Apostila - Processo Do Trabalho - Atualizada

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APOSTILA DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO PROFESSOR GUSTAVO CISNEIROS [email protected]

APOSTILA D I R E I T O PROCESSUAL D O T R A B A L H O(ATUALIZADA EM SETEMBRO DE 2011)

O direito processual estuda e regulamenta a atuao, pelo Estado, da funo jurisdicional. J foi conhecido como direito jurisdicional.

A jurisdio a atividade tpica do Poder Judicirio, consistindo na aplicao do direito a um caso concreto, com o escopo de solucionar conflitos (juris dictio = dizer o direito).

O poder jurisdicional vai alm do simples dizer o direito, satisfazendo-o, mediante a execuo forada.

Processo de conhecimento = dizer o direito!

Processo de execuo = satisfazer o direito!

A jurisdio se encontra marcada pela inrcia, amparando-se, tambm, na imparcialidade. So traos que a distinguem, por exemplo, do Poder Executivo.

Surgindo um conflito de interesses, qualificado pela pretenso resistida, o sujeito no pode, salvo rarssimas excees (legtima defesa, desforo imediato, greve), utilizar-se da autotutela, devendo buscar a satisfao de sua pretenso no Poder Judicirio, no Estado-Juiz, provocando-o, mediante a propositura de uma ao.

O Estado, uma vez provocado, usar de um instrumento para aplicar o direito. Este instrumento chama-se processo.

1. Princpios

Devido processo legal apontado como o princpio dos princpios, vem consagrado na 1

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Constituio Federal (artigos 5 e 93), impondo a observncia do conjunto das normas processuais, alcanando a garantia do juiz natural, do acesso justia, da ampla defesa e do contraditrio e da fundamentao de todas as decises judiciais;

Contraditrio e ampla defesa so princpios que decorrem do devido processo legal, garantindo a isonomia s partes processuais, e conferindo, ao demandado judicial (ru), a oportunidade de resistir pretenso; o contraditrio abrange o direito de o litigante (autor e ru) produzir prova contrria ao que foi aduzido pela parte adversa; a ampla defesa deve tambm ser entendida em seu sentido lato, ou seja, no fica restrita ao reclamado, pois ao reclamante tambm ser garantido o direito de repelir as alegaes da parte contrria;

Juiz natural abrange a competncia e a imparcialidade do rgo jurisdicional;

Inafastabilidade o exerccio da jurisdio indeclinvel, devendo o juiz, em caso de lacuna legislativa, utilizar-se de outros meios integrativos do direito artigo 8 da CLT e artigo 126 do CPC;

Motivaes das decises judiciais uma garantia ao jurisdicionado, impondo ao magistrado o dever de fundamentar as suas decises, mostrando as razes do seu entendimento artigo 93, IX, da CF;

Inrcia princpio consagrado no artigo 2 do CPC; no processo do trabalho h duas excees (o processo de execuo art. 878 da CLT e o processo para o reconhecimento de vnculo empregatcio decorrente do requerimento para assinatura da carteira de trabalho art. 39 da CLT); o dissdio coletivo no pode ser instaurado de ofcio pelo presidente do tribunal (a previso contida no artigo 856 da CLT no foi recepcionada pela CF art. 114, 2);

Oralidade princpio que marca o processo do trabalho, simples por natureza; a oralidade se encontra presente na apresentao de defesa (20 minutos), assim como nas razes finais (10 minutos para cada parte); a reclamao trabalhista tambm pode ser feita oralmente (artigo 840 CLT);

Da conciliao o processo do trabalho marcado pela obrigatoriedade da tentativa de 2

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conciliao; o juiz do trabalho deve buscar sempre a conciliao artigo 764 da CLT; durante a audincia h duas tentativas obrigatrias a primeira, antes da apresentao da defesa; a segunda, aps as razes finais artigos 846 e 850 da CLT (como no rito sumarssimo no h razes finais, a conciliao deve ser tentada antes da defesa e ao longo de toda a audincia artigo 852-E CLT); nos dissdios coletivos a conciliao tambm deve ser tentada artigo 860 da CLT; tambm possvel a conciliao aps o trnsito em julgado da sentena e at mesmo na fase de execuo (artigos 764, 3 e 831, 6, CLT), ou seja, a conciliao pode ser efetuada a qualquer tempo;

Da irrecorribilidade imediata das decises interlocutrias trata-se de um princpio que garante maior celeridade ao processo, encontrando-se previsto no art. 893, 1, da CLT; no processo do trabalho, portanto, no usamos o agravo retido e o agravo de instrumento, recursos previstos no CPC; o nosso agravo de instrumento, luz do art. 897 CLT, serve apenas para atacar um tipo de deciso interlocutria, aquela que denega seguimento a recurso (deciso que no conhece de um recurso); a jurisprudncia uniforme, entretanto, faz trs ressalvas, as quais podem ser encontradas nas alneas da Smula 214 TST (a principal diz respeito ao acolhimento de exceo de incompetncia em razo do lugar que gera a remessa dos autos a uma vara de TRT distinto); outra exceo pode ser vislumbrada na Lei 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurana) agravo contra deciso interlocutria em mandado de segurana; falando em mandado de segurana, o princpio da irrecorribilidade imediata das decises interlocutrias termina, em algumas situaes, atraindo o uso do mandamus, exatamente pelo fato de no existir recurso especfico para atacar aquelas decises (vide Smulas 414 e 417 do TST e OJS 98 e 153 da SDI-2).

Da normatizao coletiva peculiaridade da Justia do Trabalho, a qual possui o chamado poder normativo nos dissdios coletivos de natureza econmica art. 114, 2, da CF; significa dizer que a Justia do Trabalho, em caso de negociao coletiva frustrada, pode ser acionada para solucionar o conflito, elaborando normas para a categoria (a ao chama-se dissdio coletivo de natureza econmica, e deve ser proposta pelas partes, de comum acordo);

Ius Postulandi tambm chamado de jus postulandi, garante o direito de a parte atuar sem a assistncia de advogado; a parte, no processo do trabalho, possui capacidade postulatria artigo 791 da CLT, mas o TST vem, aos poucos, mitigando o princpio, proibindo o jus 3

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postulandi, por exemplo, dentro do prprio TST, e, ainda, para a ao rescisria, mandado de segurana e ao cautelar, em qualquer instncia (vide Smula 425 do TST); importante destacar a IN 27/2005 do TST, que reconhece o jus postulandi apenas para as aes decorrentes da relao de emprego, ou seja, se a lide diz respeito a outro tipo de relao de trabalho, a presena do advogado imprescindvel.

SMULA 425 TST. JUS POSTULANDI NA JUSTIA DO TRABALHO. ALCANCE. O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se s Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, no alcanando a ao rescisria, a ao cautelar, o mandado de segurana e os recursos de competncia do Tribunal Superior do Trabalho.

2. Justia do Trabalho

A Justia do Trabalho passou a integrar o Poder Judicirio em 1946. Vem regulada nos artigos 111 a 116 da Constituio Federal. So rgos da Justia do Trabalho:

a) o Tribunal Superior do Trabalho (TST) Composto de 27 Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais 35 e menos de 65 anos de idade, nomeados pelo Presidente da Repblica aps aprovao pela maioria absoluta do Senado Federal. No TST aplica-se, por disposio expressa (inciso I do art. 111-A) o chamado quinto constitucional, ou seja, 20% (1/5) das vagas sero destinadas a advogados e membros do Ministrio Pblico (no caso, Ministrio Pblico do Trabalho). Se calcularmos um quinto de 27, teremos 5,4 vagas, nmero que deve ser arredondado para mais, resultando em 6 vagas. Assim, o TST possui 3 Ministros oriundos direto da advocacia e 3 Ministros procedentes do MPT. O advogado, para integrar o quinto, deve possuir mais de dez anos de efetiva atividade profissional, alm de notrio saber jurdico e reputao ilibada. O procurador do trabalho, para integrar o quinto, deve ter mais de dez anos como membro do MPT. O quinto constitucional vem regulado no artigo 94 da prpria Constituio, lembrando que a sua incidncia, no caso do TST, se d por expressa determinao do artigo 111-A da CF. O TST recebe a lista sxtupla, (da OAB ou do MPT), reduzindo-a a trplice, encaminhando trs nomes ao Presidente da Repblica, o qual escolher um deles, devendo submet-lo ao crivo do Senado Federal (maioria absoluta = metade mais um de todos os membros da Casa). Funcionam junto ao TST a Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento de Magistrados do Trabalho e o Conselho Superior da Justia do Trabalho.

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b) Tribunais Regionais do Trabalho Cada TRT deve ser composto de, no mnimo, 7 juzes, nomeados pelo Presidente da Repblica (no precisa da aprovao do Senado Federal), dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65 anos. Os juzes dos Tribunais Regionais do Trabalho so aqueles oriundos da carreira da magistratura trabalhista, promovidos por antigidade e merecimento, alternadamente. Ocorre que para os Tribunais Regionais do Trabalho se aplica a regra do quinto constitucional (artigo 94 da CF). Logo, 20% (1/5) das vagas ficam reservadas a membros da advocacia e do MPT, observando-se os critrios insculpidos no artigo 94 da Constituio. A Constituio j no fala na necessidade de pelo menos um TRT em cada Estado da Federao (a EC 45/2004 no manteve a exigncia). As inovaes so as seguintes: 1 Os TRTS instalaro a justia itinerante; 2 Os TRTS podero funcionar descentralizadamente, constituindo Cmaras Regionais, visando facilitar o acesso do jurisdicionado justia.

c) Juzes do Trabalho O cargo inicial o de Juiz do Trabalho Substituto, ocorrendo, com o tempo, a promoo para Juiz do Trabalho Titular, observando-se os critrios de antiguidade e merecimento, alternadamente. A jurisdio nas Varas do Trabalho ser exercida por um juiz singular, ou seja, monocrtico, no mais existindo, na Justia do Trabalho, a representao classista (antigos juzes classistas).

Garantias e vedaes dos juzes (artigo 93 CF)

O ingresso na carreira se d por concurso pblico de provas e ttulos (salvo no caso do quinto constitucional), com a participao da OAB em todas as fases, exigindo-se, do bacharel em direito, no mnimo, 3 anos de atividade jurdica.

No h entrncias na Justia do Trabalho.

A Constituio Federal confere aos juzes as seguintes garantias:

a) vitaliciedade no primeiro grau adquirida aps dois anos de exerccio; no segundo grau, para aqueles juzes do quinto constitucional, adquirida no ato da posse, ou seja, no h, para estes, estgio probatrio; vitaliciedade mais do que estabilidade, pois o vitalcio s perde o cargo mediante sentena judicial transitada em julgado;

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b) inamovibilidade o juiz tem a garantia de permanecer na Vara do Trabalho que titulariza, sem a possibilidade de ser transferido contra a sua vontade, salvo em caso de interesse pblico (art. 93, VIII, da CF), por deciso da maioria absoluta do Tribunal ou do Conselho Nacional de Justia, ou se a remoo for a pedido (observem que a inamovibilidade no garantida ao juiz do trabalho substituto);

c) irredutibilidade de subsdios (segundo o STF, a garantia no contempla do direito reposio automtica da inflao o chamado gatilho).

O juiz titular deve residir na respectiva comarca, salvo autorizao do tribunal art. 93, VII, da CF.

Aos juzes vedado: a) exercer outro cargo ou funo, salvo uma de magistrio; b) receber custas e participaes em processo; c) dedicar-se atividade poltico-partidria; d) receber auxlios ou contribuies, salvo as previstas em lei; e) exercer a advocacia no juzo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos trs anos do afastamento.

obrigatria a promoo do juiz que figure por 3 vezes consecutivas ou 5 alternadas em lista de merecimento, pressupondo, a promoo por merecimento, o exerccio por 2 anos na entrncia (no h entrncia na Justia do Trabalho), alm de integrar, o juiz, a primeira quinta parte da lista de antigidade, salvo se no houver, com tais requisitos, quem aceite o lugar vago. Para fins de merecimento, ser avaliado o desempenho do magistrado, com critrios objetivos de produtividade e presteza no exerccio da jurisdio e pela freqncia e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeioamento.

O tribunal poder recusar o juiz mais antigo, quando da promoo por antiguidade, pelo voto fundamentado de dois teros de seus membros, assegurando ampla defesa.

O juiz que retiver injustificadamente os autos processuais alm do prazo legal no poder ser promovido.

vedado, ainda, o exerccio da advocacia no juzo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos trs anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exonerao. 6

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3. Competncia da Justia do Trabalho

A jurisdio limitada pela competncia atribuda a cada rgo jurisdicional.

Diz-se que todo rgo jurisdicional competente possui jurisdio, mas nem todo rgo jurisdicional tem competncia.

A competncia seria exatamente a medida da jurisdio atribuda a um determinado rgo do Judicirio.

A competncia pode ser absoluta ou relativa.

A competncia absoluta matria de ordem pblica, a qual deve ser objeto de anlise ex officio pelo rgo judicial. Para se declarar incompetente, portanto, o rgo no precisa ser provocado. bom ressaltar, contudo, que a parte a quem cabia suscitar a incompetncia absoluta arcar com as despesas resultantes de sua omisso artigo 267, 3 c/c artigo 301, II, do CPC. Cabe ao rescisria contra sentena prolatada por juiz absolutamente incompetente artigo 485 CPC

A competncia relativa passvel de precluso, pois no matria de ordem pblica. A competncia relativa, no processo trabalhista, restringe-se competncia em razo do lugar. Caso no arguida a incompetncia relativa no momento oportuno (na audincia, especificamente no prazo da defesa), ocorrer a prorrogao da competncia. Logo, prorroga-se a competncia relativa quando a parte interessada no arguir, tempestivamente, a incompetncia, mediante a chamada exceo de incompetncia em razo do lugar artigo 799 da CLT. A prorrogao tida como um dos tipos de deslocamento da competncia. Alm da prorrogao, a conexo e a continncia tambm modificam a competncia. Para tanto, necessrio detectar o Juzo Prevento (no processo do trabalho a preveno ter como base a data do ajuizamento da reclamao trabalhista).

So absolutas as competncias em razo da matria, em razo da pessoa e a funcional.

So relativas as competncias em razo do lugar e em razo do valor da causa, sendo que esta 7

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ltima no se aplica ao processo do trabalho.

A competncia em razo da matria (ratione materiae) delimitada em virtude da natureza da relao jurdica material deduzida em juzo.

A EC 45/2004 produziu sensveis modificaes na competncia material da Justia do Trabalho, modificando o artigo 114 da Constituio. Compete Justia do Trabalho processar e julgar as aes oriundas da relao de trabalho, abrangidos os entes de direito pblico externo e da administrao pblica direta e indireta da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios.

Logo, no h que se falar em restrio da competncia apenas relao de emprego.

Antes mesmo da EC 45, a Justia do Trabalho j era competente para processar e julgar as lides envolvendo o trabalhador avulso e o OGMO e aquelas abrangendo o chamado pequeno empreiteiro operrio ou artfice, por fora do art. 652 da CLT. So tpicos casos de competncia em razo da pessoa (trabalhador avulso e pequeno empreiteiro).

Com a nova competncia, importante destacar a diferena entre relao de emprego e relao de trabalho.

Prevalece o entendimento de que a relao de emprego uma das espcies de relao de trabalho. Relao de emprego seria a relao de trabalho subordinado, onde o trabalhador estaria marcado pela subordinao jurdica ao tomador de servios, liame caracterizado, ainda, pela pessoalidade do obreiro, alm da onerosidade, da no-eventualidade, sendo, aquele, obrigatoriamente, pessoa fsica artigos 2 e 3 da CLT.

Os litgios oriundos das demais relaes de trabalho passaram a ser de competncia da Justia do Trabalho. J tnhamos o avulso e o pequeno empreiteiro. O estagirio e o cooperado, por exemplo, utilizaro a Justia do Trabalho para acionar a empresa fornecedora do estgio e a cooperativa, respectivamente. O mesmo se diga do profissional liberal, tpico trabalhador autnomo (mdico, engenheiro, contador, advogado etc.).

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Observaes importantes:

a) servidor pblico estatutrio o STF concedeu liminar em ADIN proposta pela AJUFE (Associao dos Juzes Federais) Processo 3.395, mantendo a competncia da Justia Comum para conhecer dos litgios envolvendo os servidores pblicos estatutrios e a Administrao Pblica Direta, Autrquica e Fundacional (incluindo as aes que versem sobre o direito de greve do servidor estatutrio); o Ministro Nelson Jobim adotou a chamada interpretao conforme;

b) relao de consumo importante destacar que as controvrsias oriundas de tpica relao de consumo devem ser processadas e julgadas pela Justia Comum, no sendo de competncia da Justia Obreira; o que acontece com a ao de cobrana de honorrios por profissional liberal, dirigida contra o cliente (Smula 363 STJ), onde o cliente o destinatrio final da prestao de servios, ou seja, o consumidor;

c) as aes de indenizao por dano moral, material e/ou esttico, decorrentes da relao de trabalho, so de competncia da Justia do Trabalho, inclusive quando o dano tiver sido provocado por acidente de trabalho vide Smula Vinculante n 22, Smula 392 do TST, artigo 114, VI, CF e Smula 387 do STJ.

Tambm se inserem na competncia da Justia do Trabalho as aes decorrentes: do exerccio do direito de greve (inclusive a ao possessria ajuizada em decorrncia do exerccio do direito de greve Smula Vinculante n 23); dos conflitos de competncia entre os rgos com jurisdio trabalhista, ressalvado o disposto no artigo 102, I, o, da CF; de mandados de segurana, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matria sujeita sua jurisdio; das penalidades administrativas impostas ao empregador pelos rgos de fiscalizao das relaes de trabalho.

Quanto

a

esta

ltima

competncia,

digamos

que

o

empregador

deseja

recorrer

administrativamente de uma multa aplicada pela fiscalizao trabalhista, mas se depare com a exigncia de depsito prvio da multa, como condio de admissibilidade do referido recurso. A exigncia de depsito prvio da multa administrativa considerada ilegal pelas cortes superiores (vide Smula 424 do TST e Smula Vinculante 21), desafiando mandado de segurana. De quem seria a competncia para processar e julgar o mandado de segurana? Do 9

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juiz do trabalho!

SMULA 424 TST. RECURSO ADMINISTRATIVO. PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE. DEPSITO PRVIO DA MULTA ADMINISTRATIVA. NO RECEPO PELA CONSTITUIO FEDERAL DO 1 DO ART. 636 DA CLT. O 1 do art. 636 da CLT, que estabelece a exigncia de prova do depsito prvio do valor da multa cominada em razo de autuao administrativa como pressuposto de admissibilidade de recurso administrativo, no foi recepcionado pela Constituio Federal de 1988, ante a sua incompatibilidade com o inciso LV do art. 5.

Alm das controvrsias citadas, cabe Justia do Trabalho executar, de ofcio, as contribuies previdencirias previstas no artigo 195, I, a e II, da CF.

As aes pertinentes ao meio ambiente do trabalho tambm so de competncia da Justia do Trabalho Smula 736 do STF.

A Justia do Trabalho no tem competncia para matria criminal.

Quanto competncia em razo da pessoa, destacamos as aes sobre representao sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores. A doutrina vem reconhecendo tpica competncia em razo da pessoa do sindicato, abrangendo as discusses sobre as contribuies sindicais. Outro exemplo ficaria a cargo do pequeno empreiteiro operrio ou artfice.

A questo do acidente de trabalho merece ateno especial.

Se a controvrsia decorrer da relao previdenciria (segurado x INSS), como, por exemplo, quando o empregado no concorda com o resultado da percia realizada pelo INSS, fato que o levar a acionar o prprio INSS, a competncia da justia comum estadual vide Smula 501 do STF e Smula 15 do STJ. A ao conhecida como ao acidentria.

Caso a controvrsia se baseie na pretenso de indenizao por dano moral/patrimonial/esttico, decorrente de acidente de trabalho, ou seja, o empregado pretende acionar o empregador, luz do artigo 7, XXVIII, da CF, a competncia ser da Justia do Trabalho, porquanto o litgio decorre de tpica relao de trabalho Smula Vinculante n 22; Smula 392 do TST; artigo 114, VI, da 10

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CF e Smula 387 do STJ.

Dano moral por ricochete - O STF manteve a competncia da Justia do Trabalho, o que terminou levando o STJ a cancelar, em setembro de 2009, a Smula 366. Dano moral por ricochete? O que isso? Estamos falando da ao de indenizao por dano moral e/ou material proposta contra o empregador, pelos sucessores do empregado falecido em decorrncia de acidente do trabalho. A ao, segundo o TST, pode ser proposta pelo esplio, luz do art. 943 do Cdigo Civil.

Cadastramento no PIS e seguro-desemprego - O TST j entendia de competncia da Justia do Trabalho as lides envolvendo o cadastramento no PIS (Smula 300 do TST), assim como a ao de indenizao pela no entrega das guias do seguro desemprego (Smula 389 TST).

Sade, segurana e higiene no trabalho O STF tambm j entendia ser de competncia da Justia do Trabalho as aes envolvendo o meio ambiente do trabalho, pertinente a questes de medicina, segurana e sade do trabalho (Smula 736 do STF).

Servidores pblicos celetistas Mantendo, o servidor pblico, um vnculo contratual (noestatutrio), a competncia ser da Justia do Trabalho. Os chamados empregados pblicos, aqueles ligados s empresas pblicas e sociedades de economia mista, j tinham as suas controvrsias como de competncia da Justia do Trabalho.

Quanto ao direito de greve, vale destacar que a greve envolvendo servidor pblico estatutrio ensejar a competncia da Justia Comum.

Competncia para executar empresa em fase de recuperao judicial A exemplo da massa falida, a competncia da Justia do Trabalho, quando a lide envolver empresa em recuperao judicial, se restringe fase de conhecimento, ou seja, segundo o STF (RE/583955 - RECURSO EXTRAORDINRIO 27/08/2009), a Justia do Trabalho no tem competncia para executar a massa falida e a empresa em recuperao judicial (na fase de execuo, o crdito deve ser habilitado no juzo universal da falncia justia comum).

Contratao temporria de servidores pblicos A competncia da justia comum, inclusive 11

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quando a contratao for feita em regime especial. Para o STF, diante de uma controvrsia acerca do regime de contratao, presume-se o vnculo estatutrio, ou seja, a competncia continua sendo da justia comum. A competncia da justia do trabalho, para as contrataes temporrias lastreadas no artigo 37, IX, CF, fica restrita aos casos de expressa previso de incidncia do regime celetista. A informao importante, resumindo o atual posicionamento do STF e do TST, ratificado pelo recente cancelamento da OJ 205 da SDI-1. Existe, inclusive, uma proposta de smula vinculante sobre o assunto PSV 23/DF, verbis:

COMPETNCIA DA JUSTIA COMUM E CONTRATAO TEMPORRIA: Compete Justia Comum processar e julgar causas instauradas entre a Administrao Pblica e seus servidores submetidos a regime especial disciplinado por lei local editada com fundamento no art. 106 da Constituio de 1967, na redao que lhe deu a Emenda Constitucional n 1/69. ou Compete Justia Federal ou Estadual, conforme o caso, processar e julgar causas instauradas entre a Administrao Pblica e seus servidores submetidos a regime especial disciplinado por lei editada com fundamento no art. 106 da Constituio de 1967, na redao que lhe deu a Emenda Constitucional n 1/69, ou no art. 37, IX, da Constituio de 1988. ou Compete Justia Estadual julgar causas entre a Administrao Pblica e (seus) servidores, qualquer que seja a norma aplicvel.

Dissdios coletivos Alm dos dissdios individuais, a Justia do Trabalho tambm conhece dos dissdios coletivos - 2 do art. 114 da CF. O Ministrio Pblico do Trabalho, excepcionalmente, pode ajuizar dissdio coletivo, em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de leso do interesse pblico - 3 do art. 114 da CF.

A competncia funcional aquela que se d em razo da funo concernente distribuio das atribuies cometidas aos diferentes rgos da Justia do Trabalho, de acordo com o que dispem a Constituio, as leis de processo e os regimentos internos dos tribunais trabalhistas.

A competncia funcional da Justia do Trabalho, portanto, definida em razo dos seus rgos TST, TRTS e Juzes do Trabalho.

A competncia funcional do Juiz do Trabalho vem definida nos artigos 652 e 653 da CLT, os quais devem ser interpretados em conjunto com o artigo 114 da CF. A competncia funcional dos 12

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TRTS vem definida nos artigos 678 e 679 da CLT. A competncia funcional do TST vem definida na Lei 7.701/88, assim como pelo seu Regimento Interno (RITST Resoluo Administrativa 908/2002).

01. Juzes do Trabalho processar e julgar as aes:

a) Oriundas das relaes de trabalho (salvo os casos j comentados); b) Que envolvam o exerccio do direito de greve, ressalvando-se a competncia funcional dos Tribunais nos dissdios coletivos; c) Envolvendo sindicatos (sindicatos x sindicatos; sindicatos x empregados; sindicatos x empregadores), ressalvando-se a competncia funcional dos Tribunais nos dissdios coletivos; d) De mandado de segurana, habeas corpus e habeas data (quando o ato impugnado for de autoridade administrativa artigos 114 IV e VII da CF); e) Relativas ao cumprimento de suas prprias decises; f) Oriundas de outras controvrsias decorrentes da relao de trabalho artigo 114, IX, CF.

02. Tribunais Regionais do Trabalho compete:

a) Originariamente: processar e julgar dissdios coletivos (inclusive as revises e extenses das decises); processar e julgar mandados de segurana, habeas corpus e habeas data (salvo os casos de competncia funcional dos juzes do trabalho). b) Em ltima instncia: processar e julgar os recursos das multas impostas pelas Turmas; processar e julgar as aes rescisrias das sentenas proferidas pelos juzes do trabalho e juzes de direito investidos na jurisdio trabalhista, assim como as aes rescisrias das decises de suas Turmas e de seus prprios acrdos; processar e julgar os conflitos de competncia entre as suas Turmas, os juzes de direito investidos na jurisdio trabalhista, os juzes do trabalho, e entre aqueles e estes, caso exeram jurisdio no territrio abrangido pelo TRT;

02.1. Compete s Turmas dos TRTS (caso o tribunal seja divido em turmas):

a) Julgar os recursos ordinrios previstos no artigo 895, a, da CLT; julgar os agravos de 13

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petio e de instrumento (estes de decises denegatrias de recursos de sua alada); impor multas e demais penalidades relativas a atos de sua competncia jurisdicional, e julgar os recursos interpostos das decises dos juzes do trabalho;

03. TST (Lei 7.701/88). Compete ao TST:

a) Julgar os recursos de revista (artigo 896 da CLT), os recursos ordinrios e agravos de instrumento contra decises de TRTS e dissdios coletivos de categorias organizadas em nvel nacional, alm de mandados de segurana, embargos opostos a suas decises (embargos infringentes, embargos de divergncia e embargos de nulidade) e aes rescisrias.

Os dissdios coletivos so de competncia originria dos TRTS e, quando a rea abrangida for maior que a do Estado-Membro onde se situa o TRT, do TST. Logo, a primeira instncia trabalhista no tem competncia funcional para processar e julgar dissdios coletivos.

Os mandados de segurana decorrentes dos atos administrativos praticados pelos rgos de fiscalizao das relaes de trabalho passam a ser de competncia da primeira instncia trabalhista (Juzes do Trabalho), por fora do artigo 114, IV e VII, da CF.

Os Tribunais so competentes para processar e julgar aes rescisrias e conflitos de competncia.

Falando em conflito de competncia, ateno!

Conflito de competncia matria de ordem pblica, podendo ser suscitado pelo interessado ou, de ofcio, pelo prprio rgo jurisdicional. Pode ser positivo, quando dois ou mais rgos se dizem competentes, ou negativo, quando dois ou mais rgos se dizem incompetentes.

Competncia para apreciar o conflito:

a) TRT conflito envolvendo juzes do trabalho (ou juzes de direito investidos em jurisdio trabalhista) a ele vinculados; 14

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b) TST conflito envolvendo juzes do trabalho (ou juzes de direito investidos em jurisdio trabalhista) de Tribunais Regionais distintos; c) TST conflito envolvendo TRT x TRT; d) STJ conflito envolvendo juzes do trabalho (ou juzes de direito investidos em jurisdio trabalhista) x juzes de direito ou juzes federais; e) STJ conflito envolvendo TRT x TJ ou TRF; f) STF qualquer conflito envolvendo o TST.

Considera-se juridicamente impossvel o conflito de competncia envolvendo TRT e juiz a ele vinculado Smula 420 TST.

COMPETNCIA EM RAZO DO LUGAR

Uma vez fixada a competncia absoluta, resta elucidar o juzo competente em razo do territrio. o que se chama de competncia territorial ou competncia em razo do lugar (ratione loci).

A competncia em razo do lugar vem definida no art. 651 da CLT.

A regra que a ao deve ser proposta no local em que o empregado (trabalhador) prestou servios ao empregador, mesmo que contratado em outra localidade. Assim, a competncia em razo do lugar definida, regra geral, pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar servios ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro.

Excees:

- Quando se tratar, contudo, de agente ou viajante comercial, a competncia ser da Vara do Trabalho da localidade em que a empresa tenha agncia ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta de agncia ou filial, ser competente a Vara da localidade em que o empregado tenha domiclio ou aquela mais prxima; - O empregado brasileiro que trabalha em agncia ou filial no exterior poder impetrar ao trabalhista no Brasil (no local onde estiver situada a sede ou filial da empresa), desde que no haja conveno internacional dispondo em contrrio; 15

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- A terceira e ltima exceo regra geral aquela pertinente a empregador que promove a realizao de atividades fora do lugar do contrato de trabalho (exemplos: empresa construtora de pontes e estradas; circos; empresa teatral; empresa de nibus de linha intermunicipal ou interestadual etc.). Neste caso o empregado poder ajuizar a reclamao trabalhista no lugar da celebrao do contrato ou no da prestao dos respectivos servios.

No caso do trabalhador que labora no estrangeiro, preciso que ele seja brasileiro; alm disso, necessrio que a empresa possua sua sede ou, pelo menos, uma filial no Brasil (Carlos Henrique Bezerra Leite entende que no h necessidade); havendo tratado internacional ratificado pelo Brasil, prevalecer o disposto na norma internacional.

Vale ressaltar que o princpio da norma mais favorvel no se aplica quando o empregado tiver sido contratado por empresa estrangeira para laborar no exterior. Expliquemos. A Lei 7.064/82 dispe sobre a situao de trabalhadores contratados ou transferidos para prestar servios no exterior. Nos artigos 12 a 20, a referida Lei regula a contratao de trabalhador, por empresa estrangeira, para trabalhar no exterior, impondo, especificamente no art. 14, a incidncia da legislao trabalhista do pas da prestao dos servios, aplicao consagrada tambm na jurisprudncia (vide Smula 207 TST). Apesar de reconhecer a aplicabilidade da legislao trabalhista aliengena, a Lei 7.064/82 repassa diversos direitos ao empregado, fixando clusulas obrigatrias contratuais, tais como a assuno, pela empresa estrangeira, das despesas de viagem de ida e volta do trabalhador e dos seus dependentes, alm de fixar a permanncia mxima em trs anos, salvo se for assegurado ao obreiro o gozo de frias anuais no Brasil, com todas as despesas por conta do empregador. Diferente o caso do empregado transferido para o exterior. Empregado transferido aquele que passa a laborar em outro pas ou aquele que foi contratado por empresa sediada no Brasil para trabalhar a seu servio no exterior, ou seja, a transferncia pode ocorrer mesmo que o empregado no tenha trabalhado no Brasil, basta que seja contratado por empresa sediada no Brasil para laborar em outro pas. A legislao trabalhista do pas da prestao de servios, a priori, deve ser observada, porm, a Lei 7.064/82, no seu art. 3, II, prev que a aplicao da legislao trabalhista brasileira possvel, desde que mais favorvel do que a legislao territorial, no conjunto de normas e em relao a cada matria. A previso nada mais do que a consagrao, para o caso, da teoria do conglobamento mitigado, prestigiando a norma mais benfica, observando-se o tratamento de cada matria (direitos trabalhistas, tais como frias, 13 salrio, aviso prvio etc.). Para os 16

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empregados transferidos, alm da norma mais benfica, devem ser aplicadas as regras pertinentes previdncia social, ao PIS e ao FGTS. Aps dois anos de permanncia, o empregado transferido ter direito a gozar, anualmente, frias no Brasil, cujas despesas de viagem correro por conta do empregador.

No se admite o foro de eleio no contrato de trabalho (relao de emprego).

Modificaes da competncia em razo do lugar A competncia absoluta imutvel, salvo o disposto no artigo 87 do CPC. J a competncia relativa pode sofrer modificaes. J vimos, por exemplo, que pode ocorrer a prorrogao da competncia em razo do lugar, basta, para tanto, que a parte no oferte a exceo de incompetncia no prazo legal (prazo para a resposta do ru). A prorrogao, portanto, um tpico exemplo de modificao da competncia relativa. A competncia em razo do lugar tambm pode ser modificada por fora da conexo e da continncia.

Conexo reputam-se conexas duas ou mais aes quando lhes forem comum o objeto (pedido) ou a causa de pedir; neste caso o legislador visa prestigiar os princpios da economia e da segurana processuais, evitando, inclusive, decises contraditrias em lides resultantes da mesma controvrsia, o que poderia comprometer a credibilidade do Poder Judicirio; o juiz, de ofcio, o a requerimento da parte, deve reunir as aes conexas que estejam tramitando em juzos diversos (artigo 105 do CPC); a conexo vista como matria de ordem pblica;

Continncia ocorre a continncia entre duas ou mais aes sempre que h identidade quanto s partes e causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras (artigo 104 do CPC); idntica providncia quela da conexo deve ser adotada.

Como detectar, ento, qual o juzo competente, em caso de conexo ou continncia?

Pela preveno!

Considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar, quando os rgos possuem a mesma competncia territorial. Em caso de rgos que possuem competncia territorial diferente, a preveno se dar pela citao vlida. No processo do trabalho no h o despacho 17

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saneador, aquele em que o juiz determina a citao. Esta automtica, ou seja, enviada quando da propositura da demanda, pela secretaria ou pelo setor de distribuio. Assim sendo, a preveno no processo do trabalho se dar pela ordem da propositura da demanda. O juzo prevento, portanto, deve ser aquele em que a ao trabalhista foi protocolada em primeiro lugar.

Conflito de competncia (chamado pela CLT de conflito de jurisdio) um incidente processual que ocorre quando dois rgos proclamam-se competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para processar e julgar determinado processo. Tm legitimidade para suscitar conflito de competncia, nos termos do artigo 805 da CLT, os prprios juzos (rgos envolvidos), o Ministrio Pblico do Trabalho ou as partes interessadas. Caso a parte j tenha proposto exceo de incompetncia, no poder suscitar o conflito (precluso lgica).

4. Reclamao Trabalhista

Ao o direito pblico, autnomo e abstrato, constitucionalmente assegurado, de invocar a prestao jurisdicional do Estado.

Elementos da ao a) as partes; b) o pedido; e c) a causa de pedir.

As partes so os elementos subjetivos da ao. Quando h pluralidade de pessoas em um plo, ou nos dois, tem-se o chamado litisconsrcio (ativo, passivo ou misto). No processo trabalhista o autor denominado reclamante, enquanto que o ru denominado reclamado.

O pedido o elemento objetivo da ao, seu objeto. Objeto da ao exatamente o pedido, o qual delimitado na petio inicial. O pedido tem de ser certo e determinado (no procedimento sumarssimo deve ser tambm lquido).

A causa de pedir revela os motivos (as razes) do pedido. Na causa de pedir o autor (reclamante) demonstra os motivos fticos e jurdicos que justificam a invocao da tutela jurisdicional. No processo trabalhista se exige to-somente uma breve exposio dos fatos (artigo 840, 1, da CLT). Lembrem que o juiz conhece o direito (iura novit curia). No basta que o autor realize uma mera afirmao da relao jurdica material, sendo imprescindvel, portanto, que descreva os 18

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fatos (teoria da substanciao).

Dissdios individuais e dissdios coletivos Importante a distino dos dissdios individuais e coletivos. Nos dissdios individuais, o objeto a aplicao dos direitos individuais previstos no ordenamento jurdico (CF, Leis, CCT ou ACT, Sentena Normativa etc.). A ao de cumprimento, por exemplo, um tpico exemplo de dissdio individual, mesmo estando o sindicato no plo ativo da demanda (pleiteando exatamente a aplicao das determinaes previstas em uma norma coletiva). O objeto principal dos dissdios coletivos, por outro lado, a criao de novas condies de trabalho (dissdio coletivo de natureza econmica) ou a interpretao de determinada norma jurdica (dissdio coletivo de natureza jurdica). Uma caracterstica bsica dos dissdios coletivos a indeterminao dos sujeitos que so alcanados pela norma coletiva, ou seja, a sentena normativa aplicvel erga omnes (perante todos aqueles que pertenam ou venham a pertencer categoria profissional ou econmica). Observem:

Dissdio coletivo de natureza econmica o Tribunal do Trabalho (TRT ou TST) vai criar um direito novo, resolvendo a controvrsia coletiva dos grupos nela envolvidos Poder Normativo da Justia do Trabalho artigo 114, 2, da CF; a ao tem natureza constitutiva; o dissdio coletivo de natureza econmica pode ser originrio, revisional ou de extenso;

Dissdio coletivo de natureza jurdica o Tribunal do Trabalho vai apenas interpretar uma norma jurdica, declarando o sentido da norma j existente (norma preexistente que vigora no mbito de uma determinada categoria), ou seja, no vai criar direito; a ao meramente declaratria; incabvel para interpretar norma legal de carter geral para toda a classe trabalhadora;

5. Processo e procedimento

Processo o instrumento para a composio dos litgios. Em sentido estrito, o conjunto de atos processuais que se coordenam e se desenvolvem desde o ajuizamento da ao at o trnsito em julgado da sentena (processo de conhecimento).

Os sujeitos do processo so o reclamante (autor) e o reclamado (ru). No se deve confundir sujeitos do processo com sujeitos da lide, pois, em algumas situaes, no sero os mesmos. o caso da legitimao extraordinria (substituio processual). Na ao de cumprimento 19

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interposta por sindicato, por exemplo, os sujeitos da lide so os empregados e o empregador (ou empregadores), enquanto que os sujeitos do processo sero o sindicato da categoria profissional e o empregador ou empregadores.

Outras pessoas atuam no processo. So os auxiliares do Juzo diretor de secretaria, distribuidor, oficial de justia, perito, tradutor etc. So tidos como auxiliares permanentes. As testemunhas, os licitantes etc. so tidos como auxiliares eventuais.

Processo e procedimento distino = Processo nada mais do que o instrumento para a composio dos litgios. Em sentido estrito, o conjunto de atos processuais que se coordenam e se desenvolvem desde o ajuizamento da ao at o trnsito em julgado da sentena (processo de conhecimento). Em razo de vrios fatores (valor da causa, por exemplo), a forma com que o processo se desenvolve assume feies diferentes. Este desenho, este contorno, esta forma com que o processo se desenvolve, de acordo com determinados fatores, chamamos de procedimento. Logo, o procedimento a exteriorizao do processo (ou da relao processual). Tambm chamado de rito do processo, ou seja, o seu cerimonial, ou seu ritual.

No processo do trabalho temos basicamente dois tipos de procedimento: ordinrio e sumarssimo.

Procedimento Ordinrio o mais usual no processo do trabalho, regulado nos artigos 837 a 852 da CLT; a lei prev uma nica audincia, mas na prtica o rito vem se realizando em duas ou mais sesses, da a Smula 74 do TST.

A reclamao pode ser apresentada pelos empregados e empregadores, pessoalmente, ou por seus representantes, assim como pelos sindicatos de classe. A reclamao pode ser escrita ou verbal. Sendo escrita, dever conter a designao do rgo jurisdicional a quem for dirigida, a qualificao das partes, uma breve exposio dos fatos, o pedido e a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante. Se verbal, ser reduzida a termo, em duas vias datadas e assinadas pelo chefe de secretaria. Recebida e protocolada a reclamao, o chefe de secretaria (ou o distribuidor), dentro de 48 horas, remeter a segunda via da petio, ou do termo (neste caso o chefe de secretaria, exclusivamente) ao reclamado, notificando-o (citando-o) para comparecer audincia de julgamento (audincia nica), que ser a primeira desimpedida, depois de 5 dias. 20

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Logo, o prazo mnimo para a preparao da defesa de 5 dias (a defesa deve ser apresentada na audincia). A notificao (citao) ser feita em registro postal. Se o reclamado criar embaraos ao seu recebimento ou no for encontrado, far-se- a notificao (citao) por edital. Observem que a CLT no prev a citao por oficial de justia. Vide a Smula 16 do TST (a prova do no recebimento da notificao, ou do recebimento fora do prazo, incumbe ao destinatrio, pois presume-se recebida a notificao 48 horas depois de sua postagem). O reclamante ser notificado no ato da apresentao da reclamao ou na mesma forma do reclamado. O no comparecimento do reclamante audincia gera o arquivamento da reclamao. O no comparecimento do reclamado gera a revelia e a confisso quanto matria de fato. Vide a Smula 74 do TST (prevendo o no comparecimento das partes continuidade da audincia, quando a audincia no pde ser nica). O reclamado pode se fazer substituir por um preposto (o preposto deve ter conhecimento dos fatos; o TST entende que o preposto tem de ser empregado da empresa). O empregado pode se fazer representar por um colega ou pelo sindicato (tambm pelo advogado, se tiver), em caso de doena ou qualquer outro motivo poderoso, quando a audincia ser adiada. O juiz poder tambm adiar a audincia caso ocorra algum motivo relevante. As testemunhas comparecero independentemente de intimao observem, contudo, o artigo 825 da CLT. O primeiro ato do juiz, uma vez aberta a audincia, ser a propositura da conciliao (primeira tentativa de conciliao). So duas tentativas obrigatrias (uma antes da apresentao da defesa, outra aps as razes finais). Havendo acordo, ser lavrado o termo de conciliao judicial, o qual ser assinado pelas partes e pelo juiz. No havendo acordo, o reclamado ter vinte minutos para apresentar sua defesa (resposta do ru). Terminada a defesa, seguir-se- a instruo do feito (interrogatrio das partes, depoimento das testemunhas e produo de outras provas). Terminada a instruo, as partes podero aduzir razes finais (10 minutos para cada). Aps as razes finais, como j dito, o juiz renovar a proposta de conciliao. A ata de audincia deve ser assinada pelo juiz e autuada em 48 horas. Vide o 1 do artigo 851 procedimento sumrio (ou de alada). A deciso (em tese) ser prolatada na prpria audincia, na qual os litigantes, ou seus representantes, sero notificados.

Procedimento sumarssimo (artigos 852-A a 852-I da CLT) assim podemos resumir o procedimento sumarssimo: a) aplicvel apenas para dissdios individuais at 40 salrios mnimos, que no envolvam a Fazenda Pblica; b) a citao por edital no admitida, restando apenas a citao postal (na prtica os juzes vm fazendo uso da citao por oficial de justia); c) o pedido, alm de certo e determinado, tem de ser lquido; d) a apreciao da reclamao deve se 21

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dar em 15 dias, no mximo, podendo constar de pauta especial; e) ser realizada uma nica audincia, salvo justo motivo, como, por exemplo, a realizao de percia; f) realizando-se a percia, as partes disporo de prazo comum de cinco dias para falar sobre o laudo, devendo ser observado o lapso mximo de 30 dias entre a interrupo da audincia e o seu prosseguimento, no caso de percia; g) cada parte s poder apresentar duas testemunhas, as quais comparecero independentemente de intimao (s ser deferida intimao de testemunha que,

comprovadamente convidada, deixar de comparecer); h) sero decididos de plano os incidentes e as excees; i) na ata de audincia sero resumidos os atos essenciais; j) o juiz tem ampla liberdade na conduo do processo, devendo, uma vez aberta a audincia, propor a conciliao, a qual deve ser renovada ao longo da assentada; l) no h previso para razes finais; m) todas as provas sero produzidas em audincia; n) fica dispensado o relatrio sentencial.

Servios Auxiliares da Justia do Trabalho.

Cada Vara do Trabalho ter um diretor.

O Cdigo de Processo Civil chama de escrivo. Na Justia do Trabalho se costuma chamar de diretor de secretaria ou chefe de secretaria.

Cabe Secretaria da Vara receber, autuar, dar andamento, guardar e conservar os autos processuais e outros papis protocolados ou encaminhados, alm de manter o protocolo de entrada e sada de processos e outros papis. Compete Secretaria, ainda, o registro das decises, a prestao de informaes s partes interessadas e aos advogados, o fornecimento de certides e outras diligncias processuais.

A superintendncia dos trabalhos da Secretaria cabe ao diretor de secretaria, cumprindo as ordens do juiz do trabalho. A competncia da secretaria e do chefe de secretaria se encontra insculpida nos artigos 711 e 712 da CLT.

Nas localidades em que existir mais de uma Vara do Trabalho haver um distribuidor. A distribuio serve exatamente para evitar a escolha de um juiz pela parte, preservando a imparcialidade. A distribuio deve seguir a ordem de entrada (1 Vara, 2 Vara etc.). A competncia do distribuidor se encontra no artigo 714 da CLT. 22

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A distribuio vem ordenada nos artigos 783 a 788 da CLT. O distribuidor deve fornecer ao interessado um recibo, do qual constaro, essencialmente, o nome do reclamante e do reclamado, a data da distribuio, o objeto da reclamao e a Vara do Trabalho a que coube a distribuio. Lembrem que a reclamao verbal ser distribuda antes de sua reduo a termo, e, uma vez distribuda, o reclamante dever, salvo motivo de fora maior, apresentar-se no prazo de cinco dias, ao cartrio o secretaria da Vara, para reduzi-la a termo, sob pena de perder, pelo prazo de seis meses, o direito de reclamar perante a Justia do Trabalho artigos 786 e 731 da CLT.

Aos oficiais de justia incumbe a realizao de atos decorrentes da execuo dos julgados. Os oficiais de justia, na Justia do Trabalho, tambm so avaliadores, ou seja, tm competncia para avaliar os bens objeto da penhora. O oficial de justia no realiza apenas atos de execuo, atuando nas notificaes e intimaes (na prtica).

A CLT dispe que o oficial de justia tem, em regra, o prazo de nove dias para o cumprimento do ato ( 2 do art. 721), salvo em se tratando de avaliao, quando o prazo ser de dez dias (3 do art. 721 c/c art. 888 da CLT).

Atos. Termos e Prazos processuais

No processo trabalhista as partes so chamadas geralmente de reclamante e reclamado.

Em algumas aes especiais, como, por exemplo, na ao de consignao em pagamento, so chamados de consignante e consignado; reconveno (reconvinte e reconvindo); embargos de terceiro (embargante e embargados) etc.

A CLT trata dos atos, termos e prazos processuais nos artigos 770 a 782.

Todos os atos processuais trabalhistas devem ser pblicos (princpio da publicidade art. 93, IX, da CF). Somente em casos excepcionais se admite que o processo corra em segredo de justia, assim mesmo quando o interesse pblico ou social o determinar. So exemplos: lides que envolvam assdio moral, danos morais em virtude de discriminao etc. Cabe ao magistrado verificar se o processo deve ou no seguir em segredo de justia. 23

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Os atos processuais trabalhistas devem ser realizados nos dias teis, das 6 s 20 horas artigo 770 da CLT. As audincias, contudo, devem ser realizadas das 8 s 18 horas, no podendo ultrapassar 5 horas seguidas, salvo quando houver matria urgente artigo 813 da CLT.

Os termos e atos processuais podero ser escritos a tinta, datilografados ou a carimbo. A Lei 9.800/99 permite a transmisso de dados e imagens por fac-smile ou afim nos atos processuais que dependem de petio escrita (os originais devem ser protocolados at cinco dias do prazo para a prtica do respectivo ato) vide Smula 387 do TST.

Smula 387 do TST Recurso. Fac-smile. Lei n 9.800/1999. I A Lei n 9.800/1999 aplicvel somente a recursos interpostos aps o incio de sua vigncia. II A contagem do qinqdio para apresentao dos originais de recurso interposto por intermdio de fac-smile comea a fluir do dia subseqente ao trmino do prazo recursal, nos termos do art. 2 da Lei 9.800/1999, e no do dia seguinte interposio do recurso, se esta se deu antes do termo final do prazo. III No se tratando a juntada dos originais de ato que dependa de notificao, pois a parte, ao interpor o recurso, j tem cincia de seu nus processual, no se aplica a regra do art. 184 do CPC quanto ao dies a quo, podendo coincidir com sbado, domingo ou feriado.

Atualmente os atos processuais tambm so praticados via internet, onde o advogado utiliza uma senha pessoal e intransfervel.

No processo trabalhista a comunicao dos atos processuais feita pela notificao. o termo mais usado, abrangendo, muitas vezes, a intimao e a citao. A citao, no processo civil, o ato de chamamento do ru para apresentar sua resposta. No processo trabalhista no h esse rigor terminolgico.

A notificao pode ser feita por postagem (via Correios), pessoalmente (por intermdio do oficial de justia) (no h previso expressa na CLT, salvo para o processo de execuo, onde o mandado de citao deve ser cumprido por oficial de justia), por publicao do edital no Dirio Oficial ou por afixao do edital na sede da Vara do Trabalho ou TRT.

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Quando a parte estiver representada por advogado, a notificao remetida ao endereo do profissional, o qual deve mant-lo atualizado nos autos.

Os prazos processuais podem ser:

a) legais fixados pela prpria lei (exemplos: prazo para interposio de recursos; prazo para oferecer defesa oral etc.); b) judiciais fixados pelo juiz do trabalho (prazo para o perito apresentar o laudo tcnico; prazo para a parte se pronunciar sobre um determinado documento juntado pela parte adversa etc.); c) convencionais os que podem ser objeto de acordo entre as partes (suspenso do processo para tentativa de acordo, observando-se o mximo de seis meses etc.).

No havendo preceito legal nem assinao pelo juiz, ser de cinco dias o prazo para a prtica de ato processual a cargo da parte.

As pessoas jurdicas de direito pblico (Fazenda Pblica) tm prazo em qudruplo para contestar e em dobro para recorrer. O Ministrio Pblico tambm tem prazo em dobro para recorrer art. 188 do CPC.

O TST entende inaplicvel ao processo do trabalho a regra do artigo 191 do CPC (litisconsortes com diferentes procuradores prazo em dobro) vide OJ 310 SDI-1.

Os prazos previstos aos juzes e servidores do Poder Judicirio so tidos como imprprios, pois no atraem a precluso (perda da oportunidade de praticar um ato processual). Sendo assim, mesmo praticados intempestivamente, so vlidos. O descumprimento reiterado e sem justificativa de prazos processuais destinados a juzes e servidores pode implicar sanes de ordem disciplinar.

A contagem dos prazos feita com base nos artigos 774 e 775 da CLT. O prazo contado com a excluso do dia do comeo e a incluso do dia do vencimento. No se deve confundir o incio do prazo com o incio da contagem. O incio do prazo que se costuma chamar de dies a quo, sendo aquele em que o interessado toma cincia do ato processual a ser praticado (dies a quo non computatur in termino o dia do comeo no se computa no prazo). O incio da 25

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contagem do prazo ocorre no dia seguinte ao do incio do prazo, ou seja, a contagem do prazo processual inicia-se no dia seguinte ao da cincia do ato processual pelo interessado. Se o incio do prazo se deu em uma sexta-feira, o incio da contagem se dar na segunda-feira. Caso o incio do prazo tenha ocorrido no sbado, o incio da contagem ocorrer na tera-feira, pois o sbado e o domingo, neste caso, sero desprezados. O trmino do prazo chama-se dies ad quem (dies ad quem computatur in termino o dia do vencimento inclui-se no prazo).

Os prazos so contnuos e irrelevveis, podendo, entretanto, ser prorrogados pelo tempo estritamente necessrio pelo juiz ou tribunal, ou em virtude de fora maior, devidamente comprovada. A regra geral a de que o prazo legal ou judicial contnuo, no se interrompendo nos feriados. Pode ocorrer, contudo, a suspenso ou a interrupo do prazo.

D-se a suspenso quando se paralisa a contagem do prazo processual, recomeando a contagem, ou seja, do estado em que parou, a partir da cessao da causa suspensiva. Para alguns doutrinadores o recesso forense suspende o prazo processual. Assim tambm entende o TST, mediante a Smula 262.

SMULA N 262 DO TST PRAZO JUDICIAL. NOTIFICAO OU INTIMAO EM SBADO. RECESSO FORENSE. I - Intimada ou notificada a parte no sbado, o incio do prazo se dar no primeiro dia til imediato e a contagem, no subseqente. II - O recesso forense e as frias coletivas dos Ministros do Tribunal Superior do Trabalho (art. 177, 1, do RITST) suspendem os prazos recursais.

Na interrupo o prazo devolvido integralmente parte interessada, como se ele nunca tivesse iniciado. Um bom exemplo de interrupo a interposio do recurso de embargos declaratrios, interrompendo o prazo do recurso ordinrio.

O vencimento dos prazos processuais deve ser certificado nos autos pelos diretores de secretaria artigo 776 da CLT.

Defesa do reclamado

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A CLT fala em defesa, no especificando os meios. certo, porm, que nos artigos 799 a 802, a CLT trata das excees de incompetncia em razo do lugar e de suspeio. Vimos que o prazo para a preparao da defesa de no mnimo 5 dias (no mnimo 20 dias para a Fazenda Pblica e o Ministrio Pblico artigo 188 do CPC). A defesa, no processo do trabalho, apresentada em audincia, dispondo o reclamado de 20 minutos (na prtica o reclamado geralmente apresenta defesa escrita).

O CPC (artigo 297) diz que o ru, aps a citao, poder oferecer exceo, contestao e reconveno. Logo, a resposta do reclamado pode abranger as trs possibilidades.

Entendemos que no processo do trabalho os 20 minutos abrangem o tempo total de defesa, ou seja, se o reclamado quiser ofertar as trs respostas (exceo, contestao e reconveno), dever faz-lo naquele prazo, sob pena de precluso artigo 847 da CLT.

Somente a exceo e a contestao podem ser consideradas como defesa, pois a reconveno um verdadeiro contra-ataque do reclamado em face do reclamante. A reconveno, portanto, uma verdadeira ao do ru contra o autor.

Exceo Trata-se de defesa indireta, ora visando demonstrar a incompetncia relativa do juzo, ora levantando a suspeio ou o impedimento do juiz. Lembrem que a incompetncia relativa, no processo do trabalho, se encontra restrita incompetncia em razo do lugar. bom lembrar que a incompetncia absoluta (em razo da matria, em razo da pessoa e funcional) deve ser suscitada na contestao (como preliminar de mrito). Pois bem. A CLT prev duas excees: a) exceo de incompetncia em razo do lugar (artigos 799 e 800); b) exceo de suspeio (artigos 801 e 802). Apresentada a exceo de incompetncia, abrir-se- vista dos autos ao exceto, por 24 horas improrrogveis, devendo a deciso ser proferida na primeira audincia ou sesso que se seguir. Quanto exceo de suspeio, o juiz designar audincia dentro de quarenta e oito horas, para instruo e julgamento. Importante salientar que qualquer exceo, no procedimento sumarssimo, deve ser decidida de plano, na prpria audincia. O rol do artigo 801 da CLT tmido, merecendo ser complementado pelas regras do processo comum artigo 769 da CLT. Na poca em que a CLT foi editada estava em vigor o CPC de 1939, o qual no distinguia suspeio e impedimento. O CPC de 1973 consagrou a distino, realando a melhor tcnica processual. A matria vem regulada nos artigos 134 a 138 do CPC. Apenas o impedimento que 27

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desafia ao rescisria artigo 485, II, do CPC. O prprio juiz apreciar as excees (na exceo de suspeio no h contraditrio, pois o exceto o juiz).

Contestao Contestar significa negao, resistncia. A lide o conflito de interesses qualificado pela pretenso resistida. A pretenso vem corporificada na petio inicial, enquanto que a resistncia direta pretenso vem insculpida na contestao. No significa que o reclamado no possa levantar matrias preliminares. Deve, luz da norma do artigo 301 do CPC. O artigo 300 do CPC diz que compete ao ru alegar, na contestao, toda a matria de defesa, expondo as razes de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir. Entende-se que no se aplica no processo do trabalho a parte final do artigo 300, pois o artigo 845 da CLT dispe que as partes devero comparecer audincia acompanhadas de suas testemunhas, apresentando, na ocasio, as demais provas. O reclamado tambm dever argir na contestao, se for o caso, a reteno ou a compensao artigo 767 da CLT.

Reconveno Trata-se de uma ao do reclamado (reconvinte) contra o reclamante (reconvindo). Apresentada a reconveno, ocorrer uma verdadeira cumulao objetiva de aes (ao principal e ao reconvencional) no mesmo processo. A CLT no prev a reconveno. Aplica-se o artigo 315 do CPC, que dispe que o ru pode reconvir ao autor no mesmo processo toda vez que a reconveno seja conexa com a ao principal ou com o fundamento da defesa. O reclamante/reconvindo dever ofertar contestao reconveno na audincia que se seguir (o oferecimento de reconveno fora o adiamento da audincia). O juiz apreciar na mesma sentena a ao principal e a ao reconvencional. A desistncia da ao principal no afeta o prosseguimento da reconvencional.

Das provas

Apenas os fatos que devem ser provados. O Cdigo de Processo Civil, porm, faz uma ressalva. Em se tratando de direito consuetudinrio (costumeiro), estrangeiro, estadual ou municipal, a parte que alegar provar-lhe- o teor e a vigncia, se assim o juiz determinar. Logo, em alguns casos ser necessria a prova do direito vide o artigo 337 do CPC.

Chama-se instruo a fase do processo de conhecimento em que so colhidas as provas. A 28

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instruo est regulada basicamente nos artigos 818 a 830 da CLT. Em face da simplicidade do texto consolidado, em algumas situaes ser imprescindvel o auxlio do processo comum artigos 332 a 443 do CPC.

Prova meio lcito (artigo 5, LVI, da CF) para demonstrar a verdade ou no de determinado fato (ou, em casos excepcionais, para demonstrar o teor e a vigncia de direito consuetudinrio, estrangeiro, estadual ou municipal).

Alguns princpios so citados pela doutrina.

Princpio do contraditrio e da ampla defesa as partes tm o direito de se manifestar reciprocamente sobre as provas apresentadas.

Princpio da unidade da prova a prova deve ser examinada em seu conjunto, formando um todo unitrio; tambm conhecido como princpio da indivisibilidade da prova, ou seja, a parte no pode aproveitar apenas a fatia da prova que lhe interessar, desprezando o restante.

Princpio da comunho das provas a prova no serve apenas para a parte que a produziu, alcanando a outra, em face da comunho que a marca; no deixa de ser um reflexo do princpio da indivisibilidade.

Princpio da proibio da prova obtida ilicitamente so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos; em algumas situaes, contudo, prevalece o princpio da proporcionalidade, segundo o qual no se deve chegar ao extremo de negar validade a toda e qualquer prova obtida por meios ilcitos, principalmente se a prova nica e envolve direitos indisponveis.

Princpio do livre convencimento motivado ou persuaso racional consagrado pelo ordenamento jurdico brasileiro, no qual o juiz forma a sua convico apreciando livremente o valor das provas, devendo, contudo, motivar a sua deciso artigo 93, IX, da CF vide tambm os artigos 131 do CPC e 765 e 832 da CLT; vale lembrar: o que no est nos autos, no est no mundo.

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Princpio da oralidade no processo do trabalho, as provas so produzidas na audincia, na presena do juiz vide artigo 845 da CLT.

Princpio da imediao o juiz tem ampla liberdade na conduo do processo (artigo 765 da CLT), sendo a ele dirigida a prova vide artigos 130 do CPC e 848 e 852-D da CLT.

Dissemos que apenas os fatos devem ser provados, salvo as excees do artigo 337 do CPC. Pois bem. H de se destacar que nem todos os fatos precisam de prova. O artigo 334 do CPC diz que no dependem de prova os fatos notrios. Tambm no precisam ser provados os fatos afirmados por uma parte e confessados pela outra, alm daqueles admitidos como incontroversos, e, por fim, sobre os quais milita presuno legal de existncia ou de veracidade.

Fatos notrios inseridos no conhecimento mediano da sociedade, como, por exemplo, o fato de o dia 25 de dezembro ser feriado nacional, ou que determinada empresa da regio uma indstria de alimentos, ou, ainda, que no final do ano as vendas no comrcio aumentam etc.

Fatos confessados e incontroversos a confisso, como se diz, a rainha das provas; incontroverso o fato admitido no processo, independentemente de alegao ou confirmao das partes (o reclamado no nega a alegao do reclamante de que foi dispensado sem justa causa, fazendo com que o fato reste incontroverso vide artigo 302 do CPC).

Fatos cuja existncia legalmente presumida o reclamante no precisa provar, por exemplo, o vcio de vontade quanto renncia ao direito de frias, pois se trata de direito irrenuncivel (impera a presuno de que a renncia viciada).

nus da prova O artigo 818 da CLT define que o nus de provar as alegaes incumbe parte que as fizer. O artigo 333 do CPC mais completo, fixando que cabe ao autor a prova dos fatos constitutivos do seu direito e ao ru a prova dos fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito do autor. Logo, a mera negativa do reclamado no precisa ser provada (Manoel Antonio Teixeira Filho entende que o fato negativo tambm merece ser provado). Porm, se o reclamado levanta um fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do reclamante, sobre ele incidir o fardo probante.

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Sobre cartes de ponto vide a Smula 338 do TST.

- nus do empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, 2, da CLT. A no-apresentao in-justificada dos controles de freqncia gera presuno relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrrio. (ex-Smula n 338 alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003) II - A presuno de veracidade da jornada de trabalho, ainda que prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por prova em contrrio. (ex-OJ n 234 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001) Smulas A-100 III - Os cartes de ponto que demonstram horrios de entrada e sada uniformes so invlidos como meio de prova, invertendo-se o nus da prova, relativo s horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele no se desincumbir.

Importante, ainda, destacar a Smula 212 TST:

O nus de provar o trmino do contrato de trabalho, quando negados a prestao de servio e o despedimento, do empregador, pois o princpio da continuidade da relao de emprego constitui presuno favorvel ao empregado.

Meios de prova depoimento pessoal; confisso real e ficta; testemunha; documento; percia e inspeo judicial.

Depoimento pessoal No processo do trabalho, terminada a defesa, seguir-se- a instruo do processo, podendo o juiz interrogar os litigantes artigo 848 da CLT. Entendemos que no cabe a aplicao do artigo 343 do CPC, ou seja, no processo do trabalho a parte poder at requerer a oitiva da outra, porm, caber to-somente ao juiz decidir sobre a necessidade ou no da realizao do ato. Mesmo diante do artigo 820 da CLT, no nos parece que a parte tenha o direito de ouvir a parte adversa. Nos termos da jurisprudncia, no processo do trabalho a realizao ou no do interrogatrio dos litigantes apenas uma faculdade do julgador, no configurando cerceamento de defesa o indeferimento motivado do pedido, pois o juiz tem ampla liberdade na conduo do processo artigo 765 da CLT.

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Confisso Do depoimento pessoal pode nascer a confisso, real ou ficta. A confisso chamada de rainha das provas. A confisso real goza de presuno absoluta artigo 354 do CPC. A ficta confisso, por outro lado, goza de presuno juris tantum (relativa), prevalecendo apenas se no houver outros meios probatrios capazes de elidi-la. O no-comparecimento da parte audincia em que deveria prestar seu depoimento pessoal, desde que devidamente intimada para tal fim, gera a ficta confisso quanto matria de fato, nos termos da Smula 74 do TST. A confisso ficta tambm se revela quando a parte se recusa a responder s perguntas ou quando afirma desconhecer ou ignorar os fatos.

Prova testemunhal Em razo do princpio da primazia da realidade sobre a forma, o qual norteia o direito do trabalho, a prova testemunhal possui grande relevncia no processo do trabalho. Inaplicvel, pois, no processo laboral, a regra do artigo 401 do CPC. No podem ser testemunhas as pessoas incapazes, impedidas ou suspeitas. Sendo estritamente necessrio, o juiz ouvir testemunhas impedidas ou suspeitas, cujos depoimentos sero prestados sem compromisso, atribuindo o valor que possam merecer vide tambm o artigo 829 da CLT. So incapazes o interdito por demncia, aquele acometido por enfermidade ou debilidade mental (na poca dos fatos ou ao tempo do depoimento), o menor de 16 anos, e, por fim, o cego e o surdo, quando a cincia do fato depender dos sentidos que lhes faltam. As testemunhas impedidas e suspeitas se encontram no rol dos 2 e 3 do artigo 405 do CPC. No h rol de testemunhas no processo do trabalho, pois a parte comparecer audincia acompanhada de suas testemunhas (caso a testemunha no comparea, o juiz determinar a sua intimao) artigo 825 da CLT.

Prova documental Os documentos do reclamante devem acompanhar a petio inicial, enquanto que os documentos do reclamado devem acompanhar a defesa. Na prtica, o juiz costuma conceder prazo para a produo de prova documental. Em sede recursal, a juntada de documentos s admitida excepcionalmente Smula 8 do TST. Alguns documentos no podem ser supridos, salvo pela confisso, tais como aviso e recibo de frias, recibos de salrio, acordo de prorrogao de jornada, termo de resciso do contrato de trabalho etc. As anotaes da carteira de trabalho geram presuno juris tantum Smula 12 do TST. As cpias podem ser autenticadas pelo prprio advogado vide atual redao do artigo 830 CLT.

Prova pericial Quando a prova de determinado fato depender de conhecimentos tcnicos ou cientficos, o juiz poder designar um perito (auxiliar da justia) vide artigo 145 do CPC. O 32

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perito poder escusar-se, por justo motivo, do encargo. O CPC regula a produo da prova pericial nos artigos 420 a 439. Os peritos esto sujeitos aos mesmos impedimentos e suspeies dos magistrados artigo 138, III, do CPC. A prova pericial no processo do trabalho poder ser requerida pela parte ou determinada, de ofcio, pelo magistrado, sendo, a percia, realizada por perito nico, designado pelo juiz (Lei 5.584/70 artigo 3). Quando se tratar de pedido de adicional de insalubridade ou periculosidade, o juiz estar obrigado a determinar a realizao da percia, mesmo diante da revelia artigo 195, 2, da CLT. No procedimento sumarssimo, entre a suspenso da audincia e a sua retomada, para fins de produo de prova pericial, deve o juiz observar o prazo mximo de trinta dias artigo 852-H da CLT. Os honorrios periciais sero devidos por aquele que sucumbir em razo do objeto da percia, ressaltando que os benefcios da justia gratuita alcanam tambm os honorrios periciais artigo 790-B da CLT. O assistente indicado pela parte ser pago pela prpria parte, independentemente do resultado da percia vide Smula 341 TST.

Das custas no Processo do Trabalho

A CLT, quanto a custas e emolumentos, sofreu diversas alteraes, decorrentes da Lei 10.537 de 27.08.2002, inclusive no que pertine denominao da Seo III, constituda pelos artigos 789 a 790-B.

Custas no processo de conhecimento (artigo 789 da CLT) Sero pagas pelo vencido, aps o trnsito em julgado da deciso, salvo no caso de recurso, quando devero ser pagas e comprovadas dentro do prazo recursal. Para o empregador ser considerado vencido basta que perca um s objeto da ao, ou seja, o empregado s ser sucumbente se perder tudo. Nos dissdios coletivos, as partes vencidas respondero solidariamente pelo pagamento das custas, calculadas sobre o valor arbitrado na deciso, ou pelo Presidente do Tribunal. As custas no processo de conhecimento correspondem a 2% sobre o valor da condenao, observado o mnimo de R$ 10,64 (em caso de sentena ilquida, o juiz deve arbitrar o valor da condenao). Quando houver acordo, as custas incidiro sobre o respectivo valor, devendo constar do termo a quem incumbir o recolhimento, sob pena de serem pagas em partes iguais pelos litigantes. Em caso de extino do processo sem julgamento do mrito, ou julgado totalmente improcedente o pedido, assim como na procedncia do pedido formulado em ao declaratria ou constitutiva, as custas sero calculadas sobre o valor da causa. 33

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Custas no processo de execuo (artigo 789-A da CLT) As custas sero sempre de responsabilidade do executado, e pagas ao final. O referido artigo constitudo de uma tabela de custas. Destacamos: agravo de petio, agravo de instrumento, embargos execuo, embargos de terceiro e embargos arrematao = R$ 44,26. Recurso de revista e impugnao sentena de liquidao = R$ 55,35.

Emolumentos So outras despesas previstas pela lei artigo 789-B da CLT. Exemplos: fotocpia de peas por folha = R$ 0,28; certides por folha = R$ 5,53 etc.

Honorrios periciais A responsabilidade pelo pagamento dos honorrios periciais da parte sucumbente na pretenso objeto da percia, salvo se beneficiria da justia gratuita artigo 790-B da CLT. Os honorrios do assistente indicado por uma das partes so de responsabilidade da parte que o indicou Smula 341 TST.

Justia gratuita Benefcio previsto no 3 do artigo 790 da CLT. Cabe ao juiz a faculdade de conceder, a requerimento ou de ofcio, o dito benefcio, alcanando traslados e instrumentos. Para tanto, o juiz observar se o litigante percebe salrio igual ou inferior ao dobro do mnimo legal ou se a parte declarou, sob as penas da lei, no ter condies de arcar com as despesas processuais, sem prejuzo do prprio sustento ou de sua famlia (a declarao pode ser feita pelo prprio advogado, na petio inicial). O empregador tambm pode ser beneficirio da justia gratuita, mas o TST vem entendendo que o benefcio no pode favorecer pessoa jurdica. O inciso VII do artigo 3 da Lei 1.060/50 estendeu o benefcio da justia gratuita ao depsito recursal. Podemos dizer, portanto, que o beneficirio da justia gratuita fica isento de: a) custas; b) emolumentos; c) honorrios periciais; d) depsito recursal; e) depsito prvio de ao rescisria (artigo 836 CLT).

Honorrios advocatcios Prevalece o entendimento que a condenao ao pagamento de honorrios advocatcios, nunca superiores a 15%, no decorre pura e simplesmente da sucumbncia, devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria profissional, comprovando a percepo de salrio inferior ao dobro do salrio-mnimo ou declarando no ter condies de demandar sem prejuzo do prprio sustento ou da sua famlia (ou seja, ser beneficiria da justia gratuita) Smula 219 do TST, confirmada pela Smula 329, tambm 34

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do TST. Importante observar que o fato de o empregado ser beneficirio da justia gratuita no atrai, por si s, o direito a honorrios advocatcios ( o caso de ser beneficirio e estar assistido por advogado particular, no havendo que se pensar em honorrios advocatcios). Apenas o sindicato da categoria profissional, quando estiver prestando assistncia judiciria, que far jus a honorrios advocatcios sucumbenciais, nunca superiores a 15%, desde que, naturalmente, o obreiro no perca toda a ao (sucumbncia total). Observem os artigos 14 e seguintes da Lei 5.584/70. Em caso de empregado assistido por sindicato, que no tenha obtido os benefcios da justia gratuita, uma vez sucumbente, o sindicato responder solidariamente pelo pagamento das custas devidas.

A IN 27/2005 do TST terminou consagrando os honorrios advocatcios sucumbenciais, independentemente dos requisitos supra referidos, quando a lide decorrer de outra relao de trabalho.

Segue, na ntegra, a IN 27/2005 do TST:

Instruo Normativa 27/2005 do TST

Art. 1 As aes ajuizadas na Justia do Trabalho tramitaro pelo rito ordinrio ou sumarssimo, conforme previsto na Consolidao das Leis do Trabalho, excepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurana, Habeas Corpus, Habeas Data, Ao Rescisria, Ao Cautelar e Ao de Consignao em Pagamento. Art. 2 A sistemtica recursal a ser observada a prevista na Consolidao das Leis do Trabalho, inclusive no tocante nomenclatura, alada, aos prazos e s competncias. Pargrafo nico. O depsito recursal a que se refere o art. 899 da CLT sempre exigvel como requisito extrnseco do recurso, quando houver condenao em pecnia. Art.3 Aplicam-se quanto s custas as disposies da Consolidao das Leis do Trabalho. 1 As custas sero pagas pelo vencido, aps o trnsito em julgado da deciso. 2 Na hiptese de interposio de recurso, as custas devero ser pagas e comprovado seu recolhimento no prazo recursal (artigos 789, 789-A, 790 e 790-A da CLT). 3 Salvo nas lides decorrentes da relao de emprego, aplicvel o princpio da 35

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sucumbncia recproca, relativamente s custas. Art. 4 Aos emolumentos aplicam-se as regras previstas na Consolidao das Leis do Trabalho, conforme previso dos artigos 789-B e 790 da CLT. Pargrafo nico. Os entes pblicos mencionados no art. 790-A da CLT so isentos do pagamento de emolumentos. (acrescentado pela Resoluo n 133/2005) Art. 5 Exceto nas lides decorrentes da relao de emprego, os honorrios advocatcios so devidos pela mera sucumbncia. Art. 6 Os honorrios periciais sero suportados pela parte sucumbente na pretenso objeto da percia, salvo se beneficiria da justia gratuita. Pargrafo nico. Faculta-se ao juiz, em relao percia, exigir depsito prvio dos honorrios, ressalvadas as lides decorrentes da relao de emprego.

Iseno de custas (artigo 790-A) No se confunde justia gratuita, que um benefcio a ser concedido pelo juiz, com iseno de custas, que um direito daqueles contemplados pela lei. So isentos de custas no processo do trabalho: a Unio, os Estados, os Municpios, o Distrito Federal, suas autarquias e fundaes pblicas que no explorem atividade econmica, alm do Ministrio Pblico do Trabalho. A iseno no alcana as entidades fiscalizadoras do exerccio profissional, nem tampouco exime a Fazenda Pblica da obrigao de reembolsar as despesas realizadas pela parte vencedora (tal reembolso no afeta a iseno, pois no haver recolhimento de custas, apenas indenizao para com a outra parte). A massa falida tambm isenta de custas Smula 86 do TST.

Da deciso

O artigo 162 do CPC diz que os atos do juiz consistiro em sentenas, decises interlocutrias e despachos.

Sentena o ato pelo qual o juiz pe termo ao processo, decidindo ou no o mrito da causa.

Quando decide o mrito da causa, prolata uma sentena de mrito, tambm chamada de sentena definitiva. Apenas a sentena definitiva que pode desaguar na coisa julgada material.

Quando no decide o mrito da causa, o juiz extingue o processo sem julgamento do mrito 36

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(artigo 267 do CPC), proferindo uma sentena terminativa do feito, a qual no transita em julgado (diz-se que faz coisa julgada formal).

Decidindo o mrito da causa, o juiz resolver o processo meritoriamente artigo 269 do CPC.

O termo de conciliao judicial, apesar de no ter natureza de sentena, tem fora de deciso judicial, uma vez homologado pelo juiz.

O juiz no obrigado a homologar um termo de conciliao, pois pode no concordar com o ajuste Smula 418 TST.

Observem que a transao judicial extingue o processo com julgamento do mrito artigo 269, III, do CPC. Por essa razo o TST vem entendendo que o nico meio para atacar o termo de conciliao judicial homologado pelo juiz a ao rescisria vide Smula 259 do TST.

A prpria CLT consagra o termo de conciliao judicial como deciso irrecorrvel para as partes.

A Unio Federal, contudo, pode recorrer de um termo de conciliao judicial, quanto s contribuies previdencirias decorrentes do acordo pargrafo nico do artigo 831 e artigo 832 da CLT.

A sentena deve mencionar as custas e a responsabilidade por seu recolhimento. Alm disso, deve indicar a natureza jurdica das parcelas constantes da condenao, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuio previdenciria. A indicao da natureza e o limite de responsabilidade das partes devem constar tambm do termo de conciliao judicial.

As partes sero notificadas das decises na prpria audincia em que forem proferidas Smula 197 do TST.

A Unio Federal ser intimada, mediante oficial de justia (intimao pessoal), dos termos de conciliao que contenham parcela indenizatria, sendo-lhe facultada interpor recurso relativo s 37

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contribuies que lhe forem devidas.

Caso o juiz no discrimine as verbas em um acordo, as contribuies previdencirias sero calculadas sobre o montante do acordo OJ 368 SDI-1.

Deciso interlocutria o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questo incidente, no pondo fim ao processo.

As decises interlocutrias, no processo do trabalho, so irrecorrveis de imediato artigo 893, 1, da CLT. O TST, mediante a Smula 214, prev algumas excees, admitindo, por exemplo, recurso ordinrio de imediato quando o acolhimento da exceo de incompetncia em razo do lugar resultar na remessa dos autos a TRT distinto daquele a que se vincula o juzo excepcionado. Segue o inteiro teor da referida Smula:

DECISO INTERLOCUTRIA. IRRECORRIBILIDADE - Nova redao - Res. 127/2005, DJ 16.03.2005. Na Justia do Trabalho, nos termos do art. 893, 1, da CLT, as decises interlocutrias no ensejam recurso imediato, salvo nas hipteses de deciso: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrria Smula ou Orientao Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetvel de impugnao mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceo de incompetncia territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juzo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, 2, da CLT.

Despachos so todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofcio ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei no estabelece outra forma.

Os atos meramente ordinatrios, como a juntada e a vista obrigatria, independem de despacho, devendo ser praticados de ofcio pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessrios.

6. Recursos no Processo do Trabalho

A matria tratada nos artigos 893 a 901 da CLT.

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Impera, quanto aos recursos, o princpio da taxatividade, ou seja, os recursos admitidos so aqueles previstos no ordenamento jurdico. Isso no significa, porm, que todos os recursos do processo do trabalho estejam taxativamente relacionados no rol do artigo 893 da CLT.

Com efeito, o mencionado artigo diz que Das decises so admissveis os seguintes recursos: I embargos; II recurso ordinrio; III recurso de revista e IV agravo.

A Lei 5.584/70 prev o chamado pedido de reviso do valor da causa, a ser ofertado em 48 horas, quando o juiz do trabalho mantiver o quantum, rejeitando a impugnao ofertada em razes finais.

Cabvel, por outro lado, no processo do trabalho, o recurso extraordinrio ao STF, no prazo de 15 dias.

O recurso adesivo, previsto no artigo 500 do CPC, tambm aplicvel em sede de processo do trabalho.

Smula 283 do TST O recurso adesivo compatvel com o processo do trabalho, e cabe, no prazo de 8 (oito) dias, nas hipteses de interposio de recurso ordinrio, de agravo de petio, de revista e de embargos, sendo desnecessrio que a matria nele veiculada esteja relacionada com a do recurso interposto pela parte contrria.

O Regimento Interno do TST prev, ainda, o agravo regimental, a ser interposto em oito dias, quando denegado seguimento aos embargos no TST.

Sigamos no nosso estudo.

A palavra recurso indica a tentativa de dar ao processo um novo curso.

um remdio processual que a lei coloca disposio das partes, do Ministrio Pblico ou de um terceiro, a fim de que a deciso judicial possa ser submetida a novo julgamento, por rgo de jurisdio hierarquicamente superior, em regra, quele que a proferiu (Nelson Nery Jnior).

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No h que se confundir recurso com as chamadas aes impugnativas autnomas. So exemplos de aes autnomas de impugnao: ao rescisria, mandado de segurana, embargos de terceiro, embargos execuo, embargos arrematao etc.

Prevalece, portanto, o entendimento de que o recurso nada mais do que a prpria continuao do procedimento, atuando como prolongamento do exerccio do direito de ao dentro do mesmo processo.

Efeito meramente devolutivo Os recursos trabalhistas tero efeito meramente devolutivo. Destarte, no h necessidade de o juiz declarar o efeito em que recebe o recurso. A regra, contudo, apresenta uma exceo. As normas previstas no 6, do artigo 7, e no artigo 9, da Lei 7.701/88, admitem efeito suspensivo (de at 120 dias) a recurso ordinrio interposto em face de sentena normativa.

Superadas as observaes preliminares, estudaremos os pressupostos de admissibilidade dos recursos, dividindo-os em subjetivos e objetivos.

So pressupostos subjetivos (intrnsecos):

a) Legitimidade Alm dos litigantes, so partes legtimas para interpor recurso, na qualidade de terceiro prejudicado ou interessado: o sucessor ou herdeiro; os litisconsortes e assistentes (simples ou litisconsorcial); o substituto processual; o Ministrio Pblico do Trabalho (como parte ou fiscal da lei). b) Capacidade; c) Interesse = utilidade + necessidade;

So pressupostos objetivos (extrnsecos):

a) Recorribilidade do ato; b) Adequao; c) Tempestividade; d) Regularidade de representao; e) Preparo. 40

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Tempestividade Todos os recursos no processo do trabalho obedecem ao prazo de 8 (oito) dias, luz do artigo 6 da Lei 5.584/70, salvo: a) pedido de reviso do valor da causa = prazo de 48 horas (artigo 2, 1, da Lei 5.584/70); b) embargos declaratrios = prazo de 5 (cinco) dias (artigo 897-A da CLT); c) recurso extraordinrio ao STF = prazo de 15 (quinze) dias; d) agravo de instrumento em sede de recurso extraordinrio = 10 dias.

Preparo O preparo recursal pode se dar com o recolhimento das custas, ou, em caso de empregador recorrente, condenado em pecnia (Smula 161 TST), com o recolhimento das custas e do depsito recursal. Logo, o depsito recursal devido apenas pelo empregador que for condenado em pecnia (o depsito recursal feito na conta vinculada do FGTS do trabalhador, ou, se no existir, em conta judicial disposio do juzo, s podendo ser liberado aps o trnsito em julgado do decisum). A parte deve comprovar o preparo dentro do prazo do recurso, sob pena de desero (artigo 789, 1, da CLT c/c artigo 7 da Lei 5.584/70) vide Smula 245 TST. No precisam de preparo: a) agravo de petio; b) embargos declaratrios; c) pedido de reviso do valor da causa. Sobre o depsito recursal, importante destacar a Smula 128 do TST:

SUM-128 TST. DEPSITO RECURSAL. I - nus da parte recorrente efetuar o depsito legal, integralmente, em relao a cada novo recurso interposto, sob pena de desero. Atingido o valor da condenao, nenhum depsito mais exigido para qualquer recurso. (ex-Smula n 128 - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.03, que incorporou a OJ n 139 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998) II - Garantido o juzo, na fase executria, a exigncia de depsito para recorrer de qualquer deciso viola os incisos II e LV do art. 5 da CF/1988. Havendo, porm, elevao do valor do dbito, exige-se a complementao da garantia do juzo. (ex-OJ n 189 da SBDI-1 - inserida em 08.11.2000). III - Havendo condenao solidria de duas ou mais empresas, o depsito recursal efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que efetuou o depsito no pleiteia sua excluso da lide. (ex-OJ n 190 da SBDI-1 -