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Apostila CCA0330 Redação Audiovisual TV/Cinema

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PRODUÇÃO EM TV E CINEMA Introdução • Plano de Ensino no site da Estácio • Foco na prática – Produzindo é a única maneira de se aprender Produção. Claro que estamos numa faculdade e precisamos ver teoria (afinal, não é um workshop), mas sempre iremos colocar a mão na massa. Lembrando que nossa escala será sempre menor do que uma produção de filmes para cinema ou TV. Afinal, estamos fazendo publicidade, com roteiros de 30 segundo ou 1 minuto. Assim, quem quiser se aprofundar mais no tema irá descobrir que tem muito mais para ser feito durante a produção de um filme ou seriado. Além disso, iremos produzir tudo na faculdade, sem falir alunos e familiares. Ou seja, tudo é mais resumido aqui. Módulo 1 - Roteiro Ler: Field, Syd, Manual do Roteirista, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1995, Cap. 1

Para escrever um bom texto publicitário você precisa saber português. Para fazer o layout de uma marca deve conhecer arte. Dominar a teoria é essencial para a prática. Antes de sair imaginando um roteiro de comercial de cerveja, você precisa saber algumas noções da teoria audiovisual. E o cinema é a grande escola.

Na literatura, a história acontece na cabeça dos personagens. A ação dramática se passa no universo mental deles. No teatro, a peça ocorre no palco e a platéia é a “quarta parede”, vendo tudo acontecer. Os diálogos impulsionam a trama.

Com os filmes é diferente. Neles a história é contata com imagens, misturando fotografia, diálogos, música. E tudo pode acontecer. A única coisa em comum, segundo Syd Field (famoso professor e teórico de roteiros), é que os filmes, pelo menos os bons, têm começo, meio e fim. Ele desenvolveu a teoria do Plot Point, Ponto de Virada. Estudando diversos filmes, Field constatou que todos os bons roteiros seguem uma mesma lógica. Assim, ele criou o seguinte esquema:

Início Meio Fim ATO I ATO II ATO III

_____________*_____//________________________**___//______________________ Apresentação Confrontação Resolução (Pág. 1-30) (Pág. 30-90) (Pág 90-120)

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* Ponto de Virada I (Plot Point I) - Pág. 25-27 ** Ponto de Virada II (Plot Point II) - Pág. 85-90

A divisão em 3 Atos vem do teatro, criado lá pelos antigos gregos. E de Aristóteles, talvez o que mais estudou sobre o assunto, vem a definição das 3 unidades de ação dramática: tempo, espaço e ação. Ou seja, a história acontece em alguma época, em algum lugar e tem algo ocorrendo. Caso contrário, não temos uma história pra contar.

Os filmes feitos em “Oliúdi” têm aproximadamente 120 minutos (120´ ou 2 horas). Os europeus, asiáticos, brasileiros e outros (chamados de Estrangeiros), têm aproximadamente 90 minutos (90´ ou 1 hora e meia). Claro que isso não é uma regra fixa - ainda mais agora que o cinema independente virou a indústria de cabeça pra baixo, tanto nos EUA quanto no “estrangeiro”.

Um minuto na tela equivale a um minuto de projeção. Não importa se a parte em questão é uma cena de perseguição de carros, um diálogo ou um casal fazendo amor. Em geral, uma página de roteiro corresponde a um minuto de filme.

Claro que na publicidade, onde a maioria dos filmes têm 30 segundos (30”), a “regra” é adaptada. Na verdade, ela fica ainda mais exigente: muita coisa em 30 segundos (30”) pode ficar horrível. Como tentar enfiar a Seleção Brasileira para jogar bola num banheiro. Por isso, é bom ter sempre uma noção de quanto tempo de tela seu roteiro está usando. Se em uma página cabe geralmente 1 minuto (1´), e nossos roteiros são na sua maioria de 30 segundos (30”), ele deve ocupar menos de uma página. Matemática básica. Obviamente que existem as exceções, afinal criatividade é avessa a regras. Mas são muito raras essas exceções. Tão raras quanto um filme ruim do Woody Allen. No ATO I se dá a Apresentação da história. Entramos em contato com o contexto da história. Conhecemos os personagens, a premissa dramática (sobre o que é a história), a situação dramática (as circunstâncias em torno da ação) e a relação dos personagens entre si. Em Titanic, no ATO I ficamos conhecendo a vontade de viver e a alegria do personagem de Leonardo DiCaprio, a infelicidade da personagem de Kate Winslet com seu noivado forçado, os vários personagens secundários e a euforia de todos com a histórica viagem inaugural do maior navio do mundo. A premissa, que poderia ser O que aconteceu abordo do Titanic, é ligeiramente alterada para Romeu e Julieta no Barco do Amor. A situação dramática é tudo o que acontece em volta do casal, inclusive um certo iceberg. Em Star Wars - A New Hope (o primeiro da série, chamado agora de Episódio IV), descobrimos que há um terrível Império, comandado por um assustador vilão de preto, uma princesa em perigo, dois robôs buscando ajuda, um velho Jedi aposentado, um jovem órfão em busca de aventura e um caçador de recompensas que viaja acompanhado de um cachorro gigante. A premissa é bem conhecida: o bem contra o mal, ligeiramente alterada para A aliança contra o

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Império. E a situação dramática se passa toda há muito, muito tempo, numa galáxia muito, muito distante. Cheia de naves, poderes mágicos e sabres-de-luz. No ATO II ocorre a Confrontação. Aqui o “mocinho” enfrentará todos os problemas que o impedem de realizar sua necessidade dramática. O que é isso? Necessidade dramática é o que o personagem quer durante a história. Em Procurando Nemo, a necessidade dramática de Marlin é achar seu filho Nemo. Em Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones quer pegar a Arca da Aliança. Em O poderoso Chefão, Mike Corleone quer ficar longe dos “negócios” da família, mas ao mesmo tempo quer proteger a todos. É a necessidade dramática que leva o personagem à frente, move o roteiro. Se você conhece a necessidade do seu personagem, pode criar vários obstáculos para ele e, assim, deixar a história mais interessante.

Como diz Syd Field: “Todo drama é conflito. Sem conflito não há personagem; sem personagem não há ação; sem ação, não há história; e sem história, não há roteiro.”.

No ATO III se dá a Resolução. Mas não vá confundir isso com Final. Final, ou Fim, é a última cena do seu roteiro. É a imagem ou seqüência que você decidiu terminar seu roteiro. Resolução é a solução da sua história, é como você escolheu resolvê-la. Seu herói morre ou casa com a mocinha? Ele entra para a máfia ou vira uma drag queen? Ganha a corrida ou fica devendo milhões? Torna-se um sucesso ou um fracasso?

Como ficou claro, temos início, meio e fim: ATO I, ATO II e ATO III. Ou, Apresentação, Confrontação, Resolução. E como passar de uma parte para outra? Como manter a coisa coesa para não desandar a maionese e acabar com um filme Z em mãos? Usando o que Syd Field chamou de Plot Point, Ponto de Virada.

O Plot Point é algo que “engancha” na história e faz ela mudar de direção. E ele ocorre no final do ATO I (lá pelas páginas 25-27 nos roteiros de cinema) e, depois, no final do ATO II (lá pelas páginas 85-90). O Plot Point é o que deixa a história ir adiante. Pois, sem ele, a história poderia acabar ali, nos primeiros 20 minutos de filme.

Em E.T., o menino Elliot descobre um alienígena no seu jardim. Se não fosse isso, não teríamos o filme. Esse é o Plot Point I. Já o Plot Point II, ocorre quando o ET ressuscita, após sua existência ter sido descoberta pelo governo e ter sido submetido a vários exames. Se o extraterrestre não tivesse voltado à vida, o filme teria terminado ali. Mas agora nosso menino-herói tem outra necessidade: levar seu pequeno amigo de volta para a nave. É esse acontecimento que move a história para outra direção.

Um alerta bem interessante que Field faz é lembrar que esse paradigma dos 3 Atos e 2 Plot Points é uma forma e não uma fórmula. Não é uma receita de bolo que você coloca os ingredientes e...plim: bolo pronto. Se fosse assim, todos os filmes seriam bons.

Outra questão é a criatividade. O paradigma não existe para limitar o roteiro. Você pode abusar dele, brincar com ele. Em Batman Begins, a história de Bruce Wayne é contata em flashback. Mas está tudo lá: ATO I, II e III. O mesmo

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acontece com O resgate do Soldado Ryan. Alguns filmes são ainda mais criativos e ousados, como é o caso de Amnésia ou Brilho Eterno de uma mente sem lembrança. Acha que isso não funciona? Então tire a prova você mesmo. Quando assistir um filme que gostou, volte e o veja de novo. Agora com os olhos de um roteirista. Procure pelos 3 Atos e pelos 2 Plot Points. Com certeza você os achará. Ok, mas e daí? Onde isso entra na publicidade? É verdade que não vamos fazer um comercial de 2 horas, com ATO I, II e III. Temos, quando muito, 1 minuto para contar nossa história. E é por isso que é tão difícil prender a atenção do nosso consumidor e emocioná-lo. É por esquecerem que uma história precisa de “obstáculos”, mudanças de rumos que a deixam mais interessante, que tantos publicitários fazem roteiros sem graça. O tipo de comercial que começa e vai igual até o final. Pior: você olha a primeira cena e já sabe como ele vai acabar. Se você não gosta disso no cinema, por que seria diferente com a publicidade? Nós publicitários, como os roteiristas de cinema, temos sim que encantar e surpreender o público. Como fazemos isso? Do mesmo jeito que eles. A diferença é que temos bem menos tempo e, por tanto, precisamos de ainda mais criatividade e sensibilidade. É óbvio que não temos 3 Atos e 2 Plot Points. Temos apenas um intervalo para fazer nosso produto/serviço ser lembrado. E só vamos conseguir isso se deixarmos nosso roteiro interessante, aproveitando o que o paradigma ensina e usando o que der no tempo que temos. Assim, muitas vezes, os 3 Atos acontecerão ao mesmo tempo. Você já apresenta seus personagens, já estabelece o conflito e já vai para a resolução. E guarda um Plot Point na manga para fazer a família no sofá sorrir para a TV antes de mostrar o logo do seu cliente. Como sempre, quando o assunto é criatividade, não há regras. Há bom senso, sensibilidade, prática e algumas dicas do que funciona. O paradigma é uma delas. Claro que existem comerciais que não precisam prender a atenção do consumidor pela história. Um exemplo disso são os famosos “clipes”, quando temos uma bela trilha e cenas lindas desfilando pela tela. A música e as cenas já fazem todo o serviço. É o tipo de comercial que o mérito é mais do diretor do que do roteirista. Não há uma grande “sacada”. Outro exemplo é os comercias de varejo. Ali, sua missão como roteirista é mostrar os produtos em oferta. Tudo bem, você pode - e deve -ser criativo.Olha a C&A e a Renner ai para provar. Mas nem tente falar em Plot Point com seu cliente. Ele, com toda razão, poderá dizer onde você deve enfiá-lo.

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Módulo 2 - Assunto Ler: Field, Syd, Manual do Roteirista, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1995, Cap. 2

No cinema, a pergunta-chave para um roteiro é: Qual é o assunto? Fyeld lembra que um roteiro é como se fosse um substantivo. Ele é uma

pessoa num lugar, vivendo sua história. A pessoa é o personagem e viver sua história é a ação. Quando se pergunta sobre o assunto de um roteiro, queremos saber sobre o personagem e a ação. Ação é o que acontece. O personagem é com quem acontece essa ação.

Matrix conta a história de um hacker que descobre ser o possível escolhido numa luta entre os humanos e o computador que controla o mundo. Uma história com início, meio e fim. No começo, Neo descobre que vivemos numa realidade de faz de conta e é recrutado pelo grupo de Morpheus. No meio, aparece a luta do grupo contra os agentes da Matrix e a tentativa de descobrir se Neo é mesmo o escolhido. No final, Neo se revela o escolhido e dá nova esperança ao grupo na sua guerra. Apresentação, confrontação e resolução.

Para o cinema, qualquer coisa pode servir de inspiração para ser o assunto de um filme. Matrix usou a Teoria da Caverna de Platão, trazida para a Era da Internet. Homem-Aranha usou as histórias em quadrinhos da Marvel. Fugindo do Inferno se baseou numa história real da Segunda Guerra Mundial.

O importante é saber que você é o responsável pela história. Tudo que você escolher será de sua responsabilidade. Se o seu personagem morre, rouba um carro ou vira padre é com você. Mas isso não pode ser feito por obrigação, tem que ser uma escolha sua. Isso, no cinema.

Na publicidade, o buraco é um pouco mais embaixo. Nosso assunto vem do briefing. Não, infelizmente nem sempre o assunto estará lá, bonitinho, saltando aos olhos. Na maioria das vezes, ele vem escondido num monte de termos técnicos ou pedidos óbvios (“O cliente quer vender mais!”). Sua primeira tarefa é, dentro do briefing, identificar seu assunto. Sobre o que será seu filme? Ok, é sobre o novo modelo do Audi. Mas e dai? o que tem de novo esse modelo, o que o torna interessante, o que faria alguém comprá-lo? Diz no briefing que tem um novo e revolucionário sistema de freios XYPO desenvolvido pela NASA. E aqui seu roteiro vai seguir o caminho que você escolher. Ele poderá ser um comercial sobre o freio ou sobre a segurança que ele oferece. Poderá ser um comercial informativo e técnico ou emocionante e comovente. Poderá ser engraçado ou sério. Depende da maneira que você interpreta o brienfing, do que você acha que é o assunto.

Após escolher o assunto, você deve buscar o máximo de informações possíveis sobre ele. Ficar sentadinho no ar condicionado não ajuda a fazer um bom roteiro. Ter informações e não querer usar é uma coisa. Não usar algo porque você não conhece é bem diferente - e muito triste. Leia, converse com as pessoas (atendimento, cliente, vendedores, consumidores), vá até a revenda,

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entre no carro. Tudo isso ajudará você a entender melhor seu assunto. E quanto mais você souber, mais poderá explorar. As possibilidades ficam infinitas.

É bom lembrar, ainda, que a ação que falamos antes pode ser física ou emocional. Isso vale para o cinema e para a publicidade. Você pode ter um filme sobre um assalto a banco (Um dia de cão, de Sidney Lumet, com Al Pacino; ou o filme do jeans Levi´s com o falso cego que vê a assaltante trocando de roupa no banheiro masculino) ou um sobre uma história de amor impossível (Moulin Rouge, de Baz Luhrman, com Nicole Kidman e Ewan McGregor; ou o comercial do jeans Wrangler com a então adolescente Luciana Vendramini de freira). Ação física é corrida, saltos, brigas. Ação emocional é o que se passa dentro do personagem. No cinema, a maioria dos filmes tem os dois tipos. Na publicidade, pelo tempo reduzido, acabamos ficando com um ou outro. Mas, de novo, regras rígidas não existem. A TNT fez um filme que mostrava um casal correndo para se encontrar, repetindo o famoso clichê romântico. Quando eles ficam juntos, o homem dá um golpe de luta-livre na mulher e a joga no chão. Ele comemora enquanto entra a assinatura: TNT Nitro, filmes para macho. Um divertido comercial com ação física e emocional.

O que você precisa ter em mente é qual o tipo de roteiro está fazendo. Feito isso, pode começar a conhecer e definir seus personagens. O que os move? Quais suas necessidades? Em X-men, a turma do Prof. Xavier quer impedir Magneto de atacar uma conferência da ONU e matar os presentes transformando-os em pseudomutantes. No comercial do primeiro sutiã, da W/Brasil para Valisèrie, a menina luta para perder a vergonha.

Lembre-se: drama é conflito. Sabendo a necessidade do seu personagem você pode criar obstáculos e deixar a história mais interessante. Isso só acontecerá se você conhecer seu assunto.

A Pepsi, em um dos muitos comerciais da sua eterna guerra com a Coca, colocou dois motoristas de caminhão almoçando lado a lado num balcão. Um da Pepsi e um da Coca. Cada um toma o refrigerante da sua empresa. Então, num gesto de amizade, eles trocam as latinhas. Após provar a Coca, o motorista da Pepsi devolve a lata. O da Coca se recusa a devolver e fica tomando a Pepsi. Uma maneira criativa e inusitada de abordar o assunto qualidade. Módulo 3 - Finais e Inícios Ler: Field, Syd, Manual do Roteirista, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1995, Cap. 6 Assistir: Apocalipse Now, Cães de Aluguel, Procurando Nemo, Cidadão Kane, Sunset Boulevard, Star Wars - A new hope, Indiana Jones e a Última Cruzada, Memento, Rei Leão

Em literatura, existe o que chamamos de Estrutura Circular. O texto começa

e termina no mesmo ponto, como uma folha que se dobra sobre si mesma. Como já falamos antes, não existem regras fixas. Mas essa é uma bela - e poética - maneira de se fazer um texto. Vale o mesmo para um roteiro.

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Quando estiver olhando a folha em branco, piscando no seu computador, você ficará imaginando qual a forma de começar seu roteiro. Bem, aqui vai a dica: saiba o seu final. Uma história tem início, meio e fim. Ela é uma viagem. E você só chegará ao seu destino se souber aonde ele fica.

Conhecendo seu final você pode desenvolver cenas, tramas, acrescentar ou tirar personagens. Pode dominar todo o enredo, afinal você tem segurança e sabe para onde está indo. Seu personagem fica rico? Ele vira o rei ou morre em batalha? Ele casa ou monta um bordel? Se souber como sua história termina, fica mais fácil começá-la.

Existe uma lenda que diz que os personagens contam a história. Eles determinam o que irá acontecer. Bobagem. Finais assim não funcionam, dá para notar que ficou mal costurado. Nas raras exceções que funcionam, talvez, o autor tenha agido inconscientemente pensando que foram seus personagens.

No filme O rei Leão, a história começa com todos os animais se reunindo em volta da Pedra do Rei para conhecerem Simba, o herdeiro. Após a jornada que faz Simba se dar conta da sua missão e responsabilidade, o filme termina com todos os animais reunindo em volta da Pedra do Rei para conhecerem a herdeira de Simba. Começo e final.

Em Cidadão Kane, a cena de abertura mostra o velho Charles Foster Kane (Orson Welles) morrendo. Suas últimas palavras são: Rosebud...Rosebud. O filme entra num flashback e, através de um repórter que busca o significado da palavra, conta toda a vida do excêntrico magnata. A cena final revela alguns pertences do falecido sendo queimados. Entre eles se destaca um trenó onde se lê Rosebud. Ele é o símbolo da infância que Kane teve que deixar de lado para se tornar um gigante da mídia. Começo e final.

Em O poderoso Chefão, tudo começa com Don Corleone (Marlon Brando) recebendo pedidos de seus “afilhados”. Após toda o drama, termina com o novo Don Corleone (Al Pacino) recebendo homenagens de seus “afilhados”. Começo e final.

Pulp Fiction, um roteiro genialmente circular, abre com um assalto sendo cometido numa lanchonete e termina na mesma cena. Mesmo com um dos personagens presente já tendo morrido! Começo e final.

Num famoso comercial para o Itaú Seguros, a DM9 iniciou falando que só um louco teria um filho. O filme segue mostrando tudo de “ruim” que um filho pode fazer: roubar sua esposa sem a menor cerimônia, fazer ela perder a forma, lhe dar muitas noites em claro. No final, o roteiro mostra que ainda assim você será louco por ele. “Itaú Seguros, quem é louco por alguém faz”, encerra a locução. Começo e final, dois lados de uma mesma moeda.

Claro que um roteiro não precisa acabar assim para ser bom. Essa é a maneira mais poética e, por isso, a mais usada. Mas você pode fazer diferente. Star Wars, a new hope abre com uma gigantesca nave cruzando a tela e acaba com uma festa dando medalhas para os heróis que explodiram a Estrela da Morte. Mas admita, fica bem mais legal começar e acabar no mesmo “ponto”. Tire a prova. Reveja um filme que você curtiu e descubra se não há alguma conexão

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entre o começo e o final. Filmes bons, claro. Nada de Velozes e Furiosos, por favor. Módulo 4 - A cena Ler: Field, Syd, Manual do Roteirista, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1995, Cap. 10 Assistir Harry e Sally, Notting Hill, Caros amigos, Hair

É na cena que tudo acontece. Ela é uma unidade específica de ação. Pode ser uma conversa rápida num carro, como a famosa cena do Big Mac em Pulp Fiction, ou pode ser um longo momento de tensão, como a cena da escadaria em Os intocáveis. Você decide como será, onde será e quanto tempo deve durar sua cena. Você decide com base no que você quer contar. O importânte é saber que um roteiro não é uma fórmula matemática. Se uma cena de três páginas funcionou em tal filme não significa que vai funcionar no seu. Cada roteiro é uma história.

Field lembra que toda cena tem duas coisas: LUGAR e TEMPO. Ela pode ser num elevador, carro, banheiro; pode ser ao meio-dia, de noite, no final da tarde. Uma cena acontece em determinado lugar, em determinado tempo. Para saber onde ela se passa, você deve falar isso no seu roteiro. Por exemplo:

INT. SALA DE AULA – NOITE INT. significa que é no interior, uma cena interna. Se fosse na rua você escreveria EXT. Essas marcações servem para ajudar na hora da decupagem, momento onde analisamos o roteiro para saber tudo o que será necessário para executá-lo – e para saber quanto vai custar a brincadeira. O mesmo vale para a palavra NOITE. Quando você muda o LUGAR e o TEMPO, ai você tem outra cena. Por que você precisa indicar isso no seu roteiro? Porque cada mudança de cena causa uma mudança no “circo” que é uma filmagem ou gravação. Ao mudar a cena de LUGAR ou TEMPO, você exige que se mude a CÂMERA. E com isso, muda-se a luz (NOITE X DIA, INT X EXT) É isso que faz um filme custar tão caro. Afinal, são muitos profissionais envolvidos. Mudar as cenas é muito importante no seu roteiro. É isso que vai ajudá-lo a contar sua história. Uma cena pode ter começo, meio e fim – como um roteiro ou seqüência, ou pode ter somente o final (Bam! O corpo cai no chão). Como sempre quando se trata de criatividade, não há regras. O único compromisso é a cena contar algo, dizer algo, ajudar nosso público a entender a história. Se a sua cena não diz nada, não acrescenta nada ao roteiro, é melhor então tirá-la e aproveitar aquele tempo para melhorar alguma outra cena ou seqüência. Ao abordar esse assunto, Syd Field lembra que há geralmente dois tipos de cena: visual e de diálogo. No primeiro tipo, algo é apresentado ao público pela imagem. Uma corrida de carros, alguém armando uma bomba, um casal se beijando. A imagem nos conta algo sobre aqueles personagens, nos mostra algo importante para a história. O segundo tipo de cena é o de diálogo. Aqui, os

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personagens conversam. É esse bate-papo que vai nos contar algo. No cinema, a maioria das cenas de diálogos dura 3 minutos (3 páginas). Claro que existem exemplos de cenas maiores (lembre-se: não há regras). Mas como ninguém pode perder tempo num roteiro, elas ficam por aí. No nosso caso então, onde o tempo é ainda mais importante – e curto – cada segundo vale. Por isso, faça seus diálogos com todo cuidado. E, por favor, nada de enviar o briefing na boca dos seus personagens. Ninguém fala assim! Um comercial com personagens-briefing fica artificial, para não falar ridículo. E você perde seu público. Para sua cena existir, ela deve contar algo específico. O que você precisa comunicar naquele momento? Qual o contexto da cena? Qual seu propósito? Como ela ajuda a história a ir pra frente. Se você já viu os atores conversando sobre seus trabalhos, sabe que eles sempre falam sobre isso. Eles precisam saber o que seus personagens estão fazendo naquela cena. Você, como roteirista, é o responsável por isso. Pense no contexto e, em seguida, coloque o conteúdo. O segredo, como sempre, é você fugir do óbvio. Um casal correndo para se encontrar na beira da praia é uma forma muito batida de mostrar paixão. Pense em algo novo! Use elementos visuais (cenário, roupas, cores) e sonoros (trilha, som ambiente) para ajudar a contar o que precisa. Pense em coisas que tenham a ver com sua história. No filme Notting Hill, o personagem de Hugh Grant se declara para Julia Roberts numa coletiva de impresa. Como a história toda gira em torno do romance impossível entre um cara comum e uma estrela de cinema, a cena só poderia se passar lá. Foi uma maneira simples e criativa de fazer ele se declarar. Muito melhor do que colocar os dois correndo na praia. Para finalizar, algumas dicas. Como você já viu, no roteiro é necessário especificar o LUGAR e o TEMPO, sempre em maiúsculas. O mesmo vale para quando um personagem vai aparecer pela primeira vez na tela, ou quando você quer dar um destaque para algum elemento. E os diálogos são sempre centralizados na página. Assim, fica mais fácil para os atores. Procure roteiros para ler (na internet existem vários sites, como por exemplo joblo.com e roteirodecinema.com.br) e confira. Aqui vai o começo do filme Cidade de Deus, roteiro de Bráulio Mantovani, baseado no livro de Paulo Lins.

EXT. CASA DE ALMEIDINHA - DIA 1 1 Abrimos com a imagem de um FACÃO sendo afiado. CARACTERES em superposição: 1981 Ouve-se o murmúrio de VOZES alegres, vozes CANTANDO um samba acompanhado de um BATUQUE. Não vemos as pessoas. Mas os sons deixam claro que se trata de um ambiente festivo. A letra do samba tem como tema: comida. MÃOS NEGRAS amarram com um barbante a PERNA de um GALO. O galo é imponente e vistoso. Alternamos o galo --incomodado por ter a perna amarrada -- a imagens que sugerem a preparação de um almoço: ÁGUA FERVENDO numa enorme panela.

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O galo parece reagir à imagem anterior. Batatas sendo descascadas por MÃOS de uma mulher negra. O galo reage como se entendesse a situação: vai virar comida. GALINHAS MORTAS sendo depenadas por MÃOS de mulheres negras. O galo reage. Ele tenta libertar a perna amarrada ao barbante. MÃO masculina negra percute o couro de um pandeiro. A letra do samba faz referência explícita ao tema comida. O galo parece entender que seu fim está próximo. Um FACÃO sendo afiado por mãos negras masculinas. A faca vai CRESCENDO, tornando-se cada vez mais ameaçadora. O galo se desespera. Luta. E escapa. ALMEIDINHA, o negro que segura o facão, percebe a fuga do galo e dá o alarme.

ALMEIDINHA O galo fugiu!

Pela primeira vez, vemos a casa de Almeidinha do lado de fora. Trata-se de um lugar pobre, uma casa de alvenaria da Cidade de Deus. A festa está acontecendo no quintal. A fuga do galo provoca um grande ALVOROÇO entre os convidados: na maioria homens, JOVENS, NEGROS e MULATOS. Apenas alguns são BRANCOS. Estão quase todos de calção e chinelo. Dezenas de bandidos saem correndo atrás do galo. Eles fazem parte da quadrilha de Zé Pequeno. Todos berrando:

VOZES DOS BANDIDOS Pega o galo, pega o galo!

EXT. RUA PRÓXIMA - DIA 2 2 BUSCA-PÉ, o narrador da história, tem nas mãos uma câmera fotográfica profissional. É negro e tem aproximadamente 18 anos. Ao lado dele o amigo BARBANTINHO. Eles caminham por uma rua do conjunto

BARBANTINHO Aí, Busca-Pé... Tu acha mesmo que os cara vão te dar emprego no jornal

se tu conseguir tirar essa foto?

BUSCA-PÉ Eu tenho que arriscar.

BARBANTINHO

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Porra! Tu tá arriscando é a vida. Por causa de uma foto, mermão! Dá um tempo!

MONTAGEM PARALELA Intercalamos a conversa de Barbantinho e Busca-Pé às imagens dos bandidos perseguindo o galo pelas vielas da Cidade de Deus: VIELA - BANDIDOS Com ZÉ PEQUENO -- gordinho, pescoço socado e cabeçudo – à frente, os bandidos perseguem o galo pelas vielas da Cidade de Deus. Os bandidos estão se divertindo com a situação. Zé Pequeno aparece em close imediatamente após Busca-Pé dizer “daquele filho da puta”. A perseguição é cheia de peripécias, com o galo "dando um baile" nos perseguidores. Durante a perseguição, passamos por alguns dos caminhos tortuosos da Cidade de Deus: casas simples, algumas casas muito pobres, ruas mal cuidadas, moradores na maioria negros, pobres e ASSUSTADOS com a correria dos bandidos. RUA - BUSCA-PÉ E BARBANTINHO

BARBANTINHO (CONT.) Na boa, Busca-Pé. Eu acho que os cara do jornal tão de sacanagem.

Eles nunca vão te dar emprego.

BUSCA-PÉ Pô, Barbantinho. Se conseguir essa foto, eu vou ficar na moral com os caras,

Tá entendendo?

BARBANTINHO Tu tá falando dum jeito que parece até que a gente tá num episódio

da Missão Impossível.

BUSCA-PÉ Pior é que é.

VIELA - BANDIDOS Zé Pequeno, ao dobrar uma viela, tromba com um VENDEDOR de PANELAS. Zé Pequeno cai no meio das panelas. Dá sua RISADA FINA, ESTRIDENTE E RÁPIDA. Ele se levanta, e começa a ESPANCAR violentamente o vendedor de panelas.

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Zé Pequeno tira de trás do calção uma PISTOLA. Parece que ele vai matar o coitado. Mas, em vez disso, aponta o revólver para o alto, e dá a ordem:

ZÉ PEQUENO Senta o dedo no galo!

Imediatamente, todos os bandidos sacam suas armas e correm atrás do galo, que está se aproximando cada vez mais a uma esquina. RUA - BUSCA-PÉ E BARBANTINHO

BARBANTINHO Porra, Busca-Pé! Vamo sai saindo. Se tu encontrar o cara?

Ele deve tá querendo te matar.

BUSCA-PÉ Barbantinho, se liga: a última coisa que eu queria na minha vida

era ter que ficar cara a cara com aquele bandido de novo.

Neste exato momento, as duas ações paralelas se encontram: o galo vira a esquina. E atrás dele surgem Zé Pequeno e sua gangue. Barbantinho arregala os olhos. Busca-Pé levanta um pouco a câmera fotográfica em direção ao olho mas não consegue levar o gesto até o final. Ele fica paralisado, olhando para Zé Pequeno que aponta a arma para Busca-Pé e grita:

ZÉ PEQUENO Segura o galo.

Busca-Pé assume a pose de goleiro, fica meio abobalhado, tentando agarrar o galo, que passa no meio das pernas dele.Uma MULHER que empurra um carrinho de bebê vê a cena e se afasta apressadamente. Zé Pequeno avança em direção a Busca-Pé. Busca-Pé está apavorado. Barbantinho, paralisado. Zé Pequeno pára de repente. Todos os bandidos apontam suas armas para alguém que está atrás de Busca-Pé. Busca-Pé olha para trás e vê uma PATRULHA de 6 policiais. À frente da patrulha está o detetive Cabeção -- nordestino e malencarado. Busca-Pé ainda na pose de goleiro desajeitado. A imagem congela.

BUSCA-PÉ (V.O.) Na Cidade de Deus, não dá pra saber o que é pior:

encarar os bandidos ou a polícia. É um bangue-bangue sem mocinho. E sempre foi assim... Desde que eu...

FUSÃO PARA:

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EXT. CAMPINHO - DIA 3 3 Um grupo de garotinhos jogando futebol. Entre eles estão os meninos Busca-Pé e Barbantinho. A idade dos garotos varia de 8 a 10 anos. Módulo 5 - A sequência Ler: Field, Syd, Manual do Roteirista, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1995, Cap. 8 Assistir: Os Intocáveis, Pulp Fiction, Superman, Highlander, Batman Begins, Syd Field afirma que um roteiro é como um sistema. Ele é feito de vários elementos que são conectados pela ação, personagem e premissa dramática. Esses elementos são finais, inícios, plot points, planos, efeitos, cenas e seqüências. Tudo junto forma o roteiro. É essa união final que vai dizer se a “mistura” funcionou ou não. Para Field, a seqüência é a parte mais importante do roteiro, agindo como um esqueleto que mantém tudo em pé. A definição técnica de seqüência diz que ela é uma série de cenas ligadas por uma única idéia. É uma unidade de ação dramática unida em torno de uma única idéia. Você lembra da seqüência da guerra de quadrilhas no final de Cidade de Deus? Ou então da seqüência da fuga das crianças no filme ET?

Uma seqüência pode ser a tentativa de mandar alguém de volta a 1985, fazer um extraterrestre chegar na sua nave, um casamento, um jantar, uma corrida de carro ou uma noite de amor. É uma idéia específica que o roteiro irá mostrar em poucas ou muitas cenas. O contexto é a idéia, o “evento”; o conteúdo é o que o roteirista irá colocar ali para ajudar a contar a história.

Field fala que a seqüência é o que sustenta o roteiro pois podemos ver um roteiro como um alinhamento de seqüências, como se fosse aqueles vários bonequinhos de papel que recortávamos quando criança em uma folha em branco. Todos de mãos dadas.

Como um roteiro, toda seqüência tem início, meio e fim muito bem definidos. No filme De volta para o Futuro I, o relógio toca quando Marty McFly tenta explicar a um teimoso Doc Brown que ele irá morrer no futuro. Sem tempo, o garoto desiste e corre para o carro. Na mesma hora, um raio menor faz o cabo que ligava a parafernália soltar. Esse é o início da seqüência. Doc sobe correndo na torre do relógio para tentar consertar. No carro, Marty se dá conta que tem todo o tempo do mundo e muda sua chegada para 10 minutos mais cedo. Na torre, o sino toca e derruba Doc. Pendurado por uma mão, e com o cabo preso a um dos pés, o cientista faz um esforço e consegue ligar tudo. Mas isso solta a base do cabo, preso ao cabo lá em baixo. Marty já está a caminho voando para atingir as 88 milhas por hora. Esse é o meio da seqüência. Então, Doc amarra a sobra do cabo no relógio da torre, desce pela tirolesa improvisada e consegue conectar tudo. No exato momento que Marty cruza com a máquina do tempo. O carro some, deixando um rastro de fogo no chão. Doc comemora feliz. Esse é o final da seqüência.

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Para nós, na publicidade, saber fazer uma boa seqüência é importante pois, provavelmente, nosso roteiro será apenas uma boa seqüência. Temos só 30” para conversar com nosso público. Não dá para fazer muito mais do que uma boa seqüência. Estude com cuidado os filmes e comerciais que você assiste e tente entender como suas seqüências funcionam. Depois, como exercício, escreva algumas. Redação publicitária, como sexo ou andar de bicicleta, você só aprende na prática. Saber que a parte A encaixa na parte B, ou na C – dependendo do gosto, não adianta muito. Você precisa ir lá conferir. Módulo 6 – Pré-produção Ler: Kellison, Cathrine – Produção e Direção para TV e vídeo, Editora Campus.

Ok, após horas e horas de brainstorm você conseguiu um roteiro bem legal. E agora? Um famoso produtor de Hollywood dizia que não existe problema de produção, existe problema de pré-produção. Ou seja, deu m. porque não pensaram em determinada situação antes de chegar no dia da gravação. Como evitar isso?

Bem, o primeiro passo é a Decupagem. Decupar um roteiro é dissecar

ele, abrir cada pedacinho e ver o que tem dentro e o que vai fazê-lo funcionar. Isso é imprescindível para organizar e separar tudo que será necessário durante a gincana que é fazer um comercial.

O ideal é fazer uma Planilha de Divisão do roteiro em cenas. E cada cena

precisa, geralmente, ter alguns componentes: - Número e nome da cena. - Locação. É num estúdio ou um cenário real. - Interior ou exterior. Será dentro do local ou ao ar livre? - É de dia ou de noite? - Breve descrição da cena. Assim, ninguém precisa ler todo o roteiro de novo pra saber o que vai rolar na gravação/filmagem. - Elenco que tem fala. - Figurantes. - Efeitos especiais. Vai precisar de explosão, sangue ou uma iluminação diferente? - Elementos cenográficos. Tudo que o elenco vai manusear em cena: um revólver, uma panela, uma escova... - Decoração e móveis do cenário. Itens que não são manuseados pelo elenco mas compõe a cena: sofá, estante, geladeira... - Figurino. Tudo que veste o elenco em cena.

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- Cabelo e maquiagem. E se tiver algum efeito especial (envelhecimento, machucado), pode colocar nesta lista também. - Equipamentos especiais. Se precisar de grua, guindaste, plataforma móveis, travelling. - Dublês. Se precisar de alguém para uma cena perigosa ou simples (dublê de pé). - Veículos. Tudo que o elenco vai usar em cena ou ficará no fundo. - Animais. Eles vêm acompanhados do treinador. E é bom serem calmos e acostumados com várias pessoas em volta. - Efeitos sonoros e/ou música. Qualquer som que precise ser captado no set, como um telefone tocando ou a música que estão ouvindo. Claro que, se for preciso, também pode colocar na Ilha de Edição depois. - Observações adicionais de produção.

Cansou? É, fazer uma produção é divertido, mas é bem complicado e desgastante.

Para começo de conversa, antes de tudo é preciso ordenar a Produção. O responsável pela produção, o Produtor, precisa ser organizado. Para isso, nada

melhor que ter um Caderno de Produção. Nele podemos incluir,

basicamente: - Uma lista de contatos, incluindo fone e e-mail de todo mundo envolvido na brincadeira. E se alguém some ou fura? E se algo muda de última hora? - Uma divisão com as responsabilidades de todos. - O roteiro e suas revisões. Sim, você acha que vão ficar na primeira idéia? E se der problema e tiver que voltar atrás? É bom saber tudo que foi criado até ali. - Cronograma de filmagem/gravação. Que dia, quem grava o quê? - Divisões de cena (e suas planilhas, como vimos lá em cima). - Storyboards. - Cenografia. - Figurinos. - Detalhes do transporte. - Planos de alimentação e viagens. - Acordo de locações e autorização de filmagens. E se precisar do ok da prefeitura pra tal cena? - Autorizações de elenco. -Ata de negociação com a equipe técnica. Quer brigar por grana no meio da coisa? Melhor já deixar acertado antes. - Orçamento. Agora que está tudo organizado, vamos começar a colocar a mão na massa e discutir algumas coisas importantes.

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Primeiro: qual a estética do projeto. O comercial é uma comédia ou é

sério? Será com um tom brega ou cult? Vamos fazer estilo reality ou clássico? Essa conversa é importante pois vai afetar elementos como iluminação, câmera, figurino, maquiagem, cenografia e design. Afinal, são eles que ajudam a dar a cara do filme. Você pode, até, incluir cenas ou fotos já feitas. Desde que elas ajudem nesta estética que está buscando. O mesmo vale para o som (música, som ambiente, efeitos sonoros...).

O passo seguinte são os storyboards. Eles ajudam o diretor a saber

onde colocará a câmera em cada cena. Dependendo do alcance da câmera, vamos precisar de mais cenário, mais objetos ou mais figurantes. Em produções mais complexas é legal até fazer uma planta baixa do cenário.

Storyboards são quadrinhos como os das HQs. Eles mostram como será cada cena do roteiro, com todas suas tomadas e planos. Quando a imagem ou ângulo da câmera muda, muda o desenho no quadrinho.

Antes de começar a filmagem/gravação, produtor, diretor e assistente de direção revisam o roteiro e fazem o storyboard (com a ajuda de um desenhista ou algum software). Geralmente os storyboards são desenhos simples e P&B, mas podem ser coloridos e cheios de detalhes. Depende de cada produção. O fato é que ajudam a economizar tempo e dinheiro, pois garantem uma sinopse visual das cenas que serão filmadas. Cada quadrinho mostra a cara do cenário (real ou locação), a marcação dos personagens, as cores, texturas e tom da cena.

Após ler e estudar os storyboards, produtor e diretor fazem uma lista de tomadas. Isso é ajuda a criar a cena ou a sequência. Ela é distribuída para a

equipe têcnica (áudio e câmera) e outro membros que estejam diretamente envolvidos na filmagem. Esta lista segue uma nomenclatura conhecidas por todos que trabalham com produção: - Primeiríssimo Plano Próximo (PPP): olhos, bocas ou partes de um objeto. - Plano de Detalhe (Close-up): o rosto ou o objeto inteiro. - Plano Médio (PM): torso superior ou parte de um objeto e suas adjacências. - Plano Conjunto (PC): a maior parte do corpo ou o corpo inteiro ou um grupo de objetos. Fica entre o Plano Médio e o Geral. - Plano Geral (PG): corpo inteiro ou grupos de maiores objetos. - Grande Plano Geral (GPG): muitos corpos ou tomadas do horizonte e paisagens, por exemplo. Bem, mas você deve estar se perguntando: quem faz o quê? Então, vamos criar uma pequena lista, bem básica, com as principais funções na equipe. Assim, você vai poder saber o que cada um vai fazer durante a produção.

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- Produtor. O cara que está bancando tudo. Ele é a produtora, a empresa que

está viabilizando o projeto. A palavra final é dele e, geralmente, é ele que corta a verba. Pense no seu pai e você, no tempo que ganhava mesada.

- Diretor. Ele vai dar a cara do projeto. O filme será uma criação dele. O diretor

de cena (como também é chamado), coordena os atores e a equipe têcnica para chegar no que tem em mente. É a força criativa do projeto. No cinema, temos pessoas como Federico Fellini, Steven Spielberg, Akira Kurosawa, Martin Scorsese e Ridley Scott. Cada filme deles tem a sua cada, a sua assinatura.

- Diretor de Fotografia – Ele dá vida à visão criativa do diretor. Pode

trabalhar diretamente com a câmera ou supervisionar o operador. Sabe tudo de iluminação e formatos de vídeos e filmes, no uso de gruas e outras traquitanas que ajudam a filmagem/gravação. O tom do filme passa pela sua “luz”.

- Gerente de produção – Como o nome diz, ele é o “gerente”, o cara que

vai ser responsável por dividir o roteiro, criar o cronograma e o orçamento a partir dessa divisão. Cuida dos custos e negocia com todo mundo envolvido.

- Assistente de Direção – O diretor é o cara mas não é deus. Não pode

estar em todos os lugares ao mesmo tempo, pensando em tudo. Assim, o assistente de direção faz a interface entre o diretor, o produtor e/ou gerente de produção, equipe técnica e elenco. Na maioria das vezes é o tira mau, cobrando e dando bronca, deixando o diretor como o tira bom. O assistente ajuda a criar o cronograma de filmagem/gravação, cuidando para a equipe cumprir os prazos (caso contrário, vamos estourar o orçamento). Durante a gravação/filmagem, cronometra as cenas e já vai marcando o que funcionou ou não nas cenas (para ajudar na hora da edição).

- Engenheiro de áudio ou sonoplasta – Ele é a pessoa que sabe

como usar todos os tipos de microfones e como evitar que vazem ruídos externos. Durante a gravação, fica responsável pela captação do som. Já pensou fazer uma cena maravilhosa, com o Brando dando um show, em meio a uma confusão de gritos e choros, e não poder usar a cena porque não pegou o áudio? Algumas vezes, dependendo da complexidade da cena, o sonoplasta vai avisar que não dá pra pegar som direto. Assim, após a filmagem/gravação, a equipe envolvida (diretor e elenco) vai pro estúdio de áudio dublar a cena. Quando fica bem feito (como Hollywood) você nem nota. Quando não fica, você tem um filme brasileiro década de 70. Assista ao Canal Brasil e tire a prova.

- Produtor de Arte/Diretor de Arte – Toda a estética do filme (que já

foi discutida com o diretor e o produtor) fica com ele. Ele vai criar o visual que vai dar vida à idéia do diretor. Ele sabe como as câmeras ficarão posicionadas e já bola como a cena vai parecer na tela. Fica mais bonito com a árvore em quadro ou com o telhado da casa aparecendo? A sala do executivo vai mostrar que ele é um bilionário ou um cara simples? O filme é noir, brega ou futurista? O diretor de arte, com o olho no orçamento disponível, vai criar tudo para dar a cara do filme. Ele

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pode fazer tudo sozinho, ou contratar designs, cenógrafos e uma equipe (como por exemplo o Produtor de Objetos). Alguns diretores são conhecidos por sua assinatura estética. Assim, eles mesmos dão palpite na direção de arte ou trabalham sempre com os mesmos diretores de arte: Tim Burton, Federico Fellini, Pedro Almodóvar e Baz Luhrmann, por exemplo.

- Figurinista ou Estilista – A partir da estética do diretor e diretor de arte,

levando em conta a personalidade dos personagens e sua época, o figurinista cria todas as roupas que o elenco vai usar. Ele pode (e deve) contribuir com idéias que ajudam a passar a idéia do diretor para a tela.

- Cabeleireiro/Maquiador – Profissionais (ou profissional, pois muitas

vezes é o mesmo) responsáveis por ajudar a compor o visual dos personagens. A partir da estética desenvolvida pelo diretor e diretor de arte, e o que foi criado pelo figurinista, eles dão o toque final. Claro que se for uma maquiagem muita específica (vampiro, por exemplo) a equipe deve buscar um profissional específico para isso.

Produtor de Elenco – A pessoa responsável por conseguir, contratar e

cuidar dos artistas que farão os personagens. Ele segue a orientação do diretor me busca da pessoa certa para tal papel. Algumas vezes, claro, pode sugerir nomes. Também realiza os testes de vídeo com o elenco para aprovar com o diretor e produtor.

Elenco – Os profissionais que darão vida aos personagens. Cada um tem o seu

contrato com a produtora. Geralmente, o cronograma é montado a partir dos cachês mais caros, afinal, quanto mais tempo eles estiverem disponíveis para a filmagem/gravação, mais vai custar. Assim, gente como Julia Roberts e Brad Pitt filmam antes. O resto das cenas (closes ou participações de outros atores) fica para depois ou com a chamada Segunda Unidade (em produções bem maiores).

Produtor Musical - Dependendo da natureza da sua produção, você terá

alguém responsável pela música do filme. Cabe a ele escolher as músicas que serão usadas no projeto, desde as chamadas incidentais (que ajudam a compor uma cena) até as de destaque (temas dos personagens). O produtor musical ajuda a dar vida, atrás da música, à idéia do diretor.

Outros – No xerox em anexo você vai encontrar diversos outros profissionais

que são necessário para acontecer a produção: bufê (sim, as pessoas se alimentam durante o dia), motorista, camareira, operador de câmera...

Para coisa começar, o produtor precisa organizar o tempo de filmagem. Assim, tudo que falamos até aqui é coreografado para o dia da

gravação/filmagem ocorrer sem problemas. Ainda o ator estar no estúdio se o quarto não ficou pronto ainda? Para evitar isso, o produtor coordena as etapas, pensando no tempo necessário para:

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- Equipe de arte: construção e entrega dos cenários, móveis e outros

elementos cenográficos.

- Equipe de transporte: a galera que vai levar (com vans e caminhões) os

equipamentos e equipe.

- Montagem: o povo que vai cuidar da iluminação e marcação da câmera.

- Desmontagem: terminou a filmagem/gravação é hora de desproduzir.

Alguém fica responsável por desmontar tudo e devolver o que for necessário.

Uma planilha de chamada ajuda ao produtor a saber o que e quem

será necessário durante cada dia de filmagem/gravação. Ali ele vai listar tudo que será filmado e quem precisar estar no set, bem como que horas cada pessoa irá trabalhar. Na véspera da filmagem/gravação, a planilha é distribuída para o produtor, diretor, gerente de produção, produtor de elenco e quem mais está selecionado para recebê-la.

Após o final da produção, é feito um relatório de produção. Nele

aparece tudo que rolou durante o dia. Assim, o produto fica sabendo se o que estava previsto realmente aconteceu ou houve mudanças de última hora. Aliás, já pensando nessas mudanças de última hora que o produtor faz um orçamento sempre com uma folga para possíveis refilmagens. O ideal é sempre trabalhar com um Plano A e um Plano B. Se tiver também um C, melhor ainda. Módulo 7 – Produção Ler: Kellison, Cathrine – Produção e Direção para TV e vídeo, Editora Campus.

Tudo discutido, organizado, revisado. Chegou o grande dia. E agora? Agora vai depender da sua pré-produção. Se ele foi boa, a chance de algo dar errado é mínima. Se não, prepare-se para algumas horas de estresse e dor de cabeça. Mas, caso tudo esteja certinho, vamos para o passo a passo no dia da gravação.

1 – Chegada do elenco e equipe técnica. A partir da sua planilha de chamada, todo mundo envolvido no dia vai chegando no set.

- Figurino, maquiagem e cabelo. O elenco precisa ser preparado. Já

comece a arrumar todo mundo.

- Preparação do set. Enquanto o elenco se arruma, diretor de arte e equipe

vão deixando tudo pronto como está previsto no storyboard.

2 – Marcação de câmera Diretor e diretor de foto começam a ver como vão montar tudo, com base no que já discutiram antes. Se tiver que mudar algo é agora. Depois, vai atrasar tudo.

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- Marcação do elenco. Após estabelecidos os movimentos e posições da

câmera, é feito um ensaio com o elenco. Quando a produção é grande, existem pessoas contratadas para substituir os artistas nesta fase.

- Iluminação do set. Demora bastante pra fazer isso. Assim, diretor de foto

e equipe já começam a ajustar tudo.

- Operação de áudio. A equipe de áudio já monta e testa todos os

microfones que serão usados no dia. Se for um microfone boom, o câmera e o diretor de foto devem ver como fazer para não entrar em quadro ou fazer sombra.

3 – Ensaio do elenco O ensaio ajuda a ver se tudo está ok e ao elenco a ir se soltando. Assim, é sempre bom contar com esse tempo na hora de fazer o cronograma. Algumas vezes, o elenco pode até ensaiar antes em outro local e já chegar afiado no set.

- Ensaio do elenco. Ajuda o povo a ir entrando no clima da cena.

- Marcação dos figurantes. Os outros atores, que vão apenas fazer

figuração, precisam também saber quando se mexer, falar e tal.

- Ensaio técnico. Este ensaio final testa tudo que está no set pra ver se não

tem nada errado, desde a câmera, fita/filme, som e por ai vai.

4 – Ação! Com tudo pronto, o diretor precisa dar três ordens. Primeiro, ele pede silêncio no estúdio. Depois, manda o câmera começar a gravar. Ai grita o famoso Ação para o elenco. Dica: o diretor deve contar até 5 mentalmente entre a ordem para o câmera e o Ação, para evitar problemas com corte.

- Claquetes. Algumas produções (geralmente quando é filme) usam claquetes

antes de cada filmagem. A claquete traz informações como nome do produtor, do diretor, qual a câmera (ou câmeras) usada, o número da cena e da tomada, a data e o título do projeto. Outras produções usam a claquete inteligente, que marca o time code do vídeo e do aúdio. O que importa é entender que a claquete serve para ajudar na hora da edição.

- Tomadas. É quase impossível uma cena funcionar com uma única tentativa.

Geralmente, o diretor pede várias tentativas para o elenco. Essas opções são chamadas de tomadas. Os problemas que podem inutilizar uma tomada são desde o elenco não estar bem ou errar ou coisas como o microfone aparecer ou dar pau. Um diretor ou produtor esperto faz tomadas de segurança para evitar isso (exemplo, quando vai aparecer o microfone ele corte e mostrar um close da mão do ator balançando o cigarro que estava fumando). Cada tomada é planejada no cronograma e já está na lista da produção.

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- Plano de cobertura. Cada tomada, normalmente, pede uma nova

organização de luz e câmera. Assim, quando der, filme/grava primeiro as tomadas mais importantes. Depois você vai seguindo a lista de tomadas.

- Monitor. Ele serve para diretor, diretor de foto, produtor, elenco e outros

membros da equipe conferir o que está ou o que foi gravado/filmado. Lembrando que ficar conferindo tudo pode acabar atrasando o cronograma.

- Continuidade. O continuísta (que também pode ser o assistente de direção

em produção pequenas) fica conferindo cada detalhe das tomadas para não ocorrerem erros de continuidade. Como por exemplo a famosa gravata do Richard Gere que some e volta no filme Uma linda mulher. Seus comentários envolvem, no geral: o número da tomada e sua descrição, a câmera e lentes usadas, o tempo da tomada, comentários sobre a ação e observações do diretor, produtor e diretor de foto.

- Plano de conjunto. O diretor fez tudo certo, mas chegou à ilha e viu que

uma tomada importante foi pro saco. E agora? Ora, se ele foi mesmo esperto, tem como arrumar. Por exemplo, duas mulheres estão provando roupa enquanto conversando algo muito importante para o roteiro. Primeiro, o diretor vai filmar/gravar um plano geral do local. Depois, elas conversando, com alguns planos médios. Ai, já garantida a cena, ela pode fazer vários closes de coisas como sapatos e roupas sendo colocadas e escolhidas. Esses inserts, podem ser usados depois na ilha, em caso de necessidade (uma tomada com o imagem estragada mas com o som legal, por exemplo). - Captação de áudio. Durante a gravação, o sonoplasta fica de olho em tudo para ver se deu certo. Mesmo assim é comum dar problema em uma ou outra tomada. Assim, ele já pede para o elenco refazer o áudio separado ou já grava na hora algum som ambiente que é necessário para o filme. Em casos mais específicos, o som é feito depois (como, por exemplo, sons de robôs e naves espaciais, ou algo deste tipo que exija maior cuidado e criatividade).

5 – Desproduzir Deu. Acabou. Hoje chega. Já filmamos/gravamos tudo. Bem, ainda não acabou. Agora a equipe deve desmontar todo o equipamento e que não será necessário no dia seguinte. Quando for locação, ainda tem a questão de devolver o local do jeito que estava antes. Ou você gostaria de alugar sua casa para uma produção e receber tudo bagunçado depois? Módulo 8 – Pós-Produção Ler: Kellison, Cathrine – Produção e Direção para TV e vídeo, Editora Campus.

Agora começa a parte final do filme/vídeo. E uma mancada pode estourar o orçamento. Assim, o produtor deve tomar alguns cuidados, como por exemplo:

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- Organizar as fitas e seus registros (o que foi na casa, o que foi na praia, o que era noite, o que era dia, quem estava nas cenas...) - Decupar as cenas (vendo o que valeu e o que não) - Organizar as etapas da edição - Criar um roteiro de edição para a ilha. Ele deve conter uma lista de time codes, locações e descrição das cenas selecionadas, além de observações sobre elementos gráficos e de som e a ordem que as cenas vão aparecer no roteiro. Lembre de incluir cenas ou extras que não fizeram parte da gravação/filmagem mas estão no roteiro (exemplo: uma imagem de arquivo).

Aqui entra em cena o Editor. Ele é o profissional que, sendo orientado

pelo diretor e produtor, irá montar o filme/vídeo. O segredo é criar uma relação de colaboração, com o diretor sendo o responsável pela visão criativa do projeto. O estilo de cada editor varia. Assim, é legal procurar o editor que tenha a cara do seu filme. Ou saber se o que você vai contratar sabe fazer o que você precisa. Não vou entrar em detalhes técnicos aqui. Isso você pode conferir em livros ou lendo manuais de softwares de edição. Mas vamos falar de alguns dos mais

usados estilos de edição, estilos criados e estabelecidos pelos pais do

cinema, como Griffith e Eisenstein (viu como é importante conhecer cinema?).

- Edição paralela. Quando colocamos juntos dois eventos separados, mas

que têm uma relação entre si. Por exemplo a edição da seqüência do De volta para o futuro, quando Marty está no carro e Doc está no topo da torre tentando ligar o cabo.

- Edição de montagem. Aqui as cenas são cortadas e unidas, utilizando

diferentes tipos de tomadas (closes, PM) e seqüências ou fusões. É indicada quando você quer mostrar a passagem de tempo, sem perder tempo. Por exemplo, um casal se conhecendo, casando, engravidando e ganhando o bebê. Tudo em um minuto na tela.

- Edição continuada. Uma edição onde o espectador nem se dá conta que

houve corte e mudanças de tomadas. As trocas são sutis, ajudando a contar a história sem distrair quem está vendo o filme. O foco é nos personagens e os cortes são apenas os necessários para ajudar a contar a trama. Muito usado numa cena longa de diálogo, por exemplo.

- Edição dinâmica. A que virou febre com os videoclipes. O tal estilo MTV.

Usa e abusa de cortes rápidos, montagem e efeitos de pós-produção. Pode deixar o filme moderno, mas cuidado para não ficar bobo e desnecessário. Para realizar o seu trabalho, o editor utiliza algumas técnicas. Você não precisa saber tudo pois ele é o profissional responsável por isso. Mas é óbvio que quando mais você souber, mais poderá cobrar dele e criar na hora de editar. Veja algumas técnicas mais usadas para unir as tomadas:

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- Corte seco. Uma alteração rápida de uma tomada para outra. Um corte pode

indicar passagem de tempo, mudança de cena ou ponto de vista ou até ressaltar uma idéia. Geralmente são feitos durante uma ação, como por exemplo um homem pega um arma, corte para o close no cano, corte para a vítima caindo baleada.

- Corte correspondente. Quando há um corte entre dois ângulos do

mesmo movimento ou ação e a mudança parece fazer parte da ação.

- Corte abrupto. Quando dá pra ver que houve corte e a cena parece pular.

Por exemplo, está gravando um ator está em plano médio e você corta para outro plano médio quase idêntico. Vai parecer que a cena sacudiu. Pode ser legal para causar um efeito dramático, mas cuide para não parecer erro de edição.

- Cutaway. Uma edição que serve de ponte entre uma tomada e outra. Por

exemplo, uma mulher está entrando em casa. Ai cortamos para ver o que ela está vendo no interior do imóvel. Isso ajuda a orientar o espectador.

- Corte de reação. O ator reage a algo que aconteceu na tomada anterior.

- Insert. Um close-up que é inserido num contexto maior, ajudando a enriquecer

os detalhes da cena.

- Fusão. Uma imagem começa a sumir e vai entrando outra. Pode ser rápida ou

lenta. Ajuda a sinalizar uma mudança no tom ou na ação.

- Fade-out e fade-in. O primeiro acontece quando a imagem vai

escurecendo até a tela fica preta. O segundo é o contrário. Indica passagem de tempo e pode ajudar a criar um estilo.

- Wipe. Marca a transição de uma cena para outra, com a nova cena

“empurrando” a outra pra fora da tela. Na ilha existem vários efeitos para isso. Mas cuidado: é muito feio. Fica tudo com cara de vídeo de aniversário de 15 anos. Bom senso na hora de usar.

- Tela dividida. A tela é dividida em várias caixas, mostrando diferentes

cenas ou diferentes ângulos da mesma cena. Funciona como uma montagem, ajudando a contar a história mais rápido. O seriado 24 horas, da Fox, usa muito isso para contar o dia agitado do herói Jack Bauer.

- Overlays ou sobreposição. Duas ou mais imagens superpostas,

criando uma variedade de efeitos que podem funcionar como passagem de uma idéia para outra.

Também é importante você saber que existe o chamado tempo de tela, que é diferente do tempo real. Assim, nós podemos manipular o tempo na

ilha de edição para contar nossa história – uma das coisas mais legais na

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linguagem cinematográfica. Para ajudar isso, o editor e o diretor podem usar alguns recursos como:

- Tempo comprimido. Você resume longos períodos de tempo.

Geralmente usando fusões ou fades longos (indo da imagem para o preto ou o contrário), cortes para close-ups, tomadas de reações, cutaways, montagens e edições paralelas. O espectador consegue completar o que falta na sua cabeça.

- Tempo simultâneo. O editor muda o foco de atenção do espectador de

um evento para outro, quando esses estão acontecendo ao mesmo tempo. Em alguns casos, podemos deixar os dois eventos na tela, que será dividida em dois. Jack Bauer de novo.

- Plano seqüência. Uma grande tomada ininterrupta, com duração bem

maior do que o comum. Como não tem cortes, o tempo parece passar mais lento. A famosa cena que assistimos em aula do filme Notting Hill é um exemplo disso.

- Câmera lenta. A cena segue normal e fica mais lenta. Isso ajuda a enfatizar

a ação, causando impacto no espectador. Virou moda em cenas de ação no cinema, como os clássicos de Sam Peckinpah ou os pós-Matrix.

- Câmera rápida. O contrário da anterior: a cena vem normal e acelera.

Ajuda a criar humor ou uma idéia de velocidade. Alguns filmes até a década de 60 usavam muito isso para criar impacto visual na cena de ação. Os filmes do 007 com o Sean Connery têm vários exemplos.

- Reverse motion. O editor pega a ação e faz ela voltar, como se fosse

rebobinada. Parece mágica ou uma comédia.

- Replay instantâneo. O famoso replay usado nos jogos de futebol. Mas

também pode ajudar na hora de contar sua história.

- Imagem congelada. Um quadro específico do filme é congelado, parando

a ação. Também pode ser usada para exibir uma tomada como se fosse uma foto.

- Flashback. Você leva o espectador para o passado da história. Para não

perder ele, é legal usar algo para sinalizar essa mudança de época. O seriado Lost usa o barulho da turbina do avião.

- Flashfoward. O contrário do anterior, jogando a história para o futuro. Caiu

na boca do povo a partir do final da terceira temporada do Lost.

Além disso tudo, você também pode colocar gráficos, animações e diversos outros recursos que vão ajudar a deixar seu filme mais

legal. O grupo inglês Monty Python usava bastante animações e elementos gráficos para deixar tudo ainda mais engraçado.

Ai, terminada a imagem, você precisa colocar o áudio. Se bem que, em

alguns casos, a edição até vai começar pelo áudio. Ele vira o que chamamos de cama, para colocar as imagens em cima. Mas, na maioria dos casos, finalizamos o

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áudio depois, colocando os diálogos, trilhas e efeitos sonoros.

Tudo responsabilidade do seu maestro, produtor musical ou designer de som (depende do tamanho da sua produção).

Ufa! Temos um filme. Pode rodar e comemorar.