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8/8/2019 Appleton Nota Historica
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CONSTRUES EM BETO Nota histrica sobre a sua evoluo
Jlio Appleton
Professor Catedrtico de Beto Armado e Pr-Esforado do IST
O beto e as argamassas so utilizados como materiais de construo h milhares de
anos, sendo ento produzidos pela mistura de argila ou argila margosa, areia, cascalho e
gua. H registos de que os materiais eram, quando necessrio, transportados a
distncias de centenas de quilmetros, como o exemplo de um pavimento de beto
simples datado de 5600 AC em Lepenskivin {1}.
Nas antigas civilizaes estes materiais eram utilizados essencialmente em pavimentos,paredes e suas fundaes. Os Romanos exploraram as possibilidades deste material
com mestria em diversas obras casas, templos, pontes e aquedutos, muitos dos quais
chegaram aos nossos dias e so exemplos do elevado nvel atingido pelos construtores
Romanos. A ttulo de exemplo referem-se o Panteon de Roma (com uma cpula de 50m
de dimetro, de beto de inertes leves, realizado no ano 127 DC (Figura 1), o Aqueduto
da Pont du Gard em Nimes (realizado em 150 DC no qual se utilizou o beto no canal de
gua e no interior do forro das cantarias Figura 2) e diversas pontes de alvenaria e beto
ainda existentes em diversos pases de que se salientam em Portugal a Ponte de VilaFormosa na N369 e a Ponte de Trajano sobre o Rio Tmega em Chaves {3a e 3b}.
Figura 1 Panteon de Roma {2}
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Vista Geral Pormenor das Alvenarias
Figura 2 Aqueduto da Pont du Gard em Nimes
H registos de que os Romanos fizeram tentativas para armarem o beto com cabos de
bronze, experincias no bem sucedidas devido aos diferentes coeficientes de dilatao
trmica do bronze e do beto.
Posteriormente e at ao sculo XVIII o beto tem uma utilizao reduzida, quase
exclusivamente limitada s fundaes e ao interior de paredes de alvenaria.
com o desenvolvimento da produo e estudo das propriedades do cimento (Smeaton
em 1758, James Parker em 1976, Louis Vicat em 1818) que culminou com a aprovao
da patente do cimento Portland (nome dado por a cor do cimentos ser parecida com a da
rocha Portland) apresentada por Joseph Aspdin em Leeds em 1824 que se vai dar o
grande desenvolvimento na aplicao do beto nas construes. Em 1885 concebem-seos fornos rotativos (Frederick Ransome) que permitiriam baixar substancialmente o preo
do cimento.
Em Portugal a Industria do cimento inicia-se em 1894 com a fbrica de cimento Tejo em
Alhandra.
As utilizaes do beto ganham ento nova dinmica, no s em fundaes como em
pavimentos trreos e paredes, estas com uma textura concebida por forma a imitar apedra (Osborn House em 1845, Axmouth Bridge em 1877, Sway Tower com 66m de
altura em 1885).
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Em 1852 Francois Coignet e em 1854 William Wilkinsen iniciaram a realizao de
pavimentos de beto armado (lajes e vigas) os quais se tornaram na maior aplicao
deste material at poca actual.
No final do sculo XIX so j vrios os estudos publicados sobre o beto armado
(Coignet, Considre, Mesnager) teorizando o comportamento flexo, tendo em 1897
sido criada a primeira disciplina de Beto Armado na ENPC cole National de Ponts et
Chausses (Paris) de que foi primeiro professor Rabut. As patentes tornam-se tambm
numerosas (Cottancin, Monnoyer, Hyatt, Coignet).
Em 1906 so publicadas as primeiras instrues francesas (Regulamento), traduzidas epublicadas em 1907 pela Revista de Obras Pblicas e Minas da Associao Portuguesa
dos Engenheiros Civis, com o ttulo As Instrues Francesas para o Formigo Armado
(5).
Neste perodo e nos anos seguintes as designaes mais correntes para o que
actualmente se designa Beto Armado eram o Formigo Armado (semelhante ao
Hormigon, em espanhol) e Cimento Armado (semelhante ao Cemento Armato ainda hoje
usual em Itlia). Outras designaes como o Beton Armado, o Siderocimento, o Beton deCimento Armado encontram-se em publicaes da primeira metade do sculo XX. A este
propsito refira-se que a origem da palavra concreto concretus que significa composto
e a origem da palavra beto bitumen.
O princpio do sculo XX caracterizado por um desenvolvimento extraordinrio na
utilizao e compreeno do funcionamento e possibilidades do beto armado. Esse
desenvolvimento est associado realizao de numerosas patentes onde se indicam as
bases de clculo e as disposies de armaduras adoptadas para diversos elementos
estruturais.
De entre essas patentes distingue-se o Sistema Hennebique datado de 1892 e que vem a
ser aplicado em numerosos pases (em 1910 a empresa Hennebique, com sede em
Paris, tem j 40 000 obras realizadas de edifcios, pontes, reservatrios e navios em
beto armado, espalhadas pelo mundo). O seu sistema estrutural caracterizado pela
introduo de estribos nas vigas, ligando os vares traccionados zona de beto
comprimido (Figura 5). Os estribos eram constitudos por chapas de ao de seco
rectangular dobradas em forma de U.
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Seco vertical
Estribo
Estribo
Seco AB
A
B
Figura 5 Vigas do Sistema Hennebique Pormenor de Armaduras e Fotografia de
Vigas de um Armazm em Lisboa
O sucesso de Hennebique esteve associado a uma concepo e preparao da
execuo das obras que lhes permita atingir uma rapidez e qualidade extraordinrias,
aliada a custos competitivos quando comparados com os obtidos para outros materiais.
Desse perodo e desse sistema construtivo referem-se o Weavers Mill em Swansea
(1898), o Meyrick Park Water Tower em Bournemouth (1900), a Ponte del Risorgimento
em Roma (1904, uma ponte em arco sobre o rio Tigre com um vo superior a 100m) e
em Portugal merecem especial referncia o Edifcio de moagem de trigo do Caramujo
(Cova da Piedade) realizado em 1898 {4} e {6} e onde depois funcionou uma moagem da
Sociedade Industrial Aliana e a Ponte Luiz Bandeira de Sejes na EN333-3 sobre o rio
Vouga (Figura 5). Esta ponte em arco de 44m de vo foi realizada em 3 meses e 4 dias
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em formigo de cimento armado {7} Figura 6 (ver notcia da execuo da ponte no Anexo
1).
Figuras 6 Ponte de Sejes na EN333-3 Sistema Hennebique, 1907
Em 1911 so entretanto criadas em Portugal as Universidades de Lisboa e Porto e em
1918 aprovado o 1 Regulamento Portugus no domnio do beto armado Instrues
Regulamentares para o Emprego do Beton Armado, realizadas com base nas normas
francesas de 1906 e nos desenvolvimentos posteriores (8), Dec. 4036 de 3/4/1918.
Importa tambm destacar neste perodo o contributo dado por Freyssinet ao desenvolver
o sistema de vibrao mecnica para compactao do beto (1917) e os estudos
realizados sobre os efeitos diferidos do beto e aplicao do pr-esforo (1928) (9).
Como curiosidade refere-se que durante a primeira grande guerra realizaram-se grandes
navios em ferrocimento, alguns com mais de 100m de comprimento.
Nas dcadas seguintes h a referir grandes realizaes do Suo Maillart (2) como a
famosa Ponte de Salginatobel (1930) e os seus estudos e obras sobre lajes fungiformes;
do Francs Eugne Freyssinet como a Ponte Villeneuve-Sur-Lot com 96m de vo (Figura
7) (1919), os Hangares de Orly com um vo de 90m (1921) e a Ponte de Plougastel com3 arcos de 186m de vo (1930), do Espanhol Eduardo Torroja como a Cobertura do
Hipdromo de Zarzuela em Madrid (1935) com uma consola de 12.6m, e do Italiano Pier
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Nervi como o Estdio Comunal de Firenze (1932) com uma consola de 17.0m e mais
tarde com um conjunto extraordinrio de obras, nomeadamente de coberturas de
restaurantes e estdios.
Figura 7 a) Pont de Prairal sur La Besbre (arco de 26m). Uma das primeiras Pontes de
Beto Armado de Freyssinet, 1907 {10}
Figura 7 b) Ponte Villeneuve-Sur-Lot de Freyssinet, 1919 {10}
Em Portugal a 1 disciplina de Cimento Armado foi criada em 1922 na Faculdade Tcnica
da Universidade do Porto (o Eng Theotonio Rodrigues foi o seu 1 professor) e em 1935
publicado o Regulamento do Beto Armado dec. 25948 de 1935 (11) que sintetiza o
estado do conhecimento neste domnio. O 1 Congresso Internacional do Beto e do
Beto Armado foi realizado em 1930.
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Na primeira metade deste sculo muitas so as realizaes em beto armado em
Portugal. Destacam-se o Canal do Tejo (executado de 1932 a 1940 e que envolveu a
realizao de tneis, pontes canal e tubagens de 2.5m de dimetro, tendo sido utilizada a
vibrao mecnica pela primeira vez no nosso pas), numerosas pontes de que se
salienta o Viaduto Duarte Pacheco em Lisboa (concludo em 1944 com um
desenvolvimento total de 505m tendo o arco central um vo de 91.97m) e edifcios de
que se salienta o conjunto dos edifcios do IST (1936). Deve no entanto referir-se que
neste perodo era ainda usual realizar a estrutura dos edifcios com paredes de alvenaria
e o beto armado era aplicado na estrutura dos pisos em alternativa a solues de
estrutura de madeira.
Figura 8 Viaduto Duarte Pacheco, B. Carmona, 1944
Fotografia da obra e pormenor de armaduras
No Brasil {12} destaca-se a contribuio de Emlio Boumgart quer como professor quer
como construtor (Ponte Paranaba