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PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA IGUAÇU UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Curso Pré-Vestibular de Nova Iguaçu 2008 RAZÃO E LIBERDADE Apostila do Segundo Bimestre HISTÓRIA ORGANIZADORES Juliana Sicuro ([email protected]) Mariana Renou ([email protected]) Rejane Meirelles ([email protected]) Renata Rufino ([email protected]) Rodrigo Perez ([email protected]) Talita Rodrigues ([email protected]) Tiago Monteiro ([email protected]) Cecília Matos- CPV – Caju ([email protected]) Roberto Vieira– CPV - Caju ([email protected]) ORIENTADORA Norma Côrtes Professora Adjunta de Teoria e Metodologia da História -IFCS / UFRJ ([email protected])

Apostila 2o Bimestre 2008

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ILUMINISMO

PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA IGUAU

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Curso Pr-Vestibular de Nova Iguau

2008

RAZO E LIBERDADE

Apostila do Segundo Bimestre

HISTRIA

ORGANIZADORES

Juliana Sicuro ([email protected])

Mariana Renou ([email protected])

Rejane Meirelles ([email protected])

Renata Rufino ([email protected])

Rodrigo Perez ([email protected])

Talita Rodrigues ([email protected])

Tiago Monteiro ([email protected])

Ceclia Matos- CPV Caju ([email protected])

Roberto Vieira CPV - Caju ([email protected])

ORIENTADORA

Norma Crtes

Professora Adjunta de Teoria e Metodologia da Histria -IFCS / UFRJ

([email protected])

LIBERALISMO POLTICO

As lutas sociais ocorridas na Inglaterra do Sc. XVII contriburam para a formao de uma nova viso de mundo poltico, na Inglaterra. Esta viso privilegiava a perspectiva de mudana poltica que no transformasse as relaes de propriedade e ao mesmo tempo estabelecessem novas relaes entre o Estado e a Sociedade. A sntese desta tendncia poltico-ideolgica foi denominada Liberalismo.

Razes Intelectuais

Algumas razes desse pensamento so: O ideal renascentista que o homem vale mais por suas aes que pelo seu nascimento; a concepo puritana de que o indivduo deve se destacar por suas qualidades individuais (sobretudo as qualidades de acumular riquezas); as perspectivas defendidas por pensadores como Francis Bacon, Walter Relegh e Edward Coke que afirmava a necessidade da liberdade de expresso, do desenvolvimento das cincias e s carreiras abertas ao talento como pr-requisitos para o dinamismo nacional; e a inspirao da sociedade holandesa que admitia a liberdade religiosa.

Os pensadores do Contrato Social

Os principais tericos do Liberalismo Poltico foram Thomas Hobbes (1578-1679) e John Locke (1632-1704). Tinham em comum a idia que antes da formao do Estado os homens viviam em um estado natural, onde todos eram independentes entre si e lutavam uns contra os outros. Esta situao de extrema insegurana levou os homens deste tempo busca de conforto e estabilidade. Os homens estabeleceram um Contrato. neste momento que os autores divergem.

Hobbes em seu livro Leviat, afirmou que deste Contrato os homens entregaram parte de sua soberania para um Estado Forte, mas resultado de um acordo comum entre os cidados, que protegeria a integridade fsica destes e por eles poderia ser modificado.

Locke em seu livro Segundo Tratado Sobre o Governo Civil, defendeu que a origem do Contrato estava na necessidade de proteger a propriedade privada, originada do trabalho. A idia que no estado natural, houve aqueles que tiveram um maior apresso ao trabalho e adquiriram a propriedade privada, e os outros, que no agiram da mesma maneira. Deste contrato social surgiu o Estado que tinha como tarefa primordial a defesa da propriedade privada como princpio da paz social. Caso no cumpra esta tarefa, os cidados tm o direito de destituir o governo (ou seja, os homens que esto exercendo o poder em determinado momento), e guiar ao poder um novo, que respeite a funo do Estado: a defesa da propriedade privada.

Como podemos notar, a maioria da populao no era proprietria das terras, bancos e indstrias, ento no se beneficiava diretamente com estas idias ( claro que poderiam sonhar em obter riquezas um dia). A nobreza, nestes termos, no legitimava sua riqueza (hereditria e por posio), assim como, o Estado para os nobres, no era fruto do trabalho e do contrato entre os homens, mas do Direito Divino. Ento conclumos que estes valores estavam associados a burguesia revolucionria que ascendia ao poder na Inglaterra do sculo XVII. Seus princpios fundamentais eram:

Os governos devem proteger a propriedade privada, atender os cidados (caso no cumpram as leis devem ser mudados); devem estar submetidos s leis; deve ser representativo (escolhidos pelo voto dos cidados); seu poder emana do povo e para ele deve governar e no pode intervir na vida privada dos cidados que cumpre as leis.

Se Liga!

Estas idias influenciaram os pensadores das Treze Colnias e os Iluministas.

Vamos Praticar

01. (UFRJ) Quem quiser falar com certa clareza da dissoluo do governo deve, em primeiro lugar, distinguir entre dissoluo da sociedade e dissoluo do governo. O que constitui a comunidade, e leva os homens do livre estado de natureza para uma s sociedade poltica, o acordo que cada um faz com os outros para se incorporar com eles e deliberar como um s corpo e, desse modo, formar uma nica sociedade poltica distinta. O modo habitual, e quase nico, pelo qual essa unio se dissolve a invaso de uma fora estrangeira (...). (John Locke)

As idias liberais consagraram um conjunto de atitudes prprias da burguesia. John Locke foi um dos filsofos a expressar essa viso de mundo que se fez presente nas revolues do sculo XVII.

a) Explique uma transformao poltica ocorrida na Inglaterra a partir das revolues do sculo XVII.

b) Cite dois princpios do liberalismo.

c) Justifique o interesse da burguesia inglesa nos aspectos econmicos do liberalismo.

02. (UFRJ) "A sociedade produzida por nossas carncias e o governo por nossa perversidade; a primeira promove a nossa felicidade positivamente mantendo juntos os nossos afetos, o segundo negativamente mantendo sob freio os nossos vcios. (...) A primeira protege, o segundo pune." (THOMAS PAINE, Senso Comum, 1776)

Os princpios do pensamento liberal desenvolveram-se durante o processo poltico que, na Europa, resultou no fim dos regimes absolutistas; nesse processo nota-se a ascenso de valores consagrados pelas revolues burguesas, tanto na Amrica como na Europa.

a) Cite um princpio comum ao neoliberalismo atual e ao liberalismo clssico.b) Explique o tipo de governo contra o qual se dirigiam as crticas do autor do texto.

ILUMINISMO

A revoluo intelectual que se efetivou na Europa, especialmente na Frana, no sculo XVIII, ficou conhecida como Iluminismo. Esse movimento representou o auge das transformaes culturais iniciadas no sculo XIV pelo movimento renascentista.

Mais do que um conjunto de idias foi uma nova mentalidade que influenciou grande parte da sociedade da poca, de modo particular os intelectuais, a burguesia e mesmo alguns nobres e reis. Os iluministas eram aqueles que em tudo se deixavam guiar pelas luzes da razo e que escreviam e agiam para dar sua contribuio ao progresso intelectual, social e moral e para criticar toda forma de autoritarismo, fosse ela de ordem poltica, religiosa ou moral.

Para os iluministas, s atravs da razo e da cincia o homem poderia alcanar o conhecimento, a convivncia harmoniosa em sociedade, a liberdade individual e a felicidade. A razo e a cincia eram, portanto, os nicos guias da sabedoria capazes de esclarecer qualquer problema, possibilitando ao homem a compreenso e o domnio da natureza.

Alm desses aspectos podemos afirmar que o Iluminismo marcado por uma crtica severa ao Antigo Regime, ou seja, maneira como se fundamentavam as relaes polticas, sociais e culturais nas sociedades modernas europias marcadas pela intolerncia (religiosa, filosfica e poltica), pelo absolutismo monrquico e pelos privilgios de classe (nobreza).

importante lembrarmos que o Iluminismo tambm denominado como Ilustrao ou Filosofia das Luzes.

A ideologia burguesa

O Iluminismo expressou o pensamento ideolgico da burguesia. Foi o auge de um processo que comeou no Renascimento, quando se usou a razo para se descobrir o mundo, ganhando um aspecto essencialmente crtico no sculo XVIII, quando os homens passaram a usar a cincia para entenderem a si mesmos no contexto da sociedade. A filosofia considerava a razo indispensvel ao estudo de fenmenos naturais e sociais. At a crena devia ser racionalizada. Os iluministas eram destas, isto , acreditavam que Deus est presente na natureza, portanto no prprio homem, que pode descobri-lo atravs da razo. Para encontrar Deus, bastaria levar vida uma piedosa e virtuosa; a Igreja tornava-se dispensvel. Os iluministas criticavam-na por sua intolerncia, ambio poltica e inutilidade das ordens monsticas.

As descobertas cientificas do sculo XVIII apresentavam explicaes naturais para fenmenos antes atribudos a Deus. Os iluministas que mais se destacaram foram:

Montesquieu (1689-1755) - Em 1748 publicou o Esprito das leis, onde estudou as diversas formas de governo Despotismo, Monarquia e Repblica - destacava a monarquia inglesa e recomendava, como nica maneira de garantir a liberdade, a independncia dos trs poderes: Executivo, Legislativo, Judicirio. Defendia o princpio de que as diferentes formas de governo seriam o resultado da situao socioeconmica de cada pas, na seguinte ordem: pases de grande extenso territorial adotariam o Despotismo; pases de tamanho mdio, a Monarquia Limitada; pases de dimenses pequenas adotariam a Repblica.

Voltaire (1694-1778) - Foi o mais importante dos iluministas franceses. Por fazer duras crticas aos privilgios da nobreza e da igreja e defender as liberdades individuais, foi obrigado a se exilar da Inglaterra. Defensor da tolerncia e do respeito s opinies contrrias, Voltaire detestava a arrogncia do estado e da igreja. Suas ironias lhe proporcionaram inmeros inimigos poderosos, ao que ele respondia. que Deus me livre dos meus amigos, que dos meus inimigos me livro eu. Sua obra mais famosa Cndido, uma fbula filosfica que satiriza a viso otimista de uma sociedade absolutista. Voltaire tambm colaborou na elaborao da Enciclopdia. Criticava o absolutismo garantido pela teoria do Direito Divino, propondo a participao da burguesia esclarecida no governo, como forma de garantir a paz e a liberdade, tanto poltica quanto religiosa. A expresso da defesa da liberdade por Voltaire marcante na seguinte frase: Posso no concordar com nenhuma das palavras que voc diz, mas defenderei at a morte o direito de voc diz-las.

Rousseau (1712-1778) - Suas principais idias esto nas obras: Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens, que acusava a propriedade privada de destruir a liberdade social promovendo o despotismo e Contrato Social, onde afirmava que, para combater a desigualdade introduzida com o aparecimento da propriedade privada, os homens deveriam consentir em fazer um contrato social, pelo qual cada indivduo estaria de acordo em se submeter inteiramente vontade da maioria. Portanto, o que prevalecia era a vontade da comunidade e no a vontade individual de cada membro dessa comunidade. Como cada indivduo se unia a todos e ningum se unia em particular, o homem continuaria livre, uma vez que todos teriam direitos iguais. Rousseau destacou-se dos demais filsofos iluministas por valorizar no somente a razo, mas tambm os sentimentos e as emoes, pregando a volta natureza e simplicidade da vida. Sua teoria da vontade geral inspirou os lderes da Revoluo Francesa e do movimento socialista do sculo XIX.

Diderot (1713-1784) e DAlembert (1717-1783) Organizaram uma enciclopdia de 33 volumes, onde reuniam grande parte do conhecimento da poca (cientfico, artstico e filosfico). Para elaborarem A Enciclopdia esses autores contaram com a colaborao de diversos pensadores daquele perodo. Esta obra exerceu grande influncia sobre o pensamento poltico burgus expressando uma srie de idias como, por exemplo: O racionalismo, a laicizao do Estado e o progresso humano pela cincia e tecnologia. Proibida pelo governo por divulgar as novas idias, a obra passou a circular clandestinamente.

IMAGEM ILUMINISMO

Legenda:Frontispcio da Encyclopdie. (1772) Foi desenhado por Charles-Nicolas Cochin e ornamentado (engraved) por Bonaventure-Louis Prvost. Esta obra est carregada de simbolismo: A figura do centro representa a verdade rodeada por luz intensa (o smbolo central do iluminismo). Duas outras figuras direita, a razo e a filosofia, esto a retirar o manto sobre a verdade.

O Iluminismo reformista: a Fisiocracia.

Os entraves colocados pela presena do Estado na economia impediam a expanso dos negcios da burguesia.

A primeira corrente de economistas a criticar a poltica mercantilista ficou conhecida como Escola Fisiocrata. O principal representante da fisiocracia foi Franois Quesnay (1694-1774) que escreveu a obra Fisiocracia, o governo da natureza.Os fisiocratas acreditavam que as atividades econmicas naturais como agricultura, minerao e o extrativismo eram mais importantes para a prosperidade nacional do que o comrcio. Para eles, o comrcio era essencialmente estril, pois se limitava a transferir de uma pessoa para outras, mercadorias j existentes.

Com o crescimento econmico da Inglaterra aps a Revoluo Gloriosa, decorrente da expanso das relaes capitalistas nas cidades e no campo, o triunfo burgus na nascente indstria, as idias Fisiocratas perderam a j escassa influncia que possuam na intelectualidade europia. Os Dspotas esclarecidos (ver abaixo) passaram a orientar suas medidas em busca de equiparar as instituies e relaes econmicas s inglesas com o objetivo de obter xitos econmicos semelhantes ltima. Hoje sabemos que essas medidas eram tmidas e incapazes de superar os limites que as relaes feudais, ento dominantes na Europa continental, impunham, e por isso, no surtiram o efeito desejado.

O Despotismo Esclarecido

Vrios monarcas adotaram a educao e o conhecimento formulados pelo iluminismo. Essa unio entre um poder excessivamente centralizado e as teses iluministas foi denominada de Absolutismo Ilustrado ou Despotismo Esclarecido.

Os absolutistas ilustrados no pretendiam modificar o Estado, ou seja, o absolutismo, mercantilismo e as bases feudais e do Antigo Regime, permaneceriam. O que pretendiam eram governar de acordo com as novas idias em vigor, justificar suas aes pela razo e no mais pelos pressupostos religiosos, acreditando que esse procedimento fortaleceria seu poder, e manteria o regime. Podemos citar como principais dspotas esclarecidos:

a) Frederico II (1712-1786) - Prssia;

b) Catarina II (1762-1796) - Rssia;

c) Jos I (rei) Marqus de Pombal (1 ministro) (1750-1777) Portugal;

d) Jos II (1780-1790) ustria;

e) Carlos III (1759-1788) Espanha.

Se liga!

As principais formulaes do pensamento iluminista foram:

Crtica aos abusos cometidos pelos reis Absolutistas;

Crtica tese do Direito Divino dos Reis;

Crtica participao da Igreja na vida pblica;

Racionalismo

Sesso pipoca

A Liberdade Azul, A Igualdade Branca e A Fraternidade Vermelha

Diretor: Krzystof Kieslowski. Frana, 1993.

Trilogia baseada nas cores da bandeira francesa. O objetivo do enfoque atualizar a discusso dos ideais iluministas. Ponto muito importante, discutido nos fi lmes, a questo dos direitos do homem moderno, que na verdade nunca se efetivaram na sua plenitude.

Vamos Praticar

01. (Unicamp) Em 1770, um advogado chamado Sguier comentava, a propsito de um movimento do sculo XVIII: Os filsofos se erigiram como preceptores do gnero humano. Liberdade de pensar, eis seu brado, e esse brado se propagou de uma extremidade outra do mundo. Com uma das mos tentaram abalar o trono; Com a outra, quiseram derrubar os altares.

Do texto acima:

A) Identifique o movimento ao qual Sguier se refere.

B) Que caractersticas desse movimento podem ser retiradas?

02. (UFRN) No sculo XVIII, alguns monarcas europeus conciliaram as teorias iluministas com as prticas absolutistas de governo. O Despotismo Esclarecido, como foi chamada essa forma de governar, deu incio s:

(A) Mudanas que eliminaram a interveno do Estado na Economia, permitindo total liberdade iniciativa privada.

(B) Reformas que tentaram adequar as estruturas econmicas dos respectivos Estados ordem liberal burguesa em ascenso.

(C) Prticas colonialistas que transformaram as estruturas econmicas, com base no desenvolvimento manufatureiro.

(D) Medidas econmicas que ampliaram a participao da aristocracia na relao entre metrpoles e colnias.

03. (UFSMRS) Nenhum homem recebeu da natureza o direito de comandar os outros. A liberdade um presente dos cus, e cada indivduo da mesma espcie tem o direito de gozar dela logo que goze da razo. Denis Diderot, ao escrever o trecho citado, condensou alguns princpios do Iluminismo:

I A revelao da verdade pela f e pela natureza;

II A crena na capacidade de o homem pensar por si mesmo;

III O desapreo pelo individualismo e a nfase na coletividade;

IV Uma viso de mundo que favorece a igualdade entre os homens;

Esto corretas:

(A) Apenas I e II

(B) Apenas I e III

(C) Apenas II e IV

(D) Apenas III e IV

(E) Apenas II, III e IV

04. (UFRJ) "Liberdade unicamente o poder de agir. Se uma pedra se movesse por sua escolha, seria livre. Os animais e os homens tm esse poder, portanto so livres. (...) Querer e agir precisamente o mesmo que ser livre." (Voltaire. Tratado de Metafsica, cap. VII)

As idias iluministas, surgidas na Frana durante o sculo XVIII, questionaram as bases de sustentao do Antigo Regime, afirmando os princpios considerados revolucionrios pela sociedade europia da poca. Entre os mais conhecidos pensadores iluministas se encontra Voltaire (1694-1778), autor do texto acima, escritor, poeta e filsofo, empenhado no combate contra o que denominava "as trevas da ignorncia e da superstio".

a) Apresente dois princpios ou caractersticas do Iluminismo.

b) Esclarea como as idias iluministas contriburam para a Revoluo Francesa.

05.(UFRJ) "Nenhum homem recebeu da natureza o direito de comandar os outros. A liberdade um presente do cu, e cada indivduo da mesma espcie tem o direito de gozar dela logo que goze da razo...Toda autoridade vem de uma outra origem, que no da natureza...O poder que vem do consentimento dos povos supe necessariamente condies que tornem o seu uso legtimo til sociedade, vantajoso para a repblica, e que a fixam e restringem entre limites". (Denis Diderot, [1713-1784] "Autoridade Poltica" na Enciclopdia)

A "Enciclopdia", cujo primeiro volume foi publicado na Frana em 1751, uma obra fundamental pois organiza as idias que orientam a rebeldia intelectual do sculo XVIII, movimento que chega plenitude com a Revoluo Francesa.

a) Explique, a partir do texto, uma razo para as crticas polticas formuladas por Diderot.

b)Apresente uma concepo de carter poltico representativa do pensamento iluminista divulgado pela Enciclopdia.

c)Cite dois movimentos polticos no Brasil que possam ser identificados com as idias difundidas pelos enciclopedistas.

INDEPENDNCIA DOS ESTADOS UNIDOS

Antes da Independncia, os EUA eram formados por treze colnias controladas pela metrpole: a Inglaterra. Dentro do contexto histrico do sculo XVIII, os ingleses usavam estas colnias para obter lucros e recursos minerais e vegetais no disponveis na Europa. Era tambm muito grande a explorao metropolitana, com relao aos impostos e taxas cobrados dos colonos norte-americanos.

IMAGEM As Treze Colnias

Colonizao dos Estados Unidos:

Para entendermos melhor o processo de independncia norte-americana importante analisarmos os dois tipos de colonizao que vigoraram nesse territrio:

Colnias do Norte: Possua uma elite colonial atpica, ligada ao comrcio e s atividades industriais, de mentalidade capitalista. Alm disso, caracterizaram-se como colnias de povoamento e sofreram menos o impacto do pacto colonial, devido negligncia Salutar, ou seja, a maneira como a coroa inglesa praticamente permitiu uma auto-gesto destas, em virtude da produo agrcola desta regio no interessar ao mercado externo.

Colnias do Sul: A economia era agro-exportadora, principalmente de algodo, e eram rigidamente controladas pelas regras do Pacto Colonial.

A independncia das 13 colnias inglesas na Amrica marcada pela influncia dos ideais iluministas de liberdade, igualdade e contestavam as opresses da metrpole sobre a colnia.

Podemos relacionar diretamente o processo de Independncia das 13 colnias inglesas com a Guerra dos 7 anos (1756-1763) entre Frana (aliaram-se Espanha e ustria) e Inglaterra, onde mesmo aps a vitria e conseqente tomada de boa parte dos territrios franceses, alm da Flrida, at ento pertencente Espanha, a economia inglesa ficou bastante abalada. Como forma de se recuperar desta crise a metrpole arrochou a explorao colonial gerando insatisfao entre os colonos.

Os colonos (principalmente os do norte) habituaram-se a legislar sobre as questes locais, e as assemblias provinciais funcionavam como um Parlamento na Amrica. Em 1763, a Coroa britnica resolveu intensificar a explorao colonial: criou um conjunto de leis que garantiram o monoplio do mercado consumidor para as manufaturas inglesas, prejudicando as manufaturas coloniais; favoreceu os comerciantes de pele, os especuladores de terras, os pescadores e os madeireiros nascidos na metrpole; restringiu a participao dos colonos no comrcio com as Antilhas e com a frica o comrcio triangular -; diminuiu a autonomia dos rgos polticos e administrativos das colnias.

Nos dois anos seguintes, o Parlamento ingls criou dois novos impostos coloniais, visando aumentar a arrecadao metropolitana: Lei do Acar (1764), que incidia sobre o acar, o melao, o vinho, a seda e o caf e proibia o comrcio com as Antilhas holandesas; Lei do Selo (1765), que obrigava a colocao de selos em jornais, livros, panfletos de qualquer carter e documentos comerciais. O selo era uma forma de taxao, porque somente o governo podia vender as estampilhas que os colonos eram obrigados a comprar. Em reao a essas leis, os colonos proclamaram que sem representao no h tributao e decidiram no mais aceitar as determinaes inglesas, pois os colonos que viviam na Amrica no tinham representao no Parlamento ingls. Diante do clima tenso que se formou, a metrpole revogou a Lei do Selo.

Em 1767, o Parlamento ingls tentou impor novas taxas (Leis Townshend). A reao dos colonos foi o confronto com o exrcito ingls. No dia 5 de maro de 1770, os soldados ingleses enfrentaram populares e mataram cinco pessoas episdio conhecido como Massacre de Boston. Antes que a crise se agravasse, o governo ingls revogou os imposto.

Em 1773, o clima entre ingleses e colonos voltou a ficar tensa com a decretao de mais uma lei, a Lei do Ch, que garantia aos comerciantes metropolitanos o monoplio sobre a comercializao do ch. Em resposta nova lei, colonos disfarados de ndios atacaram trs navios que estavam atracados no porto de Boston, e jogaram a carga de ch no mar. Esse acontecimento, conhecido como Festa do Ch de Boston, j mostrava evidncias de uma futura ruptura entre a colnia e a metrpole.

A Guerra de Independncia

A resposta da metrpole traduziu-se, em 1774, numa srie de leis que ficaram conhecidas como Leis Intolerveis. Destacaram-se a Lei do Porto de Boston, que fechava o porto at o pagamento integral do ch lanado ao mar; a Lei do Aquartelamento, ordenando s autoridades que dessem alojamento adequado aos soldados ingleses; e a Lei de Quebec, que garantia aos habitantes franceses do Canad a liberdade de religio e dos seus costumes.

Essas leis, em lugar de subjugar os colonos, acabaram provocando a unio dos mesmos contra a metrpole. Em encontros e assemblias com representantes de vrias colnias, eram discutidas as sanes e restries adotadas pelos britnicos. Em 1774, reuniu-se o Primeiro Congresso Continental da Filadlfia, que pediu o fim das medidas restritivas ao desenvolvimento das colnias. Em resposta, Londres intensificou a represso. A intransigncia inglesa favoreceu a organizao do Segundo Congresso Continental da Filadlfia, em 1776, no qual, sob a liderana de Thomas Jefferson, foi redigida a Declarao de Independncia dos Estados Unidos, que foi aprovada em 4 de julho de 1776.

A partir da declarao de independncia a guerra prolongou-se at 1783, ano do reconhecimento da independncia dos Estados Unidos pela Inglaterra. Neste processo os colonos americanos contaram com o apoio de franceses e espanhis que possuam interesses territoriais e nutriam um revanchismo contra a Inglaterra, afinal este pas os tinha derrotado na Guerra dos sete anos. Em 1783 foi assinado o Tratado de Versalhes, onde se estabeleceu a paz entre os pases envolvidos no conflito, o reconhecimento da independncia das 13 colnias inglesas e a devoluo dos territrios da Louisiana Frana e da Flrida Espanha.

Aps a Independncia dos Estados Unidos foi elaborada uma constituio no ano de 1787, mantida at os dias atuais, e dotada dos ideais iluministas, porm que expressavam uma relao contraditria entre esta mesma constituio e as prticas da sociedade americana, onde, por exemplo, manteve-se a escravido que s seria abolida em meados do sculo seguinte.

Se liga!

Uma das razes do arrocho ingls sobre as colnias americanas era a necessidade de arrecadar fundos para cobrir o dficit econmico deixado pela Guerra dos Sete Anos (1756 1763), travada entre a Frana e a Inglaterra. A guerra comeou por causa de um desacordo sobre o controle do Rio Ohio e se expandiu para a Europa, envolvendo vrias potncias. O resultado foi a derrota da Frana e a reafirmao da Inglaterra como maior potncia mundial daquele momento;

O movimento de independncia das 13 colnias foi diretamente influenciado pelos ideais iluministas;

Os Estados Unidos elaboraram a primeira constituio escrita (1787).

Sesso pipoca

Patriota

Diretor: Roland Emmerich. Estados Unidos, 2000.

O Patriota passa-se durante a guerra de Independncia dos EUA, narrando o surgimento dos Estados Unidos. A histria se desenvolve em torno de um fazendeiro que perde a casa e o filho, fatos que o levam a se tornar um dos lderes da independncia.

Vamos Praticar

01. (UFSM-RS) Em 1776, ocorreu a independncia dos Estados Unidos, onde pela primeira vez uma colnia americana conseguiu romper com a unidade do sistema colonial. explicao desse fato:

I A elite colonial, que at ento pde enriquecer e participar do movimento colonial, teve seus interesses obstaculizados pelos resultados da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), que exigiam das Treze Colnias o ressarcimento dos nus da guerra.

II As leis inglesas de navegao sempre impossibilitaram o pleno desenvolvimento da colnia desde o incio do povoamento; a prova disso a Lei do Selo, a Lei do Acar e a Lei do Ch.

III A elite colonial reuniu-se no Primeiro Congresso Continental da Filadlfia, enviou ao rei e ao Parlamento a revogao das Leis do Selo, do Acar e do Ch e proclamou a independncia.

Est (o) correta (s):

(A) Apenas I

(B) Apenas II

(C) Apenas III

(D) Apenas I e II

(E) Apenas I e III

02. (UNB) A independncia das Treze Colnias inglesas na Amrica do Norte conhecida como Revoluo Americana porque:

(A) Representou o fim do antigo Regime naquela poro do continente.

(B) Rompeu o pacto colonial e lanou as bases de um modelo democrtico

(C) Foi um movimento de intensa participao popular e remodelou a noo de propriedade privada

(D) Marcou o incio do predomnio do trabalho assalariado e o fim da escravido

(E) Inspirou-se nos ideais do Despotismo Esclarecido

03. (UFF) No processo que resultou na Independncia dos EUA, em 1776, houve um longo confronto entre os colonos e o Parlamento ingls, motivado pela inteno da metrpole de impor s colnias as Leis do Acar, do Selo e do Ch. A resposta dos colonos ao arrocho fiscal proposto pela Coroa britnica foi:

(A) Uma ilha no pode governar um continente

(B) destino manifesto que esta nao foi escolhida para dominar a Amrica

(C) Um governo s legtimo quando seu poder emana do povo

(D) A Amrica para os americanos

(E) Sem representao no h tributao

04. (UFRJ) Por que a Declarao de Independncia dos Estados Unidos, apesar dos avanos que representava para a poca, no pode ser considerada um documento que fazia justia a toda sociedade norte-americana?

05. (PUC) So verdades incontestveis para ns: todos os homens nascem iguais; o Criador lhes conferiu certos direitos inalienveis, entre os quais os de vida, o de liberdade e o de buscar a felicidade; para assegurar esses direitos se constituram homens-governo cujos poderes justos emanam do consentimento dos governados; sempre que qualquer forma de governo tenda a destruir esses fi ns, assiste ao povo o direito de mud-la ou aboli-la, instituindo um novo governo cujos princpios bsicos e organizao de poderes obedeam s normas que lhes paream mais prprias para promover a segurana e a felicidade gerais. (Trecho da Declarao de Independncia dos Estados Unidos.)

A idia central do texto :

(A) A forma de governo estabelecida pelo povo deve ser preservada a qualquer preo

(B) A retaliao dos direitos naturais independem da forma, dos princpios e da organizao do governo

(C) Cabe ao povo determinar as regras sob as quais ser governado

(D) Todos os homens tm direitos e deveres

(E) Cabe aos homens-governo estabelecer as regras para o povo

A REVOLUO INDUSTRIAL

Consideraes Iniciais

A partir do final do sculo XVIII, o mundo vai passar por transformaes ainda mais radicais do que aquelas que vinham se desenrolando na chamada Idade Moderna, cujas origens remontavam na Baixa Idade Mdia. Essas transformaes se deveram, como coloca o historiador Eric Hobsbawm, a dupla revoluo: a Revoluo Francesa de 1789 e a revoluo industrial (inglesa), contempornea a primeira. Nesse perodo, o mundo, ou grande parte dele, transformou-se, a partir de base europia, que reuniu as condies essenciais, capazes de empreender as mudanas. As foras econmicas e sociais, as ferramentas polticas e intelectuais desta transformao j estavam preparadas em todo o caso pelo menos em uma parte da Europa suficientemente grande para revolucionar o resto.(HOBSBAWM, Eric. A Era das Revolues, 1789-1848. So Paulo: Paz e Terra, 2006, 20a ed., p. 17)

Assim, a dupla revoluo ocorreu em determinada regio da Europa, porm, espalhou-se, logo tomou a forma de uma expanso europia e de conquista do resto do mundo. Significaram o triunfo do capitalismo liberal burgus, da sociedade burguesa, porm, viu-se tambm o aparecimento das foras que um sculo depois de 1848, viriam a transformar a expanso em contrao, quando o mundo conquistado, adotando as mesmas tcnicas e idias, se voltaria contra o Ocidente. Dentro da Europa, ainda, as foras e idias que projetavam a substituio da nova sociedade triunfante j estavam aparecendo, como veremos adiante.

A Revoluo Industrial explodiu antes da Revoluo Francesa. A partir de 1780, seguindo ainda o as anlises de Hobsbawm, foram retirados os grilhes do poder produtivo das sociedades humanas, que da em diante se tornaram capazes da multiplicao rpida, constante, e at o presente ilimitada, de homens, mercadorias e servios (HOBSBAWM, Eric. A Era das Revolues, 1789-1848. So Paulo: Paz e Terra, 2006, 20a ed., p. 50) A partir da metade do sculo XVIII, o processo j se desenvolvia, mas 1780 a dcada decisiva, pois foi quando a economia deu uma guinada repentina, todos os ndices foram as alturas.

A Revoluo Industrial

Desta forma, na Inglaterra, a partir da segunda metade do sculo XVIII, comeou uma das mais espetaculares transformaes da histria da humanidade: a Revoluo Industrial. A indstria capitalista surgiu e se tornou a parte mais importante da economia mundial, um fenmeno que no se restringiu a Inglaterra, e logo englobou a Europa Ocidental, mesmo que, sob a hegemonia daquela.

A Revoluo Industrial em sentido restrito foi o processo histrico que levou substituio das ferramentas pelas mquinas, da energia humana pela energia motriz e da produo domstica pelo sistema fabril, enfim, o processo de mecanizao das indstrias, partido da mquina a vapor e perpassando diversas fases. No entanto, preciso pens-la, em sentido mais amplo, como concretizao do sistema capitalista, como o conjunto de transformaes na indstria, agricultura, transportes, bancos, comrcio, comunicaes, enfim, em toda a economia, que transformou a sociedade como um todo, sua lgica e relaes. , portanto, um amplo processo de transformaes em todos os mbitos da sociedade. Traduz-se, assim, na mudana social, no modo de viver e pensar, na transformao da vida dos homens, no estabelecimento de novo sistema de relaes e de sentido.

Pioneirismo Ingls

O pioneirismo ingls se deve as condies favorveis que existiam no pas no sculo XVIII. Condies essas, que foram se desenvolvendo ao longo da Idade Moderna. A primeira delas foi o enriquecimento da burguesia, o acmulo de capitais em mos de um pequeno grupo de investidores. Atravs da pirataria, contrabando, das guerras de conquista, do trfico de escravos, da colonizao, de transaes com outros pases e do trabalho de camponeses e artesos, os burgueses acumularam capital, que seria essencial para o investimento nas fbricas nascentes. Capitais acumulados tambm atravs de operaes no setor da produo agrcola (enclousures, que veremos a diante) e industrial (com as manufaturas, ainda no industrializadas).

Outra condio essencial era a mo-de-obra, que deveria estar concentrada nas cidades, onde a fbrica poderia se desenvolver por conta do mercado consumidor, da infra-estrutura de transportes e obteno de matria prima por meio do comrcio. Na Inglaterra do sculo XVIII, formavam-se os novos cercamentos (enclosures). O processo dos cercamentos das terras agrcolas iniciou-se no final da Idade Mdia, mas teve seu auge no perodo que vai do sculo XVII at a primeira metade do sculo XVIII. Antigas propriedades auto-suficientes, que produziam variados itens, passaram a se especializar na produo de um nico produto voltado para comercializao no mercado. Por razes comerciais, o caso mais comum era a criao de ovelhas para extrao de l, matria-prima para as rentveis manufaturas txteis e, em menor escala, plantaes de trigo. Terras comunais usadas coletivamente pela populao rural, na antiga tradio feudal, passavam a ser exploradas em benefcio de um proprietrio nico, empregando reduzida mo-de-obra nas terras tomadas e cercadas. Assim, os cercamentos foram responsveis pelo esvaziamento da zona rural, pela expropriao macia dos camponeses e pela transformao da terra em um bem lucrativo. Os terrenos passaram a ser arrendados e foram contratados camponeses que se dedicavam a uma produo efetivamente voltada para o mercado. A mo-de-obra disponvel pode, ento, ser aproveitada no trabalho das minas e na produo manufatureira, e grande parte deslocou-se para as cidades, transformando-se na mo-de-obra necessria para a Revoluo Industrial.

Outra questo importante para a Revoluo Industrial foi o crescimento demogrfico. A partir do sculo XVIII, a populao aumentou rapidamente, divido a diminuio do ndice de mortalidade, devido a melhorias das condies alimentares, alto ndice de natalidade, em uma populao que passa a entrar no mercado de trabalho cada vez mais jovem, devido s novas necessidades, e cada vez mais cedo passam a ter famlia e filhos.

A Inglaterra, tambm j havia feito a sua revoluo burguesa, nas revolues inglesas (Puritana e Gloriosa). O feudalismo, a servido e o absolutismo com os resqucios do Antigo Regime j haviam sado de cena. O Estado representava os interesses da burguesia, desenvolvendo leis, infra-estrutura, obras pblicas em benefcio desta. Idias iluministas (valorizao das cincias, liberdades individuais, progresso ilimitado) puderam, neste quadro, se espalhar rapidamente. Assim, a consolidao da monarquia parlamentar alterou profundamente os rumos da economia britnica, que colocou como prioridade os interesses burgueses, que tinham agora o poder de deciso, e portanto o desenvolvimento industrial.

Os avanos cientficos e tecnolgicos no foram fatores determinantes para Revoluo Industrial, uma vez que, outros pases, como Frana, encontravam-se mais avanados em muitos setores. Porm, no haviam reunido e desenvolvido, todas essas condies favorveis, como os ingleses.

O papel do mercado tambm foi fundamental. A ampliao da produo de cereais fez baixar os preos da alimentao, o que elevou os salrios no fim das dcadas de 30 e 60 do sculo XVIII. Isso significava mais consumo, o mercado crescia e estimulava os fabricantes. O mercado externo teve um peso ainda mais decisivo, as exportaes de tecidos de algodo, por exemplo, ampliaram 900% de 1770 a 1790, como analisou Eric Hobsbawm. A Amrica Latina e sia, sobretudo a ndia, se tornaram mercados consumidores de primeira ordem.

Dispondo da mais poderosa esquadra do mundo, Inglaterra garantia esse mercado externo. Os tecidos eram feitos de linho ingls e de algodo, que precisava ser importando das Treze colnias e, depois, dos Estados Unidos, da ndia e do Brasil. Ao mesmo tempo que a construo de canais criavam facilidades para o mercado interno.

Por fim, a Inglaterra tambm possua ricas jazidas de ferro e carvo, matrias primas bsicas nessa fase, que se encontravam prximas aos centros industriais, que eram servidos por bons portos, estradas e canais, facilitando a circulao.

Assim, Inglaterra iniciou o processo da Revoluo Industrial que a rigor, no chegou ao fim. Porm, se quisermos considerar um perodo inicial, em que as primeiras transformaes de peso, no momento, ocorreram, podemos estend-la at meados do sculo XIX, 1840, com a construo das ferrovias. Assim, neste percurso da Revoluo Industrial, a Inglaterra ainda desenvolveu a indstria de base representada especialmente pela metalurgia e pela siderurgia e o setor de transportes. O carvo, por exemplo, foi utilizado como fonte de energia para a indstria, para o uso domstico e como combustvel para as locomotivas. O desenvolvimento de mquinas como a mquina a vapor e o tear mecnico permitiu o crescimento da produtividade e a racionalizao do trabalho. Com a aplicao da fora a vapor s mquinas fabris, a mecanizao difundiu-se na indstria txtil. A inveno da locomotiva e do navio a vapor acelerou a circulao das mercadorias.

O processo de Revoluo Industrial, assim, envolveu e transformou a sociedade, agora marcada por duas classes: a burguesia, proprietria dos meios de produo, e o proletariado, classe assalariada, que para subsistir, vende o nico bem que possui: sua fora de trabalho. Na nova lgica, o trabalho, que antes significava humilhao e dor, passou a designar fonte de riqueza e produtividade. Ele passou a dignificar o homem, no discurso corrente. No entanto, neste processo de industrializao o trabalhador foi robotizado. Se antes ele tinha o controle de todas as etapas de produo de um artigo, a partir daquele momento, ele tornou-se um especialista, o resultado do trabalho se torna alheio ao trabalhador. Ele saber apenas operar a mquina em uma das etapas do processo de confeco de um dado produto. O trabalhador fica submetido ao tempo da mquina e, por vezes, passa a ser substitudo por ela.

IMAGEM Trabalhadores Revoluo Industrial

A revoluo industrial ainda buscou o trabalho feminino e infantil como mo-de-obra, principalmente nas indstrias txteis que exigiam menor fora fsica. Pagando salrios menores s mulheres e s crianas, os industriais conseguiam, assim, baratear o custo da sua produo. A grande maioria do proletariado vivia em pssimas condies. Os salrios eram baixssimos e a jornada diria de trabalho poderia durar 16 ou 18 horas, sem direito a frias. As fbricas eram imundas e o trabalho insalubre.

A fisionomia das cidades se modificou. Elas cresciam a cada dia, recebendo homens, mulheres e crianas interessados em trabalhar nas indstrias. Essas famlias habitavam os bairros mais pobres e populosos, em cortios e favelas com pssimas condies sanitrias. A misria fez crescer a criminalidade e a violncia.

As pssimas condies de trabalho e de moradia dos trabalhadores geraram uma srie de movimentos de revolta e reivindicao. Um deles foi o ludismo, movimento de protesto que no inicio da revoluo industrial se caracterizava pela destruio das mquinas pelos trabalhadores, os smbolos da perda de postos de trabalho e do esmagamento do trabalho artesanal. Posteriormente, entretanto, os movimentos desenvolveram-se para pressionar os empregadores, prejudicando seus interesses econmicos, buscando melhorias salariais, melhores condies de trabalho, alm de conter a mecanizao do trabalho. Longe de serem aes ingnuas dos trabalhadores, foram movimentos de ao direta, formas de negociao e reivindicao, que buscavam pressionar o patro, prejudicando seus negcios, impondo assim, mais rapidamente suas condies, protegendo a subsistncia do trabalhador contra os cortes nos salrios, ou contra ameaa das mquinas. Este ataque s mquinas rotulado ludismo, na verdade se aplica a movimentos especficos em pocas determinadas, e no se limitaram a protestos contra inovao tcnica.

Mais tarde, em meados do sculo XIX, que formas mais modernas de reivindicao e luta, como greves e sindicatos, tiveram lugar. Nos anos 30 do sculo XIX surgiu na Inglaterra o movimento cartista. Organizado em 1838, o cartismo, que englobava operrios, artesos a at representantes das classes mdias, tem origem na Carta do Povo, petio apresentada ao Parlamento contendo algumas reivindicaes. A principal delas era o sufrgio universal masculino, lutavam tambm por jornadas de trabalho de apenas 10 horas entre outras coisas. Em 1848, foi entregue ao parlamento a Carta do Povo, e os cartistas reprimidos. Porm o cartismo teve o mrito de organizar politicamente os trabalhadores. Como resultado a reforma eleitoral de 1867 concedeu direito de voto para a pequena burguesia e para alguns operrios especializados.

IMAGEM Operrios Protestando

No sculo XIX, a Revoluo Industrial se desenvolveu em diversos pases europeus, principalmente Frana e Alemanha. Em menor escala, na Holanda, Blgica e Norte da Itlia. A Rssia e a Europa Oriental, tal como Portugal, e Espanha, permaneceram essencialmente agrrias. Entretanto, no final do sculo XIX, comeou a se desenvolver a indstria russa.

A Revoluo Agrcola

A Inglaterra especializou-se, sobretudo, na produo de l e de algodo. A indstria de l estava ligada economia camponesa e associada criao de ovelhas, como j visto. J a indstria algodoeira vinculava-se ao comrcio ultramarino, tanto pelo fornecimento de matrias-primas, como pelo aproveitamento do algodo cultivado em algumas reas coloniais inglesas da Amrica.

importante, assim, observar que paralelamente s inovaes tecnolgicas e ao surgimento da indstria fabril nos centros urbanos, no campo operou-se tambm a afirmao do capitalismo atravs da Revoluo Agrcola. Esta envolveu uma srie de novos mtodos e tcnicas de cultivo e criao. A estrutura da propriedade mudou devido aos cercamento dos campos, e os proprietrios particulares investiram dinheiro na melhoria da produo. Uma srie de inovaes tcnicas, sociais e econmicas levou a agricultura a dinmica da produo capitalista. Transformaes visando aumentar a produtividade do solo, atender a demanda das indstrias e populaes, e ampliar os lucros dos produtores, foram a base para essas transformaes.

Liberalismo Econmico

O papel pioneiro desempenhado pela Inglaterra no processo de industrializao contribuiu para fazer daquele pas o bero da escola clssica de economia poltica.

Adam Smith (1723-1790), clssico, pai do liberalismo econmico, afirmava que o trabalho era a verdadeira fonte de riqueza e no a agricultura. Embora ele aceitasse o princpio do Laissez faire (Laissez faire, laissez passer et l monde va de lui-mme -Deixai fazer, deixai passar e o mundo marcha sozinho - a expresso que designa o iderio contra poltica intervencionista do mercantilismo, e propem a liberdade e no-interveno na economia, uma vez que ela se auto-regula, e desta forma que melhor funciona), acreditava que certas formas de interferncia governamental na economia eram tolerveis, desde que se destinassem a prevenir a injustia e a opresso ou a incentivar a educao e proteger a sade pblica. Outro ponto importante para sua teoria diz respeito diviso do trabalho: no momento em que houvesse a especializao do trabalho, em todas as atividades econmicas, seria facilitada a produo de bens e o mundo se transformaria numa vasta oficina, executando-se o trabalho onde fosse exigida menor necessidade de tempo e esforo, graas colaborao da natureza e ao aproveitamento das aptides humanas.

Smith, como David Ricardo (1772-1823), outro importante economista clssico, buscavam compreender a totalidade das relaes sociais que surgiam com a industrializao. Ricardo defendeu que trs fatores podiam desestabilizar a economia: salrio, lucros e as rendas da terra. Como podemos perceber, essas categorias dizem respeito aos trabalhadores, capitalistas e latifundirios. Quando um destes fatores aumentava demais, provocava um desequilbrio em toda a economia.

Em resumo, eis alguns dos postulados do liberalismo econmico:

A inviolabilidade da propriedade privada e o individualismo econmico a propriedade privada era um direito de todo o homem. Alm disso, toda atividade econmica que redundasse em benefcio pessoal para o indivduo beneficiaria, por extenso, a sociedade em seu conjunto. O bem-estar da sociedade era resultado da prosperidade econmica individual de seus membros.

Laissez-Faire, liberdade de comrcio e de produo O Estado no deveria interferir nas atividades econmicas. No mximo, ele poderia atuar de forma subsidiria e complementar. A funo do governo deveria ser a manuteno da ordem, da paz e a proteo propriedade privada. A economia possui leis naturais, isto , ela se auto-regula naturalmente, sem necessidade de qualquer interferncia do Estado.

Liberdade de contrato questes como salrio e jornada de trabalho deveriam ser fixadas livremente atravs da negociao direta entre empregador e empregado.

Se Liga!

A Revoluo Industrial foi um fenmeno que introduziu a racionalidade no trabalho. O saber-fazer dos artesos deu lugar a um trabalhador submetido ao tempo da mquina.

Ela iniciou-se na Inglaterra por uma srie de fatores, mas espalhou-se por toda a Europa ocidental, que iniciou um processo de expanso pelo mundo.

Trouxe srias conseqncias sociais e ambientais, como o crescimento desordenado das cidades, a submisso do trabalhador mquina, o uso do trabalho infantil e feminino e, por fim, o desenvolvimento de movimentos de contestao e reivindicao.

As principais caractersticas da doutrina econmica liberal eram:

A idia de que a economia se auto-regula por meio de suas leis naturais;

A defesa da livre-concorrncia;

A liberdade cambial;

A defesa da propriedade privada;

O combate ao mercantilismo.

Sesso Pipoca

Germinal

Diretor: Claude Berri. Frana, 1993.

Baseado na obra homnima de mile Zola, de 1881, o filme mostra o dia-a-dia de uma comunidade de mineiros de carvo do interior da Frana.

Oliver Twist

Direo: David Lean, Inglaterra

Uma das melhores produes das mais de dez verses cinematogrficas do clssico escrito por Charles Dickens. Embora seja um filme de aventuras, paresenta uma viso crtica de problemas sociais da Inglaterra em plena Revoluo Industrial.

Vamos Praticar

01. (RURAL2008) Leia os versos a seguir.

Quanto tempo o tempo tem?/Perguntas trazem meus versos/Nem a cincia conseguiu nos explicar/Nas mos divinas as origens do universo/H mais de 15 mil anos a humanidade busca respostas/Nascer e pr-do-sol... Definiram o dia/ A semana e o ms, a astrologia/ Tempo me escravizou, virei rob/Fez meu mundo girar, bem devagar/No tique-taque das horas/Nosso samba vira histria/E jamais vai se apagar.... O Tempo que o Tempo tem. Samba-Enredo 2007, G.R.E.S Acadmicos de Santa Cruz do Rio de Janeiro. Autores: Marcelo Borboleta, Charuto, Dito, Valdir e Fernando de Lima.

O verso em destaque apresenta uma crtica ao fato de o homem moderno ter-se transformado em um escravo do tempo. A inveno de mquinas para fazer o trabalho humano uma histria antiga. Mas com a inveno da mquina a vapor ocorreu uma modificao importante no mtodo de produo, e os efeitos chegaram at os trabalhadores.

Com base nos seus conhecimentos sobre a Revoluo Industrial, apresente duas (02) conseqncias da Revoluo Industrial que justifiquem o verso em destaque.

02. Que condies fizeram com que a Inglaterra fosse pioneira no processo da Revoluo Industrial?

03 Que conseqncias sociais e ambientais a Revoluo Industrial trouxe para a sociedade?

04. Quais os paralelos possveis de se estabelecer entre a excluso social desencadeada pela Revoluo Industrial do sculo XVIII e a que acontece nos dias atuais?

05. (Unicamp) De p ficaremos todos/ E com firmeza juramos/ Quebrar tesouras e vlvulas/ E pr fogo s fbricas daninhas (Cano dos quebradores de mquinas do sculo XIX citada por Lo Huberman, Histria da Riqueza do Homem, 1979.)

A partir do texto acima, caracterize o tipo de ao dos quebradores de mquinas e explique os motivos deste movimento.

06. (ENEM) A Revoluo Industrial ocorrida no final do sculo XVIII transformou as relaes do homem com o trabalho. As mquinas mudaram as formas de trabalhar e as fbricas concentraram-se em regies prximas s matrias-primas e grandes portos, originando vastas concentraes humanas. Muitos dos operrios vinham da rea rural e cumpriam jornadas de trabalho de 12 a 14 horas. A legislao trabalhista surgiu muito lentamente ao longo do sculo XIX e a jornada de oito horas de trabalho s se concretizou no sculo XX.

Pode-se afirmar que as conquistas trabalhistas no incio deste sculo esto relacionadas com:

(A) a expanso do capitalismo e a consolidao dos regimes monrquicos constitucionais.

(B) A expressiva diminuio da oferta de mo-de-obra devido demanda por trabalhadores especializados.

(C) A capacidade de mobilizao dos trabalhadores em defesa de seus interesses.

(D) O crescimento do Estado ao mesmo tempo em que diminua a representao operria nos parlamentos.

(E) A vitria dos partidos comunistas nas eleies das principais capitais europias.

07. (UFMG) A revoluo Industrial foi tambm uma revoluo de idias.

Todas as afirmaes seguintes confirmam o teor desta afirmao, exceto:

(A) Estimulou a associao entre iguais na defesa de interesses comuns.

(B) Permitiu o incio de uma nova atitude para com os problemas da sociedade humana.

(C) Estabeleceu um avano na compreenso do domnio da natureza.

(D) Garantiu seus benefcios ao conjunto dos cidados ingleses.

08. (PUC) A inaugurao da produo industrial inglesa no sculo XVIII modificou a face da sociedade. Assinale a alternativa incorreta a respeito da Revoluo Industrial:

(A) A Revoluo Industrial transferiu o controle da produo das mos do trabalhador para as mos do empresrio capitalista.

(B) A Revoluo Industrial subordinou as regras do mercado ao crescente volume da produo mecanizada.

(C) Este processo modificou o conceito de consumo, ampliando-o para muito alm das necessidades bsicas.

(D) Ela propiciou a formao de cidades industriais, superando carter rural das sociedades.

(E) A Revoluo Industrial transformou o trabalhador em um ser submisso e alienado, inviabilizando as organizaes de classe.

09. (UFF2008) Conhecido como um dos mais importantes tericos do liberalismo econmico do sculo XVIII, Adam Smith afirmava que, ao promover o interesse pessoal, o indivduo contribua para o interesse geral e coletivo. Neste sentido, o principal impacto de seu livro, O Ensaio sobre a Riqueza das Naes, foi o de justificar fortemente, a busca desenfreada do enriquecimento individual.

Com base nesta afirmativa:

a) indique duas caractersticas do liberalismo econmico;

b) analise o papel do Estado no liberalismo econmico de Adam Smith.

10. (UFV-MG) O Liberalismo Econmico se constituiu numa doutrina poltica do capitalismo industrial e financeiro. Qual das alternativas a seguir no reflete um de seus princpios fundamentais?

(A) Fortalecimento do Mercantilismo

(B) Livre-concorrncia

(C) Defesa da propriedade privada

(D) Defesa cientfica dos fatos econmicos

11. (UFF-RJ) Adam Smith, em a Riqueza das Naes, assentou as bases do Liberalismo econmico, cujos princpios so:

(A) Igualitarismo, liberdade de comrcio e criao de fazendas coletivas agro-industriais.

(B) Colnias autogeridas, erradicao do Estado, mais-valia e autogesto industrial.

(C) Capitalismo comercial, absolutismo, metalismo, e interveno do Estado na economia.

(D) Respeito s leis naturais da economia, liberdade de contrato de trabalho, liberdade de comrcio e de produo.

(E) Socializao dos meios de produo, livre-concorrncia, fim das desigualdades sociais e nacionalizao das fbricas.

REVOLUO FRANCESA

Se a economia do mundo no sculo XIX foi formada principalmente sob a influncia da revoluo industrial britnica, sua poltica e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revoluo Francesa. (HOBSBAWM, Eric J. A era das Revolues (1789-1848))

A Frana antes da Revoluo

A situao geral da Frana era delicada. O Antigo Regime tinha suas bases em crise, o que o deixava cambaleante. O sistema de produo francs era arcaico e dependente da manufatura das corporaes de ofcio, que traziam consigo o rano medieval. O Estado francs tinha base feudal, mas j apresentava aspectos de transio, que gerariam conflito em algum momento. A sociedade era estratificada em trs ordens sociais: o Primeiro Estado (alto e baixo clero), o Segundo Estado (nobreza cortes, nobreza provincial e nobreza de toga) e Terceiro Estado (grande burguesia, pequena burguesia, sans-culotte e camponeses). O Terceiro estava era composto da maioria da populao, aproximadamente 96%, e apesar das diferenas sociais de seus diversos grupos opunham-se aos privilgios concedidos nobreza e ao clero. Reivindicavam um regime jurdico de igualdade de todos perante a lei, pois apenas o clero e a nobreza possuam uma srie de benefcios polticos e tributrios.

IMAGEM Sans Culotte

Legenda: Os sans-culottes eram artesos, trabalhadores e at pequenos proprietrios que viviam nos arredores de Paris. Recebiam esse nome porque no usavam os elegantes cales que a nobreza vestia, mas uma cala de algodo grosseira.

Podemos destacar como pontos de crise o crescimento demogrfico, que aumentava a presso social; a crise agrcola, gerada por crises climticas cclicas que provocaram colheitas desastrosas, e somando-se s pssimas condies de trabalho provocaram uma nova onda de fome; os tratados com a Inglaterra em 1786, que provocou uma crise na indstria txtil francesa, que no suportou a concorrncia; declnio do setor de comrcio externo em virtude da perda de colnias que fez diminuir o fluxo de matrias-primas e manufaturas; gastos com a Guerra dos Sete Anos e Guerra de Independncia nos EUA, que levaram a Frana a contrair emprstimos junto a bancos estrangeiros. Para controlar a crise econmica e o dficit era preciso aumentar a arrecadao, ou seja, os impostos. Como o Primeiro e o Segundo Estado eram isentos de impostos, todo o peso recaa sobre o Terceiro Estado, que para cumprir suas obrigaes fiscais eram obrigados at mesmo a vender seus modestos bens e, algumas vezes, seus prprios instrumentos de trabalho. Diante da depresso econmica o terceiro estado no suportaria uma nova taxao. A soluo encontrada pelos ministros das finanas foi a alterao da estrutura de privilgios, retirando a iseno do primeiro e segundo estados.

No difcil imaginar o que aconteceu. O clero e a nobreza no estavam dispostos a perder seus privilgios e resistiram, o que acabou gerando freqente troca de ministros na rea econmica. Sem encontrar uma soluo para este impasse, Lus XVI convocou a Assemblia dos Estados Gerais, onde os trs Estados discutiriam de onde viria o aumento da receita tributria, na esperana de obter os impostos suplementares que lhe permitisse equilibrar o oramento.

Assemblia Nacional Constituinte

Em maio de 1789, to logo os Estados Gerais se reuniram em Versalhes, manifestaram-se os conflitos entre as trs ordens sobre o sistema de votao. A nobreza contava com 300 representantes, o clero com outros 300 e o terceiro estado com 600. Enquanto o clero e a nobreza exigiam o voto por ordem, o Terceiro Estado exigia o voto por cabea. Aps um ms de discusso infrutfera, o Terceiro Estado separou-se dos outros dois, proclamando-se o legtimo representante na nao e seus deputados declararam-se em Assemblia Nacional, atribuindo-se poderes de regular os impostos e fiscalizar o rei. O rei os expulsou do palcio de Versalhes na tentativa de dissolver tal Assemblia, o que no os intimidou. Revoltados, eles invadiram o Salo de Pla (um jogo praticado pelos nobres, parecido com o tnis), onde juraram se manter reunidos at conclurem uma nova Constituio. Diante das manifestaes dos parisienses em apoio a essa atitude, o rei viu-se obrigado a convidar o clero e a nobreza a se unirem aos representantes do povo. Desse modo, em 9 de julho de 1789, os Estados Gerais se transformaram em uma Assemblia Nacional Constituinte, que restringiria o poder do rei.

Essa deciso incitou o rei a tomar medidas mais drsticas, entre as quais a demisso do ministro Jacques Necker, conhecido por suas posies reformistas. Ao saberem do afastamento do ministro patriota, as massas parisienses mobilizaram-se e passaram a controlar as ruas da capital. Em 14 de julho de 1789, o povo tomou a Bastilha, fortaleza e priso smbolo do regime absolutista, libertou os presos que ali se encontravam e apoderou-se das armas e plvora ali existentes. A tomada da Bastilha foi um marco decisivo para o movimento revolucionrio. Tomar a Bastilha significava derrubar um mito de sustentao do Antigo regime. O povo destri a Bastilha e com ela a ltima lembrana do arbtrio poltico do regime que caa.

IMAGEM QUEDA DA BASTILHA

Legenda: A Tomada da Bastilha, por Jean-Pierre Louis Laurent Houel.

Em funo das agitaes parisienses, o movimento revolucionrio espalhou-se pelo campo. Na luta pelo fim da servido e dos direitos feudais, os camponeses invadiram castelos da aristocracia e em muitos casos massacraram os seus proprietrios. Paralelamente corriam boatos da vingana terrvel que os nobres exerceriam sobre o campesinato. Essas notcias ocasionaram uma onda de pnico que se expandiu pela maioria das provncias do pas, que ficou conhecida como Grande Medo.

Entre as primeiras medidas aprovadas pela Assemblia estavam a abolio dos direitos feudais, a Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado e o confisco das terras da Igreja.A proposta de limitao do poder do soberano por meio do estabelecimento dos trs poderes Executivo, Legislativo e Judicirio constitua uma tentativa de conciliar a instituio real herdada do passado com aspiraes de modernidade poltica da Frana.

A Constituio de 1791

De natureza individualista e liberal, a Constituio de 1791 estabeleceu que todos eram iguais perante a lei. Todavia, alguns eram mais iguais do que outros, uma vez que o texto estabeleceu o sufrgio censitrio, com distino entre cidados ativos e passivos. Ativos eram aqueles que votavam de acordo com a sua renda, ou seja, gente de posses, os ricos. Passivos eram os no votantes, como os trabalhadores, os desempregados, as mulheres, enfim, os excludos. Assim a Constituio de 1791 mostrou que foi o reflexo das aspiraes de uma burguesia moderada que tomou a seu cargo a administrao dos departamentos e municpios franceses.

Mas esse projeto no tinha muita sustentao. Por um lado, os setores populares urbanos queriam avanar com o processo revolucionrio. Por outro lado, muitos nobres haviam se refugiado no exterior e se organizavam para destruir pelas armas todas as conquistas da revoluo. Os emigrados tinham o apoio de Estados Absolutistas como ustria e Prssia, que viam na Frana constitucional um exemplo perigoso. A situao agravou-se, quando em 1791 Lus XVI e a famlia real tentaram fugir para a ustria. Foram reconhecidos, detidos e obrigados a retornar para Paris.

Em agosto de 1791, os governantes da ustria e da Prssia lanaram a Declarao de Pillnitz, que afirmava a necessidade de restaurao da ordem e dos direitos reais na Frana, como um projeto de interesse comum de todos os Estados europeus. Como era de se esperar, tal declarao desagradou os franceses, que a viam como uma interferncia nos assuntos internos do pas.

Conveno Nacional

Em abril de 1792, a Assemblia declarou guerra a ustria e Prssia. Como os exrcitos desses dois pases conseguiram atravessar a fronteira e chegaram a ameaar Paris, a ala radical proclamou a ptria em perigo e distribuiu armas a populao parisiense. O controle da capital passou Comuna de Paris, que exigiu da Assemblia o afastamento do rei. No sendo atendidos, os parisienses atacaram o palcio real, detendo o soberano e obrigando o legislativo a suspend-lo de suas funes. Esvaziada de seus poder, a Assemblia convocou a eleio de uma Conveno Nacional.

Em 20 de setembro, o exrcito popular derrotou os austracos e prussianos na batalha de Valmy e o rei foi declarado um inimigo da revoluo. A Conveno Nacional iniciou seu governo, decretando o fim da monarquia e proclamando em 21 de setembro a Repblica. Coube-lhe decidir sobre importantes medidas: elaborar uma nova Constituio, julgar e executar o rei Lus XVI o que ocorreu em 21 de janeiro de 1793 e traar estratgias para fazer frente s coligaes estrangeiras, apoiadas pelos nobres emigrados.

A proclamao da Repblica marcou o Ano I do novo calendrio francs, bem como uma nova fase da Revoluo Francesa. De incio, a hegemonia da Conveno pertenceu aos girondinos, interessados em conter o avano das massas. Uma mobilizao na capital resultou na expulso de lderes girondinos e favoreceu a ascenso dos jacobinos Robespierre, Saint- Just, Marat e Danton. Iniciou-se ento o momento mais radical da revoluo, onde foram aprovadas medidas de carter popular: o sufrgio universal (somente para homens), o ensino pblico gratuito, a abolio da escravido nas colnias, o tabelamento dos preos dos gneros de primeira necessidade e o fim de todos os privilgios de classe que ainda existiam.

Robespierre, o principal lder da Revoluo, assumiu um Estado beira do colapso: em guerra contra uma coligao integrada pela Inglaterra, ustria, Prssia, Holanda, Espanha, Rssia e Sardenha, com revoltas populares na Vandia e em plena crise financeira e social.

Para fazer frente crise generalizada, ele e outros lderes jacobinos estabeleceram um regime sem base constitucional e que ficou conhecido como Terror. O regime implantado por Robespierre se alicerou numa aliana entre os grupos intermedirios (que correspondiam s novas camadas sociais, polticas e profissionais emergentes na poca, da qual fazia parte a pequena burguesia) e as massas trabalhadoras. Mas essa frgil sustentao no demorou a ruir. De um lado, os lderes dos sans-cullottes queriam manter as massas populares da capital como um ator poltico autnomo. De outro lado, temendo o confisco de seus bens e desejosa de liberdade nos negcios, a alta burguesia iniciou uma campanha pela anistia geral, conduzida na Conveno por lderes como Danton e Desmoulins. Robespierre levou guilhotina os lderes que se levantaram contra ele, mas no dispunha de uma base de apoio efetivo. Enfraquecido, Robespierre e Sant-Just foram presos e executados.

IMAGEM Priso de Robespierre

Legenda: Priso de Robespierre

Diretrio

conhecido como Reao Termidoriana o golpe de Estado marcou o fim da participao popular no movimento revolucionrio e a alta burguesia voltou ao poder. Em 1795, a Conveno Girondina restabeleceu o voto censitrio, anulando o sufrgio universal, e criou o Diretrio. O novo governo, autoritrio e fundamentado numa aliana com o exrcito, tratou de elaborar uma nova Constituio, capaz de manter a sociedade burguesa livre de uma dupla ameaa: a Repblica Democrtica Jacobina e o Antigo Regime.

O fim das aspiraes da populao de participar democraticamente do Estado francs ocasionou vrios levantes populares e o agravamento da crise interna. Enquanto isso, no plano externo, o exrcito francs, sob o comando de Napoleo Bonaparte, conquistava seguidas vitrias sobre as foras absolutistas que queriam destruir a Repblica Francesa.

O Golpe de 18 de brumrio

Temendo que a crise interna se agravasse, os girondinos aliaram se a Bonaparte fecharam o Diretrio e entregaram o comando do Estado ao militar vitorioso. Esse golpe ocorreu em 18 de Brumrio, instituindo uma nova forma de governo o Consulado onde o poder concentrou-se nas mos de Napoleo. Sua ascenso ps fim aos distrbios provocados pelos grupos mais radicais e pelos setores monarquistas, assegurando, portanto, uma certa estabilidade poltica. Este golpe marca tambm o fim da revoluo.

Em 1802, Napoleo conseguiu transformar o consulado em um cargo vitalcio. Dois anos mais tarde, um outro plebiscito deu-lhe permisso para transformar o consulado num Imprio. As reformas implementadas por Napoleo no Consulado e na fase inicial do Imprio consolidaram a ordem burguesa. Ele ratificou a redistribuio de terras levada a efeito pela Revoluo Francesa, reformou o sistema tributrio e, na esfera educacional, estimulou o ensino pblico.

IMAGEM Napoleo Bonaparte

Legenda: Imagem de David, retratando Napoleo Bonaparte conduzindo a Frana para o seu destino.

A poltica externa napolenica trouxe vrios conflitos entre a Frana e outros Estados. Napoleo decretou o chamado Bloqueio Continental contra a Gr-Bretanha, que proibia a introduo de produtos britnicos no continente europeu. Esta medida acabou comprometendo diversos pases que, se por um lado no tinham condies de envolverem-se num conflito contra o exrcito francs, por outro dependiam economicamente da Inglaterra, no podendo fechar os seus portos aos produtos ingleses. Pases neutros foram hostilizados por ignorarem o bloqueio, outros sofreram ocupao e tiveram seus soberanos afastados, como a Espanha. Em Portugal, a Famlia Real teve se vir para o Brasil, temerosa em relao ao ataque francs.

Graas a este decreto, a Frana envolveu-se numa campanha desastrosa contra a Rssia. Napoleo conseguiu entrar em Moscou, mas seu exrcito foi consumido pelo rigoroso frio do inverno russo, a fome e as guerrilhas. A derrota de Napoleo acabou destruindo o mito da invencibilidade que ele construiu.

Embora Napoleo tenha consolidado as conquistas burguesas da Revoluo Francesa, ele, para alguns historiadores, teria destrudo as idias de igualdade, liberdade e fraternidade que constituam o grito de ordem dos revolucionrios. Pela sua tirania, ele foi acusado de ter sido o principal responsvel pela experincia revolucionria fracassada da Frana. Suas iniciativas teriam seguido caminhos contrrios s idias da revoluo e mesmo da fase inicial de seu governo.

A derrota na Rssia, a crise econmica pela qual passava a Frana, os gastos de guerra, entre outros problemas acabaram alimentando uma opinio pblica contra Napoleo. Em 1813, pases como Gr-Bretanha, ustria, Prssia, Rssia e Sucia organizaram uma coligao que venceu a Frana na Batalha de Leipzig. No ano seguinte, Napoleo assinou o Tratado de Fontainebleau, pelo qual abdicava ao trono francs. Este, ento, passava para as mos de Lus XVIII, irmo de Lus XVI. Mas o imperador, que estava refugiado na Ilha de Elba, acabou retornando ao trono francs graas ao apoio de militares e da populao. Seu governo durou apenas cem dias e Napoleo foi novamente destitudo por seus inimigos.

A runa de Napoleo veio, finalmente, como a Batalha de Waterloo, na Blgica, quando um exrcito coligado de franceses e prussianos venceu as tropas imperiais. Napoleo abdica novamente ao trono e exilado na Ilha de Santa Helena, onde morreu envenenado em 1821.

Se liga!

A reavaliao das bases jurdicas e intelectuais do Antigo Regime foi possvel, sobretudo devido ao Iluminismo, corrente filosfica representada na Frana por pensadores como Voltaire, Montesquieu e os enciclopedistas, como Diderot e DAlembert. Esses intelectuais forneceram elementos para a crtica das estruturas sociais e polticas do absolutismo e a proposta de uma ordem liberal burguesa.

As origens do movimento revolucionrio de 1789 devem ser buscadas no conflito entre a estrutura oficial e os interesses estabelecidos no Antigo Regime e as foras sociais ascendentes. Em outras palavras, o individualismo sufocado por uma organizao social coercitiva desenvolveu-se a partir do momento em que o terceiro estado rejeitou as ordens, as diferenas, as restries e, ao mesmo tempo, incentivou a laicizao, o acesso cultura e o reconhecimento de sua competncia.

Os girondinos representavam a alta burguesia e defendiam posies polticas moderadas, temendo que as camadas populares assumissem o controle da revoluo. Eram favorveis, por exemplo, igualdade jurdica dos cidados, mas no a uma igualdade econmica. J os jacobinos representavam a pequena e mdia burguesia e o proletariado de Paris. Defendiam posies radicais com maior participao popular, objetivando diminuir a enorme desigualdade econmica entre os franceses. Existia tambm outro grupo, que ora apoiava os girondinos, ora os jacobinos, conforme lhe fosse conveniente. Este grupo era conhecido como plancie ou pntano.

Sesso pipoca

Danton O Processo da Revoluo

Diretor: Andrzej Wajda. Frana, 1982.

Durante a Revoluo Francesa, o lder popular Danton prega o fim do regime do terror que ajudara a instituir. Enfrenta Robespierre, fortemente comprometido com a organizao do Estado.

Casanova e a Revoluo

Diretor: Ettore Scola. Frana/ Itlia, 1982

Um grupo de aristocratas segue Lus XVI em sua fuga para Varennes, a fim de escapar da revoluo.

Vamos praticar

01. (PUC-RJ) Que o terceiro estado? Tudo. Que tem sido at agora na ordem poltica? Nada. Que deseja? Vir a ser alguma coisa. Ele o homem forte e robusto que tem um dos braos ainda acorrentados. Se suprssemos a ordem privilegiada, a nao no seria algo de menos e sim alguma coisa mais. Assim, que o terceiro estado? Tudo, mas um tudo livre e florescente. Nada pode caminhar sem ele, tudo iria infinitamente melhor sem os outros [...]. (Abade Sieynes. O que o terceiro estado?)

Considerando o texto apresentado:

a) Identifique dois grupos sociais que compunham o terceiro estado e explique seus descontentamentos s vsperas da Revoluo Francesa.

b) Cite, a partir dos descontentamentos do terceiro estado em relao ao Antigo Regime, duas aes empreendidas pelos revolucionrios franceses que tenham contribudo para alterar esta situao.

02. (UFF) O processo de revolues democrtico-burguesas que animou a Europa e a Amrica no sculos XVIII e XIX contribuiu, efetivamente, para a institucionalizao da vida poltica contempornea. Com relao ao enunciado, pode-se afirmar que:

(A) A Revoluo Francesa no fez parte do processo das revolues democrtico-burguesas, pois apresentou idias de vida social incompatveis com o capitalismo liberal.

(B) As revolues democrtico-burguesas, ao conterem a crtica mais radical ao Antigo Regime, desenvolveram as idias centrais do positivismo e do evolucionismo, contribuindo para o reforo do autoritarismo.

(C) A Revoluo Francesa, movimento heterogneo, que incluiu setores sociais descontentes com o antigo Regime, promoveu o desenvolvimento das matrizes ideolgicas do sculo XIX: liberalismo, socialismo e conservadorismo.

(D) A Revoluo Americana, ao ser includa nas revolues democrtico- burguesas, excluiu-se do processo ocidental, vinculando-se, apenas, s revolues atlnticas.

(E) A Revoluo Francesa no representou o processo das revolues democrtico-burguesas, por no aceitar a hegemonia inglesa na expanso das idias liberais.

03. (UNICAMP) Oh celeste Guilhotina, abrevias rainhas e reis, por tua influncia divina, reconquistamos nossos direitos.

a) Identifique o acontecimento histrico ocorrido na Europa no final do sculo XVIII ao qual esses versos se referem.

b) Mencione duas caractersticas do poder do rei numa sociedade do Antigo Regime.

c) Cite dois direitos assegurados pela Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado.

04. (UFF) A Revoluo Francesa no foi feita por um partido poltico organizado, no sentido moderno do termo, nem foi influenciada por um programa partidrio previamente elaborado. Sua unidade foi estabelecida mediante a convergncia de idias geradoras de um consenso.

Podemos identificar essas idias como:

(A) Burguesas, baseadas no liberalismo clssico

(B) Monarquistas, baseadas no absolutismo real de direito divino

(C) Burguesas, baseadas nos ideais socialistas e anarquistas

(D) Camponesas, baseadas no socialismo utpico e empresarial

(E) Monarquistas, baseadas na economia de mercado e no parlamentarismo

05. (UNIRIO) A Revoluo Francesa foi um dos principais movimentos sociais da histria ocidental. Exerceu forte influncia na formao do iderio poltico e social do ocidente em pocas distintas e em culturas variadas. A Revoluo Francesa, em seu processo de mudanas polticas e sociais caracterizou-se por:

(A) Derrubar o sistema d representao poltica da nobreza senhorial baseado nos Estados Gerais eleitos pelo sufrgio singular, secreto, universal.

(B) Fortalecer o Estado estamental baseado no privilgio como fator de distino social e ascenso econmica

(C) Promover o sdito a cidado atravs de um ordenamento poltico- jurdico no qual se destaca a Declarao dos Direitos do Homem e do cidado.

(D) Substituir o sistema constitucional e parlamentar da monarquia francesa do Antigo Regime por uma Repblica Federativa de governo burgus.

(E) Trocar o modelo institucional da separao dos poderes do Estado absoluto francs, divididos em Executivo, Legislativo e Judicirio, pelos tribunais revolucionrios burgueses.

06. (RURAL2008) [...] A Revoluo Francesa dominou a histria, a prpria linguagem e o simbolismo da poltica ocidental desde sua irrupo at o perodo que se seguiu Primeira Guerra Mundial. HOBSBAWN, Eric J. A era das revolues: 1789 1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 10. edio, 1997.

Leia as sentenas abaixo.

I Os processos de independncia da Amrica Latina sofreram forte influncia da Revoluo Francesa, destacando-se as crticas ao Antigo Regime e especialmente ao mercantilismo.

II O primeiro pas da Amrica a tornar-se independente, os Estados Unidos, tambm se inspirou, em 1776, nos ideais da Revoluo Francesa para romper com a metrpole inglesa.

III No Haiti, os escravos da mais prspera colnia francesa da Amrica lideraram, sob inspirao dos ideais da Revoluo, o processo de independncia, que se concretizou em 1804.

IV - Os ideais revolucionrios de liberdade, igualdade e fraternidade, mesmo tendo sido plenamente alcanados poca da Revoluo, se perderam com o tempo e voltam a ser bandeira de muitos movimentos sociais atualmente.

Marque a alternativa que contenha as assertivas que ajudam a compreender as repercusses da Revoluo Francesa.

(A) I e II.

(B) I e IV.

(C) I e III.

(D) II e IV.

(E) II e III.

OS PROCESSOS DE INDEPENDNCIA NA AMRICA LATINA:

As Lutas por liberdade frente aos longos anos de explorao metropolitana.

Em meio a esta unidade buscamos melhor compreender como se desenvolveram os distintos processos de independncia nas colnias americanas e sua significativa contribuio para o fim da ultrajante dominao metropolitana.

Estas incansveis lutas pela independncia acabaram por marcar o incio de um complexo e longo processo de ruptura com o sistema colonial.

A Crise do Sistema Colonial

A partir da segunda metade do sc. XVIII a dinmica econmica europia passaria por uma grande reformulao onde o capital comercial perderia a supremacia para o crescente capital industrial. A necessidade industrial de conquistar o maior nmero de potenciais mercados consumidores acabaria por afetar diretamente as tensas relaes entre a metrpole e colnia.

A insatisfao frente autoritria prtica mercantilista de exclusividade colonial conduzia as elites coloniais e os comerciantes locais a buscarem no contrabando e na produo interna alternativas para a livre comercializao de seus gneros mais necessrios. Os grandes proprietrios de terras e parte da burguesia colonial passariam a buscar o fim da interferncia metropolitana em seus negcios. As reformas burbnicas representavam uma nova postura em relao colnia, na qual a metrpole maximizava o Pacto Colonial. A repercusso dessa atitude foi decisiva para o desencadeamento da crise final do Sistema Colonial. Apesar da dinamizao das relaes comerciais entre Espanha e suas colnias, a elite criolla que havia experimentado as vantagens oferecidas pelo comrcio com os ingleses, tornava-se cada vez mais conscientes dos benefcios do livre comercio. A metrpole no conseguia suprir com a mesma eficincia que a Inglaterra, a demanda por bens manufaturados que havia nas colnias. Tendo como justificativa ideolgica s idias iluministas, pautadas no direito universal a liberdade e a igualdade, produzidas principalmente na Inglaterra e na Frana do sculo XVIII.

Torna-se necessrio destacarmos as desiguais condies a que as camadas populares coloniais foram submetidas, em meio a este processo, acabando por limitar suas formas de reivindicaes. Embora estivessem presentes nas lutas de libertao a situao dessas classes pouco ou nada mudaria com a independncia. Podemos dizer que a Independncia da Amrica Espanhola foi conservadora e elitizante, visto que as tentativas de independncia empreendidas pelas camadas populares foram consideradas como perigos para as elites latino-americanas.

O processo de independncia da Amrica Latina no visto como uma revoluo, j que a base econmica ps-independncia baseada no colonialismo. Dificultando assim a possibilidade de reais mudanas nas estruturas econmicas, sociais e polticas (FURTADO, Celso. As Bases Econmicas do Neo Colonialismo. In: Formao Econmica da Amrica Latina.)

As Lutas por Independncia

A Independncia Norte Americana de 1776, que precedeu em poucos anos a Revoluo Francesa de 1789, passou a representar um notvel exemplo para as reas coloniais ibero-americanas fomentando seus movimentos revolucionrios. O exemplo americano conseguiu compatibilizar um programa liberal, do ponto de vista poltico e econmico, com a existncia de escravido nos centros produtivos mais expressivos do setor primrio. Portanto, para os senhores de escravos da Amrica colonial, era possvel pensar na libertao da explorao metropolitana, sem que fosse condio a abolio dos escravos.

neste turbulento perodo, em meio as grandes revolues burguesas, que o processo de desintegrao colonial da Amrica se fortaleceria. A Revoluo Industrial, uma das primeiras manifestaes burguesas da Europa, viria a contribuir de forma significativa para a implantao do sistema capitalista que serviria de alicerce para montagem de um novo mecanismo de dominao das antigas reas coloniais.

Tambm fora fundamental para o incio das lutas de independncia uma clara mudana na poltica colonial por parte das metrpoles europias que passaram a ampliar seus laos de explorao visando minimizar seus prejuzos. Assim, torna-se ainda mais latente a contradio entre as praticas do Antigo Regime Absolutista e as novas concepes iluministas.

importante destacar que desde o incio da colonizao existiram movimentos de resistncia contrrios explorao metropolitana. A prpria regio do Vice-Reinado do Peru, por exemplo, foi alvo de duas revoltas lideradas por descendentes incas, a primeira comandada por Atahualpa (1742-1756), e a segunda por Tupac Amaru em 1780.

O Processo de Independncia do Haiti

Seguindo o exemplo separatista dos vizinhos Norte Americanos, a antiga colnia francesa de So Domingos, tendo uma populao majoritariamente de origem escrava africana, daria incio a um dos movimentos de independncia mais radicais de toda as Amricas, resultando na formao da Repblica negra do Haiti.

Dividida entre Frana e Espanha at 1795 a ilha de So Domingos, posteriormente Haiti, tornar-se-ia um importante plo agro-exportador de cana de acar. Uma empresa colonial integrada aos moldes do sistema de grandes plantations, que acabaria por influenciar diretamente na sua composio social, pautada na escravido, onde aproximadamente 90% da populao era formada por escravos e mestios. Esta mesma populao iniciaria o processo de lutas por sua libertao no ano de 1791 tendo como principal lder revolucionrio o ex-escravo Toussaint Louverture.

Podemos melhor entender o processo de Independncia do Haiti ao analisarmos a trajetria do lder revolucionrio Louverture, um antigo escravo que lutou ao lado dos espanhis e posteriormente dos franceses, buscando fazer uma espcie de aliana ttica momentneo com o inimigo visando o fim da escravido, mas que ao perceber a inviabilidade de seu projeto passaria a defender os ideais de independncia.

Sua habilidade poltica lhe conferiu liderana, como expe o texto Sagrao da Liberdade.

Toussaint, como bom revolucionrio, fez uma aliana ttica e momentnea com o inimigo para conquistar um objetivo: a liberdade dos escravos...

Em 1801 Toussaint havia estendido seu controle sobre toda a Ilha, aps o avano sobre os espanhis. Logo, passou a organizar a Ilha em distritos e elegeu uma assemblia constituinte onde saiu como governador geral pela constituio de 1801.

A violenta resposta Francesa no tardou a aparecer, temos assim a morte de vrios lideres coloniais, at mesmos os que haviam passado para o lado francs, visando eliminar todo e qualquer perigo possvel dominao branca e metropolitana. Porm a resistncia colonial formaria um novo exercito colonial comandado por Jean-Jacques Dessalines acompanhado por Alexandre Ption e Henri Chistophe, tornando-se os condutores da rebelio anti-colonialista. Com a ajuda de Ingleses e Norte Americanos as novas foras insulares expulsaram os Franceses e em 1804 proclamaram a independncia da metade oriental da ilha se tornando definitivamente Haiti (terra de montanhas).

Enquanto na parte norte da ilha de So Domingos Henri Chistophe sucederia Dessalines implantando uma ditadura da qual se proclamaria presidente vitalcio (1811-1820), passando a atender aos interesses dos grandes proprietrios e vindo a disputar a hegemonia com o governo de base social do lado haitiano.

Em 1821 comandados por Jean-Pierre Boyer, que havia assumido o poder em proveito da elite mulata, cessa-se a reforma agrria e instala-se um novo modelo capitalista de explorao agrcola totalmente dependente do interesses externos.

Somente em 1825 a Frana reconheceria a independncia do Haiti, no entanto, no podemos negar a anterior influncia que este processo popular trouxe, principalmente para as colnias americanas com grande contingente escravo, particularmente para Brasil e Cuba ajudando a criar um contexto conhecido como medo branco.

IMAGEM Henri Chistophe

Legenda: Henri Chistophe

O Processo de Independncia na Amrica Espanhola

O processo de independncia da Amrica Espanhola pode ser dividido em duas fases. A primeira vai de 1906 a 1915 e a segunda de 1815 a 1824, sendo somente a segunda com o apoio da Inglaterra.

Em 1808, os exrcitos de Napoleo invadiram e ocuparam a Espanha, forando a abdicao de Fernando VII. Essa ocupao representou uma fragilizao nas relaes entre metrpole e colnia, uma vez que as atenes espanholas foram voltadas para tentar solucionar o problema interno da metrpole. A autoridade real constituda durante sculos agora se enfraquecia diante das colnias. Frente a essa situao, os colonos viram o momento ideal para se levantar contra as autoridades peninsulares. Essa primeira fase foi caracterizada pelos levantes dos cabildos das principais cidades coloniais mas foi levada sem grandes apoios externos, uma vez que a Inglaterra estava em guerra com os EUA entre 1812 e 1814. J a segunda fase marcada por uma forte tentativa de recolonizao da Espanha entre 1815 e 1817 em consonncia com o restabelecimento do absolutismo durante a Restaurao. No entanto, durante a segunda fase, as colnias puderam contar com o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos (Doutrina Monroe). Essa segunda fase resultou na independncia das colnias espanholas na Amrica (exceto o Haiti, independente desde 1804).

IMAGEM Pintura de Francisco Goya

Legenda: Pintura de Francisco Goya Os desastres da guerra, que mostra a ocupao francesa na Espanha.

Podemos destacar como sendo um dos primeiros movimentos de carter independentista para a Amrica espanhola o ocorrido em 1806 na regio da atual Venezuela. Liderada por Francisco Miranda iniciar-se-ia uma tentativa, que logo acabaria sendo derrotada pelas foras espanholas. Em seguida, no ano de 1810, seria a vez do Mxico, onde o padre Miguel Hidaldo tomaria a liderana de uma revolta popular anti-colonialista, sendo preso e executado no ano seguinte. Apesar disso as lutas pela independncia continuaram at 1815, quando os revoltosos seriam parcialmente vencidos, mas conseguindo finalmente sua liberdade em 1820.

IMAGEM Mural Mexicano

Legenda: Mural Mexicano sobre o movimento inicial de independncia; em destaque, o lder, Padre Hidalgo.

A independncia no Vice-Reino do Prata

O Vice-Reinado do Prata, que tinha como capital a cidade de Buenos Aires, era formado por Argentina, Paraguai e Uruguai. Estes pases aproveitariam o contexto favorvel a libertao colonial e passariam a lutar no somente contra a metrpole espanhola mais tambm entre si para disputarem a hegemonia nesta rea da Amrica.

Os criollos argentinos criariam as Provncias Unidas do Rio Prata, dentro da antiga capital, visando legitimar o seu novo centro de poder sobre os outros pases do Vice-Reinado do Prata. Logo o Paraguai passaria a no reconhecer a autoridade destes membros da elite argentina, e liderados por Jos Gaspar Francia, atravs de uma junta, os paraguaios assumiriam o poder na cidade de Assuno proclamando a independncia do pas em 1811.

J a tentativa de independncia do Uruguai ficaria a cargo do Comandante Jos Artigas que antes de concretizar seu projeto teria seu territrio invadido por tropas brasileiras sendo anexado com o nome de Provncia Cisplatina. O Territrio uruguaio continuaria sendo disputado, principalmente entre Brasil e Argentina, at sua independncia em 1828, fruto da interveno inglesa.

A Argentina teria sua independncia definitiva declarada no congresso de Tucum em 1816.

A Independncia dos trs pases do Prata, no entanto, no impediu que ocorressem novas disputas pelo controle da regio.

A independncia no Vice-Reino do Peru

Devemos destacar a importncia que dois membros da aristocracia criolla desempenharam na luta pala independncia das colnias da Amrica do Sul. O venezuelano Simn Bolvar e o argentino Jos San Martn.

O Vice-Reinado do Peru composto por Peru, Chile e Bolvia era justamente a parte do territrio sul-americano onde as principais foras espanholas estavam concentradas. Em meio a esta desfavorvel conjuntura Bolvar organiza seu exercito e partiu do norte enquanto as milcias de San Martn saram da regio sul ambos em direo ao centro do poder poltico-administrativo do Vice-Reinado.

Tendo sado da Argentina em 1817, o exercito dos Andes comandado por San Martn encontra em seu percurso o lder chileno O`Higgings e o auxilia na vitria sobre os espanhis onde o Chile conquistaria sua independncia no ano de 1818. Do Chile as tropas de San Martn rumariam para o Peru, contando com o apoio do Almirante ingls lorde Cochrane, onde cercariam a cidade de Lima obrigando o Vice-reinado espanhol a bater em retirada. Porm a luta pela autonomia definitiva do Peru ainda duraria mais trs anos at 1824.

Bolvar havia se tornado lder no processo de libertao da Gr-Colmbia, em 1819, uma rea formada pelas terras do Vice-reinado de Nova Granada e da capitania Geral da Venezuela. Em sua longa campanha chegou a comandar mais de dois mil homens em uma marcha pela cordilheira dos Andes.

Em julho de 1823, frente de um grande exercito que ocupou a cidade de Lima, envio tropas sobre o comando do venezuelano Antonio Jos de Sucre para derrotar os espanhis no territrio da Bolvia, conquistando sua independncia em 1825.

O Mxico e a Amrica Central

No Mxico o movimento iniciado em 1810, pelos padres Miguel Hidaldo e Jos Maria Morelos s seriam retomados em 1820. No ano seguinte, lideranas conservadoras assinam o plano de Iguala, que declarava o Mxico separado da Espanha, mas que ainda reconhecia fidelidade ao rei espanhol. O controle do governo mexicano passaria para as mos do general Agustn Itrbide um leal representante dos interesses espanhis.

Ao contrariar aos interesses das elites criollas estas organizaram uma rebelio que forou o general Itrbide a abdicar, proclamando-se um governo republicano em seu lugar, o ano de 1824. No entanto este processo ajudou a desencadear o desmembramento das colnias que formavam a confederao das provncias Unidas da Amrica Central, transformando: Guatemala, Costa Rica, El Salvador, Nicargua e Honduras em pequenas republicas independentes.

Os Novos Rumos da Amrica Independente

Devido ao eminente risco de uma reao metropolitana os novos pases americanos passaram a buscar formas prprias de organizao.

Em dezembro de 1823 o presidente dos Estados Unidos da Amrica afirmava publicamente que consideraria motivo de guerra qualquer interven