apostila 5 série

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1 Educando para a comunidade

APOSTILA DE FILOSOFIA ( 5AS SRIES) - 1O E 2O BIMESTRE - 2010 Primeira aula de Filosofia ... mas primeiramente o que Filosofia? Observemos a tirinha abaixo:

Mafal da Depois dessa nossa primeira conversa, vamos agora analisar e cantar a pardia da msica: preciso saber viver, de Roberto Carlos e regravada plos Tits. PRECISO SABER OUVIR Roberto Carlos Letra: Isaias Silva Uma nova disciplina Vou comear a aprender, Pois eu sei que em minha escola O estudo pra valer. preciso estar atento Pra mais tarde no esquecer: preciso saber ouvir. Falo da Filosofia, que Pra toda a minha vida Refletindo.... Ns observamos a tirinha, conversamos e cantamos a pardia preciso saber ouvir. Agora responda no seu caderno seguinte pergunta: O que filosofia? O que vou aprender com essa disciplina nova? E seu grande objetivo me Fazer pensar melhor Vou tomar as providncias Para o meu filosofar E uma delas o saber ouvir. preciso saber ouvir preciso saber ouvir preciso saber ouvir Saber ouvir, pra filosofar.

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3 Educando para a comunidade Captulo I

Dilogo - Oi. R! Sua me disse que estava aqui no quarto. -Oi,Pat! -Mas o que est fazendo? "Viajando na maionese"? - Estou pensando. - Pensando? "Abilolou" de vez? -Ora, Pat, agente tem que pensar, n? - Pensar em qu? - Na vida, ora! Se eu no penso, vo pensar por mim e vo governar-me. Eu no quero isto! Quero ser dono de mim mesmo... -Mas, para isto, preciso pensar? -Claro, Pat! Tenho que encontrar as minhas verdades. - E quais so? - Sei l! Por isso, estou pensando. - Explique-me direito! - Pat, as pessoas mais velhas pensam por ns. Enchem as nossas cabeas com um tanto de ideias sobre tudo. "Isto certo", "isto errado", "fato bom", "isto mau", "o mundo assim", "Deus quer" e por a vo... Bem. eu quero saber o que "eu" penso sobre a vida. O que acho que bom ou mau, certo ou errado. "Eu" quero encontrar o "meu" caminho. - Cara, no que voc tem razo?! Nunca parei pra pensar nisto, voc est certo... - Pat, a gente manipulada e nem se d conta. Voc j parou pra pensar, por exemplo, em quantas mensagens a televiso nos passa e ns a percebemos? J reparou que ns, adolescentes, vestimo-nos quase que da mesma maneira, falamos as mesmas grias e fazemos as mesmas coisas? Se algum sai fora do esquema dizemos que "pagou um mico". P, cara, estou cansado! - Ser, R, que voc no est querendo virar um "mauricinho"? - No isto: eu quero ser eu mesmo e no um arremedo dos outros. Para isso preciso pensar e muito. - Isto no "filosofar"? - Bem, se for, acho que todos ns estamos precisando de filosofia. - Vou para casa pensar em tudo que voc me falou. Depois te encontro e discutimos, t? Tchau!

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4 Educando para a comunidade -Tchau, Pat! Atividades Responda individualmente e, depois, vamos discutair em grupo: - O que voc acha das ideias de Rogrio? - O que entende por "filosofar"? - Voc acha que importante filosofar? - Ser que somos, realmente, influenciados pelo que os outros pensam? - E a televiso, como acha que ela exerce influncia sobre ns? 2. Leia a seguinte histria, procurando interpret-la: O jabuti Era uma vez um jabuti muito engraadinho. Ele adorava passear por toda a floresta e se metia em todo e qualquer buraco, mas tinha a sua prpria casinha. Uma casinha muito linda! Um dia, ele andou, andou e andou... De repente, viu-se numa clarei ra, cercada de altas rvores. Olhou para um lado e outro e no con seguia mais saber em que direo ficava a sua casa. Botou a sua cabecinha pra dentro da carapaa e se ps a chorar. Pouco a pouco, vrios animais foram se aproximando do jabuti, com muita pena dele. Perguntaram-lhe o que acontecera, e ele s sabia resmungar e chorar. Nisso, chegou Dona Coruja, sempre cheia de sabedoria, e acabou por faz-lo falar. E ele disse: -Estou perdido e no sei o que fazer. Ele respondeu: Senhor Jabuti, a gente precisa saber quando necessrio pr a cabea para fora e quando preciso p-la para dentro. Voc tem que ohar ao redor e pensar. Lembre-se disto! O jabuti, ento, olhou, olhou para todos os lados e, depois, recolheu sua cabecinha, colocando-se a pensar. A, lembrou-se. Todos os animais se alegraram. Cada um tomou seu rumo e o jabuti, o mais depressa que pde, dirigiu-se para sua casa. Da por diante, no passou mais aperto, pois sabia quando devia olhar para fora e quando devia olhar bem para dentro... Responda individualmente e em seguida vamos discutir em grupo: - Como interpreta este texto? - Voc v ligao entre o texto e a fala de Rogrio?

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5 Educando para a comunidade Captulo II

Dilogo Quando Dona Angela acabou de fazer a chamada, percebeu que Pat estava com o brao levantado. - Sim, Pat, pode falar. - Dona Angela, eu e o Rogrio inventamos uma brincadeira e achei que seria muito legal se todos da turma participassem. No sei se deve ser na aula de portugus ou outra matria... - Mas como essa brincadeira? Pat virou-se para Rogrio: - Voc podia explicar, R? Rogrio colocou-se de p e disse: - Bem, Dona Angela, ns combinamos de, em cada dia, discutir um tema sobre algo que parece abstraio mas que, na verdade, concreto na vida de todos ns, como, por exemplo, o sentido da vida, a necessidade de refletir. Gostaramos de falar sobre a amizade, a responsabilidade, a lealdade, a justia, e outras coisas assim... - Interessantssima a brincadeira de vocs. Sabem que isso filosofia? - No falei, R? - A filosofia muito importante em nossas vidas. Ela nos ajuda a passar tudo por nosso raciocnio, a compreender melhor a vida, ns mesmos, os outros e o mundo. uma pena vocs no terem uma aula s para isso! Mas poderemos discutir dentro de nossa matria. E estes temas aos quais voc se referiu, Rogrio, chamam-se valores. Eles nos guiam no cotidiano. Vamos aproveitar, ento, e comear pela discusso do tema "valores"? Que tal? Toda a turma bateu palmas e a discusso logo se tornou calorosa, inflamando-se cada vez mais. E l se foi o horrio... Valores e contravalores H valores situados fora do tempo e do espao, como a paz, a justia, a generosidade, o dilogo, a sinceridade, etc. J nos dilogos de Plato vamos descobrir a discusso destes mesmos valores, o que vem corroborar a afirmao que principia este pargrafo. Descobrir, incorporar e realizar estes valores positivos deve ser, pois, uma das tarefas bsicas da filosofia para crianas e adolescentes. Devemos comear pensando: "Quais os critrios para se viver em sociedade?" Veremos que temos: - o sentimento de crtica que nos permite analisar a realidade;

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6 Educando para a comunidade - o sentimento de alteridade que nos permite sair de ns mesmos para estabelecer relaes com o outro; - o conhecimento e o respeito plos direitos humanos, que nos traz harmonia; - o compromisso pessoal e o esprito de responsabilidade para que os outros critrios no caiam no vazio. O que um valor? Algo que estimamos, a convico de que alguma coisa boa ou ruim (contravalor). A organizao destas convices vai se fazer em ns, atravs dos valores dos pais, dos educadores, da religio e da sociedade, durante o nosso processo de desenvolvimento. De onde vm os valores? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A filosofia vai contribuir para que estes valores j estabelecidos sejam passados pelo crivo da razo e ajuda nos a definir, com clareza, os objetivos de vida e assumir, livremente, valores autnticos que evidentemente ajudaro a aceitar e amar como , facilitando uma relao equilibrada com o outro, com a vida e com o mundo. Atividade: Complete abaixo com os micro valores:

1. Responsabilidade que implica: - critrio prprio - esforo ........................... ........................... ............................ ........................... 2. Justia que implica: - solidariedade ......................... .......................... ........................... .............................

3. Amor que implica: - no violncia - colaborao .............................. ................................. ................................. ................................. 4. Auto-estima que implica: - confiana em si mesmo .............................. ................................. ................................. .................................

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preciso entendermos que um valor sempre se relaciona com outros e que sempre tem, tambm, os seus contravalores. Por exemplo: 1. Sinceridade - inimizade - falsidade - hipocrisia - engano - desconfiana 2. Dilogo - imposio - desinteresse - intolerncia - antipatia - isolamento - e assim por diante.

Atividades 1. Reflita sobre as questes adiante e leve, depois, a discusso para o grupo: -Novamente aparece a palavra "filosofia". Est claro para voc o seu significado? - Rogrio fala em amizade, justia, responsabilidade, lealdade, efc. e a professora chama a isto de "valores". O que voc entende por v alor? - Os valores so importantes em nossa vida? Por qu? - O que tem valor para voc? -Acha que importante que todas as pessoas tenham valores? - Como os valores podem contribuir para a paz e a felicidade?

2. Vamos cantar as msicas "Os anjos", de Dado Villa-Lobos e Renato Russo, e "Tente outra vez", de Raul Seixas, comeando pela primeira. O professor vai lhe dar as letras, caso voc no as lembre. As discusses acerca das msicas podero ser orientadas pelas perguntas que se seguem:OS ANJOS Renato Russo Hoje no d Hoje no d No sei mais o que dizer E nem o que pensar. Hoje no d Hoje no d A maldade humana agora no tem nome Hoje no d. Pegue duas medidas de estupidez Junte trinta e quatro partes de mentira Coloque tudo numa forma Untada previamente Com promessas no cumpridas Adicione a seguir o dio e a inveja As dez colheres cheias de burrice Mexa tudo e misture bem

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8 Educando para a comunidadeE no se esquea: antes de levar ao forno Temperar com essncia de espirito de porco, Duas xcaras de indiferena E um tablete e meio de preguia. Hoje no d Hoje no d Esta um dia to bonito l fora E eu quero brincar Mas hoje no d Hoje no d Vou consertar a minha asa quebrada E descansar. Gostaria de no saber destes crimes atrozes todo dia agora e o que vamos fazer? Quero voar p'r bem longe mas hoje no d No sei o que pensar e nem o que dizer S nos sobrou do amor A falta que ficou. Ainda t na fonte (Tente outra vez!) Voc tem dois ps Para cruzar a ponte Nada acabou! No! No! No!... Oh! Oh! Oh! Oh! Tente! Levante sua mo sedenta E recomece a andar No pense Que a cabea agenta Se voc parar No! No! No! No! No! No!... H uma voz que canta Uma voz que dana Uma voz que gira (Gira!) Bailando no ar Uh! Uh! Uh!... Queira! (Queira!) Basta ser sincero E desejar profundo Voc ser capaz De sacudir o mundo Vai! Tente outra vez! Humrum!... Tente! (Tente!) E no diga Que a vitria est perdida Se de batalhas Que se vive a vida Han! Tente outra vez!...

TENTE OUTRA VEZ Raul Seixas Raul Seixas Veja! No diga que a cano Est perdida Tenha em f em Deus Tenha f na vida Tente outra vez!... Beba! (Beba!) Pois a gua viva

- Responda individualmente e discuta em grupo: - Esta msica triste ou alegre? - Quais as preocupaes que o autor apresenta? - Ele fala mais em valores ou contravalores? - Discrimine os primeiros e os segundos. - Por que ele diz que no d para brincar e voar para longe? - Coloque em discusso todas as preocupaes que ele apresenta. - Voc achou o texto difcil de ser compreendido? Se a resposta for sim, pea maior ajuda ao professor.

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Vamos segunda msica? "Tente outra vez", de Raul Seixas. Proceda da mesma maneira: Medite, responda individualmente e leve a discusso para o grupo: - Qual o valor principal de que fala essa cano? - Quais as frases da cano que mostram coisas positivas? - Escolha uma frase que mostre urna grande verdade que dever ser discutida pelo grupo. - Esta cano lhe traz alguma lio? Fale disto! 3. Leia o seguinte texto e levante perguntas em cima dele, ressaltando a questo de certos valores.

Reflexo

Meu Deus, a sociedade atual me deixa aterrorizada! A maldade humana parece no ter limites!... Os horrores, os crimes, as guerras, a violncia esto a para todos verem... A mentira, o dio, a inveja, a indiferena, a demagogia na poltica, nos negcios e at nos relacionamentos humanos nos espanta! Onde ficam o amor, a sinceridade, a honestidade, a fraternidade, a justia? De tudo isso, como diz Renato Russo, s nos ficou a falta que nos faz?... Mas, como diz Raul Seixas, "a cano no est perdida", tenhamos f em Deus, na vida e em ns mesmos. Vamos comear a andar e reconstruir este mundo! Como diz ele "basta ser sincero e desejar profundo!"

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10 Educando para a comunidade As Crianas so os verdadeiros filsofos! Para falar a verdade, so as crianas os verdadeiros filsofos! Com elas aprendemos que perguntar importante, a capacidade de duvidar admirar-se e espantar-se com o mundo que nos cercam so elementos fundamentais para entrarmos no mundo da filosofia, diga-se, pensamento crtico! uma pena mas com o tempo vamos nos acostumando com este mundo e as respostas ganham sua importncia, isto quando no matamos a filosofia que est em nossas crianas(e em ns mesmos)! Sejamos sinceros, para muitos mais cmodo permanecer em nosso mundinho, perfeito e organizado. Ensinaram para ns que a acomodao essencial para vivermos bem!!

Fonte: Blog Filosofia e Vida http://blogfilosofiaevida.com/ Blog do Professor Francisco Renaldo Segundo os filsofos Plato e Aristteles, a admirao o princpio da filosofia. Para os filsofos antigos e tambm para os modernos como Descartes, a admirao est na raiz da dvida, da interrogao e da investigao, portanto, no incio do filosofar. prprio do pensar infantil a imensa capacidade de admirar o mundo, no processo de construo de significados e valores. O adulto j tem suas certezas e seus valores e est em meio a tantas preocupaes cotidianas, a tantos desencantamentos, que perde a capacidade de admirar-se perante a existncia.

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Os desenhos animados tambm nos ensinam muito sobre a principal caracterstica da filosofia: o saber pensar... duvidar... questionar! Vejamos alguns exemplos:Ni Hao, Kai-lan Pense pra valer para entender o porque!

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Pink Dink Doo Se tenho um problema e no sei o que fazer, eu penso, penso, penso e penso at eu resolver".

Castelo Ra-tim-bum Zequinha: Por que sim, no resposta

E voc? Conhece algum desenho animado da sua infncia ou atual que possa nos ajudar a entender melhor a filosofia? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________

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12 Educando para a comunidade Captulo III

Dilogo - Pat, vamos mais adiante em nossa brincadeira de pensar? - O que voc quer dizer com isto? - Eu li uma coisa engraada em um livro. Dizem que se chama "silogismo". - um nome esquisito! - Mas veja que interessante: O homem um animal racional Pedro homem Logo, Pedro racional. Percebe? Voc faz duas afirmaes verdadeiras e chega a uma nova concluso. Tente fazer um! Toda mulher fmea Maria uma mulher Logo, Maria fmea. Que tal? - timo! Vamos continuar? - Tudo bem, mas eu acho que a gente pode fazer duas afirmaes verdadeiras e chegar a uma concluso falsa. Veja bem: Todo pssaro um animal Todo pssaro voa Logo, o animal voa. - verdade! Mas no h uma analogia ou uma relao perfeita entre as duas primeiras frases. O fato do pssaro ser um animal no tem nada a ver com o fato dele voar... Alguns animais voam e outros no... Bem, no sei se estou bem certo... - Mas uma brincadeira interessante! Veja, pensei em outra coisa: Todos os gatos so mamferos Todos os mamferos so gatos. Viu? Eu posso fazer uma frase verdadeira e, ao invert-la, ela se torna falsa. Faa voc! - Legal!

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13 Educando para a comunidade Todas as pitangueiras so plantas Todas as plantas so pitangueiras. Genial! Vamos continuar? Agora voc! - Todos os livros so para ler Tudo que para ler livro. - Jia! Pensei em outra forma: Nenhum gato pssaro Nenhum pssaro um gato. Viu? Eu inverti e ambas continuam verdadeiras. - Quando a gente pensa, R, reflete sobre a realidade. No assim? -Claro! - Ento, pensar mais do que ter imagens na cabea, n? Refletir pensar com profundidade, buscando o sentido e a verdade das coisas, no acha? - Exatamente! o que venho tentando lhe explicar! E a eu lhe pergunto: como voc faz para refletir?

- Eu penso bastante, uai! - Eu vou mais adiante: acho que a gente tem que comparar, buscar semelhanas e diferenas, analogias, duvidar, levantar hipteses, deduzir. - O que hiptese? - uma ideia com a qual procuro explicar algo. Pode ser verdadeira ou no. A gente tem que test-la. Continuando, acho que o processo deve ser assim: - eu observo - levanto uma hiptese - procuro uma ideia que me confirme a hiptese - procuro outras ideias que possam contradizer a minha hiptese - chego, enfim, a uma concluso. Vamos prtica: Quando eu digo "todo homem racional", porque no s eu observei a realidade e vi que isto verdadeiro, mas muitos outros fi zeram o mesmo. Portanto, uma verdade estabelecida. "Pedro um homem": a mesma coisa. Isto o bvio. Portanto, quando chego concluso que Pedro racional, estou raciocinando com lgica e chegando a uma concluso verdadeira. - P, R, isto tudo muito legal, mas cansa um bocado. Est fi cando tarde! Preciso ir! Depois a gente continua. -OK.,Pat. Tchau!

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Avidades l. Vamos imitar a brincadeira de R e Pat? Tente fazer o jogo que fizeram. - Coloque ao lado da frase se verdadeira ou falsa, marcando com V ou F. - Escreva se uma concluso ou uma hiptese. - Agora, jogue as frases para a turma e veja se sabem dizer se so j verdadeiras, falsas, hipteses ou concluses e se h lgica nos silogis-j ms que voc cria. 2. Leia o seguinte texto, procurando compreend-lo, e depois rs- j ponda: "O ltimo discurso" "Sinto, mas no quero ser imperador, no meu trabalho. No pretendo governar nem conquistar nada. Gostaria de ajudar - se fosse possvel - a judeus e gentios, negros e brancos. Todos desejamos ajudar-nos. Os humanos so assim. Queremos viver para a felicidade dos outros e no para faz-los desgraados. Por que tenderamos a odiar e a menosprezar? Neste mundo h lugar para todos. A Terra, que generosa e rica, pode abastecer todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, mas, apesar de tudo, nos termos perdido. A cobia envenena a alma dos homens... levanta muralhas de dio no mundo... est fazendo avanar a misria e a morte. (...) No necessitamos de mquinas sem humanidade. No necessitamos de inteligncia sem amor e ternura. Sem estas virtudes tudo violncia e tudo se perde. (...) Neste momento a minha voz chega a milhes de pessoas de todo o mundo... milhes de desesperados, homens, mulheres, crianas, vtimas de um sistema que tortura os humanos e encarcera os inocentes. (...) Me escutas? Onde estiveres, levanta os olhos! Podes ver? O sol rompe as nuvens que se espalham! Samos da obscuridade e vamos luz! Entremos em um mundo novo, em um mundo melhor, em que os homens estejam acima da cobia, do dio, da hostilidade! Olha para cima. A alma dos homens conseguiu asas e j comea a voar. Voa at o arco-ris, at a luz da esperana. (...) (Charles Chapim, em "O ltimo discurso", de O grande ditador)

- Procure no texto frases que sejam hipteses do autor. - Procure frases comprovadamente verdadeiras.

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15 Educando para a comunidade - Procure concluses a que ele chegou a partir da observao e da reflexo. - Procure encontrar valores e contravalores no texto. - Analise-os e escolha a ideia central do texto e mostre por que motivos a escolheu. - Busque uma frase-chave do texto que o impressionou e que levou os componentes do grupo a uma compreenso e discusso construtivas. Bibliografia: TELES, Maria Luiza Filosofia para Crianas e adolescentes Vozes 2004 COSTA, Francisco Anotaes pessoais - 2008

ANEXO:

O mundo de Sofia De Jostein GaarderCia. das Letras, So Paulo, 1998 Traduo de Joo Azenha Jr.

Captulo 2 (Excerto) A cartolaO QUE FILOSOFIA?(Pginas 24-26.)

() Muitas pessoas tm hobbies diferentes. Algumas colecionam moedas e selos antigos, outras gostam de trabalhos manuais, outras ainda dedicam todo o seu tempo livre a uma determinada modalidade de esporte. Tambm h os que gostam de ler. Mas os tipos de leitura tambm so muito diferentes. Alguns lem apenas jornais ou gibis, outros gostam de romances, outros ainda preferem livros sobre temas diversos como astronomia, a vida dos animais ou as novas descobertas da tecnologia. Se me interesso por cavalos ou pedras preciosas, no posso querer que todos os outros tenham o mesmo interesse. Se fico grudado na televiso assistindo a todas as transmisses de esporte, tenho que aceitar que outras pessoas achem o esporte uma chatice. Mas ser que existe alguma coisa que interessa a todos? Ser que existe alguma coisa que concerne a todos, no importando quem so ou onde se encontram? Sim, querida Sofia, existem questes que deveriam interessar a todas as pessoas. E sobre tais questes que trata este curso. Qual a coisa mais importante da vida? Se fazemos esta pergunta a uma pessoa de um pas assolado pela fome, a resposta ser: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem est morrendo de frio, ento a resposta ser: o calor. E quando perguntamos a algum que se sente sozinho e isolado, ento certamente a resposta ser: a companhia de outras pessoas. Mas, uma vez satisfeitas todas essas necessidades, ser que ainda resta alguma coisa de que todo mundo precise? Os filsofos acham que sim. Eles acham que o ser humano no vive apenas

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16de po. claro que todo mundo precisa comer. E precisa tambm de amor e de cuidado. Mas ainda h uma coisa de que todos ns precisamos. Ns temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos. Portanto, interessar-se em saber por que vivemos no um interesse casual como colecionar selos, por exemplo. Quem se interessa por tais questes toca um problema quem vem sendo discutido pelo homem praticamente desde quando passamos a habitar este planeta. A questo de saber como surgiu o universo, a Terra e a vida por aqui uma questo maior e mais importante do que saber quem ganhou mais medalhas de ouro nos ltimos Jogos Olmpicos. O melhor meio de se aproximar da filosofia fazer perguntas filosficas: Como o mundo foi criado? Ser que existe uma vontade ou um sentido por detrs do que ocorre? H vida depois da morte? Como podemos responder a estas perguntas? E, principalmente: como devemos viver? Essas perguntas tm sido feitas pelas pessoas de todas as pocas. No conhecemos nenhuma cultura que no se tenha perguntado quem o ser humano e de onde veio o mundo. Basicamente, no h muitas perguntas filosficas para se fazer. J fizemos algumas das mais importantes. Mas a histria nos mostra diferentes respostas para cada uma dessas perguntas que estamos fazendo. mais fcil, portanto, fazer perguntas filosficas do que respond-las. Da mesma forma, hoje em dia cada um de ns deve encontrar a sua resposta para estas perguntas. No d para procurar numa enciclopdia se existe um Deus, ou se h vida aps a morte. A enciclopdia tambm no nos diz como devemos viver. Mas a leitura do que outras pessoas pensaram pode nos ser til quando precisamos construir nossa prpria imagem do mundo e da vida. A busca dos filsofos pela verdade pode ser comparada com uma histria policial. Alguns acham que Andersen o criminoso; outros acham que Nielsen ou Jepsen. Um crime na vida real pode chegar a ser desvendado pela polcia um dia. Mas tambm podemos imaginar que a polcia nunca consiga solucionar determinado caso, embora a soluo para ele esteja em algum lugar. Mesmo que seja difcil responder a uma pergunta, isto no significa que ela no tenha uma e s uma resposta certa. Ou h algum tipo de vida depois da morte, ou no. Muitos dos antigos enigmas foram resolvidos pela cincia ao longo dos anos. Antigamente, um grande enigma era saber como era o lado escuro da Lua. No era possvel chegar a uma resposta apenas atravs de discusso; a resposta ficava para a imaginao de cada um. Hoje, porm, sabemos exatamente como o lado escuro da Lua. No d mais para acreditar que h um homem morando na Lua, nem que ela um grande queijo, todo cheio de buracos. Um dos grandes filsofos gregos, que viveu h mais de dois mil anos, acreditava que a filosofia era fruto da capacidade do homem de se admirar com as coisas. Ele achava que para o homem a vida algo to singular que as perguntas filosficas surgem como que espontaneamente. como o que ocorre quando assistimos a um truque de mgica: no conseguimos entender como possvel acontecer aquilo que estamos vendo diante de nossos olhos. E ento, depois de assistirmos apresentao, nos perguntamos: como que o mgico conseguiu transformar dois lenos de seda brancos num coelhinho vivo? Para muitas pessoas, o mundo to incompreensvel quanto o coelhinho que um mgico tira de uma cartola que, h poucos instantes, estava vazia. No caso do coelhinho, sabemos perfeitamente que o mgico nos iludiu. Quando falamos sobre o mundo, as coisas so um pouco diferentes. Sabemos que o mundo no mentira ou iluso, pois

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17estamos vivendo nele, somos parte dele. No fundo, somos o coelhinho branco que tirado da cartola. A nica diferena entre ns e o coelhinho branco que o coelhinho no sabe que est participando de um truque de mgica. Conosco diferente. Sabemos que estamos fazendo parte de algo misterioso e gostaramos de poder explicar como tudo funciona. PS. Quanto ao coelhinho branco, talvez seja melhor compar-lo com todo o universo. Ns, que vivemos aqui, somos os bichinhos microscpicos que vivem na base dos plos do coelho. Mas os filsofos tentam subir da base para a ponta dos finos plos, a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mgico. ()

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UMA ESTRANHA CRIATURA(Pginas 27-31)

() Eu j disse que a capacidade de nos admirarmos com as coisas a nica coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filsofos? Se no, ento digo agora: A NICA COISA DE QUE PRECISAMOS PARA NOS TORNARMOS BONS FILSOFOS A CAPACIDADE DE NOS ADMIRARMOS COM AS COISAS. Todo mundo sabe que os bebs possuem essa capacidade. Depois de alguns meses na barriga da me, eles so empurrados para uma realidade completamente diferente. Mas depois, quando crescem, parece que esta capacidade vai desaparecendo. Como se explica isto? Ser que Sofia Amundsen capaz de responder a esta pergunta? Vamos ver: se um bebezinho pudesse falar, na certa ele diria alguma coisa sobre o novo e estranho mundo a que chegou. Pois apesar de a criana no saber falar, podemos ver como ela olha ao seu redor e quer tocar com curiosidade todos os objetos que v. Quando vm as primeiras palavras, a criana pra e diz Au! Au! toda vez que v um cachorro. Podemos ver como ela fica agitada dentro do carrinho e movimenta os bracinhos dizendo Au, au, au!. Para ns, que j deixamos para trs alguns anos de nossas vidas, o entusiasmo da criana pode parecer at um tanto exagerado. Sim, sim, um au-au, dizemos ns, os vividos. Mas agora fique quietinho. No ficamos muito entusiasmados, pois j vimos outros cachorros antes. Esta cena inslita talvez se repita algumas centenas de vezes, at que a criana passe por um cachorro, ou por um elefante, ou por um hipoptamo sem ficar fora de si. Mas muito antes de a criana aprender a falar corretamente ou muito antes de ela aprender a pensar filosoficamente -, ela j se habituou com o mundo. Uma pena, se voc quer saber o que eu acho. O que importa para mim, querida Sofia, que voc no esteja entre aqueles que consideram o mundo uma evidncia. Para ter certeza disso, vamos fazer dois exerccios de raciocnio antes de comearmos com nosso curso propriamente dito. Imagine que voc est dando um passeio na floresta. De repente, no meio do caminho, voc v uma pequena nave espacial. Ento, um pequeno marciano sai da nave e olha para voc l de baixo O que voc pensaria? Bem, isto no importa. Mas ser que j passou pela sua cabea que voc pode ser uma marciana? Naturalmente, muito pouco provvel que voc um dia tropece numa criatura de outro planeta. No sabemos nem mesmo se h vida em outros planetas. Mas pode ser que voc um dia tropece

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18em si mesma. Pode ser que um belo dia voc pare o que est fazendo e passe a se ver de uma forma completamente diferente. E pode ser que isto acontea justamente durante um passeio na floresta. Sou uma criatura estranha, voc ir pensar. Sou um animal misterioso E ento vai ser como acordar de um sono de anos. Como o da Bela Adormecida. Quem sou eu?, voc ir se perguntar. Voc sabe que viaja pelo universo num planeta. Mas o que o universo? Voc est me acompanhando, Sofia? Ento vamos fazer mais um teste de raciocnio. Certa manh, mame, papai e o pequeno Thomas a esta altura j com dois ou trs anos esto sentados na cozinha tomando o caf. De repente, mame se levanta, vira-se para a pia e ento bem, ento papai comea a flutuar sob o teto da cozinha. O que voc acha que Thomas diria? Talvez ele apontasse o dedo para seu pai e dissesse: Papai voando!. Na certa Thomas ficaria espantado, mas ficar espantado no novidade para ele. Afinal, o papai faz tantas coisas estranhas que, a seus olhos, um pequeno vo sobre a mesa do caf da manh no faz l muita diferena. Todos os dias, por exemplo, seu pai faz a barba com um aparelhinho esquisito, s vezes sobe no telhado e vira a antena da TV, outras vezes enfia a cabea no compartimento do motor do carro e sai com a cara toda preta l de dentro. Agora a vez da mame. Ela ouviu o que Thomas disse e vira-se resoluta. Como voc acha que ela reagiria viso de seu marido voando sobre a mesa da cozinha? Na mesma hora ela deixa cair o vidro de gelia e solta um grito de pavor. Talvez ela at precise de um mdico, depois que papai voltar e sentar-se em sua cadeira. (H muito tempo ele deveria ter aprendido a se comportar mesa!) Por que ser que Thomas e mame reagem de forma to diferente? O que voc acha? uma questo de hbito. (Grave bem isso!) Mame aprendeu que as pessoas no podem voar. Thomas no. Ele ainda no tem muita certeza do que possvel e do que no possvel neste mundo. Mas e quanto ao mundo propriamente dito, Sofia? Voc acha que ele possvel? O mundo tambm fica pairando livremente no espao. O triste de tudo isto que, medida que crescemos, nos acostumamos no apenas com a lei da gravidade. Acostumamo-nos, ao mesmo tempo, com o mundo em si. Ao que tudo indica, ao longo da nossa infncia ns perdemos a capacidade de nos admirarmos com as coisas do mundo. Mas com isto perdemos uma coisa essencial algo de que os filsofos querem nos lembrar. Pois em algum lugar dentro de ns, alguma coisa nos diz que a vida um grande enigma. E j experimentamos isto, muito antes de aprendermos a pensar. Para ser mais preciso: embora as questes filosficas digam respeito a todas as pessoas, nem todas se tornam filsofos. Por diferentes motivos, a maioria delas to absorvida pelo cotidiano que a admirao pela vida acaba sendo completamente reprimida. (Elas se alojam bem no fundo do plo do coelho, fazem um ninho bem confortvel e ficam l embaixo pelo resto de suas vidas.) Para as crianas, o mundo e tudo o que h nele uma coisa nova; algo que desperta a admirao. Nem todos os adultos vem a coisa dessa forma. A maioria deles vivencia o mundo como uma coisa absolutamente normal. E precisamente neste ponto que os filsofos constituem uma louvvel exceo. Um filsofo nunca capaz de se habituar completamente com este mundo. Para ele ou para ela o mundo continua a ter algo de incompreensvel, algo at de enigmtico, de secreto. Os filsofos e as

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Apostila de Filosofia Prof.Francisco Renaldo

19crianas tm, portanto, uma importante caracterstica comum. Podemos dizer que um filsofo permanece a sua vida toda to receptivo e sensvel s coisas quanto um beb. E agora voc precisa se decidir, querida Sofia: voc uma criana que ainda no se acostumou com o mundo? Ou voc uma filsofa capaz de jurar que isto nunca vai lhe acontecer? Se voc simplesmente balana a cabea e no se sente nem como criana, nem como filsofa, a explicao para isto que voc j se acostumou tanto com o mundo que no consegue mais se surpreender com ele. Neste caso, voc corre perigo. E justamente por medida de segurana, para evitar que isto acontea, que voc est recebendo este curso de filosofia. Eu no quero que justamente voc passe a pertencer ao clube dos apticos e indiferentes. Quero que voc viva uma vida instigante. Voc receber este curso inteiramente grtis. Assim, no haver devoluo de dinheiro, caso voc desista de faz-lo. Se voc quiser interromper o curso em determinado momento, tambm no h problema. Voc s precisa deixar uma mensagem para mim na caixa de correio. Esta mensagem pode ser, digamos, uma r viva. De qualquer forma, tem de ser alguma coisa verde. Afinal, no vamos querer assustar o carteiro. Vamos resumir: um coelho branco tirado de dentro de uma cartola. E porque se trata de um coelho muito grande, este truque leva bilhes de anos para acontecer. Todas as crianas nascem bem na ponta dos finos plos do coelho. Por isso elas conseguem se encantar com a impossibilidade do nmero de mgica a que assistem. Mas conforme vo envelhecendo, elas vo se arrastando cada vez mais para o interior da pelagem do coelho. E ficam por l. L embaixo to confortvel que elas no ousam mais subir at a ponta dos finos plos, l em cima. S os filsofos tm ousadia para se lanar nesta jornada rumo aos limites da linguagem e da existncia. Alguns deles no chegam a conclu-la, mas outros se agarram com fora aos plos do coelho e berram para as pessoas que esto l embaixo, no conforto da pelagem, enchendo a barriga de comida e bebida: Senhoras e senhores gritam eles , estamos flutuando no espao! Mas nenhuma das pessoas l de baixo se interessa pela gritaria dos filsofos. Deus do cu! Que caras mais barulhentos! elas dizem. E continuam a conversar: ser que voc poderia me passar a manteiga? Qual a cotao das aes hoje? Qual o preo do tomate? Voc ouviu dizer que a Lady Di est grvida de novo? ()

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