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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 APREENSÃO DO ESPAÇO URBANO: O caso da Av. Getúlio Vargas, Juiz de Fora, Minas Gerais BARBOSA, ANA APARECIDA (1); PORTES, RAQUEL VON RANDOW (2); LEÃO, DANIELE HELENA (3); DURSO, PAULIANE CASARIN (4); OLIVEIRA, JULIANA MARIA (5) 1.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Departamento de Projeto História e Teoria da Arquitetura e do Urbanismo. Endereço Postal: Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus UFJF), São Pedro, 36036900 - Juiz de Fora, MG - Brasil E-mail: [email protected] 2.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Departamento de Projeto História e Teoria da Arquitetura e do Urbanismo. Endereço Postal: Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus UFJF), São Pedro, 36036900 - Juiz de Fora, MG Brasil E-mail: [email protected] 3.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Endereço Postal: Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus UFJF), São Pedro, 36036900 - Juiz de Fora, MG Brasil E-mail: [email protected] 4.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Endereço Postal: Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus UFJF), São Pedro, 36036900 - Juiz de Fora, MG Brasil E-mail: [email protected] 5.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Endereço Postal: Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus UFJF), São Pedro, 36036900 - Juiz de Fora, MG Brasil E-mail: [email protected]

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APREENSÃO DO ESPAÇO URBANO: O caso da Av. Getúlio Vargas, Juiz de Fora, Minas Gerais

BARBOSA, ANA APARECIDA (1); PORTES, RAQUEL VON RANDOW (2); LEÃO, DANIELE HELENA (3); DURSO, PAULIANE CASARIN (4); OLIVEIRA, JULIANA

MARIA (5)

1.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Departamento de Projeto História e Teoria da Arquitetura e do Urbanismo.

Endereço Postal: Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus UFJF), São Pedro, 36036900 - Juiz de Fora, MG - Brasil E-mail: [email protected]

2.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Departamento de Projeto História e Teoria da Arquitetura e do Urbanismo. Endereço Postal: Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus UFJF), São Pedro,

36036900 - Juiz de Fora, MG – Brasil E-mail: [email protected]

3.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

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36036900 - Juiz de Fora, MG – Brasil E-mail: [email protected]

5.Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

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RESUMO

O presente trabalho tem como principal objetivo o entendimento da metodologia de leitura do espaço urbano apresentado pela arquiteta e urbanista Maria Elaine Kohlsdorf em seu livro intitulado “A Apreensão da Forma da Cidade”. Para tal, adotamos como objeto de análise a Avenida Getúlio Vargas, compreendida em um trecho da antiga estrada União Indústria em Juiz de Fora, Minas Gerais. Visto isso o presente artigo apresenta o rebatimento dessa metodologia de análise na referida avenida. De acordo com a autora os espaços possuem algumas qualidades capazes de despertar, naqueles que o frequentam, com maior ou menor facilidade, o sentimento de identificação e orientação. Logo, sua metodologia apresenta três níveis de apreensão da forma da cidade, o nível da percepção, o nível da imagem mental, e o nível da representação geométrica. O rebatimento dessa metodologia na avenida Getúlio Vargas, nos permitiu concluir que a intensa degradação da via proporciona aos seus usuários sensações de insegurança, sufocamento e desconforto, o que confere ao local um baixo desenvolvimento topoceptivo, ou seja, a população não consegue se orientar e se identificar no espaço de forma saudável e satisfatória. Assim, entendemos que é necessário um olhar sensível a essas questões, para identificarmos as paisagens e compreendermos sua transformação, a fim de propormos ações de proteção, gestão e ordenamento do território, visando a efetiva conservação da paisagem para gerações futuras.

Palavras-chave: Paisagem; Desenvolvimento Topoceptivo; Juiz de Fora.

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Introdução

O presente artigo é resultado de estudos ocorridos durante a disciplina de Projeto de

Arquitetura e Urbanismo VII, ministrado no período do primeiro semestre de 2015, pelas

professoras Ana Barbosa e Raquel Portes, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal de Juiz de Fora. A disciplina ministrada, teve como um dos objetivos a

elucidação de diferentes formas de análise do espaço urbano por meio de trabalho teórico e

investigativo. Logo o presente trabalho teve como objetivo o estudo da metodologia de análise

apresentada pela arquiteta Maria Elaine Kohlsdorf em seu livro “A Apreensão da Forma da

Cidade”, e posteriormente a aplicação da mesma no objeto de estudo, a Avenida Getúlio

Vargas em Juiz de Fora.

A escolha do objeto de estudo se deu pelo valor histórico da via tanto no cenário municipal,

pois se configurou como fator de alteração na configuração urbana, como no cenário nacional

uma vez a Avenida é remanescente da Rodovia União Industria, importante estrada da época

do Brasil Império, que facilitou a ligação da região com a província do Rio de Janeiro. A

relevância histórica do local aliado a percepção do grupo, de que a Avenida resultaria em uma

análise de primeira ordem, tendo como base teórico conceitual a proposta de Kohlsdorf,

motivou a escolha da referida como objeto de estudo.

A metodologia de trabalho empregada se baseia em 3 momentos, a saber, no primeiro

momento foi realizado a revisão bibliográfica da Kohlsdorf e do conceito de desenvolvimento

topoceptivo; em seguida, nos debruçamos sobre o objeto de estudo, sendo realizado um

levantamento histórico da área, assim, através da bibliografia e iconografia disponível foi

possível compreendermos os processos de transformação da paisagem ao longo dos tempos

e das diversas temporalidades. Por fim, o último momento foi o de aplicação da proposta de

análise apresentada por Kohlsdorf na área de estudo. Nesse momento, buscamos

compreender como o indivíduo interage com a Avenida, e quais as sensações que o ambiente

desperta no observador, para então identificarmos se a Avenida possui as características

necessárias para despertar no usuário o sentimento de identificação e orientação. Vale

ressaltarmos que o estudo do Plano Diretor Municipal de Juiz de Fora ao longo do trabalho foi

de grande importância, pois evidenciou a forma como o poder público analisa a via, e quais

são as políticas urbanas empregadas no local. Essas informações ajudam a elucidar, junto ao

estudo histórico da área, os motivos dos resultados gerados a partir da análise realizada.

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A Apreensão da Forma da Cidade

Como evidenciado anteriormente, o objetivo desse artigo é, além da compreensão da forma

de análise apresentada por Kohlsdorf, o entendimento da relação do indivíduo com a Avenida

Getúlio Vargas. Ou seja, buscamos compreender como a população percebe e interage com

o local. Cavalcanti (et al., 2009) afirma que a apropriação de um espaço é um processo

perceptivo, cognitivo e comportamental, e se refere ao modo como o indivíduo interage com

o meio. É um processo carregado de subjetividade, pois está relacionando tanto com a

capacidade topoceptiva do espaço, ou seja, a capacidade de orientação e identificação,

quanto com as características particulares do indivíduo que o percebe. Portanto, de acordo

com Kohlsdorf a percepção não depende exclusivamente da cognição do ser humano, mas

também do desempenho topoceptivo do ambiente experenciado, isto é, das possibilidades de

apreensão que esses espaços arquitetônicos proporcionam (Kohlsdorf, 1996). Vale ressaltar

que Kohlsdorf se refere ao espaço arquitetônico como qualquer espaço intencionalmente

produzido, incluindo o espaço natural. No que tange a dualidade espaço e lugar, a autora

explica que o todo lugar é um espaço, mas que nem todo espaço é um lugar, a saber, o

espaço é caracterizado como algo concreto e físico, já o espaço/lugar é caracterizado como

algo concreto, dinâmico, histórico, físico e social.

Com base nas ideias supracitadas, Kohlsdorf desenvolve uma metodologia de leitura da forma

da cidade a partir de três níveis de apreensão morfológica urbana: o nível da percepção, o

nível da imagem mental e o nível da representação geométrica secundária, para os quais a

autora desenvolve ferramentas específicas para análise e, posteriormente, avalia o

desempenho topoceptivo - capacidade dos espaços de serem identificáveis e orientáveis

através de suas características configurativas espaciais - de cada um deles.

O nível da percepção está relacionado ao sistema de caracterização morfológica dos

espaços, que condicionam a análise e o nível de apreensão. As técnicas de caracterização

na percepção são apresentadas como atributos de percepção que podem ser qualificados

através das ideias de movimento, seleção e transformação. A percepção do ambiente ocorre

através do deslocamento do observador no espaço, que por sua vez capta as cenas com

maior estimulo visual. As características dos sistemas visual e cognitivo captam

sensivelmente as informações morfológicas de acordo com o modo e velocidade de

locomoção do observador, por esse motivo, Kohlsdorf apresenta nesse nível a Técnica de

Análise Sequencial, que busca representar a passagem do visto para o percebido. O

desempenho topoceptivo do ambiente durante a percepção depende da qualidade das

informações dos eventos sequenciais do local em que se está, isto é, os níveis de informação

visual precisam ser claros e equilibrados para que haja boa identificação de cada sequência

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e, consequentemente, da paisagem em sua totalidade. A análise sequencial apoia-se em 3

eventos sequenciais, a saber: Eventos Gerais, Campos Visuais e Efeitos Visuais.

Os Eventos Gerais, agrupa as características sequenciais derivadas do movimento, definindo

as estações, isto é, o ponto de estímulo visual; e os intervalos, que expressam as distâncias

espaciais e temporais entre as estações. A definição dos intervalos pode obedecer a lógica

temporal, métrica ou pelos estímulos visuais. Os Campos visuais se referem ao que é

abarcado pela a vista do observador em cada estação, através de cenas captadas no campo

frontal (campo visual frontal - CVF) e lateral direita (campo visual direito - CVD) e esquerda

(campo visual esquerdo CVE). Vale ressaltarmos que a velocidade do movimento do

observador no espaço e o modo de locomoção adotado são fatores condicionantes na forma

de percepção e apreensão dos campos visuais. Pode-se afirmar, que as perspectivas

experiências mais intensas correspondem às interações homem e ambiente, em uma curta

distância e a uma baixa velocidade de locomoção. Por fim, os Efeitos Visuais correspondem

a “maneira como a realidade chega a nossa percepção” (KOHLSDORF, 1996, p. 70) nesse

momento é realizado a decodificação topoceptiva dos efeitos visuais nos respectivos campos

visuais. Os efeitos podem ser correspondentes a representações topológicas ou a

representações perspectivas, sendo a primeira relacionada a relação espacial referente ao

deslocamento do indivíduo no espaço e a segunda referente a composição plástica da cena

incluída nos campos visuais. Os efeitos de percepção registrados devem ainda, passar por

uma avaliação no que tange a sua intensidade, e ser classificados entre Muito Fortes, fortes,

médios, fracos e muito fracos.

Após os eventos sequenciais, surge o que a autora chama de “Pauta Sequencial, que é a

representação do espaço percebido em movimento” (KOHLSDORF, 1996, p. 103). A Pauta

Sequencial, nada mais é que representação dos eventos sequenciais expressa de acordo

com o “ritmo de informação visual” e organizada em tramos (KOHLSDORF, 1996) com

“temática homogênea”.

Para que a análise seja eficaz, é extremamente necessário que os elementos apresentados

no nível da percepção sejam registrados de forma sistemática seguindo a seguinte ordem:

marcação de estações, marcação de campos visuais, registro de efeitos de percepção,

avaliação da intensidade dos efeitos de percepção e a definição dos tramos.

O nível da imagem mental está relacionado à evocação da memória espacial através dos

mecanismos cognitivos quando o indivíduo não está fisicamente presente no ambiente em

questão. Nesse nível, Kohlsdorf mescla as técnicas de mapa mental e análise visual propostas

por Lynch. A primeira diz respeito a expressão visual do espaço, formada pela observação

dos elementos e características morfológicas do espaço; integra a percepção ao

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entendimento sensível do indivíduo apoiado nas suas lembranças e experimentações de

tempos passados. Logo, é uma estratégia carregada de subjetividade, o que coloca em xeque

sua exatidão métrica e geométrica. Já a segunda, organiza o espaço mentalmente

representados por meio de cinco elementos físicos perceptíveis, a saber: vias, limites, bairros,

pontos nodais e marcos. Esses possibilitam a investigação das características físicas do

espaço na imagem mental.

O nível da Representação Geométrica Secundária procura, ao contrário dos níveis de

percepção e imagem mental, avaliar as expectativas de orientação e identificação mais

objetivas, mais próximas à realidade. Esse nível de representação possui dois objetivos

específicos, “(...)trazer informações precisas, codificadas e já submetidas a toda sorte de

elaborações possíveis [...] aproximação íntima com o estudado(...)” e “(...) definir com exatidão

o referencial morfológico que foi objeto de percepção e de representação imagética. ”

(KOHLSDORF, 1996, p.136). Para tanto, a autora lança mão da técnica de caracterização do

espaço urbano proposta por Trieb e Schimdt, onde “As categorias morfológicas estruturais [...]

são em número de seis, mas compreendem diversos elementos, perfazendo, globalmente,

cerca de cinquenta tipos de dados de composição plástica”. (KOHLSDORF, 1996, p.138). As

seis categorias são: Sítio Físico, Planta Baixa, Conjuntos de Planos Verticais, Edificações,

Elementos Complementares, Estrutura interna dos Espaços. Como vimos os elementos que

configuram tais categorias são infinitos, logo apresentaremos os elementos usados na

aplicação da metodologia da autora, sendo eles a análise da silhueta, que está inserida na

categoria de conjuntos de planos verticais, a silhueta evidencia a granulometria dos edifícios

através da representação geométrica da silhueta e “caracterização morfológica das linhas de

coroamento”, expressando os tipos de edificação e relações morfológicas do espaço. Além

da silhueta, foram analisados os tipos morfológicos de malha, para tal são analisamos seus

segmentos e nós (são analisados tamanho, forma e tipos de ângulos existente entre os nós).

Por fim, a última etapa da análise proposta por Kohlsdorf, é a etapa de Avaliação do

Desempenho Topoceptivo do espaço urbano, que se baseia na capacidade de orientação e

identificação do espaço. Para cada nível de apreensão existe um sistema avaliativo e os

resultados são cruzado e confrontados a fim de evidenciar vínculos entre os resultados de

cada nível de apreensão.

Juiz de Fora: Breve Panorama Histórico

A formação da cidade de Juiz de Fora remete ao início do século XVIII. Esteves (2008)

relaciona o desenvolvimento e o crescimento do município à abertura de caminhos

importantes no cenário nacional que, embora tenham sido realizados em épocas diferentes,

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tiveram como objetivo comum, o atendimento às necessidades econômicas e políticas das

respectivas épocas, visando a ligação do interior do Estado ao Rio de Janeiro.

De acordo com Cordovil (2013) é possível identificarmos três períodos econômicos

associados a abertura dos caminhos: o ciclo aurífero que culminou com a abertura do

Caminho Novo (1703) visando o escoamento do ouro das minas de Ouro Preto para a

Província do Rio de Janeiro, esse caminho é tido como o estopim da formação do município

de Juiz de fora. Já a Estrada do Paraibuna (1836/1838) projetada pelo engenheiro alemão

Henrique Halfeld, está relacionada a expansão cafeeira da região, surgindo como alternativa

ao Caminho Novo, aproveitando trechos desse. A estrada se constituiu como a primeira via

pública do lugar, chamada Rua Principal, posteriormente Rua Direita e atualmente Avenida

Barão do Rio Branco, pela qual se desenvolveu rapidamente em seu decorrer uma povoação.

Em 31 de maio de 1850 o povoado é elevado a Vila de Santo Antônio do Paraibuna e em

maio de 1856 a cidade do Paraibuna, e posteriormente Cidade de Juiz de Fora, em 1865.

Outro importante ciclo econômico para a região foi a industrialização desencadeada pela

construção da estrada macadamizada, Rodovia União e Indústria (1861) pelo comendador

Mariano Procópio. Na figura 01, é possível identificarmos as três estradas citadas.

Figura 01 - Desenho retratando o traçado dos principais caminhos da história do surgimento da

cidade de Juiz de Fora

Fonte: OLIVEIRA, 1966. Modificado pelos autores, 2015.

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Tais caminhos somado a instalação da Estrada de Ferro Dom Pedro II (1870) geraram

transformações urbanas e sociais que repercutem nos dias atuais, marcando de forma

significativa a paisagem local.

O excedente da produção cafeeira permitiu a rápida industrialização da cidade na década de

1870, onde se destaca a indústria têxtil, que, juntamente com a chegada da eletricidade em

1889, e somado à localização, a facilidade no transporte pelas ferrovias e a grande população

lançaram a cidade como importante centro comercial e industrial, sendo considerada pela sua

particularidade como a Manchester Mineira em 1910 (OLIVEIRA, 1966). Os momentos de

adensamento populacional, industrial e comercial que marcam a formação, o crescimento e a

consolidação do centro da cidade, definem o traçado delineador do município, o chamado

Triângulo Central, como evidenciado na figura 02, formado pelas Avenidas Barão do Rio

Branco (Rua Direita, trecho da Estrada do Paraibuna), Presidente Itamar Franco e Getúlio

Vargas (trecho da União e Indústria). Tal conformação marca o crescimento e

desenvolvimento da cidade, onde se localizam grande parte dos marcos arquitetônicos e

históricos de relevância e, sob a ótica urbana, também se constitui como um marco urbanístico

do município.

Figura 02 - Desenho retratando a primeira planta cadastral da cidade de Juiz de Fora, evidenciando o

triangulo central do município.

Fonte: Acervo da Biblioteca Municipal de Juiz de Fora – MG.

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O presente trabalho define a Avenida Getúlio Vargas, que é constituinte do Triangulo Central,

e se configura como uma remanescente da antiga Rodovia União Industria, como objeto de

estudo. Nosso objetivo é compreender a paisagem atual e como a população interage com a

mesma, tendo como base os estudos teóricos conceituais.

Avenida Getúlio Vargas: Análise Topoceptiva

Mediante aos estudos realizados, entendemos a cidade como um produto da relação homem-

natureza ao longo de diversas temporalidades. A Avenida Getúlio Vargas, apesar de manter

o seu traçado original, passou por um intenso processo de transformação. No entanto, as

práticas contemporâneas de urbanização, muitas vezes, não levam em consideração as

particularidades desse processo, o que resulta em uma produção de espacialidades que se

configuram como elementos de espetáculo, por não concederem espaço para a história local,

fato que influencia diretamente na forma como o indivíduo se relaciona com o meio.

Visto isso, se faz necessário, cada vez mais, ressaltarmos os valores identitário da cidade, e

é com esse propósito que nos debruçamos sob a Avenida Getúlio Vargas. Ao ser constituída,

a avenida provocou o deslocamento e a concentração gradual do comércio, que até o

momento se concentrava na Rua Direita (atual Av. Barão do Rio Branco), para as partes mais

baixas das ruas do centro, havendo a instalação de fábricas, armazéns, indústrias e açougues,

tal fator, modificou a configuração urbana da cidade. Com a instalação da Estação Ferroviária

em suas imediações esse processo é intensificado, tornando visível o crescimento da cidade

nas margens da ferrovia junto à estação e a formação de um novo núcleo econômico, onde o

comércio, principalmente popular, se consolida e ganha caráter de vitalidade com

interferências significativas no contexto urbano.

Atualmente, a Avenida passa por um processo de degradação, decorrente de diversos fatores,

dos quais se destacam o próprio comércio, o fluxo intenso de veículos automotores, a

especularização imobiliária e principalmente a falta de uma gestão pública voltada para a

valorização e conservação da paisagem urbana. Assim, a escolha do objeto de estudo se

justifica pela necessidade de um olhar mais atento a um trecho que merece atenção por sua

rica história e contribuição cultural no cenário juiz-forano, que vem, cada vez mais, se

descaracterizando em prol da produção do espaço pautado nos interesses de uma menor

parcela da população.

Frente as informações supracitadas, e a pesquisa de campo realizada, fica evidente que as

transformações que ocorreram na Avenida se deram de forma desordenada e sem a devida

gestão por parte do poder público, o que resulta na falta do sentimento de pertencimento dos

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cidadãos para com a mesma. Logo a presente análise, busca a compreensão da dinâmica

urbana da Avenida, para que as futuras proposições de planejamento para o local, sejam

pautadas na efetiva preservação e conservação da paisagem urbana, visando sua

permanência para as gerações atuais e futuras.

Na configuração atual da cidade, de acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

(PDDU) do município de 2000, a Avenida faz parte de um conjunto de vias que se classificam

como eixos secundários, responsáveis por conectar os bairros municipais às regiões centrais,

bem como direcionar o fluxo de veículos aos eixos primários - definidos pelas avenidas Rio

Branco e Presidente Itamar Franco. Além do seu papel no contexto viário, a avenida constitui

um dos mais antigos corredores de uso comercial da área central do município, ou seja, em

escala local e municipal, faz parte de um dos espaços mais movimentados e utilizados do

centro urbano.

Tal representatividade requer maior atenção em um processo de análise, principalmente ao

delimitar a área de estudo, uma vez que a área de influência da via em questão não se limita

aos seus entornos imediatos. Por esse motivo, definimos uma região macro, conforme a figura

03, que foi analisada utilizando a técnica de representação imagética segundos os elementos

de Kevin Lynch (1960).

Figura 03 - Mapa de análise segundo Kevin Lynch (1960)

Elaborado pelos autores, 2015. Com base em: Planta Cadastral de Juiz de Fora, 2007.

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A partir da aplicação da técnica de análise visual proposta por Lynch nesse recorte macro,

identificamos o triângulo central como um grande bairro que, segundo a metodologia

empregada, possui funções e características similares. Dessa maneira, podemos aproximar

o recorte da avenida Getúlio Vargas, definindo uma escala menor a partir de uma área

previamente analisada que partilha de características similares e que se configura como o

objeto de estudo para a aplicação da metodologia de leitura da forma urbana proposta por

Kohlsdorf.

Análise do Desempenho Topoceptivo ao Nível da Percepção

Para desenvolver o sentidos e expectativas mencionados na metodologia, caminhamos, em

um primeiro momento, por toda a extensão da Avenida a fim de vivenciar e experienciar as

sensações que a nossa presença física naquele espaço poderia nos proporcionar. A

paisagem atual da Avenida é bastante degradada. Grandes emaranhados de fiação elétrica e

telefônica, anúncios em grande quantidade, barracas e estruturas temporárias instaladas por

ambulantes e um intenso fluxo de veículos confundem os sentidos e atrapalham a

continuidade visual, a clareza de identificação de elementos predominantes e interferem nos

sentidos de direcionamento, transformando um cenário de notável potencial para fornecer um

bom desempenho topoceptivo em uma paisagem apática, sem legibilidade ou orientabilidade.

Em um segundo momento, refizemos o percurso e lançamos um olhar mais crítico e sensível

ao objeto de estudo, guiados pelos conceitos da metodologia proposta por Kohlsdorf e

registrando os estímulos visuais mais impactantes, que serviram de base para a definição de

eventos gerais sequenciais - as estações e os intervalos.

Cada ponto definido e numerado no mapa do objeto de estudo, de acordo com a figura 04,

representa uma estação, definida em pontos com estímulos visuais potenciais, normalmente

perto de esquinas, cruzamentos, ou locais que se destacam pela presença de elementos

arquitetônicos suficientemente fortes para captar a atenção do observador. A maior parte das

estações está intercalada por intervalos médios de duzentos metros - com exceção das

estações 3, 4 e 5, que possuem intervalos com menos de cem metros de distância entre si.

Para cada estação definida, observamos as visadas frontais (CVF) e laterais esquerda (CVE)

e direita (CVD), que foram registradas a partir do nosso ângulo enquanto observadores,

compondo três campos visuais para cada estação. Os efeitos topológicos e perspectivos

interpretados na sequência da caminhada, constituíram padrões de efeitos visuais para cada

conjunto de campos.

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Figura 04 - Registro, em pauta sequencial, da análise ao nível da percepção.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015.

Quase todos os efeitos visuais foram atribuídos às cenas, contudo, chamamos atenção para

a confluência de estímulos encontrados entres as estações 3, 4, 5 e 6 - justamente as regiões

com intervalos mais próximos - fato que enfatiza a falta de legibilidade por excesso de

informações que levam à ausência de clareza de leitura do traçado urbano. Dentre os efeitos

topológicos, destaca-se o alargamento, encontrado em mais de 90% dos campos visuais

analisados. Em contrapartida, o envolvimento é o único que não aparece em nenhuma das

observações. Entre os efeitos perspectivos, a sensação de direcionamento aparece em maior

quantidade, já que a via não muda de sentido e direciona o olhar do usuário aos seus pontos

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de fuga. Todos os outros efeitos estão presentes, salvo o de emolduramento, que não foi

registrado.

Análise do Desempenho Topoceptivo ao nível da Imagem Mental

Como vimos no estudo da metodologia empregada, a imagem mental é a representação e a

interpretação da memória formada pela observação dos elementos e características

morfológicas, integrando a percepção ao entendimento sensível do indivíduo apoiado nas

suas lembranças e experimentações. A análise ao nível da Imagem Mental do presente

trabalho, foi empregada de forma parcial, pois a programação da disciplina de Projeto de

Arquitetura e Urbanismo VII, especificou um curto período de tempo para o processo de

estudo teórico da metodologia e análise do objeto. No entanto, os métodos de análise nesse

nível já nos eram familiares devido ao estudo prévio dos conceitos de Lynch sobre os

elementos da imagem urbana, sendo assim, somente acrescentamos a interpretação das

Kohlsdorf (1996) anos nossos conhecimentos base.

No que tange ao mapa mental, usamos nossa própria bagagem e a dos companheiros de

turma para evocar as experiências vividas no objeto de estudo. Pedimos que os participantes

e cada integrante do grupo relatassem de forma livre sua observação dentro de cada contexto

dos cinco elementos de Lynch. Com essas informações, pudemos comparar os resultados

obtidos aos nossos realizados em escala macro (apresentados na figura 03), definindo uma

escala micro de análise representada pelo Triângulo Central do Município. Os resultados

obtidos, evidenciam que ao pensarmos no centro como um todo, a Avenida expressa uma

boa capacidade topoceptiva, no entanto, ao aproximarmos do objeto, os indivíduos já se

sentem com maior dificuldade em se orientar e se identificar. Aos que a utilizam com

frequência percebemos uma maior facilidade em representar os cinco elementos do Lynch,

porém os que a utilizam esporadicamente, compreendem a existência dos elementos, mas

não conseguem identificá-los de claramente. De forma unânime, os participantes

evidenciaram que, quando estão na Avenida, sentem dificuldade em identificar em que local

especifico se encontram, sendo necessário um momento de pausa para reflexão.

Análise do Desempenho Topoceptivo ao Nível da Geometria Secundária

Dando sequência ao procedimento avaliativo, damos início ao processo da representação

projetual do espaço que, diferente dos outros níveis de conhecimento sensível, explora

aspectos mais objetivos e próximos da realidade. As avaliações topoceptivas por

representações geométricas secundárias foram realizadas a partir do desenho da malha

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urbana do recorte utilizado, constituindo estruturas morfológicas a serem examinadas

particularmente - segmentos, nós, silhuetas e composição volumétrica das edificações.

As avaliações dos segmentos dividem as linhas bases das ruas em filetes a cada vez que são

interceptadas por outra linha, ou mudam de direção, enquanto os nós representam

exatamente esses pontos de interferência. De acordo com a figura 05, a função de conexão

que definimos para a Avenida no início desse capítulo é corroborada, uma vez que 60% das

demais linhas interceptam no traçado destacado em vermelho. Foram identificados um total

de 36 segmentos de forma reta, sendo o menor igual a 27,57 metros e o maior 237,74 metros.

Dentre esses, 8 ou 22,22% se caracterizam como muito pequenos (de 20 a 59 metros), 10 ou

27, 78% como pequenos (de 60 a 90 metros), 5 ou 13,89% como médios (de 100 a 139

metros), 10 ou 27,78% como grandes (de 140 a 179 metros) e 3 ou 8,33% como muito grandes

(de 180 a 239 metros). Logo podemos observar que, 77% dos segmentos estão quase que

igualmente distribuídos em pequenos, iguais ou grandes, revelando um aspecto positivo à

cerca de legibilidade do ambiente, pois os tamanhos das linhas da malha variam

harmonicamente dando origem a uma microparcela de polígonos primários que facilitam o

senso de direcionamento e localização.

Figura 05 - Malha de Segmentos, em destaque a Avenida Getúlio Vargas.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015.

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Em relação aos nós (figura 6), podemos observar que esses estão distribuídos, em sua

maioria, na extensão da Avenida Getúlio Vargas (destacada em vermelho) e da rua Batista

de Oliveira (conformada pelos segmentos 05, 11, 14, 19, 30 e 36). Fato que sublinha a

importante influência exercida pela Avenida na forma e dinâmica urbana. No recorte

abordado, foram identificados 17 nós, formando um total de 53 ângulos, dentre eles: 16 ou

30,19% menores que 90º, 9 ou 16,99% iguais a 90º, 17 ou 32,07% entre 90º a 180º, 11 ou

20,75% iguais a 180º e 0 ou 0% maiores que 180º.

Figura 06 - Malha de Nós, em destaque a Avenida Getúlio Vargas.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015.

Considerando os resultados de silhueta e composição vertical, os valores obtidos representam

boa qualidade topoceptiva, pois a maioria dos edifícios construídos na Avenida possuem

tipologia similar e respeitam o mesmo afastamento, conferindo continuidade visual e boas

linhas e costura entre si. Além disso, as médias de granulometria das edificações é

harmoniosa, como podemos observar nas figuras 07 e 08, quase 50% das construções tem

altura de padrão baixo e as que se sobressaem não causam impacto negativo, mas sim uma

surpresa ao olhar. No final da Avenida, próximo ao Centro Cultural Bernardo Mascarenhas,

evidenciado pela última volumetria da silhueta direita, figura 08, encontramos um trecho que

se destaca pela presença de parcelas de áreas verdes e praças, funcionando como área de

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respiro na região. Analogamente, corresponde ao mesmo trecho que, no mapa (figura 8)

apresenta a granulometria mais baixa de toda a via. A problemática identificada na Avenida

no nível da percepção, no que tange ao seu desempenho topoceptivo, se mostra menos

negativa nas análises elaboradas no nível da geometria secundária. Em contrapartida, os

bons resultados coletados aqui ganham visibilidade no momento em que as questões de má

qualidade forem resolvidas.

Figura 07 - Mapa de silhuetas e composição volumétrica vertical esquerda da Avenida Getúlio Vargas

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015.

Os segmentos verticais da composição volumétrica da silhueta cima totalizam em 51 ao todo,

distribuídos entre: pequeno (≥1,28m e <13,38m; 25 ou 49,01%), médio (≥13,28m e <25,28m;

18 ou 35,29%) e grande (≥25,28m; 8 ou 15,68%).

Figura 08 - Mapa de silhuetas e composição volumétrica vertical direita da Avenida Getúlio Vargas

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015

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Na silhueta acima, os 53 segmentos verticais estão distribuídos entre: pequeno (≥5,05m e

<25,00m;24 ou 68,57%), médio (≥25,00m e <45,00m; 9 ou 25,71%) e grande (≥45,00m; 2 ou

5,71%) conforme os mesmos cálculos anteriores.

Conclusões

A partir dos resultados apresentados em cada um dos três níveis de análise, realizamos a

avaliação do desempenho topoceptivo da Avenida Getúlio Vargas como um todo. O resultado

final da avaliação é que a Avenida não possui um bom comportamento topoceptivo, a

capacidade de orientação e identificação do ambiente é prejudicada, entre outros, pelo

excesso de informação. No que se refere ao nível da percepção, o excesso de estimulo visual

prejudica a legibilidade do ambiente, os efeitos de percepção apresentaram em sua maioria

uma intensidade forte, gerando conflitos entre eles. No nível da imagem mental como vimos,

quando analisada de forma aproximada, o indivíduo não consegue se orientar e se identificar

na mesma, apesar do traçado da via ser linear. Já as leituras referentes as características

geométricas elaboradas, reafirmam as potencialidades e fraquezas de apreensão da forma

por intermédio da organização e articulação dos elementos físicos que configuram o ambiente

em questão. Os segmentos e os nós, de forma geral, se configuram de forma equilibrada,

ratificando a importância da Avenida na composição e estruturação das dinâmicas urbanas

locais. Por sua vez, as quebras existentes na silhueta conformadas pelos espaços

subutilizados, intensificam o mau desempenho topoceptivo da Avenida. Além disso, se

configuram como espaços potenciais para à apropriação e à identificação de lugares, bem

como a reativação das significações simbólicas outrora presentes.

Conclui-se, portanto, que os estudos expostos sugerem iniquidades sociais e culturais em

relação as posturas de planejamento urbano frente ao objeto analisado, que por vez tem sua

colocada às margens por intermédio dos interesses de uma menor parcela da população.

Essas questões evidenciam a necessidade de se pensar a qualificação da paisagem local, a

partir de uma abordagem sistêmica, como forma de garantir sua preservação para as

gerações atuais e futuras.

Referências

CAVALCANTI, P. B. et al. A humanização dos ambientes de saúde: atributos ambientais que favorecem a apropriação pelos pacientes. IV Projetar: Projeto como investigação: ensino pesquisa e prática. São Paulo, p.1-11, 2009.

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CORDOVIL, Wilson Dias. Do caminho novo a Manchester mineira: as dinâmicas socioespaciais da gênese e evolução do município de Juiz de Fora no contexto regional da Zona da Mata. Juiz de Fora, 2013. (Dissertação de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Juiz de Fora).

KOHLSDORF, M. E. A Apreensão da Forma da Cidade. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996.