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NIVELAMENTO LÍNGUA PORTUGUESA Professora Me. Cristina Herold Constantino Professora Me. Débora Azevedo Malentachi MARINGÁ-PR 2012

Apostila de Português 1 - 1104

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NIVELAMENTO

LÍNGUA PORTUGUESA

Professora Me. Cristina Herold Constantino

Professora Me. Débora Azevedo Malentachi

MARINGÁ-PR

2012

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Reitor: Wilson de Matos SilvaVice-Reitor: Wilson de Matos Silva FilhoPró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva FilhoPresidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos SilvaCoordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino RaymundoCoordenação de Marketing: Bruno JorgeCoordenação Comercial: Helder MachadoCoordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo LazilhaCoordenação de Curso: Ariane Maria Machado de Oliveira, Camila Barreto Rodrigues Cochia, Danillo Xavier Saes, José Renato de Paula Lamberti, Márcia Maria Previato de Souza , Reginaldo Aparecido Carneiro e Silvio Silvestre BarczszSupervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa MouraCapa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Luiz Fernando Rokubuiti e Renata SguissardiSupervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Gabriela Fonseca Tofanelo, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi e Maria Fernanda Canova Vasconcelos.

“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.

Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.brNEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br

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NIVELAMENTO

LÍNGUA PORTUGUESA

Professora Me. Cristina Herold ConstantinoProfessora Me. Débora Azevedo Malentachi

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APRESENTAÇÃO DO REITOR

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho.

Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade.

Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada.

Professor Wilson de Matos SilvaReitor

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Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido.

Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.

Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa.

Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária.

Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem!

Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo

Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR

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APRESENTAÇÃO

Livro: LÍNGUA PORTUGUESAProfessora Me. Cristina Herold Constantino

Professora Me. Débora Azevedo Malentachi

Fonte: Débora Malentachi (2012)

Querido(a) acadêmico(a),

É com imensa satisfação que trazemos até você o nosso material sobre Língua Portuguesa, Leitura e Produção Textual.

Temos trabalhado ao longo dos últimos 15 anos com o ensino da Língua Portuguesa no ensino superior e, podem ter certeza, tem sido muito gratificante na medida em que testemunhamos o quanto os alunos que se empenham na compreensão de sua língua materna, extensivamente, têm apresentado êxito na vida acadêmica. Assim, podemos afirmar que o estudo da Língua Portuguesa contribui para a utilização mais adequada da linguagem, tanto na leitura quanto na produção de textos escritos.

Caso você já tenha como prática o hábito da leitura e escreve textos coerentes, coesos, linguisticamente adequados, esta é mais uma oportunidade de aprofundar, solidificar e atualizar seus conhecimentos. Caso esteja dentre aqueles que têm encontrado dificuldades na leitura e produção textual, desafiamos-lhe a ingressar neste curso rumo a ampliar os seus conhecimentos linguísticos, com o firme propósito de que esta experiência contribua para fazer de você alguém que “maneja bem a palavra”. Consequentemente, esperamos propiciar momentos de aprendizagem significativos para a sua formação enquanto sujeito consciente do poder que há no universo da linguagem, usando-a enquanto exercício da cidadania, de modo ativo, proficiente, ético e competente, não apenas em benefício de seus objetivos acadêmicos, pessoais e profissionais, mas, sobretudo, em busca de realizações que alcancem a coletividade.

Portanto, nossos principais objetivos, neste curso, é que você aperfeiçoe suas habilidades de escrita e de leitura, e amplie seu conhecimento sobre a língua que está ao seu dispor, na verdade, o quanto ela já faz

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parte de sua vida e, portanto, deve ser compreendida e utilizada da melhor forma nos diferentes contextos/situações, sejam eles orais ou escritos. Neste sentido, nossa ênfase inicial consiste no estudo de algumas especificidades da Língua Portuguesa, fundamentais para o bom desempenho da leitura e da escrita. Em seguida, complementaremos nossa caminhada com as principais técnicas e ferramentas pertinentes ao universo da linguagem e necessárias para a plena realização de leituras proficientes e produções de texto coerentes e de qualidade, com vistas a cumprir com o seu objetivo maior que é compreender e comunicar a mensagem a que se propõem.

Desta forma, propomos que caminhe conosco nesta jornada – breve, porém significativa –, na qual você terá a oportunidade de somar, aos seus conhecimentos já adquiridos, outros novos que, certamente, serão não apenas úteis e necessários para sua vida acadêmica, mas, por extensão, fundamental para o desfrute de uma vida profissional e pessoal de excelência.

Bons Estudos!

As autoras

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SUMÁRIO

UNIDADE I

A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUA

LÍNGUA É SINÔNIMO DE GRAMÁTICA? 13

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UNIDADE I

A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUAProfessora Me. Cristina Herold Constantino

Objetivos de Aprendizagem

• Compreenderaconcepçãolinguísticadelíngua

• Reconheceravariabilidadedalíngua

• Consideraropadrãocomoumamodalidadenecessária

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Línguaésinônimodegramática?

• Oqueaortografiatemavercomalíngua?

• Quaisasdiferentesconcepçõesdegramática?

• Oqueélínguapadrão?

• Comosurgiualínguapadrão?

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INTRODUÇÃO

Pensamos que a primeira pergunta a se fazer para nós mesmos é: o que eu entendo por língua? Quais informações eu tenho sobre a concepção de língua? Até porque este é um parâmetro para identificarmos, talvez, o segundo aspecto que nos vêm à mente: tenho domínio sobre a língua? Tenho utilizado a língua de maneira adequada?

Fonte:<http://www.google.com.br/imgres?q=imagem+de+um+boi+mostrando+a+l%C3%ADngua&hl=pt->

Quem sabe, esta imagem nos auxilie na explicação, por vezes, complexa e abrangente, mas ao mesmo tempo simples e tão básica do que vem a ser a língua. Você deve estar imaginando o que esta imagem tem a ver com o que está sendo dito...

Na verdade, pode ter tudo, mas também pode não ter, depende do que você quer dizer. É isso mesmo! É apenas uma representação do quanto a língua é básica e faz parte das nossas atividades mais corriqueiras; por outro lado, pode chamar a nossa atenção para a complexidade que a envolve. O que isso quer dizer, então? Quer dizer que a língua (enquanto palavra – signo linguístico) possui grande variedade de sentidos; ou, ainda, poderia dizer que a língua enquanto instrumento de comunicação pode ser utilizada de diferentes maneiras, realizada em sua diversidade linguística. Isso quer dizer que a língua portuguesa não é uma só? São várias ao mesmo tempo? Como assim? A propósito, quando nos perguntam se não sabemos falar a língua portuguesa, normalmente as pessoas se referem, até mesmo ironicamente, à gramática? Assim, cabe a seguinte pergunta:

LÍNGUAÉSINÔNIMODEGRAMÁTICA?

Sim, a concepção de língua pode estar relacionada à gramática. Cabe, agora, buscarmos entender melhor de que modo isto ocorre. Nada melhor do que começarmos pela sua etimologia, ou seja, a palavra Gramática origina-se do grego:γραμματική,transl. grammatiké, feminino substantivado de grammatikós, que pode ser entendida como o conjunto de regras individuais usadas para um determinado uso de uma língua, não necessariamente o que se entende por seu uso “correto”. É o ramo da Linguística que tem por objetivo estudar a forma, a composição e todas as questões adicionais de uma determinada Língua. Nesse sentido, a gramática tem muito a ver com cada um de nós, uma vez que se ocupa essencialmente

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das regras individuais – a saber – aquelas que nós utilizamos, também, em nosso cotidiano mais informal; podemos afirmar, então que nossa vida está relacionada à língua, ou seja, tudo o que diz respeito ao emprego, ao uso da língua, não necessariamente ao uso padrão, mas também e inclusive à norma culta possui relação com o que somos e fazemos. Desta forma, podemos entender a língua como um manual de normas e regras que regulam a língua, bem como regras as quais os falantes têm interiorizado acerca de sua língua materna.

Nesse sentido, o doutor em Linguística, professor Sírio Possenti, estabelece uma relação entre Gramática e Política (2001, POSSENTI, Sírio. Gramática e Política. In: Novos Estudos. São Paulo: Cebrap, v. 2, 3, pp. 64-69, nov. 83), apontando as diversas características da língua representadas, basicamente, por meio de três tipos de compreensão do que vem a ser gramática.

1) No sentido mais comum, o termo gramática designa um conjunto de regras que devem ser seguidas por aqueles que querem “falar e escrever corretamente”. Neste sentido, pois, gramática é um conjunto de regras a serem seguidas. Usualmente, tais regras prescritivas são expostas, nos compêndios, misturadas com descrições de dados, em relação aos quais, no entanto, em vários capítulos das gramáticas, fica mais do que evidente que o que é descrito é, ao mesmo tempo, prescrito. Citem-se como exemplos mais evidentes os capítulos sobre concordância, regência e colocação dos pronomes átonos. 2) Num segundo sentido, gramática é um conjunto de regras que um cientista dedicado ao estudo de fatos da Língua encontra nos dados que analisa a partir de uma certa teoria e de um certo método. Neste caso, por gramática se entende um conjunto de leis que regem a estruturação real de enunciados realmente produzidos por falantes, regras que são utilizadas. Neste caso, não importa se o emprego de determinada regra implica numa avaliação positiva ou negativa da expressão linguística por parte da comunidade, ou de qualquer segmento dela, que fala esta mesma língua. Gramáticas do primeiro tipo preocupam-se mais com como deve ser dito, as do segundo ocupam-se exclusivamente de como se diz. Para que a diferença fique bem clara, imagine-se um antropólogo que descreva determinado sistema de parentesco de um certo povo, e outro que o censure por desrespeitoso, por não distinguir-se o papel do pai e do tio [...]. 3) Num terceiro sentido, a palavra gramática designa o conjunto de regras que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar. É preciso que fique claro que sempre que alguém fala o faz segundo regras de uma certa gramática, e o fato mesmo de que fala testemunha isto, porque usualmente não se “inventam” regras para construir expressões. Pelo conhecimento não consciente, em geral, de tais regras, o falante sabe sua língua, pelo menos uma ou algumas de suas variedades. O conjunto de regras linguísticas que um falante conhece constitui a sua gramática, o seu repertório linguístico. Ocorre que língua não é um conceito óbvio. Pelo menos, pode-se dizer que há um conceito de língua compatível com cada conceito de gramática. Isto é, vista a língua, de uma certa forma, ver-se-á a natureza e a função da gramática de uma forma compatível. Qualquer outra postura será incoerente em excesso para merecer atenção. Distingamos, pois, três conceitos de língua. O primeiro conceito é o mais usual entre os membros de uma comunidade linguística, pelo menos em comunidades como as nossas. Segundo tal forma de ver a questão, o termo língua recobre apenas uma das variedades linguísticas utilizadas efetivamente pela comunidade, a variedade que é pretensamente utilizada pelas pessoas cultas. É a chamada língua padrão, ou norma culta. As outras formas de falar (ou escrever) são consideradas erradas, não pertencentes à língua. Definir língua desta forma é esconder vários fatos, alguns escandalosamente óbvios. Dentre eles está o fato de que todos ouvimos diariamente pessoas falando diversamente, isto é, segundo regras parcialmente diversas, conforme quem fala seja de uma ou de outra região, de uma ou de outra classe social, fale com um interlocutor de um certo perfil ou de outro, segundo queira vender uma imagem ou outra. Esta definição de língua peca, pois, pela exclusão da variedade, por preconceito cultural. Esta exclusão não é privilégio de tal concepção, mas o é de uma forma especial: a variação é vista como desvio, deturpação de um protótipo. Quem fala diferente fala errado. E a isso se associa que pensa errado, que não sabe o que quer, etc. Daí a não saber votar, o passo é pequeno. É um conceito de língua elitista. [...]

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Desta forma, o primeiro conceito de gramática trazido pelo autor diz respeito a uma gramática que prescreve normas e regras, sendo que a língua, neste caso, funcionaria como instituição segundo a qual requer observância e obediência a conceitos e determinações; já o segundo conceito, parte da observação daquilo que o falante realmente utiliza em sua realização linguística e não daquilo que “deve utilizar”, como no caso anterior; a terceira concepção de gramática está relacionada, segundo o autor, à variedade; deste modo, uma mesma língua poderia ter uma diversidade de manifestações.

Esperamos que, assim, tenha ficado mais claro o porquê do caráter, por vezes, paradoxal da língua, sendo ao mesmo tempo tão básica e simples, tão complexa em si mesma, tão “inculta e bela” ao mesmo tempo. Imaginamos que, assim como nós, talvez você já tenha se questionado sobre quanto tempo estuda a língua portuguesa e quanto o sabe sobre ela? É provável que a maioria de nós tenha chegado à triste conclusão de que “nada ou pouco sabemos”. Pois bem, temos uma ótima notícia! Você conhece muito mais sobre a sua língua materna do que você possa imaginar. Até porque ela o acompanha desde sempre e tem sido responsável pelos principais elos com os quais você tem mantido ao longo de seu convívio social.

“ÚltimaflordoLácio,incultaebela”.Olavo Bilac

Pare e pense: na família, na escola, no lazer, na Igreja, no trabalho, na universidade, no supermercado, nas compras em geral, no pagamento de contas, na resolução de problemas, no questionamento crítico acerca das coisas, das pessoas, da vida... A língua nos envolve!

A língua tudo bem, mas afinal, o que a ortografia tem a ver com a minha vida?

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Bem, primeiramente, cabe relembrar que a concepção de ortografia é intrínseca à escrita, isto é, a ortografia, segundo o site folha UOL, é o ramo da gramática que estuda a escrita (orto se refere à correção, e grafia, escrita). Deste modo, se a gramática está intimamente relacionada à escrita, cremos que temos aqui uma boa razão para nos apropriarmos dela como instrumento necessário no dia a dia, pois quem de nós, atualmente, vive sem a escrita? Ainda que na internet, nos chats, bate-papos, textos informais de um modo geral, até as produções de textos mais qualificadas, como, por exemplo, a diversidade de documentos produzidos em sua área profissional, trabalhos acadêmicos, artigos científicos, projetos de pesquisa etc. Portanto, cumpre a nós atualizar e mantermo-nos não somente informatizados, mas informados acerca dessa ferramenta diária que é a língua.

Contudo, vale dizer que, paralelo a isto, temos assistido a um cenário linguístico caótico cujos responsáveis, em diferentes proporções, somos cada um de nós. Temos acompanhado, nos últimos anos, as mudanças na linguagem. Como exemplo, citamos a influência do “internetês” na linguagem escrita. Vivenciamos uma geração que tem sido bombardeada por uma avalanche tecnológica sem a qual “não se vive”, sendo (mais para alguns, menos para outros) praticamente impossível acompanhá-la em sua plenitude. Os principais meios de comunicação, como a TV, a internet e as redes sociais, embora nos coloquem a todo o momento em contato com a linguagem escrita e com a linguagem falada, parecem não apresentar mais parâmetros norteadores, na medida em que acabam acenando à despedida e consequente desconsideração da linguagem escrita, negando um padrão não apenas existente, mas necessário.

Ondeestáoproblema?Dequeméaculpa?Abaixoà tecnologia!Salve o eruditismo! Salve alinguagem padrão! Salve-sequempuderouquemsouber!

Fonte: <http://1nefi1322.wordpress.com/2009/03/27/reforma-ortografica-em-quadrinhos/>

Sim, os versos, a poesia, a palavra, a língua parecem nos acompanhar mesmo quando pensamos estar isolados do mundo. Talvez, um pouco disso tudo, o ilustre Camões já nos teria dito em meados do século XVI, no poema O Náufrago, conforme excerto abaixo, transcrição esta que nos traz à memória a trágica e contemporânea história vivida por Tom Hanks no filme “O Náufrago”, lançado em 2001.

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“Quase morto, quase.Me espatifei.

Sobrevivi. Ondasrevoltasmelançaramdecostasàslascasfinasdoscorais.

Mas felizmente e como sempre, um cardume de versos me esperava no cais!”(Camões, em O Náufrago)(Camões, em O Náufrago)

Assim, importa retomarmos que estamos considerando aqui, nesta abordagem gramatical, pelo menos três diferentes concepções gramaticais existentes e, por conseguinte, o respeito a todas as manifestações linguísticas, bem como a necessidade de melhor compreendermos cada uma delas, inclusive a padrão, sendo esta, portanto, o grande desafio neste trabalho. E, por que não dizer, quem sabe, um dos grandes desafios ao longo da nossa caminhada como acadêmico e, posterior ou concomitantemente, como profissional.

Neste sentido, é preciso reiterar que o conteúdo desta unidade destina-se, portanto, a você, leitor, que convive, se comunica, deseja ser compreendido, quer compreender, mas também, modificar, transformar, acrescentar algo mais, fazer a diferença no lugar em que está, seja em sua casa, em seu trabalho, no ambiente acadêmico, enfim, na vida! Sim, querido leitor, bem-vindo ao desafio de não contentar-se com o que se acredita saber, o desafio de conhecer além...

Práticadetexto

Comecemos, então, a praticar, a partir do texto, as três concepções de gramática comentadas anteriormente.

Após ter lido e refletido sobre o texto de Sírio Possenti, identifique qual conceito de gramática está implícito em cada um dos enunciados encontrados em nosso dia a dia, isto é, qual a concepção de gramática que se encontra subentendida em cada uma das imagens. Após a identificação, justifique sua resposta explicando-a segundo as declarações do texto supracitado:a) Conjunto de regras que devem ser seguidas.

b) Conjunto de leis que regem os enunciados realmente produzidos por falantes, segundo uma teoria.

c) Conjunto de regras empregadas pelo falante.

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1.

Fonte: <http://www.fotolog.com.br/inguinoransa/21034699/>

2.

OBS.: atentar-se para o título da matéria.

Fonte: <http://www.clickciencia.ufscar.br/portal/edicao14/colunista_roberto.php>

3.

OBS.: atentar-se, principalmente, para as palavras Xampu ou Shampoo no contexto citado.

Seda Xampu ou shampoo: anti sponge – CABELOS COM VOLUME CONTROLADO E SEM FRIZZ

Fonte:<http://www.unilever.com.br/aboutus/historia_das_marcas/seda/seda_anuncioimpresso_2006.aspx>

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Reflexões

Após a análise e compreensão dos textos anteriores, observamos o seguinte: o primeiro texto não condiz com a proposta padrão de linguagem. O que está implícito, neste caso, é uma gramática que considera a possibilidade de uma variedade linguística produzida pelo falante, uma vez que a ortografia dos vocábulos “cem” e “agrotoxio” foge completamente à linguagem padrão e não como deveria ser produzida por ele, conforme propõe a gramática normativa, “sem agrotóxico”. Deste modo, a concepção de gramática aqui exemplificada trata-se da terceira.

O segundo texto é intitulado pela seguinte declaração: “Nas ruas, um castigo para a língua portuguesa”. Diante de tal declaração, considera-se que esse texto, a começar pelo título, declara, implicitamente, que “castigo” é cometer erros linguísticos, e que erro é tudo aquilo que foge ao padrão determinado pela gramática normativa. Portanto, o segundo exemplo diz respeito à primeira concepção gramatical proposta pelo autor.

O terceiro texto possibilita duas formas segundo as quais se concebe escrever o objeto – “xampu ou shampoo” – e o que fugir disto também não será reconhecido pela língua, por isso representa um exemplo da segunda concepção gramatical, ou seja, aquela segundo a qual é observada, pode ser descrita e, portanto, prevista em situações reais de fala.

Mas, afinal, o que é língua padrão?

Segundo o site <http://www1.folha.uol.com.br/folha/fovest/ortografia.shtmllíngua padrão> “é o conjunto de formas consideradas como o modo correto, socialmente aceitável, de falar ou escrever”.

A linguística não está preocupada exatamente em classificar ou rotular as diferenças desta ou daquela forma em si, embora considere cada uma delas como objeto de estudo igualmente valoroso; antes, ocupa-se em identificar e analisar o significado social que certas formas linguísticas adquirem nas sociedades. É fato que há uma diferenciação valorativa e a linguagem é altamente reveladora ao ponto de ser uma espécie de “RG” que identifica, seja na oralidade, seja na escrita, o grau de instrução e, algumas vezes, até mesmo o nível sociocultural da pessoa. Além do que, em nossa sociedade contemporânea, a linguagem está intimamente imbricada nas relações de poder, ou seja, um superior (chefe, diretor, coordenador etc.) que não utiliza adequadamente a linguagem nas suas diferentes modalidades passa a não ser digno de total confiança para o desempenho de suas funções. Portanto, a linguagem passa a ser também um índice de poder.

Como surgiu a língua padrão?

A língua padrão, na sua origem, é a língua do poder político, econômico e social. A língua padrão muda com o tempo, prova disto são as mudanças ortográficas. Contudo, nos diferentes momentos da história, a linguagem apoia-se em diferentes aspectos os quais determinam suas mudanças. Por exemplo, muitos de nós poderíamos afirmar que os “bons escritos” são coisas do passado e que a qualidade da linguagem literária sofreu uma queda assustadora. Entretanto, atualmente, a influência dos meios de comunicação é

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inegável sobre a linguagem, determinando, em muitos casos, as suas alterações.

A partir deste momento, convém reiterarmos dois aspectos importantes: um deles é compreendermos o padrão como um parâmetro e o reconhecermos como uma das variações da língua portuguesa, o outro é sabermos que, tal como qualquer outra variedade, a forma padrão também está sujeita a mudanças. Prova disto é que o nosso português padrão de hoje foi, historicamente, o latim vulgar, uma linguagem marginal tal qual costuma-se rotular algumas outras variedades. Por exemplo, a linguagem utilizada por pessoas que não possuem grau de instrução, ou mesmo os chamados “caipiras” que se utilizam de uma linguagem regionalista ou da zona rural. Na sequência, como ilustração de uma linguagem antes considerada padrão, mas atualmente em desuso, trouxemos um fragmento de texto de Carlos Drummond de Andrade:

Antigamente

“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio” (<http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes-linguisticas.htm>. Acesso em: 13 mar. 2012).

Note que os termos mademoiselles, mimosas, janotas e pé-de-alferes poderiam ser substituídos na linguagem padrão atual por senhoritas/moças eram prendadas; antes chamava-se janotas os rapazes bem vestidos mesmo que não fossem bonitões, paqueravam as moças [...].

Finalmente, é preciso lembrar que o domínio da língua padrão não representa simplesmente o domínio de certas regras de ortografia, concordância, de regência etc. Este domínio é apenas o ponto de partida do que é efetivamente importante, ou seja, saber utilizar essas ferramentas adequadamente quando da prática da língua tanto na oralidade quanto na escrita. Mas isso é “outra história”, falaremos a esse respeito nas unidades IV e V.

Fonte: <http://canaladidas.blogspot.com/2009_07_01_archive.html>

Importa, neste momento, reconhecer que a competência linguística a que todos nós almejamos é fruto de esforço, estudo, leitura, conhecimento das ferramentas adequadas, prática da oralidade e da escrita. Por

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isso, mãos à obra!

Aí está um dos motivos pelos quais uma reforma ortográfica se justifica. A língua, por ser dinâmica – e não estática – sofre suas modificações a cada dia, ao longo do tempo, até que, finalmente, certifica-se que ela tornou-se dissemelhante da usual. Quando esta diferença passa a afetar a escrita, cumpre que os aspectos linguísticos discrepantes sejam revistos.

Outro aspecto que justifica as alterações no código linguístico é o fato dele estar espalhado por um vasto território, como é o caso da língua portuguesa que se estende pelos cinco continentes e figura entre as dez mais faladas do planeta.

Assim, cumpre melhor conhecermos este código linguístico que afinal representa-nos como cidadãos, é uma extensão da nossa identidade e, portanto, diz respeito à nossa história, ao que somos e àquilo que almejamos como jovens universitários e futuros profissionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É fundamental que tenhamos clareza, portanto, de que embora a língua apresente-se por um lado de maneira diversa, apresenta-se, por outro lado, organizada gramaticalmente em cada uma de suas manifestações como, por exemplo, na norma culta padrão (uma das manifestações) que pressupõe a obediência às normas e regras as quais sistematizam a linguagem escrita, sendo esta objeto de estudo do que chamamos de ortografia. Por este motivo importa entender a linguagem padrão do ponto de vista da sua concepção, tanto quanto entendê-la historicamente, como também a sua representação atual.

Na sequência, serão apresentadas atividades de autoestudo propostas a partir dos vídeos sugeridos nos links que seguem:

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

1. Considere as informações apresentadas nesta unidade, como também as informações trazidas no primeiro vídeo sugerido e construa um parágrafo de 8 a 10 linhas, dissertando sobre a ideia de que a línguaéumadenossasidentidadesecomotaldeveserpreservada, mas também, podeeestásempresusceptívelamudanças. Justifique sua resposta fazendo alusão a excertos de ambos os textos.

2. Para esta atividade, considere, igualmente, as informações compartilhadas nesta unidade, bem como as informações apresentadas no segundo vídeo. Analise em ambos os casos a concepção de norma, isto é, qual(is) a(s) justificativas apresentada(s) em ambos os textos para quetenhamosumaúnica“norma”na línguaportuguesa.Qual(is) justificativa(s)apresentada(s)emambosostextosparaquetenhamosoutraspossibilidadesde“normas”? Apresente duas (2) justificativas de cada.

3. Ainda com base no segundo vídeo e nas três concepções gramaticais expostas nesta unidade, exponha, em um parágrafo de 5 a 8 linhas, qual a concepção de erro em ambos os textos.

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22 LÍNGUA PORTUGUESA| Educação a Distância

4. Considere, agora, ambos os vídeos e as informações sobre a concepção e a história da língua e comente por que motivo importa conhecer aspectos conceituais e históricos sobre a língua.

5. Finalmente, construa um parágrafo de 5 a 8 linhas expondo o seu ponto de vista sobre a concepção de língua trabalhada nesta unidade, construindo para tanto dois argumentos que evidenciem e justifiquem seu ponto de vista.

Como sugestão para esta unidade, seguem dois links sobre língua e linguagem:<http://www.youtube.com/watch?v=z6sNEQ5-iaY&feature=related>.<http://www.youtube.com/watch?v=PZcppSdG8cg&feature=related>.