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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI - UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR VII – SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA POR IDADE PARA OS SEGURADOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL E SUAS ALTERAÇÕES LACI ZANDOMÊNEGO São José (SC) 2004.

Aposentadoria Por Idade

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Aposnetadoria

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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI - UNIVALI CENTRO DE EDUCAO SUPERIOR VII SO JOS CURSO DE DIREITO - NCLEO DE PRTICA JURDICA COORDENAO DE MONOGRAFIA

    A CONCESSO DA APOSENTADORIA POR IDADE PARA OS SEGURADOS DO REGIME GERAL DE PREVIDNCIA SOCIAL E

    SUAS ALTERAES

    LACI ZANDOMNEGO

    So Jos (SC) 2004.

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI - UNIVALI CENTRO DE EDUCAO SUPERIOR VII SO JOS CURSO DE DIREITO NCLEO DE PRTICA JURDICA COORDENAO DE MONOGRAFIA

    A CONCESSO DA APOSENTADORIA POR IDADE PARA OS SEGURADOS DO REGIME GERAL DE PREVIDNCIA SOCIAL E

    SUAS ALTERAES

    Monografia apresentada como requisito parcial obteno do grau de bacharel em Direito da Universidade do Vale do Itaja, sob orientao do Prof. MSC. Mrcio Roberto Paulo

    LACI ZANDOMNEGO

    So Jos (SC) 2004

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    CENTRO DE EDUCAO SUPERIOR VII SO JOS CURSO DE DIREITO NCLEO DE PRTICA JURDICA COORDENAO DE MONOGRAFIA

    A CONCESSO DA APOSENTADORIA POR IDADE PARA OS SEGURADOS DO REGIME GERAL DE PREVIDNCIA SOCIAL E

    SUAS ALTERAES

    LACI ZANDOMNEGO

    A presente monografia foi aprovada como requisito para a obteno do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itaja UNIVALI do Centro de

    Educao de So Jos

    So Jos, / /

    Banca Examinadora:

    ___________________________________________

    Prof. Marcio Roberto Paulo

    ___________________________________________

    Prof. Juliano Garcia - Membro

    ___________________________________________

    Prof. Cleber Lzaro- Membro

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    RESUMO

    O tema deste estudo compreende a aposentadoria por idade para os segurados do Regime Geral da Previdncia Social. A Previdncia Social surgiu no Brasil com a criao da Lei Eloy Chaves, sendo que a partir da o regime previdencirio passou por uma srie de modificaes at chegar estrutura que apresenta na atualidade. O regime previdencirio uma poltica pblica mediante a qual o indivduo contribui, enquanto trabalhador devidamente registrado, tendo descontado de sua folha de pagamento um percentual que destinado ao INSS e a ele retorna quando, por algum infortnio, no apresentar mais condies para o trabalho. A aposentadoria por idade um dos benefcios da Previdncia Social que pretende assegurar proteo velhice. concedida aos segurados quando completam 65 anos, se homem, ou 60 anos, se mulher. Mesmo apresentando condies para o trabalho, o idoso tem o direito a receber esse benefcio da Previdncia Social caso tenha contribudo, para a previdncia, respeitando-se os prazos determinados pela carncia. No caso do trabalhador rural e do garimpeiro, a idade mnima para recebimento da aposentadoria por idade de 60 anos para o homem, e 55 para a mulher. O objetivo geral do presente estudo consiste em informar a sociedade em geral acerca de seus direitos relativamente aposentadoria por idade. Ele se justifica em virtude das incoerncias que supostamente decorrem dos novos institutos criados em termos de Previdncia Social. Esse estudo tambm se justifica por servir como objeto de informao aos interessados em melhor conhecer as modificaes introduzidas no regime da aposentadoria por idade.

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    LISTA DE ABREVIATURAS

    ADIN Ao Direta de Inconstitucionalidade AFRESP Associao dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de So

    Paulo CIC Centro de Integrao da Cidadania CLPS Consolidao das Leis de Previdncia Social CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social CNPS Conselho Nacional de Previdncia Social CNS Conselho Nacional de Sade CONASP Conselho Consultivo da Administrao de Sade

    Previdenciria CPF Cadastro de Pessoas Fsicas DATAPREV Empresa de Processamento de Dados da Previdncia Social DPSC Discriminao das Parcelas dos Salrios-de-Contribuio FUNABEM Fundao Nacional do Bem-Estar do Menor FUNRURAL Fundo de Assistncia ao Trabalhador Rural IAP Institutos de Aposentadoria e Penses IAPAS Instituto de Administrao Financeira da Previdncia e

    Assistncia Social IAPB Instituto de Aposentadoria e Penses dos Bancrios IAPC Instituto de Aposentadoria e Penses dos Comercirios IAPETC Instituto de Aposentadoria e Penses dos Empregados em

    Transportes e Cargas IAPI Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industririos IAPM Instituto de Aposentadoria e Penses dos Martimos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica INAMPS Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia

    Social INPS Instituto Nacional de Previdncia Social INSS Instituto Nacional do Seguro Social IPASE Instituto de Previdncia e Assistncia dos Servidores do

    Estado

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    LBA Legio Brasileira de Assistncia LOAS Lei Orgnica da Assistncia Social LOPS Lei Orgnica de Previdncia Social MPAS Ministrio da Previdncia e Assistncia Social MP Medida Provisria MPS Ministrio da Previdncia Social OIT Organizao Internacional do Trabalho PASEP Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico PEC Proposta de Emenda Constitucional PIS Programa de Integrao Social PR-RURAL Programa de Assistncia ao Trabalhador Rural REVAS Reviso de Avaliao Social RG Carteira de Identidade RGPS Regime Geral da Previdncia Social RSC Relao dos Salrios-de-Contribuio SAMDU Servio de Assistncia Mdica Domiciliar e de Urgncia SAPS Servio de Alimentao da Previdncia Social SAT Seguro de Acidentes do Trabalho SEAS Secretaria de Estado de Assistncia Social SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SESC Servio Social do Comrcio SESI Servio Social da Indstria SINPAS Sistema Nacional de Previdncia e Assistncia Social STJ Supremo Tribunal de Justia SUDS Sistema nico de Sade Descentralizado SUS Sistema nico de Sade

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    SUMRIO

    RESUMO...................................................................................................................04 LISTA DE ABREVIATURAS .....................................................................................05 INTRODUO ..........................................................................................................09 1 O INSTITUTO DA PREVIDNCIA SOCIAL E SUA FORMAO .........................12 1.1 Conceito de previdncia social ........................................................................12 1.2 O surgimento da Previdncia Social no mundo ocidental.............................15 1.3 Evoluo do Direito Previdencirio no Brasil .................................................17 1.4

    A criao do INPS e os futuros progressos do regime da previdncia........24 2 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE, ASSISTNCIA E PREVIDNCIA SOCIAL............................................................................................31 2.1 Seguridade social..............................................................................................32 2.2 Assistncia Social .............................................................................................38 2.3 Previdncia social .............................................................................................40 2.4 Benefcios do Regime Geral da Previdncia Social .......................................43

    2.4.1 Aposentadoria por idade ...............................................................................44

    2.4.2 Aposentadoria por invalidez..........................................................................44

    2.4.3 Aposentadoria por tempo de servio/contribuio .....................................45

    2.4.4 Aposentadoria especial..................................................................................46

    2.4.5 Auxlio-doena................................................................................................46

    2.4.6 Auxlio-acidente ..............................................................................................46

    2.4.7 Salrio-famlia .................................................................................................47

    2.4.8 Salrio-maternidade .......................................................................................47

    2.4.9 Penso por morte...........................................................................................48

    2.4.10 Auxlio-recluso............................................................................................49

    3 APOSENTADORIA POR IDADE............................................................................50 3.1 O regime da aposentadoria por idade at 1988 ..............................................50 3.2 O regime de aposentadoria por idade de 1988 a 2003 ...................................51 3.2.1 Carncia ..........................................................................................................52 3.2.2 Direito adquirido.............................................................................................56

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    3.3 As mudanas advindas com a Lei 10.666/03...................................................56 3.4 Estatuto do idoso ..............................................................................................59 3.5 Proteo velhice .............................................................................................62 3.6 Amparo social....................................................................................................64 3.7 Requerimento de aposentadoria por idade.....................................................66 3.7.1 Incio do recebimento do benefcio...............................................................67 3.7.2 Valor do benefcio e forma de clculo ..........................................................69 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................72 REFERNCIAS.........................................................................................................76

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    INTRODUO

    Como um ramo autnomo do direito, o Direito Previdencirio dotado de princpios que lhe conferem fundamentao. Esse ramo do Direito est relacionado com a proteo do trabalhador, seja ele privado ou pblico, por meio da concesso de benefcios como aposentadoria, penso por morte e assistncia sade, sendo regulado basicamente pelas Leis da Previdncia Social. O objeto principal desse ramo do direito analisar e interpretar os princpios e as normas constitucionais, legais e regulamentares que dizem respeito ao sistema de previdncia do Brasil.

    A Previdncia Social um sistema contributivo, e ser financiada por toda a sociedade de maneira direta e indireta, atravs das contribuies sociais, sua existncia depende da contribuio dos indivduos, denominados segurados e das empresas, que, posteriormente, viro a ser beneficiados. Dessa forma, o benefcio uma espcie de seguro, concedido quando da ocorrncia de eventos de infortnio, como acidentes de trabalho, morte do segurado, entre outros, bem como a ocorrncia de outros acontecimentos, como maternidade e recluso. O segurado recebe o benefcio quando se encontra incapacitado para exercer normalmente a sua atividade laboral.

    Portanto, o Direito Previdencirio tem como principal expoente a Previdncia Social. Esta de substancial importncia para a sociedade, pois a poltica pblica que garante aos trabalhadores, que durante anos serviram a sociedade por meio da atividade laboral, um benefcio quando estes j no mais apresentarem condies de exercer o trabalho. Esse benefcio deve garantir condies mnimas de sobrevivncia digna aos segurados da previdncia e seus dependentes.

    A aposentadoria por idade uma das espcies de benefcio garantidos pela Previdncia Social. Sendo assim, o presente estudo monogrfico tem como tema a concesso da aposentadoria por idade para os segurados do Regime Geral de Previdncia Social. Delimita-se o tema desse estudo apresentando-se as formas, coerncia e documentao necessria para a concesso do benefcio aposentadoria por idade.

    O problema de pesquisa, do qual parte toda a investigao, consiste

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    em analisar quais os requisitos bsicos e quais as formas de concesso de aposentadoria por idade.

    Com base nesse problema de pesquisa, estabeleceu-se como objetivo informar a sociedade em geral, em especial os idosos, acerca de quais so seus direitos com respeito aposentadoria por idade. Para alcanar esse objetivo, foram determinados os seguintes objetivos especficos: apresentar um histrico sobre o instituto da Previdncia Social; identificar os segurados do Regime Geral da Previdncia Social (RGPS), no caso da aposentadoria por idade; verificar os efeitos da Lei 10.666/93; apontar os procedimentos necessrios para concesso de aposentadoria por idade.

    Justifica-se esse estudo monogrfico em virtude das incoerncias que supostamente decorrem dos novos institutos que foram criados em termos de Previdncia Social. Um desses institutos compreende a Lei 10.666, de 8 de maio de 2003, que trata da concesso da aposentadoria especial ao cooperado de cooperativa de trabalho ou de produo, alm de dar outras providncias a respeito do assunto. Pressupe-se existirem incoerncias a respeito do contedo da referida lei, que de fundamental importncia para quem algum dia j contribuiu para a Previdncia Social. Esse estudo tambm se justifica por servir como objeto de informao aos interessados em melhor conhecer as modificaes introduzidas no regime de aposentadoria por idade.

    A metodologia adotada tem por base o mtodo indutivo que, partindo das teorias e leis, na maioria das vezes, prediz a ocorrncia dos fenmenos particulares. Quanto s tcnicas de pesquisa, utilizou-se a documentao indireta que se subdivide em: pesquisa documental, efetuada diretamente nos documentos (leis, sentenas, decretos, etc.) que podem ser encontrados em arquivos (pblicos ou particulares), bibliotecas, etc; e pesquisa bibliogrfica, realizada em livros, artigos e outros meios de informao em peridicos (revistas, boletins, jornais) que tratam do tema em questo.

    O trabalho est estruturado em trs captulos para facilitar a organizao do contedo e a compreenso do leitor. No primeiro captulo procura-se conceituar a previdncia social; tambm se realiza um histrico acerca desse instituto, abordando seu surgimento em termos mundiais e no Brasil. Procura-se relatar a evoluo do instituto da Previdncia Social no Brasil, apontando as

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    principais modificaes que ocorreram em termos de legislao, desde seu surgimento, com a Lei Eloy Chaves, at as atuais modificaes.

    No segundo captulo so abordados os princpios constitucionais da Seguridade, Assistncia e Previdncia Social. Esses princpios constituem o fundamento e distinguem entre si cada uma dessas polticas pblicas que formam o Direito Previdencirio. Todas as regras ordinrias relacionadas ao tema necessitam estar pautadas nesses princpios, sob pena de se tornarem sem eficcia, o que justifica seu estudo.

    O terceiro captulo constitui a parte central desse estudo, uma vez que trata especificamente dos critrios de concesso de aposentadoria por idade. Inicialmente, realiza-se uma breve reviso acerca das principais leis que regem a aposentadoria por idade desde seu surgimento at a data atual, considerando-se as modificaes decorrentes da Lei n 10.666/03. Alm disso, efetuada uma anlise de alguns aspectos do Estatuto do Idoso, da proteo velhice e da poltica pblica de amparo social. Ento, passa-se para a apresentao propriamente dita do benefcio da aposentadoria por idade, esclarecendo-se os seguintes aspectos: incio do recebimento do benefcio; valor do benefcio e forma de clculo; e perodo de carncia. Por fim, encerra-se o captulo tratando rapidamente do direito adquirido.

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    1 O INSTITUTO DA PREVIDNCIA SOCIAL E SUA FORMAO

    1.1 Conceito de previdncia social

    A Previdncia Social constitui um tema amplamente discutido, visto que j foram efetuadas diversas reformas no sentido de assegurar a proteo social populao, dentro das possibilidades financeiras dos rgos governamentais competentes, que necessitam ter sua arrecadao para cumprir seus objetivos. Entretanto, mesmo com essas reformas permanece a insatisfao geral por parte dos segurados em relao ao beneficio recebido, bem como a falta de equilbrio entre os gastos com beneficirios e a arrecadao do governo.

    O conceito de previdncia social compreende programas de seguros sociais, dentre eles: penses, aposentadorias, peclio por morte, invalidez, auxlio pecunirio por acidentes do trabalho, assistncia mdico-hospitalar, enfermidades profissionais, doenas comuns, e auxlio-maternidade. Compreende, do mesmo modo, programas de assistncia familiar que se referem essencialmente aos subsdios s famlias desamparadas, alm dos programas de assistncia social que restituem as penses no contributivas e a assistncia mdico-hospitalar a pessoas desamparadas.

    A proteo social, nos dias atuais, alcana desenvolvimento alm do que seria previsvel. Foram adotadas sucessivas frmulas de proteo em textos legais, expandindo o alcance e a abrangncia do amparo destinado ao homem, quando atingido pelo infortnio. Tal desenvolvimento, que no era sequer pensado no passado, encontra suas razes em pocas bastante remotas sediadas na mente humana e inspirando a evoluo no direito (COIMBRA, 1998, p. 1).

    Nesse nterim surge a Previdncia Social, que um seguro social com a finalidade de substituir a renda do trabalhador contribuinte filiado Previdncia Social quando ele no tem mais condies para o trabalho, seja em funo da idade, seja por motivo de doena, acidente, desemprego, morte, ou at pela maternidade ou recluso. Seu desgnio est relacionado garantia de proteo social, ensejando peclios ou rendas mensais, cujo objetivo a manuteno da vida humana, com condies dignas de sobrevivncia (CASTRO, 2002, p. 61).

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    A Previdncia Social conceituada por Castro (2002, p. 61) da seguinte maneira:

    Previdncia Social o sistema pelo qual, mediante contribuio, as pessoas vinculadas a algum tipo de atividade laborativa e seus dependentes ficam resguardados quanto a eventos de infortunstica (morte, invalidez, idade avanada, doena, acidente de trabalho, desemprego involuntrio), ou outros que a lei considera que exigem um amparo financeiro ao indivduo (maternidade, prole, recluso), mediante prestaes pecunirias (benefcios previdencirios) ou servios. Desde a insero das normas relativas ao acidente de trabalho na CLPS/84, e mais atualmente, com a isonomia de tratamento dos beneficirios por incapacidade no decorrente de acidente em servio ou doena ocupacional, entende-se incorporada Previdncia a questo acidentria. , pois, uma poltica governamental.

    Com a finalidade de melhor determinar o instituto da Previdncia Social, importante adicionar as consideraes de certos juristas. Um desses Oliveira (apud MARTINEZ, 2003, p. 98), o qual afirma que a Previdncia Social uma organizao desenvolvida pelo Estado, indicada para cobrir as necessidades vitais de todos os que desempenham atividade laborativa, bem como de seus dependentes e, em certos casos, de toda a populao, nos fatos previsveis de suas vidas. A Previdncia Social administrada, em maior ou menor escala, pelo prprio Estado, pelos segurados e pelas empresas, constituindo-se como um sistema de seguro obrigatrio.

    Outro jurista, Martins (apud MARTINEZ, 2003, p. 98), adiciona conceitos caractersticos s vises mais genricas. Para ele a Previdncia Social representa um meio competente, empregado pelo Estado moderno, para realizar a redistribuio da riqueza nacional, visando alcanar o bem-estar do indivduo e da coletividade.

    Na viso da Organizao Internacional do Trabalho (OIT), a Previdncia Social uma forma de proteo que a sociedade disponibiliza a seus membros, por meio de medidas pblicas contra as privaes econmicas e sociais. Essas privaes derivam da diminuio ou do desaparecimento da capacidade de subsistncia da pessoa em decorrncia do aparecimento de alguma enfermidade, da maternidade, de acidente de trabalho ou enfermidade profissional, desemprego, invalidez, velhice e ainda a proteo atravs de assistncia mdica e auxlio s famlias com filhos (MARTINEZ, 2003, p. 99).

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    Martinez (2001, p. 29) afirma ainda, no que tange ao aspecto conceitual, que a Previdncia Social possui uma importncia fundamental para a sociedade e para cada pessoa individual e, em virtude de sua importncia, desperta o interesse dos estudiosos dessa rea.

    A Lei n 8.213, de 24 de julho de 1991, tambm denominada de Plano de Benefcios, determina que o objetivo da Previdncia Social, conforme aponta Paixo (1999), assegurar, por intermdio de contribuio, aos seus beneficirios, os meios necessrios para manuteno daqueles de quem dependiam economicamente, devido ao estado de incapacidade, desemprego involuntrio, idade avanada, tempo de servio, encargos familiares e priso ou morte.

    De acordo com Martinez (2001, p. 29), o sistema previdencirio uma conquista essencial para o sculo XX. Todavia, necessrio ajustar os desvios conceituais, completar os mecanismos operacionais, apropriando o sistema realidade econmica e social dos pases, para que a conquista se torne completa. Sendo assim, a Previdncia Social um programa de grande responsabilidade do Estado, visto que, alm de ser uma maneira de distribuio de renda, constitui tambm a melhor maneira de assegurar algum bem-estar aos cidados no contexto de regime poltico e econmico em que a pessoa cede espao a sua aptido produtiva e revela-se o trabalhador ativo em prejuzo do inativo, num mundo onde o idoso perde o respeito que levou anos para construir.

    Para finalizar, pode-se destacar a legitimidade do sistema previdencirio, uma vez que o Estado foi institudo justamente para garantir a proteo e o bem-estar da populao. Portanto, quando o indivduo no mais possui a capacidade de contribuir, com seu trabalho, para o desenvolvimento econmico e social da nao, cabe ao Estado resguardar a vida dessa pessoa que, durante vrios anos, contribuiu para o sistema previdencirio, quando esta, por si s, no mais tem condies de lutar por condies mnimas de sobrevivncia.

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    1.2 O surgimento da Previdncia Social no mundo ocidental

    Ao analisar o surgimento da Previdncia Social no mundo, pode-se observar que o homem, como ser social, que necessita viver em comunidade e no auto-suficiente para desenvolver-se integralmente isolado de todo o resto, sempre se preocupou com o bem-estar de seu semelhante. Desde os primrdios da civilizao j existia a preocupao, por parte da comunidade, com os necessitados, deficientes e idosos.

    Desde as civilizaes ancestrais, j existia a preocupao do homem com o conforto de seu semelhante. A figura do pater familis, na famlia romana, tinha o comprometimento de oferecer assistncia s pessoas que formavam essa famlia (servos e clientes). Em Roma, segundo Coimbra (1991, p. 18), existem registros a respeito da existncia de associaes que sobreviviam de contribuies de seus membros e que tinham como desgnio a prestao de auxlio aos membros mais necessitados.

    Em relao a essa preocupao assistencial com o outro, Coimbra (1998, p. 1) ainda acrescenta:

    [...] desde pocas recuadas, apareceram, malgrado simples esboos, medidas de assistncia e de previdncia social, tal como ora as denominamos. E, se verdade que essas medidas, como ento institudas, no logravam fazer prever a adoo do que hoje se rotula de seguridade social, como noo global de proteo ao economicamente dbil, no difcil reconhecer nelas o princpio norteador da solidariedade social, propulsionando o intento de assegurar a esses destinatrios a proteo contra certo risco, modo por que se perseguia ento, embora de forma gradual e com certo custo, a segurana da vida em sociedade.

    Conforme Gonales (1997, p. 21), o Estado, desde sua formao, sempre apresentou a atribuio e a obrigao de prestar assistncia aos necessitados, como pode ser notado em naes como Egito, Grcia e Roma, e, mais modernamente, Frana. Da mesma maneira, a Previdncia Social surgiu da manifestao de grupos sociais que tinham, primeiramente, uma preocupao com a assistncia aos necessitados, cujos integrantes contriburam com certa quantidade de recursos para distribuio aos associados.

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    Durante a Idade Mdia, os artesos formaram corporaes para a realizao do trabalho artesanal, as quais apresentavam um esboo da noo de seguro social. Porm, tais formas de proteo ao trabalhador jamais lograram moldar um sistema apoiado na solidariedade, endereado a toda uma classe ou categoria da populao, nem mesmo a uma profisso. Alm disso, a assistncia pblica e a beneficncia privada no se faziam sob o pressuposto de um dever social (COIMBRA, 1998, p. 4).

    Castro (2002, p. 30) assegura que a preocupao efetiva com a proteo dos indivduos no que concerne a seus infortnios nem sempre existiu. Apenas a partir do final do sculo XIX a questo se tornou fundamental dentro da ordem jurdica dos Estados. Os novos fatos sociais e econmicos, que perpassaram a histria, indicaram que no satisfatrio dar a cada um o que seu para que a sociedade seja justa. De fato, em determinados casos fundamental dar a cada um o que no seu para redimir a grande injustia social.

    Tm-se registros das primeiras idias da criao de um Direito Previdencirio na Alemanha no sculo XIX. At aquela data, as normas existentes eram desvinculadas de um sistema. O responsvel por desenvolver um direito de previdncia social foi Bismarck, que, em 17 de novembro de 1881, apresentou seu projeto de seguro operrio. Atravs desse projeto, diferentes leis surgiram na Alemanha para regulamentar casos de necessidades, tais como enfermidades, acidentes do trabalho, invalidez (GONALES, 1997, p. 21).

    Na legislao alem dispensava-se o obreiro da obrigao de provar a culpa do patro, para receber a reparao dos danos resultantes dos eventos de acidentes de trabalho. Coimbra (1998, p. 11), sustenta que a medida foi aceita pelas naes cultas, embora assumindo trs diversas feies: a autoritria e obrigatria na Alemanha, na ustria e em outros pases; a de inteira liberdade, sem interveno estatal, na Inglaterra e nos Estados Unidos; e a corrente intermediria na lei francesa.

    Posteriormente, diversas naes tambm trataram de estabelecer leis no sentido de garantir a assistncia social. Foi o que ocorreu na Frana, por exemplo, que em 1898 consentiu a lei de acidentes do trabalho, e na Inglaterra, que em 1907 regulamentou a proteo velhice e acidentes do trabalho. Em 1919 criou-se o Tratado de Versalhes; as naes que o subscreveram

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    enfatizaram a necessidade do seguro social obrigatrio. J em 1927 a OIT realizou uma conveno em que aprovou a necessidade de assegurar s vtimas de acidentes de trabalho uma indenizao. Cabe tambm, de acordo com o entendimento de Gonalves (2001, p. 22), enfatizar o Mxico, pas que se estabeleceu como o pioneiro na incluso do seguro social em uma Constituio, no ano de 1917.

    No obstante, o verdadeiro perodo de adoo total da noo de previdncia social iniciou-se a partir das polticas dos Estados Unidos, depois da crise de 1929. O ento presidente dos Estados Unidos, preocupado com o desemprego crescente, implementou a poltica do New Deal1, da qual decorre a doutrina do Estado de Bem-Estar Social ou do Estado-Previdencirio (Welfare State)2. Essa poltica visava garantir ao trabalhador novos empregos, uma rede de previdncia e sade pblicas, entre outros direitos. Por fim, no ano de 1948, tambm a Declarao Universal dos Direitos do Homem determinou que a proteo previdenciria direito essencial do homem (CASTRO, 2002, p. 34)

    A partir dessas consideraes, pode-se inferir que a vivncia em sociedade exigia o estabelecimento de normas que garantissem a assistncia sade e previdncia aos trabalhadores, a seus dependentes e aos desempregados.

    1.3 Evoluo do Direito Previdencirio no Brasil

    Da mesma forma que sucedeu em outros pases, tambm no Brasil emergiu a necessidade de desenvolver normas e leis relacionadas proteo de determinados segmentos populacionais. O primeiro texto em termos de Previdncia Social foi expedido no ano de 1821, pelo ainda prncipe regente Dom Pedro de Alcntara, quando concedeu aposentadoria aos mestres e professores depois de trinta anos de servio, e assegurou um abono de (um quarto) dos ganhos para que continuassem em atividade.

    1 Plano socialista moderado de reforma econmico-financeira, institudo pelo presidente F. D.

    Roosevelt, para enfrentar a dbcle originada em 1929, e caracterizado por tmida ingerncia do poder pblico na atividade econmica privada (SIDOU, 2001, p. 575). 2 De acordo com Castro (2004), Welfare State, isto , Estado de bem-estar, foi uma conquista

    poltica e no social que caminhou em conjunto com o neoliberalismo, durou apenas 30 anos e atendeu somente aos pases mais ricos e com estrutura social desenvolvida.

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    De acordo com Coimbra (1998, p. 32), nos primeiros tempos prevaleceu no Brasil a idia de beneficncia, inspirada pela caridade, tendo como exemplo a fundao da Santa Casa da Misericrdia, pelo Padre Jos de Anchieta, no sculo XVI. No sculo XVII, surgiram as Irmandades de Ordens Terceiras, que apresentavam molde diverso, uma vez que se configuravam a partir da idia de mutualidade. No que tange ao seguro social, antes do sculo XX, pouco se cogitou acerca desse tema.

    Nesse sentido, Gonales (1997, p. 22), observa que, no perodo do Imprio, com base na Constituio de 1824, a Previdncia Social foi concebida como um regime de mutualidade. O artigo 179 da mencionada Constituio, que trata da inviolabilidade dos direitos civis e polticos dos cidados brasileiros, determina, em seu inciso XXXI, que a Constituio tambm garante os socorros pblicos. Dessa maneira, a mutualidade demonstrada pelo regime de cooperao seguido em determinadas espcies de sociedades, em que os prprios scios so aqueles que se inscrevem para receber os benefcios da sociedade.

    J na Constituio de 1891 constata-se o distanciamento do regime do mutualismo. E em 15 de novembro de 1850 agregado o Regulamento n 737, o qual inflige aos empregados acidentados no trabalho garantia de salrios por at trs meses aps o acidente (GONALES, 1997, p. 22).

    Conforme Coimbra (1998, p. 33), no fim do imprio outras medidas legislativas comearam a ser tomadas para proporcionar aos empregados pblicos certas formas de proteo, como a Lei n 3.397, de 24 de novembro de 1888, que criou um Caixa de Socorros em cada uma das estradas de ferro do Estado.

    No ano de 1923 foi criado no Brasil o Instituto da Previdncia Social, por intermdio do Decreto-lei n 4.682, de 24 de janeiro, tambm denominada de Lei Eloy Chaves, em homenagem ao autor do projeto. Essa lei originou a Caixa de Aposentadoria e Penso para os empregados de empresas ferrovirias. Para eles eram previstos os seguintes benefcios: assistncia mdica, aposentadoria por tempo de servio e idade avanada, por invalidez aps dez anos de servio e penso para os dependentes (COIMBRA, 1998, p. 34).

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    Portanto, tem-se como marco inicial da Previdncia Social no Brasil, em termos de legislao nacional, a publicao do Decreto Legislativo n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923. O referido decreto foi responsvel pela criao das Caixas de Aposentadoria e Penses nas empresas de estradas de ferro existentes, mediante contribuies dos trabalhadores, das empresas do ramo e do Estado. De incio, a lei se estendia somente aos ferrovirios, entretanto, depois de trs anos de vigncia, seus benefcios foram ampliados a trabalhadores de empresas porturias e martimas (CASTRO, 2002, p. 46).

    A Lei Eloy Chaves garantiu aos trabalhadores o benefcio da aposentadoria, bem como o recebimento de penso por parte dos dependentes do segurando em caso de morte deste, alm de assistncia mdica e diminuio do custo de medicamentos. Todavia, o regime das caixas era pouco abrangente, e sendo estabelecido por cada empresa, o nmero de contribuies foi, muitas vezes, insuficiente (CASTRO, 2002, p. 46).

    Foi criado em 26 de novembro de 1930, pelo Decreto n 19.433, o Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, o qual tinha como desgnio orientar e supervisionar a Previdncia Social, sendo rgo de recurso das decises das Caixas de Aposentadorias e Penses. Ainda nesse mesmo ano, em 20 de dezembro, a Lei n 5.109 estendeu o regime de amparo da Lei Eloy Chaves aos empregados de empresas de navegao martima e fluvial, bem como aos porturios (COIMBRA, 1998, p. 34).

    Atravs do Decreto n 19.497, de 17 de dezembro de 1930, incluiu-se no sistema de seguridade social os empregados dos servios de luz, fora e bondes, para os quais foi empregada a Caixa das Aposentadorias e Penses. Dessa forma, observa-se que, depois do surgimento da Lei Eloy Chaves, outros Caixas em empresas de diversos ramos da atividade econmica foram criados.

    Contudo, como destaca Castro (2002, p 46-47), no ano de 1930 aconteceu a primeira crise do sistema previdencirio nacional, devido a inmeras fraudes e denncias de corrupo. O governo de Getlio Vargas suspendeu por seis meses o consentimento de qualquer aposentadoria. Com isso, a estrutura do sistema previdencirio foi sendo agrupada por categoria profissional, dando origem aos Institutos de Aposentadoria e Penses (IAP), dos Martimos, dos Comercirios, dos Bancrios e dos Empregados em Transportes de Carga.

  • 20

    Com o Decreto n 20.465, de 1 de outubro de 1931, o regime da Lei Eloy Chaves foi estendido aos empregados dos outros servios pblicos. Esse decreto firmou ainda a legislao referente s Caixas de Aposentadorias e Penses. No ano de 1932, os trabalhadores das empresas de minerao tambm passaram a ser englobados no Regime da Lei Eloy Chaves (CASTRO, 2002, p. 47).

    Em 1933 foi elaborado o Decreto n 22.872, de 29 de junho, estabelecendo o Instituto de Aposentadoria e Penses dos Martimos (IAPM). Segundo Castro (2002, p. 47), esse instituto considerado a primeira instituio brasileira de previdncia social de mbito nacional, com base na atividade econmica da empresa. Depois desse Instituto seguiu-se a criao, em 1934, do Instituto de Aposentadoria e Penses dos Comercirios (IAPC) e do Instituto de Aposentadoria e Penses dos Bancrios (IAPB). No ano de 1936, foi criado o Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industririos (IAPI) e, em 1938, o Instituto de Previdncia e Assistncia dos Servidores do Estado (IPASE) e o Instituto de Aposentadoria e Penses dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETC).

    O ano de 1934 foi assinalado por diversas transformaes referentes Previdncia Social brasileira. Na Constituio de 1934, foi determinado que a Previdncia Social seria custeada pela Unio, empregados e empregadores. A finalidade consistia em dar amparo nos casos de velhice, invalidez, maternidade, acidentes de trabalho e morte. O artigo 121 da referida Constituio, em seu pargrafo primeiro, alnea h, determinava que a legislao do trabalho deveria garantir assistncia mdica e sanitria ao trabalhador e gestante, assegurando a esta descanso, antes e depois do parto, sem prejuzo do salrio e do emprego, e instituio de previdncia, mediante contribuio igual da Unio, do empregador e do empregado, em favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes do trabalho ou de morte.

    A Portaria n 32 do Conselho Nacional do Trabalho instituiu, em 19 de maio de 1934, a Caixa de Aposentadorias e Penses dos Aerovirios, e os trabalhadores das empresas de transporte areo foram includos na Lei Eloy Chaves. Alm disso, nesse mesmo ano deu-se a criao do Instituto de Aposentadorias e Penses dos Comercirios e a Caixa de Aposentadorias e

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    Penses dos Trabalhadores de Trapiches e Armazns. Houve tambm a criao da Caixa de Aposentadorias e Penses dos Operrios Estivadores e o Instituto de Aposentadorias e Penses dos Bancrios. O Decreto n 24.637, de 10 de julho, alterou a legislao de acidentes do trabalho (GONALES, 1997, p. 23).

    Na Constituio de 1937, segundo Gonales (1997, p. 23), pode-se constatar uma regresso em termos de Previdncia Social. Essa regresso se deve ao fato de que determinadas conquistas conseguidas anteriormente, que representavam conquistas dos trabalhadores, nela no foram implantadas. Para Castro (2002, p. 47), uma das nicas particularidades que pode ser identificada nesta constituio o emprego da expresso seguro social.

    No ano de 1938, por meio do Decreto-Lei n 288, de 23 de fevereiro, surgiu o Instituto de Previdncia e Assistncia dos Servidores Pblicos do Estado. No mesmo ano, a Caixa de Aposentadorias e Penses dos Trabalhadores de Trapiches e Armazns, criado pelo Decreto n 24.272/1934, transformou-se em Instituto de Aposentadorias e Penses dos Empregados de Transportes e Cargas pelo Decreto-Lei n 651(MPAS, 2004).

    No ano seguinte, o Decreto-Lei n 1.142, de 9 de maro de 1939, determinou restrio ao princpio da vinculao pela categoria profissional, baseando-se na atividade genrica da empresa, alm de permitir aos condutores de veculos a filiao ao Instituto de Aposentadoria e Penses dos Empregados em Transportes e Cargas. Elaborou-se o Decreto-Lei n 1.469, de 1 de agosto de 1939, originando o Servio Central de Alimentao do Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industririos (MPAS, 2004).

    De acordo com Castro (2002, p. 47), foi regulamentada tambm a aposentadoria dos funcionrios pblicos em 1939. As normas vieram acompanhadas de uma tendncia que remonta ao perodo imperial, conforme a qual a extenso de benefcios, no Brasil, parte sempre de uma categoria para a coletividade. Desse modo, os benefcios iniciam-se no servio pblico para depois se estenderem aos trabalhadores da iniciativa privada.

    No ano de 1940, o Decreto-Lei n 2.122, de 9 de abril, foi responsvel por assegurar aos comerciantes um regime misto de filiao ao sistema previdencirio. Assim, o titular de firma individual, o interessado e o scio-quotista

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    que possuam at 30 contos de ris de capital eram segurados obrigatrios; acima desse valor a filiao era facultativa. Tambm nesse ano foi criado o Servio de Alimentao da Previdncia Social (SAPS), que acabou absorvendo o Servio Central de Alimentao do IAPI, por intercesso do Decreto-Lei n 2.478 (MPAS, 2004).

    Outras medidas de cunho assistencial foram estabelecidas a fim de proporcionar aos trabalhadores variada forma de servios dessa natureza: em 19 de abril de 1941 foi institudo o abono em benefcio das famlias de prole numerosa; pelo Decreto n 4.890, de 15 de outubro de 1942, teve origem a Legio Brasileira de Assistncia (LBA); em 22 de janeiro de 1942 o Decreto n 4.048 organizava o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); em 10 de janeiro de 1946, pelo Decreto n 8.261, o Servio Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC); o Decreto n 9.043, de 25 de junho de 1946, instituiu o Servio Social da Indstria (SESI), e o Decreto n 9.853, de 13 de novembro de 1946, o Servio Social do Comrcio (SESC) (COIMBRA, 1998, p. 34-35).

    Voltando ao ano de 1944, cabe destacar, em termos de Previdncia Social, a Portaria n 58, de 22 de setembro, que estabeleceu o Servio de Assistncia Domiciliar e de Urgncia (SAMDU). O Decreto-Lei n 7.036, de 10 de novembro de 1944, reparou a legislao a respeito do seguro de acidentes do trabalho (MPS, 2004).

    Em 7 de maio de 1945, o Decreto n 7.526 disps acerca da criao do Instituto de Servios Sociais do Brasil. Com isso, teve incio a criao de um verdadeiro sistema de previdncia social, buscando uniformizar as normas relacionadas aos benefcios e servios devidos a cada Instituto de classe. Todavia, tal diploma no chegou a ser verdadeiramente posto em prtica, em virtude da ausncia de regulamentao, que deveria ter constitudo a organizao e o funcionamento do que seria o Instituto dos Servios Sociais do Brasil, instituio essa que nunca chegou a existir (CASTRO, 2002, p. 47-48).

    Ainda durante o ano de 1945, a criao do Decreto-Lei n 7.720, de 9 de julho, foi responsvel por congregar o instituto da Estiva ao Instituto dos Empregados em Transportes e Cargas. Tambm foi elaborado o Decreto-Lei n 7.835, de 6 de agosto de 1945, o qual determinou que as aposentadorias e

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    penses no poderiam ser inferiores a 70% e 35% do salrio mnimo, respectivamente (MPAS, 2004).

    A primeira tentativa de sistematizao constitucional de normas de mbito social foi feita atravs da Constituio Federal de 1946. Essa Constituio presumia normas relacionadas previdncia no captulo que versa sobre Direitos sociais, tornando obrigatrio, a partir de ento, o empregador a manter seguro contra acidentes de trabalho. Na referida Constituio, no artigo 157, pela primeira vez empregada a expresso Previdncia Social (GONALES, 1997, p. 23).

    Em 19 de janeiro desse mesmo ano, o Decreto-Lei n 8.738 criou o Conselho Superior da Previdncia Social. Alm disso, o Decreto-Lei n 8.742, de 19 de janeiro, estabeleceu o Departamento Nacional de Previdncia Social, e o Decreto-Lei n 8.769, de 21 de janeiro, divulgou normas que objetivavam facilitar a obteno dos fins por parte do Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industririos.

    A regulamentao da Lei n 593, de 24 de dezembro de 1948, relativa aposentadoria ordinria por tempo de servio, ocorreu em 14 de junho de 1949, pelo Decreto n 26.778. Tambm por meio desse decreto o Poder Executivo baixou o Regulamento Geral das Caixas de Aposentadorias e Penses, uniformizando, com isso, a permisso de benefcios, uma vez que, at aquela data, cada Caixa possua suas prprias regras (CASTRO, 2002, p. 48).

    O Decreto n 35.448, de 1 de maio de 1950, expediu o Regulamento Geral dos Institutos de Aposentadoria e Penses. Em seguida, em 1 de maio de 1953, o Decreto n 32.667, regulamentou o novo Instituto de Aposentadoria e Penses dos Comercirios, tornando facultativa a filiao ao sistema previdencirio dos profissionais liberais. Ficou por conta do Decreto n 34.586, de 12 de novembro de 1953, a criao do Caixa de Aposentadoria e Penses dos Ferrovirios e Empregados em Servios Pblicos (MPAS, 2004).

    A legislao previdenciria deu um passo substancial no ano de 1960, com a criao do Ministrio do Trabalho e Previdncia Social e a aprovao da Lei n 3.807, a Lei Orgnica de Previdncia Social (LOPS). No que se refere a essa Lei, Castro (2002, p. 48) salienta que esse diploma no associou os

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    organismos existentes, mas criou normas uniformes para o amparo a segurados e dependentes dos diversos Institutos existentes, tendo sido efetivamente colocado em prtica. Por meio da LOPS estabeleceu-se um nico plano de benefcios, colocando fim desigualdade de tratamento entre os segurados das entidades previdencirias e seus dependentes. No entanto, continuavam afastados da Previdncia os trabalhadores rurais e os domsticos.

    A incluso do trabalhador rural na Previdncia Social deu-se com a Lei n 4.214, de 2 de maro de 1963, a qual criou o Fundo de Assistncia ao Trabalhador Rural (FUNRURAL). E o Regimento nico dos Institutos de Aposentadoria e Penses foi confirmado pela Resoluo n 1.500, de 27 de dezembro de 1963, do Departamento Nacional de Previdncia Social (MPAS, 2004). Alm disso, de acordo com Castro (2002, p. 48), no mesmo ano a Lei n 4.296, de 3 de outubro, criou o salrio-famlia, benefcio destinado aos segurados que tivessem filhos menores, visando manuteno destes, e a Lei n 4.281, de 8 de novembro, estabeleceu o abono anual.

    No ano subseqente, o Decreto n 54.067, de 29 de julho de 1964, instituiu uma comisso interministerial com representao classista a fim de realizar a reformulao do sistema geral da previdncia social. A partir disso, por meio da Emenda Constitucional n 11, de 1965, foi determinada a regra de que benefcios previdencirios (prestaes em dinheiro) no mais poderiam ser acrescentados, estendidos ou mencionados sem o expresso apontamento da respectiva fonte de custeio total (GONALES, 1997, p. 23).

    Com base no disposto at aqui, pode-se verificar as constantes mudanas no regime jurdico nacional relacionado previdncia, sempre procurando adequar as leis s necessidades da populao e ao surgimento de novas situaes que exigem a criao de novas regulamentaes.

    1.4

    A criao do INPS e os futuros progressos do regime da previdncia

    Desde o surgimento do sistema de previdncia social no Brasil, observa-se que cada classe de trabalhadores possua um instituto especfico, voltado para o atendimento de sua rea. Entre esses diferentes institutos, alguns conseguiram manter-se em equilbrio, outros apresentavam dficit, pois a

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    arrecadao no era suficiente para cobrir os gastos com benefcios para segurados e dependentes. A partir da, percebeu-se a necessidade de agrupar em um nico rgo todos os institutos de seguridade social, para que houvesse equilbrio financeiro entre eles.

    De acordo com Coimbra (1998, p. 35-36), o ideal de uma previdncia social unificada, que no se concretizou em 1945, tornou a ganhar espao em 1966, sendo que em 21 de novembro do referido ano, o Decreto-Lei n 72 unificou as instituies previdencirias, criando como organismo nico, em seu lugar, o Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS). Ao mesmo tempo, assegurou nova feio ao sistema jurisdicional da previdncia social, constituindo-o de Juntas de Recursos da Previdncia Social e Conselho de Recursos da Previdncia Social. Alm disso, o Decreto-Lei n 66, de 21 de novembro de 1966, mudou os dispositivos da Lei Orgnica da Previdncia Social.

    Segundo Castro (2002, p. 49), a criao do INPS era uma providncia que h muito vinha sendo reclamada pelos estudiosos da rea, em decorrncia dos problemas de dficit em diversos institutos classistas. Com a integrao, um nico rgo passou a comandar todas as operaes relacionadas seguridade social, independentemente da classe dos trabalhadores, em todo o Pas.

    Em 1967, com a nova Constituio Federal, foi constituda a criao do seguro-desemprego, que at aquele instante no existia, regulamentado com o nome de auxlio-desemprego (CASTRO, 2002, p. 49). Alm do mais, conferiu-se o benefcio da aposentadoria mulher aos trinta anos de trabalho, com salrio integral. De maneira geral, essa constituio manteve os princpios da Constituio de 1946, sendo conservada a regra do custeio (GONALES, 1997, p. 23).

    Tambm em 1967, o Seguro de Acidentes do Trabalho (SAT), foi agregado Previdncia Social por meio da Lei n 5.316. O novo Regulamento do Seguro de Acidentes do Trabalho foi aprovado pelo Decreto n 61.784, de 28 de novembro de 1967. Desse modo, o SAT, que at ento era executado com instituies privadas, passou a ser concretizado somente atravs de contribuies vertidas ao Caixa nico do Regime Geral Previdencirio (CASTRO, 2002, p. 49).

  • 26

    No ano de 1969, diversos decretos foram constitudos, alterando determinados itens do sistema de seguridade social. O Decreto-Lei n 564, de 1 de maio de 1969, estendeu a Previdncia Social ao trabalhador rural. O Decreto-Lei n 704, de 24 de julho daquele ano, aumentou o plano bsico de Previdncia Social Rural. A Lei Orgnica da Previdncia Social foi modificada simultaneamente pelo Decreto-Lei n 710, de 28 de julho e o Decreto-Lei n 795, de 27 de agosto (MPS, 2004).

    No ano de 1970, a Lei Complementar n 7, de 7 de setembro, estabeleceu o Programa de Integrao Social (PIS), e a Lei Complementar n 8, de 3 de dezembro, deu origem ao Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico (PASEP). No ano posterior, em 25 de maio, elaborou-se a Lei Complementar n 11, a qual estabeleceu o Programa de Assistncia ao Trabalhador Rural (PR-RURAL), substituindo o plano bsico de Previdncia Social Rural, garantindo decisivamente a seguridade da Previdncia Social para o trabalhador rural. Em 1972, tambm os empregados domsticos passaram a ser beneficiados pela Previdncia Social por interveno da Lei n 5.859, de 11 de dezembro (MPS, 2004).

    Desta maneira, como argumenta Castro (2002, p. 49), o sistema previdencirio nacional passou a englobar dois grandes contingentes de indivduos, a saber, os trabalhadores rurais e os empregados domsticos, pois estes, mesmo desempenhando atividade laboral, permaneciam margem do sistema.

    Em termos de Previdncia Social o ano de 1973 passou por trs modificaes. A Lei n 5.890, de 8 de junho, modificou a Lei Orgnica da Previdncia Social. O Decreto n 72.771, de 6 de setembro, em substituio ao Regulamento Geral da Previdncia Social, confirmou o Regulamento do Regime de Previdncia Social. E a Lei n 5.939, de 19 de novembro, apresentou uma novidade, uma vez que estabeleceu o salrio-de-benefcio do jogador de futebol profissional (MPS, 2004).

    Por intermdio da Lei n 6.036, de 1 de maio de 1974, efetuou-se a criao do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (MPAS), que acabou sendo desmembrado do Ministrio do Trabalho e Previdncia Social. De acordo

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    com Coimbra (1998, p. 36), Ao MPAS foram subordinadas as autarquias e rgos atuantes na Previdncia Social e na Assistncia Social.

    O Decreto n 74.254, de 4 de julho de 1974, determinou a estrutura bsica do MPAS. Ainda no mesmo ano, diversas leis foram desenvolvidas para estruturar legalmente o Ministrio da Previdncia Social. Formou-se tambm, a Lei n 6.179, de 11 de dezembro de 1974, que estabeleceu o amparo previdencirio para os maiores de 70 anos ou invlidos, tambm designada de renda mensal vitalcia. No ano subseqente, o Decreto n 75.208, de 10 de janeiro, estendeu os benefcios do PR-RURAL aos garimpeiros (MPS, 2004).

    A Lei Complementar n 26, de 11 de setembro de 1975, possibilitou a integrao do Programa de Integrao Social e do Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico, instituindo, deste modo, o Fundo de Participao PIS/PASEP. Neste mesmo ano foram estabelecidos, pela Lei n 6.260, de 6 de novembro, benefcios e servios previdencirios para os empregadores rurais e dependentes (MPS, 2004).

    Em 24 de janeiro de 1976, o Decreto n 77.077 proporcionou a Consolidao das Leis da Previdncia Social. A Lei n 6.367, de 19 de outubro de 1976, tornou mais extensa a cobertura previdenciria de acidente do trabalho, a qual foi consentida pelo Decreto n 79.037, de 24 de dezembro (MPS, 2004).

    Em 1977, foi aprovada a Lei n 6.435, de 15 de julho, que regulou a possibilidade de criao de instituies de previdncia complementar, matria regulamentada pelos Decretos ns 81.240 e 81.402, os dois de 1978, quanto s entidades de carter fechado e aberto, simultaneamente. Com a Lei n 6.439, de 1 de setembro de 1977, foi criado o Sistema Nacional de Previdncia e Assistncia Social (SINPAS). Dele derivaram diversos institutos previdencirios, tais como: IAPAS, INAMPS, INPS, LBA, FUNABEM e DATAPREV (MPS, 2004).

    Coimbra (1998, p. 37) sustenta que todas essas instituies teriam como campo de ao as atividades de amparo social relacionadas aos beneficirios das instituies antes existentes INPS, FUNRURAL, IPASE abrangendo, dessa forma, as atividades urbanas e rurais, bem como os servidores da Unio, de modo que somente os servidores estaduais e municipais estariam excludos dessa vinculao.

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    Conforme Castro (2002, p. 50), pode-se ressaltar, em relao criao do SINPAS, uma certa confuso entre os conceitos de previdncia social, assistncia social e sade pblica. Com base nessa interpretao, ocorreu uma ampliao, e a previdncia social passou a compreender tambm a assistncia social.

    Novas modificaes na legislao de Previdncia Social foram executadas em 1980, por interveno da Lei n 6.887, de 10 de dezembro. Em 1981 o Decreto n 86.329 deu origem ao Conselho Consultivo da Administrao de Sade Previdenciria CONASP, no Ministrio da Previdncia e Assistncia.

    Em 1988, realizou-se a elaborao da nova Constituio Federal, anunciada em 5 de outubro. Esta concebeu o seguro social com mais intensidade, criando as bases da Seguridade Social (com a incluso da sade e da assistncia social). A Lei Maior inseriu a idia de que as aes da comunidade e os servios pblicos de sade precisam agregar um Sistema nico de Sade Descentralizado SUDS (atualmente Sistema nico de Sade SUS), custeado com recursos e oramento da Seguridade Social da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios (GONALES, 1997, p. 23).

    O ano de 1990 ficou caracterizado pela criao do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), por meio da fuso do IAPAS com o INPS, mediante o Decreto n 99.350, de 27 de junho. Castro (2002, p. 53) escreve que o INSS tornou-se responsvel pelas funes de arrecadao, pagamento de benefcios e prestao de servios. Essa instituio, at os dias atuais, a entidade responsvel tanto pela arrecadao, fiscalizao, cobrana, aplicao de penalidades e regulamentao da parte de custeio do sistema de seguridade social, como pela concesso de benefcios e servios aos segurados e seus dependentes.

    No ano de 1991 foram aprovadas a Lei n 8.212, de 24 de julho de 1991, que dispe sobre a organizao da Seguridade Social e estabelece seu novo Plano de Custeio, e a Lei n 8.213, de 24 de julho de 1991, que estabelece medidas em relao aos Planos de Benefcios da Previdncia Social, regulamentadas, simultaneamente, pelo Decreto n 356/91 e pelo Decreto n 357/91. As duas leis ganharam nova redao pelo Decreto n 611, de 21 de julho

  • 29

    de 1992, e pelo Decreto n 612, de 21 de julho de 1992 (GONALES, 1997, p. 25).

    No perodo que incide entre os anos de 1993 e 1997, vrios pontos da legislao de Seguridade Social foram modificados. Segundo Castro (2002, p. 54), dentre os quais destacam-se: a Lei n 8.672, de 6 de julho de 1993, que estabeleceu normas previdencirias gerais a respeito dos desportos; a criao da Lei n 8.742, de 7 de dezembro, a Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS).

    A admisso da Lei n 8.935, de 18 de novembro de 1994, conectou os notrios, oficiais de registro, escreventes e auxiliares Previdncia Social, de mbito federal, assegurando a contagem mtua de tempo de servio. Ainda em 1994, foi aprovado o Decreto n 1.317, de 29 de novembro, o qual determinou que a fiscalizao das entidades fechadas de previdncia privada fosse desempenhada pelos Fiscais de Contribuies Previdencirias do INSS (MPS, 2004).

    A Emenda Constitucional n 20, de 15 de dezembro, no ano de 1998, alterou substancialmente o regime da Previdncia Social no Brasil. Entre as modificaes implantadas pela emenda citam-se: novas exigncias para as aposentadorias especiais, limite de idade nas regras de transio para a aposentadoria integral, fixado em 53 anos para o homem e 48 para a mulher, mudana na regra de clculo de benefcio, com introduo do fator previdencirio, entre outras modificaes relevantes (MPS, 2004).

    Todavia, a Emenda Constitucional n 20/98 provocou divergncias entre os profissionais da rea do direito, visto que, a partir da Emenda, os professores de ensino superior passaram a ter de exercer tempo de contribuio idntico aos segurados em geral, para consentimento de aposentadoria, continuando os docentes de nvel fundamental e mdio com aposentadoria depois de menor tempo de trabalho, afirma Castro (2002, p. 55).

    Atualmente, a previdncia social brasileira engloba trs rgos principais, cada qual com funes caractersticas no fornecimento de assistncia social e seguridade. Estes rgos so os seguintes: o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (MPAS) e

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    a Empresa de Processamento de Dados da Previdncia Social (DATAPREV) (IBGE, 2004).

    Nos dias atuais, o assunto da Reforma da Previdncia vem ocupando um espao cada vez maior em virtude da Proposta de Emenda Constitucional PEC 40, consentida em 2003. Essa proposta modifica os artigos 37, 40, 42, 48, 96, 149 e 201 da Constituio Federal, alm de anular o inciso IX do 3 do artigo 142 e o 10 do artigo 201 da Constituio Federal e determinados dispositivos da Emenda Constitucional n 20, de 15 de dezembro de 1998, e d outras providncias (AFRESP, 2004).

    Firmada pelo Ministro de Estado da Previdncia Social e pelo Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidncia da Repblica, a Proposta de Emenda Constitucional n 40, de 2003, foi dirigida ao Congresso Nacional juntamente com a Exposio de Motivos n 29.

    Sendo assim, conclui-se que as normas da Previdncia Social esto em constante mutao, acompanhando a evoluo da sociedade e tentando suprir as necessidades assistenciais, sociais e previdencirias de toda a populao.

  • 31

    2 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE, ASSISTNCIA E PREVIDNCIA SOCIAL

    Como ocorre em outros ramos do Direito, o Direito Previdencirio est fundamentado em alguns princpios que devem necessariamente ser observados. Um princpio, conforme Castro (2004, p. 86), uma idia mais geral que inspira outras idias mais especficas, tratando de cada instituto de forma particular. Os princpios so o alicerce das normas jurdicas de determinados ramos do Direito e fundamentam a construo escalonada da ordem jurdico-positiva. Portanto, as regras ordinrias necessitam estar pautadas nesses princpios, sob pena de se tornarem letra morta e perder eficcia e eficincia.

    Nesse sentido, Coimbra (1998, p. 27) afirma que os requisitos para que um novo ramo do direito seja reconhecido so trs, quais sejam: doutrina homognea; presena de conceitos comuns e distintos dos que informam os demais ramos da cincia jurdica; e mtodos e princpios prprios, que se apliquem ao estudo.

    Ao Direito Previdencirio, que tem como objeto s relaes jurdicas entre trabalhadores, contribuintes e Estado, seria inadmissvel negar a posse desses requisitos. O objeto dessas relaes mais amplo que os do Direito do Trabalho, no se confundindo, por outro lado, com as relaes derivadas do Direito Administrativo, pois se situam no campo especfico da proteo social. Atribui a diferentes institutos, tais como o direito da companheira, o de alimentos, o conceito de dependncia e muitos outros, abordagem diversa daquela que, aos mesmos institutos, do os ramos do Direito Privado.

    Alm disso, o Direito Previdencirio possui princpios prprios, como o da territorialidade, objetivando indagar quanto aplicao de suas normas perante nacionais e estrangeiros, e sua aplicabilidade fora do prprio territrio nacional; o da compreeensividade, indagando acerca dos riscos que a proteo estatal deve cobrir; o da solidariedade, precisando at que ponto os recursos da comunidade devem ser empenhados na assistncia do desafortunado, entre outros (COIMBRA, 1998, p. 28).

    A sade a rea da sade a da Previdncia Social onde as alteraes foram mais relevantes, nas novas disposies constitucionais. Sendo

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    assegurado a todos o direito sade, o artigo 196 da Constituio Federal, no faz escolhas nem abriga privilgios: d o direito aos servios mdicos a quantos, no territrio nacional, deles tenham necessidades contra a doena (COIMBRA, 1998, p. 57). latente no texto constitucional o esforo para que os servios mdicos cheguem a todos os cidados necessitados, como direito e no mais como caridade ou beneficncia.

    Dessa maneira, pode-se notar o quo importantes so os princpios dentro de um ramo do Direito. Depende da existncia de princpios peculiares a autonomia de um ramo, pois esses conferem unicidade e distinguem determinado ramo das demais reas do Direito. Portanto, cabe analisar os princpios relacionados seguridade social, assistncia social e previdncia social.

    2.1 Seguridade social

    A Seguridade Social compreende uma poltica abrangente do Estado que pretende garantir populao um de seus direitos fundamentais, a saber, o direito sade. Portanto, a Seguridade Social engloba tanto a Assistncia Social quanto a Previdncia Social.

    Sidou (2001, p. 772) assim define a seguridade social: conjunto integrado de aes de iniciativa dos poderes pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social. Como se observa nessa definio, a seguridade social no funo exclusiva do poder pblico: cabe tambm sociedade como um todo atuar no sentido de garantir o direito sade para toda a populao, bem como o direito previdncia e assistncia social.

    No Brasil, o primeiro texto constitucional a adotar a expresso Seguridade Social foi a Constituio Federal de 1988, que em seu artigo 194 dispe que a Seguridade Social compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa dos poderes pblicos e da sociedade, destinadas a garantir os direitos relacionados sade, previdncia e assistncia social.

    A cada um desses trs ramos da seguridade foi dedicada, no texto da Constituio, uma seo especial estabelecendo seus objetivos e diretrizes.

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    Assim, a sade tratada nos artigos 196 a 200, a Previdncia Social nos artigos 201 e 2002 e a Assistncia Social nos artigos 203 e 204.

    No entendimento de Coimbra (1998, p. 57), foi na rea da sade que se fizeram sentir mais relevantes as alteraes decorrentes das novas disposies constitucionais. Garantindo a todos o direito sade, o artigo 196 no faz escolhas nem abriga privilgios: d o direito aos servios mdicos a quantos, no territrio nacional, deles tenham necessidade contra a doena. Esses servios so devidos em dose igual, seja qual for seu destinatrio. O texto constitucional se esfora por colocar os servios mdicos ao alcance do cidado necessitado, como direito seu e no como beneficncia.

    Cabe ressaltar que a proteo sade no objeto das polticas de previdncia social. Caracteriza-se pela concesso gratuita de servios e medicamentos a qualquer pessoa que deles necessite, ou seja, da mesma forma que ocorre com a assistncia social, se torna inexigvel a contribuio por boa parte dos beneficirios. J no caso da Previdncia Social, o benefcio se estende somente aos segurados e seus dependentes (CASTRO, 2004, p. 56).

    Conforme Paixo (1992, p. 16), a expresso Seguridade Social a denominao atribuda tendncia atual de aglutinar, em um s conceito, a Assistncia Social, a Sade e a Previdncia Social, idia hoje dominante e da qual a Nova Zelndia foi a pioneira.

    Em uma reunio de tcnicos da Repartio Internacional do Trabalho, realizada naquele pas em 1950, chegou-se concluso de que o esquema da Nova Zelndia no era uma forma de Seguro Social, onde cada um recebe conforme a contribuio, mas uma forma de Seguridade Social, baseada no seguinte princpio: a cada um conforme sua necessidade; de cada um conforme suas possibilidades.

    Sob essa perspectiva, reconhece-se o indisfarvel fato de que o idoso, o doente e os rfos devem ser sustentados por aqueles que tm ainda capacidade para o trabalho. Esse esquema da Nova Zelndia um dos poucos esquemas em que os benefcios so, praticamente, ajustados elevao do custo de vida e, alm disso, existe a tentativa de aumentar a participao das

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    vtimas dos infortnios na riqueza nacional, proporo que essa riqueza cresce (PAIXO, 1992, p. 16).

    Em relao aos princpios da Seguridade social, tem-se que a Constituio Federal de 1988 estabeleceu, como norma, nos artigos 194 e 195, uma srie de princpios e objetivos relacionados seguridade, e outros deles disciplinadores dos campos de atuao em que ela se desdobra.

    O primeiro desses princpios consiste na universalidade da cobertura e do atendimento. Isso significa que a proteo social deve alcanar todos os eventos cuja reparao seja premente a todos que necessitem, e quanto previdncia social deve ser obedecido tambm o princpio contributivo (DUARTE, 2004, p. 18). No que tange a esse princpio, Castro (2004, p. 86-87) sustenta que a universalidade do atendimento significa, por seu turno, a entrega das aes, prestaes e servios de seguridade social a todos os que necessitem, tanto em termos de previdncia social, como no caso da sade e da assistncia social.

    De acordo com Balera (2000, p. 17-18), o cumprimento do objetivo da universalidade da cobertura e do atendimento, com a conseqente concretizao da justia social na ptria, est inscrito na ossatura prpria do Estado Social de Direito, Estado que se organiza em funo da pessoa e que pretende conferir a todos uma existncia digna.

    Ainda em relao universalidade proposta pelo primeiro princpio, pode-se dizer, conforme Balera (2000, p. 18), que dessa base, modo pelo qual a seguridade social dever ser implementada no Pas, todas as demais se derivam. As prprias regras de transformao do sistema esto sujeitas de forma permanente, a esse princpio, verdadeira pedra fundamental em que se apia toda a estrutura. Opera, pois, como fortificao externa do sistema, a qual no admite recuos na montagem da rede de proteo social.

    O segundo princpio a uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s populaes urbanas e rurais. Tal princpio trata de conferir tratamento uniforme a trabalhadores urbanos e rurais, havendo, assim, idnticos benefcios e servios (uniformidade) para os mesmos eventos cobertos pelo sistema (equivalncia). Todavia, esse princpio no significa que o valor dos benefcios ser idntico, uma vez que equivalncia no significa igualdade. Os critrios para

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    a concesso das prestaes de seguridade social sero os mesmos, porm, tratando-se de previdncia social, o valor de um benefcio pode ser diferenciado (CASTRO, 2004, p. 87).

    Antes da Constituio Federal de 1988, os trabalhadores rurais e respectivos dependentes eram cobertos por mui restrito plano de proteo. A base estrutural lanada pelo constituinte exige um sistema igual de proteo social, ou seja, o mesmo elenco de prestaes, com critrios idnticos de apurao do respectivo valor (BALERA, 2000, p. 19-20).

    O terceiro princpio a seletividade e distributividade dos benefcios e servios. Duarte (2004, p. 18) observa que, pela primeira parte do princpio (seletividade), o legislador possui uma espcie de mandato especfico com o fim de estudar as maiores carncias sociais em termos de seguridade social, oportunizando que essas sejam priorizadas em relao s demais; pela segunda parte (distributividade), depois de cada um ter contribudo com o que podia, d-se a cada um conforme suas necessidades.

    Castro (2004, p. 87) sustenta que o princpio da seletividade pressupe que os benefcios so concedidos a quem deles realmente necessite, motivo pelo qual a Seguridade Social deve apontar os requisitos para a concesso de benefcios e servios. Por distributividade entende-se o carter do regime por repartio, caracterstico do sistema brasileiro, embora o princpio seja da seguridade, e no de previdncia. Inserido na ordem social, o princpio da distributividade deve ser interpretado em seu sentido de distribuio de renda e bem-estar social, isto , pela concesso de benefcios e servios visa-se ao bem-estar e justia social.

    O quarto princpio consiste na irredutibilidade do valor dos benefcios, que prestigia a garantia individual que protege o direito adquirido. A modificao unilateral do direito, que constitui objeto da relao existente entre a pessoa protegida e a entidade previdenciria, criaria a desordem social. Os benefcios so prestaes pecunirias que no podem sofrer modificaes nem em sua expresso quantitativa (valor monetrio), nem em sua expresso qualitativa (valor real). Para que essa diretriz se cumpra, preciso que a legislao estabelea o adequado critrio de aferio do poder aquisitivo do benefcio. Poder aquisitivo que, caso venha a ser reduzido, necessita ser prontamente recomposto por meio

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    do reajustamento peridico do valor da prestao de vida (BALERA, 2000, p. 20-21).

    O quinto princpio compreende a equidade na forma de participao no custeio. De acordo com Castro (2004, p. 88), trata-se de norma principiolgica em sua essncia, uma vez que a participao eqitativa de trabalhadores, empregadores e Poder Pblico no custeio da seguridade social meta e no regra concreta. Com a adoo desse princpio tem-se a finalidade de assegurar que aos hipossuficientes seja garantida a proteo social, exigindo-se deles, sempre que possvel, contribuio equivalente a seu poder aquisitivo, enquanto a contribuio empresarial tende a ter maior importncia em termos de valores e percentuais na receita da seguridade social, por ter a classe empregadora maior capacidade contributiva, adotando-se o princpio da progressividade, no que tange ao Imposto sobre Renda e Proventos de Qualquer Natureza (CASTRO, 2004, p. 88).

    Em relao a esse quinto princpio cabe transcrever as observaes de Martinez (apud DUARTE, 2004, p. 18):

    [...] no momento da contribuio, a sociedade quem contribui. No instante da percepo da prestao, o ser humano a usufruir. Embora no ato da contribuio seja possvel individualizar o contribuinte, no possvel vincular cada uma das contribuies a cada um dos percipientes, pois h um fundo annimo de recursos e um nmero determinvel de beneficirios.

    O sexto princpio diz respeito diversidade da base de financiamento. Em complemento ao princpio anterior, segundo Duarte (2004, p.19), o fundamento do financiamento no se concentrar em uma s fonte de tributos, sendo distribuda entre o maior nmero de pessoas capazes de contribuir. Hoje em dia, a Seguridade Social financiada pelas empresas com contribuies incidentes sobre a folha de salrios, a receita ou faturamento e o lucro, pelos trabalhadores, com recursos provenientes dos descontos em seus salrios e pela sociedade em geral, tanto pela receita oriunda da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios, como da receita de concursos de prognsticos (loterias).

    Para Balera (2000, p. 22), esse sexto princpio pode ser decomposto em dois elementos: o objetivo e o subjetivo. Do ponto de vista objetivo, a regra

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    implica a diversificao dos fatos que vo gerar contribuies sociais. Do ponto de vista subjetivo, o comando exige consideraes das pessoas naturais ou jurdicas que vertero contribuies. Uma das caractersticas a ser destacada nesse princpio sua maior abertura, quando comparado ao esquema de financiamento previdencirio que vigorou desde a Constituio Federal de 1934.

    O stimo princpio compreende o carter democrtico e descentralizado da administrao, mediante gesto quadripartite, com participao dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos rgos colegiados. A gesto dos recursos, programas, planos, servios e aes nas trs vertentes da Seguridade Social, em todas as esferas de poder, deve ser realizada por meio de discusso com a sociedade. Para tanto, foram criados rgos colegiados de deliberao: o conselho Nacional de Previdncia Social (CNPS), o Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS) e o Conselho Nacional de Sade (CNS).

    Alm desses princpios, existem tambm os princpios especficos em relao ao custeio da Seguridade Social, quais sejam: do oramento diferenciado; da compulsoriedade da contribuio; da precedncia da fonte de custeio; e da anterioridade em matria de contribuies sociais.

    O princpio do oramento diferenciado decorre do fato de a Constituio estabelecer que a receita da Seguridade Social constar de oramento prprio, distinto daquele previsto para a Unio Federal. Atravs dessa medida, o legislador pretendeu evitar que houvesse sangria de recursos da Seguridade para despesas pblicas que no as pertencentes s suas reas de atuao. No regime constitucional anterior, no havia tal distino, o que tem ocasionado, at o presente, dficits em virtude da ausncia de um fundo de reserva (CASTRO, 2004, p. 89).

    O princpio da precedncia da fonte de custeio determina que, segundo o 5 do artigo 195, nenhum benefcio ou servio da seguridade social poder ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total (DUARTE, 2004, p. 20). A observncia desse princpio de grande importncia para que a Previdncia Social se mantenha em condies de conceder as prestaes previstas, sob pena de, em curto espao de tempo, estarem os segurados definitivamente sujeitos privatizao de tal atividade, em face da

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    incapacidade do Poder pblico em gerar mais receita para cobertura de dficits (CASTRO, 2004, p. 91).

    O princpio da compulsoriedade da contribuio refere-se previso da Constituio Federal, em seu artigo 149, da possibilidade de o Poder Pblico, atravs de suas entidades estatais, instituir contribuies sociais. Isso se deve ao fato de as atividades que caracterizam a poltica de segurana social serem exercidas em carter exclusivo do Estado, permitida a atuao da iniciativa privada somente em carter complementar. Significa dizer que o regime de solidariedade social est assegurado pela cobrana compulsria de contribuies sociais, de indivduos segurados e no segurados do regime previdencirio, bem como de pessoas jurdicas (CASTRO, 2004, p. 91-92).

    O princpio da anterioridade em matria de contribuies sociais diz respeito ao fato de que as contribuies Seguridade Social, quando criadas ou majoradas, somente podem ser exigidas depois de noventa dias da vigncia da lei que as instituiu ou majorou, no se aplicando a regra que possibilita a cobrana a partir do primeiro dia do exerccio subseqente, como prev a Constituio Federal ( 6 do artigo 195). Contudo, esse princpio no se aplica a leis que venham a reduzir o valor das contribuies, ou isentar do recolhimento, bem como a leis que criam novos benefcios ou servios em qualquer das reas de atuao da Seguridade Social (CASTRO, 2004, p. 92).

    Todos esses princpios do sustentao estrutura do sistema de Seguridade Social, sendo, portanto, indispensvel sua observao para que se alcancem os fins do instituto da seguridade.

    2.2 Assistncia Social

    A noo de Assistncia Social remonta instituio do Estado. Pode-se dizer que o Estado foi institudo atravs de contrato, com a finalidade de assegurar ao homem a proteo social e a vivncia pacfica, com condies dignas, em sociedade. Desde tempos remotos, as civilizaes sempre tiveram em mente a preocupao com a insegurana natural dos seres humanos. funo do Estado assistir a seus integrantes, assegurando-lhes condies mnimas para uma sobrevivncia digna.

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    De acordo com Sidou (2001, p.75), a Assistncia Social compreende um ramo da seguridade social destinada a prestar proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice. Os princpios aplicveis Seguridade Social tambm se aplicam Assistncia Social.

    De acordo com Balera (2000, p. 82), ao definir o contedo da justia social, a Constituio de 5 de outubro de 1988 afirma que, entre outros resultados, ela dever implementar a reduo das desigualdades sociais. Trata-se de princpio que postula o seu prprio acabamento e que est a exigir esforo conjunto de governantes e governados. Exige resposta do setor de seguridade social a quem compete o cuidado dos necessitados; o comando ordena aos componentes do sistema o estabelecimento de planos, programas e projetos redutores da desigualdade no intento de estabelecer a justa integrao daqueles que esto margem da vida social. Com base nos recursos disponveis e inventariando as possveis modalidades de ao social, o setor de assistncia social deve assegurar os mnimos sociais.

    Nesse sentido, o Conselho Nacional de Assistncia Social oferece servios, os quais compreendem prestaes assistenciais de durao continuada que visam melhoria da vida da populao, considerando as necessidades bsicas. Esses servios so prestados nas seguintes reas: apoio criana carente; apoio pessoa idosa; apoio ao cidado, famlia e ao deficiente; assistncia integral criana e ao adolescente (BALERA, 2000, p. 88-89).

    importante observar que a Assistncia Social se diferencia da Previdncia Social. Embora ambas sejam formas de proteo, o nus da Assistncia Social recai sobre o Poder Pblico e sobre toda a coletividade, indistintamente: ela tende a cobrir todos os cidados que dela necessitem, sem discriminao profissional. A Previdncia Social, por sua vez, comumente cobre um risco gentico ou especfico, ou seja, dos seus beneficirios diretos e indiretos e do Estado. A contribuio do Estado est pautada no interesse pblico pelo seguro social.

    Conforme Paixo (1992, p. 27), na Assistncia Social no existe uma relao entre a acumulao dos recursos e a cobertura das necessidades a serem atendidas. Dentro de suas possibilidades, a receita fiscal que fornecer os meios adequados ao atendimento dessas mesmas necessidades. Assim, no

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    campo social, procurou-se ampliar a faixa protetora ao necessitado, ainda no protegido pelas prestaes da Previdncia Social. Para as prestaes assistenciais, h o limite natural de concesso, que da carncia de recursos, verificada no interessado. isso que ocorre nas prestaes em moeda, deferidas aos deficientes fsicos e aos idosos.

    No caso do idoso, o artigo 203, V, da Constituio Federal de 1988, cria uma prestao de salrio-mnimo mensal, desde que no disponha de nenhuma fonte de renda capaz de lhe prover a manuteno. Da legislao ordinria j consta uma prestao semelhante, instituda pela Lei n 6.179, de 1974, cujas disposies, contudo, conforme Coimbra (1998, p. 59), so tmidas e restritivas do direito do cidado a proteger. Fixava-se a idade para a concesso em setenta anos, e exigia-se a vinculao previdenciria, atual ou pretrita, admitidos diversos aspectos. A regra constitucional refere-se ao idoso, possibilitando que o legislador fixe idade para a concesso da assistncia social e no condiciona essa concesso a nenhuma forma de vinculao previdenciria. Atualmente, com o Estatuto do Idoso, novas modificaes foram inseridas no que tange assistncia social ao idoso.

    Em relao aos deficientes, a prestao instituda pela Constituio abrange qualquer forma de deficincia fsica que gere incapacidade ordinria para o trabalho e no seja amparada pelas leis previdencirias. A lei ordinria poder manter a proteo especial para as vtimas da talidomida, que no se atrita com o amparo generalizado, e que foi deferida em virtude de diferentes graus de dependncia (COIMBRA, 1998, p. 59).

    2.3 Previdncia social

    A Previdncia Social, no Brasil, constitui-se como um sistema de seguro obrigatrio cuja finalidade central reside em proporcionar o amparo queles que exercem atividade remunerada, bem como aos seus dependentes, mediante a existncia de eventos previsveis provocados por doena, idade avanada, tempo de servio, priso ou morte. A Previdncia Social tanto pode proporcionar benefcios em dinheiro, tais como aposentadorias e auxlios, como

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    pode proporcionar servios, como reabilitao profissional, servio social, entre outros (PAIXO, 1992, p. 17).

    Alm dos princpios da Seguridade Social, que so aplicveis Previdncia Social, o texto da Constituio Federal de 1988 enumera alguns princpios condizentes com a relao previdenciria, quais sejam: da filiao obrigatria; do carter contributivo; do equilbrio financeiro e atuarial; da garantia do benefcio mnimo; da correo monetria dos salrios de contribuio; preservao do valor real dos benefcios; da previdncia complementar facultativa; e da indisponibilidade dos direitos dos benefcios.

    O princpio da filiao obrigatria, na mesma linha do princpio da compulsoriedade da contribuio, determina que todo trabalhador que se enquadre na condio de segurado considerado pelo regime como tal, desde que no esteja amparado por outro regime prprio. Caso a filiao fosse simplesmente facultativa, o esforo do Estado em assegurar o indivduo em face de eventos protegidos pela Previdncia no surtiria efeito (CASTRO, 2004, p. 93).

    No que tange ao princpio do carter contributivo, diz a Constituio que a Previdncia Social ser organizada sob a forma de regime geral, de carter contributivo (art. 201, caput), isto , ser custeada por contribuies sociais. A legislao ordinria, que compreende a Lei n 8.213/91, dispe em seu artigo 1 que a participao do indivduo na previdncia Social se dar mediante contribuio. Dessa forma, a universalidade, no que concerne ao regime previdencirio oficial, tambm corresponde exigncia de que o segurado venha a contribuir para o custeio do regime. Em outras palavras, isso significa que no tem direito ao recebimento do benefcio aquele que no contribuinte do regime, por ausncia de filiao (CASTRO, 2004, p. 93-94).

    O princpio do equilbrio financeiro e atuarial, tambm expresso no caput do artigo 201, da Constituio Federal de 1988, determina que deve ser preservado o equilbrio financeiro e atuarial do sistema, devendo ser observada a relao entre custeio e pagamento de benefcios, com a finalidade de mant-lo em condies superavitrias. Com base nesse princpio, a Lei n 9.876/99 implantou o Fator Previdencirio (DUARTE, 2004, p. 21).

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    Em relao ao princpio da garantia do benefcio mnimo, a Constituio Federal, artigo 201, 2, estabelece que a renda mensal no pode ser inferior ao valor do salrio mnimo nos benefcios substitutivos do salrio de contribuio ou do rendimento do trabalho, como aposentadorias, auxlio-recluso e auxlio-doena, penso por morte e salrio-maternidade. Atravs desse princpio tem-se a sempre discutida equiparao do salrio mnimo dos trabalhadores com o benefcio mnimo pago pela Previdncia e tambm pela Assistncia Social. No entanto, conforme Castro (2004, p. 95), a proposta de desvinculao do benefcio substitutivo do rendimento do trabalho daquele salrio mnimo pago aos trabalhadores na atividade retrocesso inaceitvel.

    O princpio da correo monetria dos salrios de contribuio diz que os salrios de contribuio considerados no clculo dos benefcios devem ser corrigidos monetariamente ( 3, art. 201, Constituio Federal). Portanto, ao fixar o clculo de qualquer benefcio previdencirio em que se leve em conta mdia de salrios de contribuio, o legislador ordinrio deve adotar frmula que corrija nominalmente o valor da base de clculo da contribuio vertida, a fim de evitar distores no valor do benefcio pago. Como observa Castro (2004, p. 96), antes de tal princpio, nem todos os salrios de contribuio adotados no clculo eram corrigidos, o que causava um achatamento no valor pago aos beneficirios.

    A preservao do valor real dos benefcios o princpio que, mais do que a irredutibilidade, identificada com a manuteno do valor nominal para os benefcios previdencirios, garante a preservao do valor real dos benefcios. No entanto, de acordo com Duarte (2004, p. 21), esse princpio ser concretizado conforme critrios definidos em lei, sem que seja possvel atrelar o reajuste dos benefcios previdencirios pelos mesmos ndices e condies dos reajustes do salrio mnimo.

    O princpio da previdncia complementar facultativa dispe que, embora o regime previdencirio estatal seja compulsrio e universal, admite-se a participao da iniciativa privada na atividade securitria, em complemento ao regime oficial, e em carter facultativo para os segurados (art. 202, Constituio Federal). Depois da Emenda Constitucional n 20 de 1998, responsvel por alterar a redao original do artigo 201, 7, da Carta Magna, no mais a previdncia social que manter seguro coletivo, de carter complementar e facultativo,

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    custeado por contribuies adicionais. A iniciativa privada passa a ser responsvel por oferecer esse regime facultativo e complementar, autnomo em relao ao Regime Geral da Previdncia Social, a ser regulado por lei complementar (Lei Complementar n 109/01).

    Por fim, tem-se o princpio da indisponibilidade dos direitos dos benefcios. Em se tratando do valor do benefcio devido ao segurado ou ao seu dependente de direito de natureza alimentar, torna-se inaceitvel que o beneficirio, pelo decurso do prazo, perca o direito ao benefcio. Com isso, tem-se que so indisponveis os direitos previdencirios dos benefcios do regime, no cabendo a renncia, preservando-se, sempre, o direito adquirido daquele que, tendo implementado as condies previstas em lei para a obteno do benefcio, ainda no o tenha exercido (art. 102, 1, da Lei n 8.213/91). A lei somente estabelece a decadncia quanto a pedidos de reviso de clculo de benefcio, porm no h perda do direito ao benefcio em si (CASTRO, 2004, p. 97).

    Todos esses princpios so essenciais para o bom funcionamento da estrutura previdenciria. Constituem a base do sistema previdencirio do pas, sem os quais certamente, ter-se-ia srios problemas em relao aos segurados e seus direitos como beneficirios do sistema de Previdncia Social.

    2.4 Benefcios do Regime Geral da Previdncia Social

    O Regime Geral da Previdncia Social (RGPS) o principal regime previdencirio na ordem interna, o qual abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, isto , os trabalhadores que possuem relao de emprego regida pela Consolidao das Leis do Trabalho, pela Lei n 5.889/73 e pela Lei n 8.859/72. Alm disso, abrange tambm os trabalhadores autnomos, eventuais ou no, os empresrios, titulares de firmas individuais ou scios gestores e prestadores de servios, trabalhadores avulsos, pequenos produtores rurais e pescadores artesanais trabalhando em regime de economia familiar, entre outras categorias de trabalhadores, como garimpeiros, empregados de organismos internacionais, sacerdotes, etc. (CASTRO, 2004, p. 98-99).

    Para todas essas categorias de trabalhadores existem diversas modalidades de benefcios, a saber: aposentadoria por idade, aposentadoria por

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    invalidez, aposentadoria por tempo de servio/contribuio, aposentadoria especial, auxlio-doena, auxlio-acidente, auxlio-doena por acidente de trabalho, salrio-famlia, salrio-maternidade, penso por morte, auxlio-recluso.

    2.4.1 Aposentadoria por idade

    A aposentadoria por idade, que ser analisada em profundidade no prximo captulo, est prevista no artigo 51 e seguintes do Decreto n 3.048/99, e compreende o benefcio a que tem direito o segurado que completar 65 anos de idade, se homem, ou 60, se mulher, uma vez cumprida a carncia exigida para a concesso do benefcio. Em se tratando de trabalhador rural ou garimpeiro, que trabalhe, comprovadamente, em regime de economia familiar, esses limites de idade sero reduzidos, respectivamente, para 60 e 55 anos, e a carncia ser computada mesmo que de forma descontnua (SANTIAGO, 2001, p. 25).

    2.4.2 Aposentadoria por invalidez

    A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carncia exigida, ser devida ao segurado que, estando ou no em gozo de auxlio-doena, for considerado incapaz para o trabalho e insuscetvel de reabilitao para o exerccio de atividade que lhe garanta a subsistncia, e ser-lhe- paga enquanto permanecer nessa condio. A concesso de aposentadoria por invalidez depender da verificao da condio de incapacidade mediante exame mdico-pericial, a cargo da Previdncia Social, podendo o segurado, s suas expensas, fazer-se acompanhar de mdico de sua confiana (PAIXO, 1992, p. 83).

    importante observar que no concedida aposentadoria por invalidez ao segurado que, ao filiar-se ao RGPS, j era portador da doena ou da leso que geraria o benefcio, salvo quando a incapacidade decorreu de progresso ou agravamento dessa doena ou leso. Esse benefcio deixa de ser pago quando o segurado recupera a capacidade para o trabalho; quando o segurado volta

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    voluntariamente ao trabalho; quando o segurado solicita e tem a concordncia da percia mdica do INSS (SANTIAGO, 2001, p. 13).

    2.4.3 Aposentadoria por tempo de servio/contribuio

    A aposentadoria por tempo de servio/contribuio o benefcio ao qual tem direito o segurado de sexo feminino que comprovar, no mnimo, 30 anos de contribuio, e o segurado de sexo masculino que comprovar, no mnimo, 35 anos de contribuio. O segurado que at 16/12/98 no havia completado o tempo mnimo exigido para aposentadoria por tempo de contribuio, 30 anos homem e 25 anos mulher, tem direito ao benefcio proporcional, desde que cumprida a carncia e os seguintes requisitos:

    Idade: 53 anos para o homem e 48 anos para a mulher;

    Tempo de Contribuio: 30 anos de contribuio para o homem e 25 anos de contribuio para a mulher;

    Tempo de Contribuio Adicional: o equivalente a 40% (quarenta por cento) do tempo que, em 16/12/98, faltava para atingir o limite de contribuio.

    Em virtude do direito adquirido, o segurado que em 16/12/98 j contava com 30 ou 25 anos de servio, homem ou mulher, respectivamente, tem o direito de requerer, a qualquer tempo, aposentadoria com renda mensal proporcional ao tempo de servio computado, at aquela data, calculada com base nos 36 salrios de contribuio anteriores a 12/98 e reajustada at a data do requerimento pelos ndices de aumento da poltica salarial. Nesses casos, vedada a incluso de tempo de servio posterior a 16/12/98 para quaisquer fins (SANTIAGO, 2001, p. 30).

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    2.4.4 Aposentadoria especial

    A aposentadoria especial concedida, tendo-se cumprido prazo de carncia exigido por lei, ao segurado que tiver trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos, conforme a atividade profissional, sujeito a condies especiais que prejudiquem a sade ou a integridade fsica. Para ter direito a esse benefcio, alm do tempo de trabalho o segurado dever comprovar a efetiva exposio aos agentes nocivos qumicos, fsicos, biolgicos ou associao de agentes prejudiciais sade ou integridade fsica (PAIXO, 1992, p. 92; SANTIAGO, 2001, p. 57).

    2.4.5 Auxlio-doena

    O auxlio-doena est previsto no artigo 71 e seguintes do Decreto n 3.048/99.