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1 Curso de Teologia Paróquia São Pedro Mauá, SP. Professor: Cesar Fialho Email: [email protected] Telefone: 96365-0695 Disciplina: Cartas Paulinas I - EMENTA: A proposta desse curso é de dar uma introdução, seja ao tema, como a cada uma das Cartas, sobretudo contextualizando cada escrito e dando informações sobre o ambiente da comunidade ou da pessoa que recebeu o escrito. Além disso, para compreendermos toda a profundidade dos seus escritos precisamos conhecer e entender os termos que o Apóstolo usa e qual o sentido que dá a eles. Nosso método de estudo será contextualizar o escrito e depois ler. Tenho certeza que o fato de ler Paulo apressadamente é o que faz seus escritos muitas vezes parecer sem sentido e quase nunca comentados, apesar de presentes com muita freqüência em nossa liturgia. II - OBJETIVO GERAL: Proporcionar aos alunos/as uma visão de conjunto sobre os textos bíblicos que nos ajudam a delinear o perfil do grande apóstolo dos gentios. Temos uma distância enorme que nos separa de Paulo. Para vencer estas distâncias devemos confiar nas fontes de informação, capazes de servir de ponte entre o hoje e a antiguidade. Trata-se de diálogo porque a leitura dos textos não se reduz a escutar as vozes que aí ressoam. A leitura nos suscita perguntas, interpelações. É o desafio de vencer a distância cultural e histórica, fazer o confronto entre gerações diversas. III - OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Ao final do curso caberá ao aluno/a o desejo de continuidade e que, mais importante é ler e estudar os textos inspirados e descobrir os seus conteúdos. Utilizaremos para o estudo a versão da Bíblia de Jerusalém. Porém, ainda que seja a melhor versão para estudo, ela é limitada. Ter outras versões compará-las e confrontá-las serão uma maneira para entender melhor o texto e descobrir sua riqueza e conteúdo. A vocês compete à missão de não querer esgotar Paulo num breve curso como este. Esta é apenas uma porta que se abre. Ler e reler estes escritos (muitos deles os primeiros textos do NT) ajuda a tirar aquela ideia equivocada tão mal difundida por alguns autores que qualificam o Apóstolo como duro, frio, machista, submisso ao império. IV - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: 1. Conhecendo Paulo de Tarso a) Paulo das cartas b) Paulo dos Atos dos Apóstolos 2. As Viagens de Paulo a) 1ª Viagem; b) 2ª Viagem;

Apostila 2015 - Cartas Paulinas - S. Pedro Apóstolo

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Page 1: Apostila 2015 - Cartas Paulinas - S. Pedro Apóstolo

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Curso de Teologia Paróquia São Pedro – Mauá, SP.

Professor: Cesar Fialho

Email: [email protected]

Telefone: 96365-0695

Disciplina: Cartas Paulinas

I - EMENTA:

A proposta desse curso é de dar uma introdução, seja ao

tema, como a cada uma das Cartas, sobretudo

contextualizando cada escrito e dando informações

sobre o ambiente da comunidade ou da pessoa que

recebeu o escrito. Além disso, para compreendermos

toda a profundidade dos seus escritos precisamos

conhecer e entender os termos que o Apóstolo usa e qual o

sentido que dá a eles. Nosso método de estudo será

contextualizar o escrito e depois ler. Tenho certeza que

o fato de ler Paulo apressadamente é o que faz seus

escritos muitas vezes parecer sem sentido e quase nunca

comentados, apesar de presentes com muita freqüência em nossa

liturgia.

II - OBJETIVO GERAL:

Proporcionar aos alunos/as uma visão de conjunto sobre os textos bíblicos que nos

ajudam a delinear o perfil do grande apóstolo dos gentios. Temos uma distância enorme

que nos separa de Paulo. Para vencer estas distâncias devemos confiar nas fontes de

informação, capazes de servir de ponte entre o hoje e a antiguidade. Trata-se de diálogo

porque a leitura dos textos não se reduz a escutar as vozes que aí ressoam. A leitura nos

suscita perguntas, interpelações. É o desafio de vencer a distância cultural e histórica,

fazer o confronto entre gerações diversas.

III - OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Ao final do curso caberá ao aluno/a o desejo de continuidade e que, mais importante é

ler e estudar os textos inspirados e descobrir os seus conteúdos. Utilizaremos para o

estudo a versão da Bíblia de Jerusalém. Porém, ainda que seja a melhor versão para

estudo, ela é limitada. Ter outras versões compará-las e confrontá-las serão uma

maneira para entender melhor o texto e descobrir sua riqueza e conteúdo. A vocês

compete à missão de não querer esgotar Paulo num breve curso como este. Esta é

apenas uma porta que se abre. Ler e reler estes escritos (muitos deles os primeiros textos

do NT) ajuda a tirar aquela ideia equivocada tão mal difundida por alguns autores que

qualificam o Apóstolo como duro, frio, machista, submisso ao império.

IV - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

1. Conhecendo Paulo de Tarso

a) Paulo das cartas

b) Paulo dos Atos dos Apóstolos

2. As Viagens de Paulo

a) 1ª Viagem;

b) 2ª Viagem;

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c) 3ª Viagem;

d) 4ª Viagem;

3. A origem das cartas de Paulo

a) Proto – paulinas

b) Deutero – paulinas

c) Gênero Literário

4. Cronologia dos escritos paulinos

a) Dos anos 30 – 40

b) Dos anos 40 – 70

c) Dos anos 70 -100

5. As cartas proto - paulinas (uma breve contextualização)

a) Aos Tessalonicenses

b) Aos Coríntios

c) Aos Gálatas

d) Aos Filipenses

e) Aos Romanos

6. Breve comentário das Cartas Paulinas

V - PROCEDIMENTOS EDUCACIONAIS E RECURSOS:

Aulas expositivas, leituras, debates e atividades práticas.

VI - BIBLIOGRAFIA:

A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 1985.

BARBAGLIO. G. São Paulo, O homem do Evangelho. Petrópolis: Vozes, 1993.

BECKER, J. Apóstolo Paulo. Vida, obra e teologia. São Paulo: Academia Cristã, 2007.

BORTOLINI, J. Introdução a Paulo e suas Cartas. São Paulo: Paulus, 2001.

COMBLIN. J. Paulo Apóstolo de Jesus Cristo, Petrópolis: Vozes, 1993.

FABRIS, R. Para ler Paulo. São Paulo: Loyola, 1996.

FLORA, A. GORGULHO, G. Paulo e a luta pela liberdade. São Paulo: Paulus, l993.

GASS, Ildo B. Uma introdução à Bíblia. S. P.: Paulus, São Leopoldo: CEBI, 2005.

MESTERS. C. Paulo, um trabalhador que anuncia o Evangelho. S. P.: Paulinas 1991.

PATTE, D. Paulo, sua fé e a força do evangelho. São Paulo: Paulinas, 1987.

SANDERS, Ed Parish. Paulo a lei e o povo judeu. São Paulo: Paulus, 2009.

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INTRODUÇÃO GERAL

Nos escritos do NT encontramos vinte e uma Cartas. Treze delas são atribuídas

ao Apóstolo Paulo e ainda, temos a “Carta” aos Hebreus de um autor desconhecido e

que erroneamente também foi atribuída a Paulo, e outras são colocadas sob a autoridade

de outras figuras significativas da Igreja primitiva: duas são de Pedro; três de João; uma

de Tiago e uma de Judas. Para a fé cristã estes escritos têm uma grande importância,

seja porque são “canônicos”, seja porque deram origem à sucessiva reflexão teológica,

vale lembrar que somente nos Concílio de Roma (382), Hipona (393) e Cartago (397)

podemos encontrar uma lista definitiva dos livros canônicos sendo descrita, e cada um

destes concílios reconheceu a mesma lista do anterior. Lendo as Cartas percebe-se logo

que os autores manifestam um vivo testemunho da vida das primeiras comunidades.

Estas Cartas enriquecem muito o quadro que obtemos do livro dos Atos dos Apóstolos,

composto no final do I século. As Cartas Paulinas são uma reflexão teológica ou pastoral

num segundo momento. Antes disso, houve o trabalho missionário de fundar e

organizar as comunidades. É certo que o número de comunidades fundadas pelo

Apóstolo Paulo e seus companheiros foi muito maior daquelas que receberam alguma

Carta. Outra constatação importante é que não foi possível conservar todos os escritos

paulinos. Algumas cartas se perderam e não estão no cânon bíblico.

A ordem que as Cartas de Paulo se encontram no cânon bíblico não reflete a data

em que foram escritas, mas foram organizadas segundo a sua extensão.

Alguns procuram agrupar as Cartas do seguinte modo:

a) Cartas maiores: Romanos,1-2 Coríntios, Gálatas e 1-2 Tessalonicenses.

b) Cartas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon.

c) Cartas pastorais: 1-2 Timóteo e Tito

Outra classificação pode ser feita a partir da possível autoria das mesmas:

a) Cartas Proto-Paulinas: que seguramente são autênticas, isto é, que são de autoria do

Apóstolo Paulo, e que são aceitas por todos os estudiosos: Romanos, 1-2 Coríntios,

Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon.

b) Cartas Deutero-Paulinas: são aquelas cuja autenticidade não é segura ou é negada por

certo número de estudiosos: Efésios, Colossenses e 2 Tessalonicenses.

c) Cartas Trito-Paulinas: 1-2 Timóteo e Tito. Essas dificilmente seriam do Apóstolo

Paulo, pois usam uma linguagem diversa e tratam de problemas que existiam nas

comunidades no final do I século.

É certo que algumas Cartas de Paulo foram perdidas. Em 1Cor 5,9 já se fala de

uma Primeira Carta aos Coríntios. Em Cl 4,16, Paulo se refere a uma Carta escrita aos

cristãos de Laodicéia. E temos ainda a famosa “Cartas em lágrimas” aos Coríntios (2Cor

2,4). Alguns estudiosos afirmam também que a Carta aos Filipenses é um conjunto de

vários bilhetes. E também que a 2Cor é um ajuntamento de várias cartas, enviadas em

datas diferentes. Outro aspecto interessante é o de que as cartas não foram escritas do

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próprio punho do Apóstolo. Ele as ditava (cf. Rm 16,22) e às vezes assinava (cf. Gl

6,11). Talvez a carta a Filemon tenha sido o único escrito com sua própria mão.

Uma constante nas cartas de Paulo é a afirmação que ele faz da sua vocação. Por

várias vezes lembra que o seu ser apóstolo de Jesus Cristo é sinal primordial da

intervenção divina na sua vida. Costumo falar que Paulo recebeu um pé no peito, foi a

conversão mais "violenta" da história bíblica, a compreensão de Paulo sobre o seu

chamado é muito clara, o vocábulo grego utilizado em 1 Cor. 15, 8 "E, por último de

todos, apareceu também a mim, como a um abortivo", aqui para “abortivo”, o termo

grego é ektroma, que significa “proveniente de trauma”, isto é, de injúria, de dor; e isso

é uma alusão à experiência dolorosa da maioria dos abortos. Paulo se refere à

subtaneidade, à violência, ao inesperado de sua transição para a vida em Cristo.

Paulo se dedica por inteiro a missão de evangelizar os gentios e busca formas

novas, através das cartas, de se fazer presente junto às comunidades fundadas por ele

como missionário itinerante. Escrever era a forma de manter viva a fé das comunidades,

porque Paulo não podia estar em todas elas ao mesmo tempo. Isso tudo para que o

evangelho fosse anunciado.

O núcleo da mensagem de Paulo em todas as suas cartas é o Kerigma

cristão, ou seja, o anúncio da morte e ressurreição de Jesus. Toda a teologia

paulina é gerada a partir do evento da cruz, sinal de escândalo, portanto, de

fraqueza, transformado em princípio de salvação e ressurreição. Portanto, para

compreender Paulo é importantíssimo considerarmos a crucificação de Jesus, sua morte

e ressurreição. Paulo é um escritor que anuncia o Evangelho, ou melhor, é um

missionário que escreve. Ele é poeta e culto, mas para fazer-se compreender usa

palavras simples e profundas. Todas as suas cartas são, portanto, como que geradas do

seu coração. E assim Paulo deixa transparecer em cada palavra que escreve sua paixão

por Jesus e pelo seu povo.

1 A VIDA DE PAULO.

Para conhecermos bem uma pessoa, temos que ter proximidade com ela.

Chegarmos de mansinho, cada vez mais perto, ouvir a sua história, suas palavras, tocá-

la de perto. Assim, vamos nos aproximar mais do Apóstolo Paulo, ele quer se revelar a

nós hoje e tem “um dom espiritual para nos comunicar” (Rm 1,11).

Paulo, em latim Paulus (fraco, franzino) na forma hebraica Saul (At 9,4.17; 22,7.l3;

26,14) e Saulos (At 7,58; 8,1.3; 9,l.8.11.22.24; 11,25.30; 12,25; 13,1.2.7.9). Segundo o

costume comum entre os hebreus da diáspora, lhe foi imposto o nome de Paulo (At

13,9; 2Pe 3,15) com o qual é chamado em todas as suas cartas. Os judeus da diáspora

tinham muitas vezes dois nomes: judaico e grego. Saul, o primeiro rei de Israel, era o

personagem mais importante da Tribo de Benjamim, a qual a família de Paulo

descendia. Certamente, os pais usavam colocar esse nome em seus filhos recordando o

grande rei Saul. O mesmo ocorre hoje, como por exemplo, na região do Cariri, no

Ceará, muitos pais colocam em seus filhos e filhas o nome Cícero ou Cícera em

homenagem ou para pagar promessas ao pe. Cícero Romão. Após seu encontro com o

Cristo e na missão em meio aos gentios o “grande” Saulo, prefere ser chamado apenas

de “pequeno”. Os judeus da diáspora eram aqueles que moravam fora da Palestina.

Paulo é o homem da universalidade, pois pertence á três culturas como o próprio

nome indica: hebraica, grega e romana.

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Existe uma Carta denominada Atos de Paulo e Tecla do século II, descoberto

inicialmente escrita em Copta, mostra a influência espiritual e doutrinária de Paulo na

vida de Tecla, mais tarde foi encontrado outras edições da mesma carta escritos em

Armênio, Siríaco, Latim, Grego e até Etíope (cristãos orientais), esta carta faz algumas

citações de como seria a aparência de Paulo num diálogo de Onesífero e Tito, diz o

texto: " Paulo era um homem de pequena estatura, sobrancelhas sem separação, olhos

próximos e azuis, nariz um tanto curvo, calvo, pernas arqueadas [em forma de arco], de

compleição forte.

Como reconstituir a vida de Paulo?

Há três formas de conhecermos Paulo, através dos Atos dos Apóstolos, das suas

cartas e por meio da Tradição Cristã, mas é importante percebermos que o próprio

apóstolo traça sua biografia:

“Circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu,

filho de hebreus; quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja;

quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível” ( Fl 3,5).

Através dessa descrição de Paulo, percebemos vários elementos de sua vida, como por

exemplo:

· Sua religião

· Qual a sua descendência familiar

· De qual movimento dentro do Judaísmo ele pertencia

· Como era seu comportamento

Onde Paulo nasceu?

Em uma cidade chamada Tarso, que é a capital da Cilícia, situada na Ásia

Menor, região que hoje corresponde à Turquia. Tarso era uma importante cidade da

Ásia Menor, com uma grande universidade e um centro intelectual para aqueles que

desejavam estudar.

• Segundo estudiosos, tinha aproximadamente 300 mil habitantes.

• Era também uma cidade portuária, com economia próspera e vida urbana agitada.

• Por Tarso passava a estrada romana que fazia ligação entre o oriente e o ocidente

Estudos Como era tradição de sua época, Paulo deve ter recebido a formação básica

como judeu, primeiro, na casa dos pais e, logo após, na sinagoga local de Tarso e na

escola ligada a sinagoga. Segundo estudiosos, se quiséssemos traçar uma cronologia dos

estudos de Paulo, seria mais ou menos assim:

Aos 7 anos, Saulo entrou na escola da sinagoga, no bairro judeu de Tarso,onde

aprendeu a ler a língua grega;

Aos 10 anos, concluiu o curso primário, e aos 11, sabendo ler bem o grego, começou

o secundário;

Aos 15 anos terminou o ensino secundário;

Dos 16 aos 20 anos é provável que Saulo tenha escolhido um mestre da

Universidade;

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Aos 20 anos, Saulo escolheu especializar-se na cultura e religião de seu povo de

origem, e foi para Jerusalém e lá tem como seu mestre Gamaliel (cf. At 22,3).

A cidadania O título que Saulo recebeu ao nascer em Tarso era o de terceira categoria. Havia

uma escala de direitos na cidadania romana:

Cidadãos plenos eram os que participavam do senado romano ou descendiam de famílias de imperadores ou senadores;

Cidadãos patrícios eram de famílias ricas e comandavam os exércitos e as batalhas ou dedicavam-se à vida intelectual e ao magistério;

Cidadãos plebeus eram livres, mas haviam sido escravos e depois libertos, ou seus

descendentes que, mesmo nascendo livres, herdavam o título romano plebeu e

sobreviviam com dificuldade, de um ofício manual.

Os cidadãos romanos plebeus eram desprezados pelas outras duas classes, porque faziam trabalho braçal. Gozavam de poucos privilégios e eram alvos das

arbitrariedades dos juízes romanos. Como cidadão de Roma, Paulo gozava de alguns

privilégios: não poderia ser flagelado, não podia ser crucificado, podia apelar para o

Supremo Tribunal em Roma.

A escolha da profissão

Paulo queria tornar-se um intelectual e subir na escala social, por isso escolheu o

curso para ser doutor da Lei.

Depois do seu encontro com Jesus, porém, Paulo aprendeu a trabalhar o couro, fabricava sandálias, cintos, tendas, bolsas etc.

O trabalho com o couro era impuro para os judeus. Paulo, como missionário itinerante opta por ser um “trabalhador que anuncia o Evangelho”, por onde vai,

procura um trabalho. Isso não faz de Paulo um rico comerciante, pelo contrário,

Paulo faz a opção de ser escravo, trabalha para os outros. O apóstolo não quer ser

pesado para ninguém.

A Religião Saulo era judeu e frequentou a escola farisaica. Professava a fé na ação de Deus

na história por meio daqueles que fossem fiéis ao seu projeto e procurassem o direito e a

justiça. O que Saulo pensava sobre Jesus?

Como fariseu, Saulo considerava Jesus um traidor;

Acreditava que Jesus era um falso mestre;

Pensava que Jesus tinha recebido a morte que merecia (a cruz);

Achava que os seguidores de Jesus tinham sido seduzidos por falsas promessas e deveriam voltar atrás.

A conversão de Paulo.

O acontecimento de Damasco nos dá uma chave interpretativa da teologia paulina.

Nos Atos dos Apóstolos temos três narrações do evento (9,1-30; 22,3-21; 26,9-20) Nas

cartas temos vários textos que lembram esta primeira experiência de Paulo no encontro

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com Cristo Ressuscitado (Gl 1,11-24; 1Cor 9,1; 15,8-10; 2Cor 3,14-18; Fl 3,12). São

passagens que não tem finalidade de uma reconstrução historicista ou psicologizante da

conversão de Paulo, mas mostra que a vida de Paulo divide-se em, antes: perseguidor de

Cristo identificado na comunidade (Gl 1,13.23; 1Cor 15,9; Fl 3,6; At 9,4), e depois: a

entrada violenta de Jesus em sua vida. As expressões fortes: queda (At 9,4; 22,7; 26,14),

cegueira (At 9,8-9), Aborto (1Cor 15,8), fui apanhado (Fl 3,12), deixam transparecer

algo que Paulo viveu. Sugerem uma ruptura. Apareceu o nada de Paulo, de onde vai

nascer o tudo de Deus. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). “Tudo posso naquele

que me fortalece” (Fl 4,13).

De ora em diante Paulo não coloca sua segurança na observância da Lei, mas sim

no amor de Deus por ele (Gl 2,20-21; Rm 3,21-26). Paulo teve a certeza que Deus o

acolhia e justificava. Gratuidade foi a marca da experiência de Paulo. Antes olhava para

Deus, lá distante e procurava alcançá-lo através da observância da Lei. Agora se

sentindo acolhido e justificado por Deus, podia esquecer-se de si, de sua própria

justificação para pensar nos outros e servi-los (Rm 13,10; Gl 5,14). A conversão para

Cristo significou uma mudança profunda na vida de Paulo, mas não uma mudança ou

troca de Deus. Paulo continuou fiel ao seu Deus, ao seu povo. Tornando-se cristão não

estava deixando de ser judeu. Pelo contrário tornava-se mais judeu do que antes. Pois

foi a vontade de ser fiél ás esperanças do seu povo que o levou a aceitar Jesus como

Messias. A conversão de Paulo é uma maturação lenta. São 13 anos de silêncio após o

evento de Damasco. Parece que passou um tempo na Arábia (Gl 1,17). Algumas frases

do próprio Paulo permitem observar algo daquilo que ele viveu nestes anos todos (Gl

2,20; Rm 6,8; Cl 1,24; 2Cor 12,10; Rm 8,35; Gl 6,14; 1Cor 13,13; Fl 3,12). Convém

ainda lembrar que a experiência que Paulo teve de Jesus não veio de para-quedas, mas

através de pessoas bem concretas: Estêvão, Ananías, Barnabé, Eunice e Lóide, Febe e

tantos outros.

As informações geográficas são poucas durante esse período imediato após a

conversão. Em Damasco Paulo começou o anúncio da Boa Nova, mas provocou

conflitos e teve que fugir (At 9,20-25). Foi para a Arábia, leste do Jordão até Petra (Gl

l,17), depois à Síria. Na primeira viagem à Jerusalém (At 9,26-27; Gl 1,18) fica

conhecendo Cefas e Tiago. Provoca novo conflito e volta para Tarso (At 9,29-30). Nove

anos depois Barnabé o chamou para trabalhar em Antioquia, onde judeus e pagãos

convertidos viviam em harmonia (At 11,19-26). Essas primeiras tentativas missionárias

resultaram em fracasso total devido a sua pouca experiência e precipitação. Deus parece

não ter muita pressa. Mesmo assim nesses 13 anos de anonimato Paulo deve ter

trabalhado muito como artesão, e tentado evangelizar algumas comunidades na Síria, na

Arábia e na Cilícia. Foi a experiência de Damasco amadurecida aos poucos que clareou

a vida de Paulo e o ajudou a superar os momentos difíceis.

O Missionário itinerante.

Em At 13,2-4 a comunidade interfere e manda Paulo sair de onde vive e ir pelo

mundo. “Havia três a quatro milhões de Judeus na dispersão e um milhão na Terra de

Israel para cerca de vinte milhões de homens livres em todo o império”. Paulo sentia

que tinha muito que evangelizar. Fez muitas viagens (2 Cor 11). O Evangelho do

mundo rural da Terra de Israel precisava ser encarnado no mundo urbano das grandes

cidades: Antioquia da Síria (500.000.h), Corinto (600.000), Roma ( 800.000), Éfeso,

Atenas, etc. Mesmo sabendo a língua grega (At 21,37) e o hebraico (At 21,40; 26,14),

Paulo deve ter tido dificuldade em comunicar. Entre os judeus não tinha problema, pois

dominava o aramaico. Na Galácia não conhecia o dialéto da região por isso resolveu o

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problema com gestos e desenhos: “Diante de vocês foi desenhada a imagem de Jesus

crucificado” (Gl 3,1). Dificuldades com o sustento. Tinha que parar a viagem e trabalhar

com as próprias mãos para conseguir dinheiro (2Ts 3,10: At 20,30-44). Conflitos

violentos com falsos irmãos. Conflito com Pedro (Gl 2,11-14), conflitos pastorais

gerados com a entrada dos pagãos na comunidade sem passar pelas leis do judaísmo (At

15,6- 21; Gl 2,1-10).

Tudo isso somado aos desafios pastorais: um povo massacrado pelos altos

impostos e a concentração da renda do sistema chamado “Paz Romana”, buscava

resposta no misticismo das religiões e filosofias que iam aparecendo. Enfim em cada

uma das viagens Paulo enfrentou dificuldades e conflitos de todo tipo.

As viagens missionárias de Paulo aconteceram entre os anos 46-58. No início o

imperador de Roma era Cláudio (41-54). No fim em 58 o imperador era Nero (54-67).

As viagens de Paulo segundo os Atos dos Apóstolos, tem o seguinte esquema: primeira

viagem: At 13,3 até At 14,28. Data aproximativa da viagem 46-48; segunda viagem: de

At 15,36 Até At 18-22. Data aproximativa 49-50; terceira viagem: At 18,23 até At

21,17, pelo ano 53-56. A viagem final de At 27,1 até At 28,16, pelo ano 57-64 (Ana

Flora e Gilberto Gorgulho, Paulo e a luta pela liberdade, p.18).

Paulo tinha um método próprio para evangelizar. Paulo chega á um lugar,

anuncia o evangelho, cria comunidade, e segue em frente. Na segunda viagem ele

continua o mesmo processo, mas permanece mais tempo no mesmo lugar. Um ano e

seis meses em Corinto (At 18,11). Na terceira viagem é o contrário da primeira. Ele vai

direto para Éfeso (At 19,1.8-10) e lá se fixa por tres anos (At 20,31); em seguida, mais

três meses em Corinto (At 18,11). No fim o método já é outro: Irradiar o Evangelho a

partir de um lugar central (At 19,10.26), enquanto as viagens servem para visitar e

confirmar as comunidades já existentes (At 18,23; 20,2).

2 VIAGENS DE PAULO.

A Missão O termo grego apóstolo significa enviado, representante. Supõe que o enviado tenha os

mesmos pensamentos e sentimentos daquele que o enviou e comunique fielmente a

mensagem. Isso se aplica bem a Paulo e Barnabé, os primeiros a recebem o envio da

comunidade de Antioquia da Síria e saem para a missão.

Primeira Viagem (Anos 46-48; At 13-14)

Característica: Abertura aos Pagãos

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Paulo e Barnabé partem de Antioquia da Síria

Ilha de Chipre

Salamina – Anuncia Jesus na sinagoga depois atravessa a ilha a pé, evangelizando.

Pafos – Adota o nome romano Paulo. Anuncia o Evangelho ao procônsul romano e

causa cegueira ao mago Barjesus.

Segue por mar para a Ásia menor.

Panfília

Perge – Marcos regressa da missão e Paulo fica irritado.

A Ásia Menor é atravessada pela Via Imperial Augusta ou Sebaste, que vai do porto

marítimo de Éfeso até o porto fluvial de Tarso.

Psídia

Antioquia da Psídia – (Após andar 260 km a pé, pela Via Augusta, atravessando os

montes Taurus repletos de salteadores, chegam à cidade.) Evangeliza na sinagoga, é perseguido pelos Judeus e se volta para os gentios.

Licaônia

Icônio – (Continuam a viagem pela Via Augusta, mais 140km) Evangeliza na sinagoga

e é perseguido pelos judeus.

A população tenta linchá-lo e foge para Listra.

Listra – (outros 40 km da Via Augusta) Cura um paralítico e não entende o dialeto local.

O povo também não entende o grego. É venerado como o deus Mercúrio. Chegam os de

Icônio e convencem a população a apedrejá-lo. É arrastado para fora da cidade como

morto. Volta a entrar na cidade e parte no dia seguinte.

Derbe – Evangeliza sem perseguição.

Regresso da primeira viagem

Paulo e Barnabé voltam por todas as cidades evangelizadas, “ordenando seniores” nas

comunidades.

Tomam um navio no porto de Atália e regressam a Antioquia da Síria, onde relatam a

missão para a comunidade.

Concílio de Jerusalém (cap 15)

Os Judaizantes de Jerusalém vão a Antioquia da Síria e defendem a circuncisão dos

gentios.

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A comunidade envia Paulo e Barnabé a resolverem a questão com os apóstolos.

Em Jerusalém, narram tudo o que fizeram entre os pagãos.

Os apóstolos concordam que os pagãos não precisam converter-se ao judaísmo antes de

serem cristãos.

Reenviam os dois a Antioquia da Síria, acompanhados por Silas, trazendo uma carta

para a comunidade.

Segunda Viagem (Anos 49-52; At 15,36-18,23)

Característica: Entrada do Evangelho na Europa

Paulo decide visitar as comunidades fundadas na primeira viagem, mas desentende-se

com Barnabé e convida Silas (Silvano) a acompanha-lo.

Visitam as regiões da Síria e da Silícia e voltam às comunidades de Derbe e Listra.

Em Icônio, encontram Timóteo,

Passam por Antioquia da Psídia e por Trôade.

Atravessam o mar Egeu e entram na Europa.

O norte da Macedônia é cortado pela Via Ignátia, que vem de Roma e acaba no mar

Negro, após a cidade de Filipos.

Macedônia (Europa)

Filipos - Fundam a comunidade em casa de Lídia. Paulo exorciza uma escrava e é

açoitado e preso.

Durante a noite a prisão se abre e Paulo e Silas são libertados.

Ao saber que são cidadãos romanos, as autoridades se apavoram e pedem que deixem a

cidade.

Seguem viagem e passam por Anfípoles e Apolônia.

Tessalônica - Paulo evangeliza na sinagoga e muitos crêem. É perseguido e sai da

cidade.

Beréia - Prega e é bem recebido pelos gregos, mas logo chegam os judeus de

Tessalônica e ele parte para Atenas.

Acaia

Atenas - É convidado a falar no Areópago prega o kerigma cristão para os filósofos e é

Page 11: Apostila 2015 - Cartas Paulinas - S. Pedro Apóstolo

11

mal recebido.

Corinto – Chega na cidade, vindo de Atenas. Conhece Priscila e Áquila, judeus

tendeiros. Habita com eles durante um ano. Os judeus o acusam ao procônsul galeão,

mas não são atendidos.

Regresso da segunda viagem

Sai de Corinto e segue pelo mar Egeu até Éfeso.

Prossegue pelo Mediterrâneo para Cesaréia e de lá, para Antioquia da Síria.

Terceira Viagem(Anos 49-52; At 15,36-18,23)

Característica: “Os habitantes da Ásia, judeus e gregos puderam ouvir a Palavra do

Senhor.” (At 19,10b)

Paulo parte mais uma vez de Antioquia da Síria e o retorno é pela Cesáreia e Jerusalém. Acompanhado de Silas, começa a viagem por terra, visitando as comunidades da

Galácia e da Frígia.

Jônia

Éfeso - Na comunidade já existente, Paulo encontra Apolo, Judeu convertido.

Impõe as mãos e invoca o Espírito Santo sobre os irmãos. Permanece por dois anos

evangelizando na escola de Tirano. Manda queimar livros de magia e é acusado pelos

ourives da deusa Artêmis.

Macedônia

Volta a visitar Filipos, Tessalônica e Beréia.

Acaia

Passa três meses, certamente em Corinto.

Macedônia volta e fica um tempo em Filipos, de onde começa o regresso da terceira

Page 12: Apostila 2015 - Cartas Paulinas - S. Pedro Apóstolo

12

viagem.

Regresso da terceira viagem

Parte de Filipos pelo mar Egeu, para a Frígia.

Frígia

Trôade - Preside a fração do pão com a comunidade e faz uma longa homilia noite a

dentro. Reanima o jovem que havia caído da janela.

Panfília

Mileto - Reúne os líderes das comunidades e se despede. Segue pelo Mediterrâneo para

o porto de Tiro.

Síria

Tiro – Permanece por sete dias com a comunidade depois continua viagem por terra

rumo a Jerusalém.

Tolemaida – Passa e descansa por um dia na comunidade.

Palestina

Cesaréia – Visita os irmãos. Todos recomendam que não vá a Jerusalém. Decide ir

porque está pronto a morrer por Jesus Cristo.

Fim da terceira viagem – chegada a Jerusalém

Permanência em Jerusalém e na prisão de Cesaréia (cap.21-26)

Jerusalém – Ao chegar, procura os apóstolos. Entra no templo, é perseguido e preso.

Fala ao povo e conta sua conversão. Os judeus começam a linchá-lo. É recolhido pelos

soldados e levado para a fortaleza.

Os romanos o apresentam ao Sinédrio para ser julgado. Mas nada se conclui.

É enviado a Cesaréia, com escolta, por ser cidadão romano.

É julgado pelo procurador Félix.

Permanece na fortaleza com permissão para receber os amigos.

É novamente julgado pelo procurador Festo, diante do rei Agripa.

Para livrar-se das acusações dos judeus, apela a César.

Quarta Viagem (Anos 52-62; At 15-28,23)

Característica: o testemunho de Paulo chega até os confins do mundo.

Page 13: Apostila 2015 - Cartas Paulinas - S. Pedro Apóstolo

13

É preso sob a guarda do centurião Júlio.

Embarca por mar e o navio costeia a Palestina.

Ao aportar no porto de Sidom, tem permissão de visitar a comunidade.

Volta ao navio e a viagem segue rumo a Chipre.

Lá, embarca no navio alexandrino que vai para a Itália.

Passa pela ilha de Creta.

Segue para a Itália e o navio naufraga na tempestade, perto da ilha de Malta.

Passa o inverno em Malta.

Na primavera, embarca no navio Dióscoro.

Chega ao porto de Pusuoli, na cidade de Óstia, na Itália.

Vai a pé para Roma.

Aluga uma casa, onde habita e recebe judeus e gentios

até ser julgado e condenado e receber o martírio entre os anos de 64 e 68.

3. A ORIGEM DAS CARTAS DE PAULO.

Carta agradável de se ler e mais fácil de se entender é carta de gente amiga. Carta de

um desconhecido não agrada muito. Outra coisa que ajuda a compreender uma carta é

conhecer a pessoa para a qual foi escrita. Assim é importante: conhecer Paulo, sua

vida, ouvir dele como vivia o Evangelho, ver seu jeito de trabalhar nas comunidades; e

conhecer as comunidades, qual era a situação do povo e os problemas que levaram

Paulo a escrever as cartas. (MESTERS).

Tradicionalmente são atribuídas a Paulo treze cartas, divididas em dois grupos: de

sete e de seis.

a) Cartas escritas diretamente por Paulo: quase todos os críticos admitem como

incontestável que sete dessas cartas foram escritas por diretamente por Paulo:

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1Tessalonicenses (50/5), Coríntios (55/56), 2Coríntios 1-9; 10-13 (55/56),

Filipenses (55/56 ou mais tarde), Gálatas, Filêmon e Romanos (57/58).

A história de sua redação mostra que Paulo aproveitou e integrou diferentes

elementos oriundos da tradição judeu-cristã das primeiras comunidades: fórmulas

kerigmáticas para as grandes afirmações da fé; estrofes de hinos, fórmulas litúrgicas de ação

de graças até à doxologia; exortações, homilias etc.

Desse grupo de cartas, percebe-se que ora escrevia tudo pessoalmente (como o

escrito a Fm), ora ditava (por exemplo, cf. Rm 16,22), sem que saibamos, contudo, se o

fazia palavra por palavra ou se de modo mais ou menos livre.

b) Cartas escritas por discípulos: seis epístolas tiveram sua autenticidade literária

discutida ou contestada: 2Ts, Cl, Ef e as Pastorais (1-2Tm e Tt). Os motivos seriam

os seguintes1:

a) Um secretário não só redigiu o texto ditado, mas também interferiu na redação final, a

partir de algumas indicações que se podem perceber no texto;

b) Na falta do Apóstolo, o secretário redigiu, usando alguns textos autênticos que tinha à

sua disposição (como se pode perceber em Ef, às vezes 1Tm, 2Tm e Tt), ficando assim, um

texto muito próximo das idéias e princípios paulinos;

c) Depois da morte de Paulo, fiel à sua mensagem e valendo-se de sua apostolicidade,

um secretário-discípulo redigiu cartas, colocando-as sob o nome de Paulo. Fenômeno este

muito comum no AT e NT..

Dessas cartas tidas como não autênticas, a 2Ts merece uma observação à parte por

causa da sua indefinição; para alguns seria uma carta autêntica de Paulo, para outros, de um

discípulo.

No estudo mais detalhado das cartas paulinas, serão apresentados outros detalhes

sobre a autenticidade e características de cada escrito. Mas, estes escritos paulinos

podem ser agrupados da seguinte forma dentro do NT:

1.

2.

3.

4.

5.

4 CRONOLOGIA DOS ESCRITOS PAULINOS2

1 Texto extraído do site: http://textosespirituais.wordpress.com/arquivos/as-cartas-de-paulo, acesso

em: 22/03/2012.

2 Ildo B. GASS, Uma introdução à Bíblia, p. 151.

Autênticas de

Paulo

Duvidosa

De discípulos

próximos

De um

discípulo

Tg, 1-2Pd,

Jd

Jo, Ap

Rm, 1-2Cor, Gal,

Fil, 1Ts, Fm

2 Ts

1-2 Tm, Tt, Ef,

Cl

Hb

1,2,3 Jo

P/ Estudo

TRADIÇÃO PAULINA

CARTAS

CATÓLICAS

TRADIÇÃO

JOANINA

Page 15: Apostila 2015 - Cartas Paulinas - S. Pedro Apóstolo

15

A tentativa de datar as cartas de Paulo é cheia de riscos. A melhor forma de

perceber a evolução do pensamento de Paulo é partir não da ordem proposta no NT. (da

maior para a menor), mas dos escritos que são tidos como genuínos de Paulo e conforme a

época em que foram escritos. Recordando, sete cartas são consideradas originais de Paulo:

1Ts, 1Cor, Gl, Fl, Fm, 2Cor e Rm. Cinco cartas são tidas como posteriores a Paulo: 1Tm,

2Tm, Ef, Cl e Tt. A epístola 2Ts é considerada por alguns como de Paulo e por outros, de

um discípulo; será estudada junto com 1Ts.

DESTINATÁRIOS DATA LOCAL AUTORES

Tessalonicenses (1 Ts)

(2 Ts)

51 Corinto Paulo,Timóteo e Silvano

(1Ts 1,1)

Coríntios (1 Cor) Entre 54-56 Éfeso (1 Cor 16,8) Paulo e Sóstenes (1Cor 1,1)

Áquila e Priscila (1Cor 16,19

Gálatas Entre 54-56 Éfeso Paulo e os irmãos (Gl 1,2)

Filipenses (a) Entre 54-56 Éfeso Paulo e Timóteo (Fl 1,1)

Filêmon (b) e

comunidade

Entre 54-56 Éfeso Paulo e Timóteo (Fm 1)

Coríntios (c) (2 Cor) Entre 54-56 Éfeso e Macedônia Paulo e Timóteo (2Cor 1,1)

Romanos 56 Corinto Paulo e equipe (Rm 16,21-23)

(a) (b) Sobre as cartas da prisão (Filipenses e Filêmon) são três as possibilidades de local e

datas:

Éfeso (54 - 54); Cesaréia (59 - 60) ou Roma (63 - 64).

(b) Por causa das pessoas citadas no final de Filêmon, Efésios e Colossenses podem ser da

mesma dada de Fl, para aqueles que defendem Paulo como seu autor. Também poderiam

ter sido escritas (Ef e Cl) em Cesaréia (59 - 60) ou Roma (63 - 64). Hoje estas cartas são

situadas por alguns depois do ano 90.

(c) A 2Cor, possivelmente foi escrita em momentos, lugares e datas diferentes.

Como foi mencionado, os escritos (chamados autênticos) de São Paulo, foram

escritos e acabados antes dos Evangelhos e demais livros do NT. A 2Pd 3,15s assim diz

sobre Paulo e seus escritos: "e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como

igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi

dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas

epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis

deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles".

Afirma 2Pd que a incompreensão não é culpa do apóstolo Paulo, mas de incultos e mal

intencionados que pervertem o sentido dos escritos.

6. BREVE COMENTÁRIO DAS CARTAS PAULINAS

Romanos Quando Paulo esteve em Roma?

Provavelmente entre 61 e 62, prisioneiro e deportado para o tribunal do imperador, onde

foi martirizado por volta do ano 67.

Onde foi escrita?

Em Corinto (inverno de 55\56).

Como era a comunidade?

Formada de cristãos vindos da Palestina e da Síria, provavelmente expulsos pelo

imperador Cláudio, no ano 49.

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Qual a finalidade da carta?

Corrigir certas interpretações a respeito da pregação de Paulo entre os pagãos,

provavelmente levadas a Roma por judeus e por cristãos judaizantes. O apóstolo expõe

de maneira serena e organizada o que já havia exposto em Gl – A gratuidade da

salvação vem pela fé – ele opõe o Cristo Justiça de Deus ao Cristo da justiça que os

homens pretendiam merecer por seus próprios esforços. Paulo diz que a morte e

ressurreição de Jesus operaram a destruição da humanidade antiga, viciada pelo pecado

de Adão e a recriação de uma humanidade nova, da qual Jesus Cristo é o protótipo.

1 Coríntios Quando Paulo esteve em Corinto?

Paulo chega à Corinto em abril de 50, após ter passado por Atenas e lá volta outras

vezes.

Onde foi a carta foi escrita?

Provavelmente na Páscoa de 54

Como era a comunidade?

A comunidade situava-se em Corinto, que era uma cidade portuária e grande centro

comercial, com população pluralista e composta de cidadãos romanos e escravos. Tinha

tendências e religiões romanas, egípcias e gregas. A comunidade foi fundada na casa de

Priscila e Áquila, artesãos de couro, com os quais Paulo deve ter trabalhado. Na

comunidade havia várias classes sociais, a maioria era gente pobre, sobretudo escravos.

Por isso, a comunidade era predisposta para a divisão, sobretudo pela diversidade

cultural e econômica, o que causava muita competição.

Qual a finalidade da carta?

Trata de problemas vividos pela comunidade, informações e decisões cruciais para o

cristianismo primitivo, tanto em sua vida interior – pureza dos costumes, matrimônio e

virgindade, ordem das assembléias e celebração eucarística, uso dos carismas – como

também o relacionamento como o mundo pagão – apelo aos tribunais, carnes oferecidas

aos ídolos etc. Lembra em que consiste a verdadeira liberdade da vida cristã, a

santificação do corpo, a diversidade dos carismas, o primado da caridade, que é o

sustentáculo da comunidade, a união a Cristo.

2 Coríntios Onde a carta foi escrita?

Em Éfeso, por volta de 55.

Qual a finalidade da carta?

Paulo defende o seu apostolado, diante daqueles que queriam afastar a comunidade de

Paulo, alegando que ele não era apóstolo e portanto, que sua mensagem não merecia a

consideração dos coríntios. Por essa razão, Paulo descreve a grandeza do ministério

apostólico e também discorre sobre o tema concreto da coleta para a Igreja de

Jerusalém, inspirado pelo ideal de união entre as igrejas.

Gálatas Quando Paulo esteve na Galácia?

Paulo esteve na Galácia em sua primeira viagem missionária (por volta dos anos 46 a

48), na segunda viagem, na primavera de 52 e talvez outras duas vezes.

Onde a carta foi escrita?

Em Éfeso ou na Macedônia entre 54 e 55.

Como era a comunidade?

Page 17: Apostila 2015 - Cartas Paulinas - S. Pedro Apóstolo

17

A Galácia é uma região da Ásia Menor, e a comunidade lá auxiliou Paulo quando estava

enfermo. Por isso, Paulo tinha pelos Gálatas um grande afeto, se sentido pai e mãe

daquela comunidade. Mas, correntes judaizantes quiseram ridicularizar e se posicionar

contra a pregação de Paulo também na comunidade da Galácia.

Qual a finalidade da carta?

Gálatas representa um grito que parte do coração de Paulo, no qual a apologia pessoal se

justapõe à argumentação doutrinal e às advertências que ela faz à comunidade. Paulo

demonstra indignação e defende seu apostolado. É uma argumentação vibrante em prol

da liberdade cristã e universalidade da Igreja. A carta aos Gálatas é muitas vezes citada

na carta aos Romanos.

Filipenses Quando Paulo esteve em Filipos?

Paulo chega a Filipos durante sua segunda viagem, entre 48 e 49 e lá retorna duas vezes

na terceira viagem. Ao chegar à cidade, ele não vai à sinagoga, como era o seu costume,

mas fala às mulheres que estavam nas margens do Rio rezando.

Onde a carta foi escrita?

Quando Paulo estava preso em Éfeso (anos 55\57) ou em Roma (anos 61\62).

Como era a comunidade?

Filipos era um importante centro comercial entre o Oriente e o Ocidente, até ser

conquistada por Roma em 42 a.C. Uma cidade onde viviam muitos oficiais romanos, de

religiões derivadas dos cultos gregos (como a deusa Ísis) e dos cultos romanos (deuses

Júpiter, Mercúrio, Minerva e Diana). A comunidade é fundada na casa de Lídia, que ao

escutar a pregação de Paulo convida-o e a seus companheiros a se hospedarem na casa

dela, se eles a considerassem digna da mensagem que acabaram de anunciar.

Qual a finalidade da carta?

A comunidade de Filipos é considerada a comunidade amada por Paulo, é a única

comunidade da qual Paulo aceita receber algum auxílio também material. Por isso, ele

escreve para agradecer a ajuda enviada pela comunidade enquanto ele estava preso.

Aproveita para advertir contra algumas situações de competição existentes na

comunidade e previne contra os pregadores judaizantes ao relembrar que a autenticidade

do Evangelho vivido e anunciado pelos cristãos está na cruz de Cristo.

1 Tessalonissenses Quando Paulo esteve em Tessalônica?

A Tessalônica foi evangelizada na segunda viagem de Paulo, do outono de 49 à

primavera de 50. De lá, Paulo saiu fugido para Atenas e Corinto. O apóstolo deve

também ter retornado a essa comunidade no verão de 54 e na primavera de 55, após os

dissabores de Corinto e Éfeso.

Onde a carta foi escrita?

Em Corinto, durante o verão de 51.

Como era a comunidade?

Tessalônica era um importantíssimo ponto comercial, pois além de estar na rota da via

Inácia (Ignatia), tinha um ótimo porto aberto para o mar Egeu. Supõe-se que os

membros da comunidade fossem todos provenientes de escravos e da classe de

pequenos comerciantes, que mal tinham com o que viver. O próprio ambiente de

trabalho freqüentado por Paulo pode ter sido tão pobre quanto o do trabalho escravo. Do

ponto de vista da religião havia as divindades romanas e locais.

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Qual a finalidade da carta?

Dar instruções sobre a Parusia (acreditavam que haveria uma segunda vinda de Cristo) e

enviar boas notícias aos tessalonicenses. É considerada uma carta escatológica, onde

Paulo adverte à comunidade a ter calma em ralação à Parusia e ao mesmo tempo ser

vigilante. Nesta etapa primitiva do seu apostolado, Paulo encontra-se todo concentrado

na Ressurreição de Cristo e na sua vinda na glória, que trará a Salvação aos que tiverem

acreditado nele.

A primeira carta deixa entrever que era uma igreja jovem e fervorosa, firme no meio dos

sofrimentos. Ela nos diz algo sobre as crenças dos cristãos uns vinte anos depois da

ascensão: a Trindade, Deus como Pai, a missão de Jesus Messias, sua morte,

ressurreição e futuro retorno, as três virtudes, fé, esperança e caridade.

Filemon É uma carta à um Cristão de Colossas (Filemon) que era um cristão de boa posição e

que tinha um escravo fugido: Onésimo.

Onde a carta foi escrita?

Na prisão de Roma entre 61 e 63

Qual a finalidade da carta?

Expressa o dilema entre o Evangelho levado às últimas consequências, de não se tornar

somente uma lei, nem insensível aos dilemas humanos. Paulo acredita que o Evangelho

pode mudar as relações entre as pessoas, por isso, escreve à Filemon (provavelmente

convertido pelo apóstolo) para aceitar novamente Onésimo, que ele havia encontrado na

prisão e que, provavelmente havia pedido a intervenção de Paulo e fosse perdoado pelo

patrão. Paulo então, pede a Filêmon que aceite Onésimo não mais como escravo, mas

como irmão.

Deutero paulinas – Os erros combatidos são posteriores a Paulo e pertencem mais à

ideias gnósticas do século II.

Colossenses Quando Paulo esteve em Colossas?

Fundada por volta do ano 53, por um nativo que Paulo havia batizado e evangelizado

em Éfeso.

Onde foi escrita?

Na prisão de Roma (61 a 63)

Como era a comunidade?

Composta da miscigenação de cultos mistérios com ritos e veneração a divindades

gregas. A comunidade durou apenas 7 anos, pois no ano 60, antes da morte de Paulo, foi

atingida por um terremoto e desapareceu.

Qual a finalidade da carta?

Carta cristológica. O principal problema da comunidade foi um erro de interpretação

causado pelo sincretismo religioso. Procuravam experiências exóticas e fortes e a

presença de vários mestres. O autor desenvolve a centralidade de Jesus Cristo, cabeça

da Igreja. Ele incorpora pessoas à sua morte e ressurreição.

Efésios

Quando Paulo esteve em Éfeso?

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Depois de passar pelas comunidades da Galácia, chegou a Éfeso em 52. Foi preso no

verão de 54 e retornou em 55.

Onde a carta foi escrita?

Na prisão de Roma (61 a 63)

Como era a comunidade?

A comunidade situava-se numa cidade portuária, com muitos edifícios, entre os quais se

destacava o templo dedicado à deusa Artemis. A comunidade de Éfeso já existia antes

da chegada de Paulo. Uma florescente comunidade cristã, de pagãos convertidos.

Qual a finalidade da carta?

Carta eclesiólógica. Deus revela seu plano por Jesus Cristo, desenvolvido na Igreja, que

é povo de Deus e esposa do Messias e já não espera a Parusia, mas se empenha no

constante crescimento.

Tardias

2 Tessalonissenses

1 Timóteo e 2 Timóteo

Tito