APOSTILA DIREITO FALIMENTAR

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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA DEPARTAMENTO DE CINCIAS JURDICAS DIREITO FALIMENTAR PROF.: CARLOS RUBENS

DIREITO FALIMENTAR

I. NOES GERAIS 1. Etimologia - Falncia = provm do latim fallere, que significa faltar, falsear, enganar, ludibriar. 2. Conceito A falncia o procedimento judicial a que se submete o devedor empresrio insolvente, quer seja por iniciativa do credor ou do prprio devedor, ou mesmo pela convolao do procedimento de recuperao judicial, com o propsito de possibilitar a soluo de suas obrigaes1. 3. O que a Lei disciplina - Recuperao extrajudicial - Recuperao judicial - Falncia 4. Quem est sujeito Lei de Falncias a) O art. 1 refere-se ao empresrio individual e sociedade empresria, chamados pela Lei de devedores. b) O art. 2 estabelece quem no est sujeito Lei. - Empresa pblica e sociedade de economia mista: Estas ltimas estavam sujeitas falncia por fora da Lei 10.303/2001 revogou ao art. 242 da Lei das S.A. (Lei 6.404/76), que dispunha que as companhias de economia mista no esto sujeitas a falncia, mas os seus bens so penhorveis e executveis, e a pessoa jurdica que a controla responde, subsidiariamente, pelas obrigaes. - Instituio financeira pblica ou privada, cooperativa de crdito, consrcio, entidade de previdncia complementar, sociedade operadora de plano de assistncia sade,

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CAMPOS, Rubens Fernando de. Novo direito falimentar brasileiro. Goinia: IEPEC, 2005, p. 13.

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sociedade seguradora, sociedade de capitalizao e outras entidades legalmente equiparadas s anteriores. ATENO: Quanto a estas ltimas, o art. 197 estabelece que a Nova Lei de Falncias se aplica a tais sociedades at que seja elaborada legislao especfica sobre cada uma delas. 5. Competncia (art. 3) - competente para homologar o plano de recuperao extrajudicial, deferir a recuperao judicial ou decretar a falncia o juzo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

II. DISPOSIES COMUNS RECUPERAAO JUDICIAL E FALNCIA 1. Obrigaes no exigveis na recuperao judicial ou na falncia

a) As obrigaes a ttulo gratuito; - O dispositivo refere-se a doaes, atos de benemerncia, favores prometidos pelo devedor. b) As despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperao judicial ou na falncia, salvo as custas judiciais decorrentes de litgio com o devedor. 2. Suspenso do curso da prescrio e das aes e execues em face do devedor e do scio solidrio (art. 6). - A decretao da falncia ou deferimento da recuperao judicial provocam a suspenso: - Da prescrio. Isto quer dizer que o prazo volta a correr pelo tempo remanescente aps o trnsito em julgado da sentena de encerramento da falncia (art. 157) ou do encerramento da recuperao judicial. No se trata de interrupo da prescrio2. - Das aes contra o devedor. - Prazo de suspenso das aes na recuperao judicial: 180 dias, art. 6, 4.

C.f. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperao de empresas e falncias comentada. So Paulo: RT, 2007, p. 61.

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- Os processos que esto em fase de conhecimento no se suspendem3 (art. 6, 1 e 2). Tero prosseguimento no juzo onde correm para at a apurao do valor. - As execues de natureza fiscal no so suspensas pelo deferimento da recuperao judicial, ressalvada a concesso de parcelamento nos termos do Cdigo Tributrio Nacional e da legislao ordinria especfica (art. 6, 7). - Exceo ao plano de refinanciamento dos dbitos tributrios, os quais suspendem a exigibilidade do crdito tributrio. 3. Da Preveno - A distribuio do pedido de falncia ou de recuperao judicial previne a jurisdio para qualquer outro pedido de recuperao judicial ou de falncia, relativo ao mesmo devedor (art. 6, 8o). - Difere da regra do CPC: citao vlida para a competncia de foro (art. 219); primeiro despacho lanado nos autos para a competncia de juzo (art. 106)

III- ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA A EXISTNCIA DO ESTADO DE FALNCIA

1. CAUSAS DETERMINANTES DA FALNCIA

A falncia uma situao jurdica que decorre da insolvncia do empresrio, revelada essa ou pela impontualidade no pagamento de obrigao lquida, ou por atos inequvocos que denunciem manifesto desequilbrio econmico, patenteando situao financeira ruinosa. De acordo com o inciso I do art. 94 da Lei de Falncias: Ser decretada a falncia do devedor que: I - sem relevante razo de direito, no paga, no vencimento, obrigao lquida materializada em ttulo ou ttulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salrios mnimos na data do pedido de falncia. Mas, no a mera impontualidade apenas que caracteriza a falncia. A impontualidade pode ser considerada como a manifestao tpica, o sinal da impossibilidade de pagar e, consequntemente, do estado de falncia.

C.f. COELHO, Fbio Ulhoa. Comentrios lei de falncia e de recuperao de empresas. 4. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 39.

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Com a nova Lei de Falncias, dentro do prazo de contestao, o devedor pode pleitear sua recuperao judicial, com o objetivo de sanear estado de crise econmico-financeira da empresa. No sendo possvel a recuperao, o juiz decretar a falncia.

2. A INSOLVNCIA De acordo com o art. 748, do CPC: D-se a insolvncia toda vez que as dvidas excederem importncia dos bens do devedor. De acordo com Amador Paes de Almeida insolvncia: a condio de quem no pode saldar suas dividas. Diz-se do devedor que possui um passivo sensivelmente maior que o ativo. Por outras palavras, significa que a pessoa (fsica ou jurdica) deve em proporo maior do que pode pagar, isto , tem compromissos superiores aos seus rendimentos ou ao seu patrimnio4.

Assim, diante da impontualidade no pagamento de obrigao lquida, ou na existncia de outros atos reveladores de situao financeira ruinosa, requer-se a falncia no pressuposto de que o patrimnio do devedor insuficiente para pagar seus dbitos, caracterizando-se a insolvncia.

3. IMPONTUALIDADE

A impontualidade, pura e simples, no causa determinante da falncia, seno no haveria lugar para o depsito elisivo, que faz elidir a falncia, exatamente porque afasta a presuno de insolvncia. O depsito elide a falncia porque afasta a presuno de insolvncia. Quem salda seus dbitos no pode ser considerado insolvente.

4. PROTESTO OBRIGATRIO De acordo com o pargrafo nico do art. 23 da Lei n. 9.492, de 10 de setembro de 1997 (que disciplina o protesto de ttulos e outros documentos de dividas): Somente podero ser protestados, para fins falimentares, os ttulos ou documentos de dvida de responsabilidade de pessoas sujeitas s conseqncias da legislao fa1imentar.

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Curso de falncia e recuperao de empresas. 23. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 23.

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O art. 94, 3, da Lei Falimentar segue esta regra, ao dispor que:

Na hiptese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falncia ser instrudo com os ttulos executivos na forma do pargrafo nico do art. 9 desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da legislao especfica.

Neste caso, a impontualidade exteriorizada no pela mera cessao do pagamento, mas pelo protesto. De acordo com a Lei, o protesto imprescindvel para a caracterizao da impontualidade, tomando-se obrigatrio ou necessrio para a propositura da ao falimentar. Tambm chamado de protesto especial, por distinguir-se do protesto comum, pois, diferentemente deste, deve ser providenciado perante o cartrio da sede do devedor, foro competente para a decretao da falncia.

4.1. Protesto de ttulos de credores distintos

De acordo com o 1 do art. 94: Credores podem reunir-se em litisconsrcio a fim de perfazer o limite mnimo para o pedido de falncia com base no inciso I do caput deste artigo. O pedido de falncia com base no inciso I do art. 94 funda-se na impontualidade, exigindo-se para fundamentar o pedido de quebra um mnimo de quarenta salrios mnimos na data do pedido de falncia. Ou seja, se o crdito de determinado credor for inferior ao limite mencionado, poder este unir-se ao outro credor completando, assim, o valor mnimo de quarenta salrios mnimos, formando litisconsrcio ativo, e conjuntamente requerer a falncia do devedor comum.

5. NAO-PAGAMENTO DE OBRIGAO LQUIDA Estabelece o inciso II, do art. 94, da Lei:

Ser decretada a falncia do devedor que: executado por qualquer quantia lquida, no paga, no deposita e no nomeia penhora bens suficientes dentro do prazo legal.

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Quando se tratar de ttulo executivo judicial (art. 475-N, CPC), transitada em julgado, sendo lquida a sentena, ou aps a sua liquidao, o juiz, a requerimento do credor, intimar o devedor para pagar no prazo de 15 dias sob pena de incidncia de multa de 10 por cento (art. 475-J, CPC). No havendo pagamento, cabe ao credor indicar os bens do devedor para efeito de penhora. Aps a penhora, abre-se prazo de 15 dias para o devedor oferecer impugnao. Veja que o CPC no estabelece prazo para o devedor nomear bens penhora, mas apenas prazo para pagar, quando se tratar de execuo de ttulo executivo judicial. J em relao aos ttulos executivos extrajudiciais (art. 585, CPC), com nova sistemtica adotada pela Lei 11.382/2006 que alterou a execuo dessa modalidade de ttulos executivos, o devedor citado para pagar em 3 (trs) dias (art. 652, CPC). Caso no pague, poder ser intimado de ofcio pelo juiz, ou a requerimento do credor, para indicar bens passveis de penhora, devendo faz-lo no prazo de 5 (cinco) dias a contar da intimao (art. 652, 3 c/c art. 600, IV, CPC). A inrcia do devedor, aps a intimao configura a situao prevista no art. 94, II, da Lei 11.101/2005, ensejando fundamento para o pedido de falncia. Apesar do inciso II, do art. 94, da Lei Falimentar mencionar apenas quantia lquida, sabemos que para instruir a execuo necessrio que o ttulo executivo, judicial ou extrajudicial, deve ter liquidez, certeza e exigibilidade (art. 586, CPC)5. O ttulo possui liquidez quando determinada a importncia da prestao (quantum) (Calamandrei, apud H. Theodoro Jnior). Ocorre a certeza em torno de um crdito quando, em face do ttulo, no h controvrsia sobre sua existncia (Calamandrei, apud H. Theodoro Jnior). E a exigibilidade est presente quando o seu pagamento (do ttulo) no depende de termo ou condio, nem est sujeito a outras limitaes (Calamandrei, apud H. Theodoro Jnior). Sem tais atributos, o ttulo no possui fora executiva e, portanto, no colocar o dever em situao de mora perante o credor, por ausncia de fora coercitiva. Optando pelo pedido falncia, o credor dever requerer ao juzo da execuo certido que ateste a falta de pagamento ou a ausncia de nomeao de bens penhora no prazo legal, que instruir o pedido de falncia no juzo competente (art. 94, 4, LF).

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O legislador reformista procurou deixar claro que certeza, liquidez e exigibilidade no so atributos do ttulo executivo, mas sim da obrigao que est consubstanciada no ttulo. C.f. HERTEL, Daniel Roberto. Lineamento da reforma da execuo por quantia certa de ttulo executivo extrajudicial: comentrios s principais alteraes realizadas pelo lei n. 11.382/06. In: Revista Dialtica de Direito Processual n. 47, So Paulo: 2006, p. 23.

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6. DUPLICATA SEM ACEITE ACOMPANHADA DA NOTA DE ENTREGA DA MERCADORIA Lei n. 5.474/1968 que disciplina matria sobre as duplicatas estabelece o seguinte quanto ao aperfeioamento do ttulo efeito de liquidez, certeza e exigibilidade: Art. 15. A cobrana judicial de duplicata ou triplicata ser efetuada de conformidade com o processo ap1icve1 aos ttulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Cdigo de Processo Civil, quando se tratar: I de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou no; II de duplicata ou triplicata no aceita, contanto que, cumulativamente: a) haja sido protestada; b) esteja acompanhada de documento hbi1 comprobatrio da entrega e recebimento da mercadoria; e c) o sacado no tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condies e pelos motivos previstos nos arts. 72 e 82 desta Lei.

7. OUTROS INDCIOS DE INSOLVABILIDADE QUE ENSEJAM A FALNCIA

A Lei de Falncias, no seu art. 94, enumera tais atos e fatos que, independentemente de impontualidade, caracterizam a insolvncia do devedor ensejando pedido de falncia, quando ele: a) procede liquidao precipitada, ou lana mo de meios ruinosos ou fraudulentos para realizar pagamentos; De acordo Miranda Valverde, citado por Amador Paes de Almeida6:

Os meios ruinosos consistem, geralmente, na rea1izao de negcios arriscados ou de puro azar, no abuso de responsabilidades de mero favor, nos emprstimos a juros excessivos, na a1ienao de mquinas ou instrumentos indispensveis ao exerccio do comrcio. Os meios fraudulentos revelam-se nos artifcios ou expedientes empregados pelo devedor para conseguir dinheiro ou mercadoria, na apropriao indbita de valores confiados sua guarda.

b) realiza ou, por atos inequvocos, tenta realizar, com o fito de retardar pagamentos ou fraudar credores, negcio simulado ou alienao de parte ou da totalidade do seu ativo a terceiro, credor ou no; De conformidade com o art. 167, 12, do Cdigo Civil:6

Op. cit. p. 38.

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Haver simulao nos negcios jurdicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas s quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declarao, confisso, condio ou clusula no verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou ps-datados. Simulao da declarao enganosa da vontade, objetivando efeito diverso daquele ostensivamente indicado, com propsito predeterminado de violar direitos de terceiros ou disposio de lei. c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou no, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; O art. 1.142, Cdigo Civil, define estabelecimento: Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exerccio da empresa, por empresrio, ou por sociedade empresria. J os artigos 1.145 e 1.146, Cdigo Civil, estabelecem regras para a venda vlida do estabelecimento e questes de responsabilidade do alienante: Art. 1.145. Se ao alienante no restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficcia da alienao do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tcito, em trinta dias a partir de sua notificao. Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos dbitos anteriores transferncia, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos crditos vencidos, da publicao, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

d) simula a transferncia de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislao ou a fiscalizao para prejudicar credor;

Nem sempre o estabelecimento principal coincide com o estabelecimento onde se desenvolve a atividade principal, ou mais avantajadas, e ainda no necessariamente com aquele que declarado no contrato ou estatuto da sociedade. Nesse sentido, vejamos: Carvalho Mendona: Centraliza a sua atividade e influncia econmica; onde todas as suas operaes recebem o impulso diretor; onde, enfim, se acham reunidos normal e permanentemente todos os elementos constitutivos do seu

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crdito. E, em resumo, o lugar da sede de sua vida ativa, o lugar onde reside o governo dos negcios7. Rubens Requio: O principal estabelecimento, em resumo, no pressupe o estabelecimento mais avantajado ou onde esto localizadas as principais instalaes. Pode uma grande manufatura da empresa estar situada em uma cidade e, no entanto, o principal estabelecimento consistir num escritrio de dimenses modestas, em cidade diferente, onde esteja instalado e atue o empresrio na adrninistro dos negcios8.

O C. Civil no se preocupou em estabelecer regras para identificao do estabelecimento principal. De tal mister tem-se incumbido a jurisprudncia. A dificuldade advm do fato de que a realidade ftica muito mais dinmica do que o processo legislativo, e por isso, talvez o acerto da legislao de no engessar com regras rgidas. Por outro lado, a fluidez deixa espao para as artimanhas de advogados hbeis em protelar o andamento do feito, alegando exceo de incompetncia. e) d ou refora garantia a credor por dvida contrada anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraados suficientes para saldar seu passivo; A legislao est se referindo concesso ou reforo de garantias reais a crditos constitudos antes da decretao da falncia. Tal postura beneficia credores em detrimento dos demais.

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado com recursos suficientes para pagar os credores, abandona o estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domiclio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; Trata-se de abandono do estabelecimento, deixando-o sem administrador munido dos meios necessrios para pagar os credores. a ausncia dolosa, deliberada, e que, embora possa patentear propsito de prejudicar credores, normalmente decorre de pnico em virtude de situao financeira ruinosa. De acordo com Carvalho de Mendona: A ocultao ou ausncia devem ser propositais. Se o afastamento devido a motivos que no se prendam situao econmica do devedor, no o caso previsto na lei. A inteno de subtrair-se fraudulentamente ao ou exigncia legtima dos credores essencial para caracterizar a7 8

Apud ALMEIDA, Amador P. de. Op.cit. p. 40 Apud ALMEIDA, Amador P. de. Op.cit. p. 40

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falncia9.

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigao assumida no plano de recuperao judicial. De acordo com o art. 61, 1, c/c 73 poder haver convolao da recuperao judicial em falecia: Art. 61. Proferida a deciso prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecer em recuperao judicial at que se cumpram todas as obrigaes previstas no plano que se vencerem at 2 (dois) anos depois da concesso da recuperao judicial. 1 Durante o perodo estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigao prevista no plano acarretar a convolao da recuperao em falncia, nos termos do art. 73 desta Lei. Art. 73. O juiz decretar a falncia durante o processo de recuperao judicial: I por deliberao da assemblia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei; II pela no apresentao, pelo devedor, do plano de recuperao no prazo do art. 53 desta Lei; II quando houver sido rejeitado o plano de recuperao, nos termos do 4 do art. 56 desta Lei; V por descumprimento de qualquer obrigao assumida no plano de recuperao, na forma do 1 do art. 61 desta Lei.

Ou ento, poder ser requerida por qualquer credor, como estipula o art. 62 da Lei de Falncias:

... no caso de descumprimento de qualquer obrigao prevista no plano de recuperao judicial, qualquer credor poder requerer a execuo especfica ou a falncia com base no art. 94 desta Lei.

IV. DA LEGITIMIDADE PASSIVA NA AO FALIMENTAR

1. DEVEDOR EMPRESRIO E SOCIEDADE EMPRESRIA

1.1. Esto sujeitos falncia no novo instituto:9

Apud ALMEIDA, Amador P. de. Op.cit. p. 42

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Diz o art. 1 da Lei n. 11.101/2005: Esta Lei disciplina a recuperao judicial, a recuperao extrajudicial e a falncia do empresrio e da sociedade empresria, doravante referidos simplesmente como devedor. a) o empresrio: equivale ao comerciante individual, pessoa fsica que exerce atividade empresarial sob firma individual. b) a sociedade empresria: a empresa enquanto organizao coletiva da atividade econmica. Nos termos do art. 983 do Cdigo Civil, so sociedades empresrias aquelas reguladas nos arts. 1.039 a 1.092, ou seja: em nome coletivo, comandita simples, limitada, comandita por aes e annima.

1.2. No esto sujeitos falncia: a) Sociedades cooperativas, empresa pblica, sociedade de economia mista, bem como instituies financeiras pblicas ou privadas, cooperativas de crdito, consrcios, entidades de previdncia complementar, sociedades operadoras de plano de sade, seguradoras e capitalizao. Isto, de acordo com a Lei: Art. 2 Esta Lei no se aplica a: I empresa pblica e sociedade de economia mista; II instituio financeira pblica ou privada, cooperativa de crdito, consrcio, entidade de previdncia complementar, sociedade operadora de plano de assistncia sade, sociedade seguradora, sociedade de capitalizao e outras entidades legalmente equiparadas s anteriores.

b) Os profissionais liberais, advogados, mdicos, engenheiros, economistas, contadores, engenheiros, economistas, contadores, entre outros, no esto sujeitos falncia e, tampouco, podem valer-se da recuperao judicial, de vez que no so considerados empresrios - art. 966, pargrafo nico, do Cdigo Civil - salvo se o exerccio da profisso constituir elemento de empresa. Os profissionais liberais e a Sociedade Simples no so empresa e, por isso, no sofrem falncia. Todavia, podem sofrer EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE regulada pelo Cdigo de Processo Civil em seus arts. 748 a 786-A.

2. FALNCIA DOS SCIOS SOLIDRIOS

A nova legislao falimentar instituiu a falncia dos scios solidrios, conforme disposto no art. 81.

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A deciso que decreta a falncia da sociedade com scios ilimitadamente responsveis tambm acarreta a falncia destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurdicos produzidos em relao sociedade falida e, por isso, devero ser citados para apresentar contestao, se assim o desejarem. So solidrios os scios de responsabilidade ilimitada: todos os que integram a sociedade em nome coletivo (art. 1.039 do CC); o scio comanditado, na sociedade em comandita simples (art. 1045 do CC), o acionista-diretor, na sociedade em comandita por aes (art. 1.091 do CC). Na sociedade em conta de participao, em razo da sua prpria caracterstica, a atividade empresarial exercida unicamente pelo scio ostensivo, em seu nome e, assim, a falncia, se houver, recair exclusivamente sobre o mesmo. No se trata de responsabilidade subsidiria, em que os bens particulares dos scios s podem ser executados por dvidas da sociedade depois de executados os bens sociais (arts. 1.024 do CC e 596 do CPC). Na responsabilidade solidria no existe benefcio de ordem. Enfim, se a sociedade falir, os scios de responsabilidade ilimitada tambm faliro e, por conseguinte, tambm tero os seus bens particulares arrecadados para a massa falida.

3. FALNCIA DO SCIO RETIRANTE

Os scios solidrios retirantes ou excludos da sociedade falida, h menos de dois anos, esto sujeitos a falncia: Art. 81 (...) 1 O disposto no caput deste artigo aplica-se ao scio que tenha se retirado voluntariamente ou que tenha sido excludo da sociedade, h menos de dois anos, quanto s dvidas existentes na data do arquivamento da alterao do contrato, no caso de no terem sido solvidas at a data da decretao da falncia. A responsabilidade do scio retirante vai at o limite das dvidas existentes at a data do arquivamento da alterao contratual perante a Junta Comercial. bom lembrar que o Cdigo Civil tambm se preocupou com a responsabilidade do scio retirante: Art. 1.003 (...)

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Pargrafo nico. At dois anos depois de averbada a modificao do contrato, responde o cedente10 solidariamente com o cessionrio11, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigaes que tinha como scio.

4. A FALNCIA E O SCIO DE RESPONSABILIDADE LIMITADA

O scio de responsabilidade limitada, o administrador, o acionista controlador, em princpio, no so alcanados pela falncia da sociedade de que faam parte. Contudo eventual responsabilidade por atos ilcitos (gesto fraudulenta, negcios simulados, desvio de bem) ser apurada na ao denominada ao de responsabilizao, perante o prprio juzo da falncia.

Art. 82. A responsabilidade pessoal dos scios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, ser apurada no prprio juzo da falncia, independentemente da realizao do ativo e da prova da sua insuficincia para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinrio previsto no Cdigo de Processo Civil. 1 Prescrever em 2 (dois) anos, contados do trnsito em julgado da sentena de encerramento da falncia, a ao de responsabilizao prevista no caput deste artigo. 2 O juiz poder, de ofcio ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos rus, em quantidade compatvel com o dano provocado, at o julgamento da ao de responsabilizao.

Na hiptese de indcios veementes de dano, o juiz pode, de oficio, ou a requerimento de interessados, ordenar medida cautelar de constrio dos bens dos scios. A ao de responsabilizao prescreve em dois anos, contados do trnsito em julgado da sentena declaratria da falncia. A responsabilizao dos administradores, acionistas controladores, scios comanditrios ocorrer em caso de: a) excesso de mandato; b) pratica de atos com violao lei ou ao contrato social. Prescreve o art. 50, do Cdigo Civil: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz10 11

Aquele que cede um crdito, direitos ou obrigaes de contrato a terceiros. Aquele a quem cedido um crdito, direitos ou obrigaes de contrato.

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decidir, a requerimento da parte, ou do Ministrio Pblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relaes de obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou scios da pessoa jurdica. E ainda o art. Art. 1.016: Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funes. Responsabilidade solidria do acionista controlador12 de acordo com o art. 116 da Lei n. 6.404/76: I - ter conduzido a atividade econmica da sociedade falida no interesse prprio ou de grupo de que faa parte; II - contrariamente ao interesse da sociedade falida, ter mantido a direo unificada desta, objetivando interesses prprios ou do grupo respectivo; III - ter provocado a confuso do patrimnio particular com o da sociedade falida, tornando incindvel a reunio dos seus ativos e passivos ou da maior parte deles. Scio comanditrio, na sociedade em comandita simples: tem responsabilidade limitada ao valor da sua quota-parte (art. 1.045 do CC Direito de Empresa). Ser responsabilizado se, praticar atos de gesto. Scio participante, na sociedade em conta de participao: no tem, em princpio, nenhuma responsabilidade para com terceiros (art. 991, CC). 5. FALNCIA DO ESPLIO13

De acordo com o art. 597 do Cdigo de Processo Civil:

O esplio responde pelas dvidas do falecido; mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas na proporo da parte que na herana lhe coube.

Acionista controlador: Pessoa, fsica ou jurdica, ou grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:a) titular de direitos de scio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberaes da assemblia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia;b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos rgos da companhia. Disponvel em: < http://www.bovespa.com.br/Home/redirect.asp?end=/Home/ HomeBovespa.asp>. Acesso em: 21 ago. 2007. 13 C.f. ALMEIDA. Op Cit. p. 52: Esplio so os bens deixados pelo morto, via de regra designado pela expresso latina de cujus, abreviatura de cujus sucessione agitur, isto , de cuja sucesso se trata, servindo, portanto, para indicar o falecido.

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Na hiptese de o de cujus ter sido empresrio, verificando-se o estado de insolvncia, no s o credor pode requerer a falncia do esplio, mas tambm o cnjuge sobrevivente, os herdeiros e o inventariante. Dispe o art. 97 da Legislao Falimentar: Podem requerer a falncia do devedor: I- (...) II - o cnjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante. A falncia do esplio suspende o processo de inventrio, cumprindo ao administrador judicial realizar os atos pendentes em relao aos direitos e obrigaes da massa falida.

6. FALNCIA DO MENOR EMPRESRIO

Menores, de acordo com o art. 3 do Cdigo Civil: a) menores de 16 anos: absolutamente incapazes b) maiores de 16 e menores de 18 anos: relativamente incapazes

Emancipao, de acordo com o art. 5 do Cdigo Civil: I - pela concesso dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento pblico, independentemente de homologao judicial, ou por sentena do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16 anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exerccio de emprego pblico efetivo; IV - pela colao de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existncia de relao de emprego, desde que, em funo deles, o menor com 16 anos completos tenha economia prpria. Na hiptese de o menor emancipar-se por haver-se estabelecido com economia prpria, poder ter sua falncia declarada na ocorrncia de insolvncia.

7. FALNCIA DA SOCIEDADE IRREGULAR OU DE FATO (SOCIEDADE EM COMUM)

Surgimento da personificao, conforme o art. 45 do Cdigo Civil: Comea a existncia legal das pessoas jurdicas de direito privado com a inscrio do ato constitutivo no respectivo registro...

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Mesma regra: Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurdica com a inscrio, no registro prprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150). Sem o arquivamento do contrato social no registro competente, a sociedade no adquire personalidade jurdica - a sociedade no personificada. Nessa espcie societria, todos os scios so solidrios e ilimitadamente responsveis pelas obrigaes sociais, a teor do que dispe o art. 990 do Cdigo Civil. Portanto, aplicam-se as mesmas regras do art. 81 da Lei Falimentar. Art. 990. Todos os scios respondem solidria e ilimitadamente pelas obrigaes sociais, excludo do benefcio de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.

V. DA LEGITIMIDADE ATIVA NA AO FALIMENTAR

1. INEXISTNCIA DE FALNCIA EX OFFICIO

A declarao de falncia pelo juiz depende de provocao dos interessados. Quem pode requerer a falncia? (Art. 97, incisos, LF).

I o prprio devedor; II o cnjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; III o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; IV qualquer credor.

2. FALNCIA REQUERIDA PELO PRPRIO DEVEDOR (AUTOFALNCIA)

Ocorre quando o devedor no aguarda a ao dos seus credores, requerendo, ele mesmo, sua falncia. Para isso, basta encontrar-se em condio de insolvente, sem preencher, portanto, os requisitos para a obteno da recuperao judicial. Requisitos (art. 105, incisos, LF):

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1) demonstraes contbeis referentes aos trs ltimos exerccios sociais; 2) demonstrao contbil especialmente levantada para instruir o pedido, composta, obrigatoriamente, de: a) balano patrimonial; b) demonstrao de resultados acumulados; c) demonstrao do resultado desde o ltimo exerccio social; d) relatrio do fluxo de caixa.

3) relaes nominais dos credores, indicando endereo, importncia, natureza e classificao dos respectivos crditos; 4) relao dos bens e direitos que compem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatrios de propriedade; 5) prova da condio de empresrio, contrato social ou estatuto, se se tratar de sociedade regular ou de direito; em se tratando de sociedade comum (irregular ou de fato), os nomes dos respectivos scios, com endereo e a relao de seus bens pessoais; 6) livros obrigatrios e documentos contbeis exigidos por lei; 7) relao dos administradores, em se tratando de sociedade, nos ltimos cinco anos, com seus respectivos endereos, e participao societria. As demonstraes contbeis, por sua complexidade, devem ser ultimadas por profissional legalmente habilitado, ou seja, por um contador. Na Sociedade Annima compete privativamente assemblia-geral autorizar os administradores a confessar falncia e pedir recuperao judicial (Art. 122, IX, Lei 6.404/76). Todavia, em caso de urgncia, a confisso de falncia ou o pedido de recuperao judicial poder ser formulado pelos administradores, com a concordncia do acionista controlador, se houver, convocando-se imediatamente a assemblia-geral, para manifestar-se sobre a matria (Art. 122, p. nico Lei 6.404/76). Decretada a falncia, observar-se- o rito do procedimento falimentar.

3. FALNCIA REQUERIDA PELO CNJUGE SOBREVIVENTE, HERDEIROS E INVENTARIANTE (FALNCIA DO ESPLIO)

No se trata de falncia do morto, mas do esplio, isto , dos bens deixados pelo finado. Conforme art. 97, II, LF:

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Podem requerer a falncia do devedor: o cnjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante. Qualquer herdeiro, isoladamente, poder formular o pedido de falncia do esplio, podendo.

O prazo para requerer a falncia do esplio de um ano da morte do devedor. Art. 96 (...) 1o No ser decretada a falncia de sociedade annima aps liquidado e partilhado seu ativo nem do esplio aps 1 (um) ano da morte do devedor. (LF)

4. FALNCIA REQUERIDA PELO SCIO OU ACIONISTA

A lei prev expressamente a legitimidade dos scios para requerer a falncia da sociedade, remetendo para o estatuto ou contrato social. Nas sociedades por aes cabe assemblia geral deliberar sobre pedido de falncia. Na omisso desta, qualquer acionista pode faz-lo. Portanto, a inrcia da assemblia geral nas sociedades por aes, no impede a iniciativa individual dos scios. Nada impede que demais scios ou acionistas possam opor-se ao pedido, contestando-o em juzo. Tambm os debenturistas, atravs do agente fiducirio podem requerer a falncia da companhia emissora, no inadimplemento desta, desde que inexista garantia real (art. 68, 32, c, Lei n. 6.404/76). As debntures podem ter garantia real ou flutuante. Para as primeiras, os bens dados em garantia ficam vinculados ao cumprimento das obrigaes. J a garantia flutuante assegura privilgio geral sobre o ativo da companhia.

5. FALNCIA REQUERIDA PELO CREDOR

Para que o credor possa requerer a falncia, fundamental que: a) o devedor seja empresrio ou sociedade empresria; b) o seu crdito se revista de liquidez, certeza e exigibilidade.

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No importa a natureza do crdito, podendo ser civil, comercial, trabalhista ou fiscal14, desde que seja lquida, dando ensejo ao executiva. O crdito pode estar consubstanciado em ttulo executivo extrajudicial ou judicial (arts. 585 e 475-N do CPC). O credor pode ou no ser empresrio. Nesta ltima condio, dever demonstr-la, anexando inicial certido da Junta Comercial, nos termos do art. 97, 1, da Lei Falimentar. Se residir no exterior, dever prestar cauo s custas e ao pagamento de indenizao, na hiptese de a ao ser julgada improcedente, configurada a culpa ou dolo do requerente - art. 97, 2. Tratando-se de ttulo executivo extrajudicial, o protesto deste obrigatrio. Na hiptese de execuo de sentena, em que o devedor no paga, no deposita e no nomeia bens penhora dentro do prazo legal, imprescindvel a renncia execuo singular, devendo o interessado propor, perante o juzo competente (local do principal estabelecimento do devedor), a ao falimentar, acompanhada, necessariamente, de certido expedida pelo juzo em que se processa a execuo, de que no foi efetuado depsito e, tampouco, nomeados bens penhora.

VI. JUIZO COMPETENTE PARA DECLARAR A FALNCIA

1. COMPETNCIA EM RAZO DA MATRIA

A falncia expressamente excluda da competncia material da Justia Federal, como deixa claro o art. 109, I, da Constituio Federal: Aos juzes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal forem interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes, exceto as de falncia... No se inserindo na competncia material da Justia Federal, porque dela claramente excluda, e no podendo ser inserida na competncia das Justias Eleitoral, do Trabalho e Militar, a falncia s pode ser atribuda Justia Ordinria dos Estados, do Distrito Federal e Territrios, perante os juzes de direito.14

Na vigncia do Dec-Lei 7.661/45 a jurisprudncia se consolidou no sentido da ilegitimidade ativa da Fazenda Pblica para requerer falncia. preciso aguardar como os Tribunais iro se comportar.

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2. COMPETNCIA EM RAZO DO LUGAR

A Lei Falimentar elege o chamado domiclio do empresrio, assim considerado o lugar em que se situa a sede das atividades: competente para homologar o plano de recuperao extrajudicial, deferir a recuperao judicial ou decretar a falncia o juzo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. (art. 3). Principal estabelecimento o local de onde o devedor comanda, dirige, administra seus negcios, ou seja, a sede da administrao.

A sede estatutria nem sempre coincide com o local da administrao, prevalecendo nesta hiptese o chamado domiclio real, onde o devedor tem a sede efetiva dos seus negcios, ali realizando as operaes empresariais.

Competncia Falncia. Foro do estabelecimento principal do devedor. A competncia para o processo e julgamento do pedido de falncia do juzo onde o devedor tem o seu principal estabelecimento, e este o local onde a atividade se mantm centralizada, no sendo, de outra parte, aquele a que os estatutos conferem o ttulo principal, mas o que forma o corpo vivo, o centro vital das principais atividades do devedor (STJ, CComp 21.896- MG, Rel. Mi Slvio de Figueiredo).

3. EMPRESRIO SEDIADO NO ESTRANGEIRO

Empresrio sediado no estrangeiro, com filial no Brasil: competente para homologar o plano de recuperao extrajudicial, deferir a recuperao judicial ou decretar a falncia o juzo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil (art. 3). Neste caso, a falncia somente produzir efeitos sobre os bens situados no Brasil, no atingindo os bens situados no estrangeiro. Tratando-se de sociedade estrangeira com pluralidade de filiais, competente ser o juiz do local onde se situar a administrao delas, isso se centralizada. Na hiptese de todas gozarem de plena autonomia com relao umas s outras, aplicar-se- a regra contida no art. 75, 2, do Cdigo Civil de 2002:

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Se a administrao, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se- por domiclio da pessoa jurdica, no tocante s obrigaes contradas por cada uma das suas agncias, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

VII) DO REQUERIMENTO DA FALNCIA

1. DA PETIO INICIAL

Alm dos requisitos previstos no art. 282 do Cdigo de Processo Civil, a petio deve vir acompanhada dos documentos indispensveis propositura da ao falimentar, a saber: a) procurao para o foro em geral (art. 39 do CPC), outorgada a advogado devidamente inscrito no quadro da OAB; b) o ttulo de crdito em que se funda o pedido, seja letra de cmbio, nota promissria, duplicata, cheque etc.; c) o instrumento de protesto do ttulo mencionado, j que o protesto de ttulo, como se viu, indispensvel para a propositura da ao falimentar; d) prova de que o requerente empresrio (se o for), juntando, para isso, certido do Registro de Empresas (Junta Comercial).

2. PEDIDO DE FALNCIA COM BASE NA IMPONTUALIDADE

2.1. A falncia, com base na impontualidade, pode ser requerida:

a) pelo credor; b) pelo prprio devedor (autofalncia); c) pelo cnjuge sobrevivente, herdeiros ou inventariante (falncia do esplio). Na hiptese de a falncia ser requerida pelo credor, h que distinguir entre as diversas espcies de crditos, a saber: 2.2. credores por ttulo executivo extrajudicial e credores por ttulo executivo judicial.

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Requerida a falncia pelo credor, a petio inicial deve observar os requisitos do art. 282 do Cdigo de Processo Civil, vindo, acompanhada dos seguintes documentos: 1) procurao para o foro em geral, outorgada a advogado legalmente inscrito na OAB; 2) o ttulo de crdito que fundamenta o pedido (cambial); 3) instrumento de protesto do ttulo que fundamenta o pedido de quebra; 4) na eventualidade de o requerente (o credor) ser empresrio, documento que o positive.

2.3. Auto-falncia

Requerida pelo prprio devedor (autofalncia), alm dos requisitos do art. 282 do Cdigo de Processo Civil, a petio inicial dever estar por ele assinada, acompanhando-a os seguintes documentos (cf. art. 105, LF):

I demonstraes contbeis referentes aos 3 (trs) ltimos exerccios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observncia da legislao societria aplicvel e compostas obrigatoriamente de: a) balano patrimonial; b) demonstrao de resultados acumulados; c) demonstrao do resultado desde o ltimo exerccio social; d) relatrio do fluxo de caixa; II relao nominal dos credores, indicando endereo, importncia, natureza e classificao dos respectivos crditos; III relao dos bens e direitos que compem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatrios de propriedade; IV prova da condio de empresrio, contrato social ou estatuto em vigor ou, se no houver, a indicao de todos os scios, seus endereos e a relao de seus bens pessoais; V os livros obrigatrios e documentos contbeis que lhe forem exigidos por lei; VI relao de seus administradores nos ltimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereos, suas funes e participao societria.

No estando o pedido regularmente instrudo, o juiz determinar que seja emendado (Art. 106, LF).

2.4. Falncia do Esplio

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Na falncia do esplio, os requerentes (cnjuge sobrevivente, herdeiros ou inventariante) devero juntar, alm dos documentos que positivem o estado de falncia (ttulo de crdito vencido e no pago, ou balano que ateste a insolvncia), certido que demonstre legitimidade ativa, a saber: certido de casamento para o cnjuge sobrevivente, certido de nascimento para os herdeiros, certido do Juzo da Famlia e Sucesses, patenteando a condio de inventariante, alm, obviamente, da certido de bito do empresrio.

3. DO PEDIDO DE FALNCIA COM BASE NOS MOTIVOS DISCRIMINADOS NO ART. 94, II e III, DA LEI FALIMENTAR

Alm da impontualidade, a insolvncia se manifesta tambm pelas formas enumeradas no art. 94, II e III, da Lei de Falncias. Para a sua comprovao o nus da prova incide sobre o requerente. Hipteses previstas no art. 94 da LF: II executado por qualquer quantia lquida, no paga, no deposita e no nomeia penhora bens suficientes dentro do prazo legal.

Julgada procedente uma ao, tem incio a fase executria, sendo o ru intimado para pagar em 15 dias, sob pena de multa de 10%. Cabe ao credor indicar bens penhora. No os encontrando, pode requerer ao juiz que intime o devedor para em 5 dias apresent-los. Se no o faz, estar ensejando ao credor requerer a sua falncia. Neste caso, para que a falncia seja proposta, o credor deve renunciar execuo singular, propondo em separado e, mediante distribuio regular, a ao falimentar, acompanhada de certido do juzo de execuo, atestando que o prazo para pagar ou nomear bens penhora decorreu em branco. Art. 94. (...) 4 Na hiptese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falncia ser instrudo com certido expedida pelo juzo em que se processa a execuo.

a) procede liquidao precipitada de seus ativos ou lana mo de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos.

Precipitada a liquidao ruinosa, a preos vis, abaixo dos custos, em visvel prejuzo para os credores.

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Outros meios ruinosos poderia ser a emisso de duplicatas frias, sem correspondente transao mercantil. A prova, neste caso, poder consistir em notas fiscais, nas prprias duplicatas, aliceradas, por certo, com outros elementos, como testemunhas, percias etc.

b) realiza ou, por atos inequvocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negcio simulado ou alienao de parte ou da totalidade do seu ativo a terceiro, credor ou no.

A prova de negcio simulado (transaes falsas, aparentes) no tarefa fcil, seno quando tais transaes deixam vestgios, como ocorre com as duplicatas frias, em que os prprios ttulos, acrescidos de outras provas (testemunhas, percias), patenteiam o ilcito. A alienao de parte ou da totalidade do ativo requer, para a sua comprovao, prova inequvoca da sua existncia, no se caracterizando o estado de falncia se o empresrio possui outros bens que garantam suficientemente seus credores.

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou no, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo.

Prova-se a existncia da alienao por quaisquer dos meios admitidos em juzo e os que moralmente sejam legtimos (art. 332 do CPC). Deve ser demonstrada a ausncia de consentimento expresso ou tcito dos credores, s se configurando a hiptese se o devedor no permanecer com bens suficientes para pagar seus dbitos.

d) simula a transferncia de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislao ou a fiscalizao ou para prejudicar credor.

A transferncia simulada do principal estabelecimento , normalmente, ardil para burlar credores, criando, por exemplo, obstculos a eventual pedido de quebra ou, ainda, forma de dificultar a fiscalizao tributria ou trabalhista.

e) d ou refora garantia a credor por dvida contrada anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraados suficientes para saldar seu passivo.

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Prova-se com a respectiva certido da hipoteca, penhor etc., condicionada a decretao da quebra prova inequvoca de ausncia de outros bens, livres e desembaraados, equivalentes ao passivo do devedor.

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domiclio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento.

A ausncia do empresrio, sem a designao de representante, ocultando-se de seus credores, ou a sua fuga pura e simples externam manifesta presuno de insolvncia, ensejando, a decretao da quebra. A prova, para a comprovao de tais fatos, abranger igualmente todos os meios lcitos ao alcance do credor, tais como documentos, testemunhas, inclusive a percia ou inspeo judicial ( art. 440 do CPC).

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigao assumida no plano de recuperao judicial.

O plano de recuperao judicial estabelece inmeras obrigaes ao empresrio. No cumpridas, autoriza ao juiz convolar a recuperao em falncia - a chamada falncia incidental.

VIII) RESPOSTA DO DEVEDOR (ALEGAES DA DEFESA)

1. PRAZO PARA O DEVEDOR MANIFESTAR-SE

Sendo o pedido com base na impontualidade ou com base em outros fatos e atos que denunciem a insolvncia do devedor (art. 94 da Lei Falimentar), regularmente citado, o devedor ter dez dias para manifestar-se, apresentando defesa (art. 98 da Lei de Falncias): Citado, o devedor poder apresentar contestao no prazo de dez dias.

2. HIPTESES QUE PODEM OCORRER NO PRAZO DA CONTESTAO

2.1. DEPSITO ELISIVO: DEPSITO SEM CONTESTAO

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Citado, o devedor pode, no prazo de dez dias, efetuar, em juzo, o depsito da quantia correspondente ao crdito reclamado o chamado depsito elisivo da falncia. Elisivo, do verbo elidir, significa eliminar, suprimir. Neste caso, fica afastada a possibilidade da quebra, ainda que a ao venha a ser julgada procedente:

Art. 98. Citado, o devedor poder apresentar contestao no prazo de dez dias. Pargrafo nico. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poder, no prazo da contestao, depositar o valor correspondente ao total do crdito, acrescido de correo monetria, juros e honorrios advocatcios, hiptese em que a falncia no ser decretada e, caso julgado procedente o pedido de falncia, o juiz ordenar o levantamento do valor pelo autor. O depsito retira a presuno de insolvncia, e ao ser pago o autor perde o interesse processual na decretao da falncia. A discusso desloca-se para a legitimidade do crdito15. Sem impugnao, h confisso da legitimidade do crdito reclamado. Resta ao juiz ordenar, em favor do credor, o levantamento da quantia depositada, julgando extinta a ao.

2.2. DEPSITO ELISIVO: COM CONTESTAO

Neste caso, o processo ter seguimento normal at sentena, quando o juiz decidir sobre a relao de crdito. No poder declarar a falncia.

2.3. CONTESTAO SEM DEPSITO O devedor, citado, no efetua o depsito do seu dbito, limitando-se a apresentar defesa. Trata-se de verdadeira temeridade, pois, uma vez julgada procedente a ao, a falncia h de ser, fatalmente, decretada.Apud Paes de Almeida. op cit, p. 83: Depositada a importncia, embora elidido o pedido de falncia, a discusso se desloca para a legitimidade do crdito reclamado, devendo o juiz decidir de tal legitimidade e determinar, a final, a quem cabe levantar o depsito (RT, 381/181).15

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O depsito elisivo deve abranger o principal, juros, correo monetria e honorrios advocatcios, em conformidade, com o art. 98, p. nico, LF e a Smula 29 do Superior Tribunal de Justia:

No pagamento em juzo para elidir a falncia, so devidos correo monetria, juros e honorrios de advogado.

3. DEFESA DE NATUREZA PROCESSUAL

Antes de discutir o mrito, poder argir, em preliminar, matria de contedo exclusivamente processual, previstas no art. 301 do Cdigo de Processo Civil: 1. inexistncia ou nulidade de citao; 2. incompetncia absoluta; 3. inpcia da inicial; 4. perempo; 5. litispendncia; 6. coisa julgada; 7. conexo; 8. incapacidade da parte, defeito de representao ou falta de autorizao; 9. compromisso arbitral; 10. falta de cauo ou de outra prestao, que a lei exige como preliminar.

Obs.: Perempo significa extino. Ocorre quando, por trs vezes, o autor da ao der causa extino do processo, por abandono da causa por mais de trinta dias, quando ento no mais poder acionar o ru com base no mesmo objeto. remota a sua ocorrncia na falncia, pois h transferncia ao administrador da responsabilidade pela gesto dos bens, arrecadao, e liquidao do passivo. A sua inrcia implicar a sua destituio e designao de novo administrador judicial. Cauo um dos depsitos a que, em determinadas circunstncias, est obrigado quem pretenda propor ao, como o caso de autor que resida no exterior ou pretenda ausentar-se do Pas (arts. 835 e 836 do CPC).

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4. MATRIA RELEVANTE

O devedor poder argir matria relevante que, se provada, evitar a declarao da falncia. So considerados relevantes os seguintes fatos previstos no art. 96 da Lei Falimentar: I falsidade do ttulo; II prescrio; III nulidade da obrigao ou do ttulo; IV pagamento da dvida; V qualquer outro fato que extinga ou suspenda a obrigao ou no legitime a cobrana do ttulo; VI vcio em protesto ou em seu instrumento; VII apresentao de pedido de Recuperao Judicial no prazo da contestao; VIII cessao das atividades empresariais mais de dois anos antes do pedido de falncia, comprovada por documento hbil do Registro Pblico de Empresas.

IX) DO PROCEDIMENTO PRELIMINAR DA FALNCIA (DA DEFESA SENTENA)

1. DA FALNCIA COM BASE NA IMPONTUALIDADE

A falncia decorre da insolvncia do devedor, exteriorizando-se esse estado pela impontualidade e por outros atos e fatos enumerados no art. 94 da Lei Falimentar. Para o pedido de falncia com base na impontualidade, a inicial deve ser instruda como ttulo de dvida lquida, e o respectivo instrumento de protesto. Citado, o devedor ter dez dias para apresentar sua defesa (art. 98 da Lei Falimentar). Uma vez citado, o devedor pode: 1) depositar o valor correspondente ao seu dbito, sem contestar: Neste caso h confisso da legitimidade do crdito reclamado. Extingue-se o processo, determinando-se o levantamento do valor correspondente ao depsito em favor do requerente.

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2) depositar e, concomitantemente, apresentar defesa: Fica afastada a possibilidade de quebra. Faculta-se ao devedor fazer provas das alegaes, seguindo-se instruo sumria, finda a qual o juiz proferir sentena, julgando a legitimidade ou no do crdito. Improcedentes as alegaes da defesa, o juiz determinar, em favor do requerente, o levantamento da quantia depositada. Procedentes as alegaes de defesa, a ao ser julgada improcedente, podendo o devedor levantar a importncia depositada.

3) no depositar, limitando-se a apresentar defesa:

A apresentao de defesa, sem o depsito elisivo, verdadeira temeridade. Aps a instruo probatria, se o juiz entender insubsistentes as alegaes da defesa, a falncia ser fatalmente declarada.

X) SENTENA DENEGATRIA DA FALNCIA

1. SENTENA DENEGATRIA

No configurada a insolvncia, ou porque o devedor j resgatara o seu dbito, ou porque demonstrou, em juzo, na fase preliminar, a existncia de relevante razo de direito para no saldar a dvida, a falncia no ser declarada.

2. INDENIZAO POR PERDAS E DANOS

A propositura da ao falimentar provoca, nos meios empresariais e bancrios, verdadeiro rebulio, com graves conseqncias para o devedor, ressaltandose, pela sua importncia, a imediata restrio ao crdito, com o corte, pelos estabelecimentos bancrios, de financiamentos, descontos de duplicatas etc. Em razo desses fatos, na eventualidade de ficar demonstrado ter o requerente agido com culpa, dolo ou abuso, responder com indenizao por perdas e danos. Art. 101. Quem por dolo requerer a falncia de outrem ser condenado, na sentena que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidao de sentena.

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1 Havendo mais de 1 (um) autor do pedido de falncia, sero solidariamente responsveis aqueles que se conduziram na forma prevista no caput deste artigo. 2 Por ao prpria, o terceiro prejudicado tambm pode reclamar indenizao dos responsveis.

O dolo direto ou indireto. Direto quando o resultado previsto e desejado; indireto quando o resultado, embora no desejado, previsto, mas no evitado. Na ocorrncia de dolo o juiz, na prpria sentena denegatria, condenar o requerente nas perdas e danos. Quanto ao terceiro prejudicado, aquele, e. g., que possui contratos de vulto com a requerida e teve os negcios abalados pela desconfiana do mercado, poder pleitear indenizao via ao prpria.

3. CUSTAS PROCESSUAIS E HONORRIOS ADVOCATCIOS

Custas processuais so as despesas decorrentes da prtica de atos e diligncias judiciais, abrangendo viagens, dirias de testemunhas, honorrios de perito etc. Tais despesas, consoante prescreve o art. 19, 2, do Cdigo de Processo Civil, devem ser adiantadas pelo autor. Ao vencido na demanda cumprir o pagamento de tais despesas, inclusive aquelas que o vencedor tenha efetuado.

4. RECURSO

O art. 100 da Lei Falimentar dispe sobre o recurso cabvel:

Art. 100. Da deciso que decreta a falncia cabe agravo, e da sentena que julga a improcedncia do pedido cabe apelao.

As regras recursais so as do CPC, aplicadas subsidiariamente:

Art. 189. Aplica-se a Lei n. 5.869, de lide janeiro de 1973 - Cdigo de Processo Civil, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei.

XI) SENTENA DECLARATRIA DA FALNCIA

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1. NATUREZA JURDICA

A sentena, quanto ao tipo de ao, classifica-se em declaratria, condenatria e constitutiva. Sentena declaratria: aquela que se limita a declarar a existncia ou inexistncia de relao jurdica; a autenticidade ou falsidade de documento (art. 4, I e II, CPC). Sentena condenatria: aquela que, decidindo sobre o direito, possibilita ao vencedor a execuo do julgado. Ex.: a que, reconhecendo a existncia de um dbito, condena o ru a pagar ao autor determinada soma em dinheiro. Sentena constitutiva: aquela que cria, modifica ou extingue um estado ou uma relao jurdica. Ex.: a que declara o divrcio. A sentena falimentar, como, alis, todas as sentenas, , antes de tudo, declaratria, por isso que, reconhecendo uma situao de fato, declara a falncia, dando incio execuo coletiva. Conquanto declaratria, j que reconhece o estado de quebra preexistente, possui, inquestionavelmente, natureza constitutiva, na medida em que, instaura um novo estado jurdico - o de falncia.

3. SENTENA: elementos bsicos

A sentena, inclusive a falimentar, possui requisitos que lhe so essenciais: a) o relatrio; b) os fundamentos da deciso; c) a concluso. No relatrio o juiz deve mencionar os nomes das partes, formulando sntese do pedido e da defesa (resposta do ru), registrando as principais ocorrncias havidas na instruo. No fundamento da deciso o juiz coloca em relevo os elementos que firmaram a sua convico, ressaltando as questes de fato e de direito, no sem assinalar a lei aplicvel espcie. E, finalmente, a concluso dispositivo da sentena em que o juiz coloca os termos da deciso, julgando procedente ou improcedente a ao, com as cominaes de direito.

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Alm destes requisitos, a sentena deve mencionar, de acordo com o art. 99 da Lei Falimentar, o seguinte: I conter a sntese do pedido, a identificao do falido e os nomes dos que forem a esse tempo seus administradores; II fixar o termo legal da falncia, sem poder retrotra-lo por mais de 90 (noventa) dias contados do pedido de falncia, do pedido de recuperao judicial ou do 1 (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados; III ordenar ao falido que apresente, no prazo mximo de 5 (cinco) dias, relao nominal dos credores, indicando endereo, importncia, natureza e classificao dos respectivos crditos, se esta j no se encontrar nos autos, sob pena de desobedincia; IV explicitar o prazo para as habilitaes de crdito, observado o disposto no 1 do art. 7 desta Lei; V ordenar a suspenso de todas as aes ou execues contra o falido, ressalvadas as hipteses previstas nos 1 e 2 do art. 6 desta Lei; VI proibir a prtica de qualquer ato de disposio ou onerao de bens do falido, submetendo-os preliminarmente autorizao judicial e do Comit, se houver, ressalvados os bens cuja venda faa parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuao provisria nos termos do inciso XI do caput deste artigo; VII determinar as diligncias necessrias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo ordenar a priso preventiva do falido ou de seus administradores quando requerida com fundamento em provas da prtica de crime definido nesta Lei; VIII ordenar ao Registro Pblico de Empresas que proceda anotao da falncia no registro do devedor, para que conste a expresso "Falido", a data da decretao da falncia e a inabilitao de que trata o art. 102 desta Lei; IX nomear o administrador judicial, que desempenhar suas funes na forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuzo do disposto na alnea a do inciso II do caput do art. 35 desta Lei; X determinar a expedio de ofcios aos rgos e reparties pblicas e outras entidades para que informem a existncia de bens e direitos do falido; XI pronunciar-se- a respeito da continuao provisria das atividades do falido com o administrador judicial ou da lacrao dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109 desta Lei;

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XII determinar, quando entender conveniente, a convocao da assembliageral de credores para a constituio de Comit de Credores16, podendo ainda autorizar a manuteno do Comit eventualmente em funcionamento na recuperao judicial quando da decretao da falncia; XIII ordenar a intimao do Ministrio Pblico e a comunicao por carta s Fazendas Pblicas Federal e de todos os Estados e Municpios em que o devedor tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento da falncia.

4. TERMO LEGAL

O termo legal, tambm denominado perodo suspeito, objetiva fixar um espao de tempo em que os atos praticados pelo falido sejam ineficazes por prejudiciais aos credores. O termo legal est intimamente ligado chamada ao revocatria prevista na Seo IX da Lei Falimentar. Art. 129. So ineficazes em relao massa falida, tenha ou no o contratante conhecimento do estado de crise econmico-financeira do devedor, seja ou no inteno deste fraudar credores: I o pagamento de dvidas no vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crdito, ainda que pelo desconto do prprio ttulo; II o pagamento de dvidas vencidas e exigveis realizado dentro do termo legal, por qualquer forma que no seja a prevista pelo contrato; III a constituio de direito real de garantia, inclusive a reteno, dentro do termo legal, tratando-se de dvida contrada anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receber a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada; Pargrafo nico. A ineficcia poder ser declarada de ofcio pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ao prpria ou incidentalmente no curso do processo.

XII. JUZO UNIVERSAL

O Comit de Credores ser composto da seguinte forma: Art. 26. O Comit de Credores ser constitudo por deliberao de qualquer das classes de credores na assemblia-geral e ter a seguinte composio: I 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) suplentes; II 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilgios especiais, com 2 (dois) suplentes; III 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografrios e com privilgios gerais, com 2 (dois) suplentes.

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1. INDIVISIBILIDADE E UNIVERSALIDADE DO JUZO FALIMENTAR

O juzo da falncia indivisvel porque competente para todas as aes sobre bens e interesses da massa falida, como, alis, enfatiza o art. 76 da Lei Falimentar:

Art. 76. O juzo da falncia indivisvel e competente para conhecer todas as aes sobre bens, interesses e negcios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas no reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.

, pois, no juzo da falncia que se processam o concurso creditrio, a arrecadao dos bens do falido, a habilitao dos crditos, os pedidos de restituio e todas as aes, reclamaes e negcios de interesse da massa, da decorrendo a sua indivisibilidade. A universalidade redunda da chamada vis attractiva, do juzo falimentar: Ao juzo da falncia devem concorrer todos os credores do devedor comum, comerciais ou civis, alegando e provando os seus direitos. Por juzo universal se h de entender, pois, a atrao exercida pelo juzo da falncia, sob cuja jurisdio concorrem todos os credores do devedor comum - o falido.

2. EXCEES VIS ATTRACTIVA DO JUZO FALIMENTAR

a) Aes em que a massa falida seja autora ou litisconsorte ativo. A vis attractiva do juzo falimentar, no prevalece para as aes no reguladas pela Lei Falimentar, como acentua o art. 76 da Lei de Falncias:

... e aquelas no reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.

Nessas condies, nas aes em que a massa falida seja autora ou litisconsorte ativo, no prevalecer a indivisibilidade do juzo falimentar17. Mas nem todas as aes em que a massa figure como r sero atradas pelo juzo da falncia, pois a indivisibilidade s alcana as aes reguladas na Lei de Falncias18.As aes que devem ser tangidas no Juzo Universal da quebra so as intentadas contra a massa. Tratase de causas em que a massa r, no daquelas em que seja autora. Nestas, salvo quando consideradas na Lei de Falncias, seguem-se as regras comuns relativas competncia (TJSP/RT, 128/671). 18 A indivisibilidade do Juzo da falncia s alcana as aes e reclamaes cujo processo estatudo na prpria lei de quebras. Procede, assim, a ao de despejo intentada perante outra Vara, contra a massa falida, por falta de pagamento (TJSP/RT, 141/531).17

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b) Reclamaes trabalhistas. A vis attractiva do juzo falimentar no abrange os conflitos surgidos em decorrncia de relaes disciplinadas pela legislao trabalhista. De acordo com o art. 114 da Constituio Federal, a Justia trabalhista o nico rgo do Poder Judicirio com competncia para julgar os dissdios oriundos da relao empregatcia e de trabalho:

Art. 114. Compete Justia do Trabalho processar e julgar: I - as aes oriundas da relao de trabalho, abrangidos os entes de direito pblico externo e da administrao pblica direta e indireta da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios.

As aes trabalhistas no sero atradas para o juzo da falncia, em razo da incompetncia ratione materiae deste. Prosseguir normalmente, at sentena final, devendo o juzo trabalhista, ciente da quebra, determinar a citao do respectivo administrador, que representar a massa falida:

Art. 6, 2. permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitao, excluso ou modificao de crditos derivados da relao de trabalho, mas as aes de natureza trabalhista, inclusive as impugnaes a que se refere o art. 8 desta Lei, sero processadas perante a justia especializada at a apurao do respectivo crdito, que ser inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentena

Aps a apurao do crdito laboral, o mesmo poder ser habilitado no juzo falimentar19. A competncia da Justia do Trabalho restringe-se declarao do crdito trabalhista e fixao do valor da condenao20.

O crdito trabalhista, para que adquira liquidez e assim possa ser habilitado em falncia, necessita de prvia apurao na Justia do Trabalho (RT, 465/100). 20 PROCESSO DE EXECUO - Decretao de falncia - Incompetncia da Justia Trabalhista Configurao de ofensa direta ao art. 114 da CF. - Ementa: 1. Agravo de instrumento - Processo de execuo - Decretao de falncia - Incompetncia da Justia Trabalhista - Configurao de ofensa direta ao art. 114 da Constituio Federal - Demonstrada a ofensa ao art. 114 da Constituio Federal, deve ser provido o Agravo de Instrumento, para que seja processado o Recurso de Revista. Agravo de Instrumento provido. 2. Recurso de revista - Processo de execuo - Decretao de falncia - Incompetncia da Justia Trabalhista - Configurao de ofensa direta ao art. 114 da Constituio Federal. Esta Corte tem o entendimento sedimentado de que a competncia material da Justia do Trabalho restringe-se declarao do crdito trabalhista e fixao do seu quantum, pois, uma vez decretada a falncia, o Juzo Falimentar passar a ter competncia para habilitar os credores da massa falida no denominado quadrogeral de credores. Assim sendo, resta vulnerada a literalidade do art. 114 da CF, porquanto no respeitados, pela Corte de origem, os limites da competncia desta Justia Especializada. Recurso de Revista conhecido e provido (TST, 4 T., RR 1.135/1998-004-17-40.2, 17 Reg., DJU, 29-9-2006, p. 887).

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Na hiptese de a ao trabalhista no se ultimar com a necessria urgncia, de molde a facultar ao empregado habilitar tempestivamente o seu crdito, a soluo se encontra no pedido de reserva, estabelecido no art. 6, 3, da Lei Falimentar:

Art. 6, 3 - O juiz competente para as aes referidas nos 1 e 2 deste artigo poder determinar a reserva da importncia que estimar devida na recuperao judicial ou na falncia, e, uma vez reconhecido lquido o direito, ser o credito includo na classe prpria.

O crdito trabalhista no est sujeito a impugnao no processo de habilitao perante o juzo da falncia, j que a este no dado reformar sentena trabalhista21. c) Executivos Fiscais. Os crditos fiscais esto excludos do Juzo universal e no se suspendem pelo deferimento do processamento da recuperao judicial ou pela decretao da falncia (art. 6, 7, e art. 99, V). Os executivos fiscais, como se sabe, tramitam nas Varas da Fazenda Pblica (Estados e Municpios). E na Justia Federal, os tributos federais. O crdito tributrio no est sujeito habilitao em falncia, de acordo com o art. 187 do Cdigo Tributrio Nacional:

Art. 187. A cobrana judicial do crdito tributrio no sujeita a concurso de credores ou habilitao em falncia, recuperao judicial, concordata, inventrio ou arrolamento.

Cabe ao juiz da Vara dos Feitos da Fazenda oficiar ao juiz da falncia, solicitando transferncia do valor correspondente ao dbito do falido. Contudo, dever ser observada a ordem dos crditos (cf. art. 83, LF). d) Aes que demandam quantia ilquida. As aes que demandam quantias ilquidas prosseguem normalmente no juzo originrio, at se apurar o valor exato da condenao. Facultado ao credor solicitar ao juzo da falncia reserva de numerrio - art. 6, 1 e 2, da LF.

XIII. DOS EFEITOS DA FALNCIA QUANTO AOS DIREITOS DOS CREDORES

1. VENCIMENTO ANTECIPADO DE TODAS AS DVIDAS DO FALIDOSentena trabalhista com trnsito em julgado Impugnao do respectivo quantum Inadmissibilidade Coisa julgada Sentena confirmada. Tratando-se de crdito trabalhista, reconhecido definitivamente pela Justia do Trabalho, ao ser ele habilitado em falncia no poder sofrer impugnao alguma quanto ao seu valor (RT, 468/59).21

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A falncia produz o vencimento, por antecipao, de todas as dvidas do falido: Art. 77. A decretao da falncia determina o vencimento antecipado das dvidas dodevedor e dos scios ilimitada e solidariamente responsveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os crditos em moeda estrangeira para a moeda do Pas, pelo cmbio do dia da deciso judicial, para todos os efeitos desta Lei.

O vencimento antecipado das dvidas do falido permite ao credor a habilitao do seu crdito. A medida e estende aos scios solidrios.

Art. 81. A deciso que decreta a falncia da sociedade com scios ilimitadamente responsveis tambm acarreta a falncia destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurdicos produzidos em relao sociedade falida e, por isso, devero ser citados para apresentar contestao, se assim o desejarem.

Excees: 1) as obrigaes subordinadas a uma condio suspensiva22 2) as obrigaes solidrias firmadas juntamente com terceiros que se hajam coobrigado com o falido; 3) as obrigaes contradas pelo falido garantidas por fiana de terceiro; 4) as obrigaes decorrentes de contratos bilaterais, que o administrador julgue conveniente manter, no interesse da massa falida. Os contratos bilaterais, celebrados pelo falido, no se vencem com a falncia:

Art. 117. Os contratos bilaterais no se resolvem pela falncia e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessrio manuteno e preservao de seus ativos, mediante autorizao do Comit.

2. SUSPENSO DA FLUNCIA DE JUROS Os juros so: a) compensatrios: aqueles que se constituem nos frutos do capital;Art. 121. Considera-se condio a clusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negcio jurdico a evento futuro e incerto (CC). Diz-se suspensiva a condio ensina Pedro Orlando quando o ato somente se objetiva depois de cumprida a clusula preestabelecida.22

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b) moratrios: aqueles que representam indenizao decorrente do inadimplemento da obrigao, da mora. Veja a regra:Art. 124. Contra a massa falida no so exigveis juros vencidos aps a decretao da falncia, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado no bastar para o pagamento dos credores subordinados.

Excees: as debntures e os crditos com garantia real, respondendo por eles exclusivamente o produto dos bens que constituem a garantia.Art. 124. (...) Pargrafo nico. Excetuam-se desta disposio os juros das debntures e dos crditos com garantia real, mas por eles responde, exclusivamente, o produto dos bens que constituem a garantia.

3. MULTA FISCAL

Relativamente cobrana da multa fiscal, tem-se feito ntida distino entre: a) multa moratria: decorre do inadimplemento da obrigao. Tem natureza indenizatria; b) multa com efeito de pena administrativa: imposta ao violador das normas de direito pblico, objetivando assegurar o cumprimento das leis. Fazenda Pblica assegurado o direito de haver, na falncia, no s os tributos que lhe sejam devidos, mas tambm a multa moratria:

Inclui-se no crdito habilitado em falncia a multa fiscal simplesmente moratria (Smula 191 do STF).

At a nova Lei da Falncia o mesmo, entretanto, no ocorria com a multa fiscal com efeito de pena administrativa.

No se inclui no crdito habilitado em falncia a multa fiscal com efeito de pena administrativa (Smula 192 do STF).

Todavia, a atual legislao falimentar incluiu a multa moratria e a multa administrativa nos crditos, situando-os abaixo dos crditos quirografrios:

Art. 83. A classificao dos crditos na falncia obedece seguinte ordem:

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VII - as multas contratuais e as penas pecunirias por infrao das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributrias.

4. SUSPENSO DAS AES OU EXECUES MOVIDAS CONTRA O FALIDO

O estabelecimento do litisconsrcio ativo necessrio decorre da vis attractiva do juzo falimentar, regra consagrada no art. 76 da Lei de Falncias. Por fora dessa atrao exercida pelo juzo falimentar, ficam suspensas as aes e execues dos credores sobre direitos e interesses relativos massa falida, inclusive as dos credores particulares do scio solidrio de sociedade falida, nos termos do que prescreve o art. 6 da Lei de Falncias. Entretanto, a regra no absoluta, comportando excees: - As aes em que a massa falida for autora ou litisconsorte ativo; - As aes trabalhistas; - As execues fiscais; - As aes que demandarem quantia ilquida, at a liquidao. Aos credores mencionados (trabalhistas, fiscais, por quantia ilquida) lcita a solicitao ao juzo da falncia, de reserva de valores, nos termos do 3 do art. 6. Os crditos em moeda estrangeira existentes por ocasio da falncia so convertidos para a moeda nacional, pelo cmbio do dia da data da decretao da quebra (Art. 77 da LF).

5. SUSPENSO DA PRESCRIO

Prescrio , como se sabe, a perda da pretenso em razo da inrcia do credor. Nos termos do art. 6 da Lei Falimentar, fica suspenso23 o prazo de prescrio, que s se reinicia com a sentena que declara encerrada a falncia.

XIV. DOS EFEITOS DA FALNCIA QUANTO PESSOA DO FALIDO

apenas faz cessar temporariamente o curso da prescrio; superada, porm, a causa suspensiva, a prescrio retoma o seu curso natural, computando o tempo anteriormente transcorrido. Com as causas que interrompem a prescrio a situao profundamente diversa; verificada alguma causa interruptiva, perde-se por completo o tempo transcorrido precedentemente; esse tempo fica inutilizado para o prescribente, por inteiro, no sendo de modo algum considerado na contagem o primeiro lapso de tempo, que fica perdido, sacrificado( Washington de Barros Monteiro, apud A. P. de Almeida, p. 143).

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1. RESTRIES CAPACIDADE PROCESSUAL DO FALIDO E SUA LIBERDADE DE LOCOMOO

Desde a decretao da falncia ou do seqestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor (Art. 103, LF). Outra restrio: o falido no pode se ausentar do lugar da falncia sem a devida autorizao judicial:Art. 104. A decretao da falncia impe ao falido os seguintes deveres: III no se ausentar do lugar onde se processa a falncia sem motivo justo e comunicao expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as penas cominadas na lei. (...) Pargrafo nico. Faltando ao cumprimento de quaisquer dos deveres que esta Lei lhe impe, aps intimado pelo juiz a faz-lo, responder o falido por crime de desobedincia.

Justificao da medida: o falido est obrigado a comparecer a todos os atos da falncia, auxiliando e prestando, verbalmente ou por escrito, as informaes reclamadas pelo juiz, administrador, Ministrio Pblico e credores em geral, devendo ainda examinar as declaraes de crdito, assistir ao levantamento e verificao do balano, proferindo, outrossim, parecer sobre as contas do sndico.

2. OBRIGAES QUE LHE SO IMPOSTAS

A declarao da falncia impe ao falido inmeras obrigaes que, se no cumpridas fielmente, podem redundar na sua priso. Assim, de acordo com o art. 104, da LF, to logo tome conhecimento da quebra, deve dirigir-se ao juzo da falncia, onde firmar, em cartrio, termo de comparecimento, quando indicar o seu nome, nacionalidade, estado civil, endereo, devendo ainda declarar, para constar do dito termo: a) as causas determinantes da falncia, quando pelos credores requerida; b) se tem firma inscrita, quando a inscreveu, exibindo a prova; c) tratando-se de sociedade, os nomes e residncias de todos os scios, apresentando o contrato, se houver, bem como a declarao relativa inscrio da firma; d) o nome do contador encarregado da escriturao dos seus livros obrigatrios; e) os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando o seu objeto e o nome e endereo do mandatrio; f) quais os seus bens imveis e quais os mveis que no se encontram no estabelecimento; g) se faz parte de outras sociedades, exibindo, no caso afirmativo, o respectivo contrato. Nessa mesma oportunidade, deve depositar em cartrio os seus livros obrigatrios, livros esses que, depois de encerrados por termo lavrado pelo escrivo e assinado pelo juiz, devem ser entregues ao administrador judicial.

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Faltando ao cumprimento de quaisquer dos deveres que a Lei Falimentar lhe impe, aps intimado pelo juiz a faz-lo, responder o falido por crime de desobedincia.

3. PROIBIO PARA O EXERCCIO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL

Esta restrio uma decorrncia da perda da administrao dos bens, pelo falido. O art. 972 do Cdigo Civil declara que a atividade de empresrio pode ser exercida por aqueles que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e no forem legalmente impedidos. A capacidade civil plena pressupe a livre administrao de bens, como expressamente estatui a Lei Civil24. Uma das conseqncias da declarao da falncia a de privar o falido da administrao dos seus bens:

Art. 103. Desde a decretao da falncia, ou do seqestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor.

Em conseqncia, com a decretao da quebra fica o falido proibido de exercer qualquer atividade empresarial (art. 102 da Lei Falimentar). O falido considerado inabilitado processualmente, no podendo figurar como autor ou ru, nas aes patrimoniais de interesses da massa. Todavia, continua plenamente capaz para os demais atos da vida civil.

4. CONTINUAO DO NEGCIO

Objetivando a preservao da empresa, a Lei de Falncias, no seu art. 99, XI, faculta ao juiz decidir pela continuao das atividades do falido, com o administrador judicial. A continuao das atividades do falido tem carter provisrio e, a rigor, dar-se- quando plenamente vivel, ensejando, outrossim, a alienao da prpria empresa, ou de unidades produtivas, a teor do que dispe o art. 140, I e II, da Lei Falimentar.

5. SUJEIO PRISO

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A decretao da falncia do empresrio individual no lhe subtrai a capacidade civil, embora a restrinja. O falido no incapaz, mas, a partir da sentena de quebra, ele perde o direito de administrar e dispor de seu patrimnio (cf. F. Ulhoa. Comentrios nova lei da falncias e recuperao. p. 283)

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No decorrer de todo o processo est o falido sujeito priso, o que pode ocorrer de incio, com a declarao da falncia, constatados pelo juiz prova de crime falimentar:

Art. 99. A sentena que decretar a falncia do devedor, dentre outras determinaes: VII determinar as diligncias necessrias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo ordenar a priso preventiva do falido ou de seus administradores quando requerida com fundamento em provas da prtica de crime definido nesta Lei.

Outrossim, faltando ao cumprimento dos deveres que lhe so impostos pela Lei de Falncias, responder o falido pelo crime de desobedincia (art. 104, pargrafo nico). De outro lado, as disposies penais da Lei de Falncias prevem, na ocorrncia de crimes falimentares, penas que variam da prestao de servios comunidade pena de deteno e de recluso (arts. 168 a 178).

XV. A DOS EFEITOS DA FALENCIA QUANTO AOS BENS DO FALIDO

1. PERDA DA ADMINISTRAO E DISPOSIO DOS SEUS BENS

Decretada a falncia, nomeado o administrador, a quem compete administrar os bens e os negcios da massa falida, ficando deles desapossado o falido, como preceitua o art. 103 da Lei de Falncias:

Art. 103. Desde a decretao da falncia ou do seqestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor.

A falncia, quando requerida com base nas hipteses previstas no art. 94, III e alneas, da Lei Falimentar, pode ser precedida do seqestro dos bens do devedor o chamado seqestro preliminar da falncia, caso em que o falido, mesmo antes da decretao da quebra, perde a administrao dos seus bens. Contudo, a perda da administrao dos bens no priva o falido da propriedade sobre eles, o que s ocorre mais tarde, quando da sua alienao. Com a decretao da falncia o devedor desapossado de seus bens, no podendo mais administr-los e deles dispor.

2. BENS QUE NO SE COMPREENDEM NA FALNCIA

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Determinados bens, porque inalienveis ou impenhorveis, no so abrangidos pela falncia. Tais bens so de trs categorias: a) bens inalienveis por fora de lei; b) bens inalienveis por ato voluntrio; c) bens absolutamente impenhorveis. So inalienveis por fora de lei os bens pblicos (art. 100 do CC) e o bem de famlia (art. 1.711 do CC). So inalienveis por ato voluntrio os bens gravados por testadores (art. 1.911 do CC). So absolutamente impenhorveis, na forma do que prescreve o art. 649 do Cdigo de Processo Civil, com as alteraes da Lei 11.382/2006:Art. 649. So absolutamente impenhorveis: I - os bens inalienveis e os declarados, por ato voluntrio, no sujeitos execuo; II - os mveis, pertences e utilidades domsticas que guarnecem a residncia do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um mdio padro de vida; III - os vesturios, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, subsdios, soldos, salrios, remuneraes, proventos de aposentadoria, penses, peclios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua famlia, os ganhos de trabalhador autnomo e os honorrios de profissional liberal, observado o disposto no 3 deste artigo; V - os livros, as mquinas, as ferramentas, os utenslios, os instrumentos ou outros bens mveis necessrios ou teis ao exerccio de qualquer profisso; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessrios para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela famlia; IX - os recursos pblicos recebidos por instituies privadas para aplicao compulsria em educao, sade ou assistncia social; X - at o limite de 40 (quarenta) salrios mnimos, a quantia depositada em caderneta de poupana. 1 A impenhorabilidade no oponvel cobrana do crdito concedido para a aquisio do prprio bem. 2 O disposto no inciso IV do caput deste artigo no se aplica no caso de penhora para pagamento de prestao alimentcia.

Nos termos do art. 108, 4, da Lei de Falncias, no sero arrecadados os bens absolutamente impenhorveis.

3. NULIDADE DOS ATOS PRATICADOS PELO FALIDO QUANTO AOS BENS

Como j se observou, uma das conseqncias da declarao da falncia a de privar o falido do direito de administrar e dispor dos seus bens. 43

Em conseqncia, desde o momento da abertura da falncia, ou do seqestro preliminar, no pode o falido praticar qualquer ato que se refira, direta ou indiretamente, aos bens, interesses, direitos ou obrigaes compreendidos na quebra. Quaisquer atos praticados com referncia a tais bens so nulos de pleno direito, nulidade a ser declarada ex officio, independentemente de prova de prejuzo.

XVI. DOS EFEITOS DA FALNCIA QUANTO AOS CONTRATOS DO FALIDO

1. CONTRATOS UNILATERAIS E BILATERAIS

a) Contratos unilaterais - diz Washington de Barros Monteiro - so aqueles em que s uma das partes se obriga em face da outra; merc deles, um dos contratantes exclusivamente credor, enquanto que o outro exclusivamente devedor. Exemplos: doao pura e simples, em que apenas o doador contrai obrigaes, ao passo que o donatrio s aufere vantagens, nenhuma obrigao assumindo, salvo o dever moral de gratido; depsito, mtuo, mandato, comodato. b) Contratos bilaterais: So aqueles que criam obrigaes para ambas as partes e essas obrigaes so recprocas; cada uma das partes fica adstrita a uma prestao (ultro citroque obligatio). Exemplos: compra e venda, em que o vendedor fica obrigado a entregar alguma coisa ao outro contratante, enquanto que este, por seu turno, se obriga a pagar o preo ajustado.

3. EFEITOS DA FALNCIA SOBRE OS CONTRATOS UNILATERAIS

a) contratos unilaterais em que o falido devedor: vencem-se com a declarao da quebra, facultando-se aos credores a habilitao de seus respectivos crditos. b) contratos unilaterais em que o falido credor: no se vencem com a falncia, permanecendo inalterados.Art. 77 da Lei Falimentar, a decretao da falncia determina o vencimento antecipado das dvidas do devedor.... Art. 118. O administrador judicial, mediante autorizao do Comit, poder dar cumprimento a contrato unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessrio manuteno e preservao de seus ativos, realizando o pagamento da prestao pela qual est obrigada.

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4. EFEITOS DA FALNCIA SOBRE OS CONTRATOS BILATERAIS

Os contratos bilaterais no se resolvem com a falncia, podendo ser executados pelo administrador, se este achar de convenincia para a massa.

Art. 117. Os contratos bilaterais no se resolvem pela falncia e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessrio manuteno e preservao de seus ativos, mediante autorizao do Comit. 1 O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de at 90 (noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeao, para que, dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou no o contrato. 2 A declarao negativa ou o silncio do administrador judicial confere ao contraente o direito indenizao, cujo valor, apurado em processo ordinrio, constituir crdito quirografrio.

5. REGRAS ESPECIAIS PARA DETERMINADOS CONTRATOS (Art. 119, LF)

Determinados contratos, na ocorrncia de falncia, sujeitam-se a regras especiais, expressamente previstas no art. 119 da Lei Falimentar. So eles os relativos a: a) coisas vendidas e em trnsito; b) venda de coisas compostas; c) coisa mvel vendida a prestao; d) venda com reserva de domnio; e) coisa vendida a termo; 1) promessa de compra e venda de imveis; g) contrato de locao; h) obrigaes no mbito do sistema financeiro; i) patrimnios de afetao constitudos para cumprimento de destinao especifica; j) mandato; k) comisso; 1) conta corrente. Vejamos todos eles: a) Coisas vendidas e em trnsito O vendedor pode entregar a mercadoria vendida ao respectivo comprador, de duas formas: 1) pela tradio real: D-se a tradio real pela efetiva entrega da coisa vendida, transferindo-se ao comprador a sua posse material.

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2) pela tradio simblica: Reputa-se tradio simblica a remessa e a aceitao da fatura, sem oposio imediata do comprador. Fatura uma nota do vendedor, descrevendo a mercadoria, discriminando sua qualidade e quantidade, fixando-lhe o preo (art. l da Lei n. 5.474, de 18- 7-1968, com as alteraes introduzidas pelo Dec.-lei n. 436, de 27-1-1969). Concluses: De posse da fatura, pode o comprador dispor livremente da mercadoria, inclusive revendendo-a a terceiros. A tradio simblica transmite a propriedade da coisa vendida, no admitindoa sua reteno pelo vendedor, salvo a ocorrncia de falncia do comprador. De acordo com o art. 119, I, LF a coisa vendida e em trnsito pode ser retida pelo vendedor a menos que o falido, antes do requerimento da falncia, a tiver revendido, sem fraude, vista das faturas e conhecimentos de transporte, entregues ou remetidos pelo vendedor. Se a revenda se deu aps o requerimento da quebra, ou se foi levada a efeito para fraudar credores, lcita a reteno pelo comprador. Se no houve revenda antes do requerimento da quebra, lcito ao vendedor ret-la, ainda que tenha havido tradio simblica. b) Venda de coisas compostas - Coisas compostas: so coisas heterogneas (de naturezas distintas), que, unidas, formam um todo. No raras vezes aparelhos (mquinas, balanas, balces, etc) embora vendidos integralmente, so entregues ao comprador parceladamente, pea por pea. Falindo o vendedor, ao administrador dado decidir pela no-execuo do contrato, podendo o comprador colocar as peas j recebidas disposio da massa, pleiteando dela perdas e danos em decorrncia do descumprimento do contrato. A ao em questo, por envolver manifesto interesse dos credores e, portanto, da massa, h de ser proposta perante o prprio juzo da falncia. c) Coisa mvel vendida a prestao Na eventualidade de falncia do vendedor, que ainda no tenha entregue a coisa mvel vendida a prestaes, no cumprido o contrato pelo administrador, o crdito relativo s prestaes pagas ser habilitado na classe prpria. d) Venda com reserva de domnio

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A venda feita a prestaes, garantindo-se o vendedor com a reserva de domnio, vale dizer, conservando o vendedor a propriedade da coisa vendida, at o seu integral pagamento. O comprador tem, desde logo, a posse que lhe possibilita o uso e gozo da coisa, s adquirindo a sua propriedade, entretanto, aps o pagamento das prestaes.

Na eventualidade de o comprador (que tem a posse, uso e gozo da coisa) vir a falir, pode o administrador judicial concluir pela execuo do contrato, prosseguindo no pagamento das parcelas restantes. Se a massa no possuir meios para a execuo do contrato, o vendedor (que conserva a propriedade da coisa vendida) poder requerer sua restituio, valendo-se do art. 85, LF:Art. 85. O proprietrio de bem arrecadado no processo de falncia ou que se encontre em poder do devedor na data da de