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Apostila Geoquímica

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Page 2: Apostila Geoquímica

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GEOQUÍMICA DO PETRÓLEO

ÍNDICE

1) Introdução

1.1) Histórico

2) Rochas sedimentares

2.1) Bacia sedimentar e ambiente deposicional

2.2) Tipos de rochas sedimentares

2.3) Rocha geradora de petróleo: Quantidade, qualidade e evolução térmica da matéria

orgânica

2.4) Petrografia orgânica: ICE e Poder refletor da vitrinita (%Ro) 3) Etapas da geração do petróleo

3.1) Diagênese, catagênese e metagênese

3.2) Diagrama de Van Krevelen

3.3) Perfil de poços

3.4) Pirólise Rock-Eval

Page 3: Apostila Geoquímica

3

3.5) Maturação da matéria orgânica: Tmáx, IH, IO, IP.

3.6) Migração do petróleo 4) Aplicação da técnica de cromatografia na análise do petróleo e de extratos

oleosos

4.1) Composição do petróleo: Hidrocarbonetos saturados, aromáticos e compostos polares

4.2) Extração da MOS de rochas para análises geoquímicas

4.3) Introdução aos métodos cromatográficos

4.4) Fracionamento do petróleo por cromatografia líquida

4.5) Cromatografia gasosa aplicada à análise de alcanos lineares e isoprenóides

4.6) Cromatografia gasosa aplicada à análise de policicloalcanos e de aromáticos

policíclicos

5) Classificação de rochas geradoras quanto ao paleoambiente deposicional e

ao input de matéria orgânica: Uso de fingerprints

5.1) Ambiente lacustre de água doce

5.2) Ambiente Lacustre de água salgada

5.3) Ambiente marinho deltaico

5.4) Ambiente marinho evaporítico

5.5) Ambiente carbonático

5.6) Ambiente marinho aberto

6) Compostos biomarcadores do petróleo

6.1) Definição e seus precursores biológicos

6.2) Famílias de compostos: estruturas químicas

6.3) Estereoquímica dos compostos policíclicos saturados alquilados

6.4) Identificação cromatográfica de compostos biomarcadores do petróleo através da

CG/EM

Page 4: Apostila Geoquímica

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6.5) Biomarcadores indicadores de paleoambiente deposicionais, input orgânico em

rochas geradoras, e avaliação da maturação térmica da rocha geradora

7) Geoquímica orgânica aplicada à produção de petró leo

7.1) Introdução à geoquímica de reservatório

7.2) Tipos de reservatórios: Homogêneos e heterogêneos

7.3) Aplicação das técnicas geoquímicas na avaliação de reservatórios: Casos reais.

8) Geoquímica orgânica aplicada ao monitoramento e remediação da poluição ambiental causada por petróleo

8.1) Identificação dos responsáveis legais por derrames de óleo e derivados

8.2) Monitoramento dos processos de intemperismo sobre óleos derramados no meio

ambiente

8.3) Avaliação da eficiência da aplicação de métodos de remediação de áreas

contaminadas por óleo ou derivados.

Page 5: Apostila Geoquímica

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GEOQUÍMICA DO PETRÓLEO

1) Introdução

O petróleo sempre transmite uma certa magia, quer pela sua gênese, pela série de

coincidências que deve enfrentar para ser devidamente armazenado na crosta

terrestre, pelo seu “geitão”, como também pelo seu custo e pelo que pode representar

num derrame.

Uma parte desse mistério irá ser desvendado neste curso que tratará da gênese do

petróleo, de sua composição e propriedades, assim como de como se procede com

sua exploração, produção e recuperação do meio ambiente impactado, utilizando-se

da geoquímca orgânica como ferramenta.

1.1) Histórico

A responsabilidade de um exploracionista na área de petróleo é a de

encontrar óleo ou gás. Uma medida de sua habilidade é a razão entre o número de

perfurações secas para cada uma que produz petróleo comercialmente. Wagner e

Iglehart (1974) descrevem que para 25.562 poços secos perfurados nos Estados

Unidos entre 1969 e 1973, foram encontrados 572 novos campos de petróleo,

contendo mais do que 1 milhão de barris.

Page 6: Apostila Geoquímica

6

Até a década de 80, os exploracionistas se basearam na prática, somente em

métodos geofísicos sísmicos para localizarem feições subsuperfíciais e definirem

trapas (armadilhas). Apesar dos métodos geofísicos oferecem expectativas para a

identificação de alguns tipos de reservatórios com hidrocarbonetos, não existe

geralmente um método aplicável para decidir se uma estrutura em particular conterá

óleo ou estará vazia.

Caso se suponha que a geofísica conseguirá se desenvolver até o ponto em

que cada feição subsuperficial possa ser definida inequivocamente, incluindo

mudanças litológicas e controle estratigráfico das trapas, qual será a chance de se

encontrar óleo numa estrutura perfurada? Estatisticamente será a mesma que a

razão entre o número de trapas (armadilhas) contendo óleo para as que estão

secas. Obviamente a única forma de melhorar esses resultados é o de se incorporar

novas técnicas na exploração. A geoquímica do petróleo é uma delas.

A aplicação da geoquímica do petróleo na exploração pode ser ilustrada

através de um exemplo. A Figura 1 mostra uma seção leste-oeste através de uma

área hipotética, onde se efetua exploração de petróleo. O poço 1 foi sucesso em

encontrar óleo, mas o 2, pouco distante para o oeste, estava seco. O fato que o

óleo encontrado no poço 1 vinha do folhelho penetrado pelo furo 2, mostra que a

falha não é um selo atuante, neste caso. A partir desse fato segue-se que a

estrutura sob B não está suficientemente selada e não é um bom prospecto como o

é o anticlinal sob A. Neste caso particular, as informações do poço seco auxiliam no

estabelecimento de vias de migração e indicam a estrutura mais promissora para

sondagens subseqüentes. Contrariamente, se o folhelho não puder ser

correlacionado ao óleo, indicará que provavelmente a falha era provavelmente um

selo. Neste caso A e B seriam igualmente locações atrativas. Se o óleo não viesse

do folhelho a oeste, de onde viria então? Desde que a falha parece ser um selo

para os hidrocarbonetos movendo-se para o oeste, o óleo do poço A,

provavelmente, foi originado em folhelhos mais profundos para o este, e neste caso

a estrutura sob C seria um alvo prioritário na exploração.

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7

Oeste

Poço 1

Leste

C B A

Folhelho Gerador

Fi.g. 1 Seção hipotética através de uma área no começo da exploração

Poço 2

Page 8: Apostila Geoquímica

8

Deve ser realçado que os dados da geoquímica do petróleo não devem ser

utilizados separadamente, porém devem ser integrados com informações de outras

fontes. No exemplo dado acima, seria necessário um entendimento da geologia, e

particularmente da idade do falhamento e dobramento. Na maioria das bacias, o

acréscimo de dados geoquímicos aos dados mais convencionais de geologia e

geofísica, iráo melhorar as chances de sucesso.

De forma a aplicar geoquímica na exploração, como demonstrado, deverão

existir métodos para se reconhecer rochas geradoras e correlacionar óleos entre si

e com suas geradoras. A identificação de uma rocha geradora requer um

entendimento dos processos pelos quais são gerados os óleos e como migram.

A correlação envolve um conhecimento dos mecanismos de migração e os

fatores que podem operar na mudança composicional dos óleos em reservatório.

Nestas considerações torna-se básico o conhecimento da terminologia utilizada e

um entendimento dos ambientes nos quais se formam as rochas ricas em matéria

orgânica. Assim este curso inicia-se com uma revisão da terminologia e uma

apreciação sobre a matéria orgânica em ambientes sedimentares e continua, com

as considerações sobre os processos que participam da geração do petróleo.

Segue-se uma discussão sobre o movimento do óleo da rocha geradora até o

reservatório e a natureza das mudanças que podem ocorrer. Esta informação

fornece os subsídios requeridos para uma discussão das técnicas para

reconhecimento de uma rocha geradora e para usar a correlação geoquímica na

exploração.

2) Rochas sedimentares

Na Crosta terrestre estão presentes três tipos de rochas: a ígnea, proveniente

diretamente do magma, que chega à superfícies através de vulcões ou fissuras na

crosta. O segundo tipo é representado pelas rochas metamórficas, que são originadas

das ígneas, das sedimentares ou mesmo de outras metamórficas, quando são

submetidas a elevadas pressões e/ou temperaturas. As rochas sedimentares são

formadas através da erosão das rochas ígneas ou metamórficas e o produto dessa

Page 9: Apostila Geoquímica

9

erosão irá formar as sedimentares, que também são compostas de sedimentos

orgânicos, além dos minerais (inorgânicos).

As rochas sedimentares são as que serão estudadas neste curso, pois são as que

podem se tornar rochas geradoras do petróleo, satisfazendo alguns requisitos, como se

verá a seguir.

As rochas sedimentares são sempre depositadas em depressões da crosta, que

quando estão preenchidas pelos sedimentos , são denominadas Bacias sedimentares.

2.1 Tipos de rochas sedimentares

Sob o ponto de vista da geoquímica orgânica, as rochas sedimentares serão estudadas

sob o ponto de vista de sua granulometria, isto é, se são rochas de granulação grossa

ou fina.

Quando os sedimentos que virão a formar as rochas sedimentares são depositados em

paleoambientes deposicionais de elevada energia, tendem a se depositar os

sedimentos grosseiros, quanto os finos. Neste caso a rocha tem uma má seleção e são

consituidas por sedimentos mais grosseiros, tipo arenito, como exemplo. Em ambientes

mais calmos tendem a se depositar os sedimentos mais finos e o resultado será uma

rocha sedimentar de boa seleção e granulometria fina.tipo argilitos, por exemplo.

2.2 A matéria orgânica

A matéria orgânica encontrada nas rochas sedimentares foi incorporada a

partir da coluna d’água sobrejacente, na época que elas estavam sendo

depositadas como sedimentos (Figura 2). A matéria orgânica nos oceanos pode ser

encontrada solubilizada, particulada, ou na forma de material coloidal. A

concentração das três formas é maior perto da superfície e então decresce com a

Page 10: Apostila Geoquímica

10

profundidade para as primeiras centenas de metros, e então permanece

aproximadamente constante.

A matéria orgânica dissolvida é mais do que uma ordem de magnitude mais

abundante do que a matéria orgânica particulada. Como as partículas argilosas

absorvem parte da matéria orgânica, através da coluna d’água, esta é incorporada

aos sedimentos. A matéria particulada vai para o fundo e torna-se parte dos

sedimentos, enquanto a matéria orgânica coloidal flocula primeiramente, e depois

se deposita. Concomitantemente à deposição da matéria orgânica na coluna

d’água, bactérias e outros microorganismos iniciam a degradação de determinados

compostos orgânicos presentes na matéria orgânica. Também na interface do

sedimento/água observa-se o processo de biodegradação. Logo, somente a parte

mais resistente da matéria orgânica é incorporada aos sedimentos. As únicas

exceções são os compostos orgânicos que, de certa forma, estão protegidos, como

por exemplo, conchas que são mantidas juntas por materiais proteicos, os quais

passam a ser protegidos da degradação, pelo carbonato envolvente de suas

carapaças.

Elevada porcentagem de compostos orgânicos (MO)

Dissolvida argilas

Particulada

Coloidal flocula e precipita

esqueletos e

conchas

Page 11: Apostila Geoquímica

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Organismos que se alimentam no fundo

Sedimentos

Figura 2 – Deposição da matéria orgânica em ambientes aquosos

A quantidade e o tipo de material orgânico que alcança os sedimentos são

controlados, pelo menos em parte, pelo ambiente deposicional e pode estar

relacionada à produtividade das águas sobrepostas e a granulação dos sedimentos,

as condições físicas da área de deposição, e a mineralogia do sedimento.

• Produtividade das águas

A maior parte da matéria orgânica presente nas águas oceânicas vem dos

organismos indígenos. Assim, uma quantidade maior de material orgânico está

disponível em áreas de elevada produtividade marinha. Isto está freqüentemente

relacionado ao elevado teor de matéria orgânica nos sedimentos sob águas da

superfície altamente produtivas. Em algumas áreas, particularmente perto dos

estuários de grandes rios, a matéria orgânica transportada da superfície do

continente pode ser quantitativamente importante.

• Granulometria

Existe uma relação entre o conteúdo de matéria orgânica e a granulometria

dos sedimentos (Tabela 1) e esta tendência é observada em rochas antigas. Três

processos principais operam para produzir essa distribuição:

a) A ação de ondas e correntes marinhas levam a matéria orgânica do

tamanho de argilas e pequenas partículas de material orgânico de baixa densidade,

para fora das areias e as depositam em locais de águas calmas.

b) Os ambientes de elevada energia (tais como praias, barras e etc.) que

são caracterizados por depósitos de areias, são freqüentemente oxigenados e a

matéria orgânica não é preservada em ambientes oxidantes.

Page 12: Apostila Geoquímica

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c) As partículas de argila que se depositam, devido à sua grande área

superficial, podem adsorver a matéria orgânica de soluções e transferi-las para

dentro dos sedimentos.

A matéria orgânica não é estável sob condições oxidantes, porém pode ser

preservada quando o ambiente é redutor. As condições oxidantes são

freqüentemente indicadas pela natureza dos constituintes inorgânicos, por exemplo,

a presença de óxidos de ferro, os quais dão cor vermelha às chamadas “red beds”.

Rochas desse tipo geralmente apresentam baixo teor de matéria orgânica e são

excluídas como rochas geradoras.

A região abaixo da superfície dos sedimentos rapidamente torna-se redutora,

e bactérias aeróbicas podem não mais oxidar a matéria. Bactérias anaeróbicas

continuam o processo de biodegradação, usando o oxigênio dos sulfatos, porém

seus efeitos diminuem conforme aumenta a profundidade.

2.3 Rocha geradora de petróleo: Quantidade, qualida de e evolução térmica da matéria orgânica

Arenitos geralmente têm baixo teor de matéria orgânica, devido às altas

energias associadas ao ambiente oxidante no qual são depositados, enquanto

folhelhos, depositados sob condições redutoras, têm elevada porcentagem de

matéria orgânica preservada. Carbonatos, geralmente são intermediários. Em

média os folhelhos contêm 1% de matéria orgânica (Hunt, 1972). Cerca de 90%

referem-se à fração de moléculas de alto peso molecular, insolúveis em solventes

orgânicos, denominada querogênio, e o restante é a parte solúvel denominada

Matéria Orgânica Solúvel – MOS ou betume (Figura 3).

ROCHA

MATÉRIA ORGÃNICA (1%) MATÉRIA INORGÂNICA – MINERAL (99%)

Page 13: Apostila Geoquímica

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BETUME – MOS (10%)

MATÉRIA ORGÂNICA

Figura 3 - Querogênio e betume – MOS em folhelhos

A quantidade e composição do betume variam em função das condições

físicas e biológicas. Isto conduz a diferenças importantes na composição química

entre betumes em sedimentos recentes e antigos, particularmente para as moléculas

de baixo peso molecular (Tabela 1).

Existe uma transição gradual entre sedimentos recentes e antigos.

Similarmente à matéria orgânica, existe uma mudança gradual entre a composição

dos sedimentos recentes e os antigos.

Tabela 1 - Concentrações de hidrocarbonetos de baixo peso molecular e de aromáticos

leves em sedimentos recentes e antigos.

Page 14: Apostila Geoquímica

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Recente Antigo

Hidrocarbonetos de baixo peso mol (C4-C8) 0,002 ppm* 2-1000 ppm

Aromáticos leves (benzeno + naftalenos) 0,1 ppm* 1-25 ppm

* abaixo do limite de detecção

Os processos bioquímicos que operam nos sistemas vivos geram uma

variedade de compostos orgânicos. Alguns destes não são estáveis e não

sobrevivem quando os organismos morrem, mas outros são bastante estáveis e

sobrevivem dentro das seqüências sedimentares. Assim, a matéria orgânica que

chega ao sedimento, vinda da coluna d’água sobrejacente, contem compostos com

vários níveis de estabilidade, e estes reagem com velocidades diferentes como

resposta às mudanças das condições ambientais.

Cálculos hidrodinâmicos mostram que em ambientes redutores, o metano e o

carbono são os produtos finais estáveis, produzidos pela influência do aumento da

temperatura sobre todos os tipos de matéria orgânica. Isto implica na redistribuição

do hidrogênio para dar um produto rico em hidrogênio (CH4) e outro sem hidrogênio

(C). Por exemplo, uma parafina (n-alcano) nC21 irá redistribuir seus átomos de

hidrogênio da seguinte forma:

C21H44 11CH4 + 10C

Com o aumento da temperatura, que acompanha o aumento da profundidade

de soterramento, o querogênio torna-se progressivamente rico em carbono,

tornando-se mais condensado e desenvolve mais estruturas aromáticas, enquanto

que a fração solúvel torna-se cada vez mais rica em hidrogênio, conforme aumenta

Page 15: Apostila Geoquímica

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a fração das parafinas. Esta redistribuição do hidrogênio pode ser sumarizada no

esquema seguinte (Figura 4).

MATÉRIA ORGÂNICA ORIGINAL

QUEROGÊNIO

QUEROGÊNIO MATURO

GRAFITE

ÓLEO

METANO

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PERDA DE HIDROGÊNIO GANHO DE HIDROGÊNIO

Figura 4 - Redistribuição do hidrogênio entre querogênio e óleo.

As rochas sedimentares são constituídas de sedimentos, isto é, sedimentos

orgânicos, m. orgânica, e sedimentos inorgânicos, minerais, conforme já exposto

nesta apostila. As rochas com granulação fina, derivadas de ambientes

deposicionais com baixa energia (folhelhos, argilitos, margas etc), são as que

contêm maior porcentagem de matéria orgânica, contrariamente às rochas

sedimentares originárias de ambientes de alta energia (arenitos, turbiditos, etc) que

possuem muito pouca matéria orgânica.

As rochas de granulação fina, contendo matéria orgânica, podem ser

qualificadas como rochas geradoras de hidrocarbonetos líquidos ou gasosos, desde

que satisfaçam os seguintes quesitos:

• Contenham uma quantidade mínima de matéria orgânica, definida por classe de

rocha,

• Que a qualidade da matéria orgânica presente na rocha seja adequada para a

geração de hidrocarbonetos,

• Que essa matéria orgânica tenha sofrido um processo de soterramento

necessário para ter atingido uma paleotemperatura mínima suficiente para sua

transformação em óleo ou gás (petróleo)

• Quantidade de matéria orgânica

A quantidade de matéria orgânica existente numa determinada rocha

sedimentar pode ser medida de maneira direta, separando a fração orgânica da

inorgânica, avaliando-se a quantidade de matéria orgânica em relação ao total da

rocha. O processo de separação da fração orgânica, através de uma digestão

Page 17: Apostila Geoquímica

17

ácida dos minerais, acrescentando-se separação dos minerais pesados por

densidade, é um processo demorado de aproximadamente 24 horas, o que não é

compatível com as necessidades da indústria, que por vezes precisa de respostas

urgentes.

A medida indireta da quantidade de matéria orgânica, através da avaliação

do teor de carbono orgânico da rocha, veio sanar o problema do longo tempo de

análise, fazendo-se essa medida em questão de minutos. Como resultado se obtém

o valor da porcentagem de Carbono Orgânico Total (COT) existente por peso de

rocha. Neste procedimento o teor de querogênio de uma rocha sedimentar é

normalmente determinado pela combustão do carbono orgânico a CO2 numa

atmosfera de oxigênio, após a remoção do carbono de carbonatos, com o

tratamento ácido. Esta análise é efetuada em amostra de rocha pulverizada, num

aparelho de combustão, utilizando um forno de indução e uma célula de

condutividade térmica para medir a quantidade de CO2.

A quantidade de matéria orgânica mínima numa rocha sedimentar, para

começar a ser avaliada como possível rocha geradora, está vinculada ao tipo de

rocha, se siliciclástica ou carbonática. As rochas siliciclásticas apresentam, no geral,

baixa porosidade e permeabilidade, havendo necessidade que se criem caminhos

para a migração do betume ou óleo, quando se der início o processo de geração.

Estes caminhos poderão ser obtidos através do aparecimento de micro fraturas na

rocha, possivelmente ocasionadas pela pressão exercida durante a geração de

hidrocarbonetos. Quanto maior a quantidade de matéria orgânica, ou COT, maior

será a possibilidade de se efetuar a migração dos hidrocarbonetos gerados.

A quantidade mínima de COT aceita para que uma rocha sedimentar

siliciclástica possa ser classificada possivelmente como uma rocha geradora, é da

ordem de 1%. Contrariamente, as rochas carbonáticas já possuem uma porosidade

e permeabilidade, peculiar a esses tipos de rochas, não havendo a necessidade da

criação de microfraturas, para se desenvolver o processo de migração, exigindo-se

assim menor quantidade de matéria orgânica, para a classificação dessas rochas

Page 18: Apostila Geoquímica

18

como possíveis geradoras. A quantidade mínima de COT aceita para uma rocha

sedimentar carbonática, para ser inicialmente classificada como possível geradora,

é da ordem de 0,5%.

• Qualidade da matéria orgânica

A quantidade de matéria orgânica de uma rocha sedimentar deverá estar

relacionada a uma qualidade de matéria orgânica adequada, para a geração de

hidrocarbonetos. Sendo os hidrocarbonetos formados somente por átomos de

carbono e hidrogênio, a relação atômica H/C é a que irá determinar se um

determinado tipo de matéria orgânica tem condições de gerar petróleo, isto é, óleo

ou gás.

Assim faz-se necessário uma distinção entre os vários tipos de matéria

orgânica, devido a que a cada tipo irá corresponder uma determinada

potencialidade para geração de hidrocarbonetos e mesmo tendo essa

potencialidade, se está relacionada a hidrocarbonetos líquidos ou gasosos. Essa

diferenciação está ligada às variações na estrutura química da matéria orgânica.

O reconhecimento da qualidade da matéria orgânica para se avaliar sua

potencialidade para a geração de hidrocarbonetos pode ser através de análises

químicas, para a determinação da relação atômica H/C ou então a caracterização

microscópica. O tipo de matéria orgânica disseminada corresponde ao tipo I,

quando a relação atômica H/C inicial é de 1,5 ou maior, para o tipo II seria entre 1.0

e 1,5, enquanto que para o tipo III estaria abaixo de 1.0.

A qualidade da matéria orgânica ou querogênio, verificada através de

microscópios, leva o nome de petrografia orgânica. A visualização do querogênio na

petrografia, requer que ele seja retirado da rocha, através de uma digestão ácida de

minerais, sendo utilizado HF para a digestão dos minerais silicatados e HCl para a

digestão de minerais carbonáticos. Numa fase final os minerais pesados serão

separados através de líquidos pesados e o querogênio será obtido, depois de

aproximadamente 24 horas de trabalho em laboratório. A preparação do querogênio

Page 19: Apostila Geoquímica

19

para análise microscópica poderá ser em lâminas de vidro, para análise sob luz

branca transmitida ou luz ultra-violeta incidente, ou poderá ser feita em plugs de

resina para análise sob luz branca ou ultra violeta incidentes.

As classificações dos diferentes tipos de matéria orgânica tiveram origem na

petrografia do carvão. A utilizada em petrografia de matéria orgânica disseminada

(querogênio em rochas sedimentares) é derivada das pesquisas com carvão e

classifica a matéria orgânica da seguinte forma:

• Classificação da Matéria Orgânica

a) Amorfa = matéria orgânica sem forma própria, parecendo fragmentos de

esponja. Normalmente é derivada de matéria orgânica sapropelítica. Quando de

sua deposição tem elevado valor de H/C, normalmente superior a 1,5. Nesta

condição, quando submetida à luz ultra-violeta incidente apresenta intensa

fluorescência variando do amarelo esverdeado ao amarelo alaranjado (Figura 5).

Figura 5 - Matéria orgânica amorfa

b) Leptinítica – Tipo II - Compreende os seguintes grupos:

• esporos e polens (Figura 6),

Page 20: Apostila Geoquímica

20

• cutículas vegetais,

• algas

• dinoflagelados

• acritarcas, etc

Quando de sua deposição tem um valor inicial de H/C ao redor de 1,0 a 1,5.

A fluorescência é menos intensa que a amorfa, com coloração alaranjada, quando

submetida à luz ultra-violeta incidente.

Figura 6 - Matéria orgânica leptinítica – esporo e pólem

c) Lenhosa - Tipo III - Compreende dois grupos:

• Vitrinita

• Inertinita

Page 21: Apostila Geoquímica

21

O grupo da vitrinita se distingue por apresentar ainda algum valor residual

para a relação atômica H/C, podendo gerar hidrocarbonetos gasosos, enquanto que

a inertinita apresenta uma relação H/C nula, sendo uma matéria orgânica inerte,

não gerando nenhum hidrocarboneto (Figura 7). A vitrinita tem sido utilizada para a

medida da paleotemperatura máxima a que esteve submetida à matéria orgânica, a

exemplo do que se realiza na pesquisa do carvão.

Para o grupo da vitrinita o valor da relação H/C é menor que 1,0, devendo

estar ao redor de 0,5. Para a inertinita os valores da razão H/C são nulos pois é

desprovida de hidrogênio. È matéria orgânica inerte.

Existem pesquisadores que têm colocado o grupo da vitrinita como sendo

matéria orgânica do tipo III e o da inertinita como sendo do tipo IV.

Figura 7 - Matéria orgânica lenhosa – Tipo III

Maceral é a unidade da matéria orgânica, com a qual ainda pode se distinguir

sua qualidade, a exemplo dos minerais nas rochas. Assim, tem-se maceral de

vitrinita, maceral de alga, etc

2.4) Petrografia orgânica: ICE e Poder refletor da vitrinita (%Ro)

O estudo microscópico do querogênio, independente de seu modo de montagem

Page 22: Apostila Geoquímica

22

para análise é denominado de petrografia orgânica. Através da petrografia pode-se

qualificar a matéria orgânica presente numa determinada rocha sedimentar, segundo a

classificação exposta, assim como é possível se determinar a temperatura máxima a

que esteve submetida essa matéria orgânica, através das medidas do ICE (índice de

coloração de esporos e polens – ICE) ou da medida do poder refletor da vitrinita

(%Ro,)

Se compararmos a matéria orgânica que é depositada junto com o sedimento

inorgânico, numa bacia sedimentar, com a massa de pão por exemplo, no momento

que é colocada no forno, podemos verificar o seguinte:

• A massa de pão ao entrar no forno é de coloração clara, quando

formada por farinha de trigo, fermento e água, e vai se tornando mais

escura, à medida que atinge a temperatura do forno e continua nessa

temperatura por um prazo determinado . (Tempo X temperatura). Pode

vir a tornar-se de coloração preta, caso venha a permanecer no forno

por um tempo maior do que o seu cozimento.

Essa variação de temperatura

3) Etapas da geração do petróleo

O petróleo é o resultado de uma série de transformações biológicas, físicas e químicas,

sofrida pela matéria orgânica, e conhecidas como: diagênese, catagênese e

metagênese

3.1) Diagênese, catagênese e metagênese

. Na diagênese os biopolímeros, lipídeos, proteínas e carbohidratos que

compõem a matéria orgânica, são transformados em querogênio. Inicialmente,

Page 23: Apostila Geoquímica

23

proteínas e carboidratos são degradados por microrganismos gerando aminoácidos

e açúcares, que juntamente com os lipídeos sofrem reações químicas de

policondensação e polimerização formando compostos como ácidos fúlvicos e

húmicos. Durante o progressivo soterramento dos sedimentos há um aumento das

reações de condensação e a perda de alguns grupos funcionais, e a transformação

dos ácidos fúlvicos e húmicos em querogênio.

Algumas moléculas de hidrocarbonetos derivadas dos lipídeos podem ser

aprisionadas nos sedimentos, juntamente com o querogênio, sendo posteriormente

liberadas e caracterizadas como a primeira fonte de hidrocarbonetos para formação

do petróleo. A próxima etapa de transformação é a catagênese , na qual ocorre um

aumento de temperatura e pressão devido ao progressivo soterramento da matéria

orgânica e dos sedimentos. Nesta etapa, a degradação termal do querogênio é

responsável pela geração da maioria dos hidrocarbonetos que irão compor o

petróleo. Metagênese é a última etapa de evolução da matéria orgânica e só é

alcançada a grandes profundidades, na presença de elevadas temperaturas e

pressões. Neste estágio o querogênio e os hidrocarbonetos são craqueados,

principalmente em metano e em resíduo de carbono.

Na Figura 8 são apresentados os diferentes processos de transformação da

matéria orgânica em petróleo (modificado de Tissot e Welte, 1984).

Page 24: Apostila Geoquímica

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Figura 8: Os diferentes processos de transformação da matéria orgânica em

petróleo (modificado de Tissot e Welte, 1984).

3.2) Diagrama de Van Krevelen

Várias representações gráficas têm sido desenvolvidas para mostrar as

mudanças na composição química do querogênio, em função da profundidade. O

mais simples é a que plota as %C, %H, etc com a profundidade. LaPlante (1974)

mostra essa relação, com querogênios separados de folhelhos em vários poços do

Gulf Coast. Ele mostra um aumento sistemático no conteúdo de carbono de cerca

de 68% a 1300m para 82% a 5000m. O aumento em carbono é balanceado pela

diminuição do teor de oxigênio. O conteúdo de hidrogênio aumenta até cerca de

3.500m e então diminui. LaPlante sugere que o teor de hidrogênio diminui devido a

que ele está sendo usado para formar os hidrocarbonetos ricos em hidrogênio da

fração betuminosa (solúvel).

As porcentagens de carbono, hidrogênio e oxigênio podem ser plotadas em

diagramas ternários, mas o método alternativo mais conveniente tem sido

Metagenesis

Page 25: Apostila Geoquímica

25

desenvolvido por pesquisadores do carvão. Eles usam relações das razões

atômicas H/C versus O/C. Tissot et al., (1974) denominam a tendência definida

pelos valores de H/C versus O/C para querogênios com o aumento de profundidade

como traço diagenético. Diferentes tipos de matéria orgânica seguem diferentes

tendências, dependendo da composição elementar original (Figura 9).

DIAGRAMA

TIPO VAN

KREVELEN

Figura 9 – Diagrama Van Krevelen

3.3) Perfil de poços

Analisando a Figura 10 pode-se verificar uma linha, à direita da reta que

indica a profundidade da perfuração, que mostra a intensidade da anomalia de

hidrocarbonetos presentes na seção perfurada por esse poço. A primeira anomalia,

denominada A, refere-se à presença de gás seco, metano, muito próximo à

superfície, cuja gênese é totalmente biogênica. Trata-se do chamado gás de

pântano. A segunda anomalia a uma maior profundidade, denominada B, é

referente à geração de hidrocarbonetos líquidos, óleo, por um processo

termogênico, a partir da matéria orgânica presente na rocha geradora.

Page 26: Apostila Geoquímica

26

A uma profundidade maior, pode-se verificar a presença de uma terceira

anomalia, denominada C, que representa a geração de gases, por um processo

termogênico, a partir da matéria orgânica da rocha geradora, ou a partir de óleo

anteriormente gerado, a uma menor profundidade, e que, por algum processo,

ultrapassou o limite da presença de hidrocarbonetos líquidos, sendo craqueados a

gás por uma energia térmica mais elevada.

Numa determinada profundidade, onde a temperatura estiver ao redor dos

60ºC, tem-se o Topo da Zona Matura, (TZM), isto é, inicia-se a zona de geração de

óleo, com temperatura adequada, entre 60 e 120ºC. A partir desta última tem-se o

Topo da Zona Supermatura, ou Senil, (TZS), onde não existe mais a presença de

óleo, e a matéria orgânica passa a gerar gás.

Pode-se imaginar uma rocha considerada potencialmente geradora,

localizada na superfície do terreno, praticamente na cota zero desse poço. Seu

valor de COT seria hipoteticamente de 5% e o valor da relação H/C seria, por

exemplo, de 1,5. Imaginando-se que essa unidade potencialmente geradora fosse

soterrada, o valor do COT iria diminuindo com a profundidade, principalmente na

zona de geração do óleo e depois da zona de geração do gás, esse COT não seria

mais de 5%, e sim de uma ordem de aproximadamente 2 a 3%, na dependência da

qualidade dessa matéria orgânica. O mesmo aconteceria com a relação atômica

H/C.

O intervalo de profundidade da superfície até a profundidade que

corresponde a aproximadamente 60ºC, topo da zona matura, é denominada zona

da Diagênese, ou Zona Imatura e os processos de transformação da matéria

orgânica são eminentemente bioquímicos. A partir dos 60ºC começa a Zona da

Catagênese ou Zona Matura, caracterizada por processos termoquímicos de

transformação da matéria orgânica e a partir de aproximadamente 120ºC inicia-se a

Zona da Metagênese ou Zona Supermatura, também caracterizada por processos

termoquímicos, com energias mais elevadas, de transformação da matéria

orgânica.

Page 27: Apostila Geoquímica

27

Figura 10 - Poço de sondagem hipotético – perfil de sua seção geoquímica

3.4) Pirólise Rock-Eval

No final da década de 80, o Instituto Francês do Petróleo lançou no mercado

um equipamento que veio revolucionar a geoquímica orgânica, pelos resultados que

podia apresentar e a utilidade na pesquisa geoquímica, na exploração de petróleo.

Seu principal autor foi o geoquímico Jean Espitalié.

A pirólise Rock-Eval é uma técnica que consiste na simulação do processo

natural de maturação térmica da matéria orgânica. O processo envolve

TZM

TZS

60ºC

120ºC

GÁS BIOGÊNICO

JANELA DE GERAÇÃO DE ÓLEO

PICO DA JANELA DE GERAÇÃO

JANELA DE GERAÇÃO DE GÁS TERMOGÊNICO

DIAGÊNES

CATAGÊNESE

METAGÊNESE

Page 28: Apostila Geoquímica

28

temperaturas maiores do que as normalmente registradas em subsuperfície,

resultando na ocorrência de reações termoquímicas em menor espaço de tempo.

Este equipamento queima a amostra de rocha, aproximadamente 1g, e produz um

gráfico, denominado pirograma (Figura 11), com alguns picos, cuja interpretação,

fornece resultados para se avaliar a qualidade da rocha, se geradora ou não e sua

potencialidade de geração, análise esta com a duração de aproximadamente 20

minutos.

O pico S1 representa a quantidade de hidrocarbonetos livres, presente na

rocha. O pico S2 representa a quantidade de hidrocarbonetos que poderão ser

formados a uma maior temperatura, isto é, representa a potencialidade que a rocha

ainda possui para geração. O pico S3 avalia a quantidade de oxigênio presente no

querogênio que se está analisando. A potencialidade de geração pode ser dada

somente pelo pico S2, representando a quantidade de querogënio que ainda poderá

ser craqueado a hidrocarbonetos líquidos ou gasosos, assim como pela soma dos

picos S1 + S2, isto é, pela soma do pico S1, que representa os hidrocarbonetos

livres, presentes na rocha, e o pico S2, que representa a quantidade de querogënio

que ainda poderá ser transformado em hidrocarbonetos.

PirólisePirólise RockRock -- EvalEval

SS11 SS33

SS22

Temperatura ºCTemperatura ºC

Pirograma

250250

IInntt ..

S1 ou S 2 = mg HC/g rochaS3 = mg CO2/g rocha

Evolução térmica da matéria orgânicaEvolução térmica da matéria orgânica

Figura: 11 - Pirograma

Page 29: Apostila Geoquímica

29

Os valores dos picos S1 e S2 são apresentados da seguinte forma S1 e S2 = mg

HC/g rocha ou g HC/kg de rocha ou mesmo Kg HC/ton rocha. Dividindo-se o pico

do S2 pelo COT (% de carbono orgânico por peso de rocha), obtém-se o Índice de

Hidrogënio, IH, que é um parâmetro de medida de qualidade da matéria orgânica,

substituindo com vantagens a relação H/C.

O pico S3, que representa a quantidade de CO2, por unidade em peso da rocha

(mg CO2/g rocha), somente foi apresentado, com a finalidade de chamar a atenção

para o IO, denominação dada ao S3, para qualificar a qualidade do querogënio

presente na rocha geradora. Valores de S1 e/ou S2 abaixo de 5mg HC/g rocha, são

considerados regulares a pobres, enquanto valores de 15 a 20 mg HC/g rocha, são

considerados bons. Para o IH, os valores iguais ou menores que 300 mg HC/ g

COT representam matéria orgânica do tipo III, valores entre 300 e 600 mg HC/g

COT indicam qualidade de matéria orgânica do tipo II e para os resultados maiores

que 600 mg HC/g COT o IH estaria ligado a um querogënio do tipo I.

A Temperatura Máxima de Pirólise, Tmax é dada pela temperatura mostrada

pelo pico S2 e demonstra a paleotemperatura máxima sofrida pela matéria

orgânica, sendo, portanto, uma medida da maturação ou evolução térmica da

matéria orgânica (Figura 11). Resultados da ordem de 430ºC indicariam um

posicionamento da matéria orgânica no topo da zona matura (TZM) e valores da

ordem de 480ºC estariam indicando um posicionamento no topo da zona

supermatura (TZS).

A figura 12 mostra o pirograma de amostras de um determinado poço em

diferentes profundidades. Pode-se perceber que à medida que a amostra for

originária de uma maior profundidade, o pico S2 vai se deslocando para a direita do

gráfico, aumentando a temperatura desse pico, isto é do Tmax. Isso se explica pelo

fato de que quanto maior a profundidade, maior deve ser a temperatura para

craquear a molécula do querogênio, a qual irá se tornando cada vez mais complexa

(residualmente).

Page 30: Apostila Geoquímica

30

Valores de Valores de Tmax Tmax com a com a profundidadeprofundidade

SS11

SS22

800m800m

1810m1810m

2480m2480m

3200m3200mp

rofu

nd

ida d

ep

r ofu

nd

idad

e

Tmax

Figura 12 - Variação da Temperatura máxima com a profundidade.

O índice de produção, IP, dado pela fórmula S1/S1+S2, caracteriza áreas

onde pode haver ou não excesso de óleo no sistema. De acordo com o fabricante

do aparelho, valores iguais ou superiores a 0,2 demonstrariam que existe esse

excesso de óleo, estando a amostra apresentando um show de óleo, por se tratar

de uma geradora com óleo, de uma rocha reservatório impregnada com

hidrocarboneto ou mesmo de uma via de migração, (carrier bed) onde existe óleo

residual.

4) Aplicação da técnica de cromatografia na análise do petróleo e de extratos

oleosos

4.1) Composição do petróleo: Hidrocarbonetos satura dos, aromáticos e compostos polares

Page 31: Apostila Geoquímica

31

O petróleo pode ser definido como um produto composto basicamente por uma

mistura complexa de hidrocarbonetos saturados e aromáticos. Além dos

hidrocarbonetos, outros compostos fazem parte desse conjunto, entre eles incluem-

se compostos cujo esqueleto básico da molécula é de um hidrocarboneto, mas que

contêm heteroátomos como: nitrogênio, enxofre e oxigênio, conhecidos como

compostos NSO, que compõem as classes das resinas e dos asfaltenos (figura 13).

Figura 12: Diagrama ternário mostrando a composição, em função das

percentagens de hidrocarbonetos saturados, aromáticos e compostos NSO, de 636

diferentes tipos de óleo (Tissot e Welte, 1984).

Alguns metais como níquel e vanádio, associados à estruturas porfirínicas

também podem ser encontrados no petróleo (Tissot e Welte, 1984; Hunt, 1995).

Hidrocarbonetos

Hidrocarbonetos são grupos de compostos que apresentam apenas átomos

de carbono e hidrogênio em suas moléculas. A composição do petróleo em termos

de hidrocarbonetos é expressa em função da presença de: Compostos alifáticos,

isto é, aqueles que contêm ligações simples e formam cadeias lineares como nos

n-alcanos ou parafinas; ou cadeias ramificadas; e ainda os alcenos ou olefinas com

Page 32: Apostila Geoquímica

32

uma ou mais ligações duplas entre os átomos de carbono; Compostos

cicloalifáticos ou alicíclicos como os cicloalcanos e compostos aromáticos e

cicloalcanoaromáticos. A distribuição média dos principais grupos de

hidrocarbonetos nos diferentes óleos já analisados é bastante similar e isto pode

ser confirmado em função dos resultados analíticos obtidos do levantamento de

517 amostras de óleo, realizado pelo Instituto Francês do Petróleo. Uma parte

destes resultados é apresentada na tabela 2 (Tissot e Welte, 1984; Hunt, 1995).

Tabela 2: Composição média de hidrocarbonetos no petróleo (Tissot e Welte, 1984).

Grupos de hidrocarbonetos Valores médios nos óleos (% em peso)

Alcanos normais (n) e ramificados 33,6

cicloalcanos 31,9

aromáticos 34,5

Os hidrocarbonetos alifáticos englobam substâncias gasosas, líquidas e sólidas,

sendo que o estado líquido prevalece em compostos de até vinte átomos de

carbono, considerando as condições normais de temperatura e pressão. Outra

característica de extrema importância sob o aspecto da biodegradação desses

compostos é serem todos hidrofóbicos.

a) Alcanos normais

São hidrocarbonetos de cadeia aberta e sem ramificações, que apresentam

somente ligações simples (saturados) entre seus átomos, como pode ser

observado na figura 13. Sua fórmula geral é: Cn H2n+2. Todos os componentes da

série homóloga de alcanos normais (n-alcanos), contendo de 1 a 40 átomos de

carbono (C1 a C40), podem ser identificados no petróleo. As concentrações deste

Page 33: Apostila Geoquímica

33

grupo de compostos variam de 15 a 20%, podendo ser bem mais baixa em óleos

degradados, ou elevada (35%) nos óleos leves (Hunt, 1995).

Figura 13: Exemplos de n-alcanos (Tissot e Welte, 1984).

b) Alcanos ramificados

São hidrocarbonetos de cadeia aberta com ramificações, apresentam somente

ligações simples (saturadas) entre seus átomos, sua fórmula geral é: Cn H2n+2. A

maior concentração individual de alcanos ramificados no petróleo é encontrada na

forma de 2 metil ou 3 metil – hexano e/ou – heptano, podendo chegar a 1% no óleo

cru (Tissot e Welte, 1984; Hunt, 1995).

Os alcanos ramificados de médio peso molecular (C9 a C25) são conhecidos

como isoprenóides, isto é, compostos saturados derivados do isopreno. Eles

possuem um radical metila ligado a cada 4 átomos de carbono da cadeia linear e

têm como precursores biológicos a cadeia lateral da molécula da clorofila e

arqueobactérias (Treibs, 1936 apud Peters e Moldowan, 1993).

Os isoprenóides mais abundantes no petróleo são o pristano (2, 6, 10, 14

tetrametil pentadecano – C19) e o fitano (2, 6, 10, 14 tetrametil hexadecano – C20),

pois juntos somam mais que 55% de todos os isoprenóides acíclicos (Tissot e Welte,

1984; Hunt, 1995). Na figura 14 são apresentados alguns exemplos de alcanos

ramificados.

n-C6 H14

n-C27 H56

ou

Page 34: Apostila Geoquímica

34

Figura 14: Exemplos de alcanos ramificados (Tissot e Welte, 1984).

c) Alcenos

Alcenos são hidrocarbonetos de cadeia aberta, insaturados, isto é, com uma ou

mais ligações duplas (C = C), sua fórmula geral é: Cn H2n. São instáveis e

conseqüentemente raros em óleos crus, podendo ocorrer em quantidades muito

pequenas como n-hexeno e n-hepteno (Tissot e Welte, 1984).

d) Cicloalcanos (naftenos)

Cicloalcanos são hidrocarbonetos saturados de cadeia fechada ou cíclica, e sua

fórmula geral é: Cn H2n. Compostos como ciclopentano, ciclohexano e seus

derivados metilados de baixo peso molecular, isto é, contendo menos que 10

átomos de carbono são importantes constituintes do petróleo, sendo o

metilciclohexano o mais abundante chegando a 2,4% em alguns óleos. Os

compostos denominados como mono e dicicloalcanos compõem aproximadamente

50% do total dos cicloalcanos que contêm mais de 10 átomos de carbono. Estes

cicloalcanos possuem normalmente ramificações alquilas de diferentes números de

carbono (Tissot e Welte, 1984; Hunt, 1995).

iso

ante iso

isoprenóide

2, 2, 4 trimetil pentano

2 metil, 3 etil heptano

ou

ou

2,6,10,14 tetrametil hexadecano

Fitano (C20H42)

Page 35: Apostila Geoquímica

35

Cicloalcanos de médio a elevado peso molecular (C10 a C35) são produzidos

pelo arranjo de 1 a 6 ciclos, nesta classificação encontram-se duas categorias de

compostos: os esteranos (tetracíclicos) e os hopanos (pentacíclicos), constituídos de

anéis condensados de 5 e 6 átomos de carbono e múltiplas ramificações alquilas,

importantes como marcadores biológicos (Peters e Moldowan, 1993). Algumas

estruturas de cicloalcanos são apresentadas na figura 15.

Figura 15: Exemplos de cicloalcanos (Tissot e Welte, 1984).

e) Aromáticos

Mono- cicloalcano

dicicloalcano

policicloalcanos

ou

ou

C6H12 ciclohexano

C10H18 - decalina

C10H16 - adamantano

C27H48 - colestano C30H52 - gamacerano

Page 36: Apostila Geoquímica

36

Hidrocarbonetos aromáticos são aqueles que possuem pelo menos um anel

benzênico em sua molécula. No benzeno, C6 H6, os átomos de carbono formam um

ciclo plano com 6 ligações iguais. Estas ligações possuem um comprimento de 1,40

Angstrons, valor intermediário entre o comprimento de uma ligação simples (1,53

Angstrons) e de uma dupla (1,33 Angstrons). Os aromáticos de baixo peso molecular,

presentes no petróleo, tais como: benzeno, tolueno (metil benzeno), etilbenzeno e os

isômeros orto, meta e para do xileno (dimetil benzeno) são parcialmente solúveis em

água e facilmente volatilizados a temperatura ambiente. Este conjunto de compostos é,

normalmente, denominado de BTEX. Tolueno e meta-xileno são os monoaromáticos de

maior incidência no petróleo.

No petróleo são encontrados também, compostos com anéis benzênicos

condensados, conhecidos por Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) com o

número de anéis variando de 2 a 4: naftaleno (2), fenantreno e antraceno (3), pireno,

benzoantraceno e criseno (4). Os derivados alquilados de benzeno, naftaleno e

fenantreno são mais abundantes nos óleos, que seus parentes não ramificados (Tissot

e Welte, 1984; Hunt, 1995). Na figura 16 são apresentados alguns exemplos de

compostos denominados como mono e policíclicos aromáticos comumente

encontrados no petróleo.

Figura 16: Exemplos de compostos aromáticos (Tissot e Welte, 1984).

ou C

ou C6 H6 - benzeno

C13 H14 – 3,6,7 trimetil naftaleno

C16 H14 – 1, 8 dimetil fenantreno

Page 37: Apostila Geoquímica

37

f) Cicloalcanoaromático (naftenoaromático)

Estes compostos, normalmente, são os constituintes da fração dos

hidrocarbonetos do petróleo de maior ponto de ebulição. Possuem um ou mais anéis

aromáticos fundidos com cicloalcanos, e ramificados por cadeias de radicais alquilas

(Fig. 17). As estruturas de maior ocorrência variam de 2 a 5 anéis, incluindo a parte

aromática e a naftênica (Tissot e Welte, 1984; Hunt, 1995).

Figura 17: Exemplos de compostos naftenoaromáticos (Tissot e Welte, 1984).

Compostos contendo: nitrogênio, enxofre e oxigênio

Os compostos do petróleo, cujo esqueleto básico da molécula é o de um

hidrocarboneto, mas que contêm heteroátomos como: nitrogênio, enxofre e oxigênio

são conhecidos como a fração de não - hidrocarbonetos. Dentre esses compostos,

aqueles contendo enxofre, com moléculas cujo número de átomos de carbono é inferior

a 25, pertencem a três classes principais: Tióis (mercaptans), Sulfetos orgânicos,

Tiofeno e seus derivados (figura 21).

Nas frações de elevado peso molecular o enxofre aparece incorporado às

moléculas de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, fazendo parte da fração mais

polar do petróleo, a de compostos NSO. O enxofre é o terceiro átomo mais abundante

no petróleo e sua concentração média é de 0,6% (Tissot e Welte, 1984; Hunt, 1995).

C10 H12 tetralina

C16 H14 – dimetil ciclohexano

isopropil naftaleno

C18 H16 – metil ciclopentano fenantreno

C25 H24 – dimetil ciclohexano

metil benzofenantreno

Page 38: Apostila Geoquímica

38

Figura 21: Exemplos de compostos contendo enxofre (Tissot e Welte, 1984).

A concentração de compostos contendo nitrogênio no petróleo é muito pequena,

menos que 0,2%. Entre os de baixo a médio peso molecular encontram-se: piridinas,

quinolinas e carbazóis (Fig. 22). Entretanto, a principal participação dos compostos

nitrogenados, é encontrada nas frações de elevado peso molecular e ponto de

ebulição, na forma de compostos policíclicos aromáticos que contêm nitrogênio, isto é,

nos compostos NSO. Dos compostos que contêm oxigênio como heteroátomo, os mais

Tiol

Sulfetos

ou

ou

ou

Tiofenos

ou

2, 3 dimetil dibenzotiofeno

2 metil benzotiofeno

2 etil-tiofeno

Tiociclohexano

Etil metil sulfeto

2- Butanotiol

Page 39: Apostila Geoquímica

39

importantes são os fenóis, cetonas, ésteres e ácidos graxos saturados (Tissot e Welte,

1984; Hunt, 1995).

Figura 22: Exemplos de compostos contendo nitrogênio (Tissot e Welte, 1984).

Compostos de elevado peso molecular contendo heteroátomos de enxofre,

nitrogênio e oxigênio, conhecidos como compostos NSO, são os constituintes da fração

mais polar do petróleo, a das resinas e asfaltenos. Os heteroátomos, nitrogênio,

enxofre e oxigênio, por serem átomos eletronegativos, conferem elevada polaridade às

moléculas de compostos NSO, resinas e asfaltenos. As resinas e os asfaltenos

possuem como estruturas básicas núcleos de compostos policíclicos aromáticos ou

naftenoaromáticos. As resinas são constituídas também de piridinas, quinolinas,

carbazóis e amidas; e os asfaltenos de fenóis, ácidos graxos, cetonas, ésteres e

porfirinas. A principal diferença entre esses dois grupos baseia-se na solubilidade em

n-hexano. As resinas são solúveis enquanto que os asfaltenos são insolúveis e

precipitam. Entretanto, ambos são solúveis em benzeno e clorofórmio. Por possuírem

propriedades semelhantes, as resinas e os asfaltenos freqüentemente ocorrem

associados, formando partículas coloidais (Tissot e Welte, 1984; Hunt, 1995).

ou

ou

ou

3 metilpiridina

Quinolina

Carbazol

Page 40: Apostila Geoquímica

40

Compostos Organometálicos

Os óleos contêm metais, principalmente níquel e vanádio, em quantidades

variáveis, de menos que 1 ppm a 1200 ppm de vanádio e de 1 ppm a 150 ppm de

níquel. Existe uma boa correlação entre os teores de metais, de enxofre e de

asfaltenos, pois normalmente os metais se encontram nessas frações. Uma parte

variável de níquel e vanádio está incorporada em moléculas complexas conhecidas por

porfirinas (Sundararaman, 1985 apud Peters e Moldowan, 1993; Filby e Branthaver,

1987 apud Peters e Moldowan, 1993). Na figura 23 está representado o possível

mecanismo de conversão, ocorrido durante a diagênese do petróleo, da clorofila para

as porfirinas.

Outros metais como: ferro, zinco, cobre, chumbo, molibdênio, cobalto,

manganês, cromo, também podem ser encontrados no óleo, mas com concentrações

muito baixas (Tissot e Welte, 1984).

Figura 23: Conversão da molécula de clorofila em porfirinas onde M = VO+2 ou Ni+2 (Peters e Moldowan, 1993).

Clorofila a

Porfirinas

Page 41: Apostila Geoquímica

41

4.2) Extração da Matéria Orgânica Solúvel (MOS) de rochas para análises

geoquímicas

Conforme verificado, a matéria orgânica presente numa determinada rocha

geradora apresenta-se como querogënio, que é a matéria orgânica não solúvel em

solventes orgânicos e a MOS ou betume, que é solúvel em solventes orgânicos. O

valor do carbono orgânico total ou COT é medido no querogênio e na MOS, enquanto

que a qualidade da matéria orgânica, sob a óptica da microscopia, só analisa o

querogénio. A pirólise Rock Eval quantifica a matéria orgânica solúvel, o S1, enquanto

o S2 quantifica o querogëniio.

Com a análise da rocha geradora através da pirólise, encerra-se a etapa das

análises geoquímicas de rotina, e procede-se ao desenvolvimento de um perfil

geoquímico, onde se obtêm os resultados de litologia, COT, qualidade da matéria

orgânica pela petrografia e os valores dos parâmetros da pirólise Rock-Eval (S1, S2,

TMAX, IH, IO e IP). A rocha geradora apresenta-se identificada quanto a quantidade de

matéria orgânica, (COT), qualidade da matéria orgânica (Petrografia , IH e IO) e

maturação (ICE, %Ro e Tmax).

O próximo procedimento analítico é a qualificação da MOS ou betume, técnica

esta que serve também para o óleo presente numa determinada rocha, assim como

todas as que virão após a extração. A partir da rocha pulverizada, procede-se à

extração da matéria orgânica solúvel, que está presente na rocha geradora ou na rocha

reservatório, com auxílio de solventes orgânicos, para que o extrato oleoso possa ser

analisado quimicamente.. O primeiro passo desta análise é feito com a trituração e

pulverização da amostra de rocha, para que o acesso do solvente a MOS, seja

otimizado.. Uma parte da amostra é pesada, e colocada no cartucho de celulose, como

solvente, utiliza-se diclorometano, o qual entra em contato com a rocha saturada de

óleo promovendo sua extração. Pode ser usado um Extrator Soxhlet (Fig. 24) ou

ultrasom.

H2O

Cartucho de celulose

Condensador

Page 42: Apostila Geoquímica

42

Figura 24 : Esquema de um Extrator Soxhlet.

Após a extração procede-se a evaporação do diclorometano do extrato. A

matéria orgânica solúvel restante ou o óleo podem ser quantificados (Fig. 25). Esta

quantificação fornecerá uma medida semelhante ao valor obtido para o pico S1

(quantidade de hidrocarbonetos livres), numa análise do tipo pirólise Rock-Eval. À

medida que a rocha geradora vai evoluindo termicamente, vai aumentando a

quantidade da MOS, através do craqueamento do querogënio. Poder-se–ia denominar

a MOS como pré-óleo, o qual adquiriria sua identidade através da evolução térmica.

ROCHA

Querogênio

MOS ou Betume

Amostra de rocha - 1 Amostra de rocha - 2

Digestão ácida (HCl e HF)

Extração por solvente orgânico

Cromatografia líquida

Page 43: Apostila Geoquímica

43

Figura 25: Fluxograma analítico para uma amostra de rocha geradora.

4.3) Introdução aos métodos cromatográficos Entre os métodos modernos de análise, a cromatografia ocupa um lugar de

destaque devido à sua facilidade em efetuar a separação, identificação e quantificação

de espécies químicas, especialmente em misturas complexas como o petróleo. A

cromatografia é um método físico-químico de separação dos componentes de uma

mistura, realizada através da distribuição destes componentes entre duas fases, onde

uma permanece estacionada enquanto a outra se move através dela. Durante a

passagem da fase móvel sobre a fase estacionária, os componentes da mistura são

distribuídos entre elas, de tal forma que cada um dos componentes é seletivamente retido

pela fase estacionária, resultando em migrações diferenciais desses compostos. As

técnicas cromatográficas mais empregadas nas análises de petróleo e derivados são

aquelas em fase líquida e gasosa (Collins et al., 1990).

4.4) Fracionamento do petróleo por cromatografia lí quida

A cromatografia líquida é empregada na separação das principais frações de

compostos do petróleo: Fração de hidrocarbonetos saturados – representada pelos

alcanos normais e ramificados, e pelos cicloalcanos com um ou mais na´. Fração de

hidrocarbonetos aromáticos – que contém compostos com um ou mais anéis

Saturados Aromáticos

Petrografia orgânica e análise elementar

Compostos NSO

Cromatografia Gasosa-FID e CG/EM

Page 44: Apostila Geoquímica

44

benzênicos, como os HPA. Fração de compostos polares – constituída de resinas e

asfaltenos. Essa separação está baseada no princípio de que um soluto pode ser

dissolvido por um solvente de polaridade similar. Ela pode ser realizada em colunas de

vidro recheadas com adsorventes como sílica gel, florisil ou alumina, a pressão ambiente

ou em colunas de aço onde a amostra e os solventes são aplicados sob pressão (Peters

e Moldowan, 1993).

O diagrama triangular mostrado na figura 26 representa a composição do extrato

total, em função das 3 frações que compõem os diferentes tipos de petróleo, isto é,

hidrocarbonetos saturados, aromáticos, resinas e asfaltenos (compostos contendo

nitrogênio, enxofre e oxigênio). As setas indicam alguns dos processos pelos quais os

óleos podem ter sua composição química alterada.

Figura 26: Diagrama da composição do extrato orgânico em termos de hidrocarbonetos

saturados, aromáticos e compostos NOS.

As frações do petróleo separadas por cromatografia líquida, podem ser analisadas

por métodos gravimétricos, por espectroscopia do infra–vermelho, espectroscopia de

Compostos NSO Saturados

Aromáticos

Maturação

Degradação

Page 45: Apostila Geoquímica

45

fluorescência e do ultra–violeta. Entretanto, os métodos mais utilizados são a

cromatografia em fase gasosa e a cromatografia em fase gasosa acoplada à

espectrometria de massa (Wang e Fingas, 1995b).

4.5) Cromatografia gasosa aplicada à análise de alc anos lineares e isoprenóides

Na técnica de cromatografia gasosa, a fase móvel empregada é um gás e sua

grande aplicação é na análise de compostos voláteis ou que possam ser volatilizados

sem ter suas estruturas alteradas pelo aquecimento. Atualmente, uma das técnicas

analíticas mais usadas em laboratório, principalmente na separação de misturas

complexas como petróleo e derivados e na identificação de seus numerosos

componentes é a cromatografia gasosa capilar ou de alta resolução. Nesta técnica a fase

estacionária é um líquido de elevado ponto de ebulição, depositado sobre as paredes

internas de colunas capilares flexíveis de sílica fundida, extremamente finas e longas, e a

fase móvel é um gás inerte, normalmente hélio, o qual carrega cada componente até a

saída da coluna, na qual está localizado um detector. O detector mais adequado para

análises qualitativas e quantitativas de n-alcanos e isoprenóides presentes em amostras

de óleo total, não fracionado por cromatografia líquida e para as frações de saturados,

é o detector de ionização de chama (FID- Flame Ionization Detector). Na figura 27

encontra-se um diagrama com os principais componentes de um cromatógrafo em fase

gasosa (Collins et al., 1990).

Page 46: Apostila Geoquímica

46

1- Reservatório de Gás e Controles de Vazão / Pressão.

2 - Injetor (Vaporizador) de Amostra.

3 - Coluna Cromatográfica e Forno da Coluna.

4 - Detector.

5 - Eletrônica de Tratamento (Amplificação) de Sinal.

6 - Registro de Sinal (Registrador ou Computador).

Figura 27: Esquema de cromatógrafo em fase gasosa.

A temperatura da coluna aumenta bastante durante a análise, com a finalidade de

melhorar a resolução dos picos e permitir a análise de compostos com elevadas

temperaturas de ebulição. Em geral os compostos leves saem da coluna em primeiro

lugar e muitas separações em cromatografia gasosa se aproximam da separação

através do ponto de ebulição. Um cromatograma típico de um óleo é mostrado na

Figura 28.

Pico do solvente

Page 47: Apostila Geoquímica

47

Tempo de retenção dos componentes entre a injeção da amostra e sua detecção (minutos) Figura 28: Principais feições observadas em um cromatograma.

Na figura 28 foram identificadas as principais feições de um cromatograma. Estas

feições podem variar em função do input orgânico (entrada de matéria orgânica na

formação da rocha geradora), isto é, da qualidade da matéria orgânica que deu origem

ao óleo, do paleoambiente deposicional e da maturação dessa matéria orgânica.

As principais feições são:

• Envelope • Pico máximo dos n-alcanos • n-alcanos de baixo e de alto pesos moleculares • UCM - • Índice preferencial de carbono – IPC

Envelope é uma linha imaginária que une todos os maiores picos do

cromatograma; Pico máximo dos n-alcanos é aquele que apresenta a maior

abundância relativa; quando comparado aos outros picos do cromatograma,

descontando-se o do solvente. A predominânica de n-alcanos de baixos ou de

elevados pesos moleculares. UCM – Área sob a elevação da linha de base do

cromatograma (Hump) representando uma mistura complexa de compostos, não

resolvida pela coluna cromatográfica (Unresolved Complex Mixture). Índice preferencial

de carbono: IPC – relação impar/par dos n-alcanos.

Envelope de alcanos

Componentes de baixo peso molecular

Componentes de elevado peso molecular

UCM

Pristano

Page 48: Apostila Geoquímica

48

O cromatograma identifica cada tipo de óleo ou extrato, através de suas feições

específicas, conforme descrito anteriormente. O cromatograma recebe também a

denominação de fingerprint, devido à suas características únicas para cada óleo ou

extrato. Com relação aos fingerprints de cada óleo, pode-se reuni-los em famílias em

função do tipo de input orgânico, isto é, da qualidade da matéria orgânica que deu

origem ao óleo, do paleoambiente deposicional e da maturação dessa matéria

orgânica.

4.6) Cromatografia gasosa aplicada à análise de pol icicloalcanos e de aromáticos

policíclicos

Devido a não especificidade do detector de ionização de chama na quantificação

dos compostos mono e poliaromáticos e na identificação e quantificação de moléculas

complexas como os biomarcadores, das famílias dos triterpanos e esteranos, a técnica

mais apropriada é a de cromatografia gasosa de alta resolução acoplada à

espectrometria de massa (CG/EM), a qual combina separação química com elevada

resolução espectral (McFadden, 1973 apud Peters e Moldowan, 1993; Roques et

al.1994).

Um equipamento de cromatografia gasosa acoplado a um espectrômetro de

massa é constituído das seguintes unidades funcionais:

1. Cromatógrafo em fase gasosa com coluna capilar de alta resolução

2. Linha de transferência dos compostos

3. Câmara de ionização

4. Analisador de massa

5. Detetor de íons

6. Computador para aquisição, processamento e apresentação dos dados.

Após a separação dos componentes da mistura por cromatografia gasosa, os

compostos são transferidos para o espectrômetro de massa (CG/EM). Nos sistemas

Page 49: Apostila Geoquímica

49

mais modernos de CG/EM, em que são usadas colunas capilares, todos os compostos

que eluem da coluna passam diretamente para a câmara de ionização.

A ionização de cada composto que chega ao espectrômetro normalmente é

feita por impacto de elétrons. Os elétrons são gerados pelo aquecimento de um

filamento de tungstênio, e após serem acelerados adquirem a capacidade de ionizar

compostos que variam de 50 a 600 unidades de massa atômica (uma), em intervalos

de tempo inferiores a 3 segundos. Os elétrons acelerados bombardeiam as moléculas

do composto formando íons moleculares (M+), fragmentos menores e moléculas

neutras de menor peso molecular (Silverstein et al., 1979; Peters e Moldowan, 1993).

Os íons e fragmentos formados são levados ao analisador de massa, do tipo

quadrupolo, e avaliados em função de sua razão massa/carga (m/z) e a seguir são

detectados por um multiplicador de elétrons que gera um perfil de fragmentação

característico do composto, conhecido como seu espectro de massa. O espectro de

massa de um determinado composto é obtido fixando-se o número de varreduras ou

tempo de retenção e plotando-se a razão m/z X resposta do detector. Cada espectro

consiste de uma série de fragmentos de íons que podem ser usados na elucidação da

estrutura do composto, até mesmo a de estereoisômeros característicos de compostos

biomarcadores do petróleo. Um cromatograma de massa é obtido fixando-se m/z e

plotando-se tempo de retenção X resposta do detector. Ele pode ser usado para

monitorar uma série de compostos de pesos moleculares variados, formados após a

fragmentação (Silverstein et al., 1979; Peters e Moldowan, 1993).

Para a aquisição e o processamento da grande quantidade de dados gerada ao

longo de uma análise, é necessário o uso de um computador. Durante uma análise de

CG/EM que dure aproximadamente 90 minutos, o espectrômetro de massa analisa

cerca de 1800 espectros, comparando cada um deles com aqueles previamente

existentes em sua biblioteca. Na identificação de componentes desconhecidos em uma

mistura de compostos a utilização da biblioteca é de grande utilidade, pois o sistema

compara o espectro de massas, obtido para o componente desconhecido, com aqueles

já padronizados, fornecendo, normalmente, duas opções para a identificação do

componente em questão.

Page 50: Apostila Geoquímica

50

A esse tipo de análise denomina-se full-scan (varredura completa), na qual todo

o espectro de íons - massa (50 – 600 uma) gerados pela fonte de ionização é

analisado, não havendo perdas de informações. Mas para isso é necessário que se

utilize um computador capaz de adquirir e processar uma grande quantidade de dados.

Na modalidade de full scan, é gerado um espectro de massa completo que serve para

ser usado na identificação qualitativa de compostos (Peters e Moldowan, 1993).

5) Classificação de rochas geradoras quanto ao pal eoambiente deposicional e ao

input de matéria orgânica: Uso de fingerprints

5.1) Ambiente lacustre de água doce

O cromatograma da figura 29 mostra um exemplo típico de um perfil

cromatográfico para óleos cujo ambiente paleodeposicional foi lacustre de água doce,

com as seguintes características:

• Envelope tipo caixote, típico de matéria orgânica de origem continental;

• Presença de n-alcanos de baixos e alto pesos moleculares, também

característica de matéria orgânica de origem continental;

• O índice preferencial de carbono é típico de predominância das parafinas

impares, e de MO. de origem continental;

Page 51: Apostila Geoquímica

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Figura 29:. Fingerprint de um óleo de um paleoambiente lacustre de água doce

5.2) Ambiente Lacustre de água salgada

Apresenta as seguintes características (FIG. 30):

• Envelope tipo caixote;

• Abundãncia de n-alcanos de baixos e altos pesos moleculares;

• ICP indicando predominância dos n-alcanos ímpares

• Presença de β - carotano;

• Presença dos isoprenóides, i-C25 e i-C30

- Figura 30: . Fingerprint de óleo de um paleoambiente lacustre salino 5.3) Ambiente marinho deltaico

Apresenta as seguintes características (Fig.31):

• Envelope tipo caixote;

• Predominância de n-alcanos de baixos e altos pesos moleculares,

Page 52: Apostila Geoquímica

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• Presença de isoprenóides i-C25 e i-C30

• Presença de β - Carotano

Figura 30: Fingerprint de um óleo com paleoambiente marinho deltáico 5.4) Ambiente marinho evaporítico

Apresenta as seguintes características (Fig.32):

• Abundância relativa dos isoprenóides pristano e fitano maior que a dos n-

alcanos;

• Presença do B-carotano e dos isoprenóides i-C25 e i-C30;

• Pr/Ph<1

Page 53: Apostila Geoquímica

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Figura 32: Fingerprint de um óleo com paleoambiente evaporítico

5.5) Ambiente carbonático

Principais feições (Fig.33):

• Isoprenóides i-C25 e i-C30, e presença de β - Carotano;

• Envelope tipo sino; Pr/Ph< 1

Figura 33: Fingerprint de um óleo com paleoambiente marinho carbonático

5.6) Ambiente marinho aberto

Feições (Fig.34):

• Envelope em sino

• Pr/Ph>1, Sem feições de salinidade

Page 54: Apostila Geoquímica

54

Figura 34: Fingerprint de um óleo com paleoambiente marinho aberto.

6) Compostos biomarcadores do petróleo

6.1) Definição e seus precursores biológicos

Durante a diagênese e a catagênese algumas moléculas específicas dos

precursores biológicos do petróleo, apesar de terem participado de reações químicas,

mantiveram íntegras suas estruturas básicas. Esses compostos orgânicos são

conhecidos como marcadores biológicos ou biomarcadores (Eglinton et al., 1964;

Eglinton e Calvin, 1967 apud Peters e Moldowan, 1993). Sua origem pode estar

relacionada a organismos como: bactérias (arqueobactérias, cianobactérias, etc); algas

(diatomáceas e dinoflagelados); plantas terrestres (angiospermas e gimnospermas) e

animais invertebrados (Tissot e Welte, 1984).

Os precursores dos biomarcadores, conhecidos como terpenóides ou

isoprenóides (Nes e Mc Kean, 1977 apud Peters e Moldowan, 1993), foram

inicialmente biossintetizados por microrganismos e plantas, a partir da polimerização de

subunidades de isopreno (metil butadieno). Os compostos complexos resultantes desta

polimerização desempenham funções específicas nos organismos vivos, como o

bacteriohopanetetrol, componente da membrana celular de procariontes como

bactérias e cianobactérias (Rohmer, 1987 apud Peters e Moldowan, 1993); o colesterol,

componente da membrana celular de organismos eucariontes (Mackenzie et al., 1982

apud Peters e Moldowan, 1993); e a clorofila, pigmento responsável pela fixação

fotossintética de carbono por plantas e certos tipos de bactérias (Baker e Louda, 1986

apud Peters e Moldowan, 1993).

Page 55: Apostila Geoquímica

55

6.2) Famílias de compostos: estruturas químicas

Os compostos biomarcadores são divididos em famílias, em função do número

aproximado de subunidades de isopreno que contém. As várias famílias são compostas

por estruturas acíclicas e cíclicas. Alguns exemplos de biomarcadores pertencentes a

essas categorias podem ser observados nas figuras 18 e 19. Os hemiterpanos (C5),

monoterpanos (C10), sesquiterpanos (C15), diterpanos (C20) e os sesterpanos (C25),

contêm respectivamente, 1, 2, 3, 4 e 5 unidades de isopreno. Os triterpanos (hopanos)

e esteranos (C30) diferem na estrutura, mas ambos são derivados de seis unidades de

isopreno, enquanto tetraterpanos (C40) contêm 8 unidades. Os que têm 9 ou mais

unidades são os politerpanos (Devon e Scott, 1972 e Simoneit, 1986 apud Peters e

Moldowan, 1993).

Page 56: Apostila Geoquímica

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Figura 18: Exemplos de classes de biomarcadores acíclicos presentes no petróleo (modificado de Peters e Moldowan, 1993).

Page 57: Apostila Geoquímica

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Figura 19: Exemplos de classes de biomarcadores cíclicos presentes no petróleo (modificado de Peters e Moldowan, 1993).

Page 58: Apostila Geoquímica

58

6.3) Estereoquímica dos compostos policíclicos satu rados alquilados

Dentre os terpenóides cíclicos encontram-se os hopanos e os esteranos. Os

hopanos com mais de 30 átomos de carbono são chamados de homohopanos, o

prefixo homo se refere à adição de grupos CH2 à cadeia lateral ligada ao carbono 21 da

molécula do hopano. Os homohopanos apresentam, normalmente, cadeias laterais

longas contendo um átomo de carbono assimétrico na posição 22, gerando a série de

homohopanos C31, C32, C33, C34, C35 com seus respectivos epímeros 22R e 22S

(Peters e Moldowan, 1993).

Os hopanos são compostos por três séries estereoisômeras, conhecidas por:

17β(H), 21β(H) – hopanos, 17β(H), 21α(H) – hopanos, 17α(H), 21β(H) – hopanos.

Compostos da série βα são também chamados de moretanos. A notação α e β indica a

posição do átomo de hidrogênio, ligado ao carbono 17 ou 21 do ciclo, em relação ao

plano que contem os ciclos, acima (α) ou abaixo (β). Hopanos com a configuração

17α(H), 21β(H) variando de 27 a 35 átomos de carbono são característicos do petróleo

devido à sua grande estabilidade termodinâmica, quando comparados com as outras

séries epiméricas (ββ e βα). A série ββ (22R), conhecida como configuração biológica,

geralmente não é encontrada no petróleo em função de sua instabilidade térmica

(Bauer et al., 1983, apud Peters e Maldowan, 1993).

6.4) Identificação cromatográfica de compostos biom arcadores do petróleo

através da CG/EM

A modalidade de cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas

mais empregada na análise quantitativa de biomarcadores do petróleo já identificados é

a de Detecção de Múltiplos Íons (MID–Multiple Ion Detection), algumas vezes chamada

de Monitoramento Seletivo de Íons (SIM–Selected Ion Monitoring). Essa modalidade é

usada no estudo de classes de compostos como esteranos e hopanos, através da

definição da razão massa/carga (m/z) do fragmento base (o de maior abundância

relativa, no espectro de massa do principal representante da família) gerado por todos

os componentes de uma família (Steen, 1986 apud Peters e Moldowan, 1993).

Page 59: Apostila Geoquímica

59

Na técnica de Monitoramento Seletivo de Íons são escolhidos íons específicos ou

valores de m/z, obtendo-se perfis de distribuição chamados de cromatogramas de

massas de famílias de compostos que possuem estruturas moleculares semelhantes

entre si. No caso dos biomarcadores os íons mais usados são: triterpanos (m/z=191) e

esteranos (m/z=217) observados nas figuras 35 e 36 para o óleo do campo de

Albacora, Bacia de Campos. Para os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

alquilados: naftalenos (m/z=157 e 170), fenantrenos (m/z=192), dibenzotiofenos

(m/z=198), fluorenos (m/z=180), e esteróides triaromáticos (m/z=231 e 245).

Figura 35: Cromatograma de massas dos terpanos (m/z=191) do óleo de Albacora

1 Tricíclico C20

2 Tricíclico C21

3 Tricíclico C22

4 Tricíclico C23

5 Tricíclico C24

6 Tricíclicos C25 α e β

7 Tetracíclico C24, Tricíclicos C26 α e β

8 Tricíclicos C28 α e β

9 Tricíclicos C29 α e β

Page 60: Apostila Geoquímica

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10 C27 18 α (H) 22, 29, 30 Trisnorneohopano (Ts)

11 C27 17 α (H) 22, 29, 30 Trisnorhopano (Tm)

12 C29 17 α 21 β 30 norhopano

13 C30 17 α 21 β hopano

14 C31 17 α 21 β homohopanos 22 S e 22 R

15 C32 17 α 21 β homohopanos 22 S e 22 R

16 C33 17 α 21 β homohopanos 22 S e 22 R

17 C34 17 α 21 β homohopanos 22 S e 22 R

18 C35 17 α 21 β homohopanos 22 S e 22 R

Figura 36: Cromatograma de massas dos esteranos (m/z=217) do óleo de Albacora

1 C27 13 β, 17 α diacolestano 20 S

2 C27 13 β, 17 α diacolestano 20 R

3 C27 5 α, 14 α, 17 α, colestano 20 S

4 C27 5 α, 14 β, 17 β, colestano 20 R

5 C27 5 α, 14 β, 17 β, colestano 20 S

6 C27 5 α, 14 α, 17 α, colestano 20 R

7 C28 5 α, 14 α, 17 α, ergostano 20 S

Page 61: Apostila Geoquímica

61

8 C28 5 α, 14 β, 17 β, ergostano 20 R

9 C28 5 α, 14 β, 17 β, ergostano 20 S

10 C28 5 α, 14 α, 17 α, ergostano 20 R

11 C29 5 α, 14 α, 17 α, estigmastano 20 S

12 C29 5 α, 14 β, 17 β, estigmastano 20 R e 20 S

13 C29 5 α, 14 α, 17 α, estigmastano 20 R

6.5) Biomarcadores indicadores de paleoambiente dep osicionais, input orgânico

em rochas geradoras, e avaliação da maturação térmi ca da rocha geradora

Os esteranos são hidrocarbonetos da classe dos triterpanos tetracíclicos,

Aqueles que possuem 27 átomos de carbono são chamados de colestanos, 28 átomos

de carbono de ergostanos, e com 29 átomos de estigmastano (figura 20). Entre os

precursores naturais dos esteranos, os mais abundantes são o colesterol presente em

animais e algas planctônicas, β-sitosterol e estigmasterol em vegetais superiores e o

ergosterol em fungos (Chosson et al., 1991). Durante a diagênese os esteróis são

convertidos à esteranos mantendo a configuração tridimensional biológica ααα 20R

(5α (H), 14α (H), 17α (H), 20R) de seus precursores. A temperaturas de soterramento

mais elevadas é gerada uma série adicional de esteranos, termodinamicamente mais

estável, αββ (5α (H), 14β (H), 17β (H)). Simultaneamente, ocorre uma isomerização na

cadeia lateral de algumas moléculas, levando a uma mistura de epímeros, o biológico

20R e o geológico 20S, gerando as séries ααα 20R, ααα 20S, αββ 20 R e αββ 20S dos

esteranos C27, C28 e C29 (Seifert e Moldowan, 1979 apud Chosson et al., 1991; Peters e

Moldowan, 1993). Na figura 20 são apresentadas as estruturas básicas de esteranos e

de hopanos com seus respectivos sistemas de numeração.

Os biomarcadores são utilizados na caracterização da qualidade da matéria

orgânica presente na rocha geradora, das condições de paleoambiente deposicional, e

da paleotemperatura em que um determinado tipo de petróleo foi gerado, fornecendo

informações importantes sobre correlações óleo X rocha geradora e óleo X óleo (Seifert

Page 62: Apostila Geoquímica

62

e Moldowan, 1980 apud Peters e Moldowan, 1993; Mackenzie, 1984; Tissot e Welte,

1984; Philp, 1985, Petrov, 1987apud Peters e Moldowan, 1993).

Figura 20: Fórmulas estruturais de esteranos e hopanos (Peters e Moldowan, 1993).

Os biomarcadores também são usados no estudo dos parâmetros envolvidos nos

processos de migração e de preenchimento de reservatórios de petróleo (Seifert, 1977

e 1978 apud Peters e Moldowan, 1993; Seifert e Moldowan, 1978 apud Peters e

Moldowan, 1993; Seifert et al., 1984 apud Peters e Moldowan, 1993).

Além de possuírem razoável resistência térmica os compostos biomarcadores são

também resistentes à degradação microbiana, servindo como parâmetro de avaliação

do nível de biodegradação dos componentes de um óleo presente num reservatório

(Restle, 1983; Connan, 1984; Wardroper et al., 1984; Peters, 2000), ou derramado no

meio ambiente natural (Chosson et al., 1991; Wang e Fingas, 1994; Roques et al.,

1994; Moldowan et al., 1995). Outra aplicação mais recente está relacionada à

responsabilidade legal por derrames de petróleo e derivados no meio ambiente, através

da identificação do perfil de biomarcadores presente no óleo derramado, característico

para cada tipo de óleo, e da sua comparação com o perfil de biomarcadores do óleo

Page 63: Apostila Geoquímica

63

proveniente da suposta fonte poluidora (Wang e Fingas, 1995; Wang et al. 1996; Wang

e Fingas, 1998; Wang et al., 2001).

INPUT DE MATÉRIA ORGÂNICA :

• Abundância relativa de tricíclicos terpanos: proveniente de algas Tasamanites

• Oleanano: proveniente de Angiospermas, a partir do Cretáceo superior;

• n-alcanos impares>pares: matéria orgânica terrestre

• Envelope caixote: matéria orgânica terrestre

• n-alcanos de mais alto peso molecular: matéria orgânica terrestre;

• n-alcanos de mais baixo peso molecular: matéria orgânica marinha

• Abundãncia relativa do n-C17 ou n-C19: algas Tasmanites

PALEOAMBIENTE:

• Gamacerano; paleoambiente com elevada anoxia;

• Inversão do índice dos homohopanos: elevada salinidade;

• Presença dos isoprenóides i-C25 e i-C30: elevada salinidade

• Presença de ββββ - carotano: elevada salinidade

• Pr/Ph > 1: paleoambiente disóxico – óxico

• Pr/Ph< 1: paleoambiente anóxico

MATURAÇÃO: • C17, C21ααααββββ /C17,C21ββββαααα hopanos – equilíbrio 90 – 100% início da janela de

maturação;

• 22S/22S+22R – equilíbrio 60% - antes do pico de geração do óleo

• αααααααααααα (20S+20R)/αααααααααααα (20S+20R) + ααααββββββββ (20R+20S) – equilíbrio 75% no pico da

janela de geração

• 20S/20S+20R – equilíbrio 60%, antes do pico de geração de óleo.

BIODEGRADAÇÃO

• n-alcanos: Inicia-se pelos n-alcanos de mais baixo peso molecular;

Page 64: Apostila Geoquímica

64

• Os hopanos: denominados nor, são produtos da biodegradação Ex.: C29 nor

hopanos.

7) Geoquímica orgânica aplicada à produção de petró leo

A geoquímica orgânica desempenha um papel fundamental em avaliações

regionais de bacias sedimentares e na caracterização de sistemas petrolíferos através

do mapeamento das áreas de geração de hidrocarbonetos, caracterização dos tipos de

óleo e estabelecimento de modelos de geração, migração e acumulação.

Nos últimos anos, a sua aplicação tem se voltado para um detalhamento em escala de

reservatório, visando identificar heterogeneidades composicionais dentro de um mesmo

campo de petróleo, com implicações importantes para o entendimento da história de

preenchimento do reservatório e/ou sua compartimentação, fornecendo subsídios para

o desenvolvimento das estratégias de produção e desenvolvimento dos campos de

petróleo.

7.1) Introdução à geoquímica de reservatório

A geoquímica de reservatório pode ser considerada uma importante ferramenta

na caracterização dos reservatórios, pois fornece correlações importantes na variação

espacial do óleo, água e minerais encontrados, podendo indicar ainda a localização da

cozinha de geração e dos caminhos de migração desta até o reservatório, bem como a

maturidade e o volume de óleo produzido.

O petróleo entra no reservatório nas camadas litologicamente mais grosseiras

pela migração de duas fases: óleo e água. Os fatores que controlam o preenchimento

não são claros, mas dentre eles estão a flotabilidade natural do óleo e as forças

capilares. A flotabilidade natural empurra o óleo e o gás para cima, e as forças

capilares facilitam a percolação do óleo em locais com baixa pressão de poro. Pela

heterogeneidade das camadas portadoras de óleo, espera-se que as forças capilares

dominem a migração, mas em grande escala quem dominará é a flotação.

Page 65: Apostila Geoquímica

65

Inicialmente o óleo entra no reservatório dendriticamente, podendo alcançar

apenas uma parte da trapa, mas estendendo-se para as demais áreas com o aumento

na quantidade de óleo. Quando a saturação nos poros da rocha reservatório atingir

mais de 50%, os mecanismos de mistura serão capazes de reduzir ou eliminar as

diferenças composicionais. Tais misturas podem também ser decorrentes dos

processos de biodegradação ou de water washing.

7.2) Tipos de reservatórios: Homogêneos e heterogên eos

As variações composicionais observadas em escala de reservatório são

pequenas, no entanto para se assegurar uma maior precisão para o significado

geoquímico dessas heterogeneidades deve-se incluir um tratamento estatístico dos

dados, obtido através de parâmetros da engenharia (particularmente a relação óleo/gás

e a densidade dos fluidos do reservatório). Os dados devem ser integrados dentro de

um contexto de campo, e as tendências observadas devem seguir padrões coerentes

com os demais dados, evitando-se, assim, variações mínimas que estejam associadas

à margem de erros analíticos. Assim esta combinação geoquímica/engenharia permite

a construção de uma estrutura cientificamente consistente.

Uma das premissas básicas dos estudos de geoquímica de reservatório é a de

que variações laterais (entre poços) na composição das amostras de óleo são mantidas

como resposta ao processo de preenchimento do reservatório (England, 1989) que se

deu mediante uma migração secundária. Já as heterogeneidades verticais (dentro de

um mesmo poço) estabilizam-se mais rapidamente em função de processos de difusão

e efusão. Desta forma, gradientes composicionais podem laterais podem fornecer

informações sobre a direção de preenchimento do reservatório, compartimentação do

campo e grau de mistura do petróleo.

Visando mapear heterogeneidades composicionais, uma das primeiras análises

realizadas é a cromatografia gasosa “whole-oil” enfocando compostos ramificados na

faixa de C10 a C20. Estes compostos são geralmente picos menores nos

cromatogramas, ocorrendo entre os n-alcanos que são picos dominantes. Algumas

razões selecionadas entre esses compostos são plotadas em diagramas do tipo

Page 66: Apostila Geoquímica

66

estrela, permitindo a comparação de várias amostras de óleo de um mesmo

reservatório em um gráfico único. Como a identificação e o significado geoquímico

desses picos não são sempre conhecidos, são necessárias análises adicionais para o

entendimento da causa das variações composicionais observadas. Esse estudo é

geralmente realizado através de análise de biomarcadores, os quais permitirão verificar

se as heterogeneidades observadas são devidas a variações no ambiente deposicional

da rocha geradora, mistura de óleos derivados de mais de uma geradora, diferentes

graus de maturação ou níveis variáveis de biodegradação.

A metodologia analítica empregada nos estudos da geoquímica de reservatório é

basicamente a mesma utilizada nos trabalhos de geoquímica para exploração, como,

por exemplo, pirólise, cromatografia líquida e gasosa, análise de biomarcadores por

CG/EM, isótopos de carbono, etc. Entretanto, novas classes de compostos estão sendo

enfocadas por essas metodologias visando a caracterização de um grande número de

amostras e/ou o detalhamento de compostos que forneçam informações sobre a

direção de migração. Uma metodologia bastante utilizada para a rápida caracterização

de várias amostras de óleo dentro de um mesmo campo é a cromatografia gasosa

detalhando a faixa de compostos leves, obtendo-se, assim, parâmetros de correlação e

maturação para óleos leves e/ou condensados. Por outro lado, a cromatografia gasosa

de alta temperatura é utilizada na caracterização e quantificação de n-alcanos de alto

peso molecular que podem ocasionar a precipitação das parafinas no reservatório.

7.3) Aplicação da geoquímica na avaliação de reserv atórios: Casos reais.

8) Geoquímica orgânica aplicada ao monitoramento e remediação da poluição

ambiental causada por petróleo

8.1) Identificação dos responsáveis legais por derr ames de óleo e derivados

A identificação precisa da origem de óleos derramados no meio ambiente é um

desafio para os geoquímicos do petróleo. Entretanto, durante as duas últimas décadas

tem-se observado um grande avanço nas técnicas e metodologias de análise de

Page 67: Apostila Geoquímica

67

hidrocarbonetos em amostras de diferentes tipos de petróleo, derivados e em amostras

complexas relacionadas à contaminação ambiental. Entre as técnicas mais usadas

encontra-se a cromatografia em fase gasosa, na identificação do perfil ou fingerprint de

n-alcanos e isoprenóides de amostras de petróleo e derivados. Esta análise fornece

uma “impressão digital” geoquímica característica para cada tipo de petróleo e

derivados produzidos nas mais distintas regiões da Terra.

Na análise de perfis de compostos policíclicos aromáticos e de biomarcadores,

característicos do tipo de matéria orgânica que deu origem ao petróleo, do

paleoambiente em que foi depositada e do grau de maturação termal, aplica-se a

técnica de cromatografia gasosa acoplada a um espectrômetro de massas. Os

compostos biomarcadores policíclicos têm desempenhado um importante papel na

identificação de óleos derramados no meio ambiente, por serem mais resistentes aos

processos de intemperismo e à biodegradação.

Na distribuição de derivados do petróleo, gasolina principalmente, os principais

problemas ambientais são causados por contaminação de solos e aqüíferos,

resultantes de vazamentos em tanques subterrâneos de poços de gasolina, em função

da falta de manutenção preventiva. O monitoramento deste tipo de contaminação pode

ser feito de forma rotineira, através da coleta de amostras de água subterrânea ou do

solo nas regiões próximas aos tanques, e da verificação da presença de

hidrocarbonetos típicos do petróleo, através de análises geoquímicas.

8.2) Monitoramento dos processos de intemperismo so bre óleos derramados no

meio ambiente

Algumas propriedades físicas do petróleo devem ser consideradas na

avaliação de seu comportamento quando derramado no mar. A mais importante é a

viscosidade ou resistência ao fluxo. A viscosidade de um óleo define sua taxa de

espalhamento no mar e está relacionada à maioria dos outros processos de

intemperismo, principalmente devido a sua variabilidade em função da temperatura

ambiente. A densidade relativa (d) define a facilidade com que um óleo flutua em água.

Uma forma de se expressar densidade, especialmente para o petróleo, é através da

Page 68: Apostila Geoquímica

68

medida do grau API - American Petroleum Industry (API o = 141,5 / d -131,5). Vale

lembrar que o grau API foi calculado de forma que seu valor para água pura, medido a

15,6 oC, fosse igual a 10. Na tabela abaixo estão relacionados alguns valores de

densidade e grau API medidos em amostras de petróleo.

Tabela : Correlação entre grau API e densidade relativa (modificado de North, 1985).

oAPI 30 33 36

Densidade (kg/l) 0,876 0,860 0,845

Em função dos valores de API o os óleos são classificados como leves ou

pesados, isto é, possuindo uma maior ou menor concentração de compostos de baixo

peso molecular, respectivamente. Normalmente, os óleos cujos valores são inferiores a

25 API o são considerados pesados e acima desse valor leves. A biodegradação reduz

o grau API o dos óleos e aumenta, relativamente, os teores de compostos NSO pela

remoção de saturados e aromáticos (Fingas, 1994; Hunt, 1995).

Quando um derrame de petróleo ocorre no mar, o óleo está sujeito a processos

de intemperismo, que podem ocorrer simultaneamente, mas a diferentes velocidades.

A velocidade e a extensão desses processos dependem das propriedades físicas e

químicas do óleo original e de condições ambientais, como: temperatura, velocidade e

direção dos ventos e das correntes marinhas. Na figura abaixo são mostrados os

principais processos de intemperismo sofridos pelo petróleo após derrame no mar.

Em um estágio inicial, os processos mais importantes que alteram a

composição e o comportamento de um derrame de óleo no mar são:

• Evaporação dos componentes mais voláteis do óleo.

• Formação de emulsão óleo em água.

• Dispersão natural.

A evaporação é a responsável pelas mudanças mais importantes ocorridas no

óleo durante um derrame. Em poucos dias um petróleo leve, dependendo da sua

composição, pode perder até 75% de seu volume e os médios até 40%. Nos ambientes

tropicais, as temperaturas elevadas fazem com que a perda por evaporação dos

Page 69: Apostila Geoquímica

69

componentes voláteis do petróleo seja mais rápida, diminuindo seus efeitos tóxicos

sobre a microflora local. A perda dos componentes leves por evaporação causa um

aumento na viscosidade e na densidade do óleo derramado na superfície do mar. A

evaporação também pode provocar mudanças nas propriedades do óleo, em função da

precipitação de compostos de peso molecular elevados como resinas e asfaltenos,

alterando suas propriedades de fluxo.

A emulsificação, mistura de líquidos não miscíveis, acontece através do

equilíbrio de cargas elétricas existentes entre a superfície das pequenas gotas de óleo

e as moléculas de água ao seu redor. Ela causa um aumento no volume do poluente,

quando comparado com o volume do óleo derramado inicialmente, em função da

quantidade de água que é incorporada ao óleo durante a emulsificação. Os valores de

viscosidade da emulsão óleo - água também são maiores que os do óleo original. A

formação do chamado mousse diminui a disponibilidade do óleo ao processo de

evaporação e de biodegradação, conduzido por microrganismos naturalmente

presentes no mar .

PROCESSOS DE INTEMPERISMO SOBRE O PETRÓLEO NO MAR

Espalhamento

Direção doVento Evaporação

Foto-oxidaçãoEstiramento

Espalhamento Emulsificação

Direção da

Corrente

Assoalho Marinho

DissoluçãoDispersão

Biodegradação por organismos da coluna d`água

Biodegradação por organismos do fundo do mar

Sedimentação

Page 70: Apostila Geoquímica

70

Figura : Processos de intemperismo sobre o óleo derramado no mar. Fonte: Pattern Recognition Associates, Texas, 1996.

Estudos foram desenvolvidos sobre a estabilidade das emulsões óleo-água,

através da medida do teor de resinas e asfaltenos e secundariamente, pelas

propriedades visco-elásticas das emulsões (Fingas et al., 1996b). A principal conclusão

desta pesquisa foi que a presença de resinas e asfaltenos nos óleos ajudou na

estabilização da emulsão óleo – água, devido a esses compostos possuírem, em suas

moléculas, partes hidrofílicas e lipofílicas, fazendo-os agir como agentes tenso-ativos.

A dispersão natural do petróleo no mar é o terceiro fator mais importante dos

processos de intemperismo. A dispersão é caracterizada pelo movimento de gotas de

óleo, com tamanhos que variam de 1 a 50 microns, na coluna d’água, intensificado pela

turbulência das ondas. Estudos mostraram que a dispersão ocorre preferencialmente

com os componentes da fração de hidrocarbonetos saturados e que a presença de

quantidades significativas de asfaltenos retarda esse processo, pois como exposto

anteriormente, os compostos polares do petróleo estabilizam a emulsão óleo-água. A

dispersão do óleo em pequenas gotas favorece o seu contato inicial com os

microrganismos degradadores de hidrocarbonetos naturalmente presentes no mar, e

portanto, o processo de biodegradação.

O processo de dissolução ocorre somente em uma pequena porção do óleo,

mas é considerado um parâmetro importante na avaliação ecotoxicológica de um

derrame, pois envolve a solubilização parcial dos compostos aromáticos de baixos

pesos moleculares extremamente tóxicos aos organismos aquáticos, em função do seu

potencial carcinogênico e neurotóxico.

O espalhamento e o estiramento da mancha de óleo sobre a superfície do mar

é facilitado pela tensão superficial existente entre a superfície da água e o óleo, devido

a sua característica hidrofóbica. Os mecanismos de espalhamento e estiramento da

mancha dependem, principalmente, da viscosidade do petróleo e seus

comportamentos são observados na previsão da extensão da área contaminada. O

espalhamento é responsável por tornar as bordas das manchas de óleo mais

espessas, enquanto que o estiramento alonga e alinha as manchas na direção do

vento.

Page 71: Apostila Geoquímica

71

Outros processos também contribuem para a alteração da composição química

do petróleo e seus derivados no meio ambiente, entre eles está a foto-oxidação. A foto-

oxidação é uma reação de oxidação catalisada pela radiação ultravioleta do sol. Nem

todos os componentes do petróleo são sensíveis à radiação ultravioleta. Resultados

analíticos mostram que os compostos saturados não sofreram alterações significativas

e que os mais atingidos pela radiação são, principalmente, os fenantrenos,

dibenzotiofenos e crisenos alquilados. O aumento dessa sensibilidade está diretamente

relacionado ao número de substituições de radicais alquilas nas moléculas.

O processo de sedimentação do petróleo é iniciado após o aumento de sua

densidade, como resultado da ação dos outros processos de intemperismo sobre a

mancha de óleo. A sedimentação pode ocorrer por adsorção do óleo intemperizado ao

material particulado, como argila em suspensão na água do mar, especialmente se o

óleo contiver teores acima de 10% de compostos polares. A ingestão do óleo por

zooplactons e sua posterior excreção associado às pelotas fecais também é um dos

mecanismos pelos quais se processa a sedimentação do petróleo.

Muitos microrganismos possuem a habilidade de utilizar hidrocarbonetos como

única fonte de carbono e energia. Esses microrganismos aumentam sua biomassa, isto

é, crescem e se reproduzem às custas, principalmente, do consumo de carbono

orgânico. A biodegradação de componentes do petróleo nos mais variados ambientes

naturais é mediada primariamente por microrganismos dos grupos das bactérias e dos

fungos. As bactérias representam um grupo muito diverso de microrganismos presente

em toda a biosfera. Elas possuem características especiais como: crescimento e

metabolismo acelerados, e a habilidade de se ajustar rapidamente a uma variedade de

ambientes. Essas características fazem das bactérias os agentes mais comumente

envolvidos nos processos naturais de biodegradação.

A exposição continuada de uma comunidade microbiana a hidrocarbonetos, tanto

de fontes antropogênicas como nos casos de derrames acidentais de óleo, quanto de

fontes naturais como exudações, leva à adaptação dos microrganismos, tendo como

resultado o aumento progressivo de seu potencial de biodegradação .

O conhecimento dos fatores abióticos envolvidos na biodegradação dos

hidrocarbonetos do petróleo é muito importante. Os principais fatores são: o conteúdo

Page 72: Apostila Geoquímica

72

de água, a temperatura ambiente, o pH do meio líquido, a presença de materiais

tóxicos como metais, o tipo e a quantidade da fonte de carbono, a disponibilidade de

oxigênio e de nutrientes inorgânicos como nitrogênio e fósforo.

Estudos realizados em laboratório e no campo têm mostrado que os

hidrocarbonetos saturados e aromáticos e as frações de resinas e asfaltenos, diferem

em relação à suscetibilidade ao ataque microbiano, normalmente seguindo uma ordem

decrescente de biodegradabilidade relativa: n-alcanos > iso-alcanos > aromáticos de

baixo peso molecular > alcanos cíclicos (incluindo os biomarcadores, esteranos >

hopanos) > esteróides aromáticos > aromáticos de elevado peso molecular > resinas e

asfaltenos (Peters e Moldowan,1993).

8.3) Avaliação da eficiência da aplicação de método s de remediação de áreas

contaminadas por óleo ou derivados.

Solos, praias e manguezais contaminados com hidrocarbonetos, normalmente,

são identificados como antigos locais de operação de E&P de petróleo, locais de

derrames acidentais de hidrocarbonetos, resultante do transporte marinho e terrestre

de óleo, ou ainda, locais de descarte de água e/ou resíduos de refinaria contaminados.

A aplicação de técnicas de remediação desses ambientes não é simples, devido

a complexa estrutura dos diferentes tipos de solos, sedimentos de praia e de

manguezal, e a presença de sólidos dissolvidos e hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos

podem ser encontrados no estado líquido ou vapor nos poros de solo e sedimentos,

flutuando ou dissolvidos em águas subterrâneas.

Os processos de remediação são aplicáveis a solos contaminados, águas

subterrâneas, sedimentos de praias e manguezais, e água do mar em regiões próximas

à costa, como baías. Os processos de remediação mais comuns são: Processo natural,

bombeamento e tratamento, lavagem com água, vaporização , escavação e tratamento

e biorremediação.Biorremediação é uma técnica de despoluição de ambientes

contaminados, que se baseia na aceleração do processo natural de biodegradação de

determinadas substâncias no meio ambiente (Adamassu e Korus, 1996; King et al.,

1997). A biorremediaçao pode ser aplicada a um grande número de contaminantes

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73

químicos, assim como a diferentes categorias de resíduos. Essas categorias podem ser

observadas na figura abaixo, que representa um levantamento do uso da técnica de

biorremediação no território norte americano, realizado pela Agência de Proteção

Ambiental (Environmental Protection Agency), na década de 90 (Cookson, 1995).

P e t r ó le o3 3 %

C r e o s o t o2 8 %

S o lv e n te s O r g â n ic o s

2 2 %

P e s t i c id a s9 %

O u t r o s8 %

Figura : Os mais importantes tipos de resíduos onde se aplica a técnica de biorremediação. Fonte USA, EPA/540/N-93/001 apud Cookson, 1995.

A técnica de biorremediação pode ser conduzida através do aumento da

população microbiana, responsável pelo processo de biodegradação, com a adição

direta de microrganismos à região contaminada: Bioaumentação . A adição de culturas

mistas de microrganismos alóctones tem como objetivo aumentar a taxa e/ou a extensão

da biodegradação, pois, normalmente, a população autóctone não está adaptada, e nem

é capaz de degradar toda a gama de substratos presentes em uma mistura complexa

como o petróleo (King et al., 1997).

Culturas mistas são produzidas com microrganismos coletados de regiões

contaminadas, e escolhidos usando critérios de seleção, tais como: habilidade de

degradar a maioria dos componentes do petróleo, boa estabilidade genética, elevado

grau de atividade enzimática, capacidade de competir com os microrganismos

autóctones, manutenção da viabilidade das células durante a estocagem, ausência de

patogenicidade e crescimento rápido no meio ambiente natural. Após o isolamento, os

microrganismos são bioaumentados em laboratório e estocados (Hoff, 1992; Baker e

Herson, 1994).

Outra forma de se conduzir a biorremediação é pela aceleração da reprodução

microbiana e de suas atividades metabólicas, técnica conhecida como bioestimulação,

Page 74: Apostila Geoquímica

74

através da adição de oxigênio, água, micronutrientes na forma de traços de metais e

principalmente, da aplicação de compostos contendo nitrogênio e fósforo ao ambiente

contaminado (Hoff, 1993; King et al., 1997; Santas et al., 1999).

Compostos de nitrogênio são essenciais na biossíntese de proteínas e ácidos

nucleicos pelos microrganismos. O fósforo é um componente vital dos ácidos nucleicos,

dos fosfolipídios que compõem as membranas celulares e também desempenha um

papel central no processo de transferência de energia dentro da célula, através da

molécula de adenosina trifosfato, ATP (Atlas, 1977; Rosenberg et al., 1996).

O uso de nutrientes ricos em nitrogênio e fósforo, com o objetivo de acelerar ou

estimular a biodegradação de óleos em sedimentos de praia, é muito difundido. Isto

pode ser explicado pelo fato de que a concentração destes compostos, no ambiente

marinho, é reduzida, pois são rapidamente assimilados pela maioria dos microrganismos

(Pritchard e Costa, 1991; Pritchard et al.,1992; Bragg et al., 1994).

A biorremediação com a aplicação de nutrientes envolve uma variedade de

técnicas e produtos comerciais. Alguns dos nutrientes são desenvolvidos

especificamente para uso em derrames de petróleo e outros para uso na agricultura,

como os fertilizantes. Esses produtos comerciais podem ser agrupados em três

categorias: nutrientes inorgânicos solúveis em água, formulações oleofílicas e aquelas

chamadas de slow release, com solubilização lenta dos componentes.

Um programa de monitoramento da técnica de biorremediação deve incluir:

1) Medida da eficiência da biorremediação em função das alterações químicas de

compostos como hidrocarbonetos, usando métodos cromatográficos. Os parâmetros

clássicos mais usados são: Empobrecimento dos n-alcanos e alterações significativas

nas concentrações de outros compostos, incluindo os isoprenóides pristano (P) e fitano

(F). Óleos levemente biodegradados apresentam uma diminuição nos valores das

razões n-C17/P e n-C18/F, quando comparados àqueles não biodegradados (Winters e

Willians, 1969 apud Peters e Moldowan, 1993).

Nos casos mais severos de biodegradação, os óleos são caracterizados pela

ausência do envelope de n-alcanos e pela presença de uma mistura complexa de

compostos que não puderam ser separados por cromatografia, chamada de UCM –

unresolved complex mixture. Nesses casos, será necessário o uso de outro parâmetro,

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75

como os 25-norhopanos, que incluem uma série de compostos identificados em óleos

biodegradados, como resultado da remoção microbiana de um grupo metila de hopanos

regulares (Reed, 1977, apud Peters e Moldowan, 1993).

2) Condução de testes para avaliar a ecotoxicidade do petróleo e dos agentes de

biorremediação sobre organismos aquáticos, através de bioensaios. Monitoramento de

possíveis impactos ambientais sobre ecossistemas marinhos através de análises

químicas de sedimentos e da água, para detectar a presença de compostos

potencialmente tóxicos, que podem vir a fazer parte do produto usado na biorremediação

ou de eventuais metabólitos da biodegradação.