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Apostila Danças Brasileiras

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O REISADO DOS GUERREIROS Tropel de passos que abala a terra! Pelo rosto ralo brilho de cetim e pedrarias, Sobre a pele pobre turbilhões de cores e miçangas. Quem são esses homens de tez encardidas e passos graciosos? Quem são esses magos de magras figuras e riso na boca? Quem são esses Reis, sem níquel no bolso mas fartos de festas? Deviam se maldizer... e dançam! Brincam com o nunca visto. Na procura de que luas, de que sóis eles caminham, trazendo bois coroados, jaraguas, burrinhas.... De onde vem esse cortejo que brinca na travessia e abre nesse deserto as sete portas do riso? Quantos reinos submersos, quantos verões de esperança,

Quantos vales e desertos, quantossertões de desejos eles trazem na garganta? Que palavras escreve esse alfabetode passos e combates? O que me dizem essas almas que ocoração não diviso? Como posso seus enigmas desvelarse não os ouço? Será preciso descer ao porão dasheresias para conhecer seus desígnios? O que os move nessa caminhadasem fim? Serão os gestos dos rios, ou almas de tantos Reis nestas vestesencarnadas? Reis com sono, Reis cansados, Reisde baile e roçado. É inverno e eles ainda brincam...Batem os tambores, tangem as violas,sopram os pífanos... É inverno e eles ainda brincam!

ntos vales e desertos, quantos

Que palavras escreve esse alfabeto

O que me dizem essas almas que o

Como posso seus enigmas desvelar

ao porão das

O que os move nessa caminhada

ou almas de tantos Reis nestas vestes

Reis com sono, Reis cansados, Reis

É inverno e eles ainda brincam... Batem os tambores, tangem as violas,

Oswaldo Barroso

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CIRANDA Uma das mais tradicionais danças populares, a Ciranda se faz com movimentos circulares, cantigas e mãos dadas. Desde a pré-história, já se fazia uma dança ritual em roda, acompanhada por cânticos. Segundo a tradição, ao se voltarem para o centro de um círculo, movimentando-se e cantando, os homens se comunicavam com seus deuses. De mãos ou braços dados, os participantes formam uma roda, e giram e ondulam ao som das cantigas puxadas pelo Mestre de Ciranda – figura central do folguedo. Cirandeiros e cirandeiras balançam seus corpos e movimentam seus pés de modo singular, cantando as respostas (ou estribilhos) ao Mestre que se coloca no centro ou ao lado da roda, tocando o seu ganzá. Junto dele, os outros músicos se acompanham por instrumentos característicos, como a zabumba, o tarol e, às vezes, pelos sopros (trombones, clarinetes, saxofones e pistons).

O tema das cantigas é variado e seguea deixa do Mestre. O cotidianopresente nas cirandas cantadas:e política, futebol e natureza,em melodias autenticamentebrasileiras. Cirandas no Brasil Segundo historiadores, aoriginária de Portugal, era dançadapor adultos. A difusão da CirandaBrasil teve início no norte de Pernambuco,atraídodediversão,discriminamoços, homens eas condições. Aespalhou rapidamenteNordeste.Quando se fala de Ciranda, não sepode deixar de citar o grande mestreAntônio Baracho, um dos maiores poetasdAbreu e Lima

O tema das cantigas é variado e segue a deixa do Mestre. O cotidiano faz-se presente nas cirandas cantadas: amor e política, futebol e natureza, fluem em melodias autenticamente brasileiras. Cirandas no Brasil Segundo historiadores, a Ciranda, originária de Portugal, era dançada por adultos. A difusão da Ciranda pelo Brasil teve início no norte de Pernambuco, tendo imediatamente atraído as crianças, por essa mistura de canto, dança, brincadeira e diversão, na qual não cabiam discriminações: dançam velhos e moços, homens e mulheres de todas as condições. A brincadeira se espalhou rapidamente por todo o Nordeste. Quando se fala de Ciranda, não se pode deixar de citar o grande mestre Antônio Baracho, um dos maiores poetas e compositores que comandou, durante muitos anos, a Ciranda de Abreu e Lima. Baracho era

trabalhadortodos comque criavaÉ comum realizar Cirandas à beira dapraia, em que a cadência dos passos,com os pés descalços, se harmonizamcom o balanço das ondas do mar. Omelhor exemplo de Ciranda feita noBrasil pode ser encontrado na Ilha deItamaracá, por Maria Madalena Correias do Nascimento, a conhecida Lia, imortalizada pela cantiga:

quem me deu foi Liaque mora na Ilha de Itamaracá.Estávamos na beira da praia,

ouvindo as pancadasdas ondas do mar...”

Outras cirandas: • Ciranda de Dona Duda no Município de Paulista, PE;• As cirandas

trabalhador braçal e encantava a todos com sua voz forte e os versos que criava nas brincadeiras de roda. É comum realizar Cirandas à beira da praia, em que a cadência dos passos, com os pés descalços, se harmonizam com o balanço das ondas do mar. O melhor exemplo de Ciranda feita no Brasil pode ser encontrado na Ilha de Itamaracá, por Maria Madalena

do Nascimento, a conhecida imortalizada pela cantiga:

“Essa Ciranda quem me deu foi Lia

que mora na Ilha de Itamaracá. Estávamos na beira da praia,

ouvindo as pancadas das ondas do mar...”

Outras cirandas:

Ciranda de Dona Duda do Janga, no Município de Paulista, PE; • As cirandas Nordestina, Formosa,

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Mimosa e Cobiçada do Zé Custódio, em Olinda; • Ciranda Brasileira de Camaragibe e Dengosa de Água Fria, em Recife; • Ciranda do Edmilson em Tracunhaém, Ciranda do Santeiro em Nazaré da Mata, Ciranda da Bia em Aliança e a Ciranda do Zé da Raposa em Vicência, todas no interior de Pernambuco.

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CABOCLINHO Caboclinho – diminutivo de caboclo, palavra muito usada no Nordeste para se referir aos índios ou à mistura de índio com branco – refere-se tanto aos filhos de caboclo quanto a um bailado de origem indígena. Como folguedo, o Caboclinho dramatiza as batalhas, as caçadas e as colheitas. Trata-se de uma dança marcada pela agilidade, destreza e desenvoltura do participante, fruto de uma coreografia rica, cujos movimentos são de abaixar e levantar, saltos e troca-pés (apoio nas pontas dos pés e calcanhares). As coreografias mais conhecidas são Ataque à Guerra, Aldeia, Cipó e Emboscada. As danças, também chamadas de toré, são a Guerra e o Baião, e podem ser dançadas individual ou coletivamente, sempre acompanhadas por música leve e ligeira (executada por pífanos, surdos, maracás, reco-recos e ganzás) e pelos estalidos secos das preacas (pancadas das flechas nos arcos), utilizadas pelos

dançarinos que marcam o ritmo.Como todo folguedo, o Caboclinhoapresenta seus personagens: o cacique (ou caboclo velho), a índiachefe (mãe tribo), o pajé, maté,matuá, o capitão, o tenente, a portaestandarte, os perós (meninosmeninas) e os (músicos). Todos usam figurinos feitosde penas de ema, avestruz ou pavão,cocares na cabeça, atacas nose tornozelos, além de colaresdentes de animais e pequenaspresas à cintura. Histórico O Caboclinho é uma um antigo desfile indígena, umaapresentação de dança indígena aosbrancos, observado desde o séculoXVI, como citado pelo Padre FernãoCardim: “dança mui graciosa de meninos, todosempenhados, com seus d

dançarinos que marcam o ritmo. Como todo folguedo, o Caboclinho apresenta seus personagens: o cacique (ou caboclo velho), a índia- chefe (mãe tribo), o pajé, maté, o matuá, o capitão, o tenente, a porta- estandarte, os perós (meninos e meninas) e os caboclos de baque (músicos). Todos usam figurinos feitos de penas de ema, avestruz ou pavão, cocares na cabeça, atacas nos punhos e tornozelos, além de colares com dentes de animais e pequenas cabaças presas à cintura. Histórico O Caboclinho é uma reminiscência de um antigo desfile indígena, uma apresentação de dança indígena aos brancos, observado desde o século XVI, como citado pelo Padre Fernão Cardim: “Foi o recebido dos índios com uma dança mui graciosa de meninos, todos empenhados, com seus diademas na

cabeça e outros atavios daspenas, que os faziam muilustrosos(...) fizeram no terreiro denossa Igreja seus caracóis, abrindo efechando com graça por serem muiligeiros(...)” Há manifestações de Caboclinho emtodo o Nordeste e em Minrepresentações geralmente ocorremno Carnaval de Recife e Olinda. É importante ressaltar que, muitasvezes, tradicionais grupos de Índiossão confundidos com os Caboclinhos,apesar de apresentaremcaracterísticasfaciais de cor vermelho, uso de cocares comgalinha e disposiçãoem duas fileiras:portam machadinhas;índios conduzemdança é acompanhadaduas gaitas, doibombos; os mestresdas vezes, seguidoresindígenas (pajelança).

cabeça e outros atavios das mesmas penas, que os faziam mui lustrosos(...) fizeram no terreiro de nossa Igreja seus caracóis, abrindo e fechando com graça por serem mui ligeiros(...)”1.

Há manifestações de Caboclinho em todo o Nordeste e em Minas Gerais; as representações geralmente ocorrem no Carnaval de Recife e Olinda.

É importante ressaltar que, muitas vezes, tradicionais grupos de Índios são confundidos com os Caboclinhos, apesar de apresentarem aracterísticas diferenciadas: pinturas

de cor vermelho, uso de cocares com penas de garça ou galinha e disposição dos dançarinos em duas fileiras: de um lado, as índias portam machadinhas; de outro, os índios conduzem pequenas lanças. A dança é acompanhada pelos sons de duas gaitas, dois ganzás e três bombos; os mestres são, na maioria das vezes, seguidores de cultos indígenas (pajelança).

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Grupos tradicionais: • em Recife: Caboclinho Sete Flexas, na região do- Alto do Pascoal; Tabajara de Casa Amarela; Caboclinho Canindé de Bomba do Hemetério e Caboclinho Uirapuru, de Coque; • em Olinda: Caboclinho Tupi Guarani de Caixa d’Água e os Caboclinhos Tapajós de Águas Compridas; • no município de Tracunhaém, Caboclinhos Coités e os Caboclinhos Índio Vencedor; • os grupos de índios em Araçoiaba, os Cates de Goiana e os Fulni-ô de Águas Belas.

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MACULELÊ O Maculelê é uma dança dramática, de origem imprecisa, advinda de um auto popular de origem africana. O Maculelê é um folguedo que desperta duas interpretações bem distintas, podendo representar tanto a luta entre escravos e senhores brancos, quanto uma simples diversão entre os negros africanos, como o samba de roda. Acredita-se que há cerca de 300 anos o bailado guerreiro integra o cenário das festas religiosas no Recôncavo Baiano, a festa de Nossa Senhora da Conceição, na Praça da Purificação em Salvador – fazendo-se acompanhar de música e atos profanos, apesar de estar relacionado aos rituais religiosos. O Maculelê passou por mudanças, ao longo do tempo. Em sua antiga forma, a dança era realizada em cortejo; os participantes, geralmente negros do sexo masculino, saíam às ruas dois a dois, entrechocando as grimas ou bastões de madeira que portavam em cada mão, ao ritmo de atabaques e cânticos populares, numa mistura das

línguas portuguesa e africana, em coro:“Ô lê lê maculelêÔ lê lê maculelê”Outras formas de execução podem ser observadas; nos anos 60, comandadospelo Mestre Popó, os figurantes deslocavaacompanhadosà frente o mestre, seguido do contramestre e do mascotegeralmente uma criança. Cada um levava um par de grima com cerca50 centímetros cada, que os participantes faziam chocarenergia.Nas apresentações em praça pública ou em locais privados, a coluna de dançarinossemicírculo, e as grimas ao se chocarem eram ‘congeladas’do apito do mestre. Após silêncio absoluto, o mestre entoavacânticos de Louvação: um paraSenhora da Conceição, um para aPrincesa Izabel e o terceiro para o dono da casa (no caso de apresentações

línguas portuguesa e africana, em coro: “Ô lê lê maculelê Ô lê lê maculelê”. Outras formas de execução podem ser observadas; nos anos 60, comandados pelo Mestre Popó, os figurantes deslocavam-se em fila indiana, acompanhados pelo ritmo ijexá, tendo à frente o mestre, seguido do contramestre e do mascote – geralmente uma criança. Cada um levava um par de grima com cerca de 50 centímetros cada, que os participantes faziam chocar-se com energia. Nas apresentações em praça pública ou em locais privados, a coluna de dançarinos era disposta em semicírculo, e as grimas ao se chocarem eram ‘congeladas’ ao som do apito do mestre. Após silêncio absoluto, o mestre entoava os cânticos de Louvação: um para Nossa Senhora da Conceição, um para aPrincesa Izabel e o terceiro para o dono da casa (no caso de apresentações realizadas em frente a

alguma residência particular).Zezinho, filho de Mestre Popó, assumiu então a direção do Folclóricoexigir muita atenção de cada figurante, pois o mestrecentro da grande roda e escolhia um figurante para bater a suaoutro momento da coreografia, mestre Zezinho chamava à liça umdos integrantes até o último da roda, quando então dava por encerradabrincadeira, que finalizava com a retirada dos dançarinos, em fila indiana, suas próprias grimas.O ritmo era feito por três atabaques e um agogô de duas bocas. O apito domestre dava o sinal para ofim da dança e da música. O par de grimas que cada componente carrega é batida uma contra a outra em quatrotempos, sendo que no primeiro, no segundo e no terceiro tempos as batidas são dadas à altura da barriga, com os braços flexionados; no qtempo, a rosto, com os braços estendidos para

alguma residência particular). Zezinho, filho de Mestre Popó, assumiu então a direção do Grupo Folclórico Viva Bahia, e passou a exigir muita atenção de cada figurante, pois o mestre se punha no centro da grande roda e escolhia um figurante para bater a sua grima. Em outro momento da coreografia, mestre Zezinho chamava à liça um por um dos integrantes até o último da roda, quando então dava por encerrada a brincadeira, que finalizava com a retirada dos dançarinos, em fila

batendo umas nas outras suas próprias grimas. O ritmo era feito por três atabaques e um agogô de duas bocas. O apito do mestre dava o sinal para o início e o fim da dança e da música. O par de

que cada componente carrega é batida uma contra a outra em quatro tempos, sendo que no primeiro, no segundo e no terceiro tempos as

são dadas à altura da barriga, com os braços flexionados; no quarto

batida é dada na altura do rosto, com os braços estendidos para

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a frente. As grimas também podiam ser batidas no chão, considerado o tempo marcado. Atualmente, cada grupo apresenta o Maculelê com maior liberdade, introduzindo passos espontâneos, golpes de capoeira, gingados de samba, acrobacias, passos de frevo e, sobretudo, danças de candomblé. O gingado livre gerou uma perda da seqüência dramática que a dança outrora apresentava. O mestre não usa somente uma grima, mas sim duas, como os demais componentes. E o legado que ainda permanece nas atuais apresentações de Maculelê é a exigência da batida das grimas no tempo certo, de acordo com o ritmo tocado.

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COCO O Coco pode ser considerado um gênero poético-musical-coreográfico encontrável nos estados do Nordeste brasileiro, apresentando variações na execução, entre um e outro estado. Há duas versões sobre a sua origem do Coco: uma afirma que a dança teria surgido no Quilombo dos Palmares, com o barulho que os cocos provocavam ao serem quebrados nas pedras, um som que convidava os negros a dançarem. Com o tempo, esse ruído natural foi substituído pelo som de palmas com as mãos encovadas, dançado por pares de casais dispostos em roda, trocando umbigadas entre si e com os casais vizinhos. Ao se tornar conhecido fora das senzalas, o Coco passou a ser dançado, em comunidades rurais, durante a construção de casas de pau-a-pique, processo para o qual era necessário contar com o trabalho de um grande número de pessoas. Assim, o dono convocava seus vizinhos, parentes e amigos a participarem da

construção,nivelamento docasa. A finalização da portanto, a dançaamassava o chãoprincipalmente,a noite inteira,ou Pagodes,mulheres queroda. A festa,como forma denoite a dentroarrozda tradiçãochão ficarAtualmente, o Coco é executadomesmo que não haja um evento extraordinário;seuspandeiros,tradicionaisparesintegrantepróprioparceiromarcaçãoseguida,

construção, cuja etapa final era o nivelamento do assoalho de barro da casa. A finalização da obra era, portanto, a dança de sapateado que amassava o chão da casa. Os homens, principalmente, pisavam firme durante a noite inteira, motivados pelos Cocos ou Pagodes, revezando-se com as mulheres que entoavam canções de roda. A festa, oferecida pelo dono como forma de agradecimento, seguia noite a dentro regada a cachaça, arroz-doce e buchada (pratos típicos da tradição rural), até o dia clarear e o chão ficar lisinho. Atualmente, o Coco é executado mesmo que não haja um evento extraordinário; as pessoas trazem seus instrumentos (bombos, pandeiros, zabumbas, tamborins e os tradicionais ganzás), reúnem-se em pares e formam uma roda. Cada integrante dá uma volta em torno do próprio corpo e se encontra com o parceiro numa umbigada, seguindo a marcação rítmica da música. Em seguida, cada um dá um passo para a

direita, outro para a esquerda e volta a se encontrar na umbigada.As melodias são improvisadas pelos“tiradores de coco”, sendo que umsolista cita, geralmente, pessoas presentes do conhecimento de todos. Os versoscantados pelo solista são repetidostodos os participantes, sendo quesilaba tônica final de cada versoreforçada, pelos dançarinos, compisada forte com ambos os pés,marcação do tempo e o gingadocorpo, de um lado para o outro.Há inúmeras variações encontradas,mas não se pode deixar de mencionaras cinco formas de organizaçãocoreográfica do Coco: • Coco de Roda: em destaque no centro da roda e escolhem revezamento,umbigada.• Coco de Visitaoutros pares, trocando de lugar enquanto

outro para a esquerda e volta encontrar na umbigada.

As melodias são improvisadas pelos “tiradores de coco”, sendo que um solista cita, geralmente, pessoas

e acontecimentos que sejam do conhecimento de todos. Os versos cantados pelo solista são repetidos por todos os participantes, sendo que a silaba tônica final de cada verso é reforçada, pelos dançarinos, com uma pisada forte com ambos os pés, com marcação do tempo e o gingado do corpo, de um lado para o outro. Há inúmeras variações encontradas, mas não se pode deixar de mencionar as cinco formas de organização coreográfica do Coco:

Coco de Roda: dois casais dançam em destaque no centro da roda e

outro par, para revezamento, através de uma umbigada. Coco de Visita: os pares visitam

outros pares, trocando de lugar sapateiam.

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• Coco Solto: variante do Coco de Visita, havendo o mesmo movimento de visitação e uma umbigada. • Coco de Parelhas: os cavalheiros mudam de dama ao sinal do cantador, dando umbigadas a cada troca. • Coco de Parelhas Ligadas: os pares se enlaçam, segurando no braço ou quadril do parceiro, sem ficar de frente um para o outro. O Coco mais tradicional do Estado de Pernambuco é o Coco de Roda de Selma, em Olinda. Selma aprendeu a dançar Coco, desde menina, com seus pais. Hoje, repassa a tradição aos filhos e netos. Outros grupos de Coco • em Olinda, Coco de Praia de Antonieta em Águas Compridas; • em Recife, Coco de Roda de Egidio Bezerra na Torre, Coco de Roda Sete Flexas em Alto do Pascoal, Coco de Roda de Elefante em Bomba do Hemetério e Coco de Roda de Zé Neguinho no Morro da Conceição;

• no interior do Estado, Calixtoem Arcoverde e Varelo

• no interior do Estado, Coco de Calixto em Arcoverde e Coco de Roda Varelo em Nazaré da Mata.

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BUMBA-MEU-BOI OU CAVALO-MARINHO O Bumba-meu-boi é uma manifestação popular ligada à tradição das danças dramáticas Janeiras e Reisados2 – trazidas pelos portugueses e incorporadas pela população nordestina–, que ocorrem no período de 12 dias, entre a véspera de Natal e o dia de Reis. O folguedo apresenta as figuras dos animais tradicionais do presépio – o boi e a burrinha –; o termo Bumba faz valer a impressão de choque, batida e pancada, por conta da interjeição: “Bate, chifra meu boi”, repetida pelas vozes excitadas, nas cantigas do auto. O Cavalo-marinho é uma das variantes do Bumba-meu-boi, uma espécie de teatro de rua que reúne música, dança e poesia3, caracterizado pela variedade de movimentos, loas (ou poesias), toadas (cantos), coreografias e improvisos. A música e o canto conduzem a brincadeira e são executados pelo Banco – grupo de músicos que tocam sentados em um banco,

acompanhados porrabeca, pandeiro, rganzá. Além destes,boi percutidas no corpo de dois personagens, Mateus efunção musical.O enredo do Cavaloum auto do boi, narra a história depersonagens fantásticos e reais presentes naimaginária doé representado. A disposição no espaço físico é umaformada pelo público que interage com a cena teatral, masSegundo Mestre Salustiano, que mantém um dos grupos mais conhehaviam setenta personagens nomuitos não são mais encenados. A brincadeira –janeiro (com destaque para osNatal e Santo Reisrelacionada à religiosidade e ao sincretismo,a nenhuma instituição religiosa.

acompanhados por instrumentos como rabeca, pandeiro, reco-reco, mineiro e ganzá. Além destes, duas bexigas de boi percutidas no corpo de dois personagens, Mateus e Bastião, têm função musical. O enredo do Cavalo-marinho, tal como um auto do boi, narra a história de personagens fantásticos e reais presentes na vida cotidiana e imaginária do interior do Estado onde é representado. A disposição no espaço físico é uma roda naturalmente formada pelo público que interage com a cena teatral, mas não atua. Segundo Mestre Salustiano, que mantém um dos grupos mais conhecidos de Cavalo-marinho, haviam – originalmente – mais de setenta personagens no auto, mas muitos não são mais encenados. A brincadeira – que dura a noite inteira – é levada entre os meses de julho e janeiro (com destaque para os dias de Natal e Santo Reis) e está sempre relacionada à religiosidade e ao sincretismo, embora não esteja ligado a nenhuma instituição religiosa.

Enredo O Capitão Marinho, figura central que dá nome ao auto, oferece um aos Santos Reis do Orientecontrata dois negrBastião pra tomar conta do terreiro. Após chegar de viagem, os negros se dizem donosobrigado a chamar o Guarita para que retomeSurge o interrompe o samba até a chegadaMané do Bailepara o Baile, um dos pontos altosnoite. No Baile há uma seqüência de coreografias que são Marieta, Cobra, Roseira conjunto elaboradaDamas, mestradas pelo função de é a vez de o seu cavalo (daí o nome de Cavalomarinho)... e a dança segue adiantecom Mestre Ambrósio

O Capitão Marinho, figura central que dá nome ao auto, oferece um Baile

Santos Reis do Oriente. Para isso, contrata dois negros, o Mateus e o

pra tomar conta do terreiro. Após chegar de viagem, os negros se dizem donos do terreiro, e o Capitão é obrigado a chamar o Soldado da

para que retome a música. Surge o Empata o Samba, que interrompe o samba até a chegada do Mané do Baile, que reabre o terreiro para o Baile, um dos pontos altos da

No Baile há uma seqüência de coreografias – as Danças dos Arcos

São Gonçalo, Jerimum, Marieta, Cobra, Roseira e outras em conjunto elaborada pelos Galantes, Damas, Pastorinhas, Arlequim, mestradas pelo Capitão que tem a função de Puxador dos Arcos. Depois, é a vez de o Capitão vir montado em seu cavalo (daí o nome de Cavalo-marinho)... e a dança segue adiante

Mestre Ambrósio, um mascate

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que sai pelo mundo comprando, vendendo e negociando, trocando de figura para continuar a brincadeira. Outras figuras vão surgindo aleatoriamente – Matuto da Goma, Selador e Seu Campelo, Vila Nova, Seu Domingos, Véia do Bambu e finalmente o Vaqueiro com seu filho Mané, montado numa Burra. Quando o dia amanhece, o terreiro recebe o Boi e finaliza a despedida numa roda de Coco. Este é o enredo representado por Mestre Grimário, mas cada grupo temsua maneira particular de brincar. O Cavalo-marinho se concentra em uma pequena região do Nordeste; ainda em atividade estão os grupos de Mestre Gasosa em Baeux, na Paraíba, e de Mestre Salustiano em Tabajara, Olinda. Outros mais distantes no interior de PE – em Condado, Aliança, Camutanga, Itambé e Goiana – são os grupos de Biu, Alexandre, Inacio Lucindo e Mariano Teles.

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FREVO Assim como a própria palavra que lhe deu o nome (frever, frevura), o frevo é uma dança da multidão que, acompanhada de música excitante e ligeira, gera calor e esquenta. Apesar de a coreografia ser dançada individualmente, o frevo está presente nas carnavais de rua em Recife e nos salões dos clubes carnavalescos, contagiando a todos os que o ouvem, como se por todos passasse uma corrente eletrizante, que não deixa ninguém ficar parado. O ritmo contagiante – que é a essência da dança – é tocado numa marcha sincopada, frenética, com andamento semelhante ao da marchinha carioca, porém mais pesado, com uma execução vigorosa e estridente de fanfarra – diálogos de trombones e pistões com clarinetes e saxofones. A coreografia, conhecida como passo, é executada ad libitum4, individualmente, tendo cada dançarino ou passista possibilidade de mostrar sua autenticidade na execução, de

caráterimprovisaçõespersonalíssimas.Os passistas modernos, que geralmentenascarnavalescos,verdadeiras acrobacias e levam nomescomo coice de burro, tesoura cruzando,canguru, trem de ferro, tesourapassando a sombrinha etc. notar o uso de sombrinhas coloridas,com cerca de 50 centímetros de comprimentofacilitamO frevo cada um com seu próprio nome. Empesquisa realizada por Francisco Nascimentoecanguru, tesoura, locomotiva, chã debundinha, careceu, pisando em brasa,urubu baleado, vou, ferrolho, tramela, encaracolado,plantando mandioca, parafuso,passeando na pracinha a Praça da Independência, conhecida

caráter instintivo e pessoal, com improvisações e variações personalíssimas. Os passistas modernos, que geralmente formam uma ala especial nas grandes agremiações dos clubes carnavalescos, criam passos que soam verdadeiras acrobacias e levam nomes como vôo de andorinha, tesoura no ar, coice de burro, tesoura cruzando, canguru, trem de ferro, tesoura passando a sombrinha etc. É curioso notar o uso de sombrinhas coloridas, com cerca de 50 centímetros de comprimento e 60 de diâmetro que facilitam os passos acrobáticos. O frevo tem muitos outros passos, cada um com seu próprio nome. Em pesquisa realizada por Francisco Nascimento Filho6, foram relacionados e catalogados 48 passos: saca-rolha, canguru, tesoura, locomotiva, chã de bundinha, careceu, pisando em brasa, urubu baleado, de bandinha que eu vou, ferrolho, tramela, encaracolado, plantando mandioca, parafuso, passeando na pracinha (em referência a Praça da Independência, conhecida

por Pracinha do Diário, chamadaQuartel General do Frevo), infinidade de outros que varsegundo seus executantes.São tantos os passos que emissorasde televisão e rádio vieram incentivara criatividade dos passistas no chamado deu origem à criação de escolas de passistas falecido) Passo, Francisco Nascimento Filho ou NascimentoFrancisco a ser Madureira, otantos outrosgeração de

Origem do Do capoeira ao passista

Após a Abolição da Escravatura em1888, surgiram os Clubes Carnavalescos,século XX, incorporando elementos dos desfilesinfluência

por Pracinha do Diário, chamada de Quartel General do Frevo), e uma infinidade de outros que variam

seus executantes. São tantos os passos que emissoras de televisão e rádio vieram incentivar a criatividade dos passistas no

Concurso de Passo, que origem à criação de escolas de

como Egidio Bezerra (já conhecido como o Rei do

Francisco Nascimento Filho ou Nascimento do Passo, e Arnaldo

Neves, o Coruja, que vieram professores de Antulio

Madureira, o Pipoca, de Meia Noite e tantos outros representantes de uma geração de passistas.

Origem do Frevo – Do capoeira ao passista

Após a Abolição da Escravatura em 1888, surgiram os Clubes Carnavalescos, por volta no início do

XX, incorporando elementos dos desfiles militares, acrescidos da

de procissões religiosas –

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como, por exemplo, o estandarte, uma cópia dos pendões das corporações profissionais e das irmandades e confrarias. Hoje, o estandarte é símbolo da maior parte das agremiações carnavalescas. Os Clubes Carnavalescos, oriundos de grupos profissionais do operariado urbano – Vassourinhas (1889), Lenhadores (1987), Pão Duro (1916), Toureiros de Santo Antonio (1916), Prato Misterioso (1919), Papagaio Falador, Lavadeiras de Areias e outros que não mais existem, como Caiadores, Empalhadores, Sineiros, Quitandeiras –, tinham passistas que obedeciam aos cordões dos clubes e usavam distintivo da agremiação num bastão envergado. Com a rivalidade crescente entre agremiações no carnaval de Pernambuco, os capoeiras, chamados de brabos e valentões, ousaram praticar exercícios de capoeiragem em frente aos cordões carnavalescos – A Pimenta (1901), gerando fortes agressões. Uma das vítimas, em 1907,

foi o diretorTome FarofaComo forma de conter as agressões,os capoeiristas passaram a serperseguidos pelos Chetivecomo cabeçadas, cisões nova coreografia que, embora nãotenha desprezado toda a agressividade,passos menosfamosas.Oorigem ao passista de hoje: usa camisacores)cintura, bermuda ou calça arregaçada,sapatoe borboleta remanescentes do cacete ou dabengala, usada nos tempos antigos.Tal instrumento é uma arma em potencial,(contudo, os passistas têm conseguidoludibriar a vigilância policial).

foi o diretor do Clube Carnavalesco Tome Farofa. Como forma de conter as agressões, os capoeiristas passaram a ser perseguidos pelos Chefes de Polícia e tiveram que amaneirar certos passos, como rabos de arraia, pernadas, cabeçadas, cisões etc., criando uma nova coreografia que, embora não tenha desprezado toda a agressividade, foi convertida em passos menos violentos e piruetas famosas. O capoeira malandro de ontem deu origem ao passista de hoje: usa camisa multicolorida (ou com três cores) aberta no peito e amarrada na cintura, bermuda ou calça arregaçada, sapato-tênis branco, chapéu de palha e chapéu-de-sol ou sombrinha borboleta nas mãos, que são objetos remanescentes do cacete ou da bengala, usada nos tempos antigos. Tal instrumento é uma arma em potencial, pois tem as pontas afinadas (contudo, os passistas têm conseguido ludibriar a vigilância policial).

A musicalidade do frevo, Mário Melo, nasceu da polcae foi o ensaiador das bandas da Brigada Militar de Pernambuco, o Capitão José Lourenço da Silva, o conhecidoa linha divisória entre o frevo e a polca-marcha,sincopadaDurante os dias de carnaval, em qualquer Olinda, haverá passistas à espera de um clube troça, ou da Frevioca, uma orquestravolante criada em Recife, em 1980,para fazer o povo unidfrevo-rasgado, expandir toda a força interior do homem, criando, com umacoreografia autêntica, esta dança tãobrasileira.Nas palavras de Mário de Andrade:

“A vibração paroxística do frevo érealmente uma coisa assombrosa. Éentusiasmo, ardêncdionisíaca de nossa música nacional(...) que beleza de coreografia! Quebeleza admirável, um verdadeiro titulo

A musicalidade do frevo, segundo Melo, nasceu da polca-marcha,

foi o ensaiador das bandas da Militar de Pernambuco, o José Lourenço da Silva, o

conhecido Zuzinha, quem estabeleceu divisória entre o frevo e a

marcha, quando introduziu a sincopada em quiálteras6. Durante os dias de carnaval, em

esquina de Recife ou de haverá passistas à espera de pedestre, também chamado

ou da Frevioca, uma orquestra volante criada em Recife, em 1980, para fazer o povo unido cair num

rasgado, expandir toda a força do homem, criando, com uma

coreografia autêntica, esta dança tão

Nas palavras de Mário de Andrade:

A vibração paroxística do frevo é realmente uma coisa assombrosa. É entusiasmo, ardência orgíaca, a mais dionisíaca de nossa música nacional (...) que beleza de coreografia! Que beleza admirável, um verdadeiro titulo

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de glória que o país ignora, simplesmente

porque entre nós são raros

os que têm verdadeira convicção de cultura”.

Felizmente, hoje em dia, o frevo é uma das danças que mais se espalha e contagia Brasil afora.

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MARACATU O Maracatu é um cortejo real que desfila pelas ruas com uma orquestra de percussão, cantando e dançando sem coreografia especial. O Maracatu é também conhecido como nação (grande grupo homogêneo), originária das antigas festas de coroação de reis negros ocorridas por volta do final do século XVII. Advindos de cultos afro-brasileiros no período colonial, os integrantes das nações (negros em sua maioria) veneravam a Calunga – boneca espécie de divindade muito respeitada no sincretismo religioso. Cantavam Loas – toadas para seus mortos (eguns), nas quais incluíam versos africanos. Os negros acompanhavam os reis de congo, eleitos pelos escravos, para a coroação nas igrejas e, posteriormente, faziam um batuque no adro em homenagem à padroeira ou à Nossa Senhora do Rosário. Perdida a tradição sagrada, o nação se convergiu para o Carnaval, conservando elementos distintos de qualquer outro cordão no carnaval. Em

1952, osMaracatu eram Leão Coroado,Brilhantepersonagens: àe o guardaPríncipes, Princesas, Vassalos, Embaixadores. demadeira preta Caboclos pessoas encarregadas de levar megafonebatuqueiros musicaisTodos seguem em um cortejo sem coreografia, apenas as evocam a(cerimônias religiosas afroe os machados e lanças, ora de cócoras, ora pulando, apontando ascomo nos passos do Caboclinhos folguedo popular de caracterizaçãoindígena.Um dos momentos de maior significação no cortejo de Maracatu é a

1952, os mais antigos grupos de Maracatu eram Maracatu Elefante, Leão Coroado, Porto Rico e Estrela Brilhante. Em destaque, os seguintes personagens: à frente, o Rei, a Rainha e o escravo que sustenta o pálio ou guarda-sol, o Porta-estandarte, os Príncipes, Princesas, Vassalos, Embaixadores. Em seguida a Dama-de-paço, a carregar a boneca de madeira preta Calunga, as Baianas, os Caboclos a representarem os índios, pessoas encarregadas de levar megafone e lanternas; e, por fim, os batuqueiros com seus instrumentos musicais. Todos seguem em um cortejo sem coreografia, apenas as baianas evocam a dança dos Xangôs (cerimônias religiosas afro-brasileiras) e os caboclos com arco e flechas, machados e lanças, ora de cócoras, ora pulando, apontando as armas, como nos passos do Caboclinhos – folguedo popular de caracterização indígena. Um dos momentos de maior significação no cortejo de Maracatu é a

dança da que representa os ancestrais masculinos ou femininosentregue, pela Rainha e depois vai para amão das Baianas, para que cada qualcom a boneca durante algumTodas as vezes que desfilam pelasruas detradicionaiscantar diante da igreja de Nossa Senhora doSanto Antônio,Xangô que encontramcaminho, até retornargrupo. A música é cantada em dRainha e característicos são o gonguê (umgrande agogô com uma única campânula,de madeira); o tarol (um pequeno tambor chato com bordões de violão);as caixas(grandes tambpopular, percutido

Calunga, quando a boneca, que representa os ancestrais masculinos ou femininos do grupo, é entregue, pela Dama-do-paço, à

e depois vai para amão das , para que cada qual dance

com a boneca durante algum tempo. Todas as vezes que desfilam pelas ruas de Recife, os Maracatus tradicionais não deixam de passar e

diante da igreja de Nossa Senhora do Rosário, no bairro de Santo Antônio, e dos terreiros de Xangô que encontram no meio do caminho, até retornar à sede de cada

A música é cantada em diálogo pela e Baianas. Os instrumentos

característicos são o gonguê (um grande agogô com uma única campânula, percutido com uma vara

madeira); o tarol (um pequeno chato com bordões de violão);

as caixas-de-guerra; os zabumbas (grandes tambores de fabricação

com som intenso e grave com uma maçaneta), o cabo

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de bilro com extremidade ovóide e uma vareta roliça que é a resposta. Dentre as variações do Maracatu está o Maracatu de Baque Solto e o Maracatu de Baque Virado, cujas batidas ou toques podem ser marcante (tocada por zabumba mestre), meião (que transmite o comando rítmico) e repiques (que obedece às indicações do meião). O início e o fim das músicas são sempre determinados por um apito.

Maracatus de Orquestra ou de Trombone

Além do Maracatu tradicional, estão surgindo em Recife outros cortejos, denominados Maracatu de Orquestra ou de trombone, que, de acordo com Guerra Peixe, pertencem ao novo tipo de Maracatu Cambinda Estrela, o qual não apresenta nem rei nem rainha, sendo os personagens o porta-bandeira, damas-de-paço, portas-biquê (mulheres carregando flores), baianas, caboclos, caboclos de lança

(queBonecaA música é tocada pelos usuais instrumentosde cuíca, surdo, saxofone, cornetatrombone. A música pode ser umcanto de grupo tradicional ou de frevo,samba, choro e baião, sendo executadacoreografia,sambaMaracatu Cambinda Nova Caruarumusicalmentecoreografias.A música é cantada através do megafonemulheres, com exceção dos instrumentistas.Os personagens são calunga, portabaiaportaMaracatu Ás de Ouro CEDesde 1943, os personagens quedesfilam no carnaval são:

(que usam chapéu em forma de funil), Boneca-aurora. A música é tocada pelos usuais instrumentos de Maracatu, acrescidos de cuíca, surdo, saxofone, corneta e trombone. A música pode ser um canto de grupo tradicional ou de frevo, samba, choro e baião, sendo executada pelo coro feminino. Na coreografia, fundem-se figurados do samba e da marcha. Maracatu Cambinda Nova de Caruaru Tem influência do coco, tanto musicalmente quanto nas coreografias. A música é cantada através do megafone e respondida por homens e mulheres, com exceção dos instrumentistas. Os personagens são rei, rainha, calunga, porta-estandarte, balizas, baianas, batuqueiros ou baqueiros, porta-voz. Maracatu Ás de Ouro de Fortaleza CE Desde 1943, os personagens que desfilam no carnaval são: bonecapreta

(calunga), portameninos vestidos de índios echamados ou Chefe coreográfico do conjunto. A antecedida por dois lanternas, duas com ventarolas,seguidas de uma sombrinha aberta.Alguns outros figurantes são homensvestidos de mulher. O acompanhamentopor um clara, umagonguê.

(calunga), porta-estandarte, dois meninos vestidos de índios e chamados Maracatus, Cambinda Velha ou Chefe Macumba, diretor musical e coreográfico do conjunto. A rainha é antecedida por dois portadores de

, duas com ventarolas, seguidas de uma sombrinha aberta. Alguns outros figurantes são homens vestidos de mulher. O acompanhamento instrumental é feito

tambor surdo, uma caixa-clara, uma cuíca, dois ganzás e um

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MOÇAMBIQUE Originariamente, no Brasil, era dança de salão, levada a efeito pelos escravos nas casas-grandes dos fazendeiros. Com o tempo, transformou-se, deixou de ser um bailado puramente africano, para se tornar uma mistura de várias danças, confundindo-se, às vezes, com a congada, fandangos etc. Nestas festas – geralmente batizadas com nomes de santos – aproveitaram-se a batida de paus do Caiapó e modificações de algumas danças do fandango e das congadas (p. ex., não se usa o bastão da congada), mantendo-se apenas o essencial. Segundo alguns pesquisadores, a dança foi praticada pelos mouros na Península Ibérica e utilizada na catequese dos índios brasileiros como precioso fator de recreação popular. O maior ponto da presença do Moçambique é no Vale do Paraíba do Sul, em São Paulo. Também é encontrado no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

O moçambiqueiro considera sua como sendo “dança de religião”, sendodenominada, também, de “Dança de São Benedito”. No Santuário de AparecidaVale do Paraíba do Sul (os piraquaras) dançam otodos os domingos, cumprindo promessas fO cortejo vagueia pelas ruas em determinadas festas e, atualmente, não possuiassemelhandoMaracatus pernambucanos.Com exceção da Rainha e Portabandeiras, mulheres não dançamMoçambique.O Moçambique é umbailado há várias danças. Atualmente, a partereduzindo o número de personagens. As dançasEscada de São Benedito, Estrela da Guia, etc. Três damasofertas do povo. Para se dançar obrincantes usam bastõesque são batidos com espadas, sempre acompanhada de uma coreografia.

O moçambiqueiro considera sua dança como sendo “dança de religião”, sendo denominada, também, de “Dança de São Benedito”. No Santuário de Aparecida do Norte, os romeiros do Vale do Paraíba do Sul (os piraquaras) dançam o Moçambique, praticamente todos os domingos, cumprindo promessas feitas. O cortejo vagueia pelas ruas em determinadas festas e, atualmente, não possui entrecho dramático, assemelhando-se neste aspecto aos Maracatus pernambucanos. Com exceção da Rainha e Porta-bandeiras, mulheres não dançam o Moçambique. O Moçambique é um bailado. No bailado há várias danças. Atualmente, a parte dramática é insignificante, reduzindo o número de personagens. As danças têm nomes religiosos: Escada de São Benedito, Estrela da Guia, etc. Três damas recolhem as ofertas do povo. Para se dançar os brincantes usam bastões de madeira, que são batidos com espadas, sempre acompanhada de uma coreografia.

O figurino é roupa branca, tênis azul e fitas vermelhas e azuis, alçasentre o ombro e a cintura. Usam paiás (fita com guizos) em volta daperpouco abaixo dos joelhos.O Mestre tira os versos e os brincantes respondem com seus cantos. A músicado Moçambique se chama “linha” ou “ponto” e segue o esquema de solos,terças e coros, às vezes atingindo o falsete. Há uma introdução, na qual osmoçambiqueiros entoam a melodia sem compromisso rítmico preciso, aproximandodeclamado. Entre uma dança e outra, há sempre asolo e coro, num recitativo que é gemido e não cantado.Os textos são religiosos e podem esrelacionados à parte representativadas danças.A “bateria” instrumentos musicais cantos. O grupocerca de 35 integrantes; a “bateria” é composta deguerra), acordeon, surdo, atabaquepandeiro e duas caixas

O figurino é roupa branca, tênis azul e fitas vermelhas e azuis, alças cruzadas entre o ombro e a cintura. Usam paiás (fita com guizos) em volta daperna, pouco abaixo dos joelhos. O Mestre tira os versos e os brincantes respondem com seus cantos. A música do Moçambique se chama “linha” ou “ponto” e segue o esquema de solos, terças e coros, às vezes atingindo o falsete. Há uma introdução, na qual os moçambiqueiros entoam a melodia sem compromisso rítmico preciso, aproximando-se de um cantar declamado. Entre uma dança e outra, há sempre a louvação aos santos, em solo e coro, num recitativo que é gemido e não cantado. Os textos são religiosos e podem estar relacionados à parte representativa das danças. A “bateria” – o conjunto de instrumentos musicais – “puxa” os cantos. O grupo de Mestre Aristeu tem cerca de 35 integrantes; a “bateria” é composta de tarol (caixinha de guerra), acordeon, surdo, atabaque, pandeiro e duas caixas de repique

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(essa composição pode variar de grupo para grupo). Ele afirma que gosta de cantar “sambado”, no estilo antigo, por ser mais percussivo. Seu grupo não tem viola. Coreografia: os dançarinos cruzam seus bastões em forma de X, formando losangos em esteira a uma distância relativa ao número de componentes, e dançam ao longo da esteira sem tocar nos bastões, colocando os pés nos vãos dos cruzamentos dos paus. Aquele que tocar em algum dos bastões é obrigado a retirar-se, sendo substituído por outro. Os dançarinos pulam, agachamse, executam passos cruzados, sacodem-se em frêmitos e cantam enquanto dançam. Como a consideram “dança de religião”, o Moçambique também é dançado dentro das capelas rurais, principalmente por ocasião dos ensaios da companhia. Dentro da capela não usam o bastão, somente cantam e dançam batendo os pés. O bailado é guerreiro, o bastão é

arma, e deve ficar fora do lugarsagrado.

arma, e deve ficar fora do lugar sagrado.

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Notas 1 Cardim, Padre Fernão. Tratado e Terra da Gente do Brasil. Rio de Janeiro, 1925. 2 Danças Dramáticas, na definição de Mário de Andrade, é o nome genérico não somente dos bailados que desenvolvem uma ação dramática propriamente dita, como também todos os bailados coletivos, respeitando o princípio de obra musical constituída pela seriação de várias peças coreográficas. 3 Segundo Silvio Romero, o Cavalo- Marinho, diferente do Bumba-meuboi, não é representado por um animal, mas por um cavaleiro, associação do cavaleiro com vaqueiro, que passa, durante a exibição, fazendo piafés e corcovos. 4 Termo do latim que significa a bel prazer, a vontade, o que seria, segundo Câmara Cascudo, a reação mímica pessoal de quem dança. 5 Pesquisa realizada em 1976 em conjunto com a Professor Jurandy Austermann, do Departamento de

Cultura da Secretaria de Educação eCultura do Estado de PE.6

notas que formam uma unidade detempo ou de compasso.

Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado de PE. 6 Redução ou ampliação do valor das notas que formam uma unidade de tempo ou de compasso.

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MALABARES Primeiros passos para jogar três bolinhas • Todos os exercícios devem ser feitos tanto do lado direito como do lado esquerdo. • Os joelhos devem estar levemente flexionados, os quadris e os ombros devem estar relaxados para evitar tensão. • Deve-se começar fazendo alguns exercícios com uma bolinha, depois com duas e só depois usar a terceira. Exercício de coordenação para a primeira bolinha Jogar a bolinha para o alto e bater palma, começar de 1 a 10. • Pequenininho: jogar na altura do nariz, da mão direita para a esquerda e vice-versa. • Grandão: jogar a bolinha da mão direita, por cima da cabeça e vice-versa. • Cachoeira: segurar a bolinha na mão direita, subir o braço e deixar a bolinha escorregar pelas costas da

mão, pegandoe vice• direita no alto do lado esquerdo, abaixamovimento que imite a letra “U”, quando chegar em cadaabre• mão esquerda e jogar um pouco para o alto,a bolinha e a mão esquerda.• mão esquerda, virar a palma da mão direitapara baixo e jogar a bolinha por cima dpassar,cima e esperar a bolinha cair na mão direita. Exercícios com duas bolinhas• Começar jogando a bolinha da direita para a esquerda; quando ela estiveresquerda para amais alto.

mão, pegando-a com a mão esquerda e vice-versa. • A fé: inicia-se com a bola na mão direita no alto do lado esquerdo, abaixa-se o braço fazendo um movimento que imite a letra “U”, quando chegar em cada extremidade abre-se a mão. • Cortadinho: segurar a bola com a mão esquerda e jogar um pouco para o alto, passando o braço direito entre a bolinha e a mão esquerda. • Infinito: segurar a bolinha com a mão esquerda, virar a palma da mão direita para baixo e jogar a bolinha por cima da mão direita, quando a bolinha passar, virar a palma da mão para cima e esperar a bolinha cair na mão direita. Exercícios com duas bolinhas • Começar jogando a bolinha da direita para a esquerda; quando ela estiver no ar, jogar a outra da esquerda para a direita, um pouco mais alto.

• A primeira bolinha jogada tem que chegar na mão esquerda antes que asegunda bolinha caia na mão direita.• Começar o mesmo processo da esquerda para a direita; as bolinhas não podem chegar juntas nas mãos, nem a segunda chegar na outra mão antes da primeira. Isso acontece porque a segunda bolinha, emjogada para o alto, como a primeira, é passada por baixo para a• Esse exercício deve ser repetido várias vezes com algumas variaçõepor exemplo: quando jogar a primeira bolinha, estalar os dedos, bater perna,dar tchau, fazer figas... ou qualquer outro movimento que coloque a mão em atenção, uma vez que é aí que estará a terceira bolinha• Quando as bolinhas estiverem fluindo bem de da esquerda para a direita, colocaa terceira bolinha.• Com duas bolinhas na mão direita, joga-se a primeira da direita para aesquerda e fazpara a direita.

• A primeira bolinha jogada tem que chegar na mão esquerda antes que a segunda bolinha caia na mão direita. • Começar o mesmo processo da esquerda para a direita; as bolinhas

podem chegar juntas nas mãos, nem a segunda bolinha jogada deve

na outra mão antes da primeira. Isso acontece porque a segunda bolinha, em vez de ser jogada para o alto, como a primeira, é passada por baixo para a outra mão. • Esse exercício deve ser repetido várias vezes com algumas variações,

exemplo: quando jogar a primeira bolinha, estalar os dedos, bater perna, dar tchau, fazer figas... ou qualquer outro movimento que coloque a mão

atenção, uma vez que é aí que a terceira bolinha.

• Quando as bolinhas estiverem fluindo bem da direita para a esquerda

esquerda para a direita, coloca-se a terceira bolinha. • Com duas bolinhas na mão direita,

se a primeira da direita para a esquerda e faz-se a troca da esquerda para a direita.

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Observação O movimento de troca deve ser exatamente o mesmo que estava sendo feito anteriormente com duas bolinhas. O que acontecerá, é que uma bolinha fica no ar e as outras duas ficam uma em cada mão. Quando se começa a errar sempre no mesmo momento, deve-se soltar as bolinhas, relaxar os braços, os joelhos, respirar fundo e pensar no que quer fazer, e o que se quer fazer é: jogar a primeira bolinha na altura do nariz e trocá-la uma vez do lado esquerdo e outra do lado direito, e assim sucessivamente.

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INDICAÇÕES DE LEITURA ANDRADE, Mário de. Danças Dramáticas no BrasilANDRADE, Mário de. Aspectos da Música BrasileiraAYALA, Maria Ignes Novaes Marcos. Cocos, Alegria e DevoçBARROS, Maria Nazareth Alvim de. As Deusas, As Bruxas e a Igreja. BIANCARDI, Emília. Raízes Musicais da Bahia. Salvador: OmarG., 2000;BRANDÃO, Théo. O Reisado Alagoano. Separata da Revista do Arquivo Municipal,CAMPBELL, Joseph. O Vôo do Pássaro SelvagemCASCUDO, Luiz da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 1972; CASCUDO, Luiz da Câmara. Geografia dos Mitos BrasileirosDYCHTWALD, Ken. Corpomente. Summus Editorial;ESTES, Clarissa Pinkola. Mulheres que Correm com os Lobos. FONTE Filho, Carlos da. Espetáculos Populares de Pernambuco. FRAZER, James George. O Ramo de Ouro. Ed. Guanabara Koogan;HEINBERG,Richard. Celebrando os Solstícios. Ed. Madras;KELEMAN, Stanley. Mito e Corpo. Summus Editorial;MENDONÇA, Maria Emília. Ginástica Holística. Summus Editorial;RIBEIRO, Darci. Viva o Povo Brasileiro; ROSA, João Guimarães. Grande Sertão-Veredas. SCHREIBER, David Servan. Curar; SPRENGER, Henrich Flames. O Martelo da FeiticeirasMITHEN, Steven. A Pré-História da Mente. Ed. Unesp;SANTOS, Inacira Falcão. Corpo e Ancestralidade. SIMAAN, Arkan e FONTAINE, Jelle. A Imagem do Mundo dos Babilônios a NewtonLEAKEY, Richard. A Origem da Espécie Humana. SILVA, Severino Vicente. Festa de Caboclo. Ed. Associação Reviva.

Danças Dramáticas no Brasil. Tomo 1o. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982; Aspectos da Música Brasileira;

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Mulheres que Correm com os Lobos. Ed. Rocco; Espetáculos Populares de Pernambuco. Recife: Cia. Editora de Pernambuco, 1998;

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Veredas. José Olímpio Editora;

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Corpo e Ancestralidade. Editora da UFBA; A Imagem do Mundo dos Babilônios a Newton. Ed. Companhia das Letras;

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