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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Centro de Ciências Agrárias - Departamento de Ciências do Solo APOSTILA DE DISCIPLINA (AK0015) MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA Profa. Dra. Mirian Cristina Gomes Costa Fortaleza, CE Maio - 2013

Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Centro de Ciências Agrárias - Departamento de Ciências do Solo

APOSTILA DE DISCIPLINA (AK0015)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Profa. Dra. Mirian Cristina Gomes Costa

Fortaleza, CE

Maio - 2013

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PARTE I – ENTENDENDO A IMPORTÂNCIA DO MANEJO E CONSERVAÇÃO DO

SOLO E DA ÁGUA

1 Introdução

1.1 O crescimento da população mundial e a necessidade de aumentar a

produção de alimentos

Estudo conduzido pela ONU (Organização das Nações Unidas) aponta para

alguns aspectos que devem ser levados em consideração ao pensar na importância

do uso do solo para a agropecuária. Dentre esses aspectos se destacam:

a) Crescimento da população mundial (Figuras 1A e 1B);

No que se refere ao aumento da população mundial, em 2008, a ONU divulgou

relatório que apresenta estimativa em relação ao número de habitantes em escala

planetária para o ano de 2050, que poderá atingir 9,2 bilhões de pessoas. De acordo

com a pesquisa, o crescimento da população deve ocorrer de forma significativa

somente nos países em desenvolvimento, no caso dos países desenvolvidos as

mudanças serão modestas.

Figura 1A. Crescimento populacional (Fonte : United Nations: words Population

Prospects: The 2006 Revision (2007)

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12

Figura 1B. Crescimento populacional mundial em diferentes cenários no futuro

(Fonte: Millenium Ecosystem Assessment)

b) Aumento da produção total e per capita de alimentos, porém em

gradientes muito menores para o segundo caso (Figura 2);

Para alimentar a produção mundial crescente, a agricultura desempenha

papel fundamental. O sucesso atual da agricultura, em escala global, deve ser

reconhecido, uma vez que este satisfez a demanda crescente de alimentos durante

a última metade do século XX.

Nas últimas quatro décadas, a produção global de alimentos cresceu cerca de

170%. Em 2005, em uma área de 47 milhões de hectares, foram colhidos 2,5 vezes

mais grãos (120 milhões de toneladas) (BORTOLOZZO, 2009). Assim, em 2050, o

Brasil terá a capacidade de produzir um bilhão de toneladas de grãos. Este sucesso

na produção de alimentos se deve aos avanços científicos e às inovações

tecnológicas, como por exemplo, o desenvolvimento de novas variedades de

plantas, o uso de fertilizantes e defensivos e aperfeiçoamento de sistemas de

irrigação (Quadro 1).

No entanto, apesar do sucesso da agricultura, a base de produção está sendo

comprometida. Isso acontece porque os recursos naturais (solo, água e a própria

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diversidade natural genética) estão sendo excessivamente degradados e porque há

uma grande dependência de combustíveis fósseis não renováveis.

c) Redução dos preços de produtos agrícolas (Figura 2);

A agricultura brasileira vem se desenvolvendo e modernizando, destacando-

se como atividade de alto valor econômico e social, com tendência de crescimento

acentuado em curto prazo. A amplitude dos mercados interno e exteno e a tendência

de aumento da produção de alimentos contribuem para a dinâmica de redução dos

preços dos produtos agrícolas.

Figura 2. Produção de alimentos mundial e per capita, preços e número de pessoas

subnutridas Millenium (Ecosystem Assessment).

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Quadro 1 - Produtividade, área plantada, custo atual e renda diferencial proporcionada pela geração de pesquisa aplicada às

culturas do algodão e cajueiro em diferentes sistemas de produção no Nordeste brasileiro

Sistema de Produção

Região

Produtividade

(kg/ha)

Área plantada

atual no NE (ha)

Custo atual

(R$/Kg)

R$/arroba)

Renda potencial

diferencial gerada

pela pesquisa9/ (R$)

Algodão herbáceo NE 4951/ 283.8581/ 9,187/ 1.289.879.138,00

Algodão arbóreo1 NE 2631/ 26.2241/ 9,187/ 63.313.652,20

Algodão mocó (1º ano) Seridó, PB, RN 5002/ 26.2241/ 9,187/ 57.054.507,80

Algodão mocó (2º ano) Seridó, PB, RN 8002/ 26.2241/ 9,187/ 129.275.404,00

Algodão 7MH Seridó, PB, RN 1.3502/ 26.2241/ 9,187/ 261.680.380,00

Algodão herbáceo de sequeiro Sudoeste da Bahia 1.1002/ 283.8581/ 9,187/ 1.576.518.946,00

Algodão herbáceo de sequeiro Sertão, PB 1.7002/ 283.8581/ 9,187/ 3.140.008.810,00

Algodão herbáceo irrigado Sertão, PB, CE 2.9502/ 283.8581/ 9,187/ 6.397.279.360,00

Cajueiro gigante (castanha de

caju)3

CE, RN, PB 2093/ 647.4996/ 0,908/ 121.794.562,00

Cajueiro anão precoce de

sequeiro (castanha de caju)4

CE, RN, PB 7234/ 647.4996/ 0,908/ 299.533.037,00

Cajueiro anão precoce de

irrigado (castanha de caju)4

CE, RN, PB 1.2865/ 647.4996/ 0,908/ 627.620.781,00

1 - Média para a safra 1996/1997 de acordo com Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (1977), citado por Beltrão

(1999); 2 - Produtividades médias conforme Beltrão (1999); 3 - Produtividade média dos anos de 1989 a 1998, conforme banco de

dados do Centro Nacional de Agroindústria Tropical (CNPAT) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA); 4 -

Produtividade média de cajueiro anão precoce em condições de sequeiro de oito anos de produção; 5 - Produtividade média de

cajueiro anão precoce em condições irrigadas de cinco anos de produção; 6 - Área plantada para a safra 1995/1996 conforme

IBGE, citado por Silva (1998); 7 - Fonte: Folha de São Paulo (1999); 8 - Preço médio das áreas produtoras de Acarape (R$1,00) e

Acaraú (R$0,80), Ceará. Fonte: Diário do Nordeste (1999); e 9 - Renda diferencial = {Área plantada (ha) X produtividade do

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sistema de produção considerado (com aplicação de pesquisa) (kg/ha) X custo atual (R$/kg)} - {Área plantada (ha) X produtividade

do sistema de produção médio nas áreas produtoras (kg/ha), indicada pelos itens 1,2 e 3 X custo atual (R$/kg)}.

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12 1.310.0001.320.000

1.330.0001.340.000

1.350.0001.360.000

1.370.0001.380.000

1.390.0001.400.000

1.410.0001.420.000

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Ano

Te

rra

s a

ve

is (

10

00

ha

)

d) Redução da área agrícola e de pastagens nos países desenvolvidos e

aumento da área agrícola e de pastagens nos países em desenvolvimento

(Figura 3);

Países desenvolvidos, em virtude à maior ênfase em atividades industriais,

apresentam redução na área utilizada na agropecuária, concentrando as áreas de

produção e buscando a máxima eficiência produtiva. Já nos países em

desenvolvimento, vastas áreas são ocupadas com atividades ligadas à

agropecuária, mas muitas vezes os sistemas de produção são de baixa eficiência.

f) Redirecionamento do uso atual da terra nos países desenvolvidos

(Figura 4);

Em função das condições edafoclimáticas desfavoráveis e até mesmo da

necessidade de manter áreas de preservação de espécies nativas, áreas antes

destinadas ao uso para a agricultura estão sendo convertidas em áreas de

manutenção de florestas, tornando necessário estabelecer formas de repor os

alimentos que antes eram produzidos nessas áreas.

g) Redução da disponibilidade de novas áreas cultiváveis (Figura 5).

Aspectos desfavoráveis do ponto de vista do clima e do solo, a perda de

que se tornaram improdutivas em virtude da degradação dos solos, bem como a

necessidade de manter as áreas de preservação têm levado à redução na

disponibilidade de novas áreas cultiváveis. Neste sentido são levantados

importantes questionamentos: Como produzir alimentos para uma população cada

vez mais crescente? Como produzir alimentos em condições potencialmente

limitadas de área disponível?

Para poder responder estas perguntas é necessário o entendimento das

conseqüências das práticas atuais que estão comprometendo a produtividade

ecológica, atual e futura, dos campos agrícolas.

1.2 Condições técnicas que comprometem a produtividade ecológica (atual e

futura) e que são conseqüentes das atividades agrícolas predominantes nos

campos agrícolas atuais

a) Degradação do solo: pode envolver a salinização, alagamento,

compactação, contaminação por defensivos, perda da qualidade da estrutura,

perda de fertilidade e erosão;

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Figura 5. Área de terras aráveis mundiais (FAOSTAT, 2006)

b) Desperdício e uso exagerado de água: a agricultura é responsável por

2/3 do uso global da água e é uma das principais causas de sua falta em muitas

regiões. Mais da metade da água aplicada nas culturas não é absorvida pelas

plantas;

c) Poluição do ambiente: Incluem-se como poluentes os defensivos, os

fertilizantes e sais, além de sedimentos. Vários são os exemplos de poluição e um

deles é o caso do Pantanal Mato-Grossense. Lá, nas áreas de cultivo de soja,

cana-de-açúcar, algodão e milho na região do planalto que circunda a planície

pantaneira, bem como nas áreas de arroz irrigado na própria planície (como no

Pantanal do rio Miranda), o uso excessivo de defensivos está contaminando uma

das mais importantes e ainda conservadas áreas úmidas do mundo. Além da

agricultura intensiva praticada nas terras altas que, nos últimos 40 anos, não tem

respeitado a legislação que obriga a manter conservadas as áreas de proteção

permanente, como as matas ciliares (matas ao longo dos rios e córregos) e as

áreas de nascentes, bem como as áreas de reserva legal.

d) Dependência de insumos externos: os altos rendimentos da

agricultura atual estão relacionados ao aumento do uso de insumos agrícolas:

água para irrigação, fertilizantes, corretivos, defensivos, energia para máquinas e

bombas e na tecnologia necessária ao desenvolvimento de novos insumos;

e) Perda da diversidade genética: a diversidade genética geral das

plantas domesticadas diminuiu, muitas variedades foram extintas e outras têm

caminhado nesta direção. Apenas seis variedades de milho, por exemplo, são

responsáveis por mais de 70% da produção mundial deste grão. Esta perda ocorre

por conta da ênfase da agricultura convencional em ganhos de produtividade em

curto prazo. Contudo, a vulnerabilidade de uma cultura com uma base genética

restrita é muito maior com relação ao ataque de pragas, patógenos (que adquirem

resistência a agrotóxicos e aos compostos de defesa da planta), clima e outros

fatores ambientais;

f) Redução da participação da população rural sobre a produção

agrícola: há uma diminuição da população rural diretamente envolvida com a

produção agrícola, tanto nos países desenvolvidos como nos em

desenvolvimento. Pequenos produtores não podem bancar o custo de atualização

de equipamentos e tecnologia agrícola para competir de maneira bem-sucedida,

com as operações da produção em grande escala;

g) Desigualdade global: apesar dos aumentos na produtividade e

produção, a fome persiste no mundo. Enormes disparidades quanto a ingestão de

calorias e a segurança alimentar entre pessoas de nações desenvolvidas e

aquelas de nações em desenvolvimento. As relações de desigualdade tendem a

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promover políticas e práticas agrícolas que são dirigidas mais por considerações

econômicas do que pela sabedoria ecológica e pensamento em longo prazo. Por

exemplo, agricultores deslocados pela produção para exportação dos grandes

proprietários de terras, são freqüentemente forçados a cultivar terras marginais,

não aptas à agricltura. Os resultados são os desmatamentos, a erosão severa e o

dano social e ecológico sério.

2 O uso do solo no nordeste brasileiro/Ceará

Grande parte da economia agrícola nordestina está fortemente sustentada

na exploração dos recursos naturais, principalmente no que se refere ao

extrativismo da cobertura vegetal, ao superpastejo em pastagens nativas e a

exploração agrícola sem qualquer tipo de preocupação conservacionista (Sampaio

& Salcedo, 1997) (Quadro 2). Araújo Filho & Carvalho (1996) comentam que 73%

do consumo de energia primária para a indústria de alguns estados nordestinos

têm como fonte o carvão e a lenha e, em termos globais, o uso destas fontes

atende 33% do consumo de energia.

Quadro 2. - População total e rural no semi-árido em 1991, bovinos + caprinos no

NE em 1995, produção de lenha e carvão em 1989, área irrigada no

semi-árido em 1985 e áreas degradadas no NE*

EF População bovino

s

ovinos lenha Carvão área

irrigad

a

Áreas degradadas

tota

l

Rural caprino

s

MF F-MF F M

---------106-------- 106 m3 103 Mg 103 ha 103 km2

PI 2,6 1,2 1,98 3,21 1,73 6,3 13,6 5,9 0,5 7,9 0,6

CE 6,3 2,2 2,10 2,31 12,16 49,9 67,3 42,5 8,8 5,1 20,

6

RN 2,4 0,7 0,57 0,45 5,36 23,4 17,5 9,0 1,4 2,6 6,0

PB 3,1 1,1 0,86 0,68 1,90 22,5 16,2 21,1 6,9 3,0 4,3

PE 3,4 1,6 1,27 1,49 2,81 70,1 50,4 16,3 7,2 1,5 -

AL 0,9 0,5 0,80 0,18 1,30 6,4 4,9 0,9 - - -

SE 0,5 0,3 0,91 0,20 0,87 6,4 6,6 2,7 - - -

BA 5,8 3,2 10,02 6,76 20,36 135,3 71,9 20,3 6,7 1,6 -

Tota

l

25,

0

10,8 18,51 15,26 46,49 320,3 248,3 118,7 31,6 21,8 31,

5

MF = muito forte; F = forte; M = moderada.

(Adaptado de SAMPAIO, E.V.S.B. & SALCEDO, 1997)

Sampaio & Salcedo (1997) comentam que, considerando a produção média

de lenha das caatingas que é de 24 m3 ha-1 (ou 70 estéreo ha-1) utilizando o fator

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de conversão de lenha para carvão de 12,5 estéreo Mg-1 (PNUD-FAO-IBAMA,

1992), estes números corresponderiam ao corte raso de 5,0x103 km2 no Ceará,

2,2x103 km2 no Rio Grande do Norte, 0,8x103 km2 na Paraíba e 1,2x103 km2 em

Pernambuco.

São proporções anuais pequenas (1,2 a 4,3%) mas, como a vegetação leva

de 10-15 anos para recuperar mais de 90% da biomassa original, afeta áreas

totais 10 a 15 vezes maiores. Os autores comentam que tais retiradas, associadas

às áreas agrícolas, são responsáveis pela maior parte das áreas desmatadas

nestes estados, o que corresponde a 53% (CE), 66% (RN), 49% (PB) e 55% (PE),

em 1992, tendo crescido 5%, 21%, 9% e 10% em 19 anos (PNUD-FAO-IBAMA-

SUDENE, 1993).

Estes dados tornam bastante evidente que as reservas florestais naturais

estão sendo utilizadas para o suprimento desta demanda, com graves

conseqüências, perfeitamente perceptíveis, a começar pela redução da

biodiversidade (flora e fauna), inclusive com espécies ameaçadas de extinção

(Figueiredo et al., 1994), a redução do potencial de produção agrícola de solos,

bem como suas conseqüências sócio-políticas que se tornam evidentes pela

migração sempre crescente do meio rural.

A lista de espécies ameaçadas de extinção no Ceará relaciona 38 espécies

de plantas, a grande maioria arbóreas, incluindo o angico-preto, o angico branco,

a aroeira, o bálsamo, a braúna, o caroá, o cedro, a craibeira, o cumaru, o gonçalo

alves etc.

Todos estes fatores em conjunto culminam com a degradação do ambiente.

Tal realidade é comprovada por Sá et al. (1994) que realizaram levantamento de

áreas degradadas no nordeste brasileiro. Os autores indicaram que os estados da

Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco apresentam proporções

equivalentes a 64, 53, 36 e 25%, respectivamente, da superfície destes estados,

entre os níveis de degradação moderado, forte a muito forte. Predominantemente

os níveis identificados estão associados a Luvissolos, Planossolos e os Neossolos

Litólicos, solos nos quais o binômio algodão-pecuária, juntamente com a

exploração da vegetação para produção de lenha, madeira e carvão, foram os

principais agentes de degradação.

No Ceará, os 53% equivalem a 77.000 km2, de um total de 148.016 km2

0

50

100

150

200

250

1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996

Anos

Pro

du

tivi

dad

e m

éd

ia (

kg/h

a)

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16

com grande parte ocupada por Luvissolos, Planossolos e os Neossolos Litólicos.

As conseqüências da perda da qualidade destes solos se refletiram na queda da

produtividade do algodão mocó no estado do Ceará, no passado o maior produtor

do país (Figura 6).

Figura 6. Produtividade media do algodão-mocó, de 1973 a 1996, no estado do

Ceará, Brasil (EMBRAPA, 1996)

3 A necessidade de sistemas sustentáveis de produção de alimentos

A produção agrícola pode ser aumentada principalmente de três maneiras:

a) incorporação de novas áreas de produção; b) aumento nos ciclos de cultivo (ex:

culturas de “safrinha”) ou c) aumento da produtividade.

Como já visto, a abertura de novas frentes agrícolas nem sempre é

possível, pois muitas áreas devem ser destinadas à preservação, principalmente

se não forem aptas ao uso agrícola. Já o aumento nos ciclos de cultivo dependerá

do desenvolvimento de técnicas relacionadas ao melhoramento genético das

culturas, viabilizando ciclos mais curtos, bem como do desenvolvimento de

técnicas relacionadas à irrigação para garantir a produção agrícola fora da estação

chuvosa. Já o aumento da produtividade é uma opção bastante viável a ser

trabalhada, pois o manejo adequado dos sistemas de produção pode fazer com

que a produtividade das culturas seja aumentada de forma bastante satisfatória.

O aumento na produção de alimentos a partir de aumentos de produtividade

deve ser fundamentado na sustentabilidade, ou ainda, deve ser uma produção

sustentável. A sustentabilidade ou produção sustentável pode ser definida como a

condição capaz de perpetuar a colheita de biomassa de um sistema, porque sua

capacidade de se renovar ou ser renovado não é comprometida. Como a

perpetuidade nunca pode ser demonstrada no presente, a prova de

sustentabilidade permanece no futuro, fora do alcance.

Assim, é impossível se saber, com certeza, se uma determinada prática

agrícola é, de fato, sustentável ou se um determinado conjunto de práticas

constitui sustentabilidade. Contudo, é possível demonstrar que uma prática está

se afastando da sustentabilidade, principalmente se aprendermos a identificar os

efeitos desejáveis de uma agricultura sustentável, como:

a) Efeitos negativos mínimos no ambiente e não liberação de substâncias

tóxicas ou nocivas na atmosfera, água superficial ou subterrânea;

Page 12: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

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b) Preservação e recomposição da fertilidade, prevenção da erosão e

manutenção da saúde ecológica do solo;

c) Uso da água de maneira que permita a recarga dos depósitos aqüíferos e

satisfaça as necessidades hídricas do ambiente e das pessoas;

d) Depender, principalmente, de recursos de dentro do agroecossistema,

incluindo comunidades próximas, ao substituir insumos externos por ciclagem de

nutrientes, melhor conservação e uma base ampliada de conhecimento ecológico;

e) Trabalhar para valorizar e conservar a diversidade biológica, tanto de

paisagens silvestres quanto de paisagens domesticadas;

f) Garantir igualdade e acesso às práticas, conhecimento e tecnologias

agrícolas adequados e possibilitar o controle local dos recursos agrícolas.

4 A agricultura irrigada no nordeste brasileiro e a sua sustentabilidade

As ações voltadas para a expansão das áreas irrigadas merecem destaque,

pois esta discussão pode estar inserida numa abordagem mais ampla e de

complemento aplicado do conceito de sustentabilidade. No nordeste as áreas

irrigadas são consideradas privilegiadíssimas, já que nesta região a água é um

recurso escasso, sendo considerada potencial e importante fonte de geração de

renda e emprego.

Embora seja apontada como solução salvadora do Nordeste brasileiro, esta

atividade só é rentável e sustentável se realizada de forma adequada, por meio de

técnicas que maximizem a eficiência do uso da terra e da água, promovendo

assim, a redução de custos operacionais e impactos ambientais.

No estado do Ceará são poucos os perímetros que mantém essa

sustentabilidade econômica. Alguns perímetros irrigados implantados no passado

apontam vários erros, inclusive de engenharia, que devem ser considerados no

presente e futuro, evidenciando principalmente a falta de tecnologia e assistência

técnica, como razão para o comprometimento destas áreas. O uso atual de

algumas áreas irrigadas indica que a degradação do solo pela compactação e

salinização já é uma realidade, como, por exemplo, os casos da Chapada do

Apodi e Morada Nova.

O potencial comprometedor do uso inadequado dos recursos na

sustentabilidade destas áreas é elevado, pois quaisquer outras práticas a serem

adotadas para minimizar as conseqüências deste uso, comprometem a sua

viabilidade econômica. Contudo, não resta dúvida que a irrigação é uma técnica

que pode conduzir a sustentabilidade de algumas áreas do semi-árido, mas não

deve ser considerada a única.

Page 13: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

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Assim, tecnologia para o aumento da eficiência dos recursos naturais (solo

e água), do trabalho e do capital deve ser uma busca incessante, principalmente

se for considerado que o potencial de área a ser explorado com o uso da irrigação

não ultrapassa 5% (Sampaio & Salcedo,1997), considerando a baixa

disponibilidade hídrica no semi-árido brasileiro. Somente por esse valor é evidente

que a irrigação não se tornará a única opção para viabilizar a exploração agrícola

fundamentada na sustentabilidade no semi-árido.

A área passível de irrigação no Ceará é de 2%. O custo de 1 ha irrigado

está em torno de US$ 12.000,00 e de 1.000 m3 de água por volta de US$ 20,00. A

proporção de área não irrigável é elevada. A busca da sustentabilidade no semi-

árido passa, necessariamente, pela complementaridade do uso agrícola das áreas

irrigadas e das não irrigadas, devendo haver opções de uso agrícola racional e

sustentável, tanto em nível local, regional e nacional. Na realidade, o fato que se

nota é o esforço concentrado no desenvolvimento de tecnologia e expansão da

área irrigada, e muito pouco para a convivência com a deficiência hídrica.

5 O conceito de agroecossistema (um pouco de agroecologia)

Um agroecossistema é um local de produção agrícola, uma propriedade

agrícola, por exemplo, compreendido como um ecossistema. Este conceito

proporciona uma estrutura onde se pode analisar os sistemas de produção de

alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e

produção e as interconexões entre as partes que o compõem.

É um conceito que se baseia em princípios ecológicos, tendo como

referência os ecossistemas naturais. Examinam-se os aspectos estruturais e os

funcionais. Então, os agroecossistemas são descritos em termos de como eles se

comparam estrutural e funcionalmente com os ecossistemas naturais.

Um ecossistema pode ser definido como um sistema funcional de relações

complementares entre organismos vivos e seu ambiente, delimitado por fronteiras

escolhidas arbitrariamente, as quais, no espaço e no tempo, parecem manter um

equilíbrio dinâmico, porém estável. Um ecossistema tem partes físicas com

relações particulares (a estrutura do sistema), que juntos participam de processos

dinâmicos (a função do sistema).

Os componentes estruturais básicos do ecossistema são: fatores bióticos

(organismos vivos que interagem no ambiente) e fatores abióticos (componentes

químicos e físicos não vivos do ambiente, como solo, luz, umidade e temperatura).

6 A organização nos ecossistemas

Os ecossistemas podem ser examinados em termos de uma hierarquia de

organização das partes que o compõem, sendo dividido em quatro níveis (Figura

7):

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19

a) No primeiro nível que é o mais simples está o organismo individual. Nele o

indivíduo é analisado quanto ao seu comportamento em resposta aos fatores do

ambiente e como o grau de tolerância particular do organismo a estresses no

ambiente determinará onde o mesmo viverá. Exemplo: a adaptação da bananeira

que a restringe nas regiões tropicais.

b) No segundo nível de organização ficam os grupos de indivíduos da mesma

espécie, sendo chamado de população. É importante entender a ecologia das

populações para determinar os fatores que controlam seu tamanho e crescimento,

especialmente com relação à capacidade do ambiente de sustentar uma

determinada população ao longo do tempo.

c) No terceiro nível de organização fica a comunidade, uma comunidade é

definida como um conjunto de várias espécies vivendo juntas em um determinado

lugar e interagindo. O importante neste nível é saber como as interações de

organismos afetam a distribuição e abundância das diferentes espécies que

constituem uma comunidade particular. A competição entre plantas em um

sistema de cultivo ou a predação de pulgões por joaninhas são exemplos de

interações neste nível em um agroecossistema.

d) E o quarto e mais abrangente nível de organização de um ecossistema é o

próprio ecossistema, incluindo todos os fatores abióticos do ambiente, além das

comunidades de organismos que ocorrem em uma área específica.

Uma característica importante dos ecossistemas é que em cada nível de

organização emergem propriedades que não estavam presentes no anterior,

resultantes da interação das partes componentes daquele nível de organização do

ecossistema. Uma população é muito mais que uma coleção de indivíduos da

mesma espécie e tem características que não podem ser compreendidas em

termos de organismos individuais. No contexto do agroecossistema, este princípio

significa, em essência, que a unidade agrícola é maior que a soma de seus

cultivos individuais. A sustentabilidade pode ser considerada a qualidade

emergente maior de uma abordagem de ecossistema à agricultura.

Page 15: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

20

Figura 7. Níveis de organização do ecossistema aplicados a um agroecossistema

(Fonte: Gliessman, 2001).

7 A propriedades estruturais das comunidades

Uma comunidade existe como resultado das adaptações das espécies que

compõem os gradientes de fatores abióticos que ocorrem no ambiente e como

resultado das interações entre populações dessas espécies. É importante

examinar detalhadamente as propriedades das comunidades, resultantes das

interações neste nível.

As propriedades estruturais de comunidades são:

a) Diversidade das espécies: é o número de espécies existentes em uma

comunidade;

b) Dominância e abundância relativa: em uma comunidade algumas

espécies podem ser relativamente abundantes e outras menos. A espécie com

maior impacto, tanto dos componentes bióticos quanto nos abióticos da

comunidade, é referida como a espécie dominante. A dominância pode ser

Page 16: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

21

resultado da relativa abundância do organismo, seu tamanho, seu papel ecológico

ou de quaisquer desses fatores combinados;

c) Estrutura vegetativa: comunidades terrestres apresentam um

componente vertical (um perfil com diferentes camadas) e outro horizontal

(agrupamentos ou padrões de associação). Aprende-se a reconhecer como

espécies diferentes ocupam lugares distintos nesta estrutura. Quando espécies

assumem formas semelhantes de crescimento, nomes mais gerais são dados a

esses conjuntos: pradaria, capoeira, floresta etc;

d) Estrutura trófica: cada espécie em uma comunidade tem necessidades

nutriticionais. Como essas necessidades são satisfeitas ante outras espécies, o

que determina a estrutura de relações alimentares é chamado de estrutura trófica.

A estrutura trópica é constituída por organismos produtores (autotróficas:

satisfazem suas necessidades de energia sem serem predadoras de outros

organismos) e consumidores (incluindo os herbívoros, predadores, parasitas e

parasitóides). Todos os consumidores são chamados heterotróficos (suas

necessidades nutritivas são satisfeitas consumindo outros organismos). Cada

nível de consumo é considerado nível trófico diferente. As relações tróficas podem

ser descritas como uma cadeia alimentar, dependendo de sua complexidade; e

e) Estabilidade: normalmente, a diversidade das espécies, a estrutura de

dominância (vegetativa e trófica) de uma comunidade permanecem razoavelmente

estáveis ao longo do tempo, embora indivíduos morram e deixem a área e o

tamanho relativo das populações mude. A estabilidade relativa de uma

comunidade depende enormemente do seu tipo e da natureza das perturbações

às quais ela está sujeita.

8 Os processos dinâmicos nos ecossistemas

O funcionamento dos ecossistemas envolve os processos dinâmicos de

movimento de matéria e energia e as interações e relações dos organismos e

materiais no sistema. É importante entender estes processos, tratando os

conceitos de dinâmica, eficiência, produtividade e desenvolvimento de

ecossistemas, especialmente de agroecossistemas, onde a função pode fazer a

diferença entre o fracasso e o sucesso de um cultivo ou de determinada prática de

manejo.

Os dois processos fundamentais em qualquer ecossistema são o fluxo de

energia entre suas partes e a ciclagem de nutrientes.

8.1. Fluxo de energia

O fluxo de energia em um ecossistema está diretamente relacionado a sua

estrutura trófica. A energia flui para dentro do ecossistema como resultado da

captação de energia solar pelas plantas (as produtoras do sistema), sendo a

Page 17: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

22

biomassa convertida nos diferentes níveis tróficos pelos demais componentes do

ecossistema (consumidores do sistema), liberando muito da energia que entrou na

produção da biomassa, sendo a remanescente devolvida ao solo como matéria

orgânica.

8.2. A ciclagem de nutrientes

A ciclagem de nutrientes nos ecossistemas está obviamente relacionada ao

fluxo de energia. Enquanto a energia flui apenas numa direção, os nutrientes, por

outro lado, movem-se em ciclos, dos componentes bióticos para os abióticos e

novamente para os bióticos. Como tanto os componentes bióticos como os

abióticos do ecossistema estão envolvidos nesses ciclos, estes recebem o nome

de ciclo biogeoquímicos.

Os ciclos biogeoquímicos são complexos e interconectados, além de que

muitos ocorrem em nível global que transcende ecossistemas individuais. Os

ciclos mais importantes são do carbono (C), nitrogênio (N), oxigênio (O), fósforo

(P), enxofre (S) e água. Cada nutriente tem uma rota específica através do

ecossistema, mas dois tipos principais são identificados.

Para os ciclos do C, O e N, a atmosfera funciona como o reservatório

abiótico principal, assumindo caráter global. Elementos menos móveis (P, S, K, Ca

e muitos micronutrientes) são ciclados localmente, pois o solo é o reservatório

principal.

Se uma quantidade grande de um nutriente for perdida ou removida de um

determinado sistema, ele pode se tornar limitante para o crescimento e

desenvolvimento posteriores. Os componentes biológicos de cada sistema são

muito importantes para determinar a eficiência com que os nutrientes se movem,

assegurando que o mínimo seja perdido e o máximo seja reciclado. A

produtividade pode tornar-se intimamente relacionada às taxas de reciclagem de

nutrientes.

9 A dinâmica dos ecossistemas naturais e agroecossistemas

As populações no ecossistema são dinâmicas, seu tamanho e os

organismos individuais que as compõem mudam com o tempo, sendo

determinadas também pelas interações com as outras e com o ambiente. As

interações possíveis de ocorrerem entre espécies numa população podem ser de

competição (adaptações similares e recursos insuficientes) ou de mutualismo

(espécies que desenvolvem formas de interação entre si, com benefícios para

ambas).

Os ecossistemas estão num constante estado de mudança dinâmica.

Apesar deste dinamismo interno, são notavelmente estáveis em sua estrutura e

funcionamento geral. Esta estabilidade se deve em parte à complexidade dos

Page 18: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

23

ecossistemas e à diversidade das espécies, tornando-os hábeis em resistir à

modificação que é introduzida por perturbação ou de se recuperar da perturbação,

depois que acontece.

Esta estabilidade geral combinada com a transformação dinâmica é

captada no conceito de equilíbrio dinâmico. Este equilíbrio é de considerável

importância em um ambiente agrícola, permitindo um equilíbrio ecológico e

funcionando com base no uso sustentável de recursos, que pode ser mantido

indefinidamente, a despeito da mudança continuada e regular na forma de

colheita, cultivo do solo e replantio.

A manipulação e as alterações humanas dos ecossistemas, com o

propósito de estabelecer uma produção agrícola, tornam os agroecossistemas

muito diferentes dos ecossistemas naturais. Contudo os processos, estruturas e

características dos ecossistemas naturais podem ser observados nos

agroecossistemas.

Os fluxos de energia e o movimento de nutrientes de um ecossistema

natural e um agroecossistema são mostrados nas Figuras 8 e 9 e no Quadro 4.

Page 19: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

24

Figura 8. Componentes funcionais de um ecossistema natural (Fonte: Gliessman,

2001).

Figura 9. Componentes funcionais de um agroecossistema natural (Fonte:

Gliessman, 2001).

Quadro 4. Diferenças ecológicas-chave entre ecossistemas naturais e

agroecossistemas.

Ecossistemas naturais Agroecossistemas

Produtividade líquida Média Alta

Interações tróficas Complexas Simples, lineares

Diversidade de espécies Alta Baixa

Diversidade genética Alta Baixa

Ciclos de nutrientes Fechados Abertos

Estabilidade (resiliência) Alta Baixa

Controle humano Independente Dependente

Page 20: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

25

Permanência temporal Longa Curta

Heterogeneidade do

habitat

Complexa Simples

Fonte: Gliessman (2001).

Uma comparação entre as figuras revela diferenças em vários aspectos

chaves:

a) Fluxo de energia: é bastante alterado em um agroecossistema pela

interferência humana. São sistemas abertos, onde parte considerável da energia é

dirigida para fora do sistema na época da colheita, em vez de ser armazenada na

biomassa que poderia, então, se acumular dentro do sistema;

b) Ciclagem de nutrientes: a reciclagem é mínima na maioria dos

agroecossistemas, perdendo quantidades consideráveis com a colheita ou como

resultado da lixiviação ou erosão, devido a grande redução nos níveis de

biomassa permanente mantido dentro do sistema. A reposição das perdas tem

ocorrido com nutrientes de insumos externos;

c) Mecanismos reguladores de produção: devido a simplificação do

ambiente e redução das interações tróficas em agroecossistemas, raramente

populações de plantas cultivadas ou de animais são auto-reprodutoras ou auto-

reguladoras. Os insumos humanos, na forma de sementes ou agentes de controle,

freqüentemente dependem de grandes subsídios de energia, determinando o

tamanho das populações. A diversidade biológica é reduzida, as estruturas tróficas

tendem a se tornar simplificadas e muitos nichos não são ocupados;

d) Estabilidade: os agroecossistemas, comparados aos ecossistemas

naturais, têm muito menos resistência, devido à sua reduzida diversidade

funcional e estrutural.

10 Ecossistemas naturais e agroecossistemas sustentáveis

Apesar dos contrastes agudos apontados, sistemas reais de ambos os tipos

existem num contínuo. Poucos ecossistemas naturais são verdadeiramente

naturais no sentido de serem completamente independentes da influência

humana. Por outro lado, os agroecossistemas podem variar bastante em sua

necessidade de interferência humana e insumos. Eles podem ser desenhados

para se aproximarem de ecossistemas naturais, em termos de características

como diversidade, ciclagem de nutrientes e heterogeneidade de habitats.

Fisicamente, os limites espaciais de um agroecossistema, como aqueles de

um ecossistema, são arbitrários, sendo na prática equivalente a uma unidade

produtiva rural individual, embora pudesse facilmente ser uma lavoura ou conjunto

de unidades vizinhas.

Page 21: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

26

É preciso distinguir entre o que é externo e interno em um agroecossistema,

principalmente quando se consideram os insumos, uma vez que algo não pode ser

um insumo a menos que venha de fora do sistema. A convenção seguida é usar a

fronteira espacial de um agroecossistema (explícita ou implícita) como a linha

divisória entre o interno e o externo. Insumos fornecidos pelo homem, ou seja,

qualquer substância ou fonte de energia de fora das fronteiras espaciais do

sistema constitui insumo humano externo (agrotóxicos, fertilizantes, sementes

híbridas, combustíveis fósseis, tratores, irrigação, trabalho humano não residente

na unidade produtivo). Há também insumos naturais: radiação solar, precipitação,

vento, sedimentos depositados por enchentes e os propágulos de plantas.

O desafio de criar agroecossistemas sustentáveis é o de alcançar

características semelhantes às de ecossistemas naturais, mantendo a produção

para ser colhida. No trabalho em direção à sustentabilidade, o responsável se

esforça, tanto quanto possível, para usar o conceito de ecossistema no desenho e

manejo do agroecossistema.

O fluxo de energia pode ser desenhado para depender menos de recursos

não renováveis, alcançando-se um equilíbrio melhor entre o uso de energia para

manter os processos internos do sistema e aquele disponível para a exportação,

na forma de produtos que podem ser colhidos. O produtor pode esforçar-se para

desenvolver e manter ciclos de nutrientes que sejam mais fechados possível, a fim

de reduzir as perdas de nutrientes do sistema e buscar maneiras sustentáveis de

fazer retornar, para a unidade produtiva, os nutrientes exportados.

Um agroecossistema deve incorporar a qualidade de ecossistema natural

de resiliência, estabilidade, produtividade e equilíbrio dinâmico necessário para

estabelecer uma base ecológica de sustentabilidade. À medida que se reduz o uso

de insumos humanos externos no controle dos processos do agroecossistema,

pode-se esperar uma mudança de sistemas dependentes de insumos artificiais

para sistemas desenhados para usar processos e interações de ecossistemas

naturais, além de materiais derivativos de dentro do sistema.

11. Bibliografia

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caatinga. In: ALVAREZ V., V.H.; FONTES, L.E.F. & FONTES, M.P.F., eds. O

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CIÊNCIAS DO SOLO. Anais. Rio de Janeiro, 1997. (CD ROOM).

Page 23: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

28

PARTE II – SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DAS TERRAS (CAPACIDADE DE

USO E APTIDÃO AGRÍCOLA – FAO/BRASILEIRO)

1 Introdução

A classificação de objetos naturais pressupõe o arranjo de indivíduos de

uma população em classes, organizando conhecimentos de forma que as

propriedades dos objetos possam ser relembradas e as relações entre eles

possam ser entendidas.

1.2 Tipos de classificação de solos

Em se tratando de solos, existe a classificação taxonômica (ou natural) e a

interpretativa (ou técnica). A classificação taxonômica permite agrupar solos em

função de grande quantidade de atributos comuns, sendo representada pelo

Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006). Já a classificação

interpretativa é aquela que permite agrupar solos em função de características de

interesse prático e específico, como ocorre nos sistemas de classificação da

Capacidade de Uso e Aptidão Agrícola das Terras – FAO/Brasileiro.

a) Classificação taxonômica (natural)

Considera-se um conjunto considerado simultâneo de atributos ou

propriedades relacionadas a origem do objeto a ser classificado.

Exemplos: Soil taxonomy; Sistema Brasileiro de Classificação de Solos

(Embrapa, 2006).

b) Classificação Interpretativa (técnica)

Alguns atributos ou propriedades são considerados, procura-se atender um

objetivo específico e de aplicação prática.

Exemplos: Capacidade de Uso, Aptidão agrícola (FAO/Brasileiro), Terras

para Irrigação.

Os levantamentos de informações que estão associados aos sistemas de

classificação taxonômica de solos constituem a fonte mais completa de dados que

podem ser utilizados na definição da aptidão agrícola das terras.

Estes levantamentos são, contudo, de custo elevado e requerem pessoal

técnico especializado, o que limita a sua utilização, pois a aplicação para a

definição da aptidão agrícola das terras requer detalhes em escala pequena.

Recomenda-se que sejam feitos ou utilizados levantamentos pedológicos

detalhados (escala 1:10.000 a 1:25.000) ou semi-detalhados (escala 1:25.000 a

1:100.000). O uso dos levantamentos de classes de solo disponíveis, como o do

Ceará (1:600.000), em escalas muito grandes, não fornecem os detalhes

necessários para a aplicação de sistemas de definição da aptidão agrícola em

nível de propriedade agrícola.

Page 24: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

29

A aptidão diz respeito à adaptabilidade das terras para um tipo específico

de utilização agrícola, pressupondo-se um ou mais distintos níveis de manejo.

Neste conceito, pressupõe-se a necessidade de informações, as quais deverão

ser utilizadas adotando-se um sistema de estratificação que permita a transmissão

de conhecimento de forma sistematizada e técnica, ou seja, com o uso de um

sistema de classificação. A determinação da aptidão agrícola pressupõe

planejamento de uso das terras.

2 Sistema de Classificação da Capacidade de Uso

2.1 Introdução

Este sistema foi estruturado pelo Serviço de Conservação do Solo dos

EUA. Sua grande contribuição foi a de ter influenciado todos os sistemas

subseqüentes que incluem a produção sustentada, ou seja, apresenta enfoque

conservacionista. É utilizado em várias partes do mundo e sofreu várias

adaptações.

Objetiva agrupar solos já mapeados nos EUA em classes de capacidade de

uso para programas de planejamento agrícola. Torna a informação já existente

nos levantamentos de solos (nível detalhado) mais acessível, de forma prática, ao

usuário. É uma interpretação dos mapas de solos dos levantamentos existentes

nos EUA. Nos países em que esta informação não está disponível, procurou-se

supri-la, mapeando-se atributos como declive, textura, permeabilidade etc. Porém,

isso limita bastante uma interpretação mais consistente.

2.2 Estrutura do Sistema de Capacidade de Uso

Grupos de Uso (3 grupos): Estabelecidos com base nos tipos de

intensidade de uso.

Classes de Uso (8 classes): Baseadas no grau de limitação de uso.

Subclasses de Uso (Índices): Baseadas na natureza da limitação de uso.

Unidades de Uso (Índices): Baseadas em condições específicas que afetam

o uso ou manejo da terra.

Classes de Capacidade de Uso:

Grupo A:

I até IV - com aptidão para culturas.

Grupo B:

Page 25: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

30

V - refere-se a classes de solos com problemas de drenagem,

pedregosidade ou de adversidade climática problemática para cultivos; e

VI e VII - necessitam de manejo especial.

Grupo C:

VIII - não apresentam retornos para insumos referentes a

manejo para culturas, pastagens ou florestas.

As classes de capacidade de uso (I a VIII) são as seguintes:

A - Terras cultiváveis:

Classe I - sem problemas especiais de conservação;

Classe II - problemas simples de conservação;

Classe III - problemas complexos de conservação; e

Classe IV - ocasionalmente ou em extensão limitada com

sérios problemas de conservação.

B - Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas

culturas permanentes e adaptadas, em geral, para pastagem ou reflorestamento:

Classe V - Sem necessidade de práticas especiais de

conservação;

Classe VI - com problemas especiais de conservação; e

Classe VII - com problemas complexos de conservação.

C - Terras impróprias para vegetação produtiva, próprias para

proteção da flora e da fauna silvestres, para recreação ou para armazenamento de

água.

Índices:

São adicionados às classes de aptidão definindo subclasses e

unidades de uso. São indicativos dos principais problemas em nível detalhado.

Subclasses:

Consideram-se quatro naturezas:

e: limitações pela erosão presente e/ou risco de erosão;

s: limitações relativas ao solo;

a: limitações por excesso de água; e

c: limitações climáticas.

Unidades de uso:

Especificam mais a natureza da limitação:

Page 26: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

31

Exemplos:

s-hi: limitação de natureza relativa ao solo e associada a

problemas de hidromorfismo;

s-pd: limitação de natureza relativa ao solo e associada a

problemas de pedregosidade;

s-di: limitação de natureza relativa a solo e associada a

distrofismo;

s-ti: limitação de natureza relativa a erosão e associada a

tiomorfismo;

etc.

Exemplos do Sistema de Classificação da Capacidade de Uso:

IIIpd-di Classe III, com problemas de pedregosidade e distrofismo.

IIi Classe II, com problemas de inundação.

2.3 Levantamento Utilitário das Terras

As informações necessárias para a aplicação do Sistema de Capacidade de

Uso são as características e/ou propriedades do perfil do solo (independente de

serem fatores limitantes ou não), a declividade do terreno, a erosão já sofrida pela

terra, uso atual, o estádio de desbravamento e outras características gerais da

propriedade.

2.3.1 Perfil do solo

Não necessariamente limitantes:

Profundidade efetiva: É a espessura máxima do solo em que as raízes não

encontram impedimento físico para penetrar livremente, facilitando a fixação da

planta e servindo como meio para a absorção de água e nutrientes.

Exemplos de impedimento físico considerado: presença de rocha

consolidada, fragipans, lençol freático sem possibilidade de rebaixamento por

drenagem, etc.

Page 27: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

32

Índices utilizados: 0: não identificada;

1: muito profundos (> 2 m);

2: profundos (1 a 2 m);

3: moderadamente profundos (0,5 a 1 m);

4: rasos (0,25 a 0,5 m);

5: muitos rasos (< 0,25 m).

Textura do perfil do solo: obtida a partir da análise granulométrica e do uso

do triângulo textural. Pode ser estimada em condições de campo pela sensação

ao tato da massa de solo úmida.

Principais grupamentos texturais utilizados:

0: não identificado;

1: textura muito argilosa;

2: textura argilosa;

3: textura média;

4: textura siltosa;

5: textura arenosa.

Permeabilidade do perfil do solo: capacidade que o solo apresenta de

transmitir água e ar. É a velocidade do fluxo através de uma secção transversal

unitária de solo saturado, sob determinado gradiente hidráulico.

Estimada pela análise conjunta de sua textura, friabilidade, estrutura e

quantidade de poros visíveis a olho nu.

0: não identificada;

1: rápida (> 150 mm/h);

2: moderada (5 a 150 mm/h); e

3: lenta (< 5 mm/h).

2.3.2 Fatores limitantes específicos

Fatores limitantes: critério diagnóstico que afeta adversamente o uso da

terra

São vários, cada um com os seus índices próprios:

Pedregosidade (pd);

Risco de inundação (i);

Caráter abrupto (ab);

Caráter vértico (vê);

Hidromorfismo (h);

Seca prolongada (se);

Geada ou vento frio (gd);

Page 28: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

33

Baixa saturação de bases ou caráter distrófico (di);

Capacidade de retenção de cátions muito baixa (ct);

Tiomorfismo (ti);

Sodicidade (so);

Salinidade (sl);

Presença de carbonatos (ca);

2.3.3 Características e/ou propriedades do solo de notação facultativa

São informações adicionais.

Classificação pedológica: devem ser notadas com razoável conhecimento

do levantador. Devem ser usadas notações do sistema de classificação vigente.

Cor do solo: notação adotada com referência a caderneta de Munsell.

Produtividade aparente: estimada pelo tipo de vegetação espontânea e

colheitas auferidas pelos agricultores.

Outras características: substrato geológico; vegetação primitiva; forma de

declive; e outras de interesse local.

2.3.4 Declividade do terreno

A: declives < 2%;

B: declives entre 2 e 5%;

C: declives entre 5 e 10%;

D: declives entre 10 e 15%;

E: declives entre 15 e 45%;

F: declives entre 45 e 70%;

G: declives > 70%.

2.3.5 Erosão

Expressa por meio de indicadores de tipo e grau de erosão:

Indicadores gerais:

A: Geral

0: presente, mas em grau não identificado;

: erosão não aparente, tal como ocorre em solos virgens recobertos

de vegetação.

B: Erosão laminar

Page 29: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

34

1: ligeira - já aparente, mas com < 25% do solo superficial removido

(horizonte A), ou quando não for possível identificar a profundidade normal do

horizonte A de um solo virgem, com mais de 15 cm do solo superficial (horizonte

A) remanescente;

2: moderada - com 25% a 75% do solo superficial removido

(horizonte A), ou quando não for possível identificar a profundidade normal do

horizonte A de um solo virgem, com 5 a 15 cm do solo superficial (horizonte A)

remanescente;

3: severa - com mais de 75% do solo superficial removido (horizonte

A) e, possivelmente com o horizonte B aflorando, ou quando não for possível

identificar a profundidade normal do horizonte A de um solo virgem, com menos

de 5 cm do solo superficial (horizonte A) remanescente;

4: muito severa - com todo solo já superficial removido (horizonte A)

e com o horizonte B bastante afetado (erodido), já havendo, em alguns casos, sido

removido em proporções entre 25 e 75% da profundidade original;

5: extremamente severa - com o horizonte B, em sua maior parte, já

removido, e com o C atingido, encontrando-se o solo praticamente destruído para

fins agrícolas;

6: símbolo reservado para áreas desbarrancadas ou translocações

de blocos de terra.

C: Erosão em sulcos

a: Freqüência dos sulcos

7: ocasionais - sulcos distanciados mais de 30 m;

8: freqüentes - sulcos distanciados a menos de 30 m, ocupando área

inferior a 75%;

9: muito freqüentes - sulcos distanciados a menos de 30 m,

ocupando área superior a 70 %.

b: Profundidade dos sulcos:

7, 8 e 9 (somente números) - sulcos superficiais, cruzados por

máquinas e que se desfazem com o preparo;

7, 8 e 9 (circundados por ) - sulcos rasos cruzados por máquinas e

que não se desfazem com o preparo;

7, 8 e 9 (circundados por ) - sulcos profundos, que não podem ser

cruzados por máquinas agrícolas e que ainda não atingiram o horizonte C;

7V, 8V e 9V - sulcos muito profundos que não podem ser cruzados

por máquinas agrícolas e que atingiram o horizonte C.

Page 30: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

35

Erosão eólica:

Tipos

L: litorânea

C: comtinental

Graus:

1: pequena ou ligeira;

2: regular ou moderada;

3: severa ou intensa.

2.3.6 Uso atual, nível tecnológico e estádio de desbravamento

Devem ser levantadas informações relativas ao uso atual nas diferentes

áreas da propriedade em que o levantamento será feito, bem como o nível

tecnológico adotado nestas áreas ou, então, o estádio de desbravamento das

áreas.

2.3.7 Características gerais da propriedade

Informações como benfeitorias (casas, currais, depósitos etc), cercas

divisórias, estradas internas e externas da propriedade, presença de barragens etc

devem ser levantadas e alocadas.

2.3.8 Notação das informações

Essas informações são representadas por símbolos e notações

convencionais, dispostos numa fórmula que sintetiza as condições encontradas

em cada área considerada homogênea.

Fórmula mínima:

atualusoerosãoedeclividad

dadepermeabilitexturaefetivadeprofundida

Fórmula obrigatória:

Page 31: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

36

atualusotestanilimfatoreserosãoedeclividad

dadepermeabilitexturaefetivadeprofundida

Fórmula máxima:

É a fórmula obrigatória acrescida de outros elementos passíveis de identificação.

A classificação pedológica, cor do solo e a produtividade aparente, quando

conhecidos ou identificáveis, poderão ser adicionados, optativamente, antes da

fração da fórmula.

Exemplo de uma fórmula máxima hipotética:

2122LpcMtalpd

72B

2/12/33p6/5YR5LV

2.4 Identificação da classe de capacidade de uso

A identificação da capacidade de campo é feita pela verificação das

diferentes propriedades levantadas e a identificação do grau de limitação, sendo a

definição da classe de capacidade de uso associada ao grau de limitação mais

severo das propriedades avaliadas. Essa definição passa pela associação de

graus de limitação a classes de uso do Sistema de Capacidade de Uso. No quadro

1 pode-se observar um exemplo de conversão de propriedades e graus de

limitações em classes de capacidade de uso. No entanto, este quadro deve ser

definido para as diferentes situações de ambiente, ou seja, um quadro utilizado

para a região da caatinga, certamente não é o mesmo da região dos cerrados,

assim como o quadro utilizado para a região dos Inhamus não é o mesmo para o

Maciço de Baturité.

Page 32: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

37

Quadro 1. Limitações, graus de limitações e parâmetros na avaliação de

propriedades do solo para o enquadramento em classes de

capacidade de uso das terras

Limitaçã

o

Grau

de

limitaç

ão

Parâmetros de avaliação Classes de capacidade de uso

M

O

N P K C

a

Mg Al

I II II

I

I

V V

V

I

VI

I

VI

II % mg.dm-3

Mmol.kg-1

Fertilidad

e

Alta 5 0,

2

5

>2

0

>2

,3

>4

2

>8 <3 * * * * * * * *

Média 3 0,

1

5

10 1,

2

31 4 7 * * * * * *

Baixa 1 0,

0

5

5 <1

,2

8 2 10 * * * * *

Muito

baixa

<1 <

0,

0

5

<5 <0

,6

<8 <2 >1

0

* * *

Profundid

ade

efetiva

Muito

profund

o

> 2 m

*

*

*

*

*

*

*

*

Produn

do

2 a 1 m * * * * * * * *

Modera

do

1 a 0,5 m * * * * * * *

Raso 0,5 a 0,25 m * * * * *

Muito

raso

<0,25 * * *

Permeabil

idade

Rápida > 15 cm/hora * * * * * * * *

Modera

da

15 a 5 cm/hora * * * * * *

Lenta < 5 cm/hora * * * *

Pedregosi

dade

Sem pedras * * * * * * * *

<1 % * * * * * * *

1 a 10 % * * * * * *

10 a 30 % * * * * *

30 a 50 % * * *

Page 33: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

38

>50 % * *

Risco de

inundação

Ocasio

nal

Recorrência de 5 ou mais anos * * *

Freqüe

nte

Recorrência entre 1 e 5 anos * *

Muito

freqüen

te

Todos os anos *

Classes de

declive

Plano 0 a 2% (Classe A) * * * * * * * *

Suave

ondulad

o

2 a 6 % (Classe B) * * * * * *

Ondula

do

6 a 13 % (Classe C) * * * * *

Forte

ondulad

o

13 a 25% (Classe D) * * * *

Montan

hoso

25 a 55% (Classe E) * * *

Escarpa

do

>55 % * *

Grau de

erosão

laminar

Não

aparent

e

Sem sinais perceptíveis de erosão * * * * * * * *

Ligeira Até 25 % do horizonte A

removido

* * * * * *

Modera

da

25 a 75% do horizonte A

removido

* * * * *

Forte Mais de 75 % do A removido e B

exposto

* * *

Muito

forte

A removido e B severamente

erodido

* *

Extrem

amente

forte

A e B removidos e horizontes C

exposto

*

Sulcos Superfi

ciais

Ocasionais: a menos de 30 m

entre si

* * * * * *

Freqüentes: a menos de 30 m

entre si

* * * * *

Muito freqüentes: ocupam mais * * * *

Page 34: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

39

de 75 % da área

Rasos Ocasionais * * * * *

Frequentes * * * *

Muito frequentes * * *

Profund

os

Ocasionais * * * *

Freqüentes * * *

Muito frequentes * *

Voçoroca

s

*

Page 35: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

40

2.5 Recomendações práticas para a execução do levantamento utilitário

Para a execução dos trabalhos de campo e escritório deverão ser adotadas

medidas que permitam não só o planejamento das atividades a serem

desenvolvidas, mas também a sua efetiva execução. Para tanto, deverão ser

avaliadas as condições de execução dos serviços (distâncias, área a ser

levantada, acomodações etc). Deverão ser previstas a utilização de equipamentos

e utensílios (trados, sacos plásticos, pranchetas, reservatório de água, GPS etc),

bem como todas as atividades e materiais de escritório para a edição do relatório

descritivo, como também dos mapas que comporão o produto final a ser entregue

ao solicitante dos serviços.

Mapas deverão ser utilizados, destacando-se aquele de campo que vai ser

utilizado para todas as anotações necessárias para a execução dos serviços. O

mapa base ou mapa de campo pode ser: fotografias aéreas; mapa planialtimétrico,

mapa de restituição e mapa planimétrico. Deverão ser compostos os seguintes

mapas ao final dos trabalhos: uso atual, capacidade de uso, levantamento do meio

físico, pedológico etc.

2.6 Exemplo de aplicação do Sistema de Capacidade de Uso

O caso do Assentamento Lages em Caridade – CE (Chaves, 2005).

Page 36: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

41

Figura 1. Classes de relevo do Assentamento Lages no município de Caridade-CE (Fonte: Chaves, 2005).

Page 37: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

42

Figura 2. Caracterísiticas e/ou propriedades do meio físico do Assentamento Lages no município de Caridade-CE (Fonte

Chaves, 2005).

Page 38: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

43

Figura 3. Classes de capacidade de uso do Assentamento Lages no município de Caridade-CE (Fonte: Chaves, 2005).

Page 39: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

44

Figura 4. Classes de solo do Assentamento Lages no município de Caridade-CE(Fonte: Chaves, 2005).

Page 40: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

45

3 Sistema de Aptidão Agrícola das terras (FAO/Brasileiro)

3.1 Introdução

Desenvolvido na década de 60, apresnetando características bastante

inovadoras:

a) Considera na sua estrutura os níveis de manejo: Os problemas dos

diferentes tipos de agricultores são diferenciados (Quadro 2).

b) Considera a estimativa de viabilidade de redução dos problemas (Quadro

3).

c) Estrutura permite ajustamento a novos conhecimentos permitindo

adaptações regionais;

Ajuste em função metodologia que sintetiza as qualidades do ecossistema

em cinco parâmetros:

Nutrientes (N);

Água (A);

Oxigênio (O);

Mecanização (M); e

Erosão (E).

Quadro 2. Níveis de manejo considerados no sistema FAO/Brasileiro

Nível de

manejo

Práticas agrícolas Capital aplicado no

melhoramento e conservação

do solo e lavouras

Trabalho

A Refletem baixo

nível tecnológico

Praticamente não é aplicado Principalmente braçal.

Alguma tração animal

com implementos

simples

B Refletem nível

tecnológico médio

Modesta aplicação Tração animal

C Refletem alto nível

tecnológico

Aplicação intensiva Mecanização em quase

todas as fases

Quadro 3. Classes de viabilidade de melhoramento no sistema FAO/Brasileiro

Classe Viabilidade de melhoramento

Classe a1 Melhoramento viável com práticas

simples e pequeno emprego de capital.

Classe b Melhoramento viável com práticas

intensivas e mais sofisticadas e

considerável aplicação de capital. Esta

classe ainda é considerada

economicamente compensadora.

Page 41: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

46

Classe c Melhoramento viável somente com

práticas de grande vulto; aplicadas a

projetos de larga escala que estão,

normalmente, além das possibilidades

individuais dos agricultores.

Classe d Sem viabilidade técnica ou econômica

de melhoramento.

1 – As letras minúsculas a, b e c são usadas, além da indicação da classe de

viabilidade de melhoramento, também para indicar aptidão para lavouras. Embora

seu uso fique bem claro no contexto, quando indica variabilidade de melhoramento

a letra é grifada.

3.2 Aplicação do sistema FAO/Brasileiro

a) Estimativa dos problemas:

É uma síntese da influência das propriedades do ecossistema;

Estimativa dos desvios N; A; O; E e M;

Estimar em relação a que?

Solo ideal X Solo real (Quadro 4)

Graus de desvios considerados:

Nulo = 0

Ligeiro = 1

Moderado = 2

Forte = 3

Muito forte = 4

Quadro 4. Relação entre solo ideal (i = 0, onde i = N,A,O,E e M) e solo real (i

0)

Parámetro Solo ideal

Solo real

Nutrientes N = 0 N 0

Água A = 0 A 0

Oxigênio O = 0 O 0

Suscetibilidade à erosão E = 0 E 0

Impedimentos a

mecanização

M = 0 M 0

Page 42: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

47

Estimativa de desvios subjetiva convergência de critérios.

É possível usar critérios de referência como auxílio nesta estimativa, não

ficando tão subjetiva assim (Quadro 5).

b) Estimativa da redução destes problemas, conforme nível de manejo

considerado:

É um balanço entre intensidade dos desvios e possibilidades, dificuldades e

conveniência de sua redução.

Deve-se considerar as opções dos vários níveis de manejo, refletindo

diferenças em insumos e técnica.

É uma estimativa da viabilidade de melhoramento.

Considera-se, no sistema, as classes de viabilidade de melhoramento.

Exemplos:

N = 4 para as Areias Quartzosas da Serra da Ibiapaba, antes do

melhoramento.

N = 1b, após melhoramento, mesmo aplicando fertilizantes e

corretivos (o melhoramento pode não eliminar toda a deficiência).

A viabilidade de melhoramento está intimamente ligada às condições sócio

econômicas, sintetizadas grosseiramente na forma de níveis de manejo.

Quadro 5. Grau de desvio (limitações) das condições agrícolas dos solos em

relação ao solo ideal, quanto a nutrientes ou fertilidade (N), disponibilidade de

água (A), oxigênio (O), suscetibilidade à erosão (E) e impedimentos à

mecanização

0 (nulo)

N Elevada reserva de nutrientes. Nem mesmo plantas exigentes respondem a

adubação. Ótimos rendimentos por mais de 20 anos. Ao longo do perfil:

V%>80%, S>6 cmolkg-1

, TAL=0, na camada arável, e condutividade elétrica

(CE) < 4 dSm-1

a 25 oC.

A Floresta perenifólia ou presença de lençol freático ou sub irrigação. Não há

deficiência de água em nenhuma parte do ano. Incluem-se áreas de campos

hidrófilos e subtropicais sempre úmidos. Quanto a A ,são possíveis dois cultivos

por ano.

O Aeração boa em qualquer época do ano – bem (D4) a expressividade drenados

(D1)

Page 43: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

48

E Após 10-20 anos: horizonte A permanece intacto. Erosão ligeira, que possa

ocorrer, é controlada facilmente. Plano, ou Quase (p), declive < 3%, e bem

permeável.

M Podem ser usados na maior parte da área, sem dificuldades, todo ano, todos os

tipos de maquinaria agrícola; rendimento do trator (% de horas efetivamente

usadas ), RT > 90% . Solos planos (p) ou suave ondulados (s) com < 8% de

declive, sem outros impedimentos à mecanização ( pedregosidade, rochosidade,

texturas extremas e tipos de argilas )

1 (Ligeiro)

N Boa reserva de nutrientes, boa produção por mais de 10 anos, com pequenas

exigências para manter produção depois. V > 50%, S >3, TAL < 30% ,

condutividade elétrica < 4dSm-1

e Tna < 6%. (Latossolos eutróficos, por

exemplo).

A Água disponível (Ad): pequena deficiência durante o período curto na estação de

crescimento. Só plantas bem sensíveis é que são prejudicadas no seu crescimento.

Floresta subperenífera (estação seca de 1 a 3 meses ). Em climas mais secos: solos

com lençol freático, condicionando boa disponibilidade de água às plantas, ou

irrigados. Aptidão para dois cultivos é marginal.

O Plantas de raízes mais sensíveis têm dificuldade na estação chuvosa;

moderadamente drenados (D5).

E Após 10-20 anos: <25% do horizonte A original da maior parte da área; Ap

formado de material A (exceto se A muito espesso), na maior parte da área.

Erosão bem controlada por culturas selecionadas (cana-deaçucar) ou cultivos

arbóreos ou parcelas pequenas. Suave ondulação (s), declives 3-8% (SSM: classe

1 da erosão).

M Maioria dos tipos de maquinaria sem ou com ligeira dificuldade, RT: 75-90%; (a)

suave ondulação (s),com 3-8% de declive sem outros impedimentos; (b) planos

com pedregosidade (0,05 a 1,0), rochosidade (2-10%) ou profundidade limitante;

(c) planos, com textura muito grosseira (arenosa, cascalhenta etc.), argilosa com

argila 2:1, ou problemas de drenagem.

2 (Moderado)

N Um ou mais nutrientes com reserva limitada. Bons rendimentos só nos poucos

anos iniciais. Reserva no solo ou no ciclo orgânico ou condutividade elétrica: 4-8

dSm-1

ou TNa 6-15%.(Latossolos não eutróficos sob florestas, por exemplo).

A Ad: deficiente durante período um tanto longo; plantas muito sensíveis podem ser

cultivas. Floresta subcaducifólia (estação seca de 3-6 meses ou 3, se arenoso).

Também floresta caducifólia com solos com alta capacidade de retençãodeAd.

Praticamente não há possibilidade de dois cultivos.

O Imperfeitamente drenados (D6) ou com risco permanente de inundação ocasional

Page 44: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

49

(recorrência:>5 anos).

E Após 10-20 anos; 25 a 75% do horizonte A é removido da maior parte da área; Ap

é constituído localmente do material de B. pequenas voçorocas podem ocorrer.

Controle à erosão deve ser intensivo. Cultivo de árvores sem a completa remoção

da vegetação ainda funciona bem, relevo ondulado, declive 8-20% (SSM: classe 2

da erosão).

M Só tipos mais leves de equipamento, algumas vezes só durante parte do ano,

tracionados por animais. Se usado trator, RT:50-75%; (a) ondulados,8-20% de

declive, sem outros impedimentos, se usado para agricultura formam-se sulcos

freqüentes e profundos; (b) declive <20%, com pedregosidade, rochosidade ou

profundidade limitante;; (c) planos, com textura muito grosseira (arenosa,

cascalhenta etc.), argilosa com argila 2:1, ou problemas de drenagem.

3 (Forte)

N Um ou mais nutrientes em pequenas quantidades permitem bons resultados só de

culturas adaptadas. O rendimento de outras culturas e pastagem é baixo. Cerrado

fechado ou terras exauridas ou condutividade elétrica:8-15 dSm-1

e TNa>15%

(por exemplo, Latossolos sob cerrado propriamente dito).

A Ad: grande deficiência. Só possível plantas mais adaptadas. Caatinga

hipoxerófila; floresta caducifólia; transições de cerrado e floresta para caatinga

(estação seca de 6 a 8 meses, 3 a 7 se arenoso); precipitação, P-600 a800 mm/ano

e irregulares, e temperatura alta, (T) é predominante).

O Culturas mais sensíveis, drenagem artificial, ainda viáveis ao nível do agricultor;

mal (D7) e muito mal drenado (D8) ou sujeitos a inundações freqüentes

(recorrência:1 a 5 anos).

E( Após 10-20 anos: >75% do horizonte A removido na maior parte da área. Ap

apenas localmente guarda vestígios do antigo A. Ocorre voçorocas rasas, com

algumas profundas. Controle é difícil, dispendioso ou inviável. Fortes ondulados

(f), declive 20-45% (SSM: classe 3 de erosão).

M Só implementos manuais na maior parte da área: (a) declive de 20-45%, forte

ondulado: se usado para agricultura, formam sulcos, constituindo forte

impedimento à mecanização ; (b) declive <20% com pedregosidade, rochosidade

ou solos rasos.RT<50%

4 (Muito Forte)

N Conteúdo de nutrientes muito restrito com possibilidade remota de agricultura,

Page 45: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

50

pastagem e reflorestamento. Somente plantas com muita tolerância conseguem

adaptar-se. Campo cerrado ou solos salinos com condutividade elétrica: >15dSm-1

ou tiomórficos. Exemplo: solos rasos álicos sob vegetação campestre (Solos

Litólicos e Cambissolos), originários de rochas pelíticas do grupo Bambuí.

A Deficiência é severa. Estação de crescimento curta ou mesmo ausente. A

vegetação natural é escassa ou só presente durante parte do ano. Caatinga

hiperxerófila (estação seca 8 a10 meses, P= 400-600 mm, irregulares, e alta T).

O Idem do grau forte, mas melhoramento não é viável ao nível do agricultor.

E Os solos para fins agrícolas são destruídos em poucos anos; voçorocas médias e

profundas praticamente inutilizam a área agrícola. Risco de danos para a

pastagem é muito grande. Montanhoso e escarpado, declive >45%.

M Não é possível nem o uso de implementos manuais (a) declive > 45%,

montanhoso ou escarpado; (b) declive < 45% com pedregosidade, rochosidade ou

solos rasos: se usados para agricultura, formam-se voçorocas.

c) Identificação da classe de aptidão

Confronto das informações de a e b.

Uso de tabelas de conversão (quadros-guia) (Quadro 9).

O quadro de conversão ou quadro-guia é o máximo de limitação permitido,

para cada delta e para cada nível de manejo, referente a classe de aptidão.

A definição da classe de aptidão agrícola deve seguir o princípio de que o

uso não pode ser mais intensivo do que permite o delta que está no mínimo.

É uma síntese e, portanto, difícil de ser lida com aproveitamento de toda a

informação que ela encerra.

A mensagem final que chega geralmente na forma de mapa colorido com

símbolos.

Exemplo:

1Ab(c):

Letras A, B e C, maiúsculas ou minúsculas; e entre parênteses ou não,

significam aptidão para culturas:

A: Aptidão boa no sistema de manejo A;

Page 46: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

51

b: Aptidão regular no sistema de manejo B; e

(c): Aptidão restrita no sistema de manejo C.

____ Áreas de pior aptidão agrícola na unidade de

mapeamento.

Ausência de qualquer letra indica inaptidão.

Exemplo: 2ab.

Existem também as letras P, S e N:

P: pastagem plantada;

S: silvicultura;e

N: pastagem natural.

Letras maiúsculas: classes de aptidão boa;

Letras minúsculas: classes de aptidão regular; e

Letras minúsculas entre parênteses: classes de aptidão restrita.

O conceito de aptidão agrícola utilizado tem um sentido amplo para (Quadro

6 e 7):

Lavouras;

Pastagens plantadas;

Pastagens naturais;

Silvicultura;

Reserva biológica; e

Recreação

Expressa uma adequação ao uso ao aumento do (s) grau (s) de limitação

(ões).

Quadro 6. Grupos e classes de aptidão agrícola e alternativas gerais de utilização

Grupos Classe Nível de manejo

A B C

Lavouras

A L 1 Boa 1A 1B 1C

L I 2 Regular 2a 2b 2c

T M 3 Restrita 3(a) 3(b) 3(c)

E I Pastagem plantada

R T 4 Boa 4P

Page 47: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

52

N A 4 Regular 4p

A Ç 4 Restrita 4(p)

T Õ Silvicultura e/ou pastagem natural

I E 5 Boa 5N 5S

V S 5 Regular 5n 5s

A 5 Restrita 5(n) 5(s)

S Sem aptidão para uso agrícola

6 Preservação da flora e da fauna

Quadro 7. Alternativas de utilização das terras de acordo com o grupo de aptidão

agrícola

Aumento da intensidade de uso

Limitações

e

Alternativas

Grupos

de

aptidão

Lavoura

Preserva

ção da

flora e

da fauna

Silvicult

ura

e/ou

pastag

em

natural

Pasta

gem

Aptidão

restrita

Aptidão

regular

Aptidão

boa

A D 1

L E 2

T S 3

E V 4

R I 5

N O 6

Quadro 8. Classes de aptidão agrícola

Classes de

aptidão

Limitações

gerais

Produções no manejo A Remoção de restrições

BOA

ligeiras boa no período de 20 anos

REGULAR moderadas boa no período de 10 anos parcialmente no manejo

Page 48: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

53

A

RESTRITA fortes Médias e baixas no período

de 10 anos

opção de culturas

INAPTA excluem a produção sustentada do tipo de utilização em questão

Porém, como se obtém a classe de aptidão agrícola?

Exemplo (Quadros 9 e 10)

Passos:

A estimativa dos deltas do ecossistema em relação ao solo ideal

(qualidades do ecossistema).

Avaliação da viabilidade de redução dos deltas conforme nível de manejo

(refletindo diferenças em insumos e técnica).

Confronto de informações obtidas utilizando.

Uso de quadros de síntese de informações (Quadro 10)

Observações gerais:

a) Os Quadros-guia (Quadro 9) são muito gerais;

b) Precisam ser mais específicos;

c) O Sistema FAO/Brasileiro não foi suficientemente trabalhado ao nível do

usuário/propriedade;

d) Pelas suas características está mais condicionado para aplicação para

escalas muito pequenas (grandes regiões);

e) Na estimativa das qualidades da terra entra uma grande quantidade de

informações não quantificáveis e expressáveis;

f) É o conhecimento empírico (um sentimento de percepção), fundamental

nas decisões do agricultor.

Page 49: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

54

Quadro 9. Quadro-guia de classificação de aptidão agrícola da região semi-árida

Aptidão Agrícola Graus de limitação das condições agrícolas das terras para os níveis de manejo A, B e C

Grupo Sub-

grupo

Classe Uso agrícola N A O E M

A B C A B C A B C A B C A B C

1 1ABC Boa 0/1 0a 0a 1/2 ½ 1/2 1 1a 0/1a 1 0/1a 0a 2 1/2 0

2 2abc Regular Lavouras 1 1a 1b 2 2 2 2 1/2a 1b ½ 1a 0/1b 2/3 2 1

3 3(abc) Restrita 2 1/2a 1/2b 2/3 2/3 2/3 3 2a 2b 2/3 2a 1/2a 3 2/3 2

4 4P Boa Pastagem 2a 2 3 2/3a 2

4p Regular 2/3a 2/3 4 3a 2/3

4(p) Restrita Plantada 3a 3 4 3/4 3

5 5S Boa 2/3a 2 1a 3a 2/3

5s Regular Silvicultura 3a 2/3 1a 3a 3

5(s) Restrita 4 3 1/2a 4 3

5 5N Boa 2/3 3 3 3 3

5n Regular Pastagem

natural

3 3/4 3/4 3 4

5(n) Restrita 4 4 4 3 4

6 6 Preservação

da flora e da

fauna

Page 50: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

55

Quadro 10. Resultado do confronto entre desvios da unidade PLs após redução dos desvios (quando viáveis) e os requisitos de máxima

limitação permissível para determinada classe de uso na Tabela-Guia

Situação N A O E M

A B C A B C A B C A B C A B C

PLs 1 1a 1b 2/3 2/3 2/3 1 1a 0/1a 1 0 0 2 2/3 2

Quadro –

Guia

1 1a 1b 2/3 2/3 2/3 1 1a 0/1a 1 0/1a 0a 2 2/3 2

a B c (a) (b) (c) A B C A B C A (b) (c)

Uso mais

intensivo

(a) (b) (c)

Uso

possível

3 (a) (b) (c)

Conclusão 3(abc) é o máximo uso possível para a área em questão, ou seja, no sistema de manejo A, B e C, o máximo uso é o de

culturas em caráter restrito

Page 51: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

56

3.3 Exemplo de aplicação do Sistema FAO/Brasileiro

O exemplo de Parambu-CE

Quadro 11. Aptidão agrícola das terras das folhas SB.24-Y-A-III-2 – Parambú, de

acordo com o uso intensivo mais indicado (Fonte Leite & Oliveira, 1996)

Figura 5. Mapa da aptidão agrícola da área estudada (Fonte Leite & Oliveira, 1996)

Quadro 12. Símbolo, classes de solos, principal limitação, aptidão agrícola, área em hectare e

porcentual das terras das folhas SB.24-Y-A-III-2 – Parambú (Fonte Leite &

Oliveira, 1996)

Page 52: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

57

Page 53: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

58

4 Bibliografia

CHAVES, N.M.A. Levantamento pedológico semidetalhado com fins de

determinação das classes de capacidade de uso na área do projeto de

Assentamento Lages. Fortaleza: UFC, 2005. 118p.

LEITE, F.R.B. & OLIVEIRA, S.B.P. Aptidão agrícola das terras das folhas SB.24-Y-

A-III-2 Parambu utilizando sistema de informações geográficas. In: VIII Simpósio

Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Anais. 1996. INPE, p.27-32.

LEPSCH, I. F. (coord.). Manual para levantamento utilitário do meio físico e

classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Campinas: SBCS,

1991. 175p.

RESENDE, M., CURI, N. REZENDE, S.B., CORRÊA, G.F. Pedologia: a base para a

distinção de ambientes. Viçosa: NEPUT, 1995. 304p.

Page 54: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

59

PARTE IV – PROPRIEDADES FÍSICAS, QUÍMICAS E MINERALÓGICAS

DE INTERESSE AO MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO

1. Introdução

A conservação do solo consiste em dar o uso e o manejo adequado às suas

características químicas, físicas e biológicas, visando manter o equilíbrio ou

recuperar áreas alteradas. Por meio de práticas de conservação, é possível manter

a fertilidade do solo e evitar problemas sérios, como a erosão e a compactação.

Para minimizar os efeitos negativos de agentes ambientais (chuva, vento,

temperatura, etc) e do próprio uso pelo homem, devem ser utilizadas algumas

técnicas de manejo que garantam a conservação dos solos. Porém, para utilizar as

técnicas de manejo adequadas, inicialmente é importante conhecer bem as

propriedades químicas, físicas e mineralógicas do solo que, de uma maneira ou de

outra, influenciam o manejo.

2. Propriedades Mineralógicas

2.1 Fases do solo

Um solo mineral próximo à superfície, com condições físicas ótimas para o

crescimento de plantas, apresenta aproximadamente, a seguinte composição

volumétrica: 50% de espaço poroso, ocupados por partes iguais de ar e água, 45 a

48% de sólidos minerais e 2 a 3, por vezes 5% de matéria orgânica (MO). Têm-se

em média, então, 50% constituídos pela fase sólida, 25% pela fase líquida e 25%

pela fase gasosa (Figura 1).

FIGURA 1. Composição volumétrica média de um solo com boa estrutura.

A fase sólida é constituída de agregados que se apresentam, até certo

ponto, individualizados. Os agregados são formados de partículas unitárias,

cimentadas entre si por matéria orgânica, óxidos e hidróxidos de Fe e Al, sílica, etc.

As partículas individuais são obtidas após a dispersão dos agregados. Limites de

tamanho definem as partículas como pertencentes a diferentes frações. Esses

limites são estabelecidos pela classificação de Atterberg ou classificação

internacional (Figura 2).

Ar

25%

Água 25%

Minerais

45 - 48%

50% de

partículas

sólidas

50% de

poros

MO 2 a 5%

Page 55: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

60

FIGURA 2. Limites dos tamanhos das partículas dos solos.

2.2 Sistema Coloidal

O solo pode ser considerado como um sistema disperso, uma vez que é

construído de mais de uma fase, estando a fase sólida em estado de acentuada

subdivisão. Há, portanto, um sistema coloidal no solo, constituído de partículas

diminutas, de tamanho coloidal, minerais ou orgânicas, ou organominerais, como

fase dispersa na solução (ou no ar) do solo, como meio de dispersão. Nesse sistema

ocorrem reações químicas, físico-químicas e microbianas da maior importância no

estudo dos solos. Nessa fase dispersa é que se encontram as argilas.

As partículas do sistema coloidal do solo apresentam as seguintes

propriedades:

2.2.1 Grande superfície específica

A superfície específica refere-se à área pela unidade de peso do material

considerado (solo como um todo, fração argila apenas, matéria orgânica, etc) e é

usualmente expressa é m²/g.

Deve-se, portanto, esperar grandes variações entre solos quanto às suas

superfícies específicas. Dentre os fatores por essas variações, encontram-se:

Textura; Tipos de minerais de argila e Teor de matéria orgânica.

Em virtude do menor tamanho da fração argila do solo, em relação às outras

frações, pode-se deduzir que esta fração, de natureza coloidal, contribui em maior

proporção com o valor da superfície específica do solo.

A matéria orgânica, embora presente, na maioria dos solos, teores

relativamente baixos, contribui, significativamente, para o valor da superfície

específica do solo, graças ao seu alto grau de subdivisão. Assim um solo com maior

teor de matéria orgânica deverá ter maior superfície específica que outro com menor

teor, se outras características, como tipo e quantidade de argila, forem mantidas

constantes.

2.2.2 Cargas elétricas

Propriedade muito importante de uma dispersão coloidal é a presença de

cargas elétricas. As partículas colidais do solo, as argilas de modo geral, são

eletronegativas. Embora possam, também, conter cargas positivas, estão são

Page 56: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

61

normalmente, em menor número que as negativas. Essas cargas elétricas

proporcionam a adsorção de íons de carga opostas, retendo-os no solo, íons estes

que, em boa parte, desempenham papel importante para o crescimento e

desenvolvimento das plantas.

2.2.3 Cinética

As partículas dispersas em meios líquidos apresentam movimentos. O

movimento browniano é caracterizado pelo movimento brusco, irregular e em zigue-

zague de partículas individuais no meio de dispersão. Esse movimento deve-se à

energia cinética das partículas.

O movimento de difusão é consequência da migração de partículas de uma

região de maior concentração para outra de menor concentração. Há também, o

movimento ocasionado pela força gravitacional, responsável pela sedimentação de

partículas.

2.3 Mineralogia da fração argila

A fração argila não deve ser confundida com minerais de argila. A fração

argila é aquela representada pelas partículas menores que 0,002 mm. Já os

minerais de argila são representados pelas ARGILAS SILICATADAS e ARGILAS

NÃO SILICATADAS.

2.3.1 Argilas Silicatadas

Dentro da fração argila (partículas menores que 2 μm), as argilas são os

constituintes mais comuns em solos de regiões temperadas, ainda não sujeitos aum

estádio avançado de intemperismo. As argilas silicatadas são constituídas de duas

unidades estruturais básicas. Uma é o tetraedro de sílica, formado por ligações de

um átomo de sílica, formado por ligações de um átomo de Si a quatro átomos de

oxigênio (Figura 3).

A outra unidade é constituída pelo octaedro de alumina, formado por um átomo de Al

e seis de oxigênio (Figura 4).

FIGURA 3. Tetraedro de sílica FIGURA 4. Octaedro de

alumina

Page 57: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

62

O número de camadas de tetraedros para camadas de octaedros, por

unidade componente de um cristal de argila silicatada, é uma característica básica

de identificação dos principais grupos de argila silicatadas. Dentre as argilas

silicatadas, destacam-se os principais grupos:

a) Caulinita

Caracteriza-se por um arranjo com uma camada de tetraedros e uma de

octaedros, unidas entre si, rigidamente, pelos átomos de oxigênio comuns às duas

camadas, constituindo uma unidade cristalográfica. Unidades assim formadas se

unem entre si por ligações de H, constituindo o grupo das caulinitas ou o grupo das

argilas 1:1.

São hexagonais e de tamanho grande, o que condiciona pequena superfície

específica, se comparada às partículas de argilas silicatadas do tipo 2:1mais ativa,

como a montmorilonita.

b) Montmorilonita

Caracteriza-se por unidades constituídas por um arranjo com duas camadas

de tetraedros para uma de octaedros, ligadas rigidamente pelos átomos de oxigênio

comuns às lâminas. São também denominadas argilas 2: 1 (Figura 5). As unidades

são frouxamente ligadas entre si por moléculas d’água e cátions na solução, o que

permite que a distância entre elas seja variável. Como consequência, cátions e

moléculas podem-se mover entre essas unidades, o que proporciona tanto uma

superfície total (a interna mais a externa) como uma superfície específica bem

maiores do que para a caulinita. Com a hidratação desse material, há aumento da

distância entre as unidades, o que justifica a classificação desta argila como

expansiva.

FIGURA 5. Representação esquemática das argilas do grupo da montmorilonita

(tipo 2:1)

c) Ilita

O grupo da ilita, ou mica hidratada, apresenta a mesma organização

estrutural que a montmorilonita (tipo 2:1), exceto no que diz respeito às ligações

entre as unidades cristalográficas. A existência de déficit de carga positiva na

camada de tetraedro leva a um excesso de cargas negativas que são neutralizadas,

geralmente por íons de K, fortemente retidos entre duas unidades. Essas ligações

diminuem intensamente a expansão do material quando sujeito á hidratação. A

Page 58: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

63

superfície de adsorção catiônica é, consequentemente, menor que a da

montmorilonita.

d) Outros grupos de argilas silicatadas

A presença mais frequente de vermiculita (tipo 2: 1), argila silicatada

semelhante à montmorilonita, embora não tão expansiva como esta, em solos de

regiões temperadas, diz sobre a sua menor resistência ao intemperismo, do que a

caulinita, por exemplo, tão frequente em solos de regiões tropicais. Não obstante a

vermiculita é, de modo geral, mais resistente ao intemperismo em relação à

montmorilonita. A vermiculita apresenta substituição de Si por Al na camada de

tetraedros, ao passo que a montmorilonita apresenta substituição de Al por Mg na

camada de octaedros. Portanto, a presença de Al, em solos ácidos, é fator de

estabilização da vermiculita. Por outro lado a lixiviação de Mg dos solos tende a

desestabilizar a montmorilonita.

A clorita diferente das demais estudadas por apresentar, além do grupo 2;1

de talco (com unidade cristalográfica similar á da montmorilonita, mas com Mg

dominando a camada de octaedros), uma camada adicional de brucita (Mg(OH)2).

Por essa razão, essa argila é conhecida pelo tipo 2:2 ou 2:1:1 ( duas lâminas de

tetraedros, uma de octaedro e uma de brucita). A superfície específica e a

capacidade de troca catiônica são semelhantes às da ilita.

3. Propriedades Químicas

As propriedades de natureza química podem influenciar, positiva ou

negativamente, o crescimento das plantas.

3.1. Origem das cargas elétricas do solo

Há no solo, em geral, predominância de cargas negativas sobre positivas.

Essa predominância é expressiva em solos de regiões temperadas, graças à

presença de argilas silicatadas mais ativas, por conseguinte mais eletronegativas.

As cargas eletronegativas do solo podem ter diferentes origens:

3.1.1 Cargas negativas

a) Dissociação de Grupos OH nas arestas das Argilas Silicatadas

O grupo OH nas terminações tetraedrais ou octaedrais, em faces quebradas

das unidades cristalográficas das argilas silicatadas, pode-se dissociar, gerando

uma carga negativa.

Verifica-se que com a elevação do pH do meio (solo) o equilíbrio é deslocado

para a direita em razão da neutralização dos íons H+ liberados na dissociação do

grupo OH. Este tipo de cargas dependentes do pH é o tipo predominante em argilas

1:1, como a caulinita.

Page 59: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

64

Figura 2. Grupos OH em arestas quebradas das UC’s podem se dissociar,

gerando carga negativa

b) Substituição Isomórfica

Durante a gênese de argilas do tipo 2:1, alguns átomos de Si dos tetraedros

podem ser substituídos por Al, bem como o Al dos octaedros pode ser substituído

por Mg ou por outros cátions de valência menor que a do Al3+. A substituição do Si4+,

que se encontrava, inicialmente, neutralizando quatro cargas negativas por Al3+, irá

condicionar sobra de uma carga negativa. De maneira semelhante, uma carga

negativa será gerada pela substituição de um Al3+ de um octaedro por um cátion

divalente, como o Mg2+. Deve-se ressaltar que o número de cargas geradas por este

processo não é variável com alterações do pH do meio.

c) Matéria orgânica

Na matéria orgânica do solo, as cargas negativas originam-se, principalmente,

da dissociação de grupos carboxílicos e fenólicos, de acordo com as equações

químicas: em que R representa um radical de modo geral, de longas cadeias

alifáticas ou eventualmente aromáticas. Verifica-se pelas equações que o equilíbrio

é deslocado para a direita, forma dissociada, com a elevação do pH do meio, ou

seja, com a neutralização da acidez (Figura 3).

Figura 3. Cargas negativas originadas a partir da dissociação de grupos carboxílicos

e fenólicos;

3.1.2. Cargas positivas

As cargas eletropositivas do solo têm a sua origem nos óxidos e hidróxidos

(óxidos hidratados) de Fe e Al, preferencialmente (Figura 4). Tal situação se dá de

maneira mais significativa em condições mais ácidas de solo. Os Solos de região

tropical apresentam-se como ácidos, onde sesquióxidos de Fe e Al formam cargas

positivas. Dependendo do pH do solo, os Óxidos hidratados de Fe e Al podem

originar cargas positivas, negativas ou permanecer com carga neutra.

OH-

Argila

+ OH- O

-

Argila

+ H2O

R – COOH R – COO- + H

+

Page 60: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

65

Figura 4. Cargas positivas originadas por óxidos e hidróxidos de Fe e Al

3.2. Adsorção e troca iônica

As propriedades de adsorção iônica do solo são devidas, quase que

totalmente, aos minerais de argila e à matéria orgânica do solo, materiais de

elevada superfície específica. Essas partículas coloidais do solo apresentam

cargas elétricas negativas e positivas, podendo absorver ou “reter”, por diferença

de carga, tanto cátions como ânions.

Cargas negativas ou positivas são neutralizadas por íons de cargas

contrárias que podem ser trocados por outros da solução do solo. A troca ocorre

entre íons de mesma carga. Cargas negativas são neutralizadas por cargas

positivas, definindo a ADSORÇÃO CATIÔNICA (Figura 5). Cargas positivas são

neutralizadas por cargas negativas, definindo a ADSORÇÃO ANIÔNICA (Figura

6).

Na adsorção, íons ligam-se por eletrovalência ou covalência às partículas

coloidais do solo. Os cátions mais envolvidos no processo são: Ca2+, Mg2+, Al3+,

H+, K+, Na+ e NH4+. Os íons adsorvidos às partículas coloidais podem ser

deslocados e substituídos estequiometricamente por outros de mesma carga,

caracterizando a TROCA IÔNICA.

Figura 5. Troca Catiônica

Al3+

Ca2+

Colóide

-

K+

+ 6NH4+

3NH 4+

2NH4+

Colóide

NH4+

+ K+ + Ca

2++ Al

3+

OH-

OH-

Colóide

+

SO42-

+ 4H2PO4-

2H2PO4-

Colóide

2H2PO4-

+ SO4 2-

+ 2OH-

Al O

H+

H+

Carga Positiva

+ H+

Al-OH

+ OH-

Al-O- + H2O

Carga Nula

(PCZ = pH)

Carga Negativa

Page 61: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

66

Figura 6. Troca Aniônica

3.3. Capacidade de Troca Catiônica – CTC

Se uma solução salina é colocada em contato com certa quantidade de solo,

verificar-se-á a troca entre cátions contidos na solução e os da fase sólida do solo.

Esta reação de troca se dá com rapidez, em proporções estequiométricas e é

reversível. Por métodos analíticos, a quantidade de cátion que passou a neutralizar

as cargas negativas do solo pode ser determinada. O resultado indica a quantidade

de cargas negativas expressadas pela capacidade de troca catiônica do solo (CTC).

Dentre os cátions que neutralizam as cargas negativas da CTC efetiva do

solo, incluem-se, principalmente, as bases (Ca2+, Mg2+, K+, Na+, NH4+). , o Al3+ e,

também, cátions H+ ligados a cargas negativas da CTC de caráter mais eletrovalente

(tipo ácido forte).

Alguns princípios básicos caracterizam a CTC. Alguns princípios básicos

caracterizam a CTC.

a) O fenômeno de troca é reversível. Os cátions adsorvidos podem

ser deslocados por outros, e assim sucessivamente.

b) O fenômeno de troca é uma reação estequiométrica, isto é

obedece à lei dos equivalentes químicos: um molc de um cátion é trocado

(substituído) por um molc de outro cátion.

c) É um processo rápido. Na determinação da CTC, o tempo de

agitação do solo e solução varia de 5 a 15 min.

Muitas condições do solo têm influência sobre a CTC, dentre as quais: pH,

características dos cátions trocáveis, como valência e raio hidratado, concentração

da solução e da natureza da fase sólida.

O efeito do pH se verifica, principalmente, sobre as cargas dependentes do

pH.

A natureza dos cátions trocáveis afeta a preferencialidade de troca no solo, de

acordo com a densidade de carga dos cátions, isto é, Z/r, em que Z é a carga do íon

e r é o raio do íon hidratado. Os cátions que têm maior densidade de carga são mais

retidos nas cargas negativas do solo. Por isso os cátions polivalentes são

geralmente mais fortemente retidos no solo.

A diferença na preferencialidade de troca entre cátions da mesma carga se

deve à diferença entre raios iônicos hidratados (espessura da camada de hidratação

do íon), que faz com que Cs+ seja mais fortemente retido, em forma eletrostática,

que o Li+. O Cs+ apresenta maior massa atômica e menor espessura da sua camada

de hidratação em relação ao Li+.

A concentração dos cátions na solução do solo afeta a preferencialiadade de

troca, interagindo com a carga dos cátions envolvidos. Assim, à medida que dilui a

Page 62: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

67

solução, mantendo constantes as concentrações dos cátions presentes, verifica-se

um aumento na preferência de troca dos cátions de menor valência, como o Na+,

pelos de maior valência.

Dada a importância da CTC no solo, as características relacionadas com esta

propriedade são constantemente determinadas e utilizadas em interpretações e em

cálculos de necessidades de corretivos e fertilizantes.

3.3.1 CTC efetiva (t) e Potencial a pH 7,0 (T)

A capacidade de troca catiônica trata da determinação em certo pH

tamponado, geralmente a pH 7,0 ou a pH 8,2 (para solos alcalinos e salinos). No

Brasil, tem sido mais usado o valor T a pH 7,0 que é calculado somando-se as

bases e a acidez potencial [SB + (H + Al)]. Além dessas duas expressões, pode-se

ainda citar o valor t ao pH do solo (CTC efetiva), que é calculado somando-se as

bases com a acidez trocável (SB + Al3+).

3.3.2 Soma de bases (SB)

A soma de bases (SB) é calculada somando-se os teores de Ca2+, Mg2+, K+ e,

quando disponíveis, Na+ e NH4+ trocáveis. Nos solos ácidos de regiões tropicais os

cátions trocáveis Na+ e NH4+ geralmente têm magnitude desprezível.

3.3.3 Saturação por bases (V)

A participação das bases no complexo sortivo do solo, expressa em

percentagem, é conhecida como saturação por bases (V).

Para este cálculo, V= SB/T * 100, usa-se CTC a pH 7,0 (valor T).

3.3.4 Acidez trocável

A acidez trocável é representada pelo Al3+ e, com menor participação, por

outros cátions de hidrólise ácida, como Mn2+, Fe2+ e Fe3+ mais o H+ que faz parte da

CTC efetiva. Como, em geral, a participação do H+ é pequena em relação à acidez

trocável (Al3+ predominantemente), este valor é também chamado de Al trocável.

3.3.5 Acidez potencial

A determinação da acidez potencial (a pH 7,0) é feita, usando-se, como

extrator, uma solução tamponada de acetato de cálcio 0,5 mol L-1, pH 7,0. Esta

acidez inclui H + Al ( H+ trocável, H de ligações covalentes que é dissociado com a

elevação do pH, predominante, de modo geral, da matéria orgânica, Al3+ trocável e

outras formas de Al – aquelas parcialmente hidrolisadas como AlOH2+ e Al(OH)2+). A

maior parte do H provém das cargas negativas dependentes do pH. Esta fração é

chamada acidez dependente do pH.

3.4. Capacidade de troca Aniônica

A capacidade de troca aniônica é definida como o poder do solo de reter

ânions na fase sólida, numa forma trocável com outros ânions da solução.

Page 63: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

68

Entretanto, a manifestação desta propriedade não é tão característica quanto a troca

catiônica, isto é, não são atendidas perfeitamente as condições de rapidez,

reversibilidade e estequiometria. Por esta razão a troca aniônica é mais frequente e

convenientemente denominada adsorção aniônica, sugerindo um processo mais

complexo do que a simples troca.

Um aspecto particular do comportamento de certos ânions no solo é a

adsorção específica, Por este processo os ânions são retidos pela fase sólida, por

meio de ligações fortes (covalentes), passando a fazer parte da estrutura da micela,

em sua superfície. Este tipo de adsorção é de baixa reversibilidade e é bem

conhecida para o P, sendo o principal responsável pela fixação de P no solo,

principalmente nos solos ricos em óxidos e hidróxidos de Fe e Al.

3.4.1 Adsorção específica

É o processo pelo qual ânions são adsorvidos na fase sólida por ligações

fortes (covalentes). Trata-se de uma adsorção de baixa reversibilidade, bastante

comum para o P. O ânion que desloca P da fase sólida é o silicato (H3SiO4-) e o

sulfato (SO42-). A adsorção varia com o teor e o tipo de argila. Cargas positivas

que causam adsorção são dependentes do pH (menor pH, aumenta cargas

positivas e aumenta a adsorção).

O

3.5. Acidez do solo

Grande limitante ao desenvolvimento das plantas em muitos solos

brasileiros. Pode estar associada à presença de Al e Mn em concentrações

tóxicas às plantas e aos baixos teores de Ca e Mg que são importantes

nutrientes.

No manejo é preciso utilizar meios que minimizem os efeitos negativos da

acidez do solo. O uso do termo “reação do solo” é comum para se referir à influência

do fator pH sobre as propriedades do solo.

3.5.1 Conceito ácido-base

Fe

O

Fe

OH

OH

+ P

O OH

OH O

P

O O

OH O Fe

O

Fe

+ OH-

+ H2O

Page 64: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

69

- Arrhenius (1884):

Um Ácido é uma substância com H que, em solução aquosa, produz H+ ; base é

uma substância que produz OH-. A teoria não se aplica à substâncias que não

possuem H ou OH.

- Brönsted-Lowry (1923):

Um Ácido é uma substância química que doa prótons; base é uma substância que

recebe prótons.

Ácido:

Base:

A reação de

transferência de prótons envolve a competição de duas bases por prótons, como

por exemplo, a dissolução de HCl em água (Figura 7). A acidez de uma solução

(como a do solo) será definida pelo balanço entre doadores e receptores de

prótons.

HCl (ÁCIDO) doa H+ para H2O (BASE) que recebe H+

Figura 7. Reação ácido-base

3.5.2 Origem da Acidez do Solo

Os solos, em suas condições naturais, podem ser ácidos, em decorrência do

material de origem e da intensidade da ação de agentes de intemperismo, como

clima e organismos. Regiões com altas precipitações pluviais apresentam tendência

à maior acidificação do solo pela remoção de cátions de caráter básico do complexo

de troca, como o Ca, Mg, K e Na, e o consequente acúmulo de cátions de natureza

ácida, como o Al e H.

Nos solos cultivados, a acidez pode ser acentuada pela absorção dos cátions

básicos pelas culturas e exportados com as colheitas. O manejo inadequado do solo

pode, também, favorecer a erosão, expondo os horizontes subsuperficiais que são,

em geral, mais ácidos. O uso de fertilizantes amoniacais contribui, para a

acidificação devido a nitrificação do amônio. A oxidação da matéria orgânica e do S

também desempenha papel importante na acidificação.

3.5.2.1 Remoção de bases

HA + H2O A- + H

+ (H3O)

B + H2O BH + OH-

HCl + H2O H3O+ + Cl

-

Page 65: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

70

A remoção de cátions de caráter básico do solo pela lixiviação, erosão, e

pelas culturas, resulta no aumento de formas trocáveis de H+ e de Al3+ no

complexo sortivo (CTCefetiva), favorecendo maiores concentrações destes íons na

solução do solo. O Al é hidrolisado e gera acidez

3.5.2.2 Grupos ácidos da matéria orgânica

A ionização do H de ácidos carboxílicos, fenólicos e, principalmente, de

álcoois terciários da matéria orgânica, contribui para a acidez no solo. Entretanto,

em condições de acúmulo de matéria orgânica e no estádio final de sua

mineralização, a oxidação libera elétrons, podendo ocasionar um aumento no pH.

-

A mineralização da M.O. também libera bases que aumentam o pH, pois

libera N e S que, ao oxidar, liberam prótons e diminuem o pH.

A oxidação biológica da M.O. produz CO2 que leva à acidificação do solo

3.5.2.3 Minerais de argila silicatados e não silicatados

Os grupos estruturais Si-OH e Al-OH exposto na superfície dos minerais de

argila silicatada, assim como os grupos Al-OH e Fe-OH nos oxihidróxidos de Fe

(magnetita, hemetita, goethita) e Al (gibbsita) contribuem para a geração de acidez.

3.5.2.4 Fertilizantes minerais

Al3+

+ 6H2O Al(OH)3 + 3H3O-

O2 + 4H+

+ 4 e-

2H2O + 1,229 volts

NH4+

+ 2O2

+ H2O

NO3 -

+ 2H3O+

S

+ 3/2 O2 + 3H2O

SO4

2- + 2H3O

+

CO2 + H2O H2CO3

H+

+ HCO3-

666

CO32-

+ 2H+

666

Page 66: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

71

A oxidação do amônio também é responsável pela acidez gerada quando da

aplicação de fertilizantes, como (NH4)2SO4 e NH4NO3, que aumenta com as doses

aplicadas (Figura 8).

Com o aumento do pH, o Al não permanece na forma de oxihidróxidos de

Al, restando os cátions básicos na solução do solo na forma trocável. Deve-se

salientar que o H+ está sendo continuamente produzido no solo como resultado,

por exemplo, da mineralização de compostos orgânicos com produção de CO2 e

do intemperismo dos silicatos, que libera Al3+ em solução.

Figura 8. NH4+ desloca Al3+ do mineral de argila

3.5.3 Determinação da acidez do solo

A acidez do solo é avaliada, geralmente, por meio do seu pH, determinando-se a

atividade de H+ na solução do solo com água ou com soluções salinas. O pH está

relacionado com a concentração dos H+ na solução do solo, que determina a acidez

ativa do solo. Deve-se ter em mente que a acidez ativa é apenas uma parte muito

pequena em relação à acidez trocável ou à acidez potencial do solo.

3.5.3.1 Acidez ativa (Não trocável)

Refere-se à atividade dos íons H+ (H3O+) em solução, medida pelo pH.

Fornece indicativos sobre a disponibilidade de nutrientes, presença de Al,

atividade biológica, reação de fertilizantes, etc.

3.5.3.2 Acidez trocável

Como em muitos solos o teor de H+ trocável é muito pequeno (o mesmo

acontece com a acidez da hidrólise de outros cátions de reação ácida), considera-

se o resultado de acidez trocável como sendo o teor de Al trocável (Al3+).

3.5.3.3 Acidez potencial

Esta acidez é composta pela acidez trocável e não-trocável. Refere-se à

quantidade de formas trocáveis e não-trocáveis desses íons do solo. Essa acidez

potencial inclui H+ e Al3+ adsorvidos em forma eletrovalente, bem como os íons H

Al3+

+ 3NH4 (NH4+)3 + Al

3+ Al

3+ + 6H2O Al(OH)3 + 3 H3O

+

Si-O- +

H3O-

Page 67: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

72

ligados covalentemente que se dissociam de compostos orgânicos, de grupos OH

na superfície das argilas, e de alguns polímeros de Al, como já apresentado.

3.5.4 Efeitos da acidez do solo no manejo

A concentração de H+ na solução do solo, mesmo com valor de 0,1 mmol

L-1 que corresponde a pH 4,0, não é fator limitante ao crescimento e

desenvolvimento das plantas, desde que haja suprimento adequado do nutrientes

e ausência de elementos em concentrações tóxicas. Entretanto, essa situação

não acontece naturalmente nos solos, pois, em condições ácidas, podem ocorrer

íons, como o Al3+ e Mn2+, em teores tóxicos para as plantas. A acidez do solo

pode interferir, também, na disponibilidade de alguns nutrientes e na atividade

dos microrganismos. Assim, para o estudo dos prejuízos causados pela acidez

dos solos devem-se considerar os efeitos diretos e indiretos da acidez,

principalmente dos decorrentes da acidez ativa (pH).

3.5.4.1 pH x Disponibilidade de nutrientes

A redução da acidez do solo promove a insolubilização de Al e Mn,

aumenta a disponibilidade de P e Mo e diminui a disponibilidade de

micronutrientes, como o Zn, Mn, Cu e Fe.

A intensidade dessas mudanças na disponibilidade/absorção de elementos

químicos do solo pode ser sentida na forma diferenciada entre espécies,

cultivares ou variedades de plantas. A variabilidade de comportamento de

plantas, em relação aos efeitos da acidez do solo, não permite generalizações e

dificulta bastante o estabelecimento de faixas de pH adequadas para as diversas

culturas.

Concentração de elementos, tais como alumínio, ferro e manganês, pode

atingir níveis tóxicos, porque sua solubilidade aumenta nos solos ácidos;- a

toxidez de alumínio é, provavelmente, o fator limitante mais importante para as

plantas em solo muito ácidos;- os organismos responsáveis pela decomposição

da matéria orgânica e pela liberação de nitrogênio, fósforo e enxofre podem estar

em pequeno número e com pouca atividade;- o cálcio pode ser deficiente quando

a CTC do solo é extremamente baixa. O mesmo acontece com o magnésio;- a

performance dos herbicidas aplicados ao solo pode ser afetada, de modo

adverso, quando o pH do solo é muito baixo;- a fixação simbiótica de nitrogênio

pelas leguminosas é severamente reduzida.

A relação simbiótica requer uma amplitude de pH mais estreita para o

crescimento ótimo das plantas do que no caso de plantas não fixadoras de

nitrogênio;- os solos argilosos, com alta acidez, são menos agregados. Isto causa

baixa permeabilidade e aeração, um efeito indireto, motivo pelo qual os solos que

receberam calagem produzem mais resíduos das culturas; pois melhora

crescimento radicular, aumenta mineralização da M.O. e diminui retenção de P na

Page 68: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

73

fase sólida; a disponibilidade de nutrientes como o fósforo e o molibdênio é

reduzida;- há aumento na tendência de lixiviação de potássio.Os principais

sintomas de toxidez podem ser observados no sistema radicular:- raízes

caracteristicamente curtas ou grossas;- inibição do crescimento das raízes, que

se tornam castanhas;- raízes laterais engrossadas e pequena formação de pêlos

radiculares;- se observa também predisposição da planta injuriada à infecção por

fungos.

A maneira mais fácil, correta e economicamente viável de corrigir a acidez

do solo, notadamente na camada arável, diz respeito ao uso de calcário por meio

da calagem. Essa prática tem dois objetivos fundamentais: correção da acidez do

solo para diminuir ou até anular os efeitos tóxicos das altas concentrações ou

saturações de alumínio e manganês, e correção das deficiências de cálcio e

magnésio.

↑ disponibilidade de Mo e Cl

O molibidênio é fortemente adsorvido pelos oxihidróxidos de Fe e Al, à

semelhança do que ocorre com o P, e é deslocado pelo OH- com a elevação do

pH do solo. A mesma tendência é observada para Cl-, embora este seja

fracamente adsorvido no solo.

↑ disponibilidade de S

O SO4-2 adsorvido pelos oxihidróxidos de Fe e Al, à semelhança do que

ocorre com P, é liberado pela elevação do pH. A decomposição da Matéria

orgânica liberando S é favorecida pela elevação do pH.

↓ disponibilidade de micros metálicos (Cu, Fe, Mn e Zn)

A disponibilidade destes micronutrientes catiônicos diminui com a

elevação do pH (mais OH-) do solo.

↑ disponibilidade

de N

A

disponibilidade

aumenta graças ao

efeito favorável na

mineralização da matéria orgânica.

↑ não afeta muito a disponibilidade de B

Abaixo de pH 7,0 há pouco efeito na disponibilidade de boro; em

condições do pH do solo, o ácido bórico é pouco dissociado. A influência é maior

quando aumenta mineralização da M.O. que libera boro.

3.6 Alumínio em solos ácidos

Fe3+

+ 3OH- Fe(OH)3↓

Mn2+

+ 4OH- MnO2↓ + 2H2O + 2 e

-

Cu2+

+ 2OH- Cu(OH)2↓

Zn2+

+ 2OH- Zn(OH)2↓

Page 69: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

74

O alumínio constitui importante componente da acidez dos solos. A reação

de hidrólise do Al3+ em solução contribui para o poder tampão dos solos. Além

disso, o Al e o Mn, quando em altas concentrações no solo, podem ser tóxicos às

plantas, constituindo uma das principais limitações agrícolas em solos ácidos.

De acordo com os equilíbrios químicos, a atividade do Al3+ e das demais

espécies de sua hidrólise depende basicamente do tipo de mineral da fase sólida

e do pH do solo. Em solos ácidos, com predomínio de argilas de 1:1 (caulinita) e

oxihidróxidos (gibbsita) na fração argila, a atividade do Al3+ em solução pode ser

bastante elevada.

Verifica-se que a valores de pH acima de 5,5 – 6,0 (até 7,0), a solubilidade

do Al é mínima. Esta é umas das razões pelas quais a correção de solos ácidos é

feita pra se atingir um pH, de pelo menos, 5,5.

3.6.1 Saturação por alumínio e crescimento das plantas

Dada a necessidade de se adaptarem as condições locais do solo com

elevada acidez, as plantas desenvolveram mecanismos de tolerância ao Al. Como

exemplo de diferenças entre plantas, podem-se mencionar a alfafa, que

apresenta muito baixa tolerância ao al, e a samambaia ou o chá, que sobrevivem

em solos com alto teor de Al. Essa variabilidade de reação e concentrações

tóxicas de Al e, ou de Mn existe entre espécies de plantas e entre variedades

dentro da mesma espécie.

Os efeitos do Al em concentrações tóxicas manifestam-se tanto na parte

aérea como no sistema radicular, por meio de sintomas anatômicos e

morfológicos e da redução de crescimento. O sistema radicular é mais afetado

que a parte aérea, ocorrendo prejuízo no alongamento das raízes do que no

volume e na produção de matéria seca, reduzindo sua superfície.

Consequentemente, as raízes ocupam menor volume de solo diminuindo, assim,

a possibilidade de absorção de nutrientes e água.

Os mecanismos de tolerância ao al são vários e não existe um único que

explique por completo sua diferenciação entre espécies e variedades de plantas.

A tolerância ao Al pode ocorrer em plantas eficientes em absorver e translocar P

da parte aérea. Parte do P absorvido é utilizado para precipitar o Al nas raízes

das plantas.

A percentagem de saturação por Al é, também, um bom indicador da acidez

do solo e seu efeito sobre as plantas.

Em termos de efeitos negativos ao crescimento das plantas, o efeito primário

da toxidez por Al faz-se sentir ao sistema radicular. Os principais sintomas que

podem ser observados no sistema radicular são:

Raízes curtas ou grossas

Inibição do crescimento das raízes, que se tornam castanhas;

Raízes laterais engrossadas e pequena formação de pêlos

radiculares;

Page 70: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

75

Predisposição da planta injuriada a infecções por fungos; entretanto,

também há casos em que o Al3+ controla algumas doenças fúngicas

das raízes.

3.6.2 Mecanismos de tolerância à Al

Não absorvem Al, pois apresentam capacidade de manter o Al fora do

metabolismo da planta (mecanismo de exclusão), por processos de

complexação do Al com ácidos orgânicos e por precipitação de Al (OH)3

pela maior basificação da rizosfera;

Não translocam alumínio para a parte aérea, mantendo sua capacidade de

absorver P e Ca, mesmo na condição de elevada absorção de Al;

Há espécies com elevada capacidade de manter adequada partição de C

para formar novas raízes absorventes.

3.7 Alterações de pH na rizosfera

O pH na rizosfera pode ser diferente daquele do solo, chegando a ser acima

de duas unidades diferente em relação ao observado para o solo. As plantas

promovem a extrusão de H+ ou de HCO3- e liberação de exsudatos radiculares,

como ácidos orgânicos, aminoácidos, açúcares, fenóis, etc.

Para a manutenção do equilíbrio eletroquímico, quando as plantas absorvem

nutrientes com cargas positivas (cátions), liberam H+. Quando absorvem cargas

negativas (ânions), liberam OH-.

Em geral, para Solos com boa porosidade, a liberação de CO2 vis respiração

radicular ou microbiana não provoca importantes alterações no pH da rizosfera. A

difusão de CO2 pelos poros do solo dá-se de maneira rápida. Da mesma forma,

grandes mudanças de pH da rizosfera induzidas por exsudatos de baixo peso

molecular podem ser consideradas mais como exceção do que regra.

Dentre as práticas de manejo cultural, a adubação nitrogenada talvez possa

produzir as maiores alterações do pH da rizosfera. Com N absorvido,

preferencialmente, como nitrato, a planta passa a absorver mais ânions que

cátions, resultando em valores de pH mais altos na rizosfera. Assim, a absorção

de N-NO3- promove formação de HCO3

- e consequente aumento do pH.

Alterações no pH da rizosfera podem resultar em efeitos benéficos ou

maléficos no crescimento das plantas. Em solos alcalinos e neutros, o aumento

no pH leva á menor disponibilidade de nutrientes, como o Fe, Mn, Cu e Zn. Em

solos ácidos, o aumento do pH da rizosfera pode resultar em decréscimo da

atividade do Al, sendo este fato considerado como um dos mecanismos de

adaptação do vegetal a estas condições.

Al

m% = CTCef

X 100

Page 71: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

76

4. Propriedades físicas

A cor, textura e outras propriedades físicas do solo são utilizadas na

classificação de perfis e em levantamentos sobre a aptidão do solo para projetos

agrícolas e ambientais. O conhecimento básico sobre as propriedades físicas do

solo servirá como base para a compreensão de muitos aspectos que serão

abordados posteriormente.

4.1 Funções do solo:

O conceito de um solo fisicamente ideal é complexo e carece de melhor

definição quantitativa. No entanto, já há indicação clara de uma série de valores

quantitativos de indicadores da qualidade física de um solo, seja valores ideais,

críticos ou restritivos ao crescimento de plantas ou na qualidade ambiental

4.2 Funções do solo que são influenciadas por atributos físicos

A definição de um solo fisicamente ideal é difícil devido ao tipo e natureza

das variações físicas dos solos que ocorrem ao longo da profundidade do solo, na

superfície da paisagem e ao longo do tempo. Um exemplo clássico refere-se ao

suprimento de água e ar, que variam continuamente junto com os ciclos de

umedecimento e secagem, que ocorrem com a alternância de chuva e estiagem.

Um solo é considerado fisicamente ideal para o crescimento de plantas quando

apresenta boa retenção de água, bom arejamento, bom suprimento de calor e

pouca resistência ao crescimento radicular. Paralelamente, boa estabilidade dos

agregados e boa infiltração de água no solo são condições físicas importantes

para qualidade ambiental dos ecossistemas. O solo fisicamente ideal, também,

projete as plantas de elementos tóxicos (adsorção, complexação, oxido redução,

etc) e fornece nutrientes.

4.3. Fases do solo

Um solo mineral, próximo à superfície, com condições físicas ótimas para o

crescimento vegetal, apresenta, aproximadamente, a seguinte composição

volumétrica: 50% de espaço poroso, ocupados por partes iguais de ar e de água,

45 - 48% de sólidos minerais e 2 até 5% de matéria orgânica. Têm-se,

normalmente, então, 50 % constituídos pela fase sólida, 25% pela fase líquida e

25% pela fase gasosa.

25%

Ar

25%

Água

45-48%

Mineral

2-5%M.O

Page 72: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

77

4.4. Interface ar, minerais, água e vida

4.4.1 Constituintes minerais

A fase sólida é constituída de agregados que se apresentam, até certo

ponto, individualizados. Os agregados são formados de partículas unitárias,

cimentadas entre si por matéria orgânica, óxidos de Fe e Al, sílica etc. As

partículas individuais são obtidas após a dispersão dos agregados. Limites de

tamanho definem as partículas como pertencentes a diferentes frações:

Areia: 0,2 a 0,05 mm

Silte: 0,002 a 0,05 mm

Argila: < 0,002 mm

Colóides: < 0,001 mm

Areia Silte Argila

0,2 a 0,05 mm

0,05 a 0,002 mm < 0,002 mm

Visível a olho nu Visível ao microscópio Visível ao microscópio

eletrônico

Predomínio de minerais

primários

Predomínio de minerais

primários e secundários

Predomínio de minerais

secundários

Baixa atração entre

partículas

Média atração entre

partículas

Alta atração entre

partículas

Baixa atração por água Média atração por água Alta atração por água

Baixa CTC

Baixa CTC Alta CTC

Quando molhado: solto,

arenoso

Quando molhado: liso Quando úmido:

pegajoso, maleável

Quando seco: muito

solto, arenoso

Quando seco: pó Quando seco: torrões

duros

- Minerais primários: não sofreram alteração desde que foram extraídos da rocha

(ex.: quartzo, micas, feldspatos) presentes nas frações areia e silte

- Minerais secundários: formados do intemperismo dos primários menos

resistentes (ex.: argilas silicatadas, óxidos de Fe e Al) presentes na argila e no

silte

- Minerais interferem na estrutura que, por sua vez, influencia o movimento de

água no solo

Page 73: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

78

b) Matéria orgânica

- Une partículas influenciando a estrutura do solo

c) Água do solo

A água na forma líquida apresenta uma série de propriedades de

fundamental importância em seu comportamento no solo. A polaridade, pontes de

hidrogênio e tensão superficial da água fazem com que a água em sistemas

porosos atinja estado de menor energia livre e seja retida contra a gravidade,

especialmente por capilaridade e também por adsorção.

c) Ar do solo

É variável

Possui maior umidade que o ar atmosférico

Possui mais CO2 que O2

Ocupa poros não preenchidos por água

4.5 Arquitetura do solo e propriedades físicas

a) Cor do solo

Pouco influencia o uso e manejo do solo

Indica natureza de outras propriedades

É avaliada pela carta de Munsell

Há três componentes da cor do solo: valor, croma, matiz

Causas da cor do solo: oxidação de Fe e Mn, umidade

b) Textura do solo

Definida pela proporção entre areia, silte e argila

A classificação mais usada é a o Depto de Agricultura dos EUA

o AREIA MUITO FINA: 0,05 – 0,10 mm

o AREIA FINA: 0,10 – 0,25 mm

o AREIA MÉDIA: 0,25 – 2,0 mm

o AREIA GROSSA: 0,5 – 1,0 mm

o AREIA MUITO GROSSA: 1,0 – 2,0 mm

o SILTE: 0,05 – 0,002 mm

o ARGILA: < 0,002 mm

c) Influência da área superficial em outras propriedades

> área superficial > retenção de água

> área superficial > CTC

> área superficial > agregação

> área superficial > biomassa microbiana

4.6 Textura e propriedades do solo

Page 74: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

79

- Mudança de classe textural só ocorre por processos pedológicos (erosão,

deposição, iluviação e intemperismo) que alteram a textura dos horizontes

- Práticas de manejo não alteram a textura, a não ser que favoreçam a erosão

que elimine um dos horizontes do solo.

4.6.1 Solo arenoso

Baixa capacidade de retenção de água

Boa aeração

Alta drenagem

Baixa matéria orgânica

Rápida decomposição da M.O.

Rápido aquecimento

Baixa compactabilidade

Susceptibilidade moderada à erosão eólica

Susceptibilidade baixa à erosão por água

Potencial de compressão e expansão baixo

Boas condições para preparo do solo após chuva

Alto potencial de lixiviação de elementos

Baixo potencial de estocar nutrientes às plantas

Baixa resistência à mudança de pH

4.6.2 Franco

Proporções próximas entre areia, argila e silte

4.6.3 Determinação da classe textural

a) Tato

Método crítico

Há necessidade de uniformizar a umidade da amostra

a) Análise laboratorial que determina o tamanho das partículas

Método da pipeta ou método do densímetro

Baseados na sedimentação da areia e do silte

A velocidade de precipitação é proporcional ao tamanho das

partículas

A equação que descreve o fenômeno fundamenta-se na Lei de

Stokes

Onde:

g= força gravitacional

ƞ= viscosidade da água a 20 oC

Ds= densidade de partículas

V=

h

t

=

d2 g (Ds – Df)

18ƞ

Page 75: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

80

Df= densidade do fluído

b) Estrutura

- Refere-se ao arranjo das partículas do solo em grupos chamados agregados

ou peds

- Solos com determinada quantidade de argila tendem a formar unidades

estruturais chamadas agregados que podem ser macro ou micro

- Para formar agregados é preciso ter floculação de argila e cimentação em

uma complexa relação de reações químicas, físicas e bilógicas

- Influencia:

Movimento da água

Transferência de calor

Aeração

Porosidade

- É afetada por:

Mecanização

Cultivo

Drenagem

Calagem e adubação

- É caracterizada por:

Tipo

Tamanho

Grau

- Tipos de estrutura

Esferoidal Blocos Laminar Prismática

Estrutura

granular

Blocos

irregulares

Lâminas

delgadas

Colunar ou

prismática

Peds

esferoidais ou

grânulos

Bordas

arredondadas:

subangular

Horizonte

superficial ou

subsuperficial

Prismas

orientados

Arranjamento

Solto

Bordas com

pontas:

angular

Resultado de

processos de

formação do

solo ou de

compactação

Subsolos com

alta qtidade

de Na

Caracteriza

horizonte

superficial

com muita

M.O.

Encontrado

em horizonte

B

Page 76: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

81

É a principal

estrutura

afetada pelo

manejo

Promove boa

drenagem,

aeração e

enraizamento

- Distribuição do tamanho de agregados

- Importante para determinação a distribuição de tamanho de poros

- Importante papel na erodibilidade superficial

- Selamento superficial e formação de crosta

- Agregados rompidos em condições de umidade formam camada de argila

dispesa e espessa que inibe a infiltração de água e a troca gasosa entre solo

e atmosfera, caracterizando o selamento superficial

- Quando seca, o selamento forma uma crosta dura que impede a emergência

de plântulas

- A crosta se torna mais dura com o grau de dispersão coloidal

- A evaporação da água torna a superfície do solo com maior concentração de

sais (Na), levando a uma alta concentração de Na na CTC

- Com a infiltração da água da chuva ou da irrigação, os sais são lixiviados,

mas a concentração de Na na CTC continua alta, levando à dispersão que

contribui com a formação de crostas.

4.7 Densidade do solo

4.7.1 Densidade de partículas (real)

- massa de sólidos/volume de sólidos

- Mg/m3 ou g/cm3

- Determinada pela composição química e estrutura cristalina do mineral

- Não afetada pela porosidade

- Não relacionada com textura estrutura

- Varia de 2,60 a 2,75 Mg/m3

- Para cálculos gerais: 2,65 Mg/m3

- Aumenta para 3 Mg/m3 quando há grande qtidade de magnetita no solo

- Diminui para 0,9 a 1,3 Mg/m3 qdo há grande qtidade de M.O.

4.7.2 Densidade total (global ou aparente)

- Massa de solo + poros/volume solo+poros

- Se aumenta o volume de poros, diminui a densidade total

- É afetada pela textura

Solos argilosos tem poros entre e dentro dos grânulos e maior

porosidade total que solos arenosos e com menor densidade total

Solos arenosos com predomínio de 1 classe de tamanho de areia tem

menor densidade em relação aos solos que tem diferentes tamanhos

de areia pq patículas pequenas preenchem os espaços porosos

- Influencia a força do solo e o crescimento de raízes

Page 77: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

82

Raízes penetram o solo, empurrando para os poros

Se os poros são muito pequenos para acomodar a extremidade da raiz,

ela empurra partículas de solo para o lado e aumenta o poro

Força do solo: é uma propriedade que causa resistência à deformação

Compactação aumenta a densidade e aumenta a força do solo

- Umidade influencia a densidade

- Textura do solo influencia a densidade

Alta qtidade de argla e baixa qtidade de poros aumenta a resistência à

penetração

Na mesma umidade, raízes penetram mais fácil solo arenoso que solo

argiloso

4.8 Porosidade

O espaço do solo não ocupado por sólidos e ocupado pela água e ar compõem o

espaço poroso, definido como sendo a proporção entre o volume de poros e o

volume total de um solo. É inversamente proporcional à Ds e de grande

importância direta para o crescimento de raízes e movimento de ar, água e

solutos no solo. A textura e a estrutura dos solos explicam em grande parte o tipo,

tamanho, quantidade e continuidade dos poros.

Os tipos de poros estão associados à sua forma, que por sua vez tem relação

direta com sua origem. O tipo de poros mais característico são os de origem

biológica, que são arredondados e formados por morte e decomposição de raízes

ou como resultado da atividade de animais ou insetos do solo, como minhocas,

térmitas, etc... Outro tipo de poros apresenta forma irregular e de fenda formados

por vários processos, tipo umedecimento e secagem, pressão, etc... Poros

arredondados tendem a ser mais contínuos e de direção predominante normal a

superfície, ao contrário das fendas no solo.

4.9 Água no solo

- Movimentação é muito influenciada pela capilaridade que é causada pela

adesão e tensão

- Adesão: atração da água pelos sólidos

- Tensão: atração entre as moléculas de água (coesão)

4.9.1 Mecanismo de capilaridade

Fino capilar de vidro dentro de

recipiente com água

Patm

Patm

Page 78: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

83

Capilar tem parede hidrofílica, havendo adesão entre água e parede do

capilar

Adesão faz com que a água tenda a subir pelo capilar

Forças de coesão fazem com que as moléculas de água permaneçam

juntas, formando o menisco

Pressão atmosférica sobre a água fora do tubo é maior que a pressão que

ocorre no menisco, fazendo com que a água suba até o equilíbrio dessas

pressões

Altura de ascensão de

água em solos é menor

que a esperada pq os

poros são tortuosos

Solos arenosos

Solos argilosos

Poros grandes e médios Ascensão inicial da água é lenta

Permitem rápida ascensão da água

Limita a altura

4.9.2 Energia da água no solo

- Energia potencial e cinética influenciam o movimento da água no solo

- Como o movimento é lento, Ecinética é menos relevante

- Água movimenta-se de local de > potencial para < potencial

- As forças que afetam o estado de energia são:

Adesão: potencial mátrico

Atração: potencial osmótico

Gravidade]

- Diferença de potencial (Ψ)

Ψt = Ψm + Ψo + Ψg

4.9.3 Métodos para medir o conteúdo de água no solo

a) Gravimétrico

Método direto

Calibra demais métodos

Destrutivo

h=

2 T cosɑ

r d g

Onde:

T= tensão superficial

ɑ = ângulo de contato

d = densidade da água

r = raio

g = gravidade

Page 79: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

84

d) Sonda de nêutrons

a. Equipamento com fonte de nêutrons e detector

b. Detector é introduzido no solo liberando neutrons

c. Nêutrons colidem com o H da água e se espalham, perdendo

velocidade

d. O número de nêutrons lentos é contado no detector

e. Adequado para solos minerais

f. Inadequado para solos orgânicos

e) Método eletromagnético

TDR (Time Domain Reflectrometry)

Sinais eletromagnéticos

O tempo que os sinais demoram para percorrer é relacionado com a

cte. dielétrica do solo que é proporcional à qtidade de água no solo.

f) Método da capacitância

Capacitância elétrica de 2 eletrodos introduzidos no solo

Depende da cte. Dielétrica que é determinada pelo nível de água no solo

Baixo custo

Material radioativo

e) Métodos para medir o potencial de água

Tensiômetro

- A força com que a água é retida no solo é uma expressão do potencial de água

- Tensiômetros de campo medem a atração ou a tensão

- Trata-se de tubo preenchido com água, fechado e com cápsula porosa na ponta

que fica em contato com o solo

Qdo em solo seco, a água vai do > Ψ (tubo) para o < Ψ (solo) até que o

potencial do tensiômetro se iguale ao potencial do solo

Forma-se vácuo no interior do tubo que é medido por contador

Se o solo fica úmido, água entra no tensiômetro, reduzindo o vácuo

- Útil no potencial entre 0 e -85 kPa

- Se o potencial é mais negativo, o tensiômetro falha pq entra ar na cápsula

porosa

Outros

Psicrômetro: Mede potencial osmótico e potencial mátrico

Aparato de pressão de membrana: usado para potencial < que 10.000 KPa

Blocos de resistência elétrica: acurácia limitada

4.9.4 Fluxo de água no solo

a) Saturado

Page 80: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

85

- Poros cheios

- Equação de Darcy: Qtidade de água/tempo

- Solo arenoso: > movimento vertical

- Solo argiloso: > movimento horizontal

b) Insaturado

- Macroporos preenchidos com ar

- Alta umidade: condutividade hidráulica é maior em solo arenoso pq tem mais

macroporos

c) Infiltração

- Processo no qual a água entra nos espaços porosos e torna-se água do solo

- Taxa de infiltração é denominada infiltrabilidade (i)

- Medida com cilindros de

infiltração (gde e pequeno)

d) Percolação

- Ocorre após a infiltração que é um processo mais superficial

- É a descida de água no perfil

- Taxa de percolação relaciona-se com a condutividade hidráulica

e) Movimento de água em solos estratificados

- percolação diminui quando a água encontra camada com poros menores e baixa

condutividade hidráulica

- camada de material grosseiro também diminui percolação pq macroporos tem <

atração pela água que microporos

f) Movimento de vapor d’água no solo

- Interno: dentro do solo

- Externo: na superfície

- Vapor d’água é perdido por evaporação

- Vai do ponto de > pressão de vapor (UR = 100%) para < pressão de vapor

- Vapor move-se de local com menor concentração de sal para local com maior

concentração de sal, porque o sal diminui a pressão de vapor

- Vapor vai do local com maior temperatura para local com menor temperatura

4.9.5 Definições da água no solo para o manejo

a) Capacidade máxima de retenção de água

- Ocorre qdo todos os poros do solo estão preenchidos com água

i = Q

A t

Onde:

Q= m3 de água infiltrada

A= área da superfície do solo (cm3)

t= tempo (segundos)

Page 81: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

86

- V água = P total

b) Capacidade de campo

- Após saturação máxima, excesso de água drena dos macroporos rapidamente

- A água que sobra influenciada pelo potencial matricial caracteriza a CC

c) Ponto de murcha permanente

- Solo em secamento e plantas em crescimento

- A absorção de água aumenta o secamento

- Plantas absorvem água proveniente de poros maiores e depois não conseguem

mais absorver água

- Plantas murcham de dia para economizar água e voltam a absorver água e

ficam túrgidas à noite

- A umidade do solo nesse ponto caracteriza o PMP

d) Água disponível para as plantas

4.9.6 Fatores que afetam a

disponibilidade de água para as plantas

a) Relação entre conteúdo de água e potencial

> argila > água disponível > PMP

> M.O. > água retida

b) Compactação e potencial matricial, oxigênio e crescimento radicular

Aumenta compactação, diminui água no solo pois:

Diminui macroporos

Aumenta microporos

Diminui espaço poroso total

Diminui o número e o tamanho de macroporos

Aumenta microporos finos e aumenta o PMP

4.10 Ar do solo e temperatura

- Disponibilidade de oxigênio é regulada por:

Macroporosidade

Conteúdo de água

Consumo de oxigênio por plantas e organismos

- Movimento de gases ocorre por

Fluxo de massa (menos importante)

CC

H2O disponível PMP

- 10 a -30 KPa - 1500 KPa

Page 82: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

87

Difusão (mais importante)

- Meios para caracterizar a aeração do solo

Conteúdo de água e outros gases

Preenchimento de ar na porosidade

Potencial redox

- Composição do ar do solo

78% N2

21% O2

0,035% CO2

Outros gases: vapor d’água, metano, ácido sulfídrico, etileno

- Potencial redox

Estado de redução ou oxidação de elementos

Solo aerado: formas oxidadas (Fe3+, Mn4+, NO3-)

Solo encharcado: formas reduzidas (Fe2+, Mn2+, NH4+)

Potencial redox (Eh) mede a tendência de um elemento doar ou receber

elétrons

Eh de referência é o do H (Eh=0)

Eh do solo depende da presença de agentes oxidantes e pH

Quanto menos oxigênio, menor o Eh do solo

- Fatores que afetam a aeração do solo

Falta de drenagem do excesso de água (baixa quantidade de macroporos)

Taxa de respiração de microrganismos (alta respiração reduz oxigênio)

Heterogeneidade do solo

Diferenças sazonais

Vegetação

- Efeitos ecológicos da aeração do solo

Degrada resíduos (decomposição da M.O.)

Oxida elementos podendo causar toxidez

Produção de metano

4.11 Temperatura do solo

- Processos afetados pela temperatura do solo

Germinação de sementes

Funções radiculares (absorção)

Processos microbianos

Oxidação de NH4 para NO3

Agregação do solo (congelamento, derretimento)

Page 83: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

88

- Aumento da temperatura pelo uso do fogo

Aumento breve e superficial

Pode quebrar gibbisita e caulinita

Quebra e muda o movimento de compostos orgânicos que vão para as

camadas mais profundas pelos poros e, ao atingir camadas mais frias,

condensam e precipitam

Compostos podem formar camada hidrofóbica, quando chove a água não

infiltra e favorece a erosão

Afeta a germinação de sementes

5 Bibliografia

NOVAIS, R. F.; ALVAREZ, V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.;

CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade

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Bastos, 1989. 898 p.

RAIJ, B. van Fertilidade do solo e adubação. São Paulo/Piracicaba: Agronômica

Ceres/Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1991.

343 p.

Page 84: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

89

4. MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO

4.1. Introdução

A matéria orgânica do solo (MOS) resulta do acúmulo de resíduos de plantas

e animais. Ela apresenta estado ativo de decomposição que é viabilizada pelos

microrganismos, fazendo com que a MOS apresente caráter transitório e dinâmico.

A MOS apresenta em sua constituição elementos químicos como carbono,

hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo, enxofre (CHONPS), além de outros

elementos considerados nutrientes para as plantas. O carbono e o nitrogênio são os

elementos de maior destaque devido às ligações de compostos de carbono e

síntese proteica. A estrutura da MO morta do solo é composta de C (52 a 58 %) e O

(34 a 35 %), seguido de N e H (3,3 a 7 %). Os elementos S e P ocorrem geralmente

em proporções inferiores a 2 %. A maior parte do C é introduzida ao solo por meio

da fotossíntese (Figura 1) que é a fonte primária de matéria orgânica representada

pela seguinte equação: 6CO2 + 6 H2 energia→6C(H2O) + 6O2.

Figura 1. Representação da entrada do CO2 atmosférico na fitomassa que fará parte

da MOS.

Estima-se que a produção primária total global de C pelo processo de

fotossíntese seja de, aproximadamente, 120 Gt ano-1de C (SILVA E MENDONÇA,

2007). Práticas de manejo que adicionam resíduos vegetais ao solo também

proporcionam aumento nas entradas de C ou redução nas perdas (sistema de

preparo reduzido e remoção reduzida de resíduos), ajudando a manter ou elevar os

níveis de COS (SMITH, 2008).

Os compostos orgânicos podem retornar diretamente ao solo na forma de

resíduos vegetais (restos de culturas, serrapilheira, etc) ou por animais mortos e/ou

seus excrementos. Esse material depositado no solo sofre decomposição a partir da

ação de microrganismos, contribuindo com a disponibilidade de nutrientes.

Page 85: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

90

A MOS é representada pelo carbono, mas o solo não apresenta somente

carbono orgânico. O carbono total existente no solo é constituído pela soma entre C

orgânico e C inorgânico, sendo que o C orgânico está associado com a matéria

orgânica e, em grande parte, é proveniente de restos vegetais.

Como o tecido vegetal apresenta aproximadamente 58% de carbono (massa

seca), para fins práticos a porcentagem de MOS é calculada da seguinte forma:

%MOS = %Corgânico x 1,72 (fator de van Bemmelen). Já o carbono inorgânico do

solo é aquele associado à fração mineral, sendo exemplificado pelos carbonatos de

cálcio (CaCO3) e de magnésio (MgCO3).

Apesar de a MOS ocupar no máximo 5% da fase sólida da maior parte dos

solos (Figura 2A), ela é de grande importância, tanto do ponto de vista ambiental

como para garantir a qualidade dos solos de áreas agricultáveis. No aspecto

ambiental, vale ressaltar que as formas de C orgânico do solo apresentam interação

com a biosfera. Isso acontece porque o carbono da atmosfera passa para os

vegetais por meio da fotossíntese e, mediante deposição da fitomassa no solo, esse

carbono passa a constituir a MOS.

Figura 2. Porcentagem de matéria orgânica na fase sólida do solo (A) e quantidade

de carbono na atmosfera, vegetação e no solo (B).

Além da importância de caráter ambiental (sequestro de C), a MOS também é

fundamental para a qualidade dos solos agricultáveis, contribuindo com

propriedades físicas, químicas e biológicas. Caso a MOS tenha sido perdida em

virtude de práticas de manejo inadequadas, sua reposição é de grande importância.

Porém, essa reposição pode ser tecnicamente difícil, além de representar maior

custo para o agricultor.

Para compreender o custo que a reposição da MOS pode representar para o

agricultor, considere o exemplo do manejo afetando a MOS e a sustentabilidade no

semi-árido cearense (Dados provenientes da área visitada na viagem de campo -

Centro de Convivência com o Semiárido – Embrapa Caprinos):

Page 86: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

91

Fonte: Maia et al., 2006.

4.2. Compartimentos da Matéria Orgânica

Num sentido bem amplo, a MOS pode ser entendida como a fração que

compreende todos os organismos vivos e seus restos que se encontram no solo,

nos mais variados graus de decomposição. Em algumas situações, até mesmo os

resíduos vegetais na superfície do solo são tidos como componentes da MOS. No

entanto, frequentemente e, em especial no manejo da fertilidade do solo, a MOS é

considerada como sendo a fração não-vivente, representada especialmente pelas

frações orgânicas estabilizadas na forma de substâncias húmicas.

4.2.1. Matéria Orgânica Viva

Corresponde ao material orgânico associado às células de organismos vivos

que se encontra temporariamente imobilizado (dreno), mas que representa potencial

de mineralização (fonte). A matéria orgânica viva raramente ultrapassa 4% do COT

do solo e pode ser subdividida em três compartimentos: raízes (5 a 10%),

macrorganismos ou fauna do solo (15 a 30%) e microrganismos (60 a 80%). Apesar

de representar baixo percentual da matéria orgânica, essa fração é muito importante

no processo de transformação dos componentes orgânicos do solo.

As raízes atuam diretamente como fonte de C orgânico, uma vez que

diferentes espécies vegetais imobilizam temporariamente C em sua biomassa

radicular, retornando-o ao solo por ocasião de sua senescência. Dependendo da

espécie, quantidades grandes de C podem ser adicionadas em profundidade. Em

algumas espécies, as raízes finas (< 2mm de diâmetro) apresentam teores elevados

de compostos orgânicos mais resistentes à degradação. Indiretamente, as raízes

contribuem com a exsudação de uma série de compostos orgânicos, os quais

imediatamente vão constituir, em parte, o compartimento da MOS morta

(substâncias não-húmicas).

Page 87: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

92

E, geral, os organismos de menor tamanho encontram-se em maior

quantidade no solo. Os microrganismos são representados, principalmente, pelas

bactérias, fungos, actinomicetos e algas, sendo os vírus componentes

submicroscópicos e os protozoários os componentes da microfauna do solo. A

mesofauna pode ser representada pelas colêmbolas e ácaros; e a macrofauna pelos

anelídeos, térmitas, isópteros e coleópteros.

As funções de destaque da fauna do solo na transformação dos componentes

do material orgânico; mistura dos componentes orgânicos e inorgânicos; formação e

manutenção dos poros do solo; regulação e dispersão da microflora no solo.

Dependendo da forma de alimentação – fitófagos, saprófagos e carnívoros-, os

organismos têm funções diferenciadas. A ação de misturar e deslocar o material

orgânico e mineral do solo da superfície e do subsolo pela fauna é fundamental na

dispersão de nutrientes ao longo do perfil de solo.

A biomassa microbiana (BM) é a principal constituinte da MOS viva. Cerca de

1-3% do COT em solos tropicais está associado a BM. Atua como agente

decompositor e como reserva lábil de C e nutrientes e no fluxo de energia no solo. A

contribuição da microbiota do solo na ciclagem de nutrientes, imobilizados em sua

biomassa, pode ser predita por meio de suas proporções em relação às formas

totais desses nutrientes. O C associado à biomassa microbiana (C-BM) representa

um dos compartimentos da MOS com menor tempo de ciclagem. A BM responde

rapidamente às práticas que levam ao decréscimo ou acréscimo da MOS.

4.2.2. Matéria Orgânica Morta

A matéria orgânica não vivente contribui, em média, com 98% do C em

formas orgânicas (C orgânico) total (COT) do solo, podendo ser subdividida em

matéria leve ou macrorgânica (3- 20%) e húmus. O húmus é um compartimento que

consiste de substâncias húmicas (70%) e não-húmicas (30%). Outro compartimento

que tem recebido atenção mais recentemente é aquele composto por carvão,

originado da queima (natural ou antrópica) de resíduos vegetais.

4.2.2.1. Matéria Orgânica Leve

A matéria macrorgânica, ou matéria orgânica leve (MOL) ou particulada,

dependendo do método de fracionamento, é a fração da matéria orgânica não-

vivente que se encontra em menor proporção, contribuindo com cerca de 3-20% do

COT, composta principalmente por restos vegetais em vários estádios de alteração.

Seu conteúdo está principalmente ligado ao aporte orgânico, pelo aumento e

manutenção dos resíduos orgânicos. Há tendência de aumento dos teores dessa

fração, seja em sistemas que preconizem a diminuição do revolvimento do solo,

como em SPD, seja em espécies em rotação, em condições climáticas menos

favoráveis à decomposição e em sistemas mais produtivos e, ainda, pela adição ao

solo de resíduos que não são produzidos in situ, como compostos orgânicos. Logo,

Page 88: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

93

o tipo de solo, a vegetação, o clima e as práticas de manejo adotadas irão afetar a

magnitude desse compartimento.

A MOL é caracterizada, em razão da sua composição química, pela sua alta

disponibilidade aos microrganismos do solo e pela sensibilidade às alterações do

meio. As frações da MOS podem ser determinadas por meio de fracionamento físico

por diferença de densidade. O uso desse fracionamento permite separar frações

orgânicas cuja composição e localização física no solo são diferenciadas. Com o uso

do método densimétrico, são separados os restos vegetais parcialmente

decompostos e de baixa densidade dos compostos orgânicos mais resistentes à

decomposição, sendo utilizadas, para isso, soluções de sais orgânicos e inorgânicos

com densidades compreendidas na faixa de 1,6 a 2,0 kg L-3.

4.2.2.2. Matéria Orgânica Pesada

O húmus é o compartimento que inclui substâncias húmicas e não-húmicas.

Esses dois grupos de compostos encontram-se fortemente associados no ambiente

edáfico e não são totalmente separados pelos processos tradicionais de

fracionamento, sendo difícil definir seus limites.

4.2.2.2.1. Substâncias Não-húmicas

As substâncias não-húmicas podem chegar a contribuir com 10 a 15 % do

COT dos solos minerais. São grupos de compostos orgânicos bem definidos, como

carboidratos, lignina, lipídeos, ácidos orgânicos, polifenóis, ácidos nucléicos,

pigmentos e proteínas. Esses compostos são provenientes da ação e transformação

da matéria orgânica viva sobre o material orgânico que é aportado ao solo, ou,

ainda, adicionado via exsudação das raízes. Os mono e dissacarídeos, dificilmente

encontrados no solo, são rapidamente oxidados e transformados em outros

compostos (principalmente substâncias húmicas) pela microbiota do solo. As

proteínas, os polifenóis solúveis e os núcleos polifenólicos da lignina são grandes

fontes de N e C na forma aromática, respectivamente, para a síntese de substâncias

húmicas. A lignina, por exemplo, é considerada uma das principais precursoras das

substâncias húmicas nas rotas de humificação e sua degradação é realizada, em

sua maior parte, por um grupo específico de organismos: os fungos de podridão

branca.

4.2.2.2.2. Substâncias Húmicas

As substância húmicas contribuem com cerca de 85 a 90 % do COT dos solos

minerais. São constituídas de macromoléculas humidificadas amorfas, variando do

amarelo a castanho. Esse compartimento é o principal componente da MOS,

constituindo a grande reserva orgânica do solo. Essas frações são formadas por

reações secundárias de síntese e têm propriedades distintas dos biopolímeros de

organismos vivos, incluindo a lignina das plantas superiores (Figura 3).

Page 89: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

94

Figura 3. Esquema ilustrativo das substâncias húmicas de acordo com

Stevenson, (1994).

Atualmente, não existe um método de extração ideal para as substâncias

húmicas. O método ideal deveria: possibilitar o isolamento do material orgânico na

forma não alterada; permitir a extração dos componentes orgânicos sem

contaminação com outras substâncias inorgânicas, tais como argilas e cátions;

favorecer a extração completa, garantindo, assim, a representatividade do material

extraído em relação a todas as demais frações de diferentes tamanhos, e,

finalmente, ser universalmente aplicável a todos os solos.

Percebe-se, assim, que não existe um esquema ideal de extração, purificação

e fracionamento das substâncias húmicas. A escolha de um ou outro método deve,

preferencialmente, estar calcada nos objetivos de estudo. Deve-se ressaltar em

razão da complexidade da gama de estruturas apresentadas pelas substâncias

húmicas, que o seu fracionamento é puramente operacional e baseia-se na sua

solubilidade em diferentes soluções (Figura 4).

Figura 4. Esquema operacional de fracionamento químico com base na solubilidade

diferencial das frações húmicas em ambiente alcalino ou ácido. Fonte: Silva e

Mendonça (2007).

Page 90: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

95

Dentre os vários extratores empregados na extração e fracionamento das

substâncias húmicas, o mais comum tem sido empregado de solução diluída de

NaOH, embora normalmente tenha menor poder de extração, é preferida pela menor

probabilidade de alterar a composição/estrutura das substâncias húmicas (Figura 4).

Assim, as substâncias húmicas podem ser operacionalmente subdivididas

em: frações ácidos fúlvicos (FAF) (solúvel em ácido e base); frações ácidos húmicos

(FAH) (solúvel apenas em base) e fração humina (FH) (não é solúvel em meio ácido

e básico).

Os ácidos fúlvicos são menores que os ácidos húmicos e por isso apresentam

maior mobilidade. Os ácidos fúlvicos também apresentam maior relação O/C que os

ácidos húmicos, o que quer dizer que são mais oxidados que ácidos húmicos. Além

disso, os ácidos fúlvicos apresentam maior CTC, sendo a fração mais importante

para que a MO melhore a fertilidade do solo de regiões tropicais.

4.3. Estabilidade dos Compartimentos da Matéria Orgânica do Solo

A dinâmica e o tamanho dos compartimentos da MOS são influenciados por:

clima (umidade e T º C); composição vegetal (ligninas, polifenóis, relação C/N/P/S)

características do solo (textura, mineralogia, fertilidade, topografia, biota) e manejo.

Quanto aos compartimentos não protegidos (parte viva e lábil), sua

estabilidade é influenciada pela composição dos resíduos. Resíduos com diferente

composição apresentarão taxas de ciclagem diferenciada: numa fase inicial, os

compostos mais lábeis, solúveis em água (aminoácidos livres, ácidos orgânicos,

açucares), são facilmente decompostos pela maioria dos microrganismos (Wolf e

Wagner, 2005). Já a celulose e a hemicelulose, que são de maior complexidade

estrutural, são insolúveis e precisam ser convertidos em unidades de tamanho

menor por meio de sistemas enzimáticos extracelulares especializados para serem

utilizados pela microbiota. Já os compartimentos protegidos (substâncias húmicas)

apresentam mecanismos de estabilização (Figura 5). Tais mecanismos podem ser

de ordem física, química (ou coloidal) e/ou bioquímica.

Page 91: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

96

Figura 5. Esquema de compartimentos da matéria orgânica (Adaptado de Duxbury et

al., 1989).

4.3.1. Mecanismos Físicos

As partículas primárias do solo são arranjadas em agregados de modo que a

MOS fica no interior dos agregados. Os agregados atuam promovendo proteção

física da MOS, reduzindo o acesso aos microrganismos e a difusão de O2.

Esse mecanismo de proteção pela agregação do solo permite a proteção não-

seletiva de compostos orgânicos, acarretando estabilização de formas mais lábeis

de C orgânico. O cultivo do solo tem sido um fator limitante à atuação da proteção

física exercida pelos agregados, especialmente aquela relacionada com os

microagregados.

Do mesmo modo, os cátions são importantes na estabilização da MOS, pois

eles servem de ponte entre os compostos orgânicos e as argilas. Sob condições de

solos tropicais ácidos, o cátion que domina o complexo de troca é o Al3+. No entanto,

na maioria dos solos cultivados, as práticas de manejo da fertilidade, especialmente

a calagem, fazem com que o Ca2+ seja o cátion predominante no complexo sortivo.

4.3.2. Mecanismos Químicos

Estabilidade é dada pela associação da MOS com as frações argila e silte,

formando complexos argilo-orgânicos. Vários são os mecanismos de interação da

MOS com as argilas. Stevenson (1994) destaca os seguintes mecanismos de

ligação:

4.3.2.1. Ligação eletrostática

A atração se dá entre cargas opostas; pode ocorrer entre a superfície de

argilas silicatadas carregadas negativamente e grupamentos que apresentam carga

líquida positiva, como os grupamentos amina.

4.3.2.2. Força de van der Waals

Força resultante de flutuação da densidade de carga elétrica dos átomos. É

considerada importante na adsorção de moléculas polares neutras e não-polares.

4.3.2.3. Ponte de hidrogênio e outros cátions

Assim como os outros cátions, o H+ atua como ponte, ligando o grupamento

orgânico à superfície da argila, ambos negativamente carregados. Esse processo é

o muito importante nos solos ácidos onde se verifica grande protonação de

grupamentos reativos, tanto nas argilas como na MOS. A ponte de H2O é de grande

Page 92: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

97

importância nos solos, se se considerar que ambos os coloides, orgânicos e

inorgânicos, encontram-se hidratados pela solução do solo na maior parte do tempo.

4.3.2.4. Coordenação

Ocorre uma troca de ligantes. Ânions orgânicos ligados a oxihidróxidos

podem ser trocados por outros ânions, mas grande parte é ligada de forma

específica por meio de troca de ligantes.

4.3.3. Mecanismos Bioquímicos

Estabilidade é atribuída à complexidade química dos compostos orgânicos.

Essa complexidade pode ser inerente ao próprio resíduo vegetal adicionado ao solo

(como por exemplo, alto teor de compostos fenólicos, lignina, taninos, etc.) ou aos

processos de condensação e polimerização que ocorrem durante a decomposição

dos resíduos vegetais (humificação), tornando-o mais resistentes à decomposição.

4.4. Propriedades do Solo Influenciadas pela Matéria Orgânica

Apesar de sua pequena proporção em relação à massa total de solos

minerais tropicais, a MOS desempenha grande influência sobre várias propriedades

físicas, químicas e biológicas do solo e exerce várias funções nos ecossistemas

terrestres. No entanto, é bastante difícil separar qual característica do solo é mais

influenciada pela MOS, visto que há grande interação entre elas. Dessa forma,

muitas das variações das propriedades de determinado solo são mais influenciadas,

não somente pelo efeito direto da quantidade e qualidade da MOS, mas também

pelo produto das interações entre os diversos componentes do sistema.

4.4.1. Propriedades Físicas

4.4.1.1. Agregação

O fenômeno de agregação é resultante da reorganização, floculação e ação

das partículas cimentadas sobre as partículas primárias do solo. Os agregados

protegem fisicamente a MOS por formar uma barreira física aos microrganismos e

suas enzimas aos substratos, por controlar interações entre cadeias alimentares e

por influenciar o “turnover” microbiano.

Com base no esquema proposto por Tisdall & Oades (1982), pressupõe-se

que os agregados maiores sejam formados pela união dos agregados da classe

inferior, seguindo uma ordem hierárquica. Conforme seu tamanho, cada classe será

unida por diferentes agentes cimentantes, de modo que a MOS influencia direta e

indiretamente as diferentes fases de formação de agregados. Os agentes

cimentantes são classificados em três grupos: transientes – principalmente

polissacarídeos; temporários – raízes e hifas fúngicas, e; persistentes – compostos

Page 93: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

98

aromáticos recalcitrantes associados com cátions polivalentes e polímeros

fortemente adsorvidos.

Nesse modelo, a matéria orgânica particulada (MOP), hifas fungos e raízes de

plantas podem formar um emaranhado de microagragados. A morte das raízes e as

hifas crescendo dentro e através dos macroagregados produzem agentes ligantes

bioquímicos capazes de estabilizar os macroagregados do solo. Entretanto, essas

frações estão sujeitas à decomposição microbiana; assim, a agregação é um

processso dinâmico no solo, uma vez que a atividade microbiana pode atuar na

produção dos agentes ligantes às partículas, mas também desestabilizar por meio

da decomposição dos mesmos. O aporte continuado de material vegetal é essencial

para que esse balanço seja positivo. Por isso, sistemas que visam a manutenção e

aumento da MOS geralmente estão ligados a uma melhoria da agregação do solo.

A MOS é um agente cimentante que contribui com a formação dos

agregados. Assim, existe relação entre a dinâmica da MO e a agregação do solo.

4.4.1.2. Retenção de água

A MOS pode reter até 20 vezes sua massa em água (Stevenson, 1994) e os

efeitos da MO na retenção de água é mais evidente em solos arenosos. Porém,

parte da água fica retida na estrutura interna da MOS, ou seja, indisponível às

plantas. Por essa razão, a água retida na estrutura ativa e na matéria macrorgânica

é a mais importante para o equilíbrio biológico em regiões secas.

Outro aspecto importante relacionado com a retenção de água pela MOS é

que as substâncias húmicas podem apresentar caráter hidrofóbico ou hidrofílico,

dependendo de sua constituição. Em regiões de clima quente (semiárido) onde se

pratica irrigação e onde há baixo aporte de MO, há favorecimento de decomposição

da matéria orgânica mais ativa. Isso faz com que compostos orgânicos hidrofóbicos

predominem no solo, afetando negativamente a capacidade de retenção de água.

4.4.2. Propriedades Químicas

4.4.2.1. Poder tampão

A MOS tem grande diversidade química devido sua relação com diversos

grupos funcionais, fazendo com que tenha a ação tamponante em ampla faixa de pH

do solo. A redução ou aumento do pH em função dos processos de transformação

da MOS será decorrente da liberação ou consumo de H+.

O aumento do pH pode ocorrer quando: a atividade do H+ é diminuída pela

liberação de cátions; formas orgânicas de N são liberadas pela mineralização e

quando há desnitrificação ou descarboxilação dos ácidos orgânicos. A redução do

pH pode ocorrer quando há liberação de CO2 na decomposição/mineralização da

MO. O CO2 liberado durante o processo forma ácido carbônico e resulta na liberação

de H+.

Page 94: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

99

4.4.2.2. Capacidade de Troca de Cátions

Há muito tempo se reconhece a importância da MOS para a CTC dos solos,

contribuindo com 20-90 % da CTC das camadas superficiais de solos minerais e,

praticamente, toda a CTC de solos orgânicos. Em solos tropicais, com cargas

predominantemente variáveis, dependentes do pH, em estádio avançado de

intemperismo, com a fração argila dominada por caulinita e oxidróxidos de Fe e Al, a

contribuição da MOS é maior, principalmente quando em baixos teores de argila. Se

for considerado que grande parte dos sítios de reação da MOS está ocupada por

metais e ligação com os coloides inorgânicos do solo, a contribuição da MOS para a

CTC efetiva é, frequentemente, menor do que a teoricamente possível, quando

comparada com as cargas totais dos grupamentos carboxílicos e fenólicos.

4.4.2.3. Complexação de metais

A presença de vários grupamentos funcionais na MOS possibilita sua reação

com os metais. Os principais sítios de complexação são os grupamentos

carboxílicos e fenólicos. As interações possíveis entre o complexante (esfera

externa, mantendo a camada de hidratação), como as entre os grupamentos

carboxílicos carregados negativamente (dissociados) e um cátion monovalente, ou

interações mais complexas em que ligações de coordenação (esfera interna,

perdendo a camada de hidratação e estabelecendo ligação covalente diretamente

com a superfície do ligante) com os ligantes orgânicos são formadas. Características

do metal, tais como valência e tamanho do raio hidratado, eletronegatividade e

polarizabilidade; características da molécula orgânica, tais como densidade e tipo de

grupamentos reativos, localização dos grupamentos reativos da molécula e tamanho

da molécula, e características da solução, tais como pH, força iônica e temperatura,

terão grande influência sobre influência sobre a ocorrência e predominância de

determinado mecanismo e sua estabilidade.

A complexação ocorre devido aos grupamentos funcionais da MO

(carboxílicos e fenólicos) que interagem com metais, formando ligação eletrostática

ou de coordenação. A complexação é dependente das características dos metais e

da MOS.

As características da MOS que influem na complexação são: densidade; tipos

de grupamentos funcionais predominantes; localização do grupamento reativo e

tamanho da molécula. Já as características dos metais que influem na complexação

são: valência; tamanho do raio de hidratação e eletronegatividade. A ordem

decrescente de habilidade de íons metálicos formarem quelatos é a seguinte: Fe3+>

Al3+ > Cu2+> Ni2+ > Co2+> Zn2+ > Fe2+> Mn2+.

A indisponibilidade de metais pela MOS tem grande importância para o

manejo sob três aspectos:

1) Alguns metais são micronutrientes essenciais ao desenvolvimento das

plantas (Ex.: Cu, Fe, Mn, Zn). Se esses metais forem complexados pela MOS pode

haver indisponibilidade, prejudicando o crescimento das plantas.

Page 95: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

100

2) Por outro lado, os metais podem adquirir potencial tóxico se presentes no

solo em quantidades excessivas. Nesse caso, a complexação de metais pela MOS é

favorável, reduzindo a disponibilidade de elementos considerados “poluentes”.

3) A complexação de alumínio pela MOS reduz a toxidez desse elemento às

plantas. No sistema de plantio direto (SPD) essa complexação é muito importante,

tendo em vista o elevado aporte de matéria orgânica que acontece em função do

acúmulo de palha e ausência de revolvimento do solo.

4.4.3. Propriedades Biológicas

4.4.3.1. Reserva Metabólica de Energia

A matéria orgânica mantém o metabolismo energético dos organismos do

solo, atuando como substrato. Essa MO possui diferentes elementos químicos

(CHONPS...), dentre os quais está o carbono que atua como fonte de energia aos

microrganismos.

4.4.3.2. Compartimentos e Decomposição de Nutrientes em Forma

Orgânica

Os nutrientes podem ser estocados (imobilizados) ou liberados

(mineralizados) por processos mediados pelos microrganismos (Figura 6A). A

imobilização é a conversão de elementos na forma inorgânica para a forma orgânica

por meio de microrganismos e plantas, seguida por incorporação na biomassa. Já a

mineralização é a conversão de elementos da forma orgânica para a inorgânica.

A decomposição da MOS é importante para liberação de nutrientes que

constituem as estruturas dos compostos orgânicos. Dependendo das relações entre

quantidade de energia e quantidade de nutrientes (C/N; C/P; C/S), os nutrientes que

resultam da decomposição podem ser imobilizados pelos microrganismos ou

mineralizados e liberados para a solução do solo (Figuras 6B e 7).

Figura 6. Representação esquemática da imobilização e mineralização (A) e

relações C/N que resultam em imobilização ou mineralização (B).

Page 96: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

101

4.4.3.3.1. Nitrogênio

Cerca de 95% do N do solo está associado à matéria orgânica. O ciclo do N

envolve a transferência do N2 atmosférico para compostos orgânicos, os quais são

convertidos em N amoniacal, que por sua vez, é transformado em N nítrico e,

finalmente, o N retorna à atmosfera na forma gasosa. As principais reações no solo,

nas quais as formas orgânicas de N estão envolvidas são: (a) fixação biológica do

N2; (b) mineralização ou amonificação do N orgânico a amônio; (c) imobilização ou

assimilação de amônio a N orgânico e, (d) assimilação ou imobilização de nitrato a N

orgânico.

4.4.3.3.2. Fósforo

O ciclo do P é bastante similar ao ciclo de ao ciclo de outros nutrientes, visto

que ele se encontra em minerais e no solo, organismos vivos e água. Pelo fato de

ser muito reativo, o P combina com O2 e, portanto não é encontrado na forma

elementar na natureza. Assim, o P do solo, água e seres vivos encontra-se

associado a quatro O, formando o PO43-. Em solos ácidos, grande parte do

ortofosfato (PO43-) encontra-se fortemente associado aos oxidróxidos de Fe e Al,

enquanto, nos solos alcalinos, os fosfatos de Ca são as formas predominantes.

Dessa forma, as concentrações de íons de ortofosfato na solução do solo são

bastante baixas. Na solução solo, o ortofosfato é encontrado na forma de H2PO4-,

em solos ácidos, e de HPO42-, em solos alcalinos. Essas formas iônicas de P são

absorvidas por plantas e microrganismos. A maior parte desse P é incorporado à

estrutura de compostos orgânicos (Po). As plantas podem ser consumidas por

animais, que retornarão o P ao solo na forma de dejetos orgânicos. No solo, o

ortofosfato será liberado para a solução pelo processo de mineralização do Po

mediada por microrganismos. O Po também poderá ser incorporado em compostos

orgânicos mais estáveis que farão parte da matéria orgânica humificada do solo.

4.4.3.3.3. Enxofre

Em regiões de clima mais seco (árido, semi-árido), as formas inorgânicas

(como o gesso) são o principal compartimento de S no solo, mas nos solos das

regiões úmidas e subúmidas, o S na matéria orgânica geralmente contribui com

mais de 90% do S total. Apesar da importância do S do ponto de vista nutricional e

sua predominância em formas orgânicas em nossos solos, informações relativas à

sua composição e biodisponibilidade são ainda bastante escassas.

A dinâmica do S no solo é ditado por processos de imobilização e

mineralização, ambos mediatos pela atividade microbiana. Embora parte do S

orgânico do solo possa ser derivado diretamente de compostos de plantas e animais

(aminoácidos sulforados, sulfolipídeos, etc), evidências recentes indicam que grande

parte do S orgânico é sintetizado in situ.

Page 97: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

102

Na maior parte dos solos, a principal fonte de S para as plantas advém da

mineralização da MOS.

4.4.3.3.4. Relações C/N, C/P e C/S

A mineralização do N, P e S da MOS ocorre simultaneamente com a do C. De

modo geral, haverá mineralização líquida desses nutrientes quando as relações C/N,

C/P e C/S forem, respectivamente, menores que 30, 200 e 300. Isso indica que o

requerimento relativo de N pelos microrganismos é maior que o do P, que, por sua

vez, é maior que o de S, bastando apenas que o resíduo orgânico adicionado ao

solo tenha uma relação C/N>30 para que o processo de imobilização de N

predomine em relação à mineralização deste nutriente. No decorrer de um ano, 55 a

70% do C de todo resíduo vegetal e animal retornado ao solo é liberado na

atmosfera como CO2, porém há diferentes taxas pelas frações que compõem a

MOS. Considerando as formas orgânicas de N, P e S, conclui-se, que durante o

processo de mineralização da matéria orgânica, a taxa de liberação desses

elementos será distinta, fazendo com que os processos de acúmulo e mineralização

de C e N sejam distintos do P e S (Figura 7).

Pode ocorrer competição entre o material orgânico adicionado e a planta

pelos nutrientes da solução do solo. Quando os processos de mineralização

predominam em relação aos de imobilização, a matéria orgânica funcionará como

fonte de nutriente e, consequentemente, aumentará a disponibilidade deste para as

plantas. Do contrário, quando a imobilização prevalece sobre a mineralização, a

matéria orgânica passa a reter o nutriente, diminuindo sua disponibilidade para as

plantas. Esse processo depende de outros fatores, tais como tempo de conversão

da área de vegetação natural para área agrícola, estádio de degradação do solo e

tempo de adoção de sistemas agrícolas com aporte constante de matéria orgânica.

Com a adoção de práticas agrícolas que priorizem o aporte orgânico, tal como

o plantio direto e agroflorestal, espera-se que, nos primeiros anos, quando as taxas

de acúmulo de MOS são altas, a matéria orgânica funcione imobilizando e

competindo pelos nutrientes. Nos anos seguintes, quando os incrementos nos teores

de MOS são muito pequenos ou inexistentes, espera-se que o sistema orgânico

acarrete equilíbrio entre os processos de imobilização e mineralização. Com o

tempo, o aporte dos nutrientes ao solo via deposição de resíduos vegetais da parte

aérea e das raízes será maior que a quantidade de nutrientes imobilizados pela

biomassa microbiana e pelos compartimentos física e quimicamente protegidos da

MOS. Só a partir desse ponto, a MOS expressará, ao máximo, seu potencial de

mineralização de nutrientes. Essa dinâmica das diferentes frações da MOS é

especialmente importante para entender as mudanças na disponibilidade de

nutrientes.

Page 98: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

103

Figura 7. Relações C/N; C/P e C/S que resultam em imobilização e mineralização.

4.5. Bibliografia

NOVAIS, R. F.; ALVAREZ, V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.;

CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade

Brasileira de Ciência do Solo, 2007. 1017 p.

Page 99: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

104

PARTE V – DINÂMICA DA ESTRUTURA DO SOLO

1 Introdução

A estrutura é um fator chave para as funções que o solo exerce, pois

representa a capacidade de dar suporte à vida das plantas e dos animais e de

moderar a qualidade ambiental com ênfase particular no seqüestro de carbono do

solo (C) e na qualidade da água.

A estabilidade de agregados é usada como indicador da estrutura do solo. A

agregação resulta do rearranjo, da floculação e da cimentação das partículas. O

declínio na estrutura é considerado como forma de degradação do solo e é

freqüentemente relacionado com o uso da terra e com práticas de manejo do solo e

das culturas agrícolas.

A estrutura influencia o movimento e a retenção da água no solo, erosão,

encrostamento superficial, ciclagem de nutrientes, penetração das raízes e

produtividade das culturas. Fenômenos externos tais como o escorrimento

superficial, a poluição das águas superficiais e subterrâneas e as emissões do CO2

são influenciadas pela estrutura do solo.

A redução nas operações de preparo e na fertilização pode diminuir as

emissões do CO2 devido ao menor revolvimento do solo e menor aplicação de

insumos, os quais são dependentes de combustíveis fósseis. A biodiversidade das

espécies é afetada pelas práticas de manejo, de modo que, geralmente, práticas

agrícolas fundamentadas em monocultivos com elevado aporte de insumos

diminuem a biodiversidade, enquanto que práticas alternativas com baixo aporte de

insumos melhoram a biodiversidade.

Com o aumento da população e da urbanização, é importante identificar

métodos para aumentar a produção de alimentos e ao mesmo tempo manter a

qualidade ambiental. Para isso é importante conhecer aspectos referentes à

agregação e a estrutura do solo para que seja possível identificar as formas de

manejo mais adequado.

2 Estrutura do solo

A estrutura do solo se refere ao tamanho, à forma e ao arranjamento entre

sólidos e os espaços vazios, a continuidade dos poros e espaços vazios, sua

capacidade de reter e transmitir fluídos e substâncias orgânicas e inorgânicas e sua

habilidade de suportar o crescimento e o desenvolvimento vigoroso das raízes.

Estrutura do solo favorável e elevada estabilidade de agregados são

importantes para melhorar a fertilidade do solo, a produtividade agrícola, a

porosidade e reduzir a erodibilidade.

Page 100: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

105

3 Agregação

Os agregados são partículas secundárias formadas por meio da combinação

de partículas minerais com substâncias orgânicas e inorgânicas. A dinâmica

complexa da agregação é resultado da interação de muitos fatores, incluindo os

ambientais e os ligados ao manejo do solo, além da influência das plantas e das

propriedades do solo, tais como: composição mineral, textura, concentração do

carbono orgânico do solo (COS), processos pedogênicos, atividades microbianas,

íons trocáveis, reservas de nutrientes e disponibilidade de água.

Os agregados ocorrem em uma variedade de tipos e tamanhos. Estes são

freqüentemente agrupados pelo tamanho em macroagregados (>250 μm) e

microagregados (<250 μm). Estes grupos podem ser subdivididos pelo tamanho, e

os grupos de tamanhos diferentes variam nas suas propriedades, tais como agentes

ligantes e distribuição de carbono e nitrogênio.

3.1 Mecanismos da agregação

Existem vários mecanismos de agregação. Os agregados são formados em

estágios nos quais predominam diferentes mecanismos de ligação. Há diferentes

explicações para a formação de agregados no solo:

a) Teoria hierárquica da agregação:

Propõe que os microagregados unem-se para formar macroagregados e as

ligações dentro dos microagregados são mais fortes que as ligações entre

microagregados. Microagregados (<250 μm) são formados por moléculas orgânicas

(MO) unidas à argila (A) e cátions polivalentes (C), formando partículas compostas

(A- C - MO), que se unem entre si para formar os macroagregados [(A-MO-C)x]y.

b) Matéria orgânica particulada

Alternativamente, os macroagregados também podem ser formados em torno

da matéria orgânica particulada (MOP). Com a decomposição da MOP e liberação

de exudados microbianos, os macroagregados tornam-se mais estáveis, diminui a

relação C/N e ocorre a formação interna de microagregados. Os microagregados

formados internamente contêm maiores quantidades do compartimento recalcitrante

do COS. Com a utilização do compartimento mais lábil do COS e redução da

atividade microbiana, a fonte de exudados diminui e os macroagregados perdem sua

estabilidade, eventualmente há quebra e liberação de microagregados mais

estáveis.

c) Teoria concêntrica da agregação

As raízes e hifas liberam compostos orgânicos que agem como susbtâncias

aderentes mantendo as partículas de solo unidas. As partículas podem ser

rearranjadas durante o emaranhamento, enquanto os ciclos de umedecimento e

secagem ajudam a estabilizar os agregados. Microagregados bacterianos formam-

Page 101: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

106

se a partir de colônias de bactérias, seus exudados formam cápsulas de

polissacarídeos ao redor da colônia e as partículas de argila são alinhadas e

atraídas pela secagem e contração. A estrutura de argila forma uma camada

protetora na colônia bacteriana inibindo a decomposição do COS interno. A teoria

concêntrica da agregação sugere que as camadas externas são construídas

concentricamente sobre as camadas externas dos agregados, com isso o C das

camadas mais externas é mais novo que o C no interior dos agregados.

A precipitação de óxidos, hidróxidos, fosfatos e de carbonatos melhoram a

agregação. Cátions tais como Si4+, Fe3+, Al3+ e Ca2+ estimulam a precipitação dos

compostos que agem como agentes ligantes de partículas primárias. Cátions

também formam pontes entre a argila e partículas de MOS resultando em

agregação. Os compostos orgânicos dissolvidos (COD) podem complexar com Fe3+

e Al3+ em pH baixo, formando compostos organo-metálicos móveis que podem

precipitar em outra parte no solo. A complexação reduz o acesso microbiano ao

COS e sua mineralização.

É possível que os agregados se formem diretamente de uma combinação de

processos (Figura 1). Macroagregados podem inicialmente formar-se por meio da

acumulação de microagregados ou em torno da MOP ou dos centros bacterianos.

Posteriormente à decomposição ou quebra dos macroagregados formam-se

microagregados. Os microagregados podem ser formados inicialmente pela união

progressiva de argila, MOS e cátions, ou como produtos da reciclagem dos

macroagregados. As partículas primárias podem se acumular nas camadas externas

dos agregados.

Figura 1. Alguns possíveis cenários da agregação ( MO – matéria orgânica, MOP –

matéria orgânica particulada) (Fonte: Bronick & Lal, 2005).

3.2 Dinâmica e reciclagem dos agregados

Partículas Primárias Argila – Cátions -MO

Macroagregados Microagregados

Argila – Partícula -MO Acumulação Concêntrica

Hierárquica

Bactérias ou Centro MOP

Page 102: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

107

Os contínuos efeitos interativos dos processos de formação do solo, as

propriedades do solo e os fatores exógenos tais como paisagem e clima

estabelecem o equilíbrio dinâmico na estrutura do solo (Figura 2).

Os agregados podem ser rompidos por uma variedade de mecanismos,

dependendo da natureza dos agentes ligantes. As atividades dos organismos

influenciam o tempo de retenção e a reciclagem do C no solo e estes, por sua vez,

afetam a estabilização, a agregação e a reciclagem do C.

A decomposição da matéria orgânica do solo (MOS) é influenciada pela

atividade dos organismos, pelas propriedades do solo e por fatores ambientais como

temperatura, concentração gasosa, disponibilidade de nutrientes e gradiente de

umidade. A relação C/N é comumente usada como indicador da reciclagem do COS,

embora para as frações de carbono recalcitrante (CR) e inerte (CI), a relação de

lignina/N ou outros compostos mais resistentes de ser mais apropriada.

Organismos

Acessibilidade à decomposição

Cátions

Fatores Exógenos

Perturbações Antropogênicas

Argila

Propriedades do Solo

Processos Pedogenéticos

Matriz do Solo

Estabilização do C

Reciclagem de macroagregado Formação de microagregado

Fonte de C

Page 103: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

108

Figura 2. Fatores que afetam a agregação do solo (Fonte: Bronick & Lal, 2005).

O retorno dentro do sistema sugere que a decomposição da MOS é afetada

pela estrutura do solo, por meio da porosidade, das trocas gasosas e da umidade do

solo, bem como pela localização física do C como sua profundidade e a oclusão. A

dinâmica da reciclagem varia espacialmente dentro do solo e dentro dos agregados

individuais, bem como no tempo. A dinâmica do COS pode ser mais lenta no final da

estação de crescimento das plantas, resultando em menores taxas de reciclagem

nos macroagregados. Agentes ligantes como os compostos inorgânicos, argilas de

baixa atividade e agentes ligantes de CR são geralmente resistentes à quebra. A

mobilização e precipitação das substâncias podem promover a dissolução e quebra

dos agregados, bem como a formação de novos agregados.

A ingestão pela fauna do solo pode romper os agregados, embora isto, em

geral, aumente a estabilidade dos agregados. Os agregados também são

suscetíveis ao rompimento por distúrbios físicos tais como, a expansão da argila, o

cultivo e o impacto da chuva.

4 Processos Pedogenéticos e a estrutura do solo

O desenvolvimento estrutural e a agregação do solo ocorrem dentro do

contexto dos processos pedogenéticos naturais e das atividades antropogênicas. O

intemperismo altera os materiais, os quais são translocados no perfil dos solos por

meio da lixiviação, bioperturbação, eluviação e iluviação, resultando em

horizontalização. A matéria orgânica dissolvida dos horizontes eluviais é imobilizada

em horizontes iluviais como o horizonte B. Os materiais precipitados aumentam a

ligação entre agregados no horizonte B.

5 Estrutura do Solo e Crescimento das Plantas

A estrutura do solo afeta o crescimento das plantas influenciando a

distribuição das raízes e a sua habilidade para absorver água e nutrientes. A

estrutura do solo facilita a oxigenação e a infiltração de água e pode melhorar o

armazenamento da água. O aumento na transferência de água pode reduzir a

retenção do fertilizante na matriz do solo e aumentar a eficiência do uso do

fertilizante pelas plantas. Distúrbios na estrutura do solo ocasionados pela

compactação ou cultivo podem resultar em rápida reciclagem de nutrientes,

encrostamento superficial, redução na disponibilidade de água e ar para as raízes.

Page 104: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

109

6 Estrutura do Solo Influenciada pelo Clima e Fatores Exógenos

O clima e a posição da paisagem influenciam a estrutura do solo a partir de

fatores como temperatura, precipitação, altitude, gradiente e aspecto do declive. As

propriedades do solo tais como textura, mineralogia, COS e organismos moderam a

influência do clima.

6.1 Clima

O clima afeta a agregação do solo por meio de alterações na temperatura

(congelamento e descongelamento) e no regime hídrico que afetam os ciclos de

umedecimento e secagem que podem reorientar as partículas, possivelmente

resultando em melhoria da agregação e aumento no isolamento do COS dentro dos

agregados.

Mudanças na temperatura e na umidade afetam a atividade biológica e

alteram as taxas de decomposição. Altas temperaturas resultam no aumento da

respiração e da atividade biológica no solo, enquanto que baixas temperaturas

resultam em maior estoque de COS.

A umidade do solo e os ciclos de secagem e umedecimento têm efeitos

variáveis na agregação. Os ciclos de secagem e umedecimento podem romper a

agregação em argilas expansivas. Partículas de argila por ocasião do umedecimento

se expandem e separam-se uma das outras, reduzindo a estabilidade dos

agregados.

Por outro lado, os ciclos de secagem e umedecimento têm influências

positivas nos estágios iniciais de agregação em solos com argilas não expansivas e

nos macroagregados (Figura 3). Durante o umedecimento, as partículas da argila

tendem a dispersar-se formando pontes e camadas quando secam. Isto favorece o

contato entre as partículas e aumenta as ligações das argilas. Os ciclos também

afetam a quantidade de matéria orgânica particulada incorporada dentro dos

agregados e a porosidade, sendo importantes para a agregação nos solos de

regiões áridas, semi-áridas e subúmidas.

A temperatura e o regime hídrico podem ser modificados por práticas de

manejo como irrigação, uso de culturas de cobertura e cobertura morta. O cultivo

convencional aumenta a exposição ao ar, sol e vento. Práticas de manejo moderam

o impacto dos ciclos de secagem e umedecimento. Em experimentos com plantio

direto, os ciclos de secagem e umedecimento são menos intensos devido à proteção

do solo com palha na superfície. A dispersão ou quebra causada pelos ciclos de

secagem e umedecimento pode ser reduzida pelo aumento de substâncias húmicas

no solo.

Ciclos de umedecimento e secagem (quat.)

80

70

60

50

40

30

10

0 0 5 10 15 20 25 30

20

Caulinita, 25% Esmectita, 25% EA

(%)

Page 105: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

110

Figura 3. Ciclos de secagem e umedecimento na estabilidade de agregados (EA)

com 0,5 – 1,0 mm de diâmetro com 25% de argila caulinita ou esmectita (Fonte:

Bronick & Lal, 2005).

6.2 Paisagem/topografia

A região geográfica, a altitude, o aspecto e o gradiente do declive influenciam

a vegetação e a erosão. A altitude influencia a taxa de intemperismo nos solos,

tendo efeito indireto na estrutura. O aumento na estabilidade de agregados e na

vegetação permite aumentar a infiltração e, consequentemente a redução da erosão.

Solos declivosos são mais suscetíveis à erosão, particularmente em regiões com

chuvas intensas. A erosão remove preferencialmente as partículas menos densas ou

partículas leves, incluindo a argila e o COS que são os dois agentes primários

ligantes na agregação. A erosão do COS pode também aumentar a taxa de

mineralização.

6.3 Propriedades do Solo

a) Tipos de Solo

A agregação é controlada por diferentes mecanismos nos diferentes tipos de

solos (Quadro 1). A taxa e a estabilidade da agregação geralmente aumentam com

o COS, área superficial da argila e CTC. Em solos com baixa concentração de COS

ou de argila, a agregação pode ser dominada por cátions, enquanto o papel dos

cátions na agregação pode ser mínimo em solos com elevada concentração de COS

ou argila.

Quadro 1. Tipos de solo e fatores de agregação

Ordens de Solo Fatores de agregação Autores

Alfisols (Luvissolos) Matéria orgânica do solo Dalal e Bridges, 1996;

Oades e Waters, 1991

Andisols (Solos

originados de

cinzas vulcânicas

Argila alofana,

argila não cristalina

Torne t al., 1997

Aridisols (Solos de

regiões áridas)

Carbono orgânico solúvel,

carbonatos e minerais de argila

intemperizada

Biox-Fayos et al., 1998;

Boettinger e Southard,

1995

Entisols

(Neossolos)

Matéria orgânica do solo Dalal e Bridges, 1996

Inceptisols

(Cambissolos)

Argila amorfas Dalal e Bridges, 1996

Oxisols

(Latossolos)

Óxidos de Al3+ e Fe3+ Oades e Waters, 1991;

Dalal e Bridge, 1996

Spodosols

(Espodossolos)

hidróxidos de Al não cristalino,

raízes das plantas e rizosfera,

MOS hidrofóbica, complexos

De coninck, 1980

Page 106: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

111

organo-metálicos, hidróxidos

metálicos.

Ultisols (Argissolos

distróficos)

MOS Dalal e Bridge, 1996;

Zhang e Horn, 2001

Vertisols

(Vertissolos)

Sesquióxidos não cristalinos,

frações do tamanho de argila

Leinweber et al., 1999

Ligações de cátions

polivalentes, ciclos de

umedecimento e secagem

Dalal e Bridge, 1996

(Fonte: Bronick & Lal, 2005)

b) Textura

A textura do solo tem uma influência significativa na agregação. Em solos

arenosos o COS tem maior influência na estrutura; enquanto que com o aumento do

conteúdo de argila, o tipo da argila é mais importante que a quantidade na

determinação da agregação. A concentração de argila afeta fisicamente a agregação

por meio da expansão e dispersão. O potencial da desagregação pela expansão

induzida é reduzido em níveis baixos de argila. O aumento na concentração de

argila está associado com o aumento na estabilização do COS.

c) Capacidade de Troca de Cátions (CTC)

A CTC é freqüentemente relacionada a agregados estáveis. A agregação é

estimulada pela interação entre cátions polivalentes na qual as forças repulsivas

entre as cargas negativas da argila e/ou o COS são reduzidas. Os agregados

contendo cátions polivalentes (Ca2+, Al3+ e Fe3+) são resistentes à desagregação.

d) pH do solo

Em adição aos efeitos no crescimento das plantas, o pH do solo também

influencia a solubilidade dos íons metálicos, a atividade microbiana e a dispersão da

argila. As cargas negativas das superfícies das partículas de argila aumentam com o

pH, aumentando a repulsão das partículas. Portanto, o controle do pH é importante

em solos com argilas dispersivas. As partículas de argila freqüentemente floculam

em valores altos de pH. Os solos com alto pH e elevada concentração de

carbonatos formam agregados grandes.

O calcário é comumente adicionado ao solo para aumentar o pH e

freqüentemente resulta no aumento da atividade microbiana e na produção das

culturas e contribui para aumentar MOS e indiretamente aumenta a agregação.

e) Porosidade

Page 107: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

112

Existe ampla escala de tamanhos de poros entre e dentro dos agregados em

solos bem estruturados. Poros grandes (>30 μm) incluem bioporos, rachaduras e

poros entre agregados. O espaço, o tamanho e a quantidade de poros podem

influenciar o COS e a sua reciclagem. A textura do solo e o COS podem influenciar a

porosidade. Bioporos são importantes para aumentar a difusão de água e gases

influenciando a decomposição. Os poros pequenos podem proteger o COS da

decomposição, limitando o acesso microbiológico pelo controle da difusão de gases

e da disponibilidade de água. A dispersão da argila, o cultivo, a compactação e o

encrostamento podem resultar no descréscimo da porosidade. Em solos expansivos,

a porosidade está relacionada com o conteúdo de água no solo e às características

de expansão e contração. O cultivo causa aumento da porosidade em curto prazo,

mas em longo prazo diminui a agregação.

6.4 Água do Solo

A textura e estrutura do solo influenciam o fluxo, a disponibilidade e o estoque

de água no solo. A agregação e a interconexão de poros aumentam a passagem do

fluxo no solo, podendo resultar no aumento da infiltração e redução do escorrimento

superficial, no movimento mais profundo da água no perfil do solo e no aumento da

lixiviação.

7 Agentes de agregação

7.1 Carbono

A fonte de C, se orgânico ou inorgânico, influencia sua composição e

concentração no solo e, por sua vez, na eficácia da agregação por meio da

associação com cátions e partículas do solo.

a) Carbono inorgânico do solo (CIS)

O CIS existe como minerais primários e secundários. Os carbonatos primários

ou litogênicos originam-se do material da rocha, sendo a fonte para a formação de

carbonatos secundários que são dissolvidos e translocados pela água com ácidos

orgânicos e/ou CO2 do solo e da atmosfera (Figura 4).

Intemperismo de carbonatos Liberação de CO2

Fixação união com CO2

Carbonatos no solo

CO2 no solo e na atmosfera

Page 108: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

113

Figura 4. Relação ente carbonatos e CO2 do solo via intemperismo e fixação.

Carbonatos secundários ou pedogenéticos formam-se quando o CO2

dissolvido precipita em carbonatos e bicarbonatos com Ca2+ e Mg2+ de fora do

sistema. Sob condições de baixa umidade ou aumento do pH, os cátions,

bicarbonatos (HCO3−), carbonatos dissolvidos e o CO2 podem reagir com os cátions

disponíveis para formar camadas de carbonatos secundários nas partículas

primárias do solo.

O efeito dos carbonatos na estrutura é moderado pelo COS. O aumento no

COS resulta no aumento da dissolução e reprecipitação de carbonatos no solo. O

COS aumenta a respiração microbiana e o CO2 e é uma fonte de Ca2+ e Mg2+. Em

baixas concentrações de COS, a estabilidade dos macroagregados é melhorada

pelos carbonatos.

Elevadas concentrações de carbonatos melhoram a proteção do COS,

provavelmente devido à redução da mineralização do COS e aumento no Ca2+. Os

organismos influenciam a agregação mediada por carbonatos: a atividade de

minhocas pode alterar a concentração de carbonato, embora os efeitos sejam

inconsistentes e possam depender da espécie da minhoca.

A irrigação e o manejo da fertilidade aumentam o COS e, desse modo

aceleram a formação de carbonatos secundários em solos áridos e semi-áridos por

meio da adição de ácidos carbônicos e orgânicos que podem reagir com os silicatos

do solo para seqüestrar o C.

b) Carbono orgânico do solo (COS)

O COS resulta em regiões de heterogeneidade, conduzindo à formação de

pontos de agregação de modo que o aumento do COS está relacionado com o

aumento da agregação (Figura 5). As propriedades químicas do COS determinam

sua carga e capacidade de complexação, influenciando as taxas de decomposição

que têm efeitos diretos na agregação. O efeito agregador do COS lábil nos

agregados é rápido, mas transiente enquanto que a decomposição lenta do COS

tem efeito mais sutil e duradouro na agregação. O isolamento da fração do C lábil

dentro dos agregados aumenta a estabilidade e durabilidade deste carbono pela

redução de sua decomposição (Figura 5). O aumento na biomassa microbiana está

associado com o aumento da estabilidade dos agregados.

Matéria orgânica particulada (MOP): A MOP compreende partículas

grandes de matéria orgânica (250-2000 μm) que existem como uma MOP livre,

também denominada Fração Leve Livre (FLL) ou como matéria orgânica encrustada

nas partículas do solo, também denominada Fração Leve Oclusa (FLO), que oferece

proteção física à decomposição. A FL no solo é geralmente associada com a argila e

os cátions polivalentes para formar agregados.

Page 109: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

114

O aumento do COS e da agregação no sistema de plantio direto podem ser

devido ao aumento na FL/MOP (Six et al., 1999). A MOP/FL pode agir como núcleo

para formação de macroagregados com o material que acumula em seu entorno.

Macroagregados têm grande concentração de MOP/FL de baixa densidade. Dentro

dos macroagregados, a decomposição do carbono leve (CL) da matéria orgânica

oclusa (MOO) pode conduzir ao enriquecimento relativo de carbono recalcitrante

(CR). O rompimento da MOP dentro dos agregados resulta na exposição do CL,

tornando-o disponível para a decomposição microbiana (Figura 6). A MOP pode ser

importante agente na ligação de microagregados para formar macroagregados, pois

a sua decomposição pelos microrganismos produz polissacarídeos extracelulares

que atuam como agentes ligantes.

Figura 5. Carbono orgânico do solo (COS) e diâmetro médio ponderado (DMP)

(Fonte: Bronick & Lal, 2005).

Carboidratos: O papel dos carboidratos na melhoria da estrutura do solo é

variável. Os carboidratos originados a partir das plantas são freqüentemente de

tamanho mais grosseiro e ocorrem na fração da areia, enquanto que os carboidratos

produzidos por atividades microbianas são mais finos e estão nas frações argila e

silte. Os carboidratos formados microbiologicamente tendem a ser mais resistentes à

decomposição. O cultivo reduzido (cultivo conservacionista ou plantio direto), a

adição de esterco e o uso de culturas de cobertura estão associados com o aumento

nas concentrações de carboidratos e melhoria da estrutura do solo.

DMP = 0,0514x + 0.0697 R

2 = 0,6654

DMP (mm)

Concentração de COS (g kg-1

)

3.0

2.5

2.0

1.5

1.0

0.5

0 10 20 30 50 40

0.0

Page 110: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

115

Figura 6. Fluxograma da compartimentalização do COS (CI - carbono inerte, CL

fração lábil, CR – carbono recalcitrante) (Fonte: Bronick & Lal, 2005).

Polissacarídeos: São mineralizados rapidamente e atuam como agentes

ligantes transitórios que iniciam uma agregação que pode não ter estabilidade em

longo prazo. Os polissacarídeos adsorvidos fortemente nas superfícies minerais

agem como pontes para unir as partículas do solo. Os polissacarídeos podem

também formar uma substância gelatinosa que age como cola para unir as

partículas em agregados.

Fenóis: As moléculas fenólicas podem complexar com cátions para formar

pontes catiônicas. Os fenóis e os polifénois são precursores de substâncias húmicas

e aumentam a agregação. A baixa agregação nos solos cultivados com soja é

atribuída aos baixos conteúdos fenólicos nos resíduos da cultura. Já a elevada

agregação é freqüentemente associada com plantas ricas em fenóis.

Lignina: A baixa taxa de decomposição da lignina é considerada como um

fator chave nas taxas de retorno do C, melhorando a agregação. A mucilagem e

outros compostos resultantes da decomposição da lignina por fungos contribuem

para agregação do solo.

Lipídios: Os lipídios são freqüentemente abundantes na fração da argila. Em

alguns solos, os lipídios podem melhorar a estabilidade de agregados contra a

dispersão e fragmentação causadas pela entrada repentina de água. Provavelmente

Aporte de C

a

b

CR

CL

CO2 atmosférico

CI

c

Tempo de residência

Decomposição

a – Proteção física b – Proteção química c – Perturbações

a

b

Page 111: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

116

isto está relacionado à natureza hidrofóbica dos lipídios e à mineralogia da argila. Os

lipídios exercem papel mais importante na agregação em solos que apresentam

misturas de argila e ilita do que nos solos dominados por caulinita ou esmectitas. Os

cultivos convencionais apresentam maiores quantidades de lipídios extraídos totais

quando comparados com o plantio direto, os quais exibem geralmente maiores

níveis de biodegradabilidade da MOS.

Substâncias húmicas (SH): A recalcitrância das substâncias húmicas é

resultado de sua resistência química e de sua associação com a matriz do solo, a

qual oferece proteção física. Os ácidos húmicos (AHs) podem ser adsorvidos às

partículas de argila pelos cátions polivalentes, formando cobertura eficaz que evita a

dispersão da argila. As SHs podem aumentar a estabilidade dos agregados e reduzir

a dispersão devido aos ciclos de umedecimento e secagem.

Hidrofobicidade: A hidrofobocidade do COS, junto com suas propriedades

de carga e a interação com as partículas do solo, afeta as propriedades físico-

químicas do solo incluindo a estabilidade estrutural. As moléculas hidrofóbicas

causam repelência à água nos agregados do solo e diminuem a sua molhabilidade,

que pode resultar numa maior coesividade, reduzindo a dispersão e as taxas de

decomposição do COS. A estabilidade de agregados a longo prazo pode ser

melhorada pela adição de materiais orgânicos hidrofóbicos tais como os resíduos

orgânicos contendo materiais hidrofóbicos e COS de tipos da planta como Cistus e

Pinus. O plantio direto e as queimadas afetam a hidrofobicidade do solo. Queimadas

com elevadas temperaturas podem resultar na repulsão da água, aumentando a

estabilidade estrutural. Também é preciso lembrar que a hidrofobicidade também

pode prejudicar a infiltração de água, o que aumenta a suscetibilidade à erosão.

7.2 Argila e mineralogia da argila

Os minerais da argila influenciam as propriedades que afetam a agregação:

área superficial, CTC, densidade de cargas, dispersão e expansão, que, por sua

vez, também afetam as taxas de decomposição do COS. A interação da argila, do

COS e dos agregados é afetada pelo pH, CTC, íons (Na+, Ca2+, Mg2+) e todos esses

parâmetros estão relacionados com a quantidade e tipo de argila presente no solo. A

composição mineralógica da argila é modificada com o desenvolvimento

pedogenético do solo. As argilas de baixa atividade, tais como a caulinita e a

haloisita estão freqüentemente presentes em Alfisols, Ultisols e Oxisols, enquanto as

argilas com alta atividade como esmectitas estão presentes nos Vertisols.

As argilas ocorrem como estruturas cristalinas em camadas ou como minerais

não cristalinos com estrutura amorfa. Em alguns solos, a argila não cristalina é um

fator importante para a agregação, como ocorre nos solos vulcânicos onde o COS e

a agregação estão associados com as argilas alofânicas. Os minerais de argila não

cristalinos, tais como a alofana e a imogolita têm elevada área superficial e cargas

variáveis dependente de pH que geralmente aumentam a agregação. As argilas

cristalinas e não expansivas, tais como a caulinita (1:1), tem baixa CTC e área

superficial, o que tende a diminuir a estabilidade de agregados. A caulinita tem uma

boa capacidade de floculação devido às cargas eletrostáticas entre os planos

Page 112: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

117

superficiais e COS. Em comparação, a agregação é geralmente maior nas argilas

com alta atividade tais como esmectitas e outras argilas do tipo 2:1, que estão

associadas com a elevada CTC, grande área superficial e elevado conteúdo de

COS.

A dispersividade dos agregados do solo é afetada pela natureza do COS e do

tipo da argila. Os cátions, particularmente Ca2+ e Na+, eletrólitos e pH podem

influenciar a dispersão da argila. Concentrações elevadas de fertilizantes amoniacais

podem conduzir à dispersão da argila. A adição de gesso ao solo reduz a dispersão

da argila devido às mudanças na concentração e composição dos eletrólitos. A CTC,

a área superficial dos minerais de argila e o COS e outras propriedades do solo

interagem para formar ligações intra-partículas que influenciam a dispersão. As

argilas menos reativas, como a caulinita, são menos dispersivas. O COS e algumas

raízes podem aumentar a dispersão de partículas da argila enquanto outras têm

efeito contrário. O COS carregado negativamente pode ser rompido na estrutura dos

agregados possivelmente pela repulsão das cargas negativas dos minerais do solo.

Existem diferenças nas concentrações do COS entre as argilas dispersas e não

dispersas, sugerindo que a decomposição dos resíduos orgânicos pode promover a

dispersão. As argilas menos dispersivas contêm mais materiais alifáticos na

superfície do solo e carboidratos no subsolo. Estes compostos podem agir como

substâncias aderentes para manter as partículas unidas. As argilas facilmente

dispersas contêm maiores concentrações de aminoácidos que podem agir como

dispersantes.

Os solos dominados por minerais de argila com cargas variáveis, tais como

argila 1:1 e óxidos, têm elevada agregação em níveis baixos de COS. Já os solos

que apresentam mineralogia variada da fração argila têm maior agregação em altos

níveis de COS. O tipo de argila também afeta a taxa de decomposição de MOS. A

montmorilonita resulta em rápida decomposição do COS com maior produção de

ácidos fúlvicos de baixo peso molecular. Por outro lado, a caulinita resulta em

decomposição mais lenta e maiores quantidades de C residual e ácidos húmicos.

Baixos valores de pH associados com a clorita podem resultar em baixas taxas de

decomposição, e isto está relacionado ao elevado conteúdo de C associado com

essas argilas.

7.3 Cátions

a) Cálcio e magnésio

Os cátions bivalentes Ca2+ e Mg2+ melhoram a estrutura do solo por meio de

pontes catiônicas com as partículas de argila e COS. Como mencionado

anteriormente, em condições áridas e semi-áridas, Ca2+ e Mg2+ precipitam

carbonatos para forma carbonatos secundários que servem como revestimento e

atuam unindo as partículas primárias do solo. Geralmente, o Ca2+ é mais eficaz do

que Mg2+ em melhorar a estrutura do solo. Entre os cátions bivalentes, o Ca2+ pode

inibir a dispersão da argila e o rompimento dos agregados pela substituição do Na+ e

Mg2+ na argila e nos agregados, aumentando a estabilidade.

Page 113: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

118

Em comparação ao Ca2+, o Mg2+ pode ter efeito deletério na estabilidade de

agregados do solo pelo aumento na dispersão da argila. A extensão do efeito

negativo do Mg2+ comparado ao Ca2+ pode depender do tipo da argila e

concentração de eletrólitos no solo. Além disso, o Mg2+ pode proporcionar maior

quebra pela expansão das argilas, resultando na desestruturação dos agregados.

O uso de corretivos do solo contendo Ca2+ e Mg2+, tais como o calcário e o

gesso, pode ter grandes efeitos na agregação, como por exemplo, no caso da

calagem de solos ácidos e a gessagem em solos afetados por sais. A crescente

estabilidade de agregados em solos calcários sugere a formação de uniões fortes

envolvendo pontes de Ca2+.

b) Ferro e alumínio

Os cátions polivalentes de Al3+ e Fe3+ melhoram a estrutura do solo por meio

de pontes catiônicas, formação de compostos organo-metálicos e géis. A

solubilidade e mobilidade desses cátions são dependentes do pH, com alta

solubilidade em pH baixo. Os agregados contendo Al3+, Fe3+ e argilas com elevada

CTC tendem a aumentar a incorporação do COS. A interação do Al3+ e do Fe3+ com

caulinita pode, sinergisticamentem, promover a agregação com impacto limitado no

COS enquanto os óxidos e os hidróxidos de Al3+ interagem sinergisticamente com o

COS e com a argila dispersiva aumentando a estabilidade do agregado. Ambos, o

Al3+ e o Fe3+ controlam a agregação em solos ácidos com baixos conteúdos de

argila e COS, tais como Oxisols. Os íons Fe3+ amorfos e MOS formam finas

partículas estáveis nos solos com elevado conteúdo de COS. Partículas de fração

grosseira são formadas por óxidos de Fe3+ que aumentam a força tensil dos

agregados em Oxisols e aumentam a estabilidade de agregados em outros.

c) Fósforo

Os efeitos do P na agregação do solo são indiretos. Como a disponibilidade

do nutriente afeta o crescimento das raízes e das plântulas, aumenta a produção

das plantas e a cobertura da superfície do solo. A disponibilidade de P também

influencia na colonização de fungos micorrízicos arbusculares (FMA), que afeta a

morfologia das raízes e a agregação. A aplicação de P como fertilizante e ácido

fosfórico pode conduzir à formação de fosfatos de Al3+ ou de Ca2+, que atuam como

agentes agregantes.

d) Sódio

O Na+ é um agente altamente dispersivo que resulta diretamente no

rompimento dos agregados e, indiretamente, afeta a agregação por meio do declínio

da produtividade das plantas. O Na+ trocável na solução do solo e em sítios de troca

contribui para a repulsão das cargas que dispersam as partículas de argila. O

aumento na dispersão pelo Na+ pode quebrar os agregados, promovendo maior

disponibilidade da MOS à decomposição. Práticas de manejo que substituem o Na+

nos sítios de troca de cátion por Ca2+ ajudam a amenizar os elevados conteúdos de

Na+ e seus efeitos adversos. O gesso é usado como corretivo do solo para superar a

Page 114: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

119

sodicidade para redução a dispersão, a porcentagem de sódio trocável, (PST) e para

aumento do C microbiano (Cmic).

8 Influência bióticas na agregação

8.1 Plantas

a) Espécies de plantas

Os efeitos combinados da composição bioquímica e da quantidade dos

resíduos das plantas retornados aos solos e os produtos químicos liberados pelas

plantas afetam a taxa e a estabilidade da agregação e a taxa de reciclagem dos

agregados. Os agregados estáveis em água (AEA), o tamanho médio dos

agregados e o diâmetro médio ponderado (DMP) estão correlacionados com a

composição bioquímica dos resíduos das plantas: os fenóis, a lignina, as proteínas,

os açúcares monossacarídeos, os sacarídeos, fenóis e AHS trocáveis alcalinas e os

ácidos fenólicos tais como o ácido vanílico-vanalina dos resíduos.

Os resíduos de milho (Zea mays) têm elevados conteúdos de fenóis e

aumentam a agregação quando comparado com outras culturas. O cultivo contínuo

de milho reduz os microagregados quando comparado com o milho cultivado em

rotação. A estabilidade dos agregados do solo é elevada sob cultivos contínuos de

alfafa (Medicago sativa). A baixa agregação do solo cultivado com soja é atribuída

às baixas concentrações de fenóis e aos baixos retornos dos resíduos ao solo.

b) Raízes

As raízes das plantas e sua rizosfera têm vários efeitos na agregação do solo.

As raízes emaranham e realinham as partículas do solo e liberam exudados, que

resultam nas alterações físicas, químicas e biológicas que influenciam a agregação.

A agregação tende a aumentar com o aumento do comprimento e da

densidade das raízes, associações microbianas e glomalina. A estabilidade dos

agregados é maior na rizosfera do solo que na área não rizosférica devido à

rhizodepocomposição, massa, densidade de raízes e à distribuição de tamanho das

raízes. Essa maior estabilidade de agregados na rizosfera também se deve à

reciclagem, comprimento radicular e crescimento de hifas.

Quimicamente, as raízes melhoram a agregação pela liberação de compostos

que têm efeito cimentante nas partículas do solo. As mucilagens das raízes, como o

ácido poligalacturônico, podem estabilizar os agregados pelo aumento das ligações

e redução da taxa de molhabilidade. As raízes aumentam o ciclo de umedecimento e

secagem do solo adjacente, que pode aumentar a estabilidade de agregados em

alguns casos e reduzir em outros, o que possivelmente está relacionado ao tipo de

argila.

As raízes podem também alterar o balanço iônico e osmótico na rizosfera por

meio da absorção e a rhizodecomposição de nutrientes que podem afetar a

agregação. Diferentes sistemas de raízes afetam diferentemente a agregação

devido às variações quanto às propriedades, exudados e funções diferentes das

raízes. Geralmente, extensivas raízes fibrosas produzem níveis elevados de

macroagregação. As raízes das plantas leguminosas estão associadas com elevada

biomassa microbiana, aumento da agregação e do número de agregados estáveis

Page 115: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

120

em água quando comparadas com plantas não leguminosas. A estabilidade de

agregados das plantas não leguminosas está relacionada com a massa das raízes.

8.2 Microrganismos

As raízes, os fungos e as bactérias melhoram a agregação pelo

emaranhamento das partículas do solo, fornecendo compostos extracelulares que

mantém as partículas unidas. É freqüentemente difícil separar os efeitos múltiplos

dos organismos na agregação.

a. Atividade Microbiana

O efeito do tamanho do agregado na atividade microbiana depende de

inúmeros fatores. Em alguns casos, a atividade microbiana pode depender do

tamanho do agregado e em outros não. As bactérias estão freqüentemente

associadas com as argilas e os polissacarídeos nos microagregados, resultando em

menor biomassa microbiana nos microagregados do que nos macroagregados. A

menor relação bactérias/fungos nos macroagregados do que nos microagregados

sugere que a atividade bacteriana pode dominar na microagregação, enquanto que

a atividade fúngica domina na formação do macroagregados. O aumento de

macroagregados está associado com o aumento nas atividades fúngicas e resíduos

frescos.

A atividade microbiana varia com o tamanho do agregado, as estações do

ano, as atividades de cultivo, o manejo, a qualidade e a quantidade de resíduos e

tipo de solo. A influência microbiana é mais pronunciada em solos arenosos onde os

microrganismos do solo produzem fonte de C prontamente disponível para a rápida

estabilização dos agregados. Os tratamentos fungicidas podem reduzir o carboo

microbiano no solo.

a.1) Fungos, fungos micorrízicos arbusculares (FMA) e glomalina

As hifas fungícas melhoram a estabilidade de agregados pela reorientação e

união das partículas com polissacarídeos extracelulares e o emaranhamento das

partículas. As hifas também emaranham microagregados para formar

macroagregados, sugerindo aumento da agregação com a densidade de hifas.

Os FMAs constituem uma das influências bióticas mais importantes na

agregação do solo. Glomalina é uma glicoproteína liberada dos FMA. Está presente

nos solos em elevada concentração e é um fator importante na estabilização dos

agregados, possivelmente devido à sua natureza recalcitrante e à elevada

concentração em alguns solos. Os solos com elevados conteúdos de argilas

expansivas têm maiores conteúdos de glomalina do que os solos que contêm argilas

de baixa atividade. É possível que a natureza hidrofóbica e recalcitrante da molécula

de glomalina pode proteger outros agentes agregantes. Os ciclos de umedecimento

e secagem podem aumentar a polimerização e a hidrofobicidade na glomalina.

8.3 Fauna do solo

Page 116: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

121

Vários insetos (completamente desenvolvidos ou não), artrópodes, minhocas,

nematóides e os grandes macrorganismos vivem no solo e exercem influência

importante na sua estrutura. Eles ingerem e eliminam material, realocando-o no solo

e formando orifícios. Estruturas biogênicas formadas pelos organismos do solo tais

como montículos e/ou aglomerações de térmitas (cupins) são freqüentemente

protegidas da mineralização.

Os efeitos destas atividades são variáveis. Os macrorganismos melhoram a

aeração, a porosidade, a infiltração, a estabilidade de agregados, a incorporação da

serrapilheira, aumentam a estabilização de N e C, a reciclagem de C e a redução de

carbonatos e mineralização do N, a disponibilidade de nutrientes e a mobilidade dos

metais. Estes efeitos podem degradar as propriedades do solo pela remoção do

carbono orgânico dissolvido e quebra das ligações entre as partículas durante a

ingestão. A dispersão é freqüentemente compensada durante a nova formação dos

agregados e a ingestão de compostos do carbono recalcitrante (CR).

O solo ingerido sofre muitas alterações, incluindo o realinhamento físico das

partículas de argila e quebra das ligações dentro dos agregados, alterando o acesso

microbiano ao COS. Excrementos, produtos eliminados misturados com o solo, a

reorganização e a biosíntese do COS geralmente resultam no aumento do CR. A

atividade da fauna do solo é importante na formação de complexos organo-minerais

e na agregação.

a) Minhocas

As minhocas aumentam a agregação do solo por meio de mudanças

biológicas e fisico-químicas. Elas exercem consideráveis influências diretas e

indiretas na estrutura e no COS. O impacto das minhocas na agregação varia de

acordo com a espécie, a qualidade da serrapilheira e com material de origem do

solo. Por sua vez, as espécies e a população da minhoca são influenciadas pela

qualidade e pela quantidade do material vegetal.

Algumas minhocas digerem o solo e quebram as ligações, desestabilizando

os agregados. Entretanto, os processos bioquímicos estabilizam os agregados. A

reorganização de partículas do solo e a liberação de enzimas pelas minhocas

influenciam a mineralização, o fluxo de água e as atividades microbianas. As

minhocas aumentam o COS nos coprólitos, e, em menor extensão, nos materiais

depositados nas paredes dos orificios. A atividade das minhocas aumenta os

macroagregados estáveis em água.

b) Térmitas (Cupins)

O efeito dos térmitas no COS e na estrutura do solo varia com as espécies e

solo. Impactos positivos e negativos ou nenhum dos dois têm sido relatados sobre

COS. Em muitos casos, a ingestão do COS e sua transformação durante a digestão

resultam em formas de COS mais estáveis na terminhosfera. A microagregação

induzida pelos térmitas está relacionada com a composição do solo, promovida

pelas concentrações dos gibsita e óxido de Fe nos trópicos. Entretanto, essa

microagregação não ocorre em solos cauliníticos.

Page 117: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

122

9 Impactos Ambientais na Estrutura do Solo

9.1 Elevadas concentrações de dióxido de carbono atmosférico e a estrutura

do solo

O efeito total da elevação do CO2 atmosférico na estrutura do solo não é

muito bem compreendido, mas tendo em vista a importância do aumento na emissão

de gases de efeito estufa para a atmosfera, torna-se importante refletir sobre o papel

da estrutura do solo nesse aspecto.

O aumento no CO2 atmosférico pode resultar em aumento da fotossíntese,

seguido de aumento de fotoassimilados nas raízes e nas comunidades microbianas.

Aumentando as taxas fotossintéticas, as plantas tendem a crescer mais,

demandando maiores quantidades de nutrientes.

Em locais onde os solos são pobres em nutrientes (solos de regiões

tropicais), para que as plantas possam sobreviver, a tendência é que sejam

favorecidas as espécies vegetais que apresentem associações simbióticas e que,

por essa razão, conseguem suprir a falta de determinados nutrientes (ex.:

leguminosas que fixam nitrogênio da atmosfera). O prodomínio de espécies que

apresentam alguma associação simbiótica como as leguminosas, pode levar a uma

alteração na composição química dos compostos das plantas. Se tal condição

resultar em MOS com relação C/N baixa, o material orgânico apresentará rápida

decomposição, podendo afetar negativamente a agregação.

Em ambientes com disponibilidade adequada de nutrientes (solos de regiões

temperadas), o aumento no CO2 atmosférico pode resultar em maior taxa

fotossintética e, conseqüentemente, em maior crescimento vegetal. Entretanto, se

não há limitações na disponibilidade de nutrientes, haverá grande desenvolvimento

de diversas espécies vegetais, não só daquelas que apresentem alguma relação de

simbiose. Isso levará ao aumento da MOS com composição química variada e taxa

de decomposição equilibrada, favorecendo a agregação.

Mudanças nas espécies dominantes e alocação de carbono (C) são

mecanismos primários de mudanças no aporte e decomposição do C. As mudanças

nas espécies de planta influenciam a distribuição da população microbiana e os

compostos microbianos envolvidos no desenvolvimento estrutural do solo. A

alocação de fotoassimilados para as raízes e os exudados das raízes tende a

aumentar a MOS e os microrganismos na rizosfera.

Aumentos no carbono microbiano podem ocorrer sob elevada concentração

de CO2 como resposta indireta às mudanças no crescimento da planta. Pode ocorrer

aumento nos fungos micorrízicos arbusculares (FMA) e no comprimento e

longevidade das raízes. Aumento nos níveis do CO2 resulta no aumento de

agregados estáveis em água, glomalina e no comprimento das hifas de FMA em

cultivos de sorgo. O aumento do CO2 atmosférico pode resultar em baixa densidade

de hifas, possivelmente devido à redução da difusão do oxigênio nos solos. Taxas

de decomposição elevadas devido ao aumento da temperatura, umidade e atividade

microbiológica podem ter grande influência na rápida reciclagem da

compartimentalização do COS. Estas influências, compreendendo os resíduos

superficiais e das plantas, mais que as frações mais lentas como raízes e C macro e

Page 118: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

123

microbiano, podem resultar na acumulação de MOS e aumento na proporção de

microagregados.

10 Aumentando o compartimento do COS

O tipo de solo, o agente ligante, o manejo e as condições ambientais

interagem na determinação da agregação. Práticas de manejo do solo que

minimizam a pertubação e maximizam o retorno do carbono orgânico otimizam a

produtividade e aumentam o compartimento do COS.

O uso apropriado de corretivos como fertilizantes, calcários, estercos e

compostos, pode aumentar o compartimento do COS e a agregação. Práticas

agrícolas sustentáveis como consórcios, culturas de cobertura e rotações de colheita

também podem aumentar o compartimento do COS. Práticas de manejo que

reduzem as taxas de decomposição e as emissões de CO2 também ajudam o

aumento no armazenamento do COS.

11 Manejo e melhoria na estrutura do solo

11.1 Manejo do solo

Para aumentar a agregação, o manejo do solo deve visar o aumento na

produção primária das plantas e, consequentemente, o aporte de C, a redução das

perturbações e das taxas de perdas de C por processos como a decomposição e a

erosão. Melhorias nas práticas de manejo incluem métodos de cultivo, manejo dos

resíduos, práticas corretivas, manejo da fertilidade do solo e reciclagem de

nutrientes.

a) Cultivo

As operações de cultivo levam à destruição de agregados do solo, além de

causar compactação e perturbar as comunidades de plantas e de animais que

contribuem para a agregação. O cultivo também reduz a MOS, CTC, nutrientes, as

atividades microbianas e da fauna que contribuem para a agregação.

Em comparação com sistemas convencionais de manejo, o plantio direto têm

mais agregados estáveis e COS. O cultivo reduzido pode resultar no aumento de

macroporos e os biocanais que influenciam no movimento e na disponibilidade da

água, aumentando a preocupação sobre a qualidade da água. Por sua vez, há

impacto pela lixiviação e perdas de nutrientes e compostos químicos na drenagem

da água no solo. A intensidade e o tempo de cultivo determinam a extensão do

efeito do cultivo no COS.

b) Cobertura morta e manejo de resíduos

A cobertura morta melhora a estrutura do solo de diferentes formas. A adição

da cobertura morta na superfície do solo reduz a erosão, a evaporação, protege o

solo do impacto das gotas da chuva e aumenta a estabilidade de agregados. A

cobertura morta aumenta a quantidade dos compartimentos do COS, modifica a

temperatura, o regime de umidade e o impacto da fauna no solo. O retorno de

resíduos das plantas ao solo melhora a estrutura e isto está relacionado com a

quantidade e qualidade dos resíduos.

Page 119: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

124

c) Esterco

A adição de esterco ao solo melhora a estrutura e o diâmetro médio

ponderado dos agregados, aumentando a macroagregação e a resistência à quebra.

Entretanto, pode reduzir a estabilidade dos agregados do solo contra a dissolução e

às ações dispersivas. O aumento no COS resulta no aumento da atividade biológica

que, por sua vez, resulta no aumento da porosidade e na redução da densidade do

solo.

O aumento na atividade microbiana devido ao aumento no C do solo por

aplicações de esterco resulta no aumento da estabilidade dos agregados. Os solos

com adição de esterco também têm elevada população de minhocas. Os solos sem

esterco geralmente contêm menos COS e biomassa microbiana e são mais densos

do que os solos com esterco. Além disso, seus agregados são mais fortes quando

secos, e fracos quando úmidos. Por outro lado, solos com esterco têm agregados

fortes quando úmidos e fracos quando secos. A diferença entre os solos quando

seco parece estar relacionada à diferença na concentração de argilas dispersivas,

enquanto que a diferença quando úmido está relacionada com a diferença na

quantidade de material ligante orgânico. Micro e macroagregados têm maiores

níveis de carboidratos em solos com esterco do que naqueles que recebem

fertilizantes minerais. O aumento da concentração iônica pode ser uma preocupação

nos solos com adição de esterco, devido ao aumento na susceptibilidade à

dispersão e redução na estabilidade dos agregados. O esterco aumenta as

concentrações de Na+, K+ e Mg2+ . As aplicações de esterco aumentam a dispersão

de macroagregados grandes e afetam também o pH do solo e a disponibilidade de

P.

d) Compostos orgânicos

A adição de compostos orgânicos ao solo melhora a estrutura e reduz a

densidade. A compostagem pode aumentar a macroagregação e a estabilidade de

agregados na rizosfera. As propriedades do solo e as condições ambientais

determinam o impacto dos compostos na agregação, O déficit hídrico pode limitar a

eficácia dos compostos na agregação. Os efeitos da adição dos compostos na

estrutura do solo podem ser de curto prazo, embora esses efeitos sejam geralmente

positivos.

d) Fertilizantes e nutrientes

A complexidade das influências químicas e físicas dos fertilizantes resulta em

efeitos variáveis da fertilização na agregação. Aplicações de fertilizantes geralmente

melhoram a agregação do solo, pois favorecem o crescimento das plantas e a

formação de MOS. Entretanto, sob algumas condições, os fertilizantes podem

também diminuir a concentração do COS, reduzir a agregação e as comunidades

microbianas comparadas a solos com adição de esterco. Ainda assim, o uso de

Page 120: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

125

fertilizantes minerais frequentemente melhora a estrutura do solo em comparação a

solos não fertilizados.

O efeito primário do aumento de nutrientes tem melhorado a produtividade

das plantas, o COS e a atividade biológica. O aumento no COS pelo uso de

fertilizantes aumenta a agregação e o diâmetro médio ponderado. O uso de

fertilizantes também aumenta a qualidade e a quantidade de resíduos, mas isto não

necessariamente aumenta o compartimento do COS. As aplicações de fertilizantes

alteram o pH e a concentração eletrolítica no solo, os quais podem ter efeitos

adversos na estrutura. Os efeitos benéficos das aplicações de fertilizantes

geralmente compensam alguns efeitos adversos da fertilização. O aumento nos

resíduos das plantas e o crescimento das raízes aumentam o CL, a atividade

microbiana e o Cmic, que melhoram a estabilidade dos agregados. Aumentos na

disponibilidade de N por aplicação de fertilizantes aumentam a taxa de

decomposição da FL-CL, enquanto estabiliza mais o CI.

Os efeitos físicos e químicos dos fertilizantes estão relacionados ao tipo de

fertilizante e tipo de solo. O uso de fertilizantes fosfatados melhora as ligações de

Al3+ e de Ca2+. O ácido fosfórico promove a agregação do solo através da redução

do pH, da mobilização de Al3+ e da precipitação subseqüente do fosfato de Al e atua

como agente cimentante para formar agregados estáveis. Fertilizantes amoniacais

podem dispersar as argilas, tendo efeito adverso na agregação do solo. O efeito

dispersivo do amônio (NH4+) é temporário e diminui já que a NH4

+ é nitrificada à

NO3−.

e) Manejo das culturas

O cultivo diminui o compartimento do COS microbiano e total e a fauna do

solo, mas aumenta o CO2 metabólico. O manejo para aumentar o COS e a

agregação inclui a fertilização, manejo das pastagens, a conversão do cultivo para

vegetação nativa, incluindo culturas de cobertura, leguminosas e gramíneas, a

inoculação com minhocas e a irrigação.

e1) Rotação das culturas e culturas de cobertura

A dinâmica dos agregados varia entre as diferentes culturas, rotações e

culturas de cobertura. O efeito das diferentes culturas tende a refletir a composição

química dos resíduos vegetais, estrutura e a habilidade radicular para alterar as

propriedades químicas e biológicas do solo. Estes efeitos tendem a ser de curto

prazo sob regimes de cultivos convencionais. Em alguns solos, as rotações podem

não afetar a estabilidade dos agregados. As culturas de cobertura aumentam o

aporte de C no solo, reduzem a erosão, aumentam a CTC, a estabilidade dos

agregados, a infiltração da água e a reciclagem de nutrientes. Os resíduos das

culturas de cobertura podem melhorar a biomassa microbiana, a respiração, a

mineralização de N e alterar a comunidade microbiana.

Page 121: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

126

e2) Sistemas agrosilvipastoris

A inclusão de árvores leguminosas em sistemas agrícolas reduz a erosão,

melhora a fertilidade do solo e aumenta a produtividade de outras culturas. Sistemas

agrosilvipastoris influenciam na MOS, que por sua vez influencia a agregação em

comparação aos sistemas convencionais.

12 Conclusões

A estrutura do solo tem papel vital, mas freqüentemente negligenciado na

produção sustentável de alimentos e no bem-estar da sociedade. Uma visão mais

holística do uso e manejo da terra é necessária para lidar com o aumento na

pressão de uso do solo visando produção sustentável de alimento e fibras, enquanto

reduz os impactos ambientais externos adversos das práticas agrícolas.

O impacto na estrutura do solo varia de uma escala global para uma elevada

escala local. Aumentos no seqüestro de C pelos agregados do solo podem reduzir a

concentração de CO2 na atmosfera e estar associado com o aquecimento global.

Melhorias na estrutura do solo aumentam a reciclagem de nutrientes, a

disponibilidade de água e a biodiversidade enquanto reduz a erosão pela água e

vento, melhora a qualidade das águas superficiais e subterrâneas.

Processos e mecanismos envolvidos na agregação do solo são complexos e

possuem mecanismos de reciclagem complicados. A agregação do solo pode ser

melhorada por práticas de manejo que, ao mesmo tempo em que reduzam a taxa de

decomposição do COS, também diminuam as perturbações no agroecossistema,

aumentem a fertilidade do solo, os aportes orgânicos e a cobertura proporcionada

pelas plantas.

A decomposição do COS pode ser reduzida pelo isolamento dos produtos do

C lábil dentro dos agregados e aumento da proteção química pela entrada de

compostos de CR ou a transformação do CL em compostos de CR e CI. A estrutura

do solo pode ser melhorada por meio do uso de culturas e práticas de manejo

culturais que promovam a agregação. Dentre estas práticas, são citados o uso de

culturas com elevado CR e elevada produção de biomassa, retorno dos resíduos

culturais e incorporação de culturas de cobertura.

A agregação também tende a aumentar com o aumento do comprimento e

densidade das raízes; as raízes fibrosas extensivas produzem maiores níveis de

macroagregação. A melhoria da diversidade e da quantidade da flora e da fauna do

solo é importante para melhorar a estrutura do solo. A atividade da fauna do solo é

importante na formação de complexos organo minerais na agregação.

13 Bibliografia

Page 122: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

127

BRONICK, C.J. & LAL, R. Soil structure and management: a review. Geoderma,

124:3-22, 2005.

Page 123: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

128

PARTE VI – EROSÃO DO SOLO

1 Conceito

Erosão é um processo de desgaste da superfície e/ou arrastamento das

partículas do solo por agentes, tais como: água das chuvas (hídricas), ventos

(eólica), gelo (mudanças de temperatura) ou outro agente geológico, incluindo

processos como o arraste gravitacional.

2 Importância no contexto global

A importância do estudo da erosão do solo advém dos efeitos que os processos

erosivos podem ter no ambiente, principalmente associados à degradação de solos

agrícolas, ao assoreamento de cursos e reservatórios de água e a perda de

produtividade dos solos agrícolas.

Geralmente, a elaboração de políticas públicas visando adoção de práticas

conservacionistas contra a erosão dos solos somente torna-se prioridade quando

aspectos relacionados às perdas financeiras são evidenciados. Algumas literaturas

mostram que os gastos econômicos em função da perda do solo por erosão podem

ser muito elevados. Uri & Lewis (1998) e Pimenta et al. (1993) indicam que, para a

economia americana, os custos decorrentes das perdas de solo por erosão já

ultrapassaram a casa dos 30 bilhões de dólares por ano. Para as condições da

Inglaterra já foram relatados custos na ordem de 90 milhões de libras por ano

(Environment Agency, 2002). Já para a Indonésia, mais precisamente na ilha de

Java, os gastos resultantes das perdas de solo giram em torno de 400 milhões de

dólares ao ano (Magrath & Arens, 1989).

Mas como medir os custos da erosão do solo? Telles et al. (2010) ressaltam que

os custos da erosão do solo podem ser divididos em on-site (direto ou interno –

produtor), consistem nas perdas que ocorrem na propriedade agrícola; e off-site

(indireto ou externo – sociedade), perdas que ocorrem fora da propriedade agrícola

e que atingem toda a sociedade (PIMENTEL et al., 1995; CROSSON, 1995;

MARQUES, 1998).

Telles et al. (2010) citam diferentes autores que destacam os principais danos

representativos dos custos on-site da erosão do solo, tais como: reposição de

nutrientes, produção sacrificada e desvalorização do preço das terras. Com relação

aos custos off-site, são citados: assoreamento, enchentes, tratamento de água,

geração de energia elétrica, reparação do patrimônio público, perdas biológicas,

aquecimento global, calamidade pública, aumento no preço dos alimentos.

Por meio de práticas conservacionistas, que controlem a erosão, estes custos

podem ser minimizados, garantindo a sustentabilidade dos sistemas de produção

(LAL, 2006; MONTGOMERY, 2007). As práticas conservacionistas devem ser

conduzidas visando reduzir a taxa de perda de solo para valores semelhantes aos

que ocorrem em condições naturais. Enquanto as perdas de solos cultivados podem

variar de 45 a 450 t ha-1, as perdas de solo em condições naturais ficam bem abaixo

dos valores anteriormente mencionados (Relevo suave – 0,0045 t ha-1; Relevo

moderado – 0,45 t ha-1). Para que se consiga reduzir as taxas de perda em solos

Page 124: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

129

cultivados, é preciso adotar estratégias adequadas de conservação e, para que isso

seja possível, é fundamental entender como funcionam os processos erosivos.

Os fatores que influenciam a erosão são regidos por: energia, resistência e

proteção. A energia geralmente está relacionada aos agentes causadores da

erosão, já a resistência e a proteção dizem respeito às características do solo em

resposta aos agentes erosivos. A erosão apresenta variações no espaço e no

tempo.

2.1 Variação espacial dos processos erosivos

Como o nome já diz, trata-se das variações da erosão no espaço, indicando

em quais locais os processos erosivos ocorrem com maior intensidade. Na busca

por essa percepção, vale destacar a relação entre precipitação (chuvas), cobertura

vegetal e erosão (Figura 1):

Locais com precipitação total abaixo de 450 mm: erosão aumenta com a

precipitação (cobertura vegetal fraca);

Locais com precipitação entre 450 e 650 mm: erosão diminui com a

precipitação (cobertura vegetal suficiente);

Locais com precipitação acima de 1700 mm: erosão aumenta com a

precipitação (vegetação não consegue proteger o solo).

Mas ainda assim, variações podem ocorrer devido a: tipo de solo, relevo e

cobertura.

Figura 1. Relações entre produção de sedimentos e a precipitação média anual

(Walling & Kleo, 1979).

Page 125: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

130

Se taxas erosivas são agrupadas em categorias de vegetação natural, terra

cultivada e solo nú, as maiores perdas ocorrem nas condições semiáridas,

semiúmidas e tropical.

Ex.1: Perdas de solo me áreas não cultivadas na África (Roose, 1971).

Savana: 0,15 t ha-1 ano-1;

Savana densa: 0,20 t ha-1 ano-1;

Floresta tropical: 0,03 ha-1 ano-1.

Ex.2: Perdas de solo em áreas preparadas para agricultura

Savana: 8 t ha-1 ano-1;

Savana densa: 26 t ha-1 ano-1;

Floresta tropical: 90 ha-1 ano-1.

Ex.3: Perdas de solo em áreas com solo descoberto

Savana: 20 t ha-1 ano-1;

Savana densa: 30 t ha-1 ano-1;

Floresta tropical: 170 t ha-1 ano-1.

Os exemplos são indicativos de que a remoção da floresta tropical aumenta mais

os riscos de erosão em relação à remoção da savanna (devido ao alto potencial

erosivo das chuvas tropicais).

Estudos recentes têm enfocado mais a vulnerabilidade do semiárido à erosão. Na

região semiárida há um grande problema, pois há necessidade de preservar água e

a ecologia local é vulnerável. Assim, a remoção da vegetação para estabelecer

agricultura no semiárido leva à rápida diminuição na matéria orgânica e à exaustão

dos nutrientes do solo, resultando numa série de outros impactos que aumentam os

riscos de desertificação.

2.2 Variação temporal dos processos erosivos

Como o nome também já diz, trata das variações na erosão ao longo do

tempo, servindo de indicativo a respeito das épocas em que há maior ocorrência de

erosão.

Ao longo de um ano ocorrem muitos eventos chuvosos de pequena

magnitude e poucos eventos de grande magnitude. Por outro lado, considerando um

longo período de tempo, é esperado que a erosão ocorra durante eventos de

moderada freqüência e magnitude.

O fato é que taxas erosivas normalmente seguem um padrão sazonal e isso é

bem ilustrado em locais com estação seca e chuvosa bem definidas (Figura 2).

Page 126: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

131

Figura 2. Ciclos sazonais de precipitação, vegetação e erosão (Kirkby, 1980)

Por meio da Figura 2, é possível constatar que o pico de vegetação para proteger

o solo ocorre já no final do período chuvoso. Assim, há maior susceptibilidade à

erosão na fase inicial das chuvas (alta chuva, mas ainda sem vegetação suficiente

para proteger o solo). Há variações sazonais mais complexas, como as que ocorrem

em locais com regime hídrico também mais complexo e em locais em que a terra é

preparada para agricultura. As variações sazonais em longo prazo estão

relacionadas com mudanças na cobertura do solo (floresta/área cultivada).

Com o amento da população mundial, a necessidade de produzir mais alimentos é

uma realidade do mundo atual. Para cumprir a demanda de maior produção de

alimentos, o uso mais intensivo das terras parece inevitável. Nesse sentido, a

expansão da agricultura para terras menos aptas certamente levará ao aumento nas

perdas de solo por erosão, ocasionando risco à segurança alimentar, bem como

tantos outros problemas ligados à erosão.

Nesse contexto, o conhecimento de práticas conservacionistas deve ser voltado

para a resolução de problemas como:

Altas taxas de erosão em terras agrícolas;

Redução anual de 15 a 30% do potencial produtivo dos solos;

Page 127: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

132

Dificuldade de recuperar solos degradados pela perda da fertilidade;

Perda anual estimada de 6 milhões de hectares de terras por ano (erosão e

outras formas de degradação).

3 A degradação do solo no nordeste brasileiro

A produção agropecuária da região Nordeste do Brasil experimenta grandes

obstáculos associados a uma complexa sinergia de fatores que concorrem para a

degradação da base de recursos naturais da região e que dificultam, ou até

inviabilizam, produzir bens agrícolas em boa parte dos municípios dos nove estados

que a compõem. Podem-se listar estes fatores da seguinte forma:

a) Elevado nível de concentração fundiária, que é uma das mais desiguais do

mundo. Isto induz uma grande concentração de famílias, quase sempre numerosas,

em pequenos estabelecimentos ou minifúndios, o que conduz a uma super

exploração, representando sobrecarga sobre a base de recursos naturais.

b) Instabilidade climática cuja melhor tradução é a ocorrência sistemática das

secas, o maior problema do Nordeste. Neste item precipitação de chuvas, refere-se

à forma irregular com que as chuvas se distribuem na região, tanto temporal como

espacialmente.

c) Modo de condução das atividades agrícolas na Região. De um lado,

observam-se as práticas dos pequenos produtores explorando a terra

intensivamente até a exaustão da sua fertilidade natural e sem qualquer prática de

reposição dessa fertilidade. A principal preocupação desses produtores é com a

sobrevivência não tendo acesso às técnicas conservacionistas de uso do solo. Por

outro lado, observa-se o uso intensivo de máquinas e implementos e agroquímicos

em geral. O uso intensivo conduz à compactação do solo, à eliminação da cobertura

vegetal natural, à perda da camada superficial do solo, juntamente com a matéria

orgânica. Assim, a superfície fica exposta, tanto à ação dos raios solares, como

também à ação das chuvas. Estes dois fatores, associados aos ventos, provocam a

erosão dos solos.

d) Eliminação da cobertura vegetal natural, tanto nos pequenos

estabelecimentos quanto nos grandes. Ademais, esta vegetação ainda é utilizada

como uma das principais fontes de energia na região, tanto na forma de lenha

quanto na forma de carvão vegetal. Vale ressaltar que esta fonte de energia

(derivada da cobertura vegetal) ainda é largamente utilizada nos domicílios,

sobretudo das zonas rurais, para o cozimento de alimentos, e também por indústrias

de diferentes portes instaladas no interior do Nordeste.

4 Tipos de erosão

Erosão geológica: é um processo construtivo, não influenciado pelo homem,

onde as taxas de formação superam as de remoção do solo. É reconhecível

somente com o decorrer de longos períodos de atividade. Este processo possibilita a

formação dos contornos naturais do relevo na crosta terrestre, formando os vales,

montanhas, planícies, planaltos, deltas, etc. Exemplos: Chapada da Ibiapaba, o

Maciço Residual de Baturité e os Tabuleiros Costeiros.

Page 128: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

133

Erosão acelerada: processo rápido e destrutivo e iniciado pelo próprio

homem, no qual as taxas de remoção superam as taxas de formação ou gênese dos

solos. Quase todas as operações agrícolas são intensificadoras do processo

erosivo. Exemplos: A retirada da cobertura vegetal expõe a superfície do solo e

propicia condições para que os ventos e água atuem de forma mais direta pela não

absorção dos impactos das gotas de chuva, eliminação de obstáculos à

movimentação dos ventos e favorecimento do escoamento superficial formando

enxurradas, acentuando ainda mais o processo erosivo. O cultivo do solo contribui

ainda mais por desagregá-lo, favorecendo a individualização das partículas ou a

diminuição do tamanho dos agregados, facilitando, a movimentação destes pelos

ventos e água (Figuras 3 e 4).

5 Agentes de erosão

Os agentes erosivos atuam geralmente de forma conjunta, podendo, ou não

serem intensificados pelo homem. Os principais são:

Água: provavelmente é o principal agente erosivo, atuando por meio das

chuvas, enxurradas, ondas e os próprios cursos d´água.

Ventos: a ação dos ventos ocorre pela abrasão de partículas de rochas e

solo em suspensão. Mais comum no litoral e em regiões de desertificação.

Mudanças de temperatura: quando considerado como agente de erosão

geológica é perceptível somente quando se considera longo período de tempo,

como por exemplo, as fraturas geradas nas rochas. Estas fraturas tendem a ser

superficiais nas variações de temperatura entre o dia e a noite, enquanto são mais

profundas quando originadas das alternâncias entre o verão e o inverno.

Biológico: ação de organismos vivos tais como liquens e musgos sobre as

rochas, os quais podem proporcionar condições para que outros agentes erosivos

como a água e os ventos atuem.

6 Fases do processo erosivo

São definidas três fases para o processo erosivo:

Desagregação: O umedecimento dos agregados durante as chuvas ameniza

as forças de coesão entre as partículas do solo, tornando os agregados mais

susceptíveis a fragmentação com o impacto continuado das gotas de chuva.

Contribuem também nesta fase as enxurradas formadas pelo escorrimento

superficial.

Transporte: as partículas de solo desagregadas pelas gotas poderão ser

transportadas pelo salpique, ou seja, junto com as gotículas de chuvas subdivididas

Page 129: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

134

e que se deslocam com o impacto das primeiras gotas. As enxurradas formadas

pelo escorrimento superficial são outro meio de transporte.

Deposição: Após diminuir ou cessar a velocidade e turbulência da enxurrada

e encerradas as chuvas, as partículas de solo são então depositadas nas porções

mais rebaixadas do relevo. Este processo pode ocasionar o assoreamento de cursos

d’água ou reservatórios.

7 Tipos de erosão em função dos agentes causadores

Erosão hídrica: A erosão hídrica é causada por forças ativas, tais como as

chuvas, a declividade e comprimento do declive do terreno e a capacidade que o

solo tem de absorver água, e por forças passivas, como a resistência do solo à ação

erosiva e a densidade da cobertura vegetal.

A água da chuva exerce sua ação erosiva sobre o solo pelo impacto das

gotas, que caem com velocidade e energia variáveis, dependendo do seu diâmetro,

e pelo escorrimento da enxurrada.

O volume e a velocidade da enxurrada variam com a chuva, com a

declividade e o comprimento do declive do terreno e com a capacidade do solo em

absorver mais ou menos água,

A resistência que o solo oferece à ação erosiva da água está determinada por

diversas de suas características e/ou propriedades físicas e químicas, e pela

natureza e quantidade do seu revestimento vegetal.

Erosão eólica: Normalmente mais associada a regiões planas, de poucas

chuvas, onde a vegetação natural não proporciona cobertura efetiva da superfície e

sujeita a ventos constantes.

Os principais fatores que afetam a erosão eólica são:

Clima: precipitação, vento, temperatura, umidade, viscosidade e densidade

do ar;

Solo: textura, estrutura, densidade das partículas, matéria orgânica, umidade

e a rugosidade da superfície; e

Vegetação: altura e densidade da cobertura vegetal.

Os problemas mais sérios ocasionados pela erosão eólica são as mudanças

na textura, nas condições físicas e na fertilidade. As partículas mais finas são

carreadas, permanecendo as mais grosseiras e normalmente menos produtivas,

uma vez que esta separação remove os materiais mais importantes do ponto de

vista de produtividade e retenção de água, como também deixa o material mais

arenoso, ficando, assim, o solo mais erodível que o original. Com a continuação do

processo, o crescimento de plantas fica mais restrito, e a erodibilidade do solo

aumenta.

8 Formas de erosão hídrica

Page 130: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

135

As formas de erosão mais comuns relatadas na literatura são a laminar, em

sulcos e voçorocas, todas definidas a partir da progressiva concentração de

enxurrada na superfície.

Outras formas devem ser comentadas, tidas como especializadas, uma vez

que ocorrem associadas a estas, como por exemplo, a erosão por salpicamento ou o

efeito do impacto da gota de chuva, na verdade o primeiro e mais importante estádio

do processo de erosão.

Erosão pelo impacto das gotas de chuva: É o primeiro passo no processo

de erosão, pois as gotas destroem agregados, reduzindo-os a tamanhos menores,

bem como contribuem para o processo de redução da velocidade de infiltração de

água no perfil, favorecendo desta forma a formação de enxurradas.

Erosão laminar: É o tipo de erosão em que finas camadas de solo são

removidas em toda uma área, sendo a menos notada visualmente. Pode ser

percebida a partir da exposição de raízes de plantas perenes.

Erosão em sulcos: É uma forma de erosão resultante da concentração da

enxurrada em alguns pontos do terreno, atingindo volume e velocidades suficientes

para formar sulcos mais ou menos profundos.

Na sua fase inicial, os sulcos podem ser desfeitos com as operações normais

de preparo do solo, porém em estádio mais avançado, podem atingir profundidades

que interrompem o trabalho de máquinas.

Figura 3. Erosão em sulco em vários graus de severidade.

Erosão em voçorocas: É uma forma espetacular de erosão, ocasionada por

grandes concentrações de enxurrada que passam, ano após ano, no mesmo sulco,

o qual vai se ampliando pelo deslocamento de grandes massas de solo, formando

grandes cavidades em extensão e profundidade.

Page 131: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

136

Figura 4. Voçorocas em Morro de Ferro - MG

Deslocamentos e escorregamentos de massas de solo: Ocasionados, às

vezes, por cortes feitos nas bases dos morros bastante inclinados. Exemplos podem

ser dados pelas quedas de barreiras, muito comuns no domínio pedobioclimático

dos Mares de Morros.

Erosão em pedestal: Ocorre quando um solo de grande susceptibilidade à

erosão encontra-se protegido da ação de salpicamento por uma pedra ou raízes de

árvores, ou seja, material mais resistente a erosão. A erosão na vizinhança é

principalmente por salpicamento, não havendo ação da enxurrada, evidente pelo

não desgaste da base dos pedestais.

Erosão em pináculo: Caracterizada por deixar altos pináculos no fundo e

nos lados das voçorocas, está geralmente associada a condições altamente

erosionáveis de alguns solos. É um tipo de erosão sempre associado a sulcos

verticais profundos nas voçorocas (Figura 4).

Erosão em túnel: Ocorre em solos sujeitos a erosão em pináculos, formando

túneis contínuos ou canais subterrâneos. Ocorrem quando a água de superfície se

movimenta dentro do solo até encontrar uma camada menos permeável, arrastando

partículas mais finas da camada mais porosa.

9 Limites aceitáveis de erosão

A erosão geológica é um processo natural sendo qualitativa e

quantitativamente aceitável. Porém, o que pode ser normal quando se considera o

homem intervindo nos agroecossistemas, visando a produção sustentável de

alimentos?

O limite a ser considerado deve ser a não existência de processos erosivos,

pois se entende que os sistemas agrícolas sejam tecnicamente conduzidos,

Page 132: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

137

permitindo a estabilidade física, química e biológica do solo, viabilizando a produção

agrícola perpétua de alimentos.

Alguns autores estabelecem a possibilidade de aceitar a erosão em níveis

que não ultrapassem a taxa de formação de solos. Entretanto, isso pode ser

questionável, pois a taxa pode não ser precisamente medida para as diferentes

classes de solo.

Estimativas gerais consideram a necessidade de 300 a 1.000 anos para a

formação de 25 mm de solo, sendo esta estimativa reduzida para 100 anos quando

se considera o revolvimento do solo pelo cultivo. Nos Estados Unidos adota-se como

limite superior de perda de solo tolerável o valor de 11,2 t ha ano-1, equivalente a

uma taxa de formação de 25 mm em 30 anos (0,83 mm ano-1).

Contudo, estes limites podem ser mais restritivos quando se consideram os

resultados obtidos por Galindo & Margolis (1989) para solos no estado de

Pernambuco. Utilizando duas metodologias diferentes, estes autores encontraram

valores variáveis entre 0,98 a 0,09 mm. ano-1, respectivamente para um Latossolo

Vermelho-Amarelo textura argilosa e Luvissolo Vértico textura média/argilosa (Bruno

não Cálcico).

Estes números evidenciam que os limites podem ser bastante restritivos, o

que leva a necessidade de desenvolvimento real de sistemas que sejam

eficientemente conservadores, sobretudo para solos da condição semi-árida.

10 Estimativas da quantidade de erosão

As primeiras estimativas numéricas da quantidade de erosão nas décadas de

20 e 30 não consideravam a definição e avaliação das causas e efeitos de um

fenômeno natural. Este também é o caso da Equação Universal de Perda de Solo

(EUPS), desenvolvida pelo Departamento de Agricultura dos EUA nos anos 60.

Nesta época iniciaram-se os trabalhos que procuravam entender o processo erosivo,

tentando entendê-lo e reproduzi-lo física e matematicamente. Uma grande

quantidade de dados foi produzida com a aplicação e desenvolvimento dos modelos

empíricos, dando condições para o desenvolvimento destes modelos.

Contudo, os princípios qualitativos fundamentais para a estimativa da perda

de solo consideram que a causa fundamental da erosão do solo é a atuação da

chuva sobre a superfície do solo. Este fenômeno pode ser dividido em como a

erosão do solo irá ser afetada pelos diferentes tipos de chuva e como variará com as

diferentes condições de solo.

A quantidade de erosão depende da combinação do poder da chuva em

causar erosão e da habilidade do solo em resistir aos efeitos da chuva. Em termos

matemáticos, a erosão é função da erosividade das chuvas e da erodibilidade do

solo.

Erosividade pode ser definida como a habilidade potencial da chuva em

provocar erosão. Para uma dada condição de solo, uma chuva pode ser comparada

com outra quantitativamente, permitindo o estabelecimento de uma escala numérica

de erosividade.

Page 133: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

138

A susceptibilidade do solo ao processo erosivo define a erodibilidade do solo,

podendo ser atribuída a três fatores básicos. O primeiro diz respeito às

características mecânicas, químicas e físicas do solo as quais podem ser medidas

em laboratório. O segundo está relacionado com a topografia, especialmente a

declividade do terreno. Por último, a erodibilidade vai ser dependente do tratamento

que está sendo dado ao solo e ao manejo das plantas sobre o mesmo, compondo,

desta forma, dois outros componentes deste fator: a cultura (tipo, fertilização,

produtividade esperada etc) e o tratamento dado ao solo (o uso ou não de práticas

conservacionistas, tipo de preparo do solo, intensidade de cultivo etc.).

Sendo assim, pode-se estabelecer que a erosão do solo é função da

erosividade das chuvas, envolvendo a energia de todos componentes da chuva

(gotas e enxurradas) e da erodibilidade do solo. A erodibilidade do solo, por sua vez,

pode ser decomposta em componentes associados às características e/ou

propriedades do solo que o tornam mais ou menos susceptível a erosão, bem como

componentes relacionados ao manejo da superfície do solo, minimizando os efeitos

dos grandes comprimentos de rampa e elevadas declividades, e também, das

condições em que a cultura está sendo conduzida, estabelecendo maiores ou

menores perdas de solo pela cobertura proporcionada à superfície do solo.

11 Tamanho e distribuição das gotas de chuva

Os primeiros experimentos de determinação do tamanho das gotas de chuva

foram feitos em 1892. Gotas de chuva foram coletadas utilizando-se placas de

ardósia divididas em quadrados, sendo o tamanho das gotas obtido através do

tamanho do salpico (impacto) das gotas de chuva.

Outra técnica para este tipo de determinação é o uso de papel absorvente

juntamente com algum tipo de pó sobre a sua superfície, de tal forma que, após o

impacto, ter-se-ia a marca circular característica daquele tamanho de gota, medida

pelo seu diâmetro. O tamanho das gotas de chuva seria obtido pela relação com o

diâmetro da mancha no papel associado a contrastes de calibração para o papel

absorvente obtidas em laboratório. Esta metodologia atualmente é facilitada pelo uso

de scanners e programas computadorizados de determinação de área ou forma.

Uma técnica muito popular é o método de pelets de flocos. Gotas de chuva

são coletadas em bandejas contendo farinha de trigo. Cada gota de chuva forma um

pequeno glóbulo de farinha umedecido que, após secagem, pode ser separado do

restante. Experimentos prévios de laboratório podem estabelecer uma relação entre

o tamanho do glóbulo e da gota de chuva. Outras formas de avaliação do tamanho

de gotas de chuva podem ser utilizadas e estão associados também ao momento e

a energia cinética das chuvas: sensores acústicos, sensores de medida de pressão,

etc.

A variação dos tamanhos de gotas tem sido medida em vários países

utilizando os métodos comentados, sendo identificado 5 mm como o limite superior.

Experimentos em túnel de ventos indicam diâmetro de gotas estáveis em torno de

4,6 mm, sendo instáveis acima de 5,4 mm de diâmetro, podendo desintegrar ou não

neste intervalo, dependendo da turbulência. Fotografias em alta velocidade mostram

Page 134: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

139

que a forma das gotas tende a uma esfera achatada em função da resistência do ar.

Experimentos de campo confirmam os diâmetros máximos referidos anteriormente.

Normalmente não se encontram gotas maiores que 5 ou 6 mm, a não ser que em

condições de colisão, quando podem ser formadas gotas de maior diâmetro.

As proporções de tamanhos de gotas e como se distribuem variam com as

diferentes chuvas. A observação direta evidencia que chuvas de baixa intensidade e

que podem durar dias são formadas por gotas de pequeno diâmetro, enquanto que

em chuvas de alta intensidade, as gotas são de diâmetros muito maiores.

Estudos têm mostrado que há uma relação entre o diâmetro de gotas de

chuva (pelo menos 50% delas) e intensidade. Com esta relação não há dúvidas de

que aumentando a intensidade das chuvas há um correspondente aumento do

tamanho das gotas, diminuindo também o tamanho quando a intensidade das

chuvas reduz (Figura 5). No entanto, sabe-se que existe um limite físico para o

tamanho máximo de gotas, havendo uma reversão nesta relação em chuvas de

muito altas intensidades. Curvas de distribuição de tamanhos de gotas para

intensidades crescentes mostram claramente que o valor máximo do diâmetro de

gota chega ao máximo até 80 a 100 mm de chuva por hora, decrescendo a

intensidades maiores (Figuras 6 e 7).

Figura 5. Distribuição do tamanho de gotas em baixas e médias intensidades de

chuvas (Fonte: Hudson, 1995).

Figura 6. Distribuição do tamanho de gotas em altas intensidades de chuva

Page 135: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

140

(Fonte: Hudson, 1995).

12 Velocidade terminal

Um corpo em queda livre irá acelerar até que a resistência do ar seja igual à

força da gravidade, continuando em queda a uma dada velocidade constante. Esta

velocidade é conhecida como velocidade terminal e vai depender do tamanho e da

forma deste corpo. A velocidade terminal das gotas de chuva aumenta com o

aumento do tamanho. Gotas em torno de 5 mm de diâmetro apresentam uma

velocidade terminal de 9 metros por segundo (Figura 7).

Figura 7. Velocidade terminal de gotas de chuva (Fonte: Hudson, 1995).

Muitas medidas da velocidade terminal foram feitas em laboratório no início

do século, obtendo-se valores semelhantes, considerando o aparato utilizado.

Medidas posteriores, utilizando equipamentos mais modernos, obtiveram valores de

velocidade terminal 15% superiores quando comparadas às medidas do início do

século. A metodologia de determinação da velocidade terminal envolve a detecção

dos pulsos elétricos gerados quando as gotas d´água passam por anéis de indução

em função da carga elétrica presente nesta. Quando a chuva é acompanhada por

ventos, o componente resultante pode ser maior que a velocidade terminal. O efeito

irá ser maior sobre gotas de pequeno diâmetro caindo vagarosamente do que em

grandes gotas com alta velocidade.

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141

13 Momentum e energia cinética

Há evidências experimentais de que o poder erosivo das chuvas está

relacionado à parâmetros compostos derivados de combinações de mais de uma

propriedade física. A energia cinética das chuvas e o seu momentum são exemplos.

Se o tamanho das gotas e sua velocidade terminal são conhecidos, então é possível

calcular o momentum da chuva caindo ou sua energia cinética pela soma dos

valores individuais para cada gota d´água.

Alguns estudos indicam que a taxa de destacamento de partículas de solo

está muito mais associada ao momentum que à energia. Entretanto, tem sido visto

que para chuvas naturais, as relações entre intensidade e momentum ou energia

são similares.

O cálculo indireto da energia das chuvas proporcionou melhores resultados

do que tentativas de medida direta do momentum das chuvas, pois as forças

envolvidas são tão pequenas que alguns instrumentos não são suficientemente

sensíveis para se fazer o registro da energia das chuvas diretamente.

Sensores acústicos (ruído das chuvas obtido por em microfone e

transformado em um sinal que pode ser medido) e piezoelétricos (mudanças de

pressão sobre um cristal de quartzo gerando um sinal elétrico) e transdutores de

pressão (registro da pressão do impacto das gotas d´água sobre um meio elástico)

são algumas das metodologias mais recentes para aplicação nestes casos, todos

com vantagens e desvantagens.

Alguns dos primeiros resultados obtidos e conduzidos em vários países são

mostrados na Figura 8. Entretanto, estes resultados apresentam poucas medidas

em altas intensidades e que também foram feitas por diferentes pesquisadores, não

podendo ser identificado se as variações observadas são devidos às diferentes

técnicas e qual a real diferença entre as chuvas nos vários países. Resultados de

alguns destes estudos são apresentados na forma de equações matemáticas

relacionadas basicamente à intensidade de chuva e energia cinética. Pesquisas

sobre esta matéria estão sendo estimuladas pelo conhecimento que se tem da forte

relação entre energia ou momentum e o poder de provocar erosão.

Equações relacionando energia cinética e intensidade de chuvas:

E = 916 + 331 log I, sendo E= energia das chuvas em pé.ton. acre-

1.polegadas e I = intensidade de chuva em pol.h-1;

E= 210 + 89 log I, sendo E= energia das chuvas em ton.m. ha-1.cm-1 e I =

intensidade de chuva em cm. h-1;

E= 11,9 + 8,7 log I, sendo E = energia das chuvas em J.m-2.mm-1 e I =

intensidade de chuva em mm.h-1 ;

E = 29,22 (1-0,894e-0,004771), sendo E = energia das chuvas em J.m-2 .mm-1 e I

= intensidade de chuva em mm.h-1 ;

Page 137: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

142

E = 30-125/I, sendo E = energia das chuvas em J.m-2.mm e I = intensidade de

chuva em mm.h-1 ;

E = 9,81 + 11,25 log I, sendo E = energia das chuvas em J.m-2 .mm-1 e I =

intensidade de chuva em mm.h-1 ;

Figura 8. Relação entre energia cinética e intensidade em diferentes países.

14 Impacto da gota d’água e o escoamento superficial

A erosão do solo é um processo de trabalho e envolve o gasto de energia em

todas as fases da erosão pelas chuvas, tais como a quebra e o salpicamento de

agregados no ar, o aumento da turbulência das enxurradas e no transporte e

carreamento de partículas de solo.

O impacto das gotas de água é vital para o processo erosivo e sua

importância pode ser confirmada por meio da comparação da energia cinética

disponível em uma chuva caindo e a existente nas enxurradas (Quadro 1). Observa-

se que as quantidades de energia envolvidas em um e outro são muito grandes,

sendo que a energia das chuvas é cerca de 256 vezes maior que a energia

envolvida no escoamento superficial.

Na prática, os efeitos do impacto das gotas d’água foram facilmente

demonstrados no passado. Foram utilizadas parcelas (1,5 m x 27,5 m), sendo uma

com a superfície do solo recoberta a certa altura por tela plástica com pequeno

diâmetro de abertura, o suficiente para subdividir as gotas d’água em outras

menores, atenuando a velocidade de queda, enquanto a outra parcela não foi

coberta. Observou-se que a perda de solo na parcela coberta não foi eliminada, mas

reduzida a 1/100 da perda de solo observada na parcela desprotegida.

Quadro 1. Energia cinética (EC = (½ x m x (V)2)) das chuvas e o escoamento

superficial

Variáveis Chuvas Escoamento superficial

Massa Massa da chuva caindo = R Massa do escoamento

superficial = R/4

Velocidade Velocidade terminal = 8m/s Velocidade do

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143

escoamento na superfície

= 1 m.s-1

Energia cinética ½ x R x (8)2 = 32R ½ x R/8 x (1)2 = R/8

O selamento da superfície do solo é outra conseqüência do impacto da gota

d’água, reduzindo a velocidade de infiltração no solo, o que favorece o aumento do

escoamento superficial. O aumento da turbulência nas enxurradas formadas pelo

escoamento superficial, aumenta bastante capacidade de destacamento e

carreamento de partículas do solo.

15 Estimativa da erosividade das chuvas

Vários estudos foram desenvolvidos no mundo buscando identificar a melhor

associação entre as características das chuvas naturais e a quantidade de perda de

solo, ou seja, a erosividade das chuvas.

O melhor método para estimar a perda de solo é composto pelo produto da

energia cinética de uma chuva nos 30 minutos consecutivos de sua duração total e

que correspondam à maior intensidade de chuva. A intensidade de chuva é obtida a

partir de registros de pluviográfos, considerando-se o período de 30 minutos de

maior intensidade e a quantidade de chuva ocorrida. A medida da erosividade

descrita é denominada de Índice IE30.

Métodos alternativos têm sido estudados. Um deles considera que as chuvas

acima de 25 mm h-1 são consideradas erosivas, sendo o índice associado

denominado de K. Este índice apresenta boas correlações com as perdas de solo e

é definido por toda energia cinética da chuva que cai a mais de 25 mm h-1. Para as

condições de clima temperado um índice semelhante considera chuvas com

intensidade superiores a 10 mm h-1.

Os dados de IE são apresentados no exemplo abaixo utilizando dados de um

pluviográfo (Quadro 2).

Quadro 2. A intensidade máxima de chuva em 30 minutos (IE30) é dada pela

fórmula EC = 11,9+8,7 log I máxima.

Tempo de

duração da

chuva

(minutos)

Quantidade de

chuva (mm)

Intensidade

de chuva1

(mm h-1)

Energia de chuva2

(J m-2 mm-1)

Total 3

(J m-2)

0-5 0 - - -

5-10 1 12 21,29 21,29

10-15 1 12 21,29 21,29

15-20 2 24 23,90 47,80

20-25 2 24 23,90 47,80

25-30 3 36 25,44 76,32

30-35 3 36 25,44 76,32

34-40 3 36 25,44 76,32

40-45 3 36 25,44 76,32

Page 139: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

144

45-50 2 24 23,90 47,80

50-55 2 24 23,90 47,80

55-60 1 12 21,29 21,29

400,88

16 Aplicações de um índice de erosividade

A habilidade de avaliar numericamente o poder erosivo das chuvas tem duas

aplicações principais: a definição de práticas conservacionistas e a pesquisa para

ajudar a melhorar o conhecimento e o entendimento a respeito da erosão.

No primeiro caso, o conhecimento da erosividade das chuvas em determinada

área pode auxiliar na definição de quais práticas de conservação do solo a serem

adotadas, permitindo também um dimensionamento mais adequado destas.

Diferentes características de chuva nos vários ambientes de um país irão

condicionar valores de erosividade também distintos, pois as chuvas predominantes

nesta região são típicas e diferenciadas de outra região.

Mapas de erosividade de chuvas podem ser confeccionados, permitindo

prever melhor a ocorrência da erosão do solo e a definição da aplicação ou não de

uma ou outra prática. A eficiência da aplicação destes índices torna-se maior à

medida que são mais detalhados, ou seja, se há índices para as várias épocas do

ano, ou mesmo mensais, é possível estabelecer critérios muito mais discriminatórios

para a aplicação das práticas conservacionistas.

A implantação de determinada prática conservacionista que requer o

estabelecimento prévio de uma cobertura vegetal protetora, a qual necessita de

certa umidade de solo, como os canais escoadouros nos sistemas de

terraceamento, pode ser mais bem definida quando se conhec a erosividade das

primeiras chuvas. O estabelecimento da cobertura vegetal deve ocorrer nas

condições de menor erosividade, pois estas chuvas vão propiciar a umidade

necessária para o desenvolvimento de plantas e não necessariamente deverão

provocar erosão.

A pesquisa da erosão do solo utiliza tanto chuvas naturais quanto simuladas.

Índices de erosividade são essenciais, pois permitem a distinção criteriosa do teste

de diferentes práticas ou táticas de manejo ao longo dos anos, uma vez que

certamente se têm variações quanto às chuvas de um ano para o outro. Quando se

utilizam estes índices, pode-se avaliar se a erosão de uma determinada prática em

relação a outras é devida à mesma ou às diferenças entre chuvas nos anos de

estudo. O mesmo pode ser aplicado a uma estação de cultivo. O início ou fim desta

estação pode levar às perdas de solo diferenciadas dependendo das características

das chuvas predominantes no início ou fim da mesma.

17 Erodibilidade do solo

Page 140: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

145

Como já definido, a erodibilidade do solo é a sua vulnerabilidade ou

susceptibilidade a erosão, sendo a sua recíproca resistência. Enquanto a

erosividade pode ser avaliada diretamente por meio de propriedades físicas das

chuvas, a erodibilidade é mais complicada, pois depende de uma série de variáveis.

De forma mais ampla, a erodibilidade do solo pode ser aplicada a todas as demais

variáveis envolvidas na perda de solo, exceto a erosividade das chuvas. É também

utilizada mais especificamente como uma medida única do efeito das

características/propriedades do solo, sendo os fatores associados ao manejo do solo

e da cultura avaliados separadamente.

Três grandes grupos de fatores afetam a erodibilidade do solo: as

características/propriedades fisicas e químicas, as características associadas à

topografia e o manejo da terra.

As características/propriedades do solo que influenciam a erodibilidade são as

que afetam a velocidade de infiltração, a permeabilidade e a capacidade de

absorção da água, além daquelas que levam a resistência à dispersão, ao

salpicamento, à abrasão e às forças de transporte de chuva e enxurrada. A

infiltração é o movimento da água da superfície do solo para a subsuperfície e

quanto maior sua velocidade, menor a intensidade de enxurrada na superfície,

reduzindo, conseqüentemente, a erosão.

Durante uma chuva, a velocidade máxima de infiltração ocorre no começo, e

usualmente decresce muito rapidamente, de acordo com alterações na estrutura da

superfície do solo. Se a chuva continua, a velocidade de infiltração gradualmente

aproxima de um valor mínimo, determinado pela velocidade com que a água pode

entrar na camada superficial e pela velocidade com que ela pode penetrar através

do perfil do solo.

Por muitos anos os cientistas de solo têm tentado relacionar vulnerabilidade

do solo às suas características/propriedades e que possam ser medidas em

laboratório ou no campo. As primeiras tentativas relacionam as perdas de solo com

a textura, suas variações de composição e as mudanças no perfil, sendo que alguns

autores propuseram índices de erodibilidade a partir das classes granulométricas

principais. O grau de agregação, quantificado por diferentes metodologias, é

considerado um bom indicador da erodibilidade. A avaliação da estabilidade de

agregados (solos bem agregados, poros maiores, maior infiltração) pode ser feita

por meio do peneiramento úmido e agitação (com certa tendência a subestimar),

utilizando-se como referência a porcentagem de agregados estáveis ou instáveis em

água ou determinada classe de diâmetro de agregados.

Outra forma considerada na literatura é a resistência ao impacto das gotas

d’água, sendo considerado, por alguns autores, como o melhor indicador, permitindo

também a avaliação do efeito do selamento do solo por partículas finas. A literatura

relata que alguns autores, avaliando diversas metodologias, verificaram que a

estimativa da erodibilidade do solo não é afetada pelo uso de parâmetros fáceis e

simples de serem medidos, sendo considerados como os mais importantes à

Page 141: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

146

porcentagem de agregados instáveis e a porção das partículas em suspensão

(basicamente a quantidade de argila dispersa em água). É relatado também que, em

alguma extensão, a erodibilidade é dependente do material de origem.

Como rotineiramente a estabilidade de agregados não é facilmente medida,

alternativas de estimativa da erodibilidade a partir de parâmetros que tenham um

efeito similar já foram propostas. Entre as medidas a serem utilizadas, a percolação

e a infiltração, incluindo ou não os teores de matéria orgânica, a estrutura, a

permeabilidade. Estas propostas foram transcodificadas em nomógrafos como os

apresentados na Figura 9.

Figura 9. Nomógrafo de erodibilidade do solo (Fonte: Hudson, 1995).

18 Topografia

As terras de relevo irregular são mais vulneráveis a erosão hídrica, uma vez

que o salpico, o escoamento superficial e o transporte, têm seus efeitos acentuados

em maiores declividades. A influência da topografia na erosão do solo depende do

efeito integrado da declividade e do comprimento do declive, sendo diretamente

proporcionais a estes fatores.

Fisicamente o movimento da enxurrada pode ser explicado pela associação

com um corpo em plano inclinado (Figura 10):

Page 142: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

147

Figura 10. Decomposição de forças num movimento de um corpo num plano

inclinado

Em um corpo (enxurrada) inclinado atuam duas forças: o seu peso P e a

reação normal do plano N. Como essas duas forças não atuam na mesma direção,

elas não se equilibram, admitindo uma resultante que, na ausência de atrito, faz com

que o bloco desça o plano com aceleração constante (a).

Para determinar esta aceleração é necessário conhecer a força resultante que

atua neste corpo. Decompõe-se, para isso o peso P em dois componentes, um

perpendicular ao plano (Py) e outro paralelo (Px).

Substituindo o peso P por seus componentes, pode-se verificar que Py e N se

equilibram, pois N é a reação normal ao plano a esse componente do peso. Logo a

força resultante que atua sobre o corpo é Px.

Analisando a Figura 9, têm-se:

Py = N

Sen = Px/P Px = P. Sen ; e

Cos = Py/P Py = P. Cos .

Aplicando-se a segunda lei de Newton em módulo e considerando que Px é a

força resultante responsável pelo movimento que atua sobre o corpo, tem-se que:

FR = m.a, sendo FR = Px

Px = P. sen ; e

m.a = P. sen

P = m.g

m.a = m.g. sen

a = g. sen .

N

Py

P

Px

Page 143: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

148

Essa é a expressão da aceleração adquirida por um corpo (enxurrada) que

desliza, sem atrito, sobre um plano inclinado com ângulo em relação ao horizontal.

Assim, quanto maior o angulo , ou seja, a declividade do terreno, maior a

aceleração deste corpo.

Sendo assim, quanto maior a declividade, maior a aceleração no movimento

do corpo e, conseqüentemente, maior a velocidade deste corpo, uma vez que:

V2f = V2

i 2 a.S

Considerando:

Ec = MV2/2

Quanto maior a velocidade maior a energia cinética deste corpo,

conseqüentemente quanto maior o poder erosivo da enxurrada (o corpo em

movimento num plano inclinado)

Além disso, considerando as equações anteriores, quanto maior o espaço a

ser percorrido pelo corpo maior a velocidade deste corpo, considerando os demais

fatores constantes. Sendo assim, quanto maior o comprimento dos declives, maior

tende a ser a distância a ser percorrida pela enxurrada e o seu poder erosivo. Há

condições para o aumento do volume da enxurrada, sua massa e sua velocidade.

19 Manejo do Solo e a erosão

As variações na perda de solo provocada pelos diferentes tipos de manejo são

muito maiores do que a erosão em diferentes solos com o mesmo tipo de manejo. É

comprovada que a erosão é muito mais influenciada pelo manejo do que por outro

fator, incluindo uma detalhada discussão relativa ao manejo do solo e da cultura.

O melhor manejo pode ser definido como o mais intensivo e produtivo uso pelo

qual a terra é capaz de produzir sem causar erosão, ou seja, o uso em acordo com a

sua aptidão. Para a identificação desta aptidão existem ferramentas já vistas nesta

disciplina e incluem os sistemas de Capacidade de Uso das Terras e o

FAO/Brasileiro.

20 Manejo da cultura ou cobertura vegetal

Semelhante ao item anterior, a erosão é grandemente afetada pelos diferentes

tipos de uso do solo. No entanto, um uso particular pode ter também grandes

variações na quantidade de perda de solo dependendo do conhecimento detalhado

dos cultivos. Para uma mesma cultura, quando não manejada racionalmente, pode

haver erosão de forma acentuada sendo função da efetividade da cobertura vegetal

proporcionada ao solo.

A cobertura vegetal atua na redução do processo erosivo por meio dos seguintes

mecanismos: proteção direta contra o impacto das gotas de chuva; dispersão da

água interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo; decomposição das

raízes das plantas, formando canalículos e aumentando a infiltração da água;

Page 144: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

149

melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica e aumentando a

capacidade de retenção de água; e diminuição da velocidade de escoamento da

enxurrada pelo aumento do atrito na superfície. Mesmo culturas com tendência de

exposição da superfície do solo, como por exemplo, a mamona e o algodão, se

manejadas adequadamente poderão proporcionar uma efetiva minimização das

perdas do solo.

A vegetação é importante também na erosão eólica pela redução da

velocidade do vento na superfície do solo e absorção da maior parte da força

exercida sobre o solo. O efeito da cobertura vegetal vai depender do tipo, estádio de

desenvolvimento e produtividade.

21 Necessidade de medidas de controle da erosão

Diante do exposto pode-se estabelecer que a erosão é função da erosividade

das chuvas (R), envolvendo a energia de todos os componentes da chuva (gotas e

enxurradas), e da erodibilidade do solo.

A erodibilidade do solo, por sua vez, pode ser decomposta em componentes

associados às características e/ou propriedades do solo que o tornam mais ou

menos susceptível a erosão, bem como componentes relacionados ao manejo da

superfície do solo, minimizando os efeitos dos grandes comprimentos de rampa e

elevadas declividades (LS). Além disso, a erodibilidade também depende das

condições em que a cultura está sendo conduzida (C), estabelecendo maiores ou

menores perdas de solo pela cobertura proporcionada na superfície do solo.

A análise dos fatores que influenciam no processo erosivo considerando o

uso agrícola, analisando pelos aspectos relativos à erosividade das chuvas e

erodibilidade do solo, leva à discussão de como a erosão pode ser controlada.

No primeiro caso, o poder erosivo das chuvas está fora de controle, restando

atuar em fatores que podem ser modificados por uma intervenção técnica. As

propriedades intrínsecas do solo que o caracterizam ser mais ou menos susceptível

à ação do processo erosivo também apresentam caráter limitado de ação, restando,

em maior extensão o uso do solo e o manejo a ser dado às culturas existentes em

sua superfície, as quais estão mais efetivamente sobre o controle humano. Tal

quadro leva à discussão a respeito de quais seriam as práticas ou alterações no

manejo do solo e da cultura que levam às menores perdas de solo e água. Este será

o assunto de aula prática.

22 Bibiografia

BERTONI, J. & LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo, Ícone, 1999.

355p.

GALINDO, I.C. & MARGOLIS, E. Tolerância de perdas por erosão para solos do

estado de Pernambuco. R. Bras.Ci. Solo, 13:95-100.1989.

HUDSON, N. Soil conservation. Ames, Iowa State University Press, 1995. 391p.

SILVA, J.R.C. Erosão e produtividade do solo no semi-árido. In: OLIVEIRA, T.S.;

ASSIS Jr., R.N.; ROMERO, R.E. & SILVA, J.RC., eds. Agricultura,

sustentabilidade e o semi-árido. Fortaleza, DCS-UFC, 2000. P.169-213.

Page 145: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

150

7. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS E SISTEMAS DE MANEJO

Algumas das causas do esgotamento de nossos solos pela erosão podem ser

controladas, e todas as técnicas utilizadas para aumentar a resistência do solo ou

diminuir as forças do processo erosivo denominam-se práticas conservacionistas.

Estas podem ser divididas em vegetativas, edáficas e mecânicas, segundo se utilize

a própria vegetação, se tratem de modificações nos sistemas de cultivo, ou se

recorra a estruturas artificiais construídas mediante a remoção ou disposição

adequada de porções de terra. Cada uma delas resolve apenas parcialmente o

problema; assim, para a melhor solução, deverão ser aplicadas simultaneamente, a

fim de abranger com a maior amplitude possível os diversos aspectos do problema.

As práticas vegetativas e edáficas são mais simples de executar e de manter;

sempre se deve recorrer a elas, utilizando as mecânicas como complementares,

naqueles casos em que a combinação das outras não consiga a suficiente proteção

dos terrenos.

Neste capítulo, além das práticas, são apresentados os sistemas de manejo

do solo, tais como a rotação de culturas, o preparo do solo e o plantio direto.

A conservação do solo não se reduz à simples aplicação de um número

determinado de práticas: é todo sistema de manejo do solo de assegura a obtenção

dos maiores lucros possíveis sem diminuir a produtividade do terreno.

7.1. Práticas de caráter vegetativo

As práticas de caráter vegetativo são aqueles em que se utiliza a vegetação

para defender o solo contra a erosão.

A densidade da cobertura vegetal é o princípio fundamental de toda proteção

que se oferece ao solo, perseverando-lhe a integridade contra os efeitos danosos da

erosão. Realmente, a erosão do solo é tanto menor quanto mais densa é a

vegetação que o recobre e protege. A importância para a conservação do solo da

densidade de cobertura vegetal – compreendendo esta não somente as plantas

como os resíduos vegetais.

A utilização racional de vegetação para recobrir e travar o solo é um dos

princípios básicos da sua conservação. É evidente, porém, que no seu emprego

para fins agrícolas, nem sempre é econômico mantê-lo inteiramente recoberto com

vegetações protetoras, o que não impede, entretanto, que dentro dos planos de

produção sejam incluídos sistemas de proteção do solo baseados nas vegetações

de revestimento e de travamento.

7.1.1. Florestamento e reflorestamento

As terras de baixa capacidade de produção e, ao mesmo tempo, muita

suscetíveis à erosão, deverão ser recobertas de vegetações permanentes bastante

Page 146: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

151

densas, como as florestas, permitindo, assim, uma utilização econômica das terras

inadequadas para cultura, e proporcionando-lhes, ao mesmo tempo, a preservação.

Para certos solos muito inclinados, muitos pobres ou muito erodidos, a

cobertura com florestas é a maneira mais econômica e segura de utilização. Nas

regiões de topografia acidentada, as florestas devem ser formadas no topo dos

morros a fim de reduzir as enxurradas que se formam nas cabeceiras, atenuando os

problemas de controle de erosão nos terrenos situados mais baixo, e

proporcionando, pela maior infiltração, uma regularização das fontes de água.

O reflorestamento ciliar é usado para a proteção das margens dos rios,

empregando espécies arbóreas que fornecem frutos comestíveis, como ingazeiros

ou amoreiras, para alimentação dos peixes.

Para certos tipos de erosão, como voçoroca o reflorestamento das cabeceiras

e dos barrancos é bastante vantajoso.

As florestas exercem papel importante no equilíbrio ecológico da região e na

economia das propriedades agrícolas. Toda propriedade agrícola necessita de uma

área com mata para fornecimento de lenha, madeiras, etc., indispensáveis à

organização e manutenção da propriedade. As matas fornecem ambiente para a

fauna silvestre, abrigando e alimentando aves e animais úteis como controladores

de pragas ou como fornecedores de caça.

Sem dúvida, entre os trabalhos mais urgentes de defesa dos solos, está o

restabelecimento da floresta em zonas extensas desmatadas, incorporando-as à

economia da nação como produtoras de redá. Da forma como essa tarefa seja

conduzida depende o futuro de muitas regiões. Em muitos países, já se começa a

criar uma consciência dos imensos benefícios da árvore, e surgem campanhas de

reflorestamento que permitem augurar o restabelecimento do equilíbrio ecológico em

zonas extensas que se podem transformar em prósperos produtores de riqueza.

7.1.2. Pastagem.

Os terrenos onde as culturas não proporcionam produções compensadoras

ou onde é grande o perigo pela erosão devem ser reservados às pastagens, que

fornecem também boa proteção ao solo. A combinação agricultura-pecuária bem

administrada constitui ideal para a manutenção da fertilidade do solo; de um lado,

assegura a produção de uma densa vegetação durante períodos longos às áreas

que dela necessita, e, de outro, fornecem adubo orgânico.

As pastagens, embora em intensidade em pouco menor que as florestas,

fornecem grande proteção ao solo contra os estragos pela erosão. Seu trato pode

afetar grandemente seu valor como revestimento do solo contra a erosão.

Um peso de gado muito grande, por exemplo, pode resultar em uma

vegetação excessivamente raleada e reduzida, redundando em uma diminuição

considerável da proteção contra a erosão. Assim, para que as pastagens possam

constituir uma eficiente maneira de proteger o solo contra a erosão, um cuidado

essencial será mantê-las com um peso de gado compatível com a sua capacidade.

Page 147: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

152

Um bom sistema de evitar que os pastos sejam muito raleados pelo gado, será fazer

o rodízio de pastagens; para tal fim, sua área total será dividida em determinado

número de pastos, sendo o gado passado de um para o outro, dentro de uma

sequência determinada. Assim, os pastos terão tempo suficiente para se refazerem,

sem o perigo do pastoreio excessivo.

Deve-se evitar, sempre que possível atear-lhes fogo: este pode ser uma

causa da diminuição da densidade da cobertura vegetal das pastagens, com

sensível prejuízo para a proteção do solo oferecida contra a erosão.

A fim de manter as pastagens com uma densidade de cobertura capaz de

proporcionar uma capacidade de suporte de gado razoável e, ao mesmo tempo,

suficiente para garantir a proteção do solo contra a erosão, uma das práticas mais

recomendadas é o ressemeio periódico. Dessa maneira, reformando-se a pastagem

e semeando ou plantando mudas de espécies de capim ou leguminosas mais

indicadas, conseguir-se-á uma cobertura de maior capacidade de suporte e

consequentemente, de maior capacidade de proteção do solo contra a erosão.

É muito difícil dar indicações precisas sobre manejo de pastos, pois, mas os

seguintes pontos gerais podem servir de guia para tanto: (a) o pasto deve ser

mantido livre de ervas daninhas, devendo, porém, ter misturas de leguminosas e

gramíneas; (b) quando a fertilidade do solo diminuir, é conveniente a aplicação de

um fertilizante químico completo; (c) quando a acidez do terreno é muito alta, deve-

se corrigi-la, mediante a aplicação de calcário, a fim de proporcionar o crescimento

de leguminosas; (d) os pastos recém-estabelecidos não devem ser pastoreados até

que as plantas tenham desenvolvido um sistema radicular que permita suportar o

pisoteio; (e) as árvores de sombra para abrigo do gado devem ser localizadas na

parte alta do terreno, e longe dos riachos ou córregos e grotas; (f) os pastos não

devem ser sobre-pastoreados; (g) o pastoreio misto, de várias espécies de animais,

assegurada sempre melhor utilização da pastagem; e (h) os sulcos e camalhões em

pastagens, em contorno, são uma prática recomendada para solo argiloso, para

regiões de pouca chuva e para pastagens em formação.

7.1.3. Plantas de cobertura.

Essas plantas se destinam a manter o solo coberto durante o período

chuvoso a fim de reduzir os efeitos da erosão e melhorar as condições físicas e

químicas do terreno.

As plantas de cobertura além de controlarem os efeitos da erosão e evitarem

que os elementos nutritivos postos em estado solúvel no solo sejam lixiviados nas

águas de percolação, também proporcionam uma eficiente proteção da matéria

orgânica do solo contra o efeito da ação direta dos raios solares.

Um grande benefício dessas plantas é a produção de matéria orgânica para

incorporação ao solo. O aumento do conteúdo de matéria orgânica no solo melhora

as suas condições físicas e estimula os diversos processos químicos e biológicos.

De todos os resíduos das plantas, as raízes são, sem duvida, o mais importante,

pois o seu crescimento subterrâneo possibilita a acumulação de matéria orgânica a

Page 148: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

153

profundidades variáveis. A matéria orgânica melhora a estrutura e a capacidade de

retenção da umidade dos solos: aos argilosos, plásticos, confere melhor resistência,

refletindo não só na maior facilidade de aeração e crescimento das plantas, como

também na melhoria das condições de aeração; aos solos arenosos, melhora sua

capacidade de retenção de umidade, refletindo decisivamente no crescimento das

plantas de cultivo durante as épocas muito secas.

No caso de culturas anuais, as plantas de cobertura são intercaladas nos

ciclos da cultura, visando substituí-la assim que ela seja retirada do terreno.

No caso de culturas perenes, como cafezal, cacaual, seringal, pomares, as

plantas de cobertura são utilizadas principalmente para suplementar o efeito de

cobertura já proporcionado pelas plantas cultivadas, cobrindo os claros deixados no

terreno por suas copas.

As plantas utilizadas como cobertura, nas culturas anuais, são principalmente

as mesmas leguminosas empregadas para adubação verde, ou seja, a mucuna, as

crotalárias, o feijão-guandu. Nas plantas perenes, as plantas de cobertura são,

também, as mesmas usadas para adubação verde, a saber: o calopogônio

(Calopogonium mucunoides Desv.), a jetirana (Centrosema pubescens Benth.), o

feijão-de-porco (Canavalia ensiformes (L.) D. C.), algumas crotalárias (Crotalaria

ssp.), o cudzu-comum (Pueraria thunbergiana Benth.).

Pode-se verificar o efeito das plantas de cobertura, mesmo que não sejam

leguminosas, quando enterradas, na melhoria das condições físicas do solo. As

partículas minerais menores, ou seja, as argilas, tendem a unirem-se, de maneira a

impedir a penetração do ar, a absorção e retenção de umidade; os solos argilosos

endurecem quando secos e, quando úmidos, tornam-se pegajosos e pouco

permeáveis, condições essas que afetam gravemente a produção de culturas. Ao

enterrar-se a planta de cobertura, o volumoso material que se mistura ao solo

melhora as condições de aeração e, à medida que avançam os processos de

decomposição, o enriquecimento em húmus, resultante da incorporação do material

vegetal ao solo, modifica ainda mais as condições físicas desfavoráveis, pois os

abundantes coloides que o húmus contém, de grande poder absorvente, rodeiam as

partículas minerais, em forma de película fina que retém a umidade e é capaz de

absorver e reter os nutrientes.

Outro efeito das plantas de cobertura, quando enterradas, é a melhoria da

solubilidade de muitas substâncias minerais do solo. Os elementos nutritivos para as

plantas provêm da decomposição das rochas e do material originário do solo,

através da meteorização, que torna esses materiais lentamente aproveitáveis; o

aumento da atividade dos microrganismos proporcionado pela incorporação de

material orgânico acelera enormemente esse processo, de maneira que as culturas

podem logo dispor das quantidades de nutrientes requeridas.

O sombreamento do solo, proporcionado pelas plantas de cobertura, é outro

efeito importante. Nas regiões tropicais, o solo descoberto, submetido à ação direta

do sol e da água da chuva, sofre prejuízos graves e rápidos na sua produtividade;

com as plantas de cobertura, consegue-se o estabelecimento de uma boa proteção

sobre o terreno, amenizando esse efeito prejudicial dos fatores meteorológicos.

Page 149: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

154

A prática das plantas em cobertura pode ser contra-indicada se o custo das

sementes for alto, tornando-a muito cara. Ela requer, também, precauções contra a

disseminação de pragas ou enfermidades ocasionadas por plantas que podem ser

hospedeiras de fungos e insetos que atacariam as culturas principais: é o caso de

algumas leguminosas susceptíveis a nematoides radiculares, que atacam muitas

plantas cultivadas. Em regiões secas, os adubos verdes têm pouca utilização em

virtude da competição em água, que refletirá na produção da cultura principal.

7.1.4. Cultura em faixas

Consiste na disposição das culturas em faixas de largura variável, de tal

forma que a cada ano se alternem plantas que oferecem pouca proteção ao solo

com outras de crescimento denso. Pode-se considerá-la como uma prática

complexa, pois combina o plantio em contorno, a rotação, as plantas de cobertura e,

em muitos casos, os terraços.

Dentre os diversos sistemas de controle de erosão, tanto hídrica como eólica,

a cultura em faixas é um dos mais eficientes e práticos para culturas anuais; para

controle da erosão hídrica, deve ser orientada no sentido das curvas de nível do

terreno, e para controle da erosão eólica, deve ser executado pelos lavradores sem

despesas extras, uma vez que só altera a disposição das culturas e sua orientação

com relação ao declive ou aos ventos dominantes.

O efeito da cultura em faixas para controle da erosão é baseado em três

princípios: as diferenças em densidades das culturas empregadas, o parcelamento

dos lançantes e a disposição em contorno. A disposição alternada de culturas

diferentes faz com que as perdas por erosão sofridas por determinada cultura sejam,

em parte, controladas pela que vem logo abaixo; culturas como o feijão, mamona e a

mandioca perdem mais solo e água por erosão do que amendoim, algodão e arroz,

e estas, por sua vez, perdem mais que soja, batatinha, milho e cana-de-açúcar.

Algumas vezes, uma mesma cultura, plantada em diferentes épocas, pode

proporcionar diferenças de densidade de vegetação aproveitáveis para o sistema de

culturas em faixas, como por exemplo, a cana-de açúcar. O parcelamento dos

lançantes, pela cultura em faixas, é uma das causas de redução das perdas por

erosão, pois estas aumentam progressivamente com o comprimento dos lançantes;

as larguras das faixas deverão ser determinadas em função do declive do terreno,

do tipo de solo e da cultura. A disposição em contorno é um dos fundamentos

básicos do sistema de cultura em faixas, e as culturas diferentes, dispostas em

contorno, contribuirão para reduzir os prejuízos da erosão.

No caso da erosão eólica, varia a orientação dada às faixas, pois as correntes

a que será necessário antepor obstáculos, são as correntes dos ventos dominantes;

as faixas terão que ser orientadas de modo a serem perpendiculares à direção dos

ventos dominantes. O lançante, nesse caso, deve-se entender o comprimento ao

longo da direção dos ventos dominantes.

Podem-se distinguir dois sistemas principais de culturas em faixas: (a) faixas

de exploração contínua, em que as culturas existentes permanecem de um ano para

Page 150: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

155

outro na mesma posição; e, (b) faixas em rotação, em que anualmente todas as

culturas mudam de posição, segundo um plano preestabelecido de rotação. O

sistema de faixas em rotação adapta-se, em geral, a qualquer tipo de cultura anual

ou semiperene (cana-de-açúcar, mandioca, sisal); é sempre interessante incluir no

plano de rotação uma leguminosa, de preferência para o enterrio como adubo verde,

de forma a garantir a manutenção e o melhoramento da fertilidade do solo.

A locação das faixas pode ser feita de três maneiras: (a) faixas niveladas:

todos os limites entre faixas são locados na linha de contorno do terreno; (b) faixas

paralelas: apenas uma linha mediana da gleba é marcada em contorno, sendo as

demais linhas divisórias entre faixas tiradas paralelamente à mesma; (c) faixas

associadas: combinando os dois sistemas anteriores, de tal modo que uma faixa

paralela se alterne com uma nivelada, esta com largura irregular e aquela com

largura regular. O sistema de faixas niveladas é o mais adequado para terrenos de

topografia irregular; o controle de erosão será mais eficiente em virtude de as fileiras

de plantas seguirem, com maior aproximação as curvas de nível do terreno,

podendo ter nas linhas de transição das faixas a construção de reforços de proteção

mecânica (terraços); as faixas se apresentam com largura irregular de acordo com

as mudanças de declividade do terreno, e com bastantes ruas mortas que dificultam

os trabalhos de cultivo e trato. O sistema de faixas paralelas é recomendado apenas

para terrenos de topografia suave e declives muito uniformes; sendo as faixas de

largura uniforme, não há ruas mortas, oque facilita as operações de cultivo e trato. O

sistema de faixas associadas, que é a associação de faixas paralelas, é executado

marcando uma linha nivelada de cada duas faixas e, por elas, marcam-se as

paralelas; a cultura exigente de tratos mecânicos ficará com a faixa de largura

regular e, a outra, com a de largura irregular.

O espaçamento entre as linhas divisórias das faixas, correspondente à largura

das faixas, dependerá do tipo de solo, do grau de declive, das culturas e dos

sistemas culturais empregados. A largura das faixas será tanto menor quanto mais

erodível for o solo, quanto maior for a declividade do terreno e quanto menor for a

densidade de cobertura proporcionada pela cultura. De modo geral, adota-se entre

as linhas divisórias de faixas o mesmo espaçamento usado para os terraços de base

larga, ficando, assim, feita a marcação destes para o caso de sua futura instalação.

O sistema de culturas em faixas oferece todas as vantagens de plantio em

contorno e da rotação de culturas, e também a proteção adicional ao terreno, pela

ação das faixas de culturas mais densas que diminuem a velocidade e o volume da

enxurrada provocada pelas culturas mais abertas.

Se o sistema é planejado com cuidado e se marcam adequadamente as

faixas estabelecendo uma rotação de culturas, com os anos consecutivos de uso a

gleba terá uma proteção balanceada em todo o terreno.

7.1.5. Cordões de vegetação permanente

Os cordões de vegetação permanente são fileiras de plantas perenes e de

crescimento denso, dispostas com determinado espaçamento horizontal e sempre

Page 151: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

156

em contorno. Em culturas anuais cultivadas continuamente na mesma faixa, ou em

rotação, são intercaladas faixas estreitas de vegetação cerrada, formando os

cordões de vegetação permanente; em culturas perenes com o café e pomar, os

cordões são colocados entre as arvores, com determinado espaçamento horizontal,

formando barreiras vivas para controle da erosão.

Quebrando a velocidade de escorrimento da enxurrada, o cordão de

vegetação permanente provocará a deposição de sedimentos transportados e

facilitará a infiltração da água que escorre no terreno, concorrendo, pois, para

diminuir a erosão do solo. Esses cordões possibilitam a formação gradual de

terraços com o correr dos anos; com o preparo do solo e com os cultivos que se

fazem entre as faixas, e também como resultado da própria erosão, a terra vai sendo

deslocada do seu lado de cima, formando gradativamente, terraços, e com um

pequeno trabalho de acabamento estes serão terminados; assim, os cordões de

vegetação permanente poderão não apenas substituir os terraços como, também,

representar a fase inicial de sua construção.

O cordão de vegetação permanente é uma prática bastante eficiente de

controle de erosão, chegando quase a equivaler aos terraços. Os dados revelam

que essa prática controla cerca de 80% das perdas de solo e 60% das perdas de

água.

Para as condições de nossa agricultura, tais cordões apresentam, de modo

geral, sobre os terraços, a grande vantagem de sua simplicidade e facilidade de

execução. Mesmo locados sem grande precisão, apresentarão eficiência satisfatória,

o que facilita o seu emprego pelos agricultores que disponham de pequenos

recursos técnicos.

Quando os cordões de vegetação permanente são usados como meio de

formação natural dos terraços, convêm que já sejam marcados com o espaçamento

e gradiente recomendados apara os terraços, sendo necessários, então, um pouco

mais de cuidado e precisão no seu nivelamento.

Seu principal inconveniente, relativamente aos terraços, é a diminuição da

área destinada às culturas anuais. Nos terraços de base larga, toda a área do

terreno, inclusive aquela ocupada pelo camalhão e pelo canal do terraço, poderá ser

coberta com a cultura, sem qualquer diminuição da área útil. Por exemplo, em uma

faixa de 30 m de cultura de algodão protegida com cordões de vegetação

permanente de 3 m de largura, 10% da área da cultura principal seria ocupada com

a vegetação protetora; porém, quando se utiliza como planta protetora de formação

dos cordões a cana-de-açúcar, por exemplo, dela se pode retirar um rendimento ou

uso econômico, sendo empregada como forrageira para alimentação dos animais da

propriedade agrícola ou mesmo para moagem e industrialização.

A distância entre cordões de vegetação permanente varia com a declividade

do terreno e com as condições do solo; de preferência, deve ser usada a mesma

tabela dos terraços.

Os cordões de vegetação permanente deverão ter de 2 a 3 m de largura. A

vegetação a empregar na sua formação, além de apresentar, de preferência, valor

econômico subsidiário para a fazenda, deverá possuir as características seguintes:

Page 152: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

157

crescimento rápido e cerrado; formação de uma barreira densa junto ao solo;

durabilidade; não possuir caráter invasor para as terras de culturas adjacentes, e

não fornecer abrigo para moléstias e pragas das culturas em que tiver que ser

intercalada.

As espécies mais usadas para a formação dos cordões de vegetação

permanente são: a cana-de-açúcar, que oferece valor econômico pela utilização em

forragem de alimentação do gado ou na industrialização; o vetiver, que pode ser

utilizado para extração, por destilação das raízes, da essência de sândalo,

proporcionando uma barreira mais densa e cerrada que a cana-de-açúcar; a erva-

cidreira, que também fornece um óleo essencial, com boa barreira e a vantagem do

porte menor; o capim-gordura, que pode ser usado como feno, produzindo uma

barreira bastante densa e bem ligada ao solo.

Para a proteção das culturas perenes, os cordões de vegetação permanente

deverão ser formados com plantas vivazes, de pequeno porte e de crescimento

bastante denso e cerrado junto à superfície do solo, de modo a formarem barreiras

contra o escoamento da enxurrada. Além do controle da erosão, as plantas

utilizadas deverão oferecer possibilidade de uso econômico, não apresentar perigo

de praguejamento e não competir com as culturas entre as quais serão plantadas.

As espécies mais recomendadas são: o isote, o capim-chorão, a erva-cidreira, a

leucina: o essencial é que a planta escolhida forme um bom obstáculo ao arraste do

solo. A aplicação de cordões de vegetação permanente, em culturas perenes, tem

sido muito discutida pela competição que possam fazer á cultura principal; deve-se

ter em mente, contudo, a quantidade de material orgânico que proporcionam ao solo

e também que sua área de ocupação é muito pequena em relação à área total da

cultura. Os cordões de vegetação permanentes serão mais eficientes se formados

em contorno; porém, quando as ruas de culturas estiverem em linhas retas, serão

interrompidos quando encontrarem árvores em seu alinhamento. O espaçamento

entre os cordões de vegetação permanente deverá ser aproximadamente o mesmo

dos terraços tipo de base estreita, também chamados cordões em contorno, que

tivessem que ser empregados nas mesmas condições. Em terrenos de inclinação

muito forte, os cordões de vegetação permanente deverão ter o mesmo

espaçamento dos terraços tipo patamar, que, nesse caso, seriam necessários;

esses cordões poderão ser usados, também, para formação natural dos terraços

patamar, graças à retenção gradual da terra que vai sendo deslocada das faixas que

lhes fica acima, tornando uma prática cuja construção é bastante cara a um custo

praticamente nulo.

7.1.6. Alternância de capinas

A alternância das épocas de capinas em ruas adjacentes, durante o período

chuvoso, é uma maneira, praticamente sem despesa, de reduzir as perdas por

erosão tanto em culturas anuais como perenes.

Esse sistema consiste em fazer as capinas sempre pulando uma ou duas

ruas, e, depois, passado algum tempo, voltar para capiná-las, deixando, assim,

Page 153: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

158

sempre uma ou duas com mato imediatamente abaixo de outra ou de outras recém-

capinadas. A terra perdida pelas ruas limpas de mato será retida pelas ruas com

mato que ficam imediatamente abaixo.

Em cada rua de cultura haverá sempre o mesmo número de capinas que no

sistema usual. O sistema de alternância de capinas requer apenas um pouco mais

de atenção na distribuição das épocas de capinas: consiste apenas em fazer com

que entre cada duas ruas adjacentes, seja dado um intervalo entre capinas de,

aproximadamente, metade do intervalo normalmente adotado; procurar-se-á fazer

com que a primeira capina seja antecipada sobre a época que, no sistema

convencional, seria considerada como mais própria, de cerca de uma quarta parte

do intervalo normal entre as capinas de uma mesma área.

O efeito das alternâncias de capinas na diminuição das perdas por erosão é

muito interessante, principalmente ao considerar sua aplicação muito simples e seu

custo praticamente nulo.

A eficiência desse sistema no controle de erosão será tanto maior quanto

mais próxima das curvas de nível do terreno estiverem as ruas das plantas. Sendo

bem conduzido, ele não afeta a produção.

7.1.8. Ceifa do mato

A ceifa do mato nas culturas perenes, do tipo de pomar, café, cacau, cortando

as ervas daninhas a uma pequena altura da superfície do solo, deixando intactos os

sistemas radiculares do mato e das plantas perenes e uma pequena vegetação

protetora de cobertura, constituída de tocos, é uma maneira eficiente maneira de

controlar a erosão. A ceifa deve ser convenientemente repetida a fim de não

prejudicar a cultura pela concorrência do resto do mato, e executada com o auxílio

de ceifadeiras mecânicas apropriadas.

O controle das ervas daninhas nas culturas perenes pode ser realizado

quimicamente, por intermédio de herbicidas, porém o efeito contra a ação do

impacto da gota de chuva deve ser menor.

O efeito da ceifa do mato no controle das perdas por erosão pode ser

explicado, quando em comparação com o controle das ervas daninhas por meio das

capinas, pelo seguinte; (a) não há desagregação da camada superficial do solo que

facilita a erosão; (b) não há mutilação das raízes superficiais das plantas perenes

cultivadas, com sacrifício para a produção; (c) sem a eliminação total da vegetação

de cobertura do solo, não haverá o efeito da energia de impacto da gota de chuva no

terreno; (d) o sombreamento do solo que proporciona é de grande auxílio contra a

oxidação acelerada da matéria orgânica.

Essa operação, cortando as ervas daninhas a uma pequena altura da

superfície do solo, deixa intactos os sistemas radiculares do mato e das plantas

cultivadas e também ainda uma pequena vegetação protetora de cobertura,

constituída pelos pequenos tocos deixados. A ceifa controla o desenvolvimento

exagerado e prejudicial das ervas daninhas, eliminando-as logo que sua competição

em umidade e elementos nutritivos comece a ser sentida pelas culturas.

Page 154: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

159

Como a ceifa não destrói completamente o mato, o seu número ou a sua

frequência precisa ser bem maior do que no caso das capinas, pois os pequenos

tocos de ervas daninhas deixados brotam logo em seguida, formando novas plantas

em tempo mais curto do que por meio de sementes, como é o caso das plantas

eliminadas pelas capinas.

A frequência das ceifas necessárias para controlar as ervas daninhas numa

cultura perene, como cafezal, pomar, cacaual, dependerá das condições locais de

fertilidade do solo, grau de infestação e espécies predominantes de ervas daninhas

e da distribuição de chuvas; o melhor índice é observar a reação das plantas

cultivadas, não deixando que estas amareleçam por efeito da concorrência do mato.

7.1.9. Cobertura morta

A cobertura do solo com restos de culturas é uma das mais eficientes práticas

de controle da erosão, especialmente no da eólica.

A cobertura morta protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, faz

diminuir o escoamento da enxurrada, e incorpora ao solo a matéria orgânica que

aumenta a sua resistência ao processo erosivo; no caso da erosão eólica, protege o

solo contra a ação direta dos ventos e impede o transporte das partículas.

A cobertura morta com palha ou resíduos vegetais contribui para a

conservação da água, devendo ser preconizada nas zonas de precipitações pouco

abundantes, e diminui a temperatura do solo, reduzindo, assim, as perdas por

evaporação.

Em culturas anuais, esse sistema é praticado em geral, com equipamentos

que, soltando o solo durante o seu preparo, deixa os restos de cultura na superfície,

podendo também ser compensador em culturas perenes, como pomares e em

alguns cafezais.

A cobertura morta tende a melhorar a estrutura do solo na camada superficial.

Seu efeito mais importante, do ponto de vista de controle de erosão, pela proteção

que oferece contra o impacto das gotas de chuva e contra o escoamento acelerado

da enxurrada.

A cobertura morta, que tem mostrado, em algumas regiões, ser de valor,

também, no controle da erosão eólica, é, pois, de grande eficiência. Entretanto, nem

sempre tem dado bons resultados em face do problema de fertilidade do solo,

principalmente com relação ao nitrogênio. A cobertura com palha ou nas suas

atividades, estimulando a decomposição e, em consequência, determinando a

rápida redução da disponibilidade de nitrogênio, especialmente nas primeiras

semanas de decomposição. Para que tal prática tenha sucesso na produção, é

necessário que haja adequado suprimento de nitrogênio para a atividade microbiana

do solo e para o uso da planta.

Em culturas perenes, a cobertura com palha apresenta o problema de exigir

uma área próxima, destinada á produção de capim, considerável gasto de mão-de-

obra, transporte, corte e distribuição da palha de capim sobre o terreno. As

vantagens da palha como cobertura são grandes, mas sua aplicação generalizada

Page 155: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

160

fica limitada pelo seu elevado custo. O cuidado especial de impedir que a cobertura

seja atingida pelo fogo, destruindo também a cultura, é conseguindo, fazendo-se a

aplicação alternadamente em uma ou duas ruas, deixando outras tantas sem a

cobertura; no ano seguinte, a palha de capim será aplicada nas ruas que antes

ficaram desprotegidas.

As espécies de capim mais usadas para a produção de palha a ser distribuída

dentro das ruas que antes ficaram desprotegidas.

7.1.10. Faixas de bordadura e quebra-ventos

As faixas marginais das terras cultivadas apresentam, muitas vezes,

problemas de controle de erosão e de preparo do solo, que são resolvidos com o

estabelecimento de faixas de bordadura. E, nas regiões sujeitas á erosão eólica, nas

faixas marginais dos campos, torna-se necessário o estabelecimento de quebra

ventos para o controle dos ventos que sopram junto á superfície do solo.

7.1.10.1. Baixas de bordadura

Consistem em faixas estreitas formadas com plantas de porte baixo e

vegetação cerrada para conter os excessos de enxurrada que possam escorrer sem

provocar danos.

Com uma largura de 3 a 5 m, são formadas na margem dos campos

cultivados, ao lado dos caminhos e dos canais escoadouros. Sua principal finalidade

é controlar a erosão nas bordas dos terrenos de cultura; realmente, elas formam um

anteparo para as enxurradas que correm das terres cultivadas e evitem que se

formem solapamentos nas saídas de enxurrada.

As faixas de bordadura também podem proporcionar um espaço para o

manejo de máquinas de preparo do solo, de cultivo, de pulverização e de colheita.

No caso, principalmente, dos terrenos com certo declive e que sejam arados e

cultivados em contorno, elas vêm a facilitar a virada dessas máquinas quando no

seu uso. Outro benefício é facilitar a ligação entre as faixas de cultura ou entre

terraços, pelas máquinas de cultivo, de pulverização e de colheita.

Estabelecendo as faixas de bordadura com vegetações úteis, fornecedoras de

produtos de valor econômico, evita-se o aparecimento de ervas daninhas que os

cultivadores poderiam espalhar pelo resto do terreno. Para sua formação, são

recomendadas as leguminosas de pequeno porte, como centrosema, cudzu, e

gramíneas, como erva-cidreira e capim-gordura.

7.1.10.2. Quebra-ventos

Consistem em uma barreira densa de árvores, colocadas a intervalos

regulares do terreno, nas regiões sujeitas a ventos fortes, nos lugares susceptíveis

de erosão eólica, de modo a formares anteparos contra os ventos dominantes.

Page 156: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

161

Sua função é fundamentalmente reprimir a ação do vento na superfície do

solo, protegendo as plantas, fornecendo cada uma, uma barreira mais densa em

determinada altura; as plantas de menor porte são colocadas na frente, aumentando

gradualmente de porte até as mais altas. O vento será, assim, desviado para cima

por uma superfície inclinada de copa de árvores. Quanto mais altos os quebra-

ventos, mais longe farão sentir a sua influência.

Para a formação de renque de árvores destinadas a funcionar como quebra-

ventos, podem ser utilizadas as seguintes: o eucalipto, o bambu, a tefrósia, o

cipreste.

7.2. Práticas de caráter edáfico

São as práticas conservacionistas que, com modificações no sistema de

cultivo, além do controle de erosão, mantêm ou melhoram a fertilidade do solo.

Não basta controlar a erosão para manter a fertilidade do solo, pois também

contribuem para seu depauperamento, o consumo de elementos nutritivos pelas

culturas, a combustão da matéria orgânica e a lixiviação pelas águas de percolação.

Além das práticas de controle da erosão, são necessárias outras que

reponham os elementos nutritivos, controlem a combustão de matéria orgânica,

diminuam a lixiviação, controlando, parte, as causas de depauperamento do solo.

7.2.1. Controle do fogo

O fogo é, realmente, umas das maneiras mais fáceis e econômicas de limpar

um terreno recém-derrubado, de eliminar o trabalho e as dificuldades do enterro de

restos culturais, de combater certas moléstias ou pragas das culturas, de limpar e

renovar as pastagens. Entretanto, os prejuízos ocasionados pelo fogo, na destruição

da matéria orgânica e na volatilização do nitrogênio, são de grande importância para

a fertilidade do solo.

As queimadas utilizadas no desbravamento de terras destroem grande parte

da matéria orgânica que a natureza levou anos a formar; essa matéria orgânica e o

nitrogênio que desaparecem são imprescindíveis à integridade produtiva do solo.

Com um pouco de esforço, consegue-se desbravar e limpar o terreno para o plantio

sem lançar mão do fogo; é importante preservar ao máximo a valiosa reserva de

húmus e nitrogênio acumulada na mata.

A queima das pastagens deve ser evitada ou, pelo menos, controlada. Essas

queimas de limpeza e renovação tornam o solo mineralizado e pobre em nitrogênio

e matéria orgânica; depois de alguns anos dessa prática, pode-se observar

mudanças de vegetação espontânea e diminuição da capacidade de suporte das

pastagens.

As queimas que se praticam, anualmente, nas palhaças e restos de cultura,

para facilitar o preparo do solo, são muito mais nocivas. Além dos prejuízos em

matéria orgânica e nitrogênio, o solo perde sua capacidade de absorção e retenção

de umidade e, principalmente, sua resistência à erosão. Os restos culturais podem

Page 157: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

162

ser enterrados, deixados na superfície, ou encordoados ao longo de curvas de nível

do terreno, e deixados até se decomporem com o tempo.

Desde remotas eras, o fogo tem sido utilizado, em todos os países, como

instrumento para limpar os terrenos, e sempre houve controvérsia sobre seus

efeitos. Em geral os lavradores partidários de tal prática, por vários motivos,

assumindo maior importância os seguintes: (a) é o único meio, dentro das suas

possibilidades, de conseguir, após a derrubada, a limpeza do terreno, e prepará-lo

para o cultivo; (b) é um sistema econômico de eliminar os restos culturais de um ou

vários anos; (c) diminui as pragas e moléstias. Os técnicos, em geram, são inimigos

da queima, sendo seus argumentos mais frequentes: (a) consome a matéria

orgânica do solo; (b) elimina os microrganismos do solo; (c) volatiliza as substâncias

necessárias à nutrição das plantas; (d) deixa o solo desnudo, aumentando a erosão;

(e) diminui a produção.

É difícil explicar com precisão os fatores que influem na maior produtividade

dos terrenos queimados, nos primeiros cultivos após a queima. Pode-se aceitar

certa influência das cinzes. A elevação do pH e o conteúdo de bases trocáveis

devem ter grande influência no aumento da produtividade. As alterações em

algumas propriedades físicas do solo também merecem ser consideradas: a

estrutura, por exemplo, tem importante papel na fertilidade do solo. A

pedregosidade, a aeração e a permeabilidade aumentam com o tamanho dos

agregados, essas três propriedades têm grande influência no crescimento e na

frutificação das plantas.

Todavia, é um fato indubitável, sabendo-se do efeito que tal prática tem no

considerável aumento das perdas de solo e água pela erosão.

7.2.2. Adubação verde

É a incorporação, ao solo de plantas especialmente cultivadas para esse fim

ou de outras vegetações cortadas quando ainda verdes para serem enterradas.

Essas plantas protegem o solo contra a ação direta da chuva quando estão vivas e,

depois de enterradas, melhoram as condições físicas do solo pelo aumento de

conteúdo de matéria orgânica.

Como sistema de adubação orgânica, a adubação verde tem a vantagem de

ser estabelecida em qualquer cultura e produzida no próprio solo em que vai ser

incorporada. Constitui umas das formas mais baratas e acessíveis de incorporar ao

solo a matéria orgânica; sendo notórios seus efeitos na estabilização e mesmo no

aumento das produções.

As plantas utilizadas como adubo verde podem ser de diferentes tipos;

necessitam, porém, produzir, em pouco tempo, grande quantidade de massa; essa

quantidade, quando incorporada, é que irá determinar a quantidade de húmus

resultante no solo.

Deve-se preferir na adubação verde, as plantas da família das leguminosas,

que, além de matéria orgânica, incorporam também nitrogênio ao solo. As

leguminosas têm a propriedade de possuir bactérias fixadoras de nitrogênio do ar,

Page 158: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

163

vivendo em simbiose em suas raízes, tirando destas energia para suas atividades e

fornecendo, em troca, o nitrogênio retirado do ar, que passa, assim, a fazer parte da

constituição da planta: são, por isso, em geral, muito mais ricas em nitrogênio do

que as demais plantas. É conveniente inocular a bactéria apropriada para que se

verifique a fixação do nitrogênio atmosférico; a inoculação faz formar nódulos nas

raízes, produzidos por bactérias da espécie Bacillus radiciola, onde existem várias

raças fisiológicas, além de grupos de inoculação cruzada, nos quais se reúnem

todas as espécies de leguminosas que podem ser inoculadas com a mesma raça de

Bacillus.

A incorporação como adubo verde de plantas não leguminosas ocasiona, em

geral, diminuição da produção da cultura imediata, como consequência do consumo

de nitrogênio do solo pelos microrganismos que produzem a decomposição da

matéria orgânica; torna-se necessário, nesse caso, uma aplicação suplementar de

um fertilizante nitrogenado.

São muitas as espécies de leguminosas que podem ser utilizadas como

adubo verde, e sua escolha dependem, em cada lugar, das condições climáticas,

organização da propriedade agrícola, preço da semente, facilidades de cultivo. Nas

condições brasileiras, destacam-se como principais as seguintes: a mucuna, feijão-

de-porco, o feijão-guandu, as crotalérias, as tefrósias, o lablabe. Em algumas

regiões, podem ser empregadas a alfafa, o trevo, a vigna, alguns tipos de feijão, o

cudzu-tropical, algumas indigóferas.

O plantio de adubos verdes é feito, em geral, na mesma época que o das

demais culturas anuais; por essa razão, o adubo verde requer um ano sem cultura

econômica no terreno. Depois de enterrá-lo, especialmente se se trata de uma

cultura de crescimento denso, deve-se deixar transcorrer duas ou três semanas

antes de começar a sementeira do cultivo principal.

Ao incorporar ao solo grandes quantidades de material orgânico (30 a 40

toneladas por hectare), apresenta-se uma curta deficiência transitória de nitrogênio,

devido à proliferação de bactérias que atacam os tecidos vegetais, as quais utilizam

o nitrogênio em sua alimentação; além disso, durante os primeiros dias de

decomposição, a água da chuva solubiliza alguns constituintes das folhas, que

absorvem oxigênio do solo em proporção tão alta que privam as sementes das

plantas da quantidade necessária para a sua germinação.

7.2.3. Adubação química

A manutenção e restauração sistemática da fertilidade do solo, por meio de

um plano racional de adubos deverá fazer parte de qualquer programa de

conservação do solo. A manutenção da fertilidade é muito importante, uma vez que

proporciona melhor cobertura vegetal do terreno, e, com ela, melhor proteção do

solo.

Com o plantio racional de adubações, consegue-se contrabalancear o declínio

de fertilidade do solo, resultante da retirada normal de elementos nutritivos pelas

colheitas.

Page 159: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

164

É, sem dúvida, mais econômico repor regularmente as pequenas diminuições

de fertilidade sofridas pelo solo, forma a manter sempre um nível mínimo necessário

de elementos nutritivos essenciais, do que, após vários anos, tentar restaurar, de

uma só vez, depois que o solo já está empobrecido. Em geral as adubações são

praticadas visando ao aumento de produção da cultura, mas, na realidade,

asseguram a manutenção da fertilidade do solo.

Os elementos nutritivos essenciais que usualmente necessitam ser fornecidos

ao solo, sob a forma de fertilizantes, são o nitrogênio, o fósforo e o potássio. Outros

elementos secundários, como o cálcio, o magnésio, o enxofre, o boro, o manganês,

o zinco e o ferro, em geral, fornecidos com os próprios fertilizantes empregados para

fornecer os três elementos principais.

7.2.4. Adubação orgânica

Na época atual, de preços cada vez mais elevados dos fertilizantes químicos,

é de prever maior consumo, no futuro, da adubação orgânica. Esse assunto é hoje

tão importante que mereceu, recentemente, da FAO, uma conferência especial de

todo o mundo.

A adubação com esterco de curral ou com composto exerce importante papel

de melhoramento das condições para o desenvolvimento das culturas, e, sem

dúvida, dos mais destacados, é a influência da matéria orgânica na redução das

perdas de solo e água por erosão.

O esterco de curral, além de fornecer ao solo a matéria orgânica já em estado

de decomposição e elementos nutritivos, tem a vantagem de fornecer certos

compostos orgânicos que tem uma função estimulante do crescimento das plantas.

O composto é, em geral, formado por detritos orgânicos diversos, tais como

palhas, varredura de terreiros, etc., depois de misturados e curtidos.

Na organização de uma propriedade agrícola, o aproveitamento do esterco

produzido pelos animais e dos demais resíduos orgânicos, na forma de composto, é

um programa fundamental para a manutenção e melhoramento da produtividade do

solo.

A aplicação do esterco ou composto é mais fácil nas culturas perenes, café ou

pomar, de pequenas áreas.

7.2.5. Calagem

A acidez do solo além de certos limites prejudica o desenvolvimento das

plantas cultivadas, diminuindo a sua produção. Nos solos ácidos, o desenvolvimento

de microrganismos é bastante reduzido, principalmente de bactérias fixadoras do

nitrogênio atmosférico; a acidez torna o fósforo do solo dificilmente aproveitável

pelas plantas.

A correção da acidez se faz com a aplicação de cálcio ao solo, na operação

conhecida como calagem. O papel do cálcio aplicado na calagem é neutralizar a

acidez do solo, proporcionando melhores condições para o desenvolvimento das

Page 160: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

165

plantas. Em geral, quase todas as culturas se beneficiam pela calagem do solo, e

algumas, como as leguminosas, exigem um solo menos ácido para desenvolver

bem.

A calagem proporciona melhor cobertura vegetal ao solo, o que reflete em

maior proteção contra o impacto das gotas de chuva, diminuindo, portanto, as

perdas de solo e água pela erosão.

7.3. Práticas Mecânicas

As práticas mecânicas de controle da erosão são projetadas e construídas

para conter água da enxurrada, propiciando sua infiltração ou escoamento seguro.

Elas devem proteger o terreno quando ocorrem chuvas muito intensas, canalizando

a água de forma segura. Antes da adoção de qualquer prática conservacionista, é

preciso ter em mente que o solo deve ser utilizado dentro de sua capacidade de uso

(aptidão agrícola) e que todas as operações devem ser realizadas em contorno, ou

seja, seguindo uma curva de nível. A curva de nível é uma linha imaginária, em que

todos os pontos desta linha estão em uma mesma altura ou cota.

7.3.1. Distribuição racional dos caminhos

Esta é uma prática básica na conservação do solo e da água, pois muitas

medidas a serem adotadas se fundamentam na correta disposição das estradas,

porém, geralmente, é negligenciada por agricultores e técnicos. Sabe-se que a

existência de estradas em uma propriedade é fundamental para a realização dos

trabalhos. Quando são bem planejadas, construídas e conservadas, elas facilitam o

desenvolvimento da atividade agrícola e ainda ajudam no controle da erosão.

Infelizmente, na maioria das vezes as estradas e os carreadores são

construídos em linha reta (e não em nível), desconsiderando a topografia do terreno.

São também dispostas erradamente, sem sistemas de drenagem para coleta e

desvio de enxurrada deles proveniente. Recebem também água de glebas vizinhas,

que correm sobre elas, provocando erosão, o que dificulta o trânsito e encarece o

trabalho de manutenção. Além disso, quando as estradas são dispostas em linha

reta, as culturas ficam, quase sempre com ruas “a favor das águas” (morro abaixo),

o que contribui ainda mais para as perdas de solo por erosão.

Para resolver ou minimizar esses problemas, deve-se fazer a distribuição

racional dos caminhos, o que significa colocá-los, ao máximo, próximo ao contorno

(em nível). Desse modo, as estradas ou carreadores principais devem ser locados e

construídos em nível (carreadores em nível ou nivelados), com largura de 5 a 6 m e

uma ligeira inclinação (0,05%) no sentido do barranco.

A água que escorre dos carreadores em pendente deve ser desviada para

bacias de captação ou caixas de retenção devidamente dimensionadas. Pode ainda

ser retirados para os terraços, para um lado, ou os dois lados do canal, por meio de

pequenos canais de desvio. Essa é também uma medida de grande importância

para a conservação das estradas e o controle da erosão. Além disso, as rampas

Page 161: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

166

mais lisas devem ser ensaibradas (pedregulhadas), drenados os lugares de

formação de poças, e os barrancos, sempre que possível, devem ser gramados.

Devem-se evitar ao máximo as baixadas sujeitas a alagamento, rampas compridas,

grandes declives e locais onde não se possam controlar as águas.

Outra medida que ajuda a conservar os carreadores é revesti-los com

vegetação rasteira, normalmente gramíneas, controlando seu desenvolvimento

através da roçada, realizada de tempos em tempos, podendo ainda deixar crescer a

vegetação espontânea (mato). A vegetação ajuda a conservar as estradas.

7.3.2. Preparo e plantio em contorno

Realizar cultivos em nível significa fazer as operações de preparo do solo,

plantio e todas as operações de cultivo no sentido transversal à pendente (cortando

o declive), seguindo curvas de nível (linha em nível, linhas em contorno).

Uma linha em nível, ou curva em nível, é aquela que possui todos os pontos

em uma mesma altura no terreno (mesma altitude ou cota).

Os cultivos em nível são feitos com o objetivo de reduzir a erosão, bem como

facilitar os tratos na lavoura. Numa área cultivada em nível ou em contorno, como as

operações são feitas praticamente em nível, cada fileira de plantas, assim como

pequenos sulcos e leiras, e também restos culturais deixados na superfície são

dispostos de maneira que formam barreiras que dificultam o percurso livre da

enxurrada, diminuindo sua velocidade e sua energia, aumentando,

consequentemente, a infiltração da água no solo.

Tanto as culturas anuais como as perenes, inclusive pastagens e

reflorestamento, devem ser implantadas e conduzidas em nível ou contorno.

Contudo, o cultivo em nível é apenas uma das muitas práticas conservacionistas,

devendo, portanto ser associada a outras práticas conservacionistas, principalmente

quando a área apresenta declive maior que 4%.

A efetividade do cultivo em nível diminui: dos solos argilosos para os

arenosos; à medida que a declividade do terreno aumenta; e das culturas mais

densas (fecham mais) para as menos densas. A eficiência dos cultivos em contornos

deve-se, principalmente, à conservação da água, aumentando a umidade do solo.

Além de aumentar a produção das culturas, o plantio em contorno reduz as perdas

de solo e da água.

7.3.3. Sulcos e Camalhões em pastagem

A pastagem é tida como uma prática vegetativa de controle da erosão, devido

à proteção que as gramíneas oferecem ao solo. No entanto, em determinadas

situações, outras práticas são requeridas para se evitar que o processo erosivo

cause danos à pastagem.

Apesar de pouco difundido no Brasil, a prática normalmente recomendada

para pastagens é a construção de sulcos e camalhões em contorno, especialmente

em regiões com pouca chuva. Pastagens em formação, onde a vegetação ainda não

Page 162: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

167

esteja proporcionando cobertura eficiente, em terrenos muito inclinados e/ ou pastos

fracos e excessivamente pastoreados são situações em que os sulcos e camalhões

são indicados e eficazes.

Os sulcos e camalhões são equivalentes a um terraço de dimensões

reduzidas, construídos em contorno (a partir de linhas de nível), com arados

reversíveis, de aiveca ou de disco, tombando a terra sempre para o lado de baixo.

Uma ou duas passadas no mesmo sulco são suficientes para sua construção. Outra

opção seria a construção de sulcos em contorno ou de camalhões em contorno,

isoladamente, e não formando um conjunto.

O espaçamento entre os sulcos e camalhões depende das características do

solo (textura e estrutura), que afetam diretamente a capacidade de infiltração de

água no solo, da maior ou menor quantidade de vegetação que possa ser destruída

na operação de construção. Para a determinação do espaçamento devem ser

considerados o tipo de solo e a declividade do terreno, podendo-se adotar os

critérios e quadros empregados para terraços. Em terrenos inclinados é

recomendada a ressemeadura nos sulcos, visando estabelecer a vegetação mais

rapidamente.

De modo geral, não se recomenda a construção de sulcos e camalhões em

muitos solos arenosos, pois estes promovem rápida infiltração da água,

dispensando, normalmente, estruturas que promovem maior retenção de umidade.

7.3.4. Mulching vertical

A cobertura permanente do solo e a consolidação e a estabilização da

estrutura do solo, embora otimizadas pelo sistema plantio direto, mesmo assim não

propiciam condição suficiente para disciplinar a enxurrada e, consequentemente,

não constituem meio seguro de controle adequado da erosão hídrica. Esse processo

assume relevância, fundamentalmente, em topossequência em que o comprimento

do declive induz à enxurrada energia cisalhante superior à resistência imposta pela

cobertura vegetal e pelo próprio solo. Assim, no sistema plantio direto, a enxurrada,

além, de representar potencial erosivo, decorrente da energia de cisalhamento,

indubitavelmente constitui veículo de transporte de solutos aos mananciais de

superfície, representando riscos ao equilíbrio do ambiente.

O mulching vertical, em razão das características de construção, que não

interferem na praticidade operacional da lavoura, representa técnica

conservacionista potencial para manejo de enxurrada, e, consequentemente, para

controle de erosão hídrica, em áreas sob sistema plantio direto.

A prática conservacionista mulching vertical é constituída por sulcos, locados

e construídos em nível, com 0,075 a 0,095 m de largura e 0,4 m de profundidade,

preenchidos com resíduos vegetais. É em razão da reduzida largura do sulco que o

mulching vertical não interfere nas operações motomecanizadas requeridas para a

condução da lavoura.

O espaçamento horizontal entre os sulcos, à semelhança da estimativa dos

afastamentos horizontal e vertical entre terraços, pode ser estimado pelo método da

Page 163: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

168

máxima chuva esperada para determinado período de retorno. Entretanto,

espaçamentos da ordem de 10 m entre sulcos têm demonstrado resultados

satisfatórios.

Além do efeito direto da redução do escoamento superficial, há efeitos

indiretos de correntes do uso da prática mulching vertical. Dentre esses se

destacam: adição de material orgânico em profundidade no solo; redução de perdas

de resíduos culturais provocada pela enxurrada, principalmente em lavouras de

milho; rompimento da camada compactada (pé-de-arado), que proporciona elevação

da taxa de infiltração da enxurrada; retardamento do pico de enxurrada, que

ameniza os riscos de enchente; e redução da perda de nutrientes e do transporte de

defensivos agrícolas, com potencial de contaminação ambiental.

Apesar da prática mulching vertical requerer ainda estudos de validação em

diferentes condições de solo e de clima e de aprimoramento do equipamento para a

deposição de palha no sulco, apresenta-se como uma interessante alternativa para o

controle do escoamento superficial, principalmente em talvegues de elevada

propensão à concentração de enxurrada. Há possibilidades de o mulching vertical

ser implementado em áreas cultivadas com culturas perenes e, inclusive, no canal

de terraços, objetivando elevar a capacidade de infiltração de água no solo. Em

áreas de pastagens, todavia, requer criteriosa observação, principalmente

envolvendo o risco de acidentes como os animais ao transporem os sulcos.

7.3.5. Bacias de captação e Retenção de Águas Pluviais Provenientes de

Estradas

Para construção das estradas faz-se necessária a retirada da cobertura

vegetal do solo e sua compactação e/ou impermeabilização. Isso faz com que a

infiltração da água no leito da estrada seja nula. A água que não se infiltra é

normalmente direcionada para as laterais, aonde vão se acumulando e aumentando

de velocidade ao longo da pendente.

Sabe-se que a água promove erosão no solo se atingir velocidade erosiva,

que será tanto maior quanto maior for o volume de enxurrada. Dessa maneira, a

captação estratégica da água, impedindo a formação de grandes massas e de

velocidade erosiva, é a solução para a conservação das estradas e traz, como

benefícios indiretos, a alimentação dos aquíferos subterrâneos.

O comprimento e o declive de rampa são os principais fatores para o aumento

da velocidade da enxurrada. Na prática, pode-se assumir que a quadruplicação do

comprimento de rampa triplica a perda de solo por unidade de área. Alterar o declive

de uma rampa às vezes é difícil; entretanto, parcelar o seu comprimento é fácil e os

resultados excelentes. Este é o princípio básico de um sistema de terraceamento e

que também pode ser utilizado para o controle de erosão nas estradas se, associado

a isso, a água for direcionada e captada em bacias – as bacias de retenção.

Analisando o ciclo hidrológico, verifica-se que a água da chuva tem vários

caminhos: evaporação, infiltração e escoamento. Este último provoca problemas de

erosão. A infiltração é o caminho ideal a ser dado à água da chuva, visto não

Page 164: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

169

provocar erosão e abastecer o lençol freático. A água da chuva, visto não provocar

erosão e abastecer o lençol freático. A água da enxurrada é um desperdício enorme,

principalmente se for considerada a grande preocupação atual com o bem água.

Nas estradas, onde a infiltração é nula, torna-se cada vez mais importante conseguir

seu aproveitamento racional.

A tecnologia proposta para obter a melhor conservação das estradas e

preservação das condições ambientais é simples e baseia-se no cálculo do volume

de água a ser captado, considerando-se a área da estrada e a precipitação

pluviométrica média anual.

7.3.6. Terraceamento

Terraço é um conjunto formado pela combinação de um canal (valeta) com

um camalhão (monte de terra ou dique), construído a intervalos dimensionados, no

sentido transversal ao declive, ou seja, feitos em nível ou em gradiente, cortando o

declive. É uma estrutura mecânica, cuja construção envolve a movimentação de

terra, através de cortes e aterros. Permite a contenção de enxurradas, forçando a

absorção da água da chuva pelo solo, ou a drenagem lenta e segura do excesso de

água. Desse modo, o terraceamento é a prática de terracear, e terracear é construir

terraços.

Figura 1. Partes Componentes de um Terraço

Sabe-se que quanto maior o comprimento da rampa (da encosta), maiores

são a velocidade e o volume da enxurrada, e maior a sua energia capaz de arrastar

o solo, promovendo a erosão. Com base nesse raciocínio, o princípio de

funcionamento do terraço baseia-se no parcelamento do declive, isto é, dividir uma

rampa comprida (mais sujeita à erosão) em várias rampas menores, mais curtas

(menos sujeitas à erosão). Cada terraço protege a faixa que está logo abaixo dele

ao receber as águas da faixa que está acima.

A função do terraço, portanto, é reduzir a concentração e velocidade da

enxurrada, dando à água maior tempo para infiltração e limitando a sua capacidade

de causar erosão.

Quando um terraço é mal construído, poderá ocasionar muito mais danos do

que benefícios. Isso se dá pelo fato de que, quando um terraço se rompe, a água

armazenada em grande volume terá maior capacidade de provocar sulcos de erosão

e até voçorocas, podendo levar à inutilização da área.

Page 165: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

170

Figura 2. Vista parcial da água da enxurrada retida em um terraço.

O terraço deve ser construído onde outras práticas mais simples não sejam

suficientes para o controle adequado da erosão, tendo em vista o seu alto custo. Por

outro lado, é mais eficiente quando utilizado em combinação com outras práticas,

como o ajustamento das glebas à sua capacidade de uso, o plantio em contorno, a

cobertura morta e cultura em faixas entre outras.

O terraceamento está diretamente ligado aos seguintes fatores: tipo de solo,

declividade do terreno e quantidade de chuvas.

7.3.6.1. Classificação dos Terraços

Os terraços podem ser classificados quanto: à função que exercem; à largura

da base; ao processo de construção; à forma do perfil do terreno; e ao alinhamento.

7.3.6.1.1. Quanto à função

7.3.6.1.1.1. Terraços em nível (de retenção, absorção ou de infiltração):

Este terraço é construído em nível (sobre uma curva em nível marcada no

terreno) e tem suas extremidades fechadas. Sua função é armazenar o excedente

de enxurrada por ele interceptado, para que infiltre lentamente no perfil do solo. É

recomendado para terrenos com boa permeabilidade no perfil do solo.

7.3.6.1.1.2. Terraços com gradiente, em desnível, com declive ou de

escoamento

É um terraço que apresenta declive suave, constante (uniforme) ou variável

(progressivo), com uma ou as duas extremidades abertas. Sua função é acumular o

excedente de água e conduzí-la para fora da área protegida, até um canal

escoadouro, sem que haja erosão no leito do canal.

O terraço com gradiente é recomendado para terrenos de permeabilidade

baixa (lenta) ou moderada, como solos que apresentam B textural (pouco

Page 166: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

171

permeáveis no horizonte B) e solos rasos como os Neossolos Litólicos e

Cambissolos. Além disso, são recomendados para regiões de precipitações

elevadas e de até 20% de declividade.

Quadro 1. Vantagens e desvantagens dos terraços em nível e com gradiente

A decisão de quando se utilizar terraço em nível e quando utilizar terraço com

gradiente, além das vantagens e desvantagens que apresentam, dependerá: da

permeabilidade do solo e do subsolo; da intensidade das chuvas; e da necessidade

de se conservar/aumentar a umidade do solo. Este último fator deverá ser

considerado para regiões onde a disponibilidade de água é baixa. O terraço de

infiltração é indicado para retenção de água na área de interesse. Além do controle

da erosão, consegue-se abastecer e manter os lençóis subterrâneos.

7.3.6.1.2. Quanto à largura da base

A largura, ou base, de um terraço corresponde à área de movimentação da

superfície do solo, incluindo canal e camalhão.

Quanto à largura, os terraços podem ser classificados em:

7.3.6.1.2.1. Terraço de base estreita

Este terraço apresenta uma largura de base entre 2 a 3 m (Figura 1).

Normalmente é indicado para área de 12 a 18% de declividade. Neste tipo de

terraço não se pode cultivar no canal nem sobre o camalhão. Pode ser construído

utilizando equipamentos manuais e de tração mecânica ou animal. Algumas

situações peculiares podem alterar essa recomendação.

Page 167: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

172

Figura 1. Terraço de base estreita

7.3.6.1.2.2. Terraço de base média

A faixa da superfície movimentada no terraço de base média varia de 3 a 6 m

(Figura 2). Ele é indicado para áreas com declives de 8 a 12% e pode ser

construído tanto com arado de arraste quanto com levante hidráulico. O

camalhão deste tipo de terraço pode ser cultivado e o canal não deve ser cultivado.

Figura 2. Terraço de base média.

7.3.6.1.2.3. Terraço de base larga

Este terraço possui uma base de 6 a 12 m (Figura 3), sendo recomendado

para áreas com relevo suave ondulado a ondulado e declividade de até 12%,

preferencialmente de 6 a 8 %.Em solos de boa permeabilidade podem ser utilizados

em terrenos com declividade de até 20%. Possibilita a utilização de máquinas no

plantio, mesmo dentro do canal e sobre o camalhão, o que permite fazer, na própria

operação de preparo do solo, a sua manutenção. Essas características compensam

seu alto custo de construção e normalmente é construído em nível.

Page 168: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

173

Figura 3. Terraço de base larga.

7.3.6.1.3. Quanto ao processo de construção

Quanto ao processo de construção, os terraços podem ser classificados como

tipo Nichol’s e tipo Mangum.

7.3.6.1.3.1. Tipo Nichol’s ou canal

Neste tipo de terraço, a superfície do solo é cortada e tombada sempre de

cima para baixo, formando um canal relativamente profundo e de forma triangular

(Figura 4 e 5). O arado reversível possibilita um bom rendimento na construção

deste tipo de terraço (aula prática de construção de terraço). A principal

desvantagem deste tipo de terraço é que a faixa em que é construído o canal não

pode ser aproveitada para o cultivo. É indicado para declives inferiores a 18%.

Figura 4. Terraço tipo Nichol’s.

Figura 5. Terraço tipo Nichol’s ou canal

Page 169: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

174

7.3.6.1.3.2. Tipo Mangum ou camalhão

Na construção deste terraço, corta-se a superfície do solo nos dois lados,

tombando-a para o centro, de modo a formar um camalhão entre dois canais (Figura

6). Apresenta canal mais largo e raso e uma maior capacidade de armazenamento

que o terraço tipo Nichols. A capacidade de armazenamento é determinada

predominantemente pelo camalhão, pois a profundidade do corte do terreno

corresponde à profundidade normal de aração. É construído normalmente com

arado fixo, mas o arado reversível também pode ser utilizado. Normalmente, é

recomendado para áreas com declives até 8 ou 12%.

Figura 6. Terraço tipo Mangum.

Figura 7. Terraço tipo mangum ou camalhão

7.3.6.1.4. Quanto à forma do perfil do terreno

7.3.6.1.4.1. Terraço comum

É o tipo de terraço mais usado e é a combinação de um canal com um

camalhão construído em nível ou com gradiente, cuja função é interceptar a

enxurrada, forçando sua absorção pelo solo ou a retirada do excesso de água de

maneira mais lenta, sem provocar erosão (Figura 8). Pode ser construído com

arados terraceadores, arados de discos, arados de aivecas, lâmina frontal ou

Page 170: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

175

mesmo com motoniveladora. Em pequenas propriedades, pode ser construído com

implementos puxados a tração animal ou mesmo com ferramentas manuais.

Figura 8. Terraço comum

A declividade máxima recomendada para sua construção é de 20%. Deve ser

combinado com práticas vegetativas e sistemas de manejo que proporcionem

proteção superficial, amenizando o impacto das gotas da chuva.

7.3.6.1.4.2. Terraços tipo Patamar

É construído através da movimentação de terra com cortes e aterros, que

resultam em patamares em forma de escada (Figura 9 e 10). A plataforma do

patamar deve apresentar pequena inclinação em direção ao seu interior e um

pequeno dique, a fim de evitar o escoamento da água de um terraço para outro, o

que poderia provocar erosão no talude.Pode ser contínuo (semelhante a terraços)

ou descontínuo (banquetas individuais). É indicado para terrenos acima de 20% de

declividade.

Figura 9. Seção transversal típica do terraço tipo patamar.

Page 171: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

176

Figura 10. Terraço tipo patamar em vinhedo com taludes protegidos com

vegetação

No patamar deve ser plantada a cultura, e o talude deve ser recoberto com

vegetação rasteira (como grama por exemplo), desde que não seja invasora, para

manter a sua estabilidade. Em solos pouco permeáveis, este tipo de prática não é

indicado.

Tendo em vista a sistematização que é feita na área, este tipo de terraço,

além de controlar a erosão, facilita as operações agrícolas. É construído

manualmente ou com trator de esteira equipado com lâmina frontal. Em virtude de

seu alto custo de construção, é normalmente recomendado, em razão da viabilidade

econômica, para exploração de culturas de alta rentabilidade econômica.

7.3.6.1.4.3. Terraços tipo Banquetas Individuais

Quando o terreno apresenta obstáculos como pedras ou afloramento de

rochas ou existe deficiência de máquinas ou implementos para construção do

terraço tipo patamar, pode ser utilizada uma variação deste tipo de terraço, chamada

de banquetas individuais ou patamar descontínuo (Figura 11).

São bancos construídos individualmente para cada planta, onde a

movimentação de terra se dá apenas no local onde se vai cultivar. São indicados

para culturas perenes, como café, árvores frutíferas, etc. As ferramentas

empregadas são manuais, como enxada e enxadão, porque são construídas em

áreas com declividade bastante acentuada, sendo impraticável o uso de máquinas.

Page 172: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

177

Figura 11. Terraço tipo banquetas individuais.

Inicialmente, retira-se toda a camada superior mais fértil que é amontoada ao

lado da área onde vai ser construída a banqueta. Em seguida faz-se o corte no

barranco e aproveita-se a terra retirada no corte para fazer o aterro. Da mesma

forma que o patamar, acerta-se a superfície da plataforma com ligeira declividade no

sentido inverso ao da declividade original do terreno. Vegeta-se com gramas a parte

de aterro para melhor estabilidade e, finalmente, espalha-se a terra raspada da

superfície, a fim de a fertilidade da banqueta.

7.3.6.1.4.4. Terraços tipo Murundum

É o termo utilizado para terraço construído raspando-se o horizonte superficial

do solo (horizonte A), por tratores que possuem lâmina frontal, e amontoando-a para

formar um camalhão de avantajadas proporções (pode chegar a mais de 2 m)

(Figura 12). Normalmente este tipo de terraço, praticado em áreas de cultivo de

cana-de-açúcar, não segue um dimensionamento adequado. Visando facilitar o

trânsito de máquinas e caminhões na área agrícola, a distância entre eles é maior do

que a recomendada para os terraços comuns. Erradamente tenta-se compensar

esta medida aumentando a dimensão do camalhão para segurar maior volume de

água.

Figura 12. Terraço tipo Murundum.

Uma limitação apresentada por este tipo de terraço é que a remoção da

camada mais fértil do solo prejudica o desenvolvimento das plantas na área que foi

Page 173: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

178

raspada. Além disso, por requerer grande movimentação de terra, seu custo de

construção é elevado. Pelo fato de ser locado com distâncias maiores, apresenta

erosão acentuada e está sujeito a rompimento. Da forma como é construído não é

economicamente recomendável.

7.3.6.1.4.5. Terraço tipo embutido

É mais difundido em área de cana-de-açúcar e sua forma assemelha-se à dos

murunduns. É construído de forma que o canal tenha forma triangular, ficando os

talude que separa o canal do camalhão praticamente na vertical (Figura 13). Visto de

cima, assemelha-se a uma veneziana deitada. Apresenta pequena área inutilizada

para o plantio, sendo construído normalmente com motoniveladora ou trator de

lâmina frontal.

7.3.6.1.4.6. Terraços não-paralelos

Os terraços não-paralelos são os mais comuns, pois são aqueles locados

sobre as linhas niveladas básicas. Devido às irregularidades na declividade do

terreno, os terraços construídos sobre as linhas niveladas básicas não são paralelos.

A distância ou espaçamento entre os terraços é variável ao longo da área

terraceada. O paralelismo só ocorre no caso de a área não apresentar

irregularidades em sua declividade.

7.3.6.1.4.7. Terraços paralelos

São construídos com espaçamento constante ao longo de toda sua extensão.

Para implantação deste tipo de terraço é necessário um planejamento minucioso,

baseado fundamentalmente no levantamento planialtimétrico da área. A área na qual

os terraços serão locados deverá ser sistematizada, realizando-se cortes e aterros

no local, tornando-os paralelos.

Page 174: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

179

A grande vantagem deste tipo de terraço é que ele reduz o número de

linhas mortas e as curvas muito estreitas, economiza tempo no preparo, cultivo e

colheita e, ainda, diminui os prejuízos relativos à destruição de plantas devido à

manobra de máquinas. Entretanto, o custo de implantação é bastante elevado.

7.3.6.2. Levantamentos preliminares para construção

de terraços

Devem-se realizar amostragens de solos para determinação da textura, da

permeabilidade e da presença de camadas compactadas no solo, de acordo com os

seguintes passos: Coletar amostras de solos para análises de solo, principalmente

física; observar profundidade efetiva por meio de cortes em beira de estradas;

observar a existência de camadas mais duras utilizando a dificuldade à penetração

da faca; abrir trincheiras dentro da área para se fazer a observação descrita

anteriormente; medir a declividade do terreno; obter informações a respeito da

quantidade de chuva que normalmente ocorre na região. Determinar a cultura,

sequência ou rotação que será explorada na área a ser terraceada.

7.3.6.2.1. Espaçamento entre terraços

Por espaçamento entende-se a distância entre um terraço e outro. Pode ser

referido de duas maneiras: espaçamento vertical ou espaçamento horizontal. O

Espaçamento Vertical (EV) entre dois terraços corresponde à diferença de nível

entre eles - significa quantos metros se desce no terreno de um terraço até o outro.

Se se considerar que o terraço pode ser construído ao longo de uma linha de nível

(curva de nível) e que esta corresponde à linha de interseção de um plano inclinado

cortado por um plano horizontal. Pode-se também definir o espaçamento vertical

entre dois terraços como sendo a distância entre os dois planos horizontais que

Page 175: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

180

passam por eles (Figura 14A). Este conceito é muito útil na locação de terraço com

nível topográfico. A Figura 14B representa a vista do ponto Y.

Figura 14. As linhas L1e L2correspondem às interseções dos planos

horizontais B e C com o plano inclinado (A). Projeção vista do ponto Y, mostrando as

linhas L1e L2(B).

O Espaçamento Horizontal (EH) representa, em linha reta (medido na

horizontal), quantos metros separam os terraços. Pode ser também definido como a

distância entre dois planos verticais que passam por dois terraços (Figura 15A).

Figura 15. Vista frontal da Figura 1A, do ponto X (A). Seções transversais dos

terraços P1 e P2, construídos ao longo das linhas L1e L2, respectivamente (B).

Se observássemos a Figura 14A do ponto X, sua representação seria como

apresentada na Figura 15A, onde as linhas a, b e c representam os planos A, B e C

e os pontos P1e P2 representam as linhas de interseção L1e L2, do plano A cortado

pelos planos B e C (Figura 14A), ao longo das quais os terraços podem ser

construídos. Fazendo dois planos verticais representados pelas linhas r e s

passarem pelos terraços P1 e P2 respectivamente, a distância entre eles

corresponde ao espaçamento horizontal (EH) entre os terraços P1 e P2. A Figura

15B representa as seções transversais dos terraços P1 e P2, construídos ao longo

das linhas L1 e L2, respectivamente. O espaçamento real, ao longo da superfície do

terreno, é diferente do espaçamento horizontal como anteriormente definido. Ele

pode ser calculado, mas na prática, estica-se horizontalmente uma trena e marca-se

a posição do ponto por onde o terraço deverá passar. Porém, quando a marcação é

Page 176: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

181

feita com nível topográfico usando-se o espaçamento vertical, o espaçamento

horizontal fica automaticamente marcado.

7.3.6.2.1.1. Espaçamento entre terraços em declividades

variáveis

A Figura 16 mostra os planos inclinados, representados pelas linhas a (45º) e

b (20º), cortados pelos planos horizontais, representados pela linha d que passa

pelos terraços P2 e P3, e os planos verticais representados pelas linhas n, s e t que

passam pelos terraços P1, P2 e P3, respectivamente. Na Figura 16A pode-se

observar que as distâncias verticais entre P1-P2 e P1-P3 são iguais e que a

distância horizontal entre P1-P2 é menor que a distância horizontal entre P1-P3.

Com os valores das distâncias horizontais entre P1-P2 e P1-P3, tem-se a Figura

16B.

Figura 16. Planos inclinados a (45º) e b (20º) cortados pelos planos

horizontais d e c e pelos planos verticais r, s e t (A). Comportamento esquemático

dos terraços quando em locais de declividade variável (B).

Esta figura mostra que, em terrenos de declividades variáveis, para uma certa

distância vertical, a distância horizontal entre terraços varia com a declividade do

terreno, ou seja, os terraços se aproximam quando a declividade aumenta e se

afastam quando a declividade diminui. Quando a declividade do terreno é uniforme,

os terraços se mantêm paralelos.

7.3.6.2.1.2. Fatores que afetam o espaçamento entre

terraços

Basicamente, o espaçamento entre dois terraços deve ser tal que a enxurrada

que escorre entre eles não alcance velocidade erosiva. Quanto maior a distância

entre os terraços, menor o custo de construção por unidade de área, porém esse

espaçamento máximo tem o limite da eficiência prática. Cada um deles deve ter

capacidade suficiente para receber a enxurrada que escorreu na faixa limitada pelo

Page 177: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

182

que foi construído na parte superior e conduzi-la ou absorvê-la, conforme o caso,

isto é, se o terraço é de escoamento ou de infiltração. Os principais fatores que

afetam a distância entre terraços são: clima, solo, declividade, tipo de cultura e tipo

de terraço.

7.3.6.2.1.3. Clima

Deve ser considerados, principalmente, a intensidade, a energia e a

freqüência das chuvas.

7.3.6.2.1.3.1. Intensidade

Pode-se considerar que enxurrada é igual à quantidade de chuva caída

subtraída da quantidade desta chuva que infiltrou. Para uma certa capacidade de

infiltração, quanto mais intensa for a chuva, maiores serão o volume e a velocidade

da enxurrada e, consequentemente, maior a sua energia cinética (força capaz de

desprender as partículas do solo e arrastá-las). Em regiões sujeitas a chuvas de alta

intensidade deve-se diminuir a distância entre terraços para reduzir a velocidade e

consequentemente a energia cinética da enxurrada. Se a chuva for de baixa

intensidade, grande parte dela se infiltra no solo, reduzindo o volume da enxurrada.

Se a capacidade de infiltração do solo for igual ou maior que a intensidade da chuva,

não haverá enxurrada.

7.3.6.2.1.3.2. Energia

A gota de chuva, ao cair, adquire energia, que está relacionada com o seu

tamanho e à velocidade de queda. Quando maior a energia da chuva, maior a sua

capacidade de desagregar o solo, arrastar suas partículas e causar erosão.

7.3.6.2.1.3.3. Freqüência

A infiltração de água no solo é mais rápida e maior quando ele está seco, mas

tende a se reduzir com o decorrer da chuva. Chuvas freqüentes caindo em solo

úmido, próximo à saturação e com sua capacidade de infiltração já reduzida,

acarretarão maiores volumes de enxurradas e, conseqüentemente, maiores riscos

de erosão.

Em regiões onde ocorrem chuvas freqüentes e de alta intensidade na época

de plantio, quando o solo está desagregado e desprotegido contra o choque das

gotas de chuvas e do movimento de enxurrada, a erosão torna-se extremamente

severa. Nestas condições, torna-se imprescindível reduzir a distância entre os

terraços, para diminuir o volume, a velocidade e a energia da enxurrada e,

conseqüentemente, a sua capacidade de transportar o solo.

7.3.6.2.1.3.4. Declividade

Page 178: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

183

A declividade representa a inclinação do terreno e pode ser expressa em

graus ou percentagem. Como regra geral, quanto maior a declividade, mais

próximos são os terraços e vive-versa. Este efeito é explicado pelo movimento do

corpo num plano inclinado.

7.3.6.2.1.4. Tipo de cultura

Desconsiderando aspectos das culturas, como manejo, tratos culturais,

consorciação e cobertura vegetal do solo, pode-se afirmar que: nas culturas anuais,

o preparo do terreno desagrega o solo, que fica solto, e favorece a ação da

enxurrada, que facilmente transporta o solo. Por esta razão, nas culturas anuais, a

distância entre dois terraços deve ser reduzida. Culturas perenes como café,

pomares, seringueira etc., em que o espaçamento entre as plantas é grande e o

plantio é feito em covas, a distância entre os terraços pode ser maior, pois, nestas

condições, a enxurrada terá que utilizar parte de sua energia para desagregar o solo

antes de transportá-lo. No entanto, em sistemas de cultivo conservacionista como o

cultivo mínimo e, principalmente, o plantio direto, a proteção dada ao solo,

permitindo que o sistema se comporte de maneira semelhante a um cultivo de

culturas perenes.

7.3.6.2.1.5. Tipo de solo

Os parâmetros a serem considerados são aqueles que afetam a infiltração de

água, como textura, estrutura, presença de camadas adensadas no perfil do solo e

coerência entre partículas e/ou agregados. Essas características variam com a

classe de solo e devem ser observadas de acordo com o solo predominante na

região onde se vai trabalhar. Os solos argilosos englobam vários solos com perfis e

características bem distintos.

Levantamentos devem ser feitos anteriormente à implantação do sistema de

terraceamento, para averiguação da permeabilidade apresentada por esses solos.

De maneira geral, aqueles que apresentam B textural (horizonte B com teor de argila

mais elevado que o horizonte superficial - horizonte A) mostram problemas

relacionados à infiltração da água, requerendo terraços mais próximos. A condição

de baixa permeabilidade quase sempre conduz o técnico a trabalhos com terraços

com gradiente para escoamento da água.

Solos de textura média tendem a apresentar baixa infiltração e grande volume

de enxurrada, requerendo terraços mais próximos. Novamente, nesta situação o

técnico opta pelo terraço com gradiente em substituição aos nivelados.

Solos arenosos com predominância de areia grossa na sua constituição

apresentam alta capacidade de infiltração e baixo potencial erosivo. Neles, o

espaçamento entre os terraços pode ser maior, e os técnicos normalmente

recomendam a construção de terraços em nível.

De maneira geral, considerando-as classes de solos, os Cambissolos e os

Neossolos Litólicos são mais suscetíveis à erosão, e os Latossolos, menos. Desse

Page 179: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

184

modo, quando permitido, os primeiros deverão ter terraços maispróximos e os

segundos mais distantes. Os Argissolos encontram-se em uma posição

intermediária.

7.3.6.2.1.6. Tipo de terraço

Para uma mesma situação de clima, cultura a ser implantada e declive, a

decisão sobre a construção de um sistema de terraceamento em nível ou gradiente

será tomada em função da permeabilidade do solo. De maneira que os terraços em

nível deverão estar mais próximos comparativamente aos terraços com gradiente.

7.3.6.3. Cálculos para a dimensão de terraços

7.3.6.3.1. Exemplo de cálculo de espaçamento entre

terraços

Cálculo das distâncias vertical e horizontal entre

terraços

O espaçamento vertical pode ser calculado por várias fórmulas, porém a mais

usada é a de Bentley:

em que:

EV = espaçamento vertical em metros;

D% = declividade em percentagem; e

X = fator resultante da interação: solo, declividade, cobertura

vegetal e tipo de terraço, encontrado em quadros especiais

(Quadro 2).

Calcule o espaçamento vertical (EV) e o horizontal (EH) entre terraços em

nível para a bacia de 60 ha a ser utilizada com culturas anuais, apresentando declive

médio de 15%, respectivamente. A classe de solo predominante é o Luvissolo Tipico

Órtico (textura média).

Page 180: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

185

Quadro 2. Valores x para aplicação da fórmula de Bentley conforme os tipos

de práticas conservacionistas, culturas e solo

Exemplo:

Dados:Cultura: milho; Área: 60 hectares; Classe de solo: Luvissolo Tipico

Órtico (textura média); Terraço nivelado;Declividade: 15%;

X = Tabelado (Quadro 2); e Determinar EV e EH.

a) Determinação do valor de X:

No Quadro 2 abaixo do termo “terraços”, encontra-se o termo “culturas

anuais”. Abaixo de “culturas anuais”, na coluna 2, encontra-se “nivelado”. Abaixo de

“terraço nivelado” encontram-se os tipos de solos: “argiloso”, “médio” e “arenoso”.

Seguindo a linha correspondente ao “solo médio” até a última coluna, encontra-se o

valor de X igual a 5,0 para as condições propostas.

b) Determinação a declividade do terreno (D) = 15%.

c) Calcular o Espaçamento Vertical (EV). Substituindo, na fórmula de Bentley,

X e D pelos seus respectivos valores, tem-se:

d) Calcular o Espaçamento Horizontal (EH)

O espaçamento horizontal (EH) pode ser calculado em função da declividade

do terreno, expressa em porcentagem (D%), e do espaçamento vertical entre os

terraços (EV), pela semelhança entre triângulos. Por exemplo a declividade de 10%

Page 181: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

186

significa que para 100 m horizontais têm-se 10 m verticais. Assim, pode-se

estabelecer a seguinte regra de três:

100 m horizontais __________ 15,00 m verticais

EH __________ 1,53 m verticais

Considerando a possibilidade de transformar o cálculo anterior em formula,

tem-se:

7.3.6.3.2. Comprimento dos Terraços

Deve-se considerar se os terraços são em nível ou com gradientes.

Nivelados

Teoricamente, o comprimento do terraço em nível não tem limite. Por medida

de segurança, recomenda-se construir “travesseiros” (Figura 17), que são pequenos

diques ou barreiras de terra batida dentro do canal, distanciados de 100 a 200 m.

Evita-se que, em caso de arrombamento do terraço, toda a água nele acumulada vá

atingir o terraço de baixo. Essas barreiras, porém, dificultam os trabalhos de

manutenção dos terraços.

Page 182: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

187

Figura 17. Terraços com “travesseiros” em cafezal.

Com gradiente

Os terraços em desnível devem apresentar uma pequena inclinação para um

lado ou para os dois lados. A inclinação do canal deve ser criteriosamente

dimensionada, afim de que a água não cause erosão dentro do terraço. O

comprimento normalmente recomendado para terraços com gradiente é de 500 a

600 m. Quando a área a ser terraceada apresenta dimensões maiores,

principalmente quando o terreno for de baixa permeabilidade e/ou o solo for bastante

degradado pela erosão, e as condições topográficas permitirem, deve-se procurar

reduzir o comprimento dos terraços.

Para isso, dois artifícios podem ser usados:

Locar canais escoadouros, nas duas

extremidades laterais, e orientar o gradiente dos terraços para eles, a partir

de uma linha de crista localizada na parte central da área (Figura 18).

Figura 18. Esquema de locação dos canais escoadouros nas extremidades

laterais dos terraços.

Page 183: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

188

Construir o canal escoadouro na parte central do

terraço e orientar o gradiente dos terraços para ele (Figura 19).

Figura 19. Esquema de locação do canal escoadouro na parte

central do terraço.

Declividade dos terraços com gradiente

Os terraços podem ter gradiente constante, ou o gradiente pode aumentar

progressivamente. Quando o gradiente for fixo, pode-se usar 0,3% e, quando ele for

progressivo, começa-se em 0,1% e vai aumentando até chegar em 0,5%.No quadro

seguinte sugere-se o aumento do gradiente com a distância do terraço.

Quadro 3. Gradiente dos terraços em desnível em função do comprimento

Para solos arenosos, a declividade não deve não passar de 0,3% e em solos

argilosos, até 0,5% (600 m). O gradiente de 0,3% significa que a cada 100 m

descem 30 cm; a cada 50 m descem 15; e a cada 10 m descem 3 cm.

Na locação do terraço, para facilitar o trabalho, bater estacas de 10 em 10 m;

a cada 10 m desce em direção ao caimento. Se o gradiente for de 0,2%, a cada 10

m, descem 2 cm.O caimento do terraço pode ser para um dos lados ou para os dois

lados, para dentro ou para fora da área.A Figura 20 mostra o sentido que o caimento

dos terraços com gradiente pode apresentar.

Page 184: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

189

Figura 20. Sentidos do caimento dos terraços com gradiente .

A quantidade de enxurrada que cai na parte inicial do terraço com gradiente é

pequena, mas aumenta ao longo do terraço, exigindo maior capacidade de vazão à

medida que a quantidade de enxurrada aumenta. A capacidade de escoamento de

um terraço é afetada pela seção do canal, profundidade e declividade do terraço.

Estes fatores podem ser ajustados de modo a dar ao terraço uma capacidade de

escoamento compatível com o volume de enxurrada a ser transportado sem,

contudo, permitir que ela adquira velocidade erosiva. Esta velocidade crítica varia

com a natureza do solo em que o terraço é construído e com a natureza do

revestimento do canal. Os terraços com gradiente necessitam de um local onde se

possa jogar com segurança a água escoada por eles. As estruturas que

desempenham essa função são chamadas de canal escoadouro (o qual será

abordado mais adiante).

7.3.6.4. Dimensionamento dos terraços

O dimensionamento de um sistema de terraceamento considera, inicialmente,

o objetivo a que se propõe o sistema: se para infiltração da água ou para seu

escoamento. Esta decisão, tomada em função de características relacionadas,

principalmente, às condições de declividade e de permeabilidade do solo, leva à

construção de um sistema de terraços em nível, para infiltração, ou em gradiente,

para escoamento do excedente da água da chuva. No entanto, para ambas as

situações, o dimensionamento do sistema é feito em função de seu potencial em

gerar enxurradas quando da ocorrência de chuvas intensas. Deve-se calcular,

portanto, a quantidade de enxurrada que a microbacia é capaz de produzir, ou seja,

a vazão máxima do escoamento superficial. A premissa para o dimensionamento do

sistema de terraceamento é a de que deve ser locado em um local protegido da

introdução de água que não aquela efetivamente caída sobre o local considerado.

Assim, o sistema de terraceamento dever ser implementado em uma área delimitada

por divisores de água naturais (microbacia) ou protegidos por um terraço de

Page 185: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

190

derivação (diversão). A Figura 21 e 22 mostram um esquema e uma bacia natural a

ser terraceada.

Figura 21. Esquema ilustrativo de uma microbacia para efeito de

terraceamento.

Figura 22. Exemplo de microbacia a ser terraceada

Escoamento superficial máximo (enxurrada

máxima)

A previsão do escoamento máximo pode ser estimada pela fórmula de

Mulvaney (1851) conhecida na literatura como “fórmula racional”.

Sendo:

Qmáx: Vazão máxima da enxurrada em m3/s ;

C : coeficiente de escoamento superficial (adimensional) ;

i: intensidade (mm/h) da precipitação esperada com certo período de retorno

e de duração igual ao tempo de concentração da bacia; e

A : área em hectares.

a. Coeficiente de escoamento superficial – C

Page 186: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

191

Este coeficiente refere-se à quantidade de água que é perdida por

escoamento superficial e é função da declividade, da cobertura vegetal e do tipo de

solo presente. Estes parâmetros foram tabulados estão apresentados no Quadro 4.

Quadro 4. Coeficientes de escoamento (C) em função da topografia, da

cobertura e do tipo de solo

b. Intensidade máxima de chuva (Imax)

A intensidade das chuvas evidentemente é fator crucial para a produção de

enxurrada. O ideal seria utilizar para o cálculo da chuva a mais intensa possível,

porém, adotam-se chuvas que apresentam uma esperança matemática

(probabilidade) de cair em intervalos de 5, 10, 15, 20 anos ou mais. Assim, para se

identificar a intensidade de chuva que produz a maior enxurrada na área, dois

critérios fundamentais devem ser observados: chuvas de longa duração são de

baixa intensidade e chuvas de curta duração são de alta intensidade; e para ocorrer

a máxima enxurrada toda bacia deverá produzir água simultaneamente.

Na aplicação desse método é preciso conhecer o tempo de concentração da

bacia e a intensidade da chuva esperada nessa região para um período de retorno

(T) adequado.

O tempo de concentração da bacia é o tempo que a água demora para sair de

um extremo ao outro mais distante da bacia. Quando uma chuva particular tem o

tempo de duração igual ao tempo de concentração da bacia, esta chuva terá

enxurrada máxima, pois toda ela estará contribuindo com água para a enxurrada

simultaneamente e na máxima intensidade possível. O conceito de tempo de

concentração de uma área de contribuição para o escoamento superficial, deve ser

necessariamente ligado ao percurso possível da água sobre uma superfície

irregular, tanto no declive quanto na rugosidade. O tempo de concentração em uma

área ou bacia hidrográfica é a soma de tempos de percurso que a água leva para

percorrer trechos sucessivos ao longo da superfície. A combinação de tempos de

percurso que resultar no maior tempo total para toda bacia ou área de contribuição

dará o chamado tempo de concentração.

Page 187: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

192

Para o seu cálculo é necessário conhecer, em função do tipo de cobertura do

solo e do declive, a velocidade média com que a água escoa sobre a superfície.

O problema prático é pois determinar qual o percurso total da água

(distância), em vários trechos sucessivos, que resulta no tempo maior, a partir do

mapa planialtimétrico ou até mesmo esquemático da área ou microbacia a ser

terraceada.

Quadro 5. Velocidade do escoamento superficial (V = m/s) em função do tipo

de superfície e do declive do terreno (D = %), para calcular o tempo de concentração

(Tc)

Assim, depois de calculado o tempo de concentração, procura-se a chuva

intensa cuja duração seja igual a Tc e com o tempo de retorno da ordem de 10 a 25

anos. Estas seriam as alternativas para serem consideradas para o cálculo da chuva

mais intensa, pois tempos de retorno superiores (50 ou 100 anos, por exemplo) ou

mesmo inferiores (2 ou 5 anos, por exemplo), tendem a super ou subestimar as

dimensões do terraço a ser calculado. No primeiro caso, o custo de construção do

terraço seria muito alto, para uma período muito longo, durante o qual o uso do solo

poderia ser bastante alterado. No outro caso, ou seja, períodos de retorno

pequenos, o risco de transbordamento dos terraços seria muito alto, colocando todo

o sistema de terraceamento comprometido.

Assim, adotam-se chuvas que apresentam uma esperança matemática

(probabilidade) de cair em intervalos de 10 a 25 anos, conforme a disponibilidade de

dados da área ou região. A intensidade pode ser calculada através das equações de

intensidade-duração-freqüência, como as determinadas para as estações

meteorológicas de Pentecoste e Fortaleza, instaladas na Fazenda Experimental Vale

do Curu e Campus do PICI (Rodrigues, 2007).

Quadro 6. Equações intensidade-duração- freqüência para as estações

meteorológicas de Fortaleza (Campus do PICI) e Pentecoste (Fazenda Experimental

Vale do Curu)

Page 188: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

193

d. Área da bacia (A)

Quanto maior a área de coleta, maior será o volume de água para um mesmo

coeficiente de escoamento e uma mesma intensidade de chuva.

Exemplo de cálculo da vazão máxima do

escoamento superficial máximo

O escoamento superficial máximo produzido sobre uma bacia de 60 ha com

declividade média de 15%, trecho a ser percorrido pelas gotas de chuva para a

formação da enxurrada máxima de 1.600 m (Figura 21) e cultivado com culturas

anuais.

Assim sendo o tempo de percurso no trecho (no caso se haver mais de um

tipo de uso na bacia, caso contrário deve-se calcular o tempo de percurso de cada

uso) é:

Figura 21. Esquema ilustrativo de uma microbacia para efeito de

terraceamento.

Assim sendo o tempo de percurso para o trecho é:

Page 189: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

194

Considerando o tempo de concentração de 25,4 minutos (1.524/60), pode se

calcular a intensidade máxima através da fórmula (Quadro 6):

Nesse caso, é esperado para a região de Pentecoste-CE e um período de

retorno de 25 anos, de acordo com o Quadro 6, uma chuva de 117,06 mm/h com

duração de 25,4 minutos (1.524 segundos).

Quadro 5. Equações intensidade-duração- freqüência para as estações

meteorológicas de Fortaleza (Campus do PICI) e Pentecoste (Fazenda Experimental

Vale do Curu).

O coeficiente de escorrimento superficial para uma cobertura de culturas

anuais e declividade de 15% , de acordo com Quadro 6, é igual a 0,70.

Assim, o escoamento superficial máximo pode ser, então, calculado:

Quadro 6. Coeficientes de escoamento (C) em função da topografia, da

cobertura e do tipo de solo

Page 190: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

195

Cálculo de terraço em nível e em gradiente

Calculada a vazão máxima do escoamento superficial (enxurrada máxima),

dois caminhos podem ser percorridos conforme o tipo de terraço a ser construído:

A vazão, multiplicada pelo tempo de duração da chuva, resultará no volume

de água a ser infiltrado, caso o terraceamento seja em NÍVEL (ou absorção, ou

retenção ou de infiltração). A vazão calculada será aquela a ser retirada da área pelo

sistema de terraceamento, no caso de escoamento, ou seja, em GRADIENTE (em

desnível, com declive ou de escoamento).

Normalmente, adota-se um coeficiente de segurança, adotando-se 20% a

mais do volume que deve ser armazenado:

Volume de terraço = 1,2 x volume de escoamento superficial máximo

(enxurrada máxima).

a. Cálculo de terraço em nível

Na primeira opção, terraceamento em nível ou infiltração, verifica-se que o

sistema de terraceamento deverá ter volume suficiente para receber a enxurrada,

isto é:

volume de terraços = volume de enxurrada.

O volume da enxurrada é dado pela multiplicação da vazão (m3/s) pela

duração da chuva (s).

O volume de terraços nada mais é do que a multiplicação do comprimento

total dos terraços (L) pela área da seção transversal (S):

em que:

L = Comprimento do terraço (m) para 1 ha (10.000 m2); e

EH = espaçamento horizontal (m).

A área da secção transversal S, em m2, é função do formato do terraço:

No caso de terraço de secção transversal trapezoidal (Figura 22), tem-se:

Page 191: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

196

Figura 22. Representação esquemática de seção triangular empregada para

dimensionamento e construção de terraços.

Definida a área da seção transversal, o técnico deve ter em mente que um

terraço de infiltração deve ser raso e largo. Dessa forma, é usual utilizar-se a

profundidade de corte do arado como a profundidade do terraço. O talude a ser

formado deve ser definido (2:1; 1:1; 1:2, etc.) de maneira a chegar aos valores

necessários à construção.

Exemplo de cálculo de terraço em nível

a. Cálculo de volume da enxurrada

A bacia hidrográfica ou área a ser terraceada é de 60 hectares a ser utilizada

com culturas anuais. Considere o exemplo para o qual já foi calculada a vazão do

escoamento superficial (enxurrada) máxima, acrescentando 20% como fator de

segurança, tem-se que

Para o terraço em nível, as dimensões do terraço são calculadas pelo volume

(V) que a vazão máxima de escoamento (enxurrada) máximo (Q) produzirá no tempo

de duração da chuva, no caso semelhante ao tempo de concentração (TC = 1.524s).

Este vai ter que ser o volume de todo o sistema de terraceamento a ser implantado

na área, ou seja, o volume de escoamento produzido na área vai ser igual ao volume

o terraço a ser calculado. Esta é a condição para calcular as dimensões do terraço.

Sendo assim, tem-se:

Sendo assim, tem-se:

b. Cálculo do comprimento do terraço em metros por hectare

O comprimento do terraço pode ser calculado pela fórmula :

em que: L = Comprimento do terraço (m) para 1 ha (10.000 m2); e

EH = espaçamento horizontal (m).

Page 192: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

197

De acordo com o exemplo dado no item 4.3., o espaço horizontal (EH) é de

10,20 m, tem-se:

O comprimento total de terraços (LT), considerando a área da bacia de 60 ha

é:

LT = 980,40 m/ha x 60 hectares = 58.824 m de terraço em 60 hectares.

c. Cálculo da seção do canal

Para calcular a seção do canal, basta dividir o volume da enxurrada pelo

comprimento do terraço:

Esta área da seção do terraço deve conter o volume de enxurrada formado

em condições normais. Para encontrar as dimensões deve ser considerado a

forma/tipo de implemento para a construção.

No caso, será usado um arado regulado para cortar 0,40 m de profundidade,

um talude do terraço de 1:1 e formato trapezoidal (Figura 23).

Figura 23. Representação esquemática de um terraço trapezoidal.

Com estas definições, chega-se a:

h = 0,40 m

B = b + 2h

X = h

B = b + X + X = b + 2X

h = 0,40 m

Para o talude 1:1, X = h, de maneira que:

B = b + 2 x 0,40

B = b + 0,80

Page 193: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

198

Sendo assim, tem-se para um terraço de forma trapezoidal:

Área da secção transversal (S) = 0,43 m2

Base maior (B) = 1,48 m

Base menor (b) = 0,68 m

Talude = 1:1 = 0,40 = 0,40

Comprimento total (L) = 58.824 m

Profundidade do terraço = 0,40 m

Cálculo de terraço em gradiente

As dimensões do terraço com gradiente devem ser aquelas que proporcionam

uma vazão semelhante a do escoamento superficial máximo produzido na área

(enxurrada máxima), quando da ocorrência da chuva no tempo de concentração e

de retorno considerados.

em que

Q = vazão do canal do terraço, em m3/s;

V = velocidade máxima do escoamento dentro do terraço, em m/s;

S = área da seção transversal em m2.

Conhecendo-se a vazão do canal do terraço, determina-se as dimensões do

canal do terraço, conforme a forma considerada do mesmo. Porém, as dimensões

do terraço devem ser tais que não proporcionem uma velocidade de escoamento

que não promova a erosão do próprio terraço, ou seja, a velocidade de escoamento

no terraço do canal deve ter um limite considerado seguro (uma velocidade

permitida máxima).

Tendo-se como referência estas considerações, o cálculo das dimensões de

um terraço devem seguir os seguintes passos:

Page 194: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

199

a. Determinação da declividade do canal do terraço

A declividade do canal do terraço pode ser estabelecida conforme as

recomendações feitas anteriormente no item 3.3.

b. Determinação da velocidade máxima de escoamento permitida no canal do

terraço

Determinada conforme o tipo de solo, a declividade do canal e o tipo de

cobertura.

c. Cálculo da área da secção transversal do terraço

Para calcular a área da seção do canal é necessário considerar a equação

anteriormente (Qcanal do terraço com gradiente= V x S)apresentada e a velocidade máxima

permitida do escoamento no canal do terraço em gradiente (Quadro 7).

d. Cálculo das dimensões da área da secção transversal do terraço

Para calcular as dimensões do canal do terraço em gradiente é preciso

considerar a forma geométrica do mesmo.

Quadro 7. Velocidade máxima permitida em canais abertos

As mais comumente usadas são a trapezoidal, a triangular e a parabólica,

sendo apresentadas a seguir as fórmulas associadas às dimensões destas:

d.1. Forma trapezoidal

Na Figura 23 tem-se:

B = base superior

b = base inferior

Page 195: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

200

h = altura

L = lado do canal

Y/h = talude

Figura 23. Seção transversal de um canal de forma trapezoidal

Área da secção do canal :

Cálculo do perímetro molhado:

O perímetro molhado é calculado pela soma da base menor (b) mais os dois

lados do terraço (L1 + L2).

PM = b + L + L

PM = b + 2L

O lado L do trapézio pode ser calculado pelo teorema de Pitágoras, ou seja,

L2= Y2+ h2

Então:

PM = b + 2(Y2+ h2)1/2

Raio hidráulico (RH):

O raio hidráulico (RH) corresponde à divisão da área da secção transversal

(S) do canal pelo perímetro molhado (PM).

Talude:

A inclinação da borda do canal é denominada talude, sendo

expressa pela relação da distância horizontal para distância

vertical e, numericamente pelas relações 1:1; 2:1; 3:1; etc.

Quanto maior for a distância horizontal em relação à distância vertical, menos

inclinado é o talude. No caso é dada pela expressão:

Talude = Y/h

d.2. Forma triangular

Na Figura 25 tem-se:

B = base superior

h = altura

Page 196: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

201

L = lado do canal

Y/h = talude

Figura 25. Seção transversal de um canal de forma triangular.

Área da seção do canal:

Perímetro molhado (PM):

O perímetro molhado (PM) é calculado pela soma dos dois lados do terraço

(L1 + L2).

PM = L1+ L2

Como o triangulo é eqüilátero e os dois lados são iguais, então:

PM = 2L

O lado L do trapézio pode ser calculado pelo teorema de Pitágoras, ou seja:

L2= Y2+ h2

Então:

PM = 2(Y2 + H2)1/2

Cálculo do raio hidráulico (RH):

O raio hidráulico (RH) corresponde à divisão da área da seção transversal (S)

do canal pelo perímetro molhado (PM).

Talude

A inclinação da borda do canal é denominada talude, sendo expressa pela

relação da distância horizontal para distância vertical e, numericamente pelas

relações 1:1; 2:1; 3:1; etc. Quanto maior for a distância horizontal em relação à

distância vertical, menos inclinado é o talude.

No caso é dada pela expressão:

Talude = Y/h

d.3. Forma parabolóide

Na Figura 26 tem-se:

B = base superior

Page 197: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

202

h = altura

L = lado do canal

Y/h = talude

Área da seção do canal

Figura 26. Seção transversal de um canal de forma parabolóide.

Cálculo do perímetro molhado (PM):

Raio hidráulico (RH):

O raio hidráulico (RH) corresponde à divisão da área da seção transversal (S)

do canal pelo perímetro molhado (PM).

e. Reavaliação do cálculo da velocidade real de escoamento no canal

A velocidade média e real do escoamento no canal do terraço (m/s) nas

dimensões determinadas para a forma da secção considerada pode ser calculada

pela seguinte equação:

em que:

R = raio hidráulico em m;

I = Gradiente hidráulico, ou inclinação do canal em m/m (1% = 0,01), ou a

razão da diferença de nível para o comprimento do canal; e

n = coeficiente de atrito que varia com a natureza do solo ou revestimento do

canal (Quadro 8).

Page 198: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

203

Quadro 8. Valores de coeficiente de rugosidade

A velocidade de escoamento real calculada neste passo é, então, confrontada

com a velocidade permitida considerada anteriormente e que está entre as opções

do quadro 6. Caso a velocidade real calculada não esteja próximo do recomendado,

os cálculos devem ser refeitos, alterando-se as dimensões do canal do terraço na

forma considerada.

Nestes casos existem duas situações possíveis:

a. Se a velocidade real estiver muito acima da permitida, isto leva a

necessidade de redução da velocidade de escoamento pelo aumento do atrito, o que

pode ser obtido com um maior espalhamento do escoamento. Assim, para uma

mesma área de secção transversal, pode-se, por exemplo, diminuir a profundidade

do terraço, o que leva ao aumento da largura do mesmo, consequentemente com

um diminuição da velocidade de escoamento.

b. Se a velocidade real estiver abaixo da permitida, torna-se necessário o

aumento da mesma, o que pode ser conseguido com o aumento da profundidade e

a diminuição da largura do terraço, o que leva a uma maior concentração do

escoamento e a redução do atrito com a superfície do solo.

c. Pode-se também aumentar ou diminuir a declividade do canal do terraço,

isto se for possível e dentro das recomendações consideradas em item específico.

Aumentando ou diminuindo a declividade têm-se a respectiva diminuição ou

aumento da velocidade, considerando-se que as demais dimensões permanecem

constantes.

Exemplo de cálculo de terraço em gradiente

O exemplo vai ser apresentado em passos para facilitar a compreensão do

mesmo:

Neste exemplo deve-se lembrar que o mesmo deve ser recalculado quanto a

alguns aspectos, tais como espaçamento vertical (EV = 1,75 m) e horizontal (EH =

11,70 m), considerando-se os valores tabelados adequados a esta condição.

a. Cálculo da vazão de escoamento superficial máxima

Page 199: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

204

Outra questão importante é que a área de formação de enxurradas é a que

está imediatamente acima do terraço e não mais toda a área da bacia.

Neste caso e com auxílio de mapas e/ou fotos aéreas se faz a locação dos

terraços e posterior determinação individual da área acima de cada terraço, bem

como sua vazão máxima da enxurrada.

Considerando hipoteticamente uma área de 4 ha acima do primeiro terraço,

tem-se que

b. Determinação da declividade do canal do terraço

A declividade do canal do terraço pode ser estabelecida conforme as

recomendações feitas anteriormente no item 3.3.

Neste exemplo deve-se considerar uma declividade única de

0,3%.

c. Determinação da velocidade máxima de escoamento permitida no canal do

terraço

Será determinada conforme o tipo de solo, a declividade do canal e o tipo de

cobertura. No quadro 7 tem-se que a velocidade máxima permitida para solos mais

erodíveis, declividade de canal de 0,3%, solo cultivado e canal sem cobertura igual a

0,45 m/s (Quadro 7).

d. Cálculo da área da secção transversal do terraço

Para calcular a área da seção do canal é necessário considerar a equação

apresentada e a velocidade máxima permitida do escoamento no canal do terraço

em gradiente (Quadro 7).

Sendo assim:

Qescoamento máximo superficial= Qcanal do terraço em gradiente =V x S

0,91 m3/s = 0,45 m/s x S

S= 2,02 m2

e. Cálculo das dimensões da área da secção transversal do

terraço

Para calcular as dimensões do canal do terraço em gradiente é preciso

considerar a forma geométrica do mesmo. Para este exemplo vai ser considerada a

forma trapezoidal, o uso de um arado regulado para cortar 0,40 m de profundidade e

o talude do terraço será de 1:1.

B = base superior

b = base inferior

h = altura

L = lado do canal

Y/h = talude

Page 200: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

205

Então:

e.1. Cálculo do perímetro molhado (PM)

O perímetro molhado (PM) é calculado pela soma da base

menor (b) mais os dois lados do terraço (L1 + L2).

PM = b + 2(Y2 + h2)1/2

PM = 4,65 + 2(0,402+ 0,402)1/2

PM = 5,78 m

e.2. Raio hidráulico (RH)

O raio hidráulico (RH) corresponde à divisão da área da secção transversal

(S) do canal pelo perímetro molhado (PM).

RH = S / PM

RH = 2,02 / 5,78

RH = 0,35 m

Sendo assim, tem-se para um terraço de forma trapezoidal:

Área da secção transversal (S) = 2,02 m

Base maior (B) = 5,45 m

Base menor (b) = 4,65 m

Talude = 1:1 = 0,40 = 0,40

Comprimento total (L) = 51.282 m

Altura ou profundidade do terraço = 0,40 m

d. Talude

A inclinação da borda do canal é denominada talude, sendo expressa pela

relação da distância horizontal para distância vertical e, numericamente pelas

relações 1:1; 2:1; 3:1; etc. Quanto maior for a distância horizontal em relação à

distância vertical, menos inclinado é o talude.

No caso é dada pela expressão:

Talude = Y/h

Page 201: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

206

f. Reavaliação da cálculo da velocidade real de escoamento no canal

A velocidade média e real do escoamento no canal do terraço (m/s) nas

dimensões determinadas para a forma da secção considerada é calculada pela

seguinte equação:

O valor de 0,003 é a declividade do canal do terraço em gradiente (0,3%) em

m por m, ou seja: se em 100 m se tem 0,3 m de diferença de nível, em 1 m ter-se-á

0,003 m. A velocidade calculada é menor que a velocidade máxima permitida dentro

do canal, ou seja, a velocidade calculada de 0,27 m/s é menor que a permitida no

canal, nas condições calculadas, que é de 0,45 m/s. Neste caso, a velocidade pode

ainda ser aumentada para ficar próximo da velocidade recomendada. Sendo assim,

pode-se redimensionar a área da secção transversal, por exemplo aumentando a

profundidade do canal, reduzindo a base menor e maior, e consequentemente o

atrito do fluxo do escoamento superficial. Outra alternativa para o exemplo em

questão é a possibilidade de aumento da declividade do canal do terraço.

Procedimentos similares podem ser feitos no caso da velocidade de escoamento no

canal ser maior que a permitida, porém, no intuito de aumentar o espalhamento do

escoamento, aumentado o atrito. Caracteriza-se, assim, o método das tentativas.

7.3.6.5. Softwares de terraceamento

Atualmente pode-se dispor de softwares que auxiliam no dimensionamento

dos terraços, tornando-o mais simples. Um programa computacional chamado

Terraço for Windows permite o dimensionamento de terraços para condições

específicas de manejo de solo, abandonando os processos genéricos de

dimensionamento. Esse software pode ser obtido gratuitamente no site do GPRH -

http://www.ufv.br/dea/gprh/.

7.4. Bibliografia

COSTA, R.N.T. Drenagem agrícola. Fortaleza, SEAGRI, DENA-UFC, 2000. 54p.

(Curso de Aperfeiçoamento de em Irrigação e Drenagem para Engenheiros

Agrônomos e Engenheiros Agrícolas.

Page 202: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

207

PIRES, F.R. & SOUZA, C.M. Práticas mecânicas de conservação do solo e da água.

Viçosa, UFC, 176p.

RODRIGUES, J.O. Equações intensidade-duração-freqüência de chuvas para as

localidades de Fortaleza e Pentecoste, Ceará. Fortaleza, UFC, 2007. 62p.

Page 203: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

208

PARTE VIII – RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

1 Introdução

Áreas degradadas são aquelas que, além de possuírem solos empobrecidos

e erodidos, também apresentam instabilidade hidrológica, produtividade primária e

diversidade biológica reduzidas (Parrota, 1992). O ambiente degradado é desprovido

de equilíbrio quanto a três tipos de energia: gravitacional, conservada e solar. A

energia gravitacional é aquela que influi nos processos de arraste de solo por

erosão. Já a energia conservada, diz respeito aos fatores que influenciam a

formação dos solos, como o material de origem. Já a energia solar está relacionada

ao aproveitamento da luminosidade pelas plantas para realização de fotossíntese.

Como a base das funções e usos do solo é a energia armazenada, a degradação

leva à perda das funções e usos do solo.

1.1 Severidade da degradação do solo no Brasil e no mundo

Segundo informações da FAO (2009), a degradação dos solos ocorre em

diferentes graus de severidade, de modo que mais da metade das terras do glogo

terreste estão sob algum nível de degradação (Figura 1).

Fonte: FAO (2009)

Observa-se que a fatia que representa terras degradadas de forma muito

severa é menor em relação às formas de degradação leve, moderada e severa. Isso

reflete a realidade da degradação dos solos em diferentes países do mundo e

também no Brasil (Figura 2). A degradação muito severa geralmente está vinculada

a atividades poluidoras urbano-industriais, atingindo áreas mais restritas. Já as

formas de degradação leve, moderada e severa, atingem maiores extensões de

terra e geralmente estão associdadas a atividades agrosilvipastoris, tendo como

principais causas o desmatamento e a agropecuária. Os principais tipos de erosão

leve, moderada e severa são a erosão hídrica e o empobrecimento do solo.

Severidade da degradação de terras no mundo induzida

pelo homem

35%

18%

21%

20%

6%

Não degradada

Degradação leve

Degradação moderada

Degradação severa

Degradação muito severa

Severidade da degradação de terras induzida pelo homem

no Brasil

19%

30%23%

24%

4%

Sem degradação

Degradação leve

Degradação moderada

Degradação severa

Degradação muito severa

Page 204: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

209

Fonte: FAO (2009)

1.2 Causas da degradação do solo

Como já mencionado anteriormente, a poluição muito severa tem como

principal responsável a poluição ligada a atividades urbano-industriais, ocorrendo de

forma mais pontual. A poluição é representada pela deposição de resíduos tóxicos e

também pela chuva ácida. Sua ocorrência causa degradação de maior intensidade,

sendo bastante relevante em países europeus como a Bélgica, Lituânia,

Luxemburgo e Holanda. Entretanto, a atividade mineradora também pode causar

degradação muito severa e essa é uma realidade que afeta diferentes regiões

brasileiras. No caso do Ceará, já foram identificados impactos de degradação severa

de solos em áreas de mineração (Figura 3).

Figura 3. Solo transformado em estéreo em função da mineração de ferro (Sobral,

CE). Foto: Costa, 2009

Já as formas de degradação leve, moderada e severa têm como principais

causas o desmatamento e a agropecuária conduzida sem adoção de práticas

conservacionistas. O desmatamento leva à eliminação da camada vegetal que

protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, tornando o solo mais

susceptível à erosão que favorece as perdas de nutrientes e matéria orgânica. É

comum que o desmatamento ocorra associado às queimadas, objetivando o

estabelecimento de pastagens ou áreas de cultivo. O uso do fogo contribui com a

Page 205: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

210

perda de nutrientes e também contribui para deixar o solo mais vulnerável aos

agentes erosivos.

O estabelecimento de monocultivos após o desmatamento de uma

determinada área também contribui com a degradação do solo. Com os

monocultivos o empobrecimento do solo é estimulado, pois há uma única cultura

removendo nutrientes do solo, sem diversidade de espécies que possam aportar

determinados nutrientes. A redução da matéria orgânica do solo acaba sendo uma

conseqüência dessa forma de uso da terra, comprometendo a agregação e,

conseqüentemente a estrutura do solo que fica mais vulnerável à erosão.

Quando a área desmatada é convertida para pastagem, o superpastejo

constitui a principal causa de degradação do solo. Nesse caso, o excesso de

animais pastoreando numa determinada área leva à compactação do solo. Com

isso, já redução na biomassa e na proteção proporcionada pela vegetação, expondo

o solo aos agentes erosivos. A degradação dos solos em função do superpastejo

também está ligada à erosão, perda de nutrientes e de matéria orgânica.

Os principais pontos comuns de áreas degradadas, seja pelo desmatamento,

pelo monocultivo ou pelo superpastejo, são: perda da matéria orgânica d solo,

redução na atividade biológica, perda da estrutura do solo, alterações em atributos

químicos e físicos do solo e intensificação dos processos erosivos.

1.3 Quando adotar estratégias de recuperação

Dependendo da intensidade e duração do impacto, pode haver resiliência do

ambiente. Esse aspecto nos auxilia a decidir se medidas de recuperação deverão

ser utilizadas ou se é possível haver reabilitação natural. Quando há degradação

causada por agentes naturais como vento, fogo, terremoto, queda de árvores e

enchentes, é perfeitamente possível que a área seja recuperada a partir da

resiliência natural. Por outro lado, se a degradação está associada à perda da

camada superficial do solo, contendo matéria orgânica e nutrientes, além da perda

da qualidade física e/ou ocorrência de atributos químicos que inviabilizem o

crescimento da vegetação, faz-se necessária uma intervenção antrópica para a

recuperação.

1.4 Definições sobre recuperação de áreas degradadas

A recuperação de áreas degradadas constitui um conjunto de ações visando

restabelecer o equilíbrio e sustentabilidade que existiam no local antes da

degradação (Dias & Griffith, 1998). Tais ações possuem caráter inter e

multidisciplinar e seu ponto de partida é o restabelecimento da vegetação para

corrigir o substrato degradado e transformá-lo novamente em solo.

O material remanescente de processo de degradação, que apresenta baixo

teor de matéria orgânica, baixa disponibilidade de nutrientes, pouca ou nenhuma

estruturação e atividade biológica recebe a denominação de substrato. Um dos

objetivos da recuperação de áreas degradadas é transformar substrato em solo.

O termo recuperação é uma terminologia padrão para se referir às ações em

áreas degradadas. Entretanto, ele representa o resultado da utilização de processos

Page 206: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

211

que permitam que a área degradada volte a ser utilizada de forma sustentável,

conforme objetivo previamente determinado. O termo reabilitação se refere à

intenção de fazer com que a área degradada volte a exercer a mesma função

ecológica, mas com diversidade biológica, entropia e biomassa diferentes em

relação ao que existia antes da degradação. Já o termo restauração também se

refere à intenção de fazer com que a área volte a exercer a mesma função

ecológica, mas com os mesmos níveis de diversidade biológica, entropia e biomassa

que existiam antes da degradação. Assim, constata-se que a restauração de uma

área degradada é de maior complexidade.

As definições sobre recuperação, reabilitação e restauração apontam para a

importância de ações a favor da diversidade biológica, das trocas de energia e

produção biomassa nas áreas degradadas. Do ponto de vista da ciência do solo, é

importante enfatizar que todas ações que favoreçam os aspectos acima citados têm

o potencial de devolver ao substrato as condições que permitem que este volte a

desempenhar os serviços relacionados às funções do solo. Dentre esses serviços,

são citados aqueles vinculados aos atributos físicos do solo, como a sustentação de

plantas, enraizamento, infiltração, retenção e disponibilização de água, retenção de

sedimentos, etc. Já os serviçoes vinculados aos atributos químicos do solo são

citados: disponibilização de nutrientes às plantas e organismos, ciclagem de

nutrientes e de carbono, seqüestro de carbono, dentre outros. As transformações de

minerais, de formas iônicas de elementos químicos e de moléculas são serviços

associados a atributos físico-químicos do solo, enquanto que o equilíbrio entre

macro, meso e microfaina, bem como a imobilização, mineralização e ciclagem de

nutrientes, estão associados aos serviços biológicos que o solo exerce.

1.5 Remoção ou inversão da camada superficial em solos degradados

A remoção ou inversão da camada superficial é uma ocorrência bastante comum

em solos degradados. Ao analisar as fases do solo (Figura 4), constata-se que a

fase sólida é composta por grande parte de minerais e uma pequena parcela de

matéria orgânica. Mesmo sendo pequena a proporção de matéria orgânica, ela é

fundamental para garantir a qualidade do solo.

Figura 4. Fases do solo.

Page 207: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

212

A matéria orgânica estabilizada concentra-se principalmente no horizonte A

dos solos, que costuma ser a principal camada removida em função da erosão ou

até mesmo invertida em virtude de estratégias questionáveis de mecanização.

Atividades mineradoras ocasionam a remoção não só do horizonte A, mas também

que camadas mais profundas, compromentendo seriamente o substrato resultante

do processo de mineração em termos de quantidades de matéria orgânica. Devido a

esses aspectos, o aporte de matéria orgânica constitui uma importante estratégia em

muitos processos de recuperação de áreas degradadas.

Em áreas em que a degradação leve à moderada está vinculada à agricultura,

o uso de práticas conservacionistas edáficas, vegetativas e mecânicas, favorece o

aporte de matéria orgânica ao solo. Já em casos de degradação severa e muito

severa, a adição de resíduos orgânicos pode ser a opção mais viável na busca pela

recuperação. O uso de resíduos orgânicos provenientes de diversas atividades

antrópicas pode ser duplamente vantajoso, principalmente se proporcionar

destinação segura para o resíduo orgânico e a melhoria do substrato degradado de

modo a viabilizar o crescimento de plantas.

O aproveitamento de resíduos industriais e agroindustriais como

melhoradores de substratos degradados (Tabelas 1 e 3) pode garantir a obtenção de

um material alternativo, de baixo custo, de fácil disponibilidade, além de reduzir o

acúmulo destes resíduos no ambiente. Como exemplos de resíduos orgânicos que

podem ser utilizados na melhoria de substratos degradados, são citados o resíduo

do processamento de goiabas (CORRÊA et al., 2005), a fibra de coco verde

(NUNES, 2007), o resíduo orgânico da indústria processadora de caju (BRAGA et al,

2008), o resíduo de curtume, o lodo de esgoto, além de diversos outros materiais.

Os resíduos orgânicos geralmente apresentam como aspectos vantajosos, a

elevada capacidade de retenção de água, além da presença de alguns elementos

químicos que são nutrientes importantes ao desenvolvimento vegetal (Tabela 2). Por

outro lado, dentre os elementos químicos presentes no resíduo, pode haver

potencial de contaminação, o que torna necessário conhecer bem as características

do resíduo orgânico a ser utilizado.

Tabela 1. Atributos de substrato degradado pela exploração mineral.

Prof. C N P K Na Ca Mg

------cm------ ---g kg-1---- -------------------------mg kg-1------------------------

0-20 1,7 0,4 0,3 46,9 25,2 701,4 130,3

20-40 2,2 0,2 0,5 60,6 19,5 721,4 100,2

Fonte: Bezerra et al. (2006)

Tabela 2. Composição química do lodo de esgoto com potencial de uso como

resíduo orgânico na recuperação de substrato degradado pela exploração mineral.

Atributo Quantidade no resíduo

Corgânico (g kg-1) 224,1

Ntotal (g kg-1) 26,7

Page 208: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

213

P (g kg-1) 4,8

K (g kg-1) 10

Ca (g kg-1) 15,4

Mg (g kg-1) 3,4

Na (mg kg-1) 400

Mn (mg kg-1) 200

Cu (mg kg-1) 362,7

Pb (mg kg-1) 185,3

Fonte: Bezerra et al. (2006)

Tabela 3. Alterações químicas em substrato degradado que recebeu diferentes

doses de lodo de esgoto como resíduo orgânco.

Doses C N P K Na Ca Mg

----t ha-1--- ---g kg-1---- -------------------------mg kg-1------------------------

0 4,7 0,4 5,4 88,3 18,8 790 61,4

2,8 7,6 0,6 18,2 123,9 32,8 878 70,7

5,7 7,9 0,8 18,1 141,7 34,3 744 71,7

11,4 16,8 1,7 29,0 177,3 29,7 961 108,8

22,8 19,9 2,1 20,9 111,0 30,3 1059 82,2

Fonte: Bezerra et al. (2006).

2. Alternativas para sistemas de produção agrícola em áreas susceptíveis à

desertificação.

2.1 A degradação e a desertificação

De acordo com a convenção para combate à desertificação (CDD) da

organização das Nações Unidas, a desertificação é definida como a degradação das

terras em regiões secas, ou seja, das áreas áridas, semiáridas e subúmidas secas.

Há mais de 30 anos a desertificação tem sido reconhecida no mundo o como um

importante problema ambiental. Após a seca prolongada que afetou gravemente o

Sahel africano no final da década de 60, foi criado pelas Nações Unidas um plano de

ação de combate à desertificação. Atualmente, as ações que permeiam o combate à

desertificação estão relacionadas não só a aspectos ambientais, mas também a

aspectos sócio-econômicos.

A desertificação é definida como a degradação que ocorre em regiões áridas,

semi-áridas e sub-úmidas, como resultado de vários fatores que incluem as

mudanças climáticas e as atividades humanas (UN, 1994). As perdas da

produtividade biológica e econômica que ocorrem nas regiões áridas estão

relacionadas a processos que podem ser potencializados por ações humanas.

Dentre esses processos destacam-se a erosão (hídrica ou eólica); a deterioração

Page 209: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

214

das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; além da perda da vegetação

que ocorre ao longo dos anos (UN, 1994).

Para o sistema de classificação do Programa Ambiental das Nações Unidas

(UNEP, 1992), as consideradas terras secas (drylands) do globo terrestre podem ser

classificadas como hiper-áridas, áridas, semi-áridas ou sub-úmidas secas. As

regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas são aquelas que, com exceção das

regiões polar e sub-polar, possuem relação entre precipitação anual e

evapotranspiração potencial entre 0,05 e 0,65 (UN, 1994). Já no início dos anos 90,

69% das terras secas do mundo (exceto os desertos hiper-áridos) estavam

degradadas de forma moderada a severa (Dregne et al., 1991). Como principais

causas dessa degradação estão os sistemas tradicionais de uso da terra que, no

caso da África, foram definidos como insustentáveis de modo a contribuir com a

fome na região desertificada (Lean, 1995).

O superpastejo foi definido como a causa antrópica mais séria da

desertificação (UNEP, 1992). Entretanto, a agricultura nas terras secas também

contribui, principalmente por meio de três processos: salinização, elevação do lençol

freático e erosão (Kassas, 1995). A salinização e elevação do lençol freático afetam

áreas agrícolas com manejo incorreto da irrigação, enquanto que a erosão afeta

principalmente as áreas agrícolas em que a oferta de água para os cultivos depende

do período chuvoso.

Dentre os passos estabelecidos para os 99 países que faziam parte do plano

de ação contra a desertificação das Nações Unidas, estava a melhoria dos sistemas

de uso e manejo da terra, levando em consideração a ecologia dos ambientes

áridos. Além disso, ações corretivas para recuperação de áreas já degradadas

também foram consideradas necessárias. Contudo, somente 20 países

desenvolveram planos nacionais de combate à desertificação (Glenn et al, 1998) e

ainda há muito para ser feito em diferentes locais do mundo para prevenir e

remediar essa forma de degradação.

2.2 Desertificação no nordeste brasileiro

A desertificação no semiárido brasileiro começou a ser identificada nos anos

70 e os estudos pioneiros foram feitos pelo ecologista pernambucano João

Vasconcelos Sobrinho. Ele observou que um deserto estava se formando na região

e era atípico em relação ao observado no Saara, em virtude da ocorrência de chuva

e da natureza do solo da região. Porém, o ecologista enfatizou que o deserto que

estava sendo formado no semiárido brasileiro era similar ao Saara por tornar o local

inóspito (PAN-Brazil, 2004).

Os resultados das atividades humanas que contribuem com a desertificação

são principalmente a erosão, cujo principal tipo é a laminar (com ocorrência

ocasional de voçorocas) e a salinização, tanto em áreas de agricultura irrigada como

nas não irrigadas. Essas formas de degradação são similares àquelas observadas

em outras partes do mundo, iniciando-se com a destruição da cobertura

proporcionada pela vegetação natural e com a interação das atividades humanas

Page 210: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

215

com as variações climáticas, criando condições ideais para a desertificação (PAN-

Brazil, 2004).

As áreas sujeitas à desertificação no semiárido brasileiro apresentam

vegetação de tamanho reduzido e caatinga hiperxerófila. Neste tipo de caatinga a

desertificação pode acontecer espontaneamente e sua ocorrência no nordeste

brasileiro pode ser preexistente à colonização. A vegetação da caatinga hiperxerófila

é enfraquecida com a desertificação e isso se acentua a cada ciclo anual,

principalmente após um período de seca. Quando a estação chuvosa se inicia, a

vegetação da área começa a se recuperar, mas não de forma completa. O balanço

incerto entre degradação e recuperação torna difícil predizer qual condição

prevalecerá, mas se houver intervenção humana de forma negativa, certamente a

desertificação irá prevalecer (Vasconcelos Sobrinho, 1983).

Alguns locais no meio da caatinga aparecem com características que

evidenciam o processo de desertificação. Esses locais apresentam solos rasos, de

superfície rochosa e sem capacidade de reter água, secando rapidamente ao

término do período chuvoso. Os solos dessas áreas também apresentam poucos

nutrientes, o que os torna ainda mais susceptíveis à desertificação. O clima é o

mesmo nas áreas adjacentes, mas algumas diferenças ocorrem quanto ao tipo de

solo. Apesar dos fatores que comandam os processos de desertificação, há fatores

locais que determinam as condições do solo e, por essa razão, é possível encontrar

áreas férteis ao lado de áreas já transformadas em deserto (Vasconcelos Sobrinho,

1983).

É justamente a ocorrência das áreas com degradação mais evidente, isoladas

ou agregadas, que determina o que foi definido como “núcleo de desertificação”.

Esses núcleos são de tamanho variado e são caracterizados por possuírem solos

bastante erodidos e uma vegetação que proporciona pouca ou nenhuma cobertura,

inclusive nos períodos chuvosos. Os núcleos de desertificação tendem a expandir

para áreas vizinhas (Vasconcelos Sobrinho, 1983). Em áreas cultivadas é possível

encontrar os chamados núcleos isolados de desertificação que constituem áreas de

difícil recuperação em virtude da necessidade de restaurar o solo que foi totalmente

perdido (PAN-Brasil, 2004).

Em 1993, ações contra desertificação foram desenvolvidas visando preparar o

Plano Nacional de Combate à Desertificação (PNCD). Por meio dessas ações

verificou-se que as principais causas da degradação intensa em Gilbués (PI),

Irauçuba (CE), Seridó (RN) e Cabrobó (PE) foram a substituição da caatinga pela

agricultura e pecuária, além da mineração na região de Gilbués, a extração de argila

em solos aluviais no Seridó e a remoção da madeira para carvão. Essas áreas foram

caracterizadas por apresentar alto risco de desertificação e ficaram conhecidas

como Núcleos de Desertificação (PAN- Brasil, 2004).

2.3 Alternativas para sistemas de produção agrícola em áreas sujeitas à

desertificação

As áreas sujeitas à desertificação sofrem os efeitos ambientais, mas também

são muito influenciadas por ações humanas de populações que, na maioria das

Page 211: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

216

vezes, são muito carentes. A busca por alternativas em sistemas de produção com

uso e manejo do solo visando combater a desertificação não pode deixar de lado o

viés sócio-econômico. Nesse sentido, Sayer & Campbell (2003) afirmam que

técnicas precisam ser desenvolvidas para aumentar a capacidade adaptativa dos

agricultores, como sua habilidade para sustentar o fluxo de produtos e serviços dos

quais eles são dependentes.

Nos locais semiáridos onde a chuva não é só a responsável pela degradação,

mas também é o principal determinante da produção agrícola, é preciso desenvolver

sistemas sustentáveis de agricultura que possam ser aceitos pela população local.

Esses sistemas devem permitir a redução dos riscos climáticos e estabilizar a

produção de culturas e forragem, direcionando agricultores familiares por meio do

manejo eficiente e racional do solo, da água e da fitomassa (Roose, 1987; Roose,

1996). Em todo mundo a população rural de áreas secas precisará de estratégias de

cultivo para se adaptar às mudanças climáticas. Essas estratégias incluem

mudanças nos sistemas de produção, de tal forma que o cultivo exclusivo de cereais

deverá ser substituído por sistemas em que cereais são cultivados em associação

com leguminosas (Thomas, 2008).

Além da interação com leguminosas para aproveitar a fixação biológica de

nitrogênio, os sistemas de produção mais adequados às regiões secas também

devem priorizar a produção de biomassa. Em revisão a respeito das oportunidades

para reduzir a vulnerabilidade de terras secas em virtude das mudanças climáticas,

Thomas (2008) aponta que uma das maiores limitações da agricultura

conservacionista em regiões secas é justamente a baixa produção de biomassa.

Porém, evidências atuais mostram que mesmo pequenas quantidades de resíduo já

são suficientes para reduzir perdas de solo por erosão (Stewart & Konhafkan, 2004).

Smolikowski et al. (2001) confirmaram que o resíduo vegetal recobrindo o solo,

sozinho ou associado com cerca viva de leguminosas, diminui o escorrimento

superficial e a erosão em áreas declivosas no semiárido de Cabo Verde. Porém, o

material vegetal para formar cobertura morta somente foi disponível e eficiente nos

anos mais chuvosos. Cercas vivas de leucena e guandu serviram para bloquear o

escorrimento superficial e a erosão.

Dentre as diversas intervenções tecnológicas que podem auxiliar na redução

da vulnerabilidade de regiões secas, permitindo prevenir ou até mesmo reverter a

degradação, possibilitando também o seqüestro de carbono nas terras áridas, são

citadas: a manutenção da cobertura vegetal; o manejo de pastagens; o manejo da

irrigação e controle da salinização; o manejo da fertilidade do solo e a rotação de

culturas; a melhoria de capoeiras; os plantios florestais (Lal, 2001; Lal, 2002; Lal,

2003).

Mudanças nos padrões de cultivo podem auxiliar os agricultores a obter

melhores produções em regiões áridas. Tais mudanças podem ser caracterizadas

por antecipação na semeadura, uso de culturas de ciclo reduzido, uso de culturas

tolerantes à salinidade ou até mesmo à seca (Thomas, 2008). Sistemas de cultivo

baseados no uso de leguminosas nessas regiões secas têm reduzido perdas de

Page 212: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

217

carbono e nitrogênio quando comparados com sistemas convencionais com adição

de fertilizantes nitrogenados (Drinkwater et al., 1998; Jenkinson et al., 1999).

Mortimore & Harris (2005) mencionam que, em áreas sujeitas à desertificação

na África, não é apenas a depleção de nutrientes do solo que prejudica a produção

de agricultores familiares. Os autores ressaltam que nitrogênio, fósforo e potássio

não são os únicos nutrientes limitantes, sendo também fundamentais para garantir a

produção o cálcio, magnésio, enxofre e o boro. Os autores reforçam que as

propriedades físicas e biológicas também devem ser consideradas essenciais na

avaliação de solos cultivados nas regiões áridas.

2.4 Leguminosas arbóreas para prevenir e remediar a degradação

Garantir a presença da vegetação pode ser uma forma de melhorar as

propriedades físicas, químicas e biológicas de solos em áreas degradadas, incluindo

aquelas que ocorrem nas regiões sujeitas à desertificação. Essa melhoria pode ser

justificada pelo simples fato de que a cobertura vegetal protege o solo contra a

erosão, mas alguns autores vão ainda mais longe. Eles afirmam que, em regiões

áridas e semi-áridas, o acúmulo preferencial de água, nutrientes e microrganismos

ocorre na região exatamente abaixo da vegetação que aparece distribuída

desuniforme na área (Bochet et al., 1999; Thompson et al., 2006). Goberna et al.

(2007), estudando o solo do semiárido Mediterrâneo observaram que alguns

processos como a mineralização de carbono ou a hidrólise de compostos fosfatados

foi maior no solo sob influência de grupos de plantas e menor na região periférica.

Porém, os autores também observaram que, em outros locais, a atividade

microbiológica no solo foi bastante homogênea, ou seja, independente da presença

da vegetação.

A utilização de espécies nativas, principalmente leguminosas arbóreas ou

arbustivas, como forma de melhorar a fertilidade natural dos solos, tem sido prática

recomendada em regiões tropicais destinadas à produção de alimentos básicos

(Magalhães, 2000). As leguminosas perenes podem ter maior capacidade para

recuperar a fertilidade do solo, em relação às leguminosas anuais produtoras de

grãos. Isso acontece, pois as leguminosas arbóreas têm maior capacidade de

absorver água e nutrientes do solo, resistindo melhor à seca e, conseqüentemente,

produzindo mais biomassa. Além disso, seu ciclo de vida mais longo favorece uma

maior fixação de nitrogênio atmosférico (Dommergues, 1995).

Nas áreas sujeitas à desertificação no nordeste brasileiro, grupos de

agricultores locais continuam a exercer as atividades agrícolas de modo tradicional,

favorecendo ainda mais a ocorrência da desertificação. A introdução de leguminosas

arbóreas nos sistemas de produção utilizados por esses agricultores pode ser uma

alternativa bastante promissora para garantir cobertura vegetal, melhorar a

qualidade do solo e protegê-lo contra a erosão.

O consórcio entre leguminosas arbóreas e culturas anuais já foi avaliado em

diferentes circunstâncias. A contribuição de N pelas leguminosas para culturas em

consórcio depende da espécie de leguminosa, de seu potencial de nodulação e da

eficiência na produção de fitomassa. Todos esses aspectos são determinados por

Page 213: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

218

condições genotípicas e fenotípicas (Rao & Mathuva, 2000). No que se refere à

nodulação, para o crescimento adequado das leguminosas arbóreas é necessário o

estabelecimento de uma simbiose eficiente e ativa. A inoculação de estirpe

adequada de rizóbio auxilia a planta a se desenvolver em solos deficientes em N

(Blair et al., 1988).

Uma maneira por meio da qual as leguminosas arbóreas podem ser utilizadas

em conjunto com cultivos anuais é o sistema agroflorestal. Neste sistema, as

espécies de leguminosas arbóreas ou arbustivas são cultivadas em fileiras

intercaladas com cultivos agrícolas (Barreto & Fernandes, 2001). Quando atingem

um determinado tamanho, as leguminosas sofrem uma poda e o resíduo dessa poda

é depositado no solo, onde poderá ser incorporado caracterizando uma forma de

adubação verde para a cultura anual que será utilizada no consórcio.

Ao estudar o desenvolvimento do milho consorciado com leguminosas

arbustivas perenes no sistema de aléias com suprimento de P, Queiroz et al. (2008)

verificaram que a produtividade do milho foi menor nos tratamentos em que ele foi

associado com as leguminosas e maior para o cultivo de milho solteiro adubado com

NPK. Porém, a partir do segundo ciclo de cultivo, a produtividade do milho

consorciado com guandu e gliricídia foi semelhante àquela encontrada no tratamento

com adubação mineral. Para as regiões ameaçadas pela desertificação, a

produtividade da cultura anual é de grande interesse aos agricultores locais, contudo

também é fundamental pensar em um sistema de produção que garanta a

produtividade satisfatória dos cultivos anuais e que também promova melhorias na

qualidade do solo.

2.5 Espécies de leguminosas para regiões secas

O maior desafio em utilizar leguminosas arbóreas em sistemas de produção

para melhorar a qualidade do solo de áreas ameaçadas pela desertificação está

ligado às condições edafo-climáticas. Áreas que já foram bastante afetadas pela

erosão perderam a camada superficial do solo que é a mais fértil, restando apenas a

camada de solo compactada e pobre em nutrientes e organismos. Aliado às

condições de solo, o outro grande desafio é o período seco acentuado que

caracteriza as regiões áridas e semiáridas.

Alguns trabalhos têm sido feitos mundo afora com a introdução de

leguminosas arbóreas (nativas ou exóticas) para recuperação de solos em regiões

secas. Jurado et al. (2006) avaliaram o estabelecimento de mudas de leguminosas

na região semiárida mexicana em função de diferentes intensidades luminosas

obtidas a partir da existência de maior ou menor quantidade de vegetação nativa. Os

autores verificaram que as espécies nativas apresentaram maior sobrevivência,

maior crescimento e maior número de folhas quando plantadas em área com

vegetação natural mais densa. Já a sobrevivência da espécie exótica (Leucaena

leucocephala) foi semelhante, tanto no ambiente com vegetação nativa mais densa

quanto no ambiente com vegetação menos densa. Os autores também relataram

que as mudas de todas as espécies morreram ao final da primavera, atribuindo isso

principalmente à falta de água.

Page 214: Apostila Manejo e conservação do solo e da água 1

219

Forti et al. (2006) realizaram estudo de longa duração para avaliar

sobrevivência e desenvolvimento de várias espécies arbóreas (leguminosas e não

leguminosas), mediante condições de seca no semiárido de Israel. Mesmo após

secas acentuadas os autores observaram espécies com taxas de sobrevivência

entre 50 e 100%. Dentre as espécies que apresentaram baixa sobrevivência, alguns

indivíduos com características superiores foram encontrados. Os autores avaliaram

não só espécies nativas, mas também espécies exóticas com histórico de tolerância

à seca.

A leucena (Leucaena leucocephala) é uma leguminosa originada na América

Central com algumas variedades usadas na produção de forragem e na adubação

verde. As variedades formam simbiose eficiente com bactérias do gênero

Rhizobium, permitindo bom aproveitamento do nitrogênio atmosférico. Há relatos de

que a leucena apresenta produtividade máxima em regiões tropicais, em solos com

pH próximo à neutralidade e com precipitação entre 600 e 1700 mm. Porém, ela

pode ser dominante também em áreas com apenas 250 mm de chuva e apresentar

boa produtividade em solo com pH próximo à 5.0 (Lima & Evangelista, 2001).

Com relação ao sucesso esperado em usar a leucena nas condições áridas e

semi-áridas nordestinas, Souza (1991) ressalta que, graças ao seu sistema radicular

profundo, a leucena é mais resistente à seca do que leguminosas herbáceas. Souza

& Espíndola (2000) verificaram que uma pastagem em que o capim-buffel foi

associado a leucena teve maior capacidade de suporte em relação ao mesmo pasto

associado ao guandu em região de clima tropical sub-úmido em Pentecoste (CE).

É possível que leguminosas nativas sejam mais adequadas para plantios

consorciados em sistemas de produção que visem melhorar as condições de solo de

áreas afetadas pela desertificação. Nesse sentido, algumas espécies já têm sido

avaliadas, como é o caso do sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) e da catingueira

(Caesalpinia pyramidalis Tul.). O sabiá é uma leguminosa arbórea com grande

potencial graças à sua resistência à seca prolongada, seu rápido crescimento

(Almeida et al., 1986) e seu alto valor protéico (Stamford et al. 1997) que viabiliza

seu uso para alimentação animal. Em solos de mata úmida e do semi-árido

pernambucano, Stamford & da Silva (2000) verificaram que o sabiá não necessita de

calagem em solos ácidos caso seja inoculado com estirpes efetivas de rizóbio,

favorecendo a fixação biológica de nitrogênio e o desenvolvimento da espécie.

A catingueira é uma espécie com alto potencial econômico devido à sua

rusticidade e à seu aproveitamento madeireiro, também pode ser utilizada para

reflorestamento e de forma medicinal, a partir da obtenção de seus extratos

(Oliveira, 1976). É uma das plantas sertanejas cujas gemas brotam nas primeiras

manifestações de umidade. Dantas et al. (2009) verificaram que a formação de

mudas de catingueira não é influenciada pela luminosidade, e que o solo coletado na

própria caatinga, combinado ou não com areia e esterco, é adequado como

substrato para a produção de mudas.

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