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1 HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS Autoria: 1º Ten Sílvio

Apostila de História - Ten Silvio (1)

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HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS

Autoria: 1º Ten Sílvio

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SUMÁRIO

PARTE I O DOMÍNIO DO FOGO CAPÍTULO I O CONTROLE DO FOGO PELO HOMEM: OS PRIMÓRDIOS DESTA RELAÇÃO DE AMOR E ÓDIO 1. Pré-História 1.1. Paleolítico Inferior 1.2. Paleolítico Médio 1.3. Mudanças no Comportamento 1.4. Neolítico 1.5. Idade dos Metais (Bronze e Ferro) PARTE II HISTÓRIA DO COMBATE A INCÊNDIOS NO MUNDO CAPÍTULO II ANTIGUIDADE 2. Civilizações Antigas 2.1 O combate e a prevenção a incêndios começam a surgir 2.1.1 Primeiros Indício de Prevenção e Combate 2.2 Roma - O embrião dos Corpos de Bombeiros: Os Vigiles 2.2.1 O Grande Incêndio de Roma 2.2.2 A Lenda de São Floriano CAPÍTULO III EUROPA 3. Idade Média 3.1 Outro grande incêndio marca a história 3.2 Início do progresso no Combate a Incêndio na Europa CAPÍTULO IV AMÉRICA DO NORTE – EUA 4. O fogo ataca a colônia 4.1 A Primeira Bombeiro Feminina da História 4.2 O Grande Incêndio de Chicago CAPÍTULO V O CAMINHO RUMO À MODERNIDADE 5.1 A França inicia a marcha para a modernidade 5.2 Estados Unidos da América 5.3 Reino Unido 5.4 Combate a incêndio nos dias de hoje PARTE III HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DOS EQUIPAMENTOS CAPÍTULO VI A ENGENHOSIDADE NA LUTA CONTRA O FOGO 6.1 BOMBAS D’ÁGUA E VIATURAS 6.2 MANGUEIRAS 6.3 APARELHOS RESPIRATÓRIOS 6.4 CAPACETES 6.5 ALARMES 6.6 ESCADAS 6.7 ROUPAS DE PROTEÇÃO 6.8 EXTINTORES DE INCÊNDIO CAPÍTULO VII BREVE HISTÓRIA DOS PRIMEIROS-SOCORROS 7. Os primeiros “primeiros-socorros”.

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PARTE IV HISTÓRIA DO COMBATE A INCÊNDIOS NO BRASIL CAPÍTULO VIII PRIMEIRO CORPO DE BOMBEIROS NO BRASIL 8.1 Fatos que Antecederam a criação do Corpo de Bombeiros 8.2 Dom Pedro II Cria o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte 8.2.1 Primeiras Medidas 8.2.2 Primeiro Relatório de Incêndio 8.2.3 Militarização 8.2.4 Histórico Imperial 8.3 Corpos de Bombeiros pelo Brasil 8.4 Fatos Históricos 8.4.1 Marcha Rio-Brasília 8.4.2 Incêndio no Gran Circus Norte-Americano 8.4.3 Incêndio no Edifício Andraus 8.4.4 Incêndio no Edifício Joelma CAPÍTULO IX HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS 9.1 Fatos que Antecederam a criação do CBMMG 9.2 A criação da Seção de Bombeiros e as primeiras duas décadas (1911 a 1929). 9.2.1 Rebaixamento e apoio à instrução e aparelhamento pela Capital. 9.2.2 Participação na Revolução de 1924 9.2.3 Elevação à Companhia 9.3 Iniciam as expansões e a descentralização do Corpo de Bombeiros (1930-1960) 9.3.1 Participação dos Bombeiros na Revolução de 1930 9.3.2 A descentralização e a expansão da Companhia de Bombeiros 9.3.3 O surgimento da prevenção aos incêndios 9.3.4 Ocorrências e fatos memoráveis da década de 1950 9.4 A ditadura militar, o retorno a democracia e a desvinculação da Polícia Militar (1960 a 1998) 9.4.1 O Corpo de Bombeiros no regime militar 9.4.2 Anos de 1970, Foco: Prevenção 9.4.3 A Implantação do Sistema Resgate – ampliação de responsabilidades 9.5 O Movimento Grevista na PMMG e a emancipação do CBMMG 9.6 Caminhando “com as próprias pernas” – novas responsabilidades REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PARTE I

O DOMÍNIO DO FOGO

CAPÍTULO I

O CONTROLE DO FOGO PELO HOMEM:

OS PRIMÓRDIOS DESTA RELAÇÃO

DE AMOR E ÓDIO

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1. Pré-História

Pré-história corresponde ao período da história humana que antecede a invenção da escrita (evento que marca o começo dos tempos históricos registrados), que ocorreu aproximadamente entre 3500AC e 4000 AC em diferentes civilizações. Este período é reconstituído e estudado por meio da antropologia, da arqueologia e da paleontologia.

A Pré-História também pode ser contextualizada para um determinado povo ou nação como o período da história desse povo ou nação sobre o qual não haja documentos escritos.

A Pré-História é dividida para fins pedagógicos em períodos distintos, os quais são Paleolítico (Inferior, Médio e Superior, popularmente conhecida como Idade da Pedra Lascada), Mesolítico (Idade da Pedra Intermediária), Neolítico (Idade da Pedra Polida) e Idade dos Metais (Cobre, Bronze e Ferro). De um modo geral, nas Idades das Pedras (Lascada, Intermediária e Polida) o gênero humano é conhecido como “homem das cavernas”, por motivos óbvios. Será no decorrer do Neolítico, com o advento da agricultura, que o homem abandonará as cavernas e o modo nômade de vida e construirá suas primeiras moradias fixas.

O domínio do fogo pelos primeiros seres humanos foi um ponto de virada na evolução cultural da história humana que permitiu a ele se proliferar ao cozinhar seus alimentos, além de encontrar calor e proteção. O domínio do fogo é tido como bem anterior às técnicas desenvolvidas para produção do fogo.

O fogo ocorre naturalmente como resultado de atividade vulcânica, meteoritos, e raios. Muitos animais eram cientes do fogo e adaptavam seu comportamento em conformidade a ele. Mesmo as plantas se adaptaram à ocorrência natural do fogo. Assim, os humanos conheceram o fogo, e posteriormente seus benefícios, muito antes de adquirirem a habilidade de produzi-lo. Em face disso, a primeira e mais fácil maneira de se conseguir fogo teria sido o uso de brasa ou madeira incendiada de uma floresta ou grama, e, então, manter o fogo ou carvão acesos pelo máximo de tempo possível adicionando mais madeira e material vegetal quantas vezes fosse necessário a cada dia.

Evidências indiscutíveis de domínio do fogo em larga escala são datadas a aproximadamente 125.000 anos atrás e após. Evidências de que o uso controlado do fogo pelo Homo erectus começou por volta de 400.000 anos atrás tem boa aceitação acadêmica, enquanto alegações apontando evidências anteriores são geralmente dispensadas por serem inconclusivas ou imprecisas.

Alegações de evidências do controle do fogo pelo homem por membros do gênero Homo abrangem, como veremos, um intervalo de 0,2 a 1,7 milhões de anos atrás, boa parte delas ainda está em estudo.

1.1. Paleolítico Inferior (de 2,5 milhões até 300 mil anos AC)

Todas as evidências de domínio do fogo neste período são incertas e tem, no máximo, limitado apoio acadêmico. Na realidade, evidências definitivas de uso controlado

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do fogo são um dos fatores que caracterizam a transição do Paleolítico Inferior para o Médio entre 400 mil e 200 mil anos AC.

Sítios arqueológicos na África, Israel, China e Indonésia alegam possuir evidências de uso controlado do fogo pelo homem (erectus e/ou ergaster) no Paleolítico inferior. Na África, a maioria das evidências são fragmentos de argila e sedimentos que teriam sido aquecidos, tufos soldados (rocha de baixa densidade, geralmente formada por detritos vulcânicos), uma depressão que possivelmente indicaria uma lareira e carvão vegetal microscópico.

Em Israel há alegação de que está demonstrado o uso do fogo pelo H. erectus ou H. ergaster entre 790 mil e 690 mil anos AC. Os arqueólogos encontraram vários instrumentos de pedra que pertencem à tradição acheuliana, alguns deles estavam queimados e pareciam estar propositadamente agrupados.

Na China, as evidências são a descoloração de ossos de mamíferos datados em 1,7 milhões de anos atrás.

Na ilha de Java, Indonesia, ossos similares aos da China além de depósitos de carvão vegetal foram encontrados juntos de fósseis de H. erectus datados entre 500 mil e 830 mil anos AC.

1.2. Paleolítico Médio (300 mil até 40 - 30 mil anos atrás)

Evidências definitivas de uso do fogo pelo homem foram encontradas na África do Sul em Swartkrans e diversos outros sítios. Vários ossos queimados foram encontrados entre ferramentas acheulianas, ferramentas feitas de osso e os ossos com marcas de corte infligido por humanos. O sítio de Swartkrans traz ainda as primeiras evidências do consumo de carne pelo homem. Alguns sítios datam evidências entre 200 e 700 mil anos AC. Outros entre 58 e 200 mil anos AC.

A evidência mais forte vem das Cachoeiras de Kalambo na Zâmbia onde vários artefatos relacionados ao uso do fogo pelos humanos foram recuperados, incluindo toras carbonizadas, carvão vegetal, áreas avermelhadas, grama, caules e plantas carbonizadas e implementos de madeira que podem ter sido endurecidos pelo fogo. Foram datados entre 61 mil e 110 mil anos AC.

O fogo foi usado para o tratamento térmico de silcrete (tipo de rocha) para aumentar a sua viabilidade antes de serem trabalhadas em ferramentas do tipo Stillbay (nome originário do sítio arqueológico na África do sul). Este e outros sítios datam estas ferramentas entre 72 e 164 mil anos AC.

Na Ásia também foram encontradas evidências similares as da África, na China e em Tel-Aviv com datas também aproximadas, entre 200 e 348 mil e 230 e 460 mil anos AC.

Vários sítios na Europa também tem encontrado evidências de uso do fogo pelo H. erectus. O mais antigo foi encontrado em Vértesszőlős, na Hungria, onde há evidência de ossos queimados, mas nenhuma de carvão vegetal. Em Torralba e Ambrona, Espanha, carvão e madeira queimada juntos a ferramentas de pedra acheuliana foram datados entre 300 e 500 mil anos AC.

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Em Saint-Estève-Janson na França, há evidências de cinco fornos e terra avermelhada na caverna Escale. Estas lareiras foram datadas em 200 mil anos AC.

1.3 Mudanças no comportamento

O uso do fogo e da luz que o acompanha provocou uma mudança importante no comportamento dos seres humanos. Sua atividade não estava mais restrita ao dia. Além disso, alguns mamíferos e insetos evitavam o fogo e a fumaça, o que em consequência garantia proteção e conforto. O fogo também proporcionou melhoras na dieta do homem através do consumo de proteínas cozidas dentre outros alimentos e ao eliminar microorganismos e parasitas presentes nos alimentos.

Richard Wrangham da Universidade de Harvard alega que a expansão do cérebro humano se inicou com o consumo de alimentos à base de amido cozidos, cujos carboidratos complexos ficavam de mais fácil digestão, o que permitia uma maior absorção de calorias, principal combustível de um cérebro complexo.

Porém, outros antropólogos e arqueologistas o contrapoem, pelo fato de a expansão do cérebro humano ter se dado antes da utilização do fogo pelo homem, que é estimada por volta de 250 mil anos AC. O próprio Homo sapiens surgiu por volta de 200 mil anos AC. A corrente principal defendida é que essa expansão se deu com o início do consumo de carne pelo homem, ainda na forma crua, no lugar de nozes e raízes.

Nos períodos Paleolítoco Superior e Mesolítico, a utilidade do fogo permaneceu praticamente a mesma. Evidências diretas de produção do fogo nestes períodos são difíceis de definir, uma vez que os materiais possivelmente utilizados eram de fácil decomposição bem como se misturariam facilmente aos restos comuns de fogueiras ou incêndios, tornando difícil sua identificação.

1.4. Neolítico

Neolítico ou Idade da Pedra Polida foi um período de desenvolvimento social e tecnológico primitivo, em direção ao fim da Idade da Pedra. Iniciando por volta do décimo milênio AC (~12 mil AC) e terminando por volta de 6 mil AC, ele marcou o fim dos povos nômades e o inicio da sedentarização do Homo sapiens. O período Neolítico viu o surgimento das primeiras vilas, da agricultura, da domesticação de animais, de numerosas ferramentas e o surgimento dos primeiros incidentes registrados de guerra.

Estudos recentes dos povos primitivos indicam que a produção do fogo pelo homem só aconteceu no período neolítico, cerca de 7 mil anos AC. O homem descobriu uma forma de produzir as primeiras faíscas, por meio do atrito de pedaços de madeira seca e pedras.

Para reproduzir o fenômeno, tentou diferentes tipos de pedras, até se decidir pelas melhores, como o sílex e as piritas. Utensílios foram criados com esta finalidade, sendo que, um dos primeiros, foi uma pequena vareta de madeira, que era girada rapidamente entre a palma das mãos, enquanto era pressionada numa soleira plana de madeira. Mais tarde, as puas de arco e corda foram usadas para fazer girar mais rapidamente a vareta, fazendo com que o fogo pegasse mais depressa.

Pedras para produção de faísca do Neolítico são as primeiras evidências da produção do fogo pelo homem, ao invés apenas do controle.

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Estudando este período da pré-história, o arqueólogo inglês Gordon Childe cunhou o termo Revolução Neolítica, em face das profundas mudanças no modo de vida do homem.

Por volta de 6.000 AC, alguns grupos humanos descobriram a técnica de produção de cerâmica pelo aquecimento da argila. Na mesma época aprenderam a converter fibras naturais em fios e estes em tecidos. Aos poucos começaram a trabalhar com metais para produzir instrumentos. Os indivíduos que trabalhavam com cerâmica, metais e tecelagem tornaram-se artesãos. Eram os primeiros sinais de uma divisão social do trabalho (antes apenas entre homens e mulheres).

A diversidade na produção, a especialização do trabalho e as novas funções na sociedade contribuíram para que algumas comunidades de agricultores se transformassem em vilas e cidades, constituindo o que alguns historiadores chamaram de Revolução Urbana. O advento da agricultura direcionou esses povos para próximo de rios e vales.

1.5. Idade dos Metais (Bronze e Ferro)

Este período abrange os dois últimos milênios que antecedem o aparecimento da escrita, ocorrido por volta de 3500 a 4000 AC. Geralmente é dividido em Idade do Cobre, Idade do Bronze e Idade do Ferro, sendo que alguns historiadores não separam a Idade do Cobre e a do Bronze.

Metais como ouro e cobre já eram conhecidos e utilizados pelo homem em sua forma natural a cerca de 10 mil atrás.

Provavelmente, a primeira produção de metal foi obtida acidentalmente ao se colocar certos minérios de estanho ou de chumbo numa fogueira. O calor de uma fogueira (cerca de 200° C) e o carvão são suficientes para derreter e purificar estes minérios, produzindo um pouco de metal. Depois, o estanho e chumbo também podiam ser derretidos e moldados numa fogueira comum. As primeiras contas de chumbo conhecidas atualmente foram encontradas em Catalhuyuk, na Anatólia (atual Turquia), tendo sido datadas de 6500 a.C.

O ser humano começava a dominar, ainda que de maneira rudimentar, a técnica da fundição, inicialmente em fogueiras, depois em fornos destinados a cerâmica. A princípio, utilizou como matérias primas o cobre, o estanho e o bronze (uma liga de estanho e cobre), metais cuja fusão é mais fácil. Com o uso de forjas e foles, a metalurgia melhorou e se diversificou, atingindo o ferro, um dos metais que necessita de técnicas mais aprimoradas para ser aproveitado, pois requer uma temperatura muito elevada para a sua fusão. O ferro era usado principalmente para a fabricação de armas e era produzido em fornos próprios feitos de barro.

Neste período, as aldeias agrícolas crescem e dão lugar aos centros urbanos com vários melhoramentos. Vão surgindo cidades-estados e pequenos reinos com poder centralizado.

Surgem novas armas, mais poderosas, o que permitiu a alguns reinos dominarem outros pela guerra, formando-se assim os primeiros impérios com a presença de escravos, surgidos no fim da Idade do Bronze no Egito e na Mesopotânia.

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A agricultura tomou impulso com novas técnicas (drenagem e irrigação) e novos instrumentos. Aparece o comércio (à base de trocas) e a navegação progride com barcos a vela.

Ao final da Idade dos Metais, por volta de 4000 AC,com o aparecimento da escrita, dá-se a passagem da Pré-História para a História propriamente dita. Os historiadores aceitam como certo o aparecimento da escrita na Mesopotâmia e no Egito.

Em toda a pré-história observa-se que a relação do homem com o fogo é de puro amor. O fogo, até então, só trouxe benefícios e desenvolvimento para a espécie humana. Obviamente, o homem conhecia seu poder de destruição, na verdade se valia dele para afugentar animais, por exemplo. Porém, é com o início da urbanização e do desenvolvimento da arquitetura complexa é que o homem conhecerá o lado ruim da relação com esse elemento.

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PARTE II

HISTÓRIA DO COMBATE A INCÊNDIOS NO MUNDO

CAPÍTULO II

ANTIGUIDADE

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2. Civilizações Antigas

No caso da Europa e do Oriente Próximo, diversos povos se desenvolveram na Idade Antiga. Os sumérios, na Mesopotânia (região entre os vales dos rios Tigre e Eufrates), foram a civilização que originou a escrita e a urbanização, mais ou menos ao mesmo tempo em que surgia a civilização egípcia. Depois disso, já no I milênio AC, os persas (atual Irã) foram os primeiros a constituir um grande império, que foi posteriormente conquistado por Alexandre, o Grande, da Macedônia. As civilizações clássicas da Grécia e de Roma são consideradas as maiores formadoras da civilização ocidental atual. Destacam-se também os hebreus (primeira civilização monoteísta), os fenícios, senhores do mar e do comércio e inventores do alfabeto (localizados onde hoje estão Líbano, Síria e Israel), além dos celtas (Europa), etruscos (Península Itálica) e outros.

2.1 A prevenção e o combate a incêndios começam a surgir

Desde o período Neolítico e principalmente durante a Idade dos Metais as primeiras cidades e reinos foram surgindo.

Na antiguidade as cidades, reinos e impérios já estão estabelecidos, criando os primeiros ambientes urbanos da humanidade. As construções eram a base, principalmente, de tijolos unidos com argamassa (lama e barro e/ou areia) e madeira e também, onde haviam em maior abundância, rochas sólidas. O cimento e o concreto primitivos só seriam criados no império romano.

O homem ainda não se preocupava em guardar distâncias entre as casas e edificações, pelo contrário, as construía próximas umas das outras.

Uma das mais antigas cidades do mundo é Çatal Huyuk. Ela foi descoberta em escavações no centro sul da Turquia, no Oriente Médio. As casas dessa cidade eram feitas de tijolos e construídas uma ao lado da outra, sem espaço de circulação entre elas. O acesso às casas era feito por aberturas nos telhados, e os habitantes circulavam de um lugar a outro caminhando sobre as casas. Sua existência é estimada de 12 até 7 mil anos atrás.

Já dominando a produção e o uso do fogo, o homem o leva consigo para as cidades. Sabe-se que restos de velas antigas foram encontrados em escavações na Grécia e Egito. Esses restos foram datados em cerca de 3 mil aC. Mas, somente com o surgimento do Império Romano que os cientistas começaram a encontrar evidências do desenvolvimento de velas como conhecemos hoje.

Para manutenção do fogo, além do principal combustível, a madeira, o homem utilizava diversos óleos. Os óleos utilizados pelas antigas civilizações eram o de oliva e gergelim na bacia do Mediterrâneo, canola e gordura animal na Europa e óleo de coco (óleo de copra) nos trópicos.

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Registros históricos da utilização do petróleo remontam a 4 mil aC devido a exsudações e afloramentos freqüentes no Oriente Médio. Os povos da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia e da Judéia já utilizavam o betume para pavimentação de estradas, calafetação de grandes construções, aquecimento e iluminação de casas, bem como lubrificantes e até laxativo. Os chineses já perfuravam poços, usando hastes de bambu, no mínimo em 347 AC. No início da era cristã, os árabes já davam ao petróleo fins bélicos e de iluminação.

Com a urbanização e aglomeração de casas, o aumento do tamanho e complexidade das edificações, o uso abundante de tecidos, combustíveis e madeira, a relação do homem com o fogo, antes de puro amor, conhece o ódio e o tormento através do poder de destruição do fogo quando descontrolado.

Assim começa a história do combate a incêndios. Ela remonta pelo menos ao Egito Antigo, onde registros históricos indicam que bombas manuais podem ter sido empregadas para extinguir incêndios.

2.1.1 Primeiros Indícios de Prevenção e Combate

Por volta de 1700 AC, a mais antiga lei escrita conhecida que tratava, dentre outros vários assuntos, sobre incêndios pode ser encontrada na Babilônia. O Código de Hamurabi tratava sobre a construção de casas, orientando, dentre outras condições, para distância entre as casas, larguras das paredes, bem como para medidas corretivas e punitivas em caso de incêndios, tanto para os construtores e saqueadores quanto para os incendiários.

Aproximadamente em 850 AC é criada a mais antiga representação artística de um incêndio conhecida, que está em uma parede em um palácio em Nínive, antiga capital do império Assírio (atual Síria): Um guerreiro assírio tenta, com uma bacia grande, apagar o fogo em sua carruagem.

Ctesibius de Alexandria, no Egito, inventou a primeira bomba a pistão por volta de 250 AC, mas não há evidências indiscutíveis dela ter sido utilizada no combate a incêndios naquele tempo, apesar de haver forte suspeita de que teria.

Em uma de suas várias guerras, próximo do ano 86 aC, Arquelau, General do rei Mitrídates VI (também chamado Eupátor Dionisio (132-63): Rei de Ponto (120-63) reino de origem Persa e Grega, situado na atual Turquia) criou uma muralha de proteção de madeira coberta com alumen (principal componente da pedra-ume), que supostamente atingiu resistência praticamente completa ao fogo.

2.2 Roma Antiga - O embrião dos Corpos de Bombeiros: Os Vigiles

Na Roma antiga, antes mesmo da formação das brigadas particulares, haviam oficiais da república que compunham comissões especiais de serviço administrativo composta por três homens, os chamados Triumviri Capitales ou Tresviri Nocturni, estabelecidos por volta de 290-287 AC. Esses oficiais tinham dentre uma de suas atribuições a prevenção e alarme de incêndios e o combate a incêndios.

A primeira brigada de incêndio de que temos alguma história substancial foi criada por Marcus Licinius Crassus. Marcus nasceu em uma rica família romana por volta

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do ano 155 AC e adquiriu uma enorme fortuna através (nas palavras de Plutarco) de "fogo e rapinagem”.

Um de seus esquemas mais lucrativos se aproveitou do fato de que Roma não possuía uma brigada de incêndio. Crassus preencheu esta lacuna criando sua própria brigada – 500 homens fortes, geralmente ex-escravos ou escravos – que corriam até as edificações em chamas ao primeiro grito de alarme. Ao chegar ao local do sinistro, entretanto, os “bombeiros” nada faziam até que seu empregador barganhasse o preço de seus serviços com o aflito dono da propriedade. Se Crassus não negociasse um preço satisfatório, seus homens simplesmente deixavam a estrutura queimar até o chão, após o que ele se oferecia para comprar a propriedade por uma fração de seu valor.

A segunda brigada de incêndio romana foi baseada na experiência de Crassus e consistia em um grupo de escravos comprados por um Edil (Oficial da República Romana responsável pela manutenção das edificações, regulação de festivais e também garantir a Ordem Pública), Marcus Egnatius Rufus, que iniciou sua atuação com o aval do Imperador Augustus, por volta do ano 22 AC.

O imperador romano Augustus, contemporâneo de Rufus, a quem, inclusive, acusou de conspiração contra si posteriormente, após um grande incêndio, criou os Vigiles no ano 6 DC especialmente para combate a incêndios.

Roma foi dividida em 14 regiões e os Vigiles em 07 grupos, sendo cada grupo responsável por duas regiões, tendo seu quartel montado na fronteira entre as duas regiões.

Os grupos eram formados por cerca de 140 homens sob comando de um Comandante, o Prsefectus Vigilum. Ele possuía como assistentes e integrantes do grupo 03 "Subpraef ecti" (Tenentes), 07 "Tribunes“ (Atribuída a oficiais de média graduação), 49 “Centurions” (Comandantes de 83 homens) e um grande número de “Principales” (graduação dada àqueles que tinham missão específica dentre os componentes das fileiras intermediárias entre oficiais e soldados).

Dentre os “Principales” haviam os “Librarii” (processavam os pagamentos), os “Bucinatores” (Portadores de insígnia), os “aquarii” (carregador de água), o "siphonarii" (bombeiro ou combatente), o centonarii (equipado com cobertores molhados para protegerem casas vizinhas ou abafar o fogo), os "sebaciarii" (que eram responsáveis pela iluminação) e os "Mitularii”, todos tinham os serviços pagos de acordo com o modo de combate.

Haviam ainda quatro médicos em cada grupo. Por fim, o "Questionarius,” aplicavam tortura nos suspeitos de serem os incendiários.

Os Grupos ficavam em barracas denominadas “Castra” que ficavam na fronteira entre as duas regiões;

Há um quartel parcialmente conservado em St. Grisogone em Trastavere. Seu Átrio ou Hall de entrada tem mosaicos em preto e branco representando objetos marinhos com uma bela fonte num hexágono no meio. Na lateral do prédio há bancos e, próximo a estes, desenhos que sugerem que nas horas vagas os bombeiros gostavam de fazer caricaturas dos colegas.

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No lado oposto da entrada, um banheiro espaçoso, dando a impressão que mesmo naqueles tempos, as necessidades dos homens já eram consideradas.

Modus Operandi dos Vigiles: O Prsefectus Vigilum comparecia ao local assumindo comando e afastando

curiosos. A água era levada em “Hamae”, vasos leves, pelos “aquarii”, que também

procuravam outras fontes de água mais próximas pelo método de corrente humana ou corrente de baldes.

A água era lançada diretamente ao fogo ou por meio de bombas manuais pelos “siphonarii”.

Os vigiles estavam equipados com diversa ferramentas como martelos, serras, picaretas, escadas, mangueiras de couros primitivas e também um grande travesseiro para resgate das pessoas que pulavam das edificações em chamas.

Os “centonarii “ eram encarregados do isolamento dos prédios adjacentes ou próximos.

O serviço consistia principalmente em uso de técnica de corrente humana (filas duplas de homens com baldes), dentre essas outras ações. Os bombeiros utilizavam bombas manuais, bem como bastões (similares a lanças), machados, ganchos, serrotes e até balistas para derrubar construções à frente das chamas para impedir que o incêndio se alastrasse. Os Vigiles patrulhavam as ruas de Roma para localizar incêndios e integravam a força militar, porém era um grupo exclusivo para combate a incêndios.

As brigadas de incêndio posteriores consistiam em centenas de homens, todos prontos para agir. Quando ocorria um incêndio, os homens se alinhavam à frente da fonte de água mais próxima e passavam baldes de mão em mão até o incêndio.

2.2.1 O Grande Incêndio de Roma

Roma sofreu um bom número de incêndios significantes, o mais notável deles foi o incêndio que se iniciou no Circus Maximus em 18 de julho de 64 DC e devastou dois terços de Roma, conhecido como Grande Incêndio de Roma.

O incêndio começou no núcleo comercial da antiga cidade de Roma, em volta do Circo Máximo (maior estrutura de madeira daquele tempo) e durou, de acordo com Tácito, cinco (05) dias, após ainda ganha força, e, de acordo com Suetônio, seis (06) dias e sete (07) noites.

Roma era um cidade vulnerável e propícia a incêndios, tinha ruas estreitas e sinuosas e era superpovoada (estimadas um milhão de pessoas);

Os habitantes ricos viviam em residências unifamiliares, os domus (cerca de 1700 deles), e a classe média e baixa, nas insulae (singular Insula – ilha – cerca de 47 mil), prédios de até cinco andares, em alguns casos excepcionais chegando a onze andares.

As insulae tinham baixa qualidade, feitas para fins especulativos, tendo evoluído em sua matéria-prima: principalmente madeira, depois tijolos de barro e, por último, concreto primitivo. Um dos maiores proprietários delas foi Marcus Linicius Crassus, que lucrava com os incêndios que elas sofriam.

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A causa nunca foi estabelecida, sendo possível um simples acidente por uso ordinário do fogo. O imperador Nero foi acusado de ser o responsável pela deflagração do incêndio e por omissão nas ações de combate, e, de acordo com alguns historiadores, pode realmente ter deixado o incêndio se alastrar livremente ou mesmo ordenado sua ignição. Porém, outros, baseados principalmente em relatos do historiador Tácito, defendem que ele não foi o responsável e que não estava em Roma quando o fogo começou.

Tendo sido a maior catástrofe incendiária da história de Roma (dois terços da cidade fora queimados - 10 das 14 regiões e centenas de pessoas morreram) o Grande Incêndio de Roma demandava um responsável. Apesar de Nero ter sido responsabilizado por alguns do povo e até historiadores daquele tempo, ele próprio tratou de apontar os culpados: os cristãos primitivos, a quem desprezava. Eles foram inocentados por Plínio, O Jovem, mediante uma investigação oficial anos mais tarde, mas não sem antes sofrerem as mais diversas punições, dentre as piores destaca-se as tochas humanas.

Outras consequências do incêndio em Roma são relatadas em detalhe por Tácito, historiador romano, além do próprio incêndio em si.

Após a devastação da cidade, Nero regulamenta a reconstrução dos bairros de modo a prevenir ao máximo os incêndios. Nenhum bairro ou edificação poderia ser reconstruido sem planejamento, as ruas e avenidas deveriam ser largas, construções deveria ser feitas com pórtico à frente, a distância entre as edificações deveriam ser observadas, regulamentou-se o uso de toldos e coberturas de varandas, as construções em madeira foram restringidas, os pisos necessariamente deveriam ser em tijolo e a altura das edificações foram limitadas. Prêmios foram estipulados para aceleração da reconstrução e a fiscalização e punição ficou a cargo dos tribunais romanos.

2.2.2 A Lenda de São Floriano

Os incêndios na Roma Antiga eram um perigo constante. Após a criação dos Vigiles no império de Augustus, os imperadores subseqüentes não só mantiveram o serviço de prevenção e extinção de incêndios como o ampliaram.

Mais de 7 mil homens treinados e equipados, pagos pelo governo, atuavam nessa área. Eles se distinguiam dos demais soldados romanos pelo uso de túnica ou camisas na cor verde.

Quando Floriano alistou-se no exército romano, por volta de 268 DC, as forças militares estavam em processo de reforma pelo Imperador, Roma passava pelo período chamado de Crise do Terceiro Século. O Imperador Galiano estava determinado a tornar o exército uma força montada, pronta para ser despachada para qualquer fronteira com problemas. Floriano promoveu-se rapidamente nesse contexto. Seus superiores diziam que ele era bom para lidar com as pessoas, um resolvedor de problemas e um trabalhador dedicado.

Quando Capitão, Floriano foi designado para chefiar um grupo de bombeiros. Sua unidade obteve tanto sucesso que ele logo foi promovido ao posto de General. Então, neste posto, ele foi transferido para administrar Nórica, na região da Áustria/Bavária, onde nasceu.

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Já havia anos, desde o Imperador Décio (governou de 249 a 251 DC), que os Cristãos eram perseguidos pelas autoridades romanas. Um dos mais ferrenhos perseguidores foi o Imperador Diocleciano (governou de 284 a 305 DC). A lei romana pretendia abolir o cristianismo, além de reforçar o culto dos deuses romanos. Quem professava o cristianismo era obrigado a renunciá-lo e adotar os deuses romanos, caso contrário era queimado em tochas, crucificado ou torturado até a morte.

Por volta do ano 284 DC Floriano se tornou cristão, bem como alguns de seus soldados. Roma suspeitou dele quando rumores de que ele não estava aplicando as leis anti-cristãs na região que administrava surgiram. Quando seu comandante, Aquilino, sob ordens do imperador, ordenou que Floriano queimasse igrejas e livros cristãos, prendesse e torturasse cristãos, Floriano foi posto entre o dever e a fé.

Em 304 DC Floriano se recusou a obedecer as ordens do imperador. Aquilino e o Imperador Diocleciano temeram que Floriano pudesse incentivar um rebelião cristã. Milhares de cristãos então foram cercados e seus lares queimados. Diante disso, Floriano escreveu seus famosos Atos e se entregou junto a alguns de seus soldados a Aquilino.

Aquilino ordenou que Floriano fizesse sacrifícios para os deuses romanos e ele se recusou e professou a fé cristã. Ele foi espancado com bastões e cetros com espinhos, esfolado e chegou a ser jogado no fogo. Floriano então desafiou os soldados romanos a construírem sua pira bem alta para que sua alma fosse levada pelo fogo e fumaça diretamente para o céu. Aquilino, temendo torná-lo um mártir para os cristãos, ordenou que os soldados amarrassem uma pedra de moinho a seu pescoço e o jogassem no Rio Enz. Seu corpo foi encontrado alguns dias depois por cristãos, supostamente após a visão de uma mulher chamada Valeria. Ele, então, recebeu um enterro cristão em Linz.

À partir de então diversas lendas e milagres começaram a aparecer. Até mesmo enquanto ainda estava vivo, a ele foi atribuída a façanha de apagar um grande incêndio com um único jarro de água. Assim, São Floriano, como passou a ser chamado ao ser canonizado no século 8, é considerado o patrono dos bombeiros e dos limpadores de chaminés (uma das principais causas de incêndios na época) e protetor de todos aqueles que lidam com incêndios. Também é patrono dos cervejeiros e fabricantes de sabão na Áustria. Nasceu por volta de 250 DC e morreu em 304 DC. Seu dia é celebrado em 04 de maio, data de sua execução.

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CAPÍTULO III

EUROPA

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3. Idade Média

Após a queda do Império Romano em 453 DC, o mundo entra na Idade Média. Alguns historiadores alegam a perda de boa parte do conhecimento romano e da antiguidade, sendo um dos assuntos os conhecimentos sobre alvenaria e concretagem, a construção das bombas de pistão e o próprio conceito das brigadas de incêndio. Boa parte deste conhecimento teria sido recuperado ainda na Idade Média no Renascimento ou pouco antes.

Após a queda do império romano, a Europa vive um período denominado Alta Idade Média (entre os séculos V e X). O período inicia com o desmantelamento progressivo da autoridade romana sobre as diversas províncias que compunham o Império Romano do Ocidente. O Século V é marcado pela primeira leva de invasões.

Este período foi caracterizado pela ruralização, culminando na formação do feudalismo. A economia era de subsistência e sustentava-se no trabalho servil. Presos à terra, entre várias obrigações, os servos estavam submetidos a prestações em produtos (talha e banalidade) e em trabalho (corvéia).

A sociedade era estamental (pirâmide), sem mobilidade vertical e estava hierarquizada em ordens: o clero (reza), os nobres (guerra), servos (trabalho). Influenciados pelo cristianismo acreditavam que o reino da Terra fora concebido por Deus. Assim, a Igreja, detentora da salvação, impôs uma ordem política fundada no imperador, com poderes temporais, e no papa, com poderes espirituais.

Como resultado das migrações bárbaras, a Europa Ocidental do início da Idade Média era pouco mais que uma manta de retalhos de populações rurais e tribos bárbaras. Perdeu-se o acesso aos tratados científicos originais da antiguidade clássica (em grego), ficaram apenas versões resumidas, e até deturpadas, que os romanos tinham traduzido para o latim. A única instituição que não se desintegrou juntamente com o falecido império, a Igreja Católica, manteve o que restou de força intelectual, especialmente através da vida monástica.

Na Baixa Idade Média (principalmente entre os séculos XIII e XV), a Europa passou por transformações sociais, econômicas e políticas de grande importância. O fortalecimento do comércio e o surgimento da burguesia favoreceram o desenvolvimento e surgimento de muitas cidades.

Muitas destas novas cidades surgiram a partir dos burgos, que eram conjuntos de habitações fortificadas que serviam de residência para os burgueses. Com a dinamização da economia nas cidades, em função do comércio, muitas pessoas começaram a deixar o campo para tentar a vida nos centros urbanos. Portanto, nos séculos XIV e XV, a Europa passou por um importante processo de êxodo rural (saída das pessoas do campo para as cidades)

Desde então, as cidades demonstram ser comprometidas com a prevenção contra incêndios nas construções. Então, primeiro, as guildas (associações de comerciantes) e as corporações de ofício (associações de artesãos) eram obrigadas a intervir em situações de emergência. Um dos primeiros regulamentos de incêndio surgiu em Merano, Itália, em 1086, contendo atribuições para os artesãos.

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Contudo, grandes incêndios eram, além de inevitáveis, relativamente frequentes e devastavam bairros inteiros. Por exemplo, a cidade de Lubeck, umas das maiores cidades da Alemanha, teve vários incêndios à partir do século XII. Estrasburgo, na França, sofreu vários outros no séc. XIV.

Os incêndios ocorriam devido à negligência, às guerras e , além destas causas inevitáveis, haviam guangues de vândalos equipados com bombas incendiárias. Só no final do Século XV que os incêndios diminuiram um pouco, à partir desse século a madeira foi sendo substituída aos poucos pela alvenaria e rochas como matéria prima na construção.

Nos séculos XIII e XIV surgiram as primeiras leis sobre incêndios. Dentre elas se destacam a obrigação de vigias noturnos identificarem e ordenarem que se apagasse todas as velas e chamas e a obrigação de todo cidadão ter em sua residência um ou mais baldes de água ou até vinho, prontos para emergências. Caso algum cidadão se recusasse a auxiliar no combate às chamas era punido com multas ou algo do gênero.

As torres das igrejas receberam vigias noturnos que utilizavam os sinos como alarmes. Em 1444, na Catedral de Santo Estevão, em Viena, já haviam vigias pagos para soarem os sinos em caso de incêndios. Além disso, eles tremulavam bandeiras ao dia para indicar a direção dos incêndios e à noite utilizavam lanternas para o direcionamento. Esses vigias deram origem a uma brigada de incêndio que subsistiu até o ano de 1955 no mesmo local.

Em 1254, um decreto real do Rei São Luis da França criou os então chamados guet bourgeois ("Vigias Burgueses"), permitindo aos cidadãos parisienses estabelecerem seus próprios vigias noturnos, separados dos vigias noturnos do Rei, para prevenirem crimes e incêndios.

Após a Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453 - 116 Anos), a população de Paris expandiu-se novamente e a cidade, muito maior que qualquer outra cidade européia na época, foi palco de vários grandes incêndios no Séc XVI. Como conseqüência, o Rei Charles IX dispensou os vigias noturnos particulares e deixou apenas os vigias noturnos do Rei como responsáveis por prevenir os crimes e incêndios.

Durante toda a Idade Média, haviam disponíveis como equipamentos basicamente baldes de couro, barris de água, ganchos para remoção de telhas e lanternas. A partir do Século XV, surgiram as primeiras bombas, as quais inicialmente precisavam ser alimentadas com baldes.

3.1 Outro grande incêndio marca a história

Como vimos, o combate a incêndio na Europa era insignificante até o Séc. XVII, apesar dos inúmeros incêndios. Após Roma, outra grande cidade que experimentou uma necessidade vital de um controle organizado de incêndios foi Londres. Londres sofreu grandes incêndios nos anos de 798, 982, 989, mas, superando todos esses, foi o ocorrido em 1666. Pouco se sabe sobre o desenvolvimento da atividade de Combate a Incêndios na Europa até o Grande Incêndio de Londres.

O Grande Incêndio de Londres, como ficou conhecido, iniciou-se acidentalmente, por volta da meia-noite do dia 02 de setembro de 1666, numa padaria que servia ao castelo do rei, em Pudding Lane, e consumiu duas milhas quadradas (cerca

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de 5 Km2) da cidade, deixando dezenas de milhares de desabrigados. Antes desse incêndio, que durou quatro dias, Londres não possuía um sistema organizado de proteção contra incêndio.

Londres era a maior cidade britânica, com estimados 500 mil habitantes. Nas palavras de John Evelyn era “um congestionamento de casas de madeira ao norte não planejado e improvisado”. Com ruas sinuosas e estreitas e muito becos, demonstrava ser altamente vulnerável ao risco de incêndio. A cidade passava, também, por dois anos de seca e um verão quente.

As ações de combate, insipientes para a magnitude do incêndio, ainda foram retardadas pelo Lord Mayor, Sir Thomas Bloodworth, que relutava em demolir casas para impedir o progresso do fogo enquanto ainda havia tempo. Assim, após o incêndio tomar proporções avassaladoras, a única alternativa era a demolição, com ganchos e inclusive explosivos, de casas e edificações.

A causa também nunca foi estabelecida. Possivelmente, foi fruto de um acidente ao se jogar resto de brasa dos fornos da padaria no lixo ou outro local.

Como conseqüências do Grande Incêndio de Londres foram consumidas 13,2 mil casas, 87 igrejas, a Catedral de São Paulo, vários prédios comerciais, e a maioria dos prédios públicos. Estima-se que destruiu os lares de 70 mil, dos 80 mil habitantes da cidade intra-muros romanos, numa área de 5 Km2.

Acredita-se que houve poucas mortes, apenas seis foram registradas, mas pode ter havido mais. Alguns morreram de fome posteriormente, por não haver alimentos para toda a população.

A dimensão do incêndio demandava um culpado e a população foi tomada por um frenesi: um exemplo de urgência em se acusar um culpado, foi a aceitação da confissão de um francês Robert Hubert, relojoeiro, que disse estar a mando do Papa. Após enforcado, soube-se que ele só chegou à cidade dois dias após o incêndio.

Porém, ele incitou a perseguição aos católicos, que já não eram bem quistos desde a criação da Igreja Anglicana, ao apontá-los como culpados, os anti-católicos se aproveitaram disso para intensificar a perseguição deles em Londres.

Os holandeses manifestaram alegria ao saberem do incêndio, pois numa guerra anterior os ingleses haviam queimado uma cidade deles. Então, a população, já em polvorosa, se volta contra os estrangeiros. Vários linchamentos e assassinatos ocorrem, especialmente de franceses e holandeses.

Instaura-se um Tribunal Especial para o incêndio: ele irá julgar o direito de propriedade, os quais foram discutidos durante 6 anos.

Várias propostas de replanejamento foram feitas, mas não foram seguidas devido à confusão sobre propriedade – o rei, mesmo duramente criticado, acabou ordenando a reconstrução quase com a mesma planta, porém uso de tijolos e pedras é estipulado, além do alargamento de algumas ruas e vias.

Após essa grande catástrofe, as Companhias de Seguro privadas começaram a montar suas próprias brigadas de incêndio para protegerem o patrimônio dos seus

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segurados. Essas brigadas particulares somente combatiam incêndios nas propriedades dos segurados, cujas edificações eram sinalizadas com marcas de seguro contra incêndio, como um distintivo ou placa.

Dentre outras modificações pós-incêndio, houve aprimoramento de um sistema de hidrante primitivo que já existia na cidade, além de um grande esforço no estudo para avanço dos equipamentos de combate a incêndio, como a bomba de John Kealing de 1678, e aquisição de equipamentos, especialmente os primeiros carros de combate a incêndio, surgidos em 1725 na própria Londres.

3.2 Início do progresso no Combate a Incêndio na Europa

A chave que abriu as portas para o combate a incêndios veio no Séc. XVII com as primeiras bombas de incêndio. Bombas manuais, redescobertas na Europa após 1500 (supostamente usadas em incêndios em Auqsburg pelo ourives Anton Platner em 1518 e em Nuremberg em 1657), eram apenas bombas de força e tinham um alcance muito curto devido à falta de mangueiras e a impossibilidade de gerarem fluxo contínuo. Essas bombas eram ligadas a poços mais próximos ou eram conectadas a reservatórios e serviam apenas para encher baldes que passavam de mão em mão até o local do incêndio ou para ataques a curta distância.

Em cerca de 1650, o inventor alemão Hans Hautsch incrementou a bomba manual ao criar a primeira bomba de sucção e força de fluxo contínuo e adicionar uma mangueira flexível à ela, permitindo um alcance de até 20 metros para os jatos de água.

Em 1672, o inventor holandês Jan Van Der Heyden e seu irmão Nicholaas van der Heyden criam a primeira mangueira de incêndio e em 1698 aprimoram a bomba manual criando a primeira bomba de sucção e pressão para combate a incêndios, dispensando definitivamente o uso de baldes no combate a incêndios organizado. A mangueira era feita de couro flexível, com 15 metros de comprimento e equipada com uniões de bronze nas extremidades. O padrão do tamanho e das junções permanece o mesmo até os dias de hoje.

O primeiro Carro de Combate a Incêndio foi inventado posteriormente pelo britânico Richard Newsham de Londres em 1718. Puxados em carroças até o incêndio, essas carros eram equipados com bombas de incêndio manuais que eram manejadas por uma equipe de 12 (doze) homens e podia expelir até 160 galões por minuto (12 litros por segundo) a uma altura de quase 40 metros.

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CAPÍTULO IV

AMÉRICA DO NORTE (EUA)

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4. O Fogo Ataca a Colônia

Por toda história dos Estados Unidos da América, tem havido grandes incêndios. O primeiro ocorreu em Jamestown em 1608, logo após um ano de sua fundação. Esta foi uma deflagração em massa e levou a perdas de vidas, propriedades e dinheiro. Isto deixou as pessoas com duas opções, voltar para a Inglaterra ou encarar o peso dos nervosos Índios e o frio do inverno beligerante. Foi o primeiro grande incêndio na história dos EUA e muitos outros se seguiriam.

Novamente, foi após a primeira grande deflagração em Boston em 1631 que uma lei banindo o ato de fumar em locais públicos foi aprovada no estado de Massachusetts em 1638, a fim de impedir a devastação causada pelo fogo e impedir a exposição do público ao risco por elementos causadores de incêndios.

Em 1644 na cidade de Salem, Massachussets, foi implantada uma lei obrigando todo cidadão a possuir uma escada sob pena de multa.

Peter Stuyvesant foi o primeiro Governador Americano a formar uma associação de combate a incêndios na forma de “Vigilantes do Fogo” (“Fire Wardens”) em 1648, cuja missão era proteger os novos estabelecimentos que se instalavam em New Amsterdam (atual Nova Iorque). Eles tinham autorização para inspecionar todas as chaminés e multar os infratores.

Os “Vigilantes do Fogo” foram o primeiro grupo de bombeiros nos EUA. Algumas de suas responsabilidades incluíam a evacuação segura de todas as pessoas pegas em um incêndio, em especial resgatar pessoas com deficiências para uma saída segura pré-definida, assegurar que todas as portas e janelas estavam abertas e que todos os equipamentos que pudessem causar fogo fossem desativados e garantir que não houvesse nenhum risco à segurança da equipe de bombeiros.

Posteriormente, os comerciantes da cidade designaram oito cidadãos proeminentes para a chamada “Guarda do Chocalho”.

Este homens foram voluntários para patrulharem as ruas cidade à noite carregando grandes cochalhos de madeira. Se um incêndio fosse avistado, os homens agitavam os chocalhos, e, após a resposta ao chamado, coordenavam os cidadãos para a formação das correntes humanas.

A maioria das regras e responsabilidades previstas pelos Vigilantes do Fogo serviram como base para a maioria das leis e guias de prevenção atuais existentes, especialmente nos EUA.

Em 1631, apenas um ano após a fundação da cidade, o prefeito de Boston, John Winthrop, proibiu as chaminés de madeira e telhados de palha, mas graves incêndios em 1653 e 1676 inspiraram a cidade a tomar medidas maiores para prevenir e combater os incêndios.

Boston foi vítima de um dos mais devastadores incêndios do século 17, em conseqüência disso, o primeiro Corpo de Bombeiros (Fire Department), com bomba de incêndio e bombeiros pagos dos EUA foi estabelecido nesta cidade, no final desse

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mesmo século. Foi em 27 de janeiro de 1678 que o primeiro Corpo de Bombeiros dos Estados Unidos foi criado e posto sob comando do Capitão (Capataz) Thomas Atkins.

Em 1736, Benjamin Franklin criou a Union Fire Company, na Filadélfia, a primeira Companhia de Bombeiros Voluntários da América do Norte.

George Washington, primeiro presidente constitucional dos Estados Unidos foi bombeiro voluntário, em Alexandria, Virgínia. Em 1774, como membro da Friendship Veterans Fire Engine Company (Companhia Amizade aos Carros de Incêndio Veteranos), ele doou um Carro de Combate a Incêndio, o qual seria o primeiro da cidade.

Entretanto, apesar destas ações e esforços localizados, os EUA não possuíram Corpos de Bombeiros governamentais até aproximadamente a Guerra Civil Americana.

Anteriormente, sem Corpos de Bombeiros públicos, as brigadas de incêndios particulares competiam ferozmente entre si para chegar primeiro a um incêndio, devido ao dinheiro pago pelas seguradoras a quem salvasse as construções. Assim como na Inglaterra, algumas seguradoras tinham seus próprios brigadistas em algumas cidades.

Por um bom tempo, os Quartéis de Bombeiros eram mais como uma espécie de ponto de encontro social do que um lugar para profissionais, e o dinheiro pago para a brigada comumente entrava nos cofres dos Quartéis ao invés de ser pago aos indivíduos.

Assim, um sentimento anti profissional não era incomum de se ver. A ganância fazia com que as brigadas sabotassem umas as outras. Não era de todo incomum ver alguém "de cócoras" em frente a um hidrante ou colocando um barril por cima dele para que outros brigadistas não pudessem usá-lo. Era mais importante garantir que a sua brigada fosse a primeira a chegar ao local do que socorrer os cidadãos.

4.1 A Primeira Bombeiro Feminina da História

A primeira bombeiro feminina conhecida, Molly Williams, tomou seu lugar junto aos carros durante a grande nevasca de 1818 em Nova Iorque, e puxou as bombas pela neve pesada. Ela era uma escrava negra e sua vida foi pouco conhecida.

Propriedade de comerciante de Nova Iorque chamado Benjamin Aymar, Molly tornou-se membro da Companhia de Bombeiros Oceanus Motor em 1815 e ficou conhecida como Voluntário Número 11. Os bombeiros masculinos diziam que ela era tão durona quanto os homens. Ela combatia o fogo entre eles em um vestido de chita e avental impecável.

4.2 O Grande Incêndio de Chicago O Grande Incêndio de Chicago foi um dos maiores desastres do século XIX

dos EUA. O fogo iniciou por volta de 09 da noite do dia 08 de Outubro de 1871, um

domingo, e só terminou dois dias depois, na madrugada de terça-feira, dia 10. O local de início foi um celeiro que margeava um beco que margeava a rua

denominada Devoken. Apesar da causa nunca ter sido estabelecida, há um conto de que teria sido uma vaca que teria esbarrado num lampião no celeiro e iniciado o fogo.

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A propagação do fogo foi facilitada pelo uso excessivo de madeira para a construção, a seca antes do incêndio, e os fortes ventos de sudoeste que levavam brasas em direção ao centro da cidade.

A cidade também cometeu erros fatais, como não reagir logo e cidadãos aparentemente despreocupados quando o fogo começou.

Os bombeiros também estavam exaustos de lutar contra um incêndio que aconteceu no dia anterior e vários outros na semana anterior, o que contribuiu para um combate menos eficaz.

Após dois dias, o fogo enfim se extinguiu, auxiliado pela diminuição dos ventos e uma leve garoa que começou a cair na segunda-feira à noite.

Como conseqüência do incêndio, 10 quilômetros quadrados foram queimados (34 quarteirões), incluindo o centro da cidade, e cerca de 300 de pessoas morreram.

Foram destruídos mais de 73 milhas (120 km) de estradas, 120 milhas (190 km) da calçada, 2.000 postes, 17.500 edifícios, e US $ 222 milhões em propriedade, cerca de um terço de valorização da cidade. Dos 300.000 habitantes, cerca de 90.000 ficaram desabrigados. Entre dois e três milhões de livros foram queimados.

Quase imediatamente, começou a reforma nas normas de incêndio da cidade, estimulada pelos esforços dos executivos do setor de seguros e reformadores de prevenção de incêndio, como Arthur C. Ducat e outros.

Chicago saiu da tragédia como uma das forças econômicas do país e também na área de combate a incêndios.

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CAPÍTULO V

O CAMINHO RUMO À MODERNIDADE

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5. Desenvolvimento dos Corpos de Bombeiros Modernos 5.1 A França inicia a marcha para a modernidade

As primeira brigadas de incêndio no sentido moderno foram criadas na França no início do Séc XVIII. Em 1699, um homem com idéias comerciais ousadas, François du Mouriez du Périer (Avô do general da Revolução Francesa, Charles François Dumouriez,), solicitou uma reunião com o Rei Luís XIV.

Muito interessando na invenção do pintor e inventor holandês Jan Van der Heyden, ele demonstrou com sucesso o funcionamento das novas bombas e conseguiu convencer o rei a lhe garantir o monopólio de fabricação e venda das "bombas portáteis de prevenção ao fogo" por todo o reino da França.

François du Mouriez du Périer doou 12 bombas para a cidade de Paris e a primeira Brigada de Incêndio de Paris, conhecida como “Compagnie des gardes-pompes” (literalmente, a "Companhia dos Guarda-Bombas), foi criada em 1716. François du Mouriez du Périer foi nomeado directeur des pompes de la Ville de Paris ("diretor das Bombas da cidade de Paris"), ou seja, Chefe da Brigada de Incêndio de Paris, o posto permaneceu com a família até 1760.

Nos anos seguintes, outras brigadas de incêndio foram criadas nas maiores cidades da França. Foi nessa época que surgiu a atual palavra francesa “pumpier” (bombeiros), cujo significado literal seria naquele tempo seria “bombeador”.

Em 11 de março de 1733 o governo Francês decidiu que os serviços das brigadas seriam gratuitos. Esta decisão foi tomada porque frequentemente as pessoas esperavam até o ultimo momento antes de chamarem as brigadas na esperança de conseguirem apagar o incêndio e não terem de pagar a taxa para o serviço, quase sempre era tarde demais quando as brigadas eram acionadas.

À partir de 1750, as brigadas de incêndio se tornaram unidades paramilitares e receberam uniformes. Em 1756 o uso de capacetes de proteção pelos bombeiros foi recomendado pelo Rei Luís XV, mas levou vários anos até que a medida se tornasse realidade.

Napoleão Bonaparte, partindo da experiência centenária dos gardes-pompes, é tido como criador dos primeiros bombeiros "profissionais", conhecidos como Sapeurs-Pompiers ("sapadores-bombeiros"), do Exército francês. Criada no âmbito do Comando de Engenheiros em 1811, a companhia foi organizada depois de um incêndio no salão de eventos da Embaixada da Áustria em Paris que feriu vários dignitários e familiares do imperador.

Este modelo militar, foi gradualmente estabelecido nos municípios onde haviam bombeiros voluntários, que eram integrados à Guarda Nacional, sendo extinto em 1871.

5.2 Estados Unidos da América

Na América do Norte, a cidade de Jamestown, Virginia foi praticamente destruída num incêndio em janeiro de 1608. Não havia nenhum Corpo de Bombeiros remunerado e de horário integral nos EUA até a década de 1850. Mesmo após a

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formação de companhias de bombeiros remuneradas, houve desentendimentos e brigas frequentes por território.

As companhias de incêndio de Nova Iorque eram famosas por mandarem corredores com barris para os incêndios para cobrirem o hidrante mais próximo do fogo até a chegada dos carros. Eram comuns brigas entre os corredores e mesmo entre as companhias presentes no local do incêndio pelo direito de combater o incêndio e receber o dinheiro do seguro.

Curiosamente, durante o século 19 e início do século 20 as companhias de bombeiros voluntários serviram não só como proteção contra incêndio, mas como máquinas políticas. O político e bombeiro voluntário mais famoso é Boss Tweed, chefe da famosa máquina política de Tammany Hall, que começou sua carreira na política como membro do Companhia de Bombeiros Americus Number 6 (“The Big Six”) Nova Iorque.

Em 1840-41, Paul Rapsey Hodge, engenheiro inglês, construiu o primeiro Carro de Combate a Incêndios com Bomba Vapor dos EUA em Nova York, sofrendo boicote dos bombeiros e seguradoras, apesar de tê-la feito sob encomenda das seguradoras.

Em primeiro de Abril de 1853, o Corpo de Bombeiros de Cincinnati, estado de Ohio, se tornou o primeiro Corpo de Bombeiros profissional de horário integral pago dos EUA, e o primeiro no mundo a utilizar bombas de incêndio à vapor.

Carros de combate a incêndios com motor de combustão interna surgiram em 1907 nos EUA, levando ao declínio e desaparecimento dos carros a vapor em 1925.

5.3 Reino Unido

No Reino Unido, o Grande Incêndio de Londres, deu início a mudanças que levaram às fundações para o combate a incêndios organizado moderno. Logo após o Grande Incêndio, a Câmara Municipal estabeleceu a primeira companhia de seguro contra incêndio, o “Gabinete de Incêndio” ("The Fire Office"), em 1667, que empregou pequenos grupos de barqueiros do Rio Tâmisa como bombeiros, dando-lhes uniformes e distintivos de braço que identificavam a companhia a qual eles pertenciam.

Entretanto, a primeira brigada de incêndio organizada municipal surgiu em Edinburgh, na Escócia, quando o Estabelecimento de Bombeiros de Edinburgh (Edinburgh Fire Engine Establishment), chefiado por James Braidwood, foi formado em 1824. Em seguida, foi a vez de Londres, em 1832 com o Estabelecimento de Bombeiros de Londres (London Fire Engine Establishment)

George Braithwaite construiu o primeiro Carro de Combate a Incêndios com Bomba a Vapor na Inglaterra em 1829. Ele fora criado para ser puxado por cavalos, mas tanto na Inglaterra quanto nos EUA os carros à cavalo com bomba à vapor foram fortemente boicotados nos primeiros anos pelos bombeiros e pelas seguradoras, que temiam por seus empregos e lucros, respectivamente. Foram formalmente aceitos na Inglaterra apenas em 1860 e, ainda assim, ignorados por outros dois anos.

5.4 Combate a incêndio nos dias de hoje

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Hoje, resumidamente, a atividade dos Corpos de Bombeiros se diversificou muito além do Combate a Incêndios. Em todo o mundo há Corpos de Bombeiros governamentais e voluntários, cujas atribuições vão desde a elaboração de normas de prevenção, fiscalização da prevenção, Primeiros-Socorros, diversos tipos de Salvamento, até função primordial, o Combate a Incêndios.

A evolução tecnológica é uma grande aliada dos bombeiros, permitindo maior rapidez e eficiência com o uso de viaturas e equipamentos modernos.

Os Corpos de Bombeiros não estão presentes em todas as cidades, mas nas maiores cidades sempre há uma brigada de incêndio paga ou voluntária.

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PARTE III

HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DOS EQUIPAMENTOS

CAPÍTULO VI

A ENGENHOSIDADE NA LUTA CONTRA O FOGO

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6. Equipamentos 6.1 BOMBAS D’ÁGUA E VIATURAS 6.1.1 Primeiros dispositivos para coleta de água

A primeira razão para o ser humano necessitar de uma bomba foi a agricultura. Embora a agricultura esteja em prática há cerca de 10 mil anos, os primeiros registros que temos de irrigação são atribuídos aos egípcios e mesopotâmicos, civilizações que surgiram a aproximadamente 4 mil AC.

Inicialmente eles transportavam a água em potes, mas cerca de 3000 a 2000 a.C. apareceu a primeira máquina de elevação de água, a picota. Após cerca de mil a mil e quinhentos anos surgiram o sarilho, a nora ou roda persa. Todas estas máquinas eram movidas por trabalho humano ou animal. O sarilho é empregado ainda hoje no abastecimento de água.

Um dos tipos mais famosos de bomba foi o Parafuso de Arquimedes, empregado por Senaquerib, Rei da Assíria, para a irrigação dos Jardins Suspensos da Babilônia e Nínive, no século VII a.C. e posteriormente descrita em maior detalhe por Arquimedes no século III a.C.

A primeira bomba que pode ter sido empregada de forma direta no combate a incêndio foi a bomba a pistão (ou êmbolo) de Ctesibius, criada por volta de 250 a.C, em Alexandria, no Egito e descrita pelo seu discípulo, Heron, de Alexandria. Foi largamente utilizada na Roma Antiga.

Após a queda do império romano as bombas de pistão foram praticamente esquecidas na Europa, pelo menos no que diz respeito ao combate a incêndios, tendo sido resgatadas por volta do séc XV, relatos escassos narram o uso delas em países como Alemanha, Holanda, França, Grã-Bretanha e Portugal.

6.1.2 Bomba para Combate a incêndios de Anton Platner

Em 1518, na cidade de Augsburg, Alemanha, foi construída a primeira bomba de combate a incêndio de que se tem registro, pelo ourives Anton Platner.

Ela era similar à bomba de Ctesibius, suspeita-se que Anton tenha tido acesso aos escrito de Heron, de Alexandria. A bomba consistia num tanque montado sobre rodas que continha dois cilindros com pistões e válvulas, e era equipada exteriormente com uma mangueira curta com movimento limitados, mas ainda pouco eficiente. Ela precisava ser cheia com baldes, pois seu mecanismo de sucção não tinha mangueiras e seu fluxo era intermitente, não produzindo um montante de água adequado.

A bomba de combate a incêndio de Anton não foi um grande sucesso, por três motivos principais, sua mangueira era muito curta, não produzia jatos de grande alcance e não permitia um fluxo contínuo de água. Mas, ainda que sem grandes efeitos práticos, ela pode ser considerada o precursor dos veículos de combate aos incêndios.

6.1.3 Primeira Bomba para combate a incêndios - Hans Hautsch

Em 1650, o ferreiro e inventor alemão Hans Hautsch projetou uma bomba de incêndio que trouxe grande progresso para a atividade de combate a incêndio, a maioria

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dos historiadores consideram que esta seja a primeira bomba de combate a incêndio construída, visto que a bomba de Anton era uma adaptação da bomba de Ctesibius a uma carroça e só é conhecida através de relatos.

A bomba de Hautsch foi a primeira bomba de pressão a permitir um fluxo contínuo de água e a produzir um jato de água com distância relativamente grande.

Esse modelo possuía grandes dimensões, que eram 2,5 m de comprimento, 1.2 m de altura e 0.60 m de largura e era puxado em carroças por cavalos. Seu incremento consistia numa câmara de ar adida ao sistema de dois cilindros com pistões de trabalho colocados horizontalmente ligados ao reservatório da bomba através de válvulas. Na saída de água havia uma mangueira curta e que girava em sua base.

De cada lado da bomba havia uma haste comprida onde se posicionavam 14 homens em cada uma para as mover horizontalmente para frente e para trás. Apesar dos movimentos bruscos, o objetivo de produzir mais força e aumentar a pressão era alcançado e essa bomba foi pioneira em atingir jatos de altura de até 20 metros e garantir um fluxo praticamente contínuo de água.

Apesar das vantagens extraordinárias em relação à época, a bomba ainda possuía alguns inconvenientes, era pesada e difícil de manejar, precisava ser enchida com baldes, os quais, muitas vezes, já chegavam vazios ao carro e tinha que ficar muito próxima ao fogo, tendo ocorrido acidentes fatais no uso dessa bomba. Somente com o advento da mangueira de incêndio o problema de sucção das bombas de incêndio seria eliminado.

6.1.4 Bomba para Combate a incêndios – Jan Van Der Heyden

Inventor e pintor alemão, Heyden modificou a história do combate a incêndios significativamente. Após inventar a mangueira de incêndio de tecido em 1672 e projetá-la em couro em 1673, ele projetou e construiu uma bomba menor e mais leve, mais eficaz e eficiente do que o modelo anterior.

Esta bomba, criada em 1698, também era baseada na ação de pistões e cilindros e uma câmara de ar, porém tinha como diferencial uma mangueira de admissão fabricada em linho ou tecido, cuja ponta estava acoplada a um cavalete com um funil em lona que filtrava as partículas da água que era sugada na fonte. Na saída havia a mangueira de combate, feita de couro, que era mais adequada para resistir à pressão da água que saía.

As maiores vantagens dessa bomba eram o fato de poder ser ligada diretamente à fonte de água, não necessitando estar próxima a essa fonte ou ao incêndio, ser de manuseio mais fácil e, principalmente em virtude das mangueiras, permitir aos bombeiros penetrar no local do incêndio pela primeira vez.

6.1.5 Bomba para Combate a incêndios – John Keeling

Após o Grande Incêndio de Londres, houve um grande esforço na Inglaterra no intuito de se projetar equipamentos mais eficazes nos combates as chamas. Tendo

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chegado a toda a Europa o conhecimento básico de hidráulica e das bombas de força os equipamentos começaram a surgir.

Na Inglaterra, após alguns anos de experimentos, em 1678, Keeling projetou a primeira bomba disponível na Inglaterra. Sua bomba se assemelha à de Anton Platner, porém, há modelos existentes no museu de Londres cujo diâmetro do cano de saída e tamanho das alavancas indicam que ela pode ter tido uma maior capacidade de expulsão, mesmo sendo seu mecanismo baseado na bomba de Ctesibius.

6.1.6 Primeiro Carro de Combate a Incêndios - Richard Newsham

Richard Newsham patenteou o primeiro carro de combate a incêndio em 1718. Sua empresa fabricou a maioria dos carros de combate incêndio ingleses no século XVIII, sendo vários deles importados pelos EUA.

O carro utilizava duas bombas com duplo cilindro de ação simples equipada com uma câmara de ar. Por não haver mangueiras muito eficientes no século 18, Newsham utilizava um tubo expulsor de metal cujas juntas eram tipo cotovelos flexíveis, um na junção com a câmara de ar que girava horizontalmente e outro na ponta do tubo e ligado o bico verticalmente. A combinação destes dois movimentos, portanto, permitia que o tubo de ramificação ou bico pudesse ser guiado em praticamente todas as direções possíveis.

O tanque do carro era enchido com baldes pelas correntes humanas, mas também possuía uma pequena mangueira de admissão para sucção, que poderia se servir de cisternas ou outras fontes de água. Só que apenas um desses sistemas de alimentação poderia ser usado de cada vez, alternados por uma alavanca, nunca ambos ao mesmo tempo.

Um carro desse tamanho podia empenhar até doze homens, pois, de forma inovadora, Newsham colocou as alavancas nas laterais do carro para permitir mais homens trabalhando. As alavancas montadas no quadrante da bomba eram movidas para cima e para baixo por dois ou três homens de pé em cima delas, agarrando as duas barras horizontais para sua estabilidade. Outra inovação que não durou muito foi um par de pedais instalados na armação interior do carro, que permitia ainda outros homens somarem força no bombeamento ficando de pé sobre os pedais e se equilibrando nas barras superiores.

Seu sucesso se deveu especialmente pelo reservatório amplo e sua ótima pressão e vazão, permitindo um combate muito mais eficiente, especialmente em conjunto com as mangueiras. Em poucos anos após a patente, o carro evoluiu de um reservatório de 113,55 l e vazão de 133,55 l/min para um reservatório de 655,35 l e vazão de 655,35 l/m, seu jato atingia alturas de quase 40 metros.

6.1.7 Primeiros Carros de Combate a Incêndios com bomba a vapor – George BraithWaite (1829) e Paul Rapsey Hodge (1840-41)

George Braithwaite, célebre engenheiro hidráulico, auxiliado pelo Capitão John Ericsson, grande inventor, construiu o primeiro Carro de Combate a Incêndios com Bomba de Pistão a Vapor na Inglaterra em 1829.

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Essa primeira bomba se chamou “Novelty” (trad. “novidade”), pesava duas toneladas e tinha dez cavalos de força. Podia expelir de 200 a 250 galões de água por minuto a uma altura de até 90 pés. Era fixada em um chassi de carroça e puxada por cavalos. Levava cerca de 20 minutos para atingir um aquecimento moderado.

Descorajado e desaboroso com o boicote promovido pelos bombeiros e seguradoras, BraithWaite, após alguns anos de tentativa em inserir seu carro no mercado, desistiu de sua invenção e, sete anos depois, os americanos encararam o desafio e lançaram sua primeira bomba a vapor, que também sofreu para ser implementada, mas, por fim, acabou convencendo o mundo que o vapor era muito mais eficiente que os músculos.

Então, 1840-41, Paul Rapsey Hodge, eminente engenheiro inglês, construiu o primeiro Carro de Combate a Incêndios com Bomba Vapor dos EUA em Nova York. Ele havia sido incumbido de inventar uma bomba a vapor para Nova York pelas seguradoras, em face do grande número de incêndios no Grande Inverno de 1839-1840. Seu desafio era permitir que a bomba pudesse ser levada tanto por homens quanto por cavalos e seu jato de água deveria alcançar o mastro da bandeira sobre o prédio da prefeitura.

O trabalho começou em dezembro de 1840 e terminou na primavera de 1841. O carro se assemelhava em aparência a uma locomotiva e era muito pesado, entre 7 e 8 toneladas. Em uma demonstração a bomba expeliu um jato a uma altura de 166 pés.

Apesar de potente e de ter a vantagem de poder ser puxada por cavalos, diminuindo o tempo resposta, os bombeiros apontavam dificuldade para o manejo da bomba em virtude do peso, reclamavam do tempo para ela atingir a temperatura para formação de vapor e de sua autonomia. Com o tempo as bombas a vapor foram sofrendo aprimoramentos que as inseriram definitivamente na atividade de combate a incêndio.

6.1.8 Primeiro Carro de Combate a Incêndios com motor a combustão – Gottlieb Daimler.

É comumente aceito que foi o metalúrgico e fabricante de bombas de incêndios Heinrich Kurtz que deu a idéia a Gottlieb Daimler de colocar o motor a gasolina ao serviço dos bombeiros. Seja como for, foi Kurtz quem forneceu as peças de metal para o primeiro motor de combustão interna de Daimler dois anos antes, e que então forneceu o aparelho de combate a incêndios com bomba de pistão para o qual a Daimler fez um motor, inicialmente com apenas um cilindro e 01 (um) HP de força.

Uma pequena transmissão era requerida para ligar o motor à bomba de pistão, tornando a nova ferramenta mais simples de utilizar. A invenção foi patenteada em 1889. Em alguns anos, o motor passou de um para dez HP de força. As primeiras bombas a combustão eram ainda um pouco limitadas, mas havia força suficiente no motor para a expulsão da água, assim, essa limitação era mais conseqüência do mecanismo da bomba, ainda a pistão, do que do motor.

No início do século XX, surgiram as bombas centrífugas de alta-velocidade, que, finalmente, melhoraram o uso do potencial do motor a combustão. O princípio da centrifugação ainda é o utilizado nos veículos atuais.

6.2 MANGUEIRAS

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A utilização de mangueiras para combater incêndios nos remete a cerca de 400 AC. A mangueira nesta época era feita à partir do intestino de bois. Bombeiros enchiam sacos com água, em seguida, os introduziam no intestino de boi. A água era expelida com força pela mangueira ao sentarem ou pisarem nos sacos no interior das mangueiras.

Em 1673 os holandeses Jan Van Der Heiden, Superintendente do Corpo de Bombeiros, e seu irmão Nicholaas desenvolveram a primeira mangueira de incêndio da era moderna. Os quinze metros de couro eram fortemente costurados como as pernas de uma calça. As uniões eram de bronze. O comprimento desta mangueira tornou-se padrão e é utilizado até hoje. Alguns anos mais tarde, em 1698, Van der Heiden desenvolveu a mangueira de sucção que, segundo anotações do próprio Heiden, seria feita de lona, coberta com tinta ou cimento para impermeabilização e era reforçada internamente com a instalação de anéis de metal para mantê-la rígida e suportar o vácuo.

Até por volta de 1790 a água usada no combate a incêndio vinha de poços, cisternas e fontes naturais. Serviços de abastecimento de água então surgiram em meados dessa época. Plugues de madeira e hidrantes são instalados para facilitar o acesso à água pelas equipes de bombeiros.

Em 1807, dois bombeiros da Filadélfia, James Sellars e Abraham Pennock, usaram rebites de metal no lugar de costura para fecharem as mangueiras de couro. Isto permitiu maior pressão e menos ruptura e vazamentos, aumentando a vida útil das mangueiras. Este processo, entretanto, aumentou o peso da mangueira para cerca de 40 quilos, dificultando um pouco seu transporte e manuseio.

Mangueiras de couro tinham muitas desvantagens. Elas secavam e rachavam. Elas tinham quer ser lavadas, secadas e preservadas com óleo de bacalhau ou de baleia como conservadores. Algumas brigadas as lavavam dentro de caixões. Outras brigadas usavam sebo bovino e óleo puro feito a partir de ossos bovinos. Após a aplicação deste óleo, o couro tornava-se pegajoso e a mangueira exalava odor fétido.

A invenção de Sellars e Pennock permitiu o uso das mangueiras para sucção mais eficaz e permitiu o lançamento de água a maiores distâncias, por suportar maiores pressões.

Em 1821, James Boyd patenteou uma mangueira de incêndio feita com trama de algodão e revestida de borracha. Em 1825, o prefeito de Boston relatou que 30 metros dessa mangueira faziam o trabalho de 60 homens com baldes e de forma mais eficiente. Em 1827, o Chefe dos Bombeiros de Nova Iorque colocou trinta bombas em linha com essas mangueiras e conseguiu bombear água por uma distância de oitocentos metros.

Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de vulcanização da borracha.

Em 1871, BF Goodrich desenvolveu uma mangueira de borracha reforçada com lona de algodão. O Corpo de Bombeiros de Cincinnati foi um dos primeiros a usar esta mangueira.

Quanto mais fabricantes entravam no mercado, maior variedade de tamanhos e acoplagens apareciam. Esse problema, que afetava diretamente os fabricantes de bomba, foi reportado em 1873 na primeira convenção da Associação Internacional dos

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Engenheiros de Incêndio. A Associação adotou um tamanho padrão de fios por polegada para as acoplagens. Apesar disso, como vários Corpos de Bombeiros já possuíam muitas acoplagens, as prefeituras não quiseram gastar o dinheiro para trocá-las.

A Companhia de Fabricação de Mangueiras de Incêndio de Chelsea, Massachussets, criou a primeira mangueira de algodão sem costura para bombas a vapor em 1878. Em pouco tempo outras empresas aprimoraram a trança e conseguiram criar mangueiras que suportavam pressões de até 350 libras. A mangueira de algodão ainda tinha que ser lavada e secada para prevenir o aparecimento de mofo.

Em 1932, a Norma Nacional de Mangueiras de Incêndio estabeleceu como padrão a medida de 2½” -7,5 fios (sulcos de parafuso) por polegada para as mangueiras e uniões. Somente em 1957 a mangueira de 1 ½ polegadas seria padronizada também. Alguns departamentos ainda continuaram utilizando medidas diferentes devido ao custo da troca.

Em meados dos anos 50, Robert Bly, Comandante do Batalhão de San Diego e Mecânico mestre em incêndio, construiu uma máquina para refazer o segmento da união da mangueira de incêndio para o padrão nacional. A máquina conhecida como "Padronizadora de Fios de Mangueiras do Ely (“Ely Hose Thread Standardizer") poderia redesenhar um acoplamento em 90 segundos sem tirá-lo da mangueira. O Comandante Ely afirmara que em todo o condado existiam dez diferentes diâmetros de mangueira e 462 tipos de fios diferentes. Num chamado em conjunto, diferentes unidades não conseguiam conectar seus equipamentos.

Em 1963, a Associação Nacional de Proteção contra Incêndios (National Fire Protection Association) desenvolveu um padrão de 3 ", 3,5", 4 ", 4.5"5 "e 6" para a Norma Nacional de Mangueiras de Incêndio. Desta vez os Departamentos foram abertos à mudança, devido à facilidade dada pela "Padronizadora de Segmentos de Mangueiras do Ely ".

Durante a década de 1970, mangueiras de poliésteres e Dacron (polímero de condensação obtido a partir de etileno glicol e ácido tereftálico) foram fabricadas. Estas mangueiras não apodreciam como o algodão, mas ainda precisavam ser secas para evitar mofo. O forro de borracha ainda estava sujeito ao envelhecimento, por isso precisava ser testado a cada ano.

No final dos anos 70 e início dos anos 80 as conexões Jones Snap foram introduzidas. Por volta do mesmo período as juntas Storz também apareceram acabando com o problema de padronização das acoplagens. A maioria das conexões Jones Snap foram substituídas, porém as peças Storz ainda estão em uso hoje.

As Mangueiras de Incêndio modernas usam uma variedade de tecidos naturais e sintéticos e elastômeros em sua construção. Estes materiais permitem que as mangueiras sejam armazenadas molhadas sem apodrecer e resistir aos efeitos nocivos da exposição à luz solar e produtos químicos. Mangueiras modernas também são mais leves, o que ajuda a reduzir o esforço físico para os bombeiros.

A composição básica de uma mangueira de incêndio atual é o Tubo Interno, composto de borracha que recebe agente de proteção, como antioxidantes e o Tecido Externo, que é confeccionado com fibras sintéticas. Estas fibras possuem uma boa resistência química, boa resistência a abrasão, uma excelente resistência a ruptura e não

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mofam mesmo quando guardadas úmidas. A união destas duas partes ocorre pelo processo de vulcanização, em que o tubo de borracha é colocado dentro da capa de tecido pelo aquecimento a vapor. A união das juntas com a mangueira se dá pelo processo chamado Empatação, feito com anéis de cobre fortemente fixados sobre a mangueira e as uniões.

6.3 APARELHOS RESPIRATÓRIOS

A preocupação com a proteção respiratória existia a milhares de anos. Plínio, o Velho, descreveu um dispositivo de filtragem em Roma no século I para uso contra poeira vermelha. No Século XV, Leonardo da Vinci, após inventar um agente químico como arma, sugeriu uma solução para o problema que ele mesmo criou, desenhando um dispositivo de tecido fino que deveria ser embebido em água. Georgius Agricola, um fisiologista italiano especializado em mineração, criou um dispositivo respirador, no século XVI.

Ao longo de sua história, os aparelhos de proteção respiratória se dividiram em três tipos, os Purificadores de Ar, os Aparelhos Autônomos e os de Linha de Ar.

O primeiro dispositivo semelhante a um respirador moderno é atribuído a Alexander Von Humboldt, que introduziu uma versão muito primitiva, em 1799, durante seu tempo como assessor oficial de minas em Berlim.

Variações deste dispositivo tornaram-se predominantes em toda Europa e nas Américas, quase todos consistiam em um saco abrangendo toda a cabeça e selado em torno da garganta com duas janelas frontais de vidro para visão. Estes equipamentos ou filtravam o ar do ambiente ou continham ar puro em vasilhames para suprir o usuário. Os métodos de respiração variavam enormemente e a maioria dos aparelhos era pesada.

Nos Estados Unidos e na Europa, durante os séculos XVIII e XIX, a busca por proteção respiratória se concentrou nos serviços de bombeiros, apesar da mineração também influenciar esta busca.

Assim, a proteção respiratória dos bombeiros ainda era mínima nesta época, e contos populares dizem que os bombeiros utilizavam barbas enormes que eram molhadas antes do combate e seguradas entre os dentes, por onde respiravam, para auxiliarem na filtragem das cinzas e poeira nos ambientes em chamas.

6.3.1 Purificadores de Ar Em 1825, o cientista italiano Giovanni Aldini tentou projetar uma máscara para

fornecer proteção ao calor e ar fresco, testada na França. Consistia numa máscara grossa de asbeto (fibra mineral) sobre a cabeça e numa outra máscara tecida com arame fino sobre a primeira, O dispositivo dava alguma proteção contra o calor desde que o usuário mantivesse um espaço entre as máscaras. Acredita-se que essa máscara garantia apenas uma pequena quantidade de ar que ficava preso entre as duas máscaras. De qualquer forma, o conceito estimulou muitas tentativas de criar um dispositivo mais eficaz.

Um mineiro chamado John Roberts inventou uma máscara com filtro que foi amplamente utilizada na Europa e EUA em 1824. Ele criou uma máscara ou capuz ligada a um respirador por um tubo flexível, sendo que o respirador era uma lata afunilada que possuía uma esponja umedecida que filtrava as impurezas do ar ambiente e ficava junto ao chão.

O primeiro dispositivo respiratório purificador de ar registrado nos EUA surgiu em 1848, quando Lewis P. Haslett patenteou o "Haslett Lung Protector" (Protetor de Pulmões de Haslett).

Ele permitia respirar por uma máscara de nariz ou boca equipada com duas válvulas tipo chapeleta unidirecionais, uma para inalação por um filtro tipo bulbo e outra para exalação na atmosfera. A filtragem da poeira e outras partículas sólidas do ar era feita por um filtro de lã ou outra substância porosa umedecia; esta invenção marcou o início de uma longa série de patentes de dispositivos respiratórios com o uso de válvulas semelhantes. O de

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maior sucesso comercial foi a máscara tipo “taça” (ou copo) patenteada por Hutson R. Hurd,em 1879, em paralelo com o uso dos respiradores “meia máscara”.

Essas máscaras, vagamente parecidas com focinhos de porco, quando usadas, eram colocadas sobre o nariz e a boca e presa à cabeça com alças. Uma válvula de controle na lateral ou na parte superior do invólucro permitia a saída do ar expirado. Vários inventores adicionaram outras funcionalidades, tais como filtros removíveis e vedações pneumáticas para o rosto.

No início de1850, o químico escocês John Stenhouse, que estava investigando o poder de várias formas de carvão para capturar e manter grandes volumes de gás, pôs a ciência em prática em uma das primeiras máscaras capazes de remover gases tóxicos do ar. O filtro da máscara, feita de carvão em pó, era seguro entre duas camadas de gaze metálica em forma de cúpula que cobria o nariz e a boca. Embora bruta pelos padrões modernos, a invenção foi bastante prática e eficaz sendo empregada em fábricas em Londres. O Carvão em sua forma "ativada" acabaria por se tornar o meio mais utilizado de filtro para máscaras de gás.

Em 1871, o físico britânico e professor John Tyndall criou um capuz para os bombeiros o qual descreveu como um respirador constituído de uma câmara com válvula e um tubo de filtro com aproximadamente 4 centímetros de comprimento, parafusada externamente, com acesso interno por um bocal de madeira. Os agentes filtrantes são algodão saturado com glicerina, cal e carvão ativado. O professor alegou que podia ficar numa atmosfera inóspita por até meia hora.

Em 1874 Samuel Barton, de Londres, criou uma máscara facial de borracha e metal, com tiras para a cabeça, visores de vidro, capuz revestido com borracha, e válvulas unidirecionais para inalação e exalação. Um recipiente de metal na parte frontal da máscara recebia diferentes agentes filtrantes, como carvão ativado, cal e algodão encharcado com glicerina. Contava, numa versão alternada, com um reciclador de circuito fechado simples, cuja inalação e exalação era feita por tubos ligados a um reservatório de ar carregado nas costas. A reciclagem ocorria num filtro com cal, retirando o excesso de dióxido de carbono.

Em 1877, George Neally patenteou a Máscara de Exclusão de Fumaça. Foi comercializada para bombeiros. Consistia numa máscara bem apertada à face com visores de mica ou vidro. A respiração era feita por tubos ligados a um filtro que ficava no peito do usuário. Dois anos depois, ele fez uma versão com o filtro na máscara.

Bernhard Loeb de Berlim, na Alemanha, produzia e vendia equipamentos de proteção respiratória desde a década de 1870. Ele patenteou nos EUA e Europa vários aparelhos, dentre eles, em 1891, um respirador eficiente.

Um recipiente metálico triplo-compartimentado, carregado na cintura, com um sistema de filtragem fechado contendo produtos químicos líquidos e várias camadas de carvão granulado e poroso.

Um tubo de mangueira flexível conectava o recipiente a um bocal através do qual o usuário poderia respirar o ar purificado. Uma configuração alternativa teve o recipiente era ligado diretamente a um capacete fechado em torno da cabeça do usuário.

6.3.2 Aparelhos Autônomos

Em 1850, Benjamin Lane, de Massachusetts, recebeu a primeira patente conhecida por um respirador com suprimento de ar comprimido. Seu objetivo era permitir "entrar em edifícios e navios cheios de fumaça ou ar impuro e em esgotos, minas, poços e outros locais cheios de gases nocivos ou ar impuro, com a pessoa estando protegida de asfixia decorrente de tais causas."

Em 1863, uma patente foi concedida a A. Lacour por sua invenção, o "aparelho de respirar melhorado." Este foi realmente um equipamento autônomo de respiração e consistiu em um saco hermético feito de duas camadas de lona, separadas por um revestimento

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de borracha da Índia. O dispositivo era carregado nas costas do bombeiro e mantido no lugar por duas alças de ombro e um cinto em volta da cintura.O saco vinha em tamanhos diferentes para as durações de ar de 10 a 30 minutos e era enchido com o ar puro inflado por um par de foles. Da parte superior da bolsa dois tubos de borracha da Índia iam conectados a um bocal que precisava ser mordido para se manter na boca. Rolhas eram colocadas no bocal quando a bolsa estava sendo enchida por uma torneira no fundo do saco. Ele vinha com um par de óculos para proteger os olhos da fumaça, uma pinça de borracha para o nariz e um apito para ser pressionado pela mão para sinalizar emergência.

Em 1853 um equipamento de respiração autônomo foi projetado pelo professor Theodore Schwann da Bélgica, inicialmente o composto químico utilizado para filtrar o dióxido de carbono e liberar oxigênio não foi muito eficiente. Três anos após, ele conseguiu, com o uso de carvão ativado, acumular grande quantidade de gás num reservatório, além de criar um dispositivo filtrante com cal hidratada. Após alguns anos de aperfeiçoamento, Schwann apresentou o aparelho de respiração em um concurso na Academia Belga de Ciências e o exibiu também em um feita industrial na Bélgica em 1876. O dispositivo final possuía dois cilindros de oxigênio a uma pressão de 4 ou 5 atm.

Em 1880, os chefes de projeto da empresa Siebe-Gorbam Henry Fleuss e Robert

Davi revolucionaram o desenvolvimento de respiradores. A primeira das máscaras de Fleuss consistia num capuz de borracha que cobria todo o rosto, ligada por um tubo a um saco e a

um cilindro de oxigênio comprimido. Incluía também uma câmara absorvente de dióxido de carbono, que permitia que o mesmo ar fosse reciclado algumas vezes.

A Empresa Vajen-Bader produziu equipamentos respiratórios de bombeiro desde sua fundação em 1881. O "Protetor de Fumaça Patente Vajen-Bader" da década de 1890 e início de 1900 isolou a cabeça do portador do ambiente e forneceu ar respirável a partir de um cilindro de ar comprimido na parte traseira de um capacete com dois visores.

Em 1903 o aparelho de Bernhard Draeger apareceu na Alemanha. Seu funcionamento era muito similar ao de Fleuss. A empresa alega ter vendido dois milhões de máscaras de gás para as Forças Armadas alemãs durante a Primeira Guerra Mundial. Ainda hoje a Draeger é a maior fabricante de aparelhos de respiração autônoma, além de máscara protetoras dentre outros produtos para respiração.

6.3.3 Linhas de Ar Por volta da década de 1820, várias tentativas foram feitas para se inventar um

capacete que pudesse ser ligado por mangueira a uma bomba de ar fresco. Em 1823 o inglês

John Deane e seu irmão Charles Anthony Deane inventaram e patentearam um dos

primeiros capacetes ligados a bomba de ar por uma mangueira. Possuía três visores, sendo que o frontal podia ser aberto para comunicação. O ar fresco entrava por um tubo ligado por um cotovelo na parte de trás do capacete. O ar seguia para dentro do capacete e sobre os três visores para evitar seu embassamento. O ar saía através de um tubo de escape, também na parte traseira do capacete. Sua invenção posteriormente foi adaptada para mergulho.

James Braidwood, Superintendente da Brigada de Incêndio de Londres, inventou outro tipo de máscara com mangueira aproximadamente na mesma época. Para suprir ar e proteger o bombeiro da fumaça, um tubo foi conectado a uma bomba de ar ligado a um motor fora do edifício em chamas. Uma capa de couro robusta e um capuz eram usados para proteger o usuário do calor e das chamas. O capuz possuía abertura para os olhos feita de vidros grossos. Para iluminação do local era usada uma lanterna potente e refletora no peito do bombeiro. Um apito estridente foi anexado ao capuz para comunicações de emergência.

Braidwood testou sua invenção sob condições severas nos porões da sede da Brigada na Rua Wattiling. O sistema foi usado para salvar três crianças numa casa

incendiada em Fetter Lane. Muitas outras alegações de salvamento vieram em seguida.

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Em 1892, um bombeiro de Denver chamado Merriman desenvolveu uma das muitas primeiras variações da máscara com mangueira, e uma das poucas a ser produzida nos Estados Unidos. Um tubo tipo tromba de elefante ligado a uma mangueira de ar que corria paralela à mangueira de água.

6.3.4 Aparelhos Respiradores Modernos Diversas máscaras e aparelhos foram utilizados por bombeiros durante o

século XIX, porém, muito raramente e praticamente sem sucesso, devido à sua construção pesada ou volumosa e seu desempenho pouco confiável. Em 1910, um bombeiro aposentado narra como os bombeiros se protegiam da fumaça e dos gases: “Os rapazes andavam com um pedaço de tabaco...que mastigavam para respirar menos fumaça e depois bebiam grandes quantidades de cerveja efervescente (steam beer) para limpar os pulmões”.

Durante a Primeira Guerra Mundial houve um grande avanço na criação de aparelhos de respiração autônomos e de máscaras contra gases. As máscaras eram de borracha que cobriam o rosto, eram equipadas com cartuchos de carbono ou filtros de partículas. Essa tecnologia logo se transmitiu para vários campos de trabalho. Alguns poucos Corpos de Bombeiros disponibilizaram estas máscaras para os bombeiros em número limitado, apesar de a maioria delas não dar boa proteção contra o monóxido de carbono e nenhuma delas funcionar num ambiente deficiente em oxigênio.

Na década de 1920 os “rebreathers”, aparelhos recicladores já estavam em amplo uso na mineração e foram eventualmente adaptados para o combate a incêndio. Porém, eles eram desajeitados, frágeis e difíceis de controlar. Além disso, as vasilhas ou garrafas para oxigênio eram muito caras e treinamentos extensos eram necessários para utilização dos equipamentos. Como resultado, eram raramente utilizados pelos bombeiros.

Após as duas Grandes Guerras, surgiram, respectivamente, os Aparelhos de Respiração Autônomos de circuito-fechado, muito pesados e os de circuito aberto com pressão positiva, este último mais popular no serviço dos bombeiros.

Em 1970, novas exigências no EUA tornaram obrigatório a pressão positiva nos EPR de bombeiros.

Em constante evolução, os EPR de combate a incêndios atuais contém diversos dispositivos modernos, como alarmes sonoros, microfones, display interno de Led’s, dentre outros, suas máscaras são equipadas com válvulas de demanda automática de pressão positiva e seus cilindros são feitos de diversos materiais que auxiliam na leveza do equipamento, como o Alumínio, Alumínio com Carbono e a Fibra de Carbono.

6.4 CAPACETES Os capacetes são equipamentos de proteção essenciais não somente para

profissionais, mas para pessoas comuns em diversas atividades. São utilizados na prática de esportes e em várias áreas de trabalho pelo homem.

A história registra o uso dos primeiros capacetes por soldados assírios, em cerca de 900 aC. Era um equipamento de proteção militar feito em couro ou bronze.

Os capacetes logo adquiriram grande simbolismo e passaram a carregar as insígnias ou brasões que indicavam a origem de quem o vestia. A história da heráldica (arte surgida na Idade Média) indica que símbolos como o fogo (geralmente representado numa tocha acesa) e os machados representam, respectivamente, o zelo ou cuidado e o serviço militar. Alguns capacetes de bombeiros europeus recebiam estes e outros símbolos heráldicos, como louros, carvalho, água, leões e até salamandras, além de outros que representassem o local de origem do bombeiro.

Os primeiros capacetes utilizados por bombeiros começaram a surgir junto com as primeiras brigadas organizadas, por volta do séc. XVIII. Na Europa, os primeiros capacetes eram os mesmos utilizados pelos militares, com diferenciação nos adereços ou

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nas insígnias e distintivos de armas. Somente nos EUA surgiriam, nessa mesma época, capacetes criados especificamente para a atividade de combate a incêndios.

O primeiro capacete de combate a incêndio, inventado por Jacobus Turck de Nova York em 1731, tinha uma forma redonda com uma copa alta e uma aba estreita. Mathew DuBois fez melhorias no design, acrescentando arame de ferro na borda da aba, proporcionando resistência à deformação, umidade e calor. O Capacete de Incêndio, feito de couro, tornou-se obrigatório para todos os bombeiros em serviço em 1762.

O capacete de couro, como é conhecido hoje, tem uma origem modesta e não relacionada com fogo. Embora a data da criação do capacete tradicional de incêndio seja fruto de especulação e debate, é geralmente aceito o período entre 1821 e 1836.

O senhor a quem se atribui sua invenção é Henry T. Gratacap. Gratacap, era um bombeiro voluntário na cidade de Nova York, mas ganhava a vida como fabricante de malas. Ele tinha feito um grande nome por causa de sua inovadora bagagem projetada especificamente para o trânsito em alto-mar. Era feita de couro tratado que oferecia incomparável durabilidade e resistência à umidade.

Estas qualidades eram muito desejáveis em um capacete de incêndio, então Gratacap projetou o primeiro capacete de incêndio de "oito gomos" (eight-comb, um capecete composto por oito segmentos). O capacete recebeu o nome de "New Yorker" e foi inicialmente adotado pelo Corpo de Bombeiros de Nova York (FDNY) no final do sec. XIX.

Este capacete de incêndio tinha várias características, que foram sendo aprimoradas gradativamente. Eventualmente se faziam deles com 16 gomos, o que os tornava ainda mais resistentes, havia um domo de metal na copa (casco) para proteção contra queda de objetos e a aba, ligeiramente mais larga na parte traseira, protegia a nuca do calor. Era comum os capacetes serem virados ao contrário para proteger o rosto dos bombeiros contra o calor, pois não existiam viseiras. Uma das funções adquiridas com seu uso foi a de sinalizar que um bombeiro precisa de ajuda ou está em perigo. Isso era feito ao se jogar o capacete pela janela.

O “New Yorker” se manteve praticamente inalterado até os dias de hoje em termos de formato e material, com cerca de 165 anos de vida. Ao longo desse tempo, mais precisamente por volta de 1850, dois irmãos, de sobrenome Cairns, possuíam uma fábrica de botões e distintivos de metal e tiveram a idéia de criarem um distintivo para o “New Yorker”. Gratacap e os irmãos Cairns se associaram e obtiveram grande êxito na venda dos capacetes, até que Gratacap se aposentou e o legado dos irmãos Cairns começou. São fabricantes de capacetes e diversos outros equipamentos de incêndio até os dias de hoje.

Enquanto se popularizou o capacete de couro nos EUA, na Europa, ainda predominavam os capacetes de bronze e metal (aço).

Na década de 1920 a empresa Cairns introduziu um capacete de alta tecnologia feito de um material muito mais leve, o alumínio, cuja desvantagem era a condução de eletricidade. Por volta da mesma época, outros fabricantes na Europa também introduziram este material. Sua vantagem era a leveza associada à dureza. Sua maior desvantagem era a condução de eletricidade e alta absorção de calor.

Entre os anos de 1940 e 1960 Cairns e várias fabricantes na Europa passaram a utilizar resina fenólica (plástico descoberto em 1907 pelo cientista americano Dr. Baekeland) e fibra de vidro na composição dos capacetes. Durante este período, na década de 1950, surge o policarbonato, que também será adotado em capacetes à partir da década de 1960. Esses materiais dão mais leveza, tem boa resistência a impactos, ao aumento de temperatura e não conduzem eletricidade.

No final da década de 1970 a empresa Cairns mudou de direção e lançou um capacete totalmente novo que revolucionou a proteção da cabeça para os bombeiros ao

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inserir o primeiro casco com proteção ampla contra impactos e temperatura, o Phoenix 660, em 1978. Esse material, termoplástico reforçado, foi um sucesso comercial e algumas patentes e recursos ainda estão em uso nos capacetes de hoje.

Essa tecnologia abriu caminho para uma nova geração de capacetes de alta performance culminando no lançamento do “Metro 660C” com o casco feito de fibra de vidro reforçada. Em seguida, a primeira viseira de polímero surgiu em 1983 e em 1984 a primeira viseira anti-corrosiva.

Em 1985 Cairns alcançou uma performance que não foi igualada até os dias de hoje. O capacete “990 Intruder” possuía proteção superior contra corte e penetração com 3 camadas sobrepostas de malha de Kevlar antibalístico unidas por um resina de ultra-alta temperatura.

Também em 1985 surge o F1, capacete Gallet de origem francesa conhecido no mundo todo, produzido em termoplástico injetado, totalmente reforçado. O acabamento é feito com uma camada brilhante de poliuretano. Possui uma crista longitudinal designada a auxiliar na absorção de impactos. Apresenta viseira refletiva que protege a face e os olhos do usuário contra o calor radiante.

Os capacetes com uso do amarelo fluorescente começaram a ser fabricados na década de 1980.

Atualmente, os capacetes de incêndio possuem diferentes formatos, mas sem grandes variações, e diferentes matérias-primas, como fibra de vidro reforçada, termoplástico injetado e kevlar. Os visores são feitos de polímeros e o interior composto por espuma expandida de uretano ou moldada em poliuretano. Há variações de acordo com a finalidade do combate, incêndios estruturais ou florestais e resgates.

No Brasil, os primeiros capacetes são de herança européia, de metal, couro ou fibra de vidro, estilo adotado até aproximadamente o final década de 1980 início da 1990, quando os capacetes americanos começaram a ser adquiridos.

6.5 ALARMES A primeira forma de alarme à distância de incêndios foram, por muitos anos, os

sinos, presentes em igrejas, castelos e prédios públicos durante parte da antiguidade e toda a idade média. Ainda no século XVI os vigilantes começaram a utilizar grandes apitos, chocalhos e instrumentos musicais como clarins ou clarinetes. Até meados do século XIX, os sistemas de alarme eram os mesmos, exceto, talvez, pelo uso de armas de fogo em situações extremas.

Em 1852, William F. Channing e Moses G. Farmer, utilizando a tecnologia do telégrafo, inventaram um alarme de incêndio com duas caixas, cada uma contendo uma chave telegráfica. A patente de sua invenção foi adquirida por John Gamewell em 1855. O Sistema consiste na distribuição de caixas de alarmes pelos bairros da cidade, cada uma contendo seu código. O aviso se dá quando uma pessoa gira a alavanca ou chave da caixa, que através de uma mola bate o sinal para a rede telegráfica que chega à caixa na central de despacho. Quando a caixa é identificada, a unidade de bombeiros mais próxima ao bairro é acionada.

Para tal procedimento, em algumas cidades, as pessoas deveriam encontrar o responsável pela chave da caixa, comprovar o incêndio, acionar o mecanismo e aguardar os bombeiros.

Com o advento do telefone de linha, cuja primeira patente foi registrada para Grahan Bell em 1876, gradualmente os alarmes de caixa telegráfica foram sendo removidos, mas nos EUA várias cidades ainda hoje utilizam essas caixas de alarme de incêndio.

O primeiro alarme de incêndio elétrico e automático foi inventado em 1890 por Francis Robbins Upton, associado de Thomas Edison, que detectava aumento de

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temperatura no ambiente, porém era caro, complicado e difícil de instalar, não alcançando grande público.

O primeiro detector de fumaça foi inventado por um físico suíço, Walter Jaeger, em 1930. Este dispositivo foi descoberto acidentalmente quando ele queria fazer um sensor de gás venenoso. Ele ficou frustrado porque o dispositivo não funcionou bem com uma quantidade muito pequena de gás venenoso. Então, ele acendeu um cigarro. Ele ficou surpreso ao perceber que seu aparelho detectou a fumaça de seu cigarro. Mas, apenas após 30 anos que os detectores serrão comercializados, após aprimoramento.

Os detectores de fumaça à bateria começaram a surgir durante os anos 1960. Foram fabricados modelos comerciais e residenciais. Em 1993, havia uma estimativa de 92% de casas nos EUA equipadas com detectores de fumaça. Os detectores são ligados diretamente à uma ou mais sirenes e luzes ou a uma central de segurança dos edifícios que identifica o local do aviso e aciona o alarme.

Em 2009, Dr. David Albert Dr. David Albert, um médico cientista e engenheiro biomédico, lançou uma invenção que auxilia surdos ou pessoas com dificuldades para acordar com as sirenes e luzes dos detectores. Esse novo sistema “ouve” o alarme de incêndio e então envia um sinal para a cama. A outra parte do mecanismo, então, começa a vibrar com força a cama acordando os “dorminhocos”.

No século XXI, além dos alarmes tradicionais, novas tecnologias sem fio permitem várias formas de se acionar um alarme de incêndio. Comunicadores digitais, sistemas de rádio privados e transmissores de celular são acionáveis do lugar onde a pessoa está. Porém, os alarmes de acionamento manual ainda são vitais em qualquer edifício, pois as pessoas são muito boas para detectar incêndio.

6.6 ESCADAS As escadas de mão são ferramentas antigas. Uma escada está retratada em

uma pintura rupestre do período Mesolítico estimada em 10.000 anos, localizada em uma caverna em Valência, Espanha. Esta pintura mostra duas pessoas nuas carregando cestos ou sacos que estão empregando uma longa escada vacilante, que parece ser feita de algum tipo de relva, para alcançar uma colméia de abelhas silvestres para colher o mel. A criação das escadas nos moldes modernos é atribuída aos hebreus e egípcios.

Os Romanos inventaram a primeira escada prolongável de que se tem notícia. Era utilizada pelos Vigiles no salvamento e acesso a edifícios em chamas.

A grande vantagem deste aparelho residia na sua simplicidade. Em seus detalhes construtivos que não mudaram praticamente nada desde os tempos de Nero, eram úteis em praticamente qualquer ambiente e a sua portabilidade era tal desejável que apenas um homem podia carregar todo o equipamento. Ela era constituída por uma série de escadas curtas de 1,8 a 2,75 m de comprimento, sendo a parte inferior de cada segmento ligeiramente mais larga do que o topo.

Por meio de um entalhe, as seções podiam se encaixar e ser montadas em conjunto, sendo todos intercambiáveis, exceto o projetado para a base, que tem maior largura para oferecer uma maior firmeza no chão. O método de montagem era simples e engenhoso. A parte mais baixa é colocada contra a parede a ser escalada em um ângulo considerável. O bombeiro, em seguida, sobe-o com uma "seção" em seu ombro e armado com uma corda, um gancho preso à sua cintura e uma roldana.

Quando ele atinge um certo degrau, o qual na prática moderna é pintado de carmesim para padronização, ele atravessa uma perna no meio da escada, coloca o pé contra a parede, e apoiando-se, de modo a deixar as mãos livres, empurra a escada fora da parede e encaixa a"seção" sobre a qual ele está de pé.

Ele, então, laça uma outra "seção" e repete a mesma manobra. No Coliseu, em Roma, para fins de exposição, estas escadas foram unidas até chegarem a um

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comprimento total de 50 metros. Este aparelho, podemos observar, está em uso regular até os dias de hoje em muitos dos Corpos de Bombeiros italianos.

Escadas de Gancho foram usadas pela primeira vez no serviço de salvamentos em incêndio no final do séc. XIX. Acredita-se que foram inventadas pelo Tenente Chris Hoell, no Corpo de Bombeiros de Saint Louis, estado de Missouri, em 1877, porém, de acordo com sua tataraneta, a escada de gancho foi usada pela primeira vez na Europa, onde Hoell nasceu e servia como bombeiro voluntário em Elberfeld, na Alemanha. Ali ele teria observado e utilizado pela primeira vez essa escada e ela seria invenção do ano de 1828 criada por Belh na cidade de Schwabischgruund, na Alemanha.

Após mudar-se para os EUA em 1873, ele propôs ao prefeito de Saint Louis a organização de um Corpo de Bombeiros o qual ele foi nomeado como chefe. Mesmo não sendo sua invenção, em sua homenagem, a escada recebeu o nome de “Dispositivo de Salvar Vidas Chris Hoell”. Outros nomes para a escada de gancho são escada de escalada ou escada pompier. Em poucos anos estas escadas se tornaram populares no mundo todo graças a Hoell que escreveu um excelente manual para instrução de bombeiros.

Durante todo o século XIX diversas patentes de escadas prolongáveis tanto portáteis quanto montadas sobre rodas para acesso e salvamento em incêndio foram registradas, sendo a maioria do progresso nos EUA e Inglaterra. Elas estiveram dentre as maiores invenções no que se refere a equipamentos para Bombeiros desse século.

Em 27 de junho de 1846, James Cox, da escola Valle, na Pensilvânia, registrou a patente de uma escada prolongável, que é essencialmente a mesma que a de um aparelho de Londres, inventado e fabricado na Inglaterra em agosto de 1848, seriam cinco lances de escada, sobre uma pequena carroça sobre duas rodas, havendo ainda um pequeno cesto para crianças que deslizava pelos lances como um elevador e que também auxiliava na inclinação da escada.

Em 20 de fevereiro de 1847, William Van Loan patenteou uma escada de incêndio, que consiste de um tubo de lona através do qual as pessoas deslizavam, com os devidos ganchos para anexá-la às janelas. Soube-se que essa invenção também surgiu na Inglaterra.

Em 02 de junho de 1851, John CF Salomon patenteou uma escada com degraus dobráveis, com características totalmente novas. Uma patente para uma escada de extensão foi registrada por George W. Keller em 18 de abril de 1854, e outro pela Thos. Armitage, da mesma data. Desde essa data, as invenções se multiplicaram e o campo de invenção para escadas de bombeiros ampliou-se rapidamente.

Dentre essas invenções, uma se destacou: A “Aerial Ladder” (Auto-Escada) de Daniel Hayes. Ele foi o inventor da auto-escada moderna, com exceção do sistema de tração do carro, ainda a cavalo. Em 1868 ele projetou e construiu uma escada prolongável que era erguida por um mecanismo assistido por mola sobre um carro de escadas. Essa auto-escada revolucionou o uso de escadas nos incêndios. Ela podia ser erguida rapidamente até as janelas dos edifícios em chamas para o salvamento de vítimas e tinha um “extensão de solo” que permitia a elevação da escada pela calçada sem correr o risco de encostar-se nos fios de eletricidade. Ela também era montada sobre uma plataforma giratória e sua altura máxima chegava próximo de 23 metros. Onde foi inventada, em São Francisco, ela esteve em uso pelos bombeiros até a década de 1950.

No século XX haviam diversas empresas no mercado de carros de incêndios e auto-escadas. American La France e Magirus foram e ainda são duas das maiores fabricantes de auto-escadas do mundo, dentre outros veículos para bombeiros.

Em 1931, a Magirus lançou a primeira auto-escada de aço, em 1935 a Pirsch lança a primeira escada de alumínio, e, em 1938, a American La France anunciou o lançamento da primeira auto-escada com mecanismo de elevação hidráulico a pistão e escada metálica. Esse é o mecanismo utilizado até hoje nesses caminhões.

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A Bronto Skylift é uma grande fabricante de veículos de bombeiros atual. Incluem-se dentre seus veículos Auto-Escadas de 23 a 112 metros de alcance feitas em aço ou alumínio.

Dividem-se em: RLX – Auto-Escadas para trabalho de 32 a 55 metros; RPX – Auto-Plataformas para trabalho de 32 a 70 metros; HLA - Auto-Plataformas Articuladas para trabalho de 69 a 112 metros . 6.7 ROUPAS DE PROTEÇÃO Na antiguidade, os brigadistas de Roma vestiam as mesmas vestimentas que

os militares, apenas mantinham cores diferentes para identificação e possivelmente utilizavam algumas proteções de couro, visto que as armaduras de metal absorveriam mais o calor das chamas dificultando o desempenho e oferecendo mais risco.

Na Idade Média, até aproximadamente o século XVIII não havia grande preocupação com a proteção física e respiratória dos bombeiros voluntários, nem mesmo uniformes havia. Exceção talvez feita pela preocupação de Leonardo da Vinci no século XV com intoxicação respiratória por agente químicos, para o que sugeria um máscara seca e um dispositivo respirador desenhado por Agricola, no século XVI, para uso em minas, cujas características poderiam servir aos combatentes do fogo, não havendo registros de que isso tenha ocorrido.

No século XVIII alguns Corpos de Bombeiros já utilizavam capacetes, botas de couro e uniformes feitos de tecido. Já no século XIX haviam casacos de couro ou lona. Aproximadamente na mesma época em que Gratacap inventava o capacete de incêndio nos EUA (Entre 1821 e 1836) os bombeiros passaram a utilizar como uniforme pesadas roupas de lã, que é um material que fornece proteção tanto em ambientes frios quanto quentes. Bombeiros, então, usavam um casaco longo com colarinho duro e calças feitas de lã e para completar o uniforme, calçavam botas de couro de cano longo. Sob o casaco os bombeiros vestiam camisetas de algodão ou lã, geralmente na cor vermelha. Os casacos de lona e couro também permaneceram em uso, sendo aprimorados até o fim da Primeira Guerra Mundial.

Com o desenvolvimento da borracha no início do século XX, este material teve um papel muito benéfico na vestimenta dos bombeiros. Capas impermeáveis de borracha sobre os casacos de lã davam proteção adicional contra o calor e mantinham o usuário seco. Botas de borracha também davam maior proteção e mantinham os pés secos, as primeiras botas eram tão longas quanto as de couro, atingindo a altura do joelho e haviam ainda as chamadas "botas de três quartos", que podiam se estendidas quase até a altura do quadril.

Foi só após a Segunda Guerra Mundial que normas para os equipamentos de proteção pessoal de bombeiro foram desenvolvidas. Várias organizações começaram testes de desempenho e criando padrões para os equipamentos de proteção. A pioneira nessa empreitada foi a Associação Nacional de Proteção Contra o Fogo (National Fire Protection Association - NFPA) com a norma “NFPA 1971” lançada em 1975. Ela criou um padrão de roupa de proteção para incêndios estruturais estabelecendo que a roupa deveria ter três camadas, sendo a primeira (externa) um tecido que resistia a um calor de 500° Celsius por cinco minutos sem se deteriorar, derreter ou rasgar, a segunda camada seria para prevenir entrada de umidade e a terceira camada para proporcionar isolamento térmico contra radiação, condução e convecção. Esta norma ainda é a utilizada até hoje pelos EUA, com as devidas atualizações, ou seja, as roupas continuam tendo três camadas, escudo externo, barreira contra umidade e barreira térmica, havendo entre as camadas bolsos de ar.

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Na década de 1980, os bombeiros começaram a usar roupas feitas de três materiais avançados: um material na camada externa que elevou o nível de resistência ao fogo de cerca de 1.200 ° C até começar a rachar, uma camada que permitia ao bombeiro liberar umidade da roupa, e um material sintético resistente ao fogo. Idealmente, este último irá durar cerca de sete segundos em uma situação flashover (quando todos os materiais combustíveis, incluindo paredes e pisos, de repente se inflamar) antes de pegar fogo, o que normalmente é tempo suficiente para se deixar um cômodo. Além disso, é auto-extinguível, ou seja, uma vez fora de contato com o fogo, ele não vai continuava a queimar.

As matérias primas principais, ainda utilizadas nas roupas de combate a incêndios até hoje, eram o tecido sintético de fibra aramida intitulado de Nomex, surgido na década de 1960 e outro tecido de fibra aramida chamado Kevlar, surgido em 1973. Em 1983 foi criado o polibenzimidazole ou PBI utilizado isoladamente ou em conjunto com os demais tecidos nas roupas de combate a incêndio. A barreira de umidade é feita geralmente de polímero impermeável e ignífugo e a barreira térmica em fibras sintéticas de metaramida e aramida, como o Nomex, sendo acolchoadas internamente.

Em 1988, a NFPA, através da NFPA 1982, estabeleceu o uso de um dispositivo de segurança pessoal nas roupas dos bombeiros, chamado Personal Safety Alert System (PASS). Este dispositivo é um detector de movimento de seu usuário que aciona um alarme sonoro quando não detecta movimento depois de 30 segundos.

As roupas de proteção modernas estão tão eficientes na proteção contra o calor que atualmente já existem roupas com sensores térmicos que alertam o usuário de temperatura limite pré-estabelecida. Esta nova geração de roupas consiste de seis sensores térmicos encapsulados por silicone localizados nos ombros, costas e peito das jaquetas, logo abaixo da primeira camada.

6.8 EXTINTORES O primeiro extintor de incêndio de que se tem algum registro foi patenteado na

Inglaterra em 1723 pelo famoso químico Ambrose Godfrey. Ele consistia num tonel com líquido extintor contendo uma câmara feita de estanho carregada com pólvora e ligado a canos ao longo de um cômodo, de modo parecido aos sprinklers modernos. A pólvora era ligada a um sistema de fusíveis que eram acesos queimando, em seguida, a pólvora e expulsando o líquido extintor. Este dispositivo provavelmente tinha um uso limitado pois não foi projetado para ser portátil e sim proteger um cômodo ou local específico, seu desempenho em apagar um incêndio em Londres foi relatado no jornal “Bradley's Weekly Messenger”.

O extintor de incêndios moderno foi invento pelo Capitão Britânico George William Manby em 1818; consistia em um recipiente cilíndrico de cobre com 13,6 litros de solução de cinzas de pérola (carbonato de potássio) juntamente com ar comprimido.

O extintor de Soda-ácido foi patenteado em 1866 por Francois Carlier da França, que misturou uma solução de água e bicarbonato de sódio com acido tartárico, produzindo o gás propelente CO2. Outro extintor de soda-ácido foi patenteado nos EUA em 1881 por Almon M. Granger. Seu extintor usava a reação obtida entre o bicarbonato de sódio e ácido sulfúrico para expelir água pressurizada. Um frasco era suspenso no cilindro contendo ácido sulfúrico concentrado. Dependendo do tipo de extintor, o frasco de ácido podia ser quebrado de duas maneiras. Um usava um êmbolo para quebrar o frasco, enquanto o outro utilizava uma tampa de chumbo que mantinha o frasco fechado. Uma vez que o ácido era misturado com a solução de bicarbonato, o gás carbônico era expulso e, assim, pressurizava a água. A água era expulsa sob pressão do recipiente por um bico ou uma pequena mangueira.

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O extintor tipo cartucho foi inventado por Ler & Campbell, da Inglaterra, em 1881, no qual usou-se água ou soluções à base de água. Pouco depois, inventaram um modelo de tetracloreto de carbono, chamado “Petrolex”, que inclusive foi comercializado para uso automotivo.

O extintor de espuma química foi inventado em 1904 por Aleksandr Loran na Rússia. Baseado na sua invenção anterior, a espuma para combate a incêndio. Loran o usou pela primeira vez para apagar o fogo numa vasilha de nafta em chamas. Seu funcionamento era similar aos extintores de soda-ácido, mas suas partes internas eram ligeiramente diferentes.

O tanque principal continha uma solução de bicarbonate de sódio na água, enquanto o tanque interno (um pouco maior do que o dos extintores de soda-ácido). Quando as soluções era misturadas, geralmente ao ser inverter o extintor, os dois líquidos reagiam criando uma espuma densa e gás dióxido de carbono. O gás expelia a espuma na forma de jato. Apesar de raízes de alcaçuz, extratos e outros compostos fossem usados como aditivos (estabilizando a espuma reforçando as paredes das bolhas) não havia um “composto de espuma”. Ela era resultado da combinação dos produtos, inclusive por isso inclusive por isso era descarregada diretamente da unidade, sem tubo de aspiração, como nos modernos.

Em 1910, a Companhia de Fabricação de Pirênio de Delaware registrou a patente da substância tetracloreto de carbono (TCC) para extinção de fogo. O TCC vaporizava e extinguia as chamas ao criar um denso cobertor de fumaça que expulsava o oxiegênio e, em menor medida, inibindo a reação química. Um ano depois, eles patentearam um extintor portátil que usava o composto criado.

Consistia num cilindro de bronze ou cromo com uma bomba manual integrada, usada para expelir o líquido na forma de jato. Quando o recipiente desressurizava, podia ser recarregado através de um plugue de enchimento. Esse agente extintor podia ser utilizado em incêndio em equipamentos elétricos e líquidos inflamáveis.

Na década de 1950 os extintores de tetracloreto de carbono foram proibidos devido à toxidez em concentrações mais altas do produto. Causando danos ao sistema nervoso e órgaos internos. Além disso, quando aquecido, o produto se transformava no gás Fosgênio, utilizado como arma química.

Na década de 1940, os alemães inventaram o líquido clorobromometano (CBM). Era mais eficiente e ligeiramente menos tóxico que o tetracloreto e foi utilizado até 1969.

O brometo de metil foi descoberto como um agente extintor na década de1920 e foi extensivamente usado na Europa. Era um gás de baixa pressão que agia inibindo a reação em cadeia do fogo e foi o liquido extintor cujo vapor era o mais tóxico, utilizado até os anos de 1960. Os vapores e subprodutos dos líquidos extintores eram todos tóxicos e podiam matar em ambientes confinados.

O extintor de dióxido de Carbono (CO2) foi inventado pela Companhia Walter Kidde em 1924 em resposta a um pedido da empresa de telefonia de Graham Bell por um agente químico capaz de apagar o fogo sem conduzir eletricidade devido a dificuldade de combaterem incêndios em seus quadros de distribuição. A Kidde ainda é a maior fabricante de extintores do mundo. O dispositivo consistia de um cilindro de metal alto contendo 7,5 kg de CO2 com uma válvula giratória e uma mangueira de bronze coberta com tecido de algodão com um tipo de chifre em forma de funil como bico.

Em 1928, a empresa DuGas (comprada pela ANSUL mais tarde) surgiu com um extintor tipo cartucho de pó químico seco que usava bicarbonato de sódio especialmente tratado com químicos para dá-lo fluidez e torná-lo resistente à umidade. Era um cilindro de cobre com um cartucho interno de Co2. O operador girava um válvula no topo para perfurar o cartucho e apertava uma alavanca numa válvula na ponta da mangueira para descarregador o pó químico.

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O extintor de pó químico seco foi um tipo especial de extintor até aproximadamente a década de 1950, quando pequenos extintores de pó químico seco foram comercializados para uso residencial. O pó químico seco ABC foi inventado na Europa na década de 1950. Em seguida outros dois tipos de agentes de química seca, Super K (cloreto de potássio) e Purple-K (bicarbonato de potássio) foram desenvolvidos pela marinha Americana.

Na década de 1970 os primeiros extintores de Halon apareceram na Europa. O Halon, contendo elementos químicos como o bromo, flúor, iodo e cloro atua sobre o processo de combustão inibindo o fenômeno da reação em cadeia. No entanto, apesar da sua comprovada eficiência, este produto encontra-se interditado em vários países por razões de ordem ambiental, principalmente por efeitos nocivos à camada de ozônio. Mas ainda está em uso nos EUA, Oriente Médio e Ásia.

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CAPÍTULO VII

BREVE HISTÓRIA DOS PRIMEIROS-SOCORROS

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7. Os primeiros “Primeiros-Socorros”

O termo “primeiros-socorros” já é popularmente aceito e conhecido, mas onde este termo foi cunhado e quem eram os primeiros socorristas?

O homem pré-histórico desenvolveu métodos para tratar doenças e ferimentos que o acometiam. Provavelmente não levou muito tempo para perceberem que um pouco de pressão local diminuía um sangramento ou que amarrar um galho a um osso quebrado dá estabilidade e ajuda a curar.

O primeiro serviço de primeiros-socorros registrado pela história data de 1099, quando os cavaleiros da Ordem dos Cavaleiros de São João eram treinados para aplicar técnicas médicas em feridos. Essa Ordem se especializou em tratamento de feridos em batalhas durante as cruzadas e constituiu o primeiro exemplo de pessoas treinadas para prestar primeiros-socorros.

Uma das formas mais antigas de ressuscitação, a respiração boca-a-boca, foi estabelecida pela primeira vez em 1740 pela Academia de Ciências de Paris. Duas décadas depois, esta informação foi amplamente difundida com a criação da Sociedade para Recuperação de Pessoas Afogadas.

Em 1792, o Cirurgião Geral do Exército Francês, Dominique Jean Larrey, formou o primeiro corpo médico oficial do exército, sendo o primeiro na história a tratar os feridos durante os combates. As pessoas foram treinadas e equipadas para trabalhar fora dos hospitais de campanha. A sua missão era administrar os primeiros-socorros no campo de batalha e, quando necessário, remover a vítima ao hospital de campanha levando-as em carroças.

Durante a década de 1860, a primeira Convenção de Genebra ocorreu e a Cruz Vermelha Internacional surgiu para proteger e tratar soldados doentes e feridos no campo de batalha. Ambas resultaram do trabalho iniciado pelo suíço Henry Dunant, que havia testemunhado soldados de ambos os lados sendo abandonados à morte com ferimentos horríveis na Batalha de Solferino em 1859, os quais ele tentou ajudar com o auxílio de civis. Pouco tempo depois, um cirurgião do exército veio pela primeira vez com a idéia de formação de civis no que foi denominado "pré-tratamento médico".

O final do século XIX assistiu a mudanças drásticas no campo dos primeiros-socorros com a formação da moderna Cruz Vermelha Britânica (1870) e organização Ambulância São João (Saint John Ambulance - 1877). Em 1878 o termo “primeiros-socorros” surge pela primeira vez sendo tido como uma derivação da frase “primeiro tratamento” e “socorro nacional”.

O Major Cirurgião Peter Shepherd e um Doutor Coleman executaram o primeiro curso de primeiros socorros público na Igreja Presbiteriana em Woolwich, Londres, em janeiro de 1878. O Dr. James Cantile, posteriormente, publicou as notas de aula de Shepherds desse curso como um manual de primeiros socorros aos feridos. Não demorou muito para que a Ambulância São João estivesse realizando demais cursos públicos nas cidades de toda a Grã-Bretanha.

As primeiras equipes ambulatoriais oficiais foram treinadas para atuarem em minas e em ferrovias. Os atendentes eram treinados nos conceitos mais básicos e eram

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equipados com carrinhos de mão. Embora representassem um grande avanço em relação à estrutura anterior, não eram pouco mais do que um serviço de transporte. No fim de 1897 foi formado o primeiro serviço ambulatorial 24 horas de Londres, instituído pelo Conselho Metropolitano de Asilos.

Durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, a Cruz Vermelha Britânica e São João da ambulância se uniram para formar o Organização Conjunta para a Guerra e desempenharam um papel importante na sustentação dos serviços médicos, tanto nos campos de batalha no estrangeiro e na Grã-Bretanha.

O National Health Service Act de 1946, que entrou em vigor em 1948, determinou que se tornassem as ambulâncias disponíveis para chamado por qualquer pessoa que necessitasse delas, o que é praticamente o mesmo que ocorre no serviço de emergência que conhecemos hoje.

Baseada na obra de James Elam e Peter Safar a American Heart Association desenvolveu a RCP, ressuscitação cardio-pulmonar, em 1960. A organização instituiu em seguida um programa para treinar médicos em todo o país, que, por sua vez, formaram o público em geral. A técnica foi logo adotada nos cursos da Cruz Vermelha em todo o mundo.

A prática e o treinamento de primeiros-socorros modernos derivam, sem dúvida, do trabalho da Cruz Vermelha e Ambulância São João e, em princípio, pouca coisa mudou, exceto, naturalmente, pela evolução de técnicas de tratamento; um manual dos primeiros tempos certamente revelaria práticas que acharíamos, no mínimo, divertidas hoje em dia.

Mais de cem anos após o primeiro curso de primeiros-socorros, quando as classes de formação são constituídos por alunos do sexo masculino e feminino, você poderia encontrar problemas se você tentasse formar classes do mesmo sexo, em 1908 a separação era norma e a frase "classes mistas de homens e mulheres não são permitidas em nenhum caso" era impresso na frente de manuais de treinamento. Uma análise mais aprofundada revela que o curso era dividido em cinco aulas, palestras 1-4 eram padrão para homens e mulheres, enquanto que a quinta palestra para os homens ensinava a lidar com as macas, porte e transporte dos pacientes, enquanto que para as mulheres ensinava a preparação para a chegada de mortos, preparo do leito, a remoção das roupas e os preparativos para os cirurgiões.

Um exemplo tratamento antigo para histeria, diz que o paciente geralmente será uma garota e sugere: 1. Evite simpatia com a paciente, e fale com ela com firmeza. 2. Ameaçe-a com ducha de água fria, e se ela persistir em sua “crise”, borrife-a com água fria. 3. Aplicar uma folha de mostarda na parte de trás do pescoço.

O tratamento pré-hospitalar moderno dos doentes e feridos tem avançado a um ritmo sem precedentes nos últimos anos devido às mais recente pesquisas médicas e novos equipamentos, como o DEA (Desfibrilador Externo Automático) e ambulâncias de alta tecnologia, mas o objetivo básico dos primeiros-socorros permanece exatamente o mesmo que o dos cavaleiros do século XI.

Não se sabe exatamente quando o serviço dos bombeiros se associou com o de primeiros-socorros oficialmente, porém, estima-se que ocorreu entre o final do século XIX e início do século XX, quando os bombeiros começaram a aprender técnicas de primeiros-

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socorros tanto para resgate dos próprios bombeiros feridos quanto de vítimas. Esse treinamento em primeiros-socorros aliado a um plantão de 24 horas de serviço disponível para a comunidade teria sido a fórmula que originou o modelo de serviço atual.

No Brasil, certamente a atividade de bombeiro se diversificou à partir da década de 1930, mas mesmo no final do século XIX o Corpo de Bombeiros da Corte já possuía uma ambulância tipo carroça puxada por cavalos.

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PARTE IV

HISTÓRIA DO COMBATE A INCÊNDIOS NO BRASIL

CAPÍTULO VIII

PRIMEIRO CORPO DE BOMBEIROS NO BRASIL

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8.1 Fatos que deram origem à criação do Corpo de Bombeiros

Com o passar dos anos, alguns setores governamentais, embora acanhadamente, começaram a se preocupar com os incêndios intempestivos. Repartições, como a de Obras Públicas, adquiriram alguns baldes de lona, cordas e escadas e os mantinham prontos para uso imediato, em caso de surgir algum incêndio.

Além disso, escalavam dentre os funcionários mais rápidos e corajosos os que deveriam largar os seus afazeres e correrem para o incêndio que surgisse, levando o material destinado àquele trabalho. Mas isso não satisfazia a necessidade de se extinguir os incêndios que aumentavam na medida em que a cidade também crescia.

Por serem setores diferentes, cada um trabalhava segundo a sua visão, e aos funcionários se juntavam os populares. Alguns, mesmo com boa intenção, não tinham a menor prática naquele mister e outros camuflavam na ajuda a verdadeira intenção de furtar objetos de valor. Não havia um responsável e cada incêndio era uma balbúrdia que obrigava os policiais da Corte a agir, aumentando a confusão. É bem verdade que o chefe de polícia procurava organizar o serviço, mas a falta de conhecimento naquela área não ajudava muito e quase sempre os incêndios eram extintos por não haver mais o que queimar.

A cidade continuava a crescer e os incêndios, também. Era preciso fazer algo. O Arsenal de Marinha tinha um grupo especializado para extinguir incêndios em embarcações. Já havia uma experiência naquele tipo de atividade, e o Arsenal possuía ainda algumas bombas portáteis e respectivas mangueiras. Aproveitando essa condição, o Imperador D. Pedro II editou o Alvará Régio datado de 12 de agosto de 1797, atribuindo ao Arsenal de Marinha a responsabilidade sobre o serviço de extinção na Cidade do Rio de Janeiro. O pessoal e o material utilizado deveriam ser o do Arsenal e das repartições que já se ocupavam das extinções. Durante algum tempo, o serviço de extinção foi executado como planejado, mas não demorou até ocorrer a primeira das muitas divergências que obrigariam a uma intervenção da Corte.

Quando ocorria um incêndio, além do pessoal das seções, comparecia o Inspetor-Geral do Arsenal, pela responsabilidade do trabalho, e quase sempre o chefe de Polícia. Como a atividade era em terra, o chefe de Polícia, julgando-se autoridade maior, contestava as ordens dos bombeiros do Arsenal, mesmo não tendo a menor experiência em incêndios. Cresciam juntos a cidade, a quantidade de incêndios e as divergências entre aquelas autoridades.

Desde 1817, o Inspetor-Geral de Marinha, vice-almirante Antônio da Silva Pacheco, embora não fosse obrigado por lei, vinha adotando a praxe de comparecer pessoalmente aos incêndios, tanto em terra como no mar, superintendendo os trabalhos de extinção, pois gostava do serviço. Como o Arsenal já dispunha de bombas manuais e respectivas mangueiras, esse material era transportado e manobrado por escravos, que foram posteriormente substituídos por operários militarizados, sediados no Arsenal. Naquela época, as seções em que havia pessoal para o serviço de incêndios eram, além do Arsenal de Marinha, o Arsenal de Guerra, a Casa de Correção, com um grupo de africanos livres, e a Seção de Obras Públicas, que possuía dois grupos distintos. Em todos os incêndios, para auxiliar a manutenção da ordem e isolamento do local, comparecia a Polícia.

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Em 11 de agosto de 1825, durante os trabalhos de extinção de um incêndio que ocorria na Casa da Moeda, deu-se um conflito entre o inspetor do Arsenal de Marinha e o brigadeiro da Guarda de Polícia, ambos querendo administrar o serviço. Nos incêndios de menor porte, essas divergências não existiam ou eram pouco notadas, mas no caso da Casa da Moeda tal disputa de autoridade não soou bem aos ouvidos do Império. Achando-se ferido em seus brios, o Inspetor oficiou ao Ministro da Marinha, solicitando esclarecimentos sobre suas atribuições nos incêndios. O Ministro então, por Aviso (documento oficial da época) de 17 do mesmo mês, respondeu que a supervisão dos trabalhos, como vinha acontecendo até então, competia exclusivamente ao diretor do Arsenal, assinalando inclusive que o material pertencia ao Arsenal, bem como o pessoal, ficando a polícia com as atribuições específicas de sua área. Durante algum tempo, ou seja, por alguns anos, não houve atritos dignos de registro.

Em 22 de julho de 1841, uma violenta explosão, seguida de incêndio, destruiu completamente o palacete da Aclamação, no Campo de Santana.

Achava-se concentrada grande quantidade de fogos de artifícios para o encerramento da sagração à coroação de D. Pedro II, quando se deu a explosão, cuja causa "não foi possível apurar". Nessa ocasião, houve várias mortes e muitos feridos. Sensível ao acontecido, o Imperador mandou suspender os festejos e custeou as despesas dos funerais e o tratamento dos feridos.

Em 1845, voltou a anarquia na questão da direção do combate aos incêndios.

Os choques entre a polícia e o pessoal do Arsenal, responsável pela extinção dos incêndios, eram constantes. Diante disso, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Antônio Pedro de Carvalho oficiou ao Ministro da Marinha um documento nos seguintes termos:

"Ao chegar ao local do incêndio, fiquei bastante surpreso, encontrando todo mundo a mandar sem haver unidade e soube então que por isso se estragava grande parte do que havia nas casas incendiadas."

Terminou o ofício fazendo várias sugestões, entre elas, e de ser restabelecida a praxe de ficar o comando com o Inspetor do Arsenal de Marinha; na ausência deste, com o Inspetor de Obras Públicas, que deveria também comparecer.

Persistindo o conflito de autoridade, o Ministro da Justiça expediu o Aviso de 26 de julho de 1849, determinando que o serviço de combate a incêndio competiria à autoridade de patente militar de maior graduação que se encontrasse presente.

O Inspetor do Arsenal, no entanto, não concordou com essa decisão. O Capitão-de-Mar-e-Guerra Joaquim José Ignácio, futuro Visconde de Itaúna, não queria ficar subordinado a qualquer outro oficial de patente superior à sua que comparecesse ao local dos incêndios. Alegava que a especialidade de combate era do seu posto para baixo e que a superioridade hierárquica não dava condições profissionais suficientes para a direção dos trabalhos de extinção. Assim, oficiou ao Ministro, argumentando ainda que, como o antecessor não possuía cavalgadura – e para ir a pé chegaria extenuado – sugeriu que a pessoa indicada para o serviço, em virtude da natureza de suas funções, era o diretor de Obras Públicas, auxiliado pelos ajudantes de inspeção do Arsenal e pelos oficiais dos navios de guerra. Em resumo, por mais que se tentasse, não se conseguia um acordo sobre a direção dos trabalhos.

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Os constantes conflitos de autoridade estavam causando mal-estar entre o chamado "escalão médio" do Império, inclusive desacordos entre ministros, que não concordavam entre si através de diversos avisos ministeriais. Independente desses desacordos, havia também, e principalmente, a falta de certeza da população. Afinal, a quem deveria recorrer em caso de incêndio? E, nesses casos, a falta de uma autoridade central levava a extinção sem um empenho denodado. Em conseqüência, muitos bens se perdiam, queimavam ou eram retirados por terceiros enquanto se discutia quem deveria proceder a extinção ou comandar os serviços. A cidade, porém, alheia a esses desacordos, crescia a passos largos, exigindo uma solução para o fato.

8.2 Dom Pedro II Cria o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte

Um dos homens que mais se incomodava com essa situação era o Visconde de Barbacena. Homem íntegro e de um amor inabalável pelo país, o visconde observava um jogo de interesses entre o diretor do Arsenal, o chefe de Polícia, a imprensa e os proprietários, que colocavam nas autoridades a culpa por um serviço mal prestado por parte dos órgãos que deveriam se colocar como intermediários entre eles (proprietários) e as chamas. Não raro pediam indenização financeira pelos prejuízos causados em razão dessa divergência, e com relativa facilidade a conseguiam.

Não demorou até que o Visconde de Barbacena sugeriu ao imperador que criasse um comando específico para aquele grupo de trabalho, voltado unicamente para a segurança da população no que se referia a incêndios, sem, no entanto, convergir para a autoridade policial.

D. Pedro via com bons olhos a criação do órgão. Seus auxiliares, cientes da boa vontade do Imperador, desdobraram-se para a concretização do relevante serviço. Estudos se sucederam, consultas foram feitas a outros países onde já havia Corpos de Bombeiros. Considerando que o tipo de serviço do novo órgão teria muito a ver com as construções que emergiam a cada dia, D. Pedro escolheu um major do Exército, da arma de Engenharia, para ser o seu primeiro comandante. Era ele o Major João Baptista De Castro Moraes Antas. Corria o mês de junho de 1856. Tão logo foi informado oficiosamente da nova função, Moraes Antas, oficial capaz, empreendedor e de reconhecido senso de organização, pôs-se a trabalhar no planejamento do que seria a primeira organização destinada à extinção de incêndios do país.

O dia 2 de julho daquele mesmo 1856 seria como outro qualquer não fosse a publicação do Decreto nº 1.775, que criava o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte, reunindo sob um só comando as seções dos Arsenais de Marinha e de Guerra, as duas seções das Obras Públicas e da Casa de Correção. As quatro primeiras formadas por operários artífices daqueles órgãos e a última formada por africanos livres, subordinando-o ao Ministério dos Negócios da Justiça. Era um marco na História do Brasil, era o germinar de uma instituição hoje secular, destinada exclusivamente a salvar vidas e bens. A imprensa, na época, assemelhou-a a Cruz Vermelha, cuja finalidade é o valor da vida humana, independente da situação que se apresente. O material de combate adotado pela nova organização restringia-se a 15 bombas manuais, 13 escadas diversas, dois sacos de salvação, mangueiras e baldes de couro suficientes para o pessoal engajado.

O contingente que constituía os combatentes da época era de homens já com suas ocupações definitivas e não recebiam qualquer gratificação pela função de bombeiro. Essa condição impedia uma dedicação exemplar por parte desses homens, que muitas vezes tinham de avançar noite adentro combatendo incêndios. Não convinha

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a Moraes Antas dispor de pessoal desmotivado, principalmente os bombeiros do Arsenal de Marinha, cujo horário de trabalho era muito mais extenso, até porque, a partir de então, seriam especialistas em combate a incêndio e precisavam ser reconhecidos nessa nova condição. Essa insatisfação começou a prejudicar o serviço. Os bombeiros do Arsenal já não se dedicavam como antes, e até as chamadas "bombas portáteis de incêndio", todas pertencentes àquele Arsenal, passaram a ser transportadas com morosidade. Isso trazia um descrédito para o Corpo de Bombeiros. Para contornar a disciplina funcional, suprir as necessidades de serviço e satisfazer os anseios dos bombeiros, Moraes Antas oficiou ao Ministro da Marinha expondo a necessidade de uma gratificação para os bombeiros, principalmente os artífices, que exerciam função dupla. Ficou então estabelecido que cada bombeiro receberia "uma gratificação de 200 reis por jornal'' (jornada de trabalho, diária de serviço).

É interessante expor que a função administrativa estava relacionada a alguns encargos do chefe de Polícia da Corte, mas certamente esse procedimento é creditado primeiro à condição "provisória" do Corpo de Bombeiros; em segundo, à experiência de uma corporação mais antiga, como a Polícia da Corte, e à missão paralela com o mesmo objetivo, que já era proteger a população e seus bens ou pelo menos minimizar seu sofrimento.

Nove meses após sua nomeação, mais exatamente em 13 de março de 1857, Moraes Antas oficiou ao Conselheiro Dr José Thomaz Nabuco de Araújo, então Ministro da Justiça, informando já ter organizado o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte. Este relatório encontra-se sob a guarda do Arquivo Nacional e constitui-se em um marco sobre o qual se construiu um império de bravura e desprendimento.

8.2.1 Primeiras Medidas

Bem diferente do que dar prosseguimento ao comando de uma organização já existente é criar todo o complexo administrativo e operacional. Lendo o texto do decreto da criação, constatamos que Moraes Antas tinha diante de si a difícil missão de criar uma corporação de características específicas, unindo o referido decreto, as informações sobre Corpos de Bombeiros de outros países e as necessidades do serviço na Cidade do Rio de Janeiro. Sua principal referência era a França, porém outras organizações antigas, como a de Roma, foram espelho para a criação do Corpo.

Uma das primeiras medidas do novo comandante, já tomada em 4 de agosto, nove dias após sua nomeação, foi encomendar ao Ministro Plenipotenciário do Brasil na Corte da França, hoje embaixador, que adquirisse "uma bomba de apagar incêndios com todos os componentes, segundo o novo systema de invenção." Isso porque as bombas utilizadas até então pertenciam ao Arsenal de Marinha e eram em número insuficiente para suprir as necessidades de um Corpo de Bombeiros.

Nos primeiros tempos, é de se supor que não havia uma técnica de combate a incêndio nem equipamento que facilitasse o trabalho dos soldados do fogo. As mangueiras eram pesadas, bem como as chamadas "bombas portáteis", as escadas e demais ferramentas. Para um desempenho suficiente, era exigido que os candidatos fossem robustos, condicionados fisicamente e corajosos, como condições básicas para o ingresso, sem se levar muito em conta o conhecimento intelectual. Os primeiros exercícios eram realizados duas vezes por semana no "Gimnasio" do Arsenal de Guerra, cedido pelo Ministro dos Negócios da Guerra José Maurício Wanderley em 25 de agosto

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daquele mesmo ano. Dias depois, mais exatamente em 19 de setembro, os exercícios passaram a ser feitos no ginásio da Casa de Correção.

Em 20 de dezembro de 1856, foi feita uma recepção festiva à primeira bomba (manual) de incêndio, solicitada à França, e apresentado o primeiro machado importado. Esse material foi colocado na Seção da Casa de Correção, onde os bombeiros eram africanos livres.

Quando o Corpo de Bombeiros deixou de ser "provisório", em 30 de abril de 1860, pelo Decreto nº 2.587, o primeiro posto de bombeiros ainda ocupava aquelas instalações. Nesse primeiro posto e nos outros que foram criados posteriormente, durante muitos anos, os bombeiros foram divididos em duas turmas. Durante o dia, apenas uma permanecia de serviço, mas à noite todos eram obrigados a permanecer no posto, salvo por autorização expressa do Comando. Isso se fossem casados e tivessem bom comportamento. Em 1936, quando foi criado um novo regulamento, essa determinação ainda existia, só vindo a ser abolida muitos anos mais tarde. Esse era o triste e famoso artigo 106.

8.2.2 Relatório do Primeiro Incêndio

O primeiro incêndio registrado após a fundação do Corpo de Bombeiros ocorreu no dia 1º de novembro de 1856.

No relatório do chefe do socorro, revelava-se também a primeira perícia realizada no local do sinistro para se determinar as causas do incêndio. Esse relato é bastante interessante como documento da cidade, por isso será publicada na íntegra, inclusive respeitando-se a grafia da época.

1º de novembro de 1856

"Ilmo e Exmo Senr.

Achando-me encarregado do commando do Corpo Provisório de Bombeiros, no impedimento do respectivo Diretor Geral, cumpre-me communicar a V. Exa., para que chegue ao conhecimento do Exmo. Senr. Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Justiça que, hoje, ás 3 ¾ horas da tarde, deu signal de incendio o convento de Sto. Antônio. Achando-me no morro do Castello, onde n'aquelle momento acabara de fazer entrega ao Diretor dos Telegraphos do mastro e demais objetos que devem servir paras os signais que manda o regulamento nº 1775 de Julho do corrente anno, em casos de incendios, desci a galope, e em caminho soube que o incendio era no mesmo convento, cujo sino anunciava fogo na Freguesia da Candelária, motivando assim alguma demora na chegada das bombas que se dirigirão para o lado oposto d'aquelle para onde devião ir; não porem essa demora ter sido de lamentar.

Logo que alli cheguei, dirigi-me ao logar onde se havia manifestado o fogo, que achei extinto pelo esforço do Padre Guardião e outros, os quaes informarão-me de que havia bem fundadas suspeitas de ter sido o fogo ateado de propósito. Com effeito, o exame a que procedi, acompanhado do Instructor Geral do Corpo de Bombeiros, Bernardo Urbano de Bidengorry e do Rmo Padre Guardião, demonstrou claramente que eram justas aquellas suspeitas, pois que subindo ao forro da cella que serve de archivo, e onde se achavão dous cofres contendo objetos de prata, segundo fui informado e em cujo teto começou a lavrar o fogo, o qual foi descoberto pelo mesmo Padre Guardião, que ao

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passar alli sentio os estalos da madeira em combustão, vi que um dos barrotes achava-se carbonisado pela parte superior, indicando ter havido trabalho para lhe communicar o fogo; junto desse barrote havião alguns cavacos que tinhão começado a arder , e a pouca distancia achou-se uma maço de phosphoros já queimados. A parede da cella contigua, por onde se pode chegar a esse forro, entrando por uma abertura no tecto, mostrava ter sido escalada pela caliça que se via no chão, sendo a dita parede de pao a pique, e podendo servir de degrao as ripas que seguiam o barro, como verifiquei subindo por ellas, com o Instructor Geral do Corpo, notando que a fechadura da porta dessa cella mostrava ter sido forçada.

Além d'esses indicios, que parecem ser suficientes para não deixar duvida sobre a tentativa do crime, que ameaçou destruir aquelle edificio, se as chamas lavrasse n'aquelle logar, há as revelações que ouvi de varios religiosos e da boca do venerando Padre mestre Frei Francisco de Mont'Alverne, aos quaes circunstanciadamente chegarão ao conhecimento de V. Exa.

Deo-se ima busca no forro do edificio na parte ameaçada para descobrir o author do attentado, mas ninguem se encontrou.

Acompanhado do Guardião e de mais alguns reverendos e soldados da polícia, percorri todo o convento mas ainda sem resultado. Comtudo, essa busca não me pareceo satisfatoria por ser vastissimo o edificio e não haver tempo, em conseqüência de approximar-se a noite, de explorar todos os cantos do convento. Entretanto servio para observar se havia outro ponto ameaçado, o que felismente não se deo.

Ficando a disposição da competente authoridade policial a força de pedestres e de permanentes, mandei que se collocasse duas pipas com agua á porta do convento para que, no caso de aparecer fogo, durante a noite, a vista de suspeitas que existem, possa ser atalhado em tempo, estando promta a gente do posto das bombas da Carioca para accudir ao primeiro signal, e vencida a primeira dificuldade, qual é a conducção de agua para aquele logar.

Houve cuidado de evitar que o povo que era atrahido pela curiosidade invadisse o convento, e durante o movimento próprio em taes occasiões nenhuma occorencia se deo que perturbasse a ordem. Accudiram as bombas das Obras Publicas, as dos arsenais de Guerra e de Marinha, piquetes de Permanentes de Artilharia, a companhia de Pedestres e da Guarda Nacional em serviço da Guarnição. O tempo em que fui obrigado a demorar-me no convento e providencias que tive que dar posteriormente, ocasionarão a demora desta comunicação.

Deus Guarde a V. Exa Rio de Janeiro, 1º de novembro de 1856 Ilmo. e Exmo. Senr. Antonio Thomaz de Godoy – Chefe de Policia da Corte. Assignado: Francisco Egydio Moreira de São Pedro – Capitão Ajudante.”

8.2.3 Militarização

O Decreto nº 7.766, de 19 de julho de 1881, concede condição militar aos oficiais do Corpo, bem como a utilização de graduações e suas respectivas insígnias. Eleva seu efetivo para 300 homens e autoriza o governo a empregá-lo em caso de guerra, como Corpo de Sapadores ou Pontoneiros, ficando tal incumbência a cargo do Batalhão de Engenheiros.

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Até a promulgação desse decreto, apesar de militarmente organizado e aquartelado, o Corpo de Bombeiros não era considerado uma unidade militar. O decreto que permitiu esse status foi motivado por uma exposição do comandante da Corporação, tendo em vista que nos locais dos incêndios os oficiais não eram aceitos como militares, nem respeitadas suas patentes, já que, embora fossem aquartelados, usassem uniformes similares aos militares, não tinham essa condição estabelecida oficialmente, o que causava constantes choques com as autoridades da Corte.

Somente a partir da publicação do decreto é que começou a verdadeira organização militar da Corporação, confirmada posteriormente pelo Decreto nº 8.337, de 17 de dezembro de 1881. O reconhecimento da nova categoria militar revelou-se um processo lento, principalmente de mudança de mentalidade, mas a conquista dessa condição deu-se graças principalmente à missão salvadora dos heróicos soldados do fogo.

8.2.4 Histórico Imperial

1865 - Nesse ano, recebeu o Corpo de Bombeiros a sua primeira Bomba-a-vapor, especialmente destinada aos incêndios à beira-mar, podendo ser embarcada para extinção de incêndios abordo e transportada por 20 (vinte) homens.

1870 - Em outubro, foi adotado o uso da corneta militar para os sinais do Corpo de Bombeiros em substituição ao apito até então em uso, iniciando-se ao mesmo tempo a tração das viaturas por muares.

1872 - A 20 de maio, foi recebida a segunda Bomba a vapor entregue pela Inspetoria de Obras Públicas;

1875 - Nessa época tinha o Corpo duas Bombas a vapor e 16 manuais, sendo que: seis eram de grande porte, exigindo de 16 a 20 homens para movê-las; 10 pequenas, podendo ser tocadas por seis homens.

1877 - Foi instalado o primeiro aparelho telefônico do Rio de Janeiro, ligando a loja "O Grande Mágico"-, de Antônio Ribeiro Chaves (que negociava no Beco do Desvio ns 86 - hoje rua do Ouvidor, com novidades mecânicas e aparelhos elétricos) e o Quartel do Corpo de Bombeiros.

Nesse mesmo ano fez-se experiência com uma das 24 caixas avisadoras de incêndio que estavam sendo construídas na Repartição Central dos Telégrafos, para assentarem-se dentro do perímetro da cidade.

1879 - Somente em janeiro, dezenove anos depois de publicado o Regulamento do Corpo de Bombeiros (Decreto Imperial ns 2.587/1860) que já cogitava da instalação dessas Caixas, foi inaugurado o primeiro circuito, com 12 aparelhos colocados em pontos convenientes, no Centro Comercial da cidade.

Nesse mesmo ano, a Repartição dos Telégrafos acabava por organizar um sistema de linhas telefônicas para avisos de incêndios, no Rio, ligadas à Estação Central dos Bombeiros postos 1, 2 e 3 e Estações Policiais.

8.3 Origem dos Corpos de Bombeiros pelo Brasil

Bahia

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O Corpo de Bombeiros da Bahia foi criado em 1894. Após a Revolução de 1930 a Corporação foi transferida para o Município de Salvador. Em 1982 ela passou do Município para o Estado, sendo então anexada à Polícia Militar.

Foi o prefeito da Cidade do Salvador o Conselheiro José Luiz de Almeida Couto, político de grande experiência administrativa que criou, através da lei municipal nº 124, de 26 de dezembro de 1894, o Corpo de Bombeiros da Cidade do Salvador, para executar, de modo regular e permanente, os serviços de combate contra incêndios e prestar socorros imediatos e profissionais nos casos de desabamentos, inundações, explosões etc, ou a pessoas que se encontrassem em iminente perigo de vida dentro da área do município.

Maranhão

O Corpo de Bombeiros do Maranhão foi instituído em 1901, mas efetivamente estruturado em 1903. Em 1926 foi incorporado à Polícia Militar. No período ditatorial do Estado Novo foi desvinculado da PM, voltando a ser reintegrado em 1959. Pela Constituição Estadual de 1989 a Corporação adquiriu autonomia da Polícia Militar, efetivamente consolidada em 1992.

Pará

Ao ser criado através de uma Portaria Provincial, datada do dia 24 de novembro de 1882 o Corpo de Bombeiros Militar do Pará – CBMPA surge no estado do Pará como uma companhia da Policia Militar e teve como primeiro comandante o então Capitão BM Antônio Veríssimo Ivo de Abreu. A Corporação tem como Patrono nacional Dom Pedro II (assim como todos os Copos de Bombeiros do Brasil) e a nível estadual seu patrono é Antônio Lemos.

Com a promulgação da Constituição Estadual de 1989 o então, Corpo de Bombeiros da Policia Militar do Estado do Pará se emancipa. Além de obter autonomia ganha também um novo regime jurídico, passando a ser subordinado diretamente ao Governo do Estado e passando enfim a se chamar Corpo de Bombeiros Militar do Pará. A nova Constituição do Estado também unificou o Comando do CBMPA com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC, passando o Comandante Geral do CBMPA a coordenar também a CEDEC

Pernambuco

Consta no histórico da Corporação que o primeiro serviço de combate a incêndios da cidade de Recife, foi instituído em 28 de agosto de 1636, sob a denominação de Companhia dos Brantmeesters, quando a região estava sob domínio holandês.

O atual Corpo de Bombeiros foi instituído em 23 de setembro de 1887, pelo então Governador da Província, Dr. Pedro Vicente de Azevedo. O aniversário do CBM PE é comemorado em 20 de outubro, dia em que o Capitão Joaquim José de Aguiar, efetivamente tomou posse do comando.

Até 1922 o serviço era subsidiado por empresas seguradoras (empresas de seguro Phoenix Pernambucana, Indenizadora e Amphitrite). Pelo Ato n° 485, de 5 de julho de 1922, o convênio foi dissolvido e a Corporação anexada à Força Pública do Estado. Pela Emenda n° 04, de 22 de junho de 1994, da Constituição Estadual de 1989, o Corpo

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de Bombeiros foi emancipado, passando a constituir-se numa Corporação independente da Polícia Militar.

São Paulo

Desde 1851 existiram iniciativas no sentido de constituir um serviço de combate a incêndios na cidade de São Paulo. Porém, oficialmente isso somente se concretizou em 10 de março de 1880, com a promulgação de uma lei da Província de São Paulo que instituiu um Corpo de Bombeiros, com 20 (vinte integrantes, anexo à Companhia de Urbanos que era a Corporação Policial da época. Sendo assim, ao contrário dos bombeiros cariocas, em São Paulo, tem origem dentro da Corporação Policial. Em 1887 essa Seção foi transferida para o prédio da Rua do Trem (atual Rua Anita Garibaldi); endereço que permanece até os dias de hoje, como uma das sedes do Corpo de Bombeiros de São Paulo.

Em 1890 o efetivo foi ampliado para uma Companhia. Em 1900 as diversas Instituições de Segurança foram reunidas numa só, denominada Força Pública de São Paulo. Desde então o Corpo de Bombeiros teve sua história ligada a essa Corporação a qual, posteriormente, viria a se tornar na Polícia Militar de São Paulo.

Goiás

O Corpo de Bombeiros de Goiás teve início em 05 de novembro de 1957, com o deslocamento de onze militares para o curso de formação no CBM MG. Em 1958 foi criada uma Companhia de Bombeiros. Em 1964 essa Companhia foi transformada em Corpo de Bombeiros, com o efetivo de um Batalhão. Pela Constituição Estadual 1989 o CBM GO adquiriu autonomia, e passou a dispor de estrutura administrativa e financeira própria.

Mato Grosso

O serviço de combate a incêndios de Mato Grosso foi criado anexo à estrutura da Polícia Militar estadual, em 19 de agosto de 1964, sob a denominação de Companhia Independente de Bombeiros.

O efetivo era constituído por quarenta e dois militares, tendo por primeiro comandante o então Segundo Tenente Amilton Sá Corrêa, formado pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo, em 1966. Em 1994 a Corporação desvinculou-se da Polícia Militar, passando a usufruir de autonomia administrativa e financeira, subordinando-se diretamente à Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública.

Rio Grande do Sul

O primeiro serviço de combate a incêndios de Porto Alegre originou-se em 1895, por iniciativa das companhias seguradoras instaladas no país.

Em 27 de junho de 1935, o General Flores da Cunha, Interventor do Estado, assinou um decreto transferindo o Corpo de Bombeiros Particular de Porto Alegre para a Brigada Militar.

Ao longo dos anos a Corporação passou por diversas modificações até atingir o estágio atual, uma instituição especializada da Brigada Militar voltada para a Defesa

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Civil do Estado. É denominado Corpo de Bombeiros da Brigada Militar do Rio Grande do Sul

Ceará

Inicialmente denominado de Pelotão de Bombeiros, esta instituição foi criada oficialmente em 08 de agosto de 1925 pela Lei no 2.253, pelo então Governador do Estado, Desembargador José Moreira da Rocha.

Em 01 de janeiro de 1934 começou a funcionar "na Prática" sob o nome de Corpo de Bombeiros de Segurança Pública do Estado com um efetivo de 30 homens, advindos do Corpo de Segurança Pública (hoje PM do Ceará) e da Extinta Guarda Civil, tendo como instrutor um oficial do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.

Através do Decreto 075 de 14 de agosto de 1935, passou a chamar-se "Corpo de Bombeiros do Ceará", passando a subordinar-se a então "Chefatura de Polícia e Segurança Pública", tendo seu efetivo aumentado para 76 homens.

Em 1990 adquiriu autonomia da Polícia Militar, passando a dispor de estrutura administrativa e financeira própria.

Paraíba

O Presidente da Paraíba em 1916 era o Dr. João Pereira de Castro Pinto, que tentou instituir o corpo de bombeiros, mas não obteve êxito. No ano seguinte, já no governo do Dr. Francisco Camilo de Holanda foi criado pelo Decreto Estadual nº 844 de 09 de junho de 1917, como uma Seção de Bombeiros, com um efetivo de 30 homens, retirados da própria Força Pública (atual Polícia Militar da Paraíba).

Na atualidade, com o desmembramento do Corpo de Bombeiros em relação a Polícia Militar no ano de 2007 pela Emenda constitucional nº. 25 datada de 06 de novembro, houve também a reformulação de sua organização básica pela Lei nº. 8.444 datada de 28 de dezembro de 2007

Espírito Santo

Os serviços de bombeiros no Estado do Espírito Santo tiveram início, oficialmente, com a criação da Secção de Bombeiros pela Lei nº 1.316 de 30 de dezembro de 1921, assinada pelo Presidente do Estado, Dr. Nestor Gomes, graças aos esforços do Ten Cel Archimiro Martins de Mattos. A Lei fixava o efetivo da nova Secção em 27 homens, sendo um 1º Sargento, um 2º Sargento, dois Cabos de Esquadra e 23 Bombeiros.

Para a organização e treinamento da Secção de Bombeiros foi comissionado pelo Governo Federal um Oficial do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, que permaneceu no Estado por três anos.

A Corporação permaneceu vinculada à Polícia Militar até o dia 25 de setembro de 1997, quando então, pela Emenda Constitucional n° 12, adquiriu autonomia e passou a dispor de estrutura administrativa e financeira própria

Piauí

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Criado em 18 de julho de 1944, através do Decreto Lei n.º 808, como Seção de Bombeiros da Força Policial do Piauí, sob o comando do Cel PM Evilásio Gonçalves Vilanova, então Comandante Geral da Força Policial do Piauí, teve como primeiro comandante o 2º Ten PM Joaquim de Araújo Farias, com um efetivo de 33 (trinta e três) homens.

A organização inicial do Corpo de Bombeiros do Estado do Piauí, deu-lhe caráter militar, porém, sem a imprescindível autonomia, pois a Seção era subordinada à força policial o que acontece até os dias atuais. Em setembro de 1968 a Corporação foi reestruturada; sendo recomposto seu efetivo e equipamento.

Rio Grande do Norte

O Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Norte foi criado em 1917, como uma Seção de Bombeiros anexa ao Esquadrão de Cavalaria da PMRN. Embora de forma precária, esse pequeno efetivo permaneceu prestando serviço ininterrupto até 1955.

Em 1955 o CB foi recriado, mas somente entrou em atividade em maio de 1959, supervisionado técnica e administrativamente pelo Major José Osias, do então Corpo de Bombeiros do Estado da Guanabara. Em 2002 o CBMRN adquiriu autonomia da Polícia Militar, passando a dispor de estrutura administrativa e financeira própria.

Santa Catarina

Em 16 de setembro de 1919, foi sancionada pelo então Governador do Estado de Santa Catarina, Doutor Hercílio Luz, a Lei Estadual nº 1.288, que criava a Seção de Bombeiros, constituída de integrantes da então Força Pública.

Somente em 26 de setembro de 1926, foi inaugurada a Seção de Bombeiros da Força Pública, hoje Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina – CBMSC.

A Lei Estadual nº 6.217, de 10 de fevereiro de 1983, criou a atual Organização Básica da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, por ser orgânico daquela Corporação. Em 13 de junho de 2003, a Emenda Constitucional nº 033 concedeu ao Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina - CBMSC o status de Organização independente, formando junto com a Polícia Militar, o grupo de Militares Estaduais.

Alagoas

O Corpo de Bombeiros do Alagoas foi criado dentro da estrutura da Polícia Militar, em 1947.

A publicação de lei foi acompanhada de tabelas, referentes a pessoal, material e despesas outras, tudo fazendo crer que o orçamento para o exercício de1948, trouxesse as dotações existentes das referidas tabelas. Acontece, porém, que publicado o orçamento de 1948 na Polícia Militar do Estado de Alagoas, verba –10 vê-se que estão incluídas tão somente as dotações ordinárias da sua organização, sem inclusão, portanto, da Formação de Bombeiros, então criada.

A Secretaria da Fazenda e da Produção fez entrega à Força Militar da quantia de Cr$300.000,00 (Trezentos Mil Cruzeiros), constante do crédito especial aberto pela lei de criação da Formação de Bombeiros, e de Cr$290.805,00 (Duzentos E Noventa Mil

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Oitocentos e Cinco Cruzeiros) por agente responsáveis, complemento da importância de material permanente da instalação da Formação de Bombeiro.

É citado no sítio da Corporação o seguinte testemunho dado pelo Major Nelson Athanásio, ao então 2º Tenente BM Buriti, em 15 de Junho de 2000:

Que a criação do Corpo de Bombeiros do Estado de Alagoas foi a pedido do então Governador do Estado, Dr. Silvestre Péricles de Góes Monteiro, irmão do General Góes Monteiro, General da Guerra (Ministério da Guerra) e do Senador Ismar de Góes Monteiro. (...) Foi pedido ao Corpo de Bombeiros do Estado da Guanabara que nesta ocasião era comandado pelo Coronel Augusto Imbassahi. O Coronel Imbassahi me encaminhou ao Ministério da Justiça e este me encaminhou ao Governador do Estado de Alagoas.

Ao chegar à cidade de Maceió, Capital de Alagoas apresentei-me ao Governador do Estado (...).

Só havia dois ou três hidrantes subterrâneos, inclusive um desses hidrantes eu usei no principio de incêndio com grande resultado. (...)

Relativamente ao incêndio que houve em Alagoas, na ocasião do núcleo, o Governador tinha combinado que eu fizesse uma demonstração antes que eu desse como pronto. Mas aconteceu um incêndio real. Nós tivemos muita sorte porque havia um dos raros hidrantes na cidade que estava com bastante água. O incêndio foi debelado prontamente. No dia seguinte, o Jornal Diário do Povo e outros publicavam elogios aos recentes bombeiros, porque costumavam dizer que em Alagoas não tinha água. (...)

Sergipe

O Corpo de Bombeiros de Sergipe foi criado em outubro de 1920, com a denominação de Seção de Sapadores Bombeiros, subordinado à Força Pública do Estado (Atual PMSE)

Em 1936 passou a designar-se como Companhia de Bombeiros, e foi transferido para a administração do Município de Aracaju. Em 1955 foi transformado no Corpo de Bombeiros Municipal de Aracaju.

Em 1984 a Corporação foi transferida do Município para o Estado, e incorporada à Polícia Militar com a estrutura de batalhão. Em 1999 desvinculou-se da PMSE, passando a dispor de autonomia administrativa e financeira própria.

Amazonas

Foi criado no dia 11 de Julho de 1876 pelo 1° vice-presidente Capitão de Mar e Guerra Nuno Alves Pereira de Mello Cardoso, na oportunidade presidente interino da Província, assinou a Portaria n.° 268 – 1ª Seção, mandando observar as instruções para o serviço de extinção de incêndios.

O Serviço de combate a incêndios, quando de sua instalação estava sob a responsabilidade da Diretoria de Obras. Distinto da Guarda Policial (germe da atual Polícia Militar), que recém-instalada – 3 de maio - , não dispunha de efetivo bastante, tampouco se destinava a esta lida. Daí, que este serviço funcionava à similitude dos

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hodiernos bombeiros voluntários, contando com a participação dos militares da guarnição, inclusive da tripulação dos navios ancorados no porto. Utilizava, ainda, a atividade dos aguadeiros, cujo primeiro a chegar ao local da tragédia era abonado com um prêmio. Enfim, com a ajuda intimorata da população geral.

Paraná

A criação de um Corpo de Bombeiros foi sugerida por D. Pedro II, em sua visita ao Paraná em 1880. O Corpo de Bombeiros no Paraná iniciou-se na cidade de Curitiba, no ano 1882, com a Sociedade Teuto-brasileira de Bombeiros Voluntários de caráter supletivo ao Governo do Estado e Município, o qual, em virtude de escassos recursos financeiros, tinha dificuldade para organizar o departamento contra incêndio.

Passados vinte e quatro anos, no ano de 1912, o então presidente da Província do Paraná, Carlos Cavalcanti, apresentou ao Congresso Legislativo do Paraná, um pedido de crédito necessário à criação de um Corpo de Bombeiros na Capital. Organizou-se, assim, pela sanção da Lei n.º 1.133, de 23 de Março de 1912, a tão esperada organização, que tinha equiparados os postos dos seus componentes, na plenitude de direitos, honras, prerrogativas e vantagens, aos equivalentes do Regimento de Segurança que é a atual Polícia Militar do Paraná.

Acre

Desde a instauração do Governo Provisório do Estado Independente do Acre, em 1899, já se previa um Corpo de Bombeiros anexo ao Departamento de Justiça. Posteriormente, com a transformação da região em Território Federal, esse serviço passou a ser feito em caráter precário pelas Companhias Regionais de Polícia. O atual Corpo de Bombeiros somente foi efetivamente organizado em 1974, anexo à criação da Polícia Militar do Estado do Acre.

Em 1990 a Corporação desvinculou-se da Polícia Militar, passando a usufruir d autonomia administrativa e financeira, e se subordinando diretamente à Secretaria Estadual de Segurança.

Distrito Federal

1966 - Através do Decreto-Lei nº 9, de 25 de junho de 1966, o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal passava a ser subordinado ao Prefeito do Distrito Federal, fixando também seu efetivo em 1.238 homens.

1967 - Em 16 de janeiro de 1967, chega a Brasília o último contingente do Rio de Janeiro, findando assim, por definitivo a transferência para a Nova Capital. Também nesse ano o Decreto-Lei nr 315, de 13 de março de 1967 passa a subordinação do Corpo de Bombeiros a Secretaria de Segurança Pública. A 28 de março de 1967, o primeiro Quartel de Bombeiros foi inaugurado em Brasília, construindo em Alvenaria, que teve a primeira denominação de "Quartel da Asa Sul", e o seu primeiro Comandante o então Major Gilberto Baptista de Almeida.

Mato Grosso do Sul

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A origem do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul) é a mesma da do CBMMT (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso); pois ambos formavam um mesmo Estado até 1977.

O serviço de combate a incêndios na região compreendida hoje pelo Estado de Mato Grosso do Sul se iniciou em 13 de janeiro de 1970. O então Comandante Geral da PMMT (Polícia Militar de Mato Grosso) determinou que o Aspirante a Oficial PM, José Reis Pouso Salas, selecionasse no 2º BPM (Batalhão de Polícia Militar) o efetivo para a criação de uma futura Unidade do Corpo de Bombeiros em Campo Grande.

Em 25 de setembro de 1970 foi dado início ao 2º Destacamento da Companhia Independente de Bombeiros. O efetivo inicial contava com trinta e três integrantes.

Em outubro de 1977 ocorreu a subdivisão do Estado de Mato Grosso; passando a efetivamente existir o Estado de Mato Grosso do Sul em janeiro de1979.

Em 1989 o Corpo de Bombeiros desvinculou-se da Polícia Militar, passando a dispor de estrutura administrativa e financeira própria.

Curiosidade

O primeiro telefone de emergência funcionou com o número 4-7777, mas enquanto este número não foi instalado, os bombeiros eram acionados através de uma emissora de rádio da cidade (Rádio Cultura AM). O solicitante telefonava para a emissora e a mesma informava "no ar", para que a guarnição se deslocasse para a ocorrência.

Rondônia

O serviço de combate a incêndios se iniciou quando Rondônia ainda era Território Federal. Em 1952 foram designados dois assistentes do Governador para realizarem curso no Corpo de Bombeiros da Capital Federal.

Em 1957 foi criado o “Corpo de Bombeiros do Território”, na cidade de Guajará-Mirim, subordinado à Guarda Territorial. Em 1967 o efetivo foi aumentado para cento e vinte integrantes, subordinados à DSG (Divisão de Segurança e Guarda) e vinculados às Prefeituras.

O atual Corpo de Bombeiros foi criado em 1977, como uma Seção de Combate a Incêndios da 1ª Companhia, do 1° BPM (Batalhão de Polícia Militar).

Após a Constituição de 1988 o CBMRO desvinculou-se da PMRO, passando a dispor de estrutura administrativa e financeira própria.

Tocantins

Corpo de Bombeiros mais novo do Brasil iniciou suas atividades como 1ª CIBM, Companhia Independente de Bombeiros, criada por meio do decreto 6676/92, de 14 de dezembro de 1992, com uma estrutura pequena, ligada organicamente à Policia Militar do Estado do Tocantins. A atuação dos profissionais concentrava-se nas áreas de combate a incêndios urbanos e salvamento.

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Com o objetivo de atender um maior número de municípios, as três unidades foram instaladas em cidades estratégicas: Araguaína, para atender a demanda da região Norte; Gurupi, para as cidades da região Sul; e para a região central, Palmas. A sede dos Bombeiros funcionava junto ao Comando Geral da Polícia Militar, na Capital, no antigo prédio da Assembléia Legislativa do Estado.

Amapá

O primeiro serviço de combate a incêndios do Amapá surgiu com a implantação do GRUCI (Grupamento de Combate a Incêndio), constituído por pessoal civil ainda no antigo Território do Amapá. Com a criação da Polícia Militar do Amapá em 1975, o efetivo do GRUCI passou a ser subordinado à PM; constituindo-se no 1º GI (Grupamento de Incêndios). Em 1992 o Corpo de Bombeiros desvinculou-se da PMAP, passando a dispor de estrutura administrativa e financeira própria.

Roraima

O Corpo de Bombeiros de Roraima foi criado em 26 de novembro de 1975 pela Lei n° 6.270, anexo à Polícia Militar do Estado de Roraima. Em 2001 desvinculou-se da PMRR, passando a dispor de estrutura administrativa e financeira própria.

8.4 Fatos Históricos

A história do combate a incêndios no Brasil possui alguns episódios históricos de grande repercussão; fatos que tiveram como protagonistas os incêndios e/ou os bombeiros.

8.4.1 Marcha Rio-Brasília

No ano de 1960, juntamente com a inauguração de Brasília foi publicada a Lei Nr 3.752, de 14 de abril de 1960 que transferia ao recém-criado Estado da Guanabara, sem qualquer indenização, os serviços públicos de natureza local prestados ou mantidos pela União, os servidores neles lotados e todos os bens e direitos neles aplicados e compreendidos. Incluem-se nesses serviços a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, os estabelecimentos penais e os órgãos e serviços do Departamento Federal de Segurança Pública. Os vencimentos continuariam a ser custeados pela União até 1969.

Em 1963 o Governo Federal publicou a Lei Nr 4.242 de 17 de julho de 1963, que fixava aumento aos servidores federais e cujo artigo 46 tornava possível aos policiais civis e militares e aos bombeiros requerer sua volta ao serviço da União. Diante disso, o Governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, decidiu dispensar todos os policiais civis e militares e bombeiros que fizessem a opção pelas vantagens federais. Só permaneceriam nos quartéis aqueles que optassem pela administração exclusiva do estado.

A ordem foi cumprida e vários destes profissionais foram dispensados e se apresentaram em órgãos federais para prestarem serviço. Nestes órgãos reinava a desordem, a freqüência nem sempre era cobrada, a organização não era levada

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exatamente a bom termo. Por isso, os mais responsáveis se ressentiam de um apoio efetivo por parte de uma administração central, agora inexistente.

Os movimentos e as reuniões se sucediam. A situação se tornava insustentável, quando foi feito um estudo, sob a direção do Coronel BM Osmar Alves Pinheiro, no sentido de que os bombeiros fossem reintegrados ao serviço efetivo no âmbito federal, ou seja, trabalhassem em sua função específica. É nesse contexto que o 1º Sgt. Ubirajara Borges Torres idealizou a marcha Rio-Brasília, tendo sido realizada uma marcha de trinta dias pelos Fuzileiros Navais em 1960 nesse percurso.

Após aproximadamente um ano de “ensaios”, que incluíam treinamentos, práticas esportivas, marchas de até 70 Km diárias para preparo, à 01:00 hora do dia 02 de junho, seguiram da Praça Mauá, com destino a Brasília, 26 bombeiros militares, constituindo o denominado "Contingente Comandante Moraes Antas".

Os militares componentes desse Contingente propuseram-se a fazer tal marcha a pé, até a Capital da República, com o firme propósito de demonstrar o valor do Soldado do Fogo, firmar a Corporação no seio da população e integrarem novamente o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. De acordo com o agora 2° Tenente reformado Nelson Soares (então 3° Sgt), que participou da marcha, um dos mais fortes motivos foi uma provocação de um comandante de Brasília, que chamou os bombeiros que ficaram no Rio de “Ferro Velho”, pois estavam na faixa dos 35 anos de idade.

A marcha intitulada “General Riograndino Kruel” em homenagem a este General contou com o apoio do Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro, Coronel Osmar Pinheiro, para tanto ele designou o 1° Tenente Manoel Gregório de Azevedo.

A Marcha tinha a programação de chegada para o dia 02 de julho de 1965, porém, o excelente preparo dos militares antecipou a chegada em cinco dias. Os 1240 Km foram cobertos pelos 26 bombeiros em 25 dias, com uma média de 50 Km por dia. A maior dificuldade relatada foi para encontrar água em alguns locais em que acampavam para dormir.

Enquanto a marcha ocorria, oficialmente se preparava um contingente para seguir de ônibus para Brasília. Preparado, esse grupo, constituído de 12 oficiais e 120 praças, sob o comando do Capitão Arlindo Jacarandá, chegou ao destino no dia 2 de julho. Desses bombeiros, 95% eram casados e tinham deixado no Rio suas famílias. Embora existissem alguns voluntários, a maioria foi escalada para compor o contingente.

A chegada a Brasília foi uma sofrida apoteose. A maioria não tinha mais sequer condições de ficar em pé. Mas chegaram caminhando, em ritmo normal, com o seu rotineiro espírito de heroísmo. Eram dez horas de um ensolarado dia 27 de junho de 1965. Num palanque armado no Eixo Monumental, altura da 102 Sul, estavam o prefeito Plínio Catanhedo (nessa época o DF era governado por um prefeito), o chefe de Policia, general Riograndino Kruel e outras autoridades.

Naquela época, Brasília ainda se estruturava, inclusive em termos de instalação e organização de bombeiros. A segurança municipal era exercida pela Guarda Especial de Brasília (GRB), que reunia policiais e bombeiros. A seção de bombeiros ocupava um aquartelamento de madeira, construído na extremidade da Asa Sul, apelidado de "Forte Apache", por se assemelhar às fortificações do Exército americano ao

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desbravar o território do Oeste, durante as lutas contra os índios. O comando dessa organização era exercido alternadamente por oficiais do Exército (CPOR), nomeados de acordo com as condições hierárquicas. Após nomeados, os oficiais faziam curso para exercer a função.

Após serem homenageados no Eixo Monumental, defronte ao Cinema Brasília, os andarilhos, acompanhados do Capitão Arlindo Jacarandá, dirigiram-se ao quartel da corporação no Setor Policial Sul, onde, depois de almoçarem com a oficialidade, recolheram-se. Como afirmou o Tenente Manuel Gregório de Azevedo, todos estavam “loucos por um colchão”.

A incorporação oficial destes bombeiros ocorreu no dia 27 de 1966, quando o Destacamento de Bombeiros de Brasília comemorou seu 7° aniversário.

8.4.2 Incêndio no Gran Circus Norte-Americano

O Gran Circus Norte-Americano estreou em Niterói no dia 15 de dezembro de 1961. Os anúncios diziam que era o maior e mais completo circo da América Latina – tinha cerca de sessenta artistas, vinte empregados e 150 animais. O dono do circo, Danilo Stevanovich, havia comprado uma lona nova, que pesava seis toneladas e seria de náilon - detalhe que fazia parte da propaganda do circo. O Norte-Americano chegou a Niterói uma semana antes da estréia e instalou-se na Praça Expedicionário, no centro da cidade.

A montagem do circo demandava tempo e muita mão-de-obra. Danilo contratou perto de 50 trabalhadores avulsos para a montagem. Um deles, Adílson Marcelino Alves, o Dequinha, tinha antecedentes por furto e apresentava problemas mentais. Ele trabalhou dois dias e foi demitido por Danilo Stevanovich. Dequinha ficou inconformado e passou a ficar rondando as imediações do circo.

No dia da estréia, 15 de dezembro de 1961, o circo estava tão cheio que Danilo Stevanovich mandou suspender a venda de ingressos, para frustração de muitos. Nessa noite, Dequinha tentou entrar no circo sem pagar, mas foi visto e impedido pelo tratador de elefantes Edmílson Juvêncio.

No dia seguinte, 16 de dezembro, um sábado, Dequinha continuava a perambular pelo circo e começou a provocar o funcionário Maciel Felizardo, que era constantemente acusado de ser o culpado da demissão de Dequinha. Seguiu-se uma discussão e Felizardo agrediu o ex-funcionário, que reagiu e jurou vingança.

Na tarde de 17 de dezembro de 1961, Dequinha convidou José dos Santos, o Pardal, e Walter Rosa dos Santos, o Bigode, com o plano de colocar fogo no circo. Eles se encontraram em um local denominado Ponto de Cem Réis, no bairro Fonseca, e decidiram pôr em prática o plano de vingança. Um dos comparsas de Dequinha, responsável pela compra da gasolina, advertiu o chefe sobre a lotação esgotada do circo e iminente risco de mortes. Porém, Dequinha estava irredutível: queria vingança e dizia que Stevanovich tinha uma grande dívida com ele.

Com 3000 pessoas na platéia, faltavam vinte minutos para o espetáculo acabar, quando uma trapezista percebeu o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o

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circo foi completamente devorado pelas chamas. 372 pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a 500 o número de vítimas fatais, das quais 70% eram crianças. A lona, que chegou a ser anunciada como sendo de náilon, era, na verdade, de um tecido altamente inflamável.

Os bombeiros chegaram rapidamente ao local, pois havia um quartel ali próximo, porém pouco puderam fazer com relação ao fogo, pois a lona queimou tão rapidamente que quando chegaram quase não havia mais fogo. Contudo, fizeram vários salvamentos e antes mesmo da chegada de ambulâncias as pessoas eram levadas por carros particulares aos hospitais.

Com base no depoimento de funcionários do circo que acompanharam as ameaças de Dequinha, ele foi preso em 22 de dezembro de 1961. Os cúmplices Bigode e Pardal também foram presos.

Em 24 de outubro de 1962, Dequinha foi condenado a dezesseis anos de prisão e a mais seis anos de internação em manicômio judiciário, como medida de segurança. Em 1973, menos de um mês depois de fugir da prisão, foi assassinado. Bigode, por sua vez, recebeu 16 anos de condenação e mais um ano em colônia agrícola. Finalmente, Pardal foi condenado a 14 anos de prisão e mais dois anos em colônia agrícola.

8.4.3 Incêndio no Edifício Andraus

O edifício Andraus é um conhecido edifício no Centro da cidade de São Paulo que está localizado no distrito da República, na esquina da avenida São João com a rua Pedro Américo. Possui 115 metros de altura e 32 andares, tendo sua construção finalizada no ano de 1962. O edifício foi palco, em 24 de fevereiro de 1972, de uma das maiores tragédias de sua história, com o incêndio ali ocorrido, que resultou em 16 mortos e 330 feridos.

A possível causa do incêndio teria sido uma sobrecarga no sistema elétrico. O fogo iniciou-se por volta das 16 horas no terceiro andar do edifício, na seção de crediário da Loja Pirani e consumiu o prédio, que reunia escritórios empresariais, entre eles os das multinacionais Henkel e Siemens.

Não havendo como descer, as pessoas subiram até o heliponto do prédio na esperança de serem resgatadas. O que de fato ocorreu para a grande maioria, porém, algumas pessoas que se acharam sem saída em todo o prédio, recorreram ao desesperado ato de pularem. As cenas foram transmitidas ao vivo pela televisão, chocando o mundo.

Por volta das 17 horas, quando já estavam no local praticamente todas as guarnições do Corpo de Bombeiros, surgiu o primeiro helicóptero: fez algumas evoluções em volta do prédio, para reconhecimento da área e pousou às 17h15, decolando um minuto depois, com as primeiras pessoas resgatadas. Logo vieram outros helicópteros - da FAB, do Palácio do Governo, da Prefeitura, da COMASP, do Banco do Estado e de firmas particulares - havendo ocasiões em que seis aparelhos sobrevoavam a área ao mesmo tempo.

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Os helicópteros recolhiam as vitimas e as levavam para heliportos improvisados, como o prédio da Câmara Municipal, a praça Princesa Isabel, o campo do Palmeiras e para o aeroporto de Congonhas ou Campo de Marte. E, no topo do edifício, quase transformado numa fornalha, a ação de quatro homens de sangue-frio impediu que o pânico fizesse mais vitimas: por iniciativa própria, eles assumiram a liderança das centenas de pessoas, fizeram-nas deitar-se para evitar asfixia pela fumaça e estabeleceram a prioridade para o embarque nos helicópteros. Primeiro as crianças, depois as mulheres e finalmente os homens, eles quatro por último.

Cerca das 21h30 o comandante do Corpo de Bombeiros anunciou que se iniciavam os trabalhos de rescaldo. Grupos de bombeiros, chegados de helicóptero, desembarcaram no topo e começaram a trabalhar de cima para baixo, enquanto seus companheiros faziam o resgate de baixo para cima.

Ainda se viam chamas em alguns andares, como o 9°, o 10°, o 13° e o 17°. Cerca das 21h45 os bombeiros começaram a dirigir os jatos das mangueiras para o 4° andar, mas uma ameaça se apresentava: um dos pilotis do 5° andar estava rachado. Um lamaçal espesso e escorregadio, formado por cinzas, cacos de vidro e detritos carbonizados, misturados à água, corria numa grande extensão da Av. São João.

Hoje recuperado, abriga repartições públicas e é ainda conhecido como "Prédio da Pirani", por à época da tragédia abrigar em seus primeiros andares, térreo e subsolos essa popular loja não mais em atividade.

8.4.4 Incêndio no Edifício Joelma

O edifício Joelma, atualmente denominado edifício Praça da Bandeira, é um prédio situado na cidade de São Paulo que foi inaugurado em 1971.

Com vinte e cinco andares, sendo dez de garagem, localiza-se no número 225 da Avenida Nove de Julho, com outras duas fachadas para a Praça da Bandeira (lateral) e para a rua Santo Antônio (fundos).

Tornou-se conhecido nacional e internacionalmente quando, em fevereiro de 1974, um incêndio provocou a morte de 188 pessoas e deixou 345 feridos.

O prédio foi construído utilizando-se uma estrutura de concreto armado, com vedações externas de tijolos ocos cobertos por reboco e revestidos por ladrilhos na parte externa. As janela eram de vidro plano em esquadrias de alumínio, o telhado de telhas de cimento amianto sobre estrutura de madeira.

O subsolo e o térreo seriam destinados à guarda de registros e documentos; entre o 1° e o 10° andar, ficariam os estacionamentos; e, do 11° ao 25°, as salas de escritórios.

Concluída sua construção em 1971, o edifício foi imediatamente alugado ao Banco Crefisul de Investimentos. No começo de 1974 a empresa ainda terminava a transferência de seus departamentos quando, no dia 1 de fevereiro, às 08:54 da manhã de uma sexta-feira, um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado no 12° andar deu início a um incêndio que rapidamente se espalhou pelos demais pavimentos. As salas e escritórios no Joelma eram configurados por divisórias, com móveis de madeira,

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pisos acarpetados, cortinas de tecido e forros internos de fibra sintética, condição que muito contribuiu para o alastramento incontrolável das chamas.

Quinze minutos após o curto-circuito era impossível descer as escadas que, localizadas no centro dos pavimentos, não tardaram a serem bloqueadas pelo fogo e fumaça. Na ausência de uma escada de incêndio, muitas pessoas ainda conseguiram se salvar descendo pelos elevadores, mas estes também logo deixaram de funcionar, quando as chamas provocaram a pane no sistema elétrico dos aparelhos e a morte de uma ascensorista no 20° andar.

Sem ter como deixar o prédio, muitos tentaram abrigar-se em banheiros e nos parapeitos das janelas. Outros sobreviventes concentraram-se no 25° andar, que tinha saída para dois terraços. Lembrando-se de um incidente similar ocorrido no Edifício Andraus dois anos antes, em que as vítimas foram salvas por um helicóptero que se aproveitou de um heliporto no topo do prédio, eles esperavam ser resgatados da mesma forma.

O Corpo de Bombeiros recebeu a primeira chamada às 09:03 da manhã. Dois minutos depois, viaturas partiram de quartéis próximos, mas devido a condições adversas no trânsito só chegaram no local às 09:10.

Helicópteros foram acionados para auxiliar no salvamento, mas não conseguiram pousar no teto do edifício pois este não era provido de heliporto; telhas de amianto, escadas, madeiras e a fumaça do incêndio também impediram o pouso das aeronaves.

Os bombeiros, muitos deles desprovidos de equipamentos básicos de segurança, como máscaras de oxigênio, decidiram entrar no prédio para o resgate, tentando alcançar aqueles que haviam conseguido chegar ao topo do edifício. Foram apenas parcialmente bem sucedidos; a fumaça e as chamas já haviam vitimado dezenas de pessoas. Alguns sobreviventes, movidos pelo desespero, começaram a se atirar do edifício. No mínimo 20 saltaram; nenhum sobreviveu.

Apenas uma hora e meia após o início do fogo é que o primeiro bombeiro conseguiu, com a ajuda de um helicóptero do Para-Sar (o único potente o suficiente para se manter pairando no ar enquanto era feito o resgate), chegar ao telhado. Já então muitos haviam perecido devido à alta temperatura no topo do prédio. A maioria dos sobreviventes ali conseguiu se salvar por se abrigarem sob uma telha de amianto.

Por volta de 10:30 da manhã o fogo já havia consumido praticamente todo o material inflamável no prédio. O incêndio foi finalmente debelado, com a ajuda de 12 auto-bombas, 3 auto-escadas, 2 plataformas elevatórias e o apoio de dezenas de veículos de resgate. Às 13:30, todos os sobreviventes haviam sido resgatados.

Dos aproximadamente 756 ocupantes do edifício, 188 morreram e mais de 300 ficaram feridos. A grande maioria das vítimas era formada por funcionários do Banco Crefisul de Investimentos.

A tragédia do Joelma, que se deu apenas dois anos após o incêndio no Edifício Andraus, reabriu a discussão com relação aos sistemas de prevenção e combate a incêndio, cujas deficiências foram evidenciadas nos dois grandes incêndios. Na ocasião, o Código de Obras em vigor era o de 1934, um tempo em que a cidade tinha 700.000

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habitantes, prédios de poucos andares e não havia a quantidade de aparelhos elétricos dos anos 70.

A investigação sobre as causas da tragédia, concluída e encaminhada à justiça em julho de 1974, apontava a Crefisul e a Termoclima, empresa responsável pela manutenção elétrica, como principais responsáveis pelo incêndio. Afirmava que o sistema elétrico do Joelma era precário e estava sobrecarregado. Além disso, os registros dos hidrantes do prédio estavam inexplicavelmente fechados, apesar de o reservatório conter na hora do incêndio 29,000 litros de água.

O resultado do julgamento foi divulgado em 30 de abril de 1975: Kiril Petrov, gerente-administrativo da Crefisul, foi condenado a três anos de prisão. Walfrid Georg, proprietário da Termoclima, seu funcionário, o eletricista Gilberto Araújo Nepomuceno e os eletricistas da Crefisul, Sebastião da Silva Filho e Alvino Fernandes Martins, receberam condenações de dois anos.

Após o incêndio, o prédio ficou interditado para obras por quatro anos. Com o fim das reformas, foi rebatizado de Edifício Praça da Bandeira.

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PARTE IV

HISTÓRIA DO COMBATE A INCÊNDIOS NO BRASIL

CAPÍTULO IX HISTÓRIA DO CORPO DE

BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS

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9.1 Fatos que Antecederam a criação do CBMMG

No ano de 1894, quando iniciaram as obras para construção de Belo Horizonte, o Estado de Minas Gerais, era o mais importante e o mais rico da recém criada República Federativa dos Estados Unidos do Brasil. Essa importância e riqueza eram oriundas principalmente da farta riqueza aurífera, diamantífera, mineral e agrícola do Estado.

Essa construção tinha como finalidade a transferência da Capital de Ouro Preto e a inauguração da nova capital - Belo Horizonte. Ao fazê-lo, Minas Gerais promove um deslocamento do seu eixo político e concomitante a isso, ativa uma região anteriormente pouco explorada economicamente. Belo Horizonte também nasce como a primeira cidade planejada do Brasil.

No local onde hoje se localiza a capital mineira, existia uma comunidade rural, com relativa atividade, o Curral D’El Rey. Mas o planejamento não visa atender os atuais moradores e sim o estado, assim, a cidade é planejada em três zonas, as quais são a urbana, a suburbana e a rural. Na zona urbana, observamos até hoje os Elementos chaves do seu traçado que incluem uma malha perpendicular de ruas cortadas por avenidas em diagonal, quarteirões de dimensões regulares e uma avenida em torno de seu perímetro, a Avenida do Contorno. Essas regiões receberiam as diferentes camadas sociais.

Sua construção, entre os anos de 1894 e 1897, ocorre num contexto de mudanças no modo de produção industrial, tanto na Europa quanto nos EUA, com a produção em série e o surgimento dos automóveis em 1885. Apesar do contexto de modernidade, o projeto da cidade não cuidou de prever um serviço de prevenção e proteção a sinistros, mesmo com o exemplo não muito distante temporalmente do Grande Incêndio de Chicago em 1871.

Sabe-se que o risco de incêndio não era desconhecido pelos construtores, mas foi aparentemente ignorado. Pois, na Praça da Liberdade, sede do governo e suas estratificações, havia um cômodo destinado a duas bombas de combate a incêndio. Essas bombas, a princípio, atenderiam aos prédios públicos em caso de sinistro, mas, apesar delas, não há registro de que haveria um pessoal treinado para manuseá-las.

Trecho extraído do livro do Centenário do CBMMG demonstrando que o risco de incêndio bem como os equipamentos para combate eram conhecidos àquela época:

“Ainda houve quem fizesse a observação dos possíveis riscos ao construir uma

cidade emadeirada: O pinho sueco, westerwich, de Riga ou congêneres será exclusivamente empregado nas construções de nova capital de Minas; que, com ele, ficará muito sólida e economicamente construída; mas devemo-nos, desde já, prevenir contra um perigo que apresenta este sistema de construção: - o do incêndio! (Minas Gerais: 1894, pág 3)”

Na seqüência da reportagem pode ser percebida uma importante recomendação

dada pelo autor do texto (não se tem a informação de quem possa ser o autor). Enquanto se planeja e levantam os primeiros e principais edifícios da nova capital, parece-me que seria prudente encomendar já, para o estrangeiro, duas bombas a vapor e um certo número de bombas químicas para acudirem logo no começo e imediatamente quando se manifestasse o incêndio. (Minas Gerais: 1894, pág 3)

Portanto, nota-se que no veículo oficial de comunicação do governo, este jornal,

vem contido no seu escopo ainda no início das obras de construção da cidade, importantes sugestões de prevenção em caso de incêndio. Ocorre que a prática, como mostrado adiante, será bem diferente. Mais adiante no mesmo relato, o autor cita os

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nomes das bombas a serem utilizadas e detalha sobre os locais que adotaram o uso daqueles equipamentos:

Há dois tipos de bombas, que já são muito conhecidas no Rio de Janeiro e que a cidade de Paris adotou para o seu corpo de bombeiros. Refiro-me às bombas de Merryeather e às de Shand e Mason.(Minas Gerais: 1894, pág 3)

Logo, se pode perceber que duas cidades mais antigas que a nova Belo Horizonte,

portanto, mais experientes, já faziam uso dessas bombas de combate a incêndios, afora ao fato de já possuírem Corpos de Bombeiros organizados. Seguindo ainda no texto é fornecida informação técnica dada pelo autor, com relação ao funcionamento das já citadas bombas.

Ambos estes tipos são admiráveis, pela rapidez com que fazem vapor, por lançarem cerca de setecentos litros de água por minuto e por levarem o seu jato de água até a distância de 34 metros, distância a que não tinha chegado, antes, nenhuma outra bomba. (Minas Gerais: 1894, pág 3)”

Como se vê, o risco não era desconhecido, porém, as medidas sugeridas pela

reportagem não foram tomadas e a recém-criada capital foi palco de alguns sinistros entre os anos de 1898 e 1910.

Curiosamente, a primeira notícia de incêndio que se teve, ocorreu no Quartel do Primeiro Batalhão da Força Pública, foi nele que primeiro se registrou um incêndio aos seis dias do mês de abril do ano de 1898.

Nesse incêndio foi registrado pela imprensa de que duas bombas fora utilizadas, mas aparentemente sem muito sucesso, visto que o prejuízo calculado foi de 40 contos, o que, segunda consta, seria o dobro do investimento para construção do quartel.

O Livro do Centenário registra: “Esse acontecimento deu origem a primeira menção, que teve certa publicidade, no

sentido de se criar uma corporação de bombeiros. Sabemos que o dr. Chefe de Polícia representou ao governo e este cogita de ser, com a máxima urgência ouvidos o mesmo Chefe, e o dr. Prefeito, montado um serviço para extincção de incêndios. (Minas Gerais: 1894, pág 3)”

Apesar deste sinistro e vários outros que se seguiram, não somente de incêndios, mas tempestades e temporais, inundações, afogamentos, desabamentos e soterramentos, ainda levariam doze anos até que se assinasse o decreto que criaria o serviço organizado de Bombeiros.

O maior incêndio até então registrado na capital ocorreu no Grande Hotel. Em 06 de novembro de 1908, o hotel localizado no coração da cidade, em local privilegiado e considerado bastante luxuoso, foi destruído pelas chamas. Felizmente não houve o registro de vítimas fatais. Contudo do belo conjunto arquitetônico restaram apenas algumas paredes.

Os anos entre 1897 a 1910 é o momento em que a cidade, ainda jovem, está em processo de ascensão. No fim do século XIX e o início do XX, Belo Horizonte recebe forte influência principalmente do ponto de vista arquitetônico, da matriz francesa. A capital mineira começa a seguir a tendência de se verticalizar e isso nos faz lembrar do alerta do “autor desconhecido” que ainda durante a construção manifestava seu temor pelos incêndios.

9.2 A criação da Seção de Bombeiros e as primeiras duas décadas (1911 a

1929).

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O Estado de Minas Gerais estava alinhado com a República Brasileira e não

desejava o retorno da monarquia; porém, em todo o Brasil ainda havia partidários do regime monárquico.

O governo da República, por meio da Primeira Constituição da República de 1891, deu grande autonomia aos estados, de modo geral, e, com relação à segurança pública, a maioria deles tratou de modificar suas forças policiais (antes em Minas chamada Brigada Policial) tornando-as pequenos exércitos regionais para o caso de alguma insurgência bem como a manutenção da própria autonomia recebida contra intervenções federais.

Com a Proclamação da República foi acrescentada a designação Militar aos antigos Corpos de Polícia, os quais passaram a denominar-se Corpos Militares de Polícia.

Em 1891 foi promulgada a Constituição Republicana, que, inspirada na federalista estadunidense, passou a dar grande autonomia aos Estados (nome recém adotado para as antigas Províncias do Império)

Pela nova Constituição os Corpos Militares de Polícia deveriam subordinarem-se aos Estados, administrados de forma autônoma e independente, os quais passaram então a receber diversificadas nomenclaturas regionais (Batalhão de Polícia, Regimento de Segurança, Brigada Militar, dentre outros).

Em Minas Gerais, o então Presidente do Estado, Júlio Bueno Brandão, assinou a Lei 557 de 31 de agosto de 1911, que, dentre outros assuntos tratou de dar nova denominação à Brigada Policial, fixando a Força Pública e também criou a Seção de Bombeiros para a qual deveria ser utilizado o pessoal da Guarda Civil.

Trecho da lei:

Na lei 577 de 31 de agosto de 1911 Fixa a Força Pública para o ano de 1912 e consigna outras providências Art12. Fica egualmente o governo auctorizado a despender até vinte contos de réis com a organização de uma Seção de bombeiros, aproveitando para esse fim o pessoal necessário da guarda civil.

A implantação do serviço de bombeiros no ano de 1911 acabou não se

concretizando e somente em 1912 é que, por meio da Lei 584, será criada a Companhia de Bombeiros da Força Pública.

A Força Pública era subordinada à Secretaria do Interior, uma das mais importantes do governo, a qual tinha como atribuições cuidar das questões referentes à justiça, segurança, estatística, saúde pública, dentre várias outras. Assim, a Força Pública e, conseqüentemente, a Seção de Bombeiros funcionavam com orçamento e sob as diretrizes dessa Secretaria.

Apesar da lei subordinar a Seção de Bombeiros à Força Pública, ela autoriza o

uso de pessoal civil para composição do serviço de bombeiros. Suspeita-se que, diante do contexto de autonomia estadual frente ao governo que deu origem à Força Pública, o estado não queria desonerar as fileiras da Força Pública para esse mister.

A Guarda Civil foi criada oficialmente na capital dois anos antes da companhia de bombeiros. Seu trabalho destinava-se a garantir a manutenção da ordem, segurança e tranqüilidade pública, mediante um serviço de vigilância. Era subordinada à Secretaria do interior e suas diretrizes de atuação deveriam partir do Chefe de Polícia da capital. Como atuavam ostensivamente, era comum serem chamados para casos de incêndio, havendo um relato transcrito no Livro do Centenário do CBMMG:

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À uma e meia da madrugada, manifestou-se violento incêndio na alfaiataria S.Paulo em Minas, propagando-se a casa Fidelidade, ambas citas a ruas da Biahia. Presentindo o fogo pelos guardas ns. 186 e 243, estes deram o alarme e procuraram accordar as pessoas que dormiam nas mesmas casa, e, como estas não attendessem ao chamado, por não estarem alli ou qualquer outra circinstancia, arrombaram portas da frente das casas, dando começo ao serviço de salvamento, ajudados por outros guardas que atenderam ao signal de alarme (ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 1912a, p. 1).

Então, diante da fragilidade da cidade e na ausência de um pessoal técnico e qualificado para extinção de incêndios, ocorreu, como prevista na Lei, o remanejamento e deslocamento de onze guardas civis para o Corpo de Bombeiros da Capital Federal, para receberem instrução sobre o serviço de Bombeiros, sendo eles:

José Ignácio Marins; José Ferreira Guimarães; Antonio Camal Vidigal; Lauro dos santos; José de Freitas Dungas; Antonio Amâncio Fernandes; Rodolfo Antonio da Silva; Antonio Alexandre da Conceição; Silvestre de Paula Silva; Rodrigo José Murta; Omar de Lima.

Os Guardas Civis então retornaram do Rio de Janeiro, porém, após cerca de três meses e sem completarem o treinamento previsto. Assim, eles não foram aproveitados no serviço para o qual seriam preparados e analisando os documentos históricos verificou-se porque.

O Corpo de Bombeiros da Capital Federal era uma instituição militar, baseada no respeito à hierarquia e na disciplina militar, já os guardas enviados eram civis e não estavam acostumados com a rotina militar. Ocorreu um atrito entre o guarda Rodrigo Jose Murta e o 1° Sgt Guimarães do Corpo de Bombeiros da Capital. O guarda discutiu com o Sargento ao observar que ele reprimia o guarda Jose de Freitas Dungas, e chamava toda a turma de guardas civis de ´´indisciplinados``. O fato foi reportado ao Comandante do Batalhão de Bombeiros que mandou prender o guarda Rodrigo por dez dias, o qual não aceitava se sujeitar a tal pena, posto que não era militar. Eis um trecho do relatório escrito pelo guarda José Ignácio de Marins, endereçado ao Chefe de Policia de Minas transcrito no Livro do Centenário:

(...) Ao saber dessa pena, do guarda o fes sciente, o qual respondeu-me, que absolutamente não se, a sujeitava prizão e se fosse uns 10, dias de impedimento, elle sujeitava-se. O mesmo guarda disse mais, que ele não havia, de ir para o xadrez com seus próprios pez e so ia depois de machucado;(...) pedindo que fizesse sciente a V Excia, dizendo que elle sujeitava-se qualquer pena por voz imposta de accordo com o nosso regulamento, porque elle era civil e não militar (ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 1912c).

Diante disso, considerando que os guardas não se adaptariam à rotina militar, foi enviada, em outubro do mesmo ano de 1912, nova turma com 15 homens, desta vez todos oriundos da Força Pública, conforme arquivo público mineiro:

Comunico-vos que, fica auctorizado a pedir a etapa de 1.400 para os 15 soldados do 1° Batalhão da Força Pública que seguiram para a Capital Federal e que se acham praticando no Corpo de Bombeiros, a partir de 24 de outubro findo (ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 1912d).

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Não foi encontrado o registro do nome dos quinze soldados, mas sabe-se que eles completaram a instrução na Capital Federal retornando e compondo a Companhia de Bombeiros da Força Pública. A Cia, de acordo com a Lei 548, deveria ser composta por 54 homens, sendo um capitão, um tenente, dois alferes, um primeiro sargento, quatros segundos sargentos, um furriel, seis cabos de esquadra, um cabo clarim, seis anspeçadas, vinte e sete soldados e quatro clarins, porém, foram somente os quinze militares enviados que compuseram a unidade de bombeiros, os quais agora possuíam treinamento de bombeiros e também de militares, podendo atuar nesta área.

O primeiro registro da atuação desses militares foi feito pelos jornais por ocasião de um incêndio em um prédio na rua Curitiba. Trecho do arquivo público mineiro:

(...)foi chamado logo o corpo de bombeiros que compareceu promptamente, com o automóvel de irrigação, nada podendo, porem, fazer para extinguir o fogo, devido á intensidade com que este se extendeu a todo o edifício, destruindo-o, bem como toda a mercadoria alli existente (MINAS GERAIS: 1913, p. 4)

Apesar de não ter sido possível a extinção das chamas naquele incêndio, os bombeiros relataram o uso efetivo de um automóvel de combate a incêndio em outra ocorrência, conforme relato constante do Livro do Centenário:

Com pleno êxito realizou-se hontem, às 7 horas da noite, uma experiência da Bomba automóvel para o serviço de incêndios. Dado o alarma, partiu o vehiculo do quartel do 1° batalhão e 5 minutos depois chegava ao local previamente escolhido à rua do Espirito Santo, esquina da dos Tamoyos, onde em 6 minutos se extenderam as mangueiras e começou a funcionar a bomba(... ) (MINAS GERAIS: 1914, p. X).

Apesar de possuir este automóvel a Companhia de Bombeiros convivia com várias deficiências, como poucas mangueiras e mangotes, além de outras ferramentas. Uma das principais carências era de um sistema efetivo de hidrante na cidade. O fornecimento de água ao longo da cidade era muito deficiente e dificultava a ação dos bombeiros. O prefeito da cidade havia determinado a algum tempo que se procedesse a colocação de dois registros de água por quarteirão para uso do corpo de bombeiros, sendo solicitada a entrega de uma planta da cidade ao Chefe de Polícia com os registros assinalados em 1914.

9.2.1 Rebaixamento e apoio à instrução e aparelhamento pela Capital.

Em 1915 a Companhia é rebaixada à Seção e recebe o 1° Sgt João de Azevedo Teixeira, proveniente do Corpo de Bombeiros da capital federal. Ele foi enviado para ser instrutor da seção e propor alterações que concorreriam para a melhoria dos serviços prestados por ela.

No mesmo ano o Sargento confeccionou o relatório expondo as deficiências e dificuldades dos bombeiros de Minas, bem como as várias medidas a serem adotadas para efetiva implantação do serviço de bombeiros na capital mineira.

Sugere a transferência da seção para um local com alojamento, saída apropriada para a bomba de incêndio e acomodação de viaturas e pátio para treinamento, indicando o almoxarifado da Secretaria de Agricultura. Também sugere que se aumente o

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efetivo para 30 homens de modo a permitir dois turnos de 24 horas, com descanso apropriado para que os homens se mantenham motivados.

Após falar da estrutura e da escala de serviço, o sargento fala sobre materiais, ele sugere a aquisição de um automóvel leve para o chefe do serviço de bombeiros, que poderá comparecer a qualquer sinistro assumindo o comando das operações bem como percorrer a cidade para reconhecimento e memorização de local de hidrantes e sua fiscalização.

Ele cita a carência de hidrantes, o mau funcionamento e distância excessiva entre eles. Com relação a outros materiais ele sugere a aquisição de equipamentos usados, porém conservados, do Corpo de Bombeiros da Capital Federal por um preço menor.

No arquivo público registra-se uma movimentação para aquisição desses materiais através de ofícios:

Tendo o Exm° Sr. Ministro da justiça e negócios Interiores autorisado, em aviso n° 353 de 29 do mez de fevereiro findo, a fornecer a esse governo os artigos constantes da relação que acompanhou o vosso oficio n° 22 de 12 de janeiro, comunico-vos que o referido material se acha desde já à vossa disposição, no Quartel central deste corpo(...)

O 1° sargento João de Azevedo Teixeira foi dispensado pelo governador em 1917 e sua presença foi de suma importância para a seção de bombeiros.

9.2.2 Participação na Revolução de 1924

Entre os anos de 1917 até 1927 a Seção de Bombeiros ganha maior importância no quadro de segurança pública da capital mineira. Durante esse período ocorrerá a Revolução de 1924, movimento liderado por oficiais do exército descontentes com a política nacional do qual os bombeiros terão a participação registrada.

O movimento insurgia-se contra o Governo Federal e o estado de Minas Gerais manteve-se do lado do Governo atuando no conflito mobilizando toda a Força Pública e outros órgãos e até criando o 6° Batalhão Provisório no qual atuou o tenente João José Evangelista, que já fora comandante da seção de Bombeiros. Trecho do livro do centenário que registra a atuação dos bombeiros dentre outros:

(...) aos 5° e 6° batalhões ou á ´´coluna Amaral``, é de inteira justiça esclarecer e deixar bem claro e compreendido que todos os demais batalhões, bem como o esquadro de cavalaria, a seção de Sapadores Bombeiros e o serviço de saúde, estiveram presentes em todas as peripécias da luta (ANDRADE, 1976, p. 59)

Apesar de possuírem um serviço específico, os bombeiros tinham treinamento militar, de forma similar ao que ocorria até pouco antes de desvinculação, quando os bombeiros militares tinham formação policial militar e só após, tinham treinamento específico. Assim, a atuação dos bombeiros também ocorreu no combate.

9.2.3 Elevação à Companhia

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Com maior importância no cenário da capital mineira e observando-se o crescimento demográfico da cidade, a seção de bombeiros é elevada à companhia pelo Decreto 7297 em 1926 e ganha um efetivo de 100 homens.

Decreto 7297 de xx de xxxxx de 1926 Art 4° O 6° batalhão será constituído das quartas companhias de 2°,3° e 4° batalhões e terá a organização definitiva quando for designada a sua sede, que será provisoriamente na capital. A companhia de Bombeiros será organizada com a quarta do 1° batalhão e coma actual seção de bombeiros. A companhia escola será

Com esse efetivo e o aumento demográfico, o número de ocorrências de incêndio certamente aumentaria e também se desencadearia a diversificação das atividades para as quais os bombeiros eram acionados.

9.3 Iniciam as expansões e a descentralização do Corpo de Bombeiros (1930-1960)

A cidade de Belo Horizonte possuía cerca de 120 mil habitantes no inícios dos anos 1930. Durante este período a cidade recebe algumas grandes construções como o cine Theatro Brasil e seu primeiro arranha-céus, o Edifício Ibaté. Até então, as construções não eram muitas nem altas, porém, em poucos anos diversos estabelecimentos e edifícios se instalariam em busca de atender a demanda de uma população crescente.

Economicamente, o início dos anos de 1930 representava a busca pela superação da Quebra da Bolsa de NY em 1929. O país acabara de passar pela Revolução de 1930 que havia colocado Getúlio Vargas no poder, no Governo Provisório. Este governo trouxe medidas centralizadoras para proteger a economia nacional e fortalacer a indústria, permitindo um franco progresso nos anos posteriores. Na capital mineira surge a zona industrial situada ao longo da Estrada de Ferro Central do Brasil e do Ribeirão Arrudas no centro da capital, ao longo da Praça da Estação.

Nos anos 1940 surge o Parque Industrial de Contagem, que alavancou a economia mineira e o setor de construções que contou com obras como o Palácio das Artes (1941); inauguração do Complexo Arquitetônico da Pampulha (1943),um dos cartões postais de Belo Horizonte; construção do Conjunto Habitacional IAPI, e construção do Teatro Francisco Nunes e do Edifício Acaiaca, ainda hoje um dos maiores prédios da capital.

Ao mesmo tempo que o centro da cidade passa a ser muito valorizado, há uma descentralização dos riscos de sinistro pela região metropolitana. Contudo, isso não leva à imediata descentralização do serviço do Corpo de Bombeiros que ainda se encontra numa única localidade no centro da cidade.

Na década de 50 há um desenvolvimento alcançado graças principalmente à indústria. Registra-se a criação da Cemig, a expansão do Parque Industrial e o grande índice de construções de edifícios altos no Centro da cidade. O crescimento rápido acabou por demanar a descentralização do Corpo de Bombeiros. Em setembro de 1955 inaugura-se um destacamento do Corpo de Bombeiros na Cidade Industrial. Esse destacamento iniciou seu funcionamento com um efetivo de 12 homens, um Auto - Tanque e materiais necessários para o combate a incêndio. Instalou-se inicialmente num galpão cedido pela Indústria Mineira de Moagem até a construção de um prédio definitivo

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para abrigá-lo. Observa-se a demora para tal descentralização na capital, visto que o Parque Industrial estava criado havia quinze anos.

Os anos entre 1930 e 1960 representam expansão e diversificação para o Corpo de Bombeiros e para a capital mineira, porém, esse crescimento afetou a ambos, pois a cidade e a corporação cresciam num ritmo diferenciado. A cidade sofria com a falta de estrutura e o Corpo de Bombeiros convivia com as conseqüências dessa falta de estrutura.

9.3.1 Participação dos Bombeiros na Revolução de 1930

Como sabemos o estado de Minas Gerais, aliou-se ao Rio Grande do Sul e à Paraíba para tomar o poder da República do presidente Washington Luiz, após a eleição do paulista Júlio Prestes. Assim, o país estava em guerra civil e em Minas a missão da Força Pública, da qual participou o Corpo de Bombeiros, foi a de tomar o quartel do 12° Regimento de Infantaria bem como diversas repartições públicas federais. Foram tomados bondes, estações ferroviárias, bancos, telefônica, depósito de combustíveis e a distribuidora de energia elétrica da capital.

Num dos confrontos com as tropas federais, o Soldado Ildeu de Souza, pertencete à Compainha de bombeiros faleceu. Durante a revolução, até a população civil auxiliou nos serviços públicos, inclusive policiamento nos municípios. Um efetivo mínimo havia sido deixado de prontidão para o caso de incêndio, enquanto o restante estava em batalha. Somente após a vitória dos revoltosos e a posse de Getúlio Vargas que as tropas mineiras retornam, em novembro.

9.3.2 A descentralização e a expansão da Companhia de Bombeiros

No início dos anos 30 a Cia de Bombeiros já vivia uma realidade deficiente, relatada em 1915, tendo permanecido no mesmo local durante os quinze anos que se passaram. Apesar do período conturbado, iniciou-se o processo de expansão da Cia no ano de 1930.

Foi assinado um Decreto pelo então presidente aumentando o efetivo da Cia para 300 homens e criando uma seção de Bombeiros em Juiz de Fora. Esta seção só foi efetivamente instalada em 1932. O primeiro destacamento interiorizado de bombeiros teve como comandante um primeiro tenente, que acumulava nessa época o cargo de Delegado Geral e Especial, Perito em Incêndios e Comandante da fração do Corpo de Bombeiros de Juiz de Fora.

Em continuidade a ampliação do serviço de bombeiros, em 1931 a companhia é elevada ao nível de batalhão. É assim que o Corpo de Bombeiros sai das dependências do 1º Batalhão da Força Pública e se instala no prédio da antiga Alfândega, localizado à Praça Rio Branco, próximo à atual rodoviária. Em seguida, mudou-se com o seu serviço de prontidão de incêndios para um imóvel alugado pelo Estado, localizado à Av. Olegário Maciel esquina com Rua Carijós no Centro da cidade, onde recebia seus chamados para ocorrências através no telefone nº 2222. A administração, por sua vez, foi alocada em outro endereço, um prédio na Rua Aimorés esquina com Rua Rio grande do Norte onde ficava instalado o telefone nº 2868. Ali a administração dividia o espaço com a intendência Geral da Força Pública.

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Em 1934, o interventor federal, Benedito Valladares Ribeiro, desliga o Corpo de Bombeiros da Força Pública, passando este a se chamar Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, porém, sem deixar de ser uma instituição militar. A estrutura, as normas e as bases regulamentares eram as mesmas da Força Pública. Seus oficiais, no entanto, eram advindos daquela força policial, servindo em comissão na Corporação de Bombeiros.

Art 1º O Corpo de Bombeiros terá um efetivo de 300 homens de acordo com o quadro que está abaixo assinado pelo Secretario do Estado dos Negócios Interiores; Art 2º O Corpo de Bombeiros será comandado em comissão, por um Tenente Coronel efetivo da Força Pública; Art 3º Fica suprimido no Corpo de Bombeiros o posto de anspessada; (...) Art 4º Enquanto o Corpo de Bombeiros não for provido definitivamente de oficiais, com elementos da própria unidade, continuarão ali servindo, em comissão, os oficiais da Força Pública, que para tal fim forem designados; Art. 5º Aos oficiais do Corpo de Bombeiros, são assegurados para todos efeitos, os mesmos direitos e regalias de que gozam os da Força Pública (...).

Em 1937, curiosamente, os jornais trazem a seguinte manchete: “Irrompeu ontem terrível incêndio no quartel dos bombeiros”. Ironicamente, ocorreu um incêndio no prédio onde se encontrava instalada a administração do Corpo de Bombeiros, local que também funcionava a Intendência Geral da Força Pública, situado à Rua Aymorés esquina com Rua Rio Grande do Norte. O serviço de prontidão de incêndios foi acionado e apesar do problema da falta d’água, comum nos incêndios dessa época, os bombeiros conseguiram apagar as chamas.

Em 1939, a Compainha Telephonica Brasileira oficiou ao governo que estaria ampliando a instalação dos telefones para 10 mil linhas e iria ser adicionado o número 2 aos novos números. Assim, o telefone de emergência do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais passou a ser 2-2222, número que permaneceu até o final da década de 80, quando foi adotado nacionalmente o número 193.

Em meados de 1940, a sede do Corpo de Bombeiros se muda para a rua Piauí, onde era alocado o 6º Batalhão de Caçadores Mineiros da Força Pública e atualmente se encontra instalado o quartel do 1º Batalhão de Bombeiros Militar e a Academia de Bombeiros Militar.

Somente em 1943 a instituição tem novo aumento de efetivo, quase dez anos depois do último aumento nos quadros. Conforme se vê extraído do decreto no livro do Centenário:

Art. 1º O efetivo do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais para o exercício de 1943 é fixado em 24 oficiais, 52 inferiores e 230 praças. Parágrafo único: Os oficiais, inferiores e praças do Corpo de Bombeiros, perceberão vencimentos iguais aos do pessoal da Força policial de mesma categoria. Art 2º O Corpo de Bombeiros é subordinado a Secretaria do Interior, podendo servir de intermediário entre esta e aquele, o Estado Maior da Força policial (...)

Apesar do atendimento de diversas ocorrências, como abalroamentos em passagem de nível da rede ferroviária, como colisões com trens, acidentes com bondes e veículos pequenos, atropelamentos, suicídios, afogamentos, quedas de grandes alturas, incêndios, desabamentos, enchentes, soterramentos e acidentes automobilísticos, ainda são os incêndios a maior demanda até a década de 1950.

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As edificações estavam se deteriorando, instalações elétricas envelhecidas e prédios sem sistemas preventivos. Outro grande problema com relação aos incêndios neste período e desde antes, era a falta d’água. Era um problema para a toda cidade que só receberia grandes investimentos nas décadas de 1960 e 1970.

9.3.3 O surgimento da prevenção aos incêndios.

Em 1930, quando a cidade e o Corpo de Bombeiros começam a crescer ainda não está estabelecido o conceito de prevenção a incêndios, não se sabe bem porque, visto que o cenário de verticalização, industrialização e aumento populacional, demandava esta percepção.

Os únicos aspectos relacionados a isto eram abarcados em leis municipais, no caso da capital, o Regulamento Geral de Construções em Belo Horizonte, aprovado pela lei 363 de 04/09/1930. Apesar de diversas outras prescrições mais específicas, este é um nascedouro para a temática da prevenção, pois aborda assuntos como altura e largura de edificações, asfastamento, pé direito, abastecimento de água, esgoto etc.

A referida lei previa a instalação de sistemas de combate a incêndio e adoção de medidas preventivas em algumas edificações em obediência ao determinado pelo Corpo de Bombeiros, como em edificações garagens, por exemplo:

Art. 189 (...) VII - Terão installação conveniente contra incendios, de accordo com o que determinar o Corpo de Bombeiros, sendo obrigatoria a installação de um hydrante, quando o estabelecimento se destinar a 20 ou mais automóveis.

Em 1940, o então prefeito de BH Juscelino Kubitschek, atualizou alguns quesitos deste regulamento pelo decreto-lei nº 84 de 21 de dezembro de 1940, com um novo regulamento. Neste novo regulamento não há mais menção ao Corpo de Bombeiros, tão somente à obrigatoriedade de sistema preventivo:

Art. 200 - as casas de diversões em geral serão dotadas de instalação e aparelhamento preventivos contra incêndio.

A Compainha de Bombeiros à época não possuía um setor específico de prevenção nem vistoriadores, com isso, não tinha estrutura para fiscalização, que fica, então, a cargo da prefeitura por questões de ordenamento e controle.

Somente em 1970 que a Corporação operacionaliza a seção de vistorias, instigada pelo clamor da população em se efetivar uma legislação específica para prevenção e combate a incêndios. A Lei municipal Nr 2660 de 27/04/1972 estabelece normas de prevenção e combate a incêndio em construções e uso coletivo e autoriza o município a celebrar convênio com o estado. Salientando que a prevenção para os Bombeiros passa por todas as áreas de atuação da instituição e não somente os incêndios.

9.3.4 Ocorrências e fatos memoráveis da década de 1950.

Incêndio na Escola Normal, atual Instituto de Educação, ocorrido em 1953. Destruiu uma das maiores bibliotecas de Belo Horizonte.

Incêndio na FRIMISA - Frigorífico Minas Gerais S/A, localizado em Carreira Comprida – município de Santa Luzia, ocorrido em agosto de 1955. Destruiu grande parte

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das instalações e vitimou dois bombeiros. O prédio encontrava-se edificado, porém inacabado, não havia sistema de prevenção e combate a incêndio instalado. Posteriormente a empresa foi reerguida e equipada com sistemas preventivos servindo como importante referencia para indústrias e empresas que começaram a se preocupar com a prevenção.

O quartel do 12º Regimento de Infantaria do Exercito, sofreu dois incêndios, um no ano de 1956 que destruiu arquivos importantes com fichas dos militares e outro de maior proporção no ano de 1959 que destruiu boa parte do prédio, consumindo arquivos, equipamentos de rádio e a biblioteca. Também se tratava de edificação antiga com ausência de sistemas preventivos, em que os bombeiros também tiveram problemas com a falta dágua.

Em abril de 1954 o Corpo de Bombeiros providenciou a retirada dos moradores dos bairros onde passava o Córrego do Onça (Aarão Reis, Capitão Eduardo, Matadouro e São Paulo) devido à ameaça de rompimento da barragem da Pampulha, o que ocorreu de fato alguns dias depois. Não houve vitimas, mas, grandes estragos foram causados pela água que inundou o aeroporto e toda a região causando impressionante espetáculo.

Em 02 de abril de 1954, o presidente da república Getulio Dornelas Vargas,

assinou o decreto n° 35.309 que instituiu o dia 02 de julho como “Dia do Bombeiro Brasileiro” e a semana em esse dia estiver compreendido, ficou instituída como “Semana de Prevenção contra Incêndio”. Isso baseado no primeiro decreto no Brasil, que regulamenta o serviço de extinção de incêndio, assinado em 1856 na capital federal. À partir de então, nesta semana os Corpos de Bombeiros realizam diversas atividades com foco preventivo junto ao público externo e a mídia.

O Corpo de Bombeiros atuou em 1959, num grande incêndio que destruiu por

completo o antigo prédio onde estava instalada a Assembléia Legislativa de Minas Gerais, localizada na Praça Afonso Arinos n° 135, esquina com Av. Álvares Cabral, Centro de Belo Horizonte.

Em 1959 se iniciou a construção do segundo maior estádio do Brasil - O Mineirão - chamado oficialmente de Estádio Governador Magalhães Pinto, com capacidade inicial de 130.000 pessoas sendo inaugurado em 1965. Localizado na região da Pampulha, atualmente passa por reforma para sediar competições da copa de 2014.

9.4 A ditadura militar, o retorno a democracia e a desvinculação da Polícia Militar (1960 a 1998)

O período das décadas de 1960 e 1970 traz grandes mudanças para o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, sendo as principais a descentralização da instituição para o interior do estado, a ditadura militar e a reintegração à Força Pública, renomeada pelo governo militar para Polícia Militar.

Como exemplos de descentralização anterior a esse período na instituição há apenas dois casos, o da fração de Juiz de Fora em 1932 e de Contagem em 1955, sendo esta última bastante tardia. Assim, o interior do estado não sabia o que era ter um serviço de socorro público específico como o nosso à disposição.

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Este cenário irá mudar forçosamente à partir de 1960 com diversas catástrofes naturais por todo o estado além da ocorrência de grandes incêndios em cidades de tamanho considerável no estado, como Governador Valadares em Uberaba.

Internamente o Corpo de Bombeiros passa por mudanças, no mês de maio de 1961, no Comando do Coronel Raul Chaves Mendes, a Primeira Companhia foi transformada em Companhia de Prevenção, Salvamento e Proteção, com a finalidade de melhor desempenhar as atividades de salvamento e Proteção da Unidade.

No mês de julho de 1961, até o princípio do ano de 1962, funcionou no Corpo de Bombeiros o Curso Intensivo de Salvamento, ministrado aos Sargentos da Cia de Salvamento (CPSP); este curso serviu de base ao atual Serviço de Salvamento e Proteção. No dia 21 de novembro de 1962, por Decreto-Lei Nr 2641 do Governador do Estado José Magalhães Pinto, foi aumentado o efetivo do Corpo de Bombeiros, de 870 para 992 homens, sendo nesta ocasião criados novos postos, inclusive o de 1º Tenente Capelão.

Em Belo Horizonte o Corpo de Bombeiros já atendia a diversos tipos de sinistros, além de incêndios e sua atividade, graças também à divulgação das atuações pela mídia, se diversificou muito além de ocorrências com fogo. Eram acidentes automobilísticos, inundações, alagamentos, desabamentos e desmoronamentos, deslizamentos e diversos salvamentos. A ausência do serviço de bombeiros era suprida com diversos profissionais, de enfermeiros a médicos atendendo urgências nas ruas até policiais e delegados atuando em acidentes e incêndios, empresários e cidadãos com caminhões pipas, mas a ausência de atuação específica ainda era sentida. Assim, a cada tragédia ocorrida no interior o clamor da população por uma unidade de Bombeiros aumentava.

Em 1963 Governador Valadares teve dois grandes incêndios num período de quatro meses com prejuízos de 130 milhões de cruzeiros somados, os quais foram noticiados pelo Estado de Minas. A notícia trazia a insatisfação dos empresários e comerciantes e a população que conviviam com a promessa de tempos atrás de instalação de uma fração de bombeiros na cidade e que se reuniram para cobrar do prefeito e do estado a instalação da fração de bombeiros.

No mesmo ano Uberaba sofre um grande incêndio, mas com menor afã popular, mas com o mesmo valor em prejuízo calculado que o de Governador Valadares. Também noticiado pelo Estado de Minas, no relato do incêndio, percebe-se na ausência dos bombeiros, a tentativa do poder público de fazer frente ao sinistro, porém sem muito sucesso. Compareceram policiais militares, CEMIG, prefeito, delegado e outros, tentando ajudar como podiam.

Em ambos os casos, os recursos eram carros pipas da prefeitura, em Uberaba, ou particulares, em Governador Valadares. Esses incêndio ocorreram 52 anos após a criação dos bombeiros no estado.

Além de incêndios, que mais objetivamente clamam pelos bombeiros, ressalta-se outros eventos, como as inundações na Zona da Mata em 1961- o Rio Pomba transborda alagando Guarani e outras regiões – e, em 1962, as provocadas pelo Rio Doce e Rio Caratinga em Conselheiro Pena, ambas causando mortes e destruição.

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Diante desse quadro o poder público tinha que dar uma contrapartida. Em 1961, o Comandante dos bombeiros à época havia dado uma entrevista ao Estado de Minas revelando a meta da instalação de bombeiros nas principais cidades do interior, sob a forma de destacamentos. Porém, tal promessa só inicia a se concretizar no ano de 1966, cinco anos depois.

Dessa forma, após muitas cobranças e num novo contexto político à partir de 1964, o Corpo de Bombeiros parece receber mais atenção governamental. É nesse período que se cria, via decreto, o 2º e 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros e se instalam diversos dos destacamentos, os quais hoje são batalhões.

Além da descentralização, que não é tarefa fácil, o Corpo de Bombeiros enfrenta outro grave problema, a grande carência logística e a defasagem da aparelhagem face à modernidade e evolução tecnológica. Estes problemas permitem a expansão ao interior, mas não no mesmo ritmo em que o estado e os municípios cresciam. Na própria Belo Horizonte, a instalação e inauguração dos 2º e 3º batalhões só se efetivou no início da década de 1970. No livro do centenário há o registro das palavras do comandante da Corporação à época das inaugurações em 1973:

Para se ter uma idéia de como estamos ruins em matéria de bombeiros, basta saber que no Rio existem 32 quartéis, em Brasília 19, em São Paulo 18, com a inauguração em breve de mais 54. Aqui temos um. Isso é um grande absurdo, pois quando a catástrofe ocorre longe de nossa corporação, quando chegamos lá, só existem cinzas de um incêndio (ESTADO DE MINAS: 1973, p. 5).

Apesar dessa dificuldade, antes do regime militar, no governo de Magalhães Pinto (1960-1965) a corporação passa por um período de investimentos, noticiado inclusive pelos jornais da época. Há compra de viaturas e, marcando o serviço da corporação, a aquisição e implantação do sistema de rádio comunicação.

Esses investimentos estão ligados à promulgação pelo Governador Bias Fortes em 1959 da Taxa de Serviços Contra o Fogo:

Lei 2007, de 27 de novembro de 1959 Cria a Taxa de Serviço Contra Fogo e contém outras providências. Art. 3º - A receita proveniente da Taxa de Serviço Contra o Fogo destina-se à manutenção e ampliação dos serviços do Corpo de Bombeiros, bem como à extensão desses serviços aos municípios do Interior do Estado. (...) Art. 7º - Fica o Governo do Estado autorizado a celebrar convênios com as Prefeituras Municipais para a criação de serviços locais do Corpo de Bombeiros, subordinados ao Comando Geral da Corporação. (...) § 2º - Para a celebração dos convênios autorizados por esta lei, levar-se-ão em conta: I - a densidade demográfica do distrito da sede, de modo a serem atendidos os municípios na ordem decrescente da população; II - a capacidade contributiva do lugar com referência à Taxa de Serviço Contra Fogo; III - a necessidade do serviço, considerado o desenvolvimento do lugar.

Essa lei tem dois aspectos principais, a capitação de verba para aparelhamento do Corpo de Bombeiros e o fomento à expansão interiorana, autorizando a celebração de convênios com os municípios. Importante ressaltar que era praxe à época, quando o estado não era forte economicamente, o apoio material e financeiro de industriários,

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comerciantes na instalação das frações, incluindo doação de terrenos, veículos dentre outras doações. Isso se dava também pelo próprio interesse desse público, visto o maior risco envolvido em atividades industriais e comerciais. Tal prática se mantém até aproximadamente o final da década de 1990 início de 2000.

Em 14 de dezembro de 1964, foi publicada a Lei Nr 3280, assinada pelo Governador do Estado, aumentando o efetivo do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, de 992 para 1916 homens.

No dia 25 de agosto de 1966, foi assinada a Lei Nr 4234, pelo Governador do Estado, reintegrando o Corpo de Bombeiros à PMMG com a denominação de Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de Minas Gerais, sendo criada nesta época três Batalhões de Bombeiros, a Divisão Técnica, Manutenção e Transportes e a Divisão de Ensino com as seguintes seções: Seção Técnica Educacional, Corpo Docente, Seção de Apuração e Medidas de Aprendizagem, Seção de Seleção e Orientação Educacional, Seção de Estatística e Pesquisa Educacional, Seção de Planejamento Educacional, Companhia Escola, Setor de Esporte e Educação Física, Secretaria de Ensino, Biblioteca Educacional e Seção de Meios Auxiliares de Ensino.

Tal aparato, destinava-se à formação, aperfeiçoamento e especialização do pessoal do Corpo de Bombeiros, ministrando-lhe formação básica e complementar para o exercício de suas atividades, visando essencialmente o preparo do oficial subalterno à formação de inferiores e o adestramento de monitores, assegurando o pessoal, cultura técnica e intelectual, sobre a qual possa desenvolver-se a carreira profissional do Bombeiro.

9.4.1 O Corpo de Bombeiros no regime militar

A Revolução civil-militar de 1964 trouxe repercussões diretas sobre o Corpo de Bombeiros em Minas Gerais. O Corpo de Bombeiros desvinculou-se da então Força Pública em 1934 e retornaria no ano de 1966 para a atual Polícia Militar. A designação como Polícia Militar já era usada de forma extra-oficial desde o início da República em todo o país para a Força Pública e outras denominações dos Estados. A denominação oficializou-se após a Segunda Guerra Mundial, devido à divulgação e prestígio do termo ao final do conflito.

Em 1967 foi criada, pelo Decreto-Lei nº 317, de 13 de Março, a Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM) subordinada ao Exército, além disso, essa norma reorganiza as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros dos Estados. Posteriormente, ele é revogado pelo Decreto-Lei Nº 667, de 02 de julho de 1969, com poucas alterações.

O policiamento fardado passou a ser considerado exclusividade das polícias militares, e foram extintas as Guardas Civis e outras organizações similares, o comando das Polícias Militares ficaria a cargo de oficial superior do Exército Brasileiro, também foram estabelecidos os posto e graduações das corporações. Essas legislações objetivam claramente facilitar o controle das forças militares pelo governo militar nos estado. As polícias militares e corpos de bombeiros militares poderiam ser mobilizados independentemente da autorização dos Estados.

Na década de setenta ocorreu um acirramento da resistência ao Governo Militar, e a maioria das polícias militares viram a lei ser posta em prática, sendo nomeados oficiais do Exército para comandá-las.

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Detalhe interessante a ser ressaltado é o reconhecimento pelo governo militar da especificidade da atividade dos Bombeiros: em ambas as leis, na primeira Art 26 e na segunda Art. 28, há o seguinte texto e parágrafo:

Competirá ao Poder Executivo, mediante proposta do Ministério da Guerra, declarar a condição de "militar" e, assim, considerá-los reservas do Exército, aos Corpos de Bombeiros dos Estados, Municípios, Territórios e Distrito Federal. Parágrafo único. Aos Corpos de Bombeiros Militares aplicar-se-ão as disposições contidas neste Decreto-lei, exceto o disposto nos arts. 5º e 6º e seus parágrafos.

Os artigos citados são justamente os que determinam, respectivamente, que o comando da corporação será exercido por oficial do Exército e que os Oficiais do Exército poderão ser designados como instrutores nos Estados-Maiores das Polícias Militares.

Assim, ficou a critério do governador e seus secretários de segurança a denominação de militar aos Corpos de Bombeiros. Sabe-se que era interesse do regime militar a ampliação dos militares em todo o país para melhor monitoramente da segurança pública e de atividades dos estados, e sabemos que, em Minas Gerais, o Corpo de Bombeiros tem uma ligação histórica estreita com a Força Pública. Desde a desvinculação que seus oficiais são comissionados da Força Pública. Um exemplo de reconhecimento como força militar dos Corpos de Bombeiros é o decreto 7602 de 12 de maio 1964 que estende ao pessoal do Corpo de Bombeiros a fixação do período de campanha (luta armada). No caso de Minas Gerais, o Corpo de Bombeiros já estava integrado à Polícia Militar antes mesmo do Decreto-Lei.

As principais conseqüências do regime militar para o Corpo de Bombeiros foram o desdobramento dessas diversas leis que subordinavam a Polícia Militar ao Exército e que impactavam diretamente na Corporação através da Polícia Militar; havia 32 anos que os Bombeiros atuavam em sua área específica e passaram a atuar novamente no policiamento ostensivo realizando trabalho policial, como prescreve o parágrafo único do art 2º da Lei 5497 de 13 de julho de 1970. Também a adoção do Regulamento Disciplinar da Polícia Militar aos moldes do Regulamento Disciplinar do Exército impacta diretamente na rotina de trabalho do Corpo de Bombeiros em Minas Gerais.

9.4.2 Anos de 1970, Foco : Prevenção

Como sabemos o Corpo de Bombeiros não possuía setor de prevenção e vistoria próprios desde sua criação. Um pouco de atenção é dado ao tema à partir da década de 1930, mas por meios de regulamentos municipais, com tímida participação do Corpo de Bombeiros. Durante os quase quarenta anos seguintes pouca coisa muda.

Contudo, duas grandes tragédias ocorridas no início da década de 1970 na cidade de São Paulo (Edifícios Andrauss e Joelma) desperta em todo o país a preocupação com a prevenção contra incêndios.

Historicamente o Corpo de Bombeiros conviveu com inúmeras carências de infra-estrutura, logística e pessoal. Dentre elas as que mais se destacam são a precariedade do sistema de distribuição e alimentação de hidrantes, tendo sido registrada a falta de água em ocorrências importantes, como no incêndio do edifício Maleta no centro de Belo Horizonte; a falta de aparelhamento da corporação denunciada por

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praticamente todos os comandantes bombeiros ao longo da história, a defasagem e desgaste dos equipamentos e o baixo efetivo e a pouca distribuição no estado; haviam em 1973 sete municípios com unidades de bombeiros e apenas 1.200 bombeiros para atenderam a todo território do estado.

Diante desse quadro, a tarefa de prevenção se tornava essencial, pois a carência de investimento tornava a perspectiva de um combate eficaz e moderno muito distante. O equipamento para salvamento em incêndio mais moderno era uma auto-escada Magirus com capacidade para alcançar até 10 andares, o que claramente já não era o suficiente para a capital.

Apesar da repercussão dos incêndios em São Paulo, que culminou numa reunião da Assembléia Legislativa no 1º BBM, a legislação específica para Belo Horizonte ainda levou anos para ser concluída e regulamentada. A lei nº 2.060 que parecia ser a resposta a esses problemas demorou pra ser regulamentada: redigida em 1972, foi regulamentada apenas em 1976.

Mas, uma vantagem advinda do esforço para a implantação dessa nova legislação foi a criação da Seção de Prevenção no Corpo de Bombeiros na capital. Essa ficaria responsável por fiscalizar o cumprimento da lei mencionada, graças a convênio firmado entre a prefeitura e o estado mineiro.

Em conseqüência dos incêndios em São Paulo, houve grande movimentação da mídia em torno do Corpo de Bombeiros em Minas Gerais. Em 1973, um capitão bombeiro concedeu uma entrevista ao Estado de Minas sobre o tema, parcialmente transcrita no livro do Centenário:

Evitar – e não combater – é a tarefa principal do Corpo de Bombeiros, seguindo uma velha máxima que diz: - É melhor prevenir do que remediar. O capitão segue explicando que há dois tipos de prevenção: a construtural e a operacional. A primeira vai desde a escolha do lugar da construção até o material empregado. A segunda tem o objetivo de “formar uma mentalidade de prevenção ao fogo” (ESTADO DE MINAS:1973, p. 8)

A Corporação de Bombeiros atua em duas vertentes no campo da divulgação da temática da prevenção, a mídia em todas as suas formas e os projetos sociais. À partir da década de 1970 o número de incêndios em residências diminuiu em razão do investimento em campanhas educativas realizados pela Corporação.

9.4.3 A Implantação do Sistema Resgate – ampliação de

responsabilidades

Desde de 1992 o treinamento de Atendimento Pré-Hospitalar para o pessoal do Corpo de Bombeiros já ocorria, coordenado à época pelo então Tenente Felipe José Aidar Martins e o então Sargento Cleber. Havia na PMMG a PAM, Patrulha de Atendimento Médico, que prestava de forma básica e quase sem técnica o atendimento a traumas.

A inauguração do Sistema Resgate na capital mineira foi amplamente coberta pela imprensa, que noticiou o fato ocorrido em dezembro do ano de 1994.

O projeto era uma parceria do Ministério da Saúde, através do SUS – Sistema Único de Saúde -, Secretaria Municipal de Saúde e Corpo de Bombeiros. Sendo que a

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Prefeitura de Belo Horizonte ficou responsável pela aquisição de viaturas e material, enquanto o Corpo de Bombeiros forneceu os recursos humanos.

Era um serviço ligado à área de salvamento, consistindo no Atendimento Pré-Hospitalar, mais voltado para traumas na época. Segundo a imprensa, inicialmente o Sistema Resgate contou, além das 7 (sete) viaturas para atendimento, com uma equipe de aproximadamente 70 (setenta) bombeiros militares, além de alguns médicos e enfermeiros da prefeitura.

Os carros de resgate, desde aquela época conhecidos pela sigla UR – Unidade de Resgate – foram distribuídos em pontos estratégicos para diminuir o tempo-resposta, sendo instalados nos seguintes bairros de Belo Horizonte: Centro, Saudade, Venda Nova, São Francisco e Barreiro.

Após a instalação do Sistema, verificou-se um aumento mensal gradual no número de ocorrências, não atribuído a aumento da demanda inicialmente, mas sim à disponibilidade do novo serviço, que, bastante divulgado, foi ficou logo conhecido pela população e foi se fixando como atividade bombeiro militar.

A maior fundamentação para implantação do Sistema Resgate foram os acidentes automobilísticos. O cenário do início da década de 1990 era de comprovação dos malefícios diante da ausência de um atendimento rápido e eficaz a esses acidentes, como elevado número de mortes, sequelas graves, lesões medulares etc. A necessidade de atendimento especializado é citado corriqueiramente pela imprensa.

Um caso particular, não ligado a acidentes automobilísticos, foi o de uma menina de 5 anos que ao cair de um muro teve o crânio e parte massa encefálica perfurados em 5 cm por uma torneira de registro. Na entrevista o médico enfatizou o sucesso do atendimento frisando que “Se Karen tivesse movido um milímetro, o material teria atingido nervos vitais do cérebro.”

Porém, com relação aos acidentes em rodovias ainda havia uma indecisão sobre quem deveria prestar atendimento. Mesmo com o Sistema Resgate, nada indicava que esse atendimento nas estradas deveria ser prestado exclusivamente pelo CBMMG. Em 1996 a Polícia Rodoviária Federal já tinha em seus postos pranchas longas para o APH e havia a previsão de viaturas Blazers para uso como ambulâncias. O problema era encarado no âmbito das autoridades de trânsito, ligando a PRF à essa responsabilidade.

Tal demanda e a precariedade do atendimento nas estradas levaram as Associações de Médicos e o Corpo de Bombeiros a participarem da discussão. Nessa conversa entre ambos surge uma outra questão: a figura dos paramédicos, idéia fortemente apoiada pelas Associações de Médicos.

Importante observar que o Corpo de Bombeiros é uma instituição vinculada à segurança pública e não à saúde pública e o Sistema Resgate é apenas mais um leque que se abriu em suas atribuições. Assim, é necessária uma transformação nos conceitos dos próprios bombeiros que migram do combate a incêndios e salvamento para uma nova forma de assistência à população.

Surge então um tensionamento entre as Associações e Corpo de Bombeiros em torno da figura do paramédico. Analisando o quadro vemos que a legislação brasileira não prevê a figura do paramédico, a criação dessas equipes demandaria grande quantidade desse pessoal especializado no serviço público, algo fora da realidade do estado.

Diante disso, alguns representantes sugeriram equipes mistas compostas por médicos e bombeiros. Nessa parte da discussão o Corpo de Bombeiros responde com recusa à sugestão dos representantes. Como noticiado na imprensa em entrevista, o argumento foi “Não há como forçar um médico ou enfermeiro a enfrentar risco de vida. Eles não recebem para isso, lembrou o militar (HOJE EM DIA, 1996, p. 14)”.

Praticamente se encerra o debate e fica tudo “como está”: Aquisição de todo o material incluindo Macas, Ked Skeds, Desencarcerador etc e de viaturas, manutenção e

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até abastecimento pela Prefeitura. O pessoal do Corpo de Bombeiros, inicialmente, tinha que ter o curso Técnico em Emergências Médicas, sendo todos os integrantes da Guarnição e trabalham praticamente de forma exclusiva no Sistema Resgate em virtude da grande demanda.

9.5 O Movimento Grevista na PMMG e a emancipação do CBMMG O processo de redemocratização do país após quase vinte anos de regime militar em que as Polícias Militares foram extensões do regime é um dos fatores, dentre outros, que contribuíram diretamente para a crise na segurança pública que culminou no movimento grevista DNA PMMG em 1997. O contexto democrático situou as polícias em todo o país num ponto em que elas eram tidas como órgãos do regime militar repressor e não angariavam muita confiança nem simpatia da população, além de proporcionar aos policiais uma visão instrospectiva sobre sua situação nesse novo estado democrático, como reconhecerem sua identidade profisional e se reconhecerem como cidadãos, buscando sanar as demandas e aspirações comuns. Quando das reuniões da Assembléia Constituinte (redatora do CR/88) para reformulação da Constituição da República houve um debate razoável sobre a manutenção das polícias militares como órgão de segurança ostensiva. Nesse contexto de resgate da imagem ante a sociedade e de se repensar as polícias com um contorno de proteção à sociedade e não mais do interesse do estado, é que surge, de acordo com alguns estudiosos (Soares & Musumeci 2005), a idéia de se inserir as mulheres nas corporações policias militares. Em 1977 um portaria do Estado-Maior do EB regula essa inserção, salientando o potencial das mulheres para resolução de determinadas ocorrências em que era mais necessário um melhor trato com a população. Com exceção do estado de São Paulo, que teve o ingresso de mulheres ainda em 1955, nos demais estados isso ocorreu após essa Portaria, mais precisamente à partir de 1980. Em Minas Gerais a PM anuncia através de edital o ingresso de mulheres em junho de 1981. No Corpo de Bombeiros, essa mudança só ocorrerá em 1993, supõe-se que em face da visão de que a atividade de bombeiro é caracterizada pelo trabalho braçal e uso da força física e da visão do gênero feminino não ser adequado para esse tipo de serviço, além do fato de que o Corpo de Bombeiros não é tão carente de simpatia. É nesse contexto de humanização das policias com o ingresso das policiais femininas, do contorno de “Polícia Comunitária” e da redemocratização do país é que toma lugar o movimento grevista da PMMG de 1997. Conforme se retira do livro do Centenário citando um trecho de livro: “O maior grau de escolaridade dos praças, a organização dos policiais militares em clubes e associações, a sua politização e a presença feminina, preparavam o ciclo de protestos nacional de 1997” (Almeida, 2007, p.54).

O Policial Militar por muitos anos conviveu pacificamente com situações indignas de trabalho e salário num regime em que nunca poderiam ter voz. A própria disciplina militar os doutrinava a um espírito de sacrifício e abnegação, quando não de temor. Porém, as circunstâncias não só em Minas, mas no país, conduziram a uma tomada de consciência desses servidores. O movimento em Minas deu origem a várias outras manifestações em outros estados.

O movimento não teve um cunho somente salarial, apesar de este ter sido o estopim da greve, uma das reinvindicações era a reformulação do chamado “amarelinho”, o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar. Os policiais já se enxergavam como cidadãos, tinham uma identidade do grupo e se valiam dela para fazer suas reinvindicações.

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Uma outra análise verifica que durante o governo de Eduardo Azeredo, de 1995 a 1998, o estado de Minas Gerais se encontrava num período muito difícil para o funcionalismo público, tanto que a Polícia Civil também se manifestava no período da greve da PMMG. As condições de trabalho eram ruins e, principalmente, a remuneração era, proporcionalmente, uma das mais baixas da história e a insatisfação era crescente.

O governo decidiu por conceder aumento a algumas partes das categorias de servidores no ano de 1997, concedendo reajuste de 18% para os oficiais, os quais não aderiram a greve. Esse foi o estopim de um movimento como nunca visto na história do país. As tropas federais são solicitadas pelo governador e passam a fazer o serviço de segurança ostensiva durante a paralisação. Importante frisar que o movimento ficou muito concentrado na capital mineira onde ocorreram os principais fatos, não tendo se enraizado, sequer se manifestado em várias localidades do interior do estado, que seguiam seus trabalhos normalmente.

A marcha de policiais, em sua maioria Cabos e Soldados, direcionou-se para o prédio do Comando da PMMG que se encontrava cercado por cadetes da PM. Nessa reunião, a princípio pacífica, ocorre o desfecho trágico com o disparo de arma de fogo contra os policias que estavam a frente do movimento atingindo na cabeça o Cabo Valério que morreu no hospital.

No prédio do comando, que acabou sendo parcialmente invadido, oficiais temerosos por suas vidas retiravam tarjetas e insígnias para não serem reconhecidos, de tão caloroso o clamor das praças. A PM, à época, tinha mais de 40 mil integrantes, incluído o CBMMG.

Após tais acontecimentos iniciou-se na PMMG, uma série de investigações para apurar a participação de seus componentes no movimento. Tendo como resultado centenas punições e 182 exclusões. Durante as investigações os militares e seus familiares já solicitavam a anistia dos envolvidos.

Com o início de um novo governo em 1999, as esperanças se renovaram para todo Estado de Minas, tendo como uma das promessas do agora governador Itamar Franco, a revisão das exclusões dos militares envolvidos na greve. Porém, o comando da PMMG não aceitava a reinclusão desses militares.

Nesse contexto, aparece a possibilidade de emancipação do Corpo de Bombeiros e é elaborada a PEC Nr 14/99 de autoria do Deputado Durval Ângelo e também o Projeto de Lei Complementer Nr 182/99 que trata da anistia aos integrantes do movimento, este último influenciando o primeiro. Na Assembléia é criada uma Comissão Especial para análise de ambas as proposições, conforme se observa em trechos de atas de ambas as reuniões.

Sobre a PEC Nr 14/99: A finalidade da proposição em exame é a de adequar o texto da Constituição do Estado à Carta Magna, principalmente em virtude das modificações introduzidas no texto desta pelas Emendas à Constituição nºs 18 e 19, de 1998, no tocante ao tratamento dado ao Corpo de Bombeiros Militar. Vale salientar que as ações da Polícia Militar estão voltadas primordialmente para a proteção social, a prevenção e a repressão à criminalidade, basicamente por meio de policiamento ostensivo, além de outras competências legais. Por outro lado, o Corpo de Bombeiros tem função diferenciada e específica, voltada sobretudo para ações de defesa civil, prevenção e combate a incêndios e situações de emergência, tais como sinistros, afogamentos, acidentes com veículos automotores em geral e qualquer tipo de catástrofe. Essas atribuições diferenciadas levaram o legislador constituinte federal, ao tratar da segurança pública, a dar aos corpos de bombeiros militares tratamento específico, à semelhança daquele concedido às polícias militares dos Estados, conforme o inciso V do art. 144 da Constituição da República. Vários Estados da Federação já adaptaram, com sucesso, os textos das respectivas Constituições a essa nova abordagem, motivo pelo qual deve o Estado de Minas Gerais acompanhar a evolução conceitual, estrutural e operacional em curso.

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Sobre o Projeto de Lei Nr 182/99: A par disso, tramita nesta Casa o Projeto de Lei nº 182/99, de iniciativa do Poder Executivo, propondo anistia e imediata reforma disciplinar para quase duas centenas de praças excluídas da PMMG em virtude de sua participação no movimento reivindicatório de junho de 1997. Em exaustivas discussões durante a tramitação da proposição, tanto nas comissões quanto no Plenário, onde se encontra, tem havido unanimidade de posicionamento dos parlamentares a favor da anistia e divergências acentuadas quanto ao destino que deva ser dado às praças a serem anistiadas. Enquanto o projeto original prevê a reforma disciplinar com proventos integrais, foram apresentados até o momento dez substitutivos e quatro emendas, com várias alternativas quanto à segunda parte do projeto: reforma disciplinar com proventos proporcionais, agregação à Secretaria de Recursos Humanos e Administração ou à Secretaria da Segurança Pública e retorno das praças à corporação, para serem lotadas nas mesmas unidades em que estavam, nas unidades mais próximas delas ou, ainda, no Corpo de Bombeiros. Tem-se evidenciado nesta Assembléia, nesse processo de discussão, a presença de fundamentos constitucionais do estado democrático de direito, quais sejam, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e o pluralismo político, enumerados no art. 1º da Carta Magna. Sensibilizado com as tendências de solução do problema relacionado com o retorno das praças à atividade, o Governador do Estado acaba de enviar a esta Casa, por meio da Mensagem nº 29/99, a Proposta de Emenda à Constituição nº 18/99, publicada nesta data, a qual, conforme já assinalamos, foi anexada à proposição em análise por decisão da Presidência desta Casa. O exame de seu conteúdo permitiu-nos aprimorar a proposta de emenda sob comento, acolhendo as sugestões emanadas do Executivo e incorporando-as ao nosso parecer. Julgamos oportuno, portanto, que a proposta de emenda, além de propor que o Corpo de Bombeiros se desmembre da PMMG, procure dar solução definitiva, em nível constitucional, a questão social e política da maior relevância, qual seja, a de anistiar e fazer retornar ao trabalho pessoas habilitadas e com vontade férrea de voltar à atividade policial, a fim de dar sua contribuição às ações próprias do Estado, na área de segurança pública.

A PEC culmina na Emenda Constitucional Nr 39/99, a qual traz artigos que dão a base para a autonomia, desta vez total, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, não apenas em conseqüência da greve, mas da análise da Comissão Especial da Assembléia que observou o princípio da especialidade já assinalado na CR/88.

Art. 137 – A Polícia civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar se subordinam ao Governador do Estado.

Art. 142 - A Policia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, forças públicas estaduais, são órgãos permanentes, organizados com base na hierarquia e na disciplina militares e comandados, preferencialmente, por oficial da ativa do ultimo posto, competindo ao CBM:

- Ao Corpo de Bombeiros Militar, a coordenação e a execução de ações de defesa civil, a prevenção e combate a incêndios, perícias de incêndios, busca e salvamento e estabelecimento de normas relativas à segurança das pessoas e de seus bens contra incêndios ou qualquer tipo de catástrofe.

§ 1º - A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar são forças auxiliares e reserva do Exército.

Uma das revisões desta Emenda Constitucional é de que o CBMMG deverá continuar adotando normas e regras dos assuntos que ainda não sejam regulamentados pelo próprio CBMMG.

Por meio de decreto os militares excluídos são anistiados, integrados ao CBMMG e recebem treinamento para a atividade bombeiro militar.

9.6 Caminhando “com as próprias pernas” – novas responsabilidades

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Por meio da da Lei Complementar Nr 54, de 13 de dezembro de 1999, o recém

estabelecido Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ganha nova estrutura e organização. A lei, além de frisar as competências já instauradas pela EC Nr 39, subordina-o diretamente ao Governador do Estado.

A poucos meses antes da promulgação dessa lei, a Corporação de Bombeiros era um comando intermediário da Polícia Militar (Corporação a qual pertencíamos) o CCB (Comando do Corpo de Bombeiros). Isto, necessariamente, implicava uma subordinação hierárquica, regimental, orçamentária, logística, educacional, de recursos humanos, tecnológicos, de estatutos, regulamentos e outros tipos de dependência.

Esta subordinação provou-se, por diversas vezes, desinteressante para o Corpo de Bombeiros, principalmente do ponto de vista logístico, pois com duas atividades para gerenciar, a Polícia Militar quase sempre dava maior atenção para a atividade “principal” da Corporação.

O Corpo de Bombeiros em todo o estado sobrevivia com ajuda de convênios com prefeituras e as chamadas “parcerias” com a sociedade civil até pouco tempo antes da criação da Taxa de Incêndio. Essa prática foi sendo abolida após algumas denúncias de irregularidades nestas “parcerias” que foram divulgadas na imprensa. Ainda hoje existem resquícios desse relacionamento com a sociedade civil.

Enfim, com o advento da Lei Complementar 54, O CBMMG ganha uma estrutura até então inexistente na Corporação, registra-se a criação do Estado-Maior com competências diferenciadas do anterior, visto a auto-gestão, também as quatro primeiras Diretorias, sendo Recursos Humanos, Apoio Logístico, Atividades Técnicas, Contabilidade e Finanças, cria-se o Comando Operacional de Bombeiros, a Auditoria do CBMMG, o Centro de Suprimento e Manutenção, o Centro de Ensino de Bombeiros, o Centro de Atividades Técnicas e a Ajudância-Geral. O orçamento ainda não será dos melhores, para esta nova Corporação Estadual.

Após a desvinculação, o CBMMG tem o seu ensino independente e específico, porém ainda não possui estrutura física adequada para a formação de oficiais. Assim, em 2000, é assinado um convênio com a Polícia Militar para que a formação continue ocorrendo na Academia de Polícia Militar, com a diferença que a Grade Curricular será específica para formação de bombeiros, constituindo a primeira turma de oficiais bombeiros militares sem vínculo com a PM que ingressará mediante concurso no mesmo ano e se formará em outubro de 2003.

Em novembro de 2001, ocorre o incêndio na casa de shows Canecão Mineiro, no qual morrem 7 pessoas. O local não possuía saída de emergências nem outros dispositivos de segurança e dificultou a evacuação das pessoas. Após isso, inicia-se um grande clamor público pela segurança nestes tipos de eventos e edificações. O CBMMG é acionado pelo poder público e pela mídia a dar esclarecimentos. Um processo de elaboração de legislação pertinente se inicia.

Um mês após, é publicada a Lei nº 14.130, de 19 de dezembro de 2001, que dispõe sobre a prevenção contra incêndio e pânico no Estado. Porém, é somente em 2004 que será publicado o Decreto 43805 que regulamenta esta Lei. (Em 2006 o Decreto 44270 revoga o anterior, e em 2008 o Decreto 44746 revoga o 44270, sendo este último o que ainda está em vigor).

A segunda turma de oficiais Bombeiros Militares, de 2004, é designada para colaborar na confecção das Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros Militar e terminam o trabalho no início de 2005.

Em dezembro de 2003 um enorme progresso é alcançado com a "Taxa de Incêndio” criada pela Lei nr 14.938/2003. O Orçamento anual do CBMMG cresce vertiginosamente ao longo dos anos após a criação desta Taxa. A carência de viaturas e equipamentos deixa de ser uma preocupação para a Corporação. (Tramita no Supremo

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Tribunal Federal uma Ação Direta de Inconstitucionalidade desta Taxa movida pela OAB/MG).

No ano de 2006, o decreto 44411 cria a Corregedoria e a Assessoria de Assitência à Saúde do CBMMG, promove as Companhias Independentes do interior a Batalhões, cria o Batalhão de Operações Aéreas e o Centro de Operações de Bombeiros (COBOM/CIAD).

Em outubro de 2007, a Resolução Nr 269 cria, no Estado-Maior, a Sexta-Seção, BM6, responsável por Planejamento, Convênios, Orçamento e Projetos.

O Decreto Nr 44924 de 17 de outubro de 2008 cria as Diretorias de Assuntos Institucionais – DAI, de Ensino - DE, vinculando-se a ela, o Centro de Ensino de Bombeiros – CEBOM, de Tecnologia e Sistemas – DTS, e o Centro de Atividades Técnicas - CAT vinculado tecnicamente à Diretoria de Atividades Técnicas - DAT.

Em 2011, o Curso de Formação de Oficiais Bombeiros Militares deixa de ser realizado nas dependências da Academia de Polícia Militar e passa integralmente para o CBMMG, no complexo do antigo Comando-Geral da Corporação. Neste primeiro ano, os cadetes ainda freqüentam a APM realizando o Treinamento Esportivo.

Por meio da Resolução 404 de 02 de março de 2011, o Comando-Geral altera a nomenclatura do Centro de Ensino de Bombeiros para Academia de Bombeiros Militar.

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edited by Sholto Percy, Perry Fairfax Nursey

São Paulo, a trajetória de uma cidade: história, imagens e sons

By Milton Parron Jan van der Heyden (1637-1712) By Peter C. Sutton, Bruce Museum, Rijksmuseum (Netherlands) History of the American Steam Fire-Engine By William T. King Iron: An illustrated weekly journal for iron and steel ..., Volume 50 edited by Sholto Percy, Perry Fairfax Nursey7 Riegel's handbook of industrial chemistry Livro Bombeiros RJ - 150 ANOS SALVANDO VIDAS 1ª Edição 2006.

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Branspuiten-boek (The Fire Engine Book) was written and illustrated by Jan van der Heyden and published in 1690. The famous book was the first firefighting manual ever published. Van der Heyden had been fascinated by firefighting since he was a boy, when he witnessed a fire in the town hall. )