Apostila Curso ANEEL 2010_V2

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Introduo Regulao da Distribuio e Transmisso de Energia Eltrica 1. ResumoO presente documento apresenta uma viso geral do processo de regulao tcnica e do processo de regulao econmica aplicados aos segmentos de distribuio e transmisso de energia eltrica. Ambos os processos so fortemente correlacionados, e o seu entendimento de forma conjunta de fundamental importncia para o estabelecimento de regulamentos eficientes e eficazes. A regulao econmica pode ser segregada em duas grandes etapas: i) A definio do nvel tarifrio, na qual o regulador estabelece a receita a ser auferida pela concessionria para a prestao do servio adequado; ii) A definio da estrutura tarifria, onde a receita estabelecida na etapa anterior rateada entre os usurios do sistema, de forma a alocar da melhor forma os custos e promover uma sinalizao econmica para utilizao do mesmo. Dentro desse contexto, apresentada, primeiramente, uma viso geral do arcabouo terico da regulao econmica, tanto no que se refere ao estabelecimento do nvel tarifrio, como tambm da estrutura tarifria, da qual resultam as tarifas de energia eltrica propriamente ditas. J em relao regulao tcnica, apresenta-se alguns conceitos balizares dos regulamentos que visam equilibrar os incentivos econmicos com a manuteno de uma prestao de servio em nveis adequados.

2. IntroduoNos ltimos 25 anos muitos pases iniciaram amplos programas de privatizao, reestruturao e desregulamentao em setores que eram previamente monoplios regulados e/ou de propriedade estatal: telecomunicaes, gs natural, eletricidade, transporte areo, e outros. Este movimento teve incio com a desregulamentao e liberalizao promovidas nos Estados Unidos pelo Governo Reagan, seguidas pelas reformas no Reino Unido na dcada de 80, implementadas pelo Governo Thatcher, com seu amplo programa de privatizaes. A onda mundial de privatizaes esteve aliada a uma agenda macroeconmica que preconizava a austeridade fiscal. Assim, um dos pilares da reforma seria a

diminuio do tamanho do Estado, que permaneceria encarregado por prover apenas os servios essenciais, em regra identificados queles que no pudessem ser satisfatoriamente providos pelo mercado [1]. Obviamente, a intensidade e arquitetura da reforma levaram em considerao as caractersticas e situao em que se encontravam cada um dos pases que a promovia. No caso especfico do setor eltrico1, a arquitetura de reforma ideal deve envolver alguns elementos principais [2]: a. Privatizao das empresas estatais, com o intuito de criar incentivos para melhoria na eficincia e dificultar a possibilidade, por parte dos governantes, de utilizao dessas empresas para o atendimento de interesses polticos. Apesar das claras vantagens trazidas pela gesto privada, atualmente alguns especialistas j apontam, para certos casos, benefcios em uma combinao de empresas pblicas e privadas atuando dentro de um mesmo mercado. b. Separao das atividades2 potencialmente competitivas daquelas

consideradas monoplios naturais, que continuam sujeitas regulao tcnica e econmica. Essa medida busca evitar subsdios cruzados entre os segmentos competitivos e os regulados, e tratamentos no isonmicos no acesso ao sistema de transmisso e distribuio, do qual dependem os geradores que competem no mercado; c. Reestruturao horizontal do segmento de gerao, para criar um adequado nmero de competidores e assim mitigar o poder de mercado e garantir a competitividade. A importncia tanto da reestruturao horizontal, quanto da separao vertical fica clara quando analisamos ndices de concentrao de mercados em pases como Inglaterra (nenhuma empresa de gerao possui mais do que 25% do mercado), comparado a Blgica e Frana, onde ainda existe uma grande concentrao da gerao em umAlguns autores argumentam que o Chile foi o primeiro pas a liberalizar o setor eltrico. Enquanto o Chile introduziu um programa de privatizao, reestruturao e competio no incio dos anos 80, no criou-se um mercado atacadista de energia eltrica e a maior empresa de gerao, a maior de transmisso e a maior de distribuio possuam um mesmo acionista. Sendo assim, considera-se o Reino Unido tambm o precursor nas reformas do setor eltrico. O processo de desverticalizao enfrenta, geralmente, grandes dificuldades para ser implementado. Um exemplo disso a ampla discusso em curso na Unio Europia em relao ao grau de separao a ser exigido, em especial no que tange ao debate separao legal versus separao de propriedade [3][2].2 1

nico supridor (EdF com 84% na Frana e Suez com 75% na Blgica), assim como comparamos tais ndices considerando ou no as interligaes [4]. d. Criao de empresas independentes de transmisso para garantir a expanso adequada da rede e de um operador independente do sistema3 (Independent System Operator) para coordenar a operao da malha de transmisso e do parque gerador, zelar pelos parmetros fsicos do sistema (freqncia, tenso, etc), e indicar os investimentos necessrios para o atendimento dos critrios de confiabilidade; e. Criao de um mercado spot de energia eltrica e servios ancilares com o intuito de fornecer os requisitos para o balano carga/gerao em tempo real, a alocao da capacidade de transmisso e facilitar as transaes econmicas entre compradores e vendedores de energia; f. O desenvolvimento de mecanismos para a participao ativa da demanda, que permitam que os consumidores reajam a variaes nos preos do mercado e que integrem a reao da demanda aos critrios de confiabilidade. Os programas que focam a confiabilidade do sistema geralmente permitem ao operador do sistema chamar consumidores a desligar suas cargas quando h ausncia de capacidade ou de reservas operativas, enquanto programas que focam a resposta aos preos/tarifas dos consumidores enfatizam a capacidade do preo spot ou das tarifas, ambos com componentes sazonais, promover sinais para eficincia econmica do consumo de energia [6]; g. A aplicao de regulamentos que promovam o acesso eficiente s redes de transmisso e distribuio, com o intuito de facilitar a competitividade na gerao e comercializao. Isso inclui mecanismos eficientes para a alocao da capacidade de transmisso entre os agentes, em especial os direitos financeiros de transmisso (Financial Transmission Rights) [7], e para promover sinalizao adequada para a conexo de novos geradores e cargas. Alm disso, de fundamental importncia para avaliao da eficincia dos investimentos em transmisso, assim como da operao do

O estabelecimento de um operador independente, como o caso de vrios estados norte-americanos e do Brasil, ainda no consenso entre os especialistas [5][4]. Uma viso geral do debate pode ser encontrada em [6][5].

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sistema, o estabelecimento de mtricas de congestionamento, como custos de re-despacho e rendas de congestionamento [8]; h. A abertura da tarifa de fornecimento e respectiva separao dos contratos com o intuito de segregar os custos associados energia em si (para que possam ser comparados aos preos de energia dos demais competidores) daqueles relativos ao uso dos sistemas de transmisso e distribuio, os quais continuam a ser providos atravs de monoplios regulados. Apesar de algumas iniciativas para a promoo da expanso competitiva na transmisso, os investimentos tm sido bastante tmidos, restringindo-se a algumas interligaes em corrente contnua, como ocorrido na Austrlia [11], por exemplo; i. Onde existem restries para a migrao de certas parcelas de consumidores para o mercado livre, as distribuidoras devem ser responsveis pela contratao de energia para o seu atendimento. Adicionalmente, as mesmas devem estar sujeitas utilizao de benchmarks de preos quando a gerao contratada for de sua propriedade; j. A criao de agncias reguladoras independentes, com processos para a obteno de informaes a respeito dos custos, da qualidade do servio e de performances comparativas das empresas concessionrias de distribuio e transmisso, assim como um bom corpo tcnico, que possa utilizar essas informaes de maneira efetiva para o estabelecimento das tarifas ou receitas. Outro fator importante para o sucesso da reforma, mas por vezes negligenciado, o estabelecimento, por parte do regulador, dos termos e condies de acesso s redes pelos agentes geradores (muitas vezes as empresas proprietrias das redes criam barreiras ao acesso, impedindo a conexo de geradores e reduzindo a competio [12]); k. A necessidade de elaborao peridica de um planejamento indicativo da expanso do setor. Essa necessidade advm do fato de que no robusto o suficiente corrigir as falhas de mercado atravs de sua internalizao, devido dificuldade poltica de implementar certas medidas, falhas regulatrias, e tambm pela falta de habilidade de alguns governos em assumir compromissos de longo prazo. Com isso, torna-se necessrio prover o mercado de alguma viso de longo prazo, pois assim, enquanto promove-se uma maior eficincia alocativa atravs dos mecanismos de

mercado, os agentes recebem sinais adicionais para seguirem na direo correta. l. Por fim, fundamental que existam regras de transio no processo de implantao das medidas citadas, primando sempre pelo equilbrio entre arranjos mais eficientes e a estabilidade legal e regulatria. Em muitos pases, uma etapa importante da agenda de reforma foi a introduo de mecanismos de regulao por incentivos (Incentive Regulation) nos segmentos regulados como alternativa ao tradicional regime de regulao por custo de servio ou taxa de retorno (Cost of Service ou Rate of Return). A expectativa era de que a introduo de mecanismos de regulao por incentivo criasse fortes incentivos para a reduo de custos e para o aumento da qualidade do servio, estimulasse a introduo de novos produtos e servios, e induzisse realizao de investimentos eficientes [14]. No caso brasileiro, com base na avaliao de que o modelo de interveno do Estado prevalecente at o final dos anos 80 tinha se esgotado, foi elaborado, em 1995, o Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado (PDRE). O projeto sugeria uma reconstruo do Estado brasileiro, com vistas a conferir graus crescentes de eficincia interveno estatal. Assim, o Estado assumiria um carter coordenadorregulador, em substituio a uma atuao marcada pela centralizao das funes de execuo e prestao dos servios pblicos [17]. O PDRE propunha a formao de estruturas institucionais inditas na arquitetura das polticas pblicas brasileiras: as agncias reguladoras, dando corpo forma ideal de organizao estatal que se convencionou designar por Estado Regulador. Com base no projeto de reforma, de 1995 a 2002, foram criadas nove agncias reguladoras4, atravs das quais a regulao setorial, antes subordinada s preferncias polticas do Presidente da Repblica, possuiria maior autonomia, mas contendo ainda mecanismos de controle democrtico, atravs do processo de vocalizao de demandas de cidados no mbito do processo decisrio. Poucos trabalhos se propuseram a avaliar a qualidade e eficcia, de uma forma mais abrangente, dos processos de reestruturao desenvolvidos nas ltimas dcadas5. Um dos mais amplos estudos j realizados analisa mais de 10004 5

Foram elas: ANEEL, ANP, ANATEL, AVISA, ANS, ANA, ANTAQ, ANTT e ANCINE.

Muitos estudos de avaliao foram realizados, mas sempre buscando analisar um determinado setor de um determinado pas, em especfico.

concesses outorgadas na Amrica Latina e Caribe no perodo de 1985-2000 [22], e aponta como uma das maiores causas de renegociaes de contratos de concesso6, erros na implantao das reformas. Apesar do alto nvel de renegociaes (30% no total), o setor eltrico, assim como o de telecomunicaes, teve um dos ndices mais baixos (9,7% dos contratos renegociados). Assim, na seo 3 do presente captulo so apresentados os fundamentos conceituais que embasaram, durante muitas dcadas, a aplicao da tradicional regulao por custo de servio (Cost of Service CoS) ou por taxa de retorno (Rate of Return RoR), assim como os movimentos de reforma do setor eltrico que se iniciaram nas dcadas de 80 e 90, e que resultaram, entre outras mudanas, na introduo de modelos de regulao por incentivos (Incentive Regulation), que gerassem estmulos para que as concessionrias reduzissem seus custos operacionais, melhorassem a qualidade, introduzissem novos produtos e servios e realizassem investimentos eficientes. Na seo 4 so apresentadas algumas questes tericas relativas regulao tcnica dos sistemas de transmisso e distribuio de energia eltrica.

O estudo utiliza o percentual de renegociaes de contratos como mtrica para avaliar os processos de reforma.

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3. Aspectos Conceituais da Regulao EconmicaO objetivo principal da regulao econmica harmonizar, com prudncia e eqidade, dois interesses contrapostos: o da empresa que aspira obter benefcios por sua atividade, quanto mais, melhor e dos usurios que querem ter um servio seguro, e de qualidade e pagar baixas tarifas7. Isto significa, do ponto de vista econmico, e voltando j nossos conceitos para a regulao econmica das atividades de rede, reproduzir no desempenho da empresa monopolista regulada, os efeitos da concorrncia observados em mercados competitivos, mas garantindo, por outro lado, o equilbrio econmico-financeiro da concesso. Analisando os objetivos regulatrios do prisma do processo de clculo das tarifas, o objetivo do regulador passa a ser a promoo do equilbrio dos trs vrtices da pirmide abaixo: Sustentabilidade

Clculo Tarifrio Isonomia Eficincia

Figura 1: Processo de Clculo das Tarifas de Uso

Atingir a eficincia [23], segundo a teoria econmica, significa maximizar a utilizao dos recursos escassos ou minimizar os custos das atividades da empresa. A condio necessria para que a eficincia econmica seja alcanada que as tarifas sejam iguais aos custos marginais (o chamado first best). Pela regra do preo igual ao custo marginal, apenas os custos variveis seriam cobertos pela receita obtida pela empresa, ficando em aberto a questo do financiamento da parte fixa dos custos totais. Como igualar as tarifas ao custo marginal no permite que a empresa regulada recupere os custos fixos e variveis, torna-se necessrio proceder a um ajuste (markUma tarifa baixa difere em grande medida de uma tarifa mdica. A modicidade tarifria um conceito mais amplo, que significa estabelecer uma tarifa, que seja a mais baixa possvel, considerando o nvel de qualidade exigido na prestao do servio e uma remunerao adequada ao nvel de risco do negcio.7

up) nos custos marginais para que as tarifas aplicadas possam recuperar a receita permitida (second best), ou nvel tarifrio, a qual garante uma rentabilidade adequada ao acionista, considerando, no caso da regulao por incentivos, os custos operacionais eficientes e os investimentos prudentes para o alcance dos nveis de qualidade estabelecidos pelo rgo regulador [24]. A maior parte da literatura em regulao de monoplios naturais assume implicitamente que o regulador possui toda a informao a respeito dos custos de oportunidade da empresa regulada e do perfil da demanda, e que tambm est apto a induzir a empresa a reduzir seus custos. Assim, o objetivo passa a ser o estabelecimento das tarifas second best dada a funo de custo, o perfil da demanda, e uma remunerao adequada ao negcio (por exemplo, preos de Ramsey-Boiteux, preos no-lineares, etc) [14]. Na Frana, durante os anos 60 e 70, no apenas os economistas tericos, mas tambm economistas prticos, engenheiros e executivos da Electricit de France, liderados por Allais e Boiteux, mostraram como colocar essas idias em prtica [11]. No entanto, a literatura tradicional no levou em considerao os incentivos para a reduo de custos ou melhoria da qualidade. Na realidade os reguladores no esto completamente informados a respeito da empresa regulada, tornando-se assim uma rdua tarefa o estabelecimento dos custos mdios eficientes, ou seja, das tarifas second best. Esse problema conhecido na literatura como assimetria de informao, e assume que a empresa regulada possui sempre mais informaes sobre o negcio do que o regulador, assim como seus dirigentes possuem o poder discricionrio da melhor forma de gerir os recursos da empresa, e do esforo que podem realizar para reduzir custos ou melhorar a qualidade. Dessa forma, a empresa regulada pode utilizar essa informao de forma estratgica, durante o processo regulatrio, para obteno de lucros maiores. A assimetria da informao pode se manifestar de duas formas [15]: i. Risco ou Perigo Moral: se refere s variveis endgenas que no so observadas pelo regulador. A empresa toma aes discricionrias que afetam seus custos ou a qualidade do servio prestado. No setor de seguros, onde foi inicialmente estudado o tema da assimetria da informao, o risco moral refere-se ao efeito da cobertura sobre as decises dos indivduos quanto a tomar medidas preventivas (por exemplo, os proprietrios de veculos podem passar a estacionar em locais de risco aps adquirirem o seguro).

ii.

Seleo Adversa: se refere s situaes em que a empresa possui mais informaes do que o regulador sobre algumas variveis exgenas. Geralmente est associada informao sobre as possibilidades tecnolgicas ou sobre as dificuldades de realizar certas tarefas. No caso dos seguros, refere-se a pouca informao da seguradora em relao habilidade do motorista (por exemplo, a seguradora pode selecionar um motorista adverso, ou seja, que causar um sinistro).

A presena de risco moral ou seleo adversa cria uma demanda por mecanismos de obteno da informao por parte do regulador, como auditorias, por exemplo. No entanto, mesmo com a aplicao de processos de auditoria, a assimetria da informao ainda persiste. Assim, a literatura recente sobre regulao por incentivos foca no desenvolvimento de mecanismos regulatrios para superar os problemas de assimetria da informao, assim como na utilizao das oportunidades de monitoramento por outras esferas do governo, consumidores e outros grupos de interesse8. Assim, no incio dos anos 80, o desenvolvimento terico dos modelos de regulao por incentivos cresceu rapidamente, com o intuito de fazer frente aos problemas de assimetria de informao, e outros tpicos que os reguladores vinham tentando responder ao longo de vrias dcadas, mas sem um arcabouo terico que os guiasse. No entanto, os modelos considerados timos do ponto de vista econmico (por exemplo, menu de contratos com diferentes fatores de compartilhamento de lucros e penalidades [15]) possuem ainda pouca aplicao prtica9. Na prtica, os mecanismos regulatrios bem desenhados tm adotado mecanismo simples, que reflitam as questes mencionadas.

3.1 Regulao por Custo de ServioComo mencionado anteriormente, por muitos anos o mtodo de regulao dominante foi de regulao por custo de servio ou taxa de retorno. Nesse modelo aNo setor eltrico brasileiro, por exemplo, tem-se observado uma crescente participao das associaes de classe nos processos de consulta e audincia pblica, tanto do rgo regulador quanto de alguns ministrios. Essa pluralidade traz informaes de diferentes agentes, e propcia ao tomador de deciso vencer parte da assimetria. Dois exemplos citados em [14] so: i) o menu para a definio dos investimentos futuros (CAPEX) das distribuidoras de energia eltrica no Reino Unido; ii) o mecanismo de incentivo aplicado funo operador do sistema do National Grid na Inglaterra (na Inglaterra o NG assume a funo de proprietrio dos ativos de transmisso e a de operador do sistema, sendo regulado com diferentes modelos para cada uma das funes). O segundo exemplo analisado em [16].9 8

empresa regulada tem sua tarifa definida de modo a cobrir seus custos operacionais reais somados a uma taxa de retorno adequada sobre o capital investido. Qualquer variao nos custos da empresa, para mais ou para menos, so repassados diretamente para as tarifas no momento seguinte. Assim, a receita de empresa regulada ( R ) pode ser assim representada:n

R = pi qi = Despesas + tr BCi =1

Eq. (1)

Onde:

pi : tarifa estabelecida para o segmento de consumo i ; qi : demanda do segmento de consumo i ;Despesas : despesas operacionais reais da empresa;

tr : taxa de remunerao adequada;BC : base de capital.Essa abordagem possui a vantagem de garantir que a remunerao da empresa ser exatamente aquela estabelecida, que ser relativamente baixa10 (j que o risco da empresa no auferir essa remunerao nulo). No entanto, no h qualquer incentivo para reduo de custos, e, alm disso, existe o risco de ocorrer um sobre-investimento na rede, ou efeito Averch-Johnson11, o que resultaria em tarifas mais altas ao consumidor. Dentre as razes para o crescente abandono do modelo de regulao por custo do servio est a falta de incentivo eficincia, j que ao repassar para as tarifas os custos reais das empresas, h limitado incentivo gesto eficiente, o que resulta em

Mais a frente demonstrado que as metodologias de clculo da taxa de remunerao levam em conta o risco do negcio. Assim, quanto menor esse risco menor a taxa, em consonncia com o conceito de risco-retorno. Uma empresa que maximiza o lucro e est sujeita a regulao por custo de servio (possui um taxa de retorno fixa, e com isso seus lucros so proporcionais base de capital), tender a investir mais do que o necessrio (considerando o nvel de qualidade exigido pelo regulador) para aumentar sua base de capital, desde que a taxa de retorno regulatria seja superior a taxa adequada para esse determinado negcio. Obviamente, o contrrio tambm pode ocorrer (nvel de investimentos abaixo do desejado), caso a taxa regulatria seja inferior, o que parece ter ocorrido no sistema de transmisso nos Estados Unidos durantes os ltimos anos [6], por exemplo.11

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maiores tarifas. Se a empresa tem pouco a ganhar ao reduzir seus custos (j que toda a reduo imediatamente repassada s tarifas) e pouco a perder ao elevar seus custos (j que a elevao de custos tambm repassada s tarifas) o resultado um desincentivo eficincia.

3.2 Regulao por IncentivosCom o intuito de superar as deficincias da regulao por custo de servio, em especial a falta de incentivos reduo de custos, surgem ento os mecanismos de regulao por incentivos. Aqui sero analisados trs desses mecanismos: regulao por preo-teto, receita mxima e a competio por comparao.

3.2.1 Regulao por Preo-tetoA regulao por preo-teto (Price-Cap) foi proposta no incio dos anos 80 por Stephen Littlechild, por ocasio da privatizao da British Telecom, e por Roy Radner, da AT&T [17]. Esse mtodo consiste na definio de um preo-teto inicial para os preos mdios da empresa regulada. Esse preo corrigido a cada ano do intervalo regulatrio (em geral de quatro ou cinco anos), por um ndice que reflita a variao da inflao (Retail Price Index - RPI) menos um fator (Fator X), referente ao ganho de produtividade esperado para o perodo [18]. Este tipo de regulao tambm conhecida como RPI-X, e pode ser traduzida pela frmula abaixo:

p1 = p0 (1 + RPI X + Z ) 12Onde:

Eq. (2)

p1 : tarifa estabelecida para o prximo ciclo tarifrio;p0 : tarifa vigente.Fica claro que esse mecanismo cria incentivos s aes eficientes e produtivas por parte das empresas reguladas, uma vez que estas podem apropriar-se de parte da reduo de custos e de ganhos de produtividades que venham a ocorrer entre os perodos de revises de tarifas.

O ndice Z, utilizado em algumas aplicaes desse tipo de regulao, tem a funo de repassar diretamente para as tarifas qualquer variao dos custos no-gerenciveis observada pela empresa regulada (tambm conhecido como pass-through).

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A regulao por preo-teto foi introduzida nos setores privatizados de eletricidade, gs, telefonia e gua no Reino Unido, Nova Zelndia, Austrlia e grande parte da Amrica Latina, assim como no setor de telefonia dos Estados Unidos. Interessante observar a influncia do intervalo regulatrio nos efeitos gerados pelo mecanismo: Quanto maior o intervalo, maior o incentivo para a reduo de custos, no entanto, menor a capacidade de compartilhar com o consumidor essa reduo (j que a empresa se apropria dela por um tempo muito maior). Dessa forma, a definio do intervalo regulatrio deve considerar o compromisso entre incentivos para a reduo de custos e capacidade de compartilhamento dessas redues com o consumidor. Um problema claro apresentado por um regime preo-teto puro ausncia de um comprometimento da empresa com a qualidade. Dado que qualquer reduo de custos gera um lucro maior por um determinado perodo, a empresa tende a reduzi-los excessivamente. Para evitar essa conseqncia indesejvel, os mecanismos dessa natureza so sempre acompanhados por uma regulao da qualidade, atravs da qual so estabelecidos padres a serem atingidos, assim como bnus e penalidades associadas ao desempenho da empresa. No caso da distribuio de energia eltrica no Brasil, a regulao dos indicadores de continuidade e conformidade, assim como indicadores da qualidade do atendimento, so exemplos da regulao da qualidade. Outro ponto de fundamental importncia do regime preo-teto a definio do Fator X, que visa compartilhar com o consumidor os ganhos de eficincia e produtividade alcanados pela empresa. At o final da dcada de 90, apesar da j relativa popularidade do citado regime, a literatura econmica era bastante limitada em relao a como se determinar o Fator X. Foi ento que Bernstein e Sappington, em seu artigo seminal, demonstraram que o Fator X deveria refletir: (1) a diferena entre o aumento da produtividade total da indstria e o aumento da produtividade do restante da economia; e (2) a diferena entra a variao dos preos dos insumos da indstria regulada e a variao dos preos dos insumos geralmente incorridos pelas demais empresas [19]. Infelizmente, a teoria apresentada por Bernstein e Sappington raramente aplicada na prtica, por diversas dificuldades as quais no sero aqui abordadas. Apesar disso, as linhas gerais da teoria so utilizadas para a definio do Fator X em vrios pases.

Duas reguladoras

abordagens para se

dominantes os

vm ganhos

sendo

utilizadas de

pelas

agncias e,

estimar

potenciais

produtividade

conseqentemente, definir os valores de X. A primeira, denominada abordagem prospectiva, usualmente faz uso do Fluxo de Caixa Descontado FCD projetando custos e receitas at a reviso tarifria seguinte (quatro ou cinco anos). O Fator X o valor que deve ser descontado do fluxo de receitas de modo a tornar o valor presente lquido dos fluxos de receitas e despesas idnticos. De outra forma, o Fator X mede o quanto pode ser reduzida a tarifa de modo a preservar o equilbrio econmicofinanceiro definido na reviso tarifria. A segunda abordagem, denominada histrica, busca definir os ganhos potenciais de produtividade a partir da mensurao da Produtividade Total dos Fatores (PTF) observada no perodo anterior reviso tarifria. Para se atingir tal finalidade diversos mtodos estatsticos (benchmarking) tm sido aplicados na identificao de uma fronteira eficiente de custos operacionais13 e na mensurao da distncia entre cada empresa e o referido nvel [14]. Com base na distncia em relao ao nvel eficiente, e nas expectativas de ganhos de produtividade, defini-se ento o valor de X para que a empresa atinja, em um determinado perodo, a eficincia desejada. Para definio de custos operacionais eficientes, as tcnicas de benchmarking aplicadas s empresas de distribuio de energia podem ser agrupadas em dois grandes conjuntos. O mais popular usado no Reino Unido, Noruega e Austrlia consiste na utilizao de metodologias de definio de uma fronteira de custos eficientes14, como Mnimos Quadrados Ordinrios Corrigidos (COLS), Fronteira Estocstica (SFA) ou Anlise Envoltria de Dados (DEA). Esse conjunto de metodologias utiliza a comparao entre vrias empresas de um mesmo grupo (normalmente as empresas do pas em questo) para construo da fronteira com a qual so comparadas individualmente. Os modelos alternativos aos de determinao da fronteira de eficincia so os de construo de uma empresa de referncia, como aplicado no Brasil. rgos reguladores na Espanha, Chile e Sucia tm desenvolvido diferentes modelos de empresa de referncia, enquanto a Alemanha tem discutido a aplicao de tais modelos [20].

O desenvolvimento das metodologias de definio dos parmetros de eficincia no modelo de preo-teto tem focado, tipicamente, os custos operacionais, no considerando os custos de capital, os quais so estabelecidos com base na definio de uma base de remunerao, taxas de depreciao, e os custos de capital. Os mtodos de estabelecimento da fronteira eficiente ainda podem ser segregados em paramtricos e no-paramtricos.14

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3.2.2 Regulao por Receita MximaUma variao do preo-teto o modelo de regulao por receita mxima (Revenue Cap). Apesar de gerar os mesmo efeitos, a regulao por receita mxima se caracteriza por retirar o risco de mercado da empresa regulada, contribuindo assim para uma reduo da taxa de retorno adequada para o negcio. Isso ocorre pelo fato de que, quando o regulador estabelece a receita e as correspondentes tarifas para um determinado perodo, o faz com uma expectativa de mercado, que pode ou no se realizar. Enquanto no modelo de preo-teto no h verificao da realizao do mercado ex-post, no modelo de receita mxima, qualquer variao, para mais ou para menos, no faturamento, devido s mudanas do mercado, repassada para empresa no ano seguinte. Dessa forma, podemos represent-lo pela expresso abaixo:

R1 = (R0 + ) (1 + RPI X ) + ZOnde:

Eq. (3)

R1 : receita estabelecida para o prximo ciclo tarifrio;R0 : receita vigente;

: dficit ou supervit realizado no ciclo vigente em decorrncia de variaesdo mercado previsto. Nesse modelo reduz-se a importncia da previso de mercado para a empresa regulada. O risco da no realizao do mercado previsto alocado aos usurios do servio. Um exemplo a regulao da transmisso no Brasil, na qual garantida a receita aos concessionrios, independente das variaes do mercado, as quais so repassadas no ciclo seguinte atravs de uma parcela de ajuste. Assim como na regulao por preo-teto, nesse modelo tambm necessrio o estabelecimento de mecanismos e regras para a manuteno da qualidade.

3.2.3 Regulao por ComparaoA regulao por comparao (Yardstick Competition) talvez o melhor mtodo para superao da assimetria da informao. Esse mtodo pressupe a utilizao de informaes sobre o desempenho de vrias empresas15 com o intuito de compar-las a uma empresa especfica e avaliar a sua eficincia [17]. A dificuldade de aplicao15

possvel que a empresa seja comparada a uma referncia virtual e no real, como uma empresa modelo ou de referncia, por exemplo.

desse mtodo reside na dificuldade de se estabelecer as empresas passveis de comparao, j que diferentes realidades resultam em diferentes custos. Alm disso, necessrio o estabelecimento de procedimentos rigorosos de levantamento dos dados levantamento por partes das empresas e de auditagem dos mesmos por parte do regulador.

3.3 Mecanismos HbridosApesar das vantagens e desvantagens apresentadas nos modelo de regulao pelo custo e regulao por incentivos, no existe um modelo ideal de aplicao. A escolha de um modelo deve considerar as caractersticas de cada setor, pas, assim como a cultura regulatria16. Assim, muitas vezes o que se adota so mecanismos hbridos, atravs dos quais se aplica para diferentes conjuntos de custos de uma mesma empresa, diferentes mecanismos regulatrios. Isso permite que o modelo equilibre de uma melhor forma o custo regulatrio e de capital:

Figura 2: Tradeoff dos modelos regulatrios

3.4 Estrutura TarifriaAssim, estabelecido o mtodo (e independente de qual seja), o processo de regulao econmica consiste nas seguintes etapas: i) A definio do nvel tarifrio, na qual o regulador estabelece a receita a ser auferida pela concessionria para a prestao do servio adequado; ii) A definio da estrutura tarifria, onde a receita estabelecida na etapa anterior rateada entre os usurios do sistema, de forma a alocar da melhor forma os custos e promover uma sinalizao econmica para utilizao do mesmo. rutura A estrutura tarifria uma importante etapa do processo de regulao econmica, pois nesse momento feita a alocao dos custos, de maneira a custos, responsabilizar cada um dos usurios pelo seu real impacto na cadeia de gerao,

Por exemplo, boa parte da distribuio de energia eltrica nos Estados Unidos ainda regulada pelo custo do servio, com alguns mecanismos de incentivos adicionais. Tal opo ocorre, em grande parte, devido cultura e experincia desse pas em realizar auditorias. arte,

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transmisso e distribuio de energia eltrica. Em linhas gerais, o que se faz usualmente nos sistemas de transmisso e distribuio de energia calcular os custos marginais ou incrementais para cada conjunto de consumidores, e proceder ao ajuste desses custos de forma a fazer com que as tarifas finais recuperem a receita total pactuada no processo de estabelecimento do nvel tarifrio. O citado ajuste para alcance da receita regulada chamado na literatura de adequao de receita (revenue adequacy ou revenue reconciliation) e possui um papel fundamental no processo, j que o ajuste deve alocar de forma isonmica o custo do sistema entre os agentes, e ao mesmo tempo, garantir que a eficincia e sustentabilidade sejam mantidas, completando assim o equilbrio dos trs vrtices da pirmide da Figura 1. Diferentes abordagens podem ser utilizadas para se adequar a receita: fator aditivo fixo, fator multiplicador fixo, fator aditivo em funo da confiabilidade, e fator aditivo em funo da elasticidade (preos de Ramsey [25]), sendo essa ltima a alternativa que resulta em um maior excedente total [26]. Assim, os mtodos de estabelecimento da estrutura tarifria na distribuio e transmisso de energia eltrica podem ser classificados em trs grandes grupos [30]: - Mtodos que traduzem comportamentos mdios (Average Cost Methods): estes mtodos podem exigir ou no a realizao de estudos de fluxo de potncia, e baseiam a alocao dos custos no valor de algumas variveis tais como potncias de ponta ou energias transmitida. Alguns desses mtodos procuram obter uma medida mais completa e justa da utilizao das redes, fazendo o valor das tarifas depender da distncia em que se efetua a transmisso de energia; - Mtodos de Tipo Incremental: os mtodos de tipo incremental procuram obter a variao do custo de transmisso de energia eltrica na presena e na ausncia de uma determinada transao de energia entre um gerador e um consumidor. Para alm de alguns aspectos crticos, estes mtodos permitem obter sinais econmicos mais significativos. Tais mtodos podem ser segregados em curto ou longo prazo, tendo em conta a no incluso ou a incluso de custos de expanso e reforos da rede; - Mtodos de Tipo Marginal: os mtodos tipo marginal baseiam-se no clculo da variao do custo de transmisso de energia eltrica quando, num determinado n do sistema, a carga (gerao) sofre um aumento de uma unidade em relao ao cenrio base. Assim como os mtodos incrementais, os marginais tambm podem ser classificados em curto prazo se refletem apenas custos de explorao das redes ou de longo prazo se integram a avaliao dos custos de reforo e expanso.

Alm dos trs mtodos citados, tem crescido de forma significativa (mas com poucas aplicaes prticas) abordagens utilizando teoria dos jogos [34]. De uma forma geral, pode-se afirmar que essas formulaes se baseiam na existncia de coalizes entre agentes que estabelecem um contrato de compra/venda de energia eltrica. Para efetivar essas transaes de energia, torna-se necessria a utilizao da rede de transmisso. Por esta razo, cada coalizo caracterizada, alm de outros aspectos, pelo custo de transporte associado realizao dessa transao, que pode ser estabelecidos atravs de vrias metodologias.

3.4.1 Mtodos de Custos Mdios 3.4.1.1 Selo Postal 17Segundo [30], este mtodo supe que todo o sistema eltrico afetado de um modo uniforme por cada transao de uso da rede, independentemente da localizao dos pontos de injeo e de consumo de energia eltrica e da distncia em que se encontram. O rateio do custo total feito em funo da quantidade de carga servida, normalmente medida na condio de carga mxima. Neste caso, uma transao efetuada por um agente u pagaria:

T (u ) = ROnde:

D(u ) Dtot

(1.)

T (u ) : Tarifa de uso a ser paga pelo agente u; D(u ) : Quantidade de carga da transao;

Dtot : Carga total do sistema; R : Receita definida na etapa do nvel tarifrio.Uma vantagem desta abordagem que ela possibilita, de forma bastante simplificada, a definio da tarifa de transmisso para agentes que possuem cargas dispersas ao longo do sistema, por exemplo, concessionrias de distribuio. Ela trata todos os ns da rede de modo uniforme e permite recuperar a totalidade do custo do sistema. Dessa forma, fica automaticamente atendida a conciliao de receita.

17

O termo em ingls tambm amplamente utilizado: Postage Stamp

Sua principal deficincia que desconsidera a operao do sistema e o impacto na expanso da rede. Como exemplo, um agente que usa pouco o sistema (ponto de gerao prximo carga) subsidia outro que usa o sistema mais intensamente (pontos de injeo e consumo de potncias bem distantes). Como resultado, este mtodo tem grandes chances de emitir sinais econmicos incorretos para os usurios.

3.4.1.2 Caminho do ContratoEste mtodo pode ser considerado como uma particularizao do Selo Postal por alocar apenas os custos correspondentes a um conjunto de instalaes eletricamente contnuas formando um caminho, chamado de caminho de contrato, que liga os pontos de injeo e consumo de energia eltrica [31][5]. Desta forma, o custo a pagar pela transao u de um determinado sistema dado por:n

T (u ) = C kk =1

Dk (u ) Dtotk

(2.)

Onde:

T (u ) : Tarifa de uso a ser paga pelo agente u;

Ck :

Custo do circuito k;

Dk (u) :Quantidade de carga em k devido ao agente u; Dtotk : Carga total em k;O caminho acordado entre o usurio e as empresas de transmisso ou distribuio envolvidas. A seleo dos caminhos no se baseia em estudos tcnicos que levem em conta as Leis da Fsica que regem a operao de sistemas eltricos. Tal como o mtodo selo, este mtodo no fornece sinais econmicos para uma expanso otimizada, alm de poder originar tarifas muito elevadas para transaes entre ns afastados. Outro problema se refere ao impacto que pode causar em redes paralelas que no participaram do contrato efetivado.

3.4.1.3 MW-milhaEste mtodo adotado em alguns estados dos Estados Unidos. No MW-milha, a despeito dos dois mtodos citados anteriormente, inicialmente so calculados os

fluxos em cada circuito causados pelo padro gerao/carga de cada usurio da rede de transmisso, atravs de um programa de fluxo de potncia. Os custos so alocados em proporo razo do fluxo pela capacidade do circuito.Nl

T (u ) = Cll =1

f l (u ) fl

(3.)

Onde:

T (u ) : Tarifa alocada ao agente u;

Cl :

Custo do circuito l;

f l (u ) : Fluxo no circuito l causado pelo agente u;

fl :

Capacidade do circuito l; Nmero total de circuitos.Nl

Nl :

R = Cll =1

Este mtodo elimina algumas limitaes do mtodo anterior, pois considera a ocupao dos circuitos da rede. Assumindo algumas simplificaes, este mtodo pode ser interpretado como uma soluo de planejamento timo de um sistema de potncia sob o ponto de vista esttico. Dado que o fluxo total do circuito normalmente menor que a sua capacidade, esta regra de alocao no recupera a totalidade do custo total do sistema de transmisso. Em termos de interpretao do sistema de transmisso, isto significa que o MW-milha somente aloca os custos devido aos fluxos do caso base, mas no a reserva de transmisso, dado pela diferena entre a capacidade do circuito e o fluxo lquido de cada circuito da rede. Isso torna necessria a aplicao de algum mtodo de reconciliao de receita.

3.4.1.4 MduloUma maneira simples de garantir a remunerao do custo total substituir a capacidade do circuito no denominador da equao a seguirabaixo pela soma dos valores absolutos dos fluxos causados por todos os agentes que usam a rede:

T (u ) = Cll =1

Nl

Fl (u )

F (s)l s =1

Ns

(4.)

Onde:

NS :

Nmero total de agentes que utilizam a rede de transmisso.

Este mtodo assume que todos os agentes devem pagar pelo uso real da capacidade e pela reserva de transmisso. Esta reserva pode ser devido necessidade do sistema atender a critrios de confiabilidade, estabilidade e segurana ou, tambm, devido a desajustes. Estes desajustes so normalmente ocasionados por erros de planejamento, causados pelas incertezas inerentes ao processo. Outro tipo de desajuste se refere s economias de escala e indivisibilidade dos investimentos que s deixam de ser consideradas como desajuste quando inseridas em uma viso de longo prazo.

3.4.1.5 Fluxo Positivo ou DominanteNeste mtodo, no h nenhuma cobrana para o agente cujo fluxo est na direo oposta ao fluxo lquido, denominado fluxo dominante. Somente os agentes que usam o circuito na mesma direo do fluxo principal, normalmente denominado de fluxo dominante, pagam na proporo de seus fluxos.Nl

T (u ) = Cll =1

Fl (u ) Fl (s)todosl +

para Fl (u ) 0 (5.) para Fl (u ) < 0

T (u ) = 0Onde:

l + : Conjunto dos agentes com fluxo positivo no circuito l.Este mtodo assume que qualquer reduo no fluxo lquido de qualquer elemento da rede benfica ao sistema, mesmo quando existe um excesso de capacidade instalada.

3.4.2 Mtodos IncrementaisO custo incremental definido pela diferena do custo da rede na ausncia e na presena de determinada transao ou agente e pode ser interpretado como o sobrecusto incorrido pela rede de transmisso para acomodar esses novos agentes ou transaes. Os conceitos de natureza incremental contribuem para aumentar a eficincia e racionalidade econmica da utilizao das redes e para fornecer sinais destinados a melhorar a utilizao dos sistemas, uma vez que consideram o fator locacional e o sentido dos fluxos de potncia no clculo das tarifas. No entanto, tm sido apontadas deficincias e dificuldades na aplicao de metodologias de tarifao tipo incremental: As vantagens decorrentes da melhoria da eficincia econmica so contrabalanadas pelo aumento da complexidade da avaliao dos custos associados a cada transao; O acrscimo de complexidade na alocao de custos imputados a cada transao ocorre de forma mais evidente se o nmero de transaes presentes for elevado; Se tal ocorrer, dado o carter no linear dos sistemas eltricos, a ordem segundo a qual so eliminadas as transaes ou agentes influencia na alocao dos custos, podendo introduzir um carter discriminatrio no processo.

3.4.3 Mtodos Marginais 3.4.3.1 Custo Marginal de Curto PrazoNormalmente, o custo marginal de curto prazo (CMaCP) est associado apenas ao custo operacional18, ou seja, variao no custo que a injeo de gerao ou retirada de carga de 1 MW provoca no sistema. Outros custos, tais como os referentes a reforos do sistema de transmisso ou distribuio, no so includos. A maneira mais natural de calcular o impacto causado por determinada transao verificar o custo total antes e depois de inclu-la no sistema. A diferena dos dois custos indicaria o seu impacto monetrio. possvel obter esta diferena simulando os dois casos, o que seria complicado se o nmero de transaes for grande. Outra alternativa seria a utilizao dos multiplicadores de Lagrange, d , que representam os CMaCPs de barra ou os preos de energia do mercado spot [32]. Estes multiplicadores so obtidos18

Aumento do custo ocasionado pela produo de uma unidade extra do produto.

a partir da soluo de um problema de otimizao que tem como funo objetivo a minimizao do custo de produo, e se originam das restries de balano de energia em cada n da rede de transmisso. O problema abaixo apresenta uma verso do processo de otimizao do custo de produo para o caso brasileiro onde a insero de usinas hidrulicas preponderante. Minimizar Custo de Produo sujeito a: Equao da gua Restries de gerao Restries de transmisso As variveis duais d relativas s equaes de balano de carga representam os custos marginais de curto prazo por barra [33]. Atravs destes custos possvel calcular a variao do custo de produo associado a uma determinada transao envolvendo transporte. Esta variao obtida pela diferena entre o custo marginal da barra onde est sendo injetada determinada potncia e o da barra onde se est sendo retirada tal potncia.

CP = W ( di d j )Onde:

(6.)

di , dj /:CP : W:

Custos marginais das barras i e j; Variao do custo de produo; Total da transao.

A funo objetivo que origina os coeficientes d na equao minimizar o custo de operao das usinas onde so incorporados os aspectos da coordenao hidrotrmica. A diferena dos CMaCPs representa, portanto, o impacto trazido pela transao no custo de produo do sistema. importante ressaltar que este custo pode ser negativo caso a transao, em funo das condies do sistema, beneficie a operao, aliviando carregamentos na rede de transmisso. Os valores de d variam

em funo do ponto de operao, ou seja, eles diferem a cada hora do dia e em cada estao ou perodo hidrolgico do ano. O CMaCP est diretamente associado produo de energia eltrica e normalmente no consegue recuperar o custo total da transmisso ou distribuio necessitando de ajustes para igualar a remunerao com a receita permitida. Quando estes ajustes so relativamente pequenos, a suposta eficincia econmica obtida na alocao marginal dos custos no prejudicada. Entretanto, o que se tem verificado que tais ajustes tendem a ser muito grandes, comprometendo o sinal econmico dos custos assim obtidos. Outra desvantagem deste mtodo que a empresa de transmisso tem suas tarifas calculadas em funo dos custos dos combustveis das empresas de gerao de energia eltrica, ao invs dos custos referentes expanso da transmisso. As diferenas entre os custos marginais entre barramentos aparecem apenas se houver restries ou congestionamento na rede. Esta diferena dos preos marginais pode causar benefcios ou prejuzos aos agentes que compram ou vendem energia, pois a princpio eles no conseguem identificar, a priori, os pontos de estrangulamento da rede e sua intensidade, acabando por ficar expostos a estes riscos denominados de risco de base locacional [6].

3.4.3.2 Custo Marginal de Longo PrazoQuando na funo objetivo so incorporados os custos de investimentos, os custos marginais passam a ser de longo prazo, pois incorporam a expanso da rede. A busca de uma formulao usando os custos marginais de longo prazo (CMaLP) tem sido constante, mas enfrenta o problema de necessitar de dados futuros e de um plano de expanso timo. Como o grau de incerteza associado ao futuro grande, torna-se difcil obter este plano timo. Caso este fosse possvel, os novos coeficientes

d incorporariam no s os custos de produo, mas tambm os de investimentos, eos resultados do uso do problema enunciado no incio desse item seriam mais aderentes atividade de transmisso. No sendo possvel obter os CMaLPs ideais, algumas simplificaes foram tentadas. Um exemplo, j bastante utilizado na tarifao tradicional, o uso do custo mdio incremental de longo prazo. Este custo obtido a partir de um planejamento acordado entre as concessionrias envolvidas. No caso brasileiro, a Empresa de Pesquisa Energtica (EPE) elabora o plano indicativo de investimentos na gerao

que por sua vez produziria um plano conjunto com a transmisso podendo ser usado para definir os custos incrementais. A ANEEL, desde junho de 2007, vem utilizando o plano decenal da EPE para estabilizar as tarifas de transmisso, de acordo com a Resoluo ANEEL n 267/200719. Outra forma alterar a funo objetivo do problema, de forma a considerar os custos da rede de transmisso:N

Min

ck =1

k

Fk

(7.)

Sujeito a:

[P] = [B][ ]f k = bij ijfk fkOnde: para todo k

(8.) (9.)

(10.)

c k : Custo unitrio do circuito k que corresponde a f k : Fluxo lquido no circuito k;f k : Capacidade do circuito k;

Ck ; Fk

[P] : Vetor das potncias injetadas;[B] : Matriz de susceptncia nodal; [ ]: Vetor dos ngulos das tenses nos barramentos do sistema;bij : Susceptncia do ramo k, conectado entre os barramentos i e j;

ij : Diferena angular entre os barramentos i e j.

19

Disponvel em http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2007267.pdf.

Os coeficientes de Lagrange obtidos a partir da primeira restrio tentam capturar o impacto no uso do sistema de transmisso ponderado pelos custos de cada equipamento. A idia construir um sistema de transmisso para atender os padres gerao/carga de cada usurio do sistema, supondo que as capacidades dos circuitos possam ser ajustadas de acordo com as necessidades dos agentes. Cumpre observar que a funo objetivo do problema (7.) similar proposta pelo mtodo MW-milha. importante observar que se o padro gerao-carga fixo ([P] constante), ou seja, se os despachos dos geradores e as cargas esto definidos, a regio vivel do problema (7.) um ponto definido pela soluo do fluxo de potncia DC da equao (8.) ou o vazio quando o conjunto das restries da (9.) e (10.) no tiverem soluo vivel. Desta forma, a soluo do problema (7.) que otimiza o uso do sistema de transmisso, ou planeja os investimentos de forma tima, a prpria soluo de um fluxo DC. Esta propriedade facilita o clculo dos coeficientes de Lagrange associados restrio (8.) que representam a sensibilidade da variao do custo de ampliao da capacidade do sistema frente ao incremento de carga. Estes coeficientes podem ser obtidos a partir dos fatores de distribuio que deram origem ao mtodo nodal atualmente em uso pela ANEEL.

3.4.3.3 NodalEssa metodologia apareceu pela primeira vez na Inglaterra com o nome de Investment Cost Related Price (ICRP) [35]. A tarifa nodal procura refletir a variao do custo de expanso resultante de um aumento na capacidade de gerao de cada barra, isto , o custo marginal de longo prazo (CMaLP) do sistema, podendo assim ser considerada uma variao do mtodo anterior. A metodologia se baseia no conceito de tarifas nodais, no qual cada usurio do sistema paga encargos de uso relativos ao ponto (n) da rede de transmisso/distribuio no qual est conectado. Assim sendo, os encargos de uso a serem pagos por um agente de gerao dependero apenas da sua localizao, independentemente de quem comprar a sua energia gerada. O mesmo raciocnio aplica-se aos agentes consumidores, cuja tarifa de uso do sistema eltrico independer da localizao das centrais geradoras das quais compram a sua energia. A metodologia Nodal tambm no recupera a totalidade dos custos da rede, fazendo-se necessria a presena de uma parcela complementar. Assim sendo, a tarifa total dada pela soma das seguintes parcelas: tarifa locacional e parcela de ajuste.

A tarifa locacional se baseia em fatores de sensibilidade dos fluxos nas linhas em funo de uma potncia incremental injetada na barra. Esses fatores so obtidos atravs da modelagem do fluxo de potncia linearizado ou fluxo DC e constituem a chamada Matriz de Sensibilidade . Os encargos resultam proporcionais ao fluxo incremental que cada agente produz em cada elemento da rede e ao custo unitrio do elemento expresso por unidade de capacidade nominal de transporte, ou seja, a partir dos elementos da matriz possvel calcular os coeficientes j. Uma vez determinado um estado operativo de referncia caracterizado pelos fluxos de potncia em cada elemento do sistema, os agentes que produzem fluxos incrementais com o mesmo sentido que os fluxos de referncia devero assumir encargos por uso, enquanto os que produzem fluxos incrementais no sentido oposto (contra fluxo) ao de referncia recebem crditos pelo uso desse determinado componente da rede. A tarifa locacional para cada barra j do sistema calculada como:Nj

i = (j =1

Cj fj

ji )

(11.)

Onde:

i :Cj :fj :

Tarifa nodal do n i; Custo do circuito j; Capacidade do circuito j;

N j : Nmero total de circuitos;

ji :

Variao de fluxo no circuito j devido injeo de 1 pu no n i;

Como os fluxos estabelecidos pelo despacho de referncia so sempre menores ou iguais capacidade nominal dos circuitos, a tarifa locacional no recupera a totalidade dos custos de transporte, uma vez que o valor calculado sempre menor ou igual ao valor real da rede.

Por tal motivo se adiciona uma parcela de ajuste, tambm conhecida como parcela selo (postage stamp)20, que aplicada igualmente a todos os agentes de maneira a recuperar os encargos necessrios para a remunerao da rede de transmisso. Essa parcela calculada da seguinte forma:Nj

R j g j =j =1 Nj

(12.)j

gj =1

Onde:

R : Receita da rede em questo, estabelecida no processo do nvel tarifrio;

g j : Potncia contratada no n j;

: Parcela de ajuste aditiva.Essa parcela distorce o sinal locacional da tarifa, visto que aumenta igualmente a tarifa de todos agentes independente de sua localizao.

3.4.4 Custos de ConexoOs custos de conexo ao sistema de transmisso ou distribuio se referem queles incorridos para a conexo da usina de gerao ou da unidade consumidora at a malha. Tal custo pode ser calculado com base em uma conexo rasa, onde so considerados os custos apenas at o ponto de conexo ao sistema de transmisso, ou com base em uma conexo profunda, na qual so considerados no s os custos at o ponto de conexo como tambm aqueles referentes s adequaes na malha de transmisso/distribuio que se fizeram necessrias por conta da conexo do novo acessante. A conexo profunda possui a vantagem de alocar ao novo acessante a mxima parcela de responsabilidade no custo incorrido pela sua presena no sistema. Isso significa que uma menor parcela de custo causado pelo acesso ser inserida no clculo das tarifas de uso do sistema, para ser rateado por todos os usurios. O problema da conexo profunda reside no fato da dificuldade em se definir os custos causados pelo novo acessante na malha de transmisso. A linha que conecta oRessalta-se que, como j apresentado anteriormente, outras formas de realizar o ajuste, ou reconciliao de receita, podem ser implementados.20

gerador ou consumidor at o ponto de acesso ao sistema de transmisso beneficia claramente apenas o novo usurio. No entanto, extremamente complexo definir quais os custos na malha de transmisso que so de responsabilidade do acessante, o que torna o estabelecimento de uma regra para a definio dos custos de conexo profunda uma tarefa muito difcil. Em alguns casos a adoo da conexo profunda criou barreira entrada de novos geradores no sistema. Foi o caso da Inglaterra, que a adotou para os sistemas de distribuio at 2005, quando implementou alterao para conexo rasa devido inviabilizao da conexo de vrios geradores, por conta dos altos custos de conexo profunda definidos pelas distribuidoras. A conexo rasa, por sua vez, possui a vantagem de ser de simples definio, possuindo a desvantagem de alocar uma maior parcela de custo a ser socializada via tarifa de uso do sistema de transmisso. No caso da transmisso no Brasil optou-se pela conexo rasa, como definido na Resoluo ANEEL n 281/199921. No entanto, mesmo com a conexo rasa, ainda persistem certos desafios referentes definio do que deve ser ativo de conexo e ativo de rede bsica quando o empreendimento de gerao de grande porte, como recentemente ocorreu com a expanso do complexo do rio Madeira.

21

Disponvel em http://www.aneel.gov.br/cedoc/bres1999281.pdf.

4. Aspectos Conceituais da Reg Regulao TcnicaA regulao tcnica das redes, que compreende no s o estabelecimento de padres e procedimento, como tambm critrios de qualidade a serem atingidos pelo prestador do servio assim como a fiscalizao do cumprimento dos mesmos, de fundamental importncia, independente do modelo de regulao adotado. amental No entanto, com a intensificao da adoo de regimes regulatrios por incentivos, cresce ainda mais a importncia das exigncias de qualidade, j que em tais modelos existe um incentivo para que o prestador reduza seus custos duza operacionais, a ponto de deteriorar a qualidade do servio. Dessa forma, torna torna-se fundamental o papel do regulador no equilbrio do trade-off entre modicidade tarifria e nvel de qualidade do servio.

Figura 3: Trade-off Modicidade vs. Qualidade

No entanto, com a intensificao da adoo de regimes regulatrios por incentivos, cresce ainda mais a importncia das exigncias de qualidade, j que em tais modelos existe um incentivo para que o prestador reduza seus custos operacionais, a ponto de deteriorar a qualidade do servio. Dessa forma, torna torna-se fundamental o papel do regulador no equilbrio do trade-off entre modicidade tarifria e nvel de qualidade do servio. importante que os regulamentos tcnicos sejam capazes de criar regras para m garantia do livre acesso, qualidade do servio, operao das redes, planejamento da expanso, assim como definir os procedimento de fiscalizao e punio, de forma a garantir o cumprimento dos ante anteriores. Dentro desse contexto, alguns aspectos da regulao tcnica possuem princpios conceituais importantes, os quais so descritos importantes, nos itens que seguem.

4.1 AcessoA curto prazo, necessrio que seja provido acesso a todos os agentes, de forma no discriminatria, j que o risco de parcialidade quanto s conexes pode criar uma barreira de entrada a novos agentes e, por conseqncia, prejudicar a competitividade no mercado de energia eltrica. Nesse sentido, a maioria dos pases tem migrado para um modelo de conexo rasa, onde os usurios arcam apenas com os custos at o ponto de conexo22. J a longo prazo, os agentes necessitam de acordos que estabeleam sua relao com os proprietrios das redes e com o operador do sistema, especificando as condies sob as quais eles sero conectados e a manuteno do acesso. Tais acordos incluem:

Contratos de Conexo ao Sistema de Transmisso ou Distribuio, que garantem a conexo ser devidamente provida, mantida e modificada de forma eficiente e justa, alm claro, de definir o seu custo;

Contrato de Uso do Sistema de Transmisso ou Distribuio, que regula as condies e as tarifas a serem pagas pelo usurio em contrapartida ao uso do sistema de transmisso.

4.2 Expanso das RedesA importncia da expanso das redes de distribuio e transmisso transcende as questes de atendimento e confiabilidade propriamente ditas, e atingem questes comerciais, j que mudanas na topografia do sistema podem mudar drasticamente a competitividade dos agentes e os preos de energia. Adicionalmente, os agentes so responsveis pelo pagamento dos custos de expanso do sistema, e por isso possuem interesse direto no processo decisrio de construo de novas linhas. No caso da distribuio, em geral a expanso descentralizada, ficam a cargo da prpria distribuidora, contando em alguns casos com a anuncia do regulador. J a expanso da transmisso uma das poucas reas onde ainda h trabalho conceitual a ser desenvolvido [27]. Desconsiderando os aspectos e os fatores complicadores, aA conexo rasa evita que o emissor do parecer de acesso crie dificuldades conexo, j que existe uma assimetria de informao: o usurio no consegue avaliar com preciso o seu impacto no sistema, pois, geralmente, no possui informaes a respeito do sistema.22

idia central simples: econmico construir uma linha se o valor de se transportar23 a energia adicional maior do que o custo da linha. O desafio de traduzir esse conceito em um plano de expanso da transmisso pode ser superado atravs de mecanismos de mercado ou de decises centralizadas.

4.2.1 Mecanismo de MercadoOs mecanismos de mercado para expanso da transmisso funcionam bem na teoria, mas possuem dificuldades de implementao prtica. Uma grande quantidade de trabalho acadmico vem sendo destinada a esse tema, os quais podem ser resumidos em alguns pontos:

Se definirmos algo chamado direito de transmisso, e fornec-lo para quem expandir o sistema, ento as pessoas tero incentivos em promover a expanso se esses direitos tiverem valor;

Os direitos devem ter valor, pois eles daro ao proprietrio o direito de transmitir energia comprada em um extremo da linha para o outro extremo;

Os direitos tero valor quando existir congestionamento na linha (pois os preos da energia nos extremos da mesma sero distintos), e assim haver incentivos para construir novas linhas quando elas forem necessrias.

Para que a expanso da transmisso baseada em um modelo de mercado funcione necessrio que o operador do sistema siga duas premissas:

1. Ignorar quem construiu as linhas e quem detm os direitos de transmissoe, operar o sistema de forma a utilizar a rede de transmisso de forma mais eficiente (operao centralizada);

2. Remunerar os proprietrios dos direitos de transmisso com a receitaproveniente da diferena de preos entre os extremos da linha, descontadas as perdas no transporte. Esse montante proveniente do pagamento, no mercado de curto prazo, dos geradores da regio exportadora que possuem contratos de venda de energia na regio importadora.O valor de se transportar energia adicional a diferena entre gerar essa energia em cada um dos dois extremos da linha.23

No entanto, ainda existem alguns problemas prticos no resolvidos com a teoria. H um problema de efeito carona:

Um gerador com custo competitivo, que almeja o fim de um determinado congestionamento para comercializar sua energia em outra zona, mas que perceba o interesse de outro agente no fim do mesmo congestionamento, tende a esperar que esse agente invista na expanso do sistema. Mas se todos pensarem da mesma forma a expanso no efetivada, o que, na prtica, o que tem acontecido em sistemas que adotam o mecanismo de mercado.

Muitos dos potenciais investimentos em gerao so grandes e necessitam de uma coalizo dos agentes para se viabilizar. No entanto, essa coalizo no elimina o efeito carona.

Outro problema diz respeito ao carter sistmico da transmisso. A construo de uma linha pode impactar em outros trechos do sistema, reduzindo ou aumentando a capacidade nos mesmos. Sendo assim, o total de capacidade agregado por um investimento (e que poder ser comercializado) deve ser definida pelo operador do sistema. Por fim, o grande nmero de incertezas que cerca esse tipo de investimento, com destaque para a volatilidade dos fluxos e dos preos de energia, acaba reduzindo consideravelmente os incentivos para a construo de linhas nessa modalidade. Dessa forma, apesar de nos ltimos anos algumas interconexes terem sido construdas com base no mecanismo de mercado24, com possibilidade de alcance de maiores taxas de retorno, a grande maioria dos investimentos em transmisso ainda vem sendo remunerado de forma regulada.

4.2.2 Mecanismo CentralizadoO mecanismo alternativo ao de mercado aquele onde as expanses necessrias ao sistema so definidas de forma centralizada. Neste caso, as transmissoras possuem a garantia de recebimento de uma receita para cobertura dos custos operacionais e mais uma taxa de retorno atrativa definida pelo regulador.

Os empreendimentos que tm se viabilizado so de corrente contnua, j que permitem o controle do fluxo.

24

Apesar da simplicidade conceitual desse mecanismo quando comparado ao anterior, um importante desafio a definio de qual a capacidade de transmisso que deve ser construda e quais os investimentos devem ser escolhidos para que se atinja tal capacidade. Tradicionalmente os investimentos em transmisso so desenvolvidos de acordo com um processo que funciona da seguinte forma:

Utilizando projees demogrficas

e econmicas,

a empresa de

transmisso prev as necessidades de capacidade adicional;

Com base na previso preparado um plano de expanso, o qual submetido ao rgo regulador;

O rgo regulador revisa o plano e decide quais os projetos que devero ser construdos ou reforados;

A empresa de transmisso implanta tais projetos utilizando recursos provenientes de capital prprio ou de terceiros;

Uma vez comissionados os projetos, a empresa de transmisso passa a receber a receita definida pelo regulador25, atravs das tarifas de uso do sistema de transmisso pagas pelos usurios da rede.

O custo final da transmisso para os consumidores claramente funo da capacidade da rede. Se o regulador autoriza muitos investimentos em transmisso, os usurios pagam mais por uma capacidade que no utilizada. Por outro lado, se o nvel de investimentos permitidos muito baixo, o congestionamento das linhas reduz as oportunidades de comercializao, aumenta os preos da energia em algumas regies e reduz em outras. Teoricamente o regulador deveria tentar identificar o nvel timo de expanso do sistema, dado que um excesso ou escassez de capacidade reduz o bem estar social. No entanto, trata-se de uma tarefa difcil frente s incertezas relacionadas oferta e demanda.

A receita pode ser definida atravs de um processo de regulao econmica (mecanismo de custo do servio ou mecanismo de regulao por incentivos) ou atravs de um leilo, como o caso da maior parcela da expanso da transmisso hoje no Brasil.

25

O custo de transmisso representa cerca de 10% do custo final de energia eltrica conforme pode ser constatado para o Brasil se retirarmos os impostosErro! Fonte de referncia no encontrada.. Dessa forma, em linhas gerais, torna-se menos danoso que o regulador superestime os investimentos em transmisso do que subestime e, com isso, cause um aumento dos custos de gerao, que possuem um peso muito maior na tarifa final de energia eltrica. Outro problema, que vale destaque quando se trata da aprovao dos planos de expanso, o fato de que raramente o rgo regulador possui conhecimento tcnico necessrio para avaliar os planos de expanso apresentados, sejam eles por parte das empresas transmissoras ou do prprio operador do sistema de transmisso. No Brasil, desde o processo de privatizao das empresas de energia eltrica, da criao do Operador Nacional do Sistema (ONS) e de uma agncia reguladora independente (ANEEL), e mais recentemente da EPE, o planejamento se d da seguinte forma:

O ONS elabora anualmente o Plano de Ampliaes e Reforos da Rede Bsica (PAR26) que objetiva apresentar a viso do operador sobre as expanses necessrias para preservar a segurana e o desempenho da rede, garantir o funcionamento pleno do mercado de energia eltrica e possibilitar o livre acesso. O PAR tem horizonte de trs anos;

A EPE elabora o Programa de Expanso da Transmisso (PET) a partir de estudos desenvolvidos em conjunto com as empresas, atravs de Grupos de Estudos de Transmisso Regionais, visando garantir as condies de atendimento aos mercados e os intercmbios entre as regies. O PET tem horizonte de cinco anos;

Denomina-se ampliao a implantao de novo elemento funcional linha de transmisso ou subestao na rede bsica ou nas Demais Instalaes de Transmisso DIT. J o reforo consiste a implementao de novas instalaes de transmisso, substituio ou adequao em instalaes existentes, para aumentar a capacidade de transmisso ou a confiabilidade do SIN, ou, ainda, que resulte em alterao fsica da configurao da rede eltrica ou de uma instalao.

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Os dois estudos so levados ao Ministrio de Minas e Energia (MME), que por sua vez elabora o documento consolidado PAR/PET e o envia ANEEL, que ir promover os leiles27 e as autorizaes.

4.2.3 Mecanismo HbridoA alternativa aos modelos de mercado e centralizado o modelo hbrido, uma combinao dos dois anteriores. O mecanismo centralizado possui uma grande importncia, definindo os projetos de forma a maximizar o bem estar social, garantir que as linhas entraro a tempo e calculando receitas que busquem equilibrar modicidade tarifria com atratividade aos investidores. No entanto, ele pode ser conectado comercializao de energia e ser baseado na estrutura de contratos de direito de transmisso, criando e alocando tais direitos quando um novo ativo construdo. A remunerao dessas novas instalaes pode ser definida atravs de um leilo competitivo, onde vence o certame a empresa que apresenta o maior desgio sobre a receita ou tarifa de referncia definida pelo regulador, ou resultar de um processo de regulao econmica, onde so valorados os ativos investidos de forma prudente, definida uma taxa de retorno adequada e um nvel de custos operacionais eficientes. Os direitos de transmisso se constituem uma forma eficiente de alocar os custos de expanso para os beneficirios da nova linha. Os mesmos devem ser transferidos ao proprietrio da linha, e a parcela da receita que no for coberta pelos leiles de direitos de transmisso28 passa a ser recuperada via as tarifas de uso do sistema de transmisso.

4.3 Propriedade e Controle dos AtivosApesar de na distribuio de energia os ativos e a operao do sistema ficar sempre sob a responsabilidade do agente que recebeu a outorga para a prestao do servio, na transmisso uma mirade de modelos pode ser encontrada.Os leiles so na modalidade de menor receita, recebendo a concesso quele proponente que ofertar o maior desgio sobre a receita permitida mxima apresentada pela ANEEL. Os leiles de direitos de transmisso so diferentes dos leiles de obteno da concesso. Enquanto o segundo, como mencionado, um leilo de menor preo ou tarifa, o primeiro deve ser um leilo de maior pagamento pelo direito de transmisso, permitindo assim uma maior modicidade tarifria (tarifa de uso) quanto maior for a averso do agente ao risco de descolamento dos preos entre barras ou submercados.28 27

4.3.1 Operador do Sistema Verticalmente Integrado (VISO29)O Operador do Sistema Verticalmente Integrado possui ativos de gerao e a transmisso, alm de ser responsvel pela operao do sistema. O VISO promove o acesso no-discriminatrio ao sistema de transmisso (o que inclui a definio das tarifas justas), alm de prover servios ancilares e de realizar o balano instantneo entre oferta e demanda. So tambm definidos pelo VISO procedimentos isonmicos para definio do despacho, gerenciamento de congestionamento e emergncias. O planejamento do sistema de transmisso tambm realizado pelo VISO, de forma transparente e com contestao pblica. Vale ressaltar que a operao e o planejamento da rede so feitos como se no houvesse integrao vertical. O rgo regulador e, obviamente, os usurios do sistema so responsveis por identificar violaes do VISO s regras de acesso, pelo monitoramento do mercado e pela mitigao do poder de mercado. Em alguns casos, existe uma separao funcional entre as atividades de operao do sistema e propriedade da transmisso e a atividade de gerao, a qual, nos EUA, definida por Lei e monitorada pelo FERC30. No caso Europeu, este modelo est sendo gradativamente extinto, apesar de ainda vigorar em alguns mercados.

4.3.2 Empresa Independente de Transmisso e Operao (ITSO31)O ITSO se caracteriza por ser responsvel pela propriedade e pela operao dos ativos de transmisso e por no possuir qualquer relao com os ativos de gerao, o que elimina a maiorias dos conflitos de interesse potenciais. Esse modelo vem, tipicamente, acompanhado por um mercado spot para energia e servios ancilares coordenado pelo ITSO, o qual tambm trata de equilibrar a oferta e a demanda de acordo com os critrios de confiabilidade. O National Grid na Inglaterra e a Red Electrica na Espanha so exemplos desse arranjo. O ITSO est sujeito regulao que, idealmente, deve ser uma regulao por incentivos, tanto no sentido de buscar a operao a mnimo custo do sistema [36],29 30

Do ingls Vertical Integrated System Operator.

As empresas verticalizadas nos EUA, reguladas pelas FERC Orders 888/889/890, so bons exemplos do modelo em questo.31

Do ingls Independent Transmission and System Operator

como tambm estimular a reduo dos custos de manuteno e a realizao de investimentos na expanso do sistema. A Frana possui um modelo que mescla o VISO e o ITSO. A RTE, que a operadora e tambm proprietria da rede de transmisso naquele pas, possui uma separao, por fora de Lei, mas integralmente controlada pela empresa que detm os ativos de gerao (EdF).

4.3.3 Operador Independente do Sistema (ISO32)Nesse modelo o operador do sistema no possui ativos de transmisso e nem de gerao. O ISO possui apenas salas de controle, softwares para operao do sistema e os ativos de comunicao necessrios para efetuar o despacho econmico e confivel dos geradores conectados no sistema. De uma forma geral, a rede de transmisso continua sendo de propriedade dos geradores, sujeita a regulamentos que regem a separao funcional dos ativos, no intuito de mitigar o poder de mercado advindo da verticalizao. O National Grid na Esccia e o PJM nos Estados Unidos, atuando como operadores do sistema, so considerados exemplos desse modelo. O Nord Pool um exemplo de um mercado onde coexistem simultaneamente mais de um ISO. Uma mescla do ISO com o ITSO o modelo observado na Argentina e no Chile. Nesses pases existe um operador independente (ISO), mas a empresa que detm os ativos de transmisso no verticalizada, eliminando assim o risco de utilizao da propriedade dos ativos de transmisso para gerar maiores lucros para a atividade de gerao. Como resultado desse modelo, os dois pases vm experimentando um grande aumento dos investimentos em transmisso. No caso brasileiro, temos um operador independente que no possui ativos de gerao ou transmisso, o ONS. No entanto, a propriedade dos ativos diversificada, j que grande parte da rede de transmisso pertence a empresas que so verticalizadas (gerao e transmisso), mas a maior parte da expanso verificada nos ltimos anos tem sido promovida por empresas puramente transmissoras.

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Do ingls Independent System Operator

5. Regulao da Distribuio de Energia Eltrica no BrasilOs sistemas de distribuio so definidos como o conjunto de instalaes de energia eltrica com tenso inferior a 230 KV, embora algumas distribuidoras detenham ativos em nvel de tenso igual ou superior a 230 kV. Esses sistemas podem ser considerados o elo entre o setor de energia eltrica e a sociedade, tendo em vista que a conexo e atendimento ao consumidor final, incluindo os consumidores residenciais, so realizados pelas distribuidoras de energia eltrica. Nesse sentido, as distribuidoras recebem das companhias de transmisso o suprimento destinado aos consumidores finais. Nos pontos de conexo das distribuidoras com as transmissoras, a tenso rebaixada em nveis apropriados para a distribuio de menores blocos de energia. Com isso a energia eltrica chega s unidades consumidoras residenciais, geralmente em 127 volts ou 220 volts. Exceo a essa regra so consumidores industriais e comerciais, que recebem energia eltrica em tenses mais elevadas como, por exemplo, 13,8 kV, 34,5 kV, 69 kV ou 138 kV. Ainda existem casos onde o fornecimento de energia eltrica a uma distribuidora (suprida) realizado por outra distribuidora (supridora). Tambm existe a possibilidade de centrais geradoras de energia eltrica conectarem suas instalaes diretamente ao sistema eltrico de distribuio, sem a interveno das transmissoras, situao denominada gerao distribuda (ou gerao embutida). Nesse caso, geralmente as centrais geradoras so de menor porte quando comparadas com aquelas centrais que escoam a energia pelas transmissoras. A outorga para a prestao dos servios de distribuio relativa a uma determinada rea geogrfica territrio no qual a cada distribuidora detm o monoplio do fornecimento de energia eltrica. De um modo geral, as distribuidoras compreendem empresas que se dividem em dois grandes: concessionrias e permissionrias. As cooperativas de eletrificao rural que ainda no se tornaram

permissionrias tambm distribuem energia eltrica, mas de forma exclusiva aos seus associados. As cooperativas no possuem os mesmos direitos e deveres destinados s distribuidoras e s so tratadas como tal quando se tornam permissionrias. Pouco mais de 50 cooperativas rurais realizam atendimento a pequenas localidades espalhadas por diferentes regies do Brasil. A maioria delas j assinou contratos de permisso com a Aneel, em conformidade com o processo de

enquadramento na condio de permissionrias do servio pblico de distribuio de energia eltrica definido na Lei n 9.074, de 7 de julho de 1995. Desse modo, geralmente as permissionrias so distribuidoras de menor porte. J as concessionrias so grandes distribuidoras que realizam atendimento em reas de concesso que, na maioria dos estados brasileiros, principalmente nas regies Norte e Nordeste, correspondem aos limites geogrficos estaduais. Porm, notadamente em So Paulo e no Rio Grande do Sul, existem concessionrias com reas de abrangncia menores e, desse modo, mais de uma concessionria por estado. H, tambm, reas de concesso descontnuas, que ultrapassam os limites geogrficos do estado-sede da concessionria. Existe pouca homogeneidade entre as reas de atuao das concessionrias, j que possuem reas de concesso bem diferentes uma das outras, apresentando particularidades geogrficas, sociais e regies com diferentes graus de desenvolvimento econmico. O controle acionrio dessas concessionrias pode ser estatal ou privado. No caso de controle estatal, os acionistas majoritrios so o governo federal, estaduais e at mesmo municipais. J nos grupos de controle privado, vrias empresas esto presentes, com a existncia de investidores nacionais e tambm estrangeiros. Nesse mbito, o segmento de distribuio de energia eltrica formado por 63 concessionrias de distribuio, responsveis pelo atendimento de mais de 61 milhes de unidades consumidoras. Durante muito tempo, para o setor de distribuio de energia eltrica brasileiro foi adotado o regime de regulao de Custo de servio ou Taxa de Retorno, j descrito anteriormente. Com o objetivo de corrigir as ineficincias provocadas pelo Custo de servio, a lei n 8.631, de 04 de maro de 1993, declarou extinto o regime de remunerao garantida. Alm disso, foi extinta a Conta de Resultados a Compensar CRC e a Reserva Nacional de Compensao de Remunerao - RENCOR, cuja funo era a contabilizao de eventuais dficits de receitas das concessionrias, provocados pela aplicao de tarifas inferiores quelas necessrias para garantir a taxa interna de retorno regulatria. Em 13 de fevereiro de 1995, por intermdio da Lei n 8.987, instituda para as concessionrias de servios pblicos, incluindo-se a distribuio de energia eltrica, a tarifa fixada pelo preo da proposta vencedora da licitao, preservada pelas regras de reviso previstas nesta Lei, no edital de privatizao e no contrato de concesso.

Assim, pela lei n 8.987/95, o Brasil passa adotar o regime de regulao de preo teto (tarifa pelo preo). Diferentemente do regime de custo de servio, no regime de tarifa pelo preo as tarifas so estabelecidas no momento da assinatura do contrato de concesso ou permisso e permanecem constantes com base em indexador previsto nos contratos por um perodo de tempo previamente determinado. Ao final desse perodo se procede a reviso tarifria. Esse intervalo no qual as tarifas permanecem fixas proporciona concessionria ou permissionria oportunidade de aumentar seus benefcios mediante medidas de reduo de custos e ganhos de eficincia, dado o nvel de qualidade exigido pelo Regulador na prestao do servio. No momento da assinatura do Contrato de Concesso ou Permisso para a Distribuio de Energia Eltrica, a concessionria ou permissionria reconhece que as tarifas iniciais, em conjunto com os mecanismos previstos no contrato para a alterao de seus valores, so suficientes para a adequada prestao dos servios concedidos e a manuteno do equilbrio econmico-financeiro do Contrato33. O contrato de concesso ou permisso prev trs formas de alterao dos valores das tarifas, a fim de se manter o equilbrio econmico-financeiro da concesso. Duas delas so ordinrias (reviso peridica e reajuste anual) e a outra extraordinria, ou seja, no aplicada normalmente. I. Reviso Tarifria Peridica: realizada em mdia a cada 4 anos. Nela, todos os custos so revistos e as tarifas so alteradas para mais ou para menos considerando as alteraes nas estruturas de custos e de mercado, os estmulos eficincia e modicidade das tarifas34. Caracteriza-se como o momento onde os ganhos de produtividade que as distribuidoras tiveram a oportunidade de reter no perodo entre revises so revertidos modicidade tarifria. II. Reajuste Tarifrio Anual: realizado nos anos em que no ocorre a reviso tarifria. Nele, as tarifas so atualizadas com base em frmula paramtrica prevista no contrato, com o objetivo de preservar o equilbrio econmico-financeiro.

33 34

O art. 10 da Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, traz o fundamento legal para tal afirmao.

A metodologia de reviso tarifria aplicada no segundo ciclo de reviso tarifria (2007-2010) foi estabelecida por meio da Resoluo Normativa n 234/2006, com redao alterada pela Resoluo Normativa n 338/2008.

III.

Reviso Tarifria Extraordinria: Pode ocorrer a qualquer tempo, quando um fato extraordinrio e devidamente comprovado desequilibra o contrato de concesso.

Alm das clusulas econmicas, nos contratos de concesso e permisso tambm so estabelecidas regras a respeito da regularidade, continuidade, segurana, atualidade dos servios e do atendimento prestado aos consumidores. Igualmente, esto definidas penalidades para os casos em que a fiscalizao da ANEEL verificar irregularidades. O cumprimento dos contratos de concesso ou permisso e as atividades desenvolvidas pelas distribuidoras so reguladas e fiscalizadas pela ANEEL. Os contratos estabelecem ainda que as distribuidoras devam obedecer ao disposto nas resolues publicadas pela Agncia. Considerando sempre a proteo do interesse pblico, os objetivos dos regulamentos da ANEEL so garantir ao consumidor, o pagamento de um valor justo e assegurar o acesso a um servio contnuo e regular. Do mesmo modo, os regulamentos devem garantir distribuidora o equilbrio econmico-financeiro, para que a empresa possa oferecer servio adequado. Nesse sentido, para a regulamentao do setor eltrico, a ANEEL define regras, estabelece critrios e disciplina atividades por meio da edio de resolues normativas, que so atos administrativos em forma escrita, regulamentam temas especficos e decorrem do exerccio das competncias destinadas ANEEL e estabelecidas pela legislao pertinente.

5.1 Viso Geral da Regulao Econmica da DistribuioPara se entender como so definidas as tarifas cobradas dos consumidores finais, necessrio que se tenha uma viso do caminho percorrido pela energia eltrica at chegar s fbricas, comrcios, residncias, etc. A figura a seguir traz um pequeno esquemtico desse percurso.

Figura 4: Caminho percorrido pela energia eltrica at os centros de consumo

A energia eltrica gerada por grandes centrais geradoras. Embora nos ltimos leiles tenha se observado elevada quantidade de usinas que geram energia a partir de gs natural, leo combustvel, leo diesel, dentre outras, a matriz energtica brasileira ainda predominantemente hidroeltrica. Estes aproveitamentos hidreltricos esto, normalmente, distantes dos centros de consumo, havendo necessidade de transportar essa energia em elevadas tenses at as distribuidoras, momento em que as tenses so rebaixadas e a energia distribuda aos consumidores finais. Alm de simplesmente distribuir energia, responsabilidade da concessionria de distribuio o atendimento comercial aos seus consumidores. A tarifa de energia eltrica deve ser suficiente para cobrir todos os custos envolvidos nessa cadeia de produo, transmisso, distribuio e comercializao de energia eltrica. A cadeia no verticalizada, ou seja, no o mesmo agente que gera, transmite e distribui energia eltrica. distribuidora vedado gerar ou transmitir energia eltrica35. Dessa forma, a tarifa deve prover recursos distribuidora para repassar aos agentes de gerao e transmisso, no tendo a distribuidora total gesto sobre esses custos. A gesto sobre os custos envolvidos na cadeia de energia eltrica a essncia da separao entre o que se convencionou chamar Parcela A e Parcela B. A Parcela A envolve custos relacionados aquisio de energia eltrica para atendimento aos clientes, uso dos sistemas de transmisso e encargos setoriais. Em geral, por no estarem diretamente relacionados atividade fim das distribuidoras, esses custos so considerados menos gerenciveis e as variaes de preos soO art. 4 da Lei 9.074/1995, com redao alterada pela Lei 10.848/2004 traz tal vedao. As nicas excees so o atendimento aos sistemas isolados e as distribuidoras com mercado prprio inferior a 500 GWh/ano, desde que a totalidade da energia gerada seja para atendimento de seu mercado.35

repassadas a cada processo tarifrio (seja reajuste ou reviso) s tarifas dos consumidores finais. A Parcela B compreende o valor remanescente da receita envolvendo, principalmente, as despesas com distribuio de energia eltrica. So custos inerentes da atividade de distribuio, que esto sujeitos ao controle e influncia das prticas gerenciais adotadas pela concessionria e, por definio, so repassados por meio de valores regulatrios. Tratam-se, principalmente, dos custos operacionais e dos investimentos feitos pela concessionria para atendimento adequado de seus clientes. A composio de cada parcela pode ser vista no quadro a seguir.Tabela 1 Composio da receita de uma distribuidora de energia eltrica.

COMPOSIO DA RECEITA REQUERIDA PARCELA A PARCELA B (custos no-gerenciveis) (custos gerenciveis) Custos Operacionais para Compra de Energia Eltrica para Revenda Distribuio de Energia Investimentos feitos no sistema Custo com Transporte de Energia de Distribuio Encargos Setoriais A forma de considerar as variaes dos itens que compem as Parcelas A e B nos reajustes e revises tarifrias diferenciada. Para a Parcela A, como so itens de custo sobre os quais a distribuidora no tem completa gesto, as variaes de preos so repassadas s tarifas tanto das revises tarifrias quanto nos reajustes anuais36. Para a Parcela B, o tratamento dado nas revises tarifrias e nos reajustes anuais diferenciado. Na forma como definida a Parcela B nas revises tarifrias e em sua frmula de correo nos reajustes anuais reside grande parte dos incentivos econmicos para que as concessionrias se tornem mais eficientes. As atuais regras jurdicas e econmicas relativas ao regime tarifrio dos contratos de concesso e permisso do servio pblico de distribuio de energia eltrica no Brasil constituem uma vertente do regime de regulao por incentivos. Sua finalidade precpua o aumento da eficincia e da qualidade na prestao do servio, atendendo ao princpio da modicidade tarifria. Para se atingir tal finalidade, a Parcela B reposicionada apenas nas revises tarifrias peridicas. Nesse momento so utilizadas metodologias que buscam definir o frente se ver que h uma exceo a essa regra que est na definio do nvel regulatrio de perdas. Embora a concessionria seja obrigada a contratar energia para atendimento de todo seu mercado, a mesma tem gesto sobre o nvel de perdas e dessa forma no repassado s tarifas, necessariamente, o nvel real de perdas das distribuidoras.36

valor da Parcela B preservando as margens das distribuidoras mais eficientes e impedindo que as mais ineficientes repassem tais ineficincias s tarifas. Uma vez que se defina o valor da Parcela B na reviso tarifria, nos reajustes seguinte a mesma seguintes ser apenas corrigida (ou reajustada), mantendo o nvel definido na reviso. Dessa forma, distribuidoras que reduzam seus custos e que, portanto, tenham custos reais inferiores aos repassados s tarifas, retm essa margem at a prxima reviso peridica. Essa a essncia da regulao por incentivos. ridica. A figura a seguir ilustra o efeito do regime de preos mximos (regulao por incentivos) sobre as tarifas. Para simplificar o entendimento, supe supe-se que as variaes do ndice que reajusta anualmente a Parcela B e dos custos da Parcela A sejam iguais a zero ao longo do perodo tarifrio. A tarifa (ou preo mximo), inicialmente fixada em T1 (primeira reviso tarifria) permanece com seu valor fixo (em termos reais) no perodo tarifrio, ou seja, at a prxima reviso tarifria peridica. Isso significa que a concessionria tem a oportunidade de reduzir seus custos (operacionais e de capital) o que est expresso pela rea azul da figura e, assim, aumentar sua remunerao ao longo desse perodo. Se a concessionria for eficiente, poder se apropriar do aumento da remunerao resultante de sua gesto ao longo do perodo. Por outro lado, s concessionrias que se tornam mais ineficientes vedado o repasse tarifrio das variaes de seus custos. Dessa forma as concessionrias tm grande incentivo a se tornarem mais eficientes.

Figura 54: Regime de Regulao por Preos Mximos (Price Cap). :

No momento da prxima reviso tarifria, T2 da figura, os ganhos de eficincia so revertidos modicidade tarifria. Dessa forma o modelo de regulao por incentivos visa atingir um compromisso entre a apropriao dos ganhos de eficincia pelas concessionrias no perodo entre revises peridicas e sua reverso modicidade tarifria no momento da reviso peridica. O quadro a seguir sintetiza a forma de definio e correo dos itens que compem as Parcelas A e B nos reajustes e revises tarifrias. Na seo seguinte passa-se a explicar melhor como so dimensionados os itens que compem a receita das concessionrias de distribuio de energia eltrica nos processos de reviso tarifria.Tabela 2 Definio das Parcelas A e B nos processos de reviso e reajuste.

Reviso Tarifria Peridica Reajuste Tarifrio Anual

PARCELA A (custos nogerenciveis) Redefinida Redefinida37

PARCELA B (custos gerenciveis) Redefinida Apenas corrigida ou reajustada

5.2 Reviso Tarifria Peridica Nvel TarifrioA reviso tarifria peridica realizada em duas etapas: o reposicioname