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APOSTILA DE FILOSOFIA 9º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL 3º TRIMESTRE 2020

Apostila de Filosofia...Em vez de criar sistemas totalizantes e ilusórios de compreensão do mundo, Kierkegaard defendia que o trabalho do filósofo deveria ser o de olhar para a

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APOSTILA DE FILOSOFIA

9º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL 3º TRIMESTRE

2020

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2020 – APOSTILA – 9º ANO – 3º TRIMESTRE

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UNIDADE 04 – FILOSOFIA: MUITO ALÉM DA RAZÃO

ALÉM DA RAZÃO

A persistência da memória (1931), pintura de Salvador Dalí. O lugar e a temática representados na tela pertencem ao sonho, à

imaginação, ao inconsciente do artista; é um mundo que está muito além da razão.

Os filósofos que estudaremos nesta unidade defenderam uma filosofia que se voltasse à existência individual

de cada ser humano. Kierkegaard acreditava que a filosofia deveria tratar do indivíduo, de suas reflexões subjetivas, dos sentimentos e emoções que acompanham sua vida. Schopenhauer destacou a existência de uma força irracional presente em tudo no Universo, a qual ele chamou de Vontade. Nietzsche também ressaltou a existência de uma força instintiva, a vontade de potência muito superior à razão e ao conhecimento racional e consciente. Para esses filósofos, o mundo não era um todo ordenado racionalmente, como pretendiam os sistemas filosóficos anteriores, e a vida não teria um sentido preestabelecido. A vida seria repleta de dor, sofrimento, degeneração e morte.

Começando o capítulo E se a vida fosse um salto?

Se a vida fosse um salto, seria um salto de olhos fechados. Durante a escuridão da queda, até chegar a um destino improvável, você percorreria mentalmente as possibilidades. E a angústia de um fracasso tomaria conta de seu espírito, fazendo tremer todo seu corpo. Nos instantes da queda, seriam só as possibilidades, esse nada profundo, e a eterna solidão.

1. No poema acima, a vida é comparada a quê? Explique.

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2. Segundo o eu poético, o que causaria angústia e como ela se manifestaria?

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FILOSOFIA

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3. Por que percorrer mentalmente as possibilidades da vida poderia causar tanto sofrimento?

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CAPÍTULO 1

Kierkegaard e Schopenhauer: o sentimento e a vontade

Neste capítulo vamos travar um diálogo com o dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855), para quem a

filosofia deveria tratar do indivíduo, de sua vida e seus sofrimentos, como a angústia. Também estudaremos o alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) e sua teoria da Vontade, uma força ou energia irracional do Universo que estaria presente em tudo.

Kierkegaard: o indivíduo e sua trajetória

Existem mais de 7 bilhões de pessoas ao redor do mundo. Só no Brasil há mais de 200 milhões. Todas essas pessoas apresentam entre si características comuns, afinal somos da mesma espécie. No entanto, cada pessoa é um ser singular, com aspectos físicos, emocionais e psicológicos particulares. Além disso, cada pessoa tem uma experiência de vida, um jeito de ser e uma história que é única.

Para o filósofo cristão Sören Kierkegaard, a filosofia deveria se preocupar, em primeiro lugar, com a existência real das pessoas. Por isso, Kierkegaard foi um crítico mordaz do idealismo alemão, especialmente do sistema de Hegel.

Olhar para a existência humana

A filosofia de Hegel considerava que os fatos históricos não aconteciam por acaso, mas pertenciam a um plano racional. Para Hegel, haveria uma racionalidade que governaria o mundo e a vida humana.

Kierkegaard se opôs a esse pensamento. Segundo ele, a tentativa de explicação genérica da totalidade do mundo deixava de lado o mais importante: a existência humana concreta. Em outras palavras, a marcha do Espírito seria uma especulação de Hegel que nada teria a ver com a existência real e cotidiana das pessoas.

Em vez de criar sistemas totalizantes e ilusórios de compreensão do mundo, Kierkegaard defendia que o trabalho do filósofo deveria ser o de olhar para a existência humana e tentar compreendê-la. A verdadeira realidade do ser humano (isto é, seus mais íntimos desejos e seus sofrimentos) estaria na existência concreta de cada indivíduo.

O ser humano diante das possibilidades da existência

Para Kierkegaard, ao contrário do que pregavam as filosofias racionalistas e idealistas, a realidade concreta dos indivíduos não seguiria uma racionalidade ou um plano ideal. O destino de cada pessoa estaria aberto a múltiplas possibilidades e seria influenciado por cada uma de suas decisões e escolhas. Quer dizer, a vida humana poderia ser um fracasso ou um sucesso, toda a nossa vida era um salto no escuro, um enorme mar de possibilidades.

Fotografia de Aydin Büyuktas da vista aérea do cruzamento entre a Harbor Freeway 110 e a Glenn Anderson Freeway 105, Los Angeles,

Califórnia. A diversidade de caminhos ilustra as múltiplas trajetórias de vida que cada indivíduo em particular pode percorrer.

Assim, por exemplo, decisões como estudar ou não, escolher essa ou aquela amizade, essa ou aquela

escola, freqüentar ou não uma igreja, trabalhar ou não, procurar um novo emprego ou permanecer no mesmo, tudo isso de alguma forma influenciaria o destino do indivíduo. Além do mais, nenhuma decisão poderia garantir necessariamente uma vida bem-sucedida.

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Como dizem as palavras do poema que introduz este capítulo, a vida seria um salto no escuro e ninguém teria certeza dos acontecimentos. Haveria sempre a possibilidade do desfavorável, do infortúnio, da miséria, do engano ou do fatal. A possibilidade de adversidades sempre acompanharia a existência humana. E essa situação e iminência do infortúnio ou do fracasso provocaria angústia, um sentimento de aflição, opressão e tristeza.

Kierkegaard também refletiu sobre outros sentimentos, como o desespero e a solidão. Inicialmente, sua filosofia foi pouco aceita pelos pensadores da época; posteriormente, foi retomada por filósofos do século XX, contribuindo para originar uma importante escola de pensamento, o existencialismo, desenvolvido por pensadores como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

Schopenhauer: a vontade cega e a irracionalidade da vida

O filósofo Arthur Schopenhauer foi contemporâneo de Kierkegaard e, da mesma forma que este, se opôs à

filosofia racionalista e idealista. Schopenhauer, como os românticos, refletia a respeito do infinito e da unidade de

todo o Universo. Entretanto, para ele, o infinito não era racional e organizador da realidade, como defendiam os

idealistas alemães. Ao contrário, Schopenhauer defendia a existência de uma força ou energia presente em toda

natureza, que o filósofo considerava cega, irracional. Ele chamou essa força de Vontade.

A Vontade estaria presente na ação de um pássaro fazendo um ninho, de uma aranha tecendo sua teia, de

uma abelha produzindo mel, ou de qualquer outra atividade animal. Todas essas ações não são racionais; elas

não resultam de um movimento consciente e racionalmente planejado, pois os animais agem apenas

impulsionados pela Vontade.

A Vontade seria, então, responsável pelo nascimento e pelo desenvolvimento dos seres vivos, pelas forças

de atração e de repulsão dos corpos, pela gravidade e por tudo que existe. A Vontade seria a essência íntima do

Universo, que abarcaria a natureza, os seres animados e inanimados, e, portanto, também o ser humano, seus

desejos, pensamentos e ações. Esse conceito ocupa o centro da investigação filosófica empreendida pelo filósofo

alemão. Ele será apropriado e modificado por filósofos posteriores, como Friedrich Nietzsche.

O corpo humano e a Vontade

Você talvez esteja se perguntando: “Mas o ser humano não é um ser que age racionalmente”? É verdade, o

ser humano, por meio da razão, aprende a refletir, conceituar e analisar as coisas, os fatos e as pessoas, e

adquire, dessa forma, o conhecimento. Mas, para Schopenhauer, esse fato racional seria apenas um aspecto

menor da característica humana.

No ser humano, a força infinita da Vontade se manifestaria não apenas nas ações conscientes, racionais ou

voluntárias, como ir à escola, ler um livro, jogar futebol ou ver TV, mas também nas ações inconscientes dos

processos vitais, como o crescimento, a digestão, o batimento cardíaco ou as mudanças químicas do corpo.

Pense, por exemplo, no que está acontecendo neste exato momento com seu corpo enquanto lê este livro.

Seu coração pulsa, você respira, a circulação sanguínea irriga seu corpo, sua musculatura tem uma tensão

suficiente para que você consiga ficar sentado, e assim por diante. Nesse momento, seu corpo – seus órgãos e

sistemas orgânicos – está trabalhando incessantemente, seu organismo está fazendo centenas ou milhares de

operações para que você possa viver, pensar e sentir.

Tudo isso acontece sem que você perceba. Não é necessário dar uma ordem ao seu coração para que ele

funcione, tampouco impor ao seu diafragma que pressione seu pulmão e, assim, você possa respirar. Tudo isso,

segundo Schopenhauer, acontece por causa dessa força universal infinita e irracional.

“Em nós, também, a vontade é cega em todas as funções do nosso corpo, que nenhum conhecimento rege,

em todos os processos vitais ou vegetativos, na digestão, secreção, crescimento, reprodução” (SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 2001, p. 124).

O mundo como Vontade e representação

O mundo como Vontade e representação é a principal obra de Schopenhauer. Neste livro, o filósofo sustenta

que, assim como afirmava Kant, nós podemos conhecer apenas os fenômenos ou as representações, isto é, só

podemos conhecer o que aparece em nossa mente. Mas os fenômenos, para Schopenhauer, não passavam de

aparências ou ilusões que encobririam a verdadeira realidade. E qual seria a verdadeira realidade? O mundo, ou a

realidade, mais do que fenômeno ou representação, seria Vontade. O intelecto humano conheceria o mundo como

representação, enquanto o corpo humano saberia e sentiria que há uma energia universal em tudo o que existe,

incluindo ele próprio.

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A vida é marcada pelo sofrimento

Fidelidade (1869), pintura de Briton Riviére. A tela mostra alguém que parece padecer de um grande sofrimento, acompanhado fielmente

por um cachorro.

Sendo a Vontade cega, sua presença no Universo não determina nenhuma ordem racional. Diferentemente

do que afirmava Hegel, os acontecimentos não seriam explicados por algum tipo de projeto ou atividade racional. Assim, o universo não seria harmonioso.

O mesmo aconteceria com a vida de cada pessoa, pois não teria um sentido preestabelecido. Para Schopenhauer, o ser humano vive preso à força irracional e infinita da Vontade, de um desejo que não é satisfeito por completo. Sendo a Vontade um sentimento infinito e insaciável, o prazer e a felicidade seriam meras ilusões.

A vida, então, seria marcada por adversidades, como o sofrimento, a doença, a miséria, a guerra, a dor e a morte. Bem como ocorre com outros animais, o humano sofreria sem nenhum motivo específico. Sua situação seria ainda pior que a de outros animais, porque ele tem consciência de que caminha em direção à morte, ele tem a capacidade de não apenas sofrer (de maneira instintiva e não explicada), mas de conseguir pensar profundamente no seu sofrimento e na sua angústia.

O pessimismo de Schopenhauer pode ser sintetizado em suas próprias palavras: “A vida é um negócio que não cobre seus custos”.

O sofrimento voluntário

Apesar de a vida ser uma experiência de dor e sofrimento sem fim, o ser humano deseja viver. Schopenhauer considerava essa vontade de viver a expressão da Vontade infinita ou cósmica no homem. Segundo o filósofo, a única maneira de acabar com a dor e o sofrimento seria sufocando a vontade de viver, isto é, aniquilando esse desejo.

Capacho (2017), obra de Jorge Fonseca. O título dessa obra, que foi feita em formato de coração e com grama sintética, brinca com a

frase “pode pisar, eu deixo”. Parece que o artista fala de uma dor voluntária sentida por alguém que ama.

Para negar o querer viver, o filósofo defendia que o ser humano deveria se flagelar, renunciar

voluntariamente aos prazeres e as paixões e realizar jejuns prolongados.

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O exemplo de negação do desejo vital escolhido por Schopenhauer é o dos santos e religiosos místicos

hindus, que aplicavam castigos e suplícios terríveis a si mesmos. A cultura e a filosofia oriental foram grandes

influenciadoras do pensamento do filósofo alemão, sobretudo a filosofia vedântica, que é o fundamento de

algumas formas das religiões hindu e budista na Índia.

ATIVIDADES

1. Na filosofia de Kierkegaard, qual é a relação entre possibilidade e angústia?

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2. Por que Schopenhauer afirma que a vida humana é marcada pelo sofrimento?

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3. Com base no pensamento de Kierkegaard ou de Schopenhauer, redija uma breve reflexão a respeito da tela

a seguir, chamada O grito, do pintor norueguês Edvard Munch.

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4. Observe o quadro Retirantes (1944), do pintor Cândido Portinari.

a) Que impressões a pintura desperta em você? A que elementos da tela essas impressões estão associadas?

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b) Você tem ideia da situação de vida das pessoas representadas nessa tela? Qual seria a relação entre essa situação e o título da pintura?

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c) Relacione a pintura ao pensamento do filósofo Sören Kierkegaard a respeito da vida.

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5. Segundo o pensamento de Kierkegaard, qual deveria ser a primeira preocupação da filosofia?

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6. Na citação a seguir, a filósofa Marilena Chauí descreve dois importantes conceitos lógicos.

“Princípio de identidade – (A é A, isto é, uma coisa é sempre e necessariamente idêntica a si mesma)”;

“Princípio da não-contradição – (A é A e não pode ser não-A, isto é, é impossível que uma coisa seja idêntica

a si mesma e contrária a si mesma, ao mesmo tempo e na mesma relação)”. (CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das letras, 2002, p. 365).

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Agora, identifique se as frases I e II contrariam o princípio da não-contradição e da identidade. Justifique. I. Meu time ganhou o jogo de futebol ontem, mas fez menos gols válidos que o adversário na partida. II. Vi um quadrado com cinco lados.

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7. Uma frase contraditória é necessariamente falsa, mas nem toda frase falsa é contraditória. Sabendo disso,

analise as frases a seguir e marque “S” para a frase apenas falsa sem contradição e “C” para frase falsa com contradição.

( ) O filósofo Platão não existiu.

( ) Ele é solteiro, mas está casado.

( ) Deus existe e não existe ao mesmo tempo.

( ) Todo gato tem sete pernas.

( ) A terra é plana.

( ) Vitória é uma cidade capixaba do estado de São Paulo.

CAPÍTULO 2

Nietzsche: a transformação de todos os valores

Fotografia da série Bailarinas do Cairo (2017), de Mohamed Taher. O fotógrafo registra mulheres que se expressam por meio da dança

nas ruas da capital egípcia para lutar contra o assédio.

Quem disse que a vida tem razão?

Quero cada gota de vida. Que eu sinta a corrente sanguínea evoluindo em quedas e cachoeiras, inundando

todas as praias de meu corpo. Quero a verdade, a ira cruel da natureza, a violência animal e humana, a fúria que

está escondida em cada um de nós. Quem disse que a vida tem razão? Não há racionalidade na árvore que brota,

no bote da cobra, na guerra ou na doença. Há a embriaguez da vida que palpita com força, querendo mais vida.

Uma potência para ser mais e abraçar o vento do mundo. Força que gera força. Vida que transborda vida.

E, quando o bonzinho der lugar ao verdadeiro, quando a vida crua e áspera rasgar o véu e mostrar a sua

beleza e feiúra por inteiro, então surgirá um novo homem, que, olhando para a terra, cantará o seu destino.

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Começando o capítulo 1. Que relação o eu poético do texto mantém com a vida?

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2. Explique a oposição estabelecida no texto entre “racionalidade” e “embriaguez”.

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3. Segundo o eu poético, qual a condição para surgir um “novo homem”? Você concorda com essa ideia?

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A necessidade de um novo ser humano

A declaração do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) transcrita a seguir revela muito sobre o seu pensamento.

“Eu encontrei em todas as coisas esta certeza feliz: elas preferem dançar sobre os pés do acaso” (NIETZSCHE, Friedrich. História da filosofia. 4 Ed. Lisboa: Presença, 2004, p. 166).

Assim como Schopenhauer, Nietzsche defendeu que não existe ordem ou razão no mundo determinando os

acontecimentos. A vida, para ele, consiste em irracionalidade. Ela não se desenvolve de maneira progressiva e ordenada, não tem objetivo ou finalidade. A vida se apresenta ao acaso com toda sua força e trágica realidade: é luta, incerteza e afirmação. Algumas vezes, é dor e sofrimento; outras, é alegria, paixão e prazer.

Refletindo sobre a realidade trágica da vida, Nietzsche a exaltou e a aceitou em sua totalidade, independentemente das adversidades enfrentadas pelo ser humano. Ele combatia qualquer pensamento que, a seus olhos, negasse a vida terrena e o mundo concreto, por isso criticava severamente a tradição filosófica racionalista e o cristianismo, que seriam contrários à vida efetiva. Os cristãos, os racionalistas e os idealistas teriam criado sistemas metafísicos que desvalorizavam nossas vivências concretas e humanas.

Para Nietzsche, os valores humanos se desenvolveram amparados nesse tipo de pensamento, que negava a realidade e o corpo. Por isso, ele defendia a inversão de todos os valores e a constituição de uma nova humanidade. Nietzsche se considerava um filósofo à frente de seu tempo, responsável por anunciar a necessidade de um novo homem (o super-homem, ou além-homem), para ultrapassar todos os valores que considerava falidos e antiquados.

“Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo que deve ser superado. Que fizeste para superá-lo? Todos

os seres, até agora, criaram algo acima de si mesmos; [...] Eu vos rogo, meus irmãos, permanecei fiéis à terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças ultraterrenas! Envenenadores são eles, que o saibam ou não. Desprezadores da vida, são eles [...] O homem é apenas uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sobre um abismo”

(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Círculo do livro, s/d, p. 29-31). Você concorda que as religiões e as filosofias metafísicas são uma fuga da realidade? Justifique.

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A crítica ao racionalismo

Nietzsche combateu o racionalismo e se opôs à ideia de que a razão é a principal característica do ser humano e de que só ela é capaz e compreender a realidade. Para ele, a realidade do mundo e do homem é muito mais ampla do que a nossa razão pode dar conta e compreender. Tentar reduzi-la à razão ou a critérios puramente racionais é empobrecê-la e deformá-la.

Por exemplo, pense na frase “o ser humano é um ser racional”. Se tomássemos essa frase como uma definição completa do ser humano, estaríamos partindo de uma visão muito estreita ou limitada. Também são atributos humanos a emoção, o sentimento, o desejo, o corpo e uma quantidade quase infinita de manifestações e possibilidades. Para Nietzsche, o ser humano é essencialmente uma força instintiva e suas manifestações incompreensíveis são muito mais poderosas e definidoras de quem nós somos e nos tornamos do que as manifestações conscientes e racionais.

Nietzsche acusou o pensamento racional de abandonar a sabedoria instintiva e de pretender, mais do que compreender o mundo, corrigi-lo a partir de seu próprio ponto de vista. Em outras palavras, o filósofo alemão condenou o uso da razão como critério único para conhecer o que é verdadeiro e real. Para ele, o que a razão não pode conhecer é justamente a parte mais ampla e rica da realidade.

Na obra Assim falou Zaratustra, Nietzsche descreve as três metamorfoses do homem: primeiramente um camelo submisso e usado para carregar fardos, ele se tornaria um forte leão capaz de romper suas amarras e correntes para, por fim, vir a ser livre, ativo e criativo como uma

criança, o símbolo maior da pura liberdade e criatividade humanas.

A origem da tragédia

A crítica de Nietzsche ao racionalismo foi iniciada tendo como modelo a arte, na obra O nascimento da

tragédia. Nesse trabalho, o filósofo defendeu que a arte era a mais importante manifestação humana, pois ela poderia exaltar a vida e ajudar o indivíduo a enfrentar as adversidades e o sofrimento do existir.

Para ele, a tragédia grega teria surgido de duas tendências artísticas distintas que expressavam duas forças contrárias no mundo: a tendência apolínea e a dionisíaca. Apolo, que deu origem ao termo apolíneo, é o deus da ordem, da razão, da aparência e da beleza. Dionísio, que deu origem ao termo dionisíaco, é o deus da força instintiva, da paixão, da embriaguez, da alegria, da liberdade e dos prazeres.

Enquanto houve equilíbrio entre essas duas forças, a arte pôde prosperar e a cultura grega atingiu seu auge. No entanto, quando o apolíneo predominou, quando a razão e a ordem aprisionaram os instintos e a paixão, a arte e a sociedade grega foram entrando em declínio. Sócrates e Platão foram considerados por Nietzsche os filósofos que iniciaram essa crise.

Representação dos deuses gregos Apolo e Dionísio, com fotografia de Nietzsche ao centro: a vida humana entre a razão e o caos.

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Sócrates e a racionalização do mundo

Segundo Nietzsche, Sócrates impulsionou o processo de racionalização do mundo ao exaltar o saber e considerá-lo a principal virtude humana e a única maneira de alcançar a verdade. Para Sócrates, o erro e a injustiça seriam resultados da ignorância, do não saber; tudo o que não passasse pelo julgamento da razão, ou que não pudesse ser compreendido racionalmente, seria ilusão e ignorância.

“Para onde dirige seu olhar inquisidor, lá ele [Sócrates] vê a falta de entendimento e a força da ilusão, e conclui dessa falta que o que existe é intrinsecamente pervertido e repudiável. A partir desse único ponto acreditava Sócrates ter de corrigir a existência [...]”

(NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia. São Paulo: Abril cultural, 1983, p. 12).

Assim, Sócrates ignorou ou negou aspectos fundamentais da existência. Ele teria recusado o que há de trágico na vida, como o sofrimento, a dor, a crueldade e a incerteza, cobrindo a vida com o véu da ilusão racional. Sócrates teria acreditado na correção do mundo pelo saber e em uma vida guiada pela ciência.

Platão e o “mundo perfeito”

Grande parte da filosofia platônica teria seguido o caminho aberto pelas considerações de Sócrates. Na Teoria das Formas, por exemplo, Platão explicou a realidade a partir do mundo inteligível, isto é, de uma realidade que só poderia ser conhecida por meio do pensamento e na qual se encontraria as verdades eternas e imutáveis. Para o discípulo de Sócrates, a realidade visível seria uma cópia imperfeita de uma realidade superior, a inteligível, chamada de “Mundo das ideias”.

Dessa maneira, Platão teria tentado eliminar da vida o erro, a imperfeição e a mortalidade, já que, no mundo das formas ou mundo das ideias, tudo seria eterno e perfeito.

Nietzsche combateu a racionalização do mundo e a negação das experiências tais como elas são por nós vivenciadas. Para ele esse processo iniciado por Sócrates e acompanhado por Platão, teria sido aprofundado com o desenvolvimento da ciência e da filosofia ocidental.

A crítica ao cristianismo

A crítica nietzcheana endereçada a Platão foi estendida ao cristianismo, que, segundo o filósofo alemão, era uma espécie de platonismo para o povo. De modo semelhante à teoria de Platão, o cristianismo serviria de consolo ao ser humano para ajudá-lo a suportar a vida. Como a realidade é cruel, teria sido criada uma moral religiosa judaico-cristã para dar sentido à existência humana defendendo a ideia reconfortante da vida após a morte e de resignação diante das adversidades da vida.

Para Nietzsche, o cristianismo negava a vivência concreta do ser humano no tempo e seu caminho em direção a morte. O pensador alemão discordava da doutrina cristã, segundo a qual a imortalidade e a felicidade estavam reservadas em outro mundo para os que seguissem os mandamentos de Jesus. Essa era a base do cristianismo, que representava, para Nietzsche, uma pregação de renúncia à vida terrena e concreta, ao corpo e a tudo de material que circunda a vida humana e seria trocado pela promessa imaterial de uma pós-vida.

“A fé cristã é, desde seus primórdios, sacrifício, sacrifício de toda liberdade, de toda independência do

espírito; ao mesmo tempo, escravização e escárnio de si mesmo, mutilação de si.” (NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal. São Paulo: Hemus, 2001, p. 58).

Vontade de potência

Nietzsche, ao exaltar a vida, ressaltou o que seria a tendência ou o elemento fundamental da natureza

humana: a vontade de potência.

A vontade de potência seria a energia da existência humana, a vontade de ser, de persistir, de se

desenvolver e de intensificar a vida e seus atributos. Consistia, para Nietzsche, na pluralidade de forças presentes

no Universo, que está sempre em movimento, passando por criações e destruições, gerações e degenerações

incessantes.

A vontade de potência seria o mais forte de todos os instintos, integraria todas as funções orgânicas do corpo

e da mente, da consciência e do inconsciente, impulsionando não só a sobrevivência, mas também um “ir além”. A

vontade de potência despertaria no ser humano o desejo de poder e a necessidade de crescer e expandir-se,

vencendo todas as resistências e obstáculos.

Para Nietzsche, o cristianismo e as filosofias metafísicas, além do pensamento racionalista, teriam negado a

vida e se tornado uma barreira para a afirmação da força vital do universo no homem, sufocando essa

vontade instintiva.

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A atleta Thalita Simplício nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Segundo Nietzsche, a vontade de potência está presente em nossas funções

orgânicas, impulsionando a existência e também nosso desejo de superação e de ir além.

A morte de Deus e o surgimento do super-homem

Na obra A gaia ciência, Nietzsche anunciou a morte de Deus. Qual seria o significado dessa afirmação? Ao

declarar isso, o filósofo estava apontando o fim de um período marcado pela filosofia socrático-platônica e pela tradição judaico-cristã. Para ele, o século XIX estava presenciando o desaparecimento de um modo de pensar e de viver. Em outras palavras, o ser humano deixava de estruturar sua vida com base em verdades eternas e absolutas, não mais se orientando pela fé em um ser divino que traria harmonia ao Universo e sentido ao viver.

Para Nietzsche, com a morte de Deus e o fim das explicações sobrenaturais a respeito da vida e da realidade terrena, o antigo conjunto de valores humanos desabaria. Segundo ele, era chegada a hora de o individuo assumir o controle de sua existência, sem subterfúgios, sem ilusões, sem o devaneio do além-mundo, sem os valores morais que oprimiam seus instintos e vontades mais primitivas.

Para a realização dessa tarefa que aparecia em um futuro próximo, seria preciso um outro tipo de ser humano, um super-homem (ou além-homem), que não fosse pessimista em relação à vida e, portanto, não a negasse ou fugisse dela em nome de promessas no além-mundo. Ao contrário, um super-homem que a amasse, que constituísse sua existência baseando-se em sua natureza, em sua vontade de potência.

Desenho de Nietzsche vestido de Super-homem, em alusão ao herói dos quadrinhos. O “U” na camisa é de Übermensch, palavra alemã é de difícil tradução, mas em português é traduzida sempre como além-homem ou super-homem.

Em poucas palavras, um super-homem que se apoiasse não em um mundo celeste inexistente, mas na Terra

e nas coisas terrenas, em seu corpo e em seus instintos. Alguém que deixasse a vida de camelo e de leão (como o pensador expõe no livro Assim falou Zaratustra), para ser uma eterna criança, que simboliza, na filosofia de Nietzsche, a inocência e o frescor de quem quer criar valores inteiramente novos, de quem quer viver de maneira livre e criativa, de maneira nova, como um novo e super-homem que abandonaria os valores e modos de vida do homem comum, racionalista e metafísico, superando-o através de uma vida baseada nos instintos, nas emoções e nas paixões humanas.

“Inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, uma roda que gira por si mesma, um movimento inicial, um sagrado dizer ‘sim’. Sim, meus irmãos, para o jogo da criação é preciso dizer um sagrado ‘sim’: o espírito, agora, quer a sua vontade, aquele que está perdido para o mundo conquista o seu mundo.”

(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Círculo do livro, s/d, p. 44-45).

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ATIVIDADES 1. Indique o autor de cada texto, colocando (N) para Nietzsche, (K) para Kierkegaard e (S) para Schopenhauer. ( ) “Assim como talvez não haja ninguém completamente são, também se pode dizer que nem um só existe

que esteja isento de desespero, que não tenha lá no fundo uma inquietação, uma perturbação, uma desarmonia [...]”.

( ) “A Vontade é o núcleo tanto da coisa particular como do conjunto; é ela que se manifesta na força natural cega [...]”.

( ) “Vontade de potência é o esforço para triunfar do nada, para vencer a morte... vontade de durar, de crescer, de vencer, de estender e intensificar a vida”.

2. Por que Nietzsche afirmava que o cristianismo e as religiões negavam o corpo e as vivências humanas?

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3. Com base na citação a seguir, explique a crítica de Nietzsche ao pensamento socrático.

“O surgimento da escola socrática, com a extrema valorização do pensamento lógico, racional e dialético,

representaria não um progresso em relação à Grécia pré-socrática, porém o contrário disso. [...] [Pois] não

estariam mais à altura da experiência trágica do mundo, não conseguindo suportar o racionalmente

incompreensível – o absurdo da existência” (GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Nietzsche. São Paulo: Publifolha, 2000, p. 33).

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4. Diferencie as duas forças contrárias que agem no mundo, segundo Nietzsche: O apolíneo e o Dionisíaco.

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5. Explique o que Nietzsche entende com o termo “super-homem” (ou Além-homem).

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6. Com base no que na diferenciação feita por Nietzsche sobre o apolíneo e o dionisíaco, analise as pinturas abaixo, responda em qual dessas denominações elas se encaixam e justifique sua resposta.

a)

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b)

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7. Há um tipo de argumento conhecido como raciocínio circular ou círculo vicioso. Isso acontece quando a

conclusão já está em uma das premissas. Por exemplo: “Você está errado porque não está certo”. Nesse caso, a conclusão (“você está errado”) tem o mesmo sentido da premissa (“você não está certo”). É como se dissesse: “Você está errado porque está errado”. Agora, explique por que o argumento a seguir é circular. “Deus existe porque a bíblia diz que existe e a bíblia não mente porque foi escrita por Deus”

(BRANQUINHO, João. MURCHO, Desidério. Enciclopédia de termos lógico-filosóficos. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 145).

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Compreendendo um texto

Fotografia de Sigmund Freud na década de 1920. O médico austríaco é uma das personalidades mais influentes do Século XX, tendo contribuído com áreas como a medicina, a filosofia, literatura e a psicologia. No entanto, seu principal feito foi a criação da psicanálise.

O futuro de uma ilusão

“Em meu trabalho O futuro de uma ilusão, estava muito menos interessado nas fontes mais profundas do

sentimento religioso do que naquilo que o homem comum entende como sua religião – o sistema de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável, e que, por outro, lhe garantem que uma Providência cuidadosa velará por sua vida e o compensará, numa existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui na Terra.

O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão aparentemente infantil tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão de vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de lamentáveis atos retrógrados.

Gostaríamos de nos mesclar às fileiras dos crentes, a fim de encontrarmos aqueles filósofos que consideram poder salvar o Deus da religião, substituindo-o por um princípio impessoal, obscuro e abstrato, e dirigirmos-lhes as seguintes palavras de advertência: ‘Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão!’.

E se alguns dos grandes homens do passado agiram da mesma maneira, de modo nenhum se pode invocar seu exemplo: sabemos por que foram obrigados a isso”

(FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 2002, p. 21).

Interpretando o texto: 1. Explique o título do texto de Freud.

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2. Comente a afirmação: “O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai

ilimitadamente engrandecido”.

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3. Relacione o texto com a ideia defendida por Nietzsche no livro A gaia ciência.

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4. Faça uma pesquisa e responda: o que é a psicanálise?

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5. Em sua opinião, como o inconsciente ou o subconsciente influenciam em quem você é e em como você age?

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