apostila biotecnologia

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SRIES EM BIOTECNOLOGIA

volume I

Tecnologia de Bioprocessos

P 436 t Pereira Jr., Nei. (editor-autor) Tecnologia de bioprocessos / Nei Pereira Jr., Elba Pinto da Silva Bon, Maria Antonieta Ferrara. Rio de Janeiro: Escola de Qumica/UFRJ, 2008. 62 p.: il. (Sries em Biotecnologia, v. 1) ISBN 978-85-903967-2-7 Inclui bibliografia. 1. Bioprocessos. 2. Tecnologia. 3. Bioprodutos. I. Bon, Elba Pinto da Silva. II. Ferrara, Maria Antonieta. III. Ttulo. IV. Srie. CDD 600

Biblioteca Nacional

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BREVE NOTA BIBLIOGRFICA SOBRE OS AUTORESNei Pereira Jr Professor Titular do Departamento de Engenharia Bioqumica da Escola de Qumica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui os ttulos de Engenheiro Qumico (EQ-UFRJ, 1977); MSc em Tecnologia de Processos Bioqumicos (EQ-UFRJ, 1982) e PhD em Biotecnologia (The University of Manchester, UK, 1991). Desde 1991, vem liderando projetos de Pesquisa & Desenvolvimento & Inovao nos Laboratrios de Desenvolvimento de Bioprocessos da UFRJ, onde j orientou 65 teses (43 MSc e 22 DSc). Coordena as seguintes linhas de pesquisa: Biotecnologia de Lignocelulsicos; Processos com Microrganismos Recombinantes; Biotecnologia Ambiental; Floculao/Imobilizao de Clulas e Enzimas; Tecnologia da Produo de Antibiticos; Produo de Alimentos Funcionais; Gesto Tecnolgica e Tratamento/Minimizao de Resduos e Efluentes Industriais. Atualmente, orienta 05 estudantes de mestrado e 08 de doutorado. J publicou mais de 200 trabalhos (artigos em peridicos indexados e trabalhos em eventos cientficos) e 07 patentes, uma delas relacionada produo de bioetanol de bagao de cana-de-acar via hidrlise enzimtica de celulose, trabalho realizado para a PETROBRAS que resultou na patente de nmero 1000 da empresa. Tambm desenvolve trabalhos cooperativos com instituies de ensino e pesquisa nacionais e internacionais, bem como com empresas. bolsista do CNPq (Produtividade em Pesquisa) e da FAPERJ (Cientista do nosso Estado) em reconhecimento as suas contribuies ao desenvolvimento da cincia e tecnologia nacionais, assim como na formao de recursos humanos altamente capacitados. Ele foi recentemente agraciado com os seguintes prmios: PETROBRAS Inventor 2005, 2006 e 2007; Tese Ouro (2006), concedido pela Escola de Qumica por ter atingido a orientao de 50 teses em seu Programa de Ps-graduao e o prmio nacional da Associao Brasileira da Indstria Qumica (ABIQUIM) - Pesquisador de Destaque 2006. Elba Pinto da Silva Bon Professora Associada do Departamento de Bioqumica do Instituto de Qumica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). graduada em Cincias Biolgicas (UERJ, 1970), com Mestrado em Bioqumica (UFRJ, 1974) e em Engenharia Bioqumica (UMIST-UK, 1987), Doutorado em Engenharia Bioqumica (UMIST-UK, 1991) e Ps-Doutorado no Departamento de Biologia do Massachusetts Institute of Technology (MIT, Cambridge, USA, 1995). a coordenadora do Laboratrio de Tecnologia Enzimtica do IQ/UFRJ, onde atua nas reas de Microbiologia Aplicada, Biocatlise e Regulao do Metabolismo por Nitrognio, com nfase a produo e uso de enzimas industriais e especiais e regulao da expresso gnica. J orientou 27 teses (15 MSc e 12 DSc) e atualmente, orienta 03 estudantes de mestrado e 02 de doutorado. Coordena projetos de pesquisa desenvolvidos em colaborao com o Instituto Nacional de Tecnologia MCT e a Fundao Oswaldo Cruz - MS. J coordenou ou coordena projetos de pesquisa com colaborao internacional com Portugal, Alemanha e Sucia. coordenadora cientfica e coordenadora setorial da rea de Produo de Celulases do Projeto Bioetanol. Atua tambm na rea de polticas de Cincia e Tecnologia tendo estruturado e organizao muitas edies do evento ENZITEC. Participa das atividades do Frum de Biotecnologia do Governo Federal, como contratada pelo CGEE na rea de Enzimas Industriais e Especiais. Maria Antonieta Ferrara Pesquisadora do Instituto de Tecnologia em Frmacos de FarManguinhos / Fundao Oswaldo Cruz. Possui graduao em Qumica (IQ/UFRJ, 1974), Mestrado (EQ/UFRJ, 1988) e Doutorado (EQ/UFRJ, 2004) em Tecnologia de Processos Qumicos e Bioqumicos. Tem experincia nas reas de Microbiologia, com nfase em Bioprocessos e de Tecnologia Enzimtica, atuando principalmente nos seguintes temas: produo de enzimas, produo de metablitos microbianos bioativos, produo de protenas heterlogas por Pichia pastoris, bioconverso, enzimas teraputicas, fungos endofticos e pr-tratamento e hidrlise enzimtica de biomassa vegetal.

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APRESENTAOA Biotecnologia Moderna oferece inovadoras possibilidades para a produo de substncias qumicas e processos mais limpos. Em seu cerne est o princpio de se trabalhar em harmonia com o mundo natural. A Biotecnologia tem solues para atender humanidade em suas mais diferentes necessidades (alimentos, energia, medicamentos), bem como suplantar tecnologias que poluem a biosfera ou que contribuam para a depleo de fontes finitas. No entanto, a indstria, a comunidade cientfica e o governo necessitam trabalhar em conjunto para que o Brasil possa lanar mo plenamente do potencial da Biotecnologia, a fim de alcanar sua sustentabilidade industrial/econmica/ ambiental e permitir que o pas siga a sua vocao natural para essa rea. neste contexto, que lanamos a primeira verso das Sries em Biotecnologia com a inteno de disponibilizar material instrucional a estudantes que tencionem atuar profissionalmente nesta importante rea. Esta primeira edio apresenta conceitos e fundamentos necessrios para uma melhor compreenso das diferentes etapas que compem a Tecnologia de Bioprocessos, com o objetivo de fornecer aos estudantes uma viso global e integrada desta temtica, imprescindvel quando se pretende transformar conhecimento em realidade produtiva. No entanto, de carter introdutrio e cunho aplicado, no tem a pretenso de ser uma apresentao exaustiva sobre o assunto. Na realidade, so notas de aulas que temos a inteno de transformar em sries didticas, de forma a colocar o estudante em contato com os problemas e desafios da Biotecnologia, quer seja na rea acadmica ou no setor industrial. Esperamos que o contedo desta edio proporcione aos leitores uma viso abrangente da rea para conhecimento e reflexes. Estamos convictos da importncia da Biotecnologia para o Brasil, pois ela concilia o desenvolvimento tecnolgico com a preservao ambiental. Somos conscientes de que o meio ambiente brasileiro representa um ativo de valor incalculvel e contribui decisivamente para a representatividade brasileira no cenrio internacional. Para isto registramos nosso firme propsito e compromisso de contribuir efetivamente na formao de massa crtica capacitada para atuar nesta importante rea, permitindo a insero desses profissionais em um mercado cada vez mais competitivo e regulador em termos de produtos e processos. Os Autores4

NDICE

Tpico 1. A Biotecnologia Microbiana: Conceitos e Aplicaes Biotecnologia de Bactrias Biotecnologia de Leveduras e Fungos Filamentosos Tecnologia do DNA Recombinante 2. Bioprocessos 3. Agente Biolgico: Caractersticas 4. Nutrio dos Microrganismos Fontes de Energia Fontes de Carbono Fontes de Nitrognio Fontes de Minerais Fatores de crescimento 5. Matrias-Primas Glicdicas 6. Meio de Cultivo Otimizao do meio de cultivo Formulao de meio de cultivo com base na composio centesimal de microrganismos 7. Esterilizao de Meios e Equipamentos 8. Biorreator 9. Modos de Operao de Bioprocessos Quanto conduo Quanto ao desenvolvimento do agente microbiano Quanto ao suprimento de oxignio 10. Processos de Separao e Purificao de Produto 11. Extrapolao de Escala 12. Tratamento Biolgico de Resduos e Efluentes 13. Consideraes Gerais 14. Referncias Bibliogrficas Recomendadas

Pgina 7 10 12 14 18 21 23 23 23 24 24 25 25 27 29 31

33 35 41 41 45 47 50 50 53 57 58

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TECNOLOGIA DE BIOPROCESSOSNei Pereira Jr.1; Elba Pinto da Silva Bon2& Maria Antonieta Ferrara31

Laboratrios de Desenvolvimento de Bioprocessos Escola de Qumica - CT/UFRJ [email protected] 2 Laboratrio de Tecnologia Enzimtica Instituto de Qumica CCMN/UFRJ 3 Instituto de Tecnologia em Frmacos Farmanguinhos/FIOCRUZ

1. A Biotecnologia Microbiana: Conceitos e AplicaesOs vrios conceitos da Biotecnologia se referem ao uso de clulas ou sistemas bioqumicos em processos de produo de bens ou de prestao de servios (Tabela 1). Neste contexto, a Biotecnologia tem papel destacado, sob o ponto de vista histrico e tecnolgico, visto que os primeiros processos industriais basearam-se na ao de microrganismos e a grande maioria daqueles consagrados utiliza microrganismos nativos ou modificados geneticamente. A Biotecnologia apresenta carter inter e multidisciplinar, necessitando aqueles que militam nesta rea de conhecimentos fundamentais em Bioqumica, Gentica, Microbiologia Aplicada e Engenharia Bioqumica, a fim de se ter uma maior compreenso sobre a atividade do biocatalisador e buscar suas melhores condies de desempenho em biorreator (otimizao). Outras ferramentas como a Modelagem e a Simulao, bem como o Controle e a Instrumentao so peas-chaves na otimizao de Bioprocessos. Trata-se de uma rea muito extensa, conforme exemplificado a seguir, para processos, produtos e servios: diferentes microrganismos so utilizados para a produo de substncias de interesse comercial, como: antibiticos, cidos orgnicos, solventes, enzimas e biocombustveis por processos fermentativos. O produto pode ser ainda o prprio microrganismo, como a produo de levedura de panificao e inoculantes agrcolas, ou as clulas microbianas podem ser utilizadas em processos de biotransformao, como por exemplo, para a produo de esterides, aromas e fragrncias. Alm da produo de bens de consumo, os microrganismos so tambm utilizados em processos de tratamento de resduos e efluentes urbanos e industriais, na recuperao de metais, tais como cobre, chumbo e urnio, ou em processos de biorremediao de solos contaminados. Os principais produtos da Biotecnologia podem ser agrupados de acordo com o seu uso, em produtos da indstria farmacutica (antibiticos, hormnios, vacinas, vitaminas e protenas teraputicas humanas), da indstria de alimentos (aminocidos, flavorizantes, polissacardeos e gomas xantana) e da indstria qumica (etanol, acetona, butanol, glicerol, cido lctico, cido ctrico, polisteres, inseticidas microbianos). Como as enzimas microbianas so utilizadas em diferentes segmentos industriais, no conveniente classific-las de acordo com a sua aplicao. Em decorrncia das vrias aplicaes de seus produtos, a Biotecnologia insere-se em uma gama de segmentos industriais (Figura 1).6

Tabela1: Definies de Biotecnologia. DEFINIO Conjunto de processos microbianos e outros processos bioqumicos desenvolvidos em escala industrial Uso de organismos vivos para produzir produtos benficos para a espcie humana Integrao de cincias naturais e de cincias da engenharia visando aplicao de organismos, clulas, derivados celulares e anlogos moleculares para produtos e servios toda tecnologia de processo ou produto que lance mo, em pelo menos uma de suas etapas, da ao de microrganismos, clulas animais ou vegetais, ou de substncias produzidas por estes agentes biolgicos, sendo caracterizada por sua multidisciplinaridade Conjunto de tecnologias habilitadoras (enabling technologies), que possuem em comum o uso de clulas ou molculas biolgicas para aplicaes na produo de bens e servios, em reas como sade humana & animal, agricultura, energia e meio ambiente REFERNCIA Stenesh (1989) Glazer & Nikaido (1995)

Smith-Doerr et al. (1997)

Rehn & Reed (1993)

Marx (1989)

agropecurio qumico txtil

veterinrio

BIOTECNOLOGIA

ambiental

alimentcio mdico-farmacutico

energtico

Figura 1: Insero da Biotecnologia em diferentes setores produtivos.7

Todos os microrganismos produzem uma variedade muito grande de enzimas intracelulares em pequenas quantidades, para a catlise das suas reaes metablicas. As enzimas, tambm denominadas de biocatalisadores, so catalisadores proticos com caractersticas particulares pela sua alta eficincia em condies fisiolgicas e alta especificidade, sendo inclusive capazes de catalisar reaes estereoespecficas. Este potencial cataltico utilizado industrialmente no s nos clssicos processos fermentativos, mas tambm em processos de biotransformaes microbianas para a catlise de reaes qumicas de difcil ocorrncia e de grande importncia na indstria farmacutica. Um exemplo tpico refere-se produo de esterides utilizando-se Rhizopus nigricans. O fungo , inicialmente, cultivado em biorreatores em condies otimizadas para se atingir altas concentraes celulares. Finda a fase de crescimento celular, o substrato a ser transformado, a progesterona, adicionado ao biorreator e, aps um perodo de incubao determinado, o produto da biotransformao, a 11hidroprogesterona, extrado com solvente orgnico. Este composto pode ser subseqentemente transformado, por via qumica, para a produo industrial de um outro esteride, a cortisona (Madigan et al., 2000 e Atlas, 1997). Enquanto nas biotransformaes os sistemas enzimticos de interesse no so extrados das clulas, a catlise enzimtica industrial usa enzimas microbianas excretadas ou extradas de microrganismos e com diferentes graus de purificao. As enzimas microbianas excretadas so produzidas em maiores quantidades do que as intracelulares e tm a funo principal de degradar macromolculas presentes no meio ambiente, como a celulose, o amido, a lignina e protenas, para que seus componentes possam ser absorvidos como nutrientes pelos microrganismos. As enzimas so utilizadas em muitos segmentos industriais, como o de alimentos e bebidas, de detergentes, txtil, couro, celulose e papel, qumica fina, medicamentos e cosmticos e, ainda, em metodologia analtica e em biologia molecular. Amilases, glicose oxidase, pectinases, invertase, renina, naraginase, lipases, proteases, celulases e peroxidases so os biocatalisadores mais utilizados (Atlas, 1997 e Bon & Pereira Jr., 1999). Enzimas so tambm empregadas como medicamento, como por exemplo, a asparaginase utilizada no tratamento de leucemia. O mercado mundial de biocatalisadores, atualmente avaliado, em US$ 1,5 bilhes tem previses de crescimento continuado em resposta s demandas por processos industriais com menor impacto ambiental e menor consumo energtico e tambm por produtos de melhor qualidade (Godfrey, 2003). O desenvolvimento da Biotecnologia tem importncia mpar para o Brasil, devido ao seu baixo impacto ambiental, sendo possvel conciliar o desenvolvimento industrial com a preservao de ecossistemas. Sabemos que o Brasil apresenta uma das maiores biodiversidades do planeta e que seu territrio possui recursos hdricos correspondentes a 12% da gua doce do planeta, incluindo o Aqfero Guarani, que o maior do mundo. So esses os recursos naturais mais importantes para a humanidade a partir deste sculo, representando um ativo de valor incalculvel. Essas riquezas, patrimnio da sociedade brasileira, devem ser preservadas da poluio ambiental provocada por prticas inadequadas de diferentes setores industriais e agro-industriais. O equilbrio natural dos ecossistemas, to antigo quanto a vida na Terra, pode ser considerado como uma importante rea da Biotecnologia Microbiana. Os microrganismos habitam praticamente todos os ambientes terrestres, sendo8

transportados por correntes de ar para a atmosfera e de continente para continente. Esses seres microscpios tambm habitam todos os ambientes marinhos, das superfcies aquticas ao fundo dos oceanos. Por causa desta caracterstica de crescimento nos mais variados ambientes, os microrganismos, atravs de suas vias metablicas intracelulares e de molculas bioativas excretadas para o meio externo, atuam na manuteno do ciclo biolgico de elementos qumicos, no controle populacional, na descontaminao de ambientes aquticos e terrestres e na disponibilizao de nutrientes para diferentes formas de vida. Estas tarefas gigantescas, inestimveis e insubstituveis no so facilmente perceptveis, correndo o risco de no serem adequadamente protegidas. Embora a ao antropognica venha interferindo de forma negativa no modus operandi dos ecossistemas e, portanto, no seu equilbrio, as populaes microbianas que habitam o nosso planeta continuam alicerando a manuteno da vida na Terra. O fantstico potencial metablico envolvido na sntese e degradao das mais variadas estruturas qumicas por bactrias, fungos, algas e protozorios est distribudo em microrganismos com caractersticas fisiolgicas muitas vezes peculiares. As bactrias, por exemplo, so encontradas nos mais diferentes climas e microambientes do planeta, alguns considerados inspitos. Bactrias haloflicas vivem em ambientes aquticos com alto teor salino, como o Mar Morto, as termoflicas, em fontes termais, em temperaturas entre 800C e 1000C e as baroflicas se adaptaram s enormes presses das profundezas do mar. Adicionalmente, algumas bactrias so parasitas de tecidos animais e vegetais e algumas vivem em consrcio com outros microrganismos, plantas e animais.

Biotecnologia de BactriasEmbora as bactrias sejam mais conhecidas como microrganismos patognicos, a grande maioria inofensiva e inclusive benfica a outros seres vivos. Como exemplo, a tarefa fundamental da fixao do nitrognio atmosfrico molecular levada a efeito por bactrias dos gneros Rhizobium, Bradyrhizobium e Frankia, que vivem em associaes simbiticas com plantas leguminosas, como o feijo e a soja. Estas bactrias, que so encontradas no solo, infectam naturalmente plantas hospedeiras formando ndulos nas razes onde proliferam. Este mecanismo natural de infeco tem sido utilizado, h quase cem anos, para aumentar a fertilidade do solo atravs da sua inoculao com bactrias fixadoras de nitrognio produzidas industrialmente por processos fermentativos (Glazer & Nikaido, 1995). So tambm de grande importncia biotecnolgica cepas selvagens ou modificadas geneticamente de bactrias dos gneros Corynebacterium, Bacillus e Microbacterium pela capacidade de excretar produtos do seu metabolismo primrio, como aminocidos. A constatao de que Corynebacterium glutamicum era capaz de produzir grandes quantidades de cido glutmico, quando crescida em glicose, reportada em 1957, resultou na seleo e desenvolvimento de bactrias para a produo de acido L-glutmico, L-arginina, L-isoleucina, Lhistidina, L-leucina, L-lisina, L-ornitina, L-fenilalanina, L-prolina, L-treonina, Ltriptofano e L-tirosina, alm de vitaminas e nucleotdeos. Fermentaes com concentraes de L-tirosina e L-fenilalanina em torno de 25g/L esto descritas na literatura (Piepersberg, 1993). A produo anual de aminocidos utilizados na indstria de alimentos estimada em 530 toneladas (Madigan et al., 2000).9

Ainda entre as bactrias, encontramos os estreptomicetos, que tambm apresentam o genoma organizado em um nico cromossomo circular. Os estreptomicetos, que so aerbios, vivem no solo e multiplicam-se formando filamentos ramificados, tm grande importncia biotecnolgica por produzirem compostos com diferentes atividades biolgicas. Assim, esses microrganismos sintetizam molculas que atuam como antibiticos, antitumorais, imunomoduladores, antiinflamatrios, vasoconstritores e vasodilatadores, alm de terem aplicao no tratamento da diabete e como herbicidas. Algumas foram ainda identificadas como inibidores enzimticos. Estes compostos, que apresentam baixa massa molecular, so excretados em condies de metabolismo secundrio, isto , aps a fase de crescimento celular, j tendo sido identificados mais de 10.000 substncias diferentes (Piepersberg, 1993). Os antibiticos, substncias que mesmo em baixas concentraes inibem o crescimento de microrganismos patognicos, so os representantes mais conhecidos deste grupo. Considerando o seu mercado, avaliado em 8 bilhes de dlares (Glazer & Nikaido, 1995), os antibiticos so os produtos mais importantes da biotecnologia microbiana, excetuando-se bebidas alcolicas e queijos. O primeiro depoimento oficial sobre a ao do antibitico penicilina foi feito por Alexander Fleming em 1928, quando relatou a eficincia do filtrado de uma cultura do fungo Penicillium notatum como um teraputico local em uma infeco provocada por Staphylococcus. O grande sucesso dos antibiticos no tratamento de infeces bacterianas em comparao aos quimioterpicos, que comearam a ser disponibilizados na mesma poca, deveu-se sua eficincia em comparao apresentada por drogas como as sulfas. Assim, enquanto concentraes inibitrias mnimas (CIMs) de sulfonamidas nos pacientes esto na faixa de 10 a 100 g/mL, o antibitico penicilina mata bactrias sensveis como Streptococcus pneumoniae com CMIs em torno de 0,01 g/mL (Glazer & Nikaido, 1995). Os antibiticos podem ser classificados quanto ao espectro de atividade, antifngicos, antibacterianos, antivirais, antiprotozorios e antitumorais; quanto a seu mecanismo de ao, interferindo na sntese da parede celular, na sntese de cidos nuclicos, na sntese de protenas e nas funes da membrana citoplasmtica; e quanto sua estrutura qumica, lactonas macrocclicos, quinonas e relacionados, derivados de aminocidos e peptdicos, entre outras estruturas. A grande maioria dos antibiticos com importncia comercial produzida por fungos ou bactrias. Dentre os bacterianos, a maior variedade em estruturas e o maior nmero de antibiticos so encontrados na classe Actinomycetales, especialmente no gnero Streptomyces. Uma relao de alguns antibiticos produzidos por Streptomyces est apresentada na tabela 2. Segundo o Index ABIQUIF 2002, publicado pela Associao Brasileira da Indstria Farmoqumica, so produzidos no Brasil apenas nove antibiticos, a saber: Ampicilina, Anfotericina B, Cefalexina, Cefalotina, Ceftadizina, Eritromicina, Nistatina, Oxacilina e Penicilina G, de um elenco de trinta e nove considerados essenciais segundo a edio de 2002 da Relao Nacional de Medicamentos Essenciais publicada pelo Ministrio da Sade. Entre os antibiticos produzidos no Brasil, trs (Cefalexina, Cefalotina e Ceftazidna) so produzidos pela empresa multinacional Eli Lilly do Brasil Ltda e seis (Ampicilina, Anfotericina B, Eritromicina, Nistatina, Oxaciclina e Penicilina G), por outra multinacional, o10

Grupo Prodotti. Esta relao no inclui a paromomicina, fundamental para o tratamento de doenas negligenciadas de grande ocorrncia no Brasil, como a leishmaniose e a tuberculose. O Brasil no produz e nem importa paromomicina, no estando esta droga disponvel no mercado nacional. Considerando o acima exposto, o abastecimento de antibiticos para uso humano no Brasil depende integralmente de companhias farmacuticas internacionais. Em relao produo de antibiticos para uso animal, o pas encontra-se em posio mais confortvel, pois existem empresas brasileiras, como a Valle, ativas no setor. Tabela 2: Antibiticos produzidos por microrganismos do gnero Streptomyces Antibitico Aminosidina Cicloheximida Cicloserina Cloranfenicol Eritromicina Espectinomicina Estreptomicina Kanamicina Lincomicina Neomicina Nistatina Ribostamicina Tetraciclina Microrganismo Streptomyces rimosus Streptomyces griseus Streptomyces orchidaceus Streptomyces venezuelae Streptomyces erithreus Streptomyces spectabilis Streptomyces griseus Streptomyces kanamyceticus Streptomyces lincolnnensis Streptomyces fradiae Streptomyces noursei Streptomyces ribosidificus Streptomyces rimosus

Fonte: Madigan et al. (2000) e Vandamme (1984)

Biotecnologia de Leveduras e Fungos FilamentososHistoricamente, o potencial metablico dos microrganismos inseriu-se naturalmente em aspectos fundamentais da vida humana. Assim, fungos unicelulares, as leveduras, apresentam peculiaridades metablicas que permitiram o seu uso de forma emprica na produo do po e do vinho, alimentos simblicos na histria da humanidade. Os antigos egpcios, no preparo do seu po, mantinham a massa, uma simples mistura de farinha e gua, aquecida at a formao de bolhas, indicativo, hoje sabemos, da liberao de CO2 em conseqncia da sua fermentao (Panek, 1993). Assim, a contaminao natural, no apenas da massa do po, mas tambm de uvas e gros de cevada, com a levedura Saccharomyces cerevisiae e a sua subseqente fermentao originaram o vinho e a cerveja que at os dias de hoje fazem parte dos nossos hbitos alimentares. As fermentaes industriais com leveduras contribuem atualmente de forma significativa para a economia de vrios pases. So produzidas por ano centenas de toneladas de leveduras utilizadas para a produo de po, vinho, cerveja, bebidas destiladas, cidra, saqu e licores. Um outro importante produto industrial derivado de S. cerevisiae, cujas clulas so ricas em protenas, cidos nuclicos, vitaminas e sais minerais e apresentam nveis negligenciveis de triglicerdeos, o extrato de levedura que tem11

importantes aplicaes na indstria alimentcia e na de fermentaes industriais, servindo como componente do meio de fermentao. Outras leveduras dos gneros Torulopsis e Candida, sendo capazes de crescer em melao ou em licor sulftico, subprodutos da fabricao de acar e da indstria de papel, respectivamente, so utilizadas para o tratamento destes resduos industriais. A biomassa microbiana formada pode ser, subseqentemente, utilizada como fonte de protena para alimentao animal. Considerando ainda o potencial biotecnolgico das leveduras, microrganismos dos gneros Saccharomyces, Kluyveromyces e Candida so capazes de fermentar diferentes acares a etanol. de particular importncia para o Brasil a produo de lcool combustvel por fermentao da sacarose do caldo da cana-de-acar por S. cerevisiae, tendo em vista ser o pas, juntamente com os Estados Unidos, os maiores produtores mundiais de etanol combustvel. Adicionalmente, o etanol est sendo cada vez mais valorizado internacionalmente como combustvel lquido, em comparao gasolina, derivada do petrleo. Sendo produzido a partir de recursos renovveis, no contribui para o efeito estufa e suas conseqncias, como as grandes modificaes climticas que esto afetando negativamente a Terra. Para a produo deste biocombustvel, podem ser utilizadas matrias primas sacarneas (aucaradas), amilceas e lignocelulsicas, cujas caractersticas esto descritas a seguir. Vale ressaltar, entretanto, que bactrias como Zymomonas mobilis podem ser tambm utilizadas em processos fermentativos de produo de etanol. A diversidade microbiana dos fungos muito grande, estimando-se um nmero de espcies entre 100.000 e 250.000. Os fungos destacam-se pela sua capacidade de atacar tecidos vegetais atravs da secreo de enzimas que degradam biopolmeros tais como polissacardeos, lignina e protenas. familiar a todos ns a colonizao de troncos de rvores em decomposio por diferentes espcies de fungos. Este grupo de microrganismos, semelhana dos estreptomicetos, tambm produz, em condies de metabolismo secundrio, uma variedade de molculas orgnicas de pequena massa molecular com diferentes atividades biolgicas, como a antibitica. A comercializao de produtos teraputicos microbianos iniciou-se h mais de 50 anos com a penicilina. O uso de manipulaes genticas, basicamente tcnicas de mutao associadas otimizao do processo fermentativo, incluindo o desenvolvimento de meios, permitiram a melhoria do processo de produo do antibitico, cuja concentrao passou de 0,06 para 26 g/L (Buckland & Lilly, 1993). Inicialmente empregados apenas como agentes antibacterianos, os produtos do metabolismo secundrio de fungos apresentam hoje em dia uma gama bastante diversificada de aplicaes, incluindo inclusive o uso como imunossupressores em terapias sofisticadas para pacientes transplantados (Pearce, 1997), conforme mostrado na Tabela 3. Este avano relaciona-se, em parte, ao atual entendimento da etiologia bioqumica e gentica de muitas doenas, o que tornou possvel buscar substncias com ao direcionada para alvos especficos no metabolismo celular. Dentre os antibiticos fngicos, apenas dez so produzidos comercialmente e somente penicilinas, cefalosporinas, griseofulvinas e os cidos clavulnico e fusdico so clinicamente importantes.12

Tabela 3: Medicamentos produzidos com metablitos fngicos e microrganismos produtores. PRODUTOS FNGICOS BIOATIVOS APLICAOAnalgsico

PRODUTOPaxisterol Crisospermina Cefalosporina Penicilina Sorrentanona Equinocandina cido zaragzico

FUNGOPenicillium sp. Apiocrea chrysosperma Cephalosporium Penicillium, Aspergillus Penicillium chrysogenun Aspergillus nidulans Mycelia sterilia, Leptodontidium elatius, Sporomiella intermedia Phoma sp. Penicillium griseofurvum Penicilium brevicompactum Penicillium citrinum Aspergillus terreus Pestalotiopsis microspora Cladosporium cladosporioides Sporothrix sp Penicillium multicolor Claviceps purprea Paecilomyces carneus Tolypocladium inflatum Trichoderma polysporum Stachybotrys sp. Pestalotiopsis sp. Aspergillus terreus Crucibilum sp.

Antibacteriano

Antifngico

Esqualestatinas Griseofulvina Compactina Mevilonina Dihidromevilonina Taxol Calfostina C KS 501, KS 502

Controlador da sntese de Colesterol

Antitumoral

Antiviral Estimulador da contrao uterina Imunomodulador Imunossupressor Tratamento de problemas cardiovasculares Profiltico em odontologia Tratamento de diabetes Fonte: Pearce (1997)

Isocromofilonas Alcalides Ergo FR-901235 Ciclosporina A Estachibocinas RES 1214-1/2 Mutastena Salfredinas

Tecnologia do DNA RecombinanteA Biotecnologia pode ser dividida em dois perodos principais: o primeiro anterior ao uso de da tecnologia do DNA recombinante e o segundo aps a sua implantao em 1982, a partir dos experimentos realizados em 1973 por Herbert Boyer, Stanley Cohen e seus colaboradores. Enquanto at esta data as bactrias podiam produzir apenas substncias codificadas no seu prprio genoma, a partir da clulas de bactria modificadas geneticamente por tcnicas de Biologia Molecular passaram a produzir substncias codificadas por genes animais e vegetais. Assim, a aprovao para uso clnico de insulina humana produzida pela bactria Escherichia coli, h mais de vinte e cinco anos, definiu a engenharia gentica como um instrumento poderoso para a modificao de microrganismos, de forma a transform-los em unidades de produo de compostos de interesse. O efeito da tecnologia do DNA recombinante pode ser mais facilmente visualizado13

comparando-se o perfil dos principais produtos comercializados antes e aps 1982. At essa data, o mercado mundial de produtos dependentes de Biotecnologia concentrava-se em bebidas alcolicas, queijos, antibiticos, etanol combustvel, xaropes com alto contedo de frutose, aminocidos, levedura de panificao, esterides, vitaminas, cido ctrico, enzimas, vacinas e gomas polissacardicas. Assim, de um mercado total de cerca de 78 bilhes de dlares, 80% relacionavam-se indstria de alimentos (Glazer & Nikaido, 1995). Embora esta predominncia seja uma realidade at os dias de hoje, muitos processos de produo passaram a usar microrganismos modificados por tcnicas da Biologia Molecular com ganhos em rendimento e/ou produtividade. O perfil dos produtos da Biotecnologia Microbiana tambm sofreu uma modificao marcante aps 1982 devido ao aparecimento no mercado de uma sucesso de protenas e peptdeos teraputicos, como o hormnio do crescimento humano, interferons, fatores de coagulao, eritropoietina e soro albumina, entre outros, produzidos por processos fermentativos. Como a obteno e purificao destas protenas e peptdeos, em quantidades relevantes, a partir de tecidos humanos ou animais era muito difcil, os genes humanos que codificam para estes compostos foram clonados em E. coli e estes agentes teraputicos passaram a ser produzidos em grandes quantidades. A produo destas protenas teraputicas, por processo fermentativo, depende inteiramente da tecnologia do DNA recombinante. Embora os processos pioneiros de produo de protenas heterlogas tenham utilizado E. coli, o posterior desenvolvimento de tcnicas de Biologia Molecular para leveduras, baseadas em parte nos protocolos utilizados para bactrias, permitiu a sua insero nestes processos de produo. So considerados marcos da Biologia Molecular de leveduras os trabalhos de Hinnen, Hicks e Fink, Transformation of yeast e de Beggs Transformation of yeast by a replicating hybrid plasmid, ambos publicados em 1978. A partir da, as leveduras Saccharomyces cerevisiae e Pichia pastoris, consideradas como GRAS (Generally Regarded as Safe) pelo Food and Drug Administration dos EUA, tm sido empregadas na produo de protenas heterlogas, competindo atualmente com as bactrias pela liderana nesta rea. As vantagens apresentadas pelas leveduras relacionam-se com a sua capacidade de realizar modificaes ps-traducionais, como glicosilaes, que no apenas contribuem para que as protenas heterlogas adquiram a conformao correta, como tambm para a sua estabilidade, prolongando a meia vida enquanto agente teraputico. Alm disso, diferentemente das bactrias, que precisam ser rompidas para a obteno da protena de interesse, as clulas de levedura so capazes de secretar as protenas recombinantes, facilitando as etapas subseqentes de purificao. Assim, a partir da comercializao em 1986 pela companhia Merck, da vacina para uso humano Recombivax contra hepatite B, vrias outras protenas teraputicas heterlogas produzidas por S. cerevisiae, como a insulina, produzida pela Novo-Nordisk, passaram a ser comercializadas. O uso da tecnologia do DNA recombinante em leveduras para a produo de protenas teraputicas uma rea em franca expanso, sendo atualmente estudado tambm em Kluveromyces lactis, Schizosaccharomyces pombe, Schwanniomyces occidentalis e Yarrowia lipolytica. Neste contexto, tm se destacado as leveduras metilotrficas facultativas Candida boidinii, Hansenula polymorpha, Pichia methanolica e principalmente Pichia pastoris (Walker, 1998).14

Como a P. pastoris pode ser facilmente manipulada para produzir protenas intracelulares ou excretadas em altos nveis, mais de 400 protenas, da endostatina humana protena da seda de aranhas, foram expressas nesta levedura, que tambm capaz de processar a protena heterloga de forma semelhante de eucariotos superiores, realizando reaes de glicosilao, protelise e formao de pontes de enxofre. Os altos nveis de produo de protenas heterlogas devem-se utilizao do promotor do gene da lcool oxidase I (AOX1), eficiente e especificamente regulado, para ativar a expresso do gene de interesse. O promotor do gene AOX1 fortemente reprimido em clulas crescendo em glicose ou na maioria das outras fontes de carbono, mas aumenta a expresso do gene de interesse em torno de 1.000 vezes quando as clulas so transferidas para metanol. Adicionalmente, como P. pastoris uma levedura que preferencialmente respira em lugar de fermentar, no produz etanol e cido actico, cuja toxicidade no meio de cultivo impede fermentaes com altas densidades celulares, desejveis para aumentar a concentrao da protena de interesse. Fermentaes com Pichia podem resultar em concentraes de protena heterloga que variam de 15 mg/L, no caso da antitrombina III humana, at 5 g/L para o caso da gelatina sinttica, passando, por exemplo, por valores de 1,5 g/L para a insulina humana (Cereghino et al., 2002). Embora a maioria das enzimas industriais seja extracelular e produzida por fungos e bactrias, a tecnologia do DNA recombinante vem recebendo uma ateno crescente para a produo de biocatalisadores, tendo especial importncia a expresso heterloga em leveduras metilotrficas dos gneros Pichia, Candida e Hansenula. Muitos genes que codificam para a sntese de enzimas humanas (glutamato descarboxilase e h-lipase), vegetais (glicolato oxidase de espinafre e malato desidrogenase de melo) e microbianas (dipeptil-peptidase, glicose-oxidase e fitase de Aspergillus, glicoamilase de Rhizopus, 1,2-manosiltransferase, adenilato quinase, invertase e catalase de Saccharomyces), j foram expressas nestas leveduras, indicando a possibilidade de uma acentuada diversificao do uso industrial de biocatalisadores. Abrindo ainda mais o leque de possibilidades do uso de enzimas, existem biocatalisadores produzidas por microrganismos extremoflicos do grupo Archea, que so naturalmente estveis em condies extremas de temperatura, pH e salinidade. Devido sua atividade nestas condies, o potencial industrial das extremozimas muito grande. A Taq polimerase de Thermus aquaticus e Puf polimerase de Pyrococcus furiosus apresentam atividade 950C e 1000C, respectivamente, sendo utilizadas nos procedimentos de PCR (polymerase chain reaction) (Atlas, 1997; Gellissen, 2000 e Stetter, 1999). A Tabela 4 fornece outros exemplos de substncias produzidas por espcies microbianas naturalmente ocorrentes e recombinantes, agentes dos processos de biotransformao.

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Tabela 4: Espcies microbianas usadas na manufatura de produtos comerciais.

Produtos qumicos industriais Saccharomyces cerevisiae etanol (de sacarose e glicose) Kluyveromyces fragilis etanol (de lactose) Clostridium acetobulylicum acetona e butanol Aspergillus niger cido ctrico Amino cidos e nucleotdeos flavorizantes Corynebacterium glutamicum L-lisina Corynebacterium glutamicum Vitaminas Ashbya gossypii Eremothecium ashbyii Pseudomonas denitrificans Propionibacterium shermanii Enzimas Aspergillus oryzae Aspergillus niger Trichoderma reesii Saccharomyces cerevisiae Kluyveromyces fragilis Candida lipolytica Asperillus niger Bacillus sp. Polissacardeos Leuconostoc mesenteroides Xantomonas campestris Vacinas Corynebacterium diphtheriae Saccharomyces cerevisiae recombinante Produtos farmacuticos Penicillium chrysogenum Cephalosporium acremonium Streptomyces sp. cido 5 inosnico e cido 5 guanilnico riboflavina riboflavina vitamina B12 vitamina B12 amilases glucoamilase celulases invertase lactase lipase pectinases e proteases proteases dextrana goma xantana difiteria hepatite B

Bacillus brevis Bacillus licheniformis Bacillus polymyxa Rhizopus nigricans Arthrobacter simplex Escherichia coli recombinante Saccharomyces cerevisiae recombinante16

penicilinas cefalosporinas anfotericina B; kanamicinas; neomicinas, estreptomicinas, tetraciclinas; cido clavulnico etc. gramicidina S bacitracina polimixina B transformao de esterides transformao de esterides insulina; hormnios de crescimento, interferons insulina

2. BioprocessosOs processos levados a cabo por agentes biolgicos so denominados de Bioprocessos e definidos como um conjunto de operaes que efetuam o tratamento da matria-prima/resduo, o preparo dos meios, a esterilizao (quando o processo demandar) e a transformao do substrato em produto(s) por rota bioqumica, seguida de processos de separao e purificao de produto(s). So consideradas expresses sinonmias: processos fermentativos com microrganismos naturalmente ocorrentes ou recombinantes, processos biotecnolgicos, processos com clulas animais ou vegetais, processos enzimticos ou os tratamentos biolgicos de resduos e efluentes. A distino entre Bioprocessos e Processos Qumicos est calcada na natureza dos catalisadores utilizados em suas reaes. Os Bioprocessos so conduzidos mediante ao de agentes biolgicos, sendo, portanto, as transformaes catalisadas enzimaticamente. A Tabela 5 mostra as principais caractersticas de Bioprocessos e as compara com as dos Processos Qumicos. Bioprocessos conduzidos por microrganismos, tradicionalmente conhecidos como processos fermentativos, so importantes fontes de produtos biolgicos usados nas indstrias farmacutica, qumica e alimentcia. Na ltima dcada observou-se um aumento expressivo na quantidade de bioprodutos comerciais, especialmente metablitos secundrios e protenas teraputicas produzidas com tecnologia de DNA recombinante. Verificaram-se, ainda, significativas mudanas na configurao de biorreatores, visando melhoria de seu desempenho e assegurar operaes com maior segurana. Tabela 5: Bioprocessos versus Processos Qumicos. Bioprocessos Decorrentes de atividade biolgica Catalisadores de alta especificidade Condies brandas de T, P e pH Maiores volumes Podem requerer esterilidade Processos Qumicos Decorrentes de reaes qumicas Catalisadores no especficos Condies drsticas de T, P e pH Menores volumes No requerem esterilidade

Em que pesem as complexidades e particularidades dos Bioprocessos, podemos dividi-los em trs estgios (Figura 2). A etapa que antecede a transformao denominada de montante (upstream), seguida da etapa de transformao propriamente dita e, finalmente, a etapa de jusante (downstream). H autores que incluem a transformao na etapa de montante. No entanto, por envolverem diferentes procedimentos, somos pela diviso de um Bioprocesso em trs etapas e no em duas.17

Tratamento da matria-prima Preparo de meio; Esterilizao upstream process

BIORREATORFenmenos qumicos

Meio de cultivoFenmenos fsicos Agente biolgico: clulas microbianas, animais, vegetais ou enzimas

Fenmenos biolgicos

CONDIES AMBIENTAIS TIMAS

Separao de clulas Separao/purificao de produto downstream process

Figura 2: Etapas fundamentais de um tpico Bioprocesso. A Figura 3 apresenta um esquema geral de um Bioprocesso tpico, ressaltando que a forma de conduo do bioprocesso, a configurao do biorreator, assim como a definio das etapas de recuperao do produto tambm se constituem em aspectos importantes para se garantir sucesso na operao destes processos. Estas etapas sero descritas posteriormente com maiores detalhes. Atualmente, nfase dada ao desenvolvimento de Bioprocessos que no sejam apenas cost/effective, mas que tambm atendam s exigncias crescentes de confiabilidade e reprodutibilidade, o que vem aumentando a necessidade de melhoria no monitoramento e controle de tais processos. Algumas transformaes microbianas, analogamente s reaes qumicas, atingem rendimentos prximos ao mximo estequiomtrico (produtos do metabolismo primrio), embora apresentando taxas globais de produo baixas. Outras, como as do metabolismo secundrio, resultam em baixos valores de rendimento e produtividade, havendo um enorme campo para avanos em ambos os casos. Os progressos sero alcanados atravs de uma maior compreenso sobre a fisiologia celular e da interao da clula com o ambiente qumico e fsico no biorreator. esta combinao, este binmio: clula (ou enzima)/meio ambiente (ou condies reacionais), que define o xito de um Bioprocesso.18

TRATAMENTO DA MATRIA PRIMA

PREPARO DO MEIO

EFLUENTE/ RESDUO

TRATAMENTO/ APROVEITAMENTO

ESTERILIZAO

BIORREATOR DE PRODUOMEIO ISENTO DE CLULAS

BIORREATOR DE PROPAGAO

SEPARAO DE CLULAS

INOCULAO FILTRAO DO AR BIOMASSA BANCO DE CLULAS AERAO ROMPIMENTO CELULAR BIOMOLCULA COM ALTO GRAU DE PUREZA BIOMOLCULA COM ALTO GRAU DE PUREZA PURIFICAO DA BIOMOLCULA EXTRACELULAR

PURIFICAO DA BIOMOLCULA INTRACELULAR

EFLUENTE/ RESDUO

TRATAMENTO / APROVEITAMENTO

EFLUENTE/ RESDUO

Figura 3: Esquema simplificado de um tpico Bioprocesso. Mais recentemente, o escopo da tecnologia de processos fermentativos ampliouse para incluir o cultivo de clulas animais. O cultivo destes agentes biolgicos pode ser adaptado a uma cultura em suspenso e, portanto, uma abordagem similar aplicada ao desenvolvimento/melhoramento de processos fermentativos tradicionais pode ser adotada ao cultivo de clulas animais. Ressalta-se, no entanto, que o fato das clulas animais serem maiores e mais frgeis do que clulas microbianas e mais exigentes impem que tais processos devam ser desenvolvidos e conduzidos com grande conhecimento sobre a fisiologia e morfologia destes agentes biolgicos, bem como sobre as caractersticas hidrodinmicas do meio, condies de aerao no biorreator e suas relaes com a atividade e viabilidade celular.19

A seguir abordar-se-o os principais aspectos de um bioprocesso, descrevendo caractersticas do agente biolgico, matrias-primas, preparo do(s) meio(s), biorreator(es) e separao e purificao de produto(s).

3. Agente Biolgico: CaractersticasO agente biolgico deve ser selecionado, quando se tenciona transferir o bioprocesso para a escala industrial, em funo das seguintes propriedades: elevada atividade, ou seja, ser capaz de converter rapidamente o substrato em produto com altos rendimentos, conduzindo a altos valores de produtividade; estabilidade sob condies ambientais extremas (elevada presso osmtica do meio, elevada temperatura, elevada fora inica), devendo, ainda, ser tolerante e resistente a substncias txicas, que podem ser geradas no processo de tratamento da matria-prima ou encontradas em resduos e efluentes. Tcnicas da Biologia Molecular aplicada1 e da Engenharia Metablica2 vm sendo utilizadas para se maximizar essas propriedades desejveis em um agente biolgico. importante ressaltar, que estas tcnicas devem ser empregadas, quando necessrias, para maximizar o potencial produtor dos agentes biolgicos responsveis pelas transformaes. A histria da produo de penicilina um clssico exemplo do impacto de manipulaes genticas associadas ao desenvolvimento de meios para melhoria do processo. A combinao de tcnicas de mutao com otimizao do processo fermentativo, resultou em um aumento no rendimento em penicilina da ordem de trs vezes em magnitude (de 0,06 a 26 g/L). Portanto, conhecer as caractersticas/propriedades desses biocatalisadores (bem como melhor-las) levar a inmeras vantagens no desenvolvimento de Bioprocessos industriais. Quando Bioprocessos so realizados por clulas vivas, uma vez definido o produto ou a atividade de interesse, a prxima etapa deve envolver uma pesquisa na literatura para identificar agentes biolgicos portadores da caracterstica desejada ou com potencial de possu-la, seguida da aquisio de linhagens arquivadas em colees de cultura e/ou pelo seu isolamento de amostras naturais, seguido de procedimentos de seleo e melhoramento de linhagens produtoras. No cultivo de clulas microbianas, animais e vegetais em laboratrio necessrio, para se conhecer suas caractersticas/propriedades, determinar seu crescimento, bem como monitorar suas converses. Uma variedade de nutrientes utilizada para os fins acima referidos, incluindo-se fonte de carbono, nitrognio, enxofre, fsforo, oxignio, vitaminas e sais minerais. Esses agentes biolgicos, particularmente microrganismos utilizados em processos industriais, devem ser adequadamente preservados e conservados

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Biologia Molecular aplicada: Ramo da Biologia que estuda a origem, transformao e interao dos genes e seus produtos de expresso no indivduo, populao ou espcie, possibilitando o controle a nvel gentico, a construo de agentes biolgicos timos e combinaes timas clula-biorreator.

2 Engenharia Metablica: combinao de mtodos analticos e mtodos matemticos para quantificar fluxos in vivo com o auxlio de tcnicas da Biologia molecular, objetivando programar modificaes genticas dirigidas a fim de melhorar propriedades celulares.

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como cultura pura. Atravs de diferentes tcnicas possvel manter todas as caractersticas da populao microbiana de interesse e, dessa forma, sempre que uma nova produo iniciada a qualidade do produto tambm mantida. Assim, a manuteno e a preservao de microrganismos so etapas de extrema importncia para assegurar a sua viabilidade e atividade, bem como prevenir mudanas genticas que podem levar reduo ou perda das propriedades fenotpicas desejadas. Tcnicas de manuteno e preservao de microrganismos incluem: repiques peridicos, conservao em parafina, em glicerol, liofilizao, criopreservao etc. Estas tcnicas esto amplamente descritas na literatura (ver referncias bibliogrficas recomendadas). Aps procedimento de inoculao, a clula desenvolve seu metabolismo, a fim de produzir energia para suportar suas reaes biossintticas e de manuteno energtica. As molculas-combustveis (carbohidratos, lipdios, protenas) utilizadas pela clula contm elevado nvel de energia qumica, devido ao seu alto grau de ordem estrutural, apresentando, relativamente, baixa entropia. Durante o catabolismo, essas substncias so degradadas a molculas menores, como dixido de carbono, gua, lcoois etc. Como resultado dessa transformao, a molcula-combustvel sofre uma perda do seu contedo de energia livre (forma de energia capaz de realizar trabalho a temperatura e presso constantes). A energia livre liberada durante as reaes do catabolismo, e por isso chamadas de exoergnicas, conservada na forma de energia qumica nas ligaes covalentes de certos compostos, como o ATP. Os processos biossintticos (anabolismo), transporte ativo atravs da membrana e mobilidade celular envolvem reaes endoergnicas (carentes de energia). As clulas tm suas necessidades atendidas atravs da energia produzida durante o catabolismo (Figura 4). Nutrientes Produtos Energia Crescimento ANABOLISMO (Biossntese) CATABOLISMOComponentes(Degradao) Celulares

Energia Movimento, Transporte, etc.

Fonte de Energia Figura 4: Esquema simplificado do metabolismo celular. Muitas clulas vivas necessitam de oxignio para manuteno de seu metabolismo. Em Bioprocessos conduzidos com microrganismos aerbios, o oxignio suprido ao biorreator, via de regra, com bolhas de ar, atravs de um compressor, como ser visto mais adiante. J em Bioprocessos anaerbicos, os microrganismos obtm o oxignio metablico atravs de substncias que contm21

oxignio ligado molecularmente. Nos primeiros, o adequado suprimento de oxignio para atender a demanda da clula imperativo, assim como a manuteno de condies anaerbicas estritas no segundo caso. Se essas exigncias no forem atendidas o processo encontra-se com seu potencial limitado, podendo haver desvios no metabolismo celular ou mesmo sua interrupo, com a conseqente perda da viabilidade celular. Dentro da concepo de processo integrado, a associao de determinadas caractersticas do agente biolgico (clulas ou enzimas), bem como das particularidades do sistema reacional, com os processos de downstream tem sido tambm uma tendncia no desenvolvimento e melhoria da operacionalidade de Bioprocessos. Assim, se o agente biolgico do processo for um microrganismo portador de propriedades agregativas (floculao), poder-se-o suprimir equipamentos onerosos de separao de clulas, e utilizar novas configuraes de biorreatores mais compactos e menos intensivos em energia, tornando o processo, conseqentemente, mais econmico. Associaes de sistemas reacionais com separao simultnea de produto(s) podem, tambm, ser desenvolvidas (imobilizao de enzimas em suportes de colunas cromatogrficas, sistemas de fermentao acoplados a mdulos de membrana e outros destilao a vcuo), com os conseqentes benefcios tcnicos e econmicos para a operao e a viabilidade dos Bioprocessos.

4. Nutrio dos MicrorganismosAs necessidades nutricionais dos microrganismos so diversas, uma vez que estes apresentam diferenas inerentes na sua capacidade de sintetizar os constituintes celulares a partir de nutrientes simples. A demanda por gua, fontes de energia, carbono, nitrognio e elementos minerais, assim como o acesso/utilizao de oxignio, entretanto, comum a todos os microrganismos. 4.1. Fontes de Energia: De acordo com a forma pela qual os microrganismos assimilam energia, eles podem ser classificados em: Fototrficos: possuem pigmentos fotossintticos que permitem a utilizao da luz como fonte de energia. Ex.: algas e bactrias fotossintetisantes. Quimiolitotrficos: obtm energia a partir da oxidao de um substrato inorgnico, geralmente especfico para o microrganismo em particular, como hidrognio, enxfre, amnia, nitritos e sais ferrosos. Ex.: bactrias dos gneros Thiobacillus, Nitrosomonas, Nitrobacter, Hydrogenomonas e Desulphovibrio. Quimiorganotrficos: obtm energia a partir do catabolismo de substratos orgnicos, acares em particular. A este grupo pertence a grande maioria dos microrganismos utilizados industrialmente (Madigan et al., 2000). 4.2. Fontes de Carbono: Uma clula tpica contm cerca de 50% de sua massa seca em carbono. Este elemento necessrio para a biossntese de diversos constituintes celulares, como carboidratos, protenas, lipdeos, cidos nuclicos etc. A forma de sua utilizao est intimamente relacionada quela que cada microrganismo em particular emprega para seu suprimento de energia. Organismos22

quimiorganotrficos satisfazem a maior parte de suas necessidades de carbono pela incorporao de metablitos obtidos pela degradao de substratos orgnicos, os quais tambm fornecem energia. Os autotrficos, por outro lado, so capazes de induzir a fotlise da gua, que permite a fixao de dixido de carbono e sua utilizao como nica fonte de carbono. Desta forma, o potencial para utilizar fontes de carbono para o metabolismo varia enormemente entre os microrganismos. Desde os chamados compostos C1 (CO, CO2, formaldedo, metanol, metilamina), at macromolculas complexas (glicognio, amido, protenas, celulose, cidos nuclicos), praticamente todos os compostos orgnicos da natureza podem ser utilizados como fonte de carbono e/ou energia por microrganismos, desde que estes possuam os sistemas enzimticos e de transporte adequados a cada fonte. Compostos orgnicos que contm carbono e nitrognio, tais como aminocidos e protenas, podem servir tanto como fonte de carbono, como de nitrognio. As macromolculas so inicialmente convertidas extracelularmente a subunidades menores, oligmeros ou monmeros, por enzimas despolimerizantes. Caminhos metablicos perifricos so, ento, utilizados para transformar estes compostos em metablitos capazes de ser catabolizados por vias metablicas centrais. Os di e oligossacardeos de baixas massas moleculares (sacarose, maltose e outros), assim como oligopeptdeos e oligonucleotdeos podem ser hidrolisados extracelularmente ou primeiramente transportados para o interior da clula e ento hidrolisados (Krmer & Sprenger, 1993). Os carboidratos so as principais fontes de carbono e energia para os microrganismos, sendo a glicose a mais fcil e amplamente utilizada, seguida por frutose, manose e galactose (Gadd, 1988). 4.3. Fontes de Nitrognio: O nitrognio um constituinte essencial s clulas, uma vez que necessrio formao de aminocidos e cidos nuclicos. Seu teor na clula pode atingir at 15% em massa seca. Os microrganismos apresentam grande diversidade na assimilao de fontes de nitrognio. Muitos so autotrficos para nitrognio, sendo capazes de utilizar nitrato, amnio e, algumas vezes, nitrognio gasoso como nica fonte de nitrognio. Outros, entretanto, necessitam do suprimento deste elemento sob a forma de aminocidos ou de bases purnicas e pirimidnicas. Os microrganismos que requerem aminocidos podem ser nutricionalmente deficientes por incapacidade de sintetizar ou o grupamento amino ou certos aminocidos especficos. As necessidades do primeiro grupo podem ser supridas pelo fornecimento de qualquer aminocido como fonte de nitrognio. Os ltimos, entretanto, requerem a proviso dos aminocidos especficos (Rhodes & Fletcher, 1963; Madigan et al., 2000). 4.4. Fontes de Minerais: Os microrganismos necessitam, para suas funes estruturais e fisiolgicas, de hidrognio, oxignio, fsforo, enxfre, potssio, clcio, magnsio, sdio, ferro e, em alguns casos, cloro. Em adio, requerem elementos-traos, os quais desempenham importante papel como constituintes de enzimas e coenzimas. Estes ltimos incluem mangans, cobre, zinco, molibdnio, cromo,23

nquel, cobalto e boro e so, em geral, necessrios em quantidades relativamente baixas (Rhodes & Fletcher, 1963; Madigan et al., 2000). Por sua vez, a gua essencial para a ao enzimtica, dissoluo de materiais orgnicos e inorgnicos e como reagente em muitos processos metablicos. Seu teor nas clulas situa-se na faixa de 70-90%. Os nutrientes inorgnicos podem agir de quatro formas no interior da clula: entrar no metabolismo levando sntese de compostos necessrios ao funcionamento da clula; estimular o metabolismo como co-fator para reaes enzimticas; inibir o metabolismo e, finalmente, contribuir para as propriedades osmticas (Jennings, 1988). 4.5. Fatores de Crescimento: Muitos microrganismos so incapazes de sintetizar certos aminocidos, substncias orgnicas simples e complexas ou vitaminas, os quais so constituintes ou precursores de enzimas e coenzimas. Essas substncias devem ser supridas ao meio de cultura sempre que necessrio (Rhodes & Fletcher, 1963; Madigan et al., 2000).

5. Matrias-Primas GlicdicasA viabilidade tcnica, os balanos mssicos e energticos e a economicidade so aspectos relevantes que devem ser considerados na escolha da matria-prima. Em geral, esta deve apresentar as seguintes caractersticas: composio adequada ao crescimento do agente biolgico e formao do produto de interesse; baixo custo de obteno, beneficiamento, transporte e estocagem; elevada disponibilidade e facilidade de padronizao dos componentes; no contribuir para dificultar os processos de separao do produto.

Uma grande variedade de matrias-primas, geralmente provenientes da agroindstria, utilizada como fonte(s) de substrato/carbono/energia e outros nutrientes. De uma forma geral, as matrias-primas para Bioprocessos podem ser agrupadas em funo da estrutura e complexidade molecular dos substratos3. Em algumas, os substratos encontram-se na forma polimrica, e sua hidrlise prvia ser necessria, caso o agente biolgico no seja capaz de sintetizar enzimas que catalisam a despolimerizao desses substratos. Assim, estas matrias-primas podem conter: substratos solveis que podem ser facilmente extrados e convertidos prontamente a produto(s), como por exemplo: sacarose, glicose, frutose e lactose, de cana de acar, beterraba, melao, soro de leite etc; polissacardeos insolveis, que precisam de tratamento moderado para solubilizao e hidrlise, antes da converso a produto(s) como por exemplo: amido de milho, mandioca, trigo, cevada, batata etc; polissacardeos insolveis altamente resistentes, que necessitam de prtratamento fsico, seguido de hidrlise qumica ou enzimtica para produzirSubstrato o reagente primrio do qual o produto obtido.

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substratos na forma monomrica, que sero convertidos a produto(s), como por exemplo: celulose e hemicelulose de matrias-primas lignocelulsicas. A figura 5 apresenta a classificao das matrias-primas em funo de seus respectivos substratos.AUCARADAS AMILCEAS

LIGNOCELULSICAS

LACTOSE

SACAROSE

AMIDO

CELULOSE

HEMICELULOSE

GALACTOSE FRUTOSE

GLICOSE GALACTOSE

XILOSE

MANOSE

ARABINOSE

Figura 5: Principais matrias-primas glicdicas e seus substratos correspondentes. Em determinados Bioprocessos, como a produo de enzimas por fermentao no estado slido, pode-se prescindir de pr-tratamentos, intensivos em energia e, consequentemente, onerosos, j que muitos microrganismos tm a habilidade de atacar o complexo contendo o(s) polissacardeo(s) e outras macromolculas na sua forma ntegra, como fazem na natureza. Obviamente que, quando se avalia a utilizao dessas matrias-primas, existem aspectos particulares que devem ser levados em considerao, por estarem relacionados viabilidade tcnica, a balanos mssicos e energticos e economicidade do Bioprocesso em desenvolvimento, como mencionado anteriomente. H que se ressaltar, que a matria-prima um dos componentes mais relevantes nos custos de produo, havendo casos em que pode representar at 75% dos custos totais, sendo esta uma das razes pelo crescente interesse no aproveitamento de resduos agro-industriais e florestais como matrias-primas para uma grande variedade de bioconverses (Pereira Jr., 1991). O perfil das matrias-primas tradicionalmente utilizadas nos processos microbianos convencionais no sofreu significativas modificaes nos ltimos cinqenta anos. A tecnologia do DNA recombinante, entretanto, vem gradativamente aumentando a importncia de fontes de carbono pouco utilizadas anteriormente. Como exemplo, a crescente utilizao das leveduras metilotrficas Pichia pastoris e Hansenula polymorpha, para a produo de enzimas recombinantes preconiza o seu crescimento inicial em fontes de carbono menos25

repressoras como o glicerol e a induo do gene de interesse com metanol (Cereghino & Cregg, 2000; Gelissen, 2000).

6. Meios de CultivoOs meios de propagao e produo devem conter os nutrientes (fonte de carbono/energia/substrato, fonte de nitrognio, co-fatores4, precursores5 e elementos traos) em concentraes tais que resultem em atividade mxima do agente biolgico, no sendo as condies timas para o crescimento celular, necessariamente, as mesmas para o processo produtivo. A escolha dos nutrientes adequados gerao do produto de interesse est relacionada atividade metablica desenvolvida pelo agente biolgico. Nesse ponto destaca-se, ento, a importncia das informaes obtidas sobre as exigncias nutricionais da populao microbiana envolvida no processo. Buscamse, ento, as fontes adequadas que possuam os componentes necessrios ao bom desempenho da clula. Assim, h que se fortificar a matria-prima com componentes que faltam, retirar aqueles que inibem, de modo a permitir uma rpida e eficiente converso do substrato em produto com o rendimento desejado. evidente que quanto maior o atendimento s exigncias nutricionais, mais apta estar o clula viva a responder aos estmulos externos. Conseqentemente, mais eficiente ser a converso do produto de interesse e maior a produtividade. Satisfazer as exigncias nutricionais das clulas ou compor adequadamente o meio de cultivo em laboratrio, cujas dimenses dos biorreatores so pequenas, pode ser fcil, empregando-se nutrientes puros e caros. No entanto, para compor o meio industrial do Bioprocesso, alguns nutrientes devero ser selecionados de acordo com suas caractersticas no s nutricionais, mas tambm econmicas, no podendo ser esquecidas as particularidades inerentes ao agente da transformao, quanto ao que ser aproveitado para suas reaes metablicas ou a algum efeito de inibio sobre essas reaes ou mesmo sobre a sntese do produto final. A escolha da fonte de carbono muito importante devido ao fato de a sntese de diversas biomolculas estar sujeita represso catablica6. A glicose, por exemplo, apesar de ser, em geral, excelente fonte para o crescimento celular, tem sido reportada como repressora para a sntese de diversas substncias, em particular na produo de enzimas e antibiticos (Lambert & Meers, 1983).4 Cofatores: so componentes essenciais, orgnicos ou inorgnicos, necessrios em pequenas quantidades para a atividade mxima dos sistemas enzimticos. Ex: metais, vitaminas e substncias qumicas complexas. 5

Precursor: um reagente especfico, cuja adio ao meio resulta na incorporao de um determinado grupo estrutural molcula do produto. No obtenvel pela reao de fermentao, tendo que ser fornecido pr-formado. Ex: cido fenil-actico (produo de penicilina) e on cobalto na produo de cianocobalamina (vitamina B12).

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Represso catablica: sistema coordenado que determina preferncia por glicose, inibindo a expresso de perons que codificam enzimas de rotas metablicas alternativas. A represso catablica resulta da reduo nos nveis de cAMP na clula pela presena de glicose, ocasionando na inatividade de CAP (catabolic activator protein).

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Da mesma forma, a fonte de nitrognio deve ser escolhida com bastante critrio. conhecido que fontes de nitrognio chamadas de preferenciais, ricas ou de fcil metabolismo, como o on amnio, a glutamina, a asparagina e a mistura de aminocidos e peptdeos presentes na peptona e outros concentrados proticos comerciais, so repressoras da produo de diversas enzimas. Ao contrrio, prolina e uria, ornitina e alantoina, entre outros, denominadas fontes no preferenciais, pobres ou de assimilao mais lenta, so fontes de nitrognio no repressoras e, portanto, o seu uso em geral favorece a produo de biomolculas sensveis represso por nitrognio (Adrio, 2003; Walker, 1998; Magasanik & Kaiser, 2002). Entre as fontes de nitrognio inorgnicas, o sulfato de amnio o sal mais utilizado devido ao seu baixo custo, sendo tambm empregado o nitrato de sdio. Adicionalmente, existe uma grande disponibilidade de fontes de nitrognio orgnico de grande aplicao em Bioprocessos industriais, como a uria. As principais fontes de nitrognio complexas empregadas so: extrato de levedura (rico em vitaminas do complexo B e aminocidos); licor da macerao do milho (subproduto da industrializao do milho, fonte bem balanceada em carbono, nitrognio, enxofre e sais minerais, contendo ainda vitaminas, como riboflavina, niacina, cido pantotnico, biotina e piridoxina); farinha de soja (resduo da indstria de produo de leo de soja, rico em nitrognio, o qual , entretanto, mais complexo e de mais difcil assimilao do que o nitrognio do licor da macerao do milho) (European Comission, 2002). O valor do pH do meio de cultura parmetro de fundamental importncia e tambm deve ser otimizado, de forma a proporcionar um bom crescimento celular e elevados rendimentos em produto. H que se ressaltar que quando o agente biolgico for enzimas, ou mesmo quando estas biomolculas so os produtos do Bioprocesso, a atividade e a estabilidade enzimticas so fortemente dependentes da fora inica do meio, temperatura, pH e da relao entre a concentrao de substrato e de enzima. Estas variveis bsicas influenciam o desempenho cataltico das enzimas por afetarem suas conformaes, estejam elas livres ou imobilizadas. Estudos devem ser conduzidos previamente a fim de se eleger as condies timas para a catlise enzimtica. Os meios de cultivo podem ser complexos ou quimicamente definidos. Os meios complexos so formulados com base em subprodutos industriais e extratos naturais, tais como: melao, milhocina, extrato de levedura e outros. Sua composio complexa e varivel e contm vrias fontes de cada elemento. Estes meios podem requerer suplementao com compostos que proporcionem quantidades adicionais de alguns elementos, tais como: N, Mg e P. Os meios complexos so extensamente utilizados em Microbiologia bsica (taxionomia, fiosiologia e gentica), Microbiologia de guas e de alimentos e em Fermentaes industriais. Exemplos de componentes de meios complexos encontram-se na Tabela 6. Os meios quimicamente definidos so formulados com compostos puros, tais como: glicose, sulfato de amnio, fosfato mono ou di cido de potssio etc. Sua composio qumica conhecida e reproduzvel, contendo fontes de cada elemento e dos nutrientes essenciais requeridos. Estes meios so usados preferencialmente em pesquisa e desenvolvimento de Bioprocessos. Uma classe especial de meio quimicamente definido o meio mnimo, que se pode definir como aquele formado por uma fonte nica de cada elemento ou componente.27

Os meios complexos so adequados em nvel industrial por serem mais baratos e porque, em certos casos, se obtm melhores rendimentos e produtividades volumtricas. Isto se deve a uma variedade de molculas orgnicas, em sua constituio, que evitam que a clula necessite sintetiz-las a partir de glicose e compostos inorgnicos. Por outro lado, os meios quimicamente definidos permitem um melhor controle das condies ambientais para o crescimento e para a produo, sendo fcil excluir substncias txicas ou inibidoras e incluir precursores e/ou indutores nos nveis adequados. Por esta razo, certas fermentaes que requerem um controle estrito das condies ambientais, resultam mais produtivas quando se utilizam meios quimicamente definidos. A Tabela 7 mostra, a ttulo de exemplo, a composio de um meio quimicamente definido para o cultivo de clulas de Saccharomyces cerevisiae. Tabela 6: Exemplos de componentes de meios complexos industriais. Componente Melao Milhocina Licor sulftico Soro/permeado de soro de leite Vinhoto Farinha de soja e pescado Extrato de levedura Origem Indstria aucareira Subproduto do processamento de milho Efluente da indstria de polpa e papel Subproduto do processamento de queijo Subproduto da produo de etanol Industrializao da soja e pescado Indstria de levedura de panificao

Tabela 7: Meio quimicamente definido para o cultivo de clulas de S. cerevisiae. Componente Glicose (NH4)2SO4 MgSO4.7H2O KH2PO4 NaCl FeSO4.7H2O CuSO4.5H2O ZnSO4.7H2O CaCl2 CoCl2.6 H2O Concentrao (g/L) 18,0 3,2 0,39 0,68 0,008 0,002 0,001 0,003 0,028 0,0002

6.1. Otimizao do meio de cultivoA otimizao da composio do meio de cultivo para obter-se mximo rendimento em produto no uma tarefa fcil. Tradicionalmente, abordagens empricas tm sido adotadas, nas quais os efeitos de componentes individuais do meio sobre o rendimento em biomassa e produto so investigados em frascos cnicos agitados. As fontes de carbono so examinadas primeiramente e, posteriormente, as fontes de nitrognio, at que todas as combinaes dos componentes do meio sejam estudadas, atingindo-se um meio de composio otimizada. Normalmente, compostos repressores so descartados e aqueles que estimulam ou induzem a sntese de enzimas so mantidos. Ressalta-se que este28

procedimento envolve um grande nmero de experimentos e demanda um tempo muito grande para se chegar a composio otimizada do meio, sendo os constituintes investigados individualmente e, via de regra, negligenciados os efeitos interativos entre os mesmos. Um procedimento alternativo pode ser utilizado na otimizao de meios em Bioprocessos, baseado em mtodos estatsticos que permitem otimizar as concentraes dos componentes fundamentais do meio, levando-se em considerao o grau de inter-relao entre eles (Demain & Solomon, 1986). Aps seleo dos principais componentes do meio que afetam o rendimento em produto e a produtividade, procede-se a combinao dos mesmos de acordo com uma metodologia estatstica (Planejamento Fatorial), que permite o planejamento dos experimentos. Desta forma, os efeitos de vrios componentes podem ser determinados simultaneamente, com um nmero relativamente pequeno de experimentos. O Planejamento Fatorial de experimentos baseia-se no estudo de dois parmetros do processo. So eles os fatores e os nveis. Fatores so as variveis do processo, como por exemplo, a temperatura de crescimento de um microrganismo ou a concentrao de determinado nutriente em um meio de cultivo. J os nveis so as diferentes condies pesquisadas, geralmente so utilizados nveis superiores, inferiores e centrais. Para um melhor entendimento, imaginemos um Planejamento experimental envolvendo a temperatura de crescimento de determinado microrganismo e a concentrao de um nutriente em seu meio de cultivo. Podemos estabelecer para cada fator estudado (temperatura e concentrao) 3 nveis de estudo (Tabela 8): Tabela 8: Definio de Fatores e Nveis para o Planejamento Experimental. Nvel Central 35C 3%

Fator Temperatura de cultivo Concentrao de nutriente

Superior 37C 5%

Inferior 33C 1%

A representao de um planejamento fatorial nk, sendo n o nmero de nveis e k o nmero de fatores. Utilizando os dados da tabela anterior, temos que n = 3 e k = 2, ento o planejamento fatorial em questo ter um total de 32 experimentos, ou seja, 9 condies experimentais diferentes. Estas condies experimentais so representadas por uma matriz de planejamento (Tabela 9), onde cada nvel possui sua representao numrica: o superior representado pelo valor +1, o central pelo valor 0 e o inferior pelo valor 1. Veja que todas as condies possveis esto descritas na Tabela 9. Os experimentos so ento realizados, tendo sido definida previamente a varivel de resposta, geralmente, no caso de otimizao de Bioprocesso, a concentrao do produto ou o fator de rendimento ou, ainda, a produtividade volumtrica ou especfica. Aps a obteno dos resultados de cada um dos experimentos relacionados, a anlise estatstica destes dados pode ser realizada utilizando um software apropriado, que fornecer valores crticos dos fatores, bem como a sua significncia e grau de interao.

29

Tabela 9: Matriz de Planejamento Experimental. Experimento1 2 3 4 5 (C) 6 7 8 9

Temperatura de crescimento+1 (37C) +1 (37C) +1 (37C) 0 (35C) 0 (35C) 0 (35C) -1 (33C) -1 (33C) -1 (33C)

Concentrao de nutrientes+1 (5%) 0 (3%) -1 (1%) +1 (5%) 0 (3%) -1 (1%) +1 (5%) 0 (3%) -1 (1%)

Observe que nesta matriz um importante fator foi ignorado: o tempo de cultivo do microrganismo. Caso utilizssemos tambm este fator, teramos uma nova matriz com 33 experimentos, compreendendo 27 condies experimentais diferentes. importante comentar que rplicas so muito importantes para o Planejamento experimental, pois permitem que analisemos o erro intrnseco ao Bioprocesso, chamado de erro experimental. O tipo de rplica mais importante a do ponto central de experimentos, marcado com (C) na Tabela 9. Anlises estatsticas demonstram que a utilizao de um nmero superior a 5 rplicas para o ponto central dispensa duplicatas dos outros pontos experimentais.

6.2.

Formulao de meio de cultivo com base na composio centesimal de microrganismos

Conhecendo-se a composio elementar da clula (Tabela 8), pode-se determinar a sua frmula mnima e estimar estequiometricamente suas necessidades nutricionais. Esta composio dependente do meio em que o microrganismo foi cultivado. Para que o processo de reproduo celular seja possvel, os requerimentos em matria, energia e informao devero ser atendidos, respeitando-se os princpios de conservao de massa e energia, de forma a possibilitar a construo de uma nova clula igual a anterior (Figura 6).

matria

CLULA

energia

CLULA produto

informao

Figura 6: Requerimentos para o crescimento/multiplicao celular.30

A informao para a construo de uma nova clula est contida no material gentico do microrganismo e transmitida de gerao a gerao. A matria deve ser fornecida atravs de componentes do meio de cultivo e a energia obtida do catabolismo da fonte de carbono e energia, de reaes de oxidao ou de radiao solar no caso de microrganismos fotossintticos. As clulas so representadas com base em sua composio elementar. Composies tpicas de bactrias, leveduras e fungos filamentosos esto apresentadas na tabela a seguir. Os elementos quantitativamente mais importantes so: carbono, hidrognio, oxignio e nitrognio (90-92% do total da massa celular), o que justifica a aproximao feita na equao estequiomtrica, descrita a seguir. De grande importncia encontra-se um segundo grupo de elementos, compostos por: Mg, P, S, Ca, Na e K, que devem ser fornecidos como compostos aptos metabolizao pela clula. A fonte de carbono e energia pode ser um carboidrato ou outro composto orgnico, ou mesmo CO2, carbonato ou bicarbonato no caso de clulas quimioautotrficas e fotossintticas. A fonte de nitrognio pode ser amnio, aminocidos, protenas, uria, nitrato ou nitrognio molecular, sendo as duas primeiras as mais comuns. O restante dos elementos suprido atravs de sais inorgnicos. Devido a deficincias genticas, certas linhagens requerem fatores de crescimento, tais como vitaminas, aminocidos e nucleotdeos, como mencionado anteriormente. Tabela 10: Composio centesimal de clulas microbianas. Fonte: Bailey & Ollis (1986). ELEMENTOS Carbono Hidrognio Oxignio Nitrognio Magnsio Fsforo Enxofre Clcio Potssio Ferro Outros COMPOSTOS Protenas Carboidratos Lipdios c. Nuclicos Cinzas BACTRIA 46-52 8-12 18-24 10-14 0,1-0,5 2,0-3,0 0,1-1,0 0,01-1,0 1,0-4,5 0,02-0,2