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SEMINÁRIO PRESBITERIANO “REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO” EVANGELIZAÇÃO REFORMADA “O evangelho deve ser pregado com temor, humildade e tremor. Ele não apela para a sabedoria do homem...ele não invoca sentimentos pessoais...ou uma adaptação enganosa para o gosto do dia...Mas sim, invoca fidelidade absoluta às Escrituras; ele invoca o poder do Espírito Santo e Sua manifestação, de forma que a fé possa ser fundada sobre o único poder verdadeiro- o poder de Deus” Pierre Marcel

Apostila de evangelização JMC 2011

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO“REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO”

EVANGELIZAÇÃOREFORMADA

“O evangelho deve ser pregado com temor, humildade e tremor. Ele não apela para a sabedoria do homem...ele não invoca sentimentos pessoais...ou uma adaptação enganosa para o gosto do dia...Mas sim, invoca fidelidade absoluta às Escrituras; ele invoca o poder do Espírito Santo e Sua manifestação, de forma que a fé possa ser fundada sobre o único poder verdadeiro- o poder de Deus”

Pierre Marcel

GILDÁSIO JESUS B. DOS REIS2011

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CAPÍTULO I

CONCEITUANDO A EVANGELIZAÇÃO A. O QUE É EVANGELIZAÇÃO?

No debate contemporâneo entre missão e evangelização, a maioria dos missiólogos sustentam a visão que evangelização é um indispensável componente da missão da igreja. Missão, dizem eles, inclui tudo o que a igreja é chamada por Deus para fazer no mundo visando a manifestação de sua glória. Evangelização refere-se ao específico processo de espalhar as boas novas acerca de Jesus Cristo como a salvação de Deus aos povos.

John Stott, em sua obra The Biblical Basis of Evangelism, comenta: “O tema central dos evangelhos e das cartas apostólicas é a natureza e o significado de Jesus Cristo. Ele é o Deus encarnado, o Messias esperado, o Senhor do universo. Através dele Deus tem pessoalmente entrado na história e provido salvação.”1

Dr. David Barret em sua obra Evangelize: A Historical Survey of the Concept (1987, p. 78), dá-nos o mais completo sumário do significado do conceito de evangelização. Ele conclui que a Bíblia apresenta seu significado em seis sentidos distintos: pregar, trazer, falar, proclamar, anunciar, e declarar. Ele escreve: do ponto de vista exegético o mais lacônico sumário da palavra euangelion e seus cognatos é a obediência à grande comissão, cujo mandato tem sido concebido dentro de sete subdivisões basilares: Receber, ir, testemunhar, proclamar, discipular, batizar, e treinar. 2

O missiólogo J. D. Douglas em seu livro Let the Earth Hear His Voice (1974, p. 4) apresenta-nos a definição do pacto de Lausanne (1974) sobre evangelização:

Evangelizar é espalhar as boas novas que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou da morte segundo as Escrituras, e que agora, ele concede perdão dos pecados e o Dom do Espírito para todos que se arrependem e crêem. Portanto, evangelização é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o propósito de persuadir as pessoas a vir a Ele pessoalmente e assim ser reconciliado com Deus. Jesus continua ainda convidando a todos para seguí-lo, negar a si mesmos, tomar a sua cruz e identificar a si mesmos com a comunidade dos remidos. O resultado do evangelismo inclui obediência a Cristo, incorporação na vida da igreja, e responsável serviço para o mundo.3

A palavra “evangelismo” é derivada da palavra grega euaggelion (boas-novas), mensagem anunciada, implantada e desenvolvida para salvar os seres humanos, todos pecadores. O verbo do Novo Testamento euaggelizesthai (da palavra grega euaggelizesqai), indica o meio para transmitir o evangelho, as boas-novas de Jesus Cristo.

Em sentido amplo, a evangelização pode ser vista como a obra integral da igreja para proclamar o Reino de Deus (Marcos 1.15). Ela compreende três amplas categorias de ministério: (1) evangelismo – proclamação do evangelho aos ainda não alcançados dentro de nossa

1 John Stott, The Biblical Basis of Evangelism (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1975), 65. 2 David Barret, Evangelize: A Historical Survey of the Concept (London, England: SCM Press, 1987), 78.3 J. D. Douglas, Let the Earth Hear His Voice (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1974), 4.

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própria sociedade ou cultura; (2) atividade missionária – significando uma proclamação interferente com a cultura do público-alvo; (3) atividade pastoral – provendo e aprofundando o evangelho entre aqueles que já o aceitaram.

DEFINIÇÃO DE EVANGELISMO :

Orlando Costas, conhecido teólogo latino-americano, afirma:

Evangelizar é participar de uma ação transformadora, isto é, as boas-novas da salvação. Neste sentido, a evangelização não é um conceito, mas sim uma tarefa dinâmica, encarnada primeiro na vida e ação salvífica de Jesus Cristo. Portanto, ela não pode ser reduzida a uma fórmula verbal. Evangelizar é reproduzir pelo poder do Espírito Santo a salvação que foi revelada em Jesus Cristo. 4

Em sentido amplo, a evangelização pode ser vista como a obra integral da igreja para proclamar o Reino de Deus (Marcos 1.15). Ela compreende três amplas categorias de ministério: (1) evangelismo – proclamação do evangelho aos ainda não alcançados dentro de nossa própria sociedade ou cultura; (2) atividade missionária – significando uma proclamação interferente com a cultura do público-alvo; (3) atividade pastoral – provendo e aprofundando o evangelho entre aqueles que já o aceitaram.

“É um mendigo explicando a outro mendigo onde achar comida” D.T. Niles ( 1951 )

“Evangelização é a proclamação do Evangelho de Cristo crucificado e ressurreto, o único redentor do homem, de acordo com as Escrituras, com o propósito de persuadir pecadores condenados e perdidos a por sua confiança em Deus, recebendo e aceitando a Cristo como Senhor e Salvador em todos os aspectos da vida e na comunhão de sua igreja, aguardando o dia de sua volta gloriosa” Congresso de Evangelização ( Berlim 1966 )

De acordo com esta definição do Congresso de Berlim verificamos:

1) A essência da mensagem: Proclamar o Evangelho – a pessoa de Cristo ( I Co 2:1-2 )2) O alicerce: As Escrituras ( At 8:31-35 )3) O propósito: persuadir pessoas á confiar em Deus ( I Co 2:1-5; II Co 5:18-20 )4) Integração na igreja: Discipulado para crescimento ( Mc 16:15,16 ). A evangelização não exige apenas compromisso com Deus, mas também com a igreja. 5) Consumação: Volta de Cristo ( Hc 2:14; At 1:11 ). Estabelecimento pleno do Reino de Deus.

O que envolve a evangelização ?

4 Orlando Costas. Liberating News (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1989), p. 133

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1) Caráter Narrativo: Anúncio da intervenção de Deus na história humana. Caráter testemunhal. At 5:32; I Co 15:1-11

2) Caráter Promissório: Cristo veio para cumprir as promessas de Deus de redenção. Não é um caráter meramente subjetivo, relativo a experiência de conversão. A Bíblia declara que a vinda de Cristo já era uma promessa de Deus Pai. At 2:25-32; 3:18

3) Caráter histórico: Cristo morreu, ressuscitou e voltará. At 2:23,24; 5:30; 10:39; 13:29; Gl 3:13; I Pe 2:24

“É a proclamação de Jesus Cristo como Salvador e Senhor, conforme ensinado nas sagradas escrituras, reivindicando pelo Espírito Santo que os homens se arrependam de seus pecados e creiam salvíficamente em Cristo”. J.I.Packer.

Esta definição5 assevera o alvo e o propósito da evangelização, rejeitando muitas idéias enganosas e inadequadas. Ao desdobrarmos esta definição, temos:

I - EVANGELIZAR SIGNIFICA APRESENTAR UMA MENSAGEM CLARA E ESPECÍFICA.

Evangelizar não é apenas o mero ensino de verdades gerais sobre a existência de Deus, ou sobre sua lei moral, etc...

1) 1º - EVANGELIZAR SIGNIFICA APRESENTAR JESUS CRISTO. (ICo.2:1-2 )

Paulo apresentava as boas notícias a respeito de Cristo. Eram as notícias da encarnação, da expiação, do amor, da cruz, o berço rude, a coroa, etc. ( I Cor. 14:8 ; I Cor. 2:1-2 )

2º - EVANGELIZAR SIGNIFICA APRESENTAR A PESSOA DE CRISTO COMO SALVADOR E SENHOR. ( I Tm 2:5 ; I Pe. 3:18 ; Rm. 14:9 ).

Aqui notamos que evangelizar não é apenas apresentar a Cristo como um Amigo e Ajudador, sem qualquer referência à sua obra redentora. Se queremos uma evangelização eficaz e sadia, teremos que pregar a mensagem certa. (I Cor 15:3-4).

Hoje em dia estamos sendo bombardeados com o chamado “evangelho do êxito”. Um evangelho que se ajusta muito bem a uma sociedade como a nossa que cultua a saúde, a riqueza e a felicidade. O evangelho do êxito, é uma mensagem barata destinada às pessoas que procuram uma “solução rápida” para as suas vidas, mas não mudança permanente em seu caráter. Jesus não morreu para nos tornar saudáveis, ricos e felizes. Ele morreu para nos tornar santos.

3º - EVANGELIZAR SIGNIFICA CONVIDAR OS HOMENS AO ARREPENDIMENTO.

5 Extraída do livro Evangelização e Soberania de Deus, p.

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É extremamente necessário declarar aos nossos ouvintes como eles estão aquém dos padrões de Deus. Precisamos mostrar como eles se tornaram culpados, imundos, e perdidos no pecado, e que precisam se arrepender e voltarem para Deus. ( Rm 5:8 ; 3:23 ; I Tm 1:15 )

“Antes de podermos aceitar as Boas-Novas a respeito de Jesus, precisamos aceitar as Más-Novas sobre nós mesmos ... sermões que adulam os pecadores jamais os salvam” - W.W.Wiersbe

Exemplo: Jesus e a mulher samaritana - João 4:16-18 (Marcos 1:15 ; 6:12 ; Atos 2:38 ; 3:19 ; 17:30 )

Não há evangelização quando esta mensagem não é declarada.

4º - EVANGELIZAR É DEPENDER COMPLETAMENTE DO ESPÍRITO SANTO.

Precisamos ter esta compreensão de que nós plantamos, outros regam, mas somente Deus é quem dá o crescimento - I Cor. 3:6. É o Espírito Santo de Deus quem abre os corações para receber o Evangelho - Atos 16:14.

5º - EVANGELIZAR É TER COMO ALVO A CONVERSÃO DE SEUS OUVINTES A CRISTO. ( Tiago 5:19,20 ).

Evangelizar não é simplesmente uma questão de ensinar e instruir, transmitir informações às mentes dos homens. É muito mais do que isto. Evangelizar inclui o esforço de obter a resposta afirmativa à verdade ensinada. Tem que ser uma comunicação que tenha em vista a conversão. ( I Cor. 9:19 ; I Pedro 3:1 ; Lucas 5:10 )

II - EVANGELIZAR É SER REPRESENTANTE COMISSIONADO DO SENHOR JESUS.( I Cor. 1:17)Vejamos como Paulo considerava a si mesmo neste ministério:

1º - DESPENSEIRO DE CRISTO. ( I Cor. 4:1-2 ; 9:17 )

Ele usa a figura da despensa numa casa nos tempos do N.T. Ele está preparado para oferecer o alimento necessário aos seus ouvintes.

2º - ARAUTO DE CRISTO. ( I Tm. 2:7 ; II Tm 1:11 )

“Kerigma” Este substantivo indica alguém que faz anúncios públicos. ( Ver em Isaías 52:7-11 ; Daniel 3:4 ) ( I Cor. 1:23 ; 2:4 ; 15:14 ; Cl. 1:28 - O Atalaia de Cristo)

3º - EMBAIXADOR DE CRISTO. ( Ef. 6:19-20 ; II Cor. 5:19-21 )

O embaixador é um representante autorizado de um soberano. Fala não em seu próprio nome, mas em nome do governante a quem representa, e todo seu dever e responsabilidade é interpretar fielmente os pensamentos do governante perante aqueles a quem é enviado.

Precisamos zelar por uma evangelização mais fiel à Palavra. Hoje em dia, muitas vezes o que ocorre não é evangelização, mas uma falsificação da mensagem para que ela se torne mais aceita. Nossa tarefa como agência

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do Reino de Deus não é dar às pessoas o que elas desejam, nossa tarefa é dar-lhes o de que precisam - de Cristo.

CAPÍTULO IIO CONTEÚDO DA MENSAGEM EVANGELÍSTICA

J.I. PACKER6

Este assunto será por nós tratado de forma bastante sumária. Em uma palavra, o conteúdo da mensagem evangelística é o evangelho de Cristo, e do Cristo crucificado; a mensagem do pecado do homem e da graça de Deus, da culpa humana e do perdão divino, do novo nascimento e da nova vida por meio do dom do Espírito Santo. Trata-se de uma mensagem composta de quatro ingredientes essenciais:

1. O evangelho é uma mensagem sobre Deus. Ele nos diz quem ele é, qual o seu caráter, quais os seus padrões e o que ele requer de nós, que somos suas criaturas. Ele nos diz que devemos, nada mais nada menos, do que a nossa própria existência a ele, que, para bem ou para mal, estamos sempre nas suas mãos e sob as suas vistas, e que ele nos criou para o glorificarmos e servirmos, para anunciarmos seu louvor e vivermos para a sua glória. Estas verdades representam o fundamento da religião teísta, e, enquanto elas não forem compreendidas, o restante da mensagem do evangelho não parecerá nem convincente nem relevante. Aqui, com a declaração da completa e constante dependência do homem em relação ao seu Criador, que começa a história cristã. Neste ponto temos, mais uma vez, muito que aprender com Paulo. Quando pregava para os judeus, como em Antioquia da Pisídia, ( At 13.16 ss) e ele não sentia a necessidade de mencionar o fato de o que os homens eram criaturas de Deus; pois já podia contar com este pressuposto como ponto pacífico, pois os seus ouvintes pautavam-se na fé do Antigo Testamento. Ele podia ir logo falando-lhes de Cristo como o cumprimento das esperanças do Antigo Testamento. Mas quando pregava aos Gentios, que não sabiam nada do Antigo Testamento, Paulo tinha que começar um pouco antes, voltando ao começo. E o começo, do qual Paulo partia nestes casos, era a doutrina da criação da parte de Deus e da criaturalidade do homem. Assim, quando os atenienses solicitaram que ele explicasse o que queria dizer toda aquela sua conversa sobre Jesus e a ressurreição, ele lhes falou, antes de mais nada, sobre Deus o Criador, e o porquê ele criou o homem. “ O Deus… fez o mundo… ele mesmo é quem dá vida, respiração e tudo mais; e de um só fez toda a raça humana… para buscarem a Deus. ” (At 17.24 ss.) Veja ainda At 14.15 ss. Não se tratava aqui, como alguns supunham, de uma peça de apologética filosófica, como aquela a que Paulo iria renunciar mais tarde, mas da primeira e mais fundamental lição de fé teísta. O evangelho começa ensinando-nos que, como criaturas, somos absolutamente dependentes de Deus, e que ele, como Criador, tem direito absoluto sobre nós. Somente depois de termos entendido isso, estaremos em condições de reconhecer o que é o pecado, e somente quanto reconhecemos o que é o pecado, podemos entender as boas novas da salvação do pecado. É necessário antes de mais nada, compreendermos o significado de chamar a Deus de Criador, para estarmos em condições de entender o que significa falar dele como Redentor. Falar sobre o pecado e a salvação não resultará em nada, se não tivermos aprendido esta lição preliminar pelo menos em parte.

6Texto extraido do site: http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/ . Acesso em 12/11/2003

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2. O evangelho é uma mensagem sobre o pecado . Ele nos fala de como foi que não alcançamos o padrão divino; como nos tornamos culpados, corruptos e impotentes no pecado, e como estamos sob a ira de Deus agora. Ele nos conta que a razão porque pecamos constantemente é que somos pecadores por natureza, e que nada do que fazemos ou tentamos fazer por nós mesmos pode nos endireitar ou nos fazer voltar a usufruir o favor de Deus. Ele nos mostra como Deus nos vê, e nos ensina a pensar a nosso respeito da mesma forma como Deus pensa a nosso respeito. Deste modo ele nos leva ao autodesespero. Este estágio, aliás, também é necessário. Enquanto não tivermos nos dado conta da nossa necessidade de fazer as pazes com Deus, e da nossa incapacidade de fazê-las pelas nossas próprias forças, não podemos vir a conhecer o Cristo que nos salva do pecado.

Existe um grave perigo aqui. Todos nós já experimentamos coisas que nos causaram insatisfação e vergonha na vida. Todos têm uma consciência pesada devido a alguma coisa em seu passado, questões nas quais não alcançamos os padrões que estabelecemos para nós mesmos, ou que eram esperadas pelos outros. O perigo que corremos na nossa evangelização é de que nos contentemos em evocar as lembranças destas coisas, fazendo as pessoas sentirem-se incomodadas com elas, para depois descrever a Cristo como o único que nos salva desses elementos em nós mesmos, chegando até a deixar de tocar na questão do nosso relacionamento com Deus. Mas esta é precisamente a questão que deve ser levantada quando falamos sobre o pecado. Pois a própria idéia de pecado na Bíblia é de uma ofensa contra Deus, que rompe o relacionamento do homem com Deus. Se não reconhecermos as nossas deficiências à luz da lei e da santidade de Deus, jamais seremos capazes de reconhecê-las como pecado . Pois o pecado não é um conceito social; trata-se de um conceito teológico. Embora o pecado seja cometido pelo homem e muitos pecados sejam cometidos pela sociedade, o pecado não pode ser definido em termos, quer do homem quer da sociedade. Nunca saberemos o que o pecado realmente é, enquanto não tivermos aprendido a pensar nele como Deus pensa, medindo-o não segundo padrões humanos, mas de acordo com o parâmetro da sua exigência absoluta sobre as nossas vidas.

O que é preciso que compreendamos, então, é que a consciência pesada do homem natural não significa absolutamente o mesmo que a convicção de pecado. Não se pode, portanto, concluir que uma pessoa está convencida do pecado, só porque está angustiada com a sua fraqueza e as coisas erradas que tenha praticado. A convicção de pecado não se reduz em sentir-se miserável consigo mesmo, suas próprias falhas e a incapacidade de satisfazer as exigências da vida. Nem seria salvadora a fé se um homem nesta condição invocasse o Senhor Jesus Cristo somente para se acalmar, animar-se e sentir-se confiante de novo. Nem tão pouco estamos pregando o evangelho (embora pudéssemos imaginar que estivéssemos), se não fizemos nada mais do que apresentar a Cristo, como se fosse um meio de satisfação dos desejos que o homem possa sentir. ( “ Vocês estão certos de que são felizes? Estão se sentindo satisfeitos? Desejam ter paz de espírito? Sentem-se fracassados? Sentem-se cheios de si mesmos? Estão precisando de um amigo? Então venham a Cristo; ele satisfará cada uma das suas necessidades… ” – como se o Senhor Jesus Cristo fosse uma espécie de fada madrinha ou um super-psiquiatra). Não, precisamos ir mais longe do que

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isso. Pregar sobre o pecado não significa tirar proveito das fragilidades sentidas pelas pessoas (o truque da “ lavagem cerebral ” ), mas de julgar suas vidas de acordo com a santa lei de Deus . Estar convencido do pecado não significa meramente sentir-se um completo fracasso, mas dar-se conta de que ofendeu a Deus, a sua autoridade, e que o provocou, desafiou, e colocou-se de forma totalmente errada com ele. Pregar a Cristo significa anunciá-lo como o Único que, por meio da sua cruz, é capaz de novamente corrigir a situação do homem diante de Deus. Depositar a fé em Cristo significa confiar nele, e somente nele, para restaurar-nos à comunhão e ao favor de Deus.

A verdade é que o Cristo real, o Cristo da Bíblia, que se oferece a nós como Salvador do pecado e como o nosso Advogado diante de Deus, de fato dá paz, alegria, força moral e o privilégio de sua própria amizade a todos aqueles que confiam nele. Mas o Cristo que é apresentado e desejado simplesmente para tornar mais fáceis a grande quantidade de infortúnios da vida, suprindo-os com ajuda e conforto, não é o Cristo real, e sim, um Cristo distorcido e mal interpretado – com efeito, nada mais do que um Cristo imaginário. Se nós fazemos as pessoas olharem para um Cristo imaginário, não temos motivo algum para esperar que elas encontrem a verdadeira salvação. É preciso, portanto, que estejamos atentos para o perigo de equipararmos uma consciência pesada e sentimento de infelicidade naturais com a convicção espiritual do pecado, e assim esquivar-nos, em nossa evangelização, da tarefa de deixar bem claro aos pecadores a verdade fundamental acerca da condição em que se encontram – que é de alienados de Deus pelo seu pecado e de pessoas à mercê da Sua condenação, hostilidade e ira, de modo que sua primeira necessidade é a de restauração do relacionamento com ele .

Poderíamos nos perguntar agora o seguinte: quais são os sinais da verdadeira convicção do pecado, como distinta da mera consciência natural pesada, ou do mero desgosto na vida, que qualquer pessoa desiludida pode sentir? Os sinais parecem ser ao todo três:

a) A convicção de pecado é essencialmente a consciência de um relacionamento errado com Deus: não apenas com o nosso vizinho, ou com a própria consciência e ideais que cultivamos para conosco mesmos, mas com o nosso Criador, o Deus em cujas mãos está o ar que respiramos, do qual depende a nossa existência a cada momento. Não seria absolutamente suficiente definirmos a convicção do pecado como um senso de necessidade, sem qualificação; não se trata de um senso de necessidade qualquer, mas de um senso de necessidade em particular – a saber, uma necessidade de restauração da nossa comunhão com Deus. Trata-se da compreensão de como a pessoa está agora. Ela está em um relacionamento com Deus que só pode expressar rejeição, vingança, ira e sofrimento para o presente e para o futuro; e uma compreensão de que este tipo de relacionamento é intolerável e que não podemos mantê-lo sob hipótese alguma, e conseqüentemente, um desejo de que ele seja mudado a todo o custo e em quaisquer condições. A convicção do pecado pode estar centrada na nossa consciência de culpa diante de Deus, ou então, da nossa impureza aos seus olhos, ou da nossa rebelião contra ele, ou da nossa alienação e estranhamento dele, mas sempre teremos a consciência da

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necessidade de acertar as coisas, não só conosco mesmos ou com as outras pessoas, mas com Deus.

b) A convicção de pecado sempre inclui a convicção de pecados : um senso de culpa por erros particulares cometidos aos olhos de Deus, dos quais devemos retornar e sermos libertos, se quisermos sempre estar de bem com Deus. Foi assim que Isaías conscientizou-se especificamente dos pecados da língua (Is 6.5.) e Zaqueu do pecado de extorsão. (Lc 19:8).c) A convicção de pecado sempre inclui convicção da pecaminosidade : uma consciência da nossa corrupção e perversidade total aos olhos de Deus e da conseqüente necessidade do que Ezequiel chamou de um “ novo coração ” , (Ez 36.26) e nosso Senhor de novo nascimento, (Jo 3.3 ss. ) isto é, uma recriação moral. Assim, o autor do Salmo 51 – tradicionalmente tido como Davi, convencido do seu pecado com Bate-Seba – não se limita a confessar transgressões particulares (versos 1-4), mas também confessa a total depravação da sua natureza (versos 5,6), e busca purificar-se tanto da culpa quanto da corrupção (versos 7-10). Na verdade, talvez a forma mais breve de dizer se uma pessoa está convicta do pecado é remetê-la ao Salmo 51, e ver se o seu coração está de fato falando algo parecido com a linguagem empregada pelo salmista.

3. O evangelho é uma mensagem acerca de Cristo – Cristo, o Filho de Deus encarnado; Cristo, o Cordeiro de Deus, que morreu pelos pecados; Cristo, o Senhor ressurreto; Cristo, o Salvador perfeito.

Nesta parte da mensagem, é preciso notar dois pontos:

a) Nunca devemos apresentar a Pessoa de Cristo separada da sua obra salvadora. Diz-se, às vezes, que é a apresentação da pessoa de Cristo muito mais do que as doutrinas a seu respeito, que faz com que os pecadores se lancem aos seus pés. A verdade é que é o Cristo vivo que salva, e que uma teoria da expiação, por mais ortodoxa que seja, não pode substituí-lo. Entretanto, quando é feita esta observação, o que geralmente se sugere é que o ensino da doutrina é dispensável na pregação evangelística, e que tudo o que um evangelista precisa fazer é pintar um vívido retrato falado do Homem da Galiléia, que procurou praticar o bem, e depois assegurar aos seus ouvintes que este mesmo Jesus continua vivo para ajudá-los nas suas dificuldades. Acontece que uma mensagem como esta dificilmente poderia ser chamada de evangelho. Na realidade, não passaria de uma mera charada, que não serviria para nada mais do que mistificar as coisas. Mas quem foi esse Jesus, afinal? – poderíamos perguntar. Qual é sua posição agora? Uma pregação como esta daria margem a este tipo de questionamento, ao mesmo tempo em que acabaria ocultando as respostas. E isso certamente deixaria qualquer ouvinte atencioso absolutamente confuso.

Pois a verdade é que a figura histórica de Jesus nunca fará sentido para você enquanto não souber nada sobre a encarnação – o fato de que este Jesus era mesmo Deus, o Filho, que se fez homem para salvar os pecadores, de acordo com o propósito eterno do seu Pai. A vida dele também não lhe fará qualquer sentido enquanto você não souber nada a respeito da expiação – que ele viveu como homem, a fim de que pudesse morrer no lugar dos homens, e que a sua paixão, o seu assassinato judicial, representou, na realidade, a sua ação salvadora de tirar os pecados do

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mundo. Você também não pode falar sobre quais as condições para ter acesso a ele agora, enquanto não souber nada acerca da ressurreição , ascensão e das regiões celestiais – que Jesus foi ressuscitado, entronizado e feito Rei, e que ele vive para salvar absolutamente todos os que reconhecem o seu Senhorio. Estas doutrinas, para não falar de outras, são essenciais ao evangelho. Sem elas não há evangelho, mas somente uma história que é um verdadeiro quebra-cabeça sobre um homem chamado Jesus. Opor o ensino das doutrinas sobre Cristo à apresentação da sua Pessoa é, portanto, estabelecer divisão entre duas coisas que Deus juntou. E isso seria algo deveras perverso, pois todo o propósito no ensino destas doutrinas através da evangelização, é o de lançar luz sobre a Pessoa do Senhor Jesus Cristo, e de deixar claro aos nossos ouvintes tão somente quem é esta pessoa que desejamos que eles encontrem. Quando, na vida social comum, desejamos que as pessoas conheçam quem estamos lhes apresentando, nós lhes contamos alguma coisa sobre ela, e o que ela fez; e precisamente o mesmo se aplica ao nosso caso. Os próprios apóstolos pregavam estas doutrinas a fim de pregar a Cristo, como indica o Novo Testamento. Pois o fato é que, se você deixar de fora estas doutrinas, não lhe restará mais evangelho algum para pregar. De fato, sem estas doutrinas você não teria absolutamente nenhum evangelho para pregar.

b) Mas existe um segundo ponto, complementar a este. Não se deve apresentar a obra salvadora de Cristo de forma separada da sua Pessoa .

Muitos pregadores evangelísticos e praticantes da evangelização pessoal ficaram famosos por terem cometido este equívoco. Na sua preocupação em concentrar a sua atenção sobre a morte expiatória de Cristo, como a única base suficiente pela qual os pecadores podem ser aceitos por Deus, eles formulavam os seus apelos à fé salvadora nestes termos: “ Creia que Cristo morreu pelos seus pecados. ” O efeito de uma exposição como esta é apresentar a obra salvadora de Cristo no passado, dissociada da sua Pessoa no presente, como todo o objeto da nossa confiança. Mas não é nada bíblico isolar o trabalho do Trabalhador. O chamado para a fé jamais se expressa nestes termos em lugar algum do Novo Testamento. O único tipo de apelo que o Novo Testamento faz é para depositarmos a nossa fé em ( en-eis )7 ou sobre ( epi ) o próprio Cristo – o lugar certo para depositarmos a nossa confiança no Salvador vivo que morreu pelos pecados. Estritamente falando, o objeto da fé que salva, portanto, não é a expiação, mas o Senhor Jesus Cristo , que realizou a obra de expiação. Ao apresentarmos o evangelho, não devemos isolar a cruz dos benefícios que ela traz, do Cristo nela crucificado. Pois as pessoas que usufruem os benefícios da morte de Cristo são precisamente as mesmas que confiam na sua Pessoa, e não crêem apenas e simplesmente na sua morte salvadora, mas nele mesmo , o Salvador vivo. “ Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo ” , (At 16.31). disse Paulo. “ Vinde a mim … e eu vos aliviarei ” , (Mt 11.28. ) disse o nosso Senhor.

Sendo assim, uma coisa se torna imediata e instantaneamente clara: a saber, que a questão sobre a extensão da expiação, que está sendo bastante discutida em determinados meios, neste ponto particular não tem ligação com o conteúdo da mensagem evangelística. Meu propósito não é o

7 N.T. Enquanto en se traduz por in , no inglês eis foi traduzido como into . No português não ocorre esta distinção, sendo ambas preposições traduzíveis por em .

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de discutir esta questão agora; mesmo porque eu já o fiz em outra ocasião.8 No presente não estou lhe pedindo para decidir, se você pensa que é verdade ou não que Cristo morreu com o propósito de salvar cada ser humano individualmente no passado, no presente e no futuro. Nem tão pouco tenho a pretensão de convidá-lo para mudar de opinião sobre esta questão agora, se é que você já não o fez. Só o que quero dizer aqui é que, mesmo que você pense que a afirmação acima é verdadeira, sua apresentação de Cristo, na evangelização, não deve diferir daquela de uma pessoa que pensa que ela é falsa.

O que quero dizer é o seguinte. É óbvio que, se um pregador acha que a afirmação: “ Cristo morreu por cada um de vocês ” , feita a uma congregação, não é verificável, e provavelmente nem verdadeira, ele deveria tomar o cuidado para não declarar isso na sua pregação evangelística. Você não encontrará afirmações como esta, por exemplo, nos sermões de um George Whitefield ou Charles Spurgeon. Agora porém, o ponto que eu gostaria de frisar aqui é que, mesmo que a pessoa pense que esta declaração seria verdadeira, não é algo que ela sempre precise dizer, ou sempre tenha motivo para mencioná-la quando pregar o evangelho. Pois pregar o evangelho, como acabamos de ver, significa convidar os pecadores a virem até Jesus Cristo, o Salvador vivo , que em virtude de sua morte expiatória, está em condições de perdoar e salvar todos aqueles que depositam a sua confiança nele. O que é preciso que se diga a respeito da cruz, sempre que pregarmos o evangelho, é simplesmente que a morte de Cristo é a razão pela qual nos é dado o perdão de Cristo. E isso é tudo o que precisa ser dito. A questão da extensão designada da expiação não tem absolutamente nada a ver com a história.

O fato é que o Novo Testamento nunca chama ninguém ao arrependimento, por ter Cristo morrido específica e particularmente por ele. O fundamento sobre o qual o Novo Testamento convida os pecadores a depositarem a sua fé em Cristo é simplesmente o fato de que eles necessitam dele, que ele se oferece a si mesmo a eles, e que aqueles que o recebem têm a garantia de usufruir de todos os benefícios que a sua morte assegura para o seu povo. O que é universal e abrangente no Novo Testamento é o convite à fé e à promessa de salvação a todo aquele que crê.( Veja Mt 11.28 ss., 22.9; Lc 2.10 s., 12.8; Jo 1.12, 3.14 ss., 6.40, 54, 7.37, 11.26, 12.46; At 2.21, 10.43, 13.39; Rm 1.16, 3.22, 9.33, 10.4 ss.; Gl 3.22; Tt 2.11; Ap 22.17; cf. Is 55.1.)

Nosso trabalho na evangelização é reproduzir, da forma mais fiel possível, a ênfase do Novo Testamento. O que será sempre errado é tentar ir além do Novo Testamento, distorcer o seu ponto de vista ou mudar sua ênfase. Por isso – valendo-nos neste ponto das palavras de James Denney – “ nem sequer nos passa pela cabeça separar a obra (de Cristo) daquele que a realizou. O Novo Testamento conhece apenas um Cristo vivo, e toda a

8 Conf. introdução de minha autoria à reedição de 1959 de The Death of Death in the Death of Christ (A Morte da Morte na Morte de Cristo) de John Owen. Esta obra de Owen é uma discussão clássica da complexidade das questões envolvidas em torno da polêmica da “ expiação limitada ” . A temática central não diz respeito ao valor da expiação, considerada em si mesma, nem à disponibilidade de Cristo àqueles que confiariam nele como o seu Salvador. Todos concordam que não se pode estabelecer nenhum limite ao valor intrínseco da morte de Cristo, e que Cristo jamais rejeita aqueles que se dirigem a ele. A controvérsia gira em torno da questão, se a intenção do Pai e do Filho na grande transação do Calvário foi de salvar mais do que àqueles que na realidade já estão salvos. Não há espaço aqui para entrarmos no mérito desta intrincada questão; e, em todos os casos, não há nada no texto que, de uma forma ou de outra, dependesse da resposta que possamos dar a essa questão.

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pregação apostólica do evangelho apresenta o Cristo vivo aos homens. Mas este Cristo vivo é o Cristo que morreu e jamais se deve pregar sobre ele de modo separado da sua morte e do seu poder reconciliador. É o Cristo vivo, com o mérito da sua morte reconciliadora nele , que é o tema principal da mensagem apostólica… A tarefa do evangelista é pregar sobre “ Cristo… em seu caráter como o Crucificado. ”9 Crer no evangelho não significa “ crer que Cristo morreu pelos pecados de todos, e portanto pelos seus ” , e muito menos “ crer que Cristo morreu somente pelos pecados de algumas pessoas e, portanto, quem sabe até pelos seus. ” Crer no evangelho significa “ crer no Senhor Jesus Cristo, que morreu pelos pecados, e agora se oferece a Si mesmo como o seu Salvador. ” Eis aí a mensagem que nós devemos levar para todo o mundo. Não temos o direito de pedir que as pessoas depositem a sua fé em uma visão qualquer sobre a extensão da expiação; nosso negócio é atrair a atenção das pessoas para o Cristo vivo e apelar para que elas confiem nele.

Foi pelo fato de os dois terem entendido isso, que John Wesley e George Whitefield podiam dar-se as mãos, no que diz respeito à evangelização, por mais divergentes que fossem quanto a extensão da expiação. Pois o ponto-de-vista que cada um tinha quanto a este assunto não interferia na sua pregação do evangelho. Ambos limitavam-se a pregar o evangelho exatamente como ele se encontra nas Escrituras: isto é, proclamar “ o Cristo vivo, com o mérito da sua morte reconciliadora nele ” , oferecê-lo aos pecadores e convidar o perdido a vir até ele e, assim, encontrar vida.

4. Isso nos leva ao ingrediente final da mensagem do evangelho. O evangelho é um apelo à fé e ao arrependimento .

Todos aqueles que ouvem o evangelho são chamados por Deus para se arrependerem e crerem . “ … Deus… notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam ” ; disse Paulo aos atenienses.(At 17:30). Quando seus ouvintes lhe perguntaram, o que é que eles deveriam fazer para “ realizar as obras de Deus ” , nosso Senhor lhes respondeu: “ A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado. ”(Jo 6:29). Em 1ª João 3.23, lemos: “ Ora, o seu mandamento é este: que creiais em o nome de seu Filho, Jesus Cristo… ” O arrependimento e a fé são apresentados como questões de dever pelo mandamento direto de Deus, e portanto, toda falta de penitência e incredulidade são identificadas no Novo Testamento como pecados dos mais graves. (Cf. Lc 13.3, 5; 2Ts 2.2 ss.). Conforme indicamos acima, juntamente com estes mandamentos universais vão as promessas universais de salvação a todos quantos os obedecem. “ Por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão dos pecados. ” (At 10:43). “ Aquele que tem sede venha, e quem quiser, receba de graça a água da vida. ”(Ap 22:17) “ Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. ” (Jô 3:16). Estas palavras representam promessas que Deus cumprirá enquanto o tempo durar.

É necessário dizer que a fé não é um mero sentimento otimista, e muito menos o arrependimento pode ser considerado um mero sentimento de lamentação ou de remorso. Tanto a fé quanto o arrependimento são ações, as quais envolvem o homem como um todo. A fé é mais do que apenas acreditar; ela é essencialmente o lançar-se e descansar e a

9 The Christian Doctrine of Reconciliation , (A Doutrina Cristã da Reconciliação) p. 287, grifos do autor.

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confiança nas promessas de misericórdia que Cristo deu aos pecadores, e no Cristo que fez tais promessas. Semelhantemente, o arrependimento significa mais do que simplesmente entristecer-se pelo passado. Arrependimento representa uma mudança de opinião e de atitude, representa uma vida nova que nega a si mesmo e que serve ao Salvador, entronizado como rei, no lugar do seu próprio eu. A mera crença sem confiança e o mero remorso sem conversão, não salvam ninguém. “ Até os demônios crêem e tremem. ” ( Tg 2.19). “ … mas a tristeza do mundo produz morte. ” (2Co 7.10. ). Dois aspectos a mais precisam ser destacados:

a) A exigência diz respeito tanto a fé quanto ao arrependimento . Não basta tomar a decisão de dar as costas ao pecado, abrir mão de maus hábitos e tentar pôr em prática os ensinamentos de Cristo, tornando-se uma pessoa extremamente religiosa e fazendo todo o bem possível aos outros. Não há boa intenção, ou decisão, ou moralidade ou religiosidade que possa ser substituto eficiente para a fé. Martinho Lutero e João Wesley apresentavam todas estas características muito antes de terem tido fé. Se, entretanto, deve haver fé, deve existir um fundamento de conhecimento: uma pessoa necessariamente precisa conhecer a Cristo, ouvir falar a respeito da sua cruz e das suas promessas, antes que a salvação pela fé se torne uma possibilidade para ela. É necessário, portanto, que destaquemos estas coisas na nossa apresentação do evangelho, se é que queremos levar os pecadores a abandonar toda a sua confiança em si mesmos, e confiar totalmente em Cristo e no poder do seu sangue remissor, a fim de torná-los aceitáveis diante de Deus. Pois a fé não é nada mais nada menos do que isso. b) A exigência diz respeito tanto ao arrependimento quanto à fé . Não basta crer que o pecador só pode ser justificado e tornar-se aceitável através de Cristo e sua morte, e que a própria reputação de uma pessoa é suficiente para fazer cair mais de vinte vezes sobre ela a sentença de condenação de Deus, e que, à parte de Cristo ela não tem qualquer esperança. O conhecimento do evangelho e a fé ortodoxa nele, absolutamente não são substitutos para o arrependimento. Se, entretanto, quisermos que haja arrependimento é preciso, repito, que necessariamente haja também uma base de conhecimento. Todo ser humano precisa ter conhecimento de que, como se coloca na primeira das noventa e cinco teses de Lutero “ quando o nosso Senhor e Mestre, Jesus Cristo, disse ‘ Arrependei-vos ' , ele estava apelando para que a vida toda dos crentes se tornasse uma vida de arrependimento ” ; e deve conhecer ainda as implicações desse arrependimento. Mais do que uma vez, Cristo chamou atenção deliberada para a necessidade de rompimento radical com o passado, como algo relacionado ao arrependimento. “ Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue , dia a dia, tome a sua cruz e siga-me… quem perder a vida por minha causa , esse (mas somente ele) a salvará. ” (Lc 9.23 ss.). (Lc 14.26, 33. ) “ Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida (isto é, coloca tudo isso decididamente em segundo plano de prioridade na sua vida), não pode ser meu discípulo … todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo . ” O arrependimento que Cristo exige do seu povo consiste em uma firme recusa a levantar qualquer objeção contra as reivindicações que ele possa fazer sobre as suas vidas. Nosso senhor sabia – e quem poderia saber melhor do que ele? – do enorme custo que os seus seguidores teriam que assumir a fim de

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permanecerem fiéis a esta recusa, e permitirem que ele agisse com eles à sua maneira, o tempo todo, e por isso ele desejava tanto que eles encarassem de frente todas as implicações de ser um discípulo e refletissem sobre elas, antes de se comprometerem com elas. Ele não desejava fazer discípulos que o seguissem sob falsos pretextos. Ele não tinha interesse algum em arregimentar vastas multidões de adeptos professos, que se dissipassem assim que ficassem sabendo o que segui-lo realmente exigiria deles. Portanto, precisamos dar igual destaque, em nossa própria apresentação do evangelho de Cristo, ao custo implícito de seguir a Cristo, e fazer com que os pecadores o encarem de frente, antes de apressá-los a responderem à mensagem do perdão gratuito. Com toda honestidade, não devemos ocultar o fato de que perdão gratuito, em certo sentido, custará tudo; ou do contrário nossa evangelização torna-se um tipo de conto do vigário. E onde o conhecimento se torna ambíguo e obscuro, e portanto um reconhecimento não realista das reais exigências que Cristo impõe, não pode haver arrependimento, e, portanto, também não pode haver salvação.

Eis aí o conteúdo da mensagem evangelística que fomos enviados para dar a conhecer ao mundo.

Capítulo III

Pressupostos da Evangelização Reformada

Creio que podemos tomar como base os Os Cinco Pontos do Calvinismo, para falarmos dos pressupostos da evangelização reformada.  1) A Universalidade do Pecado ( DEPRAVAÇÃO TOTAL)

O ponto fundamental é saber o que os teólogos reformados querem dizer com a expressão “depravação total”. A depravação total significa que o homem, em seu estado natural, é incapaz de fazer qualquer coisa ou desejar qualquer coisa que agrade a Deus. Enquanto ele não nascer de novo, por obra do Espírito Santo, e enquanto seu espírito não for vivificado pela graça de Deus, o homem é escravo de Satanás. (Gênesis 6.5; Efésios 2.2-3)

Do ponto de vista de Deus, todos os homens estão sob condenação porque amam o pecado, e o pecado da desobediência à vontade de Deus impede o homem de dar glória a Deus. Quando o homem insiste em que ainda possui no seu coração uma centelha do bem divino, e que  está procurando andar segundo Deus, a Palavra de Deus Diz:  “Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem sequer um”. (Romanos 3.10-11)

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b)       Depravação total significa que o homem natural é totalmente incapaz de discernir a verdade. De fato, o homem não regenerado considera ridículas as coisas de Deus. ( I Coríntios 2.14).

c)       Depravação total está de acordo com a Escritura. O homem não pode ver ou saber as coisas concernentes ao reino de Deus, sem que, primeiro, seja regenerado pelo Espírito Santo. O espírito morto do homem só percebe as coisas do homem e de satanás. ( João 3.3) d)       Depravação total significa que o homem não regenerado está enredado no pecado, sem esperança, atado por Satanás e isso até chegar o tempo de aqueles laços serem quebrados, e da morte ser substituída pela vida eterna, coisa que só a obra de Deus pode realizar, pois, só Ele da a fé que deseja e faz as coisas que agradam a Deus. ( Efésios 2.8; Filipenses 2.13). Pela  depravação total afirma-se que a única esperança do homem perdido está na eleição baseada no propósito de Deus ou plano de Deus. Somente os que são de Deus, ouvem a voz de Deus, chamando-os pelo nome para irem a Ele. ( João 8.47 ).   2) A Graça Soberana de Deus  ( ELEIÇÃO INCONDICIONAL )

“E ainda não eram gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que se chama)...está escrito: amei a Jacó, porém, me aborreci de Esaú”. ( Romanos 9.11-13 )Na passagem acima, o Apóstolo Paulo declara que a base da eleição está em Deus mesmo, ou seja, está na vontade e propósito de Deus, e não no ato de fé ou de alguma condição (como diria Arminius) existente na criatura humana, condição tanto para o bem como para o mal! A eleição é incondicional. O homem nada pode fazer para merecê-la!

As Escrituras acentuam que Deus não elege pessoas para serem salvas por causa de algum bem ou de alguma coisa eminente que veja nelas. Ao contrário, Deus se apraz em usar o fraco, o vil e o inútil, de modo a assegurar que somente Ele seja glorificado. É Deus quem escolhe o  homem.(I Coríntios 1.26-29; João 15.16 )

Se a eleição dependesse do homem, ele nunca creria, porque o homem é totalmente depravado e incapaz de fazer aquilo que é bom aos olhos de Deus. Deixado a si mesmo para decidir-se por Cristo, sem que antes a fé seja outorgada por um ato de Deus,  o homem nunca irá a Cristo! ( João 5.40 )   3) A Obra Eficaz e Suficiente de Jesus ( EXPIAÇÃO LIMITADA )

Muito daquilo que pensamos a respeito da morte expiatória de Cristo estará condicionada por aquilo que entendemos significar a simples palavra “mundo”. No evangelho de João esta palavra tem sentido especial. ( Veja João 1.10 )

a)    Os arminianos, naturalmente, sustentam que a palavra “mundo”, nesse texto, significa toda a humanidade, porque crêem na pós destinação (destino determinado depois que Deus prevê a volição positiva, como obra do homem, para vir a Cristo). Os Calvinistas, por outro lado, coerentemente,

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sustentam que a palavra “mundo” designa “homens de toda a tribo e nação”, mas não todas as tribos e nações, em sua totalidade. (João 3.16)

Para entender João 3.16 consideremos a questão: Por quem Cristo morreu?

1)     Quem é que não perecerá, mas terá a vida eterna? R. Todo aquele que crer nele. 2)     Quem deverá a crer, segundo a Escritura? R. Todo aquele que o Pai escolheu em Cristo, por sua livre e soberana vontade. 3)     Quem, então, está incluído na palavra “mundo”? R. Incluí homens de toda a tribo e nação, mas não todas as  tribos e nações, como um todo, uma vez que nem todos confiarão em Cristo!

b)     Cristo não morreu por todos os homens! A expiação é limitada! A Redenção é particular! ( Isaías 53.11-12; Marcos 10.45)

Só a eleita noiva de Cristo ( a igreja ) é objeto do amor de Deus. ( Efésios 5.25; 1.4-5 ) Em João 10 quando Jesus fala das suas “ovelhas”, é óbvio que ele está se referindo aos eleitos que o Pai lhe deu por sua livre vontade.

Em outras palavras: quando Cristo deu a sua vida na cruz do Calvário, deu-a por suas ovelhas, os eleitos do Pai. Não são todos os homens que estão incluídos na expressão “minhas ovelhas”.( João 10.14-15)

Por que, pois, os Calvinistas crêem na expiação limitada? Pela simples e boa razão calcada no fato de Cristo e seus santos Apóstolos crerem nela e a ensinarem. ( Mateus 1.21; Romanos 5.8).   4) A Operação Irresistível do Espírito Santo . ( GRAÇA  IRRESISTÍVEL )O único poder que realmente pode realizar esta obra é o Espírito Santo. Quaisquer que sejam os dons naturais que um homem possua , o que quer que um homem seja capaz de fazer como resultado das suas propensões naturais, o trabalho de apresentar o evangelho e de levar àquele supremo objetivo de glorificar a Deus na salvação dos homem, é um trabalho que só pode ser feito pelo Espírito Santo. Vocês vêem isso no próprio Novo Testamento. Sem o Espírito, é-nos dito, não podemos fazer nada. (Desde os tempos bíblicos até a história da igreja nos mostra que somente através da obra do Espírito Santo é que o evangelho foi pregado com poder e autoridade).10 Talvez devêssemos começar este assunto definindo a palavra grega “charis”, que é consistentemente traduzida por “graça” no N.T. O significado básico da palavra graça é “favor imerecido”. Graça é algo que Deus faz em favor do homem, e que o homem não merece, seja qual for a razão ou motivo que alegue. Desde que a fé “é um Dom de Deus” e não das obras, ela é um ato da graça( favor imerecido) da parte de Deus para  o homem. ( II Timóteo 1.9 )

a)       Que é que os Calvinistas querem dizer quando falam em graça irresistível?

10Martyn Lloyd-Jones. Texto extraido do site: http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/ . Acesso em 12/11/2003

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A palavra “irresistível”, quando aplicada a respeito da graça de Deus, para com os seus eleitos, significa que Deus, por sua própria livre vontade, dá vida àqueles que escolhe. Desde de que  o espírito humano é vivificado, que é nascido de novo, , é dominado pelo Deus vivo, de maneira irresistível, e o espírito humano morto no pecado é denominado pelo deus morto, Satanás, de maneira também irresistível. ( João 5.21; João 6.37; II Timóteo 2.26; Efésios 2.2)

b)       O homem necessita que Deus o domine irresistivelmente por sua  graça, pois, do contrario, o homem não poderá dar jamais um passo na direção de Cristo. ( João 6.44 ) Exemplo significativo deste fato nos é dado por Lídia, a vendedora de púrpura: “...o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia”. ( Atos 16.14 ) Quem abriu o coração dela para Jesus? Que ensina a Bíblia? Que o pecador abre o coração a Jesus, ou que o Senhor que abre o coração?  5) O Propósito de Deus em Salvar o Seu Povo (PERSEVERANÇA DOS SANTOS)

Os Calvinistas ensinam que os santos, também conhecidos como eleitos, nunca podem perder-se, uma vez que a salvação deles é assegurada pela imutável vontade do Deus onipotente! ( Tiago 1.18; Filipenses 1.6; João 17.2 ) Que diz a Bíblia? Perder-se-ão alguns dos que o Pai deu ao Filho? Ou não perderá nenhum dos que o Pai lhe deu? Se é evidente que a salvação é do Senhor, é evidente também que, uma vez salvos pelo poder de Deus, estão sempre salvos.( João 6.39; João 10.28 )

Quem é que preserva os crentes “imaculados” até que Ele venha? Quem é fiel? Quem é que faz o maravilhosos trabalho de santificar e guardar os crentes? (Judas 1; I Tessalonicenses 5.23-24; Judas 24-25 )Os santos perseverarão porque o Salvador que quer perseverar em favor deles, e quer guardá-los.

A perseverança dos Santos depende da Graça irresistível que nos é assegurada porque Cristo morreu por nós, uma vez que  a expiação que temos, pelo seu sangue, é limitada aos eleitos. Além destes pressupostos, temos também :

6) A Inspiração e autoridade da Escritura.: Paulo afirma que toda a Escritura é inspirada por Deus (2Tm 3.16,17). A palavra inspirada" (no grego (s) provém de duas palavras gregas: , que significa "Deus", e que significa "respirar". Sendo assim, "inspirado" significa "respirado por Deus". Toda a Escritura, portanto, é o sopro de Deus; é a própria vida e Palavra de Deus. Isto significa dizer que as Escrituras por serem divinamente inspiradas, não contém erros; sendo absolutamente inerrantes, verídicas em todas as suas afirmativas e portanto autoritativas quanto a todos os assuntos sobre os quais faz seguras afirmações . Esta verdade permanece inabalável, não somente quando a Bíblia trata da salvação, dos valores éticos e da moral, como também está isenta de erro em tudo aquilo que ela trata, inclusive a história

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e o mundo (cf. 2Pe 1.20,21; note também a atitude do salmista para com as Escrituras no Sl 119).

A Confissão de Fé de Westminster declara a autoridade da Escritura:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus. (Ref. II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.)11

O único e exclusivo meio pela qual o Espírito Santo opera é a Palavra de Deus. Isso é algo que se pode provar facilmente. Vejam o sermão que foi pregado por Pedro no dia de Pentecoste. O que ele fez realmente foi expor as Escrituras. Ele não se levantou para relatar as suas experiências pessoais. Ele deu a conhecer as Escrituras; esse foi sempre o seu método. E esse é também o método característico de Paulo, como se vê em Atos 17:2: "disputou com eles sobre as Escrituras". No trato com o carcereiro de Filipos, vocês vêem que ele pregou-lhe Jesus Cristo e a Palavra do Senhor. Vocês recordarão as suas palavras na Primeira Epístola a Timóteo, onde ele diz que a vontade de Deus ;e que todos os homem sejam salvos e sejam levados ao conhecimento da verdade (1 Tm.2:4). O meio usado pelo Espírito Santo é a verdade.12

7) A Obediência ao Mandato de Jesus. "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc. 16.15)

Está absolutamente clara a ordem de Jesus aos seus discípulos para que sejam propagadores do Evangelho. Isso já seria motivo suficiente para um discípulo de Cristo dedicar-se à evangelização, em obediência à vontade soberana de Deus. Essa honrosa missão, porém, não deve ser realizada apenas por ser uma obrigação, mas, principalmente, porque apresentar o Evangelho a quem ainda não o conhece é um privilégio. Guardar, egoisticamente, a mensagem de Jesus como um segredo é trair a sua essência, pois ela é para todos. É impossível alguém ser um discípulo de Jesus sem jamais compartilhar essa bênção com outros. No Reino de Deus não há agentes secretos.

Segundo a Bíblia, pertencer a Cristo é ter o seu Espírito, e ter o Espírito de Cristo é guardá-lo para si é tão impossível quanto reter um rio. "Quem crer em mim, como diz a escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem..." (J.o. 7.38-39). Se a água viva não está fluindo do coração de um cristão é hora de ele se perguntar se é realmente um discípulo de Cristo.

A conversão e a regeneração são obras realizadas pelo Espírito Santo na vida dos pecadores. O instrumento utilizado por Deus para essa obra é a Sua Palavra, e o dever de proclamá-la é exclusividade dos discípulos de Jesus. Devemos aproveitar todas as oportunidades e todos os meios lícitos para conduzirmos mais pessoas a Cristo.

11 Confissão de Fé de Westminster, Cap. I, parágrafo IV12 Martyn Lloyd-Jones. Texto extraido do site: http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/ . Acesso em 12/11/2003

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III. OS MOTIVOS PARA MISSÕES

Roger Greenway nos ajuda a entender por que devemos fazer missões?13

A. Motivos errados: Devemos admitir que sempre houve pessoas que ingressaram no trabalho do Senhor por razões equivocadas. Até os missionários que têm os motivos corretos podem cometer erros. At 13.13, At 15.37-40 e 2Tm 4.10.

Podem existir motivos errados escondidos nas mentes dos mais sinceros missionários.

1. O desejo de ser admirado e louvado por outros2. A busca por “auto-realização”, sem levar em consideração o esvaziar-

se a si mesmo(Fp 2.5-7);3. A busca por aventura e excitação;4. A ambição em expandir a glória e influência de uma igreja ou

denominação em particular, ou mesmo de um país;5. A fuga das situações desagradáveis do lar;

13 GREENWAY, Roger . Ide e Fazei Discípulos. São Paulo,SP: Ed. Cultura Cristã. 2001. p.30-34

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6. A esperança de sucesso profissional após um curto período de serviço missionário.

7. A culpa e o anseio pela paz com Deus por meio do serviço missionário.

B. Motivos corretos: Os motivos corretos para missões são ensinados na Palavra de Deus e aplicados nos corações dos crentes por meio do Espírito Santo.

1. O desejo de que Deus seja adorado e sua glória conhecida entre todos os povos da terra: A glória de Deus diz respeito a tudo o que foi revelado sobre ele: seu nome, sua santidade, seu poder, seu amor por meio de Jesus Cristo, sua misericórdia, sua graça e sua justiça.

Entretanto, mais de três bilhões de pessoas no mundo não aodram ao verdadeiro Deus. Este pensamento é que inspira os missionários! Eles sentem uma divina compulsão em pregar o evangelho 1Co 9.16.

2. O desejo de obedecer a Deus por amor e gratidão, por meio do cumprimento da Comissão de Cristo: “Ide fazei discípulos de todas as nações”. (Mt 28.19): O amor genuíno por Deus produz obediência à sua Palavra cf.: Jo 14.15; A obediência cristã toma forma e o povo de Deus é ungido com o Espírito Santo a servi-lo numa variedade de ministérios 1Co 12.4,5; Ef 3.10.

O desejo ardente de usar todos os meios legítimos para salvar os perdidos e ganhar não-crentes para a fé em Cristo: A paixão missionária pela glória de Deus é acompanhada pela paixão pelas pessoas que, por ignorância e descrença, estão morrendo em seus pecados.

3. A preocupação de que as igrejas cresçam e se multipliquem e de que o reino de Cristo seja estendido por meio de palavras e ações que proclamem a compaixõ e a justiça de Cristo a um mundo de sofrimento e injustiça.

VI. OBSTÁCULOS PARA O CRESCIMENTO DE IGREJAS URBANAS

Nós concordamos que a evangelização é um imperativo de Cristo para a sua igreja, contudo, não são poucas às vezes que nos sentimos impotentes, desanimados e vencidos diante de tamanha responsabilidade. De fato, mesmo cônscios de nosso dever, da assistência divina e dos frutos, ainda assim, não deixamos de reconhecer as barreiras que se levantam e nos intimidam ou amedrontam quando pensamos em evangelizar.

Precisamos reconhecer barreiras reais14 e contrapô-las com os recursos dispostos por Deus ao nosso alcance. Se muitas forem as barreiras, suficiente e superior será o auxílio divino para transpô-las, nos concedendo

14 As barreiras que estudaremos a seguir, algumas foram extraídas e adaptadas da obra de Jerram Barrs, A Essência da Evangelização, Editora Cultura Cristã. São Paulo. 2004

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vitórias e nos fazendo efetivos instrumentos de proclamação das Boas Novas da Salvação em Jesus Cristo.

1. Diabo. Satanás, com seus anjos maus, procura impedir o crescimento da igreja em qualquer lugar. John T. Mueller exemplifica as artimanhas destes inimigos da igreja de Cristo:

a) continuamente procuram destruí-la por investidas em geral (Mt 16.18); b) tentam impedir que os ouvintes recebam a Palavra de Deus (Lc 8.12); c) disseminam doutrina errônea (Mt 13.35; 1 Tm 4. 1s); ed) incitam perseguições ao reino de Cristo (Ap 12.7 ... No intuito de arruinar a igreja, o diabo causa transtornos também ao estado político (!Cr 21.1; 1 Rs 22.21-22), e ao estado doméstico (1 Tm 4.1-3; 1 Co 7.5; Jó 1.11-19).

2. A Relativização de absolutos: Vivemos dias em que os absolutos são descartados. A verdade tornou-se subjetiva e pessoal, cada um tem sua própria verdade. A liberdade individual e a felicidade pessoal são o alvo buscado e a justificativa de qualquer meio para se alcançar este fim. A nossa cultura perdeu a perspectiva de que existe uma lei moral transcendental que se aplica a todos e que rege o próprio equilíbrio das partes. Diz o insensato no seu coração: não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem. (Salmo 14.1)

“O Cristianismo é a única história que faz o nosso mundo ter sentido, que age como guia moral, que nos enche com uma esperança confiante dos nossos futuros individuais e o futuro da nossa raça e o deste mundo”, entretanto, a História Cristã perdeu seu significado para o homem moderno.

Entrementes, a relativização de absolutos, ou seja, você decide o que é verdadeiro segundo suas próprias concepções, tem rodeado e até mesmo invadido a igreja. Muitas das nossas convicções e fundamentos sobre os quais lançávamos princípios de vida estão abalados e sob suspeição. As incertezas sobre o teor da mensagem do Evangelho nos fazem recuar. Será que de fato cremos numa verdade? Ela poderá mudar derrubar os muros da incredulidade? Já não nos sentimos tão seguros quanto ao conteúdo de nossa pregação. Como combater a incerteza com incertezas?

“Devemos ter certeza de que nossa fé é de fato a verdade”. Para tanto, o conhecimento e estudo da Palavra de Deus é a fonte que nos prepara para que possamos estar “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. (1 Pedro 3.15b), assim, “...procurai, com diligência, cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição...” (2 Pedro 1.10a).

3. Ausência de credibilidade da Igreja: Boa parte da população está decepcionada com erros diversos em igrejas como a exploração financeira, escândalos de líderes religiosos, o legalismo de certas igrejas que impõem aos seus adeptos leis humanas muito rígidas, tirando-lhes a alegria de viver.: Outra barreira que enfrentamos na evangelização urbana é o discurso da incoerência. A igreja tem desassociado a pregação do testemunho. A ética cristã tem se tornado extremamente maleável, adequando-se às circunstâncias. Os escândalos estão nos deixam

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constrangidos – porém, não envergonhados ou arrependidos – a nós já não pertence mais o “corar de vergonha” (Daniel 9.7b)

O evangelho está desacreditado porque perdemos o crédito de nosso comportamento perante a sociedade. É certo que não somos perfeitos e ao olharmos para o passado, veremos manchas na História que até hoje são evocadas e simplesmente nos enchemos de desculpas. Devemos assumir os erros que se registraram nos anais da história, atitudes humanas desprovidas de aprovação divina.

Mas, ao mesmo tempo em que devemos assumir nossos erros passados, devemos, também, tomar atitudes no presente para coroar o futuro, viver como luz do mundo e sal da terra, a fim de que os homens vejam nossas boas obras e glorifiquem a Deus (Mateus 5.13-16). 4. A perda da linguagem comum: A comunicação é uma importante conexão entre as pessoas e para que ela se efetive o transmissor da mensagem deve se fazer entender pelo seu receptor, ou seja, minhas palavras devem estar adequadas à linguagem do ouvinte. Como costumamos dizer: “agora, estamos falando a mesma língua” - referência ao fato de terem se entendido. Isto, porém, tem se perdido nos dias atuais. “Mais e mais pessoas são biblicamente analfabetas” – incluindo o meio evangélico. Devemos ter a sensibilidade para fazermo-nos entender na pregação, na proclamação de uma mensagem universal que é “para todos as nações, tribos, povos e línguas” em qualquer tempo ou lugar.

Devemos nos questionar sobre tais barreiras, reconhece-las tão somente não é suficiente, é preciso preparar-se para enfrenta-las, e temos recursos para isto, como afirma o apóstolo Paulo: “porque as armas de nossa milícia não são carnais e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando nós, sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. (2 Coríntios 10.4,5). Sendo, pois, praticantes da Palavra e não somente ouvintes (Tiago 1.22) o nosso testemunho falará mais alto que nossas palavras e esta é uma linguagem que todos compreendem, vida coerente.

5. Reação de Condenação: Quando nos sentimos acuados reagimos condenando a todos. A parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18.9-14) ilustra o cuidado que devemos ter em relação a julgarmo-nos melhores do que outros. Se do “lado de fora” sentimos o cheirinho de enxofre nos “pecadores” e agradecemos a Deus por não sermos como eles, um perigoso sinal nos alerta contra a vaidade e arrogância espirituais. Não devemos julgar nossos inimigos, antes, amá-los. Se fosse possível tirar uma fotografia da realidade espiritual da alma humana e guardássemos a nossa, antes da conversão, veríamos que somos tal qual aqueles que desprezamos ou condenamos.

É neste tipo de arrogância que criamos uma subcultutra cristã (mera presunção) que finalmente vai mudar as coisas, pensamos nós. Nos propomos a preencher os espaços políticos, culturais, sociais para subjugar o “ímpio”, mas para isso vale tudo que estiver ao nosso alcance, seja ético ou não, seja lícito ou não, seja honesto ou verdadeiro ou não. Nos tornamos maiores tiranos do que aqueles que foram “demonizados” por nós.

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Devemos, como Cristãos, exercer nossa cidadania e contribuir ativa e conscientemente nossos direitos e deveres como cidadãos. Mas, também como Cristãos, devemos ter a percepção de que pertencemos uma “nacionalidade” que nos exige que vivamos segundo suas prerrogativas, como cidadãos do céu e neste exercício de cidadania a palavra amor e misericórdia estão entre os primeiros deveres.

6. Isolamento: Uma falsa idéia se opõe a uma evangelização ativa: “não pertencemos ao mundo devemos, simplesmente, nos isolar”. Somos a geração dos condomínios fechados, do shopping center, das grades de segurança, do espaço privado distante e protegido do espaço público. Reagimos, então, da mesma maneira, nos isolando em nossas casamatas (abrigos subterrâneos usados principalmente nas guerras) e criamos um novo conceito de “mosteiro social gospel” com uma placa na entrada: “proibida a entrada de estranhos”.

Não devemos amar ao mundo, é certo, disse o apóstolo João, mas, também somos o sal da terra. Imaginemos se podemos temperar um feijão colocando o saleiro em frente à panela. Devemos por o sal no feijão e suas propriedades suscitarão o efeito desejado. Podemos criar espaços com certas peculiaridades, mas não nos escondermos em guetos evangélicos.

7. Separação: Uma outra barreira sutil e perigosa é a de nos separarmos das pessoas “de lá de fora” e restringir nosso círculo social aos “irmãos”. A senha poderia ser (e às vezes é), “a paz do Senhor” em caso de resposta satisfatória, então é bem vindo ao nosso meio, de outra forma, “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Coríntios 15.33 – interpretado fora do contexto). Olhemos para aquele que foi acusado de ser amigo de publicanos e pecadores (Lucas 7.34), que tocou em leprosos, que perdoou prostitutas, que se aproximou dos excluídos.

Já tentou conversar com alguém que não te olha nos olhos? Que estranha sensação. Como podemos pregar o evangelho que tem características tão evidentes de amor, misericórdia, perdão, reconciliação, adoção, aceitação? Seria muito difícil uma família adotar uma criança órfã sem permiti-la entrar em sua casa. Nós fomos adotados e recebidos na presença do Pai, que não faz acepção de pessoas (por isso nos aceitou), como poderemos testemunhar disto praticando o oposto da mensagem?

8. Paganismo: O paganismo está de volta á essa geração pós-moderna. As seitas e religiões espiritualistas ganham novos adeptos e seus conceitos não são questionados se verdadeiros ou sensatos, basta que faça a pessoa se sentir espiritual e se lhe é sensata e moral. Interessante notar aqueles que chamam cristãos de fanáticos e incultos, e no ápice de sua própria arrogância veneram e acreditam em superstições, pirâmides, objetos, fetiches, gnomos e duendes. São, na verdade, pessoas carentes de uma espiritualidade verdadeira e de um amor profundo, coisas que só encontrarão no Evangelho que a nós foi confiada a proclamação.

9. A insegurança urbana: Como já vimos, a violência tem aumentado nas cidades. Estatísticas revelam que em São Paulo no ano de 2001, os sequestros envolvendo pessoas de qualquer camada social aumentaram 600%. Assaltos nas ruas, arrombamento de residências e tráfico de drogas têm levado as pessoas a se trancarem em suas casas e duvidarem de todos.

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Pelo poder da Palavra e do Espírito Santo, as pessoas são convertidas e integradas nas congregações. Porém, muitas vezes terão dificuldades para participarem de programações à noite, por falta de segurança.

10.Ativismo: O ativismo é outra barreira sutil e perigosa. Nos envolvemos em tantas atividades na igreja e ocupamos de maneira tal nosso tempo, que não nos sobra momentos de sociabilidade (muito importante no evangelismo pessoal). Falta-nos tempo para a família, parentes, vizinhos, etc. Algumas vezes, fazemos disso uma desculpa para “fugir” de determinadas atribuições. Mas, em meio à tantas “atividades inadiáveis”, somos exortados a buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça (6.33).

11. Medo de testemunhar: Este medo pode se manifestar, por causa de algumas destas razões:

a) Temor de ser rejeitado - ao falar de Cristo, você se expõe, define sua posição, mostra em que valores você crê. Obviamente, a possibilidade de rejeição existe, e é muito maior do que a possibilidade de ser respeitado em suas convicções cristãs.

b) Temor de ser um fracasso - às vezes, não temos vergonha de testemunhar abertamente, mas tememos receber um "NÃO", ao tentarmos evangelizar alguém. Ou então, fracassarmos por não comunicarmos com clareza o plano da salvação.

c) Temor de se contaminar com os incrédulos - muitas pessoas, quando se converteram, foram erradamente instruídas a não cultivarem amizades com incrédulos. O desejo de santificação é muito positivo, mas algumas pessoas tem partido para radicalismos e exageros.

O crente ser sal e luz, dentro da comunidade doente (Mt 5:13-16). Devemos ter muito cuidado com o conceito de sermos separados do mundo (Jo. 17:11, 14,15). O crente deve conhecer os problemas do seu tempo, para manter conversas inteligentes. Saiba dialogar sobre outros assuntos, além da Bíblia. Paulo, em Ef. 4:17 diz: "não andeis como andam os gentios". Mesmo andando entre os incrédulos, não devemos viver como eles, mas podemos viver entre eles.

12. Não saber como comunicar o evangelho: Muitas pessoas nunca prepararam seu testemunho escrito. Outras pessoas, nunca estudaram nenhum plano bíblico para evangelização. Pode ocorrer também a falta de capacidade, de como iniciar uma conversa, que viabilize a pregação do Evangelho.

13. Falta de confiança: Outra barreira é a falta de confiança. De certa forma, ela tem um aspecto positivo, pois nos ensina a humildade e a dependência de Deus. Outro aspecto, porém, precisa ser retirado de nossos pensamentos. Tal obra não é resultante de mero esforço humano, conseqüentemente, Aquele que nos comissionou, também nos capacitará.

O apóstolo Paulo reconheceu-se fraco diante de tal missão. Escrevendo aos colossenses diz:

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Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado; para que eu o manifeste, como devo fazer. Cl. 4:3,4

Se esta oração partiu dos lábios deste intrépido evangelista, não necessitaríamos também orar de maneira semelhante? Conhecer nossos temores e fraquezas é o ponto de partida para todo crescimento, porque esse conhecimento nos leva a orar por nós mesmos e requer de nós reconhecer, perante os outros, que não somos de maneira alguma adequados para as tarefas para as quais Deus nos chamou.

A oração humilde tem que ser nosso ponto de partida. Deus é compreensivo e gracioso e certamente suprirá nossas limitações, nos dispondo a ajuda necessária para “dissipar nosso medo e nos dar ousadia de coração e palavra”.

Quando vos levarem às sinagogas e perante os governadores e as autoridades, não vos preocupeis quanto ao modo por que respondereis, nem quanto às coisas que tiverdes de falar. Porque o Espírito vos ensinará, naquela mesma hora, as cousas que deveis dizer. (Lucas 12.11,12)

XIII. ESTRATÉGIAS DE EVANGELIZAÇÃO URBANA

Sabemos que a conversão de indivíduos ao Cristianismo, sua busca e transformação operados pela ação do Espírito Santo, se dá apenas mediante a pregação da Palavra e a aplicação interna desta feita pelo Espírito Santo. Todavia devemos ter em mente que os meios que Deus utiliza para que a sua Palavra seja coloca e aplicada no coração dos seus eleitos faz uso de vários meios diferentes. Jerram Barrs sugere o seguinte quanto a este assunto:

“À medida que começamos a fazer perguntas àqueles que chegaram à fé, vamos descobrindo quão fiel e pacientemente Deus trabalhou na vida deles para conduzi-los ao ponto de compromisso. Descobrimos também que Deus usa de uma infinita variedade de meios para atrair as pessoas a ele.”15

Deus utiliza as características peculiares de cada um dos seus eleitos para chamá-los à salvação, afinal “como uma pessoa é única, assim também o caminho que Deus usa para atrair cada pessoa a ele é único”.16 A seguir descreveremos algumas estratégias de evangelização que poderão ser utilizadas nas cidades.

1. Formar Equipes de oração: O nosso primeiro passo na Evangelização deve ser a humildade diante de Deus em reconhecermos quem somos e quem Deus é, e isso nos leva a reconhecer a nossa dependência do Senhor. Em outras palavras, “Começamos com um apropriado senso de humildade sobre o nosso papel e sobre nossa capacitação para o trabalho diante de

15 BARRS, Jerram. A essência da evangelização. Editora Cultura Cristã. São Paulo. 2004. Página 95.16 Ibid, página 95.

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nós, e essa humildade deve nos levar à oração.”17. A Igreja precisa sentir o desejo de orar pelos ainda não convertidos.18

Um outro fator peculiarmente interessante é que

Deus nos colocou em ‘famílias’ e ele alegremente utiliza esse meio mais natural para a extensão de seu reino. Então, começamos a orar por aqueles com quem vivemos e amamos. Estes, acima de todos, devem ser as pessoas por quem nos importamos mais profundamente e oramos por eles.19

Uma outra frase interessante de Jerran Barrsé a que afirma que “Oração sincera, apaixonada, poderosa deve brotar dos nossos corações em favor daqueles a quem amamos, e daqueles cujas vidas são ligadas conosco, na teia da existência diária.” 20

Sem dúvidas um primeiro bom motivo para orarmos é “... pela obra do Espírito Santo nos corações e mentes daqueles que nos rodeiam. Sabemos que ele pode alcançar o íntimo, trabalhar suas mentes e corações, o que não podemos fazer.” 21 Mas, também devemos orar para que as portas se abram para nós, proclamadores da palavra de Deus. não devemos nos esquecer nunca que “Cristo prometeu reinar sobre as nações e sobre nossa vida pessoal por amor ao evangelho. Então podemos Ter certeza de que ele responde nossas orações quando lhe pedimos para abrir as portas à medida que construímos relacionamentos com pessoas.” 22 Por mais que as vezes pensemos que deus demora em responder nossas orações, não podemos jamais nos esquecer das palavras de Pedro que afirma que o Senhor não retarda a sua promessa. (Cf. II Pe. 3: 8 – 9). Isso é o que nos consola e fortalece quando desanimamos na missão de pregar o Evangelho ou em alguma outra questão de ansiedade que temos no dia a dia.23

É preciso orar por causa da extrema dureza do coração humano (Jr 3.17; 7.24; 11.8; 16.12; 18.12). O pecador tem “coração obstinado” (Is 46.12), “tendão de ferro no pescoço” e “testa de bronze” (Is 48.12). Ele carrega uma bagagem enorme de apatia, ignorância, cegueira, loucura, incredulidade, tradicionalismo, preconceito, soberba e servidão pecaminosa.

É preciso orar porque só Deus é capaz de fazer o mais difícil de todos os transplantes: “Tirarei do peito deles o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” e “colocarei no íntimo deles um espírito novo” (Ez 11.19).

2. Testemunho pessoal: Cada cristão em particular, por ser parte da Igreja de Deus, tem a responsabilidade de se envolver no chamado

17 Jerram BARRS, A Essência da Evangelização, p. 44.18 Cf. uma bela frase de PIPER sobre a oração na nota 15 desse trabalho.19 Jerram BARRS, op. cit., p. 44.20 Ibid., p. 45.21 BARRS, Jerram. A Essência da Evangelização. Tradução de Neuza B. da Silva. São Paulo – SP: Cultura Cristã. p. 4722 Jerram BARRS, op. cit., p. 48.23 Sem dúvidas, o desespero, a ansiedade, e outros fatores atrapalham nossa vida em vários pontos, e um deles é a evangelização. Tudo isso pode ser usado por Satanás para nos inibir. Diante disso, uma frase que acho muito interessante é a que afirma que: “... na oração genuína encontramos forças para cumprir a Palavra de Deus, resistindo, assim, às tentações e às afirmações do diabo.” (COSTA, Hermisten M. P. da. O Pai Nosso. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 2001. p. 21).

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missionário que Deus deu a Igreja.24 Duas passagens em particular me que observamos os apóstolos convidando aos crentes para participarem do trabalho de evangelização. ( Cl 4:5,6; I Pe 3:15,16)

É preciso viver o que se prega, senão a evangelização torna-se uma hipocrisia. Essa incoerência entre conduta e mensagem gera indignação, desprezo, zombaria, escândalo, incredulidade e rejeição.

Jesus deu muita ênfase à evangelização pelo exemplo, quando declarou francamente: “Vocês são o sal da terra para a humanidade; mas, se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve mais para nada; é jogado fora e pisado pelas pessoas que passam” (Mt 5.13, NTLH). No mesmo Sermão do Monte, Ele ensina que “uma cidade construída sobre a montanha não fica escondida” e “não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma caixa, mas sim no candelabro, onde ela brilha para todos os que estão em casa”. Em seguida, Jesus ordena: “Assim também, a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu” (Mt 5.14-16, CNBB e NTLH). Somos agora o que Jesus foi no passado: “Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9.5). A igualdade da missão de Jesus com a de seus discípulos aparece também na Grande Comissão: “Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei” (Jo 17.18).

Aos coríntios, Paulo assume que, “como um perfume que se espalha por todos os lugares, somos usados por Deus para que Cristo seja conhecido por todas as pessoas” (2 Co 2.14, NTLH). Tornamos o evangelho conhecido mais pelo perfume do que pela palavra. Abusando da figura, é possível acrescentar: mais pelo olfato do que pela audição. Foi por isso que São Francisco de Assis disse: “Evangelize sempre; se necessário, use palavras”.

Se o evangelho não alterou o nosso comportamento e continuamos iguais aos não convertidos, não temos como evangelizar, pois “a fé que não se traduz em ações é vã” (Tg 2.20)

3. Receptividade: Boa receptividade da parte dos membros é muito importante para com os visitantes à igreja. É necessário ter uma equipe treinada de recepcionistas, os quais darão atenção especial antes, durante e depois do culto aos visitantes e membros ausentes que retornam. Discretamente pode ser preenchida uma ficha com dados dos visitantes (nome, endereço, telefone, se aceita visita ou não) e esta ser entregue ao pastor ou à secretaria da igreja para que uma correspondência seja posteriormente enviada. Um cafezinho após o culto oportuniza a confraternização entre todos.

4. Grupos Familiares: É claro que os cristãos primitivos eram obrigados a fazer uso do lar, porque não lhes era permitido adquirir nenhuma propriedade, até o fim do século II. Não podiam, durante o governo de diversos imperadores, organizar grandes aglomerações públicas por causa das possíveis implicações políticas do ato. Em outras palavras, a Igreja nos

24 Acertadamente sobre este assunto afirma PIPER: “Deus está nos chamando, acima de tudo, para sermos o tipo de pessoa cujos temas são a sua total supremacia em nossa vida. ninguém será capaz de elevar-se à magnificência da causa missionária, se não sentir a magnificência de Cristo. Não haverá nenhuma grande visão universal sem um grande Deus. Não haverá nenhuma paixão para atrair outros à adoração, se não houver nenhuma paixão pela adoração.” (PIPER, Jonh. Alegrem-se os Povos. A Supremacia de Deus em Missões. Tradução de Rubens Castilho. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 2001. p. 43 – 44).

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três primeiros séculos de nossa era cresceu sem a ajuda de dois dos nossos mais estimados instrumentos: a evangelização de massa e a evangelização na igreja. Ao contrário disso, faziam uso do lar. No livro de Atos lemos acerca de lares usados extensivamente, como os de Jasão e Justo, de Filipe e da mãe de Marcos.

Algumas vezes tratava-se de um culto devocional, outras vezes, de uma tarde de encontro e doutrinação, ou mesmo de um culto de comunhão. Podia ser também um encontro para reunir novos conversos, ou uma reunião com a casa cheia de novos interessados. Reuniões de improviso também aconteciam.25

O valor do lar em oposição ao culto mais formal da igreja, ou antes, como complemento dele, é óbvio. O lar possibilita fazer perguntas ao dirigente. Promove o diálogo. Torna possível distinguir as dificuldades. Facilita a comunhão. Pode, com extrema facilidade, desembocar numa ação e num serviço de caráter coletivo em que todos os diferentes membros do corpo desempenhem sua parte a contento.Igrejas iniciadas em casas é um dos modelos mais efetivos e comprovados para fazer crescer o Corpo de Cristo. Há múltiplas referências Bíblicas que apóiam o conceito da “Igreja em sua Casa”: (Atos 17:5; 16:15,32-34; 18:7; 21:8, I Co 16:19; Cl 4:15; Rm 16:5)

5. Equipe de visitação aos lares: Faz parte do testemunho pessoal. Porém aqui com a ênfase de ser feito periodicamente por um grupo de irmãos. Esta equipe de evangelização da igreja procurará semanalmente ir às casas dos visitantes (com dia e horário combinados) levando material de apoio, Bíblia, livretos, etc.

6. Plantação de igrejas: O crescimento das igrejas também acontece quando são iniciados pontos de pregação. Quantas igrejas têm expandido seu trabalho abrindo pontos de pregação em bairros onde residem vários membros ou às vezes apenas uma família, usando como local uma área simples, porém adequada.

7. Distribuição de Folhetos: Ter disponíveis uma boa variedade de folhetos é o primeiro passo no hábito de distribuir folhetos. Oportunidades sem conta são perdidas porque não temos os folhetos na hora certa. Tenha folhetos no seu emprego, em sua casa, perto da porta, e na sua escrivaninha. O fato de você ter bons folhetos consigo a qualquer hora, capacitá-lo-á a aproveitar as muitas oportunidades de entregar a Palavra da Vida a uma criança, a um transeunte, a um companheiro de viagem. “Semeia pela manhã e tua semente, e à tarde não repouse a tua mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela, ou se ambas igualmente serão boas” (Ecl 11.6),

8. A Motivação

Eis aqui um último aspecto de vital importância: A motivação é a chave para o problema de um permanente alcance. Se isso ardesse em nossas almas, não haveria necessidade de tantos congressos sobre evangelização. Michael Green26 diz que se perguntássemos aos cristãos primitivos, por que eles não perdiam a paixão para evangelizar, responderiam:

25 CF. M. Green. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo,SP: Vida Nova.26 GREEN, Op Cit. Pp.

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O exemplo de Deus, que tanto se preocupou a ponto de mandar o seu próprio Filho ser missionário em nosso mundo.O amor de Cristo, que nos constrange. Ele foi posto na cruz por nós. E nos diz para irmos em frente e passá-lo a outras pessoas. A evangelização é a resposta obediente ao amor de Cristo, que nos tem constrangido.O dom do Espírito, que nos é dado especificamente para dar testemunho. A tarefa de evangelização do mundo e a cooperação do Espírito Santo são as duas características indica das por Jesus em relação à época entre a sua ascensão e a sua volta.

Assim, os cristãos primitivos tinham por hábito basear a evangelização, clara e insofismavelmente, na natureza do Deus triúno. No coração dele repousa a missão. Mas havia mais três razões que os impeliam:

O privilégio de ser embaixador de Cristo, representante do Rei dos Reis. Nós recebemos esse ministério. Privilégio estupendo, esse!A necessidade dos que não têm Cristo. Isso soa através do Novo Testamento e dos primeiros líderes da Igreja. Quando percebi que as pessoas sem Deus estão perdidas agora e também para todo o sempre, mesmo sendo gente boa, mesmo sendo minha família e meus amigos, foi então que fiz um propósito de gastar a minha vida em contar aos outros as fabulosas Boas Novas que Jesus trouxe ao mundo.

Finalmente, há o tremendo prazer da tarefa em si. Ela começa no Novo Testamento e é contagiosa. Os cristãos podiam ser presos, e cantavam louvores. Podiam mandá-los calar-se e eles falavam mais ainda. Se perseguidos, na próxima cidade divulgavam a mensagem. Se levados à morte, pereciam alegres, suplicando bênçãos para os seus algozes. É por essa razão que eu não trocaria essa missão de pregar o Evangelho por nenhuma outra ocupação no mundo. Isso é um privilégio enorme. A necessidade é urgente. Nessa tarefa, o homem se realiza totalmente. Fomos criados para isso.

VII. OITO DECISÕES PARA A IGREJA NO CONTEXTO URBANO:

Decidir fazer uma séria pesquisa sócio-demográfica do contexto onde a igreja encontra-se inserida.

Decidir desenvolver um ministério centrado na comunidade, no ministério do leigo e nos dons do Espírito.

Decidir saturar a comunidade local com o Evangelho de Cristo. Decisão de mover para fora das quatro paredes da igreja local.

(abandonar a mentalidade de gueto) Decisão de proclamar o evangelho pela voz e pela vida,

testemunhando em palavras e em obras, na missão integral da Igreja. Decisão de mover para frente, mas somente em unidade. Decisão de jamais barganhar o evangelho da Graça, em nenhuma

circunstância. Decisão de executar seriamente a tarefa da grande comissão do

Senhor: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt 28:19).

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VIII. PRINCÍPIOS RELEVANTES PARA FAZER MISSÕES E EVANGELISMO EM UM CONTEXTO URBANO27

8.1. O reconhecimento de que o não cumprimento à Grande Comissão constitui-se num ato de desobediência a Deus (Mateus 28:18-20);

8.2. A premente necessidade de contemplar que os campos estão “brancos para a ceifa” (João 4:35);

8.3. Ênfase em um ministério eclesiástico que priorize a tarefa de fazer novos discípulos (Atos 1:8);

8.4. Multiplicação de líderes leigos que possam comunicar Cristo aos não salvos (Atos 8:1-4).

8.5. O Princípio da evangelização através do testemunho e do evangelismo pessoal: O índice de arrefecimento da fé entre os novos convertidos alcançados por evangelização em massa tende a ser 75%. Os esforços evangelísticos como grandes cruzadas, sem as raízes fincadas na igreja local, tende a ser movimentos com forte ênfase em decisões mais do que em discipulado.

8.6. O Princípio da Obediência: Um comum denominador na plantação de igrejas, é o inarredável compromisso de sermos a comunidade do compromisso com a Palavra.

8.7. O Princípio da pluralidade de lideranças locais: Nenhum homem é a expressão da mente de Deus... A pluralidade de líderes na Igreja local salvaguarda o ministro de toda e qualquer tendência de brincar de Deus sobre a comunidade.

8.8. O princípio de evitar Publicidade Sensacional: É importante que a igreja novamente imite o Senhor por aproximar do mundo evitando toda a publicidade sensacional.

8.9. O Princípio da Mobilidade: Nós precisamos enfrentar a verdade que Igrejas falham quando elas tornam-se prisioneiras de suas próprias estruturas e perdem sua mobilidade, confinando suas atividades dentro das paredes do santuário, sem visão evangelística e sem uma influência benfazeja dentro da sociedade.

8.10. O Princípio de evitar quaisquer tipos de Sincretismos na tarefa de plantação de novas igrejas: Entre os inimigos da igreja incluem-se: a crença que cada um já é um cristão mesmo sem ter nascido de novo, e o relativismo moral e religioso.

OS ELEMENTOS DA MISSÃO URBANA28 – MT. 9:35; 10:1

11.1. O Contexto da Missão Urbana : Lc 4:43; 8:1; 14:21,23

27 Nascimento, Antônio José. Fundamentos Bíblicos e teológicos da Missão. (in: Apostila do curso de Missiologia do CPAJ – 2001 )

28 BARRO, Jorge Henrique. Ações Pastorais da Igreja com a Cidade. Londrina, Pr: Editora Descoberta. 2000. p. 24-31

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11.2. O Conteúdo da Missão urbana

Jesus percorria as cidades e povoados fazendo três coisas:

1a) Pregando (Kerigma ) : Salvação2a) Ensinando ( Didaskalia ) : Educação3a) Curando ( Diakonia ): Serviço

11.3. A Compaixão para a Missão Urbana (9:36)

Segundo esta passagem existem três característica do homem urbano:

1a) São pessoas aflitas: sentimento de angústia2a) São pessoas exaustas: cansadas3a) São pessoas desorientadas: sem rumo e direção

11.4. O Compromisso para a Missão Urbana – Mt 9:37,38

11.5. O Comissionamento para a Missão Urbana – Mt 9:37 – 10:1

XII. PASTOREANDO A CIDADE

Roger Greenway29 sugere seis características que devemos ter no ministério urbano:

Aqueles que desejam servir na cidade devem aprender a amar a cidade.Os trabalhadores cristãos devem conhecer a cidadeOs trabalhadores cristãos devem aprender a apreciar o corpo de Cristo existente na cidade.Um trabalho bem sucedido implica em se condoer pela cidade.Bons trabalhadores urbanos possuem uma paixão por evangelização profunda e genuína.O trabalhador deve construir uma credibilidade genuína para ser eficaz no ministério urbano.

CAPÍTULO VIA SOBERANA ELEIÇÃO DE DEUS

E A EVANGELIZAÇÃO

R. B. Kuiper

29 GREENWAY, Roger; Monsma, Timothy M. Cities – Mission´s New Frontier. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House. 1989. p.p. 246-260

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 Desde toda a eternidade Deus preordenou tudo o que acontece, incluindo o destino dos homens. A Bíblia chama de predestinação o decreto divino concernente a esse destino. O aspecto da predestinação mais saliente na Escritura é conhecido pelo nome de eleição. É ensinada em muitas passagens, como a de Efésios 1:4-6,11, que diz: "Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado...Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade".

Nenhum concílio de igrejas deliberou sobre este assunto tão extensamente e com tão laboriosa consideração pela Palavra de Deus como o fez o Sínodo de Dort, em 1618 e 1619. Nele, praticamente todas as igrejas reformadas - calvinistas - da Europa, estiveram representadas. Aquela corporação de teólogos chegou à seguinte conclusão: "A eleição é o imutável propósito de Deus pelo qual, antes da fundação do mundo, simplesmente por Sua graça, de acordo com o soberano beneplácito da Sua vontade, de toda a raça humana que, por sua própria culpa, caíra do seu primitivo estado de retidão no pecado e na destruição, escolheu um certo número de pessoas para a redenção em Cristo, a quem Ele, desde a eternidade, designou para ser o Mediador e a Cabeça dos eleitos e o fundamento da salvação" (Cânones de Dort I, 7). O Capítulo III da Confissão de Fé de Westminster, sem dúvida o mais amadurecido de todos os credos calvinistas, considerado por muitos como o maior credo da cristandade, não é menos explícito sobre esse tema.

Ao procurarmos relacionar com a evangelização esta fase daquilo que normalmente é denominado "a secreta vontade de Deus", convém lembrar que estamos lidando com um profundo mistério, que estamos em terra santa, onde os anjos temem pisar, que o homem finito não pode nem começar a compreender o Deus infinito, e que, portanto, temos que ser sóbrios, evitando escrupulosamente qualquer especulação humana e apoiando-nos estritamente na segura Palavra de Deus.

 1. A Amorosa Soberania da Eleição

A base da eleição não está nos escolhidos, mas em Deus. Não é verdade, como às vezes se diz, que Deus escolheu certas pessoas porque já sabia que iam crer em Cristo. Por certo Ele tinha conhecimento prévio disso, como também de tudo quanto haveria de suceder no tempo. Mas esse conhecimento prévio, ou presciência, não foi a razão da Sua escolha. A fé salvadora é um dom de Deus aos Seus eleitos. Por essa fé a eleição deles é concretizada (Efésios 2:8). Em vez de ser a base da eleição, é uma de suas conseqüências. A Bíblia afirma com clareza que Deus os escolheu "segundo o beneplácito de sua vontade" (Efésios 1:5). Isto só pode significar que Ele os escolheu soberanamente.

O caráter soberano da eleição transparece também no fato de que foi incondicional. Deus não escolheu certas pessoas para a vida eterna porque sabia que iriam crer em Cristo. Tampouco decretou que certos pecadores seriam salvos se eles cressem em Cristo. Deus decretou que certas pessoas seriam salvas mediante a fé em Cristo. Daí Paulo informou os cristãos de

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Tessalônica: "Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade" (2 Tessalonicenses 2:13). Então, a fé é um fruto da eleição, não condição. "Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-las previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições" (Confissão de Fé de Westminster III, 2).

A soberania da eleição é manifesta ainda em sua imutabilidade. Deus declarou solenemente: "O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade" (Isaías 46:10). Paulo afirma: "Aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou" (Romanos 8:30). Cada um dos eleitos de Deus tem a segurança de que chegará à glória celeste. Os teólogos de Westminster andaram bem quando afirmaram que os eleitos "são e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído (Confissão de Fé de Westminster III, 4). Do mesmo modo, agiu bem o Sínodo de Dort ao atribuir a eleição ao "imutável beneplácito" de Deus (Cânones de Dort I, 11). Deus, "em quem não pode existir variação, nem sombra de mudança" (Tiago 1:17), não altera o Seu decreto. O frágil ser humano não o pode modificar. Nem Satanás.

Ninguém vá pensar que Deus escolheu arbitrariamente certas pessoas para a salvação. Deus não faz nada arbitrariamente. Tudo o que faz, Ele o faz porque é quem Ele é. Que é, pois, que havia em Deus que o moveu, por assim dizer, a escolher certas pessoas para a vida eterna? Deus respondeu inequivocadamente essa pergunta em Sua Palavra. Escolheu-as porque as amou. Romanos 8:29 diz: "Aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho", e 1 Pedro 1:2 fala dos escolhidos de Deus como "eleitos, segundo a presciência de Deus". Nestas duas passagens é evidente que conhecimento tem aquele sentido denso, tão freqüente na Escritura; a saber, amor. Presciência, então, é amor desde a eternidade. Deus amou os Seus eleitos desde a eternidade. Por essa razão os elegeu para a vida eterna. E se se perguntar por que Deus, desde a eternidade, amou para a salvação alguns homens em distinção de outros, convém que humildemente confessemos nossa ignorância. Somente numa extensão muitíssimo limitada podemos acompanhar os pensamentos de Deus. Seus pensamentos não são os nossos pensamentos. Como os céus são mais altos do que a terra, assim os pensamentos de Deus são mais altos do que os nossos pensamentos (Isaías 55:8,9). Contudo, sabemos isto: Ninguém merecia o amor de Deus. Como todos pecaram em Adão, todos mereciam a morte - sim, a morte eterna. Todos eram "por natureza filhos da ira" (Efésios 2:3). Se Deus tivesse deixado todos os homens perecerem eternamente, todos teriam recebido o que com justiça mereciam e ninguém teria de que se queixar. Por esta razão, é uma presunção indescritível queixar-se alguém de que Deus, no Seu conselho de predestinação, escolheu uns e deixou de lado outros. Aplicam-se aqui as causticantes palavras do apóstolo: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra?" (Romanos 9:20,21). Ao invés de achar algumas culpa em Deus pelo fato de Ele tratar de maneira inteiramente justa certos pecadores merecedores do inferno, adoremo-lo

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por este eterno e gracioso amor que salva outros igualmente merecedores de condenação.

Fala-se aos cristãos que Deus os escolheu em Cristo (Efésios 1:4). Há muita discussão entre os teólogos sobre o significado exato dessa frase. Por ora, basta tirar algumas conclusões claras. Obviamente fica excluída a idéia de que Deus tenha escolhido determinados pecadores para a salvação sem referência a Cristo, e que, depois de ter feito isso, planejou a realização da salvação deles por meio de Cristo. Isso faria de Cristo um simples meio, no processo de execução do decreto de eleição. Não se nos diz que os eleitos foram escolhidos para a salvação por meio de Cristo, mas, sim, que foram escolhidos em Cristo para a salvação. É igualmente claro que a frase em Cristo não pode significar que, como Mediador entre Deus e os pecadores, Cristo, por assim dizer, induziu o Pai a escolher certos pecadores para a vida eterna. Esta interpretação contradiz João 3:16, que estabelece que Deus foi movido pelo amor aos pecadores ao enviar Seu Filho ao mundo para a realização da Sua obra mediadora. O fato de que Deus escolheu os Seus em Cristo significa necessariamente - sejam quais forem as outras verdades aí envolvidas - que no conselho da eleição Deus os viu como pertencentes a Cristo, Seu Filho amado. Em resumo, escolheu-os com base no amor com que Ele ama o Filho. Em outras palavras, a afirmação de Efésios 1:5 - "em amor nos predestinou" - é paralela à afirmação presente no versículo imediatamente anterior, e a explica; a afirmação de que Deus nos escolheu em Cristo.

2. A Eleição Requer Evangelização

Vez por outra se ouve a idéia de que a eleição torna supérflua a ação evangelizadora. Pergunta-se "Se o decreto da eleição é imutável e, portanto, torna absolutamente certa a salvação dos eleitos, que necessidade têm elas do Evangelho? Os eleitos não vão ser salvos mesmo, ouçam ou não o Evangelho?"

A premissa desse argumento é inteiramente verdadeira. A eleição divina torna a salvação dos eleitos inteiramente certa. Mas a conclusão derivada dessa premissa revela grave incompreensão da soberania divina como expressa no decreto da eleição.

Enquanto que a eleição foi feita na eternidade, não se pode perder de vista a verdade de que sua concretização é um processo que se dá no tempo, ou seja, dentro da história. Muitos fatores tomam parte nesse processo. Um deles é o Evangelho. E por sinal é um fator da maior significação.

Não se confunda a soberania de Deus com a Sua onipotência. Certamente Deus é todo-poderoso. Significativamente, o conciso Credo Apostólico se refere a este atributo de Deus, não uma, porém duas vezes. Se Deus quisesse, poderia pelo emprego da simples força levar para o Céu os eleitos, e igualmente pelo emprego da simples força lançar ao inferno os não eleitos. Mas Ele não faz nada disso. Pré-ordenação não é compulsão e a certeza não exclui a liberdade. Ninguém jamais foi convertido ao cristianismo à força. Todo verdadeiro converso volta-se para Cristo porque quer - embora seja certo que este querer é dom de Deus, transmitindo a ele por ocasião do seu novo nascimento. Deus trata os seres humanos como criaturas racionais, capazes de agir livremente. Por isso, Ele arrazoa e

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dialoga com os não salvos por meio do Evangelho. Quer "persuadir" os homens (2 Coríntios 5:11). E no caso dos eleitos, Ele aplica o Evangelho aos corações deles de maneira salvadora, mediante o Espírito Santo.

Não se vá supor que o soberano decreto de Deus só se refere aos fins, com a exclusão dos meios. Por mais ênfase que se dê, não será suficiente para expressar que Deus pré-ordenou tudo que sucede. Tudo abrange meios, bem como os fins. Para ilustrar, Deus não somente pré-determinou que dado fazendeiro colhesse este ano dez mil arrobas de trigo; pré-determinou também que colhesse aquela quantidade como resultado de muito trabalho duro. Do mesmo modo, Deus não decretou apenas que certo pecador herde a vida eterna, mas decretou que esse pecador receba a vida eterna por meio da fé em Cristo, e que obtenha a fé em Cristo por meio do Evangelho.

Não se pode imaginar a soberania de Deus como se ela eliminasse a responsabilidade dos homens. Como os mais cultos e competentes teólogos e filósofos se mostraram incapazes de conciliar a soberania divina com a responsabilidade humana perante o tribunal da razão, sempre se corre o risco de dar ênfase a uma delas em detrimento - ou mesmo com a exclusão - da outra. Mas a Bíblia ensina as duas verdades com grande ênfase. Aquele que aceita com humilde fé a Bíblia como a infalível Palavra de Deus, dará vigoroso destaque tanto a uma como à outra. Portanto, o pregador do Evangelho tem de dizer ao pecador, não apenas que a salvação é só pela graça soberana, mas também que, para ser salvo, ele precisa crer em Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Por um lado, deve pregar que os eleitos de Deus serão salvos com toda a segurança; por outro lado, deve proclamar a advertência de que aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele (João 3:36). Mesmo os eleitos precisam desta admoestação, pois faz parte integrante do método que Deus adotou para levá-los à salvação.

Agora fica assegurada uma conclusão das mais significantes. Em vez de tornar supérflua a evangelização, a eleição requer a evangelização. Todos os eleitos de Deus têm que ser salvos. Nenhum deles pode perecer. E o Evangelho é o meio pelo qual Deus lhes comunica a fé salvadora. De fato, é o único meio que Deus emprega para esse fim. "A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus" (Romanos 10:17).

Observe-se que, por paradoxal que pareça, a eleição é universal. Certamente, a eleição é a escolha de certas pessoas, dentre um maior número, para a vida eterna. Assim a eleição reflete particularismo. Contudo, num sentido real, a eleição é universal. Deus tem os Seus eleitos em todas as nações e em todas as épocas. A igreja é composta de "eleitos de toda nação", e em nenhum período da história os eleitos pereceram na terra, e jamais acontecerá isto no futuro. Deus quer que o Evangelho seja proclamado no mundo todo e em todo o tempo para que seja congregada a soma total dos eleitos. É bom repetir, pois: a eleição exige a evangelização.

A mesma verdade pode-se ver de outro ângulo. A Escritura ensina que a eleição foi feita com vistas às boas obras. Disse Paulo: "Somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2:10). E a Escritura ensina especificamente que a eleição foi feita com vistas ao testemunho. Disse Pedro: "Vós sois raça eleita...a fim de proclamardes as grandezas daquele

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que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pedro 2:9). Deus escolheu determinadas pessoas, não só para irem para o Céu quando morrerem, mas também para serem Suas testemunhas enquanto estiverem na terra. Digamos outra vez: a eleição exige a evangelização.

Eis outra conclusão igualmente significativa: a eleição assegura que a evangelização resulte em conversões genuínas. O pregador do Evangelho não tem como dizer quem em seu auditório pertence aos eleitos e quem não pertence. Mas Deus sabe. E Deus está pronto para aplicar e abençoar Sua Palavra nos corações dos Seus eleitos para a salvação. O momento preciso em que apraz a Deus fazer isso no caso de um eleito individual, não sabemos, mas é certo e seguro que o fará antes da morte da pessoa. Exatamente tão certo como todos os eleitos de Deus serão salvos, é certo que a palavra do Evangelho não tornará a Deus vazia (Isaías 55:11).

 3. A Preterição e o Oferecimento do Evangelho

A eleição tem seu reverso. Se Deus escolheu da raça humana decaída certo número para a vida eterna, é óbvio que passou outros por alto, deixando-os em seu estado de perdição e decretando sua condenação por seus pecados. Teologicamente, este aspecto da predestinação é conhecido como preterição, rejeição ou reprovação. Tem-se alegado que esta doutrina elimina o sincero e universal oferecimento do Evangelho. Se Deus decretou desde a eternidade que certos homens pereçam eternamente, dizem os oponentes, é inconcebível que Ele, dentro da história, convide sinceramente a todos, sem distinção, para a vida eterna.

Numa tentativa de refutar esse argumento, às vezes se faz a observação de que o pregador humano não tem meios de saber quem é eleito e quem não é, e que, portanto, ele não tem outro recurso senão proclamar o Evangelho a todos, indiscriminadamente. Embora válida, essa observação não atinge o ponto. A questão é se Deus, que sabe infalivelmente quais são os Seus eleitos e quais não são, faz sincero oferecimento da salvação a todos os que são alcançados pelo Evangelho.

Fato da maior importância é que a Palavra de Deus ensina inequivocadamente, tanto a reprovação divina, como a universalidade e a sinceridade do oferecimento do Evangelho. É inegável que Romanos 9:21,22 ensina a doutrina da reprovação: "Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra? Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos de ira, preparados para a perdição...?" Também a ensina 1 Pedro 2:8, onde se faz menção dos "que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram destinados". Como se demonstrou no capítulo anterior, o universal e sincero oferecimento do Evangelho é firme e certamente ensinado em Ezequiel 33:11, 2 Pedro 3:9 e em outras partes mais.

Também podemos admitir - ou melhor, tem que ser admitido - que estes ensinos não podem ser conciliados entre si pela razão humana. Tanto quanto possa interessar à lógica humana, um exclui o outro. Todavia, a aceitação de um deles com a exclusão do outro é condenada como racionalismo. A norma da verdade não é ditada pela razão humana, e sim pela infalível Palavra de Deus. A Palavra contém muitos paradoxos. O

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exemplo clássico é o da soberania divina e a responsabilidade humana. As duas doutrinas que estamos focalizando agora, também constituem um chocante paradoxo. Destruir um paradoxo bíblico pela rejeição de um dos seus elementos, é colocar a lógica humana acima da Palavra divina. Submeter a lógica humana ao logos divino faz parte da fé singela como a das crianças.

É digno de nota que, na história da igreja cristã, os teólogos que têm insistido mais na verdade da rejeição divina, são os que têm defendido também, e da maneira mais enfática, o universal e sincero oferecimento do Evangelho. Seguem alguns exemplos.

É do conhecimento geral que João Calvino ensinava a doutrina da reprovação divina. Às vezes ele assumia até a posição supralapsária, assim chamada. Quer dizer, defendia a idéia de que o decreto da predestinação precedeu logicamente os decretos da criação e da queda. No entanto, ao comentar Ezequiel 18:23, passagem paralela a Ezequiel 33:11, disse ele: "Não há nada que Deus deseja mais ardentemente do que, que aqueles que estejam perecendo e correndo para a destruição retomem o caminho da segurança". E continuou? "Se alguém objetar - bem, neste caso não há nenhuma eleição de Deus pela qual Ele tenha predestinado um número fixo para a salvação - a resposta está à mão: o profeta não fala aqui do secreto conselho de Deus, mas somente evoca aos homens em desgraça o seu desespero, para que apreendam a esperança de perdão, arrependam-se e abracem a salvação oferecida. Se alguém mais contestar - isso é fazer Deus agir com duplicidade - a resposta está preparada, que Deus sempre quer a mesma coisa, embora por diferentes meios e de modo inescrutável para nós. Portanto, embora a vontade de Deus seja simples, grande variedade a envolve, no que diz respeito aos nossos sentidos. Além disso, não é surpreendente que nossos olhos sejam cegados por luz intensa, de modo que, certamente, não podemos julgar como é que Deus quer que todos se salvem e, contudo, destinou todos os reprovados à destruição eterna, e quer que eles pereçam. Enquanto olhamos através de um vidro, obscuramente, devemos satisfazer-nos com a medida do nosso entendimento.

Os Cânones de Dort ensinam inconfundivelmente a doutrina da reprovação. Dizem eles: "O que peculiarmente tende a ilustrar e a recomendar-nos a eterna e imerecida graça da eleição é o expresso testemunho da Sagrada Escritura de que não todos, mas somente alguns são eleitos, enquanto que outros são deixados de lado no decreto eterno. A estes Deus, por seu soberano, justíssimo, irrepreensível e imutável beneplácito, decidiu deixar caídos em sua miséria comum à qual se tinham lançado voluntariamente, e não lhes dar a fé salvadora e a graça da conversão. Mas, permitindo em seu justo julgamento que sigam os seus próprios caminhos, decidiu afinal, para a manifestação da sua justiça, condená-los e puní-los para sempre, não somente por causa da incredulidade deles, mas também por todos os seus outros pecados" (I, 15). Todavia, os Cânones insistem: "Todos quantos são chamados pelo Evangelho, são chamados com sinceridade. Pois Deus declarou ardorosa e verdadeiramente em Sua Palavra o que é aceitável a Ele, a saber, que aqueles que são chamados, venham a Ele" (III, IV, 8).

Em apoio do ensinamento de Dort que transcrevemos acima, Herman Bavinck negou tanto que a fé seja a causa da eleição como que o pecado

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seja a causa da rejeição, e insistiu em que a eleição e a rejeição têm suas raízes no soberano beneplácito de Deus. Para ser exato, ele ensinou que Deus decretou soberanamente, desde a eternidade, que alguns homens escapariam da punição dos seus pecados, e outros não (Gereformeerde Dogmatick, II, 399). Mas na mesma obra clássica, aquele calvinista equilibrado afirmou também: "Embora através do chamado a salvação se torne a porção de apenas uns poucos...ele [o chamamento], não obstante, é de grande valor e significação também para aqueles que o rejeitam. Para todos, sem exceção, é prova do infinito amor de Deus, e sela a declaração de que Ele não tem prazer na morte do pecador, mas que ele se volte e viva" (IV, 7).

 4. A Apresentação da Eleição aos Não Salvos

Não se pode simplesmente suprimir a pergunta sobre que lugar, se há algum, a doutrina da eleição deve ocupar na pregação aos não salvos.

A Escritura e as confissões calvinistas dizem-nos que a verdade da eleição visa primariamente aos crentes. O propósito ao qual ela serve em benefício deles foi admiravelmente resumido nos Cânones de Dort. Dizem eles: "O senso e a certeza desta eleição comunicam aos filhos de Deus matéria adicional para a sua humilhação diária diante dEle, para adorarem a profundidade das Suas misericórdias, para se purificarem e para oferecerem gratas retribuições de ardente amor a Ele, que manifestou primeiro tão grande amor para com eles" (I, 13).

Uma velha ilustração torna bem claro o uso que não deve ser feito da doutrina da eleição ao lidarmos com pessoas não salvas. Pode-se falar da casa da salvação. Seu alicerce é o decreto divino da eleição, e sua entrada é Cristo. Ele disse: "Eu sou a porta" (João 10:9). Quando os que pela graça de Deus se acham dentro convidam os de fora a entrar, indicam para eles o alicerce ou a porta? A resposta é mais que evidente. Assim, quando o carcereiro de Filipos perguntou a Paulo e Silas o que devia fazer para salvar-se, eles não o aconselharam a que procurasse descobrir se estava na lista dos eleitos; mandaram-no crer no Senhor Jesus Cristo (Atos 16:31).

Vamos concluir que os homens devem ser mantidos na ignorância da eleição enquanto não receberem a Cristo pela fé? Naturalmente a resposta e esta pergunta deve ser negativa. Sem dúvida, a Assembléia de Westminster estava bem fundamentada ao advertir que "a doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado" (Confissão de Fé de Westminster, III, 8), mas isto não pode significar que deva ser mantida oculta dos não salvos. Muito ao contrário, eles devem ser advertidos que não torçam esta verdade e exortados a fazerem uso apropriado dela.

Especificamente, deve-se dizer a eles que a eleição dá lugar à salvação pela graça divina, que os méritos humanos estão fora de cogitação, e que, portanto, há esperança para o maioral dos pecadores; que o Deus da eleição convida com sinceridade, cordialidade e mesmo com urgência, todo pecador para a salvação; que a predestinação longe de excluir a responsabilidade humana, definidamente a inclui, de modo que todos os que ouvem a proclamação do Evangelho estão, por dever sagrado, moralmente obrigados a crer, e, não sendo Deus a causa da incredulidade

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como é a causa da fé, os que persistem na incredulidade perecem por inteira culpa deles mesmos; que o decreto da eleição não é secreto no sentido de que ninguém pode estar certo de pertencer aos eleitos, mas que, ao contrário, visto que a fé em Cristo é o fruto e também a prova da eleição, a pessoa pode ter tanta certeza de que está incluída no número dos eleitos como de que é crente em Cristo Jesus; que a casa para a qual eles são convidados tem alicerce imutável e eterno, de sorte que aquele que entra, ainda que o inferno todo ataque, não terá a mínima possibilidade de perecer, mas, com absoluta certeza herdará a vida eterna.

Capítulo VII

Curso de Evangelismo Explosivo

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Introdução: Fundado em 1962, pelo Rev. James Kennedy, pastor da Igreja Presbiteriana de Coral Ridge, Evangelismo Explosivo, até onde sei, é a única organização do gênero, presente em todos os países e territórios do mundo e, provavelmente, o maior ministério evangelístico na história do cristianismo, e - o mais importante- possui sob a graça de Deus, o potencial para evangelizar o mundo todo, a começar por sua igreja local, pela sua participação. Naquele ano de 1962, James Kennedy formou o primeiro treinador, o Sr. Victor Vieman. Uma vez treinado, eles se uniram para treinar outros. Deus operou um milagre na igreja.

Em 1967, após a Igreja de Coral Ridge ter crescido de 17 membros para 3000, começou-se a manter uma clínica de EE para pastores. Um maior desenvolvimento ocorreu quando Deus concedeu ao Dr. Kennedy a visão de expandir as clínicas além das fronteiras de Coral Ridge. Assim, em 1977, cerca de 30 clínicas com líderes treinados estavam sendo realizadas nas igrejas através dos Estados Unidos.

Em 1987 cerca de 170 clínicas se realizaram pelo mundo a fora . EE já era usado por mais de 200 denominações em mais de 10000 igrejas; e o alvo era fazê-lo se espalhar por 100 nações.

Aqui no Brasil já foram treinados cerca de 2000 pastores, 3500 leigos nas clínicas e ministérios locais, e o ministério está presente em cerca de 150 igrejas locais em pleno desenvolvimento.

A MENSAGEM DA EVANGELIZAÇÃO

Este estudo tem como objetivo ajudar você a compartilhar o Evangelho de modo prático, natural e eficiente.

I. AS DUAS PERGUNTAS DE DIAGNÓSTICO.

Como você vê um médico que dá receita sem ao menos ter feito um diagnóstico correto ? As duas perguntas de diagnóstico, quando usadas adequadamente, são as formas

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mais educadas de se entrar no relacionamento pessoal entre o evangelizando e o evangelista.

Primeira pergunta: “Você já chegou em um ponto de sua vida espiritual que pudesse afirmar com certeza que, se morresse hoje, iria para o céu?” ( I João 5:13 )

PROPÓSITO: Descobrir se a pessoa tem a vida eterna.

Segunda pergunta: “Suponhamos que você morresse hoje e comparecesse diante de Deus e Ele lhe perguntasse: Porque deveria eu permitir que você entre no céu? O que você responderia?”

PROPÓSITO: Determinar no que ou em quem a pessoa confia em termos de salvação.

Após diagnosticar o tipo de ouvinte, comece a apresentação do Evangelho.

II. A APRESENTAÇÃO DO EVANGELHO. ( Graça, Homem, Deus, Cristo e Fé )

A) A GRAÇA DE DEUS:

1) O céu é um presente - Romanos 6:23 “... mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna ...”

2) Não é ganho por obras ou merecimento. Efésios 2:8-9

Não é a mesma coisa de um estímulo ou prêmio ( se passares no exame eu te presentearei ). Embora seja gratuito, não é barato. É um presente que Deus não tem a obrigação de dar.

ILUSTRAÇÃO: Presente de um amigo.

Este ponto da apresentação do evangelho procura esclarecer ao ouvinte que nenhum esforço humano é suficiente para merecer a vida eterna.

Transição: Isto pode ser visto mais claramente quando compreendemos o que a Bíblia diz sobre o homem.

B) O HOMEM:

1) O homem é pecador. ( Romanos 3:10-18 ; Isaías 53:6 )

A maioria das pessoas sabe disso, mas não pensa que seja algo muito sério. Precisamos dizer que a pessoa é pecadora sem ofendê-la, e para isso refira-se a si mesmo, não ao ouvinte.

- defina pecado como tudo que pensamos, falamos, fazemos ou deixamos de fazer, fora da vontade de Deus.- fale de quantas vezes, em média, alguém peca por dia.- cite Mt. 5:48 para mostrar que o padrão de Deus é a perfeição. Por isso o homem não pode...

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2) O homem não pode salvar a si mesmo.

- use a ilustração do omelete com o ovo estragado.

- Tiago 2:10 “Qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar...”

Você não tem que violar cada lei existente, para ser um criminoso e ter a polícia procurando você; um único crime cometido é suficiente para ter muitos policiais atrás de nós. Um único pecado já nos torna culpados diante de Deus.

Mateus 5:48 diz: “Sede vós perfeitos”. Ser perfeito é ser suficientemente bom, e ninguém é suficientemente bom. Então se alguém que ir para o céu precisa ser por um caminho totalmente diferente.

Provérbios 14:12 “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte” ( Isaías 55:8-9 )

A salvação não pode ser pelo caminho do homem ( merecimento-obras), mas pelo caminho de Deus (graça)

Transição: Isto se torna mais nítido quando vemos o que a Bíblia diz acerca de Deus.

C) DEUS

1) Deus é misericordioso e portanto não quer nos punir. ( I João 4:8a)2) Deus é justo e portanto precisa punir o pecador.

A maioria das pessoas não sabe disso.Êxodo 34:7b “... que ao culpado não tem por inocente ...”Hebreus 1:13Ezequiel 18:4 “... a pessoa que pecar, esta morrerá”Mateus 25:46 ; Romanos 6:23 ; Atos 17:31.

ILUSTRAÇÃO: Ladrão de banco.

Precisamos deixar claro que, se os juízes humanos tem obrigação de condenar o culpado, Deus que é Santo, tem ainda mais o direito de punir os culpados que pecaram contra a santidade dEle.

Transição: Como Deus resolveu este problema? Um Deus que é amor e não deseja condenar, mas também Justo e precisa punir...

D) JESUS CRISTO:

1) Quem é Jesus? O infinito Deus-Homem ( João 1:1-14 ; 20:28 )

A maioria das pessoas não sabe disso.

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2) O que Ele fez? Morreu na cruz e ressuscitou dentre os mortos para pagar a pena por nossos pecados e para comprar um lugar nos céus para nós, o qual Ele nos oferece gratuitamente.

Importante: Muitas pessoas sabem que Jesus morreu na cruz. Poucas sabem e compreendem o significado da sua morte.

ILUSTRAÇÃO: “Livro de registro de pecados”

- leia após o uso da ilustração os seguintes textos: I Pedro 2:24 ; Isaías 53:6 e Colossenses 2:14.- esta ilustração visualiza o fato de que todos os nossos pecados foram levados na pessoa de Cristo, na cruz.- definir graça ao seu ouvinte - Romanos 6:23 ; Efésios 2:8-9

Transição: Quem recebe este presente? Todo mundo? Não. A Bíblia diz que poucos encontram o caminho da Vida e que muitos caminham para a destruição. Como podemos receber este presente?

E) A FÉ:

Pela fé recebemos o presente de Deus, a Vida eterna. A Bíblia diz: “Pela graça sois salvos, mediante a FÉ” ( Efésios 2:8 )

A fé é a chave que abre a porta do céu (usar a ilustração do chaveiro )

1) O que não é fé salvadora? ( eliminar os substitutos )

a. Mero assentimento intelectual de fatos históricos.- use pessoas históricas. ( D. PedroII, Tiradentes, etc. )- você crê em Deus não é? Os demônios também, mas não são salvos, porque têm uma fé meramente intelectual, histórica.- use Tiago 2:19 ; Mateus 8:29- mero conhecimento intelectual sobre Jesus não salva.

b. Fé temporal.Confiar em Cristo apenas para solução de problemas desta vida.

2) O que é fé salvadora?

- confiar em Cristo somente para a Vida Futura, Vida Eterna.

Os três elementos da fé salvadora:

Conhecimento (elemento intelectual); Aceitação (concordar com os fatos) ; Confiança (dependência).

. usar a ilustração da Cadeira (ilustra a natureza da fé salvadora)

- cite Atos 16:31 “Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e...”

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- usar a ilustração: Mão do mendigo (ilustra o ato de receber Cristo).use sua caneta ou outro objeto prático

. a fé é a mão do mendigo se estendendo para receber o presente da Vida Eterna.

Transição: “Tudo isto faz sentido para você?”

F) A DECISÃO

Você já terminou a apresentação do Evangelho. Agora você fará um apelo visando uma decisão. O ouvinte entendeu o Evangelho e agora você vai procurar levá-lo, conduzi-lo a um compromisso pessoal com Cristo.

Importante: A decisão é um ponto primordial da apresentação.

1. A pergunta da decisão.

“Você gostaria de receber o presente da Vida Eterna agora?”

Em caso da resposta ser afirmativa, faça-o:

a) Esclarecimento da decisão. (o que está envolvida nela)

. Transferir confiança para Cristo.

. Receber a Cristo como Salvador.

. Receber a Cristo como Senhor.

. Arrepender-se de seus pecados.

b) A oração de Decisão.

Faça uma oração em frases curtas e personalizadas, pausada em voz audível para que a pessoa possa acompanhá-la.

c) A certeza da salvação.

- mostre João 6:47 e deixe que a própria pessoa o leia.- faça as perguntas de diagnóstico novamente. Agora na ordem invertida.

DISCIPULADO: O ACOMPANHAMENTO INDISPENSÁVEL. (II TM. 2:2)

A meta do crente compromissado com a evangelização não é apenas no sentido de “Gerar Filhos” (novos convertidos), mas sim gerarmos discípulos.

Nossa responsabilidade não termina até que tenhamos feito todo o possível para integrar nossos “filhos” como membros responsáveis na igreja.

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A - O QUE FAZER NOS PRIMEIROS DIAS DA DECISÃO:

1. colocar o nome dele na lista da igreja para receber convites, boletins, etc...2. enviar uma carta amigável ao novo convertido3. manter contato através do telefone (breve e amigável)4. convidá-lo para assistir em nossa igreja5. oferecer-lhe uma carona ou combinar um ponto de encontro, para irem a igreja juntos6. oferecer-lhe algum tipo de literatura, fitas com mensagens gravadas

B - QUANDO O NOVO CRENTE ESTIVER NA IGREJA:

1. assistir o culto junto com ele, não o deixando sozinho2. ajudá-lo durante os cultos com a música, referências bíblicas, etc.3. apresentá-lo a outros membros da igreja

C - O PROGRAMA PARA O DISCIPULADO:

1. Estudo das Escrituras. Ofereça-se para estudar a Bíblia com o novo convertido2. Compartilhamento. Compartilhe suas necessidades com ele e vice-versa3. Oração mútua4. Convivência mútua. Convide a pessoa para fazer parte de sua vida passando um tempo juntos.

EVANGELISMO COMO ESTILO DE VIDA, NÃO UM PROGRAMA. (II TM. 4:1-5)

De fato a evangelização que o N.T. registra não ocorreu como resultado de algum programa organizado ou alguma campanha sofisticada, mas como um estilo de vida, no seu dia-a-dia.

Lemos em Dt. 6:7, que os israelitas receberam ordens para ensinar as verdades do amor divino, “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te”. E na Grande Comissão, Mateus 28:18-20, Jesus ordena que, enquanto estamos ocupados com nossas tarefas diárias, em qualquer situação em que nos encontramos, temos que fazer discípulos.

A - EVANGELISMO DE RELACIONAMENTOS.

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Implica em fazer uso de relacionamentos já existentes e o desenvolvimento de novos canais dos quais podemos compartilhar o evangelho.

1 - Cada ser humano é um centro de uma rede de relacionamentos.a. Por nascimento: ele faz parte de uma famíliab. Por casamento: ele tem parentesc. Por suas atividades sociais e interesses: ele tem amigosd. Por residência: ele tem vizinhose. Por trabalho: ele tem colegas

f. Por seu dia-a-dia, ele tem contato com médicos, mecânicos, balconistas, cabeleireiros, caixas etc.

2 - Exemplos do Novo Testamento:

a. Jesus na mesa com Mateus e seus amigos - Mc. 2:14-16b. André levando seu irmão, Pedro, a Jesus - João 1:40-42c. Filipe levando seu amigo, Natanael, a Cristo - João 1:45d. Pedro testemunhando a Cornélio e toda sua família - Atos 103 - Procure fazer contatos socialmente com não crentes.

Se queremos apanhar peixes, é necessário ir aonde eles estão. Parece que a igreja procura evitar todo tipo de contato com não-crentes, para não se contaminarem (isto não é sinal de maturidade)

Isolar-se e separar-se do mundo não são atitudes equivalentes (João 17:15). Jesus se relacionou com prostitutas, fariseus, leprosos, cegos, mendigos, endemoniados, etc. O mundo é nosso campo missionário.

4 - Descubra as necessidades reais das pessoas.

Lembre-se que estamos nos relacionando com pessoas, seres humanos e não máquinas, e que portanto, têm também problemas, carências, etc.

Ex. doença, desemprego, morte em família, crises diversas, etc.

Os momentos de necessidades podem ser encontros marcados por Deus.

B - EVANGELISMO OCASIONAL.

Precisamos ficar atentos às circunstâncias que se apropriam e podem ser excelentes oportunidades para introduzirmos o Evangelho numa conversa.

Tipos: “escapei por um triz”, “alguém que pede para você orar”, etc...

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Jesus Cristo é o modelo de uma conversa simples e não espiritual como trampolim para entrar no Evangelho. Ele usou água (João 4), usou pão (João 6), usou a porta (João 10) , luz (João 9), Pastor (João 10).

As ilustrações de como isto pode ser feito hoje em dia, se encontram, no nosso dia-a-dia.

- nome de pessoa (Mateus: dom de Deus)- vendendo imóveis- seguro de vida- feriados: 7 de setembro (liberdade), Natal, Páscoa, finados, etc...

ENFRENTANDO OBJEÇÕES

É natural que durante a apresentação do Evangelho surjam algumas objeções que poderão atrapalhá-lo . O que fazer quando surgem estas objeções ?

A. Atitudes Básicas ao enfrentar Objeções:

1) Evite discutir: Lembre-se que sua tarefa principal é testemunhar, não advogar. Qualquer pessoa abilidosa pode facilmente provar que está certa, mas com isso, poderá perder o “peixe”.

2) Demonstre uma atitude positiva: “Que bom que você disse isto”

3) Faça elogios sinceros: Assim você reduz a tensão do momento.

Exemplo: “Pois é João, a sua pergunta é inteligente, mas ...”

B. Métodos Básicos para Enfrentar Objeções.

1) Orar pedindo a sabedoria de Deus ( Ef. 6:12,18,19 )2) Adiantar: Ou seja, pedir permissão para responder mais tarde.3) Responder rapidamente e voltar logo ao assunto.4) Prometer verificar e retornar com a resposta.

C. Lidenando Com as Objeçõe mais Comuns

1) Não creio na Bíblia

a) Quando esta objeção é apresentada no início da conversa, pergunta-se á pessoa: “Você poderia me dizer o que a Bíblia ensina sobre a maneira como uma pessoa pode ter vida eterna?” Ela poderá dizer que não crê na vida eterna, e você dirá “Não pergunto se você crê mas o que você pensa”. Ela poderá dizer que acha ser pela guarda dos mandamentos, amar o próximo, etc.. Aí então você lhe dirá que ela está rejeitando a Bíblia sem saber o que a Bíblia diz sobre a maneira ccerta de ir aos céus. “Você me permite compartilhar com você o que de fato a Bíblia diz sobre isto ?

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b) Se esta objeção for levantada durante a apresentação do Evangelho ou no final, você deverá usar o método apologético (defesa da fé )

Profecia do Velho Testamento cumprida no Novo TestamentoIsaías 53:5,6 ( 713 A.C) Mateus 11:4-6 ( 28 D.C )Zacarias 11:12 ( 487 A.C ) Mateus 26:15 ( 30 D.C )Zacarias 12:10 ( 487 A.C ) João 19:33,36 ( 30 D.C )Salmo 22:1 Mateus 27:46 ( 30 D.C )Isaias 35:5,6 ( 713 A.C ) Mateus 11:4-6 ( 28 D.C )Isaías 50:6 ( 712 A.C ) Marcos 14:65 ( 30 A.C )Isaías 57:3 ( 710 A.C ) Mateus 26:63 ( 30 D.C )Salmo 41:9 João 13:18-21 ( 30 A.D )2) Não Acredito no Céu.

É uma objeção levantada por alguns. Pode-se usar o mesmo caminho da objeção anterior.

3) O Inferno é aqui mesmo na terra.

Mostrar que para muita gente - em razão da vida que levam de maldade e perversidade. O inferno para elas é esta vida. Mas o pior é que isto é apenas um “sinal”.

Ilustração: amostra de um tecido de sofá. ( A peça toda está esperando você quando você morrer )

4. O inferno não existe.

As pessoas que fazem esta afirmação em geral têm medo que de fato este lugar exista.. Você dirá : “ Eu creio na existência do inferno, mas tenho certeza de que não vou para lá quando morrer. Gostaria de compartilhar com você como tembém pode ter certeza de que ao morrrer não vai para lá.”

5) Mais tarde eu tomarei esta decisão.

Usar a ilustração do “carro parado na linha de trem”. Enquanto você pensa que tem duas opções, não vai impedir a chegada do trem que está vindo. Assim é a nossa vida. Enquanto estamos decidindo, mais e mais o fim se aproxima e ninguém sabe quando ele será. A eternidade está diante de nós, quer queiramos ou não ! O certo é crer agora.

6. A Salvação é pela fé e pelas obras.

Apresentar a ilustração de um abismo de mil metros a ser atravessado por uma corda de 40 metros. Porém nós só temos 20 metros de corda e alguém diz: “Bem, eu tenho 20 metros de linha; vamos amarrar a linha na corda e então atravessaremos”. Isto é uma tolice não é mesmo ? Mesmo que fossem apenas 15, 10, 5 metros de linha ninguém seria tão tolo para tentar ! A corda representa a fé em Cristo Jesus e a linha representa as obras. Não podemos fazer nada para nos salvar a não ser confiar em Cristo Jesus ( Ef 2:8,9 )

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7. Deus é Bom e vai Salvar a todos.

Use Mateus 25:41,46. Embora Deus deseje salvar a todos, nem todos vão se arrepender e crer em Jesus. ( Deus é amor, mas também é justo)

8) E a Reencarnação.

É preciso mostrar com muito amor ás pessoas que nenhum de nós tem condições de conseguir o perdão de Deus para os nossos pecados através de boas obras ou reencarnação ( que na verdade não existe, como mostra Hebreus 9:27-28 )

CONCLUSÃO: Amados irmãos, nós somos um povo de propriedade exclusiva de Deus, e Ele fez uma obra maravilhosa em nossa vida: Tirou-nos das trevas e transportou-nos para sua maravilhosa luz (I Pedro 2:9). Eu e você temos agora uma missão no mundo, uma responsabilidade e por que não, um privilégio, que é a de proclamar as virtudes do nosso grande Deus.

A Ele somente cabe salvar o pecador. A nós, capacitados pelo seu Espírito Santo, pregar, clamar, interceder e ser testemunhas fiéis do Senhor Jesus Cristo. Amém.

ESBOÇO ABREVIADO DO EVANGELHO

As Duas Perguntas de Diagnóstico.:

1. Você já chegou em um ponto de sua vida espiritual que pudesse afirmar com certeza que, se morresse hoje, iria para o céu ? . I João 5:13

2. Suponhamos que você morresse hoje, e chegasse diante de Deus no céu e ele lhe perguntasse: Qual a razão que eu tenho para deixar você entrar no meu céu ? O que você responderia ?

. Repetir a resposta da pessoa.

O EVANGELHO:

a) A Graça1. O céu é um presente - Romanos 6:232. Não é ganho por obras - Efésios 2:8-9

Ilustração: Presente de um amigotransição: Isto pode ser visto mais claramente quando compreendemos o que a Bíblia diz sobre o homem.

b) O Homem1. É pecador - Romanos 3:232. Não pode salvar-se a si próprio - Mateus 5:48 - Tiago 2:10ilustração: Omelete de ovos estragados

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transição: Isto pode se tornar mais claro quando olhamos para a Bíblia e descobrimos o que ela nos ensina sobre Deus.

c) Deus1. É misericordioso - I João 4:8b (não quer punir o homem)2. É justo, portanto precisa punir o pecador. Êxodo 34:7b; Isaías 53:6ilustração: “Ladrão de banco”transição: Como Deus resolveu este dilema ?

d) Cristo1. Quem Ele é? (Infinito Deus-homem) - João 1:1-14 2. O que Ele fez? (Morreu na cruz, e...)ilustração: “Livro de registro de pecados”transição: Como se recebe este presente ?

e) Fé1. O que não é fé salvadora?- mero assentimento intelectual - Tiago 2:19- mera fé temporal2. O que é fé salvadora? (confiar somente em Cristo) Atos 16:31ilustração: Cadeira

A DECISÃO:

a) Pergunta qualificadora: Isto faz sentido para você?b) Pergunta de decisão: Você gostaria de receber o presente da vida eterna? c) Esclarecimento da decisão

1. Transferir confiança2. Receber a Cristo como Salvador3. Receber a Cristo como Senhor4. Arrependimento de pecados

d) Oração de decisão1. oração em frases curtas e personalizadas

e) Certeza de salvação1. ler João 6:47

DICAS PRÁTICAS NA VISITAÇÃO

1. Não leve Bíblia grande em sua visita.2. Não mencione as referências quando citar a Bíblia3. Cite somente a parte do versículo que lhe interesse4. Evite perguntas complicadas que causam confusão5. Peça sempre permissão para fazer perguntas6. Peça a opinião da pessoa

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7. Seja modesto ao falar de sua igreja, e não critique outras denominações8. Não critique a religião da pessoa seja qual for.9. Sorria quando fixer a pergunta de decisão10. Torne agradável sua saída.11. Verifique sua aparência e sua maneira de se vestir.12. Certifique-se se você tem mau hálito13. Não ore ao chegar á porta da casa

Apostila preparada pelo Rev. Gildásio Jesus Barbosa dos Reis, extraído e adaptado do livro Evangelismo Explosivo, de autoria de James Kennedy – JUERP . Esta apostila foi utilizada na Disciplina de Evangelização do Seminário Teológico “Rev. José Manoel da Conceição” - SP

Bibliografia:

1. Jerram Barrs, A Essência da Evangelização. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã. 2004. 2. Ariovaldo Ramos, Ação da Igreja na Cidade, Ed. Sepal, SP-SP, 1995. 3. R.B. Kuiper. Evangelização Teocêntrica. São Paulo, SP: Editora PES. 19764. Gilson Carlos de S. Santos, Fidelidade na Evagelização, Fé para Hoje (periódico5. J.I.Packer, Evangelização e Soberania de Deus, Vida Nova6. Joseph Alleine, Um guia seguro para o céu, Ed. Vida Nova, SP-SP,

1977. 7. Joseph C Aldrich., Amizade - a chave para a Evangelização, Ed. Vida

Nova, São Paulo 8. Lausane, Evangelização e Resposnabilidade Social.9. Michael Green, Evangelização na Igreja Primitiva, Vida Nova 10. Owen Thomas, 4 Dimensões da Evangelização, Pes11. Ravi Zacarias, Evangelismo e o Novo Milênio (barreiras da mente e

anseios do coração) – Artigo.12. Russel Shedd, Fundamentos Bíblicos da Evangelização, Vida Nova13. Spurgeon, C.H., O Conquistador de Almas, P.E.S. Editoras, SP-SP, 1978. 14. William Smith & Solano Portela, Fazendo a Igreja Crescer, Os Puritanos15. Charles Van Engen , Povo Missionário, Povo de Deus, Vida Nova16. Horton, Michael, Religião de Poder, Ed. Cultura Cristã ( São Paulo: 1998 )17. Maia, Herminstein, Breve Teologia da Evangelização , Ed. PES

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