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UNIDADE 2 A GLOBALIZAÇÃO E A REGIONALIZAÇÃO ECONÓMICA DO MUNDO 2.1 A Mundialização Económica 2.1.1 A mundialização económica: noção e evolução Representa a intensificação das relações económicas e a sua realização à escala do planeta e compreende o conjunto das trocas entre as diferentes partes do globo. Descobrimentos; Colonização. Atualmente o processo constante de construção da Mundialização Económica tem sido: A progressiva intensificação das relações comerciais; Novas formas de organização do processo produtivo. A Mundialização representa a busca de melhor produtividade dos fatores de produção, melhores condições sociais, culturais e politicas a nível mundial. 1

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UNIDADE 2

A GLOBALIZAÇÃO E A REGIONALIZAÇÃO ECONÓMICA DO MUNDO

2.1 A Mundialização Económica

2.1.1 A mundialização económica: noção e evolução

Representa a intensificação das relações económicas e a sua realização

à escala do planeta e compreende o conjunto das trocas entre as

diferentes partes do globo.

Descobrimentos;

Colonização.

Atualmente o processo constante de construção da Mundialização

Económica tem sido:

A progressiva intensificação das relações comerciais;

Novas formas de organização do processo produtivo.

A Mundialização representa a busca de melhor produtividade dos

fatores de produção, melhores condições sociais, culturais e politicas a

nível mundial.

Realidade abrangente (económica, cultural, social e política)

Realidade com uma forte componente de trocas;

Ultrapassa regimes e ideologias;

Busca constantemente de melhores desempenhos económicos

Maior produtividade;

Maior crescimento do PIB.

Crescimento e mobilidade dos capitais

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Mundialização: Evolução

Podemos identificar a mundialização como um processo em constante

construção, no qual podemos identificar, hoje duas linhas de orientação:

A progressiva intensificação das relações comerciais;

As novas formas de organização do produto

Em síntese podemos referir que a mundialização:

Compreende o conjunto das trocas entre as diferentes partes do globo,

fazendo do espaço mundial o lugar das transações da humanidade;

É uma realidade contemporânea que ultrapassa os regimes e as

ideologias, apesar de refletir o estado das forças, das ideias e dos

sistemas técnicos em funcionamento.

A 1ª Europeização Do Mundo ➤Potência Dominante ➤Europa

O fenómeno da europeização corresponde à influência da Europa no

Mundo. A Primeira Europeização do Mundo corresponde ao período da

colonização europeia dos territórios ocupados, associado aos

Descobrimentos.

O centro impulsionador e coordenador da economia mundial passou de

Portugal e de Espanha no sec. XV e XVI para a Holanda no sec. XVII e

para o Reino Unido nos seculos XVIII e XIX. Ao longo deste domínio

colonial, as culturas locais foram progressivamente destruídas e

substituídas por aspetos da cultura europeia.

A crescente influência da Europa no Mundo é designada por

europeização.

A 1ª Revolução industrial ➤Potência dominante ➤Reino Unido

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Decorre entre 1760 e 1875, provocou a alteração de introdução de

alterações significativas, em bens, processos, modelos organizativos no

posicionamento das empresas dos países.

O processo de inovação tecnológica caracterizou-se pela utilização das

energias provenientes do carvão e do vapor e pela utilização da

máquina a vapor e do teor mecânico.

A aplicação de novas fontes de energia possibilitou a criação de uma

rede de caminhos de ferro, facilitando deslocação das mercadorias e

das pessoas.

A 1.ª RI provocou o crescimento da produção e a melhoria das

condições de vida, ainda que de forma bastante precária. A descoberta

da vacina antivariólica, pelo inglês Jenner, em 1798, contribuiu para o

rápido crescimento da população. Acompanhando o crescimento

populacional, assistiu-se à concentração urbana. Por um lado, as

transformações agrárias libertam trabalhadores e, por outro, a

mecanização da indústria exige a concentração dos trabalhadores.

Desta forma, cresciam os bairros de operários e com eles amontoava-se

a miséria.

O Reino Unido liderou a 1.ª RI; só em 1900 a Austrália e os EUA

apresentam um Produto per capita superior ao do Reino Unido. O

processo de industrialização liderado pelo Reino Unido rapidamente se

propagou aos países europeus e só posteriormente atingiu os EUA, o

Canadá e a Austrália.

A 2ª Revolução Industrial ➤Potência Dominante ➤ Europa

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Ocorreu a partir de 1887, período em que assistimos ao declínio do

capitalismo concorrencial e individualista. A 2ª Revolução Industrial

caracteriza-se pela utilização da energia proveniente da eletricidade e

do petróleo e pela utilização de inventos, como motor de explosão, o

telefone e os corantes sintéticos ou o aço. Esta revolução é o resultado

da ligação da ciência e da técnica com o laboratório e a fábrica.

A busca da rendibilidade industrial (elevados lucros) conduz a novas

formas de organização das empresas e de concentração empresarial: é

a época do capitalismo financeiro.

A competição deixa de ser concorrencial e passa a fazer-se entre

empresas de grande dimensão, os mercados são dominados por

empresas monopolistas ou oligopolistas.

A 2ª Europeização do Mundo

Intensificação do colonialismo europeu;

Intensificação da divisão internacional do trabalho;

Reforço da emigração;

Novos concorrentes internacionais.

2.1.2 A aceleração da mundialização económica a partir de 1945

A mundialização intensificou-se após a 2.ª Guerra Mundial. As novas tecnologias e o reforço da interdependência entre os diferentes países contribuíram para a construção de um mercado global.

A 3ª Industrialização

Desenvolvimento da informática e a conceção do computador

rapidamente se estendem às áreas de conhecimento: medicina,

produção, finanças, transportes.

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Com o desenvolvimento informático assistimos aos avanços nas

telecomunicações e no audiovisual, a informação ganha uma nova

velocidade e torna-se rapidamente ultrapassada.

Informática, telecomunicações, audiovisual dão origem às novas

tecnologias de informação e da comunicação. Com o desenvolvimento

informático assistimos aos avanços das telecomunicações e no

audiovisual, a informação ganha uma nova velocidade e torna-se

rapidamente ultrapassada.

As NTIC nos setores tradicionais da economia provocam:

Canibalização: destruição de vários setores de atividade.

Ex: impacto negativo da internet nos correios

Polinização: consiste na dinamização das empresas ao possibilitarem

novos métodos de organização

Ex: novos sistemas de comunicações interna e externa.

A 3ª Revolução Industrial

Inovação tecnológica;

Desenvolvimento informático;

Avanço nas telecomunicações e no audiovisual: biotecnologia e novas

matérias;

Intensificação das trocas;

Dependência económica crescente.

Neste contexto de intensificação das trocas e crescente

interdependência económica, são raros os produtos que apresentam

uma só nacionalidade. Os diversos bens são o resultado, na maior parte

das vezes, da montagem de componentes fabricadas em diversos

países. Muitos dos bens que utilizamos são produzidos por

multinacionais organizadas em redes por todo o mundo.

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Empresas Multinacionais e Empresas Transnacionais (ETN)

Empresas Multinacionais

De acordo com Nicole Dubois, as multinacionais são

empresas ou grupos de empresas privadas, juridicamente ligadas

umas as outras, exercendo as suas atividades e gerindo os seus

bens em Estados diferentes, mas segundo uma estratégia global

Para G. Bertin, a empresa multinacional é a empresa ou

grupos de empresas cujas atividades se estendem a vários países

e são concebidas, organizadas e dirigida à escala mundial ou pelo

menos plurinacional.

Aspetos:

As multinacionais, com a sua implantação em vários países e uma

política global de empresa que lhe permite ter uma atuação a nível

mundial independente dos territórios onde está instalado.

Multinacionalizar

Constitui na transferência e na deslocalização de recursos, trabalho e

capital de uma economia para outra economia.

A multinacional procura localizar cada função no local onde a

vantagem comparativa é maior, daí a dispersão geográfica das

empresas e a fragmentação dos processos produtivos.

Internacionalização

Significa participar no comércio mundial, na atividade de outras a partir de um espaço nacional.

Empresas Multinacionais

Procura vantagens como: a redução de custos, melhorando a sua qualidade que são indispensáveis para se manterem competitivas.

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Contribuem para a internacionalização e para a mundialização da economia

As multinacionais procuram obter outras vantagens comparativas decorrentes:

Da diferença salarial, possibilitando a revolução dos custos salariais noutros pontos do globo;

Da estrutura cada vez mais oligopolista do comércio mundial. As empresas têm de ter dimensão para poder competir;

Da utilização de acesso direto às matérias-primas ou bens primários, possibilitando a redução dos custos de aquisição das matérias e de transporte das mesmas.

Do contorno dos entraves ao comércio internacional, evitando obstáculos protecionistas, para isso localizando as filiais no interior dos espaços de integração económica.

Todas estas vantagens representam para a empresa formas de reduzir custos, melhorar a qualidade do bem ou lançar novos bens e são indispensáveis para se manterem competitivas nos mercados mundiais.

Principal característica da empresa transnacional é a sua dispersão geográfica paralelamente à sua capacidade de organizar atividades complexas numa escala multinacional.

Empresa Transnacional: organiza-se, tendo por base a concorrência mundial e a liberdade de mover os recursos. Em defesa dos seus interesses (mercados abastecedores e mercados consumidores), as transnacionais deslocam de uns países para os outros as filiais, mesmo contra os interesses dos Estados onde, até então, estavam instaladas.O poder destas empresas é significativo em termos económicos, financeiros e tecnológicos. Dispõem de elevada capacidade de obtenção de economias de escala e do desenvolver inovações. A sua implementação em múltiplos Estados permite-lhes sobrepor-se aos Estados nacionais na otimização dos recursos e na redução dos riscos.

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Internacionalização da Economia Mundialização Económica

Participar na atividade produtiva de outros países a partir do espaço mundial

Transferir e deslocalizar os fatores de produção de uma economia para outra

Intensificar as trocas de mercadorias, serviços, capitais, ideias e pessoas

Criar estruturas produtivas noutros países com recurso ao IDE (Investimento Direto Estrangeiro)

Intensificar as trocas a partir de fatores nacionais

Expandir o mercado interno a partir de fatores nacionais localizados em espaço multiterritoriais

Empresas transacionais (ETN)

São entidades jurídicas económicas e técnicas complexas; São firmas ou sociedades com um volume de negócios mínimo de

500 milhares de milhões de dólares, realizam mais de 25% da produção e das trocas filiais implantadas no mínimo por 6 países.

Aceleração da mundialização no período posterior a 1945

Está relacionada:

Para além dos avanços tecnológicos;Com: ● a reconstrução europeia japonesa no pós-guerra;● tentativa de liberalização das trocas a nível mundial;● integração regional e mundial.

Com o fim da 2.ª Guerra Mundial, e 1945, dá-se início à política de bolcos e duas lideranças emergem. De um lado, a liderança americana e, do outro, a liderança soviética.

Liderança no comércio Internacional

Século XIX ➤ Liderança da Europa até ao início do século XX

Século XX ➤ Liderança dos EUA a partir da Segunda Guerra Mundial

➤ Liderança tripartida: EUA, União Europeia e Japão

A reconstrução europeia e japonesa no pós-guerra – Intensificação da Mundialização Económica

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Fim da 2ª Guerra Mundial; Reconstrução europeia e japonesa; Ajuda dos EUA à Europa Ocidental: Através do Plano Marshall; Este plano foi apenas aplicado apenas aos países da Europa

Ocidental, os países da Europa de Leste recusaram a ajuda americana por influência da URSS;

Ajuda económica e financeira americana estendeu-se ao Japão.

✔ O auxílio concedido pelos EUA aos países da Europa Ocidental e ao Japão contribuiu para acelerar o crescimento da economia americana, tornando-se esta principal participante no comércio mundial de mercadorias e de capitais. Paralelamente, reforçou a sua esfera de influência no mundo, ao garantir importantes apoios e posições estratégicas político-militares.

✔ A partir de 1945, a Europa Ocidental perde a liderança no comércio e no investimento mundial e na capacidade de inovação.

✔ Entre 1945 e 1989, os EUA partilham a sua liderança com a URSS, mas, a partir de 1989, com a queda do muro de Berlim e o desmembramento da URSS, os EUA tornam-se a primeira potência económica e militar do mundo.

Um novo mapa político emerge na Europa:

● os novos Estados, com maior ou menor custo, passam de economias de direção central para economias de mercado;

● alguns deles passam, a partir de 2004, a ser membros da União Europeia, por exemplo, a Estónia, a Lituânia e a Letónia.

As tentativas de liberalização das trocas a nível mundial

No final da 2.ª Guerra Mundial, os países procuram:

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♦ maior liberalização das trocas mundiais;

♦ era preciso necessário evitar o protecionismo e criar condições para a definição de regras orientadoras do comércio mundial.

Assim, em 1947 é criado o

GATT: Acordo Geral Sobre as Tarifas e o ComércioCom o objetivo de criar um código de boa conduta para o comércio internacional;

O GATT sobreviveu até 14 de abril de 1994, altura em que foi constituída a                     ↓

                    OMC (Organização Mundial do Comércio) através do acordo de Marraquexe.

Pretende ser mais eficaz do que o GATT; Dispõe de mecanismos punitivos para os países infratores de

acordos

A OMC tem contribuído para o crescimento do comércio mundial através dos múltiplos acordos da liberalização do comércio  ↓ redução progressiva de direitos aduaneiros

A nível mundial reforçou-se a interdependência económica, mas também o desenvolvimento de políticas que salvaguardem os interesses comuns entre países com graus de desenvolvimento diferentes.

Países como a Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, a China, o Brasil e a Índia têm vindo progressivamente a aumentar a sua participação no comércio de elevado valor acrescentado e incorporação tecnológica.

A mundialização acelerada contribui para o rápido crescimento do comércio de mercadorias e de serviços.

 

 

Integração Regional e Mundial

O fenómeno da integração pode também ocorrer a nível regional.

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Integração regional – corresponde ao desenvolvimento solidário entre Estados. Corresponde ao relacionamento de natureza comercial, financeira, monetária, política e cultural entre os diversos Estados com o objetivo de aproximação dos níveis de vida das populações.A regionalização das trocas tem vindo a concretizar-se de várias formas:

● através de múltiplos acordos no âmbito do GATT/OMC (progressivas reduções aduaneiras)

● através de organizações económicas cujo funcionamento assenta em formas diferentes de integração (zonas de comércio livre, uniões aduaneiras, mercado comum, etc.)

Os fenómenos de integração regional têm contribuindo para:

Aumentar as trocas Intrarregionais e entre regiões; Interdependência entre países e entre blocos comerciais.

Vários exemplos de regionalização através da criação de organizações económicas:

EFTA: Associação de Comercio Livre; criada em 1959 através da convenção de Estocolmo, exclui dos acordos os bens agrícolas.

ASEAN: Associação das Nações do Sudeste Asiático; criada em 1967↓

A partir de 2002 constitui a AFTA - Associação do Comércio Livre da Ásia. Exclui a agricultura e comporta uma série de exceções para os bens industriais.

NAFTA -  Associação do Livre Comércio da América do Norte; criada em 1992, como espaço de livre comércio das mercadorias, dos serviços e dos capitais, criou uma proteção especial para a propriedade intelectual. Esta zona de comércio livre exclui a circulação de pessoas.

CEE (Comunidade Económica Europeia)/UE (União Europeia), criada em 1957. Atualmente, a organização não se limita a questões de comércio externo e de natureza económica, a sua ação estende-se a áreas como a segurança interna e externa, os direitos sociais dos trabalhadores, etc.

MERCOSUL: Mercado Comum do Sul, criado em 1991 (constituição aduaneira em setores como agroalimentar, indústria automóvel e os serviços urbanos, produção de madeira, construção de grandes projetos de infraestruturas, etc.)

Para além destas zonas de comércio, existem acordos regionais de comércio livre:

● CNUCED: Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento; que decorreu pela primeira vez em Genebra, em 1964, e definiu como objetivos:

✔ a supressão dos obstáculos ao comércio externo

No âmbito da expansão das trocas, a CNUCED instituiu, em 1971, o

SPG: Sistemas de Preferências Regionais.↓

Contribui para intensificar o comércio em países industrializados e os países em desenvolvimento, propondo-se atingir os seguintes objetivos:

✔ aumentar as receitas das exportações dos países em desenvolvimento;

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✔ favorecer a industrialização dos países em desenvolvimento;

✔ exigir aos países em desenvolvimento o cumprimento de certas medidas (incentivo ao respeito dos direitos sociais definidos pela Organização Mundial do Trabalho – OIT).

Como referimos anteriormente, um dos fatores que contribuíram e continuam a contribuir para a mundialização da economia é a integração europeia. A partir de 1957 e de forma progressiva, os países da UE têm eliminado os entraves ao livre comércio, inicialmente de mercadorias e depois alargado aos serviços, capitais e pessoas, constituindo um mercado comum. A UE, desde 2007, com 27 Estados-membros, é o maior participante no comércio mundial de mercadorias e de serviços (turismo, banca, seguros e transportes).

Uma parte significativa do comércio externo da UE é realizada entre países da organização.

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