APOSTILA EDF ANGRA DOS REIS

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  • 7/23/2019 APOSTILA EDF ANGRA DOS REIS

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    1. DIMENSES HISTRICASDA EDUCAO FSICA

    O pensamento s pode enfrentar a tarefa de transformaro mundo se no se esquivar luta pelaautotransformao, ao acerto de contas com aquilo queele tem sido e precisa deixar de ser.

    Dimenso Histrica da Disciplina de Educao Fsica

    A fim de situar historicamente a disciplina deEducao Fsica no Brasil, optouse, nestas DiretrizesCurriculares, por retratar os movimentos que aconstituram como componente curricular. As primeirassistematizaes que o conhecimento sobre as prticascorporais recebe em solo nacional ocorrem a partir deteorias oriundas da Europa. Sob a gide deconhecimentos mdicos e da instruo fsica militar, aento denominada ginstica surgiu, principalmente, apartir de uma preocupao com o desenvolvimento dasade e a formao moral dos cidados brasileiros. Esse

    modelo de prtica corporal pautava-se em prescries deexerccios visando ao aprimoramento de capacidades ehabilidades fsicas como a fora, a destreza, a agilidade ea resistncia, alm de visar formao do carter, daautodisciplina, de hbitos higinicos, do respeito hierarquia e do sentimento patritico. O conhecimento damedicina configurou um outro modelo para a sociedadebrasileira, o que contribuiu para a construo de umanova ordem econmica, poltica e social. Nesta novaordem, na qual os mdicos higienistas iro ocupar lugardestacado, tambm se coloca a necessidade de construir,para o Brasil, um novo homem, sem o qual a novasociedade idealizada no se tornaria realidade(SOARES, 2004, p. 70). No contexto referido acima, aeducao fsica1 ganha espao na escola, uma vez que ofsico disciplinado era exigncia da nova ordem emformao. A educao do fsico confundia-se com aprtica da ginstica, pois inclua exerccios fsicosbaseados nos moldes mdico-higinicos. Com aproclamao da Repblica, veio a discusso sobre asinstituies escolares e as polticas educacionais. Osculo XIX foi o sculo que difundiu a instruo pblica eRui Barbosa foi influenciado pelas discusses de suapoca. Tanto que, empenhado num projeto demodernizao do pas, interessouse pela criao de umsistema nacional de ensino - gratuito, obrigatrio e laico,desde o jardim de infncia at a universidade. Paraelaborao do seu projeto buscou inspirao em pasesonde a escola pblica estava sendo difundida,

    procurando demonstrar os benefcios alcanados com asua criao. Para fundamentar sua anlise recorreu sestatsticas escolares, livros, mtodos, mostrando que aeducao, nesses pases, revelava-se alavanca dedesenvolvimento. Suas ideias acerca desta questo estoclaramente redigidas nos seus famosos pareceres sobreeducao. (MACHADO, 2000, p. 03) No ano de 1882,Rui Barbosa emitiu o parecer n. 224, sobre a ReformaLencio de Carvalho, decreto n. 7.247, de 19 de abril de1879, da Instruo Pblica. Entre outras concluses,afirmou a importncia da ginstica para a formao decorpos fortes e cidados preparados para defender aPtria, equiparando-a, em reconhecimento, s demaisdisciplinas (SOARES, 2004). Conforme consta no prprio

    parecer, [...] com a medida proposta, no pretendemosformar nem acrobatas nem Hrcules, mas desenvolver nacriana o quantum de vigor fsico essencial ao equilbrioda vida humana, felicidade da alma, preservao da

    Ptria e dignidade da espcie (QUEIRS apudCASTELLANI FILHO, 1994, p. 53). No incio do sculoXX, especificamente a partir de 1929, a disciplina deEducao Fsica tornou-se obrigatria nas instituies deensino para crianas a partir de 6 anos de idade e paraambos os sexos, por meio de um anteprojeto publicadopelo ento Ministro da Guerra, General Nestor SezefredoPassos. Prope tambm a criao do Conselho Superior

    de Educao Fsica com o objetivo de centralizar,coordenar e fiscalizar as atividades referentes aoDesporto e Educao Fsica no pas e tambm aelaborao do Mtodo Nacional de Educao Fsica.(LEANDRO, 2002, p. 34). Isso representa o quanto a:Educao Fsica no Brasil se confunde em muitosmomentos de sua histria com as instituies mdicas emilitares. Em diferentes momentos, essas instituiesdefiniram seu caminho, delineando e delimitando seucampo de conhecimento, tornando-a um valiosoinstrumento de ao e de interveno na realidadeeducacional e social [...]. (SOARES, 2004, p. 69) Esseperodo histrico foi marcado pelo esforo de construode uma unidade nacional, o que contribuiu sobremaneirapara intensificar o forte componente militar nos mtodosde ensino da Educao Fsica nas escolas brasileiras. Asrelaes entre a institucionalizao da disciplina deEducao Fsica no Brasil e a influncia da ginstica,explicitam-se em alguns marcos histricos, dentre eles: acriao do Regulamento da Instruo Fsica Militar(Mtodo Francs), em 1921; a obrigatoriedade da prticada ginstica nas instituies de ensino, em 1929; aadoo oficial do mtodo Francs2, em 1931, no ensinosecundrio; a criao da Escola de Educao Fsica doExrcito, em 1933, e a criao da Escola Nacional deEducao Fsica e Desportos da Universidade do Brasil,em 1939. O mtodo ginstico francs, que contribuiu paraconstruir e legitimar a Educao Fsica nas escolasbrasileiras estava fortemente ancorado nos

    conhecimentos advindos da anatomia e da fisiologia,cunhados de uma viso positivista da cincia, isto , umconhecimento cientfico e tcnico considerado superior aoutras formas de conhecimento, e que deveria serreferncia para consolidao de um projeto demodernizao do pas.3 Preponderando uma visomecanicista e instrumental sobre o corpo, o mtodoginstico francs priorizava o desenvolvimento damecnica corporal. Conforme esse modelo, melhorar ofuncionamento do corpo e a eficincia do gastoenergtico dependia de tcnicas que atribuam Educao Fsica a tarefa de formar corpos saudveis edisciplinados, possibilitando a formao de sereshumanos aptos para adaptarem-se ao processo de

    industrializao que se iniciava no Brasil (SOARES,2004). No final da dcada de 1930, o esporte comeou ase popularizar e, no por acaso, passou a ser um dosprincipais contedos trabalhados nas aulas de EducaoFsica. Com o intuito de promover polticas nacionalistas,houve um incentivo s prticas desportivas como acriao de grandes centros esportivos, a importao deespecialistas que dominavam as tcnicas de algumasmodalidades esportivas e a criao do Conselho Nacionaldos Desportos, em 1941. No final da dcada de 1930 eincio da dcada de 1940, ocorreu o que o Conselhodenomina como um processo de desmilitarizao daEducao Fsica brasileira, isto , a predominncia dainstruo fsica militar comeou a ser sobreposta poroutras formas de conhecimento sobre o corpo e, com o

    fim da II Guerra Mundial, teve incio um intenso processode difuso do esporte na sociedade e,consequentemente, nas escolas brasileiras. O esporte:

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    Afirma-se paulatinamente em todos os pases sob ainfluncia da cultura europeia, como o elementohegemnico da cultura de movimento. No Brasil ascondies para o desenvolvimento do esporte, quaissejam, o desenvolvimento industrial com a consequenteurbanizao da populao e dos meios de comunicaode massa, estavam agora, mais do que antes, presentes.Outro aspecto importante a progressiva esportivizao

    de outros elementos da cultura de movimento, sejam elasvindas do exterior como o jud ou o karat, ougenuinamente brasileiras como a capoeira. (BRACHT,1992, p. 22) No incio da dcada de 1940, o governobrasileiro estabeleceu as bases da organizaodesportiva brasileira instituindo o Conselho Nacional deDesportos, com o intuito de orientar, fiscalizar e incentivara prtica desportiva em todo o pas (LEANDRO, 2002, p.58). Nesse contexto, as aulas de Educao Fsicaassumiram os cdigos esportivos do rendimento,competio, comparao de recordes, regulamentaorgida e a racionalizao de meios e tcnicas. Trata-seno mais do esporte da escola, mas sim do esporte naescola. Isto , os professores de Educao Fsica seencarregaram de reproduzir os cdigos esportivos nasaulas, sem se preocupar com a reflexo crtica desseconhecimento. A escola tornou-se um celeiro de atletas, abase da pirmide esportiva4 (BRACHT, 1992, p. 22).Com a promulgao da Nova Constituio e a instalaoefetiva do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, aprtica de exerccios fsicos em todos osestabelecimentos de ensino tornou-se obrigatria. Entreos anos de 1937 e 1945, o ento presidente GetlioVargas estruturou o Estado no sentido de incentivar ainterveno estatal e o nacionalismo econmico. Duranteo Estado Novo implantado em 1937, a Educao Fsicasofreu grande inquietao. Encarada pelos militares comouma arma na estruturao humana, entendiam que amaneira como o corpo educado resultado direto das

    normas sociais impostas, que definem consequentementea estruturao da sociedade, que atravs dos seusgestos ou aes motoras revelam a natureza do sistemasocial. Os militares fazem ento um grande investimentona poltica esportiva, certos de que assim teramos umantida melhoria da sade do povo brasileiro, tendoconsequentemente mais homens aptos ao servio militar,que nesta poca continha uma grande quantidade dejovens dispensados por incapacidade fsica. (LEANDRO,2002, p. 43) No contexto das reformas educacionais soba atuao do ministro Gustavo Capanema, a Lei Orgnicado Ensino Secundrio, promulgada em 09 de abril de1942, demarcou esse cenrio ao permitir a entrada dasprticas esportivas na escola, dividindo um espao at

    ento predominantemente configurado pela instruomilitar. Com tais reformas, a Educao Fsica tornou-seuma prtica educativa obrigatria, desta vez com cargahorria estipulada de trs sesses semanais parameninos e duas para meninas, tanto no ensinosecundrio quanto no industrial, e com durao de 30 e45 minutos por sesso (CANTARINO FILHO, 1982). A LeiOrgnica do Ensino Secundrio permaneceu em vigor ata aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da EducaoNacional n. 4.024/61, em 1961. Com o golpe militar noBrasil, em 1964, o esporte passou a ser tratado commaior nfase nas escolas, especialmente durante asaulas de Educao Fsica. De acordo com algumasteorizaes da historiografia: Isso teria ocorrido em parte,porque numa certa perspectiva o esporte codificado,

    normatizado e institucionalizado pode responder de formabastante significativa aos anseios de controle por parte dopoder, uma vez que tende a padronizar a ao dos

    agentes educacionais, tanto do professor quanto doaluno; noutra, porque o esporte se afirmava comofenmeno cultural de massa contemporneo e universal,afirmando-se, portanto, como possibilidade educacionalprivilegiada. Assim, o conjunto de prticas corporaispassveis de serem abordadas e desenvolvidas no interiorda escola resumiu-se prtica de algumas modalidadesesportivas. As prticas escolares de Educao Fsica

    passaram a ter como fundamento primeiro a tcnicaesportiva, o gesto tcnico, a repetio, enfim, a reduodas possibilidades corporais a algumas poucas tcnicasestereotipadas. (TABORDA DE OLIVEIRA, 2001, p. 33)Ocorreram, ainda, outras reformas educacionais noBrasil, em particular o chamado acordo do Ministrio daEducao e Cultura - MEC/United States AgencyInternational for Development - USAID (MEC-USAID).5Esse fato permitiu que muitos professores dessa rea deconhecimento frequentassem, nos Estados Unidos,cursos de ps-graduao cujos fundamentos tericossobre o movimento humano pautavam-se na visopositivista das cincias naturais, isto , na prticaesportiva e na aptido fsica. Nesse contexto, o esporteconsolidou sua hegemonia como objeto principal nasaulas de Educao Fsica, em currculos nos quais oenfoque pedaggico estava centrado na competio e naperformance dos alunos. Os chamados esportesolmpicos - vlei, basquete, handebol e atletismo, entreoutros - foram priorizados para formar atletas querepresentassem o pas em competies internacionais.Tal preferncia sustentava-se na teoria da pirmideolmpica, isto , a escola deveria funcionar como umceleiro de atletas, tornar-se a base da pirmide paraseleo e descoberta de talentos nos esportes de elitenacional. Predominava o interesse na formao de atletasque apresentassem talento natural, de modo que sedestacavam, at chegar ao topo da pirmide, aquelesconsiderados de alto nvel, prontos para representar o

    pas em competies nacionais e internacionais. A ideiade talento esportivo substanciava-se num entendimentonaturalizante dos processos sociais que constituem osseres humanos, como se as caractersticas biolgicasindividuais fossem preponderantes frente soportunidades que cada um possui no decorrer de suahistria de vida. Na dcada de 70, a Lei n. 5692/71, pormeio de seu artigo 7 e pelo Decreto n. 69450/71,manteve o carter obrigatrio da disciplina de EducaoFsica nas escolas, passando a ter uma legislaoespecfica e sendo integrada como atividade escolarregular e obrigatria no currculo de todos os cursos enveis dos sistemas de ensino. Conforme consta noCaptulo I, Art. 7 da Lei n. 5692/71, ser obrigatria a

    incluso de Educao Moral e Cvica, Educao Fsica,Educao Artstica e Programa de Sade nos currculosplenos dos estabelecimentos de 1 e 2 graus, observadoquanto primeira o disposto no Decreto-lei n. 869, de 12de setembro de 1969 (BRASIL, 1971). Ainda nesseperodo, aos olhos do Regime Militar, a Educao Fsicaera um importante recurso para consolidao do projetoBrasil-Grande (BRACHT, 1992). Atravs da prtica deexerccios fsicos visando ao desenvolvimento da aptidofsica dos alunos, seria possvel obter melhoresresultados nas competies esportivas e,consequentemente, consolidar o pas como uma potnciaolmpica, elevando seu status poltico e econmico. Talconcepo de Educao Fsica escolar de carteresportivo foi duramente criticada pela corrente

    pedaggica da psicomotricidade que surgia no mesmoperodo. Baseada na interdependncia dodesenvolvimento cognitivo e motor, (a abordagem

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    psicomotora) critica o dualismo predominante naEducao Fsica, e prope-se, a partir de jogos demovimento e exercitaes, contribuir para a EducaoIntegral [...] Com a Psicomotricidade, temos umdeslocamento da polarizao da Educao do movimentopara a Educao pelo movimento, ficando a primeiranitidamente em segundo plano. (BRACHT, 1992, p. 27) Aperspectiva esportiva da Educao Fsica escolar

    recebeu uma forte crtica da corrente da psicomotricidadecujos fundamentos se contrapunham s perspectivasterico-metodolgicas baseadas no modelo didtico daesportivizao. Tais fundamentos valorizavam a formaointegral da criana, acreditando que esta se d nodesenvolvimento interdependente de aspectos cognitivos,afetivos e motores. Entretanto, a psicomotricidade noestabeleceu um novo arcabouo de conhecimento para oensino da Educao Fsica, e as prticas corporais, entreelas o esporte, continuaram a ser tratadas, to-somente,como meios para a educao e disciplina dos corpos, eno como conhecimentos a serem sistematizados etransmitidos no ambiente escolar. Alm disso, aEducao Fsica ficou, em alguns casos, subordinada aoutras disciplinas escolares, tornando-se um elementocolaborador para o aprendizado de contedos diversosqueles prprios da disciplina6 (SOARES, 1996, p. 09).Com o movimento de abertura poltica e o incio de umprocesso de redemocratizao social, que culminou como fim da Ditadura Militar em meados dos anos de 1980, osistema educacional brasileiro passou por um processode reformulao. Nesse perodo, a comunidade cientficada Educao Fsica se fortaleceu com a expanso daps-graduao nessa rea no Brasil. Esse movimentopossibilitou a muitos professores uma formao no maisrestrita s cincias naturais e biolgicas. Com a aberturade cursos na rea de humanas, principalmente emeducao, novas tendncias ou correntes de ensino daEducao Fsica, cujos debates evidenciavam severas

    crticas ao modelo vigente at ento, passaram asubsidiar as teorizaes dessa disciplina escolar(DALIO, 1997, p. 28). Houve um movimento derenovao do pensamento pedaggico da EducaoFsica que trouxe vrias proposies e interrogaesacerca da legitimidade dessa disciplina como campo deconhecimento escolar. Tais propostas dirigiram crticasaos paradigmas da aptido fsica e da esportivizao(BRACHT, 1999). Entre as correntes ou tendnciasprogressistas, destacaram-se as seguintes abordagens:

    Desenvolvimentista: defende a ideia de que omovimento o principal meio e fim da EducaoFsica. Constitui o ensino de habilidades motoras

    de acordo com uma sequncia dedesenvolvimento. Sua base terica ,essencialmente, a psicologia dodesenvolvimento e aprendizagem;

    Construtivista:defende a formao integral soba perspectiva construtivistainteracionista. Incluias dimenses afetivas e cognitivas aomovimento humano. Embora preocupada com acultura infantil, essa abordagem se fundamentatambm na psicologia do desenvolvimento.Vinculadas s discusses da pedagogia crticabrasileira e s anlises das cincias humanas,sobretudo da Filosofia da Educao eSociologia, esto as concepes crticas da

    Educao Fsica. O que as diferencia daquelasdescritas anteriormente o fato de que asabordagens crtico-superadora e crtico-emanci

    patria, descritas abaixo, operam a crtica daEducao Fsica a partir de sua contextualizaona sociedade capitalista.

    Crtico-Superadora: baseia-se nospressupostos da pedagogia histricocritica eestipula, como objeto da Educao Fsica, aCultura Corporal a partir de contedos como: o

    esporte, a ginstica, os jogos, as lutas e adana. O conceito de Cultura Corporal tem comosuporte a ideia de seleo, organizao esistematizao do conhecimento acumuladohistoricamente, acerca do movimento humano,para ser transformado em saber escolar. Esseconhecimento sistematizado em ciclos etratado de forma historicizada e espiralada. Isto, partindo do pressuposto de que os alunospossuem um conhecimento sincrtico sobre arealidade, funo da escola, e neste casotambm da Educao Fsica, garantir o acessos variadas formas de conhecimentosproduzidos pela humanidade, levando os alunosa estabelecerem nexos com a realidade,elevando-os a um grau de conhecimentosinttico. Nesse sentido, o tratamento espiralarrepresenta o retomar, integrar e dar continuidadeao conhecimento nos diferentes nveis deensino, ampliando sua compreenso conforme ograu de complexidade dos contedos. Porexemplo: um mesmo contedo especfico, comoa Ginstica Geral, pode ser abordado emdiferentes nveis de ensino, desde que segaranta sua relao com aquilo que j foiconhecido, elevando esse conhecimento paraum nvel mais complexo. A abordagemmetodolgica crtico-superadora foi criada noincio da dcada de 90 por um grupo de

    pesquisadores tradicionalmente denominadospor Coletivo de Autores. So eles: Carmen LciaSoares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, LinoCastellani Filho, Micheli Ortega Escobar e ValterBracht.

    Crtico-Emancipatria: Nessa perspectiva, omovimento humano em sua expresso considerado significativo no processo deensino/aprendizagem, pois est presente emtodas as vivncias e relaes expressivas queconstituem o ser no mundo. Nesse sentido,parte do entendimento de que a expressividadecorporal uma forma de linguagem pela a qual o

    ser humano se relaciona com o meio, tornado-sesujeito a partir do reconhecimento de si no outro.Esse processo comunicativo, tambm descritocomo dialgico, um ponto central naabordagem crtico-emancipatria. A principalcorrente terica que sustenta essa abordagemmetodolgica a Fenomenologia, desenvolvidapor Merleau Ponty. A concepo crtico-emancipatria foi criada, na dcada de 90, pelopesquisador Elenor Kunz. No contexto dasteorizaes crticas em Educao e EducaoFsica, no final da dcada de 1980 e incio de1990, no Estado do Paran, tiveram incio asdiscusses para a elaborao do CurrculoBsico.

    O Currculo Bsico para a escola pblica do Estado doParan surgiu, na dcada de 90, como o principal

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    documento oficial relacionado educao bsica noEstado do Paran. O documento foi aprovado peloConselho Estadual de Educao do Paran, atravs daDeliberao n 02/90 de 18 de dezembro de 1990, doprocesso 384/90. Conforme consta no Currculo Bsico,sua primeira edio teve uma tiragem de noventa milexemplares, que foram distribudos para maior parte dasescolas pblicas do Estado do Paran. Isso demonstra a

    extenso que atingiu este documento, que passou alegislar em todas as escolas pblicas do Paran, comgrande influncia sobre as prticas escolares.(NAVARRO, 2007, p. 48) Esse processo envolveuprofissionais comprometidos com a Educao Pblica doParan, deu-se num contexto nacional deredemocratizao do pas e resultou em um documentoque pretendia responder a demandas sociais e histricasda educao brasileira. Os embates educacionaisoriundos desse perodo, posterior ao Regime Militar,consolidaram-se nos Documentos Oficiais sobreEducao no Brasil, dentre eles, o prprio CurrculoBsico do Estado do Paran que, com um vis critico,apresentava um discurso preocupado com a formao deseres humanos capazes de questionar e transformar arealidade social em que vivem. O Currculo Bsico, para aEducao Fsica, fundamentava-se na pedagogiahistrico-crtica, identificando-se numa perspectivaprogressista e crtica sob os pressupostos tericos domaterialismo histrico-dialtico. O Currculo Bsico foiproduzido num perodo de emergncia, na educao, dochamado discurso crtico. Esse discurso pretendiareformular a educao e, consequentemente, a disciplinade Educao Fsica, a partir de reflexes histricas esociais que desvelassem os mecanismos dedesigualdade social e econmica, para ento legitimar econcretizar um projeto de transformao social. Oobjetivo central da criao do Currculo Bsico foi oprojeto de reestruturao do currculo das escolas

    pblicas do Paran [...]. (NAVARRO, 2007, p. 49) Essedocumento caracterizou-se por ser uma propostaavanada em que o mero exerccio fsico deveria darlugar a uma formao humana do aluno em amplasdimenses. O reflexo desse contexto para a EducaoFsica configurou-se em um projeto escolar quepossibilitasse a tomada de conscincia dos educandossobre seus prprios corpos, no no sentido biolgico,mas especialmente em relao ao meio social em quevivem. Dessa forma: necessrio procurar entender adialtica de desenvolvimento e aperfeioamento do corpona histria e na sociedade brasileira, para que aEducao Fsica saia de sua condio passiva decoadjuvante do processo educacional, para ser parte

    integrante deste, buscando coloc-la em seu verdadeiroespao: o de rea do conhecimento. Quando discutimos,hoje, a Educao Fsica dentro da tendncia Histrico-Crtica, verificamos que em sua ao pedaggica, eladeve buscar elementos (chamados aqui de pressupostosdo movimento) da Cincia da Motricidade Humana(conforme proposta do filsofo portugus: Prof. ManuelSrgio). Esta cincia trata da compreenso e explicaodo movimento humano e h dificuldade de compreendere apreender os elementos buscados nesta cincia, umavez que as razes histricas da Educao Fsicabrasileira, esto postas dentro de um regime militar rgidoe autoritrio, visando fins elitistas e hegemnicos. Poroutro lado, na dinmica da sociedade capitalista, elasempre esteve atrelada s relaes capital x trabalho

    para dominao das classes trabalhadoras. (PARAN,1990, p. 175) No entanto, o Currculo Bsicoapresentava uma rgida listagem de contedos, os quais

    eram denominados pressupostos do movimento(condutas motoras de base ou formas bsicas demovimento; condutas neuro-motoras; esquema corporal;ritmo; aprendizagem objeto-motora), esses enfraqueciamos pressupostos tericometodolgicos da pedagogiacrtica, pois o enfoque permaneceu privilegiandoabordagens como a desenvolvimentista, construtivista epsicomotora (FRATTI, 2001; NAVARRO, 2007). No

    mesmo perodo, foi elaborado o documento intituladoReestruturao da Proposta Curricular do Ensino deSegundo Grau, tambm para a disciplina de EducaoFsica. Assim como antes, a proposta foi fundamentadana concepo histrico-crtica de educao para resgataro compromisso social da ao pedaggica da EducaoFsica. Vislumbrava-se a transformao de umasociedade fundada em valores individualistas, em umasociedade com menor desigualdade social. Essaproposta representou um marco para a disciplina,destacou a dimenso social da Educao Fsica epossibilitou a consolidao de um novo entendimento emrelao ao movimento humano, como expresso daidentidade corporal, como prtica social e como umaforma do homem se relacionar com o mundo. A propostavalorizou a produo histrica e cultural dos povos,relativa ginstica, dana, aos esportes, aos jogos e satividades que correspondem s caractersticas regionais.A rigidez na escolha dos contedos, a insuficiente ofertade formao continuada para consolidar a proposta e,depois, as mudanas de polticas pblicas em educaotrazidas pelas novas gestes governamentais, a partir demeados dos anos de 1990, dificultaram a implementaodos fundamentos tericos e polticos do Currculo Bsicona prtica pedaggica. Por isso, o ensino da EducaoFsica na escola se manteve, em muitos aspectos, emsuas dimenses tradicionais, ou seja, com enfoqueexclusivamente no desenvolvimento das aptides fsicas,de aspectos psicomotores e na prtica esportiva. Os

    avanos tericos da Educao Fsica sofreram retrocessona dcada de 1990 quando, aps a discusso eaprovao da Lei de Diretrizes e Bases da EducaoNacional (LDB n. 9394/96), o Ministrio da Educao(MEC) apresentou os Parmetros Curriculares Nacionais(PCN) para a disciplina de Educao Fsica, quepassaram a subsidiar propostas curriculares nos Estadose Municpios brasileiros. O que deveria ser um referencialcurricular tornou-se um currculo mnimo, para alm daideia de parmetros, e props objetivos, contedos,mtodos, avaliao e temas transversais. No que serefere disciplina de Educao Fsica, a introduo dostemas transversais acarretou, sobretudo, numesvaziamento dos contedos prprios da disciplina.

    Temas como tica, meio ambiente, sade e educaosexual tornaramse prioridade no currculo, em detrimentodo conhecimento e reflexo sobre as prticas corporaishistoricamente produzidas pela humanidade, entendidosaqui como objeto principal da Educao Fsica. OsParmetros foram elaborados para atender a um artigoda Constituio que prev o estabelecimento decontedos mnimos para a educao (...) no levando emconta a realidade social dos homens, colocando aeducao como soluo para os problemas sociais e aoshomens a responsabilidade de seu sucesso ou fracassona vida. Esse documento se apresenta como flexvel eoptativo, embora, pela forma como foi minuciosamenteelaborado, se denuncie todo o tempo como descritivo eespecfico no seu contedo, estimulando a sua

    incorporao e apresentando-se como verdade absoluta.(MARTINS E NOMA, 2002, p. 05) Acusados por algunscrticos12 de proporem um ecletismo terico, os PCN no

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    apresentaram uma coerncia interna de propostacurricular. Ou seja, continham elementos da pedagogiaconstrutivista piagetiana, psicomotora, da abordagemtecnicista, sob a ideia de eficincia e eficcia no esportee, tambm, defendia o conceito de sade e qualidade devida do aluno pautado na perspectiva da aptido fsica.Nessa tentativa de absorver o maior nmero possvel deconcepes tericas, o documento acabava tratando tais

    teorizaes de forma aligeirada, deixando, inclusive, dedestacar os autores responsveis pelas diferentesabordagens. Os Parmetros Curriculares Nacionais deEducao Fsica para o Ensino Fundamentalabandonaram as perspectivas da aptido fsicafundamentadas em aspectos tcnicos e fisiolgicos, edestacaram outras questes relacionadas s dimensesculturais, sociais, polticas, afetivas no tratamento doscontedos, baseadas em concepes tericas relativasao corpo e ao movimento. J nos ParmetrosCurriculares Nacionais para o Ensino Mdio, osconhecimentos da Educao Fsica perderamcentralidade e importncia em favor dos temastransversais e da pedagogia das competncias ehabilidades, as quais receberam destaque na proposta13.Apesar de sua redao aparentemente progressista,pode-se dizer que os Parmetros Curriculares Nacionaisde Educao Fsica para o Ensino Fundamental e Mdioconstituram uma proposta terica incoerente. As diversasconcepes pedaggicas ali apresentadas valorizaram oindividualismo e a adaptao do sujeito sociedade, aoinvs de construir e oportunizar o acesso aconhecimentos que possibilitem aos educandos aformao crtica. Diante da anlise de algumas dasabordagens tericas que sustentaram historicamente asteorizaes em Educao Fsica escolar no Brasil, desdeas mais reacionrias at as mais crticas, opta-se, nestasDiretrizes Curriculares, por interrogar a hegemonia queentende esta disciplina to-somente como treinamento do

    corpo, sem nenhuma reflexo sobre o fazer corporal.Dentro de um projeto mais amplo de educao do Estadodo Paran, entendese a escola como um espao que,dentre outras funes, deve garantir o acesso aos alunosao conhecimento produzido historicamente pelahumanidade. Nesse sentido, partindo de seu objeto deestudo e de ensino, Cultura Corporal, a Educao Fsicase insere neste projeto ao garantir o acesso aoconhecimento e reflexo crtica das inmerasmanifestaes ou prticas corporais historicamenteproduzidas pela humanidade, na busca de contribuir comum ideal mais amplo de formao de um ser humanocrtico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito, que produto, mas tambm agente histrico, poltico, social e

    cultural.

    2. DIMENSES FILOSFICAS, ANTROPO-LGICAS E SOCIAIS APLICADAS EDU-CAO E AO ESPORTE: LAZER E AS IN-TERFACES COM A EDUCAO FSICA,

    ESPORTE, MDIA E OS DESDOBRA-MENTOS DA EDUCAO FSICA

    Desporto ou esporte uma atividade fsica ou mentalsujeita a determinados regulamentos e que geralmentevisa a competio entre praticantes. Para ser esporte tem

    de haver envolvimento de habilidades e capacidades motoras, regras institudas por uma confederao regente ecompetitividade entre opostos. Algumas modalidadesesportivas se praticam mediante veculos ou outras

    mquinas que no requerem realizar esforo, em cujocaso mais importante a destreza e a concentrao doque o exerccio fsico. Idealmente o esporte diverte eentretm, e constitui uma forma metdica e intensa de umjogo que tende perfeio e coordenao do esforomuscular tendo em vista uma melhora fsica e espiritualdo ser humano. As modalidades esportivas podem sercoletivas, duplas ou individuais, com ou sem adversrio.

    Tambm podemos definir esporte como um fenmenosociocultural, que envolve a prtica voluntria deatividade predominantemente fsica competitiva com finalidade recreativa ou profissional, ou predominantementefsica no competitiva com finalidade de lazer, contribuindo para a formao, desenvolvimento e/ou aprimoramento fsico, intelectual e psquico de seus praticantes e espectadores. Alm de ser uma forma de criaruma identidade esportiva para um incluso social. Aatividade esportiva pode ser aplicada ainda na promooda sade em mbito educacional, pela aplicao deconhecimento especializado em complementao ainteresses voluntrios de uma comunidade no especializada. Os principais desportos praticados na escolaso: futsal, voleibol, basquetebol, handebol e atletismo.

    Esportes: Individuais e Coletivos. Tcnicas e Tticas.Regras e Penalidades.

    A aprendizagem esportiva segue, em muitos aspectosda cultura corporal o gosto pela prtica de uma oualgumas modalidades. relevante pensarmos que osesportes individuais e coletivos seguem por vezes umadiretriz coerente e linear de aprendizagem, principalmenteno espao formal do ambiente escolar. Do simples para omais complexo; do habitual para o particular; do culturalmente normatizado para a exceo. Como a capacidade do conhecimento seletiva, ou seja, estamos limi

    tados a conhecer mais de um estrito nmero de informaes sobre um determinado assunto, o que normalmente fica da aprendizagem pode ser identificado nassituaes prazerosas que alunos vivenciam durante asaulas de educao fsica, quer sejam os contedos queenglobem as lutas, as danas ginsticas ou ainda osesportes praticados com bola (COLETIVO DE AUTORES,1992; LOVISOLO, 1997). Pensamos que a cultura corporal experimentada pelos alunos de ensino fundamentaldeve compor inmeras situaes em que os alunos sejamagentes de suas prprias regras. A regra neste aspectouma forma de compreenso crtica e autnoma do que sequer jogar e de que formar aderir ao jogo. comumencontrarmos nas escolas crianas e adolescentes que

    gostam mais de participar de jogos tradicionais do que deos jogos esportivos, tais exemplos podem ser vistos nojogo da amarelinha, na bola de gude e no queimado,jogos que contm diversas habilidades motoras e complexas formas de raciocnio em um ambiente de jogoadaptado e personalizado pelo grupo que joga (MELLO,1985; PARLEBAS, 1988). Portanto, pensar os jogostradicionais tambm uma forma de pensar a educaofsica em seu mundo de diferentes possibilidades edesafios, em que o esporte no seja interpretado comonica fonte de aprendizagem na educao fsica, principalmente no primeiro segmento do ensino fundamental,onde o gosto pela atividade fsica pode ser estimulado dediversas maneiras. Alm disso, compreendemos que aeducao fsica escolar tem avanado pouco quanto s

    diversificaes nos contedos de aula. Pouco tem se feitopara incluir outras modalidades, e os esportes de salo

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    (basquetebol, futsal, handebol e voleibol) ainda so osmais praticados. No

    O Esporte como Paradigma da Educao Fsica

    Em escolas que contm em seu corpo docente umnmero significativo de profissionais de educao fsica,

    possvel notar a experincia pessoal que cada profissional traz para o espao escolar. Uns trazem suastrajetrias de vida ligadas aos esportes individuais, quevia de regra na escola so compostos por atletismo, dana, jud e a natao. Em outra ponta temos os profissionais ligados aos esportes coletivos que no espaoescolar gira em torno do basquetebol, futsal, handebol evoleibol. Pensando na especificidade de cada esporte ena lgica interna de suas regras acreditamos que relevante disponibilizar o maior nmero de atividades corporais para o corpo discente, em que se experimente daslutas dana, dos esportes com bola aos esportesaquticos (PARLEBAS, 1988). Como o profissional deeducao fsica vai apresentar esses contedos aos seusalunos que me parece o problema a ser solucionado.Ao no privilegiar um esporte em detrimento de outro, oprofessor pode aproveitar para ensinar conceitos bsicosda educao que so apresentados nos ParmetrosCurriculares Nacionais (BRASIL, 1994). Temas transversais como a tica e sade em um pas de baixo nvelscio econmico fazem destas questes tpicosrelevantes, em que pesem o acesso aos bens culturais. Oesporte, assim como outras atividades corporais noespao escolar, estimulado ainda de maneira tmida,principalmente nas questes relacionadas s instalaes,ao material esportivo e a falta de adequao da gradeescolar s aulas de educao fsica.

    Esporte e Desenvolvimento Pessoal

    As tomadas de deciso, iniciativa e atitude nos esportes so interpretadas muitas vezes como benficas eaplicveis em outros espaos da vida, ou seja, indivduosque aprendem uma educao voltada para a prtica deesportes tendem a utilizar elementos como a concentrao e o esprito de equipe em outras atividades de seucotidiano. Neste sentido, inmeros atletas e tcnicos dediversas modalidades esportivas tm sido requisitadospara contar sobre suas trajetrias vitoriosas dentro demeio esportivo para diferentes profissionais liberais empalestras com alto valor de mercado, pois se compreendeque as experincias realizadas dentro das reas dos

    esportes podem ser transportadas para outras atividadesprofissionais tambm competitivas na busca da capacitao de equipes vencedoras. Iniciativa, atitude e tomasde deciso esto presentes tanto nos esportes individuaiscomo nos coletivos. Porm, vemos que a capacidadedo indivduo conviver com o outro numa equipe, treinandoe viajando junto que faz com que muitos jovens atletasacabem por se integrar em equipes de esportes coletivos.Tanto no aspecto de pertencimento, quanto no aspectofinanceiro interessante que em um primeiro momentoos atletas pertenam a alguma agremiao ou equipe. Namedida em que os atletas passam a gerir suas prpriascarreiras, vemos que tem sido freqente a sada deatletas do voleibol de quadra para o voleibol de praia,possibilitando assim que esses negociem diretamente

    com os patrocinadores, sem que clubes ou federaestenham grande poder de interferncia. Ou seja, o atletatorna se gestor de sua prpria careira fazendo com que a

    sua imagem pessoal se sobreponha a do clube ou dealguma confederao. O profissional de educao fsicaconhecedor desse contexto pode mostrar as tendncias,identificando as especificidades de cada modalidade esportiva e suas inmeras formas de adeso para crianase adolescentes, mas o que vemos que a maioria dosprofessores no relaciona desenvolvimento esportivo aoespao escolar, como se as situaes vistas na mdia

    fossem pouco exemplares. O ato de passar a bola, tocomum nos esportes coletivo, tem um significadodiferente, por exemplo, do nadar sozinho na piscina. Separa Elias (1990) o autocontrole elemento bsico para aesportivizao, ele adquirido de forma diferente em esportes individuais e coletivos. No acredito que esportescoletivos tenham a capacidade de socializar mais queesportes individuais. Dependendo da interferncia doprofessor, da situao de cada escola e dos objetivos decada indivduo, podemos ter variadas respostas para ummesmo estmulo da aprendizagem. Acreditamos no prazer, na ludicidade, no jogo. Na possibilidade de escolhaque atualmente tem sido constante nas escolas privadas.O aluno escolhe o que quer fazer bimestre por bimestre.No apenas a modalidade esportiva, mas tambm com oprofessor que mais lhe agrada. Simples e democrtico,complexo e sedutor. claro que outras questes estoenvolvidas: os alunos tendem a escolher os esportes queesto acostumados a jogar e podem vir a querer fazeraulas com aqueles professores que tendem a ser maisflexveis e menos rgidos com relao a presena eparticipao. Mas ainda assim me parece a melhor opoa ser desenvolvidas nas escolas. Seno acreditassemosnisso, seria bastante difcil trabalharmos com qualidade,ensinando educao fsica para alunos em situaesprecrias, com poucos recursos fsicos e quase nenhummaterial esportivo adequado, em reas de risco social doentorno de comunidades pobres da periferia do Rio deJaneiro. Porm, infelizmente, a adeso de alunos no se

    transforma no desenvolvimento desses esportes nacultura esportiva brasileira, no que diz respeito suapropagao, desenvolvimento e evoluo. comum veratletas das modalidades do atletismo e do handebol reclamando da falta de condies financeiras e de estruturafsica para que esses possam desenvolver seus melhorespotenciais. Mas existem outros fatores que impedem odesenvolvimento e a massificao dos esportes no Brasil,com exceo, claro, do futebol. H outras questes aserem discutidas. Componentes fsicos tais como altura emassa muscular so impedimentos reais para a exclusode muitos alunos nas prticas fsicas. Talvez por isso ofutebol apresente o estigma de ser um esporte democrtico, em que as caractersticas fsicas ficam em

    segundo plano, fazendo com que o mito do esporte paraas massas se concretize em nosso pas (RIBEIRO,2005). Durante uma fase de nossa educao fsica,apenas selecionamos crianas e adolescentes para quefosse vivel a criao de equipes de competio.Concentrou se esforo na seleo de talentos e pensouse que uma nao forte se desenvolveria com os resultados olmpicos de homens e mulheres brasileiras, esquecendo se nas implicaes polticas para a populaobrasileira de atividades esportivas descomprometidas daqualidade de vida e do bem estar social (GHIRALDELLIJR., 1988). A seleo de talentos nas escolas s vezesmantm um efeito perverso (BOUDON, 1979) que pouco visto: quando levados para clubes de competio,os alunos acabam por atuar em funes especficas, em

    que sua altura ou fora precoce os fazem ser destaquesem suas categorias de idade. Ou seja, se so altos jogamna funo de piv, como no caso do basquete, e perdem

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    a oportunidade de atuarem como armadores ou alas, fatoque constantemente limitam na fase adulta a possibilidade de uma maior flexibilidade de permanncia noesporte.

    Classificao dos Esportes: Relao de Cooperao eOposio

    Dentro das classificaes possveis neste trabalho,optou se, inicialmente, por aquela que permite dividir osesportes em quatro grandes categorias a partir dacombinao de outras duas distribuies, o que permiteconstruir uma matriz de anlise que, embora no incluatodos os esportes, envolve uma importante parte douniverso das modalidades. De forma resumida, pode sedizer que os critrios so:

    a)se existe ou no relao com companheiros e,

    b)se existe ou no interao direta com o adversrio.

    Com base nesses princpios possvel classificar asmodalidades em individuais ou coletivas, quando utilizadoo critrio relao com os companheiros, e com e seminterao direta com o adversrio, quando o critrioutilizado a relao com o oponente. Com base no primeiro critrio os esportes podem ser classificados comoindividuais, segundo seu prprio nome indica, quando osujeito participa sozinho durante a ao esportiva total(durao da prova, do jogo), sem a participaocolaborativa de um colega, e em esportes coletivos,quando as modalidades exigem, pela sua estrutura edinmica, a coordenao das aes de duas ou maispessoas para o desenvolvimento da atuao esportiva. J

    quando considerada a relao com o rival como critriode classificao, a interao com o adversrio pode seridentificada como a caracterstica central dos esportescom oposio direta. Essa condio exige dos participantes adaptaes e mudanas constantes na atuaomotora em funo da ao e da antecipao da atuaodo adversrio. Estes esportes tambm podem, de formamais ampla, ser denominados de atividades motoras desituao, definidas como "atividades ludomotoras queexigem dos sujeitos participantes antecipar as aes do/sadversrio/s (e colega/s se a atividade for em grupo) paraorganizar suas prprias aes orientadas a alcanar o/sobjetivo/s das atividades ldicas" (GONZALEZ, 1999,p.4). Outros autores denominam a condio de interao

    com o adversrio de oposio direta (RIERA, 1989), damesma forma que a categoria com interao supe apresena do adversrio que se enfrenta diretamente, oqual procura a todo momento neutralizar a atuao dorival. Combinando estas duas classificaes teremos asseguintes categorias:

    Esportes individuais em que no h interao com ooponente: so atividades motoras em que a atuao dosujeito no condicionada diretamente pela necessidadede colaborao do colega nem pela ao direta do oponente.

    Esportes coletivos em que no h interao com ooponente: so atividades que requerem a colaborao de

    dois ou mais atletas, mas que no implicam a interferncia do adversrio na atuao motora.

    Esportes individuais em que h interao com ooponente: so aqueles em que os sujeitos se enfrentamdiretamente, tentando em cada ato alcanar os objetivosdo jogo evitando concomitantemente que o adversrio ofaa, porm sem a colaborao de um companheiro.

    Esportes coletivos em que h interao com o oponente: so atividades nas quais os sujeitos, colaborando

    com seus companheiros de equipe de forma combinada,se enfrentam diretamente com a equipe adversria, temtando em cada ato atingir os objetivos do jogo, evitandoao mesmo tempo que os adversrios o faam.

    O Quadro 1 mostra alguns exemplos:Quadro 1 Classificao em funo da relao de cooperao e oposio

    Esporte Com Interaocom o AdversrioSem Interao

    com o Adversrio

    Coletivo

    BasquetebolFutebolFutsalSoftbol

    Voleibol

    AcrosportGinstica RtmicaDesportiva (grupo)Nado Sicronizado

    Remo

    Individual

    BadmintonJudPaddlePetecaTnis

    Atletismo (provas decampo)Ginstica OlmpicaNatao

    Classificao dos Esportes: em funo das caractersticas do ambiente fsico onde se realiza a praticaesportiva.

    Quando se observa o ambiente fsico no qual se realiza aprtica esportiva, pode se perceber que a atuao dospraticantes afetada de forma diferente por ele. Estasformas diferenciadas de o ambiente fsico afetar as

    prticas motoras permitem classificar os esportes nomnimo em duas categorias. Uma rene o conjunto deesportes que se realizam em ambientes que no sofremmodificaes, isto , no criam incertezas para o praticante no momento em que ele o conhece. Uma segundacategoria agrupa o conjunto de esportes em que oambiente produz incertezas para o praticante, com basenas mudanas permanentes do ambiente fsico onde sepratica a modalidade ou quando o mesmo desconhecido pelo atleta. Assim, nesta lgica, as prticasmotoras institucionalizadas classificam se em:

    Esportes sem estabilidade ambiental ou praticados em espaos no padronizados: So aqueles que se realizam em espaos mutveis eque, conseqentemente, apresentam incertezaspara o praticante, exigindo dele a permanenteadaptao de sua ao motora s variaes doambiente.

    Esportes com estabilidade ambiental ou praticados em espaos padronizados: So os que serealizam em espaos estandardizados e que nooferecem incertezas para o praticante.

    O Quadro 2 mostra alguns exemplos.

    Quadro 2 Classificao em funo das caractersticas

    do ambiente fsico onde se realiza a prtica esportiva.

    Esportes sem Estabilidade Esportes com Estabilidade

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    Ambiental Ambiental

    CanoagemCorrida de OrientaoIatismoMountain Bike

    BasquetebolGinstica Rtmica DesportivaJudNado SicronizadoNatao (em piscina)

    Classificao dos Esportes: em funo da lgica dacomparao de desempenho e princpios tticos

    Este processo de anlise das caractersticas esportivaspermite identificar dentro das categorias de esportes come sem interao direta com o adversrio subcategoriasque se vinculam a diferentes critrios. Para os esportessem interao o critrio utilizado o tipo de desempenhomotor comparado para designar o vencedor nas diferentes modalidades. J para os esportes em que h interao o critrio de classificao liga se ao objetivo tticoda ao, ou seja, a exigncia que colocada aos participantes pelas modalidades para conseguir o propsitodo confronto deportivo. Assim, observamos que nos esportes sem interao com o adversrio tem se diferentestipos de resultados como elemento de comparao dedesempenho, permitindo classificar9as modalidades em:

    Esportes de "marca": so aqueles nos quais oresultado da ao motora comparado um registro quantitativo de tempo, distncia ou peso.

    Esportes "estticos":so aqueles nos quais oresultado da ao motora comparado a qualidade do movimento segundo padres tcnicocombinatrios.

    Esportes de preciso: so aqueles nos quais o

    resultado da ao motora comparado a eficincia e eficcia de aproximar um objeto ouatingir um alvo.

    J os esportes com interao com o adversrio, adaptando a classificao de Almond (citado em DEVIS ePEIR,1992) e dando nfase aos princpios tticos dojogo, podem ser divididos em quatro categorias:

    Esportes de combate ou luta:so aqueles caracterizados como disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com tcnicas,tticas e estratgias de desequilbrio, contuso,

    imobilizao ou excluso de um determinado

    espao na combinao de aes de ataque edefesa (BRASIL, 1998, p. 70).

    Campo e taco:compreendem aqueles que tmcomo objetivo colocar a bola longe dos jogadores do campo a fim de recorrer espaos determinados para conseguir mais corridas que osadversrios.

    Esportes de rede/quadra dividida ou muro:so os que tm como objetivo colocar arremessar/lanar um mvel em setores onde o(s)adversrio(s) seja(m) incapaz(es) de alcan loou for lo(s) para que cometa/m um erro, servindo somente o tempo que o objeto est emmovimento.

    Esportes de invaso ou territoriais: constituem aqueles que tm como objetivo invadir asetor defendido pelo adversrio procurando atingindo a meta contraria para pontuar, protegendosimultaneamente a sua prpria meta.

    Nesse sentido, com base nas categorias descritas, podeser montado um sistema que rene o conjunto de classificaes e permite localizar os diferentes tipos de esportes (Quadro 3). possvel realizar essa classificao emfuno das quatro categorias descritas: a) a relao como adversrio, b) a lgica de comparao de desempenho,c) as possibilidades de cooperao e, d) as caractersticas do ambiente fsico onde se realiza a prticaesportiva. O sistema de classificao apresentado no completo, existem esportes que nele no esto comtemplados (por exemplo, o kabaddi, esporte nacional dandia, aqui classificado como esporte de luta e coletivo,poderia entender se que no compatvel com esta

    classificao). Esta estrutura, contudo, possibilita a classificao da maioria das modalidades esportivas conhecidas, habilitando uma anlise criteriosa dos elementosparticulares do universo esportivo e permitindo mapear oselementos comuns entre diversas modalidades. As caractersticas da lgica interna dos esportes condicionamdecisivamente os procedimentos de ensino e treinamento. Dessa forma, este conhecimento fundamentalpara o profissional que pretenda mediar entre as manifestaes esportivas e os sujeitos, haja vista que oreconhecimento das especificidades da modalidade permitir hierarquizar os contedos (o que ensinamos) eselecionar de forma adequada os procedimentos deensino (como ensinamos).

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    Quadro 3. Sistema de classificao dos esportes emfuno: da relao com o adversrio, lgica de comparao de desempenho, as possibilidades de cooperaoe as caractersticas do ambiente fsico onde se realiza aprtica esportiva.

    Ginsticas: De Manuteno da Sade, Aerbica e

    Musculao; de Preparao e Aperfeioamento para aDana; de Preparao e Aperfeioamento para osEsportes

    Todo movimento ginstico, assim como os caractersticos dos esportes, evoluram a partir dos movimentosmais naturais do ser humano que anda, corre, salta,arremessa, trepa em rvore, vira cambalhota e mais umainfinidade de outros conforme a necessidade demomento. O Novo Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa define a palavra Ginstica como vinda do gregoGymnastik e significa a Arte ou ato de exercitar o corpopara fortific lo e dar lhe agilidade. O conjunto de exerccios corporais sistematizados, para este fim, realizadosno solo ou com auxlio de aparelhos e aplicados comobjetivos educativos, competitivos, teraputicos, etc.. AEncyclopedia Britannica, define Como a system ofphysical exercices practised either to promote physicaldevelopment or a sport. Segundo Prez Gallardo (1993),as habilidades naturais so aquelas que se caracterizampor estar presentes em todos os seres humanos, independentes de seu lugar geogrfico e nvel scio cultural eque servem de base para aquisio de habilidadesculturalmente determinadas.... Partindo desses conceitos, quase todas as atividades de academia so consideradas rea da ginstica e a localizada trs toda fundamentao terica da musculao.

    Manuteno da Sade Aerbica e Musculao

    Ginstica Aerbica

    A Ginstica Aerbica surgiu como uma tima forma depraticar exerccios fsicos para o pblico em geral no finalda dcada de 80. Mas logo se transformou tambm emum esporte competitivo de alto nvel. Em sentido estrito,chama se ginstica aerbica as atividades fsicas caracterizadas por movimentos rtmicos e intensos comelevado gasto calrico e de impacto sobre as juntas,movimentos estes causadores de esforo fsico que podeser suprido pela oxigenao normal da respirao, quasesempre acompanhados de msica, e que produzem um

    aumento metablico e uso de substratos benficos aoorganismo. Ginstica aerbica pode ser qualquer atividade fsica caracterizada pela prtica de exercciosisotnicos, ou seja, esforos musculares em que existe amanuteno da tonicidade muscular, com modificao docomprimento e volume da mesma na medida do tempo.Geralmente so exerccios em que no h uma exaustopor acmulo excessivo de cido lctico, onde o consumode oxignio pelo msculo proporcional, e que por comseguinte o ganho anablico menor quando comparadocom os exerccios anaerbios. Na dcada de 1990, estadisciplina foi uma "febre da moda" nas academias, j quefavorece a reduo de percentual de gordura e produzemcorpos esculpidos. Os exerccios aerbicos usam grandes grupos musculares rtmica e continuamente, ele

    vando os batimentos cardacos e a respirao durante algum tempo. O exerccio aerbico longo em durao emoderada em intensidade. Dentre algumas das ativi

    dades aerbicas mais comuns esto: andar, correr, pedalar e remar. Aerbica por definio, significa com ar ouoxignio. Alm dos benefcios para a queima de substratos (gordura, glicose e em ltimo caso protena) osexerccios aerbicos so muito benficos tambm paramelhorar a sade de modo geral. A ginstica aerbica uma ginstica composta por exerccios que estimulam amelhora do desempenho cardiovascular atravs do incre

    mento do uso do oxignio pelo corpo do indivduo epermitindo que o corao trabalhe com mais fora e commaior frequncia. Como tem um ritmo constante e delongo perodo, que caracteriza atividades aerbicas, considerado um exerccio aerbico.

    Musculao

    A musculao ou treinamento com pesos um tipo deexerccio resistido, com variveis de carga, amplitude,tempo de contrao e velocidade controlveis. Geralmente, a musculao praticada nas academias desportivas.Desse modo pode ser aplicada da forma isomtrica(contrao mantida), isocintica (com velocidade angularconstante) ou isotnica (alternncia de contraes comcntricas e excntricas), contnua ou intervalada, leve,moderada ou intensa, com recursos aerbios ou anaerbios. Esta possibilidade de controle de tantas variveistorna a musculao uma atividade fsica altamente verstil que pode ser praticada por pessoas de diversas idades para diferentes objetivos. O treinamento com pesosse difere do fisiculturismo, levantamento de peso olmpico, levantamento de peso bsico (ou powerlifting), eatletismo de fora (ou strongman), que so esportes aoinvs de formas de exerccio. O treinamento com pesos,entretanto, geralmente faz parte do regime de treinamento dos atletas dessas modalidades. A musculaocomo todo tipo de exerccio fsico necessita de uma srie

    de cuidados. A prtica desregrada dessa atividade podecausar desde leses musculares de pequena magnitudeat grandes leses e rompimentos de grupos musculares.Para uma eficiente prtica de exerccios fsicos nuncadeixe de fazer uma srie de alongamentos para cadagrupo muscular, com isso sero evitadas distensesmusculares e grande parte das possibilidades de pequenas leses ao decorrer do exerccio. No menosimportante que o alongamento, o aquecimento prviotambm um grande aliado da segurana no esporte.Alguns minutos de aquecimento antes da musculaofazem com que o rendimento seja maior e os riscos deacidentes sejam menores haja vista que o corpo bemaquecido se encontra com o metabolismo estvel, no

    ocorrendo variaes bruscas durante as contraes compeso.

    Ginstica de Preparao e Aperfeioamento para aDana

    A ginstica rtmica, tambm conhecida como GRD ouginstica rtmica desportiva, uma ramificao da ginstica que possui infinitas possibilidades de movimentoscorporais combinados aos elementos de ballet e danateatral, realizados fluentemente em harmonia com amsica e coordenados com o manejo dos aparelhosprprios desta modalidade olmpica, que so a corda, oarco, a bola, as maas e a fita. Praticada apenas por um

    lheres em nvel de competio, tem ainda uma prticamasculina surgida no Japo. Pode ser iniciada em mdiaaos seis anos e no h idade limite para finalizar a

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    prtica, na qual se encontra competies individuais ouem conjunto. Seus eventos so realizados sempre sobreum tablado e seu tempo de realizao varia entre 75,para as provas individuais, e 150 segundos, para asprovas coletivas. A ginstica rtmica desenvolve harmonia, graa e beleza em movimentos criativos, traduzidosem expresses pessoais atravs da combinao musicale tcnica, que transmite, acima de tudo satisfao

    esttica aos que a assistem. Surgida atravs dos estudosde Russeau, assim como as demais modalidades, transformou se durante o passar dos anos, sempre ligada dana e musicalidade, at chegar Unio Sovitica,onde desenvolve se como prtica esportiva, e Alemanha, onde ganhou os aparelhos conhecidos hoje. Aginasta precisa ter graa, leveza, beleza e tcnicasprecisas em seus movimentos para demonstrar harmoniae entrosamento com a msica e suas companheiras, emum ambiente de expresso corporal contextualizadainclusive pelos sentimentos transmitidos atravs docorpo. Fisicamente, funo desta modalidade desenvolver o corpo em sua totalidade, por meio dos movimentos naturais aperifeioados pelo ritmo e pelas capacidades psicomotoras nos mbitos fsico, artstico eexpressivo. Por essa reunio de caracterstica, chamada de esporte arte.

    Ginstica de Preparao e Aperfeioamento para osEsportes

    No restam muitas dvidas quanto importncia queo esporte adquiriu na sociedade contempornea. Suaonipresena na vida cotidiana faz com que ele sejapraticado, assistido e discutido a toda hora, em todas asrodas, de todas as classes sociais. Desde criana, comvivemos com o esporte de uma forma aparentementeespontnea, quase naturalizada. Seria quase impossvel

    imaginar crescermos hoje sem esse contato to precocee, ao mesmo tempo, to definitivo com a experincia esportiva. Atualmente o esporte a principal manifestaoda nossa cultura de movimento e das prticas corporaisque nos envolvem, contudo nem sempre foi assim. Numpassado recente (menos de um sculo atrs) os jogos, asbrincadeiras e a ginstica representavam as nossasformas simblicas de dialogar com o mundo e conoscomesmo. Atualmente, quase todas essas prticas foramsubstitudas pelas atividades esportivas. Correr no mais correr simplesmente; correr como se corre noAtletismo, seja em velocidade ou em corridas de longadurao. Saltar no mais apenas saltar; mas saltarconforme as tcnicas do Salto em Altura ou em Distncia.

    Jogos com bola, que eram percebidas como uma manifestao ldica da cultura de movimento, hoje soincorporados utilitariamente como jogos de preparaopara o esporte, que adquiriu o status de ponto de chegada, uma meta a ser alcanada.

    Jogos e Lutas

    Ainda que o professor no possua uma formaoampla sobre o assunto, possvel trabalhar dentro darealidade de estrutura fsica da escolar, e da sua formao profissional. O primeiro passo entender que umaaula de lutas na Educao Fsica Escolar no pode serconfundida com a simples repetio de movimentos, que

    observamos facilmente em um treinamento realizado emuma academia. Em academias e escolas de artes marciais, o ensino das tcnicas bsicas ocorre geralmente

    de forma sistmica. O professor demonstra um movimento para o aluno, que deve procurar repeti lo. O aluno comandado pelo instrutor ou mestre a executar umnmero de n repeties, enquanto este vai observandoe corrigindo o. Em seguida demonstrado outro movimento. Os alunos realizam todos o mesmo movimento,para ento iniciar sries de outros movimentos emseguida. O tempo para que o aluno realize a pesquisa

    corporal, a concentrao prvia ao disparo do movimento eximida em pretenso ao ritmo de execuo, que segueo mesmo do coletivo, comandado pelo instrutor. A organizao dos treinamentos geralmente ocorre de formacoletiva. preciso considerar que essa forma de ensinopode servir a alguns alunos, assim como pode serextremamente enfadonha para outros. Cabe ao professorde educao fsica realizar aulas em que no fiquemapenas repetindo gestos, mas mobilize os alunos dediferentes maneiras para que o assunto desperte acuriosidade e garanta a participao dos mesmos nasatividades propostas. Nas atividades prticas podem sertrabalhados os movimentos das lutas, e na evoluo dostreinamentos outros contedos associados como: conhecimentos sobre o corpo (anatomia, fisiologia, treinamento); exerccios mentais (meditao, concentrao);alm de outros. Nas atividades tericas realizadas atravs de pesquisas, aulas expositivas, ou tambm comanlises de filmes, podem ser trabalhadas informaessobre cultura dos pases, histria das lutas, as lutas nocontexto mundial ou regional, o cunho filosfico das artesmarciais orientais, as lutas como so mostradas pelamdia, e vrias outras. Para o professor adquirir o contedo para suas aulas ideal que pesquise dadoshistricos, regras e cdigos, em livros e Internet, podendoinclusive coordenar um trabalho de pesquisa com osprprios alunos ou ainda, com a participao dos professores das disciplinas de Geografia ou Histria, em umtrabalho multidisciplinar, interdisciplinar ou at trans

    disciplinar. O professor de educao fsica, acostumado acriar a inovar em atividades recreativas e jogos, podefacilmente propor exerccios para treinar equilbrio, agilidade e fora. Os alunos podem visitar academias especializadas e assistir os treinamentos ou competies, ou oprofessor pode combinar com um instrutor e sua turmapara apresentarem uma aula demonstrao. Na Internet de fcil obteno alguns vdeos demonstrativos das lutase artes marciais mais populares, possibilitando aapresentao destes pelo professor para que os alunospossam conhecer rapidamente cada modalidade de luta.Concordando com Silveira (2005), os vdeos so umaalternativa cognitiva que muito auxilia na construo doraciocnio inferencial do educando para a sua compre

    enso. importante que o professor no entenda essasesso de vdeo como um momento para os alunosaprenderem sozinhos. obrigao do professor estarjunto, apresentando as demonstraes e elucidando asdvidas dos educandos. recomendvel que antes deiniciar a construo de uma aula com lutas, o professorfreqente algum treinamento, para adquirir algumaexperincia nesse sentido. No entanto, recomendvel nosignifica obrigatoriedade. Da mesma forma que oprofessor busca o conhecimento quando precisa ensinaruma modalidade de atletismo, ou uma atividade recreativa aos seus alunos, o estudo e a busca de informaespara construir suas aulas de lutas pode seguir da mesmaforma, pois o ensino de lutas na Educao Fsica Escolar,no se trata de um treinamento esportivo especializado

    em uma modalidade de luta. importante que o professorexecute algumas vezes os movimentos que pretende trabalhar com seus alunos, pois alguns colocam a estrutura

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    fsica dos mesmos sob risco. Existem muitas tcnicas detores e estrangulamentos, comuns no Jiu jitsu, Jud eHapkido, que no necessitam serem ensinadas para queo aluno alcance os mesmos objetivos conforme suasnecessidades pedaggicas. Para conhecer alguns movimentos tcnicos, possvel recorrer a livros disponveis,como Jud: da Escola Competio, de Carlos Fernando dos Santos Baptista, onde so descritas as execues

    detalhadas dos movimentos. Contudo, o ensino peloslivros muito dependente das gravuras, que so satisfatrias para o entendimento do momento esttico dogesto tcnico, e insatisfatrias para a compreenso domovimento em si. Alm dos livros existem vdeos paradownload disponveis na Internet, de forma gratuita oupaga. Mas qualquer outra fonte no se compara ao ingresso e treinamento de vrios meses (ou anos) em umaacademia de luta com um professor habilitado.

    Escolha da Luta

    A gama de modalidades de lutas no Brasil varia muito,de acordo com a realidade e a conjuntura da regio, dacidade, e da escola. A diferena entre uma cidade maispopulosa e cidades de reas menos desenvolvidas podeser muito grande no que se refere a opes de prtica delutas e artes marciais. Os PCNs no determinam qualmodalidade de luta a melhor ou a mais indicada para asaulas de educao fsica. Fica o professor responsvelpor decidir a escolha da modalidade de luta que serensinada. E, se o professor, ao chegar neste ponto, notenha compreendido o significado das lutas, enquantocomponente da Educao Fsica Escolar, talvez nocompreenda se ser necessrio escolher uma, duas outrs modalidades de luta. E quais devero ser escolhidas:as mais conhecidas na cidade e na regio? Ou somenteas modalidades olmpicas? Assim como ocorre com os

    esportes (Futebol, Handebol, Basquetebol e Voleibol)sero escolhidas as modalidades que so mais populares? Os alunos conhecero, ento, apenas a Capoeira,o Karat, Jud e o Taekwondo? Por qual critrio? Porserem os mais conhecidos, os mais fceis de aplicar oupor fazerem parte do contexto local? o professor queescolhe desenvolver Futebol com seus alunos, ou ele notem outra opo, porque em sua escola s existe umaquadra para essa modalidade esportiva, e porque suaformao enfatizou demasiadamente os esportes populares e no foi satisfatria nas outras modalidades? Se nomomento de escolher as lutas optar apenas por algumasmodalidades mais comuns na conjuntura local, os alunoscontinuaro a conhecer a Esgrima, o Aikido, e o Kempo,

    como um esporte da elite rica, que mora nas cidadesmaiores e dispem de condies financeiras para freqentar e comprar os equipamentos necessrios prticadessas artes. Meu aluno conhecer o Boxe apenas peloRocky Balboa (personagem do popular filme Rocky V,1990, fico sobre a vida um pugilista) e Myke Tyson (expugilista peso pesado norte americano)? No ser algode se impressionar se a nica percepo quanto ao Boxeseja a de um esporte violento, pois a construo da suaopinio feita apenas com essas fontes. As opes deescolha de lutas sero restritas, principalmente em Cidades menos favorecidas, se o professor optar por escolherentre as modalidades disponveis no local. Em algumascidades existem apenas duas ou trs modalidades diferentes. Em outras nem isso. Sero os alunos destas cida

    des fadados ao desconhecimento? Devem se conformarcom o que assistem em filmes e programas de televiso?Ou o professor procurar outros meios de inseri los nesse

    mundo, ainda que de forma ldica, atravs da fantasia, oude formas simplificadas das lutas? Qual modalidade atende melhor s necessidades de meus alunos. O Jud? ALuta Livre? O Boxe menos pedaggico que a capoeira?A Capoeira seria mais adequada porque os golpes sodesferidos sem que haja contato fsico, e ainda pode sertrabalhada como uma dana, sem riscos. Vale Tudo,Muay Thai, so imprprios para aulas de Educao

    Fsica? As modalidades que possuem golpes de percusso (golpes de bater com os punhos, ps, cotovelos, etc,muito comuns no Carat e modalidades similares) devemser excludas? Deve se estabelecer um critrio para aescolha das modalidades a serem trabalhadas? Essecritrio deve ser discutido em relao necessidade doaluno ou ao contexto local? Em se tratando de temastransversais, como a pluridade cultural, o trabalho commodalidades diferentes possibilita conhecer e fazer umareflexo comparativa e crtica entre o nosso pas e osoutros povos e naes, pois as lutas so tambm umaforma de difuso das culturas dos seus povos de origem.Tambm preciso afastar preconceitos na hora deescolher. Algumas pessoas podem ver o Boxe, a Capoeira e o Vale Tudo como uma prtica marginal e perigosa,inadequada como contedo escolar. Primeiramente, nose trata de realizar as lutas entre os alunos. Trabalhar esses contedos, ou essas lutas, tambm significa proporcionar oportunizar uma discusso e o entendimento sobreas lutas. possvel tambm propor pesquisas sobre asartes marciais ditas menos adequadas ao contexto escolar, e outras formas que permitam a eles conhecer essaparte do mundo esportivo. H, entretanto, alguns autoresque defendem uma modalidade de luta, integrada aocurrculo escolar. Segundo o presidente do ConselhoSuperior de Mestres de Capoeira e Vice Presidente daConfederao Brasileira de Capoeira (CBC), a Capoeira uma das prticas mais adequadas para a educao eformao de nossas crianas: A Capoeira, que uma

    atividade genuinamente brasileira e natural, no exigemuito espao, vestimentas ou sofisticaes para suaprtica. Ela promove o lazer e desperta outros interessescentrados na msica, na dana, no folclore e no ritmo.Acm disto, a Capoeira um instrumento de grandepoder de socializao e ajuda na melhoria da auto estimade nossos jovens e crianas, sobretudo aqueles considerados excludos, como negros, pobres, crianas derua e deficientes fsicos. O que sugere j feito comoutras artes marciais em seus pases de origem. O Taekwondo, na Coria do Sul, considerado esporte nacional e tem seu ensino obrigatrio nas faculdades, escolase Foras Armadas. Alm do desenvolvimento da Capoeira nas escolas, importante tambm, considerar as lutas

    como um todo, um conjunto de manifestaes culturaishistricas, que deve ser aprendido. Alm da vivncia nasmodalidades mais comuns, tambm importante para oeducando conhecer a dimenso desse universo,complexo e diverso. J foi apontado no item Concepo, no captulo LUTAS E A EDUCAO FSICA ESCOLAR, deste estudo, que as lutas podem ser encontradas nas escolas inseridas no planejamento do professorde educao fsica ou de forma extracurricular. O trabalhoextracurricular sugere que o ensino ocorre dicotomizadode um planejamento maior do currculo escolar. Mas, poroutro lado, imagina se que esteja adequado propostado projeto poltico pedaggico da escola. Ento a questoseria verificar se a proposta poltico pedaggica partiu deuma interpretao adequada dos Parmetros Curriculares

    Nacionais e se realmente atende as necessidades pedaggicas do educando. Para a forma curricular o professorpossui muitas possibilidades. possvel escolher traba

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    lhar com quantas lutas diferentes o tempo disponvel permitir, e de maneiras diferentes. As regras podem seradaptadas s necessidades do contexto escolar. Aescolha da luta vai depender do conhecimento doprofessor e das condies da estrutura fsica da escola.Por outro lado existem muitas formas de contornarproblemas de falta de material. A falta (de tatames,equipamentos de proteo, etc) pode se tornar em uma

    alternativa de aula. Trabalhar com os alunos a construodesses materiais, pode oportunizar o envolvimento comos mesmos contedos que seriam desenvolvidos em umaaula dita normal. Alm de construir os materiais, osalunos iriam aprender para que servem e como us los.Isto tambm contedo de lutas na Educao FsicaEscolar, e amplia os conhecimentos dos alunos relativosas lutas. Quanto falta de habilidade tcnica, possvelrecorrer a especialistas da comunidade, quando houver.Solicitar a um professor de academia que d umademonstrao, ou realize uma apresentao junto compraticantes da arte marcial tambm pode ser umaalternativa para estimular os alunos antes do professorministrar suas aulas.

    Alm do Treinamento Tcnico Competitivo

    quase natural um o professor dos dias de hoje preparar uma aula de carter tcnico competitivo, onde soenfatizados o aprendizado de gestos tcnicos e o jogo.Em aulas como essas, os alunos so condicionados arealizar as atividades repetidamente, visando aprenderum movimento, ou ajustar se s regras para que o jogose desenvolva perfeitamente. Essa atitude do professor esperada, uma vez que a sua formao e as informaesque recebe atravs da mdia, sempre enfatizam o aspectocompetitivo das lutas. As lutas e artes marciais, ainda quepopularmente difundidas como esportes de luta, podem,

    no contexto escolar, serem desenvolvidas com umcarter competitivo, ou no. Todas as prticas da culturacorporal de movimento, competitivos ou no, so positivas, pois so contextos favorveis de aprendizagem,pois permitem o exerccio de uma ampla gama demovimentos que solicitam a ateno do aluno na tentativade execut los de forma satisfatria e adequada. Elasincluem, simultaneamente, a possibilidade de repetiopara manuteno e prazer funcional e a oportunidade deter diferentes problemas a resolver. Alm disso, pelo fatode constiturem momentos de interao social bastantesignificativos, as questes de sociabilidade constituemmotivao suficiente para que o interesse pela atividadeseja mantido. Trabalhando com lutas na Educao Fsica

    Escolar o professor deve mais que desenvolver o aspectocompetitivo, ou seja, determinar objetivos adequadospara faixa etria. A especializao dos movimentos, deveser deixada para quando o aluno estiver preparado comuma estrutura biolgica desenvolvida. Devem ser utilizadas, principalmente para as crianas mais novas asatividades recreativas relacionadas ao jud e adequadass suas necessidades, sem que haja uma preocupaocom a performance e sim, com um desenvolvimentonatural e equilibrado. Eventuais disputas e competiesno devem ser associadas somente busca do rendimento fsico esportivo, mas sim como uma oportunidadede compreender a tcnica como conhecimento historicamente produzido e o movimento humano ali presente,alm de sua condio de ato motor, e, tambm, de

    perceber as regras esportivas como construessocioculturais modificveis, e no somente parmetrospara serem seguidos na prtica do esporte. Os eventos

    competitivos tambm devem ser estudados quanto a suaorganizao, planejamento, ou ainda (usando comoexemplo os Jogos Olmpicos e os eventos das diferentesmodalidade de lutas), como patrimnio da cultura corporala ser estendida ao acervo cultural do aluno. O estmulo competio chega a ser demasiado intenso, pois o msmo j trabalhado nas outras modalidades esportivas,como os jogos coletivos. O professor pode aproveitar as

    lutas, para abordar outros contedos da Educao Fsica,como conhecimentos sobre o corpo ou as diferenasentre as pessoas. Em um exemplo de plano de aula almde oportunizar os alunos conhecerem a Luta Greco Romana, tambm so estudados os conceitos de categoriasde tamanho e peso, e, por este tpico so trazidas para aaula questes de diferena biolgica entre as pessoas.Podem ser levantadas diferenas na turma em relao aopeso e altura, e outras diferenas. Tambm oportunodiscutir por que somos diferentes em vrios aspectos.Alm de escolher outros contedos, o professor podetambm mudar o cenrio da sua aula, utilizando se deoutros recursos, como filmes, revistas, quadrinhos,msica, entre outros.

    Elaborao do Currculo Escolar

    Seria pretenso sugerir um modelo de currculoescolar para que fosse aplicado nas aulas de EducaoFsica. No entanto, importante ressaltar que a unidademenor da dinmica de ensino, a aula, sempre deveriapreceder um planejamento curricular bem elaborado, deforma que no se desenvolvam soltas, com objetivosmomentneos, mas participando de um processo comtnuo de construo do saber. As lutas tratam se de umramo da Educao Fsica Escolar, portanto, inconcebvel falar de um planejamento sem considerar a necessria participao dos outros ramos: esportes, dana, etc.

    O que se pode (e deve) construir um segmento interrelacionando harmoniosamente as diferentes reas. Sejaqual for o motivo, ainda no se definiu a predominnciade maior valor de uma sobre a outra, ou de necessidadede maior tempo de trabalho de uma ao invs das outras.Sendo assim, as lutas no aparecem como um componente prepotente afirmando se sobre os outros, mascomo um dos blocos de contedos necessrios (aindaque muitos professores ainda no o tenham compreendido) de serem trabalhados para que o educandocompreenda e participe melhor no mundo em que vive.Se desenvolvidos de forma descontnua, com certeza nosero notados os seus benefcios. Portanto, para garantiruma permanncia maior no planejamento escolar do

    professor, podem ser feitas associaes com danas,com apresentaes teatrais, com outras disciplinas, etc,possibilitando variaes interessantes a um universomaior de alunos, e promovendo uma participao maiornas aulas.

    Alternativas Pedaggicas

    O professor que desejar desenvolver algo mais queuma iniciao a uma modalidade de luta, ter de buscarnos outros ramos da prpria Educao Fsica Escolar,conceitos e estruturas que ajudaro a construir uma aulacom uma plstica diferente, mais atrativa. Tecnologiasalternativas na Educao Fsica e nos esportes podem

    ser utilizadas. Sucatas para construir equipamentos emateriais comuns nas lutas, como um simples Makiwara(instrumento usado para exercitar golpes com a mo ou

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    com o p, comum no Karat). Alm dos contedos delutas, os alunos estaro conhecendo e desenvolvendohabilidades de marcenaria, por exemplo. Bonecos deargila no formato de lutadores, tatames de colchonetes,desenhos e estrias em quadrinhos, e muitas outraspodem ser as atividades relacionadas s lutas, queexigem o estudo e a pesquisa sobre o assunto, ao invsdo aprendizado e execuo dos gestos de luta. Um

    projeto, baseado em um espetculo de circo, foi aplicadocom sucesso por professoras da Escola Municipal deEnsino Bsico Luana Lino de Souza, de So Bernardo docampo, na Grande So Paulo. Os alunos interpretarampersonagens do circo, participaram de treinamentos deacrobacias e cambalhotas usando colchonetes, alm dedesenvolverem o equilbrio em atividades elaboradaspelas educadoras. Esta uma atividade inovadora, interessante para todos os alunos, em um cenrio alegre edivertido. Este o ideal de atividade atrativa. O professorno pode prender se idia de exerccios de movimentosde luta dentro de uma dinmica sem dinmica, ou umaaula sem um cenrio dando sentido e prazer aos exerccios. Porque uma aula no precisa ser repetitiva e semgraa. Atividades semelhantes do circo podem serdesenvolvidas nas aulas de lutas. Exibir para a turma umfilme ou desenho animado com personagens que lutam, uma alternativa com opes variadas de atividades, nacontinuidade. Lembrar trechos dos filmes e organizar umaencenao com os alunos interpretando os personagens,tambm exige aprender alguns movimentos para us losna interpretao, sem que se necessite trein los interagindo com outros colegas. O treinamento dos movimentos aparece com a finalidade de construir uma coreografia. O papel de cada personagem j est definido. Aestria ou trecho do filme pode ser escolhido ou criadopelos prprios alunos. Os alunos podem escolher ospersonagens com os quais mais se identificaram. Para ainterpretao ainda pode se variar entre dramatizao ou

    usando a criatividade e transformando a cena, acrescentando detalhes cmicos. Alm de informaes demovimentos de luta, trabalham a conscincia corporal,desperta a imaginao, e propicia encantamento ediverso. Dessa forma respeitar a produo das fantasias, dos desejos, das crenas, dos mitos, smbolos ecom eles tambm a racionalidade, o lugar socialmenteincorporado pelos alunos, significa a possibilidade doeducador construir pontes de aproximao que possibilitar a emergncia de um espao cada vez maisfecundado para a realizao da ao pedaggica. Asopes de variao da aplicao de lutas nas aulas doprofessor de Educao Fsica so to diversas quanto acapacidade e a criatividade dele. possvel utilizar a

    estrutura ou relacionar os contedos das lutas com o deoutras artes e atividades humanas (teatro, msica, desenho, literatura, informtica) produzindo dinmicas originais que desenvolvem dois ou mais conhecimentos aomesmo tempo. O professor pode criar uma situao favorvel aprendizagem, atravs de uma variedade derecursos, de mtodos, de procedimentos e de novoscontedos.

    Relacionamento Social

    A Educao Fsica vem buscando entender o movimento integrado, contextualizado e com significados, nocomo uma simples seqncia de movimentos neces

    srios para o indivduo aprender uma determinada habilidade. Ainda os mesmos autores propem uma reflexodos contedos da Educao Fsica na escola a partir da

    caracterizao das atividades que so desenvolvidas ecompreenso dos ambientes que determinam os seuscontedos. As atividades de lutas seriam prticas de interao motriz de oposio entre os adversrio. Porexemplo, em uma disputa entre dois alunos de Jud, praticamente no h alterao do meio fsico (rea, tempo,objetos ou pessoas ao redor), no h um colega agindoem conjunto (cooperao), e as aes do judoca depen

    der das aes de ataque e defesa do adversrio. Analisando a atividade somente nesse momento, certamenteas lutas classificam se como unicamente de interaocom o adversrio. No entanto, se considerarmos umaaula inteira de educao fsica e no somente o momento da disputa, as lutas, podem ser tambm atividades com relaes dos alunos com o meio e relaesmotrizes entre si, ou cooperao. Alguns jogos popularesou de rua, exigem muito mais disposio ttica (cooperao) e tomada de deciso dos praticantes que osjogos institucionalizados (realizados conforme as regraspr estabelecidas). Adaptando a idia principal dessasatividades para a aplicao das lutas, se montariamdisputas de trs (ou cinco, etc) adversrios ao mesmotempo. Em alguns momentos, os adversrios podem aliarse para superar um terceiro mais forte. Nem sempre omelhor ganha, o adversrio pode tornar se um companheiro em alguns momentos do jogo. As diferentes interaes no devem ser consideradas somente no momento dos combates. O professor pode agregar tambms outras fases do trabalho oportunidades para os alunosexercitarem a solidariedade e a tomada de deciso. Emum ambiente fixo, os alunos podem executar os seusmovimentos adequando a ao de um colega, de ummaterial (raquete de chutar ou outros equipamentos), oude uma msica, tema, ou srie pr determinada (Katas,Katis ou Poomses). J em um ambiente varivel, oaluno dever fazer freqentemente uma leitura do ambiente e tomar decises em funo de cada situao. Cabe

    ao professor criar esse ambiente varivel. Podem seratividades de simulao de defesa pessoal com nmerode oponentes variado, combates entre dois alunosenquanto os demais procuram atrapalhar jogando bales,bolas. O terreno demarcado com nmeros, letras, queindicam onde devem pisar, etc. Os alunos podem ser runidos em duplas, ou grupos, para combinarem estratgias. Os combates podem ser em duplas, duplas comrevezamento, equipes. Treinamentos com auxlio deparceiros, um executando e o outro procurando apontaros erros. Segundo a teoria da ecologia do desenvolvimento humano, de Bronfenbrenner, a aula de EducaoFsica um microssistema, enquanto a relao da aulade Educao Fsica com os demais ambientes dos quais

    o aluno participa ativamente, equivalente a um mesossistema. Seguindo esse entendimento, nas aulas deeducao fsica teramos as atividades molares, estruturas interpessoais e papis. As atividades molares (osmovimentos de luta, por exemplo) devem conter umsignificado para o aluno, necessitariam de intencionalidade e persistncia temporal. Quanto s estruturasinterpessoais o professor deve procurar oportunizaratividades no sentido de alcanar o equilbrio de poder eafetividade entre os participantes. E em relao aospapis, alm do professor e do aluno, as lutaspossibilitam situaes de rbitro, juiz, oponente, tcnico,assistentes, observadores, entre outros. Cada professortem uma maneira diferente de transmitir seus conhecimentos. Se observarmos algumas aulas, notaremos

    diferenas na metodologia de ensino, no contedoprogramtico e na seqncia pedaggica. No podemosavaliar qual seria o mtodo mais eficiente, pois so

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    muitas as variveis existentes, como por exemplo: capacidade profissional do professor, objetivos, faixa etria,perfil psicolgico da turma e o nvel tcnico e scioeconmico. Outra ao importante e que possui reflexono aspecto afetivo so as saudaes, no incio e fim dasaulas e tambm antes de jogos e lutas entre alunos.Estas podem colaborar no desenvolvimento do pensamento pr colega, valorizando o oponente, inibindo mani

    festaes de agressividade. importante que se observeos seguintes comportamentos nos alunos:

    Respeito ao prximo;

    Humildade;

    Sinceridade;

    Auxlio aos iniciantes e pacincia com os maisnovos;

    Atitudes com o relacionamento com os alunosmais tmidos;

    Participar das atividades respeitando as regras;

    Assumir os seus atos e no acusar os colegas,a no ser em casos de extrema importncia;

    Eficincia nos estudos.

    Sempre que utilizarmos um companheiro para o treinamento dos golpes, o autocontrole fundamental paraevitar leses. tambm uma prova de respeito para como colega, o cuidado na execuo de golpes que podemferir. O professor deve sempre estar atento ao comportamento dos alunos, estimulando o respeito ao prximo e

    contendo a agressividade excessiva. O autocontrole doaluno posto em prova quando o cansao natural imposto pelas lutas, torna insuficiente a oxigenao cerebral, pode provocar uma liberao de atitudes impensadas, reduzindo o discernimento para a percepo,anlise e ao, ultrapassando os limites de comportamento, conseguidos atravs da educao. Em aademias de artes marciais, os princpios morais e filosficos so discutidos ao final do treinamento, quando osalunos j se encontram exauridos. Os mtodos militaristas, que ainda perpetuam em aulas em academias, porprofessores ortodoxos, formados nesses mesmosmtodos, no podem ser os mesmos utilizados na escola,pois quando se utiliza o rigor metodolgico na iniciao e

    prtica do esporte na escola, no estamos contribuindopara o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotoreficaz de nossos alunos. Muita acelerao corre o riscode romper o equilbrio (a hereditariedade e maturaointerna; experincia fsica a ao dos objetos; atransmisso social, o fator educativo: equilbrio ecompensao). O professor no pode esperar que oaluno aprenda somente com o pouco tempo que tem deaula junto ao professor, ou mesmo todo o tempo em queo aluno freqenta a escola. Transmitir um imenso volumede informaes no significa o aprendizado de todas elas.Muito se perde. O importante motivar o aluno para estecontinuar sua progresso fora da escola: O ideal deeducao no aprender ao mximo, maximizando osresultados, mas antes de tudo aprender a se

    desenvolver e continuar este desenvolvimento depois daescola. importante dar a criana liberdade de escolhae deciso, pois na medida que um indivduo pode

    escolher e decidir, ele tem possibilidade de cooperarvoluntariamente com os outros e construir seu prpriosistema moral de convices. A Metodologia FuncionalIntegrativa (MFI), pode ser igualmente aplicada s aulasde lutas. Este mtodo, voltado para a aprendizagemsocial, usando sempre o esprito do jogo. A MFI enfatizanos alunos a sua participao em aula, seus contatossociais, suas participaes em resolues de problemas

    e expresses de idias, onde o professor um estimulador, nomeando atividades e incentivando a participao do alunos para a modificao de regras, colocandoidias, conduo de reflexes e discusses a respeito daatividade em andamento, tendo como foco a aprendizagem do esporte que est sendo utilizado. A MFI estfundamentada basicamente:

    No conceito recreativo de educao do gesto desportivoque prope o ensino dos desportos atravs de sriesmetodolgicas de jogos.

    Esta forma de ensino j adotado na forma de brincadeiras e jogos recreativos, principalmente, com crianas. Para iniciao em Jud, por exemplo, so conhecidos o Jacarezinho, e outras brincadeiras que exercitam o equilbrio, a queda, e outras habilidades da luta.As atividades so desenvolvidas em uma seqncia pedaggica que prev o desenvolvimento de habilidadesbsicas, seguindo com o ensino de movimentos maiscomplexos.

    Na elaborao de formas bsicas de jogos, que deveprogredir para a forma final, com as regras do jogo.

    Trata se da imposio da luta formal, com suas regras jelaboradas e predefinidas. A iniciao em uma luta, deveiniciar por jogos mais simples, com poucas regras, para

    que, atravs de interaes, discusses e reflexes, osalunos possam compreender o produto final, que seja aprpria luta, com suas verdadeiras regras.

    Na ao pouco manipulativa do professor.

    O professor no deve ser um agente para o seu prpriointeresse. Ainda que entenda sua aula perfeita, planejada, construda em uma idealizao preocupada comas necessidades pedaggicas dos alunos, deve respeitara individualidade de interesses dos alunos. O estilo deprofessor autoritrio e determinador das atividades, umlimitador para a motivao do aluno que deseja expandir

    se, e buscar informaes sobre outras formas de lutas,por exemplo. Muitos alunos sentem vergonha de praticardeterminadas atividades por receio de se tornarem alvode risadas dos colegas. Para que isso no acontea, oprofessor precisa transmitir lhes segurana, para quesintam prazer em realizar atividades diversas sem medode errar, que vejam essa nova possibilidade como algomotivador, como um desafio a ser vencido, algo que sejavalorizado como parte do processo de aprendizagem.

    A Capoeira como Herana Cultural na Bahia

    A Capoeira foi introduzida no Brasil por intermdio dosnegros Bantos, que procediam principalmente de Angola.

    por demais sabido que durante a Idade Mdia, osportugueses, assim como outros povos, traficaramescravos, sobretudo negros. Os milhes de africanos que

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    foram trazidos para o Brasil eram tripulantes de naviosnegreiros, cada qual com suas crenas, dialetos e rituaisdiferentes, que chegaram entre os sculos XVI e XIX.Nesta caravana incluam se reis, rainhas, prncipes eprincesas. Antes de falarmos propriamente da capoeira, necessrio responder uma pergunta que normalmente formulada, ou seja: se os africanos trouxeram a capoeirada frica, especificamente de Angola, ou a inventaram no

    Brasil. O estudo do negro no Brasil, sempre encontroucerta dificuldade, vez que, aps a Proclamao daRepblica (1889), o Conselheiro Ruy Barbosa, num gestoque jamais poder ser compreendido, salvo a suainteno de com a queima de documentos histricos,tentar apagar uma mancha to vergonhosa como fora escravido. Este ou outros motivos levaram o entoMinistro da Fazenda a baixar uma resoluo, determinando aos rgos pblicos a queima de todos osdocumentos referentes ao negro e a sua escravido.Todavia, com base nos poucos e raros documentos queescaparam do fogo, puderam levar pesquisadores ehistoriadores a conclurem como sendo de Angola osprimeiros negros que chegaram na Bahia, assim como tero grosso dos mesmos desembarcados de