243
27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 1 Sumário Ponto 1. a: Conceito, objeto e fontes do Direito Administrativo. Direito Administrativo Constitucional . ....................................................................................................... 4 Ponto 1.b. Improbidade Administrativa: sujeitos e atos. Lei 8.429/1992 . .................... 5 Ponto 1.c. Meio ambiente e direitos fundamentais. Bens ambientais. Caracter sticas. 9 Ponto 2.a. Proteça o jur dica da fauna . ........................................................................................ 11 Ponto 2.b. Classificaçao dos atos administrativos. Atos administrativos simples, complexos e compostos. Atos administrativos unilaterais, bilaterais e multilaterais. Atos administrativos gerais e individuais . ................................................................................ 16 Ponto 2.c. Limitaço es administrativas. Ocupaçao tempora ria. Requisiça o. Servidao. Parcelamento, edificaça o ou utilizaça o compulso rios . ........................................................ 18 Ponto 3.a: Funçoes (atividades) administrativas. Funçao consultiva. Funçao de regulaçao. Funça o de controle. Funça o de fomento . ............................................................ 22 Ponto 3.b: V cios ou defeitos dos atos administrativos. A teoria das nulidades no Direito Administrativo. Atos administrativos nulos, anula veis e inexistentes . .......... 24 Ponto 3.c. Proteça o jur dica da flora . .......................................................................................... 26 Ponto 4.a. Princ pios de Direito Ambiental . ............................................................................. 36 Ponto 4.b. Teoria dos motivos determinantes. Teoria do desvio de poder . ................. 40 Ponto 4 .c. Licitaçao. Princ pios. Modalidades. Dispensa e inexigibilidade de licitaça o . ................................................................................................................................................. 42 Ponto 5.a. As competencias ambientais na federaçao brasileira. Açoes de cooperaça o . .......................................................................................................................................... 46 Ponto 5.b. Revogaçao, anulaçao, cassaçao e convalidaçao do ato administrativo. .... 51 Ponto 5.c: Desconcentraçao e descentralizaçao administrativa. Privatizaçao. .......... 54 Ponto 6.a. Personalidade de Direito Pu blico. Pessoa administrativa. Autarquia. Sociedade de economia mista. Empresa pu blica. Fundaça o pu blica. Conso rcios pu blicos. Outros entes . ..................................................................................................................... 55 Ponto 6.b. Contratos administrativos . ........................................................................................ 58 Ponto 6.c: Instrumentos de incentivo a conservaçao do meio ambiente. Instrumentos economicos, instrumentos governamentais. Serviços ambientais. Servida o ambiental . .......................................................................................................................... 61 Ponto 7.a: Desapropriaçao. Especies. Indenizaçao. Direito de extensao. Retrocessao. Desapropriaça o indireta . ................................................................................................................. 63 Ponto 7.b: Teoria do orgao. Representaçao judicial das pessoas de Direito Publico. 66 Ponto 7.c. Responsabilidade administrativa por danos ambientais. Infraçoes e sanço es administrativas ambientais . .......................................................................................... 69 Ponto 8.a: Administraçao Publica direta. A estrutura da Administraçao Publica federal. 72

Apostila concurso MPF - Administrativo e Ambiental

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Apostila de Direito Administrativo e Direito Ambiental para concurso do MPF.

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  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 1

    Sumrio

    Ponto 1. a: Conceito, objeto e fontes do Direito Administrativo. Direito

    Administrativo Constitucional. ....................................................................................................... 4

    Ponto 1.b. Improbidade Administrativa: sujeitos e atos. Lei 8.429/1992. .................... 5 Ponto 1.c. Meio

    ambiente e direitos fundamentais. Bens ambientais. Caracter sticas.

    9

    Ponto 2.a. Protea o jur dica da fauna. ........................................................................................11

    Ponto 2.b. Classificaa o dos atos administrativos. Atos administrativos simples,

    complexos e compostos. Atos administrativos unilaterais, bilaterais e multilaterais. Atos

    administrativos gerais e individuais. ................................................................................16

    Ponto 2.c. Limitao es administrativas. Ocupaa o tempora ria. Requisia o. Servida o.

    Parcelamento, edificaa o ou utilizaa o compulso rios. ........................................................18

    Ponto 3.a: Funo es (atividades) administrativas. Funa o consultiva. Funa o de

    regulaa o. Funa o de controle. Funa o de fomento. ............................................................22

    Ponto 3.b: V cios ou defeitos dos atos administrativos. A teoria das nulidades no

    Direito Administrativo. Atos administrativos nulos, anula veis e inexistentes. ..........24

    Ponto 3.c. Protea o jur dica da flora. ..........................................................................................26 Ponto

    4.a. Princ pios de Direito Ambiental. .............................................................................36 Ponto 4.b. Teoria dos

    motivos determinantes. Teoria do desvio de poder. .................40

    Ponto 4 .c. Licitaa o. Princ pios. Modalidades. Dispensa e inexigibilidade

    de

    licitaa o. .................................................................................................................................................42

    Ponto 5.a. As compete ncias ambientais na federaa o brasileira. Ao es de

    cooperaa o. ..........................................................................................................................................46

    Ponto 5.b. Revogaa o, anulaa o, cassaa o e convalidaa o do ato administrativo. ....51

    Ponto 5.c: Desconcentraa o e descentralizaa o administrativa. Privatizaa o. ..........54

    Ponto 6.a. Personalidade de Direito Pu blico. Pessoa administrativa. Autarquia.

    Sociedade de economia mista. Empresa pu blica. Fundaa o pu blica. Conso rcios

    pu blicos. Outros entes. .....................................................................................................................55

    Ponto 6.b. Contratos administrativos. ........................................................................................58

    Ponto 6.c: Instrumentos de incentivo a conservaa o do meio ambiente.

    Instrumentos econo micos, instrumentos governamentais. Servios ambientais.

    Servida o ambiental. ..........................................................................................................................61

    Ponto 7.a: Desapropriaa o. Espe cies. Indenizaa o. Direito de extensa o. Retrocessa o.

    Desapropriaa o indireta. .................................................................................................................63

    Ponto 7.b: Teoria do o rga o. Representaa o judicial das pessoas de Direito Pu blico.

    66

    Ponto 7.c. Responsabilidade administrativa por danos ambientais. Infrao es e

    sano es administrativas ambientais. ..........................................................................................69

    Ponto 8.a: Administraa o Pu blica direta. A estrutura da Administraa o Pu blica

    federal. 72

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 2 Ponto 8.b: Licitaa o: procedimento, fases, revogaa o e anulaa o. Controle

    administrativo e Jurisdicional. ......................................................................................................73

    Ponto 8.c. Sistema Nacional do Meio Ambiente. Pol tica Nacional do Meio Ambiente.

    Princ pios e objetivos. ......................................................................................................................79

    Ponto 9.a. Vinculaa o e discricionariedade. Atos administrativos vinculados e

    discriciona rios. O me rito do ato administrativo. ...................................................................86

    Ponto 9.b. Execua o do contrato administrativo. Alteraa o unilateral. Teoria do fato

    do pr ncipe. Teoria da imprevisa o. Equil brio econo mico-financeiro. ..........................88

    Ponto 9.c: Ordenamento Urbano. Estatuto das Cidades. Cidades Sustenta veis. ........91

    Ponto 10.a: Controle interno e externo da Administraa o Pu blica. Ombudsman.

    Procurador Federal dos Direitos do Cidada o. .........................................................................96

    Ponto 10.b. Extina o do contrato administrativo. Adimplemento e inadimplemento.

    97

    Ponto 10.c. Espaos territoriais especialmente protegidos. Sistema Nacional de

    Unidades de Conservaa o da Natureza - SNUC. .................................................................. 100

    Ponto 11.a. Controle Jurisdicional da Administraa o Pu blica. Sistemas. A teoria da

    reserva do poss vel. ........................................................................................................................ 106

    Ponto 11. b. Conve nios e conso rcios administrativos. Contratos de gesta o ............. 109

    Ponto 11.c. Protea o jur dica do patrimo nio cultural brasileiro. Instrumentos:

    tombamento, inventa rios, registros e outras formas de acautelamento e

    preservaa o. ...................................................................................................................................... 112

    Ponto 12.a - Estatuto do Ministe rio Pu blico Federal. ........................................................ 115 Ponto 12.b.

    Hierarquia. Delegaa o e avocaa o de compete ncias.................................. 122

    Ponto 12 - c. Populao es tradicionais. Acesso ao territo rio e garantias territoriais.

    Diversidade biolo gica e patrimo nio gene tico. Protea o e acesso ao conhecimento

    tradicional associado ..................................................................................................................... 124

    Ponto 13.a. Princ pio da legalidade na Administraa o Pu blica. Poder regulamentar.

    Espe cies de regulamento. Controle sobre a atividade regulamentar. ........................ 134

    Ponto 13.b: Utilizaa o dos bens pu blicos: autorizaa o, permissa o e concessa o de

    uso; concessa o de direito real de uso; concessa o de uso especial para fins de

    moradia; aforamento de bens; cessa o de uso. ..................................................................... 135

    Ponto 13.c. Recursos h dricos. Pol tica Nacional de Recursos H dricos.

    Instrumentos de gesta o de recursos h dricos. Regime jur dico das a guas. ADguas

    subterra neas. .................................................................................................................................... 139

    Ponto 14.a. Age ncias executivas e age ncias reguladoras. Ordens e conselhos

    profissionais. Servios sociais auto nomos. Fundao es de apoio. ............................... 142

    Ponto 14.b. Servio pu blico. Conceito. Classificaa o. Regime jur dico. O usua rio do

    servio pu blico. ................................................................................................................................ 148

    Ponto 14.c. Pol tica Nacional de Biossegurana: pressupostos doutrina rios; regime

    jur dico; instrumentos. Biossegurana, prevena o, precaua o e informaa o ......... 150

    Ponto 15.a. Responsabilidade patrimonial do Estado: evolua o histo rica e

    fundamentos jur dicos. ................................................................................................................. 155

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 3 Ponto 15.b.Responsabilidade Fiscal: ....................................................................................... 158

    Ponto 15.c: Sistema nacional do meio ambiente. Pol tica nacional do meio

    ambiente. ............................................................................................................................................ 158

    Ponto 16.a. Setor pu blico na o-estatal. Organizao es sociais. Organizao es da

    sociedade civil de interesse pu blico. ....................................................................................... 163

    Ponto 16.b. Protea o da probidade administrativa. Instrumentos de atuaa o. As

    sano es na Lei 8.429/1992. Prescria o. ................................................................................. 166

    Ponto 16.c. O dano ambiental e sua reparaa o: responsabilidade civil. ....................

    168

    Ponto 17.a. Fatos da Administraa o Pu blica: atos da Administraa o Pu blica e fatos

    administrativos. Elementos do ato administrativo. ........................................................... 171

    Ponto 17.b. Poder de pol cia administrativa. Poder de pol cia e direitos

    fundamentais. ................................................................................................................................... 172

    Ponto 17. c. Zoneamento ambiental. Natureza jur dica. Princ pios. Caracter sticas

    174

    Ponto 18.a. Agentes pu blicos. Natureza jur dica da relaa o de emprego pu blico.

    Agentes pol ticos. Garantias. Estabilidade e Vitaliciedade. Esta gio probato rio. Cargo em comissa o. Agente

    de fato. Aposentadoria do servidor pu blico. ............................. 176

    Ponto 18.b. Parcerias pu blico-privadas .................................................................................. 181

    Ponto 18.c: Pol tica Nacional de Res duos So lidos. Objetivos e princ pios. Planos de

    res duos so lidos. Responsabilidade civil e res duos so lidos. Responsabilidade

    compartilhada. Licenciamento ambiental e res duos so lidos........................................ 186

    Ponto 19.a. Concessa o de servio pu blico. Natureza jur dica e conceito. Regime

    financeiro. .......................................................................................................................................... 196

    Ponto 19.b. Extina o da concessa o de servio pu blico. Reversa o dos bens.

    Permissa o e autorizaa o. ............................................................................................................. 201

    Ponto 19.c. Gesta o de florestas pu blicas. Uso e exploraa o. Concessa o florestal. .. 204

    Ponto 20.a. Direitos, deveres e responsabilidades do servidor pu blico. Regime

    disciplinar e processo administrativo disciplinar............................................................... 208

    Ponto 20.b. A Administraa o Pu blica sob os aspectos orga nico, formal e material.

    Administraa o Pu blica e governo. ............................................................................................ 215

    Ponto 20.c. Protea o jur dica do Meio Ambiente e a exploraa o mineral. Mineraa o

    e impactos ambientais. Licenciamento. Deveres ambientais relativos a exploraa o

    mineral. 216

    Ponto 21.a Bens pu blicos. Classificaa o. Natureza jur dica do dom nio pu blico. ... 219 Ponto 21.b.

    Validade, vige ncia e efica cia do ato administrativo. Autoexecutoriedade

    do ato administrativo .................................................................................................................... 221

    Ponto 21.c Poder de pol cia ambiental. Compete ncias ..................................................... 223 Ponto 22.a.

    Provimento e vaca ncia dos cargos pu blicos. ................................................. 228

    Ponto 22.b. EDtica na Administraa o Pu blica. Dever de transpare ncia e de

    informaa o ......................................................................................................................................... 229

    Ponto 22 c: Desenvolvimento sustenta vel. Aquecimento global. Normas

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 4 internacionais em tema ambiental. Reparaa o do dano ecolo gico. ............................. 231

    Ponto 23.a. Dom nio pu blico terrestre. Evolua o do regime jur dico das terras

    pu blicas no Brasil. Faixa de fronteira. Vias pu blicas. Dom nio pu blico do subsolo.

    Recursos minerais. Potenciais de energia hidra ulica. Dom nio pu blico ae reo........ 235

    Ponto 23.b. Processo e procedimento administrativo. A insta ncia administrativa.

    Representaa o e reclamaa o administrativas. Pedido de reconsideraa o e recurso

    hiera rquico pro prio e impro prio. Prescria o administrativa ........................................ 238

    Ponto 23.c. Instrumentos processuais para a tutela do meio ambiente .................... 241

    IT E M 1

    Ponto 1. a: Conceito, objeto e fontes do Direito Administrativo. Direito

    Administrativo Constitucional.

    Ana Laura Fonseca

    Principais obras consultadas: CABM, MSZDP, JSCF, LVF.

    Legislao bsica: no indicou.

    Conceito: a) Para Celso Antonio Bandeira de Melo: Direito Administrativo o ramo do

    Direito Pblico que disciplina o exerccio da funo administrativa.

    b) Para Di Pietro: DA o ramo do direito pblico que tem por objeto os rgos, os

    agentes e as pessoas jurdicas administrativas que integram a Administrao Pblica, a

    atividade jurdica no contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a

    consecuo de seus fins, de natureza pblica (aspecto subjetivo + aspecto objetivo).

    c) Para Jos dos Santos Carvalho Filho: Ramo do Direito Pblico (ou taxinomia =

    natureza jurdica) compreendido como o conjunto de normas e princpios que, visando

    sempre ao interesse pblico, regem as relaes jurdicas entre as pessoas e rgos do Estado

    e entre este e as coletividades a quem deve servir.

    d) Para Odete Medauar: Conjunto de normas e princpios que regem a atuao da

    Administrao Pblica.

    Objeto do Direito Administrativo: Varia no tempo e no espao (ex. direito anglo-

    saxo x direito europeu e latino). Atualmente, abarca as atividades, agentes, pessoas e

    rgos da Administrao Pblica e sua relao entre si e com terceiros. Com fundamento

    no critrio funcional, estudo da disciplina normativa da funo administrativa e da

    organizao e estrutura da Administrao Pblica. Objeto Imediato: princpios e normas

    que regulam a funo administrativa. Objeto Mediato: disciplina das atividades, agentes,

    pessoas e rgos da Administrao Pblica.

    Fontes do Direito Administrativo: Teve origem na Frana, com base nas decises do

    Conselho de Estado, tem como fontes: a lei (fonte primria), a doutrina, a jurisprudncia,

    costume, princpios (fontes secundrias). Para Lcia Valle Figueiredo os costumes no so

    fontes.

    Direito Administrativo Constitucional: O Direito Constitucional o ramo do direito

    com maior intimidade como Direito Administrativo, sendo certo que o Direito

    Constitucional fornece as diretrizes mestras, bases e parmetros do Direito

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 5 Administrativo, tais como princpios, normas gerais sobre servidores pblicos,

    competncias dos poderes, normas sobre desapropriao, concesses e permisses de

    servios pblicos, dos contratos administrativos e licitaes, bem como a

    responsabilidade extracontratual do Estado. O Direito Administrativo Constitucional o

    Ramo do Direito Administrativo com fundamento na Constituio.

    Ponto 1.b. Improbidade Administrativa: sujeitos e atos. Lei 8.429/1992.

    Ana Laura Fonseca e Felipe Remonato

    Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26 CPR. Manual de Direito

    Administrativo, 22 edio, 2009. JSCF. Aulas do Alcance 2011. JSCF e "Improbidade

    Administrativa", de Flavia Cristina e Lucas Dos Santos (Obra interessante para uma leitura

    mais apurada do tema).

    Legislao bsica: CF/88 e Lei 8.429/92.

    Atos na Improbidade Administrativa

    ROL EXEMPLIFICATIVO: Regulamentando o art. 37, 4 da CF, a lei 8.429/92

    disciplinou os atos de improbidade administrativa em 03 espcies, utilizando-se, para tanto,

    da tcnica legislativa dos conceitos jurdicos indeterminados, e no das tipificaes

    cerradas do direito penal. O rol exemplificativo, uma vez que cada um dos dispositivos traz

    a expresso "e notadamente" ao final do caput, demonstrando a inteno do legislador de

    criar um rol aberto de condutas. So eles, de acordo com a

    ordem decrescente de sua gravidade:

    a) Atos que importem enriquecimento ilcito (art. 9), destacando-se as seguintes

    condutas exemplificativamente listadas nos incisos: inc. I - receber qualquer vantagem

    patrimonial indevida de quem tenha interesse na ao ou omisso do agente; inc. IV -

    utilizao indevida, em obra ou servio particular, de veculos, mquinas, equipamentos,

    materiais ou agentes pblicos; inc. VII - aquisio de bens desproporcionais evoluo

    patrimonial; inc. VIII - exerccio de consultoria, no exerccio durante a atividade, para

    quem tenha interesse na ao ou omisso do agente;

    b) Atos que causem prejuzo ao errio (art. 10), destacando-se os incisos VII -

    concesso de benefcios administrativos/ fiscais indevidos; VIII - frustrar a licitude do

    processo licitatrio; X - negligenciar na arrecadao de tributo ou conservao de bens

    da administrao;

    c) Atos que atentem contra princpios da administrao (art. 11), destacando-se que as

    condutas vedadas aos agentes polticos da 9.504/97 aqui se inserem (art. 73, 7).

    Recentemente o STJ entendeu que a entrega compulsria e o desconto em folha de

    pagamento de parte dos rendimentos dos assessores formais destinados manuteno de

    "caixinha" para gastos de campanha e de despesas dos respectivos gabinetes, bem como para a

    contratao de assessores particulares violam, expressamente, os princpios administrativos

    da moralidade, finalidade, legalidade e do interesse pblico, conduta dos parlamentares que

    se insere no caput e I do art. 11 da Lei n. 8.429/1992. (REsp. 1.135.767-SP). Ainda na

    casustica, o STJ, por votao apertada, entendeu que configura improbidade do art. 11, I,

    ato de prefeito que divulgou na imprensa a doao

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 6 de valor para recuperar hospital, omitindo o carter pblico do mesmo, prevalecendo

    entendimento que a lei deve incidir sobre o administrador inepto, e no apenas sobre o que

    age de m-f (REsp 884.083-PR).

    DESNECESSIDADE DA EFETIVA OCORRNCIA DO DANO: O dano

    desnecessrio por expressa previso legal (art. 21, I da 8.429/92), no sendo prescindvel

    nas hipteses do art. 10. A ausncia de dano apenas impede a aplicao da sano de

    ressarcimento e a posterior reparao no tem o condo de excluir a ilegalidade do ato.

    ELEMENTO SUBJETIVO: No h que se falar em responsabilidade objetiva nos atos

    de improbidade, sendo necessrio aferir o elemento subjetivo do agente. Os atos das trs

    espcies aceitam a modalidade dolosa. Somente pode se configurar na forma culposa os atos

    que causem prejuzo ao errio (art. 10), por expressa previso legal. STJ, RESP 875163/ R S ,

    19/ 05/ 2009.

    TENTATIVA: No h previso legal da punio da tentativa, sendo invivel se utilizar

    analogicamente do art. 14 do CP. Isso no impede eventual punio por infringncia a

    princpios, quando, por circunstncias alheias vontade do agente, o enriquecimento ilcito

    ou o prejuzo ao errio no se consumarem (GARCIA; ALVES, 2006, p. 301).

    INAPLICABILIDADE DO PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA: semelhana do

    entendimento adotado com relao aos crimes praticados contra a administrao pblica, o

    STJ rechaou a tese de aplicabilidade do princpio da insignificncia ou bagatela aos atos

    de improbidade administrativa. RESP 769317/AL, DJ 27/03/2006, RESP 892818/RS,

    julgado em 11/11/2008 - conforme Inf. 376, STJ. Tambm STJ, HC

    148765/SP, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. em 11/05/2010, DJ 31.05.2010.

    PRESCRIO: O art. 23 da 8.429/92 prev dois prazos prescricionais para a

    propositura da ao de improbidade: a) 05 anos, contados do trmino do exerccio do

    mandato, cargo ou funo de confiana; b) dentro do prazo previsto em lei especfica para

    faltas disciplinares punveis com demisso. Segundo o STJ, se o agente exercer,

    cumulativamente, cargo efetivo e cargo comissionado ao tempo do ato reputado mprobo,

    h de prevalecer o primeiro para fins de contagem prescricional, pelo simples fato de o

    vnculo entre agente e Administrao Pblica no cessar com a exonerao do cargo em

    comisso, por esse ser temporrio (REsp 1.060.529). Tambm decidiu o STJ que, se o

    agente pblico for reeleito, o termo a quo para a contagem do prazo prescricional ser o

    trmino do ltimo mandato (REsp 1.107.833). Por fim, o STJ, de forma pacfica, entende

    que em funo do art. 37, 5 da CF, so imprescritveis as sanes de ressarcimento ao

    errio. (REsp 1.089.492). Tambm REsp 1067561/AM, j. em 05/02/2009.

    SUCESSORES DO MPROBO: Esto sujeitos s cominaes patrimoniais da lei, at o

    limite do valor da herana, na forma do art. 8 da Lei 8.429/94 e do art. 5, XLV da CF.

    CONFLITO DE COMPETNCIA: O STF entendeu caber ao MP estadual propor as

    aes para investigar atos de improbidade relacionados ao FUNDEB e ao MPF as questes

    penais. (ACO-1109).

    SUJEITOS PASSIVOS. a pessoa jurdica que a lei indica como vtima do ato de

    improbidade administrativa. O art. 1, da Lei 8.429/92, arrola os sujeitos passivos

    principais, divididos em trs categorias: a) pessoas da administrao direta: Unio, Estados,

    Distrito Federal e Municpios; b) pessoas da administrao indireta: autarquias, fundaes,

    empresas pblicas e sociedades de economias mista (prestadoras de servios pblicos ou

    atividade de carter econmico); c) pessoa cuja criao ou custeio o errio

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 7 haja contribudo ou contribua com mais de 50% do patrimnio ou receita. Os sujeitos

    passivos secundrios esto previstos no pargrafo nico do art. 1, da Lei de Improbidade.

    Dividem-se em dois grupos: a) entidades que recebem subveno, benefcio ou incentivo,

    fiscal ou creditcio, de rgo pblico; b) entidades para cuja criao ou custeio o errio haja

    concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimnio ou receita anual. O diferencial

    desse grupo que a tutela incide apenas sobre o seu patrimnio e a sano patrimonial se

    limita exclusivamente repercusso do ilcito sobre a parcela do errio.

    H casos que suscitam dvidas, entendendo a doutrina majoritariamente que eles se

    enquadram no rol dos sujeitos passivos, quais sejam: sindicatos, conselhos de classe (cuja

    natureza autrquica - STF, ADI 1717-, com exceo da OAB, que um servio pblico

    independente - STF, ADI 3026), partidos polticos, entidades do terceiro setor como OS e

    OSCIPs, consrcios pblicos (Lei 11.107/05) (GARCIA; ALVES, 2006, p. 203-221). As

    pessoas jurdicas de direito privado que prestam servio pblico descentralizado por meio

    de delegao contratual, como as concessionrias e permissionrias (Lei n 8.987/95), por

    no receberem recursos do errio, no so sujeitos passivos, o que no pode se dizer das

    PPPs (Lei n 11.079/04). A sentena que julgar procedente ao civil de reparao de dano

    ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinar o pagamento ou a reverso

    dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurdica prejudicada pelo ilcito (art. 18).

    SUJEITOS ATIVOS. aquele que pratica o ato de improbidade, concorre para sua prtica

    ou dele extrai vantagens indevidas. o autor mprobo da conduta. Podem ser agentes

    pblicos ou terceiros. Dispe a Lei 8.429/92: "reputa-se agente pblico, para os efeitos desta

    lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remunerao, por eleio,

    nomeao, designao, contratao ou qualquer outra forma de investidura ou vnculo,

    mandato, cargo, emprego ou funo nas entidades mencionadas no artigo anterior".

    Enquadram-se nessa categoria: agentes polticos; agentes colaboradores; servidores

    pblicos em geral. Portanto, sujeitam-se a lei de improbidade os Chefes do Executivo,

    Ministros e Secretrios, Senadores, Deputados e Vereadores; magistrados e membros do

    MP. Os empregados de empresa pblica e sociedade de economia mista, bem como de

    entidades beneficiadas por auxlio ou subveno estatal, tambm podem responder por atos

    de improbidade, embora no sejam agentes pblicos.

    Podem tambm ser sujeitos ativos de ato de improbidade os notrios e registradores,

    delegatrios de servios pblicos, porquanto os emolumentos tm natureza de taxa. O

    sujeito ativo dos atos de improbidade o sujeito passivo da ao de improbidade, mas o

    inverso no verdadeiro, j que possuem legitimidade para prop-la o MP (legitimidade

    extraordinria) e a pessoa jurdica interessada (h controvrsia se a pessoa jurdica de direito

    privado tem legitimidade), na forma do art. 17, caput.

    TERCEIROS. So aqueles que, no se qualificando como agentes pblicos, induzem ou

    concorrem para a prtica do ato de improbidade ou dele se beneficiam direta ou

    indiretamente. O terceiro somente recebe o influxo da Lei de Improbidade quando estiver

    de algum modo vinculado ao agente; sem essa vinculao com este, sujeitar-se- a sanes

    previstas na respectiva lei de incidncia. Sero submetidos lei em duas hipteses: a)

    quando induzirem/concorrerem para a prtica do ato; ou b) deles se

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 8 beneficiarem (art. 3). Tambm as pessoas jurdicas podem responder por atos de

    improbidade na qualidade de terceiro beneficiado. (GARCIA; ALVES, 2006, p. 233)

    SUCESSORES DO AGENTE MPROBO. Esto sujeitos s cominaes patrimoniais da lei,

    at o limite do valor da herana, na forma do art. 8 da Lei 8.429/94 e do art. 5, XLV da CF.

    AGENTES POLTICOS E PRERROGATIVA DE FORO (Rcl. 2138 e Pet. 3923): A

    discusso a propsito da aplicabilidade da lei de improbidade aos agentes polticos

    extremamente controvertida, guardando relao, mas no identidade, com a discusso sobre

    a prerrogativa do foro para tais agentes. Na Rcl. 2.138, de relatoria do Min. Gilmar

    Mendes, e na qual foram computados votos de ministros que no compunham a Corte

    naquele momento, prevaleceu a tese de que haveria um regime dual de responsabilizao

    poltico-administrativa. De um lado teramos o regime previsto no art. 37, 4 da CF, cuja

    regulamentao se deu com a Lei 8.429/92. Do outro estaria o regime dos "crimes" de

    responsabilidade fixado nos artigos 85, inc. V e 102, I, c, ambos da CF, e disciplinados pela

    Lei 1.079/50 (Crimes de responsabilidade cometidos pelo Presidente e pelos

    Governadores) e pelo Decreto-Lei 201/67 (Crimes de responsabilidade cometidos por

    Prefeitos e Vereadores). Prevaleceu o entendimento de que apenas esse segundo regime se

    aplicaria aos agentes pblicos ali mencionados (e no o regime da 8.429/92), sob pena de bis

    in idem. Firmou-se, ademais, a competncia do STF para julgar Ministros de Estado quando

    a eles imputados atos de improbidade previstos em seu regime sancionatrio. Importante

    frisar que na Pet. 3923 QO/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, no prevaleceu nenhum dos

    entendimentos da Rcl. 2138, tendo sido registrado que, no obstante haver um regime dual

    que se consubstanciava tanto nas leis de "crimes de responsabilidade" quanto na de

    improbidade administrativa (ambas de natureza no-penal), era totalmente possvel (sem

    bis in idem) que a um mesmo fato jurdico fosse atribudo, pelo ordenamento,

    conseqncias jurdicas diversas. Ou seja: a uma mesma conduta considerada ilegal (artigos

    9 ao 11 da LIA e art. 5 e ss. da Lei 1.079/50) era possvel se imputar sanes diversas (art.

    12 da LIA e art. 2 da Lei 1.079/50). Dessa forma, como a nica rea de sobreposio dos

    mencionados preceitos normativos gira em torno da sano de perda da funo pblica e

    suspenso dos direitos polticos, somente nesse ponto estariam os agentes polticos imunes

    incidncia dos efeitos da LIA. Entendeu-se, tambm, que no havia que se falar em

    prerrogativa de foro.

    QUESTES ENVOLVENDO A PRERROGATIVA DE FORO APS A RCL. 2138 E PET.

    3923: Parece no prevalecer mais o entendimento da Pet. 3923. No julgamento da Pet. 3211,

    julgado em 13/03/08, na qual um dos acusados por atos de improbidade era o Min. Gilmar

    Mendes, o STF entendeu ser competente para julgar seus Ministros. A partir da o STJ

    comeou a entender, por simetria, que em alguns casos haver prerrogativa: i) Magistrados

    de 2 grau (Rcl. 4.927 STJ); ii) Governadores (Rcl. 2790, STJ). Essa parece ser a tendncia

    dos tribunais, apesar de ainda haver muita controvrsia.

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 9 CONFLITO DE COMPETNCIA: O STF entendeu caber ao MP estadual propor as aes

    para investigar atos de improbidade relacionados ao FUNDEB e ao MPF as questes

    penais. (ACO-1109). Resumindo: MS 31234, 22/03/2012, Min. Luiz Fux- STF, o entendimento de que agentes

    polticos podem responder como rus em ao de improbidade, mas com

    observncia da prerrogativa de foro, tem se consolidado mais recentemente na

    jurisprudncia ptria, e em particular, no mbito desta Suprema Corte.

    1.6. Questes de Concurso: questo 12 do 25 CPR.

    12. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:

    a) ( ) os atos de improbidade administrativa sujeitam o infrator apenas s

    sanes decorrentes do processo criminal quando houver coincidncia entre o tipo penal e

    o tipo descrito na Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade), sob pena de

    configurao de bis in idem;

    b) ( ) ante a natureza e a gravidade das sanes previstas em lei, os atos de

    improbidade s so punveis a ttulo de dolo, inexistindo possibilidade de

    responsabilizao com base em culpa em sentido estrito;

    c) ( ) a sano de suspenso de diretos polticos prevista na Lei 8.429/92

    incompatvel com a Constituio da Repblica, uma vez que esta no admite a "morte

    cvica" do cidado;

    d) ( ) a medida de indisponibilidade de bens prevista na Lei de Improbidade

    possui natureza cautelar, tendo por escopo assegurar a reparao do dano ao errio.

    GABARITO: D.

    1.7. Leitura Complementar: obras citadas ao longo do resumo.

    Ponto 1.c. Meio ambiente e direitos fundamentais. Bens ambientais.

    Caractersticas.

    Rodrigo Frana Merlo Almeida

    Principais obras consultadas: AMADO, Frederico. Direito Ambiental Esquematizado.

    3 Edio. Ed. Mtodo. 2012

    Legislao bsica: CRFB/88, arts. 182, 215, 216 e 225; Lei 12.343/2010 (Plano

    Nacional de Cultura); Lei 12.651/2012 (Cdigo Florestal)

    A constitucionalizao do direito ambiental uma tendncia mundial, em especial nas

    constituies sociais, cada vez mais analticas. A previso constitucional eleva a

    importncia das regras e princpios ambientais e conferem a estes uma mais proteo

    jurdico-institucional. ANTNIO HERMAN BENJAMIN aponta os seguintes benefcios

    da constitucionalizao do direito ambiental: subjetivamente - 6 ganhos: i.

    estabelecimento de um dever constitucional genrico de no degradar; ii. base do

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 10 regime de explorabilidade limitada e condicionada; iii. ecologizao da propriedade e da sua

    funo social; iv. a proteo ambiental como direito fundamental; v. a legitimao

    constitucional da funo estatal reguladora; vi. a reduo da discricionariedade

    administrativa e a ampliao da participao pblica. formalmente - 5 ganhos: i. mxima

    preeminncia (superioridade) e proeminncia (perceptibilidade) dos direitos ambientais; ii.

    deveres e princpios ambientais; iii. a segurana normativa; iv. a substituio do

    paradigma da legalidade ambiental para a constitucionalidade ambiental; v. controle de

    constitucionalidade da lei e o reforo exegtico pr-ambiente das normas infraconstitucionais.

    A CRFB reconheceu expressamente o direito fundamental ao meio ambiente

    ecologicamente equilibrado (art. 225, caput) sendo direitos de terceiras gerao, com

    aplicabilidade imediata. O meio ambiente ecologicamente equilibrado formalmente

    direito fundamental (previso normativa) e materialmente direito fundamental (condio

    indispensvel para a realizao da dignidade da pessoa humana). Dessa forma, possui todas

    as caractersticas dos direitos fundamentais: a) historicidade; b) universalidade; c)

    irrenunciabilidade; d) inalienabilidade; e) limitabilidade e f) imprescritibilidade.

    Efeitos importantes do reconhecimento como direito fundamental: i)

    imprescritibilidade da pretenso de reparao do dano ambiental - decorrncia da

    imprescritibilidade dos DF. ii) vedao ao retrocesso ecolgico e previso de um mnimo

    existencial ecolgico. iii) criao de deveres ambientais por simples ato regulamentar:

    efeito da eficcia imediata dos direitos fundamentais. Desde que a norma tiver como

    fundamento diretamente o direito fundamental ambiental, neste sentido ADPF 101, STF,

    julgado em 24.06.2009 - vedao de importao de pneus usados por meio de norma

    regulamentar do CONAMA. Alm desses cumpre ressaltar a eficcia dos direitos

    fundamentais na dimenso objetiva e subjetiva, em especial em face das relaes privadas.

    Bens ambientais: Os bens ambientais so de uso comum do povo e tm como

    caractersticas ser autnomo, imaterial e de natureza difusa. A doutrina os classifica em: a)

    Meio Ambiente Natural (ou fsico): so os elementos que existem mesmo sem a influncia

    do homem. Art. 225, CRFB/88, Ex. solo, gua, ar, fauna, flora.; b) Meio Ambiente

    Artificial: so os elementos criados pelo homem, na interao com a natureza. Ex.: casa,

    prdio, art. 182, CRFB/88; c) Meio Ambiente Cultural: so os elementos criados ou

    utilizados pelo homem, mas que detm valor especial para a sociedade. Ex.: valor

    cientfico, turstico, cultural, arqueolgico, ligado cultura, memria arts. 215 e 216, da

    CRFB/88 e d) Meio Ambiente do Trabalho: consiste no ambiente de trabalho onde o

    homem exerce suas atividades laborais, podendo ser um espao fechado ou aberto. Esse

    meio ambiente est previsto na CF no artigo 220, inciso VIII, tendo sido expressamente

    reconhecido pelo STF no julgamento da ADI 3540. e) Meio ambiente gentico -

    controverso - o meio ambiente gentico composto pelos organismos vivos do planeta

    Terra, que formam a sua diversidade ecolgica. A maioria da doutrina o entende abarcado

    no meio ambiente natural, contra Celso Antnio Pacheco Fiorillo e Terence Trennepohl.

    IT E M 2

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 11

    Ponto 2.a. Proteo jurdica da fauna.

    Mariana Casati

    Principais obras consultadas: Resumos dos Grupos do 25 e 26 CPR; AYALA,

    Patryck de Arajo. O princpio da precauo na constituio brasileira: aspectos da

    proteo jurdica da fauna.

    http://www.esmarn.tjrn.jus.br/revistas/index.php/revista_direito_e_liberdade/article/vie

    w/97

    Legislao bsica: CF, arts. 23, VII; 24, VI; 30; 225, caput, 1o, VII, 4o; Lei

    5.197/1967 (proteo fauna - Cdigo de Caa); Decreto-lei 221/67 (Cdigo de Pesca);

    Lei 10.519/02 (rodeios); Resoluo CONAMA 303/02 (APP); Resoluo CONAMA

    302/02 (Reservatrios d'gua artificiais); Lei 11.794/2008 (uso cientfico de animais); Lei

    12.651/12 (CoFlo).

    Competncia. No tocante fauna, as competncias material e legislativa so comuns entre

    todos os entes federativos.

    Tutela jurdica. Da legislao infraconstitucional vale destacar, no tocante fauna, o

    Cdigo de Pesca, em que trata da captura da fauna aqutica, com vistas meramente sua

    atividade econmica, e o Cdigo de Caa, em que se norteia um vis mais protecionista,

    direcionando-se ao direito ecolgico, e no qual se disps efetivamente sobre a proteo

    fauna, mais se aproximando dos ditames constitucionais. Insta observar que embora o

    Cdigo de Caa tenha tratado somente da fauna silvestre, a Constituio Federal ampliou o

    leque de proteo da fauna tutelada. Cumpre registrar, ainda, o artigo 36 que institui o

    Conselho Nacional de Proteo Fauna, rgo consultivo e normativo de proteo fauna

    no pas.

    A Declarao Universal dos Direitos dos Animais, da UNESCO, celebrada na Blgica

    em 1978, e subscrita pelo Brasil, elenca entre os direitos dos animais o de "no ser

    humilhado para simples diverso ou ganhos comerciais", bem como "no ser submetido a

    sofrimentos fsicos ou comportamentais antinaturais".

    A Carta da Terra, criada na RIO+5, em seu artigo 14 dispe que devemos tratar todas as

    criaturas decentemente e proteg-las da crueldade, sofrimento e matana desnecessria.

    A CF, em seu artigo 225, 1, VII, no definiu o que vem a ser fauna. A Lei de Proteo

    Fauna (Lei 5197/67), estabeleceu que "os animais de quaisquer espcies, em qualquer fase

    do seu desenvolvimento em que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituem a fauna

    silvestre, sendo eles e seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, de propriedades do

    Estado, sendo proibidas sua utilizao, perseguio, destruio, caa ou apanha".

    Delimitou, portanto, a fauna ambiental restringindo sua tutela fauna silvestre e no

    fauna domstica, no sendo, portanto, toda a fauna objeto de tutela, j que protege apenas

    aqueles que vivem naturalmente fora do cativeiro.

    Tal limitao encontra guarida na prpria Constituio Federal j que o artigo 225, 1,

    VII, agasalha a proteo da fauna, na forma da lei, sendo esta integrada por meio da Lei 5197/

    67.

    A Constituio, assim, emitiu o comando de que ser a lei ordinria quem definir o

    conceito de fauna, sendo possvel ampliar-se o conceito atual de fauna - at ento restrito -

    bastando para tanto uma normatizao em "lege ferenda", concluindo-se,

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 12 entretanto, que por ora, a lei infraconstitucional atual no protege qualquer tipo de fauna,

    mas to-somente a fauna silvestre.

    Destarte, alterada ou no a lei infraconstitucional, o fato que a fauna protegida

    constitucionalmente, justificando-se sua tutela quando: 1) as espcies estiverem ameaadas

    de extino; 2) imprescindvel a sua proteo ecolgica e 3) quando a leso for praticada por

    meio de tratamento cruel.

    Esses trs requisitos so assim, essenciais para legitimar constitucionalmente a proteo

    fauna, cabendo a lei ordinria integrar-se em uma viso constitucional.

    A lei ordinria e a Constituio trabalham, portanto, pari passu, no havendo

    possibilidade de proteger-se a fauna sem que ambos os fundamentos estejam presentes de

    forma harmnica.

    Todavia, como alerta Celso Fiorillo, em sua obra Manual do Direito Ambiental e

    Legislao aplicvel, "ainda que os animais domsticos no possuam uma funo

    ecolgica e que, justamente por serem domesticados, no corram o risco de extino, h

    que restar claro que como integrantes da coletiva fauna, devem ao menos, serem protegidos

    contra as prticas que sob os olhos humanos, lhes sejam cruis".

    Sob o ponto de vista constitucional, portanto, legtima a proteo ao animal domstico,

    no havendo nenhum bice sua configurao como bem ambiental, dependendo apenas

    da constatao da crueldade ao animal domstico, afetando o psique humano, no sendo

    obstculo a mera definio da lei ordinria, at porque no restou impedida no mbito

    constitucional.

    Dever de preservar a fauna: Sobre o assunto, vale transcrever as seguintes passagens

    extradas do voto do Min. Celso de Mello proferido no julgamento da ADI 1856 (lei do RJ

    que autoriza a realizao de exposies e competies entre aves das raas combatentes).

    "O respeito pela fauna em geral atua como condio inafastvel de subsistncia e

    preservao do meio ambiente em que vivemos, ns, os prprios seres humanos. Evidente,

    desse modo, a ntima conexo que h entre o dever tico-jurdico de preservar a fauna (e de

    no incidir em prticas de crueldade contra animais), de um lado, e a prpria subsistncia do

    gnero humano em um meio ambiente ecologicamente equilibrado, de outro. Cabe

    reconhecer o impacto altamente negativo que representa para incolumidade do patrimnio

    ambiental dos seres humanos a prtica de comportamentos predatrios e lesivos fauna,

    seja colocando em risco a sua funo ecolgica, seja provocando a extino de espcies,

    seja ainda submetendo os animais a atos de crueldade". "O ordenamento constitucional

    brasileiro, para conferir efetividade e proteger a integridade do direito fundamental ao

    meio ambiente ecologicamente equilibrado, visando, com tais objetivos, neutralizar o

    surgimento de conflitos intergeneracionais, imps, ao Poder Pblico, dentre outras

    medidas essenciais, a obrigao de proteger a fauna, vedadas, para tanto, prticas que

    coloquem em risco sua funo ecolgica ou que provoquem a extino de espcies ou,

    ainda, que

    submetam os animais a atos de crueldade."

    Preservao dos processos ecolgicos essenciais e prover o manejo ecolgico das

    espcies: Para a conservao da variabilidade gentica das espcies de fundamental

    importncia a dos espaos naturais pelo Poder Pblico, atravs da instituio de espaos

    territoriais especialmente protegidos. "A instituio de reas protegidas deve privilegiar como

    objetivo no apenas a proteo dos prprios espaos naturais considerados em si mesmos,

    mas de todos os seus valores associados, na medida em que a proteo dos espaos

    tambm cumpre finalidades relacionadas, especialmente, preservao ou

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 13 conservao das condies, funes e processos ecolgicos que neles se desenvolvem,

    independente de suas qualidades particulares. Desse modo, a atribuio de proteo

    especial a determinado espao no restringe a atribuio de valor jurdico apenas rea

    enquanto espao natural, integrando-se-lhe outras dimenses que a ela se encontram

    associadas de forma funcional. O espao natural constitui elemento a partir do qual,

    diversas finalidades so atingidas, como v.g: a reproduo de usos tradicionais responsveis

    pela conservao da prpria biodiversidade, e, mais especificamente, a

    proteo de habitats de espcies." (AYALA, op. cit.)

    A proteo em face de estados de risco: "A proteo em face de estados e eventos com

    a aptido potencial de produzir efeitos negativos irreversveis sobre a sobrevivncia das

    espcies e a integridade da fauna brasileira constitui a razo central que permite justificar

    comportamentos de previdncia a partir do conhecimento parcial ou incompleto sobre os

    riscos." A partir da noo da proteo em face da irreversibilidade, a CF no 1 do art. 225

    traz deveres especficos, de: a) garantir a preservao dos processos ecolgicos essenciais;

    b) de prover o manejo sustentvel das espcies, e especialmente; c) de conter quaisquer

    espcies de atividades ou comportamentos que possam expor as espcies e suas funes

    ecolgicas a riscos em qualquer grau, abrangendo tambm o risco de grau mximo, que

    representado pela ameaa de sua

    prpria extino. (AYALA, op. cit.)

    Fauna e atividades perigosas: "Constatando-se a sensibilidade dos ecossistemas e de

    seus elementos naturais aos efeitos de substncias qumicas e atividades perigosas, a

    justificao de medidas tendentes a conter a exposio a esses eventos constitui problema

    fundamental para regulao pelo princpio da precauo." Nesse sentido, a ratificao da

    Conveno de Estocolmo sobre os Poluentes Orgnicos Persistentes - Conveno POPs,

    promulgada pelo Decreto n 5.472/2005, representa iniciativa importante para a

    consolidao de uma abordagem precaucional sobre as substncias qumicas, especialmente

    aquelas classificadas com poluentes orgnicos, que "tm propriedades txicas, so

    resistentes degradao, bioacumulam-se, so transportados pelo ar, pela gua e pelas

    espcies migratrias atravs das fronteiras internacionais e depositados distantes do local

    de sua liberao, onde se acumulam em ecossistemas

    terrestres e aquticos. (Conveno POP)"

    Fauna e a proibio de prticas cruis: o elemento cultural na definio do sentido

    constitucional de crueldade. Rodeios e outros eoventos em que se utilizam animais. A definio legal de rodeio est prevista no art. 1 , pargrafo nico da Lei 10.519/02, e consiste nas "atividades de montaria ou de cronometragem e as provas de lao, nas quais

    so avaliados a habilidade do atleta em dominar o animal com percia e o

    desempenho do prprio animal."

    Os rodeios, "farra do boi", "briga de galo" so alguns dos eventos com caractersticas

    sociais altamente enraizados em vrias regies do Brasil, com reflexos altamente culturais e

    econmicos. H evidente conflito de interesses tutelados constitucionalmente entre o bem

    cultural (arts. 215 e 216 da CF) e o bem ambiental (art. 225 da CF). Fato que na histria

    do mundo o ser humano sempre utilizou os animais, dependendo deles para sua

    sobrevivncia e para o seu entretenimento, mas somente nos ltimos tempos surgiram

    organizaes no governamentais que tutelam a vida desses seres. Depois de vrios

    movimentos sociais, reafirmou-se a concepo de que os animais devem ser realmente

    protegidos contra maus-tratos e crueldade, surgindo movimentos, campanhas e at mesmo

    demandas judiciais neste sentido.

    Nesse sentido, vale conferir as seguintes decises do STF acerca do tema: ADI 1856

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 14 MC/RJ, Rel. Min. Carlos Velloso, Pleno, j. /09/1998 (rinhas de galo) e RE 153531/SC, Rel.

    Min. Francisco Rezek, Relator Acrdo Min. Marco Aurlio, 2 T, j. 03/06/1997 (farra do

    boi).

    Utilizao de animais em ensino e pesquisa: deve obedecer aos critrios estabelecidos

    na Lei 11.794/2008, que restringe a utilizao de animais em atividades educacionais em

    estabelecimentos de ensino superior e em estabelecimentos de educao profissional tcnica

    de nvel mdio da rea biomdica.

    Proteo perante aes que coloquem em risco a variabilidade gentica: "Proteger

    o patrimnio gentico, importa, especialmente, conservar condies que permitam a

    variabilidade gentica das espcies, condio que relevante principalmente para a

    fixao das condies de proteo das espcies ameaadas. A condio de

    vulnerabilidade em que se encontram tais espcies coloca como principal objetivo o

    reestabelecimento das populaes, que depende essencialmente da proteo da

    diversidade gentica." (AYALA, op. cit.)

    Questes da prova oral:

    6. O que so animais silvestres? Animais silvestres so os no domesticados, que

    vivem naturalmente fora do cativeiro e independentes do convvio humano. Essa

    caracterstica no se resume ao animal em si, mas espcie (art. 1 da Lei n. 5.197/1967).

    Ou seja, ainda que em determinada espcie haja indivduos domesticados, os outros da

    mesma espcie no perdero o atributo de silvestre. A diferena entre animais domsticos e

    no domesticados reside na vida em liberdade, fora do cativeiro. O aprisionamento ou a

    reproduo em cativeiro de determinada espcie animal, sejam um zoolgico, ou para abate,

    ou para convvio humano, no lhes retira o atributo de animais silvestre (Edis Milar, Direito

    do Ambiente, RT, 2011).

    7. Arara azul no zoolgico de Braslia continua sendo animal silvestre? (A arara

    azul, apesar de ser originalmente classificada como animal silvestre, quando em cativeiro,

    reclassificada). Para fins de enquadramento, refere-se que a classificao da fauna se divide

    em silvestre e domstica, no obstante alguns indiquem a existncia da fauna domesticada.

    Os animais silvestres seriam aqueles que vivem em liberdade. Os domsticos seriam os que

    vivem em cativeiro e, notadamente, na presena humana. Os chamados animais

    domesticados seriam os silvestres que passam a conviver em cativeiro. Muitos

    doutrinadores entendem que, ao passar a viver em cativeiro, os animais silvestres passam a

    ser domsticos, e que a classificao como domesticados puro preciosismo. Desse modo, a

    arara azul que se encontra no zoolgico de Braslia

    passa a ser considerada animal domstico (e, pela minoria da doutrina, domesticada).

    8. Quando a caa de animais silvestres permitida? O Professor Paulo Nogueira

    Neto (citado por Paulo Affonso Leme Machado, pg. 829, Direito Ambiental Brasileio, 18

    ed.) divide a caa em predatria e no predatria. A predatria compreende a caa

    profissional e a caa sanguinria. A caa no predatria abrange a caa de controle, a caa

    de subsistncia e a caa esportiva. A caa profissional foi proibida pela Lei n 5 .1 9 7 / 6 7 .

    Na caa de controle, em que h "a destruio de animais silvestres considerados nocivos

    agricultura ou sade pblica", a permisso para esse tipo de atividade dever ser

    expressamente motivada pela autoridade pblica, indicando quais os perigos concretos ou

    iminentes, qual a rea de abrangncia, as espcies nocivas e a durao da atividade

    destruidora.

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 15 A caa amadorista inclusive "estimulada" pela Lei de Proteo Fauna de 1967, sendo

    segundo Paulo Affonso (p. 831): "somente aceito o esporte de caa apenas em reas adrede

    preparadas para essa forma de lazer. Os parques de caa formados e manejados

    artificialmente, mantidos por associaes de caadores, possibilitariam ao verdadeiro

    desportista o mais fcil encontro com a caa, a ampliao dos perodos para o desporto, alm

    de propiciar a organizao de outros encontros de interesse dos caadores, como

    exposies de material esportivo, ces de caa, armas, etc., sem contarmos com outros

    entretenimentos".

    A caa de subsistncia ou de sobrevivncia no est prevista explicitamente pela lei.

    Praticam-na as populaes indgenas nas reservas que lhes so reconhecidas, como tambm

    as populaes interioranas que no tm acesso fcil aos produtos oriundos da fauna

    domesticada, sendo tambm situao em que a caa permitida.

    A caa cientfica est permitida na Lei de Proteo Fauna, em seu art. 14. Por fim,

    tambm foi autorizada a caa de animais silvestres no art. 6 da Lei n 12.725/12.

    Portanto, em sntese, podemos afirmar que so permitidas a caa de controle, a caa

    amadorstica, a caa de subsistncia ou sobrevivncia, a cientfica e, por fim, a caa nas

    imediaes de aerdromos.

    25) A caa permitida ou proibida? A permisso ou a proibio da caa depender de sua

    modalidade e das circunstncias em que est inserida. Trata-se de questo que no

    encontra resposta pacfica na doutrina e na jurisprudncia, contendo diversas nuances.

    Paulo Affonso Leme Machado (Direto Ambiental Brasileiro, 13 Edio, p. 757) aduz

    que a caa incontrolada tem causado a extino de espcies e ameaa fauna silvestre.

    Contudo, de se ressaltar que o consumo de determinados animais est inserido na cadeia

    alimentar, de que o homem faz parte.

    Nesse passo, faz-se necessrio delimitar a modalidade de caa para responder se ela

    permitida ou proibida.

    Paulo Nogueira Neto divide a caa em predatria (subdividida em profissional e

    sanitria) e no predatria (subdividida em de controle, de subsistncia e esportiva ou

    amadorstica).

    Segundo Nicolao Dino (Crimes e Infraes Administrativas Ambientais): a caa

    profissional (aquela destinada ao auferimento de lucros com o produto da atividade) est

    terminantemente proibida, constituindo, inclusive, crime (art. 29, 5 Lei 9.605); a caa de

    controle permitida (desde que haja permisso da autoridade pblica); a caa esportiva ou

    amadorstica tambm permitida (atendidos os requisitos do art. 8 da Lei 5.197/67 e desde

    que obtida a devida autorizao de caa); por fim, a caa de subsistncia est permitida. O

    autor faz a ressalva no sentido de que estas modalidades de caa no predatria podem

    assim se tornar caso se constate o risco de extino de alguma espcie.

    Interessante observar, que como a caa em perodo proibido uma majorante ( 4,

    inciso II) do delito do artigo 29 da Lei 9.605/98, ela, em tese, permitida pela legislao

    infraconstitucional.

    34) A fauna silvestre e a fauna domstica possuem a mesma proteo ambiental?

    Vide texto acima.

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 16 Ponto 2.b. Classificao dos atos administrativos. Atos administrativos simples,

    complexos e compostos. Atos administrativos unilaterais, bilaterais e multilaterais. Atos

    administrativos gerais e individuais.

    Mariana Casati

    Principais obras consultadas: Resumos dos Grupos do 25 e 26 CPR.

    Quanto composio da vontade produtora do ato, os atos administrativos so

    classificados em simples, compostos e complexos. a) Os atos administrativos simples so

    aqueles que resultam da manifestao de um nico rgo, pouco importando a sua natureza,

    que pode ser singular ou colegiado, por exemplo, a concesso de frias, a autorizao de

    uso de bem pblico e a deciso do Conselho de Contribuintes. Atos

    simples singulares decorrem da deciso de um nico agen1te pblico, enquanto que os atos simples colegiais, da manifestao de vrias vontades ; b) Os atos administrativos compostos identificam-se pela vontade nica de um rgo, ficando, porm, na

    dependncia de confirmao por outro superior a fim de adquirir perfeio, existncia,

    validade e eficcia. Necessitam d2e ratificao por outro rgo, contudo podem ser anulados ou revogados antes disso . Temos como exemplo a assinatura do ministro no decreto executivo - a referenda (art. 87, I, CF). Assim, apesar de haver mltiplas

    manifestaes de vontade, h apenas uma vontade autnoma, sendo as demais

    manifestaes meramente instrumentais (ex.: ato sujeito a visto); c) Os atos

    administrativos complexos caracterizam-se pela manifestao de vontade de mais um rgo,

    sendo a vontade de um indispensvel para que a vontade do outro igualmente se concretize -

    por exemplo, a aposentadoria de servidor pblico, sempre dependendo da homologao pelo

    Tribunal de Contas. Assim: "(...) acolhido pela jurisprudncia do (...) Supremo Tribunal

    Federal, o ato de aposentadoria classifica-se como complexo e se perfaz pela manifestao

    do rgo concedente somada da aprovao do Tribunal de Contas local (...)."3 Atos

    administrativos complexos "so aqueles cuja vontade final da Administrao exige a

    interveno de agentes ou rgos diversos, havendo certa autonomia, ou contedo

    prprio, em cada uma das manifestaes. Exemplo: a investidura do Ministro do STF se

    inicia pela escolha do Presidente da Repblica; passa, aps, pela aferio do Senado

    Federal; e culmina com a nomeao (art. 101,

    pargrafo nico, CF)."4

    Quanto sua formao, os atos administrativos podem ser classificados em

    unilaterais, bilaterais e multilaterais. a) Ato administrativo unilateral aquele que se forma

    com a manifestao de vontade de uma nica parte (ex.: demisso de um funcionrio,

    multas, autorizaes). No afeta a unilateralidade a circunstncia de o ato depender, para a

    sua produo ou para os seus efeitos, do concurso da vontade do particular, seja

    solicitando-lhe a prtica, seja aceitando os seus efeitos (p.ex.: um pedido de alvar de licena

    para edificar ou de autorizao para o porte de arma ou de aceitao da outorga de um

    prmio, de uma comenda etc.); b) Ato administrativo bilateral

    1 2

    GASPARINI, 2004, p. 80. STF, RE 163.301.

    3 STJ, REsp 223.670, Informativo 317. 4 Jos dos Santos Carvalho Filho, 2011, p. 121

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 17 aquele formado por um acordo de vontade entre as partes. So os atos convencionais (ex.:

    contrato administrativo, concesso de servio pblico); c) Ato administrativo multilateral

    aquele formado pela manifestao de vontade de vrias partes (ex.: convnio).

    Por fim, quanto aos seus destinatrios, os atos administrativos so classificados em

    gerais e individuais. a) Atos administrativos gerais so aqueles editados sem um

    destinatrio especfico, expedidos com certo carter de norma geral e abstrata - autntica

    lei material - e que alcanam todos os sujeitos que se encontrem na mesma situao de fato

    em relao aos seus preceitos (ex.: edital de concurso pblico). No podem, contudo, ocupar

    o espao reservado lei, sob pena de inconstitucionalidade; b) Atos administrativos

    individuais so aqueles que se dirigem concretamente a determinados destinatrios.

    Produzem novas relaes jurdicas para o contexto individual do sujeito passivo dessa

    atuao administrativa. No representam normas de carter geral e abstrato mas, ao

    contrrio, possuem imediatos efeitos concretos (ex.: a nomeao de aprovado em concurso

    pblico, a exonerao de ocupante de cargo em comisso e a designao de servidor para

    ocupar funo gratificada). O ato administrativo individual pode ser singular ou plrimo.

    Singular se o destinatrio o nico sujeito especificado (ex.: a nomeao de um dado

    funcionrio). Plrimo se os destinatrios so mltiplos sujeitos especificados (ex.: a

    nomeao, em uma nica lista, de mltiplos sujeitos especificados). Tanto os atos

    administrativos gerais quanto os individuais, depois de consumados e produzidos os seus

    efeitos, tornam-se imutveis e irrevogveis (Smula 473, STF).

    Maria Sylvia Zanella Di Pietro defende ser somente possvel a arguio de

    inconstitucionalidade dos atos administrativos gerais5. Outros, porm, possuem posio

    oposta pela constatao de que nem todo ato geral ou normativo comporta o controle

    concentrado de constitucionalidade e, porque, em regra, decorrem os atos

    administrativos gerais de normas legais (controle de legalidade), admitindo, por exemplo, a

    impetrao de mandado de segurana ou o ajuizamento de ao popular e coletiva. O que

    para alguns constitui a nica opo, para outros constitui a exceo. Por fim, o controle

    realizado a partir do eventual excesso do agente - se exorbitou a funo normativa - tambm

    permite o controle de legalidade e no necessariamente de constitucionalidade. (ROSA, p.

    131).

    Leitura complementar: sobre atos administrativos, vide pontos 3.b., 5.b., 9.a., 17.a., e

    2 1 .b .

    Questes da prova oral:

    5. O que so atos administrativos unilaterais, bilaterais e multilaterais? O ato do

    CSMPF que homologa a vitaliciedade do Procurador da Repblica se enquadra em

    que espcie?

    unilateral o ato do CSMPF que homologa a vitaliciedade do Procurador da Repblica.

    36) O que so atos administrativos individuais, gerais, compostos, complexos e

    exemplo de cada um. A concesso de aposentadoria ato composto ou complexo? A

    pessoa s vai se aposentar aps a manifestao do Tribunal de Contas? (Paula

    Ceretta)

    Os atos administrativos, no que toca aos seus destinatrios, podem ser classificados em

    atos individuais ou gerais. Entende-se por atos gerais os atos que so normalmente

    5 DI PIETRO, Direito Administrativo, p. 216.

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 18 abstratos, impessoais e aplicveis erga omnes. Ex: instrues normativas, regulamentos. J os

    atos individuais so aqueles que atingiro destinatrio certo, determinado. Ex: multa

    aplicada ao Jos, que ultrapassou o limite de velocidade naquela rodovia. Os atos individuais

    podem ser singulares (destinatrio nico) ou plrimos (destinatrios mltiplos).

    Sendo o ato de aposentadoria um ato complexo ele apenas se perfectibiliza com a

    manifestao do Tribunal de Contas, o que traz como consequncia a postergao do incio

    do prazo decadencial referido na Lei 9.487/99, o qual apenas comea a fluir com a

    publicao do ato (STF, MS 25.552, Tribunal Pleno, 2008).

    No entanto, destaca-se que, em que pese o ato de concesso de aposentadoria ser

    considerado complexo, o STF, em homenagem ao princpio da segurana jurdica, fixou o

    entendimento de que o TCU dever assegurar a ampla defesa e o contraditrio nos casos de

    controle externo de legalidade para o registro de aposentadorias e penses, quando for

    ultrapassado o perodo de cinco anos da chegada do processo administrativo no TCU sem

    que haja a sua manifestao (STF, MS 24.781, Tribunal Pleno, 2011).

    Ponto 2.c. Limitaes administrativas. Ocupao temporria. Requisio. Servido.

    Parcelamento, edificao ou utilizao compulsrios.

    Mariana Casati

    Principais obras consultadas: Resumos dos Grupos do 25 e 26 CPR.

    Legislao bsica. Art. 5o, XXV; 22, III; 23; III, 24,VII; 30, CF; Decreto-lei 1.864/81;

    Decreto-lei 1.865/81; Decreto-lei 3.365/41; Lei 6.015/73; Decreto 24.643/34 (Cdigo de

    guas); Lei 10.257/01; Lei Delegada 4/62.

    Noes gerais. O Poder Pblico pode limitar o direito de propriedade assegurado ao

    particular desde que as restries respeitem o fomento ao bem-estar social e o

    cumprimento da funo social da propriedade. Todas as limitaes devem estar ajustadas

    ao sistema constitucional e sempre dependem de expressa previso legal. Somente em

    situaes excepcionais (estado de stio e estado de defesa) admite-se a imposio de

    limitao sem lei anterior.

    Limitaes administrativas so limitaes impostas por ato administrativo genrico,

    no destinado a propriedades determinadas, visando atender ao interesse pblico por meio

    de obrigaes de no fazer. Atingem o carter absoluto do direito de propriedade (o poder

    de usar, gozar e dispor da coisa). A limitao no acarreta o direito de indenizao, salvo

    se indevida, ilegal, gerando a apurao da responsabilidade civil e o consequente dever de

    indenizar o prejuzo causado. So exemplos as limitaes de

    altura de edifcios, a metragem mnima de recuo para construes de imveis etc.

    Jos dos Santos Carvalho Filho afirma que limitaes administrativas so

    determinaes de carter geral, por meio das quais o Poder Pblico impe a proprietrios

    indeterminados obrigaes positivas, negativas ou permissivas, para o fim de condicionar as

    propriedades ao atendimento da funo social (ex.: obrigao de limpar terrenos (positiva);

    parcelamento ou edificao compulsria; proibio de construir alm de determinado

    nmero de andares (negativa); direito de preempo

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 19 municipal). Decorrem do domnio eminente que o Estado possui sobre todos os bens de seu

    territrio. No rendem ensejo a indenizao; so definitivas, assim como as servides (p.

    734).

    Por meio das limitaes o uso da propriedade ou da liberdade condicionado pela

    Administrao para que se mantenha dentro da esfera correspondente ao desenho legal do

    direito. Nelas alcana-se toda uma categoria abstrata de bens, ou, pelo menos, todos os que

    se encontrem em uma situao ou condio abstratamente determinada. Nas limitaes no

    h nus real. H um non facere, isto , uma obrigao de no fazer. As limitaes no

    obrigam o Poder Pblico a indenizar o proprietrio dos bens afetados (CABM).

    "A pretenso reparatria do esvaziamento do contedo econmico da propriedade

    decorrente de limitaes administrativas prescreve em cinco anos, nos termos do art. 10,

    pargrafo nico, do Decreto-Lei n. 3.365/1941" (STJ, AgRg no REsp 1.317.806- MG, j.

    6.11.12).

    Ocupao temporria corresponde ao aproveitamento de propriedade particular para

    utilizao temporria pelo Poder Pblico, remunerada ou no, para a execuo de obras,

    servios ou atividades pblicas ou de interesse pblico. A ocupao pode incidir, ainda, nos

    imveis necessrios pesquisa e lavra de petrleo e de minrios nucleares. Evita-se a

    desapropriao desnecessria, porquanto antes se pesquisa o potencial da rea quanto

    futura explorao. A ocupao pode ser transferida para a Administrao indireta. Para JSCF,

    a ocupao temporria a forma de interveno pela qual o Poder Pblico usa

    transitoriamente imveis privados, como meio de apoio execuo de obras e servios

    pblicos (ex.: utilizao de terrenos particulares contguos a estradas). Difere da requisio

    pelo fato de que nesta h uma situao emergencial de perigo pblico. Na ocupao

    vinculada desapropriao haver indenizao (art. 36, Decreto-lei 3.365/41) e o ato no

    ter autoexecutoriedade; na desvinculada, somente indeniza-se havendo comprovado

    prejuzo.

    "A ocupao de bem pblico no passa de simples deteno, caso em que se afigura

    inadmissvel o pleito de proteo possessria contra o rgo pblico." (STJ, REsp

    489.732/DF, DJ 13/06/2005).

    Requisio " o ato pelo qual o Estado, em proveito de um interesse pblico, constitui

    algum, de modo unilateral e autoexecutrio, na obrigao de prestar-lhe um servio ou

    ceder-lhe transitoriamente o uso de uma coisa "in natura", obrigando-se a indenizar os

    prejuzos que tal medida efetivamente acarretar ao obrigado" (JSCF, p. 912). So

    comumente conhecidos os casos de requisio de servios - para a prestao de servio

    militar a que se sujeitam todos os jovens do sexo masculino que completem 18 anos (art. 5o,

    Lei 4.375/64) ou para a prestao de servio eleitoral nas mesas

    receptoras de votos (art. 120 e 4o do Cdigo Eleitoral) - e os deo requisio de bens - para a instalao de mesas receptoras de votos (art. 135, 2o e 3 do Cdigo Eleitoral) - existem outras hipteses menos conhecidas de requisio de servios. o caso da

    obrigao, que alcana qualquer pessoa, de prestar assistncia, desde que possa faz-lo sem

    risco, em caso de acidente com aeronave, assistncia essa que pode consistir em simples

    informao do evento (arts. 51 e 52 do Cdigo Brasileiro de Aeronutica). Tambm o

    dever previsto no art. 80 e pargrafo nico do Decreto-lei 5.405/43, segundo o qual o veculo

    que passe por local em que veculo transportador de mala postal haja se acidentado sem

    possibilidade de prosseguir, dever conduzir tal mala para a agncia mais prxima no

    sentido de sua marcha. O STJ tambm considerou como requisio a reteno das quantias

    depositadas em cadernetas de poupana, quando da

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 20 implementao do Plano Collor (Lei n 8.024/90) (REsp 178.073/RS, Rel. Ministro

    Humberto Gomes de Barros, 1 T, j. 05/10/1999, DJ 29/11/1999, p. 124).

    Servido administrativa " o direito real que assujeita um bem a suportar uma

    utilidade pblica, por fora da qual ficam afetados parcialmente os poderes do

    proprietrio quanto ao seu uso ou gozo" (CABM). Na servido h um verdadeiro

    sacrifcio, conquanto parcial, do direito. Nelas atingem-se bens concreta e

    especificamente determinados. Nas servides administrativas h um nus real, de tal modo

    que o bem gravado fica em um estado de especial sujeio utilidade pblica,

    proporcionando um desfrute direto, parcial, do prprio bem (singularmente fruvel pela

    Administrao ou pela coletividade em geral). Nelas h uma obrigao de suportar. As

    servides, em geral, devem ser indenizadas, o que ocorrer sempre que impliquem real

    declnio da expresso econmica do bem ou subtraiam de seu titular uma utilidade que frua.

    CABM elenca como exemplos de servido administrativa a passagem de fios eltricos

    sobre imveis particulares, a passagem de aquedutos, o trnsito sobre bens privados, o

    tombamento de bens em favor do Patrimnio Histrico etc. S. 56/STJ: Na desapropriao

    para instituir servido administrativa so devidos os juros compensatorios pela limitao

    de uso da propriedade.

    Quanto ao tombamento, para Celso Antnio Bandeira de Mello, uma das figuras da

    servido. "Consiste em uma interveno administrativa na propriedade, destinada a

    proteger o patrimnio histrico e artstico nacional, pela qual os poderes inerentes ao seu

    titular ficam parcialmente elididos, uma vez que poder usar e gozar do bem, mas no

    alter-lo, para no desfigurar o valor que se quer nele resguardar, alm de ficar

    constitudo no dever de mant-lo em boa conservao. (...) Com efeito, se a limitao

    administrativa no seno o perfil do direito, parece razovel entender que, sempre que

    seja necessrio um ato especfico da Administrao impondo um gravame, por conseguinte

    criando uma situao nova, atingiu-se o prprio direito e, pois, a hiptese de servido.

    Por este motivo entendemos que tanto o tombamento pelo Patrimnio Histrico quanto a

    declarao de que uma determinada rea particular de reserva florestal so casos de

    servido e no de limitao administrativa, como normalmente se afirma." "O tombamento

    provisrio, portanto, possui carter preventivo e assemelha-se ao definitivo quanto s

    limitaes incidentes sobre a utilizao do bem tutelado, nos termos do pargrafo nico do

    art. 10 do DL n. 25/1937. O valor cultural do bem anterior ao prprio tombamento. A

    diferena que, no existindo qualquer ato do Poder Pblico que formalize a necessidade

    de proteg-lo, descaberia responsabilizar o particular pela no conservao do patrimnio.

    O tombamento provisrio, portanto, serve como um reconhecimento pblico da valorao

    inerente ao bem." (STJ, Info. 486, REsp 753.534-MT, Rel. Min. Castro Meira, j.

    25/10/2011). "O tombamento provisrio de bens (art. 10 do Dec. n. 25/1937) no fase

    procedimental a priori do tombamento definitivo, mas uma medida assecuratria de

    preservao do bem at a concluso dos pareceres tcnicos e da sua inscrio no livro de

    tombo." (STJ, Info. 152, RMS 8.252- SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 22/10/2002).

    Por fim, o parcelamento, a edificao ou utilizao compulsrias so espcies de

    limitaes administrativas. Incidem apenas sobre imveis sitos em rea - inclusa no plano

    diretor de desenvolvimento urbano do Municpio - para a qual haja lei municipal especfica

    autorizando exigir que os proprietrios promovam adequada utilizao do bem. Os referidos

    proprietrios sero notificados pelo Poder Executivo municipal para o cumprimento da

    obrigao, devendo a notificao - que se pode fazer por edital - ser averbada no cartrio de

    Registro de Imveis. Os prazos para o cumprimento de tais obrigaes no podero ser

    inferiores a um ano, a partir da notificao, para que seja

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 21 protocolado o projeto no rgo municipal competente, ou dois anos, a partir da aprovao

    do projeto, para iniciar as obras do empreendimento. A transmisso do imvel, por ato

    inter vivos ou causa mortis, posterior data da notificao, transfere as obrigaes de

    parcelamento, edificao ou utilizao, sem interrupo de quaisquer prazos. Deve ser

    cumprida a seguinte ordem: a) parcelamento ou edificao

    compulsria; b) IPTU progressivo; c) desaprooproiaoo, que s pode ocorrer cinco anos aps a cobrana do ITPU progressivo (arts. 5 , 6 e 8 , Lei 10.257/01).

    Distines: A ocupao: a) direito de carter no-real, assim como a requisio, mas

    diferentemente da servido; b) s incide sobre propriedade imvel, assim como a servido,

    mas diferentemente da requisio; c) transitria, tal como a requisio, e diferentemente

    da servido; d) constitui-se em razo da necessidade de execuo de servios normais, ao

    contrrio da requisio que presume perigo pblico iminente (JSCF, pp. 727-730). Por sua

    vez, cumpre registrar as seguintes diferenas da requisio em relao desapropriao: a) a

    requisio refere-se a bens e servios. A desapropriao apenas a bens; b) a requisio

    preordena-se to somente ao uso da propriedade, ao passo que a desapropriao volvida

    aquisio dela; c) a requisio decorre de necessidades transitrias. A desapropriao

    suscitada por necessidades permanentes da coletividade; d) a requisio autoexecutria. A

    desapropriao, para se efetivar, depende de acordo ou, na falta deste, de procedimento

    judicial; e) a requisio supe, em geral, necessidade pblica premente. A desapropriao

    supe necessidade corrente, usual; e) a requisio pode ser indenizada a posteriori e nem

    sempre obrigatria. A desapropriao sempre indenizvel e exige indenizao prvia,

    em regra. No tocante servido administrativa, destaca-se que "se tanto limitaes

    administrativas quanto servides podem se originar diretamente da lei, toda vez que uma

    propriedade sofre restries em decorrncia de ato concreto da Administrao, isto ,

    injuno decorrente do chamado "jus imperii", estar-se- diante de uma servido. (...)

    Serve de exemplo de servido originada diretamente da lei, marcada, pois, pela

    generalidade tanto de sua fonte quanto dos bens atingidos, a instituda pelo art. 12 do

    Cdigo de guas. (...) Em sntese: Se a propriedade atingida por um ato especfico,

    imposto pela Administrao, embora calcada em lei, a hiptese de servido, porque as

    limitaes administrativas propriedade so sempre genricas. Se a propriedade afetada

    por uma disposio genrica e abstrata, pode ou no ser caso de servido. Ser limitao, e

    no servido, se impuser apenas um dever de absteno: um "non facere". Ser servido se

    impuser um "pati": obrigao de suportar" (CABM). Por fim, JSCF considera que

    servides no podem decorrer de lei. Entende que s cabe falar em tal figura quando sua

    incidncia se d sobre propriedade determinada. Afirma que as hipteses habitualmente

    apontadas como sendo servides legais, na verdade, no passam de limitaes

    administrativas6.

    Questes da prova oral:

    6. O que servido administrativa e quais as suas diferenas para as limitaes

    administrativas?

    7. A Unio pode instituir servido em bem municipal ou estadual?

    Sim, de acordo com art. 2, 2, do Decreto-lei 3365/41, aplicado de forma analga s

    servides administrativas, tendo em vista a falta de procedimento prprio. Este decreto

    regulamenta a desapropriao por utilidade pblica. Ser exigido, contudo, autorizao

    6 Jos dos Santos Carvalho Filho, Manual de Direito Administrativo, 11a Ed., Lumen Juris, p. 635.

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 22 legislativa. Contudo, pelo princpio federativo, Municpios no podero instituir servides

    sobre bens dos Estados e da Unio, nem os Estados sobre bens da Unio.

    Poder-se-ia questionar a constitucionalidade de tal dispositivo, argumentando pela

    ausncia de hierarquia dos entes federativos. Isto porque o princpio federativo deve

    assegurar, justamente, o tratamento isonmico entre os entes da federao. A figura do

    Senado representa esta isonomia. Ademais, a forma federativa de Estado constitui clusula

    ptrea de acordo com art. 60 da CF.

    De qualquer modo, a jurisprudncia no reconheceu qualquer inconstitucionalidade,

    nem no caso de instituio de desapropriao pela Unio de bens de Estado e Municpios.

    Em outro caso, determina ainda que havendo concomitncias de limitaes administrativas,

    deve prevalecer a da Unio.

    Saliente-se que a deciso se baseia na abrangncia do interesse, havendo desta forma

    um escalonamento de interesses, a saber, nacional, regional e local. Esta interpretao pode

    ser utilizada, mas deve haver cautela sob pena de criar-se uma verdadeira

    hierarquia entre os entes federativos, ferindo de forma frontal o princpio federativo.

    9. O que requisio administrativa? indenizvel?

    35. Comparar os institutos da servido administrativa, limitao administrativa,

    ocupao administrativa, requisio administrativa. Quando cabe indenizao? A

    indenizao no caso de ocupao e requisio administrativa prvia?

    IT E M 3

    Ponto 3.a: Funes (atividades) administrativas. Funo consultiva. Funo de

    regulao. Funo de controle. Funo de fomento.

    Ana Laura Fonseca

    Principais obras consultadas: BELTRO, Antonio F. G. Curso de Direito Ambiental.

    Editora Mtodo, 2009; CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito

    Administrativo. Editora Lumen Juris, 21 edio, 2009; CUNHA JUNIOR, Dirley. Curso

    de Direito Administrativo. Juspodivm, 6 edio, 2007; DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella.

    Direito Administrativo. Editora Atlas, 25 edio, 2012); MELLO, Celso Antnio Bandeira

    de. Curso de Direito Administrativo. Malheiros, 27 edio, 2010; PORTELA, Paulo

    Henrique Gonalves. Direito Internacional Pblico e Privado. Juspodivm, 3 edio, 2011.

    Legislao bsica: no indicou.

    "O complexo de rgos e entes personalizados, conduzidos por um corpo de agentes, que

    forma a Administrao Pblica, realiza grande nmero de atividades. As atividades

    destinam-se, precipuamente a atender necessidades e interesses da populao;

    fragmentam-se em inmeras variedades, cada qual com caractersticas jurdicas e tcnicas

    prprias. A Administrao Pblica desempenha, assim, amplo e diversificado leque de

    atividades, para cumprir as tarefas que o ordenamento lhe confere, atividades essas de

    diferentes tipos, sob vrias formas e regimes" (MEDAUAR, 2008, p. 102).

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 23 A Funo Consultiva da administrao abrange os atos que visam auxiliar, esclarecer e

    sugerir providncias a serem adotadas. Ela exercida mediante a elaborao de pareceres

    prvios e individualizados, de carter essencialmente tcnico, acerca dos mais diversos

    temas, a fim de subsidiar a tomada de decises em diversos setores da administrao

    pblica. Inclui tambm o exame, sempre em tese, de consultas realizadas por autoridades

    legitimadas para formul-las, a respeito de dvidas na aplicao de dispositivos legais e

    regulamentares.

    Importante aqui destacar alguns aspectos sobre a Consultoria Jurdica. A Constituio

    Federal incumbe Advocacia Pblica duas funes precpuas: a representao judicial e a

    consultoria jurdica dos entes federados. Na esfera federal, esta tarefa cabe Advocacia-

    Geral da Unio (art. 131, CF); nos Estados e Distrito Federal, a incumbncia de

    responsabilidade das respectivas Procuradorias (art. 132, CF). O advogado pblico, quando se

    manifesta em um processo judicial, tem atuao necessariamente parcial, buscando o

    convencimento do magistrado sobre o acerto da tese defendida pela Administrao. Por

    outro lado, na Funo Consultiva, o advogado pblico deve ser imparcial, porque defende

    apenas a correta aplicao da lei.

    Via de regra, diz-se que o parecer jurdico no vincula o administrador pblico, porque

    se trataria de mera opinio que poderia ou no ser adotada. Neste ponto, alis, j se

    manifestou o STF: "o parecer no ato administrativo, sendo, quando muito, ato de

    administrao consultiva, que visa a informar, elucidar, sugerir providncias

    administrativas a serem estabelecidas nos atos de administrao ativa".

    Em outro julgado o STF trouxe tona a discusso acerca da Responsabilidade do

    advogado pblico ao emitir o seu parecer. No precedente, os pareceres jurdicos foram

    classificados conforme sua obrigatoriedade em relao sua observncia pelo

    administrador e pela sua necessidade de constar no procedimento administrativo:

    Repercusses da natureza jurdico-administrativa do parecer jurdico: (i) quando a consulta

    facultativa, a autoridade no se vincula ao parecer proferido, sendo que seu poder de

    deciso no se altera pela manifestao do rgo consultivo; (ii) quando a consulta

    obrigatria, a autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido

    consultoria, com parecer favorvel ou contrrio, e se pretender praticar ato de forma diversa

    da apresentada consultoria, dever submet-lo a novo parecer; (iii) quando a lei

    estabelece a obrigao de decidir luz de parecer vinculante, essa manifestao de teor

    jurdica deixa de ser meramente opinativa e o administrador no poder decidir seno nos

    termos da concluso do parecer ou, ento, no decidir.

    A Funo de Regulao, segundo Maral Justen Filho, citado por Maria Sylvia Zanella

    di Pietro, "[...] consiste na atividade estatal de interveno indireta sobre a conduta dos

    sujeitos pblicos e privados, de modo permanente e sistemtico, para implementar as

    polticas de governo"(DI PIETRO, 2011, p. 55). Um pouco alm, ele afirma que a regulao

    se traduz tanto na funo administrativa, como legislativa, jurisdicional e de controle; a

    afirmao aceitvel desde que se tenha presente que as funes legislativa e jurisdicional

    exercidas pela Administrao Pblica so tpicas de outros Poderes de Estado, porm

    atribudas a entes administrativos dentro do sistema de freios e contrapesos. A atividade

    normativa e a atividade judicante, no caso, tm que observar os limites constitucionais.

    Assim, as normas baixadas colocam-se em nvel hierrquico inferior s leis, e as decises de

    conflitos no fazem coisa julgada (a no ser no sentido de coisa julgada administrativa);

    portanto, so funes atpicas da Administrao Pblica. Na realidade, a regulao envolve

    uma parcela de cada uma das funes administrativas (polcia administrativa, interveno e

    fomento), como, alis, decorre do prprio ensinamento de Maral Justen Filho. Nessas

    outras funes administrativas,

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 24 tambm esto presentes a funo normativa e a funo de controle.

    A Funo de Fomento, por outro lado, a atividade de incentivo iniciativa privada de

    utilidade pblica, e segundo Fernando Andrade de Oliveira (RDA 120/14) abrange os

    auxlios financeiros ou subvenes atravs dos oramentos pblicos, os financiamentos, os

    favores fiscais que estimulem atividades consideradas particularmente benficas ao

    progresso material do pas e as desapropriaes que favoream entidades privadas sem fins

    lucrativos, que realizem atividades teis coletividade, como os clubes desportivos e as

    instituies beneficentes." (DI PIETRO, 55/56).

    A Funo de Controle nada mais do que "[...] o poder de fiscalizao e correo que a

    Administrao Pblica (em sentido amplo) exerce sobre sua prpria atuao, sob os

    aspectos da legalidade e mrito, por iniciativa prpria ou mediante provocao" (DI

    PIETRO, 2011, p. 737). Trata-se, como se v, do controle administrativo.

    Destaca-se ainda os conceitos de Regulao e Fiscalizao (controle) elencados no art.

    2, II e III do Decreto 7.217 de 21/06/2010, que regulamenta a Lei 11.445/2007, que

    estabelece diretrizes nacionais para o saneamento bsico e d outras providncias, seno

    vejamos:

    Art. 2o Para os fins deste Decreto, consideram-se:

    II - regulao: todo e qualquer ato que discipline ou organize determinado servio

    pblico, incluindo suas caractersticas, padres de qualidade, impacto socioambiental,

    direitos e obrigaes dos usurios e dos responsveis por sua oferta ou prestao e fixao

    e reviso do valor de tarifas e outros preos pblicos, para atingir os objetivos

    do ar t . 27;

    III - fiscalizao: atividades de acompanhamento, monitoramento, controle ou

    avaliao, no sentido de garantir o cumprimento de normas e regulamentos editados

    pelo poder pblico e a utilizao, efetiva ou potencial, do servio pblico;

    Ponto 3.b: Vcios ou defeitos dos atos administrativos. A teoria das nulidades no

    Direito Administrativo. Atos administrativos nulos, anulveis e inexistentes.

    Ana Laura Fonseca

    Principais obras consultadas: JSCF, MSZDP, CABM, Dirley da Cunha Jr.

    Legislao bsica: no indicou.

    VCIOS OU DEFEITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS. "No Direito

    Administrativo, tambm, os vcios podem atingir os cinco elementos do ato,

    caracterizando os vcios quanto competncia e capacidade (em relao ao sujeito),

    forma, ao objeto, ao motivo e finalidade." (DI PIETRO, 246). O vcio de competncia

    ocorre quando o ato praticado por agente sem atribuio. O vcio de objeto ocorre quando

    o objeto do ato ilcito, impossvel ou indeterminado. O vcio de forma decorre da

    inobservncia da formalidade exigida para o ato. O vcio de finalidade, tambm chamado

    desvio de finalidade, ocorre quando o ato, em vez de buscar a satisfao de um interesse

    pblico, praticado com o fim de atender a um interesse particular. Por fim, o vcio de

    motivo ocorre quando: i) inexistir o motivo exigido para o ato; ii) o motivo

  • 27MPF - GII - Direito Administrativo e Ambiental 25 alegado for falso; ou iii) o fundamento for desconexo com a finalidade do ato.

    A TEORIA DAS NULIDADES NO DIREITO ADMINISTRATIVO. A ausncia de

    leis administrativas que sistematizem casos de invalidade e seus efeitos propiciou que

    surgissem trs diferentes posies quanto aos atos invlidos no direito Brasileiro,

    vejamos:

    a) Teoria Monista: entendem que o vcio acarreta sempre a nulidade do ato. a posio

    de Hely Lopes Meirelles, Digenes Gasparini, Regis Fernandes de Oliveira e Srgio Ferraz,

    por exemplo.

    b) Teoria Dualista: sustentam que os atos administrativos podem ser nulos ou anulveis.

    a posio de Celso Antnio Bandeira de Mello, Cretella Jnior, Lucia Valle Figueiredo e

    Jos dos Santos Carvalho Filho.

    c) Teoria Tricotmica: Seabra Fagundes defende a diviso em nulos, anulveis e

    irregulares; ressalvando, todavia, que as duas primeiras espcies no correspondem s do

    Cdigo Civil, nem quanto aos tipos de vcio nem quanto aos efeitos deles.

    Todos negam relevncia jurdica espcie de atos inexistentes, indicando que, de

    direito, equivalem aos atos nulos." (MELLO, 466/467)

    ATOS ADMINISTRATIVOS NULOS, ANULVEIS E INEXISTENTES. "

    preciso esclarecer que se uma destas espcies for declarada, todos os efeitos da

    invalidao se operam. A maior distino destas modalidades de inva