Apontamentos Direito Económico

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  • 5/13/2018 Apontamentos Direito Econmico

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    1. Frequncia

    Introduo

    A dimenso econmica do direito e a dimenso jurdica da economia

    Mesmo questes que, aos olhos do senso comum, so marcadamente econmicascomo, por exemplo, as ligadas ao circuito econmico (produo, circulao,distribuio, consumo) so providas de importantes dimenses jurdicas (disciplina

    jurdica da fora de trabalho, estatuto da empresa, regulao jurdica do mercado edas trocas, regime jurdico de tributao, direitos dos consumidores, etc.).

    Por outro lado, a produo de normas de direito, a sua aplicao, bem como aresoluo de litgios por meio de processos e decises judiciais, aspectos

    predominantemente tidos por jurdicos, contm, eles tambm, inequvocas dimenseseconmicas.

    Da anlise econmica do direito regulao do mercado

    Diversas teorias econmicas tm procurado, a partir de diferentes premissas, contribuirpara o aprofundamento do problema das relaes entre a economia e o direito,enquanto fenmenos da vida social e disciplinas do quadro das cincias sociais ehumanas.

    Uma das tentativas hoje mais em voga provm de sectores anglo saxnicos, como achamada anlise econmica do direito, que procura, a partir de uma ptica

    neoclssica, explicar e modificar os sistemas jurdicos atuais e, em particular, aregulao jurdica da economia, com base em critrios e objectivos de eficinciaeconmica.

    Fundamentos do Direito Econmico

    1) Com as transformaes da ordem liberal clssica, surgem formas especficas deregulao pblica da economia, dando origem a um conjunto de normas,princpios e instituies que regem a organizao e direco da actividadeeconmica, impondo limites, condicionando ou incentivando os agenteseconmicos com o objectivo de colmatar as insuficincias ou disfunes dodireito privado clssico.

    2) Devido crescente complexidade e multiplicao dos agentes econmicos, asprprias entidades privadas passaram a produzir normas, no mbito da suaesfera de autonomia, por delegao pblica ou ainda pela negociao econcertao com os poderes pblicos.

    3) Perante um Estado de Direito Democrtico, os sistemas jurdico e poltico nopodem ficar indiferentes ao poder do sistema econmico, donde resultam asquestes da subordinao do poder econmico ao poder poltico, do controloou do estabelecimento de uma democracia econmica.

    Origens e desenvolvimento

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    Alemanha

    Foi sob a Constituo de Weimar de 1919, que teve incio a sistematizao doutrinal ecientfica do Direito Econmico. Esta foi a 1 Constituio a inserir a vida econmicacomo objecto da lei fundamental

    FranaSurge depois da 2 Guerra Mundial como outro plo de desenvolvimento do DireitoEconmico, sendo considerado como direito da interveno econmica do Estado

    E.U.A.

    Floresce a anlise econmica do Direito.

    Portugal

    As primeiras abordagens do direito econmico foram tardias, devido ideologia dodireito corporativo do Estado Novo, que impedia a sua afirmao autnoma.

    Aps 1974, verifica-se um certo desenvolvimento, que se traduz pela introduo dadisciplina de Direito Econmico nas Universidades.

    Natureza e Objecto

    Se para a generalidade dos seus cultores o Direito Econmico uma nova disciplinacom identidade prpria e autonomia cientfica, para outros est-se perante umasimples adaptao, justaposio ou reconfigurao de sectores de diversas disciplinastradicionais, conglobadas por razes de afinidade autonomizadas por razes deconvenincia prtica ou pedaggica.

    No presente estdio do conhecimento, e de forma aproximativa, define-se o objecto dadisciplina do Direito Econmico como o estudo da ordenao (ou regulao)jurdica especfica da organizao e direco da actividade econmica pelospoderes pblicos e (ou) pelos poderes privados, quando dotados decapacidade de editar ou contribuir para a edio de regras com carctergeral, vinculativas dos agentes econmicos.

    A interdisciplinaridade no estudo do direito econmico

    A interdisciplinaridade significa algo mais do que a justaposio de duas perspectivasdo mesmo objecto, pressupondo a possibilidade de construo de um objecto e ummtodo comuns para orientar a produo de conhecimento que no poderiam sergerados a partir de duas disciplinas separadamente.

    Por vezes, porm, fala-se ainda, no caso do Direito Econmico, de umainterdisciplinaridade que ultrapassa o campo jurdico, querendo com isto sublinhar-se oespecial peso que os temas e problemas econmicos assumem no objecto destadisciplina ou, por outras palavras, as ntimas relaes entre a Economia e o DireitoEconmico.

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    Assim, este chega mesmo a ser visto, numa ptica funcionalista, com Um meroinstrumento da economia, um direito ao servio dos ditames econmicos,que apenas v justificada a sua existncia na medida em que cumpra essesobjectivos.

    Tais perspectivas, so redutoras e deformadoras da natureza e funo do DireitoEconmico, se no mesmo do Direito no seu conjunto.

    O jurista sempre sublinhar que a evoluo da economia tornou patente a existnciade uma certa tenso entre valores quantitativos e qualitativos, entre valoreseconmicos (eficcia, eficincia, relao custo-benefcio, concorrncia) e valores

    jurdicos ou valores extra-econmicos juridicamente protegidos (segurana, justiasocial, direitos dos trabalhadores e dos consumidores, interesse geral, solidariedade,qualidade ambiental, etc).

    Desta forma, o Direito surge como uma instncia reguladora, dotada de umaracionalidade irredutvel pura racionalidade econmica.

    Na realidade, o Direito Econmico como disciplina jurdica e no econmica (e comoramo do direito), assente em valores no apenas de carcter econmico, mas de

    outros interesses no especificamente econmicos. Neste sentido, a Economia, nassuas diversas componentes, surge como cincia auxiliar por excelncia do Direitoeconmico.

    Direito Econmico com ramo do direito

    Muito embora no Direito econmico no se encontrem algumas das clssicasmanifestaes externas dos ramos de direito (codificao, autonomia processual,magistratura especfica), isso no impede que se possa falar dele como um novoramos de direito em formao.

    Ramo de direito autnomo, porqu?

    Porque tem

    Objecto prprio: o nico ramo de direito que disciplina a actividade econmica noseu conjunto. (estuda o enquadramento jurdico do circuito econmico, os sujeitos doprocesso econmico e os aspectos de produo e distribuio).

    Funo prpria: Ordenar e regular a actividade econmica no seu conjunto

    Fim prprio: Garantir a satisfao do interesse econmico geral.

    Contedo prprio: Conjunto de normas especficas s reas a ser reguladas.

    Evoluo Histrica: Com efeito, o papel activo que o Estado veio a assumir naregulao das economias de mercado, disciplinando e orientando, directa ouindirectamente, o exerccio dessa mesma actividade, correntemente, apontado comoentre os principais factores explicativos do desenvolvimento deste novo ramo.

    1) Grande parte desta regulao pblica das economias de mercado, teve origemna transformao do sistema capitalista, i, na passagem do capitalismoconcorrencial ao capitalismo organizado. Os fenmenos de concertao deempresas, da emergncia de verdadeiros poderes econmicos privados

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    (carteis), e da inerente limitao da concorrncia, levou a que o Estadoproibisse/tolerassse/incentivasse certas formas de concentrao,contrabalanando aqui e alm os seus efeitos perversos.

    2) As crises e a ecloso das guerras mundiais, foram importantes no apurar detcnicas pblicas de regulao da economia. As presses dos agenteseconmicos ou de todos os que por uma razo ou outra se sentiamnegativamente afectados pelo funcionamento do mercado, contribuindo paraque o Estado interviesse, com relativa autonomia, na orientao da actividadeeconmica.

    3) Nos anos 80, a interveno estadual na economia, veio a ser objecto dediversas criticas, provindas especialmente de sectores neoliberais, que em geraldiscutem as ineficincias a que ela conduz e apontam a possibilidade de osmesmos objectivos poderem ser atingidos mais eficazmente pelo livre jogo dasforas de mercado.

    4) Por fim, h ainda a considerar o fenmeno da internacionalizao daseconomias nacionais e os processos regionais de integrao econmica(Comunidade Europeia).

    Direito Pblico ou Direito Privado?

    Problemtica ainda a classificao do Direito Econmico como direito pblico ouprivado.

    De acordo com a distino tradicional (que v o direito pblico como umamanifestao do ius imperii), o Direito Econmico ser ainda predominantementedireito pblico, de origem constitucional/administrativa/penal. No entanto, hoje, umconjunto considervel de normas e institutos no assume aquela natureza, antespossu natureza privatstica.

    Assim, ser correcto dizer-se que no campo do Direito Econmico h um relativo

    apagamento da importncia dessa distino.

    As Fontes de Direito Econmico

    1. Complexidade e diversificao

    Fontes pblicas, mistas e privadas:

    y Aperda do monoplio dos poderes pblicos na produo de normas jurdicasy A emergncia de uma ordem negociada entre poderes pblicos e privados (o

    direito de concertao econmica)

    y Auto-regulao por devoluo pblica (provenientes de entidades ouinstituies privadas, desprovidas do clssico poder imprio, e que tem por

    objectivo a regulao de prticas econmicas, negociais e profissionais, com

    particular relevncia para cdigos de conduta).

    2. Tipos de fontes

    2.1 Fontes internas

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    Constituio da Repblica Portuguesa

    Leis da Assembleia da Repblica e os decretos-lei do Governo

    Decretos legislativos regionais

    Regulamentos (decretos regulamentares; resolues do Conselho de Ministros;

    portarias; despachos normativos, avisos do Banco de Portugal etc.)2.2 Fontes internacionais

    Convenes de direito internacional a que Portugal esteja vinculado

    Tratados que instituram ou modificaram as Comunidades Europeias e a Unio

    Europeia

    Direito comunitrio derivado

    Regulamentos

    Directivas

    Recomendaes

    Decises

    Fontes de origem mista ou privada

    Acordos ou pareceres emanados dos organismos de concertao econmica e social

    (como o Conselho Econmico e Social)

    Contratos-programa e de outras formas de contratao econmica entre entes pblicos

    e privados

    Regulamentao das actividades econmicas pelas associaes profissionais ou de

    actividade (cdigos de conduta, deontolgicos, de boas prticas ou ticos / exemplos)

    Usos da actividade econmica internos ou internacionais (contratos-tipo ou contratos

    de adeso)

    2.3 As decises jurisprudenciais e administrativas

    Jurisprudncia econmica do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias

    Jurisprudncia do Tribunal Constitucional

    Jurisprudncia dos restantes dos tribunais (judiciais comuns, administrativos, fiscais,

    etc.)

    Decises de certos rgos da Administrao econmica aos quais cabe resolver, em

    primeira instncia, litgios decorrentes da violao de regras de Direito Econmico

    Principais caractersticas do Direito Econmico

    1) Carcter recente;2) A disperso e heterogeneidade das suas fontes: que se manifesta na

    diversidade das suas provenincias.

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    3) Mobilidade das normas: que se manifesta na transitoriedade da vigncia e naplasticidade na adaptao aos casos concretos de uma parte das suas normas, em

    parte justificada pela sua natural sensibilidade s mudanas sociais e polticas e

    pela sua ligao s polticas econmicas conjunturais.

    4) A ampliao do mbito das fontes tradicionais: (com a incluso de leis-medida, leis-plano, actos-incentivo, etc.) e o relativo declnio da sua importncia,

    derivado do peso que assumem as novas fontes (acordos de concertao, cdigos

    de conduta, contractos-tipo);

    5) Uma certa privatizao: que se manifesta no s na importncia da auto-regulao pelas prprias entidades privadas, mas tambm na negociao das

    fontes pblicas, tanto no processo da sua elaborao, como o momento da sua

    aplicao;

    6) O declnio da coercibilidade: que se reflecte em diversos aspectos como sejam:o predomnio das normas de contedo positivo sobre as de contedo negativo; a

    subalternizao dos efeitos jurdicos relativamente aos econmicos e sociais; a

    relevncia das normas programticas; a utilizao crescente da via contratual e da

    via concertada, ao lado da imposio legal, para atingir os fins da poltica

    econmica; a diminuio dos efeitos de nulidade dos negcios, procurando

    maximizar os seus efeitos jurdicos-econmicos.

    Direito especfico da ordenao da economia:Direito Econmico como o

    estudo da ordenao (ou regulao) jurdica especfica da organizao e direco da

    actividade econmica pelos poderes pblicos e (ou) pelos poderes privados, quando

    dotados de capacidade de editar ou contribuir para a edio de regras com carcter

    geral, vinculativas dos agentes econmicos.

    Tanto ajuda a garantir o funcionamento de um determinado sistema,

    econmico como lhe coloca limites

    Bibliografia

    SANTOS, Antnio. C., M. Eduarda GONALVES e Maria Manuel LEITO MARQUES,

    Direito Econmico, 5. Ed. Coimbra: Almedina. 2004 (pp. 7-26) ; 6. Ed. 2011 (pp. 7-

    26).

    (Outra bibliografia indicada no prprio livro)

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    Constituio Econmica

    Do ponto de vista material, a Constituio Econmica um conjunto de normas e

    princpios constitucionais relativos economia. Formalmente, a parte econmica da

    Constituio do Estado, onde est contido o Ordenamento Essencial da ActividadeEconmica desenvolvida pelos indivduos, pelas pessoas colectivas ou pelo Estado.

    Esta conformao feita atravs de normas de garantia (garantem as

    caractersticas bsicas Ex. 82.CRP garante a existncia de sector pblico, privado

    e cooperativo) e de normas programticas (apontam as suas principais linhas de

    evoluo, incumbindo ao Estado o seu desenvolvimento Ex. art. 81./a) CRP).

    A Constituio Econmica na histria das constituies

    Existem trs grandes fases das constituies econmicas modernas:

    y Liberalismo - 1822-1926 (com breve interregno entre 1826-1834)y Corporativismo - 1933-1974y Fase actual

    As Constituies Liberais do Sc. XIX

    A relativa ausncia de normas econmicas nas constituies liberais do sc. XIX no

    significou a inexistncia de uma constituio econmica.

    1) Mesmo nessas constituies encontramos normas com incidncia, directa ouindirecta, na ordem econmica (Ex. a consagrao do direito de propriedade eda liberdade de comrcio e indstria);

    2) A relativa ignorncia de outros aspectos da vida econmica tem significado jurdico e econmico: o Estado demite-se de uma interveno correctiva na

    economia, aceitando e garantido como princpios da regulao econmica, a

    propriedade privada, a livre concorrncia e a liberdade contratual.

    A Constituio de Weimar

    Foi a Constituio de Weimar (1919) a primeira a introduzir uma seco especialmentededicada ao enquadramento da vida econmica, inspirando constituies posteriores,

    nomeadamente, a Constituio Portuguesa de 1933.

    A Constituio de 1933

    Art. 6 n 2 CRP 1933

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    Ao Estado compete "coordenar, impulsionar e dirigir todas as actividades sociais,

    fazendo prevalecer uma justa harmonia de interesses, dentro da legtima subordinao

    dos particulares ao geral"

    O modelo corporativo contido na Constituio de 1933, consagrou um princpio

    explcito de htero-regulao do mercado, e caracterizava-se:1) Pelo reconhecimento da necessidade de interveno dos poderes pblicos com

    carcter subsidirio e correctivo;

    2) Pela afirmao de um princpio proteccionista da economia nacional;3) Pela consagrao de um modelo de representao orgnica dos interesses

    (entre os quais se incluam os interesses econmicos);

    4) Pela acentuada limitao dos direitos dos trabalhadores.Dava-se grande importncia propriedade privada, condicionava o acesso actividade

    industrial (controlo da concorrncia) e restringia muito os direitos dos trabalhadores.

    Assim, era antiliberal, autoritria e antidemocrtica.

    A Constituio de 1976 (texto originrio)

    Revogao imediata da parte econmica da CRP de 1933, em 1974

    Seguiram-se 2 anos sem Constituio Econmica de 1974 at 1976

    Sucedem-se as nacionalizaes, expropriaes e ocupaes neste perodo pr-

    constitucional.

    Promulgao da CRP em 1976, por uma Assembleia Constituinte, constituda em 1975

    e onde participaram todos os principais partidos polticos com uma predominncia do

    partido socialista

    Constituio com carcter compromissrio.

    Influncia do M.F.A.

    Texto ps-revolucionrio.

    1) Objectivo principal: eliminao do corporativismo, dos monoplios privados, doslatifndios, e o reconhecimento dos direitos econmicos e sociais dos

    trabalhadores (previa a transio para o socialismo - art. 2. CRP), atravs da

    apropriao colectiva dos meios de produo, solo e recursos naturais e o

    exerccio do poder democrtico das classes trabalhadoras (80. e 82. CRP).

    2) Aparticipao directa dos trabalhadores na economia era garantida atravs:

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    a. Participao directa na gesto de empresas Comisso deTrabalhadores (55. e 56. CRP);

    b. Participao directa na orientao geral da economia conselhoNacional do Plano (art. 91. e 94. CRP).

    3) Coexistncia de trs sectores de actividade econmica (privado, pblico,cooperativo);

    4) Propriedade privada reduzida importncia;5) Propriedade pblica, social e cooperativa mxima importncia (art. 89.

    CRP)

    6) Garantia as nacionalizaes j efectuadas, promovia a reforma agrria e odesenvolvimento da propriedade social (art. 83., 96. e 90. CRP)

    Muitos dos seus objectivos no foram implementados devido a:

    1) Forte contestao do sector empresarial;2) Evoluo poltica seguiu caminho diferente;3) Adeso em 1986 CEE.

    Revises da CRP de 1976

    1 Reviso1982

    Alterou:

    1) Diminuiu a interveno do Estado na economia Plano;2) Atribuiu maior importncia ao Sector Privado;3) Atenuou a ideologia politica socialista.

    Manteve:

    1) Garantias ao nvel das nacionalizaes e da reforma agrria;2) Deu carcter definitivo existncia de trs sectores econmicos (privado,

    pblico e cooperativo)

    2 Reviso1989 (Mais Importante)

    1) Reduziu ainda mais a interveno do Estado na Economia;2) Atenuou a reforma agrria;3) Eliminou a garantia das nacionalizaes;4) Retirou o objectivo do desenvolvimento da propriedade social;5) Continuou a eliminar as expresses relativas ao socialismo.6)

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    3 Reviso1992 (alterou legislao para conformidade com o Tratado de

    Mastricht)

    4 Reviso1997 (Alterao de natureza poltica e pouco de natureza econmica)

    5 Reviso2001 (alargamento da U.E.)

    Constituio Econmica Actual

    um meio termo entre a Constituio Liberal e a Constituio Socialista.

    1) A democracia econmica um dos objectivos da Repblica Portuguesa (art.2.CRP);

    2) Consagra um modelo de Economia de Mercado (equilbrio entre economia demercado e interesse pblico e social), impondo ou permitindo a regulao

    pblica de alguns aspectos do seu funcionamento e salvaguardando os direitos

    prprios dos trabalhadores e dos consumidores, enquanto limites ao poder

    econmico privado ou pblico;

    3) Limites ao livre funcionamento do mercado:a. Estado produtor (quando concorrer com a actividade privada na

    produo de bens e servios)

    b. Estado regulador (quando enquadra e limita a actividade econmicaprivada)

    c. Direito dos Trabalhadores, dos consumidores e Direito do Ambiente(quando garante direitos conflituantes com o livre funcionamento do

    mercado)

    A) Direitos fundamentais

    Na CRP os direitos fundamentais so reconhecidos, ora como Direitos, Liberdades e

    Garantias, ora como Direitos e Deveres Econmicos.

    1 - Direitos, Liberdades e Garantias

    Inclui a maioria dos direitos que definem a posio jurdica do indivduo (pessoa,

    cidado trabalhador) face ao Estado, delimitando negativamente a sua esfera de

    interferncia.

    Entre eles, incluem-se alguns dos direitos dos trabalhadores (como a segurana no

    emprego).

    2 - Direitos e Deveres Econmicos

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    So sobretudo (ainda que no exclusivamente) os direitos de indivduos ou de

    organizaes a prestaes positivas por parte do Estado.

    Entre eles, incluem-se os restantes direitos dos trabalhadores, o direito de propriedade

    e de iniciativa privada, os direitos dos consumidores e o direito do ambiente na medida

    em que relevante para o desempenho da actividade econmica.

    Princpios fundamentais da Economia de Mercado:

    Nos sistemas de economia de mercado, a actividade econmica depende

    essencialmente da capacidade dos indivduos de organizarem a produo e a

    distribuio de bens ou servios, com o objectivo de assim obterem rendimentos de

    que esperam ser os principais beneficirios, da a existncia de trs princpios bsicos

    para o funcionamento da economia:

    1) Propriedade Privada (fruio e disposio dos bens)2) Iniciativa Privada (possibilidade da sua livre composio e uti lizao produtiva)3) Livre Concorrncia (condies de concorrncia potencial e efectiva)

    2.1. Direito de propriedade privada (art. 62; art. 17. e 18. CRP)

    Em sede de direitos e deveres econmicos, a CRP reconhece, como direito anlogo aosdireitos fundamentais (art. 17. e 18. CRP), o direito de propriedade privada (art.62. CRP).

    Este direito abrange os meios de produo, ainda que a CRP estabelea, quanto aestes, algumas especificidades relativamente propriedade dos bens em geral.

    O direito de propriedade privada no reconhecido com direito absoluto, podendo serobjecto de limitaes ou restries, as quais se prendem com razes de utilidadepblica ou com a necessidade de conferir eficcia a outros princpios ou normasconstitucionais.

    O direito de propriedade privada inclui quatro componentes: o direito de adquirir(acesso propriedade); o direito de usar e fruir dos bens de que se proprietrio; ade transmitir (por vida ou morte); e o direito de no ser privado dela, cada qual com

    restries:

    Restries:

    1) Direito de acesso ou aquisioBens insusceptveis de apropriao privada (art. 84. CRP; Lei 88-A/97 25/07)

    2) Direito de uso e fruioa. Dever geral de uso dos meios de produo (88. CRP)

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    b. Condicionamentos Ambientais (RAN, REN,)c. Ordenamento do Territrio (PDM)

    3) Liberdade de transmissoa. Direitos de Terceiros:

    i. Direito de preferncia (art. 1380. CC)ii. Direito dos herdeiros legitimrios (2156. CC)

    4) Direito de no privaoa. Requisio por utilidade pblica (art. 62./2 CRP)b. Expropriao por utilidade pblica (art. 62./2 CRP; Cd.

    Expropriaes)

    Requisio Expropriao

    Bens Mveis ou Imveis Bens Imveis

    Interesse pblico urgente excepcional(guerra, calamidade natural)

    U

    sada pela AP ou concessionrias(construo de estradas)

    Propriedade Privada Sector Privado:

    y O sector privado no abrange todos os bens cujo titular seja uma entidadeprivada, visto que estes podero pertencer ao sector cooperativo quandointegrados em cooperativas;

    y O sector privado pode abranger bens cujo titular seja uma entidade pblica.2.2. Direito de iniciativa privada (art. 61 CRP; 17. e 18. CRP)

    Trata-se de um direito independente do direito de propriedade, pese embora as

    naturais conexes entre ambos, mas goza de idntica proteco (art. 17., 18. CRP)

    Ele traduz a possibilidade de exercer uma actividade econmica privada,

    nomeadamente, atravs da liberdade de criao de empresas e da sua gesto,

    compreende como componentes a liberdade de investimento ou de acesso (escolha da

    actividade econmica a desenvolver); a liberdade de organizao (determinao do

    modo como a actividade vai ser desenvolvida incluindo a forma, qualidade e preo

    dos produtos ou servios produzidos) e a liberdade de contratao ou liberdadenegocial (estabelecer relaes jurdicas e fixar o seu contedo).

    Aparticularidade da Constituio portuguesa reside no facto de colocar em situao de

    igualdade e garantir a coexistncia de trs tipos de liberdade de iniciativa: a pblica, a

    privada e cooperativa.

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    A liberdade de iniciativa privada no , contudo, reconhecida pela CRP em termos

    absolutos. Admitem-se restries, que so justificadas pela necessidade de proteco

    do interesse pblico geral, ora pela necessidade de proteco dos interesses de

    terceiros (trabalhadores, credores, etc).

    Restries:

    1) Liberdade de acesso ou investimentoa. Reservas a favor do sector pblico (art. 86./3 CRP; Lei 88-A/97

    25/07);

    b. Investimento estrangeiro (art. 87. CRP) esta possibilidade dever,contudo, ter em conta que Portugal est integrado na UE e que o direito

    comunitrio, que consagra a liberdade de estabelecimento e circulao

    de capitais, directamente aplicvel na ordem interna.

    2) Liberdade de organizaoa. Tipicidade das formas das sociedades (CSC);b. Regras de organizao interna das empresas:

    i. rgos sociais;ii. Direitos das comisses de trabalhadores;iii. Condies tcnicas de funcionamento do estabelecimento

    (medidas de segurana e proteco da sade ou condies de

    higiene);

    c. Normas que regulam a sua localizao (integrao urbana; proteco doAmbiente);

    d. Controlo das concertaes;e. Proibio de monoplios privados (art. 86./2 CRP);f. Recuperao de empresas (CIRE)

    3) Liberdade negociala. Contrato de Trabalho e Segurana no emprego;b. Proteco dos Consumidores;c. Acordos com outras empresas (proibio de comportamentos e acordos

    restritivos da concorrncia).

    At que ponto so estas restries constitucionalmente admissveis?

    O Tribunal Constitucional tem afirmado que as restries iniciativa privada devem:

    1) Ser as necessrias e adequadas proteco de outros valores constitucionais;

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    2) Respeitar o princpio da proporcionalidade;3) Ter carcter geral e abstracto;4) No ser retroactivas;5) Respeitar o contedo essencial do preceito constitucional consagrador do

    direito.Restries duvidosas tm sido sujeitas ao Tribunal Constitucional, so elas:

    1) As restries que derivam dos privilgios constitucionais atribudos ao sectorpblico:

    a. Proibio das empresas pblicas nacionalizadas (mantida no textoconstitucional at reviso de 1989)

    b. Imposio constitucional de os sectores bsicos serem vedados iniciativa privada;

    2) Condicionamentos ou restries ao exerccio de determinadas profisses3) Proteco constitucional dos direitos dos trabalhadores, designadamente, de

    segurana do emprego (art. 53. CRP).

    Outras formas de iniciativa privada:

    Sendo a iniciativa privada a forma normal de iniciativa econmica em economias de

    mercado, ela no tem, contudo, de ser exclusiva. Desde logo, pode haver motivos para

    que o Estado intervenha na produo de bens e servios, em exclusivo ou em

    concorrncia com entidades privadas. Depois, so tambm possveis outras formas de

    iniciativa em que a solidariedade entre os seus membros ou entre estes e a sociedade

    prevalea sobre o interesse lucrativo da organizao. Trata-se de formas de economia

    social, entre as quais se tm at agora destacado as organizaes cooperativas e as

    instituies de solidariedade social.

    AConstituio acolheu e garantiu outros tipos de iniciativa econmica como:

    1) Direitos de Iniciativa Cooperativa (inclui a possibilidade de criar cooperativas, aliberdade de contratao ou liberdade negocial inerente a essa mesma gesto);

    Para o reconhecimento do direito iniciativa cooperativa, a CRP exige que

    sejam observados princpios cooperativos, internacionalmente reconhecidos. As

    cooperativas que no os observem no esto proibidas de existir, apenas no

    podem servir-se da sua condio cooperativa para revindicar a proteco

    especial que a CRP incumbe o Estado de conferir a este tipo de empresas (art.

    85. CRP).

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    Quase todas as restries que se aplicam ao direito iniciativa privada so

    extensveis iniciativa cooperativa nos seus vrios aspectos. Contudo, existem

    outras restries que se relacionam com a estrutura particular da organizao,

    gesto e funcionamento das cooperativas e que encontram paralelo nas regras,

    tambm especficas, das sociedades comerciais.2) Direitos de Iniciativa Autogestionria (direito dos trabalhadores de

    revindicarem, relativamente a bens ou empresas do sector pblico, a

    possibilidade de serem eles prprios a responsabilizarem-se pela sua gesto);

    3) Direitos de Iniciativa Pblica (criao de empresas pblicas em sentido amploou na participao no capital de empresas privadas), esta iniciativa no

    conhece restries em matria de acesso a qualquer ramo do sector ou ramo

    de actividade econmica;

    2.3. Outros direitos em matria econmica

    1) Direitos dos Trabalhadores (arts. 53-59 CRP)ACRP no define trabalhador, mas tendo em conta a natureza dos direitos que lhe

    concede, deve entender-se que, so trabalhadores por conta de outrem, os seus

    principais destinatrios. No conceito deve ainda ter-se em conta as situaes

    materialmente equiparveis s resultantes do contrato de trabalho, como o caso

    de grande parte dos trabalhadores ao domiclio.a. A segurana no emprego e proibio do despedimento sem justa causa

    (art. 53. CRP)

    b. Os direitos das organizaes dos trabalhadoresi. Liberdade sindical (art. 55. CRP)ii. Direito greve e proibio do Lock-out (art. 57. CRP)

    iii. Direitos das Comisses de Trabalhadores (art. 54. CRP)1. Prev a sua participao na gesto nas empresas

    pertencentes ao Estado

    2.Controlo de gesto, compreende apenas o direito informao necessria para exercerem a sua actividade.

    iv. Direito contratao colectiva (art. 56./3 e 4 CRP)c. O direito ao trabalho (deve ser entendido como o direito a uma

    prestao positiva do Estado no desenvolvimento de politicas que

    assegurem o mximo emprego possvel e a igualdade de oportunidades

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    e formao especfica e genrica, e no como um direito subjectivo a

    um concreto posto de trabalho):

    i. Adopo de polticas que propiciem de forma concertada umajusta redistribuio do emprego disponvel (Ex. Reduo horrio

    trabalho);ii. Formas de prestao de trabalho;iii. Assistncia no desemprego;iv. Retribuio salarialv. Regulao do mercado de trabalho (salrio mnimo art. 59.

    CRP)

    2) Direitos dos Consumidores (arts. 52 e 60 CRP)O objectivo ltimo de toda a produo a satisfao das necessidades do

    consumidor final, que por isso o principal destinatrio das normas

    constitucionais de proteco ao consumidor.

    Fundamentos:

    y Sofisticao dos modos de captao de clientela (publicidade agressiva,..)y Concentrao dos espaos de distribuio em grandes superfcies e

    consequente aumento da distncia entre consumidor e vendedor.

    y Maior complexidade e globalizao das formas de organizar a produo, oque contribui para aumentar o risco do consumidor.

    Principais Eixos da Proteco dos Consumidores

    Segundo Calva da Silva, a proteco dos consumidores pode ser perspectivada

    segundo quatro eixos principais:

    1) Proteco do consumidor contra prticas desleais e abusivas;a. Regulao da Publicidade;b. Vendas ao domiclio e por correspondncia;c. Clusulas contratuais gerais;d. Regulao do crdito ao consumo.

    2) Informao, formao e educao do consumidora. Obrigao ao Estado de apoiar organizaes dos consumidoresb. Dever de contribuir para a sua educao e informao

    3) Representao, organizao e consulta

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    a. Direitos conferidos s organizaes de consumidores, nomeadamente,na participao em rgos consultivos de administrao econmica.

    4) Proteger o consumidor contra produtos defeituosos e perigosos:a. Carcter preventivo (sistema de normas tcnicas referentes s

    caractersticas dos produtos)b. Reparador de danos sofridos (responsabilidade civil objectiva/risco do

    produtor pelos defeitos do produto.

    c. Repressivo de comportamentos que afectem a qualidade dos produtos(sistema de represso de infraces anti-econmicas e contra a sade

    pblica).

    3) Direito ao Ambiente (arts. 52 e 66 CRP)A proteco do ambiente abrange tanto o elemento natural como o elemento

    construdo, ou seja, no apenas a conservao dos ecossistemas mas tambm a

    integrao dos elementos econmicos e sociais.

    Assim, o acesso e a organizao de uma actividade econmica, a sua instalao

    (localizao, utilizao de recursos naturais), as condies de funcionamento e as

    suas relaes com terceiros, ou mesmo a sua extino podem ser condicionadas ou

    determinadas por razes ambientais.

    Principio do pagador/poluidor: (quem polui, paga!)

    Assim, os custos de poluio, assim como os custos da sua preveno, podem ser

    integrados nos custos de produo.

    O direito ao ambiente compreende aco positiva do Estado no sentido de:

    1) Defender e controlar aces poluidoras;2) Estabelecer o ordenamento da explorao agrcola e florestal;3) Preservao de espaos naturais e interveno nos espaos degradados;4) Proibir (natureza anloga aos DLGs - art. 17. e 18. CRP) aces atentatrias

    do ambiente (quer por parte do Estado, quer por terceiros), conferindo aos

    cidados o direito de cessao dessas aces e indemnizao dos prejuzos

    causados pela violao;

    4) Direito proteco de dados pessoais informatizados (35. CRP)

    O uso crescente dos computadores e redes de comunicao (internet) ao servio

    da actividade e das transaces econmicas, comporta riscos, sejam eles relativos

    segurana da informao e da comunicao ou para a salvaguarda de direitos e

    liberdades dos indivduos. Da a adopo de legislao especfica em matria de

    proteco de dados pessoais informatizados, com vista a estabelecer condies e

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    limites a serem respeitados pelos agentes econmicos aquando do registo e

    processamento ou comunicao de informaes relativas a pessoas individuais

    identificveis. Assim,

    1) Reconheceu-se o direito proteco de dados como direito fundamental doscidados (art. 35. CRP), que envolve o direito a:

    a. Aceder aos dados informatizados que lhe digam respeito;b. Exigir a sua rectificao/actualizao, pelas entidades responsveis;c. Conhecer a finalidade a que se destinam.

    2) Proibiu-se o uso da informtica para o tratamento de dados sensveis,referentes a:

    a. Convices filosficas ou polticas;b. Filiao partidria ou sindical;c. F religiosa;d. Vida privada e origem tnica;

    Excepto se:

    a. Houver consentimento expresso do titular;b. Houver autorizao prevista por lei com garantias de no discriminao;c. Utilizada para processamento de dados estatsticos no individualmente

    identificveis.

    B) Organizao econmica (arts. 80-107 CRP)

    B. O princpio da coexistncia de trs sectores de propriedade dos meios

    de produo (art. 82 CRP)

    A garantia da existncia de trs sectores de titularidade dos meios de produo pblico, privado e cooperativo e social tem sido uma constante do textoconstitucional. A sua importncia reforada pelo facto de este princpio estar includono conjunto de matrias que constituem os limites materiais de reviso constitucional(art. 288., al. f) CRP).

    Embora o modelo constitucional tenha como base uma economia mista, na prtica no sector privado que se concentra a actividade econmica.

    O que Sector na CRP?

    (Def: sector refere-se a cada uma das partes em que se divide o todo)

    A palavra sector tem vrios sentidos na Constituio:

    - Sectores Bsicos: Especializao produtiva (crescimento equilibrado de todos os sectores (81./d));

    desenvolvimento harmonioso de sectores (90.); sectores bsicos da economia (86./3));

    - Sectores de Actividade: Repartio clssica da teoria econmica entre sector primrio, secundrio, tercirio

    (Ttulo III da Parte II da CRP);

    - Sectores de Titularidade de Meios de Produo: Assenta na natureza dos sujeitos titulares da propriedade

    e/ou poder de direco/gesto dessa mesma actividade. (82.)

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    Sector Privado - propriedade ou gesto privada

    Sector privado constitudo pelos meios de produo cuja propriedadeougesto

    pertence a pessoas singulares ou colectivas privadas () (82/3CRP).

    Esto assim abrangidos todos os meios de produo que:

    1) Sejam propriedade de entidades privadas, excepto os geridos por cooperativas;2) Sejam propriedade pblica, mas a gesto tenha sido entregue a entidades

    privadas;

    3) Sejam propriedade mista, mas onde o Estado no detm uma maioria degestores.

    Sector Cooperativo gesto cooperativa

    O sector cooperativo e social compreende especificamente:

    a) Os meios de produo possudos e geridos por cooperativas, em obedincia aosprincpios cooperativos ();

    b) Os meios de produo comunitrios, possudos e geridos pelas comunidadeslocais;

    c) Os meios de produo objecto de explorao colectiva por trabalhadores;d) Os meios de produo possudos e geridos por pessoas colectivas, sem carcter

    lucrativo, que tenham como principal objectivo a solidariedade social ()

    (82./4 CRP).

    Sectores de Propriedade de Bens de Produo

    Pblico Cooperativo Privado

    Propriedade Pblica Pblica Pblica ouComunitria

    Pblica, privada, dacooperativa

    Privada

    Gesto Pblica Colectiva (dostrabalhadores)

    Pelas ComunidadesLocais

    Pelos Cooperadores Privada

    Tipos de

    Empresas

    Empresas Pblicas(EP)

    Sociedades de

    capitais pblicos (SA)

    Sociedades deeconomia mistacontrolada (S.A.)

    Organizaesempresariais sempersonalidade

    jurdica prpria(serviosmunicipalizados)

    Autogeridas No constituemorganizaesempresariais

    Cooperativa Soc. de capitais privados

    Soc. de economia mistaprivada

    Empresas de capitaisprivados intervencionados

    Meios de produo Pblicosconcessionados a privados

    Meios de produo detidospor cooperativas que norespeitam os princpiosCooperativos

    Exemplo de EmpresasServiosMunicipalizados

    Empresas emautogesto

    Monhos Baldios eEiras

    Cooperativas vincolas,agrcolas

    escolha.

    Observaes No sector pblico empresarial a propriedade e a gesto tm de serobrigatoriamente pblicas

    Se uma cooperativa norespeitar os princpios

    cooperativos, passa afuncionar como umasociedade comercial,passando a pertencer aosector privado

    Basta que a propriedade ou agesto seja privada, para

    pertencer ao sector privado

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    AConstituio no define o que so cooperativas, mas fixa um importante limite a

    respeitar pelas pessoas colectivas que pretendam fazer parte do subsector

    cooperativo: a obedincia aos princpios cooperativos. Isto implica a remisso para um

    conjunto normativo extra-jurdico constitudo pelos princpios reconhecidos pela Aliana

    Cooperativa Internacional, so eles:1) Filiao voluntria (adeso livre);2) Organizao democrtica (um homem, um voto);3) Limitao do juro pago ao capital social;4) Repartio equitativa de excedentes ou economias eventuais.

    Entre ns vigora um modelo constitucional de cooperativismo estimulado (em

    contraposio com os modelos de cooperativismo espontneo ou obrigatrio), que

    implica a atribuio por lei, de benefcios fiscais e financeiros, de condies mais

    favorveis obteno de crdito e auxilio tcnico. (85/1; 80/f); 65/2/d); 95; 97.

    e 85./2 CRP).

    Assim, essencial estabelecer linhas de demarcao entre as autnticas cooperativas e

    as empresas privadas sob forma cooperativa, que mais no so do que sociedades

    irregulares sui generis.

    Sector Pblico propriedade e gesto pblicas

    O sector pblico constitudo pelos meios de produo cujas propriedades e gesto

    pertencem ao Estado ou a outras entidades pblicas (82./2 CRP)

    A acumulao da propriedade e gesto condio necessria.

    Assim, fazem parte do sector pblico os meios de produo pblicos geridos

    directamente pela Administrao Pblica, ou por outras entidades pblicas, que

    podero assumir a forma de institutos pblicos, entidades pblicas empresariais,

    sociedades de capitais pblicos ou sociedades de capitais mistos, quando

    O que so Cooperativas?

    O Cdigo Cooperativo entende por cooperativas, as pessoas autnomas, de livre constituio,

    de capital e composio variveis, que, atravs da cooperao e entreajuda dos seus membros,

    com obedincia aos princpios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfao dasnecessidades e as aspiraes econmicas, sociais ou culturais daqueles (art. 2. Cdigo

    Cooperativo).

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    maioritariamente controlados pelo Estado e desde que este tenha tambm a maioria

    nos rgos de gesto.

    Desta forma, o sector pblico do Estado produz bens ou presta servios:

    1) Em concorrncia com empresas privadas ou cooperativas;2) Em monoplio natural;3) Em monoplio legalmente protegido.

    C. O recuo do Estado Produtor e reforo do Estado Regulador

    A constituio atribui ao Estado diferentes funes de organizao do processoeconmico.

    Estado Produtor: Aquelas em que o Estado aparececomo empresrio (como produtor, prestador ou distribuidor

    de bens e servios)Funes do EstadoEstado Regulador: Aquelas em que lhe cabe regular asactividades de terceiros (condicionando, fiscalizando,planeando ou promovendo)

    Quando o Estado produz ou distribui servios retira do mercado certas actividades,reservando para si o exerccio, ou concorre com agentes econmicos privados oucooperativos na mesma actividade.

    Quando o Estado regula, possibilita e condiciona Positiva (incentivando) ouNegativamente (proibindo) a actividade de terceiros, na qualidade de agente exteriorao mercado.

    O Estado empresrio tem perdido importncia no texto constitucional a partir dareviso de 1982. O Estado regulador, pelo contrrio, tem hoje uma importantedimenso internacional, sobretudo desde a adeso de Portugal UE.

    1) Perodo Ps 25 Abril:O sector empresarial do Estado era fundamentalmente constitudo porempresas directa ou indirectamente nacionalizadas, que se distribuam por umvasto conjunto de sectores.A importncia do sector pblico produtivo do Estado era claramente marcado

    por dois preceitos constitucionais:a. Irreversibilidade das nacionalizaes: impedia a privatizao das

    empresas nacionalizadas;b. Proibio do acesso ao capital privado aos sectores bsicos da

    economia.

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    2) Perodo Ps Reviso Constitucional de 1989:A reviso constitucional de 1989 revogou o princpio da irreversibilidade dasnacionalizaes, suprimindo deste modo os principais limites reprivatizaototal de empresas anteriormente nacionalizadas.No entanto, continua a admitir a possibilidade de existirem sectores bsicosvedados iniciativa privada (86./3 CRP), embora estes se restrinjam hoje to-s a muito poucas empresas que desempenham servios pblicos (CTT).

    Este recuo do Estado empresrio, adveio da conjugao de opes internas deordem politico-ideolgica e razes de ordem econmica e financeira(estagnao econmica, necessidade de receitasmas pelos vistos noadiantou muito, porque continua teso!!)

    A reduo do peso do Estado-empresrio e a liberalizao de diversos sectores deactividade econmica, no foram acompanhadas por uma esvaziamento do papel doEstado (s esvaziou o cofres!!), mas antes pela reconfigurao deste papel como,essencialmente regular.

    Esta regulao tem incidido especialmente nos mercados emergentes (que surgem)como resultado dos processos de privatizao e de liberalizao, e tem como objectivoregulamentar:

    1) O risco (Regulao do Risco): defesa dos valores sociais susceptveis de entrarem conflito com a proteco do mercado, nomeadamente, sade, segurana eambiente.

    2) Os mercados financeiros (Regulao de Mercados): proteco dasactividades econmicas e da concorrncia.

    Tarefas de regulao econmica por parte do Estado, contempladas naConstituio:

    1) Regulao de Natureza Geral:a. Competncias Genricas:

    i. Efectivao dos direitos fundamentais, em especial daqueles queconstituem direitos a aces positivas por parte do Estado: (81./a),b) ei); 58. CRP)

    yPromover o aumento do bem-estar social e econmico e da qualidade devida das pessoas;

    yAssegurar a igualdade de oportunidades;yGarantir a defesa dos interesses e os direitos dos consumidores;yDireito ao trabalho.

    ii. Orientao e Controlo da Actividade Econmica: (81./c), d), g), j)CRP)

    y Assegurar a plena utilizao das foras produtivas;y Zelar pela eficincia do sector pblico;y Orientar o desenvolvimento;

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    y Desenvolver relaes econmicas com todos os povos, salvaguardandoa independncia nacional e os interesses dos portugueses e a economiado pas;

    y Garantir o planeamento democrtico do desenvolvimento econmico esocial.

    iii. Promoo da Solidariedade (nomeadamente, a Redistribuio deRendimentos): (81/a), b) e d) CRP)

    y Proporcionar o aumento do bem-estar social e econmico e a melhoriada qualidade de vida, em especial das classes mais desfavorecidas;

    y Opera correces das desigualdades na distribuio da riqueza e dorendimento;

    y Eliminar progressivamente as diferenas econmicas e sociais entre acidade e o campo.

    b. Defesa da ConcorrnciaO mercado constitui o principal instrumento de coordenao da economia.

    O Estado deve assegurar o funcionamento eficiente dos mercados, de modo agarantir a equilibrada concorrncia entre as empresas, a contrariar formasde organizao monopolista e reprimir os abusos de posiodominante e outras prticas lesivas do interesse geral (81./f) CRP)

    Desde a sua verso originria que a CRP se encontra imbuda de umaconcepo anti-monopolista.

    Inicialmente, assente numa ideia de construo de uma sociedade socialistaque no se compadecia com a manuteno de grupos econmicos e de grandesempresas privadas e favorvel s PMEs, que beneficiaram, desde logo, deespecial proteco.

    Actualmente, permanece a obrigao de proteco s PMEs e o princpio desubordinao do poder econmico ao poder poltico, o que por si s configurauma oposio ou pelo menos um controlo especial aos monoplios privados,sendo que essa oposio se suaviza no que refere constituio de gruposeconmicos privados e grandes empresas.

    Assim, os preceitos constitucionais anti-monopolistas representam agoraprincipalmente um dos meios de proteger a concorrncia.

    Alm desta proteco genrica da concorrncia, a CRP impe ao Estadoalgumas obrigaes especiais em alguns sectores como o caso dacomunicao social. Para assegurar a liberdade de imprensa e dos meios decomunicao social, considera-se a necessidade de impedir a concentrao,

    designadamente atravs de participaes mltiplas ou cruzadas, dasempresas que atuem neste domnio (art. 38/4 CRP).

    Designa-se por mercado o local no qual agentes econmicos procedem troca de bens

    por uma unidade monetria ou por outros bens

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    Embora se reconhea o mercado como principal forma de regulao econmica,nada impede que a CRP permita simultaneamente a interveno do Estado emmatria de circuitos de distribuio, proteco do ambiente (11./e) e 66.CRP), proteco do consumidor (99. CRP) ou na fixao de um salrio mnimo(art. 59./2/a) CRP). Trata-se de instrumentos h muito reconhecidos eintegrados nas economias de mercado, sem que por isso fique prejudicada asua caracterizao essencial.

    c. Planeamento da Actividade do Prprio Estado-AdministraoOs planos de desenvolvimento econmico-social visam assegurar algumaorientao das actividades econmicas pelo poder poltico e permitir ademocratizao do sistema econmico, mediante a participao de vriosagentes econmicos organizados (90.; 92. CRP)

    Os planos no possuem carcter imperativo para qualquer dos sectores deactividade econmica, valendo mais como sistemas tcnicos de informao epreviso da actividade econmica.

    O carcter democrtico do planeamento decorre do facto de as grandes opesserem aprovados pela Assembleia da Repblica (161/g) CRP) e, por outro, dena sua elaborao se prever a participao do Conselho Econmico e Social(CES), um rgo de consulta integrado por representantes de todos os agenteseconmicos e das autarquias. (92. CRP). Cabem-lhe tambm funes deconcertao social.

    Problema interessante tem sido levantado a respeito de saber como pode o Estado

    assegurar a concorrncia ou os interesses que esta suposto proteger em sectores que,

    por razes tcnicas (em particular, a dimenso e custo do investimento em infra-

    estruturas), tero de ser explorados em monoplio (monoplios naturais). Alguns destes

    sectores esto abertos iniciativa privada, ainda que em regime de concesso. o que se

    passa, por exemplo, com a distribuio de gua, gs ou electricidade. De facto, falta

    nestes casos um dos pressupostos bsicos da concorrncia: a pluralidade de ofertantes e

    a liberdade dos consumidores ou utilizadores para contratar com qualquer um deles

    A Concertao Social

    Trata-se de negociaes, ou debates conjuntos, entre o Governo, as confederaes sindicais e as

    confederaes patronais, sobre temas como salrios, poltica de emprego, dispositivos de proteco

    social, controlo de inflao, condies de melhoria da competitividade das empresas e da economia.

    Tem reconhecimento constitucional (56/2/d); 92/1 CRP) e enquadramento institucional prprio: a

    Comisso Permanente de Concertao Social, integrada no Conselho Econmico e Social.

    A Concertao Social , um mecanismo auto-regulador, atravs do qual as organizaes de cpula,

    representativas dos trabalhadores, participam, com intensidade varivel, nos processos de deciso que

    cabem na competncia do Governo

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    d. As polticas de regulao monetria e financeira O sistema financeiro estruturado por lei, de modo a garantir a formao,captao e a segurana das poupanas, bem como a aplicao dos meiosfinanceiros necessrios ao desenvolvimento econmico-social (101. CRP)

    O Sistema Financeiro refere-se:1) ao conjunto das Instituies monetrias e financeiras (sistema bancrio edemais instituies de crdito e sociedades financeiras)

    2) ao modo como regida a actividade financeira em geral.

    A relevncia pblica deste sistema e os fins que visa, justifica a sua sujeio aum regime especfico de controlo estadual e de regulao pblica, o que semanifesta desde logo no regime de acesso actividade financeira.

    e. A proteco do AmbienteHoje pode falar-se numa Constituio Ambiental atendendo ao leque dedisposies constantes da CRP neste domnio e sua transversalidade a umvasto conjunto de actividades econmicas.

    A consagrao do direito dos cidados a um ambiente de vida humano, sadio eecologicamente equilibrado. (66. CRP)

    A CRP desenvolve ainda com pormenor novos direitos em matriaprocedimental, nomeadamente:

    - O direito de petio (52./1 CRP): poder de qualquer cidado,individualmente ou por intermdio de organizaes de defesa do ambiente,apresentar aos rgos de soberania e outros, peties, representaes,reclamaes ou queixas para a defesa dos seus direitos, da Constituio, dasleis ou do interesse geral e, bem assim, o direito a serem informados, em prazorazovel, sobre o resultado da respectiva apreciao.

    - O direito de aco popular (52./3 CRP): poder de qualquer cidadointerpor aces em tribunal, nos casos e termos previstos na lei, incluindo odireito de requerer para o lesado ou lesados a correspondente indemnizao,tendo em vista promover a preveno, a cessao e a perseguio dasinfraces contra a sade pblica, os direitos dos consumidores, a qualidade devida, a preservao do ambiente e do patrimnio cultural.

    Sistema monetrio: (165/1/o) CRP)

    O exclusivo da emisso de moeda deixou de pertencer ao Banco de Portugal,

    sendo agora da competncia do BCE

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    2)As Polticas Gerais e SectoriaisACRP enuncia ainda uma srie de responsabilidades em matrias de polticas pblicasquer de natureza geral (a poltica oramental, fiscal, laboral), quer de naturezaespecfica, relativas a determinados sectores de actividade econmica (poltica agrcola,comercial, industrial)

    a. Poltica Oramental (105. a 107.; 162./d); 164./r) e214./1/a) CRP

    Ao nvel da poltica oramental, a Assembleia da Repblica tem competnciapara:

    y Aprovar a lei de enquadramento e o oramento de Estado e fiscalizarpoliticamente a sua execuo (106/1 e 164./r) CRP)

    y Aprovar e fiscalizar as contas do Estado (107. e 162./d))b. Poltica Tributria (103. a 105.; 165./1/i); 227./1/i) e 232./1

    CRP)

    A CRP procura estabelecer um equilbrio entre os valores de certeza esegurana, por um lado, e da justia por outro:

    Tendo em vista a defesa da certeza e segurana:

    y Estabelece o princpio da auto-tributao (os impostos devem seraprovados pelas pessoas que os tm de pagar, neste sentido, osimpostos so aprovados pela A.R. e pelos deputados eleitos pelo povo,da o povo que aprova os impostos) (165/1/i) CRP)

    y Estabelece o princpio da legalidade tributria, na sua dupla faceta depreeminncia de lei (os impostos tm de ser aprovados por lei) ereserva de lei (s o podem ser pela A.R.) (103./2; 165/1/i) CRP)

    y Exige autorizao anual para a cobrana dos impostos (105./1 CRP)y Os impostos obedecem ao princpio de tipicidade (s existem os fixados

    pela lei) (103./2 CRP)y Consagra o direito de resistncia dos cidados/contribuintes perante a

    aplicao de impostos que no tenham sido criados nos termos da CRP(103./3; 21. CRP)

    y Principio da no rectroactividade dos impostos (103./3 CRP)Tendo em vista o princpio da justia social:

    y Figura implicitamente na CRP o princpio da igualdade tributria, formale material (todos os cidados devem pagar impostos de acordo com asua capacidade contributiva) (12./1; 13./2 CRP)

    y Obriga a uma personalizao tendencial do IRS e progressividade dosescales e taxas desse imposto (104./1 CRP)

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    c. Poltica AgrcolaO actual texto constitucional deixou de se referir Reforma Agrria e desublinhar uma preferncia to clara pelos pequenos agricultores.

    No entanto, continua a admitir:

    y A eliminao do latifndio (possibilidade de expropriao dos latifndiose entrega das terras expropriadas a pequenos agricultores, cooperativase outras formas de explorao por trabalhadores)

    y O Redimensionamento do minifndio (estimulo ao associativismo dostrabalhadores rurais e dos agricultores e a formas de integrao a

    jusante e a montante).

    Assembleia da Repblica que compete fixar os limites mnimos e mximosdas exploraes agrcolas privadas (165./n) CRP)

    Hoje em dia a poltica agrcola largamente condicionada pela poltica da UE.

    d. Poltica Comercial e IndustrialCom a reviso de 1989, a CRP passou a incluir preceitos explicitamentededicados poltica comercial e industrial (99. e 100. CRP).

    Destaca-se a preocupao pelo enquadramento e apoio s relaes econmicasexternas, quer comerciais, quer industriais, num quadro de integraointernacional da economia portuguesa.

    3) rgos de definio da Poltica Econmicaa. O Governo ao Governo que compete, em grande medida, a definio da polticaeconmica, como rgo de conduo poltica geral do pas (182. CRP)

    As polticas econmicas so definidas em Conselho de Ministros ou emConselhos de Ministros especializados (184. CRP)

    Compete aos Ministros propor e executar as polticas das respectivas reas.

    b. A Assembleia da RepblicaNo obstante caberem ao Governo as principais competncias em matria

    econmica, estas encontram-se limitadas pelas competncias reservadas daAssembleia da Repblica. Nomeadamente, dois dos instrumentos principais dedefinio de polticas o Oramento Estado (OE) e as Grandes Opes doPlano (GOP), dependem da aprovao da Assembleia.

    As matrias de competncia da A.R. so definidas nos art.s 161 e ss.,destacam-se:

    y Apreciao do Programa do Governo (163./d) CRP)

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    y Aprovao da GOP e OE (161./g) CRP)y Concesso de autorizao ao Governo para contrair e conceder

    emprstimos (161./h) CRP)

    No domnio da competncia legislativa, h que distinguir a reserva absoluta e areserva relativa de competncia:

    y Reserva Absoluta (matrias em que a competncia exclusiva da A.R.) (164/g) CRP)

    y Reserva Relativa (a competncia da A.R., salvo autorizao por estaconcedida ao Governo) (165./e), g) a o), q), x), v) CRP)

    c. Os Governos e Assembleias Legislativas RegionaisA definio da poltica econmica especfica para as Regies Autnomas dacompetncia dos rgos regionais o Governo Regional e AssembleiaLegislativa Regional que aprovam, designadamente, o plano econmico, o

    oramento regional e as contas da regio (227./ a), b), c), p), r), s), v) CRP)Bibliografia

    SANTOS, Antnio. C., M. Eduarda GONALVES e Maria Manuel LEITO

    MARQUES, Direito Econmico, 5. Ed. Coimbra: Almedina. 2004 (pp. 31-79 e

    84-86); 6. Ed. (pp.33 a 79)

    A ordem jurdica comunitria da economia

    1. Evoluo histricaEm Junho de 1985, o Estado Portugus assinou o Tratado de Adeso s Comunidades

    Europeias CEE, CECA e Euratom, tendo ocorrido a sua adeso formal a estas

    organizaes em 1 de Janeiro de 1986. (Na altura achou-se que era bomhoje, nem

    tanto)

    A partir ento, Portugal passou a ficar vinculado ao chamado acquis communoutaire,

    constitudo pelo direito comunitrio originrio (i, os trs tratados constitutivos e

    subsequentes revises) e a todo o direito derivado (regulamentos, directivas)

    existentes naquela data e, ainda, a todo o direito comunitrio que viesse a ser criadoaps adeso (288. TFUE).

    Posteriormente, as Comunidades viram aprofundados os seus objectivos e acrescidos

    os seus instrumentos de aco, por fora da adopo de tratados de reviso,

    nomeadamente, o AUE, o TFUE, Tratado Amesterdo, Tratado de Nice e, mais

    recentemente, o Tratado de Lisboa, que entrou um vigor em 1 Janeiro 2010.

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    AUE assenta hoje em dois tratados:

    y Tratado da Unio Europeia (TUE)y Tratado do Funcionamento da Unio Europeia (TFUE)

    Segundo o Tribunal de Justia da Unio Europeia (TJUE), o direito europeu vincula no

    s as instituies da UE, mas tambm os Estados-Membros (EM), de acordo com oprincpio do primado do direito comunitrio (acolhido na Declarao n. 17, anexa

    Acta Final do Tratado de Lisboa)

    2. A constituio econmica da CE

    A Constituio Econmica da UE resulta de vrios preceitos, cujo ncleo duro

    composto pelas quatro liberdades fundamentais: a livre circulao de mercadorias,

    pessoas, servios e capitais. Estas liberdades configuram uma ordem econmica de

    concorrncia (princpios da liberalizao e da proteco contra falseamento da

    concorrncia).

    Existem ainda vrias normas referentes ao direito do ambiente e aos direitos dos

    consumidores.

    3. Objectivos, instrumentos e princpios da CE

    3.1 - Objectivos Gerais (3. TUE)

    Os objectivos gerais da UE esto fixados no art. 3. do TUE e no respectivo

    prembulo, devendo ser concretizados atravs das competncias e meios que

    lhe so atribudos pelo TFUE.

    Ao lado de objectivos ou fins econmicos, como:

    y Desenvolvimento harmonioso, equilibrado e sustentvel das actividadeseconmicas;

    y Crescimento sustentvel e no inflacionista;y Alto grau de competitividade e de convergncia de comportamentos das

    economias.

    Surgem outros com contedo aberto s dimenses social e politica (pleno

    emprego e um elevado nvel de proteco social, a igualdade entre os homens

    e mulheres, um elevado nvel de proteco e de melhoria de qualidade do

    ambiente, o aumento do nvel de vida, a coeso econmica e social e a

    solidariedade entre os EM)

    3.2 - Princpios fundamentais:

    A ordem europeia da economia baseia-se em certos princpios, uns de ndole

    jurdico-poltica (princpio das competncias de atribuio, solidariedade, no

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    discriminao, proporcionalidade, equilbrio institucional) outros de ndole

    predominantemente jurdico-econmica:

    - Princpio da economia de mercado aberta e da liberdade de

    concorrncia (119 e 127 TFUE)

    Supresso dos obstculos s trocas (Unio Aduaneira) e circulao dosfactores de produo (trabalho, capitais e iniciativas empresariais traduzidas no

    exerccio das liberdades de estabelecimento e de prestao de servios), de

    forma a favorecer uma repartio eficaz dos recursos (120.TFUE). Esta

    liberdade de concorrncia disciplinada por normas tendentes a garantir que a

    concorrncia no seja falseada no mercado interno (3./b) TUE), de forma a

    assegurar o progresso da Unio no seu todo e, simultaneamente, os interesses

    dos operadores econmicos em geral produtores comerciantes e

    consumidores.

    - Princpios Orientadores (119./3 TFUE):

    y Estabilidade dos preosA estabilidade dos preos essencial, na medida em que as tenses

    inflacionistas so causa de descontrolo de outros indicadores

    econmicos cuja estabilidade a nvel conveniente condio bsica

    de praticabilidade de uma moeda nica. (140./1; 127. TFUE)

    y Solidez das Finanas Pblicas e das condies monetriasOs dfices oramentais, impondo a obteno de emprstimos

    destinados a cobri-los, vo pesar na dvida pblica e esta, por

    sua vez, atravs de encargos (juros e amortizaes) que gera,

    acaba por se reflectir no dfice de ulteriores exerccios

    oramentais.

    Assim, o critrio da sustentabilidade das Finanas Pblicas exige,

    por um lado, a conteno do dfice oramental e, por outro, a

    reduo da dvida pblica para um valor que no implique uma

    presso excessiva sobre as finanas do Estado. (140./1 TFUE)

    y Sustentabilidade da balana de pagamentos- Princpio da subsidiariedade (5./3 TUE)

    Segundo o qual a UE intervm na medida em que os objectivos da aco

    encarada no possam ser suficientemente realizados pelos EM, e possam, pois,

    devido dimenso ou aos efeitos da aco prevista, ser melhor alcanados ao

    nvel da Unio.

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    - Princpio da No Discriminao

    Este princpio consagrado no art. 18. TFUE, encontra a sua expresso

    concreta noutras disposies, como sejam, os art.s 34., 35., 37./1 e 2,

    45./2 e 3, 49., 54., 57., 92., etc.

    O princpio probe todas as formas de discriminao em razo da nacionalidade,opondo assim um limite intransponvel ao exerccio, pelos EM, de qualquer

    competncia que tenha por efeito estabelecer no s discriminaes ostensivas

    e evidentes com base na nacionalidade como, igualmente, formas dissimuladas

    de discriminao que por aplicao de outros critrios possam conduzir ao

    mesmo resultado.

    - Princpio da Liberdade Econmica

    O princpio da liberdade econmica reflecte-se, precisamente, a realidade de

    que o mercado interno expresso de uma economia de mercado, de

    inspirao neoliberal o que explica a importncia que os tratados atribuem ao

    princpio da livre concorrncia.

    Tal principio comporta, por isso mesmo, a propriedade privada dos meios de

    produo (constitucionalmente garantida quer na ordem jurdica interna dos EM

    quer no quadro da Unio); comporta, igualmente, a liberdade de empreender e

    de agir no domnio econmico (livre iniciativa).

    A liberdade econmica implica, ainda, mais concretamente, o direito

    reconhecido aos operadores ou agente econmicos do mercado interno de

    circular livremente no espao da Unio para a se dedicarem a um trabalho

    assalariado ou independente (actividade artesanal ou profisso liberal), para se

    estabelecerem como comerciante ou produtores em qualquer domnio da vida

    econmica e para prestarem livremente os servios correspondentes ao seu

    ramo de actividade.

    E tudo isto no quadro de um estado de direito democrtico que salvaguarda os

    direitos que do contedo real ao princpio da liberdade econmica.

    Note-se, porm, que a liberdade econmica no absoluta, j que os Estados

    se reservam no direito de restringir o acesso dos operadores do mercado

    interno propriedade e ao uso de certos meios de produo e a determinadas

    actividades profissionais.

    Nos termos do art. 345. TFUE em nada prejudica o regime de propriedade

    nos EM.

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    Cada Estado pois livre no somente de manter, mas igualmente de alargar,

    em detrimento da propriedade privada, o sector pblico da economia e isto

    quer atravs da criao de novas empresas, quer mediante a socializao (por

    nacionalizao, expropriao, tomada de posio accionista, etc.) de empresas

    preexistentes.Mas se o Tratado no interfere com o regime de propriedade dos meios de

    produo, tem muito a ver com o uso que deles feito: as empresas do sector

    pblico esto, com efeito, no exerccio da respectiva actividade, sujeitas s

    regras comuns de concorrncia e os Estados obrigados a respeitar o princpio

    da no discriminao. (101. e 106. TFUE).

    4. reas e Instrumentos de Aco

    4.1. reas

    Na prossecuo dos seus objectivos a UE recorre quer a mtodos de integrao (em

    reas de competncia das instituies da UE) e de cooperao (em reas de

    competncia dos EM). As medidas de integrao podem ser negativas (eliminao de

    discriminaes, de restries e de obstculos) ou positivas (criao de instrumentos e

    instituies, para assegurar funcionamento eficaz do mercado):

    4.1.1. Medidas de integrao

    Criao de um Mercado Interno

    O Mercado Interno uma medida de integrao negativa, que implica um

    espao sem fronteiras internas no qual juridicamente assegurada a livre

    circulao das mercadorias, pessoas, dos servios e dos capitais (26./2 TFUE)

    Construo de Unio Econmica Monetria UEM

    A Construo da UEM uma expresso tpica de um mtodo de integrao

    econmica positiva. Sendo que:

    - A poltica econmica conduzida pelo Conselho/Comisso/Parlamento

    Europeu;

    - Apoltica monetria levada a cabo pelo BCE (instituio autnoma)

    Instrumentos de Integrao:

    y Regulamentos (art. 288. TFUE) : O regulamento tem carctergeral. obrigatrio em todos os seus elementos e directamente

    aplicvel em todos os EM

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    y Directivas (art. 288. TFUE): A directiva vincula o EMdestinatrio quanto ao resultado a alcanar, deixando, no

    entanto, s instncias nacionais a competncia quanto forma e

    aos meios

    4.1.2. Mtodos de cooperao interestadual

    Ao lado dos mtodos de integrao, a UE recorre frequentemente a mtodos de

    cooperao interestadual, cuja prossecuo implica a anuncia de todos os EM.

    Em regra estamos perante domnios de competncia exclusiva dos EM (como a

    fiscalidade, livre circulao de pessoas, direitos e interesses dos trabalhadores

    assalariados 114./2 TFUE).

    Instrumentos de cooperao:

    y Recomendaes (art. 288. TFUE): As recomendaes e os pareceresno so vinculativos

    y Acordos polticosy Soft Law

    5. Delimitao de Competncias

    A UE no dispe de atribuies genricas ou de competncias tendencialmente

    ilimitadas. A delimitao da esfera de interveno da UE perante os EM , de acordo

    com o art. 5./1 TUE, regida pelo principio das competncias de atribuio.

    O TFUE no seu art. 3. e ss., distingue trs tipos de competncias da Unio:

    5.1. Competncias Exclusivas

    y Unio Aduaneiray Regras de Concorrnciay Poltica Monetria para os EM da rea do Euroy Conservao dos Recurso Biolgicos do Mary Poltica Comercial Comum

    5.2. Competncias Complementares (a UE pode desenvolver aces destinadas a

    apoiar, coordenar ou completar as aces do EM, no que toca sua finalidade

    europeia):

    y Proteco da Melhoria da Sade Humanay Indstriay Culturay Turismo

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    y Educao e Formao Profissionaly Juventudey Desportoy Proteco Civily Cooperao Administrativa

    5.3. Competncias Partilhadas (aquelas que so partilhadas com o EM em todos os

    outros domnios):

    y Polticas Relativas ao Mercado Internoy Polticas Sociaisy Poltica de Coesoy Agriculturay Pescasy A

    mbientey Defesa dos Consumidoresy Transportesy Etc

    Esta forma de delimitao de competncias no entanto atenuada pelo principio das

    Competncias Implicitas, segundo o qual, se alguma aco da UE for considerada

    necessria para atingir, no quadro das polticas definidas nos tratados, um dos seus

    objectivos, sem que aqueles tenham previsto os poderes de aco necessrios para o

    efeito, o Conselho, deliberando por unanimidade, sob proposta da Comisso, e aps

    aprovao do PE, adoptar as disposies adequadas. (352. TFUE)

    6. As Liberdades Econmicas Fundamentais

    6.1. Liberdade de Circulao de Mercadorias (Unio Aduaneira)

    O mercado interno pressupe como primeiro fundamento a construo de uma Unio

    Aduaneira (fuso dos diversos territrios aduaneiros num s, com a correspondente

    abolio dos direitos aduaneiros e de encargos de efeito equivalente e proibio de

    restries quantitativas quotas impostas importao/exportao e medidas de

    efeito equivalente). Daqui resulta a Liberdade de Circulao de Mercadorias no

    territrio da Unio, aplicvel tanto a produtos originrios do EM, como a produtos

    provenientes de pases terceiros que, por terem cumprido as formalidades aduaneiras

    e pago os direitos exigveis, se encontrem em livre prtica (28. a 32. TFUE).

    Nos anos 90, trs passos foram tomados no sentido de facilitar a livre circulao:

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    y Aprovao de um Cdigo Aduaneiroy Estabelecimento de um regime transitrio de IVA (tendo em vista a abolio

    dos controlos aduaneiros por razes fiscais, enquanto no se verificasse a

    passagem da tributao do pas de destino para o pas de origem)

    y Reduo das barreiras ou entraves de natureza tcnica ao comrciointracomunitrio

    6.2. Liberdade de Circulao de Trabalhadores Assalariados

    A liberdade de circulao de trabalhadores assalariados dos EM visa a constituio de

    um mercado unificado do trabalho assalariado e funda-se na abolio de quaisquer

    discriminaes em razo da nacionalidade (e de sexo) entre os trabalhadores dos EM

    no que respeita a emprego, remunerao e demais condies de trabalho (45. a

    48. TFUE)

    Trabalhador Assalariado: abrange todo aquele que, mediante um contrato de

    trabalho ou um contrato de qualquer outro tipo, se encontra na dependncia de um

    empregador (que no seja a administrao pblica), exercendo uma actividade

    remunerada por conta alheia, sendo indiferente que a exera a tempo parcial ou que

    aufira eventualmente outros rendimentos de trabalho. A livre circulao de

    trabalhadores no se limita ao direito de responder a ofertas de emprego ou ao direito

    de livre deslocao, inclui tambm o direito residncia no Estado de acolhimento,

    mesmo depois de ter cessado o exerccio da actividade laboral, sendo que os membros

    da sua famlia so igualmente beneficirios desse direito. (45./3/c) e d) e 4; 48.

    TFUE).

    Hoje em dia a liberdade de circulao ultrapassa a esfera econmica. O conceito de

    cidadania da Unio (20. a 25. TFUE), reforou a proteco jurdica da liberdade das

    pessoas, estendendo-a a pessoas fora do sector produtivo (estudantes, reformados,

    turistas).

    Encargo de Efeito Equivalente:

    Qualquer direito, quaisquer que sejam a sua designao ou a sua tcnica, que, incidindo sobre

    o produto importado com excluso do produto nacional similar, tem, ao alterar o seu preo,

    sobre a livre circulao de mercadorias a mesma incidncia restritiva que um direito

    aduaneiro.

    Medida de Efeito Equivalente a uma Restrio Quantitativa:

    Qualquer regulamentao comercial dos EM susceptvel de entravar, directa ouindirectamente, actual ou potencialmente, o comrcio comunitrio.

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    6.3. Liberdade de Estabelecimento

    A liberdade de estabelecimento de cidados e empresas de um EM noutro EM diz

    respeito quer ao acesso s actividades no assalariadas e seu exerccio (trabalhadores

    independentes, profisses liberais, comerciantes e artesos, etc.), quer constituio e

    gesto de empresas e sociedades (liberdade de empresa) nas condies definidas pelalegislao do pas de estabelecimento para os seus prprios nacionais (49. a 55.

    TFUE)

    Entende-se por Sociedade: todas as pessoas colectivas com fins lucrativos, incluindo

    sociedades de direito civil ou comercial, cooperativas e outras pessoas colectivas de

    direito pblico ou privado (54. TFUE).

    Este direito no se circunscreve ao direito de abrir um estabelecimento principal, mas

    abrange igualmente os estabelecimentos secundrios (filiais, agncias, sucursais),

    desde que estes possuam um vnculo (sede social, administrao central ou

    estabelecimento principal) com a economia de um dos EM (49. e 54. TFUE)

    Na base desta liberdade est ainda uma exigncia de igualdade de tratamento (18. e

    49. TFUE). Assim, qualquer EM pode estabelecer limitaes liberdade de

    estabelecimento (incluindo monoplios profissionais), desde que esse regime no

    discrimine entre nacionais e membros de outros pases de Unio.

    6.4. Liberdade de Prestao de Servios

    O TFUE probe igualmente as restries livre prestao de servios na UE a efectuar

    por nacionais de um EM estabelecidos noutro EM (56. e ss).

    Prestao de Servios: abrange as prestaes normalmente realizadas mediante

    remunerao, desde que no sejam reguladas pelas disposies relativas livre

    circulao de mercadorias, de capitais ou de pessoas.

    A liberdade de prestao de servios, permite s pessoas fsicas e s sociedade

    nacionais dum EM, estabelecidas sobre o seu territrio, oferecer, sem se instalar, a

    ttulo ocasional, servios a clientes situados num outro EM.

    6.5. Liberdade de Circulao de Capitais

    A liberdade de circulao de pagamentos, consiste na supresso das restries

    impeditivas de um operador de um EM poder efectuar a contrapartida de uma

    prestao fornecida por um operador de outro EM. (63./2 TFUE).

    Na verdade, o exportador de mercadorias quer receber, em entraves de qualquer

    ordem, o valor dos bens que vendeu para outros EM, tal como o importador de tais

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    bens precisa de obter livremente no seu pas e remeter para o do seu fornecedor a

    moeda correspondente ao preo dos bens adquiridos.

    Teria, por isso, de ser prevista a liberdade da converso e transferncia de moeda para

    a efectivao dos pagamentos exigidos pelo normal funcionamento do mercado

    interno.Alm disso, e por que a economia da Unio no est isolada do mundo, teriam de ser

    eliminadas quaisquer restries aos pagamentos internacionais, assim o art. 63 foi

    mais longe e proibiu tambm as restries aos pagamentos entre EM e pases

    terceiros.

    J em matria de liberdade de movimento de capitais, e por fora do art. 63./1, os

    operadores do mercado interno da UE podem movimentar livremente capitais de que

    disponham ou obtenham no mercado financeiro, transferindo-os de EM para EM ou

    para pases terceiros para fim de investimento directo ou meras aplicaes financeiras.

    6.6. Liberdade de Concorrncia

    A concorrncia uma das consequncias das liberdades econmicas acima referidas,

    em particular da liberdade de empresa. considerada o motor dos sistema de

    economia de mercado, mas que dificilmente subsistiria se deixado entregue a si

    prprio. Assim houve necessidade de garantir que esta no fosse falseada, atravs da

    atribuio de competncia exclusiva UE de estabelecer as regras de concorrncia

    necessrias ao funcionamento do mercado interno (3./1/b) TFUE).

    Sem a efectivao deste princpio poderia verificar-se a permanncia ou criao de

    mercados restritos, fechados, e de barreiras artificiais ao comrcio no mercado interno

    (intracomunitrio) atravs de acordos entre empresas, a explorao abusiva de

    posies dominantes no mercado, com efeitos restritivos sobre a competio

    empresarial, bem como a realizao de operaes de concentrao danosa da

    concorrncia. Do mesmo modo, tambm certos auxlios concedidos pelos Estados a

    empresas ou sectores de produo mostram-se incompatveis com o mercado interno

    porque deformadores da concorrncia e do comrcio no interior da Unio.

    7. Instituies comunitrias

    A Unio dispe de um quadro institucional que visa promover os seus valores,

    prosseguir os seus objectivos, servir os seus interesses, os dos cidados e os dos EM,

    bem como assegurar a coerncia, a eficcia e a continuidade das suas polticas e das

    suas aces.

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    As instituies da Unio so:

    ()

    2. Cada instituio actual dentro dos limites das suas atribuies que lhe so

    conferidas pelos Tratados, de acordo com os procedimentos, condies e finalidades

    que estes estabelecem. As instituies mantm entre si uma cooperao leal.() Art. 13. TUE

    - Parlamento Europeu (14. TUE; 223. e ss TFUE)

    Entidade de direco e de controlo poltico.

    Juntamente com o Conselho, exerce funo legislativa e oramental. Exerce

    tambm funes de controlo poltico e funes consultivas.

    Os seus membros so eleitos, por sufrgio universal directo, livre e secreto, por

    um mandato de 5 anos.

    Poder Legislativo:

    y Processo de Co-Deciso (c/ o Conselho) transportes, ambiente eproteco dos consumidores

    Funes Consultivas:

    y Fiscalidade, poltica agrcola, industrialPoder Oramental:

    y Com o Conselho partilha a autoridade sobre o oramento da Unio,verificando permanentemente as despesas da UE.

    Poder de Controlo:

    y Controlo democrtico sobre as outras instituies.y Representa as principais correntes poltico-ideolgicas existentes, sob a

    forma de grupos parlamentares (223. e ss. TFUE)

    - Conselho Europeu (15. TUE; 235. e 236. TFUE)

    O Conselho Europeu d Unio os impulsos necessrios ao seu

    desenvolvimento e define as orientaes e prioridades polticas gerais da Unio.

    O Conselho no exerce funo legislativa (n. 1)

    y Entidade de Direcoy Foi criado informalmente em 1974 por uma cimeira de Chefes de

    Estado.

    y Rene os Chefes de Estado ou de Governo dos EM e o Presidente daComisso (n.2)

    y Rene 2 vezes por semestre (n. 3)y Pronuncia-se, em regra, por consenso (n. 4)

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    y Nomeia o Alto Representante da Unio para os Negcios Estrangeiros ea Politica de Segurana, com o acordo do Presidente da Comisso.

    y o rgo de deciso poltica.Ao integrar os responsveis mximos pela direco poltica dos EM, o

    Presidente da Comisso e o Presidente do prprio Conselho Europeu, estainstituio torna-se naturalmente o rgo de cpula das CE, aquele onde a

    concertao das posies e a definio das orientaes acaba por ter lugar

    ao mais alto nvel

    - Conselho (16. TFUE; 237. e ss. TFUE)

    y Entidade de direco.y composto por um representante de cada EM ao nvel ministerial, com

    poderes para vincular o Governo do respectivo EM e exercer o direito de

    voto (n. 2)

    y Juntamente com o PE, exerce a funo legislativa e oramental. OConselho exerce ainda funes de definio das polticas e de

    coordenao () (n. 1)

    y O Conselho delibera por maioria qualificada, salvo disposio emcontrrio dos Tratados (n. 3) (pode deliberar por maioria simples ou

    por unanimidade)

    y O Conselho pode assumir vrias formaes (actualmente 10):o Assuntos Geraiso Negcios Estrangeiroso Assuntos Economico-Financeiros (ECOFIN)o Justia e Assuntos Internoso Emprego, Poltica Social, Sade, Proteco dos Consumidoreso Competitividade (mercado Interno, Indstria, Investigao e

    Espao)

    o Transportes, Telecomunicaes e Energiao Agricultura e Pescaso Ambienteo Educao, Juventude, Cultura e Desporto

    - Comisso Europeia (17. TUE; 244. e ss TFUE)

    y Entidade de direco.

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    y AComisso promove o interesse geral da Unio e toma as iniciativasadequadas para o efeito. AComisso vela pela aplicao dos Tratados

    bem como das medidas adoptadas pelas instituies por fora destes

    (guardi dos Tratados).

    y Controla a aplicao do direito da Unioy Executa o oramento e gere programas () (n. 1)y Os actos legislativos, s podem ser adoptados sob proposta da

    Comisso () (n. 2)

    y A Comisso actualmente constituda por 27 Comissrios (n. 4); apartir de 2014 (2/3 do nmero dos EM () (n. 5)

    - Tribunal de Justia (19. TUE; 251. ss. TFUE)

    yEntidade de controlo judicial.

    y Assegura o cumprimento e a interpretao do Direitoy Decide sobre:

    o Recursos interpostos pelos EM, pelas instituies, por pessoassingulares ou colectivas

    o Interpretao do direito comunitrio a pedido de rgosJurisdicionais dos EM interpretao uniforme do direito

    y composto de 1 juiz de cada EM e assistido por advogados-geraisy Inclui: Tribunal de Justia; Tribunal Geral e Tribunais Especializados

    (257. TFUE)

    - BCE (127. e ss; 282 e ss. TFUE)

    y Entidade de direcoy O BCE dotado de personalidade jurdicay Tornou-se uma instituio da UE com a entrada em vigor do Tratado de

    Lisboa

    y Juntamente com os Bancos Centrais dos EM integra o Sistema Europeude Bancos Centrais

    y Cabe-lhe definir e executar a poltica monetria e autorizar a emisso demoeda (zona euro)

    y Misso:o Manter a estabilidade dos preos, controlando a inflao

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    o Velar pela estabilidade do sistema financeiro supervisionando osmercados e as instituies financeiras

    - Tribunal de Contas (285. e ss. TFUE)

    y Entidade de controlo oramentaly Fiscaliza as contas da Unio.y composto por 1 nacional de cada EM, que exerce as suas funes com

    total independncia (286./3)

    y Assiste o PE e o Conselho no exerccio da respectiva funo de controloda execuo do oramento (287. TFUE)

    - rgos Auxiliares

    yComit dos Representantes Permanentes do E

    M(COREPER)

    (16./7 TUE)

    Prepara os trabalhos do Conselho, assegura o dilogo permanente com a

    Comisso e a ligao com as estruturas de coordenao das questes

    comunitrias nos EM

    y Comit Econmico Social (301. TFUE)rgo representativo de organizaes patronais, sindicais e de outros

    sectores da vida scio-econmica. Tem natureza consultiva e tcnica.

    y Comit das Regies (305. TFUE) composto por representantes das colectividades regionais e locais. Tem

    natureza consultiva.

    y Provedor de Justia (228. TFUE) eleito pelo PE.

    Analisa queixas de cidados da Unio ou de pessoas singulares ou

    colectivas residentes, respeitantes a casos de m administrao na

    actuao das instituies, rgos ou organismos da Unio ()

    y Banco Europeu de Investimento (308. TFUE)Tem personalidade jurdica e os seus membros so os EM.

    Misso:

    - Contribuir para o desenvolvimento equilibrado e harmonioso do mercado

    interno financiando projectos:

    o De valorizao de regies menos desenvolvidas

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    o De modernizao ou reconverso de empresas ou de criaode novas actividades

    o De interesse comum para vrios EMy Banco Europeu de Reconstruo e DesenvolvimentoFoi criado fora dos tratados (Acordo Constitutivo de 1991)Apoio financeiro ao Leste Europeu

    8. Articulao entre as Constituies Econmicas (Nacional e Europeia)

    A Constituio Econmica da UE:

    y Ope-se a um sistema de economia planificada autoritria ou mesmoexcessivamente dirigista, centrado na propriedade pblica dos meios de

    produo, como era no caso dos sistemas colectivistas do Leste europeu.

    y Mas, afasta-se igualmente de um sistema liberal clssico e puro (estado polcia)y O art. 345. TFUE estipula que os tratados em nada prejudicam o regime da

    propriedade dos EM. No entanto, prevem regimes especficos relativos aos

    monoplios pblicos (art. 37 TFUE); e aos servios pblicos (servios de

    interesse econmico geral) (14.; 106. TFUE).

    Se as ideias de alargamento dos mercados, a eliminao de barreiras, e de livre

    circulao de factores de produo, so inerentes viso clssica (laissez-passer),

    j o apelo para a instituio de uma governao econmica, a realizao de

    polticas comuns, a instituio de autoridades supraestaduais., afastam-se dessa

    ptica, adoptando, por vezes, mecanismos de forte pendor dirigista e proteccionista

    (laissez-faire) (poltica agrcola, ) e revelando uma concepo de integrao

    econmica organizada por poderes polticos e sociais (lobbies includos) e no

    deixada ao livre jogo das foras do mercado. O modelo econmico oscila assim

    entre uma economia aberta de livre concorrncia e uma economia social de

    mercado

    Constituio da Repblica Portuguesa:

    Aps alguma contestao e discusso, a reviso constitucional de 2004 veio instituir:

    Art. 8. CRP/4: As disposies dos tratados que regem a UE e as normas emanadas

    das suas instituies, no exerccio das respectivas competncias, so aplicadas na

    ordem interna, nos termos definidos pelo Direito da Unio, com respeito pelos

    princpios fundamentais dos Estado de Direito Democrtico.

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    Bibliografia

    SANTOS, Antnio. C., M. Eduarda GONALVES e Maria Manuel LEITO

    MARQUES, Direito Econmico, 5. Ed. Coimbra: Almedina. 2004 (pp. 87-

    118); 6. ED. (pp. 81 a 108)

    Administrao Econmica

    Algumas noes:

    Administrao Econmica:

    Em sentido material aco do Estado em matria econmica dirigida satisfao

    das necessidades colectivas.

    Em sentido orgnico aparelho institucional do Estado dotado da capacidade de

    decidir, gerir e aplicar os recursos humanos e os meios tcnicos necessrios no

    domnio econmico.

    Pessoas colectivas pblicas: pessoas colectivas criadas por iniciativa pblica,

    encarregadas de realizar um conjunto de interesses pblicos, dispondo, para isso, de

    poderes prprios distintos dos poderes normais das pessoas colectivas privadas.

    rgos administrativos: vrias subdivises das pessoas colectivas pblicas, que

    exercem mltiplas funes, como as de deliberao, execuo, consulta e fiscalizao.

    Atribuies: poderes genricos detidos por uma pessoa colectiva pblica orientados

    para a satisfao de interesses pblicos.

    Competncias: poderes especficos de cada rgo administrativo de uma pessoa

    colectiva pblica.

    Delegao de poderes: transferncia, dentro de uma mesma pessoa colectiva

    pblica, de competncias dos rgos centrais para os rgos perifricos, em termos

    geogrficos e funcionais, tendo em vista um descongestionamento das tarefas.

    Devoluo de poderes: transferncia de atribuies do Estado para outras pessoas

    colectivas pblicas por ele criadas.

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    1. Administrao directa, administrao indirecta e administrao autnoma

    A alnea d) do 199. da CRP estabelece que compete ao Governo, no exerccio das