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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA LABORATÓRIO DE BROMATOLOGIA ROTEIRO DE AULAS PRÁTICAS DE BROMATOLOGIA Prof. Carlos Couto de Castelo Branco Profa. Patrícia Maria Pontes Thé Profa. Luzia Izabel Mesquita Moreira da Silva Farm. Bernadete Maciel de Araújo Telmos

Apostilha Bromatologia I

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Page 1: Apostilha Bromatologia I

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E

ENFERMAGEM

DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA

LABORATÓRIO DE BROMATOLOGIA

ROTEIRO DE AULAS PRÁTICAS DE BROMATOLOGIA

Prof. Carlos Couto de Castelo Branco

Profa. Patrícia Maria Pontes Thé

Profa. Luzia Izabel Mesquita Moreira da Silva

Farm. Bernadete Maciel de Araújo Telmos

Fotaleza - 2009

Page 2: Apostilha Bromatologia I

REGRAS DE SEGURANÇA DE LABORATÓRIO

Torna-se imprescindível que durante os trabalhos realizados em laboratório se

observe uma série de normas de segurança:

Siga as instruções específicas dos professores e monitores;

Evite conversar sobre assuntos não relacionados a aula;

Use um jaleco apropriado;

Não fume no laboratório;

Nunca deixe frascos contendo solventes inflamáveis próximos ao calor;

Evite contato de qualquer substância com a pele. Seja particularmente cauteloso ao

manusear reagentes corrosivos como ácidos e bases concentrados;

Dedique especial atenção a qualquer operação que necessite aquecimento prolongado;

Todos os procedimentos que envolvam a liberação de gases e/ou vapores tóxicos devem

ser realizados na capela;

Ver as condições laboratoriais necessárias para a execução das análises;

Relacionar e colocar todo o material necessário ao desenvolvimento da análise à

disposição no balcão, antes de iniciar o trabalho;

Verificar a voltagem dos aparelhos antes de ligar na tomada. Desligá-los após o uso.

Vidrarias após o uso devem ser recolhidas, descartando-se o material usado. Lavar com

água, detergente e enxaguar com água destilada. Secar adequadamente (estufa ou natural);

Não jogue nenhum material sólido dentro da pia ou ralos;

Bancadas e equipamentos devem ser limpas após o uso;

Ao sair do laboratório verifique se não há torneiras (água ou gás) abertas;

Ocorrendo qualquer acidente, comunique imediatamente ao professor ou responsável, para

adoção das medidas cabíveis.

Page 3: Apostilha Bromatologia I

INTRODUÇÃO À BROMATOLOGIA

O homem primitivo, caçador, pescador e coletor de frutos e plantas silvestres,

recolhidas ao acaso, tem sua trajetória ligada a obtenção de alimentos. Nômade, buscava

abrigo nos locais onde havia maior abundância de frutos, raízes comestíveis, caça e pesca

mais abundantes. Quando então deixou de depender do acaso e passou a criar e cultivar, pôde

fixar-se a um local. A utilização do fogo no preparo de alimentos, inicialmente pela ação

direta para tostar, e em seguida para cocção em meio líquido, após a produção de peças de

cerâmica proporcionou um melhor aproveitamento por facilitar o processo digestivo. O uso de

condimentos, a extração de sal marinho, as fermentações e sucessivas modificações nos

hábitos alimentares destacam uma mudança marcante onde o alimento não significava apenas

acabar com a fome, mas também satisfazer o paladar.

Com o aumento da populações, se fez necessária a obtenção de alimentos cada vez

mais abundantes e melhores como também a utilização de métodos para conservar os

alimentos por mais tempo. Primitivos métodos de conservação, como guardar os ovos sob a

terra, o leite em lugares frescos, a utilização de fumaça para a carne e peixes e a secagem de

frutas eram empregados. Esta luta para evitar a fome e as doenças produzidas pela

desnutrição dura até os dias atuais. O desenvolvimento de técnicas de conservação mais

eficientes, o aumento da produtividade através do melhoramento de espécies vegetais e

animais, o uso da biotecnologia vêm proporcionado uma oferta maior de alimentos.

A palavra Bromatologia, deriva do grego: broma, bromatos = relativo aos alimentos, e

logos = ciência. Assim , define-se Bromatologia como a Ciência dos Alimentos. Tudo que se

relaciona com os alimentos desde a produção, coleta, transporte, armazenamento, tratamento

tecnológico, conservação, embalagem, rótulo, e outros aspectos entra no campo de estudo

desta Ciência.

A Bromatologia estuda os alimentos sob vários aspectos:

1. Composição química

2. Ação no organismo

3. Valor alimentar e calórico

Page 4: Apostilha Bromatologia I

4. Propriedades físicas, químicas, toxicológicas

5. Adulterações, contaminações, fraudes

POR QUE A DISCIPLINA BROMATOLOGIA NO CURRÍCULO FARMACÊUTICO?

As análises de alimentos tiveram seu início no século XVIII em Paris – França no seio

das farmácias comerciais. Havendo na época muita fraude em alimentos, um farmacêutico

francês observou que através da determinação do princípio da densidade, poderia constatar

um tipo de adulteração do leite (adição de água).

As autoridades de então, levaram a criação de lei sanitária sancionada pelo Rei da

França, que autorizava aos estabelecimentos farmacêuticos a realizarem deste tipo de análises

e emitires laudos sobre a qualidade dos leites comercializados.

Posteriormente, com o advento de novas e modernas técnicas de análises obtidas pela

aplicação das descobertas da química, da física e da biologia, as análises dos produtos

alimentícios começaram a se expandir.

Além do leite, outros produtos como óleos, vinhos, vinagre, farinhas, etc., passaram a ser

analisados, mas havia a falta de profissionais preparados para tal.

Por possuírem um currículo com uma boa carga horária de química, e pela necessidade de

um profissional que atuasse na área de análise de alimentos, as Faculdades de Pharmácia

foram as primeiras a criar uma disciplina específica sobre análise de alimentos que

inicialmente denominou-se de Química de Alimentos sendo esta a precursora da Química

Bromatológica e posteriormente da Bromatologia.

Dessa maneira, foram os farmacêuticos os primeiros profissionais a estudarem a

qualidade dos alimentos e sua importância para a saúde pública.

Hoje, a moderna, Bromatologia, ciência comum a muitas profissões, não se presta

somente para determinar as propriedades químicas, físico-químicas e microbiológicas dos

Page 5: Apostilha Bromatologia I

alimentos, mas também se propõe a estudar as reações químicas e bioquímicas que tem

influência na perda de qualidade dos alimentos e a integração destes dois aspectos, com

vistas a melhoria na formulação, processamento e armazenamento dos alimentos.

Ultimamente vem ainda preocupando-se com os aspectos de interações entre nutrientes e

fármacos, bem como os alimentos preventivos de doenças (nutracêuticos).

ANÁLISE DE ALIMENTOS

COMPOSIÇÃO BÁSICA DOS ALIMENTOS

Os alimentos são constituídos principalmente por glicídeos, lipídeos, proteínas,

minerais e água, que podem estar presentes em maior ou menor proporção, ou mesmo, alguns

destes constituintes, ausentes em um dado alimento. As análises realizadas rotineiramente

determinam as seguintes frações: umidade, proteína bruta, gordura, fibra bruta, cinzas e

carboidratos. Considera-se composição centesimal a proporção em que se encontram estes

grupos homogêneos em 100 gramas do produto considerado. Através da composição

centesimal podemos obter de modo provável, o valor nutritivo de qualquer alimento. Em

alguns alimentos não se determinam todas as frações indicadas: no leite - não se determina

fibra, na carne - não se determina fibra e glicídios. Como este tipo de análise é genérica, se

houver necessidade de determinar especificamente qualquer um dos componentes de um

alimento, devem-se utilizar técnicas próprias. No caso das cinzas - estudo dos componentes

minerais, das gorduras – determinação dos tipos de ácidos graxos e das proteínas – obtenção

da composição de aminoácidos.

Além de fornecer informações sobre o valor nutricional, a análise de alimentos é

empregada rotineiramente para fins de fiscalização, verificando se a legislação está sendo

cumprida. Este tipo de análise também é empregado no controle de qualidade de rotina, tanto

na matéria prima que chega a uma indústria de alimentos como no produto acabado que sai da

fábrica, além do controle dos vários estágios do processamento..

Page 6: Apostilha Bromatologia I

Composição Centesimal

Em 1860 na Estação Agrícola Experimental de Weede na Alemanha, os pesquisadores

Henneberg e Stohmann, propuseram uma rotina de laboratório para determinação dos

principais componentes dos alimentos.

Dividindo uma amostra em várias porções (subamostras) determinaram seu conteúdo de

umidade , de “graxa bruta”, de cinzas e nitrogênio. Este último valor multiplicado por 6,25

fornecia o teor de proteínas. A digestão fracionada com um ácido diluído, seguida com um

alcalis diluído, fornecia a “fibra bruta”. A porção restante, descontados os valores de umidade,

proteína, graxa bruta, cinzas e fibra bruta, denominaram de “extrato livre de nitrogênio”, onde

atribuíram a esta porção conter somente carboidratos (FENNEMA-1993). Esta rotina ainda é

utilizada até hoje, sendo que algumas das técnicas laboratoriais foram modernizadas.

Considera-se composição centesimal de um alimento a proporção em que se

encontram os grupos homogêneos de seus diversos constituintes em 100g do produto

considerado. Através da composição centesimal obtemos de modo provável, o valor nutritivo

de qualquer alimento.

Segundo LAJOLO (1995), os dados sobre composição de alimentos são importantes

para inúmeras atividades: realização de balanços para verificar a adequação nutricional da

dieta de indivíduos e de populações, para avaliar indiretamente o estado nutricional ou o nível

de risco, para desenvolver pesquisas sobre as relações entre dieta e doença, em planejamento

agropecuário, na industria de alimentos e outras.

Porém, pode-se dizer que, não existem no Brasil informações ou tabelas completas e

centralizadas com a composição em nutrientes e não nutrientes, com a ação fisiológica dos

vários alimentos. A situação é a mesma, às vezes até pior em outros países da América Latina

e do Caribe.

Trabalhos analíticos sobre o teor de nutrientes em alimentos brasileiros foram bastante

desenvolvidos nas décadas de 40 e 50 e início da década de 60, em laboratórios de institutos

oficiais ligados ao serviço de alimentação pública (SAPS), nos laboratórios de Bromatologia

das faculdades de Farmácia e, ainda nas de Agronomia.

Este tipo de pesquisa perdeu status científico deixando de ser considerado como campo

moderno de investigação entre os pesquisadores da área. Resultado é que nos últimos 20 anos,

pouco se fez no Brasil para conhecer melhor nossos alimentos do ponto de vista

bromatológico e nutricional.

Page 7: Apostilha Bromatologia I

As tabelas brasileiras são portanto desatualizadas freqüentemente pouco confiáveis,

por falta de descrição de procedimentos analíticos ou pelo uso de técnicas inadequadas.

VALOR CALÓRICO DOS ALIMENTOS

A fração umidade, cinzas e fibra não apresentam valor calórico. Glicídios e proteínas

fornecem aproximadamente 4,0 kcal/g, enquanto lipídios fornecem aproximadamente 9,0

kcal/g. Assim, conhecendo-se o teor percentual das frações que fornecem calorias podemos

estabelecer o valor calórico multiplicando-se por 4 as percentagens de glicídios e proteínas, e

por 9 o percentual de lipídeos, e em seguida somando-se os resultados. Este é o chamado

método indireto.

O valor energético também pode ser determinado pelo método direto através de uma

bomba calorimétrica. Em uma câmara de combustão, isolada do meio ambiente geralmente

pela água, queima-se determinada quantidade de amostra. Essa combustão provocará a

elevação da temperatura da água circulante, cujo volume é conhecido. Sabendo-se que 1 kCal

é a quantidade de calor capaz de elevar 1ºC o volume de um litro de água destilada, pode-se

correlacionar o aumento da temperatura com o peso da substância. O método direto pode

levar a um erro de determinação para mais, pois também são queimadas substâncias que não

são degradadas pelo organismo.

Conhecer as frações componentes de um alimento dá uma idéia do valor calórico e

nutritivo, entretanto ensaios de digestibilidade dão uma idéia mais aproximada.

PREPARO DA AMOSTRA PARA DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO

CENTESIMAL

A primeira etapa do trabalho é representada pelo preparo adequado da amostra que vai

ser analisada. A amostra tem valor quando representa globalmente o produto, por exemplo um

pão (casca e miolo), uma fruta, (casca, polpa e semente), a menos que haja interesse apenas

pela parte comestível deve ser feita a eliminação das partes não comestíveis.

É da amostra total do produto que se retira a chamada amostra média para exame,

que compreende uma porção da amostra que represente proporcionalmente todas as partes

contidas no todo, para isto deve ser feita, como regra prática, uma homogeneização da

Page 8: Apostilha Bromatologia I

amostra. Esta etapa é muito importante para obtenção de resultados corretos pois erros

cometidos nesta fase não poderão ser corrigidos, por mais que as análise sejam cuidadosas.

A quantidade de amostra a ser utilizada depende da disponibilidade e do tipo de

alimento analisado. Para determinações de rotina, os ensaios devem ser realizados em

triplicata e devem apresentar um desvio padrão aceitável.

DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO UMIDADE

A água está presente em todos os organismos vivos; faz parte dos alimentos de origem

vegetal e animal em quantidades variáveis. A fração umidade, sendo constituída

principalmente por água, não possui valor calórico. Proporcionalmente, quanto mais elevado

o teor de água menor a quantidade dos demais componentes.

Para alguns alimentos existem limites legais para a quantidade máxima de água

presente, como manteiga, margarina, leite em pó, queijos e outros.

A água dos alimentos pode estar em três formas: água livre, absorvida ou de estrutura

e água de hidratação ou ligada. A água livre não se encontra ligada a nenhuma estrutura

molecular dentro da célula e por isso é relativamente fácil de ser eliminada. A maior parte da

água presente nos alimentos está entre os poros do material na forma livre. A água absorvida

ou de estrutura está presente na superfície de macromoléculas como amido, pectina, celulose e

proteína; e água de hidratação está ligada quimicamente a outras substâncias do alimento, não

sendo eliminada na maioria dos métodos empregados. Tanto a água absorvida como a de

hidratação são normalmente encontradas em baixas quantidades.

Na prática, a determinação da fração umidade, é a primeira operação que se realiza,

pois algumas das outras determinações são feitas obrigatoriamente sobre o produto dessecado.

Existem vários métodos para determinação da umidade que podem ser empregados

dependendo do tipo de amostra: métodos termogravimétricos, termovolumétricos,

desidratação à temperatura ambiente, métodos químicos e instrumentais especiais. Para o

emprego de técnicas mais aprimoradas como a análise de aminoácidos e de ácidos graxos,

processos de secagem menos agressivos como a secagem a vácuo com ou sem elevação da

temperatura ou a liofilização, devem ser empregados para que a forma química dos

componentes não seja alterada.

Page 9: Apostilha Bromatologia I

MÉTODOS TERMOGRAVIMÉTRICOS OU INDIRETOS (DESSECAÇÃO ATÉ

PESO CONSTANTE)

Submete-se a mostra a ação do calor utilizando-se uma estufa a temperatura de 100 a

105oC (4-6 h). A determinação é feita por diferença entre o peso do alimento úmido e o peso

do alimento seco. A fração umidade engloba todos os componentes voláteis a temperatura de

até 100 - 105oC.

Alguns alimentos não podem ser submetidos à temperaturas de 105 oC devido a

presença de substâncias voláteis a essa temperatura (óleos voláteis) ou a presença de

quantidades apreciáveis de açúcares que podem sofrer decomposição. Nestes casos deve-se

utilizar uma estufa à vácuo à temperatura de 70oC.

Sabemos que a amostra não contém mais umidade quando obtemos peso constante,

isto é, quando a diferença entre duas pesagens sucessivas difere no máximo em 0,0005g. O

resíduo seco ou extrato seco obtido representa os percentuais dos demais componentes do

alimento considerado.

A secagem também pode ser feita por radiação infravermelha, que é bastante efetiva,

pois permite a penetração do calor na amostra em menor tempo. Equipamentos por secagem

infravermelha possuem uma balança que dá a leitura direta da quantidade de água por

diferença de peso, mas possuem a desvantagem de só poder secar uma amostra de cada vez. A

secagem também pode ser feita em fornos de microondas onde o calor é distribuído

uniformemente entre a superfície e o interior da amostra, facilitandoa evaporaçãoda água e

evitando a formação de crosta na superfície.

Os resultados podem ser apresentados de diversas formas: para o produto considerado

integralmente, para a totalidade da parte comestível, para o produto dessecado. Todas as

formas são válidas, sendo suficiente que se expresse claramente qual o modo usado.

CÁLCULO DO FATOR DE CORREÇÃO

Os resultados podem ser apresentados de diversas formas: para o produto considerado

integralmente ou dessecado, para a totalidade da parte comestível, etc. Todas as formas são

válidas, desde que se expresse claramente qual o modo escolhido.

Page 10: Apostilha Bromatologia I

Devido a praticidade e à interferência da água em muitas determinações, em análise de

alimentos é comum se trabalhar com amostra dessecada. No entanto, os resultados devem ser

expressos em amostra integral, através do cálculo do fator de correção que converte amostra

dessecada em amostra integral.

O fator de correção é calculado da seguinte forma:

100g da amostra - % de umidade = % de Resíduo seco

100g da amostra integral ------- X% de resíduo seco

Yg de amostra integral ------- 1g de resíduo seco

Y= fator que converte amostra dessecada em amostra integral

MÉTODOS TERMOVOLUMÉTRICOS OU MÉTODOS DIRETOS

Nos casos em que outras substâncias voláteis estão presentes em quantidades

significativas, a determinação deve ser feita por processo de destilação com solventes

imiscíveis. Este método tem a vantagem de proteger a amostra da oxidação pelo ar e diminuir

a decomposição causada pelas temperatura elevada. Exige o emprego do aparelho de Dean-

Start ou similares, que permite obter a quantidade de água do alimento por leitura direta do

volume de água.

Os métodos termovolumétricos são mais rápidos e práticos que os métodos

termogravimétricos, entretanto estes são mais exatos.

OUTROS MÉTODOS

A secagem também pode ser feita em temperatura ambiente em dessecadores, onde se

utiliza o vácuo e compostos químicos absorventes de água como o ácido sulfúrico, entretanto

a perda da água se processa muito lentamente.

Outros métodos empregados fundamentam-se em reações que se dão em presença de

água. Entre estes, o método de Karl-Fischer, baseado na redução de iodo pelo dióxido de

enxofre, que só se dá em presença de água ( I2 + SO2 + 2 H2O IH + H2SO4). Esta reação

entre a água e o dióxido de enxofre e iodo, em piridina e metanol, se faz em um aparelho que

Page 11: Apostilha Bromatologia I

exclui a interferência da umidade do ar, fornecendo condições para uma titulação cujo ponto

final seja bem determinado.

Em alimentos de composição padronizada, medidas físicas como índice de refração,

densidade e condutividade elétrica fornecem uma avaliação do teor de umidade de modo

rápido, mediante o uso de tabelas ou gráficos estabelecidos.

EXPRESSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados da análise de alimentos pode ser expresso para a amostra integral, para a

parte comestível da amostra ou para o produto dessecado. Todas estas formas estão corretas, o

mais importante é que haja clareza ao expressar o modo utilizado.

- DETERMINAÇÃO DE UMIDADE -

Método Termogravimétrico

Umidade ou voláteis a 105C é a perda de peso sofrida pelo produto, quando

aquecido em condições nas quais a água é removida. Na realidade, além da água, podem ser

removidas outras substâncias que se volatilizam nessas condições. O aquecimento direto da

amostra à 105C, é o processo mais usual e o resíduo obtido é chamado resíduo seco.

Técnica: Pesar cerca de 3g da amostra em cápsula de porcelana previamente

tarada. Levar à estufa à temperatura de 105C, onde o material é dessecado até peso constante.

Relacionar a perda de peso para 100g da amostra.

Page 12: Apostilha Bromatologia I

DETERMINAÇÃO DE CINZAS (CONTEÚDO MINERAL) EM ALIMENTOS

A cinza de um alimento representa o resíduo mineral ou inorgânico que permanece após

a eliminação da matéria orgânica. Esta eliminação é feita empregando-se temperaturas

elevadas para que toda a matéria orgânica seja destruída. A quantidade e composição da cinza

depende da natureza do alimento e também do método de determinação utilizado.

A determinação da cinza é genérica e não indica o teor de cada mineral presente em uma

amostra. Existem métodos específicos para determinar o teor de cada um dos componentes da

cinza.

OBJETIVO DA DETERMINAÇÃO

A cinza total é utilizada para verificar o valor nutricional de alguns alimentos e rações, é

um indicativo do índice de refinação de açúcares e farinhas e é utilizada também para estimar

o conteúdo de frutas em geléias e doces. A determinação dos componentes individuais das

cinzas é importante para determinar o valor nutricional, devido a essencialidade dos minerais

na dieta como também indicar a presença de alguns minerais que podem ser prejudiciais à

saúde e que estão presentes no solo, resíduos de agrotóxicos e de processos industriais.

MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO

CINZA SECA

Na determinação da cinza total podemos obter a cinza seca ou a cinza úmida. A cinza

seca é mais frequentemente utilizada por ser obtida através de uma técnica simples e útil em

análises de rotina.

A amostra é pesada em cadinhos, que podem ser de quartzo, porcelana, vycor, aço,

platina ou outro material que seja resistente a elevadas temperaturas.

A cinza seca é obtida após a destruição da matéria orgânica em temperatura de 500-

600°C, no forno mufla. Temperaturas abaixo de 500°C podem não destruir totalmente a

matéria orgânica, enquanto temperaturas maiores que 600ºC podem conduzir a perdas de

alguns dos constituintes. A perda pode ocorrer por volatilização ou interação entre os

constituintes da amostra, mesmo na faixa de temperatura indicada pela metodologia. Podemos

utilizar a incineração simples ou a incineração dupla. A incineração simples é a mais

Page 13: Apostilha Bromatologia I

utilizada, consiste em levar a amostra diretamente à temperatura de 550 ºC. A incineração

dupla é usada para amostras ricas em carboidratos, que formam espuma, o que poderia levar a

perdas. Neste caso a amostra sofre uma carbonização prévia, na faixa de 200 ºC para, em

seguida, ser calcinada a 550 ºC.

O tempo de incineração varia com o produto e o método. A determinação termina

quando o material se torna totalmente branco ou cinza, o que geralmente acontece após várias

horas no forno mufla.

CUIDADOS COM A AMOSTRA

Alguns cuidados devem ser tomados dependo do tipo de amostra analisada. Amostras

líquidas ou úmidas devem ser secas em banho-maria ou estufa; as que são ricas em material

volátil devem ser aquecidas vagarosamente para fumegar sem pegar fogo; amostras ricas em

gordura devem ser aquecidas lentamente para evitar a formação de chama; produtos

açucarados tendem a formar espuma, isto pode ser evitado usando-se vaselina ou azeite de

oliva em pequenas quantidades (estes produtos não possuem elementos minerais).

A pesagem das cinzas deve ser feita cuidadosamente por se tratar de um material muito

leve que pode ser perdido facilmente. Algumas são muito higroscópicas, portanto devem ser

pesadas rapidamente.

CINZA ÚMIDA

Alguns elementos são voláteis na temperatura utilizada para determinação da cinza seca,

como o chumbo, arsênio e mercúrio, entre outros. Na determinação da cinza úmida usamos

temperaturas mais baixas e um ou mais ácidos fortes para a completa decomposição da

matéria orgânica. A digestão pode ser feita com um único ácido (H2SO4 ou HNO3), mas às

vezes não é suficiente para completa digestão da matéria orgânica. Uma mistura

frequentemente utilizada é a de ácido sulfúrico e ácido nítrico (H2SO4-HNO3). O ácido

perclórico também pode ser utilizado misturado ao ácido nítrico. A mistura dos três ácidos

citados também pode ser utilizada, mas requer maiores cuidados como o controle exato da

temperatura.

Page 14: Apostilha Bromatologia I

- DETERMINAÇÃO DE CINZAS -

É o resíduo mineral obtido por incineração da amostra em forno mufla à

temperatura de 550C até peso constante e completa eliminação de carvão. As cinzas deverão

ficar brancas ou ligeiramente acinzentadas.

Técnica: Pesar em cadinho previamente tarado cerca de 2g da amostra

dessecada. Carbonizar em temperatura baixa ( 200C ), em seguida incinerar em mufla à

temperatura de 550C. Deixar então que a temperatura do forno baixe até aproximadamente

80C, quando então o cadinho contendo o material é transferido para um dessecador, onde é

finalmente, pesado.

Cálculos:

Cinzas % = 100 x N

p

N = nº de g de cinzas

p = nº de g da amostra

Page 15: Apostilha Bromatologia I

ANÁLISE DE LIPÍDEOS

DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO LIPÍDICA

A fração lipídica, caracterizada por ser insolúvel em água e solúvel em solventes

orgânicos, está presente nos alimentos em proporções variáveis. Muitos métodos de

determinação utilizam solventes apolares como éter, hexano, clorofórmio, benzeno. Além dos

lipídeos, outros compostos que têm solubilidade semelhante, podem ser extraídos como é o

caso de pigmentos, esteróis e ceras entre outros. Na maioria dos alimentos, estes componentes

estão presentes em pequenas quantidades e portanto não influenciam os resultados finais. A

escolha do solvente depende dos componentes lipídicos presentes nos alimentos.

MÉTODO DE SOXHLET

A extração da fração lipídica pode ser feita com o solvente quente ou pelo método a

frio. O método de Soxhlet é recomendado pelo Instituo Adolfo Lutz, sendo portanto um

método oficial.

Neste método, o processo de extração é intermitente, o solvente aquecido é

volatilizado e após a condensação passa pela amostra várias vezes, a cada passagem extrai

uma parte dos lipídeos que são arrastados para o balão. A temperatura deve ser controlada,

pois a velocidade do refluxo sendo muito alta pode levar a pouca penetração do solvente na

amostra. Como a amostra não fica em contato com o solvente muito quente, as alterações são

minimizadas.

A amostra deve estar dessecada para que o solvente penetre mais eficientemente e o

solvente deve ser isento de água para que substâncias hidrossolúveis não sejam extraídas

juntamente com os lipídeos.

O aparelho de Soxhlet consiste em condensador, extrator de sifão e balão de fundo

chato sobre uma chapa aquecedora. O balão deve estar limpo e desengordurado e deve ser

pesado antes do início da extração. A amostra é pesada em um cartucho poroso ou

acondicionada em papel de filtro e colocada no extrator de sifão. O solvente é colocado sobre

a amostra em quantidade suficiente para ser sifonado. O final do processo de extração pode

ser verificado através do teste da mancha, que é feito coletando-se algumas gotas do solvente

que está sendo sifonado e observando-se a presença ou não de uma mancha de gordura.

Page 16: Apostilha Bromatologia I

MÉTODO DE BLIGH-DYER

A extração da fração lipídica é feita com uma mistura de solventes (clorofórmio,

metanol e água) a frio. São formadas duas fases distintas que podem ser separadas, uma de

clorofórmio que contém os lipídeos e a outra de metanol e água que contém os componentes

hidrossolúveis. O clorofórmio é então evaporado e a quantidade de gordura pesada. Lipídeos

polares também são extraídos por este método.

A fração lipídica extraída, por não ter sofrido aquecimento, pode ser analisada quanto

ao índice de peróxido e ácidos graxos livres. Não é necessário que a amostra esteja dessecada.

- DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO LIPÍDICA –

- MÉTODO DE SOXHLET -

Esta fração compreende principalmente as gorduras, embora estejam nela

incluídas outras substâncias solúveis no éter, tais como ceras, resinas, alguns pigmentos, etc.

A extração pode ser feita num extrator contínuo de Soxhlet usando-se como

solvente, o éter etílico (ou hexano), que deve ser anidro pois traços de umidade provocariam

a dissolução de açucares ou outras substâncias solúveis, em água, alterando assim os

resultados. O material em exame deve também ser previamente dessecado pelos motivos

acima expostos.

O tempo de extração é variável dependendo da natureza do produto examinado. A

extração estará terminada, quando uma gota de solvente recém destilado sobre uma folha de

papel filtro, não acusar mais presença de gordura (teste da mancha).

Técnica: Pesar cerca de 2g do produto dessecado, transferir quantitativamente

para um cartucho de Soxhlet e cobrir a amostra com um pedaço de algodão. Proceder a

extração em aparelho Soxhlet (cujo balão foi previamente tarado), durante o tempo

necessário. Evaporar o solvente e colocar o balão contendo o resíduo em estufa regulada a

105C, durante uma (1)hora. Esfriar em dessecador e pesar. Pela diferença do peso, tem-se a

quantidade de substâncias lipídicas presentes na tomada da amostra. Relacionar para 100g de

amostra integral e 100g da amostra dessecada.

Page 17: Apostilha Bromatologia I

- DETERMINAÇÃO DE LIPÍDEOS -

MÉTODO DE BLIGH e DYER

Fundamento: O Método de Bligh e Dyer é aplicável a qualquer tipo de alimento,

porém ocorre uma restrição quanto à amostra, que deve ter até 10% de umidade.

Princípios: Caracteriza-se pela distinção de fases de um sistema formado

basicamente pela amostra, metanol, clorofórmio e água, colocados em devidas proporções.

Apresenta vantagens marcantes sobre a maioria dos métodos existentes de

extração e purificação de lipídios:

- Todas as camadas de lipídios são extraídas (polares e apolares) pois o

clorofórmio é um solvente orgânico para qualquer classe de lipídios, e o

metanol tem função dupla de facilitar o embebimento da amostra e desfazer as

ligações lipo-protéicas.

- A extração é realizada sem aquecimento, permitindo a utilização dos lipídios

extraídos para qualquer tipo de determinação, sem alterações químicas e

físicas.

Procedimento:

Pesar entre 2 e 2,5g (amostra com teor de gordura acima de 20%) ou entre 3,0 e 3,5g

(amostra com teor de gordura abaixo de 20%) de amostra finamente moída e homogeneizada.

Transferir para um tubo de 70mL. Adicionar exatamente 10mL de clorofórmio, 20mL de

metanol e 8mL de água destilada. Agitar no agitador rotativo por 30 minutos. Adicionar

exatamente 10mL de clorofórmio e 10mL de solução de sulfato de sódio 1,5%. Agitar

vigorosamente por dois minutos. Deixar separar as camadas naturalmente ou centrifugar a

1000rpm por 2 minutos. Aspirar a camada metanólica superior e descartar. Filtrar a camada

inferior (pode ser adicionada 1g de Na2SO4) em papel de filtro qualitativo para o tubo de

30mL. Medir exatamente 5mL do filtrado e transferir para um becker de 50mL previamente

tarado. Evaporar o solvente em estufa a 100ºC, esfriar em dessecador e pesar.

Cálculos:

% lipídios totais = peso dos lipídios (g) x 4 x 100

Peso da amostra (g)

Page 18: Apostilha Bromatologia I

ANÁLISE DE ÓLEOS E GORDURAS

A degradação de lipídios pode ser ocasionada por diversos fatores como oxidação,

hidrólise, polimerização e outros. Algumas destas alterações podem modificar a qualidade

sensorial (sabor, aroma, textura e cor), o valor nutricional, como também levar à formação de

compostos tóxicos. Estas mudanças podem ocorrer durante a produção, processamento,

armazenamento ou preparo do alimento.

A caracterização de óleos e gorduras é feita através de uma série de índices que se

baseiam nas propriedades físicas, químicas e físico-químicas desses produtos. São raros os

lipídeos que possuem reação característica específica e, mesmo neste caso, a simples reação

não garante a pureza destes lipídeos. Quando tomados em conjunto, estes índices ou

constantes servem para identificação e avaliação da maioria dos óleos e gorduras.

Os métodos de cromatografia em fase gasosa são aplicados para o conhecimento da

composição dos ácidos graxos destes compostos. Existem algumas fraudes que só podem ser

detectadas por esta técnica, visto que os índices físico-químicos do produto final caem dentro

dos intervalos característicos do óleo puro, como exemplo: óleo de milho fraudado pela

adição de óleo de colza, óleo de oliva fraudado pela adição de óleo de babaçu e de soja.

Índice de Iodo: É o número de gramas de halogênios, expresso em iodo, absorvido por

100 gramas de gordura ou óleo.

Existem diversos métodos que conduzem à fixação de halogênios (I e Br) sobre as

duplas ligações. Os principais são os de Wijs e de Hanus.

Técnica: Pesar 0,1 a 0,5 gramas da amostra (dependendo do grau de insaturação) em

frasco erlenmeyer de 250 ml, provido de rolha esmerilhada. Adicionar 10 ml de clorofórmio

e, com o auxílio de uma bureta, 25 ml de solução de Hanus. Deixar em repouso por 30

minutos, agitando ocasionalmente. Em seguida adicionar 10 ml de solução de iodeto de

potássio a 15% e cerca de 80 ml de água destilada, titular lentamente, agitando, com solução

0,1N de tiossulfato de sódio, utilizando como indicador, em primeiro lugar, a própria cor

amarela do líquido e, finalmente, quando esta tiver desaparecido quase por completo,

adicionar gotas de solução de amido (indicador) e continuar a adição de tiossulfato de sódio

0,1N até desaparecimento da cor azul.

Fazer um ensaio em branco em idênticas condições.

Page 19: Apostilha Bromatologia I

Cálculo:

Índice de Iodo = ( B - a ) x f x 0,0127 x 100 = ( B - a ) x f x 1,27

P P

B = nº de ml de solução 0,1N de tiossulfato de sódio gasto para titular o branco

a = nº de ml de tiossulfato de sódio 0,1N gasto para titular a mostra.

f = fator da solução 0,1N de tiossulfato de sódio.

0,0127 = equivalente em iodo de 1 ml da solução 0,1N de tiossulfato de sódio.

P = peso da amostra.

Interpretação: O conhecimento do índice de iodo permite saber o grau de insaturação

das substâncias gordurosas, pois cada dupla ligação de um ácido graxo pode incorporar dois

átomos de halogênio. Por esta razão, a secatividade de um óleo ou gordura está intimamente

relacionada com o índice de iodo. Quanto maior a não saturação de um ácido graxo, maior

será sua capacidade de absorção de iodo. Os resultados são influenciados, potanto, pela

percentagem de cada ácido graxo insaturado e pelo grau de insaturação de cada ácido graxo.

O índice de iodo permite classificar o óleo em:

- Não secativos: inferiores a 100 ( oliva, amendoim, etc.)

- Meio secativos: entre 100 e 130 (algodão, milho, soja, ger-gelim , etc.)

- Secativos: superiores a 130 (rícino).

Índice de Saponificação: É o número de miligramas de KOH necessário para saponificar

totalmente 1g de óleo ou gordura.

Técnica: Pesar 2g da amostra em erlenmeyer de 250 ml. Adicionar, com

auxílio de uma bureta, 20 ml da solução alcóolica de KOH a 4%. Adaptar ao erlenmeyer um

condensador de refluxo. Ferver durante 30 minutos em banho-maria. Adicionar gotas de

fenolftaleína e titular com HCl 0,5N até que a coloração rósea desapareça. Fazer um ensaio

em branco em idênticas condições. A diferença entre os números de ml de HCl gasto nas duas

titulações é equivalente à quantidade de KOH gasto na saponificação.

Cálculos:

Índice de Saponificação = V x f x 28

P

V = diferença entre os números de ml de HCl 0,5N gastos nas duas titulações.

f = fator do HCl 0,5N

P = número de gramas da amostra.

Page 20: Apostilha Bromatologia I

Fundamento: O termo saponificação significa a conversão das gorduras e óleos

em glicerol e sais alcalinos dos ácidos graxos respectivos. Os ácidos graxos postos em

liberdade se combinam com parte do KOH, formando sabão mole solúvel e o KOH excedente

é doseado pela solução 0,5N de HCl. Doseando-se a quantidade de KOH não combinado, fácil

será deduzir a quantidade que foi absorvida pela matéria gorda, resultando daí o índice de

saponificação.

Interpretação: Quanto mais elevado for o índice de saponificação maior

quantidade de ácidos graxos de menor cadeia, ou seja, os ésteres, cujos ácidos possuem menor

cadeia, apresentam maior índice de saponificação. Isto porque, havendo maior quantidade de

ácidos graxos de cadeia curta, haverá maior consumo de KOH para saponificá-los.

Como vimos antes, na acidez determina-se a quantidade de ácidos graxos livres

e não os que se encontram esterificados. A saponificação engloba tanto os ácidos graxos livres

quanto os esterificados.

Page 21: Apostilha Bromatologia I

Rancidez: Chama-se rancidez a alteração no odor e sabor dos óleos e gorduras provocada

pela ação do ar (rancidez oxidativa) ou de microrganismos (rancidez cetônica).

Reação de Kreiss: A floroglucina reage em meio ácido com os triglicerídeos oxidados, dando

uma coloração rósea ou vermelha, cuja intensidade aumenta com a deterioração, devido,

provavelmente, à presença de aldeído malônico ou de aldeído epidrínico.

Material: Pipeta de 5 ml, proveta de 10 ml e proveta de 50 ml com rolha

esmerilhada.

Reagentes: Ácido clorídrico, solução de floroglucina a 0,1% em éter.

Procedimento: Transfira, com o auxílio de uma pipeta, 5 ml da substância fundida para uma

proveta de 50 ml, com rolha esmerilhada. Adicione 5 ml de ácido clorídrico e agite por 30

segundos. Adicione 5 ml de uma solução de floroglucina a 0,1% em éter. Agite novamente

por 30 segundos e deixe em repouso per 10 minutos. Na presença de substâncias rançosas, a

camada inferior apresentará uma coloração rósea ou vermelha.

Nota: Se a intensidade da coloração for fraca, compare a camada inferior com

uma quantidade análoga de solução de permanganato de potássio a 0,0012% (3,8 ml de uma

solução 0,01N elevada a 100 ml ). Se a intensidade for a mesma, ou inferior, o resultado pode

deixar de ser levado em consideração, se os caracteres organolépticos do produto forem

satisfatórios.

Determinação de Acidez em Óleo Comestível

A determinação de acidez pode fornecer um dado valioso na apreciação do estado

de conservação de um produto alimentício. Um processo de decomposição seja por hidrólise,

oxidação ou fermentação altera, quase sempre, a concentração dos íons hidrogênio. Os

métodos de determinação da acidez podem ser os que avaliam a acidez titulável ou forneçam

a concentração de íons hidrogênios livres, por meio de pH. Os métodos que avaliam a acidez

titulável resumem-se em titular com soluções de álcali padrão a acidez do produto ou de

soluções aqüosas ou alcoólicas do produto e, em certos casos, os ácidos obtidos dos lipídios.

Pode ser expressa em ml de solução normal por cento ou em gramas do componente ácido

principal.

Page 22: Apostilha Bromatologia I

Técnica: Pesar 2g da amostra em erlenmeyer de 125ml. Adicionar 25ml de

solução éter-álcool etílico (2:1) previamente neutralizada. Agitar. Titular com solução 0,1N

de Na0H, usando como indicador a fenolftaleína.

Cálculos:

Acidez em ml sol. N% = V x f x 10

P

Índice de Refração

Determina-se o índice de refração em óleos e gorduras utilizando-se o

refratômetro de Abbé. O índice de refração dos óleos e gorduras se determinam à temperatura

de 40C, todavia a sua determinação pode ser feita à temperatura ambiente devendo, porém, o

resultado ser corrigido para a temperatura desejada.

Como o aumento da temperatura diminui o índice de refração e vice-versa, a

correção deve ser feita somando-se 0,000385 ou diminuindo-se a mesma cifra para cada grau

de temperatura que se encontre acima ou abaixo, respectivamente, da desejada.

Exemplo: Determinado óleo apresentou índice de refração igual a 1,4646 à 35C.

Corrigir o resultado para a temperatura de 40C.

Leitura à 35C = 1,4646

Coreção: 5 x 0,000385 = 0,001825

Índice de refração à 40C = 1,4646 - 0,001825 = 1,4628

Em geral, os índices de refração das substâncias gordurosas oscilam

aproximadamente, entre 1,4600 e 1,5000.

Page 23: Apostilha Bromatologia I

FRAÇÃO FIBRA

Em tempos recentes as fibras têm sido objeto de grande interesse de pesquisadores em

todo o mundo. Até os anos 70 as fibras eram entendidas como componentes inertes dos

alimentos que atravessavam o tubo digestivo e eram eliminados sem produzir efeitos no

organismo humano. No entanto os estudos avançaram nessa área revelando a importância

desse nutriente para o bom funcionamento do trato gastrointestinal e da saúde como um todo.

As evidências do papel fisiológico das fibras dietéticas se originam, inicialmente, de relatórios

epidemiológicos que mostravam uma associação entre a baixa ingestão de fibras e várias

doenças altamente predominantes na civilização ocidental.

São consideradas como conjunto de componentes de alimentos vegetais que resistem a

hidrólise das enzimas endógenas do tubo digestivo. Tais resíduos alimentares não são

digeridos e, portanto não representam valor calórico ou plástico, passam para as fezes.

As fibras alimentares podem ser classificadas baseadas nas suas propriedades físicas e

seu papel fisiológico como fibra solúvel e fibra insolúvel.

- DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO FIBRA -

Técnica: Pesar cerca de 2g da amostra dessecada e proceder a extração total da

fração lipídica, usando éter etílico. Deixar evaporar o éter e em seguida transferir a amostra,

assim desengordurada, para um béquer de 500ml com o auxílio de 200ml de solução 1,25%

de ácido sulfúrico, previamente aquecido. Adaptar ao béquer um refrigerador de refluxo e

aquecer até a ebulição que deverá ser mantida por 30 minutos. Filtrar em seguida e lavar com

água destilada quente, retirando todo o material existente no frasco. Continuar lavando até que

o filtrado não apresente mais acidez. (verificar com papel indicador).

Transferir o resíduo para o mesmo béquer, desta vez com o auxílio de 200ml de

solução 1,25% de hidróxido de sódio, igualmente aquecido. Novamente adaptar ao béquer o

refrigerador de refluxo e aquecer até a ebulição que deverá ser mantida por 30 minutos.

Findo esse tempo, filtrar sobre papel de filtro de cinza conhecida e previamente

tarado (estufa a 105C, esfriar em dessecador e pesar). Lavar com água destilada quente,

retirando todo o material existente no frasco. Continuar lavando até que o filtrado não mais

apresente alcalinidade (verificar com papel indicador).

Page 24: Apostilha Bromatologia I

Lavar em seguida, o resíduo contido no papel filtro, duas vezes com álcool e duas

vezes com éter. Após evaporação total do éter levar à estufa a 105C, até peso constante. Tem-

se assim a fibra total.

Finalmente dobrar o papel de filtro sobre a fibra e incinerar em forno mufla a

550C, usando para isto um cadinho de porcelana previamente tarado. Esfriar e pesar.

Cálculos: A diferença entre a fibra total e a fração mineral da fibra, nos dá a

fração fibra do alimento. Relacionar o resultado para 100g do produto integral e 100g do

produto dessecado.

Page 25: Apostilha Bromatologia I

DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO PROTÉICA

Muitos são os métodos utilizados para determinação de proteínas, sendo o mais

utilizado o método Kjeldahl, que determina a quantidade de nitrogênio total da amostra, não

sendo portanto específico já que o nitrogênio oriundo de outros componentes como ácidos

nucléicos, alcalóides, lipídeos, carboidratos e pigmentos nitrogenados são juntamente

determinados. O método do Biureto baseia-se na formação de complexos coloridos na

presença de ligações peptídicas e sais de cobre em soluções alcalinas. O método do fenol

envolve a oxidação de aminoácidos aromáticos e o desenvolvimento de cor que pode ser

medida em um espectrofotômetro. A espectrofotometria ultravioleta determina proteínas

através da medida da absorção em 280 nm, devido a presença de aminoácidos aromáticos.

MÉTODO DE KJELDAHL

Este método foi proposto por Kjeldahl na Dinamarca em 1883 e tem passado por

várias modificações e desde então até hoje, é o mais amplamente adotado e o mais indicado

para amostras de origem biológica. Na determinação da fração protéica pelo método de

Kjeldahl, obtém-se o nitrogênio total da amostra, que é transformado em nitrogênio protéico

através de cálculos, considerando-se que cada 100g de proteína contém em média 16g de

nitrogênio. Desta forma, o fator 6,25 multiplicado pelo percentual de nitrogênio total da

amostra, corresponderá ao percentual de proteína da mesma.

100g de proteína -----16g N

X -----1g N ; X = 6,25 (fator que converte nitrogênio em proteína)

O procedimento é basicamente dividido em 3 etapas. O método baseia-se no

aquecimento da amostra com ácido sulfúrico para digestão até que o carbono e hidrogênio

sejam oxidados. O nitrogênio da proteína é transformado em sulfato de amônio. Após a

digestão adiciona-se NaOH (40-50%) e aquece-se para a liberação da amônia dentro de um

volume conhecido de uma solução de ácido bórico, formando borato de amônio (destilação).

O borato de amônio formado é dosado com uma solução ácida (HCl) padronizada (titulação).

A amônia também pode ser recolhida em uma solução de H2SO4 de volume conhecido, em

seguida o ácido que não reagiu com a amônia é titulado com uma solução de NaOH e a

quantidade de nitrogênio determinada indiretamente.

Page 26: Apostilha Bromatologia I

1a) digestão da matéria orgânica:

Nesta etapa o nitrogênio é transformado em amônia e os compostos orgânicos são

convertidos em SO2, CO2, H2O, etc.

CuSO4 + K2SO4

Amostra (N orgânico) + H2SO4 (NH4)2SO4 + SO2 + CO2 +H2O

2a) destilação:

Etapa em que a amônia é separada do sulfato de amônio e recolhida em uma solução

receptora (ácido bórico).

(NH4)2SO4 + 2 NAOH 2 NH4OH + NA2SO4

2 NH4OH 2NH3 + H2O

2NH3 + H2O + 2H3BO3 NH4H2BO3

3a) titulação:

Determinação quantitativa do amônio contido na solução receptora

NH4H2BO3 + HCl NH4 Cl + H3BO3

Determinação da Fração Protéica

Pesar (o peso não deve ser superior a 0,1g) a amostra seca (para evitar a formação de

espuma durante a digestão), utilizando papel manteiga. Transferir a amostra enrolada no papel

para um tubo de micro-Kjeldahl (tubo Tecnal). Adicionar ao tubo 600mg de K2SO4 (aumenta

o ponto de ebulição do H2SO4 de 180o para 400o C, tornando a digestão mais rápida), 300mg

de CuSO4 (catalisador que promove a ativação do oxigênio tornando-o com maior poder de

oxidação) e 20 ml de H2SO4. Proceder a digestão no bloco digestor, em capela, até que a

amostra se torne incolor. A temperatura da digestão deve ficar entre 370°C e 410°C.

Após a digestão adaptar o tubo ao aparelho de micro-Kjeldahl (destilador), colocar um

erlenmeyer contendo 10ml de solução de ácido bórico e indicadores (vermelho de metila e

verde de bromocresol) na sua posição para receber o destilado, tomando-se o cuidado de

mergulhar a ponta do destilador na solução. Adicionar, lentamente, 15ml da solução de NaOH

a 50%. Receber o destilado no erlenmeyer, coletando aproximadamente 50 ml do destilado.

Titular o destilado com a solução de HCl 0,02N até o aparecimento de coloração violeta ou

rosa.

CÁLCULOS

Page 27: Apostilha Bromatologia I

Transformar a quantidade de nitrogênio total em proteína utilizando as seguintes

fórmulas:

Nitrogênio (g) = N HCl x V x 14

1000

Nitrogênio (%) = V x N x 14 x 100

A

N = normalidade da solução de HCl = 0,02N;

V = vol. de HCl 0,02N gasto na titulação;

A = mg da amostra (tomada de ensaio)

Calcular a % de proteína na amostra seca e integral.

Page 28: Apostilha Bromatologia I

DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO GLICÍDICA

O termo "carboidrato" referia-se originalmente a compostos que possuíssem a fórmula

geral Cn(H2O)n. Entretanto, somente açúcares simples ou monossacarídeos apresentam esta

fórmula. Outros tipos de carboidratos, oligossacarídeos e polissacarídeos, apresentam fórmula

geral diferente. Quando algumas unidades de monossacarídeos são unidas através da ligação

glicosídica, são formados os oligossacarídeos e quando várias unidades de monossacarídeos

se unem covalentemente, formam os polissacarídeos. A reação que une monossacarídeos

envolve a perda de uma molécula de água para cada ligação glicosídica levando a diferenças

na fórmula geral.

Os monossacarídeos podem ser aldoses ou cetoses (possuem em sua estrutura o grupo

funcional aldeído ou cetona respectivamente). Desta forma, todos os monossacarídeos

possuem em sua estrutura uma carbonila (C=O) livre ou potencialmente livre. É a carbonila

que confere poder redutor aos monossacarídeos. Os dissacarídeos maltose e lactose são

redutores, já a sacarose não apresenta poder redutor porque as carbonilas dos seus dois

monossacarídeos constituintes participam da ligação glicosídica. Polissacarídeos como o

amido e o glicogênio não são redutores.

Um dos métodos de determinação de glicídios está baseado no poder redutor dos

monossacarídeos. No caso de glicídios mais complexos, uma hidrólise ácida ou enzimática

deve ser feita previamente. Há dois tipos de reagentes que usam o íon cúprico como agente

oxidante: a solução de Fehling (íon cúprico em tampão tartarato) e a solução de Benedict (íon

cúprico em tampão carbonato e citrato). Em ambos os casos a solução é básica.

O método de Lane e Enyon ( ), que utiliza o reagente de Fehling baseia-se na

propriedade que têm os açúcares redutores em reduzirem o íon cúprico (Cu++) a íon cuproso

(Cu+) em meio alcalino e a quente. Há formação de um precipitado vermelho de óxido

cuproso e sua quantidade é diretamente proporcional a quantidade de açúcar redutor presente

na amostra.

Cu++ + açúcar redutor Cu+ (Cu2O) + açúcar oxidado

O regente de Fehling consiste de duas soluções (A e B) que são misturadas somente no

momento da determinação. A solução A (cúprica) é preparada pesando-se exatamente

34,639 g de CuSO4.5H2O e dissolvendo-se em água destilada qsp 1000 mL. A solução B é

Page 29: Apostilha Bromatologia I

A quantidade de açúcar redutor pode ser determinada gravimetricamente, separando-se

e pesando-se o precipitado, ou volumetricamente, medindo-se na bureta a quantidade de

açúcar redutor que foi gasta para reduzir todos os íons cúpricos presentes na solução de

Fehling.

Determinação de Açucares Redutores

Amostras: mel e xarope de glicose

Pesar cerca de 2g da amostra em becher. Transferir para um balão volumétrico de

100ml com o auxílio de 50ml de água. Adicionar 1ml de acetato de chumbo a 30%.

Completar o volume e filtrar em filtro seco. Receber o filtrado em frasco seco. Retirar o

excesso de chumbo com sulfato de sódio anidro. Filtrar. Neste filtrado determinar glicídios

redutores em glicose.

Transferir para um erlenmeyer de 250ml, com o auxílio de pipetas, 10ml de cada

uma das soluções de Fehling. Adicionar 40ml de água destilada e pérolas de vidro. Aquecer à

ebulição. Transferir o filtrado para uma bureta de 25ml e gotejar sobre a solução do balão, em

ebulição e agitando sempre, até descoramento total e formação de um precipitado vermelho-

tijolo no fundo do erlenmeyer, colocando quase no final da reação algumas gotas do indicador

azul de metileno a 0,02%, para melhor visualização do final da reação. Anotar o volume gasto

e calcular.

Glicídios redutores em glicose% = 100 x 100 x 0,05

P x V

P = peso da amostra

V = volume da solução gasto na titulação.

Page 30: Apostilha Bromatologia I

Determinação de Sacarose em Açúcar Comercial

Técnica: Pesar cerca de 2,5g da amostra em béquer de 50ml e transferir para um

balão volumétrico de 100ml com o auxílio de água destilada. Completar o volume. Filtrar, se

necessário. Tomar uma alíquota de 25ml e colocar num balão volumétrico de 100ml. Juntar

0,5ml de Hcl e levar ao banho-maria durante 30 minutos. Esfriar. Neutralizar com carbonato

de sódio anidro e completar o volume com água destilada.

Transferir para um erlenmeyer de 250ml, com o auxílio de pipetas, 10ml de cada

uma das soluções de Fehling. Adicionar 40ml de água destilada e pérolas de vidro. Aquecer à

ebulição. Transferir a solução contida no balão volumétrico para uma bureta de 25ml e gotejar

sobre a solução de Fehling em ebulição, agitando sempre, até descoramento total e formação

de um precipitado vermelho-tijolo no fundo do erlenmeyer, colocando quase no final da

reação algumas gotas de azul de metileno a 0,02% para melhor visualização do final da

reação. Anotar o volume gasto. Calcular o teor de sacarose, utilizando a fórmula abaixo:

Sacarose % = 100 x 100 x 0,05 x 0,95

n x p

n = volume gasto na titulação

p = peso da amostra.