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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE DE RIO DAS OSTRAS DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL RENATA BRANDÃO RAMOS TATAGIBA O USO ABUSIVO DE DROGAS POR ADOLESCENTES EM FASE ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES À REALIDADE DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE – IFF/CAMPUS CABO FRIO

app.uff.br · Web viewNo que se refere ao enfretamento ao uso de drogas não tem como objetivo promover programas que atuem no enfrentamento das suas reais determinações. É importante

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE DE RIO DAS OSTRAS

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

RENATA BRANDÃO RAMOS TATAGIBA

O USO ABUSIVO DE DROGAS POR ADOLESCENTES EM FASE ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES À REALIDADE DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE – IFF/CAMPUS CABO FRIO

Rio das Ostras

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE DE RIO DAS OSTRAS

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

RENATA BRANDÃO RAMOS TATAGIBA

O USO ABUSIVO DE DROGAS POR ADOLESCENTES EM FASE ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES À REALIDADE DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE – IFF/CAMPUS CABO FRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Serviço Social.

Orientador (a): Profª. Drª. Maria Dalva C. da Silva

Rio Das Ostras

2016

O USO ABUSIVO DE DROGAS POR ADOLESCENTES EM FASE ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES À REALIDADE DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE – IFF/CAMPUS CABO FRIO

RENATA BRANDÃO RAMOS TATAGIBA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Serviço Social.

Aprovado em ____ / ____ / _____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Profª. Drª. Maria Dalva C. da Silva

(Orientadora)

UFF – Universidade Federal Fluminense

______________________________________________________

Profº

______________________________________________

Profª.Msª. Letícia Barros Palma da Rosa

Rio Das Ostras

2016

Aos meus avós Palmira (in memorian) e Eliseu, a vocês toda a minha gratidão, e a minha filha Ester a dona de todo meu amor e motivo da minha persistência.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus primeiramente pela sua infinita graça, amor e cuidado durante o período dessa caminhada.

Aos meus avós, Dona Palmira (Em memória) e Seu Eliseu por ser tornarem para mim referência de amor, carinho compreensão, cuidado dedicação. Obrigada por tudo, se não fosse por vocês não teria chegado até aqui.

Aos meus pais Leila e Salvador, pelo incentivo e amor dedicados a mim.

Aos dois amores da minha vida, meu esposo Cleiton Tatagiba e minha filha Ester. Ao meu amor, obrigada por me apoiar, compreender e por sonhar esse sonho junto comigo. Obrigada por você existir e não me deixar desistir. A minha filha linda, razão da minha vida é por você.

A minha sogra Margareth pelo cuidado dedicado a minha filha durante esse processo de formação.

Aos meus companheiros (as) da UFF levarei vocês guardados em meu coração e em minha memória. Em especial a Raysa Deonel, Barbará Liz, Felipe Aguiaro, Isabelle Barbosa, Andressa e Victória Carlos, por tornarem minhas noites mais leves em meio ao cansaço e estresse sofrido durante a vida acadêmica.

Ao meu supervisor de estágio Lenon Araújo, obrigada pelo apoio, dedicação e confiança depositado a mim.

A minha orientadora professora Maria Dalva, pelo auxilio, contribuições e sugestões dados a mim durante esse período.

Aos professores da UFF pela dedicação e empenho, pelos ensinamentos, eles se tornaram essenciais para a construção de uma nova forma de enxergar o mundo e o homem.

Por fim agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a minha formação.

“Educação não transforma o mundo.

Educação muda as pessoas.

Pessoas mudam o mundo” (Paulo Freire)

RESUMO

No presente estudo desenvolvo uma abordagem acerca do tema – o uso de drogas por adolescentes em fase escolar – com ênfase no Instituto Federal Fluminense e suas implicações para o desenvolvimento escolar e social do indivíduo. O trabalho está pautado em pesquisa bibliográfica, sobre os rebatimentos históricos e sociais do uso das drogas na sociedade; e pesquisa empírica, por meio da aplicação de um questionário fechado aos alunos do ensino médio do Instituto Federal Fluminense com o objetivo de identificar as determinações que levam ao uso abusivo de drogas nessa fase. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho apresento uma crítica ao modelo proibicionista de prevenção adotado pelo Estado e aponto a sua ineficácia no tratamento e na prevenção ao uso de drogas por adolescentes. Destaco a importância do papel da família no processo de desenvolvimento e amadurecimento emocional do adolescente e, por fim,ressalto a importância do Serviço Social na educação como um meio de propor formas de prevenção em conjunto com outros profissionais da educação.

Palavras-chaves: Drogas, adolescência, escola e prevenção

SUMMARY

In this study develop an approach on the subject - the use of drugs by adolescents in school age - with emphasis on the Fluminense Federal Institute and its implications for educational and social development of the individual. The work is guided by literature on the historical and social repercussions of drug use in society; and empirical research, through the application of a closed questionnaire to high school students of the Federal Institute Fluminense in order to identify the decisions that lead to drug abuse that stage. Throughout the development of this work we present a critique of the prohibitionist model of prevention adopted by the state and point out its ineffectiveness in the treatment and prevention of drug use by teenagers. It highlights the importance of the family's role in the development process and emotional adolescent maturation and finally, stress the importance of social work in education as a means to propose ways of prevention together with other education professionals.

Keywords : Drugs , teens , school and prevention.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10CAPÍTULO I – DROGAS: UMA ABORDAGEM INICIAL .........................................– A história do uso de drogas – a maconha como o início da dependência.....– Definindo as drogas e conhecendo os seus efeitos .........................................CAPÍTULO II – A UTILIZAÇÃO DAS DROGAS NA ADOLESCÊNCIA....................2.1 – Os riscos e as vulnerabilidades na adolescência para o uso das drogas: a importância da família, da escola e do Estado na prevenção .................................2.2 – O modelo “proibicionista” do Estado no combate ao uso das drogas na adolescência .............................................................................................................CAPÍTULO III – A ESCOLA COMO AGENTE PREVENTIVO ..................................3.1 – A importância do assistente social na educação para a efetivação do papel preventivo da escola ......................................................................................... 3.2 – A incidência da utilização de drogas licita e ilícitas por estudantes do Ensino Médio do Instituto Federal Fluminense Campus Cabo Frio3.2.1 – A instituição IFF – campus Cabo Frio.......................................3.2.2 – Apresentação e analise dos dados coletados..............................CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................Referências Bibliográficas Textos acessados pela internet Anexos

INTRODUÇÃO

Neste trabalho monográfico tenho como objetivo estudar o tema o uso abusivo de drogas por adolescentes em fase escolar e dessa forma identificar as determinações que desencadeiam a busca por drogas na adolescência e a frequência da utilização das drogas por adolescentes nessa fase, bem como suas consequências para o desenvolvimento social do indivíduo, conhecendo os conflitos atribuídos ao uso de drogas por adolescentes, que refletem os problemas de origem social, como violência, desemprego, falta de educação, cultura, lazer.

Identificar as circunstâncias e dimensões que envolvem o fenômeno do uso de drogas, buscando sair da lógica de responsabilização do indivíduo e incluir os fatores existentes na dinâmica social.

A motivação para a realização desse trabalho partiu da observação feita durante os dois anos e meio no período do estágio curricular realizado no IFF Campus Cabo Frio. Trata-se de uma instituição federal de ensino médio e técnico e também de ensino superior, composta, em sua maior parte, por estudantes de nível médio na faixa etária entre 14 e 18 anos. Observei a necessidade, por meio de relatos e conversas com alunos, do trabalho de prevenção ao uso de drogas por adolescentes na escola, pois a mesma faz parte do processo de socialização do adolescente. Há uma grande incidência de uso de drogas lícitas e ilícitas por estudantes que pode levar a prejuízos relevantes no processo de desenvolvimento do indivíduo. É importante conhecer os fatores presentes na sociedade que os levam a buscar, no uso de drogas, a fuga dos conflitos internos. Além disso, busco identificar quais os danos físicos e sociais que podem incidir no processo de desenvolvimento do adolescente, e, por fim, enfatizar a importância da escola na prevenção.

O referencial teórico utilizado está pautado na perspectiva teórica do materialismo histórico dialético, tendo em vista que a formação em Serviço Social pelo Pólo Universitário de Rio das Ostras o segue como base de fundamentação teórica.

Primeiramente o trabalho foi estruturado a partir de um resgate teórico realizado por meio de pesquisas em livros e artigos acadêmicos. Em seguida realizou-se a pesquisa empírica, caracterizada pela elaboração de um questionário estruturado a fim de realizar uma coleta de dados, com o objetivo de fazer um levantamento sobre a frequência do uso de drogas lícitas e ilícitas por adolescentes nessa fase. A pesquisa foi feita com 118 estudantes do IFF Campus Cabo Frio, na faixa etária de idade entre 14 e 18 anos.

No primeiro Capítulo faço uma breve abordagem sobre a história do uso da maconha. Em seguida falo um pouco sobre os principais efeitos do uso do álcool, tabaco e maconha.

No segundo capítulo falo sobre o uso de drogas na adolescência, a importância do Estado, Família e da Escola na prevenção ao uso de drogas. No segundo tópico do capítulo faço uma crítica ao modelo de prevenção proibicionista adotado pelo Estado como forma de evitar e minimizar o aumento do uso de drogas por adolescentes.

No terceiro capítulo, falo da escola como um agente preventivo, destaco a importância do trabalho multidisciplinar e ressalto a importância do papel do Assistente Social na educação. Em seguida apresento a Instituição onde foi feita a pesquisa empírica, faço um breve histórico e apresento os resultados obtidos com a pesquisa realizada no Instituto Federal Fluminense – campus Cabo Frio sobre a prevalência da utilização de drogas entre os adolescentes do ensino médio desta instituição.

CAPÍTULO I

DROGAS: UMA ABORDAGEM INICIAL

Ruano – Pois asi he, dizeyme como se faz este bangue, e pera que o tomão, e que leva?

Orta – Fazse do pó destas folhas pisadas, e ás vezes da semente; (...) porque embebeda e faz estar fóra de si; e pera o mesmo lhe mesturão no-moscada... e o proveito que disto tirão he estar fora de si, como enlevados sem nenhum cuidado e prazimenteiros, e alguns a rir hum riso parvo; e já ouvi a muitas mulheres que, quando hião ver algum homem, pera estar com choquarerias e graciosas o tomovão. E o que (...) se conta (...) he que os grandes capitães, (...) acustumavão embebedar-se ... com este bangue, pera se esquecerem de seus trabalhos, e nam cuidarem, e poderem dormir; (...) E o gram Soltão Badur dizia a Martim Affonso de Sousa, a quem elle muito grande bem queria e lhe descubria seus secretos, que quando de noite queria yr a Portugal e ao Brasil, e á Turquia, e á Arabia, e à Pérsia, não fazia mais que comer um pouco de bangue.

Ruano – Eu vi hum portuguez choquareiro,( ... ) e comeo uma talhada ou duas deste letuario, e de noite esteve bebedo gracioso e nas falas em estremo, e no testamento que fazia. E porém era triste no chorar e nas magoas que dizia;( ...) mostrava ter tristeza e grande enjoamento, e ás pessoas que o vião ou ouvião provocava o riso, como o faz hum bebedo saudoso; ... e ter vontade de comer.

(Trecho de um diálogo entre Orta e Ruano do livro: Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, Garcia da Orta, 1563).

1.1 – A história do uso de drogas – a maconha como o início da dependência

Nos anos de 1500, com a “descoberta” do Brasil pelos portugueses, foi trazida para o país a planta conhecida como Cannabis Sativa[footnoteRef:2], uma planta herbácea da família dos Canabiáces, amplamente cultivada em muitas partes do mundo. Seu caule possui fibra que por sua vez são muito importantes industrialmente, conhecida também como cânhamo, utilizada na produção de tecidos, papel e outras matérias primas. É importante destacar que o cordame das embarcações que chegaram ao Brasil em 1500 era feitos dessa fibra de cânhamo (Carlini,2006). [2: Abustro de dois metros de altura, origem asiática, cresce em zonas tropicais e temperadas, usada como medicamento e também na fabricação de tecido e papel.]

Se tratando de uma planta exótica trazida para o Brasil pelos escravos negros, sendo também denominada como fumo d’angola, rapidamente se espalhou entre os índios, que passou a cultivá-la. Segundo um documento oficial do Ministério das Relações Exteriores, 1959, a planta teria sido introduzida no país a partir de 1549, pelos negros escravos como alude Pedro Corrêa, e as sementes de cânhamo eram trazidas em bonecas de pano, amarradas nas pontas das tangas (Pedro Rosado, 1959). Pagina

Séculos mais tarde ela passou a ser popularizada entre os intelectuais, médicos franceses e ingleses e, em decorrência, indicada para diversos males (Carlini,2006).

A planta Cannabis tem seu uso medicinal comprovado para diversos males, como a melhora de náuseas e vômitos, estimula o apetite em pacientes que fazem tratamentos quimioterápicos e soropositivos, sendo também eficaz no tratamento do Glaucoma, pois diminui a pressão intra-ocular, além de funcionar como analgésico[footnoteRef:3]. [3: Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cannabis_(psicotr%C3%B3pico)#Uso_medicinal]

Em 1920 no Brasil teve início o processo de criminalização da maconha com a II Convenção Internacional do Ópio em 1924. Tratou-se de um tratado internacional de controle as drogas, que foi registrado na Liga das Nações em 1922. Havendo muitas críticas ao comércio do ópio os Estados Unidos convocaram uma convenção com as 13 nações no ano de 1909. A convenção previu no texto de 1912 que:

Os Poderes contratantes envidarão os seus melhores esforços para controlar, ou para fazer com que sejam controlados, todos os tipos de fabricação, importação, venda, distribuição e exportação de morfina, cocaína e de seus respectivos sais (...) (texto da II Convenção Internacional, 1912, p.189).

No ano de 1925, em Genebra ocorreu a revisão da Convenção Internacional do Ópio, que entrou em vigor no ano de 1928. Foi proibido também a utilização do haxixe[footnoteRef:4]proposto no seguinte texto: [4: Erva seca, extraído do tricoma, das flores e das inflorescencias da cannabis sativa, conhecida como maconha, utilizado como entorpecente que pode ser fumado ou ingerido.]

O uso de cânhamo indiano e a preparação de produtos derivados só podem ser autorizados para fins médicos e científicos. A resina crua (charas), no entanto, que é extraída dos exemplares femininos da cannabis sativa, juntamente com as suas diversas preparações obtidas a partir dela (haxixe, chira, esrar, diamba, etc), as quais não são utilizadas para fins médicos e só é usada para fins prejudiciais, da mesma maneira como outros narcóticos, não podem ser produzidas, vendidas, comercializadas, etc, em qualquer hipótese (texto da II Convenção Internacional, 1925, p.321).

Foi, portanto, a partir da década de 1930 que a perseguição policial foi mais intensificada devido ao resultado da II Convenção Internacional do ópio.

A maconha não é nativa do Brasil, sendo trazida ao país pelos escravos africanos. Tal afirmação é comprovada por mais dois autores brasileiros, sendo eles Dias(1945) e Lucena (1934), assim como transcrito abaixo nas colocações de ambos:

.

Entrou pela mão do vício. Lenitivo das rudezas da servidão, bálsamo da cruciante saudade da terra longínqua onde ficara a liberdade, o negro trouxe consigo, ocultas nos farrapos que lhe envolviam o corpo de ébano, as sementes que frutificariam e propiciariam a continuação do vício (Carlini apud Dias, 1945, p.315).

Provavelmente deve-se aos negros escravos a penetração da diamba no Brasil; prova-o até certo ponto a sua denominação fumo d’Angola (Carlini apud Lucena, 1934, p.315).

Até os dias atuais a maconha se faz presente em nosso cotidiano. Essa assertiva é apresentada pelo estudo feito pelo Centro Brasileiro de informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) que publicou em agosto do ano de 2001 o I Levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. Esse estudo mostrou que 6,7 da população entrevistada já haviam experimentado a maconha pelo menos uma vez na vida.

Após esse levantamento foram feitos inúmeros outros com o intuito de mostrar a questão do uso de drogas no Brasil. À exemplo disso tem-se o V Levantamento sobre o uso de Drogas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio realizado nas 27 Capitais Brasileiras no ano de 2010. Tal estudo mostrou que o primeiro contato com o álcool e o tabaco foi aos 12,5 anos e 12,8 anos, o uso da maconha pela primeira vez geralmente ocorre aos 13,9 anos em média e a cocaína aos 14,4 anos.

É difícil dizer com precisão o porquê das pessoas fazerem uso dessas substâncias. A droga pode ser utilizada em algum momento da vida do indivíduo como forma de amenizar frustrações do dia a dia, ansiedade e angustias (Ambrósio, 2009 apud Silva, 2007)

Estudos apontam que o uso da maconha tem efeitos menos nocivo à saúde do que outras drogas que são legalizadas (Ambrosio, 2009 apud Laranjeiras, 2005). A maconha pode aliviar o estresse físico e mental e levar a uma dependência psicológica. O seu uso descontrolado pode impedir de usufruir de suas finalidades terapêuticas.

As ervas e plantas têm suas finalidades medicinais e são utilizadas para trazerem alívio e cura no caso de enfermidades. Há diversas plantas presentes na sociedade que tem uma função importante em nosso dia a dia. Porém existe somente uma erva que é usada no mundo inteiro, desde a pré-história, ela não só tem a função terapêutica, como também assume a finalidade de produzir roupas, material de construção, medicamentos, combustível, além de ter o poder de afetar a nossa consciência, imaginação e a forma de enxergar o mundo ao nosso redor. Essa planta chama-se cânhamo, Cannabis Sativa (Ambrosio ,2009 apud Rowan, 1999).

Definir o que é droga não é uma tarefa fácil. Não podemos conceituar drogas como algo meramente ilícito e proibido perante a lei. Tal concepção criada por leigos e difundida pelo senso comum vem acarretando um grande aumento do preconceito por parte da população com os usuários, dificultado a implantação de projetos na sociedade que visem à prevenção.

1.2 – Definindo as drogas e conhecendo os seus efeitos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua as drogas como qualquer entidade química ou mistura de entidades (mas outra que não aquelas necessárias para a manutenção da saúde como, por exemplo, água e oxigênio) que alteram a função biológica e possivelmente a sua estrutura (OMS, 1981). As drogas, ao atuarem sobre o sistema nervoso central, alteram o comportamento das pessoas. Segundo Vizzoto(1988), as drogas deveriam ser usadas apenas quando receitadas pelos médicos devido a sua acuidade, tendo em vista que podem ocorrer reações e efeitos adversos e inesperados.

As drogas mais consumidas no Brasil são álcool, tabaco, maconha, benzodiazepínicos, derivados da coca, inalante, anticolinérgicos (Carlini et al Revista IMERSC nº3, 2001), sendo o álcool e o tabaco as drogas legais. O primeiro levantamento domiciliar realizado em 2001 pelo CEBRID afirmou que a dependência do álcool e outras drogas estão presentes em 47.045.907 habitantes.

O uso dependente do álcool se encontra em primeiro lugar nessas pesquisas, tendo avaliado que 68,7% dos habitantes fazem o uso e que 11,2% são dependentes. O álcool traz grandes danos à vida social do indivíduo e pode ocasionar sérios problemas, provocando acidentes e acentuando atitudes violentas devido aos seus efeitos no organismo.

O tabaco é a segunda drogas mais consumida, 41,1% dos habitantes faz o uso dessas substancia e 9% é dependente. A pesquisa apontou que o início do seu uso também é precoce. Cerca de 15,7% dos adolescentes entre 12 e 17 anos já experimentou ao menos uma vez na vida e que 2,2% já é dependente.

Em terceiro lugar a droga mais consumida é a maconha cujo uso, em pelo menos uma vez na vida, foi relatado por 6,9% das pessoas. Em quarto lugar o uso de remédios sem acompanhamento médico para dormir foi relatado por 3,3% da população brasileira[footnoteRef:5]. [5: Fonte:Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein]

Os efeitos causados no organismo humano pelo uso de drogas fazem com que elas sejam muito procuradas, por adolescentes, jovens ou adultos. As sensações que elas provocam no organismo os tiram da realidade, transcendendo-os a outra dimensão, dessa forma confere o alivio das tensões, ansiedade, angustia e frustrações do dia a dia. Adolescentes mesmo sem nunca ter usado, tem em sua mente fantasiada a sensação provocada por ela e o despertar de uma grande curiosidade para sentir de fato o seu efeito. (Cebrid,2010)

Segundo Carlini (2001), as drogas psicotrópicas são classificadas de acordo com as pesquisas feitas pelo pesquisador Francês Chaloult[footnoteRef:6], que dividiu e denominou as drogas como toxicomanógenas. Dessa forma as classificou em três grupos: depressoras, estimulantes e perturbadoras do SNC (Sistema Nervoso Central). [6: 1901-1978 – Advogado, político, membro da Assembléia Nacional do Quebec]

As drogas caracterizadas como depressoras têm a função de diminuir as atividades do sistema nervoso central. Os sintomas dessa diminuição das atividades cerebrais podem ser caracterizados por sonolência, lentidão das atividades motoras, que podem prejudicar a realização de atividades rotineiras do dia a dia, como estudar, dirigir ou realizar qualquer outra atividade que exija atenção. Quando o SNC está funcionando de forma irregular, o uso dos medicamentos pode controlar os quadros de epilepsia, insônia, transtorno de ansiedade generalizado, síndromes do pânico e fobias de um modo geral. As drogas depressoras mais consumidas por meninos em situação de risco e vulnerabilidade social são o álcool, inalantes, benzodiazepínicos (Carlini, 1994)

As drogas estimulantes provocam quadros contrários ao apresentado anteriormente. Elas fazem com que a pessoa fique em estado de alerta, estimulando o SNC, diminuem o sono e aumentam o nervosismo e o estado de alerta. Podem provocar delírios e alucinações. As mais utilizadas como estimulantes são o crack, cocaína, merla, pasta. (Carlini, 1994)

As drogas perturbadoras interferem no funcionamento da qualidade do SNC, provocando sensações que não estão presentes no estado normal do indivíduo, como alucinações, delírios e ilusões. São chamadas de psicoticomimeticas, pois adotam gestos e comportamentos referentes à psicose, perdendo dessa forma o contato com a realidade. As drogas perturbadoras que mais costumam ser usadas por meninos em situação de rua são a maconha e os medicamentos anticolinérgicos (Carlini,1994).

A seguir discorreremos sobre alguns efeitos causados no organismo dos indivíduos usuários de álcool, maconha, cocaína e tabaco.

Álcool:

Estima-se, de acordo com estudos realizados pelo II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas,que 11,7 milhões de brasileiros são dependentes do álcool. Segundo o organizador da pesquisa, professor Ronaldo Laranjeira[footnoteRef:7], apesar da metade da população brasileira não consumir bebida alcoólica, os que fazem o uso, bebem de maneira abusiva[footnoteRef:8]. [7: Médico psiquiatra brasileiro, coordenador da Unidade de pesquisa em álcool e drogas na faculdade de medicina da UNIFESP. ] [8: Fonte:http://portalcorreio.uol.com.br/noticias/saude/pesquisa/2013/04/10/]

Entre os anos de 2006 para 2012 a pesquisa mostra que houve um aumento da proporção de pessoas que passaram a beber mais de uma vez por semana variando de 29% em 2006 para 39% em 2012. Em entrevista concedida à Agência Brasil[footnoteRef:9], Laranjeiras, 2013 destaca que o aumento no consumo abusivo do álcool ocorre pelo aumento da renda dos indivíduos que já bebiam e passaram a beber mais. Além disso o médico psiquiatra também alerta para a falta de políticas públicas capazes de inibir o uso de bebidas alcoólicas. Assim, ele afirma que, [9: Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao]

O mercado do álcool permanece intocado. Temos um milhão de pontos de venda que são estimulados a aumentar cada vez mais o consumo. Além do baixo preço de bebidas e as propagandas que estimulam os mais jovens a beber (Laranjeiras, 2013).

O álcool é considerado uma droga psicotrópica, pois altera o funcionamento do SNC, provocando mudanças no comportamento de quem a consome, além de desenvolver dependência. O seu uso é admitido e incentivado pela sociedade e o peso do preconceito quase não existe sobre ele, e este fato o diferencia de outras drogas também consideradas psicotrópicas. A sua aceitação, porém, não diminui o fato do seu uso abusivo significar um problema de caráter social, além de causar inúmeros acidentes de trânsito, cerca de 15% das mortes decorrentes de acidentes de trânsito no mundo foram atribuídas ao álcool (Relatório Global sobre Álcool e Saúde da OMS, 2012). Os episódios de violência podem estar extremamente ligados à embriaguez, além do alcoolismo, que pode ser desenvolvido dependendo da dose e da frequência e circunstâncias.

O álcool apresenta duas fases: a primeira; estimulante e a segunda; depressora. A fase estimulante pode ser percebida pela euforia e desinibição. Em seguida, a fase depressora que é caracterizada pela falta de coordenação motora, sono e descontrole. Esse estado também pode levar ao estado de coma.

O efeito do álcool também está relacionado ao tipo físico e ao hábito de beber, que são características individuas que variam de um indivíduo para o outro. O álcool também pode causar vermelhidão no rosto, dor de cabeça e mal estar - é a conhecida ressaca. Esses sintomas podem ser mais intensos em indivíduos que tem dificuldade de metabolizar o álcool. (Carloni; Nappo,et al, 2001).

É importante destacarmos aqui a diferença que existe entre alcoolismo e o abuso do uso do álcool. O alcoolismo é considerado uma doença pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Ele é caracterizado pelo uso constante de maneira descontrolada e progressiva, exige por parte do usuário a necessidade de aumentar cada vez mais a dose. O abuso do álcool ao contrário, não é caracterizado como uma doença e também não inclui a vontade descontrolada de beber, levando a uma dependência física[footnoteRef:10], ou seja, as pessoas que se encontram dependentes do álcool sentem uma necessidade tão forte de ingeri-lo, como quando sentimos fome ou sede. [10: Fonte: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/alcoolismo]

O alcoolismo pode ocorrer por meio de diversos fatores de origem biológica, psicológica e sociocultural, atingindo cerca de 5 a 10% da população brasileira (Carlini; Nappo et al, 2001).

O indivíduo que é dependente do álcool após ter ficado algumas horas sem beber passa a sofrer da síndrome da abstinência do álcool (SAA). Segundo o Consenso sobre a Síndrome de Abstinência ao Álcool realizado no ano de 2000 pelo Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria:

Os sinais e sintomas mais comuns da SAA são: agitação, ansiedade, alteração de humor (irritabilidade, disforia) tremores, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão arterial, entre outros. Ocorrem complicações como: alucinações, o Delirium Tremens (DT) e convulsões (Laranjeiras; Nicastri et al, 2000).

Os primeiros sintomas aparecem após as 6 horas de interrupção do uso do álcool. Sintomas mais severos, de acordo com o Consenso sobre a Síndrome de Abstinência ao Álcool, ocorrem em aproximadamente em 10% dos pacientes que estão em tratamento e inclui febre baixa, tremores, sudorese, se não tratados esses sintomas podem evoluir para um quadro de convulsões. A mortalidade é de 5 a 25% em pacientes que apresentam DT ( deliriumtremens).

Além desses sintomas o uso do álcool em excesso e em longo prazo pode ocasionar danos aos órgãos do nosso corpo, causando sérias doenças. Destaco entre os órgãos que podem sofrer, o fígado em especial, pois é ele o responsável pelo metabolismo e pela destruição das substâncias tóxicas ingeridas ou produzidas pelo organismo. Inflamações e doenças do fígado podem ser causadas, como esteatose hepática, hepatite, cirrose. Outras doenças do aparelho digestivo também podem ocorrer, assim como a gastrite, pancreatite, no sistema cardiovascular, além de hipertensão e problemas no coração.

O uso do álcool na gravidez também pode trazer graves consequências para o bebê. O uso excessivo de álcool na gravidez pode acarretar a chamada “Síndrome Fetal pelo Álcool” (SAF), terminologia proposta por Jones e Smith nos Estados Unidos cinco anos após a apresentação de relatos em 1968 na França, em que, por meio de uma pesquisa, revelou-se que em 127 filhos de mães com problemas de dependência do álcool, havia a manifestação de graves efeitos como a malformação dos bebês. Os efeitos podem aparecer na formação cerebral, causando anomalias no sistema nervoso central, retardo no crescimento e desenvolvimento comportamental. O uso do álcool durante a gestação também pode provocar o aborto, como também, o nascimento prematuro, deficiências motoras e sociais.[footnoteRef:11] [11: Fonte:http://www.cisa.org.br/artigo/4763/sindrome-alcoolica-fetal.php]

Em seu artigo, intitulado SAF/EAF e seu impacto sobre o desenvolvimento psicossocial da criança, Sandra Jacobson (2003)[footnoteRef:12] revelou que crianças que apresentam deficiências devido a exposição excessiva ao álcool pela mãe durante o período pré-natal, apresentam limitações em seu desenvolvimento de aprendizagem. Rilley e Mattson(1996)[footnoteRef:13], realizaram um estudo comparativo entre crianças que apresentam a SAF e crianças com síndrome de Down. Descobriram que crianças expostas ao álcool durante o pré-natal sofrem prejuízos na aprendizagem e na memória e se tornam, nesse aspecto, mais limitadas do que as crianças que tem Síndrome de Down. [12: Fonte: http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/dossiers-complets/pt-pt/sindrome-alcoolica-fetal-saf.pdf] [13: Mattson, Riley et al, Aprendizagem verbal e memória em crianças com síndrome alcoólica fetal. Alcoolismo: Pesquisa Clinica e Experimental, 1996. Pg 810-816 , Memória implícita e explícita funcionando em crianças com exposição pré-natal de álcool. Jornal da InternacionalSociedade neuropsicológica, 1999.]

De acordo com o estudo, em sala de aula, crianças que foram expostas ao álcool desde o ventre de sua mãe, foram identificadas como crianças agressivas e estão mais propensas a apresentarem comportamentos antissociais, independente do ambiente social em que essa criança é criada. A exposição ao álcool durante a gestação pode ter graves efeitos em seu desenvolvimento sócio emocional.

A utilização de uma Escala de Comportamento Adaptativo de Vineland (vineland adaptive behaviorscale)[footnoteRef:14]por Olson e colaboradores, comprovou que adolescentes apresentam dificuldades em desenvolver suas habilidades interpessoais, dificultando a sua socialização. Tratam-se de adolescentes que têm dificuldades em reconhecer direitos e sentimentos de outras pessoas, dessa forma apresentando dificuldade em respeitar os mais velhos em caso de atender as suas solicitações, sendo assim são indivíduos que se tornam adultos mais propensos a apresentarem problemas com as leis. (Streissguth apud Jacobson, 2003). [14: Coletânea de testes psicológicos, de origem americana, que avalia o comportamento adaptativo desde o nascimento ate a idade adulta. ]

Desenvolver programas sociais de caráter preventivo para atender às mães usuárias de álcool, tanto de forma abusiva como socialmente durante a gestação e após, tem a importante função de alertar e prevenir futuros e graves problemas de natureza social, econômica e emocional para o desenvolvimento do indivíduo como criança, passando pela adolescência até a sua fase adulta.

Maconha:

Também conhecida como marijuana, fumo, bagulho, manga rosa, liamba, mulatinho. É um vegetal cujo nome cientifico é Cannabis Sativa. Conhecida há pelo menos 5.000 anos, era utilizada para produção de fibras. Trata-se de uma erva capaz de produzir mais de 400 substâncias químicas, podendo ser usada para fins medicinais ou para “acalmar”, “se divertir”, “viajar na imaginação”, “se ausentar da realidade” por alguns instantes.

Dentre as mais de 400 substâncias que a planta é capaz de produzir, destacam-se, aproximadamente, 60 alcaloides conhecidos como canabinóides. A conhecida THC (tetraidrocanabinol) é a principal substância responsável pelos efeitos da maconha. Apesar da sua grande adaptabilidade ao solo, há uma variação de conservação no que se referem às suas propriedades psicoativas. De acordo com o clima, vegetação, solo, época e colheita, a quantidade de THC pode variar, tornando variável a forma de produzir mais ou menos efeitos no organismo. (Nappo, et al 2001 apud CARLINI,1981)

De acordo com o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (2012), a maconha é a droga ilícita mais consumida mundialmente. Tendo em vista o momento político e social que o Brasil está passando, sobre a questão entre legalizar ou não o seu uso, é muito importante o conhecimento acerca do uso da maconha e seus efeitos sobre o corpo e a sociedade de um modo geral.

O LENAD, (II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) em sua mais recente pesquisa realizada no ano de 2012, comprovou que 597 mil adolescentes que correspondem a 4,3%, dentre os 14 milhões entrevistados, já fizeram o uso da maconha alguma vez em sua vida. A população adulta, correspondente a 5,8% já fizeram o uso. Nos últimos 12 meses a pesquisa mostra que 2,5 % dos brasileiros adultos fizeram o uso da maconha nesse período e 3,4% de adolescentes um percentual que equivale a 478 mil adolescentes em todo país, também fizeram o uso nesses últimos 12 meses.

A maconha tem sido usada para finalidades distintas, destacando algumas como: recreativas, religiosas, culturais e artísticas. Seus efeitos na mente produzem um relaxamento físico e psíquico. (Malcher et al 2008 apud Ambrosio 2008).

O uso da maconha e os efeitos no corpo humano podem sofrer variações, e ainda se estuda seus efeitos positivos e negativos. Não podemos generalizar o efeito da maconha no corpo humano, pois o mesmo depende da variedade e a forma como será utilizada.

A maconha foi citada no primeiro livro de origem portuguesa, editado somente em 1794 e reunia formulas e receitas de medicamentos, chamado de farmacopéia[footnoteRef:15]. Na China, em séculos passados, era muito usada como analgésico, antidepressivo, antibiótico e sedativo. Conhecida mundialmente há cerca de 2.000 anos, seu uso era recomendado para prisão de ventre, malária, reumatismo e cólicas menstruais.[footnoteRef:16] [15: Em Portugal e em outros países, as primeiras farmacopéias eram resultado de trabalho individual, não tinham efeito legal. A farmacopéia Lusitana teve quatro edições a primeira em 1704.] [16: Fonte:http://brasilescola.uol.com.br/drogas/maconha.htm]

O uso da maconha proporciona efeitos psicológicos e físicos. Os psicológicos variam como sensação de euforia, estado de alerta, perda de controle motor, dentre outros. Os físicos podem causar taquicardia e até mesmo problemas cardiovasculares. No sistema respiratório, ao mesmo tempo em que dilata os brônquios aliviando os sintomas da asma, pode provocá-la se usada de forma indiscriminada, pois diminui o tamanho da passagem de ar nos pulmões. Pode retardar a ejaculação, diminuir o libido e levar à impotência. Cabe destacar que os danos citados acima, tem relação com o abuso do uso da substância, que ingerida em quantidades certas pode ser benéfica à saúde (Ambrósio, 2008).

Segundo Laranjeiras et al, (2005) é a concentração de THC, responsável pelos efeitos psicoativos que determinará sua potência, quanto maior sua concentração mais forte serão seus efeitos no corpo. Ao inalar é absorvida rapidamente pelo pulmão e direcionada para a corrente sanguínea, devido ao rápido metabolismo e a sua distribuição no organismo. Seu efeito é curto se comparado ao ingerido, durando cerca de uma hora inalado e ingerido oralmente pode permanecer por até cinco horas no organismo.

A Revista Brasileira de Psiquiatria afirma, por meio de estudos realizados, que 10% dos indivíduos que experimentaram a maconha tornam-se usuários frequentes e 20 e 30% passaram a consumir semanalmente. (São Paulo, 2005, v.27 n.1).

Existe uma enorme falta de conhecimento da população sobre a maconha e as drogas como um todo e é justamente essa falta de conhecimento o grande precursor que envolve todos esses problemas em torno do uso de drogas. É por meio da falta de informação que o usuário inicia o uso de drogas sem saber as reais consequências que podem acarretar junto a ela.

Marlatt (2004) afirma que da mesma forma que existem pessoas que conseguem fazer o uso de maneira controlada, sem se tornar dependentes, outros indivíduos podem experimentar e não conseguir parar mais, aumentando a cada dia a frequência, tornando-se assim um dependente. A autora vai dizer que não é possível saber quem se tornará dependente ou não. A dependência se transforma em uma limitação na vida do indivíduo, por isso é importante se informar e conhecer as suas consequências.

Estudos ainda tentam encontrar uma explicação para os fatores que levam a alguns tornarem dependentes e outros não. Fala-se da predisposição biológica, porém ainda merece mais estudos que comprovem. Braun (2007) vai afirmar que a predisposição pode estar relacionada à diferença dos efeitos da droga no cérebro e fatores genéticos.

Tais fatores genéticos podem estar intimamente ligados com o fato de estudos apontarem que a maconha como é a droga ilícita mais usada entre as grávidas. A exposição do feto ainda no útero à substância pode ocasionar a predisposição ao uso da droga na vida adulta[footnoteRef:17]. Estudos apontam que a exposição do feto à maconha pode produzir alterações cognitivas, usuários crônicos, que irão apresentar problemas para aprender a falar e a se comunicar verbalmente e apresentar pouca memória.[footnoteRef:18] [17: Laranjeira et al (2005) apud Smith et al, Efeitos da maconha pré natal na inibição da resposta: um estudo de jovens e adultos (2004)] [18: Laranjeira et al (2005) apud Hall W et al, Os efeitos adversos da Cannabis (1998)]

De acordo com a Revista Brasileira de Psicologia (2005),

A maconha sempre foi uma planta polêmica e continua sendo, pois além de ser uma droga de abuso que pode causar prejuízos,ela contém uma série de substâncias com propriedades terapêuticas comprovadas e potenciais. Informações científicas coerentes que favoreçam o esclarecimento destes dois aspectos diametralmente opostos da maconha podem facilitar imensamente as discussões sobre o uso da maconha e seus componentes na nossa sociedade.” (Revista Brasileira de Psicologia, versão online. V.27 n.1 São Paulo, mar. 2005).

 

Tabaco:

O VI Levantamento Nacional sobre o consumo de Drogas Psicotrópicas entre os estudantes do ensino fundamental e médio de redes públicas e privadas de ensino das 27 capitais brasileiras no ano de 2010, apontou que dentre os 50.890 estudantes que participaram da pesquisa, as drogas mais citadas e consumidas são o álcool e o tabaco. Ao ano o tabaco teve a prevalência de uso entre 9,6% dos estudantes e 42,4% com relação ao álcool.

O tabaco é uma planta originaria dos Andes Bolivianos difundido pelo Brasil pelos índios, destacando-se o Tupi-Guarani. Sua expansão se deu por meio das longas viagens, onde os marinheiros a utilizavam para distrair durante as longas viagens e também durante as expedições portuguesas que a difundiu para os países europeus.[footnoteRef:19] [19: Fonte: http://sinditabaco.com.br/sobre-o-setor/origem-do-tabaco]

O tabaco é uma planta, conhecido pelo nome científico Nicotina[footnoteRef:20]Tabacum e pode ser fumado na forma de cigarros, charutos e cachimbos. (Carlini; Nappo et al,2001). [20: Planta herbácea e arbustros, nativa da America,Austrália, áfrica, sul do pacifico.]

Falar dos efeitos do uso do tabaco no corpo humano é alertar para evitar mais de 50 doenças diferentes que podem ser ocasionadas pelo tabaco. Cada tragada corresponde a mais de 4.700 substâncias tóxicas. Podemos destacar três como sendo as piores para o organismo humano. A nicotina, que está associada à causa de problemas cardíacos e vasculares, o monóxido de carbono (CO) reduz a oxigenação do sangue, causando dor de cabeça durante a abstinência do cigarro. A dor de cabeça é a resposta que o corpo dá quando a oxigenação do cérebro volta ao normal, o corpo responde dessa forma por não estar mais “acostumado” com a oxigenação normal, devido à alta exposição ao CO. O alcatrão também faz parte desse trio, contendo em sua composição produtos considerado cancerígenos[footnoteRef:21]. [21: Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quais-sao-os-males-que-o-cigarro-provoca-no-corpo-humano]

Carlini et al (2001) em seu texto intitulado Drogas psicotrópicas – o que são e como agem, alerta sobre os efeitos da nicotina no Sistema Nervoso Central (SNC). Este autor afirma que o tabaco eleva o humor, diminui o apetite, provoca o relaxamento no corpo e usada por um longo tempo pode provocar o desenvolvimento da tolerância, levando a pessoa a utilizar cada vez mais para obter a mesma sensação inicial. Ao interromperem o uso, o indivíduo pode desenvolver irritabilidade, agitação, prisão de ventre, desejo incontrolável de utilizar o cigarro, sudorese, tontura, insônia e dor de cabeça. Esses sintomas são chamados de síndrome de abstinência.

De acordo com a OMS - Organização Mundial da Saúde, o cigarro é responsável por matar ao ano em todo o mundo cerca de cinco milhões de pessoas. O tabagismo é considerado a principal causa de morte que pode ser evitada no mundo. De acordo com publicação do órgão no Portal Brasil[footnoteRef:22] [22: http://www.brasil.gov.br/]

“O tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças sendo responsável por 30% das mortes por câncer de boca, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença do coração, 85% das mortes por bronquite e enfisema, 25% das mortes por derrame cerebral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo ano mais de cinco milhões de pessoas morrem no mundo por causa do cigarro. E, em 20 anos, esse número chegará a 10 milhões se o consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos continuar aumentando.” (Portal Brasil, 2014)

Segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico no Brasil,[footnoteRef:23] o número de fumantes vem decaindo. Estudos realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano de 2013 apontam que no ano de 1989 a prevalência era de 34,8 fumantes e em 2013 caiu para 11,3% e a meta é de chegar a 9%[footnoteRef:24]. [23: Tem como objetivo monitorar a freqüência e a distribuição dos principais determinantes de doenças crônicas não transmissíveis por inquérito telefônico.] [24: Fonte: Portal Brasil, publicado em 29/08/2014 - http://www.brasil.gov.br/saude/2014/08/cigarro-mata-mais-de-5-milhoes-de-pessoas-segundo-oms]

Na década de 1980 teve início um programa de promoção à saúde, que vem sendo promovido pelo INCA (Instituto Nacional do Câncer), em parceria com o Ministério da Saúde. As ações fazem parte do PNCT (Programa Nacional de Controle ao Tabagismo). O principal objetivo é reduzir o número de fumantes e consequentemente a mortalidade ocasionada por doenças que são desenvolvidas em decorrência do uso do tabaco. Para alcançar o objetivo são implementadas ações de cunho educativo, além de medidas legislativas e econômicas.Trata-se de ações que previnem o início do fumo e protegem os que não fumam de estarem expostos à fumaça que é altamente prejudicial à saúde[footnoteRef:25]. [25: Fonte: INCA-Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva – Programa Nacional de Controle ao Tabagismo]

A considerável diminuição de dependentes do tabaco faz parte de um importante trabalho de prevenção em saúde, implantado no Brasil desde 1998 e gerenciado pelo INCA. O programa se chama Saber Saúde de Prevenção ao Tabagismo e de Outros Fatores de Risco de Doenças Crônicas e tem como objetivo formar cidadãos críticos a partir do ambiente escolar, pois se entende que a escola é um espaço privilegiado, uma vez que permite em seu ambiente a troca de saberes e propõe uma reflexão crítica por meio de um conhecimento mais amplo sobre saúde, cooperando dessa forma com a saúde da população.

Ao capacitarem os profissionais para trabalharem com conteúdos relacionados à promoção da saúde, os mesmos se tornam capazes de abordar o assunto de maneira crítica, que incentivam adolescentes e jovens a optarem por uma vida mais saudável, contribuindo para a formação de um pensamento critico sobre os aspectos presentes na sociedade.

O trabalho preventivo, iniciado ainda quando crianças, com certeza terá um grande impacto para a sociedade como um todo, o conhecimento leva à liberdade, como aponta a pesquisa em que confirma a diminuição de dependentes do tabaco, que mesmo assim ainda precisa diminuir mais, por isso é importante o Estado investir em cursos que capacitem os profissionais da saúde e da educação a como abordarem esses assuntos dentro do ambiente escolar.

CAPÍTULO II

A UTILIZAÇÃO DE DROGAS NA ADOLESCENCIA

Procurou o homem, desde a mais remota antiguidade, encontrar um remédio que tivesse a propriedade de aliviar suas dores, serenar suas paixões, trazer-lhe alegria, livrá-lo de angústias, do medo ou que lhe desse o privilégio de prever o futuro, que lhe proporcionasse coragem, ânimo para enfrentar as tristezas e o vazio da vida. (Sollero, 1979, p. 39 apud Albuquerque et al , 2013, p.02).

2.1 - Drogas na Adolescência: Os riscos e as vulnerabilidades na Adolescência para o uso de drogas: A importância da família, do Estado e da escola na prevenção.

De acordo com os estudos realizados por Becker (apud Martins, 1994) sobre a etimologia da palavra adolescente, a mesma vem do latim ad, que significa para e olescere, que quer dizer crescer, ou seja, crescer para. Este período começa por volta dos doze anos e termina por volta dos dezoito anos.

A adolescência está associada a diversas palavras como, ruptura, crescimento, descobertas, iniciação, incertezas e formação de personalidade. A construção da identidade perpassa as questões de crises e rupturas, impondo-se como um momento de fragilidade e vulnerabilidade em relação ao meio social em que está inserida.

De acordo com Silva (2011), a adolescência:

É uma fase cheia de questionamento e instabilidade, que se caracteriza por uma intensa busca de si mesmo e da própria identidade, os padrões estabelecidos são questionados, bem como criticadas todas as escolhas de vida feitas pelos pais, buscando assim a liberdade e a auto-afirmação (Silva, Idem, p.6).

Caracterizar a adolescência não é tarefa fácil se somada aos fatores biológicos específicos da idade às determinações socioculturais, advindas do ambiente em que se encontra inserida, além de mudanças provocadas pelo mundo contemporâneo, como explosões demográficas, a tecnologia, os meio de comunicação e a rápida transformação social e os avanços científicos.

Além dos fatores biológicos a adolescência é influenciada pelo ambiente familiar, cultural, escolar e social. Diante de todas essas transformações sociais a família e a escola se vêem diante de novos desafios.

A problemática que favorece o uso das drogas na adolescência não está só atribuída à fase, ao contexto familiar, mas também ao indivíduo inserido em uma rede de relações sociais que apresentam um contexto histórico e sócio cultural determinante.

O adolescente encontra-se inserido em uma rede de relações. Analisar os fatores de risco e de proteção nos permite dialogar com as diferentes relações construídas durante a vida, seja ela na família, na escola, com os/as amigos/as, além das influências midiáticas de canais de TV e tecnológicos, como a internet, que permite o acesso às redes de relacionamentos virtuais.

Minayo[footnoteRef:26](2005), em seu artigo intitulado Fatores de Risco e de Proteção para o uso de drogas na adolescência, define risco como a consequência de uma escolha consciente do indivíduo ao se expor em uma situação a fim de realizar um desejo.O mesmo se encontra ciente de que no percurso poderá haver a possibilidade de um risco, seja ele físico, material ou psicológico. [26:  Socióloga formada pela UFRJ (1978), graduação em Ciências Sociais - City Universityof New York (1979), mestrado em Antropologia Social pela UFRJ (1985) e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1989). Desde 1997 é editora científica da revista Ciência & Saúde coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz.]

A autora se apropria do pensamento desenvolvido pelo filosofo Heidegger[footnoteRef:27] acerca do tema, [27: Filosofo Alemão, um dos importantes pensadores do séc. XX. Trabalhou ao lado de Roussel, Foucault,etc.]

... o risco é inerente a vida, ao movimento, e a possibilidade de escolha. Viver é correr risco e por isso a incerteza é um componente essencial da existência e igualmente do conceito de risco. (Heidegger 1980, apud Minayo 2005, p.708).

Quando falo sobre fatores de risco, refiro-me à possibilidade de obtermos resultados opostos ao esperado, que envolvem as relações sociais, a saúde, o bem-estar, e que podem estar diretamente ligados às condições sociais, estruturais e socioculturais do indivíduo exposto.

Podemos considerar como exemplo o adolescente que faz o uso de algum tipo de droga. O adolescente quando faz o uso da maconha por tempo prolongado, busca por meio dela, novas sensações, prazer, liberdade, fuga dos problemas, entre outros motivos. Porém ao utilizá-la pode aumentar a chance de desenvolver alguma doença relacionada à respiração, e ao pulmão. Caso exista uma predisposição, pode desenvolver transtornos de caráter psicológicos e de ansiedade, ocorrer conflitos com familiares, perda de interesses por assuntos escolares, dificuldade de concentração, repetência e evasão escolar.

Minayo (2005) afirma que o adolescente, ao fazer o uso da maconha ou de outras drogas, procura saciar um desejo juvenil a fim de obter prazer, só que ao experimentar uma vez, existe a possibilidade de se tornar um dependente e dessa forma comprometer a realização de tarefas normais da idade, como estudar, se relacionar, aprender novas tarefas e assim dificultar a preparação apropriada para a transição ao próximo estágio na trajetória da vida: o adulto jovem.( Schenker; Minayo, 2005).

Ao assumir alguns tipos de comportamentos nessa fase, o adolescente pode estar correndo riscos e dessa forma comprometendo seu desenvolvimento saudável. Uma iniciativa importante dos profissionais da área da educação ou da saúde é debater com tais adolescentes a respeito dos riscos associados aos comportamentos por eles desenvolvidos.

A adolescência faz a mediação entre a fase infantil e a fase adulta, o adolescente ao mesmo tempo em que assume algumas tarefas que exige responsabilidades não pode se considerar um adulto. Nessa fase busca-se muito pelo novo, pelas diferentes sensações, prazeres e experiências. A curiosidade e o anseio se encontram acentuado nesse período. A droga nesse momento pode fazer parte desse anseio pelo novo por possibilitar a socialização. Porém é importante mencionarmos que o seu uso abusivo pode afetar significativamente o seu processo de crescimento posterior a essa fase.

Dentro das relações cotidianas estabelecidas desde a infância até a adolescência, podemos listar algumas dessas relações que apresentam vulnerabilidades sem garantias mínimas de que possa proporcionar o desenvolvimento saudável desses indivíduos possibilitando o uso de risco e a dependência de drogas nessa fase da vida.

Com relação à família, podemos entendê-la como a principal integrante no processo de reprodução do cotidiano da vida social (Reis, 1989 apud Toledo,2007). Nas afirmações do autor, família é,

(...) o reflexo das mudanças que ocorrem na sociedade, o que a torna uma das manifestações importantes da vida social. A família é uma construção humana responsável, basicamente, pelo cuidado e proteção dos seus membros, pela socialização e produção de subjetividades. A família tem importância vital no modo de organização da sociedade ocidental como o primeiro grupo de referencia e de pertencimento do individuo e como transmissora da linguagem e da ideologia( Reis,1989 apud Toledo,2007).

Segundo Minayo (2003), é na família que se dá o início das relações primárias. Entende-se como família uma unidade passível, neste mundo pós-moderno de vários tipos de arranjo, mas basicamente tendo a função de socialização primária de crianças e adolescentes. (Minayo, 2003, p. 299-306).

O Estado passou a reconhecer a família como um importante aliado no que diz respeito à proteção dos indivíduos. Porém, a instituição família deve ser reconhecida também pelo Estado como um sujeito dotado de direitos. Devido a esse novo modelo contemporâneo de família no que diz respeito à efetivação de garantias de direitos e ao seu reconhecimento como sujeito, é que estão pautados os desafios atuais: fazer com que o Estado a reconheça como possuidora de direitos e não somente como uma instituição responsável pela proteção dos membros familiares (Toledo,2007,p.15)

A família deve ser entendida pelo Estado como um campo privilegiado de intervenção do Estado na garantia dos direitos sociais como resposta ao enfrentamento das expressões da questão social. ( Toledo,2007, p.16)

Uma família com bases fortes e alicerçadas no dialogo, troca de experiências e na confiança se tornara uma instituição importante no tratamento e na prevenção do uso abusivo de drogas por adolescente (Oetting; Donnemeyer apud Minayo, 2003).

Pesquisas realizadas mostram que o uso abusivo de drogas psicoativas na adolescência está ligado a características especificas. Geralmente são adolescentes que apresentam baixa autoestima, depressão,situação de estresse, pouca relação familiar e relação com amigos que fazem o uso de drogas.

É importante atentarmos também para a questão do uso de drogas que ultrapassaas consequências relacionadas, principalmente,aos conflitos familiares e emocionais. Compreender a categoria vulnerabilidade nos faz entender as subjetividades presentes nas situações de privações econômicas, e na falta de atenção básica.

Ao Estado cabe assumir o papel de provedor das necessidades. Ao investir em saúde, educação, esporte, lazer, cursos profissionalizantes para profissionais da saúde, educação, a fim de orientá-los de que forma agir com os adolescentes usuários de drogas, estará efetivando e garantindo melhores condições de vida e de proteção ao adolescente, evitando dessa forma que mesmo sendo inserido em situações adversas dentro do ambiente familiar, possa ter a oportunidade de dar um rumo diferente a sua vida mesmo diante dos impasses. Se na família essa base de socialização não foi construída, a escola e o Estado precisam estar prontos a influenciarem de maneira construtiva a vida desse adolescente.

A maioria dos comportamentos adotados por adolescentes está ligada à base das suas relações primárias de socialização, que são a família, escola e amigos. Relações fracas podem significar um fator de risco para adesão de comportamentos arriscados. Porém se a relação é forte e os vínculos são estáveis essas três instancias da socialização primaria farão a mediação de outras relações vistas como secundárias (Minayo,2003).

Diante da crise econômica mundial datada a partir dos anos 70, o Estado passou a realizar cortes de caráter social. Esse novo modelo de funcionamento contemporâneo do Estado se une à sociedade, redescobrindo a família como um importante substituto privado do Estado na provisão de bens e serviços sociais básicos. (Potyara, 2003, p.25).

Pahl (2003) afirma que não existe no mundo, seja em países capitalistas ou periféricos, políticas específicas voltadas para atenção à família. Destaca que entende como política um conjunto de ações deliberadas, coerentes e confiáveis assumidas pelo poder público, com o dever da cidadania, a fim de produzir impactos positivos sobre a família (Pahl apud Pereira, 2003). Apesar da definição de política feita pelo autor é importante lembrar que há uma variação de significado, pois dependerá da cultura do país, que influenciará fortemente no significado social das palavras, como família e política.

O pensamento conservador do Estado define a família como a instância responsável por oferecer segurança em um mundo marcado pela incerteza. E cabe à mesma responder e acatar responsabilidades referentes a sua própria vida. Dessa forma o Estado culpabiliza o indivíduo por suas escolhas e fracassos pessoais e sociais. Dessa forma desresponsabiliza o Estado do seu papel de provedor como instância social responsável pela a garantia dos direitos necessários à reprodução da vida humana, transferindo para a família esse papel.

É importante entendermos que o Estado ao eleger a família como um lócus privilegiado na proteção social, esquece que o modelo tradicional de família nuclear sofreu transformações ao longo do tempo, e que hoje na atual conjuntura que se encontra, a família possui diversos arranjos, múltiplas configurações, não sendo mais aquela composta por mãe/pai/filhos (as). Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, o pai deixa de ser o único responsável de prover as necessidades básicas da família, tais mudanças representam consideráveis modificações na dinâmica familiar. Entendemos dessa forma que a família sofre significadas mudanças na sua organização, gestão e estrutura (Potyara,2005). Dessa forma não podemos mais entender a família nuclear como único modelo na formação das políticas públicas direcionadas a atender as necessidades da família.

A relação família e Estado é caracterizado pela autora Mioto (2001) como conflituosa devido à disputa interna sobre quem tem o controle do comportamento que será adotado pelos indivíduos. A autora afirma que existem duas visões diferentes a respeito do controle exercido pelo Estado. A primeira é o fato deste intervir em questões relacionadas aos valores construídos no interior da família. A segunda questão é o fato do Estado agir de forma a promover a emancipação do indivíduo, atuando de maneira oposta às ações tradicionais presentes no ambiente familiar.

O papel do Estado deve ser de promover a garantia de direitos aos vários segmentos da sociedade oferecendo esporte, lazer, educação e cultura para adolescentes, crianças e idosos, fazendo com que esses grupos mais vulneráveis se tornem autônomos, não dependendo somente de suas famílias. Dessa forma cria condições para que um adolescente mesmo inserido em condições adversas tenha a possibilidade de se tornar um indivíduo autônomo em relação a sua família.

A escola também faz parte daquelas três instâncias citadas acima como essencial à socialização do indivíduo. Por este motivo tal instituição deve atuar da melhor forma para prevenir o uso abusivo de drogas na adolescência evitando a evasão escolar de jovens e adolescentes que se encontram vulneráveis a assumir tais comportamentos.

Especialistas indicam a escola como um campo privilegiado para atuar na prevenção, porém a sociedade não a reconhece com essa capacidade (Sodelli, 2010, pg.224). Tal afirmação pode ser comprovada por pesquisas realizadas pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo (FPA/RLS), 2014. Acerca da resposta dada pelos entrevistados sobre onde costumam ter informações confiáveis referentes às drogas, somente 7% indicaram a escola ou o professor, enquanto 75% falaram a mídia.

Devemos reconhecer que a escola não vem dando conta de efetivar trabalhos preventivos com os alunos para que obtenham sucesso. Antes de culpabilizarmos o profissional da educação é importante revermos quais são as bases que sustentam o modelo de prevenção no Brasil.

Estudos realizados por Sodelli (2010) e por Tavares (2003) indicam as características do modelo preventivo do Estado com características “proibicionistas”. Tal modelo entende a abstinência sendo a única e melhor maneira de lidar com o uso de drogas.

Ao utilizar o método por meio do controle a escola tem como finalidade fazer com que os alunos nunca façam o uso de nenhum tipo de drogas. Tal ideia nos parece distante da realidade. As drogas estão presentes na sociedade e não serão extintas da noite para o dia com as imposições do Estado enfatizando o medo como forma de intimidar os adolescentes.

Sodelli (2010) afirma que a escola hoje tem adotado a pedagogia do controle, que dita comportamentos definidos como seguros, corretos e esperados pela sociedade. O modelo “proibicionista” afasta do professor a sua real função de atuar como educador e propor a reflexão.

O trabalho preventivo realizado por meio da concepção de vulnerabilidade propõe que o educador realize a sua tarefa de estimular a reflexão. Sodelli (idem) afirma que quando o professor trabalha com a finalidade de produzir “ações redutoras de vulnerabilidade”, trabalha com a prevenção e a educação concomitantemente.

A noção de vulnerabilidade tem sua origem a partir dos Direitos Universais do Homem e significa grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente na promoção ou garantia dos seus direitos de cidadania. (Alves apud Sodelli, 2010).

A finalidade da categoria vulnerabilidade é entender para além da responsabilidade unicamente do indivíduo a respeito dos seus fracassos. A categoria vulnerabilidade pretende considerar toda a dimensão que envolve o adolescente usuário de drogas. Diz respeito a condições e circunstâncias que podem ser minimizadas ou revertidas (Sodelli, ibidem,p.229).

Entender a categoria vulnerabilidade nos mostra que todos estamos vulneráveis a algo e que é algo continuo, por este motivo trabalhos preventivos pontuais em escolas não obtém os resultados esperados. Sodelli(2010) afirma que a prática preventiva não deve ser apenas de alertar, mas que incentive a jovens e adolescentes a superar os obstáculos presentes na sociedade que os mantém vulneráveis (Ayres [et al] apud Sodelli, 2010).

O pensar via noção de vulnerabilidade é um pensar vivo. Um pensar sobre o mundo, sobre os outros e sobre si mesmo. Neste modo de trabalhar a prevenção buscamos aproximar o aluno de sua própria vida, dos seus sabores e dissabores, daquilo que geralmente ele não tem tempo para refletir. A escola volta a ser o lugar do mundo vivido e não apenas do mundo das ideias (Sodelli, 2010, pg.230, in Drogas, prevenção).

2.2 O modelo “proibicionista” do Estado de controle ao uso de drogas.

(...) o consumo de drogas, por influência da ideologia proibicionista, é uma pratica social historicamente criminalizada e moralmente condenada, sendo relegada a condição de tema maldito, portanto, discutido pouco seriamente e quase sempre se forma alarmista e preconceituosa (...) (Brites, 2015, p.133).

O modelo da Política de Drogas no Brasil precisa ser entendido de forma crítica a fim de refletimos o real interesse do Estado em efetivar o modelo de controle sobre as esferas da sociedade. Historicamente o modelo de Política sobre drogas é influenciado e sustentado pelo caráter agressivo e antidemocrático fazendo referência ao modelo adotado pelos EUA desde a década de 70.

Estudos revelam que os gastos com a política de drogas no EUA estão relacionados a medidas de controle, 75% do dinheiro é gasto com medidas repressivas, como construção de prisões, processos judiciais. Porém o alto investimento não tem apontado grandes resultados, pois drogas como a heroína, cocaína, ainda estão causando grandes danos em comunidades vulneráveis. [footnoteRef:28] [28: Texto de apoio para a primeira reunião da comissão latino americana sobre drogas e democracia, P.Reuter, RJ, abril 2008 – pg.02]

O modelo proibicionista de combate ao uso de drogas foi adotado primeiramente nos EUA entre as décadas de 60 e 70 após a grande epidemia vivenciada em decorrência ao uso da heroína, que acarretou para a sociedade um grande aumento do índice de violência e o aumento do caso de AIDS por causa do uso de drogas injetáveis. Em seguida na década de 70 o uso da cocaína foi acentuado, em 80 o crack e de longe a maconha é a droga proibida mais utilizada até os dias atuais. (P.Reuter, 2008, pg.04).

A tendência norte americana de estabelecer uma guerra contra o uso de drogas no mundo nos impede de refletimos criticamente sobre o real efeito que o uso de drogas psicoativas[footnoteRef:29] tem sobre o organismo do indivíduo e somos levados pelas ideias construídas pelo senso comum e disseminadas pela grande mídia. [29: Refere-se a substâncias capazes de alterar o funcionamento do Sistema Nervoso Central. ]

O modelo proibicionista no Brasil expresso pela legislação atual (2006) apesar de seu reconhecido fracasso e insucesso, continua sendo hegemônico. Há quem diga que ela não fracassou, pois significa muito para as autoridades que ganham dinheiro com esse modelo e os políticos que culpam as drogas pelas mazelas sociais (Hart apud Brites, 2015, p. 127). Dessa forma ele mostra sua eficiência contribuindo para a perpetuação da hegemonia da sociedade capitalista, contribuem dessa forma para sua sustentação e manutenção.

A partir da década de 80 no Brasil o modelo proibicionista passou a ser questionado pela sua ineficácia em apresentar resultados referentes aos danos sociais e a saúde, e passou a ser entendido como uma política social que deveria ter como objetivo mudar a realidade por meio de mudanças estruturais e do enfrentamento das questões sociais possibilitando o amplo acesso aos direitos sociais e não somente como uma política de guerra contra as drogas, que superlotam prisões e acentuam a questão social e faz com que tenhamos que regredir em nossas conquistas.

Os programas de caráter emergencial implementados pelo Estado não tem como finalidade promover uma mudança na base estrutural da sociedade, mas sim funcionar como um paliativo emergencial de caráter assistencialista. No que se refere ao enfretamento ao uso de drogas não tem como objetivo promover programas que atuem no enfrentamento das suas reais determinações.

É importante alertamos para as consequências sofridas pela sociedade devido a alta mortalidade ocasionada pela contaminação pelo vírus HIV/AIDS, o aumento numeroso de presos nas penitenciárias brasileiras devido à ilicitude de algumas drogas e a ação violenta de policias em determinadas periferias do Brasil. Tudo isso devido ao modelo implementado pelo Estado baseado nas idéias proibicionistas que não trata o problema no seu centro.

Somente a partir da década de 90 que o debate crítico a respeito da política sobre drogas ganha espaço e visibilidade. Porém nesse momento encontra um contexto bastante adverso para o seu aprofundamento e consolidação no âmbito da política de droga, pois se depara com a contrarreforma do Estado. (Brites, 2015, p.125).

De acordo com Brites, 2015:

As mudanças operadas no capitalismo mundial pela reestruturação produtiva, pela precarização e flexibilização das relações no mundo do trabalho, pelo crescimento da desigualdade, pela contrarreforma do Estado e pelo aumento da violência, jogam um peso devastador sobre as conquistas democráticas no campo dos direitos sociais culturalmente reconhecidos, como saúde e educação, por exemplo,e no âmbito da política de drogas os efeitos são ainda mais perversos. (Brites, 2015, p. 124).

Segundo Brites (2015) a política de drogas no Brasil é pautada no reconhecimento do uso de drogas como sendo socialmente determinado, abordando em mais de uma área do conhecimento, incorporação de medidas de redução de danos, reconhecimento dos direitos humanos e defesa do direito à saúde. Porém existe uma contradição na perspectiva de saúde coletiva e do modelo proibicionista.

(...) a chamada Política de drogas no Brasil resulta da convivência inconciliável entre duas perspectivas: a proibicionista, de caráter dominante, e a saúde coletiva, que se subordina a primeira em termos de financiamento, de planejamento e de resultados (...) (Brites, 2015, pg. 125).

A perspectiva proibicionista se ilude com a falsa ideia de acabar de vez com as drogas no mundo, o que é evidente ser impossível, sabendo que as mesmas fazem parte da sociedade desde os primórdios e ao longo do desenvolvimento do processo histórico se tornaram ilícitas. Porém, estão presentes e continuarão a existir.

Entender as relações estabelecidas ao longo da história considerando as substâncias psicoativas nos fará entender a sociedade em uma perspectiva de totalidade e a não nos prendermos às respostas imediatas acerca do uso abusivo de drogas, que aumenta o preconceito presente na vida do usuário de drogas.

Os indivíduos entendem como ilícito aquilo que faz mal à saúde, mesmo diante de estudos que comprovam que substancias lícitais, como o álcool e o tabaco são mais prejudiciais do que algumas substâncias consideradas ilícitas. O estudo realizado pela Fundação Perseu Abramo e Fundação Rosa Luxemburgo (2014) revela que os indivíduos classificam as drogas ilícitas como as mais prejudiciais à saúde. Sendo que os estudos revelam que as mais prejudiciais são as lícitas como álcool e tabaco.

O modelo proibicionista tem sido usado como medida de controle social. Seu interesse não está pautado em medidas de saúde e de proteção a jovens como é a forma que a mídia propaga. Usa do modelo de controle social para justificar ações violentas em periferias brasileiras, ocasionando muito mais mortes em decorrência da violência gerada por esse modelo do que pelo uso de psicoativos.

Tal afirmação pode ser comprovada em um estudo realizado pelo SENAD 2009:

Em 2001 e 2007, do total de óbitos (46.888) notificados por intoxicação, transtornos de comportamentos associados ao consumo de psicoativos, 86,6% estão associados ao consumo de álcool; 6,3% ao consumo de tabaco; 0,1% canabinoides e 0,4% ao uso de cocaína. Em 1980 e 2010 as mortes causadas pelo uso de armas de fogo chegam a 800 mil casos, sendo 38.892 ocorridas apenas no ano de 2010 (...) (SENAD 2009 apud Brites 2015, pg.128).

É importante alertamos que as ações violentas e repressivas do Estado têm cor, raça, etnia e classe social, pois esses grupos marginalizados e pobres da sociedade são considerados como perigosos e ameaçadores para a permanência da ordem social.[footnoteRef:30] [30: OLIVEIRA, P.R. e BRITO, F. Até o ultimo homem: visões cariocas da administração armada da vida social. SP, 2013 apud BRITES, C. Políticas de drogas no Brasil: usos e abusos, São Paulo, 2015.]

Acabar com os que ameaçam a ordem na sociedade significa realizar a manutenção e a permanência da hegemonia capitalista. A sociedade influenciada pela mídia aplaude as ações violentas e repressoras do Estado dessa forma. (...) legitima que o uso de psicoativos ilícitos seja tratado em primeiro lugar como uma questão de policia (Brites, 2015, pg.131).

As estratégias adotadas para reduzir danos na maioria não são aceitas e incentivadas causando extrema polêmica no âmbito da saúde. Ações que incluem troca de seringas para usuários, substituição do uso de drogas pesadas por outras mais leves durante o tratamento e etc.. para uma parte da sociedade ações desse tipo representam apoio para a perpetuação do uso de drogas na sociedade.

A ideia que abrangem propostas voltadas para a saúde segue na contramão das propostas proibicionistas. Já que um atua visando a saúde do indivíduo e a outra na repressão por parte do Estado.

O estereótipo do usuário de drogas criado pela sociedade interfere fortemente nas ações dos profissionais com esses indivíduos, pois são vistos como violentos e irresponsáveis com a saúde. Representações que interferem na qualidade do atendimento e, em algumas situações, revelam violação de direitos (Brites, 2015, pg.135.

As ideias falsas espalhadas pelas teorias proibicionistas como a, epidemia do crack, idealismo de um mundo livres das substâncias que se tornaram ilícitas, a guerra contra o narcotráfico em nome da pacificação conquistada pelas forças da repressão, cultura do medo e da insegurança( Brites, 2015,p.135) nos fazem acreditar com toda certeza que essas ações realizadas pelo Estado são a melhor forma de resolver a questão do uso indiscriminado de drogas e as consequências acarretadas ao seu uso. É preciso romper com as ideias imediatas construídas pelo senso comum e propagadas pela mídia dia após dia, somente com um pouco mais de conhecimento crítico que envolve a totalidade histórica da realidade social é que poderemos entender os reais motivos econômicos e políticos que envolvem todo esse “esquema” de proteção e conservação da ordem social[footnoteRef:31]. [31: Fonte: Drogas no Brasil - Entre a saúde e a justiça, 2015, p. 136.]

Sobre as UPPs instaladas em locais estratégicos com finalidades econômicas, Brites (2015) afirma que narcotráfico é consequência desse modelo repressor de gestão e a violência presente nas periferias brasileiras é resultado de um processo historicamente construído pelo abandono que se dá por parte do Estado a essas pessoas e comunidades no atendimento a suas necessidades básicas.

A dependência, a violência e o tráfico ocasionados pelo uso de entorpecentes que se atrelam a fracassos pessoais e familiares não podem e não devem estar relacionados somente à culpabilização única do indivíduo, pois é necessário considerar as determinações que envolvem os usuários e conscientizá-los que a mudança é possível.

O proibicionismo na sociedade contemporânea rotulou o conceito de classificação das drogas como legais sendo positivas e ilegais negativas. A criação de ideias proibicionistas se explica por meio de um conjunto de fatores, dentre os quais podemos destacar não somente o pedido da burguesia pelo restabelecimento da ordem urbana, como também o puritanismo[footnoteRef:32] americano que radicalizou a política, o interesse da indústria farmacêutica pelo domínio na produção, guerras e os conflitos marcados no séc. XX (Fiore, 2012, Novos estudos Cebrap nº92). [32: Concepção de fé desenvolvida na Inglaterra por uma comunidade de protestantes radicais depois da Reforma. ]

Proibir já foi comprovado que não é a solução, haja vista o fracasso em conte-la ou erradicá-la, pois entendemos que o comercio e o consumo foi potencializado com o mercado clandestino. Aceitar que as drogas continuarão a existir é o primeiro passo para o Estado reconhecer que deve propor outros meios de prevenção, como o incentivo ao autocuidado, descriminalização do consumo com regras bem estipuladas, planejamento de ações de acordo com a especificidade de cada droga, essas poderiam ser alternativas adotadas como medidas de prevenção e tratamento do usuário (Fiore,2012).

CAPÍTULO III

A ESCOLA COMO AGENTE PREVENTIVO

Conclamei aos lideres mundiais a prover a educação gratuita para todas as crianças do mundo. ‘ Que possamos pegar nossos livros e canetas’, eu disse. ‘São as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo[footnoteRef:33]. [33: Parte do discurso feito na assembléia das Nações Unidas em Nova York, por uma garota paquistanesa de 16 anos, que havia sido baleada pelos Talibãs ao voltar da escola por defender o direito das meninas a educação. ]

( Yousafzai, 2013,apud Sodelli, Albetrani, 2014)

3.1 – A importância do Assistente Social na educação para efetivação do papel preventivo da escola.

Segundo o CFESS/CRESS, o Assistente Social atua na área da educação desde o período do processo de construção histórica e do surgimento da profissão na década de 30. Porém a profissão só sofrerá um avanço nessa área a partir da década de 90 com o avanço do Projeto Ético Político do Serviço Social.

O Projeto Ético Político datado especificamente a partir da segunda metade da década de 90 teve início na transição dos anos 70 para 80. Esse momento histórico é importante para a trajetória do Serviço Social, pois marca o processo de denúncia do conservadorismo na profissão (Netto,1999,p.1).

A inserção do profissional de Serviço Social na educação nos impõe um grande desafio, a exemplo do que nos é proposto em um dos fundamentos do nosso Código de Ética Profissional que nos convoca a termos um posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão e democracia (CFESS,2011).

Almeida, 2000 em seu artigo[footnoteRef:34] faz uma observação a respeito da importância da inserção do Assistente Social na educação. Este autor defende a necessidade de analisar esse campo a partir [34: Publicado na revista Inscrita nª6 (CFESS, 2000).]

(...) da posição estratégica que a educação passou a ocupar no contexto de adaptação do Brasil à dinâmica da globalização e o movimento interno da categoria, de redefinição da amplitude do campo educacional para a compreensão dos seus espaços e estratégias de atuação profissional (Almeida, 2000 apud CFESS, 2001).

Entender a educação como uma política social nos faz reconhecer a necessidade de compreendermos qual é o conceito de educação na perspectiva de produção social, e do papel que a escola assume na atual organização social denominada modernização ou neoliberalismo. Como afirma Vieira (1997) são poucos os direitos sociais que estão sendo regulamentados e praticados no atual contexto, sendo assim,a escola deve discutir a função social assumida pela educação nessa nova dinâmica (Vieira apud CFESS, 2001).

Uma parcela considerável da população de crianças, adolescentes, jovens e adultos, participa da dinâmica da educação, em que a inserção e a permanência são precárias e de má qualidade e os alunos encontram diversas dificuldades e obstáculos para permanecem e darem continuidade aos seus estudos. Nessa atual conjuntura destacamos a necessidade do Serviço Social atuar se articulando aos setores organizados da educação e trabalhando em prol de efetivar os princípios do nosso Código de Ética. (CFESS, 2001, p.8).

A educação é um direito social conquistado por meio de lutas sociais organizados por movimentos sociais que buscam a efetivação da garantia de acesso a habitação, saúde, educação. A década de 80 foi marcada por conquistas no plano jurídico e legal e por manifestações dos movimentos sociais voltados para a efetividade e garantia da cidadania. Porém na década de 90 esses movimentos vão se esbarrar com o fortalecimento do neoliberalismo. Dessa forma a economia capitalista assume novas configurações, e o que observamos hoje é que a perspectiva de promover a garantia e a efetividade de direitos vem sofrendo um desmonte ameaçando os direitos conquistados por meio de muita luta até hoje, incluindo a luta pelo direito a educação. (CFESS, 2001, p.9).

A Constituição de 88, o Estatuto da Criança e do Adolescente (8.069/90 )e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) são aparatos legais que garantem o direito ao acesso e a permanência do adolescente, jovens, adultos e crianças a educação e(...) tem como finalidade a formação do sujeito para o exercício da cidadania, preparação para o trabalho e sua participação na sociedade (...) (CFESS, 2001, p.10).

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – direito a ser respeitado pelos seus educadores;

III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV – direito de organização e participação em entidades estudantis

V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência

Paragrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico bem como participar da definição das propostas educacionais. (Art.53, Lei 8069/90).

O Serviço Social tem importante função na garantia da efetivação do direito a educação, sendo esta importante no desenvolvimento do adolescente. Só por meio dela é possível promover o pleno desenvolvimento do individuo, preparando para construir pensamento crítico que irá direcionar suas escolhas e posicionamentos durante toda a vida. Tais escolhas entre tantas, correspondem também a de assumir comportamentos que podem significar risco para o seu desenvolvimento saudável.

A realidade social é complexa, existe grande incidência de miséria, pobreza e precarização dos serviços públicos. É neste contexto que a escola encontra-se inserida. A escola hoje é caracterizada pela insuficiência no atendimento aos alunos, seja por motivo de falta de vagas e na atenção ao atendimento às necessidades referentes à adolescência, como a dificuldade de construir projetos voltados à informação e conscientização sobre doenças sexualmente transmissíveis, uso de drogas, gravidez na adolescência e etc.

O baixo rendimento escolar, desinteresse por assuntos relacionados à escola, necessidade de inserir-se no mercado de trabalho mais cedo, são alguns dos fatores que contribuem para o abandono dos estudos. Porém o abandono escolar não está somente concentrado às questões vinculadas à educação, mas sim a vários outros fatores aliados às expressões da questão social enfrentados pela família e a escola no âmbito social. (CFESS, 2001, p.11).

O Serviço Social no âmbito educacional tem a possibilidade de contribuir com a realização de diagnósticos sociais, indicando possíveis alternativas à problemática social vivida por muitas crianças e adolescentes, o que refletirá na melhoria das suas condições de enfrentamento da vida escolar. (CFESS, 2001, p. 12).

Segundo CFESS/CRESS (2001), o Assistente Social contribuí na área da educação, pois possui a capacidade de identificar e analisar os fatores que levam o adolescente ao abandono escolar, e dessa forma propor, por meio de projetos, formas de diminuir essas incidências. O Assistente Social no âmbito da educação tem a capacidade de identificar quando há falta de interesse e a presença de comportamentos de riscos e dessa forma, depois de identificado, encaminhar aos serviços sociais e assistenciais. Com a participação do Assistente Social na equipe multidisciplinar é possível pensar junto com profissionais da educação e saúde a elaboração de programas que visem à prevenção ao uso indevido de drogas e também a outra situação de risco que essa fase se encontra exposta.

Pesquisas apontam estatísticas de que 60% dos adolescentes com idade entre 14 e 19 anos que residem em áreas urbanas consumiram álcool no ano de 2012 e que desses 11,3% foram classificados como dependentes ou com perfil de uso abusivo. (Barbosa et al, 2014, p.49).

No ambiente escolar os adolescentes representam uma parte significativa, dessa forma a escola constitui um espaço privilegiado para se pensar em projetos e alternativas que visem evitar o uso abusivo de drogas. (Barbosa et al, 2014, p.50).

De acordo com a UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância,(2014) o consumo abusivo de álcool e outras drogas na adolescência reduz o autocontrole e facilita atitudes entendidas como comportamentos de risco, como sexo sem proteção, acidentes de transito e violência, podendo ocasionar problemas na saúde e levar à morte prematura. (UNICEF, 2014 apud Barbosa et al, 2014).

De acordo com estudos é possível perceber que o trabalho de prevenção ao uso do álcool, tabaco e outras drogas na escola tem forte impacto sobre a vida dos adolescentes, porém é importante ressaltar que trabalhos preventivos voltados somente para fornecer informações não têm se mostrado suficientes. De acordo com Midford (2009) os programas de prevenção devem identificar quais são os motivos que levam os adolescentes a fazerem o uso de drogas naquele determinado local e por que ela se torna atraente. É importante também reconhecer a diferença entre uso e abuso. Nem sempre o uso significa o abuso de alguma droga. (MIdford, apud Barbosa et al 2014).

Para que a escola efetive trabalho preventivo que aponte para resultados positivos é importante, (...) Garantir que os professores estejam instrumentalizados e recebam suporte para que possam exercer seu papel central no processo de educação sobre drogas ( Meyer&Cahill apud Barbosa, 2014).

O Assistente Social, atuando com medidas preventivas na escola deve, de acordo com sua competência,adotar políticas e práticas consistentes para ofertar e gerenciar respostas para incidentes relacionados às drogas (Meyer & Cahil apud Barbosa, 2014).

Constitui como competência do Assistente Social de acordo com a Lei que regulamenta a profissão:

I - Elaborar, implementar, executar, avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;

II – Elaborar, coordenar, executar e a