Apostila Completa Vol 01

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    CURSO BSICO PREPARATRIO PARA CONCURSOS

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    2005

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    DIREITO CIVIL

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    DIREITO CIVIL

    O Direito Civil o ramo de maior relevo dentro da diviso clssica do Direito.

    Assim se verifica por tratar da maioria das relaes dos particulares, partindo donascimento e da atribuio de personalidade civil ao nascituro, seguindo pelas vriasrelaes obrigacionais que criam ou no direitos reais e findando com a extino dapessoa pela morte.

    O Direito Civil Brasileiro somente surgiu com a Lei n 3.074/16, que instituiu orevogado Cdigo Civil, em substituio s Ordenaes Portuguesas ento vigentes.Atendendo aos vrios reclamos sociais, em 10 de janeiro de 2002 foi publicada a Lein 10.406, que instituiu o denominado Novo Cdigo Civil, trazendo uma srie deinovaes ao Direito Brasileiro.

    O Cdigo Civil dividido em uma Parte Geral e outra Especial. A parte geral

    do Cdigo traz disposies normativas sobre as pessoas, os bens e os fatos jurdicos,de forma introdutria Parte Especial.

    DAS PESSOAS NATURAIS

    A primeira disciplina alcana as pessoas, os sujeitos de direito. Com efeito,pelo nosso sistema jurdico, somente pessoas podem adquirir direitos e contrairobrigaes na ordem civil. Assim, evidente que os animais, por mais alta que seja aestima a eles dispensada, no podem figurar como sujeitos de direito, razo pela qual,

    nula a disposio testamentria que vise beneficiar o gato ou co de estimao. Sesomente pessoa pode adquirir direitos e contrair obrigaes na ordem civil, seja elanatural (fsica) ou jurdica, certo que devem tambm ter certa proteo da lei paraexercer tal direito.

    Decorre que, quanto s pessoas naturais, para que possam adquirir direitos, necessrio que tenham personalidade e a subseqente capacidade de direito ou degozo. A capacidade comum a todas as pessoas, como preceitua o artigo 1 doCdigo Civil, quando for capacidade de direito, inerente pessoa natural, comodecorrncia, efeito imediato da personalidade. Esta, nos termos do artigo 2 do CdigoCivil, se inicia do nascimento com vida, embora a lei ponha a salvo, desde aconcepo, os direitos do nascituro. Percebe-se que, para que haja personalidade,

    necessrio o nascimento com vida, por mais breve que seja ela. Com efeito, averificao da existncia ou no de vida cabe cincia mdica, que possui uma sriede exames capazes de comprovar se houve vida ou no. A apurao da existncia devida extrauterina prpria de extrema relevncia para o direito porque definir, porexemplo, a capacidade da pessoa em receber bens por sucesso causa mortis ouinter vivos, bem como a realizao de seu registro civil, que exigir dois registros(nascimento e bito) ou apenas um (natimorto). Alm disso, a lei atribui proteotambm quele que est para nascer, ou seja, desde a concepo a lei garanteproteo ao nascituro. O objetivo da norma se adequa muito mais ao direitosucessrio que parte geral pois que pretende garantir ao nascituro, caso venha anascer com vida, a aquisio do patrimnio deixado pelo seu genitor premorto,afastando os ascendentes do direito sucesso. Mais amplamente, vrios trabalhosatuais levaram atribuio de personalidade formal ao nascituro, ou seja, embora ele

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    ainda no tenha personalidade material porque no h nascimento com vida, agarantia legal tem natureza jurdica de personalidade formal. Assim, a proteo vaialm do direito sucessrio ao reconhecer, por exemplo, o direito a alimentos para a

    garantia do pr-natal.

    Alm da personalidade, da aptido genrica para a prtica dos atos da vidacivil, a pessoa pode, efetivamente, agir. Todavia, pode ocorrer de, embora a pessoater capacidade de direito, no ter capacidade de fato ou de exerccio e, por tal razo,no poder, sozinha ou de certa forma praticar atos da vida civil.

    Quando a pessoa no tiver plena capacidade de fato ou de exerccio, estarregulada por um dos regimes de incapacidade. Quando a pessoa, em hiptese algumapuder agir sozinha, vamos tratar da incapacidade absoluta, prevista no artigo 3, CC.Quando, por outro lado, a pessoa no puder praticar certos atos sozinha e quanto aoutros tiver que observar uma forma especial, vamos tratar da incapacidade relativa,

    prevista no artigo 4, CC. Os regimes de incapacidade estipulados pela lei civilobjetivam dar proteo queles que no podem sozinhos reger a prpria vida.

    O regime de incapacidade absoluta faz com que a pessoa incapaz no possasozinha praticar atos da vida civil, ou seja, a condio da pessoa lhe retira acapacidade de fato, mas no a capacidade de direito. Nos termos do art. 3, CC, soabsolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I osmenores de 16 (dezesseis) anos; II os que, por enfermidade ou deficincia mental,no tiverem o necessrio discernimento para a prtica desses atos; III os que,mesmo por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade. A causa deincapacidade do menor de 16 (dezesseis) anos a sua idade, que faz o legisladorpresumir que ele ainda no tem discernimento, ainda no tem condies de distinguiro certo do errado e o que lhe bom do que no . Se no passado o critrio era acapacidade para procriar, o critrio atual se pauta exclusivamente no discernimento.Por conta disso, no primeiro minuto do dia em que o menor completa 16 (dezesseis)anos cessa o regime de incapacidade absoluta fundado na idade. A segunda causa deincapacidade absoluta se funda na sade da pessoa que por conta de enfermidade oudoena mental no tem discernimento. Note-se que o critrio adotado a ausncia dediscernimento, de condies de reger a prpria vida e praticar atos da vida civil. Tanto assim que se a pessoa tiver certo discernimento o regime ser de incapacidadeabsoluta e no relativa. exatamente o que ocorre com os toxicmanos, alcolatras epsicopatas, entre outros, em que a doena pode retirar total ou parcialmente odiscernimento e assim submeter a pessoa a um ou outro regime de incapacidade. A

    terceira hiptese de incapacidade absoluta se refere causa transitria ou no queimpede a pessoa de manifestar a vontade. Embora tenha um texto novo, no verdadeira novidade na lei civil. Visa proteger aquelas pessoas que por qualquerevento, no podem exprimir a prpria vontade, como o caso do surdo-mudo que notenha recebido adequada educao, bem como daquele que, em razo de embriaguezabsoluta no percebeu o contedo do ato que praticou.

    Ao lado da incapacidade absoluta a lei prev um regime mais brandoconsistente na incapacidade relativa. Nesse caso a pessoa pode por vezes agirsozinha, por vezes depender da presena do representante e por vezes dependerda observncia de uma forma especial. Nos termos do artigo 4 do Cdigo Civil, soincapazes, relativamente a certos atos, ou maneira de os exercer: I os maiores de

    16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos; II os brios habituais, os viciados emtxicos, e os que, por deficincia mental tenham o discernimento diminudo; III os

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    excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV os prdigos. O parmetroadotado pela lei na incapacidade relativa no se afasta da incapacidade absolutaporque novamente a lei busca a presena ou no de discernimento. No primeiro caso,

    presume a lei que a partir dos 16 (dezesseis) anos completos a pessoa j tem certodiscernimento, razo pela qual, at que complete 18 (dezoito) anos ser consideradarelativamente incapaz. Nas duas hipteses subseqentes o legislador atinge a sademental e fsica da pessoa ao determinar que, caso a doena lhe retire parte dodiscernimento ou lhe impea o completo desenvolvimento, estar subordinada incapacidade relativa. Como visto acima, necessrio que se faa perfeita apurao,seja por percia, inspeo judicial ou qualquer outro meio de prova para poder definirse a condio da pessoa impe a incapacidade e sobre qual regime, conforme haja ouno certo discernimento. Tal verificao se dar no processo de interdio, essencialpara que a pessoa seja inserida no regime de incapacidade. A ltima das hiptesesacaba por no atingir diretamente a pessoa, mas visa garantir proteo a ela e suafamlia no que tange s relaes de cunho patrimonial. Com efeito, a prodigalidade

    no atinge a sade fsica ou mental da pessoa, mas pe em risco sua integridadepatrimonial e o sustento prprio e de sua famlia. O fundamento da interdio nestahiptese e os seus limites dizem respeito apenas ao patrimnio, razo pela qual oprdigo no sofre restries quanto a sua vida civil, mas apenas quanto ao seupatrimnio.

    Em nosso sistema, fica claramente demonstrado que a capacidade a regrae a incapacidade a exceo. Assim, salvo a incapacidade decorrente da idade, quese opera de pleno direito, nos demais casos essencial que seja proposta a ao deinterdio para declarar a incapacidade e colocar a pessoa em um regime de proteoface sua condio.

    Havendo a incapacidade, no pode ser ela considerada como uma restriode cunho eterno. Em certo momento, nos termos do artigo 5 da lei civil, aincapacidade desaparecer, seja pela maioridade, alcanada aos dezoito anoscompletos, seja pela emancipao, voluntria ou legal. A primeira das causas decessao da incapacidade se opera de pleno direito, no primeiro minuto do dia em quea pessoa completa 18 (dezoito) anos. Quanto emancipao voluntria, ela umdireito dos pais ou tutor e jamais do menor. Para que possa haver a emancipao, omenor tem que contar ao menos com 16 (dezesseis) anos completos. No caso daemancipao concedida pelos pais, necessrio o consentimento de ambos, casoestejam no exerccio do poder familiar. Sendo que, se somente um deles estiver noexerccio do poder familiar, a ele caber outorgar a emancipao. Quando entre os

    pais no houver acordo, aquele que se sentir prejudicado pode ir ao Poder Judicirioexigir o suprimento judicial da recusa injustificada do outro. Se, no entanto, inexistir oexerccio do poder familiar e o menor estiver submetido tutela, ao tutor caberoutorgar a emancipao ao menor que conte com pelo 16 (dezesseis) anos completos.Quanto forma, no tero o mesmo tratamento as hipteses. Enquanto para aconcesso dos pais basta a forma da escritura pblica, para o tutor exigida aautorizao judicial como forma de fiscalizar se sua inteno seria sria, verdadeira,ou se seria apenas uma forma de se livrar do encargo que recebera.

    H, tambm, a emancipao legal nas hipteses em que a lei presume que ocomportamento da pessoa, as obrigaes por ela assumidas mostram maturidadesuficiente para afastar a incapacidade, como no caso do casamento, em que a pessoa

    se mostra capaz de administrar a prpria famlia, razo pela qual no tem sentidoainda se submeter representao. O mesmo ocorre quando a pessoa cola grau em

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    curso de nvel superior, exerce emprego pblico de carter efetivo, se estabelece civilou comercialmente ou se vincula em relao de emprego, desde que em qualquer doscasos lhe garanta economia prpria. Em todos os casos a pessoa mostra maturidade

    que faz com que a lei presuma capacidade para sozinho praticar atos da vida civil.

    Com efeito, apesar das causas expressas em lei serem apenas duas(maioridade e emancipao), outra causa existe, consistente na extino da causa deinterdio, ou seja, com a propositura da ao de levantamento da interdio porquecessada a doena ou enfermidade que gerou a interdio ou mesmo o fato de o surdo-mudo ter recebido adequada educao para se comunicar.

    Pois bem, uma vez constituda a personalidade e a capacidade, necessrioverificar at que momento elas estaro presentes. O termo final da capacidade e dapersonalidade a morte da pessoa natural. A morte pode ser real, quando tem provade sua ocorrncia atravs da verificao do bito pelo corpo ou pode ser presumida

    nos casos de ausncia, na forma dos artigos 22 a 39, CC. H ainda a figura do artigo7, CC, que trata da morte presumida sem ausncia, nos casos de extremapossibilidade da morte da pessoa que estava em perigo de vida ou daquele quedesaparecido em campanha ou feito prisioneiro, no for encontrado at dois anosaps o trmino da guerra. Embora a redao seja uma novidade no texto do CdigoCivil, no e uma novidade no sistema jurdico porque j existia a figura da justificaono artigo 88 da Lei n 6.015/73, como forma de obter a declarao judicial da mortequando no se tem como provar sua ocorrncia porque no se tem o corpo para fazero exame do bito. Era a figura possvel para o caso de grandes desastres, acidentesareos, naufrgios, em que a famlia teria que aguardar os prazos de ausncia para aabertura da sucesso ou teria que provar o bito atravs do corpo. Como eraimpossvel a prova da morte e necessria a abertura da sucesso, outra no era asada para a famlia das vtimas.

    DO DOMICLIO

    O domiclio o lugar em que a pessoa pode ser encontrada. , tambm, umadas formas de individualizar a pessoa. Para que fique configurado o domiclio dapessoa natural, dois elementos devem estar presentes, o subjetivo ou interno,consistente na vontade, no nimo de se estabelecer definitivamente em certo lugar e oobjetivo ou externo, consistente na efetiva permanncia em certo local. O local a que

    se refere a lei, quanto ao domiclio da pessoa natural, o local em que ela tenhafixado sua residncia. Os requisitos esto descriminados no texto do artigo 70, CC.Embora seja esse o conceito de domiclio, a lei no probe a existncia de outros,como ocorre na hiptese do artigo 71, quando a pessoa efetivamente vive em mais deum lugar, caso em que qualquer dos lugares ser seu domiclio; como no caso doartigo 72 em que a lei trata do domiclio profissional como o local em que a pessoaexerce a profisso como o local correspondente s obrigaes dele advindas e, ainda,o domiclio daqueles que no tm residncia certa, como ocorre com os ciganos ecircenses.

    Se para ser fixado o domiclio necessrio que a pessoa apresente os doiselementos integrantes, o mesmo ocorre com a mudana de domiclio que pressupe oelemento objetivo, consistente na efetiva mudana de um local para outro e osubjetivo, consistente na permanncia, na vontade de permanecer no novo local. de

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    ser ressaltado que o conceito de domiclio jamais se adequar com a idia detransitoriedade, de passagem por um local. Sempre estar presente no conceito aidia de permanncia, de continuidade no lugar, de vontade de se estabelecer

    definitivamente no lugar.

    Alm do domiclio voluntrio, de livre escolha da pessoa natural, a lei dispetambm sobre o domiclio necessrio da pessoa natural. Necessrio o domicliofixado pela prpria lei, pelo prprio legislador, em razo de determinadas pessoas e ascircunstncias que as envolvem. Assim, tm domiclio necessrio o incapaz, que sero mesmo de seu representante, o servidor pblico, que ser o local em que exerasuas funes de forma permanente, o militar, que ser no local em que prestar oservio, o membro da Marinha e da Aeronutica, na sede do comando a que estiversubordinado , o membro da marinha mercante, que ser no local da matrcula do navioe, finalmente o preso, que ser no local em que esteja cumprindo a sua pena.

    A lei civil disciplina, ainda, o domiclio da pessoa jurdica, seja de direitopblico interno ou de direito privado. Assim, no direito pblico, o domiclio da UnioFederal o Distrito Federal, dos Estados-membros e dos Territrios, ascorrespondentes capitais e dos Municpios o local em que funcionar a suaadministrao. Quanto s demais pessoas jurdicas, o domiclio ser o local em quepor elas escolhido no contrato ou estatuto e, se no houver o foro de eleio, ser olocal em que funcionar a diretoria ou administrao. Alm disso, para garantir aproteo daquele que contrata com pessoas jurdicas, determina a lei que se ela tiverdiversos estabelecimentos, qualquer um deles ser considerado domiclio quanto aosatos ali praticados, no ficando o contratante subordinado regra geral do local daadministrao ou diretoria ou eleito. Mais alm, se a sede da administrao oudiretoria for no exterior, o domiclio no Brasil ser o local em que cada agnciacontratar.

    As duas ltimas regras referentes ao domiclio alcanam o agentediplomtico e a manifestao de vontade. Na primeira, a lei permite ao agentediplomtico citado no exterior a alegao de extraterritorialidade como forma de exigirque todo o processo tenha seu curso no territrio nacional. Mas, se no fizer aindicao do ponto do territrio nacional em que haja seu domiclio, a parte contrriapoder optar entre propor a ao no Distrito Federal ou no ltimo ponto do territrionacional que se teve notcia do domiclio. A segunda regra, constante do art. 78, CC,permite s partes designar o foro ou domiclio contratual, consistente na expressamanifestao da vontade em contrato escrito pela qual as partes escolhem certo local

    para dirimir conflitos oriundos da relao, independentemente do domiclio de cadacontratante.

    DOS BENS

    Filosoficamente, bem tudo aquilo que garanta qualquer espcie desatisfao ao homem, como os sentimentos. Juridicamente, no entanto, bem aquiloque permite apropriao pelo homem. Embora com freqncia aparea a confusoentre o que seja bem e o que seja coisa, a Parte Geral da lei civil apenas trata dosbens como aqueles que permitem apropriao pelo homem, designando como coisaaquilo que no permite domnio (coisas fora do comrcio). Tal distino era claramentepercebida pelo Cdigo Civil de 1916, embora hoje somente exista doutrinariamente.

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    Ao tratar dos bens, o Cdigo Civil os classificou em trs grandes grupos: osbens considerados em si mesmos, os bens reciprocamente considerados e dos benspblicos. A primeira das categorias considera o bem por si, independentemente da

    relao que ele possa guardar com outros.

    A primeira espcie se refere aos bens imveis e mveis. Imveis so os bensque no podem ser transportados de um lugar para outro sem que haja dano em suaestrutura, bem como aqueles que assim a lei definir. O bem imvel por natureza osolo, ao passo que tudo que nele for incorporado, seja por acesso natural ou artificial,tambm sero considerados imveis. Acesso a justaposio de uma coisa sobreoutra. Assim, so imveis por acesso as construes e as plantaes. Alm daquelesbens que pela natureza possvel definir sua qualidade, outros so consideradosimveis porque a prpria lei assim estipula, como ocorre com os direitos sobre bensimveis e o direito sucesso aberta. de extrema importncia a classificao porquese so bens imveis, exigem as formalidades inerentes transmisso de bens

    imveis, como a escritura pblica e a vnia conjugal. Mais alm, determina a lei que osmateriais separados do prdio para nele serem reempregados, bem como os prdiosseparados que guardam sua unidade para serem instalados em outro local, noperdem a natureza jurdica de bem imvel pela possibilidade de transporte semdanificao.

    Os bens mveis so aqueles que permitem movimentao, seja por foraprpria ou alheia, sem que com isso sua estrutura seja danificada. So eles de quatroespcies: mveis por natureza, como mesas e cadeiras, que permitem amovimentao por fora externa; semoventes, que so os animais, j que semovimentam atravs da prpria fora; mveis por determinao legal, descritos noartigo 83, CC, sendo a energia de valor econmico (energia eltrica), os direitos sobremveis e sua aes (penhor, ao de busca e apreenso) e os direitos do autor. Aquarta espcie no tem previso legal especfica, sendo o denominado mvel porantecipao aquele bem que pelas suas qualidades seria imvel, mas pelo destinoque lhe foi conferido no negcio jurdico foi antecipadamente considerado bem mvel,j que o objetivo fazer com que tenha essa classificao. o que ocorre, porexemplo, com a mata vendida para corte; como as rvores esto unidas ao solo, soimveis por acesso. No entanto, como sero destinadas ao corte, a venda se refere abem mvel e no a bem imvel, razo pela qual fica dispensada a forma da escriturapblica para a validade do negcio. Por fim, ainda tratando de destinao, determina alei civil que ela no converte o bem mvel destinado construo em imvel antes dehaver o efetivo emprego, bem como no permanecem como bens imveis os que

    provierem de uma demolio.

    A segunda classificao se refere aos bens fungveis. A fungibilidade de umbem a possibilidade de ser substitudo por outros de mesma espcie, quantidade equalidade. Toda vez que houver tal possibilidade, o bem ser fungvel, ao passo emque, quando no houver, o bem ser infungvel. Embora a lei leve a crer que somenteos mveis so fungveis, existe uma figura apresentada pela doutrina que alcanabens imveis quando se trata de sorteio em loteamento, momento em que todos osimveis so considerados fungveis entre si, somente aparecendo a infungibilidadeaps o sorteio. A infungibilidade, portanto, pode ser natural ou convencional, conforme

    decorra das naturezas do bem ou da vontade das partes. Na mesma seo tratada aterceira espcie de bens, sobre a consuntibilidade. O bem consumvel aquele que

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    essa natureza autnoma. Outra classificao diz respeito aos frutos e produtos dobem principal. Frutos so as utilidades dadas pela coisa principal que se renovamperiodicamente, como as frutas do pomar. Os produtos, por sua vez, no se renovam,

    razo pela qual a cada retirada vo diminuindo o bem principal, como ocorre com aextrao de mrmore, granito ou pedras preciosas e minerais. Os frutos pode,primeiramente, ser classificados quanto origem em naturais, quando provenientes daprpria essncia do bem principal, como a cria do gado; civis (ou rendimentos) quandoadvindos na forma de remunerao pelo fato de outra pessoa que no o titular dacoisa a estar utilizando, como os aluguis e os juros e industriais, oriundos doengenho humano, como os bens manufaturados. Quanto ao estado, os frutos podemser: pendentes, quando ainda unidos ao bem principal; percebidos, quando jseparados do bem principal; percipiendos, quando podiam mas ainda no foramseparados do bem principal; estantes, quando armazenados para atender a destinoposterior e consumidos, quando j no mais existirem por terem atingido seu destino.Outra espcie de bens acessrios so as benfeitorias, entendidas como os benefcios

    feitos pela pessoa coisa principal. Podem ser elas de trs espcies, a saber:necessrias, quando feitas para conservar ou impedir a deteriorao do bem principal;teis, quando destinadas a facilitar ou ampliar o uso do bem principal e volupturias,quando se destinarem a embelezar o bem principal ou garantirem recreio. Aclassificao das benfeitorias vai variar caso a caso, no podendo ser afirmado, porexemplo, que a pintura do imvel seja sempre necessria. Ainda no tema, o legisladordefiniu de forma expressa que o acrscimo ou melhora sobrevindo ao bem seminterveno humana do proprietrio, possuidor ou detentor, como a obra pblica ou afora da natureza, no considerado benfeitoria.

    A ltima classificao legal dos bens diz respeito pessoa de seu titular. Aclassificao de um bem como particular se d por excluso, ou seja, tudo que no for

    classificado como pblico e seja considerado bem ser particular. Assim, so pblicosos bens de uso comum do povo, os de uso especial e os dominicais, na forma do art.98, CC. As duas primeiras espcies so bens afetados a certa destinao, razo pelaqual a inalienabilidade uma regra absoluta enquanto guardarem tal qualidade. Porisso, antes de serem alienados precisam ser desafetados, ou seja, perderem adestinao e se tornarem bens dominicais. Sendo bens dominicais, no quer dizer quea inalienabilidade desaparea; embora permanea, ela passa a ser relativa, isto ,depende de autorizao legal, j que os bens pblicos so indisponveis. Alm deinalienveis, os bens pblicos so impenhorveis porque de nada adianta penhoraraquilo que no se pode alienar e so imprescritveis, razo pela qual no sesubmetem prescrio. Por fim, a lei autoriza de forma expressa que o ente pblicocobre pelo uso comum dos bens, sem que isso venha a retirar sua qualidade de bempblico, como ocorre com parques e museus.

    Alm das espcies expressamente classificadas pela lei, outras duascategorias merecem meno. A primeira se refere aos bens materiais (corpreos) eimateriais (incorpreos). Os primeiros so aqueles cuja existncia pode ser verificadapelos sentidos humanos, enquanto os segundo no tm existncia tangvel. o quese verifica com o automvel, bem corpreo e o direito de propriedade que incide sobreele, bem incorpreo. A classificao faz com que se defina o veculo jurdico quetransmite direitos j que os bens corpreos so objeto de compra e venda ou doao,enquanto os incorpreos so objeto de cesso onerosa ou gratuita.

    Finalmente, a ltima categoria trata das coisas fora do comrcio, ou seja,aquelas coisas que no permitem apropriao pelo homem para que sejam objeto de

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    negcios jurdicos. A inalienabilidade pode ter trs origens: a determinao legal,como os bens pblicos; a vontade das partes, atravs de clusula de inalienabilidade ea prpria natureza que no permita apropriao, como o ar atmosfrico e a gua dos

    mares.

    DOS FATOS JURDICOS

    Fato jurdico todo evento que produz efeitos na rbita do direito. Doiselementos devem estar presentes em sua configurao: a ocorrncia do evento e asua juridicidade. Assim, ser fato jurdico todo evento ao qual a ordem jurdica atribuirefeitos. Se a origem do evento for a natureza, ser denominado fato natural ou fatojurdico em sentido estrito, sendo ordinrios ou extraordinrios, como a morte, onascimento, uma tempestade, um terremoto etc. De outro lado, quando a origem do

    fato for a conduta humana, ser ele denominado fato humano ou ato jurdico. Estes sedividem em lcitos, quando tm seus efeitos regularmente previstos pelo sistema eilcitos, quando seus efeitos (dever de indenizar) surgem como punio pela prtica deconduta contrria legal. Os primeiros ainda se dividem em negcios jurdicos, sendoaqueles em que a manifestao de vontade das partes visa a produo de efeitosjurdicos, como a doao, a permuta, e atos meramente lcitos ou atos jurdicos emsentido estrito, sendo aqueles em que a conduta humana no objetiva efeitos jurdicos,mas ainda assim eles so percebidos, como ocorre com o achado de tesouro e aconseqente aquisio da propriedade.

    O negcio jurdico de tamanha importncia que todo Direito Civil gira em

    torno dele. Tanto assim que o prprio Cdigo Civil entendeu por bem em primeirofazer sua regulamentao geral. O primeiro ponto definir a validade do negciojurdico. Determina o artigo 104, CC que trs elementos devem estar presentes paraque o negcio jurdico seja vlido: agente capaz; objeto lcito, possvel e determinadoou determinvel e forma prescrita ou no defesa em lei. A esses elementos, deve seracrescentada a perfeita manifestao de vontade. Analisando-se cada um deles,temos que:

    Agente capaz a pessoa que pode praticar atos da vida civil. Acapacidade de direito ou gozo comum a todas as pessoas, como efeito imediato dapersonalidade. Alm dela, necessrio que a pessoa tenha capacidade de fato ou deexerccio. Caso no a tenha, por se enquadrar em uma das hipteses dos artigos 3 e

    4 do Cdigo Civil, sua incapacidade deve ser suprida pela representao quandoabsoluta e pela assistncia quando relativa. Alm de ter capacidade, necessrio, porvezes, que o agente tenha legitimao, ou seja, qualidade especial para praticar certonegcio jurdico. o que ocorre, por exemplo, com a pessoa casada sob o regime decomunho universal de bens em que no basta ter a capacidade, precisar da vniaconjugal para poder validamente fazer a alienao de bens imveis (art. 1647, I, CC).A representao vem hoje regulada separadamente na lei civil, que determina que orepresentante deve agir de acordo com os interesses do representado e os poderesque recebeu, cabendo-lhe a prova de tais poderes perante aqueles com quem venha anegociar em nome do representado.

    O objeto o prprio centro do negcio jurdico. Consiste naquilo queuma das partes deve prestar outra. Trs requisitos so exigidos: em primeiro, oobjeto deve ser lcito, ou seja, permitido pelo ordenamento jurdico, que abrange nos a lei, mas a moral e os bons costumes; em segundo o objeto deve ser possvel,

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    tanto material quanto juridicamente. A impossibilidade material ou fsica do objeto aque alcana todas as pessoas porque as leis da natureza impedem que ele sejaprestado; se a impossibilidade fsica for relativa, a obrigao permanecer vlida,

    sendo executada por terceiro. A impossibilidade jurdica, de outro lado, a ausnciade permisso legal para realizar o objeto, que acaba gerando a nulidade absoluta donegcio. Por fim, deve o objeto ser determinado (sabido das partes) ou ao menosdeterminvel, caso em que apenas ser necessrio promover a concentrao, seja naobrigao de dar coisa incerta ou na alternativa.

    A forma dos negcios jurdicos o modo pelo qual a vontade semanifesta. No pode ser confundida com a prova dos negcios, caso em que temos omeio de demonstrar a existncia daquilo que se alega. Para manifestar a vontade, emnosso sistema, em regra temos a forma livre, ou seja, pode ser ele manifestada porqualquer meio, seja a palavra falada, escrita, gesto, mmica ou at pelo silncioquando a lei lhe atribui efeitos. De outra banda, temos a forma solene, que aquelaestipulada em lei como requisito de validade do negcio, ou seja, a vontade deve ser

    manifestada daquela forma sob pena de no valer. o que ocorre, por exemplo, como pacto antenupcial, que deve ser celebrado atravs de escritura pblica. Quando aforma for o requisito para a validade do negcio, ser denominada forma adsolemnitatem ou ad substantiam. No entanto, por vezes a forma no integra asubstncia do negcio, que vale independentemente dela, mas no tem como serprovado. o que ocorre, por exemplo, com os negcios de valor superior ao dcuplodo salrio mnimo, que no pode ser provado exclusivamente pela prova testemunhal,dependendo da prova documental, conforme previsto nos artigos 227, CC e 401, CPC.Nesse caso, a forma ser denominada ad probationem, ou seja, embora no atinja avalidade do negcio, impede que ele seja provado. Alm da forma livre e da formasolene, admite o legislador que seja feita a forma convencional, ou seja, nas hiptesesem que a lei no exige forma especial, as partes estipulam a necessidade do

    instrumento pblico como requisito de validade, como requisito essencial do negciofirmado entre elas.

    O ltimo dos elementos no se encontra expressamente previsto emlei, mas decorre da natureza prpria dos negcios jurdicos, que somente surgematravs da manifestao da vontade. Como dependem da manifestao da vontade,ela deve efetivamente existir e ser livre, ausente de defeitos ou vcios. Caso no sejalivre, acarretar a nulidade do negcio.

    Presentes os requisitos de validade, em regra o negcio jurdico est apto aproduzir seus efeitos. Todavia, pode ocorrer de surgirem dvidas quanto execuodo negcio. Assim, viu por bem o legislador, na Parte Geral, em fixar trs regras

    relativas interpretao do negcio. A primeira delas determina que o intrprete devese fixar mais vontade do declarante do que literalidade de suas palavras. Asegunda impe s partes a lealdade, a probidade, a boa-f, durante todas as fases donegcio, ou seja, no apenas em sua execuo, mas tambm em toda a fase deformao do negcio. Por fim, determina o legislador que nos negcios benficos,gratuitos e na renncia, a interpretao deve ser feita sempre de forma restrita, comoocorre na doao e no comodato.

    Importante figura que surge hoje na lei civil a reserva mental. ela a falsainteno de firmar um negcio, sendo o objetivo do declarante nunca foi realiz-lo,mas apenas enganar o declaratrio. o que ocorre, por exemplo, com a pessoa quedeclara que a renda de um espetculo seu ser destinado a certa instituio, quando

    em verdade nunca teve essa inteno, mas apenas pretendia aumentar a venda donmero de ingressos. Embora tenha mantido em seu ntimo essa inteno, no ficar

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    livre de cumprir o declarado se a parte contrria no sabia da reserva mental. Logo, seo beneficirio desconhecia a reserva mental, ser a promessa eficaz e a destinao darenda ter que ser feita.

    Formado o negcio jurdico, surgem seus elementos acidentais, ou seja,clusulas acessrias criadas pelas partes que alteram os efeitos que seriamregularmente produzidos pelo negcio. So trs os acidentes dos negcios jurdicos: acondio, o termo e o encargo.

    O primeiro deles a clusula acessria aos negcios jurdicos que subordinasua eficcia ocorrncia de evento futuro e incerto. O evento a que o negcio estsubordinado deve ser futuro, porque se j tiver ocorrido ser irrelevante e incerto, ouseja, no haver certeza quanto sua efetiva ocorrncia. Da dizer que um eventonecessariamente falvel. Este o elemento diferenciador com o termo, em que o evento certo, ou seja, sabido que ir ocorrer, mesmo que no se saiba quando.

    As condies possuem vrias classificaes, sendo necessrioprimeiramente dividi-las entre lcitas e ilcitas, conforme sejam ou no permitidas pelaordem jurdica. As ltimas, nos termos do artigo 123, CC, acabam por acarretar ainvalidade do prprio negcio jurdico a elas subordinado, Tambm invalidam onegcio as condies fsica ou juridicamente impossveis quando suspensivas, bemcomo as contraditrias ou incompreensveis. A segunda classificao trata dascondies suspensivas e resolutivas. As suspensivas so aquelas que postergam aeficcia do negcio jurdico at que ocorram, somente permitindo a partir de ento aaquisio do direito a elas subordinado. De outro lado, a resolutiva aquela queextingue a eficcia do negcio jurdico com seu implemento. Por fim, para impedir aalgum que tente se beneficiar da prpria torpeza, determina o Cdigo Civil no artigo129 que se ter por verificada a condio que for maliciosamente impedida de serealizar pala parte a quem no aproveita, bem como se ter por no realizada acondio quando for maliciosamente cumprida pela parte que dela se beneficia.

    O termo, como visto, a clusula acessria aos negcios jurdicos quesubordina sua eficcia ocorrncia de um evento futuro e certo. O que caracteriza otermo a certeza quanto ocorrncia do evento, mesmo que no se saiba quando irocorrer. Em razo disso, classificam-se os termos em certo e incerto conforme haja ouno o conhecimento do momento em que o termo ser realizado. Exemplo disso severifica com a morte da pessoa natural, que evento que todos sabem que ir ocorrer,embora no saiba a data exata. O termo ainda pode ser classificado em inicial e final,

    sendo o primeiro dies a quo o momento em que o negcio deve comear aproduzir seus efeitos e o segundo dies ad quem o momento em que os efeitos donegcio devem cessar. O perodo compreendido entre o termo inicial e o final denominado prazo, que deve ser contado excluindo o dia do comeo e incluindo o diado final.

    O ltimo dos acidentes dos negcios jurdicos o encargo ou modo. Trata-sede uma imposio feita nos negcios gratuitos, dirigida ao beneficirio do negcio,relativa a um dever a ser por ele observado. Como o encargo, em regra no suspendea aquisio do direito, o beneficirio do testamento ou da doao praticar todos osatos como se titular do direito j fosse por completo. o que ocorre, por exemplo, coma doao feita Municipalidade com o encargo de construir uma creche no imvel

    doado.

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    O prximo passo na anlise dos negcios jurdicos se refere aos defeitos quepodem atingi-lo. Os vcios ou defeitos dos negcios jurdicos, que geram sua nulidade,podem ser de duas ordens: consentimento e sociais. Os vcios de consentimento so

    aqueles que alcanam a vontade manifestada no contrato, que no foi livre comodeveria e os vcios sociais so aqueles que ofendem o grupo social porque as partesfugiram ao dever de probidade, de lisura inerente aos negcios jurdicos, no momentoem que visaram burlar a lei ou prejudicar terceiro.

    O primeiro dos vcios de consentimento o erro ou ignorncia. O legisladoracabou por tratar as duas figuras sob o mesmo ttulo como se fossem sinnimas. Emverdade no o so. Erro o engano, ou seja, a falsa idia da realidade, enquanto aignorncia a falta de conhecimento da realidade. Pela proximidade entre osconceitos, o legislador acabou por equiparar os vcios, permitindo nos dois casos aanulao do negcio jurdico viciado. Entretanto, no qualquer erro que permitir aanulao do negcio. Com efeito, o erro deve ser substancial, isto , referente a

    elementos essenciais do negcio, deve ser escusvel, desculpvel, ou seja, percebidopor pessoa com a diligncia naturalmente adotada para celebrar o negcio e real,verdadeiro, efetivo, ou seja, o prprio causador do dano. Se faltarem tais elementos, oerro no permitir a anulao do negcio. o que ocorre com o erro acidental, que dizrespeito a elementos acessrios, secundrios do negcio e probem sua anulao.Para permitir a anulao, o erro pode incidir sobre o objeto principal da declarao ouqualidades a ele relativas, sobre a pessoa a quem se destina a declarao ou sobre omotivo que criou o negcio. No ltimo caso, como regra, os motivos que levaram aspartes celebrao do negcio so irrelevantes para o legislador, exceto quandotenha sido expresso como razo determinante, como ocorre com o imvel adquiridoexclusivamente para fins comerciais e aps a compra o adquirente descobre talproibio. Finalmente, o legislador traz norma que evita a anulao do negcio quando

    a pessoa a quem se dirige a vontade se oferece para cumprir o negcio de acordocom a vontade real do declarante. Trata-se, pois, de aplicao do princpio da boa-fque deve orientar os contratos.

    O segundo dos vcios o dolo. Enquanto no erro a pessoa se engana, nodolo ela enganada, levada, induzida ao engano por meio de outra pessoa. Damesma forma que se deu com o erro, pra que o negcio seja anulvel por dolo, estedeve ser sua causa, razo pela qual se for acidental, no permitir a anulao donegcio, mas somente a responsabilidade civil. Tanto o dolo negativo (omisso)quanto o dolo positivo (afirmao) permitiro a anulao do negcio, desde queconfigurem o denominado dolus malus, ou seja, o dolo que causa efetivo prejuzo. O

    negcio no pode ser anulado pelo denominado dolus bnus, que aquele em que aparte exagera nas informaes prestadas, como ocorre na prtica do comrcio, emque o vendedor visa provar ao cliente que somente o seu produto tem qualidades eno o do concorrente. Se o dolo tanto pode ser empregado pela outra partecontratante quanto por terceiro, os efeitos jurdicos mudam conforme quem o pratique.Se o dolo for de terceiro, o negcio ser plenamente anulvel se a parte a quemaproveita tinha dele conhecimento. Mas, se no tivesse conhecimento, mesmo que onegcio permanea, o terceiro responder por perdas e danos. Se for dolo dorepresentante, interessa verificar se a representao legal ou convencional. Se forlegal, o representado somente responde civilmente at o limite do proveito que teve;mas se for convencional, presume a lei que haja acordo entre representante erepresentado, razo pela qual o representado responde solidariamente com o

    representante pelos danos causados. Finalmente, determina o legislador que em casode dolo recproco, nenhuma das partes poder aleg-lo, porque a ningum lcito se

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    beneficiar da prpria malcia.

    A coao aparece como terceiro vcio de consentimento regulado pela lei. A

    coao o emprego de violncia atravs da ameaa pessoa, seus bens ou aalgum de sua estima. Quer dizer que o coacto se v diante de dois caminhos: oumanifesta vontade diversa de sua vontade ntima ou mantm sua vontade e corre orisco de ver a ameaa se tornar concreta. Para que se fale em vcio de consentimento, necessrio que a coao seja moral, isto , a vis compulsiva, caso em que pessoaexiste certo poder sobre a prpria vontade caso prefira correr os riscos da conduta seconcretizar. No haver vcio de consentimento mas sim causa de inexistncia donegcio se estivermos diante da vis absoluta, caso em eu a fora externa impede quea pessoa manifeste a vontade, como ocorre com aquele que tem a mo forada pelocoator para que assine certo documento. Para que a coao fique caracterizada, necessrio, por evidente, que seja ela a causa do negcio, ou seja, que sem ela onegcio no teria sido realizado. Cabe ao juiz, conforme o caso concreto, verificar se

    efetivamente houve ou no a coao, com base nas qualidades individuais da vtima,j que as pessoas reagem de diversas formas s ameaas. Mais alm, mesmo quepraticada por terceiro, haver coao e ser possvel anular o negcio quando a partepor ela beneficiada sabia ou devia saber da coao, respondendo de forma solidria;entretanto, se desconhecesse, subsiste o negcio, mas o autor da coao responderpor perdas e danos.

    Por fim, quanto aos vcios de consentimento, duas novas figuras surgiram nosistema, embora j tivessem previso doutrinria. A primeira delas o estado deperigo, consistente no desespero da pessoa que assume prestao excessivamenteonerosa em razo da premente necessidade de salvar-se, a algum de sua famlia oua estranho desde que justificado, de um grave dano conhecido pela outra parte. O quequalifica o estado de perigo a tentativa da parte de se beneficiar da situao dedesespero assumida pela outra. A possibilidade de anulao do negcio no vainecessariamente resultar em dispensa do cumprimento da obrigao, mas, sendopossvel, em adequao do valor da obrigao ao valor real. O segundo dos vcios aleso, consistente em uma desproporo entre as prestaes do negcio jurdico, umavez que uma das partes age em premente necessidade ou com inexperincia.Novamente, o objetivo da lei impedir que o outro contratante se aproveite danecessidade ou da inexperincia do outro para poder se beneficiar da prpria torpeza.Tanto assim que o negcio no ser anulado se a parte beneficiada se apresentarpara afastar a desproporo existente. Alm disso, o parmetro de valores adotado o da data da celebrao do negcio, razo pela qual eventual acrscimo posterior no

    permitir sua anulao.O ltimo dos defeitos dos negcios a fraude contra credores, no mais

    sendo vcio de consentimento, mas sim um vcio social porque ofende a coletividade, alisura que deve estar presente na celebrao dos negcios jurdicos. A fraude contracredores se caracteriza quando o devedor pratica negcios que importam emalienao de bens e com isso levado insolvncia ou nela j se encontrava. Doiselementos qualificam a fraude contra credores: o objetivo (eventus damni), consistenteno ato efetivamente danoso aos credores e o subjetivo (consilium fraudis), consistenteno conluio fraudulento, ou seja, na unio dos contratantes visando prejudicar oscredores de um deles. Quando a alienao ou o negcio jurdico for gratuito (doao,remisso, renncia), o elemento subjetivo presumido pela lei, bastando a prova do

    efetivo prejuzo. A mesma presuno vai existir no caso de pagamento antecipado,bem como no caso de concesso de garantia a apenas um dos credores

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    quirografrios. No entanto, quando o ato for oneroso (compra e venda, permuta, daoem pagamento), o elemento subjetivo tem que ser provado para que o negcio possaser anulado. A ao que visa a anulao do negcio praticado em fraude contra

    credores a ao pauliana ou revocatria, cuja legitimidade ativa privativa doscredores quirografrios ou com garantia que tenha se tornado insuficiente, desde quej fossem credores no momento em que o negcio fraudulento tenha sido praticado.

    Note-se que a fraude contra credores no se confunde com a fraude execuo, hiptese em que j h uma ao judicial em curso e durante seuandamento o ato fraudatrio praticado, permitindo que seja decretada a suaanulao apenas com base no pedido formulado atravs de simples petio, sendodesnecessria a propositura de uma nova ao.

    Ao lado dos negcios jurdicos e dos atos jurdicos, temos a figura dos atosilcitos. So eles tambm fonte de obrigaes em nosso ordenamento, consistente na

    obrigao de indenizar, nos termos do artigo 927 do Cdigo Civil. Para que seconfigure o ato ilcito, quatro elementos devem estar presentes, denominadospressupostos do dano indenizvel. Como o sistema civil est fundado, em tese, naresponsabilidade civil subjetiva, os quatro elementos devem estar presentes, a saber:ao ou omisso (conduta da pessoa, seja ativa ou passiva, positiva ou negativa); doloou culpa (efetiva inteno de causar o dano ou apenas a falta de ateno, de cuidado,de diligncia ou de tcnica que resulta em dano); relao de causalidade ou nexocausal (a ligao entre a conduta ofensiva e o resultado danoso) e o danoeconomicamente aprecivel, mesmo que exclusivamente moral (diminuio nopatrimnio do ofendido). Os quatro elementos podem ser extrados da leitura do artigo186, CC. Caso se trate de responsabilidade civil objetiva, como ocorre em relao spessoas jurdicas de direito pblico, fica dispensada a prova da culpa do ofensor porparte do ofendido, bastando que ele prove a ao ou omisso, o nexo de causalidadee o dano. Inovou nosso Cdigo Civil sobre o tema ao determinar que o abuso dedireito tambm configura ato ilcito. abuso de direito a conduta do titular de umdireito que, ao exerc-lo, exagera, excede os limites do exerccio regular, como apessoa que adota meios vexatrios para comunicar seu devedor sobre o vencimentoda obrigao sem pagamento.

    Se de um lado o legislador tratou do ato ilcito e do dever de indenizar, deoutro tratou das figuras que excluem a ilicitude do ato praticado, na forma do artigo188, CC. So elas a legtima defesa, o exerccio regular de um direito reconhecido e adestruio ou deteriorao de coisa alheia ou leso a pessoa para remoo de perigo

    iminente, sendo que se o prejudicado no for o causador do perigo, ainda haver odever de indenizar. O fato do legislador retirar a ilicitude da conduta, como se viu, noimplica em excluir o dever de indenizar.

    DIREITO DAS OBRIGAES

    A primeira matria da Parte Especial do Cdigo Civil diz respeito s relaesem que as pessoas podem estar envolvidas e lhe criam direitos ou deveres a seremobservados. Obrigao, portanto, a relao firmada entre credor e devedor que fazcom que o primeiro possa exigir do segundo a realizao de uma certa prestao.Trs elementos integram a obrigao, os sujeitos ativo e passivo, ou credor e devedor,sendo que o primeiro tem o direito de exigir a prestao e o segundo o dever de

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    prest-la; o objeto, que o que deve ser prestado, realizado pelo devedor em favor docredor, consistente em um dar, fazer ou no fazer (dare, facere et non facere) e ovnculo ou liame obrigacional, consistente na ligao entre credor e devedor, que

    garantir ao primeiro a exigibilidade da prestao quando se tratar de uma obrigaocivil. Alm desta modalidade, as obrigaes ainda podem ser naturais, quando,embora exista a relao, no permite ao credor exigir o objeto devido, como ocorrenas dvidas prescritas, mas atribui ao pagamento os efeitos da solutio, ou seja, daregular quitao. Existem, ainda, as obrigaes morais, que so aquelas cumpridaspor mero dever de conscincia, como ocorre com os atos de solidariedade em casosde calamidade pblica; sendo que, da mesma forma que ocorre com as obrigaesnaturais, uma vez feito o pagamento, a ele so atribudos os efeitos da solutio, razopela qual no se poder exigir restituio alegando que o pagamento no era devido.

    No Direito Civil Brasileiro, as obrigaes podem advir de trs fontes diversas,a saber: a lei, correspondente vontade do Estado, como ocorre com o dever de

    votar, o dever dos genitores de prestar alimentos e garantir educao prole, o devergenrico imposto a todas as pessoas de se abster da prtica de condutas queimportem em ofensa a direitos alheios; a vontade humana, quando atravs da criaode negcios jurdicos assumem uma srie de obrigaes, como ocorre com olocatrio, que assume a obrigao de pagar os aluguis na data estipulada, bem comocuidar do imvel e restitu-lo ao final do contrato, como ocorre com o empreiteiro quese compromete a realizar a obra nos termos estipulados, como ocorre com osegurado, que se compromete a se abster da prtica de qualquer conduta que possaimportar em aumento dos riscos que corre o bem; e o ato ilcito, que gera para oofensor a responsabilidade de indenizar o ofendido.

    Qualquer que seja a fonte das obrigaes, alas apenas se apresentam sobtrs modalidades. Embora uma mesma relao contratual possa trazer mais de umaespcie de obrigao, inexiste outra espcie alm destas. A primeira a obrigao dedar, consistente na entrega (ou restituio) de alguma coisa. A segunda a obrigaode fazer, consistente na elaborao de alguma coisa, que pode incluir a posteriorentrega daquilo que foi feito. A ltima a obrigao de no fazer, consistente em umaabsteno por parte do devedor, que no praticar a conduta que praticaria se nohouvesse a proibio. Note-se que, qualquer que seja a modalidade, o objeto ouprestao a conduta do devedor e no o objeto material em si; assim, o objetodevido a realizao da obra, o pagamento do preo, a restituio do imvel e no aobra, o dinheiro do preo ou o imvel em si.

    Da Obrigao de Dar

    A obrigao de dar, como visto, ser realiza atravs da entrega de um objetoao credor. O objeto poder ser coisa certa, individualizada, identificada ou incerta,definida apenas pelo gnero e pela quantidade, faltando-lhe definir a espcie. Sendoobrigao de dar coisa certa, importa verificar em que momento se tem por transferidoo direito. A transferncia se d com a tradio, razo pela qual at aquele momento,quem responde pela perda ou deteriorao do bem o devedor por conta da regra resperit domino (a coisa perece para o dono). Assim, no havendo culpa do devedor noperecimento do bem, se tem por resolvida a obrigao; mas, se ele tiver culpa na

    perda do bem, fica obrigado a indenizar o credor e a lhe pagar o equivalente coisaque se perdeu. De outro lado, caso no se trate de perda, mas de deteriorao, o

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    devedor fica responsvel pela indenizao que pode ser exigida pelo credor, queainda pode escolher entre resolver a obrigao ou aceitar a coisa no estado em que seencontrar. Se, no entanto, a deteriorao no for culposa, o credor no ter direito

    indenizao, mas poder optar entre receber a coisa no estado em que se encontra,com abatimento proporcional em seu preo ou resolver a relao. Alm disso, at queseja feita a entrega da coisa certa, os frutos e acrescidos pertencem ao devedorporque ainda no deixou de ser dono da coisa principal, razo pela qual pode exigiraumento no preo. Embora possa exigir aumento no preo, evidente que o credorno est obrigado a aceitar, fato que lhe autoriza a resoluo da obrigao.

    Ao lado da obrigao de dar coisa certa, temos a obrigao de restituir,consistente da devoluo de coisa certa, como ocorre ao trmino dos contratos delocao e comodato. Como nesta figura a coisa j pertence ao credor, se sobrevier aperda da coisa, sem culpa do devedor, quem sofrer o prejuzo ser o credor, emrazo da aplicao da regra res perit domino vista. No entanto, a soluo ser diversa

    caso o devedor tenha agido com culpa, hiptese em que responder pelo equivalente coisa que se perdeu e ainda por perdas e danos. De outro lado, caso se trate dedeteriorao e no de perda, no havendo culpa do devedor, o credor receber acoisa no estado em que se encontrar, sendo que, caso a deteriorao decorra deculpa daquele, obriga-o a responder pela indenizao devida.

    Por fim, quando se tratar de restituio de coisa, os acrscimos sobrevindos coisa, por serem acessrios do principal pertencero ao credor por j ser este otitular da coisa. No entanto, caso os acrscimos tenham vindo de conduta do devedor,o credor ficar obrigado a indeniz-lo j que nosso sistema expressamente probe oenriquecimento sem causa, na forma prevista em lei para a indenizao devida aopossuidor, classificando sua qualidade confirme a presena da boa-f ou da m-f.Mas, se os acrscimos e melhoramentos no decorrerem da conduta do devedor,evidente que no haver razo para indenizao a ele, embora os benefcioscontinuem sendo percebidos pelo credor da coisa.

    Alm da obrigao de dar coisa certa, temos a obrigao de dar coisaincerta. Nesta hiptese, atendendo a um dos elementos de validade dos negciosjurdicos, que exige que o objeto da obrigao seja ao menos determinvel, temos umobjeto que apenas foi identificado pelo gnero e pela quantidade, faltando definirapenas a sua qualidade. Ao ato de definio do objeto devido d-se o nome deconcentrao. Uma vez feita a concentrao e comunicada ao credor, a obrigaopassa a ser regulada tal qual a obrigao de dar coisa certa. Embora caiba ao devedor

    a escolha, se de outra forma no foi determinado, ele no est obrigado a dar amelhor das coisas disponveis nem poder dar a pior delas. Fica ele obrigado a prestaro meio-termo entre os possveis objetos. Por fim, como existem vrios possveisobjetos, enquanto no for feita a escolha, no pode o devedor alegar o perecimento oudeteriorao da coisa porque o gnero nunca perece, nem mesmo por caso fortuito oufora maior.

    Da Obrigao de Fazer

    A obrigao de fazer aquela consistente em uma elaborao por parte dodevedor, em favor do credor, que pode terminar com a entrega daquilo que foi feito. o que ocorre, por exemplo, com o servio prestado por um pintor ao fazer um retrato,

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    pelo pedreiro ao erguer um muro, pelo palhao ao animar uma festa. As obrigaes defazer podem ser fungvies ou infungvies, personalssimas ou intuitu personae,conforme possam ser prestadas por qualquer pessoa ou somente pela pessoa do

    devedor escolhido. Sendo ela infungvel, o inadimplemento da obrigao por parte dodevedor, que se recusa a prestar o objeto devido, faz com que fique ele obrigado aindenizar o credor. Tal responsabilidade apenas no existir caso ele tenha deixadode cumprir sem culpa sua, como o cantor que no pode se apresentar em certo showporque todas as vias de acesso localidade esto bloqueadas.

    Se a obrigao for fungvel, porque pode ser prestada por qualquer pessoa eo devedor se recusar a faz-lo, pode o credor mandar que seja executada por terceiro,s custas do devedor, que responder, tambm, pelos prejuzos causados ao credor.Autoriza, ainda, o legislador que, caso o fato seja urgente, pode o credor executar oumandar executar a prestao, independentemente de autorizao judicial, sendodepois ressarcido. Trata-se, em verdade, de exerccio da autotutela porque no se

    torna possvel recorrer primeiramente ao Poder Judicirio.

    Da Obrigao de No Fazer

    Esta modalidade de obrigao se caracteriza pela absteno de um fato porparte do devedor, ou seja, ele se compromete a deixar de praticar uma conduta quetalvez viesse a praticar se no houvesse a obrigao. o que ocorre, por exemplo,nas relaes condominiais, em que a pessoa se compromete a no alterar suafachada externa, bem como com pessoas que se desligam de certas empresas e se

    comprometem a no prestar servios ao concorrente durante certo perodo. Nestamodalidade obrigacional, o inadimplemento se d no momento em que o devedorpratica o ato que havia se comprometido a no praticar. Entretanto, se odescumprimento do fato no decorreu de culpa sua, a obrigao se tem por extinta,no havendo direito a indenizao por parte do prejudicado. Mas, caso oinadimplemento seja culposo, a primeira das alternativas da lei que a pessoadesfaa aquilo que foi feito em descumprimento da obrigao, sem prejuzo dasperdas e danos, ou que se busque terceiro para o desfazimento, sendo que, em casosde urgncia, fica at mesmo dispensada a interveno judicial prvia. Por fim, casono seja possvel desfazer o que foi feito em violao relao obrigacional, comonos casos de revelao de segredo industrial, a nica sada que se abrir aoprejudicado, credor da obrigao, ser procurar ser indenizado.

    Do Adimplemento das Obrigaes

    O adimplemento da obrigao se d atravs do pagamento, seja ele direto ouindireto. Uma vez surgida a relao obrigacional, o objetivo do legislador que elavenha a desaparecer em certo momento, seja porque foi cumprida, seja porqueprescreveu o direito de exigir seu cumprimento. Quanto ao pagamento, se for eledireto, ser a conduta pela qual o devedor ou algum em seu nome presta o objetodevido em favor do credor ou de seu legtimo representante, dentro do tempo, modo elocal estabelecidos.

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    Em razo disso, o solvens, ou seja, aquele que efetua o pagamento pode sero prprio devedor e, no sendo obrigao personalssima, pode ser o terceirointeressado ou no. Qualquer um deles, diante de recusa do credor em receber o

    objeto devido pode proceder consignao da coisa. Aquele que paga deve faz-lopara pessoa que possa receber, denominado accipiens, que ser o credor ou algumem seu nome, com poderes de dar quitao. Se for terceiro se tais poderes, opagamento, para ter eficcia, depende de ratificao do credor.

    Aquele que paga deve prestar exatamente o objeto devido e na formaestipulada pelas partes na obrigao, razo pela qual no pode obrigar o credor areceber por parcelas se assim no se estipulou nem pode obrig-lo a receber coisadiversa da devida. Se, entretanto, o credor aceitar, teremos dao em pagamento eno pagamento direto. Feito o pagamento, aquele que paga tem direito regularquitao, que no pode ser recusada pelo credor. Tanto assim que, caso o accipiensse recusar a dar a regular quitao, na forma da lei, o solvente tem direito de reter o

    pagamento e promover a consignao do pagamento. Como o pagamento provadoatravs do recibo de quitao, se este estiver com o devedor, presume-se, at provaem contrrio, que o pagamento foi realizado. Mesma presuno existir quanto quitao de dvida em parcelas, hiptese em que a quitao da ltima faz presumir aquitao das anteriores.

    O pagamento deve ser efetuado no domiclio do devedor, se de outra formano se estipulou ou a natureza da obrigao no exigir regra diversa. Trata-se, nocaso, de dvida querable ou quesvel, porque pagvel no domiclio do devedor. Se, noentanto, tiver de ser paga no domiclio do credor ou em outro lugar que no o domicliodo devedor, ser dvidaportable ou portvel. Mas, podem, ainda, ser estipulado pelaspartes o local alternativo para pagamento, cabendo ao credor a escolha quandohouver mais de um lugar em que o pagamento possa ser feito. Por fim, o pagamentodeve ser feito dentro do tempo estabelecido na relao obrigacional. Como regra, aobrigao imediatamente exigvel, exceto se as partes estipularem um termo devencimento ou a natureza da obrigao no permitir a imediata exigibilidade, comoocorre com a colheita de safra agrcola. Se a obrigao, de outro lado, for submetida acondio, ela somente se torna exigvel quando, realizada a condio, ficar provadoque o credor tem cincia de seu implemento. E, ainda quando haja termo devencimento, o prprio legislador trata das hipteses de antecipao de vencimento,como ocorre com a decretao de falncia ou insolvncia do devedor, bem como nocaso de os bens objeto de garantia hipotecria ou pignoratcia serem penhorados emoutra execuo.

    Do Inadimplemento das Obrigaes

    O inadimplemento das obrigaes se verifica quando o objeto devido no prestado dentro do tempo, modo e local estabelecidos. Pode, por isso, ser absolutoquando no mais for possvel prestar o objeto devido, seja porque ele se perdeu, sejaporque a prestao no tem mais utilidade ao credor. Nesse caso, a nica alternativaser a converso em perdas e danos, abrangendo o dano emergente (aquilo que foiperdido), lucro cessante (aquilo que deixou de ganhar), juros, correo monetria e, senecessrio, honorrios de advogado. De outro lado, pode o inadimplemento ser

    relativo, hiptese em que a prestao ainda pode ser cumprida, mas se verifica aexistncia da mora, como o fato que fez com que o objeto no fosse prestado dentro

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    do tempo, modo e local estipulados. Havendo mora, a prestao ainda til ao credor,que, sendo mora do devedor, faz com que este tenha que prestar o objeto devidosomado aos efeitos da mora. Se, entretanto, a mora for do credor, que no se

    apresentou para receber nem mandou quem o fizesse, dentro do tempo, modo e localestabelecidos, caber ao devedor prestar o objeto devido, mas tem direito de serindenizado em razo da mora do credor, por exemplo, quanto s despesas que tevecom a coisa durante a mora.

    V-se, pois, que a mora tanto pode atingir a conduta do credor, como dodevedor, fazendo com que este responda perante o outro pelos prejuzos causados.Embora ambos possam estar em mora, para que a mora do devedor fiquecaracterizada, necessrio que se faa a prova de sua culpa, uma vez que o casofortuito e a fora maior excluem a culpa e, por conseguinte, a mora. Se, no entanto, formora do credor, ele responde independentemente de culpa, porque sempre seriapossvel indicar quem recebesse a prestao em seu lugar, j que jamais a obrigao

    ser personalssima em relao ao credor.

    Ainda na seara do inadimplemento das obrigaes, a clusula penal afigura pela qual as partes fazem uma prvia definio do montante dos prejuzos casose d o inadimplemento absoluto, a mora ou o descumprimento de alguma clusulaespecial. A clusula penal pode ser compensatria quando fixada para o caso deinadimplemento absoluto ou moratria, quando fixada para os casos de mora ou desegurana de certa clusula.Quando for compensatria, ela se converte em umaalternativa em favor do prejudicado, de tal sorte que este poder optar entre executardiretamente a clusula penal, sem ter que fazer prova do prejuzo, bastando provar oinadimplemento, ou ingressar com a ao de indenizao, em que ter que provar nos o inadimplemento, como tambm o montante de seus prejuzos. No entanto, sendoela moratria, o credor poder exigir a prpria prestao devida somada clusulapenal. Em qualquer dos casos, o credor no est obrigado a fazer prova de seuprejuzo para que possa exigir a clusula penal; mas, se o prejuzo for superior aovalor da clusula penal, o prejudicado no ter direito a indenizao complementar,salvo se expressamente estipulado, caso em que a multa contratual valer como valormnimo de indenizao. Por fim, o valor mximo da clusula penal o valor da prpriaobrigao garantida, sendo que o legislador permite a reduo quando ela se mostrarexcessiva finalidade da obrigao ou quando a obrigao j tiver sido parcialmentecumprida.

    DIREITO DAS COISAS

    O direito das coisas a parte do Direito Civil que trata das relaes entre apessoa (titular de direitos) e as coisas, objetos que permitem apropriao pelo homem.Tm eles caractersticas especiais, como a perpetuidade, ojus persequendi(direito deperseguir a coisa e tom-la de quem quer que indevidamente a detenha) e aoponibilidade erga omnes, sendo que o rol dos direitos reais est previsto em textolegal taxativo, de tal sorte que s existem se houver disposio de lei, por seapresentarem em numerus clausus (nmero fechado).

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    Da Posse

    O primeiro ponto de estudo do direito das coisas se refere definio de

    posse. Nos termos do artigo 1196, CC, tem posse a pessoa que tenha a suadisposio o exerccio pleno ou no de um dos poderes inerentes propriedade (usar,fruir, dispor ou reivindicar). A posse, pela lei, um fato, uma aparncia depropriedade que merece proteo.

    A aquisio da posse se d pela prpria pessoa ou atravs de algum emseu nome desde o momento em que a pessoa possa exercer em nome prprioqualquer dos poderes inerentes propriedade. A sucesso entre os possuidores fazcom que a posse mantenha as mesmas qualidades com que foi transmitida e automtica quando for sucesso universal, sendo facultada ao sucessor a ttulosingular. De outro lado, se tem por perdida a posse a partir do momento em que cessapara a pessoa o exerccio dos poderes inerentes propriedade, mesmo que contra a

    sua vontade.

    Quanto aos efeitos da posse, o primeiro deles se refere sua proteo, quepode ser dar atravs da autotutela ou atravs da interveno judicial. A posse podeser atingida atravs da ameaa, da turbao e do esbulho, cabendo, na esfera judicial,respectivamente, o interdito proibitrio (que vida a obteno de um mandamentojudicial impondo uma absteno ao ofensor, consistente em no concretizar a ameaade esbulhar ou de turbar), da ao de manuteno de posse (que visa obter ummandamento judicial que garanta ao possuidor permanecer na posse da coisa, apesarda perturbao feita pelo ofensor) e da ao de reintegrao de posse (que visarecolocar o possuidor no exerccio da posse que foi perdida em razo da conduta doofensor). Alm disso, nos casos de turbao e de esbulho, a lei permite que opossuidor promova a defesa prpria, atravs da legtima defesa da posse ou dodesforo imediato.

    Quanto regulamentao dos frutos, o direito de perceb-los reconhecidoao possuidor de boa-f enquanto ela durar, sendo que se possuir o bem de m-f, ficao brigado a restituir todos os frutos percebidos durante a m-f, bem como a indenizarquanto queles que por culpa sua deixou de colher, embora mantenha o direito de serressarcido quanto s despesas de custeio e produo para impedir o enriquecimentosem causa. Quanto responsabilidade pela coisa, ela inexistir relativamente aopossuidor de boa-f, exceto se tiver dado causa ao perecimento; mas, se for possuidorde m-f, responde pela coisa, mesmo em caso de fortuito e fora maior, a no ser

    que prove que o dano teria ocorrido de qualquer forma, mesmo que a coisa estivessecom o reclamante. E, quanto s benfeitorias, o possuidor de boa-f tem direito de serindenizado quanto s teis e necessrias, podendo quanto a elas exercer o direito dereteno e, quanto s volupturias, se no lhe forem pagas, tem direito de retir-las seno danificar o bem principal; todavia, ao possuidor de m-f, somente se garante aindenizao pelas benfeitorias necessrias que realizar, como forma de impedir oenriquecimento sem causa, sem direito de reteno e sem qualquer direito quanto sdemais benfeitorias que realizou, nem mesmo de levantar as volupturias.

    Da Propriedade

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    A propriedade o mais amplos dos direitos reais pois que concentra namesma pessoa todos os direitos a ela inerentes, consistentes nos direitos de usar(retirar as utilidades, os servios da coisa), fruir (extrair os frutos e produtos da coisa),

    dispor (promover a alienao gratuita ou onerosa) e reivindicar (retirar a coisa dasmos de quem quer que injustamente a detenha ou possua). No h mais, quanto propriedade, o denominado direito de abusar oujus abutendique permitia ao titular dacoisa dar a ela o destino que bem quisesse, podendo at destru-la. Como apropriedade deve atender sua funo social, o seu titular tem o exerccio de seudireito limitado ao interesse coletivo e ao patrimnio coletivo (meio ambiente,patrimnio histrico etc.). Tanto assim que o art. 1228, 4, CC, permite que a decisojudicial condene o proprietrio a perder o bem caso o imvel reivindicado consistir emextensa rea, na posse ininterrupta e de boa-f, por mais de cinco anos, deconsidervel nmero de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ouseparadamente, obras e servios considerados pelo juiz de interesse econmico esocial relevante, desde que devidamente indenizado para que no se caracterize o

    confisco. O mesmo ocorre quando houver desapropriao.

    Como o proprietrio tem o direito de seqela, o jus persequendi, o direito deperseguir a coisa e retir-la de quem quer que a detenha injustamente, seu direito depropriedade no cessa caso perca a coisa. Assim, a descoberta o achado de coisaperdida, que obriga o descobridor a restituir ao seu verdadeiro titular. Trata-se deobrigao imposta por lei, sob pena de configurar o crime de apropriao de coisaperdida, previsto no art. 169, pargrafo nico, II, CP. Por conta disso, aquele queencontra coisa alheia perdida e devolve, tem direito a uma recompensa, denominadaachdego.

    A lei civil entendeu por bem em fazer a diviso da regulamentao dapropriedade mvel e da imvel. Ao tratar da propriedade imobiliria, o legisladorcuidou primeiramente da forma pela qual ela se tem por adquirida. A aquisio dapropriedade imvel se d por usucapio, registro do ttulo e acesso, alm do direitohereditrio, ao passo que a aquisio da propriedade mvel se d, principalmente pelatradio, alm da usucapio, especificao, denter outras modalidades.

    Direito de Famlia e Sucesses

    O direito de famlia a parte do Direito Civil que trata das relaes

    decorrentes de casamento, parentesco e de proteo dos incapazes, alm da unioestvel. No existe uma definio do que seja a famlia, podendo ser a unio depessoas ligadas por parentesco, por casamento ou mesmo a clula formada porapenas um dos pais e seus descendentes. Qualquer que seja o conceito, a famlia vista como a base da sociedade e est a merecer a proteo do Estado. Emborasempre haja a proteo do Estado, a interpretao do sistema jurdico deixa clara apreferncia do Estado para que se formem famlias matrimoniais, famlias oriundas docasamento civil, sem deixar de reconhecer e proteger as famlias extramatrimoniais,mas, efetivamente, sem dispensar tratamento jurdico igualitrio, como ocorre com asucesso havendo casamento ou havendo unio estvel.

    O casamento o ato mais solene de todo o nosso sistema jurdico. onegcio jurdico pelo qual homem e mulher, perante autoridade competente para o ato,declaram a vontade de receber um ao outro na condio de cnjuges, aceitando se

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    Outra espcie o casamento por procurao, regido pelo artigo 1.542, CC.Para que possa ser celebrado o casamento sob esta modalidade, deve a procuraoser outorgada por instrumento pblico, com poderes especiais e expressos para

    celebrar o casamento com aquela certa pessoa da habilitao. A revogao domandato, que deve ser feita tambm por escritura pblica, no precisa chegar aoconhecimento do mandatrio, mas, se o mandante no fizer essa comunicao e ocasamento for celebrado, fica responsvel pelos prejuzos que possa ter causado. Emregra, qualquer pessoa capaz pode outorgar poderes para ser representada em seucasamento, exceto aquele que esteja em iminente risco de vida no casamentonuncupativo. A procurao outorgada no ter validade por mais de noventa dias,ficando vinculada prpria validade da certido de habilitao.

    H, ainda, o casamento nuncupativo ou in extremis, realizado quando um dosnubentes corre srio risco de vir a falecer, no havendo tempo hbil para sercelebrado o casamento civil e feita a correspondente habilitao. Nesse caso, se os

    interessados no conseguirem a presena da autoridade competente para celebrarcasamentos, podero, na presena de seis testemunhas, que no podero serparentes em linha reta de qualquer deles, ou colateral at o segundo grau, celebrar ocasamento. Se for realizado dessa forma, as testemunhas devero comparecerperante a autoridade judiciria mais prxima, em dez dias, para declarar que foramchamadas pelo doente, que ele parecia correr risco de morte, mas estava em perfeitojuzo e que os nubentes declararam de forma livre perante as testemunhas a vontadede receber um ao outro na condio de cnjuges. Se o enfermo se curar, poder elemesmo ratificar o casamento perante a autoridade cartorria. Ao lado do casamentonuncupativo, h o casamento para o caso de molstia grave, que a figura queimpede que a pessoa comparea no local designado para a realizao do casamento,razo pela qual o oficial do cartrio ou seu substituto legal comparece ao local em que

    o doente se encontra para que seja celebrado o casamento, na presena de duastestemunhas. Depois, nos cinco dias posteriores realizao do casamento, o oficial,na presena de duas testemunhas far seu registro em Cartrio.

    E, se a cerimnia for civil, ser ela realizada na sede do Cartrio ou em outroprdio, pblico ou particular, mediante pedido dos nubentes e apresentao dacertido de habilitao. Qualquer que seja o local em que o casamento seja celebrado,deve ser ele realizado de portas abertas para que qualquer um do povo pode alegareventual impedimento matrimonial. Deve ser ele celebrado na presena de pelomenos duas testemunhas, sejam parentes ou no dos nubentes, se for celebrado nasede do Cartrio ou na presena de quatro testemunhas se for celebrado em qualquer

    outro lugar ou se um dos contraentes no souber ou no puder escrever. Amanifestao da vontade, ao ser celebrado o casamento, deve ser sria e firme, nosendo momento para brincadeiras, razo pela qual, se no houver a manifestao davontade nessa forma, o casamento no ser celebrado naquele dia, suspendendo-sea cerimnia, que dever ser redesignada (art. 1.538, CC).

    Celebrado o casamento, ele se demonstra atravs de prova direta,consistente na Certido de casamento, expedida pelo Cartrio de Registro dePessoas. No entanto, caso no haja tal prova, pode ser ele demonstrado atravs daposse o estado de casado, que exige trs elementos: tractatus (tratamento que umdispensa ao outro como casados), reputatio (conhecimento pelo grupo social doestado de casado entre eles) e nomen (consistente na adoo dos apelidos de famlia

    do outro). Alm disso, em matria de prova do casamento, se ele no estivercabalmente provado nem pelo lado positivo, nem pelo negativo, deve ser aplicada a

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    regra de que in dubio pro matrimonio, ou seja, em caso de dvida, deve ser decididoem favor do casamento.

    O Direito das Sucesses diz respeito aos efeitos jurdicos percebidos aps amorte da pessoa natural. Apenas interessa aqui a sucesso causa mortis, fugindo aoalcance a sucesso inter vivos. Interessa ao legislador a regulamentao para que sedefina a quem caber a propriedade, j que ela no pode ficar sem o titular. A aberturada sucesso se d com a morte do autor da herana e faz com o patrimnio setransfira automaticamente aos herdeiros testamentrios e legtimos, no ocorrendo omesmo com os legatrios. Trata-se do princpio da saisine, do direito francs. Aabertura da sucesso se d no lugar do ltimo domiclio do autor da herana e rege-sepela lei vigente no momento da abertura da sucesso (momento da morte),independentemente do momento da abertura do inventrio. A sucesso pode serapenas legtima, nos casos de inexistncia ou invalidade do testamento, legtima etestamentria nos casos em que o testamento no atingir todo o acervo hereditrio ou

    houver necessidade de reserva da legtima, ou apenas testamentria caso o testadortenha deixado testamento que alcance todos os bens da herana e inexistamherdeiros necessrios. Isto porque, havendo herdeiros necessrios (descendentes,ascendentes ou cnjuge), o autor da herana apenas pode dispor da metade de seusbens, devendo o restante ficar reservado aos herdeiros reservatrios.

    Uma vez ocorrida a morte do autor da herana, esta se transmite como umtodo unitrio, indivisvel, at que seja feita a partilha. Como indivisvel o direito, atque seja feita a partilha, a herana e os herdeiros sero regidos pelas mesmas normasda relao condominial. Assim, nenhum dos herdeiros pode dispor de qualquer bemdo acervo individualmente, porque ainda no se sabe qual sua parte da herana, casoela exista. Isto porque, embora o sucessor no responda alm das foras da herana,respondendo apenas os bens do de cujus pelas dvidas que deixou, corre o risco denada receber se todos os bens forem destinados quitao de suas obrigaes. Almdisso, pode ocorrer do certo bem j estar destinado a um legatrio. E, como a relaoque se instaura entre os herdeiros condominial, necessrio verificar o direito depreferncia entre os condminos no caso de eventual cesso do direito hereditrio.Assim, permite o legislador que qualquer dos herdeiros ceda seu crdito a outrem;mas se for pessoa estranha sucesso, garantido aos demais herdeiros o exercciodo direito de preferncia, sempre que puderem garantir as mesmas condies docessionrio. Logo, a alienao onerosa feita a pessoa estranha sucesso pode serdesfeita pelo herdeiro interessado em adquirir para si o quinho, desde que promova odepsito judicial do valor pelo qual se deu a alienao, propondo a ao de prelao

    no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da alienao. Como o direito sucesso aberta direito imobilirio por determinao legal, a alienao (cesso) dodireito hereditrio pressupe a forma de escritura pblica para que tenha validade.

    Podem participar da sucesso legtima, nos termos do artigo 1.798, CC, aspessoas j nascidas ou j concebidas no momento da abertura da sucesso, que sed com a morte do autor da herana. Alm disso, evidente a necessidade de que oslegitimados sucesso estejam vivos no momento da abertura da sucesso. Mas, sea sucesso for testamentria, alm destes, podem dela participar os filhos ainda noconcebidos das pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas na aberturada sucesso e que os filhos sejam concebidos nos dois anos seguintes abertura dasucesso; as pessoas jurdicas, bem como as fundaes cuja organizao seja

    determinada pelo testador. Se de um lado o legislador dispe sobre os legitimados aparticipar da sucesso, de outro dispe sobre as pessoas que no podem participar da

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    sucesso, seja na qualidade de herdeiro, seja na qualidade de legatrio. Osimpedidos de suceder esto descritos nos artigos 1.801 e 1.802, CC. Mas, embora asimulao possa estar presente quando o testador tenta beneficiar algum parente do

    impedido sucesso, ela no perder a validade quando o parente for o filho doconcubino, mas tambm for filho do testador.

    Alm daqueles que no podem participar da sucesso, a lei trata aindadaqueles que so excludos da sucesso porque praticaram atos ofensivos contra apessoa do de cujus ou de seus parentes, na forma do artigo 1.814, CC. Qualquer queseja a hiptese de indignidade, necessrio que se proponha a ao declaratria deindignidade por outro interessado na sucesso, dentro do prazo de 4 (quatro) anos. Osefeitos da excluso so sempre pessoais, razo pela qual a sucesso se defere comose o indigno fosse morto. A indignidade pode atingir qualquer pessoa que participa dasucesso, seja herdeiro legtimo ou testamentrio ou mesmo o legatrio. Embora ofato seja anterior abertura da sucesso, a ao, evidentemente, ser proposta aps

    a morte do autor da herana. Entretanto, a ao no poder ser proposta caso o decujus tenha perdoado o indigno expressamente atravs de testamento ou outrodocumento autntico, ou perdoado tacitamente atravs da constituio do herdeiro emtestamento, ciente da causa de excluso, caso em que somente herdar no limite dadisposio hereditria.

    Se correto afirmar que a herana se transmite aos herdeiros com aabertura da sucesso, o mesmo no pode ser dito em relao aceitao e renncia da herana. Com efeito, a aceitao da herana pode se dar de trs formasdiversas: expressa, tcita e presumida, sendo que a primeira decorre de manifestaode vontade expressa do herdeiro, a segunda decorre de sua conduta, que incompatvel com a vontade de renunciar e a terceira decorre na hiptese do artigo1.807, CC, caso em que qualquer interessado na sucesso requerer ao juiz aindicao de prazo para que o herdeiro declare se aceita ou no a herana. Se oherdeiro falecer antes de dizer se aceita ou no a herana, o direito de manifestar avontade se transmite aos herdeiros do segundo falecido que, para que efetivamentepossam se manifestar, tm que ter aceitado a segunda herana. De outro lado,enquanto a aceitao pode ser tcita ou presumida, a renncia somente pode serexpressa, seja abdicativa ou translativa. Mas, entre estas, mudam substancialmenteos efeitos j que na primeira somente h o pagamento do imposto sobre a transmissode bens causa mortis, ao passo que na segunda espcie h o pagamento tanto doimposto de transmisso de bens causa mortis quanto inter vivos porque em verdade arenncia translativa a figura em que o herdeiro primeiramente aceita a herana e

    depois a transfere a outrem, tendo a transferncia natureza jurdica de cesso, sejaonerosa ou gratuita.

    Seja aceitao ou renncia, o ato jamais poder ser condicional ou a termo,bem como no pode alcanar apenas parte do direito sucesso. Alm disso, arenncia e a aceitao so irrevogveis, embora possam ser anulados em razo daexistncia de vcio de consentimento.

    A sucesso legtima tem caminhos diversos conforme haja casamento ouunio estvel. Havendo unio estvel, a sucesso segue a forma do artigo 1.790, CC.Assim, o companheiro sobrevivente participar da sucesso do outro quanto aos bensadquiridos onerosamente durante a unio estvel na mesma proporao dada ao

    descendente se concorrer com filhos comuns do de cujus, sendo que sua participaoser reduzida metade se concorrer apenas com descendentes do autor da herana.

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    Mas, se concorrer com qualquer outro parente, lhe caber um tero da herana,somente sendo herdeiro exclusivo caso inexistam parentes sucessveis.

    Se, de outro lado, houver casamento ou inexistir vnculo, seja de casamentoou de unio estvel, a sucesso seguir a ordem e as disposies do artigo 1.829 eseguintes da lei civil. Em primeiro necessrio verificar em que consiste o direito derepresentao, que somente dado aos descendentes do herdeiro premorto e aosfilhos dos irmos premortos do de cujus, desde que concorrendo com outras pessoasda mesma classe. Assim, o legislador determinou uma ordem de preferncia entre osherdeiros, para determinar quem herdar em primeiro, de tal sorte que a existncia deuma pessoa de certa classe sucessria exclui o direito hereditrio dos demais.

    Com efeito, o primeiro dos chamados sucesso legtima o descendente,sendo que os de grau mais prximo excluem os de grau mais remoto. Assim, seexistirem filhos e netos do falecido, os primeiros excluem os segundos da sucesso.

    Entre eles, qualquer que seja a origem do parentesco, o direito sucesso idntico,de tal sorte que o acervo deve ser dividido entre todos os descendentes na mesmaproporo. E, se houver cnjuge, este pode ser chamado sucesso para concorrercom os descendentes, de acordo com o regime de bens; sendo que somente no serherdeiro concorrente no caso de regime de comunho universal de bens ou deseparao total obrigatria, ou na comunho parcial em que no existam bensparticulares. E, sendo o cnjuge herdeiro concorrente com os descendentes, terdireito a no mnimo um quarto do patrimnio sobre o qual concorresse concorrer comdescendentes seus. Por fim, para que o cnjuge possa, em qualquer caso, participarda sucesso do seu cnjuge premorto, no pode estar separado judicialmente dofalecido ou separado de fato h mais de dois anos, salvo se neste caso provar que aseparao no decorreu de culpa sua.

    Caso no existam descendentes, sero chamados sucesso osascendentes, em concorrncia com o cnjuge, caso existir. Quando a sucessocouber aos ascendentes, a primeira regra dispe que o mais prximo exclui o maisremoto, no havendo direito de representao. Em segundo, havendo igualdade degrau, mas diversidade de linha, a herana ter de ser dividida em pores iguais. E, sehouver cnjuge, este receber 1/3 do acervo se concorrer com ambos os ascendentesem primeiro grau do falecido ou metade se concorrer com apenas um dosascendentes em primeiro grau ou se for maior o grau de parentesco,independentemente do regime de bens do casamento.

    Se, no entanto, inexistirem ascendentes e descendentes, ao cnjuge tocar aintegralidade da herana, excluindo-se qualquer outro parente sucessvel, ressalvadaa existncia de disposies testamentrias vlidas.

    Mas, se tambm inexistir o cnjuge, sero chamados sucesso oscolaterais do falecido que, embora sejam herdeiros legtimos do falecido, no soherdeiros necessrios, razo pela qual, para que sejam excludos da sucesso, bastaao de cujus dispor de seu patrimnio por testamento sem benefici-los. Da mesmaforma que ocorre com as demais classes, entre os parentes colaterais, o mais prximoexclui o mais remoto. Assim, o primeiro dos colaterais com direito sucesso oirmo, por ser o parente mais prximo do falecido. Dentre os irmos, o legislador fazdistino entre os irmos bilaterais e unilaterais j que aos segundos caber a metade

    do que couber ao primeiro. Caso no existam irmos, sero chamados sucesso ossobrinhos e tios, parentes em terceiro grau com o falecido. No entanto, entre estes, a

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    lei novamente d tratamento diverso uma vez que, primeiro, ao filho do irmo premorto garantido o direito de representao caso concorra com outros de mesmo grau e,segundo, caso no haja a concorrncia com outros de mesmo grau do premorto,

    concorrendo sucesso apenas sobrinhos e tios do falecido, os primeiros tmpreferncia, de tal sorte que o tio do falecido apenas recebe se inexistirem sobrinhos,mantida entre estes a distino conforme o parentesco seja unilateral ou bilateral. E,caso inexistam parentes em terceiro grau, sero chamados sucesso os colateraisem quarto grau, que o limite legal de parentesco e de direito sucesso, deferindo-se o patrimnio deixado pelo falecido aos Municpios, Distrito Federal ou UnioFederal, conforme se localizem nos limites do Municpio, do Distrito Federal ou deTerritrio Federal, caso inexistam parentes legitimados sucesso ou testamentovlido e eficaz.

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    Testes de estudo de Direito Civil Prof Daniela Rosrio

    1. Pelas leis brasileiras, pode adquirir direitos e deveres:a) Somente as pessoas naturais ou fsicas.b) Somente as pessoas.c) Somente as pessoas jurdicas e os animais.d) Somente as pessoas naturais e os animais.

    2. A personalidade civil do homem:a) Se inicia no momento da concepo, da fecundao.b) Se inicia com o nascimento, haja ou no vida.c) Se inicia com o nascimento com vida.

    d) Se inicia com o registro do nascimento em cartrio.

    3. correto afirmar-se que:a) Todo homem capaz de direitos e deveres na ordem civil.b) Toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil.c) Toda pessoa tem capacidade civil plena.d) Toda pessoa presumidamente incapaz, at que se prove o contrrio.

    4. Considerando as seguintes afirmaes:I Personalidade a aptido genrica para a prtica dos atos da vida civil.II A capacidade de direito comum a todas as pessoas.III A capacidade de fato comum a todas as pessoas.

    IV Cessando a menoridade, a pessoa presumidamente capaz.

    Conclui-se que:a) Todas esto corretas.b) Somente uma est correta.c) Somente uma est incorreta.d) Todas esto incorretas.

    5. So relativamente incapazes para os atos da vida civil:a) Os menores de 16 (dezesseis) anos.b) Aqueles que no tm desenvolvimento mental completo.c) Aqueles que, ainda que por causa transitria, no puderem exprimir avontade.d) Os prdigos.

    6. Quanto ao fim da personalidade da pessoa natural, pode ser afirmado que:a) Ela somente se verifica atravs d