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APOSTILA DE ECONOMIA E MERCADO

apostila economia logistica

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apostila do conteudo de economia para o curso tecnico de logistica

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Page 1: apostila economia logistica

APOSTILA DE

ECONOMIA E

MERCADO

Page 2: apostila economia logistica

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA .................................................................................................................................................... 1

1.1 CONCEITO DE ECONOMIA ................................................................................................................................................................ 1

1.2 NECESSIDADE HUMANA .................................................................................................................................................................. 1

1.3 SETORES ECONÔMICOS ................................................................................................................................................................... 2

1.4 PROBLEMAS CENTRAIS DE ECONOMIA ................................................................................................................................................ 2

1.5 FATORES DE PRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 3

1.6 SISTEMA ECONÔMICO .................................................................................................................................................................... 5

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................... 6

2 HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO ............................................................................................................................... 7

2.1 A FISIOCRACIA............................................................................................................................................................................... 7

2.2 ESCOLA CLÁSSICA .......................................................................................................................................................................... 8

2.3 ESCOLA NEOCLÁSSICA ..................................................................................................................................................................... 9

2.4 O MARXISMO ...................................................................................................................................................................... 11

2.5 A FASE ATUAL DA CIÊNCIA ECONÔMICA: DE 1929 AOS NOSSOS DIAS ..................................................................................................... 12

2.6 A REVOLUÇÃO KEYNESIANA ........................................................................................................................................................... 13

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 15

3 MICROECONOMIA ........................................................................................................................................................... 15

3.1 MERCADO DE PRODUTO E DE FATORES DE PRODUÇÃO ......................................................................................................................... 15

3.1.1 Concorrência perfeita ...................................................................................................................................................... 15

3.1.2 Monopólio ....................................................................................................................................................................... 16

3.1.3 Oligopólios ....................................................................................................................................................................... 17

3.1.4 Concorrência Monopolística ............................................................................................................................................ 17

3.1.5 Monopsonio .................................................................................................................................................................... 18

3.1.6 Monopólio bilateral ......................................................................................................................................................... 18

3.2 MECANISMOS DE PREÇOS .............................................................................................................................................................. 19

3.2.1 Demanda ......................................................................................................................................................................... 19

3.2.2 Oferta .............................................................................................................................................................................. 22

3.2.3 Equilíbrio de mercado ...................................................................................................................................................... 28

3.2 UTILIDADE MARGINAL .................................................................................................................................................................. 30

3.3 CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 31

3.4 CUSTOS ECONÔMICOS .................................................................................................................................................................. 33

3.4.1 Custos de Oportunidade .................................................................................................................................................. 34

3.4.2 Custos Irreversíveis .......................................................................................................................................................... 34

3.4.3 Custo Marginal (CMg) ou Custo Incremental .................................................................................................................. 34

3.4.4 Custo de Uso do Capital .................................................................................................................................................. 34

4 TEORIA DE PRODUÇÃO .......................................................................................................................................................... 34

4.1 ANÁLISE DE CURTO PRAZO ............................................................................................................................................................. 37

4.1.1 Conceitos de Produto Total, Produtividade Média e Produtividade Marginal. ............................................................... 37

4.1.2 Lei dos Rendimentos Decrescentes .................................................................................................................................. 38

4.2 ANÁLISE DE LONGO PRAZO ............................................................................................................................................................. 40

4.3 ECONOMIAS DE ESCALA OU RENDIMENTOS DE ESCALA ........................................................................................................................ 40

4.4 CUSTOS TOTAIS DE PRODUÇÃO ....................................................................................................................................................... 41

4.4.1 Custos de curto prazo ...................................................................................................................................................... 41

4.4.2 Custos Médios e Marginais ............................................................................................................................................. 41

4.4.3 Formato das Curvas de Custos: a Lei dos Custos Crescentes ........................................................................................... 42

4.4.4 Custos de longo prazo ..................................................................................................................................................... 44

Page 3: apostila economia logistica

4.4.5 A Receita total ................................................................................................................................................................. 44

4.4.6 A Receita Marginal .......................................................................................................................................................... 45

MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS ................................................................................................................................................................ 46

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 47

5 ECONOMIA INDUSTRIAL ........................................................................................................................................................ 47

5.1 ECONOMIA DE ESCALA E ESCOPO .................................................................................................................................................... 48

5.2 INTEGRAÇÃO VERTICAL ................................................................................................................................................................. 49

5.3 INTEGRAÇÃO HORIZONTAL ............................................................................................................................................................. 50

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 51

6 MACROECONOMIA ................................................................................................................................................................ 51

6.1 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO ................................................................................................................................................... 51

6.2 MOEDA ..................................................................................................................................................................................... 53

6.2.1 História ............................................................................................................................................................................ 53

6.2.2 Intermediária de trocas ................................................................................................................................................... 54

6.2.3 Medida de valor .............................................................................................................................................................. 54

6.2.4 Reserva de valor .............................................................................................................................................................. 54

6.2.5 Padrão para pagamento diferido .................................................................................................................................... 54

6.3 MEIOS DE PAGAMENTO ................................................................................................................................................................. 55

6.3.1 Papel-moeda ................................................................................................................................................................... 55

6.3.2 Moeda fiduciária ............................................................................................................................................................. 55

6.3.3 Moeda escritural ............................................................................................................................................................. 56

6.3.4 Quase-moeda .................................................................................................................................................................. 57

6.4 POLÍTICA ECONOMICA ................................................................................................................................................................... 57

6.4.1 Alto nível de emprego ..................................................................................................................................................... 58

6.4.2 Estabilidade de preços ..................................................................................................................................................... 59

6.4.3 Distribuição eqüitativa de renda ..................................................................................................................................... 59

6.4.4 Crescimento Econômico .................................................................................................................................................. 59

6.4.5 Inter-relação e conflitos entre objetivos .......................................................................................................................... 60

6.5 POLÍTICA MONETÁRIA .................................................................................................................................................................. 60

6.5.1 Controle da oferta monetária ......................................................................................................................................... 62

6.5.2 Monopólio das Emissões ................................................................................................................................................. 62

6.5.3 Reservas Obrigatórias ..................................................................................................................................................... 62

6.5.4 Operações de Mercado Aberto ("Open Market") ............................................................................................................ 62

6.5.5 Política de Redesconto .................................................................................................................................................... 63

6.5.6 Controle seletivo do credito ............................................................................................................................................. 64

6.6 Política Cambial .................................................................................................................................................................. 64

6.7 Política fiscal ....................................................................................................................................................................... 66

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 68

7 ECONOMIA INTERNACIONAL ................................................................................................................................................. 69

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 72

8 ECONOMIA SOCIAL ................................................................................................................................................................ 72

8.1 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS - DISPONIBILIDADE INTERNA (IGP-DI) .......................................................................................................... 72

8.2 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DE MERCADO (IGP-M) ............................................................................................................................. 73

8.3 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO (IPCA) .......................................................................................................................... 73

8.4 ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (INPC) ..................................................................................................................... 73

8.5 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (IPC) ....................................................................................................................................... 74

8.9 CONCEITOS DE INFLAÇÃO .............................................................................................................................................................. 74

8.9.1 A natureza do fenômeno ................................................................................................................................................. 74

8.9.2 A Magnitude da Taxa de Elevação dos Preços ................................................................................................................ 75

Page 4: apostila economia logistica

8.9.3 A Dimensão do Fator Tempo ........................................................................................................................................... 75

8.9.4 Os Fatores Exógenos e os Mecanismos Repressores ....................................................................................................... 75

8.9.5 A Inflação de Demanda ................................................................................................................................................... 75

8.9.6 Inflação de Custos ........................................................................................................................................................... 76

8.9.7 Inflação Inercial ............................................................................................................................................................... 78

8.9.8 Inflação Estrutural ........................................................................................................................................................... 81

8.9.9 Efeitos Da Inflação Na Economia .................................................................................................................................... 81

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 82

9 ECONOMIA GEOMÉTRICA ...................................................................................................................................................... 82

9.1 ALFRED WEBER E A LOCALIZAÇÃO ÓTIMA DA FIRMA I_DUSTRIAL ......................................................................................... 82

9.1.1 OS FATORES DE LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS ........................................................................................................... 83

9.1.2 MINIMIZAÇÃO DOS CUSTOS DE TRANSPORTE ................................................................................................................ 84

9.1.3 ÍNDICE DE MATERIAL ....................................................................................................................................................... 85

9.1.4 O TRIÂNGULO LOCACIONAL DE WEBER .......................................................................................................................... 86

9.1.5 PONTOS DE TRANSBORDO .............................................................................................................................................. 88

9.1.6 MINIMIZAÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO ................................................................................................................... 88

9.1.7 ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO .................................................................................................................................... 89

9.2 MODELO DA CONCENTRAÇÃO URBANA ............................................................................................................................................. 91

9.2.1 Aspectos gerais ................................................................................................................................................................ 91

9.2.2 Abordagem do desenvolvimento urbano ........................................................................................................................ 91

9.2.3 Teoria neoclássica dos sistemas urbanos ........................................................................................................................ 92

9.2.4 Teoria da concorrência monopolística ............................................................................................................................ 93

9.2.5 Sistemas urbanos aleatórios ........................................................................................................................................... 94

9.2.6 Um modelo de concentração urbana .............................................................................................................................. 94

9.2.7 Comércio livre e concentração urbana ............................................................................................................................ 96

9.2.8 Centralização política e desigualdade regional ............................................................................................................... 97

9.2.9 A infra-estrutura de transportes ..................................................................................................................................... 98

9.2.10 Implicações políticas ..................................................................................................................................................... 99

9.3 PÓLOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO ........................................................................................................................................... 100

QUESTÕES .............................................................................................................................................................................. 101

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1

1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

1.1 CONCEITO DE ECONOMIA

A economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos, com o objetivo

de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo entre os membros da sociedade.

Divisão do Estudo da Economia:

É possível detalhar a divisão do estudo da economia pela visão de Rossetti(2002), conforme segue:

a) Economia Descritiva: trata da identificação do fato econômico. É a partir dos levantamentos

descritivos sobre a conduta dos agentes econômicos que se inicia o complexo de

conhecimento sistematizado da realidade no campo da economia positiva. É através dela

que a realidade começa a ser submetida a um criterioso tratamento no sentido de que

possam ser analisados as relações básicas que se estabelecem entre os diversos agentes que

compõem o quadro da atividade econômica.

b) Teoria Econômica: a teoria econômica é o compartimento central da economia. É Possível

ver um ordenamento lógico aos levantamentos sistematizados fornecidos pela economia

descritiva, produzindo generalizações que sejam capazes de ligar aos fatos entre si,

desvendar cadeias de ações manifestadas e estabelecer relações que identifiquem os graus

de dependência de um fenômeno em relação a outro. Surgiram então em decorrência

conjunto de princípios, de teorias, de modelos e de leis fundamentadas nas descrições

apresentadas. A teoria econômica adota duas posições distintas na apresentação e análise do

fenômeno econômico, estas posições são conhecidas como microeconomia e

macroeconomia. A microeconomia é aquela parte da teoria econômica que estuda o

comportamento das unidades, tais como os consumidores, as indústrias e empresas, e suas

inter-relações. A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu conjunto.

Seu propósito é obter uma visão simplificada da economia que, porém, ao mesmo tempo,

permita conhecer e atuar sobre o nível da atividade econômica de um determinado país ou

de um conjunto de países.

c) Política Econômica: os desenvolvimentos elaborados pela teoria econômica servem a

política econômica. Nesse campo de estudo é que serão utilizados os princípios, as teorias,

os modelos e as leis. A utilização terá a finalidade de conduzir adequadamente a ação

econômica com vistas a objetivos pré-determinados. Quando se emprega a expressão

política econômica governamental esta se referindo as ações praticas desenvolvidas pelo

governo com a finalidade de condicionar, balizar e conduzir o sistema econômico no sentido

de que sejam alcançados um ou mais objetivos politicamente estabelecidos.

1.2 NECESSIDADE HUMANA

Necessidade Humana: é a sensação de carência de algo unida ao desejo de satisfazê-la. Tipos de

necessidades:

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2

Necessidades do individuo

- Natural: por exemplo, comer.

- Social: decorrente da vida em sociedade; por exemplo, festa de casamento.

Necessidades da sociedade

– Coletivas: partem do individuo e passam a ser da Sociedade; por exemplo, o transporte

- Publicas: surgem da mesma sociedade; por exemplo, a ordem pública.

Necessidades vitais ou primarias: destas depende a conservação da vida; por exemplo, os alimentos.

Necessidades civilizadas ou secundárias: são as que tendem a aumentar o bem-estar do indivíduo e

variam no tempo, segundo o meio cultural, econômicos e sociais em que se desenvolvem os indivíduos; por

exemplo, o turismo.

1.3 SETORES ECONÔMICOS

A economia é dividida em setores encarregados de produzir os bens e serviços e colocá-los à

disposição de consumidores no mercado.

São considerados setores econômicos: primário (agropecuária), secundário (indústria) e terciário

(serviço). Tais setores podem ser exemplificados para melhor compreensão:

a) Setor primário: lavoura, pecuária, caça, pesca, extração vegetal, reflorestamento;

b) Setor secundário: indústrias extrativa mineral, mineral não metálico, petróleo e gás; e

indústria de transformação composta pelas indústrias têxtil, vestuário, calçados, alimentos,

metalurgia, eletrônica, mecânica, química, material de transportes, etc.;

c) Setor terciário: comércio atacadista, comércio varejista, administração pública, instituições

financeiras, transporte, comunicação, educação, saúde, autônomos, etc.

1.4 PROBLEMAS CENTRAIS DE ECONOMIA

Para Pinho e Vasconcellos (1998), nas bases de qualquer comunidade se encontra sempre a

seguinte tríade de problemas econômicos básicos:

a) O QUE produzir? - Isto significa quais os produtos deverão ser produzidos (carros, cigarros,

café, vestuários etc.) e em que quantidades deverão ser colocados à disposição dos

consumidores.

b) COMO produzir? - Isto é, por quem serão os bens e serviços produzidos, com que recursos

e de que maneira ou processo técnico.

c) PARA QUEM produzir? - Ou seja, para quem se destinará a produção, fatalmente para os

que têm renda.

d) QUAIS, QUANTO, COMO e PARA QUEM produzir não seriam problemas se os recursos

utilizáveis fossem ilimitados. Mas na realidade existem ilimitadas necessidades e limitados

recursos disponíveis e técnicas de fabricação. Baseada nessas restrições, a Economia deve

optar dentre os bens a serem produzidos e os processos técnicos capazes de transformar os

recursos escassos em produção, conforme Pinho e Vasconcellos (1998).

Pode-se na tabela a seguir, apresentada por Dallagnol (2008) ter um resumo dos princípios

fundamentais da economia.

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3

1.5 FATORES DE PRODUÇÃO

São os elementos utilizados nos processos de fabricação de bens utilizados para satisfazer as

necessidades humanas. Estes elementos são o trabalho, o capital, a tecnologia, os recursos naturais e a

capacidade empresarial.

A população economicamente mobilizável (Trabalho) é representada por um segmento da

população total, delimitado pela faixa etária apta para o exercício de atividades de produção, conforme

descrito por Possamai (2001).

Os limites desta faixa variam em função do estágio de desenvolvimento da economia, sofrendo

ainda a influência de definições institucionais, geralmente expressas através da legislação de cunho social.

Nas economias menos desenvolvidas observa-se que a idade de acesso às funções produtivas, sobretudo no

meio rural, é acentuadamente mais baixa do que nas economias maduras que ostentam altos padrões de

desenvolvimento econômico.

De forma geral, porém, o acesso se realiza entre 15 e 25 anos e as atividades se desenvolvem ao

longo de um período variável que alcança, em média de 30 e 35 anos. A extensão da faixa de ingresso é

justificada pela variação dos períodos de preparação do indivíduo e ainda pelas diferenças que se encontram

na legislação social de cada país quando à idade mínima de acesso ao trabalho. De outro lado, o tempo de

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4

dedicação à produção varia, essencialmente, em função do tipo de atividade desenvolvida, observando-se

também aqui variações de natureza legal quanto ao período mínimo exigido para a aposentadoria espontânea

ou compulsória. Além disso, há que considerar as diferenças institucionais – também decorrente do estágio

de desenvolvimento e do meio em que se realizam as atividades de produção – aplicáveis à mobilização do

homem e da mulher. Há diferenças acentuadas não só quanto aos regimes legais de proteção, como ainda

quanto às formas de organização social, resultando diferentes períodos de vida produtiva. (POSSAMAI,

2001)

Para o exercício de suas atividades de produção, a população ativa mobiliza um variado e complexo

conjunto de instrumentos e de elementos infraestruturais que dão suporte às operações produtivas, tornado-

as mais produtivas, tornado-as mais eficientes. Este conjunto constitui o estoque de capital da economia.

(POSSAMAI, 2001)

O desenvolvimento e meios de produção, associado às primeiras manifestações de construções

infra-estruturais, identifica-se claramente com processo de formação de capital. Desde as mais remotas

culturas o homem foi acumulando riquezas destinadas à obtenção de novas riquezas destinadas à obtenção

de novas riquezas. Com o passar do tempo com a acumulação e a transmissão de conhecimentos, o acervo

de recursos aumentaria em progressão extraordinária. O processo de instrumentação do trabalho humano

assumiria crescente complexidade, tornando cada vez mais eficiente o esforço social de produção, mas

exigindo, em contrapartida, que uma considerável parcela desse mesmo esforço passasse a ser canalizada

sistematicamente para o aperfeiçoamento e produção de novos e mais complexos recursos de capital.

Para Possamai (2001) tecnologia pode ser considerada como um fator de produção de natureza

qualitativa.

Trata-se de um elo entre a população economicamente mobilizável e os recursos de capital. Esta

capacidade acumula-se, transforma-se e evolui pela permanente transmissão de conhecimento. De geração a

geração evolução dos processos de produção, decorrentes do extraordinário desenvolvimento de recursos de

capital cada vez mais avançados e sofisticados, os sistemas econômicos exigem um paralelo

desenvolvimento da tecnologia aplicada.

Esta capacidade é inerente à qualificação dos recursos humanos. O saber fazer imprime

características extremamente variadas a dado conjunto de população economicamente mobilizável. As

nações desenvolvidas contam não apenas com extraordinária base de recursos de capital acumulados, mas

com recursos humanos preparados para operar o complexo aparelhamento de produção do sistema. Já as

economias subdesenvolvidas não apenas apresentam estoques de capital pouco eficazes e subdimensionados,

como ainda recursos humanos tecnicamente despreparados. De certa forma, os processos de criação,

aperfeiçoamento e acumulação de capital caminham paralelamente com o de formação de capacidade

tecnológica. São, por assim dizer, duas engrenagens que se ajustam. O movimento de uma delas está

necessariamente vinculado ao movimento da outra.

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5

À semelhança da capacidade tecnológica, a capacidade empresarial é também um fator de natureza

qualitativa. Trata-se do espírito empreendedor que movimenta, combina e anima os demais recursos de

produção do sistema. Tanto empreendedorismo de caráter privado ou público. Assume-a o Estado, ao

mobilizar recursos para atividades econômicas de produção ou de formação da infraestrutura de apoio.

Assume-a, dentro das condições institucionais da livre iniciativa, o empresário privado ou os grupos de

constituição privada, quando a implantação, ampliação e operação de seus empreendimentos econômicos de

produção. E, tanto, num caso como no outro, a capacidade empresarial enquadra-se no domínio dos agentes

dinâmicos da vida econômica.

O elenco de recursos com que contam os sistemas econômicos para o exercício das atividades de

produção completa-se com a disponibilidade das reservas naturais. Em seu significado econômico, este

recurso é constituído pelo conjunto dos elementos da natureza utilizados no processamento primário da

produção. O solo e a parte explorável do subsolo, as terras de pastagem e de cultura, os cursos d’água, os

lagos, as florestas e ainda o próprio clima e o índice pluviométrico incluem-se entre os recursos naturais de

que toda economia deve dispor, face às necessidades de suprimento manifestadas pela sociedade.

(POSSAMAI, 2001)

A disponibilidade das reservas naturais não depende apenas das suas quantidades físicas

disponíveis, mas ainda de outros fatores que viabilizam o seu efetivo aproveitamento. Para Possamai(2001),

o estágio dos conhecimentos tecnológicos, associado à disponibilidade de recursos de capital, tem ligações

diretas com o volume das reservas naturais economicamente aproveitáveis. As formas e a extensão da

ocupação territorial também influenciam o nível em que as reservas naturais disponíveis serão efetivamente

empregadas no processamento básico da produção – quer através da extração de matérias primas, quer

aproveitando os potenciais energéticos existentes.

Sendo assim, o próprio conhecimento de sua existência e o pré-levantamento de suas

potencialidades condicionam as disponibilidades econômicas das reservas.

1.6 SISTEMA ECONÔMICO

Sistema econômico é o conjunto de relações técnicas, básicas e institucionais que caracterizam a

organização econômica de uma sociedade. Essas relações condicionam o sentido geral das decisões fundamentais

que se tomam em toda a sociedade e os ramos predominantes de sua atividade.

Para Dallagnol (2008), um sistema econômico pode ser definido como sendo a forma política, social e

econômica pela qual está organizada a sociedade. É um particular sistema de organização da produção,

distribuição, consumo de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de

vida e bem-estar.

Sistema Econômico: reunião dos diversos elementos participantes da produção e do consumo de bens

e serviços que satisfazem as necessidades da sociedade, organizados do ponto de vista econômico,

social, jurídico e institucional.

Os sistemas econômicos podem ser classificados em:

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6

a) Sistema capitalista ou economia de mercado: É regido pelas forças de mercado,

predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção;

b) Sistema socialista ou economia centralizada ou ainda economia planificada: Nesse sistema

as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um órgão central de planejamento,

predominando a propriedade pública dos fatores de produção, chamados nessas economias

de meios de produção, englobando os bens de capital, terra, prédios, bancos, matérias-

primas.

Os países organizam-se segundo esses dois sistemas, ou de forma intermediária entre elas. Pelo menos

até o início do século XX, prevalecia nas economias ocidentais o sistema de concorrência pura, em que não havia

a intervenção do Estado na atividade econômica.

Era a filosofia do Liberalismo. Principalmente a partir de 1930, passaram a predominar os sistemas

de economia mista, no qual ainda prevaleciam as forças de mercado, mas com a atuação do Estado, tanto na

alocação e distribuição de recursos como na própria produção de bens e serviços, nas áreas de infra-

estrutura, energia, saneamento e telecomunicações.

Em economia de mercado, a maioria dos preços dos bens, serviços e salários são determinados

predominantemente pelo mecanismo de preços, que atua por meio da oferta e da demanda dos fatores de

produção. Nas economias centralizadas, essas questões são decididas por um órgão central de planejamento,

a partir de um levantamento dos recursos de produção disponíveis e das necessidades do país. Ou seja,

grande parte dos preços dos bens e serviços, salários, quotas de produção e de recursos é calculada nos

computadores desse órgão, e não pela oferta e demanda no mercado.

Possamai (2001) apresenta ainda outra classificação clássica das economias:

a) Economia Fechada: Economia típica de um país isolado. Não há importação nem

exportação de produtos. O intercâmbio de mercadorias não se realiza além dos limites

territoriais determinados pelos agentes econômicos locais: produtores, intermediários e

consumidores. Esse tipo de economia praticamente não existe no mundo atual. Mas é útil

como modelo para se analisar de que forma o total das despesas de consumo, gastos

governamentais, investimentos e tributos interagem para determinar os níveis do emprego e

renda nacional. Então, constitui-se num modelo em que não a interveniência do setor

externo (importação e exportação). Exemplos atuais praticamente inexistentes, sendo o mais

próximo: Cuba.

b) Economia Aberta: Economia baseada na livre ação dos agentes econômicos, objetivando a

concorrência, ao investimento, ao comercio e ao consumo. Corresponde aos princípios do

liberalismo econômico, pelo qual a única função do Estado seria garantir a livre

concorrência entre as empresas. Constitui-se num modelo em que há a interveniência do

setor externo (importação e exportação). Exemplo: Brasil.

Além destes conceitos, outros se destacam como as Funções renda, consumo, etc.

QUESTIONÁRIO

a) O que é economia, seu conceito e sua função?

b) Como é realizado o estudo da economia?

c) Caracterize necessidade humana e como é dividida?

d) O que são os setores econômicos?

e) Como são divididos os setores? Dê exemplos.

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f) Quais são os problemas centrais? Descreva-os.

g) O que são e quais são os fatores de produção?

h) Como é definido um sistema econômico?

i) Qual a sua classificação? Descreva-os e dê exemplos.

j) Como pode ser sua subclassificação?

2 HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

2.1 A FISIOCRACIA

A criação científica da economia: de 1750 a 1870

O Quadro econômico do Dr. Quesnay (1758) e a Riqueza das nações (1776) marearam, realmente,

a reação contra o tratamento assistemático e disperso dos problemas econômicos.

Movimento que não existia em 175o, a Fisiocracia empolgou toda Paris e Versalhes de 1760 a 177o, mas já

estava esquecido por volta de 178o, exceto por alguns economistas - como observou Schumpeter. Considerado, por

muitos autores, mais uma "seita" de filósofos-economistas do que uma escola econômica, surgiu e desapareceu como

um meteoro, em torno do Dr. Quesnay, médico da corte e protegido de Mme. Pompadour, cuja posição assegurou, por

algum tempo, uma situação privilegiada da Fisiocracia em geral, na vida intelectual do grand monde francês.

Justo e honesto, pedante e doutrinador, leal à sua protetora e impermeável às tentações do ambiente

da corte, Quesnay (1694-1774) teria sido, na expressão de Schumpeter, um "maçante respeitável". Dentre

seus discípulos destacaram-se: o marquês Mirabeau (1715-1789), autor de diversas obras, especialmente

Philosophie (1763), aceita como importante manual de ortodoxia fisiocrática, e L'Ami, com apreciações

sobre o Quadro econômico de Quesnay; Paul Mercier de Ia Rivière (1720-1793), - impulsivo e grosseiro-,

escreveu outro importante manual fisiocrático - L'ordre naturel et essentiel des sociétés politiques (1767); G.

F. Le Trosne (1728-1780), advogado, que se interessou mais pelas relações entre o sistema fisiocrático e o

Direito Natural; o padre Nicolas Baudeau ( 1730-1792), convertido ao –credofisiocrático depois de lhe haver

feito violenta oposição, tomando-se então um dos seus mais eficientes propagadores; Pierre S. Dupont de

Nemours (1739-1817), talvez o mais inteligente do grupo (mas que na apreciação de Schumpeter tinha o

talento brilhante de um pianista e não de um compositor) reuniu e comentou as obras dos fisiocratas,

principalmente as de Quesnay; Turgot (1726-178 1), intendente de Limoges e ministro de Luís XVI, que

teve oportunidade de aplicar as idéias econômi cas de sua escola; Karl Friedrich Margrave de Baden,

posteriormente GrãoDuque de Baden (1728-1811), um dos políticos mais capazes de sua época, fez várias

tentativas de aplicação da Fisiocracia em seu principado etc.

Os fisiocratas conseguiram atento auditório entre os fidalgos da corte e os governantes da época: Catarina

(da Rússia), Gustavo III (da Suécia), Estanislau (da Polônia), José II (da Áustria) e muitos outros, que tentaram aplicar

algumas de suas máximas de um bom governo.

A Fisiocracia impôs-se principalmente como doutrina da Ordem Natural: o Universo é regido por leis

naturais, absolutas, imutáveis e universais, desejadas pela Providência divina para a felicidade dos homens. Estes, por

meio da razão, poderão descobrir essa Ordem.

Page 12: apostila economia logistica

8

Alguns autores consideram as teorias de Quesnay, sobre o Estado e a sociedade, meras reformulações da

doutrina escolástica, que satisfaziam aos nobres e à sociedade. Uns poucos chegam a destacar certa tendência

teológica no pensamento de Quesnay. Mas a maioria está de acordo em reconhecer a natureza puramente analítica ou

científica de sua obra econômica.

Precursor em alguns campos, distinguiu-se Quesnay na formulação de princípios de filosofia social

utilitarista (obter a máxima satisfação corri um mínimo de esforço), do Harmonismo que se desenvolveria no século

XIX (embora consciente do antagonismo de classes, acreditava Quesnay na compatibilidade universal ou

complementaridade dos interesses pessoais numa sociedade competitiva), da teoria do capital (os empresários

agrícolas só podem iniciar seu trabalho devidamente equipados, ou seja, se dispuserem de um capital no sentido de

riqueza acumulada antes de iniciar a produção, mas não analisou a formação e o comportamento do capital monetário

e do capital real) etc.

No Quadro econômico, Quesnay representou, de modo simplificado, o fluxo de despesas e de bens entre as

diferentes classes sociais, distinguindo um equilíbrio de quantidades globais que os Keynesianos deveriam analisar a

partir de 1936. Tal como Cantillon, evidenciou a interdependência entre as atividades econômicas, problema que

Walras estudaria mais tarde. Indicou como a agricultura fornece um "produto líquido" que se reparte entre as classes

da sociedade e admitiu ser a terra produtora da mais valia (não se referindo ao trabalho que Marx enfocaria anos após).

Importante instrumento de análise o Quadro é o precursor da economia quantitativa, embora o aspecto econométrico

da obra de Quesnay tenha readquirido atualidade apenas a partir de Léontief (com objetivo e técnicas diferentes). ~

Em 1764, Adam Smith, então professor de Filosofia Moral na Universidade de Glasgow, entrou em contato com

Quesnay, Turgot e outros fisiocratas, ao visitar a França. Doze anos depois, tornou-se o chefe da Escola Clássica que,

juntamente com a Escola Fisiocrática, marcou o início da fase propriamente científica da economia.

2.2 ESCOLA CLÁSSICA

Pensadores econômicos que seguiam parcialmente as doutrinas da fisiocracia-fisiocrata, tais como o

liberalismo e o individualismo. Refutam os fisiocratas na questão da riqueza, onde o trabalho é o único meio

de se gerar riqueza e o fator gerador de valor é a mão de obra dos agentes, demonstrada pela Teoria do

Valor- Trabalho. Segundo essa escola de pensamento econômico a geração de riqueza está diretamente

relacionada com a produtividade da mão-de-obra, e esta produtividade será constantemente crescente,

decorrentes da especialização das tarefas produtivas e da divisão do trabalho.

A Teoria Clássica é elaborada em função de uma sistemática de equilíbrio automático da economia,

onde esta se harmoniza ou se reequilibra através das forças naturais dos mecanismos de demanda e oferta.

As crises e desequilíbrios apresentados pela economia são temporários, ou designados como desvios

temporários de equilíbrio que serão sanados pela demanda e oferta.

Entre as teorias que se destacam nesta escola, a Teoria da Renda da Terra de David Ricardo, onde o

valor dos aumentos e da renda das terras com maior produtividade aumentam simultaneamente de acordo

com o aumento da sociedade, que exige que seja produzida uma maior quantidade de alimentos. Neste caso

existe a necessidade de utilização de terras com menor produtividade e como resultado tem-se o aumento

dos custos de produção que serão repassados aos alimentos (custos representados pelo transporte, insumos,

Page 13: apostila economia logistica

9

etc), causando um aumento na renda das terras com mais produtividade. A Teoria de Adam Smith,

considerado o pai da economia, por ser o primeiro economista a ter formulado uma visão completa da

economia e com maior fundamento lógico e sistemático. Sua teoria de maior importância é a Teoria da Mão

Invisível, onde o pensador demonstra que as pessoas são movidas por ideais individualistas, quando estes

fossem livremente desenvolvidos seriam um fator natural de harmonização que resultaria no bem estar

coletivo. Os mercados livres e a concorrência funcionariam para o emprego do capital e dos recursos

naturais de forma que eles sejam empregados de maneira mais produtiva possível, contribuindo de forma

positiva ao bem-estar econômico, esta maximização egoísta do lucro para canais socialmente úteis- com que

fossem produzidas as mercadorias que as pessoas precisassem e mais desejassem.

As ideias de Smith tiveram maior impacto depois da publicação de suas teses que foram feitas

simultaneamente com a Revolução Industrial, e esta corroborada com as afirmações do economista.

A defesa do mercado como regulador das decisões econômicas de uma nação traria muitos

benefícios para a coletividade. O objetivo era claramente identificado e método de análise sobre a riqueza.

Primeira escola de pensamento econômico onde Adam Smith lança o seu livro pioneiro sobre a Riqueza das

Nações, em 1776.

2.3 ESCOLA NEOCLÁSSICA

As principais contribuições da teoria neoclássica surgem no final do Século XIX relacionadas com

o processo de mudanças econômicas que ocorreram no período compreendido entre 1840 e 1873.

Neste período, os países europeus e os EUA experimentaram anos de grande expansão econômica,

acompanhada de um notável crescimento industrial, caracterizado principalmente pelo crescimento da

indústria pesada e o fortalecimento da indústria de bens de capital. Este crescimento se processava movido

por grande concentração do capital, poder e riqueza e um padrão concorrencial muito agressivo e destrutivo.

Entretanto, a partir de 1873 encerrou-se o fim deste período de grande expansão econômica e deu-

se o início de um período de crise na Europa, chamado de Longa Depressão. Com o advento desta crise, o

arcabouço construído pela teoria clássica não era capaz, naquele momento, de explicar a origem dos

problemas bem como de apontar possíveis soluções. É neste ambiente de mudança que surgiram as escolas

de pensamento de matriz neoclássica.

O neoclassicismo apresentou-se sob a forma de importantes escolas, dentre as quais se destacaram a

Escola de Viena ou a Escola Psicológica Austríaca, a Escola de Lausanne ou Escola Matemática, a Escola

de Cambridge e a Escola Sueca. A Escola de Viena desenvolveu-se em torno da construção teórica de Carl

Menger, a partir de 1870. Em 1871, ele desenvolveu a teoria do valor de troca, em seu livro Princípios de

Economia, baseando-se no princípio da utilidade decrescente. Outros autores dessa escola que colaboraram

com a construção teórica foram Stanley Jevons, que publicou também em 1871 o livro Teoria da Economia

Política, e o francês Leon Walras, que escreveu em 1874 Elementos de Economia Política Pura. Uma das

características dessa escola é que foi pouco divulgada no mundo em função da linguagem que ela utilizou;

Page 14: apostila economia logistica

10

ainda assim, na Alemanha e na Áustria ela influenciou diversos estudos posteriores, principalmente os de

Friedrich Von Wieser e Eugen Böhm-Bawerk. Estes autores apresentaram importantes contribuições em

relação à teoria do capital e do juro.

É importante ressaltar que a principal contribuição da Escola de Viena estava baseada

essencialmente na mudança de foco da fonte da riqueza para o indivíduo. Nestes termos, deixou de se

preocupar em verificar como a riqueza era gerada, distribuída e consumida, principal preocupação dos

clássicos, e passou a verificar como são as necessidades dos homens, sua satisfação e como se dá a

valoração subjetiva dos bens. Esta escola constatou que os indivíduos apresentam escalas de preferência

decorrentes das mais variadas motivações, observando também que os objetos mais desejados, em geral, têm

uma oferta menor a que os indivíduos realmente gostaria que tivessem. A Escola de Lausanne, ou Escola de

Matemática, constitui uma das principais ramificações do pensamento neoclássico tendo como principal

representante e seu fundador Leon Walras (1834-1910). Uma das principais contribuições de Walras foi

desenvolver um sistema matemático que demonstrava o equilíbrio geral na economia, justificado pela

interdependência de todos os preços dentro do sistema econômico.

Desta forma, mostrou que as unidades econômicas não podiam ser analisadas separadamente, sendo

necessário verificar a interação destas unidades com o restante da economia.

Essa construção é alternativa ao modelo de equilíbrio desenvolvido por Alfred Marshall,

considerado o principal representante da Escola de Cambridge, sendo referência seu principal trabalho,

Princípios de Economia, publicado em 1890. Destaca-se nesta obra a utilização de modelos simplificados da

realidade que permitem ao investigador observar frações da economia.

Supõe que através destes modelos o comportamento desta fração da economia que está se

analisando, que pode ser uma empresa ou um setor empresarial, por exemplo, não exercem influência

apreciável sobre a atividade econômica restante. Todavia, isto não significa que a parte da economia que

está sendo analisada permaneça inalterada; o que Marshall pondera é que esta fração da economia modelada

irá se ajustar aos efeitos de uma mudança externa.

Como forma de mensurar as motivações humanas de um modo mais homogêneo, sem as

dificuldades de se mensurar cada uma das atribuições de valor individual, Marshall adotou um denominador

comum: a moeda. Entretanto, adotar este denominador não seria válido; o mais adequado seria utilizá-lo

sobre um conjunto de indivíduos, ou seja, um grande grupo ou um organismo social, já que desta forma as

diferenças de renda são niveladas.

Desta forma, o estudo dos preços (de bens e de fatores) passou a constituir a principal área de

investigação de Marshall, com o objetivo de descobrir as regularidades da atividade econômica.

Finamente, dentre as principais escolas que compõem o neoclassicismo está a Escola Neoclássica

Sueca, cujo maior representante é Knut Wicksell. Suas principais contribuições estão ligadas à análise do

valor e da distribuição, expressas em sua obra Juros e Preços, com destaque para a importância da moeda e

Page 15: apostila economia logistica

11

do crédito na atividade econômica. Nestes termos, sua principal contribuição foi ser o pioneiro a integrar os

aspectos monetários aos aspectos do lado real, produtivo, da economia.

Nesta época, se supunha que mudanças nos valor dos preços e no valor da moeda refletiam apenas

mudanças na quantidade de moeda e na velocidade de sua circulação, não promovendo alterações na

quantidade produzida. Esta era dada pela oferta de recursos e pela tecnologia empregada (produtividade). A

integração entre o lado monetário e o lado real da economia seria posteriormente desenvolvida com maior

profundidade por John M. Keynes.

2.4 O MARXISMO

Karl Marx (1818-1883) opôs-se aos processos analíticos dos clássicos e às suas conclusões, com

base no que Lenin considerou a melhor criação da humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia

política inglesa e o socialismo francês.

Criticou a doutrina populacional de Malthus com base nas diferenças características dos diversos

estágios da evolução econômica e seus respectivos modos de produção, afirmando que uma mudança no

sistema produtivo poderá converter em excedente demográfico uma aparente escassez populacional.

Preocupou-se com épocas históricas específicas, contestando os casos hipotéticos dos clássicos

(Smith, por exemplo, escrevera sobre um estágio "primitivo e rude" da sociedade), as construções abstratas

que não consideravam o significado da dinâmica interna do processo histórico, nem as leis econômicas

peculiares aos estágios históricos.

Ao lado de disputas metodológicas com o classicismo, Marx modificou a análise do valor, apesar

de haver utilizado vários componentes da versão clássica da teoria do valor-trabalho (Ricardo,

especialmente); desenvolveu conceitos que se tornaram muito conhecidos (como, por exemplo, o de mais-

valia, capital variável, capital constante, exército de reserva industrial e outros), analisou a acumulação do

capital, a distribuição da renda, as crises econômicas etc.

Afirmava Marx que "o valor da força de trabalho é determinado, como no caso de qualquer outra

mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário à produção, e consequentemente à reprodução, desse artigo

em especial".

Desenvolveu argumentos para mostrar que o valor da força de trabalho se baseia nos insumos de

trabalho necessários à subsistência e treinamento dos trabalhadores. As condições da produção do sistema

capitalista, entretanto, obrigam o trabalhador a vender mais tempos de trabalho do que o necessário para

produzir valores equivalentes às suas necessidades de subsistência. Os trabalhadores são obrigados a aceitar

as condições impostas pelos empregadores porque não dispõem de fontes alternativas de renda.

Assim, seu dia de trabalho compreende o tempo “necessário- à produção de valores iguais às

exigências de manutenção, e um tempo de trabalho “excedente”“. O valor criado pelo tempo de trabalho

excedente é apropriado pelos detentores dos meios de produção - os capitalistas.

Page 16: apostila economia logistica

12

Por sua própria natureza, o capitalismo tende a separar as classes sociais de modo sempre crescente:

com o avanço tecnológico, um número cada vez maior de trabalhadores é rebaixado em suas técnicas, e

passa a realizar operações de rotina e tarefas repetitivas. Além disso, a substituição dos homens pelas

máquinas faz aumentar o exército de reserva dos desempregados - conseqüência do modo de produção

capitalista, que mantém a posição de poder dos capitalistas e permite abundante oferta de trabalho a salários

de subsistência. Aliás, entre os próprios capitalistas, a difusão do maquinismo e a dinâmica do sistema

fazem desaparecer os pequenos empresários, ou os de menores recursos, que também se tornam dependentes

dos proprietários dos meios de produção.

Ademais, a existência do exército de reserva industrial explica também a tendência dos salários se

manterem ao nível de subsistência: os capitalistas podem recorrer à mão-de-obra desempregada para

substituir aquela que deseja melhores salários.

Muitos autores afirmam que a contribuição de Marx à análise econômica é um prolongamento,

engenhosamente elaborado, da Escola Clássica. Outros os contestam com veemência, insistindo no erro

frequente de se analisar separadamente as diversas teorias marxistas, o que destrói a unidade do marxismo -

um conjunto de filosofia, sociologia, história e economia. Outros, enfim, acusam o "complô do silêncio" dos

"economistas burgueses" em tomo da obra de Marx, por causa de sua sociologia da revolução, que preconiza

a derrubada violenta da ordem capitalista.

2.5 A FASE ATUAL DA CIÊNCIA ECONÔMICA: DE 1929 AOS NOSSOS DIAS

As críticas apresentadas às teorias neoclássicas, a partir de 192o, atingiram, seu ponto culminante

no decênio de 193o, que se caracterizou por ser um período de grande fermentação teórica. Na maioria dos

casos, os debates provocaram novas análises e novos estudos em ambos os lados oponentes (de que são

exemplos os trabalhos sobre o comportamento dos preços das empresas situadas entre o monopólio puro e a

concorrência perfeita; o comportamento ótimo do produtor e do consumidor; a teoria do monopólio e da

concorrência imperfeita; os problemas da "grande empresa" resultantes da concentração do poder econômico

etc.).

É evidente que os fatos econômicos contribuíram intensamente para acirrar os debates dos

economistas: os problemas decorrentes da Primeira Grande Guerra e da crise de 1929 evidenciaram a

insuficiência da tradição clássica e neoclássica para solucioná-los. Os países industrializados do mundo

ocidental, abalados por séria crise no pós-guerra, que ocasionou elevados níveis de desemprego e profundo

descontentamento do povo, sofreram em 1929 o impacto de outra crise, iniciada na Bolsa de Valores de

Nova Iorque.

Parecia muito distante da realidade a imagem de funcionamento de um sistema econômico criada

pelos clássicos e neoclássicos: o pleno emprego seria o nível normal de operação da economia, e as

distorções que surgissem teriam correção oriunda de remédios gerados pelo próprio sistema econômico.

Page 17: apostila economia logistica

13

Ao invés disso, entretanto, o desemprego atingira proporções alarmantes e não havia indicações de

que tal situação estava se autocorrigindo.

Na ausência de um diagnóstico teórico sobre a economia do desemprego maciço, os políticos e os

governantes tentaram desesperadamente remediar os males por meio de medidas como a restrição das

importações, o aumento de tarifas, a desvalorização da moeda, a realização de obras públicas como

mecanismo de criação de emprego (Inglaterra) ou de estímulo à economia (Estados Unidos) etc.

2.6 A REVOLUÇÃO KEYNESIANA

No conturbado período entre as duas Grandes Guerras, surgiu John Maynard Keynes (1883-1946),

cujas obras romperam com a tradição neoclássica e apresentaram um programa de ação governamental para

a promoção do pleno emprego. Foi tal o impacto que produziram, que a atuação de Keynes e de seus

continuadores passou a ser cognominada de "Revolução Keynesiana".

Teórico e homem de ação, Keynes foi conselheiro de vários governos da Inglaterra, participou de

importantes conferências internacionais durante a Segunda Guerra Mundial (1943: Plano Keynes para

estabilização internacional das moedas), administrou financeiramente o "King's College" etc. Terminada a

Guerra, participou ativamente dos trabalhos de criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco

Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento.

Interessou-se pelos problemas da instabilidade a curto prazo e procurou determinar as causas das

flutuações econômicas e os níveis de renda e de emprego em economias industriais. Alguns neoclássicos já

haviam se referido às "flutuações industriais" e à "inconstância do emprego", mas enfocando principalmente

as forças que influenciavam a produção em mercados determinados e não as que agiam sobre a economia

como um todo.

Marx, por outro ângulo, também se aproximara das preocupações de Keynes, mas não aprofundara

nesse assunto, talvez por acreditar na queda inevitável do capitalismo. Keynes, entretanto, colocou em

dúvida as pressuposições dos neoclássicos, bem como suas preocupações com o "Iongo prazo" – período no

qual "todos estaremos mortos".

Considerou os problemas dos grandes agregados a curto prazo e esforçou-se no sentido de contestar

a condenação marxista do capitalismo: este poderia ser preservado, em sua parte essencial, se reformas

oportunas; fossem efetuadas, já que um capitalismo não regulado mostrara-se incompatível com a

manutenção do pleno emprego e da estabilidade econômica.

Keynes criticou a Lei de Say e inverteu a perspectiva de exame da moeda em movimento (enquanto

"gasta") para analisá-la quando entesourada ou guardada; reinterpretou a taxa de juro; analisou a poupança e

o consumo; estudou sob novo enfoque a determinação do investimento e o equilíbrio agregativo; atribuiu

papel ativo à política fiscal, defendendo déficits públicos propositais para inflar a procura agregada; opôs-se

à excessiva confiança nos controles monetários etc.

Page 18: apostila economia logistica

14

As deficiências e as "temeridades" da obra de Keynes, entretanto, têm sido apontadas por vários

autores: ao invés de "geral", como pretendeu, sua "Teoria" permaneceu particular (resposta à situação da

Grã-Bretanha durante a crise dos anos 30; limitou-se ao subemprego e ao curto período); simplificou

exageradamente a complexa realidade econômica; omitiu a análise da microeconomia; colocou-se

voluntariamente no quadro das estruturas capitalistas; não se aplicou aos países emergentes etc. O que é

mais grave: não considerou o problema fundamental do "fim" da análise produtiva ou a que "tipo de

civilização" é chamada a servir a gigantesca engrenagem de técnicas, capitais e trabalho humano.

Autores socialistas têm criticado severamente Keynes por haver recomendado políticas econômicas

que, além de aumentarem a inflação, não provocam a elevação do poder aquisitivo dos trabalhadores -

apenas estimulam o consumo dilapidadoras classes dominantes. Ao tentar encobrir o caráter classista do

consumo na sociedade burguesa, Keynes estabeleceu uma única - lei- de consumo para todas as classes,

ignorando que o consumo dos trabalhadores e dos capitalistas é de natureza muito diferente. Assim, não teria

sido casual o fato de Keynes "realçar a figura de um ideólogo reacionário do consumo parasitário, como foi

Malthus". Apologista do capitalismo monopolista do Estado, Keynes teria silenciado conscientemente sobre

a natureza classista do Estado burguês imperialista - órgão dos monopólios capitalistas. Suas propostas para

aumentar o controle estatal sobre a atividade econômica agravaram o jugo da oligarquia financeira, mediante

a utilização dos recursos da renda nacional.

Por outro lado, alguns socialistas procuraram integrar certas contribuições Keynesianas no sistema

socialista, como a política do pleno emprego e a do direcionamento dos investimentos. Ou, então, tentaram

aproximá-lo de Keynes: a armada industrial de reserva seria o pressentimento do desemprego permanente de

Keynes; a tese marxista do subconsumo operário estaria próxima da tese Keynesiana da insuficiência da

demanda efetiva; a tendência à baixa do lucro lembraria a insuficiência da eficácia marginal do capital; para

ambos, o juro é o preço da moeda disponível etc.

Apesar das numerosas críticas, a obra de Keynes estimulou o desenvolvimento de estudos não

apenas no campo da economia, mas também em áreas afins (assim, por exemplo, os econometristas

passaram a construir novos modelos agregados; a estatística conta com novo campo de pesquisas ligado à

contabilidade nacional, à coleta e análise dos dados da Renda Nacional, do Produto Nacional etc.).

Na área da renda, emprego e teoria monetária, as contribuições póskeynesianas têm provocado

verdadeiro impacto sobre a evolução do pensamento econômico contemporâneo (como, por exemplo, o

reenunciado matemático e a análise do processo dinâmico; o modelo multiplicador-acelerador de

Samuelson; a explicação de Hicks- Hansen das taxas de juros. as novas teorias da função consumo; a

hipótese de renda permanente de Friedman; a hipótese de consumo de Duesenberry; a hipótese da

proporcionalidade de Smithies; novas contribuições a respeito da natureza e do financiamento do

investimento; contribuições sobre a teoria monetária; integração entre a micro e a macroeconomia; teorias da

inflação de custo versus inflação da demanda etc.

Page 19: apostila economia logistica

15

Na área de flutuação e do desenvolvimento econômico são geralmente considerados pós-

Keynesianos os autores que têm se interessado especialmente pela procura agregada e que contribuem no

sentido de tornar dinâmica a análise de Keynes, como Joan Robinson, Harrod, Hicks, Samuelson, Domar,

Duesenberry etc.

Enquanto Keynes reabilitava o capitalismo, o socialismo implantado a nível nacional, pela primeira

vez em 1917 (URSS), passou a servir de modelo, depois da Segunda Grande Guerra, às Democracias

Populares: China, Vietnã, Cuba etc.

Mas no limiar do ano 200o, bruscas mudanças econômicas, políticas e sociais surpreendem o

mundo: o vento da História, no início dos anos 9o, elimina desde os modelos extremos das economias

socialistas integralmente planificadas, até as forças políticas locais e regionais, que insistem em se apoiar tio

exacerbado centralismo estatal e na política massificadora.

Na ex-URSS, as surpresas têm sido muito grandes: os especialistas, sovietólogos e kremlinólogos,

haviam previsto todos os cenários, menos seu desmoronamento a parti r do interior do próprio sistema. Os

países da chamada "cortina de ferro- e até mesmo a China e a Albânia adotam mecanismos da economia de

mercado. Apenas Cuba persiste na via socialista autoritária e burocrática.

Daí se dizer que os anos 90 representam uma fase científica e tecnologicamente muito produtiva,

mas politicamente imprevisível. De fato, na área científica e tecnológica, o progresso é intenso, desde o

infinitamente pequeno ao infinitamente grande, mas no campo político, a reavaliação do papel do Estado

apresenta fatos inesperados, sobretudo no ponto de junção entre a estrutura e a superestrutura: o comunismo

fracassa na tentativa de aperfeiçoar a sociedade com base no planejamento da intervenção estatal e, ao

mesmo tempo, provoca a reabilitação da iniciativa individual e do lucro, que retornam, com a "mão invisível

de Adam Smith", como os únicos instrumentos confiáveis de aperfeiçoamento.

QUESTIONÁRIO

a) Quais são as premissas da escola clássica?

b) Quem são seus principais pensadores?

c) Qual é o enfoque da escola marginalista?

d) Quem são seus principais pensadores?

e) Qual o principal pensador da fisiocracia?

f) Qual a definição de utilitarismo?

g) Qual a diferenciação do pensamento entre Malthus e Marx?

h) Para Marx onde está o lucro?

i) Qual a função da política econômica para Keynes?

j) O que determina a produção no keynesianismo?

k) O que é o juro para Keynes?

3 MICROECONOMIA

3.1 MERCADO DE PRODUTO E DE FATORES DE PRODUÇÃO

3.1.1 Concorrência perfeita

Page 20: apostila economia logistica

16

A estrutura de mercado caracterizada por concorrência perfeita é uma concepção ideal, porque os

mercados altamente concorrenciais existentes, na realidade, são apenas aproximações desse modelo, posto que,

em condições normais, sempre parece existir algum grau de imperfeição que distorce o seu funcionamento, de

acordo com Pinho e Vasconcellos (1998).

O seu conhecimento é importante não só como estrutura ideal, que é empregada em muitos estudos que

procuram descrever o funcionamento econômico de uma realidade complexa, como, também, pelas inúmeras

conseqüências derivadas de suas hipóteses que condicionam, o comportamento dos agentes econômicos em

diferentes mercados.

Uma estrutura de mercado descrita como de concorrência perfeita deve preencher todas as seguintes

condições:

a) Atomização: o número de agentes compradores e vendedores é de tal ordem que nenhum

deles possui condições para influenciar o mercado. A expressão de cada um é insignificante.

b) Homogeneidade: o bem o serviço, no mercado de produtos, o fator de produção, no

mercado de fatores, é perfeitamente homogêneo. Nenhuma empresa pode diferenciar o

produto. O produto vindo de qualquer produtor é um substituto perfeito do que é a ofertados

por quaisquer outros produtos.

c) Mobilidade: cada agente comprador e vendedor atua independente de todos os demais. A

mobilidade é livre e não há quaisquer acordos entre os que participam do / no mercado.

d) Permeabilidade: não há quaisquer barreiras para entrada ou saída dos agentes que atuam ou

querem atuar no mercado. Barreiras técnicas, financeiras, legais, emocionais ou de qualquer

outra ordem não existem.

e) Preço limite: nenhum vendedor de produto pode praticar preços acima daquele que está

estabelecido no mercado, resultante da livre atuação das forças de oferta e da procura. Em

contrapartida, nenhum comprador pode impor um preço abaixo dos de equilíbrio, o preço

limite é dada pelo mercado.

f) Extrapreço: não há qualquer eficácia em formas de concorrência fundamentadas em

mecanismos extrapreço. A oferta de quaisquer vantagens adicionais, associáveis o produto

ou fator, não faz qualquer sentido. Essa característica é subproduto da homogeneidade.

g) Transparência: por fim, o mercado é absolutamente transparente. Não há qualquer agente

que tenha informações privilegiadas ou diferentes daquelas que todos detêm. As

informações que possam influenciar o mercado são perfeitamente acessíveis a todos.

3.1.2 Monopólio

O monopólio situa-se em outro extremo. Essa estrutura se situa no extremo oposto do da concorrência

perfeita. As condições que caracterizam são:

a) Unicidade: há apenas um vendedor, dominando inteiramente a oferta. Sob monopólio, os

conceitos de empresa e de atividade sobrepõem-se. A indústria monopolista é constituída

por uma única firma ou empresa.

b) Insubstitutibilidade: o produto da empresa monopolista não tem substituto. A necessidade

que ela atende não tem como ser igualmente satisfeita por qualquer similar ou sucedâneo.

c) Barreira: a entrada de um novo concorrente no mercado monopolista é, no limite,

impossível. As barreiras de entrada são rigorosamente impedidas. Podem decorrer de

disposições legais, de direitos de exploração outorgado pelo poder público a uma única

empresa, do domínio de tecnologias de produção e de condições operacionais exigidas pela

própria atividade.

Page 21: apostila economia logistica

17

d) Poder: a expressão poder de monopólio é empregada para a caracteriza a situação

privilegiada em que se encontram como monopolista, quanto as duas importantes variáveis

do mercado preço e quantidades.

e) Extrapreço: devido a seu pleno domínio sobre o mercado, os monopólios dificilmente

recorrem às formas convencionais de mecanismos extrapreço, para estimular ou

desestimular comportamentos de compradores.

f) Opacidade: os monopólios são, por definição, opacos. O acesso a informações sobre fontes

supridoras, processos de produção, níveis de oferta e resultados alcançados dificilmente são

abertos e transparentes. A empresa monopolista e caracteriza-se por ser impenetrável.

3.1.3 Oligopólios

As estruturas oligopolistas não se caracterizam por fatores determinantes puros e extremados. Os tipos

possíveis, de fato, observadas na realidade são de alta variabilidade. Em todas as características desta estrutura de

mercado, os conceitos são mais flexíveis, comparativamente aos casos extremados de concorrência perfeita e de

monopólio.

a) O número de concorrentes: geralmente, é pequeno. Palavras como limitados, poucos,

alguns, vários, são empregadas para indicar o número de concorrentes nas estruturas

oligopolistas.

b) Diferenciação: outra característica de alta variabilidade se refere a fatores como

homogeneidade, substitutibilidade e padronização dos produtos. Isto por que tanto podem

ocorrer oligopólios de produtos diferenciados, como de produtos não diferenciáveis.

c) Rivalização: tipicamente, os concorrentes que atuam sob condições de oligopólio são fortes

rivais entre si. Há casos até de rivalizações que transparecem campanhas publicitárias e em

práticas comerciais desviadas de padrões de ética e a lealdade. Mas, no outro extremo,

encontra-se também situações de oligopólio em que os concorrentes se unem em acordos

setoriais, todos respeitando rigorosamente as regras negociadas e definidas.

3.1.4 Concorrência Monopolística

Esta estrutura contém características que se encontram nas definições usuais de mercados

perfeitamente competitivos e monopolizados. Na concorrência monopolística, o número de concorrentes é

grande. O consumidor encontra facilmente substitutos, não ocorrendo dessa forma à caracterização essencial

do monopólio puro. As características principais desta estrutura de mercado são:

a) Competitividade: é elevado o numero de concorrentes, com capacidade de competição

relativamente próximas.

b) Diferenciação: o produto de cada concorrente apresenta particularidades capazes de

distingui-lo dos demais e de criar um mercado próprio para ele.

c) Substitutibilidade: embora cada concorrente tenha um produto diferenciado os produtos de

todos os concorrentes substituem-se entre si. Obviamente, a substituição não é perfeita, mas

é possível, conhecida e de fácil acesso.

d) Preço-prêmio: a capacidade de cada concorrente controlar o preço depende do grau de

diferenciação percebido pelo comprador. A diferenciação quando percebida e aceita, pode

dar origem a um preço-prêmio, gerando resultados favoráveis e estimuladores.

e) Baixas barreiras: as barreiras de entrada em mercados monopolisticamente competitivos

tendem a ser baixas. Há relativa facilidade para ingresso de novas empresas no mercado.

Para Pinho e Vasconcellos (1998), embora apresente, como a concorrência perfeita, uma estrutura

de mercado em que existe um número elevado de empresas, a concorrência monopolista (também chamada

Page 22: apostila economia logistica

18

concorrência imperfeita) caracteriza-se pelo fato de que as empresas produzem produtos diferenciados,

embora substitutos próximos.

Por exemplo, diferentes marcas de cigarros, perfumes, sabonetes, refrigerantes etc.

Trata-se, assim, de uma estrutura mais próxima da realidade que a concorrência perfeita, onde se

supõe um produto homogêneo, produzido por todas as empresas.

Nesta estrutura, cada empresa tem certo poder sobre a fixação de preços. Ou seja, a curva de

demanda com a qual se defronta é negativamente inclinada, embora bastante elástica, pois a existência de

substitutos próximos permite aos consumidores alternativas para fugirem de aumentos de preços.

3.1.5 Monopsonio

Esta estrutura de mercado é caracterizada pela existência de muitos vendedores e um único

comprador (Pinho e Vasconcellos,1998). É uma estrutura que pode prevalecer especialmente no mercado de

trabalho. Portanto, ou os trabalhadores empregam-se no monopsônio, ou precisam trabalhar em outra

localidade, por exemplo.

A curva de oferta de trabalho indica quantas; unidades serão empregadas, dado o preço do salário.

Como o monopsonista precisa pagar salários mais elevados para obter unidades adicionais de trabalho, o

custo marginal é crescente e, portanto, a curva de Custo Marginal situa-se acima da curva de oferta do fator,

que é a sua curva de Custo Médio.

A conseqüência deste fato é que o Custo Marginal é superior ao preço pago ao trabalho marginal,

porque ele deve pagar salários mais altos para todas as unidades já empregadas. Quando o monopsonista

está em equilíbrio, maximizando o lucro, naturalmente igualando o Custo Marginal no valor do produto

marginal do fator, ele paga um preço para o fator, que é inferior ao valor de seu produto marginal.

Comparando-se o monopsônio com a firma monopolista ou de concorrência perfeita, verifica-se

que o preço pago pelo monopsônio é mais baixo.

Podemos definir também o oligopsônio, que se caracteriza por um pequeno número de firmas

compradoras de um dado produto. Por exemplo, o setor automobilístico, na compra de auto-peças, os

supermercados etc.

3.1.6 Monopólio bilateral

No monopólio bilateral, defrontam-se um monopolista e um monopsonista. Tipicamente, o

monopolista deseja vender uma dada quantidade de produto por um preço relativamente alto, e o

monopsonista pretende comprar a mesma quantidade por um preço o mais baixo possível. Como ambas as

posições são conflitantes, somente a negociação recíproca permite a definição do preço. O preço final

dependerá do poder de regateio de cada um dos oponentes.

Page 23: apostila economia logistica

19

3.2 MECANISMOS DE PREÇOS

3.2.1 Demanda

A demanda individual é definida como a quantidade de bem ou serviço que determinado indivíduo

deseja consumir em certo período de tempo. Dois aspectos estão presentes na definição de demanda. O

primeiro refere-se ao fato da demanda representar o desejo de consumir algo. Esta se encontra relacionada

ao plano de consumo, ao anseio e não ao consumo efetivamente realizado. O segundo aspecto representa o

desejo de consumir algo em determinado período de tempo específico.

Vários fatores determinam a demanda por um bem ou serviço no mercado: o preço do bem e

serviço, o preço de substitutos, a renda disponível e preferências do consumidor. Veja:

d) Preço de bem ou serviço: apresenta uma relação inversa com a quantidade consumida. Em

outras palavras, quanto maior o preço do bem ou serviço menor será a demanda do

consumidor.

e) Preço de bens substitutos: afeta a demanda do bem principal através do preço, porém,

ponderado por quão satisfatoriamente o substituto puder satisfazer a demanda pelo primeiro.

Caso o outro bem for considerado um bom substituto, o evento de um aumento de seu preço

em relação ao bem principal pode estimular o consumo do outro, e viceversa.

f) Renda disponível: afeta a disposição de demandar determinados bens e serviço no mercado.

A quantidade de recursos financeiros possibilita optar por bens e serviços mais e menos

sofisticados.

g) Preferências do consumidor: também representam impacto sobre a demanda, já que o

consumidor pode preferir um produto A, se puder pagar, em detrimento ao produto B, por

lhe dar mais prazer e satisfação no atendimento de suas necessidades.

Page 24: apostila economia logistica

20

O entendimento do comportamento da demanda por determinado bem ou serviço se torna mais

claro quando, a partir dos dados, é construída uma curva de demanda. Sua construção se dá a partir da

verificação de qual é a quantidade demandada em cada uma das possibilidades de preço em um gráfico

cartesiano. No presente exemplo é apresentado o comportamento da demanda por ingressos para o Show do

Pink Floyd no estádio do Morumbi, em São Paulo. Antes de focar a atenção no gráfico propriamente dito,

verifique como se comporta a quantidade demandada de ingressos em relação aos preços que podem ser

praticados. Verifique que, se o preço cobrado pelo ingresso de gramado for de $ 100, o público estimado

para esta parte do estádio seria de 20.000 pessoas pagantes; no outro extremo, caso o preço cobrado seja de

$ 350, apenas 5.000 pessoas estariam dispostas a pagar pelo ingresso de gramado. Supondo-se que 5.000 é o

número máximo de pessoas que o órgão da Prefeitura que regulamenta este tipo de evento estipulou para

esta parte do estádio, o preço cobrado para gramado o seria $ 350.

Nota-se que esta é composta por dois eixos, sendo que o vertical representa o preço do ingresso e o

horizontal expressa a quantidade de entradas demandadas para o gramado no show. Plotando na Figura um

ponto para a quantidade de ingressos em cada um dos preços obtém-se a curva de demanda.

Seguindo adiante, imagine, agora, que, por motivo de reforma nas arquibancadas do estádio, serão

ofertados apenas ingressos para o gramado. Neste caso, todos os consumidores que preferiam ver o show da

arquibancada, se ainda quiserem vê-lo, terão que adquirir ingressos de gramado. Desta maneira, haveria um

crescimento do número de pessoas dispostas a comprar um ingresso de gramado para o show, deslocando a

curva de demanda para a direita. A próxima figura mostra a diferença entre um deslocamento ao longo da

curva, de um deslocamento da curva de demanda para a direita. Com base nesta Figura, ao preço de $350,

haveria 2.500 pessoas dispostas a assistir ao show, conforme aponta o ponto A plotado na primeira curva de

demanda D1. Note que, se a organização do evento resolvesse ocupar o limite de espaço de 5.000

espectadores no gramado, teria que cobrar o preço de $ 215, que está representado pelo ponto B. Quando

ocorre o anúncio da proibição da venda de ingressos para arquibancada, a demanda por ingressos de

gramado cresce, deslocando-se para a direita, sendo agora representada por D2, crescendo a quantidade de

Page 25: apostila economia logistica

21

ingressos vendidos a $ 350, para 5.000. Este exemplo mostra a diferença entre um deslocamento ao longo da

curva de demanda, mudança do ponto A para o B, de um deslocamento da curva de demanda, de D1 para D2,

e dos pontos A para o C.

Entretanto, podem ocorrer tanto deslocamentos na demanda para direita como para esquerda; em

outras palavras, a demanda pode tanto crescer como pode diminuir. Um deslocamento para a direita

significa um aumento de D1 para D2. Por outro lado, uma redução provoca um deslocamento da demanda

para a esquerda, ou de D1 para D3, conforme expressa a figura seguinte.

Os bens substitutos e os bens complementares podem exercer influência nos deslocamentos da

demanda do bem principal. Inicia-se com um exemplo de como um bem complementar pode influenciar em

um deslocamento da curva de demanda de um bem: imagine que em função da superprodução de queijo tipo

minas, seu preço caia bastante, fazendo com que mais pessoas decidam por sua aquisição. Neste caso, ocorre

um desolamento de preço sobre uma mesma curva de demanda. Porém, o aumento do consumo de queijo

minas, implica também em um deslocamento da curva de demanda de goiabada para a direita, já que

Page 26: apostila economia logistica

22

diversas pessoas que antes não compravam goiabada por não ter o queijo minas, para acompanhar agora vão

passar a consumi-la.

Também, os bens substitutos exercem influência sobre os deslocamentos da demanda do bem

principal. Imagine, agora, o mercado de manteiga e sua curva de demanda. O que ocorreria com esta curva

de demanda caso o preço da margarina sofresse uma sensível diminuição? A curva de demanda de manteiga

se deslocaria para a esquerda, passando de D1 para D3. Em outras palavras, uma parte considerável de

consumidores, que antes demandavam manteiga, passará a demandar margarina em função de seu preço, que

passou a ser mais atrativo. Nunca é demais lembrar que a demanda por manteiga não se extingue por

completo, já que os consumidores que têm maior preferência pela manteiga não deixarão de consumi-la,

mesmo com a redução do preço da margarina.

3.2.2 Oferta

Assim como a demanda, além do preço de venda, alguns outros fatores interferem na oferta dos

produtos, entre eles destacam-se o preço de outros bens substitutos, os custos de produção, e as expectativas

dos produtores em relação à demanda futura.

Inicialmente, trata-se da discussão da oferta a partir da influência do preço, já que este determinante

é o que mais nos interessa neste item. A reação do ofertante em relação ao preço é exatamente o oposto da

reação dos consumidores, ou seja, seu desejo de ofertar bens é estimulado quando se elevam os preços. É

importante destacar aqui, que, assim como a demanda, em relação à oferta está se tratando do desejo de

vender determinada quantidade de bens ou serviços em determinado período de tempo a certo nível de

preço. Nestes termos, aqui, como anteriormente, não se trata de um fato consumado, mas de um anseio.

A próxima figura apresenta a curva da oferta e esta se posiciona de forma diferente da curva da

demanda, configurando comportamentos antagônicos. Avalia-se a curva de oferta propriamente dita, a partir

da disposição de ingressos de gramado para o show do Pink Floyd no Estádio do Morumbi em função dos

preços. Para tornar o exemplo mais real, incorpora-se a noção de que, quanto maior o número de pessoas,

maior o aparato de segurança e organização que os promotores do evento terão que proporcionar, fazendo

com que exista a necessidade de dosar bem a oferta em relação ao preço. Deste modo, verifique que quanto

mais o preço do ingresso vai crescendo, maior é a quantidade de ingressos que os promotores do evento

terão interesse em ofertar. Neste sentido, note que a curva da oferta apresenta uma inclinação positiva em

relação ao eixo vertical, representado pelos preços.

Page 27: apostila economia logistica

23

Muito embora a oferta seja grandemente estimulada pelos preços, como foi dito anteriormente, este

não é o único fator que influencia na decisão da quantidade que será ofertada. Imagine que no mesmo dia em

que os organizadores estejam programando o show do Pink Floyd no Estádio do Morumbi, seja programado

um show religioso no Estádio do Pacaembu, e que, devido à ocorrência de dois eventos de grande porte em

um mesmo dia, ocorra a carência de profissionais de segurança em eventos deste porte na cidade de São

Paulo.

Desta maneira, os promotores do evento terão que recorrer a profissionais especializados na cidade

do Rio de Janeiro, o que faria com que a oferta de ingressos diminuísse. Tal fato provocaria uma redução na

oferta de ingressos, representada na próxima Figura pela mudança da curva de oferta S1 para S3. Em caso

contrário, se já se previsse a ocorrência dos eventos na mesma data e o evento religioso por algum motivo

fosse adiado, a curva de oferta se deslocaria para a direita, já que não seria mais necessário trazer seguranças

de outra localidade, fazendo reduzir este custo. O impacto disso pode ser verificado pelo deslocamento da

curva S1 para S2.

Page 28: apostila economia logistica

24

Finalmente, é importante destacar o papel que as expectativas podem ter para a definição da

quantidade ofertada. Se por algum motivo, os produtores de bens e serviços souberem de alguma informação

que possa levar a um aumento da demanda, por exemplo, irão reagir a esta expectativa produzindo um

volume maior de bens e serviços visando atender a esta possível demanda. Os produtores estão sempre

estimando qual será a quantidade demandada para ter condições de atender à demanda de mercado.

Considere, por exemplo, as expectativas de oferta que se formam no meio empresarial no final de cada ano,

motivadas pela festa natalina e recebimento do 13º salário pelo trabalhador.

Equilíbrio de mercado

Com base nas mesmas curvas de demanda e oferta utilizadas, anteriormente, para estimar os preços

e as quantidades desejas pelo público e pela organização do show do Pink Floyd na cidade de São Paulo,

procede-se, agora, à união das duas curvas em um mesmo gráfico.

Note que há um ponto em que as curvas de demanda e de oferta se cruzam. É exatamente neste

ponto em que os interesses dos dois lados se equilibram, já que nele a quantidade que se deseja vender e

consumir é a mesma em um mesmo preço. Verifique, na Figura seguinte, que o preço de equilíbrio e

quantidade de equilíbrio para o show (representado nela como o ponto E) corresponde a $ 250 e 8.000

pessoas.

Para melhor compreensão do ponto de equilíbrio, verifique que se os ofertantes desejassem vender

os ingressos no valor de $ 300, iriam provocar uma situação de excesso de oferta, já que neste preço eles

teriam interesse em vender mais de 8.000 ingressos, porém neste preço não haveria contrapartida da

demanda para esta oferta. Neste caso, seria oferecido um valor excedente de ingressos. Por outro lado, caso

o preço fosse de $ 100, a demanda iria superar em muito a quantidade de ingressos que os produtores do

evento estariam dispostos a vender neste preço, e então seria observada a escassez de ingressos.

Além de identificar qual é o preço de equilíbrio, ao se reunir em um mesmo gráfico as curvas de

demanda e de oferta, torna-se mais fácil identificar qual é o impacto dos deslocamentos das curvas em 3

Page 29: apostila economia logistica

25

relação ao preço e a quantidade. Inicialmente, pode-se identificar qual é o impacto de um deslocamento da

demanda no mercado de café, a partir do anúncio de uma revista cientifica especializada denotando as

qualidades desta bebida como estimulante, representado pela Figura sequinte. Note que um deslocamento

para a direita da curva de demanda, ou seja, a mudança da curva D1 para a D2, faz crescer a quantidade

consumida de Q1 para Q2, que por sua vez provoca, como resposta, a maior demanda para uma mesma

oferta (note que a curva de oferta permanece a mesma), a elevação do preço de P1 para P2.

O processo contrário não está representado nesta Figura, porém é de simples abstração. Imagine

que a demanda por café diminui, mas, como a oferta permanece a mesma, o preço irá reduzir.

Agora, que já se conhece o efeito de um deslocamento da curva de demanda para uma mesma

oferta, compreender o impacto de um deslocamento da oferta para uma mesma demanda se torna mais fácil.

Imagine que há um crescimento na oferta de chip de computador motivado pela descoberta de uma nova

técnica de produção, que traz um grande incremento na produtividade. Supondo que a demanda permaneça a

mesma, verifica-se que haveria uma queda de preços, representada pela Figura a seguir. Note que a curva de

oferta passa de S1 para S2, aumentando a quantidade de Q1 para Q2 e resultando em uma queda de preço de P1

para P2.

Page 30: apostila economia logistica

26

Desta maneira, verifica-se que a interação entre os interesses dos demandantes e dos ofertantes em

uma economia de mercado tende a gerar uma situação em que se encontre um determinado patamar de preço

e quantidade que satisfaça às necessidades de ambos os interesses. Lembre-se que, além do preço do produto

em questão, existem outros fatores que interferem nas decisões dos consumidores e dos vendedores. Porém,

não é o escopo de nosso estudo esmiuçar todas as nuanças que compõem o comportamento dos produtores e

dos demandantes. Tal nível de aprofundamento é o objetivo de estudo de um curso de microeconomia, onde

são apresentados todos os fatores que permeiam o comportamento destes agentes.

Fixação de preço mínimo

É muito comum a fixação de preços mínimos, ou garantia de preços mínimos. Estas medidas visam

proteger os produtores, em geral agrícolas, das flutuações de mercado, ou melhor, defendê-los de uma

possível queda acentuada nos preços de seus produtos.

Antes de analisar o mecanismo de preços mínimos, vamos ver o que ocorria se não houvesse esta

política e as conseqüências disso. Raciocinemos com produtos agrícolas. Em um dado ano, houve uma

grande safra de amendoim e, portanto, haverá uma grande oferta. Os preços de equilíbrio serão baixos e

algumas vezes inferiores ao custo de produção. O que ocorrerá com a receita total dos agricultores? Irá

diminuir. O leitor já deve saber que esta redução não é causada apenas pela queda de preços, mas também

pelo fato de a demanda ser inelástica. Caso fosse elástica, a receita total aumentaria apesar da queda de

preços. Mas, em geral, a procura de produtos agrícolas é inelástica, Temos assim a primeira repercussão. A

renda dos agricultores diminui.

Os produtores, ao verem sua renda diminuir, alterarão seus planos em referência ao próximo ano.

Sentir-se-ão desestimulados a plantar amendoim, e alguns, ou muitos, passarão a plantar cebolas, cujo preço

é alto. A oferta de amendoim do ano seguinte cairá e a de cebolas aumentará. O preço do amendoim sobe.

Haverá escassez no mercado e prejuízo para os consumidores e para a indústria de óleos e outros derivados.

No mercado de cebola dá-se o inverso: os preços caem e a renda dos plantadores se reduz. Talvez no outro

ano a situação se inverta, e assim por diante.

Page 31: apostila economia logistica

27

Para evitar estas flutuações e os prejuízos decorrentes, o governo interfere no mercado e fixa preços

mínimos para o amendoim. Ou seja, garante aos produtores uma dada remuneração mínima. Vamos analisar

esta política por meio de gráficos.

O preço mínimo é M e o preço de equilíbrio é 0 . Como o preço mínimo é inferior ao preço de

mercado, ninguém vai usar esta garantia. De fato, é melhor para o produtor vender diretamente ao mercado,

onde recebe P0 por cada unidade vendida, que recorrer às autoridades para receber PM por cada unidade.

A única vantagem do preço mínimo, nestas circunstâncias, é psicológica. Os produtores estavam

garantidos contra uma queda acentuada no preço.1º caso: preço de equilíbrio do mercado superior ao preço

mínimo

2º caso: preço de mercado inferior ao preço mínimo estabelecido

Neste caso vai surgir um excesso de oferta. Os produtores preferirão vender ao preço M que ao preço

P0 , pois ≥ P0 . A quantidade oferecida a este preço (PM ) será QS . A quantidade demandada seráQ0 . O

excesso de oferta será a difer nç Q

P PM e S - Q0 O governo precisa então intervir neste mercado, podendo fazê-lo por meio de dois

programas:

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28

Programa de compras - O governo compra o excedente ao preço PM. Podemos representar esta

intervenção por meio de um deslocamento para a direita da curva de demanda. A razão para esta

representação é fácil de ser entendida. A curva de procura D neste caso é a curva de procura de mercado.

Com o governo surge mais um elemento procurando o bem. Logo a curva de procura de mercado,

sendo a somatória das curvas de procura individuais, se desloca para a direita. Graficamente teremos:

Programa de subsídio - O governo permite que os preços caiam, mas, para manter a receita dos

produtores, paga a estes um subsídio. Este é a exata diferença entre o preço mínimo e o preço de mercado.

Graficamente temos:

3.2.3 Equilíbrio de mercado

Quando colocamos em contato consumidores e produtores com seus relativos planos de consumo e

produção, isto é, com suas respectivas curvas de demanda e oferta em um mercado particular, podemos

analisar como acontece a interação entre ambos os agentes.

Isoladamente, nem a curva de demanda, nem a curva de oferta poderiam nos dizer até onde podem

chegar os preços ou em que medida os planos dos consumidores e dos produtores são compatíveis. Para isso,

Page 33: apostila economia logistica

29

deve-se realizar um estudo conjunto de ambas as curvas e proceder por tentativa e erro, analisando para cada

preço a possível compatibilidade entre a quantidade vendida e a demandada.

O preço de equilíbrio, e a quantidade oferecida e demandada (comprada e vendida) denomina-se

quantidade de equilíbrio. Costuma-se também dizer que o preço de equilíbrio zera o mercado.

Na situação de equilíbrio igualam-se as quantidades oferecidas e demandadas. Quando o preço é

maior que o de equilíbrio, por exemplo, R$ 7,00 por quilo de laranja, a quantidade que os produtores

desejam oferecer (120 kg) excede à quantidade que os demandantes desejam adquirir (50 kg), ou seja,

provoca um excesso de oferta. E, devido à pressão da mercadoria excedente, que não é vendida, a

concorrência entre os vendedores fará o preço descer até a situação de equilíbrio. Ao contrário, se o preço é

menor que o de equilíbrio, por exemplo, R$ 2,00 por quilo de laranja, a quantidade que o demandante deseja

adquirir (110 kg) é maior que a oferecida pêlos produtores (40 kg), isto é, há excesso de demanda. Nesse

caso, os compradores que não obtiveram a quantidade desejada do produto pressionarão a elevação de

preços até adquirir a quantidade desejada.

O preço de equilíbrio é aquele que coincidem os planos de demandantes ou consumidores e dos

ofertantes ou produtores.

Na visão de Dallagnol (2008), são as forças e os mecanismos de mercado, através das leis da oferta

e da procura, que conduzem à fixação de um preço de equilíbrio, capaz de harmonizar o permanente conflito

de interesses entre os produtores e os consumidores.

O preço de equilíbrio que ajusta os interesses dos que realiza a oferta e dos que exercem a procura é

o resultado de um prolongamento do jogo de ensaios e de erros.

Partindo da hipótese de o mercado está submetido a uma situação de concorrência perfeita, o preço

de equilíbrio será determinado pela livre manifestação das forças da oferta e da procura.

h) No Preço de Equilíbrio, a quantidade procurada se iguala a quantidade oferecida.

i) Graficamente, o equilíbrio ocorre na intersecção das curvas da Procura e da Oferta.

j) Para qualquer preço inferior, haverá excesso de procura e o preço tenderá a aumentar; para

qualquer preço acima do de equilíbrio, haverá um excesso de oferta e o preço tenderá a

baixar.

k) O Preço de Equilíbrio é aquele onde as quantidades procurada e oferecida se igualam.

Quando aquela igualdade não se verifica, diz-se que o mercado não está em equilíbrio ou está em

desequilíbrio.

Page 34: apostila economia logistica

30

Hipóteses relativas a um mercado concorrencial ou competitivo

l) as curvas da procura têm um declive negativo em toda a sua extensão;

m) as curvas da oferta têm um aclive positivo em toda a sua extensão;

n) verifica-se uma alteração do preço, se e só se houver excesso de procura: no sentido da

subida se o excesso de procura for positivo, e no sentido da descida se o excesso de procura

for negativo.

Implicações das hipóteses do mercado concorrencial ou competitivo

o) só pode haver um preço para o qual a quantidade procurada e oferecida se igualam;

p) só ao preço de equilíbrio o preço de mercado é constante;

q) se verificar um deslocamento da curva da procura ou da curva da oferta,

r) também o preço e a quantidade de equilíbrio se alterarão.

As Quatro Leis da Oferta e da Procura

s) Um acréscimo na procura de um bem provoca um acréscimo no preço e quantidade de

equilíbrio.

t) Um decréscimo na procura de um bem provoca um decréscimo no preço e quantidade de

equilíbrio.

u) Um acréscimo na oferta de um bem provoca um decréscimo no preço de equilíbrio e um

acréscimo na quantidade de equilíbrio.

v) Um decréscimo na oferta de um bem provoca um acréscimo no preço de equilíbrio e um

decréscimo na quantidade de equilíbrio.

3.2 UTILIDADE MARGINAL

A utilidade marginal do consumo de um bem é definida como a relação entre o acréscimo na

utilidade do consumidor resultante de um pequeno acréscimo nesse consumo. A utilidade marginal pode ser

entendida como a o acréscimo à utilidade total decorrente de um aumento de uma unidade no consumo de

um bem.

Page 35: apostila economia logistica

31

A lei da utilidade marginal decrescente afirma que com o aumento do consumo de uma

determinada mercadoria, diminui sua utilidade marginal.

3.3 CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

A curva de possibilidades de produção é um recurso que os economistas utilizam para

ilustrar o problema da escassez. Por ser um conhecimento abstrato, vamos fazer uma aproximação do que

seria esta curva numa situação mais próxima da realidade: suponhamos que uma empresa tenha 10 máquinas

e 40 trabalhadores e que tenha apenas dois produtos na sua linha de fabricação: parafuso tipo A e parafuso

tipo B, adicionalmente, suponhamos que a empresa, por um determinado prazo de tempo, não possa mais

comprar máquinas e nem contratar mais trabalhadores adicionais e que não haja nenhuma inovação

tecnológica no processo de fabricação do produto.

Assim, os pressupostos são:

w) os recursos produtivos são fixos ou constantes;

x) o conhecimento tecnológico é constante;

y) somente dois produtos são passíveis de fabricação.

O Diretor da empresa encomenda ao engenheiro responsável pelo Departamento de Produção um

levantamento de quais são as possibilidades de produção da empresa utilizando-se plenamente e da forma

mais eficiente possível todos os fatores de produção da empresa (ou seja, os 40 trabalhadores e as 10

máquinas da empresa). O engenheiro, obedecendo tais ordens, faz o seguinte levantamento de produção:

O gráfico a seguir poderia ser montado para ilustrar as possibilidades de produçãocontidas no mapa

levantado pelo engenheiro, colocando-se no eixo das abscissas aprodução de A e no das ordenadas, a de B.

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32

Figura 1 - Curva de possibilidade de produção

Algumas constatações podem ser tiradas da análise do gráfico da empresa:

z) A produção de parafusos B é mais difícil de ser feita do que a do parafuso A;

aa) Os pontos da curva de possibilidade de produção expressam a quantidade máxima possível

da produção de um dos bens, dada a produção do outro. Por exemplo, se a empresa desejar

produzir 11 unidades do bem A, ela poderá fabricar no máximo, utilizando todos os fatores

de produção da forma mais eficiente possível, 3 unidades do bem B;

bb) Um ponto dentro da curva significa uma produção abaixo ou aquém das

cc) possibilidades da empresa;

dd) Um ponto fora da curva significa uma produção acima ou além das possibilidades de

produção;

ee) O fato mais importante a ser constatado é de que aumentos na produção de um bem, se a

empresa estiver trabalhando em pontos situados na curva de possibilidades de produção, só

poderão ser efetuados à custa de decréscimos na produção do outro.

A eficiência máxima e o pleno emprego são alcançados, portanto, quando se mobilizam todas as

possibilidades de produção da economia; e a escolha das melhores alternativas depende das opções sociais

ou políticas feitas pela própria sociedade ou pelos seus governantes. Sejam quais forem essas opções, haverá

sempre um limite máximo para o seu atendimento, devido à limitação dos recursos, dado que jamais será

possível produzir quantidades infinitas de todos os bens e serviços desejados. (DALLAGNOL, 2008)

Como regra geral, o aumento da produção de dada classe de bens implica, necessariamente, a

redução da produção de uma outra classe, a não ser que tenha ocorrido um aumento nos recursos

acumulados.

Por isso não tem como aumentar a produção de um bem sem sacrificar a do outro, pois qualquer

combinação envolverá custo de oportunidade, ou seja, a transferência dos fatores de produção de um bem A

para produzir um bem B implica em um custo de oportunidade que é igual ao sacrifício de deixar de

produzir parte do bem A para produzir mais do bem B.

Concluindo, Dallagnol (2008) afirma que a escassez de recursos faz com que haja um custo de

oportunidade, quando se opta por certo bem. O deslocamento da curva de possibilidade de produção para a

direita indica que o País está crescendo. Isso pode ocorrer fundamentalmente tanto em função do aumento

da quantidade física de fatores de produção como em função de melhor aproveitamento dos recursos já

existentes, o que pode ocorrer com o progresso tecnológico, maior eficiência produtiva e organizacional das

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empresas e melhoria no grau de qualificação da mão-de-obra. Desse modo, a expansão dos recursos de

produção e os avanços tecnológicos, que caracterizam o crescimento econômico, mudam a curva de

possibilidade de produção para cima e para direita, permitindo que a economia obtenha maiores quantidades

de ambos os bens.

No deslocamento negativo, há um deslocamento da curva de possibilidade de produção para a

esquerda, devido a fatores que influenciam, tais como; pestes, epidemias e guerras que devastam a

população, desarranjos institucionais e depressões econômicas que sucateiam os bens, redução dos

investimentos de formação de capital fixo, o que implica em redução da capacidade produtiva e a prática de

explorações extensivas que resultam em devastação de recursos naturais.

Fatores que causam o crescimento econômico:

ff) Aumento do investimento, sendo que mais bens de investimento tornam os trabalhadores

mais produtivos, para investir mais, as pessoas têm que reduzir seu consumo corrente e

poupar mais, de modo que sua poupança esteja disponível para o investimento;

gg) Inovações surgem quando alguém descobre uma maneira de produzir mais ou melhor a

partir da mesma quantidade de insumos. As inovações em tecnologia, gerenciamento e em

técnicas de mercadologia podem contribuir para o crescimento econômico;

hh) Maior divisão do trabalho, ao longo dos últimos dois séculos, permitiu que os trabalhadores

se tornassem mais produtivos em suas áreas de especialização. A maior divisão do trabalho

também quer dizer que os trabalhadores não estão produzindo para si mesmos, mas para

outras pessoas. Assim, a especialização e o comércio caminham juntos;

ii) Aumento nos insumos, por exemplo, mais trabalhadores, mais máquinas e mais terra.

Um aumento no número de insumos leva a um maior produto e ao crescimento econômico.

3.4 CUSTOS ECONÔMICOS

A Economia trata os custos diferentemente da Contabilidade, que segundo Pindyck e Rubinfeld

(2002, p. 202) “os quais estão preocupados em tratar o desempenho passado das empresas, como ocorre nos

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34

demonstrativos anuais”, ou seja, os contabilistas “tendem a ter uma visão retrospectiva das finanças da

empresa [...] bem como avaliar o desempenho no passado”.

Já os economistas projetam seus esforços nas perspectivas futuras da empresa. Uma das

preocupações da Economia são os Custos Econômicos, que são as oportunidades perdidas de uma empresa.

3.4.1 Custos de Oportunidade

Os custos de oportunidade e os custos econômicos são sinônimos, ou seja, os custos de

oportunidade são aqueles representativos das oportunidades que serão deixadas de lado caso a empresa não

empregue seus recursos de maneira mais rentável. Para Troster e Mochón (1999, p. 12) “custo de

oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de outros bens e serviços a que se deve renunciar para

obtê-lo”.

3.4.2 Custos Irreversíveis

Os custos irreversíveis são aqueles gastos que não podem ser recuperados, eles são visíveis,

contudo deveriam ser ignorados nas tomadas de decisões. Esses custos também representam um outro tipo

de custo fixo, segundo Varian (2000, p. 379) “a pintura é um custo fixo, mas é também um custo

irrecuperável, pois representa um pagamento que, uma vez feito, não pode mais ser recuperado”.

3.4.3 Custo Marginal (CMg) ou Custo Incremental

De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 207) custo marginal “é o aumento de custo

ocasionado pela produção de uma unidade adicional de produto”, ou seja, “é apenas o aumento no custo

variável ocasionado por uma unidade extra de produto”.

Troster e Mochón (1999, p. 106) salientam que o custo marginal “pode expressar-se como a razão

da mudança no custo total ante uma mudança na produção”.

3.4.4 Custo de Uso do Capital

Esse conceito define que o capital investido em um projeto, como por exemplo, a compra de uma

aeronave, possui um custo, dado que este poderia estar gerando uma receita de juros.

Essa receita de juros é justamente o que a economia chama de custo do capital, ou seja, quanto a

empresa deixou de ganhar no mercado financeiro já que ela optou por imobilizar o capital.

4 Teoria De Produção

A Teoria de Produção e a Teoria dos Custos de Produção constituem a chamada Teoria da Oferta

da Firma Individual. Esses temas formam inicialmente tratados pela Teoria Econômica e, com o decorrer do

tempo, formas incorporadas nas áreas da Contabilidade, Engenharia e Administração.

Page 39: apostila economia logistica

35

Os princípios da Teoria da Produção e da Teoria dos Custos de Produção são peças fundamentais

para a análise dos preços e do emprego dos fatores, assim como de sua alocação entre diversos usos

alternativos na economia. Assim sendo, a Teoria da Produção e a Teoria dos Custos de Produção

desempenham dois papéis extremamente importantes:

h) Servem de base para a análise das relações existentes entre produção e custos de produção;

numa economia moderna, cuja tecnologia e processos produtivos evoluem diariamente, o

relacionamento entre a produção e os custos de produção é muito importante na análise da

Teoria da Formação dos Preços;

i) Servem de apoio para a análise da procura da firma com relação aos fatores de produção que

utiliza: para produzirem bens, a empresas dependem da disponibilidade de fatores de

produção.

A Teoria de produção propriamente dita preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre a

quantidade física de produtos (outputs) e de fatores de produção (imputs), enquanto a Teoria dos Custos de

Produção relaciona a quantidade física de produtos com os preços dos fatores de produção. Ou seja, a Teoria

da Produção trata apenas de relações físicas, enquanto a Teoria dos Custos de Produção envolve também os

preços dos insumos.

Este trabalho está dividido em três partes. Na Parte I, apresentamos a Teoria da Produção. Em

seguida, na Parte II, discutimos os conceitos relativos aos custos de produção. Na Parte III, mostramos qual

o nível de produção ideal para maximizar seus lucros dentre do modelo tradicional.

A produção é o processo de transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a

venda no mercado. É importante ressaltar que o conceito de produção não se refere apenas aos bens físicos e

materiais, mas também a serviços, como transportes, atividades financeiras, comércio e outras atividades.

No processo de produção, diferentes insumos ou fatores de produção são combinados, de forma a

produzir o bem ou serviço final. As formas como esses insumos são combinados constituem os chamados

métodos de produção, que podem ser intensivos em mão-de-obra (utilizam mais mão-de-obra em relação a

outros insumos), intensivos em capital ou intensivos em terra etc.

Se, a partir de fatores, for possível produzir um único produto (ou output), teremos um processo de

produção simples, se for possível mais de um produto, teremos um processo de produção múltiplo, ou

produção múltipla.

A escolha do método ou processo de produção depende de sua eficiência pode ser enfocado do

ponto de vista técnico ou tecnológico, ou do ponto de vista econômico.

Um método é tecnicamente eficiente (eficiência técnica ou tecnológica) quando, comparado com

outros métodos, utiliza menor quantidade de insumos para produzir uma quantidade equivalente do produto.

A eficiência econômica está associada ao método de produção mais barato (isto é, os custos de produção são

menores) relativamente a outros métodos.

Page 40: apostila economia logistica

36

O empresário, ao decidir o quê, como e quanto produzir, com base nas respostas do mercado

consumidor, variará a quantidade utilizada dos fatores, para com isso variar a quantidade produzida do

produto a partir da quantidade física utilizada dos fatores de produção num determinado período de tempo.

A função assim definida admite sempre que o empresário esteja utilizando de maneira mais

eficiente de combinar os fatores e, conseqüentemente, obter a maior quantidade produzida do produto. Ou

seja, supomos que a questão da melhor tecnologia de produção já esteja resolvida pela área de Engenharia.

É possível representar a função produção, da seguinte maneira:

q = f(x1,x2,x3,…,xn)

Onde:

q é a quantidade produzida do bem ou serviço, num determinado período de tempo; x1, x2, x3...,xn

identificam as quantidades utilizadas de diversos fatores de produção; f indica que q depende, ou seja, é

uma função da quantidade de insumos utilizados.

Para efeitos didáticos, costuma-se considera-la com uma função de apenas duas variáveis:

q=f(N,K)

Onde:

N= a quantidade utilizada de mão-de-obra;

K= a quantidade utilizada de capital.

Supõe-se que todas as variáveis (q, N, K) são expressas num fluxo no tempo, isto é, consideradas

ao longo de um dado período de tempo (produção mensal, produção anual etc.). Supõe-se também que o

nível tecnológico está dado.

j) Fatores de produção variáveis são aqueles cujas quantidades utilizadas variam quando o

volume de produção varia. Por exemplo: quando aumenta a produção, é necessários mais

trabalhadores e maior quantidade de matérias-primas.

k) Fatores de produção fixos são aqueles cujas quantidades não variam quando o produto

varia. Por exemplo: as instalações da empresa e a tecnologia, que são fatores que só são

alterado a longo prazo.

A análise microeconômica considera dois tipos de relações entre a quantidade produzida e

quantidade utilizada dos fatores:

l) Na função de produção, quando alguns fatores, são considerados fixos e outros variáveis,

identifica-se o que a teoria denomina uma situação de curto prazo. Ou seja, curto prazo e o

período de tempo pelo menos um fator de produção se mantém fixo. Nesse sentido, o curto

prazo para uma siderúrgica será maior que o curto prazo para uma padaria, já que as

instalações de uma siderúrgica demandam mais tempo para ser alteradas do que as

instalações de uma padaria.

m) Quando todos os fatores da função de produção são considerados variáveis, identifica-se

uma situação de longo prazo.

A seguir desenvolvemos a Teoria da Produção de acordo com as duas situações acima: curto e

longo prazo.

Page 41: apostila economia logistica

37

4.1 ANÁLISE DE CURTO PRAZO

Tomemos uma função de produção simplificada, ou seja, com apenas dois fatores (um fixo e outro

variável);

q=f(N, K)

Onde:

q = a quantidade;

N = mão de obra

K = capital (fator fixo).

Nesse caso, a quantidade produzida, para que possa variar, dependerá da variação da quantidade

utilizada do fator variável, mão-de-obra. Podemos então expressar a função produção simplesmente como

q=f(N)

4.1.1 Conceitos de Produto Total, Produtividade Média e Produtividade Marginal.

n) Produto total: É a quantidade do produto que se obtém da utilização de fator variável,

mantendo-se fixa a quantidade dos demais fatores.

o) Produtividade média do fator: É o resultado do quociente da quantidade total produzida

pela quantidade utilizada desse fator. Temos então:

p) Produtividade média da mão-de-obra:

q) Produtividade média do capital:

r) Produtividade marginal do fator: É a relação entre as variações do produto total e as

variações da quantidade utilizada do fator. Ou seja, é a variação do produto total quando

ocorre uma variação no fator de produção.

s) Produtividade marginal da mão-de-obra

t) Produtividade marginal do capital:

u) Especificamente no caso da agricultura, podemos definir também a produtividade do fator

terra (área cultivada). Temos então:

v) Produtividade média da terra:

1 𝑧

Page 42: apostila economia logistica

38

w) Produtividade marginal da terra:

rea cultivada

4.1.2 Lei dos Rendimentos Decrescentes

Um dos conceitos mais conhecidos entre os economistas, dentro da Teoria da Produção, é o da Lei

ou Princípio dos Rendimentos Decrescentes, que pode ser assim enunciado: elevando-se a quantidade do

fator variável, permanecendo fixa a quantidade dos demais fatores, a produção inicialmente aumentará a

taxas crescentes; a seguir, depois de certa quantidade utilizada do fator variável, continuará a crescer, mas a

taxas decrescentes (ou seja, com acréscimos cada vez menores); continuando o incremento da utilização do

fator variável, a produção total chegará a um máximo, para depois decrescer.

Exemplo: considerando-se dois fatores terra (fixo) e mão-de-obra (variável), podemos verificar que,

se várias combinações de terra e mão-de-obra forem utilizadas para produzir arroz e se a quantidade de terra

for mantida constante, os aumentos da produção dependerão do aumento da mão-de-obra utilizada na

lavoura. Nesse caso, a produção de arroz aumentará até certo ponto e depois decrescerá, isto é, a maior

quantidade de homens para trabalhar, associada à área constante de terra, permitirá que a produção cresça

até um máximo e depois passe a decrescer. Como a proporção entre os fatores fixos e variáveis se alterando,

quando aumenta a produção, essa Lei também é chamada de Lei das Proporções Variáveis.

O quadro a seguir ilustra os conceitos acima definidos:

Terra (fator fixo)

(alqueires)

(1)

Mão-de-obra

(fator variável)

(em milhares de

trabalhadores)

(2)

(Produto total)

(toneladas)

(3)

Produtividade

média da mão-de-

obra

(toneladas)

(4) = (3) : (2)

Produtividade

marginal da mão-de-

obra

(toneladas)

(5)=variação em (3)

variação em

(2)

10

10

10

10

10

10

10

10

10

1

2

3

4

5

6

7

8

9

6

14

24

32

38

42

44

44

42

6.0

7.0

8.0

8.0

7.6

7.0

6.2

5.4

4.6

6

8

10

8

6

4

2

0

-2

O quadro foi construído colocando-se, arbitrariamente, números no exemplo dado, para as três

primeiras colunas. Os valores das últimas colunas decorrem das anteriores.

Verifica-se que, de início, podem ocorrer rendimentos crescentes, isto é, os acréscimos de

utilização do fator variável, provocam incrementos na produção. A partir da quarta unidade de mão-de-obra

incluída no processo produtivo, começam a surgir os rendimentos decrescentes. A oitava associada a 10

unidades do fator fixo terra, maximiza o produto (44 unidades). A produtividade marginal dessa oitava

Page 43: apostila economia logistica

39

unidade é nula. Daí por diante, cada unidade do fator variável mão-de-obra, associada às 10 unidades do

fator fixo, passará a ser ineficiente, ou seja, sua produtividade marginal torna-se negativa.

Tais relações permitem o traçado dos seguintes gráficos, cujos se devem à Lei dos

Rendimentos Decrescentes:

Como pode ser observada, a curva do produto inicialmente sobe a taxas crescentes, depois a taxas

decrescentes até atingir seu máximo; em seguida, decresce. As curvas de produtividade média e marginal

são construídas a partir da curva do produto total.

A Lei dos Rendimentos Decrescentes é tipicamente um fenômeno de curto prazo, com pelo menos

um insumo fixo. Se, o exemplo anterior, a quantidade de terra também fosse variável (por exemplo, passasse

de 10 para 15 alqueires), o produto total teria um comportamento completamente diferente. Se isso ocorrer,

sairemos de uma análise de curto prazo e entraremos na análise de longo prazo, pois também o fator capital

variará.

Ao nível de uma firma individual, não é fácil imaginar que um empresário racional permita que a

situação a ponto de o produto marginal negativo. Antes que isso ocorra, ele por certo procurará investir em

novas instalações, ou comprar mais máquinas.

Page 44: apostila economia logistica

40

A nível agregado, existe um exemplo clássico na literatura econômica, denominado desemprego

disfarçado, que pode ser verificado em agriculturas de subsistência, em países subdesenvolvidos. São

agriculturas não voltadas ao mercado (por exemplo, a roça), com famílias numerosas, de sorte que a retirada

de parte dessa população do campo não provocaria queda do produto agrícola (ou seja, a produtividade

marginal na mão-de-obra é nula). A transferência desse tipo de mão-de-obra para as regiões urbanas, embora

em atividades de pouca qualificação, pode ser um dos primeiros requisitos para que um país inicie um

processo de industrialização e de crescimento econômico.

4.2 ANÁLISE DE LONGO PRAZO

A hipótese de que todos os fatores são variáveis caracteriza a análise de longo prazo.

A função de produção simplificada, considerando a participação de apenas dois fatores de

produção, é representada da seguinte forma:

q = f(N, K)

A suposição de que todos os fatores de produção têm uma variação, inclusive o tamanho da

empresa, dá origem aos conceitos de economias ou deseconomias de escala.

4.3 ECONOMIAS DE ESCALA OU RENDIMENTOS DE ESCALA

Os rendimentos de escala ou economias de escala representam a resposta da quantidade

produzida a uma variação da quantidade utilizada de todos os fatores de produção, ou seja, quando a

empresa aumenta seu tamanho.

Os rendimentos de escala podem ser.

x) Os rendimentos crescentes de escala (ou economias de escala): Ocorrem quando a

variação, na quantidade do produto total é mais do que proporcional à variação da

quantidade utilizada dos fatores de produção. Por exemplo, aumentando-se utilização dos

fatores em 10%, o produto cresce 20%. Equivale a dizer que a produtividade dos fatores

aumentou. Pode-se apontar como causas geradoras dos rendimentos crescentes de escala:

a. Maior especialização no trabalho, quando a empresa cresce;

b. A existência de indivisibilidades entres os fatores de produção (por exemplo, numa

siderúrgica, como não existe : “meio forno”; quando se adquire mais um forno, deve

ocorrer um grande aumento na produção).

y) Rendimentos constantes de escala: Ocorrem quando a variação do produto total é

proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção: aumentando-se a

utilização dos fatores em 10%, o produto também aumenta em 10%.

z) Rendimentos decrescentes de escala (ou deseconomias de escala): Ocorrem quando a

variação do produto é menos do que proporcional à variação do produto é menos do que

proporcional à variação na utilização dos fatores: por exemplo, aumenta-se a utilização dos

fatores em 10% e o produto cresce em 5%. Houve, nesse caso, uma queda na produtividade

dos fatores.

A causa geradora dos rendimentos decrescentes de escala reside no fato de que o poder de decisão e

a capacidade gerencial e administrativa são: “indivisíveis e incapazes de aumentar”; ou seja, pode ocorrer

Page 45: apostila economia logistica

41

uma descentralização nas decisões que faça com que o aumento de produção obtido não compense o

investimento feito na ampliação da empresa.

4.4 CUSTOS TOTAIS DE PRODUÇÃO

Conhecidos os preços dos fatores, é sempre possível determinar um custo total de produção ótimo

para cada nível de produção. Assim, define se custo total de produção como total das despesas realizadas

pela firma com a utilização da combinação mais econômica dos fatores, por meio da qual é obtida uma

determinada quantidade do produto.

Os custos totais de produção (CT) são divididos em custos variáveis totais (CVT) e custos fixos

totais (CFT):

CT = CVT + CFT

aa) Custos fixos totais (CFT) – Correspondem à parcela dos custos totais que independem da

produção. São decorrentes dos gastos com os fatores fixos de produção. Por exemplo,

alugueis, iluminação etc. Na contabilidade empresarial são também chamados de custos

indiretos.

bb) Custos variáveis totais (CVT) – Parcela dos custos totais que depende da produção e por

isso muda com a variação do volume de produção. Representam as despesas realizadas com

os fatores variáveis de produção. Por exemplo: folha de pagamentos, gastos com matérias-

primas etc. Na contabilidade privada, são chamados de custos diretos.

Como na Teoria da Produção, a análise dos custos de produção também é dividida em curtos

prazos.

cc) Custos totais de curto prazo: São caracterizados pelo fato de serem compostos por

parcelas de custos fixos e de custos variáveis.

dd) Custos totais de longo prazo: São formados unicamente por custos variáveis. Ou seja, ao

longo prazo, não existem fatores fixos.

4.4.1 Custos de curto prazo

Suponhamos que uma firma realize sua produção por meio da utilização de fatores fixos e

variáveis. Consideremos, a título de exemplo, a existência de apenas um fator fixo identificado pelo tamanho

ou dimensão da firma, e de um fator variável: mão-de-obra.

Assim, essa firma só poderá aumentar ou diminuir sua produção por meio da utilização do fator

mão-de-obra, uma vez que seu tamanho é constante, não podendo ser aumentado ou diminuído e curto

prazo.

Como o custo fixo total permanece inalterado, o custo total de curto prazo variará apenas em

decorrência de modificações no custo variável total.

4.4.2 Custos Médios e Marginais

ee) Custo total médio (CTMe ou Cme): É obtido por meio do quociente entre o custo total e a

quantidade produzida:

Page 46: apostila economia logistica

42

𝑧

Ou seja, é o custo por unidade produzida, também chamada custo unitário.

ff) Custo variável médio (CVMe): É quociente entre o custo variável total e a quantidade

produzida:

𝑧

gg) Custo fixo médio (CFMe): É o quociente entre o custo fixo total e a quantidade produzida.

𝑧

hh) Custo marginal (CMg): É dado pela variação do custo total em resposta a uma variação da

quantidade produzida:

𝑧

Como o custo fixo total não se modifica com as variações da produção, a curto prazo, o custo

marginal é determinado apenas pela variação do custo variável total.

4.4.3 Formato das Curvas de Custos: a Lei dos Custos Crescentes

Para verificar o formato das curvas de custos, vamos utilizar os dados da tabela a seguir.

Tabela 1 - custos de produção

Produç

ão total

(Q/dia)

Custo

fixo

total

(CFT)

R$

Custo

variável

total

(CVT) R$

Custo total

(CT)

R$

Custo fixo

médio

(CFMe)

R$

Custo

variável

médio

(CVMe)

R$

Custo

médio

(CMe)

R$

Custo marginal

(CMg) R$

variação em (4)

variação em (1)

(1) (2) (3) (4) = (2) + (3) (5) = (2) : (1) (6) = (3) : (1) (7) = (4) : (1)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

10.00

0

5.00

8.00

10.00

11.00

13.00

16.00

20.00

25.00

31.00

38.00

46.00

10.00

15.00

18.00

20.00

21.00

23.00

26.00

30.00

35.00

41.00

48.00

56.00

_

10.00

5.00

3.33

2.50

2.00

1.67

1.43

1.25

1.11

1.00

0.91

_

5.00

4.00

3.33

2.75

2.60

2.67

2.86

3.13

3.44

3.80

4.18

_

15.00

9.00

6.67

5.25

4.60

4.33

4.28

4.38

4.56

4.80

5.09

_

5.00

3.00

2.00

1.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

Page 47: apostila economia logistica

43

A partir dos dados da tabela, temos os seguintes formatos das curvas de custos:

Figura 2 - curva de custos

Figura 3 - curva de custos

Como podemos observar nos gráficos, com o aumento do volume produzido, os custos totais, com

exceção dos custos fixos, só podem crescer. Os custos médio e marginal, entretanto, podem ser decrescentes

numa certa etapa do processo de produção.

O custo variável médio, o custo total médio e o custo marginal têm todos o formato em U, primeiro

decrescem, para depois crescer. Isso porque, no início do processo de produção, a empresa trabalha com

reservas de capacidade (muito capital e pouca mão-de-obra). Assim, os custos totais crescem menos que a

Page 48: apostila economia logistica

44

produção, fazendo com que os custos médios e marginais decresçam (o “denominador” cresce mais que o

“numerador”).

Após um certo nível de produto, os custos totais passam a crescer mais que o aumento da produção,

e os custos médios e marginais passam a ser crescentes.

Essa é a chamada Lei dos Custos Crescentes, que no fundo é a Lei dos Rendimentos Decrescentes,

da Teoria da Produção, aplicada à Teoria dos Custos da Produção.

4.4.4 Custos de longo prazo

Conforme observado, uma situação de longo prazo caracteriza-se pelo fato de todos os fatores de

produção serem variáveis, inclusive o tamanho ou dimensão da empresa. Ou seja, os custos totais

correspondem aos custos variáveis, uma vez que não existem custos fixos ao longo prazo.

É importante saber que o comportamento do custo total e do custo médio de longo prazo está

intimamente relacionado ao tamanho ou dimensão da planta escolhida para operar em longo prazo.

Tamanho como exemplo a curva de Custo Médio de Longo Prazo (CMeL), ela também terá um

formato em U, como o custo médio de curto prazo, devido à existência de rendimentos ou economias de

escala, pois o tamanho da empresa está variando em cada ponto da curva. No gráfico abaixo, até o ponto A,

o aumento da produção da empresa leva a uma diminuição do custo médio (existem ganhos de

produtividade), relevando rendimentos decrescentes ou deseconomias de escala.

Figura 4 - custo médio de longo prazo

Dessa forma, o formato em U da curva de custo médio de longo prazo deve-se às economias de

escala, com todos os fatores de produção variando, incluindo o próprio tamanho ou escala da empresa,

enquanto o formato em U do custo médio de curto prazo deve-se à lei dos custos crescentes (Lei dos

Rendimentos Decrescentes), que supões um fator fixo de produção.

4.4.5 A Receita total

O lucro total (LT) é o máximo quando a diferença entre a receita total (RT) e o custo total (CT) for

a maior possível.

Page 49: apostila economia logistica

45

Em termos de gráficos, a receita total de uma empresa em concorrência perfeita é representada por

uma reta que passa pela origem e cuja inclinação é dada pelo preço de mercado do bem X.

Assim:

RT = P.Q

P = preço de mercado

Q = quantidade vendida

Se o preço de mercado do bem X for $5,00, no caso da Cia. ALPHA,a receita total para uma

produção possível que varie de zero a dez unidades será:

Preço de Mercado (SP) Quantidade Vendida (Q) RECEITA TOTAL (RT)

(1) (2) (3) = (1) x (2)

5,00

5,00

5,00

5,00

5,00

5,00

5,00

5,00

5,00

5,00

5,00

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

50,00

Representando a receita total num gráfico, ter-se-ia:

A inclinação da reta, da por ⁄ , é constante e igual a 5, pois cada unidade a mais

vendida rende $ 5,00 para a empresa.

4.4.6 A Receita Marginal

A receita marginal (RMg) é o acréscimo na receita total decorrente da venda de uma unidade

adicional do bem X.

Num mercado de concorrência perfeita, a receita marginal é igual ao preço do bem X (P), pois

sendo este fixo, cada unidade vendida a mais proporciona ao produtor um acréscimo de receita exatamente

igual ao preço.

No caso da Cia. ALPHA. RMg = P = $ 5,00

Q Receita Social Receita Marginal

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

5,00- 0,00 = 5,00

10,00- 5,00 = 5,00

15,00- 10,00 = 5,00

20,00- 15,00 = 5,00

25,00- 20,00 = 5,00

30,00- 25,00 = 5,00

35,00- 30,00 = 5,00

40,00- 35,00 = 5,00

45,00- 40,00 = 5,00

Page 50: apostila economia logistica

46

10 50,00 50,00- 45,00 = 5,00

A representação gráfica de RMg é de uma reta paralela ao eixo da quantidades:

MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS

A Teoria Microeconômica tradicional (também chamada Teoria Neoclássica ou Teoria

Marginalista) parte da premissa de que as empresas têm como objetivo maior a maximização de lucros, seja

a curto ou a longo prazo. Define-se Lucro total como a diferença entre as receitas de vendas da empresa e

seus custos totais de produção. Assim:

LT = RT-CT

onde

LT = lucro total;

RT = receita total de vendas;

CT = custo total de produção.

A empresa, desejando maximizar seus lucros, escolherá o nível de produção para o qual a diferença

positiva entre RT e CT seja a maior possível (máxima).

Define-se como Receita Marginal (RMg) o acréscimo da receita total da empresa quando esta

vende uma unidade adicional de seu produto. Custo Marginal (CMg), como vimos, e o acréscimo do custo

total de produção da empresa quando esta produz uma unidade adicional de seu produto.

Pode-se demonstrar que a empresa maximizará seu lucro num nível de produção tal que a receita

marginal da última unidade produzida seja igual ao custo marginal desta última unidade produzida:

RMg = CMg

O raciocínio da maximização é o seguinte: suponhamos que a empresa num ponto de produção

onde a receita marginal supera o custo marginal (RMg > CMg). Nesse caso, o empresário terá interesse em

aumentar a produção, porque cada unidade adicional fabricada aumenta seus lucros, já que sua receita

marginal é maior que o custo marginal. Suponhamos agora, num outro nível de produção, RMg < CMg. O

empresário terá interesse em diminuir a produção, pois cada unidade adicional que deixa ser fabricada

aumenta seus lucros, já que seu custo marginal é maior que a receita marginal. Por via de conseqüência, o

empresário fabricará a quantidade de seu produto no ponto em que RMg = CMg, pois nesse caso seu lucro

total será máximo.

A tabela a seguir permite comprovar essas observações:

Page 51: apostila economia logistica

47

Produç

ão e

vendas

(por

dia)

Custo

total

(CT)

R$

Preço

unitário

de

mercado

(P)

R$

Receita total

(RT)

R$

Lucro total

(LT)

=RT – CT

R$

Custo

Marginal

(CMg)

R$

(6)= variação em (2)

variação em (1)

Receita marginal

(RMg)

R$

(7) =variação em

(4)

variação em

(1)

(1) (2) (3) (4) = (3) x (1) (5) = (4) – (2)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

10.00

15.00

18.00

20.00

21.00

23.00

26.00

60.00

35.00

41.00

48.00

56.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

0

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

40.00

45.00

50.00

55.00

-10.00

-10.00

-8.00

-5.00

-1.00

2.00

4.00

5.00

5.00

4.00

2.00

-1.00

_

5.00

3.00

2.00

1.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

_

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

5.00

Figura 5 - maximização do lucro total

(*) Supondo uma firma em um mercado de concorrência perfeita.

Ao nível de produção de 8 unidades, quando RMg = CMg, tem-se o lucro máximo no valor de R$

5,00

QUESTIONÁRIO

jj) Qual a função da curva de possibilidade de produção?

kk) Quais são os pressupostos da curva de possibilidade de produção?

ll) O que é necessário para o crescimento econômico?

mm) Caracterize concorrência perfeita, monopólio, monopsônio, oligopólio, oligopsônio e

concorrência imperfeita.

nn) Quais são os custos a ser relevados?

oo) Como são definidos os preços de cada bem ou serviço?

pp) Quais são os papeis da teoria da produção?

qq) Caracterize o que são os fatores fixos e variáveis de produção?

rr) Qual a diferença de curto e longo prazo?

ss) O que é a lei dos rendimentos decrescentes?

tt) Caracterize os rendimentos de escala.

uu) Qual será o ponto máximo da maximização de lucro de uma empresa?

5 ECONOMIA INDUSTRIAL

Page 52: apostila economia logistica

48

5.1 ECONOMIA DE ESCALA E ESCOPO

Nos estudos econômicos abordados pela Organização Industrial – OI, a economia de escala,

segundo Farina (2000), existe quando o custo unitário decresce com o aumento da capacidade de produção.

Desta forma esta pode ser obtida com ganhos na negociação e compra de maior volume de matéria-prima;

produção, por meio de maior produtividade a partir de um volume maior produzido por planta; e,

distribuição, pela redução dos custos logísticos e de propaganda por volume negociado.

Segundo Porter (1989) as economias de escala surgem devido à habilidade de executar atividades

de forma diferentes e mais eficientes em um volume maior. Economias de escala refletem não somente a

tecnologia utilizada em determinado processo produtivo, como também a maneira como a empresa escolhe

operá-la. Conforme Farina (2000), Kupfer e Hasenclever (2002) existem quatro tipos especiais de

economias de escala:

vv) ganhos de especialização: que gera ganhos de produtividade exigi uma escala mínima de

capacidade produtiva para que seja possível a divisão do trabalho, desse modo, os

trabalhadores adquirirão uma maior habilidade e especialidade em suas funções e, com

máquinas especializadas, maior será a sua produtividade;

ww) economia de escala por indivisibilidade técnica que esta relacionada com o tamanho

dos equipamentos industriais. Embora os equipamentos possam ser aumentados em

quantidade, caso a produção exigir, não é possível dividi-los, uma vez que suas unidades

estão definidas discretamente. Por isso, nem sempre é possível comprar equipamentos com

um tamanho exato para produzir a quantidade de produto necessária. Desse modo, as

possíveis subutilizações geradas do equipamento podem servir para uma futura expansão

produtiva;

xx) economia denominada de “economias geométricas” está também relacionada ao tamanho do

equipamento industrial. Para alguns tipos de produtos, a mais importante fonte de

economias de escala ao nível da planta decorre da expansão do tamanho individual das

unidades processadoras, fazendo com que o produto destas unidades venha a ser

proporcional ao volume da unidade, enquanto que o custo associado à produção seja

proporcional à área da superfície das unidades processadas;

yy) economia de escala relacionadas a lei dos grandes números, segundo os autores isto pode

acontecer em uma empresa pequena, que utiliza apenas uma máquina e deverá manter duas

máquinas para se precaver de possíveis problemas de defeitos. Já nas empresas maiores, que

utilizam um grande número de máquinas, deve manter como reserva, apenas uma proporção

das máquinas utilizadas, ao invés, da mesma proporção necessária para a empresa pequena.

A economia de escopo se refere aos ganhos com a produção de itens diferentes na mesma fábrica.

Isso acontece, quando as alternativas de expansão do mercado, como a diferenciação e a segmentação de

mercado, mostrarem-se insuficientes para o potencial de crescimento de uma empresa, sua opção pode recair

sobre a diversificação (Azevedo, 2000). Um elemento fundamental na orientação de estratégias de

diversificação são as economias de escopo, definida pela redução do custo conjunto de produção de

diferentes produtos, normalmente derivada da utilização comum de um mesmo conjunto de recursos.

Segundo Farina (2000), “quando ativos produtivos (físicos ou humanos) são compartilhados entre diferentes

produtos, podem surgir vantagens de custo multiproduto.

Page 53: apostila economia logistica

49

Existem economias de escopo quando a produção conjunta de dois ou mais produtos resulta em

custo menor do que a produção independente de cada uma destes mesmos produtos”. Isto ocorre em função

da presença de insumos compartilhados.

Nesse sentido, Kupfer e Hasenclever (2002) complementam que a maior parte das plantas

industriais produz vários produtos, cada uma delas como sua própria estrutura de custos. Neste caso, o custo

de produção de um produto em particular depende não somente do seu próprio volume de produção, mas

também do tamanho da planta, onde o produto é feito. Assim, para o autor, uma possível razão para a

produção conjunta, isto é, produção de mais de um produto numa mesma planta, é a existência de economias

de escopo.

Significa dizer, que o custo de produzir dois produtos conjuntamente é menor do que o custo de

produzi-los separadamente. Isso ocorre quando as empresas conseguem reduzir seus custos médios com a

diversificação de produtos, pois o aumento da variedade no portifólio provoca uma redução em seu custo

médio.

Desta forma a combinação de economia de escala e da economia de escopo podem gerar as

chamadas economias de escala multiproduto, que aparece quando a tecnologia caracteriza-se pela presença

de indivisibilidade e flexibilidade (Farina, 2000).

5.2 INTEGRAÇÃO VERTICAL

Integração vertical ocorre quando diferentes processos de produção - desde o insumo até a venda

final ao consumidor - que podem ser produzidos separadamente, por várias firmas, passam a ser produzidos

por uma única firma. A integração vertical pode ocorrer entre dois ou mais processos contínuos de produção,

onde o produto de um processo é o insumo para o outro subsequente. Ao estágio que produz o insumo para o

subsequente se denomina processo "upstream"; e àquele que emprega o insumo do processo imediatamente

anterior se denomina processo "downstream".

Segundo Perry (1989), uma firma pode ser descrita como verticalmente integrada se ela envolve

necessariamente dois processos de produção em que (1) a produção total do processo upstream é empregada

ou em parte ou totalmente como a quantidade de um insumo intermediário dentro do processo donwstream;

ou quando (2) a quantidade total de um único insumo intermediário que é utilizado em um processo

donwstream é obtida, em parte ou totalmente, da produção do processo upstream.

A integração vertical pode ocorrer de forma parcial, e isto acontece quando parcela da produção do

processo upstream é vendida para outros compradores, e parcela do insumo intermediário necessário ao

processo downstream é comprada de outros fornecedores.

Integração vertical significa a eliminação de trocas contratuais ou de mercado e sua substituição

pela troca interna dentro dos limites da firma. É também um instrumento de propriedade e de total controle

sobre estágios vizinhos de produção ou distribuição. De modo particular, a firma verticalmente integrada

Page 54: apostila economia logistica

50

tem uma completa flexibilidade de tomar as decisões sobre o investimento, o emprego, a produção e a

distribuição de todos os estágios que a firma possuir.

Autores como Grosman e Hart (1986) argumentam que a integração vertical é a propriedade e o

completo controle sobre os ativos, e que a natureza da relação da firma com o trabalhador não é relevante

para definir integração vertical. Já Williamson (1975), Cheung (1983), entre outros, têm enfatizado a relação

com o trabalho na discussão sobre integração vertical. Para eles, a integração vertical assume a mudança da

compra de insumo pela sua produção através da contratação de trabalhadores. O fator capital, segundo estes

últimos, não é suficiente para definir integração vertical, uma vez que o arrendamento do capital pode

significar o controle sobre a produção mas não a sua propriedade. No entanto, nenhuma destas visões prevê

uma completa descrição da integração vertical. Integração vertical é o controle sobre o processo integral de

produção e de distribuição, mais que o controle sobre qualquer insumo em particular no interior de cada

processo.

Outro tipo de relação entre firmas é aquela denominado por Blois (1972) como "quase-integração

vertical", que é definida como uma relação financeira entre firmas em estágios vizinhos de produção, onde o

relacionamento não precisa envolver o controle sobre as decisões de produção e distribuição.

A integração vertical pode surgir em várias maneiras: formação vertical; expansão vertical e fusão

vertical. E existem três tipos de determinantes para o processo de integração vertical: tecnológico,

imperfeição nos mercados e economia nos custos de transação.

5.3 INTEGRAÇÃO HORIZONTAL

Em microeconomía e direção estratégica, a integração horizontal é uma teoria de propriedade e

controle. É uma estratégia utilizada por uma corporação que procura vender um tipo de produto em

numerosos mercados. Para atingir esta cobertura de mercado, criam-se multidão de empresas subsidiarias. A

cada uma comercializa o produto para um segmento de mercado ou para uma área diferente. Isto é o que se

chama integração horizontal de marketing. A integração horizontal de produção produz-se quando uma

companhia tem plantas em diferentes pontos produzindo produtos similares. É bem mais comum a

integração horizontal em marketing, que em produção. Contrasta com a integração vertical.

Um monopólio criado através de integração horizontal chama-se monopólio horizontal.

Um exemplo

A GAP Inc. corporação de venda de produtos têxteis constitui um bom exemplo de um negócio que

pratica a integração horizontal. GAP Inc. controla três companhias diferentes, Banana Republic, Old Navy, e

a marca GAP propriamente dita. A cada companhia possui lojas que vendem prendas desenhadas a satisfazer

as necessidades de diferentes grupos. Banana Republic vende roupa a mais alto custo com uma imagem de

faixa alta, as lojas GAP vendem roupa de preços moderados que se dirijam a homens e mulheres de todas as

idades e Old Navy vende prendas baratas orientadas especialmente a meninos e jovens, sem excluir o resto

Page 55: apostila economia logistica

51

de idades. Utilizando estas três companhias, GAP Inc. tem tido muito sucesso controlando um amplo

segmento da venda minoria no sector têxtil.

No final dos anos 90 o sector financeiro experimentou uma importante integração horizontal, com

muitas fusões entre companhias em bancos de clientes, de investimento e companhias de seguros.

QUESTIONÁRIO

a) O que é economia de escala, escopo e escapa multiponto?

b) Quais são as teorias que norteiam a valoração de um produto? Descreva-as.

c) Defina integração Vertical e horizontal?

6 MACROECONOMIA

6.1 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO

O Sistema Financeiro Brasileiro é composto por um conjunto de órgãos e instituições – bancos,

comissões, secretarias e entidades administradoras de recursos – com funções normativas, de regulação e

fiscalização, e de intermediação financeira. A composição deste sistema apresenta o CMN – Conselho

Monetário Nacional – como órgão que fixa as diretrizes das políticas monetária, cambial e creditícia, bem

como regula a constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras do país.

No organograma síntese do Sistema Financeiro Brasileiro, conforme o Quadro 3, o Banco Central

do Brasil figura como uma instituição vinculada à estrutura normativa do CMN, com função de regulação e

fiscalização deste sistema, ao lado de outras instituições.

O Banco Central é a principal Autoridade Monetária do país, cuja competência pode ser verificada

pelas funções que exerce, dentre as quais:

zz) executar e acompanhar as políticas monetária e de comércio exterior;

aaa) controlar as operações de crédito e o nível das taxas de juros;

bbb) organizar, disciplinar e fiscalizar o Sistema Financeiro Nacional;

ccc) emitir papel-moeda e moeda metálica;

ddd) realizar operações de redesconto de liquidez e de mercado aberto;

eee) receber os depósitos obrigatórios e voluntários dos bancos; e

fff) controlar os capitais estrangeiros e as operações com moedas estrangeiras.

Page 56: apostila economia logistica

52

O Banco Central, como gestor da política monetária, tem funções de controlar a liquidez do sistema

financeiro. Neste sentido, exerce as funções básicas de emissor de moeda, banco do Tesouro Nacional e do

sistema bancário e depositário de reservas internacionais do país.

Integram, também, o Sistema Financeiro Brasileiro, os intermediários financeiros. Várias

instituições exercem esta função: bancos públicos e privados; sociedades de crédito, financiamento e

investimento; e outras instituições auxiliares, como a bolsa de valores e corretoras de títulos mobiliários.

Dentro das instituições representativas que compõem os intermediários financeiros, destacam-se o

Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O primeiro constitui a maior

instituição financeira da América Latina, atuando em mais de duas dezenas de países e possuindo pouco

mais de quatro mil agências e cerca de quinze mil postos de atendimento. Apesar de atuar com funções,

primordialmente, de banco comercial, opera nas atividades de compensação de cheques e de administração

do comércio exterior do país. O segundo banco figura como o principal banco de desenvolvimento do país e

repassador de recursos para os bancos regionais de desenvolvimento. As principais funções exercidas por

este banco são: financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos, apoio às exportações e estímulo

à formação de capital das empresas, entre outras.

Page 57: apostila economia logistica

53

6.2 MOEDA

6.2.1 História

Ao lado do capital e da especialização, a moeda é um terceiro aspecto da vida econômica moderna.

A importância da moeda é ressaltada quando se imagina uma economia de escambo, onde uma espécie de

mercadoria é trocada diretamente por outra. Teria que haver dupla coincidência de necessidades, de tal

forma que, um alfaiate faminto encontrasse um agricultor que tivesse, ao mesmo tempo, comida e o desejo

de possuir um terno novo; caso contrário, não haveria negócio.

O escambo já representa um grande avanço sobre a situação em que cada homem teria de ser um

"homem dos sete instrumentos" e um perito em coisa alguma. Todavia, o puro escambo se realiza sob tão

grandes desvantagens, que não seria concebível divisão do trabalho, altamente elaborada, sem a introdução

de um segundo grande progresso: o uso da moeda.

Em quase todas as culturas, os homens não trocam mercadorias, mas vendem uma delas por moeda

e, então, usam a moeda para comprar as mercadorias que desejam.

A moeda é uma das maiores invenções da humanidade e tem na economia quatro funções básicas:

meio de troca, reserva de valor, unidade de conta e padrão para pagamentos diferidos no tempo. Como meio

de troca ela facilita enormemente os negócios. Para que seja aceita deve manter o seu poder de compra ao

longo do tempo e também ser facilmente reconhecida, divisível e transportável.

Como unidade de conta reduz sensivelmente o esforço de se conhecer todos os preços relativos

entre si, pois basta conhecê-los em relação à moeda.

Suponha-se uma economia sem moeda e com três produtos: milho, alho, arroz e verduras. Admita-

se o seguinte sistema de preços: 1 tonelada de milho equivale a 2 toneladas de arroz, que, por sua vez,

equivale a 4 toneladas de verduras. Uma vez que existem três produtos e que o preço de cada um deve ser

expresso em termos dos outros dois, as pessoas deveriam ter em mente um total de seis preços:

Preço do milho em termos de arroz - 1 ton. = 2 ton.

Preço do milho em termos de verduras - 1 ton. = 4 ton.

Preço do arroz em termos de milho - 1 ton. = 112 ton.

Preço do arroz em termos de verdura - 1 ton. = 2 ton.

Preço das verduras em termos de milho - 1 ton. = 114 ton.

Preço das verduras em termos de arroz - 1 ton. = 112 ton.

Isto parece criar muita confusão e na economia existem milhares de produtos. Como ter em mente

todos os preços relativos?

Para simplificar esse problema da existência de muitos preços as economias modernas introduziram

as unidades monetárias: real, dólar, peso, libra, rublo etc. Todos são padrões de valor. Dessa forma, todos os

preços são simplesmente expressos em termos da correspondente unidade monetária.

Isso reduz drasticamente o número de preços que é preciso recordar.

Page 58: apostila economia logistica

54

No exemplo, se o preço do milho for Cr$ 0,20 por quilo, o quilo de arroz custará Cr$ 0,10 e o quilo

de verdura custará Cr$ 0,05. Somente precisaremos saber três preços.

As quatro funções clássicas exigidas da moeda são:

6.2.2 Intermediária de trocas

Esta é a função essencial da moeda, já exercida em caráter embrionário até mesmo pelas primitivas

mercadorias-moeda. Entre os benefícios resultantes desta função destacam-se a especialização e a divisão

social do trabalho, básicas para a aceleração do progresso material e, em conseqüência, para expansão do

bem-estar social.

6.2.3 Medida de valor

A moeda é uma unidade padrão de medida de valor. É um denominador comum de valores, uma

unidade de conta. Além de racionalizar o sistema de valoração, esta função da moeda torna possível a

contabilização das atividades econômicas, não só de cada um dos agentes, mas do sistema como um todo.

Essa função refere-se à necessidade de pessoas e empresas registrarem suas operações e transações

econômicas em uma medida que seja comum a todos os bens e serviços. Assim, uma empresa que tem

despesas com matéria-prima, equipamentos e mão-de-obra registra as operações correspondentes pelo valor.

Como o valor é expresso em unidade monetária, a moeda é, nesse caso, o elemento comum a todos os itens

de despesas da empresa, que fisicamente, são diferentes. Dessa forma, é possível somar tratores com

galinhas e obter o produto de uma economia.

6.2.4 Reserva de valor

Segundo J. M. Keynes, a moeda é a ponte entre o presente e o futuro. Ela não se limita a exercer

função transacional. Os motivos para sua retenção podem ser de precaução ou de especulação. É o padrão de

liquidez.

As primitivas mercadorias-moeda não preenchiam satisfatoriamente essas três funções.

Já o advento das moedas metálicas representou uma notável evolução, cujo ciclo seria completado

com a constituição dos meios de pagamentos mais recentes, mais eficazes e seguros.

Um indivíduo que possui uma certa soma de dinheiro e não quer trocá-la imediatamente por

mercadorias precisa estar seguro de que esse dinheiro, ao ser gasto no futuro, terá o mesmo valor em termos

de possibilidade de aquisição de bens e serviços.

6.2.5 Padrão para pagamento diferido

Ou seja, que se realizarão no futuro. Essa função está associada, inicialmente, a função reserva de

valor, pois uma pessoa só aceitará receber um pagamento no futuro se a moeda não perder valor. Está

associada, também, à unidade de conta, pois um pagamento a ser realizado no futuro é acertado

Page 59: apostila economia logistica

55

anteriormente e a quantia, uma vez estabelecida, é expressa em termos monetários. Assim, se uma pessoa

pede emprestada R$ 5.000,00 para outra e promete pagar-lhe em 15 dias, por exemplo, esse pagamento será

feito em reais, e não em outra moeda ou objetos.

6.3 MEIOS DE PAGAMENTO

Pinho e Vasconcellos (1998) conceituam assim os meios de pagamento:

6.3.1 Papel-moeda

Os cunhadores (ourives) tinham cofres seguros para guardar o ouro que lhes era entregue para

cunhagem. Assim, por causa do perigo de roubo, desenvolveu-se o costume de deixar o ouro com eles e, em

troca, receber-se um recibo do ouro depositado sob sua guarda. Se houvesse confiança no cunhador, o recibo

poderia ser trocado por bens, pois sua transferência passa o poder sobre o ouro para o novo proprietário do

recibo, sem que haja a necessidade e a complicação da entrega do metal diretamente.

Em outras palavras, o recibo nada mais é que a promessa de pagar ao seu proprietário certo

montante de metal. Mudando o proprietário do recibo, muda a pessoa a quem o pagamento deve ser feito,

não alterando o seu montante. Esta promessa era feita inicialmente pelos cunhadores, depois, corri o

desenvolvimento das atividades e instituições econômicas, pelos bancos comerciais e após estes pelo

governo ou Banco Central. Este recibo nada mais é que papel-moeda, totalmente assegurado por metal

(Lastro) e conversível em ouro.

6.3.2 Moeda fiduciária

Com o desenvolvimento da economia monetária e com a consolidação dos estados nacionais, o

controle sobre a moeda passou para as mãos das autoridades governamentais. As notas emitidas pelos

bancos comerciais tornam-se pouco comuns, passando os bancos centrais a ter o monopólio da emissão de

papel-moeda. Isto, todavia, não significa que os bancos comerciais não possam criar moeda. Como veremos

adiante, os bancos comerciais criam um tipo de meio de pagamento chamado moeda escritural, mas o que

não podem é emitir papel-moeda.

No passado, este papel-moeda podia, como foi várias vezes, ser convertido em ouro. Havia uni

lastro que garantia a moeda, não sendo, no entanto, um lastro total, mas sim parcial. A moeda era

fracionalmente lastreada e vigorava o padrão-ouro. A partir de 1920 o padrão-ouro foi abandonado por,

virtualmente, todos os países, não sendo mais possível converter-se em ouro as moedas existentes. Algo

similar ao padrão-ouro vigora, atualmente, apenas para as trocas internacionais, mas com objetivos definidos

e controlados pelos bancos centrais nacionais e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mas, desaparecendo a relação com o ouro, o que garante a moeda? A resposta é muito simples. O

que garante atualmente a moeda e a faz ser aceita por todos é a lei. No Brasil, todos são obrigados por lei a

aceitar reais em troca de mercadorias, sendo crime a não aceitação. Há muitos anos, devido à inflação e ao

Page 60: apostila economia logistica

56

congelamento dos aluguéis, muitos contratos de locação estipularam o montante a ser pago em dólares.

Estes contratos oram considerados, pela Justiça, como ilegais, porque o meio de pagamento no Brasil, por

lei, era, na época, o real, e só a moeda nacional pode servir como padrão de medida monetária. Por estas

razões, costuma-se denominar este papel-moeda de moeda de curso forçado.

A passagem do padrão-ouro para a moeda fiduciária e inesgotável deu às autoridades monetárias a

capacidade de afetar a quantidade de moeda existente no país, pois, com o padrão-ouro, a quantidade de

moeda era em função da existência de ouro no país e, portanto, escapava ao controle das autoridades. Caso

se descobrisse uma mina de ouro, a quantidade de moeda aumentava. Se não houvesse esta descoberta, a

quantidade seria fixa. A possibilidade de controlar a oferta de moeda permite às autoridades monetárias

variá-la de acordo com as necessidades da economia nacional, ou seja, adequar a quantidade de moeda às

exigências da vida econômica.

6.3.3 Moeda escritural

Além das notas e moedas emitidas pelo Banco Central, que acabamos de discutir, existe outro tipo

de meio de pagamento criado pelos bancos comerciais - a Moeda Escritural, também chamada Moeda

Bancária. O monopólio da emissão pertence ao Banco Central, mas, apesar disto, os bancos comerciais

podem criar moeda. A natureza do fenômeno é a mesma já apresentada com relação à criação de moeda a

partir do ouro. Somente uma parte do total de depósitos é utilizada ao mesmo tempo. Em qualquer momento

existem sempre pessoas depositando e outras retirando, de tal forma que somente uma parcela é

movimentada, pois grande parte dos pagamentos é feita pela utilização dos cheques.

O depósito é uma promessa que o banco faz de pagar quando lhe for pedido. O cheque é uma

ordem de transferências de depósito: passar de uma pessoa para outra. Como é só uma parcela dos depósitos

que é requerida para pagamentos, pois grande parte é feita por cheques, o banco pode fazer promessas de

pagar acima do que ele dispõe consigo em depósito ou reserva e, desta forma, criar moeda ou meio de

pagamento, apesar de não poder emitir papel-moeda ou cunhar moeda metálica.

O cheque não é moeda, os depósitos sim moeda. A utilização do cheque apresenta algumas

vantagens em relação ao papel-moeda, pois:

ggg) é fácil de ser transportado e pode mesmo ser remetido pelo correio;

hhh) dispensa a necessidade de troco;

iii) apresenta maior segurança contra roubo;

jjj) pode ser usado como recibo de pagamento e é utilizado como comprovante de despesas

como no caso do imposto de renda.

Caso a parcela dos depósitos que é requerida em forma de papel-moeda seja da ordem de 10% do

total, os bancos poderão ter um movimento médio 10 vezes superior em valor ao dos depósitos efetuados.

Desta forma, uma grande parte da oferta de moeda é feita pelos bancos comerciais, que a podem aumentar

ou diminuir.

Page 61: apostila economia logistica

57

6.3.4 Quase-moeda

Em relação ao problema dos depósitos a prazo. Vimos que eles não são considerados moeda, mas

apresentam algumas características que os aproximam de um meio de pagamento. Assim sendo, costuma-se

chamá-los de quase-moeda, pois podem, sem grandes problemas, ser transformados em moeda. Da mesma

forma, outros títulos de grande liquidez que, apesar de não serem aceitos, normalmente, em troca de bens e

serviços, podem, rapidamente, ser convertidos em moeda, são também considerados quase-moeda. O

exemplo clássico deste ativo são os títulos ou obrigações de curto prazo do governo.

Um outro tipo de quase-moeda é encontrado nos cartões de crédito, com os quais o consumidor

pode pagar suas despesas em restaurantes, hotéis, lojas etc., sem a necessidade de, na hora, entregar papel-

moeda ou cheque.

A procura por moeda e definida por três motivos: transação, precaução e especulação.

São assim sintetizados por Gwartney-Stroup:

Motivo transação. Todos agentes econômicos a empregam como meio de pagamento.

Motivo precaução. A retenção de saldos precaucionais de moeda é destinada a atender as incertezas

do futuro.

Motivo especulação. Os agentes econômicos mantém ainda saldos monetários na expectativa de

ganhos especulativos, com a compra de ativos reais e financeiros.

Além do nível da renda agregada e das taxas de juros, outros fatores determinam a procura por

moeda. Os de maior relevância são:

kkk) Expectativas quanto à variação futura dos preços.

lll) Fatores institucionais, como usos-e-costumes quanto aos prazos de liquidação de operações

reais.

mmm) Grau de maturidade e de desenvolvimento da intermediação financeira e conseqüente

existência de substitutos próximos da moeda.

nnn) Graus de incerteza quanto ao futuro da economia, envolvendo os suprimentos, os

padrões e a regularidade do abastecimento, a ocorrência ou não de crises e de perturbações

da ordem político-institucional estabelecida.

ooo) Condições estruturais prevalecentes, como os graus de concentração da concorrência

nos mercados de produtos finais, a rigidez contratual nos mercados de fatores de produção e

a estrutura de repartição da renda.

6.4 POLÍTICA ECONOMICA

Dallagnol (2007) afirma que a política econômica é determinada por um conjunto de medidas

governamentais, que atuam sobre a Economia do país. Consiste na determinação dos setores ou polos

econômicos, que prioritariamente devem ser impulsionados e desenvolvidos, mediante apoio técnico,

financeiro ou fiscal. Como não é possível atuar de forma efetiva em todos os campos da Economia, o

governo deve priorizar determinados setores que mais necessitam da ação do Estado e canalizar recursos

orçamentários para apoiar uma ação, que deve ser minuciosamente estudada para que os recursos sejam

aplicados de forma eficiente e eficaz.

Page 62: apostila economia logistica

58

Embora estejamos passando por um momento do pensamento econômico com predominância do

pensamento liberal, há aceitação mais ou menos geral da importância da ação do governo na Economia. A

divergência está no modo como esta ação deve ser conduzida.

Além das funções sociais de educação, saúde e justiça, o governo detém responsabilidade sobre a

economia do país, mesmo quando o sistema dominante é o de mercado, ou liberal.

São as seguintes as metas de políticas macroeconômicas:

ppp) Alto nível de emprego

qqq) Estabilidade de preços

rrr) Distribuição de renda socialmente justa

sss) Crescimento econômico.

As questões relativas ao emprego e à inflação são consideradas como conjunturais, de curto prazo.

É a preocupação central das chamadas políticas de estabilização. As questões relativas ao crescimento são

predominantemente de longo prazo, enquanto o problema da distribuição de renda envolve aspectos de curto

e longo prazo. Alguns textos colocam também como meta o equilíbrio no balanço de pagamentos, mas estes

não apresentam um objetivo em si mesmo, mas um meio, um instrumento para se atingir as quatro metas

assinaladas.

6.4.1 Alto nível de emprego

Pode-se dizer que a questão do desemprego, a partir dos anos 30, permitiu um aprofundamento da

análise macroeconômica. Surgiu o livro de John Maynard Keynes

Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda –, em 1936, que forneceu aos governantes os

instrumentos necessários para que a economia recuperasse seu nível de emprego potencial ao longo do

tempo.

Deve-se salientar que antes da crise dos anos 30, a questão do desemprego não preocupava a

maioria dos economistas, pelo menos nos países capitalistas. Isso porque predominava o pensamento liberal

que acreditava que os mercados, sem interferência do Estado, conduziam a economia ao pleno emprego de

seus recursos, ou a seu produto potencial: milhões de consumidores e milhares de empresas, como que

guiados por uma “mão invisível”, determinariam os preços e a produção de equilíbrio, e, desse modo,

nenhum problema surgiria no mercado de trabalho.

De fato, desde a Revolução Industrial, em fins do século XVIII, até o início do século XX, o mundo

econômico parece ter funcionado mais ou menos assim. Entretanto, a evolução da economia mundial trouxe

em seu bojo, novas variáveis, como o surgimento dos sindicatos dos trabalhadores, os grupos econômicos e

o desenvolvimento do mercado de capitais e do comércio internacional, de sorte a complicar e trazer

incertezas sobre o funcionamento da economia. A ausência de políticas econômicas levou à quebra da Bolsa

de Valores de Nova York em 1929, e uma crise de desemprego atingiu todos os países do mundo ocidental

nos anos seguintes. (DALLAGNOL, 2007)

Page 63: apostila economia logistica

59

Com a contribuição de Keynes, contudo, fincaram-se as bases da nova Teoria Macroeconômica, e

da intervenção do Estado na economia de mercado. Na verdade, Keynes praticamente inaugurou uma

questão da macroeconomia que perdura até hoje qual deve ser o grau de intervenção do Estado na economia

e, em que medida ele deve ser produtor de bens e serviços. A corrente de economistas liberais (hoje

neoliberais) prega a saída da produção de bens e serviços, enquanto outra corrente de economista apregoa

um maior grau de atuação do Estado na atividade econômica.

6.4.2 Estabilidade de preços

Define-se inflação como um aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços, acarretando

distorções, principalmente sobre a distribuição de renda, sobre a expectativa dos agentes econômicos e sobre

o balanço de pagamentos. Este elemento macroeconômico será detalhado mais adiante.

6.4.3 Distribuição eqüitativa de renda

A economia brasileira cresceu razoavelmente entre o fim dos anos 60 e a maior parte da década de

1970. Apesar disso, verificou-se uma disparidade muito acentuada de nível de renda, tanto na área pessoal

como no campo regional. Isso fere, evidentemente, o sentido de eqüidade ou justiça.

No Brasil, os críticos do “milagre” argumentavam que havia piorado a concentração de renda do

país, nos anos de 1967-1973, devido a uma política deliberada do governo baseada em, crescer primeiro para

depois distribuir (a chamada Teoria do Bolo).

A posição oficial era de que certo aumento na concentração de renda seria inerente ao próprio

desenvolvimento capitalista, dada as transformações estruturais que ocorrem (êxodo rural, com

trabalhadores de baixa qualificação, aumento da proporção de jovens etc.). Nesse processo gera-se uma

demanda por mão-de-obra qualificada, a qual, por ser escassa, obtém ganhos extras. Assim, o fator

educacional seria a principal causa da piora distributiva. O economista Mario Henrique Simonsen

argumentava que há “desigualdades com mobilidade”, isto é, o indivíduo permanece pouco tempo na mesma

faixa salarial e tem facilidade de ascensão. Isso seria um fator importante para a convivência com má

distribuição de renda. (DALLAGNOL, 2007)

Deve ser observado que, embora tenha ocorrido no Brasil uma concentração de renda naquele

período, a renda média de todas as classes aumentou. O problema é que, embora o pobre tenha ficado menos

pobre, o rico ficou relativamente mais rico no período considerado.

6.4.4 Crescimento Econômico

Se existem desemprego e capacidade ociosa, pode-se aumentar o produto nacional através de

políticas econômicas que estimulem a atividade produtiva. Mas, feito isso, há um limite à quantidade que se

pode produzir com os recursos disponíveis.

Aumentar o produto além desse limite exigirá:

Page 64: apostila economia logistica

60

ttt) Ou um aumento nos recursos disponíveis;

uuu) Ou um avanço tecnológico (ou seja, melhoria tecnológica, novas maneiras de

organizar a produção, qualificação de mão-de-obra).

Quando falamos em crescimento econômico, estamos pensando no crescimento da renda nacional

per capita, ou seja, em colocar à disposição da coletividade uma quantidade de mercadorias e serviços que

supere o crescimento populacional. A renda per capita é considerada um razoável indicador – o mais

operacional – para se aferir a melhoria do padrão de vida da população, embora apresentem falhas (os países

árabes têm as melhores rendas per capita, mas não o melhor padrão de vida do mundo).

Durante os anos 60 e 70, começaram a surgir dúvidas em relação à importância do crescimento

como meta principal da política econômica. Nos países desenvolvidos tem-se considerado a questão da piora

do meio ambiente (poluição, degradação etc.). Nos países em desenvolvimento (ou economias emergentes),

como o Brasil, o rápido crescimento dos anos do chamado “milagre econômico” coincidiu com uma

redistribuição de renda a favor dos segmentos mais ricos da população.

6.4.5 Inter-relação e conflitos entre objetivos

Os objetivos não são independentes uns dos outros, podendo inclusive ser conflitantes.

Atingir uma meta pode ajudar a alcançar outra. O crescimento pode facilitar a solução dos

problemas da pobreza, pois se podem abrandar conflitos sociais sobre a divisão do bolo produtivo quando

ele aumenta. Nesse sentido, poder-se-ia aumentar a renda dos pobres sem diminuir a dos ricos.

Entretanto no Brasil, e em outros países em desenvolvimento, as metas de crescimento e equidade

distributiva têm-se mostrado conflitantes, uma vez que o aumento do nível de poupança (necessário para

aumentar os investimentos geradores de crescimento) parece ser mais facilmente obtido através de uma

distribuição desigual de renda – (especificamente aumentando a parte dos lucros e da poupança dos mais

ricos na renda nacional).

Outro conflito pode ser observado entre as metas de redução de desemprego e a estabilidade de

preços. É fato observável que, quando o desemprego diminui e a economia aproxima da plena utilização dos

recursos, passam a ocorrer pressões por aumentos de preços, principalmente nos setores fornecedores de

insumos básicos (aço, embalagens, matérias-primas), o que explica o frequente controle do crescimento do

consumo pelas autoridades para não provocar inflação.

6.5 POLÍTICA MONETÁRIA

Quando falamos de política monetária, estamos nos referindo às ações do governo no sentido de

controlar as condições de liquidez da economia. Diante disso, a política monetária pode ser definida como o

controle da oferta de moeda e das taxas de juros, no sentido de que sejam atingidos os objetivos da política

econômica global do governo.

Page 65: apostila economia logistica

61

Alternativamente, também podemos definir a política monetária como sendo a atuação das

autoridades monetárias, por meio de instrumentos de efeitos diretos ou induzidos, com o propósito de

controlar a liquidez global do sistema econômico.

A política monetária diz respeito à atuação do Banco Central para dimensionar os meios de

pagamento e os níveis das taxas de juros, adequando essas variáveis aos objetivos de crescimento da

produção e do emprego, com estabilidade de preços. A atuação do Banco Central opera-se pela

determinação do volume de reservas obrigatórias dos bancos, dependendo do comportamento do público e

dos bancos em relação às quantidades de moedas que desejam reter.

A moeda, como meio de troca, é a maneira mais eficaz de um indivíduo adquirir os bens e serviços

de que necessita. Entretanto, como uma pessoa não gasta toda sua renda no momento em que a recebe,

podemos perguntar: por que esse indivíduo não aplica parte dela – a que não é consumida imediatamente –

em títulos, que rendem juros?

São três as razões fundamentais que levam as pessoas a demandar e reter moeda em seu poder:

vvv) A primeira refere-se ao fato dos pagamentos e dos recebimentos não serem

perfeitamente sincronizados. A maior parte dos trabalhadores recebe seus salários no início

do mês, mas os gastam, no decorrer do mesmo mês, com as despesas comuns de uma

família, como aluguel, condução, alimentação etc. Portanto, essa pessoa precisa reter moeda

ou dinheiro em seu poder durante todo o mês. A essa razão para a retenção de moeda,

damos o nome de demanda da moeda para transações;

www) A segunda, chamamos isso de demanda de moeda para precaução. Isto significa que as

pessoas previdentes sempre têm certa soma em seu poder, reservada para um imprevisto,

como problemas de saúde, uma batida de automóvel etc.; e

xxx) A terceira, diz respeito a demanda de moeda para especulação ou demanda

especulativa. Essa razão está associada ao fato de a moeda funcionar como reserva de valor.

Se um indivíduo já separou de sua renda aquelas parcelas destinadas às transações e à

precaução, o procedimento mais razoável seria aplicar o restante em títulos, que rendem

juros, pois nada acontece com o dinheiro quando está simplesmente em casa ou depositado

em um banco, em conta corrente.

Nas economias modernas, quem oferece moeda ao público são as autoridades monetárias como, por

exemplo, o Banco Central, em função das necessidades dos agentes econômicos.

O conjunto de moeda manual (ou moeda corrente), depósitos à vista (moeda escritural ou bancária)

e quase-moedas forma os meios de pagamento de uma economia.

Assim, podemos chamar também a oferta de moeda de meios de pagamento. Meios de pagamento

constituem o total de moeda à disposição do setor privado não bancário, de liquidez imediata, ou seja, que

pode ser utilizada imediatamente para fazer transações.

Os meios de pagamento, em sua forma tradicional, são dados pela soma da moeda em poder do

público, mais os depósitos à vista nos bancos comerciais. Ou seja, pela soma da moeda escritural e da moeda

manual.

Diante do exposto podemos afirmar que os meios de pagamento representam o quanto a

coletividade tem de moeda física – papel e metálica – com o público ou no cofre das empresas somado a

Page 66: apostila economia logistica

62

quanto ela tem em conta corrente nos bancos. Enfim, é aquela moeda que não está rendendo juros, que não

está aplicada em contas ou ativos remunerados.

Os meios de pagamento, conceituados como moeda de liquidez imediata, que não rendem juros,

também são chamados, na literatura mais específica, de M1.

Quase-moeda são ativos que têm alta liquidez – embora não tão imediata – e que rendem juros,

como os títulos públicos, as cadernetas de poupança, os depósitos a prazo e alguns títulos privados, letras de

câmbio e letras imobiliárias.

Na verdade, existem vários conceitos de meios de pagamento, dependendo das quase-moedas

incluídas, como podemos verificar na classificação a seguir:

yyy) M1: como já falamos, o M1 inclui o dinheiro (papelmoeda) em poder do público e os

depósitos à vista (ou moeda escritural). Este é o mais tradicional dos conceitos existentes

sobre moeda. Quanto aos depósitos à vista (moeda escritural), estes constituem a maior

parte do volume de meios de pagamento no mundo moderno, perfazendo um total de

aproximadamente 80%, em média. Aqui a liquidez é plena;

zzz) M2: M1 + fundos do mercado monetário + títulos públicos;

aaaa) M3: M2 + depósitos de poupança; e

bbbb) M4: M3 + títulos privados.

6.5.1 Controle da oferta monetária

Pinho e Vasconcellos (1998) destacam que a principal função do Banco Central é controlar a oferta

de moeda. Para tal fim, ele pode utilizar vários instrumentos. Os principais são as emissões de papel-moeda,

as reservas obrigatórias dos bancos comerciais e as operações de mercado aberto (open market).

6.5.2 Monopólio das Emissões

Em quase todos os países do mundo, o Banco Central controla, por força de lei, o volume e papel-

moeda emitido. Em outras palavras, o Banco Central tem o monopólio das emissões. Em geral, não se

recomenda que o Banco Central use este seu poder para controlar a oferta de moeda, mas que coloque em

circulação o volume de notas e moedas metálicas necessárias ao bom desempenho da economia. O controle

da oferta de meios de pagamento deve ser realizado pela utilização dos outros instrumentos.

6.5.3 Reservas Obrigatórias

Os bancos comerciais guardam uma parcela dos depósitos como reservas e com a finalidade de

atender ao movimento de caixa. Em geral, os bancos centrais forçam os bancos comerciais a guardar

reservas superiores às que seriam indicadas pela experiência e prudência destes estabelecimentos. No Brasil,

estas reservas obrigatórias ou compulsórias são em média pouco superiores a 11% dos depósitos à vista; nos

Estados Unidos, esta taxa é pouco inferior a 10%; e na Inglaterra, aproximadamente 8 % do total dos

depósitos.

6.5.4 Operações de Mercado Aberto ("Open Market")

Page 67: apostila economia logistica

63

Outro instrumento importante para o controle da oferta de moeda são as operações de mercado

aberto. Em muitos países, Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, este instrumento é o mais utilizado

pelas autoridades monetárias. No Brasil, sua utilização data do início da década de 70. Em essência, estas

operações consistem em vendas ou compras, por parte do Banco Central, de títulos governamentais no

mercado de capitais.

Qual o efeito destas compras e vendas sobre a oferta de moeda?

Para entender esta repercussão, Pinho e Vasconcellos (1998) analisam o que ocorre quando estas

operações são realizadas. Vamos supor que o Banco Central compre obrigações governamentais – títulos da

dívida - possuídas pelo público. Como pagamento desta compra, o Banco Central entrega ao antigo

possuidor um cheque no valor da importância devida.

Por sua parte o indivíduo que vendeu os títulos deposita o cheque num banco comercial no qual

seja correntista. Ora, o Banco Central, quando realiza estas operações, compra títulos de inúmeros

indivíduos, os quais vão seguir o mesmo procedimento, ou seja, depositar os cheques recebidos nos seus

bancos comerciais. Como uma só parte dos depósitos precisa ser guardada como reserva ou encaixe, os

bancos vão agora se defrontar com encaixes excedentes. Estes encaixes são a condição necessária, e de

acordo com a hipótese formulada, suficiente para que se dê a expansão múltipla dos meios de pagamento.

Em resumo, a compra de títulos governamentais, por parte do Banco Central, acarretou um

aumento nos depósitos junto aos bancos comerciais. Este aumento, por sua vez, gerou encaixes excedentes,

e estes foram o ponto de partida para uma expansão múltipla dos meios de pagamento e, portanto, para um

aumento na oferta de moeda.

O oposto se verificaria caso o Banco Central vendesse títulos. Os indivíduos que comprassem os

títulos os pagariam com cheques. Quando o Banco Central descontasse estes cheques, ele reduziria as

reservas dos bancos que, por sua vez, seriam obrigados a contrair a oferta de meios de pagamento, ou seja,

reduzir a oferta de moeda.

6.5.5 Política de Redesconto

Outra forma, bastante importante, de se controlar a oferta de moeda e a política de redesconto. Esta

é, inclusive, uma das mais usadas nas economias modernas. O Banco Central é o banco dos bancos,

empresta fundos líquidos aos outros estabelecimentos bancários, seja por meio de empréstimos diretos ou

por meio do redesconto de títulos. Na medida em que adota uma política liberal de crédito, oferecendo

empréstimos abundantes e a juros (taxa de redesconto) baixos, o Banco Central fornece aos bancos

comerciais uma fonte acessível de empréstimos, e, portanto, estes podem também adotar uma política liberal

de crédito para seus clientes. Caso o Banco Central limite quantitativamente os redescontos ou eleve suas

taxas, os bancos comerciais serão obrigados a reduzir seus empréstimos e elevar as taxas de juros. Desta

forma, o crédito bancário se torna difícil e dispendioso.

Page 68: apostila economia logistica

64

Além da fixação da taxa de recolhimentos compulsórios sobre os depósitos a vista no sistema

bancário, as autoridades monetárias dispõem de outros meios para controlar a oferta monetária e para a

adequação do nível geral de liquidez da economia.

Os quatro principais instrumentos de controle da oferta monetária são:

cccc) A fixação da taxa de recolhimentos compulsórios.

dddd) As operações de redesconto.

eeee) As operações de mercado aberto.

ffff) O controle seletivo do credito.

6.5.6 Controle seletivo do credito

Trata-se de intervenções diretas do banco central no mercado de credito. Neste sentido, e um

instrumento de controle da oferta monetária que se diferencia do trinômio compulsório, redesconto e

mercado aberto em pelo menos três aspectos:

gggg) Alcança as operações ativas de todo o subsistema de intermediação financeira e todos

os subsegmentos de mercado em que se realiza a maior parte das operações de credito e

financiamento.

hhhh) Condiciona diretamente, e não por vias indiretas, o volume e os custos das aplicações

do setor financeiro, direcionando-as para as categorias de fluxos do setor real que sejam

alinhadas a consecução dos objetivos da política econômica como um todo.

iiii) Atua sobre o conceito mais abrangente de oferta monetária. O aumento ou a redução da taxa

de juros transmite-se para o setor real da economia, impulsionando ou não os fluxos reais de

consumo e de acumulação. Mas os efeitos dos juros não se propagam apenas sobre o setor

real. Eles têm um efeito também sobre o setor monetário, como um dos mais importantes

fatores condicionantes da procura por moeda.

6.6 Política Cambial

Dentro de uma nação, as transações realizam-se com a mesma moeda. No entanto, no comércio

internacional utilizamos moedas diferentes. Daí surge a necessidade de convertermos uma moeda em outra,

como forma de facilitar os intercâmbios comerciais.

Exatamente, a taxa de câmbio é o mecanismo através do qual essa troca é possível, ou seja, é a

expressão do número de unidades da moeda nacional por unidade de moeda estrangeira.

Sua variação altera diversas variáveis econômicas, sobretudo aquelas relacionadas ao comércio

exterior.

No comércio internacional não há apenas uma moeda a ser empregada para pagamento das

transações, já que os países trocam entre si bens e serviços. Todavia, ao se fecharem as referidas transações,

o saldo é contabilizado em uma única moeda. Em outras palavras, é necessário que exista alguma forma de

conversão.

A operação conhecida como taxa de câmbio faz a conversão da moeda nacional em moeda

estrangeira. O número de unidades necessárias, em moeda doméstica, para adquirir uma unidade em moeda

estrangeira tem sido regulado pela taxa de câmbio. Por exemplo, considere que a atual taxa de câmbio do

Page 69: apostila economia logistica

65

real em relação ao dólar seja equivalente a 2,20. Neste cenário podemos dizer que para obtermos US$ 1,00

entregamos aproximadamente R$ 2,20.

Assim, podemos observar que o governo, alterando a taxa de câmbio, ou seja, a relação entre as

moedas interfere automaticamente na dinâmica das relações comerciais do país, uma vez que modifica a

posição dos preços internacionais.

Para você entender melhor separamos outros exemplos:

jjjj) supondo-se que a taxa de câmbio seja: R$ 1,00 = US$ 1,00 →o Brasil consegue exportar

1.000 toneladas de aço;

kkkk) num segundo momento, o governo brasileiro altera a taxa de câmbio para: R$ 2,00 =

US$ 1,00 →o Brasil, a essa nova taxa, consegue exportar 2.000 toneladas de aço, pois

quem possuía dólares teve seu poder de compra ampliado.

Este fato ocorre porque a alteração da taxa de câmbio tornou a moeda brasileira desvalorizada, ou

seja, mais “barata” em relação à estrangeira e, consequentemente, nossos produtos caíram de preço no

mercado internacional, tornando-se mais “atrativos” no exterior, resultando no aumento das exportações.

Como você já sabe, o comércio internacional gera um fluxo de transações econômicas, operações

que envolvem movimentação de mercadorias e de serviços, bem como de pagamentos e recebimentos em

moedas estrangeiras. O registro dessas transações econômicas, que o país realiza com o resto do mundo,

num determinado período de tempo, ficou conhecido como balanço de pagamentos.

O balanço de pagamentos pode ser entendido, então, como sendo o registro sistemático estatístico-

contabilista das transações de um país com as outras nações durante um determinado período de tempo. O

resultado desse balanço é obtido através do somatório das contas:

llll) Conta-corrente: formada por três subcontas.

mmmm) balança comercial: registra a movimentação de mercadorias. Seu saldo é dado pela

diferença entre vendas de mercadorias efetuadas pelo país ao exterior e compras de

mercadorias efetuadas pelo país no exterior. Se as exportações excedem as importações,

temos um superávit, e ocorrendo o contrário, temos déficit na balança comercial;

nnnn) balança de serviços: registra as transações com os serviços. Essas transações são

consideradas intangíveis. Por exemplo, receita e despesa de transportes; receita e despesa de

viagens internacionais; rendas de capital; royaltie*; receitas e despesas com patentes, entre

outros serviços; e

oooo) transferências unilaterais: refere-se ao resultado das doações, remessa de dinheiro feita

ou recebida pelo país etc.

pppp) Movimentos de capitais autônomos: formados pela entrada ou saída de capitais, sendo

representados pelo capital de risco (investimento direto), de empréstimo ou especulativo.

qqqq) Erros e omissões: conta de ajuste devido às dificuldades de mensuração de algumas

transações.

rrrr) Reservas (capital compensatório ou induzido): quando o balanço de pagamentos

apresenta resultado negativo (deficitário), deve-se cobrir essa lacuna com as reservas. Do

contrário, se o resultado for positivo, ampliam-se as reservas.

Os governos acompanham anualmente estas transações realizadas entre os países para saber o que

acontece no campo dos pagamentos internacionais e para poder avaliar sua situação econômica. Um registro

deficitário no balanço de pagamentos reflete que o país deve gastar suas reservas ou recorrer a empréstimos,

Page 70: apostila economia logistica

66

com pagamentos de juros, no mercado financeiro internacional ou ao Fundo Monetário Internacional (FMI),

para honrar seus compromissos. Esta é uma situação típica de quem gastou mais do que ganhou. Neste caso,

o governo utiliza os instrumentos de política econômica (política cambial, monetária e fiscal etc.) com a

finalidade de corrigir tais desequilíbrios.

No Brasil, a taxa de câmbio representa o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda

estrangeira. Uma elevação desta taxa representa uma desvalorização, e o oposto, uma valorização. O sistema

cambial ou regime cambial é definido pela regra estabelecida para a formação da taxa de câmbio. Existem,

fundamentalmente, dois tipos de taxa de câmbio:

ssss) Fixa: é administrada pelo Banco Central (autoridade monetária) do país, que rege a

oferta e a demanda de moedas estrangeiras. A autoridade monetária estabelece, assim, a taxa

de câmbio que considera a mais conveniente para a economia.

tttt) Flutuante: regime cambial flexível, no qual a autoridade monetária não tem compromisso

algum para apoiar determinada taxa. A oferta e a demanda de divisas determinam a taxa de

câmbio praticada.

6.7 Política fiscal

O termo política fiscal refere-se ao comportamento e à administração das receitas e despesas do

setor público.

As despesas do governo derivam da prestação de serviços e/ou da produção de bens pelo setor

público, tais como o pagamento de salários de funcionários públicos, obras, aposentadorias etc., além do

pagamento de juros, o que, atualmente, é o mais pesado, correspondendo a gastos improdutivos, ou seja,

gasto que não traz nenhum bem-estar para a sociedade. Enquanto as receitas resultam, basicamente, da

arrecadação de impostos e contribuições, cuja finalidade principal é financiar as despesas.

Superávit, apesar de comumente ser considerado um bom resultado, nem sempre o é, pois vai

depender do contexto macroeconômico em que ocorre e os fatores que o geraram. Se, por exemplo, for fruto

de uma carga tributária excessivamente elevada, podendo, futuramente, haver sonegação de impostos, não é

considerado um bom resultado. Podemos citar um outro exemplo: se for fruto de uma redução dos gastos

públicos essenciais à economia, também não pode ser considerado um bom resultado.

Da mesma forma, o déficit* nem sempre é o vilão da economia. Se puder ser facilmente financiado

e tiver sido provocado pelo governo, visando, incentivar um aumento do nível de produção e emprego na

economia, passa a ser um bom resultado.

Podemos falar ainda em déficit ou superávit primário e nominal, através de dois conceitos:

uuuu) Primário: seja ele déficit, seja superávit, quando nos referimos ao conceito primário

estamos levando em consideração as contas do governo sem incluir pagamentos de juros da

dívida (externa ou interna) e sem incluir ajustes financeiros. Então, Resultado Primário:

receitas – despesas (sem incluir pagamentos de juros); e

vvvv) Nominal: seja ele déficit, seja superávit, inclui pagamento de juros da dívida (interna

ou externa), correção monetária e correção cambial. Então, Resultado Nominal refere-se a

receitas – despesas (inclui pagamentos de juros).

Page 71: apostila economia logistica

67

As políticas fiscais referem-se às regras governamentais a respeito de tributos e taxas, bem como do

uso e do controle dos recursos assim obtidos pelas autoridades públicas e afetam o nível de atividade

econômica do país (LACOMBE, 2004). O governo pode assumir duas posturas de intervenção na economia:

wwww) Sentido expansivo: aumentar os gastos públicos e reduzir os impostos, com o objetivo

de ampliar a produção e o emprego na economia.

xxxx) caráter restritivo: reduzir a produção, proporcionando o aumento do desemprego: os

gastos públicos são diminuídos e os impostos são aumentados.

Normalmente, essas posturas são assumidas pelos governos em função dos seus objetivos de

política econômica. Portanto, antes de qualquer crítica, é importante entendermos o que o governo deseja.

Para aplicação das políticas econômicas, principalmente a política fiscal, devemos verificar quais os

resultados previstos. Se o alcance dos objetivos envolverem custos econômicos ou sociais elevados, ainda

que a eficácia seja comprovada, a política pode não ser recomendável.

O governo pode provocar déficit através da política fiscal expansiva, visando a incentivar um

aumento do nível de produção e emprego, ou melhor, elevar o nível de atividade da economia.

O aumento dos gastos públicos estimula um aumento da produção das firmas por duas vias:

yyyy) Diretamente: quando o setor público compra bens e serviços das empresas e famílias.

zzzz) Indiretamente: quando as famílias, de posse de uma renda maior, elevam a sua

demanda por bens de consumo, e, portanto, aumentam as vendas das que atuam neste setor.

A redução de impostos também estimula a produção, visto que permanecerá maior renda no setor

privado, mais reinvestimento mais, assim como um acréscimo da renda das famílias, podendo estas

aumentar o consumo. Logo uma redução dos impostos altera o nível de emprego e salário. Essa alteração no

nível de emprego e salário dependerá da propensão dos contribuintes a poupar, ou seja, o quanto da renda

disponível o contribuinte consegue poupar em determinado tempo.

Já o aumento dos impostos representa um vazamento da renda do setor privado, que poderia ser

alocada na compra de bens e serviços no mercado. Dessa forma, age sobre a demanda agregada (todas as

demandas do país) no sentido oposto ao de suas despesas, ou seja, reduz a produção.

Como você observou, o aumento dos gastos públicos estimula o nível de atividade econômica

direta e indiretamente (através do consumo). Devido a esse estímulo indireto ao consumo, podemos dizer

que os gastos do governo têm um "efeito multiplicador" sobre a atividade econômica, porque resultam em

um aumento mais que proporcional na demanda agregada e também no PIB. Ou seja, um aumento dos

gastos do governo provocará igual aumento da renda da economia. À medida que esse primeiro aumento da

renda começa a estimular novos gastos de consumo, a demanda agregada por bens e serviços é novamente

acrescida. Assim, esses novos gastos de consumo vão gerar um novo aumento da renda da economia.

Geralmente, essa maior tendência a consumir acontece nas economias menos desenvolvidas (países

subdesenvolvidos), onde existe um alto grau de concentração de renda (ou número elevado de famílias de

baixa renda em comparação com as de renda elevada). Nesses países, quando há um aumento na renda, a

Page 72: apostila economia logistica

68

tendência maior é a de consumir, e não a de poupar. Assim, um pequeno aumento dos gastos do governo é

capaz de produzir um grande impulso na demanda agregada e também no nível de atividade da economia.

Dessa forma, podemos concluir que um aumento de gasto público (G) gera aumento no emprego

(E), que gera mais salários (W), o que faz aumentar a renda (Y) e aumentar o consumo (C).

Aumentando o consumo, aumenta a receita (R) do governo, pois mais impostos serão recolhidos. E

assim sucessivamente.

Ao longo do século XX, na maioria dos países, o setor público aumentou sua participação na

atividade econômica, o que o fez incorrer em custosos déficits (particularmente com o pagamento de juros).

Isso implica necessidades crescentes de financiamento. Para atender a essas necessidades, podemos contar

com três procedimentos:

aaaaa) Impostos: ainda que apareçam como uma forma natural de financiar gastos públicos,

apresentam uma série de limitações, pois, quando existe déficit, os impostos são

insuficientes para atender aos gastos. Além disso, seria uma medida impopular o aumento

dos impostos, e, em período de recessão, agravaria, ainda mais, a situação (pois inibiria a

produção privada, por exemplo).

bbbbb) Emissão de moeda: consiste na emissão de moeda (criação de dinheiro), pois, como já

vimos, o setor público, por meio do Banco Central, é o responsável pela emissão do

dinheiro. Com isso, poderíamos pensar que basta recorrer à emissão monetária para atender

às necessidades de financiamento do déficit. No entanto, este procedimento implicaria o

aumento da pressão inflacionária e a perda de valor do dinheiro.

ccccc) Emissão da dívida pública: quando o Estado põe à venda títulos públicos. Essa

iniciativa também tem implicações monetárias, dado que os fundos financeiros não são

ilimitados e que a emissão da dívida pública pode reduzir as possibilidades de

financiamento da iniciativa privada, assim como contribuir para aumentar a taxa de juros.

É a principal e a maior forma de receita do governo. Os impostos são uma imposição do Estado a

indivíduos, unidades familiares e empresas, para que paguem uma certa quantidade de dinheiro em relação a

determinados atos econômicos tais como consumo, salários, lucros etc.

Os impostos podem ser de diferentes tipos. Veja:

ddddd) Diretos: incidem sobre os indivíduos (contribuintes), e não sobre os bens. Exemplo:

Imposto de Renda;

eeeee) Indiretos: incidem sobre bens e serviços adquiridos pelas pessoas. Exemplos: Imposto

sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), e Imposto sobre Produtos

Industrializados (IPI);

fffff) Progressivos: é o caso do imposto direto, ou seja, quanto maior a renda, mais se paga

de imposto;

ggggg) Regressivos: é o caso do imposto indireto, ou seja, independentemente da renda, todos

pagam o mesmo imposto para adquirir os bens e serviços. Dessa forma, há uma incidência

maior do imposto sobre as pessoas que têm menor renda; e

hhhhh) Proporcionais: seu percentual permanece constante em relação à renda.

QUESTIONÁRIO

iiiii) Quais são as funções da moeda?

jjjjj) Qual a diferença entre papel-moeda e moeda fiduciária?

kkkkk) Como é controlada a oferta de moeda pelo banco central?

Page 73: apostila economia logistica

69

lllll) Motivos para se obter moeda?

mmmmm) O que é política econômica?

nnnnn) Quais os fatores foco de uma política econômica?

ooooo) Quais são os problemas de uma política de estabilização? De crescimento? E

distribuição de renda?

ppppp) O que é política monetária? O que mais pode influir na atividade imobiliária?

qqqqq) Quais os tipos de administração de taxas de câmbio?

rrrrr) O que é política fiscal? Como a política fiscal pode atuar sobre o setor imobiliário?

7 ECONOMIA INTERNACIONAL

O comércio pode ser bom para todos. Comércio entre países não é como competição esportiva, em

que um lado ganha e o outro, necessariamente, tem que perder.

Na realidade, o que pode acontecer é que o comércio entre os países pode ser bom para ambas as

partes. O comércio permite que os países ou regiões se especializem naquilo que fazem melhor e possam

desfrutar, assim, de uma maior quantidade de produtos e serviços.

Você já percebeu que a maioria dos objetos que adquirimos para o nosso consumo e bem-estar do

dia a dia foram produzidos em um lugar distante, isto é, em um outro país?

Observe que consumimos automóveis fabricados no Japão, eletroeletrônicos e brinquedos da China,

produtos farmacêuticos da Europa e petróleo da Argélia, na África. Claro que em contrapartida, exportamos

para as populações residentes nessas e em outras regiões uma variedade de produtos como aviões, madeira,

frutas, soja etc.

Diante desta citação podemos definir o comércio internacional como sendo todas essas trocas de

bens e serviços que ocorrem através de fronteiras internacionais. As dimensões dadas algumas vezes ao

tratamento do comércio entre países podem sugerir que apenas os governos tomam decisões a respeito do

comércio. Em se tratando das economias de mercado, cabe sinalizar que a maior parte das decisões que

determinam a magnitude, o conteúdo e a direção do comércio são tomadas pelas famílias e empresas.

Contudo, é claro que, em alguns momentos, os governos podem, evidentemente, agir através de mecanismos

de política econômica (incentivos fiscais, subsídios, política cambial etc.) e políticas protecionistas (taxação

na importação de alguns bens, fixação de quotas de importação e até barreiras fitossanitárias. A importância

despertada pelas relações comerciais e o ganho obtido do comércio mundial geraram teorias econômicas

próprias. Foi neste cenário que economistas como Adam Smith e David Ricardo foram considerados os

precursores em questões relativas às trocas no comércio internacional, sendo que Adam Smith concebeu a

ideia de “vantagens absolutas” de comércio e tornou bem mais explícitas as razões pelas quais a participação

nas trocas internacionais seria interessante a uma nação. Smith (1981) acreditava que o comércio

internacional somente seria possível quando o tempo de trabalho necessário para produzir um determinado

produto fosse inferior ao do outro país.

Em outras palavras, podemos afirmar que cada nação deve se especializar na oferta de mercadorias

cujos custos de produção sejam menores que os das outras nações. Como exemplo, Adam Smith valeu-se

Page 74: apostila economia logistica

70

das relações comerciais entre Portugal (tradicional país produtor de vinhos) e Inglaterra (tradicional país

produtor de tecidos).

Pela teoria proposta, se Portugal tivesse que deslocar parte de seu capital, empregado na produção

de vinhos, para produzir tecidos, certamente obteria menos tecidos e com qualidade inferior aos tecidos

ingleses. Logo, concluímos que a contribuição de Smith para a teoria do comércio exterior provocou muitos

debates e contribuiu, principalmente, para o surgimento de outras novas proposições.

Detentor de uma nova formulação à proposta apresentada por Adam Smith sobre o comércio entre

nações, Ricardo desenvolveu sua principal contribuição ao pensamento econômico: a Teoria das Vantagens

Comparativas. Para expor sua teoria, Ricardo também partiu do exemplo do comércio entre Portugal e

Inglaterra, usado por Adam Smith que tem como pressuposto a especialização de cada país na exportação do

produto do qual tem vantagem comparativa melhor.

Um país tem vantagem comparativa na produção de um bem se tiver um custo de oportunidade

menor que outro país na produção deste mesmo bem.

A comparação do preço interno com o preço praticado internacionalmente para o mesmo produto,

portanto, com a mesma qualidade, indica que, se houver diferença entre eles (computado o custo de

transporte), a região que tem menor preço tem vantagem comparativa na produção desse bem. Isto significa

que o preço praticado lá fora reflete o custo de oportunidade do produto internamente. Portanto, o comércio

entre os países se baseia, em linhas gerais, na vantagem comparativa. Segundo Mankiw (2005, p. 177), “[...]

o comércio é benéfico, porque permite que cada país se especialize em produzir aquilo que faz melhor”.

Você já ouviu falar que a atividade comercial pode vir a ser uma via de mão dupla?

Isso mesmo, a atividade comercial pode ser uma via de mão dupla, pois o comércio aumenta o nível

do bem-estar econômico do país quando os ganhos dos beneficiados superam as perdas dos prejudicados.

Logo, quando formos analisar quem ganha e quem perde com o comércio internacional, precisamos levar

em conta essa realidade. Isto torna o debate sobre o tema bastante entusiasmado, pois a definição da melhor

política comercial para um país precisa considerar efetivamente quem vai ganhar e quem vai perder, o que

não é fácil, pois quando isto ocorre, sempre temos uma disputa política.

Apesar de importante para os países, o comércio internacional é realizado, na prática, seguindo-se

uma série de restrições, que variam de intensidade de acordo com o país. Tais restrições são necessárias,

pois visam a proteger certos setores considerados estratégicos para a indústria nacional, impedindo, dessa

forma, por exemplo, o avanço do desemprego no país e o aumento da dependência externa. Outros

argumentos que podemos destacar são aqueles ligados aos setores da segurança nacional, proteção à

indústria nascente e competição desleal. E, por fim, aqueles ligados à proteção como estratégia para

melhorar a barganha com os parceiros comerciais.

Diante desta situação os governos adotam políticas protecionistas para protegerem seus produtos,

suas indústrias, enfim, sua economia. Estas práticas visam o favorecimento do produtor nacional frente aos

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71

concorrentes estrangeiros. Assim podemos afirmar que as medidas protecionistas são tomadas para proteger

o mercado nacional. Buscando oferecer este amparo contamos com alguns instrumentos:

sssss) Impostos de importação (tarifas): valor adicional cobrado sobre as importações.

ttttt) Quotas à importação: estabelecimento de quantidades fixas de importação.

uuuuu) Subsídios à exportação: benefícios concedidos aos produtores nacionais com vistas a

ampliar o volume exportado.

vvvvv) Política cambial: envolve a administração monetária realizada pelas autoridades para a

taxa de câmbio do país. e

wwwww) Regulamentações administrativas: imposição de normas a produtos

importados, com o objetivo de se restringirem as importações, como barreiras sanitárias,

padrões de qualidade etc.

Por fim podemos dizer que o comércio internacional deve ser o objetivo das nações, num cenário

de competições igualitárias entre as indústrias nacionais e estrangeiras. É fundamental, nesse sentido, a ação

do governo, promovendo uma política industrial de longo prazo e abertura econômica graduada, que não

venha a trazer perdas, e sim benefícios para a nação.

Por sua vez, as políticas comerciais estão sujeitas às normas da OMC – Organização Mundial do

Comércio, órgão criado no ano de 1995 em substituição ao GATT – Acordo Geral de Comércio e Tarifas,

órgão instituído no imediato pós II Guerra Mundial para regular as relações comerciais entre os países. A

OMC tem como propósito coibir políticas protecionistas e práticas de dumping no comércio mundial; para

tanto, possui poder de estabelecer normas e sanções entre os países membros. Dentre outras funções,

destacam-se:

xxxxx) gerenciar os acordos multilaterais de comércio de bens e serviços e direitos de

propriedade industrial;

yyyyy) administrar o entendimento sobre soluções de controvérsias;

zzzzz) servir de fórum para as negociações;

aaaaaa) supervisionar as políticas nacionais; e

bbbbbb) cooperar com outras organizações internacionais.

Regionalização do Comércio Internacional

A regionalização do comércio mundial tem-se constituído numa das características marcantes da

globalização econômica. Países formam blocos econômicos iniciados a partir de acordos comerciais que

evoluem no curso das transações, alcançando a união aduaneira, mercado comum e união econômica, até

lograr a integração econômica ampla. No propósito de intensificar o comércio entre si, países desenvolvem

diversos propósitos, desde a redução de barreiras tarifárias até a adoção de políticas tarifárias comuns. Em

certos espaços regionais, países adotam moeda única e a política macroeconômica segue padrão comum

entre os países membros.

Na América Latina, destaca-se o mercado regional, MERCOSUL – Mercado Comum do Sul. Neste

mercado, muitos produtos não possuem impostos de importação e são reduzidas as barreiras não-tarifárias.

Países parceiros desenvolvem políticas explícitas de intensificação do comércio intra-bloco. Dentre os

Page 76: apostila economia logistica

72

objetivos a serem alcançados neste mercado estão: findar a restrição à mobilidade de trabalho e capital,

harmonizar as políticas econômicas nacionais e criar uma moeda única.

Outro bloco econômico em destaque é o NAFTA – North American Free Trade Agreement- criado

em 1989, trata-se de uma ampliação do acordo de livre comércio que existe entre os EUA e o Canadá desde

1989, passando a incluir o México em 1994. A meta é a eliminação das tarifas alfandegárias entre esses três

países num prazo de quinze anos. Fonte: Lacombe (2004). A pretensão deste mercado, segundo o interesse

coordenado pelos Estados Unidos, é estender sua área de atuação para toda a América, unindo 32 países

através da ALCA – Associação de Livre Comércio das Américas, instituída em 1994. No momento, alguns

países relutam em integrar este bloco sob temor de submissão ao poder da economia dos Estados Unidos.

Cita-se, ainda, como bloco econômico relevante a EU – União Européia. Esta organização foi

constituída em 1992, em substituição a CEE – Comunidade Econômica Européia. O padrão cooperativo

entre países desta região vem desde a década de 1950. Atualmente, 27 países membros atuam em mercado

único, adotando política aduaneira comum e moeda única, na maioria de seus representantes. Além disso,

procuram desenvolver de forma coordenada atividades judiciais e de defesa dos países participantes.

QUESTIONÁRIO

cccccc) Como pode ser definido o comércio internacional?

dddddd) Qual a função do setor privado e do setor público?

eeeeee) O comércio internacional possui suas diretrizes de base em quais pensadores? E quais

são as suas teorias?

ffffff) Quais são as funções dos acordos de comércio entre os países?

gggggg) Quais são os instrumentos de protecionismo a serem utilizados pelos países?

8 ECONOMIA SOCIAL

Os indicadores econômicos são grandezas de caráter económico expressos em valor numérico onde

algumas das principais utilidades são por exemplo:

hhhhhh) Aferição dos níveis de desenvolvimento de países, regiões, empresas podendo

naturalmente fazer-se a comparação entre estas.

iiiiii) Compreender, informar e prever o comportamento de uma economia.

jjjjjj) Ajuizar a política económica do governo

8.1 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS - DISPONIBILIDADE INTERNA (IGP-DI)

É obtido a partir de uma média do Índice de Preços no Atacado (IPA), Índice de Preços ao

Consumidor (IPC) e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), com ponderações 06 (seis), 03 (três) e

01 (um) respectivamente. As coletas de preços abrangem os municípios de Rio de Janeiro e São Paulo para o

IPC, 19 capitais para o INCC, e as capitais e algumas regiões produtoras no caso do IPA (apesar do cálculo

não ser regionalizado).

O IGP-DI foi durante mais de quarenta anos empregado como principal indicador da inflação

brasileira. Contudo, atualmente, sua metodologia vem sendo alvo de algumas críticas relevantes,

Page 77: apostila economia logistica

73

especialmente por adotar uma estrutura de ponderação antiga, baseada no começo dos anos de 1960, não

captando as enormes transformações estruturais verificadas na economia do país ao longo dos últimos

quarenta anos. Ademais, a pesquisa de preços no atacado embute uma apreciável distorção por captar os

valores de tabela e não os de transação, anulando assim a possibilidade de incorporação de descontos ou de

ágios registrados nas operações comerciais.

Os levantamentos de campo são realizados no mês-calendário (01 a 30 ou 31) e a parte de varejo

tem como público-alvo a população com rendimento entre 01 e 33 salários mínimos. Sua utilização principal

é na atualização dos valores de contratos.

8.2 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DE MERCADO (IGP-M)

Apresenta praticamente as mesmas características e limitações do IGPDI. A diferença principal

corresponde à periodicidade da coleta dos preços, cobrindo o intervalo entre os dias 21 do mês anterior e 20

do mês corrente. Atualmente é utilizado especialmente nos contratos de reajustes de tarifas de telefonia e de

energia elétrica. Surgiuem1989, na época da hiperinflação indexada, dada a necessidade de os agentes

econômicos, notadamente aqueles atuantes no mercado financeiro, disporem de um índice de atualização de

preços logo no começo do mês.

8.3 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO (IPCA)

Este índice reflete as variações dos preços dos bens e serviços consumidos por famílias com renda

mensal urbana entre 01 e 40 salários mínimos, independentemente da fonte. Os preços são pesquisados em

dez regiões metropolitanas: Belém, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,

Curitiba, Porto Alegre e Goiânia, além do Distrito Federal. O peso dos produtos é fornecido pela Pesquisa de

Orçamentos Familiares (POF), realizada entre 01 de outubro de 1995 e 31 de setembro de 1996.

O índice nacional é determinado a partir da agregação dos índices regionais, ponderados pelo

rendimento total urbano, extraído da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). O IPCA é

adotado pelo Banco Central do Brasil para a fixação das metas de inflação do país, acordadas entre o

governo brasileiro e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

8.4 ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (INPC)

Este índice capta a evolução de uma cesta de produtos consumidos por famílias com rendimento

entre 01 e 08 salários mínimos, provenientes exclusivamente do trabalho assalariado urbano. O indicador

cobre as mesmas regiões metropolitanas do IPCA e a agregação é efetuada pela população residente urbana,

levantada pelo Censo Demográfico.

Page 78: apostila economia logistica

74

8.5 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (IPC)

Calcula a variação de preços de bens e serviços para famílias que ganham entre 01 e 20 salários

mínimos no município de São Paulo. É utilizado para reajustar impostos estaduais e municipais no Estado de

São Paulo.

8.9 CONCEITOS DE INFLAÇÃO

Existem várias definições a respeito da inflação, mas a mais simples e clara define como a elevação

contínua do nível de preços, isto é, uma taxa contínua de crescimento dos preços num período determinado.

Deve ficar com isto claro que um aumento de preços, por uma única vez, não pode ser considerado inflação.

Precisa-se de um aumento contínuo, mesmo que este não seja de igual magnitude ao longo do tempo.

Independentemente, existem varias causas para o fenômeno inflacionário e outras observações em

torno deste, que podem ser estudadas esquematicamente como segue:

8.9.1 A natureza do fenômeno

Existem diversas explicações ao fenômeno inflacionário sendo classificados segundo as diversas

escolas de pensamento econômico. Assim os monetaristas e neoliberais atribuem sua origem a um fenômeno

monetário de excesso de liquidez, motivada principalmente pelas necessidades de financiamento do governo

central, como se explicitará no parágrafo que segue.

Os recursos líquidos do sistema econômico classificam-se pela sua origem como oferta monetária,

igual a crédito interno líquido mais reservas internacionais líquidas. Ante a ausência destas últimas, só

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75

consegue-se financiar com a emissão de moeda. Toda vez que esta emissão não seja acompanhada por um

aumento da oferta de produtos de natureza interna ou externa, essa emissão será inorgânica, isto é será de

natureza superficial e se traduzirá diretamente em um aumento de preços.

Referimo-nos à sua natureza monetária, baseados na definição de Harberger (1978):

“Nenhuma economia jamais experimentou uma inflação significativa e nenhuma teoria de inflação

que mereça este nome sustentará que um processo inflacionário possa acontecer sem um aumento

correspondente na quantidade de moeda”.

Isto não quer dizer que não existam outras razões que possam explicar a origem do fenômeno

inflacionário as quais serão discutidas depois, mas acreditamos que uma das principais raízes está na

natureza monetária do fenômeno.

8.9.2 A Magnitude da Taxa de Elevação dos Preços

Um segundo aspecto diz respeito à determinação da magnitude a partir da qual uma taxa de

expansão geral dos preços realmente caracteriza um processo inflacionário típico. A respeito temos a dizer

que toda vez que a taxa de aumento dos preços seja “Um contínuo” isto é, seja susteniza num período

específico de tempo, estaremos frente a uma taxa inflacionária.

8.9.3 A Dimensão do Fator Tempo

Este problema diz respeito à dimensão do período de tempo que satisfaz a condição fundamental de

a expansão geral dos preços podem ser considerada persistente continuada ou prolongada. A prática tem sido

acumular índices mensais, no sentido de que se possa ter sempre uma estimativa permanente das mudanças

no nível geral dos preços. A partir da análise do índice acumulado, é que, se definirá a existência ou não de

processos inflacionários e suas magnitudes.

8.9.4 Os Fatores Exógenos e os Mecanismos Repressores

Esses fatores a mecanismos referem-se a influencia sobre os preços por fatores de natureza não

monetária, denominados exógenos.

A respeito é importante destacar que não existe um consenso geral sobre as causas da inflação, isto

é, não existe uma única causa para a inflação e justamente a partir do estudo delas e dos planos de

estabilização, aplicados baixo as diferentes abordagens teóricas, encontraremos alguma explicam a este

fenômeno econômico que afeta a tantas economias e que apresenta uma complexidade cada vez maior.

É importante destacar que os planos econômicos que iremos estudar foram na sua totalidade de

natureza heterodoxa, entendendo-se baixo este conceito a toda aquela formulação que escapa do contexto

teórico usualmente aplicado. Em outras palavras foram planos baseados em intentos de “adaptações” da

teoria econômica à realidade brasileira com o intuito reprimir a inflação.

8.9.5 A Inflação de Demanda

Page 80: apostila economia logistica

76

Uma das principais explicações teóricas da inflação sustenta que as altas generalizadas dos preços

resultam basicamente de um excesso de demanda agregada em relação à oferta da economia.

Em outros termos, a inflação de demanda é produzida toda vez que os estoques monetários reais

dos agentes econômicos (salários e todo tipo de renda) aumentem sem um acompanhamento da produção

total da economia medida pelo PIB. O que significa dizer que um aumento do poder aquisitivo dos agentes

econômicos se traduzirá num deslocamento da curva de demanda agregada, elevando os preços.

Segundo a análise clássica, o processo inflacionário se explica por uma expansão da oferta

monetária em uma economia que não se encontra em pleno emprego. Desse modo, o produto nacional ou

“output” se expandirá concomitantemente com um aumento do nível de emprego, inicialmente com um

efeito de valorização do salário nominal ante o aumento da demanda de trabalho que logo será neutralizado

com o aumento da oferta de trabalho. Finalmente, ter-se-á terá igual nível de salário nominal e taxa de juros,

mas com um nível maior de emprego e produto.

No caso sugerido por Keynes, com a existência de pleno emprego, no gráfico A, a curva IS ou de

oferta agregada de bens e serviços será vertical. Seguidamente o aumento da oferta monetária deslocará a

curva LM para acima, conseguindo-se com isso somente um efeito de desvalorização da moeda, fazendo

cair à taxa de juros, o salário real e o produto nacional.

No gráfico B o aumento de moeda, sem um acompanhamento da oferta agregada (IS), traduzir-se-á

num aumento de preços na mesma proporção ao aumento da quantidade de moeda.

No enfoque keynesiano somente existirá inflação de demanda quando a capacidade instalada estiver

em plena utilização.

Galves (1978), por sua vez, utilizou a seguinte explicação: aumentada a demanda, o produtor com

todos os fatores de produção já ocupados, não dispõe de mais insumos com que possa atender a demanda

acrescida; por tanto, os preços sobem. Sobem porque há mais poder de compra pressionando.

8.9.6 Inflação de Custos

O tratamento teórico da inflação de custos, embora se reconheça que a persistência e propagação de

qualquer inflação dependa, em última instância, da expansão monetária, admite que as causas iniciais do

processo se encontrem no âmbito da oferta agregada, cujos deslocamentos resultam de mudanças nos

salários, nos custos de matérias primas ou na tentativa de aumentar os lucros.

A inflação de custos, originada em aumentos reais das taxas salariais, pressupõe que estas, em

virtude de pressões sindicais, incorporem reajustes superiores à eventual expansão dos índices de custo de

vida, adicionados de aumentos reais superiores à estimativa dos acréscimos da produtividade da mão-de-

obra. A existência de pressões que resultam em elevações salariais desse tipo é, em geral, decorrente de

negociações coletivas conduzidas por sindicatos organizados e poderosos.

Existe um segundo tipo de inflação de custos, própria de economias que têm problemas de recessão

e problemas na distribuição da produção. A especialmente gerada em condições de recessão é explicada por

Page 81: apostila economia logistica

77

uma pressão cada vez maior dos custos médios, tanto fixos como variáveis sobre o custo total que faz com

que o preço tenha de ser maior do que o preço de mercado em condições normais de concorrência perfeita.

Figura 6 - Mercado de Trabalho no Modelo Keynesiano vs. Modelo Clássico.

Fonte 1 - Os enfoques de desequilíbrio na teoria Econômica (Roberto Camps de Moraes, 1980).

Onde:

W é o salario nominal

w é o salario real

r é a taxa de juros

Y é o PBI

N é o nível de emprego

IS é a curva de demanda agregada da economia.

LM é a curva de oferta monetária da economia.

Nd é a curva de demanda por emprego.

Ns é a curva de oferta de emprego.

O gráfico C explica os custos de produção em condições de concorrência perfeita. Como

consequência da recessão e queda nas vendas, as empresas não atingem o ponto de maximização de

benefício. Desse modo os preços se elevam, tentando trasladar esse maior custo de produção a economia.

Outro fator que determina a inflação é um aumento do “mark up”, ou margem de lucro, pois esse

implicará a elevação do nível geral de preços. Essa variante da inflação de custos pressupõe para a indústria

de onde se originou uma estrutura de mercado imperfeitamente competitiva, oligopolista ou monopolista.

Page 82: apostila economia logistica

78

Generalizando, pode-se dizer que à concorrência é um obstáculo à ocorrência da inflação de custos,

originários da alteração para mais do lucro.

Um de seus mais importantes pré-requisitos é a existência de estruturas de mercado

imperfeitamente competitivas.

Figura 7 - Maximização dos Benefícios em Condições de Concorrência Perfeita

Fonte 2 - Introdução à Economia. Paschoal Rossetti, 1991.

8.9.7 Inflação Inercial

A inflação inercial foi desenvolvida no Brasil como uma resposta analítica à aceleração da inflação

nos anos 70 tendo como pano de fundo o debate sobre a relevância da Curva de Phillips para a economia

brasileira.

Segundo Luís Aranha (1956), não se deve perder de vista o fato de que a taxa de inflação em dado

momento está fortemente relacionada às taxas de inflação no passado.

Em outros termos, a inflação possui um elevado componente de auto sustentação ao relacionamento

automático.

Segundo Espejo Ortega (1989), a literatura macroeconômica convencional costuma atribuir o

caráter auto regressivo da taxa de inflação as expectativas inflacionárias.

Page 83: apostila economia logistica

79

As primeiras interpretações em relação às expectativas inflacionárias baseiam-se num processo

«adaptativo», através do qual a inflação de hoje é determinada como uma média ponderada de valores

passados.

Assim, Cagan (1956) considera que as «Expectativas Adaptativas» garantem a sustentação de um

processo inflacionário porque os agentes econômicos utilizam a informação sobre os seus erros de predição

no passado para revisar a expectativa do período presente.

A respeito disso, essas concepções foram objeto de drástica revisão, pois se os agentes econômicos

formam suas expectativas de forma adaptativa, então podem ter erros sistemáticos e subestimar a taxa de

inflação por vários períodos, até incorporar informações suficientes de modo a revisar a expectativa atual.

Surgiu a partir dos estudos de Fisher (1930) para a taxa de juros, a regra adaptativa que equivale a

considerar que o valor esperado da variável em questão é uma media ponderada de seus valores passados

com pesos decrescentes a partir do período mais próximo.

Mais recentemente, Cagan (1956) e Nerlove (1958) aprimoraram a base teórica dessa regra, ao

proporem que, por exemplo, a taxa esperada de inflação para o período t é igual à taxa realizada do período

t-1, no qual a previsão é formulada e corrigida por um termo aditivo composto pelo erro de previsão

cometido em t-1. Em termos matemáticos, a regra adaptativa pode ser escrita como:

P*(t) = P(t-1) + a (P(t-1) - P*(t-1)) onde a está entre 0 e 1.

Onde P(t-1) é a taxa de inflação do período t-1 e * denota o valor esperado.

A análise deste efeito vai gerar a «Curva de Phillips» ao se aplicar a uma série temporal. Assim, as

aplicações macroeconômicas da regra adaptativa do lado da oferta agregada à curva de Phillips com

expectativas fica na forma:

P(t) = h E k1 p(t-1) + f(ut, ut-ut-1) f1, f2 menor do que zero, e h está entre 0 e 1.

Onde P*(t) = E k1 p(t-1)

Representando a relação entre excesso de demanda no mercado de trabalho (quanto maior a taxa

contemporânea de desemprego “ut”, menor o excesso de demanda e, por conseguinte menor a velocidade de

crescimento de salários e preços, o mesmo valendo para a variação no desemprego, ut-ut-1).

A curva de Phillips, que mostra o «Trade Off» entre inflação e desemprego será então vertical no

caso extremo proposto por Friedman (1968) e Phelps (1968), enquanto a de inclinação intermediaria mostra

uma curva de Phillips de longo prazo «keynesiana» (em que existe um número infinito de taxas de

desemprego de equilíbrio).

A diferença entre o resultado «Keynesiano» e «Monetarista» está no formato da curva de longo

prazo. Para os keynesianos é possível mudar permanentemente a taxa de desemprego através da gerencia de

demanda agregada ao longo da relação de longo prazo. Para os monetaristas, uma vez que existe apenas uma

taxa «natural» de desemprego (associada ao equilibro no mercado de trabalho) ano, é possível, a longo

prazo, uma alteração permanente na taxa de desemprego.

Page 84: apostila economia logistica

80

Tanto para keynesianos como para monetaristas, existe um “trade off” de curto prazo. A

neutralidade da moeda vigora a longo prazo para o monetarista, mas não para os keynesianos.

De qualquer forma, a condição de equilíbrio de longo prazo da economia envolve a satisfação de

cinco condições:

a) Produto Efetivo = Produto Potencial,

b) Demanda Agregada = Oferta Agregada,

c) Taxa de Inflação = Taxa de Expansão Monetária,

d) Taxa de Inflação = Taxa Esperada de Inflação e

e) Inercia no Desemprego.

Posteriormente, Muth (1961) foi o primeiro a surgir e formular a hipótese de «Expectativas

Racionais». Ele não estava particularmente interessado na inflação, o seu objetivo era conciliar a hipótese de

«racionalidade», usada generalizadamente na modelagem do comportamento dos agentes econômicos nos

mercados de produtos específicos com o mecanismo de formação de expectativas.

A hipótese central de Muth consiste em que a distribuição de probabilidade das firmas tende a ser

igual à distribuição proposta pela melhor teoria econômica existente, para o mesmo conjunto de informações

disponíveis. A aplicação da HER ou Hipótese de Expectativas Racionais aos modelos macroeconômicos

gerou alguns resultados relevantes para a política econômica:

a) Tal como foi proposto por Lucas (1972,1973), tentativas de administrar a demanda agregada

visando a obter variações desejadas sobre as variáveis reais da economia resultam

neutralizadas pelo comportamento dos agentes econômicos.

b) No entanto, como também é proposto por Lucas, surpresas de política econômica geram

efeitos reais sobre as variáveis macroeconômicas. Isto é devido a não antecipação de tais

eventos, pois a informação é incompleta.

c) A variância dos choques monetários e fiscais afetam a sensibilidade dos agentes econômicos

em relação e esses choques, fazendo que quanto maior seja essa variabilidade, menores

sejam os efeitos reais dos mesmos.

Assim, quanto maior variância, mais confusa ficará os agentes econômicos na sua discriminação

entre sinais micro e macroeconômico, levando-os a aumentarem os erros na alocação de recursos.

Essa afirmação surgiu da comparação das economias argentina e norte-americana, sendo que a

última tem estabilidade nos agentes econômicos em relação a suas expectativas racionais.

A teoria da HER mostrou que os agentes econômicos são racionais e tem perfeita informação, então

eles são capazes de prever a trajetória futura da economia e avaliar se os valores atuais são compatíveis com

o equilíbrio de longo prazo.

Portanto, no modelo das Expectativas Racionais, os agentes não precisam olhar para o passado para

formarem sua expectativa da inflação. Eles somente precisam observar as variáveis de política econômica e

determinar racionalmente se elas são sustentáveis a longo prazo.

Em conclusão, pode-se dizer que a chamada «revolução das expectativas racionais» provocou um

grande impulso na pesquisa teórica mais recente, oferecendo um paradigma alternativo à combinação da

Page 85: apostila economia logistica

81

curva de Philips com expectativas auto regressivas e aparato IS-LM, que formavam a concepção dominante

antes de seu advento.

Existe, pois agora uma divergência ideológica na macroeconomia contemporânea entre “novos

clássicos” e “novos keynesianos” que apenas reproduz a velha dicotomia entre clássicos e keynesianos, que

logo foi entre monetaristas e keynesianos e agora continua em um nível maior de sofisticação teórica.

8.9.8 Inflação Estrutural

A inflação estrutural tem suas origens nas teorias de desenvolvimento de América Latina, no

pensamento da Comissão Econômica Para América Latina (CEPAL) liderada por Raúl Prebish, como uma

tentativa de explicação das variações dos preços a nível de comércio internacional entre centro e periferia.

Os chamados estruturalistas consideram que a inflação se apoia em fatores associados com as

características das relações comerciais, também chamadas de “Termos de Intercambio”.

Inercialidade de oferta de produtos agrícolas: Com o êxodo rural, há um aumento da parcela de

produtos agrícolas. Tanto a estrutura agrária, quanto os métodos de produção rural não se desenvolvem com

a mesma rapidez que o crescimento urbano, gerando aumento dos custos de alimentação.

Desequilíbrio Crônico do Comércio Exterior: este desequilíbrio deve-se a pouca elasticidade-renda

das importações dos produtos primários industrializados, em contrapartida à alta elasticidade das

importações de bens de consumo duráveis adquiridos nesses países subdesenvolvidos. Assim, há

necessidades de financiamento externo para compensar o déficit das transações correntes na tentativa de

corrigir tal desequilíbrio.

São geralmente adotadas políticas de substituição das importações que geram outras séries de

problemas à economia; primeiro, porque a produção interna nem sempre é suficiente para substituir aqueles

bens que precisam de maior nível de tecnologia; segundo, porque exige a adoção de políticas protecionistas

muitas vezes destinadas a indústrias ineficientes, de baixos níveis de produtividade e de preços

necessariamente altos; terceiro, porque esta política proporciona o aparecimento de novas indústrias

oligopolistas ou monopolistas, que futuramente podem vir a pressionar a economia.

Distribuição desigual da renda e rigidez nos orçamentos públicos: nos países subdesenvolvidos, o

governo é incumbido da implantação da infraestrutura para as indústrias que estão surgindo. Estes

investimentos devem ser financiados pelo tesouro público.

O combate a esses fatores cria uma serie de reformas de classes, tais como reformas de ordem

administrativa, agraria e fiscal, além de uma reforma tributaria. São estas as atitudes preconizadas pelos

estruturalistas para o controle da inflação, procurando, estas as atitudes preconizadas pelos estruturalistas

para o controle da inflação, procurando, assim, alterar a estrutura econômica do país.

8.9.9 Efeitos Da Inflação Na Economia

Page 86: apostila economia logistica

82

Um dos efeitos da inflação, é que se torna mais difícil renegociar alguns preços, contratos e

salários, para valores mais baixos, então com o aumento geral de preços é mais fácil para que os preços

relativos se ajustem. Muitos valores são bastante inflexíveis para baixo, e tendem a subir, portanto os

esforços para manter uma taxa zero de inflação irão punir setores com queda de preços, lucros e empregos.

Esses esforços podem também levar a deflação, que podem ser bastante destrutivas, estimulando

falências e recessão. A inflação pode também provocar efeitos sobre a estrutura de produção da economia.

Redistribuindo rendas e causando uma desproporção em relação ao volume de demanda para os vários

setores da economia, já que os preços não mudam todos juntos e sim cada um com diferente intensidade.

Outro efeito negativo pode ser a hiperinflação. Geralmente quando a inflação é resultado de

políticas governamentais para aumentar a disponibilidade de moeda, a contribuição do governo para um

ambiente inflacionário é vista como uma taxa sobre a moeda em circulação. Com o aumento da inflação,

aumenta esse peso sobre o dinheiro em circulação, isso por sua vez promove um aumento da velocidade de

circulação do dinheiro, o que por sua vez reforça o processo inflacionário em um ciclo vicioso que pode

levar a hiperinflação.

Por conta destes efeitos negativos causados pela inflação, os bancos centrais costumam definir a

estabilidade de preços como m objetivo primordial de suas políticas, como uma inflação perceptível, mas

baixa, como ideal. Uma forma de controlar os preços é a taxa de juros, quanto maior é a taxa de juros,

menos dinheiro circula no mercado, o que diminui a capacidade de compra da população.

Consequentemente, a inflação não sobe.

QUESTIONÁRIO

a) Qual a função dos índices econômicos?

b) Qual a finalidade dos índices para as construtoras?

c) Qual a finalidade do índice FIPEZAP? O que é inflação?

d) O que causa inflação?

e) O que é inflação de custos?

f) O que é inflação inercial?

g) O que é inflação de demanda?

h) O que é inflação estrutural?

i) Quais são os efeitos da inflação na economia?

9 ECONOMIA GEOMÉTRICA

9.1 ALFRED WEBER E A LOCALIZAÇÃO ÓTIMA DA FIRMA I_DUSTRIAL

Ao contrário de Von Thünen, que enfocou a localização da atividade agrícola e de Marshall que

considerou apenas as forças aglomerativas que atraem as atividades econômicas de um modo geral para

determinadas localidades, Alfred Weber preocupou-se especificamente com os fatores gerais e específicos

de localização da firma industrial. No entanto, em seu livro, Teoria da localização das indústrias, escrito em

1909, nenhuma consideração foi feita por ele acerca da localização dos centros financeiros, fornecedores de

capitais e crédito. Sua análise centrou-se na esfera da produção e do consumo (Weber, 1969, p. 5).

Page 87: apostila economia logistica

83

9.1.1 OS FATORES DE LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

Como Von Thünen, Weber supôs a existência de uma superfície plana e homogênea, na qual as

tarifas de transporte apresentam-se constantes em todas as direções. Considerou a existência de alguns

centros urbanos consumidores e um número limitado de fontes produtoras de matérias-primas, igualmente

localizados nesse mesmo espaço.

Weber classificou como fatores gerais da localização, por afetar a todas as indústrias

indistintamente, os custos de transportes, o custo da mão-de-obra e a renda da terra, "uma vez que

influenciam a localização de cada indústria em particular, de uma maneira ou de outra"; enquanto alguns

fatores podem ser considerados especiais, porque influenciam apenas algumas indústrias específicas, tais

como a perecibilidade de matériasprimas, a influência do grau de umidade do ar no processo produtivo e a

disponibilidade de água (Weber, 1969, p. 20).

Esses fatores induzem à distribuição espacial da indústria, levando-as a se aglomerarem em

determinados lugares, ou a se dispersarem no espaço.

Algumas indústrias podem ser orientadas para a fonte de matéria-prima, outras para locais onde a

mão-de-obra é mais abundante ou mais barata.

Outras escolhem centros já congestionados com renda da terra elevada (aluguéis altos). As

indústrias que se orientam para centros específicos estão sob a influência de fatores regionais de localização

(Weber, 1969, p. 21).

Na teoria weberiana, a firma individual procura uma localização que minimize os custos salariais

ou os custos de transporte de matérias-primas e de produtos acabados. A localização de uma firma industrial

é feita segundo cinco situações possíveis:

a) Primeira, os custos salariais são constantes e a localização ótima é aquela que minimiza os

custos de transportes. As indústrias que perdem peso no processo produtivo tendem a se

localizar junto à fonte produtora da matéria-prima relevante;

b) Segunda, os custos salariais variam e os custos de transportes não apresentam diferenças

relevantes de um local para outro, de sorte que a firma escolherá o local de menor custo

salarial. As indústrias com alto custo de trabalho, por unidade de produto, procuram

localizar-se junto ao mercado de trabalho;

c) Terceira, são variáveis tanto os custos salariais, como os custos de transporte, de modo que

o somatório de todos os custos indicará a localização ótima, de menor custo;

d) Quarta, são variáveis os custos salariais e os custos de transporte, mas a presença de

economias de algomeração levariam determinadas indústrias a se localizarem junto ao

mercado consumidor, neutralizando os aluguéis mais caros do centro urbano principal, bem

como outras deseconomias externas possíveis. A presença de economias e deseconomias

externas são exceções à regra geral weberiana de minimização dos custos de transportes e

dos custos salariais;

e) Finalmente, existem ainda as indústrias de localização livre, que se instalam

indiferentemente em qualquer lugar, por utilizarem matérias-primas e trabalhadores

disponíveis em todas as partes ao mesmo custo e qualificação. É possível que indústrias

desse tipo acabem se localizando, de preferência, junto do centro urbano principal, porque a

proximidade dos consumidores e de outros empresários, bem como o acesso à informação

privilegiada, acabam produzindo maiores lucros.

Page 88: apostila economia logistica

84

9.1.2 MINIMIZAÇÃO DOS CUSTOS DE TRANSPORTE

Se a tecnologia empregada e os demais custos de produção permanecem constantes em locais

alternativos, a firma vai se localizar onde for menor o custo de transporte das matérias-primas e do produto

acabado.

Na medida em que esses custos de transporte têm uma parcela significativa na composição do custo

médio e do preço final do produto, a escolha de uma localização que minimize esse custo torna-se

fundamental.

Supondo tarifas constantes em todas as direções, independente da distância e do bem a ser

transportado, o elemento determinante do custo de transporte será o peso do material a ser transportado e a

distância a ser percorrida. Para simplificação, também não serão considerados os custos de embarque e de

movimentação de materiais, que podem variar de um local para outro, influenciando, portanto, a escolha

locacional ótima.

O custo de transporte pode ficar influenciado também pelo sistema de transporte utilizado,

acessibilidade à região, estrutura de transporte e pela natureza do bem a ser transportado, como volume e

forma.

Torna-se difícil e oneroso o transporte de cargas muito volumosas, em relação ao valor

transportado, como algodão, cana-de-açúcar e grandes embalagens metálicas, ou pesados equipamentos

mecânicos de forma muito irregular.

Porém, as tarifas podem se mostrar excessivamente altas para distâncias pequenas, de modo que os

custos de embarque e o custo fixo total de transporte muitas vezes se diluem no custo total do produto

quando as distâncias aumentam.

De um modo geral, na prática, a tarifa de transporte (ton/km) se reduz com o aumento da distância e

do peso da carga transportada. Os transportes em grandes navios ou em trens rápidos, apresentam custo total

de transporte mais baixo em relação ao transporte rodoviário, acima de determinada distância (Figura 10).

Para distâncias de até 50 km, o transporte por caminhão tende a ser mais barato do que o transporte

por trem; entre 50 e 200 km, o transporte por caminhão é mais caro do que por trem, mas mais econômico

em relação ao transporte por barco.

Acima de 600 km, o transporte por barco é menos custoso do que o transporte por trem.

Page 89: apostila economia logistica

85

Outro fator examinado por Weber, influenciando o custo de transporte, além do peso e da distância,

compreende a estrutura física do local de implantação da unidade produtiva.

A debilidade da infra-estrutura do local de instalação da fábrica e a necessidade de construção de

benfeitorias de acesso ao sistema de transporte elevam os custos do projeto em questão. Tais custos podem

variar de uma área para outra, no interior das regiões, afetando as decisões de localização da firma

individual.

Desse modo, sendo constantes os custos salariais e dadas as condições de infra-estrutura física nas

localizações possíveis, bem como o mercado principal e as fontes de matérias-primas, o custo unitário de

transporte e o peso a ser transportado, os custos de transportes têm lugar de destaque na análise locacional.

9.1.3 ÍNDICE DE MATERIAL

Para a escolha da localização ótima, é preciso calcular antes de tudo o índice de material (Im),

definido como a relação entre o peso das matérias-primas localizadas (M - U) e o peso do produto (M - P),

ou seja:

Im = (M - U) / (M - P) = (M - U + P - P) / (M - P) = 1 - (U - P) / (M - P)

onde: M engloba todos os materiais utilizados para a fabricação do produto; U são as ubiquidades

(materiais encontrados em toda a parte, ao mesmo custo); P são as perdas de peso no processamento do

produto (Leme, 1982, p. 131).

Weber salientou que a questão relevante, na análise locacional, não é o peso total dos materiais

usados em relação ao produto final, mas a proporção dos materiais localizados no peso do produto. Desse

modo, as ubiqüidades não devem ser consideradas (como alguns tipos de grãos, madeiras, água,

combustíveis, energia, telefone).

Page 90: apostila economia logistica

86

Entretanto, quando a demanda por esses insumos for muito grande, eles podem se tornar escassos e

relevantes no estudo da localização. Nesse caso, em vez de ubíquos, os materiais tornam-se localizados.

As ubiqüidades somente se tornam importantes quando acrescem esse peso ao produto, ao se

tornarem localizadas.

A partir da relação (4) pode-se estabelecer regras gerais de localização pela minimização dos custos

de transporte, com tudo o mais constante:

a) Localização junto ao mercado consumidor principal: U > P, logo, Im < 1. O peso das

ubiqüidades sendo maior do que o peso perdido no processamento, significa que a indústria

utiliza muitas matérias-primas encontradas no próprio mercado consumidor. Este é o caso

da maioria das indústrias de transformação. Quanto mais elaborado for o produto, tanto

mais a sua localização será orientada para o mercado.

b) Localização junto à fonte da matéria-prima relevante: U < P, logo, Im > 1. A perda de peso

no processo produtivo é mais importante do que o peso das ubiqüidades, gerando um índice

de material maior do que um. Este é o caso em que a fabricação do produto exige poucas

matériasprimas. Constituem exemplos as indústrias extrativas e aquelas da primeira

transformação dos materiais.

c) Localização indefinida a priori: U = P, logo, Im = 1. A localização ocorrerá no mercado

consumidor relevante, a menos que no balanço entre as economias e deseconomias externas

surja um local mais adequado, como um centro urbano menor. Como a firma sempre

utilizará alguma ubiqüidade, com alguma perda no processamento, descarta-se a

possibilidade de se ter Im exatamente igual à unidade.

Fazendo (M - U) = m e (M - P) = p, para o caso de duas matérias-primas, o índice de material da

equação (4) indicará as quantidades dos materiais localizados utilizados por unidade de produto (p = 1), ou

seja:

Im = (m1 + m2) / p

Sendo Im > 1, a localização se voltará para a fonte de matéria-prima de maior peso, m1 ou m2.

Constituem exemplos usinas de açúcar e destilarias de álcool de cana, visto que os resíduos de cana são

muito volumosos em relação ao produto final. Seria mais caro transportar a matéria-prima até à fábrica, se

esta se localizar junto ao mercado e distante das zonas produtoras relevantes.

A localização da firma industrial ocorrerá junto ao centro consumidor de maior dimensão também

quando m1 < 1 e m2 < 1 (visto que p = 1) e, provavelmente, mesmo quando m1 = m2 = 1, pela existência de

economias de aglomeração importantes nesse centro.

Do mesmo modo, quando o produto final for muito volumoso, embora as perdas de processamento

não sejam relevantes, a localização ótima tenderá a ocorrer junto ao mercado consumidor relevante.

Exemplo de produtos volumosos são tonéis ou tanques metálicos, utilizados para embalagem de

mercadorias. O grande espaço que ocupam nos veículos encarece o custo de transporte, levando à fabricação

desses produtos, na medida do possível, à proximidade dos principais utilizadores desses insumos.

9.1.4 O TRIÂNGULO LOCACIONAL DE WEBER

Page 91: apostila economia logistica

87

Mas quando os diferentes pesos locacionais forem iguais (m1 = m2 = p = 1), a localização pode

ficar indeterminada a priori pela “regra do bom-senso”. Graficamente, ela seria exatamente no centro do

triângulo locacional de Weber (Figura 6), quando as distâncias entre as fontes de matérias-primas e o centro

consumidor fossem iguais.

Com a mesma tarifa unitária de transporte para as diferentes matérias-primas e para o produto final,

a localização ótima ficará influenciada pela distância entre os diferentes centros e pelo volume da carga a ser

transportada. Sendo essas distâncias diferentes entre tais centros, a localização ótima ocorrerá em algum

lugar no interior do triângulo locacional.

Supondo que a distância entre a fonte de matéria-prima M1 e o mercado consumidor C seja igual a

60 km; entre a fonte M2 e o mercado C seja igual a 40 km e que a distância entre as duas fontes M1 e M2

seja igual a 50 km (com m1 = m2 = p), a localização ótima da firma individual será determinada como se

observa na Figura 11.

Traçando paralelas aos lados do triângulo locacional M1CM2, obtém-se os triângulos M1BC,

M2CA e M2DM1; a seguir, três círculos são traçados de sorte a passarem pelos vértices de cada triângulo. A

localização ótima L fica determinada no interior do triângulo locacional, na intercessão dos três círculos, à

proximidade da fonte de matéria prima M2.

Obviamente, dependendo da infra-estrutura disponível, a localização ótima poderá se deslocar para

M2, em detrimento do ponto L. Em M2, a distância a ser percorrida até M1 e até o centro consumidor C é

igual a 90 km, contra 100 km em C e 110 km a partir da fonte M1.

De outro lado, a localização ótima poderá recair em um ponto qualquer à proximidade de L, se esse

novo ponto corresponder, por exemplo, a um entroncamento de transporte, a um centro consumidor

secundário, a um reservatório de mão-de-obra, ou, ainda, a uma fonte secundária de matéria-prima utilizada

na elaboração do produto final.

Page 92: apostila economia logistica

88

No interior da triângulo locacional, cada indústria tem um peso locacional, com Im maior ou menor

do que a unidade. A tecnologia e a rede de transportes influenciam os custos locacionais de uma área para

outra. Meios de transporte diferentes apresentam tarifas e custos de transportes distintos, como foi visto na

Figura 5.

9.1.5 PONTOS DE TRANSBORDO

Com a introdução de outras variáveis no modelo, como mercados secundários, entroncamentos de

meios de transporte (pontos de transbordo), fontes alternativas de suprimento de matérias-primas, altera-se a

matriz das localizações possíveis, tornando a análise mais realista, mas dificulta-se a análise gráfica.

Um ponto de transbordo corresponde a um local em que se muda o meio de transporte, como por

exemplo, do trem para o caminhão, ou do navio para outro meio de transporte. Para minimizar o custo de

movimentação dos materiais transportados, bem como para evitar o pagamento de taxas de armazenagem, a

localização ótima da firma poderá deslocar-se para esse ponto de transbordo.

Locais possíveis de localização podem, no entanto, serem excluídos por não apresentarem insumos

essenciais, como água, energia ou mão-de-obra em quantidades e qualidades necessárias. O cálculo da

localização de menor custo poderá, portanto, ser efetuado com três ou quatro localizações prováveis, através

de exclusões, levando-se em conta o peso dos materiais localizados e a distância a ser percorrida.

9.1.6 MINIMIZAÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

A análise efetuada na seção anterior levou em conta tão-somente os custos de transporte, com os

custos salariais constantes em todas as localizações possíveis, abstraindo-se também os efeitos das

economias de aglomeração. Nesta seção, será considerada também a influência dos demais fatores de

produção, uma vez que os custos totais para se produzir um determinado produto poderá variar de uma

localização para outra.

Para levar em conta as variações dos custos salariais, entre localizações alternativas, Weber definiu

o coeficiente de trabalho (Cw) como a razão entre o custo do trabalho por unidade de produto (Iw) e o peso

total dos produtos transportados (Pt) este é o peso locacional, isto é, o peso do produto acabado, mais o peso

do conjunto dos materiais transportados e utilizados no processo de produção), ou seja:

Cw = Iw / Pt

Desse modo, quando os custos salariais variam no espaço, as indústrias desviam-se da localização

ótima do ponto de vista dos custos de transporte, na proporção do valor de seu coeficiente de trabalho

(Friedrich, 1929, p. xxv). Contudo, quando variam tanto os salários pagos, como o peso dos materiais

transportados, a localização ótima somente será definida quando as diferenças dos custos salariais

compensarem os acréscimos dos custos de transporte de materiais.

Com o peso do conjunto dos materiais a serem transportados (Pt) constantes de um local para outro,

a localização ótima será aquela onde Cw for o menor possível (supõem-se, aqui, que a maior demanda de

Page 93: apostila economia logistica

89

mão-de-obra nesse local não aumente os salários médios); pelo contrário, com os custos salariais por

unidade de produto (Iw) constantes, variando somente Pt, o melhor local corresponderá ao maior Cw. Com

Iw variando em uma direção e Pt em outra, a magnitude de Cw nada informa, a não ser comparando os

valores monetários dos custos salariais com os custos de transportes de todos os produtos e materiais

transportados a partir das localizações alternativas.

9.1.7 ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO

Desse modo, tanto a localização da mão-de-obra nos diferentes centros urbanos, como as

economias de aglomeração existentes no mercado consumidor principal, C, podem deslocar a localização

ótima do ponto L, o local de custo de transporte mínimo. Esse deslocamento poderá ocorrer se os ganhos

com a proximidade do mercado de trabalho e de consumo compensarem a elevação dos custos de transporte

em relação a L.

As economias de aglomeração ocorrem quando duas firmas se beneficiam ao se implantarem juntas

no mesmo lugar, abandonando suas localizações individuais ótimas do ponto de vista da minimização do

custo de transporte.

Na nova localidade, elas auferem ganhos com economias externas, tais como: aumento das

ubiqüidades (custo de transporte nulo de produtos usados como insumos e produzidos localmente);

disponibilidade de mão-de-obra especializada e treinada; proximidade de clientes potenciais; infraestruturas

econômicas (vias de acesso, entroncamentos rodoferroviários, portos, energia, saneamento, telefones);

existência de áreas urbanizadas, com infra-estrutura de lazer para os trabalhadores, vida social e cultural

para os executivos; qualidade do transporte coletivo; disponibilidade de casas e apartamentos com aluguéis

relativamente acessíveis; possibilidade de acesso a inovações tecnológicas lançadas por empresas

concorrentes e a informações de um modo geral; disponibilidade de serviços superiores especializados

(publicidade, pesquisa, contatos de negócios, bancos) etc.

Isto pode ser considerado quando algumas indústrias calçadistas se deslocaram do Vale dos Sinos

para o Vale do Paranhana, ou simplesmente, abriram filiais.

A figura 12 mostra a localização destas regiões.

Page 94: apostila economia logistica

90

Com o desenvolvimento dos meios de transporte e a redução do peso dos produtos, e a consequente

redução das tarifas unitárias e dos custos totais de transporte, as localizações tendem a se efetuar junto ao

mercado de trabalho, que nem sempre coincide com a localização exata do principal mercado consumidor,

mas na sua proximidade, geralmente na periferia das grandes cidades. Constituem exemplos a FIAT, que se

localizou em Betim, na periferia de Belo Horizonte, e a Renault que escolheu a localização de São José dos

Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, distante cerca de 400 km da cidade de São Paulo, o principal

mercado consumidor brasileiro.

Dependendo da acessibilidade dos produtos ao mercado urbano e às fontes das matérias-primas, os

custos de transporte tornam-se negligenciáveis no interior de uma região metropolitana, principalmente

quando podem ser repassados com alguma facilidade aos consumidores.

Nesse sentido, e quanto maior for o preço do produto, tanto mais o transporte unitário perde

significação. Assim sendo, a outros fatores de localização passam a ter relevância, tais como a

disponibilidade, custo e qualificação da mão-de-obra e as economias de aglomeração enumeradas acima.

A presença de heterogeneidade e descontinuidades espaciais ocorre com mais freqüência,

enfraquecendo a hipótese de homogeneidade e de tarifas uniformes de transportes em todas as direções.

Grandes cidades representam amplos mercados consumidores e maior disponibilidade de mão-de-obra

especializada. No entanto, dada a maior concorrência entre os produtores por fatores escassos, como

determinados serviços especializados, terrenos, ou energia, seus preços podem aumentar, gerando

desvantagens locacionais.

De outra parte, o governo e entidades locais podem estabelecer restrições à criação de certas

atividades poluidoras, implicando o estabelecimento de taxas e regulamentações que elevam os custos. As

firmas tenderão a buscar novas áreas, principalmente as dotadas de infra-estruturas básicas e com

disponibilidade de terrenos amplos e com preços acessíveis.

Fatores que podem ser insignificantes para algumas atividades, podem ser relevantes para outras.

No caso de frigoríficos de aves, por exemplo, torna-se necessária a existência de água em abundância; para

outras, a energia mostra-se fundamental, assim como a presença de aeroporto, universidades, ou portos para

escoamento da produção, ou recebimento de matérias-primas.

Em suma, a análise weberiana leva em conta apenas a firma individual, sem considerar a

concorrência entre elas. Como os espaços já se encontram estruturados, a introdução de uma nova atividade

afeta os preços relativos dos fatores e produtos. Cada empresa procura ampliar sua participação no mercado

e utilizar os insumos de que necessita com o menor custo e o máximo lucro.

Com a entrada de novas firmas no mercado, a maior demanda resultante por fatores e matérias-

primas pode elevar os salários, as taxa de juros e os preços em geral, incluindo-se as tarifas de transporte, o

que acabaria por afetar as localizações ótimas.

Page 95: apostila economia logistica

91

9.2 MODELO DA CONCENTRAÇÃO URBANA

9.2.1 Aspectos gerais

Krugman compara três propostas:

a) A teoria neoclássica dos sistemas urbanos, que dá ênfase à compensação entre economias de

aglomeração e deseconomias do tamanho da cidade;

b) A nova geografia econômica, que tenta derivar os efeitos da aglomeração das interações

entre o tamanho do mercado, custos de transporte e rendimentos crescentes ao nível da

firma;

c) Uma visão niilística em que as cidades emergem como um processo aleatório em que

existem rendimentos constantes para o tamanho da cidade.

O problema da urbanização e desigual desenvolvimento regional, que leva à formação de grandes

metrópoles, é mais grave nos países em vias de desenvolvimento do que nos países industrializados.

O autor apresenta um modelo em que acentua o papel de fatores relativamente mensuráveis como

as economias de escala e custos de transporte que determinam o crescimento urbano. Nos países

desenvolvidos as economias de escala estáticas tendem a parecerem pouco importantes. De fato, nos países

avançados existe um incremento nas atividades de produção de informação mais do que na produção de bens

tangíveis, as externalidades que induzem a aglomeração e os custos de transação que fazem com que a

distância se torne cada vez mais tênue.

Por contraste, os países em vias de desenvolvimento, têm mercados internos muito menores. Assim,

as economias de escala convencionais são relevantes, e estes países ainda dedicam muita da sua força de

trabalho em produtos tangíveis que devem ser transportados por estrada ou caminho de ferro.

Finalmente, a radical mudança nas políticas que teve lugar em alguns países em desenvolvimento,

foi a de terem impactes maiores no desenvolvimento regional ou urbano. Posteriormente apresenta um

exemplo: no México, o distrito federal tornou-se dominante durante o período da estratégia de

desenvolvimento baseada na substituição das importações, bem como no extenso envolvimento do governo

na economia. Como o país mudou para uma política de comércio orientada para as exportações, o centro de

gravidade da indústria deslocou-se visivelmente para os Estados do norte do país. Decidindo a combinação

desta mudança com a privatização e descentralização enfraqueceu o papel especial da Cidade do México.

O artigo expõe um modelo minimalista da nova geografia económica designado para aclarar o

curso de tensão entre forças de aglomeração e forças de dispersão que determinam o tamanho das cidades.

As implicações desta tensão são explicadas examinando um problema particular: de que maneira a política

comercial deve afetar a tendência dos países em desenvolvimento terem grandes cidades capitais. Dois

outros fatores também são explorados que provavelmente terão talvez papeis mais importantes na

determinação da estrutura urbana: a centralização do governo e a qualidade e a forma da infraestrutura de

transportes.

9.2.2 Abordagem do desenvolvimento urbano

Page 96: apostila economia logistica

92

A urbanização – e o desigual desenvolvimento regional, que é um processo intimamente

relacionado – claramente envolve uma tensão entre forças centrípetas que tendem a atrair a população e a

produção para as aglomerações e as forças centrifugas que tendem a quebrar as aglomerações.

A lista seguinte contém os principais tipos de forças centrifugas e centrípetas que aparecem nos

vários modelos de crescimento urbano:

Forças centrípetas:

Vantagens naturais de sítios particulares: portos, rios; localizações centrais.

Externalidades do tamanho do mercado: acesso ao mercado; acesso aos produtos; trabalho abundante.

Externalidades puras: divulgação do conhecimento.

Forças centrifugas:

Forças mediadoras do mercado: custos de transporte, renda do terreno urbano; atração de recursos dispersos, tal como terreno

para cultivo.

Forças não relacionadas com o mercado: congestionamento, poluição.

No que respeita às forças centrípetas existe a distinção básica entre fatores naturais que favorecem

um sítio — como um bom porto ou uma posição central — e economias externas que originaram e

reforçaram as vantagens do sítio. No que respeita às economias externas, são exemplos a difusão de

conhecimento entre empresas vizinhas e efeitos do tamanho do mercado, quer no mercado de trabalho ou

nas ligações entre os sectores a montante ou a jusante.

Do lado das forças centrífugas existe uma distinção similar entre as deseconomias não

transacionáveis (como o congestionamento) e fatores como o preço do solo que são completamente

mediados através do mercado. Uma distinção limitada mas por vezes importante aparece entre as forças que

expulsam as atividades duma grande cidade, como os preços do solo urbano, e aquelas que atraem as

atividades para o campo, como a existência de um mercado rural disperso.

A resposta é, com certeza, todas elas. Posteriormente, Krugman, apresenta várias abordagens

analíticas da tensão entre a aglomeração e a dispersão que cria um sistema urbano.

9.2.3 Teoria neoclássica dos sistemas urbanos

Pelo menos dentro da economia a abordagem mais influente do desenvolvimento urbano é

provavelmente aquela que devemos chamar de teoria neoclássica dos sistemas urbanos. Esta abordagem

modela as forças centrípetas para a aglomeração como economias externas puras (portanto permite modelar

a concorrência perfeita) e as forças centrífugas como surgindo da necessidade de transportar para o CBD

dentro de cada cidade, uma necessidade que conduz a um gradiente da renda do solo dentro de cada cidade.

No caso mais simples a tensão entre estas forças leva a um tamanho ótimo de cidade, não obstante, tal não

garante que as forças do mercado produzirão esta cidade ótima.

Esta abordagem neoclássica foi grandemente desenvolvida por Henderson e seus seguidores, que

acrescentaram dois contributos importantes. Primeiro, Henderson salientou que se as cidades têm o tamanho

Page 97: apostila economia logistica

93

«errado», existem oportunidades de lucro potenciais para uma classe de empreendedores. Assim, os modelos

do tipo que Henderson adotou como hipótese de trabalho o fato de que a concorrência entre empreendedores

produz cidades de tamanho ótimo.

Segundo, de acordo com Henderson, as economias externas devem ser bem específicas do setor (as

indústrias têxteis devem encontrar benefícios externos na vizinhança das indústrias têxteis). Por outro lado,

as deseconomias de transporte e preço do solo dependem do tamanho total da cidade, não do tamanho dum

setor individual dentro dessa cidade. Assim, os modelos do tipo de Henderson preveem o aparecimento de

cidades especializadas, com cada setor de «exportação» da cidade produzindo um leque de setores com

divulgação mutua, e com setores que não beneficiam desta divulgação buscando outras localizações. Por que

as cidades são especializadas, esta abordagem explica a existência de um sistema urbano com vários tipos de

cidades; visto que como o tamanho ótimo duma cidade depende da intensidade relativa das economias

externas e das deseconomias do tamanho da cidade, e as economias externas são presumivelmente mais

fortes em alguns setores do que em outros, as cidades de diferentes tipos serão de diferentes tamanhos. A

teoria neoclássica dos sistemas urbanos, portanto oferece uma linha de ação que explica a existência não só

de cidades, mas também dum sistema de cidades de diferentes tamanhos.

Se os critérios ganhos com esta abordagem são impressionantes, ela tem importantes limitações:

a) as economias externas que conduzem à aglomeração são tratadas à posteriori, tornando

difícil estudar o que deve influenciar a sua intensidade e assim dificultando a concretização

de previsões de como as mudanças podem afetar o sistema urbano.

b) a confiança de muita literatura no pressuposto da concorrência entre planeadores de cidades,

enquanto um útil projeto clarificador, força a credibilidade quando aplicado a enormes áreas

urbanas.

c) a teoria neoclássica dos sistemas urbanos é inteiramente não-espacial: descreve o número e

tipo de cidades, mas não diz nada acerca das suas localizações.

Nos últimos anos uma abordagem alternativa emergiu que partilha muitas das linhas de ação da

teoria dos sistemas urbanos.

9.2.4 Teoria da concorrência monopolística

Em esta nova literatura, as economias de aglomeração não são admitidas, mas ao contrário

derivadas da interação entre economias de escala ao nível da empresa, custos de transporte e mobilidade dos

fatores. As economias de escala ao nível da empresa inevitavelmente implicam concorrência imperfeita; esta

imperfeição é modelada usando a mesma abordagem (insatisfatória) da concorrência monopolística que

jogou um grande papel na teoria do comércio e do crescimento ao longo dos últimos 15 anos. A literatura da

«nova geografia económica» começou em Krugman (1991), apoiou consideravelmente a abordagem dos

sistemas urbanos, mas a natureza de caixa negra das economias externas terminou, existe uma dimensão

espacial, e os modelos não se relacionam mais na hipótese dos desenvolvedores de cidades que impõem

resultados ótimos. Pelo mesmo motivo, de facto, a nova abordagem parece estar próxima do espirito da

Page 98: apostila economia logistica

94

descrição do «processo cumulativo» do desenvolvimento urbano e regional associado com geógrafos como

Pred (1966).

O modelo abaixo descrito insere-se nesta tradição, assim, vale a pena notar as limitações

consideráveis desta abordagem. Dois pontos são de salientar:

a) os sistemas de múltiplas cidades são difíceis de modelar usando esta abordagem.

b) finalmente, pretendemos salientar um risco adicional tanto nos sistemas urbanos como nas

abordagens da concorrência monopolística para o modelo urbano: devemos tentar explicar

tomando um teste em que tentamos encontrar explicações deterministas de resultados

essencialmente aleatórios. Contudo, esta noção não deve constituir exatamente uma teoria

rival dos sistemas urbanos, a ideia de que existem criações largamente aleatórias requer pelo

menos alguma discussão.

9.2.5 Sistemas urbanos aleatórios

A ideia geral sugerida pela classificação acima – que o tamanho das cidades era determinado pela

tensão entre forças centrípetas e centrifugas – parece implicar a conclusão de que haverá em alguma

economia um típico equilíbrio no tamanho da cidade. De fato, observa-se uma variedade de tamanhos de

cidades. A teoria dos sistemas urbanos explica que existem diferentes tipos de cidades, cada uma com um

tamanho característico. Por outro lado, a especialização urbana é cada vez mais difícil de detectar nos países

avançados.

Suponhamos que não existe equilíbrio no tamanho da cidade – que os rendimentos constantes

proporcionais aproximadamente aparecem sobre alguns tipos de tamanhos. E suponhamos que as cidades

crescem através de algum processo aleatório, em que o índice de crescimento esperado é independente do

tamanho da cidade. Então quanto maior for o processo aleatório este gera uma distribuição amplamente

dispersa de tamanhos de cidades.

Esta abordagem niilista levanta questões reais acerca de qualquer tipo de modelo de equilíbrio de

um sistema urbano; de fato, se esta interpretação está correta, então não deve haver tamanho de cidade ótimo

ou em equilíbrio, simplesmente um processo aleatório que gera agrupamentos populacionais de vários

tamanhos. A outro nível esta interpretação não pode ser completamente correta: seguramente o tamanho da

cidade deve interessar. (É o mesmo aspecto que se levanta dos estudos sobre o tamanho da distribuição das

firmas, que também parece obedecer a leis).

Enquanto a experiência urbana varia bastante entre os países, parece haver quatro regularidades

empíricas interessantes acerca das distribuições do tamanho urbano:

a) o rendimento per capita está negativamente relacionado com as medidas de concentração

urbana;

b) a concentração do poder político conduz à concentração urbana;

c) a natureza da infraestrutura de transportes modela a concentração urbana;

d) a abertura da economia condiciona a estrutura urbana.

9.2.6 Um modelo de concentração urbana

Page 99: apostila economia logistica

95

Este modelo baseia-se nas forças centrípetas que aparecem da interação entre economias de escala,

tamanho do mercado e custos de transporte, ou seja, ligações a montante e a jusante.

O modelo considera 3 localizações: 0, 1 e 2, em que 0 corresponde ao resto do mundo; 1 e 2 são

dois locais internos. Só existe um fator de produção: trabalho. A oferta doméstica fixa de trabalho L é móvel

entre 1 e 2, mas não existe mobilidade internacional do trabalho

Para gerar deseconomias de concentração urbana, pressupõe-se que em cada lugar a produção deve-

se efetuar num único ponto central. Os trabalhadores necessitam de terra para lá viverem. Cada trabalhador

necessita de um espaço fixo, ou seja, de uma unidade de terreno.

As cidades são extensas e estreitas, assim, os trabalhadores distribuem-se ao longo de uma linha.

Este pressuposto implica que a distância do último trabalhador numa dada localização é simplesmente

proporcional à localização da população.

As deseconomias que surgem da necessidade de transporte de pessoal refletem-se tanto na renda do

solo como nos custos de transporte. Os trabalhadores que vivem nos subúrbios da cidade não pagam renda

do solo, mas pagarão elevados custos de transporte. Os trabalhadores que vivem junto do centro da cidade

evitarão estes custos, mas a concorrência assegurar-se-á que paguem uma renda do solo compensatória. O

rendimento líquido dos custos de transporte declinará à medida que se deslocar do centro da cidade, mas a

renda do solo sempre compensará exatamente o diferencial. Assim, dado um índice de rendimentos no

centro, o rendimento líquido dos custos de transporte e da renda do solo será uma função decrescente do

tamanho da cidade para todos os trabalhadores.

Para explicar a aglomeração perante estas deseconomias, devemos introduzir vantagens

compensatórias da concentração. Essas devem surgir das economias de escala. A menos que as economias

de escala sejam puramente externas às firmas, no entanto, devem conduzir à concorrência imperfeita. Assim,

devemos introduzir as economias de escala de forma a permitir um modelo manejável de concorrência

imperfeita.

De forma não surpreendente, o caminho mais fácil para fazer isto é com os artifícios familiares do

modelo de concorrência monopolística. Suponhamos um grande número de produtos potenciais, nem todos

atualmente produzidos. Cada produtor funciona como um monopolista maximizador do lucro, mas entradas

livres conduzem os lucros para zero. O resultado será que uma grande concentração de população produz

uma grande variedade de produtos diferenciados. (Faz pensar que a escala média de produção será também

maior).

Page 100: apostila economia logistica

96

Só se houver custos de transação entre localizações, assim, a localização com maior população é

um bom lugar para ter acesso aos produtos (ligação a montante) e aos mercados (ligação a jusante).

Devemos pensar nos custos de transporte inter-regionais como consequências «naturais» da

distância (se bem que afetados por investimentos nas infraestruturas). Os custos de transação com o resto do

mundo, no entanto, envolvem não só custos naturais, mas também barreiras alfandegárias artificiais. Assim,

o nível dos custos de transporte para e do mundo exterior pode ser visto como uma política variável.

A interação entre economias de escala, custos de transporte e mobilidade do trabalho é suficiente

para gerar economias de aglomeração; a necessidade para transportar gera deseconomias do tamanho da

cidade; e a tensão entre forças centrifugas e forças centrípetas fornece uma linha de ação para refletir acerca

da estrutura urbana.

Nesta história todos os trabalhadores acabarão concentrados num lugar, ganhando o mesmo salário.

Assim, aparecendo para ser um modelo de concentração urbana, mas não de desigualdade regional.

Suponhamos, no entanto, que nem todos os trabalhadores eram móveis. Então é aparente que um padrão de

centro-periferia pode emergir em que os trabalhadores móveis se aglomeram numa região, deixando para

trás uma parte empobrecida daqueles trabalhadores que por qualquer razão não se podem ou não se querem

mover. Histórias semelhantes podem também ser relevantes para a extrema desigualdade regional que se

observa em alguns países em desenvolvimento.

O nosso próximo passo é examinar a relação entre a abertura do mercado e a concentração urbana.

9.2.7 Comércio livre e concentração urbana

Agora suponhamos que a economia está aberta ao comércio internacional, não obstante, com

algumas barreiras naturais e talvez artificiais. Como mudará a história? Parece óbvio que o efeito é

enfraquecer as forças centrípetas enquanto deixa as forças centrifugas mais fortes do que antes.

Consideremos uma grande cidade num país com uma política de comércio fortemente protecionista.

As firmas estarão dispostas a pagar salários suplementares de maneira a localizarem-se nestes centros

precisamente devido à existência de muitas outras firmas, e assim, o tamanho do seu mercado está

concentrado aqui. Também devem ser atraídas pela presença de outras firmas produzindo produtos

intermédios. Por outro lado, os trabalhadores estarão perante elevadas rendas do solo ou elevados custos de

transporte, mas estes serão pelo menos parcialmente contrabalançados por melhores acessos aos bens e

serviços produzidos na metrópole.

Mas agora abrindo esta economia ao comércio internacional. A empresa típica venderá mais da sua

produção no mercado internacional (e talvez adquira muitas das matérias-primas neste mercado também).

Na medida em que a produção é mais para os mercados mundiais do que para o mercado interno, o acesso

ao principal mercado doméstico torna-se menos crucial – e assim, o salário suplementar que as firmas

estavam dispostas a pagar para a localização metropolitana cai. Ao mesmo tempo, os trabalhadores

consumirão mais bens importados; eles estarão, todavia, menos dispostos a aceitar elevados custos de

Page 101: apostila economia logistica

97

transporte e renda do solo de forma a estarem próximo dos fornecedores metropolitanos. O resultado pode

ser de transformar uma concentração metropolitana sustentável em insustentável.

Se pressupormos que os trabalhadores se deslocam para qualquer lugar que ofereça elevados

índices de salários reais, estamos perante uma situação de comportamento económico dinâmico. Quando o

diferencial de salários reais é positivo, o trabalho move-se para o lugar 1; quando aquele é negativo, o

trabalho move-se para o lugar 2.

Quando os custos de transacção com o mundo exterior são regularmente elevados, assim, a

economia não é muito aberta, existe um equilíbrio, ainda que instável, em que o trabalho está igualmente

dividido entre os dois lugares. Se mais de metade do trabalho está no lugar 1, este lugar oferecerá salários

mais elevados, induzindo mais trabalho a deslocar-se para lá. Isto fortalecerá as ligações a montante e a

jusante e induzirá ainda mais trabalhadores a moverem-se para lá e assim por diante.

Assim, neste caso de economia fechada, um processo cumulativo conduz a uma concentração de

população numa única metrópole.

Se a economia é mais aberta, o equilíbrio em que a população estava igualmente dividida entre os

dois locais é estável, e a concentração da população em um só lugar é insustentável. Assim, nesta situação

tende-se a ter duas cidades com o mesmo tamanho em vez de uma enorme metrópole.

É óbvio que a indústria mexicana mudou o seu centro de gravidade para fora da Cidade do México

quando o país se mudou para as exportações. Neste caso, contudo, a explicação relaciona-se pelo menos

parcialmente com o papel do acesso à fronteira com os EUA, bem como com o papel do programa

«maquiladora» em fomentar o setor das exportações no norte do país. Krugman sugere, contudo, uma razão

mais genérica porque é que as políticas que visam o interior do país encorajam o crescimento de grandes

cidades e as políticas que visam o exterior desencorajam este crescimento.

9.2.8 Centralização política e desigualdade regional

Enquanto as relações teóricas e empíricas entre política comercial e estrutura urbana é um

surpreendente e tão gratificante critério, não é seguramente a razão mais importante de por que as cidades

dos países em desenvolvimento crescem tanto, ou por que a desigualdade regional é tão marcada nos países

em desenvolvimento. Talvez a razão mais importante é o papel da centralização política.

A centralização política tem efeitos a vários níveis. O mais óbvio é que os assuntos do governo são

uma fonte substancial de emprego.

Uma fonte mais tênue de concentração urbana é a importância do acesso ao governo, especialmente

em estados altamente intervencionistas. Na sua forma mais simples, é simplesmente um resultado da

concentração de grupos de pressão. Mais subtilmente, se as políticas de governo tendem a ser mais

respondentes aos mais próximos, estes manifestam uma atração importante pela área da capital para os

negócios e atividades econômicas.

Page 102: apostila economia logistica

98

A modelação econômica por si não pode contribuir muito para a nossa compreensão destas

preocupações políticas. Pode, contudo, ajudar-nos a compreender uma consequência futura da centralização

política: os efeitos multiplicadores da concentração regional que podem resultar da despesa assimétrica do

governo.

Consideremos uma variante na abordagem descrita nas duas últimas secções. Coloquemos as

deseconomias de transportes e de preço do solo de lado e suponhamos, ao contrário, que existe uma

população rural imóvel dividida entre duas regiões. A indústria será levada a concentrar-se numa região

pelas ligações a montante e a jusante que já vimos em ação, mas contra esta força será a atração pelo

mercado fornecida pela população rural. Num modelo já concebido por Krugman (1991b) mostrou que o

equilíbrio estável é aquele em que a indústria está igualmente dividida entre as duas regiões.

Mas agora suponhamos que um governo coleta impostos à população rural em ambas as regiões,

mas gasta-os todos em uma região. Obviamente, a última região torna-se o maior mercado, assim, atraindo

mais indústrias.

Todavia, as ligações a montante e a jusante que foram geradas atraem ainda mais indústrias para

esta região, fomentando um processo cumulativo de concentração.

No entanto, deve ser a interação entre a intensidade dos efeitos multiplicadores que produzem

concentração regional e o grau de abertura da economia. A localização da indústria próximo da capital, de

maneira a ter vantagens no mercado que o governo e os seus empregados geram, será muito menos atrativa

numa economia aberta do que numa economia fechada.

9.2.9 A infra-estrutura de transportes

A quantidade e a forma dos investimentos de um país na infraestrutura de transportes pode afetar a

tendência para formar grandes centros urbanos em pelo menos duas formas.

Os custos de transporte elevados são dentro dum país as vantagens mais fortes em termos de

ligações a montante e a jusante de localizar a produção próximo duma concentração metropolitana

estabelecida. Este efeito questiona se as ligações são suficientemente fortes para suportar uma concentração

estabelecida perante as deseconomias de escala urbanas. Nesta expressão, o maior são os custos de

transporte, o mais semelhante é a condição de sustentabilidade ser satisfeita.

A implicação é que a tendência para concentrar a atividade económica numa única grande cidade

deve ser reforçada se o governo negligenciar a rede de transportes. Isto corresponde às percepções vulgares

acerca do contraste entre decisões de localização nas economias avançadas e em desenvolvimento. Nas

economias avançadas, bons transportes para os mercados (e boas comunicações) estão virtualmente

disponíveis em qualquer lado, enquanto que nos países em desenvolvimento, as estradas e as comunicações

frequentemente falham à medida que nos deslocamos para fora da capital.

Page 103: apostila economia logistica

99

Um problema mais subtil envolve a forma do sistema de transportes. Um sistema que está centrado

na cidade principal provavelmente promove mais a concentração do que aquele que não favorece o

movimento de bens e serviços para alguma direção em particular.

Imaginemos um país com 3 regiões em vez de 2. E suponhamos que ao contrário de serem iguais

em todas as direções, os custos de transporte entre o lugar 1 e ambas as outras localizações são menores do

que aquelas entre 2 e 3, assim, 1 é com efeito o centro do sistema de transportes.

Então é diretamente para mostrar que mesmo se todas as 3 regiões oferecessem o mesmo tamanho

de mercado, a região 1 seria a localização preferida para bens produzidos sujeitos a economias de escala:

oferece melhor acesso ao mercado nacional do que alguma das outras regiões. Tipicamente, a concentração

da população e a centralização do sistema de transportes reforçam-se uma à outra: os transportes ligam o

ponto à grande cidade porque é onde os mercados e os fornecedores estão, e a concentração de negócios é

maior devido ao papel que esta cidade tem como centro de transportes.

Só deveríamos especular que a tendência aparente dos países em desenvolvimento para terem

distribuições mais concentradas do tamanho urbano deve-se numa importante medida à forma como a sua

relativa pobreza conduz a um sistema de transportes limitado. Nos países avançados, o volume de tráfego é

suficiente para assegurar que boas estradas liguem mesmo os centros menores; linhas de caminho de ferro

frequentemente fornecem ligações diretas que evitam as grandes cidades. Nos países em desenvolvimento, o

tráfego é suficiente para suportar boas estradas somente para a capital. Aqui, também é, provavelmente, uma

ligação política – um sistema que centraliza o poder político na capital é provavelmente para concentrar o

investimento em infraestruturas também próximo dela ou em projetos que a sirvam.

9.2.10 Implicações políticas

Posteriormente apresentam implicações políticas sobre a discussão do processo de urbanização e

crescimento regional. Pela sua natureza, este é um assunto que se relaciona com as economias e

deseconomias externas.

A moral geral dos modelos aqui descritos parece ser que, para as cidades nos países em

desenvolvimento não serem tão grandes deve haver políticas económicas liberais, que são correntemente

favorecidas pela maioria das instituições internacionais por outras razões. As políticas comerciais liberais

aparecem provavelmente para desencorajar o crescimento da principal cidade; assim basta uma redução na

intervenção do estado e uma descentralização de poder. O investimento em melhores infraestruturas de

transporte – um papel tradicional do governo – também parece caminhar na mesma direção.

Concluindo, as políticas neoliberais parecem ser benéficas para aliviarem os problemas criados pelo

crescimento de grandes cidades e qualquer mudança efetuada pela política económica terá implicações no

desenvolvimento regional e urbano dentro dos países.

Page 104: apostila economia logistica

100

9.3 PÓLOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO

No período de 1960 e 1970, acreditou-se que a solução para os problemas econômicos e sociais dos

países em desenvolvimento seria o fortalecimento de um ou mais polos de crescimento. Para Andrade

(1987), Perroux esclarece que o polo é o centro dinâmico de uma região ou de um país e que seu

crescimento se expande para a região de seu entorno. Sendo assim, o desenvolvimento regional estará

sempre ligado ao do seu polo.

A teoria mais intensamente estudada referente ao crescimento urbano, segundo Richardson (1975),

é a teoria dos lugares centrais. Conforme a teoria, o crescimento da cidade depende de sua especialização,

em que a principal função da cidade é atuar como centro de serviços para o interior imediatamente próximo

a ela. É uma teoria geral porque não explica somente o crescimento dentro de uma cidade individualizada

mas também a distribuição espacial dos centros urbanos na economia regional e nacional.

Nesse sentido, Milton Santos discorda que a teoria dos polos de crescimento, bem como a teoria

dos lugares centrais, completam-se mutuamente mediante a teoria da difusão da inovação para explicar o

crescimento urbano e regional e a redução das desigualdades regionais.

A teoria dos lugares centrais apresentada pelo geógrafo alemão Walter Christaller, na década de

1930, é de conteúdo econômico e a mais difundida sobre o crescimento urbano. Conforme a teoria, o

crescimento da cidade está relacionado a sua especialização em vários tipos de serviços urbanos, e o nível da

demanda de serviços urbanos sobre a área atendida é que determina o ritmo de crescimento dos lugares

centrais.

É uma teoria geral, pois não somente explica o crescimento interno de uma cidade individualizada

mas também a distribuição espacial dos centros urbanos na economia regional e nacional.

A principal função da cidade é atuar como centro de serviços à região de proximidade ou região

complementar, distribuindo inúmeros bens e serviços ao seu entorno.

Christaller trabalha dois conceitos-chave que determinam por que certos bens e serviços só o centro

oferece e os fatores que afetam as dimensões do lugar central, que são o limite crítico de demanda e o

alcance do bem ou serviço. O conceito de limite crítico expressa o nível mínimo de demanda que asseguraria

a produção de um determinado bem ou serviço e a partir do qual se passa a ter rendimentos crescentes. O

alcance de um bem ou serviço depende de vários fatores, mas a distância econômica é seu determinante

principal, ou seja, é a maior distância que a população dispersa se dispõe a percorrer para adquirir um bem

ou utilizar um serviço (RICHARDSON, 1975).

De acordo com o autor, Christaller estabelece a hierarquia dos lugares centrais (entre cidades),

baseada no tamanho e nas funções dos centros e nas distâncias interurbanas, pois, quanto maiores o limite

crítico e o alcance de um bem ou serviço, menor será o número de cidades em condições de oferecê-los.

A teoria do lugar central falha no aspecto da migração, pois não considera a contribuição que a

mesma pode dar à urbanização. No entanto, seria difícil desenvolver uma teoria coerente do crescimento

urbano sem levar em conta a função das cidades como fornecedoras de bens e serviços centrais.

Page 105: apostila economia logistica

101

O Conceito de Pólo de Desenvolvimento e Pólo de Crescimento

As discussões sobre a política regional, nas últimas décadas, ganharam um importante elemento

com a introdução do conceito de polo de desenvolvimento e de polo de crescimento.

Perroux, em sua concepção original, conceitua polo de desenvolvimento como uma agregação de

indústrias propulsoras, geradoras de efeitos de difusão (com influência direta no aumento do emprego) em

uma região maior. E afirma que o crescimento não se difunde de maneira uniforme entre os setores de uma

economia, mas que se concentra em certos setores, com efeito, em indústrias de crescimento particulares.

Estas indústrias tendem a formar aglomerações e a dominar outras indústrias que se conectam a elas,

gerando efeitos de difusão em outras indústrias, elevando, assim, o produto, aumentando o emprego e a

tecnologia, e se chamam indústrias propulsoras ou indústrias motrizes; o polo de desenvolvimento é o

agrupamento dessas indústrias propulsoras (HIGGINS, 1985).

Na análise do mesmo autor, Perroux não esclarece completamente se um polo representa um

agrupamento no sentido geográfico, ou se pode ser somente um conjunto de relações no espaço econômico

dentro de um sistema de equilíbrio geral. Entretanto, para Boudeville e outros seguidores de Perroux, o

“polo de desenvolvimento” significa uma aglomeração de indústrias propulsoras em um determinado lugar.

A grande maioria das indústrias propulsoras encontra-se nas cidades. Com o passar do tempo, elas se

concentram cada vez mais em grandes cidades. Dessa maneira, o local onde ocorria a aglomeração se

converteu num grande centro metropolitano.

Perroux define as cidades como centro de crescimento, centro de atração e centro de difusão.

Ela será centro de crescimento se existir uma reação multiplicadora entre o investimento realizado

na cidade e a renda, o emprego, o crescimento demográfico, o progresso tecnológico etc.

O centro de atração trata do efeito do crescimento de um polo de desenvolvimento ou um centro de

crescimento sobre a densidade demográfica da região de entorno. Nesse sentido, uma cidade é considerada

um centro de atração se a expansão gerada pelo investimento realizado neste centro conduzir a uma redução

da população na região periférica (migração da população da região periférica para o centro). A cidade pode

ser um centro de difusão se o investimento realizado na mesma aumentar a densidade demográfica na região

periférica, ou seja, o investimento realizado na cidade elevará a renda per capita, o emprego etc., na região

periférica, e como consequência aumentará a densidade demográfica da população (HIGGINS, 1985).

Dessa forma, é necessário haver pelo menos um polo de desenvolvimento ou uma região propulsora

em cada sistema, para que haja crescimento econômico neste sistema. Uma região propulsora gerará um

desenvolvimento com base nos recursos naturais, fluindo das áreas rurais para as cidades. Como as políticas

econômicas nas décadas de 1960 e 1970 foram planejadas basicamente nos polos de

crescimento/desenvolvimento, conclui-se que a importância da teoria na política econômica está associada

ao crescimento, à inovação e aos efeitos de difusão, todos identificados no espaço.

QUESTÕES

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102

a) Quais são os fatores gerais de localização e por que são escolhidos como principais?

b) Quais os meios de transportes podem ser utilizados e como estes devem ser utilizados para

minimizar os custos?

c) O que é o índice de material e qual a sua questão relevante?

d) O que é um ponto de transbordo?

e) O que é economias de aglomeração?

f) Quais são as comparações de Krungman?

g) Quais são as forças que agem no desenvolvimento urbano?

h) Como as forças agem na concentração urbana?

i) Qual é o enfoque do modelo de equilíbrio do sistema urbano?

j) Qual é o conceito de polos de crescimento?