verdadeiramente governa e reina no seu coração, mas o inimigo

derrotado permanece e a batalha continua. Sua glorificação depois da morte é a segunda vinda de Cristo para a sua alma, quando

todo sinal da lei do pecado se desintegrará. 10 Ainda que a graça normalmente prevaleça em nós, nesta vida ela nunca se manifesta perfeitamente (Gl 5.17). Mesmo em nossos

momentos de maior amor e humildade, um toque de orgulho aparece para manchar nossas obras mais justas. Devemos viver

totalmente dependentes de Cristo. João descreveu o coração do crente renovado por Cristo e sob seu governo: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando,

porque é nascido de Deus” (1Jo 3.9). “viver na prática do pecado” e “viver pecando” significa fazer do pecado a sua carreira na

vida. O crente tem uma nova natureza – a semente de Deus nele – que não pode viver em paz com o pecado. Isso distingue o crente no que ele tem de pior, do não-crente no que ele tem de melhor. Mesmo quando o crente cambaleia e parece soterrado pela tirania do

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4. Essa lei nunca descansa. Uma vez que a graça governa o coração do crente,

ele quer fazer o bem. Podemos descrever esse desejo de duas maneiras. Primeiro, existe

o seu constante e generalizado desejo de agradar a Deus (v. 18). Segundo, há ocasiões

em que o crente tem em mente uma tarefa particular que ele queira cumprir, tais como

orar em particular ou dar um décimo de seus rendimentos para Deus (“Ao querer fazer o

bem” – v. 21). A lei do pecado se opõe a ambos.

A “lei do pecado e da morte” está em uma constante guerra contra o desejo

primordial do crente de agradar a Deus (vs. 14-25). Mas o pecado vai mais longe:

quando o crente decide fazer até mesmo o mais simples trabalho para Deus, o pecado

luta contra ele exatamente nesse ponto (“O mal reside em mim” – v. 21), tornando-o

sonolento ou distraído quando deveria orar, ou pão-duro e ambicioso quando deveria

dar o dízimo.

Você, às vezes não se sente como o dr. Jekyll e mr. Hyde? Todo crente, que é

também um pecador (isto é, todos os crentes), sente-se assim. “Porque a carne milita

contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não

façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gl 5.17).

Quem me livrará?

Informe-se

Estamos no começo da obediência a Deus. Entender essas quatro verdades sobre

o pecado latente é armar-se contra ele. Na sua luta contra o pecado, existe apenas uma

coisa mais importante a ser compreendida do que esses quatro fatos: a livre e

justificadora graça de Deus no sangue de Cristo. A graça de Deus em Cristo e a lei do

pecado são as duas fontes de toda a sua santidade e pecado, alegria e dificuldades,

refrigério e tristeza. Se você está disposto a andar com Deus e glorificá-lo neste mundo,

você precisa conhecer ambos a fundo.

Suponha que existe um reino que tem dentro de seus muros duas poderosas

forças opostas. Os súditos do rei estão sempre se estranhando, sempre tramando e

lutando entre si. Se o rei não tiver sabedoria, seu reino se transformará em ruínas.11

A

lei do pecado e a lei do Espírito da vida (Rm 8.2) em nós são inimigos mortais. Se não

formos espiritualmente sábios em dirigir a nossa alma, como podemos evitar

destroçarmos nós mesmos?

Mas muitas pessoas vivem nas trevas e na ignorância a respeito de seu próprio

coração. Elas mantêm um cuidadoso registro dos seus investimentos na bolsa de valores

e fazem frequentes check-ups médicos; cuidam da alimentação e fazem ginástica na

academia três a quatro vezes por semana para manter o corpo em perfeita ordem. Mas

quantas pessoas refletem um pouco sobre a própria alma? Se é importante vigiar e

cuidar do nosso corpo e dos nossos investimentos, que logo estarão mortos e

apodrecerão, quanto mais importante é para nós guardarmos a nossa alma imortal?

Conhecer o pecado que habita em nós, por mais humilhante e desencorajador

que possa ser, é nossa sabedoria – se é que temos algum interesse em descobrir o que

agrada ao Senhor (Ef 5.10) e evitar qualquer coisa que entristeça o seu Santo Espírito

(Ef 4.30 ).

Questões para reflexão e discussão

pecado, seu novo coração continua odiando o pecado, de modo que ele não terá paz até que o pecado seja esmagado. Mas um

descrente que de maneira superficial parece ser gentil e respeitável irá, se Deus remover dele a sua graça irrestrita, voluntariamente e

com satisfação entregar-se ao pecado. 11 Lembra-se de Roboão? Ver 1 Reis 12.

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1. Leia Romanos 7.14 a 25. Qual frase – ou frases – melhor descreve sua experiência

pessoal?

2. Você pode pensar em maneiras nas quais a lei do pecado oferece recompensa pela sua

obediência e ameaças de punição para quem a ignora? (Isso antecipa o próximo

capítulo.)

3. Pense em uma ocasião em que você “encontrou” a lei do pecado em você – quando

ela parecia tomar posse de você e curvá-lo, por assim dizer, contra a sua vontade. Se

puder, descreva essa época para seu grupo.

4. O que você considera a coisa mais frustrante referente ao pecado no seu coração?

5. Se é verdade que a lei do pecado, em você, nunca descansa, qual é a sua esperança?

6. Leia Lucas 12.15 e Mateus 26.41. À luz deste capítulo, descreva os cuidados diários

que você precisa para dar ouvidos às advertências de Jesus.

7. O que você espera obter pelo estudo deste livro? Escreva uma oração no espaço

abaixo, pedindo a Deus que isso se concretize na sua vida.

O Mal que habita em mim, Kris Lundgaard, Editora Cultura Cristã

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A EXCELÊNCIA DA PALAVRA DE DEUS

As Escrituras apresentam diversos adjetivos que revelam a sublimidade da

Palavra de Deus, alguns dos quais, pretendemos abordar de forma abreviada:

1. Fidelíssima

O salmista diz: "Fidelíssimos são os teus testemunhos...” (Sl 93.5). Outra vez:

"As obras de suas mãos são verdade e justiça; fiéis todos os seus preceitos. Estáveis são

eles para todo o sempre, instituídos em fidelidade e retidão” (Sl 111.7,8).

A Palavra de Deus é a expressão da fidelidade do seu Autor; por isso, podemos

descansar na sua Palavra, confiantes nas suas Promessas: o que Deus prometeu haverá

de cumprir; ele é fiel a si mesmo; na sua Palavra não há instabilidade! Ela permanece.

2. Perfeita

Davi: "A lei do Senhor é perfeita...” (Sl 19.7). Ela é completa, suficiente para

todas as nossas necessidades, em todos os tempos, em todos os momentos e

circunstâncias de nossa existência. A Palavra não precisa de complemento. (Tg 1.25).

3. Reta e Justa

Davi exclama: "Os preceitos do Senhor são retos...” (Sl 19.8). Do mesmo modo,

o salmista:: "... Tenho por em tudo retos os teus preceitos todos...” (Sl 119.128). "Justo

és, Senhor, e retos os teus juízos” (Sl 119.137). "...Todos os teus mandamentos são

justiça” (Sl 119.172).

A Palavra de Deus não tem casuísmos, Ela é sempre reta, justa, digna e fiel; os

seus preceitos não comportam atitudes dúbias, atalhos; Deus age sempre conforme a

retidão dos seus preceitos, que são decorrentes do seu caráter. Os critérios de Deus estão

claramente registrados na sua Palavra; não há ambigüidade ou injustiça: Deus

apresenta-nos um caminho de justa retidão para que, caminhando por ele, jamais nos

tornemos repreensíveis. A justiça que Deus exige de nós consiste numa absoluta

conformidade com a sua santa Lei.

4. Verdadeira

"São verdadeiros todos os teus mandamentos...”, reconhece o salmista (Sl

119.86). A Palavra de Deus não traz meias verdades, ela é a verdade absoluta de Deus

para o homem. Ela é a própria verdade (Sl 119.142,151,160). A verdade de Deus é

atemporal! Ela não está restrita a determinadas épocas, culturas ou classes sociais;

permanece como a verdade verdadeira que perdura no tempo e se perenizará na

eternidade.

5. Ilimitadamente perfeita e eterna

O salmista exulta: "Tenho visto que toda perfeição tem seu limite; mas o teu

mandamento é ilimitado” (Sl 119.96). "Quanto às tuas prescrições, há muito sei que as

estabeleceste para sempre” (Sl 119.152). "As tuas palavras são em tudo verdade desde o

princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre” (Sl 119.160).

As "perfeições" humanas encontram o seu limite na própria limitação humana,

bem como nos seus critérios; todavia, a Palavra de Deus é infinitamente perfeita, tal

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qual o seu Autor. Esta perfeição ultrapassa os nossos critérios, a nossa lógica, a nossa vã

filosofia... Só nos resta dizer como o salmista: "o teu mandamento é ilimitado” (Sl

119.96).

Não há analogia que possamos fazer com a Palavra de Deus sem que

diminuamos a sua excelência; ela é ilimitada em sua perfeição, daí a sua perenidade e

veracidade. Ela permanece para todo o sempre, não sendo alterada, nem precisando ser

modificada, corrigida, diminuída ou suplementada (Mt 5.18; 1 Pe 1.25). Daí a exortação

divina: "Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que

guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4.2).

6. Puríssima

"Puríssima é a tua Palavra...” (Sl 119.140). A Palavra de Deus foi registrada por

homens, que mesmo separados por Deus para esta tarefa, não deixaram de ser pecadores

como nós o somos. Todavia, a Bíblia não traz em seus ensinamentos, preceitos

pecaminosos; ela é puríssima, porque o seu registro foi preservado pelo Espírito Santo,

bem como foi conservado puro até os nossos dias. Por isso, para nós, somente a Palavra

de Deus é a fonte inerrante e infalível de todo o pensar e proceder cristão. Ela é pura,

não sofreu influência dos desvios históricos no campo ético, filosófico, comportamental.

A Bíblia, e somente ela, é a Palavra pura de Deus para todos os homens.

Baseado nestas e em outras excelências da Palavra de Deus é que o salmista

declara: "Admiráveis são os teus testemunhos, por isso a minha alma os observa” (Sl

119.129). Este reconhecimento manifesta-se no seu respeito para com a Palavra:

"Meditarei nos teus preceitos, e às tuas veredas, terei respeito” (Sl 119.15). E, também,

encontra na retidão dos juízos de Deus motivo para ação de graças: "Levanto-me à

meia-noite para te dar graças, por causa dos teus retos juízos” (Sl 119.62).

Muitas vezes nos acostumamos tanto com o fato de que possuímos a Bíblia, a

Palavra de Deus, que não lhe tributamos o valor devido; Deus age através de sua

Palavra; ela é a verbalização da excelência de Deus. Jamais poderemos orar "seja feita a

tua vontade", se não tivermos, primeiramente, um conceito claro da magnitude da

Palavra de Deus. Consideremos este ponto e louvemos a Deus por sua Palavra, que ele

tem preservado, e peçamos que ele mesmo, o Autor da Palavra, nos dê o discernimento

para compreendê-la e praticá-la, conforme a sua vontade.

O Pai Nosso, Hermisten Maia Pereira da Costa, Editora Cultura Cristã

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CORRER A CARREIRA OLHANDO PARA JESUS (LER HEBREUS 12.1-4)

Em nosso estudo de Hebreus chegamos agora ao capítulo 12.1-4. Você deve se lembrar

que os leitores da carta eram judeus que haviam se convertido ao cristianismo, mas estavam

agora pensando em desistir de tudo e voltar ao judaísmo. Diversas vezes o apóstolo os

desencorajou e advertiu que, se o fizessem, estariam perdidos. O Senhor Jesus Cristo é

singularmente superior em tudo que é e faz. Aqueles que o rejeitam só têm um destino – as

trevas exteriores.

O único caminho seguro para um cristão professo é perseverar, continuar, andar sempre

em fé. Aqueles que possuem fé genuína vivem – e morrem – pela fé. Nada pode extingui-la.

Isso foi ilustrado pelo apóstolo no relato sobre numerosos homens e mulheres mencionados no

Antigo Testamento.

E é o que está na mente dos leitores quando chegam à palavra “portanto...”. Ou seja, “à

luz do que acabei de falar, tenho mais uma coisa a dizer”. O que ele diz consiste em um retrato

vívido e três regras.

1. Um retrato vívido (12.1)

Estamos nos jogos olímpicos em um gigantesco estádio cheio de gente. As corridas estão

acontecendo. Assistimos aos atletas darem voltas na pista repetidas vezes. Nos dias de hoje,

veríamos todos tirando seus agasalhos e ficando com o que estavam embaixo: seus mínimos

uniformes de corrida. Mas não é hoje. Estamos no primeiro século d.C. Se o atleta corresse de

cinto, o peso impediria seu progresso – ele tira o cinto. Se corresse de capa, logo ela o

envolveria e faria tropeçar – o atleta desvencilha-se da capa. Na verdade, os atletas do primeiro

século corriam sem a mínima roupa. Nada havia para atrapalhar.

Corrida após corrida se desenrola. Cada uma delas é longa e difícil. Vemos um atleta

ofegante, prestes a desistir, mas ele continua, porque nesses jogos cristãos existem prêmios para

todos que alcançam o final, não só para quem termina em primeiro lugar.

Vez após vez, vemos os atletas tentados a sair da corrida por cansaço ou fraqueza. Mas

eles desistem? Não, continuam em frente, adiante, e sempre. Finalmente, cada um atravessa a

fita e recebe sua recompensa.

Os que terminaram tomam os seus lugares na arquibancada e ali permanecem para olhar

os que estão chegando ou os que ainda correrão. Cada um que corre sabe que está sendo

observado pelos outros e cercado daqueles que já terminaram com sucesso a corrida. Isso os

impele a correr melhor, completar a corrida e jamais desistir, a fim de que também recebam seu

galardão. Sabem que não enfrentam nada que os espectadores não tenham enfrentado. Se

continuarem correndo em frente, sabem que experimentarão aquilo que os outros agora estão

desfrutando – isso é certo.

Agora é a nossa vez de enfrentar a pista. Todos estão olhando para nós. Só nós estamos

correndo – ninguém mais. É como se todos os que viveram e morreram na fé estivessem nos

observando, como está aquele que nos escolheu para a corrida, que a correu com perfeição e

agora está na linha final aguardando nossa chegada.

Devemos desistir – nós que só enfrentamos dificuldades pelas quais outros já passaram?

Fraquejaremos, vamos abandonar a pista, desistir e ir embora? Falharemos na corrida em que

fomos inscritos?

Os hebreus estavam prestes a fazer exatamente isso, e com certeza alguns leitores deste

livro pensam em fazer o mesmo. Como continuar em frente? Qual o segredo de correr bem e

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chegar com segurança na linha final? Como correr bem na vida cristã, prosseguir na vida de fé,

não apostatar ou se perder? É sobre isso que o apóstolo passa a nos falar.

É de importância vital tomar para o coração esse ensino. Estes três versículos seguintes

mostram a diferença entre continuar para entrar na glória eterna e desistir e perder-se

eternamente.

2. Três regras (12.1-4)

Estou escrevendo um livro. Se ao invés disso estivesse pregando numa congregação, eu

olharia nos olhos de cada pessoa e as desafiaria solenemente a ouvir a Palavra de Deus nestes

versículos e fechar os ouvidos àquilo que outras vozes dizem.

Em pé na linha de toque estão pessoas que gritam dizendo que nunca vamos conseguir

chegar a lugar algum na vida cristã, a não ser que...

Advertem-nos energicamente que nenhum progresso verdadeiro virá a não ser que

sejamos batizados pelo Espírito Santo ou a não ser que recebamos a plenitude do Espírito ou a

não ser que sejamos plenamente consagrados ao Senhor ou experimentemos um reavivamento

ou passemos por uma crise em que “morra nosso velho homem”, etc. Muda a terminologia, mas

a mensagem é sempre a mesma: a não ser que tenhamos uma experiência memorável bastante

diferente da experiência de nossa conversão, não chegaremos a lugar algum na vida cristã.

Insisto com os leitores que, ao invés de ouvirem essas vozes, ouçam a Palavra de Deus.

Eis a seguir três regras, regras apostólicas, que farão com que evitemos desistir da corrida,

deixar de atingir o alvo e perder o prêmio final prometido.

(i.) Despir para agir (versículo 1)

Se você correr com uma capa, logo ela o atrapalhará. Ela o envolverá, prenderá e o fará

tropeçar. Tire a capa! Do mesmo modo, livre-se de todo pecado em sua vida. Acabe com ele.

Não pense que você conseguirá agarrar-se naquilo que sabe ser pecado e, ao mesmo tempo,

correr bem na pista. Na melhor das hipóteses, a capa o tornará mais lento; na pior, fará com que

tropece e saia da pista. Essa não é uma área na qual os cristãos têm o direito de divergir. Tudo

que quebre os Dez Mandamentos ou não reflita seu espírito, tudo que não se alinhe com a

Palavra de Deus, tudo que difira do caráter do Senhor Jesus Cristo é pecado. Abandone isso.

Quanto mais você estiver preso a tais coisas, mais essencial será livrar-se delas.

Mas isso não é tudo. Antes mesmo de o apóstolo mencionar o “pecado que tenazmente

nos assedia”, ele fala sobre livrar-nos de todo peso. Algumas coisas não são em si mesmas

erradas, mas impedem minha efetividade espiritual, enfraquecem a fé, abafam o zelo, reduzem a

força para resistir à tentação e tendem a me escravizar. Tais coisas têm de ser postas de lado.

Tudo que impede meu progresso espiritual tem de ser jogado fora. Essas coisas não são

necessariamente baixas ou vulgares. Podem até mesmo ser belas, eruditas e nobres. Na vida de

determinados crentes, podemos estar falando de algum esporte, passatempo, hobby, atividade de

lazer, emprego, curso de estudo, ambição, lugar, amizade ou qualquer outro interesse ou

experiência legítima. Não importa o que seja – se impede o meu progresso na vida espiritual,

tem de ser tirado. E tem de ser tirado agora!

Os que estão decididos a correr bem, sem exceção, se despem para a ação. Se o cristão

tem pouco conhecimento, uma vida que não reflete a Cristo, um coração morno, não é porque

seja vítima de seu ambiente ou porque ainda não teve determinada experiência marcante. É

porque algo, do qual ele ainda não se desvencilhou, está impedindo seu progresso. Tem de

descobrir o que é e livrar-se disso e tem de fazê-lo hoje mesmo!

(ii.) Aprender a dizer “venha o que vier” (versículo 1b)

A vida cristã não é uma volta fácil – por isso o apóstolo diz: “corramos”. Existem

muitas dificuldades no percurso e cada um de nós às vezes se sente tentado a desistir. Por isso, o

apóstolo diz: “com perseverança”. O caminho em que estamos não foi escolha nossa, mas foi

delimitado para nós, de modo que o apóstolo fala da corrida “que nos está proposta”.

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A luta pela santificação

Se você já participou de uma trilha, não deve ter se esquecido facilmente. Para muitos

de nós, é uma das lembranças menos agradáveis de nosso tempo de escola. Até hoje

estremecemos quando nos lembramos das pernas como de chumbo, os pulmões ardendo de dor,

aquela palpitação singular nas têmporas. Quando nos sentimos completamente exaustos,

descobrimos que ainda há um portão para saltar, uma vala para atravessar, um riacho para

passar a pé e muitos quilômetros a mais do que se esperava. Numa corrida dessas, só uma coisa

nos impede de desistir: a determinação de continuar, haja o que houver, venha o que vier!

Entendemos muito bem por que o apóstolo nos diz: “corramos com perseverança”.

Há somente uma maneira de continuar na vida de fé até chegar ao galardão prometido.

É o estado de espírito que diz: Não importa o que acontecer... ou como eu me sinta... se estou só

ou tenho companhia... ainda que riam de mim... ainda que me custe tudo... continuarei em

frente, venha o que vier! E você vai conseguir! Receberá força que vem do alto. Tal

determinação significa negar a si mesmo, tomar a sua cruz a cada dia, e seguir a Jesus (Lc 9.23-

26).

(iii.) Olhar para Jesus... e considerá-lo (versículos 2a,3a)

Nesta terceira regra o apóstolo está mais uma vez dizendo o que ditou em toda sua carta.

Seus leitores estavam sendo tentados a voltar ao sacerdócio do Antigo Testamento, aos

sacrifícios, ao tabernáculo, então ele mostra que o sacerdócio, o sacrifício e o tabernáculo de

nosso Senhor Jesus Cristo é infinitamente melhor. Se fixarem nele seus olhos, vendo-o com

clareza, jamais desejarão voltar àquelas outras coisas.

Hoje em dia, todo cristão é constantemente bombardeado por mensagens e influências

que anunciam a atração de uma vida sem Cristo. Se as pessoas gastassem tempo olhando para

ele, jamais iriam querer voltar a tal vida. Olhem para Jesus, quem ele é, o que fez, o que dá aos

pecadores nesta vida e o que dará na sua morte, na ressurreição, no juízo e na eternidade!

O apóstolo agora passa a dar três razões para focarmos nossa atenção em Cristo e

sempre tê-lo em mente:

(a.) Nossa fé vem dele e por ele é sustentada até o fim (versículo 2a)

Já faz meio século que saí da escola, mas minhas lembranças de Tom Clamp ainda

continuam vívidas. Ele passara muitos anos de sua vida atuando como sargento instrutor do

exército, garantindo que suas tropas estivessem apresentando sua melhor forma física. Na meia-

idade, passou a ser professor de educação física, impondo padrões militares aos meninos

adolescentes! Nunca pediu que fizéssemos alguma coisa fácil. Cada lição era dura e às vezes

nos levava às lágrimas. Contudo, nós o amávamos – até os ossos!

Tom Clamp nos inscreveu em longas corridas, mas em vários pontos do caminho ele

aparecia nos lugares-chave para nos instigar a continuar. Até hoje, não sei como ele conseguia.

Não somente isso – quando nos aproximávamos da linha final, lá estava ele a nos estimular,

encorajar nos últimos metros, esperar com boas-vindas por nós na chegada e nos dar os

parabéns quando terminávamos. Para ele, nós corríamos bem.

Como eram diferentes outros professores de ginástica, que nos inscreviam nas corridas,

nunca apareciam durante o percurso e estavam ausentes no final. Depois dessas corridas,

vagávamos sozinhos pelos vestiários, aturdidos, exaustos e desanimados. Nenhum de nós tinha

corrido bem.

É nosso Senhor quem nos inscreve na corrida da vida de fé, é ele que nos receberá na

reta final e é ele que nos acompanha a cada passo da corrida – não apenas nos pontos chave.

Olhe para ele (em sua Palavra). Considere a Jesus (em detido pensamento e meditação). Os que

o buscam, focados nele e ouvindo sua voz sempre correm bem. Mas se o tirarmos de nosso

pensamento, logo estaremos desistindo da corrida.

(b.) Aprenda do seu exemplo (versículo 2b)

O próprio Jesus correu a corrida em que estamos – a vida de fé. O que fez com que ele

continuasse em frente? Qual foi, para ele, o resultado final? Todos os outros que já correram

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A luta pela santificação

nessa corrida o fizeram de forma imperfeita. Jesus é o único que o fez com perfeição. Para ele,

significou passar pela agonia inefável da cruz e a vergonha que a acompanhava. Mas ele olhava

para frente. Olhava para o alto. Jamais perdeu de vista para onde ia a estrada e a alegria que lhe

pertenceria ao final. As dificuldades eram infinitas. As tentações para desistir eram,

humanamente falando, insuportáveis. Mas essas coisas não prendiam sua atenção. Ele fixou os

olhos no alvo e, no final, assentou-se à destra do trono de Deus Pai. É nesse lugar de mais alta

honra que ele está ainda hoje.

(c.) Entenda o que lhe acontecerá se não estiver olhando para ele (versículos 3-4)

Desviem os olhos de tudo mais e olhem para Jesus. Olhem para ele! Ao seu redor, vocês

estão cercados de inimigos. Sofrem hostilidade e ódio – em alguns casos, há quem trame

realmente assassiná-los. Assassínio? Sim, foi algo que o apóstolo enfrentou, que nós não

tivemos de presenciar em nossa batalha contra o pecado. Mas pode acontecer. E se isso

acontecer com você, ou qualquer outra coisa igualmente difícil, você desistirá se não estiver

olhando com firmeza para Jesus Cristo.

As palavras do versículo 3 sugerem que a desistência pode ocorrer em uma de duas

formas. Algumas pessoas desistem da corrida em colapso repentino e total, enquanto outros

experimentam uma queda gradativa de energia, perdendo a força pouco a pouco até cair fora. As

duas são igualmente perigosas, porque ambas levam as pessoas a desistir completamente da

corrida.

Duas simples alternativas se apresentam a todos quantos professam seguir a Cristo: ou

nós o vemos claramente e permanecemos próximos a ele ou desistimos totalmente da corrida e

prosseguimos para a ruína eterna. O exemplo de outros crentes pode até nos estimular, mas, no

final, não será o que nos manterá na corrida. Em última análise, tudo depende de termos nos

despido de tudo que nos atrapalhava, declarando guerra contra tudo que seja espiritualmente

nocivo. Para tanto, temos de nos dispor com determinação a prosseguir espiritualmente, venha o

que vier. Isso requer que estejamos próximos do Senhor Jesus Cristo, em quem pensamos

sempre, cujo exemplo seguimos e de cuja força dependemos completa e constantemente.

Estou na corrida, porém, hei de completá-la? Tomarei meu lugar no pódio final? Estarei

presente com todos os homens e mulheres de fé – do presente, passado e futuro – na entrega dos

prêmios? Ou vou afrouxar o passo, diminuir e desistir em algum momento, nunca atingindo o

final e nunca desfrutando a recompensa? Essas questões eternas resolvem-se quando assumo ou

não, de coração, o que diz Hebreus 12.1-4.

A carta aos Hebreus bem explicadinha, de Stuart Olyott, Editora Cultura Cristã