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apostila MORFOSSINTAXE módulo 1
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Morfossintaxe do Português I
Prof. Dr. Cássio Florêncio Rubio
Material de apoio
MÓDULO I
3º Trimestre de 2013
Redenção, fevereiro de 2014
Morfossintaxe do Português I
Prof. Dr. Cássio Florêncio Rubio
Proibida a reprodução sem prévia autorização
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Morfossintaxe do Português I Responsável: Prof. Dr. Cássio Florêncio Rubio
Ementa: Conceito, objeto e pressupostos teórico-metodológicos da Morfologia. Conceitos operacionais básicos. Análise mórfica. Estrutura e formação dos vocábulos; flexão nominal e verbal. Processos de formação de palavras:
derivação e composição. Análise morfológica do português no Brasil.
Bibliografia básica CARONE, F. B. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1995.
CAMARA JR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2011.
KEHDI, V. Formação de palavras em português. 2. ed. São Paulo: Ática,
1997.
LONGUIN-THOMAZZI, S. R. Anotações e material de aula. São José do Rio Preto: Unesp, 2003.
_______. Morfemas do português. 3. ed. São Paulo: Ática, 1996.
MARTELOTTA, M. E. Dupla articulação. MARTELOTTA, M. E. Manual de
Linguística. São Paulo: Contexto, 2008. PETTER, M. M. T. Morfologia. FIORIN, J. L. Introdução à linguística II:
princípios de análise. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2008.
SANDMANN, A. Morfologia geral. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1993.
SOUZA-E-SILVA, M. C. P.; KOCH, I. V. Linguística aplicada ao português:
morfologia. 18 ed. São Paulo: Cortez, 2011.
Conteúdo programático
1. Conceitos básicos de morfologia portuguesa
1.1 Morfologia, morfema, morfe 1.2 Estrutura mórfica dos vocábulos: tema, radical, afixos
1.3 Processos e regras morfológicas: flexão, derivação, composição
2. Flexão 2.1 Flexão nominal: gênero e número
2.2 Flexão verbal: modo, tempo, pessoa, número
3. Gradação 3.1 Aumentativo e diminutivo
3.2 Comparativo e superlativo
4. Derivação 4.1 Derivação nominal
4.2 Derivação verbal
5. Composição
5.1 Justaposição, aglutinação, parassíntese
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MORFOLOGIA
(do grego: morphê, „forma‟ + logos, „estudo‟)
A morfologia compreende a área de investigação que estuda as
formas das palavras em diferentes usos e construções. Necessita ser
distinguida das outras áreas da investigação linguística.
Níveis de análise linguística
Linguística Textual: estuda a coesão superficial ao nível dos constituintes
linguísticos, a coerência conceitual ao nível semântico e o sistema de
pressuposições e implicações ao nível pragmático. A unidade de análise é o
texto. O texto é a unidade básica de manifestação da linguagem (KOCH). Em
outras palavras, a linguística do texto se preocupa com os fatores da
textualidade: coesão, coerência, informatividade, intertextualidade,
intencionalidade etc.
Semântica: área de investigação linguística que estuda a significação de
expressões pertencentes a uma língua natural. Faz isso em três domínios:
lexical (a palavra e seu uso), sentencial (como a relação entre as palavras
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contribui para o sentido da sentença) e textual (como são usadas as sentenças
na construção do sentido no texto).
Sintaxe: área de investigação linguística que estuda a combinação de palavras
ou sintagmas para formar frases, bem como a função dessas palavras e
sintagmas dentro da frase. Entre os aspectos tradicionalmente abordados pela
sintaxe estão a concordância, a regência, a coordenação de termos ou de
orações e a subordinação de orações.
Morfologia: área de investigação relacionada à sintaxe. A gramática gerativa
não admite a morfologia como um nível independente e prefere falar em termos
de morfossintaxe. Numa perspectiva diferente, Sandmann argumenta em favor
da manutenção dos níveis de análise: fonologia, morfologia, sintaxe, semântica.
Mathews (apud LAROCA) faz a seguinte distinção entre morfologia e sintaxe:
Fonologia: Estuda os sons da linguagem, a função, o comportamento e
organização dos elementos distintivos dentro do sistema linguístico. Difere da
fonética que estuda os sons enquanto fenômenos do mundo físico, além das
propriedades fisiológicas, anatômicas e neurológicas dos seres humanos que os
produzem. A unidade básica de análise da fonologia é o fonema (elemento
distintivo), além dos elementos prosódicos (pausa, tom, tessitura etc.).
Exemplo para análise:
A JABUTICABEIRA Um jovem se aproximou de um senhor idoso e perguntou: - De que planta o senhor está cuidando? - É uma jabuticabeira, respondeu o velho.
- E ela demora quanto tempo para dar frutos? - Ah, pelo menos uns quinze anos - informou o homem. - E o senhor espera viver tanto tempo assim? – indagou irônico, o rapaz. - Não, não creio que viva tudo isso, pois já estou no fim da minha jornada, disse o ancião. - Então, que vantagem você leva com isso, meu velho? E o velhinho respondeu calmamente:
- Nenhuma, exceto a vantagem de saber que ninguém colheria jabuticabas se todos pensassem como você...
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Que seria de nós, se não plantássemos hoje a semente que servirá de alimento amanhã? Não podemos estar voltados somente para nós mesmos. Temos que pensar, também, nas gerações que estão por vir. Temos que dar nossa colaboração. Muitas medidas tomadas hoje repercutirão no futuro. Tomara que você sinta orgulho de poder fazer, de alguma forma, parte dele e ter dado a sua contribuição.
Fonética:
pode-se dizer jabuticaba [ ou jaboticaba [- a
pronúncia pode ser alta ou média-alta, sendo nos dois casos arredondada e posterior.
Pode-se dizer [ ou [
Fonologia:
Ah, pelo menos uns quinze anos - informou o homem.
No trecho acima, há um processo fonológico denominado genericamente de
assimilação, que consiste em um processo em que um som adquire características ou
traços de outros sons que o rodeiam.
Pelo menos uns quinze anos [
Pelo menos quinze anos [
Morfologia:
Jabuticabeira = jabuticaba + eira = processo derivacional – palavra formada pela adição de um
sufixo ao morfema lexical
Idoso = idade + oso = processo derivacional
Sintaxe:
- De que planta o senhor está cuidando?
- De que planta - OI / o senhor - SUJEITO / está cuidando – VTI (AUX + PRINCIPAL)?
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O senhor está cuidando de uma planta.
Aonde você vai? Você vai a algum lugar.
De quem você herdará uma fortuna? Você herdará uma fortuna de alguém.
O João apareceu morto em casa ontem de manhã.
Apareceu morto em casa, o João, ontem de manhã.
Morto em casa, apareceu, o João, ontem de manhã.
Ontem de manhã, o João apareceu morto em casa.
De manhã, ontem, morto em casa, apareceu, o João.
Em casa, morto, o João, ontem de manhã, apareceu.
* Casa em, João o, manhã de, apareceu, morto.
Semântica:
Ancião, velho, velhinho, idoso, meu velho, o homem.
O meu carro está usado, mas não está velho.
*O meu carro está usado, mas não está idoso.
*O meu carro está usado, mas não está ancião.
Temos que respeitar os idosos.
Temos que respeitar os velhos.
*Temos que respeitar os homens.
Linguística textual:
Estratégias de referenciação: uso de sinônimos para retomada do referente
Um jovem se aproximou de um senhor idoso e perguntou:
- De que planta o senhor está cuidando? - É uma jabuticabeira, respondeu o idoso.
- E ela demora quanto tempo para dar frutos?
- Ah, pelo menos uns quinze anos - informou o idoso.
- E o senhor espera viver tanto tempo assim? – indagou irônico, o jovem. - Não, não creio que viva tudo isso, pois já estou no fim da minha jornada, disse
o idoso.
- Então, que vantagem você leva com isso, meu idoso?
E o idoso respondeu calmamente: - Nenhuma, exceto a vantagem de saber que ninguém colheria jabuticabas se
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todos pensassem como o jovem... Que seria de nós, se não plantássemos hoje a semente que servirá de alimento
amanhã?
Não podemos estar voltados somente para nós mesmos. Temos que pensar,
também, nas gerações que estão por vir. Temos que dar nossa colaboração. Muitas medidas tomadas hoje repercutirão
no futuro.
Tomara que você sinta orgulho de poder fazer, de alguma forma, parte dele e
ter dado a sua contribuição.
Morfologia
Tem por unidade maior a palavra.
Estuda a estrutura interna da palavra e
suas relações com outras palavras dentro
do paradigma. Ou seja, estuda relações
que se dão em ausência no eixo
paradigmático.
Sintaxe
Tem por unidade maior a sentença.
Estuda as funções exteriores da palavra e
sua relação com outras palavras no
interior da sentença. Ou seja, estuda
relações que se dão no eixo sintagmático.
Definição de morfologia:
Uma boa e didática definição de Morfologia é a da linguista Leonor Cabral:
“Uma definição de morfologia que a considere como um componente separado
da sintaxe e tendo como unidade mínima e máxima de seu objeto,
respectivamente, o morfema e a palavra seria: parte da gramática que descreve
as unidades mínimas de significado, sua distribuição, variantes e classificação,
conforme as estruturas onde ocorrem, a ordem que ocupam, os processos na
formação de palavras e suas classes”. (LAROCA, 1994).
Objeto de estudo: O objeto de estudo da morfologia é, em sua unidade maior,
a palavra (ou melhor, a forma da palavra) e, em sua unidade menor, os
morfemas, as menores unidade providas de significação.
Questões de interesse da morfologia: definir palavra, classificar as palavras,
investigar os processos de formação de palavras, distinguir flexão e derivação,
mostrar a função dos afixos. A classificação das palavras (nome, verbo,
advérbio etc) é uma questão bastante polêmica. Sandmann sugere que a
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classificação de palavras deve se basear em critérios preestabelecidos e, de
preferência, evocar apenas um critério. Mas a realidade é bem diferente.
Noções e conceitos operacionais
Um enunciado, ao ser proferido, nem sempre deixa claro o limite entre as
palavras. Ao contrário do critério fonológico, as palavras na escrita se
apresentam delimitadas por um critério que é formal. Deixa-se entre elas um
espaço em branco, porque cada uma constitui uma unidade por si mesma.
Cabe-nos indagar, entretanto, como de fato uma palavra se constitui.
Em Linguística, o termo morfologia foi utilizado somente no século XIX,
por volta de 1880. Surgiu primeiramente como um termo da Biologia, em 1830,
criado para designar o estudo das formas dos organismos vivos. O seu uso em
Linguística se deve à influência do modelo evolucionista de Darwin sobre os
estudos da linguagem. Os gramáticos dessa fase anterior ao surgimento da
Linguística alimentavam o sonho de descobrir a origem das línguas por meio do
estudo da evolução das palavras no indo-europeu. Houve, assim, um interesse
crescente pelo estudo sistemático dos processos de formação das palavras,
numa perspectiva histórica, pois os gramáticos consideravam as formas
mínimas constituintes das palavras como elementos originários.
Primeiramente, o termo forma, em Linguística, pode ser considerado
sinônimo de plano de expressão (ou da materialidade, o significante, nos termos
de Saussure), em oposição a plano do conteúdo (ou do pensamento, do
significado, nos termos de Saussure). Inicialmente, vamos considerar que a
forma compreende dois níveis de realização: o nível dos sons, que, como
veremos, destituídos de sentido, se juntam para formar unidades maiores com
significado; e o nível das palavras, que também se juntam para formar
unidades ainda maiores.
Mas a palavra não precisa ser necessariamente interpretada como a
unidade fundamental, para representar a relação entre forma de expressão e de
conteúdo. Podemos atribuir esse papel a unidades menores que as palavras,
mas ainda providas de significação.
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Vejamos um primeiro exemplo. Considere as diferentes palavras que se
arranjam no mesmo paradigma da palavra feliz e o modo como cada uma delas
pode ser segmentada em unidades menores providas de significado.
(2) um primeiro exemplo
Palavra Segmentação significado
Feliz feliz alegre, contente
Felizes feliz -es alegre + mais
de um
Infeliz in- feliz não + alegre
felizmente feliz -mente alegre + modo
Infelizmente in- feliz -mente não + alegre + modo
Felicidade felic -idade alegre +
estado
infelicidade in felic -idade não + alegre +
estado
Em (2), para qualquer segmentação que vá além das apresentadas no
quadro, sairemos do nível das unidades portadoras de significado e partiremos
para o nível de unidades menores desprovidas de significado, ou seja, partimos
para o nível do fonema. Essa segmentação da palavra em unidades mínimas
com significado permite que identifiquemos as partes significativas de que ela
se compõe. Assim, como mostrado em (2), a palavra feliz não permite
nenhuma outra segmentação sem que se saia do nível do significado,
diferentemente dos demais casos.
Vamos a outros exemplos de segmentação:
palavra segmentação significado
velhinho
jabuticabeira
cuidando
repercutirão
plantássemos
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irremediável
anormalidade
inconstitucionalmente
Podemos agora precisar melhor qual é o objeto de estudo da morfologia.
São duas as unidades de análise com que a morfologia opera: uma de extensão
máxima possível de ser segmentada em unidades menores providas de
significado, a palavra, e outra de extensão mínima, que não é mais passível de
segmentação, chamada morfema.
(3) objeto de estudo da Morfologia
a. a palavra: unidade de extensão máxima que pode ou não ser
composta de unidades mínimas portadoras de significado
b. o morfema: unidade de extensão mínima provida de significado e que
não pode ser decomposta em unidades menores.
Relembrando algumas dicotomias Saussureanas:
Significante e significado: a langue, segundo Saussure, é composta por
signos, entidades linguísticas concretas que existem como resultado da
associação de um conceito a uma imagem acústica ou, em outras palavras, de
um significado a um significante.
Sintagma e paradigma: na langue tudo se baseia em relações, que evoluem
em duas esferas distintas, dentro e fora do discurso. Na primeira, há relações
que se apoiam no caráter linear da língua e que, na cadeia de fala, organizam
os elementos de forma sequencial, um após o outro. Os elementos adquirem
seus valores por meio da oposição com elementos precedentes e subsequentes.
Esse tipo de relação é denominado relação sintagmática e exclui a possibilidade
de se pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Na segunda, há relações
restritas à atividade mental. Por meio delas, certas unidades são associadas, na
memória, a outras unidades capazes de figurar no mesmo contexto, mas não
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simultaneamente. Ou seja, um elementos pode evocar, por comparação mental,
outros elementos, como base em associações muito diversas. Essas relações
são denominadas paradigmáticas. Exemplo:
Eixo sintagmático
Eix
o
parad
igm
áti
co O PMDB
PT
PSDB
PSC
PSOL
propõe
articula
pede
solicita
coalizão
união
junção
conchavo
com outros partidos
1.1. Situando a morfologia no plano de articulação da linguagem
A dupla articulação da linguagem
A linguagem humana é articulada. A articulação é uma das características
essenciais da linguagem humana, sendo apontada como um dos principais
aspectos que a diferenciam da comunicação dos animais.
Articulação e articular derivam do diminutivo articulus do latim artus
(articulações dos ossos ou membros do corpo). Articulado significa constituído
de partes ou membros. A língua é, pois, articulada no sentido de ser constituída
de partes. Isso quer dizer que os enunciados produzidos em uma língua, seja
ela qual for, não se apresentam como um todo indivisível. Ao contrário disso,
podem ser divididos em partes menores, articuladas entre si.
Vejamos o exemplo abaixo:
Consideremos a sentença:
Os manifestantes atiravam pedras.
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Podemos dividir a sentença em cinco vocábulos
Os / manifestantes / atiravam / pedras
Em outras palavras, para formar a sentença, o falante seleciona vocábulos
armazenados em sua memória e os articula de acordo com o sentido que quer
veicular, atentando-se para as regras de formação de sentenças em português.
Cada um desses vocábulos pode ocorrer em outras sentenças de forma
autônoma.
Prosseguindo com a análise, é possível ainda dividir cada um dos
vocábulos da sentença em unidades morfológicas menores, como vemos:
O /s / manifestante/s / pedra/s
O /ø / manifestante/ ø / pedra/ ø
Nos vocábulos acima, é possível notar a oposição entre a presença e a
ausência do /s/, marcada com o símbolo ø (vazio). A retirada do “s” acarreta
diferença de valor no vocábulo, que perde a marcação de plural, passando para
o singular. Assim, o elemento /s/ é responsável pela marcação da noção de
plural (desinência de número).
Além da desinência de número, há ainda muitos outros elementos
menores que podem compor os vocábulos:
Manifest/ante pedr/a/ria
O elemento “ante”, presente em “manifestante”, por exemplo, indica “a pessoa
que realiza a ação de”, em questão, manifestar-se.
Esses elementos se associam a inúmeros outros radicais para formar
novos vocábulos na língua.
Confrontante, manifestante, reclamante, amante, figurante...
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Todos os elementos que compõem os vocábulos, assim como o sufixo “ante” e a
desinência de plural “s”, trazem alguma informação acerca do sentido de um
vocábulo ou acerca da sua estrutura gramatical. Esses morfemas são radicais,
vogais temáticas, prefixos, sufixos e desinências e constituem a menor unidade
significativa da estrutura gramatical de uma língua. Vejamos a divisão da
sentença já apresentada em morfemas;
O /s / manifest/ante/s / atir/a/va/m / pedr/a/s
É possível ainda dividir a sentença em unidades ou elementos ainda menores,
chamados fonemas. Esses elementos são unidades que formam o corpo sonoro
do vocábulo e possuem apenas função distintiva, sem possuírem significado
como os morfemas.
Pedras: /
Os fonemas são unidades estruturais da língua, que permitem distinguir
vocábulos, mas, diferentes dos morfemas, não possuem ou atribuem
significação às palavras.
“boca” “borra” “boba”: [boka]; [boxa]; [boba]
Após essas definições e a diferenciação entre morfema e fonema, duas
unidades mínimas da língua, a primeira com significação e a segunda apenas
distintiva, podemos tratar da dupla articulação da linguagem:
1ª articulação ou morfologia: constituída de elementos com significado, os
morfemas.
Exemplo: in/feliz/mente
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2ª articulação ou fonologia: Constituída de elementos não dotados de
significado, os fonemas.
Exemplo: mala, fala, cala, gala, tala - /m/, /f/, /k/, /g/, /t/
A economia e produtividade da dupla articulação da linguagem
A organização da língua baseada no sistema da dupla articulação
caracteriza todas as línguas em todas as partes do mundo, por ser um sistema
que permite transmitir mais informação com menos esforço.
A articulação entre o feminino e masculino apenas com a substituição do
morfema final de gênero é muito mais econômica do que a formação do
feminino por heteronímia.
Aluno/ aluna, menino/menina, tio/tia
homem/mulher, boi/vaca, genro/nora
O mesmo ocorre com o processo de flexão de número que ocorre em
português apenas com o acréscimo do morfema “s”.
Para se ter uma ideia da economia do emprego dos morfemas, basta considerar
a palavra pedra e todas as suas derivadas, formadas apenas com o acréscimo
de morfemas.
Pedr-
-a
-eiro
-eira
-aria
-isco
-inha
a- -ejar
-ejamento
in-
constituir
-ção
ultra- -cional
mega- -cional + idade
pseudo- -cional+ ista
-cional + ismo
-cional + izar
-icional + ismo
-nte
-tivo
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No processo de derivação, a mesma economia e produtividade ocorrem, pois,
com base no radical da palavra primitiva e com o emprego de um número
restrito de prefixos e sufixos, já conhecidos dos falantes, formamos derivadas
desta palavra.
Consolidação de conteúdo
O ANALFABETO POLÍTICO - Bertold Bretch
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel,
do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a
política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor
abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e
lacaio dos exploradores do povo.
1. Classifique morfologicamente as palavras em destaque abaixo, retiradas do
texto (substantivo, adjetivo, advérbio, verbo, conjunção, artigo, pronome etc.):
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do
sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
...o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos
exploradores do povo.
2. Com base na classificação acima, responda: É possível classificar
morfologicamente um vocábulo sem considerar seu contexto de uso, ou seja, o
emprego em uma sentença?
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3. Explique o que é a dupla articulação da linguagem e porque ela ocasiona às
línguas economia e produtividade.
4. Complete, no quadro abaixo, os possíveis prefixos e sufixos que formam
novas palavras a partir da forma primitiva.
normal
moral
5. Construa conjuntos de palavras que se agrupem por paradigmas de acordo
com os seguintes critérios:
a) semântico: palavras que indiquem ação, estado, sentimento
b) sintático: termos que exercem as funções de sujeito, objeto e modificador (=
qualificador)
c) morfológico: elementos gramaticais que ocorrem como prefixos, sufixos
formadores de nomes, sufixos formadores de adjetivos.
6. Considere as seguintes palavras primitivas e derivadas:
Sabor – saboroso / apetite – apetitoso / assombrar – assombroso / dor –
doloroso
Existe alguma regra quanto à classe gramatical dessas palavras?