37
Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas 1

Apostila agroecologia

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

1

Page 2: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

2

Introdução à Agroecologia

A agroecologia é o estudo que visa a integração equilibrada da atividade agrícola com a preservação do meio ambiente. Diferentemente da agronomia convencional, unidimensional, onde o objeto de estudo e manejo é a planta, na ótica da agroecologia consideramos o complexo ambiente onde a planta é inserida. Analisando de forma multidimensional, busca-se o equilíbrio do ecossistema onde cultivamos, considerando desde a formação e equilíbrio da vida do solo ao ambiente onde a planta está inserida. Desse modo, o objeto de estudo e manejo são os agroecossistemas, pensados para que possamos eliminar ou ao menos tornar mínima a dependência de insumos agroquímicos e energéticos externos.

O objetivo da Agroecologia é trabalhar com e alimentar sistemas agrícolas complexos onde as interações ecológicas e sinergismos entre os componentes biológicos criem, eles próprios, a fertilidade do solo, a produtividade e a proteção das culturas (Altieri, 1987).

A agroecologia busca resgatar as técnicas tradicionais abandonadas durante a

intitulada Revolução Verde1, sem ter de abrir mão dos novos conhecimentos científicos conquistados nas últimas décadas.

Apesar de os preceitos e as técnicas da agroecologia remontarem a séculos ou até mesmo milênios, seu estudo e seu próprio conceito é resultado de uma contraposição ao modelo de agricultura iniciada no século passado e que se tornou dominante nas últimas décadas: o modelo da agricultura industrial, baseada no latifúndio, na monocultura, na alta mecanização e na completa dependência a produtos da indústria química, fertilizantes e agrotóxicos.

Embora o discurso oficial da indústria química defenda que seu modelo de agricultura seja o único capaz de alimentar uma grande população, ainda em crescimento, sabemos que mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros tem sua origem na agricultura familiar, que cultiva em apenas 24% das terras destinadas a agricultura no Brasil. Da mesma forma, sabe-se também que a maior parte dos produtos do agronegócio são voltados não para alimentar a população, mas para servir de matéria prima para o uso industrial.

1 Revolução Verde: processo iniciado nos EUA após a segunda guerra mundial que transformou a produção agrícola em um processo industrial, mecanizado e com alta dependência de insumos químicos e agrotóxicos.

Page 3: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

3

Muito além da indústria alimentícia, que através de processos físicos e químicos extraem e transformam substâncias a partir do grão da soja, por exemplo, como seu óleo e demais derivados (como a gordura vegetal hidrogenada e o emulsificante lecitina de soja, amplamente usados na fabricação dos alimentos industrializados), indústrias de diferentes setores utilizam soja como matéria-prima em seus processos de produção. Indústrias de cosméticos, farmacêutica, de vernizes, tintas e de plásticos. A soja também é muito usada pela indústria de adesivos, adubos, formuladores de espumas, fabricação de fibra, revestimento e emulsão de água para tintas. O óleo de soja também representa mais de 80% da demanda total da fabricação de biodiesel no Brasil2.

O modelo industrial da agricultura intensiva não tem futuro, uma vez que entende a propriedade rural, não como local onde são produzidos alimentos, mas como mero integrante do processo industrial, apenas como um estágio da “linha de produção”, onde lá chegam os insumos, produtos químicos, fertilizantes, agrotóxicos, e hoje em dia, sementes geneticamente modificadas, e saem de lá: commodities.

Décadas de propaganda ideológica conseguiram iludir os pequenos e médios produtores de que sua “salvação” seria justamente a adoção do pacote tecnológico da revolução verde, deixando-os cada vez mais reféns e dependentes de produtos químicos oriundos da indústria e da tecnologia do agronegócio. Ana Primavesi, em publicação de 1992, afirma:

A tecnologia agrícola convencional, no mundo inteiro, leva os médios e pequenos agricultores à falência. Sem subsídios, a agricultura não sobrevive, graças à tecnologia atual. Somente em 1990, o Mercado Comum Europeu pagou 120 bilhões de dólares de subsídios para a sua agricultura. É uma agricultura não sustentável: os governos se endividam, os agricultores vão falindo, os solos se estragam, tornando-se improdutivos […] O Primeiro Mundo se dá ao luxo de manter sua agricultura para beneficiar as indústrias. No Brasil [a orientação tem sido] abrir a agricultura como, mercado para produtos industriais. Assim, por exemplo, 1 kg de semente de milho híbrido custa Cr$ 1.800,00, enquanto para 1 kg de milho colhido se paga Cr$ 100,00. O agricultor que produz o milho híbrido recebe somente 20% sobre o preço do milho comum. Os preços dos produtos agrícolas entraram em queda livre, para manter o lucro das indústrias beneficiadoras. O que torna a agricultura atual inviável é o preço dos insumos. Nos últimos seis anos, desde 1986, a agricultura brasileira trabalhou no vermelho. É o resultado da tecnologia altamente químico-mecanizada implantada pela “Revolução Verde”. Desde então parece que o destino dos pequenos agricultores são as favelas das grandes cidades.

2 Fonte: Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso - Aprosoja. Disponível em http://www.aprosoja.com.br/sobre-a-soja/Paginas/Os-usos-da-Soja.aspx

Page 4: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

4

De 1992 até os dias de hoje o problema só se agravou. A atual crise nos países desenvolvidos tem os obrigado a reduzir nos subsídios a agricultura. Entre 2014 e 2020, o dinheiro destinado a subsidiar a agricultura européia será reduzido em 13% ante o período 2007-2013. Ainda assim, no total, £ 363 bilhões3 (algo em torno de 700 bilhões de dólares) serão destinados ao setor, que graças a décadas desta política que inviabiliza o pequeno e médio produtor rural, hoje representa apenas 4% da população.

As sementes híbridas que Primavesi cita, as primeiras que quando colhidas não se mostravam viáveis de serem plantadas novamente, obrigando o produtor a comprar as sementes de plantio a cada safra, hoje já são raridade, tendo sido substituídas por algo muito pior, as sementes transgênicas. Estas, que ainda não tem estudos que possam comprovar sua utilização segura, nem aos consumidores nem ao meio ambiente, além de terem de ser compradas a cada safra, obrigam o produtor a utilizar cada vez mais os insumos químicos das empresas de biotecnologia, sob pena de perda total da safra. Hoje, o próprio sistema financeiro só concede crédito ao produtor rural se este comprovar o grau de mecanização em sua propriedade e a compra prévia dos insumos químicos deste modelo de agricultura.

Porém, ainda existe uma chance para o agricultor e esta é de mudar o enfoque e a tecnologia. A tecnologia atual, puramente sintomática, se concentra na planta. Combate sintomas e evita tocar nas causas desses sintomas, que derivam do solo. Concentrando atenção ao solo, as plantas se beneficiarão automaticamente. Um solo bem manejado dá plantas vigorosas, produtivas e sadias. Se ainda assim faltar alguma coisa, será fácil remediá-la. O trato do solo não é essencialmente químico-mecânico, mas sim biológico-físico.

Através da agroecologia, procurando os equilíbrios naturais destruídos, baixamos os custos, tornando a agricultura menos arriscada e permitindo um lucro razoável ao agricultor, ao mesmo tempo em que aumentamos a qualidade do produto. E beneficiando a terra e promovendo uma maior biodiversidade, beneficiamos igualmente o meio ambiente e nossa saúde.

3 Fonte: Portal de Inteligência Competitiva do AgroNegócio Brasileiro - http://www.icna.org.br/noticia/novo-

orcamento-obriga-europa-reduzir-os-subsidios-agricolas

Page 5: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

5

Teoria da Trofobiose

No grego, trofé significa alimento, e trofós significa ama, nutriz. Esta teoria estabelece que qualquer ser vivo (do grego bíos) só consegue se desenvolver se encontrar condições favoráveis, que lhe garantam uma excelente nutrição. Segundo esta teoria, quando conseguimos propiciar às plantas condições para que estas desenvolvam uma ótima condição fisiológica, desenvolverão uma máxima resistência ao ataque de parasitas. Da mesma forma, para que um inseto, ácaro, fungo ou bactéria se prolifere, este precisa encontrar na seiva das plantas exatamente o alimento que procuram - aminoácidos e demais substâncias simples, solúveis e de fácil ingestão e digestão.

Assim, uma planta cultivada em condições ideais (num ambiente equilibrado, com solo rico em matéria orgânica, úmido e vivo, que possui nutrientes em quantidade e qualidade necessárias), consegue produzir de forma muito mais eficiente as substâncias complexas como as proteínas e vitaminas, através da fotossíntese e de seu próprio metabolismo.

Para exemplificar, digamos que para conseguir sintetizar uma dada proteína, composta no total por 23 aminoácidos de 5 tipos diferentes e representada pela cadeia

uma planta necessite de

Page 6: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

6

Assim, qualquer desequilíbrio nestas relações, fará com que aminoácidos não complexificados permaneçam por mais tempo circulando livres na seiva desta planta. Dessa forma, se para esta metabolização sobrar qualquer um destes elementos, este permanecerá circulando pela seiva da planta, até que os elementos restantes estejam presentes para tornar possível a síntese de tal proteína.

Igualmente, a carência de apenas um destes aminoácidos pode fazer com que os outros 22 que compõe tal cadeia permaneçam circulando livres, até que aquele se encontre disponível e se possa concluir a síntese desta proteína.

Cada micróbio, inseto, fungo, etc., é “programado” para uma única substância, ou melhor, uma única fórmula química. Esta programação ocorre através de enzimas que eles possuem para digerir seu alimento. Enzimas são “chaves” que servem somente para uma única “fechadura”. Assim, basta um átomo a mais, modificando a estrutura química, e a enzima já não pode mais agir sobre essa substância, e aquele organismo não poderá se nutrir dela.

Com isso podemos entender melhor a dinâmica nutricional das plantas, onde cada nutriente por elas absorvido tem seu papel no metabolismo vegetal, tendo todos os nutrientes a sua importância e o seu papel, diferenciando-se apenas na função e na quantidade necessária.

Apesar de a nutrição via foliar também ser possível e às vezes até recomendada, a principal fonte nutricional das plantas se dá por via das raízes, sendo o solo a principal nutriz de nossas plantas. No pensamento agroecológico não “adubamos” plantas, mas alimentamos o solo, para que este possa manter suas propriedades vivas e dinâmicas, podendo assim nutrir as plantas de forma satisfatória e equilibrada.

Page 7: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

7

Agroecossistemas

Agroecossistemas são ecossistemas criados e mantidos pela ação humana, visando à produção de alimentos e outros recursos. A produtividade de um agroecossistema deriva do equilíbrio entre plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes. Assim, um agroecossistema é produtivo e saudável quando as condições de crescimento ricas e equilibradas prevalecem, e quando as plantas permanecem resilientes de modo a tolerar estresses e adversidades.

Perturbações podem ser superadas por agroecossistemas vigorosos, que sejam adaptáveis e diversificados o suficiente para se recuperarem passado o período de estresse. Ocasionalmente, os agricultores que empregam métodos alternativos podem ter de aplicar medidas mais drásticas (como repelentes, defensivos orgânicos e fertilizantes alternativos) para controlar “pragas” específicas ou deficiências do solo, porém isso deve ser feito com cautela, para que não sejam provocados danos desnecessários ou mesmo irreparáveis. Entretanto, mais importante que combater os indicadores do desequilíbrio, que são as próprias "pragas", “doenças” ou problemas do solo, devemos procurar identificar as causas do desequilíbrio e assim restaurar a resiliência e a força do agroecossistema.

A preservação e ampliação da biodiversidade dos agroecossistemas é o primeiro princípio utilizado para produzir auto-regulação do sistema produtivo. Quando a biodiversidade é restituída aos agroecossistemas, numerosas e complexas interações passam a estabelecer-se entre o solo, as plantas e a fauna presente, e o aproveitamento das interações e sinergismos complementares pode resultar em efeitos benéficos, pois assim:

- cria-se uma cobertura vegetal contínua para a proteção do solo;

- assegura-se constante produção de alimentos, variedade na alimentação e produção de alimentos e outros produtos para o mercado;

- fecha-se os ciclos de nutrientes e garante o uso eficaz dos recursos locais;

- contribui-se para a conservação do solo e dos recursos hídricos, através da cobertura morta e da proteção contra o vento;

- intensifica-se o controle biológico de pragas fornecendo um habitat para os inimigos naturais;

− aumenta-se a capacidade de múltiplo uso do território;

− assegura-se uma produção sustentável das culturas sem o uso de insumos químicos que possam degradar o ambiente.

Page 8: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

8

Apesar de existirem algumas espécies que através de uma relação alelopática com o meio tendem a dominar a paisagem (caso de algumas gramíneas, pinus, entre outros), o monocultivo sempre nos traz algum ônus, sempre traz consigo alguma fonte de desequilíbrio imediata ou futura. Onde houver a possibilidade de escolha, devemos optar por cultivos mistos, consorciados ou associados. Para além da relação alelopática, a escolha de nossos consórcios deve levar em conta:

- Luminosidade: plantas que requerem muita luz, ou mesmo tenham folhas grandes, podem ser boas companheiras de outras que necessitem de sombra parcial;

- Sistema radicular: plantas com sistema radicular profundo trazem à tona nutrientres que podem ser aproveitados por outras plantas de raízes superficiais, ou rompem camadas compactadas, beneficiando outras, de raízes mais delicadas;

- Nutrientes: plantas que fixam ou mobilizam nutrientes, beneficiam outras que necessitam deles;

− Porte e modo de crescimento: plantas de porte alto favorecem as trepadeiras, oferecendo a estas a sustentação necessária a seu desenvolvimento;

− Insetos: plantas que repelem insetos prejudiciais a outras, ou que atraia os insetos para si, ou ainda que abriguem agentes de controle natural de possíveis desequilíbrios.

Page 9: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

9

O Solo

O solo é um complexo vivo, mutante e dinâmico que compõe o agroecossistema. Está sujeito a alterações e pode ser degradado ou manejado responsavelmente. Nele estão presentes materiais derivados das rochas, substâncias orgânicas e inorgânicas derivadas dos organismos vivos, ar e água que ocupam os espaços entre as partículas que o compõem.

Se entrarmos em uma mata equilibrada e nos voltarmos ao solo, veremos que abaixo da matéria orgânica não decomposta há uma camada, geralmente mais escura, onde não podemos identificar nem distinguir os materiais orgânicos dos não-orgânicos. Este é o objeto de nosso estudo, o solo.

O solo é formado por processos biológicos combinados com processos físicos e químicos característicos de cada região e clima, e uma vez formados se desenvolvem ainda de acordo com estes fatores. O bom manejo do solo é o principal fator para uma boa nutrição e saúde das plantas, evitando a ocorrência de pragas e doenças e proporcionando um bom desenvolvimento e produtividade das culturas, sendo assim, condição fundamental para o sucesso de qualquer cultura agroecológica.

Ao contrário da visão convencional da agronomia, onde o solo é mero suporte para a planta e seus nutrientes, na agroecologia o solo é a origem dos nutrientes e por consequência das próprias plantas. Aqui nós manejamos e nutrimos o solo para que ele possa se encarregar de nutrir as plantas, de forma natural e equilibrada.

Do ponto de vista mineral, o solo é formado basicamente de areia, argila e silte, sendo que para a agricultura os principais tipos são:

• Solos Arenosos (ou silicosos): são os que tem predominância de areia. Não favorecem a agricultura, pois não retém nem a água nem nutrientes, esgotando-se com facilidade;

• Solos Argilosos: são os solos que tem predominância de argila. Solos muito argilosos também não favorecem a agricultura, pois apesar de terem maior retenção de água e nutrientes, tendem a se tornar compactos e com menor permeabilidade;

• Solos Mistos: são os ideais para a agricultura. Os solos mistos com prevalência de areia são os areno-argilosos (ou sílico-argilosos), e os com prevalência de argila os argilo-arenosos (ou argilo-silicosos).

Page 10: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

10

Outro elemento, o mais importante em nosso estudo, é o oriundo da matéria orgânica. Todo o material de origem orgânica que se deposita sobre o solo é transformado, pela ação de sua fauna (fungos, actinomicetos, bactérias, protozoários, vermes, insetos, etc.), em substâncias organo-minerais. Estas são as principais responsáveis pela vitalidade e fertilidade do solo.

O aporte constante de matéria orgânica é fundamental em qualquer forma de cultura agroecológica. Excluindo-se os sistemas agroflorestais (SAF's), que sob o nosso manejo produzem sua própria matéria orgânica, sendo assim autossuficientes em relação à nutrição do solo (e das próprias plantas), todas as demais técnicas agroecológicas de manejo do solo necessitam de alguma forma de reposição de matéria orgânica.

Page 11: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

11

A Matéria Orgânica e os ciclos de nutrientes

Através das raízes, as plantas retiram do solo todos os nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Metabolizadas (na presença da luz solar) juntamente com o carbono, retirado do ar, essas substâncias se transformam em energia, acumulada no próprio corpo da planta: suas raízes, caules, flores e frutos. É a partir das plantas que toda a vida não vegetal retira sua alimentação, direta ou indiretamente, e também é a partir daí que começa o retorno destes nutrientes ao solo.

Por definição, matéria orgânica é todo material morto no solo, quer provenha de plantas, microorganismos ou restos de animais. Quando uma folha cai, um fruto é comido ou um galho é quebrado, a sucessão da vida entra em ação, utilizando a energia e os nutrientes ali armazenados para sua conservação e desenvolvimento, e devolvendo ao ambiente estes nutrientes transformados. A este processo de transformações pelas quais a matéria orgânica passa damos o nome de decomposição. Esta depende de vários fatores, como a composição dos materiais em questão, presença de organismos decompositores, temperatura, umidade, presença ou não de luz, oxigênio, entre outros, e seu resultado final, geralmente, é o húmus.

A presença de matéria orgânica, humificada e em decomposição, é indispensável para a manutenção da micro e mesovida do solo. Dela também depende a sua bioestruturação e toda a sua produtividade. Ela é ao mesmo tempo a origem e o suporte de nutrientes, melhora a aeração e retenção de umidade, solucionando diferentes problemas e tipos de solo: propicia aos arenosos maior retenção de umidade e nutrientes, e dá aos argilosos mais grumosidade e permeabilidade.

A presença constante de umidade no solo é indispensável para que as plantas possam absorver os nutrientes que necessitam e para que aconteça a própria fotossíntese, e é igualmente um elemento central para a manutenção e desenvolvimento da vida presente no solo. A falta de água impede a metabolização contínua da matéria orgânica, afetando consideravelmente os processos de decomposição e humificação. O excesso de água é igualmente prejudicial, pois afeta a estrutura do solo (gera erosão), carrega os nutrientes solúveis (lava o solo) e prejudica os organismos dependentes de oxigênio atmosférico.

Uma forma de assegurar a umidade do solo, diminuindo a necessidade de irrigação, protegendo o solo do impacto da chuva e da exposição direta ao sol, é colocando uma camada relativamente espessa de matéria orgânica sobre o solo. Dá-se a essa camada o nome de cobertura morta, ou mulching, em parte da literatura técnica.

Page 12: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

12

Nutrientes

São todas as substâncias que a planta necessita para cumprir todas as etapas em seu pleno desenvolvimento. Aquelas que as plantas carecem em maior quantidade são considerados macronutrientes, e as que são necessárias em menor quantidade micronutrientes. Os principais são4:

• Nitrogênio (N): é um macronutriente. Forma parte dos aminoácidos e das proteínas e favorece o crescimento vegetativo, estimulando o aumento do número de folhas e o seu tamanho. É o responsável pela cor verde.

Fontes: estercos animais, urina, farinhas animais (sangue, carne, chifre, cascos e peixe), tortas (soja, mamona, amendoim, etc.), salitre do Chile, biofertilizante, adubação verde com leguminosas, tanchagem e penas.

Sua deficiência ocasiona plantas pouco desenvolvidas, com vegetação sem viço e folhas de cor verde-claro ou verde-amarelado uniforme. As folhas mais velhas (as de baixo) são as primeiras a serem afetadas.

O excesso de nitrogênio dificulta a absorção pela planta do cobre assimilável no solo, chegando a se tornar fitotóxico. Também aumenta as folhas e ramos em detrimento dos frutos e raízes.

• Fósforo (P): é um macronutriente. Estimula a formação do sistema radicular, o florescimento e a formação de frutos e sementes.

Fontes: rochas fosfáticas, termofosfato, farinha de osso, casco e chifre, refugos de peixe, bagaço de maçã, cinza de palha de café, guano e tanchagem.

Sua carência ocasiona floração deficiente, crescimento lento e colheitas tardias, plantas pouco desenvolvidas, folhas verde-azuladas, às vezes com vermelho-arroxeados. Maturação tardia dos frutos.

• Potássio (K): é um macronutriente. Absorvido em forma de íon monovalente K+, aumenta a resistência natural da planta a certas doenças, à seca e melhora o sabor das frutas, intensificando a cor das flores e frutos. É responsável pela boa granação por ocasião da maturação.

4 Fonte: FORNARI, Ernani. Manual prático de Agroecologia.

Page 13: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

13

Fontes: cinzas de madeira, rocha basáltica (pó de granito), esterco de ovelha, refugo de lã, ingaço e cascas de banana.

A deficiência acarreta plantas com caules ou colmos mais finos. As folhas mais velhas são as primeiras a mostrar cor de ferrugem ou marrom quase negro nas pontas e nas margens.

• Cálcio (Ca): é um macronutriente, absorvido na forma de íon bivalente Ca++, necessário na cimentação das paredes celulares e consequentemente na sustentação da planta. Neutraliza as condições ácidas do solo, incrementando a microvida e a formação de húmus. É um poderoso floculador dos colóides do solo. Sua ação torna insolúvel o alumínio tóxico e libera outros nutrientes para as plantas.

Fontes: calcários, giz, casca de ovo, fosfatos de rocha e termofosfatos, farinhas animais (osso, casco e chifre), gesso, farinha de ostras e algas marinhas.

Sua falta detém o desenvolvimento da raiz e da semente. Deforma as folhas novas. A ponta deixa de crescer e pode morrer. Aparecem manchas pardo-amarelas entre as nervuras. Pode apodrecer o colo da flor ou torná-las estéreis ocasionando sementes ocas.

• Magnésio (Mg): é um macronutriente. Importante para sintetizar a clorofila e para germinar as sementes. Sem Mg a clorofila não fixa CO2 para formar açúcares. Forma gorduras e óleos, especialmente a lecitina.

No solo também é um neutralizador da acidez, imobilizador do alumínio tóxico e ativador da absorção do P pelas plantas.

Fontes: calcário dolomítico e magnesiano, estercos, tortas de sementes oleaginosas, farinha de ostras, alga marinha.

Sua carência ocasiona nas plântulas ausência de pigmento verde ou clorofila. Nas folhas mais velhas, inicialmente só as nervuras ficam verdes, enquanto o espaço entre elas se torna amarelado ou avermelhado. A clorose evolui do centro para as bordas, havendo o encurvamento das margens das folhas.

• Enxofre (S): é absorvido de várias formas, como aminoácidos, como S elementar e principalmente como SO2. Presente em muitos aminoácidos e proteínas, aumenta o crescimento das raízes e é importante na elaboração da vitamina B e na formação das proteínas. Sua carência produz plantas atrofiadas. As folhas mais

Page 14: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

14

novas ficam verde-claras e os caules avermelhados, além de mais compridos e moles. Seu excesso ocasiona o envelhecimento prematuro do vegetal.

• Manganês (Mn): presente na sintetização dos ácidos nucléicos e ARN, é ativador de grande número de enzimas catalisadoras nas oxidações e reduções, hidrólise e outros. Atua na maturação dos frutos, germinação e fotossíntese. Tem ação também na assimilação de N amoniacal, aumenta a resistência às secas, melhora o desenvolvimento das raízes e o aproveitamento do Ca, Mg e P. Sua assimilação também está relacionada com a do Bo, Zn e Fe. Todas as leguminosas necessitam deste elemento. É encontrado na alfafa, nos talos de cenoura, terriço de folhas, entre outros.

A deficiência deste elemento é mais verificada em solos alcalinos (pH entre 7,5 e 8,0). Com pH 6,5 a disponibilidade às raízes é melhorada.

As folhas mais novas mostram-se amareladas, mas as nervuras e uma faixa estreita de tecido ao longo delas permanecem verdes, dando um aspecto reticuloso grosso.

• Zinco (Zn): transforma carboidratos, participa da sintetização do ácido nucleico (ADN) e regula o consumo de açúcares. Tem ação sobre enzimas reguladoras do equilíbrio e hormônios, e age como catalisador na síntese de proteínas.

É geralmente encontrado no esterco suíno, farinha de peixe, tanchagem, farinha de sangue, alfafa, fosfato de rocha, restos culturais de milho, entre outros.

Sua falta ocasiona folhas pequenas, retorcidas, com manchas amareladas, encurtamento dos internódios e aparecimento de um tipo de folhas na parte dos ramos (“rosetas”). A carência de Zn afeta e retarda o crescimento do vegetal e a produção de clorofila.

• Cobre (Cu): tem grande influência na fotossíntese e na perfeita ação do Mg na formação da clorofila. Auxilia a utilização de proteínas produzidas pela planta e é essencial para determinadas enzimas oxidantes. Funciona como ativador de várias enzimas na formação das ceras e óleos. Uniformiza o desenvolvimento da florescência e maturação das células e fortalece a planta contra o ataque de doenças e contra a seca.

Fontes: ligninas (cavacos de madeira e serragem), folhas de espinafre, tabaco e dente-de-leão, tortas de sementes oleaginosas.

Page 15: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

15

Sua falta ocasiona nas plantas deficiência de vitamina C, folhas das pontas murchas e dificuldade para o caule se manter ereto. Em algumas plantas pode provocar excreção de goma e gigantismo foliar.

• Boro (B): sua presença é necessária para o aproveitamento do Ca, Mg, K e P e auxilia na formação da pectina. Importante fator na nodulação das leguminosas, na germinação dos grãos de pólen e na translocação dos açúcares na planta. Tem influência na produção de sementes e aumenta a resistência contra as doenças e a seca. É encontrado na ervilhaca, no pó de granito, folhas de melão, soja, água do mar, girassol, alga marinha vermelha, entre outros.

Sua falta provoca deformação nas folhas da ponta , secamento da gema terminal e desenvolvimento deformado das brotações laterais, além de produzir sementes estéreis.

• Molibdênio (Mo): faz parte de vários sistemas enzimáticos, controla a formação, nas raízes das leguminosas, de nódulos fixadores de N e auxilia as nitrobactérias a converter em nitratos o N da atmosfera. Aumenta a absorção de Ca. O excesso de Al e Fe exercem ação inibidora sobre o Mo.

É encontrado na ervilhaca, alfafa, e cavalinha.

Na sua falta, as folhas mais novas são as primeiras a mostrar os sintomas de deformação com estrangulamento e recurvamento do limbo, além de clorose entre as nervuras secundárias. Em solos ácidos, o Mo fica retido nas argilas, insolúvel. Corrige-se com aplicação de Ca.

• Ferro (Fe): auxilia a formação das moléculas de clorofila. Fundamental na fotossíntese e respiração das plantas. Sua assimilação está relacionada com a do P e do K. Inibe-se com o excesso de Ca, Mg, Co, Zn e P. É encontrado nas ervas daninhas e algas marinhas.

Na sua carência, as folhas mais novas mostram a lâmina amarelada e uma rede fina de nervuras verdes. Ocasionalmente as folhas novas podem ficar quase brancas.

• Vanádio (V): auxilia a fotossíntese em regiões onde a intensidade luminosa é pequena.

Page 16: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

16

• Cobalto (Co): utilizado por diversos microrganismos para a fixação de N no solo. Forma parte da vitamina B12. Está presente no esterco de vaca, esgotos, na tanchagem, ervilhaca, legumes, rocha basáltica e folhas de brássicas.

• Cloro (Cl): importante na formação das sementes e necessário à fotólise da água na função clorofiliana dos vegetais. Auxilia a fotossíntese, aumentando a resistência do vegetal à seca. É indispensável à assimilação do N, P e K. É encontrado na água do mar.

• Níquel (Ni): presente na elaboração de diversas vitaminas. É encontrado no trigo sarraceno, ervilhas e feijões.

• Sódio (Na): capaz de colaborar em algumas enzimas. Encontrado na água do mar e folhas de legumes.

• Iodo (I): encontrado nas algas marinhas, farinhas de peixe, leite, agrião, estercos, e água do mar.

• Bromo (Br): encontrado nas cinzas de algas marinhas.

• Selênio (Se): encontrado na ervilhaca, sementes de girassol e cereais.

• Silício (Si): encontrado nas folhas e restos de bambu, cascas de nozes e castanhas.

Page 17: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

17

A Compostagem

Foi desenvolvida com a finalidade de se obter de forma rápida e controlada o produto da decomposição e estabilização da matéria orgânica, processo que na natureza acontece de forma e tempo indeterminado, de acordo com vários fatores.

É um processo controlado de decomposição microbiana aeróbia de uma massa heterogênea de matéria orgânica no estado sólido e úmido, que desprende calor, vapor de água e CO2. É controlado, pois acompanhamos e controlamos a temperatura, a aeração e a umidade (entre outros); microbiano, pois são microrganismos que realizam a transformação da matéria orgânica5; aeróbio, pois é realizado na presença de ar atmosférico (que contém oxigênio, essencial para a humificação da matéria orgânica6); heterogêneo pelo fato da matéria orgânica provir de diferentes origens e composições; e úmido, pois como já vimos, os microrganismos decompositores só atuam intensamente na presença de umidade.

No processo de compostagem, o material passa por fases sucessivas onde prevalecem diferentes tipos de organismos e ocorrem diferentes tipos de transformação dos materiais:

1) Primeira Fase: atuam principalmente fungos, bactérias e actinomicetos, termófilos e termotolerantes, e posteriormente mesófilos. Nesta fase o material apresenta fitotoxidade.

Na fase termófila, a temperatura do composto eleva-se devido a alta atividade biológica. Aqui a temperatura ideal situa-se entre 50 e 55 graus Celsius, podendo ultrapassar os 80º, ocasionando assim a perda de nutrientes por volatização a partir dos 70º. Destaca-se o “cozimento” e destruição de parte das sementes indesejáveis no composto, a decomposição da celulose e hemicelulose. Começa a decomposição das ligninas.

Na fase mesófila, quando os açucares e moléculas menores já estão quase todos transformados, a atividade dos organismos termófilos diminui, derrubando a temperatura abaixo de 43º (sendo que a faixa ideal dessa fase situa-se entre 25º e 40º), possibilitando o desenvolvimento de outros organismos. Continua a decomposição das ligninas.

5 Até hoje nenhum processo laboratorial ou industrial conseguiu produzir húmus artificialmente. 6 Diferente da decomposição anaeróbia, onde predomina o fenômeno da redução química.

Page 18: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

18

2) Na segunda fase, de bioestabilização, atuam principalmente protozoários, miriápodes e minhocas. Termina a decomposição da celulose, continua a das ligninas e principia a síntese de ácidos húmicos.

3) Na terceira fase, de cura ou amadurecimento, continua a ação de minhocas, besouros, lacraias, formigas e aranhas. A síntese e re-síntese de húmus é acabada.

Outro fator que manipulamos para garantir a sucessão das fases da compostagem é o balanceamento dos nutrientes presentes, necessários para o pleno desenvolvimento dos microrganismos decompositores e que transformados por eles retornarão ao solo e às plantas. Se houver falta de Ca, Mg, P ou N o processo pode ser retardado. Por isso adicionamos um pouco de calcário, farinha de osso, termofosfato entre outros, para enriquecer nosso composto. Mas é o nitrogênio o elemento que merece mais atenção na escolha dos materiais.

Atrás somente do carbono, o nitrogênio é o principal elemento que caracteriza a matéria orgânica - sua presença em certo grau é indicativa da presença de outros nutrientes importantes, e sua proporção em relação ao carbono determina o tempo e a qualidade da compostagem. Assim, a relação carbono/nitrogênio (ou C/N) é a principal referência que seguimos ao montar nossa pilha de compostagem. A relação C/N ideal se situa entre 25 e 35 partes de carbono para 1 parte de nitrogênio, e para expressar de forma simplificada, dizemos que a relação ideal de C/N é de 30/1.

Nas relações C/N muito altas, como por exemplo na serragem, a decomposição será fria e limitada pela falta de N, demorando meses ou mesmo anos para se completar. E nas relações C/N muito baixas, como no esterco de aves, há a perda excessiva de N e outros nutrientes, pois os mesmos se tornam voláteis na forma gases como a Amônia (NH3), ocasionando o cheiro característico da decomposição desses materiais. Assim, misturando esses diferentes materiais conseguimos atingir a relação C/N correta.

Quanto maior a diversidade de materiais melhor será o composto final, por isso buscamos compor o nosso composto com a maior variedade possível de fontes, vegetais, animais e minerais, sempre os balanceando de forma que atinjam a proporção aproximada de C/N em 30/1. A tabela abaixo ilustra a composição de diversos materiais, e sua relação de nutrientes:

Material MO% N% C/N P2O5% K2O% Abacaxi: fibras 71,41 0,9 44/1 Traços 0,46 Algodão: torta 92,40 5,68 9/1 2,11 1,33 Algodão: semente 95,62 4,58 12/1 1,42 2,37 Amoreira: folhas 86,08 3,77 13/1 1,07 - Arroz: casca 54,55 0,78 39/1 0,58 0,49

Page 19: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

19

Material MO% N% C/N P2O5% K2O% Arroz: palhas 54,34 0,78 39/1 0,58 0,41 Aveia: casca 85,00 0,75 63/1 0,15 0,53 Banana: folhas 88,99 2,58 19/1 0,19 - Banana: talos de cachos 85,28 0,77 61/1 0,15 7,36 Cacau: películas 91,10 3,24 16/1 1,45 3,74 Cacau: cascas do fruto 88,68 1,28 38/1 0,41 2,54 Café: borra de café passado 98,60 2,20 25/1 0,05 0,07 Café: cascas 82,20 0,86 53/1 0,17 2,07 Café: sementes desnaturadas 92,83 3,27 16/1 0,39 1,69 Café: palhas 93,13 1,37 38/1 0,26 1,96 Café: cinzas 91,60 1,20 48/1 0,40 0,30 Capim colonião 91,03 1,87 27/1 0,53 - Capim gordura-catingueiro 92,38 0,63 81/1 0,17 - Capim guiné 88,75 1,49 33/1 0,34 - Capim Jaraguá 90,51 0,79 64/1 0,27 - Capim limão-cidreira 91,52 0,82 62/1 0,27 - Capim milha roxo 91,60 1,40 36/1 0,32 - Capim mimoso 93,69 0,66 79/1 0,26 - Capim pé-de-galinha 86,99 1,17 41/1 0,51 - Capim de Rhodes gigante 89,48 1,36 37/1 0,63 - Cassia alata: ramos 93,61 3,49 15/1 1,08 2,78 Cassia negra: cascas 96,24 1,40 38/1 0,10 Traços Centeio: cascas 85,00 0,68 69/1 0,66 0,61 Centeio: palhas 85,00 0,47 100/1 0,29 1,01 Cevada: cascas 85,00 0,56 84/1 0,28 1,09 Cevada: palhas 85,00 0,75 63/1 0,22 1,26 Crotalaria juncea 91,42 1,95 26/1 0,40 1,81 Esterco bovino 16,00 0,30 20/1 0,20 0,15 Esterco caprino ou ovino 30,00 0,70 20/1 0,40 0,25 Esterco equino 22,10 0,50 24/1 0,25 0,30 Esterco de galinha 29,00 1,50 10/1 1,30 0,80 Esterco suíno 17,00 0,50 20/1 0,40 0,40 Eucalipto: resíduos 77,60 2,83 15/1 0,35 1,52 Farinha de Osso 29,40 4,08 4/1 27,26 4,33 Feijão-de-porco 88,54 2,55 19/1 0,50 2,41 Feijão Guandú 95,90 1,81 29/1 0,59 1,14 Feijão Guandú: sementes 96,72 3,64 15/1 0,82 1,89 Feijoeiro: palhas 94,68 1,63 32/1 0,29 1,94 Grama batatais 90,80 1,39 36/1 0,36 - Grama seda 90,55 1,62 31/1 0,67 - Ingá: folhas 90,69 2,11 24/1 0,19 0,33 Lab-lab 88,46 4,56 11/1 2,08 - Mamona: cápsulas 94,60 1,18 53/1 0,30 1,81 Mamona: torta 92,20 5,44 10/1 1,91 1,54 Mandioca: cascas de raízes 58,94 0,34 96/1 0,30 0,44 Mandioca: folhas 91,64 4,35 12/1 0,72 - Mandioca: ramas 95,26 1,31 40/1 0,35 - Milho: palhas 96,75 0,48 112/1 0,38 1,64

Page 20: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

20

Material MO% N% C/N P2O5% K2O% Milho: sabugos 45,20 0,52 101/1 0,19 0,90 Mucuna Preta 90,68 2,24 22/1 0,58 2,97 Samambaia 95,90 0,49 109/1 0,04 0,19 Serrapilheira 30,68 0,96 17/1 0,08 0,19 Serragem de madeira 93,45 0,06 865/1 0,01 0,01 Soja: farelo 78,40 6,56 7/1 0,54 1,54 Trigo: cascas 92,40 0,73 70/1 0,07 1,28

A granulometria dos materiais influencia diretamente o tempo total de compostagem. O ideal é que a superfície de contato dos materiais carbônicos seja a maior possível, sem com isso influenciar na oxigenação da pilha. É preferível materiais triturados aos picados de facão, e a maravalha à serragem fina, por exemplo. A granulometria ideal se situa entre 1 e 5cm.

O controle da umidade do composto é igualmente importante. Já vimos que os microorganismos decompositores não são capazes de atuar sem a presença de umidade, assim como que o excesso de água pode fazer com que falte aeração ao composto, ocasionando uma decomposição anaeróbia. O teor de umidade ideal se situa entre 50% a 60%, Na prática isso significa que apertando um pouco de composto na mão ele não deve escorrer água, mas devem aparecer algumas gotas entre os dedos.

Um outro fator determinante na compostagem é a presença, diversidade e quantidade de microrganismos decompositores. Alguns materiais, como o esterco de ruminantes, em especial de bovinos e bubalinos, já contém quantidades consideráveis destes organismos. Entretanto, se não temos à nossa disposição esses materiais ou mesmo se queremos potencializar o processo de compostagem, podemos usar inoculantes e açucares para estimular a formação de colônias em nossa pilha. Como inoculante podemos usar composto pronto, leite cru, iogurte e soro, algum inoculante comercial, ou coletar esses microrganismos no local, de forma ecológica7. E para estimular o crescimento inicial das colônias pode-se usar melaço, açúcar mascavo ou garapa.

Para manter a aeração e monitorar a temperatura, a pilha deve ser “virada no avesso”, ou seja, revirada completamente no terceiro e sétimo dia após a montagem, sendo após disso necessário repetir a operação semanalmente, até seu uso (a partir da bioestabilização) ou até a cura total do material, que pode variar de 60 a 120 dias, quando o composto pode ser armazenado.

7 Material anexo

Page 21: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

21

O Húmus

Sabemos que quando os resíduos vegetais e animais são depositados sobre o solo ou sofrem o processo de compostagem, diversos microrganismos passam a atuar e transformar esses materiais. Alguns nutrientes presentes na matéria orgânica são utilizados por eles para a formação de seus tecidos e outros são volatilizados. O resultado geral destes processos é a transformação biológica da matéria orgânica em uma substância escura, uniforme, com consistência amanteigada e aspecto de massa amorfa, rica em partículas coloidais, que proporcionam a esse material propriedades físicas, químicas inteiramente diferentes da matéria orgânica original.

Sabe-se que o húmus é formado especialmente pelas ligninas que acumulam-se no solo, por serem de decomposição mais difícil e mais lenta. Sempre são decompostas, no primeiro estágio por fungos e actinomicetos, que são os únicos que conseguem romper os ciclos estruturais muito complexos. Estes fungos,como o Epicoccum nigrum, também produzem a cor escura, típica dos fenóis e melaninas. Em meio semi-aeróbico a decomposição continua exclusivamente por fungos, mas em ambiente aeróbio e clima suficientemente quente, é continuada por bactérias. Estas, decompositoras muito eficientes, não deixam nada além de água, CO2 e minerais solúveis. Assim, o húmus é o estágio final do processo de decomposição aeróbia, quando os nutrientes vão sendo gradualmente disponibilizados, ou tornando-se passíveis de absorção pelas raízes das plantas.

A minhocultura

No ambiente natural, pequenos animais também participam do processo de transformação da matéria orgânica em húmus, como algumas formigas, cupins, besouros, centopeias, e especialmente, minhocas. Assim, uma forma controlada de acelerar o processo de humificação de matéria orgânica, reside na prática da minhocultura. Certas espécies de minhocas possuem grande habilidade em se alimentar de matéria orgânica. Dentre elas algumas se destacam pela facilidade de manejo, reprodução em cativeiro e produção de húmus, como a Vermelha da Califórnia (Eisenia Foetida) e a Gigante Africana (Eudrilus Eugeniae).

Estas minhocas são capazes de se alimentar até de matéria orgânica crua, sendo muito usadas em minhocários domésticos com a finalidade de transformar o lixo orgânico doméstico em vermicomposto. Entretanto, se a nossa intenção é obter húmus de minhoca de qualidade, devemos fazer com que a matéria orgânica passe por outros processos com outros agentes decompositores. Assim, alimentamos as minhocas com o nosso composto bioestabilizado, e quanto maior for a qualidade do composto melhor será o húmus produzido.

Page 22: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

22

Adubação Verde

A adubação verde consiste no cultivo de certas espécies de plantas com a finalidade de se aproveitar suas características e habilidades específicas. Com ela podemos obter e/ou mobilizar nutrientes do solo, melhorar suas condições físicas, corrigir desequilíbrios e desfavorecer o crescimento de plantas indesejadas. Assim, a escolha da espécie a ser cultivada é feita de acordo com as características do solo e do trabalho que queremos executar sobre ele. Deve ser feita com muito cuidado, pois uma espécie favorável e apropriada para um dado local e/ou condição pode ser desfavorável para outro.

A relação entre alguns nutrientes do solo e da matéria orgânica presente nele afeta diretamente os processos de decomposição, humificação e disponibilização de nutrientes. Um solo onde há matéria orgânica, mas falta nitrogênio, terá o processo de decomposição e disponibilização natural de nutrientes prejudicado. Neste solo podemos plantar alguma leguminosa que seja boa fixadora de nitrogênio, pois com este vamos dinamizar os processos naturais de decomposição e disponibilização dos demais nutrientes.

Porém se em um solo que possui pouco teor de matéria orgânica plantamos a mesma leguminosa, em pouco tempo poderemos observar uma queda ainda maior da porcentagem de matéria orgânica presente neste solo. Nesse caso o ideal seria um incremento na matéria orgânica sobre o solo, assim o mais indicado seria o plantio de uma boa fonte de massa vegetal e carbono; talvez uma gramínea de bom crescimento, como o Napier ou Colonião, fosse o mais indicado.

Da mesma forma que todas as gramíneas tendem a ter uma relação C/N maior, todas as leguminosas possuem a habilidade de enriquecer o solo com nitrogênio. Isso porque suas raízes abrigam, numa relação simbiótica, bactérias do gênero Rhizobium, que são capazes de fixar nitrogênio atmosférico.

Algumas espécies, principalmente aquelas que possuem raízes pivotantes, podem fazer um verdadeiro trabalho subsolador, abrindo galerias mesmo nos solos mais compactados, melhorando a infiltração de água, reduzindo assim a erosão e a perda de nutrientes por lixiviação. Da mesma forma, como suas raízes alcançam níveis que as outras não conseguem alcançar, elas recuperam nutrientes desses níveis e os trazem de volta à superfície, transformando esses nutrientes novamente em matéria orgânica, inicialmente como cobertura verde e cobertura morta quando roçada. Pode também ser compostada ou passar por outros meios de ciclagem.

Assim como em outras culturas, deve se observar entre as espécies disponíveis aquela que melhor se adapta ao solo, clima e época de plantio, e realizar o respectivo manejo, que normalmente inclui podas ou a roçada total da cultura, para deixar sobre o solo ou incorporá-lo superficialmente a ele.

Page 23: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

23

Outra propriedade notável da adubação verde é o potencial alelopático desta forma de intervenção no agroecossistema.

Alelopatia

Alelopatia (do grego, influência recíproca) é a relação química estabelecida entre as plantas, ou, em outras palavras, a capacidade que as plantas tem de produzirem substâncias químicas que, liberadas no meio ambiente de cultura, podem influenciar de forma favorável ou desfavorável ao desenvolvimento de outras. Se uma espécie favorece outra, então dizemos que ela exerce alelopatia positiva sobre aquela, ao passo que se ela prejudica a outra, diz-se que exerce alelopatia negativa.

Assim, utilizando os princípios da alelopatia, podemos interferir no agroecossistema, favorecendo ou prejudicando o desenvolvimento de determinada espécie. A alelopatia deve ser levada em conta na escolha da espécie utilizada como adubação verde, segundo suas características. Igualmente no design e mesmo no manejo do sistema, considerando a posição de algumas espécies em relação a outras, as quais podem se favorecer ou se prejudicar, acontecendo o mesmo na sucessão das espécies.

Se quisermos iniciar um plantio em uma área com dominância de Brachiaria, por exemplo, podemos lançar mão do plantio de Mucuna Preta, que inibirá o desenvolvimento daquela não só por ação alelopática, mas por meio de sua forma de crescimento indeterminado, que subindo por cima dos brotos da Brachiaria dimunui a incidência de luz sobre esta, inibindo seu desenvolvimento e reduzindo o potencial alelopático da Brachiaria sobre o meio.

No conhecimento tradicional, as relações alelopáticas são mais conhecidas pelas expressões "plantas companheiras" e "plantas antagonistas". As boas consorciações ou associações vegetais são uma prática importante para aumentar a saúde de nosso agroecossistema.

Plantas Companheiras Antagonistas

Abóbora Milho, vagem, acelga, taioba, chicória, amendoim

Batata e legumes tuberosos em geral

Acelga Vagem

Alecrim Repolho, couve, nabo, cenoura, sálvia, feijões, mastruço Alho, cebola, cebolinha

Alface Cenoura, rabanete, morango, pepino, beterraba, cebola, alho-

Salsa, girassol

Page 24: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

24

poró, rúcula, abobrinha, cebolinha

Algodão Mucuna. Trevo Arroz, trigo

Alho-poró Cebola, alho, cenoura, batata, couves Ervilha, feijões, alecrim, aspargo

Alho Alface, beterraba Ervilha, feijões, alecrim, aspargo

Amendoim Abóbora

Aspargo Tomate, salsa, macieira, pereira e damasco Cebola, alho, gladíolos e violetas

Arroz Mamona, guandu, calopogônio Algodão

Arruda Anis, alfavaca

Batata Feijões, repolho, alho, berinjela, couve, rábano, favas, ervilha

Abóbora, pepino, girassol, tomate, maça, framboesa, canela, eucalipto.

Bardana Nabo, cenoura

Beringela Feijões, vagem, batata

Beterraba Cebola, couve, rábano, urucum, alface, nabo Feijão trepador, bananeira

Café Seringueira, canela, fumo, lab-lab Kiri

Cana Crotalária, feijão-fradinho, guandu Tiririca

Cacau Seringueira, guaraná

Canela Mamão, café, tomate

Cebola Alface, beterraba, morango, roseiras, pessegueiros, cenoura, batata, couves

Endro

Cenoura Ervilha, alface, manjerona, feijão, cebola, cebolinha, bardana, alho-poró, rabanete, tomate

Chicória Rúcula, vagem, rabanete

Couve Alho, cebola, cebolinha Espinafre

Couve-chinesa Vagem

Couve-flor, Brócolis Alho, cebola, cebolinha, aipo

Endro Repolho Cenoura

Erva-doce (anis) Coentro, bardana Antagonista da maioria das

Page 25: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

25

hortaliças

Ervilha

Cenoura, nabo, rabanete, pepino, milho, feijões, abóbora, ervas aromáticas, aveia, mandioca, cevada

Cebola, alho, batata, gladíolos

Dendê Guaraná

Espinafre Morango, feijões, beterraba Couve, tomate

Feijões em geral Milho, batata, cenoura, pepino, couve-flor, repolho, couve, nabo, melancia, colza

Aipo, alho-poró, gladíolos,cebola, alho, mandioca, cravo-brabo

Feijões arbustivos Girassol, batata, pepino, milho, morango, rabanete Cebola, alho, beterraba

Feijões trepadores Milho, abóbora, rúcula, chicória, acelga, rabanete, sorgo, gergelim Cebola, alho, urucum, beterraba

Favas Alcachofras (as favas protegem-nas dos pulgões), batatas Pita, capiá

Girassol Pepino, feijão, milho Batata

Gergelim Feijão trepador, caupi (feijão miúdo)

Sorgo (exerce forte ação alelopática sobre o gergelim), trigo sarraceno

Goiaba Protege a laranjeira

Guaraná Cacau, dendê

Hortelã Repolho, tomate, aspargo

Laranjeira Seringueira, goiabeira

Linho Trigo, girassol, alfafa

Maxixe Quiabo, milho

Macieira Alho, cebola, cebolinha Gramíneas, couve, repolho

Mamão Canela

Manjericão Tomate, aspargo

Melão Milho (aprecia sua sombra, como outras cucurbitácias)

Milho Ervilha, feijões, pepino, abóbora, melão, melancia, trigo, girassol, rúcula, rabanete, maxixe, nabo, quiabo, mostarda, feijão-de-porco,

Gladíolos, repolho, funcho

Page 26: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

26

mandioca mucuna, caruru

Morango Espinafre, alface, tomate, feijão-branco Repolho, couve

Mostarda Milho Repolho, couve

Nabo Ervilha, feijões, milho Tomate

Pepino Girassol, feijões, milho, ervilha, rabanete, alface, abóbora, arroz Batata

Quiabo Milho

Rabanete Alface, ervilha, pepino, agrião, cenoura, espinafre, milho, vagem, chicória

Acelga

Salsa Tomate, aspargo, roseiras Rúcula, alface

Salsão (Aipo) Alho-poró, tomate, couve, repolho, couve-flor, feijão arbustivo Acelga

Serralha Tomate, cebola, milho Morango, tomate, vagem

Repolho Batata, aipo, beterraba, cebola, alface, feijão, alecrim

Manjerona, framboesa, pepino, abóbora, girassol, cereja

Rúcula Chicória, vagem, milho, alface Salsa

Seringueira Café, cacau, laranja, guaraná

Soja Fumo, trigo, milho Aveia-branca

Taioba Abóbora

Sorgo Lab-lab Gergelim, trigo

Trigo Soja, milho Sorgo, trigo sarraceno

Trigo sarraceno Gergelim, trigo

Tremoços Videira

Tomate Cebolinha, cebola, aspargo, salsa, cenoura, serralha, urtiga, alho, canela

Urucum, batata, repolho, feijão, espinafre, fumo, pimentão

Fonte: FORNARI, 2002

Page 27: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

27

Biofertilizantes

São geralmente o resultado da fermentação de ingredientes nobres (estercos, leite, restos animais, tortas, minerais) em meio aquoso, e usados como fertilizantes, seja diretamente no solo ou aspergidos sobre a planta, como fertilizante foliar. Podem ser aeróbios ou anaeróbios, e neste último caso podem ser encontrados como subproduto de biodigestores com finalidade energética, ou seja, desenhados para transformar matéria orgânica em biogás, e que tem como “resíduo” o biofertilizante.

Se valendo também de processos anaeróbicos, o biodigestor do tipo Vairo8 é construído pensando-se na obtenção do biofertilizante9. Nele é utilizado somente esterco bovino e água; tem como vantagem sobre os demais o fato de os processos anaeróbios não permitirem a perda excessiva de nitrogênio, além de seu baixo custo e baixa dependência de insumos externos e industrializados. Nele estão presentes hormônios vegetais, aminoácidos, vitaminas, nutrientes e microorganismos, especialmente o Bacillus subtillis, cuja ação bacteriostática e fungiostática já foi comprovada.

Uma fórmula famosa de biofertilizante aeróbio é o Supermagro10, que mistura fontes naturais como esterco, leite, farinha de ossos, sangue, etc., com minerais solúveis, que passarão pelo processo de quelatização, apresentando ao final do processo uma série de micronutrientes em forma orgânica. Há também receitas que utilizam bactérias do rúmen para degradar vegetais.

Os biofertilizantes, pelos seus aspectos acima citados, são também usados com fins de controle de doenças e pragas. Ao melhorar a nutrição das plantas, aumenta sua resistência aos eventuais desequilíbrios. O biofertilizante anaeróbico do tipo Vairo, produzido a partir de esterco bovino fresco, além das propriedades nutricionais, e de possuir ação bacteriostática e fungiostática, confunde o faro químico de uma série de parasitas, sendo assim uma importante ferramenta de controle alternativo.

8 Vairo dos Santos, 1992 9 Possui o biogás como subproduto, que normalmente não é utilizado pela sua baixa vazão e pressão. 10 Formulado pelo pesquisador Delvino Magro, 1994.

Page 28: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

28

Controle alternativo de distúrbios, pragas e doenças

Na natureza não existem “pragas” nem “doenças”. Não porque no ambiente natural tais organismos não existam, mas porque nele costumam estar em equilíbrio no meio onde são encontrados. Tal equilíbrio não é estático, ao contrário, é dinâmico: os primeiros fatores relevantes ao equilíbrio ecológico costumam ser solo, clima e geografia local. De acordo com estes, já são estabelecidas condições para que algumas espécies (de todos os reinos) sejam favorecidas, em detrimento de outras. É, entre outros fatores, dessa forma que encontramos espécies endêmicas, encontradas somente em determinada região.

Se em um ano, ou talvez em uma década, fatores como temperatura, precipitação, entre outras, forem atípicas, esta variação irá de alguma forma refletir no equilíbrio ecológico. As novas condições poderão favorecer algumas espécies de bactérias, fungos, insetos, plantas e animais, em detrimento de outras. A população de um determinado fungo ou formiga, por exemplo, pode aumentar bastante a ponto de ser notada onde antes quase não aparecia, se mostrando como um novo fator relevante ao equilíbrio ecológico local, que pode refletir como o “ataque” ou “poda” natural de determinadas espécies vegetais. Por sua vez, se a população de formigas aumenta significativamente, aumentam as condições para que aqueles organismos que delas se alimentam, ou aqueles que vivem em simbiose com elas, se proliferem também, e assim por diante. Esse equilíbrio é dinâmico, e a tendência de se chegar a estabilidade das populações é uma constante, sendo determinantes para isso as relações de oferta de alimentos x população consumidora x população predadora.

Da mesma forma, quando intervimos em algum ambiente, através de nossos cultivos, alteramos as configurações ecológicas locais, de acordo com muitos fatores. Se cultivamos apenas uma espécie, favorecemos apenas poucas espécies de bactérias, fungos e insetos, justamente aquelas que tem a habilidade de tirar daquela espécie seu alimento, de forma direta ou indireta. E é dessa forma que espécies que na natureza são meras indicadoras da dinâmica do equilíbrio ecológico básico, se tornam “pragas” e “doenças”.

Ademais, tais organismos só recebem essas denominações quando são capazes de, atingindo nossas culturas, causar significativa perda econômica. Se nosso agroecossistema estiver sadio, equilibrado, nós até poderemos encontrar nele tais organismos, porém de forma que não hajam impactos significativos em nossa produção. Uma das características que indicam a saúde de nosso agroecossistema é justamente a resiliência, ou seja, a capacidade de se adaptar a novas condições e momentos de estresse, sem com isto perder o equilíbrio e a vitalidade, e retornar novamente à condição ideal, uma vez passado este momento de distúrbio.

Page 29: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

29

Para que uma planta seja parasitada, ou seja, para que seja atacada por insetos, fungos ou bactérias, necessita-se:

− A multiplicação incontrolada do parasita. Isso ocorre em monoculturas, especialmente em terras cansadas, com vida fraca, onde uma ou outra espécie escapa do equilíbrio natural.

− A “disposição” das plantas em “oferecer” aos parasitas o que eles podem utilizar. Se esta disposição não existir, não importa a quantidade de organismos parasitas presentes, pois eles não seriam capazes de se alimentar da planta.

− A total falta de autodefesa das plantas. O problema não está no parasita, mas no metabolismo vagaroso ou deficiente da planta, que permite a circulação de muitas substâncias em sua seiva. Em plantas em pleno vigor isso não ocorre. Seu metabolismo é rápido. Nenhum parasita pode atacar as proteínas, embora os aminoácidos, dos quais as proteínas se formam, sejam facilmente atacados por eles.

Sabemos que uma planta sadia, que possui uma nutrição equilibrada, dificilmente será atacada por “pragas” e “doenças”. Porém, caso haja um distúrbio muito grande, toda planta é capaz de suportar um ataque sem dano econômico, ou que justifique economicamente qualquer tratamento.

Entretanto, mesmo num cultivo ecológico ideal, adotando os princípios agroecológicos, podem ocorrer desequilíbrios temporários que aumentam a população de insetos ou patógenos nocivos para os níveis de dano econômico. Os desequilíbrios podem ser oriundos de chuvas ou secas excessivas, tratamentos com agrotóxicos agressivos nas propriedades vizinhas, mudas e sementes de baixa qualidade, cultivares não adaptados e solo ainda não recuperado.

Para estes casos, existem alternativas para substituir os agrotóxicos por produtos de baixo custo, que não afetam a saúde do homem e que causam mínimo impacto no equilíbrio natural local. Aqui, não se trata de erradicar os insetos ou micro-organismos nocivos, mas de interferir no equilíbrio do agroecossistema, seja aumentando a resistência das plantas, ou diminuindo as condições que favorecem o sobre-desenvolvimento das espécies que potencialmente podem trazer danos econômicos.

Antes de aplicar qualquer produto alternativo, devemos ter a certeza de qual espécie presente nas plantas está causando os danos. Igualmente, devemos nos certificar que o ataque é intenso e justifique uma intervenção. Devemos sempre nos lembrar que o ataque não é a causa do problema, mas apenas sua consequência. Assim, jamais utilize agrotóxicos, estes persistem no sistema causando fortes desequilíbrios, trazendo com eles somente mais problemas, ao meio ambiente em geral, ao nosso agroecossistema, à nossa produtividade e à nossa saúde.

Page 30: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

30

Em geral, as principais espécies potencialmente causadoras de danos são:

− Lagartas: Insetos do grupo de mastigadores, são as larvas de borboletas e mariposas, que podem danificar as plantas por devoração total das folhas, em alguns casos do fruto.

Se a presença de lagartas for recorrente, podemos eliminá-las manualmente, assim como seus ovos, antes de eclodirem.

A aplicação do biofertilizante do tipo Vairo na concentração de 5% a 10%, de uma a duas vezes por semana, reduz significativamente a incidência de lagartas.

Para o controle, podemos também usar calda de fumo, chá de arruda ou óleo de neem.

− Pulgões: são pequenos insetos do grupo dos sugadores. Atacam principalmente as partes mais tenras das plantas (brotos), formando colônias.

Por meio de sucção contínua de seiva e da introdução de substâncias tóxicas, causam amarelamento das folhas das plantas.

Podem ser verdes, pretos, marrons ou vermelhos, com ou sem asas. Nas plantas atacadas podem ser notadas a presença de formigas, com as quais vivem em simbiose. Podem também criar condições para o aparecimento de fungos, como a fumagina, além de transmitir viroses entre as plantas.

Em alguns casos a presença de pulgões podem indicar excesso de nitogênio.

A aplicação do biofertilizante do tipo Vairo na concentração de 5% a 10%, de uma a duas vezes por semana, reduz significativamente a incidência de pulgões.

Podem ser controlados pela remoção mecânica, ou através da aplicação de calda de fumo.

− Cochonilhas: pertencem ao grupo dos sugadores. No início são muito pequenas e deslocam-se com rapidez até se fixarem. Algumas espécies liberam substâncias açucaradas, podendo estar associadas também com a presença de formigas e da fumagina.

Podem ser divididas em três grupos: com carapaça, com proteção cerosa e nuas. As com carapaça apresentam escudo protetor, geralmente de coloração amarronzada, que impede a ação direta de princípios ativos que atuam por contato, sendo porém mortas por

Page 31: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

31

asfixia; as de proteção cerosa apresentam uma camada cerosa farinhenta; e as nuas apresentam coloração castanho-escura, quase negras.

Causam o murchamento e amarelamento das folhas.

A aplicação do biofertilizante do tipo Vairo na concentração de 5% a 10%, de uma a duas vezes por semana, também reduz significativamente a sua incidência.

Para o controle das cochonilhas que não tem carapaça, podemos usar calda de fumo. E para as que tem, podemos adicionar à solução algum óleo vegetal, mineral ou mesmo óleo de neem.

− Mosca-branca: o inseto adulto mede cerca de 1,0 mm de comprimento e assemelham-se às moscas. As ninfas nascem na parte inferior das folhas, sugando sua seiva. Podem transmitir viroses.

A aplicação de biofertilizante Vairo também previne contra a mosca-branca, e seu controle pode ser mecânico, solução com 0,5% de detergente, e soluções com de sabão e cal hidratada.

− Tripes: do grupo dos sugadores e de tamanho minúsculo (1mm a 3mm), escondem-se em qualquer parte das plantas, em brotos, bainhas, axilas, etc., e inserem seus ovos geralmente nos tecidos mais tenros das plantas. Os adultos possuem um par de asas reduzidas a uma lâmina estreita e transparente, com pêlos longos em toda a volta, as formas jovens são desprovidas de asas.

Seu aumento populacional está relacionado com o desequilíbrio químico e hídrico da planta.

Sugando sua seiva, deixam manchas prateadas nas folhas, podendo transmitir viroses, causar diminuição do crescimento e produção, perda de folhas, frutos, galhos e até a morte da planta.

Para controle do tripes devemos utilizar um conjunto de técnicas, como proteção física (telamento), pulverização de biofertilizantes e repelentes naturais e o plantio de espécies repelentes, como o cravo de defunto (tagetes minuta) e a crotalária. O uso de adesivos colantes, de cor azul, serve para monitoramento e surte bom efeito de controle em culturas não desequilibradas.

Page 32: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

32

− Lesmas e caracóis: são moluscos, geralmente de hábitos noturnos e pertencem ao grupo dos mastigadores e podem causar severos danos às folhas das plantas, principalmente hortaliças. Deixam um rastro longo e brilhante.

A melhor forma de controle é o uso de iscas. Podem ser usados pedaços de chuchu ou abóbora para atraí-las; também recipientes contendo cerveja enterrados até o nível do solo; ou ainda pedaços de estopa embebidos com cerveja ou leite.

Pode-se também coletar de 15 a 20 indivíduos e deixar apodrecerem em 1 litro de água. Feito isso pode ser coado e misturado em 10 litros de água, e então regar as plantas próximo dos pés.

Em campos maiores, pode-se pulverizar o solo com 1 kg/ha de sulfato de cobre ou bórax (ácido bórico).

− Formigas cortadeiras: existem várias receitas para se evitar prejuízos por conta das formigas cortadeiras. O gergelim é uma planta que ao mesmo tempo que atrai para si as formigas, deixando de lado outras culturas, uma vez levado para dentro do formigueiro atrapalha o desenvolvimento do fungo cultivado pelas formigas e do qual se alimentam. Pode-se também, num dia quente, ralar mandioca ou mandioca brava (mais eficaz) ao longo do “carreiro” das cortadeiras, na sua fermentação é liberado cianeto, tóxico as formigas.

A aplicação de uma solução quente (fervendo) de água e cal virgem diretamente sobre as saídas do formigueiro podem ajudar a desestabilizá-lo.

Ataques frequentes de cortadeiras podem indicar deficiência de molibdênio nas culturas atingidas.

− Formigas lava-pés: Estas são inofensivas e em alguns casos até benéficas. Mas em alguns casos podem soterrar algumas plantas. Nesse caso basta escarificar o formigueiro e polvilhar um pouco de cal virgem ou calcário, que elas se mudarão do local.

Page 33: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

33

Controle Biológico

Consiste no emprego de organismos vivos para controlar outros que possam estar em desequilíbrio em nosso agroecossistema. Ocorrem normalmente num ambiente natural equilibrado, fazendo parte da natureza e suas interações ecológicas. Compreende a atividade do parasita, predador ou patógenos que reduzem a densidade ou ocorrência de uma dada população de insetos ou micro-organismos, através da morte prematura ou redução de seu potencial reprodutivo.

Os agentes de controle biológico, também conhecidos como inimigos naturais, impedem que agentes potencialmente danosos às plantas alcancem a condição de “praga”. Os inimigos naturais são aqueles microorganismos, insetos e outros animais (aranhas, pássaros, sapos, lagartos, etc.), que de alguma maneira atuam na redução das populações indesejáveis no agroecossistema.

A primeira forma de controle biológico é a manutenção de um ambiente equilibrado, de forma a se manter as populações potencialmente danosas a um nível onde não se possa ter significativos danos econômicos.

A segunda forma, de controle biológico aplicado, envolve a interferência do homem em aumentar as interações ecológicas entre os seres vivos presentes no agroecossistema. No controle biológico, os inimigos naturais podem atuar na forma de: predadores, que se alimentam dos organismos indesejados; parasitas, que alimentam-se de um hospedeiro; e patógenos, que são micro-organismos que causam doenças em insetos ou outros micro-organismos.

Hoje em dia empresas especializadas comercializam produtos de base biológica com a finalidade de controle de organismos indesejáveis nas culturas, com destaque para:

− Bactérias do gênero Bacillus, conhecidas por sua eficácia no controle de insetos considerados nocivos na agricultura, em especial o controle biológico de lepidópteros11;

− Fungos do gênero Trichoderma, que atua inibindo fitopatógenos habitantes de solo, como nematóides e outros fungos (como o Fusarium)12;

− Fungos do gênero Beauveria, que ocorrem na natureza infectando insetos e ácaros12;

− Fungos do gênero Metarhizium, que igualmente ocorrem na natureza infectando insetos.

11 http://www.cema.bio.br/produto.php?prod=3 12 http://www.itafortebioprodutos.com.br/

Page 34: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

34

Caldas e preparados

Existem diversas receitas de caldas e preparados naturais que podem nos ajudar no controle dos organismos que atuam nos momentos de desequilíbrio de nossos agroecossistemas. Aqui foram reunidas algumas destas:

Calda de Fumo: atua no controle de insetos, tendo a nicotina como princípio ativo e o sabão como adesivo. Muito eficiente contra pulgões e cochonilhas sem carapaça, razoavelmente eficiente contra lagartas e mosca-branca (larvas) e pouco eficiente contra cochonilhas com carapaça.

Preparo: para cada 10 litros de água da solução final, usar 100 g de fumo de corda picado e 100 g de sabão de coco ralado. Ferva o fumo picado em 2 litros de água durante 5 minutos, e deixe repousar durante 24 horas. Após esse período, aqueça mais 2 litros de água e dissolva nela o sabão de coco ralado. Coe a água do fumo e mistura nela a água com o sabão dissolvido. Misture os 6 litros de água restantes e já pode pulverizar sobre as plantas afetadas.

Calda de sabão e óleo mineral: usado no controle de cochonilhas, com e sem carapaça, pulgões e outros insetos.

Preparo: aqueça 500 ml de água e dissolva nela 100 g de sabão de coco, misture na solução 500 ml de óleo mineral. Depois de pronto, usar 200 ml da mistura em 20 litros de água e pulverizar sobre as plantas. Repetir a aplicação a cada 15 dias.

Calda de extrato de pimenta-do-reino com alho e sabão: usada para controlar pragas das solanáceas (tomate, berinjela, pimentão, etc.) e pragas de flores, hortaliças, frutíferas, grãos e cereais.

Preparo: Colocar 100 g de pimenta-do-reino em 1 litro de álcool em recipiente com tampa (vidro ou garrafa), e deixar em repouso por 1 semana. Em outro recipiente com tampa, colocar 100 g de alho triturado em mais 1 litro de álcool, também deixar por 1 semana em repouso.

No momento da aplicação, dissolver 50 g de sabão de coco em 1 litro de água quente, e acrescentar 200 ml do extrato da pimenta-do-reino e 100 ml do extrato de alho, misturar bem, acrescentar 19 litros de água e misturar novamente. Aplicar nas plantas.

Page 35: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

35

Calda bordalesa: é um defensivo alternativo preparado na própria propriedade, compreendendo a mistura de sulfato de cobre e cal virgem. Apesar de serem preparadas com minerais químicos, é aceita pela agricultura ecológica pois seus componentes fazem parte dos processos metabólicos sendo essenciais para a constituição das plantas. A calda bordalesa é excelente no controle de fungos, possuindo também ação bacteriostática.

A concentração da calda bordalesa pode variar de 0,5% a 1% de sulfato de cobre, sendo a concentração clássica de 1%. Aplicada na proporção 1:1 (1 parte de sulfato de cobre e 1 parte de cal virgem) forma uma calda muito alcalina, com pH que varia de 7 a 14, mas nunca abaixo de 7.

Árvores temperadas como caqui, figo, maçã, pêra, etc., pelo risco de fitotoxidade do cobre, devem seguir a proporção de 1:2 (1 parte de sulfato de cobre para 2 de cal virgem). Não aplicar em frutas de caroço como o pessegueiro e ameixeira em seu período vegetativo, pois o cobre apresenta fitotoxidade para estas culturas.

Hortaliças como batata, tomate, etc., aceitam bem a concentração de 0,8% a 1%. No morango, olerícolas como cenoura, beterraba, brócolis e plantas ornamentais, 0,5%. Nas cucurbitáceas deve-se empregar dosagens de 0,25% a 0,3%. Nas hortaliças folhosas de 0,1% a 0,15%, fazendo testes para evitar queimas.

Preparo: Para preparar a calda bordalesa deve ser empregado sempre tanque ou recipiente de plástico, cimento ou madeira. Não utilizar tambores metálicos, pois estes reagem com o sulfato de cobre.

Devemos hidratar a cal virgem, deixando-a no mínimo 12 horas descansando antes de preparar a calda, formando assim o “leite de cal”.

O segundo passo do preparo é dissolver o sulfato de cobre, num recipiente a parte. Quando este está na forma de pedra, deve ser bem triturado e colocado dentro de um pano de algodão e mantido imerso, em suspensão na parte superior do recipiente. O cobre na forma de sais se dissolve rapidamente.

Com as duas soluções prontas, misturamos as duas e medimos o pH da calda. Para isso usamos um “peagômetro” ou uma fita de tornassol comum. Na falta de um medidor adequado, podemos verificar se a calda está neutralizada pingando algumas gotas numa lâmina de ferro (pode ser também um prego novo, clipes ou um arame polido) e deixando reagir por alguns minutos. Se ocorrer oxidação, isto é, formar manchas escuras, a solução estará ácida. Se assim estiver (pH abaixo de 7), acrescentar mais leite de cal até que o cobre esteja neutralizado (pH acima de 7). Deve-se fazer a aplicação da calda bordaleza imediatamente após o preparo.

Page 36: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

36

Glossário

Areia – Partículas com tamanho entre 0,05 mm e 2 mm, formado principalmente por cristais de quartzo e minerais primários. Os solos arenosos têm boa aeração e capacidade de infiltração de água.

Argila – Partículas de tamanho menor que 0,002mm (tamanho máximo de um colóide). São geralmente menos permeáveis.

Coloidal – De natureza gelatinosa. Colóide: Corpo que não se cristaliza, ou só se cristaliza muito dificilmente, e que, em dissolução, se difunde com lentidão extrema.

Commodities – Do inglês, literalmente, mercadorias. São produtos que ocupam status de matéria-prima de processos industriais e tem seu preço fixo determinado pelo mercado internacional.

Fitotóxico – Tóxico às plantas.

Húmus – Mistura complexa de substâncias amorfas coloidais.

Lepidópteros – Ordem de insetos que compreendem borboletas e traças

Mesovida do solo – Minhocas, cupins, centopéias, besouros, etc.

Plântula - Embrião vegetal que começa a desenvolver-se pelo ato da germinação.

Quelato – Qualquer composto em que se forma um anel graças a uma ligação coordenada entre dois ou mais sítios de uma molécula e um íon metálico.

Solo – Camada superficial onde não de distingue os materiais de origem orgânica dos de origem mineral.

Serrapilheira – Camada de folhas, galhos, troncos que cobrem o solo da mata

Silte - Todo fragmento mineral menor do que areia fina e maior do que argila. O silte não se agrega como as argilas e ao mesmo tempo suas partículas são muito pequenas e leves. São geralmente finos.

Subsolo – Camada predominantemente mineral, localizada abaixo do solo. Composto basicamente de areia, argila e silte.

Page 37: Apostila agroecologia

Curso de Agroecologia Manejo de Solo & Agroecossistemas

37

Bibliografia

ALTIERI, Miguel. Agroecologia – A Dinâmica produtiva da Agricultura Sustentável. Ed. da UFRGS. 4ª edição, 2004.

CARRAZEDO DE ALMEIDA, Paulo César. Minhocultura – Tudo o que você precisa saber sobre. SEBRAE-MT, 2ª edição, 1996

DRESCHER, Lirio. Fruticultura Tropical – Proposta de diversificação agrícola. Publicação do ‘Projeto Guandú’, 1993.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Séc. XXI: O Dicionário da Língua Portuguesa. Ed. Nova Fronteira, 3ª Edição, 1999.

FORNARI, Ernani. Manual prático de Agroecologia. Ed. Aquariana, 2002.

GLIESMANN, Stephen. Agroecología – Procesos Ecológicos en Agricultura Sostenible. Turrialba, Costa Rica: Ed .CATIE, 2002.

KIEHL, Edmar José. Fertilizantes Orgânicos. Ed. Agronômica Ceres, 1985.

________________. Manual de Compostagem – Maturação e Qualidade do Composto. Piracibaba-SP: Editado pelo Autor, 4ª Edição, 2004.

PENTEADO, Silvio Roberto. Defensivos Alternativos e Naturais – Para uma agricultura saudável. Campinas: editado pelo autor. 4ª edição, 2010.

PRIMAVESI, Ana. Agricultura Sustentável – Manual do produtor rural. São Paulo: Ed. Nobel, 1992.

______________. Manejo ecológico do solo: agricultura em regiões tropicais.Ed. Nobel, 2002.

ZAMBERLAN, Alceu. Agroecologia: caminho de preservação do agricultor e do meio ambiente. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2012.