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SEMINÁRIO PRESBITERIANO “REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO”

“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos de rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” I Pe 5.1-4 “O verdadeiro pastor tem duas vozes: uma para chamar as ovelhas e outra para espantar os lobos devoradores” João Calvino

POIMÊNICA IPOIMÊNICA IPOIMÊNICA IPOIMÊNICA I

GILDÁSIO JESUS B. DOS REIS 2006

Copyright @ 2006 Gildásio Jesus Barbosa dos Reis. Proibida a Reprodução sem a autorização

por escrito do autor

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POIMÊNICAPOIMÊNICAPOIMÊNICAPOIMÊNICA

I. I. I. I. TEOLOGIA PASTORALTEOLOGIA PASTORALTEOLOGIA PASTORALTEOLOGIA PASTORAL 1.1.1.1. A Definição de Teologia Pastoral A Definição de Teologia Pastoral A Definição de Teologia Pastoral A Definição de Teologia Pastoral A poimênica é uma disciplina da teologia pastoral. Daí, a importância de iniciarmos nosso curso dando uma definição de Teologia Pastoral. A. Thomas C. Oden1 define a Teologia Pastoral como o ramo da Teologia Cristã que define, de forma sistemática, o ofício, serviços, dons e tarefas do ministério. A Teologia Pastoral é considerada uma teologia prática por tratar de aspectos práticos do ministério vinculando a exegese, história, teologia sistemática, ética e ciências sociais. B. Teologia Pastoral é uma disciplina tanto teórica quanto prática. 1. Na Teologia Pastoral articula-se um construto teórico do ministério proveniente da Escritura, da História e da Teologia Sistemática. 2. A Teologia Pastoral objetiva não apenas elaborar uma definição do trabalho e tarefas pastorais, mas prover auxílio prático para sua implementação. 3. Em um primeiro momento, a Teologia Pastoral providencia informação bíblica e suporte teológico acerca do ministério. Em seguida, fomenta a prática do ministério na igreja. 4. Argumenta-se que o ministério só é aprendido na prática. Deus, porém, na Bíblia, fornece informações sobre o ministério, possibilitando uma investigação sistemática que oriente uma prática ministerial consistente com os propósitos divinos. 2. 2. 2. 2. A Teologia Pastoral e o Ministério da PalavraA Teologia Pastoral e o Ministério da PalavraA Teologia Pastoral e o Ministério da PalavraA Teologia Pastoral e o Ministério da Palavra A.A.A.A. A Teologia Pastoral envolve uma visão compreensiva e abrangente das implicações do ministério da palavra. A distinção entre a tarefa da pregação e os outros elementos do ministério é mais fluida do que parece, há uma estreita relação entre a teologia do cuidado pastoral e a proclamação da palavra. Como teologia prática, a Teologia Pastoral é uma teologia da palavra. 1. A teologia histórica se preocupa em coletar, através da exegese, os dados da palavra que Deus falou através dos profetas e apóstolos. A partir de então, ela verifica como tais dados foram compreendidos e aplicados na vida da comunidade cristã, no decorrer dos séculos. (Thurneysen, p. 11). 2. Embora a teologia de cuidado pastoral não esteja alicerçada na Teologia Sistemática, trata-se de uma teologia da palavra.

1 Tradução e adaptação livre das Lecture Notes, Theology of Ministry Seminar, do Dr. Alan Curry, professor do RTS – Reformed Theological Seminary. Utilizada no curso de Doutorado em Ministério do CPAJ – Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, p. 8-13.

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3. Thurneysen demonstra que comunidades cristãs foram estabelecidas como resultado da verdadeira pregação da palavra e da correta administração dos sacramentos. A comunidade cristã desde os primórdios necessitou dos cuidados pastorais. 4. Não existe conflito necessário entre cuidado pastoral individual e ministério público. Thurneysen argumenta que o pastoreio amoroso não substitui a pregação e os sacramentos, pelo contrário, tais práticas se fortalecem mutuamente. Calvino, por exemplo, considerava a visitação nos lares, realizada pelo pastor e presbíteros como uma extensão da pregação. O pastoreio estende a pregação na forma de conversa e ministração individual. (Thurneysen, p. 16). 5. Thurneysen argumenta que o pastoreio foi proeminente durante o movimento pietista. Os pregadores se responsabilizavam não apenas para falar publicamente mas também individualmente a cada membro da congregação. 6. Thurneysen acredita que, de acordo com Calvino e Lutero, o estabelecimento de cada igreja exige a pregação da palavra, a administração dos sacramentos e o cuidado pastoral no ensino individual das Escrituras. É nesse contexto que ocorre a prática da disciplina eclesial2. A disciplina é necessária para a ordem da igreja, como aplicação atual da palavra e dos sacramentos. Para Calvino, a participação na comunidade implica na abertura para a admoestação pessoal como forma de mortificação do pecado e crescimento na nova vida. (Thurneysen, p. 37). 7. Calvino compreendia a pregação do evangelho como a alma da igreja e a prática da disciplina como os ligamentos que conectam e unificam o corpo de Cristo. 8. O cuidado pastoral ocorre no âmbito na igreja. Ele procede e ao mesmo tempo segue a palavra. Pressupõe ou objetiva a membresia no corpo de Cristo. Envolve o ofício da proclamação e outros deveres. O portador do ofício pastoral é um integrante do corpo de Cristo, alguém consciente de que não merece exercer tal função, mas que é apoiado pela congregação, que voluntariamente o acredita e recebe. (Thurneysen, p.53). 9. Thurneysen afirma que um dos elementos necessários para o verdadeiro ministério é a compreensão correta acerca da natureza humana. O homem deve ser considerado como criado segundo a imagem de Deus, o que o distingue do restante da criação e o confirma como objeto especial do cuidado divino. Por outro lado, o homem é pecador. Thurneysen argumenta que o pastoreio é literalmente um agente de santificação do homem, resgatado do reino do pecado e da morte e levado ao reino da graça de Jesus Cristo. 10. Thurneysen argumenta que o cuidado pastoral envolve um tipo diferenciado de conversação que potencializa o trabalho do Espírito — uma conversação diferente do diálogo comum e também da pregação, baseada na autoridade da palavra. 11. Thurneysen considera importante atentar para o modo de implementar o pastoreio. Inicia-se com uma relação de confiança e abertura de mente. Não há como pastorear uma pessoa da igreja sem disposição para ouvir e aplicar a palavra de Deus. Thurneysen utiliza o exemplo de Natã confrontando Davi (2Sm 12), a fim de

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argumentar que em algumas ocasiões a conversação pastoral exigirá avaliação e julgamento. 12. Um exemplo de conversação pastoral agradável é a mesa de refeições de Lutero. Outros bons exemplos encontram-se na literatura de sabedoria, notadamente no livro de Provérbios, que revela uma compreensão aguçada da situação das pessoas, ao mesmo tempo em que oferece conselhos baseados nas Escrituras. 13. O cuidado pastoral sempre envolve riscos. O membro da igreja pode rejeitar a conversação ou o pastor. Outro risco é o da demonstração de incredulidade — o membro da igreja demonstra que não crê na necessidade de iluminação da palavra para orientar a conversação. Ouvir é muito importante, tanto ao paroquiano quanto à palavra de Deus. O cuidado pastoral eficiente exige que sejam ouvidos ambos e que seja construída uma ponte entre as Escrituras e o aconselhando. 14. Thurneysen argumenta que o objetivo de toda conversação pastoral é o perdão dos pecados. Exatamente por isso um dos elementos do pastoreio é o encorajamento para que as pessoas confessem seus pecados. A confissão é facilitada pelo pregador, como dádiva divina prometida na palavra de Deus. O pastoreio individual, porém, guia o cristão para o centro da Bíblia, que é Jesus Cristo. 3. 3. 3. 3. O Centro do Ministério PastoralO Centro do Ministério PastoralO Centro do Ministério PastoralO Centro do Ministério Pastoral é a Vida em Cristo é a Vida em Cristo é a Vida em Cristo é a Vida em Cristo A. A vida em Cristo ocupa o lugar central em todas as ocupações do trabalho pastoral. 1. Oden argumenta que é necessário enxergar os diferentes papéis daqueles que se ocupam com o pastoreio e os outros membros da igreja. 2. A noção da vocação para um ofício especial é crucial para a compreensão de como ajudar as pessoas a viverem focalizadas em Cristo. 3. O pastor pode orientar-se pelas idéias que outras pessoas possuem sobre a Escritura, teologia ou tradição. Ele ainda pode tornar-se um conselheiro profissional — alguém que aconselha em busca de remuneração. O oferecimento de serviços remunerados é completamente incompatível com o ministério. B. A vida do ministro é centrada em Cristo, orientada unicamente para o encaminhamento de todas as pessoas da igreja para a vivência de existências cristocêntricas. O pastor é responsável por direcionar os irmãos para a vida centrada em Cristo. 4. 4. 4. 4. O Método da Teologia PastoralO Método da Teologia PastoralO Método da Teologia PastoralO Método da Teologia Pastoral A. A Teologia Pastoral utiliza a teologia bíblica, a tradição, a experiência e o bom senso (a razão iluminada pelas Escrituras). B. A Teologia Pastoral busca a melhor compreensão exegética, analisa as formulações tradicionais da teologia, compreendendo que o Espírito Santo tem dirigido a igreja através dos séculos. Ela reflete sobre os contextos e os desenvolvimentos históricos e relaciona os dados obtidos com as formulações pertinentes das ciências sociais. C. A

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Teologia Pastoral busca compreender, julgar e aplicar com equilíbrio aquilo que foi crido e aceito sempre, por toda a igreja fiel às Escrituras. D. Os que desejam desenvolver uma Teologia Pastoral devem atentar para o aspecto funcional do ministério. A igreja é de Deus Pai, comprada com o sangue de Cristo e governada pelo Espírito Santo, que guia através da palavra. Deus ordenou que este organismo seja conduzido e abençoado pelo ministério pastoral.

II. II. II. II. MOTIVAÇÕES PERIGOSASMOTIVAÇÕES PERIGOSASMOTIVAÇÕES PERIGOSASMOTIVAÇÕES PERIGOSAS PARA O MINISTÉRIO PARA O MINISTÉRIO PARA O MINISTÉRIO PARA O MINISTÉRIO

Uma breve Reflexão sobre alguns motivos errados para o MinistérioUma breve Reflexão sobre alguns motivos errados para o MinistérioUma breve Reflexão sobre alguns motivos errados para o MinistérioUma breve Reflexão sobre alguns motivos errados para o Ministério2222

Falar de vocação não é uma tarefa fácil. Como explicar os vislumbres de certezas espirituais ? Pode a vocação de Deus ser descrita ? Talvez devesse deixar tal desafio para os mais experientes nas lidas pastorais; não obstante, quero pisar neste terreno mui solenemente. Nestes 16 anos de ministério tenho visto alguns pastores perderem o rumo original e ministérios infrutíferos com igrejas fracas e em declínio. Entendo que grande culpa dos problemas destas igrejas deve-se a nós mesmos, seus pastores. Notem as palavras de Eugene Peterson:

Os pastores estão abandonando seus postos, desviando-se para a direita e para a esquerda, com freqüência alarmante. Isto não quer dizer que estejam deixando a igreja e sendo contratados por alguma empresa. As congregações ainda pagam seus salários, o nome deles ainda consta no boletim dominical e continuam a subir não púlpito domingo após domingo. O que estão abandonando é o posto, o chamado. Prostituíram após outros deuses.Aquilo que fazem e alegam ser ministério pastoral não tem a menor relação com as atitudes dos pastores que fizeram a história nos últimos vinte séculos

Uma reflexão dura, mas realista. Alguns pastores estão abandonando seus postos. Após ler estas considerações de Peterson, fiz a seguinte pergunta: O que tem levado nossos jovens ao ministério ? Minha pergunta levanta a questão sobre as reais motivações de nossos vocacionados para o Ministério Pastoral. Talvez nem todos têm consciência de que errar na vocação trás conseqüências desagradáveis para si mesmos e também para suas futuras igrejas. Embora uma vaga vocação para o ministério possa levar ao pastorado, não sustentará o pastor através das ásperas realidades da vida na igreja. É preciso avaliar as verdadeiras motivações, antes de ingressar nos seminários.

Por motivação queremos dizer os motivos internos que levam uma pessoa à ação. Todos nós tomamos decisões na vida motivados por algo ou alguma coisa em dado momento de nossa existência e considerando as diversas situações da vida. Falando da motivação que leva um jovem a decidir pelo ministério, entendemos

2 Este texto foi originalmente publicado na Revista Proposta da UPH,

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que todo genuíno vocacionado deve ter como ambição ser um instrumento de Deus . Sua única motivação para ser pastor é seu desejo ardente de realizar a obra de Deus e para a glória de Deus. Contudo, é possível que nem sempre esta seja a mola propulsora de um ou outro aspirante ao pastorado. A título de alertar-nos para este perigo, alisto cinco possíveis motivações erradas e egocêntricas que podem levar alguém ao Ministério:

1) Adquirir estabilidade financeira:Adquirir estabilidade financeira:Adquirir estabilidade financeira:Adquirir estabilidade financeira: Os motivos da nossa sociedade

seculare são controlados pelo cifrão. Vivemos uma época de recessão e de desemprego. São só na cidade de São Paulo, quase 2 milhões de desempregados. O tempo médio hoje para alguém que perde o emprego é de 1 ano até conseguir outro. É com temor e tremor que arrisco raciocinar desta maneira, mas temo que alguns jovens em nossas Igrejas, passe a compreender o ministério como uma profissão e um meio de ganhar a vida. Penso que todo candidato ao ministério deveria responder a esta pergunta: O motivo que tenho para desejar ser pastor é porque serei pago para isto?

Quanto a isto, Spurgeon escreveu: “Se um homem perceber, depois do mais severo exame de si mesmo, qualquer outro motivo que a glória de Deus e o bem das almas em sua busca do pastorado, melhor que se afaste dele de uma vez, pois o Senhor aborrece a entrada de compradores e vendedores em seu templo”

2) Status social:Status social:Status social:Status social: Não é de hoje que a sede de posição cega as pessoas

. O “ser pastor”, mesmo que em nossos dias não é lá muito bem visto, até mesmo pelos escândalos envolvendo alguns líderes cristãos, os títulos de Reverendo e Pastor transmitem uma certa dose de autoridade que dignifica o ser humano, e lhe confere status social. Não obstante, liderar não é fácil. Às vezes pregar pode ser uma tortura. Pastorear ovelhas relutantes é uma atividade esmagadora. Ser uma figura pública sob os olhares de todos e viver sob constantes cobranças, mesmo que estas não sejam verbais, sacodem o nosso coração. Nós pastores inevitavelmente armazenamos um certo nível de frustração em nosso trabalho. Ficamos frustrados com os conflitos da igreja, com a futilidade de nossos planos e com o fracasso do nosso povo. O status social não pode sustentar o nosso ministério e fazer com que vivamos nossa vocação de modo responsável.

Em I Tm 3:1, Paulo escreve: “se alguém deseja o pastorado, excelente obra almeja” O termo “deseja”na língua grega é epithumeo, que tem o significado de “colocar o coração, ambicionar, desejar”. Precisa ser observado que o objeto do desejo é a obra, o serviço, e não a posição ou status. Este foi um erro cometido por Tiago e João (Mc 10:35:45). Alguém motivado por posição elevada e pelo desejo de atenção trará com certeza prejuízo a si mesmo e à Igreja de Cristo.

3) Necessidade de firmarNecessidade de firmarNecessidade de firmarNecessidade de firmar----se como pessoa:se como pessoa:se como pessoa:se como pessoa: É possível que alguém

caia na armadilha de desejar o ministério por entender que a posição e o status conquistado forçam os outros a lhe dedicarem atenção. O desejo que um ser humano tem de que os outros o respeitem é um sinal louvável de sua auto-estima. Não há nada de errado em desejar ser respeitado e admirado, mas não é a motivação correta para o ministério. É comum termos notícias de líderes que avaliam sua eficiência ministerial através de quantas pessoas da denominação o conhecem. Conheci um pastor que

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guardava todo exemplar do jornal Brasil Presbiteriano em que saía uma matéria com sua foto e que falava a seu respeito. São líderes que buscam a fama e serem aplaudidos pelos homens.

4) O Senso de obrigação:O Senso de obrigação:O Senso de obrigação:O Senso de obrigação: Há quem se torne ministro, pois depois de ter passado pela família, conselho, presbitério e ter feito o curso teológico no seminário, sente-se na obrigação de ter que ir até o fim de seu “chamado”. Sente-se culpado se não fizer aquilo que todos esperam dele. É desnecessário dizer que este líder não desenvolverá seu ministério com alegria e prazer. Um velho pregador deu um sábio conselho a um jovem quando indagado sobre sua opinião quanto a seguir o ministério: “Se você pode ser feliz fora do ministério, fique fora, mas se veio o solene chamado, não fuja” Precisamos instruir aos nossos seminaristas que mesmo que tenham feito o curso de teologia no Seminário, caso sintam que não foram chamados ao pastorado, entendam que o tempo de estudos e de preparação não será perdido. Poderão ser uma excelente ajuda às igrejas como pregadores, professores, oficiais e líderes. O peso de um sentimento de obrigação não pode levar ninguém ao pastorado. O Ministério deve ser obedecido por vocação e não por obrigação. Alguém pontuou o seguinte: “os ministros sem a convicção do chamado carecem muitas vezes de coragem e carregam uma carta de demissão no bolso do paletó. Ao menor sinal de dificuldade, vão-se embora”.

5) Falta de opções:Falta de opções:Falta de opções:Falta de opções: É possível que alguém decida ser um pastor,

pois depois de tentativas inglórias de ingressar em alguma outra faculdade, ou por não ter condições financeiras de custear um curso em uma universidade , percebeu que poderia fazer um curso de nível superior pago pelo Presbitério e ainda recebendo ajuda de custo de sua Igreja. Nossos jovens precisam ver que o candidato ao ministério, sendo seu chamado imposto por Deus, não é uma preferência entre outras alternativas, ou por falta delas. Ele é pastor não por falta de alternativas, mas porque esta é a única alternativa possível para ele, e insisto: Vocação pastoral não pode ser por falta de opções, mas porque foi imposta por Deus.

Todos nós que somos pastores sabemos como o ministério é desgastante,

e ninguém pode cumprir o difícil papel de pastor se não tiver a consciência de que foi comissionado por Deus. Na qualidade de pastores e tutores eclesiásticos, faz-se necessária nossa orientação aos aspirantes e candidatos ao Ministério de que não há como alguém sobreviver no pastorado, caso sinta que esta foi uma escolha sua e não de Deus.

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III. A RESPONSABILIDADE PASTORAL DO PRESBÍTERO A natureza do ofício do presbítero na perspectiva do apóstolo Paulo

A importância que Paulo confere ao ofício de presbítero pode ser

imediatamente constatada no fato de que em todas as igrejas, por ele fundadas e sob sua orientação, promovia a eleição destes oficiais. Lemos em Atos que, passando ele pelas cidades de Listra e Antioquia, em sua primeira viagem missionária, em cada igreja, promovia “ a eleição de presbíteros” (Atos 14:23). Escrevendo a Tito (1:5) disse: “Eu o deixei na ilha de Creta para que você pusesse em ordem o que ainda faltava fazer e para nomear em cada cidadeem cada cidadeem cada cidadeem cada cidade os presbíteros das igrejas”. Escrevendo à igreja de Éfeso, ele nos informa que ali já havia presbíteros: “Em Mileto Paulo mandou chamar os presbíteros da igreja de Éfeso para se encontrarem com ele” (Atos 20:17).

Não é de somemos importância, o valor que tinha para a igreja tal ofício.

Sendo assim, faz-se necessário olhar para o mesmo e ver seu lugar e valor para a igreja atual. A nossa discussão sobre o tema será abordado sob dois aspectos: sua natureza e sua responsabilidade.

I. I. I. I. UMA DEFINIÇÃO DE TERUMA DEFINIÇÃO DE TERUMA DEFINIÇÃO DE TERUMA DEFINIÇÃO DE TERMOSMOSMOSMOS Primeiramente, é necessário definirmos alguns três termos que são utilizados nos escritos de Paulo, para descrever o líder na igreja: Bispo, Presbítero e Pastor. 1. Episcopos1. Episcopos1. Episcopos1. Episcopos (ee vv pp ii ss kk oo pp oo jj ). Literalmente, significa “supervisor” (formado de ee vv pp ii , “por cima de”, e ss kk oo pp oo jj “olhar”, “vigiar”). Referindo-se ao líder da Igreja3, aparece 5 vezes no Novo Testamento, sendo 3 vezes nos escritos de Paulo ( cf. I Tm 3:2, Tt 1:7, Fp1:1), 1 vez em Lucas e em Pedro (Atos 20:28; I Pe 2:25 )4. Em todas estas cinco ocorrências, refere-se a natureza da tarefa daqueles anciãos (presbíteros), ou seja, a tarefa de supervisionarsupervisionarsupervisionarsupervisionar o rebanho. 2. Pastor2. Pastor2. Pastor2. Pastor (p oi m h.n): O termo aparece 18 vezes no Novo Testamento, 17 delas fazendo referência a Jesus como Pastor5. . . . É surpreendente verificar que a palavra pastor (p oi m h.n), pelo menos em sua forma substantivada, não é usada para designar um ofício na igreja. Ela sequer aparece nas Epistolas pastorais.6 Como substantivo, designando o oficio, ela aparece apenas uma única vez no Novo Testamento em Ef. 4:11 “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores (p oi m e,n a j) e

3 KOHLENBERGER III, John R. & Edward W. Godrick James A. Swanson. The Exhaustive Concordance To The Greek New Testament. Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House. 1995 4 Idem Ibidem 5 Idem Ibidem 6 Idem ibidem

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mestres (d i d a sk a,l ou j)”. Todas as outras vezes em que ela ocorre no Novo Testamento, ocorre ora fazendo referência a um “pastor” de ovelhas, ora se referindo a Jesus como pastor. (Cf. João 10 ).7 Já o verbo pp oo ii mm aa ii ,, nn ww (poimaino) que aparece 11 vezes no Novo Testamento, sempre faz referência a responsabilidade dos presbíteros que exercem seu ministério pastoralmente. 3. Presbítero3. Presbítero3. Presbítero3. Presbítero (p re sb u,t e ro j): Aparece três vezes nas epístolas pastorais ( ITm 5:17,19 e Tito 1:5,7). Transliterado do grego, πρεσβυσ significa: “velho”; te ro j,

grau comparativo, significa: “mais”. Etimologicamente, presbíteros são “os mais velhos, mais maduros”.8 Sendo assim, a palavra presbítero, tem a ver com a idade e dignidade, exatamente como vemos em Israel9. Wallace diz que “O ancião em Israel obtinha inicialmente, sem duvida, sua autoridade e seu status, bem como seu nome, da sua idade e da sua experiência”10 II. RELAÇÃO ENTRE OII. RELAÇÃO ENTRE OII. RELAÇÃO ENTRE OII. RELAÇÃO ENTRE OS TERMOS PRESBÍTEROSS TERMOS PRESBÍTEROSS TERMOS PRESBÍTEROSS TERMOS PRESBÍTEROS E BISPOS. E BISPOS. E BISPOS. E BISPOS. Tendo dado uma definição destes três termos, podemos ser levados a pensar que trata-se de pessoas diferentes, desenvolvendo três ministérios distintos. Mas à luz do pensamento de Paulo, os termos ee vv pp ii ,, ss kk oo pp oo jj e p re sb u,t e roj são empregados um pelo outro, intercambiavelmente11. Tomamos primeiramente o registro que Lucas faz em At 20:17,28 mostrando o pensamento Paulino sobre este termos.

No verso 17 Lucas descrevendo uma iniciativa de Paulo diz: “De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíterospresbíterospresbíterospresbíteros (to u.j p re sb ut e,ro uj) da igreja”. Aqui o vocábulo utilizado por Lucas é presbítero e no verso 28, ele substitui o termo presbítero por bispo - “atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito vos constituiu bisposbisposbisposbispos (evp i sko,p o uj) para pastoreardes a Igreja de Deus”. É nítida a naturalidade como o uso destes termos se alternam. Quando lemos as qualificações exigidas, para o líder ser um bom bispo, conforme Paulo descreve em I Timóteo 3, “é necessário, portanto, que o bispo...”, devemos ter em mente que o apóstolo escreve à Timóteo que está em Éfeso (cf. I Tm 1:3).

7 Idem ibidem 8 MCKIM, Donald K., Westminter Dictinary Of Theological Terms. Lousville, Kentucky: Westminster John Knox Press. 1996. p. 218 9 Os líderes da Sinagoga e na Igreja Primitiva, os quais eram consagrados no oficio, eram anciãos experientes, e por isso eram chamados de presbíteros. Assim ao se fazer uso de tal termo, a ênfase recai na dignidade e experiência da pessoa. 10 WALLACE, Ronl S. in ; Enciclopédia Hist.-Teologia da Igreja, Vol III – Editor: Water A Elwell – Ed. Vida nova 2003 p. 175 11 STOTT, John R. W. Guard The Truth - The Message of 1 timoth And Titus. Downers Grove: Illinois. Inter Varsity Press. 1996. p.90

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Em I Tm 5:17, ainda escrevendo à Igreja de Éfeso, Paulo diz que “devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem...” Note bem como Paulo ao falar da liderança da igreja de Éfeso, alterna o uso dos termos – ora presbíteros, ora bispos.

Em Tito 1:5-7 também notamos este intercâmbio que Paulo faz com os

dois termos. No verso 5 ele diz “Por esta causa, te deixei em Creta para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, como lhe prescrevi”. E no verso 7 ele abandona o termo presbítero pelo termo bispo – “Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível...” (cf. I Tm 3:1; 4:14; 5:17,19;).12

Paulo trabalha alternando os substantivos, sem que com isso, deixe

entender que esteja tratando de ofícios distintos. Em outras palavras, os dois termos descrevem a mesma pessoa dentro do mesmo cargo.13 Podemos observar também, que a lista de requisitos para o presbítero em Tito 1:5-9 é semelhante à lista que apresenta as exigências para o bispo conforme lemos em I Timóteo 3:2ss. A conclusão parece óbvia, a lista não poderia ser diferente, pois Paulo está descrevendo um mesmo ofício.

Ainda há outro texto o qual nos ajuda a comprovar que tais termos são

sinônimos para Paulo. Escrevendo aos filipenses (Fl 1:1) o apóstolo diz: “...a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bisposbisposbisposbispos e diáconos, que vivem em Filipos”(grifo nosso). Observe que Paulo usa o vocábulo bispos, mas é de nosso conhecimento, que em Filipos já havia presbíteros, pois durante sua primeira viagem missionária (cf. Atos 14:23), ele promoveu a eleição de presbíteros em cada igreja. E foi exatamente durante esta viagem que o apóstolo organizou a Igreja de Filipos (cf. At 16). Podemos inquirir da seguinte forma: Se já havia presbíteros na igreja de Filipos, por que Paulo mencionaria os bispos e diáconos, esquecendo-se dos presbíteros? É possível concluir, dizendo que, ele não se esqueceu dos presbíteros, mas sim, que bispos e presbíteros são termos que Paulo usa para descrever o mesmo ofício.14 Assim, nos parece certo que, bispo e presbítero são sinônimos para o apóstolo Paulo.

12 Outros teólogos entendem que estes dois termos são sinônimos, tais como Wayne Grudem. Teologia Sistemática (edições Vida Nova. São Paulo. 1999) 766. Gordon Fee. Comentário das Pastorais. 89. e João Calvino. As Institutas. IV. 3:8 . (O Capítulo 3 do Livro IV das Institutas trata dos doutores e ministros da igreja, sua eleição e ofício ). Confere também, Ross Graham. The Biblical Origins of the Presbytery. Ordained servant – vol. 5, no. 2 (april 1996). Disponível em : http://www.opc.org/OS/pdf/OSV5N2.pdf . Acessado em 23 de julho de 2003.

13 RIDDERBOS, Herman. A Teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2004. p.511 14 Cf. GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo, SP: ED. Vida Nova. 1999. p. 767

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III. A III. A III. A III. A PLURALIDADE DE PRESBPLURALIDADE DE PRESBPLURALIDADE DE PRESBPLURALIDADE DE PRESBÍTEROSÍTEROSÍTEROSÍTEROS Um outro aspecto a ser estudado envolvendo este ofício, e á luz dos

escritos paulinos, é se Paulo defende uma pluralidade de presbíteros ou um único presbítero governando a igreja com autoridade sobre todos os demais.

Augustus H. Strong, teólogo batista, e que não aceita a pluralidade, defende que não encontramos no Novo Testamento base ou nenhuma exigência para ela. Ele diz :

Em algumas igrejas do Novo Testamento parece ter havido uma pluralidade de presbíteros (At. 20:17; Fp 1:1; Tt 1:5); contudo, não há nenhuma evidência de que o número de presbíteros era uniforme ou que a pluralidade que frequentemente existia se devesse a qualquer outra causa que não seja o tamanho das igrejas que eles cuidavam. O exemplo do Novo Testamento, conquanto permita a multiplicação de pastores assistentes conforme a necessidade, não requer uma pluralidade de presbíteros em todos os casos; nem esta pluralidade de presbíteros, onde existe, se torna autoridade coordenada a uma igreja.15

Strong, utilizando-se das passagens de ITm 3:2, 8, 10, 12 e Tt 1:7 argumenta que, ao falar do bispo, Paulo usa o singular e ao falar dos diáconos, usa o plural16, querendo com isso, dizer que o Apóstolo ensina um governo congregacional, com um único presbítero ou bispo governando sobre um conjunto, um grupo de presbíteros. Este argumento de Strong não se sustenta diante de uma exegese do texto paulino. Primeiramente, precisamos considerar o contexto gramatical. A maneira como o apóstolo faz uso do singular era mais do que natural, em razão de ter dito no v.1 “Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” ( ITm 3:1), ou “alguém que seja irrepreensível . . .” (Tt 1:6 ). Além disso, não podemos ignorar o fato de que o artigo definido no grego pode ser entendido como uso genérico;17 ou seja, Paulo está descrevendo qualificações gerais que se aplicam a qualquer exemplo; em outras palavras, o uso do artigo definido aqui é representativo.18

15 Strong Augustus Hopkins Teologia Sistemática. São Paulo, SP Ed. Hagnos 2003 p.676 ( Outros teólogos também concordam com Strong. Podemos citar Millard J. Erickson. Segundo ele, no NT cada igreja adotava um modelo diferente e mais adequado para sua situação, ou seja, havia uma variedade de modelos de governo. Cf. Christian Theology. Grand Rapids, Michigan. Baker Book House. 1991. p.1084. 16 Op Cit., p. 676 17 O uso genérico pode ser também visto em 2:11,12, quando fala da “mulher” 18 Cf. Gruden, op cit., p.780

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Ao comentar I Timóteo 3:2, Gordon D. Fee faz a seguinte observação sobre este uso do singular por Paulo:

O fato de que t o.n evp i,sko p o n (“o bispo”) está no singular aqui, tem levado alguns a argumentar que este ofício representa o monoepiscopado (uma única pessoa como pastor) ao passo que o plural d ia ko,n o uj (“diáconos”) serve sob as ordens dele (como a maioria das igrejas protestantes contemporâneas). Contudo, o singular aqui é quase certamente genérico, como “a mulher”, em 2:11,12. A pista segura para esta opinião, além do plural em 5:17, é Tito 1:5 e 7, onde o plural “presbíteros”aparece no v.5 e, depois, passa para o singular genérico nos vv. 6 e 7. Além do mais, o “se alguém”no v.1, que levou o verbo ao singular neste versículo, é sentença condicional, ou generalizadora, não limitadora. Ela aparece em 1 Timóteo 5:8 e 6:3, e em ambos os casos – esp. 6:3 – refere-se a um grupo de mais de uma pessoa.19

Uma segunda objeção que precisamos fazer à interpretação de Strong é

que, em Éfeso, bem como em Creta, havia uma pluralidade de Presbíteros. Em At. 20:17 lemos:“De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros (t o u.j

p re sb ute,ro uj) da Igreja” e em Tito 1:5, Paulo diz: “Por esta causa, te deixei em Creta, para quem pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros (p re sb ut e ,ro uj) conforme te prescrevi”. Notamos que o substantivos estão no plural e não no singular, indicando com isto, uma pluralidade de presbíteros.

Ainda podemos observar que Strong erra em não considerar que na

própria carta a Timóteo (ITm 5:17), o apostolo diz: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíterosos presbíterosos presbíterosos presbíteros (p re sb u,t e roi) que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”

O pensamento de Strong é também insustentável à luz de At 14:23 - “E

promovendo-lhes em cada igreja, a eleição de presbíteros...”. Como já dissemos, Paulo nos informa que durante a sua primeira viagem missionária, ele já promovera a escolha de presbíteros. O texto é enfático,“promovendo-lhes, em cada igreja a eleição de presbíterosde presbíterosde presbíterosde presbíteros”.

Diante destas considerações, somos convencidos, de que a pluralidade e não o episcopado monárquico,é o ensino das Escrituras.20 A referência às qualidades exigidas para um “bispo”, por exemplo, em I Tm 3 não oferece apoio algum para a teoria de um episcopado monárquico com um único bispo supervisionando todos os demais que detinham seus ofícios. O contexto torna

19 FEE, Gordon D. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – 1& 2 Timóteo, Tito. São Paulo, SP: Ed. Vida. 1994. p. 95 20 Diferentemente de outras opiniões20, que defendem que o termo Bispo diz respeito a um líder que governava um grupo de presbíteros, entendemos que, ao escrever a Timóteo, Paulo se utiliza do termo “ee vv pp ii ,, ss kk oo pp oo jj” não pensando em alguém portador de um ofício que iria presidir sobre grupos de presbíteros, mas sim, em um supervisor. Em hipótese alguma temos nas Escrituras uma instrução para um governo episcopal.

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provável que havia vários “ee vv pp ii ,, ss kk oo pp oo jj ” numa só igreja, assim como também havia certo número de diáconos.

IV. A responsabilidade dos PIV. A responsabilidade dos PIV. A responsabilidade dos PIV. A responsabilidade dos Pastoresastoresastoresastores....

Paulo não fala de maneira explícita e organizada, talvez como gostaríamos, sobre a responsabilidade ou deveres do Presbítero. A razão, talvez, esteja no fato de que possuindo o caráter irrepreensível, conforme descrito em I Tm 3:2, não precisaríamos de uma lista de deveres, por que já saberíamos o que deveria ser feito. Não obstante, podemos em linhas gerais, e à luz dos escritos de Paulo, propor algumas declarações sobre os deveres dos presbíteros. Antes de qualquer outra coisa, é preciso dizer que a função dos presbíteros é liderar, dirigir a Igreja de Deus. A função destes bispos era a de oferecer liderança e assim cuidar para que as coisas pudessem transcorrer bem dentro da igreja. Verifiquemos agora como estes presbíteros ou bispos devem liderar esta igreja.

Em Atos 20:28, Lucas registra a orientação que Paulo dá aos presbíteros sobre a maneira em que eles devem exercer esta liderança.: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos (e vp i sko ,p o uj), para pastoreardespastoreardespastoreardespastoreardes (p o i m ai,n e i n) a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”

Paulo diz que é dever do presbítero pastorear a igreja de Deus. Podemos ver que esta é também a ênfase de Pedro. Em sua primeira carta (cf. I Pe 5:1,2) ao falar da responsabilidade do presbítero de pastorear o rebanho de Deus, Pedro usa o verbo ppooiimmaaii,,nnww, pastorear\

Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar. Apascentai (p oim a,n a te ) o rebanho (p oi,m nion) de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto – I Pe 5:1,2

No início deste artigo, ao definirmos o termo pastor (p o i m h .n), dissemos

que o mesmo, pelo menos como substantivo, não aparece no Novo Testamento designando um ofício eclesiástico. Como tal, ou seja, como ofício, ele aparece apenas em Ef. 4:11: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores (p o i m e,n a j)e mestres”. Todas as outras ocorrências no Novo Testamento, sempre aparecem, ou fazendo referência a um “pastor” de ovelhas, ou se referindo a Jesus como nosso pastor. Como já vimos, o verbo pp oo ii mm aa ii ,, nn ww (poimaino –pastorear), faz referência a responsabilidade dos presbíteros que exercem seu ministério pastoralmente. O

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que podemos concluir deste uso gramatical dos termos é que a ênfase de Paulo ênfase de Paulo ênfase de Paulo ênfase de Paulo ao falar do pastoreio recai sobre os presbíterosao falar do pastoreio recai sobre os presbíterosao falar do pastoreio recai sobre os presbíterosao falar do pastoreio recai sobre os presbíteros....

Em outras palavras, os anciãos (presbíteros) que supervisionam (Bispos)

o rebanho de Deus são os pastores da Igreja21 Portanto, a supervisão não é de um presbítero sobre outros, mas deles sobre o rebanho.

A Segunda Confissão Helvética22, no capítulo XVIII, falando sobre os deveres do ministro da igreja declara:

São vários os deveres dos ministros, no entanto, em geral se restringem a dois, nos quais todos os outros estão incluídos: o ensino evangélico de Cristo e a legítima administração dos sacramentos. É dever dos ministros reunir a assembléia sagrada e nela expor a Palavra de Deus, e aplicar toda a doutrina à razão e ao uso da Igreja, de modo que o que for ensinado seja útil aos ouvintes e edifique os fiéis. É dever dos ministros, afirmo, ensinar os ignorantes e exortar; e estimular os indecisos ou ainda os que caminham lentamente à avançar no caminho do Senhor, consolar e confirmar os pusilânimes, e armá-los contra as multiformes tentações de Satanás; corrigir os que pecam; reconduzir ao caminho os transviados; levantar os caídos; convencer os contradizentes; expulsar do rebanho do Senhor os lobos; repreender, prudente e severamente os crimes e os criminosos; não serem coniventes nem se calarem perante o crime. Mas, além de tudo isso, é seu dever administrar os sacramentos, recomendar o uso justo deles e, pela sã doutrina, preparar todos para recebê-los; conservar também os fiéis numa santa unidade; e impedir os cismas, enfim catequizar os ignorantes, recomendar à Igreja as necessidades dos pobres, visitar, instruir e conservar no caminho da vida os enfermos e os afligidos por várias tentações. Além disso, devem cuidar das orações públicas ou das súplicas em ocasiões de necessidade, juntamente com o jejum, isto é, procurar uma santa abstinência; e cuidar o mais diligentemente possível de tudo o que diz respeito à tranqüilidade, à paz e à salvação das igrejas.

Vejamos agora de maneira mais específica, em como os presbíteros devem desempenhar este pastoreio na Igreja: 1) O Presbítero deve ser apto para ensinar a sã doutrina: 1) O Presbítero deve ser apto para ensinar a sã doutrina: 1) O Presbítero deve ser apto para ensinar a sã doutrina: 1) O Presbítero deve ser apto para ensinar a sã doutrina: Um dos problemas enfrentados por Timóteo ali em Éfeso é que os judaizantes23 estavam ensinando

21 John Sittema. Coração de Pastor – Resgatando a Responsabilidade Pastora do Presbítero – ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP 2004. p. 17

22 A Segunda Confissão Helvética, foi primariamente elaborada em latim em 1562 por Heinrich Bullinger, publicada em 1566 por Frederico III da Palatina, adotada pelas Igrejas Reformadas da Suíça, França, Escócia, Hungria, Polônia e outras.

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doutrinas falsas24, assumindo sua posição de doutores da lei e desvirtuando o evangelho – I Tm 1:4,7; 4:7. Estes falsos mestres, que surgiram dentro da própria Igreja e que provavelmente até fossem presbíteros25, estavam perturbando a sua boa ordem. A liderança estava em crise, e por isto a preocupação de Paulo era que Timóteo estabelecesse a ordem na Igreja e para tanto, dá as orientações ou diretrizes para esta boa ordem, começando pela exposição fiel da Palavra. É digno de nota que em At 20:29-30, Lucas registra que Paulo já prediz com clareza que os “lobos vorazes” que “não pouparão o rebanho” de Éfeso seriam homens de dentro da própria igreja -“dentre vós mesmos”.

Em I Tm 1:18-20, Paulo encarrega ao jovem Timóteo, a responsabilidade de instruir a Igreja quanto a certos líderes que estavam pregando estas heresias e, prejudicando a Igreja. Dentre estes líderes estavam Himeneu e Alexandre26, os quais se faziam de mestres da lei, mas sequer sabiam das coisas as quais ensinavam (1:7).

Em II Tm 1:13 lemos o conselho de Paulo a Timóteo : “mantêm o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus”. O termo grego aqui para “sãs” é ugia i n o,n t wn (hugiaino) de onde temos a palavra em português “higiene”. Daí o significado de“sadio”, em contraste com a

23 O judaizantes eram .pessoas seguidoras do judaísmo; religião dos judeus. Nos tempos desta carta escrita a Timóteo, difundiam doutrinas estranhas, pondo forte ênfase em coisas tais como genealogias e fábulas profanas, e assumindo a postura de doutores da lei ( cf. I Tm 1:4,7; 4:7 ). Criam que a matéria era má e aceitavam uma ressurreição apenas espiritual ( Cf. II Tm 2:18 ). Vale observar que os erros que as pastorais advertem é tanto presente ( I Tm 1:3-7,19; 4:7: 6:4,5,9,10,17; II Tm 2:16-18; Tito 1:10-16: 3:9 ) quanto futuro ( I Tm 4:1-3; II Tm 3:1-9). O erro refere-se á lei do V.T e sua interpretação ( I Tm 1:7, cf. 6:4,5; II Tm 4:4; Tt 1:14; 3:9).

24 Muito embora, Paulo não nos forneça informações mais específicas para nos ajudar a entender a natureza da heresia que estava sendo disseminada em Éfeso, podemos, em linhas gerais dizer que: 1) Esta heresia combinava ingredientes judaicos e gnósticos. Assumiam a postura de doutores da lei (I Tm 1:4,7; 4:7; 1:7; 6:20); 2) A doutrina deles era ascética pois proibia o casamento e ensinava a abstinência de certos tipos de alimentos (I Tm 4:3; 5:23). Criam que a matéria era má e aceitavam uma ressurreição apenas espiritual ( Cf. II Tm 2:18 ). 3) Os falsos mestres se preocupavam com assuntos insignificantes. Difundiam doutrinas estranhas, pondo forte ênfase em coisas tais como genealogias e fábulas profanas ( I Tm 1:4), 4) Os falsos mestres estavam também infiltrando nos lares e muitas mulheres estavam se tornando vítimas deles ( ( I Tm 5:12,15, cf. 2 Tm 3:6,7).

25 Gordon Fee, em seu comentário das pastorais, apresenta-nos algumas pistas que sustentam a hipótese de que os falsos mestres eram presbíteros na igreja: 1) Os falsos mestres evidentemente ensinavam ( 1:3,7;6:3 ) e sabemos que o ensino era função dos presbíteros ( 3:2; 5:17 ); 2) Uma parte significativa da epístola destina-se a dar o caráter e as qualificações dos líderes da Igreja ( 3:1-13; 5:17-25 ) . ( Cf. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – 1 & 2 Iimóteo, Tito. P. 19 ) 26 Himeneu e Alexandre. O nome do primeiro deriva-se de Hímen, o deus do matrimônio. Alexandre significa “defensor dos homens”.

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g a ,ggra i na27 (gangraina) que aparece em 2 Tm 2:17 traduzida para o português

por câncer28. Aqui, Paulo tem em mente o erro devastador dos falsos mestres, onde a “linguagem deles corrói como um câncer”, como uma gangrena29. William Hendriksen, comentando 2 Tm 2:17, fala do prejuízo provocado pelos falsos mestres:

O câncer não somente devora os tecidos sadios, mas também agrava a condição do paciente. De forma semelhante, a heresia que recebe publicidade, quando se lhe empresta demasiada atenção, se desenvolverá tanto em extensão quanto em intensidade. Ao afetar de forma adversa uma proporção crescente da membresia, tentará destruir o organismo da igreja30

Sabendo da erosão que as heresias podem causar na vida da igreja, e da disposição natural dos homens em resistirem à sã doutrina (cf. 2 Tm 4:1-4), e por serem inclinados á rebeldia e à apostasia, Paulo diz que é responsabilidade dos presbíteros guardar o bom depósito, ou seja, as Escrituras31: “Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo” 2 Tm 1:13,14

Quando Paulo diz que Timóteo, ou ao presbítero, para manter o padrão das sãs palavras, tal orientação era para que estivesse conservando aquilo que aprendera dele. Guardar o Evangelho significa fazer frente a todas as tentativas hostis que insurgem contra ele. A Igreja, através do trabalho dos presbíteros e com o auxílio do Espírito Santo, tem o privilégio e uma grande responsabilidade de ser a guardiã da Palavra de Deus contra todas as forças da incredulidade e do engano (cf. I Tm 1:3,4; Tito 1:9-1132

E é a Palavra de Deus (a sã doutrina) que deve ocupar o lugar de destaque na pregação e ensino dos presbíteros. É preciso “manter o padrão das sãs palavras” (2 Tm 1:13). Caso eles viessem a ensinar baseados em suas opiniões pessoais, estariam incorrendo no mesmo erro dos falsos mestres de Éfeso (I Tm1:4). É preciso ter sempre em mente que o poder está na verdade da Palavra de Deus33, numa verdade que lhe é própria; e não na criatividade daquele que a expõe.

27 Este termo grego dá origem a nossa palavra gangrene e que tem a seguinte definição: “necrose de tecidos causada por perda de supriment de sangue, seguida de decomposição e apodrecimento, resultante de uma inflamação violenta” ( Cf. Michaelis, Melhoramentos. 1998. São Paulo, SP) 28 Cf. ROBERTSON, Op Cit., p. 620 29 A gangrena é um termo médico para a necrose (morte) de tecidos causada por perda de suprimento de sangue, seguida de decomposição e apodrecimento. 30 HENDRIKSEN, Op Cit., p. 325 31 “Desde que depósito é descrito como bom, é certo que se refere às sãs palavras do evangelho”, cf. Gordon Fee, Comentário de 2 Timóteo, p. 247 32 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas, SP: Luz Para o Caminho. 1990. p.600 33 ARMSTRONG, John H., Sola Scriptura ! The Protestant Position On The Bible. General Editor: Don Kistler. Morgan, PA: Soli Deo Gloria Publications. 1995. p. 97,98

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Em I Tm 4:13 há uma orientação de Paulo para que durante o período em que ele estivesse ausente, Timóteo deveria fazer a leitura pública das Escrituras. Ainda, em 5:18 desta nesta carta, fica claro o valor que ele, Paulo, dá às Escrituras. Ao relacionar uma citação do Antigo Testamento com uma palavra de Jesus em Lucas 10:7: “pois a Escritura declara”, fica evidente também quando ele reconhece a origem da Escritura do Velho Testamento ao afirmar que ela “é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, ...” ( 2 Tm 3:16, cf. Rm 15:4; I Co 9:9,10).

Por diversas vezes, Paulo se refere a algumas heresias que estavam presentes naquela igreja (cf. I Tm 1:7, cf. 6:4,5; II Tm 4:4; Tt 1:14; 3:9 ). E o remédio para estes erros teológicos deveria ser a pregação fiel do Evangelho.Vale observar que os erros que Paulo condena nas pastorais e nos advertem é tanto presente (I Tm 1:3-7,19; 4:7: 6:4,5,9,10,17; II Tm 2:16-18; Tito 1:10-16: 3:9) quanto futuro ( I Tm 4:1-3; II Tm 3:1-9).

Não resta dúvida de que vivemos numa época em que surge a cada dia, as teologias superficiais e sem qualquer fundamentação bíblica. Á priori, cabe ao presbítero, e de maneira mais insistente, ao presbítero docente, resgatar o ensino bíblico nas igrejas; manter o padrão das sãs palavras do genuíno evangelho e pregar a palavra num tempo em que muitos já não suportam a sã doutrina e se recusam a dar ouvidos à verdade ( II Tm 4:1-5 ). Mas Paulo, não obstante dizer que há aqueles presbíteros que se especializam na Palavra e no ensino, não deixa de ressaltar que o presbítero precisa ser apto34 para ensinar.

Com esta preocupação em conservar a são doutrina, ou seja, a preocupação em guardar o evangelho; repetidas vezes nas pastorais (I Tm 3:2, 4:11; 6:2; 5:17; II Tm 2:24; Tt 1:9), Paulo usa a expressão “se“se“se“ser apto para r apto para r apto para r apto para ensinarensinarensinarensinar” (d i da ska l i,a|), justamente para chamar a nossa atenção para esta responsabilidade dos presbíteros. Com isto, o apóstolo estabelece que todo presbítero deve ser capaz de ensinar e fazer uma apologia das principais doutrinas da fé bíblica, conforme revelada nas Escrituras35; e deve ser hábil em defender a sua fé diante das controvérsias, repudiando o erro e ensinando a verdade àqueles que estão na dúvida: “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruirapto para instruirapto para instruirapto para instruir, paciente” (II Tm 2:24).

E esta responsabilidade de “ensinar” é exclusivo dos oficiais presbíteros. Podemos ter esta compreensão em razão da proibição feita por Paulo de que, ás mulheres, não era permitido ensinar na igreja. Isto porque, o apóstolo via o ensinar como uma instrução doutrinária autoritativa36 e a mulher não poderia

34 Por “apto” entende-se alguém instruído, capaz tanto para ensinar, quanto para refutar os erros. 35 Ver : Samuel Miller; Op Cit., pp. 42-43 36 LOPES, Augustus Nicodemus. Ordenação feminina. Revista Fides Reformata. Vl II Número 1 (Janeiro-Junho 1997) p.78

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exercer este ministério, pois assim estaria indo contra os princípios de submissão e autoridade (Cf. I Tm 2:11-15).

O presbítero “deve ser capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela”.37 Em um outro sentido também podemos entender o que Paulo queria dizer com “ser apto para ensinar” – significa dizer que o presbítero deve “sair da sala do conselho”38 e caminhando por entre o rebanho, estar atento às suas necessidades, consolando os aflitos, encorajando os desanimados, aconselhando em suas dúvidas, exortando quando estiverem no erro, etc...39 2) O Presbítero deve ser um conselheiro: 2) O Presbítero deve ser um conselheiro: 2) O Presbítero deve ser um conselheiro: 2) O Presbítero deve ser um conselheiro: O termo grego que aparece em I Tm 5:1; II Tm 4:2, e em Tt 1:9 traduzido por “exortar” é p a ra k al e,w (parakaleo), que pode ser traduzido também por encorajar. O presbítero deve ser alguém apegado à Palavra de modo que tenha poder para exortar, encorajar, aconselhar.

Calvino entendia que o aconselhamento era indispensável no trabalho do presbítero.40 Ele acreditava que o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por orientação pessoal e aplicado às circunstâncias específicas da vida das ovelhas. Ele atendia noivos que estavam se preparando para o casamento, pais que traziam seus problemas relacionados aos seus filhos, pessoas com dúvidas ou dificuldades doutrinárias, lutas com enfermidades, ouvia confissões de pecados, e a todos ele os recebia e levava o conforto e o encorajamento necessários41

A razão dessa visão do aconselhamento, deve-se ao ensino encontrado

nas Escrituras, de que Deus estabeleceu a igreja como seu principal instrumento para cuidar de nossas dores e sofrimentos pessoais. Portanto, na qualidade de conselheiro, o presbítero não pode deixar para a psicologia secular o cuidado de suas ovelhas, ao contrário, deve assumir esta responsabilidade e restaurar pessoas perturbadas, e orientando-as biblicamente conduzi-las à vidas plenas e produtivas para a glória de Deus.

37 WILSON, Geofrey B. As Epístolas Pastorais. São Paulo, SP: Ed. PES. 2004. p. 170 38 Este é o título do primeiro capítulo do livro de John Sittema – “Coração de Pastor” da Cultura Cristà. 39 Vemos esta exigência em ser apto para ensinar também registrada na Constituição da IPB. Ao falar da responsabilidade do presbítero regente ela diz: “Compete ao presbítero regente:1º. Levar ao conhecimento do Conselho as faltas que não puder corrigir por meio de admoestações particulares. 2º. Auxiliar o pastor no trabalho de visitas. 3º. Instruir os neófitos, consolar os aflitos e cuidar da infância e da juventude. 4º. Orar com os crentes e por eles ...” 40 WALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã. 2003. 148 41 CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. Vol. IV, 3: 6 - São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana.

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O presbítero tem que estar preparado para dar orientação espiritual ao rebanho. Atender pais que apresentam ter problemas relacionados aos seus filhos, pessoas com dúvidas ou dificuldades doutrinárias, lutas com enfermidades, ouvir confissões de pecados, e estar sempre pronto a levar conforto e o encorajamento necessários42.

Lendo 2 Tm.3:16,17 somos desafiados a crer que as Escrituras Sagradas, “reivindicam ser a única fonte confiável para a qual podemos nos voltar visando resolver nossos problemas espirituais”43 3) O Presbítero deve disciplinar3) O Presbítero deve disciplinar3) O Presbítero deve disciplinar3) O Presbítero deve disciplinar: Tito e Timóteo tinham pessoas na comunidade que estavam comprometendo a santidade da igreja. Pessoas que entre outras práticas, eram mentirosas, insubordinadas e enganadoras. Paulo então, os aconselha dizendo que era “preciso fazê-los calar” (1:11) e “repreendê-los severamente” (1:13). Isso dito de outra maneira, Paulo estava ensinando a Tito a aplicar a disciplina para manter a pureza da igreja.

Himeneu e Alexandre (I Tm 1:19-20) estavam rejeitando a boa consciência, e não estavam mantendo uma vida digna do evangelho. E, por isso, naufragaram na fé. Em 2 Tm 2;17 somos informados que Himeneu era acusado de ensinar que a ressurreição já passou e estava com isso corroendo a saúde da comunidade, desviando assim outras pessoas da fé com seu falso ensino. O caso é tão grave que Paulo os “entregou a satanás”44, expressão que lembra a mesma medida tomada no caso do incesto de I Coríntios 5:5. A expressão “entregue a satanás” (cf. I Co 5:5) não é tão clara nas Escrituras, mas provavelmente é proveniente de Jó 2:6 (“Disse o SENHOR a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida”), tendo assim sua relação com um processo de excomunhão. Todavia, esta medida tão extremada, tinha como objetivo a recuperação daquele que cometera a falta. Note as palavras de Paulo: “para serem disciplinados (paideuqw/sin) a fim de não mais blasefemarem” cf. 2 Tm 2:20,25. Uma disciplina que revela amor pelo pecador e um desejo que o mesmo seja recuperado. Confere 2 Tm 2:25: “disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”.

Desta forma, podemos observar que o objetivo de Paulo com a disciplina não é destruir a pessoa como alguns, equivocadamente, podem querem pensar quando aplicam a disciplina na igreja.

42 CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. Vol. IV, 3: 6 -São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana. 1989. 43 MACARTHUR, John F. & Wayne Mack. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. Um guia básico dos princípios e prática do aconselhamento. São Paulo, SP: Ed. Hagnos. 2004. p18 44

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No caso de Tito 1:11, embora não tenhamos como saber por esta passagem de que maneira devem ser silenciados os insubordinados, fica claro através de outros textos nas pastorais (I Tm 1:3,4; 1:20; 4:4; II Tm 2:16, 21, 23 e Tito 1:13 e 3:10) que estas pessoas precisavam ser disciplinadas.

Calvino ao comentar a passagem de Tito 1:11, nos dá uma possível resposta: “Como é possível que um presbítero consiga compelir pessoas obstinadas e empedernidas a se calarem?”45 Em seguida ele mesmo responde:

Minha resposta é que, quando são fustigadas pela espada da Palavra de Deus, e confundidas pelo poder da verdade, a Igreja pode ordenar-lhes que se calem; e, se persistirem, podem pelo menos ser excluídas da comunhão dos crentes, para que toda e qualquer oportunidade de prejudicar lhes seja bloqueada. Pela expressão, “fechar suas bocas”, Paulo simplesmente significa refutar sua fútil loquacidade, mesmo quando não parem de fazer bulha, pois uma pessoa convencida pela Palavra de Deus, por mais ruído que faça, nada tem a dizer. 46

Hendriksen também comentando estes mesmos versos e sobre a

importância da disciplina afirma:

De início os errados deveriam ser cordialmente admoestados com o intuito de ganhá-los para a verdade. Se recusarem, deveriam ser repreendidos severamente e ordenados a desistir. A pessoa que persistisse em seus caminhos maus tinha de ser coibida pela igreja e disciplinada47

Uma igreja que prima pela santidade entende que quando seus membros

estão vivendo em desobediência a Deus, precisam ser disciplinados. E um dos propósitos da disciplina é a restauração do pecador. O objetivo é que os cristãos sejam ornamentos da doutrina do Senhor (Tt 2:10) e devem portanto, fazer boas obras para que os homens vejam estas boas obras e glorifiquem a Deus ( Mt 5:16 ).

É indiscutível a necessidade da disciplina eclesiástica, mas é preciso que se

diga que este poder de aplicar a disciplina não é uma prerrogativa de um homem, ou de qualquer homem, mas dos oficiais da igreja (Tt 1:5-9). A Confissão de Fé de Westminster corrobora com este ponto quando diz:

A esses oficiais estão entregues as chaves do Reino do Céu. Em virtude disso eles têm respectivamente o poder de reter ou remitir pecados; fechar esse reino a impenitentes, tanto pela palavra como pelas censuras; abri-lo aos pecadores penitentes, pelo ministério do Evangelho e pela absolvição das censuras, quando as circunstâncias o exigirem.48

45 CALVINO, As Pastorais, p. 316 46 Idem Ibidem., p. 316 47 HENDRIKSEN, Op Cit., p. 429 48 Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXX, 3

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4) O Presbítero deve Admini4) O Presbítero deve Admini4) O Presbítero deve Admini4) O Presbítero deve Administrar. strar. strar. strar. Ao contrário, do que algumas pessoas possam imaginar, podemos estar certos de que a administração tem base bíblica.

Constatamos no livro de Atos dos Apóstolos, que os presbíteros tinham de dirigir a igreja junto com os apóstolos (cf. 15:2,4,6,22,23;16:4)49, e também era de responsabilidades deles cuidar do rebanho (cf. At 20:28; Mt 2:6; Lc 17:7; Jo 21:16; I Co 9:7; I Pe 5:2; Ap 2:27; 7;17; 12:5; 19;5). Em 1Timóteo 5.17 lemos: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem (p ro i <st hm i – proistemi) bem”. Antes, na mesma epístola, Paulo diz que o bispo (ou presbítero) “deve governar (p ro i ?st a,m e n o n () bem a sua própria casa [...] pois, como cuidará (e vp im el h,se t a i) da igreja de Deus?” (1Tm 3.4-5).

O apóstolo está dizendo que há presbíteros que devem ser considerados merecedores de honras em dobro em razão de governarem, presidirem bem e de trabalharem arduamente na palavra e no ensino. Para entender o que Paulo está querendo dizer com “honras em dobro” é só olhar o contexto. Em 5:3,4 Paulo inicialmente ordenara que as viúvas recebessem sustento material. Portanto, “duplicada honra” deve ser interpretada em comparação com as viúvas. Se as verdadeiramente viúvas são dignas de ter seu sustento da igreja, muito mais os presbíteros que governam de maneira excelente e ainda mais, aqueles que trabalham arduamente na palavra e no ensino.50

“Os presbíteros que presidem (p ro i <st hm i–proistemi) bem”. O termo grego p ro i<st hm i(proistemi) descreve a ação de trabalhar responsavelmente em uma obra, com a missão de dirigir e presidir. E e vp i me l h,se t ai (epimelesetai) traduz a tarefa de cuidar e gerenciar uma determinada situação. É usado juntamente com proistemi na passagem de I Timóteo 3:5 - “pois, se alguém não sabe governar (p ro st h/n a i) a própria casa, como cuidarácuidarácuidarácuidará (evp i m el h,se t ai) da igreja de Deus”. A liderança eficaz por parte do presbítero pressupõe que ele tenha certas habilidades administrativas. Saber onde começar, por onde se conduzir, que passos a serem tomados, qual a melhor solução para este conflito, que ações devem ser dadas para se alcançar este ou aquele objetivo, etc... Um outro termo que podemos considerar é o ivko n o m i,a n (oikonomia). É um substantivo que significa “administração de uma casa”, e aparece por exemplo em Lc 16:1-17 na Parábola do Mordomo Injusto. A significação teológica e pastoral de o i vko n o mi,a n vem quando Paulo usa a palavra em referência para a

49 “Em Atos 15 e 16:4 os apóstolos e presbíteros funcionavam claramente como suprema instância judiciária e instância doutrinal normativa para toda a igreja, e como tais tomam decisões a respeito das exigências mínimas da lei que devem ser impostas aos gentios” ( Guenter Bornkamm, Presbítero: In G. Kitell, ed. A Igreja do Novo Testamento. P 237 ) 50 Cf. Calvino, as Pastorais, p. 148

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tarefa apostólica dele: “Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros (o i vko n o ,m o i j) é que cada um deles seja encontrado fiel”. (I Cor 4:2; Tito 1:7; I Pe 4:10). A conexão para o oivko j (casa) é de importância óbvia. Os membros da igreja são a casa de Deus que ele constrói pelo trabalho desses que ele chamou à tarefa, a quem ele confia o cargo de despenseiro da casa. Eles não são chamados para olhar seus próprios negócios domésticos mas eles são os mordomos dos bens a eles confiados para dar contas de sua administração (I Co 9:17, Ef 3:9). Nestas duas passagens, a ênfase de Paulo é que o pastor ou presbítero é alguém que cuida das coisas da casa de Deus.

V. AS QUALIFICAÇÕES V. AS QUALIFICAÇÕES V. AS QUALIFICAÇÕES V. AS QUALIFICAÇÕES NECESSÁRIAS AO PASTONECESSÁRIAS AO PASTONECESSÁRIAS AO PASTONECESSÁRIAS AO PASTORRRR Por ser uma tarefa tão nobre e ao mesmo tempo com múltiplas responsabilidades, é que Paulo apresenta a Timóteo a lista de requisitos a ser preenchida por todo aquele que desejar tal ofício. Segundo afirma Calvino, havia três razões para Paulo dar a Timóteo as qualidades da liderança do presbítero:

Havendo acabado de excluir as mulheres do ofício docente, ele agora aproveita a oportunidade para falar desse ofício propriamente dito. Sua intenção é primeiramente por em evidência que tinha boas razões para excluir as mulheres do exercício de um dever que exigia tanto; e, em segundo lugar, para evitar-se a insinuação de que, excluindo somente as mulheres, todos os homens, indiscriminadamente, podiam prontamente ser admitidos; e, em terceiro lugar, porque era indispensável que Timóteo e os demais fossem advertidos a se precaverem no ato da eleição dos bispos.51

Fica claro na visão de Calvino, que o presbiterato ( e também o diaconato) não eram ofícios comuns que pudessem ser desenvolvidos por qualquer pessoa sem as devidas qualificações. É importante notar que nas duas listas ( I Tm 3 e Tt 1 ) nada é dito sobre a habilidade ou eloqüência do candidato. Nem é dito qualquer coisa sobre a sua formação acadêmica ou profissional. As qualificações listadas por Paulo focalizam o caráter do oficial aprovado como servo fiel a Deus em lugar das habilidades administrativas ou capacidades intelectivas. Ele inicia a lista de qualificações para o presbítero com uma exigência geral, seguida por áreas específicas nas quais o bispo deve ser irrepreensível. Ele começa dizendo que “É necessário portanto que o presbítero seja irrepreensíve (a vn e pi,l hm pt o n (1 Timothy 3:2)

É da opinião de alguns autores52, que o termo “irrepreensível” parece ser um título dado para servir como cabeçalho para a lista apresentada. Na língua grega, o adjetivo a vn e pi,l hm pt o n designa alguém contra quem não há acusação, implicando não em declaração

51 CALVINO, As Pastorais. Op Cit., p. 81 52 FEE, Gordon. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – 1 e 2 Timóteo, Tito. São Paulo, SP: Ed. Vida. 1988, p.89 e Hendriksen, As Pastorais. Op Cit., p. 151

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de inocência, mas em que nenhuma acusação foi feita. Irrepreensível descreve alguém que não tem nada sobre o qual um adversário pode agarrar-se para fazer uma acusação. Não se refere a alguém perfeito, vivendo uma vida impecável, pois se assim fosse, ninguém estaria apto a ser um oficial. a vn e p i,l hm p to n nos fala de alguém que vive um estilo de vida coerente com a sua declaração de fé. Descreve o presbítero (ou diácono) que vive de maneira santa e piedosa, e que nada em seu proceder depõe contra o seu caráter. Calvino explica isto da seguinte forma:

“O significado de ambos os termos consiste em que o bispo não deve ser estigmatizado por nenhuma infâmia que leve sua autoridade ao descrédito. Certamente que não se encontrará nenhum homem que seja eximido de toda e qualquer mancha; mas, uma coisa é ser culpado de faltas comuns que não ferem a reputação de um homem, visto que os homens mais excelentes participam delas; e outra, completamente distinta, é ter um nome carregado de infâmia e manchado por alguma nódoa escandalosa”53

Vejamos agora quais são, à luz de I Timóteo 3 e Tito, as qualificações que tornam o

presbítero irrepreensível.54

“Os pré-requisitos necessários para presbíteros ou episkopos, respectivamente em ITimóteo 3:1-7 e Tito 1:6ss, são de natureza geral e, em grande parte, ética, e revelam apenas de maneira oblíqua qualquer coisa do caráter do cargo em I Timóteo 3:4,5, por exemplo, onde é mencionado “governar” (. . .), “sob disciplina” (. . .) e “cuidar” (. . .) Pode-se concluir, a partir disso, portanto, que a tarefa do presbítero episkopos consiste particularmente em oferecer liderança para a Igreja e cuidar para que as coisas funcionem dentro dela, assim como em I Timóteo 5:17 são mencionados os presbíteros que “presidem bem” e em Tito 1:7 os episkopos são chamados de “despenseiros de Deus”55

1) SER ESPOSO DE UMA SÓ MULHER (m i a/j gu na i k o.j a ;n d ra).56 Que significa “esposo de uma só mulher”? Esta qualificação tem sido interpretada de diferentes maneiras. Alguns entendem que, caso um homem venha se divorciar e casar-se novamente com outra mulher, ele deve ser excluído ou não aceito para o ofício de presbítero, pois neste caso, ele seria esposo de duas mulheres. Mas não parece ser essa uma interpretação adequada do pensamento paulino nesta passagem. Um entendimento melhor destes versículos é que Paulo estava proibindo de ser presbítero alguém que fosse polígamo57 (alguém que tem mais de uma esposa ao mesmo tempo).

53 CALVINO, As Pastorais, p. 84 54 Todas estas orientações também aplicam-se aos diáconos ( cf. Tito 1:7 ) 55 Ridderbs, Herman. A Teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo, SP Ed. Cultura Cristã. 2004. p. 512 56 LUZ, Waldir Carvalho. Novo Testamento Interlinear. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã . 2003 p. 732 57 A poligamia era possível no primeiro século. Embora não fosse comum, ela era praticada, especia-mente entre os judeus. O historiador judeu Josefo diz: “Porque é nosso costume antigo ter diversas esposas ao mesmo tempo”. A legislação rabínica também regulamentava costumes de herança e outros aspectos de poligamia.

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Tal qualificação não significa que o líder precisa necessariamente ser casado, mas sim, que se for casado deve ser fiel à sua esposa – Mateus 5:27, 28. Em essência, Paulo está dizendo que o líder precisa manter sua pureza sexual.

Note a observação feita por MacArthur :

Durante este século, na maior parte do tempo, o cristianismo evangélico vem se concentrando na batalha pela pureza doutrinária e deve fazê-lo, mas estamos perdendo a batalha pela pureza moral. Temos pessoas com uma teologia certa vivendo de modo impuro58

2) TEMPERANTE: (n h f a,l i o n). Descreve alguém que não é dado a excessos e que está em pleno domínio de sua capacidade racional. Trata-se de uma pessoa equilibrada e que se auto-domina. Pedro usa a mesma palavra em sua primeira carta: “Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância”. 59 3) SÓBRIO: A palavra no grego ( sw,f ro n a) pode ter o significado de equilibrado, refere-se a alguém que freia os próprios desejos e impulsos. Descreve alguém autocontrolado, moderado, prudente e sensato. Significa dizer que o presbítero é alguém sábio e de bom senso, que usa sua capacidade de julgar de maneira prudente, moderada e com equilíbrio. 4) MODESTO: Na língua grega ( ko ,sm i o n ), este termo traduz o homem que tem um comportamento honroso e respeitável. O presbítero deve ser alguém que tem o seu caráter adornado pela vida de Cristo nele. Assim, suas atitudes refletirão sempre sabedoria, humildade, justiça, bondade, amor, compaixão, etc... 5) HOSPITALEIRO: fi l o,xe n o n60 A hospitalidade não é apenas uma responsabilidade comunitária, mas também sagrada – ( Rm 12:13; I Pe 4:9; I Tm 5:10; Hb13:2 ). No grego a palavra literalmente significa “amante dos estrangeiros”. O princípio é que devo colocar os meus recursos à disposição dos necessitados e dos desconhecidos. O líder deve ser alguém sempre disposto a ajudar o próximo. Demonstrar amor e demonstrar hospitalidade são qualidades inseparáveis.

Calvino comentando este requisito afirma:

Esta hospitalidade era praticada em referência aos estranhos, e era uma prática muito comum na Igreja Primitiva, porquanto era vexatório para as pessoas honestas, especialmente para os que eram bem conhecidos, hospedar-se em estalagens. Em nossos dias as coisas são diferentes, e no entanto, por diversas razões, tal atitude será

58 MACARTHUR, John F. Jr. .Redescobrindo o Ministério Pastoral. São Paulo, SP: Editora CPAD. 1999. p. 111 59 MUELLER, Ênio R. I Pedro – Introdução e Comentário. São Paulo, SP: Ed. Mundo Cristão. 1988 p. 98 60 SHNEIDER, Op Cit., p. 427

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sempre uma virtude muitíssimo necessária num bispo. Além disso, naquele tempo de cruel perseguição aos crentes, para muitos era inevitável ter que mudar de residência subitamente, e os lares dos bispos tinham que ser refúgio para os exilados. Nesses tempos, a necessidade compelia os membros da igreja a darem uns aos outros socorro mútuo, o que envolvia a hospitalidade61

6) APTO PARA ENSINAR. ( d i d a k t ik o,n ).62 Como já pudemos analisar, não podemos e a Bíblia também não exige que todo e qualquer presbítero tenha um profundo conhecimento da teologia. Como já foi dito, há aqueles presbíteros que a eles foi confiada a responsabilidade de trabalharem exclusivamente na Palavra e no Ensino63 ( I Tm 5:17 ). Não obstante, devemos entender que todo presbítero deve ser capaz de defender as principais doutrinas da fé reformada64; e possuir também a capacidade de ensinar o rebanho, encorajando, exortando, aconselhando, etc.65

O presbítero dever ser d i d a kt i k o,n (ITm 3:2), o que significa que o presbítero deve ser “Apto para ensinar”. Em Tito 1:9, Paulo diz que o presbítero deve ser “apegado à palavra fel que é segundo a doutrina de modo que tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como par convencer os que contradizem”. Semelhantemente, em ITm 5:17, ele fala que aqueles presbíteros que presidem bem são merecedores de dobrados honorários, com especialidade aqueles que se afadigam na palavra e no ensino. Podemos inferir desta passagem que nem todos os presbíteros estavam envolvidos com o ensino da Palavra. Paulo aqui cita a passagem de Dt 25:4 e ma declaração de Jesus registrada em Lc 10:7. O texto de Dt 25:4 “Não atarás a boca do boi quando estiver debulhando” já foi citado por Paulo em I Co 9:13-14, querendo dizer com isto que aqueles trabalhadores que se dedicam inteiramente ao ensino e à pregação da Palavra tem o direito de serem sustentados pela Igreja.66 “O homem que dedica todo seu tempo e esforço na obra do reino (o “ministro”) certamente merece “um bom salário”67

7) NÃO DADO AO VINHO: ( m h. p a,ro i n o n )68. A orientação do apóstolo é que o presbítero, o líder não seja alguém que se detém freqüente e continuamente com a bebida. Necessariamente, o bispo não tem de ser abstêmio, mas tampouco deve ser dado ao vinho. Paulo ao mesmo tempo que aconselha a Timóteo a tomar um pouco de vinho por causa de sua enfermidade (5:23 ), declara também que ao presbítero entregue ao vinho está desqualificado para o oficialato. É indiscutível, que a embriaguez trás consigo uma série de

61 CALVINO. As Pastorais. Op cit., p. 86 62 ROBERTSON, Op Cit., p. 572. 63 Cf. Hoeksema, Herman. Reformed Dogmatics. Reformed Free Publishing Association – Grand Rapid, Michigan. 1966 64 Ver : Samuel Miller; Op Cit., pp. 42-43 65 Hendriksen. Op cit., p. 157 66 Cf. GUTHRIE, Donald. The Pastoral Epistles – Na Introduction And Commentary. Grand Rapids, Michigan. Eerdmans Publishing Company. 1982 p. 105 67 Hendriksen, p. 226 68 SHNEIDER, Gerhard And Horst Balz, Ed. Exegetical Dictionary Of The New Testament – Vol. 3 . Grand Rapids, Michigam: William B. Eerdmans Publishing Company. 1993. p.42

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conseqüências danosas para qualquer pessoa, muito mais para aqueles que têm a responsabilidade de guiar o rebanho de Deus com firmeza e sensatez.

Em Lv 10:9 e Pv 31:4 e 5 notamos que aos líderes não eram permitidos se aproximarem de bebidas alcoólicas. O líder que se embriaga está trazendo escândalos para a Igreja de Deus e isto o desqualifica para o ministério. De maneira insistente, as Escrituras condenam o alcoolismo. ( cf. I Co 11:21; I Sm 25:36; Gn 9:20-27 ).

8) NÃO ARROGANTE: ( µη αυθαδης ) – Arrogante é o tipo de pessoa obstinada em sua própria opinião, teimosa e pretenciosa. Descreve uma pessoa que está sempre disposta a golpear; sempre carregada de ira e que constitui a sua própria autoridade. “não arrogante” descreve o homem que se recusa dar ouvidos a outros. Ele não abre mão de suas “verdades” e está sempre defendendo apenas os seus interesses, em detrimento dos direitos, sentimentos e necessidades dos outros. ( II Pe 2:10 )69. É o tipo de indivíduo que está sempre irritado e só sabe conversar com as pessoas adotando um temperamento explosivo. ( Pv 22:24,25 - Rm 12:17-21; Cl 3:18 ) Calvino observa que os presbíteros que atuam desta maneira, trazem prejuízos para a igreja, afastando as pessoas de si. Diz ele :

“por que o companheirismo e a amizade não podem ser cultivados quando cada um busca agradar-se a si mesmo e se recusa a ceder ou a acomodar-se aos outros. E de fato todos os µε αυταδες (obstinados) quando se lhes divisa alguma oportunidade, imediatamente se transformam em cismáticos”70

9) INIMIGO DE CONTENDAS: ( a ;m a co n). Descreve um tipo de líder que está sempre dando lugar a argumentação, discussões e brigas, são desqualificados como líder no Corpo de Cristo. O líder é alguém que deve se esforçar para preservar o vínculo da paz - Efésios 4:1-3; II Tm 2:23, 24. Deve ser inimigo de contendas.

Não resta dúvida que Paulo tinha em mente, os erros de Éfeso. Hendriksen comentando esta qualidade diz:

O requisito “não contencioso”, literalmente “avesso a briga”, é ainda mais profundo do que “não violento”. Uma pessoa pode não estar disposta a esmurrar, mas pode ser boa em disputas orais, como sem dúvida o eram os seguidores do erro de Éfeso (ver. I Tm 1:4 ), e lhe faltaria, portanto, umas das características indispensáveis ao bispo71

69 Cf. Richard C. Trench. Synonyms of the New testament, § xciii, p. 329-332 70 CALVINO, As Pastorais, p. 312 71 HENDRIKSEN. Op cit., p. 159

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10) NÃO AVARENTO: (a vf i l a,rguro n) – “não amantes da prata”72 O termo descreve o indivíduo aficionado pelo dinheiro. Robertson, afirma que este termo aparece no N.T somente aqui em Timóteo e em Hb 13:573

As Escrituras deixam claro para nós que é lícito aos líderes receberem honorários pelo seu trabalho, porém, nunca deverão trabalhar com este propósito. Em I Pe.5:2 lemos: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (grifo nosso) Chama-nos a atenção a observação de Paulo de que uma marca dos falsos líderes é que estes trabalham em busca do dinheiro (cf. ( I Tm 6:5,9,10,11 ). Calvino faz a seguinte afirmação sobre a relação do cristão e o dinheiro: “É pela atitude do Cristão em relação aos bens materiais, que se julga da sua vida espiritual. O comportamento do homem para com o dinheiro é a expressão tangível de sua verdadeira fé”74 Também as palavras de Biéler são esclarecedoras, mostrando que é possível conhecermos alguém pela maneira como ela se relaciona com os bens materiais:

O desígnio de Deus, em nutrindo o homem, não é apenas prover-lhe ás meras necessidades materiais. Visa a um fim espiritual. Através do sustento, Deus Se faz conhecer á criatura, revela-se a ela como o Criador75

É por isto que Paulo adverte a Timóteo sobre os perigos do dinheiro. Este, como um rival de Deus pela nossa afeição, pela nossa devoção, pela supremacia em nossa vida, precisa ser avaliado e subjugado. O dinheiro quer ocupar o lugar de Deus nas nossas vidas. O líder cristão tem um grande desafio: precisa aprender a subjugá-lo e colocá-lo a seu serviço e a serviço do reino de Deus, nunca permitir ser dominado por ele.

Como consagração das riquezas é o sinal infalível da fé autêntica ,é para examiná-la que Deus concede ao homem, ou lhe retira, a prosperidade. A dádiva dos bens materiais tem sempre, e em todo tempo, o valor de uma prova de Fé, qualquer que seja a abundância destes bens 76

11) GOVERNA BEM SUA PRÓPRIA CASA: (i vd i,o u o i;ko u p ro st h/n a i ). O termo grego para governar é προιστεµι que também tem os seguintes significados: "reger”, “liderar”, “presidir”, “administrar”. Paulo considera que o lar bem orientado é um bom teste de maturidade espiritual. O argumento lógico de Paulo é que se o bispo não consegue governar bem sua casa, sua própria família, não poderá governar bem a igreja, a família de Deus.

72 LUZ, Op Cit., p. 732 73 ROBERTSON, Archibald Thomas. Word Pictures In The New Testament. Grand Rapids, Michigan: Backer Book House. 1931. p. 573 74 CALVINO, João. Comentário ao Novo testamento, II Coríntios 9:13 75 BIÉLER, Andre; O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo, SP: Ed. Casa Editora Presbiteriana. 1990. p. 410 76 Ibid., p. 419

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Em seguida, o apóstolo mostra uma prova de que a família do presbítero está sendo bem governada; ou seja, seus filhos estão vivendo em submissão ( I Tm 2:11 ).

12) NÃO NEÓFITO: (m h . n e o,f ut o n).... Literalmente “não recentemente plantada”. O sentido é “recém-plantado”77. Paulo aconselha que um recém convertido, neófito (alguém que tenha recentemente se tornado um Cristão) não pode assumir o cargo de presbítero. Pois tal medida poderia trazer conseqüências desastrosas para a igreja. O presbítero precisa ser um homem amadurecido e experimentado. 13) BOM TESTEMUNHO DOS DE FORA: Paulo concluiu as orientações sobre os requisitos que devem ser preenchidos pelos presbíteros em relação aos membros da igreja. Agora ele termina a lista dizendo que o caráter irrepreensível também deve ser expresso entre aqueles que não fazem parte da igreja, ou seja, os de fora. Diz ele que o presbítero “deve desfrutar de um bom testemunho dos de fora” e note a razão que Paulo dá para esta qualificação: “a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo”. A igreja se esforça para apresentar o Evangelho de Cristo ao mundo e quer ver pessoas se rendendo ao Senhor. No entanto, se o presbítero tiver uma má reputação aos olhos do mundo, este propósito poderá ser prejudicado. Hendriksen diz que “uma pessoa que não desfrute de um testemunho favorável, e que não obstante é eleita para o ofício de bispo na igreja pode facilmente cair no descrédito”78

O apóstolo Pedro dá o seguinte conselho: “Mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” I Pe 2:12 A conclusão que se pode chegar é que qualquer homem que tenha sua reputação manchada e seu caráter reprovado por não se conduzir irrepreensivelmente, não pode ser um presbítero.

Ler o Artigo: Os oficiais e a Educação cristã Informal

77 Cf. Jó 14:9; Sl 128:13; 144:12; Is 5:7 78 Hendriksen, Op Cit., p. 163