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Carta 001/2014 Seção Pedagógica e Seção de Assuntos Estudantis Curitiba, 11 de setembro de 2014. Aos/às senhores/as conselheiros/as do Conselho Superior do Instituto Federal do Paraná (CONSUP) Assunto: Apreciação da proposta de Resolução que institui o Regulamento Disciplinar Discente do Instituto Federal do Paraná Prezados/as conselheiros/as, As equipes da Seção Pedagógica e Seção de Assuntos Estudantis do Câmpus Curitiba, a partir da apreciação coletiva da proposta de Resolução que visa instituir o Regulamento Disciplinar Discente do Instituto Federal do Paraná, declaram-se contrárias à aprovação do documento na forma em que está escrito. Não se trata apenas de alterações pontuais ou emendas no documento, mas de uma reconsideração total da proposta, com revisão de seus fundamentos ético- jurídicos, implicações práticas, vocabulário utilizado e consonância com o ideal de educação que perseguimos. Não estamos falando aqui da análise da forma (vírgulas, palavras específicas, posição dos elementos, etc), mas do que pensamos ser esta instituição e qual futuro queremos para ela. A construção de documentos reguladores como esse deve (1) estar em consonância com dispositivos legais, (2) levar em consideração os profissionais especializados na matéria em discussão, (3) estar baseada na gestão democrática do ensino, princípío estabelecido para educação brasileira na Constituição Federal, (4)

Apreciação_Regimento Disciplinar Discente

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  • Carta 001/2014 Seo Pedaggica e Seo de Assuntos Estudantis

    Curitiba, 11 de setembro de 2014.

    Aos/s senhores/as conselheiros/as do Conselho Superior do Instituto Federal do

    Paran (CONSUP)

    Assunto: Apreciao da proposta de Resoluo que institui o Regulamento

    Disciplinar Discente do Instituto Federal do Paran

    Prezados/as conselheiros/as,

    As equipes da Seo Pedaggica e Seo de Assuntos Estudantis do Cmpus

    Curitiba, a partir da apreciao coletiva da proposta de Resoluo que visa instituir o

    Regulamento Disciplinar Discente do Instituto Federal do Paran, declaram-se

    contrrias aprovao do documento na forma em que est escrito.

    No se trata apenas de alteraes pontuais ou emendas no documento, mas de

    uma reconsiderao total da proposta, com reviso de seus fundamentos tico-

    jurdicos, implicaes prticas, vocabulrio utilizado e consonncia com o ideal de

    educao que perseguimos. No estamos falando aqui da anlise da forma (vrgulas,

    palavras especficas, posio dos elementos, etc), mas do que pensamos ser esta

    instituio e qual futuro queremos para ela.

    A construo de documentos reguladores como esse deve (1) estar em

    consonncia com dispositivos legais, (2) levar em considerao os profissionais

    especializados na matria em discusso, (3) estar baseada na gesto democrtica do

    ensino, princpo estabelecido para educao brasileira na Constituio Federal, (4)

  • realizar consulta dos sujeitos afetados pelo documento imposto, (5) considerar a

    funo social da escola e (6) estar em constante discusso e aprimoramento.

    Entendendo que a construo do documento deva ocorrer de forma coletiva,

    sugerimos que, como todos os documentos institucionais, o Regulamento Disciplinar

    Discente seja encaminhado para Consulta Pblica.

    Apreciao Geral

    Em uma anlise geral do documento, o primeiro aspecto que nos chama

    ateno a inconsistncia no entendimento da populao que o Instituto Federal do

    Paran atende. Ora nosso discente compreendido como adulto - explcito na redao

    de alguns artigos, como ao tratar da responsabilidade civil e penal do estudante no

    Art.1 - ora como adolescente - ao falar de responsveis legais no Art. 44 e algumas

    infraes disciplinares no Captulo III, como ausentar-se do cmpus sem autorizao.

    A interpretao e o uso deste regulamento, desta maneira, ficam totalmente a critrio

    do leitor, que poder dentro do seu entendimento aplic-lo a um e a outro

    indiscriminadamente.

    Sobre o vocabulrio, destacamos que, no decorrer de todo o documento, h o

    uso pejorativo de conceitos como infrator e menor de idade. Essas concepes

    vm sendo insistentemente combatidas por profissionais que trabalham diretamente

    com adolescentes, por remeterem ao antigo Cdigo de Menores. Alm disso, a

    palavra infrator remete ao entendimento jurdico daquele que comete ato que pode

    ser classificado como crime, quando adolescente esse ato chamado de ato

    infracional (definio que pode ser encontrada no Estatuto da Criana e do

    Adolescente). Em ambiente escolar, para se referir ao descumprimento de normas

    fixadas pela escola, o mais indicado seria o uso da expresso ato indisciplinar,

    como observa Luiz Antnio Miguel Ferreira, Promotor de Justia da Infncia e da

    Juventude do Estado do Paran em documento Secretaria de Estado da Educao do

    Paran.

  • Apreciao dos Art. 29 e 36

    Art. 29 - Apresentar-se sempre adequadamente trajado, preferencialmente com o uniforme escolar

    do IFPR.

    Art. 36 - Observar os preceitos de higiene individual e coletiva.

    Os artigos citados contradizem os valores inclusivos do Instituto Federal do

    Paran no que se refere democratizao do acesso educao de jovens e adultos,

    pautado no respeito diversidade cultural, social, racial, tnica, gnero e de pessoas

    com deficincias.

    Devemos questionar as implicaes prticas de se incluir questes to

    particulares em um regulamento disciplinar.

    Lembrando que o direito dignidade, que est no rol dos princpios

    fundamentais da Constituio Federal, nos impe que toda pessoa digna de respeito

    e tratamento igualitrio; de que maneira estes critrios citados nos art. 29 e 36

    poderiam caracterizar infraes disciplinares sem nos remeter a um tratamento

    preconceituoso e constrangedor?

    No caso dos estudantes adolescentes, o Estatuto da Criana e do Adolescente

    muito claro:

    Art. 4. dever da famlia, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Pblico assegurar,

    com absoluta prioridade, efetivao dos direitos referentes vida, sade, alimentao,

    educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e

    convivncia familiar e comunitria.

    Art. 15. A criana e o adolescente tm direito liberdade, ao respeito e dignidade como pessoas

    humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais

    garantidos na Constituio e nas leis.

    Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade fsica, psquica e moral da

    criana e do adolescente, abrangendo a preservao da imagem, da identidade, da autonomia, dos

    valores, idias e crenas, dos espaos e objetos pessoais.

    Art. 18. dever de todos velar pela dignidade da criana e do adolescente, pondo-os a salvo de

    qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatrio ou constrangedor. ( Estatuto da

    Criana e do Adolescente)

  • Devemos esclarecer que estudantes que, por qualquer motivo, estejam

    reiteradamente mal cuidados, mal vestidos, sujos, desnutridos, etc, devem encontrar

    na escola aes para a garantia dos seus direitos, no mecanismos de punio. Parece-

    nos que estes artigos propostos apenas tratam de 1) aprofundar os mecanismos de

    excluso, pela culpabilizao de sujeitos que possam estar em situao de

    vulnerabilidade, 2) isentar a escola de suas obrigaes sociais, uma vez que advertir o

    estudante muito mais simples que articular aes para a superao das questes

    impostas e 3) abandonar a discusso sobre os uniformes e apresentar apenas

    paliativos: ao inserir a palavra preferencialmente, deslegitimasse qualquer

    movimento para a institucionalizao do uniforme, pois se o objetivo escrever um

    documento que contemple as normas da instituio h que primeiro se definir as

    normas da instituio.

    Alm disso, adequadamente trajado e preceitos de higiene so mais

    exemplos das expresses pautadas em anlise subjetiva, em que aplicao depende do

    entendimento e vontade do leitor.

    Apreciao dos Art.41 e Art.42

    Art. 41 Justificar sua ausncia da Instituio, at dois dias teis aps o trmino do afastamento,

    quando o mesmo for de at 15 dias consecutivos, mediante apresentao de documentao

    comprobatria ao setor responsvel;

    Art. 42 Em casos de licenas mdicas ou outros casos previstos em lei, quando o perodo for

    superior a 15 dias, justificar seu afastamento at dois dias teis aps o inicio do perodo previsto,

    mediante apresentao de documentao comprobatria ao setor responsvel.

    No caso dos estudantes adolescentes, cabe apontar a responsabilidade da escola

    no acompanhamento da frequncia (previsto em lei), no podendo transferir ou se

    isentar desse compromisso. O principal agente do processo para o combate a evaso

    escolar o professor, face ao seu contato direto e dirio com o aluno, cabendo

    diagnosticar quando o mesmo no est indo a escola (sem justificativa) e iniciar o

    processo de resgate. Luiz Antonio Miguel Ferreira, Promotor de Justia/PR.

  • Por orientao do Conselho Tutelar da regio, a comunicao s autoridades de

    faltas injustificadas de adolescentes deve ocorrer no caso de 5 dias consecutivos e 7

    dias alternados.

    Apreciao do Captulo III - Das Infraes e das Medidas Disciplinares

    O ato de indisciplina , conforme apresenta o promotor de justia do Estado do

    Paran Octaclio Sacerdote Filho, o comportamento que, embora no constitua

    crime ou contraveno penal, compromete a convivncia democrtica e ordeira no

    ambiente escolar. Os atos que so considerados ilcitos penais devem ser verificados

    pelas instncias competentes como Conselho Tutelar, Justia da Infncia e da

    Juventude e Justia Comum. A instituio educacional no possui competncia para a

    apurao individual de crimes cometidos pelo corpo discente ou aplicao de

    medidas relativas a esses atos, sendo que nesses casos, como j foi dito, as

    autoridades competentes devem ser chamadas a se encarregar das aes necessrias.

    A autoridade escolar no poder se eximir de tomar todas as providncias legais

    cabveis relacionadas ao ato infracional, mas tambm no poder ela mesma aplicar

    essas providncias visto que extrapola a sua competncia e os seus objetivos e que

    no possui profissionais habilitados para tal.

    Desta forma, os itens que se refiram a crimes, como alguns dos elencados nas

    faltas disciplinares gravssmas, devem ter encaminhamentos externos. evidente

    que a instituio educacional tem autonomia para agir em situaes que ocorram em

    seu interior, mas sua inteno ser sempre pedaggica, com carter

    essencialmente educativo.

    Acreditamos que a aplicao de um regimento disciplinar deve levar em

    considerao a condio peculiar do estudante, especialmente do estudante

    adolescente enquanto sujeito de direitos e em processo de desenvolvimento, tendo

    por base as disposies contidas no Estatuto da Criana e do Adolescente.

  • Apreciao do Art.45

    Art.45 O aluno, pela inobservncia das normas contidas neste Regulamento e conforme a

    gravidade e/ou a reincidncia das faltas estar sujeito s seguintes Medidas Disciplinares:

    I. Orientao verbal, no aplicvel em caso de reincidncia;

    II. Retirada do aluno de sala de aula;

    III. Advertncia escrita; com registro na Ficha Individual do Estudante;

    IV. suspenso, implicando o afastamento do discente de todas as atividades de ensino, pesquisa e

    extenso por um perodo no superior a 05 (cinco) dias; respeitado o perodo de avaliaes;

    V. Transferncia compulsria, medida adotada apenas quando esgotados todos os recursos

    educativos, e ficando o Campus comprometido a dar todos os subsdios necessrios para a efetiva

    transferncia do estudante.

    A orientao verbal e o acompanhamento dos estudantes devem ser realizados

    sempre que necessrio, pois configuram medida pedaggica principal em casos de

    atos indisciplinados, no cabendo aqui, portanto, a afirmao no aplicvel em caso

    de reincidncia.

    Conforme a equipe da Seo Pedaggica verificou junto ao Conselho Tutelar

    da regio, e embasado nas legislaes sobre o tema (art.205 da Constituio, art.53

    Lei 8069/90, art.5 da Lei 9.394/96), o estudante deve ter seu direito Educao

    garantido e no poder sofrer qualquer prejuzo no seu desenvolvimento escolar. No

    caso da medida de suspenso, o estudante no poder ser afastado de todas as

    atividades de ensino, pesquisa e extenso visto que isso significa a violao de um

    direito. Esta medida pode existir a partir de um entendimento de que o estudante

    permanecer na escola, em local adequado, desenvolvendo atividades semelhantes s

    propostas em sala e ter acesso a todos os contedos, jamais podendo ocorrer em

    perodo de prova.

    Ainda baseados no direito educao exposto nas leis supracitadas, a

    transferncia compulsria absolutamente ilegal no caso de estudantes adolescentes

    e, no caso de estudantes adultos, ato administrativo constritivo de direitos, logo,

    deve ser precedida de processo administrativo.

  • De acordo com Sacerdote Filho, no h, na atualidade, como o colegiado de

    uma instituio de ensino aplicar penalidades de transferncia compulsria ou

    expulso, pois tais medidas ferem o direito constitucional que assegura o direito

    educao (...) sob pena de os ordenadores da instituio serem responsabilizados na

    forma da lei.

    Corroborando com o impedimento de previso de transferncia compulsria,

    mencionamos a Deliberao de n 002/96, do Conselho Estadual de Educao do

    Paran, a qual altera a Deliberao n 020/91, em seu Art. 15, Pargrafo nico,

    vedando a excluso ou transferncia compulsria como sano ao aluno, em

    decorrncia do questionamento feito pelo Centro de Apoio Operacional das

    Promotorias da Criana e do Adolescente. (disponvel em:

    http://www2.mp.pr.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_7_5_2.php, acesso em

    04/09/2014)

    De acordo com o relator do Processo n 21/96, do Ministrio Pblico do

    Paran, Tefilo Bacha Filho,

    Na realidade, ao expulsar o aluno a escola declara, da forma mais

    enftica, sua prpria incompetncia. Certamente, a disciplina constitui um

    desafio para os educadores, sendo um valor necessrio tanto nas relaes

    sociais como nas relaes polticas. Mas, no mbito educativo, a disciplina

    no se confunde com um conjunto de normas a serem obedecidas; , antes,

    a convergncia de uma ao corresponsvel que s pode ser analisada e

    compreendida luz do contexto educacional como um todo. a escola,

    enquanto campo de ao educativa, que educa; portanto, a disciplina

    promana do projeto educativo da escola como um todo, e no de uma srie

    de "pode-no pode, deve-no deve." (Disponvel em

    http://www2.mp.pr.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_7_5_2.php, acesso em

    04/09/2014)

    Como sugesto, apresentamos o disposto no caderno de apoio para a

    elaborao do Regimento Escolar, organizado pela Secretaria de Estado da Educao

    do Paran; que em captulo que trata das Aes Educativas, Pedaggicas e

  • Disciplinares a serem aplicadas pela autoridade escolar no caso de no cumprimento

    de obrigaes e deveres dos alunos, prope:

    O aluno que deixar de cumprir ou transgredir de alguma forma disposies contidas no Regimento

    Escolar ficar sujeito as seguintes aes:

    I orientao disciplinar com aes pedaggicas dos professores, equipe pedaggica e direo;

    II registro dos fatos ocorridos envolvendo o aluno, com assinatura;

    III comunicado por escrito, com cincia e assinatura dos pais ou responsveis, quando criana ou

    adolescente;

    IV encaminhamento a projetos de aes educativas;

    V - convocao dos pais ou responsveis, quando criana ou adolescente, com registros e

    assinatura, e/ou termo de compromisso

    Apreciao do Art.46 e Art.54

    Art. 46 A aplicao de medidas disciplinares aos discentes, observaro os seguintes critrios:

    I. leves, passveis de orientao verbal retirada da sala de aula, e aps uma reincidncia, no

    perodo de um ano, a falta ser classificada como falta mdia.

    II. mdias, passveis de todas as medidas disciplinares menores at advertncia escrita registrada em

    sua ficha individual, e aps reincidncia, no perodo de um ano, a falta ser classificada como falta

    grave.

    III. graves, passveis de todas as medidas disciplinares menores at a suspenso de 01(um) a 05

    (cinco) dias. Em caso de reincidncia dentro de um ano, a falta ser classificada como gravssima.

    IV. gravssimas, passveis de todas as medidas disciplinares menores at transferncia compulsria.

    1 - Na aplicao de medida disciplinar sero consideradas as seguintes circunstncias atenuantes:

    a retratao pblica, a reparao, ainda que parcial e o arrependimento eficaz, ao menos para

    atenuar as conseqncias do ato.

    2 - Na aplicao de medida disciplinar sero consideradas as seguintes circunstncias agravantes:

    cometimento de falta mediante violncia ou grave ameaa, com emprego de arma ou com

    substncia inflamvel, explosiva ou txica; ou cometimento de falta por discente que se serve de

    anonimato ou de nome fictcio ou suposto.

    Art. 54. Com finalidade restaurativa, ao aluno(a) que cometer ato de indisciplina que implique em

    dano ao patrimnio do IFPR ou de terceiros, facultada a possibilidade de, quando vivel oferecer

    voluntariamente servios de reparao material que tentem restituir a coisa ao seu estado anterior ao

  • dano ou perda, atravs da prestao educativa de servios ao Cmpus, compensao financeira ou

    oferecimento de bem substituto.

    Entendemos que cada uma das medidas pedaggicas a serem adotadas devem

    ser pensadas individualmente, proporcionais e de acordo com cada situao. Desta

    forma, consideramos equivocado o encadeamento das progresses adotado. Devemos

    considerar em nossa anlise as caractersticas peculiares da populao que

    atendemos, visando garantir sua permanncia.

    Para ilustrar a situao, imaginemos um de nossos estudante, que como muitos,

    mora muito longe da instituio e chegue atrasado um dia. Ao invs de ser assistido

    em sua dificuldade, ser ento punido; e tendo em vista a progresso proposta, se

    ocorrer 4 (quatro) atrasos em um ano, ser expulso da instituio (o que j vimos ser

    ilegal). Ou, outro exemplo, um estudante que chegue ao Instituto com sinais de

    embriaguez: em vez de acolh-lo, orient-lo, convocar os responsveis (em caso de

    adolescente) e avisar instncias competentes (como o Conselho Tutelar), encaminh-

    lo para possvel atendimento externo, ou qualquer outra medida que possa vislumbrar

    uma inteno de auxili-lo, ele ser suspenso (ou seja, aumentar seu contexto de

    vitimao). A partir desses exemplos, percebemos a progresso sugerida como

    desnecessria e at prejudicial ao trabalho com o qual a Seo Pedaggica e Seo de

    Assuntos Estudantis so comprometidas.

    Alm disso, circunstncias atenuantes e agravantes e arrependimento

    eficaz fazem referncia a um vocabulrio jurdico presente em dispositivos legais

    que, em nosso entendimento, no condiz com ambiente escolar. Arrependimento

    eficaz, por exemplo, qualifica-se como modalidade para regresso criminosa quando

    no h consumao do delito, que s faz sentido no cdigo penal e, por isso, conflitua

    com os objetivos pedaggicos de nossa instituio.

    As situaes que ultrapassam as aes pedaggicas desenvolvidas no mbito da

    escola e que caracterizam ato infracional (violncia ou grave ameaa, com emprego

    de arma ou com substncia inflamvel, explosiva ou txica) contam com

    regulamentao prpria (Lei 12.594/12), nestes casos, cabe a autoridade competente

  • aplicar as medidas cabveis e no a escola, sendo obrigao desta a realizao dos

    devidos encaminhamentos e de medidas proporcionais e adequadas aos objetivos

    escolares, como j foi discutido. Cabe destacar que o artigo 232 do Estatuto da

    Criana e do Adolescente (ECA) considera crime "submeter criana ou adolescente

    sob sua autoridade a vexame ou constrangimento".

    Apreciao dos Art.52, Art. 56, Art. 60 e Art. 64

    Art. 52. Quando a falta disciplinar cometida pelo(a) estudante for leve ou mdia, ao professor e/ou

    a coordenao do curso, assessorados pelo rgo de Assistncia Estudantil, caber a iniciativa de

    apurao das faltas disciplinares previstas neste regulamento e a aplicao da medida disciplinar.

    Art. 56. Quando existir indcios de falta disciplinar grave ou gravssima, cabe ao coordenador(a)

    do curso, depois de consultar o rgo de Assistncia Estudantil de cada Campus ouvir as partes

    envolvidas, coletar informaes. Julgando necessrio pode remeter o caso para a Direo geral de

    campus solicitando a abertura de processo disciplinar por Comisso Disciplinar prpria.(...)

    Art. 60 - As faltas e as medidas disciplinares aplicadas sero registradas na Ficha Individual do(a)

    Estudante, no rgo responsvel pela Assistncia Estudantil do seu Campus de origem. Aps a

    concluso do curso, a ficha individual ser arquivada no Setor de Registros Escolares.

    Art. 64. O(a) estudante, em viagens de estudos ou em outras programaes do IFPR, que infringir

    o regulamento disciplinar, ser encaminhado ao rgo responsvel pela Assistncia Estudantil,

    atravs do relato de ocorrncia, de responsabilidade do servidor acompanhante, logo aps o retorno

    mesma. Desta forma o estudante ficar sujeito s Medidas Disciplinares previstas neste

    regulamento.

    No que se refere a meno, nos artigos 52, 56, 60 e 64 do Documento, de que a

    Assistncia Estudantil ser responsvel por assessorar a apurao das faltas

    disciplinares e aplicar das medidas disciplinares previstas no Regulamento,

    compreendemos que no se trata da funo dessa poltica, especialmente pois, a

    Assistncia Estudantil, tal qual definido no Decreto 7234/2010, que dispe sobre o

    Programa Nacional de Assistncia Estudantil tem por objetivos: I democratizar as

    condies de permanncia dos jovens na educao (...); II - minimizar os efeitos das

    desigualdades sociais e regionais na permanncia e concluso da educao superior;

    III - reduzir as taxas de reteno e evaso; e IV - contribuir para a promoo da

  • incluso social pela educao. No h em nenhum documento institucional a

    informao de que isso seja atribuio da Assistncia Estudantil, pois esta constitui-

    se como uma ao do Estado que busca reduzir as desigualdades sociais e assegurar o

    acesso, permanncia e xito do estudante em seu curso.

    Em contrapartida, a partir das definies contidas na Resoluo N 08, de 30 de

    abril de 2014 que regulamenta o Regimento Interno Comum aos Cmpus do Instituto

    Federal do Paran, sugerimos que o acompanhamento na aplicao do Regimento

    Disciplinar seja realizado pelo Colegiado de Gesto Pedaggica do Cmpus.

    Art. 13. O Colegiado de Gesto Pedaggica do Cmpus CGPC rgo auxiliar da

    gesto pedaggica, com atuao regular e planejada, na concepo, execuo, controle,

    acompanhamento e avaliao dos processos pedaggicos da ao educativa, no mbito de cada

    Cmpus, em assessoramento a Direo-Geral e ao CODIC.

    (...)

    Art. 15. O CGPC ser coordenado pela Direo de Ensino, Pesquisa e Extenso do Cmpus,

    tendo como membros a Coordenao de Ensino, as Coordenaes de Curso, o(a) Coordenador(a) do

    NAPNE e um(a) pedagogo(a) da Seo Pedaggica e de Assuntos Estudantis.

    Considerando as reflexes que empreendemos na apreciao dos artigos

    anteriores, esperamos esclarecer que um regimento disciplinar deve colaborar nos

    processos que se articulam ao educativa, deve ser entendido no corpo das

    atividades de acompanhamento do estudante e jamais descolado delas; considerando

    tambm que o acompanhamento e avaliao dos processos pedaggicos da ao

    educativa, de acordo com o Regimento Interno Comum aos Cmpus supracitado,

    atribuio do Colegiado de Gesto Pedaggica do Cmpus (CGPC); considerando,

    apesar disso, que este colegiado inexiste na prtica e que suas atribuies so

    congneres algumas das realizadas pela Seo Pedaggica do Cmpus Curitiba;

    sugerimos que as competncias dos atores citados nos artigos analisados sejam

    revistas e convirjam com a realidade objetiva.

  • Consideraes Finais

    Considerando a apreciao coletiva da proposta de Resoluo que visa instituir

    o Regulamento Disciplinar Discente do Instituto Federal do Paran, as equipes da

    Seo Pedaggica e Seo de Assuntos Estudantis do Cmpus Curitiba, aps intensos

    debates, declaram-se contrrias aprovao do documento na forma em que est

    escrito, como j foi exposto no incio deste documento.

    Entre as diversas justificativas apresentadas pelas equipes multiprofissionais,

    destacamos o desacordo com fundamentos tico-jurdicos que regem a prtica escolar

    e a total incongruncia com o ideal de educao que perseguimos enquanto

    instituio.

    imperativo rediscutir coletivamente a proposta apresentada, no apenas sua

    forma ou vocabulrio mas todo o seu contexto e objetivos, tomando como princpio

    norteador o desenvolvimento integral do cidado trabalhador, como consta nas

    concepes e diretrizes da criao dos Institutos Federais de Educao, Cincia e

    Tecnologia.

    Entendendo que a construo do documento deva se ocorrer de forma coletiva,

    sugerimos que a proposta de Regulamento Disciplinar Discente seja encaminhado

    para Consulta Pblica.

    Respeitosamente,

    Seo Pedaggica e Seo de Assuntos Estudantis do Cmpus Curitiba