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I FUNÇÃO DA PENHORA A realização coactiva das obrigações patrimoniais é garantida por via da acção executiva através da qual o credor pode promover a execução do património do devedor ou, excepcionalmente, de terceiro, nos termos genericamente previstos nos artigos 817.º a 829.º do CC. Consoante a natureza da prestação, a execução pode revestir uma de duas modalidades: a) – a execução por equivalente , a que se referem os artigos 817.º a 826.º do CC, quando visa a satisfação coerciva de uma prestação pecuniária, que é operada mediante a forma de processo para pagamento de quantia certa regulada nos artigos 810º a 923º do CPC; b) – a execução específica 1 , prevista nos artigos 827º a 829º do CC, a ser efectivada, consoante o caso, por via da forma de processo para entrega de coisa certa, configurada nos artigos 928º a 931º do CPC, ou da forma de processo para prestação de facto, disciplinada nos artigos 933º a 942º do mesmo Código, quando se trate de obrigação exequenda que tenha por objecto: - uma prestação de coisa não pecuniária; - ou uma prestação de facto positivo ou negativo, fungível ou infungível, 1 Importa não confundir a execução específica de prestação patrimonial com a execução específica de mero efeito jurídico obtida por via de acção declarativa constitutiva, como sucede no âmbito da execução específica do contrato-promessa prevista no artigo 830.º do CC. 1

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I

FUNÇÃO DA PENHORA

A realização coactiva das obrigações patrimoniais é garantida por via da acção executiva através da qual o credor pode promover a execução do património do devedor ou, excepcionalmente, de terceiro, nos termos genericamente previstos nos artigos 817.º a 829.º do CC.

Consoante a natureza da prestação, a execução pode revestir uma de duas modalidades:

a) – a execução por equivalente, a que se referem os artigos 817.º a 826.º do CC, quando visa a satisfação coerciva de uma prestação pecuniária, que é operada mediante a forma de processo para pagamento de quantia certa regulada nos artigos 810º a 923º do CPC;

b) – a execução específica1, prevista nos artigos 827º a 829º do CC, a ser efectivada, consoante o caso, por via da forma de processo para entrega de coisa certa, configurada nos artigos 928º a 931º do CPC, ou da forma de processo para prestação de facto, disciplinada nos artigos 933º a 942º do mesmo Código, quando se trate de obrigação exequenda que tenha por objecto:

- uma prestação de coisa não pecuniária; - ou uma prestação de facto positivo ou negativo, fungível ou infungível, De resto, a execução por equivalente funda-se no direito que

assiste ao credor de executar do património do devedor, como garantia geral que é do cumprimento das obrigações, nos termos proclamados nos artigos 601º e 817º do CC.

Mas esta modalidade de execução pode também alcançar o património de um terceiro, nos termos excepcionalmente previstos no artigo 818º do CC, quer nos casos em que os bens de terceiro se encontrem onerados com uma garantia real do crédito, quer quando os bens adquiridos por terceiro tenham sido objecto de acto praticado em prejuízo do credor, que haja sido procedentemente impugnado (impugnação pauliana – artigos 610º a 617º do CC).

Ora, como ensina o Prof. Alberto dos Reis2, a execução por equivalente encerra diversos tipos de providências: providências de afectação de determinados bens aos fins da execução, através da

1 Importa não confundir a execução específica de prestação patrimonial com a execução específica de mero efeito jurídico obtida por via de acção declarativa constitutiva, como sucede no âmbito da execução específica do contrato-promessa prevista no artigo 830.º do CC.2 In Processo de Execução, Vol. 1, Reimpressão, Coimbra Editora, 1982, pag. 37.

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penhora; providências expropriativas para obter os meios necessários ao pagamento devido (v.g. venda executiva) e, por fim, providências satisfativas destinadas a concretizar a atribuição ao credor do produto da venda, dos rendimentos consignados ou da própria coisa afectada, a título de cumprimento forçado da obrigação exequenda.

Assim, a penhora consiste na afectação de bens (incluindo direitos) patrimoniais do executado, e eventualmente de terceiro, pa-ra satisfazer – seja por via de entrega do dinheiro penhorado, seja me-diante adjudicação, consignação de rendimentos ou pelo produto da venda executiva dos bens penhorados - o direito do exequente nos casos em que a respectiva obrigação não tenha sido voluntariamente cumprida pelo devedor - artigo 817.º do CC.

Em suma, a penhora tem, genericamente, a função de individualizar ou especificar esses bens e de colocá-los sob a alçada do tribunal, para serem destinados à realização do crédito exequendo pelos modos de pagamento acima indicados.

Tal função desdobra-se, por suas vez, nas seguintes funções mais elementares3 de:

a) - individualização de bens determinados, no acervo do pa-trimónio do devedor, o que se prende com o objecto da penhora e com o procedimento processual para a sua efectivação (modos de realização da penhora: arts. 838.º (imóveis), 848.º a 849.º (móveis não sujeitos a registo); art. 851.º (móveis sujeitos a registo); art. 856º (direitos de crédito); art. 857.º (títulos de crédito), art. 860º-A (direitos ou expectativas de aquisição); art. 861.º (rendas, abonos, vencimentos e salários); art. 861.º-A (depósitos bancários e outros valores mobiliários); art. 862.º (direitos sobre bens indivisos, direitos reais cujo objecto não deva ser apreendido, direitos patrimoniais emergentes da propriedade intelectual e quotas de sociedades) e art. 862.º-A (estabelecimento comercial), todos do CPC;

b) - conservação dos bens penhorados, em que releva a situação processual desses bens e a sua administração: - poderes de administração do fiel depositário - art. 843.º do CPC, com referên-cia ao art. 1187.º do CC; na penhora de direitos, entrega ou depósito da prestação devida (art. 860.º CPC) e quanto a actos conservatórios (art. 856.º, n.º 6, do CPC);

3 Quando a penhora recair sobre bem já onerado com direito real de garantia a favor do crédito exequendo, aquela só têm a função prática da conservação do bem, um vez que este já encontra individualizado e que o efeito relevante é o da constituição de tal garantia.

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c) - garantia para a satisfação do crédito dado à execução, o que respeita à natureza e efeitos da penhora: - art. 819.º a 822.º do CC.

II

OBJECTO DA PENHORA

1. Preliminar

A determinação do objecto da penhora importa a referência a dois parâmetros basilares:

A – A penhorabilidade / impenhorabilidade dos bens (arts. 821.º, n.º 1 e 2, do CPC), parâmetro marcadamente técnico-jurídico;

B – A suficiência dos bens a penhorar, à luz do princípio da proporcionalidade aflorado nos artigos 821.º, n.º 3, e 834.º, n.º 1, do CPC).

O regime jurídico da penhorabilidade está organizado segundo determinadas categorias em função do respectivo âmbito ou da natureza dos bens, como se depreende dos artigos 822.º a 828.º do CPC.

O quadro legal das impenhorabilidades e das penhorabilidades parciais ou específicas constitui como que um baluarte jurídico destinado a defender certos elementos patrimoniais em função da sua natureza ou da sua finalidade geral ou particular, relevando, por isso, em sede do controlo da legalidade da penhora, quer pelo agente de execução, no momento em que procede à penhora, quer pelo juiz tanto nos casos especiais em que deva intervir previamente, proferindo despacho autorizativo, como quando a questão lhe seja suscitada por iniciativa do agente de execução ou por via do mecanismo de oposição à penhora.

Assim, se o agente de execução tiver dúvidas sobre a penhorabilidade de determinado bem, deverá suscitar a questão ao juiz, ao abrigo do disposto na alínea d) do n.º 1 do artigo 809.º do CPC.

Por razões de economia de exposição, começaremos por abordar o segundo parâmetro enunciado.

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2. Da suficiência dos bens a penhorar

. Segundo o n.º 3 do artigo 821.º do CPC, a penhora limita-se aos bens necessários ao pagamento:

a) – da dívida exequenda, a qual, em regra, compreenderá : - o capital e os juros moratórios e compulsórios – nomea-

damente nos termos dos artigos 46.º, n.º 2, do CPC e 829.º-A, n.º 3 e 4, do CC - , vencidos até à data da instauração da execução ;

- os juros que se vençam na pendência da execução, a liquidar a final pela secretaria, nos termos do artigo 805.º, n.º 2,

do CPC; b) – das despesas previsíveis da execução, as quais, para efeito

de realização da penhora e sem prejuízo de ulterior liquidação, se presumem no valor de :

- 20% do valor da execução, quando esse valor se contiver dentro do valor da alçada do tribunal de comarca (inferior ou igual a € 5.000,00);

- 10% do valor da execução, nos casos em que tal valor exceda o valor da alçada do tribunal de comarca sem exceder quatro vezes o valor da alçada do tribunal da relação – 4 vezes € 30.000,00 = € 120.000,00;

- 5% do valor da execução, se este exceder quatro vezes o valor da alçada da relação (superior a € 120.000,00).A este propósito, importa referir que, nos termos do artigo 455.º

do CPC, as custas da execução saem precípuas do produto dos bens penhorados – o que significa que são pagas em primeiro lugar – e incluem :

- a taxa de justiça e encargos relativos à execução (vide artigo 7.º; n. 1 e 2, e Tabela I-B anexa, do Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo Dec.-Lei n.º 34/2008, alterado pelo Dec.-Lei n.º 181/2008, de 28 de Agosto4.

- as demais despesas a que se refere o artigo 455.º do CPC.

. De harmonia com o disposto no n.º 1 do artigo 834.º do CPC, a penhora far-se-á pela ordem preferencial ali indicada, devendo atender-se, para tanto, ao limite traçado no nº 3 do sobredito artigo 821.º do CPC. Porém, segundo o n.º 2 do artigo 834.º do CPC, ainda que a pe-nhora não se adeqúe, por excesso, ao montante do crédito exequendo

4 A mais recente alteração do Regulamento das Custas Processuais (6.ª alteração) foi introduzida pela Lei n.º 7/2012, de 13 de Fevereiro, que entra em vigor 45 dias depois da sua publicação.

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é admissível a penhora de imóveis ou de estabelecimento comercial, quando a penhora de outros bens presumivelmente não permita a satisfação integral do credor no prazo de seis meses.

Além disso, a penhora pode ser reforçada ou substituída nas situações prefiguradas nas diversas alíneas do n.º 3 do referido artigo 834.º.

3. Penhorabilidade/Impenhorabilidade

3.1. Da penhorabilidade subjectiva

3.1.1. Regra

3.1.1.1. Dívidas do devedor principal

Pelas dívidas do devedor principal respondem os bens que lhe pertencem – mesmo que se encontrem, por qualquer título em poder de terceiro (art. 831.º, n.º 1, do CPC), nos termos previstos nos artigos 601.º a 603.º e 817.º do CC e artigo 821.º, n.º 1, do CPC, ou seja:

a) – a generalidade dos bens do património do devedor – art. 601.º do CC, salvo se estiverem isentos de penhora;

b) – bens determinados em virtude de convenção das partes que limite a responsabilidade do devedor a alguns dos seus bens, ao abrigo do disposto no artigo 602.º do CC;

c) – prioritariamente, os bens do devedor onerados com di-reito real garantia constituído para satisfação do crédito exequendo - artigos 835.º, n.º 1, do CPC e 697.º, 678º, 753.º e 759.º, n.º 3, do CC.

3.1.1.2. Devedores subsidiários

São devedores subsidiários os seguintes :

a) – O fiador que goze do benefício da prévia excussão dos bens do devedor principal, nos termos previstos nos artigos 638.º e 639.º do CC.

O fiador não goza do benefício de prévia excussão e portanto responde como devedor principal (a chamada fiança solidária):

- quando tenha assumido a obrigação de principal pagador – arti-go 640.º, alínea a), do CC;

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- se renunciar a tal benefício, de forma expressa ou tácita, nomeadamente quando deixe de provocar o chamamento do afiançado à acção declarativa, nos termos previstos nos artigos 640.º, alínea a), e 641.º, n.º 2, do CC;

- quando o devedor ou o dono dos bens onerados com garantia não puder ser demandado no território nacional, em virtude de facto posterior à constituição da fiança – art. 640º, alínea b), do CC;

- quando se trate de fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja comerciante – artigo 101.º do Código Comercial.

b) – Os sócios das sociedades civis por dívidas sociais, nos ter-mos do artigo 997.º, n.º 1 e 2, do CC;

c) – Os sócios das sociedades comerciais em nome colectivo (artigo 175.º, n.º 1, do CSC) e os sócios comanditados das sociedades em comandita (art. 465.º, n.º 1, do CSC).

3.1.2. Excepção – penhora de bens de terceiro (art. 821.º, n.º 2, do CPC)

. Os bens de terceiro respondem, excepcionalmente, por dívidas de outrem em duas situações típicas:

a) – Em caso de procedência de impugnação pauliana, deduzida pelo credor contra o devedor e o terceiro beneficiário de actos de aliena-ção ou de oneração de bens desse devedor, que envolvam diminuição da garantia patrimonial do crédito, nos termos previstos nos artigos 610.º e seguintes do CC, mais precisamente em conformidade com o disposto nos artigos 616.º, n.º 1, e 818.º, 2.ª parte, do CC e artigo 821.º, n.º 2, do CPC;

b) – Quando os bens de terceiro se encontrem onerados com di-reito real de garantia (consignação de rendimentos, penhor, hipoteca, privilégio creditório e direito de retenção) a favor do crédito exequendo – artigos 656.º a 761.º e 818.º do CC; artigo 821.º, n.º 2, do CPC.

Nesta última hipótese, a execução dos bens de terceiro não é prioritária em relação à penhora dos bens do devedor, assistindo ao credor a faculdade de demandar apenas o devedor e penhorar os respectivos bens, sem accionar a garantia real contra o terceiro, como decorre do disposto nos artigos 56.º, n.º 2, do CPC, na parte em que refere “se o exequente pretender fazer valer a garantia”.

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. Em qualquer caso de penhora de bens de terceiro onerados em relação à dívida exequenda, o terceiro deve ser sempre demandado como executado – artigos 56.º, n.º 2, e 821.º, n.º 2, parte final, do CPC.

Assim, no caso de ter sido julgada procedente a acção pauliana, o credor pode então instaurar então execução contra o adquirente do bem, nos termos dos artigos 616.º, n.º 1, e 818.º, 2.ª parte do CC e artigos 56.º, n.º 2, e 821.º n.º 2, do CPC. Se já houver execução pendente contra o devedor, o exequente poderá requerer o chamamento do adquirente mediante o incidente de intervenção principal provocada;

3.2. Da Penhorabilidade / Impenhorabilidade objectiva

3.2.1. Impenhorabilidades de matriz substantiva

3.2.1.1. Absoluta ou total - Art. 822.º, alíneas a) e b) do CPC

a) – Os bens impenhoráveis por disposição especial (art. 822.º, proémio, do CPC) e as coisas ou direitos inalienáveis, nomeadamente nos casos previstos:

- nos artigos 202.º, n.º 2 (coisas fora do comércio jurídico); 231.º (caducidade do direito potestativo de aceitação da proposta contratual); 420.º (intransmissibilidade do direito e da obrigação de preferência, como regra); 496.º, n.º 2; 1059.º; 1135.º, alínea f); 1184.º (bens adquiridos por mandatário no âmbito do mandato sem representação); 1488.º (direito de uso e habitação); 1545.º (inseparabilidade das servidões prediais), n.º 1; 2008.º, n.º 2, (crédito de alimentos) e 2.292.º todos do CC;

- arts. 1106.º do CC, aditado pelo art. 3.º da Lei n.º 6/2006, de 27-5, que aprovou o Novo RAU – direito de arrendamento habitacional;

- os géneros e mercadorias depositados nos armazéns gerais, nos termos do artigo 414.º do Cod. Comercial;

- os direitos relativos ao nome ou à insígnia, em separado, do estabelecimento – arts. 31.º, n.º 3, e 297.º do Código da Pro-priedade Industrial (CPI), aprovado pelo Dec.-Lei n.º 36/2003, de 5-3, republicado pelo Dec.-Lei n.º 143/2008, de 25-7;

- a propriedade das recompensas, em separado, dos bens de que são acessório, nos termos do artigo 279.º do CPI;

- a participação social no capital das sociedades civis, nos termos do art. 999.º do CC, e das sociedades em nome colectivo, nos termos do art. 183.º, n.º 1, do CSC;

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- os manuscritos inéditos, esboços, desenhos, telas ou escul-turas, quando incompletos, salvo oferecimento ou consentimento do autor, nos termos prescritos no art. 50.º do Código do Direito do Autor e dos Direitos Conexos (CDADC), aprovado pelo Dec.-Lei n.º 63/85, de 14-3, republicado pela Lei n.º 16/2008, de 1 de Abril;

- o direito à indemnização por acidentes de trabalho e por doenças profissionais, nos termos dos artigos 302.º e 309.º do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 99/2003, de 27-8;

- a prestação inerente ao direito do rendimento social de inserção, nos termos do artigo 23.º da Lei n.º 13/2003, de 21-5, alterada pela Lei n.º 45/2005, de 29-8 e pela Lei n.º 70/2010, de 16-6.

b) – Os bens do domínio público do Estado ou das restantes pessoas colectivas de direito público - não assim os bens do domínio privado dessas entidades – artigo 822.º, alínea b), do CPC; art. 84.º da Constituição; artigo 202.º, n.º 2, do CC.

O domínio público segmenta-se, por seu turno, em várias categorias, algumas delas com especificação constitucional, designadamente :

. o domínio hídrico marítimo, fluvial e lacustre – al. a) do n.º 1 do artigo 84.º da CRP;

. o domínio aéreo – al. b) do n.º 1 do artigo 84.º da CRP;

. o domínio radioeléctrico;

. o domínio geológico – al. c) do n.º 1 do artigo 84.º da CRP;

. o domínio infraestrutural rodoviário, fluvial, ferroviário, portuário e aeroportuário - – als. d) e e) do n.º 1 do artigo 84.º da CRP;

. o domínio cultural, em que se inclui o monumental, museológico e o arqueológico.Todavia, compete à lei definir quais os bens que integram o

domínio público do Estado, das Regiões Autónomas e das autarquias locais, bem como o respectivo regime, condições de utilização e limites, nos termos previstos nos artigos 84.º, n.º 2, 164.º, al. g), e 165.º, n.º 1, al. v), da CRP, sendo muito vasta a legislação sectorial sobre tal matéria5.

5 Para um conhecimento aprofundado sobre a dominialidade pública, vide, por todos, Ana Raquel Gonçalves Moniz, O Domínio Público – O Critério e o Regime Jurídico da Dominialidade, Almedina, 2005.

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3.2.1.2. Impenhorabilidade relativa

Estão isentos de penhora os bens: - do Estado e das restantes pessoas colectivas de direito público6; - de entidades concessionárias de obras ou serviços públicos; - de pessoas colectivas de utilidade pública7; quando especialmente afectados à realização dos fins de utilidade pública, salvo quando se trate de execução para pagamento de dívida com garantia real sobre esses bens (artigo 823.º, n.º 1, do CPC). No que respeita aos bens do Estado e das restantes pessoas colectivas de direito público, a isenção reporta-se aos bens do domínio privado indisponível.A mesma isenção é aplicável no âmbito da execução para

entrega de coisa certa, em virtude do disposto no artigo 930.º, n.º 1, do CPC.

3.2.2. Impenhorabilidade de matriz processual

3.2.2.1. Impenhorabilidade absoluta ou total – alíneas c) a g) do art. 822.º do CPC

São absoluta ou totalmente impenhoráveis :

A – por razões de ordem moral : - os objectos cuja apreensão seja ofensiva dos bons costu-

mes, à luz do disposto no artigo 280.º, n.º 2, do CC, ou que careça de justificação económica, pelo seu diminuto valor venal (v.g. um objecto de elevado valor estimativo, mas de reduzido valor de mercado) – al. c) do art. 822.º ;

6 Nesta rubrica, há que distinguir bens do domínio privado indisponível do Estado dos bens do domínio privado disponível, não em função da sua natureza do domínio público ou privado, mas em relação à sua especial afectação à realização de fins de utilidade pública; exemplo de bens do domínio privado do Estado indisponível e portanto relativamente impenhoráveis, são as receitas provenientes de reprivatizações de acções de empresas públicas, que se encontrem consignadas no Orçamento do Estado para fins de utilidade pública – vide Amâncio Ferreira, Curso de Processo de Execução, Almedina, 4.ª Edição, pag. 162, nota 288, em que se cita o ac. do STJ, de 9-12-1999, BMJ n.º 492º, pag. 388.7 Conforme ensina o Prof. Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Vol. I, Almedina, 1986, pags. 565 e segs., as pessoas colectivas de mera utilidade pública são pessoas colectivas privadas que prosseguem fins não lucrativos de interesse geral, nacional ou local, cooperando com a Administração Pública nesse desiderato.

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- os túmulos, incluindo os seus acessórios ornamentais, mas já não os jazigos ainda não implantados no cemitério – al. e);

B – por razões de ordem religiosa – os objectos especialmente destinados ao exercício de culto público, compreendendo qualquer culto religioso; não inclui, porém, as alfaias ou esculturas destinadas ao culto público ainda em poder do fabricante;

C – por razões humanitárias : - os bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na residência permanente do executado, salvo quando se trate de execução destinada ao pagamento do preço da respectiva aquisição ou do custo da sua reparação – alínea f); para tal efeito, não releva o tipo concreto de economia doméstica do executado, mas sim um padrão de vida objectivo minimamente exigível, em termos de dignidade social, aferível no contexto do actual nível de desenvolvimento social; - os instrumentos que sejam indispensáveis aos deficientes e os objectos destinados ao tratamento de doentes – alínea g).

3.2.2.2. Impenhorabilidade relativa (art. 823.º, n.º 2, do CPC)

São relativamente impenhoráveis os instrumentos de trabalho e os objectos indispensáveis ao exercício da actividade ou formação profissional do executado, salvo se:

. o executado os indicar à penhora;

. a execução se destinar ao pagamento do preço da sua aquisição ou do custo da sua reparação; . forem penhorados como elementos corpóreos de um estabelecimento comercial.

A indispensabilidade relevante será aferida de modo casuístico, em função do critério da necessidade do bem para exercício da profissão ou para o investimento na forma profissional do executado, por forma a prover ao seu sustento e da sua família.

3.2.3. Penhorabilidade parcial

3.2.3.1. Dos vencimentos, salários ou prestações de natureza se-melhante auferidas pelo executado

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. Segundo o artigo 824.º, n.º 1, alínea a), do CPC, são impenhorá-veis dois terços dos rendimentos em epígrafe; daí que seja penhorável um terço daqueles rendimentos.

. Porém, o n.º 2 do mesmo normativo, confina essa impenhorabili-dade aos seguintes limites:

- ao limite máximo equivalente a três salários mínimos nacio-nais em vigor à data de cada apreensão, valor esse que se cifra actualmente em € 1.455,00 - € 485,00 x 3; acima daquele limite o rendimento em referência é totalmente penhorável; - ao limite mínimo equivalente a € 485,00, de acordo com o estabelecido no Dec.-Lei n.º 143/2010, de 31 de Dezembro8, quando o executado não tiver outros rendimentos e o crédito exequendo não for relativo a alimentos; por isso, se o executado tiver outros rendimentos ou se o crédito exequendo respeitar a alimentos, não opera o referido limite mínimo, sendo o rendimento penhorável em um terço, sem prejuízo das hipóteses de isenção ou redução da penhora, a requerimento do executado, nos termos do preceituado nos n.º 4, 5 e 6 do artigo 824.º do CPC.

. Assim: a) - Nos termos do n.º 4 do artigo 824.º do CPC, o agente de

execução, a requerimento do executado e ouvido o exequente, isentará de penhora os rendimentos daquele, pelo prazo de seis meses, quando o respectivo agregado familiar tiver um rendimento relevante para efeitos de protecção jurídica igual ou inferior a ¾ do valor Indexante de Apoios Sociais, valor este que hoje é de € 419,22, nos termos fixados na Portaria n.º 1514/2008, de 24-12, (419,22x3/4 = € 314,42); dessa decisão do agente de execução, que deve ser fundamentada, cabe reclamação para o juiz, nos termos do artigo 824.º, n.º 8, do CPC;

b) - Nos termos do n.º 5 do artigo 824.º do CPC, o agente de execução, a requerimento do executado e ouvido o exequente, reduzirá para metade a parte penhorável dos rendimentos da-quele, pelo prazo de seis meses, quando o respectivo agregado fa-miliar tiver um rendimento relevante para efeitos de protecção ju-rídica superior a ¾ e igual ou inferior a duas vezes e meia o valor

8 O salário mínimo nacional: foi de € 365,60, em 2004 (Dec.-Lei n.º 19/2004, de 20-1), de € 374,70, em 2005 (Dec.-Lei n.º 242/2004, de 31-12), de € 385,90, em 2006 (Dec.-Lei n.º 238/2005, de 30-12), de € 403,00, em 2007 (Dec.-Lei n.º 2/2007, de 3-1), de € 426,00, 2008 (Dec.-Lei n.º 397/2007, de 31-12) e de € 450,00 (Dec.Lei n.º 246/2008, de 18-12); actualmente é de € 485,00 (Dec.-Lei n.º 143/2010, de 31 de Dezembro). O salário mínimo nacional mantém-se em 2012.

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Indexante de Apoios Sociais, ou seja, superior a € 314,42 e igual ou inferior a € 1.048,05 (419,22 x 2,5); da decisão do agente de execução, que deve ser fundamentada, cabe reclamação para o juiz, nos termos do artigo 824.º, n.º 8, do CPC;

c) – Fora das hipóteses acima referidas, nos termos do n.º 6 do artigo 824.º do CPC, pode o agente de execução, a requerimento do executado, ouvido o exequente, propor ao juiz a redução, por período que considere razoável, da parte penhorável, dos rendimentos daquele, ponderados os montantes, a natureza do cré-dito exequendo e as necessidades do executado e do seu agregado familiar; a proposta do agente de execução deverá conter um projecto de decisão fundamentada, que será remetida ao juiz, o qual pode limitar-se a sustentá-la, nos termos do n.º 6 do artigo 824.º do CPC; da decisão do agente de execução que recuse o requerimento do executado, e que deverá ser fundamentada, cabe reclamação para o juiz, nos termos do nº 8 do artigo 824.º do CPC.

d) - Também nos termos do n.º 7 do artigo 824.º do CPC, o agente de execução, a requerimento do exequente e ouvido o executado, poderá reduzir o limite mínimo imposto pelo n.º 2 do artigo 824.º do CPC, ponderados o montante e a natureza do crédito exequendo e o estilo de vida e as necessidades do executado e do seu agregado familiar; dessa decisão, positiva ou negativa, cabe reclamação para o juiz, nos termos do n.º 8 do artigo 824.º do CPC.

Exemplo 1 – a penhora de um vencimento líquido de € 2.500,00:

a) – começando por apurar a fracção impenhorável de 2/3 do referido vencimento, nos termos da alínea a) do n.º 1 do art. 824.º do CPC, encontra-se o valor de € 1.666,66; b) - porém, esse valor deve ser reduzido ao limite máximo correspondente a três salários mínimos nacionais, ou seja, ao valor de € 1.455,00 (o triplo de € 485,00), por força do preceituado no n.º 2 do art. 824.º do CPC, sendo esta a fracção concretamente impenhorável;

c) - por conseguinte, a parcela penhorável é de € 1.045,00 = 2.500,00 – 1.455,00. d) – No entanto, nas condições referidas no n.º 6 do art. 824.º do CPC, poderá ser reduzida a parcela concretamente penhorável, por período razoável;

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Exemplo 2 – a penhora de um vencimento líquido de € 1.000,00 :

a) – a fracção impenhorável de 2/3 equivale a € 666,66, estando, pois, aquém do sobredito limite máximo e além do limite correspondente ao salário mínimo nacional (€ 485,00), pelo que não há que operar qualquer redução;

b) - assim, a parcela penhorável é de € 333,34 = 1.000,00 – 666,66.

c) - no entanto, a requerimento do executado, ouvido o exequente, o agente de execução reduzirá a parcela penhorável a metade, nos termos do n.º 5 do artigo 824.º do CPC.

Exemplo 3 : vencimento de € 500,00, sem que existam outros rendimentos nem se trata de direito a alimentos:

a) – a fracção impenhorável de 2/3 corresponde ao valor de € 333,33, portanto inferior ao salário mínimo de € 485,00; b) – daí que a fracção concretamente impenhorável é de € 485,00, por força da 2.ª parte do n.º 2 do artigo 824.º do CPC; c) - assim, a parcela penhorável é de € 15,00 = 500,00 – 485,00; d) – No entanto, a requerimento do executado, ouvido o exequente, o agente de execução isentará de penhora o referido rendimento, pelo prazo de seis meses, nos termos do nº 4 do art. 824.º do CPC e, além disso, pode propor ao juiz a sua redução por período razoável superior, ao abrigo do n.º 6 do mesmo artigo. e) – por seu lado, a requerimento do exequente, ouvido o executado, o agente de execução pode propor ao juiz a redução do limite mínimo de € 485,00, nos termos do n.º 7 do artigo 824.º do CPC.

Exemplo 4 : vencimento de € 500,00, se o executado dispuser de outros rendimentos ou o crédito exequendo respeitar a direitos a ali-mentos :

a) – a parcela impenhorável de 2/3 é de € 333,33, não estando agora sujeita ao limite mínimo de € 485,00, sendo, por isso, penhorável a parcela de € 166,67 = 500,00 – 333,33;

b) - porém, poderá haver lugar à isenção ou reduções previstas nos n.º 4 a 7 do artigo 824.º do CPC.

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. Segundo o preceituado no artigo 12.º do Dec.-Lei n.º 329-A/95, de 12-12, que aprovou a Revisão de 1995/96, não são invocáveis em processo civil as disposições constantes de legislação especial que estabeleçam a impenhorabilidade absoluta de quaisquer rendimentos, independentemente do seu montante, em colisão com o disposto no artigo 824.º do CPC.

Assim, a impenhorabilidade dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos estabelecida, em termos absolutos, no artigo 17º do Dec.-Lei n.º 496/80, de 20-10, só é invocável, no âmbito da execução civil, nos limites da impenhorabilidade parcial previstos no artigo 824.º do CPC; e o mesmo se diga quanto à impenhorabilidade absoluta do subsídio por morte estabelecida no artigo 8.º do Dec.-Lei n.º 223/95, de 8-9.

3.2.3.2. Das prestações periódicas pagas a título de aposenta-ção ou de outra regalia social, seguro, indemnização por acidente ou renda vitalícia ou de quaisquer outras pensões de natureza semelhante

Aplica-se o regime de impenhorabilidade parcial referida em 3.2.3.1, salvo quanto à redução do limite mínimo, que não pode ser operada nos casos de pensão ou de regalia social - parte final do n.º 7 do artigo 824.º do CPC.

Todavia, importa referir que os créditos provenientes do direito à indemnização por acidentes de trabalho e por doenças profissionais, são absolutamente impenhoráveis, nos termos dos artigos 302.º e 309.º do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 99/2003, de 27-8, que revogou a anterior Lei n.º 100/97, de 13-9, sobre Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, em cujo artigo 35.º se consideravam igualmente impenhoráveis aqueles direitos, parecendo-nos que estão fora do alcance do artigo 12.º do Dec.-Lei n.º 329-A/95, de 12-12, na medida em que aquelas normas são posteriores a esta.

Também o direito ao rendimento de inserção social não é susceptível de penhora, nos termos do artigo 23.º da Lei n.º 13/2003, de 21-5 9.

Já a Lei n.º 32/2002, de 20-12, que aprovou as bases da segurança social, prescreve no seu artigo 73.º, n.º 2, que “as prestações dos regimes de segurança social são parcialmente penhoráveis nos

9 A Lei n.º 13/2003, 21-5, foi alterada pelo Lei n.º 45/2005, de 29-8 e pela Lei n.º 70/2010, de 16-6; é regulamentada pelo Dec.-Lei n.º 283/2003, de 8-11, alterado pelo Dec.-Lei n.º 42/2006, de 23-2.

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termos da lei geral”, pelo que lhes é aplicável o preceituado no artigo 824.º do CPC.

3.2.3.3. Penhora de quantias pecuniárias e de depósitos bancários

A – Da penhora de dinheiro ou de saldo de conta bancária à ordem (art. 824.º, n.º 3, do CPC)

. Segundo o n.º 3 do artigo 824.º do CPC, é impenhorável o mon-tante de dinheiro ou de saldo bancário de conta à ordem no valor global correspondente a um salário mínimo nacional – actualmente fixado em € 485,00.

. Todavia, nos termos do n.º 7 do artigo 824.º, a requerimento do exequente e ponderados o montante e a natureza do crédito exequendo, bem como o estilo de vida e as necessidades do executado e do seu agregado familiar, o agente de execução poderá propor ao juiz o afastamento daquele limite.

B – Da penhora de quantias pecuniárias ou depósitos bancários (art. 824.º-A do CPC)

A quantia em dinheiro ou o depósito bancário resultantes da satisfação de um crédito impenhorável, são também impenhoráveis, nos mesmos termos em que o era o crédito originário.

Incumbirá, pois, ao executado provar a proveniência dessa quantia ou depósito (v.g. a origem da provisão da conta bancária).

3.2.4. Penhorabilidades específicas

3.2.4.1. Penhora de bens comuns do casal

3.2.4.1.1. Bens que respondem pelas dívidas dos cônjuges

A - Por dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges (arts. 1692.º, 1693.º, n.º 1, e 1694.º, n.º 2, do CC) respondem :

a) – Em primeiro lugar :

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- os bens próprios do cônjuge devedor – art. 1696.º, n.º 1, do CC; - e, ao mesmo tempo, os bens indicados nas diversas alíneas do n.º 2 do citado artigo 1696.º;

b) – Subsidiariamente, ou seja em caso de falta ou insuficiência daqueles bens, responde a meação do cônjuge devedor nos bens comuns, nos termos dos artigos 1696.º, n.º 1, do CC e 825.º, n.º 1, do CPC.

B - Por dívidas comuns (arts. 1691.º, 1693.º, n.º 2, e 1694.º, n.º 1, do CC) respondem :

a)– Em primeira linha, os bens comuns – artigo 1695.º, n.º 1, 1.ª parte, do CC;

b) – Na sua falta ou insuficiência, os bens próprios de cada um dos cônjuges – art. 1695.º, n.º 1, parte final, do CC.

C - No regime de separação de bens, a responsabilidade dos cônjuges não é solidária, mas sim parciária ou conjunta, nos termos do artigo 1695.º, n.º 2, conjugado com o disposto nos artigos 513.º e 534.º, todos do CC.

3.2.4.1.2. Execução movida apenas contra um dos cônjuges em caso de penhora de bens comuns ou de responsabilidade solidária.

. Como determina o n.º 1 do artigo 825.º do CPC, na execução movida apenas contra o cônjuge devedor, em que sejam penhorados bens comuns do casal nas circunstâncias referidas em A-b), cita-se o cônjuge do executado para, no prazo que dispõe para a oposição, reque-rer a separação de bens, por apenso à execução, nos termos previstos no artigo 1406.º do CPC10, ou juntar certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida.

Apensado o requerimento em que se pede a separação, ou junta a referida certidão, a execução fica suspensa até à partilha; se os bens assim partilhados não couberem ao cônjuge executado, podem então ser penhorados outros que lhe tenham sido adjudicados, mantendo-se a ante-rior penhora até à nova apreensão – n.º 7 do artigo 825.º do CPC.

10 No processo de inventário especial acima referido, o exequente e os outros credores têm direito de promover o andamento do inventário e de reclamar contra a escolha de bens que o cônjuge do executado faça para ser formada a meação – art. 1406.º, n.º 1, als. a) e c), do CPC; nesse inventário, não podem ser aprovadas dívidas que não estejam devidamente documentadas – alínea b) do n.º 1 do mesmo normativo.

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. Em execução baseada em título diverso de sentença, quando o exequente alegue fundamentadamente que a dívida é comum, o côn-juge do executado é ainda citado para, em alternativa e no mesmo prazo, declarar se aceita a invocada comunicabilidade, sob pena de, nada dizen-do, a dívida ser considerada comum, para os efeitos da execução, sem prejuízo da faculdade de deduzir oposição – artigo 825.º, n.º 2, do CPC.

Haverá, pois, aceitação tácita da alegada comunicabilidade da dí-vida, se o cônjuge do executado não requerer a separação de bens nem se pronunciar sobre a comunicabilidade.

Se a comunicabilidade da dívida for aceite, expressa ou tacita-mente, a execução prosseguirá também contra o cônjuge do executado, como prescreve o n.º 3 do artigo 825.º, respondendo por essa dívida:

- em primeiro lugar, os bens comuns, nos termos do artigo 1695.º, n.º 1, 1.ª parte, do CC;

- e na falta ou insuficiência de bens comuns, os bens próprios dos cônjuges – art. 1695.º, n.º 1, última parte, do CC. Daí que o n.º 3 do artigo 825.º do CPC preveja que possam ser,

subsidiariamente, penhorados os bens próprios do cônjuge do primitivo executado.

Por outro lado, se já tiverem sido penhorados bens próprios do primitivo executado, antes da penhora dos bens comuns do casal, sendo estes suficientes, pode aquele executado requerer a substituição dos bens penhorados, ao abrigo do disposto na parte final do n.º 3 do referido artigo 825.º.

Se o cônjuge do executado recusar a comunicabilidade da dívida, mas não tiver requerido a separação de bens nem apresentado certidão comprovativa de acção pendente para esse efeito, a execução prosseguirá sobre os bens comuns, como estatui o n.º 4 do artigo 825.º do CPC.

Quando o exequente não invocar a comunicabilidade da dívi-da, qualquer dos cônjuges pode, no prazo da oposição, requerer a separação de bens ou juntar certidão que comprove a acção já pendente para tal efeito, sob pena da execução prosseguir nos bens penhorados – art. 825.º, n.º 5, do CPC.

No mesmo prazo, o executado pode também alegar fundamen-tadamente a comunicabilidade da dívida, caso em que o respectivo cônjuge, se não tiver requerido a separação de bens, é notificado para efeitos de aceitar tal alegação, nos termos e sob a cominação do n.º 2 do

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artigo 825.º, aplicando-se o disposto nos n.º 3 e 4, a não ser que haja oposição por parte do exequente – n.º 6 do artigo 825.º.

. Em caso de execução de sentença em que não esteja reconhe-cida a comunicabilidade da dívida, não se pode operar o mecanismo previsto no artigo 825.º, n.º 2, 5 e 6, do CPC tendente a provocar a aceitação tácita ou expressa dessa comunicabilidade.

Com efeito, na acção declarativa, o demandado tem o ónus de requerer a intervenção do respectivo cônjuge, ao abrigo do disposto no artigo 329.º do CPC, alegando que a dívida em litígio é comum.

Por consequência, se não observar esse ónus, em sede de execu-ção, respondem:

- em primeiro lugar, os bens próprios do executado, nos termos do n.º 1 do artigo 1696.º do CC, e ao mesmo tempo os bens indicados no n.º 2 do mesmo normativo;

- na falta ou insuficiência de bens próprios, a sua meação nos bens comuns, de acordo com o estatuído no n.º 1, 2.ª parte, do art. 1696.º do CC, podendo-se penhorar os bens comuns nos termos consignados no artigo 825.º do CPC, mas sem haver lugar à faculdade alternativa de aceitar agora a comunicabilidade da dívida. Porém, o facto de o cônjuge demandado na acção declarativa não

ter deduzido a intervenção do outro cônjuge, não prejudica o seu direito exigir a compensação contra este cônjuge pelo pagamento de dívidas do casal, nos termos do artigo 1697.º do CC.

3.2.4.2. Penhora em caso de comunhão ou compropriedade (art. 826.º do CPC)

. A prescrição estatuída no n.º 1 do artigo 826.º do CPC reporta-se a dois tipos de situação jurídica :

a) - à compropriedade em bem indiviso; b) - à comunhão em património autónomo, como sucede nos casos de herança impartilhada e de património comum do casal.

No caso da compropriedade, o consorte não pode, sem o consentimento dos restantes, alienar nem onerar parte especificada da coisa comum, mas pode dispor, exclusivamente, de toda a sua quota na comunhão (fracção ideal) ou de parte dela – artigo 1408.º, n.º 1, do CC.

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No que respeita à herança impartilhada, os direitos relativos a esta só podem ser exercidos por todos ou contra todos os herdeiros, nos termos do artigo 2091.º, n.º 1, do CC (litisconsórcio necessário legal).

Quanto à meação dos cônjuges nos bens comuns, segundo o regime vigente, essa meação responde, subsidiariamente, pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges, como decorre do artigo 1696.º, n.º 1, do CPC; mas podem ser imediatamente penhorados, para tal efeito, os bens comuns, citando-se o cônjuge do executado, para requerer, querendo, a separação de bens, nos termos do artigo 825.º, n.º 1, do CPC.

. Em sintonia com esse regime substantivo, o artigo 826.º, n.º 1, do CPC prescreve que, em execução movida apenas contra um ou algum dos contitulares de património autónomo ou de bem indiviso, não podem ser penhorados:

- bens compreendidos no património comum ou fracção de qualquer deles;

- nem parte especificada do bem indiviso. Assim sendo, em execução movida para pagamento de uma

dívida de um comproprietário, não pode ser penhorada a coisa comum nem parte especificada dela; só poderá, pois, ser penhorada a quota (fracção ideal) que esse comproprietário detenha sobre o bem indiviso.

De igual modo, em execução movida para pagamento de uma dívida pessoal de quem seja porventura contitular de uma herança impartilhada, não poderão ser penhorados bens da herança nem uma fracção de qualquer deles; mas poderá, quando muito, ser penhorado o respectivo quinhão hereditário. E é assim mesmo nos casos em que os herdeiros tenham feito registar, a favor de todos os titulares, a aquisição de bens e direitos que façam parte de herança indivisa, ao abrigo do disposto nos artigos 37.º, n.º 1, e 49.º do Código do Registo Predial (CRP).

Já no caso de execução movida contra um dos cônjuges, poderão ser penhorados imediatamente bens comuns, mas nos precisos termos e condições do artigo 825.º do CPC, como já foi acima mencionado.

Se, porém, no âmbito de execuções diversas, forem penhorados todos os quinhões em património autónomo ou todos os direitos sobre o bem indiviso, realizar-se-á uma única venda, a qual terá lugar no processo em que se tenha efectuado a primeira penhora, com posterior divisão do produto obtido, conforme se prescreve no n.º 2 do artigo 826.º do CPC.

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3.2.4.3. Penhora de bens da herança em execução movida contra o herdeiro (artigo 827.º do CPC)

. Como foi anteriormente referido, para pagamento das dívidas pessoais de quem seja porventura herdeiro, não se poderão penhorar bens da herança impartilhada nem qualquer fracção deles (art. 826.º, n.º 1, do CPC); mas quando muito o respectivo quinhão hereditário.

. Tratando-se de dívidas da herança, importa distinguir duas hi-póteses :

A – A situação de herança indivisa ou impartilhada, por cujas dívidas respondem colectivamente os bens pertencentes à herança, nos termos dos artigos 2068.º e 2097.º do CC; em tal caso, deverão ser demandados todos os herdeiros, em regime de litisconsórcio passivo legal necessário, nos termos do artigo 2091.º do mesmo Código; nestas circunstâncias, podem ser penhorados os bens da herança.

B – A situação de herança partilhada, caso em que cada herdeiro responde pelos encargos da herança na proporção da quota que lhe tenha cabido (artigo 2098.º, n.º 1, do CC), salvo quando tenha sido deliberado que o pagamento se faça à custa de dinheiro ou outros bens para esse efeito, ou que fique a cargo de algum ou de alguns deles, tal como se prevê no n.º 2 do artigo 2098.º do CC. E, nos termos do n.º 3 do mesmo normativo, tal deliberação obriga os credores e os legatários, mas, se uns ou outros não puderem ser integralmente pagos, têm recurso contra os outros bens ou contra os outros herdeiros, nos termos gerais.

. Ora, o regime previsto no artigo 827.º do CPC respeita à execução movida contra um herdeiro, por dívidas da herança, nos casos em que esta já se encontre partilhada.

Nessa hipótese, há que verificar, antes de mais : - se a herança foi aceita a benefício de inventário (art. 2053.º do CC), caso em que só responderão os bens inventariados, salvo se os credores ou legatários provarem a existência de outros bens – artigo 2071.º, n.º 1, do CC;

- se a herança foi aceita pura e simplesmente (art. 2052.º, n.º 1, CC), caso em que a responsabilidade não excederá também o valor dos bens herdados, mas incumbindo agora ao herdeiro

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provar que na herança não existem valores suficientes para cumprimento das respectivas dívidas – artigo 2071.º, n.º 2, do CC.

É, pois, na adjectivação desse regime substantivo e ainda da limitação constante do artigo 601.º do CC, relativamente à separação de patrimónios autónomos, que o artigo 827.º, n.º 1, do CPC, prescreve que, na execução movida contra o herdeiro, só podem penhorar-se os bens que ele tenha recebido do autor da herança.

Assim, se a penhora recair sobre bens que o herdeiro não te-nha recebido do autor da herança, o executado pode requerer o levantamento dessa penhora, desde que indique ao mesmo tempo os bens da herança que tenha em seu poder e, quando a herança tenha sido aceita a benefício de inventário, juntando certidão do processo de inventário comprovativa de que os bens penhorados não foram ali relacionados.

Se, em face disso, o exequente não deduzir oposição, será desde logo deferido o levantamento da penhora – n.º 2 do artigo 827.º do CPC.

Se o exequente deduzir oposição: a) – tratando-se de herança pura e simplesmente aceita, o

executado só pode obter o levantamento dessa penhora, quando alegue e prove, nos termos dos artigos 2071.º, n.º 2, do CC e artigo 827.º, n.º 3, do CPC :

- que os bens penhorados não provieram da herança; - que não recebeu da herança mais bens do que aqueles que indicou ou, se recebeu mais, que os outros foram todos aplicados em solver encargos dela; b) - em caso de herança aceita a benefício de inventário, nos

termos do n.º 1 do artigo 2071.º do CC, o exequente tem o ónus de provar a falsidade da certidão junta ou de provar, por certidão de sentença proferida em acção declarativa autónoma, que os bens penhorados são oriundos da herança, ainda que não tivessem sido relacionados no inventário. Na falta dessa prova, o incidente de oposição levará ao levantamento da penhora dos bens em causa.

3.2.5. Penhorabilidade subsidiária

3.2.5.1. Preliminar

A penhorabilidade subsidiária pode respeitar :

a) – quer à subsidariedade pessoal, nos casos em que há um devedor principal e um devedor subsidiário que goze do benefício de

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excussão, o que significa que os bens do devedor subsidiário só devem ser penhorados depois de excutidos os bens do devedor principal. A esta situação é aplicável o disposto nos n.º 1 a 6 do artigo 828.º do CPC;

b) – quer à subsidariedade real, quando a responsabilidade de certos bens pela dívida exequenda depende da verificação da falta ou insuficiência de outros bens, não se exigindo a prévia excussão destes. É a situação prevista no n.º 7 do artigo 828.º do CPC.

3.2.5.2. Da subsidariedade subjectiva (Art. 828.º, n.º 1 a 6, do CPC)

. São devedores subsidiários : a) – o fiador e o subfiador, quando gozem de benefício da

excussão prévia, nos termos dos artigos 638.º e 643.º do CC; b) – os sócios das sociedades civis, nos termos do artigo 997.º, n.º

1 e 2, do CC; c) – os sócios das sociedades comerciais em nome colectivo (art.

175.º, n.º 1, do CSC); d) – os sócios comanditados das sociedades comerciais em

comandita – art. 465.º, n.º 1, do CSC.

. Para efeitos de penhora, nos termos do artigo 828.º, nº 1 a 6, do CPC, há que distinguir três situações típicas :

- a execução instaurada contra o devedor principal e o devedor subsidiário; - a execução movida apenas contra o devedor subsidiário; - a execução movida apenas contra o devedor principal.

A – Execução instaurada contra o devedor principal e o devedor subsidiário - art. 828.º, n.º 1 e 3, al. a), do CPC

a) – Quando o devedor subsidiário deva ser previamente citado :

Nos casos em que o devedor subsidiário, demandado conjunta-mente com o devedor principal, deva ser previamente citado, isto é, quando não haja lugar a dispensa de despacho liminar nem à subsequente dispensa de citação prévia, nos termos conjugados dos artigos 812.º-C, n.º 1, e 812.º-F, n.º 1, do CPC, e não seja requerida pelo exequente a dispensa de citação prévia, (art. 812.º-F, n.º 2, al. a), não podem ser

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penhorados os bens do devedor subsidiário, enquanto não estiverem excutidos os bens do devedor principal, o mesmo é dizer que só podem ser penhorados os bens do devedor subsidiário quando, vendidos em execução os bens do devedor principal, o produto dessa venda seja insuficiente para satisfazer as custas da execução, o crédito exequendo e os créditos graduados antes do exequente – art. 828.º, n.º 1, 1.ª parte, do CPC.

Porém, a citação do devedor subsidiário só deve preceder a excussão dos bens do devedor principal quando o exequente assim o requeira, caso em que impende sobre o devedor subsidiário o ónus de invocar o benefício da excussão, no prazo assinado para a oposição à execução – art. 828.º, n.º 1, 2.ª parte, do CPC.

No caso de não ser requerida pelo exequente a citação do devedor subsidiário antes da excussão dos bens do devedor principal, esta citação deve ser todavia efectuada antes da realização da penhora dos bens do devedor subsidiário. Em síntese, depois de apurada a insuficiência do produto da venda dos bens do devedor principal, procede-se então à citação do devedor subsidiário e subsequentemente à penhora dos bens deste.

Mesmo que se afigure necessário penhorar bens do devedor subsidiário, este tem a faculdade de indicar bens do devedor principal que hajam sido adquiridos posteriormente à penhora ou que não fossem conhecidos, ao abrigo do disposto no n.º 6 do art. 828.º do CPC.

b) – Quando o devedor subsidiário não tiver sido previa-mente citado - art. 828.º, n.º 3, al. a), CPC

Quando o devedor subsidiário, demandado conjuntamente com o devedor principal, não tiver sido previamente citado, só é admissível a penhora dos bens daquele, depois de excutidos todos os bens do devedor principal, salvo se o exequente provar que o devedor subsidiário renunciou ao benefício da excussão prévia, o que significa, aliás, que ele responde como devedor principal.

B – Execução movida apenas contra o devedor subsidiário - art. 828.º, n.º 2 e 3, al. b) do CPC

a) – Havendo citação prévia

Na execução movida apenas contra o devedor subsidiário, ha-verá lugar à citação prévia deste, salvo se for judicialmente

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dispensada esta citação, a requerimento do exequente, nos termos combinados do disposto nos artigos 812.º-F, n.º 3 e 5, do CPC.

Neste caso, se o devedor subsidiário invocar, no prazo da oposição à execução, o benefício da excussão prévia, não se procederá à penhora dos seus bens, mas o exequente pode requerer que a execução prossiga contra o devedor principal, promovendo a penhora dos bens deste – art. 828.º, n.º 2, do CPC. Os bens do devedor subsidiário só serão penhorados quando o produto da venda dos bens do devedor principal se mostre insuficiente. Se o exequente não dispuser de título executivo contra o devedor principal, terá de obtê-lo, requerendo a suspensão da instância executiva.

Porém, tratando-se de execução de sentença proferida em acção declarativa movida apenas contra o devedor subsidiário, sem que este tenha provocado o chamamento do devedor principal ou feito reserva expressa do benefício de excussão, já não lhe aproveita a invocação deste benefício em sede executiva, dado que se considera que renunciou tacitamente a ele, nos termos do artigo 641.º do CC.

b) – Quando o devedor subsidiário não tiver sido previamente citado (art. 828.º, n.º 3, al. b, do CPC)

Nos casos em que a execução seja movida apenas contra o devedor subsidiário e este não tiver sido previamente citado, por dispensa judicial ao abrigo do disposto nos artigos 812.º-F, n.º 3 e 5, do CPC, só é admissível a penhora dos bens do devedor subsidiário quando se mostre :

- que o devedor principal não tem bens; - ou que o devedor subsidiário renunciou ao benefício da excussão prévia. Todavia, nos termos previstos no n.º 4 do artigo 828.º do CPC, o

devedor subsidiário pode invocar, em oposição à penhora, o benefício da excussão, requerendo o levantamento da penhora, desde que se verifique umas das seguintes situações:

- quando, havendo bens do devedor principal, o exequente não haja requerido contra ele execução, no prazo de 10 dias a contar da notificação de que foi deduzida a referida oposição; - quando seja manifesto que a penhora efectuada sobre os bens do devedor principal é suficiente para a realização dos fins da execução.

C – Execução movida apenas contra o devedor principal

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Neste caso, não podem ser penhorados bens do devedor subsi-diário, já que não foi demandado.

Porém, se o exequente dispuser de título executivo contra o devedor subsidiário e se os bens penhorados ao devedor principal se mostrarem insuficientes, pode requerer que a execução prossiga contra o devedor subsidiário – art. 828.º, n.º 5, do CPC.

3.2.5.3. Da subsidariedade real (art. 828.º, n.º 7, do CPC)

São subsidiariamente penhoráveis:

a) – a generalidade dos bens do devedor, quando haja garantia real constituída sobre bens do mesmo – art. 835.º, n.º 1, do CPC e art. 697.º do CC;

b) – os bens próprios do cônjuge devedor para pagamento das dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges, pelas quais responde prioritariamente a meação nos bens comuns – art. 1696.º, n.º 1, do CC;

c) – os bens comuns para pagamento das dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges, bens esses que só respondem no caso de falta ou insuficiência de bens próprios do cônjuge devedor – art. 1695.º do CC.

d) – o direito ao produto da liquidação da quota ou da parte social nas sociedades civis, nas sociedades comerciais em nome colectivo e nas sociedades em comandita simples, relativamente ao pagamento de dívidas pessoais dos sócios das sociedades civis e em nome colectivo e dos sócios comanditados nas sociedades em comandita, nos termos dos artigos 999.º, n.º 2, do CC, 183.º, n.º 3, e 474.º do CSC;

e) – o estabelecimento em relação à generalidade dos bens do titular do estabelecimento individual de responsabilidade limitada, por dívidas estranhas a esse estabelecimento – art. 22.º do Dec.-Lei n.º 248/86, de 25-8.

Nas hipóteses de subsidariedade real acima mencionadas, não se exige que sejam previamente excutidos os bens que respondam em primeira linha, bastando que se mostre a manifesta insuficiência destes bens – n.º 7 do art. 828.º do CPC.

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III

FASE DA PENHORA

1. Noção Preliminar

A fase da penhora consiste no conjunto sequencial de actos e procedimentos – actos processuais e executivos – que tem por função individualizar os bens (incluindo direitos) do devedor, ou excepcionalmente de terceiros, por forma a afectá-los à satisfação do crédito exequendo e das despesas de execução (art. 821.º, n.º 3, do CPC).

No regime vigente antes da reforma da acção executiva, esses actos distribuíam-se em actos de parte de nomeação de bens à penhora (pelo executado ou pelo exequente, consoante os casos), em actos do juiz consubstanciados no despacho determinativo da penhora e em actos da secretaria de efectivação da penhora.

Com a reforma executiva operada pelo Dec.-Lei n.º 38/2003, de 8-3, introduziu-se uma alteração profunda nesse regime processual, por um lado, deixando de ter lugar a nomeação dos bens à penhora e o despacho determinativo da mesma, por outro, cometendo-se a iniciativa e a realização da penhora ao agente de execução.

Nessa linha, é ao agente de execução que cumpre indagar da situação patrimonial do executado e da existência de bens penhoráveis (arts. 832.º, n.º 2 e 833.º-A do CPC) e efectuar a penhora, preferencialmente, pela ordem indicada no artigo 834.º, n.º 2, do CPC, com observância dos critérios legais de penhorabilidade.

Não obstante isso, ao exequente é deixada a faculdade de indicar, logo no requerimento executivo, os bens a penhorar - art. 810.º, n.º 1, alínea i), e n.º 5, do CPC - e o ónus de o fazer, subsequentemente,

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quando o agente de execução não encontre bens, como se colhe do disposto no art. 833.º-B, n.º 3 do CPC. Ao executado impõe-se, também subsidiariamente, o dever de indicar bens penhoráveis, nos termos dos n.º 4 do artigo 833.º-B.

Ao juiz de execução, sem prejuízo do poder geral de controlo do processo e da competência para julgar a oposição à penhora, nos termos do art. 809.º, n.º 1, alínea b), do CPC, fica cometida uma função residual, designadamente, de :

- conceder autorização para a realização de penhoras com dispensa de citação prévia (art. 812.º-F, n.º 3 e 4) ou em casos especiais que envolvam confidencialidade, sigilo fiscal ou profissional (artigos 833.º-A, n.º 7, e 861.º-A, n.º 1), ou que requeiram a aplicação medidas coercitivas (arts. 840.º, n.º 2, e 850.º, n.º 1);

- decidir sobre a suspensão da execução, quando o registo da penhora seja provisório, nos termos do art. 838.º, n.º 4, parte final, do CPC;

- providenciar pelo suprimento do trato sucessivo, quando o bem penhorado se encontre registado em nome de terceiro, nos termos do artigo 119.º do CR Predial;

- decidir sobre a ilisão da presunção de que os bens em poder do executado lhe pertencem, nos termos do art. 848.º, n.º 2, do CPC;

- decidir sobre o modo de exploração dos bens penhorados nos termos do art. 843.º, n.º 2, do CPC;

- decidir sobre a escusa ou remoção do fiel depositário, nos termos do art. 845.º do CPC;

- ordenar o arresto dos bens do fiel depositário, em conformidade com o preceituado no art. 854.º do CPC.

2. Procedimentos relativos à fase da penhora

2.1. Diligências prévias à penhora

2.1.1. Indicação dos bens a penhorar

. O exequente indicará no requerimento executivo, sempre que possível, como preceitua o artigo 810.º, n.º 1, alínea i), do CPC:

- o empregador do executado, - as contas bancárias de que ele seja titular; - os seus bens, bem como os ónus e encargos que sobre estes incidam.

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Na indicação dos bens a penhorar, o exequente deverá fornecer, tanto quanto possível, e consoante a natureza desses bens, os elementos referidos nas diversas alíneas do n.º 5 do citado artigo 810.º.

Numa primeira leitura, dir-se-ia que a falta de indicação dos bens a penhorar pelo exequente, sem qualquer alegação de motivo justificado, seria fundamento de recusa do requerimento executivo, por força do estatuído na alínea a) do n.º 1 do artigo 811.º com referência à alínea d) do n.º 3 do artigo 810.º, ambos do CPC.

Todavia, há que ter presente que incumbe ao agente de execução indagar da existência de bens penhoráveis, por via de consulta prévia do registo informático de execuções e da consulta subsequente de outras bases de dados, respectivamente, nos termos dos artigos 832.º, n.º 2, e 833.º-A, do CPC. E, não sendo encontrados bens, o exequente será então notificado para os indicar, nos termos dos citados artigos 833.º-B, n.º 3.

Daí ter-se-á de concluir que a falta de indicação de bens à penhora no requerimento executivo não pode implicar a recusa ou indeferimento liminar deste.

2.1.2. Início das diligências (art. 832.º, n.º 1, do CPC)

Nos termos do n.º 1 do artigo 832.º do CPC, as diligências prévias à penhora a levar a cabo pelo agente de execução terão início no prazo máximo de cinco dias a contar:

a) – da apresentação do requerimento executivo, quando haja a dispensa de despacho liminar e de citação prévia do executado prevista no n.º 1 do artigo 812.º-C e 812.º-F, n.º 1 do CPC;

b) – do termo do prazo para a oposição do executado, quando previamente citado sem que essa oposição tenha sido deduzida;

c) – da notificação da secretaria ao agente de execução: . depois de proferido despacho a dispensar a citação prévia, nos

termos do artigo 812.º-F, n.º 3 e 5; . ou de despacho que não suspenda a execução nos termos do

artigo 818.º do CPC; . ou, suspendendo-se a execução, após ser julgada improcedente

a oposição deduzida.

2.1.3. Consulta prévia (art. 832.º, n.º 2, do CPC)

. Antes de proceder à penhora, o agente de execução consultará o registo informático de execuções, como determina o nº 2 do artigo 832º do CPC, o qual contém o rol actualizado das execuções pendentes e das

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execuções findas ou suspensas com toda a informação a que se refere o artigo 806º do CPC.

Os termos de acesso e consulta desse registo informático encon-tram-se previstos no artigo 807º do CPC e regulados no Dec.Lei nº 201/ 2003, de 10-9, alterado pelo Dec.-Lei n.º 53/2004, de 18-3, pela Lei n.º 60-A/2005, de 30-12, e pelo Dec.-Lei n.º 226/2008, de 20-11.

O agente de execução tem acesso directo ao registo informático, nos termos previstos no artigo 9.º, n.º 1, do Dec.-Lei n.º 201/2003, de 10-9, e definidos nos artigos 45.º a 47.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30-3.

. Quando penda contra o executado outro processo de execu-ção para pagamento de quantia, o requerimento executivo será então remetido para esse processo, nos termos do n.º 4 do artigo 832.º do CPC, desde que se verifiquem, cumulativamente, os seguintes requi-sitos :

- o exequente seja titular de um direito real de garantia, que não consista em privilégio creditório geral, sobre os bens penhorados no processo já pendente; - e nesse processo não tenha ainda sido proferida sentença de graduação de créditos.

Se, aquando essa remessa, o processo pendente já se encontre na fase de concurso de credores, o requerimento executivo para ali re-metido vale como reclamação de créditos, passando o respectivo exequente à posição de reclamante – art. 832.º, n.º 5, 1.ª parte, CPC.

Se o processo já pendente ainda não se encontrar na fase de concurso de credores, a remessa do requerimento executivo valerá como coligação sucessiva de exequentes – artigos 58.º, n.º 4, e 832.º, n.º 5, parte final, do CPC.

. Quando da consulta prévia resulte que já fora movida execu-ção contra o executado que terminou sem integral pagamento, o agente de execução:

- procederá de imediato às diligências informativas prévias previstas no n.º 1 do artigo 833.º-A do CPC;

- após o que comunicará ao exequente do seu resultado, nos termos e para os efeitos combinados dos artigos 832.º, n.º 3, e 833.º-B, n.º 1 e 3, do mesmo Código.

Assim, na hipótese prevista no n.º 1 do artigo 832.º, n.º 2, do CPC: - se tiverem sido identificados bens penhoráveis, a execução

prosseguirá com a penhora desses bens, pela ordem prevista no

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n.º 1 do artigo 834.º do CPC, excepto se o exequente, no prazo de cinco dias a contar da comunicação dos resultados da pesquisa ao registo informático, declarar que: a) - não pretende a penhora de determinados bens imóveis ou móveis não sujeitos a registo identificados; b) - ou se desistir da execução – artigo 833.º-B, n.º 2;

- se não tiverem sido encontrados bens penhoráveis pelo agente de execução, incumbe ao exequente indicar bens à pe- nhora, no prazo de 10 dias a contar da comunicação dos resultados da pesquisa ao registo informático, sendo penhorados os bens que ele indique - artigo 833.º-B, n.º 3.

- não sendo encontrados bens penhoráveis pelo agente de execução nem, subsequentemente, indicados bens à penhora pelo exequente, não obstante o preceituado na parte final do n.º 3 do artigo 832.º, haverá sempre lugar à citação prévia do executado, oficiosa, nos termos do preceituado na alínea d) do n.º 2 do artigo 812.º-F do CPC, o que parece justificar-se pelas exigência do contraditório, perante a iminência do registo da extinção da execução a que haverá lugar, nos termos da alínea c) do n.º 2 do artigo 806.º do CPC. Assim, a conjugação entre o preceituado na alínea d) do n.º 2 do artigo 812.º-F e o disposto no n.º 3 do artigo 832.º, no segmento em que dispensa a aplicação do preceituado nos n.º 4 a 7 do artigo 833.º-B, aponta para que a não aplicação destes normativos só ocorra nos casos em que a consulta prévia seja efectuada depois da citação prévia do executado, por não haver lugar à sua dispensa legal ou judicial.

- se o executado, entretanto, não indicar bens à penhora, extinguir-se-á imediatamente a execução, nos termos dos artigos 832.º, n.º 3, 2.ª parte, e 919.º, n.º 1, alínea c), do CPC, o que constitui uma extinção da instância executiva por inutilidade superveniente da lide, devendo proceder-se ao competente registo informático, como decorre do disposto na alínea c) do n.º 2 do artigo 806.º do CPC.

2.1.4. Diligências subsequentes para a identificação e localiza-ção de bens penhoráveis (art. 833º do CPC)

. Após a consulta prévia do registo informático de execuções, caso seja necessário para a identificação e localização de bens penhoráveis, o agente de execução procederá à consulta das bases de dados da administração tributária, da segurança social, das conservatórias do

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registo predial, comercial e automóvel e de outros registos ou arquivos semelhantes, sem necessidade de qualquer autorização judicial, cujos serviços são obrigados a fornecer-lhe os elementos de que disponham para tal efeito, nos termos do artigo 833.º-A, n.º 1 a 6, do CPC, e da Portaria n.º 331-A/2009, de 30-3.

. Mostrando-se necessária a consulta de declarações e de outros elementos protegidos pelo sigilo profissional ou constantes de dados sujeitos a regime de confidencialidade, o agente de execução terá de providenciar pela prévia autorização judicial, nos termos exigidos pelo nº 7 do artigo 833.º-A do CPC, aplicando-se, neste caso, o disposto no nº 2 do artigo 519º-A, com as necessárias adaptações.

. Fora da hipótese prevista no n.º 3 do artigo 832.º do CPC, se, na sequência das diligências prévias à penhora pelo agente de execução, não forem encontrados bens penhoráveis, o exequente será então notificado para se pronunciar no prazo de 10 dias e indicar bens – art. 833.º-B, nº 3, do CPC.

Não sendo indicados bens penhoráveis pelo exequente, o execu-tado será citado ou notificado, neste caso se tiver havido citação prévia, para pagar ou indicar bens para penhora, no prazo de 10 dias, ainda que se oponha à execução, com a especial advertência de que a declaração falsa ou a falta de declaração o fará incorrer numa sanção pecuniária compulsória equivalente a 5% da dívida ao mês, com o limite global de € 1.000,00, desde a data da omissão até à descoberta dos bens, quando:

a) - não tenha feito qualquer declaração; b) - ou haja feito declaração falsa de que tenha resultado o não apuramento de bens suficientes para a satisfação da obrigação, nos termos do artigo 833.º-B, n.º 4 e 7, do CPC. Ser-lhe-á ainda indicado que pode, no mesmo prazo, opor-se à

execução – art. 833.º-B, n.º 4, parte final.

. Se o executado não pagar nem indicar bens para a penhora, extingue-se a instância executiva, por inutilidade superveniente da lide, nos termos dos artigos 833.º-B, n.º 6, e 919.º, n.º 1, alínea c), do CPC.

A extinção da instância executiva, ocorrida nesses termos, fará com que se reinicie o prazo de interrupção da prescrição do direito exequendo, que se interrompera por virtude da instauração da acção, em conformidade com o disposto no artigo 323.º, n.º 1 e 2, do CC, sendo que o reinício desse prazo ocorrerá retroactivamente a partir da

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data daquele efeito interruptivo, por aplicação analógica do preceituado no artigo 327.º, n.º 2, do CC.

2.2. Da realização da penhora

2.2.1. Linhas gerais

2.2.1.1. Observância dos requisitos de penhorabilidade e de proporcionalidade pelo agente de execução

. Na realização da penhora, o agente de execução deverá res-peitar os parâmetros legais quanto:

- à penhorabilidade / impenhorabilidade dos bens, nomeada- mente as regras constantes dos artigos 821.º, n.º 1 e 2, e 822.º a 831.º e 835.º do CPC - à proporcionalidade da penhora, mormente o disposto nos artigos 821.º, n.º 3, e 834.º, n.º 1 e 2, do CPC.Em caso de dúvida, deverá suscitar a questão ao juiz de execução,

ao abrigo do disposto no artigo 809.º, n.º 1, alínea d), do CPC.

2.2.1.2. Ordem de realização da penhora

. De harmonia com o disposto nos artigos 834.º, n.º 1, e 821.º, n.º 3, do CPC, a penhora realizar-se-á, preferencialmente pela ordem indicada nas diversas alíneas do n.º 1 do artigo 834.º do CPC.

Porém, nos casos de penhora de imóveis ou de estabelecimento comercial cujo valor se revele excessivo em relação ao montante do crédito exequendo e das despesas de execução previsíveis, é ainda assim admissível penhorar esses bens, quando a penhora de outros bens não

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permita, presumivelmente, a satisfação integral do credor no prazo de seis meses – art. 834.º, n.º 2, CPC.

. Por outro lado, quando exista garantia real sobre os bens do devedor, o artigo 835.º, n.º 1, do CPC, prescreve que a penhora se ini-cie pelos bens onerados, assistindo ao devedor o direito de se opor a que sejam penhorados outros bens enquanto se não reconhecer a insufi-ciência da garantia, mesmo que, relativamente aos bens onerados, a exe-cução se estenda para além do necessário à satisfação do direito do credor, como prevê o artigo 697.º do CC, no âmbito da hipoteca, aplicável ao penhor, aos privilégios creditórios e ao direito de retenção, por força das normas remissivas dos artigos 678.º, 753.º e 759.º, n.º 3, do CC, respectivamente.

Também, quando se trate de penhorar quinhão em património autónomo (v.g. quinhão hereditário) ou de quota de comproprietário e se permita a utilização do mecanismo previsto no n.º 2 do artigo 826.º do CPC, como sendo conveniente para os fins da execução, a penhora deve-rá começar por esses bens, nos termos do n.º 2 do citado artigo 835.º.

2.2.1.3. Formalidades gerais

. Segundo o regime vigente, a penhora é efectuada pelo agente de execução, em regra, sem precedência de despacho judicial que a autorize ou ordene, como sucedia no regime anterior à Reforma da Acção Executiva operada pelo Dec.-Lei n.º 38/2003, de 8-3 e que então se designava por despacho determinativo ou ordenatório da penhora.

Porém, há lugar a despacho judicial precedente que, nos casos de dispensa judicial de citação prévia, poderá integrar o despacho liminar, nas seguintes hipóteses :

a) – quando se trate de penhora de depósitos bancários ou de valores mobiliários, escriturais ou titulados, integrados em sistema centralizado, nos termos previstos no artigo 861.º-A, nº 1 e 12, do CPC;

b) – nos casos de penhora em escritório de advogado ou de solicitador, casos em que a realização da penhora será presidida pelo juiz, nos termos do art. 70.º do Estatuto da Ordem dos Advogados, aprovado pela Lei n.º 15/2005, de 26-1, e do artigo 105.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores, aprovado pelo Dec.Lei nº 88/2003, de 26-411;

11 O Estatuto da Câmara de Solicitadores, aprovado pelo Dec.-Lei n.º 88/2003, de 10-9, foi alterado nalgumas das suas disposições pelas Leis n.º 49/2004, de 24-8, n.º 14/2006, de 26-4, e Dec.-Lei n.º º226/2008, de 20-11.

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c) – nos casos em que tenha de ser requisitada a força pública para efectivar a entrega ou a apreensão do bem a penhorar, nos termos dos artigos 840.º, 848.º, n.º 3, e 850.º, n.º 1, do CPC.

Ao proferir o despacho autorizativo da penhora nas hipóteses acima referidas, o juiz não poderá deixar de fiscalizar a legalidade e proporcionalidade da penhora que lhe cumpre autorizar.

. A penhora será sempre reduzida a auto, em impresso próprio de modelo aprovado pela Portaria n.º 700/2003, de 21-7, como deter-mina o artigo 836.º do CPC.

Se o bem a penhorar já se encontrar arrestado a favor do exequen-te, a penhora faz-se por conversão do arresto, com anterioridade re-portada à data deste, nos termos dos artigos 822.º, n.º 2, do CC e 846.º do CPC.

. As demais formalidades da realização da penhora seguirão os termos regulados nos artigos 838.º a 863.º do CPC, consoante a natu-reza do bem ou do direito a penhorar.

2.2.1.4. Reforço e substituição da penhora

. A penhora efectuada pode ser reforçada ou substituída nas situações previstas no artigo 825.º, n.º 3 e 7, e nas diversas alíneas do n.º 3 do artigo 834º do CPC, mas em caso de substituição, a penhora dos bens substituídos só será levantada depois de efectuada a nova penhora – artigos 825.º, n.º 7, e 834.º, n.º 5, do CPC.

Nos termos do n.º 6 do artigo 834.º, a penhora pode ser ainda substituída por caução idónea a garantir os fins da execução, a reque-rimento do executado que se oponha à execução.

2.2.1.5. Caducidade da penhora

Se não forem efectuadas quaisquer diligências para a realização do pagamento do crédito exequendo durante seis meses, devido a acto ou omissão que não seja da responsabilidade do executado, este pode requerer ao agente de execução o levantamento da penhora, o qual só será consumado depois de findo o prazo de reclamação da decisão do agente de execução ou de transitada em julgado a decisão judicial que, respectivamente, o determinar, sendo imputadas ao

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exequente as custas a que der causa, nos termos previstos no artigo 847.º, n.º 1, 3 e 4, do CPC.

No entanto, ao abrigo do disposto no n.º 5 do artigo 847.º do CPC, qualquer credor que tenha reclamado um crédito já vencido, para ser pago pelo produto da venda do bem penhorado, pode substituir-se ao exequente na prática do acto negligenciado, passados três meses sobre o início dessa omissão negligente e enquanto não for requerido o levantamento da penhora, aplicando-se, com as adaptações necessárias, o nº 3 do artigo 920º, até que o exequente retome a prática normal dos actos executivos subsequentes.

2.2.1.6. Dever de informação do agente de execução (art. 837.º do CPC)

O agente de execução deve informar o exequente de todas as diligências efectuadas para a realização da penhora, bem como dos motivos da sua eventual frustração, disponibilizando tais informações exclusivamente por meios electrónicos, após a realização de cada diligência ou do conhecimento do motivo da sua frustração, nos termos do artigo 837.º do CPC.

Assim, quando o exequente se considerar insatisfeito com a prestação do agente de execução, poderá substituí-lo livremente, ao abrigo do preceituado no artigo 808.º, n.º 6, do CPC.

2.2.2. Modos específicos de efectivar a penhora

2.2.2.1. Quadro Preliminar

A – Enquadramento normativo

. O modus operandi na realização da penhora obedece a figurinos tipificados na lei em função da categoria dos bens e dos direitos a pe-nhorar, distribuindo-se por :

- penhora de bens imóveis ( arts. 838.º a 847.º do CPC); - penhora de bens móveis (arts. 848.º a 855.º); - penhora de direitos (arts. 856.º a 862.º-A).

. Por sua vez, o regime da penhora de bens móveis desdobra-se em duas modalidades:

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- a penhora de coisas móveis não sujeitas a registo (arts. 848.º 850.º); - a penhora de coisas móveis sujeitas a registo (automóveis, navios e aeronaves) – (arts. 851.º a 853.º). . Na penhora de direitos, os modos de efectivação da penhora en-

contram-se diversificados consoante várias espécies de direitos, a saber: - penhora de créditos em geral (arts. 856.º e 858.º a 860.º); - penhora de títulos de crédito (art. 857.º e 848.º, n.º 4); - penhora de direitos ou expectativas de aquisição (art. 860.º-A); - penhora de rendas, abonos, vencimentos ou salários (art. 861.º); - penhora de depósitos bancários (art. 861.º-A); - penhora de valores mobiliários, escriturais ou titulados, inte-grados em sistema centralizado (art. 861.º-A, n.º 14, CPC) - penhora de direito a bens indivisos e de quotas de socieda-des (art. 862.º); - penhora de estabelecimento comercial (art. 862.º-A).

. O regime da penhora de imóveis serve de modelo-base, aplicando-se, subsidiariamente, à penhora de móveis (art. 855.º) e à penhora de direitos (art. 863.º do CPC).

Por sua vez, o regime da penhora de móveis aplica-se subsidiariamente à penhora de direitos (art. 863.º CPC).

Dentro do regime da penhora de direitos, as normas relativas à pe-nhora de créditos constituem um quadro-base, como se depreende da re-missão feita nos artigos 857.º, nº 2, 860.º-A, nº 1, 861.º-A, n.º 1, 862.º, n.º 3, e 862.º-A, n.º 1, do CPC.

B – Penhoras sujeitas a registo

Antes de descrever cada um dos regimes específicos de realização da penhora, importa ter presente quais as espécies de penhora sujeitas a registo.

Estão, pois, sujeitas a registo as penhoras de: a) – coisas imóveis ou direitos a elas inerentes (direito de nua

propriedade ou propriedade de raiz, quota de comproprietário, direito de usufruto, direito de superfície) – art. 2.º, n.º 1, alíneas a) e n) do Código de Registo Predial (CRP) e arts. 838.º, n.º 1, e 862.º-A, n.º 6, do CPC;

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b) – direito real de habitação periódica, nos termos do art. 8.º do Dec.-Lei n.º 275/93, de 5-8, alterado pelo Dec.-Lei n.º 180/99, de 22-5, e pelo Dec.-Lei n.º 22/2002, de 31-1;

c) – veículos automóveis, nos termos do art. 5.º, n.º 1, al. f), do Dec.Lei n.º 54/75, de 12-2; quanto à simplificação do registo automóvel e ao registo on line, veja-se Dec.-Lei n.º 20/2008, de 31-1, e Portaria n.º 99/2008, de 31-1;

d) – navios – arts. 2.º do Dec.-Lei n.º 201/98, de 10-7; 4.º, als. a) e f), do Código do Registo Comercial, aprovado pelo Dec.-Lei n.º 42.644, de 14-11-1959, ainda em vigor quanto aos navios, ex vi do n.º 2 do art. 5.º do Dec.-Lei n.º 403/86, de 3-12, que aprovou o actual Código de Registo Comercial (CRCom);

e) – aeronaves, de matrícula portuguesa, no Instituto Nacional de Aviação Civil, nos termos do artigo 6º, alínea i), do Dec.-Lei n.º 133/98, 15-5;

f) – quotas ou direito sobre quota, nas sociedades por quotas, e direitos a lucros e à liquidação de sociedades em nome colectivo ou de parte social de sócios comanditados de sociedade em comandita simples, nos termos do artigo 3.º, n.º 1, alíneas e) e f), do CRCom, aprovado pelo Dec.Lei nº 403/86;

g) – direitos relativos à propriedade industrial (direito a patente, modelo, desenho ou marca), por averbamento no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, nos termos do artigo 30.º, n.º 1, alínea c), e 2 a 6, do Código da Propriedade Industrial (CPI), aprovado pelo Dec.-Lei n.º 36/2003, de 5-3, republicado pelo Dec.-Lei n.º 143/2008, de 25-7;

h) - direitos patrimoniais do autor – art. 215.º, n.º 1, al. d), do Código do Autor e dos Direitos Conexos (CDADC), aprovado pelo Dec.Lei nº 63/85, de 14-3, alterado pela Lei n.º 45/85, de 17-9, republicado pela Lei n.º 16/2008, de 1 de Abril;

i) – valores mobiliários, nos termos do art. 82.º do Código dos Valores Mobiliários (CVM), aprovado pelo Dec.Lei nº 486/99, de 13-11, na redacção dada pelo Dec.-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março12.

12 O CVM, foi alterado pelos seguintes diplomas: Dec.-Lei n.º 61/2002, de 20 de Março: alteração dos artigos 16.º e 17.º sobre a transparência de participações qualificadas; Dec.-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março: alteração do art. 82.º em adaptação à reforma executiva da acção executiva; Dec.-Lei n.º 107/2003, de 4 de Junho: alteração dos arts. 116.º, 118.º, 227.º e 229.º; Dec.-Lei n.º 66/2004, de 24 de Março: alteração de vários arts.; Dec.-Lei n.º 52/2006, 15 de Março: transposição de várias directivas comunitárias relativas ao abuso do mercado e de uma sobre prospecto; Dec.-Lei n.º 219/2006, de 2 de Novembro: transposição da directiva comunitária sobre ofertas públicas de aquisição, alterando-se para tanto vários artigos e aditando-se outros; Dec.-Lei n.º 357-A/2007, de 31 de Outubro: transposição de directivas comunitárias sobre mercados de instrumentos financeiros e sobre transparência, levando à modificação de 170 artigos e ao aditamento de outros 56; Dec.-Lei n.º 211-A/2008, de 3 de Novembro: alteração dos artigos 351.º, 363.º e 401.º e aditamento dos arts. 16.º-C e

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j) – créditos garantidos por hipoteca ou consignação em ren-dimentos – art. 2.º, n.º 1, al. o), do CRP e art. 856.º, nº 6, do CPC;

k) – direito ou expectativa real de aquisição de bem sujeito a registo – v.g. arts. 413.º (contrato-promessa com eficácia real) e 421.º (pacto de preferência com eficácia real) do CC;

l) - bens ou direitos enquanto integrados em estabelecimento comercial, quando estejam sujeitos a registo – art. 862.º-A, n.º 6, do CPC.

. Nas hipóteses previstas nas alíneas a) a i), o registo da penhora constitui o primeiro acto de realização da penhora; já nas hipóteses refe-ridas nas alínea j) a l), o registo da penhora é realizado em momento subsequente à feitura do auto de penhora13.

2.2.3. Penhora de bens imóveis (arts. 838.º a 847.º do CPC) 2.2.3.1. Actos de realização da penhora

A realização de penhora de coisas imóveis materializa-se nos seguintes procedimentos:

a) – Requisição da inscrição da penhora pelo agente de exe-cução à conservatória do registo predial competente mediante comunicação electrónica ou em declaração por aquele subscrita apresentada nesse, nos termos do artigo 838.º, n.º 1, do CPC e art. 48.º, n.º 1, do CRP; além da via electrónica, o pedido de registo pode ser efectuado pelo correio, por telecópia e por via imediata, nos termos dos artigos 41.ºB a 42.º-A do CRP;

b) – Inscrição imediata da penhora, ao que a lei confere nature-za urgente, nos termos do n.º 5 do artigo 838.º do CPC;

c) - Emissão e envio do certificado da penhora e da certidão dos ónus que impendam sobre o bem penhorado ao agente de execução, por parte da conservatória – art. 838.º, n.º 2, do CPC

d) – Feitura do auto de penhora pelo agente de execução, se-gundo o modelo aprovado pela Portaria n.º 700/2003, de 21-7, logo que receba o certificado de registo;

e) – Afixação de um edital pelo agente de execução, em mode-lo aprovado pela mesma Portaria, na porta ou em outro local visí-vel do imóvel penhorado – art. 838º, nº 3, do CPC;

350.º-C.13 Vide Prof. Lebre de Freitas, A Acção Executiva, 4ª Edição, pag. 259 e 260.

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f) – Entrega efectiva do bem penhorado ao depositário, nos termos do n.º 1 do artigo 840.º, sem prejuízo do disposto nos n.º 1 e 2 do artigo 839.º, ambos do CPC;

- quando seja oposta alguma resistência, o agente de execução pode solicitar directamente o auxílio das autoridades policiais - art. 840.º, n.º 2;

- nos casos em que as portas estejam fechadas ou haja receio justificado de resistência, a requerimento fundamentado do agente de execução, o juiz determina o auxílio das autoridades judiciais, arrombando-se, se necessário, as portas e lavrando-se auto da ocorrência - art. 840.º, n.º 3, CPC;

- tratando-se de casa habitada ou sua dependência fechada, deve observar-se o preceituado no nº 4 do mesmo artigo; g) – Notificação ou citação da realização da penhora ao

executado, consoante tenha ou não ocorrido citação prévia (arts. 863.º-B, n.º 1, alínea b), e 864.º, n.º 2, do CPC), e notificação ao exequente.

2.2.3.2. Conversão do arresto em penhora (art. 846.º CPC)

Se o bem a penhorar já estiver arrestado a favor do exequente, a penhora far-se-á por conversão do arresto mediante averbamento da-quela ao registo deste, como preceituam os artigos 846.º do CPC e 101.º, n.º 2, alínea a), do CRP, a comunicar à conservatória competente, nos termos previstos no n.º 1 do artigo 838.º do CPC, passando a penhora a reportar-se à data do arresto, nos termos estatuídos no art. 822.º, n.º 2, do CC.

Recebido o certificado do registo e a certidão de ónus, o agente de execução procederá conforme o disposto no artigo 838.º, n.º 3, ex vi do artigo 846.º do CPC, lavrando o auto de conversão e procedendo à afixação do edital. Não haverá, porém, lugar à entrega do bem ao fiel depositário se o bem arrestado já tiver entregue a quem o deva ser nos termos do artigo 839.º do CPC.

2.2.3.3. Do registo da penhora

. O registo da penhora reveste natureza constitutiva e a sua data reporta-se à data da apresentação a registo, relevando para tal efeito o número de ordem da apresentação, nos termos dos artigos 63.º, n.º 2, e 77.º, n.º 1, do CRP.

O registo pode ser efectuado provisoriamente por natureza ou por dúvidas, nos termos dos artigos 70.º e 92.º, n.º 2, alínea a), do CRP; mas

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quando convertido em definitivo conserva a prioridade do registo provisório, como determina o n.º 3 do artigo 6.º do CRP.

. Se existir sobre o bem a penhorar registo de aquisição ou reco-nhecimento do direito de propriedade ou de mera posse a favor de pes-soa diversa do executado, a inscrição da penhora será feita provisoria-mente por natureza, ficando sujeita ao prazo de caducidade de um ano, conforme o estabelecido no artigo 92.º, n.º 2, alínea a), e n.º 5, do CRP.

Nesses casos, para suprir a quebra do trato sucessivo, o juiz de-verá ordenar a citação do titular inscrito ou, tendo este falecido, dos seus sucessores, para declarar, no prazo de 10 dias, se o prédio ou o direito lhe pertence, nos termos do artigo 119.º, n.º 1 e 2, do CRP.

Se o citado declarar que o bem não lhe pertence ou não fizer de-claração alguma, será expedida certidão desse facto à conservatória com-petente para conversão oficiosa no registo, como estatui o n.º 3 do refe-rido artigo 119.º.

Caso o citado declare que o bem lhe pertence, o juiz remeterá os interessados para os meios processuais comuns, suspendendo, em princípio, a execução quanto ao bem em causa; expedir-se-á também cer-tidão do facto à conservatória, com a data da notificação da declaração, para ser anotada no registo – artigo 119.º, n.º 4.

Proposta acção declarativa contra o titular inscrito, e uma registada essa acção na vigência do registo provisório da penhora, o prazo de ca-ducidade deste registo prorroga-se até que seja cancelado o registo daquela acção, nos termos conjugados dos artigos 92.º, n.º 5, e 119.º, n.º 5, do CRP. Se a acção não for proposta ou não for registada dentro de 30 dias, a contar da notificação da declaração prevista no n.º 4 do artigo 119.º, o registo provisório da penhora caduca, por força da última parte do n.º 5 do artigo 92.º.

No caso de procedência dessa acção declarativa, deve o interessa-do pedir a conversão do registo em definitivo no prazo de 10 dias a contar do trânsito em julgado – art. 119.º, n.º 6, do CRP.

. O registo provisório da penhora não obsta, em regra, ao prosseguimento da execução, mas só se procederá à adjudicação do bem penhorado (arts. 875.º e segs. CPC), à consignação judicial dos seus rendimentos (arts. 879.º e segs. CPC) ou à respectiva venda (arts. 886.º e segs. CPC), quando o registo haja sido convertido em definitivo – art. 838.º, n.º 4, 1.ª parte, do CPC.

Todavia, se a questão for suscitada, o juiz pode, ponderados os motivos de provisoriedade, decidir que a execução não prossiga sem

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que o registo se mostre convertido em definitivo – art, 838.º, n.º 4, última parte, do CPC.

2.2.3.4. Do depositário judicial

A – Quem pode exercer as funções de depositário

. Em regra, será constituído depositário, nos termos do artigo 839º, nº 1, do CPC:

- o agente de execução; - a pessoa que for designada pelo oficial de justiça, nos casos em não seja designado agente de execução, cabendo reclamação para o juiz daquele acto de designação (art. 161.º, n.º 5, do CPC).

. Porém, nos termos especialmente previstos nas diversas alíneas do n.º 1 do artigo 839.º, serão depositários:

- o executado, quando o bem penhorado seja a sua casa de ha-bitação efectiva;

- o arrendatário, se o bem se encontrar arrendado; havendo vários arrendatários, o agente de execução escolherá um deles, que cobrará as rendas dos demais – n.º 2 do artigo 839.º do CPC; mas desse acto de escolha caberá reclamação para o juiz de execução, ao abrigo do artigo 809.º, n.º 1, alínea c), do CPC;

- retentor, nos casos em que o bem seja objecto de retenção, em consequência de incumprimento contratual judicialmente veri-ficado em acção própria, o que tem aplicação no âmbito do incum-primento de contrato-promessa de transmissão, quando tenha havi-do sinal e tradição da coisa, nos termos dos artigos 442.º, n.º 2, e 755.º, n.º 1, alínea f), do CC14.

. O próprio executado ou outra pessoa designada pelo agente de execução podem ser depositários, se o exequente o consentir, sem prejuízo dos casos previstos nas diversas alíneas do n.º 1 do artigo 839º.

B – Poderes e deveres do depositário

14 Lebre de Freitas e Armindo Ribeiro Mendes, in Código de Processo Civil Anotado, Vol. 3º, Coimbra Editora, 2003, pags. 409 e 410, entendem que, nos casos de não se encontrar judicialmente verificado o incumprimento do promitente-vendedor, mas em que o contrato-promessa tenha eficácia real (art. 413º do CC) ou em que tiver sido registada a acção para execução específica antes da penhora, esta não implica que não se respeite a ocupação do promitente retentor.

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. O artigo 843.º, n.º 1, do CPC, como directriz geral, atribui ao depositário judicial, além dos deveres gerais do depositário previstos nos artigos 1187º e seguintes do CC, o dever de administrar os bens com a diligência e zelo de um bom pai de família e com a obrigação de prestar contas.

. Assim, incumbe ao depositário judicial: a) – o dever de tomar a posse efectiva do bem – nos termos do artigo 840.º do CPC;

b) – o dever de guardar o bem penhorado (art. 1187.º, al. a), do CC; c) – a mera administração do bem, o que compreende os ac-tos de conservação e frutificação normal; mas já não abrange os actos que se reconduzam a obras de melhoramento ou a modos de exploração diversos do que ali vinha sendo praticado, e muito me-nos os actos que importem uma alteração da substância da coisa ou a sua substituição por outra15; d) – o dever de depositar as rendas percebidas, nos termos do artigo 839.º, n.º 3, do CPC; e) – o dever de avisar imediatamente o tribunal de execução, quando saiba que algum perigo ameaça a coisa – art. 1187.º, al. b), do CC; f) – o uso dos meios possessórios contra actos de turbação ou de esbulho, mais precisamente providência cautelar de restituição provisória de posse (arts. 393.º a 395.º do CPC) e acções posses-sórias (arts. 1276.º e segs. do CC), por força do disposto no artigo 1188.º, n.º 2, do CC; g) – o dever de prestar contas anualmente, se antes não termi-nar a sua administração, salvo se o juiz, atendendo ao estado do processo, autorizar que as contas sejam prestadas somente no fim da administração – artigos 843.º, n.º 1, 1020.º e 1021.º, estes por força do disposto no 1023.º, todos do CPC; h) – a obrigação de mostrar o bem a potenciais compradores, nos termos do artigo 891.º do CPC; i) – a obrigação de entregar a coisa ao adjudicatário ou ao comprador - artigos 1187.º, alínea c), do CC e 878.º e 901.º do CPC.

. O depositário pode requerer autorização ao agente de execução ou, em caso de urgência, ao juiz de execução para se proceder à venda

15 Vide Amâncio Ferreira, Curso de Processo de Execução, 7ª Edição, Almedina, pag. 245.

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antecipada do bem penhorado, nas situações previstas nos n.º 1 e 3 do artigo 886.º-C do CPC, seguindo-se o procedimento prescrito nos n.º 2, 3 e 4 do mesmo normativo.

. Havendo necessidade de providenciar sobre o modo de explora-ção do bem penhorado, na falta de acordo entre o exequente e o executado, tal será decidido pelo juiz de execução, ouvido o depositário e realizadas as diligências convenientes, nos termos do n.º 2 do artigo 843.º do CPC.

. Nos casos em que seja depositário, o agente de execução pode socorrer-se, na administração do bem penhorado, de colaboradores, que actuam sob a sua responsabilidade – arts. 808.º, n.º 10, e 843.º, n.º 3, do CPC.

C – Remoção e escusa do depositário

O depositário judicial, quando não seja o agente de execução, pode ser removido, a requerimento de qualquer interessado, quan-do deixe de cumprir os deveres do seu cargo, nos termos do n.º 1 do artigo 845º do CPC, seguindo-se para tanto o procedimento geral dos incidentes da instância previstos nos artigos 303.º a 304.º, por força do n.º 2 do mencionado artigo 845.º, do mesmo Código.

E pode também ser pedida a escusa do cargo, com fundamento em motivo atendível – art. 845.º, n.º 3, do CPC e art. 122.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores, aprovado pelo Dec.Lei n.º 88/2003, de 26-4.

No caso de o depositário ser o próprio agente de execução, a infracção dos respectivos deveres pode levar à sua destituição, nos termos previstos no n.º 6 do artigo 808.º do CPC.

2.2.3.5. Da extensão da penhora

. Neste capítulo, importa ter presente, quanto às coisas corpóreas, os conceitos de16 :

a) – Partes componentes, que consistem nos elementos sem os quais a coisa não existe ou é imperfeita – v.g. paredes, tecto, terre-no;

b) – Partes integrantes, que, nos termos do n.º 3 do artigo 204.º do CC, são as coisas móveis materialmente ligadas à coisa com

16 Segue-se de perto a classificação de Carvalho Fernandes, Teoria Geral do Direito Civil, Vol. II, AAFD de Lisboa, 1983, pag. 135 e 154 a 159; Prof. Manuel de Andrade, Teoria Geral da Relação Jurídica, Vol. I, Coimbra, 1974, pags. 268 a 273.

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carácter de permanência, mas que podem ser dela destacadas sem perda da sua identidade – v.g. antena parabólica, pára-raios, canalizações, instalações eléctricas, portão ou cancela)

c) – Coisas acessórias, as quais se traduzem em coisas móveis que, não estando materialmente ligadas à coisa principal com carácter de permanência, estão afectadas, de forma duradoura, ao seu serviço (afectação económica) ou ornamentação (afecta-ção estética), podendo manter ou não valor próprio quando desafectadas, mas sem que a sua desafectação prejudique a utilização da coisa principal - art. 210.º, n.º 1, do CC ; v.g. alfaias agrícolas, efectivo pecuário, o mobiliário.

d) – Pertenças, que compreendem as coisas acessórias que não tendo valor económico autónomo, não são desafectáveis da coisa principal sem que esta fique prejudicada na sua utilização normal - títulos de propriedade; chaves, corda de relógio;

e) – Frutos, compreendendo tudo aquilo que a coisa produz com periodicidade, sem prejuízo da sua substância (art. 212.º, n.º 1, do CC), os quais podem ser:

- frutos naturais : quando provêm directamente da coisa; - frutos civis – quando consistam em rendimentos produzi-dos em virtude de uma relação jurídica (v.g. rendas, juros); - frutos pendentes – enquanto se mantêm ligados à coisa; - frutos percebidos – quando já foram destacados da coisa (no caso de frutos naturais) ou já foram recebidos (no caso de frutos civis); - frutos percipiendos – os que ainda não foram percebidos mas já o deviam ter sido;

f) – Produtos – tudo aquilo que a coisa produz, sem carácter de periodicidade e sem perda da sua substância, que não física, mas em termos de destinação social – v.g. o minério; quando ligados materialmente, os produtos são partes integrantes.

. Ora a penhora de imóveis incide não só, obviamente, sobre as respectivas partes componentes da coisa, mas estendem-se igualmente às partes integrantes e aos seus frutos naturais e civis, desde que não sejam expressamente excluídos e nenhum privilégio exista sobre eles, como se preceitua no n.º 1 do artigo 842.º do CPC.

Nessa medida, a penhora recai sobre o prédio como uma unida-de, por forma a englobar, além das partes componentes, as partes inte-grantes e os frutos, obstando, em princípio, a que sejam objecto de ulte-riores penhoras em separado.

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Em suma: . As partes componentes nunca poderão, pela sua própria natu-

reza, ser subtraídas ao âmbito da penhora que incidir sobre a coisa; . As partes integrantes e os frutos não serão abrangidos pela

penhora da coisa, quando: - tiverem sido expressamente excluídos; - recair sobre eles algum privilégio real, como sucede em caso de consignação de rendimentos (arts. 656.º e segs. do CC) e de privilégio creditório sobre frutos nos termos do artigo 739.º e 740.º do CC . Os frutos pendentes naturais17 podem ser penhorados em

separado, como coisas móveis, desde que não falte mais de um mês para a época normal das colheitas; se forem penhorados nessas circunstâncias, a subsequente penhora do prédio não os abrange, mas poderão ser objecto de nova penhora, sem prejuízo da precedente – artigo 842.º, n.º 2, do CPC;

. As coisas acessórias não estão abrangidas pela penhora da coi-sa principal, como decorre do disposto no artigo 210.º, n.º 2, do CC, pelo que podem ser objecto de penhora em separado;

. As pertenças, na definição acima dada, estão, porém, abrangi-das pela penhora da coisa a que estão afectas.

2.2.3.6. Sub-rogação real da penhora

Segundo o artigo 823.º do CC, quando ocorra perda, expropria-ção ou diminuição do valor da coisa penhorada, havendo lugar a inde-mnização em qualquer desses casos, por parte de terceiro, o direito que o exequente adquiriu pela penhora conserva-se sobre os créditos ou as quantias pagas a título de indemnização.

2.2.4. Penhora de móveis

2.2.4.1. De móveis não sujeitos a registo

2.2.4.1.1. Actos de realização da penhora

A penhora de coisa móvel não sujeita a regista materializa-se, nos termos do artigo 848.º, n.º 1, do CPC, mediante:

17 Os frutos pendentes civis são susceptíveis de exclusão, não se lhes aplicando, obviamente, a restrição prevista no artigo 842.º, n.º 2, do CPC.

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a) – Apreensão efectiva do bem pelo agente de execução; ha-vendo, porém, necessidade de recorrer ao auxílio da força públi-ca, o agente de execução poderá solicitá-lo directamente, nos termos do artigo 840.º, n.º 2, ex vi do artigo 848.º, n.º 3, do CPC; porém, quando houver recusa de abrir quaisquer portas ou móveis ou se a casa estiver deserta e as portas e móveis se encontrarem fechados, a requerimento fundamentado do agente de execução, o juiz determinará o auxílio da autoridade pública, nos termos do artigo 840.º, n.º 3 e 4, ex vi do artigo 850.º, n.º 1, do CPC; b) – Remoção imediata para depósito18 do bem penhorado; c) - Depósito em instituição de crédito, à ordem do agente de execução ou, na sua falta, da secretaria, quando se trate de apreensão de dinheiro, papéis de crédito, pedras e metais preciosos – n.º 4 do artigo 848.º do CPC; d) – Feitura do auto de penhora, pelo agente de execução, nos termos do artigo 849.º do CPC, e segundo o modelo aprovado pela Portaria nº 700/2003, consignando-se nele:

- a hora da diligência, o que releva para determinar a an-terioridade da penhora, tendo em vista o disposto nos artigos 604.º e 822.º, n.º 1, do CC;

- a relação dos bens penhorados por verbas numera-das;

- o valor aproximado de cada verba, fixado pelo agente de execução; nos casos em que a avaliação requeira conhe-cimentos especializados (v.g. jóias, equipamento informá-tico), o agente de execução poderá recorrer à ajuda de um perito – art. 849.º, n.º 2, do CPC;

e) - Levantamento de auto de ocorrência, quando haja lugar a medidas coercivas – artigos 840.º, n.º 2, e 848.º, n.º 3, do CPC.

f) – Imposição de selos ou outras medidas necessárias à guarda dos bens, quando a penhora não se puder concluir num só dia – artigo 849º, n.º 3, CPC.

g) – Notificação ou citação do executado da realização da pe-nhora, consoante tenha ou não ocorrido citação prévia (arts. 863.º-B, n.º 1, alínea b), e 864.º, n.º 2, do CPC), bem como notificação ao exequente.

. Na realização da penhora, o exequente pode cooperar com o agente de execução, nos termos do artigo 848.º-A do CPC, facultando-18 Os depósitos podem ser públicos ou equiparados; os procedimentos e condições em que se processa a venda em depósitos públicos de bens penhorados encontram-se regulamentados na Portaria n.º 331-B/ 2002009, de 30-3.

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lhe os meios necessários à apreensão da coisa, cujas despesas entram em regra de custas em conformidade com o disposto no artigo 455.º ex vi do n.º 2 do mesmo normativo.

2.2.4.1.2. Extensão da penhora

. A penhora de móveis pode recair sobre : - coisas simples, que são aquelas que, segundo a sua destinação

social, têm uma individualidade jurídico-económica, quer se tra-te de uma singularidade corpórea (v.g. um livro, um animal, uma peça de mobília), quer sejam constituídas por um agregado de di-versos elementos físicos mas sem autonomia fora dessa individua-lidade (v.g. uma máquina, um enxame de abelhas, um saco de ce-real, um baralho de cartas)19;

- coisas compostas ou universalidades de facto, as quais, nos termos do artigo 206.º, n.º 1, do CC, consistem numa pluralidade de coisas móveis simples que, pertencendo à mesma pessoa, têm no seu conjunto um destino unitário, uma individualidade económica global, para além do valor económico de cada compo-nente (v.g. uma biblioteca, uma colecção de moedas, uma mobília de sala, um rebanho)20.

. A penhora de uma coisa simples, fisicamente integrada por vá-

rios elementos corpóreos, abrange todos os seus componentes. . No caso de estarmos perante uma coisa composta ou universa-

lidade de facto, tanto pode ser penhorada cada uma das coisas móveis simples que a compõem, como pode ser penhorado o próprio conjunto por elas formado, de harmonia com o disposto no n.º 2 do artigo 206.º do CC.

. No caso de penhora de animais, importa ter presente que as crias e os despojos (v.g. lã, leite, mel, cera) constituem frutos naturais, pelo que estão abrangidos pela penhora, nos termos dos artigos 212.º, n.º 2, do CC e 842.º, n.º 1, este aplicável por via da remissão do art. 855.º do CPC. E tratando-se de penhora de universalidade de animais, conside-ram-se frutos dessa universalidade as crias não destinadas à substituição 19 Vide Profs. Pires de Lima e Antunes Varela, Código Civil Anotado, Vol. I, 2ª Edição Coimbra Editora, pag. 185.20 Profs. Pires de Lima e Antunes Varela, ob. cit., pag. 185.

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das cabeças que por qualquer causa vierem a faltar, bem como os despo-jos, e todos os proventos auferidos, ainda que a título eventual (art. 212.º, n.º 3, do CC).

2.2.4.1.3. Conversão do arresto em penhora

Se a coisa já se encontrar arrestada a favor do exequente, a penho-ra faz-se por conversão do arresto, lavrando-se auto de conversão, por aplicação do disposto na parte final do artigo 846.º, agora com referência ao artigo 849.º do CPC; mas não haverá lugar, em princípio, ao registo dos elementos que já constem do auto de arresto, salvo se ocorrerem alterações relevantes.

2.2.4.1.4. Do depositário judicial

De acordo com o preceituado no artigo 848.º, n.º 1, do CPC, o depositário será o agente de execução que tiver efectuado a diligência, observando-se, neste domínio, o regime já acima referido. Se a penhora for efectuada por oficial de justiça, o depositário será a pessoa por ele designada, nos termos do art. 839.º, n.º 1, ex vi do artigo 855.º do CPC.

Além dos deveres já referidos quanto ao depositário de coisa imó-vel penhorada, o depositário de coisa móvel tem ainda o dever especial de apresentar o bem quando lhe for ordenado, nos termos e sob as co-minações estabelecidas no artigo 854.º do CPC.

2.2.4.2. De móveis sujeitos a registo

2.2.4.2.1. Actos de realização da penhora

. A penhora de móveis sujeitos a registo, realiza-se, nos termos do artigo 851.º do CPC, mediante os seguintes procedimentos gerais:

a) – Requisição do registo da penhora pelo agente de execução, por comunicação electrónica ou requisição escrita, dirigida à en-tidade competente, que será a Conservatória do Registo Auto-móvel, a Conservatória do Registo Comercial ou o Instituto Nacional de Aviação Civil, consoante de trate de automóveis, na-vios ou aeronaves, respectivamente – art. 838.º ex vi do n.º 1 do artigo 851.º do CPC; e ainda artigo 5.º, n.º 1, alínea f), do Dec.Lei

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nº 54/75, de 12-2 (quanto aos automóveis)21; artigo 4.º, alínea f) do Código do Registo Comercial, aprovado pelo Dec.-Lei n.º 42.644, de 14-11-1959 (quanto a navios); artigo 6.º, alínea i), do Dec.-Lei n.º 133/98, de 15-5 (quanto a aeronaves);

b) - Inscrição imediata da penhora, ao que a lei confere natu-reza urgente, nos termos do n.º 5 do artigo 838.º do CPC;

c) - Emissão e envio do certificado da penhora e da certidão dos ónus que impendam sobre o bem penhorado ao agente de execução, por parte da entidade competente para o registo – art. 838.º, n.º 3, do CPC

d) – Feitura do auto de penhora pelo agente de execução, se-gundo o modelo aprovado pela Portaria nº 700/2003, de 21-7, logo que receba o certificado de registo;

e) - Notificação ou citação do executado da realização da pe-nhora, consoante tenha ou não ocorrido citação prévia (arts. 863.º-B, n.º 1, alínea b), e 864.º, n.º 2, do CPC), bem como notificação ao exequente.

. Na penhora de veículo automóvel, proceder-se-á, em especial, nos termos do n.º 2 e 3 do art. 851.º do CPC, à prática dos seguintes actos:

a) – Imobilização do veículo, no local onde for encontrado, desi-gnadamente através de imposição de selo, segundo o modelo constante do anexo III da Portaria n.º 700/2003, de 31-7, ou de imobilizadores, não havendo lugar, em regra, à apreensão material nem à remoção do bem penhorado;

b) – Apreensão dos respectivos documentos, sempre que for possível, nos termos dos n. 3 a 8 do artigo 164.º e do artigo 161.º do Código da Estrada aprovado pelo Dec.-Lei n.º 114/94, de 3-5;

c) – Apreensão material do veículo, remoção para depósito e entrega efectiva do veículo a depositário, lavrando-se auto da ocorrência, nos casos em que o agente de execução o entenda necessário, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o preceituado nos artigos 167.º e 168.º do Código da Estrada aprovado pelo Dec.-Lei n.º 114/94, de 3-5;

d) – Tratando-se de veículo de matrícula estrangeira, apre-ensão material ou imobilização, caso seja suficiente, sem prejuízo do registo que possa ser efectuado no Estado da matrícula22.

21 Quanto à simplificação do registo automóvel e ao registo on line, veja-se Dec.-Lei n.º 20/2008, de 31-1, e Portaria n.º 99/2008, de 31-1;

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. No caso de penhora de navio despachado para viagem, proce-der-se-á, após a penhora, nos termos do n.º 4 do artigo 851.º do CPC, à notificação à capitania, para que apreenda os respectivos documentos e impeça a saída do navio.

Quando se trate de navio matriculado em país estrangeiro, a pe-nhora opera-se pelo acto de apreensão por parte da capitania, levan-tando-se auto da ocorrência, e aplicando-se, subsidiariamente, o dispos-to no artigo 848.º do CPC23.

. No caso de aeronave, após a penhora, procede-se à notificação da autoridade de controlo de operações do local onde ela se encontra estacionada, para que apreenda os respectivos documentos, nos termos do n.º 5 do artigo 851.º do CPC e do artigo 6.º, alínea i), do Dec.-Lei n.º 133/98, de 15-5.

Tratando-se de aeronave matriculada em país estrangeiro, a penhora opera-se por efeito do acto de apreensão da autoridade de controlo, subsequente à sobredita notificação24.

. Se o bem já se encontrar arrestado a favor do exequente, a pe-nhora realiza-se por conversão do arresto em penhora, nos termos já descritos quanto à penhora de imóveis – artigo 846.º aplicável por força do artigo 855.º do CPC.

2.2.4.2.2. Do depositário judicial

. Nos casos em que haja apreensão material da coisa penhorada, as funções de depositário são exercidas pelo agente de execução, nos ter-mos do artigo 848.º, n.º 1, do CPC.

. No caso de penhora de navio, o depositário pode promover que navegue, se houver acordo entre o exequente e o executado, e pre-cedendo autorização judicial, nos termos do artigo 852.º do CPC.

Qualquer credor poderá também fazer navegar o navio penhorado, independentemente de acordo entre o exequente e o executado, desde que preste caução e faça seguro contra riscos, em conformidade com o preceituado no artigo 853.º do CPC.

22 Vide Lebre de Freitas e Ribeiro Mendes, Código de Processo Civil Anotado, Vol. 3º, Coimbra Editora, 2003, pag. 437.23 Ob. cit. pag. 438.24 Ob. cit. pag. 438.

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2.2.5. Penhora de direitos (artigos 856.º a 862.º-A do CPC)

2.2.5.1. Penhora de créditos em geral (arts. 856.º e 858.º a 860.º do CPC)

. A penhora de créditos de que o executado seja titular sobre terceiro, quer tenham por objecto uma prestação pecuniária, uma pres-tação de entrega de coisa, ou prestação de facto, é feita por notificação desse terceiro devedor, segundo as formalidades da citação, com a indi-cação de que o crédito fica à ordem do agente de execução, nos termos do artigo 856.º, n.º 2, do CPC, e das cominações a que fica sujeito prescritas nos n.º 4 e 5. Não podendo tais declarações ser feitas no acto de notificação, serão prestadas por escrito ao agente de execução, no prazo de 10 dias – art. 856.º, n.º 3, CPC.

. Se o crédito estiver garantido por penhor ou por direito de retenção, far-se-á ainda, nos termos do n.º 6 do artigo 856.º :

- a apreensão da coisa empenhada ou objecto da retenção, aplicando-se as disposições relativas à penhora de coisas móveis não sujeitas a registo, nomeadamente a entrega efectiva do bem ao depositário25; - ou a transferência do direito para a execução, quando se tra-te de penhor sobre direitos (v.g. de participações sociais, direitos patrimoniais de autor), mediante a notificação do devedor do direito empenhado e entrega dos documentos comprovativos (artigos 681.º e 682.º do CC), bem como o registo a que haja lugar.Se o crédito a penhorar tiver garantido por hipoteca ou por

consignação de rendimentos, procede-se ao registo da penhora por averbamento ao registo da hipoteca ou da consignação, incumbindo ao agente de execução, em acto complementar da penhora, comunicar, em regra por via electrónica, para tal efeito, à conservatória do registo predial competente, nos termos do artigo 838.º do CPC e 101.º, n.º 1, alínea a) do CRP, e juntar ao processo certificado desse averbamento e certidão dos ónus que incidam sobre o bem dado em garantia.

25 Em caso de penhor mercantil, se a coisa empenhada não estiver na posse do credor pignoratício (art. 398.º do C.Com.), não haverá apreensão material mas apenas jurídica.

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. Notificado da penhora do crédito do executado, ao devedor cum-pre declarar no acto da notificação, se ela for efectuada por contacto pessoal, ou, não o sendo, mediante escrito ao agente de execução, no prazo de 10 dias, se o crédito existe, quais as garantias que o acompanham, qual a data de vencimento e quaisquer outras circunstâncias que possam interessar à execução, incorrendo em litigância de má fé se faltar conscientemente à verdade, como se prescreve nos nº 3, 4 e 5 do artigo 856.º do CPC; nada dizendo, entende-se que reconhece a existência do crédito penhorado, nos precisos termos em que foi indicado à penhora – n.º 4 do artigo 856.º.

Se o devedor notificado contestar a existência do crédito, serão notificados o exequente e o executado para se pronunciarem, no prazo de 10 dias, devendo o exequente declarar se mantém ou desiste da penhora. Caso o exequente não desista da penhora, o crédito passa a considerar-se litigioso e como tal será adjudicado ou transmitido – artigo 858.º do CPC.

Porém, se o terceiro devedor notificado alegar apenas que a exigibilidade da obrigação está dependente de prestação a efectuar pelo executado, e se este o confirmar, será então notificado para satisfazer tal prestação no prazo de 15 dias. Não o fazendo, o exequente pode promover a execução dessa prestação, por apenso no mesmo processo, e sem necessidade de citação do executado, servindo de título executivo a sua declaração de reconhecimento da dívida, conforme o disposto no artigo 859º, nº 1, 2 e 4, do CPC. Em alternativa, o exequente pode efectuar a prestação em substituição do executado, ficando nesse caso sub-rogado nos direitos do devedor.

Se o executado impugnar a alegação da inexigibilidade suscita-da pelo terceiro devedor, não sendo possível ultrapassar a divergência, o direito considerar-se-á litigioso, aplicando-se o disposto no artigo 858.º do CPC.

. Logo que se vença o crédito penhorado, o devedor que o não haja contestado é obrigado, nos termos do artigo 860.º, n.º 1, do CPC:

a) - quando se trate de obrigação pecuniária, a depositar a quantia correspondente em instituição de crédito à ordem do agente de execução ou, na sua falta, à ordem da secretaria, juntando ao processo o documento comprovativo do depósito desi-gnado por conhecimento de depósito;

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b) - quando se trata de obrigação de entrega de coisa, a entre-gá-la ao agente de execução, que a receberá como depositário.

Porém, se o vencimento do crédito penhorado for posterior à sua adjudicação (art. 875.º do CPC) ou à venda executiva (art. 886.º e segs. CPC) realizadas entretanto no processo, e a aquisição tiver sido notificada ao devedor, a entrega da quantia ou da coisa será efectuada a quem desse modo a tiver adquirido, como estatui o n.º 2 do artigo 860.º do CPC.

. Se o terceiro devedor não efectuar a prestação correspon-dente ao crédito penhorado, o exequente ou o adquirente da presta-ção (neste caso se ela tiver sido entretanto adjudicada ou vendida no pro-cesso) podem exigi-la por via executiva, servindo de título a declaração de reconhecimento do devedor, a notificação efectuada e a falta de decla-ração ou o título de aquisição do crédito, nos termos dos n.º 3 do artigo 860.º.

Em caso de reconhecimento meramente tácito da existência do crédito penhorado, nos termos do n.º 4 do artigo 856º do CPC, se o exequente promover a execução contra o terceiro devedor, ao abrigo do n.º 2 do artigo 860.º, este pode provar, em oposição a essa execução, que aquele crédito não existia, mas o exequente pode pedir, por seu turno, na contestação dessa oposição, que o terceiro devedor lhe pague uma inde-mnização pelos danos causados, nos termos gerais, liquidando-se a sua responsabilidade na própria oposição, quando o exequente faça valer na contestação o direito a tal indemnização - n.º 4 do artigo 860º.

. Quando estiver em causa a conservação do direito de crédito penhorado, o exequente, o executado e os credores reclamantes podem, ao abrigo do disposto no n.º 5 do artigo 856.º do CPC, requerer ao juiz as providências ou autorização para praticar os actos indispensáveis, nomeadamente a utilização dos meios conservatórios previstos nos arti-gos 605.º (declaração de nulidade), 606.º (acção sub-rogatória), 610.º (impugnação pauliana) e 619.º (arresto) todos do CC.

2.2.5.2. Penhora de títulos de crédito e de valores mobiliários titulados não integrados em sistema centralizado (arts. 848.º, n.º 4, e 857.º CPC)

. A penhora pode incidir sobre: a) - direitos incorporados em títulos de crédito de :

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- natureza obrigacional - letras, cheques, extractos de factu-ra; - natureza real - conhecimentos de carga, guias de trans-porte, conhecimentos de depósito e cautelas de penhor;

b) - valores mobiliário titulados (em documentos de papel) que estejam em poder do executado ou de terceiro, mas não integrados em sistema centralizado nem depositados em interme-diário financeiro nos termos previstos no n.º 14 do artigo 861º-A, do CPC e artigo 1º, nº 1, do Código dos Valores Mobiliários (CVM), aprovado pelo Dec.Lei nº 486/99, 13-11, tais como: acções, obrigações, títulos de participação, warrants autónomos.

. A penhora de tais títulos de crédito e de valores mobiliários será efectuada mediante:

a) - a apreensão do título e, sempre que possível, averbamento do ónus resultante da penhora no mesmo – artigo 857.º, n.º 1, do CPC;

b) - a notificação do devedor nos casos em que o direito incor-porado no título revista natureza obrigacional (v.g. os obrigados cambiários), observando-se o disposto nos artigos 856.º e 858.º a 860.º, aplicáveis ex vi do n.º 2 do artigo 857.º, todos do CPC; assim os devedores notificados, deverão depositar as quantias corres-pondentes, nos termos do artigo 860º, nº 1, do CPC;

c) - o depósito em instituição de crédito, à ordem do agente de execução ou, na sua falta, da secretaria, quando a apreensão respeite a títulos de crédito ou a valores mobiliários titulados – artigos 848º, n.º 4, e 857.º, nº 3, do CPC;

d) – elaboração do auto de penhora pelo agente de execução; e) – notificação ou citação do executado e notificação do

exequente da realização da penhora.

. A penhora abrange os rendimentos provenientes desses títulos de crédito (juros) ou valores mobiliários (lucros), nos termos do artigo 842.º, n.º 1, do CPC.

2.2.5.3. Penhora de direitos ou expectativas de aquisição (art. 860.º-A CPC)

Neste capítulo, incluem-se, nomeadamente :

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- o direito à execução específica do promitente-comprador emergente de contrato-promessa com eficácia real26, previsto nos artigos 413.º, nº 1, e 830.º, n.º 1, do CC; - o direito de preferência legal ou convencional com eficácia real (art. 422.º do CC); - o direito do locatário financeiro previsto no artigos 9.º, n.º 1, al. c) e 10.º, n.º 2, al. f), do Dec.-Lei n.º 149/95, de 24-6; - o direito de cedência ou de transferência dos praticantes profissionais de futebol previsto no artigo 19.º da Lei n.º 28/98, de 26-6; - a expectativa de aquisição de bem vendido com reserva de propriedade – art. 409.º, n.º 1, do CC.

. A penhora dos direitos ou expectativas de aquisição em referên-cia realiza-se mediante:

a) - A notificação do obrigado à correspondente prestação de facto (v.g. ao promitente-vendedor, ao obrigado à preferência, ao locador financeiro, à entidade desportiva cedente, ao vendedor reservatário), nos termos e para os efeitos do artigo 856.º, aplican-do-se o disposto nos artigos 858.º e 859.º, ex vi do artigo 860.º-A, n.º 1, do CPC;

b) - Se a coisa estiver na posse ou detenção do executado: - tratando-se de imóvel, o registo provisório da penhora e entrega ao depositário, nos termos dos artigos 838.º a 840.º, ex vi do n.º 2 do artigo 860.º-A, do CPC; - tratando-se de móvel sujeito a registo, o registo provisório da penhora e imobilização ou, quando necessária ou conveniente, apreensão e remoção, nos termos dos artigos 849.º e 851.º, ex vi do n.º 2 do artigo 860.º-A do CPC;

- em caso de móveis não sujeitos a registo, apreensão e re-moção para depósito, nos termos dos artigos 848.º a 850.º do CPC;

c) – elaboração do auto de penhora pelo agente de execução;

d) - Notificação ou citação do executado da realização da pe-nhora, consoante tenha ou não ocorrido citação prévia (arts. 863.º-

26 O direito à execução específica sem eficácia real é um direito de crédito penhorável nos termos gerais.

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B, n.º 1, alínea b), e 864.º, n.º 2, do CPC), bem como notificação ao exequente. . Consumada a aquisição, a penhora passa a incidir sobre o pró-

prio bem transmitido – artigo 860.º-A, n.º 3.

. A doutrina tem vindo a entender que os direitos ou expectativas de natureza meramente obrigacional (v.g. direito à execução especí-fica emergente de contrato-promessa sem eficácia real, direito de prefe-rência convencional com eficácia real) não estão compreendidos no âm-bito do artigo 860.º-A, mas caem no regime geral do artigo 856.º do CPC.

Todavia, dado que, no respeitante ao modo de efectuar a prestação de facto, o artigo 860.º nada prevê, parece defensável aplicar à penhora dos direito e expectativas de aquisição obrigacionais, pelo menos, o disposto no n.º 3 do artigo 860.º-A.

2.2.5.4. Penhora de rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros rendimentos periódicos (art. 861.º CPC)

A penhora de rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros rendimentos periódicos faz-se por notificação ao locatário, ao empre-gador ou à entidade que os deva pagar para que proceda ao desconto correspondente às quantias devidas em instituição de crédito à ordem do agente de execução ou, na sua falta, da secretaria, nos termos do art. 861.º, n.º 1 e 2, mas aplicando-se, subsidiariamente, o preceituado nos artigos 856.º e 858.º a 860.º, todos do CPC. A citação ou notificação do executado terá lugar ao mesmo tempo que a notificação do empregador (art. 864.º, n.º 4, do CPC).

As importâncias depositadas mantêm-se indisponíveis até se es-gotar o prazo para que o executado deduza oposição à penhora ou, caso se oponha, até ao trânsito em julgado da decisão sobre o incidente de oposição – artigo 861.º, n.º 2, do CPC.

Logo que se esgote aquele prazo sem dedução de oposição ou, sendo esta deduzida, logo que transite em julgado a decisão do incidente, o agente de execução entrega ao exequente as quantias depositadas até ao valor do seu crédito, deduzido o montante relativo a despesas de execução estabelecido no nº 3 do artigo 821º do CPC, e ressalvada a importância coberta por preferência de garantia de algum crédito reclamado, nos termos do n.º 3 do art. 861.º do CPC.

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2.2.5.5. Penhora de depósitos bancários (art. 861º-A, nº 1 a 11)

A – Natureza do direito penhorado

. Em primeiro lugar, há que ter presente que o depósito em insti-tuição de crédito se caracteriza como um contrato de depósito irre-gular, a que se aplica, genericamente, na medida do possível, o regime do mútuo, por via do disposto no artigo 1206º do CC.

Nessa medida, a propriedade das quantias depositadas tornam-se propriedade da instituição depositária, assistindo ao depositante o direito de crédito ao seu reembolso, nos termos dos artigos 1142º, parte final, e 1144º do CC. É a penhora desse direito de crédito que está contemplada no artigo 861º-A, nº 1 a 13, do CPC e que a lei designa por penhora de depósitos bancários.

B – Objecto da penhora

. A penhora pode recair sobre conta à ordem ou a prazo: - singular do executado ; - colectiva, em que o executado figure como um dos seus conti-tulares.

Devem observar-se, em geral, os limites de penhorabilidade esta-belecidos nos artigos 824.º, n.º 3 e 5, e 824.º-A, do CPC.

. Em caso de conta colectiva, a penhora incide sobre a quota-parte do executado, presumindo-se iguais as quotas dos respectivos contitulares, nos termos do n.º 2 do artigo 861.º-A do CPC, independentemente de se tratar de conta solidária ou conjunta, sem prejuízo da fa-culdade de o exequente ou de o terceiro contitular da conta solidária ou conjunta poderem requerer, respectivamente, a penhora de todo o saldo ou o levantamento dessa penhora, alegando e provando que o referido saldo pertence todo ao executado ou ao terceiro contitular.

. Quando não seja possível identificar adequadamente a conta ou contas a penhorar, será penhorada a parte do executado nos saldos de todos os depósitos existentes nas instituições de crédito a notificar, até ao limite referido no n.º 3 do artigo 821.º do CPC; parece que

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poderão ser notificadas sucessiva ou simultaneamente todas as instituições depositárias do País27.

Sendo penhoradas várias contas na mesma instituição, cujos saldos excedam o sobredito limite, a entidade depositária observará, na efectivação da penhora, nos termos do n.º 4 do artigo 861.º-A do CPC, os seguintes critérios de preferência :

a) - em primeiro lugar, preferem as contas singulares do execu-tado às contas colectivas;

b) - de entre as contas colectivas, preferem as que tiverem menor número de titulares;

c) – de entre as que têm o mesmo número de titulares, preferem aquelas em que o executado é o primeiro titular;

d) - em segundo plano, as contas a prazo preferem sobre as contas à ordem.

Exemplos : - entre uma conta singular à ordem e uma conta colectiva a

prazo, prefere a conta singular; - entre uma conta singular à ordem e uma conta singular a

prazo, prefere a conta a prazo; - entre uma conta colectiva à ordem com dois titulares e uma

conta a prazo com três titulares, prefere a conta à ordem com dois titulares; - entre uma conta à ordem com dois titulares e uma conta a

prazo com dois titulares, prefere a conta a prazo.

Se as várias contas penhoradas respeitarem a diversas institui-ções, e o referido limite tiver sido excedido, cumpre ao agente de exe-cução reduzir a penhora a esse limite, observando os critérios acima escalonados art. 861.º-A, n.º 4.

C - Trâmites

. A penhora realiza-se, nos termos dos n.º 1 a 10 do artigo 861º-A do CPC, mediante:

a) – despacho prévio autorizativo da penhora, que pode ser integrado no despacho liminar a que houver lugar, e que permite assim acautelar a reserva do sigilo bancário consagrado nos arti-gos 78.º e seguintes do Regime Geral das Instituições de Crédito e

27 Nesse sentido, Vide Lebre de Freitas e Armindo Ribeiro Mendes, Código de Processo Civil Anotado, Vol. 3º, Coimbra Editora, 2003, pag. 469.

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Sociedades Financeiras (RGICSF), aprovado pelo Dec.Lei nº 298/ 92, de 31-12;

b) – a notificação pelo agente de execução feita directamente à instituição depositária, com a menção de que o saldo existente, ou a quota-parte do executado nesse saldo, fica cativo desde a data da notificação, só podendo ser movimentada pelo agente de execução, até ao limite estabelecido no n.º 3 do artigo 821.º do CPC, como se preceitua o n.º 6 do artigo 861.º-A, notificação essa a efectuar :

- preferencialmente, por comunicação electrónica (art. 861.º-A, n.º 1, do CPC);

- não sendo aquela viável, nos termos gerais do artigo 856.º, n.º 1, do CPC

c) – a comunicação da instituição depositária ao agente de execução, no prazo de 10 dias, do montante dos saldos existentes ou da inexistência de conta ou de saldo – n.º 8 do art. 861º-A;

d) – seguidamente, a comunicação ao executado de que a pe-nhora foi efectuada (art. 861º-A, n.º 8, parte final), o que não dispensa a notificação ou citação do executado pelo agente de exe-cução nos termos e para os efeitos do artigo 864.º, n.º 2 e 7, do CPC28.

. A notificação referida na alínea b) conterá a identificação do agente da execução exigida no n.º 11 do artigo 808º e n.º 7 do art. 861.-A do CPC.

Além da identificação do agente de execução, aquela notificação deverá conter, sob pena de nulidade:

a) - a identificação do executado, nos termos do n.º 7, alínea a), do art. 861.º-A;

b) – a determinação do limite da penhora, expresso em euros, calculado pelo agente de execução de acordo com o n.º 3 do artigo 821.º, ex vi da alínea b) do n.º 7 do artigo 861.º-A.

. Se a instituição notificada nada disser, poderá ser responsabili-zada nos termos previstos nos artigos 856.º, n.º 4 e 5, 860.º, n.º 3 e 4, ex vi do artigo 861.º-A, n.º 11, do CPC.

. As instituições que colaborem com o tribunal na realização da penhora dos depósitos bancários têm direito a uma remuneração pelos serviços prestados na averiguação da existência das contas bancárias e na

28 Neste sentido, vide Lebre de Freitas e Armindo Ribeiro Mendes, ob. cit., pag. 471.

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efectivação da penhora dos saldos, a levar em regra de custas, nos termos dos artigos 861º-A, nº 12, do CPC e do Regulamento das Custas JUdiciais, e que é :

- 1/5 de 1 UC29, quando sejam apreendidos saldos da conta ou valores mobiliários existentes em nome do executado;

- 1/10 de 1 UC, quando não haja saldo ou valores em nome do executado. Essa remuneração é reduzida a metade quando sejam utilizados

meios electrónicos de comunicação entre o agente de execução e a insti-tuição.

D – Alcance da penhora dos depósitos bancários

. Uma vez penhorado o saldo bancário, a instituição depositário é responsável pelo(s) saldo(s) existente(s) à data da notificação para penhora, estando obrigada a fornecer ao tribunal extracto da(s) conta(s) onde constem todas as operações que afectem os depósitos penhorados após a realização da penhora – art. 861.º-A, n.º 10, CPC.

Porém, o exequente:

a) - beneficiará das operações de crédito decorrentes do lança-mento de valores anteriormente entregues e ainda não creditados na conta à data da penhora - art. 861.º-A, n.º 10, alínea a);

b) – mas será afectado pelas operações de débito decorrentes da apresentação a pagamento, em data anterior à penhora, de che-ques ou realização de pagamentos ou levantamentos cujas impor-tâncias hajam sido efectivamente creditadas aos respectivos bene-ficiários em data anterior à penhora – artigo 861.º-A, n.º 10, al. b).

. Logo que se esgote o prazo para oposição à penhora, sem dedu-ção de oposição ou, sendo esta deduzida, logo que transite em julgado a decisão do incidente, o exequente pode requerer a entrega das quan-tias depositadas até ao valor do seu crédito, deduzido o montante rela-tivo a despesas de execução estabelecido no n.º 3 do artigo 821.º do CPC, e ressalvada a importância coberta por preferência de garantia de algum crédito reclamado – n.º 13 do art. 861.º-A do CPC.

29 UC consiste na unidade de conta processual, que, para o triénio de 2007-2009, é no montante de € 96,00 (noventa e seis euros), nos termos previstos nos artigos 5º e 6º do Dec.Lei nº 212/89, de 30-6, na redacção introduzida pelo Dec.Lei nº 323/2001, de 17-12, com referência ao salário mínimo nacional estabelecido pelo Dec.Lei nº 238-2005, de 30-12.

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2.2.5.6. Penhora de valores mobiliários titulados ou escriturais nos termos do art. 861º-A, nº 12, CPC

A – Objecto da penhora

. A modalidade da penhora aqui em destaque incide sobre valores mobiliários titulados (em documento de papel) ou escriturais (mera-mente registados em conta), integrados em sistema centralizado, regista-dos ou depositados em intermediário financeiro ou registados junto do respectivo emitente. Por sua vez, a penhora de valores mobiliários titulados não integrados em sistema centralizado nem depositados em competente instituição financeira são penhorados nos termos do artigo 857.º do CPC.

Segundo o artigo 1.º do CVM, são valores mobiliários, para além dos especialmente previstos na lei, os seguintes :

a) - as acções - arts. 298.º a 347.º do Código das Sociedades Co-merciais (CSC); b) - as obrigações - arts. 348.º a 372.º-B do CSC; c) - os títulos de participação – Dec.-Lei n.º 321/85, de 5-8; d) - as unidades de participação em instituições de investi-mento colectivo;

e) - os direitos à subscrição, à aquisição ou alienação de valo-res mobiliários referidos nas alíneas anteriores, que tenham sido emitidos de modo autónomo; f) – os direitos destacados dos valores mobiliários referidos nas alíneas a) a d), desde que o destaque abranja toda a emissão ou série ou esteja previsto no acto de emissão.

São valores mobiliários em especial: os títulos da dívida pública (bilhetes do tesouro) e os certificados de aforro (Dec.-Lei n.º 122/2002, de 4-5).

B – Realização da penhora

A penhora dos valores mobiliários acima referidos efectua-se mediante despacho prévio, preferencialmente por comunicação elec-trónica do agente de execução à entidade gestora do sistema centrali-zado ou à instituição financeira registadora, nos termos aplicáveis do

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nº 1 a 13, com excepção do disposto na alínea b) do nº 5, do art. 861º-A do CPC e artigos 66.º, n.º 1, e 82.º do CVM30.

2.2.5.7. Penhora de direitos a bens indivisos (art. 862.º CPC)

2.2.5.7.1. Penhora de quinhão em património autónomo (art. 862.º, n.º 1 a 4, CPC)

A – Âmbito

O exemplo mais típico de quinhão em património comum é o de um quinhão hereditário, ou seja, do direito de um herdeiro a herança impartilhada ou indivisa (artigo 2101.º do CC). Como já foi referido, a propósito do disposto no artigo 826.º, n.º 1, do CPC, em execução movida para cobrança de dívida pessoal contra quem seja porventura contitular de uma herança ainda impartilhada, não é admissível penhorar bens des-sa herança, podendo, quando muito, penhorar-se o respectivo quinhão hereditário. E convém aqui referir que, mesmo que dessa herança façam parte bens sujeitos a registo, a penhora do quinhão hereditário não está sujeita a registo, tanto mais que não se pode sequer saber que bens irão preencher o quinhão senão após a partilha31.

B – Modo de realizar a penhora

A penhora de quinhão em património comum, como é o caso da penhora de um quinhão hereditário, efectua-se mediante notificação pessoal do administrador dos bens e dos contitulares desse patrimó-nio, segundo as formalidades e regime da citação, com a expressa ad-vertência de que o quinhão penhorado fica à ordem do agente de execu-ção, desde a data da primeira notificação efectuada, nos termos conjuga-dos dos artigos 862.º, nº 1, e 856.º, nº 1, do CPC. Tratando-se de quinhão

30 Para mais desenvolvimentos, vide Rui Pinto, A Acção Executiva depois da Reforma, JVS, Lisboa, 2004, pags. 159 a 16131 Vide, a este propósito, Lopes Cardoso, Manual da Acção Executiva, Imprensa Nacional, 1987, pag. 490.

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hereditário a referida notificação é feita ao cabeça-de-casal e aos co-her-deiros.

Quando as pessoas a notificar se encontrem ausentes em parte in-certa ou forem desconhecidos, proceder-se-á à sua notificação edital, respectivamente, nos termos dos artigos 248.º e segs. e 251.º, por remissão do artigo 856.º, n.º 1, do CPC:

Aos notificados é lícito fazerem, no prazo de 10 dias, as declara-ções que entenderem sobre direito do executado e o modo de o tornar efectivo, podendo mesmo os contitulares dizer se pretendem que a venda tenha por objecto todo o património, nos termos e para os efeitos dos n.º 2 e 4 artigo 862.º e n.º 2 e 3 do 856.º do CPC.

Se algum dos notificados contestar o direito do executado dado à penhora, seguir-se-ão os termos do artigo 858.º por via da remissão feita no n.º 3 do artigo 862º.

Feitas as notificações do administrador de bens e dos contitulares do património comum, procede-se à subsequente notificação ou citação do executado e à notificação da penhora ao exequente.

2.2.5.7.2. Penhora de direito a bem indiviso (art. 862.º, n.º 1 e 5, e 863.º do CPC)

A penhora do direito a bem indiviso, como sucede no caso de penhora da quota de comproprietário ou de consorte (art. 1408.º do CC) efectua-se do seguinte modo:

A – Se o bem estiver sujeito a registo (imóvel ou móvel sujeito a registo):

a) - o agente de execução começa por requisitar a inscrição da penhora à conservatória do registo competente, preferencial-mente mediante comunicação electrónica, aplicando-se o disposto nos artigos 838.º, n.º 1, 2, 4 a 5, e 851.º, n.º 1, ex vi do art. 863.º do CPC;

b) – seguidamente, procede-se à notificação pessoal, segundo as formalidades e regime da citação, do administrador do bem e dos contitulares do direito, nos termos do n.º 1 do artigo 856.º e n.º 1, por remissão do n.º 5, 2.ª parte, do artigo 862.º;

c) – o agente de execução elabora o auto de penhora; d) – por fim, notifica-se ou cita-se o executado e notifica-se o

exequente da realização da penhora.

B – Se o bem indiviso não estiver sujeito a registo :

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a) - o agente de execução procede à notificação pessoal do administrador e dos contitulares, nos termos e para os efeitos dos artigos 856.º, n.º 1, e 862.º, n.º 1, do CPC; b) – seguidamente, lavra auto de penhora; c) – por fim, notifica ou cita o executado e notifica o exequen-te da realização da penhora.Em qualquer dos casos, aplica-se o preceituado nos n.º 2 a 4 do

artigo 862.º do CPC.

2.2.5.7.3. Penhora de direitos reais cujo bem não deva ser apreendido (art. 862.º, n.º 5, CPC)

A – Âmbito

Na previsão do n.º 5, 2.ª parte, do artigo 862.º do CPC estão compreendidas as penhoras de:

a) - nua propriedade ou propriedade de raiz; b) - usufruto de direitos (arts. 1463.º a 1467.º do CC); c) - direito do fundeiro ou proprietário do solo, no âmbito do direito de superfície. d) – direito de propriedade do vendedor com reserva.

Não caem, porém, nessa previsão normativa as penhoras de usu-fruto de coisas imóveis ou móveis e do direito de superfície, as quais estão contempladas nos regimes previstos nos artigos 838.º a 855.º do CPC, já que importam entrega efectiva ou apreensão material do bem penhorado, consoante a sua natureza32.

B – Modo de realizar a penhora

A penhora de direitos reais cujo objecto não deva ser efectiva-mente entregue ao depositário ou apreendido, como sucede nas situa-ções indicadas nas precedentes alíneas a) a d), a penhora realiza-se do seguinte modo:

a) – Se o bem estiver sujeito a registo (imóvel ou móvel sujeito a registo) :

- o agente de execução começa por requisitar a inscrição da penhora à conservatória do registo competente, em regra,

32 Vide Amâncio Ferreira, Curso de Processo de Execução, 7ª Edição, pag. 235; Rui Pinto, A Acção Executiva depois da Reforma, pags. 174/175.

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mediante comunicação electrónica, aplicando-se o disposto nos artigos 838.º, nº 1, 2, 4 a 5, e 851.º, n.º 1, ex vi do art. 863.º do CPC ;

– seguidamente, procede-se à notificação pessoal, segun-do as formalidades e regime da citação, do possuidor do bem (v.g. usufrutuário, superficiário, comprador reservatá-rio), nos termos dos artigos 856.º, nº 1, e n.º 1, por remissão do n.º 5, 2.ª parte, do artigo 862.º;

- o agente de execução elabora o auto de penhora; – por fim, notifica-se ou cita-se o executado e notifica-se o

exequente da realização da penhora;b) – Se o bem não estiver sujeito a registo (móvel não sujeito a

registo) :- o agente de execução procede à notificação pessoal do

possuidor do bem, nos termos e para os efeitos dos artigos 856.º, n.º 1, e n.º 1 ex vi do n.º 5 do art. 862.º do CPC;

- seguidamente, elabora o auto de penhora; - por fim, notifica ou cita o executado e notifica o exe-

quente da realização da penhora.

Em qualquer dos casos, aplica-se o preceituado nos n.º 2 e 3 do artigo 862.º do CPC.

2.2.5.7.4. Penhora de direito real de habitação periódica (art. 862.º, n.º 5, do CPC)

A – Objecto da penhora

A penhora do direito real de habitação periódica (time sharing) regulado no Dec.-Lei n.º 275/93, de 5-8, com as alterações introduzidas pelo Dec.-Lei n.º 180/99, de 22-5, e pelo Dec.-Lei n.º 22/2002, de 31 de Janeiro, tem por objecto o direito de habitar uma determinada unidade de alojamento de um empreendimento turístico e está sujeita a registo nos termos do artigo 8º daquele diploma.

B – Modo de realização

A penhora materializa-se mediante : a) – a comunicação, em regra, por via electrónica, do agente de execução à conservatória competente para inscrição da pe-

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nhora no registo, nos termos do artigo 838.º ex vi do artigo 863.º do CPC e art. 8.º do Dec.-Lei n.º 275/93; b) – seguidamente, a notificação pessoal ao proprietário do empreendimento ou ao cessionário da exploração, incumbido da administração das unidades de alojamento, (art. 25.º do citado Dec.Lei), nos termos e para os efeitos dos artigos 856.º, n.º1 e 862.º, n.º 1 e 5, 1.ª parte, do CPC; c) – elaboração do auto de penhora pelo agente de execução; d) – notificação ou citação do executado e notificação do exe-quente da realização da penhora. Aplicar-se-á ainda o preceituado nos n.º 2 e 3 do artigo 862.º do

CPC.

2.2.5.7.5. Penhora de quota em sociedade (art. 862.º n.º 6, do CPC)

A penhora da quota do sócio de uma sociedade por quotas (arts. 219.º a 239.º do CSC) é feita mediante:

a) – comunicação, em regra, por via electrónica, do agente de execução à conservatória competente para inscrição da pe-nhora no registo, nos termos do artigo 3.º, n.º 1, alínea f), do Cod. Registo Comercial e artigos 862.º, n.º 6, e 838.º, n.º 1, do CPC;

b) – seguidamente, notificação pessoal da sociedade, nos ter-mos e para os efeitos do n.º 1, 2, 3 e 6 do artigo 862.º do CPC, sendo que, quanto à execução da quota, observar-se-á o disposto no artigo 239.º do CSC;

c) – elaboração do auto de penhora pelo agente de execução; d) - notificação ou citação do executado e notificação do

exequente da realização da penhora. Aplicar-se-á ainda o preceituado nos n.º 2 e 3 do artigo 862.º do

CPC.

2.2.5.7.6. Penhora de quota de liquidação em sociedades civis e comerciais

A – Âmbito

. Do artigo 999.º, n.º 1, do CC decorre que ao credor particular de sócio de uma sociedade civil não é lícito penhorar a quota desse sócio no capital da sociedade, mas apenas o seu direito aos lucros e à quota de liquidação. E, segundo o n.º 2, na insuficiência dos bens do

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devedor, o credor pode exigir a liquidação da quota daquele na sociedade nos termos do artigo 1021.º do CC.

. De igual modo, ao credor de sócio de sociedade comercial em nome colectivo e ao credor de sócio comanditado em sociedade co-mercial em comandita não é lícito penhorar a parte desses sócios na sociedade, mas apenas o direito aos lucros e à quota de liquidação, respectivamente, nos termos dos artigos 183.º, n.º 1, e 465.º, n.º 1, do CSC.

A penhora desse direito aos lucros e à quota de liquidação está su-jeita a registo nos termos do artigo 3.º, n.º 1, alínea e), do C.Reg.Com.

B – Modo de realização

. A penhora dos direitos aos lucros e à liquidação da quota dos sócios da sociedades comerciais em nome colectivo e em comandita realiza-se pela seguinte forma :

a) – comunicação, em regra, por via electrónica, do agente de execução à conservatória competente para inscrição da pe-nhora no registo, nos termos do artigo 3.º, n.º 1, alínea f), do Cod. Registo Comercial e artigo 838.º, n.º 1, ex vi do art. 863.º do CPC;

b) – seguidamente, notificação pessoal da sociedade e respec-tivos sócios, nos termos e para os efeitos do n.º 1, 2 e 3 do artigo 862.º do CPC;

c) – elaboração do auto de penhora pelo agente de execução; d) - notificação ou citação do executado e notificação do exe-

quente da realização da penhora.

Aplicar-se-á também o preceituado nos n.º 2 e 3 do artigo 862.º do CPC. E efectuada a penhora, poderá seguir-se o disposto nos n.º 2 a 5 do artigo 183.º do CSC.

. A penhora dos direitos aos lucros e à liquidação da quota dos sócios das sociedades civis realiza-se pela seguinte forma :

a) – notificação pessoal dos administradores e demais sócios sociedade, nos termos e para os efeitos do n.º 1, 2 e 3 do artigo 862.º do CPC;

c) – elaboração do auto de penhora pelo agente de execução; d) - notificação ou citação do executado e notificação do exe-

quente da realização da penhora. Aplica-se o preceituado nos n.º 2 e 3 do artigo 862.º do CPC.

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2.2.5.7.7. Penhora de direitos relativos à propriedade industrial

A penhora de direitos emergentes de patentes, de modelos de utilidade, de modelos e desenhos industriais e de marcas efectua-se por averbamento no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, nos termos do artigo 30.º, n.º 1, alínea c), e 2 a 6, do Código da Proprie-dade Industrial (CPI), aprovado pelo Dec.-Lei n.º 36/2003, de 5-3, com-petindo ao agente de execução comunicar, em regra, por via electrónica, àquele Instituto, para tal efeito, seguindo-se a elaboração do auto de pe-nhora e a subsequente notificação ou citação do executado e do exe-quente da efectivação da penhora, e aplicando-se o regime da penhora dos direitos reais em que não haja lugar a entrega efectiva ou apre-ensão, em conformidade com o que decorre do estatuído no n.º 5, 2.ª parte, do artigo 862.º do CPC.

No entanto, importa ter presente que as marcas não são transmis-síveis quando :

- a sua transmissão for susceptível de induzir o público em erro quanto à proveniência do produto ou do serviço ou aos caracteres essenciais para a sua apreciação, nos termos do n.º 1 do artigo 262.º do CPI; - se trate de marcas a favor de organismos que tutelam ou controlam actividades económicas, salvo disposição especial da lei, estatutos ou regulamentos internos – art. 263.º do CPI.

2.2.5.7.8. Penhora de direitos patrimoniais do autor

Os direitos patrimoniais do autor podem ser objecto de penhora, nos termos do artigo 47.º do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos (CDADC), aprovado pelo Dec.Lei nº 63/8533, ressalvado o dis-posto no artigo 50.º do mesmo diploma, do qual resulta a isenção da pe-nhora no caso de manuscritos inéditos, esboços, desenhos, telas ou es-culturas, quando incompletos, a não ser que ocorra oferecimento ou consentimento do autor. Essa penhora está sujeita a registo nos termos da alínea d) do n.º 1 do art. 215.º do CDADC e alínea c) do artigo 20.º do Decreto nº 4114, de 17-4-1918, junto da Divisão de Registo e Controlo da Direcção de Serviços de Licenciamento integrada na Inspecção-Geral das Actividades Culturais (Dec.Lei n.º 80/97, de 8-4).

33 O Dec.Lei nº 63/85 foi alterado pelas Leis nº 45/85, de 17-9 e nº 114/91, de 3-9, e completado pelos Decs. Leis nº 252/94, de 20-10, nº 332/97, 333/97 e nº 334/97, de 27-9, e pela Lei nº 62/98, de 1-9.

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O disposto nos artigos 47.º e 50.º do CDADC é aplicável aos direitos sobre programas de computador, por via do estatuído no artigo 11.º, n.º 2, do Dec.-Lei nº 252/94, de 20-10, que regula a sua protecção jurídica. O art. 12.º deste diploma prevê a inscrição dos programas de computador no registo da propriedade literária.

A penhora realiza-se por inscrição no registo da propriedade li-terária (art. 50.º, n.º 2, do Dec. 4114), cumprindo ao agente de execução comunicar, em regra, por via electrónica, à entidade competente, para tal efeito, seguindo-se a elaboração do auto de penhora e a subsequente notificação ou citação do executado e do exequente da efectivação da penhora, e aplicando-se o disposto nos artigos 856.º, 858.º a 860.º e subsidiariamente o preceituado no artigo 838.º ex vi do artigo 863.º do CPC.

2.2.5.8. Penhora de estabelecimento comercial (art. 862.º-A do CPC)

A – Objecto da penhora

. Como decorre do disposto no artigo 862.º-A do CPC, o estabele-cimento comercial pode ser objecto de penhora enquanto universalida-de de facto e de direito que é.

Nessa universalidade estão compreendidos, nomeadamente, os se-guintes elementos :

a) – as instalações, equipamentos e utensílios ; b) – as mercadorias ; c) – o direito de alvará, o nome, insígnia, logótipo e recompensas ; d) – os créditos sobre terceiros; e) – o direito de arrendamento, quando se trate de estabelecimento instalado em prédio arrendado.

. O estabelecimento comercial como universalidade de direito não está sujeito a registo, mas pode ser integrado por bens ou direitos sujei-tos a registo, como, por exemplo, imóveis, automóveis, créditos hipote-cários, direitos de propriedade industrial.

B – Modo de realização

A penhora de estabelecimento comercial realiza-se, nos termos do nº 1 do artigo 862.º-A do CPC, mediante :

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a) – a elaboração de auto pelo agente de execução, no qual se relacionam os bens essenciais que integram o estabelecimento; b) – notificação dos terceiros devedores, relativamente aos cré-ditos do estabelecimento, nos termos e para os efeitos do artigo 856.º e 858.º a 860.º, ex vi do n.º 1 do artigo 862.º-A, todos do CPC; c) – notificação do senhorio, nos mesmos termos, quando o es-tabelecimento esteja localizado em espaço arrendado; d) – registo complementar dos bens ou direitos a ele sujeitos – nº 6 do art. 862.º-A CPC; e) – nomeação pelo agente de execução, sempre que necessário, de um fiscal, sujeito ao regime do depositário judicial, para vigiar o exercício da gestão prosseguida pelo executado – art. 862.º-A, n.º 2, CPC; f) – designação judicial de um administrador, como poderes de gestão ordinária, quando o exequente fundadamente o requeira, opondo-se a que o executado prossiga na gestão normal do estabe-lecimento – n.º 3 do art. 862.º-A; g) – designação de um depositário para administrar os bens compreendidos no estabelecimento, quando a respectiva activida-de esteja paralisada ou deva ser suspensa – n.º 4 do art. 862.º-A.

C – Extensão da penhora

A penhora do estabelecimento impede a penhora posterior dos bens nele compreendidos, nos termos do artigo 862.º-A, n.º 5; se esses bens ou direitos estiverem sujeitos a registo, sobre o exequente recai o ónus de promover o registo complementar da penhora, quando pretenda impedir que sobre eles incida penhora subsequente – n.º 6 do art. 862.º-A.

Porém, a penhora do estabelecimento não afecta penhora anterior-mente realizada sobre os bens que o integram – n.º 5 do art. 862.º-A.

Os direitos emergentes do registo do nome e de insígnias do esta-belecimento não são susceptíveis de penhora em separado – art. 31.º, n.º 3, do CPI.

A penhora de estabelecimento localizado em centro comercial, não compreende o direito à ocupação do espaço, na medida em que este direito não decorre de contrato de arrendamento, mas de um contrato de cedência atípico, sendo portanto inalienável34.

34 A este propósito, vide Amâncio Ferreira, ob. cit., 7ª Edição, pag. 239.

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2.3. Meios de impugnação da penhora

2.3.1. Quadro geral

. O acto de penhora poder ser passível de dois tipos de vícios : A - Nulidade processual, respeitante portanto à sua forma, nos termos previstos do artigo 201.º, n.º 1, do CPC, com fundamento em preterição das formalidades legais prescritas para a sua realiza-ção ; B - Ilegalidade quanto ao seu objecto, com fundamento : a) – na violação das regras que estabelecem as diversas categorias de impenhorabilidade, de natureza substantiva e pró-cessual, – artigos 821.º, n.º 1 e 2, 822.º a 828.º do CPC, além doutras disposições do CC e em legislação avulsa; b) - em inobservância do princípio da proporcionalidade da penhora – art. 821.º, n.º 3, e 834.º, n.º 1 e 2, do CPC.

. Os meios de impugnação da penhora são:

A – A reclamação para o juiz com fundamento em nulidade do acto de penhora, nos termos dos artigos 201.º, 202.º, 2.ª parte, 203.º, 205.º, 206.º, n.º 3, 207.º, 208.º e 809.º, n.º 1, alínea c), do CPC;

B – O incidente de oposição, por parte do executado ou do côn-juge citado, com fundamento em :

a) - impenhorabilidade objectiva, de natureza substanti-va ou processual – art. 863.º-A, n.º 1, alíneas a), 1.ª parte, e c), do CPC;

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b) - impenhorabilidade subsidiária – art. 863.º-A, n.º 1, al. b), do CPC;

c) - desproporcionalidade da penhora – art. 863.º-A, n.º 1, al. a), 2.ª parte, CPC.

C – Embargos de terceiro, deduzidos por quem não for parte na execução, até à venda ou adjudicação do bem penhorado, com fundamento em violação da posse ou de qualquer direito in-compatível com a realização ou o âmbito da penhora, nos ter-mos dos artigos 351.º a 358.º do CPC;

D – Acção de reivindicação, por parte de terceiro, nos termos gerais dos artigos 1311.º a 1313.º do CC;

E – Procedimento para ilisão da titularidade dos bens que forem penhorados como pertencentes ao executado, nos termos do n.º 2 do artigo 848.º do CPC.

2.3.2. Reclamação da nulidade do acto da penhora (arts. 201.º e segs. e 809.º, nº 1, alínea c, do CPC)

A – Fundamento O acto de realização da penhora pelo agente de execução pode não

respeitar os requisitos formais ou as normas de procedimento processuais estabelecidas na lei, comprometendo portanto a sua validade formal ou eficácia, como por exemplo: omissão de notificações, não efectivação do registo, não levantamento do auto de penhora com as formalidades exigidas por lei. Tais violações podem importar nulidade processual, nos termos dos artigos 201.º e 208.º do CPC.

Verifica-se ainda esse vício de nulidade quando não se procede à penhora com a extensão permitida pelos limites de penhorabilidade e de suficiência decorrentes da lei, em prejuízo do exequente.

B – Legitimidade A nulidade em foco pode ser arguida, consoante os casos, pelo

executado e pelo exequente, ao abrigo do artigo 203.º do CPC.Afigura-se também que a nulidade poderá ser arguida por terceira

pessoa directa e efectivamente prejudicada pela realização de uma pe-nhora com violação das formalidades legais, com base em argumento de maioria de razão deduzido do disposto no n.º 2 do artigo 680.º do CPC.

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C – Prazo A nulidade terá de ser arguida no prazo de dez (10) dias, nos

termos conjugados dos artigos 153.º, 205.º, n.º 1 e 3, e 809.º, n.º 1, al. c), do CPC.

D – Tramitação : A reclamação da nulidade será processada da seguinte forma: a) - requerimento do arguente;

b) - despacho liminar a indeferir a reclamação, em caso de manifesta improcedência; c) - não havendo motivo para indeferimento, audição da parte contrária, que poderá deduzir resposta no prazo de 10 dias – artigos. 153.º e 207.º do CPC; d) - produção de prova a que haja lugar ; e) - decisão da reclamação, no prazo de cinco dias (art. 809.º, n.º 1, al. c), do CPC), a julgar procedente ou improce-dente a arguição de nulidade; sendo julgada procedente, a penhora será reduzida ou levantada, mas tal não impede a sua nova realização com a observância das formalidades le-gais; f) - dessa decisão caberá recurso, nos termos gerais, de acordo com a remissão feita no artigo 922.º-A e 922.º-B, n.º 1, al. d), e 2, do CPC.

2.3.3. Incidente de oposição à penhora (arts. 863.º-A e 863.º-B do CPC) A – Fundamento Nos termos do n.º 1 do artigo 863.º-A do CPC, o incidente de

oposição à penhora de bens pertencentes ao executado poderá ter por fundamento a violação :

a) – das regras de impenhorabilidade objectiva, total ou par-cial, de natureza processual ou substantiva, previstas nos artigos 821.º, n.º 1, e 822.º a 827.º do CPC, com referência ainda às disposições pertinentes do CC e de legislação avulsa que consagrem a inalienabilidade de direitos ou isenções de penhora – alínea a) e c) do n.º 1 do art. 863.º-A;

b) - das regras de impenhorabilidade subsidiária pessoal, nos termos do artigo 828.º, nº 1 a 6, quando tenha havido indevidamente a penhora imediata dos bens do devedor

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subsidiário, de-vendo este alegar, para o efeito, o benefício de excussão prévia;

c) – das regras de impenhorabilidade subsidiária real, a que se referem o n.º 7 do artigo 828.º e n.º 1 do 835.º do CPC, nomeadamente, as previstas nos artigos 999.º, n.º 2, 1695.º, n.º 1, e 1696.º, n.º 1, do CC e 183.º, n.º 3, e 474.º do CSC – alínea b) do n.º 1 do art. 863.º-A;

d) – dos limites de proporcionalidade ou de suficiência dos bens penhorados, traçados nos artigos 821.º, nº 3, e 834.º, n.º 1 e 2, do CPC – alínea a), 2.ª parte, do n.º 1 do artigo 863º-A. Se a oposição se basear na existência de patrimónios separados,

o exequente tem o ónus de indicar logo os bens penhoráveis, integrados no património autónomo responsável pela dívida exequenda, que tiver em seu poder, como preceitua o n.º 2 do artigo 863.º-A do CPC.

Pode levantar-se aqui a questão de saber se é lícito ao oponente à penhora cumular a arguição de nulidade do próprio acto de penhora (v.g. a realização de penhora imediata, quando devia ser precedida de citação) com os fundamentos da oposição, em vez de a reclamar nos próprios autos de execução.

Ora, caso se trate apenas de uma mera irregularidade na forma do procedimento, nada obsta a que o tribunal possa tomar conhecimento dessa arguição de nulidade, em sede do incidente de oposição à penhora, aproveitando-se assim tal tramitação, ao abrigo do disposto no artigo 199.º do CPC. Porém, para esse efeito, necessário se torna que a arguição daquela nulidade tenha sido deduzida no prazo geral de 10 dias previsto no artigo 153.º do CPC, a menos que se pudesse entender que tal nulidade fosse de conhecimento oficioso, o que parece não ser o caso, face ao preceituado no n.º 2, 2.ª parte, do artigo 202.º do CPC.

B – Legitimidade O incidente de oposição à penhora pode ser deduzido pelo : - executado – art. 863.º-A, n.º 1, CPC; - cônjuge do executado, quando tiver sido citado, nos termos dos artigos 864.º, n.º 3, alínea a), e 864.º-A do CPC.

C – Prazo O incidente de oposição deverá ser deduzido no prazo de : a) – 20 dias a contar da citação, nos casos em que esta seja efectuada após a penhora – artigo 863.º-B, n.º 1, alínea a), com

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referência aos artigos 812.º -A, n.º 1 e 2, alínea a), 812.º-B, n.º 1, 2 e 4, e 864.º, n.º 2 e 3, alínea a), do CPC; b) – 10 dias a contar da notificação do acto de penhora, quan-do a citação do oponente anteceda a penhora – artigo 863.º-B, n.º 1, alínea b), com referência aos artigos 812.º-C e 812.º-F, n.º 1, 3 e 5 do CPC.O incidente deverá ser julgado no prazo máximo de três meses

contados da dedução da oposição – artigo 809.º, n.º 1, alínea b), do CPC.

D – Processamento A oposição à penhora será processada diferentemente, conforme

tenha havido ou não citação prévia e, neste último caso, consoante o oponente queira ou não deduzir também oposição à própria execução.

Assim : a) - Se a penhora for efectuada sem precedência de citação e o

citado quiser também deduzir oposição à execução, deverá cumu-lar-se a oposição à penhora com a oposição à execução, como impõe o n.º 2 do artigo 813.º do CPC, seguindo-se então os termos do procedimento da oposição à execução, por apenso, definidos no artigo 817.º, n.º 1, 2 e 3, do CPC;

b) – Se tiver havido citação prévia à penhora ou se, tendo a citação sido posterior, o citado não pretender deduzir oposição à execução, o incidente de oposição à penhora será deduzido em autos próprios, mas também por apenso aos autos de execução, como decorre da remissão feita na parte final do n.º 2 do artigo 863.º-A para o n.º 1 do artigo 817.º do CPC.

E – Tramitação do incidente de oposição à penhora (art. 863.º-B, n.º 2, do CPC)

Os trâmites do incidente em referência são os seguintes : a) – Requerimento inicial com a exposição dos factos e das ra-

zões de direito que servem de fundamento à oposição, sendo que é obrigatória a dedução articulada dos factos alegados, nos termos do n.º 2 do artigo 153.º do CPC; o requerente tem o ónus de indicar logo os meios de prova, como prescreve o artigo 303.º, n.º 1, aplicável por força do n.º 2 do artigo 863.º-A do CPC;

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b) – Despacho liminar - que pode ser, consoante os casos, de aperfeiçoamento, de indeferimento imediato ou mediato, ou de ad-missão liminar – nos termos que decorrem do n.º 1 do artigo 817.º ex vi do artigo 863.º-B, n.º 2, do CPC; do despacho que não admita o incidente cabe apelação para a Relação, nos termos gerais (art. 922.º-C).

c) – Admitida liminarmente a oposição, será notificado o exe-quente, que pode deduzir resposta à oposição, no prazo de 10 dias, indicando logo os meios de prova, nos termos do art. 303.º, n.º 1 e 2, por força do disposto no artigo 863.º-B do CPC; na falta de resposta, por parte do exequente, observar-se-á o disposto no n.º 3 do artigo 817.º, por remissão do n.º 2 do art. 863.º-B;

d) – Aos meios de prova aplicam-se as limitações do artigo 304.º, n.º 1, por via do artigo 863.º-B, n.º 2, do CPC – limite total de oito testemunhas por cada parte e de três testemunhas por cada facto;

e) – Segue-se a produção de prova, podendo ser requerida a gravação da prova, quando a decisão final do incidente seja sus-ceptível de recurso ordinário, nos termos dos n.º 2 a 4 do artigo 304.º ex vi do artigo 863.º-B, n.º 2, do CPC;

f) – Produzida a prova, o juiz declara quais os factos provados e não provados, fundamentando a decisão de facto, nos termos do artigo 653.º, n.º 2, para que remete o n.º 5 do artigo 304.º, aplicável por via do art. 863.º, n.º 2, do CPC; não há, porém, lugar, em regra, a alegações sobre a matéria de facto, a não ser que o imponha o princípio do contraditório (art. 3.º, n.º 3, CPC), nem reclamações sobre a decisão de facto.

g) – Decisão final do incidente, a julgar a oposição procedente ou improcedente; em caso de procedência parcial ou total, o juiz ordenará, respectivamente, a redução ou o levantamento da pe-nhora (art. 863-º-B, n.º 4, do CPC).

h) – Da decisão final cabe recurso de apelação para a Relação, mas do acórdão desta não cabe revista para o STJ (art. 922.º-C, a contrario sensu, do CPC). Porém, os autos de execução prosseguem, em regra, os seus

termos, só se suspendendo, quanto aos bens a que respeita a oposição, se o executado prestar caução – artigo 863.º-B, n.º 3, do CPC.

2.3.4. Embargos de terceiro (arts. 351.º a 359.º do CPC)

2.3.4.1. Âmbito (art. 351.º do CPC)

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. A impugnação da penhora mediante embargos de terceiro pode fundamentar-se em :

a) – ofensa da posse em nome próprio correspondente ao direi-to de propriedade ou a um direito real limitado de gozo (art. 1251.º do CC); a posse precária ou mera detenção (art. 1253.º do CC) não consti-tui, em princípio, fundamento para impugnar a penhora por via de embargos de terceiro;

b) – ofensa do direito de propriedade, de direito real limitado de gozo ou de qualquer direito incompatível com a realização ou o âmbito da penhora.

. Assim, a penhora de um bem em propriedade plena atenta contra o direito de usufruto ou o direito de superfície anteriormente porventura constituído sobre aquele bem, sendo, pois, lícito ao usufrutuário ou ao superficiário lançar mão dos embargos de terceiro para peticionar o levantamento da penhora.

Já a penhora da mera propriedade de raiz ou do direito do fun-deiro ou proprietário do solo não se mostra atentatória do usufruto ou do direito de superfície que recaiam sobre esse bem, tanto mais que a venda executiva do direito penhorado não prejudica estes direitos reais de gozo limitado, como se extrai do artigo 824.º, n.º 2, do CC.

De igual modo, a penhora de um pretenso usufruto ou direito de superfície do executado é susceptível de ofender o direito de propriedade plena de um terceiro, que poderá impugnar a penhora, com esse funda-mento, mediante embargos de terceiro.

. Tem-se discutido, porém, qual o alcance de direito incompatível com a penhora, no que concerne aos direitos pessoais de gozo, como sejam : o direito do locatário, do parceiro pensador, do comodatário e do depositário, cujos titulares podem defender a detenção e fruição da coisa pelos meios possessórios, respectivamente, nos termos dos artigos 1037.º, n.º 2, 1125.º, n.º 2, 1133.º, n.º 2, 1188.º, n.º 2, do CC.

Ora, no que respeita ao direito do locatário, do artigo 1057.º do CC decorre que o adquirente da posição do locador lhe sucede nos res-pectivos direitos e obrigações, o que, consequentemente, não prejudica a subsistência do contrato de locação, aliás, em sintonia com brocardo la-tino de emptio non tollit locatio. Daí que a locação anterior à penhora não caduque com a venda executiva, como resulta da ressalva final do n.º 2 do artigo 824.º com referência ao art. 1057.º do CC.35

35 A este propósito, vide Amâncio Ferreira, ob. cit. pag. 266.

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Nessa medida, a penhora do direito de propriedade ou de usu-fruto sobre a coisa locada não é incompatível com o direito de gozo do locatário, pelo que não assiste ao referido locatário fundamento para em-bargar de terceiro.

Além disso, nem tão pouco o locatário será perturbado ou privado do gozo da coisa, em virtude da efectivação da penhora, uma vez que o art. 839.º, nº 1, al. a), do CPC impõe que ele seja designado como depositário judicial. Mas se o não for, poderá então lançar mão dos embargos de terceiro com fundamento em que o âmbito da penhora o priva desse gozo, pedindo não o levantamento da penhora, mas que seja designado como fiel depositário36.

Por sua vez, os direitos do parceiro pensador, do comodatário e do depositário são de natureza meramente contratual e por isso inopo-níveis a terceiros (art. 406.º, n.º 2, do CC), caducando, por conseguinte, em virtude da venda executiva; e nem sequer se transferem para o produto da venda nos termos previstos no n.º 3 do artigo 824.º do CC, cuja previsão se circunscreve aos direitos reais37.

Nessa perspectiva, os sobreditos direitos pessoais de gozo do par-ceiro pensador, do comodatário e do depositário não se assumem como incompatíveis com a penhora dos direitos do parceiro proprietário, do comodante ou do depositante, não existindo, por isso, fundamento para que os titulares daqueles direitos pessoais de gozo impugnem essa pe-nhora por via de embargos de terceiro.

Em suma, os direitos pessoais de gozo em referência não po-dem servir de base à dedução de embargos de terceiro contra a pe-nhora do direito real com base no qual foram constituídos.

Porém, os titulares desses direitos pessoais de gozo já podem o-por-se, mediante embargos, à penhora dos bens sobre que incidem, com o fundamento em que o executado não é o titular do direito com base no qual aqueles direitos pessoais foram constituídos38.

Por exemplo: numa execução instaurada por A contra B, sendo penhorado um bem como sendo pertencente ao executado B, D pode embargar de terceiro com fundamento em que é locatário, comodatário ou depositário da coisa e que esta pertence a E e não ao executado.

36 Vide Miguel Mesquita, Apreensão de Bens em Processo Executivo e Oposição de Terceiro, Almedina, 1998, pag. 178.37 Miguel Mesquita, ob. cit., pags. 181 a 189.38 Para maiores desenvolvimentos sobre esta questão, vide Miguel Mesquita, ob. cit. – ponto embargos deduzidos pelo terceiro detentor ou possuidor em nome de terceiro proprietário- - pags. 217 e segs.

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De resto, estamos perante uma situação em que o titular do direito pessoal de gozo defende o seu direito à detenção e fruição da coisa con-tra terceiro, nos estritos termos especialmente previstos nos artigos 1037.º, n.º 2, 1125.º, n.º 2, 1133.º, n.º 2, e 1188.º, n.º 2, do CC.

. Também se discute se os detentores da coisa penhorada, no âmbi-to de alguns direitos reais de garantia, como sucede nos casos de con-signação de rendimentos (art. 661.º, n.º 1, al. b do CC), de penhor (art. 670.º, al. a, do CC) e de retenção (art. 759.º, n.º 3, do CC), podem em-bargar de terceiro para defesa desses direitos.

Ora, do disposto no artigo 824º, nº 2 e 3, do CC resulta que a ven-da executiva faz caducar os direitos reais de garantia existentes sobre a coisa, transferindo-se para o respectivo produto da venda.

É por isso que, aos credores privilegiados é facultado o direito de reclamar o crédito assim provido de garantia real, em sede de concurso de credores, nos termos dos artigos 865.º e segs. do CPC.

Por conseguinte, não lhes assiste o direito de impugnar a penhora por embargos, a não ser que o bem tenha sido penhorado como perten-cente a pessoa diversa do consignatário ou de quem constituiu o penhor ou do onerado com a retenção. Nestas hipóteses, poderá haver lugar a embargos de terceiro, em termos algo similares aos acima referidos quanto aos direitos pessoais de gozo.

. No domínio dos direitos reais de aquisição, como são : a)- os direitos de preferência legal ou convencional com eficá-

cia real; b) - o direito à execução específica no âmbito do contrato-

promessa de compra e venda com eficácia real

Quanto aos direitos de preferência legal, que não dependem de registo (v.g. os previstos nos arts. 1091.º, 1.112.º, n.º 4, 1380.º, n.º 1, 1409.º, 1535.º, 1555.º, n.º 1, 2135.º, todos do CC; art. 183.º, n.º 4, e 239.º, n.º 5, do CSC), bem como aos direitos de preferência convencional com eficácia real, que dependem de registo (art. 421.º do CC), os titulares da preferência devem ser notificados da venda para poderem exercê-la, nos termos dos artigos 892.º e 896.º do CPC.

Assim sendo, os referidos direitos de preferência não são afectados pela execução, pelo que a penhora não se mostra incompatível com eles, não se justificando que os preferentes deduzam embargos de terceiro.

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. Questão problemática é a de saber em que medida é que o promitente-comprador a quem tenha sido entregue a coisa pode o-por-se, por embargos de terceiro, à penhora da mesma, nomeada-mente para acautelar o seu direito à execução específica.

Antes de mais há que distinguir as seguintes situações : A - contrato-promessa com eficácia real (art. 413.º do CC); B - contrato-promessa sem eficácia real, em que tenha havido tradição da coisa para o promitente-comprador, destacando-se aqui as hipóteses em que :

a) - o promitente-comprador instaurou acção para execução específica, que registou antes do registo da penhora; b) – o promitente-comprador instaurou acção com tal fim, mas que não foi objecto de registo antes do registo da penhora ou que nem tão pouco foi instaurada tal acção.

Contrato-promessa com eficácia real

Nesta hipótese, o artigo 903.º, 2.ª parte, do CPC impõe que a venda em execução seja feita directamente ao promitente-compra-dor, sendo este, pois, o mecanismo adequado à satisfação do seu direito.

Nessa medida, a penhora não se mostra incompatível com aquele direito à execução específica, não se justificando portanto lançar mão dos embargos de executado.

Contrato-promessa sem eficácia real em que houve tradição da coisa para o promitente-comprador

Em caso de instauração de acção para execução específica registada antes do registo da penhora

Nesta hipótese, se a acção for a final julgada procedente, ope-rando a execução específica, o efeito de caso julgado prevalece sobre o efeito da penhora, tornando-se incompatível com esta e com a subse-quente venda executiva.

Por isso, parece mais correcta a tese de que o promitente-compra-dor poderá embargar de terceiro a fim de conseguir a suspensão da exe-

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cução, quanto ao bem penhorado, até ser decidida definitivamente a ac-ção.

Se a acção de execução específica não tiver sido registada antes do registo da penhora ou nem sequer tiver sido proposta

Nestes casos, a acção de execução específica é inoponível em relação à penhora e a subsequente venda.

Por outro lado, o promitente-comprador goza do direito real de re-tenção para garantia do direito à restituição do sinal em dobro ou inde-mnização emergente do incumprimento definitivo do contrato-promessa por parte do promitente-vendedor, nos termos do artigo 755.º, n.º 1, al. f), do CC.

Só que esse direito de retenção caduca com a venda executiva do bem penhorado, nos termos do artigo 824.º, n.º 2 e 3, do CC. Daí que assista ao promitente-comprador, enquanto retentor o direito de reclamar o seu crédito, por via do mecanismo previsto nos artigos 865.º e segs. do CPC.

Por consequência, a penhora não se mostra incompatível com o direito em questão, não se justificando o recurso aos embargos de tercei-ro.

2.3.4.2. Legitimidade processual

A – Activa (art. 351.º, n.º 1, e 352.º CPC)

Tem legitimidade para embargar de terceiro aquele que se arroga possuidor do bem penhorado ou titular de direito incompatível com essa penhora e que não nessa parte na acção executiva onde a penhora foi realizada – artigo 351.º, n.º 1, do CPC.

Para tal efeito, é considerado terceiro o cônjuge do executado relativamente à penhora de bens próprios desse cônjuge e aos bens comuns que hajam sido indevidamente atingidos pela penhora, quando não foi citado após a penhora

B – Passiva (art. 357.º, n.º 1, CPC)

Nos termos do artigo 357.º, n.º 1, do CPC, os embargos de terceiro correm contra as partes primitivas da execução, ou seja, contra o exequente e o executado em litisconsórcio legal necessário.

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2.3.4.3. Prazo (art. 353.º, n.º 2, do CPC)

Os embargos de terceiro devem ser deduzidos : - no prazo de 30 dias subsequente àquele em que a penhora tiver sido realizada, se o terceiro embargante estiver presente, ou a contar da data em que este teve conhecimento da penhora; a esse prazo aplica-se o regime do cômputo dos prazos processuais, por força do disposto no artigo 144.º, n.º 4, do CPC;

- mas nunca depois de os bens sobre que recai a penhora impugnada terem sido vendidos ou adjudicados.

2.3.4.4. Processamento (art. 353.º, n.º 1, do CPC)Os embargos de terceiro impugnativos da penhora são processa-

dos por apenso aos autos de execução em que a penhora foi realizada.

2.3.4.5. Tramitação

2.3.4.5.1. Fase introdutória (arts. 354.º a 356.º do CPC)

A – Petição de embargos (art. 353.º, n.º 2, CPC) Os embargos serão deduzidos mediante petição inicial, segundo

as formalidades gerais desse articulado, na qual o embargante deverá, além do mais, indicar logo os meios de prova a produzir na fase prelimi-nar, nos termos do artigo 303.º, n.º 1, e 304.º, n.º 1, do CPC, com vista a justificar, perfunctoriamente, a viabilidade dos embargos.

B – Despacho liminar (art. 354.º CPC) Haverá lugar a despacho liminar, o qual pode ser de aperfeiçoa-

mento ou de indeferimento liminar, nos termos conjugados dos artigos 234.º-A, n.º 1, e 354.º do CPC; de entre os fundamentos de indeferimento liminar dos embargos, inclui-se a sua extemporaneidade (arts. 353.º, n.º 2, e 354.º CPC).

Do despacho de indeferimento liminar cabe sempre recurso de apelação para a Relação, independentemente do valor da causa, nos ter-mos do artigo 234.º-A, n.º 2 a 3, do CPC; do acórdão da Relação que confirme o indeferimento cabe recurso de revista para o Supremo Tri-bunal de Justiça, nos termos gerais. Tais recursos sobem imedia-tamente, nos próprios autos e com efeito suspensivo.

Não ocorrendo motivo para indeferimento liminar, o juiz deve or-denar a realização das diligências requeridas para produção da prova in-

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formatória sobre a viabilidade dos embargos, a não ser que se trate de prova meramente documental que não necessite de outra prova.

C – Prova informatória A prova informatória é produzida sem contraditório da parte

contrária, observando-se no mais o disposto no artigo 304.º do CPC, já que os embargos de terceiro, sendo deduzidos como incidente da instân-cia, seguem a disciplina geral deste procedimento até entrarem da fase contraditória prevista no artigo 357.º do CPC.

D – Despacho de rejeição ou de recebimento dos embargos (arts. 354.º a 356.º CPC)

Conforme os resultados da prova informatória, o juiz profere despacho subsequente de recebimento dos embargos, quando se mos-tre a probabilidade séria do direito invocado, ou de rejeição em caso negativo, nos termos do artigo 354.º, parte final, do CPC.

A rejeição dos embargos não obsta a que o embargante proponha acção declarativa própria a pedir o reconhecimento do seu direito ou a reivindicar a coisa – art. 355.º do CPC.

O recebimento dos embargos determina, nos termos do art. 356º do CPC :

- a suspensão da execução, relativamente aos bens penhorados objecto de impugnação;

- a restituição provisória desses bens, se o embargante a tiver requerido, podendo o juiz condicioná-la à prestação de caução.

2.3.4.5.2. Fase contenciosa (arts. 357.º e 358.º (CPC)

. Após a notificação das partes primitivas da execução, os em-bargos seguem os termos próprios do processo declarativo ordinário ou sumário, conforme o valor, podendo os embargados deduzir recon-venção a pedir o reconhecimento, quer do direito de propriedade sobre os bens em causa, quer de que tal direito pertence à pessoa contra quem a diligência foi promovida – artigo 357.º CPC.

. Se os embargos forem, a final, julgados total ou parcialmente procedentes, a penhora será levantada ou reduzida; caso contrário, a exe-cução prosseguirá relativamente a esses bens.

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2.3.4.6. Efeitos de caso julgado material A sentença de mérito proferida nos embargos forma caso julgado

material quanto à existência e titularidade do direito invocado pelo embargante ou, em reconvenção, por algum dos embargados, nos termos gerais dos artigos 671.º e 673.º e nos termos específicos do artigo 358.º, ainda com referência ao n.º 2 do art. 357.º, todos do CC

2.3.5. Acção de reivindicação (arts. 1310.º a 1313.º do CC)

Em vez de deduzir embargos ou se porventura já não estiver em tempo de os deduzir, o terceiro poderá instaurar, autonomamente, acção de reivindicação da coisa penhora ou vendida em execução, nos termos gerais previstos nos artigos 1311.º e segs. do CC.

De notar que a acção de reivindicação não está sujeita a prazo de caducidade ou de prescrição, sem prejuízo dos direitos adquiridos por outrem por via da usucapião (art. 1313.º do CC).

A acção de reivindicação deverá ser instaurada contra : - o exequente e o executado, quando ainda não tenha sido efec-

tuada a venda ou a adjudicação; - o adquirente do bem, quando intentada após a venda ou a

adjudicação. Ao invés dos embargos de terceiro, a propositura da acção de

reivindicação não suspende a execução pendente. Porém, é lícito ao terceiro, antes de efectuada a venda, protestar

pela reivindicação da coisa, do que se lavrará termo, em conformidade com o preceituado no artigo 910.º do CPC. Em caso de protesto, os bens móveis não são entregues sem as cautelas referidas na parte final do n.º 1, do artigo 910.º do CPC.

O disposto no artigo 910.º será ainda aplicável nos casos em que a acção seja proposta, sem protesto prévio, antes da entrega dos bens móveis ou do levantamento do produto da venda, nos termos do artigo 911.º do CPC.

A procedência da acção de reivindicação importa a ineficácia da venda executiva, nos termos do artigo 909.º, n.º 1, alínea d), do CPC.

Porém, assiste ao adquirente, nos termos do nº 1 do artigo 825º do CC :

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Page 85: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

- o direito a exigir a restituição do preço da venda àqueles a quem o mesmo foi atribuído (exequente e credores reclamantes pagos), aplicando-se o disposto no artigo 894.º do CC; - o direito de exigir indemnização por danos aos credores, incluindo o exequente e ao executado que hajam procedido com culpa, salvo se tiver tido conhecimento do protesto efectuado, no acto da venda ou anteriormente a ela, pelo terceiro reivindicante; neste caso, o adquirente não terá direito a indemnização, a menos que os credores e o executado se tenham responsabilizado por ela – artigo 825.º, n.º 2, do CC. O adquirente, em vez de exigir dos credores a restituição do preço

da venda, pode exercer contra o executado, por sub-rogação, os direitos desses credores – art. 825.º, n.º 3, do CC.

O artigo 825º do CC aplica-se aos casos de adjudicação e à remição, por força do estatuído no artigo 826.º do CC.

2.3.6. Procedimento para ilidir a titularidade do executado relativa ao bem penhorado (art. 848.º, n.º 2, do CPC)

Nos termos do n.º 2 do artigo 848.º do CPC, para efeitos de realização da penhora, os bens móveis não sujeitos a registo que forem encontrados em poder do executado presumem-se que lhe pertençam.

Porém, essa presunção pode ser ilidida perante o juiz mediante prova documental inequívoca do direito de terceiro, sem prejuízo da dedução de embargos de terceiro.

Trata-se de um procedimento simples a deduzir nos próprios autos de execução mediante requerimento, instruído com o documento comprovativo; ouvida a parte contrária, o juiz decidirá manter ou levantar a penhora efectuada.

A lei nada diz quanto à legitimidade activa; mas parece que, apli-cando as regras gerais, terá legitimidade, em princípio, quem se apresen-tar como efectivamente prejudicado pela realização da penhora; portanto, em regra, o terceiro que se arroga titular do bem.

Fica, no entanto, a dúvida de saber se o exequente ou o executado, quando a penhora tenha sido efectuada por mera iniciativa do agente de execução, têm legitimidade para desencadear o referido procedimento, para mais tarde evitarem ser responsabilizados pela execução de venda alheia39.

39 Para mais desenvolvimentos vide Rui Pinto A Acção Executiva depois da Reforma, JVS, 2004, pags. 137 a 144.

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Page 86: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

IV

EFEITOS DA PENHORA

A penhora importa efeitos em dois planos distintos: - quanto à disponibilidade de facto do bem penhorado; - quanto à sua disponibilidade jurídica.

A - No plano da disponibilidade fáctica, em consequência da pe-nhora, o executado deixa de ter o uso e fruição da coisa. Mesmo quando seja designado como depositário judicial, nos termos do proémio e alínea a) do n.º 1 do artigo 839.º do CPC, exerce os respectivos poderes nessa qualidade, sem prejuízo do seu direito ao uso, quando se trate de casa de habitação. Também, quando se trate de penhora de estabelecimento comercial, o executado poderá continuar a gerir o funcionamento normal do mesmo, nos termos do artigo 862.º-A, n.º 2, do CPC.

Por seu lado, os bens penhorados são entregues ao depositário, salvo nos casos de mera imobilização de móveis sujeitos a registo (art. 851.º, n.º 2, do CPC), ficando assim sob a administração ordinária do de-positário, nos termos do artigo 843.º do CPC.

No entanto, se houver de providenciar pela exploração do bem penhorado ou porventura pela sua venda antecipada, a medida terá de ser decretada pelo juiz de execução, depois de ouvidos o exequente, os credores reclamantes com garantia sobre esses bens e o próprio execu-tado, nos termos dos artigos 843.º, n.º 2, e 886.º-C do CPC.

Por fim, importa sublinhar que os frutos produzidos pela coisa são abrangidos pela própria penhora (art. 839.º, n.º 3, e 842.º do CPC).

B – No plano da disponibilidade jurídica, o executado continua a poder dispor da coisa ou a onerá-la (v.g. vender, doar, hipotecar,

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empenhar, dar de arrendamento), mas os actos de disposição ou de oneração posteriores à penhora, sem prejuízo das regras do registo, são inoponíveis ao exequente e aos credores reclamantes, nos termos do artigo 819.º do CC.

Quanto à disponibilidade jurídica limitada de créditos, rege o disposto nos artigos 820.º e 821.º do CC.

V

NATUREZA DA PENHORA

De acordo com o disposto no artigo 822º, nº 1, do CC, por efeito da penhora, o exequente adquire o direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior.

Nessa medida, a doutrina tem maioritariamente qualificado essa situação jurídica decorrente da penhora como um direito real de garan-tia.

Porém, tal direito sucumbirá em caso de insolvência do executado nos termos do artigo 140º, nº 3, do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE), aprovado pelo Dec.Lei nº 53/2004, de 18 de Março, com as alterações do Dec.Lei nº 200/2004, de 18 de Agosto.

87

Page 88: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

Índice

I – Função da penhora ……………………………………………….... 1

II – Objecto da penhora ..……………………………………………… 3

1. Preliminar ...………………………………………………………… 3

2. Da suficiência dos bens a penhorar .…………………………........... 4

3. Penhorabilidade/Impenhorabilidade ...………………………............. 5

3.1. Da penhorabilidade subjectiva .............…………………………. 5

3.1.1. Regra .……………………………………….………………. 5

3.1.1.1. Dívidas do devedor principal …........................................... 5

3.1.1.2. Devedores subsidiários ……………………….…………... 5

3.1.2. Excepção – penhora de bens de terceiro (art. 821º, n.º2, do

CPC) ...................................................................................... 6

3.2. Da Penhorabilidade/Impenhorabilidade objectiva .….………… 7

3.2.1. Impenhorabilidade de matriz substantiva ………………….. 7

3.2.1.1. Absoluta ou total – Art. 822º, alíneas a) e b)

do CPC …………………………………………………… 7

3.2.1.2. Impenhorabilidade relativa ....……………………………. 9

3.2.2. Impenhorabilidade de matriz processual …………………... 9

3.2.2.1. Impenhorabilidade absoluta ou total – alíneas c) a g) do

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Pág.

Page 89: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

art. 822º do CPC ………………………….................…… 9

3.2.2.2. Impenhorabilidade relativa (art. 823º, n.º 2, do CPC) ...... 10

3.2.3. Penhorabilidade Parcial …………………………............... 10

3.2.3.1. Dos vencimentos, salários ou prestações de

natureza semelhante auferidas pelo executado ……...….. 10

3.2.3.2. Das prestações periódicas pagas a título de aposentação

ou de outra regalia social, seguro, indemnização por

acidente ou renda vitalícia ou de quaisquer outras

pensões de natureza semelhante …......………………… 14

3.2.3.3. Penhora de quantias pecuniárias e de depósitos

bancários ............................................................................ 15

A – Da penhora de dinheiro ou de saldo de conta bancária

à ordem (art. 824º, n.º 3, do CPC) ………………............... 15

B – Da penhora de quantias pecuniárias ou depósitos

bancários (art. 824º-A do CPC) ......……………………… 15

3.2.4. Penhorabilidades específicas ......…………….…………..… 15

3.2.4.1. Penhora de bens comuns do casal ...................................... 15

3.2.4.1.1. Bens que respondem pelas dívidas dos cônjuges …….... 15

3.2.4.1.2. Execução movida apenas contra um dos cônjuges

em caso de penhora de bens comuns ou de

responsabilidade solidária ……......……………………. 16

3.2.4.2. Penhora em caso de comunhão ou compropriedade

(art. 826º do CPC) ……………....……………………….. 18

3.2.4.3. Penhora de bens da herança em execução movida contra

o herdeiro (artigo 827º do CPC) .…..………………………. 19

3.2.5. Penhorabilidade subsidiária ….…………………………...... 21

89

Page 90: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

3.2.5.1. Preliminar ............……………………………………....... 21

3.2.5.2. Da subsidariedade subjectiva (Art. 828º, n.º 1 a 6, do

CPC) ................................................................................... 22

A – Execução instaurada contra o devedor principal e o

devedor subsidiário (art. 828º, n.º 1 e 3, al. a), do CPC) ......... 22

B – Execução movida apenas contra o devedor subsidiário

(art. 828º, n.º 2 e 3, al. b) do CPC) .………………………… 23

C – Execução movida contra o devedor principal ……………… 24

3.2.5.3. Da subsidariedade real (art. 828º, n.º 7, do CPC) ……….. 25

III – Fase da penhora ……………………………………………….... 26

1 - Noção Preliminar ………………………………………………..... 26

2 – Procedimentos relativos à fase da penhora ……………………..... 27

2.1. Diligências prévias à penhora …………………………..……... 27

2.1.1. Indicação dos bens a penhorar .…………………………..... 27

2.1.2. Início das diligências (art. 832, n.º 1, do CPC) ..……..……. 28

2.1.3. Consulta prévia (art. 832º, n.º 2, do CPC) ………………… 28

2.1.4. Diligências subsequentes para a identificação e localização

de bens penhoráveis (art. 833º do CPC) ……………………..... 30

2.2. Da realização da penhora ……………………………………... 32

2.2.1. Linhas gerais …………………....…………………………. 32

2.2.1.1. Observância dos requisitos de penhorabilidade e

de proporcionalidade pelo agente de execução …....…….. 32

2.2.1.2. Ordem de realização da penhora ........................................ 32

2.2.1.3. Formalidades gerais .......………………………………… 33

90

Page 91: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

2.2.1.4. Reforço e substituição da penhora ………………………..

34

2.2.1.5. Caducidade da penhora ...........................……………….. 34

2.2.1.6. Dever de informação do agente de execução …………..... 35

2.2.2. Modos específicos de efectivar a penhora ………...………. 35

2.2.2.1. Quadro preliminar ……………………………………….. 35

A – Enquadramento normativo ………………..………………. 35

B – Penhoras sujeitos a registo .......………………………….... 36

2.2.3. Penhora de bens imóveis (arts. 838º a 847º do CPC) …....... 38

2.2.3.1. Actos de realização da penhora …………....…………….. 38

2.2.3.2. Conversão do arresto em penhora (art. 846º CPC) ............ 39

2.2.3.3. Do registo da penhora …………….................................... 39

2.2.3.4. Do depositário judicial …………………………………... 40

A – Quem pode exercer as funções de depositário …..………...

408

B – Poderes e deveres do depositário …………......…………… 41

C – Remoção e escusa do depositário …..................................... 43

2.2.3.5. Da extensão da penhora ………………………………...... 43

2.2.3.6. Sub-rogação real da penhora …………………………….. 45

2.2.4. Penhora de móveis ………………………………………… 45

2.2.4.1. De móveis não sujeitos a registo ….................................... 45

2.2.4.1.1. Actos de realização da penhora ……………………....... 45

2.2.4.1.2. Extensão da penhora …………………...……………… 47

2.2.4.1.3. Conversão do arresto em penhora ……………............... 48

2.2.4.1.4. Do depositário judicial ………………………........…… 48

2.2.4.2. De móveis sujeitos a registo ……………………………... 48

2.2.4.2.1. Actos de realização da penhora ………………………... 48

2.2.4.2.2. Do depositário judicial ………………………………… 50

91

Page 92: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

2.2.5. Penhora de direitos (artigos 856º a 862º-A do CPC) ……… 51

2.2.5.1. Penhora de créditos em geral (arts. 856º e 858º a

860º do CPC) …...………………………………………. 51

2.2.5.2. Penhora de títulos de crédito e de valores mobiliários

titulados não integrados em sistema centralizado (arts.

848º, n.º4, e 857º CPC) ………........................................... 53

2.2.5.3. Penhora de direitos ou expectativas de aquisição

(art. 860º-A CPC) ……………………….…………..…... 54

2.2.5.4. Penhora de rendas, abonos, vencimentos, salários ou

outros rendimentos periódicos (861º CPC) ........................ 56

2.2.5.5. Penhora de depósitos bancários (art. 861º-A, n.º 1 a 11) . 56

A – Natureza do direito penhorado …....................................... 56

B– Objecto da penhora ..……………………………………... 57

C – Trâmites …..……………………………………………..... 58

D – Alcance da penhora dos depósitos bancários ………….…. 60

2.2.5.6. Penhora de valores mobiliários titulados ou escriturais

nos termos do art. 861º-A, n.º12, CPC ………………….... 60

A – Objecto da penhora ……………………………………..… 60

B – Realização da penhora……………………………………... 61

2.2.5.7. Penhora de direitos a bens indivisos (art. 862º CPC) ...….. 62

2.2.5.7.1. Penhora de quinhão em património autónomo (art. 862º,

n.º 1 a 4, CPC) …………………………………………. 62

A – Âmbito…………………………………………………….62

B - Modo de realizar a penhora……………………………… 62

2.2.5.7.2. Penhora de direito a bem indiviso (art. 862º, n.º 1 e 5, e

863º do CPC) ………………………..…………………. 63

2.2.5.7.3. Penhora de direitos reais cujo bem não deva ser

92

Page 93: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

apreendido (art. 862º, n.º 5, CPC) ..........................……. 64

A – Âmbito ………………………………………..…………. 64

B – Modo de realizar a penhora ………………………..……. 64

2.2.5.7.4. Penhora de direito real de habitação periódica (art. 862º,

n.º5, do CPC) ………………….………………………. 65

A – Objecto da penhora……………………………………… 65

B – Modo de realização …………………………………….. 65

2.2.5.7.5. Penhora de quota em sociedade (art. 862º, n.º 6, do

CPC) ...………………...................................................... 66

2.2.5.7.6. Penhora de quota de liquidação em sociedades civis e

comerciais ………………………………………………… 66

A – Âmbito ………………..………………………………..... 66

B – Modo de realização……………………………...……….. 67

2.2.5.7.7. Penhora de direitos relativos à propriedade industrial … 67

2.2.5.7.8. Penhora de direitos patrimoniais do autor ……………... 68

2.2.5.8. Penhora de estabelecimento comercial (art. 862º-A do

CPC) ...……………………………………………………. 69

A – Objecto da penhora ..……………………………………… 69

B – Modo de realização ……………………………………...... 69

C – Extensão da penhora .………………………………….….. 70

2.3. Meios de impugnação da penhora …………………................... 71

2.3.1. Quadro geral ……………………………………………….. 71

2.3.2. Reclamação da nulidade do acto da penhora (arts. 201º e

segs. e 809º, n.º 1, alínea c), do CPC) ...............………….... 72

A – Fundamento ......………………………………………………. 72

B – Legitimidade ……………………………………………..…… 72

C – Prazo ..………………………………………………………… 72

D – Tramitação …………………………………………….…….... 72

93

Page 94: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

2.3.3. Incidente de oposição à penhora (arts. 863º-A e 863º-B do

CPC) ……………………………………………….…..…... 73

A – Fundamento .......…………………………………….…….... 73

B – Legitimidade ………………………………………..………. 74

C – Prazo ………………………………………………….…….. 74

D – Processamento …………………………………….….…….. 75

E – Tramitação do incidente de oposição à penhora (art. 863º-B,

n.º 2, do CPC) ……………………………………..….…….. 75

2.3.4. Embargos de terceiro (arts. 351º a 359º do CPC) ..………... 76

2.3.4.1. Âmbito (art. 351º do CPC) ……………...………….……. 76

2.3.4.2. Legitimidade processual …………………………………. 81

A – Activa (art. 351º, n.º 1, e 352º CPC) ……….......…………. 81

B – Passiva (art. 357º, n.º 1, CPC) …………………………..… 81

2.3.4.3. Prazo (art. 353º, n.º 2, do CPC) …………………………... 81

2.3.4.4. Processamento (art. 353º, n.º1, do CPC) ………………..... 82

2.3.4.5. Tramitação ………………………………………………... 82

2.3.4.5.1. Fase introdutória (arts. 354º a 356º do CPC) ………….. 82

A – Petição de embargos (art. 353º, n.º 2, CPC) ...................... 82

B – Despacho liminar (art. 354º CPC) ……………………..... 82

C – Prova informatória …………............................................ 82

D – Despacho de rejeição ou de recebimento dos

embargos (arts. 354º a 356º CPC) …................................ 83

2.3.4.5.2. Fase contenciosa (arts. 357º e 358º, CPC) …………….. 83

2.3.4.6. Efeitos de caso julgado material …………………………. 83

2.3.5. Acção de reivindicação (arts. 1310º a 1313º do

CC) ..........………................................................................. 84

2.3.6. Procedimento para ilidir a titularidade do executado relativa

ao bem penhorado (art. 848º, n.º 2, do CPC) ……………… 85

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Page 95: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

IV – Efeitos da penhora …………………..………………………….. 86

V – Natureza da penhora …………………….………………………. 87

Índice .................................................................................................... 88

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Page 96: Apontamentos Sobre a Penhora(Net)

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