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Apostila de Prática Processual Penal

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Prática Processual Penal 1/157 OAB 2ª Fase

Apostila de Prática Processual Penal

PROFESSOR: BRUNO TRIGUEIRO

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Prática Processual Penal 2/157 OAB 2ª Fase

QUEIXA CRIME

1. NOÇÕES INICIAIS: Nas infrações penais que ofendem sobremaneira a

intimidade da vítima, a persecução criminal é transferida excepcionalmente ao particular

que atua em nome próprio, na tutela de interesse alheio (jus puniendi do Estado). O

exercício do direito de ação cabe ao ofendido ou ao seu representante legal. No caso de

morte ou declaração de ausência da vítima, o direito de ação transfere-se ao cônjuge

(incluído companheiro (a)), ascendentes, descendentes e irmãos, nesta ordem

preferencial.

Nos crimes de ação penal privada, a peça inicial acusatória, que contém a

imputação formulada ao acusado, recebe o nome de queixa-crime.

Na ação privada, o autor da demanda ganha o nome de querelante, ao passo

que o réu será chamado de querelado.

A petição inicial é oferecida ao magistrado, para que este, exercendo juízo de

admissibilidade, decida sobre o seu recebimento.

No art. 41 do CPP estão dispostos os requisitos que devem estar presentes na

denúncia ou queixa. Se ausentes os requisitos, a petição inicial será considerada inepta

(Art. 395, inciso I, do CPP).

As ações penais privadas dividem-se em:

1 - Ação penal privada exclusiva ou propriamente dita: é aquele em que o

direito de queixa pode ser exercido pela vítima ou por seu representante legal. Caso a

vítima tenha morrido ou seja declarada ausente, o direito de queixa passará para o

cônjuge, ascendente, descente e irmão (CADI) (art. 31 do CPP);

2 - Ação penal privada personalíssima: hoje se aplica apenas ao crime

disposto no art. 236 do CP. Somente o ofendido pode apresentar a queixa e mais

ninguém;

3 - Ação penal privada subsidiária da pública: tem cabimento diante da inércia

do MP, que, nos prazos legais, deixa de atuar, não promovendo a denúncia ou, em sendo

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Prática Processual Penal 3/157 OAB 2ª Fase

o caso, não se manifestando pelo arquivamento dos autos do inquérito policial, ou ainda,

não requisitando novas diligências. O Parquet, na ação penal privada subsidiária, figura

como interveniente adesivo obrigatório, atuando em todos os termos do processo, sob

pena de nulidade absoluta.

Segue abaixo alguns dos principais princípios que regem o instituto da ação

penal privada:

1 - Princípio da oportunidade: o que marca a ação penal privada é o juízo

de conveniência e oportunidade. A vítima decidirá se a ação será intentada ou não;

2 - Princípio da disponibilidade: após intentada a ação, a vítima poderá

abandoná-la, desistir dela ou perdoar o acusado;

3 - Princípio da indivisibilidade: a ação penal privada é indivisível e o MP

velará pela sua indivisibilidade. A queixa contra um dos autores obriga a interposição

contra todos (Art. 48 do CPP). A renúncia em favor de um dos autores se aplicará aos

demais;

4 - Princípio da intranscendência: efeitos da ação penal não podem ser

estendidos a terceiros, além do acusado.

CUIDADO:

Renúncia x Perdão: ambos são institutos que extinguem a punibilidade na ação penal

privada. A renúncia acontece quando a vítima se abstém ao exercício do direito de

queixa – a vítima deixará de interpor a ação. O perdão pressupõe uma ação penal já em

curso – é quando a vítima perdoa o querelado durante a tramitação da ação. A renúncia

à queixa é sempre um ato unilateral, não precisa de anuência da vítima, diferentemente

do perdão, que precisa da aceitação do querelado. A renúncia em relação a um dos

querelantes se estende aos demais. O perdão dado a uma dos querelados se estende ao

demais, mas, só produz efeitos depois da aceitação.

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Prática Processual Penal 4/157 OAB 2ª Fase

2. PRAZO

A queixa-crime, como regra geral, deve ser ofertada no prazo máximo de 6

meses, contados do conhecimento da autoria. Trata-se de um prazo de ordem

decadencial que não se interrompe, não se suspende e nem se prorroga. É contado na

forma do art. 10 do CP, ou seja, incluindo o dia do começo e excluindo o dia de

vencimento.

CUIDADO:

1 - Na hipótese de ação penal privada personalíssima (Crime de induzimento a erro

essencial e ocultação de impedimento ao casamento (art. 236 do CP)) o prazo de seis

meses só começa a correr após o transito em julgado da sentença que no cível, anule o

casamento por impedimento ou erro essencial.

2 - Na ação penal privada subsidiária da pública o prazo só começa a correr do dia em

que se esgotar o prazo para o Ministério Público oferecer da denúncia (Art. 38 do CPP).

3. FUNDAMENTO NORMATIVO DA QUEIXA-CRIME

1. Ação penal privada exclusiva ou propriamente dita: Art. 100, §§ 2º e 4º

(para o caso de morte ou declaração judicial de ausência), do CP e Arts. 30 e 31 (para o

caso de morte ou declaração judicial de ausência) do CPP;

2 – Ação penal privada personalíssima: Art. 30 do CPP c/c Art. 236, § único

do CP;

3 – Ação Penal Privada Subsidiária da Pública: Art. 5º, inciso LIX, da CF, Art.

100, § 3º, do CP e Art. 29 do CPP.

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Prática Processual Penal 5/157 OAB 2ª Fase

ESTRUTURA DA PEÇA

1 - ENDEREÇAMENTO: ao juiz competente ou ao presidente do tribunal (no

caso de ação penal originária).

ATENÇÃO A REGRA DO ART 73 DO CPP:

“Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o

foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.”

2 - INTRODUÇÃO: nome e qualificação do ofendido, menção ao advogado e

à procuração com poderes especiais (art. 44 do CPP); nome e qualificação do autor do

fato;

3 - DESCRIÇÃO DOS FATOS: na verdade, a imputação de um ou mais fatos

criminosos;

4 - CLASSIFICAÇÃO DO CRIME: Nesse tópico tem que ser descrito a

infração penal praticada pelo acusado. Se tiver a ocorrência de algum tipo de concurso

de crime (material (art. 69 do CP), formal (art. 70 do CP) ou continuidade delitiva (art.

71 do CP)) o candidato tem que mencionar. Por isso, se você não tiver segurança nesse

assunto, sugiro que estude em Direito Penal o assunto “Concurso de Crimes”;

5 - REQUERIMENTOS:

A) recebimento da peça e consequente instauração da ação, com intervenção

do MP e com tramitação, se for o caso, de acordo com o art. 519 e ss do CPP (crimes

contra a honra). Observe se não é o caso de tramitação no Juizado Especial Criminal (Lei

nº. 9.099/95);

B) citação do querelado;

C) ouvida das testemunhas e produção de qualquer outra prova;

D) prosseguimento do feito até final condenação.

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MODELO I

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____.ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA ____.

Inquérito nº.____

“FULANO DE TAL” (nome completo), (nacionalidade), (estado civil),

(profissão), portador da Cédula de Identidade nº. ____, inscrito no Cadastro de Pessoas

Físicas sob o nº.____, domiciliado em (cidade), onde reside (rua, número, bairro),

por seu advogado,vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor

QUEIXA-CRIME

contra “SICRANO DE TAL” (nome completo), (nacionalidade), (estado civil), (profissão),

portador da Cédula de Identidade nº. ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob

o nº.____, domiciliado em (cidade), onde reside (rua, número, bairro) e “BELTANO

DE TAL” (nome completo), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da

Cédula de Identidade nº. ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n.o____,

domiciliado em (cidade), onde reside (rua, número, bairro), com fundamento no art. 30

do Código de Processo Penal em combinação com o art. 145, caput, do Código Penal,

baseado nas provas colhidas no inquérito policial que segue juntamente com esta, pelos

seguintes motivos:

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Prática Processual Penal 7/157 OAB 2ª Fase

I – DOS FATOS

No dia ____, por volta das ____, em reunião realizada na sede da empresa

____, situada na ____, nesta cidade, na presença de inúmeros diretores e gerentes,

muitos dos quais constam do rol de testemunhas abaixo indicado, os querelados

imputaram ao querelante a prática do crime descrito no art. 197, I, do Código Penal.

Afirmaram, sabendo ser o proponente inocente, que os dados contábeis da empresa não

se encontravam regulares, tendo em vista que o querelante, por ter sido preterido em

promoção realizada no dia ____, para vingar-se da gerência que deixou de indicá-lo ao

posto, teria constrangido o contador “H”, mediante grave ameaça, a deixar de realizar

sua atividade, durante certo período. A ameaça fundar-se-ia na expulsão do flho do

contador da escola ____, onde atualmente cursa a 2.ª série do ensino fundamental,

levando-se em conta que a esposa do querelante é a diretora-geral do referido

estabelecimento de ensino.

A criativa história idealizada pelos querelados teve o fim de prejudicar o

querelante, conspurcando sua reputação diante de terceiros, sendo certo saberem eles

que nada foi feito contra “H”. Apurou-se no incluso inquérito ter este negligenciado seus

afazeres em virtude de problemas pessoais, razão pela qual os dados estavam, de fato,

incompletos, porém, nada disso teve por origem qualquer conduta do querelante.

Os querelados não somente sabiam ser inocente o querelante como também

engendraram a versão apresentada na reunião mencionada com o objetivo de macular a

sua imagem entre diretores e gerentes, justamente para afastá-lo da concorrência ao

próximo cargo de gerência a ser disputado dentro de alguns meses, quando ocorrerá a

aposentadoria do atual ocupante. Logo, segundo os depoimentos colhidos (fls. ____ do

inquérito), observa-se que, na última promoção, estava o querelante impossibilitado de

ser beneficiado, em razão da notória especialidade do posto, incompatível com sua

habilitação. Portanto, maliciosamente, os querelados, concorrentes do querelante,

buscaram vincular a negligência do contador da empresa a uma inexistente grave

ameaça, associada a um desejo de vingança igualmente fictício.

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II – DA TIPIFICAÇÃO

Assim sendo, torna-se nítida, pois, a prática do delito de calúnia (art. 138,

caput do CP) por parte dos querelados, sem perder de vista que foi o fato divulgado na

presença de várias pessoas, além de possuir o querelante mais de sessenta anos (art.

141, III e IV do CP), o que torna o delito mais grave.

III – DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência seja recebida a presente queixa-

crime, após a realização do procedimento descrito no art. 520 do Código de Processo

Penal, contra “C” e “D”, incursos nas penas do art. 138, caput, c.c. art. 141, III e IV, do

Código Penal, para que, citados e não sendo possível a aplicação dos benefícios da Lei

9.099/95, apresentando a defesa que tiverem, sejam colhidas as provas necessárias e,

ao final, possam ser condenados.

Termos em que, ouvido o ilustre

representante do Ministério Público,

Pede deferimento.

Recife, 7 de abril de 2010.

Advogado – OAB nº. XXX

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Prática Processual Penal 9/157 OAB 2ª Fase

ROL DE TESTEMUNHAS:

1. (nome completo), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da Cédula de

Identidade nº. ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n.o____, domiciliado

em (cidade), onde reside (rua, número, bairro);

2. (nome completo), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da Cédula de

Identidade nº. ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n.o____, domiciliado

em (cidade), onde reside (rua, número, bairro).

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Prática Processual Penal 10/157 OAB 2ª Fase

MODELO II

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA CAPITAL, POR

DISTRIBUIÇÃO

IP nº. 132/03

Maria Clara da Silva, brasileira, solteira, medica, residente e domiciliada na

Av. Boa Viagem, 1234, ap. 301, nesta cidade, através de seu procurador ao final

assinado, constituído conforme instrumento procuratório com poderes especiais em

anexo (art. 44, CPP), vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., com base no

inquérito policial n. 123/03, oferecer QUEIXA-CRIME contra Antônio Carlos Batista,

brasileiro, casado , servente, 22 anos de idade, natural de Caapora/PB, filho de Severino

José Batista e Maria Severina Batista, residente e domiciliado na rua do Cemitério, 102

Dois Irmão, nesta cidade, pelos fundamentos a seguir narrados:

Em 8 de janeiro do corrente ano, por volta das 22h, no interior de uma sala

reservada aos motoristas, no Edifício Porto de Pedra, localizado na Av. Boa Viagem,

1234, nesta cidade o querelado, armado de um revolver, constrangeu a querelante a

com ele manter conjunção carnal (v. perícia sexológica de fls. 15 do IP) (mediante a

grave ameaça de matá-la).

Consta dos autos de caderno informativo que a querelante havia chegado ao

prédio em que mora e, na garagem, foi rendida pelo querelado, que lá trabalhava com o

ajudante de limpeza, e lavada à sala dos motoristas, onde foi forçada ao coito.

Pela conduta criminosa aqui descrita, encontra-se o querelado incurso nas

penas do art. 213 c/c art. 61, II, “f”, do Código Penal, razão pela qual se pede a V.Exa.

que receba a presente e mande autuá-la, com citação do querelado para interrogatório e

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Prática Processual Penal 11/157 OAB 2ª Fase

apresentação de defesa, intimação do MP para os atos da causa, notificação das

testemunhas adiante arroladas, e prosseguimento do feito até final condenação.

Nestes termos,

Pede a procedência.

Recife, 7 de abril de 2012.

Advogado – OAB nº. XXX

ROL DE TESTEMUNHAS

1 – Florisvaldo Fernandes da Costa, (qualificação);

2 – Maria da Silva, (qualificação).

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RESPOSTA À ACUSAÇÃO

1. NOÇÕES INICIAIS. Com o advento da Lei nº 11.719/08, foi inserida no

Código de Processo Penal a Resposta à Acusação, com previsão nos art. 396 e 396-A do

CPP. Antes, existia a defesa prévia, porém, só ocorria após o interrogatório do acusado.

Hoje, logo após o recebimento da denúncia (ação penal pública) ou queixa-crime (ação

penal privada), o juiz mandará citar o acusado para, desde já, responder por escrito à

acusação. Ela é tão imprescindível que se acusado, após ser citado, deixar de fazê-la, o

juiz nomeará defensor para que a faça (Art. 396-A, § 2º, do CPP).

Sendo assim, vale destacar alguns pontos importantes para que possamos

identificar e utilizá-los em nossa peça processual.

2. MOMENTO: a resposta à acusação ocorrerá logo após o recebimento da

denúncia ou queixa. Vale lembrar que para isso, é lógico, o réu precisa ser citado.

3. PROCEDIMENTO: É cabível, principalmente, nos procedimentos

ordinários (quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou

superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade) como nos sumários (quando

tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de

pena privativa de liberdade). No entanto, com o disposto no Art. 394, § 4º, do CPP1, o

legislador estipulou a sua aplicação a todos os procedimentos de primeiro grau, ainda

que não regulamentados pelo CPP.

4. FUNDAMENTO NORMATIVO: a resposta à acusação tem previsão legal

nos art. 396 e 396-A do CPP. Foi inserida nesse diploma legal por meio da lei 11.719/08.

No procedimento do Tribunal do Júri, a fundamentação se encontra no art. 406 do CPP.

1 Art. 394. (...) § 4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de

primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.

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Prática Processual Penal 13/157 OAB 2ª Fase

CUIDADO:

A resposta à acusação não se confunde com as respostas preliminares previstas no art.

514 do CPP, que trata do processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos

funcionários público, e art. 55 da Lei 11.343/06 (Lei de Drogas).

5. CONTEÚDO: Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar

tudo o que interesse à sua defesa (apresentando as teses que poderão absolver

sumariamente o réu (art. 397 do CPP)) oferecer documentos e justificações, especificar

as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua

intimação, quando necessário. Só lembrando que as exceções (incompetência, coisa

julgada, litispendência, ilegitimidade de parte e suspeição) serão processadas em

apartado.

6. HIPÓTESES DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA: diferentemente do que ocorria

antes do advento da lei 11.719/08, a resposta à acusação pode ensejar a absolvição

sumária do agente. Isso ocorrerá sempre que o juiz verificar na resposta a existência

manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; a existência manifesta de causa

excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; que o fato narrado

evidentemente não constitui crime; extinta a punibilidade do agente (Art. 397 do CPP).

7. PRAZO: a resposta à acusação ocorrerá no prazo de 10 (dez) dias.

Atenção aos casos de citação por edital, em que o prazo para a defesa começará a fluir a

partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído (Art. 396, §

único do CPP).

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Prática Processual Penal 14/157 OAB 2ª Fase

ESTRUTURA DA PEÇA:

1. ENDEREÇAMENTO: ao juiz do processo;

2. INDICAÇÃO DO NÚMERO DOS AUTOS;

3. INTRODUÇÃO: com o nome do réu, realizando a sua qualificação (pode

ser remissiva), menção ao advogado e a sua procuração;

4. RESUMO DA IMPUTAÇÃO CONSTANTE DA DENÚNCIA OU QUEIXA;

5. EVENTUAIS ARGUIÇÕES DE NULIDADE, CAUSAS DE ABSOLVIÇÃO

SUMÁRIA OU CONTRARIEDADE GENÉRICA À IMPUTAÇÃO (NEGAÇÕES

GENÉRICAS), SE FOR O CASO;

6. REQUERIMENTOS:

A) recebimento da peça;

B) decretação de nulidades (se for o caso)

C) pedido de absolvição sumária;

D) ouvida de testemunhas;

E) a produção de outras provas;

7. ROL DE TESTEMUNHAS (ANTES OU DEPOIS DO FECHO);

8. FECHO (Nestes Termos, pede e espera deferimento).

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Prática Processual Penal 15/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 3.ª Vara Criminal da Comarca

Recife/PE.

Processo nº. 145698-58.2012

“Y”, qualificado a fls. ____, por seu advogado, nos autos da ação penal que

lhe move o Ministério Público do Estado de ____, vem, respeitosamente, à presença de

Vossa Excelência, nos termos do art. 396-A do Código de Processo Penal, apresentar a

sua

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

sustentando que provará sua inocência no decorrer da instrução.

Nesta oportunidade, junta os seguintes documentos: ____. Por outro lado,

oferece, ainda, o seu rol de testemunhas: ____.

Termos em que,

Pede deferimento.

Recife, 7 de abril de 2013.

Advogado – OAB nº. XXX

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ROL DE TESTEMUNHAS

1 – Florisvaldo Fernandes da Costa, (qualificação);

2 – Maria da Silva, (qualificação).

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Prática Processual Penal 17/157 OAB 2ª Fase

MODELO II

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA CAPITAL

Autos n. 000123/03

__________________, (denunciado ou querelado), qualificado nos autos, por

seu advogado que esta subscreve, constituído nos termos do instrumento procuratório

em anexo, vem, atendendo ao despacho de fls. ___, apresentar RESPOSTA À

ACUSAÇÃO, nos termos que seguem:

RESUMO DA IMPUTAÇÃO DA DENÚNCIA OU QUEIXA

ARGUIÇÃO DE NULIDADES

REFERENCIA ÀS NORMAS LEGAIS APLICÁVEIS

REQUERIMENTOS (recebimento da pela, ouvida das testemunhas arroladas e

produção de quaisquer outras provas, por exemplo, a ouvida da vítima, a realização de

uma perícia, requisição de documentos etc)

Neste termos,

Pede deferimento.

Recife, 03 de maio de 2011.

Advogado – OAB-PE n. XXX

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Prática Processual Penal 18/157 OAB 2ª Fase

ROL DE TESTEMUNHA

1. CLARABELA (qualificação e endereço)

2. DONALDO (qualificação e endereço)

OBS: Note-se, entretanto, que, na resposta à acusação, de acordo com a praxe forense,

os advogados, na maioria das vezes, apenas se utilizam de expressões genéricas para

formular a defesa do cliente (“A defesa reserva-se o direito de discutir o mérito da causa

por ocasião das alegações finais...”)

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Prática Processual Penal 19/157 OAB 2ª Fase

PEÇAS RELACIONADAS À PRISÃO

RELAXAMENTO

1. NOÇÕES INICIAIS. Nos termos do art. 5°, LXV, da CF, a “prisão ilegal

será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”.A palavra relaxamento significa

unicamente uma via de controle da legalidade da prisão, independentemente da

modalidade, não se restringindo à hipótese de flagrante delito, embora a sua aplicação

prática, em relação a essa.

2. FUNDAMENTO NORMATIVO: art. 5°, LXV, da Constituição Federal.

3. CABIMENTO: O relaxamento da prisão (flagrante, preventiva e

temporária) somente é cabível nos casos em que houver a decretação ou manutenção de

uma prisão ilegal. Logo, é de suma importância que o candidato tenha um conhecimento

sobre o instituto da prisão em flagrante, preventiva e temporária e das possíveis

ilegalidades que podem ocorrer nestes tipos de prisões.

O relaxamento da prisão ocorrerá, portanto, em todos os casos de ilegalidade,

dirigindo-se contra todas as modalidades de prisão previstas no Código de Processo

Penal, desde que tenham sido determinadas sem observância das previsões legais.

4. EFEITOS: Relaxada a prisão, o resultado imediato será a soltura do preso

com a consequente expedição do alvará de soltura, sem a imposição de quaisquer

restrições de direitos, uma vez que não se cuida de concessão de liberdade provisória,

mas de anulação de ato praticado com violação à lei. A liberdade deverá ser plenamente

restituída, tal como ocorre na revogação da preventiva, por ausência dos motivos que

justificaram a sua decretação.

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Prática Processual Penal 20/157 OAB 2ª Fase

ESTRUTURA DA PEÇA

1. ENDEREÇAMENTO: Ao juiz competente;

2. INDICAÇÃO DOS AUTOS (se já houver);

3. INTRODUÇÃO: nome do requerente, referência ao auto de prisão em

flagrante, menção ao advogado e à procuração;

4. DESCRIÇÃO DA PRISÃO COM OS RESPECTIVOS MOTIVOS DA

ILEGALIDADE;

5. APRESENTAÇÃO DOS FUNDAMENTOS NORMATIVOS E FÁTICOS QUE

EMBASAM A ILEGALIDADE E A SOLTURA DO ACUSADO;

6. REQUERIMENTO:

“Ante o exposto, requer, após a ouvida do D. Representante do MP, seja

deferido o pedido ora formulado para que se relaxe a prisão, expedindo-se o competente

alvará de soltura.”

7. FECHO: “Termos em que pede e espera deferimento. Local. Data.

Advogado OAB nº.”

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Prática Processual Penal 21/157 OAB 2ª Fase

LIBERDADE PROVISÓRIA

1. FUNDAMENTO NORMATIVO: a liberdade provisória tem previsão legal

nos Arts. 310, § único (causas excludentes de ilicitude) e 321 (ausência dos pressupostos

e fundamentos da prisão preventiva) do CPP.

2. CABIMENTO: A liberdade provisória é a medida cabível nas hipóteses de

flagrante lícito (se ilícito é relaxamento), tanto na materialidade quanto na formalidade,

devendo-se demonstrar que não existe a necessidade de se manter o agente

encarcerado, em razão de o fato ter sido praticado sob o manto de uma das excludentes

de ilicitude da conduta ou por estarem ausentes os pressupostos e fundamentos da

prisão preventiva.

3. PRAZOS E PROCEDIMENTO: Não existe prazo para requerer a liberdade

provisória. No entanto, com a entrada em vigor da nova lei de prisões (Lei nº.

12403/11), deve o juiz ao receber o auto de prisão em flagrante conceder liberdade

provisória com ou sem o pagamento de fiança, quando constatar que o fato foi praticado

sob o manto de uma das excludentes de ilicitude da conduta (art. 310, § único, do CPP)

ou por estarem ausentes os pressupostos e fundamentos da prisão preventiva (art. 321

do CPP). Neste momento (recebimento do flagrante por parte do juiz), é que a parte,

teoricamente, deve ingressar com a liberdade provisória. Tal fato se explica porque com

a nova redação determinada Lei nº 12.403/11, o juiz ao receber o auto de prisão em

flagrante deve, desde logo, converter a prisão em flagrante em preventiva, quando

presentes os requisitos constantes do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou

insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão. Dessa maneira, convertida a

prisão em flagrante em preventiva, a peça cabível para combater a desnecessidade da

prisão será a revogação da preventiva e não mais Liberdade Provisória.

A concessão liberdade provisória é possível mediante o pagamento de fiança

ou sem pagamento de fiança.

A Constituição Federal diz que deverá se conceder liberdade provisória,

sempre que possível. Lembrando que liberdade provisória pressupõe legalidade da

prisão. Se a prisão for ilegal deverá ser imediatamente relaxada.

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Prática Processual Penal 22/157 OAB 2ª Fase

A vinculação diz respeito a vincular o agente que se beneficiou com a

liberdade provisória a determinadas obrigações. A Liberdade Provisória com fiança é

sempre com vinculação, sempre submete o beneficiado às obrigações dos arts. 327 e

328 e 341, todos do CPP.

Quando se fala “com vinculação” quer dizer que o acusado conquista a

liberdade provisória com vinculação a determinadas obrigações. Lembrando que toda

liberdade provisória com fiança vincula ao acusado ao cumprimento de determinadas

obrigações.

Após o advento da Lei 12.403/11, o Delegado de Polícia pode arbitrar fiança,

nos crimes com pena de prisão máxima de até 4 (quatro) anos (Art. 322, CPP). Não

podendo, por exemplo, conceder fiança em crime de estelionato já que a pena máxima

deste é de 5 anos. Acima de 4 (quatro) anos, só o magistrado pode arbitrar. A

competência do magistrado é mais ampla, engloba todas as infrações penais afiançáveis.

Hoje os valores da fiança podem variar de 1 a 100 salários mínimos, quando infração

punida em grau máximo com pena privativa de liberdade não superior a 4 anos, e 10 a

200 salários mínimos quando infração punida em grau máximo com pena privativa de

liberdade superior a 4 anos. De acordo com o art. 325, § 1° CPP a fiança pode ser I -

dispensada, na forma do art. 350 deste Código; II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois

terços) ou III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes.

Como também é possível a liberdade provisória sem fiança. Podendo esta ser

ou não vinculada as obrigações.

4. EFEITOS: Vinculação ao juízo e ao processo, podendo ainda o juiz impor

uma das medidas cautelares não prisionais previstas nos arts. 319 e 320 do CPP.

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Prática Processual Penal 23/157 OAB 2ª Fase

ESTRUTURA DA PEÇA

1. ENDEREÇAMENTO: Ao juiz competente;

2. INDICAÇÃO DOS AUTOS (se já houver);

3. INTRODUÇÃO: nome do requerente, referência ao auto de prisão em

flagrante, menção ao advogado e à procuração;

4. DESCRIÇÃO DA PRISÃO COM OS RESPECTIVOS MOTIVOS DA

DESNECESSIDADE;

5. APRESENTAÇÃO DOS FUNDAMENTOS NORMATIVOS E FÁTICOS QUE

EMBASAM A DESNECESSIDADE E A SOLTURA DO ACUSADO;

6. REQUERIMENTO:

“Ante o exposto, requer seja deferido o pedido ora formulado para que se

reconheça a desnecessidade da prisão, expedindo-se o competente alvará de soltura.”

CUIDADO:

Na liberdade provisória com pagamento de fiança o Ministério Público só é ouvido após

a concessão da medida, não havendo necessidade de requerer a sua oitiva, conforme

estipula o art. 333 do CPP:

“Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida independentemente de

audiência do Ministério Público, este terá vista do processo a fim de requerer o que

julgar conveniente.”

No que diz respeito à Liberdade Provisória sem pagamento de fiança a redação anterior

do art. 310 do CPP exigia a oitiva prévia do Ministério Público para que o juiz pudesse

deferir a medida de liberdade pleiteada, conforme se abaixo:

REDAÇÃO ANTERIOR: “Art. 310. Quando o juiz verificar pelo auto de prisão em flagrante

que o agente praticou o fato, nas condições do art. 19, I, II e III, do Código Penal,

poderá, depois de ouvir o Ministério Público, conceder ao réu liberdade provisória,

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Prática Processual Penal 24/157 OAB 2ª Fase

mediante termo de comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de

revogação.

Parágrafo único. Igual procedimento será adotado quando o juiz verificar, pelo auto de

prisão em flagrante, a inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizam a prisão

preventiva (arts. 311 e 312)”

No entanto, após a entrada em vigor da Lei nº. 12.403/11, apesar de algumas opiniões

em contrário, não se exige mais a oitiva prévia do membro do Ministério Público,

conforme se pode extrair facilmente da leitura dos arts. 310 e 321, ambos do CPP.

7. FECHO: “Termos em que pede e espera deferimento. Local. Data.

Advogado OAB nº.”

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Prática Processual Penal 25/157 OAB 2ª Fase

REVOGAÇÃO

1. FUNDAMENTO NORMATIVO: Arts. 312 c/c 316 do CPP (Preventiva) e Art

1º da Lei nº 7.960/89 (Temporária).

2. CABIMENTO: Quando o réu se encontra preso preventivamente e os

pressupostos e fundamentos da prisão preventiva desaparecem. Na temporária acontece

quando os motivos que ensejaram a decretação da prisão já não mais subsistem. É

possível pleitear a revogação junto ao juiz que decretou a preventiva ou a temporária.

3. PRAZOS E PROCEDIMENTO: Não existe prazo para requerer a

revogação. De acordo com o art. 316 do CPP, o juiz poderá revogar a prisão preventiva

quando há falta de motivo para que a mesma subsista, portanto, a decisão que decreta

ou denega a prisão preventiva é lastreada na cláusula rebus sic stantibus, ou seja, dura

enquanto durar o estado das coisas – teoria da imprevisão. O mesmo pensamento é

desenvolvido para a prisão temporária.

Assim, mantida a situação fática e jurídica que ensejou a decretação da

prisão, a mesma deverá ser mantida. A contrário senso, se não houver mais os motivos

que ensejaram a decretação da medida cautelar, o juiz, de forma fundamentada, irá

revogar a prisão (seja preventiva ou temporária), o que poderá ser feito de ofício ou a

requerimento. Consequentemente, se uma prisão preventiva ou temporária foi

legalmente decretada, porém seus motivos desapareceram, deverá a mesma ser

revogada pelo juiz, sendo possível ao preso, através do seu advogado, postular a

REVOGAÇÃO DA PRISÃO.

Para tanto, deverá sustentar o desaparecimento dos motivos que justificavam

a prisão, pleiteando, ao final, sua revogação, com a expedição do competente alvará de

soltura.

De acordo com a reforma trazida pela Lei 12.403/2011, o juiz poderá, ao

revogar a prisão preventiva ou mesmo temporária, aplicar uma das medidas cautelares

não prisionais previstas no art. 319 do CPP.

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Prática Processual Penal 26/157 OAB 2ª Fase

Assim, nesta peça o tema central a ser defendido pelo candidato deverá ser o

desaparecimento dos motivos que justificavam a prisão preventiva ou temporária,

pleiteando, ao final, sua revogação, com a expedição do competente alvará de soltura.

4. EFEITOS: Acarreta liberdade plena, mas o juiz pode cumular com as

cautelares não prisionais previstas nos arts. 319 e 320 do CPP.

ESTRUTURA DA PEÇA

1. ENDEREÇAMENTO: Ao juiz competente;

2. INDICAÇÃO DOS AUTOS (se já houver);

3. INTRODUÇÃO: nome do requerente, referência ao inquérito ou ao

processo judicial, menção ao advogado e à procuração;

4. DESCRIÇÃO DA PRISÃO COM OS RESPECTIVOS MOTIVOS DA

DESNECESSIDADE;

5. APRESENTAÇÃO DOS FUNDAMENTOS NORMATIVOS E FÁTICOS QUE

EMBASAM A DESNECESSIDADE E A SOLTURA DO ACUSADO;

6. REQUERIMENTO:

“Ante o exposto, requer, após a oitiva do membro do Ministério Público, seja

deferido o pedido ora formulado para que se reconheça a desnecessidade da prisão,

expedindo-se o competente alvará de soltura.”

Apesar de não existir nenhum dispositivo legal que exija a oitiva prévia do

membro do Ministério Público, é de praxe o requerimento de sua oitiva.

7. FECHO: “Termos em que pede e espera deferimento. Local. Data.

Advogado OAB nº.”

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MODELO I

REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____.ª Vara do Júri da Comarca

____.

Processo nº. ____

“N”, qualificado a fls. ____, nos autos do processo-crime que lhe move o

Ministério Público, por seu advogado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa

Excelência, com fundamento nos arts. 312 c/c 316, ambos do CPP, requerer a

REVOGAÇÃO de sua PRISÃO PREVENTIVA, pelos seguintes motivos:

I – DOS FATOS

O acusado teve sua custódia cautelar decretada por esse digno juízo sob o

fundamento de estar preparando a sua fuga e que, conseqüentemente, evitaria a futura

e eventual aplicação da lei penal, consolidada através de sentença penal condenatória.

II – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Não desconhece a defesa que esse é um dos motivos a sustentar a decretação

da prisão preventiva, com base no art. 312 do Código de Processo Penal.

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Prática Processual Penal 28/157 OAB 2ª Fase

Entretanto, vale destacar que o princípio constitucional da presunção de

inocência, associado ao direito de permanecer em liberdade provisória, configuram o

quadro ideal para a situação do réu.

Constitui pura ilação do órgão acusatório a conclusão de que o acusado

pretende fugir, abandonando o acompanhamento da instrução, simplesmente pelo fato

de ter colocado sua casa à venda e ter saído do anterior emprego. Na realidade, a casa

foi vendida em função de não mais haver ambiente para o réu residir, com sua família,

naquela vizinhança, local onde igualmente habitava a vítima. Constantes eram as

ameaças que sofria por parte de parentes desta, tanto que chegou a registrar boletim de

ocorrência, quando uma das vidraças da sua casa foi estilhaçada por uma pedra, durante

a madrugada (documento anexo).

Ademais, o acusado simplesmente pretendia trocar de emprego, por razões

salariais, não tendo tido a oportunidade de comunicar a Vossa Excelência, o que iria fazer

em breve tempo. Porém, diante das dificuldades de conseguir novo posto de trabalho,

em virtude da recessão que assola o País, está atualmente desempregado. Tal situação,

entretanto, não signifca que pretende fugir.

III – DA CONCLUSÃO

Desta feita, não há prova conclusiva de que pretendia subtrair-se à aplicação

da lei penal, motivo pelo qual requer a Vossa Excelência, ouvido o ilustre representante

do Ministério Público, a revogação da sua prisão preventiva, com a expedição do alvará

de soltura, se o acusado já estiver preso, ou de contra-mandado, caso solto.

Termos em que,

Pede deferimento.

Recife, 03 de maio de 2010.

Advogado – OAB-PE n. XXX

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Prática Processual Penal 29/157 OAB 2ª Fase

MODELO II

CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA 3 VARA CRIMINAL DE RECIFE/PE

(REQUERENTE), já qualificado nos autos, por seu procurador ao final

assinado, vem, respeitosamente, perante V.Exa., com base nos art. 321 do CPP, nos

autos da ação penal (Processo n. ___) que lhe move a Justiça Pública requer seja-lhe

concedida liberdade provisória com base nos fundamentos a seguir expedidos.

O requerente foi preso em flagrante pelo cometimento do crime previsto no

art. 155, 4º, I, do Código Penal, ao qual se comina pena de reclusão de 2 a 8 anos, e

multa. Em verdade, não tem ele nenhuma responsabilidade quanto ao fato que lhe é

imputado e isso certamente restará comprovado quando estiver finda a instrução.

Verifica-se, porém, que nos termos da legislação em vigor, o requerente tem

o direito de responder ao processo em liberdade. Com efeito, pode-se argumentar que é

o caso de aplicação do art. 321 do CPP. Prima facie, já se comprova que não estão

presentes os motivos da prisão preventiva. O requerente nunca foi processado

criminalmente (v. FAC de fls.___), é casado, pai de filhos, tem ocupação lícita, conforme

se depreende da declaração de seu empregador às fls. ___. Não há sequer indícios de

que a liberdade do requerente ofereça qualquer risco à ordem publica, à colheita da

prova na instrução criminal ou de que pretenda furtar-ser á eventual aplicação da lei

penal.

É caso, pois de se lhe deferir a liberdade provisória mediante compromisso de

que vai comparecer a todos os atos do processo.

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Prática Processual Penal 30/157 OAB 2ª Fase

Apenas por amor a argumentação (Desde logo, Por cautela), se V.Exa. não

decidir pela aplicação do art. 321 da Lei Adjetiva, não se olvide de que o crime imputado

ao requerente é afiançável a teor do disposto no art. 324, inciso IV, do CPP, considerada

as condições pessoais do requerente, todas favoráveis ao reconhecimento do beneficio.

Entendendo que é o caso de liberdade provisória mediante o pagamento de

fiança roga a V.Exa. que o dispense do pagamento da garantia, e acordo com o art. 350,

CPP, já que é pobre na forma da lei, provendo o seu próprio sustento e o de sua família

com dificuldade evidente por ter emprego de baixa remuneração.

Ante o exposto, requer seja-lhe concedida liberdade provisória pois presentes

os pressupostos para a concessão de benefício, para que possa, solto, melhor diligenciar

na comprovação de sua inocência e continuar provendo o sustento de sua família,

comprometendo-se o requerente a comparecer a todos os atos para os quais for

intimado.

Pede e espera deferimento.

Recife, 08 de abril de 2012.

Advogado - OAB/PE nº. XXX

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MODELO III

REVOGAÇÃO DE PRISÃO TEMPORÁRIA

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___.ª Vara Criminal da

Comarca ___.

Inquérito nº. _____

“D”, (Nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular de carteira de

identidade Registro Geral n.o __, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n.o ___,

domiciliado em (cidade), onde reside (rua, número, bairro), atualmente recolhido no

presídio ___, por seu advogado (documento anexo), vem, respeitosamente, à presença

de Vossa Excelência, com fundamento no art. 1º, da Lei nº 7.960/89, nos autos do

inquérito policial que apura o delito de roubo qualificado, do qual foi vítima “T”, requerer

a

REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA DECRETADA

pelos seguintes motivos:

O indiciado foi preso ontem, em razão de mandado de prisão temporária

expedido por Vossa Excelência, após representação feita pela autoridade policial,

contando com a concordância do representante do Ministério Público, sob o fundamento

de ter cometido um crime grave, que coloca em risco a ordem pública.

A prisão foi decretada por cinco dias, sujeita, como prevê a Lei 7.960/89, à

prorrogação por igual prazo. Entretanto, não há sentido para o recolhimento cautelar do

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Prática Processual Penal 32/157 OAB 2ª Fase

indiciado, relembrando ser a prisão a exceção e a liberdade, a regra, conforme

estabelece a garantia constitucional da presunção de inocência.

Em momento algum o indiciado foi apontado pela vítima como o autor da

infração penal. Ao contrário, desde o início, quando a ocorrência foi registrada, a

descrição do indivíduo que a assaltou é completamente diversa das características

pessoais do requerente. Este, por sua vez, tem emprego e residência fixos (documentos

anexos), sendo primário e sem registro de antecedente criminal.

A autoridade policial baseou-se em denúncia anônima para representar pela

prisão temporária, o que não se pode admitir no Estado Democrático de Direito. O

indiciado não se nega a submeter-se ao procedimento formal de reconhecimento, nem

mesmo a prestar declarações, embora não possa conformar-se em permanecer detido

para que as investigações tenham prosseguimento.

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência, após a oitiva do membro do

Ministério Público, a revogação da prisão temporária decretada, por não haver fundado

motivo para a segregação provisória.

Termos em que, expedindo-se o alvará de soltura,

Pede deferimento.

Recife, 08 de abril de 2012.

Advogado - OAB/PE nº. XXX

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MODELO IV

RELAXAMENTO DE PRISÃO

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____.ª Vara Criminal da

Comarca ____.

Inquérito policial nº. ____

“L”(nome completo), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular de

carteira de identidade Registro Geral n.o ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas

sob o n.o ____, domiciliado em (cidade), onde reside (rua, número, bairro), por seu

advogado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer o

RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE

com fundamento no art. 5.º, LXV, da Constituição Federal, pelos seguintes motivos:

O indiciado foi preso em flagrante no dia 17 de dezembro próximo passado,

sob a alegação de estar portando a arma do homicídio que teve como vítima Fulano de

Tal. Estaria configurada a hipótese do art. 302, IV, do Código de Processo Penal,

legitimando, portanto, a detenção sem mandado judicial. Encontra-se detido junto à

____ (delegacia).

Ocorre que, na realidade, inexiste flagrante presumido neste caso. A lei é

clara ao estipular que se considera em flagrante delito quem “é encontrado, logo depois,

com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da

infração” (art. 302, IV, CPP, grifo nosso). Ora, a expressão “logo depois” não pode ter a

elasticidade que lhe deu a autoridade policial, fazendo supor que uma semana é período

curto e breve a ponto de justificar a prisão em estado de flagrância.

Por outro lado, a completa ignorância do paradeiro do indiciado, que somente

teria sido localizado por denúncia anônima, bem demonstra que a polícia perdeu seu

rumo, desconfigurando qualquer possibilidade de se tratar de uma relação de

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Prática Processual Penal 34/157 OAB 2ª Fase

imediatidade entre a prática do fato e a ocorrência da prisão, não havendo nem mesmo

perseguição ou qualquer elemento que justificaria a mantença do estado de flagrância.

Nesse sentido, pode-se mencionar a lição de ____.

Outra não é a posição da jurisprudência: ____.

Em suma, sem pretender ingressar no mérito, analisando se, realmente, foi

“L” o autor do homicídio em questão, ou, se o fez, qual teria sido a justificativa a tanto,

pois o momento é inadequado, busca-se ressaltar a Vossa Excelência a impropriedade da

prisão em flagrante, merecendo ser decretado o seu relaxamento, colocando-se o

indiciado em liberdade.

Desde logo, por cautela, assinala-se não haver motivo algum para a

decretação da prisão preventiva, uma vez que os requisitos do art. 312 do Código de

Processo Penal não estão presentes.

O indiciado é primário, não registra antecedentes, tem endereço e emprego

fixos (documentos de fs. ____) e não deu mostra de que pretenda fugir à aplicação da lei

penal ou que possa perturbar o correto trâmite da ação penal.

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência, afastada a hipótese de

flagrância, determinar o relaxamento da prisão, colocando-se o indiciado em liberdade,

que se compromete a comparecer a todos os atos processuais, quando intimado.

Termos em que, ouvido o ilustre

representante do Ministério Público e

expedindo-se o alvará de soltura,

Pede deferimento.

Recife, 08 de abril de 2012.

Advogado - OAB/PE nº. XXX

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Prática Processual Penal 35/157 OAB 2ª Fase

ALEGAÇÕES FINAIS

1. NOÇÕES INICIAS. As alegações finais em memoriais foram incluídas no

CPP pela Lei 11.719/08. Antes da reforma, as alegações eram oferecidas por escrito, no

prazo de três dias (art. 500 do CPP, revogado). Com a alteração, as alegações finais

serão, em regra, oferecidas oralmente, ao final da audiência, para uma maior celeridade

do processo, mas, excepcionalmente, o juiz poderá abrir prazo para que as partes

ofereçam suas alegações finais por escrito, em memoriais.

2. FUNDAMENTO NORMATIVO. Pensando em casos como processos com

muito réus, quando as alegações finais orais poderiam gerar tumulto e desatenção e em

processos que discutam causas mais complexas, o legislador incluiu o § 3º do art. 403 do

CPP que diz:

“§ 3. O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de

acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a

apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para

proferir a sentença.”

Nessas hipóteses, a fundamentação legal dos memoriais será o art. 403, § 3º

do CPP.

A outra hipótese de cabimento das Alegações Finais por memoriais acontece

quando o juiz ordena, na audiência de instrução e julgamento, diligência imprescindível

para a solução da causa, hipótese em que a audiência será finalizada sem que as partes

apresentem as suas alegações finais. Após realizada a diligência considerada

imprescindível, as partes apresentarão as suas alegações finais por memoriais, sendo a

segunda hipótese de oferecimento desta peça processual, conforme se pode constatar da

redação do art. 404 do CPP:

“Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a

requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.

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Prática Processual Penal 36/157 OAB 2ª Fase

Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes

apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por

memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença.”

A peça deverá ser endereçada ao Juiz da Vara em que o processo está

tramitando. O candidato deverá ficar atento a esta informação no enunciado. O prazo é

de 5 cinco dias.

3. CONTEÚDO Como teses de defesa, será possível alegar neste momento

qualquer delas. Importante ficar atento a todos os detalhes, pois, em regra, será a última

oportunidade antes da sentença.

Quando se tratar de alegações finais em procedimento do júri, o candidato

deverá ponderar sobre algumas peculiaridades: O procedimento do Júri é dividido em

duas fases. A primeira delas é encerrada com a decisão do juiz de primeiro grau e a

segunda emana do conselho de sentença com a participação do Juiz presidente. A

primeira decisão consistirá na sentença de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária

ou desclassificação do réu. Caberá ao defensor ao elaborar os memoriais antes da

sentença da primeira fase do júri externar todos os argumentos que possam eximir o réu

de passar pelo crivo dos jurados. Para tanto, há três teses principais:

A) Alegar que não há indícios suficientes de materialidade ou de autoria:

embora na primeira fase do júri prevaleçam os interesses pro societate, para

que o réu seja submetido ao julgamento dos jurados deve haver um lastro

probatório mínimo que o aponte como sujeito ativo do crime e que o mesmo

de fato tenha ocorrido.

B) Pleitear desclassificação para outro crime: Caso seja deferida a

desclassificação, será afastada a competência do Tribunal do Júri, ex:

homicídio tentando para lesão corporal grave.

C) Pedir a absolvição sumária: este pedido terá como fundamentação o art.

415 do CPP e será deferido se presentes as seguintes hipóteses: I – provada a

inexistência do fato; II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; III

– o fato não constituir infração penal; IV – demonstrada causa de isenção de

pena ou de exclusão do crime. Observar que o parágrafo único desse mesmo

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Prática Processual Penal 37/157 OAB 2ª Fase

artigo veda a aplicação do IV quando o defensor alegar inimputabilidade (a

chamada absolvição imprópria), salvo quando essa for a única tese de defesa,

pois nesse caso estaria sendo retirada do réu a possibilidade de absolvição

própria, baseada em outras teses de defesa.

CUIDADO:

No procedimento do júri, o CPP prevê que as alegações finais serão oferecidas

oralmente, não havendo previsão legal para que sejam oferecidas por escrito, conforme

se percebe da redação dada ao art. 411, § 4º do CPP:

“Art. 411. (...)

§ 4º As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à

acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10

(dez).”

No entanto, é perfeitamente possível, e a praxe já sedimentou, a hipótese de

apresentação de alegações final por memoriais também no procedimento do tribunal do

júri, utilizando, subsidiariamente, os Arts. 403, § 3º, e 404, § único do CPP. Para tanto é

importante que o candidato quando for apresentar os memoriais nessas hipóteses,

comine os artigos supracitados com o § 5º, do Art. 394 do CPP que aduz o seguinte: “§

5º Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as

disposições do procedimento ordinário”.

Nos demais casos (se não for procedimento do júri), os pedidos de absolvição

deverão pautar-se no art. 386 do CPP. Em suma, as principais teses a serem defendidas

em memorias são:

• Estar provada a inexistência do fato ou não haver prova suficiente que este

ocorreu: aqui vigorará o princípio do in dubio pro réu. Assim, caso a acusação não tenha

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Prática Processual Penal 38/157 OAB 2ª Fase

comprovado que o crime de fato ocorreu, o defensor deverá pedir ao juiz que seja

deferida a absolvição sumária por falta de materialidade delitiva.

• Não consistir o fato infração penal: Em muitos casos, durante a instrução do

processo, verifica-se que os fatos não são exatamente os descritos na petição inicial. Se

a conduta imputada ao réu não consistir crime, a defesa deverá pedir a absolvição

sumária por atipicidade.

• Não existir prova de que o réu concorreu para a ação penal, ou estar provado que

o mesmo não concorreu com o crime: Nesse caso a tese será de negativa de autoria,

pois caso a defesa prove que ele não está ligado ao crime ou a acusação não tenha

provado seu envolvimento, caberá a absolvição sumária, pois nesta fase a dúvida

beneficiará o réu.

• Existirem circunstância que excluam o réu do crime, o isentem de pena ou mesmo

se houver fundada dúvida sobre sua existência: Essas hipóteses, como o próprio inciso VI

indica, estão dispostas nos arts. 20, 21, 22, 23, 26 e §1º do art. 28. São os casos de

legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, estado de necessidade e

inimputabilidade, crime impossível, entre outros.

• Não existirem provas suficientes para a condenação: Essa é um inciso genérico

que deverá ser usado quando não houver outro mais adequado. Qualquer outra dúvida

que possa levar à absolvição do réu deverá ser alegada, pois para uma condenação, é

necessário estarem presentes todos os elementos que obriguem o réu a responder pelo

crime.

• Nulidades (art. 564 do CPP): O defensor deverá estar atento à qualquer nulidade

ocorrida durante o processo em argui-la nos memoriais. O ato viciado, assim como os

que o seguirem deverão ser anulados. O pedido de declaração de nulidade deverá ser

pleiteado preliminarmente.

• Extinção da punibilidade: A defesa deverá fundamentar esse pedido nas hipóteses

dispostas no art. 107 do CP. Caso a defesa constate qualquer causa de prescrição,

decadência, perempção ou qualquer outra, deverá pedir seu reconhecimento e a

consequente extinção do processo. Esse pedido também deverá ser feito como

preliminar.

• Afastamento de agravantes ou aplicação de atenuantes: Deverá ser observado o

art. 61 do CP onde estão as agravantes e o art. 65, onde encontram-se algumas

atenuantes. Tudo o que for favorável ao réu deverá ser alegado.

• Afastamento de qualificadoras ou de causas de aumento: O defensor deverá ficar

atento a qualquer tese que beneficie o réu. Seria o caso, por exemplo, de demonstrar

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Prática Processual Penal 39/157 OAB 2ª Fase

que o roubo não foi com emprego de arma de fogo, afastando-se a causa de aumento de

pena (art. 157, I do CP).

• Aplicação da pena no mínimo legal: É possível alegar circunstâncias que influam

na dosimetria da pena, como a primariedade por exemplo.

• Concessão de benefício previsto em lei: Por cautela, em caso de condenação,

deverá a defesa alegar qualquer hipótese de benefício para o réu como a

substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, sursis,

aplicação de regime mais brando e etc.

Cumpre ressaltar que, quando se tratar de ação penal privada, a não apresentação de

alegações finais do querelante importará perempção, causa de extinção da punibilidade,

bem a ausência de pedido de condenação (art. 60, III, CPP).

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Prática Processual Penal 40/157 OAB 2ª Fase

ESTRUTURA DA PEÇA

1. Endereçamento: ao juiz do processo;

2. Indicação do número dos autos;

3. Introdução (nome, menção ao advogado, fundamentação legal);

4. Resumo da imputação;

5. Análise das possíveis preliminares;

6. Análise das provas colhidas;

7. Apresentação da tese da defesa com indicação dos fundamentos

normativos, doutrinários e jurisprudenciais;

8. Requerimento (a depender da tese apresentada, por exemplo: “Ante o

exposto, requer seja o acusado absolvido com fundamento no art. 386, IV do CPP);

9. Fecho.

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MODELO I

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CRIMINAL DA

CAPITAL

Processo nº. 978/03

Autor: Ministério Público

Réu: Francisco Luis da Silva

Francisco Luis da Silva, já qualificado nos autos, através do seu advogado ao

final assinado, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS EM MEMORIAIS, com fundamento no art. 403, § 3º, do CPP, o

que faz nos termos que seguem:

I - DA ILICITUDE DA PROVA E SUA CONSEQUENTE IMPRESTABILIDADE

No dia 05 de dezembro de 2005, por volta das 14h, Francisco Luis da Silva,

motorista de caminhão, foi preso em casa por policiais da Delegacia de Repressão ao

Roubo de Cargas que, sob o pretexto de investigar o roubo ou desvio de cargas de

mercadorias, mesmo sem ordem judicial, violando frontalmente o disposto no art. 5º, XI,

da Constituição Federal, procederam à busca na residência do réu e lá encontraram

documentos de outrem que o réu usaria como se fossem seus. Os policiais apreenderam

os documentos verdadeiros de Elias Rodrigues de Miranda, um CPF, CNH e a cédula de

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Prática Processual Penal 42/157 OAB 2ª Fase

identidade, tendo sido substituída pelo réu, neste último documento, a fotografia de Elias

Rodrigues de Miranda por uma sua.

Por tal motivo, o réu foi autuado em flagrante pelo crime de falsidade

ideológica (art. 299, do CP) e, posteriormente, denunciado pelo diligente Representante

do Ministério Público nos moldes da autuação policial.

Conforme vamos argumentar a seguir, não há crime a ser punido. Desde já,

entretanto, deve-se afirmar, sem sombra de dúvida, que, mesmo se o réu tivesse

praticado crime, não poderia ser condenado com base em prova colhida em ofensa a

postulados constitucionais.

Com efeito, não sendo caso de flagrante delito, os policiais somente poderiam

ingressar no domicílio do réu, sem o seu consentimento, se dispusessem de ordem

judicial, o que não havia, conforme suficientemente comprovado.

A norma inscrita no art. 5º, LVI, considera inadmissíveis as provas colhidas

com violação a postulados constitucionais, devendo ser desprezadas pelo julgador. A

jurisprudência tem desconsiderado a prova ilícita resultante de busca e apreensão

efetuada sem mandado judicial, com invasão de domicílio (v. ap. criminal no 83.624-3,

RT 670/273).

Não se argumente que o réu encontrava-se em flagrante delito, o que

legitimaria a atuação policial. De acordo com a melhor doutrina, o crime de falsidade

ideológica consuma-se com a efetiva inserção ou omissão do dado relevante no

documento. Se houvera falsificação (e não houve, muito menos a ideológica), o crime já

teria se consumado há muito quando da entrada indevida dos policiais na casa do réu.

Pelo brevemente analisado, pede a V .Exa. que desconsidere a perícia de fls.

22 dos autos, considerada a razão de foi o documento nela examinado apreendido com

ofensa à Constituição Federal, impondo-se a absolvição do réu por inexistência da prova

do fato.

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II - DA INEXISTÊNCIA DE FALSIDADE IDEOLÓGICA

Se tivesse havido crime (mas não houve, reitere-se), não seria o de falsidade

ideológica e, sim, a falsidade material. Vamos ver.

A falsidade material altera o aspecto formal do documento enquanto a

falsidade ideológica altera o conteúdo do documento. No sentido da idéia que se defende,

cite-se:

“A falsidade ideológica prevista no art. 299 do CP refere-se ao

conteúdo do documento, e não ao 'falso material: Na falsidade

material o que se frauda é a própria forma do documento, que é

alterado, no todo ou em parte, ou é foljada pelo agente, que cria

um documento novo. Na falsidade ideológica, ao contrário, a forma

do documento é verdadeira, mas seu conteúdo é falso, isto é, a

idéia ou declaração que o documento contém não corresponde à

verdade (Celso Delmanto)" (TRF-1a Região, H C

980100013835/DF. ReI. Mário César Ribeiro, i. 23.6.1998)

Se ainda houvesse qualquer dúvida, basta consultar-se a mais alta corte do

país:

"Sendo a alteração do documento público verdadeiro uma das

condutas típicas do crime de falsificação de documento público

(art. 297 do CP), a substituição da fotografia em documento de

identidade dessa natureza caracteriza a alteração dele, que se

cinge apenas ao seu teor escrito, mas que alcança essa

modalidade de modificação que, indiscutivelmente, compromete a

materialidade e a individualização do documento, até porque a

fotografia constitui parte juridicamente relevante dele" (sTF, H C

74. 690-5/sP, ReI. Moreira Alves, j. 10.3.1998)

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Vê-se, portanto, que a conduta atribuída ao réu não se enquadra no tipo do

art. 299, CP. Não quer dizer que o mesmo possa ser condenado por falsidade material.

Não seria correto juridicamente, nem justo.

III - DA AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CONFIGURADORES DA FALSIDADE

Nos autos há prova de que o réu foi encontrado com uma carteira de

identidade (de Elias Rodrigues de Miranda) da qual teria retirado a fotografia original e,

no lugar, teria posto a sua própria. Não se olvide que o réu encontrava-se em sua

residência que foi invadida por policiais. Não há prova de que tivesse utilizado a tal

carteira, nem sequer indícios de que a utilizaria em prejuízo de outrem, muito embora

tenha confessado que, em viagem pelo interior do Estado de São Paulo, "achou os

documentos e resolveu ficar com eles para usar um dia, se fosse necessário" (v.

assentada de fls. 78). Sabemos que o crime de falsidade material se consuma,

independentemente de uso efetivo, com a falsificação ou alteração. Por outro lado, o que

se depreende do tipo objetivo do art. 297 do Código Penal é que a falsificação, pelo

menos potencialmente, cause prejuízo a outrem. Faltando esse elemento, o fato é

atípico. Cite-se:

"Não se configura o crime do art. 297, se o agente falsificou o

documento mas o manteve guardado, pois, neste caso, não produz

efeito jurídico" (TJSP, RTJSP 103/442).

IV – DA CONCLUSÃO

Ante o que foi exposto, requer o acusado a sua absolvição, porque

imprestável (por ilicitude) a prova do fato e que deve ser desconsiderada, com base no

art. 386, II, CPP. Se assim não entender V. Exa., que rechace a imputação de falsidade

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ideológica e absolva o réu por atipicidade da conduta (art. 386, IV, CPP), vez que falta

elemento que configure o tipo objetivo do art. 297, do CP.

É o que se espera por ser de justiça.

Recife, 08 de abril de 2010.

Advogado

OAB-PE no. XXX

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MODELO II

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____.ª Vara Criminal da

Comarca ____.

Processo nº.____

“O”, qualificado nos autos, por seu advogado, nos autos do processo-crime

que lhe move o Ministério Público do Estado ____, vem, respeitosamente, à presença de

Vossa Excelência, com fundamento no art. 403, § 3o, do Código de Processo Penal,

apresentar os seus

MEMORIAIS

nos seguintes termos:

I. MATÉRIA PRELIMINAR (art. 571, II, CPP)

1. Do cerceamento de defesa

A defesa, após a inquirição das testemunhas de acusação, em audiência,

requereu a Vossa Excelência a oitiva de uma testemunha referida, que poderia prestar

importantes esclarecimentos sobre os fatos, mas teve seu pleito indeferido.

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Prática Processual Penal 47/157 OAB 2ª Fase

O argumento utilizado para tanto fundou-se na intempestividade da

apresentação da prova, ou seja, como a mencionada testemunha, já conhecida da

defesa, não foi arrolada em sua defesa prévia, não mais poderia ser deferida a sua oitiva.

Entretanto, Vossa Excelência não agiu com o costumeiro acerto, por,

fundamentalmente, duas razões: em primeiro lugar, ainda que não fosse a testemunha

ouvida como numerária, deveria ser inquirida como testemunha do juízo (art. 209, CPP),

em homenagem aos princípios da busca da verdade real e da ampla defesa. Em segundo

lugar, a defesa, embora conhecesse a testemunha, não tinha noção do quanto ela sabia

a respeito do caso, o que somente ficou claro quando a testemunha ____ (fs. ____)

referiu-se, expressamente, a ela. Logo, não foi arrolada anteriormente por não se ter

noção do grau de conhecimento que detinha.

2. Do indeferimento da prova pericial

É certo que a verificação da conveniência de realização de prova pericial não

obrigatória é atividade da competência de Vossa Excelência. Entretanto, se a parte

solicita a realização de um exame que guarde relação com os fatos apurados na causa,

não pode ter o seu intento frustrado, sob pena de ficar configurado o cerceamento na

produção e indicação das provas. O réu tem direito à ampla defesa, valendo-se de todos

os instrumentos possíveis para demonstrar o seu estado de inocência.

Por isso, o exame psicológico requerido, a ser realizado na vítima, tinha e tem

a finalidade de atestar o grau de rebeldia do menor em acatar ordens, bem como

justificar que ele faltou com a verdade em seu depoimento, possivelmente por

imaturidade, ao criar situações fantasiosas que não ocorreram.

Requer-se, pois, preliminarmente, que Vossa Excelência converta o

julgamento em diligência para a colheita das provas supra apontadas.

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II. MÉRITO

Quanto ao mérito, o órgão acusatório somente conseguiu demonstrar a

tipicidade do fato, o que não se nega. Porém, longe está de se constituir crime.

A defesa admite, como aliás o próprio réu o fez em seu interrogatório, que

determinou ao sobrinho que permanecesse em seu quarto, durante o fim-de-semana,

como medida de proteção e finalidade educacional, tendo em vista o seu envolvimento

com más companhias. Portanto, a sua liberdade de ir e vir foi, realmente, privada.

Mas o crime não se constitui apenas de tipicidade. Faltou, no caso presente, a

ilicitude.

O acusado agiu no exercício regular de direito, como tio da vítima e pessoa

encarregada pelos pais do menino de com ele permanecer por um determinado período,

cuidando de sua educação como se pai fosse. Esse poder educacional lhe foi conferido

verbalmente pelos pais, quando se ausentaram para viagem de lazer. Logo, não se pode

argumentar que houve ofensa a bem jurídico penalmente tutelado.

Os depoimentos dos pais da vítima (fls. ____ e ____) espelham exatamente o

que ocorreu. Antes de viajar, eles deram autorização verbal para o réu cuidar do filho,

“como se pai fosse”, o que envolve, naturalmente, o direito de educar e, se necessário,

aplicar a punição cabível, desde que moderada, exatamente o que ocorreu neste caso.

Não podem, pois, retornando mais cedo da viagem e encontrando o filho

preso no quarto da residência do réu, revogar aquilo que falaram, chamando a polícia e

transformando o que deveria ser uma mera discussão familiar num caso criminoso.

Na doutrina, ____.

Assim não entendendo Vossa Excelência, apenas para argumentar, deve ser

afastada, ao menos, a agravante de crime cometido em relação de coabitação. A vítima

não morava com o réu, encontrando-se em sua residência apenas como hóspede. Logo,

se alguma relação havia era a de hospitalidade, não descrita em momento algum na

denúncia.

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Prática Processual Penal 49/157 OAB 2ª Fase

E mesmo quanto à agravante de delito cometido prevalecendo-se das

relações de hospitalidade, é preciso considerar que tal hipótese não se aplica ao caso

presente. A finalidade da agravante volta-se à punição daqueles que se furtam ao dever

de assistência e apoio às pessoas com as quais vivem, coabitam ou apenas convivem. O

réu, em momento algum, pensou em agredir o ofendido para faltar com o dever de

assistência; ao contrário, sua atitude calcou-se na prevenção de problemas, pois, na

ausência dos pais, não poderia ele, menor impúbere com apenas treze anos de idade, ir

aonde bem quisesse, convivendo com pessoas estranhas e, de certo modo, perigosas.

III – DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência a absolvição do réu, com

fundamento no art. 386, VI, do Código de Processo Penal, ou, subsidiariamente, pleiteia-

se o afastamento da agravante do art. 61, II, f, do Código Penal, pois assim fazendo

estar-se-á realizando JUSTIÇA.

Por derradeiro, deve-se ressaltar que o acusado é primário, não tem

antecedentes, merecendo receber a pena no mínimo legal, se houver condenação, bem

como a substituição por penas alternativas e o direito de recorrer em liberdade.

Recife, 08 de abril de 2010.

Advogado

OAB-PE no. XXX

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Prática Processual Penal 50/157 OAB 2ª Fase

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

1. NOÇÕES INICIAIS

O Recurso em Sentido Estrito, conforme leciona o professor Nestor Távora, “é

a impugnação voluntária, manifestada pela parte interessada e prejudicada por decisão

judicial criminal que se amolde a uma das situações dispostas no art. 581, do CPP, para o

fim de vê-la modificada pelo juiz de primeiro grau, em juízo de retratação, ou pelo

tribunal ad quem, mediante julgamento pelo seu órgão com competência criminal, para

tanto subindo os autos principais ou mediante traslado, quando a lei assim o

determinar”.

Para fins didáticos, costuma-se comparar o RESE com o agravo do Processo

Civil (retido ou de instrumento), manejado contra as decisões interlocutórias de primeiro

grau, ou seja, caberia contra decisões que não encerrariam definitivamente o processo, e

sim uma fase do mesmo. Ocorre que, em alguns casos, o RESE é utilizado para atacar

decisões com força de sentença, como a que não receber a denúncia ou a queixa por

exemplo (observe que em sede de Juizado Especial Criminal, diante dessa hipóteses

caberá recurso de apelação). Desta forma, é importante conciliar esse conceito com as

hipóteses dispostas no art. 581 do CPP.

O que vai delinear o recurso em sentido estrito é a previsão dos casos de

cabimento no art. 581, CPP, em rol taxativo, que não admite ampliação sem lei expressa

autorizativa.

2. PRAZO

O prazo para a peça de interposição do RESE, via regra é de 5 dias, e será

realizado por petição, ou por termos nos autos, conforme art. 578 do CPP. Já as razões,

serão oferecidas no prazo de 2 dias, assim como as contrarrazões (art. 588 do CPP).

Observar que no caso do art. 581, XIV do CPP, (decisão que incluir jurado na

lista geral ou desta o excluir), o prazo será de vinte dias, contado da data da publicação

definitiva da lista de jurados. No entanto, grande parte da doutrina entende que o esse

dispositivo não tem mais aplicação, já que cabível reclamação ao juiz presidente do

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Prática Processual Penal 51/157 OAB 2ª Fase

Tribunal do Júri, até o dia 10 de novembro, data da publicação da lista definitiva (Art.

426, §1 º, do CPP).

3. CABIMENTO

As hipóteses de cabimento estão dispostas no art. 581 do CPP.

Art. 581 CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou

sentença:

I - que não receber a denúncia ou a queixa;

O recebimento da peça acusatória é irrecorrível, mas o réu pode manejar HC

para trancar a ação penal cujo crime comine pena privativa de liberdade. Nos juizados

especiais criminais, a rejeição da inicial acusatória enseja apelação (art. 82 da Lei nº.

9.099/95).

II - que concluir pela incompetência do juízo;

III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

IV - que pronunciar o réu;

Como o efeito regressivo lhe é inerente, o juiz pode, ao receber o recurso,

retificar sua decisão, pronunciando ou impronunciando consoante a hipótese. Se a

pronúncia impuser a prisão do acusado, este só poderá recorrer "depois de preso, salvo

se prestar fiança, nos casos que a lei admitir" (art. 585, CPP). A maioria da doutrina

entende que esta restrição não tem mais razão de existir, devendo o recurso ser

processado, mesmo estando o réu foragido.

V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir

requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar

a prisão em flagrante;

Toda vez que o acusado tiver sua pretensão de soltura cautelar indeferida,

cabível não é o recurso em sentido estrito, porém o habeas corpus como sucedâneo

recursal.

VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008).

VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

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Nas duas hipóteses, o recurso terá efeito suspensivo apenas para impedir a

implementação da sanção pecuniária, qual seja, a destinação de metade do valor da

fiança para os cofres da União no caso da quebra, e a sua integralidade no caso da

perda.

VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a

punibilidade;

As decisões que declarem a extinção da punibilidade em processo de

execução penal ou a prescrição da pretensão executória são agraváveis (agravo em

execução).

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra

causa extintiva da punibilidade;

X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;

Admite-se, contudo, diante da urgência da tutela em matéria de liberdade de

locomoção, que seja ajuizado habeas corpus substitutivo contra o ato do juiz que o

denegou no juízo a quo, com esteio no princípio da celeridade.

XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;

Grande parte da doutrina entende que o esse dispositivo não tem mais

aplicação, já que cabível reclamação ao juiz presidente do Tribunal do Júri, até o dia 10

de novembro, data da publicação da lista definitiva (Art. 426, §1 º, do CPP).

XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão

prejudicial;

XVIII - que decidir o incidente de falsidade.

Importante observar que os incisos XI; XII; XVII; XIX a XXIV foram

tacitamente revogados pela Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), a qual dispõe que

caberá Recurso de Agravo, contra as decisões proferidas em sede de execução penal

(art. 197 da Lei 7210/84). Vale ressaltar que este recurso terá o mesmo prazo para

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Prática Processual Penal 53/157 OAB 2ª Fase

interposição e apresentação de razões do RESE, possuindo, inclusive, o efeito regressivo

ou iterativo, que é aquele que possibilita o magistrado se retratar da decisão proferida.

4. PROCESSAMENTO

Neste tópico, importa destacar que as razões e contrarrazões do RESE deve

ser endereçada ao tribunal, mas a peça de interposição perante o juiz, que pode se

retratar ou não da da decisão.

O Código prevê duas hipóteses diferentes de processamento do RESE: na

primeira o recurso subirá nos próprios autos da ação penal, o que ocorre nos seguintes

casos: recurso de ofício, como se dá na decisão concessiva de HC; interposto nas

hipóteses dos incisos I, III, IV, VIII e X do artigo 581 do CPP (for o caso de despacho,

decisão ou sentença que não receber a queixa ou a denúncia, que julgar procedentes as

exceções (salvo a de suspeição), que pronunciar o acusado, que decretar a prescrição ou

julgar extinta a punibilidade e, que negar ou conceder a ordem de habeas corpus);

quando não prejudicar o andamento do processo (ex: ação penal com muitos réus onde

só alguns recorrem). De outro lado, "o recurso da pronúncia subirá em traslado, quando,

ha¬vendo dois ou mais réus, qualquer deles se conformar com a decisão ou todos não

tiverem sido ainda intimados da pronúncia" (art. 583, parágrafo único, CPP). Nos demais

casos o recurso subirá por instrumento, devendo ser trasladadas as peças para a

formação do mesmo. Neste caso, na petição de interposição o recorrente deverá indicar

quais peças ele pretende transladar.

O recurso em sentido estrito, geralmente, tem os efeitos devolutivo e

regressivo. O art. 584, caput, CPP, estatui que "os recursos terão efeito suspensivo nos

casos de perda da fiança" e de deserção ou de denegação da apelação. O juízo de

retrataçáo só pode ser realizado uma única vez relativamente à mesma decisão judicial;

"se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá

recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la". (§

único, art. 589, CPP). O recurso, nessa hipótese, subirá nos próprios autos ou em

traslado, indepen¬dentemente de novos arrazoados.

O processo e o julgamento do RESE é de competência dos Tribunais de

Justiça, dos Tribunais Regionais Federais, das câmaras ou turmas que os compõem,

observadas as respectivas leis de organização judiciária e os regimentos internos. Não

cabe falar na figura do revisor em sede de recurso em sentido estrito. Os autos do

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Prática Processual Penal 54/157 OAB 2ª Fase

recurso em sentido estrito serão distribuídos a um relator, seguindo-se imediatamente

com vista ao MP, pelo prazo de cinco dias. Com o retorno do processo ao relator, este

pedirá dia para julgamento, com inclusão na pauta correspondente. No dia do

julgamento, o presidente do órgão jurisdicional anunciará o processo, sendo apregoadas

as partes. O relator, com ou sem a presença dos interessados, procederá à exposição do

feito. Subsequentemente, o presidente concederá a palavra "aos advogados ou às partes

que a solicitarem e ao procurador-geral, quando o requerer", pelo prazo de dez minutos

para cada um. As decisões do tribunal são tomadas por maioria (art. 615, CPP). Não é

possível, em sede de recurso em sentido estrito, realizar o interrogatório do acusado,

conquanto não seja impossível a conversão de julgamento em diligências em casos

justificados. Depois de julgado o recurso em sentido estrito, com a conferência do

acórdão - e uma vez ocorrida a sua preclusão - "deverão os autos ser devolvidos, dentro

de cinco dias, ao juiz a quo" (art. 592, CPP).

ESTRUTURA DA PEÇA

PEÇA DE INTERPOSIÇÃO:

1. ENDEREÇAMENTO: ao juiz da decisão recorrida;

2 . INDICAÇÃO DO NÚMERO DOS AUTOS;

3. INTRODUÇÃO: NOME, MENÇÃO AO ADVOGADO, REFERÊNCIA À

DECISÃO RECORRIDA, FUNDAMENTO LEGAL;

4. PEDIDO DE RETRATAÇÃO;

5. INDICAÇÃO DE PEÇAS A SER TRASLADADAS (SE FOR O CASO DE

SUBIR POR INSTRUMENTO, NAS HIPÓTESES DO ART. 583, CPP);

6. FECHO (Nestes termos, pede e espera deferimento).

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RAZÕES RECURSAIS

1. ENDEREÇAMENTO: ao Tribunal competente (Egrégio Tribunal, Colenda

Câmara) OBS: é praxe também se dirigir ao membro do MP;

2. MENÇÃO AO NÚMERO DOS AUTOS, AO RECORRENTE E AO

RECORRIDO;

3. RESUMO DA PROBLEMÁTICA QUE ENSEJOU A IMPUGNAÇÃO;

4. APRESENTAÇÃO DE PRELIMINARES E DOS FUNDAMENTOS LEGAIS

APTOS A REFORMAR A DECISÃO PROFERIDA;

5. CONCLUSÃO (“Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o

presente recurso para, reformando-se a decisão de fls., despronunciar-se o réu...”);

6. FECHO.

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Prática Processual Penal 56/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

Exmo. Sr. Juiz de Direito da 3ª Vara Criminal de Recife/ PE

Processo nº. xxxx

(RECORRENTE), já qualificado nos autos, por seu procurador adiante

assinado, vem, respeitosamente, perante V .Exa., nos autos da Ação Penal que lhe move

a Justiça Pública, não se conformando, data vênia, com a decisão de fls.__ que (JULGOU

INIDÔNEA A FIANÇA, POR EXEMPLO), recorrer da mesma, o que faz com fundamento no

art. 581, __ (V, POR EXEMPLO), do CPP.

Outrossim, solicita a reforma da r. decisão (Art. 589 do CPP), mas, caso seja

mantida, requer seja o recurso processado nos termos da lei adjetiva e encaminhado

para julgamento pelo Egrégio Tribunal de Justiça.

Considerando que deve ser formado instrumento para subida do recurso,

requer seja determinado à Secretaria que proceda ao traslado das seguintes peças:

a)

b)

Pede deferimento.

Recife, 18 de abril de 2010.

Advogado- OAB/PE no. XX

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Prática Processual Penal 57/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Processo nº.

Vara de Origem:

Recorrente:

Recorrido:

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

COLENDA CÂMARA,

PRECLAROS MAGISTRADOS,

DIGNA PROCURADORIA DE JUSTIÇA

Inconformada com a r. decisão interlocutória de pronúncia prolatada pelo

insigne juiz de direito de primeira instância (fls.__), tempestivamente interpôs a defesa

de __________(RECORRENTE) o presente Recurso em Sentido Estrito, consoante

permissão inserida no CPP, por entender que o magistrado prolator não laborou com o

costumeiro acerto ao pronunciar o réu, ora recorrente.

Não assiste razão ao nobre juiz a quo, merecendo reforma a r. decisão por ele

proferida. Vejamos.

Imputou a peça inaugural ao recorrente o cometimento do crime de homicídio

qualificado pelo motivo fútil. De acordo com a denúncia, no dia 21 de março de 2004, por

volta das 10h, na rua Dom Luis Fernando, nesta cidade, com manifesta intenção

homicida, o recorrente efetuou contra a vítima 4 disparos de arma de fogo, provocando-

lhe os fenômenos descritos no laudo de corpo de delito de fls. __.

O acervo probatório dos autos não autoriza a prolação da pronúncia do

recorrente, pois, não obstante haver certeza quanto ao crime, não há sequer indícios de

que o recorrente seja o seu autor.

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Prática Processual Penal 58/157 OAB 2ª Fase

Não houve testemunhas presenciais. As pessoas ouvidas nos autos, em cujos

depoimentos se fundamentou Sua Excelência para pronunciar o recorrente, apenas

fizeram menção a uma discussão havida entre a falecida vítima e o recorrente, tendo isso

acontecido três meses antes do fato. Ora, isso não basta para tornar certa e segura a

demonstração de que o recorrente tenha assassinado a vítima.

Sua Excelência não considerou a declaração de fls. __ que bem demonstra

que, no momento provável do crime, o recorrente estava trabalhando a vários

quilômetros do local onde o corpo da vítima foi encontrado. Sua Excelência fundamentou

sua recusa em aceitar o álibi do recorrente no princípio in dubio pro societate que vigora

no momento de decidir-se sobre a admissibilidade da acusação, para submeter-se o réu

a julgamento pelo Tribunal Popular. É cediço que, no momento da pronúncia, não vigora

o in dubio pro reo e que as dúvidas devem ser resolvidas em favor da sociedade.

Acontece, entretanto, que, no caso sob análise, NÃO HÁ DÚVIDAS. O recorrente estava

trabalhando no momento do crime. Se ninguém o viu cometer o crime e se há prova nos

autos de que ele encontrava-se em outro local, não há que se falar em dúvida.

DA INADMISSIBILIDADE DA QUALIFICADORA DO § 2°, II, DO ART. 121, DO

CÓDIGO PENAL

Disse a denúncia que o recorrente agiu por motivo fútil. Ainda que fosse

possível pronunciar o recorrente pelo homicídio, e Já vimos que não existe essa

possibilidade por tudo que foi colhido nos autos, sob qualquer ponto de vista seria

inadmissível o acatamento da qualificadora de motivo fútil.

Nenhum motivo foi levantado ou suscitado para o homicídio da vítima e a

falta de motivo não se confunde com motivo fútil. Por outro lado, Sua Excelência

entendeu que o recorrente "podia" ter-se vingado da vítima, com quem havia tido uma

discussão banal três meses antes. Ainda que tudo isso fosse verdade, é pacífico que a

vingança não constitui motivo fútil (veja-se, a esse respeito, o magistério de Cezar

Roberto Bitencourt, em seu já consagrado Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva,

2002, p. 389).

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Prática Processual Penal 59/157 OAB 2ª Fase

Recorde-se, entretanto, que não há sequer indícios de que o recorrente seja o

autor do homicídio apurado nestes autos.

Assim, espera e confia seja dado provimento ao presente recurso para

despronunciar- se o recorrente, ou, pelo menos, afastar-se a qualificadora

manifestamente improcedente, por ser de inteira justiça.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Recife, 18 de abril de 2010.

Advogado- OAB/PE no, XXX

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Prática Processual Penal 60/157 OAB 2ª Fase

MODELO II

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 2.ª Vara do Júri da Comarca

____.

Processo nº. ____

“F”, qualificado a fs. ____, por seu defensor dativo, nos autos do processo

que lhe move o Ministério Público, inconformado com a decisão de pronúncia, vem,

respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

com fundamento no art. 581, IV, do CPP, requerendo seja o mesmo recebido e, levando-

se em consideração as razões em anexo, possa haver o juízo de retratação, com a

finalidade de impronunciar o acusado.

Assim não entendendo Vossa Excelência, requer o processamento do recurso,

remetendo-o ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Termos em que, desnecessária a

formação de instrumento,

Pede deferimento.

Recife, 18 de abril de 2012.

Advogado- OAB/PE no, XXX

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Prática Processual Penal 61/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

____.ª Vara do Júri da Comarca ____

Processo n. ____

Recorrente: “F”

Recorrido: Ministério Público

EGRÉGIO TRIBUNAL

O réu “F” foi pronunciado como incurso nas penas do art. 121, § 2.º, II e IV,

do Código Penal, porque, no dia ____, na estrada ____, por volta das ____ horas, teria

empurrado a vítima “G” da ponte, fazendo com que caísse no leito de um rio,

desaparecendo nas águas. O acusado teria agido à traição, colhendo o ofendido por trás,

bem como por motivo fútil, consistente em desavença de menor importância, resultado

de briga anterior por torcida de time de futebol.

A decisão de fls. ____, entretanto, não pode prevalecer. O art. 413, caput, do

Código de Processo Penal estabelece dois requisitos indispensáveis para se determinar o

julgamento do réu pelo Tribunal do Júri: prova da existência do crime e indícios

suficientes de autoria.

Quanto à materialidade, inexiste, nos autos, prova da existência da infração

penal, uma vez que a vítima, na data dos fatos, tal como relatado na denúncia, caiu de

uma altura de cerca de cinco metros, nas águas de um rio e desapareceu. Pode estar

viva, pois, em momento algum, seu corpo foi encontrado e, conseqüentemente,

submetido a exame pericial obrigatório (art. 158, CPP).

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Prática Processual Penal 62/157 OAB 2ª Fase

Cuida-se de decisão periclitante encaminhar o acusado a julgamento pelo

Tribunal Popular sem a prova inequívoca da morte da vítima. Ademais, não consta que

ela não soubesse nadar ou que tivesse caído de altura mais do que razoável para que sua

morte fosse altamente provável.

Por tais motivos, vislumbra-se a inexistência de prova da materialidade do

delito.

Quanto à autoria, não se nega ter o réu entrado em luta corporal com o

ofendido e, em face disso, ter este caído nas águas do rio. O próprio recorrente, dando

mostras de sua sinceridade, desde a fase policial, admitiu esse fato. Entretanto, disse

claramente ter agido em legítima defesa, o que não foi satisfatoriamente considerado

pelo ilustre julgador.

Ambos se desentenderam, realmente, momentos antes, por questões

banais. Porém, quem perseguiu o acusado pela estrada, quando este se dirigia à sua

residência na Fazenda ____, foi a vítima. Ao atingirem a Ponte ____, que passa sobre o

Rio ____, o ofendido deu violento soco nas costas do réu, que, ato contínuo, entrou em

luta com o agressor. A partir desse momento, possivelmente por perder o equilíbrio, caiu

a vítima no rio.

Tal cena foi presenciada pela testemunha ____ (fls. ____), que confirma

integralmente a versão dada pelo réu. Comprovada, sem sombra de dúvida, a legítima

defesa, caso a vítima tenha morrido em virtude da queda, somente para argumentar,

deveria o réu ser absolvido sumariamente, nos termos do art. 415, IV, do Código de

Processo Penal.

Por derradeiro, ainda somente para argumentar, caso seja a pronúncia

mantida, é de rigor o afastamento das qualificadoras.

Não houve motivo fútil, pois este não se configura quando há discussão e

agressão física entre réu e vítima, conforme pode ser constatado na doutrina, através da

lição de ____. Na jurisprudência, do mesmo modo, pode-se citar o seguinte: ____.

No mesmo diapasão, inexistiu recurso que impossibilitou a defesa,

consistente em traição. Se houve, como já mencionado, luta corporal entre réu e

ofendido, torna-se ilógico falar em ataque realizado à socapa. Logo, ambas as

qualificadoras merecem ser afastadas, por não encontrarem respaldo na prova dos autos.

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Prática Processual Penal 63/157 OAB 2ª Fase

Do exposto, conclui-se que inexiste prova suficiente da materialidade para

a pronúncia. Assim não entendendo esse Egrégio Tribunal, torna-se imperiosa a

absolvição sumária do acusado ou, ao menos, sejam as qualificadoras afastadas, pois

desse modo far-se-á a tão almejada JUSTIÇA.

Recife, 18 de abril de 2012.

Advogado- OAB/PE no, XXX

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Prática Processual Penal 64/157 OAB 2ª Fase

APELAÇÃO

1. NOÇÕES INICIAIS. A apelação, regra geral, é o recurso cabível nos casos

em que forem proferidas sentenças judiciais que julguem o mérito ou que possuam

caráter definitivo. Dessa forma, NÃO é cabível o recurso de apelação para atacar os

despachos de mero expediente, bem como, regra geral, decisões interlocutórias.

Todavia, em algumas situações, pode-se perceber que a apelação acaba assumindo uma

natureza residual, pois, em alguns casos de decisões interlocutórias proferidas pelo juiz

singular, em que NÃO seja hipótese de Recurso em Sentido Estrito, poderá ser passível

de impugnação por meio da apelação.

2. FUNDAMENTO NORMATIVO: a apelação está disciplinada nos arts. 593

ao 606 do CPP.

3. HIPÓTESES DE CABIMENTO: Caberá apelação nas hipóteses previstas

no art. 593 do CPP (I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas

por juiz singular; II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por

juiz singular", quando não for comportável recurso em sentido estrito; III - das decisões

do tribunal do júri quando: (a) advier nulidade subsequente à pronúncia, (b) a sentença

do juiz-presidente contrariar dispositivo legal expresso ou a decisão dos jurados, (c)

ocorrer equívoco ou injustiça na imposição de medida de segurança ou de pena e, (d) a

decisão dos jurados contrariar manifestamente a prova dos autos).

ATENÇÃO

Enquanto no tocante às sentenças definitivas de condenação ou de absolvição

prolatadas por juiz singular, o tribunal terá possibilidade de apreciar amplamente as

questões decididas (efeito devolutivo em maior extensão), no que atine às sentenças

prolatadas no âmbito do tribunal do júri, o órgão de segundo grau não poderá adentrar

em matéria faties, de forma a violar a soberania dos veredictos.

A lei 11.689/2008 deu nova redação ao artigo 416, CPP trazendo também

outras hipóteses de cabimento do recurso de apelação (contra sentença da impronúncia

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Prática Processual Penal 65/157 OAB 2ª Fase

e absolvição sumária). Caberá ainda nos casos de decisão que rejeite a denúncia ou

queixa, contra sentença absolutória, condenatória e a homologatória de transação penal

no âmbito dos juizados especiais criminais, de acordo com art. 89 da Lei n° 9.099/95.

4. PRAZOS E PROCEDIMENTO: A apelação pode ser interposta por petição

ou por termo nos autos (a apelação por termo é aquela desprovida de rigor formal,

bastando que o recorrente revele o seu inconformismo com a decisão, demonstrando o

desejo do recurso, não se exigindo capacidade postulatória, que será necessária,

entretanto, para a apresentação das razões), no prazo de 5 dias, regra geral (Art.593 do

CPP). Se for no âmbito do JECRIM o prazo será de 10 dias e deverá ser interposta por

petição escrita.

CUIDADO:

O prazo para a interposição da apelação, no caso de assistente não habilitado nos autos,

será de quinze dias contados da expiração do prazo de recurso do MP. Se estiver

habilitado, a doutrina entende que o prazo será o mesmo da parte, ou seja, 5 dias.

Não é necessário que o recorrente apresente desde logo as razões de

apelação. Há prazo específico de 8 (oito) dias para apresentação das razões, salvo nos

processos de contravenção, em que o prazo será de 3 (três) dias, conforme art. 600 do

CPP. Havendo assistente, este arrazoará, no prazo de 3 (três) dias, após o Ministério

Público. O apelante poderá afirmar que suas razões serão apresentadas em segunda

instância (§ 4°, do art. 600, CPP). Estando a apelação acompanhada de razões, intimará

o apelado para oferecer contrarrazões, no mesmo prazo de oito dias ou de três dias. Se a

ação penal for movida pela parte ofendida, o Ministério Público terá vista dos autos, pelo

mesmo lapso temporal (art. 600, § 2°, CPP). Quando forem dois ou mais os apelantes ou

apelados, os prazo serão comuns (art. 600, § 3°, CPP), salvo para o MP (vista mediante

carga dos autos). Encerrados os prazos para oferecimento de razões, "os autos serão

remetidos à instância superior, com as razões ou sem elas, no prazo de 5 (cinco) dias",

salvo nas jurisdições que forem sede de tribunal, onde subirão em trinta dias (art. 603,

CPP). Havendo mais de um réu, e não tendo sido todos julgados ou não havendo todos

apelado da sentença, caberá ao apelante — que terá o ónus de arcar com as despesas

correspondentes (salvo se o pedido for do Ministério Público, do réu pobre ou da

Defensoria Pública) - promover extração do traslado dos autos, o qual deverá ser

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Prática Processual Penal 66/157 OAB 2ª Fase

remetido à instância superior no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data da entrega

das últimas razões de apelação, ou do vencimento do prazo para a apresentação das do

apelado".

Já em relação aos Juizados Criminais, a Lei 9.099/95 no art. 82 prevê que a

apelação deve ser interposta no prazo de 10 (dez) dias, já com as razões e o pedido do

recorrente.

5. EFEITOS: Recebida a apelação pelo órgão de primeiro grau, serão

atribuídos, em regra, os efeitos devolutivo e suspensivo. Sem embargo, "a apelação da

sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade"

(art. 596, caput, CPP), por faltar título legítimo para a manutenção da prisão do acusado.

Em suma, a apelação é dotada do efeito devolutivo, por devolver ao órgão ad

quem o reexame da causa nos limites recursais (tantum devolutum quantum

appellatum). Se a sentença for condenatória, terá efeito suspensivo (art. 597,CPP).

6. JULGAMENTO: a competência para julgar a apelação é do tribunal ao qual

está vinculado o juiz prolator da sentença, podendo ser os tribunais de justiça ou os

tribunais regionais federais, que são órgãos de segundo grau de jurisdição. Os autos, ao

chegarem ao tribunal, serão distribuídos a um relator. Nessa altura, a apelação já estará

com as razões e contrarrazões de recurso. Caso contrário, o relator tomará as

providências para o seu processamento. A apresentação intempestiva de razões e de

contrarrazões de recurso, em matéria criminal, não deve implicar o seu

desentranhamento, sem embargo de poder ser considerado esse fator para fins de

apreciação de matéria que careceria de alegação oportuna. Na segunda instância, o MP

terá vista dos autos para exarar parecer, no prazo de cinco dias (salvo se for o caso de

sentença em processo de contravenção ou de processo de habeas corpos - art. 610,

caput, CPP), podendo opinar pelo conhecimento, não conhecimento, provimento ou não

provimento da apelação.

É possível a determinação de diligência. Estando pronto o processo, o relator

pedirá dia para julgamento, solicitando inclusão em pauta. Designada a data, a parte

deve ser intimada através de publicação oficial. A Defensoria Pública e o MP têm a

prerrogativa da intimação pessoal.

No dia do julgamento, o presidente do tribunal o anunciará, sendo

"apregoadas as partes" e, "com a presença destas ou à sua revelia, o relator fará a

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Prática Processual Penal 67/157 OAB 2ª Fase

exposição do feito e, em seguida, o presidente, concederá, pelo prazo de 10 (dez)

minutos, a palavra aos advogados ou às partes que a solicitarem e ao procurador-geral,

quando o requerer, por igual prazo" (§ único, art. 610, CPP). Caso se trate de apelação

contra sentenças prolatadas em processo por delito a que a lei comine pena de reclusão,

há necessidade de um membro do tribunal revisor.

Serão observadas, pois, em relação ao enunciado do art. 610, CPP, as

seguintes modificações: (1) "exarado o relatório nos autos, passarão estes ao revisor,

que terá igual prazo para o exame do processo e pedirá designação de dia para o

julgamento"; (2) "os prazos serão ampliados ao dobro"; (3) "o tempo para os debates

será de um quarto de hora" (art. 613, CPP). Após o debate, será dada a palavra ao

relator, que proferirá o seu voto, que constará, em regra, de duas partes dispositivas:

uma referente ao conhecimento ou não do apelo, e a outra - se conhecida a apelação -

pelo provimento ou não do recurso. Se houver "empate de votos no julgamento de

recursos, e se o presidente do tribunal, câmara ou turma, não tiver tomado parte na

votação, proferirá o voto de desempate. No caso contrário, prevalecerá a decisão mais

favorável ao réu" (§ 1°, art. 615, CPP). Sendo o relator vencido, outro será designado

para lavrar o acórdão, recaindo, em regra, sobre o membro que abriu a divergência. Não

há possibilidade de aplicação de mutatio libelli pelo órgão de segunda instância. Isso

implicará que, se for constatado fato delituoso não contido na denúncia ou na queixa,

sequer implicitamente, a solução a ser dada pelo tribunal, em caso de provimento de

apelação, é a de anular a sentença para que, em primeira instância, sejam adotadas as

providências que a mutatio libelli requer (art. 384, CPP). Já a emendatio libelli (art. 383,

CPP) é perfeitamente possível, consoante o art. 617, CPP. Por fim, tem-se que a

refomatio in pejus é vedada, segundo o CPP, ao enfatizar que as decisões dos tribunais

serão conformes às disposições concernentes às sentenças de primeiro grau, "não

podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da

sentença”.

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Prática Processual Penal 68/157 OAB 2ª Fase

ESTRUTURA DA PEÇA

PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO

1. ENDEREÇAMENTO: ao juiz da decisão recorrida;

2. INDICAÇÃO DO NÚMERO DOS AUTOS;

3. INTRODUÇÃO: NOME, MENÇÃO AO ADVOGADO, REFERÊNCIA À

DECISÃO RECORRIDA, FUNDAMENTO LEGAL;

4. PEDIDO DE PROCESSAMENTO;

5. FECHO.

RAZÕES RECURSAIS

1. ENDEREÇAMENTO: ao Tribunal competente (é praxe também se dirigir ao

membro do MP);

2. MENÇÃO DO NÚMERO DOS AUTOS, AO RECORRENTE E AO

RECORRIDO;

3. RESUMO DA PROBLEMÁTICA QUE ENSEJOU A IMPUGNAÇÃO;

4. APRESENTAÇÃO DOS FUNDAMENTOS LEGAIS, DOUTRINÁRIOS E

JURISPRUDENCIAIS;

5. CONCLUSÃO (“Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o

presente o recurso para absolver-se o réu com fundamento no art. 386, IV, CPP”);

6. FECHO.

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Prática Processual Penal 69/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

Exmo. Sr. Juiz de Direito da 3ª Vara Criminal de Recife/PE

Processo nº. XXXXXXX

(RECORRENTE), já qualificado nos autos, por seu procurador adiante

assinado, vem, respeitosamente, perante V .Exa., nos autos da Ação Penal que lhe move

a Justiça Pública, irresignado, data vênia, com a decisão de fls. __, que o condenou à

pena de 8 anos de reclusão, recorrer da mesma, o que faz com fundamento no art.

593,__, do CPP.

Recebida a apelação que ora se interpõe, requer a abertura de vista para

oferecimento de suas razões.

Pede deferimento.

Recife, 18 de abril de 2010.

Advogado- OAB/PE no. XXX

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Prática Processual Penal 70/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº

Vara de Origem:

Recorrente:

Recorrido:

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

COLENDA CÂMARA,

PRECLAROS MAGISTRADOS,

DIGNA PROCURADORIA DE JUSTIÇA

O recorrente foi condenado a 19 anos de reclusão como incurso nas penas do

art. 159, § 1º, do Código Penal. Tal condenação, com a devida vênia, não pode subsistir

conforme se verá pelas razões a seguir expostas.

I - DA NULIDADE DO PROCESSO EM RAZÃO DA COLIDÊNCIA DE DEFESAS

Não obstante o magistrado que proferiu a r. decisão ora atacada haver

afastado a argüição de nulidade do processo, cabe ao subscritor das presentes razões

renovar a alegação para apreciação por este Egrégio Colegiado.

Com efeito, o único elemento incriminador que consta nos autos contra o

recorrente é a delação feita pelo co-réu que acabou sendo beneficiado com a diminuição

da pena que lhe foi aplicada. X, no interrogatório de fls. 87 afirmou à autoridade que

presidia o feito que o ora recorrente o ajudara a render e a transportar para o cativeiro a

vítima MARIA MARIANA, versão desde o início negada pelo recorrente. Ambos os réus

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Prática Processual Penal 71/157 OAB 2ª Fase

não podiam contratar advogados e, por tal razão, foi-lhes nomeado pelo presidente do

processo o nobre Defensor Público mencionado às fls. 91.

É cediço que, havendo colisão de defesas, sendo contraditórias e antagônicas

as versões apresentadas por co-réus no mesmo processo, não podem eles ter o mesmo

defensor sob pena de restar configurada a falta de defesa, o que se deu no caso em tela,

sem nenhuma sombra de dúvida.

A partir do momento em que se dá um só defensor para acusados em

posições conflitantes, não haverá defesa efetiva e, sendo assim, a Súmula 523, do STF, é

peremptória no sentido de que a falta de defesa invalida irremediavelmente o processo.

Requer a Defesa do recorrente que seja anulado o processo desde o

interrogatório de fls. 91, quando lhe foi nomeado o mesmo defensor do co-réu.

II - DA IMPRESTABILIDADE DA PROVA CONTRÁRIA AO RECORRENTE

Estamos convictos de que a preliminar argüida não será ultrapassada, mas,

por cautela, vamos rebater a alegação de há nos autos prova contrária ao recorrente e

que justificaria sua condenação.

Muito embora não tenha podido comprovar nenhum álibi pois que se encontra

desempregado e mora sozinho, não poderia o recorrente ser condenado apenas com

base nas palavras do outro acusado. Por tudo que foi colhido nos autos, para efetivar o

seqüestro da vítima e tentar extorquir posteriormente a família da mesma, o réu X

certamente contou com a ajuda de outros criminosos. Para proteger seus comparsas, X

resolveu acusar o recorrente a quem conhecia apenas de vista e que sabia tratar-se de

pessoa humilde, sem família e sem protetores.

Veja-se que a delação deve ser tomada com reservas posto ser elemento

colhido sem contraditório. Além do mais, na confissão-delação de fls. 87, X,

estranhamente, não teve condições de descrever em que teria consistido a ajuda do

recorrente. Que atos o recorrente teria praticado para ajudar X no seqüestro da vítima?

Ora, a simples omissão no descrever a participação do recorrente já comprova o quanto

basta que X o está acusando levianamente.

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Prática Processual Penal 72/157 OAB 2ª Fase

Não havendo nenhum outro elemento contrário ao recorrente (lembre-se que

ele não foi reconhecido pela vítima), impõe-se sua absolvição com base no art. 386, IV,

do CPP.

III – DA CONCLUSÃO

Ante o brevemente exposto, requer o recorrente seja conhecida e provida a

presente apelação para anular-se o processo, conforme alegado, ou, se assim não

entender este Egrégio Órgão Julgador, para se decretar a sua absolvição, com base no

art. 386, IV, do Código de Processo Penal.

Recife, 23 de abril de 2010.

Advogado- OAB/PE no. XXX

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MODELO II

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____.ª Vara Criminal da

Comarca ____.

Processo nº. ____

“Y” e “U”, qualificados a fls. ____, nos autos do processo que o Ministério

Público lhes move, por sua advogada, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa

Excelência, inconformados com a respeitável sentença de fs. ____, interpor a presente

APELAÇÃO

com fundamento no art. 593, I, do Código de Processo Penal.

Requerem que, após o recebimento desta, com as razões inclusas,ouvida a

parte contrária, sejam os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça, onde serão

processados e provido o presente recurso.

Termos em que,

Pedem deferimento.

Comarca, data.

_______________

Advogada

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Prática Processual Penal 74/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DE APELAÇÃO

____.ª Vara Criminal da Comarca ____.

Processo n.o ____

Apelantes: “Y” e “U”

Apelado: Ministério Público

Egrégio Tribunal

“Y” e “U” foram processados como incursos no art. 213, em combinação com

os arts. 226, I, e 61, II, a, do Código Penal, porque, no dia ____, nas proximidades da

Estrada ____, altura do quilômetro ____, por volta das ____ horas, teriam, em concurso

de pessoas, constrangido “F” à conjunção carnal, mediante o emprego de violência.

Segundo constou da denúncia, enquanto “U” segurava a vítima, seu namorado “Y”

mantinha com ela conjunção carnal. O crime teria sido praticado por vingança, uma vez

que “F” era inimiga de “U”, prejudicando-a, anteriormente, na empresa onde ambas

trabalhavam.

O MM. Juiz condenou-os ao cumprimento da pena de nove anos de reclusão,

em regime inicial fechado, sem permitir que recorressem em liberdade.

A respeitável decisão de fls. ____ merece ser reformada, pelos seguintes

motivos:

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Prática Processual Penal 75/157 OAB 2ª Fase

I. DO CERCEAMENTO DE DEFESA

Uma das testemunhas de acusação foi ouvida por precatória, expedida para a

Comarca de ____, sem que a defesa tivesse sido cientificada da data da audiência

naquele juízo. Por tal motivo, não foi possível comparecer ao ato, designando o juiz do

foro deprecado um defensor ad hoc, o que, naturalmente, cerceou a defesa. Conforme já

se sustentou na oportunidade das alegações finais, por mais empenho com que tenha

agido aquele advogado, perguntas específicas que deveriam ter sido feitas e, em razão

da ausência da defesa constituída, não se realizaram, prejudicando sobremaneira a

defesa dos réus. Nesse prisma, feriu-se preceito constitucional, consistente na ampla

defesa, bem como se viciou o ato, por ausência de fórmula essencial à sua efetivação,

que é a intimação das partes (art. 564, IV, CPP). Requer-se, pois, a nulidade do feito, a

partir da expedição da precatória para a Comarca de ____, refazendo-se a instrução com

ampla possibilidade de participação da defesa, o que por certo acarreta na oportunidade

de melhor detalhamento dos fatos, a ensejar a absolvição dos apelantes.

II. MÉRITO

1. Da absolvição, por insuficiência de provas.

Não há provas suficientes para a condenação dos réus, devendo prevalecer o

princípio constitucional da presunção de inocência.

A única pessoa a apontar os recorrentes como autores da infração penal foi a

vítima, que, como explorado ao longo da instrução e reconhecido pela própria decisão

atacada, é inimiga da ré “U”. Logo, suas declarações não são dignas de credibilidade e

não podem sustentar a condenação.

As demais testemunhas não presenciaram o momento em que os acusados

estavam com a ofendida, de modo que nada podem informar a respeito.

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Prática Processual Penal 76/157 OAB 2ª Fase

2. Da aplicação errônea da pena.

Somente para argumentar, caso não seja acolhida a preliminar levantada,

nem tampouco o pedido de provimento do apelo para a absolvição dos réus, torna-se

fundamental corrigir as distorções existentes na sentença condenatória.

2.1 Do afastamento da causa de aumento e do reconhecimento da participação

de menor importância.

O ilustre julgador aplicou um aumento de quarta parte, fundado na existência

de concurso de duas pessoas, valendo-se do disposto no art. 226, I, do Código Penal.

Houve equívoco, na medida em que o referido aumento somente seria viável se os réus

fossem, efetivamente, considerados co-autores. No caso presente, o autor do estupro

teria sido “Y”, já que se trata de um crime próprio, cujo agente necessita ser do sexo

masculino, pois o objetivo é manter conjunção carnal com mulher.

Logo, a ré “U” seria apenas partícipe, não se podendo elevar a pena por conta

disso.

Argumentou-se, ainda, ser ela uma partícipe de menor importância, pois, a

manter-se a condenação, deve-se levar em conta que houve apenas incentivo de sua

parte à prática da relação sexual, mas não apoio material à conduta do réu “Y”. Visa-se,

portanto, a aplicação do redutor previsto no art. 29, § 1.º, do Código Penal à apelante,

bem como o afastamento do aumento de quarta parte em relação a ambos.

2.2 Do afastamento da agravante de motivação torpe.

Inexiste prova concreta do motivo do delito. Levantou a acusação, desde o

início, uma suposição, consistente em vingança, que caracterizaria, pois, a torpeza. Em

primeiro lugar, nenhuma testemunha presenciou a suposta briga entre a apelante e a

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Prática Processual Penal 77/157 OAB 2ª Fase

vítima, quando trabalhavam juntas na empresa ____. E, ainda que tivessem

divergências, não seria motivo suficiente para a determinação de um crime de tal

gravidade. Em Direito Penal, nada se pode presumir, tornando-se fundamental a prova

do alegado. Ausente esta, o ideal é o afastamento da agravante.

2.3 Da inviabilidade de consideração dos antecedentes na fixação da pena-base.

O MM. Juiz, ao aplicar a pena-base, considerou que os réus teriam

antecedentes, fazendo referência à folha de antecedentes, que acusa um inquérito

arquivado pela prática de estelionato. Ora, esse registro não pode prestar à conclusão de

terem os apelantes antecedentes. Em primeiro lugar, pelo fato de ter sido a investigação

arquivada, logo, ausentes provas mínimas para justificar uma ação penal. Em segundo

lugar, por viger o princípio constitucional da presunção de inocência, isto é, sem

condenação com trânsito em julgado todo acusado é inocente, motivo pelo qual não

possuem os apelantes qualquer antecedente criminal.

2.4 Da insuficiência dos argumentos quanto à personalidade dos réus.

É inegável que o elemento relativo à personalidade constitui fator a ser

considerado pelo magistrado quando proferir sentença condenatória (art. 59, CP). Porém,

deve justificar seu entendimento e apontar quais falhas de caráter são, realmente,

encontradas nos réus, à luz da prova produzida nos autos. Limitou-se o MM. Juiz a dizer

que eles demonstraram “personalidade deturpada”, o que é insuficiente para a

concretização de qualquer juízo negativo, permissivo de elevação da pena-base.

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III – DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, processado o presente recurso, aguardam os apelantes seja

acolhida a preliminar de nulidade do processo, a partir da expedição da precatória. Assim

não ocorrendo, esperam que haja o provimento do recurso para o fim de se decretar a

sua absolvição, por insuficiência de provas. Finalmente, caso seja mantida a condenação,

deve-se ajustar a pena ao patamar mínimo para o réu “Y” e abaixo do mínimo à ré “U”,

que conta com causa especial de diminuição, aplicando-se o regime mais favorável

possível para o início do cumprimento da pena.

Comarca, data.

_______________

Advogada

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

1. NOÇÃO: o CPP prevê dois recursos que, em essência, se equivalem. O

primeiro é conhecido por "embarguinhos", previsto no art. 382, CPP, que estatuí que

"qualquer das partes poderá, no prazo de dois dias, pedir ao juiz que declare a sentença,

sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão". Este nome

é criação doutrinária e forense dada aos "embargos de declaração" opostos perante juiz

de primeiro grau, com o fim de diferenciá-los dos "embargos de declaração" manejáveis

no âmbito dos tribunais.

2. FUNDAMENTO NORMATIVO: Arts. 382 (Sentença) e 619 (Acordão),

ambos do CPP. Se se tratar de embargos de declaração no âmbito do juizado especial, o

fundamento normativo da peça processual será o art. 83 da Lei nº 9.099/95.

3. INTERPOSIÇÃO: mediante petição dirigida ao mesmo órgão que proferiu

a decisão a qual se atribua ambiguidade (A lei do juizado fala em “dúvida”), contradição,

omissão ou obscuridade. O prazo no CPP para o seu ingresso é de dois dias contados da

ciência do julgado, pela parte prejudicada. Se for no âmbito do juizado o prazo será de

cinco dias.

4. CABIMENTO: contra ato judicial com conteúdo decisório. Não é necessária

a oposição dos embargos de declaração para corrigir simples erro material, já que

sanável a qualquer tempo, de ofício pelo juiz, ou por simples petição.

5. PROCESSAMENTO: julgados pelo próprio órgão prolator da decisão

objurgada. Não há efeito regressivo ou suspensivo da decisão embargada, malgrado o

prazo para apresentação dos demais recursos seja interrompido. Nos Juizados Especiais

Criminais, além de o prazo de interposição ser diverso (cinco dias) haverá suspensão do

prazo para o manejo dos demais recursos. Os embargos são apreciados pelo próprio juiz,

que apenas abrirá vista para a parte contrária respondê-lo, caso o embargante pretenda

conferir efeito infringente (ou modificativo) ao julgado.

6. JULGAMENTO: o juiz de primeiro grau proferirá sentença ou decisão,

acolhendo (para solucionar a omissão, a obscuridade, a contradição ou a ambiguidade)

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ou rejeitando os embargos. A partir da intimação da sentença ou da decisão em

embargos de declaração, o prazo para os demais recursos será integralmente devolvido.

No âmbito dos tribunais, o CPP autoriza que o relator indefira monocrática e

liminarmente os embargos de declaração, "se não preenchidas as condições

enumeradas" no seu art. 620, caput. Se a parte, contudo, quiser ver seu pleito apreciado

pelo órgão colegiado, cabe interpor o recurso de agravo (inominado ou regimental), em

cinco dias.

ESTRUTURA DA PEÇA (PETIÇÃO ÚNICA)

1. ENDEREÇAMENTO: ao juiz da decisão recorrida ou ao relator do acórdão;

2 . INDICAÇÃO DO NÚMERO DOS AUTOS;

3 . INTRODUÇÃO: nome, menção ao advogado, referência à decisão

recorrida (“em face da sentença de fls.” ou “em face do acórdão de fls.”);

4 . RESUMO DA DECISÃO E EXPLICAÇÃO DO(S) PONTO(S)

CONTRADITÓRIO(S), OMISSO(S), OBSCURO(S) OU AMBÍGUO(S) OU

DUVIDOSO(S);

5 . APRESENTAÇÃO DAS NORMAS PERTINENTES, DA DOUTRINA E DA

JURISPRUDÊNCIA APLICÁVEIS;

6 . REQUERIMENTO (“Diante do exposto, requer seja declarada a r.

sentença – ou acórdão – complementando-a para sanar a ambiguidade (ou

contradição/omissão/obscuridade/dúvida);

7. FECHO.

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Prática Processual Penal 81/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da ____.ª Vara Criminal Federal da

Subseção Judiciária ____.

Processo n.º ____

“B”, qualificado a fls. ____, nos autos do processo-crime que lhe move o

Ministério Público, inconformado com a respeitável sentença condenatória de fls.____,

por seu advogado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência interpor os

presentes

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

com fundamento no art. 382 do Código de Processo Penal, pelos seguintes motivos:

O réu foi condenado à pena de dois anos de reclusão pela prática de

sonegação de contribuição previdenciária, em regime aberto, e o douto julgador não

fez qualquer menção, na decisão, a respeito da viabilidade de concessão de penas

alternativas ou, pelo menos, da suspensão condicional da pena.

Segundo o disposto no art. 59, IV, do Código Penal, após a fixação do

montante e do regime, deve o juiz pronunciar-se acerca da substituição da pena privativa

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Prática Processual Penal 82/157 OAB 2ª Fase

de liberdade aplicada por outra espécie de pena. Se tal não se der, é fundamental que o

magistrado, expressamente, manifeste-se a respeito da possibilidade de aplicação da

suspensão condicional da pena (art. 77, III, CP).

No caso presente, o MM. Juiz, ao fixar a pena no mínimo legal, bem como

optar pelo regime aberto, deixou de se pronunciar com relação aos benefícios supra

descritos, caracterizando hipótese de omissão, tal como descrito no referido art. 382 do

CPP.

Portanto, antes de ingressar com eventual recurso de apelação, é imperioso

obter provimento jurisdicional disciplinando a concessão ou não dos benefícios penais

aventados.

Ante o exposto, requer o embargante se digne Vossa Excelência estabelecer,

expressamente, se o réu tem direito à substituição da pena privativa de liberdade por

restritiva de direitos ou, ao menos, à suspensão condicional da pena.

Termos em que,

Pede deferimento.

Comarca, data.

_______________

Advogado

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Prática Processual Penal 83/157 OAB 2ª Fase

MODELO II

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. DESEMBARGADOR-RELATOR

PROCESSO Nº. 22/85

JOSEFINO PERDENHO, acusado, já qualificado nos autos do processo-crime

em epígrafe, que a Justiça Pública lhe move por infração do art. 155, caput, do Código

Penal (CP), por seu advogado infrafirmado, vem à presença de Vossa Excelência, com

fundamento no art. 619, do Código de Processo Penal (CPP), opor

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

ao ver. Acórdão proferido às fls. 333-335, pra ver declarada a sentença, suprindo-se sua

omissão, nos termos dos articulados abaixo:

Condenado em primeira instância, por infração ao art. 155, caput, do CP, à

pena fina de 1 (um) ano e 5 (cinco) meses de reclusão, com cumprimento do regime

aberto, sem concessão sursis, o embargante postulou em recursos de apelação, sua

absolvição e, como teses subsidiária, a concessão da suspensão condicional da pena.

O ver. Acórdão, ora embargado, negou provimento ao recurso defensivo e

manteve a condenação do embargante; contudo, deixou de apreciar eu pedido de sursis.

Tendo a Segunda instância deixado de apreciar pedido da parte contido nas

razões de apelação, emitiu acórdão eu não disse o que era indispensável dizer na correta

lição de E. Magalhães de Noronha (Cf. Curso de Processo Penal, 25ª Ed., 1999, p. 500).

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Prática Processual Penal 84/157 OAB 2ª Fase

É para o feito de suprir a omissão do acórdão que se interpõe o presente

recurso de embargos de declaração; pede-se, pois, em juízo de retratação, seja

apreciado o pedido da defesa – concessão de sursis.

Termos em que

P. deferimento.

São Paulo, 28 de julho de 2012.

__________________________

Advogado OAB xxxx

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Prática Processual Penal 85/157 OAB 2ª Fase

CARTA TESTEMUNHÁVEL

1. NOÇÃO: o juiz prolator de decisão recorrida poderia, simplesmente, não

processar a impugnação, sem que a remetesse para instância superior, evitando, assim,

que a decisão fosse reformada, e não se sujeitasse à atividade jurisdicional a controle.

Daí ter o legislador previsto recurso cujo regramento tem o condão de fazer chegar ao

conhecimento do tribunal matéria recursal cujo seguimento foi obstado ilegalmente.

A carta testemunhável deve conter todos os elementos necessários para que

o tribunal aprecie o mérito do recurso não recebido pelo juiz a quo. Todavia, a falta dos

documentos imprescindíveis a este desiderato não implicará, de plano, o seu não

conhecimento pelo órgão jurisdicional de segundo grau. Nesse caso, o tribunal pode

conferir à carta o efeito de destrancar o recurso, mandando processá-lo (art. 644, CPP).

É ônus da parte indicar as peças processuais que devam instruir o recurso – pelo menos

para esse fm -, não sendo admtida a conversão em diligência pelo tribunal.

2. INTERPOSIÇÃO: através de petição, no prazo de quarenta e oito horas

contadas da intimação do despacho denegatório do recurso ou da ciência do seu não

processamento regular. O escrivão (ou o diretor de secretaria ou o secretário do tribunal)

dará recibo à parte da petição recursal que deverá conter a indicação das peças do

processo a serem trasladadas (art. 640, CPP). Com efeito, a entrega da carta, que

conterá certidão circunstanciada e as peças trasladadas, tem o fito de assegurar ao

interessado a possibilidade de reclamar/representar, mediante protocolização

diretamente ao tribunal, se o juízo de primeiro grau persistir em negar seu

processamento.

3. CABIMENTO: trata-se de recurso subsidiário. O seu cabimento depende

da inexistência de previsão de outro recurso. O art. 639, CPP, dispõe que será dada carta

testemunhável: (1) "da decisão que denegar o recurso"; e, (2) "da que, admitindo

embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo adquem.”

Observe que o CPP não especifica qual seria o recurso que deveria ser

denegado para que fosse cabível a carta testemunhável. Poderia ser o recurso de

apelação? Não, porque se o juiz denegar a apelação ou negar seguimento, é caso de se

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Prática Processual Penal 86/157 OAB 2ª Fase

ingressar com o recurso em sentido estrito (art. 581, inciso XV, do CPP). Então qual seria

o recurso referido no art. 639 do CPP. A resposta está prevista no art. 641 do CPP:

“Art. 641. O escrivão, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à

parte e, no prazo máximo de cinco dias, no caso de recurso no sentido estrito, ou de

sessenta dias, no caso de recurso extraordinário, fará entrega da carta, devidamente

conferida e concertada.”

No entanto, atualmente, não é mais cabível carta testemunhável para

destrancar o recurso extraordinário, uma vez que o art. 28 da Lei nº. 8.038/90 aduz ser

cabível o agravo de instrumento no prazo de 5 (cinco) dias.

ATENÇÃO

A jurisprudência tem entendido que também cabe carta testemunhável para a hipótese

de denegação ou negativa de seguimento do recurso de AGRAVO EM EXECUÇÃO.

4. PROCESSAMENTO: preconizado pelo art. 643, CPP. O rito recursal da

carta testemunhável, se dirigida contra decisão do juiz de primeiro grau de jurisdição, é o

estabelecido para o recurso em sentido estrito, nos artigos 588 a 592, do CPP. A previsão

de recurso de agravo interno (ou regimental), no âmbito dos tribunais, constantes das

leis específicas e dos respectivos regimentos internos, tornou ociosa a disciplina da carta

testemunhável contra decisão denegatória de membro de órgão colegiado. A carta

testemunhável terá os efeitos devolutivo e regressivo.

Interposta contra decisão denegatória do juiz de primeiro grau, terá o se-

guinte processamento (artigos 588-592, CPP): (1) extraída a carta e entregue à parte

interessada, o escrivão certificará de forma circunstanciada; (2) se a petição de

interposição estiver desacompanhada de razões, será dada vista ao recorrente, para

arrazoar o recurso, em dois dias; (3) se já estiver acompanhada de razões recursais ou

decorrido o prazo sem apresentação, será intimada a parte contrária para contra-

arrazoar também em dois dias; (4) com resposta do recorrido ou sem ela, o juiz exercerá

juízo de retratação ou de sustentação de sua decisão, com possibilidade de, em caso de

reforma de sua decisão, a parte contrária recorrer, por simples petição, quando não será

mais possível outro exercício de retratação; e, (5) após a publicação da decisão de

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Prática Processual Penal 87/157 OAB 2ª Fase

sustentação do juízo de primeiro grau, tem-se o prazo de cinco dias para apresentação

dos autos recursais à instância ad quem.

5. JULGAMENTO: a carta testemunhável será distribuída a um relator,

membro do tribunal com competência para processá-la e julgá-la, incidindo a disciplina

normativa do recurso em sentido estrito esposada anteriormente. Na instância

competente para o seu exame, "o tribunal, câmara ou turma a que competir o

julgamento da carta, se desta tomar conhecimento, mandará processar o recurso, ou, se

estiver suficientemente instruída, decidirá logo, de meritis" (art. 644, CPP), devendo

ocorrer, após publicada a decisão, a devolução dos autos, dentro de cinco dias, ao juiz a

quo (art. 592, CPP).

ESTRUTURA DA PEÇA

PEÇA DE INTERPOSIÇÃO:

1. ENDEREÇAMENTO: ao escrivão do ofício onde tramita o processo;

2. INDICAÇÃO DO NÚMERO DOS AUTOS;

3. INTRODUÇÃO: nome, menção ao advogado, referência a decisão

recorrida, fundamento legal;

4. PEDIDO DE RETRATAÇÃO;

5. INDICAÇÃO DAS PEÇAS A SER TRASLADADAS (TODAS AS PEÇAS

QUE COMPÕEM OS AUTOS);

6. FECHO

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Prática Processual Penal 88/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES RECURSAIS

1. ENDEREÇAMENTO: ao tribunal competente (é praxe também se dirigir ao

membro do MP);

2. MENÇÃO AO NÚMERO DOS AUTOS, AO RECORRENTE

(TESTEMUNHANTE) E AO RECORRIDO (TESTEMUNHADO);

3. RESUMO DA PROBLEMÁTICA QUE ENSEJOU A IMPUGNAÇÃO;

4. APRESENTAÇÃO DOS FUNDAMENTOS LEGAIS, DOUTRINÁRIOS E

JURISPRUDENCIAIS;

5. CONCLUSÃO (“Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o

presente recurso, determinando-se o processamento do RSE ou agravo...”);

6. FECHO

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Prática Processual Penal 89/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

ILUSTRÍSSIMO SENHOR ESCRIVÃO-DIRETOR DO ____.º OFÍCIO CRIMINAL DA

COMARCA ____.

PROCESSO N.º ____

“Q”, qualificado a fls. ___, nos autos do processo-crime que lhe move o

Ministério Público, por seu advogado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa

Senhoria, inconformado com a decisão de fs. ____, que não admitiu o processamento de

recurso em sentido estrito, interpor a presente

CARTA TESTEMUNHÁVEL

com fundamento no art. 639, I, do Código de Processo Penal, para que seja devidamente

recebida, processada e encaminhada ao Egrégio Tribunal de Justiça. Desde logo,

apresenta as anexas razões e a lista das peças indicadas para a formação do traslado:

____.

COMARCA, DATA.

_______________

DEFENSOR

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Prática Processual Penal 90/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DO RECURSO

____.ª Vara do Júri da Comarca da ____.

Processo n.º ____

Pelo testemunhante: “Q”

Testemunhado: Ministério Público

Egrégio Tribunal

O réu “Q” foi pronunciado, como incurso no art. 121, caput, do Código Penal,

com direito de aguardar o julgamento pelo Tribunal do Júri em liberdade. O defensor

constituído, tomando ciência da decisão de pronúncia em cartório, deixou de interpor

recurso em sentido estrito, por achar conveniente a pronta realização do julgamento pelo

Tribunal do Júri e, conseqüentemente, a análise definitiva acerca do mérito.

Entretanto, o MM. Juiz determinou a expedição de mandado para que o

acusado fosse cientificado da sentença pessoalmente. No ato da intimação, o

testemunhante assinou termo de recurso, por entender que seria conveniente a revisão

do julgado pelo Tribunal de Justiça.

Em face disso, possuindo o réu legitimidade para recorrer das decisões que

não lhe forem favoráveis, o defensor apresentou as razões, mas o ilustre magistrado

indeferiu o processamento, sob o argumento de que havia decorrido o prazo, levando em

consideração, apenas, a intimação da defesa técnica.

Com essa decisão não se pode aquiescer. É preciso ressaltar que, em

homenagem ao princípio constitucional da ampla defesa, pode o réu exercê-la

diretamente (autodefesa) e por meio do seu defensor. Aliás, justamente por tal motivo o

MM. Juiz determinou que ambos fossem intimados da pronúncia. Não é cabível, portanto,

o indeferimento do recurso apresentado pelo acusado, até por que a defesa técnica com

ele concordou e apresentou as devidas razões.

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Prática Processual Penal 91/157 OAB 2ª Fase

Não há divergência entre autodefesa e defesa técnica, devendo haver o

processamento do recurso em sentido estrito desta feita. Ressalte-se que, havendo

dupla intimação, o prazo somente se esgotaria se ambos tivessem permitido o trânsito

em julgado da decisão.

Ante o exposto, aguarda o testemunhante seja dado provimento ao presente

recurso, determinando-se o processamento do recurso em sentido estrito, possibilitando

a nova análise da sentença de pronúncia, pois assim fazendo estará esse Egrégio

Tribunal realizando a tão aguardada JUSTIÇA.

Comarca, data.

_______________

Defensor

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Prática Processual Penal 92/157 OAB 2ª Fase

Ilmo. Sr. Escrivão (ou Chefe de Secretaria) da 3ª Vara Criminal de Recife/PE

Processo nº xxxxx

(TESTEMUNHANTE), já qualificado nos autos, por seu procurador adiante

assinado, vem, respeitosamente, perante V .Sa., nos autos da Ação Penal que lhe move

a Justiça Pública, não se conformando, data vênia, com a decisão de fls.___, que

DENEGOU O SER OU AGRAVO EM EXECUÇÃO OU NEGOU SEGUIMENTO AO RSE OU

AGRAVO, recorrer da mesma, o que faz com fundamento no art. 639, I ou II, do CPP,

requerendo seja a presente carta devidamente recebida, processada e encaminhada ao

Egrégio Tribunal de Justiça, indicando as peças que devem ser trasladadas:

a)

b)

c)

d)

e)

f)

Pede deferimento.

Recife, 18 de agosto de 2010.

Advogado- OAB/PE no. XXX

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Prática Processual Penal 93/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DE CARTA TESTEMUNHÁVEL

Processo nº.

Vara de Origem:

Testemunhante:

Testemunhado:

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

COLENDA CÂMARA,

PRECLAROS MAGISTRADOS,

DIGNA PROCURADORIA DE JUSTIÇA

Não se conformando, com a devida vênia, com a decisão de fls. 671, que

denegou o recurso em sentido estrito, tempestivamente interpõe a defesa de

(TESTEMUNHANTE) a presente carta testemunhável, consoante permissão inserida no

art. 639, CPP, por entender que o magistrado prolator não laborou com o costumeiro

acerto.

Em 21 de julho do corrente ano, o réu, ora recorrente, foi pronunciado pelo

homicídio de CARLOS ROBERTO DA SILVA. Sendo intimado da decisão que julgou

admissível a acusação para submetê-lo a julgamento popular, o recorrente afirmou ao

Sr. Oficial de Justiça que não recorreria (vide certidão de fls. 693v). Logo em seguida, o

subscritor destas razões foi intimado e, no prazo legal de 5 (cinco) dias, interpôs o

recurso em sentido estrito contra a decisão de pronúncia do seu cliente, por entender

que nos autos não há sequer indícios de autoria, de maneira que se mostra equivocada a

admissão da acusação, merecendo ela a devida reforma.

Ocorre que, fazendo o juízo de admissibilidade do recurso em sentido estrito,

entendeu Sua Excelência que a demonstração de inconformismo não poderia ser

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Prática Processual Penal 94/157 OAB 2ª Fase

conhecida, uma vez que o réu "renunciara ao direito de interpor o recurso contra a

decisão de pronúncia".

Ora, sabemos que não somente a instância ad quem, mas também a instância

a quo faz a investigação prévia (porque antecede o julgamento de mérito) sobre o

cabimento do recurso e se aquele que o interpôs observou todas as formalidades legais,

dentre as quais a ausência de quaisquer fatos obstativos do seu conhecimento. Não se

desconhece, igualmente, que dos fatos que impedem o conhecimento do recurso,

destacam-se a renúncia e a desistência.

Embora não haja dúvida de que a Defesa pode renunciar e desistir do recurso,

não se pode olvidar que às vezes há divergência entre a vontade ou o comportamento do

réu e a vontade do advogado, responsável pela defesa técnica. E não obstante haja

fundada divergência a respeito de qual vontade deve prevalecer, tem prevalecido o

entendimento de que tem preponderância a vontade de quem deseja o recurso, já que

este só pode manter ou melhorar a situação do réu, jamais lhe traria gravames.

Quanto ao caso de que tratamos, é discutível se houve ou não renúncia pelo

simples fato de o Oficial de Justiça haver certificado que o réu afirmara que não

recorreria. De qualquer forma, ainda que renúncia tenha existido, o comportamento do

réu não impede o conhecimento do recurso interposto pelo advogado. Relembre-se a

Súmula 705, do STF:

“A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do

defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.”

É óbvio que a Súmula trata de apelação, mas se aplica em qualquer outra

hipótese de recurso. Assim, sendo, o recurso em sentido estrito interposto pelo advogado

do réu não poderia ter sido denegado, devendo ser reformada a decisão que ora se

combate.

Assim, espera e confia seja dado provimento ao presente recurso para

determinar-se o processamento do recurso em sentido estrito e, considerando que o

instrumento traz todas as peças do processo, requer a aplicação do art. 644, julgando-

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Prática Processual Penal 95/157 OAB 2ª Fase

se, desde logo, de meritis, o recurso obstado para se despronunciar o recorrente, por ser

de inteira justiça.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Recife, 18 de agosto de 2010.

Advogado - OAB/PE nº XXX

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Prática Processual Penal 96/157 OAB 2ª Fase

HABEAS CORPUS

1. NOÇÕES INICIAIS O Habeas Corpus é um remédio judicial que tem por

finalidade evitar ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção

decorrente da ilegalidade ou abuso de poder.

Embora inserido no Código de Processo Penal entre os recursos, trata-se de

verdadeira ação autônoma de impugnação, cuja tramitação pode ocorrer antes mesmo

do inicio da ação penal propriamente dita (a condenatória).

O CPP aduz em seu art. 654, § 2º, que qualquer juiz ou tribunal tem

competência para expedir de ofício ordem de Habeas Corpus, quando no curso do

processo verificarem que alguém sofre ou está na ameaçado de sofrer lesão ao seu

direito de locomoção.

Apesar de não haver um consenso na doutrina quanto às espécies de Habeas

Corpus, podemos se dividi-los em algumas modalidades:

1. HC Repressivo: é aquele impetrado quando a liberdade de locomoção já está

cerceada. Neste o provimento jurisdicional requerido deverá ser a expedição de um

Alvará de Soltura.

2. HC Preventivo: é aquele quando existe risco iminente de cerceamento da liberdade. O

provimento jurisdicional desejado será um salvo-conduto.

3. HC Suspensivo: ocorre quando já existe constrangimento ilegal, mas o sujeito ainda

não foi preso. Nele, o mandato de prisão já foi expedido, mas ainda não se concretizou.

O provimento jurisdicional desejado será a expedição de um contra mandado de prisão.

4. HC Profilático: destinado a suspender atos processuais ou impugnar medidas que

possam importar em prisão futura com aparência de legalidade, porém intrinsecamente

cominada por ilegalidade anterior. Basicamente, é cabível quando a ameaça é apenas

remota ao direito de locomoção, mas é possível. Neste tipo de habeas corpus o

provimento jurisdicional é diverso, dependendo de cada caso concreto. No habeas corpus

profilático você pode pedir qualquer tipo de providência adequada a fazer cessar a

ameaça remota ao direito de locomoção do paciente (ex. o trancamento de um inquérito

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Prática Processual Penal 97/157 OAB 2ª Fase

policial ou de uma ação penal quando instaurados de forma flagrantemente ilegal (HC

Trancativo), a nulidade um ato ou de todo o processo (HC Nulificador), o reconhecimento

com o consequente desentranhamento de uma prova ilícita, etc.). Observe que essa

amplitude nas hipóteses de cabimento do habeas corpus só foi possível porque a atual

Constituição Federal não mais exige para impetração do remédio constitucional que a

ameaça existente ao direito de locomoção seja iminente, bastando que exista ameaça,

mesmo que seja remota (art. 5º, LXVIII da CF).

2. FUNDAMENTO NORMATIVO: O habeas corpus tem previsão legal nos

art. 647 ao 667 do CPP. Vem disciplinado como garantia fundamental no art. 5°, LXVIII

da CF.

3. CABIMENTO: Caberá o habeas corpus nas hipóteses previstas no art. 648

do CPP, valendo ressaltar que não são hipóteses taxativas.

4. PRAZOS E PROCEDIMENTO: Não há prazo para impetração do remédio

heroico. O Habeas Corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica,

nacional ou estrangeira (a impetração deve ser em língua portuguesa), alfabetizada ou

não (se for analfabeto alguém vai assinar a rogo), menor ou maior de idade e pelo

Ministério Público (Art. 654 do CPP).

ATENÇÃO

O habeas corpus independe de habilitação legal ou representação de advogado,

dispensada a formalidade da procuração. Só não se admite habeas corpus apócrifo

(anônimo).

A petição inicial deve observar os requisitos previstos no Art. 654 do CPP. O §

2º do Art. 660 (fundamento da concessão de liminar) aduz que se os documentos que

instruírem a inicial evidenciarem a ilegalidade da coação, o juiz ou tribunal ordenará que

cesse imediatamente a lesão ou ameaça de lesão ao direito de locomoção do paciente.

Recebida a petição, se o réu estiver preso, o Juiz poderá determinar que seja

imediatamente apresentado, em dia e hora que designar. O paciente preso só não será

apresentado no caso de grave enfermidade, não estar sob a guarda do pretenso coator

ou se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz ou pelo tribunal. (art. 657,

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Prática Processual Penal 98/157 OAB 2ª Fase

CPP). No caso de impossibilidade de comparecimento do paciente perante o juiz, o este

poderá ir ao local em que o paciente estiver.

Poderá, ainda, o órgão jurisdicional, se entender necessário, requisitar

informações a autoridade apontada como coatora. O CPP não diz qual o prazo para essas

informações, devendo ser fixado pelo juiz no caso concreto.

ATENÇÃO

Importa anotar que, muito embora se exija que a petição inicial esteja acompanhada de

prova pré-constituídas que comprovem a ameaça ou coação ilegal, não há vedação

absoluta ao exame de provas por ocasião do julgamento. Nesse sentido, inclusive, já se

manifestou o Superior Tribunal de Justiça: “quando fundado, por exemplo, na alegação

de falta de justa causa, impõe-se sejam as provas verificadas. O que se veda no habeas

corpus, semelhantemente, ao que acontece no recurso especial, e a simples apreciação

das provas, digamos, a operação mental de conta, peso e medida dos elementos de

convicção” (STJ. HC 150.608. 6ª Turma. Relator: Nilson Naves. Dj. 24/8/2010).

Uma observação se faz necessária sobre a possibilidade de apresentação de

parecer pelo Ministério Público em habeas corpus. É preciso distinguir se o writ é de

competência de tribunal ou de juiz de primeira instância. Se for perante o Tribunal há

oportunidade para manifestação do Ministério Público, consoante Decreto nº. 552/1969,

no prazo de 2 dias, após o qual, segundo o § 1º do art. 1º, “com ou sem parecer os

autos serão conclusos”. No primeiro grau não há previsão legal de abertura de prazo

para parecer do Parquet, sendo ele apenas intimado da decisão tomada em sede de

cognição sumária, podendo recorrer, consoante art. 581, inciso X, do CPP.

O CPP determina que uma vez efetuadas as diligências, e interrogado o

paciente, o juiz decidirá, fundamentadamente, no prazo de 24 horas, esclarecendo que

caso a decisão seja favorável ao paciente, será ele logo posto em liberdade, salvo se por

outro motivo deva permanecer preso.

5. EFEITOS: A concessão de habeas corpus liberatório implica seja o paciente

posto em liberdade, salvo se por outro motivo deva ser mantido na prisão (art. 660, § 1°

do CPP). Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência ou

coação ilegal, será expedida ordem de salvo-conduto em favor do paciente. Se a ordem

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Prática Processual Penal 99/157 OAB 2ª Fase

for concedida para anular o processo, este será renovado a partir do momento em que se

verificou a eiva (art. 652 do CPP). Quando a ordem for concedida para trancar inquérito

policial ou ação penal, esta impedirá seu curso normal. A decisão favorável do habeas

corpus pode ser estendida a outros interessados que se encontrarem em situação

idêntica à do paciente beneficiado (art. 580, CPP aplicável por analogia).

ESTRUTURA DA PEÇA

1. ENDEREÇAMENTO: autoridade judiciária do local onde ocorrer a coação

ou ameaça de coação ilegal, imediatamente superior à coatora (sendo a competência de

um tribunal, a petição é dirigida ao presidente da corte);

2. INTRODUÇÃO: nome do impetrante e respectiva qualificação, fundamento

legal, qualificação do paciente, menção ao coator;

3. DESCRIÇÃO DOS FATOS QUE CONSTITUEM A COAÇÃO OU AMEAÇA

DE COAÇÃO;

4. REFERÊNCIA À LEGISLAÇÃO, DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA;

5. REQUERIMENTOS:

A) Observe se já não é o caso de pedir a concessão de liminar com

fundamento no art. 660 § 2, do CPP;

B) intimação do MP para ofertar parecer se o HC for impetrado em Tribunal;

C) pedidos principais:

- Em caso de HC preventivo: salvo-conduto;

- Em caso de mandado de prisão expedido (HC suspensivo): contramandado

de prisão;

- Em caso de ordem de prisão já cumprida: alvará de soltura;

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Prática Processual Penal 100/157 OAB 2ª Fase

- Em caso de prisão preventiva sem motivos: revogação + item A ou B, se for

o caso;

- Em caso de nulidade parcial ou total: decretação da nulidade “a partir da

citação” (exemplo de nulidade parcial) ou “decretação da nulidade do processo ab ovo”;

- Trancamento de IP ou de Ação penal, reconhecimento de ilicitude de prova

com o consequente desentranhamento, etc.

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Prática Processual Penal 101/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente da Seção Criminal do Egrégio

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

“M” (nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular de carteira de

identidade Registro Geral n.º ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n.º

____, domiciliado em (cidade), onde reside (rua, número, bairro), vem,

respeitosamente, à presença de Vossa Excelência impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS

com pedido liminar, em favor de “L” (Nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão),

titular de carteira de identidade Registro Geral n.o ____, inscrito no Cadastro de Pessoas

Físicas sob o n.o ____, atualmente recolhido no presídio ____, com fundamento no art.

5.º, LXVIII, da Constituição Federal, em combinação com o art. 648, I, do Código de

Processo Penal, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz da ____.ª Vara Criminal

de ____, pelos seguintes motivos:

O paciente foi processado e condenado, como incurso nas penas do art. 157,

caput, c/c art. 14, II, do Código Penal, ao cumprimento da pena de dois anos de reclusão

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Prática Processual Penal 102/157 OAB 2ª Fase

e ao pagamento de cinco dias-multa, calculado cada dia no mínimo legal, em regime

inicial fechado, como retrata a fundamentação da sentença de 1.º grau, em anexo.

Entretanto, o MM. Juiz sentenciante baseou-se, para a fixação do regime

fechado, exclusivamente, na gravidade do fato, afirmando que todo delito de roubo, na

forma consumada ou tentada, deve provocar o encarceramento do acusado. Apesar

disso, não deixou de reconhecer, de forma expressa, na decisão condenatória, tratar-se

de réu primário, de bons antecedentes, sem enumerar qualquer razão negativa em

relação à sua personalidade.

Equivocou-se o ilustre julgador, uma vez que o art. 33, § 2.º, c, do Código

Penal, possibilita a fixação do regime aberto para condenação que não ultrapasse o

montante de quatro anos de reclusão, desde que se cuide de réu primário, exatamente o

caso do paciente.

Saliente-se, ainda, que a única possibilidade de eleição do regime fechado

inicial, para hipóteses de penas inferiores a quatro anos, seria a consideração

fundamentada das circunstâncias do art. 59 do Código Penal, como prevê o art. 33, §

3.º, do mesmo Código. Não há qualquer referência negativa à pessoa do réu na

sentença, concluindo-se que a motivação do regime fechado concentrou-se na gravidade

abstrata do delito, o que não se permite seja feito. Aliás, nessa ótica, vale conferir o teor

da Súmula 718 do Supremo Tribunal Federal: “A opinião do julgador sobre a gravidade

em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais

severo do que o permitido segundo a pena aplicada”.

Sob outro aspecto, o réu tem o direito de apelar em liberdade, já que

inexistentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do Código de

Processo Penal. Por isso, configurou-se constrangimento ilegal, já que inexiste justa

causa para a coação.

Doutrina:

Jurisprudência:

Portanto, a coação ilegal é visível não somente pelo direito do réu de recorrer

em liberdade, o que não lhe foi permitido na decisão condenatória, mas também por

fazer jus ao início do cumprimento da pena no regime aberto.

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Prática Processual Penal 103/157 OAB 2ª Fase

Da Concessão de Liminar

Requer-se seja concedida a ordem de habeas corpus, liminarmente, em favor

de “L”, para o efeito de, reconhecendo-se a ilegalidade praticada, determinar a imediata

expedição do alvará de soltura, para que possa aguardar o resultado de seu recurso em

liberdade. O cabimento da medida liminar justiça-se por ter ficado evidenciado o fumus

boni juris (direito de recorrer em liberdade) e o periculum in mora (o réu já se encontra

encarcerado por decisão do juiz da condenação).

Ante o exposto, distribuído o feito a uma das Câmaras Criminais, colhidas as

informações da autoridade coatora e ouvido o Ministério Público, requer-se a definitiva

concessão da ordem de habeas corpus, mantendo-se o acusado solto até a decisão final.

Termos em que,

Pede deferimento.

Comarca, data.

_______________

Impetrante

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Prática Processual Penal 104/157 OAB 2ª Fase

MODELO II

EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE

PERNAMBUCO

(IMPETRANTE), brasileiro, solteiro, advogado inscrito na OAB/PE sob o

número ___, com escritório na rua da Aurora, 142, Santo Antônio, nesta cidade, local em

que recebe intimações, vem, respeitosamente, perante este Egrégio Tribunal impetrar

ORDEM DE HABEAS CORPUS em favor de (PACIENTE), brasileiro, solteiro, filho de Manoel

e de Maria, residente na tua do Castelo, 241, bairro da Mustardinha, nesta cidade,

atualmente recolhido Ao Presídio Aníbal Bruno, contra ato do Exmo. Sr. Juiz da 2a Vara

Criminal do Recife – COATOR -, com base no art. 5°, LXVIII, da CF, e art. 648, II, do

Codigo de Processo Penal, expondo o seguinte:

1. O paciente foi preso em 17 de junho de 2005 por policiais militares lotados

no Batalhão de Choque, sob a acusação de ter estuprado uma jovem de 14 anos, crime

previsto no art. 213 do Código Penal. Lavrado o flagrante, foi o paciente encaminhado ao

Presídio Aníbal Bruno, onde se encontra custodiado até a presente data. Ofertada pelo

Órgão do Ministério Público com atribuições para tanto, a denúncia foi recebida pelo

Exmo. Sr. Juiz da 2a Vara Criminal desta Capital apenas em 30 de julho de 2005 e dos

atos todos de instrução poucos foram praticados, restando ainda a ouvida das

testemunhas de defesa e os posteriores.

2. Está consagrado em nosso sistema normativo que a instrução criminal, sob

pena de configurar-se o excesso, deve findar-se em prazo razoável. Doutrina e

jurisprudência têm entendido que, no rito ordinário, como no caso em tela, esse prazo é

de 81 dias (v.g. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo:

Saraiva, 1990, tomo IV, p. 243).

3. É bem verdade que o mencionado prazo é flexibilizado em determinadas

circunstâncias, tais como: instrução probatória já encerrada (Súmula 52, STJ), excesso

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Prática Processual Penal 105/157 OAB 2ª Fase

causado por demora processual não imputável ao juiz ou em casos complexos

(multiplicidade de réus, diligências fora da comarca, incidente de insanidade mental), e

quando o excesso é atribuível a manobras da própria Defesa.

4. Ora, nenhuma dessas circunstâncias que levam os tribunais a relativizar o

prazo de 81 dias está presente no caso discutido. Com efeito, ultrapassados 8 meses,

ainda não foram ouvidas as testemunhas de defesa, sem que ao paciente possa ser

imputada a demora. Ressalte- se que o paciente é réu único no processo e nenhum

incidente que justificasse a excessiva dilação se verificou.

5. É patente, assim, o excesso de prazo que submete o paciente a

constrangimento ilegal e reclama o relaxamento da prisão.

6. O constrangimento que sofre o paciente pode ser verificado prima facie e,

por esse motivo, impõe-se a concessão de liminar para fazer cessar a coação que sérios

prejuízos têm causado ao paciente, impossibilitado que está de cuidar de seus cinco

filhos e esposa, provendo-Ihes o sustento, de retornar aos seus compromissos de

trabalho e poder mais facilmente ter acesso aos elementos que possam comprovar a sua

inocência.

7. Mostra-se imprescindível que se faça restaurar a legalidade com o

deferimento liminar da soltura do paciente e conseqüente expedição do competente

alvará de soltura, e, requisitadas as informações à autoridade coatora e demais trâmites

legais, que ao final seja concedida a ordem ora impetrada, ante o excesso de prazo em

decorrência do tempo da prisão.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Recife, 08 de abril de 2010

Advogado- OAB-PE no, XXX

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Prática Processual Penal 106/157 OAB 2ª Fase

EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE

1. NOÇÕES INICIAIS É um recurso que visa ao reexame de decisões não

unânimes proferidas em segunda instância e desfavoráveis ao acusado, a ser apreciado

no âmbito do próprio tribunal julgador. Os embargos serão infringentes quando a não

unanimidade recair sobre o mérito da apelação ou do recurso em sentido estrito, visando

à reforma do julgado anterior. De outro lado, serão de nulidade quando impugnarem a

discrepância de votação no que concerne à matéria de admissibilidade recursal, ou seja,

processual, objetivando nidificação do julgamento anterior.

2. INTERPOSIÇÃO: por petição, acompanhada de razões, no prazo de dez

dias, a contar da publicação do acórdão. Conquanto não haja previsão legal de resposta

do embargado, diante da possibilidade de modificação do julgado, deve haver intimação

da acusação para contra-arrazoar os embargos no mesmo prazo de dez dias.

3. CABIMENTO: contra decisões proferidas em sede de apelação, agravo em

execução e de recurso em sentido estrito, quando não houver unanimidade e for o

acusado sucumbente na parte objeto de divergência. É recurso privativo da defesa e tem

como pressuposto que o réu tenha recorrido em sentido estrito ou apelado da decisão de

primeiro grau de jurisdição.

Para que seja admissível a interposição dos embargos infringentes, é preciso

que: (1) a decisão não seja unânime e que o voto discrepante seja favorável ao acusado;

(2) a petição de embargos infringentes obedeça à delimitação recursal constante da

divergência parcial da votação; (3) a decisão decorra de julgamento de apelação ou de

recurso em sentido estrito; (4) o acórdão seja proferido por tribunal, não sendo

admissível de decisão de turma recursal no âmbito dos juizados especiais criminais.

4. PROCESSAMENTO: interpostos os embargos infringentes e de nulidade, o

MP (pessoalmente) ou o querelante (via imprensa) serão intimados para oferecer

contrarrazões em dez dias. Instruído o recurso, deve ser seguido o rito dos recursos de

apelação e em sentido estrito. Esses recursos não têm efeito suspensivo, não havendo

previsão de recolhimento ao cárcere para que o recurso seja admitido.

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Prática Processual Penal 107/157 OAB 2ª Fase

5. JULGAMENTO: o tribunal, ao apreciar os embargos, "pode ficar com os

votos vencedores ou com os vencidos (ou vencido) ou adorar uma terceira solução

intermediária, entre ambas", tal como se dá quando "há um voto negando provimento ao

recurso, outro dando provimento integral e um terceiro dando provimento parcial",

devendo prevalecer este último "como voto médio" (Mirabete). Se houver empate,

porém, deve prevalecer, em matéria criminal, a solução mais favorável ao acusado.

ESTRUTURA DA PEÇA

PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO:

1. ENDEREÇAMENTO: ao relator do acórdão atacado;

2. INDICAÇÃO DO NÚMERO DO RECURSO (APELAÇÃO, RSE OU

AGRAVO);

3. INTRODUÇÃO: nome, menção ao advogado, referência à decisão

recorrida, fundamento legal;

4. PEDIDO DE PROCESSAMENTO;

5. FECHO

RAZÕES RECURSAIS

1. ENDEREÇAMENTO: ao tribunal competente (é praxe também se dirigir ao

membro do MP);

2. MENÇÃO AO NÚMERO DOS AUTOS, AO RECORRENTE E AO

RECORRIDO;

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Prática Processual Penal 108/157 OAB 2ª Fase

3. RESUMO DA PROBLEMÁTICA QUE ENSEJOU A IMPUGNAÇÃO

(RESTRITA AO VOTO VENCIDO);

4. APRESENTAÇÃO DOS FUNDAMENTOS LEGAIS, DOUTRINÁRIOS E

JURISPRUDENCIAIS;

5. CONCLUSÃO (“Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o

presente recurso para prevalecer o voto vencido etc”);

6. FECHO.

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Prática Processual Penal 109/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador Relator do Acórdão n.o____ da

____.ª Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Referente Apelação n.o ____

“V”, já devidamente qualificado nos autos, por seu procurador e advogado

infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de V.Exa. opor

EMBARGOS DE NULIDADE

ao venerando acórdão, com fundamento no art. 609, parágrafo único, do Código de

Processo Penal, para tanto requerendo seja recebido e ordenado o processamento do

presente recurso, frente as razões sustentadas em apartado.

Termos em que,

Pede Deferimento.

Comarca, data.

_______________

Advogado

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Prática Processual Penal 110/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DO RECURSO

Pelo embargante: “V”

Embargado: Ministério Público

Apelação n.o ____

Egrégio Tribunal

O embargante obteve, em sentença proferida em 1.º grau, condenação por

conduta prevista no art. 213 do Código Penal, impingindo-lhe pena de seis anos de

reclusão.

Inconformado com teor da decisão, houve por bem o ora embargante recorrer

da mesma, negando os fatos de modo geral e, especificamente, sua participação em

qualquer tipo de conduta que gerasse à vítima o aviltamento de sua liberdade para

prática de conjunção carnal.

A decisão em 2.º grau, contudo, não foi unânime em confirmar a sentença

proferida no juízo singular. Em verdade, foi confirmada a sentença atacada em decisão

de cunho majoritário, a sustentar a hipótese do presente recurso, ora interposto, em

torno do voto vencido.

Sustenta, desta feita, os presentes embargos, o voto que com acerto

identificou flagrante ilegitimidade ad causam, uma vez que a vítima, em princípio, teria

legitimado o Ministério Público à propositura da ação penal, por falta de recursos

financeiros para a sua sustentação.

Ocorre que tal legitimação, conforme expressa previsão legal, dá-se através

de representação, o que não houve no caso em tela. O digno Promotor de Justiça

oficiante tomou por termo as declarações da vítima sem a acuidade que seria de se

esperar, lavrando documento de conteúdo inconsistente, sem especificação autorizadora

para a condução da competente ação. Olvidando tratar-se de menor, pelo que não

devidamente autorizada por representante legal, nem por ele se fazendo acompanhar,

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Prática Processual Penal 111/157 OAB 2ª Fase

não poderia ensejar as providências processuais, especialmente porque deixou de assinar

o referido termo lavrado, singela-mente denominado de “termo de declarações”.

Ainda que não se sustente excessivo rigorismo, as judiciosas considerações

externadas no voto vencido merecem ser subscritas, sob pena de se premiar flagrante

nulidade, a macular de forma indelével a condenação suportada pelo embargante.

Inequívoca a previsão do legislador, contida no art. 225 do Código Penal,

expressando a necessidade de formalização da autorização da vítima, em caso

excepcional, migrando para a condição de ação pública condicionada, conduta a envolver

obrigatoriamente a atuação da parte, que, em caráter privado, titularizaria a ação penal.

Assim, de fato, padece de ilegitimidade ad causam o Ministério Público, de

forma a ser insustentável a condenação reafirmada pelos votos vencedores, pelo que

deverá preponderar o teor do voto vencido, que acarretará no reconhecimento da

nulidade, a fulminar a ação processada.

Diante do exposto, postula-se se digne Vossa Excelência receber o presente

recurso, esperando sejam estes embargos de nulidade, ao final, julgados de forma a

restar reformado o venerando acórdão, para prevalecer o teor do voto vencido, como

medida de JUSTIÇA.

Comarca, data.

_______________

Advogado

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Prática Processual Penal 112/157 OAB 2ª Fase

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

1. NOÇÕES INICIAIS O recurso ordinário constitucional destina-se a

assegurar, em alguns casos específicos, o duplo grau de jurisdição. Algumas decisões

não se sujeitam ao regramento normal dos recursos em geral, sendo cabível o recurso

ordinário para o órgão jurisdicional indicado na Constituição. É assim que o crime político

é julgado pelo juiz federal (art. 109, IV, CF/1988), porém, da sentença proferida pelo

magistrado de primeiro grau, não caberá apelação, pois o recurso a ser interposto é o

ordinário constitucional diretamente para o STF (art. 102, II, "b", CF/1988).

2. INTERPOSIÇÃO: o recurso ordinário constitucional, em qualquer hipótese,

será interposto por petição, sendo que o prazo de interposição e o rito a ser seguido

variarão consoante a espécie de cabimento:

a) ROC contra decisão denegatória em MS, proferida em única instância por TJ ou por

TRF, a ser examinado pelo STJ: prazo de quinze dias; segue o rito do CPC para o recurso

de apelação.

b) ROC endereçado ao STF e contra sentença de juiz federal que julgou o crime político:

prazo de cinco dias; segue-se de abertura de vista para oferecimento das razões em oito

dias, em compasso com as normas do CPP que regulam a apelação criminal.

c) ROC contra decisão denegatória em habeas corpus, para o STF ou para o STJ: prazo

de cinco dias, devendo a petição de interposição vir acompanhada das razões do pedido

de reforma do julgado guerreado.

3. CABIMENTO:

a) para o STJ, contra: (1) as decisões em habeas corpus, proferidas "em

única ou última instância pêlos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos

Estados, do Distrito Federal e Territórios", se denegatórias; e, (2) as decisões em

mandado de segurança, julgados "em única instância pelos Tribunais Regionais Federais

ou pêlos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios", quando denegatórias.

(art. 105, II, "a" e "b", CF/1988);

b) para o STF, contra: (1) as decisões prolatadas em habeas corpus, man-

dado de segurança, habeas data e mandado de injunção, em única instância, quando

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Prática Processual Penal 113/157 OAB 2ª Fase

denegatórias; e (2) as sentenças do juiz federal de primeira instância que julgarem crime

político, (art. 102, II, "a" e "b", CF/1988);

4. PROCESSAMENTO: a Lei n.° 8.038/1990 traça o rito do ROC para o STJ,

interposto em HC e em MS. Para o recurso ordinário constitucional contra sentença em

processo criminal por crime político, adequado é o rito para o recurso de apelação,

disposto no CPP (artigos 593 e seguintes);

5. JULGAMENTO: obedecerá as regras para julgamento do pedido originário

de habeas corpus e do mandado de segurança perante o tribunal. Cuidando-se de

recurso ordinário contra sentença que julgou o crime político, deve ser observado o

Regimento Interno do STF.

ESTRUTURA DA PEÇA

PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO:

1. ENDEREÇAMENTO: Ao Presidente do Tribunal (Verificar no Regimento

interno do TJ ou TRF para qual autoridade deve ser encaminhado o ROC. Em SP, por

exemplo, é competente o 2º vice-presidente. Na dúvida, encaminha-se ao Presidente da

Corte;

2. MENÇÃO AO NÚMERO DOS AUTOS, AO RECORRENTE E AO

RECORRIDO;

3. INTRODUÇÃO: nome, menção ao advogado, referência à decisão

recorrida, fundamento legal;

4. FECHO

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Prática Processual Penal 114/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES RECURSAIS

1. ENDEREÇAMENTO: ao Tribunal competente (é praxe também se dirigir ao

membro do MP);

2. MENÇÃO AO NÚMERO DOS AUTOS, AO RECORRENTE E AO

RECORRIDO;

3. RESUMO DA PROBLEMÁTICA QUE ENSEJOU A IMPUGNAÇÃO;

4. APRESENTAÇÃO DOS FUNDAMENTOS LEGAIS, DOUTRINÁRIOS E

JURISPRUDENCIAIS;

5. CONCLUSÃO: (Ante o exposto, requer-se dado provimento ao recurso

ordinário constitucional para o fim de ser concedida a ordem de habeas corpus,

permitindo-se ao recorrente que aguarde em liberdade o processamento da apelação e

dos eventuais outros recursos cabíveis.)

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Prática Processual Penal 115/157 OAB 2ª Fase

MODELO I

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de

Justiça do Estado de ____.

“T”, por seu advogado, nos autos do Habeas Corpus n.º ____, que impetrou

contra a decisão proferida pelo MM. Juiz da ____.ª Vara Criminal da Comarca de ____,

inconformado com o v. Acórdão da ____.ª Câmara Criminal, prolatado a fls.____,

denegando a ordem, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

com fundamento no art. 105, II, a, da Constituição Federal, requerendo o seu regular

processamento.

Termos em que, com as anexas razões,

Pede deferimento.

Comarca, data.

_______________

Advogado

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Prática Processual Penal 116/157 OAB 2ª Fase

RAZÕES DO RECURSO

Pelo recorrente: “T”

Recorrido: Ministério Público do Estado de ____.

Colendo Tribunal

Douta Turma

I. DOS FATOS

“T” foi processado e condenado pela prática de roubo, com emprego de arma

de fogo (art. 157, § 2.º, I, CP), ao cumprimento da pena de 5 (cinco) anos e 4 (quatro)

meses de reclusão, em regime inicial fechado. É primário e não possui antecedentes

criminais, tendo aguardado a instrução em liberdade. O MM. Juiz, embora tenha

reconhecido essa situação pessoal do recorrente, negou-lhe o direito de apelar em

liberdade, bem como impôs o regime fechado, alegando tratar-se de crime grave. Foi

interposta apelação, pleiteando a absolvição, sob o fundamento de não haver prova

suficiente da autoria. Porém, concomitantemente, ingressou-se com habeas corpus, com

o fim de garantir que o réu permanecesse em liberdade, o que foi negado pelo E.

Tribunal de Jus-tiça.

II. DO DIREITO

O art. 5.º, LVII, da Constituição Federal, consagra a garantia fundamental da

presunção de inocência, indicativa de que ninguém será considerado culpado até o

trânsito em julgado de sentença condenatória. Portanto, a prisão, decorrente de

imposição de pena, somente pode ser executada após a consolidação da sentença

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Prática Processual Penal 117/157 OAB 2ª Fase

condenatória, o que ainda não ocorreu, pois se encontra em processamento a apelação

do acusado.

Por outro lado, é certo que o processo penal admite a prisão cautelar, mas

esta se inspira em fatores determinados, demandando-se prova da necessidade e da

urgência para a sua imposição. Segue-se o disposto no art. 312 do Código de Processo

Penal, porém, na sentença condenatória, o único fundamento levantado pelo julgador

para o recolhimento imediato do recorrente foi a gravidade do delito, logo, inexistentes

os requisitos para a decretação da prisão preventiva.

Ressalte-se, ainda, ter sido revogado o art. 594 do CPP pela Lei 11.719/2008,

não mais se sustentando o enfoque em relação ao direito do réu de apelar em liberdade

sobre seus antecedentes. E mesmo que assim não fosse, o réu é primário e tem bons

antecedentes (fls. ___).

Em razão do estado de inocência, associado, ainda, à inexistência de

elementos para a decretação da preventiva (art. 312, CPP), considera-se

constrangimento ilegal a prisão decretada contra o recorrente.

Destaque-se, ademais, que a gravidade em abstrato do crime praticado não é

motivo para a eleição do regime fechado, como adotado pelo MM. Juiz, objeto de

questionamento no recurso de apelação, nos exatos termos da Súmula 718 do Supremo

Tribunal Federal. Assim sendo, a possibilidade de ser reformada a decisão, aplicando-se o

regime semi-aberto, se mantida a condenação, é altamente provável, o que, mais uma

vez, evidencia ser a prisão cautelar, em regime fechado, uma violência inaceitável contra

o recorrente.

III. DO ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO

IV. DA JURISPRUDÊNCIA

Ante o exposto, requer-se seja dado provimento ao recurso ordinário

constitucional para o fim de ser concedida a ordem de habeas corpus, permitindo-se ao

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Prática Processual Penal 118/157 OAB 2ª Fase

recorrente que aguarde em liberdade o processamento da apelação e dos eventuais

outros recursos cabíveis. Assim fazendo, estará essa Colenda Corte renovando os sempre

costumeiros ideais de JUSTIÇA.

Comarca, data.

_______________

Advogado

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Prática Processual Penal 119/157 OAB 2ª Fase

REVISÃO CRIMINAL

MODELO I

Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal

de Justiça do Estado de ______.

“O”, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular da carteira de

identidade Registro Geral n.° __, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n.° ___,

domiciliado em (cidade), por seu procurador e advogado infra-assinado, consoante

poderes que lhe foram outorgados em incluso instrumento particular de mandato

(documento 1), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência propor a

presente ação de

REVISÃO CRIMINAL

com fundamento no art. 621, II, última parte, do Código de Processo Penal, pelas razões

expostas:

1. O requerente foi processado perante o respeitável Juízo da ___.ª Vara

Criminal de ___ (processo n.° ___), como incurso no art. 297 do Código Penal, ou seja,

falsificação de documento público, como comprovam as inclusas cópias reprográfcas, que

ficam fazendo parte integrante da presente (documento 2).

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Prática Processual Penal 120/157 OAB 2ª Fase

2. Não obstante as suas insistentes negativas acerca da autoria dos fatos que

lhe foram imputados, inclusive alegando ter obtido todos os documentos, objetos da

falsificação, mediante os procedimentos competentes e legais, terminou condenado.

3. Contudo, recentemente, a elucidação de fatos envolvendo uma quadrilha

de falsificadores, concorreu para evidenciar a inocência do requerente.

4. Em data de ___ , policiais encarregados da investigação da atuação de um

grupo criminoso, ao qual pertenciam dois policiais e um funcionário da prefeitura,

apuraram que referidos agentes extorquiam valores expressivos em dinheiro de

comerciantes. Eles agiam de forma a pressionar os proprietários de diversos tipos de

comércio a pagar-lhes “mensalidade”, sob pena de acusação de uso de documento falso

ou fornecendo, a quem não tivesse condições de obtenção mediante os procedimentos

competentes, “documentação fabricada” para possibilitar a abertura e funcionamento de

estabelecimentos comerciais.

5. Na atuação criminosa do grupo, pôde ser detectada a atuação de “T”,

antigo funcionário do requerente, que, em princípio, por vingança, efetuou a troca de

toda documentação do estabelecimento comercial do requerente, substituindo por

documentos fabricados pela organização criminosa, guardando consigo os originais e

legítimos.

6. Preso o mencionado funcionário, localizados foram os documentos originais

do ora requerente, razão pela qual, não se sustenta a condenação que lhe foi imputada,

a merecer o presente procedimento.

7. No sentido do que se alega, as cópias reprográfcas integrantes da

presente, referentes ao inquérito envolvendo a atuação do grupo de falsificadores, bem

como a apreensão dos documentos originais do requerente, constituem prova

suficiente para a revisão criminal pretendida.

8. Por outro lado, o exame pericial, necessário na caracterização da infração

apurada, não obstante ter atestado a falsidade dos documentos, não logrou atribuir ao

requerente o fabrico dos mesmos, o que, em princípio, já desautorizaria a condenação.

9. Contudo, evidenciada a ação criminosa dos falsificadores, aos quais está

ligado o ex-funcionário “T”, não há margem à dúvida de que a condenação se deu em

torno de situação plantada pelo mesmo, no intuito de prejudicar o ora requerente.

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Prática Processual Penal 121/157 OAB 2ª Fase

10. Demanda-se nova análise dos fatos, de forma a ter o requerente a sua

condenação reconhecida como indevida, reformando-se, desta feita, por completo a

sentença proferida, não obstante já transitada em julgado.

11. A presente revisão criminal é meio hábil à pretensão do requerente,

considerando existirem provas de que o processo que originou a condenação está

contaminado por provas ilegítimas da sua atuação.

14. Doutrina

15. Jurisprudência

Pelo exposto, requer-se o recebimento da presente ação, seu processamento

e, ao final, o reconhecimento de sua total procedência para o fim de, desconstituída a

sentença condenatória, restar o requerente absolvido da conduta que lhe foi imputada,

nos termos do arts. 626 e 386, V, ambos do Código de Processo Penal.

Termos em que, ouvido o ilustre representante do Ministério Público,

Pede deferimento.

Comarca, data.

_______________

Advogado

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Prática Processual Penal 122/157 OAB 2ª Fase

ESPAÇO JURÍDICO CURSOS

PREPARAÇÃO PARA OAB 2ª FASE

DIREITO E PROCESSO PENAL

PEÇAS PRÁTICO-PROFISSIONAL DE EXAMES ANTERIORES COMENTADAS

OAB 2013.1 Peça Prático-Profissional

Gisele foi denunciada, com recebimento ocorrido em 31/10/2010, pela prática do

delito de lesão corporal leve, com a presença da circunstância agravante, de ter o crime

sido cometido contra mulher grávida. Isso porque, segundo narrou a inicial acusatória,

Gisele, no dia 01/04/2009, então com 19 anos, objetivando provocar lesão corporal leve

em Amanda, deu um chute nas costas de Carolina, por confundi-la com aquela, ocasião

em que Carolina (que estava grávida) caiu de joelhos no chão, lesionando-se.

A vítima, muito atordoada com o acontecido, ficou por um tempo sem saber o que

fazer, mas foi convencida por Amanda (sua amiga e pessoa a quem Gisele realmente

queria lesionar) a noticiar o fato na delegacia. Sendo assim, tão logo voltou de um

intercâmbio, mais precisamente no dia 18/10/2009, Carolina compareceu à delegacia e

noticiou o fato, representando contra Gisele. Por orientação do delegado, Carolina foi

instruída a fazer exame de corpo de delito, o que não ocorreu, porque os ferimentos,

muito leves, já haviam sarado. O Ministério Público, na denúncia, arrolou Amanda como

testemunha.

Em seu depoimento, feito em sede judicial, Amanda disse que não viu Gisele bater

em Carolina e nem viu os ferimentos, mas disse que poderia afirmar com convicção que

os fatos noticiados realmente ocorreram, pois estava na casa da vítima quando esta

chegou chorando muito e narrando a história. Não foi ouvida mais nenhuma testemunha

e Gisele, em seu interrogatório, exerceu o direito ao silêncio. Cumpre destacar que a

primeira e única audiência ocorreu apenas em 20/03/2012, mas que, anteriormente, três

outras audiências foram marcadas; apenas não se realizaram porque, na primeira, o

magistrado não pôde comparecer, na segunda o Ministério Público não compareceu e a

terceira não se realizou porque, no dia marcado, foi dado ponto facultativo pelo

governador do Estado, razão pela qual todas as audiências foram redesignadas. Assim,

somente na quarta data agendada é que a audiência efetivamente aconteceu. Também

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Prática Processual Penal 123/157 OAB 2ª Fase

merece destaque o fato de que na referida audiência o parquet não ofereceu proposta de

suspensão condicional do processo, pois, conforme documentos comprobatórios juntados

aos autos, em 30/03/2009, Gisele, em processo criminal onde se apuravam outros fatos,

aceitou o benefício proposto.

Assim, segundo o promotor de justiça, afigurava-se impossível formulação de

nova proposta de suspensão condicional do processo, ou de qualquer outro benefício

anterior não destacado, e, além disso, tal dado deveria figurar na condenação ora

pleiteada para Gisele como outra circunstância agravante, qual seja, reincidência.

Nesse sentido, considere que o magistrado encerrou a audiência e abriu prazo,

intimando as partes, para o oferecimento da peça processual cabível.

Como advogado de Gisele, levando em conta tão somente os dados contidos no

enunciado, elabore a peça cabível.

Comentários:

O examinando, observando a estrutura correta, deverá elaborar MEMORIAIS,

com fundamento no Art. 403, § 3º, do CPP.

A peça deve ser endereçada ao Juiz do Juizado Especial Criminal.

Preliminarmente, deve ser alegada a decadência do direito de representação.

Visto que os fatos ocorreram em 01/04/2009 e a representação apenas foi feita em

18/10/2009 (Art. 38, CPP).

Também em caráter preliminar deve ser alegada a nulidade do processo pela

inobservância do rito da Lei 9.099/95, anulando-se o recebimento da denúncia, com a

consequente prescrição da pretensão punitiva. Isso porque os fatos datam de

01/04/2009 e a pena máxima em abstrato prevista para o crime de lesão corporal leve é

de um ano, que prescreve em quatro anos (Art. 109, inciso V, do CP). Como se trata de

acusada menor de 21 anos de idade, o prazo prescricional reduz-se pela metade (Art.

115, do CP), totalizando dois anos. Com a anulação do recebimento da denúncia, este

marco interruptivo desaparece e, assim, configura-se a prescrição da pretensão punitiva.

No mérito, deve ser requerida absolvição por falta de prova. A materialidade do

delito não restou comprovada, tal como exige o Art. 158, do CPP. O delito de lesão

corporal é não transeunte e exige perícia, seja direta ou indireta, o que não foi feito.

Note-se que não foi realizado exame pericial direto e nem a perícia indireta pôde

ser feita, pois a única testemunha não viu nem os fatos e nem mesmo os ferimentos.

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Prática Processual Penal 124/157 OAB 2ª Fase

Também no mérito, deve ser alegado que não incidem nenhuma das

circunstâncias agravantes aventadas pelo Ministério Público. Levando em conta que

Gisele agiu em hipótese de erro sobre a pessoa (Art. 20, § 3º, do CP), devem ser

consideradas apenas as características da vítima pretendida (Amanda) e não da vítima

real (Carolina), que estava grávida. Além disso, não incide a agravante da reincidência,

pois a aceitação da proposta de suspensão condicional do processo não acarreta

condenação e muito menos reincidência; Gisele ainda é primária.

Ao final, deve elaborar os seguintes pedidos: a extinção de punibilidade pela

decadência do direito de representação; a declaração da nulidade do processo com a

consequente extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva; a absolvição

da ré com fundamento na ausência de provas para a condenação.

Subsidiariamente, em caso de condenação, deverá pleitear a não incidência da

circunstância agravante de ter sido, o delito, cometido contra mulher grávida; a não

incidência da agravante da reincidência; a atenuação da pena como consequência à

aplicação da atenuante da menoridade relativa da ré.

OAB 2012.3 Peça Prático-Profissional

Leia com atenção o caso concreto a seguir:

Visando abrir um restaurante, José pede vinte mil reais emprestados a Caio,

assinando, como garantia, uma nota promissória no aludido valor, com vencimento para

o dia 15 de maio de 2010. Na data mencionada, não tendo havido pagamento, Caio

telefona para José e, educadamente, cobra a dívida, obtendo do devedor a promessa de

que o valor seria pago em uma semana.

Findo o prazo, Caio novamente contata José, que, desta vez, afirma estar sem

dinheiro, pois o restaurante não apresentara o lucro esperado. Indignado, Caio

comparece no dia 24 de maio de 2010 ao restaurante e, mostrando para José uma

pistola que trazia consigo, afirma que a dívida deveria ser saldada imediatamente, pois,

do contrário, José pagaria com a própria vida. Aterrorizado, José entra no restaurante e

telefona para a polícia, que, entretanto, não encontra Caio quando chega ao local.

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Prática Processual Penal 125/157 OAB 2ª Fase

Os fatos acima referidos foram levados ao conhecimento do delegado de polícia da

localidade, que instaurou inquérito policial para apurar as circunstâncias do ocorrido. Ao

final da investigação, tendo Caio confirmado a ocorrência dos eventos em sua

integralidade, o Ministério Público o denuncia pela prática do crime de extorsão

qualificada pelo emprego de arma de fogo. Recebida a inicial pelo juízo da 5ª Vara

Criminal, o réu é citado no dia 18 de janeiro de 2011.

Procurado apenas por Caio para representá-lo na ação penal instaurada, sabendo-

se que Joaquim e Manoel presenciaram os telefonemas de Caio cobrando a dívida

vencida, e com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser

inferidas pelo caso concreto acima, redija, no último dia do prazo, a peça cabível,

invocando todos os argumentos em favor de seu constituinte.

Comentários:

Na peça processual em tela o examinando deverá redigir uma RESPOSTA À

ACUSAÇÃO, com fundamento legal no artigo 396 do CPP (e/ou art. 396-A do CPP), a ser

endereçada ao juízo da 5ª Vara Criminal e apresentada no dia 28 de janeiro de 2011.

Na referida peça, o examinando deverá demonstrar que a conduta descrita pelo

Ministério Público caracterizaria apenas o crime de exercício arbitrário das próprias

razões, previsto no artigo 345 do CP, uma vez que para a configuração do delito de

extorsão seria imprescindível que a vantagem fosse indevida, sendo a conduta, com

relação ao delito do artigo 158 do CP, atípica.

Outrossim, o examinando deverá esclarecer que o Ministério Público não é parte

legítima para figurar no polo ativo de processo criminal pelo delito de exercício arbitrário

das próprias razões, pois não houve emprego de violência, sendo este persequível por

ação penal privada (vide parágrafo único do art. 345, CP).

Em razão disso, o examinando deverá afirmar que caberia a José ajuizar queixa-

crime dentro do prazo decadencial de seis meses, contados a partir do dia 24 de maio de

2010 e, uma vez não tendo sido oferecida a queixa-crime até o dia 23 de novembro de

2010, incidiu sobre o feito o fenômeno da decadência, restando extinta a punibilidade de

Caio.

Ao final, o examinando deverá pedir a absolvição sumária de Caio, com

fundamento no artigo 397, III (pela atipicidade do delito de extorsão) e IV (pela

incidência da decadência), do CPP. Além de tais pedidos, com base no princípio da

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Prática Processual Penal 126/157 OAB 2ª Fase

eventualidade, deverá requerer a produção de prova testemunhal, com a oitiva de

Joaquim e Manoel.

Por fim, o examinando deverá apontar em sua peça a data de 28 de janeiro de

2011.

Lembrando que não sendo observada a correta divisão das partes, indicação de

local, data e assinatura, será impossível atribuição dos pontos relativos à estrutura.

OAB 2012.2 Peça Prático-Profissional

Leia com atenção o caso concreto a seguir:

Grávida de nove meses, Ana entra em trabalho de parto, vindo dar à luz

um menino saudável, o qual é imediatamente colocado em seu colo. Ao ter o

recém‐nascido em suas mãos, Ana é tomada por extremo furor, bradando aos gritos que

seu filho era um “monstro horrível que não saiu de mim” e bate por seguidas vezes a

cabeça da criança na parede do quarto do hospital, vitimando‐a fatalmente. Após ser

dominada pelos funcionários do hospital, Ana é presa em flagrante delito.

Durante a fase de inquérito policial, foi realizado exame médico‐legal, o qual

atestou que Ana agira sob influência de estado puerperal. Posteriormente, foi

denunciada, com base nas provas colhidas na fase inquisitorial, sobretudo o laudo do

expert, perante a 1ª Vara Criminal/Tribunal do Júri pela prática do crime de

homicídio triplamente qualificado, haja vista ter sustentado o Parquet que Ana fora

movida por motivo fútil, empregara meio cruel para a consecução do ato criminoso, além

de se utilizar de recurso que tornou impossível a defesa da vítima. Em sede de Alegações

Finais Orais, o Promotor de Justiça reiterou os argumentos da denúncia, sustentando que

Ana teria agido impelida por motivo fútil ao decidir matar seu filho em razão de tê‐lo

achado feio e teria empregado meio cruel ao bater a cabeça do bebê repetidas vezes

contra a parede, além de impossibilitar a defesa da vítima, incapaz, em razão da idade,

de defender‐se.

A Defensoria Pública, por sua vez, alegou que a ré não teria praticado o fato e,

alternativamente, se o tivesse feito, não possuiria plena capacidade de

autodeterminação, sendo inimputável. Ao proferir a sentença, o magistrado competente

entendeu por bem absolver sumariamente a ré em razão de inimputabilidade, pois, ao

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Prática Processual Penal 127/157 OAB 2ª Fase

tempo da ação, não seria ela inteiramente capaz de se autodeterminar em consequência

da influência do estado puerperal. Tendo sido intimado o Ministério Público da decisão,

em 11 de janeiro de 2011, o prazo recursal transcorreu in albis sem manifestação do

Parquet.

Em relação ao caso narrado, você, na condição de advogado(a), é procurado pelo

pai da vítima, em 20 de janeiro de 2011, para habilitar‐se como assistente da acusação e

impugnar a decisão.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas

pelo caso concreto acima, redija a peça cabível, sustentando, para tanto, as teses

jurídicas pertinentes, datando do último dia do prazo.

Comentários:

Na peça processual em tela o examinado deverá redigir uma APELAÇÃO, com

fundamento no artigo 593, I CPP (OU art. 416 CPP) c/c 598 do CPP.

A petição de interposição deve ser endereçada ao Juiz de Direito da 1ª Vara

Criminal/Tribunal do Júri.

Na petição de interposição da apelação, o examinado deverá requerer a

habilitação do pai da criança como assistente de acusação.

Acerca desse item, cumpre salientar que será atribuída a pontuação respectiva se

o pedido de habilitação tiver sido feito em peça apartada.

Todavia, também resta decidido que não será pontuado o item relativo à estrutura

se o indivíduo que solicitar a habilitação como assistente de acusação não possuir

legitimidade para tanto.

Por fim, a petição de interposição deverá ser datada de 31/01/2011 OU

01/02/2011.

No tocante às razões recursais, as mesmas deverão ser dirigidas ao Tribunal de

Justiça. Nelas, o examinando deve argumentar que o juiz não poderia ter absolvido

sumariamente a ré em razão da inimputabilidade, porque o Código de Processo

Penal, em seu artigo 415, parágrafo único, veda expressamente tal providência, salvo

quando for a única tese defensiva, o que não é o caso, haja vista que a defesa também

apresentou outra tese, qual seja, a de negativa de autoria.

Também deverá argumentar que a incidência do estado puerperal não é

considerada causa excludente de culpabilidade fundada na ausência de capacidade de

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Prática Processual Penal 128/157 OAB 2ª Fase

autodeterminação. O estado puerperal configura elementar do tipo de infanticídio e não

causa excludente de imputabilidade/culpabilidade.

As duas teses principais da peça, acima citadas, somente serão passíveis de

pontuação integral se preenchidas em sua totalidade, descabendo falar-se em respostas

implícitas.

Do mesmo modo, deverá o examinando, em seus pedidos, requerer a reforma da

decisão com o fim de se pronunciar a ré pela prática do delito de infanticídio, de modo

que seja ela levada a julgamento pelo Tribunal do Júri.

Ao final, também deverá datar corretamente as razões recursais.

Acerca desse ponto, tendo em vista o prazo de três dias disposto no art. 600, §

1º, do CPP, serão aceitas as seguintes datas nas razões: 31/01/2011; 01/02/2011;

02/02/2011; 03/02/2011 e 04/02/2011 (essa última data só será aceita se a petição de

interposição tiver sido datada de 01/02/2011).

Cumpre salientar que tais datas justificam-se pelo seguinte: o dia 16 de janeiro de

2011 (termo final do prazo recursal para o Ministério Público) foi domingo e por isso o

termo inicial do assistente de acusação será dia 18 de janeiro de 2011 (terça-feira),

terminando em 1º de fevereiro de 2011. Todavia, considerando que nem todos os

examinandos tiveram acesso ao calendário no momento da prova, permitiu-se a

contagem dos dias corridos e, nesse caso, o prazo final para a interposição da apelação

seria dia 31 de janeiro de 2011.

Por fim, ainda no tocante ao item da data correta, somente fará jus à respectiva

pontuação o examinando que acertar as hipóteses (petição de interposição e razões

recursais).

OAB 2012.1 Peça Prático-Profissional

No dia 10 de março de 2011, após ingerir um litro de vinho na sede de sua

fazenda, José Alves pegou seu automóvel e passou a conduzi-lo ao longo da estrada que

tangencia sua propriedade rural. Após percorrer cerca de dois quilômetros na estrada

absolutamente deserta, José Alves foi surpreendido por uma equipe da Polícia Militar que

lá estava a fim de procurar um indivíduo foragido do presídio da localidade.

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Prática Processual Penal 129/157 OAB 2ª Fase

Abordado pelos policiais, José Alves saiu de seu veículo trôpego e exalando forte

odor de álcool, oportunidade em que, de maneira incisiva, os policiais lhe compeliram a

realizar um teste de alcoolemia em aparelho de ar alveolar. Realizado o teste, foi

constatado que José Alves tinha concentração de álcool de um miligrama por litro de ar

expelido pelos pulmões, razão pela qual os policiais o conduziram à Unidade de Polícia

Judiciária, onde foi lavrado Auto de Prisão em Flagrante pela prática do crime previsto no

artigo 306 da Lei 9.503/1997, c/c artigo 2º, inciso II, do Decreto 6.488/2008, sendo-lhe

negado no referido Auto de Prisão em Flagrante o direito de entrevistar-se com seus

advogados ou com seus familiares.

Dois dias após a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, em razão de José Alves

ter permanecido encarcerado na Delegacia de Polícia, você é procurado pela família do

preso, sob protestos de que não conseguiam vê-lo e de que o delegado não comunicara o

fato ao juízo competente, tampouco à Defensoria Pública.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser

inferidas pelo caso concreto acima, na qualidade de advogado de José Alves, redija a

peça cabível, exclusiva de advogado, no que tange à liberdade de seu cliente,

questionando, em juízo, eventuais ilegalidades praticadas pela Autoridade Policial,

alegando para tanto toda a matéria de direito pertinente ao caso.

Comentários:

Na peça processual em tela o examinando deverá redigir uma petição de

RELAXAMENTO DE PRISÃO, fundamentado no art. 5º, LXV, da CRFB/88, ou art. 310,

I, do CPP (embora os fatos narrados na questão sejam anteriores à vigência da Lei

12.403/11, a Banca atribuiu a pontuação relativa ao item também ao examinando que

indicar o art. 310, I, do CPP como dispositivo legal ensejador ao pedido de relaxamento

de prisão. Isso porque estará demonstrada a atualização jurídica acerca do tema), a ser

endereçada ao Juiz de Direito da Vara Criminal.

Na petição, deverá argumentar que:

1. O auto de prisão em flagrante é nulo por violação ao direito à não autoincriminação

compulsória (princípio do nemo tenetur se detegere), previsto no art. 5º, LXIII, da

CRFB/88 ou art. 8º, 2, “g” do Decreto 678/92.

2. A prova é ilícita em razão da colheita forçada do exame de teor alcoólico, por força do

art. 5º, LVI, da CRFB/88 ou art. 157 do CPP.

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Prática Processual Penal 130/157 OAB 2ª Fase

3. O auto de prisão em flagrante é nulo pela violação à exigência de comunicação da

medida à Autoridade Judiciária, ao Ministério Público e à Defensoria Pública dentro de 24

horas, nos termos do art. 306, §1º, do CPP ou art. 5º, LXII, da CRFB/88, ou art. 6º,

inciso V, c/c. artigo 185, ambos do CPP (a banca também convencionou aceitar como

fundamento o artigo 306, caput, do CPP, considerando-se a legislação da época dos

fatos).

4. O auto de prisão é nulo por violação ao direito à comunicação entre o preso e o

advogado, bem com familiares, nos termos do art. 5º, LXIII, da CRFB ou art. 7º, III, do

Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil ou art. 8º, 2, “d” do Decreto 678/92;

Ao final, o examinando deverá formular pedido de relaxamento de prisão em

razão da nulidade do auto de prisão em flagrante, com a consequente expedição de

alvará de soltura.

OAB 2011.2 Peça Prático-Profissional

Em 10 de janeiro de 2007, Eliete foi denunciada pelo Ministério Público pela

prática do crime de furto qualificado por abuso de confiança, haja vista ter alegado o

Parquet que a denunciada havia se valido da qualidade de empregada doméstica para

subtrair, em 20 de dezembro de 2006, a quantia de R$ 50,00 de seu patrão Cláudio,

presidente da maior empresa do Brasil no segmento de venda de alimentos no varejo.

A denúncia foi recebida em 12 de janeiro de 2007, e, após a instrução

criminal, foi proferida, em 10 de dezembro de 2009, sentença penal julgando

procedente a pretensão acusatória para condenar Eliete à pena final de dois anos de

reclusão, em razão da prática do crime previsto no artigo 155, § 2º, inciso IV, do Código

Penal. Após a interposição de recurso de apelação exclusivo da defesa, o

Tribunal de Justiça entendeu por bem anular toda a instrução criminal, ante a

ocorrência de cerceamento de defesa em razão do indeferimento injustificado de uma

pergunta formulada a uma testemunha. Novamente realizada a instrução criminal,

ficou comprovado que, à época dos fatos, Eliete havia sido contratada por Cláudio havia

uma semana e só tinha a obrigação de trabalhar às segundas, quartas e sextas-

feiras, de modo que o suposto fato criminoso teria ocorrido no terceiro dia de

trabalho da doméstica. Ademais, foi juntada aos autos a comprovação dos rendimentos

da vítima, que giravam em torno de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais. Após

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Prática Processual Penal 131/157 OAB 2ª Fase

a apresentação de memoriais pelas partes, em 9 de fevereiro de 2011, foi proferida

nova sentença penal condenando Eliete à pena final de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de

reclusão. Em suas razões de decidir, assentou o magistrado que a ré possuía

circunstâncias judiciais desfavoráveis, uma vez que se reveste de enorme gravidade

a prática de crimes em que se abusa da confiança depositada no agente, motivo

pelo qual a pena deveria ser distanciada do mínimo. Ao final, converteu a pena privativa

de liberdade em restritiva de direitos, consubstanciada na prestação de 8 (oito) horas

semanais de serviços comunitários, durante o período de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses

em instituição a ser definida pelo juízo de execuções penais. Novamente não houve

recurso do Ministério Público, e a sentença foi publicada no Diário Eletrônico em 16

de fevereiro de 2011.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser

inferidas pelo caso concreto acima, redija, na qualidade de advogado de Eliete, com

data para o último dia do prazo legal, o recurso cabível à hipótese, invocando todas as

questões de direito pertinentes, mesmo que em caráter eventual.

Comentários:

O candidato deverá redigir uma APELAÇÃO, com fundamento no artigo 593, I, do

CPP, a ser endereçada ao juiz de direito, com razões inclusas endereçadas ao Tribunal de

Justiça. Nas razões recursais, o candidato deverá argumentar que a segunda sentença

violou a proibição à reformatio in pejus – configurando-se caso de reformatio in pejus

indireta –, contida no artigo 617 do CPP, de modo que, em razão do trânsito em julgado

para a acusação, a pena não poderia exceder dois anos de reclusão, estando prescrita a

pretensão punitiva estatal, na forma do artigo 109, V, do Código Penal, uma vez que,

entre o recebimento da denúncia (12/01/2007) e a prolação de sentença válida

(09/02/2011), transcorreu lapso superior a quatro anos.

Superada a questão, o candidato deverá argumentar que inexistia relação de

confiança a justificar a incidência da qualificadora (Eliete trabalhava para Cláudio fazia

uma semana) e que a quantia subtraída era insignificante, sobretudo tomando-se como

referência o patrimônio concreto da vítima. Em razão disso, o candidato deverá requerer

a reforma da sentença, de modo a se absolver a ré por atipicidade material de sua

conduta, ante a incidência do princípio da insignificância/bagatela.

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Prática Processual Penal 132/157 OAB 2ª Fase

O candidato deve argumentar, ainda, que, na hipótese de não se reformar a

sentença para se absolver a ré, ao menos deveria ser reduzida a pena em razão do furto

privilegiado, substituindo-se a sanção por multa.

Em razão de tais pedidos, considerando-se a redução de pena, o candidato

deveria requerer a substituição da pena privativa de liberdade por multa, bem como a

aplicação da suspensão condicional da pena e/ou suspensão condicional do processo.

Deveria ainda o candidato argumentar sobre a impossibilidade do aumento da

pena base realizado pelo magistrado sob o fundamento da enorme gravidade nos crimes

em que se abusa da confiança depositada, pois tal motivo já foi levado em consideração

para qualificar o delito, não podendo a apelante sofrer dupla punição pelo mesmo fato –

bis in idem.

Por fim, o candidato deveria requerer um dos pedidos possíveis para a questão

apresentada, tais como:

1- absolvição;

2- reconhecimento da reformatio in pejus, com a aplicação da pena em no

máximo 2 anos e a consequente prescrição;

3- atipicidade da conduta, tendo em vista a aplicação do princípio da bagatela;

4- não incidência da qualificadora do abuso da confiança, com a consequente

desclassificação para furto simples;

5- aplicação da Suspensão Condicional do Processo;

6- não sendo afastada a qualificadora, a incidência do parágrafo 2º do artigo 155

do CP;

7- a redução da pena pelo reconhecimento do bis in idem e a consequente

prescrição;

8- aplicação de sursis;

9- inadequação da pena restritiva aplicada, tendo em vista o que dispõe o artigo

46, §3º, do CP.

Foi aceito pela banca examinadora quem elaborou embargos de declaração,

abordando os seguintes pontos:

O candidato que redigir EMBARGOS DE DECLARAÇÃO deverá fundamentar no

art. 382, CPP, a ser endereçada ao juiz de direito do Tribunal de Justiça, dentro do prazo

de dois dias conforme previsão legal no artigo já citado.

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Prática Processual Penal 133/157 OAB 2ª Fase

Deverá o candidato desenvolver juridicamente acerca da obscuridade quanto ao

artigo que embasou a condenação, levando-se em conta que houve perfeita narrativa de

furto cometido com abuso de confiança, mas a capitulação dada não existe.

Ainda quanto a obscuridade desenvolver quanto aos critérios utilizados pelo

magistrado para embasar o aumento da pena levando-se em conta a gravidade do crime

cometido com abuso de confiança. Referido juiz não foi claro quanto ao critério utilizado,

não informando em sua decisão, objetivamente, por que considerou mais gravosa a

conduta de Eliete.

Por fim, argumentar acerca da contradição existente entre a condenação de 8

horas semanais de serviços comunitários, considerando-se que o art. 46, parágrafo 3º,

do CP estabelece que a fração é de apenas uma hora de prestação de serviços por

semana.

Datando no último dia do prazo legal para apresentar os embargos: 18/02/11

(último dia, levando-se em conta que a sentença foi publicada em 16/02/11 e que o

prazo legal é de 2 dias).

OAB 2011.1 Peça Prático-Profissional

Tício foi denunciado e processado, na 1ª Vara Criminal da Comarca do Município

X, pela prática de roubo qualificado em decorrência do emprego de arma de fogo. Ainda

durante a fase de inquérito policial, Tício foi reconhecido pela vítima. Tal reconhecimento

se deu quando a referida vítima olhou através de pequeno orifício da porta de uma sala

onde se encontrava apenas o réu. Já em sede de instrução criminal, nem vítima nem

testemunhas afirmaram ter escutado qualquer disparo de arma de fogo, mas foram

uníssonas no sentido de assegurar que o assaltante portava uma. Não houve perícia,

pois os policiais que prenderam o réu em flagrante não lograram êxito em apreender a

arma. Tais policiais afirmaram em juízo que, após escutarem gritos de “pega ladrão!”,

viram o réu correndo e foram em seu encalço. Afirmaram que, durante a perseguição,

os passantes apontavam para o réu, bem como que este jogou um objeto no córrego

que passava próximo ao local dos fatos, que acreditavam ser a arma de fogo

utilizada. O réu, em seu interrogatório, exerceu o direito ao silêncio. Ao cabo da

instrução criminal, Tício foi condenado a oito anos e seis meses de reclusão, por

roubo com emprego de arma de fogo, tendo sido fixado o regime inicial fechado

para cumprimento de pena. O magistrado, para fins de condenação e fixação da pena,

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Prática Processual Penal 134/157 OAB 2ª Fase

levou em conta os depoimentos testemunhais colhidos em juízo e o

reconhecimento feito pela vítima em sede policial, bem como o fato de o réu

ser reincidente e portador de maus antecedentes, circunstâncias comprovadas no

curso do processo.

Você, na condição de advogado(a) de Tício, é intimado(a) da decisão. Com

base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso

concreto acima, redija a peça cabível, apresentando as razões e sustentando as teses

jurídicas pertinentes. (Valor: 5,0)

Comentários:

O examinando deve redigir uma APELAÇÃO, com fundamento no artigo 593, I,

do Código de Processo Penal. A petição de interposição deve ser endereçada ao juiz de

direito da 1ª Vara Criminal da Comarca do Município X. Nas razões de apelação o

candidato deverá dirigir‐se ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,

argumentando que o reconhecimento feito não deve ser considerado para fins de

condenação, pois houve desrespeito à formalidade legal prevista no art. 226, II, do

Código de Processo Penal.

Dessa forma, inexistiria prova suficiente para a condenação do réu, haja vista ter

sido feito somente um único reconhecimento, em sede de inquérito policial e sem a

observância das exigências legais, o que levaria à absolvição com fulcro no art. 386, VII,

do mesmo diploma (também aceita‐se como fundamento do pedido de absolvição o art.

386, V do CPP). Outrossim, de maneira alternativa, deverá postular o afastamento da

causa especial de aumento de pena decorrente do emprego de arma de fogo, pois esta

deveria ter sido submetida à perícia, nos termos do art. 158 do Código de Processo

Penal, o que não foi feito, de modo que não há como ser comprovada a potencialidade

lesiva da arma. Ademais, sequer foi possível a perícia indireta (art. 167 CPP), pois

nenhuma das testemunhas disse ter escutado a arma disparar, de modo que o emprego

de arma somente poderia servir para configurar a grave ameaça, elementar do crime de

roubo.

Por fim o examinado deverá formular os pedidos (a banca examinadora exigiu

para pontuação máxima, que fosse elencado pelo menos 3 pedidos).

Pedido:

Absolvição + argumento + base legal

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Prática Processual Penal 135/157 OAB 2ª Fase

‐ redução da pena + base legal

‐ mudança de regime + base legal

‐ nulidade da prova + base legal

‐ afastamento da agravante + argumento + base legal

OAB 2010.3 Peça Prático-Profissional

No dia 17 de junho de 2010, uma criança recém-nascida é vista boiando

em um córrego e, ao ser resgatada, não possuía mais vida. Helena, a mãe da

criança, foi localizada e negou que houvesse jogado a vítima no córrego. Sua filha teria

sido, segundo ela, sequestrada por um desconhecido. Durante a fase de inquérito,

testemunhas afirmaram que a mãe apresentava quadro de profunda depressão no

momento e logo após o parto. Além disso, foi realizado exame médico legal, o qual

constatou que Helena, quando do fato, estava sob influência de estado puerperal. À

míngua de provas que confirmassem a autoria, mas desconfiado de que a mãe da

criança pudesse estar envolvida no fato, a autoridade policial representou pela

decretação de interceptação telefônica da linha de telefone móvel usado pela mãe,

medida que foi decretada pelo juiz competente. A prova constatou que a mãe

efetivamente praticara o fato, pois, em conversa telefônica com uma conhecida, de

nome Lia, ela afirmara ter atirado a criança ao córrego, por desespero, mas que

estava arrependida. O delegado intimou Lia para ser ouvida, tendo ela confirmado, em

sede policial, que Helena de fato havia atirado a criança, logo após o parto, no

córrego. Em razão das aludidas provas, a mãe da criança foi então denunciada

pela prática do crime descrito no art. 123 do Código Penal perante a 1ª Vara

Criminal (Tribunal do Júri). Durante a ação penal, é juntado aos autos o laudo de

necropsia realizada no corpo da criança. A prova técnica concluiu que a criança já

nascera morta.

Na audiência de instrução, realizada no dia 12 de agosto de 2010, Lia é

novamente inquirida, ocasião em que confirmou ter a denunciada, em conversa

telefônica, admitido ter jogado o corpo da criança no córrego. A mesma

testemunha, no entanto, trouxe nova informação, que não mencionara quando ouvida

na fase inquisitorial. Disse que, em outras conversas que tivera com a mãe da criança,

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Prática Processual Penal 136/157 OAB 2ª Fase

Helena contara que tomara substância abortiva, pois não poderia, de jeito nenhum,

criar o filho. Interrogada, a denunciada negou todos os fatos. Finda a instrução, o

Ministério Público manifestou-se pela pronúncia, nos termos da denúncia, e a defesa,

pela impronúncia, com base no interrogatório da acusada, que negara todos os fatos.

O magistrado, na mesma audiência, prolatou sentença de pronúncia, não nos

termos da denúncia, e sim pela prática do crime descrito no art. 124 do Código

Penal, punido menos severamente do que aquele previsto no art. 123 do mesmo

código, intimando as partes no referido ato.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem

ser inferidas pelo caso concreto acima, na condição de advogado(a) de Helena,

redija a peça cabível à impugnação da mencionada decisão, acompanhada

das razões pertinentes, as quais devem apontar os argumentos para o provimento do

recurso, mesmo que em caráter sucessivo.

Comentários:

Na peça processual em tela o examinando deverá redigir um RECURSO EM

SENTIDO ESTRITO, na forma do art. 581, IV, do Código de Processo Penal, dirigido ao

Juiz da 1ª Vara Criminal (Tribunal do Júri). Peça processual cabível para o caso em tela.

Em primeiro lugar, deverá o examinando requerer, em preliminar, o

desentranhamento das provas ilícitas. Isso porque o crime investigado, infanticídio (art.

123 do Código Penal), é punido com pena de detenção. Em razão disso, não era

admissível a interceptação telefônica prevista na Lei 9.296/96, pois a lei em tela não

admite a medida quando o crime só é punido com pena de detenção (art. 2º, III). É de

ressaltar que o crime de aborto, previsto no art. 124, também só é punido com pena de

detenção. Além disso, o enunciado indica não existir indícios suficientes de autoria, uma

vez que o delegado representou pela decretação da quebra com base em meras

suspeitas. Finalmente, não foram esgotados todos os meios de investigação, condição

sine qua non para que a medida seja decretada.

Por outro lado, o examinando deverá registrar também que o testemunho de Lia,

embora seja prova realizada de modo lícito, será ilícito por derivação, na forma do art.

157, § 1º, do Código e Processo Penal e, portanto, imprestável.

Ainda em preliminar, deverá o examinando suscitar a nulidade do processo por

violação do art. 411, § 3º do Código de Processo Penal, c/c art. 384 do Código de

Processo Penal. Com efeito, diante das regras acima referidas, o Juiz, vislumbrando a

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Prática Processual Penal 137/157 OAB 2ª Fase

possibilidade de nova definição do fato em razão de prova nova, surgida durante a

instrução, deverá abrir vista dos autos para que o Ministério Público, se for o caso, adite

a denúncia, mesmo que a pena prevista para a nova definição jurídica seja menor,

conforme a nova redação do art. 384 do Código de Processo Penal, dada pela Lei

11.719/2008.

O candidato deverá, ainda, sustentar que não restou provada a materialidade do

crime de aborto, uma vez que nenhuma perícia foi feita no sentido de comprovar que a

criança faleceu em decorrência da ingestão de substância abortiva.

E por fim, deverá requerer, em caráter sucessivo, a impronúncia da acusada, uma

vez que, retiradas as provas ilícitas dos autos, nenhuma prova de autoria existiria contra

a denunciada.

OAB 2010.2 Peça Prático-Profissional

A Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul recebe notícia crime

identificada, imputando a Maria Campos a prática de crime, eis que mandaria crianças

brasileiras para o estrangeiro com documentos falsos. Diante da notícia crime, a

autoridade policial instaura inquérito policial e, como primeira providência, representa

pela decretação da interceptação das comunicações telefônicas de Maria Campos, “dada

a gravidade dos fatos noticiados e a notória dificuldade de apurar crime de tráfico de

menores para o exterior por outros meios, pois o ‘modus operandi’ envolve sempre atos

ocultos e exige estrutura organizacional sofisticada, o que indica a existência de uma

organização criminosa integrada pela investigada Maria”. O Ministério Público opina

favoravelmente e o juiz defere a medida, limitando-se a adotar, como razão de decidir,

“os fundamentos explicitados na representação policial”.

No curso do monitoramento, foram identificadas pessoas que contratavam os

serviços de Maria Campos para providenciar expedição de passaporte para viabilizar

viagens de crianças para o exterior. Foi gravada conversa telefônica de Maria com um

funcionário do setor de passaportes da Polícia Federal, Antônio Lopes, em que Maria

consultava Antônio sobre os passaportes que ela havia solicitado, se já estavam prontos,

e se poderiam ser enviados a ela. A pedido da autoridade policial, o juiz deferiu a

interceptação das linhas telefônicas utilizadas por Antônio Lopes, mas nenhum diálogo

relevante foi interceptado.

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Prática Processual Penal 138/157 OAB 2ª Fase

O juiz, também com prévia representação da autoridade policial e

manifestação favorável do Ministério Público, deferiu a quebra de sigilo bancário e fiscal

dos investigados, tendo sido identificado um depósito de dinheiro em espécie na conta de

Antônio, efetuado naquele mesmo ano, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). O

monitoramento telefônico foi mantido pelo período de quinze dias, após o que foi deferida

medida de busca e apreensão nos endereços de Maria e Antônio. A decisão foi proferida

nos seguintes termos: “diante da gravidade dos fatos e da real possibilidade de serem

encontrados objetos relevantes para investigação, defiro requerimento de busca e

apreensão nos endereços de Maria (Rua dos Casais, 213) e de Antônio (Rua Castro, 170,

apartamento 201)”. No endereço de Maria Campos, foi encontrada apenas uma relação

de nomes que, na visão da autoridade policial, seriam clientes que teriam requerido a

expedição de passaportes com os nomes de crianças que teriam viajado para o exterior.

No endereço indicado no mandado de Antônio Lopes, nada foi encontrado. Entretanto, os

policiais que cumpriram a ordem judicial perceberam que o apartamento 202 do mesmo

prédio também pertencia ao investigado, motivo pelo qual nele ingressaram,

encontrando e apreendendo a quantia de cinquenta mil dólares em espécie. Nenhuma

outra diligência foi realizada.

Relatado o inquérito policial, os autos foram remetidos ao Ministério Público,

que ofereceu a denúncia nos seguintes termos: “o Ministério Público vem oferecer

denúncia contra Maria Campos e Antônio Lopes, pelos fatos a seguir descritos: Maria

Campos, com o auxílio do agente da polícia federal Antônio Lopes, expediu diversos

passaportes para crianças e adolescentes, sem observância das formalidades legais.

Maria tinha a finalidade de viabilizar a saída dos menores do país. A partir da quantia de

dinheiro apreendida na casa de Antônio Lopes, bem como o depósito identificado em sua

conta bancária, evidente que ele recebia vantagem indevida para efetuar a liberação dos

passaportes. Assim agindo, a denunciada Maria Campos está incursa nas penas do artigo

239, parágrafo único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e nas

penas do artigo 333, parágrafo único, c/c o artigo 69, ambos do Código Penal. Já o

denunciado Antônio Lopes está incurso nas penas do artigo 239, parágrafo único, da Lei

n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e nas penas do artigo 317, § 1º, c/c

artigo 69, ambos do Código Penal”.

O juiz da 15ª Vara Criminal de Porto Alegre, RS, recebeu a denúncia, nos

seguintes termos: “compulsando os autos, verifico que há prova indiciária suficiente da

ocorrência dos fatos descritos na denúncia e do envolvimento dos denunciados. Há justa

causa para a ação penal, pelo que recebo a denúncia. Citem-se os réus, na forma da lei”.

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Prática Processual Penal 139/157 OAB 2ª Fase

Antônio foi citado pessoalmente em 27.10.2010 (quarta-feira) e o respectivo mandado

foi acostado aos autos dia 01.11.2010 (segunda-feira). Antônio contratou você como

Advogado, repassando-lhe nomes de pessoas (Carlos de Tal, residente na Rua 1, n. 10,

nesta capital; João de Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital; Roberta de Tal,

residente na Rua 4, n. 310, nesta capital) que prestariam relevantes informações para

corroborar com sua versão.

Nessa condição, redija a peça processual cabível desenvolvendo TODAS AS

TESES DEFENSIVAS que podem ser extraídas do enunciado com indicação de respectivos

dispositivos legais. Apresente a peça no último dia do prazo.

Comentários:

O candidato deverá redigir RESPOSTA À ACUSAÇÃO endereçada ao Juiz de

Direito da 15ª Vara Criminal de Porto Alegre/RS, com base nos artigos 396 e/ou 396-A

do Código de Processo Penal. É indispensável a indicação do dispositivo legal que

fundamenta a apresentação da peça. Peças denominadas “Defesa Previa”, “Defesa

Preliminar” e “Resposta Preliminar” sem indicação do dispositivo legal não serão aceitas.

Peças com fundamento simultâneo nos artigos 406 e 514 do Código de Processo Penal,

ou em qualquer artigo de outra lei não serão aceitas. Quando se indicava os artigos 396

e/ou 396-A, as peças eram aceitas independente do nome, salvo quando também se

fundamentavam no art. 514 do Código de Processo Penal ou em outro artigo não

aplicável ao caso.

Admitiu-se a resposta acompanhada da exceção de incompetência, pontuando-se

os argumentos constantes de ambas as peças.

• A primeira questão preliminar que deverá ser arguida é incompetência da Justiça

Estadual para processar o feito, eis que o crime é de competência federal, nos termos do

que prevê o artigo 109, V, da Constituição Federal. Relativamente a esse tema, admitiu

se também a arguição de incompetência com base no inciso IV do art. 109, da

Constituição. Em ambos os casos, será considerada válida a indicação da

transnacionalidade do crime ou a circunstância de ser uma acusação de crime

supostamente praticado por funcionário público federal no exercício das funções e com

estas relacionadas. Admite-se também a simples referência ao dispositivo da

Constituição, ou até mesmo à Súmula n. 254, do extinto mas sempre Egrégio Tribunal

Federal de Recursos. Não será aceita, por outro lado, a referência ao art. 109, I da

Constituição nem às Súmulas 122 e/ou 147 do STJ.

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Prática Processual Penal 140/157 OAB 2ª Fase

• A segunda questão preliminar que deverá ser arguida é nulidade na interceptação

telefônica. Aqui, foram pontuados separadamente os dois argumentos para sustentar a

nulidade: (a) falta de fundamentação da decisão nos termos do que disciplina o artigo

5º, da Lei n. 9.296/96 e artigo 93, IX, da Constituição da República; no mesmo sentido;

(b) impossibilidade de se decretar a medida de interceptação telefônica como primeira

medida investigativa, não respeitando o princípio da excepcionalidade, violando o

previsto no artigo 2º, II, da Lei n. 9.296/96. Na nulidade da interceptação não se

aceitará o argumento do art. 4º, acerca da ausência de indicação de como seria

implementada a medida. Também não se aceitará a nulidade decorrente da

incompetência para a decretação, eis que o argumento da incompetência era objeto de

pontuação específica.

• A terceira questão preliminar que deverá ser arguida é a nulidade da decisão que

deferiu a busca e apreensão nula, eis que genérica e sem fundamentação, fulcro no

artigo 93, IX, da Constituição da República.

• A quarta questão preliminar que deverá ser arguida é a nulidade da apreensão dos

cinquenta mil dólares, eis que o ingresso no outro apartamento de Antônio, onde estava

a quantia, não estava autorizado judicialmente. Relativamente a este ponto, era

indispensável que se associasse a ilegalidade ao conceito de prova ilícita e

consequentemente requerendo-se a desconsideração do dinheiro lá apreendido.

• A quinta questão preliminar que deverá ser arguida é a inépcia da inicial acusatória, eis

que a conduta é genérica, sem descrever as elementares do tipo de corrupção passiva e

sem imputar fato determinado. Isso viola o previsto no artigo 8º, 2, ‘b’, do Decreto

678/92, o qual prevê como garantia do acusado a comunicação prévia e pormenorizada

da acusação formulada. Além disso, limita o exercício do direito de defesa, em

desrespeito ao previsto no artigo 5º, LV, da Constituição da República. Por fim, há

violação ao artigo 41, do Código de Processo Penal.

• Em relação ao crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317, §1º, do Código

Penal, o candidato deverá apontar a falta de justa causa para a ação penal. Afirmações

genéricas de falta de justa causa não serão consideradas suficientes para obtenção da

pontuação. Com efeito, é preciso que o candidato faça um cotejo entre o tipo penal (com

seus elementos normativos, objetivos e subjetivos) e os fatos narrados no enunciado da

questão. São exemplos de argumentos: não há prova suficiente de que o réu recebia

vantagem indevida para a emissão de passaportes de forma irregular; não há nenhuma

prova de que os passaportes fossem emitidos de forma irregular; nenhum passaporte foi

apreendido ou periciado na fase de inquérito policial; não há prova de que os passaportes

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Prática Processual Penal 141/157 OAB 2ª Fase

supostamente requeridos por Maria na ligação telefônica foram, efetivamente, emitidos;

não há prova de que houve o exaurimento do crime, nos termos do que prevê o §1º do

artigo 317, do Código Penal, ou seja, que Antônio tenha efetivamente praticado ato

infringindo dever funcional.

• No que tange ao crime previsto no artigo 239, parágrafo único, da Lei n. 8.069/90

(Estatuto da Criança e do Adolescente), não há qualquer indício da prática delituosa por

parte de Antônio, eis que não há sequer referência de que ele tivesse ciência da intenção

de Maria. Em outras palavras, o candidato deverá indicar que não havia consciência de

que Antônio estivesse colaborando para a prática do crime supostamente praticado por

Maria, inexistindo, dessa forma dolo. Assim como no caso do crime anterior, afirmações

genéricas de falta de justa causa não serão consideradas suficientes para obtenção da

pontuação. Com efeito, é preciso que o candidato faça um cotejo entre o tipo penal (com

seus elementos normativos, objetivos e subjetivos) e os fatos narrados no enunciado da

questão. Dessa forma, relativamente à atipicidade do crime do art. 239, é indispensável

que o candidato apontasse a ausência de dolo ou falasse do elemento subjetivo do tipo.

Argumentos relacionados exclusivamente ao nexo causal não serão considerados aptos.

Ao final, o candidato deverá especificar provas, indicando rol de testemunhas. Os

requerimentos devem ser de declaração das nulidades, absolvição sumária e,

alternativamente, instrução processual com produção da prova requerida pela defesa.

Para pontuar o pedido não é necessário que o candidato faça todos os pedidos constantes

do gabarito, mas que seus pedidos estejam coerentes com a argumentação desenvolvida

na peça. Por outro lado, se houver argumentos flagrantemente equivocados em maior

número do que adequados, o pedido deixará de ser pontuado. No pedido, não foi

admitida absolvição com fulcro no art. 386 e do 415 do Código de Processo Penal, já que

ele trata das hipóteses de absolvição após o transcurso do processo, e não na fase de

resposta.

• O último dia do prazo é 08.11.2010, eis que a contagem inicia na data da intimação

pessoal. Não serão aceitas datas como 06 ou 07 de novembro, pois o enunciado é claro

ao especificar que a petição deveria ser protocolada no último dia do prazo, o qual se

prorrogou até o dia útil subsequente. Erros como 08 de outubro e 08 de setembro (ou

qualquer outra data) serão considerados insuscetíveis de pontuação.

• Por fim, o gabarito não contempla nenhuma atribuição de pontuação para as

argumentações relativas à: (1) ausência de notificação para apresentar resposta

preliminar (art. 514, Código de Processo Penal); (2) nulidade da decisão que decretou a

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Prática Processual Penal 142/157 OAB 2ª Fase

quebra do sigilo bancário. Também não será atribuída pontuação á simples narrativa dos

fatos nem às afirmações genéricas de que não havia justa causa para a ação penal.

OAB 2010.1 – CESPE Peça Prático-Profissional

Leila, de quatorze anos de idade, inconformada com o fato de ter engravidado

de seu namorado, Joel, de vinte e oito anos de idade, resolveu procurar sua amiga

Fátima, de vinte anos de idade, para que esta lhe provocasse um aborto. Utilizando seus

conhecimentos de estudante de enfermagem, Fátima fez que Leila ingerisse um remédio

para úlcera. Após alguns dias, na véspera da comemoração da entrada do ano de 2005,

Leila abortou e disse ao namorado que havia menstruado, alegando que não estivera, de

fato, grávida. Desconfiado, Joel vasculhou as gavetas da namorada e encontrou, além de

um envelope com o resultado positivo do exame de gravidez de Leila, o frasco de

remédio para úlcera embrulhado em um papel com um bilhete de Fátima a Leila, no qual

ela prescrevia as doses do remédio. Munido do resultado do exame e do bilhete escrito

por Fátima, Joel narrou o fato à autoridade policial, razão pela qual Fátima foi indiciada

por aborto.

Tanto na delegacia quanto em juízo, Fátima negou a prática do aborto, tendo

confirmado que fornecera o remédio a Leila, acreditando que a amiga sofria de úlcera.

Leila foi encaminhada para perícia no Instituto Médico Legal de São Paulo,

onde se confirmou a existência de resquícios de saco gestacional, compatível com

gravidez, mas sem elementos suficientes para a confirmação de aborto espontâneo ou

provocado.

Leila não foi ouvida durante o inquérito policial porque, após o exame,

mudou-se para Brasília e, apesar dos esforços da autoridade policial, não foi localizada.

Em 30/1/2010, Fátima foi denunciada pela prática de aborto. Regularmente

processada a ação penal, o juiz, no momento dos debates orais da audiência de

instrução, permitiu, com a anuência das partes, a manifestação por escrito, no prazo

sucessivo de cinco dias.

A acusação sustentou a comprovação da autoria, tanto pelo depoimento de

Joel na fase policial e ratificação em juízo, quanto pela confirmação da ré de que teria

fornecido remédio abortivo. Sustentou, ainda, a materialidade do fato, por meio do

exame de laboratório e da conclusão da perícia pela existência da gravidez.

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Prática Processual Penal 143/157 OAB 2ª Fase

A defesa teve vista dos autos em 12/7/2010.

Em face dessa situação hipotética, na condição de advogado(a) constituído(a)

por Fátima, redija a peça processual adequada à defesa de sua cliente, alegando toda a

matéria de direito processual e material aplicável ao caso. Date o documento no último

dia do prazo para protocolo.

Comentários:

O examinando, observando a estrutura correta, deverá elaborar MEMORIAIS,

com fundamento no Art. 403, §3º, do CPP. Mesmo não existindo previsão legal expressa

quanto à apresentação de memorial na audiência de instrução do procedimento do júri, é

possível sua interposição em substituição dos debates orais.

A peça deve ser endereçada ao Juiz do Tribunal do Júri.

Preliminarmente, deve ser alegada a prescrição da pretensão punitiva, com

fundamento no art. 115, CP. Como a data do fato foi em dezembro de 2005 e a denúncia

só foi interposta em janeiro de 2010 passando-se mais de 4 (quatro) anos.

Lembrar que ocorreu a prescrição em virtude do crime de aborto ter pena máxima

de quatro anos, sua prescrição ocorreria em oito anos, porém cai pela metade em virtude

de ser a acusada menor de vinte e um anos, nos termos do art. 109, IV c/c o art. 115,

CP.

No mérito deverá ser alegada a impronúncia por falta de comprovação da autoria,

da materialidade e ausência de comprovação do dolo.

Ao final, deve elaborar os seguintes pedidos: reconhecimento da preliminar e

extinção da punibilidade (art. 107, IV, CP), como também da impronúncia nos termos do

art. 414, CPP. Admitindo-se o pedido pela absolvição sumária, vide art. 415, CPP.

Datando a peça no dia 19/07/2010, último dia para protocolar.

OAB 2009.3 – CESPE Peça Prático-Profissional

Em 17/1/2010, Rodolfo T., brasileiro, divorciado, com 57 anos de idade,

administrador de empresas, importante dirigente do clube esportivo LX F.C., contratou

profissional da advocacia para que adotasse as providências judiciais em face de

conhecido jornalista e comentarista esportivo, Clóvis V., brasileiro, solteiro, com 38 anos

de idade, que, a pretexto de criticar o fraco desempenho do time de futebol do LX F.C.

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Prática Processual Penal 144/157 OAB 2ª Fase

no campeonato nacional em matéria esportiva divulgada por meio impresso e

apresentada em programa televisivo, bem como no próprio blog pessoal do jornalista na

Internet, passou, em diversas ocasiões, juntamente com Teodoro S., brasileiro, de 60

anos de idade, casado, jornalista, desafeto de Rodolfo T., a praticar reiteradas condutas

com o firme propósito de ofender a honra do dirigente do clube. Foram ambos

interpelados judicialmente e se recusaram a dar explicações acerca das ofensas,

mantendo-se inertes.

Por três vezes afirmou, em meios de comunicação distintos, o comentarista

Clóvis V., sabendo não serem verdadeiras as afirmações, que o dirigente "havia 'roubado'

o clube LX F.C. e os torcedores, pois tinha se apropriado, indevidamente, de R$ 5

milhões pertencentes ao LX F.C., na condição de seu diretor-geral, quando da venda do

jogador Y, ocorrida em 20/12/2008" e que "já teria gasto parte da fortuna 'roubada', com

festas, bebidas, drogas e prostitutas". Tal afirmação foi proferida durante o programa de

televisão Futebol da Hora, em 7/1/2010, às 21 h 30m, no canal de televisão VX e

publicado no blog do comentarista esportivo, na Internet, em 8/1/2010, no endereço

eletrônico www.clovisv.futebol.xx. Tais declarações foram igualmente publicadas no

jornal impresso Notícias do Futebol, de circulação nacional, na edição de 8/1/2010.

Destaque-se que o canal de televisão VX e o jornal Notícias do Futebol pertencem ao

mesmo grupo econômico e têm como diretor-geral e redator-chefe Teodoro S., desafeto

do dirigente Rodolfo T. Sabe-se que todas as notícias foram veiculadas por ordem direta

e expressa de Teodoro S. Prosseguindo a empreitada ofensiva, o jornalista Clóvis V.

disse, em 13/1/2010, em seu blog pessoal na Internet, que o dirigente não teria

condições de gerir o clube porque seria "um burro, de capacidade intelectual inferior à de

uma barata" e, por isso, "tinha levado o clube à falência", porém estava "com os bolsos

cheios de dinheiro do clube e dos torcedores". Como se não bastasse, na última edição

do blog, em 15/1/2010, afirmou que "o dirigente do clube está tão decadente que passou

a sair com homens", por isso "a mulher o deixou".

Entre os documentos coletados pelo cliente e pelo escritório encontram-se a

gravação, em DVD, do programa de televisão, com o dia e horário em que foi veiculado,

bem como a edição do jornal impresso em que foi difundida a matéria sobre o assunto,

além de cópias de páginas e registros extraídos da Internet, com as ofensas perpetradas

pelo jornalista Clóvis V. Rodolfo T. tomou conhecimento da autoria e dos fatos no dia

15/1/2010, tendo todos eles ocorrido na cidade de São Paulo – SP, sede da emissora e

da editora, além de domicílio de todos os envolvidos

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Prática Processual Penal 145/157 OAB 2ª Fase

Em face dessa situação hipotética, na condição de advogado(a) contratado(a)

por Rodolfo T., redija a peça processual que atenda aos interesses de seu cliente,

considerando recebida a pasta de atendimento do cliente devidamente instruída, com

todos os documentos pertinentes, suficientes e necessários, procuração com poderes

especiais e testemunhas.

Comentários:

Na peça processual em tela o examinando deverá redigir uma QUEIXA CRIME,

em face de Clóvis e Teodoro, com fundamento legal no art. 30 do CPP, a ser endereçada

ao juízo da Vara Criminal da Comarca de São Paulo. Deve a petição obedecer aos

requisitos apontados no art. 41, CPP.

Na referida peça, o examinando deverá demonstrar a figura dos querelados:

Clóvis V. e Teodoro S. Além disso, tem que deixar bem claro quais foram as condutas

criminosas praticadas pelos acusados. Clóvis V teria praticado os crimes de calúnia (art.

138 do CP), ao afirmar que “o dirigente ‘havia 'roubado' o clube LX F.C. e os torcedores,

pois tinha se apropriado, indevidamente, de R$ 5 milhões pertencentes ao LX F.C., na

condição de seu diretor-geral, quando da venda do jogador Y, ocorrida em 20/12/2008",

difamação (art. 139 do CP) ao afirmar que “já teria gasto parte da fortuna roubada, com

festas, bebidas, drogas e prostitutas” e injúria (art. 140 do CP) ao alegar que a vítima

era “burra”, de capacidade intelectual inferior a de uma barata.

Já quanto à Teodoro S. alegar que o mesmo incorreu no artigo 138, § 1º, do CP,

por ter divulgado, de forma consciente e voluntária, a imputação falsa de fato criminoso

à vítima.

Além da identificação dos crimes praticados, o examinado deverá elencar a prática

do concurso material de crimes conforme art. 69, CP como também a incidência da causa

de aumento de pena prevista no art. 141, III, CP.

Deverá ainda fazer remissão às provas documentais referidas no caso em

questão.

Por fim, devera o examinado elaborar os pedidos, quais sejam: a citação, a

condenação dos querelados, a fixação de valor mínimo para indenização com fundamento

no art. 387, inciso IV, CPP.

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Prática Processual Penal 146/157 OAB 2ª Fase

OAB 2009.2 – CESPE Peça Prático-Profissional

José de Tal, brasileiro, divorciado, primário e portador de bons antecedentes,

ajudante de pedreiro, nascido em Juazeiro – BA, em 7/9/1938, residente e domiciliado

em Planaltina – DF, foi denunciado pelo Ministério Público como incurso nas penas

previstas no art. 244, caput, c/c art. 61, inciso II, "e", ambos do Código Penal. Na

exordial acusatória, a conduta delitiva atribuída ao acusado foi narrada nos seguintes

termos:

Desde janeiro de 2005 até, pelo menos, 4/4/2008, em Planaltina – DF, o

denunciado José de Tal, livre e conscientemente, deixou, em diversas ocasiões e por

períodos prolongados, sem justa causa, de prover a subsistência de seu filho Jorge de

Tal, menor de 18 anos, não lhe proporcionando os recursos necessários para sua

subsistência e faltando ao pagamento de pensão alimentícia fixada nos autos n.º

001/2005 – 5.ª Vara de Família de Planaltina – DF (ação de alimentos) e executada nos

autos do processo n.º 002/2006 do mesmo juízo. Arrola como testemunha Maria de Tal,

genitora e representante legal da vítima.

A denúncia foi recebida em 3/11/2008, tendo o réu sido citado e apresentado,

no prazo legal, de próprio punho — visto que não tinha condições de contratar advogado

sem prejuízo de seu sustento próprio e do de sua família — resposta à acusação,

arrolando as testemunhas Margarida e Clodoaldo.

A audiência de instrução e julgamento foi designada e José compareceu

desacompanhado de advogado. Na oportunidade, o juiz não nomeou defensor ao réu,

aduzindo que o Ministério Público estaria presente e que isso seria suficiente.

No curso da instrução criminal, presidida pelo juiz de direito da 9.ª Vara

Criminal de Planaltina – DF, Maria de Tal confirmou que José atrasava o pagamento da

pensão alimentícia, mas que sempre efetuava o depósito parcelado dos valores devidos.

Disse que estava aborrecida porque José constituíra nova família e, atualmente, morava

com outra mulher, desempregada, e seus 6 outros filhos menores de idade.

As testemunhas Margarida e Clodoaldo, conhecidos de José há mais de 30

anos, afirmaram que ele é ajudante de pedreiro e ganha 1 salário mínimo por mês,

quantia que é utilizada para manter seus outros filhos menores e sua mulher,

desempregada, e para pagar pensão alimentícia a Jorge, filho que teve com Maria de Tal.

Disseram, ainda, que, todas as vezes que conversam com José, ele sempre diz que está

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Prática Processual Penal 147/157 OAB 2ª Fase

tentando encontrar mais um emprego, pois não consegue sustentar a si próprio nem a

seus filhos, bem como que está atrasando os pagamentos da pensão alimentícia, o que o

preocupa muito, visto que deseja contribuir com a subsistência, também, desse filho,

mas não consegue. Informaram que José sofre de problemas cardíacos e gasta boa parte

de seu salário na compra de remédios indispensáveis à sua sobrevivência.

Após a oitiva das testemunhas, José disse que gostaria de ser ouvido para

contar sua versão dos fatos, mas o juiz recusou-se a interrogá-lo, sob o argumento de

que as provas produzidas eram suficientes ao julgamento da causa.

Na fase processual prevista no art. 402 do Código de Processo Penal, as

partes nada requereram. Em manifestação escrita, o Ministério Público pugnou pela

condenação do réu nos exatos termos da denúncia, tendo o réu, então, constituído

advogado, o qual foi intimado, em 15/6/2009, segunda-feira, para apresentação da peça

processual cabível.

Considerando a situação hipotética acima apresentada, redija, na qualidade

de advogado(a) constituído(a) por José, a peça processual pertinente, privativa de

advogado, adequada à defesa de seu cliente. Em seu texto, não crie fatos novos, inclua a

fundamentação que embase seu(s) pedido(s) e explore as teses jurídicas cabíveis,

endereçando o documento à autoridade competente e datando-o no último dia do prazo

para protocolo.

Comentários:

O candidato deverá elaborar MEMORIAIS, com fundamento no art. 403, § 3.º,

do CPP endereçados ao juiz de direito da 9.ª Vara Criminal de Planaltina/DF.

Preliminarmente deverá alegar a nulidade por ausência de nomeação de defensor

ao réu que não constituiu advogado para apresentar resposta à acusação (art. 396-A, §

2.º, do CPP), bem como a nulidade por falta de nomeação de defensor ao réu presente

que não o tiver( art. 564, III, “c”, do CPP e Súmula 523 do STF). Ainda em sede de

preliminar, alegar a nulidade por falta de interrogatório do réu presente, art. 564, III,

“e”, do CPP. Alegar também nulidade, sobre a questão do MP que deveria ter proposto a

suspensão do processo, de acordo com o art. 89 da Lei 9.099/95, por se tratar de direito

subjetivo público do réu.

Deverá requerer a fixação do regime aberto para cumprimento de pena, conforme

o art. 33, § 2.º, “c”, CP, e a substituição da pena privativa de liberdade por pena de

multa ou por pena restritiva de direitos, conforme dispõe o art. 44, I, CP. Alegar ainda a

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Prática Processual Penal 148/157 OAB 2ª Fase

possibilidade de José de Tal aguardar o trânsito em julgado da sentença em liberdade, ou

seja, de apelar em liberdade em face em face de sua primariedade, bons antecedentes,

residência fixa e ausência dos requisitos que autorizariam sua prisão preventiva.

O candidato deve pedir a absolvição pela atipicidade da conduta, já que não

constitui infração penal em face da presença de justa causa para o atraso do pagamento

da pensão, conforme art. 386, III, CPP.

Elencar, ainda, que em caso de condenação (pelo principio da eventualidade) seja

fixada a pena no mínimo legal, sustentando que o réu é primário e portador de bons

antecedentes.

Sustentar o afastamento da agravante prevista no art. 61, inciso II, “e”, do CP,

para evitar o bis in idem, visto que o fato de a vítima ser descendente (filho) do réu é

elemento constitutivo do tipo previsto no art. 244, caput, do CP. Como também a

impossibilidade de agravar a pena por circunstância constitutiva do crime: art. 61, caput,

do CP.

Por fim, pleitear o reconhecimento da circunstância atenuante prevista no art. 65,

I, do CP, visto ser o réu maior de 70 anos na data da sentença.

Datar a peça no dia 22/06/2009 (segunda-feira), última data de protocolo.

OAB 2009.1 – CESPE Peça Prático-Profissional

Agnaldo, que reside com sua esposa, Ângela, e seus dois filhos na cidade de

Porto Alegre – RS, pretendendo fazer uma reforma na casa onde mora com a família,

dirigiu-se a uma loja de material de construção para verificar as opções de crédito

existentes. Entre as opções que o vendedor da loja apresentou, a mais adequada ao seu

orçamento familiar era a emissão de cheques pré-datados como garantia da dívida.

Como não possui conta-corrente em agência bancária, Agnaldo pediu a seu cunhado e

vizinho, Firmino, que lhe emprestasse seis cheques para a aquisição do referido material,

pedido prontamente atendido. Com o empréstimo, retornou ao estabelecimento

comercial e realizou a compra, deixando como garantia da dívida os seis cheques

assinados pelo cunhado.

Dias depois, Firmino, que tivera seu talonário de cheques furtado, sustou

todos os cheques que havia emitido, entre eles, os emprestados a Agnaldo. Diante da

sustação, o empresário, na delegacia de polícia mais próxima, alegou que havia sido

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Prática Processual Penal 149/157 OAB 2ª Fase

fraudado em uma transação comercial, uma vez que Firmino frustrara o pagamento dos

cheques pré-datados.

Diante das alegações, o delegado de polícia instaurou inquérito policial para

apurar o caso, indiciando Firmino, por entender que havia indícios de ele ter cometido o

crime previsto no inciso VI do § 2.º do art. 171 do Código Penal.

Inconformado, Firmino impetrou habeas corpus perante a 1.ª Vara Criminal

da Comarca de Porto Alegre, tendo o juiz denegado a ordem.

Considerando essa situação hipotética, na condição de advogado(a)

contratado(a) por Firmino, interponha a peça judicial cabível, privativa de advogado, em

favor de seu cliente.

Comentários:

Na peça processual em tela o examinando deverá redigir um RECURSO EM

SENTIDO ESTRITO, na forma do art. 581, X, do Código de Processo Penal, dirigido ao

Juiz da 1ª Vara Criminal da Comarca de Porto Alegre/RS.

Em primeiro lugar, deverá o examinando alegar que o inquérito policial deveria

ser trancado, uma vez que não houve dolo na conduta do agente, por ter ele sustado os

cheques em razão do furto de seu talonário, razão pela qual exclui o dolo para fins de

adequação típica da conduta trazida em questão. Sustentar tal argumentação pela

Súmula 246, STF.

Aludir entendimento do Supremo Tribunal Federal, que a emissão de cheques pré-

datados não pode configurar essa modalidade de estelionato, eis que cheque é ordem de

pagamento à vista, portanto até então, é fato atípico.

Elencar ainda que Firmino não é o devedor, e sim o seu cunhado a quem ele

emprestou os cheques.

OAB 2008.3 – CESPE Peça Prático-Profissional

Alessandro, de 22 anos de idade, foi denunciado pelo Ministério Público como

incurso nas penas previstas no art. 213, c/c art. 224, alínea b, do Código Penal, por

crime praticado contra Geisa, de 20 anos de idade. Na peça acusatória, a conduta delitiva

atribuída ao acusado foi narrada nos seguintes termos:

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Prática Processual Penal 150/157 OAB 2ª Fase

"No mês de agosto de 2000, em dia não determinado, Alessandro dirigiu-se à

residência de Geisa, ora vítima, para assistir, pela televisão, a um jogo de futebol.

Naquela ocasião, aproveitando-se do fato de estar a sós com Geisa, o denunciado

constrangeu-a a manter com ele conjunção carnal, fato que ocasionou a gravidez da

vítima, atestada em laudo de exame de corpo de delito. Certo é que, embora não se

tenha valido de violência real ou de grave ameaça para constranger a vítima a com ele

manter conjunção carnal, o denunciando aproveitou-se do fato de Geisa ser incapaz de

oferecer resistência aos seus propósitos libidinosos assim como de dar validamente o seu

consentimento, visto que é deficiente mental, incapaz de reger a si mesma."

Nos autos, havia somente a peça inicial acusatória, os depoimentos prestados

na fase do inquérito e a folha de antecedentes penais do acusado.

O juiz da 2.ª Vara Criminal do Estado XX recebeu a denúncia e determinou a

citação do réu para se defender no prazo legal, tendo sido a citação efetivada em

18/11/2008. Alessandro procurou, no mesmo dia, a ajuda de um profissional e outorgou-

lhe procuração ad juditia com a finalidade específica de ver-se defendido na ação penal

em apreço. Disse, então, a seu advogado que não sabia que a vítima era deficiente

mental, que já a namorava havia algum tempo, que sua avó materna, Romilda, e sua

mãe, Geralda, que moram com ele, sabiam do namoro e que todas as relações que

manteve com a vítima eram consentidas. Disse, ainda, que nem a vítima nem a família

dela quiseram dar ensejo à ação penal, tendo o promotor, segundo o réu, agido por

conta própria. Por fim, Alessandro informou que não havia qualquer prova da debilidade

mental da vítima.

Em face da situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de

advogado(a) constituído(a) pelo acusado, a peça processual, privativa de advogado,

pertinente à defesa de seu cliente. Em seu texto, não crie fatos novos, inclua a

fundamentação legal e jurídica, explore as teses defensivas e date o documento no

último dia do prazo para protocolo.

Comentários:

Na peça processual em tela o examinando deverá redigir uma RESPOSTA À

ACUSAÇÃO, com fundamento legal no artigo 396 do CPP (e/ou art. 396-A do CPP), a ser

endereçada ao juízo da 2ª Vara Criminal.

Na época em que foi elaborada a questão deveria o candidato suscitar a nulidade

quanto à ilegitimidade do MP, já que o crime de estupro era via de regra de ação privada,

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Prática Processual Penal 151/157 OAB 2ª Fase

ou seja, se procedia mediante queixa. Após as alterações do código penal pela lei

12.015/2009 o crime de estupro se procede mediante ação pública condicionada (art.

225, CP).

O examinado deverá questionar quanto à inépcia da denúncia, em razão da

ausência de elementos mínimos de materialidade, pela não comprovação da debilidade

mental da vítima. Alegando a atipicidade do fato pelo desconhecimento dessa debilidade.

Por fim nos pedidos: fazer o pedido quanto a nulidade, conforme art. art. 564, II,

do CPP) como pela de rejeição da denúncia (art. 395, I e II). Pedir o exame pericial, a

oitiva de testemunhas como também a absolvição sumária do caso em tela.

Datar a peça no dia 28/11/2008, última data de protocolo.

Obs: Esta peça esta com a resposta atualizada de acordo com a alteração trazida

pela Lei 12.015/2009.

OAB 2008.2 – CESPE

Peça Prático-Profissional

Odilon Coutinho, brasileiro, com 71 anos de idade, residente e domiciliado em Rio

Preto da Eva – AM, foi denunciado pelo Ministério Público, nos seguintes termos:

“No dia 17 de setembro de 2007, por volta das 19 h 30 min, na cidade e comarca de

Manaus – AM, o denunciado, Odilon Coutinho, juntamente com outro não identificado,

imbuídos do propósito de assenhoreamento definitivo, quebraram a janela do prédio

onde funciona agência dos Correios e de lá subtraíram quatro computadores da marca

Lunation, no valor de R$ 5.980,00; 120 caixas de encomenda do tipo 3, no valor de R$

540,00; e 200 caixas de encomenda do tipo 4, no valor de R$ 1.240,00 (cf. auto de

avaliação indireta às fls.). Assim agindo, incorreu o denunciado na prática do art. 155, §§

1.º e 4.º, incs. I e IV, do Código Penal (CP), combinado com os arts. 29 e 69, todos do

CP, motivo pelo qual é oferecida a presente denúncia, requerendo-se o processamento

até final julgamento.”

O magistrado recebeu a exordial em 1.º de outubro de 2007, acolhendo a

imputação em seus termos. Após o interrogatório e a confissão de Odilon Coutinho,

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Prática Processual Penal 152/157 OAB 2ª Fase

ocorridos em 7 de dezembro de 2007, na presença de advogado ad hoc, embora já

houvesse advogado constituído não intimado para o ato, a instrução seguiu, fase em que

o magistrado, alegando que o fato já estava suficientemente esclarecido, não permitiu a

oitiva de uma testemunha arrolada, tempestivamente, pela defesa.

O policial Jediel Soares, responsável pelo monitoramento das conversas

telefônicas de Odilon, foi inquirido em juízo, tendo esclarecido que, inicialmente, a escuta

telefônica fora realizada “por conta”, segundo ele, porque havia diversas denúncias

anônimas, na região de Manaus, acerca de um sujeito conhecido como Vovô, que invadia

agências dos Correios com o propósito de subtrair caixas e embalagens para usá-las no

tráfico de animais silvestres. Jediel e seu colega Nestor, nas diligências por eles

efetuadas, suspeitaram da pessoa de Odilon, senhor de “longa barba branca”, e

decidiram realizar a escuta telefônica.

Superada a fase de alegações finais, apresentadas pelas partes em fevereiro de

2008, os autos foram conclusos para sentença, em março de 2008, tendo o magistrado,

com base em toda a prova colhida, condenado o réu, de acordo com o art. 155, §§ 1.º e

4.º, incs. I e IV, do CP, à pena privativa de liberdade de 8 anos de reclusão (a pena-base

foi fixada em 5 anos de reclusão), cumulada com 30 dias-multa, no valor de 1/30 do

salário mínimo, cada dia. Fixou, ainda, para Odilon Coutinho, réu primário, o regime

fechado de cumprimento de pena.

O Ministério Público não interpôs recurso.

Em face da situação hipotética acima apresentada, na qualidade de advogado(a)

constituído(a) de Odilon Coutinho, e supondo que, intimado(a) da sentença condenatória,

você tenha manifestado seu desacordo em relação aos termos da referida decisão e que,

em 13 de outubro de 2008, tenha sido intimado(a) a apresentar as razões de seu

inconformismo, elabore a peça processual cabível, endereçando-a ao juízo competente,

enfrentando todas as matérias pertinentes e datando o documento no último dia do

prazo para apresentação.

Comentários:

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Prática Processual Penal 153/157 OAB 2ª Fase

O examinando deve redigir uma APELAÇÃO, com fundamento no artigo 593, I,

do Código de Processo Penal. A petição de interposição deve ser endereçada ao Juiz

Federal da Seção Judiciária de Manaus/AM. Nas razões de apelação o candidato deverá

dirigir‐se ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Deverá destacar preliminarmente, que a sentença condenatória baseou-se em

provas originariamente ilícitas, afrontando a Constituição Federal, art. 5°, LVI, CF/88,

uma vez que as interceptações telefônicas foram feitas por meio ilegal, contrariando a Lei

9.296/96.

Ainda em sede de preliminar, alegar o cerceamento de defesa pela não-oitiva de

testemunha, já que sequer houve intimação do defensor constituído para audiência, o

que, por si só, já acarreta a nulidade absoluta do feito processual, vide art. 399, CPP,

afrontando ainda a regra constitucional do art. 5°, LV, CF/88. Elencar ainda, quanto à

questão de não incidir no caso concreto do § 1.º do art. 155 do CP, já que neste caso

não há que se falar em repouso noturno no local dos fatos.

Por fim, deverá o examinado expor que caso o Tribunal assim não entenda, reveja

acerca da dosimetria da pena calculada pelo juiz de primeiro grau, em ofensa ao principio

da suficiência da pena, devendo então analisar o regime de cumprimento de pena.

Nos pedidos, requerer a anulação do processo vide as preliminares suscitadas, e

caso assim não entenda, que seja reduzida a pena – principio da proporcionalidade –

mudando o regime de cumprimento, de acordo com o art. 33,CP.

Datar a peça no dia 21 de outubro de 2008, última data para apresentação do

recurso.

OAB 2008.1 – CESPE

Peça Prático-Profissional

Mariano Pereira, brasileiro, solteiro, nascido em 20/1/1987, foi denunciado pela

prática de infração prevista no art. 157, § 2.º, incisos I e II, do Código Penal, porque, no

dia 19/2/2007, por volta das 17 h 40 min, em conjunto com outras duas pessoas, ainda

não identificadas, teria subtraído, mediante o emprego de arma de fogo, a quantia de

aproximadamente R$ 20.000,00 de agência do banco Zeta, localizada em Brasília – DF.

Consta na denúncia que, no dia dos fatos, os autores se dirigiram até o local e

convenceram o vigia a permitir sua entrada na agência após o horário de encerramento

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Prática Processual Penal 154/157 OAB 2ª Fase

do atendimento ao público, oportunidade em que anunciaram o assalto. Além do vigia,

apenas uma bancária, Maria Santos, encontrava-se no local e entregou o dinheiro que

estava disponível, enquanto Mariano, o único que estava armado, apontava sua arma

para o vigia. Fugiram em seguida pela entrada da agência.

Durante o inquérito, o vigia, Manoel Alves, foi ouvido e declarou: que abriu a

porta porque um dos ladrões disse que era irmão da funcionária; que, após destravar a

porta e o primeiro ladrão entrar, os outros apareceram e não conseguiu mais travar a

porta; que apenas um estava armado e ficou apontando a arma o tempo todo para ele;

que nenhum disparo foi efetuado nem sofreram qualquer

violência; que levaram muito dinheiro; que a agência estava sendo desativada e não

havia muito movimento no local.

O vigia fez retrato falado dos ladrões, que foi divulgado pela imprensa, e, por

intermédio de uma denúncia anônima, a polícia conseguiu chegar até Mariano. O vigia

Manoel reconheceu o indiciado na delegacia e faleceu antes de ser ouvido em juízo.

Regularmente denunciado e citado, em seu interrogatório judicial, acompanhado

pelo advogado, Mariano negou a autoria do delito. A defesa não apresentou alegações

preliminares. Durante a instrução criminal, a bancária Maria Santos afirmou: que não

consegue reconhecer o réu; que ficou muito nervosa durante o assalto porque tem

depressão; que o assalto não demorou nem 5 minutos; que não houve violência nem viu

a arma; que o Sr. Manoel faleceu poucos meses após o fato; que ele fez o retrato falado

e reconheceu o acusado; que o sistema de vigilância da agência estava com defeito e por

isso não houve filmagem; que o sistema não foi consertado porque a agência estava

sendo desativada; que o Sr. Manoel era meio distraído e ela acredita que ele deixou o

primeiro ladrão entrar

por boa fé; que sempre ficava até mais tarde no banco e um de seus 5 irmãos ia buscá-

la após as 18 h; que, por ficar até mais tarde, muitas vezes fechava o caixa dos colegas,

conferia malotes etc.; que a quantia levada foi de quase vinte mil reais.

O policial Pedro Domingos também prestou o seguinte depoimento em juízo: que

o retrato falado foi feito pelo vigia e muito divulgado na imprensa; que, por uma

denúncia anônima, chegaram até Mariano e ele foi reconhecido; que o réu negou

participação no roubo, mas não explicou como comprou uma moto nova à vista já que

está desempregado; que os assaltantes provavelmente vigiaram a agência e notaram a

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Prática Processual Penal 155/157 OAB 2ª Fase

pouca segurança, os horários e hábitos dos empregados do banco Zeta; que não

recuperaram o dinheiro; que nenhuma arma foi apreendida em poder de Mariano; que os

outros autores não foram identificados; que, pela sua experiência, tem plena convicção

da participação do acusado no roubo.

Na fase de requerimento de diligências, a folha de antecedentes penais do réu foi

juntada e consta um inquérito em curso pela prática de crime contra o patrimônio.

Na fase seguinte, a acusação pediu a condenação nos termos da denúncia.

Em face da situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de advogado(a)

de Mariano, a peça processual, privativa de advogado, pertinente à defesa do acusado.

Inclua, em seu texto, a fundamentação legal e jurídica, explore as teses defensivas

possíveis e date no último dia do prazo para protocolo, considerando que a intimação

tenha ocorrido no dia 23/6/2008, segunda-feira.

Comentários:

O examinando, observando a estrutura correta, deverá elaborar MEMORIAIS,

com fundamento no Art. 403, §3º, do CPP.

A peça deve ser endereçada ao Juiz de Direito da Vara Criminal de Brasília/DF.

Deverá o examinado mencionar que as provas contidas nos autos são insuficientes

para uma condenação. Que o réu negou a autoria e as provas não são contrárias a tal

alegação, uma vez que também não demonstram a participação delituosa do réu. Pedir

neste caso a aplicação do in dubio pro reo.

Deverá requerer pela absolvição com fundamento no art. 386, V, CPP;

afastamento da causa de aumento de pena caso ocorra eventual condenação, prevista no

art. 157 §2, I, CP; Como também o reconhecimento da atenuante da menoridade

relativa, conforme art. 65, I, CP.

Datar a peça no dia 30/06/2008, última data de protocolo.

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Prática Processual Penal 156/157 OAB 2ª Fase

OAB 2007.3 – CESPE

Peça Prático-Profissional

O Ministério Público ofereceu denúncia contra Alexandre Silva, brasileiro, casado,

taxista, nascido em 21/01/1986, pela prática de infração prevista no art. 121, caput, do

CP.

Consta, na denúncia, que, no dia 10/10/2006, aproximadamente às 21 horas, em

via pública da cidade de Brasília – DF, o acusado teria efetuado um disparo contra a

pessoa de Filipe Santos, que, em razão dos ferimentos, veio a óbito.

No laudo de exame cadavérico acostado aos autos, os peritos do Instituto Médico

Legal registraram a seguinte conclusão: “morte decorrente de anemia aguda, devido a

hemorragia interna determinada por transfixação do pulmão por ação de instrumento

perfurocontundente (projétil de arma de fogo)”.

Consta da folha de antecedentes penais de Alexandre, um inquérito policial por

crime de porte de arma, anterior à data dos fatos e ainda em apuração.

No interrogatório judicial, o acusado afirmou que, no horário dos fatos,

encontrava-se em casa com sua esposa e dois filhos; que só saiu por volta das 22 horas

para comprar refrigerante, oportunidade em que foi preso quando adentrava no bar; que

conhecia a vítima apenas de vista; que não responde a nenhum processo.

Na instrução criminal, Paulo Costa, testemunha arrolada pelo Ministério Público,

em certo trecho do seu depoimento, disse que era amigo de Filipe, que aparentemente a

vítima não tinha inimigos; que deve ter sido um assalto; que estava a aproximadamente

cinqüenta metros de distância e não viu o rosto da pessoa que atirou em Filipe, mas que

certamente era alto e forte, da mesma compleição física do acusado; que não tem

condições de reconhecer com certeza o ora acusado.

André Gomes, também arrolado pela acusação, disse que a noite estava muito

escura e o local não tinha iluminação pública; que estava próximo da vítima, mas havia

bebido; que hoje não tem condições de reconhecer o autor dos disparos, mas tem a

impressão de que o acusado tinha o mesmo porte físico do assassino.

Breno Oliveira, policial militar, testemunha comum, afirmou que prendeu o

acusado porque ele estava próximo ao local dos fatos e suas características físicas

correspondiam à descrição dada pelas pessoas que teriam presenciado os fatos; que,

pela descrição, o autor do disparo era alto, forte, moreno claro, vestia calça jeans e

camiseta branca; que o céu estava encoberto, o que deixava a rua muito

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Prática Processual Penal 157/157 OAB 2ª Fase

escura, principalmente porque não havia iluminação pública; que, na delegacia, o

acusado permaneceu em silêncio; que a arma do crime não foi encontrada.

Maíra Silva, esposa de Alexandre, arrolada pela defesa, confirmou, em seu

depoimento, que o marido permanecera em casa a noite toda, só tendo saído para

comprar refrigerante, oportunidade em que foi preso e não mais voltou para casa; que só

tomou conhecimento da acusação na delegacia e, de imediato, disse ao delegado que

aquilo não era possível, mas este não acreditou; que o acusado vestia calça e camiseta

clara no dia dos fatos; que Alexandre é um bom marido, trabalhador e excelente pai.

Após a audiência, o juiz abriu vista dos autos ao Ministério Público, que requereu

a pronúncia do réu nos termos da denúncia.

Com base na situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de advogado de

Alexandre, a peça processual, privativa de advogado, pertinente à defesa do réu; inclua a

fundamentação legal e jurídica, explore a tese defensiva cabível nesse momento

processual e date a petição no último dia do prazo para protocolo, considerando que a

intimação ocorra no dia 3/3/2008, segunda-feira.

Comentários:

O examinando, observando a estrutura correta, deverá elaborar MEMORIAIS,

com fundamento no Art. 403, §3º, do CPP.

A peça deve ser endereçada ao Juiz de Direito do Tribunal do Júri de Brasília/DF.

O examinado deverá alegar que as provas não são de todo suficientes para

incriminar o réu. Assim deverá pedir que o acusado seja impronunciado, uma vez que há

ausência de indícios de autoria. Como também, elencar que as testemunhas não

comprovaram o autor do crime. Concluir então que apesar de possuir prova de

materialidade do crime, em virtude do laudo anexo, não existe indícios que comprovem a

autoria, fazendo uma análise dos fatos.

Por fim deverá pedir a impronúncia, com fundamento no art. 414, CPP ou a

improcedência da denúncia.

Datar a peça no dia 10/03/2008, última data de protocolo.

Obs: Esta peça esta com a resposta atualizada de acordo com a alteração trazida

pela Lei 11.689/2008.