115
Temas de Ecologia 1 ECOLOGIA RESUMO DA HISTÓRIA DA ECOLOGIA Adaptação / Revisão: Prof. Dr. Jorge Henrique da Silva (06/06/2009) O vocábulo oekologie foi inventado, em 1866, por um dos maiores discípulos de Charles Darwin: Ernest Haeckel. A palavra Oekologie ―Ecologia‖ aparece pela primeira vez numa nota de rodapé do Generelle Morphologie der Organismen, substituindo o termo ―biologia‖, cujo sentido, na época, era indevidamente restrito: ― (...) a ecologia (...) ciência da economia, do modo de vida, das reações vitais externas dos organismos etc.―. A palavra ecologia vem de duas palavras gregas: oikos = casa e logos = estudo. A palavra oikos é aqui aplicada no sentido de ambiente. Assim, de acordo com a etimologia da palavra, Ecologia é o estudo do ambiente. No segundo volume da Generelle Morphologie der Organismen que Haeckel dá à ecologia sua definição mais célebre: ―Por ecologia entendemos a totalidade da ciência das relações do organismo com meio ambiente, compreendendo, no sentido lato, todas as ―condições de existência ―. Mas, foi Eugen Warming, em 1895 quem utilizou pela primeira vez a palavra ―ecologia‖ no título de um tratado de geobotânica geral. Sendo assim, consideram o autor como fundador da ―ecologia‖ como um ramo original da Biologia. Atualmente a Ecologia é definida como o estudo das relações dos seres vivos entre si e das relações entre os seres vivos e o ambiente físico. BIOSFERA E ECOSSISTEMA A Terra é uma ―esfera‖ de quase 14 mil Km de diâmetro. Em torno dessa ―esfera‖ existe uma camada gasosa que recebe o nome de atmosfera. Grande parte da crosta terrestre, denominada litosfera, é recoberta por uma camada de água conhecida como hidrosfera. Já a biosfera é um termo usado para designar a parte do planeta onde pode ser encontrada vida. É, portanto a região do planeta que contém todos os seres vivos e onde a vida é possível. Podemos dizer que o Ecossistema é uma parte da Biosfera que pode ser estudada isoladamente. Por exemplo: um lago, um rio, uma floresta e etc. Assim notamos que num Ecossistema existem dois componentes: um físico, denominado biótopo, que é representado pelos componentes abióticos (não vivos) do meio, ou seja, do solo, a água, os sais, o ar e etc.; e outro vivo, denominado biocenose, representado pelos componentes bióticos (vivos), que nada mais são que o conjunto de seres vivos que povoam o ambiente físico. Portanto o Ecossistema é, o conjunto de dois componentes que se inter-relacionam: Ecossistema = Biótopo ( abióticos)+ Biocenose (bióticos) AMBIENTE A Terra, até o momento, é o único planeta do sistema solar onde existe vida. Isso ocorre porque ela apresenta alguns fatores físicos e químicos sem os quais a vida não seria possível. Entre esses fatores podemos citar a luminosidade, a temperatura, a disponibilidade de água, o ar atmosférico e as substâncias químicas utilizadas pelos organismos. A sobrevivência de qualquer ser depende da presença desses fatores, mas não somente deles. De fato, se nos detivermos a observar a vida de um organismo verificaremos que ele nunca está isolado, pois, além dos componentes físicos e químicos, é circundado por outros seres vivos com os quais mantém relações. Chama-se meio ou ambiente ao conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos necessários à sobrevivência de cada espécie.

Apostila ecologia

Embed Size (px)

Citation preview

Temas de Ecologia

1

ECOLOGIA

RESUMO DA HISTÓRIA DA ECOLOGIA

Adaptação / Revisão: Prof. Dr. Jorge Henrique da Silva (06/06/2009)

O vocábulo oekologie foi inventado, em 1866, por um dos maiores discípulos de Charles

Darwin: Ernest Haeckel. A palavra Oekologie ―Ecologia‖ aparece pela primeira vez numa nota de rodapé do Generelle

Morphologie der Organismen, substituindo o termo ―biologia‖, cujo sentido, na época, era indevidamente restrito: ― (...) a ecologia (...) ciência da economia, do modo de vida, das reações vitais externas dos organismos etc.―.

A palavra ecologia vem de duas palavras gregas: oikos = casa e logos = estudo. A palavra oikos é aqui aplicada no sentido de ambiente.

Assim, de acordo com a etimologia da palavra, Ecologia é o estudo do ambiente. No segundo volume da Generelle Morphologie der Organismen que Haeckel dá à ecologia sua

definição mais célebre: ―Por ecologia entendemos a totalidade da ciência das relações do organismo com meio ambiente, compreendendo, no sentido lato, todas as ―condições de existência ―.

Mas, foi Eugen Warming, em 1895 quem utilizou pela primeira vez a palavra ―ecologia‖ no título de um tratado de geobotânica geral. Sendo assim, consideram o autor como fundador da ―ecologia‖ como um ramo original da Biologia.

Atualmente a Ecologia é definida como o estudo das relações dos seres vivos entre si e das relações entre os seres vivos e o ambiente físico.

BIOSFERA E ECOSSISTEMA

A Terra é uma ―esfera‖ de quase 14 mil Km de diâmetro. Em torno dessa ―esfera‖ existe uma

camada gasosa que recebe o nome de atmosfera. Grande parte da crosta terrestre, denominada litosfera, é recoberta por uma camada de água conhecida como hidrosfera.

Já a biosfera é um termo usado para designar a parte do planeta onde pode ser encontrada vida. É, portanto a região do planeta que contém todos os seres vivos e onde a vida é possível.

Podemos dizer que o Ecossistema é uma parte da Biosfera que pode ser estudada isoladamente. Por exemplo: um lago, um rio, uma floresta e etc. Assim notamos que num Ecossistema existem dois componentes: um físico, denominado biótopo, que é representado pelos componentes abióticos (não vivos) do meio, ou seja, do solo, a água, os sais, o ar e etc.; e outro vivo, denominado biocenose, representado pelos componentes bióticos (vivos), que nada mais são que o conjunto de seres vivos que povoam o ambiente físico. Portanto o Ecossistema é, o conjunto de dois componentes que se inter-relacionam:

Ecossistema = Biótopo ( abióticos)+ Biocenose (bióticos)

AMBIENTE

A Terra, até o momento, é o único planeta do sistema solar onde existe vida. Isso ocorre porque ela apresenta alguns fatores físicos e químicos sem os quais a vida não seria possível. Entre esses fatores podemos citar a luminosidade, a temperatura, a disponibilidade de água, o ar atmosférico e as substâncias químicas utilizadas pelos organismos.

A sobrevivência de qualquer ser depende da presença desses fatores, mas não somente deles. De fato, se nos detivermos a observar a vida de um organismo verificaremos que ele nunca está isolado, pois, além dos componentes físicos e químicos, é circundado por outros seres vivos com os quais mantém relações.

Chama-se meio ou ambiente ao conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos necessários à sobrevivência de cada espécie.

Temas de Ecologia

2

ECOSSISTEMA Um sistema pode ser definido como o conjunto das partes ou elementos de um todo, inter-

relacionados e que funcionam como uma estrutura organizada. Os sistemas possuem algumas características próprias e necessárias ao seu funcionamento:

Precisam de uma fonte de energia externa; Possuem um conjunto de elementos que permitem o fluxo de energia; São auto-reguláveis, isto é, são capazes de manter um equilíbrio perfeito entre os seus elementos e conservar constante o fluxo de energia. Para esse fim contam com mecanismos que regulam o seu próprio funcionamento.

O que é um ecossistema? Lembremo-nos de lugares como um lago, um rio, uma floresta, o mangue ou um pântano.

Todos eles são sistemas formados por uma comunidade de seres vivos (biótica) que habita o meio ambiente físico-químico (abiótico) onde se encontram. Entre os seres da comunidade e o meio estabelecem-se relações complexas, em que se verifica uma contínua transferência de matéria e energia. È a esse complexo de seres e ambiente e ao fluxo de matéria e energia que se estabelece entre eles que damos o nome de ecossistema:

Ecossistema é o conjunto de componentes abióticos e bióticos que num determinado meio trocam matéria e energia.

Um ecossistema possui características encontradas nos sistemas comuns: a fonte externa de energia é a luz. Esta é captada pelos vegetais que, através da fotossíntese, a transforma num tipo de energia que será repassada aos demais seres vivos; os elementos inter-relacionados que permitem o fluxo de energia são os seres vivos que forma a comunidade. Note-se que nos ecossistemas, ao contrário do que ocorre em sistemas físicos, há também um fluxo de matéria, pois os seres se alimentam uns dos outros e há passagem, de matéria de um a outro; a auto-regulação depende, entre outros fatores, da capacidade de substituição de peças, ou seja, dos seres que morrem, através da reprodução.

Um ecossistema possui uma quase infinita capacidade de auto-regulação. Isso lhe permite resistir e se adaptar a grandes variações ambientais. Entretanto os ecossistemas não conseguem neutralizar os grandes impactos ambientais provocados pelo homem. Um exemplo desse falo: em janeiro de 2000, foram lançadas nas águas da Baia da Guanabara uma quantidade enorme de petróleo que se espalhou, sob a forma de uma mancha negra, por uma área de cerca de centenas de Km. Esse desastre ecológico considerado como o pior da história, abalou em muito o equilíbrio ambiental da região. No caso do ecossistema marinho verificou-se, por exemplo, a morte de aves, da fauna costeira e de milhares de peixes e caranguejos. Mas o desastre não ficou restrito apenas ao mar e acabou com a fonte de alimento e trabalho de inúmeras famílias de pescadores que viviam na região.

CONCEITO DE ECOSSISTEMA O termo "Ecossistema" foi utilizado pela primeira vez em 1935 pelo ecólogo britânico Arthur

Tansley. Em alguns países na Europa, especialmente na Rússia, utiliza-se a expressão Biocenose para identificar o Ecossistema. Desde o início de sua caracterização o termo ecossistema vem obtendo diversas conceituações.

De modo geral a expressão ecossistema refere-se a "Toda e qualquer unidade (área) que envolva todos os organismos vivos (bióticos), que se encontram interagindo com o ambiente físico (abióticos) em que estes vivem, de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas bem definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e as não-vivas".

Temas de Ecologia

3

A bacia hidrográfica considerada como um grande ecossistema.

Na figura acima, observa-se um exemplo de ecossistema formado por uma bacia hidrográfica,

dentro da qual se encontram inseridos um ecossistema terrestre constituído por uma mata ciliar e um ecossistema aquático constituído por um riacho de água doce.

Na figura abaixo, observa-se que existe uma grande interação entre o ecossistema formado pela mata ciliar e aquele formado pelo curso de água, em que o primeiro supre o segundo pelo fornecimento de substâncias nutritivas.

Perfil de um ecossistema formado pela mata ciliar e um riacho de água doce. Fonte: Adaptado de DUVIGNEAUD (1974).

Temas de Ecologia

4

COMPONENTES DE UM ECOSSISTEMA Na natureza existem inúmeras possibilidades de combinações entre os fatores animados e

inanimados para formarem um ecossistema. Qualquer dessas combinações que estejam em relativo equilíbrio, tanto no seu aspecto como na sua função, chama-se Ecossistema. Cada ecossistema contém uma biocenose (isto é, uma comunidade de plantas e animais) e um biótopo (isto é, o seu ambiente). Este ecossistema possui uma certa extensão territorial e se limita com ecossistemas vizinhos.

O esquema da abaixo contém os principais componentes de um ecossistema

Componentes de um Ecossistema.

Todo e qualquer ecossistema, constituído por florestas, rios, oceanos e outros, apresentam

componentes bióticos e substâncias abióticas que compõem o meio. Os seres vivos (fatores bióticos) organizam-se em três categorias ou grupos distintos,

representados pelos produtores, consumidores e decompositores.

PRODUTORES

Produtores são seres que, no ecossistema, conseguem fabricar substâncias orgânicas a partir de compostos inorgânicos simples. Há dois tipos de organismos produtores: quimiossintetizantes e fotossintetizantes.

Os quimiossintetizantes são os que obtêm a energia de que necessitam a partir de substâncias inorgânicas, através de reações químicas (oxidações). Com a energia obtida sintetizam compostos orgânicos. Como exemplo temos as bactérias que oxidam o gás sulfídrico (H2S), denominadas sulfobactérias. A partir do gás sulfídrico, produzem enxofre livre e liberam energia. Além das sulfobactérias temos as ferrobactérias (oxidam compostos de ferro), as nitrobactérias (oxidam compostos que possuem, nitrogênio) e as hidrobactérias (oxidam a água).

Os fotossintetizantes são os que sintetizam a substância orgânica a partir da inorgânica, na presença de luz. São os vegetais verdes, a cujo cargo está a quase totalidade da produção na natureza. Os vegetais verdes possuem o pigmento verde, clorofila, capaz de absorve a energia luminosa do sol. É com esta energia que transformam substâncias Inorgânicas em orgânica, através do processo denominado fotossíntese.

Os produtores, dados sua capacidade de produzirem sua própria matéria orgânica, são conhecidos como seres autótrofos.

Temas de Ecologia

5

FOTOSSÍNTESE É o processo de síntese orgânica a partir do qual os vegetais transformam a energia luminosa

em energia química e a armazenam em compostos orgânicos denominados alimentos. O processo químico da fotossíntese pode ser observado na seguinte expressão:

6H2O + 6CO2 + Energia Solar = C6H12O6 + 6 onde: H2O = água CO2 = dióxido de carbono C6H12O6 = glicose O2 = oxigênio Durante o processo da fotossíntese, ocorre a formação de glicose e liberação de oxigênio. RESPIRAÇÃO Neste processo fisiológico ocorre a liberação da energia anteriormente fixada, pela devolução

do dióxido de carbono e água. Através da respiração dos animais e vegetais, que compõem os ecossistemas, ocorre um

grande consumo de oxigênio.

6O2 + C6H12O6 = 6CO2 + 6H20 + Energia

Os principais fornecedores de oxigênio do planeta são as algas azuis que habitam os oceanos. No ecossistema florestal, como é o caso da floresta amazônica, a maior parte do oxigênio

liberado pela fotossíntese é consumido no processo de decomposição da matéria orgânica. CONSUMIDORES Este grupo é representado pelos organismos heterotróficos, também chamados de

macroconsumidores. Tratam-se de seres incapazes de produzir sua própria energia, sendo obrigados, para sua sobrevivência, a retirar a matéria e a energia de outros organismos. Conforme a posição que ocupam na cadeia alimentar são chamados de consumidores primários, secundários, terciários ou quaternários.

Os consumidores recebem diferentes denominações, em função do alimento consumido. (Tabela 1)

HÁBITO ALIMENTAR TIPO DE ALIMENTO

Herbívoros ou Fitófagos Plantas

Frugívoros Frutas

Onívoro Plantas e Animais

Ictiófagos Peixes

Hematófagos Sangue

Coprófagos Fezes

Ornitófagos Aves

Planctófagos Plâncton

Detritívoros Detritos Animais e Vegetais Tabela 1. Denominação dos grupos consumidores de acordo com seu hábito alimentar e o tipo de alimento consumido.

CONSUMIDORES PRIMÁRIOS Na cadeia alimentar, os consumidores primários são os primeiros organismos a se

alimentarem dos produtores (vegetais). Como exemplo de consumidores primários podemos citar os insetos e os mamíferos em geral.

Temas de Ecologia

6

Animais alimentando-se de pastagem natural.

Numa área de campo, verifica-se que os animais domésticos, bovinos, eqüinos e ovinos

buscam seu alimento a partir da massa verde produzida pelos vegetais. CONSUMIDORES SECUNDÁRIOS Quando um animal carnívoro alimenta-se de um animal herbívoro, na cadeia alimentar ele

passa a ser denominado consumidor secundário.

Hábito alimentar de um consumidor secundário.

Na seqüência acima, exemplo de uma cadeia alimentar formada por um consumidor primário, secundário e terciário.

CONSUMIDORES TERCIÁRIOS / QUATERNÁRIOS Quando um animal carnívoro se alimenta de consumidores secundários, este é chamado de

consumidor terciário.

Hábito alimentar de um consumidor terciário.

Temas de Ecologia

7

Finalmente, o consumidor terciário se constitui em alimento para os consumidores quaternários que se encontram no topo da cadeia alimentar, conforme pode ser observado no seguinte esquema:

Exemplo de cadeia alimentar.

DECOMPOSITORES OU MICROCONSUMIDORES Os decompositores que atuam em qualquer nível da cadeia alimentar também são chamados

de sapróbios ou saprófitas. Tratam-se de organismos heterotróficos representados principalmente pelas bactérias e fungos. Tais organismos são de fundamental importância na reciclagem da matéria que compõe os diferentes ecossistemas. Estes microconsumidores para conseguirem energia degradam a matéria orgânica, tranformando-a em compostos simples e inorgânicos que são novamente utilizáveis pelos produtores.

Na figura abaixo, observa-se a ação dos fungos na decomposição da matéria orgânica.

Fungos realizando a decomposição da matéria orgânica

CADEIAS ALIMENTARES

Os componentes bióticos de um ecossistema formam ( na ordem: produtores — consumidores — decompositores) um sistema de complexas relações interalimentares, em que um organismo é ingerido pelo de nível superior. A partir dessa noção, podemos definir cadeia alimentar:

Cadeia alimentar é uma seqüência de seres vivos, na qual uns comem aqueles que os precedem na cadeia, antes de serem comidos por aqueles que os seguem.

O exemplo seguinte é de autoria de M. Guimarães Ferri e ilustra uma cadeia alimentar: ―Um exemplo de cadeia alimentar, entre nós, poderia ser o seguinte: certas árvores produzem

frutos e sementes que são e comidos por pássaros, que são ingeridos por pequenos animais carnívoros como certos gatos-do-mato: estes são mortos pelo tiro de um caçador; sua carne pode servir de alimento aos cães do caçador, que abandona a carcaça que vai alimentar uma série de insetos e bactérias; os ossos se desagregam e finalmente se incorporam ao solo; as raízes de certas plantas vão aproveitar os minerais assim introduzidos ao solo; oportunamente vão, produzir novos frutos e sementes que alimentarão outros pássaros. A cadeia está assim fechada. Às vezes a cadeia se fecha, ou se completa, com um número muito menor de elos outras vezes são incontáveis esses elos‖.

Temas de Ecologia

8

Conceito de fluxo de matéria e energia

Um ser, ao se alimentar de outro, obtém, a partir deste, matéria e energia. Há, portanto, nas cadeias alimentares uma transferência de matéria e energia desde produtores até consumidores, ou seja, um fluxo de matéria e energia.

A partir da noção de fluxo, podemos reformular o conceito de cadeia alimentar já apresentado: Cadeia alimentar é o sistema de transferência de energia dos produtores, representados pelos

vegetais fotossintetizantes, através de uma série de organismos em estágios de comer e ser comido.

NÍVEIS TRÓFICOS

Nas cadeias alimentares estabelecem-se diversos níveis tróficos ou níveis alimentares. Assim, reconhecem-se quatro níveis tróficos: primário, secundário, terciário e quaternário.

O nível primário é aquele em que se encontram os produtores: o secundário é o dos consumidores de primeira ordem; o terciário é o dos consumidores de segunda ordem; o quaternário é o dos consumidores de terceira ordem.

De modo geral, podemos afirmar que nos ecossistemas os organismos cujo alimento é obtido a partir de plantas, através de um mesmo número de passagens, pertencem ao mesmo nível trófico.

Os níveis tróficos são os mesmos nos diversos ecossistemas, apesar de se observarem variações quanto a seus componentes.

TEIAS ALIMENTARES

A teia alimentar é o conjunto de cadeias alimentares de uma comunidade. A cadeia alimentar diz respeito a um dos caminhos pelos quais fluem a matéria e a energia no ecossistema. Já a teia alimentar representa o máximo de relações entre os componentes de uma comunidade, ou seja, o conjunto de caminhos de transferência de matéria e emergia no ecossistema.

FLUXO DE ENERGIA NO ECOSSISTEMA

A energia é definida como a capacidade de realizar trabalho. Trabalho é a medida da

quantidade de energia que foi transformada a fim de produzir a força para movimentar mm corpo. Conhecem-se várias formas de energia, mas as de maior importância para os organismos vivos

são a mecânica, a química, a radiante e a calorífica. Por exemplo, um corpo em movimento possui energia mecânica; uma corrente oceânica quente possui tanto energia calorífica quanto mecânica; a energia química encontra-se armazenada em combustíveis e alimentos; a energia radiante provém do Sol e ilumina e aquece a Terra.

A energia mecânica apresenta-se sob duas formas: cinética e potencial. A cinética é a emergia do movimento. É medida pela quantidade de trabalho executada para trazer um corpo ao repouso. A potencial é a energia armazenada, podendo ser convertida em cinética.

Os seres vivos precisam de uma fonte de energia potencial para executar o trabalho de viver. Esta á representada pela energia química existente nos compostos orgânicos dos alimentos.

FONTE DE ENERGIA PARA OS SERES VIVOS

O Sol representa a fonte de energia para os seres vivos. Sem a luz solar os ecossistemas não conseguem manter-se.

A partir dos açúcares produzidos na fotossíntese, o vegetal sintetiza outras substâncias que fazem parte da sua estrutura, como proteínas, lipídios, etc.

UTILIZAÇÃO DA ENERGIA QUÍMICA PELOS SERES VIVOS

Os animais não são capazes de utilizar diretamente a energia proveniente do Sol. Sendo heterótrofos, vêem-se obrigados a utilizar os compostos orgânicos produzidos pelos vegetais. Assim, ao se alimentarem de vegetais ou de outros animais, na verdade estão ingerindo energia química condensada nas ligações dos compostos orgânicos.

Uma vez no organismo, os compostos orgânicos chegam às células, onde são, degradados. Nessa ocasião liberam energia, que é, então utilizada para realizar trabalho.

CADEIAS ALIMENTARES E FLUXO DE ENERGIA

Anteriormente definimos cadeia alimentar como um sistema de transferência de energia.

Temas de Ecologia

9

Vimos ainda que, nas cadeias alimentares, há uma transferência de energia de produtores a consumidores, estabelecendo-se um fluxo de energia.

A cadeia alimentar é, então, uma linha de transferência de energia dos produtores em direção aos consumidores e aos decompositores. A esse respeito torna-se importante ressaltar o seguinte:

Em cada transferência de energia de um organismo para outro ou de um nível trófico para outro, uma grande parte de energia é transformada em calor. Portanto, a quantidade de energia disponível diminui à medida que é transferida de um nível a outro.

Disso conclui que quanto mais curta é uma cadeia alimentar, ou quanto mais próxima estiver do organismo do início da cadeia, maior será a energia disponível.

Considera-se que cada elo da cadeia alimentar recebe aproximadamente 10% da energia que o elo anterior recebeu.

Segundo Odum numa zona temperada, se 1m2 de vegetação produz 15 kcal (quilocalorias) disponíveis para os consumidores de primeira ordem, os consumidores de segunda ordem terão 1,5 kcal disponíveis e os de terceira ordem apenas 0.15 kcal de energia disponível.

Temas de Ecologia

10

A DIFERENÇA ENTRE OS FLUXOS DE ENERGIA E MATÉRIA

É importante observar que, a energia uma vez utilizada por um organismo não é reaproveitada. Assim, a energia gasta não retorna aos produtores.

A energia possui um fluxo unidirecional. O mesmo não ocorre com a matéria. Esta, ao contrário da energia que flui em um só sentido,

tem um comportamento cíclico, voltando aos produtores e sendo reaproveitada. Portanto, a matéria circula de forma cíclica.

CONCLUSÕES SOBRE O FLUXO ENERGÉTICO

A fonte de energia para os seres vivos é o Sol. Os produtores apresentam sempre o maior nível energético. À medida que se afasta do produtor, a quantidade de energia disponível diminui. A energia gasta pelos organismos vivos não é reaproveitada. A energia possui um fluxo unidirecional

Hábitat e nicho ecológico Chama-se habitat ao lugar onde uma espécie pode ser encontrada, isto é, o seu ―endereço‖

dentro do ecossistema. Nicho ecológico é o papel que um organismo desempenha dentro de um ecossistema. Pode-se

considerar o nicho ecológico como a ―profissão‖ da espécie. O hábitat de uma espécie indica onde encontrá-la. Já o nicho informa onde e à custa do que se alimenta, a quem serve de alimento, onde ou de e como se reproduz, etc. Assim, o nicho ecológico diz respeito ao conjunto de atividades ecológicas que uma espécie desempenha no ecossistema.

Ao dizermos que o leão habita as savanas africanas, estamos nos referindo ao seu hábitat. Mas se dissermos que nas savanas o leão atua como predador, devorando grandes herbívoros como a zebra e os antílopes, estaremos nos referindo ao seu nicho ecológico.

Espécie, populações e comunidades.

Define-se espécie como o conjunto de indivíduos semelhantes e capazes de se intercruzar em

condições naturais, produzindo descendentes férteis. Esse conceito, contudo é passível de algumas críticas. Em primeiro lugar, ele não, pode ser

usado para organismos de reprodução assexuada. Além disso, essa definição não pode ser testada experimentalmente, dado depender do comportamento do organismo em condições naturais. Finalmente, trata-se de uma definição incômoda, para uso prático, na identificação de organismos.

Por isso prefere-se atualmente considerar a espécie como uma população ativa (dinâmica) de organismos com muitas características anatômicas, fisiológicas e de comportamento em comum.

Chama-se população ao conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que vivem numa mesma área e num mesmo tempo, mantendo entre si uma certa dependência. Assim, por exemplo, se dissermos que numa cidade (área) viviam 10 mil pessoas (espécie) no ano de 1991 (tempo), estaremos caracterizando uma determinada população humana.

Num ecossistema, podemos encontrar, convivendo, indivíduos pertencentes a várias espécies e, portanto, várias populações. Dá-se o nome de comunidade ou biocenose ao conjunto de populações interdependentes que vivem em uma determinada área geográfica. Por viverem num mesmo lugar, os seres de uma comunidade dependem dos mesmos fatores físicos e químicos do meio. É por isso que podemos falar em comunidade de uma floresta, de um lago, etc.

Entre duas comunidades há uma zona de transição de dimensões variáveis. Essa zona é conhecida como ecótono podem viver espécies provenientes das comunidades limítrofes, além de espécies peculiares à própria região. Estas últimas só existem no ecótono, não aparecendo nas comunidades vizinhas.

Temas de Ecologia

11

PIRÂMIDES ECOLÓGICAS

Pirâmides ecológicas ou alimentares são representações quantitativas de cadeias alimentares.

Para a construção de uma pirâmide ecológica representam-se os produtores em sua base, vindo a seguir, em degraus superiores, os consumidores de diversas ordens.

Uma pirâmide é, portanto, a representação dos níveis tróficos da cadeia alimentar e pode ser construída levando-se em conta três aspectos:

1. Número de indivíduos presente em cada nível trófico; 2. Massa dos indivíduos (biomassa) em cada nível trófico; 3. Quantidade de energia disponível em cada nível trófico.

Tipos de pirâmides: pirâmide de números; pirâmide de biomassa; pirâmide de energia. PIRÂMIDE DE NÚMEROS Indica o número de indivíduos que participam de uma cadeia alimentar. A construção da

pirâmide de números foi possível graças a dois fatos observados nas cadeias alimentares: Num ecossistema os animais de pequeno tamanho são mais numerosos que os de tamanho

maior e reproduzem-se mais rapidamente. Para todo animal carnívoro, há dois limites de tamanho (superior e inferior) quanto às presas de

que se alimenta. O limite superior é representado pelas presas grandes, dado que um predador não pode matar e devorar presas muito maiores que ele. O limite inferior é representado por presas muito pequenas. Para se alimentar dessas, o predador teria que capturá-las em grande número, o que seria difícil por falta de presas, de tempo e ainda por exigir demasiado gasto energético. Isso que existe, em geral, um tamanho ótimo de presas de cada espécie.

Para se construir uma pirâmide de números representa-se a cadeia alimentar com compartimentos da mesma altura e comprimento proporcional ao número de indivíduos em cada nível trófico. A seguir, contam-se produtores e consumidores, agrupando-se nos degraus correspondentes da pirâmide.

Exemplo de pirâmide de números Uma criança de 12 anos de idade consome, durante um ano, 4,5 bezerros. Estes, por sua vez,

consomem no mesmo período 2 x 107 pés de alfafa. Temos, portanto, uma cadeia alimentar. Representação da cadeia: Representação da cadeia sobre a forma de pirâmide: 2x107 pés de alfafa 4,5 bezerros 1 criança

Em conclusão, podemos afirmar o seguinte sobre as pirâmides de números: Quando se passa de um nível trófico para outro superior (sentido produtorconsumidores) há

aumento do tamanho dos indivíduos e diminuição do seu número. Há, contudo, exceções a essa conclusão. Nas florestas, por exemplo, os produtores (árvores)

são em menor número que os consumidores primários (insetos fitófagos) PIRÂMIDE DE BIOMASSA Considera a massa do organismo (biomassa) como critério básico. Ela indica a quantidade de

matéria viva existente em cada nível trófico. Como regra geral, para as pirâmides terrestres, a massa total de matéria viva de um

determinado nível trófico é menor que a do nível inferior.

1 criança 4,5 bezerros

2x107 pés de alfafa

Temas de Ecologia

12

Nas pirâmides marinhas, contudo, os produtores (fitoplâncton) apresentam menor biomassa que os dos níveis tróficos superiores. A razão deste fato é que, sendo unicelulares, são consumidos muitos rapidamente (embora reapareçam em velocidade muito grande).

De modo geral, para os ambientes aquáticos e terrestres, podemos dizer que o total de matéria orgânica produzida por unidade de tempo é sempre maior nos níveis tróficos mais baixos.

Convertendo os dados da pirâmide de números para de massa: Uma criança de 12 anos de idade e peso de 48 Kg consome durante um ano 1035 kg de carne de bezerro. Estes, por sua vez, consomem 8211 Kg de alfafa. teremos

8211 Kg de alfafa1 035 kg bezerro 48 kg criança PIRÂMIDE DE ENERGIA As pirâmides de números ou as de biomassa tem suas limitações. Elas informam a quantidade

de material orgânico presente num dado momento, mas não indicam a perda de energia do processo.

As pirâmides de energia mostram a transferência desta na cadeia alimentar. É o modo mais satisfatório de representação.

Nelas se observa a perda de energia quando se passa de um nível trófico para outro superior. Quanto mais alto o grau dos consumidores, menor é o teor de energia que recebe. Por isso, estas pirâmides têm sempre a forma de um triângulo cujo ápice é voltado para cima.

Como exemplo, citamos a cadeia alimentar já apresentada nas pirâmides anteriormente estudadas, modificada pela conversão de seus dados com energia: os pés de alfafa produzem, durante um ano, 1,5 x 107 cal. Deste valor energético apenas 1,2 x 106 cal passam para os 4,5 bezerros. Finalmente, chegam à criança 8,3 x 103 cal.

Esses dados representados sob a forma de pirâmide, mostram o seguinte aspecto: Pirâmide de energia O fato de que nem toda essa energia passe de um nível trófico para o seguinte deve-se ao

consumo energético dos processos fisiológicos e metabólicos na alfafa e no bezerro. Assim, por consumirem energia no trabalho de viver, apenas parte da energia que obtêm é passada para o nível trófico seguinte.

EQUILÍBRIO E DESEQUILÍBRIO DOS ECOSSISTEMAS

O equilíbrio de um ecossistema é o estado em que as espécies que o habitam permanecem

vivas e perfeitamente integradas ao meio onde vivem. Para que isso aconteça é necessário que seja mantida uma característica fundamental dos

ecossistemas: a sua capacidade quase infinita de auto-regulação. O que vem a ser auto-regulação? Os ecossistemas diferem dos outros sistemas porque, ao

contrário destes, são capazes de promover uma contínua reposição de suas peças, isto é, dos seres que formam as suas comunidades. Essa reposição, base do seu equilíbrio, é feita através da capacidade de reprodução dos seres que, desse modo, produzem descendentes que substituem aqueles que morrem. Os novos seres, uma vez introduzidos no meio, enfrentarão condições nem sempre favoráveis e sobreviverão apenas aqueles que possuírem características que lhes permitam adaptar-se ao ambiente onde vivem. É nesse tripé — reprodução, competição pela sobrevivência e adaptação ao ambiente —- que se assenta à capacidade de auto-regulação de um ecossistema e, portanto, o seu equilíbrio.

8211 Kg de alfafa

1 035 kg bezerro

48 kg criança

1,5.107 cal de alfafa

1,2. 106cal de bezerro

8,3 . 103cal de criança

Temas de Ecologia

13

Como exemplo de equilíbrio do um ecossistema, vejamos o caso da Floresta Amazônica. Trata-se da maior floresta tropical do mundo, ocupando uma área que corresponde a quase metade da América do Sul. Na Amazônia encontra-se também o mais imponente sistema hídrico do mundo, constituído pelo rio Amazonas e seus numerosos afluentes. O clima do ecossistema Amazônico é quente e extremamente úmido devido as freqüentes chuvas. Seu solo é pobre nele vivem organismos decompositores que, ao reciclarem rapidamente os nutrientes para que voltem aos vegetais, garantem o equilíbrio e a manutenção da floresta.

Estima-se que na Amazônia vivam cerca de 20% das espécies que atualmente existem na Terra. Esses seres estão organizados em complexas e delicadas cadeias alimentares e perfeitamente integrados ao ambiente que os cerca, Como exemplo dessa perfeita interação lembremos que a pobreza do solo, devida à rápida reciclagem dos nutrientes, faz com que estes faltem nas águas de alguns rios amazônicos. Em conseqüência, os peixes e outros seres que vivem nesses rios passam, a depender, para alimentar-se, das folhas que caem das árvores.

O equilíbrio do ecossistema amazônico depende da manutenção das suas espécies animais e vegetais, do seu solo e das características do seu clima.

DESEQUIBRIO DE UM ECOSSISTEMA

O equilíbrio do ecossistema amazônico é ameaçado quando um dos seus componentes —

seres vivos, solo e clima — é alterado. Se considerarmos, por exemplo, que a maior parte dos nutrientes encontra-se nos vegetais, e o não no solo, veremos que o desmatamento afeta drasticamente o ecossistema. As árvores cortadas, além de levarem consigo nutrientes, deixam o solo expostos às chuvas, cujas águas se encarregam de levar para os rios os nutrientes restantes. Com isso o solo se empobrece ainda mais e torna-se inviável o reaparecimento de novos vegetais na área afetada. Uma outra conseqüência do desmatamento sobre o solo é que, com a retirada das árvores, desaparece a sombra e o solo fica exposto ao sol. Com isso sua temperatura se eleva, o que, além de provocar a morte dos organismos decompositores, aumenta a evaporação. Esse aumento da evaporação faz com que sais de ferro em solução encontrados nas regiões mais profundas do solo venham à superfície, onde se depositam e secam. Em conseqüência o solo torna-se constituídos por verdadeiros ladrilhos impermeáveis de terra com sais de ferro, fenômeno esse denominado laterização.

Note-se que até este ponto estamos discutindo as conseqüências do desmatamento sobre o solo da Amazônia. Não devemos esquecer que, com a derrubada das árvores, todos os elos das cadeias alimentares desse ecossistema são afetados, sucumbindo não só as espécies vegetais como as animais. Como exemplo podemos citar um fato de que a vida dos peixes que dependem, para se alimentar, da queda de frutos das árvores poderá ser bastante afetada com o desmatamento.

O equilíbrio do ecossistema é extremamente delicado e qualquer intervenção sobre ele pode alterar a sua teia de relações. Se é verdade que os ecossistemas são capazes de resistir a variações naturais do ambiente, tais como chuvas ou secas prolongadas e invernos rigorosos, também o é que eles são extremamente sensíveis à ação do homem. É essa ação, aliás, que provoca os impactos ambientais, entre os quais destacamos o derramamento de petróleo nas águas do mar, a produção excessiva de gás carbônico e o desmatamento excessivo.

Infelizmente, vários são os exemplos de desequilíbrio ambiental. A quase totalidade deles resulta da necessidade de exploração de recursos naturais do ambiente para que a espécie humana possa subsistir. Este problema é bastante complexo e é claro que, se o homem não pode prescindir dos recursos naturais, faz-se necessária uma exploração racional dos mesmos.

Temas de Ecologia

14

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

A RADIAÇÃO SOLAR O sol é a principal fonte de vida dos animais e vegetais sobre a superfície do globo terrestre.

No ecossistema florestal, a vida dos vegetais e animais depende do fluxo de energia irradiada pelo sol.

Da energia recebida na superfície da terra, aproximadamente 20% é refletida pelas nuvens e partículas atmosféricas, enquanto outra parte é absorvida pela superfície terrestre (solo, vegetação etc.). Da radiação líquida disponível, 40% é utilizada na evapotranspiração e somente 2% desta é usada no processo da fotossíntese que resulta no desenvolvimento e crescimento dos vegetais. (Figura 01)

Figura 01. Radiação solar e o desenvolvimento vegetal. Figura 02. Balanço de energia no sistema Terra - Atmosfera - Universo. Fonte: SCHUMACHER (1996). Fonte: ANDRAE (1978)

A energia oriunda do sol que entra na atmosfera é igual àquela que novamente sai, ou seja, 100%, porém o movimento de energia na superfície da terra é 142%. Este valor superior é obtido em função dos 99% de energia que volta em forma de radiação térmica, 27% da energia que atinge a superfície através da radiação direta e finalmente os 16% de energia que chegam à Terra de forma indireta. (Figura 02)

O transporte de energia através da irradiação, devido à presença de nuvens, gases e partículas atmosféricas, de volta para a terra é 2,3 vezes maior do que aquela quantidade que atinge a terra através da radiação direta e indireta (radiação difusa do céu).

Do total da radiação que atinge o topo da floresta, uma parte é refletida, parte é absorvida e outra parte passa pelas folhas. A transmissão da luz depende da estrutura da folha: pode ser de 40% em folhas finas ou até 0% em folhas grossas. A intensidade da luz é muito importante para a fotossíntese, para o movimento dos estômatos e para o crescimento.

Da radiação solar que chega à superfície da terra, aproximadamente 50% é consumida pela evaporação da água. Após a evaporação, quando o vapor da água atinge a condensação, através da chuva, a mesma quantidade de energia gasta anteriormente retorna ao meio.

EFEITO ESTUFA O efeito estufa pode ser definido como sendo a irradiação da energia das camadas da

atmosfera, principalmente no âmbito da troposfera ( O - 20 km de altura).

Temas de Ecologia

15

Se na Terra não existisse atmosfera, a temperatura média da superfície terrestre seria abaixo de 18ºC negativos, ou seja, a mesma temperatura da lua, o que dificultaria a vida sobre a Terra. Grande parte da radiação oriunda do sol é absorvida pela atmosfera e re-irradiada para a superfície da Terra, possibilitando a sobrevivência dos seres vivos. Como conseqüência do efeito estufa, no ano de 1900 a temperatura média da superfície da terra foi de 15ºC. No caso de não ocorrência da irradiação da atmosfera (Ia), a temperatura média seria de -17ºC. Logo, a superfície terrestre seria em média 32ºC mais fria.

Os gases naturais que mais contribuem com o aumento relativo da temperatura da terra são o dióxido de carbono e o vapor d'água e outros gases, conforme tabela 2. A cada ano o homem está contribuindo para o aumento do efeito estufa através da devolução de grandes quantidades de gases para a atmosfera.

Tabela 2. Principais gases que contribuem para o aumento do efeito estufa.

O aumento da concentração de gases na atmosfera provém principalmente da queima de

combustíveis fósseis e florestais. Isso pode ser verificado especialmente no caso do dióxido de carbono que nas últimas décadas teve sua concentração aumentada na atmosfera. (Figura 03)

Como conseqüências do efeito estufa para o ambiente, estão previstas catástrofes climáticas como o aumento do nível dos oceanos, mudanças dos ecossistemas da terra e, com isso, nova distribuição geográfica das zonas de produção, diminuição no abastecimento de água, principalmente uma baixa na produtividade dos vegetais e, provavelmente, danos diretos à saúde humana.

Figura 03. Concentração de dióxido de carbono na atmosfera,ar seco, em partes por milhão (ppm) ao longo dos anos (Observatório Mauna

Loa, Hawaii). Fonte: Adaptado de CHAPMAN & REIS (1995).

Temas de Ecologia

16

PRODUTIVIDADE DO ECOSSISTEMA FLORESTAL A produtividade de um ecossistema florestal está relacionada diretamente com o consumo e

com a disponibilidade de dióxido de carbono no meio, pois este é o elemento que movimenta o processo de absorção das plantas.

A assimilação do dióxido de carbono (CO2) ocorre através de uma absorção passiva por meio dos estômatos das folhas, cuja abertura é regulada principalmente pela intensidade de luz e pelo regime hídrico interno da planta.

Neste aspecto, o índice de área foliar passa a ter importância fundamental, uma vez que é através das folhas que as plantas executam a fotossíntese e, por conseguinte, a assimilação que vai resultar na sua produção.

A produtividade primária de um sistema ecológico pode ser definida como sendo a taxa na qual a energia radiante é convertida pela atividade fotossintética e quimiossintética de organismos produtores (plantas verdes), em substâncias orgânicas.

PRODUTIVIDADE PRIMÁRIA BRUTA (PPB): Esta produtividade representa a taxa global de fotossíntese, incluindo a matéria orgânica

usada na respiração durante o período de medição, também chamada de fotossíntese total ou assimilação total.

PRODUTIVIDADE PRIMÁRIA LÍQUIDA (PPL): É a taxa de armazenamento de matéria orgânica nos tecidos vegetais, desconsiderando a

respiração pelas plantas durante o período de medição, denominada também de fotossíntese aparente ou assimilação líquida.

Durante a respiração, parte da matéria orgânica, resultante da produção primária bruta, é convertida novamente em dióxido de carbono e água, perdendo parte do peso seco.

A produtividade primária bruta, a produtividade primária líquida e a respiração são relacionadas através da seguinte equação:

Os diferentes tipos de comunidades ou ecossistemas variam grandemente em sua

produtividade primária líquida, conforme se observa no quadro 1.

Quadro 1. Produtividade primária líquida de diferentes ecossistemas florestais do mundo. Fonte: CHAPMAN&REIS (1992).

Nos diferentes ecossistemas mundiais existem uma série de fatores que exercem influências

na produtividade primária, dentre eles destacam-se a disponibilidade de nutrientes no solo, a disponibilidade de água, o período da estação do crescimento, a temperatura e os níveis de luz (Figura 04).

Temas de Ecologia

17

Figura 04. Produção primária líquida anual (tonelada de substância seca/hectare) no planeta Terra Fonte: SCHULTZ(1995).

Durante a fotossíntese, para a produção de uma tonelada de substância orgânica seca (como glicose), ocorrem os seguintes processos:

Retirados do ambiente: 600 litros de água Removidos do ambiente: 1470 kg de CO2 Devolvidos ao ambiente: 1070 kg de oxigênio

Quadro 2. Processos para produção de uma tonelada de substância orgânica seca na fotossíntese. Fonte: BOSSEL (1994).

Num ecossistema florestal, existe uma grande dinâmica na produção de biomassa, ou seja, à medida que a floresta vai se desenvolvendo, ocorre uma gradual redução da biomassa da copa das árvores e simultaneamente verifica-se um aumento na proporção dos componentes madeira e casca. Os troncos das árvores representam em média mais de 80% da biomassa aérea em uma floresta madura.

A CIRCULAÇÃO DOS NUTRIENTES EM ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

Através de estudos de ciclagem de nutrientes realizados em florestas do mundo inteiro, verifica-se que o estoque de nutrientes na vegetação acima do solo aumenta das florestas de clima frio (boreais), para as de clima quente (tropicais).

Por outro lado, a massa de nutrientes acumulados na serapilheira e depositados sobre o solo aumenta de forma contrária, ou seja, das florestas tropicais para as boreais, principalmente devido à baixa atividade dos organismos decompositores, que são inibidos pelas baixas temperaturas. (Quadro 3)

Ecossistema Floresta Boreal Floresta Temperada Floresta Tropical

Vegetação Aérea Coníferas Coníferas Folhosas Folhosas

Biomassa (kg/ha) 51300 307300 151900 292000

Nutrientes (kg/ha)

Nitrogênio (N) 116 479 442 1404

Fósforo (P) 16 68 35 82

Potássio (K) 44 340 224 1079

Cálcio (Ca) 258 480 557 1771

Magnésio (Mg) 26 65 57 290

Serapilheira Coníferas Coníferas Folhosas Folhosas

Biomassa (kg/ha) 113700 74881 21625 27300

Nutrientes (kg/ha)

Nitrogênio (N) 617 681 377 214

Fósforo (P) 115 60 25 9

Potássio (K) 109 70 53 22

Cálcio (Ca) 360 206 205 179

Magnésio (Mg) 140 53 28 24

Quadro 3. Estoque de matéria orgânica e nutrientes na biomassa aérea e serapilheira em diferentes ecossistemas florestais. Fonte: WARING & SCHLESINGER (1985).

Temas de Ecologia

18

Num ecossistema florestal tropical, a quantidade de detritos que caem em 12 meses é de 10.500 kg/ha, dos quais 2/3, ou seja, em torno de 7000 kg são folhas e 1/3 é constituído por ramos e pequenos troncos.

Na mesma floresta tropical, o volume dos grandes troncos atingem 173.600 kg/ha. A biomassa das raízes é de 24.750 kg/ha, dos quais 85% estão localizados nos primeiros 30cm da profundidade do solo. A grande maioria das raízes exploram a zona superficial do solo de onde retiram os elementos nutritivos para o crescimento das plantas, sendo poucas as raízes que atingem a rocha matriz.

Além de fatores importantes como aeração e economia de água, são os processos de reincorporação de nutrientes no ciclo que influem sobre a produção.

Nas florestas naturais, o ciclo dos nutrientes ocorre continuamente, sendo uma circulação rápida de substâncias nutritivas, com um alargamento do ciclo, que possibilita também o crescimento de espécies com exigências maiores.

Com a exploração, e a conseqüente retirada de nutrientes, logicamente alteram-se as condições do ecossistema, e a produtividade no futuro, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais que dependem exclusivamente do processo de circulação de nutrientes.

A parte que entra na circulação (percentagem do total retirada pela árvore) varia de acordo com o elemento, a espécie e sua idade. Então, quanto mais rápida a decomposição, melhor o efeito para o crescimento.

Os estudos sobre ciclagem de nutrientes em florestas mostram que o retorno de nutrientes ao solo é maior em florestas com idades mais avançadas.

Os nutrientes que retornam ao solo são novamente fonte de alimentação, e a sua decomposição influi muito na continuidade de abastecimento.

Camadas de serapilheira espessa (por exemplo, Pinus sp. no Brasil) são sinal de interrupção do ciclo nutritivo, pois causam imobilização de nutrientes. Conforme o tipo de solo, e a médio prazo, resultam em redução do crescimento.

Comparando os resultados de uma floresta de Araucaria angustifolia com as quantidades de nutrientes fixados na sua serapilheira, vê-se que o consumo anual inclui boa porcentagem dos nutrientes contidos na serapilheira.

Como regra geral, pode-se afirmar que a rapidez da decomposição da serapilheira (desconsiderando as influências do ambiente) é maior, quanto maior for o teor de nitrogênio, fósforo, cálcio e magnésio. Partes jovens decompõem-se mais rapidamente do que partes velhas e a duração de decomposição de acículas é maior do que de folhas. As folhas da mesma espécie, procedentes de um ambiente com abastecimento bom em água e nutrientes, decompõem-se mais rapidamente do que as folhas de um ambiente com abastecimento deficiente.

A manutenção do estoque de nutrientes minerais no solo, bem como da produtividade de biomassa das florestas de rápido crescimento, está intimamente relacionada com o processo da ciclagem de nutrientes.

O processo de ciclagem de nutrientes nos ecossistemas florestais pode ser caracterizado em três tipos:

Ciclo geoquímico Este ciclo caracteriza-se pela entrada de elementos minerais oriundos da decomposição da

rocha matriz, pela fixação biológica de nitrogênio, adubações, pelas deposições de poeiras, gases e através da precipitação pluviométrica. A saída dos elementos minerais para fora do ecossistema, ocorre através da erosão, lixiviação, queima (volatilização) e, principalmente, pela exploração.

Ciclo bioquímico Uma vez absorvidos os nutrientes do solo, alguns destes elementos ficam em constante

mobilização no interior da planta, como é o caso do fósforo. Este ciclo relaciona-se com as transferências dos elementos minerais dos tecidos mais velhos para os mais jovens.

Na Figura 05, observa-se o processo da dinâmica da ciclagem de nutrientes em ecossistemas florestais.

Temas de Ecologia

19

Figura 05. Ciclagem dos nutrientes em um ecossistema florestal. Fonte: SCHUMACHER (1995) adaptado de MILLER (1984).

Nas florestas tropicais e subtropicais com solos velhos, onde a decomposição dos minerais

primários já é mais ou menos completa, a nutrição das florestas depende cada vez mais da circulação de nutrientes através das substâncias orgânicas. Logo, quando se realiza um corte raso ou queima de capoeiras, capoeirões e ou florestas em estágio secundário, destrói-se a principal fonte de nutrientes que assegura a continuidade do desenvolvimento da vegetação. A mineralização e a humificação se tornam a base do ciclo nutritivo. Nessas florestas naturais há um equilíbrio entre a decomposição da matéria orgânica e a retirada de nutrientes, já que não há extração por exploração nem maiores perdas por lixiviação ou erosão.

A morte dos produtores e consumidores proporcionam o retorno ao solo de uma grande massa orgânica, constituindo a camada de detritos. Essa camada/serapilheira alimenta uma grande quantidade de animais saprófagos, destacando lumbricóides - minhocas, cuja quantidade constitui a essência da fauna dos solos florestais.

A fauna do solo decompõe a serapilheira, transformando-a em compostos orgânicos complexos, metabolizados pelos fungos actinomicetos e bactérias que, pela respiração, transformam o dióxido de carbono em alimento para os vegetais clorofilados.

São várias as fontes de nutrientes para as plantas, no entanto a rocha matriz é a principal fornecedora dos elementos minerais oriundos da sua decomposição, inclusive os elementos contidos na matéria orgânica acima e abaixo da superfície do solo. Todos os elementos minerais estão sujeitos à ação da água, por isso, é importante salientar que os elementos disponíveis no habitat são incorporados na vegetação para reduzir as perdas pela lixiviação. Em solos de clima tropical e subtropical, a lixiviação é a grande responsável pela diminuição do potencial nutritivo dos solos. (Figura 06)

Temas de Ecologia

20

Figura 06. Influência da água na formação do relevo

Dentre os principais elementos utilizados para o desenvolvimento das espécies vegetais, pode-

se destacar: NITROGÊNIO, FÓSFORO e ENXOFRE.

A RECICLAGEM DA MATÉRIA

Num ecossistema, o fluxo de energia se processa num único sentido: dos produtores para os

consumidores e decompositores. Esse fluxo unidirecional exige um suprimento constante de energia do meio externo, pois parte dessa energia é consumida nos deferentes níveis tráficos. Assim, o suprimento de energia para os ecossistemas é garantido pelo sol.

Com a matéria isso não ocorre. As substâncias inorgânicas que participam dos ecossistemas não necessitam de um suprimento constante a partir de uma fonte externa, porque essas substâncias estão em constante reciclagem, sendo sempre reaproveitadas. Dessa forma, ora elas são encontradas nos seres vivos, ora no meio externo.

Por envolverem os seres vivos (produtores, consumidores e decompositores), os componentes geológicos e as substâncias químicas dos ecossistemas, essas reciclagens recebem o nome de ciclos biogeoquímicos.

NITROGÊNIO

O nitrogênio constitui a maior fração da atmosfera, com cerca de 78% do seu volume, sendo

esta a fonte e o reservatório deste elemento vital para qualquer forma de produção orgânica. Embora seja um dos elementos mais difundidos na natureza, praticamente não existe nas

rochas que dão origem aos solos. Assim, pode-se considerar que a fonte primária do elemento, importante para o crescimento dos vegetais, é o ar.

Na atmosfera, o nitrogênio encontra-se na forma molecular altamente estável de N2, não diretamente aproveitável pela maioria dos vegetais superiores.

O nitrogênio é incorporado ao solo através de descargas elétricas na atmosfera, transformando o nitrogênio elementar (N2) em óxidos que são convertidos em ácido nítrico. Esse acaba no solo com a água das chuvas, resultando em nitratos aproveitáveis pelas plantas. Outro método de incorporação é a fixação direta de nitrogênio do ar pelos microorganismos do solo. (Figura 07)

Figura 07. Ciclo do nitrogênio.Fonte: HEINRICH&HERGT (1990).

Temas de Ecologia

21

O processo de fixação biológica de nitrogênio ocorre através dos microorganismos livres, como bactérias, fungos e algas. De maior importância para o sistema agroflorestal é a fixação simbiótica, realizada principalmente por bactérias do gênero Rhizobium, que formam nódulos nas raízes de leguminosas e transferem o nitrogênio fixado do ar, transformando em formas assimiláveis, para a planta hospedeira. Todo o nitrogênio acumulado na planta somente é incorporado ao solo à medida que os resíduos de raízes mortas, folhas, galhos, cascas e troncos forem decompostos. (Figura 08)

Figura 08. Decomposição da madeira pela ação dos fungos.

No detalhe simbiose entre as bactérias do gênero Rhizobium e as raízes.

CICLO DO NITROGÊNIO

O nitrogênio é um elemento químico que entra na composição de moléculas orgânicas, como

os aminoácidos, as proteínas e os ácidos nucléicos. Trata-se de um elemento indispensável para a continuidade da vida em nosso planeta.

O nitrogênio é encontrado na atmosfera sob a forma de nitrogênio molecular (N2). Esse gás constitui cerca de 78% da atmosfera terrestre e existe também dissolvido na água.

Apesar de sua abundância, a grande maioria dos seres vivos não consegue aproveitá-lo. Assim o N2 penetra nos seres vivos, mas retorna ao meio, não sendo usado em qualquer fenômeno biológico.

Fixação do nitrogênio por bactérias e algas

Vimos que o nitrogênio, em sua forma molecular, é inaproveitável pela grande maioria dos

seres vivos. Esse fato impõe uma questão: como os organismos vivos conseguem fixar e incorporar o

nitrogênio molecular em seus compostos nitrogenados? A resposta está na existência de algumas bactérias e certas algas azuis, capazes de fixar o

nitrogênio do ar atmosférico ou o dissolvido na água. As bactérias que fixam o nitrogênio molecular pertencem a dois gêneros: Rhizobium e

Azotobacter. As do gênero Rhizobium vivem em simbiose com as células das raízes de leguminosas, como feijão, soja, ervilha, alfafa, trevo, etc., onde formam pequenos nódulos. As bactérias do gênero Azotobacter vivem livremente no solo.

As algas azuis fixadoras de nitrogênio molecular são encontradas principalmente na água e em solos encharcados e pertencem aos gêneros Anabaena e Nostoc.

Temas de Ecologia

22

As bactérias e algas azuis, após fixarem o nitrogênio molecular, fazem a sua conversão em nitratos (NO3). Esse fenômeno é denominado nitrificação. Após a conversão os nitratos, então dissolvidos na água, são absorvidos pelos vegetais, que os usam na síntese de seus aminoácidos e proteínas.

O nitrogênio em animais e vegetais

As proteínas, sintetizadas pelos vegetais, poderão chegar aos animais, através das cadeias

alimentares. Podem ainda ir para o solo com a morte da planta. Os animais, possuindo proteínas, excretam subprodutos de seu metabolismo, na forma de

compostos nitrogenados, como amônia, uréia e ácido úrico. Estes, uma vez eliminados vão para o solo.

Papel dos decompositores

No solo, os compostos nitrogenados excretados pelos animais e os cadáveres de animais e

vegetais são degradados por bactérias e fungos. Esses decompositores transformam os compostos nitrogenados em amônia ou íons amônio (NH3 ou NH4). Este fenômeno é denominado amonificação.

A amônia (ou íons amônio) poderá seguir três caminhos diferentes:

ser absorvida pelos vegetais e novamente usada na síntese de aminoácidos e proteínas;

ser transformada em nitritos (NO2) e nitratos (N03) pela ação de bactérias nitrificantes determinadas e especializadas que operam em condições aeróbicas;

ser convertida novamente em nitrogênio molecular (N2), pela ação de bactérias desnitrificantes, mais intensamente na ausência de oxigênio. Essa transformação da amônia ou íons amônio em nitrogênio molecular recebe o nome de desnitrificação. As bactérias desnitrificantes possibilitam a devolução do nitrogênio molecular à atmosfera, fechando o ciclo do nitrogênio.

Observações Como acabamos de ver, os únicos organismos capazes de fixar o nitrogênio atmosférico são

algumas bactérias e certas algas azuis. Desses organismos, as bactérias do gênero Rhizobium, que vivem em simbiose com as células das raízes de leguminosas, merecem um destaque especial. Essas bactérias conseguem fixar cerca de 300 kg de N2 por hectare, anualmente. São elas as grandes responsáveis, em termos quantitativos, pela fixação da maior parte do N2 atmosférico.

As bactérias do gênero Azotobacter, encontradas livremente no solo, fixam em média 5 kg de N2 por hectare, anualmente.

A análise desses dados nos permite entender a importância das leguminosas na nutrição animal e na agricultura. Na nutrição animal, as leguminosas como soja, feijão, ervilha, alfafa, etc. constituem razoável fonte de proteínas.

Na agricultura, o cultivo alternado de outras plantas com as leguminosas é um dos melhores procedimentos para evitar o empobrecimento do solo. Enquanto boa parte das plantas de cultivo agrícola esgota a maioria dos compostos nitrogenados do solo, as leguminosas repõem esses nutrientes, graças à simbiose que apresentam com as bactérias fixadoras de nitrogênio. Dai a grande importância da rotação de culturas com as leguminosas.

As leguminosas podem ser usadas também como ―adubo verde‖. Este constitui um tipo natural de adubação do solo. As leguminosas, após a colheita, enterradas no próprio local de plantio, fornecem pela decomposição um solo rico em compostos nitrogenados. Como essa decomposição é lenta, o ―adubo verde‖ forma uma verdadeira camada protetora do solo.

Uma quantidade mínima de nitrogênio atmosférico é fixada naturalmente por meio das descargas elétricas e raios cósmicos que fornecem a energia necessária para esse processo.

A fixação do nitrogênio atmosférico também pode ser feita artificialmente por processos industriais. Um exemplo é a produção de fertilizantes.

As bactérias são organismos de extrema importância na utilização do nitrogênio atmosférico pelos seres vivos. Logo, também é importante que destaquemos essas bactérias e os fenômenos que realizam.

Temas de Ecologia

23

Bactérias da decomposição ou putrefacientes

Essas bactérias degradam as proteínas animais e vegetais, transformando-as em amônia ou

íons amônio (NH3 ou NH4+), fenômeno denominado amonificação. Elas se localizam, principalmente,

no solo e na lama do fundo dos oceanos, rios e lagos.

Bactérias nitrificantes

As bactérias nitrificantes são responsáveis pelos fenômenos de nitrificação. Elas transformam a amônia ou os íons amônio em nitritos (NO2

-) e nitratos (NO3-). São encontradas no solo e na água.

A nitrificação é um fenômeno que se processa em duas etapas distintas: nitrosação e nitratação.

A nitrosação consiste na oxidação dos íons amônio (NH4+), transformando-os em nitrito (NO2).

Estes, embora solúveis na água, são tóxicos para as plantas superiores. A nitrosação é realizada pelas bactérias do gênero Nitrosomonas e pode ser assim

esquematizada:

NH4+ + 2 O2 Nitrosomonas 2 H2O + NO2

- + energia A nitratação consiste na transformação dos íons nitritos (NO2

-) em nitratos (NO3-). Também

solúveis em água, os nitratos podem ser absorvidos pelos vegetais. A nitratação é realizada pelas bactérias do gênero Nitrobacter, podendo ser representada da seguinte forma:

2 NO2

- + O2 Nitrobacter 2 NO3- + energia

As bactérias nitrificantes são exemplos de seres autótrofos quimiossintetizantes. Essas

bactérias obtêm energia para a síntese de seus compostos orgânicos, oxidando substâncias inorgânicas nitrogenadas.

As bactérias nitrificantes só operam em condições aeróbicas, isto é, só na presença do oxigênio (02) no solo ou na água.

Bactérias desnitrificantes

Essas bactérias transformam os nitratos e compostos amoniacais (NH3 ou NO4+) em nitrogênio

molecular. Pertencem a esse grupo as bactérias do gênero Pseudomonas, encontradas no solo e na água. A desnitrificação pode ser assim esquematizada:

Glicose + (NO3

-) Pseudomonas CO2 + H2O + N2 + energia

As bactérias desnitrificantes podem viver tanto na presença como na ausência do oxigênio. Na presença do oxigênio (02), a taxa de desnitrificação não é elevada. Nessas condições, as

bactérias desnitrificantes usam o 02 disponível para oxidar os seus compostos orgânicos. Na ausência do oxigênio, tanto no solo como na água, a taxa de desnitrificação torna-se

elevada, caso em que os nitratos e nitritos funcionam como aceptores de elétrons e fornecem o oxigênio para a oxidação de seus compostos orgânicos. Quando isso ocorre, a desnitrificação funciona como um processo de respiração anaeróbica.

FÓSFORO

O fósforo é um dos três principais nutrientes do solo e constitui-se no elemento exigido em

menor quantidade pelas plantas. Porém, no Brasil, trata-se do nutriente mais utilizado na adubação, face à carência generalizada de fósforo nos solos brasileiros e, também, porque grande parte do elemento fica fortemente fixado ao solo, não estando prontamente disponível para as plantas. Assim, é importante conhecer as interações do elemento com o solo e compreender a dinâmica das formas

Temas de Ecologia

24

disponíveis para as plantas, para avaliar sua disponibilidade e orientar a prática da adubação fosfatada. A sua origem resulta da desintegração e decomposição da rocha matriz, embora algumas contenham pouco fósforo na sua constituição. Os mecanismos de devolução do fósforo ao ciclo ocorre pela erosão, que libera os fosfatos para o ecossistema. Grande quantidade, porém, escapa para o mar, onde parte se deposita nos sedimentos rasos e outra parte se perde nos sedimentos profundos. Neste caso, as aves marinhas desempenham papel importante na devolução do fósforo para o ciclo, sendo exemplo os depósitos de guano na costa do Peru. (Figura 09)

Figura 09. Ciclo do Fósforo Fonte: HEINRICH& HERGT(1990).

ENXOFRE

O enxofre existente no solo provém originalmente da rocha matriz e também da decomposição

de matéria orgânica vegetal, porém nas carcaças de animais existe apenas traços deste elemento. O ecossistema necessita de menor quantidade de enxofre do que de nitrogênio e fósforo. Este elemento limita com menor freqüência o crescimento das plantas e dos animais. O enxofre do solo é absorvido pelas raízes das plantas. Com a morte dos vegetais, é imediatamente restituído através da ação dos microorganismos. A parte do enxofre de origem orgânica, fornecida pelas plantas, pode introduzir nos ciclos quantidades importantes deste elemento trazidas pela atmosfera através das chuvas nas regiões industriais. O dióxido de enxofre que provém da queima de combustíveis fósseis, como o carvão, é emitido principalmente pelas indústrias. Os óxidos de nitrogênio são liberados pelos veículos automotores. Na atmosfera essas substâncias reagem quimicamente e produzem os ácidos sulfúricos e nítricos, dando origem à chuva ácida. Esses ácidos quando atingem a superfície terrestre, em forma de chuva ou neblina, alteram a composição química da água e do solo, interferindo grandemente nas florestas e na vegetação agrícola, bem como nas edificações com estruturas metálicas. (Figura 10). No Brasil, a chuva ácida é mais comum nos grandes centros industriais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Cubatão, enquanto na região sul surge com maior intensidade na região de Bagé (RS) na Termoelétrica de Candiota, através da combustão do carvão mineral.

Temas de Ecologia

25

Figura 10. Ciclo do Enxofre. Fonte: HEINRICH&HERGT(1990).

CICLO DO CARBONO A circulação do dióxido de carbono no ecossistema florestal ocorre na corrente que existe

entre a planta que vai fixar o carbono, o ar que é o reservatório e o solo que libera o CO2, através da decomposição da matéria orgânica existente na serapilheira.

O estoque atual de CO2 na atmosfera é estimado em 762 Gt (gigatoneladas) ou seja 762.000.000.000 toneladas.

O total de carbono existente no mundo é estimado em 26 x 10e15 toneladas, ou seja, 26 quatrilhões de toneladas, das quais 99,95% estão fixados em compostos inorgânicos do tipo carbonatos e dissolvidos na água dos oceanos. Por isso os mares são os maiores fornecedores de carbono para a atmosfera. Dos 0,05% que é fixado organicamente, 2/3 estão em forma de fóssil (turfa, petróleo e gás) e 1/3 encontra-se na matéria orgânica do solo, na água e na biomassa viva. (Figura 11)

Figura 11. Ciclo do Carbono. Fonte:

HEINRICH & HERGT (1990).

O carbono é um dos

constituintes essenciais das moléculas dos compostos orgânicos. Nos organismos vivos existem aproximadamente 30% de compostos orgânicos, como proteínas, lipídios, carboidratos, ácidos nucléicos, etc. Portanto, a reciclagem do carbono é de fundamental importância para a manutenção da vida animal e vegetal, na biosfera.

A única fonte de carbono utilizável pelos seres autótrofos é o dióxido de carbono (CO2) atmosférico ou o dissolvido na água. Os reservatórios de carbonatos existentes nos oceanos e na litosfera não são utilizados.

Temas de Ecologia

26

Reciclagem do carbono O CO2 atmosférico ou o dissolvido na água é absorvido pelos organismos autótrofos e usado

na síntese de seus compostos orgânicos. Estes compostos, pela cadeia alimentar, poderão chegar até os animais herbívoros e carnívoros.

Os organismos autótrofos e os animais devolvem o carbono na forma de co2 à atmosfera, pela respiração ou fermentação. Os autótrofos e os animais, quando mortos, serão degradados pelos organismos decompositores. Estes também devolverão o carbono dos compostos orgânicos degradados à atmosfera na forma de CO2.

Em vista da sua constante reciclagem, a taxa de CO2 atmosférico deveria manter-se mais ou menos estável.

A decomposição parcial de animais e vegetais resultará na formação de depósitos orgânicos fósseis ricos em combustível, como o carvão e o petróleo.

Observações Nos últimos anos, a queima excessiva de combustíveis fósseis e a devastação de enormes

áreas florestais realizadas pelo homem estão provocando um aumento na taxa de CO2 atmosférico. As conseqüências desses fatos não são ainda perfeitamente conhecidas. Talvez o aumento da concentração do CO2 atmosférico tenha ensejado um aumento proporcional na produtividade das plantas terrestres.

Por outro lado, a camada de gás carbônico (CO2) atmosférico é a grande responsável pelo aquecimento da superfície terrestre. O aumento do teor de gás carbônico na atmosfera tem como resultado o chamado efeito estufa.

CICLO DO OXIGÊNIO

Cerca de 20% da atmosfera terrestre é constituída por moléculas de oxigênio livre (02). Já a porcentagem de oxigênio (02) dissolvido na água é bem menor e variável, em função da pressão e da temperatura.

Caminhos do oxigênio O oxigênio atmosférico (ou o dissolvido na água) é absorvido pelos vegetais e animais e

utilizado na respiração aeróbica. Este fenômeno biológico consiste na óxido-redução dos alimentos, libertando energia, gás carbônico e água.

A água libertada no processo contém o oxigênio fixado na respiração. Essa água é usada na síntese de novos compostos orgânicos. Pode ser eliminada pela respiração animal e vegetal, ou ainda, pela transpiração e excreção animal, voltando o oxigênio ao meio terrestre.

Os novos compostos orgânicos sintetizados, sofrendo a ação dos decompositores, devolverão o oxigênio à atmosfera na forma de CO2 e H20.

Quando a água libertada na respiração dos vegetais clorofilados for utilizada nos processos fotossintéticos, o oxigênio fixado na respiração voltará à atmosfera na forma de oxigênio livre (02). Percebe-se, aqui, a íntima relação existente entre os ciclos do oxigênio e do carbono.

Observações O homem interfere desastrosamente tanto no ciclo do carbono quanto no ciclo do oxigênio. A

queima excessiva de combustível, os desflorestamentos e a poluição marinha estão contribuindo para uma diminuição do teor de oxigênio atmosférico, ou para um desequilíbrio desse ciclo. As conseqüências são bastante drásticas para a sobrevivência da biosfera.

É bom lembrarmos que o oxigênio entra na formação da camada de ozônio (02) da atmosfera terrestre. Essa camada funciona como um filtro de proteção contra as radiações ultravioleta do sol, impedindo que raios altamente energéticos atinjam a superfície terrestre. Infelizmente, também essa camada de ozônio vem sendo destruída pelos gases encontrados nos aerossóis e consumidos pelos aviões supersônicos. Essa destruição, conhecida como buraco na camada de ozônio.

Temas de Ecologia

27

A Camada de Ozônio Nas últimas décadas muito se tem falado da

camada de ozônio e do perigo que o planeta corre com a sua destruição. Mas qual é realmente o papel do ozônio?

O ozônio é um gás que existe na atmosfera, constituído por três átomos de oxigênio (O3). É produzido pela energia das descargas elétricas, que quebra as ligações entre os dois átomos do oxigênio molecular (O2), libertando o oxigênio atômico (O) que fica livre para se ligar com o O2, formando-se, deste modo, a molécula triatómica de ozônio.

Apesar de estar presente em reduzida quantidade, os seus efeitos estão longe de ser negligenciáveis. Na troposfera (estrato da atmosfera, desde a superfície até aos 10 km de altitude), o ozônio em elevadas concentrações pode exercer um efeito tóxico nos animais, originando problemas respiratórios e irritação ocular, e um efeito corrosivo em diversos materiais. Misturado com outros gases e partículas, ele é responsável pela formação do smog (nevoeiro fotoquímico que cobre os grandes centros urbanos e industriais, resultado da poluição atmosférica). Contudo, este gás acumula-se, principalmente, numa camada com cerca de 15 km de espessura, na estratosfera (estrato compreendido entre os 10 e os 50 km de altitude), designada por "camada de ozônio". É aqui que ele desempenha o papel de escudo protetor, de filtro a favor da vida. Com efeito, absorvendo grande parte (mais de 95%) das radiações ultravioleta (parte do espectro eletromagnético das radiações emitidas pelo sol, que têm efeitos funestos), ele preserva da sua ação nefasta todas as formas vivas.

Em termos de composição, parece não existirem grandes diferenças entre oxigênio e ozônio - apenas um átomo. No entanto, terá sido esta pequena diferença a permitir a colonização do planeta, já que sem a camada de ozônio, as radiações ultravioleta não teriam nenhuma barreira entre a sua fonte de emissão e a superfície da Terra e nenhuma forma de vida, pelo menos das que atualmente conhecemos, poderia sobreviver.

De notar, no entanto, que em quantidades adequadas (muito pequenas), as radiações ultravioleta são salutares, contribuindo para a produção de vitamina D, indispensável ao normal desenvolvimento dos ossos.

A maior parte da radiação ultravioleta é, então, absorvida pela camada de ozônio, mas mesmo a pequena fração que atinge a superfície é potencialmente perigosa para quem a ela se expõe por períodos prolongados. A Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental estima que a redução de apenas 1% na espessura da camada de ozônio é suficiente para cegar 100 mil pessoas por cataratas e desencadear um aumento de 5% no número de casos de cancro de pele. Está provado

também que a exposição prolongada a radiação ultravioleta pode afetar as defesas imunológicas do Homem e de outros animais, permitindo o desenvolvimento de doenças infecciosas. A supressão de respostas locais e sistêmicas a uma grande variedade de antígenos pode mesmo ser a causa para o desenvolvimento de diversos tipos de carcinomas.

Mas os seres humanos não são os únicos afetados pelos raios ultravioleta, pois a sua intensificação interfere em muitos processos biológicos e químicos dos ecossistemas terrestres. As alterações provocadas pelas radiações prendem-se com

Temas de Ecologia

28

modificações no material genético das células dos organismos, o que se traduz na perturbação de diversas funções, como o metabolismo e a produção de biomassa. Porém, mais do que alterarem indivíduos, as radiações alteram as relações entre eles, nomeadamente às relações de competição entre plantas superiores, a extensão da herbivoria pelos insertos e a susceptibilidade a elementos patogênicos, quer na agricultura, quer em ambiente natural. Acredita-se mesmo que níveis altos de radiação podem diminuir a produção agrícola, com a conseqüente redução na produção alimentar.

Sabe-se, igualmente, que as radiações ultravioleta afetam os microorganismos, embora não se tenha noção da extensão de tais alterações. Este é um fenômeno preocupante, já que estes organismos participam em tarefas tão relevantes, em termos ecológicos, como a decomposição de resíduos, intervindo no ciclo dos nutrientes e interagindo com plantas e animais na forma de agentes patogênicos ou simbióticos.

Do mesmo modo, nos ecossistemas aquáticos, a intensificação das radiações ultravioleta coloca problemas inquietantes, pois interfere no crescimento, na fotossíntese e na reprodução do plâncton. São estas plantas e animais microscópicos que se encontram na base das cadeias alimentares e que são responsáveis por grande parte da produtividade de oxigênio do planeta e absorção do dióxido de carbono, atuado como um tampão contra o aquecimento global do planeta.

Ao intervir em todas as escalas dos ecossistemas, a radiação ultravioleta afeta, igualmente, os ciclos biogeoquímicos, como o ciclo do carbono, do azoto e o ciclo dos nutrientes minerais, entre outros, lesando globalmente toda a biosfera do planeta.

A camada de ozônio tem, pois, um papel crucial para a vida na Terra. É por este motivo que a sua destruição é encarada como um dos maiores problemas ambientais deste século e dos vindouros. Apesar da composição da camada de ozônio se ter mantido inalterada por milhões de anos, nas últimas décadas têm-se assistido à sua rápida degradação, com o conseqüente aparecimento dos designados "buracos de ozônio", zonas da estratosfera onde esta camada se apresenta extremamente fina, com redução óbvia dos seus efeitos protetores. O maior responsável por esta situação é o cloro, presente nos clorofluorcarbonetos (CFCs), utilizados em sprays, embalagens de plástico, chips de computador, solventes para a indústria eletrônica e, especialmente, aparelhos de refrigeração, como os frigoríficos e os ares condicionados.

Existem já alguns indicadores preocupantes do resultado de tal destruição. Por exemplo, a incidência de cancro de pele está já a aumentar de uma forma dramática. Entre 1980 e 1989, o número de novos casos praticamente duplicou nos EUA. Em 1995 já se observava um aumento de número de casos em regiões do Hemisfério Sul, como a Austrália, a Nova Zelândia, África do Sul e Patagônia; no Chile, desde o aparecimento do buraco do ozônio sobre o pólo Sul, os casos de carcinoma de pele cresceram 133%.

Mas existe ainda um outro problema. É que este cenário não pode ser analisado independentemente de outros fenômenos que atualmente aumentam de importância, tal como o aumento da concentração do dióxido de carbono atmosférico e o resultante aquecimento global do planeta. Muitas vezes estes efeitos interagem e tornam-se aditivos.

Como seria de esperar, já começaram a surgir algumas idéias surpreendentes para resolver o problema crescente da destruição da camada de ozônio. Pesquisadores russos apresentaram um estudo segundo o qual seria possível reparar esta camada, utilizando equipamentos de raios laser e satélites. O projeto consiste na montagem de um sistema de 30 a 50 satélites que bombardeiam a atmosfera com raios laser de grande potência, estimulando a produção de ozônio. Estes cientistas acreditam que o problema pode ser contornado em dez anos, embora com custos (literalmente) astronômicos. Porém, mesmo que exeqüível, este projeto, tal como muitos outros do mesmo cariz, e tendo por base a amostragem de todos os fracassos humanos já colecionados nas tentativas de dominar, intervir ou mesmo prever fenômenos da natureza, estaria provavelmente votado ao fracasso.

Será melhor que se continuem a apresentar iniciativas não tão grandiosas, mas também não tão dispendiosas, como a proibição da utilização dos CFCs, a pesquisa de alternativas inócuas para

Temas de Ecologia

29

o ambiente e decretar o "Dia Internacional do Ozônio", comemorado a 16 de Setembro, dia em que se celebra a assinatura do Protocolo de Montreal, de 1987, que preconiza a redução da utilização de substâncias destruidoras do ozônio.

CICLO DO CÁLCIO

O cálcio é um exemplo de elemento químico encontrado como constituinte das rochas na litosfera, ou dissolvido na água.

As rochas calcárias sofrem a ação do intemperismo e os compostos de cálcio solúveis são arrastados pelas águas. Os vegetais, absorvendo essas águas pelas suas raízes, passam a contar com o cálcio em seu organismo. O cálcio chega até os animais através da cadeia alimentar. Os animais usam os compostos de cálcio para formar seus esqueletos, por exemplo. Quando morrem, pela ação dos decompositores, o cálcio volta ao meio ambiente. Esse cálcio pode, mais tarde, sedimentar-se e formar novas rochas. Com as plantas, ocorre idêntico fenômeno. Mortas, o cálcio volta ao meio pela ação dos decompositores seguindo o mesmo destino: sedimentação e formação de rochas.

Os compostos de cálcio dissolvidos na água podem ser incorporados pelos organismos vivos em qualquer ponto do ciclo.

O elemento radiativo estrôncio 90, produzido por indústrias que usam a radiatividade e por explosões atômicas, é semelhante ao cálcio e pode substituí-lo no metabolismo. Por isso pode aparecer no leite ou fixar-se nos ossos de bovinos e do homem, além de outros animais.

Eutrofização e assoreamento Entende-se por eutrofização o processo de fertilização das águas por excesso de compostos

orgânicos, incluindo os biodegradáveis. A eutrofização ocorre quando rios, lagos e mesmo oceanos são enriquecidos por esses compostos trazidos direta ou indiretamente. As chuvas são as grandes responsáveis pelo transporte direto desses compostos, ao percorrerem solos desprotegidos pela vegetação. O transporte indireto é feito pelo lixo, esgotos domésticos e industriais, que arrastam para essas águas produtos orgânicos em decomposição.

A eutrofização, embora possa parecer benéfica por aumentar a produção orgânica nas águas, provoca sérios prejuízos. Dentre estes, destacam-se a diminuição do teor de oxigênio na água, determinando a morte de inúmeros organismos, e a alteração das características da água, inclusive para fins potáveis.

A alta produtividade dos lagos pode levar ao seu assoreamento ou redução de sua capacidade, transformando-os em pântanos. Taboas e aguapés são plantas aquáticas que muito contribuem para o assoreamento de lagos. Essas plantas produzem substâncias orgânicas ricas em celulose que se decompõem muito lentamente. As substâncias orgânicas vão se sedimentando continuamente no fundo do lago, formando um lodo fino e em decomposição.

CICLO DA ÁGUA

A água pura (H2O) é um líquido formado por átomos de hidrogênio e oxigênio e os cientistas acreditam que apareceu no planeta a cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, mediante a gradativa cristalização da lava de vulcões.

A água é o composto inorgânico encontrado em maior quantidade nos organismos vivos e o mais abundante na biosfera. Daí a inexistência de vida, como a conhecemos, na ausência absoluta de água.

Nos seus estados sólidos, líquido e gasoso, encontra-se presente em todo o planeta. Não somente nos rios, mares e lagos, mas também no solo, no ar e em todos os seres vivos onde representa, como no homem, cerca de 70% do volume corporal.

A maior parte da água encontrada na biosfera localiza-se nos oceanos. Esta água, e as demais encontradas nas superfícies líquidas sofrem evaporação constante graças à energia solar, passando à atmosfera na forma de vapor. Este, por resfriamento, pode condensar-se formando nuvens. Pode também se precipitar na forma líquida como chuva ou neblina, ou na forma sólida como neve ou granizo. De uma forma ou de outra, a água retorna aos continentes e oceanos.

Temas de Ecologia

30

O vapor d'água entra na atmosfera principalmente pela evaporação dos oceanos (86%), grande lagos, rios e pela transpiração da cobertura vegetal. Sob a forma de chuva ela retoma a superfície da Terra. A precipitação pode ocorrer na mesma região onde se deu a evaporação ou a milhares de quilômetros de distância, em decorrência da movimentação das correntes atmosféricas. O tempo de permanência da água como vapor, a partir do momento em que é evaporada, pode variar de algumas horas até algumas semanas, mas a média geral é de 9 a 10 dias. Ao chegar à superfície, a água infiltra-se no solo ou escorre para os lagos e rios e daí chega ao oceano ou é estocada em camadas subterrâneas renovando os lençóis subterrâneos ou freáticos. Estes constituem reservatórios disponíveis para os vegetais terrestres. Parte dessa água pode mais uma vez se evaporar diretamente do solo. E o que o vegetal absorve de água se perderá na atmosfera, pela transpiração. Esses dois fenômenos em conjunto recebem o nome de evapotranspiração.

Os organismos vivos, animais e vegetais, entram no ciclo da água em diversos pontos. Parte das águas continentais é usada pelos seres vivos direta ou indiretamente. Os vegetais absorvem a água diretamente do solo pelas suas raízes. Uma porção dessa água é devolvida à atmosfera pela transpiração, gutação ou respiração. Outra porção é utilizada a nos fenômenos biológicos, como por exemplo, na fotossíntese.

Os animais podem ingerir a água direta ou indiretamente, quando se alimentam de plantas ou de outros animais. A água absorvida pelos animais é devolvida à atmosfera pela transpiração, excreção (urina), respiração e pelas fezes. A água retida nos tecidos animais e vegetal retorna ao meio quando eles morrem, pela ação dos decompositores.

As águas dos rios, lagos e oceanos retornam à atmosfera pela evaporação. A água na natureza está continuamente se movendo como mostrado na figura a seguir.

Fonte: Heat, R. Hidrologia Básica de Águas Subterrâneas. United States Geological Survey Water Supply Paper 2220

PROPRIEDADES DA ÁGUA

A estrutura das moléculas de água e o tipo de ligações intermoleculares que estabelece

(predominantemente ligações de hidrogênio) podem ser responsabilizadas pelas propriedades únicas que a água apresenta.

Cada molécula de água estabelece quatro ligações de hidrogênio com as moléculas vizinhas, sendo, portanto, muito intensas as forças que as mantêm unidas.

Estados Físicos - A água é a única substância que existe na natureza, simultaneamente, nos três estados físicos: sólido, líquido e gasoso.

Temas de Ecologia

31

Para interpretar as relações existentes entre as fases sólida, líquida e de vapor utiliza-se um

gráfico - diagrama de fases. Este diagrama explicita as condições para as quais uma substância existe no estado sólido, líquido ou gasoso.

Diagrama de fases da água: - Cada uma das três regiões assinaladas no

diagrama a cor diferente corresponde a uma fase pura. - A separação entre duas fases é feita por uma

linha a cheio, que representa as condições de pressão e de temperatura às quais as duas fases existem em equilíbrio.

- Existe um ponto desse diagrama (0,006 atm e 0,01oC) no qual as três fases podem coexistir em equilíbrio – ponto triplo.

A água é um bom solvente - A água dissolve uma

grande variedade de compostos iônicos ou moleculares.

Atendendo essencialmente ao valor da constante dieléctrica relativa da água, e ao fato da água ser constituída por moléculas polares, este líquido dissolve uma grande variedade de compostos iônicos e moleculares.

Esta propriedade permite, por exemplo, que a água transporte nutrientes dissolvidos através de

organismos vivos e retire os desperdícios dos mesmos tecidos, servindo como agente de limpeza.

Temas de Ecologia

32

O superior poder solvente da água também traz como conseqüência a facilidade de ser poluída por desperdícios solúveis, tornando-se assim um meio de transporte de bactérias e vírus causadores de graves doenças.

Tensão Superficial - Quando um líquido está em repouso e em contato com o ar, as forças de

atração que se exercem entre as moléculas do líquido são diferentes para as que estão à superfície e para as que estão no interior do líquido. No interior do líquido, cada molécula liga-se às restantes por forças iguais em todas as direções. À superfície, as moléculas são apenas puxadas para o interior líquido, pois não existem moléculas na parte exterior do líquido para exercerem qualquer força, formando-se assim uma espécie de película elástica.

A água líquida tem uma tensão superficial extremamente elevada, explicada pelas ligações por

pontes de hidrogênio que mantêm as moléculas fortemente unidas. A tensão superficial de um líquido é a quantidade de energia requerida para reduzir ao mínimo

a sua área superficial.

A tensão superficial explica vários fenômenos: As gotas de água que se observam nas folhas ilustram bem a tensão superficial. As menores

de todas constituem esferas perfeitas. As maiores são ovais, achatadas e as maiores de todas demasiadamente pesadas para serem sustentadas pela tensão superficial e, por isso, espalham-se.

Alguns insetos como o alfaiate passeia sobre a água devido à sua tensão superficial

O fenômeno da capilaridade está relacionado com a tensão superficial: quando se introduz um

tubo capilar em água, esta sobe espontaneamente pela parede do tubo, formando um filme fino e aderente.

Temas de Ecologia

33

Tubos capilares atração adesiva

A explicação da capilaridade baseia-se na existência de dois tipos de forças que competem

entre si – forças intermoleculares de coesão entre moléculas iguais do líquido e forças intermoleculares de adesão entre moléculas do líquido e dipolos, como por exemplo o dipolo Si-O existente na superfície do vidro.

Densidade - A água líquida é a única substância comum que se expande quando congela. A explicação deste fenômeno advém do tipo de estrutura que a molécula de água apresenta. No gelo, cada molécula de água está rodeada por outras quatro, formando uma rede cristalina

característica. A rede cristalina apresenta grandes espaços hexagonais, que explicam a baixa densidade do gelo.

água sólida água líquida

Temas de Ecologia

34

Aquecendo a água acima do seu ponto de fusão, a referida rede cristalina começa a ser destruída, sendo os espaços anteriormente vazios ocupados por algumas moléculas. Por isso se verifica a contração de volume, que atinge um ponto máximo para a temperatura de 4o C.

É devido à variação entre a densidade da água líquida e do gelo que se explica à razão da manutenção da vida aquática em climas muito frios, uma vez que as grandes extensões de água congelam de cima para baixo e não ao contrário.

A expansão (aumento de volume) da água ao congelar pode ser a razão das rachaduras de rochas e de pavimentos de ruas, do arrebentamento dos canos da água e da quebra do bloco do motor dos automóveis (daí a utilização de anticongelantes).

Ciclo da água

Pode dizer-se que a quantidade de água do planeta se tem mantido constante desde o aparecimento do homem. A água existente nos oceanos, continentes e atmosfera faz parte de um ciclo perpétuo que é mantido em movimento pela energia do sol e pela força gravitacional.

O ciclo hidrológico é essencial ao ambiente:

Transporta e faz circular a água de umas regiões para as outras; É um importante agente modelador da crosta terrestre (devido à erosão e ao transporte

de sedimentos); Acaba por ser um condicionante de toda a cobertura vegetal do planeta, ou seja, de

toda a vida na Terra. A grande parte da água do planeta (97,137%) forma a água salgada dos oceanos. Dos

restantes 2,863% (40.106 km3) da água doce, cerca de 2,24% estão armazenados nas geleiras e massa de gelo dos pólos.

(1 km

3 = 1.000.000.000.000 litros)

Temas de Ecologia

35

EFEITOS DO DESMATAMENTO

1 e 2 Solo coberto por vegetação

3 e 4 Os efeitos do desmatamento.

Temas de Ecologia

36

TEXTOS COMPLEMENTARES Efeito estufa vai disseminar enchentes e epidemias, diz ONU, Reuters, em Genebra Cientistas apoiados pela ONU (Organização das Nações Unidas) disseram que, se o índice de

aquecimento global se mantiver como está, nas próximas décadas países ricos e pobres podem ser atingidos por enchentes, fome, epidemias de doenças e outros desastres.

Num relatório redigido para governos nacionais, os cientistas prevêem como conseqüência do efeito estufa o derretimento de geleiras e calotas de gelo polares, o fim de incontáveis espécies de animais, aves e plantas, a desertificação de terras agrícolas, a destruição de recifes de corais e o afundamento de ilhas baixas no Pacífico e no Caribe.

O cenário potencial de desastres, com o grande impacto que exerceria sobre a economia mundial no século 21, foi exposto num relatório de mil páginas do IPCC (Comitê Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU, que interliga centenas de cientistas de todo o mundo e vem estudando o problema do aquecimento desde 1990.

"A previsão é de que as mudanças climáticas nas regiões polares serão as maiores. Grandes impactos físicos, ecológicos e econômicos devem aparecer em pouco tempo", informou o relatório, aprovado numa reunião de cientistas e representantes do IPCC de mais de 100 governos, realizada na semana passada em Genebra.

O documento é o segundo de quatro relatórios a serem divulgados, enquanto os governos se preparam para novo esforço para traçar um acordo internacional sobre como enfrentar o problema, evitando o desastre previsto.

O primeiro deles, divulgado em Xangai, dizia que a atmosfera terrestre está se aquecendo mais rapidamente do que o próprio IPCC havia previsto e citou provas apontadas por alguns especialistas como conclusivas de que isso seria resultante da atividade humana; uso de combustíveis fósseis, poluição industrial e destruição de florestas e pântanos.

Em março de 2004, em Acra, Gana, foi divulgado um terceiro relatório, analisando o que pode ser feito para retardar o processo e ajudar a humanidade; sem falar na fauna e flora; a adaptar-se às mudanças que já se tornaram irreversíveis.

Em setembro, o relatório reuniu as conclusões e recomendações em um grande documento com o qual cientistas, ambientalistas, seguradoras e indústrias "limpas" vão incentivar os governos a tomar atitudes concretas.

Estudo da ONU - Enchentes e fome vão atingir ricos e miseráveis, GENEBRA (AE/AP) Enchentes, fome, epidemias e outros desastres podem atingir países ricos e pobres nas

próximas décadas se o atual índice de aquecimento global persistir, anunciaram ontem cientistas ligados à Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o estudo, a temperatura média mundial deve aumentar em até 6°C durante este século.

Num relatório dirigido aos governantes, eles antevêem o derretimento de geleiras e calotas polares, a extinção de várias espécies de animais, pássaros e vegetais, a transformação de terras aráveis em desertos, a destruição de recifes de coral que servem de alimento para peixes e a submersão de países insulares do Caribe e do Pacífico cujo território está ao nível do mar.

O cenário potencialmente desastroso, com seu impacto na economia global neste século, foi delineado num relatório de mil páginas produzido pelo Painel Internacional sobre Mudança Climática da ONU (IPCC, pela sigla em inglês), que liga centenas de cientistas ao redor do mundo e estuda o problema do aquecimento desde 1990.

O documento é o segundo de quatro divulgados, enquanto os governos se preparam para tentar um acordo internacional que aborde como o problema pode ser resolvido, evitando-se o desastre previsto.

Um exemplo dramático do aquecimento global está no Monte Kilimanjaro, o mais alto da África, tema de um livro de Ernest Hemingway que Hollywood transformou em filme. Estudos do Byrd Polar Research Center, da Ohio State University, revelaram que a cobertura de neve e gelo da montanha situada na Tanzânia, está recuando num ritmo que a fará desaparecer em menos de 15 anos.

Segundo Lonnie G. Thompson, do Byrd Polar Research Center, o Kilimanjaro já perdeu 82% de sua cobertura desde a primeira vez em que foi cuidadosamente estudado, em 1912. Perdas semelhantes foram constatadas em montanhas do Peru ao Tibete.

Temas de Ecologia

37

Entre os impactos ambientais do aquecimento global, o estudo aponta quatro pontos como os mais graves se nada for feito: disseminação de doenças como malária e dengue pela América do Norte; derretimento de geleiras no norte da Europa, com secas afetando o sul do continente; desertos avançando por terrenos férteis da África; ciclones tropicais obrigando dezenas de milhões de pessoas a fugir das áreas litorâneas da Ásia.

Camada de ozônio A camada de ozônio fica de 20 a 35 km acima da superfície da terra, tem cerca de 15 km de

espessura e nos protege da radiação ultravioleta que é emitida pelo sol. O ozônio é um tipo de gás. A camada de ozônio manteve-se inalterada por milhões de anos. Mas, nas últimas décadas, os

cientistas vêm constatando uma sensível diminuição em sua concentração, por causa da emissão de poluentes.

Se a camada de ozônio que nos protege está sendo reduzida, o resultado não poderia ser outro: uma maior incidência dos raios ultravioleta. Esta radiação é nociva a qualquer tipo de vida na terra, especialmente ao ser humano, prejudicando nosso sistema imunológico e provocando câncer de pele e doenças nos olhos, como a catarata.

Calcula-se que, a cada 1% de destruição da camada de ozônio, aparecem 50 mil novos casos de câncer de pele e 100 mil novos casos de catarata.

O que é a camada de ozônio?A camada de ozônio é uma "faixa" de gás que envolve a Terra e

a protege de vários tipos de radiações. A camada de ozônio é formada por uma espécie de composto de oxigênio. O ozônio é formado por três átomos de oxigênio, e sua fórmula química é O3. O oxigênio presente no ar é formado por dois átomos de oxigênio (O2). A camada de ozônio fica na estratosfera, uma região da atmosfera terrestre.

A camada de ozônio, uma barreira natural. Protetores solares não são a única forma de conter a radiação ultravioleta do Sol!

Se a camada de ozônio não existisse,

poderíamos ficar menos tempo no sol sem nos queimarmos

No primeiro texto da série especial sobre verão da CHC on-line, você aprendeu que os protetores solares são necessários para evitarmos as conseqüências da exposição excessiva aos raios ultravioleta do Sol. Essa é uma radiação invisível, ou seja, sabemos de sua existência através de seus efeitos, mas o corpo humano não é capaz de senti-la. Então, já que abrir os olhos não adianta, o jeito é tomar cuidado, porque a radiação ultravioleta pode fazer muito mal à nossa saúde!

Depois de muitos estudos, os cientistas descobriram que existem três tipos de radiação ou UV, como é conhecida. Os tipos A e B são aqueles que, em excesso, podem prejudicar nossa pele. Já o tipo C é totalmente absorvido pela atmosfera da Terra e, por isso, não chega até nós. A maior preocupação dos médicos é com a radiação UV-B, que pode causar o câncer de pele.

Mas você sabia que, além dos protetores solares, há uma outra espécie de barreira natural contra a radiação ultravioleta do tipo B? Essa barreira existe: é a camada de ozônio. No seu caminho do Sol para a Terra, a radiação UV-B passa pela atmosfera e é enfraquecida quando penetra na camada de ozônio. Ali, parte dessa radiação é absorvida, e ela chega muito mais fraca ao nosso planeta. O ozônio é um gás natural da atmosfera e a tal camada é a região em que grande quantidade desse gás está concentrada. Se essa camada não existisse, a radiação UV-B chegaria a nós com muito mais intensidade, e a gente poderia ficar menos tempo no sol sem se queimar.

Temas de Ecologia

38

Acontece que os avanços da indústria permitem que o homem invente produtos cada vez mais sofisticados. E alguns desses inventos produzem resíduos na forma de gás, que vão para a atmosfera e acabam entrando em choque com os gases naturais. Veja um exemplo: as substâncias químicas usadas para fazer gelo nas geladeiras e nos aparelhos de ar condicionado são chamadas CFC. A sigla representa as substâncias que contêm cloro, o elemento químico que destrói a camada de ozônio.

Muitas pesquisas são feitas para tentar diminuir a quantidade de cloro lançada na atmosfera. Mas os resultados desses trabalhos não são imediatos, ou seja, a destruição da camada de ozônio ainda deve durar muitos anos. Logo, a radiação UV-B deve aumentar no futuro. E, como a radiação UV-B é invisível, é muito importante que ela seja medida para que possamos nos prevenir. Hoje, existem instrumentos (dos mais simples aos mais sofisticados) para medir a camada de ozônio e a radiação ao mesmo tempo. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mantém vários medidores de radiação UV-B em vários pontos do Brasil e em países vizinhos, para estudar seus efeitos. Os pesquisadores estão sempre atentos para avisar a população em caso de necessidade.

UM FILTRO SOLAR NATURAL. Você já viu o ozônio? Provavelmente não, pois, como o ar, ele é invisível. O ozônio é um gás

formado de oxigênio concentrado. Ele é tão leve que paira acima da Terra, na atmosfera. A muitos quilômetros de altura existe um manto desse gás chamado camada de ozônio.

A camada de ozônio é um filtro de proteção que o planeta Terra tem lá em cima para proteger a vida aqui embaixo. Ela deixa passar o calor e a luz solar, mas impede que os raios ultravioleta do Sol cheguem até a superfície do planeta.

Quando esses raios ultravioleta conseguem ultrapassar a camada de ozônio eles queimam as plantações, destroem células vivas e podem provocar câncer de pele. É o que acontece hoje em dia por causa do buraco na camada de ozônio.

Buraco? Você sabe porque a camada de ozônio está sendo ameaçada? Além de algumas causas naturais, o "rombo" na camada de ozônio acontece pela liberação em

excesso de um gás chamado CFC (clorofluorcarbono). O CFC destrói o ozônio, e é liberado pelas latinhas de spray aerossol (de desodorantes e

inseticidas, por exemplo), geladeiras, aparelhos de ar condicionado e extintores de incêndio A solução para o buraco da camada de ozônio é simples: impedir a produção e liberação do

CFC e substituí-lo por outro gás. Isso já está acontecendo, principalmente nos países desenvolvidos. Muitos fabricantes já trocaram o CFC por outro gás em seus produtos.

Mesmo assim, os países pobres e em desenvolvimento, como o Brasil, precisam de ajuda dos países ricos para implantar tecnologias limpas, não poluentes. A cooperação entre os países é fundamental para salvar o planeta.

Mas o CFC não é o único vilão dessa história: a poluição do ar também contribui para aumentar o buraco! Se o homem não controlar os índices de poluição do planeta, os raios nocivos do Sol poderão fazer um verdadeiro estrago em um futuro próximo.

UM BURACO NA ALTA ATMOSFERA

A rarefação da camada de ozônio tornou-se num dos maiores problemas ambientais do

planeta. Ainda que a reação a este problema comece a produzir resultados positivos, só dentro de 1 ou 2 séculos se poderá atingir uma recuperação completa.

São diversas as substâncias químicas que reagem com o ozônio, destruindo-o. A lista negra dos produtos danosos inclui óxidos nítricos e nitrosos expelidos pelos escapes dos veículos e o dióxido e monóxido de carbono libertados pela combustão do carvão e do petróleo. Mas em termos de efeitos destrutivos sobre a camada de ozônio, nada se compara ao grupo de gases designados por clorofluorcarbonetos, os conhecidos CFCs.

Temas de Ecologia

39

Os clorofluorcabonetos foram sintetizados pela primeira vez há cerca de 70 anos, entrando nos circuitos comerciais pouco depois. Foram desenvolvidos como substitutos seguros dos refrigerantes tóxicos, à base de dióxido de enxofre e amônia, usados na altura e passaram a ser integrados numa grande variedade de aplicações industriais, comerciais e domésticas, primeiro como gases refrigeradores e depois como agentes propulsores. Constituídos por cloro, flúor e carbono, os CFCs foram muito utilizados como isolantes em aparelhos de refrigeração (frigoríficos e aparelhos de ar condicionado), em solventes de limpeza na indústria eletrônicas, em espumas sintéticas usadas no combate a incêndios, na produção de materiais plásticos para embalagens, entre outras aplicações.

Junto da superfície terrestre, os CFCs são relativamente inofensivos e não reagem com qualquer outro tipo de material, inclusive a pele humana. Não são tóxicos, inflamáveis ou corrosivos e possuem propriedades termodinâmicas estáveis, o que fez com que fossem saudados como substâncias capazes de solucionar uma boa parte dos problemas da vida moderna. Durante 50 anos eles foram o exemplo perfeito de uma solução técnica supostamente benéfica para o ambiente e para os problemas de engenharia, sem nenhuma contrapartida negativa. Por esta razão, a sua produção foi subindo exponencialmente a partir dos anos 50, chegando às 100.000 toneladas por ano, na década de 60.

Como é óbvio, a concentração destes compostos na atmosfera acompanhou a produção, mas manteve-se num nível não detectável pelos instrumentos de controlo de qualidade do ar utilizados na altura, até ao início dos anos 70, quando um cientista britânico detectou um dos compostos clorofluorcarbonados (CFC-11) no ar da Irlanda, com um aparelho muito sensível, por ele construído. Após esta descoberta, foram realizadas medições extensivas por todo o planeta, e verificou-se que este gás era claramente detectado em todas as regiões da atmosfera da superfície. No entanto, os seus efeitos ainda não haviam sido determinados.

Só no final de 1973 é que o destino dos CFCs foi investigado e as primeiras conclusões foram preocupantes. Depois de libertadas à superfície, as moléculas destes compostos, por serem extremamente estáveis, são virtualmente indestrutíveis, pois são insolúveis e pouco reativas com os agentes oxidantes atmosféricos. Deste modo, embora possam permanecer mais de oito anos na baixa atmosfera, estas moléculas migram lentamente para a estratosfera (acima dos 10 km de altitude), onde uma seqüência de reações tem início.

Já na camada superior da atmosfera, atingidas pela intensa e extremamente energética radiação solar ultravioleta, as ligações destas moléculas são quebradas e os átomos de cloro são libertados. Cada átomo de cloro é capaz de quebrar a ligação entre os átomos de oxigênio do ozônio, levando à formação de monóxido de cloro (ClO) e oxigênio (O2). Como o monóxido não é estável, ele rapidamente reage com o oxigênio atômico (O), originando mais uma molécula de oxigênio e libertando o cloro para uma nova reação de degradação de moléculas de ozônio. É uma reação catalítica em cadeia, onde cada átomo de cloro pode destruir 100 000 moléculas de ozônio, antes de ser destruído, o que pode levar mais de 100 anos, dependendo da composição das moléculas de CFCs.

Apesar de se formar oxigênio, ele não é capaz de proteger o planeta dos raios ultravioleta. A combinação das reações de destruição de moléculas de ozônio, com a libertação de mais de um milhão de toneladas de CFCs por ano, coloca a perda da camada de ozônio como uma das mais problemáticas questões criadas pelo Homem.

Após a primeira "explosão" de interesse por esta matéria, entre 1974 e 1977, o assunto passou das primeiras páginas dos jornais para a comunidade científica. A maioria das pessoas pensou, então, que o problema tinha sido resolvido, até que em 1980 foram tomados de surpresa, quando se noticiou, pela primeira vez, a existência de uma região na atmosfera Antártida, onde a camada de ozônio era muito

Temas de Ecologia

40

menos espessa. Medições anuais demonstraram que este "buraco" aparecia todas as Primaveras na mesma localização e que a sua extensão aumentava a uma velocidade alarmante. Não se percebia, porém, a relação entre a concentração de CFCs e a localização deste buraco, já que o nível de emissões poluentes era maior no Hemisfério Norte. Foi apenas em 1984 que todo o fenômeno foi compreendido. A conjunção de características físico-químicas únicas da estratosfera Antártida, com a circulação das massas de ar, permite que os reservatórios inativos de cloro (os CFCs) sejam convertidos mais facilmente em radicais de cloro destrutivos. As massas de ar circulam em camadas sobrepostas, dos Pólos para o Equador e no sentido inverso, sendo capazes de transportar poluentes para milhares de quilômetros de distância do seu local de emissão. Na Antártida, por sua vez, devido ao rigoroso Inverno de Abril a Agosto, em que toda a área permanece na escuridão, a circulação é interrompida, formando-se círculos de convecção exclusivos daquela área. Os poluentes trazidos pelas correntes no Verão permanecem na Antártida até nova época de circulação. Ao chegar a Primavera, com os seus primeiros raios de sol, as reações químicas que destroem o ozônio são estimuladas. Forma-se, então, o buraco. Em Novembro, o ar que chega de outras regiões permite uma recomposição parcial do escudo de ozônio; o buraco diminui de tamanho, mas não fecha completamente.

Entre Setembro e Outubro, a camada de ozônio na Antártida tem tido, nos últimos anos, apenas 30% do ozônio que existia na mesma área entre os anos 50 e 60. É uma falha que se estende por mais 20 milhões de Km2 e que parece funcionar como um ralo, sugando partes da camada de ozônio de outras regiões da Terra, adelgaçando-as. Por isso, o perigo já não se restringe ao inóspito e desabitado continente Antártico. Em várias outras regiões do planeta, a camada está a tornar-se progressivamente mais fina, permitindo a intensificação, nada salutar, dos raios ultravioleta.

Em Março de 1987, a Direção de Metereologia da NASA anunciou que as perdas de ozônio estavam igualmente a ser observadas sobre a América do Norte, a Europa e o Japão e os fabricantes rapidamente concordaram em que a produção de CFCs deveria ser limitada. Face a esta ameaça, mais de 60 países assinaram em Setembro desse mesmo ano o Protocolo de Montreal, comprometendo-se a reduzir em 50% o uso dos CFCs até finais de 1999. Mas em 1990, na Conferência de Londres, 70 países concordaram em acelerar o processo de eliminação destes compostos, decidindo, não a redução, mas a proscrição total da produção até ao ano 2000, tendo sido criado um fundo de ajuda aos países em desenvolvimento, para que estas medidas fossem implementadas. Para além dos CFCs, o Protocolo impõe igualmente a interdição da utilização do metilclorofôrmio, tetracloreto de carbono e moléculas brometadas, que também possuem uma ação destrutiva sobre o ozônio. Atualmente, 155 países são signatários do acordo.

De 1988 a 1992 o consumo global destes gases decresceu, pois muitos estados baniram quase por completo a sua produção e importação, e conseguiram produzir aerossóis que usam propulsores alternativos inócuos para a camada de ozônio. É imperativo que a procura de alternativas continue, para garantir a total eliminação destes gases. É, igualmente, vital promover a cooperação técnica entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, para que todas as nações adotem as novas tecnologias. Afinal, a camada de ozônio protege todo o planeta.

Os cientistas começam agora a notar os resultados dos seus esforços para diminuir a libertação dos CFCs. Mas mesmo assim, recentemente foi descoberta uma área com a camada de ozônio muito destruída no Hemisfério Norte (sobre a Europa do Norte). Isto pode trazer conseqüências dramáticas, já que a densidade populacional é bem maior sob este novo buraco do que sob o da Antártida. O que vai acontecer ao ozônio no futuro depende de como o problema for encaminhado. No entanto, uma certeza existe - é que a camada de ozônio só retornará à normalidade quando os CFCs tiverem desaparecido por completo da atmosfera, o que só acontecerá daqui a um ou dois séculos a partir deste momento.

AQUECIMENTO DA ÁGUA NA ANTÁRTIDA AMEAÇA ESPÉCIES EXÓTICAS

Espécies marinhas exóticas estão ameaçadas de extinção devido a mudanças climáticas,

disseram pesquisadores, esta semana, durante o festival anual da Associação Britânica para o Avanço da Ciência.

Temas de Ecologia

41

Segundo Lloyd Peck, do Serviço Antártico Britânico, se a temperatura marinha na Antártida continuar subindo como o previsto, a perspectiva é de que desapareçam grandes populações de moluscos bivalves, aranhas-do-mar gigantes e isópodes, um tipo de crustáceo.

Um grupo de cientistas monitorou onze espécies e verificou que, toda vez que a temperatura aumentava dois ou três graus os animais asfixiavam. "A temperatura nos oceanos ao redor da Antártida é muito constante, em alguns lugares ela varia em apenas um quinto de grau durante o ano inteiro. Provavelmente tem sido assim nos últimos 10 milhões de anos", disse Lloyd Peck. A elevação de dois a três graus é uma previsão dos climatologistas do Hadley Centre, centro de modelagem climática do governo britânico que usa supercomputadores para prever o aquecimento global.

Se o modelo do Hadley Centre, que prevê um aumento de 2° a 3° nos próximos 100 anos, estiver certo, alertou Peck, as temperaturas no verão vão atingir o exato nível em que os animais passam a ter problemas.

Segundo Peck, a temperatura das águas antárticas tem sofrido aumento duas vezes superior do que a temperatura atmosférica, tendo subido um grau nos últimos quinze anos. Milhares de espécies de animais invertebrados de circulação sangüínea fria correm risco se a temperatura da água atingir os cálculos previstos.

Os pesquisadores não têm dúvidas de que a mudança de temperatura causa impacto na fauna marinha, mas ainda estão por confirmar a exatidão dos modelos de previsão. "Se estiverem corretos, a situação de fato não está nada boa", disse o cientista. (Agência Brasil, com CBS News, The Independent e Folha de São Paulo).

RELAÇÕES ECOLÓGICAS

Podemos classificar as relações entre seres vivos inicialmente em dois grupos: as intra-específicas, que ocorrem entre seres da mesma espécie, e as inter-específicas, entre seres de espécies distintas. É comum diferenciar-se as relações em harmônicas ou positivas e desarmônicas ou negativas. Nas harmônicas não há prejuízo para nenhuma das partes associadas, e nas desarmônicas há.

Antes de tratarmos de cada tipo de relação entre os seres vivos, iremos esclarecer o significado de dois termos: habitat e nicho ecológico.

Noções sobre habitat e nicho ecológico

É clássica a analogia que compara o habitat ao endereço de uma espécie, e o nicho ecológico

à sua profissão. Se você quer encontrar indivíduos de uma certa espécie no ambiente natural, deve procurá-los em seu habitat. As observações que você fizer sobre a "maneira como ele vivem", serão indicações do nicho ecológico.

O pescador experiente sabe onde encontrar um certo tipo de peixe, que isca deve usar, se deve afundá-la mais ou menos, em que época do ano e em qual período do dia ou da noite ele terá maior chance de sucesso. Ele deve saber muito, portanto, do habitat e nicho ecológico dos peixes que mais aprecia.

1. RELAÇÕES INTRA-ESPECÍFICAS HARMÔNICAS Relações que ocorrem em indivíduos da mesma espécie, não existindo desvantagem nem

benefício para nenhuma das espécies consideradas. Compreendem as colônias e as sociedades. a) Colônias Agrupamento de indivíduos da mesma espécie que revelam profundo grau de interdependência

e se mostram ligados uns aos outros, sendo-lhes impossível a vida quando isolados do conjuntos, podendo ou não ocorrer divisão do trabalho.

As cracas, os corais e as esponjas vivem sempre em colônias. Há colônias com divisão de trabalho. É o que podemos observar com colônias de medusas de cnidários (caravelas) e com colônias de Volvox globator (protista): há alguns indivíduos especializados na reprodução e outros no deslocamento da colônia (que é esférica) na água.

b) Sociedades As sociedades são agrupamentos de indivíduos da mesma espécie que têm plena capacidade

Temas de Ecologia

42

de vida isolada, mas preferem viver na coletividade. Os indivíduos de uma sociedade têm independência física uns dos outros. Pode ocorre, entretanto, um certo grau de diferenciação de formas entre eles e de divisão de trabalho, como sucede com as formigas, as abelhas e os térmitas ou cupins.

Nos diversos insetos sociais a comunicação entre os diferentes indivíduos é feita através dos feromônios - substâncias químicas que servem para a comunicação. Os feromônios são usados na demarcação de territórios, atração sexual, transmissão de alarme, localização de alimento e organização social.

2. CONPETIÇÃO INTRA-ESPECÍFICAS É a relação intra-específica desarmônica, entre os indivíduos da mesma espécie, quando

concorrem pelos mesmos fatores ambientais, principalmente espaço e alimento. Essa relação determina a densidade das populações envolvidas.

a) Canibalismo Canibal é o indivíduo que mata e come outro da mesma espécie. Ocorre com escorpiões,

aranhas, peixes, planárias, roedores, etc. Na espécie humana, quando existe, recebe o nome de antropofagia (do grego anthropos, homem; phagein, comer).

3. RELAÇÕES INTERESPECÍFICAS HARMÔNICAS Ocorrem entre organismos de espécies diferentes. Compreendem a protocooperação, o

mutualismo, o comensalismo e inquilinismo. a) Comensalismo É uma associação em que uma das espécies — a comensal — é beneficiada, sem causar

benefício ou prejuízo ao outro. O termo comensal tem interpretação mais literal: "comensal é aquele que come à mesa de outro".

A rêmora é um peixe dotado de ventosa com a qual se prende ao ventre dos tubarões. Juntamente com o peixe-piloto, que nada em cardumes ao redor do tubarão, ela aproveita os restos alimentares que caem na boca do seu grande "anfitrião".

A Entamoeba coli é um protozoário comensal que vive no intestino humano, onde se nutre dos restos da digestão.

b) Inquilinismo É a associação em que apenas uma espécie (inquilino) se beneficia, procurando abrigo ou

suporte no corpo de outra espécie (hospedeiro), sem prejudicá-lo. Trata-se de uma associação semelhante ao comensalismo, não envolvendo alimento.

Exemplos: Peixe-agulha e holotúria O peixe-agulha apresenta um corpo fino e alongado e se protege contra a ação de predadores

abrigando-se no interior das holotúrias (pepinos-do-mar), sem prejudicá-los. Epifitismo Epífias (epi, em cima) são plantas que crescem sobre os troncos maiores sem parasitá-las. São

epífitas as orquídeas e as bromélias que, vivendo sobre árvores, obtêm maior suprimento de luz solar.

c) Mutualismo Associação na qual duas espécies envolvidas são beneficiadas, porém, cada espécie só

consegue viver na presença da outra. Entre exemplos destacaremos. Liquens Os liquens constituem associações entre algas unicelulares e certos fungos. As algas

sintetizam matéria orgânica e fornecem aos fungos parte do alimento produzido. Esses, por sua vez, retiram água e sais minerais do substrato, fornecendo-os às algas. Além disso, os fungos envolvem com suas hifas o grupo de algas, protegendo-as contra desidratação.

Cupins e protozoários Ao comerem madeira, os cupins obtêm grandes quantidades de celulose, mas não conseguem

produzir a celulase, enzima capaz de digerir a celulose. Em seu intestino existem protozoários flagelados capazes de realizar essa digestão.Assim, os protozoários se valem em parte do alimento do inseto e este, por sua vez, se beneficia da ação dos protozoários. Nenhum deles, todavia, poderia

Temas de Ecologia

43

viver isoladamente. Ruminates e microorganismos Na pança ou rúmen dos ruminantes também se encontram bactérias que promovem a digestão

da celulose ingerida com a folhagem. É um caso idêntico ao anterior. Bactérias e raízes de leguminosas No ciclo do nitrogênio, bactérias do gênero Rhizobium produzem compostos nitrogenados que

são assimilados pelas leguminosas, por sua vez, fornecem a essas bactérias a matéria orgânica necessária ao desempenho de suas funções vitais.

Micorrizas São associações entre fungos e raízes de certas plantas, como orquídeas, morangueiros,

tomateiros, pinheiros, etc. O fungo, que é um decompositor, fornece ao vegetal nitrogênio e outros nutrientes minerais; em troca, recebe matéria orgânica fotossintetizada.

d) Protocooperação Trata-se de uma associação bilateral, entre espécies diferentes, na qual ambas se beneficiam;

contudo, tal associação não é obrigatória, podendo cada espécie viver isoladamente. A atuação dos pássaros que promovem a dispersão das plantas comendo-lhes os frutos e

evacuando as suas sementes em local distante, bem como a ação de insetos que procuram o néctar das flores e contribuem involuntariamente para a polinização das plantas são consideradas exemplos de protocooperação. Como exemplos citaremos:

Caramujo paguro e actínias Também conhecido como bernardo-eremita, trata-se de um crustáceo marinho que apresenta o

abdômen longo e mole, desprotegido de exoesqueleto. A fim de proteger o abdômen, o bernardo vive no interior de conchas vazias de caramujos. Sobre a concha aparecem actínias ou anêmonas-do-mar (celenterados), animais portadores de tentáculos urticantes. Ao paguro, a actínia não causa qualquer dano, pois se beneficia, sendo levada por ele aos locais onde há alimento. Ele, por sua vez, também se beneficia com a eficiente "proteção" que ela lhe dá.

Pássaro-palito e crocodilo O pássaro-palito penetra na boca dos crocodilos, nas margens do Nilo, alimentando-se de

restos alimentares e de vermes existentes na boca do réptil. A vantagem é mútua, porque, em troca do alimento, o pássaro livra os crocodilos dos parasitas.

Obs.: A associação ecológica verificada entre o pássaro-palito e o crocodilo africano é um exemplo de mutualismo, quando se considera que o pássaro retira parasitas da boca do réptil. Mas pode ser também descrita como exemplo de comensalismo; nesse caso o pássaro atua retirando apenas restos alimentares que ficam situados entre os dentes do crocodilo.

Anu e gado O anu é uma ave que se alimenta de carrapatos existentes na pele do gado, capturando-os

diretamente. Em troca, o gado livra-se dos indesejáveis parasitas. e) Esclavagismo ou sinfilia É uma associação em que uma das espécies se beneficia com as atividades de outra espécie.

Lineu descreveu essa associação com certa graça, afirmando: Aphis formicarum vacca (o pulgão, do gênero Aphis, é a vaca das formigas).

Por um lado, o esclavagismo tem características de hostilidade, já que os pulgões são mantidos cativos dentro do formigueiro.Não obstante, pode-se considerar uma relação harmônica, pois os pulgões também são beneficiados pela facilidade de encontrar alimentos e até mesmo pelos bons tratos a eles dispensados pelas formigas (transporte, proteção, etc). Essa associação é considerada harmônica e um caso especial de protocooperação por muitos autores, pois a união não é obrigatória à sobrevivência.

4. COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICAS Relações inter-específicas desarmônicas entre espécies diferentes, em uma mesma

comunidade, apresentam nichos ecológicos iguais ou muito semelhantes, desencadeando um mecanismo de disputa pelo mesmo recurso do meio, quando este não é suficiente para as duas populações.

Esse mecanismo pode determinar controle da densidade das duas populações que estão interagindo, extinção de uma delas ou, ainda, especialização do nicho ecológico.

a) Amensalismo ou Antibiose

Temas de Ecologia

44

Relação no qual uma espécie bloqueia o crescimento ou a reprodução de outra espécie, denominada amensal, através da liberação de substâncias tóxicas. Exemplos:

Os fungos Penicillium notatum eliminam a penicilina, antibiótico que impede que as bactérias se reproduzam.

As substâncias secretadas por dinoflagelados Gonyaulax, responsáveis pelo fenômeno "maré vermelha", podem determinar a morte da fauna marinha.

A secreção e eliminação de substâncias tóxicas pelas raízes de certas plantas impede o crescimento de outras espécies no local.

b) Parasitismo O parasitismo é uma forma de relação desarmônica mais comum do que a antibiose. Ele

caracteriza a espécie que se instala no corpo de outra, dela retirando matéria para a sua nutrição e causando-lhe, em conseqüência, danos cuja gravidade pode ser muito variável, desde pequenos distúrbios até a própria morte do indivíduo parasitado. Dá-se o nome de hospedeiro ao organismo que abriga o parasita. De um modo geral, a morte do hospedeiro não é conveniente ao parasita. Mas, a despeito disso, muitas vezes ela ocorre.

c) Predatismo Predador é o indivíduo que ataca e devora outro, chamado presa, pertencente a espécie

diferente. Os predadores são geralmente maiores e menos numerosos que suas presas, sendo exemplificadas pelos animais carnívoros.

As duas populações - de predadores e presas - geralmente não se extinguem e nem entram em superpopulação, permanecendo em equilíbrio no ecossistema. Para a espécie humana, o predatismo, como fator limitante do crescimento populacional, tem efeito praticamente nulo.

Formas especiais de adaptações ao Predatismo Mimetismo Mimetismo é uma forma de adaptação revelada por muitas espécies que se assemelham

bastante a outras, disso obtendo algumas vantagens. A cobra falsa-coral é confundida com a coral-verdadeira, muito temida, e, graças a isso, não é

importunada pela maioria das outras espécies. Há mariposas que se assemelham a vespas, e mariposas cujo colorido lembra a feição de uma coruja com olhos grandes e brilhantes.

Camuflagem Camuflagem é uma forma de adaptação morfológica pela qual uma espécie procura confundir

suas vítimas ou seus agressores revelando cor(es) e/ou forma(s) semelhante(s) a coisas do ambiente. O padrão de cor dos gatos silvestres, como o gato maracajá e a onça, é harmônico com seu ambiente, com manchas camuflando o sombreado do fundo da floresta. O mesmo se passa com lagartos (por exemplo, camaleão), que varia da cor verde das folhas à cor marrom do substrato onde ficam. Os animais polares costumam ser brancos, confundindo-se com o gelo. O louva-a-deus, que é um poderoso predador, se assemelha a folhas ou galhos.

Aposematismo Aposematismo é o mesmo que coloração de advertência. Trata-se de uma forma de adaptação

pela qual uma espécie revela cores vivas e marcantes para advertir seus possíveis predadores, que já a reconhecem pelo gosto desagradável ou pelos venenos que possui.

Muitas borboletas exibem os chamados anéis miméticos, com cores de alerta, que desestimulam o ataque dos predadores.

Uma espécie de coloração de advertência bem conspícua é Dendrobates Ieucomelas, da Amazônia, um pequeno sapo colorido com listras pretas e amarelas e venenoso.

Temas de Ecologia

45

TABELA DE REPRESENTAÇÃO DAS RELAÇÕES INTERESPECÍFICAS

TIPOS DE RELAÇÕES Espécies reunidas Espécies separadas

A B A B

Inquilinismo + 0 0 0

Comensalismo + 0 0 0

Mutualismo + + – –

Protocooperação + + 0 0

Amensalismo 0 – 0 0

Predatismo + – – 0

Competição – – 0 0

Parasitismo + – – 0

0: espécies cujo desenvolvimento não é afetado;

+: espécie beneficiada cujo desenvolvimento torna-se possível ou é melhorado

–: espécie prejudicada que tem seu desenvolvimento reduzido.

RELAÇÕES ECOLÓGICAS - resumo

Dentro de uma comunidade biótica podemos encontrar as mais diversas formas de interações entre os seres vivos. Essas interações são caracterizadas pelo benefício ou prejuízo que podem trazer aos indivíduos que se relacionam. As relações ecológicas podem ocorrer dentro uma mesma espécie ou entre espécies diferentes sendo chamada inter ou intra-específicas por esse motivo. As relações podem ainda ser, harmônicas ou desarmônicas.

RESUMO DAS RELAÇÕES ECOLÓGICAS

RELAÇÕES HARMÔNICAS

Relação harmônica é toda aquela na qual os indivíduos que se relacionam têm ganhos positivos com a relação. Podemos, para facilitar a caracterização, colocar entre parênteses o símbolo de soma e diferença separados por/para designar essas relações (+/+) ou o(+/-).

INTERESPECÍFICAS

Mutualismo (+/+) - Associação necessária à sobrevivência de duas espécies, em que ambas se beneficiam. Ex.: liquens (algas e fungos), bactérias e ruminantes.

Protocooperação (+/+) - Associação não-obrigatória à sobrevivência, porém em que as duas espécies se beneficiam.Ex.: anêmona e paguro-bernardo-eremita.

Comensalismo (+/0) - Associação em que uma das espécies se beneficia, usando restos alimentares da outra, que não é prejudicada. Ex.: tubarão-rêmora.

Inquilinismo (+/0) - Associação em que uma das espécies se fixa ou se abriga em outra, porém sem prejudicá-la. Ex.: bromélia-árvore.

INTRA-ESPECÍFICAS

Colônias - Associação entre indivíduos da mesma espécie, que se mantêm ligados entre si, formando uma unidade estrutural. Ex.: colônias de esponjas e de corais.

Sociedades - Associação entre indivíduos da mesma espécie, não ligados anatomicamente, que se agrupam para divisão de trabalho, organizados portanto de modo cooperativo. Ex.: formigas, cupins.

Temas de Ecologia

46

RELAÇÕES DESARMÔNICAS (+/-)

Relação desarmônicas é aquela na qual um dos indivíduos que interagem sofre prejuízo com esta relação.

INTERESPECÍFICAS

Competição inter-específica - Relação entre indivíduos de espécies diferentes, que concorrem pela mesma alimentação que existe em quantidade limitada. Ex.: corujas, cobras e gaviões que atacam pequenos roedores.

Parasitismo - Associação em que uma das espécies, geralmente a menor, vive sobre ou dentro da outra, alimentando-se dela, porém geralmente sem matá-la. Ex. necator americanus e outros vermes parasitas.

Predatismo - Relação em que uma das espécies, a predadora, mata a outra para dela se alimentar. Ex.: carnívoros/herbívoros.

Amensalismo - Relação em que uma das espécies inibe o crescimento ou reprodução da outra. Ex.: fungos que liberam antibióticos no meio, inibindo o crescimento de bactérias.

Esclavagismo - Associação em que uma das espécies se aproveita das atividades ou do trabalho da outra. Ex.: Formigas e pulgões.

INTRA-ESPECÍFICAS

(homotípicas)

Competição intra-específica - Relação entre indivíduos da mesma espécie, que concorrem pelos mesmos fatores do ambiente, existentes em quantidade limitada.

SUCESSÃO ECOLÓGICA

O desenvolvimento de um ecossistema é também chamado de sucessão ecológica e envolve

processos de mudanças na estrutura de espécies e comunidades ao longo do tempo. A sucessão normalmente caminha para um estágio clímax, isto é, a comunidade final do desenvolvimento. Durante o clímax as mudanças continuam ocorrendo de uma maneira estável e equilibrada.

ETAPAS DE UMA SUCESSÃO ECOLÓGICA Toda comunidade, até atingir seu equilíbrio, passa por três etapas: comunidades pioneiras,

comunidades intermediárias e comunidade clímax. Comunidades pioneiras São formadas pelos primeiros organismos a se instalarem em um local. Normalmente a colonização se inicia em locais hostis à vida, como por exemplo: desertos,

superfícies rochosas, locais de altas ou baixas temperaturas, regiões desmaiadas. Entretanto existem na natureza espécies de seres vivos que conseguem sobreviver em locais

hostis à vida. É o caso dos liquens (associação de algas azuis ou cianobactérias e fungos). Estrutura reprodutora dos liquens, constituída por pequenas hifas e fungos, são levadas pela água, e ao se fixar numa rocha, conseguem se desenvolver, pois os fungos retêm a umidade do ar e as algas fazem fotossíntese, produzindo alimento para ela e para o fungo. Com o tempo, liquens vão morrendo e sendo decompostos pêlos agentes decompositores, formando no solo uma camada de matéria orgânica, preparando o solo para que outras espécies se desenvolvam.

As espécies que primeiramente se instalam são chamadas de pioneiras. Os liquens, além de contribuírem para a formação da camada orgânica, protegem o solo contra

os efeitos da erosão, modificando aos poucos o ambiente, tornando-o propício ao desenvolvimento de outras espécies. Sementes ou esporos trazidos pelo vento ou por pássaros e depositados sob a matéria orgânica começam a germinar, surgindo no local pequenos arbustos, musgos, gramíneas (vegetação de pequeno porte) denominadas comunidade intermediária. Já com uma vegetação mais desenvolvida, o local sofre modificações climáticas, atraindo insetos, aves, animais de pequeno porte.

Temas de Ecologia

47

Aos poucos a vegetação de pequeno porte vai sendo substituída por árvores de grande porte e por uma maior variedade de espécies, tanto de animais como de vegetais. Com o tempo, a flora e a fauna vão se tornando mais estáveis, até a comunidade atingir o estágio de clímax.

A comunidade clímax, constitui o estágio final da sucessão ecológica, com um microclima próprio, a fauna e flora totalmente adaptadas. Nesse estágio praticamente só vão ocorrer substituições dos seres vivos que vão morrendo.

SUCESSAO ECOLOGICA - resumo

A Sucessão Ecológica é um fenômeno dinâmico onde, via de regra, as populações pioneiras são gradativamente substituídas até que se estabeleça uma comunidade estável, em equilíbrio com as condições da habitat.

A Comunidade pioneira (ECESE) é constituída por poucas espécies que formam uma cadeia alimentar simples e, por isto, muito vulnerável, instável.

As Comunidades em transição (SÉRIES) surgem à medida que novas espécies passam a fazer parte da comunidade pioneira, aumentando a diversidade e a biomassa.

A Comunidade clímax se estabelece quando ocorre equilíbrio dinâmico natural (HOMEOSTASE) entre todas as populações e o ambiente. Ou seja: tudo que é produzido, é consumido. Nada sobra, nada falta. Onde as cadeias alimentares complexas tornam o sistema estável.

Sucessão Primária – ocorre em regiões anteriormente não-habitadas, como, por exemplo,

superfícies de rochas nuas, de dunas de areia recém-formadas e de lavas de vulcânicas recentes.

Sucessão Primária em Dunas

Sucessão Secundária – ocorrem em áreas anteriormente ocupada por outras comunidades, como terras de cultura abandonadas, florestas recém-derrubadas e áreas de queimadas.

Temas de Ecologia

48

CARACTERIZAÇÃO DO ECOSSISTEMA Considerando que o ecossistema é o resultado da inter-relação, mais ou menos homogênea,

entre os fatores bióticos e abióticos de um determinado meio, pode-se caracterizá-lo através dos seguintes aspectos:

Um ecossistema é uma unidade estrutural composta de fatores bióticos(seres vivos) e abióticos (seres não vivos) do ambiente, como árvores, arbustos, vegetação rasteira, animais, húmus, solo, rocha, atmosfera e processos climáticos. Os ecossistemas terrestres normalmente são formados por uma comunidade biótica complexa, em interação com o solo, atmosfera, uma fonte de energia (o sol) e um suprimento de água.

O ecossistema é uma unidade funcional com constante fluxo de energia que entra e sai do sistema, movimentando permanentemente fluxo de substâncias. A produção da matéria orgânica pelo ecossistema está intimamente ligada ao fluxo de energia, ao balanço hídrico e à reciclagem dos elementos minerais. Na figura , verifica-se o ciclo da água no ecossistema florestal.

Ciclo da água na floresta

Um ecossistema é uma unidade complexa com variedades e variações de formas de vida, populações e características.

Ecossistema sofre mudanças temporais não sendo estático. Além da contínua troca de matéria e energia, sua estrutura modifica-se com o passar do tempo.

Ecossistema Florestal.

Para melhor entendimento da funcionalidade dos ecossistemas, costuma-se dividir a superfície do globo terrestre em três grandes tipos principais além de outro tipo de transição.

Temas de Ecologia

49

ECOSSISTEMAS DE ÁGUA SALGADA Compreende os grandes reservatórios de água salgada representados pelos oceanos e mares,

onde o homem desenvolve a atividade pesqueira. A figura abaixo mostra a estrutura de um ecossistema aquático com toda a sua complexidade.

Aspectos de um ecossistema marítmo.

Adaptado de DUVIGNEAUD (1974).

ECOSSISTEMAS DE ÁGUA DOCE Este tipo de ecossistema é constituído pelos rios, riachos, córregos, lagos e lagoas

caracterizando uma enorme biodiversidade de espécies vegetais e animais. Tais ecossistemas também proporcionam oferta de alimentos através da produção de peixes.

Aspecto de um ecossistema de água doce.

ECOSSISTEMAS TERRESTRE A superfície da terra é o meio mais importante para o homem, pois este ecossistema garante a

manutenção da humanidade, transformando-se no suporte físico para a construção de suas necessidades, sendo também a maior fonte de oferta de alimentos para a população. Estes ecossistemas são formados por florestas, savanas ou cerrado, caatinga, estepe, pantanal, entre outros.

BIOMAS TERRESTRES Biomas são grandes ecossistemas constituídos por comunidades que atingiram o estágio-

clímax. Um bioma tem aspecto homogêneo e condições climáticas semelhantes em toda sua extensão territorial. Uma floresta, um campo ou um deserto são exemplos de biomas de terra firme, enquanto lagos e mares são exemplos de biomas aquáticos.

O estágio de clímax atingido pelas comunidades de um bioma depende de um grande número de fatores, tais como a latitude, as temperaturas médias e extremas da região, o relevo, o regime de chuvas e o tipo de solo. Em função disso formaram-se os diversos tipos de bioma hoje presentes na Terra.

Temas de Ecologia

50

Os biomas de terra firme são classificados e denominados de acordo com sua composição florística, isto é, de acordo com as plantas que os constituem. Os principais biomas terrestres são: tundra, taiga, floresta temperada, floresta tropical, campos (estepes e savanas) e desertos.

Taiga A taiga é um bioma localizado perto da tundra ártica, um pouco mais ao sul. Os invernos são

rigorosos, apesar de a estação quente ser mais longa e com temperaturas mais elevadas que a da tundra. O fato de o subsolo se descongelar no verão, o que não ocorre na tundra, permite o desenvolvimento de uma vegetação mais exuberante, constituída por florestas de pinheiros, abetos e várias espécies de coníferas. Junto aos rios vivem árvores como salgueiros, bétulas e álamos. No solo existe uma espessa camada de folhas em lenta decomposição, onde se desenvolvem vários tipos de fungos.

Existem muitos tipos de mamíferos na taiga: alces, ursos, lobos, raposas, martas, lebres e esquilos, entre outros. A fauna de invertebrados é pobre, pois as folhas juntas ao solo se decompõem muito lentamente, o que dificulta a sobrevivência desses animais.

Floresta temperada As florestas temperadas são biomas típicos da Europa e América do Norte, situando-se em

regiões onde as estações do ano são bem definidas. Na estação quente as temperaturas são amenas e o índice de chuvas é moderado. Uma característica da maioria das árvores das florestas temperadas é perder as folhas no outono, ao que tudo indica, uma preparação para suportar o inverno rigoroso. Plantas cujas folhas caem na estação outonal são denominadas decíduas ou caducifólias.

Embora as árvores presentes nas florestas temperadas variem de acordo com a região, destacam-se carvalhos, bétulas, faias e bordos. Existem também diversas espécies de arbustos e plantas herbáceas, algumas espécies de samambaias e também alguns liquens, que vivem entre as folhas em decomposição junto ao solo.

A fauna das florestas temperadas é diversificada, sendo constituída por grande variedade de insetos, aves e mamíferos. Entre estes últimos destacam-se veados, esquilos, raposas e doninhas.

Tundra Tundra é um bioma característico das regiões próximas ao Círculo Polar Ártico, e que se

estende pelo norte do Canadá, da Europa e da Ásia. Plantas típicas da tundra são musgos, liquens e plantas herbáceas como capins e urzes; em algumas regiões pode haver pequenos arbustos. A tundra é o único tipo de bioma capaz de se desenvolver nas geladas regiões circumpolares, onde a temperatura nunca ultrapassa 10 °C. No verão o solo degela apenas alguns centímetros junto à superfície, ficando encharcado; no inverno, congela-se totalmente.

A fauna da tundra compõe-se de mamíferos como renas, caribus, bois-almisca-rados e raposas-azuis, e de algumas espécies de aves, dentre as quais a mais conhecida é a perdiz-branca. No verão desenvolvem-se insetos, principalmente moscas, mosquitos e borrachudos, que atraem grande quantidade de aves migratórias, que deles se alimentam.

Floresta tropical As florestas tropicais são biomas típicos de regiões de clima quente e úmido da faixa equatorial

do planeta. As árvores são altas e suas copas formam uma cobertura contínua como um "teto", sobre toda a floresta. Sob o teto fechado das copas mais altas há um ou mais andares de vegetação, formados pelas copas de árvores mais baixas, além de arbustos e ervas rasteiras. Nas florestas tropicais há variedade e abundância de plantas epífitas como orquídeas, bromélias e samambaias, além de musgos e liquens.

A fauna das florestas tropicais é bastante diversificada. Além da grande variedade de animais invertebrados, dentre os quais os insetos são os mais abundantes, existem muitas espécies de aves, de répteis, de anfíbios e de mamíferos.

Temas de Ecologia

51

No Brasil situa-se grande parte da maior floresta tropical do planeta, a floresta amazônica. Outro tipo de floresta tropical brasileira é a mata atlântica, situada nas encostas das montanhas que margeiam o Oceano Atlântico. Pouco resta dessa mata, antes exuberante, hoje quase totalmente destruída pela ação humana. Algumas áreas preservadas de mata atlântica podem ser encontradas nos estados mais ao sul do país.

Campos: estepes e savanas Campos são biomas em que predomina vegetação herbácea. Podem ser classificados em dois

tipos principais: estepes e savanas. Estepes são campos formados predominantemente por gramíneas, localizados em regiões que

passam por períodos de seca no decorrer do ano. Exemplos de estepes são as pradarias norte-americanas e os pampas argentinos. As pradarias norte-americanas possuem fauna rica em roedores (marmotas) e carnívoros (lobos, coiotes e raposas). São também abundantes os insetos, dentre os quais se destacam os coleópteros (besouros e joaninhas).

Savanas são campos que, além de gramíneas, também apresentam arbustos e árvores

esparsas. São exemplos de savanas os campos africanos, asiáticos e australianos. As savanas africanas possuem fauna rica em grandes mamíferos como antílopes, zebras, girafas, rinocerontes, leões e leopardos, entre outros.

Desertos Desertos são biomas encontrados em regiões de solo pobre em água e com baixos índices

pluviométricos. A temperatura varia muito, sendo elevada durante o dia e muito baixa à noite. A pouca água disponível torna essas regiões inóspitas e pouco convidativas à maioria dos seres vivos. Apenas espécies dotadas de adaptações especiais conseguem sobreviver a essas rigorosas condições climáticas dos desertos.

No deserto a vegetação é rala e espaçada, sendo constituída por gramíneas e, eventualmente, por pequenos arbustos, nos locais onde alguma água se acumula no solo. A fauna do deserto é constituída por espécies de pequeno porte, sendo comuns répteis como cobras e lagartos, além de mamíferos roedores, como ratos e marmotas.

Temas de Ecologia

52

1. Sudoeste da Amazônia 2. Várzeas de Iquitos 3. Florestas do Caqueta 4. Campinaranas de Alto Rio Negro 5. Interflúvio do Japurá/Solimões-Negro 6. Interflúvio do Solimões/Japurá 7. Várzeas do Purus 8. Interflúvio do Juruá/Purus 9. Interflúvio do Purus/Madeira 10. Várzeas de Monte Alegre 11. Interflúvio do Negro/Branco 12. Florestas de Altitude das Guianas 13. Savanas das Guianas 14. Florestas das Guianas 15. Tepuis 16. Interflúvio do Uamatá/Trombetas 17. Interflúvio do Madeira/Tapajós 18. Interflúvio do Tapajós/Xingu 19. Várzeas do Gurupá 20. Interflúvio do Xingu/Tocantins-Araguaia 21. Várzeas do Marajó 22. Interflúvio do Tocantins-Araguaia/Maranhão 23. Florestas Secas de Chiquitano 24. Cerrado 25. Pantanal 26. Chaco Úmido 27. Campos Sulinos 28. Florestas de Araucária 29. Florestas do Interior do Paraná/Paranaíba 30. Florestas Costeiras da Serra do Mar 31. Campos Ruprestes 32. Florestas Costeiras da Bahia 33. Florestas do Interior da Bahia 34. Florestas Costeiras de Pernambuco 35. Florestas do Interior de Pernambuco 36. Brejos Nordestinos 37. Caatinga 38. Manguezais do Amapá 39. Manguezais do Pará 40. Restingas Costeiras do Nordeste 41. Manguezais da Bahia 42. Manguezais do Maranhão 43. Restingas da Costa Atlântica 44. Manguezais da Ilha Grande 45. Manguezais do Rio Piranhas 46. Manguezais do Rio São Francisco 47. Florestas Secas do Mato Grosso 48. Florestas Secas do Nordeste 49. Florestas de Babaçu do Maranhão

Fonte: IBAMA

Temas de Ecologia

53

REGIÕES FITOECOLÓGICAS E ÁREAS DE VEGETAÇÃO

Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Aberta Floresta Ombrófila Mista Floresta Estacional Semidecidual Floresta Estacional Decidual Campinarana Savana Estepe Sistema Edáfico de Primeira Ocupação (Formações Pioneiras)

Sistemas dos Refúgios Vegetacionais (Relíquias) Sistema da Vegetação Disjunta

Sistema Primário No sistema primário (natural), estão incluídos todos os tipos de vegetação ou Regiões

Fitoecológicas Brasileiras, as formações Pioneiras, os Refúgios Vegetacionais e as faixas de Tensão Ecológica dos contatos entre duas ou mais Regiões Fitoecológicas.

Floresta Ombrófila Densa (Floresta Pluvial Tropical)

Este tipo de vegetação é caracterizado por fanerófitos, justamente pelas subformas de vida

macro e mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitas em abundância, que o diferenciam das outras classes de formações. Porém, a característica ecológica principal reside nos ambientes ombrófilos que marcam muito bem a "região floríticas florestal". Assim, a característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa está presa a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25º) e de alta precipitação, bem distribuídas durante o ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situação bioecológica praticamente sem período biologicamente seco. Além disso, dominam, nos ambientes destas florestas, latossolos distróficos e, excepcionalmente, eutróficos, originados de vários tipos de rochas.

Tal tipo vegetacional foi subdividido em cinco formações ordenadas segundo hierarquia topográfica que refletem fisionomias diferentes de acordo com as variações ecotípicas das faixas altimétricas resultantes de ambientes também distintos. Estes variam 1º centígrado para cada 100 metros de altitude.

As observações realizadas, através dos levantamentos executados pelo projeto RADAMBRASIL, nas décadas de 70 e 80 e os estudos fitogeográficos mundiais confiáveis, iniciados por Humbold em 1806 na ilha de Tenerife e contidos na vasta bibliografia, permitiram estabelecer faixas que se estreitavam de acordo com os seguintes posicionamentos:

1.Formação aluvial: não varia topograficamente e apresenta sempre os ambientes repetitivos,

dentro dos terraços aluviais dos flúvios. Trata-se de formação ribeirinha ou floresta ciliar que ocorre ao longo dos cursos de água ocupando os terrenos antigos das planícies quartenárias. Esta formação é constituída por macro, meso e microfanerófitos de rápido crescimento, em geral de casca lisa, com o tronco cônico e, por vezes, com a forma característica de botija e raízes tabulares. Apresenta com freqüência um dossel emergente uniforme. É uma formação com bastante palmeiras no estrato dominado e na submata, e nesta ocorrem nanofanerófitos e alguns caméfitos no meio de plântulas da densa reconstituição natural do estrato dominante. Em contrapartida, a formação apresenta muitas lianas lenhosas e herbáceas, além de grande número de epífitas e poucas parasitas.

2.Formação das terras baixas: situada entre os 4° de latitude N e os 16° latitude S, a partir dos

5 m até os 100 m acima do mar; de 16° de latitude S a 24° de latitude S de 5 m até 50 m; de 24° de latitude S a 32° de latitude S de 5 m até 30 m. É uma formação que em geral ocupa as planícies costeiras, capeadas por tabuleiros pliopleistocênicos do Grupo Barreiras. Ocorre desde a Amazônia, estendendo-se por todo o Nordeste até proximidades do rio São João, no Estado do Rio de Janeiro.

Temas de Ecologia

54

3.Formação submontana: situada nas encostas dos planaltos e/ou serras entre os 4° de latitude N e os 16° de latitude de S a partir dos 100 m até 600 m; de 16° de latitude S a 24° de latitude S de 50 m até 500 m; de 24° de latitude S a 32° de latitude S de 30 m até 400 m. O dissecamento do relevo montanhoso e dos planaltos com solos medianamente profundos é ocupado por uma formação florestal que apresenta fanerófitos com altura aproximadamente uniforme. A submata é integrada por plântulas de regeneração natural, poucos nanofanerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras de pequeno porte e lianas herbáceas em maior quantidade. Suas principais características são os fanerófitos de alto porte, alguns ultrapassando os 50m na Amazônia e raramente os 30 m nas outras partes do País.

4.Formação montana: situada no alto dos planaltos e/ou serras entre os 4° de latitude N e os

16° de latitude S a partir dos 600 m até 2000 m; de 16° de latitude S a 24° de latitude S de 500 m até 1500 m; de 24° de latitude S até 32° de latitude S de 400 m até 1000 m. O alto dos planaltos e das serras estão situados entre 600 a 2000 m de altitude na Amazônia e de 400 a 1000 m no sul do País. A estrutura florestal do dossel uniforme (20 m) é representada por ecotipos relativamente finos com casca grossa e rugosa, folhas miúdas e de consistência coriácea.

5.Formação alto-montana: situada acima dos limites estabelecidos para a formação montana.

Trata-se de uma formação arbórea mesofanerofítica com aproximadamente 20 metros de altura, que se localiza no cume das altas montanhas com solos litólicos, apresentando acumulações turfosas nas depressões onde se localiza a floresta. Sua estrutura é integrada por fanerófitos com troncos e galhos finos, folhas miúdas, coriáceas e casca grossa com fissuras. A florística é representada por famílias de dispersão universal, embora suas espécies sejam endêmicas, revelando um isolamento antigo de "refúgio cosmopolita".

Floresta Ombrófila Aberta (Faciações da Floresta OmbrófilaDensa)

Este tipo de vegetação, considerado durante anos como um tipo de transição entre a floresta

amazônica e as áreas extra-amazônicas, foi denominada pelo Projeto RADAMBRASIL de Floresta Ombrófila Aberta. Esta floresta apresenta quatro faciações florísticas que alteram a fisionomia ecológica da Floresta Ombrófila Densa (com palmeiras, cipós, com sororoca e com bambu, além dos gradientes climáticos com mais de 60 dias secos por ano, assinalados na curva ombrotérmica).

1.Floresta Ombrófila Aberta das Terras Baixas: Esta formação, compreendida entre 4° latitude

Norte e 16° latitude Sul, em altitudes que variam de 5 até 100 m, apresenta predominância da faciação com palmeiras.

2.Floresta Ombrófila Aberta Submontana: Esta formação pode ser observada distribuída por

toda Amazônia e mesmo fora dela, principalmente com a faciação floresta com palmeiras. Na Amazônia, ocorre com quatro faciações florísticas entre os 4° de latitude Norte e os 16° de latitude Sul, situadas acima dos 100 m de altitude e não raras vezes chegando a cerca de 600m.

3.Floresta Ombrófila Aberta Montana: Esta formação situa-se quase toda entre os 4° de

latitude Norte e 16° de latitude Sul, ocupando a faixa altimétrica entre 600 e 2000 m e, por conseguinte, restrita a poucos planaltos do sul da Amazônia e muitas serras do Norte. Apresenta as faciações com palmeira e com cipó, sendo esta última bem mais comum.

Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária)

Esta floresta, também conhecida como mata-de-araucária ou pinheiral, é um tipo de vegetação

do planalto meridional, onde ocorria com maior freqüência. A composição florística desta vegetação, dominada por gêneros primitivos como Drymis, Araucaria e Podocarpus, sugere, pela altitude e latitude do planalto meridional, uma ocupação recente a partir de refúgios alto-montanos. Apresenta quatro formações distintas:

1.Aluvial, em terraços antigos ao longo dos flúvios. Esta formação ribeirinha ocupa sempre os

terrenos aluviais, situados nos flúvios das serras costeiras voltadas para o interior ou dos planaltos

Temas de Ecologia

55

dominados pela Araucaria angustifolia associada a ecotipos que variam de acordo com as altitudes dos flúvios.

2.Submontana, de 50 até mais ou menos 400 m de altitude. Esta formação, atualmente, é

encontrada na forma de pequenas disjunções localizadas em vários pontos do "Craton Sul-rio-grandense". No município de Lauro Mueller, por exemplo, na década de 50, podia-se observar cerca de 1.200 exemplares de Araucaria angustifolia. Contudo, nesta década, este número não chega a 200 exemplares de troncos finos e relativamente baixos, pertencentes ao estrato dominado. O que resta é uma floresta secundária, ficando cada vez mais raro encontrarem-se exemplares de Araucaria angustifolia, que tendem a desaparecer em poucos anos.

3.Montana, de 400 até mais ou menos 1000 m de altitude. Esta formação, encontrada

atualmente em poucas reservas particulares e no Parque Nacional do Iguaçu, ocupava quase que inteiramente o planalto acima de 500 m de altitude, nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

4.Altomontana, situada a mais de 1000 m de altitude. Esta floresta está localizada acima de

100m de altitude, sendo sua maior ocorrência no Parque do Taimbezinho (RS) e na crista do Planalto Meridional, próximo aos "campos de Santa Bárbara" no Parque de São Joaquim (SC). Atualmente, esta floresta alto-montana encontra-se ainda bem conservada e com elementos quase intactos no Parque Estadual de Campos do Jordão (SP).

Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Tropical Subcaducifólia) O conceito ecológico deste tipo de vegetação está condicionado pela dupla estacionalidade

climática: uma tropical, com época de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens acentuadas; e outra subtropical, sem período seco, mas com seca fisiológica provocada pelo intenso frio de inverno, com temperaturas médias inferiores a 15 °C.

É constituída por fanerófitos com gemas foliares protegidas da seca por escamas (catáfilos ou pêlos), tendo folhas adultas esclerófilas ou membranáceas deciduais. Em tal tipo de vegetação, a porcentagem das árvores caducifólias, no conjunto florestal e não das espécies que perdem as folhas individualmente, é de 20 e 50%. Nas áreas tropicais, é composta por mesofanerófitos que revestem, em geral, solos areníticos distróficos. Já nas áreas subtropicais, é composta por macrofanerófitos, pois revestem solos basálticos eutróficos.

O critério estabelecido com a finalidade exclusiva de propiciar um mapeamento contínuo de grandes áreas foi o das faixas altimétricas, utilizado também nas formações vegetacionais precedentes, como por exemplo:

Formação Aluvial: apresenta-se sempre nos terraços mais antigos das calhas dos rios. Formação das Terras baixas: ocorrentes entre 5 a 100 m de altitude situadas entre os 4° de

latitude N e os 16 ° de latitude Sul; de 5 a 50 m quando localizados nas latitudes de 16 ° a 24 ° Sul; e de 5 a 30 m nas latitudes de 24° a 32° Sul.

Formação Submontana: situada na faixa altimétrica que varia de 100 a 600 m de acordo com

a latitude de 4° N até 16° S; de 50 a 500 m entre os 16° até os 24° de latitude S; e de 30 a 400 m após os 24° de latitude Sul.

Formação Montana: está situada nas faixas altimétricas acima desses níveis, nas seguintes

áreas: na Amazônia entre 600 e 2000 m de altitude e acima dos 16° de latitude Sul entre os 400 e 1500 m de altitude.

Somente quatro formações foram delimitadas no País: Aluvial, Terras Baixas, Submontana e Montana. Isso porque este tipo florestal é bastante descontínuo e sempre situado entre dois climas, um úmido e outro árido, sendo superúmido no Equador, árido no Nordeste e úmido no Sul. No Centro-Oeste, ocorre o clima continental estacional, em que predomina a Savana (Cerrado), que é um tipo de vegetação de clímax edáfico.

Temas de Ecologia

56

Floresta Estacional Semidecidual Aluvial: É uma formação encontrada com maior freqüência na grande depressão pantaneira mato-grossense do sul, sempre margeando os rios da bacia do rio Paraguai.

Floresta Estacional Semidecidual das Terras Baixas: É encontrada revestindo tabuleiros do

Pliopleistoceno do Grupo Barreiras, desde o sul da cidade de Natal até o norte do Estado do Rio de Janeiro, nas proximidades de Campos até as proximidades de Cabo Frio, aí já então em terreno quaternário.

Floresta Estacional Semidecidual Submontana: Esta formação ocorre freqüentemente nas

encostas interioranas das Serras da Mantiqueira e dos Órgãos, nos planaltos centrais capeados pelos arenitos Botucatu, Bauru e Caiuá dos períodos geológicos, Jurássico e Cretáceo. Distribui-se desde o Espírito Santo e sul da Bahia até o Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, sudoeste do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul.

Floresta Estacional Decidual Montana: São poucas as áreas ocupadas por esta formação

estabelecida acima de 500 m de altitude. Situa-se principalmente na face interiorana da Serra dos Órgãos, no Estado do Rio de Janeiro; na Serra da Mantiqueira, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais –- Itatiaia; e no Espírito Santo - Caparaó. Outras áreas ainda menores são as dos pontos culminantes dos planaltos areníticos.

Floresta Estacional Decidual (Floresta Tropical Caducifólia) Este tipo de vegetação é caracterizado por duas estações climáticas bem demarcadas, uma

chuvosa seguida de longo período biologicamente seco. Ocorre na forma de disjunções florestais, apresentando o estrato dominante macro ou mesofanerofítico predominantemente caducifólio, com mais de 50% dos indivíduos despidos de folhagem no período desfavorável.

Com características semelhantes, verifica-se na borda do Planalto Meridional, principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, uma disjunção que apresenta o estrato florestal emergente completamente caducifólio, visto que, muito embora o clima seja ombrófilo, há uma curta época muito fria, o que ocasiona, provavelmente, a estacionalidade fisiológica dos indivíduos da floresta.

Este tipo de vegetação apresenta grandes áreas descontínuas localizadas no Norte para o Sul, entre a Floresta Ombrófila Aberta e a Savana (Cerrado); de Leste para Oeste, entre a Savana Estépica (Caatinga do Sertão árido) e a Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Tropical Subcaducifólia); e, finalmente, no Sul, já na área subtropical, no vale do Rio Uruguai, entre a Floresta Ombrófila Mista do Planalto Meridional e a Estepe. Estas grandes áreas disjuntas apresentam quatro formações distintas: aluvial, terras baixas, submontana e montana.

Floresta Estacional Decidual Aluvial: Esta formação, quase que exclusiva das bacias dos

rios do Estado do Rio Grande do Sul, encontra-se bastante desfalcada dos seus elementos principais explorados para uso doméstico. Localizada nos terraços fluviais dos rios Jacuí, Ibicuí, Santa Maria e Uruguai, também ocorre nas várzeas do rio Paraguai, no Estado de Mato Grosso do Sul, onde a drenagem é dificultada pelo pouco desnível do rio.

Floresta Estacional Decidual das Terras Baixas: Formação encontrada em áreas

descontínuas e relativamente pequenas, com maior ocorrência na bacia do rio Prado, no sul do Estado da Bahia. As outras disjunções menores encontradas por todo o País devem ser delimitadas de acordo com as latitudes, salientadas com o fim exclusivo de se poder cartografá-las:

4° latitude N aos 16° latitude S, na faixa altimétrica de 5 até 100 m. dos 16° latitude S aos 24° latitude S, na faixa altimétrica de 5 até 50 m. dos 24° latitude S aos 32° latitude S, na faixa altimétrica de 5 até 30 m. Floresta Estacional Decidual Submontana: Nesta formação, encontram-se dispersas as

maiores disjunções do tipo florestal decidual, abaixo descritas de acordo com as áreas mais representativas em que foram observadas.

Temas de Ecologia

57

Em estreita faixa ao sul do estado do Estado do Maranhão, entre a Savana (Cerrado) e a Floresta Ombrófila Aberta com babaçu, situa-se uma floresta de médio porte composta por nanofoliadas deciduais com caules finos. No sul do Estado da Bahia, com fisionomia decidual revestindo os terrenos calcáreos da bacia do rio Pardo, ocorre uma floresta relativamente alta conhecida como ―mata de cipó‖.

A floresta situada ao norte de Goiás e sul do Estado de Tocantins entre a Floresta Estacional Semidecidual do sul do Pará e a Savana (Cerrado) de Goiás, mais precisamente no Vale do Rio das Almas e seus afluentes, apresenta uma fisionomia ecológica com mais de 50% de seus ecotipos sem folhas na época desfavorável.

A disjunção florestal denominada ―Mata do Jaíba,‖ situada ao norte de Minas Gerais e nos vales dos rios Verde Grande e São Francisco, apresenta uma constituição florística bastante complexa, com ecotipos savanícolas e florestais mesofanerófitos deciduais.

A floresta decidual da encosta da Serra da Bodoquena, no Estado de Mato Grosso do Sul, é dominada por ecotipos savanícolas e florestais mesofanerófitos.

A floresta da vertente interiorana da Serra da Mantiqueira, situada em território mineiro, reveste terrenos do pré-cambriano. Os terrenos da vertente sul do Planalto das Missões, aí já considerados como ―áreas extrazonais‖, pois estão incluídas no espaço subtropical, são revestidas por uma floresta que apresenta uma florística semelhante à que ocorre nas áreas tropicais.

Floresta Estacional Decidual Montana: Esta formação ocorre em áreas disjuntas que se

apresentam bastante expressivas, sendo que, para mapeá-las, tomaram-se parâmetros altimétricos de acordo com as latitudes onde são encontradas:

4° latitude N aos 16° latitude S varia de 600 até 2000m de altitude. dos 16° latitude S aos 24° latitude S varia de 500 até 1500m de altitude. dos 24° latitude S aos 32° latitude S varia de 400 até 1000m de altitude. Esta variação altimétrica ocorre de acordo com as latitudes e pode ser explicada pelas grandes

diferenças de temperatura que influem na composição florística. Observando-se mais ao sul, o espaço da faixa altimétrica diminui.

Campinarana (Campina)

Os termos Campinarana e Campina são sinônimos e significam ―falso campo‖. Inegavelmente, é a região na qual mais chove no Brasil: cerca de 4000 mm anuais bem distribuídos mensalmente, mas com chuvas torrenciais no verão. Estas desempenham importante papel na ocorrência desta vegetação oligotrófica, daí o enfatizar-se a expressão vegetação de influência pluvial. As temperaturas são altas, atingindo a média de 25°C.

Esta vegetação típica das bacias do Rio Negro, Orinoco e Branco ultrapassa as fronteiras brasileiras, atingindo a Venezuela e Colômbia, porém em áreas bem menores do que a ocupada no Brasil, onde ocupa áreas tabulares arenosas, bastante lixiviadas pelas chuvas durante os últimos 10.000 anos. Além das áreas tabulares, encontram-se em grandes depressões fechadas, suficientemente encharcadas no período chuvoso e com influência dos grandes rios que cortam a região, em todas as direções.

Esta classe de formação é dividida em três subgrupos de formação: arbórea densa, arbórea aberta ou arborizada e gramíneo-lenhosa.

Campinarana Florestada: É um subgrupo de formação que ocorre nos pediplanos tabulares, dominados por nanofanerófitos finos e deciduais na época chuvosa, semelhantes a uma ―floresta ripária‖. A bacia do alto Rio Negro foi o centro de dispersão deste domínio florístico e os ambientes situados ao longo dos rios de água preta, que, segundo Sioli (1962), revelam a presença de ácidos húmicos e material turfoso inerte em suspensão, são os locais onde estes ecotipos melhor se adaptam.

Campinarana Arborizada: Este grupo de formação é dominado por plantas raquíticas, mas das mesmas espécies que ocorrem nos interflúvios tabulares da região, sendo anãs em face dos terrenos capeados por Podzol Hidromórfico das depressões fechadas.

Campinarana Gramíneo-lenhosa: Este subgrupo de formação surge nas planícies encharcadas próximas aos rios e lagos da região. Estas planícies são capeadas por um tapete de geófitos e hemicriptófitos das famílias Poaceae (gramíneas) e Cyperaceae, ambas de dispersão pantropical.

Temas de Ecologia

58

Savana (Cerrado?)

Savana Estépica A Savana é conceituada como uma vegetação xeromorfa, preferencialmente de clima

estacional (mais ou menos 6 meses secos), podendo ser encontrada em clima ombrófilo. Reveste solos lixiviados aluminizados e apresenta sinúsias de hemicriptófitos, geófitos, caméfitos e fanerófitos oligotróficos de pequeno porte, com ocorrência por toda a Zona Neotropical.

A Savana (Cerrado) foi subdividida em quatro subgrupos de formação: Savana Florestada (Cerradão): Subgrupo de formação com fisionomia típica e característica,

restrita a áreas areníticas lixiviadas com solos profundos, ocorrendo em um clima tropical eminentemente estacional. Apresenta sinúsias lenhosas de micro e nanofanerófitos tortuosos com ramificação irregular. Extremamente repetitiva, a sua composição florística reflete-se de Norte a Sul.

Savana Arborizada (Campo Cerrado): Subgrupo de formação natural ou antropizado que se

caracteriza por apresentar fisionomia nanofanerofítica rala e hemicriptofítica graminóide contínua, sujeito ao fogo anual. Estas sinúsias dominantes formam fisionomia raquítica em terrenos degradados. A composição florística, apesar de semelhante à da Savana Florestada, apresenta ecotipos dominantes que caracterizam o ambiente de acordo com o espaço geográfico. É encontrada nos seguintes Estados: Amapá, Roraima, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Savana Parque: Subgrupo de formação constituído essencialmente por um estrato

graminóide, integrado por hemicriptófitos e geófitos de florística natural ou antropizada, entremeado por nanofanerófitos isolados, com conotação típica de um ―parque inglês‖. A Savana Parque de natureza antrópica é encontrada em todo o País, e é a natural nas seguintes áreas: Ilha de Marajó, Pantanal e Sul Mato-grossense, Araguaia e Ilha do Bananal.

Savana Gramíneo-Lenhosa (Campo): Prevalecem nesta fisionomia, quando natural, os

gramados entremeados por plantas lenhosas raquíticas, que ocupam extensas áreas dominadas por hemicriptófitos e que, aos poucos, quando manejados através do fogo ou pastoreio, vão sendo substituídos por geófitos que se distinguem por apresentar colmos subterrâneos, portanto mais resistentes ao pisoteio do gado e ao fogo. A composição florística é bastante diversificada, sendo as plantas lenhosas seus ecotipos mais representativos.

Savana Estépica (Savanas secas e/ou úmidas: Caatinga do Sertão Árido, Campos de

Roraima, Chaco Sul Matogrossense e Parque de Espinilho da Barra do Rio Quaraí). O termo foi empregado para denominar a área do ―sertão árido nordestino‖ com dupla

estacionalidade, uma área disjunta no norte do Estado de Roraima e duas outras áreas também disjuntas chaquenhas, uma no extremo sul do Mato Grosso do Sul e outra na barra do Rio Quaraí, no Rio Grande do Sul.

O sertão árido nordestino apresenta freqüentemente dois períodos secos anuais, um com longo déficit hídrico seguido de chuvas intermitentes e outro com seca curta seguido de chuvas torrenciais que podem faltar durante anos.

A disjunção situada no extremo norte do Estado de Roraima, na Chapada de Surumu, encontra-se bastante antropizada.

A vegetação do ―Chaco Boreal argentino-paraguaio-boliviano‖ é encontrada em sua face úmida desde a confluência do Rio Apa com o Rio Paraguai, prossegue comprimida entre a ―cuesta‖ da serra da Bodoquena e o Rio Paraguai até seu afluente, Rio Miranda, de onde avança até as proximidades de cidade de Miranda (MS). Daí segue até a cidade de Corumbá sempre flanqueando o Rio Paraguai, revestindo morretes pré-cambrianos ricos em manganês e ferro, podendo também ser encontrada dispersa até as margens do Rio Guaporé, afluente do Rio Mamoré já em território Amazônico, no Estado de Mato Grosso.

A disjunção chaqueana do ―Parque do Espinilho‖ ocorre na planície alagável situada no extremo sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul. Encontra-se ainda bastante preservado e seus

Temas de Ecologia

59

ecotipos naturais revestem terrenos de deposição recente, localizados entre os Rios Quaraí e Uruguai.

Este tipo de vegetação subdivide-se em quatro subgrupos de formações situados em áreas geomorfológicas diferentes.

Savana Estépica Florestada: Subgrupo de formação caracterizado por micro e/ou

nanofanerófitos, com média de até 5 metros, ultrapassando excepcionalmente os 7 metros de altura, mais ou menos densos, com grossos troncos e esgalhamento bastante ramificado em geral provido de espinhos e/ou acúleos, com total decidualidade na época desfavorável.

Savana Estépica Arborizada: Este subgrupo de formação apresenta as mesmas

características florísticas da fitofisionomia anterior, porém os indivíduos que o compõe são mais baixos, existindo claros entre eles.

Savana Estépica Parque: Este grupo de formação é o que apresenta características

fisionômicas mais típicas, com nanofanerófitos de um mesmo ecotipo bastante espaçados, como se fossem plantados, isto porque apresentam uma pseudoordenação de plantas lenhosas raquíticas, sobre denso tapete gramíneo-lenhoso de hemicriptófitos e caméfitos.

Savana Estépica Gramíneo-lenhosa: Este grupo de formação, também conhecido como

campo espinhoso, apresenta características florísticas e fisionômicas bem típicas, tais como um extenso tapete graminoso salpicado de plantas lenhosas anãs espinhosas.

Estepe (Campos Gerais Planálticos e Campanha Gaúcha)

Esta área subtropical, onde as plantas são submetidas à dupla estacionalidade (uma

fisiológica, provocada pelo frio das frentes polares, e outra seca, mais curta, com déficit hídrico), apresenta uma homologia fitofisionômica. Apesar de atualmente estas áreas estarem bastante antropizadas, pode-se separá-las em três subgrupos de formação, situados em dois grandes tipos de relevo: o pediplano gaúcho e o planalto meridional.

Estepe Arborizada: Este subgrupo de formação, localizado no planalto sul-rio-grandense, é

divisor de águas dos Rios Camaquã e Ibicuí e caracteriza-se pela dominância de solos rasos litólicos, com afloramentos rochosos, medianamente profundos.

Estepe Parque (Campo Sujo ou Parkland): Localizada em diferentes áreas nos Planaltos

das Araucárias, sul-rio-grandense e da Campanha, também ocorre nos divisores de águas dos Rios Ibirapuitá e Ibicuí da Cruz, apresentando fitofisionomia formada basicamente por nanofanerófitos freqüentes e dispersos regularmente. O estrato graminoso é dominado pelas mesmas formas de vida do subgrupo de formação anterior, além de algumas terófitas que, como plantas anuais, alteram o visual do Parque, imprimindo-lhe nuances de cor e de valor agrostológico.

Estepe Gramíneo-lenhosa (Campo Limpo): Neste subgrupo de formação, observam-se as

―florestas-de-galeria‖ de porte baixo flanqueando algumas drenagens. O estrato herbáceo é constituído por duas sinúsias graminóides: dos hemicriptófitos e a dos geófitos, ambas apresentando pilosidade nas folhas e colmos, o que sugere uma adaptação ao ambiente relativamente seco.

Sistema Edáfico de Primeira Ocupação (Formações Pioneiras) Ao longo do litoral, bem como nas planícies fluviais e mesmo ao redor das depressões aluviais

(pântanos, lagunas e lagoas), há, freqüentemente, terrenos instáveis cobertos por uma vegetação, em constante sucessão, de terófitos, criptófitos (geófitos e/ou hidrófitos), hemicriptófitos, caméfitos e nanofanerófitos. Trata-se de uma vegetação de primeira ocupação de caráter edáfico.

Vegetação com influência marinha (Restinga): As comunidades vegetais, que recebem influência direta das águas do mar, apresentam, como gêneros característicos da praia a Ramirea e Salicornia. Em áreas mais altas afetadas pelas marés equicionais, ocorrem as conhecidas Ipomea pes-caprae e Canavalea rosea, além dos gêneros Paspalum e Hydrocotyle. As duas primeiras são

Temas de Ecologia

60

plantas escandentes e estoloníferas que atingem as dunas, contribuindo para fixá-las. Nas dunas propriamente ditas, a comunidade vegetal apresenta-se dominada por nanofanerófitos. O Schinus terebenthifolius e a Lythraea brasiliensis imprimem, a essa vegetação, um caráter lenhoso.

Vegetação com influência fluvio-marinha (manguezal e campos salinos): O manguezal é

a comunidade microfanerofítica de ambiente salobro, situada na desembocadura de rios e regatos no mar, onde, nos solos limosos, cresce uma vegetação adaptada à salinidade das águas, com a seguinte seqüência: Rhizophora mangle, Avicenia, cujas espécies variam conforme a latitude norte e sul, e a Laguncularia racemosa, que cresce nos locais mais altos.

Vegetação com influência fluvial (comunidades aluviais): Trata-se de comunidades

vegetais das planícies aluviais que refletem os efeitos das cheias dos rios nas épocas chuvosas, ou, então, das depressões alagáveis todos os anos. Essa sucessão natural da vegetação pioneira já foi estudada em várias regiões do Brasil, principalmente na Amazônia, onde existem as maiores áreas de várzea do País.

Sistema de transição (Tensão Ecológica): Entre duas ou mais regiões ecológicas ou tipos

de vegetação, existem sempre, ou pelo menos na maioria das vezes, comunidades indiferenciadas, onde as floras se interpenetram, constituindo as transições florísticas ou contatos edáficos.

Ecótono (mistura florística entre tipos de vegetação): Neste caso, o contato entre tipos de

vegetação com estruturas fisionômicas semelhantes fica muitas vezes imperceptível, e o seu mapeamento por fotointerpretação é impossível. Torna-se necessário, então, o levantamento florístico de cada região ecológica para se poder delimitar as áreas de ecótono.

Encrave (áreas disjuntas que se contatam): No caso de mosaicos de áreas encravadas,

situadas entre duas regiões ecológicas, a sua delimitação torna-se exclusivamente cartográfica e sempre dependente da escala, pois em escalas maiores é sempre possível separá-las.

Sistemas dos Refúgios Vegetacionais (Relíquias)

Toda e qualquer vegetação floristicamente diferente e, logicamente, fisionômico-ecológica

também diferente do contexto geral da flora dominante na Região Ecológica ou no tipo de vegetação é considerada um refúgio ecológico. Este, muitas vezes, constitui uma ―vegetação relíquia‖ que persiste em situações essencialíssimas, como é o caso de comunidades localizadas em altitudes acima de 1800 metros.

Sistema da Vegetação Disjunta

Disjunções vegetacionais são repetições, em escala menor, de um outro tipo de vegetação

próximo que se insere no contexto da Região Ecológica dominante. Conforme a escala cartográfica com que se está trabalhando, um encrave edáfico considerado como comunidade em transição (tensão ecológica) poderá ser perfeitamente mapeada, como uma comunidade disjunta do clímax mais próximo.

Fonte: Veloso et alii, 1991; IBGE, 1992

Temas de Ecologia

61

Biomas - Brasileiros

MATA ATLÂNTICA LOCALIZAÇÃO A Floresta Atlântica, com cerca de 1,5 milhão de km² estende-se praticamente por todo o litoral

brasileiro, atingindo 13 estados. Corresponde a um dos ecossistemas mais ameaçados no mundo. Ocorre nas encostas do Planalto Atlântico e nas baixadas litorâneas contíguas. Muito rica em

espécies, abrigando uma fauna diversificada, recobria de modo quase contínuo uma faixa paralela ao litoral, desde Santa Catarina até o Rio Grande do Norte.

A Floresta Atlântica desenvolve-se pelo litoral das regiões do Nordeste, Sudeste e Sul do País, avançando para o interior em extensões variadas. Sua diversidade resulta das condições climáticas, de altitude e de latitude, que se apresentam ao longo de uma faixa florestal originalmente contínua.

CARACTERIZAÇÃO A Floresta Atlântica é uma floresta tropical plena, associada aos ecossistemas costeiros de

mangues nas enseadas, foz de grandes rios, baías e lagunas de influência de marés, matas de restinga nas baixadas arenosas do litoral, às florestas de pinheirais no planalto, do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e ainda aos campos de altitude nos cumes das Serras da Bocaina, da Mantiqueira e do Caparaó.

A maior parte das espécies da fauna e da flora brasileira, em vias de extinção, são endêmicas à Floresta Atlântica.

No sentido amplo do termo, a Floresta Atlântica engloba um diversificado mosaico de ecossistemas florestais com estruturas e composições florísticas bastante diferenciadas, acompanhando a diversidade dos solos, relevos e características climáticas da vasta região onde ocorre, tendo como elemento comum a exposição aos ventos úmidos que sopram do oceano.

No reverso das escarpas, em suas porções voltadas para o interior, caracteriza-se como uma mata de planalto, resultante da existência de um clima úmido, mas com estacionalidade bem marcada.

Assim, na Reserva da Biosfera da Floresta Atlântica, além de algumas paisagens em graus diversificados de antropização, englobam-se variados hábitats: Floresta Perenifólia Higrófila Costeira (Torres) ou Floresta Ombrófila Densa (Serra Gaúcha).

Caracterizadas por sua fisionomia alta e densa, são conseqüências da variedade de espécies pertencentes a várias formas biológicas e estratos. Nessa floresta, a vegetação dos níveis inferiores

Temas de Ecologia

62

vive em um ambiente bastante sombrio e úmido, sempre dependente do estrato superior. O grande número de lianas, epífitas, fetos arborescentes e palmeiras dá a esta floresta um

caráter tipicamente tropical. Segundo a Legislação Ambiental que definiu os limites da Floresta Atlântica no RS, ela começa pelo Rio Mampituba em Torres, indo até Osório, onde sobe a Serra Geral, incluindo toda a Serra Gaúcha e aí, novamente, desce o Itaimbezinho até as nascentes do Rio Mampituba. Ou seja, todo o Litoral Norte e Serra Gaúcha estão dentro da chamada Floresta Atlântica.

Os ambientes do Litoral Norte são muito sensíveis porque ainda estão em formação. A natureza ainda não terminou de fazê-los. Dunas, restingas, banhados, lagoas, campos e matas formam corredores de vida silvestre, com papel definido na harmonia da região. Exemplos são a gralha azul, que planta o pinhão na Serra, e os pássaros que comem as sementes da figueira e semeiam, com sua defecação, futuras mudas de figueira em todo o Litoral Norte.

Atualmente cerca de 80 milhões de pessoas, mais de 50% da população brasileira, vive nessa área que, além de abrigar a maioria das cidades e regiões metropolitanas do País, sedia também os grandes pólos industriais, químicos, petroleiros e portuários do Brasil, respondendo por 80% do PIB nacional.

Apesar de sua história de devastação, a Floresta Atlântica ainda possui remanescentes florestais de extrema beleza e importância que contribuem para que o Brasil seja considerado o país de maior diversidade biológica do planeta.

Em relação à ocupação e utilização da Floresta Atlântica, a floresta nativa deu lugar às culturas de cana-de-açúcar, cacau e café, além da pecuária, da floresta cultivada e dos pólos de desenvolvimento urbano. A devastação das matas teve início ainda no séc. XVI, com o ciclo do pau-brasil, progredindo até os dias atuais quando restam cerca de 5% da cobertura florestal original (quase que exclusivamente nas vertentes da Serra do Mar).

Em fevereiro de 1993, um novo decreto regulamentou a exploração da Floresta Atlântica. O decreto aumentou a área de dimensão da Floresta Atlântica a ser preservada, antes restrita à faixa litorânea. Ao contrário da legislação anterior, que praticamente proibia qualquer forma de utilização econômica da região, considerando a área intocável, o texto atual permite que as comunidades locais mantenham a exploração tradicional de algumas culturas por uma economia de subsistência. Além disso, prevê que os estados, municípios e Organizações Não-Governamentais (ONG's) também participem da fiscalização do ecossistema.

Estudos revelam que em cinco anos o Brasil perdeu 533 mil hectares de Floresta Atlântica com derrubada de 1,07 bilhão de árvores. Calcula-se também que de 1990 até 1993 mais de 316.888 hectares de florestas foram derrubadas.

As principais causas do desmatamento são a proliferação das pastagens, o plantio de eucaliptos e a implantação de monoculturas comerciais como a soja e a cana. Essa diversidade, ao mesmo tempo em que representa uma excepcional riqueza de patrimônio genético e paisagístico, torna a mata externamente frágil.

O resultado atual da destruição de quase 5 séculos de colonização, da expansão agrícola e da urbana florestas úmidas adentro, passou por vários ciclos, que marcaram o desenvolvimento do País, como o da cana-de-açúcar, do ouro, do café e, na atualidade, da expansão da agricultura e da industrialização.

O ambiente é superúmido, devido às grandes quantidades de árvores, que tornam a floresta mais fechada. O clima é tropical, com influência oceânica, com precipitação anual que varia de 1.000 a 1.750 mm. Não bastasse o fato de ser uma floresta tropical, com vários ecossistemas associados, a Floresta Atlântica teve sua diversidade biológica ainda mais ampliada pela intensidade das transformações que sofreu ao longo dos últimos anos.

Especialmente durante o período quaternário, marcado por fortes mudanças climáticas, a Floresta Atlântica viveu momentos de forte retração durante as glaciações, resistindo, fragmentada, apenas em alguns locais conhecidos como "refúgios do pleistoceno", quando as condições climáticas eram mais amenas.

O relevo é constituído por colinas e planícies costeiras, acompanhadas por uma cadeia de montanhas. Os solos são de fertilidade média, porém, a área com relevo acidentado constitui limitação forte para uso intensivo das terras com cultivos anuais. Mas no interior da floresta o solo é pobre, que se mantém pela decomposição acelerada de matéria orgânica proveniente dos restos vegetais que caem no chão.

Temas de Ecologia

63

FLORA Segundo os botânicos, a Floresta Atlântica é a mais diversificada do planeta, com mais de 25

mil espécies de plantas. O elevado índice de chuvas ao longo do ano permite a existência de uma vegetação rica, densa, com árvores que chegam a 30 metros de altura.

Destacam-se o pau-brasil, o jequitibá, as quaresmeiras, o jacarandá, o jambo e o jabolão, o xaxim, o palmito, a paineira, a figueira, a caviúna, o angico, a maçaranduba, o ipê-rosa, o jatobá, a imbaúba, o murici, a canela-amarela, o pinheiro-do-paraná, e outras. Em um curto espaço, pode-se encontrar mais de 50 espécies vegetais diferentes.

O sub-bosque, composto por árvores menores, abriga numerosas epífitas, gravatás, bromélias, orquídeas, musgos e líquens, samambaias, begônias e lírios de várias espécies. Na Floresta Atlântica, o índice de endemismo entre as palmeiras, bromélias e algumas epífitas chega a mais de 70%.

FAUNA A Floresta Atlântica possui uma grande biodiversidade de animais, além de muitos que já estão

ameaçados de extinção, como: a onça-pintada, a jaguatirica, o mono-carvoeiro, o macaco-prego, o guariba, o mico-leão-dourado, vários sagüis, a preguiça-de-coleira, o caxinguelê, o tamanduá. São cerca de 250 espécies de mamíferos (55 endêmicas), 340 de anfíbios (87 endêmicas), além de, aproximadamente, 350 espécies de peixes (133 endêmicas). Em conjunto os mamíferos , aves, répteis e anfíbios que ocorrem na Floresta Atlântica somam 1.810 espécies, sendo 389 endêmicas. Este bioma abriga, aproximadamente, 7% de todas as espécies do planeta.

Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-sangue, a araponga, o sanhaço, numerosos beija-flores, tucanos, saíras e gaturamos.

Entre os principais répteis desse ecossistema estão o teiú, um lagarto de mais de 1,5 metros de comprimento, jibóias, jararacas e corais verdadeiras. Numerosas espécies da flora e da fauna são únicas e características: a maioria das aves, répteis, anfíbios e borboletas são endêmicas, ou seja, são encontradas apenas nesse ecossistema.

Entre os mamíferos, 39% também são endêmicos, o mesmo ocorrendo com a maioria das borboletas, dos répteis, dos anfíbios e das aves nativas. Nela sobrevivem mais de 20 espécies de primatas, a maior parte delas endêmicas. Hoje, 171 das 202 espécies de animais brasileiros considerados ameaçados de extinção são originários da Floresta Atlântica.

Infelizmente, nesse cenário de grande riqueza e endemismo de espécies observa-se também um elevado número de espécies em extinção. Em alguns grupos, como o das aves, 10% das espécies encontradas no bioma se enquadram em alguma categoria de ameaça. No caso dos mamíferos, o número de espécies ameaçadas de extinção atinge aproximadamente 14%.

As principais áreas preservadas se encontram em parques nacionais, como o de Superagüi (PR), de Itatiaia (MG, RJ), da Serra da Bocaina (SP, RJ), do Monte Pascoal e da Chapada Diamantina (ambos na BA) e do Iguaçu (PR); em parques estaduais como os da Ilha do Cardoso, da Ilha de São Sebastião, da Ilha Anchieta e da Serra do Mar, do Vale do Ribeira, da Serra do Japi (todos em SP), do Desengano (RJ) e nas estações ecológicas de Tapacurá (PE), Caratinga (MG), Poço das Antas (RJ) e Juréia (SP).

CAATINGA

LOCALIZAÇÃO A caatinga ocupa cerca de 7% do território brasileiro. Estende-se pelos estados do Maranhão,

Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais.

A área total é de aproximadamente 1.100.000 km². O cenário árido é uma descrição da Caatinga - que na língua indígena quer dizer Mata Branca.

CARACTERIZAÇÃO A caatinga tem uma fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos, em torno

de 500 a 700 mm anuais. Em certas regiões do Ceará, por exemplo, embora a média para anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm, pode chegar a apenas 200 mm nos anos secos.

A temperatura se situa entre 24 e 26 graus e varia pouco durante o ano. Além dessas condições climáticas rigorosas, a região das caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a aridez da paisagem nos meses de seca.

As plantas da caatinga possuem adaptações ao clima, tais como folhas transformadas em

Temas de Ecologia

64

espinhos, cutículas altamente impermeáveis, caules suculentos etc. Todas essas adaptações lhes conferem um aspecto característico denominado xeromorfismo (do grego xeros, seco, e morphos, forma, aspecto).

Duas adaptações importantes à vida das plantas nas caatingas são a queda das folhas na estação seca e a presença de sistemas de raízes bem desenvolvidos. A perda das folhas é uma adaptação para reduzir a perda de água por transpiração e raízes bem desenvolvidas aumentam a capacidade de obter água do solo.

O mês do período seco é agosto e a temperatura do solo chega a 60oC. O sol forte acelera a evaporação da água das lagoas e rios que, nos trechos mais estreitos, secam e param de correr. Quando chega o verão, as chuvas encharcam a terra e o verde toma conta da região.

Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a temperatura elevada (médias entre 25oC e 29oC) provoca intensa evaporação. Por isso, somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura se torna possível.

Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semi-desertos e nublados, mas sem chuva. O vento seco e quente não refresca, incomoda. A vegetação adaptou-se ao clima para se proteger. As folhas, por exemplo, são finas, ou inexistentes. Algumas plantas armazenam água, como os cactos, outras se caracterizam por terem raízes praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva.

Os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem nos 800 mil km2 de Caatinga nem sempre podem contar com as chuvas de verão. Quando não chove, o homem do sertão e sua família sofrem muito. Precisam caminhar quilômetros em busca da água dos açudes. A irregularidade climática é um dos fatores que mais interferem na vida do sertanejo.

O homem complicou ainda mais a dura vida no sertão. Fazendas de criação de gado começaram a ocupar o cenário na época do Brasil colônia. Os primeiros a chegar pouco entendiam a fragilidade da Caatinga, cuja aparência árida denuncia uma falsa solidez. Para combater a seca, foram construídos açudes para abastecer de água os homens, seus animais e suas lavouras. Desde o Império, quando essas obras tiveram início, o governo prossegue com o trabalho.

CLIMA E HIDROGRAFIA Enquanto que as médias mensais de temperatura variam pouco na região, sendo mais afetadas

pela altitude que por variações em insolação, as variações diárias de temperatura e umidade são bastante pronunciadas, tanto nas áreas de planície como nas regiões mais altas do planalto.

No planalto, os afloramentos rochosos mais expostos, sujeitos à ação dos ventos e outros fatores, podem experimentar temperaturas muito baixas e próximas ou abaixo de zero grau durante as noites mais frias do ano, enquanto que a temperatura pode ser bastante elevada durante os dias quentes e ensolarados do verão. Esta grande variação local de temperatura e umidade durante o dia influencia bastante a vegetação destas áreas, e é um forte fator a determinar sua composição.

As variações em temperatura são muito menos extremas durante a estação chuvosa, e também durante certos períodos quando a neblina se forma, especialmente à noite nas áreas de maior altitude, durante a estação seca. Não é incomum se observar pesadas formações de nuvens ou neblina nas regiões mais altas no início da manhã, durante a estação seca, o que resulta em menos de cinco horas de insolação por dia no planalto, enquanto que as áreas de planície circunvizinhas possuem uma taxa mais alta de insolação diária, sete horas ou mais.

Ao amanhecer, pode-se observar a presença de orvalho em abundância cobrindo o solo, as rochas e a vegetação nos locais mais altos. Isto fornece certa umidade ao solo mesmo durante a estação seca, e contribui para a manutenção da vegetação da área.

As áreas de planície estão sujeitas a um período de seca muito mais longo e severo que as áreas planálticas mais elevadas, período que normalmente dura sete meses, mas que às vezes pode chegar a até doze meses em um ano. Não só a taxa de precipitação anual é mais baixa, como também as temperaturas são em geral mais altas. Estas áreas têm clima semi-árido tropical, com temperaturas médias mensais ficando acima de 22°C.

Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores cobrem-se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas. A fauna volta a engordar. Através de caminhos diversos, os rios regionais saem das bordas das chapadas, percorrem extensas depressões entre os planaltos quentes e secos e acabam chegando ao mar, ou engrossando as águas do São Francisco e do Parnaíba (rios que cruzam a Caatinga).

Temas de Ecologia

65

Das cabeceiras até as proximidades do mar, os rios com nascentes na região permanecem secos por cinco ou sete meses no ano. Apenas o canal principal do São Francisco mantém seu fluxo através dos sertões, com águas trazidas de outras regiões climáticas e hídricas.

GEOLOGIA, RELEVO E SOLOS Geologicamente, a região é composta de vários tipos diferentes de rochas. Nas áreas de

planície as rochas prevalecentes têm origem na era Cenozóica (do fim do período Terciário e início do período Quaternário), as quais se encontram cobertas por uma camada de solo bastante profunda, com afloramentos rochosos ocasionais, principalmente nas áreas mais altas que bordejam a Serra do Tombador; tais solos (latossolos) são solos argilosos (embora a camada superficial possa ser arenosa ou às vezes pedregosa) e minerais, com boa porosidade e rico em nutrientes. Afloramentos de rocha calcárea de coloração acinzentada ocorrem a oeste, sendo habitados por algumas espécies endêmicas e raras, como o Melocactus azureus.

A região planáltica é composta de arenito metamorfoseado derivado de rochas sedimentares areníticas e quartzíticas consolidadas na era Proterozóica média; uma concentração alta de óxido férreo dá a estas rochas uma cor de rosa a avermelhada. Os solos gerados a partir da decomposição do arenito são extremamente pobres em nutrientes e altamente ácidos, formando depósitos arenosos ou pedregosos rasos, que se tornam mais profundos onde a topografia permite; afloramentos rochosos são uma característica comum das áreas mais altas. Estes afloramentos rochosos e os solos pouco profundos formam as condições ideais para os cactos, e muitas espécies crescem nas pedras, em fissuras ou depressões da rocha onde a acumulação de areia, pedregulhos e outros detritos, juntamente com o húmus gerado pela decomposição de restos vegetais, sustenta o sistema radicular destas suculentas.

A Serra do Tombador possui um relevo montanhoso que se destaca das regiões mais baixas que o circundam - sua altitude fica em geral acima de 800 metros, alcançando aproximadamente 1000 m nos pontos de maior altitude, enquanto que a altitude nas planícies ao redor variam de 400 a 600 m, embora sofram um ligeiro aumento nas bordas do planalto.

O planalto age como uma barreira às nuvens carregadas de umidade provenientes do Oceano Atlântico que, ao ascenderem a medida em que se encontram com a barreira em que o planalto se constitui, se condensam e fornecem umidade na forma de neblina, orvalho e chuvas, mesmo no pico da estação seca. Isto resulta em um clima moderado e úmido que difere enormemente do clima das regiões mais baixas. Porém, o lado ocidental do planalto é mais seco, com condições comparáveis às encontradas nas áreas de planície, porque a altitude das montanhas desviam as nuvens de chuva que vêm do Atlântico. Climatogramas de locais de altitude similar, mas localizados em lados opostos do planalto, claramente indicam a maior umidade do lado oriental. Um resultado da barreira formada pelas montanhas são nuvens carregadas de umidade provenientes do Oceano Atlântico, que produzem uma maior quantidade de chuvas no lado oriental.

A precipitação no planalto normalmente excede os 800 mm anuais, com picos de até 1.200 mm em determinados locais, enquanto que a média de precipitação nas áreas de planície fica em torno de 400 a 700 mm. A precipitação é freqüentemente bimodal nas regiões mais altas, com um máximo de chuvas no período de novembro a janeiro, e um segundo período chuvoso, menor, no período de março a abril.

A altitude elevada do relevo da Serra do Tombador conduz a um clima mesotérmico em que a média mensal da temperatura, pelo menos durante alguns meses, permanece abaixo dos 18°C. Os meses mais frios ocorrem no período do inverno (de maio a setembro, que coincide com a estação seca), quando o sol está em seu ponto mais baixo. As médias mensais de temperaturas do período mais quente do ano normalmente não excedem 22°C, sendo que os meses mais quentes do ano ocorrem entre outubro, um pouco antes do início da estação chuvosa, e fevereiro, quando as chuvas estão começando a se tornar raras.

O sertão nordestino é uma das regiões semi-áridas mais povoadas do mundo. A diferença entre a Caatinga e áreas com as mesmas características em outros países é que as populações se concentram onde existe água, promovendo um controle rigoroso da natalidade. No Brasil, entretanto, o homem está presente em toda a parte, tentando garantir a sua sobrevivência na luta contra o clima.

A caatinga é coberta por solos relativamente férteis. Embora não tenha potencial madeireiro, exceto pela extração secular de lenha, a região é rica em recursos genéticos, dada a sua alta biodiversidade. Por outro lado, o aspecto agressivo da vegetação contrasta com o colorido

Temas de Ecologia

66

diversificado das flores emergentes no período das chuvas. Os grandes açudes atraíram fazendas de criação de gado. Em regiões como o Vale do São

Francisco, a irrigação foi incentivada sem o uso de técnica apropriada e o resultado tem sido desastroso. A salinização do solo é, hoje, uma realidade. Especialmente na região onde os solos são rasos e a evaporação da água ocorre rapidamente devido o calor, a agricultura tornou-se impraticável.

Outro problema é a contaminação das águas por agrotóxicos. Depois de aplicado nas lavouras, o agrotóxico escorre das folhas para o solo, levado pela irrigação, e daí para as represas, matando os peixes. Nos últimos 15 anos, 40 mil km2 de Caatinga se transformaram em deserto devido à interferência do homem sobre o meio ambiente da região. As siderúrgicas e olarias também são responsáveis por este processo, devido ao corte da vegetação nativa para produção de lenha e carvão vegetal.

VEGETAÇÃO A caatinga é um tipo de formação vegetal com características bem definidas: árvores baixas e

arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas (espécies caducifólias), além de muitas cactáceas.

A caatinga apresenta três estratos: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5 metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros). Contraditoriamente, a flora dos sertões é constituída por espécies com longa história de adaptação ao calor e à seca, é incapaz de reestruturar-se naturalmente se máquinas forem usadas para alterar o solo. A degradação é, portanto, irreversível na caatinga.

O aspecto geral da vegetação, na seca, é de uma mata espinhosa e agreste. Algumas poucas espécies da caatinga não perdem as folhas na época da seca. Entre essas destaca-se o juazeiro, uma das plantas mais típicas desse ecossistema.

Ao caírem as primeiras chuvas no fim do ano, a caatinga perde seu aspecto rude e torna-se rapidamente verde e florida. Além de cactáceas, como Cereus (mandacaru e facheiro) e Pilocereu (xiquexique), a caatinga também apresenta muitas leguminosas (mimosa, acácia, emburana, etc.).

Algumas das espécies mais comuns da região são a emburana, a aroeira, o umbu, a baraúna, a maniçoba, a macambira, o mandacaru e o juazeiro.

No meio de tanta aridez, a caatinga surpreende com suas "ilhas de umidade" e solos férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e geológicas dos sertões. Nessas ilhas, é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos.

As espécies vegetais que habitam esta área são em geral dotadas de folhas pequenas, uma adaptação para reduzir a transpiração. Gêneros de plantas da família das leguminosas, como Acacia e Mimosa, são bastante comuns. A presença de cactáceas, notavelmente o cacto mandacaru (Cereus jamacaru), caracterizam a vegetação de caatinga; especificamente na caatinga da região de Morro do Chapéu, é característica a palmeira licuri (Syagrus coronata).

FAUNA Quando chove na caatinga, no início do ano, a paisagem e seus habitantes se modificam. Lá

vive a ararinha-azul, ameaçada de extinção. Outros animais da região são o sapo-cururu, a asa-branca, a cotia, a gambá, o preá, o veado-catingueiro, o tatu-peba e o sagui-do-nordeste, entre outros. Levantamentos de fauna na Caatinga revelam a existência de 40 espécies de lagartos, 7 espécies de anfibenídeos (lagartos sem patas), 45 espécies de serpentes, 4 de quelônios, 1 de crocodiliano, 44 anfíbios.

Também constituída por diversos tipos de aves, algumas endêmicas do Nordeste, como o patinho, chupa-dente, o fígado, além de outras espécies de animais, como o tatu-peba, o gato-do-mato, o macaco prego e o bicho preguiça.

Destaca-se também a ocorrência de espécies em extinção, como o próprio gato-do-mato, o gato-maracajá, o patinho, a jararaca e a sucuri-bico-de-jaca.

FLORESTA COM ARAUCÁRIA (MATA DE PINHAIS) LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO Localiza-se no sul do Brasil, estendendo-se pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul. A região das araucárias principia no primeiro planalto, imediatamente a oeste da Serra do Mar, e estende-se pelos segundo e terceiro planaltos do Estado do Paraná e Laranjeiras do

Temas de Ecologia

67

Sul, com associações florísticas da araucária. A região da araucária insere-se às partes mais altas das montanhas do Sul, nos planaltos, onde

ocorrem até altitudes médias de 600 a 800 m, e em alguns poucos lugares em que ultrapassam 1.000 m. O limite inferior destas matas situa-se entre 500 e 600 m nos estados do Sul, sendo que ao norte este limite situa-se algumas centenas de metros acima. Nestas florestas, coexistem representantes da flora tropical e temperada do Brasil, sendo dominadas, no entanto, pelo pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia).

CLIMA O clima da região é temperado, com chuvas regulares e estações relativamente bem definidas:

o inverno é normalmente frio, com geadas freqüentes e até neve em alguns municípios do Rio Grande do Sul, e o verão razoavelmente quente. As temperaturas variam de 30ºC, no verão, até alguns graus negativos, no inverno rigoroso.

A umidade relativa do ar está relacionada à temperatura, com influência da altitude. Assim, nas zonas mais elevadas, a temperatura não é suficientemente elevada, diminuindo a umidade produzida pelas chuvas. As médias mais elevadas são resultados da influência oceânica sobre o clima e da transpiração dos componentes das matas pluviais existentes. Os maiores índices pluviométricos são registrados nos planaltos, com chuvas bem distribuídas.

GEOLOGIA E RELEVO O Estado do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul são formados, em sua maior

extensão, por escarpas de estratos e planaltos que declinam suavemente em direção a oeste e noroeste. Apresentam grandes regiões geográficas naturais ou grandes paisagens naturais (Zona litorânea - orla marinha e orla da serra, Serra do Mar, Planaltos, Planícies costeiras, Serras Litorâneas e Planalto Ocidental).

FLORA No Planalto Meridional Brasileiro, com altitudes superiores a 500 m, destaca-se a área de

dispersão do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), que já ocupou cerca de 2,6% do território nacional. Nestas florestas, coexistem representantes da flora tropical e temperada do Brasil, sendo dominadas, no entanto, pelo pinheiro-do-paraná. As florestas variam em densidade arbórea e altura da vegetação e podem ser classificadas, de acordo com aspectos de solo, como aluviais, (ao longo dos rios), submontanas (que já inexistem) e montanas (que dominavam a paisagem).

A vegetação aberta dos campos gramíneo-lenhosos ocorre sobre solos rasos. Devido ao seu alto valor econômico, a Floresta com Araucária sofre, há bastante tempo, forte pressão de desmatamento.

A Floresta com Araucária ou Floresta Ombrófila Mista apresenta em sua composição florística espécies de lauráceas como a imbuia (Ocotea porosa), o sassafrás (Ocotea odorifera), a canela-lageana (Ocotea pulchella), além de diversas espécies conhecidas por canelas. Merecem destaque também a erva-mate (Ilex paraguariensis) e a caúna (Ilex theezans), entre outras aqüifoliáceas. Diversas espécies de leguminosas (jacarandá, caviúna e monjoleiro) e mirtáceas (sete-capotes, guabiroba, pitanga) também são abundantes na floresta com araucária, associadas também à coníferas como o pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii). Encontram-se também freqüentemente rutáceas (pau-marfim – Balfourodendron riedelianum), euforbiáceas (tapexingüí – Croton sp.), solanáceas (fumo bravo – Solanum verbascifolium), urticáceas (Boehmeriasp. e Urera sp.), além de muitas outras espécies vegetais arbustos, lianas e ervas.

Este bioma possui uma grande riqueza de epífitas vasculares, a saber, bromélias, orquídeas, cactáceas, pteridófitas, piperáceas e muitas outras espalhadas pela Serra do Mar, na região de mata pluvial-tropical e nos capões de campos dos planaltos do interior.

FAUNA É um dos ecossistemas mais ricos em relação à biodiversidade de espécies animais, contando

com indivíduos endêmicos, raros, ameaçados de extinção, espécies migratórias, cinegéticas e de interesse econômico da Floresta Atlântica e Campos Sulinos.

Várias espécies estão ameaçadas de extinção: a onça-pintada, a jaguatirica, o mono-carvoeiro, o macaco-prego, o guariba, o mico-leão-dourado, vários sagüis, a preguiça-de-coleira, o caxinguelê, e o tamanduá.

Temas de Ecologia

68

Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-sangue, a araponga, o sanhaço, numerosos beija-flores, tucanos, saíras e gaturamos.

Entre os principais répteis desse ecossistema estão o teiú (um lagarto de mais de 1,5m de comprimento), jibóias, jararacas e corais verdadeiras. Numerosas espécies da flora e da fauna são únicas e características: a maioria das aves, répteis, anfíbios e borboletas são endêmicas, ou seja, são encontradas apenas nesse ecossistema. Nela sobrevivem mais de 20 espécies de primatas, a maior parte delas endêmicas.

CAMPOS DO SUL LOCALIZAÇÃO Os campos da região sul do Brasil são denominados de pampas, termo indígena que significa

região plana, abrangendo o Estado do Rio Grande do Sul, o Uruguai e a Argentina. CARACTERIZAÇÃO As florestas dos Campos Sulinos abrangem em sua maioria as florestas tropicais mesófilas,

florestas subtropicais e os campos meridionais. As florestas subtropicais compreendem basicamente a Floresta com Araucária, distribuindo-se sobre os planaltos oriundos de derrames basálticos, e caracterizando-se principalmente pela presença marcante do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia). E em direção ao arroio Chuí, na divisa com o Uruguai, estabelece-se um campo com formas arbustivas sobre afloramentos rochosos.

OCUPAÇÃO Devido à ocupação do território, a exploração indiscriminada de madeira, iniciada pela

colonização no planalto das Araucárias, favoreceu a expansão gradativa da agricultura. Os gigantescos pinheiros foram derrubados e queimados para dar lugar ao cultivo de milho, trigo, arroz, soja e uva. O cultivo de frutíferas está tendo um grande avanço, criando uma pressão nas áreas florestais; aliado ao extrativismo seletivo de espécies madeireiras que está comprometendo os remanescentes florestais.

Além dos grandes desmatamentos para o cultivo, existe ainda uma forte pressão de pastejo e a prática do fogo que não permitem o estabelecimento da vegetação arbustiva.

A agricultura, a pecuária de corte e a industrialização trouxeram vários problemas ambientais, como a degradação, a compactação dos solos, a contaminação e o assoreamento dos aqüíferos, devido ao manejo inadequado das culturas. O manejo inadequado em áreas inapropriadas dos campos sulinos tem levado a um processo de desertificação, principalmente em áreas cujo substrato é o arenito, na abrangência das bacias dos rios Ibicuí e Ibarapuitã.

Estas regiões ainda guardam áreas protegidas restritas a ecossistemas naturais, que são alvo de preocupação em relação à sua conservação e preservação. Atualmente estão implantadas Unidades de Conservação voltadas para a conservação da Floresta com Araucária e dos campos sulinos.

CLIMA O clima nos campos sulinos é caracterizado com altas temperaturas no verão, chegando a

35ºC, e o inverno é marcado com geadas e neve em algumas regiões, marcando temperaturas negativas. A precipitação anual situa-se em torno de 1.200 mm, com chuvas concentradas nos meses de inverno. O clima é frio e úmido.

FLORA A vegetação predominante é de gramíneas, representadas pelos gêneros Andropogon, Aristida,

Paspalum, Panicum e Eragrotis, leguminosas e compostas. As árvores de maior porte são fornecedoras de madeira, tais como o louro-pardo, o cedro, a cabreúva, a grápia, a guajuvira, a caroba, a canafístula, a bracatinga, a unha-de-gato, o pau-de-leite, a canjerana, o guatambu, a timbaúva, o angico-vermelho, entre outras espécies características como, a palmeira-anã (Diplothemium campestre). Os campos sulinos possuem uma diversidade de mais de 515 espécies.

Já os terrenos planos das planícies e planaltos gaúchos e as coxilhas, de relevo suave-ondulado, são colonizados por espécies pioneiras campestres que formam uma vegetação tipo savana aberta. Há ainda áreas de florestas estacionais e de campos de cobertura gramíneo-lenhosa.

Temas de Ecologia

69

FAUNA É um dos ecossistemas mais ricos em relação à biodiversidade de espécies animais, contando

com espécies endêmicas, raras, ameaçadas de extinção, espécies migratórias, cinegéticas e de interesse econômico dos campos sulinos.

As principais espécies ameaçadas de extinção são exemplificadas por inúmeros animais, como: a onça-pintada, a jaguatirica, o mono-carvoeiro, o macaco-prego, o guariba, o mico-leão-dourado, vários sagüis, a preguiça-de-coleira, o caxinguelê, o tamanduá.

Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-sangue, a araponga, o sanhaço, numerosos beija-flores, tucanos, saíras e gaturamos.

Entre os principais répteis desse ecossistema estão o teiú, um lagarto de mais de 1,5 m de comprimento, jibóias, jararacas e corais verdadeiras. Numerosas espécies da flora e da fauna são únicas e características: a maioria das aves, répteis, anfíbios e borboletas são endêmicas, ou seja, são encontradas apenas nesse ecossistema.

Entre os mamíferos, 39% também são endêmicos, o mesmo ocorrendo com a maioria das borboletas, dos répteis, dos anfíbios e das aves nativas. Nela sobrevivem mais de 20 espécies de primatas, a maior parte delas endêmicas.

CERRADO LOCALIZAÇÃO Localizado basicamente no Planalto Central do Brasil e uma pequena porção representada no

Sul do Brasil, estado do Paraná, município de Jaguariaíva. O cerrado é o segundo maior bioma do País, superado apenas pela Floresta Amazônica. O bioma é caracterizado por tipos específicos de vegetação, como a caatinga, o cerrado entre outros. É cortado por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul, com índices pluviométricos regulares que lhe propiciam biodiversidade.

Ocupa uma área superior a 2 milhões de km², cerca de 23% do território brasileiro, abrangendo os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Piauí, o Distrito Federal, Tocantins e parte dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, São Paulo, Paraná e Rondônia. Ocorre também em outras áreas nos estados de Roraima, Pará, Amapá e Amazonas.

CARACTERIZAÇÃO As savanas do Brasil destacam-se como unidades fitofisionômicas pela sua grande

expressividade quanto ao percentual de áreas ocupadas. Dependendo do seu adensamento e condições edáficas, pode apresentar mudanças

diferenciadas denominadas de Cerradão, Campo Limpo e Cerrado, entremeadas por formações de florestas, várzeas, campos rupestres e outros.

CERRADO SENTIDO AMPLO (lato senso) Tipo de vegetação que inclui todas as formações abertas do bioma Cerrado (Campo Limpo,

Campo Sujo, Cerrado Sentido Restrito, Campo e Cerrado Rupestre) e uma formação florestal (Cerradão).

CAMPO LIMPO Tipo fitofisionomia herbácea, com poucos arbustos e nenhuma árvore. É comumente

encontrada junto às veredas, olhos d'água e em encostas e chapadas. Pode ser classificado em Campo Limpo Seco, quando ocorre em áreas onde o lençol freático é profundo e Campo Limpo Úmido, quando o lençol freático é superficial.

As áreas de Campo Limpo Úmido são ricas em espécies herbáceas ornamentais como por exemplo: Rhynchospora speciosa (estrelona), Paepalanthus elongathus (palipalã-do-brejo), Lagenocarpus rigidus (capim-arroz), Lavoisiera bergii (pinheirinho-roxo) e Xyris paradisiaca (pirecão).

CAMPO SUJO É uma fisionomia herbáceo-arbustiva com arbustos e subarbustos espaçados entre si.

Estabelece-se sobre solos rasos que podem apresentar pequenos afloramentos rochosos ou solos mais profundos, mas pouco férteis. Da mesma forma que o campo limpo varia com a umidade do

Temas de Ecologia

70

solo e a topografia, podendo ser classificado como Campo Sujo Úmido e Campo Sujo Seco.

Entre as espécies encontradas nos Campos Sujos da região estão: Epistephium sclerophyllum (orquídea-terrestre), Paepalanthus speciosus (sombreiro), Cambessedesia espora, Vellozia flavicans (canela-de-ema) e Didymopanax macrocarpum (mandiocão).

CAMPO RUPESTRE É um tipo de vegetação sobre topos de serras e chapadas de altitudes superiores a 900m com

afloramentos rochosos onde predominam ervas e arbustos, podendo ter arvoretas pouco desenvolvidas. Em geral, ocorre em mosaicos, não ocupando trechos contínuos. Apresenta topografia acidentada e grandes blocos de rochas com pouco solo, geralmente raso, ácido e pobre em nutrientes orgânicos.

Em Campos Rupestres é alta a ocorrência de espécies vegetais restritas geograficamente àquelas condições ambientais (endêmicas), principalmente na camada herbácea-subarbustiva. Algumas espécies destacam-se nessa vegetação como: Wunderlichia spp (flor-do-pau), Bulbophyllum rupiculum (orquídea), Xyris paradisiaca (pirecão) e Paniculum chapadense (gramínea).

CERRADO SENTIDO RESTRITO (stricto senso)

Fitofisionomia característica do bioma Cerrado com árvores baixas e retorcidas, arbustos, subarbustos e ervas. As plantas lenhosas em geral possuem casca corticeira, folhas grossas, coriáceas e pilosas. Podem ocorrer variações fisionômicas devido à distribuição espacial diferenciada das plantas lenhosas e ao tipo de solo. Dentre algumas espécies encontradas nessas áreas: Kielmeyera spp (pau-santo), Magonia pubescens (tingui), Callistene spp (pau-jacaré) e Qualea parviflora (pau-terra-de-folha-miúda).

CERRADO RUPESTRE É uma das formas de cerrado sentido restrito de constituição arbórea, arbustiva e herbácea,

que ocorre em ambientes rupestres. Os solos são rasos, com afloramentos rochosos e pobres em nutrientes. No estrato arbóreo-arbustivo, estão presentes espécies como: Wunderlichia crulsiana (flor-do-pau), Didymopanax spp (mandiocão), Tabebuia spp (ipês), Vellozia spp (canela-de-ema, candombá) e Mimosa regina. No estrato herbáceo encontram-se: Rhynchospora globosa (amarelão), Paepalanthus acanthophylus (chuveirinho), Paepalanthus eriocauloides (mosquitinho), Echinolaena inflexa (capim-flexina), Loudeotiopsis chrysothryx (brinco-de-princesa), Xyris schizachne (pimentona), Xyris hymenachne (pimentinha-prateada), Lagenocarpus rigidus tenuifolius (capim-arroz).

CERRADÃO É uma formação florestal que apresenta elementos xeromórficos (adaptações a ambientes

secos) e caracteriza-se pela composição mista de espécies comuns ao Cerrado Sentido Restrito, à Mata de Galeria e à Mata Seca. Apesar de poder apresentar espécies que estão sempre com folhas (perenifólias), muitas espécies comuns ao Cerradão apresentam queda de folhas (caducifólia ou deciduidade) em determinados períodos da estação seca, tais como Caryocar brasiliense (pequi), Kielmeyera coriacea (pau-santo) e Qualea grandiflora (pau-terra). São encontradas poucas espécies epífitas.

Em geral, os solos são profundos, de média e baixa fertilidade, ligeiramente ácidos, bem drenados (latossolos vermelho-escuro). De acordo com a fertilidade do solo, podem ser classificados como distróficos, quando pobres, e mesotróficos, quando mais ricos em nutrientes.

Como exemplo dessa fitofisionomia, na Chapada dos Veadeiros, onde são comumente encontradas as seguintes espécies lenhosas: Agonandra brasiliensis (pau-marfim), Callistene fasciculata (faveiro), Stryphnodendron adstringens (barbatimão), Copaifera langsdorfii (copaíba), Magonia pubescens (tingui), Xilopia aromatica (pindaíba). Quanto ao estrato herbáceo, são freqüentes os gêneros de gramíneas: Aristida, Axonopus, Paspalum e Trachypogon.

MATA SECA OU MATA MESOFÍTICA É um tipo de formação florestal que não está associada com cursos d'água e apresenta

diferentes índices de deciduidade durante a estação seca. Pode ser de três tipos: Mata Seca Sempre-verde, Mata Seca Semidecídua e Mata Seca Decídua. Os dois primeiros ocorrem sobre solos desenvolvidos em rochas básicas de alta fertilidade (terra roxa estruturada) e média fertilidade

Temas de Ecologia

71

(latossolo vermelho-escuro). A Mata Seca Decídua em geral ocorre sobre afloramentos de rochas calcárias. O estrato arbóreo apresenta altura que varia entre 15 e 25 metros. Entre suas árvores eretas destacam-se: Amburana cearensis (imburana), Anadenanthera colubrina (angico) e Tabebuia spp (ipês).

Nas matas secas encontra-se uma variedade de espécies decíduas, semidecíduas e sempre-verdes, destacando-se as leguminosas Acacia poliphylla (angico-monjolo), Anadenanthera macrocarpa (angico), Sclerobium paniculatum (carvoeiro), Hymenaea stilbocarpa (jatobá) e a voquisiácea Qualea parviflora (pau-terra-de-folha-pequena).

MATA DE GALERIA Floresta tropical sempre-verde (não perde as folhas durante a estação seca) que acompanha

os córregos e riachos da região central do Brasil, com as copas das árvores se encontrando sobre o curso d'água. Apresentam árvores com altura entre 20 e 30 metros. Os solos variam em profundidade, fertilidade e umidade, as Matas de Galeria ocorrem desde sobre solos distróficos (pobres) do tipo latossolo até solos mais rasos e mais ricos em nutrientes, como podzólicos e litossolos (com afloramentos rochosos). Esta fisionomia é comumente associada a solos hidromórficos, com excesso de umidade na maior parte do ano devido ao lençol freático superficial e grande quantidade de material orgânico acumulado, propiciando e decomposição que confere a cor preta característica desses solos.

Nas Matas de Galeria ocorrem espécies utilitárias como: Copaifera langsdorfii (copaíba), Virola sebifera (ucuúba), Cabralea canjerana (canjerana), Talauma ovata (pinha-do-brejo), Euterpe edulis (palmiteiro), Guadua paniculata (taquara), Epidendrum nocturnum (orquídea epífita).

MATA CILIAR Formação florestal densa e alta que acompanha os rios de médio e grande porte, onde a copa

das árvores não forma galerias sobre a água. Apresenta árvores eretas com altura predominante entre 20 e 25 metros. As espécies típicas desta fisionomia perdem as folhas na estação seca (deciduidade). Os solos variam de rasos (cambissolos, plintossolos ou litólicos) a profundos (latossolos e podzólicos) ou aluviais (com acúmulo de material carregado pelas águas). A camada de material orgânico é sempre mais rasa que a encontrada nas Matas de Galeria.

Entre as espécies arbóreas, destacam-se algumas freqüentes: Anadenanthera spp (angicos), Apeiba tibourbou (pente-de-macaco), Aspidosperma spp (perobas), Celtis iguana (grão-de-galo), Inga spp (ingás), Myracrodruon urundeuva (aroeira), Sterculia striata (chichá) e Tabebuia spp (ipês). São encontradas poucas espécies de orquídeas epífitas.

VEREDA É uma vegetação caracterizada pela presença do Buriti (Mauritia flexuosa), palmeira que ocorre

em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas. As Veredas são encontradas sobre solos hidromórficos e circundadas por Campo Limpo, geralmente úmido. Nas Veredas, em função do solo úmido, são encontradas com freqüência espécies ornamentais de gramíneas, ciperáceas, xiridáceas, eriocauláceas e melastomatáceas.

PARQUE CERRADO É uma formação caracterizada pela presença de ilhas ou elevações arredondadas conhecidas

como MURUNDUNS, em meio a um campo úmido, com diâmetro em torno de 5,0 a 20,0 m e altura média de 50 cm. Estes montes são drenados e abrigam espécies da flora do Cerrado Senso Restrito, formando mosaicos de vegetação com o campo úmido. Alguns autores associam a origem dos Murunduns à atividade dos cupins.

Entre as espécies arbóreas mais freqüentes, temos a Eriotheca gracilipes, Qualea grandiflora, Qualea parviflora e Dipteryx alata. No estrato arbustivo-herbáceo encontramos as bromélias e os gêneros Annona, Allagoptera e Vernonia, além de algumas espécies de herbáceas do campo úmido adjacente.

O Cerrado, é, na verdade, um mosaico de chapadas e vales, com várias formações vegetais distintas, que vão desde o campo úmido até o cerradão, passando pelas matas ciliares e as matas secas. Isto faz com que o Cerrado seja considerado hoje a savana de maior biodiversidade do mundo. Já foram catalogadas 774 espécies de árvores e arbustos no Cerrado, das quais 429 endêmicas. Há também um grande número de orquídeas.

Temas de Ecologia

72

A região dos cerrados possui alta luminosidade, baixa densidade demográfica e intensa atividade pastoril, ao sul. Sua extensão territorial abrange mais de 1.200 km de leste para oeste e mais de 1.000 km de norte a sul. O Cerrado está ameaçado pela expansão desordenada da fronteira agrícola, que já ocupa quase 50% da região. A destruição da cobertura vegetal já supera 70% da área original, e até agora menos de 2% do Cerrado está protegido por Parques Nacionais ou Reservas, separados entre si por grandes distâncias.

CLIMA E HIDROGRAFIA Situado a 19º 40' de latitude sul, o cerrado está a apenas 835 metros acima do nível do mar.

Apesar de abranger uma extensa área, a região de cerrado apresenta clima bastante regular, classificado como continental tropical semi-úmido.

A temperatura média é de 25ºC, registrando máximas de 40ºC no verão. A estação seca começa em abril e continua até setembro. Nesta estação os ventos predominantes são de leste ou de sudeste e as tempestades são muito raras.

Os meses mais frios são junho e julho, com temperaturas que variam de 20 a 10ºC. Em agosto a temperatura é mais alta. Os meses mais chuvosos são novembro, dezembro e janeiro. As precipitações em mm variam para diversas localidades: Formosa (GO), 1.592 mm; em Cuiabá, 1.425 mm, em Corumbá, 1.114 mm.

Ocorre vegetação de cerrado na Amazônia, no Nordeste, no Brasil Central, onde há uma estação seca que pode perdurar de 4 a 5 meses, ocorrendo chuvas nos meses restantes, num total que oscila em torno dos 1.400 - 1.500 mm, mas ocorre também no Sudeste e no Sul, com precipitações um pouco menores, embora com temperaturas médias muito inferiores, havendo mesmo possibilidades de geadas freqüentes e rigorosas.

Um dos fatores limitantes no Cerrado é a deficiência hídrica, que ocorre devido à má distribuição das chuvas, à intensa evapotranspiração e às características dos solos que apresentam baixa capacidade de retenção de água e alta velocidade de infiltração. O regime de precipitação da região apresenta uma oscilação unimodal com a época chuvosa concentrada no período de dezembro a março e a mais seca de junho a agosto.

Esta diferença físico-climática da Região dos Cerrados tem forte influência na distribuição dos recursos hídricos. Zonas hidrológicas homogêneas estão estreitamente associadas a regiões físico-climáticas também homogêneas.

O escoamento superficial em uma bacia hidrográfica é influenciado pelo clima, relevo, vegetação e pela natureza e estado de saturação do solo e subsolo. A rede hidrográfica dos Cerrados apresenta características bastante diferenciadas, em função da sua localização, extensão territorial e diversidade fisiográfica.

Situada sobre o grande arqueamento transversal que atravessa o Brasil Sudeste e Central, a região abrange um grande divisor de águas, que separa os maiores sistemas hidrográficos do território brasileiro. Ao sul, abrange parte da bacia do Paraná; a sudeste, o Paraguai; ao norte, a Bacia Amazônica; a nordeste, Parnaíba e a leste, o São Francisco.

O regime fluvial dos rios da região encerra, nestas condições, notáveis diferenças nas características físicas de suas bacias de drenagem e nas diversas influências climáticas a que estão submetidas. Com relação às águas subterrâneas, os mesmos fatores físico-climáticos influenciam sua ocorrência.

Temas de Ecologia

73

Heterogeneidade Hídrica do Cerrado

Escoamento Superficial

Armazenamento subterrâneo

Relevo

Plano

Superfícies tabulares e aplainadas

Cristas estruturais

Depressões

Formas de dissecação fluvial

Influências no regime fluvial e na distribuição e ocorrrência dos recursos hídricos superficiais e substerrâneos

Geologia

Complexo cristalino

Bacias sedimentares

Solo

Latossolo vermelho amarelo

Areias quartzosas

Latossolo vermelho escuro

Lateritas hidromórficas

Litossolos

Latossolo roxo

Outros

Clima

Tropical (Aw, Bsw) ou Temperado (Cw)

Temperatura média (20-30oC)

Alta evapotranspiração

Pluviometria variável (800-200 mm)

Ocorrência de veranicos

Vegetação

Matas

Cerradão

Cerrado

Campo Cerrado

Campo Limpo

Modificações Antrópicas

GEOLOGIA, RELEVOS E SOLOS Os pontos mais elevados do Cerrado estão na cadeia que passa por Goiás em direção

sudeste-nordeste: o Pico Alto da Serra dos Pirineus, com 1.600 metros de altitude, a Chapada dos Veadeiros, com 1.250 metros de altitude, e outros pontos com elevações consideradas que se

Temas de Ecologia

74

estendem em direção noroeste; a Serra do Jerônimo e outras serras menores, com altitudes entre 500 e 800 metros de altitude.

Seus terrenos são um tanto que acidentados, com poucas áreas planas. Nos morros mais altos são encontrados muitos pedregulhos, argila com inclusões de pedras e camadas de areia.

Outra formação é constituída por aflorações de rochas calcáreas, com fendas, grutas e cavernas em diferentes tamanhos. Por cima das rochas, há uma vegetação silvestre. Possui campos e vales com vegetação bem característica, e há ainda uma mata ciliar rodeando riachos e lagoas.

Os solos apresentam-se intemperizados, devido à alta lixiviação e possuem baixa fertilidade natural. Possuem grandes áreas, com a seguinte classificação: latossolo (escuro, vermelho-amarelo, roxo), areias, cambissolos, solos (concrecionários, litólicos) e lateritas hidromórficas.

Em pequenas áreas ocorrem grupos de solos: podzólico (vermelho-amarelo), glei húmico, solos orgânicos e terras roxas estruturadas (distrófico e eutrófico).

O solo do cerrado apresenta pH ácido, variando de 4,3 a 6,2. Possui elevado conteúdo de alumínio, baixa disponibilidade de nutrientes, como o fósforo, o cálcio, o magnésio, o potássio, matéria orgânica, zinco, argila, compondo-se de caulinita, goetita ou gibsita. O solo é bem drenado, profundo e com camadas de húmus.

As estruturas do solo do cerrado são em algumas partes bem degradadas devido às atividades agrícolas e pastagens, sendo recuperado com reflorestamento de espécies de Eucalyptus, associado com plantio de milho e feijão, além de café, freijó, maniçoba e palma.

E a regeneração artificial é feito com espécies de Acacia, Agathis, Araucaria, Cassia, Cedrela, Cupressus, Pinus, Podocarpus, Terminalia, entre outras.

FLORA A cobertura vegetal do Cerrado é a segunda mais importante do Brasil. Abrange

aproximadamente 1.750.000 km², que corresponde a cerca de 20% do território nacional. Apresenta as mais diversas formas de vegetação, desde dos campos sem árvores, ou arbustos, até o cerrado lenhoso denso com matas ciliares. O Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo em biodiversidade com a presença de diversos ecossistemas, riquíssima flora com mais de 10.000 espécies de plantas, com 4.400 endêmicas desse bioma.

É classificado como tendo formações vegetativas primitivas, com quatro divisões: matas, campos, brejos e ambientes úmidos com plantas aquáticas. As matas ocupam as depressões, vales e cursos de águas e possuem poucas epífitas.

Os campos cobrem a maior parte do território, denominada campestre. É essencialmente coberto por gramíneas, com árvores e arbustos. É também subdividido em campo de cerrado, campo de limpo, que se diferenciam na formação do terreno e na composição do solo, com declives ou planos.

A vegetação de brejos é composta por gramíneas, ciperáceas, arbustos, pequenas árvores isoladas, algumas ervas, entre outras diversidades de espécies.

As árvores mais altas do cerrado chegam a 15 metros de altura e formam estruturas irregulares. Apenas nas matas ciliares as árvores ultrapassam 25 metros e possuem normalmente folhas pequenas e decíduas. Nos chapadões arenosos e nos quentes campos rupestres do Cerrado, estão as mais exuberantes e exóticas bromeliáceas, cactos e orquídeas, contando com centenas de espécies endêmicas. E ainda existem espécies desconhecidas, que devido à ação antrópica do homem podem ser destruídas antes mesmo de serem catalogadas.

As próprias queimadas, freqüentes neste tipo de bioma, são mal interpretadas. Na verdade, as queimadas periódicas (com intervalos maiores do que 5-7 anos) já aconteciam no Cerrado antes da chegada do ser humano. A maioria das plantas do Cerrado estão adaptadas ao fogo, possuindo cascas grossas e brotos subterrâneos.

Há, inclusive, várias espécies de plantas que só germinam após as queimadas. Mas as queimadas intensas, feitas a cada um ou dois anos pelos pecuaristas, são extremamente nocivas ao Cerrado.

Fogo no Cerrado Um dos fatores ecológicos mais importantes do cerrado é o fogo. Ele pode ser gerado de

diversas formas naturais, mas a principal delas são as descargas elétricas. Os incêndios diminuem a densidade do cerrado, prejudicando o incremento do material lenhoso e favorecendo a expansão das plantas herbáceas.

Temas de Ecologia

75

Outra hipótese, de maior aceitação, considera o cerrado uma vegetação clímax, que não se torna uma floresta devido às condições de clima e solo existentes, tendo o fogo um papel secundário. De acordo com a segunda hipótese, a falta de nutrientes essenciais e a grande presença de alumínio são as responsáveis pela fisionomia característica dos cerrados.

FAUNA Nos vários hábitats naturais, desde o campo aberto, o campo limpo, o campo sujo, campo

cerrado com formações arbóreas, o cerradão, o campo úmido, a vereda e a mata ciliar, o cerrado apresenta diversidade em espécies. Toda esta riqueza de ambientes, com vários recursos ecológicos, abriga comunidades de animais, com diversas espécies e uma grande abundância de indivíduos, alguns com adaptações especializadas para explorar recursos específicos de cada um desses ambientes.

No ambiente do Cerrado são conhecidas, até o momento, 1.575 espécies animais, formando o segundo maior conjunto animal do planeta. Cerca de 50 das 100 espécies de mamíferos (pertencentes a cerca de 67 gêneros) estão no cerrado. Apresenta também 837 espécies de aves; 150 de anfíbios, das quais 45 são endêmicas; 120 espécies de répteis, das quais 45 endêmicas; apenas no Distrito Federal, há 90 espécies de cupins, 1.000 espécies de borboletas e 500 de abelhas e vespas.

Devido à grande ação antrópica do homem e a suas atividades, o cerrado passou por grandes modificações, alterando os diversos hábitats, e conseqüentemente apresentando espécies ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira, o macaco, a anta, o lobo-guará, o pato-mergulhão e o falcão-de-peito-vermelho, o tatu-bola, o tatu-canastra, o cervo, o cachorro-vinagre, a onça-pintada, a ariranha e a lontra.

Degradação do Cerrado Até a década de 1950, os Cerrados mantiveram-se quase inalterados. A partir da década de

1960, com a interiorização da capital e a abertura de uma nova rede rodoviária, largos ecossistemas deram lugar à pecuária e à agricultura extensiva, como a soja, arroz e ao trigo. Tais mudanças se apoiaram, sobretudo, na implantação de novas infra-estruturas viárias e energéticas, bem como na descoberta de novas vocações desses solos regionais, permitindo novas atividades agrárias rentáveis, em detrimento de uma biodiversidade até então pouco alterada.

Durante as décadas de 1970 e 1980 houve um rápido deslocamento da fronteira agrícola, com base em desmatamentos, queimadas, uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, que resultou em 67% de áreas do Cerrado "altamente modificadas", com voçorocas, assoreamento e envenenamento dos ecossistemas. Resta apenas 20% de área em estado conservado.

A partir da década de 1990, governos e diversos setores organizados da sociedade debatem como conservar o que restou do Cerrado, com a finalidade de buscar tecnologias embasadas no uso adequado dos recursos hídricos, na extração de produtos vegetais nativos, nos criadouros de animais silvestres, no ecoturismo e outras iniciativas que possibilitem um modelo de desenvolvimento sustentável e justo.

PANTANAL LOCALIZAÇÃO Ocupa grande parte do centro oeste brasileiro e se estende pela Argentina, Bolívia e Paraguai,

onde recebe outras denominações. Dificilmente pode ser estabelecido um cálculo exato de suas dimensões, sabendo-se, porém, que a porção brasileira, localizada em partes dos Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, está estimada em cerca de 150.000 Km².

Situado no centro do Continente Sul-Americano, o Pantanal é circundado, do lado brasileiro (Norte, Leste e Sudeste), por terrenos de altitude entre 600-700 metros, entre os paralelos de 150 a 220o de latitude sul e os meridianos de 550 e 580o de longitude oeste. Estende-se a oeste até os contrafortes da Cordilheira dos Andes e se prolonga ao sul pelas planícies pampeanas centrais.

CARACTERIZAÇÃO Na região pantaneira, a paisagem altera-se profundamente nas duas estações bem definidas

do ano: a seca e a chuvosa. Durante a seca, nos campos extensos cobertos predominantemente por

Temas de Ecologia

76

gramíneas e vegetação de cerrado, a água chega a escassear, restringindo-se aos rios perenes de leitos definidos, às lagoas próximas a esses rios e a alguns banhados em áreas mais rebaixadas da planície.

De novembro a março, o Pantanal vive o período das cheias. A vegetação muda segundo o tipo de solo e de inundação, predominando espécies de cerrado nas terras arenosas - conhecido como Pantanal Alto - e gramíneas nas terras argilosas, do Pantanal Baixo. Com as cheias, as depressões são inundadas, formando extensos lagos, reconhecidos como Baías, de extrema beleza, principalmente se forem alcalinas. Apresentam diferentes cores em suas águas, de acordo com as algas que ali se desenvolvem, e criam matizes de verde, amarelo, azul, vermelho ou preto.

Com a subida das águas, volumosa quantidade de matéria orgânica é carregada pela correnteza a grandes distâncias. Durante a vazante, esses detritos são depositados nas margens e praias de rios, lagoas e banhados, passando a se constituir em elementos fertilizantes do solo.

De abril a setembro é a estação seca ou inverno, com chuvas raras e temperatura bastante agradável. Durante o dia, pode fazer calor, mas as noites são frescas ou frias. Com o início das chuvas, geralmente em outubro, começa o verão, que se prolonga até março. A temperatura, bastante elevada, só cai durante e logo após as pancadas de chuvas fortes, voltando a subir até que novamente as grossas massas de água desabem sobre a região. É quando o Pantanal, úmido e quente, transforma-se em um imenso alagado onde os rios, banhados e lagoas se misturam. A partir de março, o nível das águas vai baixando e o Pantanal começa a secar. No ápice da seca, entre julho e setembro, a água fica restrita aos leitos dos rios ou aos banhados e lagoas localizadas em porções baixas da planície, em permanente comunicação com os rios ou com o lençol freático.

As primeiras chuvas da estação caem sobre um solo seco e poroso e são facilmente absorvidas. Com o constante umedecimento da terra, a planície rapidamente se torna verde devido ao rebrotamento de inúmeras espécies resistentes à falta de água dos meses precedentes.

CLIMA E HIDROGRAFIA No Pantanal, o clima, predominantemente tropical, apresenta características de

continentalidade, com diferenças bem marcantes entre as estações seca e chuvosa. Localizada na porção centro-sul do Continente Sul-Americano, a região não sofre influências oceânicas, mas está exposta à invasão de massas frias provenientes das porções mais meridionais, com penetração rápida pelas planícies dos pampas e do chaco.

A temperatura, usualmente alta, pode baixar rapidamente (ficando as mínimas próximas à 0ºC e as máximas a 40ºC) e até haver ocorrências de geadas. As médias anuais registradas, em torno de 25ºC, têm como mínima 15ºC e máxima 34ºC.

Quanto à hidrografia, os rios formadores do Pantanal foram o Paraguai, Cuiabá, São Lourenço, Piquiri, Taquari, Aquidauana, Miranda e Apa.

Hidrograficamente, todo o Pantanal faz parte da Bacia do Rio Paraguai. Com 1.400 Km de extensão em território brasileiro, esse rio e seus afluentes: São Lourenço (670 Km), Cuiabá (650 Km) - ao norte, Miranda (490 Km), Taquari (480 Km), Coxim (280 Km), Aquidauana (565 Km) ao sul, assim como rios de menores extensões, Nabileque, Apa e Negro, formam a trama hidrográfica de todo complexo pantaneiro. Além dos rios, o Pantanal é uma imensa planície de áreas alagáveis.

Na época das cheias, em poucos dias o solo se encharca e não consegue mais absorver a água da chuva que passa a encher os banhados, as lagoas e transbordar dos leitos mais rasos, formando cursos de localização e volume variáveis.

Esse grande aumento periódico da rede hídrica no Pantanal, a baixa declividade da planície e a dificuldade de escoamento das águas pelo encharcamento do solo são responsáveis por inundações nas áreas mais baixas, o que confere à região um aspecto de imenso mar interior. Somente os terrenos mais elevados e os morros isolados sobressaem como verdadeiras ilhas com vegetação, onde muitos animais se refugiam à procura de abrigo contra a subida das águas.

Essa imensa planície, levemente ondulada, pontilhada por raros morros isolados e rica em depressões rasas, tem seus limites marcados por variados sistemas de elevações, como chapadas, serras e maciços e é cortada por grande quantidade de rios, todos pertencentes à Bacia do Rio Paraguai.

Temas de Ecologia

77

Classificação dos Pantanais Atualmente existem três classificações dos Pantanais: classificação segundo o IBGE,

classificação segundo o Professor Jorge Adámoli e a classificação segundo o Macrozoneamento Geoambiental do Mato Grosso do Sul.

De acordo com o Macrozoneamento Geoambiental de Mato Grosso do Sul, pode-se identificar os seguintes Pantanais no Estado:

Pantanal de Uberaba-Mandioré Ao sul de Porto Três Bocas, o Rio Paraguai recebe o Cuiabá em sua margem esquerda,

apresentando alguns braços na margem direita que deságuam no próprio rio alguns quilômetros mais ao sul. A Serra do Amolar contribui para provocar essas descargas. Um amplo setor compreendido entre Porto Três Bocas e Ilha da Figueira, permanece inundado quase todo o ano, conformando uma espécie de nível de base local. Contribuem, para isso, os derrames aluviais da margem esquerda do Rio Cuiabá.

Pantanal da Nhecolândia O referido Pantanal se destaca no conjunto do macroleque aluvial do Rio Taquari e é

caracterizado por uma extensa área flúvio-lacustre. Sua sedimentação está vinculada a cursos intermitentes e defluentes do Rio Taquari quando de suas cheias. Estes apresentam um padrão de drenagem do tipo multibasinal.

A área apresenta um grande número de ¨baías¨, com características peculiares: muitas são salinas, sem vegetação aquática outras de água doce, com vegetação de aguapé. São circuladas por ¨cordilheiras¨ e a conexão entre uma ¨baía¨ e outra se dá através das ¨vazantes¨. Muitas dessas ¨baías¨ têm água salobra, o que dificulta o desenvolvimento da vegetação aquática. Na área há o predomínio dos solos Podzólicos Hidromórficos

Pantanal de Paiaguás Compreende toda a porção NE do macroleque aluvial do Rio Taquari, no interflúvio Piquiri-

Taquari e na margem esquerda deste, a nordeste do Pantanal de Nhecolândia. Prolonga-se a oriente até o médio curso do Rio Negro, onde se distingue uma vasta faixa de espraiamentos aluviais, caracterizado como de fraca inundação.

Esta área, segundo Sanchez (1977), corresponde a derrames aluviais antigos, com alta e média densidade de canais e leitos anastomosados de escoamento temporário. Para esse autor, os depósitos aluviais antigos são submetidos a processos geomorfológicos que implicam na lixiviação, transporte e sedimentação de materiais superficiais de alguns solos em locais mais baixos. Toda essa área comporta solos Podzólicos Hidromórficos.

Pantanal do Negro-Aquidauana Corresponde a uma área de alagamento temporário. Apresenta ¨baías¨ dispersas e, às vezes,

concentradas. A maior parte das ¨baías¨ seca durante um período do ano. Pantanal do Negro-Miranda Caracterizado como área de forte inundação, o referido Pantanal corresponde à planície de

inundação do Rio Negro e de alguns afluentes de seu curso superior, que nas grandes cheias recebe, através de ¨corixos¨, as águas que transbordam do Rio Aquidauana. Toda a margem esquerda do curso do Rio Negro, nesse Pantanal, está inserida nessa planície deprimida, que se constitui numa área brejosa durante vários meses do ano. Comporta solos do tipo Vertissolo e uma estreita faixa de Areias Quartzosas Hidromórficas.

Pantanal do Baixo Taquari-Paraguai O Rio Taquari apresenta ampla faixa de depósitos aluviais que se alarga na jusante como um

delta e de onde se estende para norte, delineando estreita faixa aluvial. Em todo o trecho cortado pelo Rio Taquari, o referido Pantanal corresponde à planície de inundação desse rio e apresenta numerosos canais de cheias, que contribuem para a inundação da área.

A estreita faixa aluvial que margeia o Rio Paraguai corresponde a espraiamentos aluviais antigos associados à margem direita do Rio Taquari. São terrenos que permanecem alagados por um longo período do ano. Na estiagem, ocorrem eventualmente emersão de ilhas coalescentes.

Temas de Ecologia

78

Nessa época, os solos hidromórficos, Glei Pouco Húmicos, favorecem o desenvolvimento de gramíneas.

Pantanal do Aquidauana-Miranda Entre os Rios Paraguai e Nabileque (a ocidente) e o Rio Taboco (a oriente), o referido Pantanal

limita-se a norte com o Pantanal do Negro-Miranda. A sul é balizado pela Depressão do Miranda e pelas Planícies Coluviais Pré-Pantanais.

O setor oriental tem um alagamento periódico, pela junção das águas dos Rios Negro e Taboco, que é aumentado pelas águas do Aquidauana. A ligação entre as ¨baías¨, em período de estiagem, é feita através da água de subsolo.

Na parte central e ocidental, as aluviões da margem direita do Rio Miranda e as aluviões da margem esquerda do Rio Aquidauana se expandem para a zona interposta entre eles, ocasionando, a norte, uma coalescência de sedimentos aluviais, carreados pelos corixos¨, em demanda do rio principal.

Esse Pantanal é caracterizado como área de transição, porque além de representar um alagamento mediano, tem uma grande variedade botânica, correspondente a ambientes diversos.

Pantanal do Castelo-Mangabal Situado a sul do Pantanal de Paiaguás, recebe a presente denominação porque às vazantes

Castelo e Mangabal cortam a área e vertem para o Rio Negro. Apresenta um grande número de ¨baías¨ que têm suprimento de água apenas num período do

ano, o que leva a supor que muitas delas estejam associadas a ambientes de amplas vazantes, o que condicionaria seu regime hídrico.

Pantanal do Corixão-Piúva-Viveirinho Na margem direita do rio, ao lado do ¨delta¨ do Rio Taquari (Pantanal do Baixo Taquari-

Paraguai), distingue-se uma área de mediano alagamento, que se amplia para sudoeste e se prolonga para norte até o Pantanal de Uberaba-Mandioré. Trata-se do Pantanal do Corixão-Piúva-Viveirinho, que corresponde a espraiamentos aluviais antigos, atualmente recobertos por sedimentos mais recentes (areias, silte e argilas).

Apresenta grande número de canais intermitentes, com padrão de drenagem anastomosado. Contém, ainda, um grande número de ¨baías¨ que se apresentam desprovidas de água no período de estiagem. Predominam os Planossolos eutróficos, e os solos Podzol Hidromórficos.

Na borda esquerda do Rio Taquari, entre os Pantanais do Baixo Taquari-Paraguai, de Nhecolândia e do Negro-Miranda, também ocorrem sedimentos antigos que se encontram recobertos por sedimentos recentes. Nestas áreas, registram-se ¨baías¨ dispersas e um grande número de vazantes com padrão de drenagem anastomosado.

Pantanal da Baía Vermelha-Tuiuiú O referido Pantanal corresponde a duas áreas de espraiamentos aluviais do Rio Paraguai, as

quais são inundáveis por drenos intermitentes e por precipitações locais. Esses espraiamentos aluviais funcionam, via de regra, como planície de inundação atual dos sistemas Paraguai-Baia Vermelha e Paraguai-Lagoa de Cáceres.

O setor setentrional margeia a Serra do Bonfim e apresenta solos Hidromórficos Glei Pouco Húmicos. O setor meridional, situado nos limites com o território boliviano, apresenta Vertissolos com encrave Savana/Savana Estépica, que registra o limite setentrional dessa formação.

Pantanal do Apa-Amonguijá-Aquidabã Corresponde aos espraiamentos aluviais marcados por fraca inundação, vinculados às cheias

dos Rios Paraguai e Nabileque e de seus afluentes Apa, Amonguijá e Aquidabã. Os derrames aluviais que ocorrem nas áreas interpostas entre os rios principais e seus afluentes, juntam-se com os derrames aluviais nas zonas das planícies de inundação típicas dos Rios Paraguai, Nabileque e Apa. O escoamento nas referidas áreas interfluviais é realizado através de inúmeros canais e leitos temporários.

Pantanal do Rio Verde Corresponde a espraiamentos aluviais de variadas direções ligadas aos sistemas da Lagoa de

Temas de Ecologia

79

Jacadigo-Rio Verde. Trata-se de uma área embaciada, com alagamento temporário intermediário. Apresenta diversos canais de entrada de água e carga de sedimentos e estreitamente ligados ao conjunto de morrarias vizinhas.

As chuvas locais, as cheias do Rio Verde, o transbordamento da Lagoa de Jacadigo e a contribuição de águas vindas das baixadas de algumas morrarias circundantes formam o complexo quadro de entrada de água que colaboram para o alagamento da área.

Pantanal do Jacadigo-Nabileque No extremo oeste do Estado, contornando o Maciço de Urucum e as zonas pediplanadas que o

envolvem, encontra-se o Pantanal do Nabileque-Jacadigo. A pequena declividade, decorrente das altimetrias inexpressivas, com cotas em torno de 85 metros, possibilita um forte encharcamento da área. Planícies fluviais e espraiamentos aluviais dos Rios Paraguai e Nabileque caracterizam a unidade.

A partir do Forte Coimbra, em direção sul, começam a definir-se elementos fisionômicos típicos das regiões chaquenhas, que se alternam às espécies comuns do complexo pantaneiro.

GEOLOGIA, RELEVO E SOLOS O Pantanal é uma das maiores planícies de sedimentação do mundo. Sua planície, levemente

ondulada, pontilhada por raros morros isolados e rica em depressões rasas têm seus limites marcados por variados sistemas de elevações, como chapadas, serras e maciços. É cortado por grande quantidade de rios, todos pertencentes à Bacia do Rio Paraguai.

As terras altas do entorno, muitas delas de origem sedimentar ou formadas por rochas solúveis e friáveis, continuamente erodidas pela ação do vento e das águas, fornecem grande quantidade de sedimentos que são depositados na planície, num processo contínuo de entulhamento. Formam-se assim terrenos de aluvião, muito permeáveis, de composição argilo-arenosa.

Nas regiões de altitude intermediária, onde o solo é arenoso e ácido e a água é retida apenas no sub-solo, encontra-se vegetação típica de cerrado. Os elementos predominantes neste tipo de formação são as árvores de porte médio, de casca grossa, folhas recobertas por pêlos ou cera e raízes muito profundas. Elas se distribuem não muito próximo umas das outras, entremeadas de arbustos e plantas rasteiras, representadas por inúmeras espécies de ervas e gramíneas.

Na época da seca, como proteção contra a dessecação, muitas árvores e arbustos perdem totalmente os ramos e folhas. Outros limitam-se a derrubar as folhas, mas os ramos persistem e podem florescer. Nessa época, é comum a prática de queimadas nas fazendas, para limpar o campo das partes secas da vegetação. Realizada de maneira controlada, a queimada não é de todo prejudicial, como seria em outros ambientes, pois estimula o rebrotamento de muitas plantas do cerrado. No entanto, se o fogo se alastrar repentinamente por outras áreas, muitos animais e vegetais poderão ser sacrificados. Assim, essa prática só será aconselhável se puder ser executada com bastante cuidado.

Em regiões mais baixas e úmidas, onde as gramíneas predominam, encontram-se os campos limpos, pastagens ideais para a criação do gado que lá convive em harmonia com muitas espécies de animais silvestres.

Em pequenas elevações, quando o solo é rico, encontram-se capões de mato formados por árvores de porte elevado, como aroeira, imbiruçu, angico, ipês. Durante as chuvas, a maioria dos campos limpos é inundada, mas os capões permanecem secos.

Margeando os rios, encontram-se as matas-ciliares ou matas-galeria, com larguras variáveis. São formadas por vegetais de grande e médio porte, intercalados por arbustos e ricas em trepadeiras ou lianas. Entre as espécies vegetais mais comuns nessas matas estão o tucum, o jenipapo, o cambará e o pau-de-novato.

FLORA A vegetação do Pantanal é um mosaico de matas, cerradões, savanas - com espécies como

cambará-lixeira, canjiqueira, carandá, etc, campos inundáveis de diversos tipos, brejos e lagoas com plantas típicas como camalotes. No Pantanal, é comum a ocorrência de formações vegetais, entre elas estão os carandazais, nos quais o elemento predominante é a palmeira carandá, os buritizais, onde domina a palmeira buriti e os paratudais, formados por um tipo de ipê, o paratudo. A flora pantaneira tem alto potencial econômico: pastagens nativas, plantas apícolas, comestíveis, taníferas e medicinais.

Temas de Ecologia

80

Nas beiras dos rios há uma mata-de-galeria ou mata ciliar, com espécies vegetais como o tucum, o jenipapo, o cambará e o pau-de-novato.

FAUNA Este patrimônio ecológico, habitado por inúmeras espécies de mamíferos, répteis, e aves e

peixes, tem uma vegetação exuberante e é traduzido em movimento de formas, cores e sons, mostrando-se um belo espetáculo. A fauna é bastante rica e diversificada. Porém, há muitas espécies ameaçadas de extinção: capivara, tamanduá-bandeira,tamanduá-mirim, lobinho, veado-mateiro, entre outros.

São cerca de 230 espécies de peixes, destacando-se a piranha, o pintado, o pacu, o curimbatá e o dourado. O maior peixe do Pantanal é o jaú, um bagre gigante, pesa até 120 Kg, e chega a 1,5 metros de comprimento, e o maior peixe do mundo, está na Amazônia - o pirarucu que atinge 3 metros do comprimento e 200 Kg.

O jacará-do-pantanal, é quase inofensivo ao ser humano, atinge 2,5 metros de comprimento e alimenta-se de peixes. O jacaré-açu atinge 6 metros de comprimento. Pode mudar de cor para se camuflar e só ataca quando ameaçado.

A sucuri-amarela-do-pantanal mede até 4,5 metros, alimenta-se de peixes, aves e pequenos mamíferos. Raramente ataca pessoas. A sucuri amazônica mede até 10 metros e é capaz de engolir uma capivara adulta.

Cerca de 650 espécies de aves povoam a região, entre eles, o tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal, com as asas abertas ultrapassa os 2 metros de envergadura.

FLORESTA AMAZÔNICA LOCALIZAÇÃO A extensão total aproximada da Floresta Amazônica é de 5,5 milhões de km², sobrepondo-se à

área da bacia hidrográfica amazônica com 7 milhões de km² (incluindo a bacia dos rios Araguaia e Tocantins). A floresta amazônica distribui-se mais ou menos da seguinte forma, dentro e fora do território nacional: 60% no Brasil, e o restante (40%) pela Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

Estes 60% correspondentes ao Brasil constituem a chamada Amazônia Legal, abrangendo os Estados do Amazonas, Amapá, Mato Grosso, oeste do Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Além destas "divisões", a floresta amazônica ainda engloba 38% (1,9 milhões de km²) de florestas densas; 36% (1,8 milhões de km²) de florestas não densas; 14% (700 mil km²) de vegetação aberta, como cerrados e campos naturais, sendo 12% da área ocupada por vegetação secundária e atividades agrícolas.

CARACTERIZAÇÃO A Amazônia, como floresta tropical, apresenta-se como um ecossistema extremamente

complexo e delicado. Todos os elementos (clima, solo, fauna e flora) estão tão estreitamente relacionados que não se pode considerar nenhum deles como principal.

Durante muito tempo, atribuiu-se à Amazônia o papel de ―pulmão do mundo‖. Hoje, sabe-se que a quantidade de oxigênio que a floresta produz durante o dia, pelo processo da fotossíntese, é consumida à noite. Mas, devido às alterações climáticas que causa no planeta, a Floresta Amazônica vem sendo chamada como ―o condicionador de ar do mundo‖.

A importância da Amazônia para a humanidade não reside apenas no papel que desempenha para o equilíbrio ecológico mundial. A região é o berço de inúmeros povos indígenas e constitui-se numa riquíssima fonte de matéria-prima (alimentares, florestais, medicinais, energéticas e minerais).

CLIMA E HIDROGRAFIA Há predomínio de temperaturas médias anuais entre 22 e 28ºC. Há uniformidade térmica e,

normalmente, não se percebe a presença de variações estacionais no decorrer do ano. O total de chuvas varia de 1.400 a 3.500 mm por ano. O clima é distribuído de maneira a caracterizar duas épocas distintas: a seca e a chuvosa.

O clima é equatorial úmido e sub-úmido, controlado pela ação dos alísios e baixas pressões equatoriais (doldrums) e pela ZCIT - Zona de Convergência Intertropical. Na Amazônia Ocidental, o clima sofre a interferência da massa equatorial continental (mEc); na Amazônia Oriental, região do

Temas de Ecologia

81

médio e baixo Amazonas e litoral, o clima sofre interferência da massa equatorial marítima (mEm) e da ZCIT. A massa polar atlântica (mPa) atua no interior da Amazônia, percorrendo o território nacional no sentido S - NW através da depressão do Paraguai, canalizando o ar frio e provocando queda da temperatura. O fenômeno é conhecido como "friagem". Predomina o clima equatorial, com pluviosidade média anual de 2.500 mm e temperatura média anual de 24 ºC.

Os rios amazônicos diferem quanto à qualidade de suas águas e sua geomorfologia. Os principais rios, baseando-se na coloração de suas águas são:

•De água preta: Negro •De água clara: Tapajós •De água barrenta: Solimões e Amazonas

Os rios de água preta apresentam esta coloração devido à presença de ácidos húmicos e fúlvicos resultantes da decomposição incompleta do húmus do solo. Já os rios de água clara têm suas cabeceiras nos escudos cristalinos pré-cambrianos. Drenam solos muito intemperizados e suas águas não são tão ácidas; a carga de material em suspensão é pequena tornando suas águas claras. Os rios barrentos originam-se em regiões montanhosas (Cordilheira dos Andes) carregando elevadas quantidades de material em suspensão, garantindo uma coloração amarronzada.

Rios que fazem parte da hidrografia da Amazônia:

Rio Araguaia

Com 2.627 km de extensão, o Araguaia nasce na divisa dos Estados do Mato Grosso e Tocantins e deságua na margem esquerda do Tocantins. Na época da estiagem, aparecem inúmeras praias. O rio oferece também uma grande variedade de peixes.

Rio Nhamundá O Nhamundá divide os estados do Pará e Amazonas, tem um leito arenoso e águas claras. No

curso superior possui várias cachoeiras e na confluência com o rio Paracatu atinge uma largura tão expressiva que forma um lago com 40 km de comprimento e 4 km de largura.

Rio Negro Têm águas muito escuras devido à decomposição da matéria orgânica vegetal que cobre o

solo das florestas e é carregada pelas inundações. Quando o Solimões encontra o Rio Negro, passa a chamar-se de Amazonas.

Rio Solimões O rio fica bicolor quando há o encontro dos Rios Negro e Solimões; as águas com cores

contrastantes percorrem vários quilômetros sem se misturar. Rio Tapajós As águas do Tapajós, devido às diferenças de composição, densidade e temperatura, não se

misturam com às do Rio Amazonas. Tem 1.992 km de extensão, nasce nas divisas dos Estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso.

Rio Tocantins Nasce no Estado de Tocantins, na serra dos Pirineus e deságua no Oceano Atlântico,

formando o estuário do rio Pará. Rio Trombetas Nasce na fronteira do Brasil com a Guiana e tem 750 km de extensão. Quando se encontra

com o Paraná de Sapucuá, ganha o nome de baixo Trombetas e chega a atingir 1.800 m de largura. Seu leito divide-se em várias ilhas estreitas e compridas.

Rio Xingu Tem 1.980 km de extensão, mas é navegável em apenas 900 km. Tem um curso sinuoso e

várias cachoeiras, algumas com mais de 50 m.

Temas de Ecologia

82

Rio Amazonas Nasce no norte da Cordilheira dos Andes peruano; sua altitude na nascente é de 5,3 mil

metros com aproximadamente 1.100 afluentes. O volume de água do rio Amazonas é tão grande que sua foz, ao contrário dos outros rios,

consegue empurrar a água do mar por muitos quilômetros. O oceano atlântico só consegue reverter isso durante a lua nova quando, finalmente, vence a resistência do rio. O choque entre as águas provoca ondas que podem alcançar até 5m de altura, avançando rio adentro. Este choque das águas tem uma força tão grande que é capaz de derrubar árvores e modificar o leito do rio. É no Rio Amazonas que acontece um curioso fenômeno da natureza, a pororoca. No dialeto indígena do baixo Amazonas, o fenômeno da pororoca tem o seu significado exato: Poroc-poroc significa destruidor. Embora a pororoca aconteça todos os dias, o período de maior intensidade no Brasil acontece entre janeiro e maio e não é um fenômeno exclusivo do Amazonas. Acontece nos estuários rasos de todos rios que desembocam no golfo amazônico e no rio Araguari, no litoral do Estado do Amapá. Verifica-se também nos rios Sena e Ganges.

GEOLOGIA E RELEVO Geologicamente, limita-se ao norte e ao sul com os escudos cristalinos brasileiros e das

guianas, respectivamente; ao longo da borda oeste, com a Cordilheira dos Andes. Entre as feições antigas existentes, encontra-se uma depressão preenchida por uma cobertura sedimentar de caráter fluvial e lacustre. Ao norte e ao sul da calha do médio e baixo rio Amazonas, os escudos cristalinos e os sedimentos terciários. Todas estas e outras formações geológicas datam de milhões de anos.

Ainda falando nos períodos antecessores ao nosso, quando o nível do mar esteve baixo, o rio Amazonas, juntamente, com seus afluentes, alargou e escavou vales; quando o nível do mar estava alto, estes vales foram aterrados com sedimentos originários da região andina, formando as várzeas.

O relevo amazônico não apresenta altitudes acima de 200 metros, porém, nesta região (fronteira do Brasil com a Venezuela) localiza-se o ponto culminante do País, o Pico da Neblina, com 3.014 metros, mais precisamente na Serra do Imeri. Baseando ainda na estrutura geológica acima descrita, surgem as principais unidades de relevo amazônicas:

Planície de Inundação (várzeas)

Formadas por sedimentos recentes, pouco acima do nível das águas, periodicamente inundadas, e terraços pleistocênicos, um pouco mais antigos, formados em períodos nos quais o nível dos rios esteve alguns metros acima do nível atual.

Planalto Amazônico

Com altitudes máximas de 200m, formado por sedimentos terciários argilo-arenosos; a unidade geomorfológica intensamente compartimentada pela rede de drenagem de igarapés e rios autóctones, podendo apresentar diversos níveis de terraços e topografia bastante acidentada.

Escudos Cristalinos

Situam-se ao norte e ao sul da bacia sedimentar, muito pediplanados e nivelados com esta, de tal modo que o contato é apenas marcado pela zona das cachoeiras dos afluentes do rio Amazonas; altitudes caracteristicamente acima de 200m.

SOLOS Devido às precipitações e as temperaturas elevadas, o solo sofre alterações em seu

material de origem (minerais) e lixiviação em suas bases, tornado-se profundos e bem drenados, apresentando coloração vermelha ou amarela, pouco férteis e ácidos. Caracteriza-se, então como:

•Oxissolo (latossolo) - excelente textura granular, baixíssima fertilidade natural,

propriedade uniforme em sua profundidade, ocupando 45% da área. •Ultissolo (pdzólico vermelho-amarelo) - horizonte de acumulação de argila, propriedade

física menos favorável para agronomia e baixa fertilidade natural, ocupando 30% da Amazônia. Aproximadamente 6% da área são ocupados por solos férteis bem drenados; 2% por solos de

espessos horizontes de areias quartzosas e solos aluviais, alguns muito férteis. A grande biodiversidade é característica reconhecida das florestas úmidas da Amazônia;

abrange espécies biológicas, ecossistemas, populações de espécies diversas e uma grande diversidade genética. Como exemplo, pode-se citar o fato de serem conhecidas 2.500 espécies de árvores na Amazônia.

Temas de Ecologia

83

FLORA Em uma análise por satélite da Amazônia, foram identificados 104 sistemas de paisagens, o

que revela uma alta diversidade e complexidade de ecossistemas. A biodiversidade torna-se cada vez mais valorizada como fonte potencial de informações genéticas, químicas, ecológicas, microbiológicas, etc.

A diversidade de árvores na Amazônia varia entre 40 e 300 espécies diferentes por hectare. Das 250.000 espécies de plantas superiores da terra, 170.000 (68%) vivem exclusivamente nos trópicos, sendo 90.000 na América do Sul.

A Amazônia possui 3.650.000 km² de florestas contínuas. Florestas de Igapó: ocorrem em solos que permanecem alagados durante cerca de seis

meses, em áreas próximas aos rios. As árvores podem atingir até 40 metros de altura e raramente perdem as folhas - geralmente largas para captar a maior quantidade possível de luz solar. Nas águas aparecem as folhas da vitória-régia - que chegam a ter 4 metros de diâmetro. Ocorrem associadas aos rios de água branca.

Florestas de Várzea: as árvores são de grande porte (até 40 metros de altura) e apresentam características semelhantes ao igapó - embora a várzea apresente maior número de espécies. Ocorrem associadas aos rios de água preta.

Florestas de Terra Firme: apresentam grande porte, variando entre 30 e 60 metros; o dossel é contínuo e bastante fechado, tornando o interior da mata bastante úmido e escuro. Esta formação está presente nas terras altas da Amazônia e mescla-se com outros tipos de associações locais, como os campos e os cerrados amazônicos.

Campinaranas ou Caatingas do Rio Negro: caracterizadas pela presença de árvores mais baixas, com troncos finos e espaçados. Situadas sobre areias brancas, lavadas e pobres do rio Negro.

FAUNA A principal explicação para grande variedade na Amazônia é a teoria do refúgio. Nos últimos

100.000 anos, o planeta sofreu vários períodos de glaciação, em que as florestas enfrentaram fases de seca ferozes. Desta forma as matas expandiram-se e depois reduziram-se. Nos períodos de seca prolongados, cada núcleo de floresta ficava isolada do outro.

Então os grupos animais dessas áreas isoladas passaram por processos de diferenciação genética, muitas vezes se transformando em espécies ou subespécies diferentes das originais e das que ficaram em outros refúgios.

Alguns bichos que não sabem nadar ou voar, como os macacos, continuaram formando espécies diferenciadas uma das outras, mesmo depois das glaciações. Os rios eram outro grande fator de isolamento.

A riqueza da biodiversidade de animais cresce a cada dia com as novas descobertas, mas está ameaçada pela caça, pela degradação e devastação das florestas e de seus vários ecossitemas. Ainda há muitos animais e plantas ainda não catalogados. Na Amazônia só se conhece 30% das espécies do reino animal.

No Parque Nacional do Jaú, em cinco anos de estudo, foram descritos doze novas espécies de peixes, duas de sapos, dois roedores e duas árvores.

Em uma reserva indígena no Xingu, os pesquisadores catalogaram 4 sapos e um novo papagaio.

A intensa relação entre os ambientes e seus componentes, como a fauna e a flora, intereagem de uma forma gratificante, como a pirara, que come frutos e ajuda na dispersão de sementes. Assim como este exemplo, existem vários outros.

A Amazônia possui uma variedade exuberante de cobras, sapos, insetos, lagartos, aves e mamíferos, além da maior variedade de peixes de água doce do mundo.

No interior da floresta avistam-se inúmeros mamíferos, como a onça-pintada, a suçuarana, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira, o veado, a ariranha e o exuberante boto-cor-de-rosa. Outros são de uma beleza exótica, como a preguiça.

A fauna em números: •Os peixes chegam em torno de 3.000 espécies no total; alguns são bem típicos, como o

pirarucu, os tambaquis. Só no Rio Negro foram descritas 450 espécies. •Dentre os mamíferos, constam 324 espécies: 58 são primatas, como o uacari-branco, o mico-

Temas de Ecologia

84

do-cheiro, o sagui-leãozinho e a nova descoberta, o sagui-anão, o menor do mundo . •Das seis espécies de quelônios, 4 estão ameaçados de extinção, além do maior mamífero

aquático da região - o peixe-boi, que pode chegar a 500 quilos e que é uma das espécies ameaçadas da bacia.

•Das aves, 950 espécies. Outra explicação para tanta riqueza é a grande variedade de ecossistemas, entre eles as

florestas de terra firme, as várzeas, os igapós, os campos e as campinas. POVOAMENTO Os habitantes da Amazônia, desde o início da colonização em 1500 até os presentes dias,

dedicaram-se a atividades extrativistas e mercantilistas, inserindo entre 1840 e 1910 o monopólio da borracha. Todo esse processo de colonização gerou mudanças como a redução da população indígena, redução de algumas espécies de animais e plantas e outras conseqüências.

Vários personagens surgiram da miscigenação de povos que trabalharam nas terras amazônicas como os caboclos, os ribeirinhos, os seringueiros e os balateiros, que até hoje residem no local.

Após a Segunda Guerra Mundial, a Amazônia passou a integrar o processo de desenvolvimento nacional. A criação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa (1952), a implantação das agências de desenvolvimento regional como a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – Sudam (1966) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa (1967) passaram a contribuir na execução de projetos voltados para a região. Destacam-se: a) o Projeto Jari; b) os projetos agropecuários incentivados pela Sudam; c) a colonização ao longo da Transamazônica e da Rodovia Cuiabá-Porto Velho; do aproveitamento hidrelétrico de Tucuruí e Balbina; e) Programa Grande Carajás; f) exploração de petróleo na Bacia do rio Urucu.

Convém lembrar que, independentemente do porte do projeto executado, certamente produzirão algum impacto ambiental. Estes impactos irão provocar destruição à floresta, porém, a floresta amazônica não está sendo destruída somente por este motivo. Para os agentes econômicos atuantes na área, mais interessa o uso alternativo do solo do que as riquezas naturais da floresta.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EXTRATIVISMO AMAZÔNICO

Busca-se apenas o interesse econômico dos recursos renováveis e não renováveis, não se leva em conta, por exemplo, o grande potencial hidrelétrico da região; os recursos minerais, por sua vez, são amplamente explorados.

A biomassa e a produtividade bruta primária vêm despertando interesses. Trata-se de recursos naturais que geram riquezas e propiciam o desenvolvimento sócio-econômico da região. Em contrapartida, a agricultura continua sendo um desafio. Questiona-se, então, uma alternativa para a floresta que está em pé e a exploração consciente das riquezas distribuídas em aproximadamente 90% do território amazônico.

As reservas extrativistas constituem-se em uma alternativa interessante para a região, pois estimulam a utilização dos recursos naturais renováveis, conciliando o desenvolvimento social e a conservação. Estas reservas, que são protegidas pelo poder público, destinam-se à auto-sustentação e, como já dito, à conservação dos recursos naturais renováveis. Trabalham nas reservas populações tradicionalmente extrativistas, regulados por contratos de concessão real de uso.

Segundo o Censo de 1980, 304.023 famílias se ocupavam com a produção extrativista vegetal e animal. Considerando-se 5 pessoas por família, aproximadamente 1.520.115 pessoas sobreviviam na época do extrativismo.

O extrativismo, em particular da borracha, não pode ser visto somente do ponto de vista econômico, já que este sistema desempenha funções sociais. Gera empregos e renda, além da função ambiental, não degradando áreas extensas e possibilitando a fiscalização feita pelos próprios seringueiros. Além destes exemplos, a madeira, a castanha e outros produtos não madeireiros podem ser trabalhados neste sistema, propiciando melhores condições de vida à população local.

ECOSSISTEMAS COSTEIROS O Brasil apresenta uma extensa área costeira. O mar representa uma importante fonte de

alimento, emprego e energia. Sendo assim, as questões relacionadas aos oceanos assumem

Temas de Ecologia

85

importância fundamental para o povo brasileiro. Os recursos estão diretamente associados com a sustentabilidade exploratória dos recursos pesqueiros através da pesca artesanal, do turismo e através das comunidades tradicionais da orla marítima – folclore, tradições, estilo de vida. Entretanto, a vulnerabilidade desse patrimônio sócio-ambiental está ameaçada pela falta de planejamento na ocupação e nas ações das atividades humanas na zona costeira.

Na Costa Brasileira ocorrem diversos tipos de hábitats, formando uma enorme diversidade de ecossistemas. Além das praias arenosas amplamente utilizadas pelo turismo, destacam-se inúmeros estuários e lagoas costeiras, praias lodosas, sistemas lagunares margeados por manguezais e marismas, costões e fundos rochosos, recifes de coral, bancos de algas calcáreas, plataformas arenosas, arrecifes de arenito paralelos à linha de praias e falésias, dunas e cordões arenosos, restingas, ilhas costeiras e ilhas oceânicas.

A grande riqueza genética dos ecossistemas marinhos brasileiros representa imenso potencial pesqueiro, biotecnológico, mineral e energético. Estes recursos não devem ser desperdiçados através da degradação ambiental e da exploração excessiva a ponto de comprometer a sustentabilidade a médio e a longo prazo. Atualmente várias unidades de conservação foram estabelecidas no litoral e ajudam na preservação da biodiversidade marinha.

ECOSSISTEMAS DE TRANSIÇÃO Estes são formados pelos mangues, brejos e pântanos que ocupam os espaços

existentes entre os ecossistemas aquáticos e os terrestres. No caso específico do mangue, este é um ecossistema da terra com forte influência do meio marinho.

Figura 18. Ecossistema de transição formado por Manguesais. Fonte: RIZZINI et al (1988).

MANGUE Localização e caracterização O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo. Estes ocorrem ao longo do

litoral Sudeste-Sul brasileiro, margeando estuários, lagunas e enseadas, desde o Cabo Orange no Amapá até o Município de Laguna, em Santa Catarina. Os mangues abrangem uma superfície total de mais de 10.000 km², a grande maioria na Costa Norte. O Estado de São Paulo tem mais de 240 km² de manguezal.

O mangue é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais de todo o globo. Origina-se a partir do encontro das águas doce e salgada, formando a água salobra. Este ambiente apresenta água com salinidade variável, sendo exclusivo das regiões costeiras.

No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido à importância que representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a procriação e o crescimento dos filhotes de vários animais, como rota migratória de aves e alimentação de peixes. Além disso, colaboram para o enriquecimento das águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica.

No passado, a extensão dos manguezais brasileiros era muito maior: muitos portos, indústrias, loteamentos e rodovias costeiras foram desenvolvidos em áreas de manguezal, ocorrendo uma degradação do seu estado natural.

É uma pena que esse tão importante ecossistema sofra intensa exploração pelo homem, que retira mariscos, ostras e peixes em quantidades elevadas. Derrubam-se árvores para a extração do ranino, da casca e para fazer carvão. O mangue é alvo da especulação imobiliária, que aterra suas áreas para a construção de casas, marinas e indústrias. Suas águas são alvo de esgotos domésticos e industriais.

Os manguezais fornecem uma rica alimentação protéica para a população litorânea brasileira: a pesca artesanal de peixes, camarões, caranguejos e moluscos, que são para os moradores do litoral a principal fonte de subsistência.

O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco atrativo e menosprezado, embora

Temas de Ecologia

86

sua importância econômica e social seja muito grande. No passado, estas manifestações de aversão eram justificadas, pois a presença do mangue estava intimamente associada à febre amarela e à malária. Embora estas enfermidades já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra mangue, infelizmente, adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito. A destruição gratuita, a poluição doméstica e química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados são os grandes inimigos do manguezal.

Nos manguezais, as condições físicas e químicas existentes são muito variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e freqüentam. Os solos são formados a partir do depósito de siltes (mineral encontrado em alguns tipos de solos), areia e material coloidal trazidos pelos rios, ou seja, um material de origem mineral ou orgânica que se transforma quando encontra a água salgada.

Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência, são pobres em oxigênio, que é totalmente retirado por bactérias que o utilizam para decompor a matéria orgânica. Como o oxigênio está sempre em falta nos solos do mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para processar a decomposição.

O fator mais importante e limitante na distribuição dos manguezais é a temperatura. Um fato interessante de se observar é a altura das árvores. Na região Norte, elas podem alcançar até trinta metros. Na região Sul, dificilmente ultrapassam um metro. Quanto mais próximas do Equador, maiores. As plantas se propagam a partir das plantas filhas, chamadas de propágulos, que se desenvolvem ligadas à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e se dispersam pela água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento. As plantas típicas do mangue se originaram na região do Oceano Índico e se espalharam a partir daí para todos os manguezais do mundo.

Fauna e Flora Fauna Os manguezais são conhecidos como berçários, porque existe uma série de animais que se

reproduzem nestes locais. Ali, os filhotes também são criados. Os camarões se reproduzem no mar, na região da plataforma continental. Suas larvas migram para as regiões dos manguezais, onde se alimentam e crescem antes de retornarem ao mar. Uma grande variedade de peixes costuma entrar no mangue para se reproduzir e se alimentar, como os robalos e as tainhas. Muitas aves utilizam esse ambiente para procriar. Podem ser espécies que habitam os mangues ou aves migratórias, que usam os manguezais para se alimentar e descansar. São guarás, colhereiros, garças, socós e martins-pescadores.

Ao contrário de outras florestas, os manguezais não são muito ricos em espécies, porém se destacam pela grande abundância das populações que neles vivem. Por isso, podem ser considerados um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil.

Devido à riqueza de matéria orgânica disponível, uma grande variedade de seres vegetais e animais irão utilizá-la: centenas de diferentes tipos de minúsculos seres, denominados plâncton. A fração vegetal do plâncton, denominada fitoplâncton, retira os sais nutrientes da água e, através da fotossíntese, cresce e se multiplica. Agora, a porção animal do plâncton, o zoo-plâncton, alimenta-se das microalgas do fitoplâncton e de matéria orgânica em suspensão. Larvas de camarões, caranguejos e siris filtram a água e retiram microalgas e matéria orgânica. Pequenos peixes filtradores, como a manjuba, também se alimentam desse rico caldo orgânico. A partir das microalgas, se estabelece uma complexa teia alimentar.

Quanto à fauna, destacam-se as várias espécies de caranguejos, formando enormes populações nos fundos lodosos. Nos troncos submersos, vários animais filtradores, tais como as ostras, alimentam-se de partículas suspensas na água. Os caranguejos em sua maioria são ativos na maré baixa, enquanto os moluscos alimentam-se durante a maré alta. Uma grande variedade de peixes penetra nos manguezais na maré alta. Muitos dos peixes que constituem o estoque pesqueiro das águas costeiras dependem das fontes alimentares do manguezal, pelo menos na fase jovem. Diversas espécies de aves comedoras de peixes e de invertebrados marinhos nidificam nas árvores do manguezal. Alimentam-se especialmente na maré baixa, quando os fundos lodosos estão expostos.

Flora Possui vegetação típica, que apresenta uma série de adaptações às condições existentes nos

Temas de Ecologia

87

manguezais. Esta vegetação é tão especializada que se pode verificar a ocorrência de determinadas espécies de plantas nos manguezais de todo o mundo, como é o caso da Rizhophora mangle, conhecida vulgarmente no Brasil como mangue vermelho. Associadas ao mangue vermelho, destacam-se a presença da Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana.

VALORAÇÃO E PROBLEMAS NOS MANGUEZAIS

De acordo com Schaeffer-Novelli, os manguezais se desenvolvem em regiões costeiras protegidas banhadas pelas marés, e suas maiores estruturas são observadas em áreas onde o relevo topográfico é suave e ocorrem grandes amplitudes de maré. São encontrados em latitudes entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio (zonas tropicais e subtropicais), tanto nas Américas como na África, Ásia e Oceania.

No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido à importância que representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a procriação e o crescimento dos filhotes de vários animais, como rota migratória de aves e alimentação de peixes. Além disso, colaboram para o enriquecimento das águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica.

Os manguezais possuem elevada produtividade biológica, pois neste ecossistema encontram-se representantes do elo da cadeia alimentar. As folhas que caem das árvores se misturam com o sedimento e os excrementos dos animais, vertebrados e invertebrados, formando compostos orgânicos de vital importância paras as bactérias, fungos e protozoários. Os próximos níveis da cadeia alimentar são constituídos por integrantes do plâncton, dos bentos e do necton, como crustáceos, moluscos, peixes, aves e até pelo homem, no topo da pirâmide.

Os manguezais estão entre os principais responsáveis pela manutenção de boa parte das atividades pesqueiras das regiões tropicais. Servem de refúgio natural para a reprodução e desenvolvimento (berçário), assim como local para alimentação e proteção para crustáceos, moluscos e peixes de valor comercial. Além destas funções, os manguezais ainda contribuem para a sobrevivência de aves, répteis e mamíferos, muitos deles integrando as listas de espécies ameaçadas ou em risco de extinção.

Devido à grande importância econômica dos manguezais, estes ambientes são degradados diariamente pela ação e ocupação do homem. Essa ocupação desordenada deve-se principalmente ao fato desses locais apresentarem condições favoráveis à instalação de empreendimentos os quais normalmente visam atender interesses particulares.

Entre as condições favoráveis, destaca-se, segundo Schaeffer-Novelli (1995): 1 - Oferta quase ilimitada de água, insumo importante para indústria, como a siderúrgica, a

petroquímica e as centrais nucleares. 2 - Possibilidade de fácil despejo de rejeitos sanitários, industriais, agrícolas e/ou de mineração. 3 - Proximidade de portos, que facilitam a importação de matéria prima para a transformação e

a exportação de produtos, diminuindo custos de carga e transporte. 4 - Pressão do mercado imobiliário. 5 - Construção de marinas. As áreas de manguezais, devido as várias atividades, sofrem grandes impactos, causados

pelas populações caboclas que vivem no litoral, que desenvolvem atividades como a pesca e a coleta de siris, caranguejos e sururus, contribuindo significativamente para o sustento destas populações. Estas comunidades litorâneas também costumam se alimentar de aves costeiras (inclusive aves ameaçadas de extinção), primatas, assim como de alguns répteis tais como lagartos e tartarugas, e de seus respectivos ovos.

A flora também tem sido explorada: as árvores do manguezal são utilizadas para obtenção de madeira para construção de barcos, casas, cercados, armadilhas de pesca, além de servirem para produção de combustível na forma de carvão.

Segundo Rodrigues Teixeira, além da exploração da fauna e da flora, o solo do manguezal também é explorado: a argila é utilizada por olarias para produção de telhas e tijolos de cerâmica. Essa retirada de sedimentos argilosos poderá no futuro comprometer a estrutura do fundo dos canais afetando também a fauna associada a este sedimento.

O processo de exploração do turismo tem como conseqüência a expansão imobiliária em áreas de manguezal. Estes empreendimentos podem no entanto levar ao aterro dos manguezais assim

Temas de Ecologia

88

como a extinção da fauna e da flora de maneira irreversível. Com a grande degradação e vital importância que os manguezais apresentam, é de extrema

urgência que haja uma legislação mais rígida em relação a exploração dos recursos naturais visando técnicas sustentáveis. No nível federal estão incluídos no artigo 2 do Código Florestal e no Decreto Federal 750/1993 de tombamento da Floresta Atlântica, como ecossistema associado. Em alguns casos são considerados como preservação permanente com isso havendo uma maior conservação deste ecossistema.

Existem também inúmeros projetos de recuperação de manguezais que antes serviam como entulho de lixo ou até mesmo aqueles que sofreram aterro por empreendimentos imobiliários. Há também programas de conservação de fauna e flora que geram fluxos de energias que subisidiam a cadeia alimentar e dão suporte aos recursos pesqueiros, assim sendo de extrema importância para a manutenção destes ecossistemas.

O Ibama executa o projeto "Dinâmica Ambiental do Sistema Coralíno de Abrolhos", que visa identificar as fontes de impacto sobre os ambientes costeiros (manguezais e matas de restinga) e sobre o sistema coralíno de Abrolhos a fim de minimizar esses impactos e definir porções representativas destes ambientes para a preservação em unidades de conservação.

Assim como o Ibama várias outras instituições, universidades e afins, realizam projetos de ecologia/biologia e recuperação dos manguezais, muitos deste projetos são realizados por acadêmicos de graduação, mestrado e/ou doutorado.

RESTINGA Localização e caracterização É o conjunto de dunas e areais distribuídos ao longo do litoral brasileiro e por várias partes do

mundo. Geralmente é revestida de vegetação baixa, criando variações climáticas, o que confere grande diversidade ambiental e biológica. Na restinga, o solo não constitui a principal fonte de nutrientes, mas é sobretudo a vegetação o suporte vital desse ecossistema. É classificada oficialmente como Formação Pioneira de Influência Marinha.

A restinga preservada facilita o controle, em zonas urbanas costeiras, de espécies com potencial para pragas como cupins, formigas, escorpiões e baratas. A preservação do solo arenoso é importante pois é altamente poroso; a água da chuva infiltra com facilidade, o que reduz os riscos de enchentes e os custos de obras de drenagens. Outra importância da restinga é a medicinal, pois guarda importantes informações, ainda desconhecidas da maioria do público. Tem, ainda, importância ornamental e paisagística, encontrada nas orquídeas, bromélias e outras epífitas.

Na questão alimentícia, encontraremos o caju, a mangaba, a pitanga, o araçá, entre outras espécies comestíveis.

Caso esta vegetação seja destruída, o solo sofrerá intensa erosão pelo vento, o que ocasionará a formação de dunas móveis, causando riscos para o ambiente costeiro como para a população.

Fauna e Flora Fauna Caranguejo, maria-farinha, besourinho-da-praia, viúva-negra, gavião-de-coleira, gafanhoto-

grande, barata-do-coqueiro, sabiá-da-praia, coruja-buraqueira, tié-sangue, perereca, jararacussu-do-brejo, todos estes são alguns dos habitantes da restinga.

Flora Algumas espécies características ocorrem na restinga como: sumaré, aperta-goela, açucena,

bromélia, orquídeas, cactos, coroa-de-frade, aroeirinha, jurema, caixeta, taboa, sepetiba, canela, pitanga, figueira, angelim, entre outras espécies.

COSTÕES ROCHOSOS Características É um ambiente litorâneo formado por rochas, situado no limite entre o oceano e o continente.

Pode ser considerado um ecossistema, do qual faz parte uma grande diversidade de seres marinhos. O costão rochoso sofre influência das marés, dos embates das ondas e dos raios solares, obrigando as formas de vida a se adaptar a essas condições peculiares.

Neste rico ecossistema convivem em harmonia comunidades de algas e inúmeros animais

Temas de Ecologia

89

marinhos, que se fixam fortemente às rochas, bem como moluscos, crustáceos, peixes, tartarugas e outros animais que passam ali parte importante de suas vidas.

O batimento constante das ondas, especialmente em ressacas, obriga muitos animais a se fixarem firmemente sobre as pedras ou a encontrar abrigo entre elas, como a lagosta. Na região mais profunda, onde o batimento é menos intenso, convivem animais adaptados ao fundo, como o peixe morcego e o peixe pedra.

Os hábitats costeiros bentônicos estão entre os ambientes marinhos mais produtivos do planeta. Dentre os ecossistemas presentes na região entre-marés e hábitats da zona costeira, os costões rochosos são considerados um dos mais importantes por conter uma alta riqueza de espécies de grande importância ecológica e econômica, tais como mexilhões, ostras, crustáceos e uma variedade de peixes.

Por receber grande quantidade de nutrientes proveniente dos sistemas terrestres, estes ecossistemas apresentam uma grande biomassa e produção primária de microfitobentos e de macroalgas. Como conseqüência, os costões rochosos são locais de alimentação, crescimento e reprodução de um grande número de espécies.

A grande variedade de organismos e o fácil acesso tornaram os costões rochosos uns dos mais populares e bem estudados ecossistemas marinhos. A grande diversidade de espécies presentes nos costões rochosos fazem com que, neste ambiente, ocorram fortes interações biológicas, como conseqüência da limitação de substrato ao longo de um gradiente existente entre o hábitat terrestre e o marinho.

Com base nas unidades físico-ambientais sugeridas pelas coordenações regionais podemos identificar as seguintes unidades que possuem costões rochosos significativos. Não estão aqui considerados os recifes de arenitos e as formações rochosas esporádicas comuns na costa nordeste.

Pinhal (RS) até a divisa RS / SC Divisa RS / SC até a divisa Laguna / Jaquaruna (SC) Divisa Laguna / Jaquaruna (SC) até Ponta da Faísca ou da Gamboa (SC) Ponta da Faísca ou da Gamboa até Ponta dos Ganchos (divisa Govenardor Celso Ramos /

Tijuca (SC) Ponta dos Ganchos até Barra do Sul (SC) Barra do Sul (SC) limite do Estado do Paraná / Santa Catarina Limite do Estado do Paraná até Pontal do Sul (PR) Pontal do Sul (PR) até Peruíbe, limite com Juréia (SP) Peruíbe, limite com Juréia até leste da Praia da Boracéia (SP) Leste da Praia da Boracéia até Ponta oeste da Restinga de Marambaia (RJ) Ponta oeste da Restinga de Marambaia até Cabo Frio (RJ) Cabo Frio até Delta do Rio Paraíba do Sul (RJ) Delta do Rio Paraíba do Sul até Margem esquerda do Rio Piraquê (ES) Margem direita do Rio Piraquê até Limite do Estado do Espírito Santo / Bahia

DUNAS Localização e caracterização Dunas são pequenas elevações de areia formadas pelos ventos que vêm do mar. Os ventos

carregam a areia fina até que as dunas venham a ser estabilizadas por vegetação pioneira. As dunas costeiras formaram-se durante os últimos 5.000 anos pela interação entre o mar, o

vento, a areia e a vegetação. As correntes marítimas litorâneas transportam grandes quantidades de areia. Parte destes grãos são depositados nas praias pelas marés altas. A areia acumulada é transportada pelos ventos dominantes para áreas mais elevadas da praia.

Esse complexo ecossistema estende-se por 600 km no litoral gaúcho, desde o Arroio Chuí, ao sul, até o Rio Mampituba, ao norte, formando o maior sistema de praias arenosas do mundo. As dunas servem de barreira natural à invasão da água do mar e da areia em áreas interiores e balneários. Também protegem o lençol de água doce, evitando a entrada de água do mar.

Temas de Ecologia

90

Fauna e Flora Fauna A fauna é um pouco escassa neste ambiente, devido a altas taxas de salinidade, baixas taxas

de umidade, instabilidade térmica; sendo assim, poucos animais são adaptados a este hábitat. Um exemplar típico é tuco-tuco, que é um pequeno roedor que habita galerias escavadas nas areias. Caules e raízes da vegetação nativa compõem sua alimentação.

Alguns animais vivem em tocas, como o Ocypode. Ainda podemos encontrar bactérias e larvas de insetos, como a libélula.

Flora Nas dunas há uma vegetação nativa, composta principalmente por gramíneas e plantas rateiras

que desempenham importante papel na formação e fixação das dunas. São plantas adaptadas às condições ambientais, com extremas quantidades de salinidade, e

ao atrito dos grãos e movimentos de areia. A medida que a vegetação pioneira cresce, as dunas ganham volume e altura. Com o passar

do tempo, outras plantas colonizam o local, mantendo o equilíbrio ecológico e a estabilidade do cordão de dunas litorâneas. Podemos encontrar uma grande quantidade de espécies pioneiras, como o cipó-de-flores, entre outras.

PRAIAS ARENOSAS

O Brasil possui 7.367 km de linha costeira, sem levar em conta os recortes litorâneos

(baías, reentrâncias, golfões etc.), que ampliam significativamente essa extensão, elevando-a para mais de 8,5 mil km. A zona costeira brasileira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância ambiental, como dunas, restingas, costões rochosos, manguezais e praias arenosas.

O ecossistema de praias arenosas pode ser definido, de uma maneira simples, como a região costeira onde as ondas retrabalham ativamente o sedimento. O sedimento das praias arenosas usualmente inclui uma variedade de tipos e tamanhos de partículas, como areias grosseiras e areias finas. Ele abrange desde o mesolitoral, ou região entremarés, até aproximadamente 20 m de profundidade.

Proximidade de costões rochosos, regime de ondas, características do sedimento, proximidade de rios e estuários e freqüência de fenômenos meteorológicos como ressacas, estão entre os fatores que determinam o tipo de praia. Uma diversa e bem adaptada biota se desenvolve nestes ecossistemas, embora os mesmos apresentem a aparência de um deserto.

Muitos destes organismos representam importantes recursos pesqueiros, sendo alguns extensivamente explorados. Através do estudo da interação entre os organismos e o meio físico, poderemos caracterizar melhor o ambiente praial e termos uma noção mais apurada dos principais fatores que estruturam o mesmo. O entendimento de como a praia funciona é imprescindível para um correto uso dos ecossistemas de praias arenosas.

As praias mansas ou duras, com seu declive muito suave, que permite realizar longos percursos mar adentro sem perder o pé, abrigam uma fauna abundante e variada. Esta comunidade passa desapercebida da maioria das pessoas devido ao fato de seus componentes encontrarem-se tipicamente ocultos na areia ou expostos ao ar apenas durante os períodos de baixamar. Representantes da maioria dos grupos de animais marinhos podem aí ser encontrados, porém as plantas macroscópicas estão praticamente ausentes, sendo os vegetais representados apenas por diversas categorias de algas microscópicas.

Para a observação ou o estudo deste ecossistema é necessário um mínimo de conhecimento dos fenômenos que regem a subida e descida das águas, ou seja, as marés. As águas que compõe os oceanos estão sujeitas à atração gravitacional do sol e da lua. Embora seja muito menor que o sol, a lua, por se encontrar mais próxima da terra, exerce uma influência maior sobre a massa líquida, determinando o regime básico das marés:

marés vivas ou de sizígia nas fases de lua cheia e lua nova, quando a atração lunar soma-se ao máximo à solar, produzindo grandes oscilações do nível da água

marés mortas ou de quadratura, nos quartos crescentes e minguante, quando, devido ao não alinhamento do sol, terra e lua, os efeitos da atração são atenuados e, portanto, o fluxo e refluxo das águas.

Temas de Ecologia

91

Estas diferenças periódicas de amplitude entre as marés determinam nas praias três faixas distintas:

uma superior, constantemente umedecida por borrifos, mas apenas coberta pelo mar por ocasião de marés altas excepcionais, ressacas ou tempestades;

uma faixa mediana sempre coberta e descoberta pelas marés duas vezes por dia; uma faixa inferior, quase sempre submersa, eventualmente exposta durante as marés baixas

de sizígia, ou seja, nas fases de lua nova e lua cheia. Nestas três faixas, os organismos marinhos distribuem-se em função principalmente de sua

capacidade de evitar a exposição ao ar e, conseqüentemente, a perda de água por evaporação. Assim, na faixa superior, encontramos espécies melhor adaptadas à vida terrestre do que à aquática.

Da fauna marinha, apenas o grauçá e as pulgas da praia desenvolveram estas adaptações, mas vários insetos, como por exemplo a tesourinha, e alguns aracnídeos, vindos do continente, aventuram-se nesta faixa, às custas de tolerar a influência da água salgada. A faixa mediana, menos exposta, é povoada por um maior número de espécies - principalmente crustáceos, poliquetos e moluscos - todas de origem marinha, apresentando particularidades morfológicas ou comportamentais para impedir a perda de água durante a baixamar.

A faixa inferior é habitada por formas quase sem adaptações para a vida fora d'água, tanto que algumas, como por exemplo a Renilla, podem até morrer quando ocorrem marés excepcionalmente baixas e de longa duração, principalmente durante dias de calor intenso.

Além dos organismos residentes, isto é, aqueles que permanecem durante toda sua fase adulta no sedimento, as praias arenosas recebem visitantes ocasionais, tais como gaivotas e maçaricos, que exploram a areia em busca de alimento. Resta ainda mencionar a presença de componentes de outras comunidades marinhas que são trazidos à praia pelos ventos, ondas ou correntes. Destes, merece destaque a caravela, pela sua capacidade de produzir queimaduras perigosas que podem até requerer cuidados médicos.

Alguns organismos que habitam as praias arenosas: Emerita brasilienisis (tatuíra - crustáceo) Lepidopa richmondi (tatuíra - crustáceo) Americonuphis casamiquelorum (poliqueto) Coronis scolopendra (tamburutaca - crustáceo) Ocypode quadrata (maria-farinha ou grauçá - crustáceo) Tellina sp (unha-de-moça - molusco) Tivella mactroides (molusco bivalve) Arenaeus cribarius (siri-chita - crustáceo) Callinectes sp (siri-azul- crustáceo) Balanoglossus clavigerus (enteropneusto) Luidia senegalensis (estrela de nove braços- equinodermata) Olivancillaria brasiliensis (molusco gastrópode) Donax hanleyanus (sarnambi - molusco) Encope emarginata (bolacha-da-praia - equinodermata) Renilla sp (rim-do-mar) Callichirus major (corrupto- crustáceo) Callichirus mirim (camarão da areia - crustáceo) Hastula cinerea (molusco gastrópode) As praias vêm sofrendo uma crescente descaracterização em razão da ocupação desordenada

e das diferentes formas de efluentes tanto de origem industrial quanto doméstica, o que tem levado a um sério comprometimento da sua balneabilidade, principalmente daquelas próximas a centros urbanos. 0 problema dos esgotos domésticos e do lixo são bastante sérios e exigem medidas imediatas. Além do lixo de origem local, há aquele lançado ao mar pelos navios e o de origem exógena transportado pelos rios.

Também merecem destaque a crescente especulação imobiliária, a mineração com retirada de areia das praias e dunas, e o crescimento explosivo e desordenado do turismo sem qualquer planejamento ambiental e investimentos em infra-estrutura, como por exemplo saneamento básico.

Como medida de proteção recomenda-se portanto o emprego de estratégias de conservação

Temas de Ecologia

92

dos habitats, associada à implantação de programas de educação ambiental. Muito ainda falta para que se tenha um adequado conhecimento da fauna e flora de praias e dunas, devido a inexistência de programas temáticos ou individuais que objetivem o conhecimento da biodiversidade destes ambientes.

Atenção especial deve ser direcionada às áreas com maior adensamento demográfico, onde as descargas de poluentes podem estar gerando alterações ambientais severas. Sugere-se também a implantação de unidades de proteção ambiental.

ECOSSISTEMAS BRASILEIROS - Resumo

PANTANAL Sua importância enquanto ecossistema não reside apenas no fato de abrigar uma incrível

quantidade de animais, sobretudo aves, ou de possuir paisagens de extrema beleza, mas também na grande potencialidade de suas terras, que, apesar de pobres, recebem grande quantidade de matéria orgânica dos inúmeros rios que o atravessam.

O Pantanal Mato-grossense situa-se numa área de aproximadamente 220 000km2, que se distribuem pelos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, formando a maior planície inundável do mundo. A altitude média é pouco superior a 100 m, e, como toda a região está cercada por terras mais elevadas, uma incrível quantidade de rios é atraída para ela, atravessando-a e terminando por desaguar no rio Paraguai, Os mais importantes desses rios são o Miranda, o Negro, o Taquari, o São Lourenço, o Piquiri, o Correntes e o Cuiabá. Devido à pouca declividade do terreno, a velocidade das águas é muito pequena, e o Paraguai não consegue escoá-las por completo. Forma-se, então, um ambiente alagado, bastante rico em nutrientes, graças ao depósito de sedimentos trazidos pelos rios.

MANGUEZAIS Os manguezais espalham-se pela zona tropical de todo o mundo, numa área aproximada de 20

milhões de hectares. No Brasil, existem cerca de 25 km2 distribuídos por toda a faixa litorânea, desde o Amapá até Santa Catarina. A característica principal desse tipo de formação é sua localização geográfica. Quase todos os manguezais se formam em regiões onde ocorre o encontro de rios com o mar, na faixa que sofre a influência das marés. Por estarem na foz dos rios, recebem uma grande quantidade de sedimentos; em conseqüência, seus solos são pouco compactos, o que dificulta a fixação das árvores. Além disso, a baixa velocidade das águas permite o acúmulo de muita matéria orgânica, que enriquece o solo, mas o torna desprovido de oxigênio. Essa matéria orgânica pode vir tanto dos rios quanto do mar; pequena quantidade é trazida, ainda, pelas chuvas.

Devido à reduzida presença de seres decompositores, a maior parte dos nutrientes não é aproveitada, sendo enviada para a comunidade marinha costeira, favorecendo uma intensa atividade pesqueira nas áreas tropicais.

A flora é muito característica, não se registrando grande variedade mas, sim, muitos indivíduos de poucas espécies. As principais árvores são a Rizophora mangle, que possui grandes raízes-escoras para permitir uma melhor fixação, a Avicennia schaueriana, com raízes aéreas, chamadas pneumatóforos, que propiciam à planta uma melhor oxigenação, e a Laguncularia racemosa. Dá também nos manguezais bromélias, orquídeas, liquens e grande quantidade de algas, que são o alimento de vários invertebrados marinhos. Todas essas plantas têm mecanismos fisiológicos especiais para eliminar o excesso de sais que absorvem da água salobra.

Alguns animais, como certos caranguejos e ostras, passam toda a sua vida nos mangues, mas a maior parte da fauna é composta por animais marinhos que passam apenas uma fase de sua vida nesse ambiente. Diversos peixes, aves marinhas e invertebrados deslocam-se para os mangues na época reprodutiva. Por causa dessa característica, os mangues são chamados de ―berçários‖.

RESTINGAS Como os manguezais, as restingas se estendem por quase toda a costa brasileira, numa

extensão total de quase 5 000 km. As principais formações estão na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. A aparência desse ecossistema é muito variada, pois, na verdade, resulta de uma associação de ambientes diferentes: as restingas podem ser constituídas por matas de até 12 m de altura, campos com predominância de gramíneas ou lagunas com vegetação aquática.

Os solos, extremamente arenosos, não conseguem reter água e nutrientes em grande

Temas de Ecologia

93

quantidade. Para sobreviver, as plantas desenvolveram mecanismos de obtenção de água, com sistemas de raízes superficiais bastante extensos, e de nutrientes, retirados da maresia presente na atmosfera.

A flora das restingas apresenta algumas espécies endêmicas, mas a maioria de suas plantas pode ser encontrada também em outros ecossistemas. São comuns espécies da Mata Atlântica, da Amazônia e dos campos rupestres. Como o Pantanal, as restingas constituem, de fato, agrupamentos de plantas de outros ambientes, que aí ocorrem devido à presença de condições físicas favoráveis. As diferentes espécies vão se sucedendo à medida que se caminha do mar para o interior. Nas dunas da praia a vegetação é formada principalmente por plantas herbáceas com caules longos e flexíveis que se arrastam pela areia. Atrás dela, aparece uma vegetação mais densa, formada por moitas que se transformam em árvores cada vez mais altas, à medida que se afasta do mar.

São comuns nessa faixa as bromélias, os cactus e outros arbustos. Em alguns locais, atrás dessa floresta seca, pode surgir uma região mais alagada, os brejos ou lagunas, onde predominam as plantas aquáticas.

A fauna ainda é pouco estudada, mas diversas espécies de répteis são características, como o lagarto-branco-da-praia. Existem também muitos insetos que se alimentam das folhas das plantas.

Os problemas enfrentados pelas restingas são muito parecidos com os dos manguezais. O principal deles é a especulação imobiliária. O desmatamento para a extração de madeira e carvão é sucedido, na maior parte dos casos, por loteamentos planejados sem a menor preocupação em preservar o ambiente. A construção de rodovias modernas na faixa litorânea acelerou esse processo de ocupação. Já são bastante comuns, também, as plantações de cana e abacaxi em áreas antes cobertas por vegetação natural. Por isso, torna-se indispensável a criação de reservas biológicas para proteger nossas restingas, sobretudo da ação das grandes imobiliárias.

Diversas espécies ornamentais, como figueiras, quaresmeiras, pitangueiras, cássias, gravatás, maracujás, orquídeas e antúrios, que crescem nas restingas, podem ser retiradas, desde que se mantenha um número razoável de indivíduos, para não afetar o ecossistema. A manutenção de áreas com restingas é fundamental para a fixação das dunas. Sem elas haveria freqüentes bloqueios de estradas e invasões de casas pela areia solta carregada pelos ventos. Essa areia poderia ainda assorear rios e lagoas, afetando assim outros ambientes, principalmente os mangues.

Para garantir o convívio pacífico da atividade imobiliária com a preservação, é preciso tornar obrigatória, a todos os projetos que pretendam se instalar no litoral, a manutenção de áreas de restingas, desmatando-se apenas o necessário para as obras. Essa providência tão simples garantirá que os próprios empreendimentos sejam valorizados, já que a preservação da vegetação natural tornará os loteamentos muito mais bonitos e agradáveis para seus futuros ocupantes.

RESTINGA

Definição

"Entende-se por vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sob influência marinha e fluvio-marinha. Estas comunidades, distribuídas em mosaico, ocorrem em áreas de grande diversidade ecológica sendo consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima." (CONAMA, Resolução 07 de 23 de julho de 1996)

Temas de Ecologia

94

Subdivisão

Consideramos, aqui, as características do litoral sudeste do Brasil, pois, segundo Suguio & Martin (1987) a costa brasileira pode ser dividida com base em critérios oceanográficos, climáticos e continentais em: litoral amazônico, nordestino, oriental, sudeste e sul.

Vegetação de praias e dunas

Vegetação sobre cordões arenosos

Vegetação associada às depressões

Floresta de transição restinga-encosta

1- vegetação de praias e dunas

2- vegetação sobre cordões arenosos

3 - vegetação entre cordões arenosos

4 - vegetação associada às depressões (brejo)

5 - floresta baixa de restinga

6 - floresta alta de restinga

7 - floresta de transição restinga-encosta

8 - floresta de encosta (Mata Atlântica)

FLORESTA AMAZÔNICA

A Floresta Amazônica, ou hiléia, com seus 5.000.000 km2 e 20 milhões de habitantes,

estende-se por nove países, cobrindo mais da metade da superfície do Brasil (uma área sete vezes

maior que a França). O clima é quente e úmido, com a temperatura média anual ficando em tomo de

260C, enquanto as precipitações geralmente ultrapassam a 2.000 mm/ano. Ventos oriundos do

Leste, trazem consigo aproximadamente 50% do vapor d’água que dá origem às chuvas torrenciais

comuns na região.

Nas águas claras, pretas ou brancas, dos rios que drenam a Bacia Amazônica, correm 1/5 de toda a água doce do Planeta.

CAATINGA

Um tipo especial de savana é a caatinga, que predomina no Nordeste. Na caatinga, as chuvas costumam ser fartas no começo do ano, mas depois estancam. Muitas plantas perdem as folhas durante a seca. Abundam espécies espinhosas, de folhas carnudas e caules suculentos, como muitas cactáceas, euforbiáceas e bromeliáceas, adaptadas à escassez de água.

Temas de Ecologia

95

CAMPO

Instaladas principalmente no planalto Central, a oeste da serra do Mar, essas savanas são conhecidas como campos cerrados ou apenas cerrados. Quando, além de capim e ervas, o cerrado apresenta arbustos e árvores esparsos, é chamado de campo sujo; e de campo limpo, se os arbustos são raros. Sua aparência varia com a constituição do solo e principalmente com a disponibilidade de água. Se um riacho corta o cerrado, forma-se uma linha de árvores em suas margens: uma floresta ou mata ciliar.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - UC Todas as áreas naturais protegidas oficialmente são chamadas de unidades de conservação. A

criação de uma unidade de conservação depende de estudos para definir se a área é realmente importante.

Unidades de Conservação são porções do território nacional, incluindo as águas territoriais, com características naturais de relevante valor, de domínio público ou propriedade privada, legalmente instituídas pelo Poder Público com objetivos e limites definidos, sob regimes especiais de administração e às quais aplicam-se garantias de proteção (FUNATURA, 1989).

Os recursos naturais e culturais devem, portanto, contar com o necessário manejo ambiental para assegurar sua contribuição ao desenvolvimento que, considerando a adoção de política de criação de áreas silvestres, pode ser unificada através dos seguintes objetivos:

manter a diversidade natural, pela preservação de amostras significativas das diversas formações ecológicas, objetivando manter os processos evolutivos naturais e a qualidade do ambiente

conservar os recursos genéticos, pela conservação da variabilidade da flora e fauna silvestre a taxas de extinção natural e pela preservação das espécies em risco de extinção, com finalidades científicas e ecológicas

proporcionar educação ambiental, proporcionando oportunidades educativas formais e informais, de investigação e monitoramento ambiental

conservar os recursos hídricos, mantendo e assegurando o fluxo e a qualidade da água para abastecimento, irrigação, hidrelétricas, processos industriais e recreação

proteger investimentos, evitando e controlando a erosão dos solos e assoreamento de rios e represas, mantendo regular a vazão dos rios, evitando alagamentos e evitando deslizamentos que põem em risco obras civis

manter e produzir fauna silvestre, mantendo e manejando os recursos pesqueiros e da fauna silvestre para a produção de proteínas e como base de atividades comerciais, industriais, turísticas e esportivas

proporcionar recreação, proporcionando recreação ao ar livre de forma saudável, para residentes e visitantes, e desenvolvendo o turismo baseado nas características naturais e culturais do país

manejar os recursos madeireiros, mantendo e manejando áreas florestais com métodos flexíveis de utilização e assegurando os processos naturais de obtenção de produtos florestais através de manejo sustentado

conservar belezas cênicas, conservando paisagens de relevantes belezas cênicas e panorâmicas naturais ou alteradas, mantidas a um nível sustentável, visando a recreação e o turismo

proteger sítios históricos e culturais, preservando os sítios e estruturas culturais, históricas e arqueológicas para conhecimento público, investigação científica de patrimônio cultural e histórico do país e desenvolvimento cívico da nação

assegurar qualidade ambiental, protegendo e manejando a paisagem para assegurar a qualidade ambiental próximo às cidades, estradas, zonas recreativas e turísticas

proporcionar flexibilidade de tecnologia, protegendo os recursos naturais contra processos inadequados de utilização e reservando-os para outros processos a serem desenvolvidos

assegurar o crescimento econômico regional, organizando e enfocando todas as ações do desenvolvimento integral urbano, pela geração de oportunidades estáveis de trabalho, bem como de economias locais (turismo, por exemplo)

As unidades de conservação também são aquelas destinadas a proporcionar adequadas condições de sobrevivência e evolução natural das sociedades indígenas. Entretanto, a diversidade de condições dessas áreas, assim como das culturas indígenas a preservar, configurando inúmeras

Temas de Ecologia

96

peculiaridades, dificultam um entendimento e tratamento homogêneos dos Parques Indígenas ou Postos Indígenas, comumente conhecidos como Reserva Indígenas.

ÁREAS DE PROTEÇÃO

Por que existem tantos nomes e especificações para as áreas de proteção?

Cada país tem uma forma específica de entender os objetivos de conservação da natureza, levando em consideração suas especificidades políticas, econômicas, culturais e de recursos naturais. Foram criadas várias classificações para as unidades de acordo com seu objetivo e sua administração (categorias de manejo). Essas categorias podem ser mais ou menos restritivas quanto ao uso dos recursos naturais que comportam em seu interior. Existe uma organização, criada em 1956, chamada União Internacional para a Conservação da Natureza e dos seus Recursos Naturais — IUCN - que tem como meta compor regras para a criação e administração de parques e reservas no mundo inteiro.

A definição de Área de Proteção, segundo a IUCN, é: ―Uma área de terra ou mar especialmente dedicada à proteção e conservação da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais a ela associados e manejada por meios legais ou por meios eficazes‖. Elas têm importância como elementos indispensáveis para a conservação da biodiversidade, já que asseguram a manutenção de amostras representativas de ambientes naturais, da diversidade de espécies e de suas variações genéticas, além de promover oportunidades para a pesquisa científica, educação ambiental e turismo.

Cerca de 130 países já criaram um total aproximado de 8000 áreas protegidas, equivalentes a 3% da extensão territorial dos países. A partir de 1982, no II Congresso Mundial de Parques, realizado em Bali, a expansão do número de áreas protegidas no mundo foi considerada como uma estratégia particularmente vital para a conservação dos recursos naturais do planeta.

E as áreas de Proteção brasileiras? No Brasil, a preocupação com a proteção de bosques e matas já estava presente no século

XIX quando D.João VI, em 1817, baixou um decreto em que determinava o fim do corte de árvores junto a mananciais e nas beiras dos riachos, para preservar rios ameaçados na Serra da Carioca (Drummond, 1997). A primeira proposta de criação de unidades de conservação de âmbito nacional foi feita por André Rebouças em 1876, quando ele indicou duas áreas, uma no sul do pais e outra no centro-oeste, para serem transformadas em Parques Nacionais: Sete Quedas e Ilha do Bananal. A sugestão não foi aceita e o primeiro Parque Nacional foi criado em 1937 com o nome de Parque Nacional de Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro. O decreto de criação enfatizou as‖ finalidades científicas, o potencial de lazer para os residentes das populosas zonas metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e a existência de florestas primitivas inteiramente distintas de outras florestas de montanha no Brasil.‖ Em se tratando de parque urbano, o primeiro foi o Parque Estadual da Cidade, criado em 1886, na cidade de São Paulo.

A criação das primeiras áreas de proteção brasileiras, de 1937 até a década de 70, não obedeceu a nenhum critério técnico ou científico, as áreas foram sendo estabelecidas pela beleza cênica, por fenômenos geológicos espetaculares ou pela riqueza da fauna. O Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Florestal (IBDF) foi criado em 1967 com o objetivo de ―orientar, coordenar e executar as medidas necessárias à utilização racional, à proteção e conservação dos recursos naturais renováveis e ao desenvolvimento florestal do país.‖ Ele foi responsável pela criação dos parques nacionais e reservas biológicas. Em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente que também planejou diferentes categorias de unidades de conservação como as estações ecológicas e as áreas de proteção ambiental. No final da década de oitenta foi criado o IBAMA, um instituto que reuniu quatro órgãos federais responsáveis pela questão ambiental e que tem como objetivo unificar a Política Ambiental Brasileira.

O grande número de categorias usadas no Brasil pode confundir a população, pois a maioria sequer sabe o valor e os objetivos das unidades. As categorias de manejo podem ser divididas em dois grupos: as unidades de proteção integral, onde os recursos não podem ser utilizados e as unidades de uso sustentável onde o recurso pode ser aproveitado de acordo com certas regras. Apesar do grande número de unidades brasileiras, sabe-se que na realidade a legislação não impede

Temas de Ecologia

97

que elas sejam destruídas, pois não existe um interesse maior do governo em protegê-las e nem recursos orçamentários para a administração, pesquisa e fiscalização das unidades de conservação.

Embora existam no município do Rio de Janeiro unidades administradas pelo Estado, como é o caso do Parque Estadual da Pedra Branca. A lista a seguir apresenta as oito categorias delimitadas pela política urbana do município do Rio de Janeiro (Lei Complementar no 16 de 4 de junho de 1992).

Parques - para a Prefeitura do Rio de Janeiro são áreas de domínio público, destinadas à

visitação e ao lazer. Para o IBAMA são áreas extensas de terra e água que contêm formações ou paisagens de significado nacional, onde espécies de plantas ou animais, sítios geomorfológicos e habitats são de grande interesse científico, educacional e recreacional.

Como exemplos de parques no município do Rio de Janeiro localizados nas diferentes Regiões Administrativas tem-se: Parque da Quinta da Boa Vista, Parque Campo de Santana , Parque Guinle, Parque do Flamengo, Parque do Pasmado, Parque Garota de Ipanema. Parque do Penhasco Dois Irmãos, Parque da Catacumba, Parque da Cidade, Parque Orlando Leite, Parque Darke de Matos, Parque Ecológico de Marapendi, Parque Ecológico Chico Mendes, Parque Fazenda do Viegas, Parque Ecológico do Mendanha.

Reservas Biológicas — áreas que possuem ecossistemas importantes, ou característicos, ou

espécies de flora e fauna de importância científica nacional. Não é permitido o acesso ao público, mas somente investigação científica.

Como exemplo tem-se a Reserva Biológica de Marapendi, na Barra da Tijuca e a Reserva Biológica e Arqueológíca de Guaratiba, administrada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).

Área de Proteção Ambiental - área de domínio público ou privado, dotada de características

ecológicas e paisagísticas notáveis, cuja utilização deve ser compatível com a sua conservação ou a melhoria das suas condições ecológicas.

Os exemplos de APAs são: APA de Santa Teresa, APA da Orla Marítima, APA do Várzea Country Club, APA da Fazendinha, APA da Freguesia, APA da Prainha e Grumarí e APA das Brisas.

Área de Relevante Interesse EcológIco - de domínio público ou privado, com características

naturais extraordinárias e que abriga remanescentes raros da biota regional a ser protegida. Ex. Arquipélago das Cagarras (Administração Federal).

Área de Preservação Permanente - de domínio público ou privado para a proteção de

mananciais, dunas e remanescentes da Mata Atlântica. Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana - de domínio público ou privado, que

apresenta as características ecológicas e paisagísticas notáveis, cuja utilização deve ser compatível com a sua conservação ou a melhoria das suas condições ecológicas.

A APARU do Jequiá é um exemplo bem significativo dessa categoria, pois é um manguezal localizado na Ilha do Governador.

Área de Proteção do Ambiente Cultural - de domínio público ou privado, que apresenta

relevante interesse cultural e características paisagísticas notáveis, cuja ocupação deve ser compatível com a valorização e proteção da sua paisagem e do seu ambiente urbano.

Como exemplo dessa categoria pode-se indicar os bairros de Santo Cristo, Gamboa e Saúde, Entorno da antiga Fábrica da Brahma, na Tijuca, Santa Cruz.

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - SNUC

LEI No 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências.

Temas de Ecologia

98

O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral; III - diversidade biológica: a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas; IV - recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora; V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais; VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais; VII - conservação in situ: conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características; VIII - manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas; IX - uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais; X - uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais; XI - uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável; XII - extrativismo: sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis; XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original; XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original; XV - (VETADO) XVI - zoneamento: definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz; XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o

Temas de Ecologia

99

uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade; XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade; e XIX - corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais. CAPÍTULO II DO SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA - SNUC Art. 3o O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC é constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estaduais e municipais, de acordo com o disposto nesta Lei. Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos: I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. Art. 5o O SNUC será regido por diretrizes que: I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio biológico existente; II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação; III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação; IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico, monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação; V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e administrarem unidades de conservação dentro do sistema nacional; VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de conservação; VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e recursos genéticos silvestres;

Temas de Ecologia

100

VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais; IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais; X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação meios de subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos; XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que, uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos; XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas as conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas. Art. 6o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições: I - Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema; II - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar o Sistema; e III - Órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação. Parágrafo único. Podem integrar o SNUC, excepcionalmente e a critério do Conama, unidades de conservação estaduais e municipais que, concebidas para atender a peculiaridades regionais ou locais, possuam objetivos de manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos por nenhuma categoria prevista nesta Lei e cujas características permitam, em relação a estas, uma clara distinção. CAPÍTULO III DAS CATEGORIAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Art. 7o As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características específicas: I - Unidades de Proteção Integral; II - Unidades de Uso Sustentável. § 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei. § 2o O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Art. 8o O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade de conservação: I - Estação Ecológica; II - Reserva Biológica; III - Parque Nacional; IV - Monumento Natural; V - Refúgio de Vida Silvestre. Art. 9o A Estação Ecológica tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. § 1o A Estação Ecológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico.

Temas de Ecologia

101

§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. § 4o Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de: I - medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados; II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica; III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas; IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente a no máximo três por cento da extensão total da unidade e até o limite de um mil e quinhentos hectares. Art. 10. A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. § 1o A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico. § 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. § 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. § 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. § 4o As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal. Art. 12. O Monumento Natural tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. § 1o O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. § 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei. § 3o A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento. Art. 13. O Refúgio de Vida Silvestre tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.

Temas de Ecologia

102

§ 1o O Refúgio de Vida Silvestre pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. § 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei. § 3o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. § 4o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade de conservação: I - Área de Proteção Ambiental; II - Área de Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta Nacional; IV - Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI - Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural. Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. § 1o A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas. § 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. § 3o As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade. § 4o Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. § 5o A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei. Art. 16. A Área de Relevante Interesse Ecológico é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. § 1o A Área de Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas. § 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico. Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. § 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. § 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. § 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração.

Temas de Ecologia

103

§ 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento. § 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes. § 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal. Art. 18. A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. § 1o A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais conforme o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. § 3o A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área. § 4o A pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento. § 5o O Plano de Manejo da unidade será aprovado pelo seu Conselho Deliberativo. § 6o São proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional. § 7o A exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista, conforme o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. Art. 19. A Reserva de Fauna é uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. § 1o A Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. § 2o A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração. § 3o É proibido o exercício da caça amadorística ou profissional. § 4o A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos. Art. 20. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. § 1o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações. § 2o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 3o O uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais será regulado de acordo com o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica. § 4o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos,

Temas de Ecologia

104

de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. § 5o As atividades desenvolvidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável obedecerão às seguintes condições: I - é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área; II - é permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à melhor relação das populações residentes com seu meio e à educação ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento; III - deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; e IV - é admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área. § 6o O Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de amortecimento e corredores ecológicos, e será aprovado pelo Conselho Deliberativo da unidade. Art. 21. A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. § 1o O gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis. § 2o Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser em regulamento: I - a pesquisa científica; II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais; III - (VETADO) § 3o Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de Gestão da unidade. CAPÍTULO IV DA CRIAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público. § 1o (VETADO) § 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento. § 3o No processo de consulta de que trata o § 2o, o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas. § 4o Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a consulta de que trata o § 2o deste artigo. § 5o As unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo. § 6o A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo. § 7o A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica. Art. 23. A posse e o uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais nas Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável serão regulados por contrato, conforme se dispuser no regulamento desta Lei.

Temas de Ecologia

105

§ 1o As populações de que trata este artigo obrigam-se a participar da preservação, recuperação, defesa e manutenção da unidade de conservação. § 2o O uso dos recursos naturais pelas populações de que trata este artigo obedecerá às seguintes normas: I - proibição do uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou de práticas que danifiquem os seus habitats; II - proibição de práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural dos ecossistemas; III - demais normas estabelecidas na legislação, no Plano de Manejo da unidade de conservação e no contrato de concessão de direito real de uso. Art. 24. O subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de conservação. Art. 25. As unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos. § 1o O órgão responsável pela administração da unidade estabelecerá normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos de uma unidade de conservação. § 2o Os limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos e as respectivas normas de que trata o § 1o poderão ser definidas no ato de criação da unidade ou posteriormente. Art. 26. Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional. Parágrafo único. O regulamento desta Lei disporá sobre a forma de gestão integrada do conjunto das unidades. Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo. § 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas. § 2o Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente. § 3o O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação. Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos. Parágrafo único. Até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, assegurando-se às populações tradicionais porventura residentes na área as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades materiais, sociais e culturais. Art. 29. Cada unidade de conservação do grupo de Proteção Integral disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários de terras localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e, na hipótese prevista no § 2o do art. 42, das populações tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. Art. 30. As unidades de conservação podem ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade, mediante instrumento a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão. Art. 31. É proibida a introdução nas unidades de conservação de espécies não autóctones. § 1o Excetuam-se do disposto neste artigo as Áreas de Proteção Ambiental, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas e as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, bem como os animais e

Temas de Ecologia

106

plantas necessários à administração e às atividades das demais categorias de unidades de conservação, de acordo com o que se dispuser em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. § 2o Nas áreas particulares localizadas em Refúgios de Vida Silvestre e Monumentos Naturais podem ser criados animais domésticos e cultivadas plantas considerados compatíveis com as finalidades da unidade, de acordo com o que dispuser o seu Plano de Manejo. Art. 32. Os órgãos executores articular-se-ão com a comunidade científica com o propósito de incentivar o desenvolvimento de pesquisas sobre a fauna, a flora e a ecologia das unidades de conservação e sobre formas de uso sustentável dos recursos naturais, valorizando-se o conhecimento das populações tradicionais. § 1o As pesquisas científicas nas unidades de conservação não podem colocar em risco a sobrevivência das espécies integrantes dos ecossistemas protegidos. § 2o A realização de pesquisas científicas nas unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, depende de aprovação prévia e está sujeita à fiscalização do órgão responsável por sua administração. § 3o Os órgãos competentes podem transferir para as instituições de pesquisa nacionais, mediante acordo, a atribuição de aprovar a realização de pesquisas científicas e de credenciar pesquisadores para trabalharem nas unidades de conservação. Art. 33. A exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais, biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, dependerá de prévia autorização e sujeitará o explorador a pagamento, conforme disposto em regulamento. Art. 34. Os órgãos responsáveis pela administração das unidades de conservação podem receber recursos ou doações de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com ou sem encargos, provenientes de organizações privadas ou públicas ou de pessoas físicas que desejarem colaborar com a sua conservação. Parágrafo único. A administração dos recursos obtidos cabe ao órgão gestor da unidade, e estes serão utilizados exclusivamente na sua implantação, gestão e manutenção. Art. 35. Os recursos obtidos pelas unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral mediante a cobrança de taxa de visitação e outras rendas decorrentes de arrecadação, serviços e atividades da própria unidade serão aplicados de acordo com os seguintes critérios: I - até cinqüenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na implementação, manutenção e gestão da própria unidade; II - até cinqüenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na regularização fundiária das unidades de conservação do Grupo; III - até cinqüenta por cento, e não menos que quinze por cento, na implementação, manutenção e gestão de outras unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral. Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei. § 1o O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. § 2o Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de conservação. § 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida neste artigo. CAPÍTULO V DOS INCENTIVOS, ISENÇÕES E PENALIDADES Art. 37. (VETADO)

Temas de Ecologia

107

Art. 38. A ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importem inobservância aos preceitos desta Lei e a seus regulamentos ou resultem em dano à flora, à fauna e aos demais atributos naturais das unidades de conservação, bem como às suas instalações e às zonas de amortecimento e corredores ecológicos, sujeitam os infratores às sanções previstas em lei. Art. 39. Dê-se ao art. 40 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, a seguinte redação: "Art. 40. (VETADO) "§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre." (NR) "§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena." (NR) "§ 3o ...................................................................." Art. 40. Acrescente-se à Lei no 9.605, de 1998, o seguinte art. 40-A: "Art. 40-A. (VETADO) "§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural." (AC) "§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agravante para a fixação da pena." (AC) "§ 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade." (AC) CAPÍTULO VI DAS RESERVAS DA BIOSFERA Art. 41. A Reserva da Biosfera é um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações. § 1o A Reserva da Biosfera é constituída por: I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza; II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não resultem em dano para as áreas-núcleo; e III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases sustentáveis. § 2o A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou privado. § 3o A Reserva da Biosfera pode ser integrada por unidades de conservação já criadas pelo Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o manejo de cada categoria específica. § 4o A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado por representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser em regulamento e no ato de constituição da unidade. § 5o A Reserva da Biosfera é reconhecida pelo Programa Intergovernamental "O Homem e a Biosfera - MAB", estabelecido pela Unesco, organização da qual o Brasil é membro. CAPÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS Art. 42. As populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas quais sua permanência não seja permitida serão indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público, em local e condições acordados entre as partes. § 1o O Poder Público, por meio do órgão competente, priorizará o reassentamento das populações tradicionais a serem realocadas. § 2o Até que seja possível efetuar o reassentamento de que trata este artigo, serão estabelecidas normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a presença das populações tradicionais

Temas de Ecologia

108

residentes com os objetivos da unidade, sem prejuízo dos modos de vida, das fontes de subsistência e dos locais de moradia destas populações, assegurando-se a sua participação na elaboração das referidas normas e ações. § 3o Na hipótese prevista no § 2o, as normas regulando o prazo de permanência e suas condições serão estabelecidas em regulamento. Art. 43. O Poder Público fará o levantamento nacional das terras devolutas, com o objetivo de definir áreas destinadas à conservação da natureza, no prazo de cinco anos após a publicação desta Lei. Art. 44. As ilhas oceânicas e costeiras destinam-se prioritariamente à proteção da natureza e sua destinação para fins diversos deve ser precedida de autorização do órgão ambiental competente. Parágrafo único. Estão dispensados da autorização citada no caput os órgãos que se utilizam das citadas ilhas por força de dispositivos legais ou quando decorrente de compromissos legais assumidos. Art. 45. Excluem-se das indenizações referentes à regularização fundiária das unidades de conservação, derivadas ou não de desapropriação: I - (VETADO) II - (VETADO) III - as espécies arbóreas declaradas imunes de corte pelo Poder Público; IV - expectativas de ganhos e lucro cessante; V - o resultado de cálculo efetuado mediante a operação de juros compostos; VI - as áreas que não tenham prova de domínio inequívoco e anterior à criação da unidade. Art. 46. A instalação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia e infra-estrutura urbana em geral, em unidades de conservação onde estes equipamentos são admitidos depende de prévia aprovação do órgão responsável por sua administração, sem prejuízo da necessidade de elaboração de estudos de impacto ambiental e outras exigências legais. Parágrafo único. Esta mesma condição se aplica à zona de amortecimento das unidades do Grupo de Proteção Integral, bem como às áreas de propriedade privada inseridas nos limites dessas unidades e ainda não indenizadas. Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica. Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e distribuição de energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica. Art. 49. A área de uma unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral é considerada zona rural, para os efeitos legais. Parágrafo único. A zona de amortecimento das unidades de conservação de que trata este artigo, uma vez definida formalmente, não pode ser transformada em zona urbana. Art. 50. O Ministério do Meio Ambiente organizará e manterá um Cadastro Nacional de Unidades de Conservação, com a colaboração do Ibama e dos órgãos estaduais e municipais competentes. § 1o O Cadastro a que se refere este artigo conterá os dados principais de cada unidade de conservação, incluindo, dentre outras características relevantes, informações sobre espécies ameaçadas de extinção, situação fundiária, recursos hídricos, clima, solos e aspectos socioculturais e antropológicos. § 2o O Ministério do Meio Ambiente divulgará e colocará à disposição do público interessado os dados constantes do Cadastro. Art. 51. O Poder Executivo Federal submeterá à apreciação do Congresso Nacional, a cada dois anos, um relatório de avaliação global da situação das unidades de conservação federais do País. Art. 52. Os mapas e cartas oficiais devem indicar as áreas que compõem o SNUC. Art. 53. O Ibama elaborará e divulgará periodicamente uma relação revista e atualizada das espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção no território brasileiro. Parágrafo único. O Ibama incentivará os competentes órgãos estaduais e municipais a elaborarem relações equivalentes abrangendo suas respectivas áreas de jurisdição.

Temas de Ecologia

109

Art. 54. O Ibama, excepcionalmente, pode permitir a captura de exemplares de espécies ameaçadas de extinção destinadas a programas de criação em cativeiro ou formação de coleções científicas, de acordo com o disposto nesta Lei e em regulamentação específica. Art. 55. As unidades de conservação e áreas protegidas criadas com base nas legislações anteriores e que não pertençam às categorias previstas nesta Lei serão reavaliadas, no todo ou em parte, no prazo de até dois anos, com o objetivo de definir sua destinação com base na categoria e função para as quais foram criadas, conforme o disposto no regulamento desta Lei. Art. 56. (VETADO) Art. 57. Os órgãos federais responsáveis pela execução das políticas ambiental e indigenista deverão instituir grupos de trabalho para, no prazo de cento e oitenta dias a partir da vigência desta Lei, propor as diretrizes a serem adotadas com vistas à regularização das eventuais superposições entre áreas indígenas e unidades de conservação. Parágrafo único. No ato de criação dos grupos de trabalho serão fixados os participantes, bem como a estratégia de ação e a abrangência dos trabalhos, garantida a participação das comunidades envolvidas. Art. 58. O Poder Executivo regulamentará esta Lei, no que for necessário à sua aplicação, no prazo de cento e oitenta dias a partir da data de sua publicação. Art. 59. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 60. Revogam-se os arts. 5o e 6o da Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965; o art. 5o da Lei no 5.197, de 3 de janeiro de 1967; e o art. 18 da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília, 18 de julho de 2000; 179o da Independência e 112o da República. MARCO ANTONIO DE OLIVEIRA MACIEL José Sarney Filho Publicado no D.O. de 19.7.2000

IMPACTO AMBIENTAL

Conjunto de repercussões e das conseqüências que uma nova atividade ou uma nova obra,

pública ou privada, pode ocasionar ao ambiente. As alterações podem ser físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, resultantes das

atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: • a saúde, segurança e o bem estar da população; • as atividades sociais e econômicas; •as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; •a qualidade dos recursos ambientais. (Art. 1 da resolução do CONAMA) AVALIAÇÃO AMBIENTAL É uma atividade de análise, multidisciplinar, de uma área ou região. Permite que se identifique suas potencialidades (USO ou NÃO USO), de ocupação,

vulnerabilidade e seu desempenho futuro estimado. Permite a otimização de decisões ligadas ao ecodesenvolvimento, preservação e conservação

dos ambientes, racionalizando seu uso. Exemplos: Diagnóstico Ambiental, Qualidade de vida, Qualidade Ambiental e Indicadores

Ambientais

INSTRUMENTOS DE CONTROLE E PREVENÇÃO EIA - ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL É um relatório detalhado coma descrição de todas as repercussões e conseqüências prováveis

(hipotéticas) ou seguras da realização do projeto e prevenção aos interessados sobre riscos iminentes.

RIMA - RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL Relatório que pode apresentar sugestões para aperfeiçoamento do projeto ou até mesmo

sugerir a não permissão de licenciamento.

Temas de Ecologia

110

Exemplos de procedimentos que requerem EIA/RIMA • Projetos urbanísticos acima de 100 hectares ou a critério dos órgãos públicos competentes; • Emissários de esgotos submarinos; • Extração de combustível fóssil; • Instalação de usinas de geração de energia; • Instalações de Hotéis. Observações quanto aos procedimentos e responsabilidades de EIA/RIMA. •O RIMA - Submetido a aprovação por órgão estadual competentes, ou em caráter supletivo o

IBAMA; •Os custos referentes aos estudos e relatórios correm por conta do proponente do projeto. •O RIMA deverá estar acessível ao público desde que solicitado e depositado no órgão

estadual de referência. Ex.: FEEMA (RJ). •O EIA não é divulgado respeitando-se o sigilo industrial.

Temas de Ecologia

111

Temas de Ecologia

112

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Por: Lélio Costa e Silva - Médico Veterinário

Eram pulgas, carrapatos e piolhos. Todos moravam num cão de rua. Naquele ―planeta‖ os

carrapatos preferiam o interior das orelhas, os dedos, a cernelha e as axilas. No dorso, lombo e abdome viviam as pulgas. Os piolhos no restante.

O cão era uma coceira só. Sugavam o sangue inoculando-lhe uma saliva irritante. Dia e noite. domingos e feriados. Um dia alguém percebeu que o alimento estava caindo de qualidade - um sangue ralo e cada vez mais cor-de-rosa. Seria necessária uma assembleia de todos os moradores.

Na semana seguinte teve início a 1 Conferência Planetária do Meio Ambiente. O fórum escolhido foi o dorso do animal.

Compareceram 292 pulgas. 94 carrapatos e 101 piolhos. Após a aprovação do regimento da Conferência, uma pulga fez uso da palavra:

- Senhoras e senhores, tenho notado uma drástica diminuição dos nossos recursos naturais. O planeta está anêmico!

- As culpadas são vocês mesmos suas pulgas imediatistas. Atacou uma fêmea de carrapato intumescida de sangue.

- Que nada. nós até sabemos reciclar... - Não entendi, interpelou um piolho. - Nossas larvas, futuras pulgas, são alimentadas com nossos próprios dejetos... Isto e ou não é

reciclagem? - Acho que tudo é uma questão política, completou outro carrapato. E a reunião prosseguiu acalorada. De repente o ―planeta‖ começou a balançar... - Efeito estufa? Aumento da temperatura global? Queimadas? Terremotos? Ou efeito do buraco

na camada de ozônio? Na verdade era o cão que se coçava desesperadamente num solitário jequitibá... Ouvindo toda

a discussão a árvore tentou ajudar: - Gente! Vocês já ouviram falar em ―desenvolvimento sustentável‖? Todos silenciaram para escutar. - Antigamente essa praça era uma floresta. Inúmeras árvores de variadas espécies.

Produzíamos flores, frutos, abrigos, sombra e madeira. As folhas mortas e os restos dos animais se decompunham rapidamente com a ação do calor e da umidade freqüente. Assim todos os nutrientes eram devolvidos á terra-mãe, alimentando-nos e possibilitando o nascimento de novas plantas. Tudo aqui era biodiversidade. Existiam orquídeas, bromélias, cipós e toda a vida animal. As copas amenizavam a queda da chuva que suavemente deslizava entre os galhos. Não havia erosão. De vez em quando cortavam algumas árvores. Nem precisavam reflorestar. Nós mesmas fazíamos o replantio com a ajuda dos morcegos frugívoros, cutias, gralhas, borboletas, beija-flores e até do vento. Assim a floresta se AUTO-SUSTENTAVA.

Mas um dia começaram a desmatar além da conta... logo fiquei sozinha, hoje virei mictório de cães e de gente. As minhas folhas são impiedosamente varridas. Não têm mais o direito de apodrecer ao pé da árvore-mãe...

- Mas afinal o que é desenvolvimento sustentável? - perguntou um piolho aflito. - É cada um sugar sem exageros o alimento e dar tempo ao planeta de se recuperar... - Vamos ter que produzir economizando, lembrou um carrapato demonstrando preocupação -

afinal todos nós podemos jejuar mais de um mês... E a plenária efervesceu. Foram criados manifestos e leis ambientais. Publicaram a ―Carta dos

Ectoparasitos‖. Elegera-se delegados. Todos se comprometeram... Ao final dos debates já haviam 3.090 pulgas. 2.348 carrapatos. 2.251 piolhos.. No dia seguinte, o cão morreu. Para refletir: O que você concluiu com o texto’? O que você entende por Desenvolvimento Sustentável? E por Sociedade

Sustentável? O homem foi feito para a economia ou a economia foi feita para o homem? O que você acha melhor Desenvolvimento Sustentável ou Sociedade Sustentável? O que você entende por Educação Ambiental? Qual a relação que você acha que existe entre Sociedade Sustentável e Educação Ambiental? O que você entende por Agenda 21 local? Que tal participar de projetos de extensão de Sociedade Sustentável e Educação Ambiental na sua escola (ou faculdade)? Que tal implementar a Agenda 21 local na sua escola (ou faculdade)’?

Temas de Ecologia

113

GLOSSÁRIO Abióticos: são todos os componentes não-vivos que fazem parte do ecossistema; Aluvial: material transportado pelas água das chuvas e depositado junto às margens de rios e baixadas; Amonificação: processo de formação de amônia, que no solo, ocorre a partir da degradação de aminoácidos realizada por bactérias específicas; Anaeróbio: organismo que respira anaerobicamente (ver respiração anaeróbica); Autotrófico: seres vivos capazes de produzir seu próprio alimento. Exemplo: vegetais; Balanço hídrico: relação entre a quantidade de água que uma planta absorve e a que elimina pela transpiração; Biocenose: termo usado também para designar ecossistema, comunidade de plantas e animais; Biodiversidade: diferentes tipos de animais e vegetais que ocorrem num determinado ecossistema; Biomassa: é quantidade de massa de seres ou de órgãos vivos, presentes num determinado tempo por unidade de área ou volume de água, que se encontram sobre o solo e nos oceanos. Biosfera: é a camada da atmosfera (0-20 km de altura) onde existem vida animal e vegetal; Bióticos: são todos os seres vivos que compõe um ecossistema; Biota: componentes vivos de um determinado ecossistema; Biótopo: refere-se a um certo espaço ou ambiente onde os fatores físicos e biológicos se interagem, formando condições mínimas para a manutenção de um ou de muitos organismos; Cadeia alimentar: série de organismos de um ecossistema através dos quais a energia alimentar oriunda dos produtores é transferida de um organismo para o outro numa seqüência de organismos que ingerem e são ingeridos; Caducifólias: plantas que perdem as folhas durante a estação seca ou fria; Chuva ácida: chuva contendo compostos ácidos, principalmente óxido de enxofre, que se encontram na atmosfera, como decorrência de atividades industriais, queima de carvão mineral e de combustíveis fósseis; Cianobactéria: denominação dada, recentemente, à antiga "alga verde-azul". Trata-se de um procariota fixado de N2 atmosférico; Clima ombrófilo: ocorre em regiões tropicais com chuvas abundantes; Desciduais: folhas que se desprendem precocemente; Decomposição: processo de desintegração da estrutura da matéria orgânica em que moléculas orgânicas complexas se transformam em substâncias simples (dióxido de carbono, água e componentes minerais) atingindo, no solo um estado final de húmus; Deflúvio: refere-se ao escoamento dos líquidos; Desnitrificação: processo de degradação do nitrato que ocorre geralmente em condições anaeróbicas, onde as bactérias desnitrificantes (Pseudomonas desnitrificans) formam principalmente o óxido nitroso N2O) e nitrogênio molecular (N); Edafo-climático: refere-se às condições de solo e clima de um determinado ecossistema; Epífitas: vegetais que vivem sobre outros, sem retirar nutrimento, apenas fixando-se neles; Estacional: indica período ou influência da estação do ano. Exemplo: nordeste brasileiro, estacional de chuva (inverno), estacional seco (verão); Estômatos: são pequenas aberturas encontradas nas células da epiderme das folhas e que controlam a entrada e a saída de gases necessários à respiração e à fotossíntese bem como regulam a saída de água no estado de vapor; Evapotranspiração: processo que sofre a água, podendo ser dividido em dois componentes principais: a) água que é evaporada diretamente da superfície do solo; b) água que vai para a atmosfera através da planta, principalmente pela transpiração do vegetal e pela evaporação da água depositada, por irrigação, chuva ou orvalho, na superfície das folhas; Fitoplâncton: organismos vegetais produtores primários do plâncton; Fixação biológica de Nitrogênio: processo biológico efetuado por bactérias que vivem, na sua maioria em simbiose com as raízes das plantas; Floresta boreal: floresta com predominância de coníferas que ocorre no hemisfério norte: Canadá, Escandinávia,Sibéria e norte da Rússia; Floresta temperada: floresta mista, de coníferas e árvores de folhas largas distribuída em grande parte da América do Norte, norte da Europa central, ocorrendo também na Flórida, Nova Zelândia e leste da China; Fossilização: conjunto de processos naturais que permitem a conservação dos restos ou vestígios

Temas de Ecologia

114

de fósseis; Guano: depósito de dejetos de aves que vivem na costa do Peru, rico em fósforo muito importante para a ciclagem deste elemento; Heterotróficos: seres vivos incapazes de produzir seu próprio alimento, sendo obrigados a retirar a matéria e a energia de outros organismos. Exemplo: cavalo; Húmus: mistura de matéria orgânica parcialmente decomposta, células microbianas e partículas que se forma nas camadas superiores do solo. É um colóide orgânico, amorfo, praticamente insolúvel em água, mas solúvel em solução alcalina diluída (de NaOH ou KOH), de coloração escura (marrom ou preta), rico em carbono(50%), nitrogênio (5%) e menores quantidades de oxigênio, enxofre, fósforo e outros elementos; Íon: átomo ou agrupamento de átomos com excesso ou falta de cargas elétricas negativas; Lixiviação: processo de remoção do solo, de sais simples e de outras substâncias solúveis em água, com a conseqüente perda desses componentes pela água de drenagem; Macroconsumidores: o mesmo que heterotróficos; Mata ciliar: é o mesmo que mata de galeria, mata ripária ou ribeirinha. Esta mata encontra-se na margem de rios, riachos ou córregos, beneficiando-se da disponibilidade de água e nutrientes que se acumulam nas margens. Da mesma forma, a mata ciliar beneficia o curso d'água que margeia, protegendo as margens contra erosão, evitando assoreamento; Nitrificação: processo de formação de nitrato que ocorre em solos arejados e ecossistemas aquáticos, iniciando-se pela oxidação da amônia em nitrito, pelas bactérias do gênero Nitrosomonas, sendo este oxidado, pelas bactérias do gênero nitrobacter, formando nitratos; Nível trófico: posição que o indivíduo ocupa na cadeia alimentar; Oxidação: processo de combinação de uma substância com o oxigênio. Exemplo: formação de ferrugem; Paleogeográfica: configuração da superfície terrestre nas épocas geológicas passadas; Plâncton: minúsculos organismos que vivem como flutuantes em ecossistemas aquáticos; Procarioto: organismo, geralmente unicelular, cuja célula mãe não possui núcleo individualizado. Exemplos: bactérias e cianobactérias; Raízes tabulares: raízes achatadas que auxiliam na fixação e sustentação da planta e permitem a respiração radicular; Redução: processo em que ocorre a diminuição do número de cargas positivas de um íon; Respiração anaeróbica: respiração onde o oxigênio molecular não participa, sendo um composto inorgânico o aceptor de elétron (oxidante). Os organismos sobre os quais o 02 age como substância tóxica são denominados de "anaeróbicos obrigatórios", como por exemplo as bactérias que utilizam sulfatos e carbonatos como aceptores de elétrons; Rhizobium: gênero de bactérias heterotróficas, capazes de formar nódulos simbióticos nas raízes de plantas Ieguminosas, como é o caso da soja e do angico. Nesses nódulos, a bactéria fixa o nitrogênio atmosférico que é utilizado pela planta. A bactéria recebe energia da planta; Saprófitos: organismos decompositores dentro da cadeia alimentar; Serapilheira: folhas e outros resíduos orgânicos não decompostos ou em via de decomposição que se encontram sobre o solo; Simbiose: associação intima entre dois organismos, de forma mutuamente benéfica. Exemplo: Rhizobium e leguminosa. Ver Rhizobium; Simbiótica: ver simbiose; Troposfera: camada da atmosfera que atinge altitude média de até 10 km; Turfa: matéria esponjosa, mais ou menos escura, constituída de restos vegetais em variados graus de decomposição, e que se forma dentro da água, em lugares pantanosos, onde existe pouco oxigênio; Xerófitas: plantas que se desenvolvem em solos ou materiais de solos extremamente secos. São plantas adaptadas às condições de clima árido; Xeromorfa: vegetação típica de cerrado adaptada as condições de clima seco.

Temas de Ecologia

115

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANDRAE, F. H. Ecologia Florestal. Santa Maria. Universidade Federal de Santa Maria, 1978, 230 p. ANDRAE, F. & KRAPFENBAUER, A. Pesquisas Austríaco-Brasileiras. Viena, Universitae fuer Bodenkultur,1982, 112 p. AWAD, M. & CASTRO, P. R. C. Introdução à fisiologia vegetal. São Paulo, Nobel,1983.177p. BARROS, N. F. & NOVAIS, R. F. Relação solo-eucalipto. Viçosa, Editora Folha de Viçosa, 1990.330 p.

BOSSEL, H. Umweltwissen: Daten, Fakten, Zusammenhaenge, Berlin, Springer Verlag,1994.169 p. ; BRASIL. Ministério da Agriculura. Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. O setor florestal brasileiro 79/85. Brasília, s/d.65 p. CARDOSO, E. J. B. N., TSAI, S. M. NEVES, M. C. P. Microbiologia do solo. Campinas: sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 1992, 360 p. CHAPMAN, J. L. & REISS, M. J. Ecology principles and applications. Cambridge University Press,1992.294 p. DEMO, P. Participação e Meio Ambiente: Uma proposta educativa preliminar. Brasília, Secretaria Especial do Meio Ambiente.1985.50 p. DIVIGNEAUD, P. A síntese ecológica: populações comunidades ecossistemas. Lisboa: Socicultur, 1974.165 p. FELDENS, L. A dimensão ecológica da pequena propriedade no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Secretaria de Agricultura,1989.154 p. GOLLEY, F.B.; MCGINNIS, J.T.; CLEMENTS, R.G.; CHILD, G.l. & DUEVER, J.M. Ciclagem de minerais em um ecossistema de floresta tropical úmida. Tradução de Eurípides Malavolta. São Paulo. GRISI, B. M. Glossário de ecologia e ciências ambientais. João Pessoa: Ed.Universitária, 1997.145p. KRAPFENBAUER, A. Klimaaenderung un Umweltbelatungen. Wien, 1993.25 p. KRAPFENBAUER, A. & HOLTERMANN, C. Ozon in der Troposphaere: trot reduktion von vorlaeutersubstazen - unveraendert oder weiter steigend!. Wien,1993.26 p. LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. São Paulo: Pedagógica e Universitária Ltda.1986.319p. LIMA, W. P. Impacto ambiental do Eucalipto. São Paulo: Universidade de SãoPaulo, 1996.301 p. MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Noções de conservação da natureza para professores. Belo Horizonte: Instituto Estadual de Florestas, s/d.52 p. ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A.,1988.434 p. PERRY, D. A. Forest ecosystems. Baltimore and London. The John Hopkins University press, 1994.649 p. REMMERT, H. Ecologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1982.235 p. RlO GRANDE DO SUL. Secretaria de Agricultura. Manual de conservação do solo. Porto Alegre, 1985.287 p. RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia no Brasil. São Paulo, HUCITEC, EDUSP, 1976. 327 p. RIZZINI, C. T.; COIMBRA FILHO, A. F.; HOUAISS, A. Ecossistemas brasileiros.IS.L.J.: Index, 1988.200 p. SCHULTZ, J. Die Oekozonen der Erde.20 Ed. Stuttgart: Ulmer, 1995. 535 p. SOUZA CRUZ. Reflorestar é preservar. Florianópolis: Souza Cruz,1992.48 p. VAN RAIJ, B. Fertilidade do solo e adubação. São Paulo: Piracicaba: Ceres, Patofos, 1991.343 p. VELOSO, H.P.; RANGEL Fo., A.L.R. & LIMA, J.C.A. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: IBGE,1991.123 p. WALTER, H. Vegetação e zonas climáticas: tratado de ecologia global. São Paulo. - Pedagógica e Universitária Ltda.,1986.325 p. . WARING, R. H. & SCHLESINGER, W. H. Forest ecosystems concept and management. Califórnia: Academic Press, inc.,1985.340 p. WARNECKE, G. Meteorologie und Umwelt: Eline Einfuehrung. Berlin, SpringerVerlag,1991.342 p.