Apostila Psicultura Avançada

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PARTE1. ADAPTAO DE AUDES PARA A PISCICULTURAJoo Oliveira Chacon1 O aude tem como finalidade principal a acumulao de gua. O uso das guas acumuladas , no entanto, muito diferenciado de aude para aude; assim que alguns servem basicamente para abastecer cidades e outros centros populacionais; outros para a gerao de energia eltrica, perenizao de cursos d'gua, irrigao de cultura montante e jusante, fins industriais, etc. Para os fins aqui descritos, a construo das represas segue praticamente as mesmas tcnicas de engenharia, pois comumente no se conhece audes construdos para a piscicultura como finalidade principal, sendo pois o peixe subproduto de um aude. , no entanto, um subproduto de considervel valia economica e social, sendo pois muito importante as adaptaes das represas para a piscicultura, tanto sob o ponto de vista da engenharia civil, como sob a tica da bioecologia das guas represadas. Assim, no Nordeste brasileiro, ao se barrar um curso d'gua, faz-se necessria a construo das escadas-de- peixe e eclusas, com o objetivo a no interrupo das piracemas das espcies reoflicas no tempo das enchentes. O desmatamento das bacias hidrulicas tem objetivos comuns de facilitar a navegao e viabilizar o uso intensivo de aparelhos de pesca. A erradicao de piranhas e outras espcies predadoras nas bacias hidrogrficas e hidrulicas tambm um trabalho indispensvel, se h o desejo de se fazer o povoamento da coleo d'gua com espcies economicamente viveis.

1.1 Importncia da Pequena e Mdia Audagem Para Criao de PeixesA piscicultura intensiva, sob o ponto de vista empresarial, muito mais interessante do que a extensiva pratcada a nvel de pequenos e mdios audes. No entanto, cabe produo destes audes uma fatia muito maior do mercado de peixes em termos de peso e valor de produo . Sabe-se que a produtividade desses reservatrios realmente muito baixa, em torno de 150 a 200kg/ha/ano, possvel, entrentanto, a adoo de algumas medidas tcnicas no sentido de otimizar essa produo e torn-la ainda mais significativa no contexto econmico. Assim, pode-se faze uma seleo mais criteriosa das espcies a serem utilizadas no povoamento, usando para isso peixes prolficos e melhores produtores de carne; possvel tambm controlar o esforo da pesca, para que ele seja a penas exploratrio, e no espoliatrio. Na escolha das espcies para o povoamento, muito importante o conhecimento da coleo d'gua como um nicho ecolgico; assim necessrio a utilizao de espcies que explorem os diversos nveis da coluna d'gua (superfcie, fundo, etc) porque em cada um desses locais existem componentes diferentes do fito e zooplncton que fomrcem tambm diferemtes tipos de alimento natural. interessante tambm que as espcies sejam mutualistas, e no concorrentes, para que haja um equilbrio ecolgico satisfatrio.1 - Pesquisador do DNOCS e Chefe do Servo de Economia Pesqueira do Centro de Pesquisas Ictiolgicas Rodopho von lhering.

Estes e outros conhecimentos devem ser levados aos proprietrios de audes peios tcnicos mais diretamente ligados a eles, no caso os extensionistas agrcolas. Da a importncia deste tipo de treinamento, proporcionado pela FAO, vindo preencner uma lacura h muito tempo sentida por ns, tcnicos das instituies de pesquisa. A extenso vem a ser, ento o nosso elo de ligao com o produtor, que , afinal, objetivo maior de todo o esforo da descoberta e da criao da tecnologia esforo este que esta custa muito caro aos bolsos do contribuinte de impostos.

1.2 Finalidade e Usos Multiplos dos Audes

A acumulao de gua em audes de pequena, mdia e grande capacidades constituem-se no primeiro passo para minorar os efeitos das secas e decorrente fixao do homem terra, dando melhores condi de vida. Muitas so as tinalidades dos audes: a) abastecimento pblico (municpio e adjacncias); b) irrigao de terras de montante e jusante; c) recreao (pesca esportiva, lazer e turismo); d) agricultura de vazante; e) navegao; f) piscicultura (especificamente); e g)aproveitamento hidroeltrico.

1.2.1 Abastecimento pblico (municpio e adjacncias)A construo das audes e dos grandes barragens, principalmente dos Rios So Francisco e Parnaba, que tiveram e continuam tendo seus cursos d'guas seccionados por essas obras, destinou-se principalmente a gerao de energia eltrica, irrigao, abastecimento d'gua. A piscicaltura, neste contexto, tem tido sempre importncia secundria. Dependendo da capacidade do aude e/ou da barragem, podem abastecer no s a cidade onde esto situados, como tambm as adjacentes. Nos mdios e grandes audes, a comporta aberta para o fluxo d'gua dar movimentao turbina; a jusante, cai no canal principal, donde d a derivao para a irrigao e parte desviade para uma rede de tubulao, para os tanques de tratamento d'gua da Companhia de gua e Esgoto, a qual se encarregr de distribuir s caixas, d'guas, chafarizes, bebedouros pblicos e casas residenciais. Nas barragens, por sua vez, j consta uma derivao para a mesma finalidade.

1.2.2 IrrigaoTo antiga quanto a prpria Histria a irrigao das terras. A sua sombra civilizaes brilhantes nasceram e floresceram; mas, com a irrigao desapareceram, devido ao mau uso da gua a que fora conduzidas pela falta de meios e de conhecimentos (Duque, 1965). Em funo de se tratar de um assunto bastante polmico, vamos nos ater aos aspectos mais simplistas da irrigao, vista aqui apenas como uma atividade agrcola lucrativa. Em princpio, por causa dos elevados custos financeiros, tem se procurado instalar projetos de irrigao em reas nobres em termos de qualidade de solo, como so as terras aluviais do Nordeste brasileiro. Outro aspecto a ser levado em conta, tambm em funo dos outros, a topografia do local, que decisiva quando se tem que sistematizar reas para o uso da irrigao por gravidade. Por outro lado, como so relativamente poucas as culturas nobres que podem ser efetivamente implantadas em nosso meio, pelos mais diversos motivos, necessrio que se tenha o maior critrio na escolha das culturas de subsistncia, considerando o seu potencial de produtividade, o que poder torn-las economicamente viveis. De maneira sistemtica, muno simples o modelo usado para a distribuio de gua aos lotes agrcolas; a comporta da barragem aberta e gua flui pelo canal de aduo; dele feita a distribuio para os canais bsicos que conam a bacia de irrgao, so os canais primrios, com vazes que giram em torno de 150 1.s; em seguida a gua passa os canais secundrios que so as vias de chegada s quadras hidrulicas, compostas por quatro lotes agrcolas. At aqui, toda a malha de canais construda concreto e/ou alvenaria. Dos canais secundrios, passam ento para os tercrios ou parcelares, que distribuem a gua para cada parcela do lote agrcola. Esses canais so construdos com material argilo-silicoso e revestidos com piarra. O excedente da irrgao cai na rede de drenos secundrios, passando depois pare os principais, voltando ento a correr no leito normal do rio da em diante. Naturalmente que exitem algumas variantes, pois em alguns permetros a irrigao feita por asperso; noutros, h necessidade de bombeamento para a elevao e da em diante a irrigao

feita por gravidade. No entanto, este o esquema predominante nos permetros geridos pelo DNOCS.

1.2.3 Recreao (pesca esportiva, lazer e turismo)As atividades do lazer-acampamentos, esporte aquticos, pesca esportiva e turismo organizadosno so favorecidas pela represa e/ou aude, apesar da beleza do cenrio nas partes livres de vegetao, principalmente por causa das rvores parcialmente submersas, e outras como: a) o receio as espcies predadoras (piranhas e pirambebas: Serrasalmidae) em alguns audes; b) a ausncia de vias de comunicao ligando o local da recreao; a moradia do recreante ou aos locais situados nas margens da represa; c) as dificuldades de navegao; e d) a inexistncia de uma infra-estrutura organizada para dar condies ao turismo. Tudo isso explica a pouca importncia dada a esta atividade.

1.2.4 Agricultura de vazanteUm aude constitui algo de grande importncia, se bem construdo, notadamente quando a regio seca e carente de gua, como acontece com o Nordeste brasileiro, onde toda a gua que se puder acumular acumular ou guardar ter benefcios valiosos na sua utilizao. Alm de transformar o clima local, tornando-o mais agradvel e menos quente, com a sua contribuio de gua evaporada nop ar, esse manancial contribuir, predominantemente, para: a) utilizao das terras banhadas pelas guas a montante do aude (flixa molhada), para implantao de vazantes diversificadas, desde o capim para pecuria, at batatas, milho, feijo, hortalias em geral, etc; e b) pequena ou mdia irrigao para aproveitamento agrcola das terras de jusante do aude (faiza seca), com utilizao d'gua, atravs de tcnicas variadas a serem recomendadas para cada caso, quer por gravidade ou asperso. A faixa seca de terra a situada entre a cota de repleo do reservatrio e a linha que limita a terra desapropriada ou a ser desapropriada. O lote de vazante a parcela de terreno inundvel, cuja frente medida em metros lineares, com extenso em torno de 50 metros pelo limite da gua quando esta se encontra na cota da soleira do sagradouro, tendo por profundidade a distncia entre a frente citada e o nvel decrescente d'gua no reservatrio ou o eixo do leito seco do rio ou crrego. O lote seco a rea de terreno que se situa acima das vazantes e que pode estender-se at a cerca de contorno, com o limite de 12 a 30 hectares, podendo ser concedida a uma famlia. Na demarcao de lotes secos e de vazantes levar-se- em conta a topografia e acidentes geogrficos existentes, devendo a cada lote seco corresponder a um lote de vazante, contguo, sempre quo possvel. A dimenso do lote seco, variando de 12 a 30 hectares, depender, antes de tudo, do tipo de solo e sua vocao, e os limites sero demarcados com piquetes e em cada um afixada uma tabuleta numerada, registando-se em seguida em livro prprio. Igualmente, no lote de vazante, a mesma providncia dever ser tomada. Os lotes mais indicados para a pecuria, ou de baixa produtividade, devero ser maiores do que os lotes com bons solos agrcolas; mesmo critrio deve vigorar na diviso dos lotes de vazantes, cuja dimenso (frente) deve situar-se em torno de 50 metros, com variao para mais, dependendo das condies locais de demanda e da qualidade e quantidade das terras de vazante disponveis. Deve-se ter em vistas que o lote seco, com o auxlio da vazante, oferea condies para manter uma famlia de cinco a oito dependentes, com padro em torno do que permite o salrio mnimo.

1.2.5 Navegao

A navegao nos pequenos e grandes audes torna-se perigosa, embora seja praticada em pequena escala pelas primitivas canoas de fundo chato e de caverna, construdas de madeira; so embarcaes comuns em todos os audes do Nordeste brasileiro. Estas servem como meio de transporte do pescador o qual se desioca de sua vazante e vel at o local de trabalho - as pescarias, e tambm usada, nos dias de feira para transportar sua pequena produo de alguns cereais, legumes e/ou mesmos pequenos animais. A embaicao usualmente empregada nos audes do Nordeste brasileiro a canoa a remo, como j foi citado acima. feita da madeira denominada pau branco, Auxema oncocalyx Taub., e tm geralmente comprimento que varia de 3,0 e 4,5 metros; os remos so tambm de madeira e o tamanho variando de 1,5 a 2,0 metros. O valor de tais embarcaes depende de suas dimenses e do tipo da madeira empregada na sua contruo, dependendo disso a vida til gira torno de trs a mais anos. Em outros audes de maior capacidade como Ors, Banabuiu, Pentecoste, Araras, Lima campos (CE); Au, Caic (RN); Curema, Me d'gua, Piranhas (PB); e Moxot (PE), existem barcos motorizados que chegam a transportar de 20 a 30 pessoas e suas bagagens, principalmente nos dias de feiras, e durante os outros dias da semana eles fazem a linha diariamente de todo o contorno da bacia hidrulica do aude, uns indo pela margem direita e outros pela esquerda, isto devido a grande populao que habita em torno do aude. Este fato constatado e necessrio, em virtude de existir estrada de acesso ao contorno do aude, porm no existe transporte que faa diariamente a conduo de pessoas, a no ser os donos de fazenda que viajam quando de suas necessidades. Portanto, a navegao no aude indispensvel. No entanto, o seu desenvolvimento est comprometido em virtude do perigo de acidentes, causados por obstculos e/ou riscos criados pela primitiva floresta e antigas casas de camponeses, as quais no foram erradicadas durante a construo da bacia hidrulica de alguns audes. As principais causas de acidentes so: a) troncos de madeira ao nvel da gua que, pela ao de ondas, provocam choques com as embarcaes; b) abairoamento com troncos submersos, inclusive aqueles que sofreram quebra de sua parte emergente; e c) coliso com barrancos de areia que afloram a superficie da gua, na medida em que esta perdida atravs da evaporao e da irrigao.

1.2.6 Piscicultura (especificamente)A piscicultura, ou seja, a criao de peixe, um dos ramos da Zootecnia, Fan Li, cm 475 a.C., j dizia que a piscicultura era uma atividade lucrativ (Azevedo, 1972) in Nomura 1976. Entretanto, a fecundao artificial de peixes, a criao de larvas e o aproveitamento comercial do adulto s tiveram incio por volta de 1733 (Gomes. 1940) in Nomura, 1976. Em terras que no so adequadas para a agricultura, devido a alinizao, pode-se implantar a criao de peixes; vivendo estes em ambientes lquido e sendo animais de sangue frio, requerem um mnimo de energia para manter sua temperatura corporal. A criao de peixes pode tambm converter-se em um elemente principal gerador de ingresso em programas de desenvolvimento rural, complementada pela produo agrcola e animal pode gerar emprego em setores rurais dos pases em desenvolvimento, e melhorar a qualidade de vida dos rurcolas. Devem ser diferenciados trs tipos principais de piscicultura, que, entretanto, podem ainda apresentar subdivises. Os trs principais tipos so: a) piscicultura extensiva; b) piscicultura intensiva; e c) piscicultura superintensiva.

1.2.6.1 Piscicultura extensiva

Pode ser praticada nas guas fechadas artificiais que no foram construdas diretaments para cultivo de peixes, como os audes e reservatrios. Em outras palavras, foram construdas para outra finalidade, por exemplo, para armazenar gua para irrigao, para bebedouro de animais, energia eltrica, etc. A piscicultura extensiva pode ser praticad nas lagoas naturais (melhor so as pequenas e rasas) e outras reas inundadas e fechadas como nos grandes lagos. Nesta situao a piscicultura uma atividade de maior valor scio-econmico. Estes tipos de colees hdricas devem ser povoadas com peixes de cultivo qualitativo e quantitativamente adequado para utilizar as fontes de alimentos naturais, que, sem os peixes, seriam perdidos. O povoamento das colees de gua utilizadas se faz, inicialmente, a partir das espcies ictcas nativas (autoctones), podendo o homem complement-lo, posteriormente, introduzindo espcies selecionadas. No caso da piscicultura extensiva contamos somente com alimentos naturais produzidos na gua. Nesta modalidade de piscicultura no se alimenta os peixes regularmente e no se fertiliza a gua com fertilizantes orgnicos ou inorgnicos. Os animais que bebem gua nestes locais automaticamente deixam cair seus excrementos, que fertilizam a gua, favorecendo a produo de peixes. A produo de peixes nesta modalidade depende principalmente de trs fatores: a) capacidde de suporte alimentar da gua ou em outras palvras, da produtividade natural da gua que depende da quantidade de nutrientes (fosfatos, nitratos e materiais orgnicos) da gua e do solo; b) escolha de espcies adequadas, taxa de povoamento e sobrevivencia do povoamento efetuado; e c) bom manejo da piscicultura. Deva-se ressaltar a importncia do povoamento. O ideal seria se a coleo hdrica no tivesse populao natural de peixes, pois, assim, poder-se-ia fazer o povoamento com a taxa de estocagem desejada. Caso a coleo de gua j tenha uma populao natural de pequenos peixes forrageiros (sem valor comercial) pode-se fazer o povoamento com uma espcie de peixe carnvoro mais valioso, para utilizar esta fonte de alimento. No caso de haver muitos peixes carnvoros, o nmero de alevinos povoados deve ser bem alto para compensar aqueles que sero alimentos dos carnvoros.

1.2.6.2 Piscicultura intensiva praticada em viveiros construdos estritamente com o fim de se criar peixes. Piscicultura intensiva a piscicultura tradicional praticada h centenas de anos na Europa e mais de mil anos na China. Os viveiros so povoados somente com peixes de cultivo. Todo esforo feito para impedir a penetrao de peixes selvagens indesejveis (esses peixes selvagens, so carnvoros, competem com os peixes de cultivo por alimentos naturais e consomem valiosos alimentos artificiais). Os peixes selvagens carnvoros colocam em risco a povoao dos peixes de cultivo. Para aumentar a produtividade da gua aplica-se fertilizantes orgnicos (adubos orgnicos) e/ou inorgnicos. Para aumentar diretamente a produo ou o crescimento dos peixes usa-se alimentos artificiais (alimentos artificiais so todos os alimentos que no so produzidos nos viveiros) que o piscicultor coloca no viveiro. Estes viveiros so construdos e totalmente drenveis, uma ou mais vezes anualmente.

1.2.6.3 Piscicultura superintensivaEsta modalidade de piscicultura foi aplicada quase to somente para cultivar trutas. Ouando as gaiolas puderam ser fabricadas de materiais no perecveis e a fabricao dos alimentos artificiais

comprimidos tornou-se possvel, a piscicultura superintensiva foi expandida para cultivos de outras mais preciosas espcies de peixes, como a enguia, bagre de canal (USA), bagre da Europa, tilpia nilotica, etc. No caso da piscicultura superintensiva uma s espcies de peixe cultivada em alta densiduade de povoao (em cada metro cbico de gaiola ou tanques pequenos se coloca 20100 peixes). Aqui se necessita o provimento de oxignio continuadamente e a remoo dos metablicos dos peixes, principalmente os amoniacais e os restos de alimentos podres. No caso da piscicultura superintensiva os peixes so alimentados somente com alimento comprimidos (pellets) ou semelhante, e balanceados com tipos e teores de protenas, minerais, vitaminas e outros ingredientes indispensveis para o crescimento dos peixes. Este tipo de alimento bastante caro, por isso cultiva-se peixes de alto valor de mercado. Nesta modalidade de piscicultura no se pode contar com os alimentos naturais da gua. So muitas as opes do cultivo superintensivo, que um novo ramo da piscicultura que j apresenta um alto grau de desenvolvimento, em vrias partes do mundo e poder ser mais uma opo disponvel ao piscicultor, para o cultivo de espcies brasileiras de alto valor comercial, como, tambm, para o cultivo em escala reduzida visando o consumo domstico.

1.2.7 Aproveitamento hidroeltricoAbaixo das grandes represas, so construdas as usinas hidroeltricas, que consistem de turbinas, com um potencial de KWA que varia de acordo com a altura da coluna gua e o potencial do rio que a mesma barrou. A represa sempre tem uma finalidade de gerao hidroeltrica, principalmente para suprir a instalao industrial e em consequncia beneficiar a agricultura, fbricas, hospitais, residencias e outros aproveitamentos de major valia e importncia energtica para a regio. Junto aos grandes benefcios que a represa trs para grupos de importncia scio-econmica, trs tambm sria ameao para a manuteno das espcies de peixes no rio que a mesma barrou e tambm na sua bacia hidrulica, com a construo de indstrias de celulose, produtos qumicos, etc. Chamamos ateno tambm quanto s alteraes fsicas e ecolgicas da bacia hidrulica que podero ocorrer.

1.3 Aproveitamento de Represas Para Criao de PeixesEntendemos como recursos pesqueiros todas formas vivas que tenham na gua seu normal ou mais frequente meio de vida, juntamente com um definido interesse econmico. Portanto, os recursos pesqueiros se enquadram na categoria dos recursos naturais renovveis (Paiva, 1986). A maioria das formas vivas (animais e vegetais) aquticas no apresentam qualquer valor econmico, vista por uma tica imediatista. Entretanto, elas ocupam importantes posices em suas respectivas biocenoses, simplesmente porque nada intil na natureza, porque tudo aproveitado nesta ou naquela forma de vida. Para se ter um bom aproveitamento na criao de peixes de uma determinada represa, tem-se que observar alguns itens muito importantes: a) assoreamento da bacia hidrulica; b) reduo da descarga da bacia hidrulica (afluente); c) turbidez elevada da gua; d) flutuao rpida e frequente do nvel de gua; e) elevado ndice de carnvoros; f) processo acelerado de eutrofizao; g) danificao do fundo pela canalizao e/ou dragagem; h) alteraes dos parmetros qumicos e fsicos da gua (O2 dissolvido, CO2 livre, pH, temperatura, etc.).

1.3.1 Assoreamento da bacia hidrulicaA causa do assoreamento da bacia hidrulica o desmatamento (florestal e vegetao ciliar) s margens dos rios da bacia hidrogrfica da represa. Na poca das enchentes, os rios desnudos de vegetao sofrem eroso, carreando amontoados de areia e/ou terras para o leito do rio principal, tornando-se muitas vezes, em certos trechos, inavegvel, por causa dos bancos de terras. Isto tambm prejudica a proliferao da fauna e flora da bacia hidrulica da represa. No obstante, havendo um certo controle das enchentes pela conservao das florestas e vegetao ciliar, construo de audes em trechos de rios da bacia hidrogrfica, evitar-se- consequentemente o assoreamento e tambm as inundaes que possivelmente ocorreriam.

1.3.2 Reduo da descarga da bacia hidrulica (afluentes)As primeiras barragens conhecidas datam da mais remota antiguidade. Criadas para reter as guas correntes e permitir assim recuperar para as culturas e populao as regies estreis, permitiram o desenvolvimento da civilizao. O controle da descarga da bacia hidrulica de uma represa, depende da construo de audes, barragens e diques em leitos de rios da bacia hidrogrfica para controlar o fluxo d'gua que se dirige para o rio principal o qual abastece a bacia hidrulica da represa.

1.3.3 Turbidez elevada da guaA energia da vida aqutica provm do sol; por isso, necessrio que a luz penetre na gua em boas condies. Esta penetrao depende, entre outros fatores, do estado de turvao da gua e tanto mais difcil quanto mais poluida se encontrar. A turbidez das guas a reduo da transparncia, devido presena de substncias em soluo ou em suspenso. A turbidez pode alterar o ambiente aqutico de vrias maneiras, tais como, pela reduo da luminosidade, pelo aumento da temperatura (partculas em suspenso absorvem o calor mais rapidamente que a gua) e pela sedimentao. Se a diminuio da transparncia devida a abundncia de plncton, a gua muito rica e a sua produtividade tende para o mximo. No entanto, as matrias orgnicas em suspenso podem igualmente aumentar a turvao e, neste caso, no s a luz penetra dificilmente na gua como, ainda, as partculas em flutuao podem acumular-se nas guelras ou brnquias causando, por asfixia, a morte dos peixes. Um instrumento simples e de fcil manuseio, destinado a medir a transparncia de uma gua, o chamado Disco de Secchi. Trata-se de um disco metlico, com aproximadamente 30 cm de dimetro, pintado com faixas pretas e brancas, para mais facilitar sua visualizao, no centro do qual se fixa uma corda; com o auxilio desta corda vai-se imergindo o disco na gua e mede-se a poro de corda que foi submersa. Esta poro corresponde profunidade de visibilidade d'gua.

1.3.4 Flutuao rpida e frequente do nvel da guaRepresas so ambientes lnticos decorrentes de construo de barragens, que impedem o fluxo normal de cursos d'gua. Em funo da altura das barragens, semelhana dos casos anteriores, as represas podem tambm ser denominadas de lagos artificiais. Estes ambientes artificiais podem ser construdos com diversas finaliades, tais como estabilizao dos cursos dos rios, produo de eletricidade, irrigao, etc.

comum, principalmente nas grandes represas, a ocorrncia de duas circunstncias ecolgicas desfavorveis vida dos peixes: excesso de matria orgnica na regio inundada e a flutuao peridica de nvel. O excesso de matria orgnica representado principalmente pela vegetao terrestre, antes existente na regio (matas, campos, culturas) as quais, aps submersas, morrem e entram em decomposio, inicialmente aerbica. Caso ocorra estratificao trmica, aps o oxignio dissolvido no hipolmnio haver sido totalmente consumido, a decomposio prosseguir atravs de processos anaerbicos, com consequente formao de gases txicos. J a flutuao peridica de nvel um fenmeno comum quelas represas onde o fluxo de gua periodicamente menor que a vazo. Nestas ocasies as guas baixam de nvel, deixando a descoberto faixas de terra, dantes submersas. Se esta situao perdurar por longo tempo, ocorrer o posterior retorno das guas da represa ao nvel primitivo, aquela massa verde ser submersa, morrer e entrar em decomposio. Se, porm, a flutuao de nvel for rpida, fato comum em pequenas represas, no haver tempo suficiente para que aquela vegetao se desenvolva, em contra-partida, nesta nova situao outros fatos indesejveis podem ocorrer, tais como a perda da desova de peixes que faam seus ninhos a pouca profundidade.

1.3.5 Elevado ndice de carnvorosA fauna carnvora-durante esta fase, uma fraco da fauna herbvora (microfauna e macrofauna) consumida pela fauna carnvora, a qual compreende tambm os organismos inferiores, assim como os peixes vorazes. A fauna herbvora, que escapa fauna carnvora voraz, reintroduzida no ciclo depois da sua morte graa atividade bacteriana. No mbito da fauna carnvora, os organismos mais fracos ou menores formam, no estado vivo ou morto, uma parte da alimentao dos outros peixes vorazes. Aqui, de novo, o ciclo biolgico recupera, graas a mineralizao, matrias nutritivas e energia proveniente da matria animal morta. A produo pisccola, quer seja ao nvel da fauna herbvora ou da fauna carnvora, funo da multiplicao e desenvolvimento dos organismos vivos no decorrer das fases procedentes e , ento, necessariamente limitada pela importncia do povoamento biolgico da gua. O povoamento das represas com peixes que no podem nelas se reproduzir, requer a prtica de sucessivos peixamentos, procedimento que s se justifica em caso de opulncia. Assim mesmo, somente quando for possvel e economicamente vivel a reproduo em cativeiro e a criao de larvas e alevinos. Portanto, a introduo de espcies de peixes nas represas nordestinas recomendvel: a) quando podem suportar as condies resultantes da esttica das guas; b) quando podem colonizar nichos no ocupados por representantes da ictiofauna; e c) quando so economicamente superiores s espcies nativas de semelhante comportamento biolgico. necessrio no esquecer o povoamento de camares e peixes forrageiros, para aumentar os nveis de produo intermediria da gua; do mesmo modo importante controlar as populaes de piranhas e pirambebas (Serrasalmidae) por meio da pesca seletiva.

1.3.6 Danificao do fundo pela canalizao e/ou dragagamA dragagem tem por finalidade limpar o fundo das reas que foram assoreadas e limpar outras tambm, retirando entulhos, detritos, etc, que foram carreados para a bacia hidrulica da represa.

Mas, em consequncia, traz grandes prejuizos aos diferentes organismos que vivem, crescem e se multiplicam na gua ou no fundo, pois esto estreitamente ligados entre si e constituem os elos duma cadeia que se chama o ciclo alimentar. Um organismo alimenta-se de outros organismos menores e serve ele prprio de alimento a outros organismos maiores. o peixe um dos elos desta cadeia. Dragando-se um rio, lago ou uma represa, naquele local, est-se destruindo a produo primria, que o primeiro elo da cadeia alimentar de uma biomassa existente num reservatrio. Mas a poluio por esgotos domsticos poder aumentar a produtividade biolgica das guas, visto contriburem para uma maior produo planctnica nas mesmas. Entretanto, se o afluxo de tais poluentes for muito intenso, o ambiente poder se tomar incompatvel vida dos peixes, em decorrncia de profundas alteraes fsicas, qumicas e biolgicas do habitat.

1.3.7 Processo acelerado de eutroficaoGraas a ao do ar, do sol e do calor a gua constitui um meio favorvel para o desenvolvimento de vegetais (micro e macro), que servem de alimentos a numerosos animais microscpicos ou no, quer diretamente, quer consumindo outros animais menores. As quantidades e os tipos de organismos observados dependem da qualidade da gua, em particular das suas caractersticas fsico-qumicas e das condies do meio ambiente. Em geral, encontram, por filtragem especial, organismos muito pequenos que flutuam livremente na gua e que constituem o que se chama de plncton. O plncton, formado por plantas que se desenvolvem a partir dos sais minerais contidos na gua e a partir da luz do sol, chama-se fitoplncton. O plncton formado de pequenos animais chama-se zooplncton. Em geral, o plncton no pode ser visto a olho nu. Se o plncton for abundante, d gua uma cor mais ou menos verde ou mais ou menos castanha escura, conforme os organismos que o compem. No fundo da gua desenvolvem-se organismos geralmente maiores do que os do plncton e formam o que se chama de bentos. So sobretudo larvas de insetos, vermes, moluscos. Vivem na superfcie do fundo ou na lama deste. Alimentam-se geralmente de matrias orgnicas. Diversas plantas crescem no fundo, sobretudo perto das margens, onde a profundidade da gua no demasiada grande. Algumas, como os juncos, tm as razes no fundo, mas crescem e florescem acima da superfcie. Outras, como o pirrixio, tm folhas e flores que flutuam superfcie. Finalmente, outras vivem e florescem completamente debaixo da gua. Estas plantas, e tambm as pedras e os rochedos que esto na gua, servem de suporte a diversos organismos que formam o que chamamos o perifiton e que so em geral algas, larvas de insetos e moluscos. O processo acelerado de eutroficao d-se na poca invernosa, quando as cheias dos rios tributrios desaguam na represa. Naquele fluxo d'gua esta constitudo todo o ciclo alimentar de diferentes organismos aquticos.

1.3.8 Alteraes dos parmetros qumicos e fsicos da gua (O2 dissolvido, CO2 livre, p , temperatura, etc)H

Caractersticas qumicas-quimicamente as guas distinguem-se pelo seu teor em sais e gases dissolvidos.

A gua das precipitaes atmosfricas aproxima-se sensivelmente da gua destilada. em contato com o solo que dissolve os sais minerais com maior ou menor rapidez, consoante a sua solubilidade. Os sais dissolvidos constituem a riqueza mineral da gua e pode-se dizer que o valor pisccola duma gua aumenta proporcionalmente em relao a sua diversidade e quantidade. claro que existe limitao e salinidade para as guas doces. O valor pisccola de uma gua depende essencialmente da natureza do terreno com que a gua est em contato.

1.3.8.1 Oxignio dissolvido (O2 dissolvido)Entre os gases dissolvidos, o oxignio o mais importante e absolutamente indispensvel vida da maioria dos organismos que vivem num tanque (peixes, insetos, algas, plantas superiores etc), o oxignio provm da atmosfera ou das plantas verdes submersas; estas no libertam este gs seno durante o dia. Assim, depois de uma noite quente, um tanque rico em algas, pode ficar desprovidos de oxignio ao ponto de provocar a asfixia dos peixes, sabido que, nestas condies, a gua se encontra com uma elevada percentagem de anidrido carbnico dissolvido, que normal a fauna pisccola.

1.3.8.2 Gs carbnico (CO2 livre)Seja no estado livre ou sob a forma de cido fraco ou de bicarbonato, encontra-se na gua em soluo instvel e, s vezes, sob a forma de carbonatos que precipitam, alis muito pouco solveis. A mistura de um cido fraco-como o gs carbnico-com os seus sais desempenha na vida dos organismos vivos e, portanto, na dos peixes, um papel muito importante. Como para o oxignio, os organismos e principalmente os vegetais tm uma ao primordial sobre a distribulo do gs carbnico pela assimilao clorifiliana e pela respirao. Quer dizer, a distribuio do gs carbnico, insuficientemente estudado at hoje, dever desempenhar um considervel papel na ecologia dos peixes.

1.3.8.3 O potencial hidrogeninico (p )H

Duma gua depende da natureza e quantidade das matrias dissolvidas e varia em funo de numerosos fatores qumicos e biolgicos e est em estreita relao com as reservas alcalinas disponveis e com o seu teor em CO2. A melhor gua para a cultura do peixe a que possui uma reao ligeiramente alcalina, isto , pH entre 7 e 8. Estes valores no devem ser inferiores a 4,5 5,0 nem superiores a 8,0 embora exista espcies ictiolgicas e planctonicas que os preferem. Caractersticas fsicas - sob o ponto de vista pisccola temos a considerar, como mais importante, a temperatura e a transparncia.

1.3.8.4 TemperaturaA temperatura exerce uma profunda influncia sobre a vida aqutica e desempenha papel preponderante na multiplicao, respirao e nutrio dos peixes.

necessrio conhecer-se a temperatura no perodo de reproduo, uma vez que as exigncias trmicas diferem segundo as espcies. A temperatura tem influncia preponderante no desenvolvimento dos micro e macroorganismos aquticos e no crescimento dos peixes, sabido que cada espcie tem um intervalo trmico de maior ou menor amplitude. lgualmente tem influncia sobre o teor em oxignio dissolvido e, por consequncia, sobre a respirao dos peixes, dada a oxigenao da gua depender de vrios fatores, mais est, no entanto, em estrita ligao com a temperatura da gua, sabido que, quanto mais elevada for esta, menos oxignio dissolvido possui.

1.3.8.5 TransparnciaA energia da vida aqutica provm do sol, pelo que necessrio que a luz penetre na gua em boas condies. Esta penetrao depende, entre outros fatores, do estado de turvao da gua e tanto mais diffcil quanto mais poluda se encontrar. Se a diminuio da transparncia devida a abundncia de plncton a gua muito rica e a sua produtividade tende para o mximo. No entanto, as matrias orgnicas em suspenso, podem igualmente aumentar a turvao e, neste caso, no s a luz penetra dificilmente na gua como, ainda, as partculas em flutuao podem acumular-se nas guelras ou brnquias originando, por asfixia, a morte dos peixes.

1.4 Melhoria das Condies Bio-EcolgicasSegundo a natureza dos terrenos que atravessam, as guas pisccolas so mais ou menos ricas em substncias nutritivas, o que condiciona uma produo maior ou menor de peixes. O melhoramento racional da qualidade da gua - como o caso da piscicultura em tanques - pela utilizao de adubo e estrumes - no realizvel nas guas correntes e smuito excepcionalmente nas guas paradas naturais (lagos). A compreenso dos fenmenos biolgicos que se desenvolvem na gua, assim como a interpretao da produtividade pisccola, no so possveis sem que se conheam os diferentes elementos, fases e transformaes, que intervm no ciclo da vida aqutica e conduzem ao estado final, o peixe. Para se fazer uma mehoria nas condies bio-ecolgicas de um ecosistema, seria necessrio fazer: a) a proteo de lagos e alagadios marginals da bacia hidrogrfica; b) a preservao ciliar; c) o desmatamento da bacia hidrulica; d) a erradicao de espcies indesejveis (piranhas e pirambebas: Serrasalmidae); e) o controle da vegetao aqutica: flutuante, emersa e submersa; e f) a atenuao do impacto ambiental.

1.4.1 Proteo de lagos e alagadios marginais da bacia hidrogrfica muito importante a proteo dessas colees d'gua porque na ocasio das cheias os rios transbordam, principalmente nas zonas de correnteza mais branda, inundando regies circunvizinhas. Terminando aquele perfodo, retornam a seus limites normais, permanecendo em alguns trechos, anteriormente inundados, colees de gua, denominadas lagoas marginais as quais, geralmente, so pouco profundas e muito ricas em nutrientes, apresentando grande produtividade biolgica.

Tais ambientes so do suma importncia para a perpetuao de espcie de peixes fluviais, porquanto ali seus alevinos tero condies de sobrevivncia e desenvolvimento, muito superiores s existentes nos rios. Entretanto, para que tal ocorra, necessrio que estas lagoas mantenham um volume adequado de gua, at serem atingldas novamente, pelas prximas cheias. Outros tipos de ambientes lnticos poderiam ser ainda mencionados, tais como guas do tipo pantanoso, charcos, etc., caracterizados por elevadoteor de substnicas, orgnicas, guas temporrias, como os poos formados pelas chuvas e outras.

1.4.2 Preservao de vegetao ciliarSo florestas ciliares aquelas que se situam s margens dos rios e riachos nos solos de aluvio da regio seca. Essas florestas encerram representantes das florestas mega-trmicas e das florestas xerfilas, condicionado a maior ou menor abundncia de umidade, de modo que a maior ocorrncia de rvores de qualquer um desses tipos, revelar de imediato a abundncia ou carncia de recursos aquferos no solo subjacente. a ocorrncia de lenol d'gua subterrnea poder ser revelada pela vegetao que domina e nela podero ser encontradas as rvores tpicas de qualquer uma dessas duas primeiras formaes florestais.

1.4.3 Desmatamento da bacia hidrulicaApesar de ser muito despendiosa, envolvendo custos muito elevados para a erradicao total da floresta, muito til e necessrio para se manter os estoques pesqueiros, o uso de aparelhos de pesca em condies normais e a navegao condincente. A decomposio da floresta inundada ocasiona a exausto do oxignio dissolvido na gua represada, e a maioria dos problemas limnolgicos.

1.4.4 Erradicao de espcies indesejveisOs peixes telesteos de gua doce, reconhecidamente predadores e/ou indesejveis, as piranhas (Gen. Serrassalmus Lacpede, 1803), pirambebas (S. rhombeus L., 1766) esto entre os principais e so os mais perigosos. Abundantes no NE brasileiro, especialmente nos estados do Cear e Maranho )Myers, 1949 a:80), encontram-se em rios, audes, lagoas e poos. Dificultam o aproveitamento dequaelas reas diferentes usos, pois predam peixes (inclusive praticando o canibalismo) e outros animais aquticos, terrestre e algumas aves (patos, garas, etc). Atacam e masmo davoram o homem, extraalham aparelhos de pesca (Braga, 1975). A erradicao feita primeiramente na bacia hidrogrfica, eliminando todas as espcies de peixes existentes nos poos, bebodouros, cacimbas, etcque permanecem no leito dos rios, em virtude de os mesmos serem intermitentes. Depois faz-se a erradicao na bacia hidrulica; sempre que se vai barrar um boqueiro para transform-lo em um lago artificial (aude), acumula-se muita gua no local de trabalho. ento nesta oportunidade que se aproveita para fazer a erradicao das espcies indesejveis. Os meios de combate so: a) timb em p (rotenona); b) explosivos (dinamite); c) explosicos + timb em p; d) escamas-peixe. O controle e a erradicao de pirambebas e piranhas no NE brasileiro se justifica se justifica pela depredao que fazem estes peixes em aparelhos de pesca e pelos acidentes que provocam em pessoas e animais domsticos, e no pela responsabilidade que teriam na reduo de populaes de peixes. Os ataques a pessoas e a quaisquer outros vertebrados se do principalmente em guas de reduzido volume (poos fluviais, lagoas, pequenos audes), em que os cardumes so

compactos e sofrem carncia de alimento ou, ocasionalmente, at de espao vital, sendo o maior nmero de acidentes e os mais graves, provocados principalmente pelas conhecidas piranhas verdadeiras (Braga, 1975).

1.4.5 Controle de vegetao aqutica: fluente, emersa e submersaA vegetao aqutica pode facilmente proliferar nas guas troplcais estagnadas e portanto nas reservas de gua onde se pretica a piscicultura. Contudo, ela tem menos importncia na piscicultura intensiva do que na extensiva. Com efeito, a prtica dos esvaziamentos peridicos permite controlar facilmente o crescimento dos vegetals, enquanto na piscicultura extensiva raro poder-se fazer o mesmo. Por outro lado, as reservas de gua onde se pratica a piscicultura extensiva so muito maiores que os viveiros, onde muito mais fcil efetuar o controle de vegetao. Os vegetais aquticos classificam-se em: a) flutuantes-cujas rafzes esto na gua e flutuam livemente superfcie, tiram os nutrientes bsicos (fosfatos e nitratos) da gua e cobrem a superficie, impedindo que os raios solares penetrem na coluna d'gua. Enfim, as algas no podem sobreviver e se reproduzirem nos viveiros total ou parcialmente cobertos por estas plantas. A baronesa ou aguap, Eichhornia, crassipes, e a alface de gua, Pistia spp. So as mais comuns e mais prejudiciais plantas deste campo. Infelizmente nenhum peixe alimenta-se destas plantas. O piscicultor no deve permitir que estas plantas prolierem no viveiro. Porm em tanques de reprodutores de Chichlidae, em uma cobertura de 1/3 da rea do tanque, ela tanto serve como abrigo aos peixes contra os pssaros predadores como sombreamento do mesmo; b) emersa e/ou emergente-crescem principalmente nos taludes dos viveiros. No caso de viveiros grandes, as plantas emergentes protegem os diques contra a eroso. Caso estas plantas ocupem grandes reas dos viveiros, necessitam ser controladas. A carpa capim, Ctenopharyngodon idella (Cuv. & Val.), pode comer muitas destas plantas quando as folhas e ramos esto mergulhadas na gua; por exemplo: Phragmites sp., Chara sp. e a Typha sp. e c) submersas e/ou demersas-quando a gua do viveiro muito clara e transparente as plantas submersas desenvolvem. Estas plantas so tambm produtoras de matrias orgnicas que armazenam em suas culas e por isso proliferam rapidamente. Na maioria dos casos, esta produo prejudicial piscicultura pois estas plantas retiram rapidamente os materiais nutritivos (fosfatos e nitratos) da gua. A carpa capim e o piau verdadeiro, Leporinus elongatus (Valencienes, 1849), alimentam-se dessas plantas, porm, seletivamente. Algumas espcies de tilpias tambm comem os brotos destas plantas. Somente a carpa capim grande (com mais de 300g) pode exterminar e controlar estas plantas. Em viveiros onde a transparncia baixa estas plantas no podem se desenvolver em grandes quantidades, como por exemplo: Miriophillum sp., Potamogeton sp., Elodea sp., e Cabomba sp.. A vegetao aqutica pode ser controlada por trs meios diferentes: a) por meio mecnico, erradicando a mo, o meio mais simples e sem dvida o mais econmico. nico aplicvel em piscicultura intensiva; b) por meio qumico de produtos de eficcia varivel, cuja lista pode ser encontrada nas publicaes especializadas. A maior parte desses produtos no so txicos, para o peixe, com a condio de no se ultrapassarem as doses prescritas, mas preciso estudar o respectivo preo de custo; e c) por controle biolgico que consiste em serem consumidas as ervas pelos animais selvagens e/ou pelos peixes.

1.4.6 Atenuao do impacto ambientalO impacto ambiental provocado pelos projetos de aproveitamento de recursos hdricos de to grande monta que, no mundo inteiro, j se desenvolvem pesquisas, criam-se tecnologias e todo um grande esforo tcnico levado a efeito, com o objetivo de melhor avaliar as modificaes ambientais causadas pelo barramento de um rio e consequente criao de um lago artificial.

De um modo geral, as avaliaes constam de uma grande lista de itens de vantagens e desvantagens, aos quais se atribui pontos de uma escala. No final, faz-se um balanceamento dos dois lados para se verificar a convenincia ou no da execuo do projeto. Do ponto de vista do impacto biologia, so realmente muito significativas as modificaes provocadas pelo barramento do rio. Assim que passa a existir um lago onde j foi caatinge, a umidade realativa do ar cresce muito em virtude da intensa evaporao da gua represada; o rio jusante, passa do regime de intermitncia a perenidade; a barragem passa a obstacular fisicamente a passagem milenar das piracemas; a introduo de novas espcies gera uma crise de convivncia com espcies nativas at que haja uma acomodao e a formao de novos nichos ecolgicos. O conhecimento detalhado das dificuldades criadas pela construo, gerou a necessidade da construo das obras ditas de engenharia pesqueira.

1.4.6.1 Construo de obras de engenharia pesqueiraO represamento dos rios dificultam ou impede as normais migraes dos peixes, contribuindo para a reduo ou extermnio das espcies reoflicas, que necessitam da dinmica fluvial para a reproduo. As melhores perspectivas de expanso da produo de pescado de gua doce se abrigam na maior explorao dos lagos e represas, estas de importncia crescente. Em consequncia, haver o fornecimento dos peixes que preferem guas lnticas, no necessitando da dinmica fluvial para que se reproduzam. A fim de eliminar este problema, so construdos junto s barragens obras de engenharia pesqueira, para garantir aos peixes o acesso s reas de reproduo, tais como escadas de peixes, eclusas, etc. E para impedir escama-peixes.1.4.6.1.1 Estruturas para facilitar o acesso de peixes represa

As condies de acesso para os peixes migradores de desova total, caracteristicamente potamodromas e com acentuado gonadotropismo, cuja reproduo est condicionada s enchentes dos rios e/ou riachos na poca das cheias so atravs de: a) escada de peixe - a escada de peixe do aude de Mendubim, localizado no municpio de Au, RN, compe-se de 16 tanques superpostos com diferena de nvel de 0,40m de um para outro, o que permite, na poca de sangria, um contnuo fluxo d'gua, em cascata, sem turbilhonamento. A altura total da escada de 6,65m, com os tanques, apresentando 6,0m de largura e comprimento, variando entre 3,15m e 11,15m, sendo provida de um muro guia de 1,40m, construdo em concreto (Gurgel et alii, 1977); e b) eclusas - a eclusa no uma estrutura que objetiva facilitar a movimentao dos cardumes; seu objetivo viabilizar a navegao, servindo para eliminar o problema, do desnvel entre a barragem e o rio jusante. muito simples o seu funcionamento: compe-se de um grande tanque de duas comportas independentes: uma pelo lado da represa e outra pelo lado do rio; para fazer a embarcao descer, fecha-se a comporta da barragem e abre-se a do rio, fazendo evacuar toda a gua do tanque, at que a mesma chegue ao nvel do rio, permitindo a saida da embarcao; operao inversa se faz para o barco subir para represa; fecha-se a comporta do rio e abre-se o da represa; o nvel do tanque subir, at igualar-se ao nvel da represa. pacfico ento que os peixes de piracema aproveitam-se dessa movimentao para subir represa acima. Uma das mais famosas eclusas do mundo est no Canal de Panam, que compensa a diferena de nvel entre os oceanos Atlntico e Pacfico.1.4.6.1.2 Estruturas para impedir o acesso dos peixes represa

Dentre os escama-peixes alguna esto situados nos sangradouros dos audes e outros nos canais de fuga. De ambos os tipos, vrios dos escama-peixes tm depresses no terreno imediatamente a jusante, nas quais fica acumulada gua durante e por meses aps as sangrias dos audes. Constatou-se que, frequentemente, esses represamentos d'gua constituem focos de Serrasalmus, por exemplo, temos o escama-peixe no aude Cajazeiras (Ors, Cear), destinado a impedir acesso de pirambeba, Serrasalmus rhombeus, e tucunar, Cichla ocellaris, no aude pblico Ors (Ors, Cear); escama-peixe, tipo muro-guia, no canal de fuga do sangradouro do aude pblico Sobral (Sobral, Cear); escama-peixe, tipo denteado, no sangradouro do aude Riacho dos Cavalos (Catol da Rocha, Paraba); e sangradouro vertedouro, com funo tambm de escama-peixe no aude Sohen (Senhor do Bonfim, Bahia).

1.4.6.2 Introduo de espcies de valor comercial (balanceamento de populaes)As populaes de uma reserva equilibrada se fornecer todos os anos uma colheita satisfatria de peixes de tamanho comercial pertencendo a uma espcie economicamente vlida. A apreciao do equilbrio de uma populao faz-se por meio de uma percentagem de peixe comercial na populao (define-se o tamanho do peixe comercial segundo as condies locais). Designaremos essa percentagem por coeficiente M. Uma populao equilibradada se M se encontra entre os vlores 33 e 90. H desequilbrio se M estiver entre O e 40 (existe uma zona de incerteza entre 33 e 40). Os valores de M superiores a 85 denotam um excesso de peixes predadores. A forma de equilibrar uma populao precisa, naturalmente, partir do povoamento natural da reserva. Esse povoamento proveniente do curso d'gua onde se construiu uma barragem e pode fornecer uma populao vlida. Contudo, principalmente em se tratar de um curso de gua pouco importante, esta populao pode limitar-se a espcies de tamanho pequeno, incapazes de se adaptarem no novo meio constitudo da reserva. Neste caso, preciso intervir e completar o povoamento natural (em certos casos, pode ser necessrio destruir o povoamento natural antes de introduzir novas espcies): a) quer introduzindo uma espcie micrfaga ou omnvora; b) quer introduzindo uma espcie fitfaga (se houver muita vegetao); e c) quer introduzindo uma espcie predadora, se houver excesso de peixes pequenos, ou se quiser o peixe especialmente para a pesca esportiva. As vezes possvel aumentar sensivelmente a produo das espcies. Em condies ecolgicas determinadas, as produes quantitativas, qualitativas e econmicas podem alcanar maior ou menor nvel segundo as espcies cultivadas e os mtodos de explotao.

PARTE2. MTODOS DE AUMENTO DA PRODUTIVIDADE AQUTICA NATURALJos Jarbas Studart Gurgel* Juan Enrique Vinatea**

2.1 O Meio Ambiente e a Produo de PeixesDado o pouco conhecimento dos termos tcnicos em lngua portuguesa, empregados pela cincia pesqueira para expressar os diversos aspectos com a produ de peixes e no sentido de melhor entender os conceitos a respeito, se faz necessrio definir alguns termos-chaves, mais freqentemente utilizados, como sejam:

Ecologia: o estudo das interaes dos seres vivos entre si e com elementos do meio ambiente onde se desenvolvem; Espcie: o conjunto de indivduos que possuem caracteres anlogos, transmissveis pela hereditariedade; Habitat: situao sob a qual vive normalmente uma comunidade, espcie ou indivduo, cujos componentes fsicos mais importantes so a rea geogrfica, a temperatura, o vento, as correntes, o substrato e outros; Populao: o conjunto de indivduos de uma ou mais espcies afins, que formam um todo em um determinado ambiente; Comunidad ou Biocenose: o conjunto de diversas populaes, que vivem em um determinado habitat; Biotopo: o habitat tpico de uma comunidade ou biocenose; Nicho: uma funo especfica do habitat para determinada espcie ou comunidade, relacionada com suas caractersticas trficas; Produtividade: a produo por unidade de tempo (hora, dia, ms ou ano), de rea ocupada (m 2, ha ou outra), mo-de-obra (homem/dia), custo (capital investido ou custo operacional), dentre outras; Produ: a expresso quantitativa do que foi produzido; Produto: a expresso quantitativa do que foi produzido; Biomassa: o conjunto de todos os seres vivos constituintes de um determinado ambiente aqutico e de valor econmico; e Obs: * Diretor da Diretoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS e Professor Assistente da UFC.** Tcnico da FAO.

Standing Crop: a sinonmia de biomassa, de uso generalizado, significando o conjunto de todos os seres vivos, tanto produtores como consumidores. Em um ecossistema aqutico, no caso o reservatrio para a produo de peixes, formado pelo bitopo e a biocenose, esto bem definidos os seus componentes inorgnicos e orgnicos, cujo conhecimento dos mesmos contribue para melhorar sua produtividade. Por apresentar alguma homogeneidade sob o ponto de vista topogrfico, climtico, botnico, zoolgico, geoqumico e hidrolgico, as trocas de matria e de energia entre os seus constituintes, se fazem com grande intensidade, sendo o ecossistema capaz de, dentro de certos limites, resistir s modificaes do meio-ambiente e s bruscas variaes da densidade das populaes. As interrelaes entre os constituintes de um ecossistema, podem ser entendidas mediante as etapas do ciclo biolgico, que so: a. o ecossistema recebe a energia luminosa dos raios solares; b. pela fotossntese os vegetais captam essa energia e a utilizam para produzir matria orgnica (hidratos de carbonos), a partir da gua, do dixido de carbono (CO 2) e

dos sais minerais. Os vegetais, as bactrias e o fitoplncton, so os produtores da matria viva no meio aqutico; c. Os animais aquticos, sendo incapazes de produzir matria viva, consomem os vegetais, recebendo por isso a denominao de organismos consumidores. Estes podem ser dos seguintes tipos: primrios, quando se nutrem diretamente do fitoplncton e dos vegetais aquticos. So consumidores primrios o zooplncton e os peixes herbvoros, como a tilpia do Nilo, a tilpia do Congo, a carpa capim e outros; secundrios, quando se alimentam dos consumidores primrios, como o zooplncton e os peixes predadores de herbvoros, como o tucunar comum, a traira, o pirarucu, a pescada do Piau e outros; tercirios so os que se alimentam de insetos, dos peixes predadores de espcies cticas herbvoras e de consumidores secundrios, e assim por diante, como quaternrios, e outros, cuja dependncia constitue o que se chama de cadeia trfica ou pirmide alimentar. Os componentes de cada nvel trfico podem ser atacados por outros tipos de organismos, tais como, parasitas, fungos e bactrias, que so responsveis pela decomposio e mineralizao da matria orgnica. A passagem de um nvel trfico para outro ocasiona perdas de matria e de energia, em consequncia da assimilao incompleta e das atividades vitais, como a locomoo, a digesto, a respirao e outras funes vitais, que acarretam consumo de energia. Os peixes so mais eficientes em economizar energia do que os vertebrados terrestres, pois na gua conseguem vencer melhor a ao da gravidade, visto a densidade desse lquido, resultando da que, no ambiente aqutico se alcana com a criao de peixes, muita maior produtividade, do que com a criao de gado bovino. Dentro de um mesmo nvelo trofico, alguns organismos podem ser mais eficientes para transformar energia que outros, se sabendo tambm que em peixes da mesma espcie, h indivduos melhor convertedores que outros. Esta qualidade depende muito da capacidade que tem um indivduo em capturar e aproveitar o alimento, como tem sido comprovado em populaes de cultivo intensivo, se dando a este fato a denominao de fenmeno de Tobi, sobre o qual pesquisadores japoneses puderam demonstrar de que no se tratava de qualquer caracter hereditrio, mas, nica e exclusivamente, a oportunidade que tm alguns peixes dentro de uma populao, de capturar alimento tanto quanto possa. Ao passar de um nvel trfico para outro a energia disponvel se perde em cerca de 90%. Pesquisadores tm calculado que, se um reservatrio produz 10.000 quilos de algas, estas se convertero em 1.000 quilos de zooplncton, que por sua vez sero transformados em 100 quilos de insetos, estes em 10 quilos de peixes insetvoros e, finalmente, toda aquela biomassa de algas acabar em apenas 1 quilo de peixe predador. Conclui-se, ento, que, se encurtarmos a cadeia trfica do reservatrio, estaremos diminuindo a perda de energia do ecossistema, e, consequentemente, melhorando sua produtividade.

2.1.1 As plantas aquticas e ciliaresA vegetao aqutica que se desenvolve nos audes e outras colees d'gua, sob o ponto de vista da produtividade apresenta uma srie de inconvenientes, como sejam:

reduo da rea inundada em contato direto com o ar, trazendo como consequncia desagradvel a diminuio da areao e da penetrao da luz, fazendo bgaizar o oxignio dissolvido, o pH, aumentar o CO2 livre e inibir a produo do fitoplncton;

reduo de disponibilidade de alimentos para larvas, alevinos, juvenis e adultos de organismos aquaticos; diversos; reduo do espao fsico de movimentao dos peixes e outros animais aquticos; acelerao do processo de decomposio da matria orgnica e produo de gases nocivos; diminuio do volume d'gua devido a transpirao dos vegetais, especialmente por parte das plantas flutuantes; e provocao da morte de larvas e alevinos de peixes, por ao mecnica (asfixia), devido o emaranhado de plantas aquticas, principalmente submersas. Entretanto deve ficar entendido que a presena de uma certa quantidade de plantas aquticas absolutamente necessria para a manuteno do ciclo metablico normal da gua e para a proviso de alimentos essenciais, indispensveis vida dos animais aquticos, como tambm para proteger os reservatrios do assoreamento e da eroso constantes e para a proteo dos peixes contra os seus inimigos naturais. As plantas aquticas das regies tropicais esto classificadas nos seguintes grupos:

Plantas flutuantes, cujas folhas cobrem a superfcie da gua, mas suas raizes no alcanam o fundo do aude. Como exemplo podemos citar vrios gneros de plantas deste tipo, como, Pistia, Lemna, Eichhornia, Salvinia e outras; Plantas submersas, cujas folhas esto abaixo da superfcie da gua, permanecendo inteiramente submersas. o caso dos gneros Vallisneria, Potamogeton, Chara, Hydrotrix e outras; Plantas emergentes, cujas raizes esto fixadas no fundo e suas folhas flutuam sobre a uperfcie da gua, emergindo dela. Como exemplo podemos citar os gneros Typha, Cyperus, Polygonum, Nymphea e outras; e Plantas ciliares, constitudas principalmente por representantes de macrofitas, que crescem s margens dos audes e dos cursos d'gua, principalmente dos gneros Anoma, Ing, Cassia, Licania, Zizyphus, Mimosa, Eugenia, Anacardium e outros. A maior importncia das plantas ciliares consiste na sua utilidade para a conservao dos barrancos dos rios e riachos e para o dreno pluvial. Servem tambm de abrigo fauna silvestre, oferecendo sombra e alimento aos animais aquticos, terrestres e areos mediante os detritos de sua folhagem que caem na gua, estimulando a formao do fito e zooplncton e fornecendo frutos, folhas e raizes forrageiras. O desmatamento de matas ciliares um perigo para a estabilidade do leito dos rios e riachos, pois sem elas as correntes durante a poca das chuvas se tornam violentas, podendo abrir nos barrancos novos rumos, colmatar os baixios das ribeiras, arruinar as lavouras e outras obras construdas pelo homem. As matas ciliares devem ser conservadas, mantidas e adensadas numa largura compatvel com a das maiores enchentes e a fora das correntes registradas. Deste modo podero servir de bosques para os pescadores, oferecendo ao turista abrigo para recreaes beira d'gua. As terras ribeirinhas, imprprias agricultura, ou a pecuria, devem ser florestadas de modo inteligente e racional, com a implantao de espcies madeireiras valiosas, prprias a essas reas o das quais se possa tirar o melhor proveito comercial e econmico. A formao de uma cortina vegetal s margens dos reservatrios uma medida de imperiosa necessidade para a sua conservao, no somente pelo arrastamento contnuo das camadas superficiais do solo, por proteg-lo contra a eroso, a contaminao de suas guas pelos defensivos agrcolas e fertilizantes utilizados, os quais so, nas regies rurais, os principais responsveis pela poluio e eutrofizao dos reservatrios.

A rapidez com que as plantas aquticas, principalmente as flutuantes, submersas e emergentes se desenvolvem e se propagam durante todo o ano nas regies tropicais, apresenta grande dificuldade para o seu efetivo combate e controle. Os principais mtodos utilizados para isso so os seguintes:

Extirpao manual: em regies onde a mo-de-obra de baixo custo, como no Nordeste brasileiro, sob o ponto de vista econmico este o melhor mtodo para o controle da vegetao aqutica, mediante uma bem programada atividade, repetida cada 3 a 4 vezes por ano. As plantas aquticas retiradas devem ser arrastadas para bem longo do reservatrio e ali deixadas ou aproveitadas em outro mister como para a alimentao de porcos, de pato, produo de fertilizantes e de biogs; Extrao mecnica: vrios tipos de mquinas tm sido desenvolvidas em alguns pases para este trabalho, como a under-water weed cutter, a weed remover, a weed cutting saw, e outras, as quais, todavia, alm do alto custo operacional, do custo de aquisio tambm elevado, exigem manuteno rigorosa e reposio de peas que necessitam ser importadas; Utilizao pelo calor: em muitos pases o combate vegetao aqutica tem sido feito com lana-chamas, sem muita eficincia, haja vista que as cinzas das plantas queimadas concorrem para enriquecer o ambiente aqutico com seus sais inorgnicos e as formas resistentes das mesmas voltam a crescer, muitas vezes at com mais vigor. Isto pode ser verificado durante o combate sistemtico que o Corpo de Engenharia do Exrcito dos Estados Unidos da Amrica do Norte fez Eichhornia crassipes no rio Mississipi, cujo exuberante desenvolvimento estava prejudicando a navegao por aquela via fluvial, se constatando que aps a queima, na estao seguinte as plantas voltaram a brotar, crescendo 23cm a mais do que as anteriores.

Uso de fertilizantes: um mtodo que apresenta certa eficincia, quando aplicado em ambientes aquticos de pequena rea, no mximo 1 ou 2 ha. Foi desenvolvido na Universidade de Auburn, Alabama, e se baseia no princpio de que os fertilizantes adicionados na gua, promovem um rpido crescimento do fitoplncton, formando o que se conhece na literatura aqucola por water bloom, ou seja, uma florao excessiva de algas, de alta densidade, que chega a impedir a penetrao da luz solar, matando as plantas submersas. Esta prtica tem sido uma rotina dos aqicultores chineses, que usam fertilizantes orgnicos em elevadas taxas, isto , na base de 500 kg de esterco/ha. A aplicao feita, repetidamente, cada ms, at antes da estocagem dos peixes para engorda. Alm da facilidade de eliminao das plantas aquticas submersas, este mtodo tem uma especial vantagem para a aqicultura, que a de aumentar a disponibilidade de alimentos naturais para os peixes, ao mesmo tempo.

Uso da argila em suspenso: como o anterior, se baseia no mesmo princpio de impedimento da penetrao da luz solar, provocando, por conseguinte, a morte das plantas submersas, face a elevada turbidez da gua. A aplicao da argila tambm s pode ser feita em pequenas reas, sendo uma prtica recomendvel para viveiros de criao intensiva de peixes. O DNOCS tem usado este mtodo em suas Estaes de Piscicultura para o combate ao Hydrotrix gardneri, com relativo xito. Uso de herbicidas: diversos compostos qumicos tm sido usado no controle e combate a vegetao aqutica de viveiros e audes de criao de peixes, embora muitos deles sejam caros e apresentem toxidade para os organismos aquticos. Dentre os vrios tipos usados, os sulfato de cobre (CuSO4) e o arsenito de sdio sao os menos ofensivos vida aqutica, quando aplicados nas concentraes de 1 ppm e 3 a 4 ppm, respectivamente.

Alguns produtos comercials, largamente aplicados na agricultura, so tambm bastante usados no combate s plantas aquticas, como o Endotal, o Bi-hedonal, o 2,4-D (cido diclorofenoxil-actico) e muitos outros. Com respeito ao Bi-hedonal o DNOCS desenvolveu anos atrs trabalhos experimentais em audes, no combate a orelha da ona, Eichhornia crassipes, que podem ser consultados para comprovao de sua eficincia. Dentre todos os mtodos de controle e combate vegetao aqutica j vistos, sejam mecnicos, fsicos e qumicos, nenhum pode ser considerado como ideal, tanto sob o ponto de vista econmico, como de sua praticabilidade e maior eficincia. Sem dvida, o nico mtodo que atende, na verdade, a esses aspectos, o mtodo biolgico, tal como podemos ver adiante.

Peixes: os peixes herbvoros do realmente um combate sistemtico a vegetao aqutica, reduzindo a densidade e melhorando as condies de cultivo de outros peixes. Dentre as espcies mais utilizadas neste mistr, se destacam a carpa capim, Ctenopharyngodon idella, a tilpia do Congo, Tilapia rendalli, a tilpia de Java, Sarotherodon mossambicus, o peixe-leite, Chanos, a tainha, Mugil cephalus e outros. No nosso pas no dispomos de espcies de peixes eminentemente herbvoras, mas j foram introduzidas muitas dessas acima citadas, principalmente no Nordeste brasileiro, como a tilpia do Congo, T. rendalli, que j se encontra aclimatizada. De todas, a carpa capim, C. idella, a que apresenta maior eficincia, dada a sua grande voracidade pelas plantas aquticas, que chega a consumir por dia, mais de 1 a 2 kg, em se tratando de um exemplar de 8 a 10 quilos. O DNOCS j conta com essa espcie no seu Centro de Pesquisas lctiolgicas, em Pentecoste, Cear, pretendendo propag-la e dissemin-la nos reservatrios pblicos e particulares da regio, com vistas a combate das plantas aquticas e como uma nova opo, alimentar para a populao, por se tratar de um peixe de tima palatibilidade.

Mamferos: dentre os mamferos aquticos, cujo hbito alimentar se volta exclusivamente para a vegetao, se pode citar o peixe-boi, Trichechus manatus, originrio da bacia amaznica, tambm de grande eficincia nesse combate, apesar de ser uma espcie ameaada de extino, dada a sua captura predatria que vem sendo feita ao longo dos anos naquela regio. Aves: patos e outras aves domsticas tambm se alimentam de plantas aquticas, podendo contribuir satisfatoriamente, para esse mistr. Insetos: muitos tipos de insetos que tm seu ciclo de vida na gua ou se desenvolvem nas folhas das plantas aquticas, proporcionam um controle da vegetao, dado que, atacando suas partes vitais, causam a morte, como tem sido constatado com os insetos dos gneros Neochetina, Orthogalumna, Acigona, Cornops, etc. Moluscos: algumas espcies de moluscos que se desenvolvem juntos as plantas aquticas, podem proporcionar um controle da vegetao, em face de alteraes que causam no ambiente. Indiretamente, por servirem de alimento aos peixes malacfagos, como o tambaqui, Colossoma macropomum, o piau verdadeiro, Leporinus elongatus e outros, tambm contribuem para isso, pois, ao serem capturados por esses organismos, so deglutidos juntamente com partes de vegetao.

2.1.2 Condies Fsicas e Qumicas da guaDentre os fatores que influenciam na produtividade do ambiente aqutico, sem dvida os fsicos so de primordial importncia, haja vista influenciarem na formao da estrutura ecolgica.

Passaremos a estudar alguns deles, que mais diretamente exercem seus efeitos sobre a produtividade do meio ambiente.

2.1.2.1 Temperatura, cor e transparnciaSob o ponto de vista ecolgico a temperatura um importante fator que exerce influncia sobre a natureza fsica do ambiente tal como a densidade, a viscosidade e os movimentos, bem como sobre a natureza biolgica, por presidir a distribuio dos organismos aquticos, a periodicidade, a alimentao, assimilao, a respirao e a reproduo. A maioria das espcies aquticas, principalmente dos peixes, faz exigncias bem definidas quanto a temperatura sendo que em algumas a tolerncia bastante grande, podendo ser encontradas em gua de clima trmico diferente. Com exceo das aves e dos mamiferos que so homotrmicos, os demais seres aquticos, como os peixes, rpteis e batrquios, so classificados em relao a temperatura, nos seguintes grupos:

Pecilotrmicos ou poiquilotrmicos, impropriamente chamados de animais de sangue frio, e que, quanto a resistncia a temperatura, so de dois tipos: euritrmicos, que apresentam grande tolerncia as mudanas de temperatura, e estenotrmicos, que so exigentes quanto ao limite de temperatura, os quais, nestas condies de limitao, se subdividem: estenotrmicos do frio, de distribuio limitada s regies frias, como o salmo, Oncorhynchus sp, a truta, Salvelinus fontinalis, a alga Hydrurus e outras; e estenotrmicos do calor, encontrados em guas tropicais e equatoriais, como os peixes do Nordeste brasileiro, curimat comum, Prochilodus cearensis, traira, Hoplias malabaricus, pescada do Piau, Plagioscion squamosissimus, tambaqui, Colossoma macropomum, as plantas aquticas orelha de ona, Eichhornia crassipes, murur, Pistia stratiores, e outras. De um modo geral os organismos aquticos s podem subsistir num intervalo de temperaturas compreendidas entre OC e 50, em mdia, pois so estas as temperaturas compatveis com uma atividade metablica normal, embora que existem notveis excees. possvel definir para cada espcie uma temperatura letal inferior ou temperatura de morte pelo frio. Uma temperatura letal superior ou temperatura de morte pelo calor. Uma temperatura mnima efetiva, que a mais baixa suportada por um organismo com vida ativa. Uma temperatura mxima efetiva, que a mais alta, compatvel com uma vida ativa prolongada. Uma temperatura de torpor pelo frio e uma temperatura de torpor pelo calor e, uma temperatura tima preferencial, que procurada pelo organismo. Em geral esta ltima se encontra mais perto da temperatura letal superior do que da temperatura letal inferior. A tolerncia dos organismos aquticos para com a temperatura da gua no sempre a mesma em todas as fases do seu desenvolvimento e zigotos, cistos, esporos, sementes, ovos, etc., podem resistir a temperaturas muito superiores ou inferiores aos limites de tolerncia de suas formas vegetativas. Exemplo disso so muitas espcies de peixes do Nordeste como a traira, Hoplias malabaricus, guar, Poecila vivipara, que em condies climtica precrias, como a ausncia de chuvas, conseguem sobreviver em reservatrias parcialmente secos, garantindo assim a perpetuao da espcie. A elevao da temperatura da gua do meio ambiente provoca um aceleramento dos processos metablicos e sua intensidade, expressa no consumo de oxignia pela respirao, cresce em 10% por cada grau de elevao, o que tambm tem sido observado durante a realizao da fotossntese.

Esta propriedade da temperatura foi estudada pelo cientista holands - Jacobus Van't Hoff, o qual estabeleceu a lei que passou a figurar com o seu nome, de seguinte enunciado: Uma elevao da temperatura em 10C, acelerada o rtmo da reao dos processos biolgicos de 2 a 3 vezes Baseado nesta lei, Hathaway, em 1927, mostrou que certos peixes de gua doce consomem 3 vezes mais alimentos a 20C que a 10C. Segundo o mesmo princpio, uma gua tropical com 25C tem o rtmo dos processos biolgicos acelerados em 2 ou 3 vezes, que em gua temperatura de 15C. Ainda com base na mesma lei, tem sido tambm comprovado e demonstrado a influncia da temperatura no desenvolvimento do embrio dos peixes. Para a evoluo dos ovos h necessidade da absoro de certo nmero de calorias, fixo para cada espcie e dentro da mesma regio ecolgica. O total de calorias necessrias representado pelas chamadas Unidades Trmicas Acumuladas (UTA), que resultam da soma das temperaturas tomadas da gua onde se encontram os ovos dos peixes, desde o momento da fertilizao at o da ecloso. Para cada espcie se pode determinar o nmero de UTA necessrias a incubao, tornando assim fcil de se conhecer a aproximao da ecloso das larvas. O periodo de incubao dos ovos, , portanto, uma funo da temperatura, a qual, evidentemente, no dever exceder aos limites de tolerncia. Esta dependncia da temperatura na evoluo do ovo tem grande importncia na prtica da criao de peixes e da produo de alevinos, principalmente no caso da reproduo da espcie por mtodos artificiais, ou seja, atravs da aplicao do hormnio hipofisrio, conhecida por mtodo lhering de reproduo induzida de peixes. temperatura mdia de 18,4C, ovos incubados de peixe-rei, Odonthestes sp, completam o seu desenvolvimento em 11 dias, enquanto a temperatura de 15,6C so necessrios 16 dias. Isto mostra, realmente, a importncia da temperatura no desenvolvimento do embrio. Em relao s espcies de peixes do Nordeste brasileiro criadas nas Estaes de Pisciculturas do DNOCS, se verifica a mesma dependncia, de conformidade com as nossas condies climticas. A gua quimicamente pura e isenta de partculas em suspenso reflete uma cor azul. Isto o resultado da refrao da luz pelas molculas da gua. Partculas em suspenso quando presentes, absorvem a luz refletida pelas molculas, sendo extremamente raro encontrar nas guas naturais essa cor azul, uma vez que todas elas possuem em suspenso organismos vivos e mortos, bem como material inorgnico. Normalmente, podemos verificar que a cor da gua de um aude varia de um verde-azul a um azul claro, verde amarelado, amarelo escuro e outras tonalidades. Na poesia universal a cor da gua tem sido muito decantada e para no constituirmos exceo, os verdes mares bravios de minha terra natal, exaltados por Jos de Alencar, o grande romancista cearense, no poderia deixar de ser aqui referido. Assim a cor da gua natural resulta da refrao das molculas em suspenso e no das molculas da gua. No caso de um aude repleto de Volvocales, sua gua apresenta uma cor verde, refletida pelas molculas dessa Cloroficeae, e assim por diante. Sob o ponto de vista limnolgico, se distinguem dois tipos de cores: cor verdadeira, tambm chamada de cor especfica e cor aparente. Muitas substncias inorgnicas so responsveis pela colorao que a gua apresenta, mesmo depois de filtrada ou centrifugada, tais como, o ferro, na forma de sulfato ferroso ou xido de ferro que d a mesma uma colorao amarelada; mangans e carbono, que tendem para o marrom; carbonato de clcio, responsvel por uma cor verde, e matrias humficas, que do a gua uma tonalidade varivel de un azul ao verde ou de um amarelo claro ao marrom escuro. Em

muitos audes do Nordeste a cor da gua sempre a mesma em todas as suas partes, entretanto, em alguns h uma variao que depende tambm da profundidade e do substrato. As condies ticas da gua de um aude so de primordial importncia para a sua produtividade natural, haja vista a realizao do processo fotossinttico, que se d na presena da luz, segundo a seguinte reao qumica: 6CO2 + 6H2O C6H12O6 + 6O2 A luz que penetra na gua no passa atravs dela inalterada, pois sofre modificaes em fun das substncias dissolvidas e em suspenso. Assim uma parte se dispersa, outra transformada em energia trmica e outra absorvida, que depende do comprimento de onda do raio luminoso. Raios vermelhos so intensamente absorvidos na camada superficial, seguido do alaranjado, amarelo, violeta, verde e azul. A luz absorvida e dispersa calculada pelo coeficiente de absoro, enquanto aquela transformada conhecida pelo coeficiente de extino. O coeficiente de extino pode ser calculado pelo ndice do limite de visibilidade, atravs da frmula:

donde d, a leitura em metros, do disco de Secchi. A visibilidade da gua dos audes varia bastante e naqueles fortemente coloridos, no chega a ultrapassar poucos centmetros. Ela pode servir de ndice provisrio e comparativo para a sua produtividade biolgica, pois uma grande visibilidade somente poder ser encontrada em uma gua cuja produo de plncton seja pequena. Todavia, pequena visibilidade pode nada dizer a este respeito, uma vez que a matria em suspenso tambm causa de reduo da mesma.

2.1.2.2 Oxignio dissolvidoO oxignio um elemento indispensvel a quase totalidade das funes vitais e se encontra na gua dissolvido, em quantidades variveis, porm em concentrao superior aos demais gases. Faz-se conveniente lembrar que, ao contrrio do que pensam muitas pessoas, o oxignio dissolvido na gua no o da molcula de gua: H2O, pois se assim fosse, teria que ocorrer uma dissociao eletroltica. As principais fontes de oxignio na gua so diretamente da atmosfera, que penetra por ao mecnica provocada pelos ventos, correntes ou declividades. A agitao da gua por movimento ondulatrio e por cascatas, no causam uma supersaturao, como se pode imaginar. Ruttner verificou num riacho das montanhas austracas que a gua, aps descer uma cascata de 3m de altura, teve o seu teor em O2 alterado de 12,06 ppm para 11,71 ppm. A saturao da gua, com o ar, pela agitao mecnica, tem aplicao no tratamento para fins biolgicos, como na criao dos peixes, todavia, uma supersaturao causa de uma doena de peixe, conhecida por bolha gasosa. A ao fotossinttica das plantas clorofiladas, outra fonte que contribue de maneira notvel para a oxigenao da gua. Sendo a luz indispensvel para este processo, o oxignio produzido unicamente nas horas do dia e somente at onde a luz possa penetrar na gua. A camada d'gua onde a fotossntese se realiza, denominada de zona trofognica. De forma inversa, as causas de reduo do oxignio na gua so as seguintes: respirao dos animais e plantas, que uma atividade contnua, tanto durante o dia como a noite, cuja intensidade depende da temperatura ambiente. Uma certa quantidade de O2 pode satisfazer as necessidades respiratrias dos organismos numa gua fria, enquanto a mesma quantidade pode ser insuficiente aos mesmos organismos numa temperatura mais elevada. O valor fisiolgico do oxignio diminui a medida que a temperatura se eleva. Wilding, estudando o ponto de asfixia de 3

espcies de peixes, observou que os primeiros sinais se manifestaram entre 20,5 a 24,0C, com um teor de O2 de 2,01 a 2,25 ppm, enquanto com a mesma concentrao de O2, a temperatura de 7 a 12C, nenhum peixe demonstrou qualquer sintoma de asfixia. A decomposio da matria orgnica outra causa que reduz o oxignio na gua, visto ser este elemento utilizado na mineralizao dos compostos organicos, sempre em quantidades maiores nas guas quentes. A presena de outros gases, como CO2 e o CH4, que se misturam na gua, podem eliminar o O 2 nela presente, reduzindo sua concentrao, como tambm a presena do ferro, que responsvel pela exausto do O2 dissolvido na gua, devido a oxidao dos compostos solveis de ferro e a formao de hidrxidos frricos insolveis. Com exceo das batrias anaerbias, todos os organismos vegetais e animais aquticos necessitam de O2 Muitos invertebrados podem existir na gua com um baixo teor de O2 dissolvido, algumas vezes at menos de 0,1 ppm. Entretanto, para os peixes, esta quantidade depende dos seguintes fatores:

temperatura, pois quando aumenta, o metabolismo do peixe se acelera, necessitando de mais oxignio; e espcie de peixes, visto que as exigncias de O2 depende de cada uma, em particular. Para os peixes mais antigos, filogeneticamente, as necessidades so menores, enquanto para os de clima temperado as exigncias so muito maiores que paraas espcies tropicais. De uma maneira geral o oxignio dissolvido a nveis de 3 ppm, j se mostra perigoso a vida da grande maioria das espcies. Quando o oxignio dissolvido na gua desce a esse nvel mnimo, certos incidentes podem ocorrer com os peixes, antes da morte, tais como:

branquiotropismo, que diz respeito a migrao, tanto no sentido vertical como horizontal, a procura de locais de melhores condies; enfermidades, devido a baixa resistncia orgnica provocada pela falta de oxignio, cujos peixes se tornam vtimas da ao de bactrias, virus e parasitas patognicos. Coleta das amostras, depende das disponbilidades de equipamento e da situao. Amostras da superffcie podem ser coletadas at por sifonagem, desde que convenientemente procedida. Todavia para a obteno de amostras abaixo da superfcie, h necessidade do uso de aparelhos apropriados, sendo os mais usados as garrafas de Kemmerer, de W. Schweder ou de Nansen. A amostra d'gua deve ser colhida com toda precauo e evitada a menor agitao do lquido ou contato prolongado com a atmosfera. A amostra colhida com qualquer desses aparelhos transferida para um vidro de rolha esmerilhada, de 250 a 300 ml de capacidade. conveniente encher o frascoe deixar a gua escorrer durante algum tempo para eliminar algumas bolhas de ar. A determinao do oxignio dissolvido deve ser feita imediatamente. Ao mesmo tempo que se procede a coleta da amostra, se mede a temperatura da gua no mesmo local, para clculo da saturao do gs. Mtodos de anlises: para determinao do oxignio dissolvido na gua, so usados os seguintes mtodos de anlises: Mtodos volumtrico pela iodometria, consta dos seguintes: Mtodo original de Winkler, o processo clssico de determinao de O2 na gua, tendo sido descoberto em 1888 por L. W. Winkler. Posteriormente, vrias modificaes foram introduzidas neste mtodo, visando a eliminao de interferncias provocadas por diversas substncias presentes na gua e que prejudicavam a preciso da anlise. O mtodo original pode ser usado ainda hoje em guas claras com baixo teor de ferro, nitritos e matria orgnica. Os reagentes usados so: Soluo de sulfato manganoso (480g em 1 litro d'gua destilada), soluo alcalina-iodada (500g NaOH + 135g Nal em 1 litro de gua), cido sulfrico concentrado (d = 1,83), soluo 0,025 N de tiosulfato de sdio e soluo de amido (5g de amido de batata em 1 litro d'gua). Procedimento da anlise:

Adicione amostra 1 ml da soluo de MnSO 4 e 1 ml da soluo alcalina iodada. Ocorre nesta ocasio, a formao de hidrxido manganoso (1), o qual, na presena do oxignio da amostra oxidado para xido de mangnico, como se pode ver na reao (2), que se caracteriza pela formao de um precipitado de cor marrom:MnSO4 + 2NaOH Mn(OH)2 + Na2SO4 2Mn(OH)2 + 2 2MnO(OH)2 (1) (2)

Adicione a seguir 2 ml de H2SO4. Com a adio do cido, o xido mangnico convertido a sulfato mangnico (3), ocorrendo libertao do iodo, que faz mudar a cor da soluo para um amarelo citrino (4):Mn(OH)2 + 2H2SO4 Mn(SO4)2 + 3H2O Mn(SO4)2 + 2Nal MnSO4 + Na2SO4 + I2 (3) (4)

Transfira 200 ml da amostra para um frasco de Erlenmeyer e titule rapidamente com sol. 0,025 N de Na2S2O3, at que a cor amarela seja reduzida a uma plida colorao. Adicione algumas gotas de amido e continue a titulao at o desaparecimento completo da cor azul, visto nesta reao (5):I2 + 2Na2S2O3 Na2S4O6 + 2NaI (5)

Clculo dos resultados: a quantidade do tiosulfato de sdio usado , numericamente, igual a quantidade de O2 dissolvido, em ppm. Para expressar o resultado em cm3/l, multiplique o ppm por 0,695 e para converter cm3/l em ppm, multiplique cm3 1,43. Mtodo de Winkler modificado por Ridear-Steward deve ser usado somente em guas com teor de ferro ferroso. Mtodo modificado pelo alcali-hipoclorito: prprio para amostras com sulfitos, tiosulfatos e cloro livre. No oferece muita garantia. Mtodo modificado por Theriault, deve ser usado em guas com matria orgnica de fcil oxidao. Mtodo modificado pela floculao com almen: prprio para amostras com elevada concentrao de slidos em suspenso. Mtodo de Ohle, trata-se do melhor mtodo iodomtrico para a determinao de O 2 na gua, at agora desenvolvido. Entretanto a tcnica um pouco difcil de ser executada, pelo que no muito usado. Mtodo pela polarografia, consiste na utilizao de um instrumento eltrico, cujo funcionamento se baseia no sistema da anlise polarogrfica. O aparelho mede o oxignio dissolvido e a temperatura da gua, ao mesmo tempo. Estas medies so feitas por meio de um acessrio, que constitudo de uma sonda de plstico, dentro da qual se encontram um andio de prata e um catdio de ouro, envolvidos por uma membrana de teflon. A sonda est ligada extremidade de um cabo transmissor, por onde fluem a corrente eltrica e a trmica. Realmente, a sonda no mede a quantidade de O2 dissolvido, mas, a presso que este gs exerce sofre a membrana de teflon. Se a presso do oxignio aumenta, mais oxignio se difundir atravs da membrana permevel e a corrente eltrica fluir proporcionalmente ao aumento da presso. Cuidados especiais devem ser dispensados ao aparelho durante a operao de medio do O 2 e da temperatura da gua. Mtodo de avaliao do O2 dissolvido pela temperatura: quando no se dispe de nenhum equipamento ou dos reagentes para a determinao do O2 dissolvido pelo mtodo clssico de

Winkler ou qualquer outro, este pode ser estimado baseado exclusivamente na temperatura da gua, mediante o emprego da seguinte frmula: O2 diss. em ppm = 14 - (0,27 temperatura). Mtodo qualitativo pela madeira, nos ltimos anos tm sido desenvolvido um processo de determinao do oxignio, qualitativamente, mediante o uso de madeira, rica em tanino. Certos tipos de madeira, quando introduzidos na gua com oxignio, adquirem uma colorao prpria, que indica a presena desse gs ou sua falta. O mtodo fcil de ser executado, principalmente por aqicultores, para corihecimento das condies de viveiros com peixes. Conhecida a concentrao de O2 dissolvido na gua e se sabendo das exigncias dos organismos aquticos, se pode com facilidade calcular o consumo/hora da biomassa presente e as disponibilidades existentes. Assim, em um viveiro de 1 ha (10.000 m2), estocando 1000 kg de curimat comum, Prochilodus cearensis, e se sabendo que para cada kilograma de peso so consumidos 800 mg de O2/hora, enquanto a gua do viveiro est com 6,5 ppm de O2, fica fcil de estimar as reais condies do ambiente aqutico.

2.1.2.3 Dixido de carbonoA maior importncia do CO2 como responsvel pela formao biolgica do ecossistema, a presena do carbono em sua molcula. O C um dos mais versteis elementos qumicos, em face de possuir 4 eltrons, que lhe d a capacidade de formar um fabuloso nmero de compostos, alguns de extrema complexidade. As numerosas e variadas atividades do CO 2 na gua, so causadas pela elevada solubilidade desse gs, o qual se mostra mais solvel que o oxignio. Embora o ar contenha cerca de 700 vezes mais oxignio que o CO 2, a proporo na gua mais ou menos igual, ou seja, cerca de 4 cm3/l de CO2 para 6 cm3/l de O2. Nas guas naturais o CO2 derivado de vrias fontes tais como:

diretamente do ar, onde se encontra em pequenas quantidades (cerca de 3,5:10.000), mas nas proximidades das cidades e em regies vulcnicas, esta quantidade pode ser muito maior; guas de lavagem do solo, podem levar consigo quantidades considerveis de CO2, oriundo da decomposio da matria orgnica depositada sobre o solo e que entra em contato com ela; decomposio da matria orgnica, no fundo dos audes ou de suas margens, podendo elevar o teor de CO2 para valores bem superiores ao normal. Mesmo em locais de pouca profundidade, essa quantidade pode se tornar prejudicial a vida dos organismos aquticos. Kleerekoper verificou que em uma gua de grande produtividade biolgica, aps ter recebido enorme quantidade de CO 2 proveniente da decomposio da matria orgnica, perdeu quase que totalmente essa produtividade, se tornando pobre em organismos vivos. Neste exemplo, o teor de CO2 era de 3 a 4 ppm antes da gua entrar em contato com a matria orgnica, tendo subido aps, para 34,8 ppm. respirao de animais e plantas, cujo processo contnuo produz e consome CO2 dentro da gua, dependendo, obviamente, da magnitude da flora e da fana aquticas, do tamanho relativo dos organismos vivos e da intensidade da respirao; dissociao de carbonatos e bicarbonatos, podendo se fazer presentes na gua sob a forma de CO2 fixo, incorporado aos monocarbonatos de metais alcalinos e alcalinosterrosos, como o CaCO3 e o MgCO3, que so insolveis e fracamente se dissociam, libertando o CO2, e na forma de CO2 semi-fixo, que se encontra incorporado aos bicarbonatos, como o de Ca(HCO 3)2 e de Mg (HCO 3)2, os quais apresentam relativa instabilidade, podendo se dissociarem, dependendo das condies do meio. Quando por um motivo qualquer, uma quantidade de uma das trs substncias, dixido de carbono livre (CO2), monocarbonato (CO3) e bicarbonatos (HCO3) modificada, quebrando o

equilbrio entre elas, as 2 restantes ajustam suas quantidades, de acordo com a nova situao. Por exemplo: Se o teor de CO2 livre diminui, devido a uma maior intensidade da atividade fotossinttica, uma parte dos bicarbonatos se transforma em carbonatos insolveis e dixido de carbono livre, de conformidade com a reao abaixo: Ca(HCO3)2 CaCO3 + CO2 + H2O Como os monocarbonatos so insolveis, eles se precipitam no fundo do aude. A reao inversa se d quando, pela maior intensidade da respirao ou decomposio da matria orgnica, a concentrao de CO2 livre aumenta na gua, alm do equilbrio existente entre as trs formas. Neste caso, o excesso de CO2 livre se combina com os monocarbonatos insolveis para formar bicarbonatos solveis, ou seja: CaCO3 + CO2 + H2O Ca(HCO 3)2 A ausncia de metais, principalmente o Ca e Mg na gua, faz com que o excesso de CO 2 permanea livre. Possuindo um forte poder dissolvente, o CO 2 nestas condies, toma o nome de CO2 agressivo, pois ataca rochas, minrios, redes de encanamento, materiais de construo, etc. Quando os materiais dissolvidos so txico, a gua pode colocar em perigo a vida dos organismos aquticos. Kleerekoper comenta o caso de mortandades de peixes causadas por sais de zinco dissolvidos de uma rede de ferro galvanizado, cuja gua continha grande quantidade de CO 2 agressivo. Nas Estaes de Piscicultura do DNOCS, de construo antiga, foram mudadas, recentemente, todas as instalaes de ferro galvanizado por PVC, para evitar problemas com a criao de peixes, onde estavam a ocorrer, frequentemente, insucessos na larvicultura. Grandes quantidades de CO2 livre causam prejuzos flora e fauna aquticas, principalmente se acompanhada de baixa concentrao de oxignio dissolvido. Pior do que uma concentrao elevada e constante de CO2 livre, uma concentrao oscilante. Isto se explica pela necessidade que tem os organismos vivos de manterem constantes o pH do sangue dos animais e do suco celular dos vegetais. Um aumento da tenso do CO2 na gua obrigam o organismo a se utilizar de sua reserva alcalina para manter o equilbrio normal. Repetidos ajustes, para mais ou para menos, podem causar a morte de peixes, como foi verificado por Kleerekoper e tambm por Gurgel (1960), no aude Velame, em Jaguaribara, Cear. Sobre o valor limite letal do CO2 livre na gua, existem vrios dados na literatura. Para peixes, concentraes acima de 20 ppm j podem causar prejuzos, principalmente se ocorre uma oscilao muito grande desse gs, durante as 24 horas do dia. Causas de reduo de CO2 na gua Considerando que o CO2 livre um gs extremamente necessrio ao meio aqutico, o processo pelo qual reduzido poder ser cuidadosamente estudado e conhecidas as principais causas, tais como: Processo fotossinttico: O consumo de CO2 livre pela fotossintese depende de diversas circunstncias, que enumeramos:

quantidade dos seres clorofilados, tanto plantas superiores como fitoplncton; durao do efeito da luz do dia; transparncia da gua; e poca do ano.

Algumas vezes a fotossntese pode ocorrer debaixo de camadas de gelo, embora em quantidades reduzidas, como na presena da luz da lua.

Formao de calcrios por certos organismos: Muitos seres aquticos necessitam de carbonatos de clcio e magnsio para a formao de suas carapaas (exoesqueleto), como