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Apontamentos sobre as Antigas Medidas de Peso, Volume e Comprimento 1. A origem da Balança 2. Padronização de pesos e medidas 2.1. Medias Antropométricas 2.1.1. Medidas de comprimento e ferramentas 2.1.2. Medidas de massa 3. Sistema de medidas no Portugal Medieval 3.1. Antigas unidades de peso, volume e comprimento em Portugal – A grande diversidade 3.1.1. As medidas do legado árabe 3.2. A diversidade de padrões de peso e medida e a sua uniformização 3.2.1. Nascimento e introdução do sistema métrico decimal em Portugal 1 Museu Escolar de Vouzela Coleção Museológica O Património Escolar 2013/2014

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Apontamentos sobreas Antigas Medidas de Peso, Volume e

Comprimento

1. A origem da Balança

2. Padronização de pesos e medidas2.1. Medias Antropométricas 2.1.1. Medidas de comprimento e ferramentas2.1.2. Medidas de massa

3. Sistema de medidas no Portugal Medieval3.1. Antigas unidades de peso, volume e comprimento em Portugal – A grande diversidade3.1.1. As medidas do legado árabe

3.2. A diversidade de padrões de peso e medida e a sua uniformização3.2.1. Nascimento e introdução do sistema métrico decimal em Portugal

Museu Escolar de VouzelaColeção Museológica O Património Escolar

2013/2014

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Antigas Medidas de peso, volume e comprimento

1. ORIGEM DA BALANÇA

As sociedades primitivas tinham pouca necessidade de pesar objectos, se duas pessoas precisavam de algum artigo uma da outra, recorriam à troca directa. Na Antiguidade não se dispunha da facilidade de pesagem que temos hoje em dia. Pesavam-se as coisas somente por comparação entre bens em vez de comparar-se com padrões de peso bem definidos. Nos primeiros tempos, o homem comparava a massa de dois corpos equilibrando-os um em cada mão.

No entanto, o ouro sempre foi considerado o mais valioso dos metais, pelo que por volta do ano 5000 a. C., os egípcios inventaram a balança para o pesarem. Surgiu assim a necessidade de comparar/pesar os metais preciosos e a balança materializou-se. Posteriormente essa necessidade de pesar alargou-se a todo o género de objectos e o uso da balança tornou-se assim mais lato. Antes de serem enviados para o trabalho dos artífices, os metais em estado bruto eram pesados. As cenas que mostram os artesãos transformando metais em obras de arte incluem, regularmente, a representação da pesagem da matéria-prima em uma balança, como a da ilustração de um túmulo da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.).

Comparação de massas através da simples avaliação à mão.

(figura1)

A metalurgia do ouro no Antigo Egito (ca 1500 a. C.), demonstrando o uso da

balança. (figura2)

Pesagem da matéria prima – barras tubulares de ouro - contrabalançada com um peso com

formato de cabeça de animal. (figura3) 2

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A balança é um dos instrumentos de medida mais antigos que se conhece, e tem sido usado pelo Homem há aproximadamente 7 mil anos. Inicialmente a pesagem por comparações baseava-se na primitiva balança de pratos que consistia num travessão de madeira com um eixo central, tendo em cada extremidade, preso por uma corda, um prato. Em um desses pratos depositava-se uma peça de peso padrão e no outro um objecto que se desejava pesar. Quando se estabelecia o equilíbrio do travessão, podia-se conhecer o peso relativo do objeto.Os vestígios mais antigos do uso de pesos são registados na Mesopotâmia e no Egito em 3000 a. C. e são feitos de pedra polida ou cobre geralmente com formato de animais ou pássaros. Isso significa que a balança foi, inicialmente, para pesar pequenas quantidades de metais preciosos como o ouro e prata usada apenas por ourives e joalheiros.

2.1 MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS – Padrões Naturais

A partir do momento em que o Homem passou a viver em grupos e estes aglomerados cresciam, a necessidade de medir aumentava ainda mais. O comércio é uma das mais antigas atividades humanas. Desde muito cedo que os Homens tiveram necessidade de trocar os bens necessários à sua sobrevivência. A maneira como mediam as grandezas eram simples: usavam partes do próprio corpo, como o comprimento do pé, a largura da mão ou a grossura do dedo, o palmo e a passada ou utilizavam ainda uma vara ou um bastão. Porém, essas medidas eram arbitrárias, variando de país para país o que constituía um obstáculo ao maior desenvolvimento das trocas comerciais. As medidas eram de tal modo arbitrárias que eram definidas pelo tamanho anatómico das partes constituintes do monarca de cada país: nomeadamente o tamanho anatómico da sua mão (palmo), do seu polegar (polegada), antebraço (côvado) ou braço (braçada), do pé ou mesmo do seu nariz, cuja distância ao seu polegar se convencionou chamar jarda.

Representação do côvado(figura4)

1 côvado = 7 palmos1 palmo = 4 dedos

Medição do comprimento, côvados(figura5)

2.1.1. MEDIDAS DE COMPRIMENTO E FERRAMENTAS

2.PADRONIZAÇÃO DE PESOS E MEDIDAS

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Côvado

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Os povos antigos - os egípcios, os babilônios, os assírios, os chineses, os persas a osgregos - possuíam padrões diferentes de comprimento. A unidade de comprimento dosbabilônios era o dedo (aproximadamente 16mm). Usavam também o cúbito, que equivalia a 30 dedos. O pé e a polegada foram, em geral, para esses povos, as unidades padrões. Estas eram medidas antropométricas que por terem uma origem natural (homo mensurável), pareciam aos olhos do povo perfeitamente lógicas e justificáveis.O filósofo grego Protágoras afirmou que “o homem é a medida de todas as coisas” querendo esta expressão ilustrar o antigo costume humano de procurar em si mesmo os padrões para definir grandezas.O mais antigo padrão de medida linear - que originou medidas de área e volume - foi concebido no Egito e também esta unidade de comprimento (côvado) se fundamentou no corpo humano. O côvado era a unidade básica das medidas de comprimento. A sua extensão era o espaço compreendido entre o cotovelo de uma pessoa e a extremidade do dedo médio. A padronização do côvado deve-se ao faraó Anemenés I, cuja precisão das barras de um côvado como unidade de medida e subdivisões como por exemplo o palmo que equivalia a 7 partes do côvado, pode ser atestada até hoje (figura5).

Devido à inundação anual do rio Nilo, os agricultores egípcios desenvolveram métodos e instrumentos específicos para medir as suas terras, baseados nas cheias. Eram feitas marcas nas margens dos rios, provavelmente com pedras. Quando as águas recuavam, os limites das propriedades podiam ser prontamente restabelecidos. As medidas agrárias originaram também uma atividade curiosa: a dos esticadores de corda. Esses agrimensores primitivos mediam as plantações com cordas graduadas com nós, cada nó valendo 2 côvados. O agrimensor era um funcionário nomeado pelo faraó com a tarefa de avaliar os prejuízos das cheias e restabelecer as fronteiras entre as diversas propriedades.Este método chegou até aos dias de hoje com a utilização da ferramenta que se usa na medição linear de terrenos: a cadeia métrica, também denominada agrimensor; reminiscência do funcionário do Antigo Egipto que media o comprimento dos terrenos agrícolas com uma corda de nós.

A representação da polegada e pé.(figura6)

1 Polegada = largura do polegar

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Cadeia métrica/Decâmetro ou Agrimensor (figura8 a, b,c) - constituído por uma cadeia de 50 fuzis de ferro cada um com 20cm, unidos por elos, tendo no total 10m (decâmetro).

Uma das missões do escriba consistia em fazer uma estimativa do rendimento dos campos de cereais, que juntamente com um supervisor real – um agrimensor - media os campos. A medição dos campos eram medidas com uma corda de nós graduada. A partir dos dados registrados, calculava a quantidade de grãos que o camponês podia obter. A previsão era posteriormente comparada com o volume real da colheita, tentando-se assim evitar qualquer tipo de fraude.

Os fio de prumo eram usados para nivelar as superfícies e foram projetados para contar a distância verticalmente. Foi um instrumento inventado pelos astrónomos do Antigo Egito, há cerca de 3000 a. C. como ferramenta de alinhamento na construção das pirâmides de Gizé. Os primeiros fios de prumo eram em pedra e a sua forma frequentemente oval.

Com um design inalterado desde o

ano 2500 a. C., este utensílio

ainda é utilizado na atualidade para

determinar uma linha vertical.

Fio de prumo egípcio. (figura9)

Este fio de prumo Egípcio era feito

de diorite (rocha) com um anel em

bronze.

Fio de prumo em madeira e chumbo. (figura10)5

Trabalhadores a medir o terreno com uma corda atada com nós, semelhante a uma cadeia de agrimensor.

Mural egípcio 1400 a. C. (figura7)

Fig.8a

Fig.8b

Fig.8c

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Com o surgimento das primeiras civilizações, tais processos já não satisfaziam àsnecessidades dos homens, pois os mesmos sabiam constatar as diferenças daquelas partes para cada indivíduo. Essas medidas deixaram de depender das características naturais para se fixarem em padrões mais consentâneos com as necessidades mercantis, adotando uma medida oficial e inalterável. Da construção de casas a navios, a divisão de terras e o comércio com outros povos exigiam medidas padrões, que fossem as mesmas em qualquer lugar. Assim, um mercador de tecidos da Babilônia poderia vender sua mercadoria em Jerusalém, usando uma vara padrão de tamanho aproximado ao da adotada lá. Perante esta nova necessidade, devido à complexidade dos sistemas de medição e capacidade existentes, que eram tão diversificados que variavam de povoação para povoação, constituindo um obstáculo ao desenvolvimento do comércio, o Homem teve necessidade de pesar/comparar com maior rigor a massa e o peso dos objetos. Para comparar a massa de dois corpos o Homem estendeu o uso da balança, antes apenas destinada a pesar metais preciosos ou cobrar impostos em todo o Egito, às sua necessidades quotidianas.

2.1.2. Medidas de massa

Com a invenção do nível de bolha e dados os primeiros passos no sentido da revolução industrial que permitiu o fabrico destes níveis caracterizados pela precisão e pelo seu baixo custo, iniciou-se a retirada dos instrumentos de chumbo e madeira antigos. No entanto, alterando apenas os materiais de que é feito (fio de nylon, pêndulo de chumbo, madeira…) mas com um design inalterado, atualmente o fio de prumo ainda é usado na construção civil para verificar a verticalidade (aprumo) de um elemento construtivo (pilar, parede, aresta).

Usado como ferramenta de alinhamento das quatro direções - norte, sul, este e oeste - na construção das pirâmides de Gizé, para tal os egípcios procuravam a estrela polar, que lhes indicava a direção do norte e lhes permitia traçar a linha que apontava no céu para a estrela polar. Para alinhar as pirâmides, a linha que apontava para o céu tinha que ser projetada no solo através do uso do fio de prumo.

Para nivelar superfícies ou colocá-las em ângulo reto, os pedreiros egípcios adotaram um nível na forma da letra “A” com uma curta linha de prumo pendendo diretamente do ápice do aparelho. Quando a linha pendente coincidia com o marco central na barra horizontal isto indicava que a superfície sobre a qual se achava estava em nível. Era usado por carpinteiros, pedreiros e outros artesãos da antiguidade para conseguir exactidão horizontal na construção de paredes de estruturas.

Nível de fio de prumo (figura11).

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As balanças primitivas egípcias consistiam de um simples travessão de madeira fixado a um eixo central por um prego (este ponto de apoio chama-se fulcro), tendo em cada extremidade, preso por uma corda, um prato. Num desses pratos depositava-se uma peça de peso padrão, e no outro o objeto que se desejava pesar. Quando se estabelecia o equilíbrio do travessão podia-se conhecer o peso relativo do objeto.Os povos antigos padronizaram centenas de diferentes pesos e medidas para atender às necessidades da sua população.

O grão de trigo tirado da espiga foi provavelmente o primeiro elemento padrão de peso. Dos sistemas adotados, um deles propagou-se pela Europa toda e hoje ainda é usado pelos países de língua inglesa, após pequenas modificações: trata-se do sistema comercial chamado "avoirdupois", palavra francesa que significa "bens de peso".As suas unidades são: grão (gr); dracma (dr); onça (oz); libra (lb); quintal (cwt) e tonelada (t).

Ramo de trigo.

(figura 12)

Os pesos e medidas usados nas civilizações antigas eram levados a outras através docomércio ou da conquista.Assim, no início da Idade Média as unidades adotadas ainda eram as das dimensões humanas. Para certas atividades, como as construções, eram necessárias medidas mais precisas, porém cada povo possuía os seus padrões de pesos e medidas, embora fossem diferentes para cada região.

A civilização da Babilônia, que ficava no Sul do atual Iraque, também gerou um rol de medidas. A mais antiga unidade babilônica era a mina, padrão de peso, que variava entre os 500 e 600 gramas.

Medidas de massa, pesos.(figura13)

Assírios

Sumérios com caracteres cuneiformes

Romanos

Persas

Bizantinos

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Outro dos primeiros padrões que se tem notícia é o sal: pagava-se o soldo, que equivalia a quantidade de sal (salário) que o guerreiro podia consumir num dia. A palavra “salário”, é derivada do latim salarium argentum, que significa “pagamento em sal”. Isso porque no Império Romano, os soldados eram pagos com sal. Naquela época, o sal era uma iguaria muito cara, e que podia ser trocada por alimento, vestimentas, armas…Aquele que recebeu o soldo recebeu o nome do próprio provento, foi o soldado.

Já no tempo de Roma havia unidades de peso tais como o talento - para medir grandes quantidades de prata e ouro - e a libra, para as pequenas quantidades.

Talento vem do latim talentum e do grego talanton significando balança. Era uma unidade da antiga Mesopotâmia para grandes quantidades de massa, sendo criada na Suméria. O talento já era usado na Mesopotâmia e em Israel, mas foi a partir da introdução do talento na Grécia Antiga e posterior adaptação para o sistema romano, que essa unidade se disseminou para o mundo mediterrâneo. Foi usado em toda a Antiguidade com poucas variações de peso: Grécia, Roma, Egipto, Israel, Babilônia, Suméria e Acádia.

Assim, o talento era uma unidade de massa designada para pesar grandes quantidades de ouro e prata.

Por extensão, da raiz primitiva talent veio a dar origem à palavra “talento” que veio a significar inteligência, criatividade, dom.

Balança primitiva. (figura14)

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Nenhum padrão foi criado em termos nacionais, até que, na Inglaterra, Ricardo I (reinou de 1189 a 1199, já no século XII) determinou unidades para comprimento e para capacidade. Estas eram de ferro e mantidas em várias regiões do país por autoridades regionais com o objetivo de comprovar a veracidade de uma medida.Datam desta época a jarda e o galão, até hoje usados pelos países de língua inglesa. De facto, ainda hoje são utilizadas no Reino Unido, que por razões de tradição histórica, e pelo seu natural conservadorismo, se recusou a adoptar o Sistema Métrico Décimal, preferindo manter as suas velhas medidas.Existem várias versões para explicar o aparecimento da jarda. Supõe-se que o seu valor foi determinado por Henrique I (reinou de 1100 a 1135), que teria fixado o seu comprimento como sendo a distância entre o seu nariz e a ponta de seu braço esticado.

A jarda.(figura 15)

A origem da “jarda” (yard, em inglês), como medida de comprimento, remonta ao século XII, durante o reinado de Henrique I de Inglaterra, que decidiu instituir a distância entre seu nariz e o polegar de seu braço estendido como sendo uma jarda. Esta medida não está desactivada nem foi esquecida, pois ainda hoje é usada (por exemplo no Futebol Americano para decidir as medidas que separam as linhas em que se divide o terreno de jogo). Era oficial no comércio britânico aferir-se a jarda como equivalente a 3 pés ou a 36 polegadas, e é essa ainda a medida usada no mercado anglo-saxónico. A jarda mede cerca de um metro, mais concretamente 0,91 m, ou seja, 91 centímetros.

Os pesos padrões dos povos antigos eram conforme a região, em geral mantendo o grão como unidade fundamental. Em algumas regiões continuava o uso do sistema "avoirdupois" nas transações comerciais. Para o comércio de jóias e pedras preciosas, que exigia processos de medidas mais delicados, era usado o sistema "troy", cujas unidades eram: grão (gr.); pennyweight (dw.t); onça (oz.t) e libra (Ib.t).Para pedras preciosas, a unidade era o quilate, que equivale aproximadamente a 4 grãos.

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3. SISTEMA DE MEDIDAS NO PORTUGAL MEDIEVAL

3.1. Antigas unidades de medida de peso, volume e comprimento em Portugal – A grande diversidade

As antigas unidades de medida portuguesas foram utilizadas em Portugal e alguns domínios coloniais portugueses até à introdução do Sistema Métrico no séc. XIX.Estas unidades tiveram origem nas unidades de medida romanas (ex: libra, sesteiro, cúbito, emina...). As unidades de medida de Roma antiga foram criadas com base no sistema grego com influências egípcias. A estas juntaram-se as dos árabes que, como os romanos, viveram na Península Ibérica e aqui deixaram os seus costumes e sistemas de medição (ex. alqueire, almude, cahiz...).Tudo isto contribuiu para criar uma grande diversidade de pesos e medidas.

Exemplos de padrões e ferramenta de massa e volume antes da ReconquistaOcupação Romana

Balança romana(figura18)

Teiga (figura17)Recipiente de granito, cilíndrico com dois bicos laterais no bordo, com aproximadamente a capacidade de 1 litro. Tem a forma de copo com asa.

Pesos (figura16)Primeiras ocupações do atual território português.

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Pesos árabes (figura19)

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Os valores absoluto e relativo do arrátel foram sendo alterados desde a Idade Média, visto que a sua medida correspondia ao peso da libra que se usava na Península Ibérica mas não era igual à usada nos países anglo-saxónicos. Até serem fixados como equivalentes aos da libra por decreto do rei D. Manuel em 1499. A partir de então o arrátel passou a ser o mesmo que a libra (5oogr).Esta medida usava-se muito para aferir o peso dos animais, sobretudo para o preço da carne ao público.

ARRÁTEL. Padrão de peso, em

bronze, de um arrátel (459 gr) com uma pega.

Séc. XV-XVI.

OITO ARRÁTEIS. Padrão de peso, em

bronze, de oito arráteis (3,700 kg) com uma

pega. Séc. XV-XVI.

Na altura da formação de Portugal (1143) o padrão de peso era o arrátel, do árabe al-ratl, que era um padrão moldado em ferro fundido ou em granito. Este padrão variou de acordo com os interesses, assim como todos os outros, pesando desde 353 até 459 gramas.

3.1.1. AS MEDIDAS DO LEGADO ÁRABE

De facto, a maior parte das antigas medidas de peso e de capacidade foram um legado árabe (que ocuparam a Península Ibérica em 711).

ARRÁTEL

UMA ONÇA. Padrão de peso, em

bronze, de uma onça (57 gr) com uma pega.

Séc. XV-XVI.

(figura20) (figura21) (figura22)

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Arroba do árabe ar-rub, é uma antiga unidade de massa usada em Portugal. Como unidade de massa a arroba equivale originalmente à quarta parte do quintal, isto é, a 25 libras. Porém, esse valor não foi sempre o único a ser utilizado nem as libras lhe equivaliam.Em Portugal equivalia a 32 arráteis, o que equivale a 14,680 kg.Com a introdução do Sistema Métrico de Unidades, a arroba perdeu boa parte da sua função, mas ainda não deixou de existir.Atualmente, em Portugal, onde ainda é utilizada para pesar a cortiça, os cereais e batatas nas vendas a retalho do comércio tradicional, a arroba métrica foi arredondada para 15kg.

Como medida de volume, para líquidos como o vinho valia 16 litros, mas se fosse para o azeite já valia menos, 12 litros. No entanto, sempre foi mais usada como medida de massa nas transações comerciais para pesar porcos e bovinos.

ARROBA

ARROBA. Padrão de peso, em bronze, de uma

arroba (15 kg) com uma pega. Séc. XV-XVI.

MEIA ARROBA. Padrão de peso, em bronze, de

meia arroba (7,380 kg) com uma pega. Séc. XV-XVI.

(figura23) (figura24)

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Nome Subdivide-se em Valor em arráteis Equivalência métrica

Tonelada (*) 13,5 quintais 1728 793,152 kg

Quintal 4 arrobas 128 58,752 kg

Arroba 32 arráteis 32 14,688 kg

Arrátel 4 quartas 1 0,459 kg

Marco 8 onças 1/2 0,2295 kg

Quarta 4 onças 1/4 0,11475 kg

Onça 8 oitavas 1/16 28,6875 g

Oitava 3 escrópulos 1/128 3,5859 g

Escrópulo 24 grãos 1/384 1,1953 g

Grão 1/9216 0,0498 g

Antigas Medidas de Peso:

Quadro1

(*): não confundir com a Tonelada Métrica, equivalente a 1000 kg

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Alqueire do árabe al kayl designava originalmente uma das bolsas ou cestas de carga que se punha, atadas, sobre o dorso e pendente para ambos os lados dos animais usados para transporte de carga. Logo, o conteúdo daquelas cestas ou bolsas, mais ou menos padronizadas pela capacidade dos animais utilizados no transporte, foi tomada como medida de secos, notadamente grãos, e depois acabaram por designar a área de terra necessária para o plantio de todas as sementes nelas contidas. Normalmente, um alqueire de superfície era a área de terreno que se semeava com um alqueire de sementes. Os principais padrões do alqueire usados em diferentes regiões de Portugal no século XIX eram os seguintes:13,1 litros no litoral entre Aveiro e Lisboa13,9 litros, um pouco por todo o país14,9 e 15,7 litros, sobretudo no interior e no sul 17,0, 17,5 e 19,3 litros, quase exclusivamente no Entre-Douro-e-Minho.

ALQUEIRE

(figura 25)Alqueire com rasoiro.

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O Alqueire era assim a medida de capacidade, usada para secos de volume variável, geralmente milho, trigo, aveia, centeio, grão, feijão, assim como todo o tipo de gramíneas e sementes. Antes do séc. XVI, também podia ser usado para os líquidos – o azeite, o que só acontecia em pouquíssimos concelhos do país, e nesse caso equivalia a 6 canadas, ou seja, 8,4 litros. Mas o seu valor em seco (quer para as transações comerciais, quer para a avaliação das terras de semeadura) passou a ser oficialmente de 13,9 litros, por decisão do Marquês de Pombal, logo após o terramoto de 1755. Valor esse que se manteve para sempre.

O alqueire era normalmente um recipiente e madeira em forma de paralelepípedo com 2 asas e servia principalmente para medir os cereais.

Ainda hoje nas feira e mercados tradicionais de venda a retalho se encontram recipientes semelhantes para medir os cereais, cuja capacidade corresponde ao litro ou a um seu múltiplo ou submúltiplo.Esta prática que foi legalmente abolida na década de 70 séc. XX, continua a se utilizada.

Quarta era a medida de capacidade ou volume, era a quarta parte do alqueire, do arrátel e da vara.

Medidas de Alqueire ( um, meio e quarta). (figura 26)

QUARTA

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Nome Subdivide-se em Valor em moios Equivalência métrica

Moio 15 fangas 1 828 l

Fanga 4 alqueires 1/15 55,2 l

Alqueire 4 quartas 1/60 13,8 l

Quarta 2 oitavas 1/240 3,45 l

Oitava 2 maquias 1/480 1,725 l

Maquia 2 selamins 1/960 0,8625 l

Selamim 2 meios-selamins 1/1920 0,43125 l

meio-selamim 2 quartos de selamim

1/3840 0,215625 l

quarto de selamim

1/7680 0,1078125 l

Medidas de capacidade para secos de Lisboa

Moio era uma medida de capacidade muito usada no nosso país desde a Idade Média, que tinha uma grande ambivalência, pois que não só se usava para capacidades de sólidos e de líquidos, como também servia para medir superfícies agrárias, tendo como exemplo a área média de terreno que podia ser semeada com um moio de trigo, de centeio, de cevada, etc.Herdamos esta medida dos romanos que a usavam para os sólidos como para os líquidos, mas com valores muito díspares. Entre nós, com D. Afonso Henriques, valia 560 litros e subiu até 790 litros com D. Manuel I. O seu valor mais comum era de 60 alqueires, só que o valor do alqueire variava de terra para terra. Mas com a introdução do sistema métrico de unidade o moio passou a ser avaliado em 828 litros.

MOIO

Quadro2

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ALMUDE

Medida de origem árabe que provem do árabe al- mudd.

Era uma unidade de medida de capacidade para líquidos, sobretudo e inicialmente para o vinho até ao reinado de D. Manuel. A partir do déc. XVI passou a usar-se para medir qualquer tipo de líquido.Era uma medida que variava de região para região e às vezes de produto para produto (por exemplo, em Coimbra o almude era equivalente a 20 litros se fosse de vinho e 10 litros se fosse de azeite), apesar de D. Manuel ter generalizado o almude a todo o reino como equivalente a 16,8l.

Medidas de capacidade para líquidos de Lisboa

Quadro3Almude. (figura27)

CANADAMedida de volume mais usada nas transações mercantis, e talvez a mais antiga que se conhece em Portugal. Nos forais aparece para aferir quase todos os líquidos, sendo muito usada para medir o azeite. Equivalia a 1,4 litros, mas o valor mais comum era o usado no mercado de Lisboa, onde valia 1,5 litros.

Medida de volume para líquidos, que antigamente valia cerca de 0,5 litros.

QUARTILHO

Vasilha em cobre( c.2 litros) com uma asa lateral. Medida padrão

camarária, destinada à medição de

líquidos.SÉC.XVICANADA.

(figura28)

Vasilha em cobre de(0,5 litros) com uma asa lateral. Medidapadrão camarária,

destinada à medição de

líquidos. SÉC.XVIQUARTILHO.

(figura29)

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As medidas de comprimento variavam consoante o que se pretendia medir.Os panos eram medidos por côvados ou por varas que variavam de terra para terra. Por isso, na pedra das portas dos castelos ou das igrejas estavam marcadas essas medidas para que os comerciantes pudessem saber o seu valor nessa localidade.

Vara e côvado no castelo do Redondo.(figura30)

Vara e côvado na porta de Sortelha.(figura31)

O sistema de medidas utilizados no Portugal medieval para medir e comerciar tecidos e também para medir a extensão de terenos, baseava-se no palmo com 22cm de comprimento que se assumia como unidade base e nos seus dois principais múltiplos: o côvado, correspondente a 3 palmos (com 66cm), e a vara correspondente a 5 palmos (com 110cm).Destas duas medidas existiam dois submúltiplos: o meio côvado (33cm) e a meia vara (55cm).

ESTALÃO. (figura32)

Medida padrão em ferro, com uma asa em espiral, destinada à aferição das antigas medidas de comprimento (vara e côvado).

Séc. XIX.

VARA. (figura33)

Medida de comprimento (1,10 m) em madeira.Séc. XIX.

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No ano de 1352, alguns povoados portucalenses queixaram-se à corte de Lisboa por se sentirem lesadas quer nos pagamentos dos direitos reais, quer nas rendas que pagavam a fidalgos e clérigos. A confusão nos padrões era tamanha que D. Pedro I (1357- 1367) tentou impor um padrão único para todo o território português, decretando que os pesos sólidos tivessem como base as medidas de Santarém e os líquidos as utilizadas em Lisboa.

•D.AFONSO VPosteriormente, D. Afonso V (1438-1481), impôs os padrões de três cidades: Lisboa, Porto e Santarém e estabeleceu multas para as falsificações e abusos.Embora tivesse diminuído, a confusão ainda imperava.

•D.JOÃO II No reinado de D. João II (1481- 1495), devido à intensificação do comércio com o resto da Europa adotou-se um novo padrão de peso – o marco de Colônia – padrão de peso de uso generalizado na Europa. Este deveria ser feito em ferro forjado e servia para pesar “ouro, prata e outras coisas”. O arrátel passou então a valer 2 marcos. Contudo, esta medida também não foi cumprida.

3.2. A DIVERSIDADE DE PADRÕES DE PESO E MEDIDA E A SUA UNIFORMIZAÇÃO

De todos os padrões de pesos e medidas criados, nenhum conseguiu uma utilização internacional e homogênea, existindo ainda aqueles remanescentes da Antiguidade, contribuindo para criar uma grande diversidade de pesos e medidas. A situação tornava-se mais delicada e confusa, devido à reprodução inexata, erros de interpretação e desonestidade de alguns.

Os primeiros reis, monarcas empenhados na Reconquista do território, davam muitas vezes medidas mais pequenas às novas povoações por eles conquistadas, sem criarem uma legislação que determinasse o seu valor. Isto conduziu a abusos e injustiças e à desorganização da utilização dos pesos e medidas, criando-se uma grande diversidade de medidas locais, o que em nada beneficiava os preços e em muito contribuía para a inflação dos preços e consequente destabilização do mercado.

•D. PEDRO I

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•D. MANUEL

Na época de D. Manuel, Portugal encontrava-se no período áureo dos Descobrimentos, altura em que as trocas comerciais atingiram o seu auge.O peso mais utilizado na Casa da Índia para pesar as especiarias vindas do Oriente era a arroba, que passou a valer a partir dessa altura 32 arráteis. A tonelada, ainda hoje utilizada, correspondia nessa época a 6 arrobas. Em relação aos pesos, estes chegaram a uniformizar-se em todo o reino Assim asCâmaras deveriam possuir as seguintes medidas de capacidade: Medidas de pão – Alqueire, meio alqueire, e quarta de alqueire; medidas de vinho – Almude e meio almude, canada e meia canada, quartilho e meio quartilho; medidas de azeite – alqueire e meio alqueire e quarta de alqueire. No entanto, paralelamente continuaram a subsistir as antigas medidas.

D. Sebastião verificou que apesar de todas as medidas já tomadas, continuavam asubsistir abusos. Por isso, publicou uma Carta de Lei em 1575 em Almeirim, que determinava a proibição do cogulo para secos e determinava que todas as medidas fossem de rasura e iguais entre si, tentando assim obter a desejada uniformização. Estabeleceu também sanções para o não cumprimento desatas determinações. Na Carta de Almeirim de 1575: os Oficiais da Câmaras que consentirem medidas velhas ” terão um ano de degredo em África e a multa de 10 cruzados”. Deveriam existir para secos: a fanga, o alqueire, meio alqueire, quarta e oitava, existindo ainda nalgumas colecções a meia oitava ou selamin; para os líquidoso almude, meio almude, canada, meia canada, quartilho e meio quartilho. Também desapareceram as diferenças de medidas de vinho e medidas de azeite e a multiplicidade de medidas e suas denominações, que existiram até ao reinado de D. Manuel.

•D.SEBASTIÃO

D. Manuel Pesos para pesarouro e/ou prata

(Figura34)

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MEIO ALQUEIRE. Vasilha quadrangular, em bronze, de um quarto (6,3

litros) com duas asas moldadas e decoradas. Medida padrão, do tempo de D. Sebastião

(1575), destinada à aferição legal de medidas de

cereais.

QUARTA. Vasilha quadrangular, em bronze, de quarta (1,6 litros) com duas asas moldadas e decoradas.

Medida padrão, do tempo de D. Sebastião(1575), destinada à aferição legal de medidas de

cereais.

Os padrões de vara eram mais pobres, mais corruptíveis, feitos em ferro. Mas também estas determinações não foram seguidas, e ainda desta vez não se conseguiu uma uniformidade.Estas medidas foram utilizadas até ao século XIX, muitas vezes mesmo depois da introdução do sistema métrico.

(Figura36) (Figura37)

ALQUEIRE. Vasilha quadrangular, em bronze, de

meia rasa (12,6 litros) com duas asas moldadas edecoradas.

Medida padrão, do tempo de D. Sebastião(1575), destinada à aferição legal de medidas de

cereais.

Mandou fazer novos Padrões em Lisboa, adoptando os lá existentes, e que deveriam ser usados nas Câmaras do Reino. Deveriam ser de bronze, marcados com as armas reais, afilados pelos afiladores do Senado (cuja marca é uma caravela gravada) e deveriam ser pagos à custa do concelho a que pertenciam.

(Figura35)

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O Sistema Métrico que assenta numa estrutura de múltiplos e submúltiplos decimais da unidade (quilograma, litro e metro) foi concebido pelo abade francês Gabriel Monton em 1670, mas só 120 anos depois, na altura da Revolução Francesa (1789) e pelas imposições que fazia o florescimento da era industrial, é que foi aprovado pela Assembleia Constituinte Francesa, de modo a que fossem criados padrões universais, oficialmente utilizados nos mercados das diversas nações europeias.

3.2.1.NASCIMENTO E INTRODUÇÃO DO SISTEMA MÉTRICO DECIMAL EM PORTUGAL

Foram vários os monarcas que tentaram a uniformização dos pesos e medidas, tentando adoptar um padrão que fosse único, mas apenas D. Maria II vai conseguir, em meados do séc. XIX ( 1 de Janeiro de 1862), com a introdução do Sistema Métrico, a exemplo do que já se fazia na Europa.

Reprodução de cenas da introdução do novo sistema decimal em França. (1800)

(Figura38)

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Regulador Métrico Português. (Figura39)

Em Portugal, o sistema métrico de unidades foi introduzido pelo decreto de 13 de Dezembro de 1852. Pelo mesmo decreto era criado no Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, a Comissão Central de Pesos e Medidas, que propôs a criação de uma Inspeção-Geral dos Pesos e Medidas do Reino e uma Estação Central de Aferições, dependentes dessa Inspeção. porém dividia espaço com o antigo sistema de medidas. O novo sistema apresentava um regulador com notas explicativas de utilização, tabelas de medidas de peso, superfície e volume e legenda das iniciais usadas.

Porém, o Sistema Métrico de Unidades ainda dividia espaço com o antigo Sistema de Medidas o que levou o Decreto de 20 de junho de 1859 a estabelecer como obrigatório o uso exclusivo do sistema métrico. Este decreto entrou em vigor para as medidas lineares em Lisboa a 1 de Janeiro de 1860 e nas restantes localidades a 1 de Março de 1860. A obrigatoriedade das restantes medidas entrou em vigor em todo o território nacional, em 1 de janeiro de 1862.

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Sistema métrico - É um conjunto de medidas cuja base fundamental é o metro, que serve de referência. Chama-se decimal porque as suas unidades são 10, 100, 1 000 vezes maiores oumenores que a unidade fundamental, constituindo, assim, os múltiplos ousubmúltiplos.

• Sistema Métrico Decimal

O sistema métrico decimal compreende as seguintes espécies de medidas:• Medidas lineares ou de comprimento: • » de superfície • » agrárias • » de volume • » de madeira ou lenha • » de capacidade (para secos ou líquidos) • » de massa ou peso

1. MEDIDAS DE COMPRIMENTO Metro - unidade fundamental -Razão de 1 para 10 Quilómetro -1km = 10 hm = 100dam = 1000m

Múltiplos Hectómetros – 1hm = 10 dam = 100 m Múltiplos

Decâmetro – 1 dam = 10 m

Decímetro -1dm = 0,1m =10cm =100mm

Submúltiplos Centímetro – 1cm = 0,01 m = 10mm

Milímetro – 1 m = 0,001 m

2. MEDIDAS DE SUPERFÍCIE

Unidade – metro – m2 – Razão de 1 para 100 Quilómetro quadrado – 1 km2= 100 hm2= 10 000 dam2= 1 000 000 m2 Múltiplos Hectómetro quadrado – 1 hm2 = 100 dam2= 10 000 m2

Decâmetro quadrado – 1 dam2 = 100 m2

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Decímetro quadrado – 1 dm2= 0,01 m2= 100 cm2= 10 000 mm2

Submúltiplos Centímetro quadrado – 1 cm2= 0,0001 m2= 100 mm2

Milímetro quadrado – 1 mm2 = 0,000 001 m2

3. MEDIDAS AGRÁRIAS São medidas empregadas exclusivamente na medição de terrenos.Unidade – are – a. Miriare – 1 ma = 100 ha = 10 000a

Múltiplos Hectares – 1 ha = 100ª

Are – Unidade fundamental

Correspondência com as medidas de superfície 1 ma = 1 km2 1 ha = 1 hm2 1 a = 1 dam21 ca = 1 m2

4. MEDIDAS DE VOLUME Unidade – metro cúbico – 1 m3 - Razão de 1 para 1000. As medidas de volume só têm submúltiplos. Metro cúbico – 1 m3= 1 000 dm3= 1 000 000 cm3= 1 000 000 000 mm3 Decímetro cúbico – 1 dm3= 0,001 m3 = 1 000 cm3= 1 000 000 mm3Centímetros cúbico – 1 cm3 = 0,000 001 m3= 1 000 mm3Milímetro cúbico – 1mm3= 0,000 000 001 m3

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5. MEDIDAS PARA A MEDIÇÃO DE MADEIRA OU LENHA Unidade – Estere – 1 st = m3 - Razão de 1 para 10

Múltiplos – Decastere – 1 dast = 10st = 10m3Submúltiplos – Decistere – dst = 0,1st = 100dm3

6. MEDIDAS DE CAPACIDADE (Secos e líquidos)

Quilolitro – 1 kl = 10 hl = 100 dal = 1 000 l Múltiplos Hectolitro – 1 hl = 10 dal = 100 l Múltiplos

Decalitro – 1 dal = 10 l

Decilitro – 0,1 l = 10 cl = 100 ml

Submúltiplos Centilitro – 0,01 l = 10 ml

Mililitro – 0,001 l

7. MEDIDAS DE MASSA OU PESO Unidade – quilograma - Razão de 1 para 10, excepto entre o quilograma e o quintal, que é de 1 para 100, e entre o quilograma e a tonelada que é de 1 para 1000. Tonelada – t = 10 q = 1000 kg Quintal – q = 100 kg

Múltiplos Quilograma – kg = 10 hg = 100 dag = 1 000 g

Hectograma – hg = 10 dag Decagrama – dag =10 g

Grama – g = 1000 mg

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Decigrama – dg = 0,1 g = 10 cg = 100 mg Submúltiplos Centigrama – cg = 0,01 g = 10 mg

Miligrama – mg = 0,001 g

• ANTIGAS MEDIDAS USADAS EM PORTUGAL

Equivalência das medidas de capacidade expressa em litros

Medidas lineares expressas em metros

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ANTIGAS MEDIDAS AGRÁRIAS Embora muito variável, era considerada de uso geral a GEIRA. que se definia como sendo a superfície lavrada por dois bois ou cavada por 50 homens num dia de trabalho. A geira subdividia-se em AGUILHADAS, variando de 8 a 12:

Geira de 8 aguilhadas e 4 côvados 4 938,9880 m2 » » 9 aguilhadas 5 122,6566 m2 » » 10 aguilhadas 5 691,8400 m2 » » 11 aguilhadas 6 261,0240 m2 » » 12 aguilhadas 6 380,2080 m2

MEDIDAS DE ÁGUAS CORRENTES Unidade fundamental a MANILHA, considerada como sendo o caudal correspondentenormalmente, a um buraco circular com um palmo de circunferência.

A manilha 16 anéis de água O anel 8 penas de água O volume de água de uma pena, em 24 horas, era de 8 pipas, ou 1/3 de pipa numa hora.

ANTIGAS MEDIDAS DE MASSA REFERIDAS A QUILOGRAMAS