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APOSTILA DE FILOSOFIA 6º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL 3º TRIMESTRE 2020

APOSTILA DE FILOSOFIA€¦ · de determinada região pode ser ruim para a de outra. Quer dizer, as ideias, os costumes e os valores se diferenciam e mudam de sociedade para sociedade

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APOSTILA DE FILOSOFIA

6º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL 3º TRIMESTRE

2020

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2020 – APOSTILA – 6º ANO – 3º TRIMESTRE

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UNIDADE 03 - O SER HUMANO PARA OS SOFISTAS E SÓCRATES

CAPÍTULO 5

OS SOFISTAS E A VIDA EM SOCIEDADE

CONVENCER É PODER?

A palavra pode dar bode, confundir e atrapalhar. Mas quem sacode as sílabas como melodia pode acordar o dia e convencer o mar.

Se um indivíduo pudesse convencer todas as pessoas por meio das palavras, ele seria a pessoa mais

poderosa do mundo. Neste capítulo, estudaremos os sofistas, os primeiros professores profissionais do Ocidente, que, entre outras coisas, refletiram sobre a arte humana do convencimento. Diferentemente dos filósofos naturalistas, eles não estavam preocupados com a natureza, mas com as coisas humanas.

A ARTE DO CONVENCIMENTO

Imagine que você tenha alguns adversários e que sua história seja contada por eles. Aqueles que ouvissem

ou lessem essa história saberiam a seu respeito com base no ponto de vista de pessoas que não lhe querem bem. Provavelmente a imagem que teriam de você não seria muito boa, não é? Ainda mais se você não estivesse vivo para se defender. Pois foi mais ou menos isso o que aconteceu com os sofistas. Nenhum escrito completo restou dos autores sofistas, apenas poucos fragmentos, e a maior parte dos textos que fazem referência a eles foi redigida pelo filósofo Platão, que condenava as ideias e as atividades desses pensadores.

Durante muito tempo, os sofistas foram considerados aproveitadores ou oportunistas, pois essa era a visão que Platão tinha sobre eles e registrou em seus escritos. De acordo com esse filósofo, os sofistas davam aulas e usavam a habilidade de falar bem para ganhar dinheiro, não se importando em mentir ou mudar de posição para atingir os objetivos desejados. Mas a história dos sofistas começou a ser revista pelos estudiosos há algum tempo. Os sofistas, ao contrário do que antes se defendia, deram grandes contribuições para o desenvolvimento do pensamento racional. Vamos ver o que eles fizeram.

Rede social (2013), charge de Bruno Galvão.

A comunicação, apesar de fundamental na sociedade, pode trazer alguns prejuízos para os homens. Qual é a crítica presente na charge?

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FILOSOFIA

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PROFESSORES NA ARTE DE FALAR BEM

Os sofistas foram professores profissionais que saíram de diversas cidades gregas para ensinar em Atenas no século V a.C., acompanhando o desenvolvimento econômico, político, militar e cultural dessa cidade. Eles eram pagos pelas famílias com mais posses e, em troca, ensinavam aos jovens os conhecimentos necessários para seguir a carreira pública ou para se especializar em algum ofício.

Cada sofista tinha o domínio de um conjunto de conhecimentos que ensinava para seus alunos. Mas, em geral, praticamente todos os sofistas ensinavam a habilidade de falar bem. Nesse período, em Atenas, expressar-se bem em público era muito importante, por que as principais decisões em benefício da cidade e dos cidadãos atenienses, como a participação ou não em uma guerra, eram tomadas em assembleias, por meio de votação.

A RETÓRICA GREGA

Um cidadão da Grécia antiga que falasse bem e tivesse a capacidade de argumentar e de convencer outras pessoas poderia interferir nas grandes decisões da cidade. Ele seria um cidadão poderoso.

“O poder de expressar ideias claramente e de maneira a persuadir seus ouvintes era uma arte a ser aprendida e ensinada. Mas não bastava adquirir domínio do vocabulário; era necessário aprender como argumentar [...].”

BURY,J. B. In: KERFERD, G. B. O movimento do sofista. São Paulo: Loyola, 2003. p. 35-36.

Por isso, a maioria dos sofistas dava aulas de retórica, que é a arte de bem utilizar a palavra para persuadir ou convencer os ouvintes. Muitos sofistas ficaram conhecidos por esses ensinamentos e cobravam caro por eles.

AS REFLEXÕES SOBRE O SER HUMANO

A contribuição mais importante dos sofistas para o desenvolvimento do pensamento racional não foi aperfeiçoar a retórica e ensiná-la aos alunos. Os sofistas realizaram uma espécie de revolução no pensamento ao refletirem sobre os problemas humanos.

Lembre-se de que os primeiros filósofos investigaram a natureza e buscaram explicá-la. Eles procuravam desvendar o princípio mais geral das coisas e dos fenômenos da natureza. Já os sofistas tinham outro interesse: refletir sobre os seres humanos, suas vidas, suas criações, o tipo de sociedade em que vivem etc. Por isso, os assuntos que interessavam aos sofistas eram, por exemplo, política, arte, retórica, religião, educação e linguagem."[...]é exato afirmar que, com os sofistas, inicia-se o período humanista da filosofia antiga.”

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. 11. ed. São Paulo:Paulus,2012. p. 74. v.1.

OS VALORES NÃO SÃO OS MESMOS PARA TODAS AS SOCIEDADES

Os sofistas viajavam de cidade em cidade, ensinando por toda a Grécia antiga. Eles logo perceberam que cada cidade ou agrupamento social tinha suas normas, crenças, tradições, valores e leis, ou seja, que os cidadãos de Esparta, por exemplo, não tinham a mesma conduta dos cidadãos de Atenas.

Imagine, por exemplo, que um professor brasileiro comece a dar aulas em grandes cidades da América do Sul. Suponha que ele permaneça um ano em Buenos Aires, na Argentina; depois vá para Caracas, na Venezuela; passe dois anos em Lima, no Peru; e, antes de retornar ao Brasil, more um tempo em La Paz, na Bolívia. Esse professor vai perceber em pouco tempo que cada povo tem um jeito de ser.

Até mesmo entre as cidades brasileiras há diferenças culturais. Por exemplo, há costumes alimentares e linguísticos de Salvador que são diferentes dos de Brasília. Os gaúchos, em suas conversas, geralmente usam o pronome de tratamento "tu", enquanto nós, capixabas, usamos "você". Às vezes, o que é bom para a população de determinada região pode ser ruim para a de outra. Quer dizer, as ideias, os costumes e os valores se diferenciam e mudam de sociedade para sociedade.

Ao perceberem isso, os sofistas concluíram que o funcionamento da sociedade é diferente da atividade da natureza. A physis era considerada algo de permanente e invariável, a matéria primordial da qual tudo se origina e para a qual tudo retorna. Na ciência atual, não se pensa mais dessa maneira, mas as leis da natureza ainda são consideradas fixas e imutáveis, como a lei da gravidade que vale em qualquer parte do mundo.

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Trocando Ideias Como você imagina uma sala de aula em Buenos Aires, Caracas, Lima e La Paz? Exponha seu ponto de vista para os colegas.

AS CONVENÇÕES HUMANAS SÃO MUTÁVEIS

A sociedade humana, diferentemente da natureza, funciona com regras, leis ou normas criadas por acordo ou convenção. As leis sociais e os valores mudam com o tempo, de sociedade para sociedade, e até mesmo no interior de uma mesma sociedade. Você sabia, por exemplo, que houve uma época em que as mulheres do Brasil não podiam votar e que elas só conquistaram esse direito na década de 1930? Isso acontecia porque, na mentalidade predominante da época, por incrível que pareça, cabia ao homem decidir quem governaria o país, o estado ou município. Felizmente, pelo menos nesse aspecto, a situação das mulheres mudou muito no Brasil. Hoje, a mulher brasileira não só pode votar como também pode ser eleita para todos os cargos públicos, inclusive para a Presidência da República.

Os sofistas perceberam, então, essas características das sociedades humanas, compreenderam que cada uma delas funcionava de acordo com certas convenções. E essas convenções foram criadas pelos indivíduos e poderiam ser modificadas por eles. É diferente do que ocorre com as leis da natureza, que são eternas e imutáveis. Assim, para esses pensadores, a tradição e as normas estabelecidas poderiam ser alteradas e questionadas pelo uso da razão.

Trocando Ideias Você acha que nós percebemos todas as convenções que orientam nossa conduta? Justifique.

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OS SOFISTAS MAIS CONHECIDOS

Os sofistas não pensavam da mesma maneira nem tratavam dos mesmos assuntos, embora tivessem

algumas ideias em comum. Existem mais de vinte e cinco desses professores conhecidos na história da filosofia.

Vamos estudar os dois mais citados pelos filósofos antigos: Protágoras e Górgias.

PROTÁGORAS E A RELATIVIDADE DAS COISAS HUMANAS

“O homem é a medida de todas as coisas”, essa é a frase mais conhecida de Protágoras. Quer dizer, o ser

humano decide sobre o que é certo ou errado, bom ou ruim, verdadeiro ou falso, útil ou inútil, e assim por diante.

Por exemplo, duas pessoas podem entrar no mesmo momento em um rio e ter sensações diferentes: uma pode

sentir que a água está fria; a outra, que está quente. Quem teria razão? Para Protágoras, as duas, pois tanto a

sensação de frio quanto a de calor são verdadeiras.

Imagine, por exemplo, que você esteja com um amigo olhando o cartaz de um filme. Você acha o cartaz

muito bonito mas seu amigo acha horrível. Quem está com a razão? Os dois. Cada um tem o seu motivo para

gostar ou não do que vê. O mesmo aconteceria com todas as coisas humanas.

A consequência desse pensamento é que, para Protágoras, não haveria uma verdade absoluta, única. Em

outras palavras, a verdade dependeria do que cada pessoa pensa. Na existência humana, tudo seria relativo.

Seguindo essa ideia, o que é verdadeiro, justo e bom para um indivíduo ou uma sociedade poderia não ser

verdadeiro, justo e bom para outro indivíduo ou outra sociedade. Veremos mais à frente que Sócrates e Platão

combateram esse pensamento, pois acreditavam na existência de verdades que valeriam para todas as situações

e todas as sociedades.

GÓRGIAS E A FORÇA DA PALAVRA

O sofista Górgias era famoso por sua capacidade retórica, isto é, pela habilidade de convencer as pessoas

por meio do discurso ou da palavra. Sua voz era poderosa em uma assembleia.

Entretanto, mais do que uma habilidade retórica, esse sofista tinha uma teoria sobre a importância da

capacidade de persuasão. Ele defendia a ideia de que em nenhuma situação as pessoas poderiam alcançar uma

verdade absoluta ou única. Górgias pensava também que os filósofos anteriores a ele não conseguiram chegar a

uma definição clara do Ser e das coisas que existem. Para o sofista, mesmo que o Ser existisse, como afirmava

Parmênides, ele não poderia ser conhecido pela razão humana. Então, caberia ao indivíduo analisar cada

situação e determinar o que deveria ou não ser feito.

Além disso, por não existir nada de absolutamente verdadeiro, a palavra e o discurso não estariam presos a

nada. Não estariam voltados para uma verdade absoluta a ser revelada. A palavra, então, valeria principalmente

por sua capacidade de persuadir. Desse modo, os argumentos seriam momentâneos e mudariam de acordo com

a situação. O bom retórico seria aquele capaz de convencer as pessoas em diferentes situações,

independentemente de dizer a verdade ou não. Para Górgias, no entanto, a retórica deveria ser usada com justiça.

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ATIVIDADES

1. Marque apenas as sentenças verdadeiras. Os sofistas: a) Davam aulas sobre a origem do universo. b) Eram professores que ensinavam um ofício aos cidadãos jovens. c) Preparavam os cidadãos jovens para a vida pública. d) Defendiam que a natureza e o ser humano era uma coisa só. e) Iniciaram o período humanista da filosofia antiga. f) Eram considerados mestres de retórica e ensinavam de cidade em cidade. g) Eram pensadores que investigavam a natureza. h) Não contribuíram para o desenvolvimento do pensamento racional. i) Refletiram sobre questões humanas.

2. Leia a frase do sofista Antifonte e explique a posição dos sofistas sobre o assunto tratado.

"Pois as prescrições das leis são impostas de fora, as da natureza, necessárias e as prescrições das leis são pactuadas e não geradas naturalmente, enquanto as da natureza são geradas naturalmente e não pactuadas.”

ANTIFONTE. In: Antifonte: testemunhos, fragmentos, discursos. São Paulo: Loyola, 2008. p. 73

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3. “O homem é a medida de todas as coisas” é uma frase de Protágoras e significa que não há uma verdade

absoluta ou única fora do homem: a verdade depende de cada pessoa ou de cada sociedade. Se a verdade é de cada pessoa, o que você acha que é preciso fazer para se viver harmoniosamente em coletivo?

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4. Para Górgias, a persuasão nem sempre busca a verdade, mas sim o convencimento, pois o ser humano não

é capaz de chegar a uma verdade absoluta única. Se Górgias está certo e não existe uma verdade absoluta, isso significa que o que importa, para cada indivíduo, é apenas que sua opinião prevaleça sobre as demais, independentemente de ela estar ou não certa? O que você pensa a respeito?

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5. Na foto a seguir, os jogadores parecem não estar se entendendo bem. Não há consenso sobre o que devem fazer. Dessa forma, o jogo fica prejudicado. Você acha que a retórica é importante em uma situação semelhante? O que você diria se fosse um dos jogadores?

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6. Esta tirinha faz referência ao personagem Darth Vader, da série de filmes “Guerra nas estrelas”. Observe e

explique como Darth Vader conseguiu convencer o filho.

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7. Redija um breve texto em seu caderno sobre as ideias dos sofistas. REFLETINDO SOBRE O TEXTO

Contrastes culturais

"Comportamentos não verbais correntes em certas culturas provocam constrangimentos ou perturbações

em outras, quando de contatos interculturais. Os norte-americanos, por exemplo, aprendem informalmente que, no

curso de uma conversa, uma pessoa fica fora da zona olfativa da outra. Já os árabes aprendem, também

informalmente, a se mover dentro da zona olfativa, para respirar sobre a outra pessoa. Da mesma forma, o árabe

estará determinado a respirar sobre o norte-americano, quando de um encontro social, assim como olhá-lo nos

olhos a distâncias curtíssimas e a tocá-lo com frequência. O norte-americano estará decidido a não exalar seu

hálito sobre alguém, bem como a não receber no rosto a respiração de quem quer que seja. Ele não devolverá os

olhares cerrados do árabe e raramente tocará nele.

Ao fim desse encontro, o árabe poderá sentir-se ofendido porque o norte-americano falava em tom baixo de

voz, respirava a distância e, assim, não correspondia às suas ações. O norte-americano poderá sentir-se confuso

com o olhar intenso, altura de voz, os gestos e a respiração do árabe.” RECTOR, Monica; TRINTA, Aluízio Ramos. Comunicação do corpo. 2. ed. São Paulo: Ática, 1993. p. 13-14

Corrente: comum, corriqueiro, usual. Curso: decorrer do tempo, sucessão temporal. Zona olfativa: área de contato com o cheiro que exalamos e o ar que expiramos. Cerrado: fechado.

a) Como os norte-americanos tendem a se comportar quando conversam com alguém?

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b) Qual é o comportamento dos árabes na mesma situação?

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c) Por que essas diferenças de comportamento existem? Responda pensando no que você aprendeu sobre os sofistas.

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CAPÍTULO 6

SÓCRATES E O APERFEIÇOAMENTO DO SER HUMANO

As perguntas movem o mundo. A todo momento, perguntamos coisas a respeito de nós mesmos e de tudo que nos cerca, mas nem sempre encontramos respostas. Muitos filósofos usaram as perguntas como um método investigativo. O mais conhecido deles é Sócrates.

Quase todo mundo sabe que Sócrates foi julgado e condenado à morte, mas poucos sabem o que o levou a isso. Ele foi acusado entre outras coisas, de corromper os jovens de Atenas. Será verdade? Para descobrir, vamos investigar um pouco a vida dele, como se fôssemos detetives. No final, cada um poderá tirar sua conclusão a respeito da condenação de Sócrates. Além disso, vamos saber, no transcorrer da investigação, por que Sócrates é um marco na história da filosofia.

SÓCRATES E OS SOFISTAS

Sócrates viveu na época dos sofistas Protágoras e Górgias. Como eles, refletiu sobre o ser humano e as coisas humanas. O filósofo também acreditava que as ideias e os valores tradicionais deveriam ser questionados.Mas Sócrates combatia as ideias relativistas dos sofistas. Lembre-se de que muitos deles acreditavam que, para o ser humano, tudo era relativo. Protágoras, por exemplo, defendia que a verdade depende de cada pessoa; que o que era verdadeiro, bom o justo variava de sociedade para sociedade. Para Sócrates, não era assim. Ele acreditava que o verdadeiro, o bom e o justo eram o verdadeiro, o bom e o justo para todas as pessoas, e em qualquer sociedade. Para ele, as verdades são universais, ou seja, são válidas para todos e devem ser procuradas e defendidas pelos homens em qualquer situação.

Sócrates acusava os sofistas de não se importarem com a verdade, preocupados apenas em convencer. Os sofistas seriam como cozinheiros que só se preocupam em satisfazer o paladar das pessoas que encomendam seus pratos. Para esses cozinheiros, o importante é vender seus pratos, e não cuidar da saúde dos clientes.

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O CONHECIMENTO E AS VIRTUDES

Por acreditar que as verdades são universais, Sócrates defendia que o ser humano deveria dedicar sua vida

a conhecer essas verdades. Isso porque, ao conhecê-las, um indivíduo teria uma vida mais virtuosa, seria uma

pessoa melhor. Para Sócrates, quem conhece o bem pratica o bem, quem conhece a justiça pratica a justiça.

Quem não conhece essas virtudes não poderia praticá-las. Dessa forma, na visão de Sócrates, só quem conhece

as virtudes pode ser uma pessoa virtuosa, boa, voltada para o bem. Em outras palavras, a ação virtuosa ou

correta está relacionada ao conhecimento.

Por isso, esse filósofo dizia que o ser humano, em vez de se preocupar com a fama ou a riqueza, deveria

dedicar sua vida ao conhecimento, ao saber. Para Sócrates, a principal tarefa do filósofo - lembre-se de que o

filósofo é aquele que ama o saber - era buscar a verdade.

A TERRÍVEL PERGUNTA DE SÓCRATES

Sócrates, então, fez de sua vida uma busca constante pelo saber e pela verdade. Mas, na sociedade em que

vivia, com quem ele poderia obter o conhecimento verdadeiro? Com os sábios, certo? Aqui, há algo importante

para nossa investigação. Sócrates não se achava um sábio. Ao contrário, sua frase mais famosa é “Só sei que

nada sei”. Quer dizer, Sócrates reconhecia sua ignorância.

Platão, seu principal discípulo, conta que certa vez Sócrates saiu à procura daqueles que se diziam sábios.

Encontrou, então, os sofistas, que ensinavam vários assuntos. Conversou com os políticos famosos que eram

reconhecidos por muitos como sábios. E também dialogou com os poetas, que se diziam porta-vozes da verdade.

A cada um deles fez perguntas relacionadas ao assunto que eles diziam dominar. Algumas dessas perguntas

foram: o que é a justiça? O que é o bem? O que é o amor? O que é a amizade? O que é a felicidade? O que é a

beleza? Mas não encontrou resposta satisfatória para nenhuma delas.

Quando Sócrates perguntava o que eram a justiça, o bem, o amor, a amizade e a felicidade, esperava

encontrar uma resposta universal, invariável. Ou seja, a resposta esperada por ele para cada pergunta deveria

apresentar uma definição única de justiça, bem, amor, amizade e felicidade.

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A RESPOSTA DOS SÁBIOS

Sócrates concluiu que os sábios atenienses acreditavam ter um conhecimento que, na verdade, não possuíam. O sofista, que dizia ensinar seu aluno a ser bom cidadão, não soube dizer o que era o bem. O político, que tinha uma função pública, não soube dizer o que era a justiça. O poeta, que era capaz de criar belos poemas, não sabia, no entanto, o que era a beleza. E o mais grave: além de não saberem, essas pessoas não percebiam que não sabiam. Quer dizer, elas não tinham consciência da própria ignorância. Nesse aspecto, Sócrates seria mais sábio do que todas elas, pois pelo menos sabia ou tinha consciência de sua ignorância.

Colega detetive, imagine a cena: quando confrontadas por Sócrates em praças públicas, ginásios, jantares e festas, as pessoas mais importantes e tidas como sábias de Atenas ficavam sem argumentos. Além disso, muito jovens que assistiam aos diálogos se encantavam com Sócrates e passavam a imitá-lo, questionando tradições e personalidades ilustres da sociedade. É fácil imaginar que Sócrates, com seu comportamento, criava muitos inimigos, que estariam dispostos a acusá-lo, julgá-lo e condená-lo. Mas vamos continuar nossa investigação.

Trocando Ideias Como você responderia a algumas das perguntas de Sócrates: o que é justiça? O que é o bem? O que é a beleza?

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DIÁLOGO E FILOSOFIA SOCRÁTICA

Já foi possível perceber que Sócrates gostava muito de conversar. E suas conversas sempre tinham um

propósito: estimular a reflexão. O filósofo grego acreditava que a única forma de filosofar era o diálogo. Em outras palavras, o diálogo socrático era um meio de conhecer a verdade das coisas que se pensa e se diz.

Quando você, por exemplo, conversa com um amigo, quando "troca ideias”, pode aprender muito. Você faz uma afirmação, seu colega faz outra. Vocês ponderam. Argumentam. Perguntam e respondem. Reveem suas ideias. Têm outras. E assim, por meio do diálogo, vão aperfeiçoando a forma de pensar.

Sócrates acreditava nisso. Acreditava que um diálogo franco e honesto sobre ideias e pensamentos poderia levar ao conhecimento verdadeiro. Para o filósofo, a reflexão profunda poderia transformar um indivíduo. Ele tinha até um método ou uma forma de dialogar.

O MÉTODO SOCRÁTICO DE CONVERSAÇÃO

O método socrático de conversação era composto basicamente de dois momentos essenciais. Ele se iniciava pela ironia, por perguntas sobre determinado assunto ou conceito. As perguntas levavam o interlocutor a rever suas ideias, a perceber que não tinha clareza sobre o assunto que acreditava conhecer ou que suas conclusões eram baseadas em preconceitos.

Depois disso, ainda por meio do diálogo, Sócrates ajudava as pessoas a pensar mais claramente, a trazer à luz ideias verdadeiras. O filósofo se dizia uma espécie de parteiro das ideias. Você sabe o que é uma parteira? É uma mulher que ajuda nos partos, isto é, nos nascimentos. Assim como uma parteira ajuda uma mulher a trazer seu filho à luz, Sócrates ajudava uma pessoa a descobrir ideias verdadeiras. Essa segunda parte do método socrático é conhecida como maiêutica, palavra que significa "arte de realizar partos”.

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Para Sócrates, dialogar dessa maneira era filosofar. O melhor modo de buscar a verdade era conversando, indagando, raciocinando, verificando e refletindo sobre os termos e conceitos usados, ponderando sobre as conclusões e observando se não havia contradições. O diálogo filosófico aos poucos classificava as ideias e os pensamentos. Grafite do artista Moisés “Kbça”, em Recife (PE), 2018. Com seu método de conversação, Sócrates ajudava as ideias do interlocutor a nescerem.

O AUTOCONHECIMENTO

Ruínas do templo de Apolo, na cidade de Delfos (Grécia), 2016. De acordo com Platão, Querefonte, um conhecido de Sócrates e dos cidadãos

atenienses, foi a esse templo consultar o oráculo, que disse ser Sócrates o mais sábio de todos os homens.

Sócrates, além de afirmar que não era sábio, dizia também que não ensinava ninguém. Assim como a

parteira ajuda um filho que não é dela a nascer, Sócrates colaborava para o "nascimento" de ideias que não eram suas. As ideias verdadeiras que vinham à luz eram das pessoas que conversavam com ele. Seus interlocutores descobriram a verdade por si mesmos, apenas com a colaboração ou incentivo do filósofo.Em outras palavras, Sócrates convidava os participantes do diálogo a olhar para si mesmos, a refletir profundamente sobre suas atitudes, desenvolvendo um processo de autoconhecimento.

A ideia de que as pessoas só alcançariam a verdade procurando-a dentro de si mesmos pode ser resumida na frase que, ao longo da história, ficou associada ao pensamento de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Segundo a tradição, essa frase estaria inscrita no portal do templo de Apolo, na cidade grega de Delfos. Essas palavras guiariam o pensamento de Sócrates. Para ele, o ser humano deveria fazer perguntas sobre si mesmo, refletindo sobre suas ideias e sua conduta. Antes de conhecer as coisas, antes de perguntar sobre o elemento primordial da natureza, como faziam os filósofos pré-socráticos, os indivíduos deveriam se autoconhecer.

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A morte de Sócrates (1787), pintura de Jacques-Louis David. Na tela,

Sócrates dialoga com vigor pouco antes de ingerir o veneno que o levaria à morte.

A MUDANÇA DE RUMO DA FILOSOFIA

Talvez agora tenha ficado claro por que existem o antes e o depois de Sócrates na história da filosofia. O

pensamento socrático estabeleceu uma mudança no rumo da filosofia. Para esse filósofo, o importante não era investigar natureza, o cosmos, mas o próprio ser humano. Os sofistas também investigaram as coisas humanas, mas Sócrates foi além. Ele percebeu que era necessário investigar a alma humana, isto é, a consciência e os valores dos homens. Além disso, ele propôs um caminho: o diálogo e a reflexão sobre os conceitos.

O "parteiro" de ideias considerava que a vida dos seres humanos somente seria boa se fosse guiada pela razão, isto é, se a vida fosse dedicada ao conhecimento e ao aperfeiçoamento da alma. Essa seria a particularidade do ser humano, que o diferenciaria de todos os outros animais: usar a razão para ponderar sobre seus objetivos e sobre a própria vida. Para Sócrates, o aperfeiçoamento da alma era o caminho da felicidade.

Na Trilha Dos Humanistas

Aventure-se por esse jogo de tabuleiro utilizando seus conhecimentos sobre Sócrates e os sofistas.

ATIVIDADES 1. Assinale as afirmativas corretas. a) Sócrates e os sofistas refletiram sobre o ser humano, mudando o foco de atenção da filosofia que

anteriormente estava concentrada na natureza. b) para Protágoras, existiam verdades que deveriam ser defendidas em qualquer situação. c) Sócrates acreditava que a persuasão (ou convencimento) por meio da palavra era o melhor caminho para

uma vida feliz. d) Sócrates combatia as ideias relativistas dos sofistas, pois acreditava em verdades universais. e) para Sócrates, o ser humano deveria deixar de lado a fama, a riqueza e a felicidade para dedicar-se ao

aperfeiçoamento. f) De acordo com Sócrates, o ser humano deveria dedicar sua vida a conhecer a verdade, para ter uma vida

virtuosa e ser uma pessoa melhor.

2. Por que Sócrates, mesmo sabendo que nada sabia, poderia ser considerado mais sábio que aqueles que se diziam sábios?

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3. O estadista e filósofo romano Marco Túlio Cícero afirmou que Sócrates desceu a filosofia do céu e a instalou na praça das cidades e nas famílias, obrigando ao exame da vida moral, que trata dos valores humanos. Por que ele teria dito isso?

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4. Observe a ilustração e faça as atividades.

a) O que esse menino descobriu a olhar para sua imagem refletida na vidraça?

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b) Relacione a ilustração à frase que guiava o pensamento de Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo”.

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5. O diálogo abaixo foi extraído da peça As nuvens, escrita pelo dramaturgo grego Aristófanes, contemporâneo

de Sócrates. No trecho, o autor usa o humor para tratar do diálogo socrático. DISCÍPULO DE SÓCRATES: [...] Há pouco, Sócrates interrogava Querefonte sobre uma pulga. Indagava quantas vezes ela pode saltar o tamanho dos seus próprios pés [...]. ESTREPSÍADES: Então, como foi que ele mediu? DISCÍPULO DE SÓCRATES: Com a maior habilidade. Dissolveu a cera; depois, tomou a pulga e mergulhou seus pés na cera. A seguir, quando a pulga esfriou, ficou com umas botinhas à moda pérsica; ele descalçou-as e mediu a distância. ESTREPSÍADES: Ó Zeus soberano, que sutileza de pensamento.

a) Com base no texto, podemos dizer que Aristófanes conheceu o método socrático? Explique.

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b) Sabendo que esse diálogo faz parte de uma comédia, explique a imagem de Sócrates apresentada pelo autor.

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6. Às vezes um diálogo pode ser prejudicado pela falta de atenção de um dos interlocutores, pelo uso de uma

linguagem inadequada ou pela intolerância de uma das partes em ouvir e refletir sobre aquilo que está sendo dito. Pense em situações que prejudiquem a comunicação, causando mal-entendidos. Em seguida, crie um diálogo bem humorado no qual os personagens procurem solucionar as falhas de comunicação.

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7. Redija um breve texto sobre as ideias de Sócrates estudadas neste capítulo. Lembre-se de ser persuasivo.

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CAPÍTULO 7

PLATÃO E A REALIDADE ALÉM DA FÍSICA

A Investigação Da Verdadeira Realidade

Imagine que você e todos os seus colegas de classe estejam a bordo de um veleiro, distantes da costa,

aproveitando a viagem de férias. Alguns estão tomando sol. Outros,apenas pescando. Alguns jogam cartas ou

jogos eletrônicos. Outros conversam. O vento bate nas velas e faz todo o serviço. E assim o barco segue tranquilo

sua trajetória.

De repente, por azar, o vento deixa de soprar e o barco fica à deriva. Como ele não tem motor, é preciso

esperar o vento voltar. Mas, para agravar a situação, vocês recebem uma terrível mensagem pelo computador: há

uma tempestade se aproximando de onde vocês estão.

Sem a ajuda natural do vento e sem motor, só há uma saída: remar. Não há tempo a perder. Todos se

transformam em remadores habilidosos e se esforçam para levar o barco até a costa. Todos remam no mesmo

ritmo, para que o barco avance. Quando chegam a um porto seguro, estão exaustos, mas contentes porque se

salvaram. Ufa!

Marinheiros antigos chamariam essa situação de segunda navegação. Quando a primeira navegação falha,

quando o vento sopra fraco e não é capaz de impulsionar a embarcação, os marinheiros iniciam a segunda

navegação, isto é, começam a remar.

O filósofo Platão empregou esses termos usados pelos marinheiros antigos para se referir tanto à

investigação dos pré-socráticos como a dele próprio. Ele dizia que os filósofos naturalistas (Tales, Anaximandro,

Anaxímenes, Leucipo, Demócrito, entre outros) tinham empreendido a primeira navegação. Esses “marujos”

investigaram a natureza e elegeram uma matéria primordial como origem de todas as coisas. Mas, segundo o

filósofo, eles falharam, pois não deram uma explicação convincente sobre a realidade. Por isso, Platão realizou

uma segunda navegação, quer dizer, outro tipo de investigação. Vamos estudá-la.

A Realidade Além Da Realidade Física

Para Platão, existe à nossa volta uma realidade visível ou sensível, que pode ser tocada, cheirada, vista,

isto é, que pode ser percebida fisicamente por meio dos órgãos dos sentidos. Por exemplo, levante agora a

cabeça e olhe ao seu redor. Tudo o que você vê, tanto objetos como seres vivos, faz parte da realidade sensível.

Sua caneta, seu caderno, seu celular, seu computador, seu corpo, sua roupa. Tudo o que você pode tocar faz

parte dessa realidade, pois tem existência física, material.

Mas, para o filósofo, além da realidade física, existiria outra. Ela seria algo a mais, que nossos sentidos não

poderiam perceber. Não poderia ser tocada, tampouco vista ou escutada. Platão acreditava que essa outra

realidade só poderia ser atingida ou compreendida por meio do pensamento, da razão, ou seja, por meio

da inteligência.

Em outras palavras, existia, para Platão, uma realidade suprassensível, isto é, que estaria além dos sentidos.

Essa realidade seria inteligível, quer dizer, só poderia ser compreendida por meio da inteligência.

Como é difícil imaginar uma realidade além da física, Platão criou algumas histórias a fim de facilitar seu

entendimento. A mais conhecida é o Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna. Nessa história, alguns homens

estão presos desde o nascimento dentro de uma caverna, por isso, para eles, aquele espaço é a única realidade

existente. Como nunca saíram de lá, não sabem que o interior da caverna é apenas uma parte menor da

verdadeira realidade, só conhecida por quem está fora dela. Qualquer um que nascesse e crescesse em um lugar

assim pensaria da mesma forma, você não acha?

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Para Platão, quem acredita que a realidade física ou visível é a única realidade existente está enganado, como os prisioneiros da caverna. Essa pessoa não consegue perceber que a realidade é muito menor.

Confira o trecho da animação que retrata a vida de uma família do tempo das cavernas.

Trocando Ideias Você acha que, atualmente, existem pessoas que vivem na ilusão, como os prisioneiros da caverna de Platão? Explique.

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A REALIDADE VISÍVEL É A REALIDADE INTELIGÍVEL

Segundo Platão, portanto, existiriam duas realidades: a visível e a inteligível. Além disso, ele acreditava que as coisas existentes no mundo visível seriam cópias de modelos ou formas ideais existentes no mundo inteligível. Essa parte da filosofia platônica costuma ser chamada de Teoria das Ideias ou Teoria das Formas.

Você já deve ter tirado cópias de uma página de caderno ou de livro. Portanto, sabe que, por melhor que seja a reprodução, o resultado é sempre inferior ao que foi copiado, o original: as imagens não têm a mesma nitidez e as mesmas cores, a página pode ficar torta etc. A cópia nunca é perfeita. Além disso, a partir de um modelo podemos reproduzir várias cópias. Era mais ou menos assim que pensava Platão. Para ele, existiam modelos invisíveis, que o filósofo chamava de formas ou ideias. Também existiam as cópias imperfeitas desses modelos, que seriam as coisas visíveis. Por exemplo, existiam os cavalos que nós vemos, na realidade visível, e a forma “cavalo”, existente na realidade inteligível. Existiam as cadeiras que percebemos por meio dos órgãos dos sentidos e a forma “cadeiras”, presente no mundo inteligível. E existiam os seres humanos que podemos tocar e com quem podemos conversar e também a forma humana do mundo inteligível.

Platão também defendia que as coisas da realidade visível se transformam: elas nascem, crescem, envelhecem e morrem; em outras palavras, estão em constante mudança, como afirmava Heráclito. As formas da origem inteligível, porém, se mantêm sempre da mesma maneira, elas são eternas e imutáveis. Como defendia Parmênides.

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O MUNDO DAS APARÊNCIAS E O MUNDO DAS ESSÊNCIAS

Para Platão, o mundo visível era o mundo das aparências, e o mundo inteligível era o mundo das essências. No mundo visível, uma flor brota, floresce, murcha e morre, isto é, muda constantemente de estado. Mas a forma flor é sempre a mesma. As flores podem ser de muitas cores e espécies: brancas, amarelas vermelhas, rosas, cravos, orquídeas ou girassóis. Quer dizer, há uma enorme multiplicidade. Mas a forma flor é única. A essência de um ser nunca muda. O que muda é a cópia visível e imperfeita. O que se transforma é a aparência.

Assim, Platão criou uma explicação da realidade dividindo-a em duas. Uma seria a realidade aparente, com a qual entramos em contato por meio dos órgãos dos sentidos. Nela predominariam o movimento, a multiplicidade e a imperfeição. A outra realidade seria a das essências, que só poderiam ser atingida pela inteligência; realidade na qual não existiria movimento nem multiplicidade, e sim perfeição.

Na realidade inteligível, estariam as verdades absolutas que Sócrates defendia e procurava. Estariam as formas ideais da justiça, da verdade, do amor, da amizade, da beleza e do bem; e também todas as outras formas ou modelos das coisas que existem no mundo visível.

A DESCOBERTA DO MUNDO INTELIGÍVEL

Agora é possível entender a segunda navegação feita por Platão. Como os pré-socráticos não teriam

conseguido explicar a existência das coisas sensíveis por meio do próprio sensível, Platão deu outro rumo para

sua investigação. Em vez de tentar identificar o elemento primordial, como fizeram Tales, Anaximandro,

Anaxímenes etc., Platão se concentrou na tentativa de encontrar algo além da matéria sensível, que está em

constante mudança, motivo pelo qual ele não permitiria conhecer a essência das coisas. Essa nova perspectiva

ficou conhecida como a segunda navegação e introduziu reflexões sobre outra realidade, a do mundo inteligível.

Para Platão, o conhecimento adquirido por meio dos órgãos dos sentidos seria um conhecimento enganoso,

pois estaria restrito a aparência das coisas. Só o conhecimento racional ou intelectual poderia levar às causas

verdadeiras de tudo o que existe, levar à realidade inteligível.

Nessa realidade invisível, estariam as formas, os seres verdadeiros, as essências, o que cada coisa

realmente é.

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ATIVIDADES

1. Relacione cada filósofo à sua respectiva proposta ou ideia.

A. Protágoras B. Sócrates. C. Heráclito. D. Parmênides. E. Platão.

( ) Tudo flui. ( ) Defesa de uma realidade suprassensível. ( ) Reconhecimento da própria ignorância. ( ) O homem é a medida de todas as coisas. ( ) O ser é e o não ser não é.

2. Os filósofos naturalistas buscaram responder ao problema de por que as coisas existem, nascem, desenvolvem-se e se corrompem. No entanto, Platão não concordou com as respostas dadas por esses filósofos, por quê? E qual foi a resposta escolhida por Platão?

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3. Explique a relação entre os pensamentos de Heráclito e Parmênides e a filosofia (ou sistema filosófico)

de Platão.

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4. As palavras a seguir foram escritas pelo poeta português Fernando Pessoa. Compare as ideias desse texto com o pensamento de Platão e responda: o que eles têm em comum?

“Tudo quanto fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita do que pensamos em fazer. Desdiz não só da

perfeição externa, senão da perfeição em interna [...].”

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5. Durante a narrativa da Alegoria da Caverna, presente no diálogo A República, de Platão, o personagem

Sócrates descreve a situação dos prisioneiros da caverna. Gláucon, outro personagem do diálogo, observa que tais prisioneiros são bastante estranhos. Porém, Sócrates responde que os prisioneiros são "semelhantes a nós" e que esses homens só veem sombras refletidas na parede. Considerando a teoria platônica, explique o que significa dizer que os prisioneiros da caverna são "semelhantes a nós”.

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6. Observe a charge e faça as atividades a seguir.

a) Essa charge faz referência ao pensamento de um filósofo. Qual?

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b) Explique a relação entre a charge e o pensamento desse filósofo.

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c) Qual é a crítica feita nessa charge à sociedade atual?

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d) Você já se viu nessa situação? Explique.

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7. Nossa primeira impressão, ao observarmos a foto a seguir, é a de que os camelos são as imagens que

vemos em preto. Porém, ao olharmos com mais atenção, verificamos que as pequenas linhas claras, na verdade, são os camelos, cujas sombras são as imagens escuras. Parece que a sombras têm vida própria, como na Alegoria da Caverna. Inspirado em tal possibilidade, crie um desenho em seu caderno que dialoga com essa ideia de Platão.

8. Redija em seu caderno um texto sintetizando as principais ideias de Platão estudadas neste capítulo.

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