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 Projeto de Extensão - O Meio Ambiente e os direitos da Cidadania 1) O QUE É DIR EITO PENAL AMBI ENT AL? Para melhor entender a tutela pe nal do ambiente, deve -se, pr imeiramente, delimitar o co nceito judi co de Meio Ambiente o qu al encontra-se contemplado pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. Ser ia, por tanto, "o co nju nto de condi çõe s, leis, inf luências, alt era çõe s e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas" (art. 3°, inciso I, da Lei n. 6.938/81). Ressalta-se, entretanto, que na atualidade quando se faz referencia a meio ambiente, não se restringe à natureza e ao ser humano, vai mais além. Segundo o autor Rogério Rocco, “divide-se o conceito em duas partes – meio ambiente natural e o construído, este abarca os bens, as obras, acervos paisagísticos, arqueológicos, o mobiliário urbano, as edificações protegidas por lei e etc”  . 1 O termo tutela, por sua vez, carece de seu entendimento como a defesa, o amparo, a proteção ou a tutoria. Assim, “se associar o significado de tu tela, com o si gn if icado de meio ambien te , percebe-se que tute la ambiental si gn ifica a pr ot ão empr egada no lu ga r onde se vi ve , ou , o amparo que é dado a tudo aquilo que cerca o homem. 2  O direito ambiental , ta mbém chamado direito do Ambiente, é conceituado por Milaré da seguinte maneira: "Ë considerado como o complexo de princípios e normas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão glob al, visa ndo à sua sus tent abilidad e para as presentes e futuras gerações". 3 Direito Ambiental propriamente dito, começa a aparecer diante de uma conjuntura desfavorável. Por volta da segunda metade do século XVIII, mais 1  ROCCO, Rogério, Legislação Brasileira do Meio Ambiente, Ed. DPeA, 2002. 2 SIRVINSKAS, Luiz Paulo.  Tutela Penal do Meio Ambiente -Breves Considerações Atinentes à Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 ,Ed. Saraiva, 1998. 3 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. Doutrina – prática – jurisprudência – glossário . 2. ed. rev., ampl. e atualiz. São Paulo: RT, 2001

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1) O QUE É DIREITO PENAL AMBIENTAL?

Para melhor entender a tutela penal do ambiente, deve-se,

primeiramente, delimitar o conceito jurídico de Meio Ambiente o qualencontra-se contemplado pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.

Seria, portanto, "o conjunto de condições, leis, influências, alterações e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a

vida em todas as suas formas" (art. 3°, inciso I, da Lei n. 6.938/81).

Ressalta-se, entretanto, que na atualidade quando se faz referencia a

meio ambiente, não se restringe à natureza e ao ser humano, vai mais além.

Segundo o autor Rogério Rocco, “divide-se o conceito em duas partes – meioambiente natural e o construído, este abarca os bens, as obras, acervos

paisagísticos, arqueológicos, o mobiliário urbano, as edificações protegidas

por lei e etc” .1

O termo tutela, por sua vez, carece de seu entendimento como a

defesa, o amparo, a proteção ou a tutoria. Assim, “se associar o significado

de tutela, com o significado de meio ambiente, percebe-se que tutela

ambiental significa a proteção empregada no lugar onde se vive, ou, o

amparo que é dado a tudo aquilo que cerca o homem.2 

O direito  ambiental , também chamado direito do Ambiente, é

conceituado por Milaré da seguinte maneira:

"Ë considerado como o complexo de princípios e

normas reguladoras das atividades humanas que, direta ou

indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua

dimensão global, visando à sua sustentabilidade para aspresentes e futuras gerações".3

Direito Ambiental propriamente dito, começa a aparecer diante de uma

conjuntura desfavorável. Por volta da segunda metade do século XVIII, mais

1 ROCCO, Rogério, Legislação Brasileira do Meio Ambiente, Ed. DPeA, 2002.2 SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente -Breves Considerações Atinentes àLei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 ,Ed. Saraiva, 1998.

3 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. Doutrina – prática – jurisprudência – glossário. 2. ed. rev.,ampl. e atualiz. São Paulo: RT, 2001

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especificamente na época de ouro do desenvolvimento industrial e comercial,

não havia uma consciência da importância de se respeitar o meio ambiente,

“os elementos ambientais sempre foram vistos como inesgotáveis, ante a

falsa premissa de que tais recursos se mostrariam renováveis e

encontradiços em grandes quantidades na natureza”4. Foi só a partir do

século XX que se descobriu que era extremamente necessário se conservar 

a natureza, surge dessa forma o conceito de desenvolvimento sustentável,

elaborado na Conferência de Estocolmo, em 1987.

Quanto a sua natureza conceitual o Direito Ambiental traz uma

singularidade em relação aos outros ramos do direito, pois não é

essencialmente individual, mas também não é só coletivo. Trata-se de um

direito difuso, isto é, sem determinação de seus destinatários, isto é, todos e

qualquer um são legítimos para pleitear a sua defesa. Outra característica

peculiar é que sua aplicabilidade não ocorre de forma isolada, depende da

concorrência dos demais ramos do direito como constitucional,

administrativo, civil, tributário, etc.

 A proteção penal ambiental surgiu para somar-se com as demais

tutelas ambientais que já existiam, o Direito Penal moderno baseia-se no

principio da intervenção mínima, por meio do qual a tutela penal deve ser a

ultima ratio, ou seja, só depois de esgotados todos os mecanismos

intimidatórios (civil e administrativo) é que se procurará, na esfera penal, a

eficácia punitiva. Isso ocorre devido ao fato de o Direito Penal salvaguardar e

interferir somente quando se tratar dos bens jurídicos mais relevantes para a

sociedade, garantindo assim sua eficácia e credibilidade. A inserção do meio

ambiente na esfera dos cuidados penais é uma resposta enfática às

possíveis dúvidas de tratar-se de um bem jurídico de suma importância para

a humanidade.

“Com as suas características repressiva e retributiva, mas ao mesmo

tempo preventiva, o Direito Penal pode ser mais eficaz para demonstrar a

reprovação social incidente sobre os atos de perigo ou de agressão à

natureza e aos bens que ela nos concede ou que estão nela contidos,

podendo intervir quando falharem ou forem insuficientes as medidas

4 FAZOLLI, Silvio Alexandre. Bem Jurídico Ambiental: Por Uma Tutela Coletiva Diferenciada.Ed. Verbo Jurídico, 2009.

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administrativas de restrição e controle, ou forem inaplicáveis as normas do

Direito Civil. Na verdade, as três áreas coexistem pacificamente e podem,

sem dúvida, oferecer conjuntamente as medidas aplicáveis aos casos

concretos.” 5

 Assim sendo, pode-se concluir que, “a lei penal não deve se contentar 

em punir as agressões ao meio ambiente, mas também alcançar os

comportamentos que dificultem ou impeçam o seu desfrute de forma livre e

solidária”. 6

2) OS SUJEITOS DO CRIME AMBIENTAL

I. SUJEITO ATIVOO sujeito ativo dos crimes ambientais pode ser qualquer pessoa física

ou jurídica imputáveis.

Tal conclusão poder ser retirada à partir dos arts. 2º e 3º, da Lei nº

9.605/98, a Lei de Crimes Ambientais. O art. 2º da supracitada Lei apregoa

que o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física imputável. Uma pessoa

imputável é aquela que tem capacidade de entender a licitude do fato e de

agir em conformidade com o referido entendimento, ou seja, indivíduo commais de 18 anos e pleno gozo de suas funções neuro psíquicas.

Pessoa jurídica consiste, não obstante, num conjunto de pessoas ou

bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituída na forma da lei.

Como, por exemplo, associações, empresas, companhias, etc.

No caso das pessoas físicas, podem ser a elas aplicadas como

sanções as penas privativas de liberdade, as restritivas de direitos e as

multas.

 As pessoas jurídicas, por sua vez, também possuem sanções penais

ambientais específicas, a saber: penas de multa, restritivas de direito

(prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos,

suspensão total ou parcial das atividades e prestação pecuniária).

Sobre o tema da responsabilidade penal das pessoas jurídicas por 

crime ambiental, Sávio Renato Bittencourt Silva, ensina, com absoluta

5 FERREIRA, Ivette Senise. Tutela Penal do Patrimônio cultural . São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1995.

6 PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. Ed. Revista dos Tribunais. 2º Edição, 2009.

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propriedade, que : “O Direito Penal vem sendo cada vez menos encarcerador 

e mais restritivo de direitos e pecuniário. (....) Não é, portanto, o fato de não

ser possível o encarceramento da pessoa jurídica óbice a construção de sua

criminalidade, com a cominação de penas compatíveis com sua natureza.”7

O art. 4º de tal Lei também não deve ser olvidado, pois possibilita a

aplicação da penalidade de desconsideração da pessoa jurídica sempre que

sua personalidade constituir obstáculo ao ressarcimento de prejuízos

causados à qualidade do meio ambiente. Nesse sentido assevera

brilhantemente o doutrinador Édis Milaré: “Assim, as entidades jurídicas

continuam a ser distintas e separadas de seus membros, mas tal distinção e

separação podem ser desconsideradas sempre que a personalidade jurídica

for utilizada como anteparo da fraude e abuso de direito.”8

Os artigos da referida lei devem ser citados para um maior 

esclarecimento:

Art. 2º: Quem, de qualquer forma, concorre para a prática doscrimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, namedida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, omembro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, opreposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da condutacriminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia

agir para evitá-la.Art. 3º: As pessoas jurídicas serão responsabilizadas

administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, noscasos em que a infração seja cometida por decisão de seurepresentante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, nointeresse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único: A responsabilidade das pessoas jurídicasnão exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes domesmo fato.

Art. 4º: Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempreque sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízoscausados à qualidade do meio ambiente.

II. SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo dos crimes ambientais pode ser a União, os Estados

e os Municípios, diretamente, e a coletividade, indiretamente. Assim, o sujeito

passivo é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. O art. 225, da

Constituição Federal, ao rezar que o meio ambiente é bem de uso comum do

povo revel que de tal sorte, todos nós somos sujeitos passivos do crime

7 In Revista Fórum de Direito Urbano e Ambiental, ed. Fórum, BH, jan./fev./03, p. 659.8 In Direito do Ambiente, 2ª ed. Revista dos Tribunais, SP, 2.001, p. 453.

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ambiental.

 A saber:

Art. 225: Todos têm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo eessencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lopara as presentes e futuras gerações.§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe aoPoder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicosessenciais e prover o manejo ecológico das espécies eecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade dopatrimônio genético do País e fiscalizar as entidadesdedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação,espaços territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressãopermitidas somente através de lei, vedada qualquer utilizaçãoque comprometa a integridade dos atributos que justifiquemsua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ouatividade potencialmente causadora de significativadegradação do meio ambiente, estudo prévio de impactoambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e oemprego de técnicas, métodos e substâncias que comportemrisco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos osníveis de ensino e a conscientização pública para a

preservação do meio ambiente;VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma dalei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais acrueldade.

§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais ficaobrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordocom solução técnica exigida pelo órgão público competente,na forma da lei.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas

ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,independentemente da obrigação de reparar os danoscausados.

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e aZona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem apreservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dosrecursos naturais.

§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou

arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

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§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o quenão poderão ser instaladas.

III. CONCURSO DE PESSOAS

O concurso de pessoas (quando uma infração penal é praticada por mais

de uma pessoa)  é admitido pela Lei de Crimes Ambientais, pressuposto

extraído pela leitura do já mencionado art. 2º dessa lei.

Deve-se ressaltar, entretanto que o referido artigo é praticamente uma

transcrição do art. 29 do Código Penal, excetuando-se os responsáveis pela

empresa ou aqueles que indiretamente tem poder de decisão.

Art. 29: Quem, de qualquer modo, concorre para ocrime incide nas penas a este cominadas, na medida de suaculpabilidade.§ 1º - Se a participação for de menor importância, a penapode ser diminuída de um sexto a um terço.§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crimemenos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa penaserá aumentada até metade, na hipótese de ter sidoprevisível o resultado mais grave.

Entretanto, há controvérsias quanto à responsabilidade da pessoa

 jurídica e seus dirigentes e mandatários, já que o Artigo 3º da LCA, ao prever a responsabilidade da pessoa jurídica, não subtraiu a das pessoas físicas,

autoras, co-autoras e partícipes do fato.

Em suma: tem-se a responsabilidade penal cumulativa entre a pessoa

 jurídica e a física.

De acordo com a Lei, todas as pessoas que tiverem conhecimento da

conduta criminosa de outrem e, não impedir sua prática, quando podia fazê-

lo, também serão responsabilizadas, tendo em vista a conduta omissiva emrelação ao dano ambiental praticado.

3) NATUREZA JURÍDICA DOS CRIMES AMBIENTAIS

Como nos ensina o renomado José Afonso da Silva, a pessoa pública

ou particular não pode dispor da qualidade do meio ambiente ao seu bel

prazer; são bens de interesse público dotados de um regime especial,

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enquanto essenciais à sadia qualidade da vida e vinculados, assim, a um fim

de interesse coletivo.

No ordenamento jurídico pátrio, na Constituição Federal, fora

estabelecida, em seu artigo 225, que o meio ambiente ecologicamente

equilibrado é bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida; ou

seja, manteve o meio ambiente como bem público.

Deve-se ressaltar, entretanto, que com o advento dos interesses e

direitos difusos e a exemplo do artigo 81, inciso I, do Código de Defesa do

Consumidor, firma-se na doutrina outra forma de bem; aquele com

característica difusa.

 A Natureza jurídica do meio ambiente, portanto, é a difusa. Ou seja, o

proprietário é indeterminável, a propriedade é de toda a coletividade, pois

trata de direito indisponível, patrimônio de todos, a cada indivíduo deve ser 

propiciado o meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Por ter tal característica é considerado como um bem mais amplo do

que público. O meio ambiente é conceituado legalmente como "o conjunto de

condições, leis, influências e interações de ordem física, química e

biológica,que permite, abriga e rege a vida em todas as formas” (Lei 6.938/81

artigo3º, inciso I).

Faz-se mister, não obstante, ressaltar que a natureza jurídica dos

crimes ecológicos em sua maioria é a de perigo; seja por referência expressa

à situação de ameaça ou probabilidade de lesão ao bem jurídico protegido,

seja pela finalidade que transparece na incriminação de determinada

conduta. Existem, porém, alguns crimes de dano, devendo nesse caso ficar 

comprovada a efetividade da lesão ao bem jurídico mencionado, disso

dependendo a sua consumação, como é o caso de muitos delitos contra a

flora ou a fauna.

 A maior freqüência da caracterização de infrações de perigo deve-se à

impossibilidade prática da verificação do nexo causal entre a conduta e o

resultado, em determinadas ofensas ecológicas, como é o caso, por exemplo,

da poluição, ou então pela possibilidade da coligação de vários fatores numa

determinada lesão do meio ambiente. O momento consumativo desses

crimes será nesses casos o momento da ameaça ao bem jurídico, com apossibilidade ou a probabilidade de ocasionar uma lesão.

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Realmente, a tendência moderna nos delitos ecológicos é a de

antecipar-se a proteção penal à lesão efetiva do bem jurídico, estabelecendo-

a numa linha avançada de defesa, que pode abranger até mesmo a simples

detenção ou produção de substâncias nocivas ou poluentes. Daí porque a

maioria dos tipos penais nessa matéria constituem crimes de mera conduta,

muitas vezes configurados com a mera desobediência às prescrições das

autoridades administrativas.

4) DA APLICAÇÃO DA PENA

 Art. 8º As penas restritivas de direito são:

I - prestação de serviços à comunidade;II - interdição temporária de direitos;III - suspensão parcial ou total de atividades;IV - prestação pecuniária;V - recolhimento domiciliar.

I - Prestação de serviços à comunidade Art. 9º A prestação de serviços à comunidade

consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas juntoa parques e jardins públicos e unidades de conservação, e,no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, narestauração desta, se possível.

O CP, em seu art. 46, prevê a prestação de serviços à comunidade “

em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros

estabelecimentos.

Essas tarefas deverão ser executadas durante 8 (oito) horas

semanais, em consonância com o horário de labor do réu, vez que a

legislação penal constitucional inserido no artigo 5º da Constituição Federal

que impossibilita o envio de terceiros na execução da pena, por força do

princípio da individualização da pena, ratificado por decisão do STF do

Ministro Celso de Mello.

 A gratuidade das tarefas está limitada a três locais, a saber parques,

 jardins públicos e unidades de conservação, sendo que estas são espaços

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territoriais e seus recursos ambientais, e águas, com características naturais

relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de

conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, e com

garantias especiais de proteção, conforme se lê do art. 2º, inc. I, da Lei

federal nº 9.985, de 18 de julho de 2.000.

Se o bem danificado for particular, público ou tombado, a pena

constitui na restauração dele, se possível.

Os parques podem ser compreendidos como sendo grandes áreas de

espaços verdes urbanos, delineados a serem áreas de preservação e

manutenção de espaços verdes nas áreas municipais. Os jardins públicos

são áreas verdes geralmente inclusas em praças.

 Assevera com propriedade o jurista brasileiro que: “A prestação de

serviços à comunidade consistente na restauração no caso de dano é de alta

importância. Interessa apontar que, ao empregar a expressão “restauração

desta”, o art. 9º não está referindo-se somente à restauração da coisa

particular e da coisa pública”9, dependente de laudo pericial adequado que

poderá ser conhecido como abrandamento de pena, como forma de

arrependimento eficaz (artigo 15 do CP).

 A prestação de serviços à comunidade consiste em pena não

institucional, ou seja, é executada em liberdade, e sem qualquer vinculação

com estabelecimento prisional. É também pena alternativa, ou seja, é sanção

de natureza criminal, porém diversa da prisão

II - interdição temporária de direitos;

 Art. 10 As penas de interdição temporária de direitosão a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outrosbenefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazode cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, node crimes culposos.

Seria uma proibição, no caso, de receber doações, subvenções e

subsídios de todos os órgãos públicos, inclusive bancos e agências de

financiamento estatais. Não se enquadrando em uma sanção de cunho

penal, mas sim meramente administrativa.

 A restrição está para contratos públicos de qualquer forma, comopermissão, concessão e demais figuras contratuais. Portanto, a contratação

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privada será permitida para se evitar uma exacerbação apenativa, excedendo

os limiares do jus puniendi do Estado.

Outra restrição imposta ao violador das normas ambientais está na

vedação de receber benefícios de ordem fiscal ou não, pelo fundamento de

não poder alocar recursos públicos para pessoas que violem os comandos

penais ambientais. O amparo está no direito administrativo, vez que o

princípio da moralidade dos atos administrativos deverá reger as atividades

governamentais fazendo com que incida sobre ela a ética, a moral, o

procedimento normal atinente ao ato administrativo e o atendimento aos

clamores sociais e legais, nos termos do artigo 37, parágrafo quarto da Carta

Magna, conforme lição de Maurice Hauriou.

Tendo os direitos temporariamente interditados, o condenado fica

impedido de contratar com o Poder Público e também de participar de

licitações.

É de império destacar, ainda, que com o término do cumprimento da

pena, termina, também, a interdição temporária a que o condenado é

submetido, podendo, portanto, contratar com o poder público, receber 

incentivos fiscais, e participar de licitações

III - suspensão parcial ou total de atividades;

 Art. 11. A suspensão de atividades será aplicadaquando estas não estiverem obedecendo às prescriçõeslegais

 A utilização de técnica ultrapassada, arcaica, incompatível com o

padrão da normalidade técnica poderá acarretar em riscos ao equilíbrioambiental e ao próprio homem, por isso o legislador resolveu inserir no rol

das penas essa modalidade, justamente para reduzir a margem de riscos que

a atividade carrearia ao ecossistema. Dependendo do material utilizado ou do

dano advindo da atividade lesionativa ao meio ambiente que dependerá de

laudo técnico poderá se estabelecer a punição na suspensão parcial ou total,

que ainda poderá se dar em sede de reincidência ou nos antecedentes de

risco.

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IV - prestação pecuniária;

 Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, nãoinferior a um salário mínimo nem superior a trezentos esessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido domontante de eventual reparação civil a que for condenado oinfrator 

Essa modalidade de pena alternativa consiste na reestruturação dos

danos advindos do delito, por via de dinheiro, que poderá acalentar e

dependendo recuperar os estragos causados no meio ambiente, devendo ser 

abatido de eventual ação civil pública ex delicto. Mas o importante é que

muitas vezes essa questão financeira se torna ínfima em face a devastação

ecológica que altera o equilíbrio bioestático e a cadeia alimentar, por 

exemplo, causando lesões de elevada gravidade a flora e a fauna. Podendo

muitas vezes o ilícito ambiental penal se tornar lucrativo.

 A Lei que disciplinava a Ação Civil Pública na defesa dos interesses

coletivos e difusos prelecionava em seu artigo 13 que: “Havendo condenação

em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido

por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão

necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade,

sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.

Parágrafo único. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará

depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção

monetária”.

V - recolhimento domiciliar.

 Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se naautodisciplina e senso de responsabilidade do condenado,que deverá, sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ouexercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nosdias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido nasentença condenatória

É a pena restritiva de direito direcionada a recuperação ambiental.

Então o recolhimento na verdade é uma condenação de forma dúplice,

restringindo a liberdade individual e impondo ao réu uma pena aberta, pois,

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não fixa uma atividade restrita e exclusiva que o mesmo deverá se sujeitar.

Como não há fixação legal, poderá o mesmo cumprir qualquer uma das

modalidades, até mesmo alterar as atividades, pois o tipo silencia, e, ainda

deverá se atentar ao cumprimento mais facilitado da pena, pois, persiste aqui

o caráter reeducativo sobrepondo efetivamente ao punitivo.

5) RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL DA PESSOA JURÍDICA

 Ao contrário da pessoa física, aquela a que é inerente a personalidade

 jurídica, segundo a legislação brasileira, a partir do nascimento com vida, a

Pessoa Jurídica difere-se. Há duas teorias sobre essa origem. Uma afirmaque trata-se de algo criado, ficcional, explicado por duas principais correntes

doutrinárias, “ficção legal” ou “ficção doutrinária”.

De acordo com a primeira corrente, desenvolvida por Savigny , a

Pessoa Jurídica é algo criado pela lei enquanto para a segunda tal definição

foi criada por doutrinadores.

Contudo são negadas pelo fato de o Estado ser uma Pessoa Jurídica e

não ser aceito que o Estado seja algo ficcional. Carlos Roberto Gonçalvesexplana conforme a seguir:

“A crítica que se lhes faz é que o Estado é umaPessoa Jurídica. Dizer-se que o Estado é uma ficção é omesmo que dizer que o direito, que dele emana, também oé”.9

Nesse grupo que critica a teoria ficcionista encontramos a segunda

corrente que explica a origem da Pessoa Jurídica. Trata-se da teoria da

realidade, que se divide em três correntes assim definidas por Gonçalves:

a) Teoria da realidade objetiva - Sustenta que a Pessoa Jurídica

é uma realidade sociológica, seres com vida própria, que

nascem por imposição das forças sociais. A crítica que se lhe

faz é a de que os grupos sociais não têm vida própria,

personalidade, que é uma característica do ser humano.

b) Teoria da realidade técnica - Entendem seus adeptos,

especialmente Ihering, que a personificação dos grupos sociais

9 GONÇALVES,Carlos Roberto. Direito Civil, Parte Geral, Página 57 – 60. Ed. Saraiva, 2000.

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é um expediente de ordem técnica, a forma encontrada pelo

direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos,

que se unem na busca de fins determinados.

c) Teoria da realidade jurídica - (ou institucionalista, de Hauriou)

- Assemelha-se à da realidade objetiva. Considera as pessoas

 jurídicas como organizações sociais destinadas a um serviço ou

ofício, e por isso personificadas. Merece a mesma crítica feita a

esta. Nada esclarece sobre as sociedades que se organizam

sem a finalidade de prestar um serviço ou de preencher um

ofício.10

Independente da teoria da origem da Pessoa Jurídica, ela possui

características intrínsecas à sua existência:

a. Personalidade própria, que não se confunde à de seus criadores.

b. Patrimônio Próprio que também não se confunde com o de seus

criadores.

c. Vida própria, independente de seus criadores.

d. Podem exercer todas aquelas atividades que não sejam exclusivasa pessoas naturais ou que não sejam proibidas por lei.

E, segundo César Fiuza,

e. Podem ser sujeitos ativos e passivos de delitos.

Nesse último caso, segundo o doutrinar supracitado, quando o delito

for cometido por pessoa natural que se usa de pessoa jurídica,

descaracterizar-se-á a pessoa jurídica e deverá ser atingida a pessoa natural.

Tal teoria é amplamente defendida pelo direito anglo-saxão e germânico.i

No Direito brasileiro as Pessoas Jurídicas são divididas em nacionais e

estrangeiras, públicas ou privadas11.

Não há dúvida na doutrina quanto à responsabilidade penal da pessoa

física, ou natural. Contudo é extremamente controverso pelo mundo na

doutrina penal quanto à possibilidade de punir penalmente a Pessoa Jurídica10 Idem.

11 BRASIL. Código Civil – Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. “Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado”.

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 – pensamento atualmente vigente principalmente em países do Common Law. No

Brasil a punição penal da Pessoa Jurídica foi possibilitada de acordo com o

artigo 225, §3º, Constituição Federal de 198812, regulamentada pela Lei nº

9605/98, art. 3º.13

Há uma grande crítica quanto a essa possibilidade pelos seguidores

do pensamento romano-germânico embasado no princípio “societas

delinquere non potest”  que refuta a possibilidade de entidades coletivas

cometerem delitos, muito menos de serem punidas penalmente por eles.

Caberia, portanto apenas medidas de punibilidade civis ou

administrativas.

Em 06 de agosto de 2003 a oitava turma do TRFda 4ª região

condenou14 criminalmente a pessoa jurídica A. J. Bez Batti Engenharia Ltda e

seu sócio administrador pelas infrações penais tipificadas nos artigos 4815 e

55 16da Lei de Crimes Ambientais, em concurso formal.

 A polêmica continua na responsabilização das pessoas jurídicas. Parte

dos doutrinadores afirma que qualquer pessoa jurídica poderá ser 

penalizada, tanto pública quanto privada. Há outra corrente ainda que afirma

a possibilidade apenas da pessoa jurídica de direito privado por responder 

penalmente. Isso porque, segundo eles, a União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, autarquias e federações públicas agem apenas em prol do

coletivo. Portanto seria impossível ela cometer delito para beneficiar-se.

Quando o fizer há fortes indícios que o houve desvio de poder. Portanto

apenas a pessoa natural – a que se usurpou da pessoa jurídica de direito

público – poderia ser penalizada.

Nota-se, portanto, que de acordo com a jurisprudência, o dispositivo

12 BRASIL. Constituição Federal de 1998. “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade devida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo paraas presentes e futuras gerações. (...) § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas aomeio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais eadministrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.13 BRASIL. Lei dos Crimes Ambientais. “Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadasadministrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infraçãoseja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgãocolegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”.14 ACr 2001.72.002225-0/SC15BRASIL. Lei nº 9.605/1998; “art. 48Impedir ou dificultar a regeneração de florestas e demais

formas de vegetação. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa”16 Idem. “art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competenteautorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:”

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constitucional possibilitando essa penalização é mormente seguido.

José Afonso da Silva defende tal posição. Apesar de não ser penalista,

o renomado constitucionalista afirma que sanções compatíveis com a

personalidade jurídica devem ser aplicados em atos contra a ordem

econômica e defesa do meio ambiente.17

 A justiça brasileira, apesar de grandes doutrinadores contrários, no

fato de haver a regulamentação constitucional e especial permitiu haver 

condenações apenas voltadas à pessoa jurídica, apesar de o artigo 3º da Lei de

Crimes Ambientais exigir na peça inicial o representante legal pelo fato de a empresa,

 por exemplo, não poder agir por si.

De forma sintética, Ataide Kist cita pontos contrários e positivos de cada

 pensamento.ii

Pontos contrários

1. Pena privativa de liberdade.

 A sanção máxima possível do direito penal brasileiro mostra-se não

apenas ineficaz, mas impossível. O cerceamento da liberdade não

pode ser aplicado ao ente coletivo.

2. Impossibilidade de arrependimento.

O pensamento do legislador ao criar um código penal volta-se à

criação de normas ou preventivas ou punitivas. As normas punitivas

buscam o arrependimento do ente infrator para que não volte a

fazê-lo. Como poderia a pessoa jurídica arrepender-se se essa é

desprovida de vontade própria, agindo apenas e simplesmente de

acordo como seu corpo diretor decidir.

3. Ausência de culpa

 A culpabilidade reside no juízo pessoal de reprovação. É originário

de ente inteligente. O direto penal moderno apresenta como um de

seus objetos de análise reside na culpabilidade! Apenas o ser 

humano seria capaz de agir com livre arbítrio, podendo recair sobre

si juízo de reprovação. A entidade coletiva como um todo não pode

17 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional , 2ª ed.; São Paulo, MalheirosEditores, 243 p.

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fazê-lo por não possuir voluntariedade e também pela possibilidade

de, ao punir entidade coletiva, punir inocente.

4. Personalidade da pena

Um dos princípios mais valiosos do direito penal é a

individualização da pena. Ao condenar uma coletividade como

apenas um órgão individual sem pesar a ação de cada membro a

antijuridicidade pode ser tamanha a cometer injustiças irreparáveis.

Pontos favoráveis

1. Responsabilidade delegada

 A pessoa jurídica pode sim ser punida quando a ação do indivíduo

visa um benefício da sociedade em questão. Quando o indivíduo

agiu de forma ilícita agia na verdade buscando o objetivo da

empresa, o porque dela.

2. Pessoa Jurídica como realidade

Manuel Antônio Lopes afirma que a pessoa jurídica deixou de ser 

algo fictício. Trata-se da máxima expressão de uma vontade

coletiva, tornando-se coletivamente “um indivíduo” sendo capazes

de agir lícita ou ilicitamente, dolosa ou culposamente.iii 

3. Possibilidade de Medida de Segurança

 Acabou por concluir-se que as medidas de segurança são aspunições melhor cabíveis e possíveis às pessoas jurídicas. Entre

elas:

a. Advertência

b. Multa

c. Perda ou confisco de bens

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d. Intervenção – impor administrador para monitorar as

atividades da sociedade para cessar o ilícito.

e. Prestação de serviços à comunidade

f. Interdição de direitos

g. Fechamento temporário

h. Dissolução da empresa

i. Divulgação de sentença

6) ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO – DOLO E CULPA

Pacificamente a doutrina cita como elementos subjetivos do tipo penal

o dolo e a culpa.

O dolo, segundo o próprio código penal em seu artigo 18, I, é definido

por ser a ação do agente quando esse assume o risco do ato. O inciso II trata

de definir o delito culposo, aquele que resulta de negligência, imprudência ouimperícia.

O dolo exige cognição e volição. Em outras palavras, o sujeito para

agir dolosamente precisa saber o que está fazendo e querer fazê-lo. Divide-

se em dolo direto, indireto (eventual).

Dolo direto é aquele que visa o ato ilícito como objetivo imediato. O

dolo eventual é aquele onde prevalece a consciência sobre a própria

vontade.

 A problemática continua no que diz respeito à possibilidade de agir 

culposa ou dolosamente. Segundo o Relator Desembargador Fábio

Bittencourt da Rosa, TRF 4ª Região:

“O art. 3º da Lei nº 9605/98 condiciona a responsabilidade criminal da empresaao fato de ter sua direção atuado no interesse ou benefício de sua entidade. Oque se deve examinar para saber se o tipo penal do art. 3º da Lei 9605/98acabou por ser subsumido é analisar o conteúdo da decisão do órgão diretivo.Se ela foi tomada no desenvolvimento empresarial e para garantir o sucesso

dele, não há interesse individual do gerente na decisão, mas da sociedade.Logo, a mesma surgiu para satisfazer o interesse da garantia do resultado da

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produção. Esse proveito para o sucesso da empresa pode ser intencional(dolo) ou fruto de negligência (culpa)” (MS 2002.04.01.013843-0/P)

Quando se trata de direito ambiental a legislação é bastante rigorosa.

 A punição e a necessidade de reparação se dão ausente ou não o dolo ou aculpa.

 Ao levar em consideração a possibilidade da pessoa jurídica agir como

expressão da coletividade, deverá a ação ser valorada como dolosa ou

culposa. Contudo se considerar a pessoa jurídica como a manifestação da

pessoa natural, deverá a entidade coletiva ser descaracterizada,

transcendendo a barreira legal que separa as duas personalidades e punindo

as pessoas físicas responsáveis por essa vontade delituosa.7) CONCLUSÃO

Entende-se por Direito Ambiental, um ramo do direito ainda em

formação uma vez que, apesar da existência de normas relacionadas às

questões ambientais, não há nesse âmbito uma estagnação, muito pelo

contrário, é um processo dinâmico, que está em constante transformação.

 À medida que a sociedade evolui, e muda o seu modo de pensar sobre

um determinado bem jurídico, no caso em específico o meio ambiente, oordenamento deve acompanhar essas alterações para garantir uma tutela

efetiva. Pode-se dizer que esse foi o caminho seguido pela tutela penal

ambiental, que “nasceu” com o intuito de salvaguardar e proteger o ambiente

como um todo, à medida que ele se tornou um bem jurídico tão caro e

necessário a sociedade, que foi demandada uma tutela mais específica e

rígida, que tivesse ao mesmo tempo características, repressivas, retributivas,

mas, acima de tudo preventivas.

 Ao que diz respeito à natureza jurídica da sanção penal, concluiu-se

que há um objetivo de atender uma função tríplice das penas restritivas de

direito, qual seja, sancionar, retribuir e recuperar o indivíduo. A sanção penal

assume muitas vezes o caráter de limitar ou restringir a liberdade individual,

mas, sempre em prol de uma reeducação do réu para que este não volte a

delinqüir.

Viu-se ainda que, a tutela ambiental não se dá de forma isolada, mas

sim em conjunto com os vários ramos do direito a fim de que se garanta uma

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proteção efetiva, e que condutas ofensivas ao meio ambiente, seja ele natural

ou construído, não fiquem impune.

Por sua transversalidade, o Direito Ambiental altera conceitos de

outras áreas, isso tem reflexo também no direito penal ambiental. Tornou-se

mais fácil o reconhecimento dos sujeitos ativos do crime e, com a instituição

da responsabilidade penal da pessoa jurídica, houve uma inversão de

valores. Foi uma inovação da Lei dos Crimes Ambientais – Lei 9.605/98, que

alterou a lógica do direito penal, que anteriormente era construído em função

exclusiva da pessoa física.

Desse modo, ressalta-se que “o Direito Penal do Ambiente é apenas

um setor do Direito Penal que versa sobre determinado objeto jurídico de

perfil próprio, o ambiente. Suas particulares características defluem

exatamente da natureza ímpar desse objeto de tutela e das peculiaridades

inerentes à intervenção penal nesse campo”.18

 A preocupação ambiental atingiu nos últimos anos, um nível muito

superior ao esperado e, para acompanhar essa evolução no pensamento,

fez-se necessária a inclusão, nos ordenamentos jurídicos, de dispositivos que

se destinassem a reger a conduta das pessoas no que diz respeito aquelas

ações e ou omissões, que tenham a possibilidade de afetar de alguma

maneira o meio ambiente como um todo.

Todas as normas devem por sua vez respeitar o limite da culpabilidade

de cada indivíduo, e o indivíduo por sua vez, seja pessoa física, ou sob a

forma de pessoa jurídica, deve procurar exercer sua cidadania, e respeitar o

meio onde vive, não somente para evitar sofrer as sanções de tais atos, mas

principalmente, para garantir um modo de vida mais saudável para o

presente, e para as gerações futuras.

Conclui-se dessa forma, com as palavras de Albert Schweitzer – Nobel

da Paz de 1952 – “Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da

criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu

semelhante”.

18 PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. Ed. Revista dos Tribunais. 2º Edição, 2009.

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iFIUZA, Cesar. Direito Civil - Curso Completo . 14ª Edição, Ed. Del Rey. 2010.ii KIST, Ataide. Responsabilidade penal da pessoa jurídica; Editora de Direito. 1999iii ROCHA, Manuel Antônio Lopes. A responsabilidade penal das pessoas coletivas – novas perspectivas, ap.116.

BIBLIOGRAFIA

 ABELHA, Marcelo Antônio e FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Manual de Direito

 Ambiental ;.Malheiros; São Paulo/SP

FAZOLLI, Silvio Alexandre. Bem Jurídico Ambiental: Por Uma Tutela ColetivaDiferenciada; Verbo Jurídico, 2009.

FERNANDES NETO, Tycho Brahe; Direito  Ambiental – uma necessidade; Imprensa daUniversidade Federal de Santa Catarina.

FERREIRA, Ivette Senise. Tutela Penal do Patrimônio cultural ; Revista dos Tribunais,SãoPaulo; 1995.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco; Curso de Direito Ambiental Brasileiro; 1ª Edição;Saraiva; São Paulo/SP; 2000.

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GONÇALVES,Carlos Roberto. Direito Civil, Parte Geral ; Saraiva, 2000.

MACHADO, Paulo Affonso Leme de; Direito Ambiental Brasileiro; Malheiros; SãoPaulo/SP; 7ª Edição;1997.

MILARÉ, Édis; Direito Ambiental; RT; 1ª Edição; São Paulo/SP; 2000.

 ________. Direito do Ambiente. Doutrina – prática – jurisprudência – glossário. 2. ed. rev.,ampl. e atualiz. São Paulo: RT, 2001.

O DIÁRIO DE MARINGÁ, 25/08/2009

PRADO, Luiz Régis; Princípios penais de garantia e a nova lei ambiental ; BoletimIBCCrim; edição especial do IV Seminário Internacional do IBCCrim; São Paulo/SP; 1998;nº 70

 ______. Direito Penal do Ambiente; Revista dos Tribunais. 2º Edição, 2009.

ROCCO, Rogério, Legislação Brasileira do Meio Ambiente, DPeA, 2002.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional , 2ª ed.; São Paulo, MalheirosEditores.

SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente -Breves Considerações Atinentes à Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 , Saraiva, 1998.

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EXEMPLOS

Maringá – Restaurante é multado por crime ambiental em Maringá

O estabelecimento, localizado na região central da cidade, foi penalizado em R$ 5 mil.

Na manhã dessa terça-feira (5), a Secretaria de Meio Ambiente de Maringá multou umrestaurante por crime ambiental. O estabelecimento, localizado na região central dacidade, foi penalizado em R$ 5 mil porque vinha deslocando o conteiner de lixo parafrente da Biblioteca Municipal, no espaço destinado ao estacionamento de motocicletas.Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura, o restaurante (que não teve o nomedivulgado) é considerado um grande gerador de resíduos e ainda estaria depositando olixo diretamente na calçada nos últimos dias. “O estabelecimento vinha cometendo umcrime ambiental, recebeu a multa e terá que se adequar, inclusive limpar a via ondeestava depositando os resíduos”, informa o diretor da Secretaria de Meio Ambiente,Sérgio Viotto.Desde o último dia 1º de janeiro, a prefeitura não coleta mais os resíduos de grandes

geradores, ou seja, os estabelecimentos que geram 50 quilos ou 100 litros ao dia. Aindade acordo com Viotto, logo após a chegada dos fiscais, uma empresa contratada pelorestaurante coletou mais de 700 quilos de resíduos, boa parte depositada no local há pelomenos quatro dias. “As providências tinham que ser tomadas pelo restaurante antes dafiscalização”. Além das evidências da origem do lixo, a fiscalização também localizou notas fiscais dorestaurante no meio dos resíduos. “O vigilante do prédio público revelou ainda que eranormal o estabelecimento deslocar o conteiner de lixo para o local, dentro da áreareservada para o estacionamento de motocicletas, em frente ao prédio”, disse Viotto.O diretor da secretaria de Meio Ambiente ainda informou que outros estabelecimentospodem ser multados na cidade se forem encontradas irregularidades na questão da coletae destinação do lixo dos grandes geradores. Serão penalizados também osestabelecimentos que deslocarem os resíduos para outros locais. Gazeta do Povo.

Sanepar opera sem licença e admite crime ambiental

Maringá, nos quais despeja esgoto com cargas poluentes bem acima do permitido pelalegislação, e não possui licença ambiental definitiva do Instituto Ambiental do Paraná(IAP) para operar as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) 1 e 3. As informaçõesconstam de relatórios emitidos pela própria empresa e de estudos técnicos solicitados

pelo Ministério Público do Paraná, que apura as denúncias.

O despejo de cargas poluentes no Córrego Mandacaru e no Ribeirão Maringá, além dereconhecido em relatório da Sanepar, emitido em 10 de junho último, foi confirmado por laudos realizados por técnicos especializados da Universidade Estadual de Maringá(UEM), a pedido do promotor de Defesa do Meio Ambiente de Maringá, Ilecir Heckert.Eles mostram que as ETEs 1 e 3, que atendem a região norte da cidade, estãodespejando esgoto, teoricamente tratado, com elevadas cargas de matérias orgânicas efósforo.

 As duas ETEs também estão operando com base em protocolos de pedidos de licença

ambiental, feitos junto ao IAP. A Sanepar não tem, portanto, licenças definitivas. Essasinformações e os documentos que as sustentam foram enviados para o Ministério Públicodo Paraná em Curitiba, onde fica a sede da empresa, na segunda-feira passada pelo

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promotor Ilecir Heckert. Esse processo pode gerar multas à empresa e até provocar ocancelamento do contrato de concessão dos serviços de abastecimento de água, coleta etratamento de esgoto.