121
Economia e Sociologia do Trabalho

Apostila de Economia e Sociologia Do Trabalho

Embed Size (px)

Citation preview

Economia e Sociologiado Trabalho

Economia do Trabalho: Conceitos básicos e Definições.............................................02 Mercado de trabalho formal e informal...........................................................................08 O mercado de trabalho.....................................................................................................11 Demanda por trabalho: o modelo competitivo e modelos não competitivos.............12 as decisões de emprego das empresas.........................................................................18 custos não salariais..........................................................................................................22 elasticidades da demanda...............................................................................................23 Oferta de trabalho: a decisão de trabalhar e a opção renda x lazer............................24 a curva de oferta de trabalho...........................................................................................27 elasticidades da oferta.....................................................................................................28 O equilíbrio no mercado de trabalho..............................................................................29 Os diferenciais de salário................................................................................................30 Diferenciação compensatória.........................................................................................31 Capital Humano: educação e treinamento.....................................................................32 Segmentação no mercado de trabalho...........................................................................43 Desemprego. A taxa natural de desemprego. Tipos de desemprego e suas causas................................................................................................................................46 Salário eficiência e modelos de procura de emprego...................................................48 Instituições e mercado de trabalho. A intervenção governamental: política salarial e políticas de emprego........................................................................................................49 Assistência ao desemprego............................................................................................59 Sindicato: monopólio bilateral e monopsônio...............................................................59 O mercado de trabalho no Brasil....................................................................................61 Sociologia do Trabalho....................................................................................................70 O Conceito de Trabalho...................................................................................................70 Trabalho: ação, necessidade e coerção.........................................................................72 Exploração e alienação....................................................................................................71 Trabalho e remuneração. O sistema de assalariamento..............................................77 Valores e atitudes. Os valores do Trabalho...................................................................78 A divisão social do trabalho............................................................................................80 População e Emprego. População, população ativa e população ocupada...............83 Trabalho e Progresso Técnico........................................................................................85 Divisão do trabalho e distribuição de tarefas. Processo de trabalho e organização de trabalho........................................................................................................................85 Trabalho parcial e integral...............................................................................................87 Trabalho artesanal, manufatura e grande indústria......................................................89 A crise da sociedade do trabalho...................................................................................92 O determinismo tecnológico...........................................................................................93 Trabalho e empresa. Poder e decisão na empresa.......................................................95 Estrutura e organização da empresa..............................................................................97 A classe dirigente...........................................................................................................100 A ação sindical e sua tipologia.....................................................................................100 Greves e conflitos trabalhistas.....................................................................................112

2

Economia do Trabalho Conceitos básicos e Definições A economia do trabalho procura entender o funcionamento do mercado e a sua dinâmica relacionada ao trabalho. Os mercados de trabalho funcionam através das interações entre trabalhadores e empregadores. A economia do trabalho observa os ofertantes de força-de-trabalho (trabalhadores), seus demandantes (empregadores) e tenta entender os padrões resultantes de salários e outras rendas do trabalho, de emprego e desemprego. Usos práticos incluem a assistência na formulação de políticas de pleno emprego. CONCEITOS BÁSICOS PEA ou Força de Trabalho – expressa a quantidade de pessoas que potencialmente colocam sua mão de obra para suprir as necessidades da empresa. Engloba as pessoas empregadas como as que estão disponíveis para trabalhar, mas não estão conseguindo emprego (denominadas desempregadas); PIA – população em idade ativa; PINA – população em idade não ativa. População economicamente ativa (PEA) Empregados a) plenamente ocupados: - em tempo integral - em tempo parcial b) subempregados: - visíveis - invisíveis Desempregados a) buscando trabalho: - já trabalharam - nunca trabalharam (1º emprego) b) não estão procurando trabalho, mas dispostos a trabalhar em condições específicas: - já trabalharam - nunca trabalharam População não economicamente ativa (PNEA) Capacitados para o trabalho a) trabalhadores desalentados ou desencorajados (dispostos a trabalhar, mas desestimulados a buscar emprego): - dedicando-se a afazeres domésticos - estudante - aposentado - pensionista - rentista e outros b) inativos (não buscam trabalho nem desejam trabalhar): - inválidos - idosos - réus - outros Essa forma de apresentação da PEA é universal, contemplada pelas mais importantes instituições voltadas para questões do mercado de trabalho e

3

adotada nos principais inquéritos, visando captar aspectos recativos à atividade econômica dos indivíduos. A principal polêmica ocorre em como enquadrar determinada categoria ocupacional com base numa situação observada. Como exemplo, temos o subemprego que, para alguns (como o IBGE), é uma categoria entre os empregados, enquanto para o Dieese é uma forma de desemprego. As seguintes observações merecem também destaque: a) alguns indivíduos que não trabalham fazem parte do mercado informal, que é composto também por indivíduos que trabalham; b) o nível de participação na PEA pode alterar-se sem modificações originadas por aspectos demográficos; c) o critério para definir idade ativa é arbitrário, variando entre países, mas, em geral, contido no intervalo entre 10 e 15 anos de idade. No Brasil, adota-se o critério de 10 anos como limite mínimo para idade ativa; d) os desempregados autênticos representam um patamar mínimo de subutilização da mão-de-obra, desde que entre os empregados existam os subempregados; e) o fato de o indivíduo estar em idade ativa não o caracteriza como economicamente ativo; f) possuir capacidade para trabalhar também não assegura que o indivíduo seja economicamente ativo; g) desemprego não significa inatividade. Finalmente, devemos notar que as categorias classificadas como economicamente ativas da forma mencionada, ainda que representativas do volume de trabalho apto e imediatamente disponível, não revelam a total potencialidade da força de trabalho. A força de trabalho não leva em consideração aspectos como nível educacional dos trabalhadores, experiência no trabalho, qualidade do trabalho, horas trabalhadas, entre outras variáveis que são determinantes do trabalho potencial dos indivíduos componentes do mercado de trabalho. Dessa forma, a PEA deve ser interpretada como um conceito parcial no que diz respeito à oferta do trabalho imediatamente utilizável no país. INDICADORES DO MERCADO DE TRABALHO Vimos a composição da População Economicamente Ativa (PEA). Para avaliar o comportamento desse mercado, uma série de indicadores é construída: alguns diretamente das definições apresentadas, e outros - com o índice de salário real – que não emergem diretamente do que foi descrito, mas sim por meio de variáveis que se formam no mercado. Tais indicadores possibilitam tanto refletir sobre o desempenho quanto avaliar o comportamento da economia. Podem também ser utilizados como importantes fatores de orientação no processo de tomada de decisões (seja pelo governo ou pelas firmas), visando proporcionar melhorias no padrão de vida, nas condições de emprego e trabalho e, principalmente, na harmonização das relações entre capitalistas e trabalhadores. Servem ainda para refletir estados de pobreza ou miséria, além de contribuir para a avaliação do nível de absorção de mão-de-obra e de seu grau de subutilização.

4

Indicadores 1 – Taxa de participação na força de trabalho (tP) Reflete o nível de engajamento da população ativa nas atividades produtivas, pela mensuração do tamanho relativo da força de trabalho, fornecendo uma aproximação do volume de oferta de emprego imediatamente disponível na economia. Desde que o tamanho da população e da própria PEA tendem a diferir de país para país, ou entre regiões de um mesmo país, é necessário expressar percentualmente o volume de indivíduos em atividades voltadas para a produção social de bens e serviços em relação à População em Idade Ativa (PIA). Define-se, então, taxa de participação (tP) como: tP = PEA / PIA Regra geral, para qualquer país, observa-se que: a) a taxa de participação masculina é maior que a feminina, pois os afazeres domésticos não são considerados ocupações economicamente ativas e são exercidos majoritariamente pelas mulheres; b) a participação adulta é maior que a participação jovem ou idosa. A necessidade de educar e a aposentadoria são as explicações tradicionais para a menor participação desses dois últimos grupos; c) a participação feminina tende a crescer com o desenvolvimento econômico, seja porque aumentam as oportunidades de emprego para as mulheres, seja porque o próprio papel delas com relação ao trabalho é visto de forma diferente. Taxa de desemprego (tD) Figurando entre os mais conhecidos indicadores, esse índice tende a refletir desequilíbrios no mercado de trabalho. Representa a falta de capacidade do sistema econômico em prover ocupação produtiva para todos aqueles que a desejam. A taxa de desemprego contabiliza aqueles indivíduos que estão aptos, saudáveis e buscando trabalho, mas que não encontram ocupação à taxa de salários vigente no sistema econômico. Essa taxa inclui o que se denomina desemprego aberto, o qual expressa um patamar mínimo de subutilização de mão-de-obra, já que o subemprego existe no mercado de trabalho. Estatisticamente, a taxa de desemprego é a relação entre o número de desempregados (D) e o total da força de trabalho (PEA), ou seja: tD = D / PEA => tD = D / (E + D) Sua evolução demonstra as flutuações da atividade econômica, sendo extremamente útil ao governo como indicador do impacto das políticas econômicas de curto prazo.

5

Do ponto de vista social, é inegavelmente o principal indicador da ocorrência de recessão, pois incorpora tanto movimentos da força de trabalho quanto flutuações no plano das atividades produtivas. NOTA - A taxa de desemprego pode aumentar sem que tenha havido demissão. Exemplos: 1) Supondo que o número de desempregados de um país é de 20 (D=20) e que o número de empregados seja 60 (E= 60) . Neste caso, a taxa de desemprego será: tD = 20 / (20 + 60) = 0,25 ou 25 % 2) Se um inativo se incorpora à PEA, porém não obtém emprego (fica desempregado), temos a seguinte composição: tD = 21 / 81 = 0,259 Pode-se perceber que a taxa de desemprego aumentou, apesar de não ter havido novas demissões. A taxa de desemprego capta aqueles indivíduos classificados como desempregados por diversas razões, que vão desde a total involuntariedade do trabalhador em se colocar nessa situação até a incapacidade do sistema em absorver o contingente de indivíduos que afluem às forças de trabalho periodicamente. Em outras palavras, existem diversas classificações de desemprego, segundo sua origem, todas ocorrendo ao mesmo tempo e, dessa forma, captadas pela taxa de desemprego, tradicionalmente calculada por pesquisas primárias. As principais são: Desemprego involuntário Ocorre quando o indivíduo deseja trabalhar à taxa de salários vigentes no sistema econômico, mas não encontra colocação. É também denominado desemprego cíclico ou desemprego conjuntural. Ocorre devido à insuficiência de demanda agregada na economia (falaremos desse assunto mais adiante). Desde que Keynes se destacou como formalizador das idéias sobre o impacto da insuficiência de demanda sobre a economia e o mercado de trabalho, esse tipo de desemprego é também conhecido como Keynesiano. Representa, sem dúvida, aquele tipo de desocupação dos indivíduos que deve merecer maior atenção das autoridades governamentais. Desemprego estrutural Acontece quando o padrão de desenvolvimento econômico exclui uma parcela dos trabalhadores do mercado de trabalho. Denomina-se também desemprego tecnológico e ocorre devido ao desequilíbrio entre a oferta e a demanda por mão-de-obra de determinada qualificação. Desemprego friccional

6

Surge em decorrência do processo dinâmico que caracteriza o mercado de trabalho, no qual o sistema de informações sobre a oferta de vagas disponíveis no sistema produtivo é imperfeito. Existe um lapso de tempo entre a saída do indivíduo de um emprego e a obtenção de uma nova ocupação de acordo com suas características. Nesse ínterim, ele é classificado como desempregado. Desemprego sazonal Ocorre devido à sazonalidade de determinados tipos de atividade econômica. Como é possível prever esse tipo de flutuações, pode-se atribuir uma dose de voluntariedade dos indivíduos engajados em ocupações dessa natureza. Índice de emprego (tE) É usado para medir a proporção da população economicamente ativa que, após certa idade, é empregada. Busca refletir aqueles indivíduos absorvidos no mercado de trabalho na condição de empregados. Em outras palavras, indica o contingente de trabalhadores disponíveis e utilizados pelas firmas. tE = E / PEA = E / (E + D) Em última instância, o índice de emprego busca refletir o número de indivíduos que estão realmente exercendo atividades econômicas, relativamente a todos aqueles que potencialmente poderiam exercê-la. Fornece também uma avaliação de capacidade da economia em absorver o crescimento da população, num ambiente de constantes transformações tecnológicas que afetam o comportamento das firmas quanto ao nível de emprego por elas desejado. RELAÇÃO IMPORTANTE ENTRE TAXA DE DESEMPREGO E DE EMPREGO Como tD = D / PEA e tE = E / PEA, temos que: tD + tE = D/PEA + E/PEA = (D + E) / PEA = PEA / PEA = 1 => tD + tE = 1 (ou 100%) Subemprego É a própria subutilização da mão-de-obra. As causas e os efeitos do subemprego são múltiplos, mas invariavelmente ele está relacionado com o desenvolvimento econômico insuficiente ou atrasado. De modo geral, tal conceito é associado à questão de emprego na América Latina, Ásia e África. Historicamente, o subemprego tende a representar a parcela da população subutilizada em decorrência do padrão de crescimento adotado, o qual exclui inúmeros segmentos da população de desempenho de atividades econômicas produtivas. Além disso, o subemprego tem grande aceitação como conceito referente ao problema ocupacional no meio rural, onde reflete a porcentagem de ocupados em atividades de baixa produtividade agrícola. Igual conceito também se aplica ao meio urbano, mas recentemente a definição de subemprego ganhou nova roupagem, sob o título de mercado ou setor informal de trabalho. Neste setor informal de trabalho, muito mais um problema conceitual ou de mensuração, se

7

discute a importância do núcleo capitalista de produção no surgimento e no desenvolvimento de atividades econômicas marginais e/ou informais. Subemprego visível (tSH) – é definido como a diferença entre o volume real de horas trabalhadas pelo indivíduo e o volume de horas que ele poderia, de fato, trabalhar.Na economia, esse subemprego seria medido como: tSH = (Sh/ PEA) x100 em que Sh = número de indivíduos ocupados trabalhando menos que um determinado números de horas. Esse indicador merece algumas considerações. O subemprego deve-se dar por razões econômicas, caracterizando uma involuntariedade do indivíduo, que não está trabalhando mais por insuficiência de demanda. O trabalho em tempo parcial não é uma aspiração do indivíduo. Ademais, o número de horas pode ser fixado em termos de dias, semanas, mês ou ano e varia de acordo com as características do país ou região em que se pretende medir o subemprego. Subemprego encoberto (tsp) – representa a quantidade de mão-de-obra que seria possível liberar melhorando-se a organização e a distribuição das tarefas de trabalho, mantendo-se o nível de produção sem necessidade de novos investimentos em capital fixo e sem modificação das formas de utilização do trabalho assalariado ou estrutura social de produção. tsp = ( Sp/ PEA ) x 100 em que Sp = número de indivíduos em produtividade igual ou inferior a certo valor prefixado. Subemprego potencial (tSV) – é definido como a quantidade da mão-de-obra que pode ser liberada, dado um nível de produção, por meio de mudanças nas condições de exploração dos recursos ou transformações nas indústrias ou agricultura. Implica reduzir gradualmente a proporção de mão-de-obra ocupada em atividades de baixa produtividade, elevando-a simultaneamente. tSV = N / (d + 1) x100 / PEA onde N = número de pessoas pobres (população abaixo de uma linha de pobreza); d = (N – n) / N, razão de dependência; n = número de indivíduos ativos incluídos na população pobre. Taxa de rotatividade da mão-de-obra (tr) Os movimentos referentes às demissões e rescisões de contrato de trabalho (sejam por iniciativa das firmas ou de empregados), tanto podem representar desemprego da força de trabalho como também rotatividade da mão-de-obra. O que diferencia essas duas situações é que, do ponto de vista das firmas, a rotatividade implica idéia de que a mão-de-obra dispensada, ou que voluntariamente se demite, será substituída. Por sua vez, a dispensa do

8

empregado por parte da firma ou seu pedido de rescisão do contrato de trabalho, sem que ocorra reposição, caracteriza um desemprego na forma tradicional do termo. O princípio da substituição de mão-de-obra é de fácil compreensão, mas a mensuração da rotatividade é algo complexo.A medida mais usual que preserva a idéia de substituição é a seguinte: tr = min (A, D) x 100 / 0,5(Fi + (Fi +A –D)) A = admissões da firma ou setor no período; D = demissões; Fi = estoques de trabalhadores no início do período Uma explicação simples para o numerador da fração min (A,D) seria: a) Recessão na economia – ocorrendo uma recessão, o número de demissões é bem maior que o número de admissões. Se tomássemos o maior valor entre admissões e demissões, este seria o número de demissões. Logo, o numerador seria grande, induzindo ao erro de se pensar que estaria havendo rotatividade na economia, o que não é verdade (D>A). Dessa forma, ou seja, tomando o valor mínimo do numerador, estaríamos , certamente, mais próximos da realidade. b) Crescimento econômico – num período de crescimento o número de admissões é bem maior que o número de demissões. Logo, se tomássemos o número de admissões (A), que é maior que o número de demissões (D), estaríamos superestimando o índice de rotatividade, já que este valor seria grande. Ao tomarmos o mínimo entre demissões e admissões, tomaríamos o valor correspondente ao número de demissões (que é menor). Com isso o índice seria menor, retratando melhor a momento econômico, ou seja: não há grande rotatividade e sim crescimento econômico. MERCADO DE TRABALHO FORMAL E INFORMAL Mercado Formal Neste tipo de mercado de trabalho as empresas cumprem a legislação vigente nos âmbitos fiscal, sanitário, de segurança, trabalhista, ambiental etc. Produz-se mercadorias tendo como objeto o lucro. Mercado Informal Existem empresas que não cumprem os itens citados no caso do mercado formal. Outras cumprem parcialmente os aspectos legais, seja por não ter condições de manter a empresa com o cumprimento da própria lei, seja porque são atividades condenadas, como por exemplo, a venda de CDs piratas ou tráfico de drogas. Nestes casos, não cumprem a legislação porque a própria continuidade da empresa seria colocada em xeque. São empresas do setor informal da economia e seus trabalhadores, por conseqüência, fazem parte do mercado de trabalho informal. Não há registro em carteira, e, logo, não há direitos sociais garantidos em lei. Observe que muitos trabalhadores podem estar, em dado momento, no setor informal e, num momento posterior, podem retornar ao setor formal de trabalho.

9

Observe que muitos trabalhadores podem estar, em dado momento, no setor informal e, num momento posterior, podem retornar ao setor formal de trabalho. Atualmente, o setor informal funciona na linha limítrofe da economia formal. Eis algumas características do setor informal: - facilidades à entrada de novas empresas; - recursos de origem doméstica; - a propriedade é individual ou familiar; - operam em escala reduzida; - o processo produtivo é intensivo em trabalho e a eventual tecnologia é adaptada; - os mercados em que atuam são competitivos. SALÁRIO REAL E NOMINAL – CLÁSSICOS X KEYNESIANOS A economia chamada clássica, baseada nos postulados de Adam Smith, Ricardo, Malthus e outros pensadores econômicos dos séculos XVII, XVIII, XIX e parte do século XX acreditava que, se a economia de um país estivesse em equilíbrio, este se daria no denominado PLENO-EMPREGO. Ou seja, eles não admitiam a existência do desemprego como temos hoje. Para os clássicos, o equilíbrio se daria com pleno emprego (dos fatores de produção). Mas, mesmo no pleno emprego, eles admitiam um só tipo de desemprego: o chamado DESEMPREGO FRICCIONAL ou TAXA NATURAL DE DESEMPREGO, que é, antes de qualquer coisa, um tipo de desemprego nada preocupante em relação a uma economia. É aquele desemprego que ocorre em qualquer momento e em qualquer economia, mesmo nas mais desenvolvidas. A razão desta crença, ou seja, a de não haver desemprego em grande número, estava apoiada em algumas hipóteses. Vejamos algumas: - Num período de retração econômica (recessão), acreditavam os clássicos que os empresários, em vez de demitir, abaixariam os salários nominais dos trabalhadores, de forma que não fosse necessário demitir os empregados. E isso era um motivo para não haver demissões; - Era válida a chamada “Lei de Say”, economista de renome francês, que afirmava, em palavras resumidas, que: “A OFERTA CRIA A SUA PRÓPRIA DEMANDA”. Isto é, para os clássicos, os empresários ofertariam os diversos bens e estes seriam consumidos pelos empregados. Primeiro haveria a oferta dos bens e depois, acreditavam eles, os bens seriam consumidos. - Uma outra concepção clássica era a de que o governo não deveria interferir na economia. As forças do mercado seriam suficientes para tornar o mercado eficiente. Aos governos caberia a função de fornecer os bens públicos. Isto é, o governo forneceria para a sociedade os serviços de segurança, defesa nacional, justiça, saúde pública etc. E faria isso com recursos advindos da tributação. Em 1929 houve a quebra da bolsa de Nova York e a crise econômica nos EUA causou uma alta taxa de desemprego. A Inglaterra, e o mundo como um todo, passaram por um período de forte recessão. As teorias clássicas da economia não conseguiam explicar, a contento, o que estava realmente acontecendo. Neste período (de 1929 até 1936), John

10

M.Keynes, economista inglês, colocou o pensamento clássico em xeque. Aqueles três pilares do pensamento clássico foram reformulados por Keynes, que criou , com a edição de seu livro “A teoria do Emprego, dos Juros e da Moeda”, de 1936, as bases da moderna macroeconomia. Seu pensamento se chocava diretamente com os pensamentos clássicos no tocante ao papel do governo, da “Lei de Say” e da flexibilidade dos salários nominais. Basicamente, Keynes enunciou: - Ao contrário do que afirmavam os clássicos, para Keynes os salários eram rígidos, inflexíveis. Ou seja, o trabalhador não aceita corte no seu salário nominal (aquele que consta do nosso contra-cheque). Isso seria um dos motivos do desemprego. - Keynes inverteu os termos da “Lei de Say”, dizendo, em resumo, que “A DEMANDA AGREGADA CRIA A SUA OFERTA” . Esse é o princípio da demanda efetiva . Isto é, ao contrário do que acreditavam os clássicos, os empresários só ofertariam os bens se houvesse procura pelos mesmos. Demanda agregada é um termo que se usa para expressar a riqueza ou renda de um país. É a soma de todas as demandas da sociedade. Eis sua equação: Demanda Agregada (DA) = C + I + G + X – M, onde: C = consumo das famílias I = investimento privado (produtivo, em empresas) G = gastos do governo (gastos com funcionalismo, compra de bens para escolas públicas, saúde pública, estradas, hidrelétricas, indústrias de base etc) X = exportações do país M = importações do país Essa Demanda Agregada (DA) representou uma revolução no que se refere às funções do estado numa economia. Isto porque os termos da DA dependem do governo, senão vejamos: - o consumo de uma sociedade pode ser estimulado ou desestimulado (para conter a inflação, por exemplo) através de um instrumento que o governo tem em seu poder: A TRIBUTAÇÃO. Ou seja, se o governo pretende o crescimento econômico, ele deveria diminuir a carga tributária. Caso contrário, isto é, se o governo pretende diminuir o consumo das famílias, ele poderia aumentar a carga tributária (para conter um processo inflacionário, como aconteceu no passado recente no Brasil - Plano Real). - o termo investimento (I), que representa o investimento em empresas (não em títulos, no mercado financeiro), é o investimento que gera riqueza e emprego para o país. Um dos fatores determinantes do investimento é a taxa de juros. Se esta estiver alta, haverá um grande estímulo para os detentores de capital a aplicarem seu dinheiro no mercado financeiro e não em empresas, já que o risco de se abrir uma empresa é maior e os rendimentos das aplicações financeiras são maiores. Mas isso não gera renda para o país. Não gera emprego. Se as taxas de juros diminuírem o contrário acontecerá. Se o mercado financeiro não estiver remunerando bem, os detentores de capital irão aplicar seu dinheiro em empresas, gerando riquezas e um Produto Interno Bruto (PIB) maior. Isso vai

11

acarretar numa queda do desemprego. Finalmente, a taxa de juros básica de uma economia é estabelecida pelo governo. Daí a importância do mesmo na economia. - o termo G (gastos do governo) é uma variável que depende somente do próprio governo. É política econômica do governo. - os termos exportações (X) e importações (M) são variáveis que dependem, dentre outros fatores, da taxa de câmbio. Desta forma, se um país, em determinado momento, deseja estimular as exportações, ele deveria desvalorizar a taxa de câmbio. Assim, o preço da moeda estrangeira ficaria mais caro e exportar seria mais fácil do que importar. Exemplo: Dia 10/ 03/ 2006 – taxa de câmbio => 1 US$ = R$ 2,24 . Isso significa que, se um exportador brasileiro exportar uma mercadoria de 100.000 dólares, ele receberá o montante, em reais, de R$224.000,00. Supondo que no dia 10/04/2006, a taxa de câmbio seja: 1US$ = R$ 2,35; se o mesmo exportador exportasse a mesma mercadoria acima, ele receberia, em reais, R$235.000,00. Note que quando a taxa de câmbio é desvalorizada, há incentivo maior para se exportar. E quando acontecer uma valorização da taxa de câmbio acontecerá o contrário. Exportar não será mais tão estimulante como no caso acima e a valorização da taxa de câmbio estimulará as importações, pois a moeda estrangeira ficará mais barata em reais. Foi o que aconteceu em 1994/95, quando a taxa de câmbio estava valorizada na faixa de 1US$ = R$1,00. Isso favoreceu as importações, pois o dólar estava barato. Para comprar um carro americano de US$12.000,00 (doze mil dólares) seria preciso ter R$12.000,00 (doze mil reais). Daí o crescimento forte das importações naquele período em que a taxa de câmbio estava valorizada, ou seja, nossa moeda estava valorizada. Mas o regime cambial de um país é definido pela Autoridade Monetária do próprio país. Ou seja, é política cambial do governo. Essas variáveis da Demanda Agregada refletem as chamadas políticas fiscal, monetária e cambial, assunto dos domínios da Macroeconomia. 2. O mercado de trabalho

Mercado de trabalho relaciona aqueles que procuram emprego e aqueles que oferecem emprego num sistema típico de mercado onde se negocia para determinar os preços e quantidades de um bem, o trabalho. O seu estudo procura perceber e prever os fenónemos de interação entre estes dois grupos tendo em conta a situação económica e social do país, região ou cidade.

12

Demanda por trabalho: o modelo competitivo e modelos não competitivos

O mercado de trabalho pode ser entendido como compra e venda de serviços de mão-de-obra, representando um ambiente, onde trabalhadores e empresários, se confrontam.

Blanchard (2001, p. 116) faz uma analogia a respeito do fluxo de trabalhadores no mercado de trabalho. Ele imagina um aeroporto, onde há decolagens e pousos de aeronaves a todo instante.

Neste contexto, muitos passageiros entram e saem constantemente devido aos processos de embarque e desembarque das aeronaves lá estacionadas.

As causas desta movimentação podem ser:

Ø Os vôos que decolam e que chegam;

Ø O mau tempo, que causa o atraso destes vôos.

A quantidade de passageiros que se encontra no aeroporto, pode ser o mesmo em ambas as situações, mas em condições diferentes.

No primeiro caso, há passageiros entrando para pegar o vôo para algum destino.

Há ainda, passageiros que desembarcaram em algum vôo de chegada.

Da mesma forma, a taxa de desemprego pode refletir esta movimentação, mas em um mercado aquecido economicamente.

Existem trabalhadores que se demitem no mercado de trabalho, por questões pessoais, na procura de oportunidades melhores e há aqueles que são demitidos, por ações estratégicas das firmas.

Neste contexto, o desemprego considerado é o friccional e tem relação com a taxa de rotatividade de mão-de-obra.

Já no segundo caso, onde o mau tempo está presente, os passageiros que se encontram no aeroporto estão sem mobilidade.

Analogicamente, pode-se dizer que é um mercado de trabalho esclerosado[1], com poucas contratações e poucos desligamentos, onde o reflexo mostra um contingente de trabalhadores estagnados.

13

No mesmo sentido, o tipo de desemprego característico deste caso é o involuntário, pois não há intenção dos trabalhadores ficarem sem emprego, bem como não há intenção dos passageiros em ficarem estacionados no aeroporto.

Há que considerar também que, dentro de um processo de negociações coletivas, pode ocorrer em alguns casos, uma interferência do Estado, que junto com as empresas e trabalhadores, determinam conjuntamente os níveis de salários, de emprego, as condições de trabalho e os demais aspectos relativos às relações entre capital e trabalho.

Em sentido mais estrito, a ação conjunta da oferta e demanda de trabalho determinam o nível de salário e de emprego de equilíbrio, como representado na figura 2, mais à frente, no tópico Demanda de Trabalho.

No exemplo, ao salário de R$ 4,00/hora, o mercado está em equilíbrio, pois a quantidade demandada coincide com a quantidade de pessoas interessadas a oferecer seu trabalho.

Se para determinado grupo de trabalhadores a oferta é maior do que a demanda, haverá desemprego. Se a demanda for maior do que a oferta, haverá falta de mão-de-obra.

Há que se fazer então, uma pequena diferenciação entre mercado formal de trabalho e mercado informal de trabalho.

Ø Mercado formal de trabalho: contempla as relações contratuais de trabalho, em grande parte determinadas pelas forças de mercado, ao mesmo tempo em que são objeto de legislação específica que as regula;

Ø Mercado informal de trabalho: é o mercado em que prevalecem regras de funcionamento com um mínimo de interferência governamental.

O mercado de trabalho não pode ser analisado de forma independente do contexto da economia, os salários, emprego, desemprego, rotatividade e produtividade, são condicionados pelo nível e pela flutuação da atividade econômica, tanto no curto prazo como no longo prazo.

Demanda de Trabalho Modelo competitivo

O mercado competitivo caracteriza-se pelo fato de todos os participantes (compradores e vendedores), comportam-se competitivamente, ou seja, estes tomam o preço de mercado como dado (price-takers), portanto, não tentam fixar o preço da mercadoria, não têm poder de mercado.

14

Na estrutura de mercado de concorrência perfeita, o comportamento competitivo ocorre:

Ø Pelo lado da demanda, quando cada comprador responde por uma parcela ínfima da demanda total de mercado;

Ø Pela oferta, quando cada vendedor responde por uma parcela ínfima da oferta total de mercado.

Modelo de concorrência perfeita

Ø Cada vendedor individual enfrenta uma curva de demanda perfeitamente elástica para o bem que oferta;

Ø Cada comprador individual enfrenta uma curva de oferta perfeitamente elástica para o bem que demanda;

Ø Grande quantidade de compradores e vendedores;

Ø São conhecidos os fatores de produção;

Ø Os produtos são homogêneos, assim como a mão-de-obra;

Ø A tecnologia é similar para os ofertantes;

Ø Há simetria de informações entre ofertantes e compradores;

Ø Os preços de mercado e quantidade de equilíbrio de mercado são determinados pela interação entre as curvas de oferta agregada e demanda agregada. Na ausência de externalidades, o mercado organizado competitivamente assegura alocação eficiente (no sentido de Pareto);

Já o mercado não competitivo caracteriza-se pelo fato de que compradores e/ou vendedores têm poder de mercado e reconhecem este poder.

Desta forma, não se comportam competitivamente (racionalidade econômica). Na linguagem econômica, são fixadores de preço (price-settles), em outras palavras, possuem poder de mercado.

Poder de mercado é a capacidade de determinar o preço de compra, no caso do comprador (poder de monopsônio) ou capacidade de determinar o preço de venda, no caso do vendedor (poder de monopólio), portanto, poder de mercado = poder competitivo.

O agente não competitivo tem apenas um grau de liberdade: fixa o preço ou quantidade.

15

O vendedor está restrito pela curva de demanda para o bem que oferta, cuja curva é negativamente inclinada.

O comprador está restrito pela curva de oferta para o bem que demanda, cuja curva é positivamente inclinada.

Para atender este mercado, ou seja, para obter os bens e serviços há a necessidade de recursos à disposição para conseguir produzí-los. Eles são chamados de fatores de produção. A designação fator se deve por se tratar de um elemento indispensável, onde os mais importantes são três: a terra, o trabalho e o capital.

Ø A terra diz respeito à natureza. Envolve não somente a terra cultivável, quanto todos os recursos que ela pode oferecer, tais como os minérios: o ferro, o calcáreo, a argila; as matas; a água…

Ø O trabalho aciona estes recursos, dando-lhes vida. Sua importância repousa sobre a capacidade das pessoas em se organizarem e agirem socialmente em cooperação com o objetivo de produzir sua existência. O trabalho funciona como mediador da ação do homem para transformar e dominar a natureza, através das máquinas, equipamentos e ferramentas. Quanto maior a aptidão, a habilidade e a capacidade de produção desse trabalho, dado o progresso da tecnologia e da ciência, mais eficientes são os resultados obtidos. O homem produz cada vez mais com esforço menor.

Ø O capital, em um sentido físico estreito, compreende os elementos materiais criados pelo homem para agir sobre o objeto a ser trabalhado. Compõem as edificações, as instalações, os equipamentos, as máquinas, as ferramentas. Estes elementos, conforme sua grandeza, não constituem mais uma propriedade específica de alguém. Nesse caso, estamos lidando com o grande capital. A propriedade particular, no caso deste grande capital, pertence às lembranças do passado. Contabilmente, neste caso, o capital seria representado apenas pelo ativo permanente. O capital, em um sentido social amplo, trata-se de um relacionamento social. Existem os proprietários e administradores do capital de um lado, os empresários e executivos, e os proprietários da capacidade de trabalho de outro, os trabalhadores. Entre estes dois existem as máquinas, os equipamentos, as instalações, as ferramentas, as edificações. Estes elementos materiais constituem os meios, através dos quais, o homem obtém a produção de mercadorias e serviços.

Assim exposto, podemos conceituar que a demanda por um fator de produção é uma demanda derivada, isto é, a demanda da empresa deriva de sua decisão de oferecer um bem em outro mercado.

Por exemplo, a demanda de mão-de-obra, está intimamente ligada à oferta do bem que a empresa produz.

16

Portanto, a demanda por mão-de-obra que as firmas desejam comprar, encontra-se no mercado de fatores, cujo relacionamento está ligado à função decrescente do salário real.

Isto é fácil compreender, pois se o salário real estiver alto, as firmas desejarão contratar pouca mão-de-obra, como com propriedade mais à frente.

Analisando a oferta e demanda de trabalho no modelo neoclássico não-friccional do mercado de trabalho.

Ø Demanda de trabalho: é o número de pessoas que estão dispostas a ser contratadas pelas empresas a cada nível de salário (QL = W/P).

A partir de uma determinada situação, se os salários se reduzem, os empresários estarão dispostos a contratar uma quantidade maior de trabalho.

Como vimos, é lógico pensar que a curva de demanda de trabalho tenha inclinação negativa (decrescente), como mostra a figura 2.

O mercado de trabalho, como todo o mercado, alcança o equilíbrio no nível de preços, onde a quantidade oferecida é igual à quantidade demandada.

A figura 2 mostra um equilíbrio (ponto E) a um salário de equilíbrio SE = R$ 4,00 e para uma oferta de trabalho de equilíbrio LE = 150.000 trabalhadores, que representa nível de emprego de pleno emprego.

Utilizando a igualdade W.L = P.Q, temos a seguinte função:

W.L = 4 x 150.000 = 600.00 Portanto, P.Q = 600.000

17

Neste modelo, o equilíbrio no mercado de trabalho representado pelo ponto E (onde a receita marginal das empresas é igual ao custo marginal do trabalho), qualquer um que esteja trabalhando deseja aquele salário real e as firmas estão contratando o volume de trabalho que desejam no mesmo salário real, o que significa que há sempre o pleno emprego.

Para um melhor entender a demanda por mão-de-obra, vamos nos concentrar nas empresas que a contratam e a utilizam para produzir os bens que irão vender.

Observando então, a relação entre a demanda por trabalho e produção de bens, chegaremos ao entendimento do salário e equilíbrio.

Para exemplificar, utilizaremos o exemplo de um pequeno produtor agrícola, onde o feijão é o produto produzido, para tratar da demanda por mão de obra no modelo competitivo, tanto como vendedor como na contratação de colhedores, onde é comprador.

No mercado competitivo, os agentes econômicos são tomadores de preços, pois como visto no modelo de concorrência perfeita, são em grande número, portanto, não conseguem individualmente influenciar nos preços do mercado.

Os agentes tomam os preços do mercado como dados e apenas tomam a decisão, entre contratar ou não, determinado produto ou serviço ao preço dado.

No caso de uma empresa maximizadora de lucro (teoria da firma), ela não está preocupada com o número de trabalhadores ou com o volume das vendas que irá contratar.

Ela se interessa apenas pelo lucro, onde a demanda por trabalho e a oferta de bens são em decorrência da maximização de lucros.

Fazendo um retrospecto de quando começamos a lutar por melhor colocação no mercado de trabalho, não poderíamos deixar de relatar, a Revolução Industrial como marco deste processo, atingindo seu ápice no século XVIII. Neste momento, em que a produção crescia aceleradamente, era preciso buscar mão de obra capaz de suportar a grande jornada de trabalho. Por outro lado, muitos intelectuais buscaram alternativas para não fazer parte deste grande contingente de trabalhadores com serviços pesados e fatigantes. Durante todo o período da Revolução Industrial, novos postos de trabalhos começaram a aparecer, principalmente relacionado ao mercado de serviços. Desta forma, podemos concluir, que chegamos ao mercado competitivo de hoje, através da concorrência iniciada no passado. Esta concorrência não só foi relacionada ao produto e serviço comercializado e sim também em relação a uma mão de obra qualificada, pois os empresários começaram a entender que o ritmo da eficácia alcançada estava intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento que o colaborador tinha no ambiente de trabalho.

18

Nos dias atuais, muitas empresas afirmam que emprego existe para profissionais capacitados e cabe a todos buscar a qualificação contínua. Portanto, quando passamos pela internet e observamos que sites relacionados à headhunters disponibilizando milhares de vagas com salários acima de R$ 10 mil, saiba que não é um sonho, mas o que falta são candidatos capacitados para o perfil determinado para o cargo. Outro dado importante, agora divulgado pelo IBGE em 08 de abril de 2008, refere-se à taxa de crescimento de empregos até fevereiro de 2008 que chegou a 3,2%. Novamente temos a constatação que existe emprego, mas para profissionais aptos aos cargos oferecidos. Quando comparamos a taxa de desemprego com a taxa de analfabetismo, chegamos a uma conclusão que mesmo que a oferta de emprego seja disponível, não encontraremos mão de obra para ocupar, pois segundo o IBGE, em 2006 o Brasil fechou com uma taxa de analfabetismo para população maior de 15 anos, com 11,1% e a taxa de desemprego de 2007 ficou em 14,2%. Portanto, quando fazemos uma analogia entre a oferta de emprego na indústria, comércio, agricultura e serviços e subtraímos da taxa de analfabetismo, ficaremos com uma demanda positiva de oferta de emprego, isso porque nenhum desses setores não mais suporta trabalhadores sem a escolaridade mínima para alfabetização. Portanto, o caminho para a empregabilidade em paises em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a receita ainda é: conclusão do ensino superior, pelo menos 2 idiomas estrangeiros; pós-graduação e experiência comprovada. Desta forma, devemos evoluir pois essa exigência de hoje será critério básico de escolha para os profissionais no futuro, pois hoje o profissional qualificado como mediano ainda possui oportunidades, mas com a evolução, profissionais consagrados atualmente serão considerados medianos nos próximos anos. Decisões de emprego das empresas

As mudanças no mundo contemporâneo têm gerado transformações radicais na

forma de produção e de relação entre os indivíduos. Nas últimas décadas, a

revolução provocada pela informática nos ambientes empresariais e até mesmo

domésticos tem feito com que grande parte das pessoas altere seus hábitos.

Tomando como base os períodos históricos da evolução da sociedade, marcados

inicialmente pela produção manufatureira e, posteriormente, demarcados pela

produção industrial e pós-industrial, constatamos que foram fortemente

influenciados pela incorporação tecnológica nos processos de produção e que

causaram grandes mudanças na forma de vida das pessoas. Com o avanço

tecnológico, este processo tornou-se mais complexo. As empresas transformaram-

se em organizações cada vez mais complexas, hierarquizadas, especializadas e

que demandavam supervisão e gerência. Por conseguinte, a preocupação passou

a ser com a autoridade, responsabilidade, planejamento, controle, coordenação e

relações no trabalho (Motta, 1986).

19

As transformações apontam para um redirecionamento dos objetivos da

organização, antes voltados para o controle da produção de bens e serviços, para

outra baseada na informação, na tecnologia e no consumo. Em conseqüência, a

gerência praticada nas organizações se volta para a valorização da

descentralização administrativa, da comunicação informal, da flexibilidade nos

processos de produção, assim como para o estímulo à iniciativa e criatividade dos

indivíduos e grupos.

Nos ambientes empresariais, a automação tem ocupado papel fundamental,

utilizando-se de seus recursos para o tratamento da informação necessária à

tomada de decisão. A maneira como a informação é obtida, organizada, gravada,

recuperada e posteriormente utilizada permite ao gerente atuar com mais

segurança, aumentando a possibilidade de acerto na tomada de decisão.

No processo de trabalho, a tomada de decisão é considerada a função que

caracteriza o desempenho da gerência. Independentemente do aspecto da

decisão, esta atitude deve ser fruto de um processo sistematizado, que envolve o

estudo do problema a partir de um levantamento de dados, produção de

informação, estabelecimento de propostas de soluções, escolha da decisão,

viabilização e implementação da decisão e análise dos resultados obtidos.

No contexto organizacional, Choo (1998) considera que a tomada de decisão

formal é estruturada por regras e procedimentos que especificam papéis, métodos

e normas que, por sua vez, estabelecem valores que influenciam como a

organização enfrenta a escolha e a incerteza. A combinação esperada entre

cultura, comunicação e consenso melhora a eficiência e ajuda a alcançar um nível

mais elevado de comportamento de escolha racional.

Nos vários modelos de decisão estudados, é possível reconhecer que a decisão

nem sempre é resultado de um processo seqüencial, estruturado e dirigido para

uma única solução. Mas é possível afirmar que a informação é um recurso

primordial para a tomada de decisão e que, quanto mais estruturado for este

processo, como no caso dos modelos racional e de processo, mais indicado se faz

o uso de sistemas de informação que possam responder às demandas e

necessidades informacionais do decisor. Da mesma forma, as informações

requeridas para este tipo de decisão são mais objetivas e quantificáveis, tornando

mais indicada a utilização de recursos informacionais que possam organizar,

recuperar e disponibilizar as informações coletadas durante o processo de

20

trabalho. Para os modelos de decisão em que a solução é resultado de um

processo mais qualitativo, influenciado pelo “olhar” do decisor e por situações

contingenciais, os sistemas de informação podem contribuir com dados que serão

analisados e modificados para utilização na tomada de decisão.

O estudo da estrutura da organização permite conhecer o processo de

comunicação formal e informal, reconhecendo-o como meio pelo qual os

indivíduos se relacionam dentro da organização e como é empregado para apoiar

as decisões, visando ao alcance dos objetivos institucionais. Nestes ambientes,

valores são agregados à informação, transformando-a em matéria-prima para o

desenvolvimento do produto da instituição. Seu objetivo principal é a busca da

tomada de decisão certa, no momento oportuno, com as pessoas apropriadas, a

partir da informação adequada, com o menor custo possível.

No contexto da tomada de decisão e considerando seu valor, a informação tem

sido empregada como mais um recurso para o desenvolvimento do processo de

trabalho nas organizações. A produção interna da informação e a utilização de

fontes externas à organização suscitam a criação de sistemas de informação para

sua identificação e organização, propiciando condições mais adequadas para sua

recuperação e utilização na tomada de decisão.

No exercício da função gerencial, a ênfase deve ser dada à informação. Algumas

estratégias são citadas por Davenport (1998) para o gerenciamento do

comportamento informacional nos ambientes empresariais, dentre as quais se

destacam tornar claros os objetivos e estratégias da organização, identificar

competências informacionais, concentrar-se na administração de tipos específicos

de conteúdos da informação, atribuir responsabilidades pelo comportamento

informacional, criar uma rede de trabalho responsável pelo comportamento

informacional e apresentar a todos os problemas do gerenciamento da

informação.

Diante destas estratégias, é possível constatar que a informação é mais um

recurso para a gerência nos ambientes empresariais e que é de todos os atores

envolvidos no processo de trabalho a responsabilidade pela sua coleta,

organização, distribuição e disponibilização. Desta forma, um sistema de

informação que sirva ao processo de trabalho deve responder às demandas e

necessidades dos diversos serviços e unidades da instituição, resguardadas suas

21

características e especificidades, podendo ser únicos para a organização ou

específicos para cada serviço.

Para efeito deste estudo, entende-se por sistema de informação todo conjunto de

dados e informações que são organizados de forma integrada, com o objetivo de

atender à demanda e antecipar as necessidades dos usuários. Portanto, sistemas

de informação para apoio à decisão são sistemas que coletam, organizam,

distribuem e disponibilizam a informação utilizada nesse processo.

Em geral, os sistemas de apoio à decisão obtêm dados do ambiente interno e

externo à organização e processam estes dados, transformando-os em

informações. O sistema opera por meio de softwares que permitem a

disponibilização destas informações na forma de relatórios, de modelos

matemáticos expressos em gráficos e tabelas e, ainda, permite que se instale um

encontro virtual entre vários indivíduos trabalhando como um grupo dentro da

organização. Além disso, como cita Richieri (2001), os softwares mais modernos

permitem também a integração dos dados com resultados que refletem em maior

rapidez na análise dos dados, transformando-os em informações essenciais para

a tomada de decisão.

Os sistemas de informação nos ambientes empresariais são constituídos do

gerenciamento da informação, a partir do levantamento das necessidades

informacionais dos decisores, da coleta e obtenção dos dados, na análise dos

dados transformando-os em informação, na distribuição da informação de acordo

com as necessidades do decisor, da utilização das informações pela sua

incorporação no processo de trabalho e, finalmente, da avaliação constante dos

resultados obtidos e de redirecionamentos no sistema para atender às demandas

e antecipar as necessidades dos decisores. É importante ressaltar que esses

sistemas têm contribuído para o desenvolvimento do processo de produção nas

instituições e que, nos ambientes hospitalares, em especial, têm possibilitado

maior segurança para a tomada de decisão, o que resulta em melhor atendimento

aos pacientes.

Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa é analisar a utilização de sistemas de

informação, enquanto instrumento para a tomada de decisão no exercício da

gerência de unidades funcionais do Hospital das Clínicas da Universidade Federal

de Minas Gerais.

22

Custos não salariais

CÁLCULOS DE ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS

Para o cálculo dos custos da mão-de-obra, é necessário se determinar quais as incidências sociais (INSS, FGTS normal e FGTS/Rescisão) e trabalhistas (Provisões de Férias, 13º salário e Descanso Semanal Remunerado - DSR) sobre os valores das remunerações pagas.

Assim sendo, nos cálculos apresentados estão apenas os quesitos básicos relativos às férias, 13º salário, DSR e encargos sociais - FGTS e INSS. Para obter o valor real, acrescente-se o Vale Transporte e as médias de incidência de aviso prévio, auxílio afastamento por doença ou acidente e indenização de aviso prévio.

A metodologia do cálculo do DSR é o padrão anualizado para jornada de trabalho de 44 horas semanais (1 dia por semana, equivalente a 1/6 da remuneração para 52 semanas no ano, divididos por 12 meses).

ESTATÍSTICAS POR EMPRESA

O aviso prévio (indenizado) não está incluso nas planilhas de cálculo apresentadas, porque para se calcular o valor exato (ou estimado) é necessário saber qual o "índice de rotatividade" da empresa.

Por exemplo: se a média dos empregados da empresa permanece 20 meses, então o índice de rotatividade/ano é 12/20 = 60%. Então a "previsão de indenização" mensal seria de 60% dividido por 12 = 5% + encargos sociais e trabalhistas.

Quanto ao auxílio-doença, é a mesma sistemática, ou seja, é necessário que cada empresa saiba quantos dias/ano/empregado foram pagos, para calcular, estatisticamente, qual a sua previsão mensal.

Exemplo:

No ano a empresa pagou um total de 400 dias de atestados/auxílio doença/afastamentos, num total desembolsado de R$ 14.800,00 no ano, a este título.

A empresa teve 200 funcionários que trabalharam no mesmo ano (tanto admitidos quanto demitidos e aqueles que permaneceram na empresa). O total da folha de pagamento salarial no ano foi de R$ 1.530.000,00.

23

Então o "índice" de atestados foi de R$ 14.800,00 dividido por R$ 1.530.000,00 igual a 0,96732% sobre a folha. Acrescer a este índice os respectivos encargos sociais e trabalhistas. Elasticidades da demanda

A lei da procura e da oferta mostra que existe uma tendência para uma relação inversa entre a quantidade procurada e o preço. A elasticidade preço da procura mede a variação na quantidade procurada quando ocorre uma variação no preço. Assim, a elasticidade é uma medida de sensibilidade dos consumidores a variações no preço dos produtos.

Paul A. Samuelson & William D. Nordhaus (ISBN 0072872055) dizem-nos que:

"A definição precisa de elasticidade é a variação percentual na quantidade procurada dividida pela variação percentual no preço."

Procura elástica e rígida (Procura Directa)

Digamos que, as pessoas reagem de modo diferente à variação no preço dos diferentes produtos. Quando falamos de bens essenciais, tais como os alimentos, a sua procura não se altera significativamente quando ocorrem variações no preço. Por outro lado, na procura de um bem inferior ou produtos de luxo (carros, viagens, jóias, etc.) a sensibilidade ao preço aumenta.

Encontraram-se assim duas categorias que classificam os produtos conforme a reacção da sua procura face a variações no preço:

• Bens elásticos – quando a sua quantidade procurada responde fortemente a variações no preço

o Quando a uma variação de 1% no preço corresponde uma variação superior a 1% na quantidade procurada

• Bens rígidos (inelásticos) – quando a sua quantidade procurada responde de modo mais ligeiro a variações no preço;

o Quando a uma variação de 1% no preço corresponde uma variação inferior a 1% na quantidade procurada

Quando a variação percentual da procura de um determinado produto é igual à variação percentual do seu preço então estamos perante uma procura com elasticidade unitária.

Contudo, estas situações só se encontram em casos de Procura Directa, pois no caso de ser em Procura Cruzada, a reacção é semelhante mas referece a dois bens em simultanêo

24

Casos Extremos de Elasticidade

• Demanda Perfeitamente Inelástica • Demanda Perfeitamente Elástica

Elasticidade da Procura Cruzada

No caso da Procura Cruzada, define-se Elasticidade o grau de reacção da Quantidade procurada do Bem X, perante a alteração do Preço de um Bem Y.

Este tipo de estudo de Elasticidade premite sem estudo de resultados absolutos em que tipo de Bens estamos presentes:

- Se a Elasticidade apresentar-se maior que 0, (a variação da Quantidade do Bem X varia no mesmo sentido do Preço do Bem Y) estamos presentes de Bens Substitutos

- Se a Elasticidade apresentar-se menor que 0, (a variação da Quantidade do Bem X varia no sentido contrario do Preço do Bem Y) estamos presentes de Bens Complementares

- Se a Elasticidade apresentar-se igual a 0, ( a Quantidade do Bem X mantem-se constante perante a variação do Preço do Bem Y), estamos presentes de Bens Independentes

Oferta de trabalho: a decisão de trabalhar e a opção renda x lazer DECISÃO DE TRABALHAR - RENDA X LAZER A decisão de trabalhar constitui, em última instância, numa decisão sobre como passar o tempo. Uma forma de utilizar nosso tempo disponível é gastá-lo em atividades de lazer agradáveis. A outra grande forma utilizada pelas pessoas para passar o tempo é TRABALHAR. Podemos trabalhar em casa, na produção doméstica (ex: costura), plantar alimentos etc. Alternativamente, podemos trabalhar por REMUNERAÇÃO e utilizar nossos ganhos para adquirir comida, abrigo, roupa e cuidados infantis. Assim sendo, caracterizamos a decisão de trabalhar como uma escolha entre o LAZER e o TRABALHO REMUNERADO. Se considerarmos o tempo gasto comendo, dormindo ou realizando outras atividades que nos mantém fixadas mais ou menos pelas leis naturais, então o tempo de escolha que temos (16h, digamos) pode ser atribuído seja ao TRABALHO, seja ao LAZER. Já que o volume de tempo DISCRICIONÁRIO gasto em lazer é um tempo que não é gasto em trabalho e vice-versa, a DEMANDA PELO LAZER pode ser considerada o outro lado da moeda chamado OFERTA DA MÃO-DE-OBRA. É mais conveniente analisar os incentivos ao trabalho no contexto de DEMANDA POR LAZER, já que podemos

25

aplicar a análise padrão da demanda por qualquer produto à demanda pelo lazer e, então, simplesmente subtrair as horas de lazer das horas discricionárias disponíveis totais para obter os efeitos na OFERTA DE TRABALHO. Já que optamos pela DEMANDA POR LAZER, relembremos que qualquer demanda á função de 3 fatores: 1.CUSTO DE OPORTUNIDADE DO PRODUTO 2.NOSSO NÍVEL DE DISPONIBILIDADE FINANCEIRA( renda) 3.NOSSO CONJUNTO DE PREFERÊNCIAS Qual o CUSTO DE OPORTUNIDADE DO LAZER? O custo de oportunidade de passar uma hora assistindo TV é basicamente o que poderíamos ganhar se houvéssemos passado a hora trabalhando. Assim, o CUSTO DE OPORTUNIDADE de uma hora de lazer é IGUAL à nossa TAXA SALARIAL (salário por hora). A teoria sugere que, se a taxa salarial aumenta, enquanto as preferências são mantidas constantes, o número de horas de lazer aumentará. Dito de outra forma, se a TAXA SALARIAL (salário por hora) aumentar, as horas desejadas de trabalho se elevarão. Seria o caso de um indivíduo, professor, por exemplo, ter aumentado o valor do seu salário por hora ou taxa salarial. Se ele estiver num patamar suficientemente alto de salário por hora, um aumento neste salário–hora poderá induzi-lo a demandar mais horas de lazer, logicamente reduzindo as horas de trabalho. Os economistas classificam as respostas das horas de lazer desejadas às mudanças na taxa salarial como efeito-renda. O efeito-renda é baseado na simples idéia de que, à medida que as taxas salariais se elevam, mantendo-se o custo de oportunidade do lazer constante, as pessoas irão querer demandar ou consumir mais lazer (o que significa trabalhar menos) Em termos matemáticos temos: EFEITO-RENDA = variação nas horas de trabalho/variação na taxa salarial. EFEITO-RENDA = ∆H /∆Y ; onde ∆H é igual a variação das horas trabalhadas e ∆Y é igual à variação na taxa salarial. Note que o efeito-renda é sempre NEGATIVO, pois quando diminuem as horas de trabalho (∆H aumenta), a renda aumenta. E, o efeito-renda será negativo. Ao contrário, quando aumentam as horas de trabalho, a renda diminui, levando a um efeito-renda também negativo. Porém, a teoria econômica também diz que se a taxa salarial aumentar, isto servirá de estímulo ao trabalhador para ofertar mais horas de trabalho. Da mesma forma, um declínio na taxa salarial reduzirá o custo de oportunidade do lazer e os incentivos ao trabalho. É o efeito-substituição.

26

Isto quer dizer que, à medida que as taxas salariais sobem, mais horas de trabalho são ofertadas, como reação a este aumento na taxa salarial. Seria o indivíduo que, ainda jovem, sem estar em uma situação de equilíbrio, pague aluguel de sua moradia, por exemplo. Este indivíduo está mais propenso a ofertar mais trabalho quando o salário por hora aumentar. Em termos matemáticos, temos: EFEITO-SUBSTITUIÇÃO =variação nas horas de trabalho/variação na taxa salarial Como o trabalhador reage a um aumento na taxa de salário ofertando mais horas de trabalho (e menos horas de lazer), podemos afirmar que o efeito-substituição é sempre positivo (ao contrário do efeito-renda). Pelas hipóteses acima, concluímos que os dois efeitos - efeito-renda e efeito-substituição – são contrários, antagônicos, porém ocorrem simultaneamente. Se o efeito RENDA é dominante, a pessoa responderá a um aumento salarial reduzindo sua oferta na força de trabalho. Esse declínio será MENOR do que se alguma mudança na disponibilidade financeira fosse devida a um aumento na riqueza NÃO- TRABALHISTA, porque o efeito substituição está presente e atua como uma influência moderadora. Entretanto, quando o efeito RENDA domina, o EFEITO-SUBSTITUIÇÃO não é suficientemente grande para impedir que a força de trabalho DECLINE. É plausível, é claro, que o efeito-substuição venha a dominar. Se assim for, a resposta efetiva aos aumentos salariais será AUMENTAR a oferta da mão-de-obra. Se o efeito-substuição dominar, a curva de oferta de trabalho da pessoa (relativa, digamos, às horas desejadas) e aos salários será POSITIVAMENTE INCLINADA. Isto é, a oferte de trabalho aumentará com a taxa de salário. Se, por outro lado, o efeito renda dominar, a curva de oferta de trabalho será INCLINADA NEGATIVAMENTE. A teoria econômica não pode dizer que efeito dominará e ,na verdade, as curvas da oferta de trabalho individual poderiam inclinar-se positivamente em algumas faixas de variações do salário e inclinar-se negativamente em outras. No gráfico abaixo, por exemplo, as horas desejadas de aumento de trabalho da pessoa aumentam (domina o efeito-substituição) quando os salários aumentam desde que sejam baixos (abaixo de W*). A salários mais altos, no entanto, maiores aumentos resultam em horas reduzidas de trabalho (domina o efeito renda) . Em resumo, a partir de um nível suficientemente elevado de salário, as horas gastas em lazer aumentarão, reduzindo as horas de trabalho. É o efeito-renda dominando o efeito-substituição. Daí a curva de oferta de trabalho voltar-se para trás. Se o efeito-substituição

27

dominar o efeito-renda, a curva de oferta de trabalho terá inclinação positiva. Temos então, uma curva reversa Por 1 hora a mais de lazer, o indivíduo está disposto a reduzir bastante sua renda. O indivíduo só está disposto a reduzir pouco no salário para obter 1 hora a mais de lazer. NOTA – Se faz necessária uma breve abordagem, neste momento de nosso curso, de um assunto muito comum aos estudantes oriundos de carreiras ligadas à matemática: DERIVADAS. Porém, gostaria de esclarecer alguns pontos para quem nunca estudou este assunto, ou seja, candidatos de áreas das ciências humanas e biomédicas. Como nosso interesse é concurso público, no caso Auditor-Fiscal do Trabalho, o que realmente conta para os não iniciados em derivadas, é que haja uma consciência por parte destes candidatos, que estes assuntos são cobrados em nível bastante básico nos concursos. Então, espero que não haja desespero e que este assunto seja MECANIZADO e não entendido. Até porque seria necessário um curso de Cálculo I para um entendimento deste assunto. Só a título de observação, me lembro bem que no concurso que fiz e fui aprovado para Receita Federal (antigo AFTN), os dois primeiros lugares eram formados em Letras e Educação Física, que nunca estudaram Cálculo em seus cursos de graduação. E essa história tem se repetido nos diversos concursos da Receita, de Fiscal da Previdência e muitos outros. Então ficamos assim: quem não é da área, mecanize os métodos de cálculo de derivadas básicas. Curva de oferta de trabalho

O número de trabalhadores no mercado é normalmente considerado diretamente proporcional ao salário oferecido. A medida que o salário aumenta a oferta de trabalho aumenta. Esta relação é tradicionalmente ilustrada em um gráfico com o salário no eixo vertical e a quantidade de trabalho no eixo horizontal. A curva de oferta de trabalho tem a tendência a aumentar em função dos dois, com base sempre no que foi relatado acima.

Essa tendência é baseada na premissa de que, se o salário for suficientemente baixo, o trabalhador prefere não trabalhar. A medida que o salário aumenta o trabalhador prefere trocar seu tempo de folga por tempo de trabalho. Isso é representado na curva de oferta caminhando para cima a medida que o salário aumenta. É importante entender que o valor do salário não altera o formato da curva.

Outras variáveis podem causar uma mudança no formato desta curva. Por exemplo, trabalhadores em todos os níveis de salário aceitariam salários menores

28

se houver uma queda no custo de vida. Isso é representado por uma translação da curva inteira de oferta de trabalho para esquerda.

Elasticidades da oferta 1. “Qualquer variação da curva da oferta tem efeitos muito diversos que dependem da inclinação da curva da procura.”Observando as Figuras 10.1 I e II, a primeira com uma procura elástica, a segunda com uma procura rígida, verifica em qual das situações os consumidores se adaptariam melhor à redução da oferta. Justifica. Os consumidores se adaptariam melhor na situação da procura elástica, porque o grau em que o volume da procura e da oferta dependem de variações do preço. 2. Observa as Figuras 10.2. I e II. Explica porque razão será enganador abordar a questão das elasticidades a partir da representação gráfica das curvas. A elasticidade é enganadora porque qualquer deslocação da curva da oferta tem efeitos muito diversos, que dependem da inclinação da curva da procura. Havendo uma deslocação da curva da oferta para a esquerda, fica a existir um excesso do volume da procura sobre o da oferta. Este excesso provoca uma subida de preço. 3. Explica porque razão a sensibilidade da oferta e da procura a variações de preços não se deve medir com valores numéricos absolutos, sendo mais elucidativo saber as percentagens de variação dos preços dos vários artigos. Devemos observar as mudanças rais do volume da procura em resposta a uma certa variação do preço. Isto pode ainda não ser suficiente para nos permitir compaarar os graus de sensibilidade de produtos diferentes. A descida de 0.05 libras no preço provoca um grande aumento na procura de carne de vaca, ao passo que igual descida tem apenas efeito sobre a procura de rádios. A redução de 0.05 libras no preço é muito grande para um artigo barato e será insignificante para um artigo de preço elevado. 4. Apresenta a definição formal de elasticidade procura-preço. 5. Justifique o valor negativo da elasticidade procura-preço recordando a relação da curva da procura. 6. Se os preços subirem, qual será o seu impacto sobre a procura no caso de a elasticidade procura-preço ser:a) Perfeitamente rígida (e=0);b) Rígida (0 menor e="1);d)" e="infinito). 7. Classifica a elasticidade procura-preço de curvas da procura com a configuração de uma: a) recta vertical; b) recta horizontal; c) hipérbole.

29

8. Que interesse terá para uma empresa monopolista conhecer a elasticidade procura-preço do seu mercado? 9. Distinga bens de luxo de artigos de primeira necessidade recorrendo à elasticidade procura-preço. 10. Define elasticidade procura-rendimento. 11. Distingue bens normais de bens inferiores utilizando a elasticidade procura-rendimento. 12. Interpreta o significado de a elasticidade procura-rendimento ser maior que zero e menor que um. 13. Apresenta a definição de elasticidade cruzada. 14. Recorrendo à elasticidade cruzada, caracteriza: a) bens substitutos (sucedâneos); b) bens complementares; c) bens independentes. O equilíbrio no mercado de trabalho Mercado de trabalho: Para uma dada tecnologia e um dado stock de capital, isto é, para uma dada função de produção, Y=F(N), a quantidade de trabalho que as empresas pretendem empregar é aquela para a qual a produtividade marginal do trabalho coincide com o salário real. A procura de trabalho é, portanto, a função inversa da produtividade marginal do trabalho. A oferta coletiva de trabalho, NC, resulta das escolhas individuais entre consumo e lazer, e também de fatores institucionais (influência dos sindicatos, das associações empresariais e do governo). O equilíbrio no mercado de trabalho determina imediatamente o salário real de equilíbrio, w*, o emprego de equilíbrio, N*, e o produto de equilíbrio ou produto natural, Y*=F(N*). No longo prazo, o produto depende apenas da tecnologia e da oferta de trabalho. Diz-se que depende apenas da oferta de bens e serviços (a curva AS de longo prazo é vertical).

30

Os diferenciais de salário e Discriminação no mercado de trabalho Um tema muito importante para quem está preocupado com a justiça social no Brasil é o que trata das diferenças de salário entre homens, mulheres, brancos e negros. Com a divulgação dos novos dados da PNAD 2007, podemos fazer uma atualização da situação dos diferentes grupos no mercado de trabalho e tentar entender melhor o que está por trás das diferenças de remuneração entre eles. A figura ao lado mostra a evolução do diferencial de cada grupo com relação aos homens brancos, que recebem o maior salário. Pode-se perceber que as mulheres brancas ganhavam o equivalente a 70% dos salários dos homens em 1987 e hoje ganham cerca de 84%. Interessante notar que houve uma piora da situação deste grupo entre 2002 e 2007. Já a situação dos homens negros e mulatos pouco evoluiu neste período. Eles ganhavam 58% do salário dos homens brancos em 1987 e hoje em dia ganham 62%. A pior situação, mas que mostra a maior evolução ao longo do tempo, é das mulheres negras e mulatas, que ganhavam apenas 38% do salário dos homens brancos e hoje ganham 56%. Mas o que poderia explicar diferenças tão grandes de remuneração no mercado de trabalho? Esta é uma questão sempre delicada de ser abordada, por tratar-se de tema controverso e que desperta muitas emoções. Mas vamos tentar analisá-la da forma mais objetiva possível, utilizando dados e estudos recentes. As duas explicações mais comuns para explicar estes diferenciais são: a existência de discriminação no mercado de trabalho e as diferenças de produtividade entre os grupos. As diferenças de produtividade, por sua vez, decorrem de diferenças nas oportunidades de desenvolvimento ao longo da vida. Possíveis diferenças de habilidade ao nascer foram sendo descartadas pelos estudos científicos mais recentes, que mostram que tanto as habilidades cognitivas como as não-cognitivas podem ser desenvolvidas ao longo da infância e que há mais diferenças genéticas entre pessoas de uma mesma raça do que entre diferentes raças. Mas é possível separar os efeitos da discriminação e das oportunidades? Sim, pelo menos em parte. Em termos educação, por exemplo, os dados de 2007 mostram que as mulheres brancas que estão no mercado de trabalho têm quase 1 ano e meio a mais de estudo dos que os homens brancos (9,7 vs 8,3). Portanto, se as diferenças de salário refletissem somente as diferenças de anos de estudo, as mulheres brancas deveriam ganhar mais do que os homens, e não menos! Assim, se levarmos em conta estas diferenças de escolaridade, as mulheres brancas estão na verdade ganhando somente 73% dos salários dos homens brancos. O que pode explicar esta diferença? Parte dela decorre de diferenças de experiência no mercado de trabalho e parte das ocupações exercidas. Nos Estados Unidos, após estas diferenças serem levadas em conta, sobra apenas 6% de diferença salarial que poderia ser atribuída à discriminação. Mas, em que medida é justo que as diferenças de experiência causem diferenças

31

salariais, uma vez que somente as mulheres podem ter filhos e que culturalmente são elas as responsáveis por tomar conta deles na primeira infância? E em que medida as diferenças de acesso às ocupações “nobres” também não refletem uma forma de discriminação? São questões ainda em aberto. Com relação às diferenças de salário entre brancos e negros, uma parcela substancial pode ser explicada por diferenças na escolaridade. Os homens negros ou pardos têm cerca de dois anos a menos de escolaridade que os homens brancos. Após levarmos em conta esta diferença, os homens negros deveriam ganhar cerca de 77% dos salários dos brancos, ao invés de 62%. Uma parcela adicional desta diferença pode ser explicada pela qualidade de educação recebida, uma vez que 80% das crianças negras e pardas estudam em escolas públicas na 4ª-série, que tem uma qualidade de ensino inferior à das escolas privadas. Somente 64% das crianças brancas estudam em escolas públicas. Mesmo após levarmos em conta as diferenças no acesso à educação, resta um componente importante de discriminação no mercado de trabalho, como mostram muitos estudos recentes, inclusive experimentais. O grupo mais penalizado no mercado de trabalho é sem dúvida o das mulheres negras ou mulatas, que sofre duplamente. Este grupo tem quase a mesma escolaridade que os homens brancos, mas recebe pouco mais da metade do salário daqueles. Grande parte da redução do diferencial de salários nos últimos 20 anos refletiu o avanço educacional das mulheres negras. Mas ainda resta muito a ser feito para melhorar as expectativas e as oportunidades dessas pessoas, se quisermos que a sociedade brasileira seja mais justa. Melhorar a qualidade da educação na escola pública, oferecer creche e pré-escola para as famílias menos favorecidas e conscientizar a sociedade contra a discriminação são passos importantes nesta direção. Diferenciação compensatória A política ou diferenciação compensatória, como diz o próprio nome, é uma política que compensa o efeito de alguma outra coisa. Então essa é uma política que atua sobre o efeito do problema e não sobre a causa. Eu não sou contra que se dê sopa para quem está com fome, sou a favor, desde que isso seja uma política temporária e não como a única política. Então quando você não ataca a causa e só tem a política compensatória, você está na verdade aceitando o sistema e se omitindo de quebrar, de resolver o problema da pessoa. Você está apenas compensando, atenuando, aliviando a pobreza.

32

Capital Humano: educação e treinamento

A teoria do capital humano ganhou força a partir da década de 60 em virtude da preocupação cada vez maior com os problemas de crescimento econômico e melhor distribuição de renda. De um lado, a melhoria do nível de especialização dos trabalhadores, o aumento das habilitações (adquiridas por treinamento) muitas vezes de proporções crescentes da população e maior acumulação de conhecimento (sejam científicos, gerenciais, artísticos, etc.) são reconhecidos como fatores importantíssimos para o crescimento econômico; de outro, a alteração da distribuição de capital humano parece ser o método preferido politicamente para a eliminação, tanto da pobreza quanto dos grandes diferenciais de renda entre diferentes classes sociais.

O pressuposto central dessa teoria é o de que capital humano é sempre algo produzido, isto é, algo que é o produto de decisões deliberadas de investimento em educação ou em treinamento. Em todas as economias modernas, o grau de educação possuído por um indivíduo correlaciona-se positivamente com os rendimentos pessoais.

A teoria do capital humano afirma que "uma educação adicional elevará os rendimentos futuros, e, neste sentido, a aquisição de edu-cação é da natureza de um investimento privado em rendimentos futuros" (Blaug, 1971, p.21). Assim, há uma nítida analogia entre a produtividade física do capital e a educação, justificando-se o trata-mento analítico da educação como capital, isto é, capital humano, posto que se torna parte da pessoa que a recebe.

A principal hipótese que está subjacente a este tratamento da educação é a de que alguns aumentos importantes na renda nacional são uma conseqüência de adições a esta forma de capital.. Ademais, a educação, enquanto investimento, obedece a uma opção racional entre custos atuais e renda futura, no contexto mais amplo da maximização dos retornos individuais ou sociais. Logo, a distribuição da educação corresponde à distribuição das preferências, a qual é considerada uma variável exogenamente determinada, se bem que de alguma maneira influenciada pelo progressivo melhoramento do padrão de vida.

Resumindo, o raciocínio da teoria do capital humano é o seguinte: a) as pessoas se educam; b) a educação tem como principal efeito mudar suas "habilidades" e conhecimentos; c) quanto mais uma pessoa estuda, maior sua habilidade cognitiva e maior sua produtividade; e d) maior produtividade permite que a pessoa perceba maiores rendas.

A partir de meados da década de 70, a despeito de sua contribuição para a compreensão e desvendamento das causas do crescimento moderno e para a questão da distribuição de renda, a teoria do capital humano tem sido objeto de muitos criticas. Neste artigo abordamos dois tipos de críticas feitas à teoria do capital humano: o primeiro, contempla aquelas relacionadas com os conceitos adotados por esta teoria, sem contudo,

33

questionar a sua estrutura e o seu arcabouço teórico - a teoria neoclássica, que postula que os salários são função da produtividade, havendo, portanto, relação direta entre educação (que contribui para o aumento da produtividade) e renda do trabalho. O segundo, comporta aquelas críticas referentes à estrutura teórica do capital humano, e têm como referencial a teoria marxista.

I - Críticas pontuais

Este bloco engloba críticas referentes ao conceito de capital humano e aos problemas de avaliação da educação, embora reconheça a validade da tese defendida pela teoria do capital humano, isto é, maior educação corresponde a maior renda.

Shaffer (1961) sustenta que é em geral desaconselhável tratar o homem como capital humano, corroborando com aqueles que acreditam que é moralmente errado aplicar-se os conceitos de investimento e de capital às pessoas. Além disso, demonstra sua preocupação de utilização inadequada desse conceito nas decisões políticas para o setor educacional.

O conceito de educação como investimento, defendido pela teoria do capital humano, também é questionado. Quando é que as despesas com educação se caracterizam como destinadas ao consumo e quando é que elas se classificam como destinadas à produção de capacitações (investimento)? Os críticos afirmam que é impossível proceder-se a tal distinção, e afirmam que os custos educacionais são tão-somente despesas de consumo. Tal assertiva baseia-se em dois fatos: o primeiro é o de que a maioria dos estudantes freqüenta escolas públicas; o segundo, relaciona-se com a obrigatoriedade da educação até uma certa idade.

Schultz, que defende os custos educacionais enquanto investimento, rebate essa posição argumentando que estes fatos não são relevantes para distinguir a natureza das despesas com educação pois:

(...) se a educação fosse integralmente gratuita, uma pessoa com toda a probabilidade a consumiria até que estivesse saciada e "investiria" nela até que não mais aumentasse os seus futuros ganhos. Se uma parte das despesas educacionais fosse suportada pelos cofres públicos, os custos privados diretos de educação seriam, sem dúvida, menos do que os custos totais com a educação, e à medida que a educação incrementa os rendimentos futuros do estudante, sua taxa privada de rendimento em relação ao que gastara com a educação seria mais alta do que a taxa de rendimento em relação aos gastos totais educacionais que entrassem nesta parte de sua educação. Desta forma, os incentivos privados para consumir e para investir na educação são afetados pelas despesas públicas educacionais, mas o fato de haver tais despesas públicas não tem qualquer ressonância na questão de saber-se se a educação é consumo ou produção de capacitações. (Schultz, 1973, p.56)

34

Embora Shaffer seja claro ao reconhecer os efeitos positivos da educação sobre os futuros rendimentos dos estudantes, acredita que não existe motivação econômica dos estudantes e dos seus pais para investirem em educação. Estes, segundo Shaffer, são fortemente motivados como consumidores habituais da educação e não tem motivação alguma como investidores na educação.

Mas será que não haverá motivações econômicas de nenhuma espécie no caso, por exemplo, de estudantes de medicina, direito, entre outros, para investirem em cada uma dessas capacitações particulares, com vistas aos incrementos nos seus rendimentos futuros? Para os seguidores da teoria do capital humano, a perspectiva de rendimentos futuros de maior escala desempenha uma forte motivação nessas situações. Ademais, Schultz afirma que a decisão de estudar, seja na perspectiva de consumo seja de investimento, é afetada pela quantia e natureza dos gastos públicos efetuados com a educação. Portanto, qualquer tentativa de explicar o comportamento dos agentes em relação a educação nos "leva para além da área convencional em que se realizam os cálculos econômicos privados por parte das pessoas". (Idem, p.57) .

Outro ponto relevante formulado por Shaffer diz respeito à dificuldade de identificar e medir o aumento dos rendimentos que se associam com educação, posto que este é influenciado também pelas diferenças em capacidades inatas, raça, tipo de emprego e estrutura familiar.

Outra crítica refere-se à utilização política da teoria do capital humano. Shaffer argumenta que o conhecimento acerca dos efeitos da educação sobre os rendimentos futuros seria mal utilizado uma vez que as decisões políticas acerca da educação privilegiariam o aspecto econômico, em detrimento de importantes contribuições culturais da educação. Especificamente, a apreensão dos críticos do capital humano é a de que a sociedade acabasse por negar educação àqueles grupos sociais cujo investimento educacional apresentasse menor taxa de retorno, como o caso de mulheres, negros, etc., quando a direção cor-reta seria a de aumentar os gastos de educação voltados para atender esses grupos.

Esta apreensão é rebatida pelos adeptos da teoria do capital humano com os seguintes argumentos : em primeiro lugar, os estudos que mostram que o retorno da educação, em termos de rendimentos do trabalho, é maior para os brancos que para os negros, apresentam deficiências metodológicas - baseiam-se em médias nacionais, não fazem quaisquer ajustamentos para os efeitos do tamanho da cidade, para as diferentes taxas de desemprego, para a qualidade da educação, discriminação racial, entre outros. Em segundo lugar, os rendimentos futuros proporcionados pela educação não devem ser a base exclusiva para a alocação de recursos públicos. Por fim, é absolutamente adequado que as pessoas, ao tomar sua decisão de investir na educação, levem em consideração suas contribuições culturais e seu impacto sobre os rendimentos futuros.

35

As proposições em que Wiseman fundamenta sua critica baseiam-se no corpo teórico tradicional da ciência econômica e na concepção humanista de que a economia não pode repousar-se na visão em que a vida é considerada como um balanço comercial e, assim, ser valorada apenas a partir do binômio carência-satisfação, "porque nós, na verdade, não tomamos as nossas necessidades como algo final.... O homem, num sentido real, cria os valores" (1965, p.5).

Wiseman também afirma que as capacitações técnicas adquiridas que aumentam os futuros rendimentos pessoais não têm quaisquer significações financeiras à medida em que a educação muda as atitudes, os padrões de expectativas e de preferências. Portanto, Wisemam se preocupa fundamentalmente com o problema da avaliação implícita da educação e de suas conseqüências, o que, certamente, está ausente no ambiente analítico dos teóricos do capital humano.

O tratamento dado por Wiseman ao problema da avaliação da educação é falho e não fornece qualquer elemento que demonstre o impacto da mudança de atitudes e hábitos gerados pela educação no bem-estar dos indivíduos, por exemplo: qual a importância de se transformar beatlemaníacos em amantes da música de Bach?

Além disso, a assertiva de que maior nível educacional não tem significação financeira, não se sustenta quando colocada sob uma prova empírica. Por exemplo, quando o mercado de capitais fornece empréstimos pessoais faz nitidamente a distinção entre médicos, advogados e engenheiros com boas situações de emprego, por um lado, e trabalhadores braçais, com baixa escolaridade, sem qualificações com os seus empregos, por outro. Michael Lynch (1967) mostrou que o quantitativo financeiro legalmente adjudicado nos seguros de vida é ordenado em função dos rendimentos atuais do segurado e da perspectiva de elevação dos rendimentos pessoais.

II - CRÍTICA MARXISTA

A teoria do capital humano incorporou fundamentais insights não aproveitados pelas versões iniciais da teoria neoclássica, afirmam os marxistas. Em primeiro lugar, retomou a tradição Ricardiana de tratar o trabalho como um produto do meio de produção. Em segundo lugar, rejeitou a simplista assunção de trabalho homogêneo e concentrou sua atenção na diferenciação da força de trabalho. Em terceiro lugar, trouxe para o interior da análise econômica as instituições sociais básicas (como a educação e a família), preliminarmente relegadas para a esfera cultural.

Além disso, o trabalho desaparece como categoria analítica fundamental, e é absorvido no interior do conceito de capital, o qual vem adornar o título da especial característica do trabalhador. Assim, para os marxistas a teoria do capital humano é um passo certo para a eliminação de classe social como conceito econômico.

36

A teoria neoclássica tem-se movido no sentido de atribuir o controle dos fatores de produção para determinados grupos e de considerar a livre mobilidade dos fatores de produção e, que a remuneração é função da produtividade.

Esses pressupostos neoclássicos, segundo Bowles e Gintis (1975), têm induzido a teoria do capital humano a erros substanciais, tanto no que diz respeito à pesquisa empírica quanto como guia para as políticas públicas. As credenciais educacionais têm uma importante função, mas o sistema escolar não pode ser reduzido a uma atividade economicamente relevante para seleção e qualificação de mão-de-obra, afirmam os marxistas.

Para os marxistas, as habilidades estão relacionadas e são determinadas pelas condições de existência humana. Ademais, a teoria do capital humano, ao restringir sua análise em preferências individuais definidas exogenamente, em habilidades individuais e em alternativas de produção tecnológica, formalmente, excluiu a relevância do conceito de classe social e de conflito de classe para explicar o fenômeno do mercado de trabalho.

O capitalismo é um sistema no qual o meio de produção é propriedade de uma pequena minoria. A massa de indivíduos que não detém o controle dos recursos produtivos, é forçada a vender sua força de trabalho para sobreviver. Educação, treinamento profissional, saúde, desempenham duas funções econômicas: têm um papel importante, ainda que indireto, na produção e são essenciais para a perpetuação da ordem econômica e social. Esse processo não pode ser compreendido sem a referência aos requerimentos sociais necessários para a reprodução da estrutura de classe vigente no capitalismo. Assim, uma adequada teoria de recursos humanos deveria abranger tanto a teoria de produção como a de reprodução social.

A teoria do capital humano não contempla uma teoria de reprodução e grande parte da teoria da produção apresentada abstrai-se da relação social de produção em favor da relação tecnológica. A abordagem falha das relações sociais impede um aprofundamento da teoria da reprodução, resultando em um tratamento deficiente da demanda por capital humano pelas firmas, da oferta de capital humano, e da interpretação teórica das taxas de retorno do capital humano.

Os marxistas rejeitam a noção neoclássica da firma como uma "caixa preta" em cujo interior o trabalho é o principal interesse. A firma tem uma dimensão sócio- política, posto que, por um lado temos a transformação de matérias primas em produtos e por outro a trans-missão de habilidades e tipos de conhecimento de um trabalhador para outro, alterando habilidades e conhecimentos.

O tratamento neoclássico das alterações na remuneração do trabalho com base em mudanças no mercado, ou seja, exógenas à firma, conduz a um grave erro ao abstrair um elemento essencial da organização capitalista: o poder do capitalista sobre o trabalhador.

37

Para os marxistas, a performance produtiva da força de trabalho não é decorrente do seu nível de escolaridade, e sim das condições tecnológicas e da organização do processo de produção.

A organização social da produção, por sua vez, reflete em larga medida o interesse do capitalista em incentivar e controlar os mecanismos através dos quais extrai o máximo de trabalho dos trabalhadores com o mais baixo salário possível, e em prevenir a formação de coalizões de trabalhadores que podem opor-se ao seu poder.

Os mecanismos naturalmente adotados pelo capitalista para incentivar o processo de produção e para controlar os tipos potenciais de organização dos trabalhadores dependem do seu domínio e controle da estrutura da empresa.

Assim, os atributos dos trabalhadores que são avaliados pelo capitalista e que se constituem no seu "capital humano", não se restringem às suas habilidades técnicas e abstratas capacidades produtivas, como defendem os teóricos do capital humano. Em particular, os atributos como raça, sexo, idade, etnia, e credenciais formais, freqüentemente considerados como irrelevantes pelos defensores do capital humano, são, de fato, as variáveis determinantes no processo de seleção de trabalhadores pelos capitalistas, as quais são utilizadas para fragmentar a força de trabalho e reduzir a formação de coalizão potencial entre trabalhadores.

A decisão de contratação de trabalhadores, a definição da estrutura de remuneração e de produtividade do trabalhador não podem ser derivadas do mercado mediante a combinação de habilidades no uso das técnicas definidas e requeridas pela produção. São, segundo os marxistas, derivadas da disputa de distribuição de poder entre as classes.

De acordo com a teoria do capital humano, os indivíduos manifestam uma particular subjetividade para avaliar suas preferências no tocante a escolha de uma profissão, e o fazem a partir de uma avaliação dos seus retornos pecuniários e dos requerimentos de escolarização. A partir dessa avaliação os indivíduos decidem se vão investir em seu desenvolvimento pessoal.

Nessa perspectiva, a oferta de capital humano é a simples agregação de decisões racionais e a demanda por serviços educacionais é derivada da demanda individual por capital humano. Os ser-viços educacionais, por sua vez, tratam o trabalho como "produzido pelos meios de produção", e o estágio de desenvolvimento da educação é produto das escolhas individuais, as quais são influenciadas pela tecnologia de produção e pela oferta de recursos. Além disso, a decisão de investimento no desenvolvimento pessoal, é descrita como produto de escolha individual ou familiar, limitado apenas por algumas habilidades, como o acesso ao ensino tecnológico e a disponibilidade de recursos financeiros.

38

Não há dúvidas que a educação é em parte organizada para produzir trabalhadores treinados para atender a demanda dos empregadores. De fato, há fortes evidências de que a escola produz os trabalhadores mais preparados para a estrutura de produção capitalista.

Entretanto, o sistema educacional, segundo Bowles e Gintis (1975), pode realizar muito mais que produzir capital humano, que impede o desenvolvimento de consciência de classe, e legitima a desigualdade econômica ao permitir e ter como objetivo o mecanismo meritocrático de referendar a posição ocupacional de um indivíduo.

Portanto, os marxistas rejeitam a utilização do modelo de escolhas individuais como a base para a teoria da oferta de serviços educacionais. Não pelo fato de que os indivíduos e familiares não sabem fazer escolhas educacionais adequadas, como afirma a teoria do capital humano. Mas, sim pelo fato de este modelo ser superficial e insuficiente para responder à questão central que deve nortear a oferta dos serviços educacionais: Qual o tipo de escolas que queremos? E qual a quantidade de escolarização que queremos?

Além dessas críticas, os marxistas apresentam duas outras razões para a oferta educacional não se basear nos retornos e custos do capital humano. Em primeiro lugar, as habilidades, que determinam a heterogeneidade da força de trabalho, não podem ser tratadas a partir de um enfoque exclusivamente econômico. Não é adequado reduzi-las a uma simples mensuração de "capital humano". As diferentes habilidades e heterogeneidade da força de trabalho decorrem dos traços familiares, da raça, sexo, do processo de ensino, do curriculum, enfim das relações de produção nas quais o indivíduo está inserido.

Em segundo lugar, a justificativa para o uso da expressão "capital humano" está relacionado com o fato de que habilidade é um pré-requisito para um futuro melhor. Este conceito de capital, oriundo da tradição clássica, engloba dois aspectos: a exigência do futuro melhor e a propriedade e controle sobre os meios de produção. Nesta perspectiva, todo trabalhador é agora um capitalista. Educação, neste contexto, não pode ser chamada de capital, posto que não proporciona aos trabalhadores educados nenhum controle sobre os meios de produção, muito pelo contrário, estes são destituídos de qualquer propriedade.

Por que a taxa de retorno do investimento em educação é positiva? Quais são as explicações do modelo de taxa de retorno? A teoria do capital humano fornece uma explicação superficial para estas questões, utilizando-se de aspectos da oferta e da demanda por mão-de-obra. Na tentativa de aprofundar sua análise adota alguns pressupostos, tais como: a escolarização aumenta a produtividade do trabalhador ao incrementar suas capacidades natas e ao ensinar diferentes habilidades.

A conclusão de diversos estudos realizados tanto por sociólogos, como por economistas, pedagogos, entre outros pesquisadores, é a de que a

39

forte correlação positiva entre renda e educação independe do aumento de habilidade cognitiva dos estudantes, que, supostamente, é o que as escolas produzem. Assim, estaria quebrado o elo da cadeia de raciocínio da teoria do capital humano, e deflagrado o debate entre os pesquisadores acerca do que as escolas produzem (além de habilidade cognitiva) que tende a influir positivamente nos rendimentos futuros dos estudantes. Daí surgem teorias que afirmam que as escolas produzem ou credenciais, ou um certo tipo de socia-lização ou uma espécie de sinal (de persistência, determinação, etc.).

Passamos, em seguida, a considerar rapidamente algumas dessas teorias.

A teoria da socialização afirma que algumas pessoas são socializadas, sobretudo na escola, para virem a ser trabalhadores que se comportem com um alto grau de conformismo, que estejam dispostas a sempre aceitar e cumprir ordens, que cheguem com pontualidade ao trabalho, que saibam quando falar e quando calar, etc. Em contraste, outras pessoas são educadas para tomar decisões, ser bastante independentes e criativas, sempre ponderar diferentes alternativas quando diante de um problema, etc.

Assim, as escolas seriam mais uma espécie de agência de socialização – preparando as pessoas de diferentes origens para o desempenho de distintos papéis na vida – do que um lugar onde se desenvolveriam as habilidades cognitivas dos estudantes. Isso leva os adeptos da teoria da socialização a concluir que as variáveis não cognitivas associadas à experiência escolar de cada um são mais importantes que os fatores cognitivos, ou ligados a " habilidade", que o sistema educacional supostamente teria a finalidade de produzir.

Ainda, outro ponto de vista, defendido principalmente por sociólogos, afirma - na sua versão mais radical – que as escolas não servem para nada além de fornecer credenciais. Esta posição, rotulada de "credencialista", defende que as escolas oferecem credenciais que tornam mais simples a tarefa dos empregadores na seleção de seus empregados. Vale a pena distinguir dois grupos principais dentro dessa corrente:

a. aqueles que dizem que a única função das escolas é "selecionar" estudantes de acordo com o background familiar, status sócio-econômico e outras características individuais, sem que nenhuma socialização ocorra. Além disso, o sistema educacional reforçaria as características originais dos estudantes, tornando a tarefa de estratificá-los por grupos ainda mais fácil.

b. Outros afirmam que as escolas não só " selecionam" mas também socializam. O estudante seria escolhido de acordo com seu background, características familiares, etc., e na escola adquiriria alguma experiência e seria socializado para certo tipo de atividade futura. Experiência e socialização seriam determinadas em função das características

40

Os marxistas reconhecem que o aumento da escolarização da força de trabalho contribui para aumentar a sua produtividade, mas não pelo fato de proporcionar maior habilidade ao trabalhador, mas sim devido ao fato de:

1. fornecer credenciais que facilitam a supervisão autoritária, ou seja, a escola molda o indivíduo para a disciplina, perseverança, respeito à estrutura hierárquica, entre outros, que tornam o indivíduo que estudou preparado para se submeter às normas de conduta e comportamento exigidos pela empresa capitalista;

2. a escolarização aumenta o leque de opções do empregador para a escolha de seus empregados, oportunizando a este (empregador) adotar critérios de seleção que leve em conta o aspecto motivacional que mais se aproxima da estrutura e mecanismos de incentivo da empresa;

3. o indivíduo com maior grau de escolaridade, ao receber melhor nível de remuneração, acaba gerando uma segmentação de trabalhadores segundo renda e status, que impede a formação de coalizões de trabalhadores contra o poder do capitalista.

Em resumo, as críticas dos marxistas à teoria do capital humano podem ser agrupadas em três áreas: contabilidade do desenvolvimento, distribuição de renda e políticas públicas.

Em relação à contabilização do desenvolvimento, cabe destacar o seguinte argumento dos marxistas: para a teoria do capital humano todos os fatores podem contribuir para o crescimento econômico, e, uma vez superados os problemas tecnológicos, esta contribuição pode ser numericamente mensurada . Assim, as pesquisas baseadas na teoria do capital humano defendem que é possível determinar a contribuição exata dos investimentos em recursos humanos para o crescimento.

Os marxistas questionam este procedimento argumentando que é mister explicitar como as variações no nível de investimento afetam o nível de outputs e as taxas de crescimento, mas também como a estrutura de formação do capital humano afeta a relação social de produção e a evolução das relações de classe.

A educação pode contribuir positiva ou negativamente para o crescimento econômico, dependendo do que se considera como qualidade do trabalhador: se é uma função dependente da extensão e reprodução do sistema de remuneração do trabalho, isto é, função de sua produtividade; ou é a sua capacidade para alterar a taxa de acumulação de capital. A medida que o aumento da escolarização pode levar a maior consciência de classe e fortalecer a organização de trabalhadores, a sua contribuição para o crescimento capitalista pode resultar em balanço negativo.

41

A análise da teoria do capital humano sobre a distribuição de renda tem como pressuposto que renda representa o retorno das habilidades que o indivíduo detém. A desigualdade de renda pessoal ou familiar pode ser calculada a partir da decomposição dos retornos dos fatores. Assim, é possível mensurar alteração na distribuição de renda, a partir de mudanças na dotação de educação, por exemplo.

Os marxistas consideram esta metodologia bastante débil. Em primeiro lugar pelo fato de que os teóricos do capital humano tratam a distribuição de renda como sendo determinada apenas pelas condições da oferta de mão-de-obra.; as condições da demanda são tratadas com elevado grau de abstração e de maneira imprópria. Em segundo lugar, ignora os aspectos macroeconômicos, referentes à estrutura de mercado, mudança tecnológica, dualismo econômico, e outros aspectos centrais para a compreensão da distribuição de renda. Por último, e o mais grave, é o pressuposto ingênuo de que o processo de exploração é tratado como categoria regular e normal.

Para os teóricos do capital humano a desigualdade de renda é decorrente das diferenças de recursos humanos Os marxistas contra- argumentam afirmando que a diferença de recursos humanos facilita a escolha de indivíduos para assumirem determinadas posições de destaque econômico, mas, não determina a estrutura da distribuição de renda, que é determinada pelas características estruturais da economia capitalista.

Além disso, os teóricos do capital humano não levaram em conta, no seu modelo de relação entre educação e distribuição de renda, um aspecto central relativo ao papel e função do sistema escolar na legitimação das desigualdades econômicas.

Assim, é ilógico supor que redução nas desigualdades de distribuição de educação leve rapidamente à redução nas desigualdades de renda. Mudanças na distribuição de recursos humanos certamente estão mais bem associadas com mudanças no processo de ensino, e não com relação entre anos de escolaridade e renda individual. Sem dúvida, que melhor equalização da educação reduz a desigualdade econômica, mas, não diretamente, e sim de forma indireta, ao contribuir para que os indivíduos passem a questionar a legitimidade da desigualdade, ou seja ganhar consciência de classe e se organizar, impulsionando, dessa forma a reorganização econômica das empresas de modo a contemplar mecanismos voltados para administrar os conflitos de classe.

Quanto à questão de alocação dos recursos públicos, os marxistas consideram a contribuição da teoria do capital humano extremamente perversa, particularmente, quando aplicada à educação.

Os pressupostos da teoria do capital humano abarcam e reforçam um dos muitos defeitos do processo de análise dos gastos públicos: a análise custo/benefício, que considera as preferências dos indivíduos como sendo

42

determinadas exogenamente e que o sistema educacional per si é a instituição aparelhada para alterar as preferências e o destino econômico dos indivíduos.

Os retornos econômicos da educação com base na tradicional análise de custo/benefício possui pouca lógica e força convincente, posto que não considera impactos de outros aspectos relevantes da vida do indivíduo, tais como, personalidade, consciência de classe, status familiar, etc.

O uso do conceito de capital humano propicia uma visão parcial da produção e reprodução social que ocorre no processo de educação. Por exemplo, a natureza repressiva da escola, com pouca contribuição para o desenvolvimento da consciência humana, é parte integrante da produção de uma força de trabalho disciplinada e está diretamente relacionada com a reprodução social. A perpetuação do preconceito racial, sexual e o elitismo das escolas não podem ser considerados como uma condução exemplar ou neutra como afirmam os teóricos do capital humano.

Para os marxistas, a teoria do capital humano, baseada no arcabouço teórico da economia neoclássica, ao adotar como fatores explicativos da miséria e da pobreza as preferências e habilidades do indivíduo, acaba por ser um forte defensora da manutenção do status quo e da exclusão social.

Finalizando, apresentamos um sumário do que se discutiu neste trabalho, acompanhado de alguns comentários relacionados ao assunto, mas que não se constituem necessariamente em conclusões deste artigo.

Preocupamo-nos em resenhar, de forma breve, a literatura do capital humano, listando várias objeções que se lhe fazem. Não o fize-mos, porém, com a intenção de sermos exaustivos, mas antes com a intenção de alcançarmos um objetivo duplo: limitamo-nos àquelas relacionadas aos conceitos de capital humano e avaliação da decisão de investimento em educação, mas que preservam a estrutura neo-clássica sobre a qual a teoria do capital humano foi construída e, ao mesmo tempo, mostramos o caminho percorrido pelos marxistas na sua crítica à teoria do capital humano.

Assim, para citarmos apenas alguns exemplos de crítica, atacou-se a suposta relação entre decisões deliberadas de investimento em capital humano, produtividade e rendimentos; criticou-se o uso da taxa de retorno a investimentos em autovalorização do indivíduo, seja por falhas no modelo, seja pela discutível relevância desse conceito para a tomada de decisões com relação a investimento em educação; apontou-se o fato de que a interação entre educação e status sócio-econômico é muito grande; considerou-se os argumentos que mostram que a escola não gera meramente um produto cognitivo, mas, também, e talvez principalmente, diferentes tipos de socialização e credenciais que influenciam decisivamente os rendimentos futuros dos estudantes; ademais as escolas não só selecionam como também filtram estudantes de acordo com o seu background familiar, status econômico e outras características pessoais, como também conferem, "sinais" que são

43

úteis para a tarefa dos empregadores, no mercado de trabalho, ao selecionarem, promoverem e despedirem empregados.

A teoria do capital humano, ao considerar apenas as carac-terísticas da oferta de mão-de-obra, especialmente, os "defeitos dos trabalhadores", normalmente sugere políticas que não exigem nem mudanças estruturais nem esforços de financiamento que recaiam com mais peso em algum dado segmento da sociedade, tais como – mais educação, mais escolas, mais programas de treinamento e aperfeiçoamento da mão-de-obra. Além disso, contam com o apoio adicional devido ao fácil consenso que se pode conseguir em torno da idéia de que "educação é bom" e de que "educação é o mais eficaz instrumento de mobilidade social ascendente".

De outro lado, temos as teorias de base marxista (teoria da segmentação, credencialista, sinalização, etc.) que apesar de não negar expli-citamente a importância da educação como meio de ascender-se socialmente, desmistificam o poder das políticas parciais, que só afetam a oferta de vagas nas escolas e a quantidade de treinamento oferecido, mostrando a necessidade de se considerar todo o sistema econômico, apontando, particularmente, para o fato de que os salários têm mais a ver com os tipos de empregos a que se tem acesso – e com as formas de organização do trabalho nas fábricas – que com as características do trabalhador. Daí, as proposições de política dessa teoria terem que atacar as barreiras concretas à mobilidade ocupacional e as formas de organização do trabalho que separam, às vezes por mais de uma geração, aqueles que tem acesso aos bons e maus empregos, tais como: acesso diferenciado ao crédito, à educação de níveis mais altos, às conquistas sociais do tipo habitação, estabilidade no trabalho, seguro-desemprego, participação nos lucros e na gestão das empresas, previdência social em geral, etc. Assim, as políticas derivadas da teoria marxista no âmbito da distribuição de renda afetam estruturas que as orientações da teoria do capital humano – baseadas na idéia da equalização das oportunidades educacionais – nem de longe arranham.

Segmentação no mercado de trabalho Las Casas (1993), afirma que para satisfazer as necessidades de um individuo, o trabalho é mais fácil, pois o produto será adaptado a algumas necessidades especificas. Já para a produção em massa que atingi milhões de consumidores o trabalho é mais difícil. Por essa razão a segmentação de mercado pode ajudar as organizações a desenvolver e comercializar produtos que se aproximem a satisfação do mercado-alvo (target). A empresa poderá atender melhor uma fatia de mercado na qual possa oferecer um produto mais especifico e que se assemelhe a aquilo que o consumidor quer e deseja, ao contrario da concorrência que faz um produto para atender a todo o grupo. Já Facape (2007), segmentação de mercado é a divisão do todo em pequenos grupos de mercado. Segmentar é dar enfoque, identificar e servir ao mercado

44

escolhido. Facape (2007), ainda divide a segmentação de mercado em: Segmentação Geográfica (países, estados, cidades, bairros, ruas); Segmentação Demográfica (idade, sexo, tamanho da família); Segmentação Psicográfica (classe social, etilo de vida, personalidade); Segmentação Por Conduta (conhecimento, atitudes, costumes); Segmentação Por Volume (pequenos, médios e grandes) e Segmentação Por MIX de Marketing (mercados que respondem aos diferentes fatores de marketing, como preço, praça, propaganda ou tipo de produto). Para o Professor e Doutor Dornelas (2007) do site Plano de Negócios, “o mercado-alvo não é aquele que você gostaria: é aquele que pode consumir o seu produto”. Para se conhecer o mercado em questão é preciso obter informações tanto qualitativas como quantitativas. Para um aprofundamento melhor é necessário responder a três perguntas: Quem está Comprando? O que está Comprando? e Porque está Comprando?. COMO DEFINIR O MERCADO Ries e Trout (1986), a empresa deve encontrar um mercado bastante pequeno que possa defender. Isso pode ser geograficamente pequeno, em volume ou outro aspecto difícil para uma grande empresa atacar. A empresa de “guerrilha” (como define os autores), não modifica uma “guerra de marketing”, onde a empresa grande bate à pequena, porem reduz o campo de batalha para obter uma superioridade de forças, ou seja, “tenta tornar-se um peixe grande em um pequeno açude”. Dornelas (2007), explica que um segmento de mercado possui indivíduos que tem a mesma necessidade comum. Ao agrupar esses indivíduos (clientes), fica mais fácil satisfazer suas necessidades. QUEM ESTÁ COMPRANDO? Dornelas (2007) explica que é preciso conhecer os hábitos e como vivem os clientes que compram seu produto. Em que lugar eles vivem (estados, cidades, bairros), qual o clima da região, suas idades, estilo de vida, seus pensamentos quanto ao meio ambiente e responsabilidade social, se participam de clubes, o que pensam sobre política, economia. Todas essas questões servem para definir se esse determinado grupo de indivíduos poderá ser cliente da empresa, ou a empresa adaptará seu produto e todo o MIX de Marketing ao estilo de vida desses consumidores para assim atendê-los. O QUE ESTÁ COMPRANDO? Dornelas (2007), também explica que as empresa podem segmentar o mercado em relação ao o que seu cliente compra e depois modificar o MIX de Marketing do produto como a seguir: Características do Produto (tudo que envolve o produto, a freqüência que é comprado, a habilidade do cliente em usar o produto, o que

45

fazem com o produto); Embalagem (a embalagem vai alem das caixas de papel ou plástico, engloba também a propaganda, promoções e pós-venda); Preço (diferentes segmentos estão dispostos a pagar preços diferentes por produtos e obter certo nível de qualidade, outras vantagem como acordo de troca da mercadoria também influenciam na compra); Praça (onde e como o cliente encontrará o produto, pode ser em grandes lojas atingindo grande quantidade de cliente ou em lojas de bairro com um publico mais restrito, alem de lojas on-line). POR QUE ESTÁ COMPRANDO? Dornelas (2007) conclui que para satisfazer plenamente seu cliente, a organização deve saber exatamente o que seu cliente está procurando, o que eles consideram importante, o que os motiva a comprar determinadas marcas e outras não, que critérios usam na hora de escolher um produto. Respondendo essas perguntas a empresa encontrará o melhor ponto de vista sobre o produto, podendo realizar mudanças se necessário. POTENCIAL E DEMANDA DE MERCADO Depois de determinado o segmento de mercado em que a empresa atuará Las Casas (1993), determina que deva ser realizada uma análise do potencial e possibilidades de vendas (demanda). O potencial de mercado é capacidade que o mercado tem para absorver o produto em uma situação econômica, esse potencial deverá ser determinado pela empresa. A demanda é o volume total de produto que o mercado está absorvendo, ou seja, é todo o esforço da empresa para a venda dos produtos. A empresa também deverá calcular a sua participação de mercado e a partir desse dado calcular o investimento que será realizado no MIX de Marketing, principalmente em Propaganda. Levando em conta suas condições operacionais, a empresa determinará seu potencial de produção, para evitar vender mais do que possa produzir. A partir de todos esses dados finalmente o departamento de Marketing poderá elabora uma previsão de vendas, e a viabilidade e retorno da estratégia do MIX de Marketing, no segmento escolhido. No mercado de consumo atual, onde o tempo se torna escasso e as pessoas estão cada vez mais individualistas, procurando sempre produtos que satisfaçam suas necessidades, a Segmentação de Mercado torna-se mais necessária para o crescimento de qualquer organização. O profissional de marketing necessita de atenção na hora de desenvolver o Planejamento de Marketing (MIX de Marketing), levando em conta todo individualismo da segmentação. Traçar metas e previsões realistas e objetivas, para a equipe de vendas, trará bons resultados para a organização.

46

Desemprego. A taxa natural de desemprego. Tipos de desemprego e suas causas.

Desemprego é a medida da parcela da força de trabalho disponível que se encontra sem emprego. Esse fenômeno social é observado principalmente em países subdesenvolvidos cujas economias não conseguem suprir o crescimento populacional. Um agravante é a crescente mecanização e informatização dos processos de trabalho, acabando com cargos que antes eram desempenhados por pessoas sem instrução/qualificação e, agora, por exigirem conhecimento e formação, acabam excluindo muitos trabalhadores do mercado.

TAXA NATURAL DE DESEMPREGO: nome dado pelos monetaristas à parcela de trabalhadores permanentemente desempregados, que sempre existiram nas sociedades capitalistas (no socialismo não há desemprego), os quais, por questões de sobrevivência, acabam por se transformar em marginais. Marx chamou-os de "Exército Industrial de Reserva". Como se constituem em uma oferta de mão-de-obra maior que a procura, acabam agindo no sentido de pressionar para baixo o salário dos que se encontram empregados.

O desemprego natural, é a taxa para a qual uma economia caminha no longo prazo, sendo compativel com o estado de equilíbrio de pleno emprego e com a ausência de inflação. Nessa situação, há um número de trabalhadores sem emprego, mas a oferta e a demanda por emprego estão em equilíbrio.

Desemprego estrutural

O desemprego estrutural é uma forma de desemprego natural. Neste caso existe um desequilíbrio permanente entre a oferta e a procura (de trabalhadores), que não é eliminado pela variação dos salários.

Resulta das mudanças da estrutura da economia. Estas provocam desajustamentos no emprego da mão-de-obra, assim como alterações na composição da economia associada ao desenvolvimento. A teoria econômica apresenta duas causas para este tipo de desemprego: insuficiência da procura de bens e de serviços e insuficiência de investimento em torno da combinação de factores produtivos desfavoravéis.

Esse tipo de desemprego é mais comum em países desenvolvidos devido à grande mecanização das indústrias, reduzindo os postos de trabalho.

O desemprego causado pelas novas tecnologias - como a robótica e a informática - recebe o nome de desemprego tecnológico. Ele não é resultado de uma crise econômica, e sim das novas formas de organização do trabalho e da produção. Tanto os países ricos quanto os pobres são afetados pelo desemprego estrutural, que é um dos mais graves problemas de nossos dias.

47

O crescimento econômico, ou melhor, a ausência dele, tem sido apontado como o principal fator para os altos níveis de desemprego no Brasil. Naturalmente, se conseguíssemos manter altas taxas de crescimento econômico, o país sanearia o problema do desemprego conjuntural. Contudo, o desemprego estrutural, aquele em que a vaga do trabalhador foi substituída por máquinas ou processos produtivos mais modernos, não se resolve apenas pelo crescimento econômico. Aquele trabalho executado por dezenas de trabalhadores até o início dos anos 80 agora só necessita de um operador, ou, em outras palavras, dezenas de empregos transformaram-se em apenas um. É claro que se a economia estiver aquecida será mais fácil para estes trabalhadores encontrarem outros postos de trabalho. É comum associar o desemprego estrutural ao setor industrial. Este setor deixa mais evidente a perda de postos de trabalho para máquinas ou novos processos de produção, porém isto ocorre também na agricultura e no setor de prestação de serviços. Em muitos lugares, inclusive no Brasil, culpa-se a tecnologia, que estaria roubando empregos e condenando os trabalhadores à indigência. Não há dúvida de que a tecnologia participa do processo, mas é um equívoco condená-la como a vilã do desemprego estrutural. A invenção do tear mecânico, da máquina a vapor ou do arado de ferro foram marcos que resultaram em um aumento significativo da produtividade e conseqüente redução de custos, permitindo a entrada de um enorme contingente de excluídos no mercado consumidor. Da mesma forma que sentimos hoje, o emprego sofreu impacto destes inventos há 150 anos atrás.

Desemprego conjuntural

Existem duas formas de designar o desemprego conjuntural, sendo que ambas estão conectas, desemprego cíclico ou conjuntural. Este resulta da variação cíclica da vida econômica, isto é, das épocas de expansão e das épocas de recessão da economia. Existe uma tendência secular de variações sazonais ou cíclicas que têm uma duração de 3 anos.

É aquele em que a demissão é ocasionada, na maioria das vezes, por crises passageiras. Portanto a demissão é temporária, uma vez que, superada a crise, o emprego é novamente ofertado.

Desemprego friccional

O desemprego friccional resulta da mobilidade da mão-de-obra e pode ser componente do desemprego natural. Ocorre durante o período de tempo em que um ou mais indivíduos se desempregam de um trabalho para procurar outro. Também poderá ocorrer quando se atravessa um período de transição, de um trabalho para outro, dentro da mesma área, como acontece na construção civil. A partir da modernidade, a tecnologia passou a ser um dos principais componentes causadores do desemprego friccional, pois máquinas passaram a realizar trabalhos antes feitos pelo homem, o que forçou uma mudança na atividade produtiva do trabalhador.

48

Salário eficiência e modelos de procura de emprego. Modelos de salário eficiência incorporam a idéia de que as empresas obteriam melhores resultados econômicos ao pagarem, a seus funcionários, salários superiores aos estabelecidos pelo mercado (market clearing wage). Vários são os argumentos teóricos que justificam o pagamento de salário eficiência. Neste artigo estaremos exclusivamente interessados na versão de salário eficiência cujo objetivo é a extração de maior intensidade de esforço dos trabalhadores. Tal versão de salário eficiência é conhecida na literatura como shirking model ou labor discipline model. Os trabalhos teóricos mais importantes sobre a versão shirking da teoria de salário eficiência são Shapiro e Stiglitz (1984), Bowles (1985) e Bulow e Summers (1986). Um ponto em comum em todos estes artigos é o de formalizar as relações de trabalho entre empregados e empregadores como um problema de agente (empregados) e principal (empregadores). O problema de agente-principal surge por conta de assimetria de informação entre as partes envolvidas. No caso especıfico das relações de trabalho, o problema de informação assimétrica surge por conta da impossibilidade, por parte do empregador, de obter informação completa sobre a decisão do empregado quanto ao nível de intensidade de esforço a ser despendido pelo mesmo, enquanto o produto da firma será de conhecimento de ambas as partes envolvidas. Esta impossibilidade justifica-se, por sua vez, pela imperfeição de monitoramento do esforço despendido pelos empregados e os custos que esta atividade de supervisão requer. Neste sentido, a elaboração de um contrato de emprego de compra e venda de intensidade de esforço de trabalho é inviabilizada, restando assim a possibilidade alternativa de elaboração de um contrato incompleto de emprego onde as horas de trabalho e a remuneração são objetos de negociação, porém a intensidade de esforço despendida pelos empregados no período contratado não seria contemplada nas cláusulas contratuais. Dado o caráter incompleto do contrato de emprego, onde a intensidade de esforço não seria objeto de especificação em suas cláusulas e, dado o papel da intensidade de esforço nas funções de produção e lucro da firma, torna-se relevante a necessidade de monitoramento por parte da empresa com o objetivo de extrair valores positivos de intensidade de esforço dos trabalhadores. Nestes modelos o empregador manipula incentivos e punições (carrots and sticks) com o objetivo de persuadir os trabalhadores a implementarem um nível elevado de esforço em suas tarefas. Neste sentido, incentivos na forma de prêmios salariais e punições na forma de demissões resultantes das atividades de monitoramento implicariam em maiores níveis de esforço despendidos pelos trabalhadores.

49

O modelo assume uma quantidade fixa de trabalhadores idênticos cuja utilidade é U = (w − e), com w representando a taxa de salário e o esforço. A escolha dos trabalhadores em relação ao esforço é restrita a dois valores: e =0(shirker) e e > 0 (non-shirker). Trabalhadores com esforço e > 0 sempre estarão empregados ao salário w. Já os trabalhadores que optam pela estratégia e = 0 correm o risco de serem demitidos com uma probabilidade igual a q a cada período (ou unidade) de tempo. No caso de estarem desempregados, os trabalhadores gozam de um benefıcio igual a b. O trabalhador que escolhe a estratégia shirking alterna entre períodos de empregabilidade e de desemprego, onde θ é fração de tempo no qual o trabalhador shirker permanece empregado. Instituições e mercado de trabalho. A intervenção governamental: política salarial e políticas de emprego No transcurso dos anos 80 (na Europa) e na década posterior (no restante do mundo, aí incluído o Brasil), o desafio que representava o crescente desemprego começou a ser combatido através de uma série de políticas públicas que passaram a denominar-se, genericamente, de “Políticas de Emprego” ou “Políticas de Emprego e Renda” Esse tipo de estratégia tem seus fundamentos teóricos e suas diferenças com as ações que, anteriormente, eram vistas como as mais eficazes para elevar as oportunidades de emprego. Com a crescente abertura dos mercados (especialmente dos mercados financeiros), a capacidade de utilizar as ferramentas monetário/fiscais para administrar a conjuntura se reduz dramaticamente. Um país não pode diminuir sua taxa de juros devido a que está em processo de desaquecimento porque uma medida como essa pode provocar uma fuga de capitais que acaba comprometendo seu equilíbrio externo e desacelerando ainda mais o ciclo conjuntural. Os gastos públicos e seus déficits são permanentemente monitorados pelos agentes financeiros internacionais e constituem um motivo de desconfiança nas suas decisões sobre alocação de recursos financeiros. Resumindo, as possibilidades de intervenção no ciclo conjuntural mediante as clássicas ferramentas keynesianas ficaram esgotadas, estando esse privilégio restrito aos grandes centros da economia mundial (EUA, Alemanha e Japão). O nível de emprego não podia ser mais recuperado mediante a utilização das ferramentas macroeconômicas identificadas por Keynes. Políticas de aquecimento se traduziam em desequilíbrios internos (elevação nas taxas de inflação) e externos. Diante desse fato, se o keynesianismo não era a alternativa, as atenções tinham que estar voltadas para o novo pensamento hegemônico. Para o modelo clássico,

50

como já mencionamos, os problemas do mercado de trabalho eram gerados por restrições oriundas desses próprios mercados. Assim, a elevação das taxas de desemprego no mundo a partir de meados dos anos 70 tinham que ser reduzidas por meio de medidas que tinham como espaço de atuação o próprio mercado de trabalho. Lembremos que esta é uma diferença abismal com respeito ao modelo keynesiano, que sustentava que as variáveis do mercado de trabalho tinham que ser administradas mediante instrumentos de política macroeconômica e não através de políticas direcionadas ao próprio mercado de trabalho. Por outra parte, não obstante o processo de internacionalização, os mercados de trabalho continuavam sendo um espaço regulado dentro do antigo Estado-Nação, fato que possibilitava a intervenção estatal. Aqui, podemos diferenciar duas vertentes dentro do pensamento hegemônico, uma mais radical e outra mais moderada. a)A Alternativa Liberal Radical O exemplo normalmente citado para ilustrar esta opção de política tem como referência os EUA de Reagam e a Inglaterra durante Tatcher. A estratégia consistia em enfraquecer os sindicatos, reduzir o valor do salário mínimo, diminuir as ajudas financeiras aos desempregados ou, em geral, enfraquecer o Welfare-State, de forma tal a tornar o mercado de trabalho o mais concorrencial possível ou o mais parecido a um mercado de alface. Na ausência de sindicatos, salário mínimo, etc. a autoregulação dos mercados deveria funcionar de forma mais rápida e eficiente. A queda nos preços (salários reais) deveria ser a resposta a excesso de oferta (desemprego) e, mediante movimentos nas quantidades oferecidas e demandadas, o ponto de equilíbrio (oferta igual a demanda) deveria ser atingido. Em realidade, esta “estratégia” de combate ao desemprego funcionou. Nos países anglo-saxãos, onde a alternativa liberal-radical foi implementada de forma mais rigorosa, a criação de empregos foi particularmente dinâmica e as taxas de desemprego sempre estiveram entre as mais baixas dos países desenvolvidos. b) A Alternativa Social-Democrata Uma versão mais “à esquerda” do novo paradigma foi adotado na Europa Continental e poderíamos denominar de versão “social-democrata” do pensamento hegemônico. A essência da argumentação coincidia com o modelo clássico: a intervenção para reduzir o desemprego tinha que se centrar no mercado de trabalho, as políticas keynesianas eram alternativas que geravam poucos ganhos em termos de oferta de novos empregos e tinham elevados custos em termos de inflação e desequilíbrios. Contudo, não obstante compartilhar a essência do novo pensamento, se distinguia dele dado que não propunha como eixo de sua estratégia uma ofensiva contra os sindicatos, o salário mínimo, o Welfare-State, etc. Sua intervenção consistia em

51

uma série de medidas que se convencionou em denominar de Políticas de Emprego e que será o nosso tema de análise na próxima Seção. Políticas de Emprego Definição Em princípio, o termo de Políticas de Emprego parece muito abrangente e nele poderiam ser incluídas desde as políticas macroeconômicas do tipo keynesiano, visto que as mesmas objetivariam a elevação da oferta de empregos, até mudanças na legislação trabalhista, se esta for identificada como sendo um obstáculo para a abertura de novas vagas. Entre esses extremos caberiam as políticas de redução real do salário mínimo, as políticas de formação profissional, etc. Ou seja, toda política cujo objetivo fosse a geração de novos empregos pode ser definida como uma Política de Emprego. Apesar da pertinência dessa visão, na literatura, o termo Políticas de Emprego circunscreve um leque bem menor de alternativas. Quando se fala em Políticas de Emprego devemos entender só aquelas medidas que tendem a afetar, de forma mais ou menos direta, a oferta e/ou demanda de trabalho. Dessa forma estão descartadas todas as políticas macroeconômicas e as alterações no marco legal/institucional que regula o mercado de trabalho. Também não estão incluídas aquelas medidas que tendem a afetar a demanda de forma indireta e incerta, como o salário mínimo. Assim, seguindo um certo consenso na literatura internacional sobre o tema, vamos entender como Políticas de Emprego aquele conjunto de medidas que atua sobre a oferta de trabalho, reduzindo-a ou alterando seu bem-estar, ou sobre o nível de emprego alterando a demanda de forma direta (criação de emprego públicos, por exemplo) ou indireta (formação profissional). Em ambos os casos se atua sobre o mercado de trabalho e preponderantemente, ainda que não exlcusivamente, sobre a população (oferta de trabalho). Classificação As Políticas de Emprego se dividem entre as Políticas Passivas e as Ativas. Políticas Passivas As Políticas de Emprego denominadas de passivas englobam aquelas ações que tendem a tornar mais “tolerável” a condição de desempregado (mediante uma transferência monetária a todo trabalhador desempregado, por exemplo) ou a reduzir a oferta de trabalho (mediante a aposentadoria precoce, dentre outras) a) O Seguro-Desemprego A Política de Emprego Passiva mais importante é o seguro-desemprego. Classificamos como mais importante em termos de recursos. Tanto no Brasil como nos países da OCDE, os benefícios financeiros aos assalariados desempregados são os que monopolizam a maior parte dos recursos destinados às Políticas de

52

Emprego. Em países como a Finlândia ou a Holanda, por exemplo, as transferências aos trabalhadores desempregados chegam a superar 3% do PIB. Esta é uma típica herança das políticas que integraram o Welfare-State clássico e que se consolidou depois da Segunda Guerra nos países desenvolvidos. A lógica é mais ou menos a seguinte. O desempregado não está nessa condição porque é seu desejo senão porque a economia (a sociedade, em realidade) é incapaz de oferecer-lhe um posto de trabalho. Nessas circunstâncias, para atenuar sua falta de renda, a sociedade deve outorgar-lhe um benefício no período de transição entre um emprego e outro. Justamente, aqui está uma das fraquezas e limitações do seguro-desemprego. Ele foi criado e estendido em um contexto histórico no qual o pleno emprego era a norma. O desemprego ou era oriundo de um problema muito circunscrito (uma firma faliu, por exemplo) ou era circunstancial, queda no nível de atividade que os gestores de política econômica rapidamente iriam reverter. O seguro-desemprego não foi imaginado para sociedades nas quais o desemprego atingia grandes contingentes populacionais e era duradouro. Esta herança do Welfare-State pós-Segunda Guerra foi um dos alvos do novo pensamento econômico, junto com os sindicatos e o salário mínimo. No fundo, a crítica consistia em identificar esse benefício como um dos elementos que ajudavam a elevar o desemprego e tornar mais inflexível o mercado de trabalho. Com efeito, se o seguro-desemprego é de, imaginemos, R$ 100, o assalariado não aceitará um emprego por, no mínimo, essa quantidade. Nesse sentido, reduzir as transferências sociais deveria ajudar, sempre segundo pensamento dominante, a reduzir o desemprego e, nesse sentido, foi uma das políticas que, em maior ou menor medida conforme os países, tendeu a reduzir-se, tanto em termos do montante do benefício como em termos da abrangência temporal (número de prestações). b)Extensão dos Ciclos Escolares. Uma das alternativas para diminuir o desemprego consiste em postergar o início do ingresso no mercado de trabalho. Ao permanecer por mais tempo no sistema escolar, a pressão sobre a oferta de trabalho se reduz (em realidade, se posterga). Se a esse fato agregamos a idéia (não necessariamente certa) segundo a qual quanto maior a escolaridade maiores serão as chances de encontrar emprego, induzir a permanência da população no sistema escolar poderia diminuir, direta ou indiretamente, o desemprego. c) Aposentadoria Precoce Esta possibilidade das Políticas de Emprego Passivas tem certa relação com as ativas e, nesse sentido, ficará mais clara quando analisarmos estas últimas. Contudo, é intuitivo perceber que, em certas ocasiões, um indivíduo, pela sua idade e formação, pode ter sérias dificuldades para reinserir-se, como ocupado, no mercado de trabalho. Nessas circunstâncias, adiantar sua aposentadoria pode ser

53

menos oneroso que pagar o seguro-desemprego por longos períodos, especialmente quando esse benefício está articulado com formação ou reciclagem. Em certas regiões dos países mais desenvolvidos, muito penalizadas pela reconversão produtiva que afetava parcelas importantes da população que por muitos anos tinham trabalhado em um setor agora em crise, adiantar a aposentadoria podia ser uma medida eficaz para reduzir as despesas públicas e diminuir o desemprego. d) Expulsão dos Imigrantes Esta “política” merece ser mencionada devido a que, nos últimos anos, ganhou uma certa “popularidade” nos países centrais. Ao reduzir os imigrantes ou elevar as exigências para o ingresso de trabalhadores estrangeiros, se altera, de forma direta, a oferta de trabalho. É comum que políticos populistas e demagogos ganhem votos entre eleitores ingênuos fazendo uma conta simples. Comparam o número de trabalhadores estrangeiros com o contingente dos desempregados e sustentam que, expulsando os migrantes, a taxa de desemprego cairia de forma significativa. Esses políticos estariam propondo uma “típica Política de Emprego Passiva”: reduzir a oferta de trabalho para diminuir a taxa de desemprego. Logicamente, essa política vem, na quase totalidade dos casos, permeada de proposições racistas. Os aspectos ligados à migração são extremamente complexos e vão desde a funcionalidade da migração nos casos de países com pirâmides etárias muito estreitas na base (muitos passivos por ativo), passando por tarefas que os nacionais não estão dispostos a fazer, ainda que desempregados, até circunstâncias nas quais a migração é, realmente, um fator que deteriora o mercado de trabalho e cria conflitos sociais, culturais e econômicos. Portanto, não abordaremos os aspectos de migração, uma vez que fogem aos objetivos que nos propusemos no presente texto. Políticas Ativas As Políticas Ativas englobam uma série de ações que tendem a elevar o nivel de emprego, geralmente atuando sobre o contingente de trabalhadores. Vamos a analisar as principais. a)Formação Profissional Esta talvez seja a Política Ativa mais popular, tanto no Brasil como nos países mais desenvolvidos. É uma Política Ativa dado que se parte da suposição que ao elevar a qualificação ou formação de um indivíduo aumentam suas chances de encontrar emprego (se estava desempregado) ou de não perder o que já possui (se estava empregado). b)Intermediação

54

Este tipo de ação engloba uma série de atividades que visam um ajuste entre a oferta e demanda de trabalho mais fluido. Entre essas atividades podemos mencionar o levantamento das vagas oferecidas pelas firmas (faixa etária requerida, perfil educacional e de qualificação, salário, perspectivas profissionais, etc.) e as características dos indivíduos que procuram emprego (também faixa etária, qualificação, etc.). Gerenciar esse banco de dados e por em contato a oferta e demanda pode reduzir o desemprego, dado que torna mais rápida a compatibilização entre os recursos humanos requeridos pelas firmas e as aspirações e possibilidades dos indivíduos que procuram emprego. c)Apoio aos Micro e Pequenos Empreendimentos Esta é uma política extremamente popular, especialmente, ainda que não unicamente, nos países subdesenvolvidos. O apoio ou ajuda aos pequenos empreendimentos podem abranger diversas ações, que vão desde crédito dirigido até ao apoio para o desenvolvimento tecnológico, design, identificação de novos canais de comercialização, etc. As justificativas para este tipo de ações são de diversas ordens. Vamos expor só as principais. A primeira, e a que tem, talvez, maior apelo popular, está vinculada à potencialidade em termos de geração de empregos. Sustenta-se que as micro e pequenas empresas são as que mais empregam (quando comparadas com as grandes empresas) e, dessa forma, ajudar a seu desenvolvimento promove, indiretamente, a geração de novos empregos. Contudo, não obstante essa potencialidade, as micro e pequenas firmas enfrentam uma série de restrições para sua consolidação e desenvolvimento que requeririam políticas públicas específicas. Por exemplo, seu acesso ao crédito estaria limitado devido aos pequenos fundos que demandam e a falta de garantias. A pesquisa e desenvolvimento são impossíveis de ser financiadas por micro empresas, fato que requer disponibilizar tecnologia mediante o setor público (ou financiado por ele). Poderíamos estender os exemplos, mas fica mais ou menos evidente que o surgimento, consolidação e sobrevivência das pequenas firmas não é um fato trivial e, nesse sentido, dado o mencionado suposto potencial em termos da geração de empregos, deveria merecer uma política específica. Paralelamente a esses dois fatores (potencialidade em termos de geração de empregos e múltiplas restrições que enfrentam), as micro e pequenas empresas seriam funcionais, como já mencionamos, à nova matriz tecnológica (novas tecnologias). Dessa forma, essas unidades de produção deveriam merecer a atenção das políticas públicas dado que contribuiriam para acelerar o desenvolvimento do país.

55

d)Subsídios à Contratação de uma Determinada População Alvo Uma medida muito utilizada em certos países Europeus e que é classificada como uma Política de Emprego Ativa tem como característica os subsídios (de forma direta ou indireta) à contratação de um grupo populacional com particulares problemas de desemprego. Imaginemos, por exemplo, que o diagnóstico do mercado de trabalho de uma determinada região ou país estabeleceu que os jovens sem experiência nem qualificação têm sérias dificuldades em encontrar emprego. Nesse caso, o governo pode induzir às firmas a contratarem jovens sem experiência e com pouca escolaridade mediante a redução dos encargos sociais (o INSS, por exemplo). Ou seja, através do sistema tributário ou as contribuições sociais, visa-se tornar mais “atraente” a contratação de indivíduos de um determinado grupo social. Em certos casos, essa estratégia de incentivo a certas contratações pode apelar a outras medidas, que não os subsídios. Por exemplo, ter salário mínimos específicos (menores que o normal) para certos segmentos da população. e) Criação Direta de Empregos pelo Setor Público Esta alternativa de elevar o nível de emprego hoje goza de pouco prestígio e é utilizada só em casos emergenciais, como eram, já não existem mais, as frente de trabalho na ocasião das secas no Nordeste. No passado teve certo apelo em certos países desenvolvidos, ainda que em ocasiões muitos específicas, como as grandes crises de desemprego. Contudo, na maioria das ocasiões, essa forma de gerar empregos era indireta, mediante obras públicas e não mediante a contratação direta (elevar o número de funcionários públicos para reduzir o desemprego). De qualquer maneira, devido à nova hegemonia do pensamento clássico e todas suas restrições à elevação dos gastos públicos, à presença do Estado na economia, etc., esta forma de Política de Emprego é marginal e, voltamos a repetir, utilizada só em casos verdadeiramente excepcionais, como nas catástrofes. Políticas de Emprego: Teoria, Diagnósticos e Mimetismo. A análise das Políticas de Emprego pode ser feita sob diversos ângulos. Vamos explorar vários deles. O primeiro, talvez a dimensão mais abstrata, está vinculado ao status que o marco analítico outorga ao mercado de trabalho. Se o arcabouço teórico é keynesiano, as Políticas de Emprego certamente não ocuparão um lugar central na estratégia para reduzir o desemprego. Nesse caso, o debate terá como eixo o crescimento econômico ou o desenvolvimento do país. Esse tipo de discussão ainda que possa ter um certo ranço academicista, certamente está estreitamente ligado ao desenho de políticas. Em certa ocasião, o então Ministro de Trabalho, Edward Amadeo, afirmou que o problema do desemprego no Brasil era de “empregabilidade”, ou seja, os desocupados não

56

encontravam emprego porque não tinham os requisitos, em termos de educação e qualificação, para ocupar as vagas que estavam disponíveis na economia. Podemos concordar com esse diagnóstico ou não, mas certamente essa afirmação colocou o debate bem explícito. Se o problema do desemprego é de “empregabilidade”, certamente não é de crescimento. Existem vagas mas simplesmente os desempregados não podem ocupá-las em função de seu perfil não é o requerido. Nesse caso a política a ser implementada deveria ter como eixo a educação e/ou formação e reciclagem. O ponto que desejamos ressaltar é: a política pública surge (ou deveria surgir) de um diagnóstico, é a resposta a um problema. Se o diagnóstico identifica a existência de desemprego paralelamente a vagas não preenchidas, o problema é de crescimento e não faria sentido, nesse contexto, formar e reciclar trabalhadores. O único resultado seria que a fila de desempregados teria indivíduos mas educados e capacitados tecnicamente, mas o problema de desemprego continuaria intacto. Nessa direção, quando se instrumentaliza uma política de formação profissional e se supõe que ele é um componente com certa relevância na redução do desemprego, é de imaginar que exista um estudo prévio no qual foi identificado que há desempregados e que, simultaneamente, existem vagas para as quais é, o mínimo, muito oneroso encontrar candidatos que preencham os requisitos necessários para ocupá-las. Para que uma política pública tenha alguma chance de ter alguma efetividade tem que estar fundamentada em diagnósticos. O segundo aspecto que desejamos mencionar está vinculado ao caráter nacional do funcionamento do mercado de trabalho. Não obstante a tendência à internacionalização dos mercados de bens e serviços, a regulação dos mercados de trabalho continua operando-se no âmbito de cada Estado-Nação. Cada país, por outra parte, se singulariza por apresentar características próprias de regulação dos mercados de trabalho (legislação, instituições, cultura, tradições, etc.). Aqui não queremos entrar no mérito da questão. Ou seja, o mercado de trabalho funcionaria melhor se não existisse um marco regulatório e funcionasse como um mercado de tomates, o tipo de mercado dos corriqueiros livros-texto de microeconomia. Nós consideramos que esse tipo de discussão é irrelevante. O ponto é: as instituições existem e não se pode tratar o mercado de trabalho como um mercado de alface. Por que essa discussão é importante? Porque o funcionamento e os problemas dos mercados de trabalho tem tempo e espaço. Não podemos fazer paralelos entre o mercado de trabalho na Suécia e o mercado de trabalho no Brasil. Inclusive, temos que ser muito cuidadosos quando comparamos um mercado de trabalho de um mesmo país em dois momentos do tempo. Vamos dar um exemplo. Um dos maiores problemas do mercado de trabalho Italiano é o desemprego dos jovens, inclusive dos jovens com formação universitária, para os quais a taxa de desocupação chegou a situar-se em patamares próximos de 40%. Com o tempo, esses jovens (com formação superior completa) logravam uma

57

satisfatória inserção no mercado de trabalho, reduzindo-se significativamente sua desocupação e elevando-se os rendimentos. Ou seja, a Itália enfrenta um problema de transição entre o sistema escolar e o mundo do trabalho. A Alemanha não enfrenta esse problema, devido à peculiar característica de seu sistema de ensino, que mistura a formação escolar com a formação no próprio “chão de fábrica”, uma tradição com raízes medievais. Nesse contexto, a transição entre o sistema escolar e o mercado de trabalho é muito menos onerosa em termos de desemprego juvenil. A conclusão óbvia é: não podemos aplicar a mesma política de emprego na Alemanha e na Itália. Os problemas são diferentes. Essa argumentação, que nos parece tão natural, tanto em termos intuitivos como de fundamentação teórica e histórica, não é tão direta. No Brasil, se aplicaram (e se aplicam) e se propõem políticas públicas que foram gerados em outros contextos. Vamos analisar com certo cuidado este ponto, mencionando três aspectos que nos parecem relevantes. Tomemos o caso da formação profissional. Essa política tem um diagnóstico teórico e um marco histórico de referência (os países da OCDE) que deve merecer um exame particularmente cuidadoso quando se quer transpô-la a outro contexto. Uma Política de Emprego não é boa porque foi aplicada em um país e foi avaliada positivamente (que, lamentavelmente, não é o caso da formação profissional). O problema do Brasil é a existência de vagas que não podem ser preenchidas por falta de indivíduos com o perfil educacional/técnico adequado ? Onde está a verificação empírica desse diagnóstico ? Em realidade, não seria temerário sustentar que não existe diagnóstico. Simplesmente, em uma atitude de mimetismo, a política foi implementada no Brasil porque era popular nos países desenvolvidos. Em um mundo no qual os países periféricos importam as idéias prevalecentes nas regiões mais desenvolvidas sem nenhum crivo crítico ou processo adaptativo, a imagem que se tem é que o Brasil centrou sua estratégia de geração de empregos nas Políticas de Emprego simplesmente porque essas eram as políticas adotadas nos países centrais. Se nós lemos certos programas de governo de candidatos à eleição presidencial passada, em muitos deles as partes dedicadas à geração de emprego parecem um cópia, sem citação, dos tradicionais argumentos que são anualmente reproduzidos nos OCDE Employment Outlook´s. Resulta extremamente difícil entender como um Ministro do Trabalho do Brasil dos anos 90 possa ter afirmado que o problema do desemprego do país é de “empregabilidade”, quando qualquer estudante de um curso de graduação de Economia do Trabalho sabe que a maior taxa de desemprego do Brasil está situada nos níveis de escolaridade médios (a curva de desemprego por nível de escolaridade é um U invertido). O segundo ponto que desejamos mencionar vai além dessa falta de diagnóstico que fundamenta as políticas públicas. Além de importar estratégias imaginadas em outros contextos, essa importação foi parcial, dado que foram importados os diagnósticos e as políticas, mas não foram levadas em consideração as avaliações. Os resultados da maioria das avaliação realizadas em países da OCDE das políticas de formação profissional, por exemplo, deram como resultado

58

efeitos duvidosos. Ou seja, mesmo no contexto no qual foram geradas, esse tipo de intervenção pública mostrou pouca efetividade. Não obstante esses resultados, a mesma (a política de formação profissional) constituiu a principal política ativa no Brasil no transcurso dos anos 90. Por último, queremos chamar a atenção para um terceiro aspecto, que está vinculado ao caráter continental, por isso, necessariamente heterogêneo do Brasil. Essa heterogeneidade permeia aspectos (econômicos, sociais, ecológicos, culturais, etc.) cruciais para entender o mercado de trabalho. Em realidade, em um país como o Brasil não se pode falar em “mercado de trabalho” senão em “mercados de trabalho”. Os pontos de contato entre os problemas do mercado de trabalho de Rio Grande do Sul e Roraima serão mínimos. Assim, os diagnósticos devem ser locais e as políticas, balizadas nesses diagnósticos, também devem apresentar um marcado caráter local. Poder-se-ia argumentar que este ponto já foi incorporado nas políticas sociais no Brasil, tanto as direcionadas ao mercado de trabalho como as restantes. Em termos gerais, a resposta a esse comentário pareceria ser afirmativa. O país adotou certas singularidades das modernas políticas sociais (descentralização, parceria com a sociedade civil, avaliação, etc.) que hoje representam uma tendência mundial, inclusive no caso do mercado de trabalho. Contudo, essa descentralização, muitas vezes, não chega ao fundo da questão. Vamos ilustrar esta afirmação. Tomemos, outra vez, o caso da formação profissional. A política nacional se formula a partir dos PEQ´s (Planos Estaduais de Qualificação). Assim, a formulação, execução e avaliação são descentralizadas, tendência que deveria gerar uma política flexível, capaz de ser desenhada segundo as necessidades locais. Contudo, essa descentralização é parcial na medida em que não se descentraliza a Política de Emprego senão a Política de Formação Profissional. Vamos apresentar uma possibilidade teórica, mas plausível. Suponhamos um Estado no qual a principal restrição à geração de postos de trabalho não seja a formação profissional, mas outra variável (crise na pequenas empresas, etc.). O Governador desse Estado vai incluir atividades vinculadas à formação profissional, caso contrário, ele não vai se beneficiar dos recursos do PLANFOR, ainda que possua diagnósticos nos quais a principal restrição à geração de emprego não seja a formação profissional. Em outros termos: importa-se um diagnóstico e a política a ele associado e, depois, universaliza-se essa conduta para o conjunto do território nacional, não obstante o caráter continental do Brasil. Não seria ousado imaginar um Estado no qual todos os recursos das Políticas de Emprego devessem ser direcionados para a formação e reciclagem (um Estado que experimentou um choque setorial negativo, por exemplo) e outro no qual o centro da estratégia de política fosse a ajuda creditícia às pequenas unidades de produção agrícolas locais.

59

Resumindo: a descentralização deveria ser na essência. Cada estado ou região deveria ter um diagnóstico sobre seu mercado de trabalho identificando seus problemas e, a partir deles, desenhar a estratégia de intervenção pública. As práticas internacionais deveriam ser levadas em consideração como experiências a serem utilizadas como referência e não como políticas a serem copiadas. Assistência ao desemprego

O Seguro-Desemprego, desde que atendidos os requisitos legais, pode ser requerido por todo trabalhador dispensado sem justa causa; por aqueles cujo contrato de trabalho foi suspenso em virtude de participação em curso ou programa de qualificação oferecido pelo empregador; por pescadores profissionais durante o período em que a pesca é proibida devido à procriação das espécies e por trabalhadores resgatados da condição análoga à de escravidão.

Esse benefício permite uma assistência financeira temporária.

O valor varia de acordo com a faixa salarial, sendo pago em até cinco parcelas, conforme a situação do beneficiário.

O dinheiro pode ser retirado em qualquer agência da CAIXA, nos Correspondentes CAIXA AQUI Lotéricos, nos Correspondentes CAIXA AQUI ou nos terminais de auto-atendimento. No caso do auto-atendimento, as parcelas com centavos não são pagas.

Sindicato: monopólio bilateral e monopsônio.

Frente a isto, numa indústria existem casos em que aparecem, de um lado, os monopólios, ou grupos que individualmente dominam determinados produtos, ou insumos e, por outro lado, os monopsônios que dominam uma situação de compra de determinado insumo, produto, cujos casos são conhecidos normalmente como sendo um mercado que está em situação de monopólio bilateral. O monopólio ao confeccionar o seu produto, encara os vendedores dos insumos que ele necessita como sendo competição perfeita, cujo preço entre os fatores é determinado pela

60

lei da oferta e da procura. O monopsonista maximiza seus lucros quando a sua receita do produto marginal deve ser igual ao gasto marginal com o insumo, isto significa dizer que ele sempre emprega um insumo (L) qualquer, até onde o produto da receita marginal for maior do que os gastos marginais com o insumo (L) utilizado.

No gráfico a seguir, verifica-se que no eixo vertical ficam os valores denominados por ($) e no eixo horizontal as quantidades de insumo (L). Já que se está utilizando somente um insumo produtivo nesta configuração. A reta (R)

designa a demanda do monopsonista e (S) e (GMg), a oferta e os gastos ou despesas marginais com o insumo (L) em consideração.

Numa situação de competição

perfeita, o preço do insumo seria determinado em

(W*), correspondendo á quantidade de (L*), entretanto, numa situação negociada entre

o monopsonista e o monopólio, o preço de (L) passa a ser ( 1W ), com uma

quantidade de ( 1L ), ao invés de (L*). Isto está demonstrado pela igualdade

existente entre RMg = S, caracterizado pelo ponto (A) neste quadro. Daí, verifica-se que a condição de equilíbrio para o monopsonista é RMg = GMg, cujo preço de L em competição perfeita (A) é menor do que no monopsonismo.

Assim sendo, observe que o mesmo modo que uma estrutura de mercado que esteja em exploração monopolista obedece á mesma estrutura de metodologia de análise do monopolista e o princípio de exploração é e será sempre o mesmo, tanto de um lado, como de outro, cuja negociação ambos abdicam de algo, favorecendo a todos. Pela mesma ótica que um industrial vende seu produto determinando o seu preço monopolista de dominação e exploração mercadológica, o monopsonista age da mesma maneira, ditando as suas normas nas compras de seus insumos para uma melhor viabilidade de seus produtos que utilizam tais insumos. Hoje, é muito comum o processo de barganha entre monopólio de um lado e monopsônio de um outro, cuja solução econômica fica muito difícil de previsão de resultado, aparecendo assim uma solução política, onde os acordos devem ser a tônica mais comum na dinâmica da sobrevivência mercadológica.

61

Como é bastante conhecido, não existe monopólio e nem tão pouco monopsônio de forma pura, mas existe situação em que se pode caracterizar tal comportamento, isto quando se fala de sindicatos se defrontando frente a frente, para tentar dar solução a determinado problema, como o caso do sindicato dos trabalhadores frente ao dos patrões em suas negociações salariais. O único meio de pressão que os trabalhadores possuem é na criação de um sindicato que é uma forma de monopsônio, que negocia com o sindicato dos empresários tudo que diz respeito a sua categoria, e, nisto entram em cena os dois comerciantes um de compra e o outro de venda. É desta forma que funciona a dinâmica da relação monopólio e monopsônio, cujo economista, com a sua eficiência não tem condições de opinar nem por um lado, nem pelo outro, deixando o bom censo agir a quem tiver mais habilidade na técnica de negociar.

O mercado de trabalho no Brasil.

Até pouco tempo, as relações de trabalho eram caracterizadas por meio de contratos formais realizados entre ‘patrões’ e ‘empregados’, que normalmente se colocavam em pólos opostos (com interesses divergentes, quando não antagônicos): os sindicatos tendiam a ser fortes e a defender os interesses dos seus associados. Quanto mais tempo o trabalhador ficasse em uma empresa, maiores eram suas chances de ‘fazer carreira’ e menor a possibilidade de ser rompido o vínculo trabalhista. O perfil do trabalhador médio era constituído por indivíduos do sexo masculino, de baixa escolaridade, formado ‘no chão de fábrica’, que trabalhava nas indústrias, diretamente nas linhas de produção.

Hoje a situação é bem diferente. O trabalhador da indústria já não é mais dominante, está mais escolarizado, compete com as trabalhadoras pelas vagas no mercado de trabalho, não tem a garantia do emprego para toda a vida, interessa-se menos pela associação junto aos sindicatos tradicionais, está submetido a pressões crescentes para aumentar sua produtividade, corre mais riscos de se ver desempregado, tem maior possibilidade de negociar seus rendimentos em função do valor que agrega à produção.

Em outras palavras, as noções de trabalho/emprego/segurança social, tratadas quase como sinônimas, mudaram com o passar do tempo, em interação com a evolução da sociedade e das condições da produção. Assim como mudaram as realidades que se escondem por trás dessas noções.

Vários são os fatores que, conjuntamente e em interação, contribuíram para a construção desta nova realidade do trabalho. Entre eles a globalização econômica e a disseminação das inovações tecnológicas e organizacionais; as transformações no papel dos estados; a disseminação do individualismo como valor nas sociedades contemporâneas; e o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho.

62

O impacto desses fatores, por sua vez, pode ser percebido na nova configuração do mercado de trabalho, com o aumento do nível de desemprego, o crescimento da informalização nas relações trabalhistas, o deslocamento setorial do emprego, e a transformação nos requisitos funcionais, com a exigência de novas habilidades e competências, bem como da polivalência funcional.

Nas empresas observa-se, ainda, o recurso ao desenvolvimento e manutenção de um núcleo sólido de trabalhadores, altamente capacitados e qualificados, que auferem maiores benefícios e salários e com os quais as relações tendem a ser mais estáveis; segue-se um estrato de trabalhadores ‘mais flexíveis’, em boa parte terceirizáveis, com relações mais precárias e com menos garantias trabalhistas, acompanhado ainda de trabalhadores satélites, de baixa qualificação, facilmente substituíveis.

Mas a nova dinâmica do trabalho também atinge a estruturação micro da vida cotidiana e coloca em discussão determinadas categorias de organização social, tais como a separação clássica do tempo de trabalho x tempo livre, que graças aos desenvolvimentos das tecnologias de informação e comunicação, tornam-se cada vez mais imbricados, e repercute também na leitura e compreensão das fases humanas de juventude, idade adulta e velhice.

A seguir serão abordados quatro aspectos centrais relativos a essas transformações bem como as perspectivas futuras do seu desenvolvimento, quais sejam: a mulher no mercado de trabalho; as transformações no conteúdo do trabalho e nas formas de emprego; o trabalhador dos serviços e a nova economia e, por último, o trabalhador industrial e a fábrica do futuro.

A Mulher no Mercado de Trabalho

Nas últimas décadas, as mulheres invadiram o mercado de trabalho. No Brasil, a participação feminina aumentou expressivamente: em 1999 representavam 41,4% da PEA contra 31,7% em 1979.2 Esse ingresso veio associado a transformações nas relações familiares e conjugais (como exemplo, o número de famílias chefiadas por mulheres encontra-se em constante crescimento – em 1989 representavam 20,1%, em 1999 chegou a 26%). Esses avanços, no entanto, encobrem obstáculos importantes a serem superados no século XXI.

O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) elaborou dois índices para mensurar o avanço feminino na sociedade e no espaço de trabalho: o ‘índice de desenvolvimento relacionado ao gênero (GDI)’ e o ‘índice de poder (empowerment - EM) de gênero.4 No primeiro índice, o Brasil ocupa a 66ª posição, bem atrás da Argentina (35), Uruguai (37) e México (50) e até de países islâmicos como a Malásia (57) e a Líbia (65). No índice EM, o Brasil não se posiciona melhor (dados de 1998).

Em outras palavras, as mulheres representam mais de 40% da força de trabalho no país. Porém, esta inserção ainda é preponderante nas ocupações e ofícios que

63

guardam correlação direta com as funções que elas desempenham no espaço doméstico, tendo menor status social e demandando menor qualificação formal; conseqüentemente auferindo menor renda.

E, apesar de estudarem por um período mais longo, obtendo no setor industrial, por exemplo, um ano a mais de escolaridade do que os homens, o diferencial de remuneração persiste elevado: em São Paulo, por exemplo, as mulheres recebem, por hora, 76% do rendimento obtido pelos homens e o desemprego feminino fica sempre acima do masculino. E quanto maior a escolaridade, maior a diferença salarial entre homens e mulheres na mesma ocupação. Esse padrão se repete em muitos países. Mas, para mulheres brancas, esta diferença em relação aos homens está caindo. Projeções indicam que daqui a 30 anos não haverá mais discriminação salarial contra elas.

As barreiras, visíveis e invisíveis, que mantêm as mulheres fora dos cargos mais qualificados e mais bem remunerados são inúmeras: a feminização de determinadas profissões e sua subseqüente desvalorização, resistências sociais, a maternidade e a desigualdade na divisão das tarefas domésticas, a falta de massa crítica de mulheres nas organizações, etc.

Mas as mulheres reivindicam, cada vez mais, os seus direitos e conforme apontado em pesquisa da Harvard Business Review as empresas estão mudando as suas estratégias de forma a recrutar e reter mulheres qualificadas. Algumas das mudanças implementadas:

- diálogo extenso sobre as mudanças necessárias na cultura organizacional (workshops e reuniões dirigidas);

- implementação de políticas para equiparar salários e oportunidades;

- designação de responsáveis pela implementação de mudanças;

- avaliação (quantitativamente e qualitativamente) de progressos em áreas específicas.

Como ocorre na grande maioria dos processos de mudança organizacional, a liderança e as iniciativas específicas partem da alta hierarquia da empresa e são depois difundidas por todo o corpo empresarial. A briga que as mulheres precisarão enfrentar para conseguir uma maior igualdade envolve poder. E será travada cada vez mais em todas as esferas: políticas, dentro de casa e na empresa.

As principais tendências associadas ao avanço das mulheres no mercado de trabalho são:

64

- penetração maior de mulheres em ocupações antes restritas aos homens (na indústria, por exemplo, as mulheres avançam em profissões como soldadores e operadores de máquinas);

- maternidade adiada e menor número de filhos;

- aumento do padrão de consumo familiar e do investimento em educação;

- crescente reivindicação por igualdade cívica e política.

As Transformações no Conteúdo do Trabalho e nas Formas de Emprego

A adoção de novos modelos produtivos baseados nos princípios da produção enxuta (lean production), associada à difusão das novas tecnologias nos processos produtivos propiciou, por um lado, o aumento da produtividade no trabalho e, por outro, uma intensa substituição do trabalho vivo por trabalho acumulado nos sistemas e equipamentos. Ocasionou também um forte deslocamento setorial do trabalho e do emprego, resultando no desaparecimento de postos de trabalho na indústria, ao mesmo tempo em que criou novas oportunidades ocupacionais, sobretudo no setor terciário.

Seus impactos são sentidos, principalmente, nas transformações que se colocam ao conteúdo do trabalho e no uso das qualificações e nas formas de emprego.

Em relação ao conteúdo do trabalho, para aqueles trabalhadores que logram manter-se ativos no mercado, espera-se cada vez menos que seu desempenho profissional paute-se pelo cumprimento de tarefas prescritas (tal como ocorria nas organizações tayloristas). Ao contrário, sua performance passa a ser associada ao cumprimento de ‘missões’, cujo componente de avaliação, em última instância, consiste na capacidade de produzir mais, em menos tempo, maximizando os recursos. Traduzindo, há um incentivo crescente para que os trabalhadores passem a intervir no processo, corrigindo erros, resolvendo problemas que se apresentam, negociando junto a colegas, superiores, fornecedores e clientes.

Para tanto, o perfil desse novo trabalhador passa a exigir novas habilidades, até então relegadas a segundo plano e até mesmo negadas nas relações de trabalho anteriores. Acresce que, a esses papéis, soma-se ainda a necessidade de lidar com as tecnologias de informação e de comunicação (presentes nos novos equipamentos e instrumentos) que demandam o domínio de códigos abstratos e novas linguagens.

Outras competências, como raciocínio lógico-abstrato, habilidades sociocomunicativas, responsabilidade, disposição para correr riscos e espírito de liderança, passaram a ser demandadas. A destreza em outras línguas (como inglês) e linguagens (como informática) estão se tornando pré-requisito para o

65

ingresso e manutenção em um mercado de trabalho estruturado. Disposição para ‘aprender a aprender’ em temporalidade contínua, ao longo da vida, também passou a fazer parte do portfólio mínimo para a empregabilidade.

O exercício destas novas competências tem resultado, também, numa crescente individualização das relações de trabalho, nas quais cada profissional passa a ser remunerado pela quantidade de valor que agrega aos produtos e aos processos. Há, ainda, um forte apelo à aprendizagem ‘para o resto da vida’, isso porque a lógica que rege as competências é, por princípio, calcada na interminalidade, um constante vir-a-ser, na qual as capacidades humanas se constróem e reconstróem a cada dia em confronto com situações-problema concretas apresentadas pela realidade do trabalho. Deste modo, a finitude da educação é substituída pela educação permanente como estratégia de atualização e aquisição dos novos conhecimentos e atributos.

Já em relação às formas de emprego, como resultante da reestruturação e do crescimento das práticas de terceirização, observa-se o declínio do emprego formal e a ampliação dos contratos ‘atípicos’ (por tempo determinado, por prestação de serviços, estágios, etc) e da informalidade.

A nova dinâmica do mercado de trabalho nos modelos produtivos que se pautam pela acumulação flexível apresenta-se cristalizada em diferentes estratos:

- no centro, haveria um grupo composto por empregados ‘em tempo integral’, qualificados, essenciais para o futuro de longo prazo das organizações, e sob os quais a flexibilidade dar-se-á a partir do apelo à multifuncionalidade (e à mobilidade geográfica). Gozariam de maior segurança no emprego, boas perspectivas de promoção e reciclagem, aposentadoria e outros benefícios.

- ao redor destes haveria dois grupos distintos, formando a ‘periferia’:

o primeiro, composto por trabalhadores de tempo integral mas com competências fartamente disponíveis no mercado, estaria sujeito a uma flexibilidade numérica, ou seja, uma maior rotatividade, menos segurança e menos oportunidade de carreira.

- o segundo grupo ofereceria possibilidades de flexibilidade numérica ainda maior, e incluiria os empregados em tempo parcial, trabalhadores temporários, casuais, etc.

O Trabalhador dos Serviços e a Nova Economia

A nova dinâmica do mercado de trabalho vem resultando em grandes deslocamentos setoriais. Para se ter uma idéia, na década de 40, o setor de serviços concentrava apenas 20,5% dos empregos no país. Nos anos 90, esse número havia praticamente triplicado, passando para 59,5%.

66

O dinamismo desse setor na criação de empregos no Brasil se explica por três razões principais:

- aumento de sua participação na economia;

- o fato de que o setor funciona como um amortecedor do desemprego gerado em outros ramos de atividade. Com a demissão da mão-de-obra das indústrias, proliferam formas alternativas, informais, de gerar renda, como o pequeno comércio e vendas;

- a crescente participação feminina na força de trabalho.

Os setores de serviços que mais tendem a crescer nos próximos anos são:

- Telecomunicações e Informática: neste setor, a tendência é o aumento da exigência quanto à qualificação formal da mão-de-obra, perda de empregos em empresas de porte muito grande (mil empregados) e de crescimento do emprego nas categorias micro, pequena e média empresas.

- Comércio: as três categorias do setor (comércio de veículos, motocicletas e combustíveis; atacadista e varejista) empregaram em 1998 um total de 4,5 milhões de pessoas. A expansão deste setor é fortemente ligada à atividade econômica do país.

- Setor Financeiro: o setor apresentou recuperação em 2000 após ser fortemente atingido pela crise de 1999. Existe um grande movimento de concentração no setor associado à internacionalização do setor financeiro. O potencial de emprego é grande já que existem incentivos para a expansão do setor.

- Turismo: é um dos campos mais promissores para a geração de empregos e crescimento econômico do país. Em sua ampla cadeia produtiva, o turismo repercute em 52 segmentos diferentes da economia e mantém cerca de 5 milhões de empregos, formais e informais. A meta para o ano 2003 é aumentar para 6,5 milhões o fluxo de turistas internacionais e para 57 milhões o de turistas nacionais.

Na nova economia os sinais são promissores, mas ainda confusos. Em um cenário otimista, projeta-se um crescimento para 19,77 milhões de computadores no Brasil, com 15,38 milhões de usuários da Internet, em 2003. Em um cenário menos positivo, esses números cairiam para 12,0 e 9,3 milhões respectivamente.

Nas cadeias produtivas, a disseminação da rede tem provocado alterações tanto na forma de organização dos processos produtivos quanto na própria concepção de empresas e negócios. A expressão mais visível dessa mudança é a forte expansão das empresas virtuais, ou pontocom, no final da década de 90.

67

Assistimos atualmente a um processo bastante turbulento de ajuste desse novo setor, com impactos negativos sobre o emprego no curto-prazo. Mas, como assinala Malinvaud, os efeitos das novas tecnologias sobre o trabalho e a produtividade são de lenta difusão, portanto os seus impactos positivos, já fortemente sentidos nos EUA, se propagam pelo restante do globo mais lentamente. Assim, mesmo considerando as atuais turbulências, o crescimento da nova economia deverá ser mantido.

Para Castells, dois modelos distintos de ‘sociedade informacional’ parecem estar se configurando.

O primeiro, chamado de ‘modelo de economia de serviços’, representado pelos EUA, GB e Canadá, é caracterizado por uma rápida eliminação do emprego industrial e pelo crescimento nos setores ligados à informação. Os serviços que mais se destacam são aqueles voltados à administração do capital, em detrimento dos serviços ligados à produção. Paralelamente, expande-se o setor de serviços sociais com aumento de empregos na área da assistência médica e, em menor grau, no setor educacional.

O segundo, chamado de ‘modelo de produção industrial’, é representado pelo Japão e, em menor grau, pela Alemanha. Neste, o emprego industrial é reduzido de forma bastante gradual e ainda se mantém em patamares bastante elevados. Os serviços relacionados à produção são mais importantes do que os serviços financeiros, o que não quer dizer que as atividades financeiras não sejam relevantes, muito pelo contrário, mas a maior parte do crescimento em serviços ocorre para empresas e serviços sociais.

As diferentes expressões destes modelos, em cada um dos países analisados, dependem do seu posicionamento face à economia global. Já a natureza da inserção de cada país nas relações globalizadas reflete as políticas governamentais adotadas e as diversas estratégias empresariais, que podem ser muito cambiantes. O mercado de trabalho, por sua vez, reflete estes movimentos, concentrando-se mais em um setor do que em outro. Tais concentrações não são ‘destinos inexoráveis’, mas, sim, produtos de estratégias e escolhas que podem, dependendo do interesse dos agentes envolvidos, tomar rumos distintos.

O Trabalhador Industrial e a Fábrica do Futuro

Se o processo de reestruturação da indústria brasileira, iniciado em 1990 com a abertura externa, teve impactos negativos, como a elevação do desemprego, teve também conseqüências positivas para a competitividade do país, incluindo a elevação das competências dos trabalhadores industriais.

A taxa de alfabetização dos trabalhadores empregados na indústria supera os 95% em todas as regiões do Brasil (com exceção da região Nordeste. Para as regiões Norte e Centro-Oeste, a taxa chega aos 100%), independentemente do

68

sexo, da idade e da faixa salarial, incluindo trabalhadores que recebem menos de três salários-mínimos. A exigência quanto ao nível de escolaridade mais elevado atinge principalmente o trabalhador mais jovem: quanto mais jovem o trabalhador ingressando na indústria, maior a probabilidade de ser alfabetizado (idade de 10 a 19 anos, alfabetização 99,4%).

O trabalhador da indústria brasileira tem uma qualidade de vida média. A maioria (59%) desfruta da vantagem de morar perto do local de trabalho e de ter apenas um trabalho (98,2%). Em relação aos benefícios concedidos, o auxílio alimentação ocupa posição de destaque (52,1%), seguido pelo auxílio transporte (51,8%) e saúde (35,4%). O auxílio educação ou creche é quase nulo, apenas 3,4% recebem este benefício.

Por último, uma grande parte dos trabalhadores reside em domicílio próprio (73%), com luz elétrica (99,5%), água canalizada (95,4%), coleta de lixo (93,6%) e bom acesso à água da rede geral (88,9%). O acesso à rede coletora de esgoto é, no entanto, mais precário (66,6%) e extremamente precário no Norte (16,6%). Vale destacar que a residência do trabalhador é bem equipada no que se refere a bens de consumo e eletro-eletrônicos: mais de 90% possui os seguintes bens: geladeira, televisão, fogão e rádio.

Para o futuro, as principais tendências são:

- deslocamento das atividades e da mão-de-obra da indústria para os serviços, especialmente para os serviços de apoio às atividades industriais em função das terceirizações;

- declínio estável do emprego industrial tradicional;

- crescente interdependência da força de trabalho em escala global;

- movimento contínuo em direção à elevação do perfil de escolaridade do trabalhador.

Diante deste quadro, como será a fábrica do futuro? Imagina-se que, nesse campo, já está rompendo e, irá se romper cada vez mais, com a idéia tradicional de fábrica. A arquitetura, que se redesenha, é apenas um reflexo de conceitos e de crenças corporativas que devem marcar o terceiro século da industrialização.

Os esforços na construção dessa nova visão de fábrica giram em torno de alguns grandes eixos:

- poder no chão da fábrica – funcionários de todos os níveis hierárquicos desempenham múltiplas tarefas;

69

- comunicação no centro – a informação deve fluir livremente pelo espaço de trabalho, essencial para a gestão do conhecimento;

- desenvolvimento sustentável – o crescimento será apoiado em práticas ambientalmente corretas;

- obsessão pela qualidade;

- importância da logística;

- foco no cliente.

Finalmente, quanto à tecnologia, vale lembrar que a fabricação automatizada já contabiliza 45 anos de desenvolvimento, mas está apenas começando a desabrochar. É possível vislumbrar a longo prazo a tecnologia de fabricação se transformando, pela nanotecnologia, em uma máquina que pode fabricar objetos usando um átomo ou uma molécula de cada vez – tornando irrelevantes as matérias-primas utilizadas. Logicamente, isto terá desdobramentos sobre os processos de trabalho e os trabalhadores.

Comentários Finais

Em se tratando do mundo do trabalho, nada indica que o processo de transformações iniciado tenha chegado à maturidade. Muitos e surpreendentes eventos ainda virão, especialmente com os avanços da biotecnologia. Possivelmente, o processo de desemprego, exclusão social e de pauperização que vem atingindo as sociedades tornar-se-á ainda mais agudo, criando uma cisão maior entre os países do ‘norte’ e do ‘sul’.

Mas permanece a esperança de que os atores sociais, organizados em instituições políticas e civis, busquem soluções para minimizar estes efeitos. O ano internacional do voluntariado traz, por um lado, a necessidade de abrir espaços de reflexão sobre ‘que trabalho’ e ‘para quem’, mas também traz, por outro lado, a esperança de que os homens, no exercício de sua racionalidade, encontrarão novas respostas para os problemas que criam. Afinal, deve haver sempre um momento em que uma porta se abre para deixar entrar o futuro.

70

Sociologia do Trabalho:

A Sociologia do trabalho é o ramo da Sociologia que procura estudar os sujeitos ocultos do ambiente de trabalho, principalmente as fábricas e os sindicatos estruturados, bem como os fenômenos que surgem das relações de trabalho.

Durante a maior parte da História da Civilização o trabalho foi considerado como uma atividade depreciável. A palavra trabalho evoluiu da palavra "Tripalium", castigo que se dava aos escravos preguiçosos. Para o mundo protestante europeu não latino, o trabalho não é um castigo, e sim uma oferenda a Deus. Os gregos da Idade de Ouro pensavam que só o ócio criativo era digno do homem livre. A escravidão foi considerada pelas mais diversas civilizações como a forma natural e mais adequada de relação laboral. Desde os meados do século XIX, vinculado ao desenvolvimento da democracia e ao sindicalismo, a escravidão deixa de ser a forma predominante de trabalho, para ser substituída pelo trabalho assalariado. Com o surgimento de uma valorização social positiva do trabalho, pela primera vez na história da civilização.

A partir da segunda guerra surgem conceitos da sociologia do trabalho: "divisão de trabalho", "classe social", "estratificação social", "conflito", "poder".

A Sociologia presta atenção e estuda as implicâncias sociais da relação de trabalho com a ferramenta (técnica e tecnología). As profundas transformações que derivam do passo do trabalho com simples ferramentas individuais (artesanato), ao trabalho industrial com grandes máquinas (maquinismo), ao trabalho com computadores (sociedade de informação), constituem um permanente tema de estudo sociológico.

O Conceito de Trabalho. O Termo trabalho se refere a uma atividade própria do homem. Também outros seres atuam dirigindo suas energias coordenadamente e com uma finalidade determinada. Entretanto, o trabalho propriamente dito, entendido como um processo entre a natureza e o homem, é exclusivamente humano. Neste processo, o homem se enfrenta como um poder natural, em palavras de Karl Marx, com a matéria da natureza. A diferença entre a aranha que tece a sua teia e o homem é que este realiza o seu fim na matéria. Ao final do processo do trabalho humano surge um resultado que antes do início do processo já existia na mente do homem. Trabalho, em sentido amplo, é toda a atividade humana que transforma a natureza a partir de certa matéria dada. A palavra deriva do latim "tripaliare", que significa torturar; daí a passou a idéia de sofrer ou esforçar-se e, finalmente, de trabalhar ou agir. O trabalho, em sentido econômico, é toda a atividade desenvolvida pelo homem sobre uma matéria prima, geralmente com a ajuda de instrumentos, com a finalidade de produzir bens e serviços.

71

Em resumo, o processo de qualquer trabalho inclui: 1 – atividade (a ação racional de concepção do próprio trabalho e sua execução); 2 - orientação para um objetivo (finalidade); 3 – o objeto (matéria onde será executado o trabalho, por exemplo, algodão); 4 – os meios (ferramentas, instrumentos, corpo, equipamentos, etc); 5 - o trabalho mesmo (resultado ou produto). No entanto, Marx não aceita, como Hegel, que todo trabalho é positivo. Só o trabalho útil é positivo, ou seja, aquele no qual existe um caráter social. Quando alguém é obrigado a vender sua força de trabalho (a capacidade de executar o trabalho), muda o sentido do trabalho. O trabalhador põe sua energia no trabalho, mas o produto de seu esforço passa a não lhe pertencer mais. Quem o fez não o reconhece, pois não o concebeu. O objeto se torna estranho como um feitiço. E isto faz com que se torne estranho o homem diante de si mesmo e do outro que comprou sua força de trabalho, pois sente-se rebaixado a simples meio. Ele não foi o dono da ação, que deveria ser uma atividade livre. Seu trabalho tornou-se um meio para uma produção, uma coisa, como se fosse uma mera ferramenta. Ao vender seu trabalho e a si mesmo, o homem torna-se mercadoria, assim como sua atividade de trabalho e o resultado dela. Eles tornam-se coisas. Cria-se a “ reificação” (coisificação) - a desvalorização do ser humano e uma supervalorização da mercadoria - uma condição de alienação pelo trabalho. A EXPLORAÇÃO E A ALIENAÇÃO PELO TRABALHO Você já deve conhecer a palavra alienação. No dia-a-dia, ela é bastante usada (“João é alienado, não presta atenção nos políticos”, “Maria é alienada, não se preocupa com nada”), mas nem sempre de maneira correta. Alienar significa separar-se de, ceder a outro um direito. O conceito de alienação surge na filosofia hegeliana e é reconfigurado em Marx. Para Marx, a alienação surge de relações entre os homens, em que o homem passa de uma vontade própria de agir e ser útil socialmente, à submissão de sua vontade. As relações de dominação transformam os homens em inimigos e estranhos. Do mesmo modo, o produto de seu trabalho, nestas condições, separa-se de quem as produziu. Então, o que aliena o homem e produz nele uma falsa consciência é o modo de produzir, de trabalhar. Quando vende sua força de trabalho a outro homem, aliena-se, separa-se a sua consciência, produz uma falsa consciência de si mesmo porque falseia as relações sociais. Um homem domina o outro, quando o que deveria ocorrer seria uma relação de igualdade, em que cada um se reconhece no outro. Só nesta relação de igualdade é possível produzir a consciência verdadeira.

72

Aqui, há uma discordância com Hegel. Para este, a alienação não pode ser superada, porque a própria sociedade cria uma consciência falsa no homem. Só se poderia superar esta alienação pelo trabalho intelectual. Para Marx, a alienação surge do homem despossuído da propriedade de seu trabalho e do produto dele, transformando a ambos em mercadorias ou coisas. O homem não concebe ou planeja, não cria ou determina os meios para as finalidades. Ele apenas realiza uma atividade imposta. Não possui acesso ao processo de criação, mas é obrigado a fazê-lo, diante da necessidade de sobreviver, já que não há outro modo de produzir para viver, neste tipo de sociedade. O trabalho modificou sua função social e sua função psicológica para o trabalhador. Das relações sociais desiguais surge a condição da alienação e de exploração do valor do trabalho. Estar alienado significa estar separado de si, de sua consciência, da natureza e dos outros homens, da construção da sociedade. A alienação surge da vida alienada, isto é, distante do ser humano natural, que deve ser comprometido com a produção de si mesmo e da história por meio de uma ação prática e concreta, realizada com os outros homens, por uma prática social (práxis social). Alguns autores, como Guerreiro Ramos consideram 3 tipos de alienação: a auto-alienação, a reedificação e a alienação do poder. Contudo, estes conceitos não têm o significado que Marx lhe deu. O uso inadequado do conceito aborreceu tanto Marx que ele abandonou-o em escritos posteriores. TRABALHO COMO AÇÃO, NECESSIDADE E COERÇÃO Como vimos, os fatos sociais são coercitivos, isto é, levam-nos a pensar e agir de determinados modos. No entanto, a ação é própria do indivíduo que delibera e julga as coisas, e está consciente de suas finalidades intrínsecas. Ação implica em uma forma ética de agir. Os seres humanos são levados a agir, a fazer escolhas de acordo com os fins e não com os meios. Daí, vem a grande dificuldade no trabalho como ação humana. Impelido pelas necessidades e pela coerção social, geradas pelas relações de dominação, que o tornam alienado, o homem se vê distante de uma ação ética e moral no trabalho. Ele também é convertido em meio, não um fim em si mesmo. A necessidade de sobrevivência pode favorecer a exploração. A exploração pelo trabalho vem associada ao conceito de trabalho como valor de troca. É no tempo de trabalho que este valor se manifesta, como veremos mais adiante. Diante da necessidade de trabalhar para viver, mas não sendo possível uma relação de igualdade entre o trabalhador e os outros homens, as condições de trabalho favorecem a exploração do trabalho. O próprio trabalhador transforma-se em um valor de troca, perdendo a capacidade de agir. Segundo Guerreiro Ramos, nestas condições, o homem passa a se comportar e não a agir. Condicionado por um sistema, que o considera como um meio ou recurso de produção, torna-se utilitário e fluido em seus valores, buscando a conveniência de seus interesses, adota uma perspectiva relativista que aceita tudo, desde que não

73

se prejudique pessoalmente. Torna-se formalista e educado, comportando-se pelas aparências, de forma correta e educada, operacionaliza suas ações, cedendo a sua vontade de forma mecânica e sem julgamento. Marx vê a emancipação do trabalhador apenas se o trabalho deixar de ser uma imposição de exigências das necessidades e finalidades externas, subjugando-o: satisfazer suas necessidades com liberdade, por meio de cooperação com os outros, onde o controle coletivo toma o lugar da dominação e as atividades são realizadas, com o mínimo gasto de energia e sob condições dignas, regulando coletivamente o uso da natureza. A ação livre e a necessidade têm uma relação dialética, uma relação de opostos e de negação. A base da ação livre é a necessidade, mas, sob coerção, a ação se transforma em luta para a liberdade. Do mesmo modo que existem luz e sombra, dia e noite, fim e começo, a dominação conduz à luta. A dialética caracteriza a filosofia de Hegel e tornou-se a base do humanismo marxista, cuja filosofia é chamada materialismo-histórico, para a qual cada período histórico de uma sociedade é feito de contradições. Desse modo, no modo de produzir capitalista, ao subjugar o trabalho e torná-lo mercadoria, existe a semente da superação e mudança, pela luta dos trabalhadores em busca de liberdade. O TRABALHO NO PENSAMENTO CLÁSSICO O pensamento clássico se refere àquelas primeiras teorias e idéias sobre determinado assunto, dando origem ao seu desdobramento teórico. Neste sentido, podemos considerar os economistas Adam Smith, Marx e Ricardo como representantes do pensamento clássico sobre o trabalho, porque para eles o trabalho constitui a base da produção econômica. Vivendo em uma época de intensas transformações, inovações científicas, idéias revolucionárias, nos séc. XVIII e XIX, em que tudo se convulsionava, os primeiros economistas puderam contemplar melhor a paisagem e descobrir os fatos mais relevantes. Os efeitos da passagem de uma sociedade agrícola e artesanal para uma sociedade manufatureira e industrial eram também sentidos no pensamento. É provável que você já sentido alguma ansiedade diante das transformações atuais. Há uma grande incerteza sobre o futuro. Vivemos, como disse anteriormente, uma fase de transição, em que tudo parece estar mudando. Transformações semelhantes aqueles senhores observadores e estudiosos puderam ver, analisar, compreender e tentar explicar. Àquela época, importavam as questões de como pagar os salários de tantos trabalhadores, criar empregos, calcular os preços das mercadorias, as ofertas e demandas de produtos novos e em grande quantidade, o preço do dinheiro investido e os juros dos capitais emprestados, etc. Era preciso dar valor às coisas e quantificar este valor.

74

Enfim, solucionar os desafios da economia que surgia. Todas estas questões estão contidas em suas publicações. Suas idéias surgiram como respostas aos inúmeros problemas que se apresentavam à sociedade que mudava. Do mesmo modo, hoje, pensamos sobre o impacto das novas tecnologias de informação no trabalho, no emprego e desemprego e sobre as modificações que se processam na economia globalizada, sendo objeto de muitos estudos e pesquisas. Adam Smith – considerado o pai do Liberalismo - viu no trabalho e no tempo de trabalho a fonte de valor para a economia e a sociedade. Foi o primeiro a formular uma teoria do valor, segundo a qual o valor de cada mercadoria deriva da quantidade de trabalho gasto em sua produção. A verdadeira fonte de riqueza de uma sociedade é o trabalho, através do aumento de produtividade, obtida pela divisão e especialização do trabalho. O valor não pode ser definido pela utilidade, pois se assim fosse, o ar teria um valor incalculável. Porém, é preciso que algo seja útil e escasso para ter valor de troca. Mas como definir o valor de alguma coisa? É pela quantidade de trabalho gasto em sua produção. Por exemplo, caçar um coelho pode custar mais do que caçar um castor, pois há mais trabalho. Um produto de dois dias de trabalho deve valer o dobro de outro que gasta um dia ou uma hora. Desse modo, o preço das mercadorias deve ser baseado no trabalho, porque seu valor não é variável. Smith introduz a idéia das classes sociais e sua relação conflituosa com a classe dos produtores que cede os meios de produção ao trabalhador e recebe o produto, que vende com lucro. A classe dos proprietários de terra cede ao trabalhador parte dela e, em troca, exige parte dos produtos ali produzidos, em forma de renda da terra. Antes dessa relação, o trabalhador era o único dono do produto de seu trabalho, ele não tinha patrão. A classe capitalista (donos dos meios de produção ou da terra) surge com a apropriação da terra ou acumulação privada de riqueza, o capital. Desta apropriação do trabalho, além da terra e do capital, surge a idéia de exploração, em Marx. Posteriormente, Smith observou que “os trabalhadores desejam ganhar o máximo, os patrões pagar o mínimo. Os primeiros associam-se para fazer aumentar os salários, os patrões fazem o mesmo para baixá-los.” Segundo Paul Singer, do qual extraímos as citações acima, embora liberal, Smith foi um liberal, mas nem tanto. Ele acreditava na propriedade privada (mas não sem a vigilância das leis), na livre iniciativa e na livre concorrência. Supunha existir uma acomodação natural (uma mão invisível) entre os interesses individuais na economia e na sociedade: todo indivíduo deseja progredir e melhorar de vida, assim todos precisam cooperar entre si para que a sociedade e a economia cresçam e se desenvolvam. Sendo assim, é preciso haver liberdade econômica: a prática de uma doutrina liberal, que se baseia na propriedade privada, livre iniciativa, livre concorrência nos mercados. Somente ela possibilita a riqueza de uma sociedade. Seu livro “Uma investigação sobre a

75

natureza e as causas da riqueza das nações”, publicado em 1776, continua, na minha opinião, um dos melhores livros existentes, apesar de ser difícil. Marx, seguindo as idéias de Smith, desenvolveu-as, mas criticou e se opôs ferozmente à idéia da propriedade privada e ao liberalismo econômico. Seu pensamento sobre a teoria do valor-trabalho guarda grande semelhança ao deste autor: todo o valor criado na sociedade nasce do trabalho e é o tempo de trabalho a referência para se estabelecer os preços das mercadorias. Como podemos comparar áreas de figuras geométricas diferentes, como retângulos e quadrados ou trapézios? Basta transformar as áreas em triângulos, encontrando-se um ponto de referência comum. O mesmo ocorre com o valor das mercadorias. O que vale mais: um tijolo ou um lenço de seda? O ponto em comum é o trabalho gasto para produzir estes objetos, não para o uso, pois, neste caso, é a sua utilidade que conta e ela não tem valor econômico. É preciso saber o tempo de trabalho gasto para produzi-lo, mas para troca, pois, aí, sím, torna-se uma mercadoria que pode ser trocada por outra ou por dinheiro. Ela tem um valor de troca - valor que possibilita uma transação econômica. Assim, um lenço de seda pode valer o mesmo que um tijolo para o produtor capitalista. O valor de cada um é a quantidade de tempo de trabalho para transformá-lo em uma mercadoria com valor de troca. Mas isto não é sinônimo de preço da mercadoria. Vamos imaginar um pobre tecelão manual que antes produzia uma quantidade de lenços por dia, em 10 horas de trabalho. Com a invenção do tear a vapor, ele trabalha 18 horas em vez das 10 anteriores. Mas o produto de suas 18 horas de trabalho não tem mais valor que aquele produzido em 10, embora ele agora produza muito mais lenços. O preço das mercadorias sofre influência da demanda de compradores e da oferta de outros fabricantes e dos salários pagos, que nunca podem ser maiores que o preço da mercadoria, mas podem ser sempre menores. Também o valor de um homem ou da força de trabalho é determinado pela quantidade de trabalho para produzir sua força de trabalho: produzir, manter-se vivo e perpetuar a força de trabalho. Seu valor equivale aos artigos de subsistência, de primeira necessidade. Por exemplo, um trabalhador precisa de seis horas de trabalho para comprar artigos de 1ª necessidade, que equivalem a R$ 12,00. Então, ele vende sua força de trabalho por este preço. Se trabalha doze horas, produz R$ 12,00 de mercadoria em seis horas e ainda produz mais R$ 12,00 de mercadoria nas outras seis horas. Assim, ele produz um sobretrabalho, a mais-valia, que se reverterá em lucro para o capitalista (atenção: mais-valia não é sinônimo de lucro, só é uma fonte de lucro, pois há outros custos a pagar, além do trabalho). A mais-valia é o tempo de trabalho que não é pago ao trabalhador e é a fonte de toda a riqueza na sociedade. Mas, se ele trabalhar o dobro de horas, ele gera uma mais-valia equivalente ao dobro (é a mais-valia absoluta). E se trabalhar menos, por exemplo, só oito horas, mas ainda assim produzir mais mercadorias, ele poderá gerar uma mais valia igual aos reais economizados com o pagamento de seu

76

trabalho (é a mais-valia relativa). Todo trabalho não pago é a fonte do lucro, da renda da terra e do juro, que possibilita a acumulação do capital para seu dono. Daí, nascem as relações de produção, pois torna-se capaz de controlar, com o capital acumulado, os meios de produção. As relações de produção (formas de propriedade dos meios de produção gerando as classes sociais e as relações entre essas classes) criam a economia, sobre a qual se ergue o edificio de uma sociedade. O Estado é formado pelas instituições jurídicas e políticas. As ideologias - que são as formas de consciência social, como costumes, arte, religião, cultura - formam uma superestrutura, para justificar as relações de produção. Desse modo, a classe dominante, que dispõe dos meios de produção, dispõe também dos meios de produção intelectual e política. Portanto, as idéias dominantes em todas as épocas da história são as idéias das classes dominantes. A luta de classes entre trabalhadores e os que controlam os meios de produção é o mecanismo ou motor da história, isto é, o que possibilita mudar o modo de produção. O ponto de partida para a economia é, portanto, a teoria do valor- trabalho. O trabalho convertido em uma força que pode ser comprada e vendida, modifica todas as relações sociais. O modo de produção capitalista surge quando transforma em valor o trabalho e possibilita que ele seja trocado, como uma mercadoria em um mercado. Ricardo foi o sucessor de A. Smith. Suas idéias dominaram a economia por mais de meio século. Deu grande contribuição à teoria do valor, localizando no trabalho o valor na troca de mercadorias. Mas, Ricardo diferencia o valor do trabalho, em função da habilidade e da dificuldade para realizá-lo, além da oferta de trabalho no mercado. Sempre que houver crescimento da produtividade do trabalho, pelo uso das máquinas, poderá ocorrer o desemprego, reduzindo o valor do trabalho e fazendo cair os salários. Para ele, um programa econômico liberal é necessário àquelas sociedades estagnadas, sem crescimento econômico (foi grande amigo de Malthus, outro economista de sua época). Enquanto Smith era bastante otimista quanto à economia no futuro, Ricardo e Malthus eram trágicos pessimistas. Marx, por sua vez, era um revolucionário, que confiava no desfacelamento da economia para uma mudança no modo de produção capitalista. Posteriormente, as idéias sobre o valor-trabalho foram criticadas e o trabalho passou a ser considerado não mais como a base da economia, mas um dos fatores de produção, tão importante quanto o capital e os recursos naturais. TRABALHO E REMUNERAÇÃO. O SISTEMA DE ASSALARIAMENTO A importância do salário para o trabalhador passou a ser imensa, pois refere-se à sua fonte de renda, possibilitando-lhe a subsistência pessoal e familiar e um determinado padrão de vida. Também passou a constituir-se em um símbolo de sua posição social e de seu valor como trabalhador. Para a empresa e a sociedade não é menos importante. Reflete-se no preço dos produtos e serviços e

77

no poder de consumo. Desse modo, quando o trabalho se torna assalariado, modifica todas as relações sociais, pois elas se transformam em relações de troca. O sistema de assalariamento nasceu com o capitalismo. O salário toma a forma de mercadoria, pois pode ser trocado por força de trabalho, sob o contrato de trabalho. O trabalhador submete-se ao mercado de trabalho, com suas leis próprias, sujeitas às flutuações e a influências do desemprego e ao desempenho da economia. Contudo, o conceito de salário não é imutável. Ele sofre modificações entre os próprios trabalhadores e a sociedade. A Constituição Brasileira de 88, por exemplo, passou a incluir a participação nos lucros ou resultados como direitos possíveis dos trabalhadores, quando houver lucro. O salário geralmente envolve uma relação de tempo entre o empregado e o empregador. Ele pode ser mensal, semanal ou quinzenal. A definição de salário como “a retribuição em dinheiro ou equivalente dos serviços prestados pelo empregado, por força de contrato de trabalho, pelos serviços que presta” dá ênfase ao contrato de trabalho. Contudo, na prática, o contrato é uma mera formalidade, sem haver negociação por parte da maioria dos trabalhadores, que aceita as condições impostas. Há várias formas de salários: salários diretos ou indiretos, salários-base, piso salarial, salário real. Por exemplo, empregados horistas recebem em função das horas trabalhadas, diretamente. Um operário horista pode acumular horas em um banco de horas, recebendo adicionais em função das horas trabalhadas, por exemplo, se é hora noturna ou diurna, normal ou hora-extra. Pode receber também um salário indireto, por meio de serviços oferecidos pela empresa, como alimentação, transporte, seguro de vida, assistência médica, planos de aposentadoria, etc. O salário-base do empregado é o salário fixo, sobre o qual vão sendo acrescentadas gratificações por horas-extras, adicionais de insalubridade e periculosidade, etc. O salário-base traz a vantagem de reduzir os encargos trabalhistas, assim como os salários indiretos. Falamos ainda em salário mínimo, como a menor remuneração permitida por lei federal, para os trabalhadores de um país. O piso salarial é o mínimo salário para uma categoria profissional. O salário real equivale ao poder de compra em determinado momento e se relaciona com a taxa de inflação. Se é muito alta, o poder do salário real diminui. O salário não é algo novo na sociedade. Já se pagavam salários aos soldados romanos. Todavia, os salários tornaram-se a principal forma de pagamento, com o advento do capitalismo. Trabalhadores assalariados tornaram-se a maioria em todo o mundo. Por exemplo, enquanto a maior parte da população americana trabalhava por conta própria em 1900, só um décimo da população o fazia, em 1970, segundo Braverman. Os valores econômicos sobre o trabalho buscam os fundamentos para atribuir quantidades aos pagamentos do trabalho e como pagá-los (a palavra salário, vem de sal, que já foi utilizado como pagamento). Os primeiros economistas falaram sobre várias formas de pagamento observadas na sua época: por hora, por peças, por empreitada, por subempreitada. Marx, por exemplo, conta que as fiandeiras nas fábricas pagavam às crianças para fazer muitos serviços e as costureiras empregavam outras para pregarem botões. Os

78

salários tornaram-se tão importantes para a sociedade que criaram uma hierarquização nos trabalhos, na medida que os salários passaram a ser considerados como referência do valor do trabalho. Os trabalhos mais bem pagos passaram a ser mais procurados, criando uma competição entre os trabalhadores. Patrões e empregadores também criaram mais exigências para o ingresso no mercado de trabalho e uma maior cobrança em relação ao desempenho do trabalho, quando criaram os escalonamentos de salários. Surgiram várias formas de comparação de cargos e salários. Em vez de serem pagos com base no tempo, os salários se tornaram atrelados às exigências, passando a incluir a descrição do trabalho, grau de instrução, tempo de aprendizagem, habilidades necessários. Especializaram-se os trabalhos e os trabalhadores, assim como seus salários. O Estado viu nos salários uma fonte de impostos. Criando impostos sobre os salários, fez crescer as oportunidades para o surgimento de inúmeras instituições ligadas ao trabalho, desde o treinamento e educação da mão-de-obra, recrutamento, proteção, assistência e benefícios, fiscalização, etc. No entanto, devido a esses impostos sempre crescentes e aos encargos sociais, os empregadores se viram com o problema dos elevados custos dos salários. Este fato fez surgir outras formas de remuneração, para reduzir estes custos. Benefícios assistenciais e pagamentos indiretos - transporte, alimentação, planos privados de aposentadoria - surgiram como formas de reduzir os encargos sociais. Atualmente, a remuneração de um trabalhador pode incluir salários, benefícios, participação nos resultados da empresa e participação societária. A remuneração constitui tudo quanto o trabalhador recebe direta ou indiretamente. Outras formas de redução dos custos de salários e das folhas de pagamentos incluem o trabalho em tempo parcial e temporário ou a terceirização de mão-de-obra, eliminando-se os custos dos encargos trabalhistas. Várias pesquisas sobre os salários mostram que há grande desigualdade salarial: salários mais altos na indústria e mais baixos nos serviços; mais altos entre os homens que entre as mulheres; mais altos entre os que têm empregos estáveis, com carteira; mais baixos entre os que têm empregos instáveis, temporários e de meio expediente. Há ainda inúmeros trabalhos que pagam salários incapazes de manter o trabalhador e sua família, o que leva ao trabalho feminino ou de jovens, que, em geral, abandonam os estudos para trabalhar. O poder de negociação dos trabalhadores é baixo, devido ao grande número de desempregados, criando um exército de reserva que faz baixar os salários. A remuneração não é sinônimo de salários porque inclui salários e outros proventos, mas é também regida por contrato. Outras denominações para o pagamento de trabalho podem incluir honorários (usada para profissões liberais) e soldo (para soldados e militares). VALORES SOCIAIS SOBRE O TRABALHO Valores são importantes para a Sociologia e a Economia. Para a primeira, interessam os valores sociais, para a segunda, é preciso quantificar os valores, tornando-os econômicos. Em ambos, o significado básico é o mesmo, uma avaliação, uma atribuição de qualidade ou quantidade. A teoria do valor,

79

apresentada antes, mostrou que o trabalho pode ser visto sob a ótica de diferentes tipos de valor (valor de uso, valor de troca). Valores são julgamentos e avaliações comparativos. Se alguém diz que um trabalho tem mais valor que outro, julga que um é melhor que outro. Atitudes são avaliações também, mas referem-se à discordância ou concordância com um juízo de valor. Por exemplo, se muitas pessoas concordam que o trabalho de um operário tem menos valor que o de um professor, mostram uma atitude mais negativa com relação ao primeiro. Valores e atitudes sociais podem ajudar a explicar as desigualdades encontradas na sociedade e a entender porque o trabalho de uma pessoa é considerado melhor ou “superior”, enquanto outro, é visto como “inferior”. Podemos observar que os trabalhos são hierarquizados, não só em relação aos salários, mas também de acordo com os valores e atitudes sociais. O principal critério utilizado para dizer se um trabalho é melhor que o outro é o status (ou prestígio). E, em segundo lugar, o poder relacionado com o trabalho. O status é a posição socialmente identificada, podendo vir de atributos naturais (sexo, idade, família, nacionalidade) ou atributos adquiridos (educação, habilidades, casamento, bens). Também o poder - que é a capacidade de controlar as ações alheias - é também um critério para escalonar os trabalhos. O poder pode vir da força física, do controle de recompensas materiais ou simbólicas. Vimos que, na Economia, o valor do trabalho ou de qualquer outro bem, como a água, por exemplo, não deriva de sua utilidade. Este fato parece ocorrer também na sociedade. Por que o trabalho de uma dona de casa não é valorizado? Há um estereótipo com relação ao papel da mulher, isto é, que deve ser centrado no lar e na assistência aos mais fracos. Um estereótipo é uma imagem cristalizada na sociedade, uma repetição, baseada em atitudes e valores sociais. Isto prejudica o trabalho feminino, pois gera oportunidades de emprego apenas em atividades de assistência e cuidados aos outros ou semelhantes ao trabalho doméstico. São trabalhos de baixo status e poder, como é o papel feminino na sociedade, julgado negativamente em relação ao masculino, dominante nas relações sociais. Podemos dizer que: 1º - São menos valorizados ou valorizados negativamente os trabalhos que agregam pouco valor a outros produtos. Por isto, em geral,os “serviços” eram menos valorizados que os trabalhos ligados à indústria, tendo menor prestígio social; mudando seu valor na medida em que passaram a incorporar outros valores (por exemplo, serviços de saúde ou ligados ao conhecimento); 2º - São pouco valorizados os trabalhos braçais, pois são comparados ao das máquinas ou animais, salvo nos esportes ou artes, onde a habilidade e o talento são raramente encontrados; 3º - São pouco valorizados os trabalhos repetitivos, rotineiros, que têm um ciclo curto (assim que terminados, devem ser reiniciados), como o trabalho doméstico, de limpeza, de operários com baixa qualificação; 4º - São também pouco valorizados os trabalhos que exigem pouco tempo de aprendizagem e pouca educação formal. Por outro lado, pesquisas demonstram que são valorizados positivamente os trabalhos de ciclos longos, que criam inovações e exigem longo tempo de aprendizagem, educação formal especializada, além de habilidades mentais ou físicas elevadas. A

80

sociedade moderna valoriza a educação formal, as novidades, a inteligência, conferindo-lhe grande status e poder. Os trabalhos mais valorizados são aqueles mais bem remunerados, com altos salários e benefícios, ou que se associam a poder elevado, pela possibilidade de controlar recursos. Eles possibilitam o consumo de bens materiais, serviços ou bens não materiais, como lazer, conhecimento, acesso a oportunidades e pessoas. Desse modo, as pessoas atribuem um alto status ao trabalho de um jogador de futebol, principalmente pela alta remuneração (salário mensal de 50 mil dólares) e ao poder associado ao dinheiro. Em síntese: Os valores sociais sobre o trabalho na sociedade industrial estão, portanto, ligados aos aspectos da ocupação e não ao trabalho, em si mesmo: qualificação, poder, renda e status. Obter prestígio ou status social, salários elevados possibilitando o lazer, a moradia, a saúde, a educação, o poder de consumo são importantes para definir o valor do trabalho e seu significado, atualmente. Para a maioria, o trabalho é um mal necessário, sendo assim, pelo menos que ele ofereça algumas vantagens materiais. As conseqüências dos valores e atitudes sociais nem sempre são positivas. A principal é o preconceito. O pré-conceito é um julgamento de valor, prematuro, feito sem cuidado. Ele produz e reproduz o baixo valor conferido a diferentes tipos de trabalho, pessoas e atributos pessoais. Leva ao menosprezo, ao autoritarismo e à exclusão. Um exemplo é o preconceito racial, que, no Brasil, é sutil e disfarçado, mas que mesmo assim subordina a outra pessoa. As discriminações de quaisquer formas (cor, raça, religião, aparência, deficiência física ou mental, sexo, idade) são atos criminosos no Brasil, mas ainda acontecem. A discriminação é baseada no preconceito. O mal-estar no trabalho ou assédio moral é também baseado no preconceito (ou crueldade) e acontece quando uma pessoa é perseguida, tratada injustamente no trabalho ou submetida ao ridículo e ao constrangimento social. Por exemplo, o trabalhador recebe os piores trabalhos ou é deixado sem atividades e “encostado”, ou seu corpo ou roupas são revistados. Tanto o assédio moral ou sexual são crimes. Neste último, o superior submete outra pessoa a obedecer-lhe, sob a ameaça de perda do emprego ou rebaixamento, para obter favores sexuais. Além de manter as situações de desigualdades, os preconceitos podem impedir o conhecimento da realidade.

DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

A divisão social do trabalho é o modo como se distribui o trabalho nas diferentes sociedades ou estruturas socioeconômicas e que surge quando grupos de produtores realizam atividade específicas em consequência do avanço dum certo grau de desenvolvimento das forças produtivas e de organização interna das comunidades. Com a determinação de funções para as formas variadas e múltiplas do trabalho constituem-se grupos sociais que se diferenciam de acordo com a sua implantação no processo de produção. Tais grupos correspondem ao estatuto que adquirem dentro da sociedade e ao trabalho que executam.

81

Numa fase inicial, a divisão do trabalho limitava-se a uma distribuição de tarefas entre homens e mulheres ou entre adultos, anciãos ou crianças, em virtude da força física, das necessidades ou do acaso, sem que tal conduzisse ao aparecimento de grupos especializados de pessoas com os seus próprios interesses ou características, não originando portanto diferenças de natureza social.

O desenvolvimento da agricultura originou profundas divisões sociais no trabalho. Os arroteamentos florestais, os grandes saneamentos de zonas pantanosas, a introdução de pesados instrumentos agrícolas, a lavra da terra com a ajuda de animais de tração, tornaram-se trabalhos demasiado pesados que acentuaram uma separação de atividades entre homens e mulheres, com a concomitante passagem do matriarcado ao patriarcado.

Esta mudança abriu uma brecha na organização gentílica e refletiu-se na posse dos bens materiais. A família adquiriu a característica de uma unidade de produção e de transmissão hereditária de bens entretanto acumulados. A divisão social do trabalho entre os sexos tornou-se muito nítida. Os trabalhos domésticos foram-se transformando em ofícios especializados e as mulheres, sobretudo a partir da introdução do arado, terão deixado o trabalho agrícola mais pesado e dedicado mais à horticultura, á recolha de frutos e plantas comestíveis, criação de animas domésticos, à fiação, tecelagem e olaria, atividades concretizadas em áreas muito próximas dos próprios locais de residência. As mulheres ficaram assim excluídas duma participação ativa na vida social e política, situação que ocorreu em todas as civilizações. Não gozavam de qualquer dos privilégios políticos conferidos pela cidadania, não participando em assembléias, na magistratura ou em qualquer posição social comparável. É claro que havia diferenças entre as mulheres escravas, as mulheres de homens livres ou as de membros de nível elevado da sociedade. Mas, mesmo nestes casos, em que as mulheres nada produziam e gozavam de condições materiais excelentes na sua vida quotidiana, a sua existência desenrolava-se meramente num contexto dum sistema de vida patriarcal.

As tribos que povoavam territórios dotados de ricas pastagens tendem a abandonar a agricultura e a dedicar-se à criação intensiva de animais, originando a formação de comunidades nômades. À medida que se desenvolve a atividade agrária, destacam-se as tribos com atividades exclusivamente pastoris. Esta separação contribuiu para elevar sensivelmente a produtividade do trabalho e criou as premissas materiais para o aparecimento da propriedade privada.

A ocupação de todo o tempo de alguns indivíduos na atividade agrícola impede que se dediquem simultaneamente a produzir os instrumentos e os artefatos que lhes são necessários. O uso de novos instrumentos de trabalho mais aperfeiçoados e complexos determina uma especialização que contribuiu para o aparecimento dos artesãos, indivíduos dedicados exclusivamente ao seu fabrico e manutenção. Surgem assim artífices independentes que ocupam a totalidade do seu tempo na criação desses meios de produção, que depois terão de trocar por

82

gêneros alimentícios. O desenvolvimento destas atividades especializadas culmina na separação entre o artesanato e a agricultura, que conduziu à intensificação das trocas diretas internas e, posteriormente, das trocas indiretas através do mercado e, por fim, ao aparecimento da atividade mercantil. Esta especialização do trabalho tende a alargar-se à pesca. O papel dos agricultores-pescadores tende a diminuir para aumentar o de profissionais voltados exclusivamente para esta faina, quer na água doce, quer no mar.

À medida que aparecem profissões diversificadas, acontece que os indivíduos mais concentrados num determinado tipo de atividade têm de recorrer à troca daquilo que produzem pelos objetos que eles próprios não produzem, mas de que precisam a fim de satisfazer as suas necessidades profissionais, além das individuais ou familiares. A intensificação do intercâmbio entre estes grupos de produtores especializados, a formação de excedentes e a entrega de tributos em dinheiro às classes com um estatuto dominante, ampliou a necessidade de produzir artigos destinados à troca, dando lugar à produção com um propósito mercantil e à formação duma classe de mercadores.

A divisão do trabalho desencadeada pelo incremento da atividade comercial, ligada à ampliação das atividades transformadoras e da navegação, deslocou o centro dos interesses econômicos do interior para o litoral. Ao lado da divisão entre agricultores, artesãos e mercadores, passou a existir uma outra, entre trabalhadores rurais e citadinos, que corresponde, total ou parcialmente, à oposição entre o campo e a cidade. Na estrutura urbana observa-se uma distinção entre sectores comerciais, administrativos, culturais, transportadores, artesanais e até agrícolas, fenômeno com menor relevância nos meios rurais.

A divisão social do trabalho manifesta-se também entre trabalho mental e material. O processo geral alcançado a nível bastante elevado de separação entre o trabalho intelectual e o trabalho físico, levou ao surgimento duma elite que escapava ao quadro dos interesses dos diferentes estados.

As distintas fases de desenvolvimento da divisão social do trabalho contribuíram para elevar sensivelmente a produtividade do trabalho e criar as premissas materiais para o aparecimento da propriedade do solo, da apropriação dos meios e dos produtos do trabalho. Contribuíram igualmente para tornar mais consistente a existência de sociedades baseadas na divisão entre classes dominantes e classes subordinadas.

Sob o capitalismo, a produção especializa-se e tem como objetivo exclusivo a obtenção de lucro. A divisão social do trabalho desenvolve-se espontaneamente, com o avanço desigual dos diferentes ramos de produção, acompanhado duma luta constante competitiva e duma desordem e dissipação do trabalho social. Os limites das economias nacionais são ultrapassados pelo desenvolvimento do comércio internacional, circunstância que dá lugar a uma divisão internacional de trabalho.

83

População e Emprego. População, população ativa e população ocupada.

A relação de emprego, ou o vínculo empregatício, é um fato jurídico que se configura quando alguém (empregado ou empregada) presta serviço a uma outra pessoa, física ou jurídica (empregador ou empregadora), de forma subordinada, pessoal, não-eventual e onerosa.

Ter um emprego, não só constitui o principal recurso com que conta a maioria das pessoas para suprir as suas necessidades materiais, como também lhes permite plena integração social. Por isso, a maior parte dos países reconhece o direito ao trabalho como um dos direitos fundamentais dos cidadãos. Emprego é a função e a condição das pessoas que trabalham, em carácter temporário ou permanente, em qualquer tipo de atividade económica, remunerada ou não. Por desemprego entende-se a condição ou situação das pessoas incluídas na faixa das "idades activas" (em geral entre 18 e 65 anos), que estejam, por determinado prazo, sem realizar trabalho em qualquer tipo de actividade económica, remunerada ou não. As possibilidades de emprego que os sistemas económicos podem oferecer em certo período, relacionam-se com a capacidade de produção da economia, com as políticas de utilização dessa capacidade e com a tecnologia empregada na produção. Os economistas clássicos entendiam que o estado de pleno emprego dos factores de produção (entre eles o trabalho) era normal, estando a economia sempre em equilíbrio. John Stuart Mill dizia: "Se pudermos duplicar as forças produtoras de um país, duplicaremos a oferta de bens em todos os mercados, mas ao mesmo tempo duplicaremos o poder aquisitivo para esses bens." Dentro dessa linha de ideias, o aparecimento de desempregados em certas épocas era explicado como a resultante de um desajustamento temporário. O ajustamento (ocupação da força de trabalho desempregada) ocorreria quando os trabalhadores decidissem aceitar voluntariamente os salários mais baixos oferecidos pelos empresários.

O termo população tem, consoante a disciplina a que se refere, distintas definições. Em Biologia define-se como um grupo de indivíduos que acasalam uns com os outros, produzindo descendência. Em Estatística chama-se população ao conjunto de todos os valores que descrevem o fenómeno que interessa ao investigador. Em Sociologia define-se como um conjunto de pessoas adscritas a um determinado espaço, num dado tempo.

População em Idade Ativa (PIA) é uma classificação etária que compreende o conjunto de todas as pessoas teoricamente aptas a exercer uma atividade econômica. No Brasil, a PIA é composta por toda população com 10 ou mais anos de idade e subdivide-se em População Economicamente Ativa e a População não Economicamente Ativa.

84

• População Economicamente Ativa (PEA): compreende o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população ocupada e a população desocupada.

o População Ocupada: aquelas pessoas que trabalham, incluindo: � Empregados - pessoas que trabalham para um empregador

ou mais, cumprindo uma jornada de trabalho, recebendo em contrapartida uma remuneração em dinheiro ou outra forma de pagamento (moradia, alimentação, vestuário, etc.). Incluem-se entre as pessoas empregadas aquelas que prestam serviço militar obrigatório e os clérigos. Os empregados são classificados segundo a existência ou não de carteira de trabalho assinada.

� Conta Própria - aqueles que exploram uma atividade econômica ou exercem uma profissão ou ofício e não têm empregados.

� Empregadores - aqueles que exploram uma atividade econômica ou exercem uma profissão ou ofício, com um ou mais empregados.

� Não Remunerados - pessoas que exercem uma ocupação econômica, sem remuneração, pelo menos 15 horas na semana, ajudando a um membro da unidade domiciliar em sua atividade econômica, ou ajudando a instituições religiosas, beneficentes ou cooperativas, ou, ainda, como aprendiz ou estagiário.

o População Desocupada: pessoas que não têm trabalho, mas estão dispostas a trabalhar, e que, para isso, tomam alguma providência efetiva (consultando pessoas, jornais, etc.).

• População não Economicamente Ativa (PNEA) ou População Economicamente Inativa (PEI): são as pessoas não classificadas como ocupadas ou desocupadas, ou seja, pessoas incapacitadas para o trabalho ou que desistiram de buscar trabalho ou não querem mesmo trabalhar. Inclui os incapacitados, os estudantes e as pessoas que cuidam de afazeres domésticos. Inclui também os "desalentados" - pessoas em idade ativa que já não buscam trabalho, uma vez que já o fizeram e não obtiveram sucesso. O IBGE considera desalentado aquele que está desempregado e há mais de um mês não busca emprego.

O conjunto de pessoas com menos de 10 anos de idade corresponde à População em Idade Economicamente Não-Ativa (PINA).

Apesar da proibição legal, o trabalho infantil é considerado pelo IBGE para o cálculo da PEA, a partir de 10 anos de idade, por ser uma prática ainda explorada.

85

Trabalho e Progresso Técnico A divisão do trabalho ocorre em relação a tarefas econômicas, políticas e culturais. Neste processo as pessoas desempenham funções especializadas e complementares. Algumas pessoas trabalham na linha de montagem das fabricas, outras na construção civil, médicos, escritores, professores ou empresários. A mesma distribuição de tarefas que ocorre em uma pequena empresa, amplia-se consideravelmente em uma grande industria. No âmbito das nações, a divisão do trabalho ocorre na especialização da produção, que caracteriza a economia nacional. As nações ricas produzem tecnologia sofisticada, bens de capital ou fornecem capital para outros. As nações do passado colonial que foram até recentemente dominadas pelas grandes metrópoles capitalistas, são fornecedoras de matérias primas para o mercado internacional. A primeira divisão do trabalho deu-se entre a coleta e a caça, correspondia à divisão de papeis entre os sexos: o homem caçava e a mulher coletava. Posteriormente vieram o pastoreio e a agricultura, e com o surgimento das cidades no Oriente, desenvolveram-se o artesanato e o comercio. Foi a partir da Revolução Industrial e do intenso desenvolvimento do modo de produção capitalista que se intensificou o processo diferenciador de funções. Fragmentaram-se as tarefas produtivas e administrativas, especializou-se o trabalho intelectual. Repartições essas que aumentaram a produtividade do trabalho, mas trouxe graves conseqüências sociais para as classes. Processo de trabalho e organização de trabalho Não há consenso acerca da natureza e da direção da transformação do modo de produzir os bens e serviços. Para uns estamos numa nova era, caracterizada pela passagem da produção em massa de produtos e serviços estandardizados em quadros organizacionais rígidos para um novo sistema produtivo caracterizado pela diversidade, flexibilidade, inovação e cooperação. Uma abundante literatura amplamente divulgada pelos mas media, em revistas especializadas e livros best-seller anuncia a substituição do velho paradigma pelo novo paradigma e a chegada de uma nova era pós-taylorista/fordista. Num contexto de forte competição em mercados globais, as empresas têm de melhorar simultaneamente a produtividade e a qualidade dos seus produtos, reduzir os custos e, ao mesmo tempo, adaptar-se rapidamente ao mercado incerto e variado. Para poder responder a estas exigências, as empresas têm de renovar o seu modelo de produção. Este novo modelo implica a valorização dos recursos humanos, nomeadamente o aumento do nível de qualificações, novas competências, responsabilidade e iniciativa, trabalho em equipa, bem como o abandono do clima de confronto a favor do diálogo e do envolvimento dos trabalhadores.

86

O tecno-otimismo futurista postula uma marcha inevitável em direção “à sociedade da informação/conhecimento”. Esta sociedade centra-se na produção de bens e serviços intensivos em alta tecnologia e em conhecimento/informação no seio de redes organizacionais caracterizadas pela flexibilidade, pelas relações de cooperação e pelas parcerias. Por outras palavras, as novas tecnologias levam à era pós-taylorista, pós-burocrática, isto é, à generalização do trabalho inteligente realizado em estruturas organizacionais mais planas e descentralizadas, nas quais o trabalho se torna imaterial, mais complexo, exigindo conhecimentos mais amplos e de nível mais elevado, autonomia, iniciativa, responsabilidade, criatividade, capacidade de aprendizagem contínua, autocontrole, investimento subjetivo e a mobilização da inteligência. Nesta óptica, pessoas e organizações têm de se adaptar às mudanças produzidas pelas tecnologias de informação e comunicação (TIC) que são consideradas como as grandes forças que modelam as relações sociais, econômicas e políticas, dando origem a um novo tipo de sociedade, a sociedade da informação. Está subjacente a idéia que o caminho do futuro já está traçado pelas TIC, entendidas como forças atuantes e autônomas do contexto sociocultural. Não há atores sociais, mas apenas sujeitos passivos que têm de se ajustar aos inevitáveis processos de transformação. Ao mesmo tempo, a abertura dos mercados e a intensificação da concorrência são encaradas como mecanismos poderosos de progresso econômico que “impele o desenvolvimento da competitividade geral das nossas economias, aumenta o bem-estar geral tornando mais eficaz a distribuição mundial de recursos. A perspectiva centrada no fator humano pode ser encarada como a via alta (high road) da inovação da organização do trabalho, por visar não apenas altos níveis de produtividade e altos níveis de qualidade dos produtos e dos serviços, mas também altos salários, altos níveis de qualificação e alto nível de qualidade de vida no trabalho. Desta forma, a ênfase está na perspectiva holista, na divisão das tarefas, na importância dos conhecimentos e capacidades especificamente humanos, na utilização da tecnologia como meio para melhorar as qualificações e as competências e na autonomia das equipas de trabalho e dos indivíduos. Estudos de caso sobre experiências na Comunidade Européia indicam que é possível compatibilizar performances econômicas competitivas com a melhoria da qualidade de vida no trabalho e com a defesa do ambiente. Porém, a larga aceitação da idéia da difusão de novos princípios de racionalização (lean production e business process reengineering), fez recuar as experiências européias inovadoras inspiradas na perspectiva centrada no fator humano (modelo sociotécnico, modelo antropocêntrico ou produção reflexiva). A perspectiva da inovação organizacional centrada na eficiência, atualmente predominante, está enraizada nas experiências japonesa e americana. A década de 1990 foi marcada pela ressurgência da racionalização. Gurus de gestão e consultores exaltam os benefícios da mudança através da aplicação de novos métodos e técnicas de organização, tais como: justin-time, outsoursing, downsizing, business process reengineering, qualidade total, empowerment, como

87

panacéias para os múltiplos problemas que as empresas têm de resolver. A reengenharia promete alcançar saltos gigantes e drásticos nos resultados da organização, propondo para esse fim um conjunto de inovações radicais que arrasam as estruturas e os procedimentos existentes nas organizações e criam formas completamente novas de realizar o trabalho. Ainda que as teses em torno da reengenharia reivindiquem uma perspectiva inovadora, os seus críticos afirmam que se trata de retomar os princípios sociotécnicos antigos (trabalho de grupo centrado nos processos, introdução de feedbacks no processo de trabalho, etc.), mas colocando-os numa nova embalagem. Trabalho parcial e integral

TRABALHO EM REGIME DE TEMPO PARCIAL

O trabalho em “Regime de Tempo Parcial”, também chamado de trabalho é aquele em que o trabalhador não trabalha mais de 25 horas semanais.

A Medida Provisória 2.164-41 de 24-08-2001, terminou por incluir na CLT – Consolidação das Leis do Trabalho o artigo 58-A que define como sendo o trabalho em “ Regime de Tempo Parcial”, aquele que:

“Art. 58-A - Considera-se trabalho em regime de tempo parcial aquele cuja duração não exceda a vinte e cinco horas semanais.

DO SALÁRIO DO TRABALHADOR EM REGIME DE TEMPO PARCIAL

Para os trabalhadores que exercem suas atividades em “Regime de Tempo Parcial”, deverá ser observado o disposto no parágrafo primeiro do artigo 58-A quando for calcular o salário a ser pago para este empregado.

O salário que será pago ao empregado em “Regime de Tempo Parcial”, não pode ter um valor da hora inferior ao do empregado que trabalhe em “Regime de Tempo Integral”, também chamado de “Regime Normal”.

A título de exemplo, vale ressaltar que se existe um empregado que não exerce sua atividade em “Regime de Tempo Parcial”, e recebe por hora o valor R$ 10,00, este deverá ser o valor da hora do trabalhador em “Regime de Tempo Parcial”.

O valor final do salário do trabalhador em “Regime de Tempo Parcial” será proporcional ao seu tempo de trabalho, mas sempre observando o valor da hora pago ao empregado que não exerce sua atividade em “Regime de Tempo Parcial”.

Para melhor entendimento, passo a transcrever o parágrafo primeiro do art. 58-A.

88

§ 1º - O salário a ser pago aos empregados sob o regime de tempo parcial será proporcional à sua jornada, em relação aos empregados que cumprem, nas mesmas funções, tempo integral.

DA MODIFICAÇÃO DO REGIME JÁ EXISTENTE

Outro fato que merece destaque diz respeito a possibilidade de modificar o “Regime de Trabalho de Tempo Integral” dos atuais empregados em “Regime de Tempo Parcial”.

O parágrafo segundo do mesmo artigo citado acima determina que para a modificação do “Regime de Tempo Integral” para o “Regime de Tempo Parcial”, o empregado deverá manifestar sua opção, e deverá ainda existir instrumento coletivo prevendo tal possibilidade.

A empresa não pode por livre vontade transformar o “Regime de Trabalho de Tempo Integral” em “Regime de Tempo Parcial”.

E mais uma vez para melhor entendimento, passo a transcrever o texto legal, inserido no art. 58-A, §2º da CLT.

§ 2º - Para os atuais empregados, a adoção do regime de tempo parcial ser á feita mediante opção manifestada perante a empresa, na forma prevista em instrumento decorrente de negociação coletiva.”

DA IMPOSSIBILIDADE DE TRABALHAR EM HORAS EXTRAS

O trabalho em “Regime de Tempo Parcial” trás outras conseqüências como, por exemplo, a impossibilidade do exercício do trabalho em jornada extraordinária.

Em outras palavras, o trabalhador que exerce suas atividades em regime de tempo parcial não pode fazer horas extras.

Este impedimento está previsto no Art. 59, § 4º da CLT, que assim dispõe:

“§ 4º - Os empregados sob o regime de tempo parcial não poderão prestar horas extras.”

DAS FÉRIAS

89

Outra diferença entre o empregado em “Regime de Tempo Integral” e o empregado em “Regime de Tempo Parcial”, está no período de gozo de férias.

A mesma Medida Provisória nº 2164-41 de 24/08/2001 acabou por inserir na CLT o artigo 130-A que trata das férias do trabalhador em “Regime de Tempo Parcial”, estabelecendo para estes trabalhadores períodos inferiores aos daqueles previstos para os trabalhadores que trabalham em “Regime de Tempo Integral”, para o gozo de suas férias

DOS OUTROS BENEFÍCIOS

É importante frisar que a CLT cria algumas diferenças para os trabalhadores que exercem suas atividades em regimes diferentes, no entanto, existem alguns direitos que a doutrina e a jurisprudência vêm entendendo que não podem ser diferenciados.

Entre estes direitos estão aqueles benefícios fornecidos para o exercício do trabalho, ou também os relacionados ao contrato de emprego, como por exemplo, os previstos na Convenção Coletiva, tais como: diárias, vale-refeição, cesta Básica, etc.

Estes benefícios não estão vinculados ao “Regime de Trabalho”, ou seja, se ele é de tempo parcial ou integral, mas sim ao contrato de emprego celebrado entre o empregado e o empregador, portanto, não podem ser diferenciados, sob pena de estar discriminando o empregado que trabalha em “Regime de Tempo Parcial”.

Trabalho artesanal, manufatura e grande indústria

Artesanato é essencialmente o próprio trabalho manual ou produção de um artesão (de artesão + ato). Mas com a mecanização da indústria o artesão é identificado como aquele que produz objetos pertencentes à chamada cultura popular.

O artesanato é tradicionalmente a produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão) possui os meios de produção (sendo o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalha com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja, não havendo divisão do trabalho ou especialização para a confecção de algum produto. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante ou aprendiz.

90

História

Loja de artesanato urbano, no Porto, em Portugal.

Os primeiros objetos feitos pelo homem eram artesanais. Isso pode ser identificado no período neolítico (6.000 a.C.) quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica como utensílio para armazenar e cozer alimentos, e descobriu a técnica de tecelagem das fibras animais e vegetais. O mesmo pode ser percebido no Brasil no mesmo período. Pesquisas permitiram identificar uma indústria lítica e fabricação de cerâmica por etnias de tradição nordestina que viveram no sudeste do Piauí em 6.000 a.C.

Historicamente, o artesão, responde por todo o processo de transformação da matéria-prima em produto acabado. Mas antes da fase de transformação o artesão é responsável pela seleção da matéria-prima a ser utilizada e pela concepção, ou projeto do produto a ser executado.

A partir do século XI, o artesanato ficou concentrado então em espaços conhecidos como oficinas, onde um pequeno grupo de aprendizes viviam com o mestre-artesão, detentor de todo o conhecimento técnico. Este oferecia, em troca de mão-de-obra barata e fiel, conhecimento, vestimentas e comida. Criaram-se as Corporações de Ofício, organizações que os mestres de cada cidade ou região formavam a fim de defender seus interesses.

Revolução Industrial

Com a Revolução Industrial, teóricos do século XIX, como Karl Marx e John Ruskin, e artistas (ver: Romantismo) criticavam a desvalorização do artesanato pela mecanização. Os intelectuais da época consideravam que o artesão tinha uma maior liberdade, por possuir os meios de produção e pelo alto grau de satisfação e identificação com o produto.

91

Na tentativa de lidar com as contradições da Revolução Industrial, William Morris funda o grupo de Artes e Ofícios na segunda metade do século XIX, tentando valorizar o trabalho artesanal e se opondo à mecanização.

Manufatura é um processo de produção de bens em série padronizada, ou seja, são produzidos muitos produtos iguais e em grande volume, por meio de máquinas, ferramentas e trabalho.

O processo pode ser manual (origem do termo) ou com a utilização de máquinas. Para obter maior volume de produção é aplicada a técnica da divisão do trabalho, onde cada trabalhador executa apenas uma pequena porção da tarefa. Assim, especializa-se e economiza movimentos, o que vai conferir a maior velocidade de produção.

As manufaturas surgiram durante a Revolução industrial. Eram pequenas oficinas já com produção em série, porém com trabalho praticamente manual. As fábricas ou indústrias tinham porte e mecanização muito maior. Atualmente não existe mais esta distinção, e o termo manufaturado é sinônimo de industrializado.

No contexto da economia, na manufatura é iniciada a hierarquização das forças de trabalho em mais qualificadas e menos qualificadas. Os trabalhadores com maior qualificação costumam ter mais necessidade de esforço mental do que os que ocupam cargos menos qualificados. Nessa diferenciação qualitativa surge a diferenciação de salário a receber, além de um conhecimento menor dos procedimentos de produção por parte dos que tem qualificação inferior.

Apesar de, assim como o artesanato, ser uma forma de produção não-industrial, a diferenciação de cargos existe apenas na manufatura.

Indústria é toda atividade humana que, através do trabalho, transforma matéria-prima em outros produtos, que em seguida podem ser, ou não, comercializados. De acordo com a tecnologia empregada na produção e a quantidade de capital necessária, a atividade industrial pode ser artesanal, manufatureira ou fabril.

O processo de produção industrial é também conhecido como setor secundário, em oposição à agricultura (setor primário) e ao comércio e serviços (setor terciário), de acordo com a posição que cada atividade normalmente está na cadeia de produção e consumo. Hoje em dia o processo industrial é capitaneado pelas multinacionais.

92

Também se pode usar o termo indústria, genericamente, para qualquer grupo de empresas que compartilham um método comum de gerar dividendos, embora não sejam necessariamente do segundo sector, tais como a indústria bancária ou mesmo a agroindústria.

Indústria de bens de produção ou indústria de base

É toda indústria que trabalha com matéria-prima bruta transformando-a em matéria-prima para outras indústrias. Exemplo: indústria siderúrgica e petroquímica.

Indústria de bens intermediários ou de bens de capital(tipo de indústria de base)

Transforma matéria-prima bruta em outro tipo de matéria-prima e são aquelas que produzem máquinas para outras indústrias. Ex.: fábricas de tornos (Equipa indústrias mecânicas).

Indústria de bens de consumo

É aquela que produz produtos, voltado ao grande mercado consumidor (população em geral). Ex.: Indústria têxtil, Indústria alimentar. A indústria de bens de consumo aparece como indústria leve.

A crise da sociedade do trabalho

Essa crise consiste na desestruturação do mundo do trabalho cujos traços característicos, entre outros, são: o desemprego, o sobretrabalho, o dessalariamento, a informalidade, a precarização e a flexibilização das relações de trabalho.

Reiventar a sociedade do trabalho. Este é o desafio que emerge para a nossa sociedade. Isto significa ousar pensar uma sociedade na qual o trabalho não se defina e seja descrito unicamente como trabalho assalariado.

É neste sentido que é importante acompanhar a emergência das experiências de socioeconomia solidária e de cooperativismo. Elas apontam para a necessidade de novos paradigmas produtivos, capazes de gerar solidariedade entre os seres humanos e desses com a natureza, o cosmos e o universo visando a fazer deste mundo um lugar em que todas as pessoas, da nossa e das futuras gerações, possam viver bem e com segurança.

93

O determinismo tecnológico Determinismo Tecnológico é atualmente a teoria mais popular sobre a relação entre tecnologia e sociedade. Ela tenta explicar fenômenos sociais e históricos de acordo com um fator principal, que no caso é a tecnologia. O conceito de “determinismo tecnológico” foi criado pelo sociólogo americano Thorstein Veblen (1857-1929) e cultivado e aperfeiçoado por Robert Ezra Park, da Universidade de Chicago. Em 1940, Park declarou que os dispositivos tecnológicos estavam modificando a estrutura e as funções da sociedade, noção que serviu de ponto de partida para uma corrente teórica em todos os aspectos inovadora. Desde a Segunda Guerra Mundial, os cientistas têm considerado a tecnologia como um dilema moral e que seu uso pode causar conseqüências profundas na humanidade e no planeta. Os sociólogos vêem o problema através do aumento da complexidade e da velocidade das mudanças que a tecnologia está trazendo para a sociedade. Segundo eles, as mudanças tecnológicas ultrapassam a habilidade das pessoas e das diversas sociedades para adaptar-se a elas. Para outras, ainda, a tecnologia é vista como uma força dominante na sociedade, colocando obstáculos para a liberdade humana. De acordo com os deterministas tecnológicos, (como Marshall McLuhan, Harold Innis, Neil Postman, Jacques Ellul, Sigfried Giedion, Leslie White, Lynn White Jr. E Alvin Toffler), as tecnologias (particularmente as da comunicação ou mídias) são consideradas como a causa principal das mudanças na sociedade, “e são vistas como a condição fundamental de sustentação do padrão da organização social. Os deterministas tecnológicos interpretam a tecnologia como a base da sociedade no passado, presente e até mesmo no futuro. Novas tecnologias transformam a sociedade em todos os níveis, inclusive institucional, social e individualmente. Os fatores humanos e sociais são vistos como secundários” (Chandler, Daniel, 2000). Harold Innis, historiador e economista canadense, foi o pioneiro nessa nova corrente. O seu primeiro trabalho no campo da comunicação surgiu na forma de um artigo publicado em 1940, analisando a importância da imprensa para o crescimento econômico. Mas o mais curioso no ensaio foi a forma como Innis o concluiu. O autor escreveu que pretendia com o estudo “sublinhar a importância de uma mudança no conceito da dimensão do tempo”, acrescentando que o tempo “não pode ser encarado como uma linha reta, mas como uma série de curvas dependentes em parte dos avanços tecnológicos” (citado por Santos, op. cit. 1992, p. 66). O artigo defendia que os jornais, ao exigir que as notícias fossem difundidas rapidamente, estavam alterando a concepção do tempo e do espaço. Seguidor das idéias de Innis, McLuhan discorda com o comentário de alguns estudiosos que dizem que tecnologias são por si próprias neutras e que o uso que se faz delas é que é o ponto importante para discussão. Ele sustenta que as máquinas a fundamentalmente as relações pessoais e interpessoais, não importando o uso que se faz delas. “O efeito das máquinas tecnológicas foi reestruturar o trabalho

94

humano e associação pela técnica da fragmentação”. McLuhan chama de “sonâmbulos” os que dizem que é o uso que se faz das tecnologias que determina o seu valor. Para ele, o poder transformador da mídia é a própria mídia. “A mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, ritmo ou padrão que introduz na vida humana” (McLuhan, 1965). A mídia afeta a maneira como os indivíduos agem e interagem na recepção de suas mensagens, modificando a organização social da vida diária. Segundo o autor canadense, o homem é constantemente modificado pelas suas próprias invenções, mesmo que tais modificações sejam invisíveis. o que verdadeiramente interessa não é o que a rádio ou televisão dizem, mas sim o fato de existirem, trazendo transformações à sociedade. Portanto, para McLuhan, “o meio é a mensagem.” Jacques Ellul também insiste que a tecnologia carrega consigo seus próprios efeitos, independentemente de como é usada. Para Ellul, as tecnologias carregam consigo um número de conseqüências positivas e negativas, não importando como e para que são utilizadas. Não é apenas uma questão de intenções. O desenvolvimento tecnológico não é bom ou mal ou neutro. As pessoas tornam-se condicionadas por seus sistemas tecnológicos. Independente de se acreditar que as tecnologias são boas ou más, elas continuarão seu curso fazendo o que sempre fazem: subjugando a humanidade. A “substantive theory”, seguida por Ellul, argumenta que as tecnologias constituem um novo tipo de sistema cultural que reestrutura inteiramente o mundo social como um objeto de controle. Aluno de McLuhan, Neil Postman também adota um ponto de vista fortemente determinista. De acordo com Postman, nós vivemos hoje naquilo que ele chama uma tecnópole. Ele faz uma distinção bem definida entre este estado atual e a tecnocracia do século dezenove. “‘Tecnocracia’ caracteriza uma sociedade que leva a tecnologia a sério, mas ainda mantém suas tradições, regras morais e também uma oposição vital entre o velho e o novo. Por outro lado, a ‘Tecnópole’ caracteriza uma sociedade em que o velho mundo, símbolos e mitos e outros ícones do mundo não- tecnológico renderam-se ao poder opressivo e à força da visão de um mundo tecnológico (Wilson/Postman 1997), uma sociedade que se rende completamente à primazia do desenvolvimento tecnológico e à inovação” (Anderson, Dave, 2000). Postman insiste que o uso que se faz da tecnologia é grandemente determinado pela estrutura da própria tecnologia. As ferramentas que se usam determinam a visão de mundo. “Para um homem com um lápis, tudo parece uma lista. Para um homem com uma câmera, tudo parece uma imagem. Para um homem com um computador, tudo parecem dados” (Postman, Neil, 1993). No Determinismo Tecnológico, tecnologias são apresentadas como autônomas, como algo fora da sociedade. Tecnologias são consideradas forças independentes, auto-controláveis, auto-determináveis e auto-expandíveis. São vistas como algo fora do controle humano, mudando de acordo com seu próprio momento e moldando inconscientemente a sociedade.

95

Qualquer mudança tecnológica produz alguma transformação social. E algumas Transformações são muito difundidas. Até mesmo fortes críticos Do Determinismo Tecnológico, como a socióloga Ruth innegan, são capazes de aceitar que uma tecnologia pode ser vista como causadora de grandes conseqüências na sociedade. Tecnologia é um dos numerosos fatores das mudanças sociais e do comportamento humano. Criticar o Determinismo Tecnológico não é descartar a importância do fato de que aspectos tecnológicos de diferentes tecnologias de comunicação possibilitam diferentes tipos de uso, ainda que as aplicações potenciais das tecnologias não sejam necessariamente realizadas. Logicamente, numa sociedade onde o grau de interação com outros fatores está evidentemente presente, é difícil justificar uma insistência na tecnologia ou mídia como o fator fundamental das transformações sociais. Embora concluindo que as evidências parecem não sustentar a hipótese radical do Determinismo Tecnológico, a socióloga Ruth Finnegan sugere que “há algo para ser dito sobre isto como um caminho para clarear a realidade para nós. No passado, cientistas sociais (com exceção, talvez, de economistas, historiadores e geógrafos) tenderam a negligenciar o significado da tecnologia e da comunicação. Talvez os sociólogos – de quem era esperado que estudassem sobre comunicação – tenderam, no passado, a adotar uma linha anti-tecnológica; eles preferiram seguir Durkheim, um dos fundadores da disciplina da sociologia que enfatiza ‘o social’ como algo autônomo e originalmente independente de todos os fatores mecânicos como a tecnologia. Nesta atmosfera, é estimulante ter uma contra-visão eficaz. A hipótese radical do Determinismo Tecnológico é talvez extremista – mas o seu radicalismo ajuda a nos tirar da nossa complacência e dirige nossa atenção para um conjunto de fatos e possíveis conexões causais previamente negligenciadas. Como um modo sugestivo de olhar para o desenvolvimento social o determinismo deve ter seu valor, a pesar do seu factualismo inadequado”. Trabalho e empresa - Poder e decisão na empresa

“Não se vende sentado em um escritório. O tempo que rende é o que se gasta com o cliente”. Thomas John Watson (primeiro gerente-geral da IBM nos Estados Unidos)

A expressão “tomada de decisão”, típica do vocabulário da gestão pública, foi inserida no mundo dos negócios por Chester Barnard, autor de “As funções do executivo”. Barnard foi gestor na companhia de telefones Bell durante 40 anos, tornando-se mais tarde presidente. Foi um dos primeiros a estudar os processos de tomada de decisão, o tipo de relações entre as organizações formais e informais e o papel e as funções do executivo. Ele analisou questões como a liderança, a cultura e os valores 30 anos antes do mundo empresarial se aperceber da sua existência. As suas obras mantêm uma atualidade surpreendente.

96

Como então pensar, quando Malcolm Gladwell vem pregar - apesar do crescente acesso à informação trazido pela tecnologia - as virtudes da decisão instintiva, tomada, literalmente, num piscar de olhos? Não é à toa que o poder de decisão e a tomada de decisão vem sendo cada vez mais discutidos por teóricos da administração, cientistas, psicólogos, entre outros profissionais.

Em 2001, Ram Charan, autor de livros, professor e assessor de altos executivos de empresas como DuPont, EDS, Ford e GE, escreveu um artigo para a Harvard Business Review, com a seguinte abertura: “a função do presidente, todos sabem, é tomar decisões. E é isso o que a maioria faz, inúmeras vezes, ao longo da carreira. Contudo, para que essas decisões tenham impacto, a organização, em seu todo, também deve decidir executá-las. Quando isso não ocorre, a empresa é vítima da cultura da indecisão.” Sabemos que não é só o presidente que toma decisões em uma empresa.

E neste contexto é importante pensar em “diálogos decisivos”, denominação de Charan, para o processo de quatro elementos, que leva da decisão à ação, ou uma “guerra contra indecisão”. Primeiro, devem envolver a busca sincera de respostas; segundo, devem tolerar verdades desagradáveis; terceiro, devem acolher uma ampla faixa de opiniões, dadas de livre e espontânea vontade; e, quarto, devem indicar um curso de ação.

Se a ação empresarial é fruto da decisão, então onde começa este processo? A decisão passa pela análise de dados e informações. A transformação destes é o trabalho de Inteligência.

O aumento da competição entre países e empresas, do número de produtos e serviços, levou um grupo de profissionais americanos a criar uma associação nos Estados Unidos em 1986, a Society of Competitive Intelligence Professionals, ou SCIP. Estes profissionais, inspirados pelos artigos e livros do Prof. Michael Porter, da Harvard Business School, desenvolveram técnicas e metodologias para análises de mercados, análises de clientes, consumidores, competidores, entre outros fatores do ambiente externo à organização, nos Estados Unidos da América, em função da entrada das empresas e produtos japoneses naquela época no mercado americano.

Passados 21 anos, estamos observando um movimento crescente de busca e formação de profissionais de Inteligência no Brasil, que podem auxiliar seus presidentes, diretores e gestores de forma geral. Este recente campo de trabalho ora chamado de Inteligência Competitiva ora Inteligência de Mercado, entre outras denominações, busca apresentar fatos sobre como uma empresa pode ganhar novos mercados, que clientes conquistar, quais são as novas exigências e necessidades dos clientes e consumidores ou qual o número correto de profissionais para força de vendas. Ou seja, assessorar gestores de áreas diversas, na melhor tomada de decisão.

97

Estes profissionais, com olhar voltado ao mercado, sabem distinguir as situações empresariais que exigem cada vez mais, menor tempo de resposta. E ainda sabem que, quanto menos informação e análise, maior o risco para a tomada de decisão. Afinal, de que adianta “poder” quando a decisão empresarial leva a perda de clientes, mercados e rentabilidade?

Estrutura e organização da empresa A organização da empresa é uma ordenação, um agrupamento de atividades e recursos, que visam resultados positivos para a própria empresa. Planejar, dirigir e controlar, não só uma empresa, mas qualquer outro tipo de estabelecimento, e/ou instituição, não se torna uma tarefa fácil quando não existe uma certa estrutura organizacional. O trabalho vem mostrar o que é essa estrutura organizacional dentro de um contexto geral, mostrando formalidades e informalidades e até mesmo a interação entre ambas. A estrutura organizacional é de grande importância para empresas de pequeno, médio, e principalmente, grande porte, pois fazer uma distribuição de cargos para uma quantidade excessiva de funcionários é necessário ter critérios de avaliação para comandar um certo departamento e uma certa função. Será enfocado, como uma grande empresa de operação rodoviária, através do transporte de passageiro, organiza a distribuição das suas funcionalidades, buscando sempre maiores lucros, mas buscando também tanto a aprovação dos usuários quanto o bem estar dos seus funcionários. JUSTIFICATIVA Mostrar as varias divisões dentro de uma organização tendo como exemplo a empresa de transportes Flores, exemplificando a distribuição de carga e sua respectiva função na administração da empresa. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL A estrutura organizacional deve ser delineada de acordo com os objetivos e estratégias estabelecidos, ou seja, a estrutura organizacional é uma ferramenta básica para alcançar as situações almejadas pela empresa, é o instrumento básico para concretização do processo organizacional. Para se organizar uma empresa, um estabelecimento, ou qualquer outra processo que inclua relações interpessoais, são necessárias algumas funções básicas, ou seja, um bom administrador precisa saber planejar sua empresa, precisa ter pulso e coerência para dirigir uma empresa e alem disso, precisa sabem acompanhar, controlar a empresa, o sistema abaixo identifica muito bem essas funções básicas para o administrador:

98

PLANEJAMENTO CONTROLE ORGANIZAÇÃO DIREÇÃO Quando a estrutura organizacional é estabelecida de forma adequada, ela propicia para a empresa alguns aspectos: Responsabilidades;⇒Lideranças;⇒Motivações;⇒Organização das funções, informações e recursos. A estrutura organizacional dentro de um contexto geral, se subdivide em duas: Estrutura Informal e Formal. Estrutura Informal Esse tipo de estrutura se consiste numa rede de relações sociais e pessoais que não é estabelecida formalmente, ou seja, a estrutura surge da interação entre as pessoas, desenvolvendo-se espontaneamente quando as pessoas se reúnem entre si. A informalidade, é geralmente, mais instável , pois está sujeita aos sentimentos pessoais, pois se trata de uma natureza mais subjetiva, ela não possui uma direção certa e obrigatória. Hoje, em qualquer tipo de empresa, existe as estruturas informais. É errado pensar na hipótese de que grupos informais apenas se formam dentro de um grupo religioso, ou até mesmo dentro de uma sala de aula, muitas estruturas informais existem dentro de grandes empresas, e apresentam diferentes níveis de atuação. Os lideres dos grupos informais surgem por várias causas, como por exemplo: Idade;⇒Competência;⇒Localização no⇒Trabalho;Conhecimento;⇒Personalidade;⇒Comunicação;⇒ Dentre⇒ varias outras situações. Vale lembrar que a estrutura informal é um bom lugar para lideres formais se desenvolverem, porem nem sempre um grande líder informal será um grande líder formal, pois eles podem falhar com o medo da responsabilidade formal. Algumas vezes, a estrutura informal se torna uma força negativa dentro da empresa, porém se a administração conseguir conciliar e/ou integrar os grupos formais com os informais, haverá uma harmonização nas tarefas, o que ai sim, se torna uma condição favorável de rendimento e produção. Sendo assim a estrutura informal possui algumas vantagens como por exemplo: Rapidez no processo;⇒ Redução de comunicação entre chefe e⇒ empregado;

99

Motiva e integra os grupos de trabalho.⇒ Contudo, possui suas desvantagens: Desconhecimento de chefia;⇒ Dificudade de⇒ controle; Atrito entre pessoas.⇒ Com tudo isso, podemos notar que , se um executivo astuto sabe muito bem conciliar esse tipo de informalidade na sua estrutura organizacional. Estrutura Formal Essa é a estrutura que a grande maioria das empresas adotam, é a estrutura deliberadamente planejada, e formalmente representada, em alguns aspectos, em organogramas. Nessa fase, a definição de suas atribuições se torna mais criteriosa, ou seja, aqui a estrutura formal pode alcançar proporções imensas. No desenvolvimento da estrutura formal deve-se considerar os seus componentes, seus condicionantes e seus vários níveis de influência. Pois será, a partir de uma estrutura bem implementada que uma empresa irá alcançar seus objetivos estabelecidos. Os principais fatores para a criação de uma estrutura formal empresarial são: Focar os objetivos estabelecidos⇒ pela empresa; Realizar atividades que podem chegar nesses objetivos;⇒ ⇒ Distribuir as funções administrativas para cada funcionário desempenhar; ⇒ Levar em consideração habilidades e limitações tecnológicas; Tamanho da⇒ Empresa. E os componentes chaves para o bom funcionamento dessa formalidade são: Sistema de Responsabilidade – que é constituído pela⇒ departamentalização, especialização. Sistema de Autoridade – nada mais é⇒ que a distribuição de poder; Sistema de Comunicação – é a interação entre⇒ todas as unidades da empresa Sistema de Decisão – que é ato de poder⇒ entender, e poder definir e decidir uma ação solicitada. Uma estrutura organizacional se resume, simplesmente, em um organograma, que é um desenho gráfico onde mostra cada integrante de uma empresa se delegando a uma área especifíca. Podemos identificar num organograma simples de uma pequena empresa por exemplo, composta por: Presidência; Diretoria Administrativa; Diretoria Financeira e seus respectivos subordinados. A estrutura é a representação de um pequeno organograma, mostrando a formalidade existente dentro de uma certa empresa. Contudo isso, daremos enfoque agora a uma empresa de tranporte de passageiros de grande porte no cenário nacional, a Transportes Flores, mostrando

100

toda sua estrutura organizacional, relacionando com os tipos de estruturas já apresentadas. A classe dirigente As posições de comando no espaço social – ao menos as posições políticas – estão repartidas entre as classes economicamente dominantes e as classes politicamente dirigentes. A elite política, ou a “classe política” (tomadas aqui como sinônimos, portanto), são, conforme a distinção tradicional proposta por Gaetano Mosca em Sulla teorica dei governi e sul governo parlamentare, apenas uma parte daquele conjunto designado comumente pelo nome “classe dirigente”. Apesar do emprego ambíguo dos dois termos por Mosca, como James Burnham notou (1) , a expressão ‘classe dirigente’ englobaria também, além da elite política, todos aqueles agentes que estão fora do Estado e fora do governo, mas que poderiam influenciar as decisões políticas, sem exercer diretamente, como a primeira, o poder. Esse grupo incluiria várias “minorias” (politicamente desiguais entre si, note-se), como as econômicas, as religiosas, as intelectuais, as sociais. A classe política, ou a elite política, seria, por sua vez, uma subespécie da classe dirigente: é a parte da classe dirigente que estaria incumbida da tarefa de governar (2) . Tal como eu penso que deva ser utilizada, a noção de elite (política) não substitui o conceito de classe (dominante), já que não são termos intercambiáveis (3) ; nem o emprego da expressão “classe política” deve significar, necessariamente, uma adesão do analista a todos os pressupostos teóricos da “teoria das elites” (ou do autor aos princípios normativos dos elitistas). A ação sindical e sua tipologia.

Falar de sindicalismo hoje é falar da crise dessa instituição. Especialistas têm discutido a questão, perguntando-se qual a possibilidade de o sindicalismo readquirir o papel influente que deteve no passado ou, mais precisamente, qual seria o futuro dessa instituição nas sociedades do século XXI. Qual o papel dos sindicatos nas sociedades informacionais? Estaria essa instituição fadada ao desaparecimento ou, ao contrário, adquiriria nova identidade e potencialidades? Admitida a hipótese de sua permanência, que mudanças teria que promover para alcançar uma atuação eficaz diante da nova realidade de trabalho? A lógica de ação que presidiu sua existência até recentemente, baseada predominantemente no conflito capital e trabalho poderia/deveria persistir ou seria necessário construir uma nova identidade, uma nova lógica de ação? Como se caracterizariam essas

101

novas identidade e lógica de ação? Quais os riscos, quais os ganhos e potencialidades de uma mudança de identidade? Seria a evolução suficiente à transformação dos sindicatos ou teriam que experimentar uma revolução?

As respostas a estas e outras questões são complexas e exigem sério esforço de pesquisa tanto ao nível teórico quanto empírico.

Os estudos sobre sindicalismo no Brasil têm produzido um vasto e profícuo conjunto de dados que se traduziram em análises que abordam diferentes aspectos do fenômeno sob perspectivas diversas (por exemplo, o sindicato como instituição e como movimento social), em distintos períodos históricos (desde os movimentos anarquistas do início do século XX, até o chamado novo sindicalismo e o sindicalismo dos anos 90), em diferentes regiões, ramos e setores econômicos. Apesar do volume e riqueza da produção cientifica brasileira na área, a mesma tem-se fundamentado sobretudo em aspectos empíricos e descritivos, ao contrário do que ocorre, por exemplo, com a produção norte-americana, francesa e britânica, que apresenta um notável esforço de teorização (entre outros, Kochan et al., 1986 ; Locke & Thelen, 1998; Heckscher, 1996; Kelly, 1998, Hyman, 2001, Durand, 2004).

No Brasil, há carência de reflexão teórica o que acaba por restringir a capacidade de um olhar mais abstrato e objetivo sobre o fenômeno. Por exemplo, entre outros aspectos, há carência de teoria para explicar os diferentes ciclos na existência da instituição; suas diferentes manifestações; bem como questões relacionadas à relação partido-sindicato. Carecemos de ferramentas teóricas que nos habilite a pensar as questões que afetam o sindicalismo de forma mais objetiva e abrangente. Por exemplo, há tendência em considerar a globalização como fator fundamental para explicar os problemas atuais do sindicato. Nessa perspectiva, são muitas vezes deixados de lado outros fatores, tanto de ordem estrutural ou conjuntural (como, esgotamento do processo de substituição de importações, estabilidade da economia, despreparo dos sindicatos), como de ordem subjetiva (questões de identidade, crenças e valores da instituição e dos filiados). A ausência de reflexão teórica impede a discussão sobre questões como, “interesse dos trabalhadores”, em geral, taken for granted a partir do ponto de vista da análise marxista.

Tal lacuna está a exigir necessidade urgente de complementar a pesquisa na área: há necessidade de investigar os diferentes tipos de sindicatos, não apenas em termos do espectro “direita”-“esquerda” (observa-se, no Brasil, nos últimos vinte anos, um viés no sentido de privilegiar a investigação sobre os sindicatos cutistas, como se inexistissem os demais sindicatos), mas também de tendências diferentes observadas em sindicatos pertencendo ao mesmo ramo e à mesma Federação. É necessário evidenciar a diversidade e a complexidade do fenômeno.

Esta comunicação procura levantar aspectos relacionados a tais questões, a partir do exame de uma literatura expressiva por configurar o esforço teórico

102

realizado por estudiosos europeus e norte-americanos na tentativa de avançar no entendimento do problema de forma mais abrangente no sentido de ultrapassar os limites da análise empírico-descritiva.

Sobre as perspectivas de análise

Como todos sabemos, a escolha de uma dada perspectiva de análise condiciona a explicação do fenômeno estudado. O estudo sobre os sindicatos tem sido desenvolvido a partir de diferentes abordagens, dentre elas, destacam-se a orientação institucional e a orientação que privilegia a ação dos atores sociais. Na primeira abordagem, supõe-se que a configuração institucional (natureza do contexto organizacional, do regime jurídico, das relações com o Estado e com os partidos políticos) contribuiriam para moldar atitudes e comportamentos; na segunda, o pressuposto é de ações são forjadas a partir de experiências dos agentes sociais que resultam em estratégias baseadas no exame dos limites e possibilidades que as situações apresentam àqueles agentes. A perspectiva institucionalista tenderia a explicar os problemas atuais do sindicalismo como resultado de fatores estruturais (predominantemente, externos) ou seja, em decorrência de mudanças ocorridas na realidade econômica e, em conseqüência, no mundo do trabalho. Dessa forma, tende a homogeneizar os resultados. A perspectiva acionista, sem retirar a importância dos fatores institucionais, privilegia a dinâmica de estratégias dos agentes sociais. Nesse sentido, o desenvolvimento de estratégias de conflito ou de cooperação obedeceria a um cálculo que avaliaria como obter o máximo de ganhos considerando um contexto particular que incluiria a estrutura de relações entre capital e trabalho, valores subjetivos e apelos que compõem as ideologias. Avaliar as escolhas e ações dos agentes exigiria do observador conhecer a forma como o primeiro “adequar” a escolha ao contexto em que se aplica, ou seja, seria necessário conhecer o grau de conhecimento da situação por parte do agente. Tal perspectiva tende a destacar as diferenças de resultados (Locke & Thelen, 1998; Bacon & Byton, 2004), já que as escolhas dos agentes se faria a partir de distintas conjugação de fatores.

Partindo-se das observações acima, as seções a seguir destacarão alguns aspectos que parecem relevantes na construção de um quadro de análise para exame do sindicalismo.

Sobre os interesses dos trabalhadores

Ao analisar os problemas do sindicalismo atual, Kelly (1999) critica a tendência que, baseada na tese Marxista, considera os “interesses” dos trabalhadores como sendo identificados com o desejo de derrotar o capitalismo. Tal abordagem suporia, equivocadamente, que aqueles interesses seriam facilmente transformados em conflitos e que estes se constituiriam em traço permanente das relações de trabalho. Desde essa perspectiva, concluir-se-ia de forma não-problemática que a conduta dos sindicatos deveria fundamentar-se no antagonismo e no conflito de classe. Esse pressuposto ignora, segundo Kelly, a especificidade e as contradições que estão presentes nos interesses dos

103

trabalhadores, além de conceber de forma simplista a natureza complexa da relação entre conflito de interesses e comportamento conflitivo. Como afirma Kelly, o comportamento dos trabalhadores é complexo e a relação capital e trabalho necessariamente implica conflito e cooperação: ao mesmo tempo que “resiste” à “exploração”, o trabalhador também coopera com o empregador para garantir o funcionamento da empresa e de sua sobrevivência. Kelly vale-se da teoria de Tilly (Tilly, C. From mobilization to revolution. New York: Mc Graw Hill, 1978) sobre ação coletiva para formular algumas questões cruciais: de que forma os trabalhadores vivem seus interesses vis-à-vis os do capital – iguais a, diferentes de, em oposição a? Tais interesses seriam definidos em termos individuais, coletivos, ou de ambas as formas? Segundo Kelly, a oposição de interesses dos trabalhadores frente ao capital tem a ver não apenas com o sentimento de insatisfação, mas com o sentimento de injustiça e ilegitimidade, o qual para se afirmar necessita do papel da ideologia para produzir emoções e identificações. Portanto, os aspectos subjetivos seriam fundamentais para compreender o fenomeno.

Entre o mercado, classe e sociedade

Estudos atuais sobre a crise dos sindicatos tendem a evidenciar os impasses que se lhes apresentam, explicando-os como conseqüências a) das mudanças ocorridas na economia, como o processo de globalização, a liberalização dos mercados que obriga à acirrada competição, a financeirização da economia que privilegia os acionistas em busca de lucros elevados em detrimento dos demais agentes econômicos e, b) no mundo do trabalho, como a introdução de novas tecnologias que elimina postos de trabalho e altera o perfil dos novos empregados, a reestruturação das empresas e transformações na organização do trabalho que altera de forma significativa as relações de trabalho.

A perspectiva acima deixa de abordar adequadamente pelo menos duas questões. De um lado, assume-se uma visão determinista, enfatizando a importância apenas de fatores estruturais, externos, para explicar o debilitamento dos sindicatos. De outro lado, trata-se a questão de forma simplificada considerando-a como uma realidade homogênea, enfatizando as convergências e minimizando as divergências. Deixa-se assim de evidenciar a pluralidade de orientações e perspectivas que caracteriza a realidade concreta dos sindicatos e que se expressa em termos de valores e atitudes e que correspondem a situações histórico-político-sociais do ambiente em que atuam. Ao obscurecer as diferenças chega-se a conclusões equivocadas, pois iguala-se o que é desigual e impede-se a percepção mais fina que permitiria visualizar causas mais pertinentes para a explicação do fenômeno.

Há, portanto, que, antes demais nada, ter claro que o termo sindicalismo supõe pluralidade de concepções de ação e orientações, muitas vezes, conflitantes.

O livro de Hyman, Understanding European trade unions. Between market, classes and society (2001) parte do exame da diferença, utilizando-se da noção de

104

polarização triangular – mercado, classe e sociedade – representados através da figura de um triângulo, em que cada um dos termos se localizaria em um dos ângulos, definindo-se assim três tipos ideais de sindicalismo, concebidos como: a) veículo de mobilização anti-capitalista tendo em vista promover a luta de classes b) agente de integração social na busca de realização da justiça social através da melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores; e c) agente de defesa do mercado de trabalho e representantes dos interesses das ocupações.

A construção desses tipos ideais associa-se a distintas identidades que definiriam modelos de sindicatos com diferentes objetivos. No primeiro caso, o modelo que emerge com as lutas de esquerda, pautar-se-ia pela oposição anti-capitalista priorizando a organização da militância e a mobilização política; em oposição ao modelo baseado no antagonismo de classes, emerge ao final do século XIX, a perspectiva de integração social pautada pelos princípios do catolicismo social, a partir de uma visão organicista da sociedade. O terceiro modelo é o chamado sindicalismo de negócios com enraizamento maior nos Estados Unidos, cuja prioridade é a consecução de objetivos estritamente econômicos, rejeitando perspectivas revolucionárias ou reformistas e considerando-as como obstáculos às reais necessidades dos trabalhadores entendidas como busca de oportunidades de emprego.

O argumento de Hyman é de que os modelos acima devem ser compreendidos como tipos ideais e como tal não seriam encontrados na realidade. Os sindicatos viveriam a permanente tensão de ter de conduzir-se pelos três eixos acima referidos, ou seja, não poderiam ignorar, o mercado (a preocupação com os salários), a divisão de interesses entre empregados e empregadores (a presença das classes sociais), bem como a coexistência com um quadro social mais amplo, a sociedade, que lhes imporia condicionamentos sociais. Portanto, segundo Hyman, na prática, a identidade dos sindicatos seria definida por sua localização não nos ângulos do triângulo – o que definiria o tipo puro - mas em um dos lados do mesmo, inclinando-se de forma mais ou menos contraditória para dois dos modelos: entre classe e mercado; entre mercado e sociedade e entre sociedade e classe. Considerando-se cada lado do triângulo como um contínuo, teríamos assim uma pluralidade de orientações. As localizações e o grau de inclinação refletiriam tanto circunstâncias objetivas, materiais quanto orientações subjetivas, ideológicas. Teríamos assim uma matriz complexa que definiria distintas estratégias e formas de ação. Em tempos de mudança, tende a ocorrer reorientações de posições.

Na perspectiva do sindicalismo voltado ao mercado, uma de funções precípuas do sindicatos seria a de garantir padrões mínimos em termos de salários, jornada de trabalho, elementos básicos de saúde e segurança no trabalho, os quais seriam preferentemente definidos através da negociação coletiva (outras formas: contrato individual, seguro mútuo ou obrigação legal). O sindicato é concebido a partir de uma perspectiva economicista cujo objetivo seria lutar para elevar o bem-estar material de seus membros, especialmente, no que se refere a aumento de salários. A organização e a negociação coletiva aumentaria o poder de barganha

105

dos trabalhadores permitindo a obtenção de vantagens acima das condições de mercado. Essa perspectiva baseia-se num pretenso equilíbrio da correlação de forças entre as partes em negociação, a qual em termos dos trabalhadores é muito dependente das condições do mercado de trabalho. Nesse sentido, tende a privilegiar os trabalhadores em vantagem no mercado de trabalho, constituindo-se também em sua limitação.

Hyman argumenta que tal economicismo não pode deixar de ser político, já que a lógica puramente de mercado não se sustenta sem regulação; portanto, ao tentar impor-se no mercado, torna-se inevitável influenciar o Estado. Da mesma forma, as regras de mercado originam-se na estrutura das relações sociais; a noção de “salário justo”, apóia-se em valores definidos por normas e obrigações sociais, que se traduzem na idéia de uma “economia moral”.

Tais argumentos buscam demonstrar a impossibilidade de existência de um sindicalismo puramente de negócios, já que os aspectos políticos e sociais estariam, de uma forma ou de outra, sempre presentes.

O sindicalismo revolucionário baseava-se no pressuposto de que a luta coletiva por melhores condições de trabalho tenderia a radicalizar-se, já que contribuiria para formar entre os trabalhadores a percepção de interesses comuns e de desenvolvimento de um sentimento de antagonismo contra os patrões, mesmo porque as reivindicações de melhores condições de vida e de trabalho seriam impossíveis de ocorrer nos limites do capitalismo. A subversão da ordem seria inevitável.

Os pressupostos acima não se verificaram: o aumento da produtividade permitiu redistribuição de ganhos para determinados segmentos de trabalhadores; por outro lado, por ocasião das crises, no lugar de radicalizações, observam-se concessões por parte dos trabalhadores preocupados em garantir a sobrevivência da empresa e dos próprios empregos. Nesse sentido, a esquerda condenava a negociação coletiva e a burocracia sindical por julga-los responsáveis pela acomodação dos trabalhadores ao sistema.

Hyman corretamente pondera que a realidade não é linear. O conflito não pode ser utilizado de forma permanente, tanto porque geraria retaliação por parte dos empregadores, quanto porque os trabalhadores não estariam dispostos, exceto em casos extremos, a assumir os custos de uma estratégia de antagonismo. Ademais, historicamente, a atos de subversão da ordem seguiram-se, não revoluções, mas regimes autoritários que destruiram os direitos dos sindicatos autônomos.

Sendo assim, até que ponto seria correta a idéia de sindicalismo de classe? Vários argumentos indicariam a inadequação dessa perspectiva: o sindicalismo careceria da possibilidade de promover a unidade de classe em razão da profunda divisão dos trabalhadores em ocupações, por qualificação, por tipos de contrato de trabalho, por atributos demográficos que definem interesses distintos. Além disso,

106

sem entrar em detalhes sobre o conceito marxista de classe, Hyman destaca três desafios ao próprio conceito: o capitalismo não gerou a polarização de classes; a formulação puramente econômica de classe é inadequada; a definição “objetiva” da classe não garante a emergência da consciência de classe e ação coletiva.

A idéia de sindicalismo de classe, continua Hyman, expressaria um paradoxo: a representação do grupo não pode basear-se em unidade de interesses por sua profunda divisão, como também não pode apelar à oposição de classe sob pena de ser deslegitimado. Por outro lado, a realidade das classes manifesta-se pela percepção da exploração e da insegurança. Ainda que indiretamente, o sindicalismo seria um agente de classe. O sindicato, portanto, une e divide, promove lutas, ao mesmo tempo em que regulamenta e normaliza as relações de emprego. Residiria aí o paradoxo.

O período entre as duas guerras mostrara que o radicalismo de classe poderia levar não à destruição do capitalismo, mas à emergência de regimes autoritários como o fascismo. Os sindicatos de classe transformaram-se, aceitando a defesa da ordem e da estabilidade econômica em detrimento da política de classe; em outros casos, continuaram com uma retórica política em contradição com a prática diária.

Em oposição à concepção de sindicalismo de classe, desenvolve-se a noção de sindicalismo como ator de integração à sociedade civil e que no pós guerra expressa-se através da expressão “parceria social”. A expressão origina-se na doutrina católica e fundamenta-se na idéia de harmonia social e de reciprocidade funcional entre capital e trabalho. Poderia também expressar a idéia de uma relação igualitária entre parceiros ou ainda uma relação entre instituições com recursos de poder que buscam uma situação de equilíbrio pragmática, no interesse de ambos. Nesse caso, como bem salienta Hyman, cooperação não significaria harmonia de classe ou subordinação, mas transformação do conflito em permanente “guerra de manobra”, na expressão gramsciana; não como ideologia do consenso, mas como relações institucionalizadas entre oponentes em igualdade de condições.

Hyman chama a atenção para o fato de que na primeira geração de pactos sociais vigora a lógica dos ganhos compartilhados com distribuição regulada do crescimento econômico, relativo pleno emprego e expansão do welfare state.

Na Europa dos anos 60 e 70, consolida-se a opção neo-corporativista ou social democrata, síntese entre negociação coletiva pragmática e política pública de Estado, orientada para a reforma econômico-social. Os sindicatos aceitam restrições salariais em troca de funções consultivas na formulação e implementação de políticas econômicas e sociais. Verifica-se assim mudança de arena - da fábrica para a política; da pressão econômica à influência política. A partir do final dos anos 1960, a agenda avança em favor dos trabalhadores, incorporando questões como humanização das condições de trabalho, alteração da excessiva divisão de trabalho, autonomia no trabalho, oportunidades de

107

desenvolvimento de carreira. Nesse sentido, a opção noe-corporativista diferencia-se nitidamente do sindicalismo de negócios, já que as atividades sindicais não se restringiriam à agenda da negociação coletiva.

Os ganhos dessa perspectiva estariam na possibilidade de construção de uma ordem social mais justa numa conjuntura de crescimento econômico expressivo e de mercado de trabalho favorável. Mesmo assim, afirmam os críticos que os sacrifícios foram maiores que os benefícios. De fato, os ganhos desaparecem com a perda de poder de barganha dos trabalhadores a partir do último quartel do século XX, em razão de mudanças desfavoráveis na conjuntura econômica e política.

No contexto de restrição das políticas keynesianas e de novas condições do mercado de trabalho, a nova estratégia sindical volta-se para a atuação na sociedade civil, como movimento social.

Examinando empiricamente os três tipos ideais de sindicalismo, Hyman traz os exemplos da Grã Bretanha, da Alemanha e Itália do pós-guerra.

Na Alemanha, o chamado capitalismo organizado estabelecia um certo equilíbrio entre as forças de mercado e a coordenação e regulação do Estado, o que garantiria lucro aos empresários e bem estar aos trabalhadores. Os sindicatos constituíam-se em atores de conflito, mas respeitando os limites de regras definidas pela ordem social, na defesa de metas sociais partilhadas também por outros atores sociais. Tal modelo era garantido por um expressivo crescimento econômico com estabilidade, que resultava em mercado de trabalho favorável aos trabalhadores. Expressava-se assim o modelo que tinha como eixos o mercado e a sociedade, ou seja, o mercado social (Hyman, 2001:121).

Nos anos 1970, o esquema acima passa a ser desafiado por uma onda de greves espontâneas contra a política sindical de coalizão pela produtividade, que tendia a excluir segmentos desfavorecidos da classe trabalhadora como, mulheres, trabalhadores imigrantes e de baixa qualificação. Nos anos 1980, fatores como crescimento do desemprego, des-industrialização, corrupção, má administração colocam os sindicatos na defensiva e contribuem para a perda do apoio público.

Na Itália do pós-guerra, os sindicatos adquirem influência como atores político-sociais pela ativa contribuição que tiveram na construção de uma estrutura social de bem-estar. Nos anos 1970, cerca de 50% da força de trabalho era sindicalizada; a agenda das negociações coletivas fôra ampliada incluindo questões relativas às condições de trabalho e de vida (desafio à disciplina fabril, ao intenso ritmo de trabalho e à fragmentação de tarefas, demandas relativas ao custo da moradia, do transporte e eletricidade e questionamento da desigualdade regional no País).

108

A experiência do fascismo levara a esquerda a compreender a impossibilidade da luta pela transformação socialista através da mobilização da classe trabalhadora; surge assim o chamado compromisso histórico, a aliança do PCI com outros partidos incluindo a democracia cristã, com o objetivo de lutar pela melhoria nas condições dos trabalhadores. Tal estratégia corresponderia, segundo Hyman, ao modelo classe e sociedade. A globalização, as novas tecnologias, os novos métodos de organização do trabalho, as privatizações, evidenciam a forte presença do mercado nos anos 1980 e 1990. Os sindicatos perdem força e tanto os empregadores como os governos podem mais facilmente dispensá-los nas negociações .

O argumento de Hyman é de que os modelos que vigoraram no século XX tornam-se incapazes de operar com sucesso diante da nova configuração das forças econômico-político-sociais. A atuação dos sindicatos no século XX, aproximar-se-ia da idéia de solidariedade mecânica formulada por Durkheim, correspondendo à disciplina e padronização do mundo Fordista, cujos beneficiários foram os trabalhadores core, qualificados, predominantemente, homens. As concepções de mercado, sociedade e classe que pautaram as ações sindicais, configuravam-se nos limites da nação. O impasse atual residiria no fato de que os sindicatos devem atuar como mediadores de forças econômicas transnacionais.

A alternativa, segundo Hyman, seria construir uma nova agenda de regulação supra nacional e as novas utopias deveriam igualmente pautar-se por essa dimensão (solidariedade transnacional). Por outro lado, as ações sindicais deveriam substituir a conformidade organizacional pela coordenação da diversidade. Tal coordenação, no entanto, constituir-se-ia em tarefa complexa: conjugar diferenças requereria negociação contínua. As novas tecnologias e seu uso inteligente constituiriam instrumentos valiosos no suporte de estratégias organizacionais.

A literatura tende a explicar o declínio dos sindicatos por fatores externos como a globalização, as novas tecnologias, a reestruturação produtiva, já que tais fatores alteram significativamente os princípios que regeram o mundo do trabalho em boa parte do século XX. Entretanto, como afirmam Hyman (1999) e Dumbois & Pries (1998), os impactos daqueles fenômenos sobre os sindicatos não são análogos: enquanto os sindicatos mais fortes e bem estruturados teriam melhores condições de enfrentar a nova situação, podendo até sairem fortalecidos, o contrário ocorreria com os mais fracos. Tais resultados reforçariam a tese de que o declínio dos sindicatos não poderiam ser explicados diretamente pelos processos de globalização, liberalização e de privatização, senão por uma série complexa de fatores estruturais e conjunturais, internos e externos. Nesse sentido, poder-se-ia concluir com Western que “os fatos recentes não indicam o triunfo dos mercados sobre as instituições, mas a limitada capacidade das instituições nacionais para controlar os efeitos de um contexto institucional global.” (Western, B. Between Class and market: postwar unionization in the capitalist democracies. Princeton: Princeton UP, 1998, p.195, citado por Hyman, 1999, p. 127)

109

Hyman (1999) critica também a tese que atribui o declínio do sindicalismo a aspectos subjetivos baseados na idéia que opõe ao coletivismo do passado, o individualismo do presente. De um lado, afirma ele, o suposto “coletivismo solidário do passado” também representou “...um veículo mais eficaz para apoiar as metas econômicas individuais.” (Hyman, 1996, p.21) e, de outro, o “individualismo do presente” representaria, muitas vezes, um movimento contra um sindicalismo voltado para trabalhadores qualificados, do setor industrial, do sexo masculino, regido por princípios hierárquicos e centralizadores. Nesse sentido, o “novo individualismo” teria o mérito de ampliar o escopo do velho coletivismo economicista das negociações coletivas, ao preocupar-se em incorporar entre as demandas dos trabalhadores, aspectos relacionados à qualidade de vida e à ampliação da participação.

Sindicato Competente

Segundo Durand (2004), o surgimento dos sindicatos relacionava-se à luta contra as más condições de trabalho, em busca de benefícios materiais (elevação dos salários) e simbólicos (dignidade e identidade ao trabalhador). O desenvolvimento do capitalismo e, mais recentemente, da economia de serviços, se não eliminou os problemas no trabalho (insegurança, intensificação do ritmo de trabalho), teria trazido compensações como, elevação da qualificação, redução do autoritarismo, melhor comunicação com as chefias, as quais tenderiam a substituir algumas das demandas sindicais.

Durand aponta também para os equívocos dos sindicatos ao interpretarem as opções dos trabalhadores: os sindicatos opuseram-se à adoção de horários flexíveis porque estes tenderiam a desestruturar os coletivos de trabalho. Os assalariados, no entanto, muitas vezes, os preferem para melhor conciliar a jornada de trabalho com a vida privada. No Brasil, é ilustrativo o ocorrido com o pagamento da chamada Participação nos Lucros e Resultados (PLR): rejeitada pelos sindicatos, passou a vigorar em muitas empresas por acordo entre estas e os trabalhadores, já que os valores pagos pela PLR eram de interesse dos trabalhadores. Durand critica igualmente os discursos sobre o sofrimento do trabalho que, segundo o autor, ignoram as satisfações, prazeres, status, obtidos no local e através do trabalho e que invalidam as teses miserabilistas.

O autor argumenta que com a complexificação da estrutura do capitalismo e as transformações no mundo do trabalho, altera-se o papel dos sindicatos: a oposição entre “sindicalismo revolucionário” e “sindicalismo reformista” teria cedido lugar à oposição “sindicalismo reivindicativo” e “sindicalismo cooperativo”. Decorreria daí a necessidade de os sindicatos desenvolverem expertise de forma a alcançar o nível de conhecimento da gerência com quem devem negociar. Durand afirma que no caso da França, houve sub utilização por parte dos sindicatos da possibilidade, prevista em lei, de desenvolver “expertise

110

tecnológica”. Importante seria também expertise na gestão econômica e financeira da empresa.

Nessa perspectiva, os sindicatos não deveriam limitar-se a gerir ou reparar as conseqüências sociais dos processos de reestruturação, mas antecipar-se e intervir desde o início do processo, lutando para obter informações estratégicas, pressionando as gerências para influenciar decisões. Portanto, mesmo assumindo uma posição cooperativa, os sindicatos não fugiriam à confrontação. Cooperação e confrontação, participação e conflito não seriam termos excludentes, mas incluiriam-se na política sindical, uma vez que esta não poderia desenvolver-se sob conflito permanente – a produção é sua condição de existência – e nem em cooperação total, sob pena de eliminar a razão de ser dos sindicatos. O modelo de cooperação, portanto, não significaria apenas negociar sob o princípio de ganhos mútuos; muitas vezes, torna-se necessário forçar a aceitação de reformas importantes.

Sindicato como agente social

Bacon & Blyton (2004) valem-se da perspectiva que privilegia a estratégia dos agentes sociais, utilizando-se de duas dimensões – orientação ideológica e ação - para construir uma matriz de respostas dos sindicatos durante as negociações. Os autores buscam avaliar a natureza das respostas e o impacto das mesmas sobre a reestruturação no local de trabalho.

Dada a complexidade do contexto, os negociadores teriam dificuldades em definir o curso racional da ação e prever resultados. Diante de tais situações, os negociadores tenderiam a empreender todos os esforços para alcançar resultados que mantivessem um certo equilíbrio entre objetivos conflitantes. A matriz construída a partir da combinação das duas dimensões – orientação ideológica e ação - prevê quatro possibilidades de respostas:

a. engajamento cooperativo: os sindicatos cooperam com a empresa sobre a questão das mudanças; tendem a acreditar que a empresa agiria de forma justa; a tendência seria haver uma distribuição dos ganhos ao final das negociações. O risco dessa estratégia seria a adoção da agenda da empresa em detrimento dos interesses dos trabalhadores.

b. Oposição militante: os sindicatos podem recusar-se a cooperar. Baseiam-se na idéia de “batalha final”; necessitam de uma liderança de esquerda bem organizada.

c. Oposição moderada: sindicatos moderados podem, às vezes, recusar-se a cooperar e opor-se às mudanças. Isso pode ocorrer quando a empresa exige muitas concessões dos sindicatos sem compensações aos trabalhadores.

d. Engajamento militante: sindicatos com orientação militante podem cooperar taticamente, sempre que os interesses dos trabalhadores e da empresa coincidem; a cooperação pode ocorrer sobre questões

111

especificas como, saúde e segurança. Terão dificuldades em convencer a empresa de que estão sendo sinceros, assim como convencer os filiados de que cooperar não significa vender-se ao capital.

A pesquisa realizada pelos autores para analisar os resultados de negociações em que as posições acima foram adotadas, concluiu que:

Os sindicatos militantes que possuem organização no local de trabalho quando cooperam por razões táticas, podem obter benefícios significativos, em razão de poderem recorrer com a possibilidade/ameaça de oposição. Entretanto, segundo os autores, isso não deve ser um argumento nem a favor da cooperação por si mesma - esta apenas funcionaria quando detém a ameaça real de oposição – nem de rejeição a priori da cooperação.

Os autores chamam a atenção para a importância de avaliar-se os resultados considerando a combinação entre ação na negociação e orientação ideológica. Esta influenciaria fortemente as escolhas e decisões de seus representantes no processo de negociação, já que condicionaria os sindicatos para agir de acordo com a decisão de cooperar ou não. A ideologia dos sindicatos influenciaria também a estratégia da empresa: sindicatos com ideologias militantes inibiriam a empresa de impor mudanças uma vez que o risco de não chegar a um acordo seria maior. Ao contrário, pareceria igualmente racional aos gerentes forçar os sindicatos moderados a fazer concessões.

Segundo Bacon & Byton, tais conclusões demonstrariam que explicar os resultados baseando-se apenas nas ações dos sindicatos durante as negociações, levaria a equívocos. Por outro lado, avaliar os resultados considerando apenas os resultados para os empregados (demissões, salários, satisfação no trabalho e stress no trabalho), levar-nos-ia a concluir que a orientação militante seria a mais recomendável e que os moderados agiriam de forma irracional. Os autores concordam com a afirmação de que Kelly de que o comportamento dos trabalhadores é complexo: resistem à “exploração”, ao mesmo tempo em que cooperam com a empresa para garantir a viabilidade dos empregos.

Na pesquisa realizada por Bacon & Byton, um dos sindicatos investigados havia cooperado para a introdução de “trabalho em equipe”, na expectativa de que essa forma de organização do trabalho contribuiria para o aumento de produtividade da planta, ainda que o resultado fosse maior intensificação no ritmo de trabalho e demissões. Em outro caso, esses últimos resultados foram rejeitados, tendo em vista que o aumento de produtividade seria pequeno. No caso de um sindicato de oposição militante, a intensificação no ritmo do trabalho foi rejeitada e a satisfação no trabalho elevou-se. Em outro exemplo, o sindicato

112

impediu mudanças no trabalho, mas com baixa elevação na satisfação no trabalho e impacto menor na produtividade do que no número de demissões.

Os autores concluem que as escolhas nas negociações são complexas; o importante a reter seria que os atores agiriam racionalmente segundo os seus objetivos.

Decorreria daí, segundo os autores, o equívoco das análises marxistas, cujo foco dirigindo-se apenas à ideologia e aos ganhos dos trabalhadores, avalia a moderação dos sindicatos como concessão, ignorando que a estratégia dos mesmos obedece à uma lógica em busca de fins racionais. Por exemplo, em um dos casos estudados por Bacon e Byton, a tradição de moderação do sindicato, relacionava-se em parte ao fato de, por um lado, a empresa em questão pagar percentual significativo de altos salários e, de outro, à ausência de alternativas de emprego no local.

Greves e conflitos trabalhistas

O melhor caminho para abordar o movimento sindical é lembrar que se trata de uma forma ímpar, única, de estabelecer a mediação dos conflitos entre trabalhadores e empregadores, durante as disputas reivindicatórias. Não é difícil perceber que os empregadores, que são os donos do capital e dos empregos, vêem, cada vez mais, aumentar seu poder, colocando-se em uma situação privilegiada nas relações de trabalho.

De modo que a organização dos trabalhadores em sindicatos de classe surge como a principal forma de minimizar o desequilíbrio existente entre as partes nas relações trabalhistas.

Os conflitos no mundo do trabalho vêm de longe e as tentativas de encontrar mecanismos que pudessem estabelecer o equilíbrio de forças entre as partes, representadas pelas organizações de trabalhadores, já eram um fato na Roma antiga da era antes de Cristo. O filme "Spartacus" retratou de maneira didática e épica os esforços dos trabalhadores, durante o Império Romano, para se organizarem e reivindicarem melhores condições de trabalho e, sobretudo, a conquista de uma vida mais digna e respeito ao ser humano trabalhador, na época submetido ao regime de escravidão.

Aquelas ações e lutas, em plena vigência do regime escravista, poderiam ser consideradas fontes primárias e inspiradoras da organização dos trabalhadores em entidades de classe, em busca do equilíbrio de forças nas relações de trabalho.

113

Com a queda do Império Romano e o fim do regime escravista na Europa, tivemos a chamada Idade Média, que durou mais de mil anos, período em que surgiram as corporações de ofício, constituídas por artesãos nas cidades e aldeias, que produziam sem submissão aos senhores feudais, os quais impunham à sociedade de então o regime do trabalho servil.

A partir dos anos 1500, começam a aparecer as formas manufatureiras de produção mercantil e a serem formados os Estados Nacionais e verificam-se processos de acelerada acumulação de capital que se expande por toda Europa. As economias vão se refazendo e se recriando. Continuam os conflitos nas relações de trabalho e a busca de meios para fazer a mediação e a negociação visando à concretização de conquistas de direitos que atenuassem o regime de extremada exploração da classe operária nascente.

A reestruturação do sistema produtivo, com base no a sua insatisfação com o emprego de técnicas mais avançadas crianças. Com isso, cresciam a insegurança dos trabalhadores e sujeitos a uma menor remuneração, ou ainda por mulheres e eram substituídos por trabalhadores menos especializados e mão-de-obra tradicional. Os chamados profissionais de ofício tempos. As máquinas cada vez mais modernas substituíam a produzir já não apresentavam a produtividade exigida pelos novos manufatureira, à revolução industrial. As formas artesanais de desenvolvimento tecnológico, levaria à transformação da produção no sistema produtivo.

A saída para a classe trabalhadora era buscar sua unidade e formas de organização que possibilitassem enfrentar a exploração imposta pelo poderio do capital e garantir os empregos, ameaçados pela mecanização e pelas linhas de produção. Essas lutas adquiriram grande amplitude e muitas vezes formas radicalizadas, a ponto de levar os manifestantes a quebrarem máquinas. As ações dos trabalhadores não foram em vão. Com cartas, manifestações de rua, greves e um crescente nível de organização, a classe trabalhadora das fábricas e dos serviços impunha o diálogo e a negociação. Conquistas vão se sucedendo, incluindo a redução da jornada de trabalho, que resultou em maior oferta de empregos, com a criação dos turnos de trabalho, além de leis reguladoras das relações trabalhistas.

No início do século XIX, a forma de organização dos trabalhadores em sindicatos de classe já estava reconhecida e consolidada para a intermediação e solução de conflitos trabalhistas.

No Brasil, tivemos o início do processo de industrialização retardado pelas proibições impostas pelo governo colonial que dominou o nosso País até 1822. Com a Independência, feita sob a liderança do príncipe Pedro I, membro da mesma dinastia que governou Portugal e suas colônias de além mar, as restrições antes existentes permaneceram, além da falta de capital que o regime escravista cultivava para manter privilégios dos senhores donos das terras e dos escravos. As primeiras indústrias foram aparecer na década de 50 do século XIX. Só no

114

início do século XX começaria uma modesta industrialização no eixo Rio-São Paulo, depois da proclamação da República.

Com o aparecimento de indústrias e o crescimento do número de operários, organizam-se os primeiros sindicatos no Brasil, que promovem assembléias, congressos, passeatas, greves e os mais diferentes tipos de manifestação, sempre apoiados em uma imprensa operária combativa, criada e editada por trabalhadores imigrantes com experiência adquirida no movimento sindical europeu. Era um movimento que reivindicava melhores salários, jornada de 8 horas diárias, segurança no emprego e outros direitos sociais. Nos anos 10 e 20 do século XX, a ação sindical dos trabalhadores, as suas manifestações já alcançavam um grande vigor em toda a região industrializada do País - no caso, São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1917, São Paulo foi palco da histórica greve geral dos operários da indústria, dos trabalhadores em transportes e dos empregados do comércio.

É importante destacar que o movimento sindical só pode exercer, em sua plenitude, o papel de interlocutor representativo dos interesses coletivos das categorias de trabalhadores em seus embates com os empregadores - e também com o Poder Público - em um ambiente de vigência da democracia, em um Estado de Direito democrático. Neste particular, é preciso dizer que o movimento sindical brasileiro sempre teve que enfrentar a repressão policial desde o seu nascimento. Na Velha República, a questão social era considerada um "caso de polícia". Durante a ditadura Vargas, o Estado decidiu consolidar uma legislação para as relações de trabalho, a CLT, e tutelar os sindicatos, com atribuições assistencialistas e de colaboração de classe, criando a famosa figura do "pelego". No regime da Constituição de 1946, os sindicatos continuavam sujeitos à legislação imposta pelo "Estado Novo" e à intervenção do Ministério do Trabalho.

Apesar dessas dificuldades, pela falta de democracia no País ao longo de quase todo o século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, com a derrota do Nazi-fascismo, sindicatos de grande número de categorias importantes conseguiram livrar-se dos "pelegos" e voltar à combatividade dos anos 10 e 20, com um novo ciclo de lutas sindicais, que vai até o golpe de 1964, que implantou o regime militar. Neste período, ocorreram grandes lutas, greves memoráveis e novas conquistas, entre as quais, o repouso semanal remunerado, férias de 30 dias e 13º salário.

Durante o regime militar, sob pressão da ditadura implantada, os sindicatos voltam a sofrer inter venção. Assembléias e passeatas eram proibidas. Greve, nem pensar, era considerada subversão contra o regime e quem dela participasse estava sujeito aos rigores da Lei de Segurança Nacional. Mas, em 1974, houve uma eleição na qual a ditadura sofreu uma histórica derrota, sinal de que estava sendo repudiada pela sociedade. A partir daí, começa uma "abertura lenta e gradual", como diria o Presidente de então, o general Ernesto Geisel. Em 1978, surgem as primeiras manifestações estudantis e operárias em São Paulo. Em 1979, as primeiras greves. Na década de 80 do século passado, aparece um novo

115

sindicalismo no ABC paulista, sob a liderança de Luiz Inácio da Silva, o Lula, e Enilson Simões, o Alemão.

Hoje, ou melhor, desde a promulgação da Constituição de 1988, é livre a organização sindical no Brasil e o exercício pleno do direito de greve, inclusive no serviço público, coisas que eram proibidas até então. Com a vigência da democracia em nosso País, os trabalhadores têm desenvolvido e aperfeiçoado as suas organizações de classe e utilizado esse poder que dispõem para garantir e ampliar conquistas nas disputas entre o capital e o trabalho. Pena que as diferenças de caráter político, existentes no movimento sindical, tenham levado à quebra da unidade da central sindical provisória organizada no início da década de 80 do século XX, a Conclat (Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras). Do racha havido na Conclat, saíram seis centrais sindicais: CUT, duas CGTs, Força Sindical, CAT e SDS. Essa fragmentação em tantas centrais sindicais reduz o poder da pressão e de negociação dos trabalhadores frente às organizações patronais e frente aos governantes.

Quando a intermediação feita pelos sindicatos, através de negociações com os empregadores, não resolve o conflito nas relações de trabalho e não apresenta resultados, os trabalhadores procuram romper o impasse com a greve, o meio mais eficaz a seu dispor, consagrado internacionalmente. No Brasil, legalmente, as primeiras referências ao direito de greve apareceram na Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, no início da década de 40 do século passado, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas. Depois, o próprio Vargas baixaria um decreto, o 9.070, estabelecendo todo um rito a que os sindicatos deviam obedecer para decretar uma greve. Tratavase de uma regulamentação "para evitar abusos", conforme foi dito na época; na verdade, uma limitação do direito de greve que quase a inviabilizava.

O direito de greve é juridicamente um direito estranho, tendo em vista que o seu uso pelo trabalhador contrapõe-se a outros direitos. Quando desencadeia uma greve, o trabalhador de determinado setor está se contrapondo a direitos das empresas e direitos de outros setores da sociedade. Não obstante isso, o direito de greve acabou se consagrando em constituições e legislações específicas exatamente para dar equilíbrio às relações de trabalho. A greve é um instrumento de força útil e necessário de que dispõe o trabalhador para compensar o poder do capital, para fazer o empregador pensar e negociar as reivindicações colocadas na mesa pelos sindicatos dos empregados.

Com as ressalvas já feitas sobre as restrições ao direito de greve no século passado em nosso País, cabe lembrar que, depois da Carta de 88 que está em vigor, essa forma de luta é plenamente reconhecida para todas as categorias de trabalhadores dos setores privado e público, cabendo à Justiça decidir se e quando a greve é abusiva. O Brasil já viveu momentos de intensa mobilização dos trabalhadores e grandes movimentos grevistas, tanto durante o período da Constituição de 46, quanto após o regime ditatorial. Atualmente, nota-se um certo declínio, um certo refluxo dos movimentos grevistas. Talvez isso se deva ao

116

aumento do desemprego, à diminuição da oferta de postos de trabalho, particularmente na indústria. Mas, não é só na indústria que diminui o emprego. Para simplificar, basta dizer que o Bradesco, no início da década de 80 do século XX, com a metade do número de agências que possui hoje, empregava 160 mil funcionários; atualmente está com 65 mil.

O fechamento de postos de trabalho se deve ao fraco crescimento da economia e ao desenvolvimento tecnológico. Esse fenômeno nas relações de trabalho vem enfraquecendo os movimentos e as organizações dos trabalhadores, que temem o desemprego.

O DESEMPREGO NO BRASIL E NO MUNDO

O desemprego não é um problema só no Brasil; ele ocorre na Europa e em toda parte do mundo. Excetuando-se os Estados Unidos, onde a questão está minimizada pelo longo período de crescimento da economia durante o governo de Bill Clinton, nas demais partes do mundo o fenômeno é visto com preocupação. Na Europa, o problema é muito grave; no Japão, atualmente observa-se a diminuição do número de vagas no mercado de trabalho; a Coréia do Sul enfrenta a mesma situação. Nos países subdesenvolvidos, a situação não é diferente.

No Brasil, é grande a preocupação dos trabalhadores, dos sindicatos, das autoridades e dos estudiosos de problemas sociais, a despeito de não possuirmos dados precisos sobre o desemprego, isto porque, enquanto o IBGE fala em taxa de 12%, a Fundação Seade/Dieese fala em 18% na região metropolitana da Grande São Paulo. A verdade é que temos, hoje, em qualquer família alguém desempregado. Essa é uma realidade que está muito próxima de cada um de nós. O desemprego causa vários problemas: para o desempregado, para a família e para o Estado. Para o cidadão desempregado e sua família, o desemprego provoca insegurança, a indignidade, aquela sensação de inutilidade para o mundo social.

A tecnologia, que vem desde a revolução industrial na Inglaterra em 1750, traz problemas, e certamente é uma das principais causas do desemprego mundial. Uma máquina substitui o trabalho de 10, 20, 40 ou mais pessoas. Já foi dito que a revolução industrial provocou insatisfação dos trabalhadores, mas pouco desemprego, porquanto, na época, as vagas fechadas numa empresa eram supridas pela abertura de outras empresas. Além disso, houve a redução da jornada de trabalho para 8 horas e a semana de 5 dias. Todavia, hoje, com a globalização, a informatização, as novas tecnologias, nós temos efetivamente um problema de desemprego estrutural. Vejam o exemplo do banco já citado, onde diminuem em menos da metade os postos de trabalho. Tudo é informatizado, as pessoas não precisam do caixa humano, elas vão direto

117

ao caixa eletrônico. Esses funcionários perdem o emprego e não têm outra oportunidade, porque todos os ramos de atividade estão se modernizando, não só os bancos, mas as indústrias estão sendo robotizadas. Estão desaparecendo muitas profissões e atividades profissionais, porque têm o robô fazendo o trabalho de muitas pessoas. Isso realmente gera desemprego e tanto o governo quanto a sociedade têm que contribuir para encontrar uma solução.

Talvez a solução momentânea seja a requalificação profissional. Os profissionais que perdem seus postos de trabalho devem passar por treinamentos e reciclagens. Só assim poderão encontrar outra atividade e assumir uma nova vaga no concorrido mercado de trabalho moderno. O desempregado não pode ficar esperando nova oportunidade para ocupar a mesma vaga que ocupava antes da demissão, mesmo porque aquela vaga, ou melhor, aquela função pode deixar de existir. Aquele que deseja voltar ao mercado de trabalho deve se reciclar, buscando uma colocação em outra área ou ramo de atividade; para isso, ele deve estar preparado.

O governo, através dos Fundos de Amparo ao Trabalhador, tem oferecido recursos para treinamentos e reciclagens aos desempregados. Essa iniciativa ajuda, pois o trabalhador, sem essa reciclagem não vai conseguir uma recolocação no mercado de trabalho, mas não resolve o problema.

De modo que a questão do emprego é, hoje, a principal preocupação do movimento sindical, do Estado e, principalmente, da família, a que mais sofre com a falta de trabalho e queda da renda, agravando todos os problemas sociais. Sendo assim, a reforma sindical e trabalhista tem que ter como prioridade a procura de caminhos para impor aos governantes a execução de programas de desenvolvimento que resultem em geração de empregos.

Porém, essa não é a única saída para abrir postos de trabalho no mercado. Haja visto o que se passa no setor automobilístico, por exemplo, onde investimentos maciços e duplicação da capacidade produtiva não resultaram em geração de novos empregos. Ao contrário, com os investimentos feitos as empresas puseram em prática um amplo programa de modernização e automação, cortando milhares de postos de trabalho. Para se ter uma idéia do estrago ocorrido neste setor, basta dizer que, na década de 80 do século passado, para uma capacidade de produção de um milhão e quinhentos mil veículos, as montadoras empregavam 140 mil empregados. Hoje, para uma capacidade de produção de três milhões de veículos, as montadoras empregam apenas 90 mil trabalhadores.

Só este exemplo mostra que, além de investimentos e programas de crescimento econômico, são necessárias outras medidas para gerar mais empregos. Hoje temos linhas completas, sistemas produtivos completos,

118

operados por robôs. Os processos tecnológicos empregados na atualidade e mais a presença crescente da mulher no mercado de trabalho exigem uma redução drástica da jornada de trabalho, para dar emprego às centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro que precisam trabalhar.

Mas, a redução da jornada não pode ser um ato isolado e unilateral de um só país ou dois. É preciso estabelecer uma nova jornada de trabalho de caráter universal, algo como uma resolução da Organização das Nações Unidas para ser cumprida por todos os países e para ser fiscalizada a sua aplicação por um órgão tipo OIT, a Organização Internacional do Trabalho, para que não haja um desequilíbrio nos custos de produção e quebra da eqüidade competitiva entre os países no mercado mundial. E, também, para que não haja redução de salários. Aqui fica a sugestão para o governo brasileiro levar essa questão à Assembléia Geral da ONU, que se instala todos os anos no mês de setembro.

OS PONTOS POLÊMICOS DA REFORMA TRABALHISTA E SINDICAL

O governo Lula pretende formatar a nova estrutura sindical do País no Fórum Nacional do Trabalho, uma instância de negociação do chamado pacto social, envolvendo empresários, trabalhadores e representantes do governo federal. A pretensão é mudar a atual estrutura sindical a partir do consenso em torno do princípio geral da liberdade e autonomia sindicais e reconhecimento das centrais sindicais existentes. A idéia é que a atual estrutura sindical ainda padece de amarras criadas na Era Vargas, quando os sindicatos foram atrelados ao Ministério do Trabalho e era proibida a organização de centrais de trabalhadores representando diferentes categorias.

Liberdade e autonomia sindical, na visão do governo, pressupõem a quebra do princípio da unicidade, ou seja, a não obrigatoriedade da formação de sindicato por categoria profissional e permissão da organização de sindicatos por empresa. O governo quer superar essa questão da legislação sindical para poder ratificar a Convenção 87 da OIT, Organização Internacional do Trabalho, que só admite na Convenção países que consagram a liberdade e autonomia para os trabalhadores organizarem-se de maneira que acharem melhor.

É possível que a pretendida atual reforma da estrutura sindical retome pontos da reforma proposta pelo governo anterior que, resumidamente, previa as seguintes mudanças na atual legislação: - quebra do princípio da unicidade e adoção do princípio da pluralidade sindical; - fim do imposto sindical, aquela contribuição obrigatória de um dia de

119

salário do trabalhador com carteira assinada, descontada anualmente nos meses de março/abril; - fim da substituição processual, ou seja, os sindicatos deixam de representar os interesses da categoria como um todo de sua base perante a Justiça do Trabalho; - a representatividade do sindicato só alcançaria os seus associados; - organização de sindicatos por empresa, o que permitiria dispensar a organização de sindicatos patronais para realizar negociações e fazer acordos coletivos; - eliminar o poder normativo da Justiça do Trabalho; - condicionar o acesso à Justiça do Trabalho a chamada "conciliação prévia", envolvendo as partes em litígios; - limitar o valor da contribuição sindical, abolindo o sistema atual que prevê três contribuições: imposto sindical (um dia de salário por ano), contribuição confederativa e contribuição assistencial, sem falar na mensalidade dos associados. As três outras se estendem a toda categoria da base sindical; - dar à Justiça do Trabalho atribuição de julgar apenas dissídios coletivos e não mais ações trabalhistas de cada trabalhador, individualmente ou em grupo.

A maioria desses pontos constantes da emenda constitucional proposta pelo governo de Fernando Henrique Cardoso é rejeitada pelas entidades sindicais, razão pela qual acabaram sendo retirados do Congresso ainda no governo anterior.

A reforma da estrutura sindical como um todo encontra grande resistência das entidades de trabalhadores do setor privado. A maioria delas rejeita a quebra do princípio da unicidade, o fim do imposto sindical e a redução do papel da Justiça do Trabalho para julgar litígios trabalhistas. As centrais sindicais também divergem em vários desses pontos. Já com os sindicatos e entidades de trabalhadores do setor público, é diferente, porque são formados a partir da Constituição de 88 - não incorporam questões da estrutura da era getulista, tais como o imposto sindical e outras que agora se pretende suprimir.

Os sindicalistas que mais resistem às mudanças na estrutura sindical argumentam, e com razão, que a Constituição de 88 já desatrelou o sindicalismo do governo e do Ministério do Trabalho. Portanto, consagrou a liberdade e a autonomia sindical, razão pela qual não vêem motivos para a quebra da unicidade, por exemplo - uma conquista no terreno da organização dos trabalhadores que faz do sindicalismo brasileiro um dos mais poderosos do mundo, com um alto poder de pressão sobre o patronato. Técnicos e consultores que prestam serviço de assessoria a sindicatos dizem que a quebra do princípio da unicidade levaria a organização sindical a tal grau de dispersão que, em poucos anos, teríamos não 15 mil mas 80 mil sindicatos em todo o País, enfraquecendo

120

a sua capacidade de lutar por melhorias nas condições de vida do trabalhador.

A posição das centrais sobre as reformas e sobre a unicidade em especial: - CUT: a corrente Articulação e a corrente Alternativa são contra a manutenção da unicidade; a corrente Classista é pela manutenção; - Força Sindical: é pela extinção da unicidade passando por um período de transição; - CGT: é pela unicidade; - SDS: é pela extinção da unicidade; - CAT: é pela manutenção da unicidade; - CGTB: é pela manutenção da unicidade.

Outro ponto que enfrenta resistência do movimento sindical é a chamada substituição processual, tratada como a troca do "julgado pelo negociado", que permitiria, nas negociações entre patrões e empregados, colocar cláusulas nos contratos coletivos de trabalho que alterariam dispositivos da legislação trabalhista, tais como redução das férias, redução salarial por uma jornada menor de trabalho, banco de horas e outras. Para as lideranças sindicais, se prosperar essa tendência de substituir a lei por acordos coletivos, os sindicatos de pequenas categorias, sem grande poder de pressão, terão que se submeter a perdas de direitos que levarão a uma redução dos rendimentos dos trabalhadores.